identidade jesus

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Impressão e acabamento: Reproset Copyright2008 por Osvaldo Henrique Hack Diagramação: Manoel Menezes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte. Edição e Distribuição: i ii 1

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Copyright2008 porOsvaldo Henrique Hack

Todos os direitos reservados por:

A. D. Santos EditoraAl. Júlia da Costa, 21580410-070 - Curitiba - Paraná - Brasil+55(41)[email protected]

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

HACK, Osvaldo Henrique.

IDENTIDADE DE JESUS: Polêmica de todos os tempos –Curitiba: A. D. SANTOS EDITORA, 2008. 240 p.

ISBN – 97885-7459-153-7

1. Jesus Cristo 2. Natureza de Cristo 3. Cristologia

CDD – 232

1ª Edição: Agosto / 2008

Proibida a reprodução total ou parcial,

por quaisquer meios a não ser em citações breves,

com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

Capa:PROC Design

Diagramação:Manoel Menezes

Impressão e acabamento:Reproset

Page 4: Identidade Jesus

SUMÁRIO

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1

1. Revelação Suprema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

2. Proclamação Esperada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

3. Autenticação Necessária . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4. Reconhecimento Oportuno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

5. Unidade Essencial. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

6. Divindade Imensurável. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

7. Imutabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

8. Eternidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

9. Pessoalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

10. Orientação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

11. Definição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

12. Plenitude de Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93

13. Perfil Definido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

14. Autoridade Divina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

15. Acolhimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

16. Fonte de Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

17. Fidelidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

18. Iluminação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131

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19. Sustento Efetivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137

20. Único Acesso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

21. Realeza Divina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

22. Soberania . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

23. Onipresença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163

24. Onisciência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171

25. Salvador da Humanidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179

26. Profeta Maior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 185

27. Único Mediador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193

28. Amor Infindável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203

29. Defensor Universal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 211

30. Paz Duradoura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219

Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 227

Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 233

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INTRODUÇÃO

A identidade pessoal passou a ser uma exigência daburocracia do mundo globalizado. A movimentação livre naprópria pátria é garantida pela exposição da carteira de identi-dade em negócios e assinatura de compromissos, no mesmosentido em que o passaporte facilita o trânsito do turista emoutros países. O RG (registro geral) passou a ser o documentoindispensável para qualquer momento de identificação, devidoao perigo da falsificação ou de alguém usar um documentoalheio com segundas intenções.

Nos tempos passados a identidade se confundia com aprópria pessoa,devido à sua aparência e seus hábitos, sem neces-sidade de qualquer documento ou comprovação de testemu-nhas ou carimbo de cartórios. Alguém era introduzido na socie-dade por meio da família ou era conhecido por sua missão espe-cífica ou, ainda, por sua cidade de origem. Assim, a Bíbliaregistra os feitos de João, o batizador; a história de Jesus deNazaré ou as viagens de Paulo de Tarso.

Nosso propósito é tecer comentários sobre a identidadede Jesus, conhecido como o Cristo, a partir dos registros bíbli-cos, para confrontar com os mais variados tipos de Jesus, apre-sentados pela religiosidade popular ou pelas tradições dominan-tes. Precisamos, como cristãos, buscar a identidade de Jesus nostextos bíblicos e em suas próprias palavras, para não sermos ilu-didos por interpretações errôneas. O próprio Jesus alertou seusseguidores diante do aparecimento de falsos profetas e falsoscristos que iriam aparecer com o intuito de enganar e iludir osdesavisados:

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“surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígiospara enganar, se possível, os próprios eleitos... Senhor, porventura, nãotemos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios,e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicita-mente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqüi-dade” (Mt 24:24; 7:22-23)

O avanço da tecnologia permite a reprodução em abun-dância de fotocópias de papéis e documentos. A facilidade defalsificação é tão grande que exige-se a autenticação com selocartorial, para aceitar-se a validade, chegando ao ponto de exi-gir-se o documento original em casos específicos. A clonagemde cartões de crédito ou cédula de identidade, bem como che-ques e documentos, passou a ser o caminho preferido dos falsi-ficadores. Os documentos originais passaram a ser questiona-dos diante de falsificações tão ardilosas e sofisticadas..

No campo religioso a prática de fotocópias não autenti-cadas também grassou de maneira devastadora. Inúmeras enti-dades religiosas mostram identidades duvidosas e difusas a res-peito do Jesus apresentado nas páginas da Bíblia Sagrada, aqueleque foi aprovado e autenticado pelo próprio Deus Criador.Mesmo entre grupos evangélicos, que pretendem ser fiéis aosensinos bíblicos, como herdeiros da Reforma Religiosa doséculo XVI, há caricaturas de Jesus,que não condizem com a suaidentidade ou sua autenticidade bíblica.

A pluralidade de cristologias abalou os fundamentos daigreja cristã desde o tempos apostólicos. Muitos apologistas epolemistas1 cristãos procuraram defender a identidade de Jesusem longas e controvertidas questões a respeito da divindade ehumanidade do Jesus, chamado o Cristo. Portanto, a preocupa-ção com a identidade de Jesus passou a ser uma questão de vidaou morte para a continuidade do próprio cristianismo. Não era

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1 Os cristãos apologistas procuravam defender as doutrinas do Cristianismo, diante das acusa-ções pagãs; os polemistas como teólogos e estudiosos bíblicos, discutiam as doutrinas quereceberam restrições, como a natureza divina-humana de Jesus.

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somente uma questão de identidade histórica, mas antes detudo, uma definição da missão de Jesus na face da terra.

As controvérsias e discussões religiosas foram ameniza-das com o aparecimento de formulações credais, mais conheci-das como credos. Dentre eles temos o Credo Romano, CredoAtanasiano, Credo Niceno, Credo de Calcedônia e o CredoApostólico. O Apostólico foi o último a firmar-se da maneiracomo hoje é conhecido. De início foram idéias e afirmações quecombatiam as heresias e desvios doutrinários, surgindo o que sechamou de Credo Romano. Mais tarde o bispo Marcelo em 340a.D. o apresentou à Igreja Cristã e recebeu a formulação atual doCredo Apostólico em 750 a.D. (Bettenson,1997 p.54). O CredoNiceno2 foi formulado no Concílio de Nicéia, convocado peloImperador Constantino em 325 a.D. que solicitou um docu-mento dos cristãos sobre suas convicções doutrinárias em vir-tude das distorções surgidas sobre a interpretação da divindadee humanidade de Jesus. O Concílio elaborou o que se conhececomo Credo Niceno, apresentando Jesus como divino-humano:

“Cremos... em um só Senhor Jesus Cristo, Filho unigênito de Deus e nas-cido do Pai antes de todos os séculos,Deus de Deus, Luz de Luz, Deus ver-dadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não feito, consubstancial ao Pai, porquem foram feitas todas as coisas” (Livro de Concórdia,1997 p.19)

As afirmações do Credo Niceno foram confirmadaspelos concílios de Constantinopla (381 a.D.) e pelo concilio daCalcedônia no ano 451 a.D., ainda oferecendo alguns acrésci-mos de fundamentação bíblica como a doutrina do EspíritoSanto (Hack, 2004 p.78), apresentando as duas naturezas deJesus como “inconfundíveis, imutáveis, indivizíveis,insepará-veis” (Bettenson, 1997 p.54)

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2 O Credo Niceno originou-se da carta do Sinodo de Antioquia. Dos 59 bispos que elabora-ram a Carta Sinodal, 49 deles estiveram meses mais tarde no Concilio de Nicéia. O objetivoprincipal era o combate à heresia ebionita, que negava a divindade de Jesus Cristo. Os ebioni-tas viam a pessoa histórica de Jesus, embora lhe atribuíssem uma condição especial superior,como um anjo especial.

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A mesma preocupação percorreu a história do cristia-nismo, definindo posições teológicas e, ainda hoje, se constituino grande desafio para os seguidores das mais diversificadasigrejas e comunidades. A interminável polêmica entre o “Jesushistórico” e o “Cristo da fé” preenchem centenas de páginasdos livros de comentaristas, biblistas, exegetas e teólogos. Sabe-mos que a identidade histórica tem a ver com alguém que, nacondição humana, vive determinado número de anos, numlugar conhecido, num contexto cultural específico onde ali for-mula suas convicções e exercita suas práticas religiosas. Toda-via, não podemos nos preocupar com uma identidade pura-mente histórica porque há conceitos que vão muito além dosacontecimentos. Por outro lado, a identidade dogmática ou dematiz teológico também deixa lacunas porque não penetra nahistória de vida e não leva em conta as motivações sócio-cultu-rais e religiosas vivenciadas que, num contexto mais abrangenteoferecem os sinais características da identidade genuína.

O conhecimento de Jesus Cristo é o centro das Escritu-ras Sagradas. As referências ao Ungido do Senhor, o Messiasprometido, que apontam para a vida e a obra de Jesus, percor-rem a Bíblia toda, desde o livro de Gênesis até o Apocalipse.Portanto, conhecer a Jesus é conhecer os planos divinos eentender a sua missão redentora em favor da humanidade. Aoanalisar os atributos divinos de Jesus, na análise de sua identi-dade, estamos trazendo à tona aquelas características que distin-guiram Jesus dos demais Líderes de sua época e de todos ostempos. Jesus apresentou-se de modo singelo e único. Merecenossa mais alta consideração porque nos conduz a Deus Pai.Jesus é aquele que sabe quem é; sabe o que quer; sabe onde querchegar, porque conhece a sua própria identidade e a missão querecebeu para realiza-la. Assim, conhecê-lo é conhecer o próprioDeus, como ele mesmo afirmou:

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“Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai;e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser reve-lar” (Mt 11:27)

Ainda João Batista testemunhou:

“Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e verdade vierampor meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Deus unigênito,que está no seio do Pai é quem o revelou” (Jo 1:17-18).

Nossa proposta nesta obra é desafiar os leitores a refleti-rem com cautela e conhecimento bíblico, a respeito dos movi-mentos religiosos que apresentam cristos desfigurados e com-prometidos com os interesses grupais

Quem foi, afinal, Jesus de Nazaré?– Seria um livre pensador, discípulo dos filósofos cínicos

gregos do III século a.C., que defendiam a busca de um homemde verdade, livre de preconceitos, das vaidades e dos enganos;

– Seria um revolucionário inconformado com o “statusquo” do Império Romano subjugando o judaísmo, vindo paraanunciar o estabelecimento de um novo reino. Foi condenado àmorte por motivos políticos-religiosos, porque desacatou asautoridades romanas e judaicas;

– Seria um reformador religioso que se auto proclamavaprofeta, interpretando o judaísmos sob seu ponto de vista, aopropagar suas máximas: “eu sou a verdade...”; “ouvistes o quefoi dito aos antigos... eu, porém, vos digo”;

– Seria um defensor e amigo dos pobres, que desejavaimplantar uma comunidade solidária e igualitária;

– Seria um membro da comunidade dos essênios, judeusque se refugiavam nas montanhas e desertos, dedicando-se àsorações, jejuns e ensinamentos éticos e morais;

– Seria um mestre iluminado e moralista, dentre dezenasde outros que surgiram na história das religiões?

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Continua, diante de nós, o eterno dilema lançado pelopróprio Jesus aos seus discípulos:

“E vós, quem dizeis que eu sou?”

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1.

R E V E L A Ç Ã O S U P R E M A

“Eu sou o que sou”(Ex 3:14)

Aprimeira preocupação de Moisés ao ser desafiado para amissão libertadora do povo israelita, foi conhecer um

pouco mais daquele Deus que o desafiara de maneira tão impac-tante no deserto da Arábia, terra dos midianitas. Outros perso-nagens bíblicos como, Adão, Enoque, Noé, Abraão, não questio-naram o fato de que estavam sendo chamados para crer e con-fiar nas promessas do Deus revelado. O questionamento deMoisés é pertinente e tem sua razão de ser diante do contextohistórico-religioso em que viveu no Egito, e, depois longotempo no deserto. Por outro lado Deus revelou a sua identidadeoriginal e única, de maneira explícita, fazendo uma afirmaçãojamais proferida no relacionamento com suas criaturas:

“Disse Moisés a Deus: eis que, quando eu vier aos filhos de Israel e lhes dis-ser: O Deus de vossos pais me enviou a vós outros; e eles me perguntarem:qual é o seu nome, que lhes direi? Disse Deus a Moisés: EU SOU OQUE SOU. Disse mais; Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me

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enviou a vós outros. Disse Deus ainda mais a Moisés: Assim dirás aosfilhos de Israel: O Senhor, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, oDeus de Isaque e o Deus de Jacó, me enviou a vós outros; este é o meu nomeeternamente, e assim serei lembrado de geração em geração” (Ex 3:13-15).

O nome de uma pessoa, na tradição cultural e religiosada antiguidade, significava a sua própria identidade e sua razãode ser e existir. Portanto, quando Deus se identificou a Moisésnão estava satisfazendo uma curiosidade ou desfazendo adúvida de quem quer que fosse. O nome pessoal de Deus nãoera apenas uma maneira de tratamento, mas uma descrição docaráter e da personalidade de Deus. A resposta divina: EU SOUO QUE SOU” revela que o Senhor Deus Criador não pode serdefinido a não ser por si mesmo. Como auto-existente Ele podefazer promessas e revelar-se em seus atos. O nome Senhor,como o Deus do povo israelita tem um significado especial nalíngua hebraica: Senhor é traduzido por Javé ou Jeová. A mesmaraiz do verbo “ser” em hebraico dá origem ao EU SOU na pri-meira pessoa do singular “ehyeh”.

Dentre os nomes mais usados para Deus, o mais fre-qüente é “Deus Poderoso”, que aparece mais de duas mil vezesno Antigo Testamento. Ainda temos outros nomes como: ElShaddai (Deus Todo-Poderoso); El Elyon (Deus Altíssimo); ElOlam (Deus Eterno); Iavé (Deus Redentor); além das deriva-ções de Iavé que indicam ações específicas, tais como: Iavé Jireh(O Senhor proverá - Gn 22:14); Iavé Shalom (O Senhor é paz -Jz. 6:24); Iavé Nissi (O Senhor é minha bandeira - Ex 17:15);Iavé Rohi (O Senhor é meu pastor - Sl 23:1). O nome Iavé é omais usado para designar o Deus Redentor. O nome Iavé revelaa própria essência de Deus, fazendo promessas a si mesmo eestabelecendo um pacto redentor. É o Deus presente em todasas circunstâncias, vivendo as angústias e esperanças do povo,fazendo promessas a si mesmo e jurando o cumprimento paratoda a eternidade. A descendência de Abraão desfrutaria parasempre do plano redentor revelado agora a Moisés, como conti-

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nuador do processo histórico. EU SOU é o Deus eterno, oDeus libertador, o Deus que escolhe e redime o seu próprionome (Campos, 1999 p.89-90)

Quando o Deus Criador estava se identificando comoEU SOU ou Javé, afirmava sua condição de Senhor. Deusdeclarou esse nome a Moisés,quando lhe falou a partir da sarçaque se queimava,mas,não se consumia. Deus primeiro se identi-ficou como o Deus que tinha se comprometido numa relação depromessa e aliança com os patriarcas bíblicos. Deus mesmo seidentificou como o Senhor, o Deus de “vossos pais” ou dasgerações passadas (Ex 3:15-16). O nome escolhido por Deuspara que fosse identificado pelo povo, revela a sua eternidade esua própria soberania. É o Deus que existe por si mesmo, que seauto-sustenta e se auto-determina, como se expressou o poetacristão:

Ao Deus de Abraão louvai, do vasto céu, Senhor.Eterno e poderoso pai e Deus de amor.Augusto Jeová que terra e céu criou,Minha alma o nome exaltará do grande EU SOU.(Judah, D. B.; Moreton, R.H.)A recomendação divina a Moisés, é de que o nome de

Deus seria eternamente lembrado de geração em geração, comouma identificação na história da humanidade:

“Este é o meu nome eternamente, e assim serei lembrado de geração em gera-ção” (Ex 3:15).

O decálogo oferecido por Deus a Moisés no MonteSinai, também revela toda a adoração e reverência que deviamser dadas ao nome do Senhor Deus. Nenhum israelita poderiaadorar outros deuses, nem invocá-los e nem fazer qualquer ima-gem, porque estava comprometido com o Deus, único Senhor.

Nesse sentido, o nome de Deus passou a ser uma revela-ção comprometedora. Ao revelar-se para estabelecer diálogocom o ser humano, o Senhor requeria adoração, fidelidade e

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reverência. Nesse sentido os atos de culto e louvor devem sercelebrados para engrandecer o Senhor somente, na representa-ção da Santíssima Trindade. Qualquer outro nome ou motiva-ção para o culto passa a ser considerado como um desrespeitoou abominação perante o Senhor.

Como líder, Moisés necessitava de orientação, leis e defi-nições diante de tantas situações novas e inusitadas no caminhodo deserto. Os propósitos divinos aos olhos de Moisés eramcompreendidos como a revelação do Monte Horebe ou Sinai(Ex 3) e também todas aquelas manifestações recebidas no dia adia, à medida que avançavam em direção ao alvo proposto, aterra de Canaã. Moisés acostumou-se a falar com Deus, a recla-mar e a questionar quando não conseguia entender as novassituações. Todavia, Moisés percebeu de maneira nítida que pre-cisava crer nas promessas divinas e esperar o momento de agir.Isto significa que andar nos caminhos divinos requer uma por-ção dobrada de fé, aguardando a manifestação ou revelação,segundo a vontade de Deus, mesmo quando não estejamosentendendo os acontecimentos ao nosso derredor. A preocupa-ção de Moisés foi expressa quando ele comentava sobre a novaaliança de Deus com o seu povo, afirmando que a nós humanoscabe cumprir o que nos foi revelado, enquanto o que estáencoberto, ainda pertence somente a Deus:

“As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus, porém, as revela-das nos pertencem a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramostodas as palavras desta lei” (Dt 29:29).

Os líderes religiosos enfrentam um desgastante dilemana tentativa de oferecer aos seus seguidores uma palavra orien-tadora. Saber-se o que foi revelado e o que ainda está encoberto,tem sido o pomo de discórdias entre biblistas,exegetas e teólo-gos, no contexto do cristianismo. Cada dia se avoluma o apare-cimento de grupos religiosos, anunciando novas revelações,sonhos e visões. Uma polêmica sem fim que divide e dispersa

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famílias e comunidades, desvirtuando o sentido bíblico da fécristã, que deve levar todos os que crêem à comunhão, comoCorpo de Cristo.

A revelação suprema do Deus Criador é o mais desejadoe perseguido alvo de toda a criatura humana, todavia, nãodepende das tradições e interpretações religiosas, mas da von-tade divina. A revelação suprema depende somente de Deus ede seus propósitos. Acontecerá no tempo próprio e propício,em benefício dos que amam o Senhor Deus e aguardam a suamisericórdia. O apóstolo Paulo afirmou que todas as coisas con-tribuem para o bem da vida cristã, quer sejam coisas reveladasou encobertas. Aquelas pessoas que são conduzidas à fé vivemcada dia à luz da certeza do futuro preparado por Deus. Aquiloque acontece vai contribuir para a disciplina, amadurecimentoou momento de paciência e perseverança,segundo o planodivino para cada um de seus filhos. Embora nos debrucemosem clamores, lágrimas e preces, Deus atenderá aquilo que forbom e útil para nós, segundo os propósitos eternos.

“Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam aDeus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8:28).

Temos muitas manifestações da divindade no imaginá-rio popular e nas teologias e dogmas formulados, que desfigu-ram a identidade do Senhor revelado a Moisés e aos escritoresbíblicos. Criou-se a ilusão de que todas as religiões buscam agra-dar o Senhor e procuram servi-lo ao seu modo cultural e con-forme suas tradições. Tal tendência é fruto da compreensão deque o ser humano é que cria o contexto e os objetos de adoraçãopara o deus escolhido. Assim acontece com a maioria das reli-giões, não, porém,com o conceito bíblico vétero-testamentáriodo Deus Senhor que se revelou, deu mandamentos e exigiucompromisso de fé e vida.

O apóstolo Paulo afirmou aos cristãos que viviam nacidade de Roma, que a idolatria e depravação seriam punidas

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porque os seres humanos conheceram a lei e as manifestaçõesdivinas, a respeito do dever de adorar o Criador e seguir suasinstruções. A recusa humana em buscar o Deus Criador, não oisenta diante da justiça divina:

“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão doshomens que detêm a verdade pela injustiça; porque o que de Deus se podeconhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atri-butos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua pró-pria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendopercebidos por meio das cousas que foram criadas. Tais homens, são, porisso, indesculpáveis; porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorifica-ram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seuspróprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-sepor sábios, tornaram-se loucos e mudaram a glória de Deus incorruptível emsemelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpe-des e répteis. Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pela concu-piscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; poiseles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a cria-tura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente... por causa disso, osentregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modonatural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhan-temente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, seinfamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homenscom homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição de seu erro”(Rm 1:18-27).

A interpretação do profeta Isaías revela o conceito daidentidade divina como sendo o Senhor único e imutável“dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel a quem chamei; eu sou omesmo, sou o primeiro e também o último” (Is 48:12). Nessesentido os ídolos passam a ser considerados ridículos, sem iden-tidade própria, sem vida e sem possibilidade de ajudar seusseguidores. Como afirma o salmista:

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“Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens.têm boca e não falam,têm olhos e não vêem,têm ouvidos e não ouvem,têm nariz e não cheiram.Suas mão não apalpamSeus pés não andam,som nenhum lhes sai da garganta.Tornem- se semelhante a eles osque os fazem e quantos neles confiam” (Sl 115:4-8).

O nome de Deus, o Senhor, vai revelar-se nos episódioshistóricos, por meio de Jesus Cristo, como sendo o próprioSenhor, que fazendo-se carne, também, se auto revelou mos-trando a sua identidade divina. Os autores bíblicos reconhece-ram que Jesus é a expressão máxima da identidade divina:

“Ele, que é o resplendor da glória e a expressão exata do seu Ser, susten-tando todas as coisas pela palavra do seu poder... assentou-se à direita daMajestade nas alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto her-dou mais excelente nome do que eles” (Hb 1:3-4).

A revelação de Deus está intimamente vinculada ao nas-cimento de Jesus; por outro lado só poderemos entender a reve-lação divina manifesta em Jesus, quando pensamos nos planosde Deus em favor da humanidade, desde a eternidade. Os pro-pósitos redentores de Deus foram inseridos na história humanapor meio do ministério terreno de Jesus, que viveu e conviveucom seus contemporâneos. Precisamos recorrer aos registrosbíblicos para entender o que foi planejado na eternidade e o quefoi realizado historicamente por meio da vida e obra do Jesusdivino-humano, nascido na cidade de Belém da Judéia. O queJesus realizou na terra foi decidido no Conselho Eterno.Segundo o autor Campos. Esse Conselho também é chamadode Conselho da Redenção, formado desde a eternidade pela

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Trindade Divina. Nada do que acontece fica fora dos planosdivinos, tanto no cosmos como na história humana:

“Quando Deus fala, sem haver um ser criado com quem falar, é absoluta-mente certo que ele fala com alguém dentro de si mesmo. As pessoas da Trin-dade sempre se comunicaram antes que houvesse o mundo e as suas criaturasracionais o fato de Deus ser tripessoal é o que torna essa comunicação relaci-onal possível” (Campos, 1999, p.112).

De acordo com os propósitos eternos, Jesus foi o execu-tor do plano redentor, vindo a manifestar-se ao ser humano demaneira visível, palpável e realista, porque se fez carne e viveu asangústias e limitações humanas.

Portanto, quando procuramos estudar a identidade deJesus nas páginas bíblicas estamos buscando a identidade dopróprio Deus Criador que se revelou ao povo israelita e, porconseguinte, na pessoa de Jesus, o Messias prometido, chamadoCristo. A partir do Novo Testamento constatamos que todos osescritores visualizaram em Jesus, o cumprimento da revelaçãodivina em toda a sua dimensão. Daí, podermos entender a afir-mação tão categórica e incisiva do autor do livro bíblico, escritoaos hebreus, “Ele -Jesus é a expressão exata do seu Ser -Deus”(Hb 1:3).

A revelação suprema do Deus Eterno se concretizou ese manifestou de maneira palpável e visível na pessoa de Jesus,como entendeu o apóstolo Paulo, ao descrever a excelência dapessoa e da obra de Cristo:

“Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino doFilho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados. Ele éa imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:13-15).

Ainda, podemos entender que Jesus é o proclamadordos decretos divinos, porque falava em nome do Pai Criador.Ao afirmar que “eu e o Pai somos um” estava declarando que

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fazia parte do plano eterno e ao mesmo tempo era a revelaçãodo plano redentor da humanidade

“Porque eu desci do céu, não para fazer a minha própria vontade, e sim avontade daquele que me enviou. E a vontade de quem me enviou é esta: quenenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei noúltimo dia. De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filhoe nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo6:38-40).

Nos capítulos posteriores trataremos da identidade deJesus como aquele que cumpriu todas as deliberações do Conse-lho Eterno, selando o Pacto da Redenção3 com a sua vida,morte e ressureição.

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3 O Pacto da Redenção é decorrente do Conselho Eterno, estabelecido entre o Pai e o Filho,para que Jesus pudesse realizar a obra da redenção. Alguns teólogos procuram distinguir oPacto da Redenção do Pacto da Graça, entretanto, a Confissão de Fé de Westminster,bemcomo os Catecismos, não fazem distrinção entre os dois.

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