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ano VI julho 2011 R$ 10,00 www.revistaideias.com.br ECONOMIA

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Paraná, a nova receita do crescimento

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Fábio Campana

E

O Paraná sofreu as doenças infantis do chavismo tacanho até o fi nal do ano passado. O governo nativo pretendia transformar esta área do planeta em caricatura da Venezuela, da Bolívia, do Paraguai e de outras províncias do planeta enfermizadas pela concepção es-clerótica e esclerosante que recusa a poupança externa e combate investimentos privados em nome de uma crença estatólatra que

sobrevive apenas nas áreas mais atrasadas do planeta.

Pagamos um preço alto pela aventura. Nossa década infame, marcada pela grife de uma oligarquia de poucas luzes, estagnou a economia industrial e limitou o cres-cimento do setor mais dinâmico, a agricultura de ponta, o agronegócio, a produção em escala para os grandes mercados mundiais.

Impossível fazer a conta exata de nossas perdas. Mas já é possível comparar os frutos do desgoverno anterior com a rápida virada dos últimos seis meses. O Paraná experimenta seu renascimento em todas as áreas com a forte retomada do cresci-mento econômico.

Milagre? Não há milagres em economia, mas há receitas de sucesso que podem ser adotadas e foi o que aconteceu rapidamente. O novo governo abriu os portos, ofereceu segurança jurídica e, principalmente, estabeleceu nova política fi scal para os interessados. Resultado: R$ 1,3 bilhão de novos investimentos na instalação e ampliação de indústrias. Muito mais do que recebeu de inversões nos 10 anos ante-riores. Mais. Negocia com investidores outros R$ 6 bilhões que deverão apressar a industrialização em diversos pontos do Paraná.

Agora pensem no custo social que o atraso impôs. Milhares de empregos qua-lifi cados foram perdidos. Sem competitividade, a massa salarial dos trabalhadores também não cresceu. A estagnação fez refl uir a arrecadação e os investimentos públi-cos. Herdamos um conjunto de defi ciências em infraestrutura que hoje são gargalos para o desenvolvimento. É preciso ampliar e modernizar o porto, construir estradas, estender as ferrovias, estimular a construção de pequenas centrais hidrelétricas e ampliar as redes de transmissão de energia.

A anomia estimulou a criminalidade e o crime organizado. O grau de insegurança pública subiu e tornou-se insuportável. Os serviços de educação e saúde públicos deterioraram. Desapareceram institutos que eram nichos de excelência na pesquisa aplicada. Surgiram manchas de baixíssimo IDH no mapa do Paraná. Todas essas áreas reclamam investimentos novos. E a retomada do crescimento exige programas de qualifi cação para o aproveitamento da mão de obra nativa.

O desafi o é grande. Este número inicial de Ideias Economia quer retratar esse esforço de mudanças que podem representar novo período de expansão econômica do Paraná. Uma nova Idade do Ouro, depois de anos de paralisia e consagração da ignorância mascarada por um discurso nacionalista e estatólatra que nada tem a ver com o mundo de hoje. É a esperança de reaproximação à contemporaneidade do mundo e de recuperação das esperanças perdidas no tropeço da política.

ECONOMIA

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Fábio Campana

E

O Paraná sofreu as doenças infantis do chavismo tacanho até o fi nal do ano passado. O governo nativo pretendia transformar esta área do planeta em caricatura da Venezuela, da Bolívia, do Paraguai e de outras províncias do planeta enfermizadas pela concepção es-clerótica e esclerosante que recusa a poupança externa e combate investimentos privados em nome de uma crença estatólatra que

sobrevive apenas nas áreas mais atrasadas do planeta.

Pagamos um preço alto pela aventura. Nossa década infame, marcada pela grife de uma oligarquia de poucas luzes, estagnou a economia industrial e limitou o cres-cimento do setor mais dinâmico, a agricultura de ponta, o agronegócio, a produção em escala para os grandes mercados mundiais.

Impossível fazer a conta exata de nossas perdas. Mas já é possível comparar os frutos do desgoverno anterior com a rápida virada dos últimos seis meses. O Paraná experimenta seu renascimento em todas as áreas com a forte retomada do cresci-mento econômico.

Milagre? Não há milagres em economia, mas há receitas de sucesso que podem ser adotadas e foi o que aconteceu rapidamente. O novo governo abriu os portos, ofereceu segurança jurídica e, principalmente, estabeleceu nova política fi scal para os interessados. Resultado: R$ 1,3 bilhão de novos investimentos na instalação e ampliação de indústrias. Muito mais do que recebeu de inversões nos 10 anos ante-riores. Mais. Negocia com investidores outros R$ 6 bilhões que deverão apressar a industrialização em diversos pontos do Paraná.

Agora pensem no custo social que o atraso impôs. Milhares de empregos qua-lifi cados foram perdidos. Sem competitividade, a massa salarial dos trabalhadores também não cresceu. A estagnação fez refl uir a arrecadação e os investimentos públi-cos. Herdamos um conjunto de defi ciências em infraestrutura que hoje são gargalos para o desenvolvimento. É preciso ampliar e modernizar o porto, construir estradas, estender as ferrovias, estimular a construção de pequenas centrais hidrelétricas e ampliar as redes de transmissão de energia.

A anomia estimulou a criminalidade e o crime organizado. O grau de insegurança pública subiu e tornou-se insuportável. Os serviços de educação e saúde públicos deterioraram. Desapareceram institutos que eram nichos de excelência na pesquisa aplicada. Surgiram manchas de baixíssimo IDH no mapa do Paraná. Todas essas áreas reclamam investimentos novos. E a retomada do crescimento exige programas de qualifi cação para o aproveitamento da mão de obra nativa.

O desafi o é grande. Este número inicial de Ideias Economia quer retratar esse esforço de mudanças que podem representar novo período de expansão econômica do Paraná. Uma nova Idade do Ouro, depois de anos de paralisia e consagração da ignorância mascarada por um discurso nacionalista e estatólatra que nada tem a ver com o mundo de hoje. É a esperança de reaproximação à contemporaneidade do mundo e de recuperação das esperanças perdidas no tropeço da política.

ECONOMIA

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Apresentação

R

Em apenas seis meses de novo governo, o Paraná recebeu mais investimentos privados para instalar e ampliar indústrias que nos

oito anos da administração anterior

O governo será parceiro do ca-pital e dos trabalhadores”. Esta frase do governador Beto Richa consegue sinteti-zar muito dos novos tempos que o Paraná vive depois da

troca de governantes na última eleição.Porque ela corrige uma deformidade fun-

dada na ideia de que o governo deve servir e o governante servir-se do Estado, preceito que orientou a administração pública do Paraná na década anterior.

Há receita para o crescimento? O governador Beto Richa tem uma que acaba de levar à prá-tica e que está dando bons resultados. Antes de tudo, trabalho. Muito trabalho, que a herança recebida foi o caos. Ao iniciar o seu mandato Richa não imaginava que encontraria problemas gravíssimos na administração. O caixa vazio, dívidas penduradas, irregularidades jurídicas, estruturas sucateadas.

Por onde começar? Primeiro um diagnóstico dos problemas encontrados em cada secreta-ria. Levantadas as difi culdades, feito o primeiro balanço geral da crise, cada um dos secretários assumiu sua parcela de responsabilidade na for-ma de metas. Quem não cumprir, ou explica ou dança. Simples assim.

Beto Richa e os secretários da área econômica se concentraram na recuperação das fi nanças e na elaboração de um plano de retomada do crescimento, sem o que não há maneira de sair do atoleiro.

Medidas? Óbvias. Atrair investimentos. Estimular a produção. Abrir mercados. Para isso, oferecer segurança jurídica e estabelecer nova política fiscal. Parece simples e é simples assim. Tanto é que os investidores aparece-ram. Sabem das potencialidades do Paraná e já não temem o governo nativo que os ameaçava para evitá-los. Há previsão de que mais de R$ 10 bilhões entrem no Paraná para a instalação

de indústrias no prazo de um ano.O secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly já

ocupou o posto entre 1986 e 1989. E nos últimos vinte anos, como deputado federal, dedicou-se a estudar a política tributária brasileira e suas aplicações nos estados, especialmente no Para-ná. Tinha pronta a fórmula para mudar as regras e fazer do fi sco não um ogro devorador, mas um instrumento de estímulo aos investimentos.

Houve surpresas e até incredulidade, mas o mercado costuma reagir rapidamente às boas e más notícias. Surpreendente é perceber o quanto a administração anterior difi cultou e impediu a inversão de capitais no Estado. Mas há vantagens comparativas do Paraná que nem uma década de esforço destrutivo conseguiu eliminar. A capacidade produtiva do agrone-gócio cresceu, apesar do governo e suas re-gras medievalistas que recusam tecnologia e ciência. A cultura fundada na valorização do trabalho persistiu e sobreviveu ao discurso po-pulista. E não foi possível deteriorar comple-tamente a infraestrutura que fora construída em mais de um século.

Ainda há problemas graves a enfrentar. Mas pouco a pouco o governo consegue soluções rápidas para problemas que pareciam crôni-cos. Um exemplo? Um impasse de oito anos prejudicava a vida de 35 mil professores que se formaram na escola Vizivali e não tinham reco-nhecimento e por isso mesmo não conseguiam progredir na carreira, o que constituía enorme desestímulo. Uma simples decisão apontou a solução, demonstrando que há problemas que são facilmente resolvidos quando há vontade política acompanhada de capacidade técnica. O governo destinou R$ 58 milhões para o trans-porte escolar, o que representou 100% a mais que o total repassado em 2010. E retomou a con-tratação de professores para cobrir as necessi-dades imediatas. Chamou 3.000 professores já concursados.

Na Segurança Pública foi instalado o Gabine-te de Gestão Integrada para segurança na fron-teira, em parceria com o governo federal. Foi criado um Batalhão de Polícia de Fronteira para ajudar a conter o contrabando de armas e drogas na fonte do problema. O governo contratou 618 servidores para atender hospitais no interior do Paraná. O Estado retomou investimento para equipar e reestruturar hospitais construídos na gestão passada.

O Porto de Paranaguá fez uma dragagem emergencial dos 14 berços de atracação. Coisa que não era feita há seis anos. O governo reto-mou o diálogo com as concessionárias para a redução das tarifas do pedágio. A Copel voltou a buscar bons projetos para fazer investimentos. Começou a operar a Internet de banda extra-larga para todo o Estado. A Compagas chegou a Londrina com investimento de R$ 8 milhões.

O programa de habitação popular foi reto-mado. Em quatro anos serão construídas casas para 100 mil famílias. Neste ano serão erguidas 27.500 casas. Para que se tenha uma ideia do descalabro anterior, nos últimos quatro anos do governo anterior foram construídas apenas 25 mil unidades no Paraná.

Inacreditável, mas há centenas de medidas do gênero que mudaram rapidamente a vida de milhares de pessoas no Paraná, o que só ajuda a atestar a paralisia em que se encontrava o go-verno anterior.

Ao lado de medidas que parecem pequenas mas têm larga repercussão em seu conjunto, o governo lançou o programa “Paraná Compe-titivo”, que reinseriu o Estado na agenda dos investidores nacionais e internacionais. Só entre janeiro e maio foram confi rmados R$ 1,3 bilhão em investimentos.

O promissor é que tudo leva a crer que o patrimonialismo da era de Requião e de sua família faleceu nas urnas quando o discurso recheado de nacionalismo e moralismo chin-

frim se esgotou. Os paranaenses perceberam, afi nal, que Requião e sua caterva estavam em-panturrando a gente de mentiras. Os políticos sempre mentiram muito, mas no caso de Re-quião atingiram o sublime.

O Paraná obedeceu a essa rigorosa dieta de mentiras durante oito anos, talvez desde sem-pre, ministrada pelos detentores do poder e por aqueles que no poder os sustentam. Ocor-reu que nos últimos anos as mentiras cresce-ram em volume e passaram a ser pronunciadas com especial arrogância para engordar uma retórica ufanista.

A opinião pública percebeu que inúmeros pri-vilegiados cuidavam de fortalecer-se no privi-légio ao propagarem o misticismo da política inspirada na Carta de Puebla, uma invenção dos publicitários de Requião.

Agora, diz um empresário que manteve a cabeça fria mesmo quando muitos entre seus pares aplaudiam Requião e seus miquinhos amestrados. “Agora a ilha de prosperidade e justiça social está para ir a pique”.

O que o novo governo liderado por Beto Richa deve fazer? A maioria à sua volta prega moderação e prudência na necessária denúncia da situação caótica em que recebeu o Estado. Vencem de lavada os conselheiros que tentam demonstrar que trombar não é tão mau assim e que a decisão política de enfrentar os moinhos de vento do passado, vendo-os como moinhos de vento e não como gigantes, fará mais para marcar a ação deste governo do que o quixo-tismo institucional.

Gestos fortes não signifi cam repetir o com-portamento bizarro da turma anterior. Gestos fortes são, fundamentalmente, uma necessida-de política quando administrar um Estado como o Paraná se torna um desafi o ainda maior para Beto Richa diante do desgoverno que o antece-deu. Ou logo ele poderá ser confundido como continuidade dos desvarios.

O Paraná não naufragou porque é forte e capaz de suportar até mesmo oito anos de des-governo. A sociedade tem o direito de saber o que foi feito contra ela nesse período de des-vario e bobagens. Mas antes de tudo é preciso voltar a crescer e a prosperar. Eis a fórmula do “Paraná Competitivo”.

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Em apenas seis meses de novo governo, o Paraná recebeu mais investimentos privados para instalar e ampliar indústrias que nos

oito anos da administração anterior

O governo será parceiro do ca-pital e dos trabalhadores”. Esta frase do governador Beto Richa consegue sinteti-zar muito dos novos tempos que o Paraná vive depois da

troca de governantes na última eleição.Porque ela corrige uma deformidade fun-

dada na ideia de que o governo deve servir e o governante servir-se do Estado, preceito que orientou a administração pública do Paraná na década anterior.

Há receita para o crescimento? O governador Beto Richa tem uma que acaba de levar à prá-tica e que está dando bons resultados. Antes de tudo, trabalho. Muito trabalho, que a herança recebida foi o caos. Ao iniciar o seu mandato Richa não imaginava que encontraria problemas gravíssimos na administração. O caixa vazio, dívidas penduradas, irregularidades jurídicas, estruturas sucateadas.

Por onde começar? Primeiro um diagnóstico dos problemas encontrados em cada secreta-ria. Levantadas as difi culdades, feito o primeiro balanço geral da crise, cada um dos secretários assumiu sua parcela de responsabilidade na for-ma de metas. Quem não cumprir, ou explica ou dança. Simples assim.

Beto Richa e os secretários da área econômica se concentraram na recuperação das fi nanças e na elaboração de um plano de retomada do crescimento, sem o que não há maneira de sair do atoleiro.

Medidas? Óbvias. Atrair investimentos. Estimular a produção. Abrir mercados. Para isso, oferecer segurança jurídica e estabelecer nova política fiscal. Parece simples e é simples assim. Tanto é que os investidores aparece-ram. Sabem das potencialidades do Paraná e já não temem o governo nativo que os ameaçava para evitá-los. Há previsão de que mais de R$ 10 bilhões entrem no Paraná para a instalação

de indústrias no prazo de um ano.O secretário da Fazenda, Luiz Carlos Hauly já

ocupou o posto entre 1986 e 1989. E nos últimos vinte anos, como deputado federal, dedicou-se a estudar a política tributária brasileira e suas aplicações nos estados, especialmente no Para-ná. Tinha pronta a fórmula para mudar as regras e fazer do fi sco não um ogro devorador, mas um instrumento de estímulo aos investimentos.

Houve surpresas e até incredulidade, mas o mercado costuma reagir rapidamente às boas e más notícias. Surpreendente é perceber o quanto a administração anterior difi cultou e impediu a inversão de capitais no Estado. Mas há vantagens comparativas do Paraná que nem uma década de esforço destrutivo conseguiu eliminar. A capacidade produtiva do agrone-gócio cresceu, apesar do governo e suas re-gras medievalistas que recusam tecnologia e ciência. A cultura fundada na valorização do trabalho persistiu e sobreviveu ao discurso po-pulista. E não foi possível deteriorar comple-tamente a infraestrutura que fora construída em mais de um século.

Ainda há problemas graves a enfrentar. Mas pouco a pouco o governo consegue soluções rápidas para problemas que pareciam crôni-cos. Um exemplo? Um impasse de oito anos prejudicava a vida de 35 mil professores que se formaram na escola Vizivali e não tinham reco-nhecimento e por isso mesmo não conseguiam progredir na carreira, o que constituía enorme desestímulo. Uma simples decisão apontou a solução, demonstrando que há problemas que são facilmente resolvidos quando há vontade política acompanhada de capacidade técnica. O governo destinou R$ 58 milhões para o trans-porte escolar, o que representou 100% a mais que o total repassado em 2010. E retomou a con-tratação de professores para cobrir as necessi-dades imediatas. Chamou 3.000 professores já concursados.

Na Segurança Pública foi instalado o Gabine-te de Gestão Integrada para segurança na fron-teira, em parceria com o governo federal. Foi criado um Batalhão de Polícia de Fronteira para ajudar a conter o contrabando de armas e drogas na fonte do problema. O governo contratou 618 servidores para atender hospitais no interior do Paraná. O Estado retomou investimento para equipar e reestruturar hospitais construídos na gestão passada.

O Porto de Paranaguá fez uma dragagem emergencial dos 14 berços de atracação. Coisa que não era feita há seis anos. O governo reto-mou o diálogo com as concessionárias para a redução das tarifas do pedágio. A Copel voltou a buscar bons projetos para fazer investimentos. Começou a operar a Internet de banda extra-larga para todo o Estado. A Compagas chegou a Londrina com investimento de R$ 8 milhões.

O programa de habitação popular foi reto-mado. Em quatro anos serão construídas casas para 100 mil famílias. Neste ano serão erguidas 27.500 casas. Para que se tenha uma ideia do descalabro anterior, nos últimos quatro anos do governo anterior foram construídas apenas 25 mil unidades no Paraná.

Inacreditável, mas há centenas de medidas do gênero que mudaram rapidamente a vida de milhares de pessoas no Paraná, o que só ajuda a atestar a paralisia em que se encontrava o go-verno anterior.

Ao lado de medidas que parecem pequenas mas têm larga repercussão em seu conjunto, o governo lançou o programa “Paraná Compe-titivo”, que reinseriu o Estado na agenda dos investidores nacionais e internacionais. Só entre janeiro e maio foram confi rmados R$ 1,3 bilhão em investimentos.

O promissor é que tudo leva a crer que o patrimonialismo da era de Requião e de sua família faleceu nas urnas quando o discurso recheado de nacionalismo e moralismo chin-

frim se esgotou. Os paranaenses perceberam, afi nal, que Requião e sua caterva estavam em-panturrando a gente de mentiras. Os políticos sempre mentiram muito, mas no caso de Re-quião atingiram o sublime.

O Paraná obedeceu a essa rigorosa dieta de mentiras durante oito anos, talvez desde sem-pre, ministrada pelos detentores do poder e por aqueles que no poder os sustentam. Ocor-reu que nos últimos anos as mentiras cresce-ram em volume e passaram a ser pronunciadas com especial arrogância para engordar uma retórica ufanista.

A opinião pública percebeu que inúmeros pri-vilegiados cuidavam de fortalecer-se no privi-légio ao propagarem o misticismo da política inspirada na Carta de Puebla, uma invenção dos publicitários de Requião.

Agora, diz um empresário que manteve a cabeça fria mesmo quando muitos entre seus pares aplaudiam Requião e seus miquinhos amestrados. “Agora a ilha de prosperidade e justiça social está para ir a pique”.

O que o novo governo liderado por Beto Richa deve fazer? A maioria à sua volta prega moderação e prudência na necessária denúncia da situação caótica em que recebeu o Estado. Vencem de lavada os conselheiros que tentam demonstrar que trombar não é tão mau assim e que a decisão política de enfrentar os moinhos de vento do passado, vendo-os como moinhos de vento e não como gigantes, fará mais para marcar a ação deste governo do que o quixo-tismo institucional.

Gestos fortes não signifi cam repetir o com-portamento bizarro da turma anterior. Gestos fortes são, fundamentalmente, uma necessida-de política quando administrar um Estado como o Paraná se torna um desafi o ainda maior para Beto Richa diante do desgoverno que o antece-deu. Ou logo ele poderá ser confundido como continuidade dos desvarios.

O Paraná não naufragou porque é forte e capaz de suportar até mesmo oito anos de des-governo. A sociedade tem o direito de saber o que foi feito contra ela nesse período de des-vario e bobagens. Mas antes de tudo é preciso voltar a crescer e a prosperar. Eis a fórmula do “Paraná Competitivo”.

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Page 6: Ideias Economia 01

nesta ediçãoCassio Taniguchi 07Planejamento é a chave do sucesso

Entrevista Beto Richa 08

Perdas estaduais 12

Entrevista luiz Carlos Hauly 16

Paraná competitivo 20

José Pimentel 24União de todos pelo empreendedorismo

Antonio Carlos Mendes Th ame 25A verdadeira reforma tributária

A história do Confaz e a guerra fi scal 26

Montadoras ampliam investimentos 28

Ricardo Patah 30Reforma tributária com valorização do trabalho

novos ventos no turismo 32

lázaro 34

Índic�

REVISTA ECONOMIA

Publicação da Travessa dos EditoresISSN 1679-3501 R$ 10,00revistaideias.com.brfacebook.com/revistaideiastwitter@[email protected]

EDITOR-CHEFEFábio Campana

CHEFE DE REDAÇÃOMarianna Camargo

COLABORADORESAgência Estadual de Notícias, Antonio Carlos Mendes Th ame, José Pimentel, Lázaro, Ricardo Patah

CAPAGuilherme Zamoner

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOClarissa M. Menini, Katiane Cabral eLuigi Camargo

DEPARTAMENTO COMERCIALMarcelo Espírito Santo Rocha

PARA [email protected]

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ONDE ENCONTRARBanca do Batel • Banca Boca Maldita • Banca da Praça Espanha • Revistaria do Maninho • Revistaria Quiosque do Saber — Angeloni • Banca Presentes Cotegipe — Mercado Municipal • Livrarias Ghignone • Banca Bom Jesus • Revistaria Itália

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Page 7: Ideias Economia 01

agosto de 2011 | 7

O Governo do Paraná está re-cuperando a dinâmica do crescimento econômico, com inovação tecnológica, inte-riorização e inclusão social. Para chegar lá, explica o se-

cretário do Planejamento, Cassio Taniguchi, é preciso reimplantar a cultura do planejamento de longo prazo no Estado.

As políticas públicas precisam deixar de ser unilaterais “e incorporar os organismos repre-sentativos do segmento produtivo”, diz o se-cretário. É crucial a recomposição dos espaços de presença e influência política do Estado na órbita federal e da apresentação e defesa de pro-jetos relevantes para o desenvolvimento regional, com programas do executivo federal ou entidades multilaterais de crédito, como Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Em particular, a economia paranaense deve se-guir a tendência de diminuir a forte dependência dos ciclos econômicos e passar a ostentar uma es-trutura produtiva mais diversificada, articulada com os mercados brasileiros e do resto do mundo, e sustentada no parque metalmecânico, liderado pelo complexo automotivo; no agronegócio, com forte presença e participação das cooperativas e incentivos à profissionalização das pequenas uni-dades rurais; no complexo madeireiro, papeleiro e moveleiro; na construção civil, puxada pelos

investimentos estruturantes em infraestrutura; na fronteira aberta pelo comércio e os projetos produtivos no âmbito do Mercosul; no melhor aproveitamento das vocações e o desenvolvimen-to das aptidões regionais, apoiados nas ações das universidades e faculdades estaduais e centros de tecnologia, entre outras linhas.

De acordo com Taniguchi, a recuperação do tempo perdido exige a multiplicação dos ní-veis de eficiência e produtividade da máquina pública, por meio do estabelecimento de uma sintonia fina com os atores sociais atuantes no Paraná, na definição das diretrizes de um pro-jeto de desenvolvimento e das políticas de ação. Ademais, é preciso trabalhar, de forma perma-nente, na direção da feitura de um ajuste fiscal capaz de produzir a redução estrutural das des-pesas correntes do governo e abrir espaço para a realização de investimentos, sobretudo na re-cuperação da competitividade da infraestrutura do Estado, atraindo o setor privado.

Nesse sentido, um ambiente de discussão contínua está em instalação, visando à seleção de ramos industriais e regiões, a serem priori-zados na atração de investimentos, o que deverá resultar na viabilização de empreendimentos detentores de enormes efeitos multiplicadores dinâmicos para frente e para trás na matriz eco-nômica do Paraná, caso do aprofundamento da verticalização do agronegócio, da ampla gama

de atividades de suprimento das diferentes eta-pas do pré-sal, da planta de polipropileno em Araucária, embrião de um polo petroquímico, e do adensamento do parque de fornecedores do complexo automotivo, entre outros.

As sementes para a restauração de um clima propício à realização de negócios no Paraná estão nas iniciativas políticas para montagem de um arranjo institucional em que trabalhem, de forma sincronizada, as instâncias públicas e privadas operantes no Estado, e da execução de uma cirurgia nas finanças públicas. Mais que isso, essas ações representam uma mutação de posturas e atitudes que deve contribuir, de for-ma relevante, para a reconquista dos ingredien-tes de crescimento econômico sustentado, com maior grau de interiorização e inclusão social.

Os resultados dessa empreitada começam a aparecer em duas frentes, segundo Taniguchi: o desempenho econômico corrente e o retorno do interesse de investidores potenciais pelo Estado. O que atesta a credibilidade do governante e da equipe de trabalho do governo.

Planejamento é a chave do sucesso

O Governo do Paraná está ampliando a implantação do sistema de Gestão de Materiais e Serviços (GMS), que dá mais agilidade, segu-rança e economia às compras feitas pelo poder público estadual.

O sistema organiza e gerencia todas as fases da compra de materiais ou da contratação de serviços – desde o momento em que alguma área do governo constata a necessidade de aquisição de materiais e/ou prestação de serviços, até o momento final do pagamento, passando por todas as etapas previstas em lei para a operação.

Trata-se de um sistema com qualidade de informação, que atende à diretriz do governador Beto Richa para modernizar a administração públi-ca. O cadastro é operado pelo Departamento Estadual de Administração de Compras (DEAM) da Secretaria da Administração, que é responsável

cassio Taniguchi Secretário de Estado do Planejamento do Paraná

sisTEma agiliza compras do EsTadopela maior parte das compras e contratações de serviços utilizados pelos órgãos públicos estaduais.

O plano de expansão e descentralização prevê a implantação em todas as áreas da administração estadual ao longo dos próximos meses, até meados de 2012. Vai contemplar o planejamento das aquisições, os procedimentos legais de compras (licitações), organizar os pedidos, gerir o almoxarifado de cada órgão da administração estadual e acompanhar os contratos e convênios.

O sistema permite o aperfeiçoamento permanente, com a catalogação de no-vos itens para suprimento de materiais e serviços. O GMS também faz a gestão do Cadastro Único de Fornecedores, composto por 5,2 mil empresas e profissionais. Profissionais e empresas de qualquer porte podem fazer o cadastro pela internet, no Portal de Compras do Estado do Paraná (www.comprasparana.pr.gov.br).

Cassio Taniguchi

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Entrevist� Bet� Rich�

O Estado como parceiro

O governador do Paraná fala das mudanças que já ocorrem no estado, com a elaboração de política fi scal moderna, segurança jurídica

e abertura para dialogar com o capital produtivo

O governador Beto Richa tem repetido uma espécie de mantra para todos os que lhe perguntam a quantas anda o processo de desenvolvi-mento do Paraná e como o

governo trabalha para atrair novos investi-mentos para o Estado. Diz ele: “Elaboramos uma política fi scal moderna, garantimos segu-rança jurídica e queremos conversar com to-dos aqueles que quiserem investir no nosso Es-tado”. Ele ressalta o papel do programa Paraná Competitivo, que nos primeiros seis meses de 2011 garantiu R$ 1,3 bilhão em inversões para instalação e ampliação de plantas industriais. Segundo Richa, outros R$ 6 bilhões estão em negociação. Não é pouco, ainda mais se com-pararmos os valores com a falta de números no período anterior de governo. Nesta entrevista, Richa destaca o trabalho para reinserir a terra paranaense na agenda de investidores nacio-nais e estrangeiros. Fala sobre guerra fi scal, in-fraestrutura, parceria com o governo federal, agricultura e educação e do modo como ad-ministra. “Acabou o tempo da quebra de con-tratos. Agora, o Estado é parceiro. Do capital e dos trabalhadores”.

Passados seis meses de governo, o que mudou na economia paranaense como decorrência de ações do Estado?Beto Richa – O Paraná reocupou seu lugar na agenda dos investidores. E um lugar privile-giado, dadas as excepcionais características do Estado. Depois de vários anos sem receber novas empresas, isolado numa espécie de ostracismo econômico, o Estado reatou o diálogo com o ca-pital produtivo. Várias empresas estão se insta-lando no Paraná, gerando milhares de empre-gos. A Potencial Petróleo está investindo R$ 88 milhões na Lapa. O investimento da Sumitomo (indústria japonesa de pneus) em Fazenda Rio

Grande é de R$ 560 milhões. A Arauco (fábrica de papel) vai ampliar sua planta em Jaguariaíva, com um aporte de R$ 272 milhões. Estes são só alguns exemplos, entre muitos outros.

A mera abertura para o diálogo com empresas opera como apelo para novos investimentos?Beto Richa – É que, associada a esta abertura, vem a convicção de que as empresas serão tra-tadas com seriedade e que há segurança jurídica para os investimentos. Acabou o tempo da que-bra de contratos. Agora, o Estado é parceiro. Do capital e dos trabalhadores. A negociação para a defi nição do novo piso salarial regional deixou isso claro. As conversações foram arbi-tradas pela Secretaria de Estado do Trabalho, houve concessões de parte a parte e o resultado foi a fi xação do mais alto piso regional do País, que pudemos anunciar numa grande festa dos trabalhadores no dia 1º de maio. Então, e é im-portante que se registre, enfatizamos o diálogo como uma marca registrada da nossa gestão. Na Assembleia Legislativa temos uma ampla base de apoio, mas respeitamos o trabalho da opo-sição. O relacionamento com as prefeituras vai na mesma direção: recebo prefeitos de todos os partidos, sem qualquer tipo de distinção. Os in-vestimentos vão benefi ciar todos os municípios. Isso é minha obrigação. Mas nem sempre foi as-sim a relação entre o Estado e as prefeituras.

Que papel exerce o programa Paraná Compe-titivo neste cenário?Beto Richa – Um papel central. O Paraná Com-petitivo foi o instrumento que concebemos para atrair novos empreendimentos. O mecanismo fi scal é importante, na medida em que cria in-centivos, mas a concessão está subordinada a várias contrapartidas, como geração de em-pregos de qualidade e de impostos, transfe-rência de tecnologia e preservação ambiental. O programa está no cerne de uma nova política

O paraná reOcupOu seu lugar na agenda dOs investidOres. e um lugar privilegiadO, dadas as excepciOnais características dO estadO

industrial destinada não apenas a atrair investi-mentos, mas também fortalecer a indústria lo-cal, dar mais conteúdo tecnológico à produção paranaense, garantir maior competitividade e ampliar as divisas.

A propósito de divisas, neste ano (de janeiro a maio) o Estado teve défi cit de US$ 453 milhões em sua balança comercial.Beto Richa – É verdade. As exportações para-naenses mostraram dinamismo, crescendo 24% neste período na comparação com os primei-ros cinco meses de 2010. Mas as importações tiveram uma explosão: quase 50% de cresci-

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RICA

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EIDA

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ECS

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mento. A valorização do real, além do que se-ria razoá vel, desequilibra a balança comercial. Acredito que vamos reverter esse desequilí-brio a médio prazo com o Paraná Competitivo e medidas pontuais, como a criação da Agência de Internacionalização do Paraná, que tem a participação de mais de 50 entidades ligadas ao comércio exterior e cujo objetivo é ampliar nossa presença no mercado internacional. Nesse mesmo sentido, queremos ampliar as exportações à China. Para isso, estudamos o envio de uma delegação empresarial àquele país. O secretário da Indústria e Comércio, Ricardo Barros, antes de se licenciar do car-go, começou a articular o assunto com o pre-sidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China. As possibilidades de ampliar o intercâmbio comercial com a China são inte-ressantes, até porque a China, hoje, é um dos principais mercados, senão o principal, para os produtos paranaenses. Os estudos da área econômica do governo, confirmados por en-tidades de classe empresariais, indicam que há espaço considerável para novos negócios, especialmente no setor agropecuário.

O porto de Paranaguá é apontado como entra-ve à economia paranaense e às exportações. Como remover esse gargalo?Beto Richa – Com gestão eficiente e transpa-rência, com medidas que estão restaurando a credibilidade do porto, muito abalada no go-verno anterior. Com menos de dois meses de gestão já tínhamos feito a dragagem emergen-

cial de berços, reclamada havia vários anos. Já conseguimos a licença ambiental para licitar a dragagem de manutenção dos canais, uma obra estimada em R$ 100 milhões, que faremos com recursos próprios e do governo federal. As ope-rações do Terminal de Contêineres estão sendo ampliadas com quatro novas linhas de navega-ção. O porto já está recebendo navios de maior porte e, além disso, a capacidade operacional de contêineres, que era de 700 mil unidades em 2010, deverá chegar a 1,2 milhão no ano que vem. O maior desafio era resgatar a imagem do porto, que estava muito desgastada, inclusive com perda de cargas para portos catarinenses. E isso já conseguimos.

A educação é apontada como outro obstácu-lo ao desenvolvimento econômico do País. O que o Paraná vai fazer para se diferenciar de outros estados?Beto Richa – A educação e a capacitação pro-fissional. O País sentiu bem perto a ameaça do apagão de mão de obra dois anos atrás, quando o PIB cresceu de forma mais acelerada. No fi-nal de junho lançamos um robusto programa de obras para a educação formal e o ensino profissionalizante, um pacote total de R$ 126 milhões. São R$ 35 milhões para reforma e re-paros de centenas de escolas estaduais e R$ 38 milhões para a construção de cinco centros de educação profissional, os chamados CEEPs, em Francisco Beltrão, Manoel Ribas, Terra Roxa, Pitanga e Laranjeiras do Sul. Além disso, des-tacamos R$ 30 milhões para a construção de

escolas profissionalizantes em Assaí, Cianorte, Fazenda Rio Grande e Ibaiti. Obras que serão feitas com recursos federais – que estavam mofando havia alguns anos – e do Estado. De outra parte, firmamos convênio com o Sistema S (Senai e Senac), a Funtel (Fundação de Ensi-no Técnico de Londrina) e o Instituto Federal do Paraná para um programa de qualificação social e profissional que beneficiará 1.800 tra-balhadores de várias cidades do Estado. Terão acesso a cursos de informática, soldador, cons-trução civil, torneiro mecânico, operador de máquinas e outros. Investimento de R$ 1,4 milhão, dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do Estado. A educação de qualidade, centrada no aprendizado do aluno em sala de aula, e a qualificação profissional têm prioridade na gestão.

Ainda com relação ao Paraná Competitivo: qual o balanço do programa, desde a sua criação?Beto Richa – Até o início de junho tínhamos ofi-cializado R$ 1,3 bilhão em investimentos. Mais de 70 empresas já nos consultaram para aderir ao programa, de forma que estão em negociação mais de R$ 6 bilhões em novas inversões. Fato importante a acrescentar, aqui, é que o Paraná Competitivo abre perspectivas consistentes de desconcentrar os investimentos, hoje conges-tionados na Região Metropolitana. É fundamen-tal descentralizar o processo de industrializa-ção, dando maior dinamismo a outras regiões do Estado.

O Paraná Competitivo está no cerne de uma nova política industrial destinada não apenas a atrair investimen-tos, mas também fortalecer a indústria local

O maiOr desafiO era resgatar a imagem dO pOrtO, que perdia cargas para pOrtOs de OutrOs estadOs e issO já cOnseguimOs

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Além da retomada da industrialização, como o governo estadual está trabalhando a agricultura?Beto Richa - Todos os 371.051 estabelecimentos rurais paranaenses funcionam como veias que irrigam o Estado de vida. No Paraná a produção agrícola combina qualidade e produtividade, tecnologia de ponta e gente trabalhadora. Por estes motivos, podemos nos orgulhar de viver no Estado que é o maior produtor de grãos do país. Este feito é resultado da soma de esforços daqueles que plantam em fazendas bem estru-turadas com a nobre e dedicada atividade dos milhares de homens e mulheres do campo que praticam a agricultura familiar. O Estado pre-cisa dar respostas concretas às demandas de todo o setor agropecuário. Esta busca está e es-tará sempre presente nas nossas ações. Exem-plo disso é o diálogo aberto e franco para uni-ficação de agendas das instituições estaduais, federais, municipais com a daquelas que repre-sentam a iniciativa privada e os movimentos sociais. Nossa postura é de parceria. É assim que estamos estruturando a criação da agên-cia estadual de defesa agropecuária. Fora isto, considero que um adequado suporte técnico e tecnológico é e continuará sendo fundamental para o agricultor, seja para capacitar pessoas e reestruturar cultivos, seja para identificar oportunidades e potencialidades. Por isso, já contratamos centenas de profissionais - e as-sim faremos durante os próximos anos – para os quadros da Emater e do Iapar.

Como o governo analisa a guerra fiscal entre os estados?Beto Richa – É ruim para o País. Tem efeitos ne-gativos sobre a arrecadação. Neste mês de julho, Curitiba sedia uma reunião do Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária) em que o secre-tário Hauly (Fazenda) vai expor nossa posição. Mas tem um detalhe importante a ser frisado: o Paraná tem sido, historicamente, discriminado pela União nos repasses de recursos e investi-mentos federais ao Estado. Não me refiro à ges-tão da presidente Dilma, com quem temos tido um relacionamento produtivo. É uma questão que já atravessa décadas. Então, é preciso re-verter isso. O Estado tem que receber transfe-rências compatíveis com os impostos recolhidos pelas empresas e trabalhadores paranaenses. O desequilíbrio federativo na área fiscal e tribu-tária é uma das razões da guerra fiscal. É óbvio que o governo central precisa corrigir as distor-ções regionais, em benefício dos estados mais pobres. E o Paraná contribui com esse esforço. Mas o Estado não pode continuar sendo punido pelo desequilíbrio federativo.

Como superar os impasses entre os estados?Beto Richa – Com disposição para dialogar e ne-

gociar as saídas para uma solução. As alíquotas de ICMS nas operações interestaduais estão no centro da questão. Mas também é fundamental a disposição real de Brasília de compensar as eventuais perdas dos estados. O entendimento passa pelos estados, mas também depende do governo federal.

A revisão do ICMS e o problema da guerra fiscal estão vinculados, neste debate, à repactuação das dívidas estaduais junto à União, reivindi-cada pelos Estados?Beto Richa– Não são questões diretamente rela-cionadas. Mas a renegociação da dívida também está na mesa de discussão e inclusive o assunto é objeto de debate no Confaz. A dívida pressiona as finanças dos estados e tornou-se um grande obstáculo à ampliação dos investimentos pú-blicos. Isso porque os juros pagos pelos estados estão indexados ao IGP, acrescidos de uma taxa que tem variações entre 6% e 9%. Virou uma bola de neve. De tal forma que alguns estados precisam decidir entre pagar a dívida e fazer investimentos. Os governadores reivindicam a fixação de uma nova taxa, mais compatível com a capacidade de pagamento dos estados e também com a nova realidade econômico--financeira do País.

Que inovações administrativas serão implan-tadas no governo?Beto Richa – Nosso propósito é fazer uma re-forma nas estruturas do Estado para realocar ações de governo e potencializar os esforços que estão sendo feitos. Mas a grande inovação é que vamos buscar os resultados a partir de Contratos de Gestão que os secretários pre-cisarão adotar. Esses contratos estabelecem objetivos e metas que precisam ser cumpridas. Trata-se de uma iniciativa que tem como foco dar fim ao desleixo administrativo. O setor público apresenta problemas crônicos que exigem grandes investimentos do Estado, mas é claro que não se equacionam apenas com recursos orçamentários. É essencial qualificar a gestão.

O governo federal demonstrou interesse na consolidação das Parcerias Público-Privadas. Como o sr. avalia esta questão?Beto Richa - Houve uma clara a mudança de paradigmas e isso pode fazer com que o Brasil ganhe mais agilidade para avançar rapida-mente na resolução dos graves problemas de infraestrutura que amarram nosso crescimen-to. É isso que enxergo a partir do anúncio do governo federal de prováveis concessões de aeroportos ao investimento privado. No Pa-raná, os gargalos nos portos, nas rodovias, hidrovias, aeroportos e ferrovias são bem conhecidos. Eles serão tratados com primazia por este governo. A perspectiva de consolida-ção de parcerias público-privadas, contudo, é estimulante e ajuda a desenhar novos ce-nários para o nosso desenvolvimento. Nos dá condições práticas para atender à demanda de setores essenciais para um Estado que não é só o maior produtor de grãos do País. Temos uma agroindústria moderna, uma indústria diversificada, comércio dinâmico e um setor de serviços em franca expansão. As PPP´s são um caminho. Mas o Paraná precisa e merece mais. A União já conhece nossas necessida-des e potencialidades. Num encontro recen-te com a presidente Dilma Rousseff recebi a garantia de que teremos respostas urgentes, especialmente em obras de infraestrutura e saneamento básico. O “desarme” do governo em relação a dogmas do passado pode ser uma resposta criativa ao momento que vivemos. É uma iniciativa que pode ajudar a destravar o processo de modernização da logística do Estado e do País.

Como recebeu a nomeação de Gleisi Hoffmann para o Gabinete Civil da Presidência?Beto Richa – Bom para o País e ótimo para o Paraná. Temos a oportunidade de estabelecer uma grande parceria em favor do Estado.

gOvernadOres reivindicam uma nOva taxa, mais cOmpatível cOm a capacidade de pagamentO dOs estadOs e também cOm a nOva realidade ecOnômicO-financeira dO país

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Economi�

As perdas estaduais

Milhares de casas populares, estradas pavimentadas e galerias de esgoto deixam de ser construídas para os estados poderem arcar com o serviço da dívida

O paraná tOmOu emprestadO r$ 5,6 milHões; pagOu r$ 8,6 bilHões e deve r$ 8,9 bilHões

ual é o governador que não gostaria de dispor de R$ 1 bi-lhão a mais por ano para in-vestir nos projetos que julga mais importantes do seu plano de governo? Pois este é o valor que o Paraná econo-mizaria com a mudança na

taxa de juros da dívida contraída, junto à União, quando da venda do Banestado. São milhares de casas populares, escolas, merenda escolar, estradas pavimentadas e quilômetros de esgoto adiados a cada ano por conta do peso que signifi ca o serviço da dívida nas fi nanças públicas.

Com a utilização do IGP-DI mais um per-centual que varia entre 6% e 9%, dependen-do da parcela paga no momento do emprés-timo, os estados brasileiros que têm dívidas com a União pagam de 18% a 21% de juros, quando o próprio governo federal utiliza a taxa Selic, hoje próxima dos 12%, em sua própria dívida e nos títulos federais. “Esta-mos financiando a dívida da União”, avalia o secretário da Fazenda do Paraná, Luiz Carlos Hauly, que lidera movimento para obter mu-dança na taxa de juros, e, com isso, aumentar a parcela do orçamento estadual destinada a investimentos.

O caso do Paraná é emblemático, mas não é único. O governo do estado tomou empréstimo de R$ 5,6 bilhões; já pagou R$ 8,6 bilhões e deve mais R$ 8,9 bilhões. Ou seja, o aumento da dívi-da alcança 159%. Em pior situação está o estado de Goiás, para citar apenas um exemplo. O valor inicial da dívida goiana era de R$ 930 milhões; o estado pagou R$ 1,6 bilhão e ainda deve R$ 2,7 bilhões – um aumento de 431%.

A dívida de outros estados também cresceu de forma astronômica. A de Minas Gerais aumentou 340%; a do Mato Grosso aumentou 355%; San-

ta Catarina viu seus débitos crescerem 368%,enquanto que São Paulo amarga aumento da dí-vida em 359%. No total, os estados brasileiros têm dívidas junto à União que somam cerca de R$ 400 bilhões. É um dos problemas mais graves que todos têm.

A taxa de juros aplicada às dívidas dos esta-dos é a mais cara do mercado. Um empresário que tome empréstimo junto ao BNDES, por exemplo, pagaria juros com base na TJLP, de cerca de 6% ao ano. O alto comprometimen-to das fi nanças estaduais engessa os investi-mentos, e “falta dinheiro para a educação, a saúde e segurança pública”, pondera Hauly. A demanda dos estados é “extremamente de-fensável”.

Em defesa de mudanças nesse cenário, o secretário Hauly sugere que a economia fei-ta com a redução da taxa de juros poderia ser usada pelos estados em obras de desenvolvi-mento do país, “até como contrapartida às obras do PAC”.

DiVisÃO iNJusTa Ao lado da dívida que dre-na os cofres estaduais, outra reivindicação atrapalha o sono dos secretários da Fazenda. Por determinação do Supremo Tribunal Fede-ral (STF), uma nova lei para defi nir a divisão do Fundo de Participação dos Estados (FPE) precisa estar em uso até 31 de dezembro de 2012. E os estados já começam a se movimentar para garantir uma fatia maior para si, princi-palmente os que foram prejudicados na distri-buição que está em vigor, como é o caso dos três estados do Sul.

O FPE foi criado porque a distribuição dos impostos no Brasil, com base na Constituição e em Emendas Constitucionais, não obteve o equilíbrio esperado e necessário entre os entes da Federação. Em tese, cada nível de governo deveria ter autonomia sobre uma determinada base tributária: para a União foi destinada a tri-butação sobre a renda; os estados fi caram com os impostos sobre o consumo; e aos municípios coube a tributar sobre a propriedade.

Como não funcionou, foram criados meca-nismos para transferir recursos entre as esferas de governo como forma de compensar desvios e desequilíbrios. O FPE faz a transferência de recursos fi nanceiros da União para os estados e tem como características ser redistributiva, obrigatória e sem contrapartida.

O fundo foi previsto no artigo 159, inciso I,alínea a da Constituição Federal de 1988, e deve receber 21,5% da arrecadação da União – impostos sobre a renda e proventos de qual-quer natureza, ou seja, IR e IPI (Imposto sobre

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ACREContrato: R$162,95 mi

Pago: R$263,73 miDeve: R$314,09 mi

MATO GROSSOContrato: R$775,10 mi

Pago: R$1.532,74 miDeve: R$2.751,82 mi

GOIÁSContrato: R$930,44 mi

Pago: R$1.589,43 miDeve: R$4.007,42 mi

DISTRITO FEDERALContrato: R$513,81 mi

Pago: R$822,80 miDeve: R$1.144,64 mi

PIAUÍContrato: R$388,44 mi

Pago: R$1.040,33 miDeve: R$443,50 mi

RIO GRANDE DO NORTEContrato: R$56,47 mi

Pago: R$173,13 miDeve: R$30,22 mi

PARAÍBAContrato: R$375,24 mi

Pago: R$697,41 miDeve: R$703,30 mi

PERNAMBUCOContrato: R$1.924,80 mi

Pago: R$3.769,21 miDeve: R$2.782,84 mi

ALAGOASContrato: R$2.224,75 mi

Pago: R$2.558,67 miDeve: R$6.075,99 mi

BAHIAContrato: R$2.300,00 mi

Pago: R$5.500,00 miDeve: R$4.600,00 mi

ESPÍRITO SANTOContrato: R$595,30 mi

Pago: R$974,32 miDeve: R$1.140,08 mi

MINAS GERAISContrato: R$11.827,54 mi

Pago: R$12.802,93 miDeve: R$40.223,747 mi

SÃO PAULOContrato: R$46.585,14 mi

Pago: R$68.570,60 miDeve: R$167.090,52 mi

TOTAIS Contratos: R$84.218,13 mi

Pagamentos: R$120.263,52 miSaldo devedor: R$287.886,38 mi

PARANÁContrato: R$5.665,13 mi

Pago: R$8.682,04 miDeve: R$8.984,58mi

SANTA CATARINAContrato: R$2.760,548 mi

Pago: R$6.487,22 miDeve: R$10.155,36 mi

RIO GRANDE DO SULContrato: R$7.132,42 mi

Pago: R$11.286,11 miDeve: R$37.438,21 mi

RN PI PE PR PB ES AC BA DF AL MG MT SP SC GO RS

DADOS DA DÍVIDA DOS ESTADOS / LEI 9496 (em milhões de reais)Pagamentos efetuados até 30/04/2011Saldo devedor em 30/04/2011

AUMENTO DA DÍVIDA

54%

114%145% 159%

187% 192% 193% 200%223%

273%

340%355% 359% 368%

431%

525%

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| julho de 201114

Fonte: IBGE

PIB 2008 / POPULAÇÃO 2010 Cada boneco representa 2 milhões de habitantesCada moeda representa R$100 bilhões

NORTE: R$154,70 bilhões / 15.865.678 habitantes

NORDESTE: R$397,50 bilhões / 53.058.137 habitantes

PARANÁ: R$179,27 bilhões / 10.439.601 habitantes

SANTA CATARINA: R$123,28 bilhões / 6.249.682 habitantes

RIO GRANDE DO SUL: R$199,49 bilhões / 10.695.532 habitantes

SUL: R$502,05 bilhões / 27.384.815 habitantes

SUDESTE: R$1.698,59 bilhões / 80.353.724 habitantes

BRASIL: R$3.033,86 bilhões / 190.732.694 habitantes

CENTRO-OESTE: R$281,015 bilhões / 14.050.340 habitantes

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO

SANTA CATARINA

RIO GRANDE DO SUL

PARANÁ

SUL

CENTRO-OESTE

IDH0,813 75,7 0,554

IDSE GINI

NORTE

IDH0,763 42,4 0,501

IDSE GINI

SUDESTE

IDH0,823 96,6 0,5

IDSE GINI

NORDESTE

IDH0,72 32,4 0,535

IDSE GINI

0,82 89,3 0,49IDH IDSE GINI

0,829 91,6 0,489IDH IDSE GINI

0,84 95,8 0,473IDH IDSE GINI

0,832 91,4 0,492IDH IDSE GINI

BRASIL

0,80 57,9 52,4IDH IDSE GINI

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano (mede a qualidade de vida de um determinado lugar e utiliza como critérios indicadores de educação, longevidade e renda per capita). Variação de 0 a 1;

IDSE: Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (calculado por meio da análise de cinco variáveis: saneamento básico, educação, pobreza e desigualdade, renda e moradia). Variação de 0 a 100;

GINI: Índice de medida de Desigualdade. É comumente utilizado para calcular a desigualdade na distribuição de renda (consiste em um número de 0 a 1, onde o “0” corresponde a total igualdade e o “1” representa a total desigualdade).

Produtos Industrializados), além de multas e juros de mora e correção monetária sobre es-tes impostos.

O rateio entre os estados, estipulado em coe-ficiente fixo para cada um, foi disciplinado pelo artigo 2º e no Anexo Único da Lei Complementar nº 62, de 28 de dezembro de 1989. De acordo com a lei, 85% dos recursos do FPE são desti-nados para as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Os 15% restantes são divididos entre as regiões Sudeste e Sul.

Como se pode imaginar, muitos estados se consideraram injustiçados e quatro deles, Rio Grande do Sul, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul provocaram o STF com Adins e o resultado foi que o Supremo declarou parte da lei inconstitucional. Portanto, em janeiro de 2013, há que entrar em vigor novo ordenamento jurídico sobre o tema.

A base de sustentação das ações aponta a ar-bitrariedade dos critérios estabelecidos quan-do da edição da lei complementar, resultado de acordos políticos sem muita base na realidade. Além do mais, as condições socioeconômicas do Brasil da época são bastante diferentes das atuais.

Para ficarmos apenas com o caso do Pa-raná, vemos que o estado possui 34,58% da área da Região Sul e 38,12% da sua po-pulação. Com densidade demográfica de 52,4 habitantes por quilômetro quadra-do, tem renda per capita (em 2007) de R$ 15.711,20. O valor representa crescimen-to 118,99% sobre o ano de 2000, enquanto a média nacional cresceu 110,05%. Santa Catarina cresceu 122,72% e o Rio Grande do Sul, 109,20%.

A Região Nordeste já se aproxima da Re-gião Sul em termos de arrecadação de ICMS, mas como os critérios de distribuição do FPE estão congelados desde sua implantação, o Nordeste como um todo recebe um valor aproximadamente oito vezes maior que os estados do Sul. O crescimento na arrecadação do ICMS não é igual nos estados nordestinos, é claro.

Mas alguns, como a Bahia, estão bem pró-ximos da arrecadação dos estados da Região Sul e do próprio Paraná. Em 2009, o ICMS apurado pelo Paraná foi de R$ 12,3 bilhões, enquanto que o da Bahia foi de R$ 10,1 bi-lhões. A Bahia, entretanto, recebe o triplo dos recursos destinados ao Paraná, que en-tre os sulistas ainda é o que recebe a maior parcela do FPE.

Na Região Sul, o Paraná e o Rio Grande do Sul têm características populacionais e eco-nômicas semelhantes, mas os gaúchos arreca-daram em 2009 cerca de R$ 2,7 bilhões a mais

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Fonte: IBGE

PIB 2008 / POPULAÇÃO 2010 Cada boneco representa 2 milhões de habitantesCada moeda representa R$100 bilhões

NORTE: R$154,70 bilhões / 15.865.678 habitantes

NORDESTE: R$397,50 bilhões / 53.058.137 habitantes

PARANÁ: R$179,27 bilhões / 10.439.601 habitantes

SANTA CATARINA: R$123,28 bilhões / 6.249.682 habitantes

RIO GRANDE DO SUL: R$199,49 bilhões / 10.695.532 habitantes

SUL: R$502,05 bilhões / 27.384.815 habitantes

SUDESTE: R$1.698,59 bilhões / 80.353.724 habitantes

BRASIL: R$3.033,86 bilhões / 190.732.694 habitantes

CENTRO-OESTE: R$281,015 bilhões / 14.050.340 habitantes

INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO

SANTA CATARINA

RIO GRANDE DO SUL

PARANÁ

SUL

CENTRO-OESTE

IDH0,813 75,7 0,554

IDSE GINI

NORTE

IDH0,763 42,4 0,501

IDSE GINI

SUDESTE

IDH0,823 96,6 0,5

IDSE GINI

NORDESTE

IDH0,72 32,4 0,535

IDSE GINI

0,82 89,3 0,49IDH IDSE GINI

0,829 91,6 0,489IDH IDSE GINI

0,84 95,8 0,473IDH IDSE GINI

0,832 91,4 0,492IDH IDSE GINI

BRASIL

0,80 57,9 52,4IDH IDSE GINI

IDH: Índice de Desenvolvimento Humano (mede a qualidade de vida de um determinado lugar e utiliza como critérios indicadores de educação, longevidade e renda per capita). Variação de 0 a 1;

IDSE: Índice de Desenvolvimento Socioeconômico (calculado por meio da análise de cinco variáveis: saneamento básico, educação, pobreza e desigualdade, renda e moradia). Variação de 0 a 100;

GINI: Índice de medida de Desigualdade. É comumente utilizado para calcular a desigualdade na distribuição de renda (consiste em um número de 0 a 1, onde o “0” corresponde a total igualdade e o “1” representa a total desigualdade).

em ICMS do que os paranaenses. Na receita orçamentária do Paraná, o ICMS corresponde a 68,19%.

O pesquisador Sérgio Gobetti, do IPEA, aponta a existência de dois cenários para o Paraná na nova divisão dos recursos do FPE. Um deles traria prejuízos da ordem de R$ 442 milhões e o outro, que seria benéfico ao estado, aumentaria os repasses em 30%. Tudo vai depender, é claro, das novas regras que precisam ser aprovadas pelo Congresso Nacional.

DesigualDaDes Entre divisões assimétricas e repasses incompletos, os estados acumulam outros créditos junto à União. Uma conta que não para de crescer é a compensação pelas per-das causadas pela Lei Kandir. Usando o Paraná como exemplo, novamente, o governo contaria com mais R$ 1 bilhão a cada ano, o que nunca ocorreu.

A Região Sul, como um todo, tem os melho-res indicadores de desenvolvimento, seja pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), seja considerando o Índice de Desenvolvi-mento Sócio-econômico (IDSE) ou o Índice de Medida de Desigualdade (Gini). Mas, den-tro dela, o Paraná tem o pior índice em todas as três categorias, embora ainda bem superior à média nacional.

Apesar disso, o Paraná tem o menor valor per capita dos três estados sulistas no que se refere aos Programas Sociais com Transferên-cias da União para estados e municípios. E a Região Sul é a que apresenta o menor valor em relação ao restante do país, bem abaixo da média nacional.

O Norte, por exemplo, fica com 8,94% em participação nesses recursos, o que corres-ponde a R$ 761 per capita. O Nordeste recebe R$ 701 per capita (27,55%); O Centro-Oeste, R$ 1.045 por habitante (10,86%); o Sudeste, R$ 666 (39,61%); e o Sul, R$ 643 por habitante (13,04%).

A transferência da União dos recursos da cota-parte da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE), feita com base no cálculo da malha viária (40%), no consumo de combustíveis (30%), na população (20%) e na distribuição em parcelas iguais entre os estados dos demais 10%, coloca os estados do Sul, entre eles o Paraná, em desvantagem diante dos demais. O Nordeste recebe R$ 240 milhões; o Sudeste, R$ 357 milhões; e o Sul, R$ 155 milhões.

Apesar de tudo, o Paraná se destaca em vários quesitos, tanto em relação aos demais estados brasileiros como até comparado aos vizinhos do Sul.

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Entrevist� Luiz Carlos Hauly

O sistema tributário brasileiro é

caÓtico e injustoGarantir o social é gerar empregos. Empregos vêm da produção,

produção gera riquezas e riquezas geram tributos,que benefi ciam ainda mais o social

Ninguém faz conta no Para-ná. Até os deputados acham que o governo tem capaci-dade ilimitada. A assembleia aprova tudo”. A reclamação do secretário da Fazenda,

Luiz Carlos Hauly, feita logo no início do go-verno ainda não perdeu a razão de ser. A si-tuação das fi nanças estaduais não era boa e o governo, continua encontrando difi culdades para colocar a casa em ordem. Um grande es-forço foi feito para zerar as contas deixadas pela administração anterior, sem contar os compromissos assumidos tanto pelo gover-no como outros aprovados pela Assembleia Legislativa, sem apontar a fonte de recursos, que se revertem em despesas permanentes, somando R$ 1,5 bilhão ao ano.

Mas o secretário não se abate. “Nossa mis-são é prover e gerir os recursos financeiros de forma a viabilizar o desenvolvimento eco-nômico e social do estado do Paraná”, diz. Portanto, mãos à obra. É hora de colocar em prática a experiência de toda uma vida. Se-cretário da Fazenda paranaense pela segunda vez, Hauly foi prefeito de Cambé, no interior do Paraná, e eleito seis vezes seguidas como deputado federal.

Autor ou relator de muitas das mais im-portantes leis aprovadas no Congresso para o setor econômico, do Simples à Lei Kandir, da lei que protege os acionistas minoritários à lei que tornou transparente as ações e informa-ções do Tribunal de Contas da União (TCU), Hauly esteve no centro das discussões econô-micas e das mudanças que ocorreram no país nos últimos 30 anos.

Ele acredita que, na gestão dos negócios do estado, o governo Beto Richa está aparelha-do para fazer as transformações necessárias e iniciar um novo ciclo de desenvolvimento. E considera que, a longo prazo, o ajuste fi scal vai preservar a estabilidade, garantir queda na taxa de juros e crescimento sustentável. O desequilí-brio fi scal provoca aumento da carga tributária, aumento da infl ação, e crescimento da dívida pública e da taxa de juros.

Nos últimos meses, Hauly se engajou de corpo e alma na discussão da reforma fi scal para conseguir sua aprovação nesta reunião do Conselho Nacional de Política Fazendária

(Confaz). Ele também lidera movimento na-cional para colocar na pauta do encontro a ampliação do teto de isenção, para micro e pequenas empresas, de R$ 2,4 milhões para R$ 3,6 milhões ao ano.

Nesta entrevista, o secretário fala dos esfor-ços que o governo do Paraná vem fazendo para impulsionar a reforma fi scal, para melhorar e harmonizar o sistema tributário. “Temos o pior sistema tributário do mundo, que hoje prejudi-ca o desenvolvimento e impede a distribuição de riqueza”, avalia.

Como o governo do Paraná está trabalhando para reverter as difi culdades na obtenção de recursos para investimentos?Luiz Carlos Hauly – Estamos trabalhando desde o primeiro dia, tanto para aumentar a arrecada-ção do estado como para obter novos emprés-timos. A Secretaria do Tesouro Nacional (STN) antecipou o cronograma de visitas aos estados brasileiros para atender a um pedido do governo do Paraná, porque temos pressa em acertar a casa e obter o aval para novos empréstimos de fundos e bancos multilaterais. Estamos nego-ciando com o Banco Mundial e com o BID um valor de US$ 500 milhões de cada um deles. Vendemos a folha de pagamento do estado para o Banco do Brasil, que vai nos pagar R$ 500 mi-lhões e estamos realizando todo o possível para aumentar a arrecadação.

Mas temos problemas de toda a natureza, que vão desde um contencioso muito grande, uma dívida ativa de mais de R$ 12 bilhões para receber em ICMS; até créditos acumulados e um contencioso administrativo - só no Con-selho do Contribuinte temos 4.299 autos que

temOs O piOr sistema tributáriO dO mundO, que prejudica O desenvOlvimen-tO e impede a distribuiçãO de riqueza

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somam R$ 4 bilhões. Temos ainda um conten-cioso na Justiça muito grande. O senhor tem criticado duramente o sistema

outro lugar do mundo, só no Brasil. A carga tri-butária brasileira acabou se concentrando no consumo, contrariamente à tributação da renda e proventos de outra natureza. Quanto mais se tributa o consumo, mais regressivo fi ca o sis-tema. Quem paga mais impostos são os pobres.

Tem solução?Hauly – Se tivéssemos uma harmonização tri-butária, um sistema tributário mais enxuto, mais simplifi cado, mais objetivo, mais progres-sivo, o Brasil cresceria mais, distribuiria mais renda, as empresas teriam mais tranquilidade, gerariam mais empregos e haveria uma energia mais positiva no país.

Hoje, quem ganha até dois salários paga 53,9% de impostos, enquanto que as pessoas que recebem mais de 30 salários pagam 29%. Os países desenvolvidos, como Estados Unidos e os europeus, lastreiam a arrecadação principal-mente no Imposto de Renda (IR), o que é mais

10 propostas para um sistema tributário para o Brasil crescer a 10%

ao ano e distribuir renda

Diminuir a regressividade com imposto de Renda progressivo estado como parceiro

Comida e remédio com tributação zeroIsentar totalmente de tributos toda a cadeia alimentar, medicamentos e mais de 400 mil produtos.

industrializar o brasilIsentar totalmente as exportações e os bens de ativo fixo das empresas.

Diminuir o custo de contratação Zerar a alíquota patronal do InSS, transferindo a arrecadação para o imposto de movimentação fi nanceira, que seria criado exclusivamente para tal fi m.

seletividade para racionalizar e simplificarExtinguir o ICMS, IPI, ISS, COFInS e o IOF e criar um imposto seletivo monofásico de destino estadual e federal sobre energia elétrica, combustíveis líquidos e derivados, comunicação, cigarros, bebidas, veículos, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, pneus e autopeças.

Fortalecer os MunicípiosTodos os tributos sobre a propriedade serão dos municípios: IPTU, IPVA, ITR, ITBI e ITCMD.

Fim imediato da guerra Fiscal entre os estados

exportar agregando valores

acabar com a cunha fiscal nos empréstimos bancáriosAcabar com o IOF e os tributos sobre empréstimos bancários.

super, super simples para as Micros, Pequenas, Médias e grandes empresas das indústrias, Comércios e serviços• Só pagariam imposto de renda

sobre o lucro das empresas;

• O IMF cobriria todo o InSS patronal;

• O imposto seletivo estadual substitui o ICMS e o ISS;

• O imposto seletivo federal e o imposto de renda com base ampliada e progressivo substituiria o IPI, IOF, COFInS e a CSll.

super, super simples para as Micros,

tributário brasileiro, um verdadeiro mani-cômio como diz. Hauly – Temos uma das maiores cargas tribu-tárias do mundo e um sistema que impede a distribuição de renda. A verdade é uma só: o Brasil tem o pior sistema tributário do mundo. É um verdadeiro “manicômio tributário caótico”, onde quem pode mais, chora menos. Os incen-tivos fi scais creditícios criam uma concorrência desleal para o produtor brasileiro. Um dia ele está bem com o benefício, noutro dia, quando termina o benefício, fi ca mal porque o novo be-nefi ciado concorre com seu produto. Não é uma lógica perversa para um país que precisa crescer e prosperar? O Paraná é partícipe desse processo e também é vítima do caos tributário nacional. O ICMS, que deveria ser o único na base tri-butária do consumo, é apenas um entre cinco tributos - IPI, PIS, COFINS, ISS E ICMS. E ainda temos outros, que acabam concorrendo com os demais, como o IOF, que não existe em nenhum

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justo sob todos os pontos de vista. Nos Estados Unidos, o IR é responsável por cerca de 50% da arrecadação; na Europa, o percentual é de 34%; e no Brasil, 21%.

Por que o senhor diz quem os mais pobres pa-gam mais impostos? Hauly – Existem dois estudos, da Fipe/USP e do IPEA, que mostram a carga tributária por faixa de renda. Quem ganha até dois salários mínimos no Brasil paga 53,9% de impostos. Quem ganha acima de 30 salários, paga 29%. A perversidade, a injustiça, a iniquidade, a desumanidade da carga tributária brasilei-ra se reflete de forma assustadora. Ela tem tudo a ver com a concentração de riqueza. No cerne da pobreza e da violência está a es-trutura tributária brasileira e a iniquidade da desigualdade.

E, se não consertarmos o nacional, não con-sertaremos o estadual. No caso do ICMS, temos uma legislação diferente em cada estado da federação. A solução passa pelo entendimento nacional de uniformizar a legislação. Acredito que temos uma oportunidade única nesta reu-nião do Confaz em Curitiba. Podemos chegar a um verdadeiro pacto federativo e sair dessa situação em que todos perdem.

Quais são suas propostas para a reforma fis-cal, neste momento?Hauly – Desde o primeiro dia como secretário da Fazenda, estamos trabalhando dentro de um princípio nacional, com a equipe técnica da secretaria, para fazer um grande entendi-mento nacional tendo em vista a guerra fis-cal. Felizmente o Supremo Tribunal Federal já tomou algumas decisões que vão pôr fim a esta guerra predatória babuínica, um jogo de perde-perde. Perde a empresa, perdem os trabalhadores, perde o governo, todos per-demos, porque os governos estaduais têm de estar sempre de olho no que o vizinho está fazendo. No fim da guerra fiscal, que tenho certeza, virá logo, em curto prazo, vamos ter que rever as alíquotas.

Estou convencido de que o ICMS, que é um tributo estadual, poderia incidir apenas em 10 produtos sem prejuízo da arrecadação, tornan-do isentos cerca de 450 mil itens hoje tribu-tados, como alimentos e remédios, e produtos de informática e vestuário. (Os dez setores são combustíveis, energia, telecomunicações, ci-garros, bebidas, eletrodomésticos, pneus, veí-culos, eletroeletrônicos e autopeças.)

Em Curitiba, os secretários de Fazenda discu-tirão a redução da alíquota em operações inte-restaduais – que têm o maior peso na guerra fis-cal. Também estão na pauta o pleito dos estados menores de dividir o imposto nas transações do

comércio eletrônico; a redução da alíquota apli-cada a todos produtos primários; a unificação da alíquota de importação e uma nova proposta para a distribuição do Fundo de Participação dos Estados (FPE – 25% do IR e do IPI).

Além disso, temos uma importação pre-datória. Se você tem um produto que precisa concorrer com outro que vem de fora, paga 3% de ICMS e leva mais 12% em crédito, é ilógico, é irracional e injusto. A medida foi tomada por vários estados para movimentar seus portos, mas a redução da alíquota para 3% acaba gerando mais créditos do que o im-posto arrecadado. Temos de sair do erro para uma nova atividade, uma nova proposta, aos poucos. A questão das importações é um grande problema. Não podemos mais brincar com a China sob o risco de acabar com a in-dústria brasileira. Não existe mais o conceito de empresa competitiva e não-competitiva. Mas de país competitivo e país não-competi-tivo. De nada adianta a fábrica ser competitiva da porta para dentro se o país não for compe-titivo da porta da fábrica para fora.

Setores como o agronegócios, por exemplo, são muito prejudicados com tudo isso e acabam arcando com pesados encargos. Vejam, o to-tal dos US$ 300 milhões das reservas cambiais brasileiras depositado em Nova York foi gerado pela agricultura, que é punida no Brasil pelos altos impostos.

E como ficaria o passivo já existente por conta da guerra fiscal?Hauly – Defendo a convalidação das medidas

que concederam benefícios fiscais no passado, para não criar novos impasses e contenciosos entre os estados e as empresas beneficiadas. A grande maioria dos benefícios fiscais con-cedidos pelos estados brasileiros são ilegais, já que não foram aprovados no Confaz. Mas não podemos simplesmente mudar as regras. Se não aceitarmos o passivo existente, o caos será ainda maior. Ficaremos anos discutindo na Justiça, gerando um passivo exorbitante.

O senhor tem recebido muitos pedidos para concessão de benefícios fiscais?Hauly – Quase podemos falar em centenas, minha agenda está lotada, mas eu compre-endo muito bem o empresário paranaense. A guerra fiscal torna difícil a vida de todos. Vejamos o caso da indústria têxtil. Com 75% de redução e crédito presumido, a alíquota do Paraná é a mais baixa do país, de 12%; 95 mil produtos, ao invés de ter alíquota de 18%, têm 12%. E sobre os 12 terem 75% de redu-ção; então a alíquota efetiva é de 3%. E, em muitos casos, nem esses 3% são recolhidos. Se o Supremo decidir que não se pode mais dar este benefício, o que vamos fazer com a in-dústria têxtil? Com a indústria de alimentos, da mandioca, do milho, do trigo? Dos outros setores? Nós estamos discutindo isso com inú-meras cadeias produtivas, para que ninguém seja prejudicado.

A gestão moderna da máquina pública prevê tratar cada caso em separado, estudar os de-talhes de cada uma das cadeias produtivas e propor soluções específicas.

Como o senhor analisa o Paraná hoje?Hauly – Quando fui secretário pela primeira vez, no final da década de 80, nosso sonho era ultrapassar o Rio Grande do Sul. Não apenas não conseguimos, como corremos o risco de perder a quinta posição entre os estados bra-sileiros para a Bahia. O estado da Bahia está na nossa cola; no ano passado, arrecadou R$ 12,1 bilhões em ICMS. Nós arrecadamos R$ 13,8 bilhões. Ganhamos por R$ 1,7 bilhão. O Rio Grande do Sul, por sua vez, arrecadou R$ 17,9 bilhões de ICMS, R$ 4,1 bilhões a mais que nós. E eles só têm 300 mil habitantes a mais que o Paraná. A (arrecadação) per capita do RS é bem maior que a arrecadação do Paraná. Essa situação é algo que nos assusta, nos deixa bas-tante preocupados. Não porque continuamos atrás dos gaúchos, mas porque algo está erra-do. O que está acontecendo com o meu Paraná, que tem 6% do PIB e 5,4% de arrecadação? É sonegação? É planejamento fiscal? O que é? Incentivos fiscais demais? Mas se o RS também dá incentivo e Santa Catarina também? Algo está muito errado.

HOje, quem ganHa até dOis saláriOs paga 53,9% de impOstOs, enquantO que as pessOas que recebem mais de 30 saláriOs pagam 29%

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A economia paranaense experi-mentou momentos de virtuo-sismo entre a segunda metade da década de 1990 e o biênio 2003-2004, quando a partici-pação do Estado na formação

do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro mar-cou 6,44% e 6,31%, respectivamente.

Dois fatores contribuíram mais signifi cativa-mente para que o Paraná alcançasse tal resul-tado. O primeiro foi o preço recorde das cota-ções das commodities no mundo. Como maior produtor brasileiro de grãos o Estado surfou na onda global e ampliou sua relevância nas vendas externas nacionais.

Na outra parte estava o recente processo de industrialização da economia estadual, espe-cialmente com a instalação do parque automo-tivo. As montadoras, assim que iniciaram suas operações à plena carga, passaram a responder por fatia signifi cativa da geração doméstica de riquezas. O vento estava a favor pelas boas con-dições de venda de carros no mercado brasileiro e pela inserção dos automóveis leves na pauta estadual de exportações.

O ritmo da economia paranaense não se sus-tentou, contudo. Pior, perdeu oxigênio a partir de 2005, a despeito dos incontáveis e incan-sáveis esforços empreendidos pela iniciativa privada para manter a aceleração. Enquanto o

PIB brasileiro cresceu 4,0% ao ano entre 2003 e 2010, o paranaense variou 3,7%, o que fez o peso econômico do Estado no total do País re-cuar de 6,4% para 6,0%, com média de 5,92% entre 2006 e 2009.

À primeira vista a perda de embalo poderia ser atribuída à orientação macroeconômica do governo federal, que prejudicou especialmente a matriz exportadora e o agronegócio do Estado. Somado a isso, houve declínio da produtividade física e rentabilidade fi nanceira da cadeia rural devido às sucessivas estiagens, aos problemas fi tossanitários e à ausência de políticas federais compatíveis com o grau de risco setorial.

No entanto, um olhar mais apurado permite interpretar que a predominância deliberada de uma relação confl ituosa entre o governo esta-dual e o empresariado teve efeitos perversos sobre a evolução estadual. A briga contra o ca-pital se refl etiu no acanhado comportamento econômico paranaense.

Entre outros casos de menor repercussão, o Paraná deu de ombros para investimentos como os das japonesas Toyota e Yokohama e a norte-americana Guardian. Suprimiu, com isso, produto potencial ao ser rigorosamente desprezado por outras grandes companhias nacionais e estrangeiras, que programaram a implantação de empreendimentos industriais de vulto no Brasil.

Em paralelo, o Estado fi cou quase à margem dos projetos e recursos do Programa de Acele-ração do Crescimento (PAC) do governo fede-ral. Combinado a esse fator, a deterioração da infraestrutura, especialmente na área de trans-portes, foi outra variável a infl uenciar o amargo desempenho econômico dos últimos tempos.

Ao longo da década passada, por exemplo, o Paraná perdeu espaço e divisas também por conta de problemas estruturais e administrati-vos no Porto de Paranaguá. Exportações de pro-dutos do complexo soja (grão e farelo) migraram para os portos de Santa Catarina, especialmente São Francisco do Sul.

Dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) revelam que a participação de Paranaguá no volume total de vendas externas das mercadorias produ-zidas no Paraná caiu de 89,4%, em 1996, para 82,6%, em 2003, e 75,1% em 2010. Enquanto isso, o escoamento das exportações de pro-dutos paranaenses por São Francisco saltou de 2,6%, em 1996, para 6,6%, em 2003, e 14,8% em 2010.

“Por um bom período carecemos da cons-trução de um saudável ambiente de negócios para a preservação da competitividade do Pa-raná e para a atração de projetos estratégicos para o Estado”, avalia Gilmar Mendes Lourenço,

Um Paraná novamente competitivo

Economi�

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RIGO

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economista e diretor presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).

Para Lourenço, a retomada de um proces-so consistente de recuperação e crescimento da economia paranaense exige “harmonizar componentes virtuosos, exógenos e endógenos, presentes no tecido produtivo e social do Esta-do, especialmente nos anos 1960, 1970 e 1990 (precisamente no segundo quinquênio, com re-percussão plena nos primórdios do decênio de 2000), e ausentes desde 2005”.

Mesmo sem atrair novos investimentos, o resultado da maturação das unidades dos com-plexos automotivo, agroindustrial, de refino de petróleo e álcool e de madeira e papel, implan-tadas no final dos anos 1990, ainda permitiu a elevação da participação paranaense no Valor da Transformação Industrial (VTI), no Brasil. O índice pulou de 5,2%, em 1996, para 7,3%, em 2009.

Com isso, o Paraná ficou com a quarta co-locação no ranking das economias industriais regionais, suplantando o Rio Grande do Sul. Para o governador Beto Richa, o dado é signi-ficativo e indicativo da importância do fortale-cimento do parque industrial para a economia estadual. “Nosso propósito é fazer com que o Estado reviva o ciclo de industrialização. Para isso hoje existe diálogo, investimento em in-fraestrutura e, principalmente, segurança ju-rídica”, afirma Richa.

O governador ressalta que os novos instru-mentos de incentivo oferecidos pelo programa Paraná Competitivo, lançado há seis meses, já permitiram a confirmação de investimen-tos de R$ 1,3 bilhão no Estado. De acordo com Richa, os valores anunciados fazem parte de negociações que estão sendo realizadas com diversas empresas para a implantação de no-vos empreendimentos ou ampliação de plantas industriais. “Estes primeiros números revelam o bom ambiente de negócios criado no Paraná”, destacou Richa.

Richa reforça que a nova política torna mais flexível a negociação com os investidores, mas ressalta que todo incentivo concedido sempre leva em conta os interesses do Estado. “Estamos analisando os casos individualmente, levando em conta as necessidades dos empresários e o que é melhor para o Paraná”, afirmou.

Entre os empreendimentos está a constru-ção de uma usina de biodiesel na Lapa, região metropolitana de Curitiba. O investimento da Potencial Petróleo na planta paranaense será de R$ 88,5 milhões. Outro exemplo de inves-timento apoiado pelo programa Paraná Com-petitivo é o da Sumitomo, indústria japonesa de pneus que confirmou a instalação de uma unidade no município de Fazenda Rio Grande.

paraná compETiTivopolítica de incentivo Fiscal

anTEs dEpois

dilação de prazo de pagamento de parte do icms gerado

• Implantação, Expansão ou Renovação Industrial

• Implantação, Expansão, Reativação Industrial ou Recuperação Industrial Judicial

critérios de concessão

• Empresa se habilita nos termos dos decretos

Independente do ramo e do porte

• leva em conta interesses do Estado:• Tipo do investimento• Valor investido• Impacto econômico• Capacidade de geração de renda, empregos e impostos• localização (interiorização)• Impacto Ambiental• Ineditismo e inovação

% do icms gerado com prazo dilatado

• Zero para Curitiba, Araucária e São José dos Pinhais

• 50% cidades maiores• 70% cidades médias• 90% cidades pequenas

Percentuais Fixos

• De 10% a 90% independente do município• % será definido caso a caso por análise do Comitê

Decisório (SEIM, SEFA, SEPl) com base em parecer do Comitê Técnico (Secretarias, Agência de Fomento e Federações – FIEP, FAEP, Fecomércio, Fetranspar, Fecoopar)

Percentuais Flexíveis

prazo do Benefício

• 4 anos de dilação• + 4 anos para pagamento

Fixos por decretoProrrogável por uma vez

• 2 a 8 anos de dilação• + 2 a 8 anos para pagamento

Decisão dos ComitêsProrrogável por uma vez

icms da Energia Elétrica

• Dilação do ICMS acompanha os mesmos prazos dos benefícios concedidos

• Dilação do ICMS acompanha os mesmos prazos dos benefícios concedidos somente para empresas distribuidoras instaladas no Paraná

• Concede idêntico benefício para o ICMS do gás natural

O Paraná exibiu indicadores de crescimento superiores à média brasileira nos primeiros quatro meses de 2011

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O projeto prevê a aplicação de R$ 560 milhões. Além destes, também se destaca a ampliação da planta da Arauco, em Jaguariaíva, que receberá um aporte de R$ 272 milhões.

“A concretização do desejo político de revisão de rota, rumo à recomposição relativa do espaço econômico regional no País, exigirá a montagem e execução de uma contemporânea amarração ins-titucional entre as instâncias públicas e privadas atuantes no Paraná”, avalia Gilmar Lourenço. Segundo ele, para voltar ao patamar perdido, o Estado terá que alcançar taxas de crescimento superior à média brasileira.

É nessa perspectiva que o governo estadual trabalha, afirma o secretário de Infraestrutura e Logística, José Richa Filho. Ele destaca os es-forços da atual administração para desobstrução dos gargalos de transporte constituídos nos úl-timos anos. “Além de incentivos fiscais, a tarefa imposta ao Estado é eliminar o descaso com a recuperação, aprimoramento e ampliação da infraestrutura”, diz.

A alavancagem do PIB do Paraná também im-põe passos largos a uma jornada de reconstrução das bases e da cultura técnica do planejamento de longo prazo no Estado. “Trata-se do resgate do exercício de fixação de referências futuras para as decisões presentes, esquecido por aqui no decor-

As unidades brasileiras das multinacionais norske Skog Pisa e Stora Enso, que produ-zem papel imprensa no Paraná, vão utilizar créditos de ICMS para pagar pela energia que consomem. O acordo prevê também que as empresas terão 40% de desconto no mesmo tributo que incide sobre a tarifa de consumo de energia elétrica.

“São medidas importantes para manter a competitividade das indústrias instaladas no nosso Estado. O prosseguimento das atividades de duas empresas significa a manutenção de pelo menos cinco mil empregos diretos e indiretos”, destacou o governador Beto Richa.

As duas fábricas, instaladas nos municípios de Jaguariaíva e Arapoti, ameaçavam fechar as portas devido ao alto custo da energia, que é um dos principais insumos desse tipo de atividade, e da proibição de compensar créditos de ICMS nos últimos anos. Enquadradas no programa Paraná Competitivo, elas podem usar os créditos de ICMS para quitar as contas de energia até o limite de R$ 1 milhão por mês.

Únicas a produzir papel-jornal e papel para revista na América latina, a norske Skog e a Stora Enso também perderam competitividade em função da baixa cotação do dólar. “O negócio estava ficando inviável, mas agora voltamos a ser competitivos”, sustenta o diretor geral da norske no Brasil, Alex Pomilio. “A empresa já retomou estudos para novos investimentos depois que suas atividades foram viabilizadas pelo governo paranaense”, afirma lucinei Damálio, executivo da Stora Enso.”

com incEnTivos do EsTado, as indúsTrias dE papEl garanTEm Em Torno dE cinco mil EmprEgos

rer de um razoável intervalo de tempo”, ressalta o diretor presidente do Ipardes.

Resgatar o processo de crescimento impõe o

cumprimento de tarefas como a de sintonizar as demandas nacionais e internacionais de investi-dores com as potencialidades do Estado. Nessa

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O governador Beto Richa destaca que a nova política fiscal é moderna, leva em conta os interesses do Estado na concessão de benefícios e torna mais flexível a negociação com os investidores. “Vamos analisar caso a caso. Todos os pedidos de incentivos vão passar por três comitês, um técnico, um consultivo e um decisório. Eles é que vão estabelecer o tipo de apoio fiscal possível, de acordo com critérios como o tipo do investimento, impacto econômico e grau de inovação”, explicou.

O Programa Paraná Competitivo permite às empresas recolher o Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em um período de dois a oito anos. O porcentual do imposto a ser pago que pode ser postergado também pode variar, de 10% a 90%, conforme a loca-lização e o número de empregos criados.

O índice a ser aplicado é definido por meio de comitês formados por técnicos, secretários de Estado e representantes de entidades do setor produtivo e pode beneficiar empresas em recuperação judicial.

O imposto que incide sobre energia elétrica acompanha a mesma lógica de flexibilização e dilação de prazos para recolhimento. E o mesmo benefício poderá ser concedido para o tributo incidente sobre o uso do gás natural.

O governo também pretende criar uma linha de financiamento, com o suporte da Agência do Fomento e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), para promover a industrialização de pequenos e médios municípios do interior do Estado.

Além da alteração da política fiscal, o programa Paraná Competitivo atua em mais quatro frentes: internacionalização e comércio exterior, infraestrutura e logística, capacitação de mão de obra e desburocratização.

programa garanTE incEnTivos à produção “nOssO prOpósitO

é fazer cOm que O estadO reviva O ciclO de industrializa-çãO. para issO existe diálOgO, investimentO em infraestrutura e, principalmente, segurança jurídica”, afirma ricHa

linha, ganha papel de destaque a organização da atuação de atores regionais. Entram nessa lista as entidades de representação empresa-rial e de trabalhadores, universidades públicas e privadas, escolas de formação profissional e técnica, institutos de pesquisa, além, é claro, das diversas instâncias do poder público.

O atual governo rema nesse sentido, com ini-ciativas políticas na direção da montagem de um novo arranjo institucional, da execução de uma cirurgia nas finanças públicas, capaz de assegu-rar espaços fiscais para novas inversões pesadas, com relevante participação das organizações em-presariais. “Trabalhamos para a restauração de um clima propício à realização de negócios no Paraná”, diz Beto Richa.

Para ele, essas ações estão representadas na mudança de postura e atitude do Estado em relação aos interesses da iniciativa privada e deve contribuir, de forma relevante, para a reconquista dos ingredientes de crescimento econômico sustentado, com maior grau de in-teriorização e inclusão social.

De toda forma, sustenta o governo, os re-sultados da empreitada iniciada nesta gestão começam a aparecer em duas frentes: o de-sempenho econômico corrente e o retorno do interesse de investidores potenciais pelo Esta-do. No que se refere à performance econômi-ca, o Paraná exibiu indicadores de crescimen-to superiores à média brasileira nos primeiros

quatro meses de 2011, como, por exemplo, produção industrial (3,8% x 1,6%), massa real de salários industriais (8,9% x 6,1%), vendas reais do comércio varejista (9,4% x 8,2%), além de a Região Metropolitana de Curitiba ostentar a menor taxa de desemprego do País — 4,4% da População Economicamente Ativa em maio de 2011.

No campo dos novos projetos de investi-mentos, despontam os segmentos de veículos e autopeças, eletroeletrônica, pneus, painéis de madeira, embalagens, informática, telecomu-nicações, transportes, química e fertilizantes, cimento, carnes, construção civil, dentre outros.

O Governo do Estado negocia incentivos do programa Paraná Competitivo com pelo menos 70 grupos empresariais interessados em ampliar ou implantar novos empreendimentos no Para-ná. “Colocamos o nosso Estado novamente na rota dos investidores e estamos apoiando as em-presas já instaladas em municípios paranaenses interessadas em ampliar a produção”, afirma o governador Beto Richa.

“Temos várias outras montadoras e em-presas desse setor analisando a possibilidade de investir no Paraná”, afirma o secretário Hauly. “A intenção é oferecer uma atmosfera favorável ao setor produtivo, concedendo in-centivos e condições para as empresas inves-tirem, aproveitando o potencial de cada re-gião do Paraná”.

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União de todos pelo empreendedorismo

Muitos anos de debate fo-ram necessários para que o Brasil enxergasse na Micro e Pequena Empresa o caminho para gerar de-senvolvimento, emprego

e renda para milhões de pessoas. A virada aconteceu em dezembro de 2006, quando o Congresso Nacional aprovou a primeira gran-de revolução para o setor: o Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, que institui, dentre outros benefícios, o Simples Nacional – o sistema diferenciado de tributação. O fortalecimento do setor conti-nuou, inclusive com a criação do Empreende-dor Individual, que já retirou da informalidade 1,3 milhão de pessoas.

O Empreendedor Individual está na base da pirâmide do Simples Nacional. Ao olhar para esse segmento, o Estado gerou grandes oportunidades de crescimento para esses pe-quenos negócios. O ambulante, o vendedor de porta em porta, a costureira, a doceira, a cabeleireira, a manicure, o vendedor de cachorro quente, dentre outros que traba-lham por conta própria, são exemplos de profissionais que, agora, podem formalizar seus empreendimentos, sem burocracia. Com isso, conquistam dignidade, respeito e tranquilidade para trabalhar. Podem anun-ciar seu negócio, vender para o governo, abrir a conta bancária da empresa, contra-tar um auxiliar com carteira assinada, enfim, um novo mundo se abre para esse cidadão. Ele passa a contar com o apoio do Estado e com a proteção da Previdência Social, com direito a aposentadoria, auxílio-doença, sa-lário-maternidade e pensão para a família, no caso de morte.

O empreendedor individual legalizado tem imposto “zero” para o governo federal. Com a redução da alíquota de contribuição previdenciária de 11% para 5% do salário--mínimo, ele paga apenas o valor fixo men-sal de R$ 28,25 (comércio ou indústria) ou R$ 32,25 (prestação de serviços), incluindo o

ICMS para o Estado e o ISS para Prefeitura, quando for o caso.

Além do crescente número de empreende-dores individuais, pode-se igualmente co-memorar a adesão de 5,1 milhões de micro e pequenas empresas no Simples Nacional. Empreendimentos com até 99 trabalhadores foram responsáveis por 79,4% dos 2,5 mi-lhões de empregos gerados no Brasil no ano passado. Isso representa 1.985.000 postos de trabalho com carteira assinada. Destes, as pequenas empresas com até quatro em-pregados geraram 1,3 milhão de vagas. O estudo é do SEBRAE, com base nos dados disponibilizados pelo Caged, do Ministério do Trabalho.

O empreendedorismo vem dando resultados importantes. Mas para o Brasil continuar mu-dando, é necessário aperfeiçoar a Lei Geral das Micro e Pequenas Empresas. Precisamos elevar o limite anual de faturamento das microempre-sas para R$ 360 mil e das empresas de pequeno porte para R$ 3,6 milhões. O faturamento anual do empreendedor individual deve subir de R$ 36 mil para R$ 48 mil.

Outra questão que precisamos resolver diz respeito à incidência da substituição tributária sobre as micro e pequenas empresas optantes do Simples Nacional. Isso é prejudicial à econo-mia desses pequenos negócios porque anula os benefícios fiscais concedidos ao setor. O Estado não pode aprovar benefícios com a mão esquer-da e retirar com a mão direita.

Lembro muito bem que, quando estávamos construindo o Simples Nacional, entre 2004 e 2006, os Estados, particularmente os mais industrializados, diziam que, com a nova lei, perderiam aproximadamente R$ 1 bilhão, em ICMS, no ano de 2007. Implantamos o Sim-ples Nacional, e verificou-se o contrário. Em 2010, os Estados tiveram um aumento de re-ceita da ordem de 253%. Portanto, o Simples Nacional é a lei do ganha-ganha. Pequenos empresários, trabalhadores, estados, muni-cípios e o país ganham ao fortalecer a mi-cro e a pequena empresa. Essa foi uma das principais lições do Brasil para o mundo ao ultrapassar a última crise econômica global, sem sobressaltos.

A União, os estados e os municípios fazem par-te dessa mudança e podem contribuir mais para fortalecer os pequenos negócios do país. Para o bem de todos e felicidade geral da nação.

José pimEnTEl é Senador da República (PT-CE). Exerceu o cargo

de Ministro da Previdência Social (2008/2010). É vice-presidente da

Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado Federal. http://josepimentel.com.br

José Pimentel

além dO crescente númerO de investidOres, cOmemOra-se a adesãO de 5,1 milHões de micrO e pequenas empresas nO simples naciOnal

Em 19 de dezembro de 2008, foi sancionado projeto de lei do qual fui o primeiro autor, ao qual foram anexados projetos de dezenas de outros deputa-dos, dando origem à Lei Com-

plementar 128/2008. Entre outros avanços, essa lei formalizou a figura jurídica do mi-croempreendedor individual (MEI), conhe-cida como “empresa com apenas um dono”. Agora, dois anos depois de a legislação entrar em vigor, o Brasil atinge a marca de 1,1 mi-lhão de microempreendedores individuais. Mais de quatro centenas de ofícios e profis-sões, como costureiras, sapateiros, mani-cures, mecânicos, ambulantes, eletricistas, encanadores, passaram a ter direito à Segu-ridade Social, fazendo jus a benefícios como aposentadoria, pensão, licença médica, co-bertura em caso de acidentes do trabalho, licença maternidade. Para ter esses direitos, os microempreendedores pagam pequena contribuição ao INSS (5% do salário-míni-mo) e um mínimo de impostos. Com a Lei do MEI, passam a ter mais fácil acesso ao cré-dito bancário e a programas de treinamento. Trata-se, portanto, de uma lei capaz de me-lhorar concretamente a vida de centenas de milhares de pessoas que trabalham por conta própria, promovendo uma extraordinária inclusão social, além de incentivar o empre-endedorismo.

A Frente Parlamentar Mista da Micro e Pe-quena Empresa, da qual sou vice-presidente, substituindo o Deputado Luiz Carlos Hauly, um dos maiores batalhadores em defesa da micro e pequena empresa, que se licenciou para assumir a Secretaria de Finanças do Es-tado do Paraná, quer aprimorar a Lei Com-plementar 128/2008. Para tanto, defendemos a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 591/10, que reajusta as faixas de enqua-dramento no Simples Nacional, para elevar o limite de faturamento anual da microempresa de R$ 240 para R$ 360 mil, o da pequena em-presa de R$ 2,4 para R$ 3,6 milhões e o teto

A verdadeira reforma tributária

da receita bruta anual do microempreendedor individual de R$ 36 mil para R$ 48 mil.

O projeto de lei complementar propõe tam-bém mudar a maneira como os estados co-bram o ICMS das empresas do Supersimples, a chamada substituição tributária. Pela norma, pequenas empresas pagam a alíquota cheia de um imposto que seria distribuído por todos os elos da cadeia produtiva, até o consumidor final. Embora melhore e facilite a fiscalização e o recolhimento do imposto, o sistema retira os benefícios do ICMS para as micro e peque-nas empresas. Segundo a Fundação Getulio Vargas, o segmento perdeu R$ 1,7 bilhão, em 2008, por causa da substituição tributária do ICMS.

A Frente Parlamentar também defende ou-tros benefícios, como o parcelamento de dívi-das fiscais das micro e pequenas empresas, a inclusão no Simples Nacional de profissionais liberais, corretores de seguros, representantes comerciais, fisioterapeutas e tradutores. Tam-bém defendemos a adoção de faixa especial de enquadramento para a pequena empresa ex-portadora, para que possa exportar até o do-bro do valor do seu faturamento, sem com isso perder o enquadramento no Simples Nacional.

Defendemos também o fim da guerra fiscal entre os estados, com a institucionalização de uma alíquota modal de 4%, e uma alíquota menor (7%) para o ICMS incidente sobre todos os alimentos.

Para se ter ideia da importância dessas mudanças, basta lembrar que as micro e pe-quenas empresas representam 98% das mais de 5 milhões de empresas existentes no País, respondem por 58% dos empregos formais, o que equivale a 13,2 milhões de pessoas e movimentam cerca de 20% do PIB (produto interno bruto) nacional. Mesmo assim, esses números, se comparados com os de outros países, são pequenos.

Estimular o empreendedorismo e a inova-ção, desburocratizar e abrir linhas de crédito, para formalizar o emprego informal e fortale-cer as pequenas e médias empresas nas vendas externas, são metas imediatas.

Nos últimos 20 anos, a lei das Micro e Peque-nas Empresas e a lei que criou o Microempreen-dedor individual representaram as únicas ver-dadeiras reformas tributárias no país. É preciso, no entanto, aperfeiçoar esses instrumentos, para possibilitar a criação de mais empregos formais, gerar renda e oferecer tranquilidade para milhares de famílias no país.

Antonio Carlos Mendes Thame

Antonio CArlos Mendes thAMeé deputado federal

mendesthame.com.br

micro e pequenas empresas representam 98% das empresas no país e movimentam cerca de 20% do piB

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julho de 2011 | 25

Em 19 de dezembro de 2008, foi sancionado projeto de lei do qual fui o primeiro autor, ao qual foram anexados projetos de dezenas de outros deputa-dos, dando origem à Lei Com-

plementar 128/2008. Entre outros avanços, essa lei formalizou a figura jurídica do mi-croempreendedor individual (MEI), conhe-cida como “empresa com apenas um dono”. Agora, dois anos depois de a legislação entrar em vigor, o Brasil atinge a marca de 1,1 mi-lhão de microempreendedores individuais. Mais de quatro centenas de ofícios e profis-sões, como costureiras, sapateiros, mani-cures, mecânicos, ambulantes, eletricistas, encanadores, passaram a ter direito à Segu-ridade Social, fazendo jus a benefícios como aposentadoria, pensão, licença médica, co-bertura em caso de acidentes do trabalho, licença maternidade. Para ter esses direitos, os microempreendedores pagam pequena contribuição ao INSS (5% do salário-míni-mo) e um mínimo de impostos. Com a Lei do MEI, passam a ter mais fácil acesso ao cré-dito bancário e a programas de treinamento. Trata-se, portanto, de uma lei capaz de me-lhorar concretamente a vida de centenas de milhares de pessoas que trabalham por conta própria, promovendo uma extraordinária inclusão social, além de incentivar o empre-endedorismo.

A Frente Parlamentar Mista da Micro e Pe-quena Empresa, da qual sou vice-presidente, substituindo o Deputado Luiz Carlos Hauly, um dos maiores batalhadores em defesa da micro e pequena empresa, que se licenciou para assumir a Secretaria de Finanças do Es-tado do Paraná, quer aprimorar a Lei Com-plementar 128/2008. Para tanto, defendemos a aprovação do Projeto de Lei Complementar (PLP) 591/10, que reajusta as faixas de enqua-dramento no Simples Nacional, para elevar o limite de faturamento anual da microempresa de R$ 240 para R$ 360 mil, o da pequena em-presa de R$ 2,4 para R$ 3,6 milhões e o teto

A verdadeira reforma tributária

da receita bruta anual do microempreendedor individual de R$ 36 mil para R$ 48 mil.

O projeto de lei complementar propõe tam-bém mudar a maneira como os estados co-bram o ICMS das empresas do Supersimples, a chamada substituição tributária. Pela norma, pequenas empresas pagam a alíquota cheia de um imposto que seria distribuído por todos os elos da cadeia produtiva, até o consumidor final. Embora melhore e facilite a fiscalização e o recolhimento do imposto, o sistema retira os benefícios do ICMS para as micro e peque-nas empresas. Segundo a Fundação Getulio Vargas, o segmento perdeu R$ 1,7 bilhão, em 2008, por causa da substituição tributária do ICMS.

A Frente Parlamentar também defende ou-tros benefícios, como o parcelamento de dívi-das fiscais das micro e pequenas empresas, a inclusão no Simples Nacional de profissionais liberais, corretores de seguros, representantes comerciais, fisioterapeutas e tradutores. Tam-bém defendemos a adoção de faixa especial de enquadramento para a pequena empresa ex-portadora, para que possa exportar até o do-bro do valor do seu faturamento, sem com isso perder o enquadramento no Simples Nacional.

Defendemos também o fim da guerra fiscal entre os estados, com a institucionalização de uma alíquota modal de 4%, e uma alíquota menor (7%) para o ICMS incidente sobre todos os alimentos.

Para se ter ideia da importância dessas mudanças, basta lembrar que as micro e pe-quenas empresas representam 98% das mais de 5 milhões de empresas existentes no País, respondem por 58% dos empregos formais, o que equivale a 13,2 milhões de pessoas e movimentam cerca de 20% do PIB (produto interno bruto) nacional. Mesmo assim, esses números, se comparados com os de outros países, são pequenos.

Estimular o empreendedorismo e a inova-ção, desburocratizar e abrir linhas de crédito, para formalizar o emprego informal e fortale-cer as pequenas e médias empresas nas vendas externas, são metas imediatas.

Nos últimos 20 anos, a lei das Micro e Peque-nas Empresas e a lei que criou o Microempreen-dedor individual representaram as únicas ver-dadeiras reformas tributárias no país. É preciso, no entanto, aperfeiçoar esses instrumentos, para possibilitar a criação de mais empregos formais, gerar renda e oferecer tranquilidade para milhares de famílias no país.

Antonio Carlos Mendes Thame

Antonio CArlos Mendes thAMeé deputado federal

mendesthame.com.br

micro e pequenas empresas representam 98% das empresas no país e movimentam cerca de 20% do piB

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O Conselho Nacional de Política Fazendária – CONFAZ – foi criado em 1975, pela Lei Com-plementar nº 24, e teve como primeiro presidente o econo-mista e ex-ministro da Fazen-

da e do Planejamento Mario Henrique Simonsen. A instalação do Conselho teve por objetivo apro-

ximar os estados para eliminar ou minimizar as di-ferenças na condução das políticas tributárias por conta dos convênios entre estados perten-centes a uma mesma região geoeconômi-ca, conforme previa o Código Tributário Nacional, para estabelecer alíquotas uni-formes do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM). A justifi cativa vinha do fato de que a celebração de convênios em separado, iniciada ainda nos anos 1960, havia dado margem a uma desarmonia política na concessão de benefícios.

A prática de harmonização tributária entre estados teve início no âmbito das regiões geoeconômicas, reunindo estados nas chamadas “Conferências dos Secretá-rios da Fazenda”. Cada convênio recebia a denominação da cidade sede da reunião.

O primeiro convênio data de outubro de 1966, no Recife, na chamada Conferên-cia dos Estados do Nordeste. A partir de fevereiro de 1967, passaram a reunir-se periodicamente os secretários da Fazenda dos estados do Centro-Sul e a partir de maio os da Amazônia. As primeiras reuniões procuravam dar maior homogeneidade aos interesses dos estados envolvidos nos assuntos tratados. Posteriormente, o refl exo das decisões regionais mostrou a necessidade de uma harmo-nização das decisões interregionais.

A partir dos anos 1970, foram iniciadas as pri-meiras reuniões conjuntas dos estados das três áreas geoeconômicas, o que facilitou a tarefa do governo federal na condução da política econô-mica. Faltava ainda uma base legal para a pena-lização de decisões unilaterais de desonerações adotadas por determinados estados.

Isso foi obtido por meio da Lei Complementar nº 24, de 7 de janeiro de 1975, que estabeleceu o colegiado chamado de Conselho de Política Fazen-dária. Além de vedar aos municípios a possibilidade de conceder benefícios relativos à sua quota par-ticipação do ICM, previa ainda penalidades para eventuais desobediências às decisões, por parte de estados, anulando os benefícios concedidos, sob risco de julgamento de contas irregulares pelo Tribunal de Contas da União e suspensão de pa-

gamentos de quotas do Fundo de Participação, ao Fundo Especial e outros impostos.

Nesta fase inicial do ICM, a concessão de be-nefícios era feita sem grandes avaliações técnicas e os governos estaduais evitavam fazer oposição maior a grupos de interesse, que se opunham à implantação do ICM. A necessidade de estudos mais aprofundados foi manifestada no V Convê-nio do Rio de Janeiro, de outubro de 1968, levando à criação de uma Comissão Técnica Permanente, integrada por um representante de cada unidade, com sede em São Paulo, para exercer função opi-nativa sobre problemas tributários. Em dezembro 1970 a Comissão Técnica Permanente passou a ser instituída para o conjunto dos estados, e subordi-nada diretamente ao Ministério da Fazenda.

esTRuTuRa O CONFAZ é constituído pelos Secretários de Fazenda, Finanças ou Tribu-tação de cada Estado e Distrito Federal e pelo Ministro de Estado da Fazenda. Atualmente o organismo é presidido pelo ministro da Fa-zenda, Guido Mantega. O secretário da Fa-zenda da Bahia, Carlos Martins Santana, é o coordenador do órgão.

O CONFAZ é um organismo deliberativo, ins-tituído em decorrência de preceitos da Consti-

tuição Federal de 1988 e tem como missão promover ações para aper-feiçoar o federalismo fi scal e elabo-rar políticas para harmonização de procedimentos e normas inerentes ao exercício da competência tributá-ria dos estados da Federação. A atual denominação de Conselho Nacional de Política Fazendária foi implemen-tada por meio do Convênio ICMS 17/90, de 13 de setembro de 1990.

FuNÇÃO Entre as fi nalidades origi-nais do CONFAZ estão a celebração de convênios para conceder ou re-vogar benefícios fi scais do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) — tributo com

maior arrecadação no Brasil, estabelecendo as condições gerais em que se concederão, unilate-ralmente, anistia, remissão, transação, morató-ria e parcelamento de débitos fi scais e ampliação do prazo para pagamento do ICMS.

Também é responsável por editar outros instrumentos para harmonizar o ICMS e que preveem os deveres instrumentais, as chama-das “obrigações acessórias” relativas a livros e documentos fi scais.

O Conselho ainda a função de sugerir medi-das para simplifi car e harmonizar exigências legais, para reduzir despesas decorrentes de obrigações tributárias acessórias, com refl e-xos favoráveis no custo de comercialização de mercadorias e serviços.

A histÓria do Confaz e a Guerra Fiscal

O Confaz nasceu para aproximar estados e harmonizar interesses na condução da política tributária estadual

Economi�

Atual coordenador do Confaz, Carlos Martins

Primeiro presidente do Confaz, Mário Henrique Simonsen

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Tem ainda o propósito de promover estudos e sugerir alterações para aperfeiçoar o Sistema Tributário Nacional, como mecanismo de desen-volvimento econômico e social, nos aspectos de interrelação entre tributações federal e estadual.

Entre as competências do CONFAZ está a de promover a edificação do Sistema Nacional In-tegrado de Informações Econômico-Fiscais (SINIEF), criado em 1970, para a coleta e distribui-ção de dados básicos essenciais para a formulação de políticas econômico-fiscais e ao aperfeiçoamen-to permanente das administrações tributárias.

O CONFAZ também tem a função de colaborar com o Conselho Monetário Nacional (CMN), tanto na fixação da Política de Dívida Pública Interna e Externa dos Estados e do Distrito Federal, para cumprimento da legislação pertinente, quanto na orientação das instituições financeiras públicas estaduais, de forma a propiciar sua maior eficiên-cia como suporte básico dos governos estaduais.

O CONFAZ atua nas desonerações tributárias, consideradas todas as espécies de benefícios ou incentivos e em casos de adoção de alíquota in-terna inferior às interestaduais.

PROCessO DeCisÓRiO As reuniões do CON-FAZ são presididas pelo representante do go-verno federal, a quem cabe o voto de desempate apenas nas questões que não envolvam a con-cessão ou revogação de benefícios fiscais.

Destaca-se no processo decisório do Conselho a exigência da unanimidade na concessão de deso-nerações, o que garante o direito de veto ao estado que se sentir prejudicado pela medida proposta. A medida garante aos governos locais uma proteção frente aos grupos de interesse regionais, na me-dida em que distribui o ônus da decisão.

Para decisões sobre revogação total ou parcial de benefícios fiscais concedidos, são necessários quatro quintos dos representantes presentes. Nas demais deliberações, basta haver maioria simples dos representantes presentes.

As deliberações aprovadas pelo CONFAZ são operacionalizadas por meio de convênios,

protocolos, ajustes, estudos e grupos de traba-lho. Em geral, esses documentos versam sobre concessão ou revogação de benefícios fiscais do ICMS, procedimentos operacionais a ser obser-vados pelos contribuintes.

COTePe A base técnica do CONFAZ é a Comissão Técnica Permanente (COTEPE/ICMS). Trata-se de um grupo de assessoramento constituído por representantes do Ministério da Fazenda e por um representante de cada estado e do Distrito Federal, com sede no Distrito Federal.

A COTEPE pode constituir grupos de trabalho com caráter provisório para promover estudos específicos com a participação de integrantes do Ministério da Fazenda e de estados mais in-teressados no tema em questão.

A COTEPE tem por finalidade coordenar os trabalhos relacionados com a política e a ad-ministração do principal imposto estadual, o ICMS, para o estabelecimento de medidas uni-formes no tratamento desse tributo em todo o território nacional.

À COTEPE cabe fazer a apreciação formal de protocolos e convênios firmados entre esta-dos para estabelecer procedimentos comuns, visando a implementação de políticas fiscais definitivas, que estabelecem permuta de infor-mações, fiscalização conjunta e critérios para a fixação de pautas fiscais.

eVOluÇÃO Na década de 1980, enquanto a maioria dos estados tentava recompor as re-ceitas, o CONFAZ passou a trabalhar no corte das desonerações que foram concedidas pau-latinamente nos anos anteriores, espírito que influenciou a Constituição de 1988. O artigo 40 das disposições transitórias da Carta dispôs que todos os incentivos fiscais de natureza setorial e os incentivos concedidos por convênio entre os estados deveriam ser reavaliados e reconfir-mados em um prazo de até dois anos, a partir da promulgação da Constituição.

A Constituição ampliou a base do imposto

estadual, por meio da agregação das bases disponíveis dos chama-dos “impostos únicos” (minerais, energia elétrica e combustíveis), dos serviços de transporte in-terestadual e intermunicipal de comunicação, dando origem ao ICMS (imposto sobre operações relativas à circulação de merca-dorias e sobre prestações de ser-viços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação).

Ao longo dos anos 1990, as questões mais importantes que mereceram a atenção do CON-FAZ foram a redução da tributa-

ção sobre produtos da cesta básica, sobre os in-sumos agrícolas, sobre os bens de capital e sobre os automóveis, em um contexto de combate à inflação e de manutenção do nível da atividade econômica e do emprego.

Também destacam-se nos anos seguintes po-líticas de prorrogação de benefícios por prazos determinados, ao fim do qual deveriam ser re-examinados e reavaliados.

Um dos maiores desafios do atual momento no âmbito do CONFAZ é a discussão em torno de uma alíquota única interestadual em todas as opera-ções do ICMS. A medida é tida como uma solução para acabar com a chamada “guerra fiscal”, es-tratégia pela qual os estados ditos “produtores” (origem) e “consumidores” (destino) de merca-dorias buscam ficar com a parcela maior no re-colhimento de ICMS nas operações interestaduais.

Desse mesmo movimento deriva a competi-ção entre os estados para atrair empreendimen-tos, na medida em que alíquotas de ICMS, hoje superiores na origem do produto, geram maior arrecadação.Atualmente, existem duas alíquo-tas interestaduais de ICMS: de 12% e de 7%.

O Conselho está fazendo simulações para estimar as perdas e os ganhos de cada Estado com a redução da alíquota interestadual para um porcentual de 2%, previsto em uma propos-ta de reforma tributária do governo federal, ou 4%, como defende o estado de São Paulo.

Em encontro realizado em maio de 2011, em Brasília, entre o ministro Guido Mantega, atual presidente do CONFAZ, e governadores das regiões Sul e Sudeste, o governador do Paraná, Beto Richa, propôs a redução gradativa das alíquotas de ICMS nas operações interestaduais, de 12% para zero.

Richa afirma que o Paraná tem um prejuízo de R$ 1 bilhão por ano, por conta das perdas financeiras impostas pela chamada Lei Kandir, que prevê compensações pela desoneração de impostos para as exportações de produtos agro-pecuários. Uma solução para esse prejuízo pode ser a redução gradativa das alíquotas internas, que geram créditos de ICMS.

Reunião entre os governadores e o ministro Guido Mantega, para pedir aliquota única do ICMS em operações itnerstaduais

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A consolidação do parque au-tomotivo do Paraná refl ete o acerto das medidas tomadas na atração desse tipo de inves-timento. Além de empregos e recolhimento de impostos, au-

tomóveis fabricados no Estado se destacam em todo o país. Recente pesquisa da revista “Qua-tro Rodas”, da Editora Abril, apontou o modelo Fluence, da Renault, como a “Melhor Compra” entre todos os veículos montados no Brasil.

Considerada uma das mais importantes pes-quisas da imprensa especializada, a pesquisa leva em conta o preço, índice de desvalorização, valor de seguro, revisões e peças de reposição, índice de satisfação com a rede autorizada, ín-dice de reparabilidade e equipamentos de série.

Ao todo, cinco modelos da Renault e mais dois da Nissan foram os campeões em sete das 15 categorias avaliadas pela revista. A redação da revista avaliou 78 veículos novos para esco-lher os melhores em suas categorias.

As duas montadoras, que formam a Aliança Renault-Nissan a nível mundial, estão instala-das em São José dos Pinhais, na região metro-

politana de Curitiba. A Renault foi a primeira a chegar no segundo ciclo de industrialização do Paraná, a partir dos anos 1990 e já prepara a am-pliação das unidades fabris conforme os novos Protocolos de Intenções solicitados tanto pela Renault e como pela Nissan.

A proposta das duas montadoras, que compõem uma aliança global, equivale à construção de nova unidade industrial, ampliando consideravelmente o número de veículos fabricados no Estado.

A Renault e a fábrica de motores, instaladas no Complexo Ayrton Senna, receberam inves-timentos da ordem de US$ 1,35 bilhão. O com-plexo abriga também a Nissan e ocupa uma área total de 2,5 milhões de metros quadrados, dos quais 60% são áreas de preservação ambiental.

A Nissan está no Brasil há 10 anos, e venceu na categoria “Minivan Compacta”, com o Livina 1.6 S, e na categoria “Minivan Média”, com o modelo Grand Livina 1.8 SL automático. Em São José dos Pinhais, a Nissan fabrica ainda a picape Frontier e os outros modelos da família do monovolume Livina - Livina, Grand Livina e X-Gear.

O desempenho da Renault do Brasil se deu em cinco categorias, com os carros Fluence, Logan,

Novo Sandero, Novo Sandero Stepway e Grand Tour. É a quarta vez seguida que um modelo Re-nault é escolhido como vencedor geral da pesquisa “Melhor Compra”: em 2008 com o Sandero, em 2009 com o Symbol e em 2010 com o Logan.

NOVOs iNVesTiMeNTOs A Volvo do Brasil, a Caterpillar e a Sumitomo anunciaram investi-mentos no Paraná para este ano; e a New Holland vai garantir a fabricação de tratores para venda a agricultores familiares com crédito barato.

A Volvo vai investir R$ 200 milhões em sua fábrica de Curitiba para ampliar a capacidade produtiva e implantar uma linha de produção de ônibus híbridos, que funcionarão com motores elétricos e a biodiesel. O investimento na linha do hibribus será de R$ 16 milhões, com geração de 30 empregos de alta qualifi cação, para enge-nheiros. A Volvo também fará investimentos na área de pintura, na expansão do Centro de Ope-rações Logísticas e na nacionalização das linhas de motores de 11 litros e de caixas de transmis-são eletrônica para ônibus e caminhões.

A Volvo é o primeiro fabricante a produzir ve-ículos híbridos no Brasil. “O mundo caminha para o motor elétrico. E nosso hibribus tem a mais efi ciente tecnologia do mundo. Reduz em 35% o consumo de combustível e em 90% a emissão de poluentes”, afi rma o vice-presi-dente da Volvo Ônibus para a América do Norte e América Latina, Tore Backstrom.

A pré-produção do modelo híbrido começa no próximo ano, com uma previsão de 80 uni-dades. Boa parte do desenvolvimento do novo produto será feita localmente, uma vez que será preciso desenvolver a tecnologia híbrida junto aos parceiros que produzem as carrocerias.

Já a indústria de máquinas e equipamentos Caterpillar do Brasil, que está instalando uma unidade em Campo Largo, anunciou R$ 175 mi-lhões em investimentos, com a criação de mil empregos diretos. Inicialmente serão produzi-das máquinas retroescavadeiras e, a partir de 2012, também carregadeiras de rodas.

Automóveis fabricados no Paraná são destaque no Brasil

Economi�

Montadoras ampliam investimentos

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julho de 2011 | 29

“A Caterpillar cresceu muito no Brasil. Temos oportunidade de crescer ainda mais e queríamos ter uma empresa com marca mais globalizada. Por isso procuramos um Estado com condições robus-tas e sólidas de estrutura para dar suporte a esse projeto estratégico de expansão, o que aconteceu no Pa-raná”, informa o presidente da Ca-terpillar do Brasil, Luiz Carlos Calil.

A Caterpillar fez contatos para parcerias com o Instituto Federal do Paraná, Senai e prefeitura de Campo Largo, para dar um início a um processo de capacitação profissional. A empresa está reformando e ampliando as ins-talações que foram ocupadas pela Chrysler, e recentemente pela TMT Motoco.

A indústria japonesa de pneus Sumitomo Rubber confirmou a instalação de uma subsi-diária no município de Fazenda Rio Grande, na Região Metropolitana de Curitiba. O projeto prevê investimento inicial de R$ 560 milhões. A fábrica terá capacidade de produção diária de 15 mil pneus das marcas Dunlop e Falken para automóveis, a partir de outubro de 2013.

De acordo com o diretor da Sumitomo para a América Latina, Kenichi Furuhama, a empresa tem projetos de expansão da unidade até 2020 e já estuda a instalação de uma planta para a produção de pneus para caminhões.

A fábrica será instalada em uma área de 500 mil metros quadrados e inicialmente deve abrir

1.000 empregos. O investimento pode chegar a R$ 1 bilhão, com a abertura de 3.000 postos de trabalho e produção de até 9,9 milhões de pneus por ano. Segundo Furuhama, um dos fatores que influenciaram a decisão pela instalação no Paraná foi a existência de uma cadeia produtiva do setor automotivo na Região Metropolitana de Curitiba, com fábricas de automóveis como Volkswagen/Audi e Renault/Nissan, em São José dos Pinhais.

CRéDiTO baRaTO Com a adesão da New Holland ao programa Trator Solidário, a montadora deve entregar 1.000 tratores por ano a pequenos agri-cultores do Paraná, com baixas taxas de juros. No total, o programa garante a entrega de 4.000 tratores até 2014.

O Trator Solidário, implantado em 2007, é um dos programas que tiveram sua continuidade garantida pelo governador Beto Richa, levando

A Secretaria da Fazenda do Paraná está avaliando cada um dos setores da econo-mia do Estado para estabelecer a política que melhor se adequa a cada cadeia produtiva em particular. O setor da mandioca no Pa-raná, responsável por um faturamento anual de R$ 1,5 bilhão e pela geração de 84 mil empregos, é um dos exemplos de setores beneficiados pela revisão das alíquotas em curso nesta administração. Garantir o de-senvolvimento de cada setor, de acordo com suas características está no centro da políti-ca econômica do Paraná, explica o secretário da Fazenda do Paraná, luiz Carlos Hauly.

O presidente do Sindicato das Indústrias da Mandioca no Estado, João Eduardo Pas-quini, avalia que a indústria da mandioca deve alcançar uma fatia de 80% do merca-do nacional em pouco mais de um ano, em função das medidas de incentivo concedi-das pelo Governo do Paraná. Hoje, a cadeia

em conta o interesse dos benefi-ciados. O agricultor familiar tem prazo para pagamento dos finan-ciamentos dos tratores de até 10 anos, com carência de dois anos, e a garantia da “equivalência em produto”. A equivalência é um bônus garantido pelo governo do Estado, com recursos do Fundo de Desenvolvimento Econômico. Os juros para os financiamentos serão os mesmos das linhas de crédito do Pronaf – em média 2% ao ano.

O gerente de Vendas Especiais da New Holland, Marcos Abex,

diz que a parceria com o governo do Paraná re-presenta o cumprimento de um compromisso social, porque atende o pequeno produtor rural. “Manter o programa foi uma decisão inteligen-te”, afirmou. Segundo ele, a empresa vem se esforçando em atender rapidamente a demanda criada pelo programa, evitando a formação de filas de espera. Outro benefício decorrente da continuidade do programa, afirma o executivo, é a manutenção de empregos na indústria.

Fazenda estuda 20 cadeias produtivasprodutiva da mandioca detém cerca de 70% do mercado brasileiro, mas há poucos anos havia perdido espaço e caído a 56%, por conta de incentivos fiscais concedidos por outros Estados.

O setor que produz vinho e suco de uva também voltou a receber benefícios fis-cais que estavam suspensos desde março. Empresários do setor afirmam que, sem os benefícios, não teriam as mínimas condi-ções de competir com produtos de outros Estados brasileiros e, especialmente, com vinho importado.

O estudo de 20 cadeias produtivas, entre as mais importantes do estado, também estão em estudo pela Secretaria da Fa-zenda em conjunto com a Federação das Indústrias do Paraná (FIEP) e outros órgãos e entidades do Estado. A ideia é desenhar políticas públicas e privadas para cada uma delas.

Desde março deste ano, o Micro Empreen-dedor Individual (MEI) do Paraná conta com a nota Fiscal Avulsa Eletrônica, sem qualquer custo. Basta que esteja inscrito no Portal do Empreendedor. A partir daí, o empresário deve se cadastrar na Receita PR, dentro do portal da Secretaria da Fazenda (www.fazenda.pr.gov.br). Uma única vez, ao se inscrever, o empresário assina um termo de responsabilidade que deve ser enviado pelo Correio com firma reconhecida.

A nota eletrônica, que o empresário vai imprimir em sua própria impressora em ta-manho A4, tem validade jurídica como nota fiscal modelo 1. O sistema é absolutamente seguro, explica o auditor fiscal da Receita Es-tadual, Yukiharu Hamada, e está funcionando tão bem que vários Estados brasileiros estão adotando o mesmo procedimento.

O Brasil conta com 1,2 milhão de micro em-preendedores individuais, e calcula-se que 60 mil deles estejam no Paraná. A nota se aplica apenas aos que precisam recolher o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), calculados em cerca de 35 mil no Esta-do. O importante, aponta Hamada, é que esses empresários puderam sair da informalidade.

micro individual dispõe de nota

eletrônica sem custo

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O nosso sistema tributário é extremamente injusto e regressivo. Isso acontece porque os tributos indire-tos, que atingem todas as pessoas igualmente, equi-

valem a 76,4% da carga tributária do país. E somente 23,6% referem-se aos tributos

Reforma Tributária com valorização

do trabalho

FABI

O M

EnD

ES

Ricardo Patah, presidente da União Geral dos Trabalhadores - UGT

diretos. No mundo civilizado, os impostos diretos — ou seja, sobre a renda e o capital — chegam a ser 2/3 da carga tributária, en-quanto os impostos indiretos às vezes não chegam a 1/3. Por conseguinte, os impostos diretos, como os cobrados sobre a renda e o capital, ou a propriedade, protegem os de-tentores da riqueza.

A complexidade do sistema tributário é outro problema a ser resolvido. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, em 2002, a legislação sobre impostos continha 55.767 ar-tigos, 33.374 parágrafos, 23.497 incisos e 9.956 alíneas. Esse emaranhado de leis, normas e re-gras facilita a sonegação, dificulta a fiscaliza-ção, estimula a inadimplência, eleva o custo ao contribuinte, penaliza os mais pobres, onera a produção, inibe o crescimento econômico, pre-judica a competitividade do produto nacional no mercado externo, que vai ainda carregado de juros estratosféricos.

O sistema está estruturado para atender à concentração das competências e das receitas nas mãos da União, enquanto estados e muni-cípios vivem à míngua. A Constituinte tentou promover uma pactuação tributária, descentra-lizadora das competências, com uma repartição mais justa do bolo tributário. Mas, logo a União reclamou que não tinha como pagar suas contas com o sistema pactuado na Constituinte e foi criando as chamadas contribuições “sociais”, cujos recursos gerados vão todos para a União, que fica com cerca de 63% de todo o bolo de tributos arrecadados no país, enquanto estados e municípios, sufocados financeiramente, jun-tos, ficam com 37% (estados ficam com 24%, e municípios, com 13%).

Outra distorção do sistema tributário refe-re-se à bitributação, como é o caso dos im-postos sobre produtos industrializados, o IPI, e sobre a circulação de mercadorias e serviços, o ICMS, que, juntos, formam o maior emara-nhado de legislação.

Mais uma aberração do nosso sistema tribu-tário refere-se aos critérios de repartição do ICMS estabelecidos na Constituinte. O tributo tem uma repartição constitucionalmente assim distribuída: os estados ficam com 75% das re-ceitas e repassam uma cota-parte de 25% para os municípios. Até aí tudo bem. Porém, estabe-lece-se que 3/4 dos 25% do tributo que cabem aos municípios serão repartidos segundo o va-

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Ricardo Patah

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lor agregado às mercadorias e serviços proces-sados no âmbito do município. Determina-se, ainda, que 1/4 seja repartido de acordo com o que dispuser a lei estadual.

Trata-se de um absurdo, pois o ICMS é um imposto pago por todos os consumidores resi-dentes em qualquer município do Brasil e por qualquer habitante do país, não importa sua idade ou condição social. De modo que a re-partição da cota-parte de 25% do tributo, para ser justa, terá de ser repartida de acordo com o número de moradores de cada município, sem outros critérios.

Considerando os problemas assinalados, uma reforma tributária, socialmente mais justa e in-dutora do desenvolvimento, se faz necessária e é urgente uma ampla discussão sobre alguns eixos fundamentais:

PROPOsTas: 1. restabelecer o princípio constitucional

segundo o qual a União fica obrigada a repartir com estados e municípios as re-ceitas de todos os tributos de sua com-petência na base de 21,5% para o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal e 22,5% para o Fundo de Partici-pação dos Municípios, visando alcançar, na repartição do bolo tributário nacional: 40% para a União, 30% para Estados e 30% para municípios;

2. estabelecer alíquotas para cobrança do Imposto sobre a Renda, variando entre 10% a mínima e 35% a máxima, com três alíquotas intermediárias de acordo com as diferentes faixas de rendimentos;

3. estabelecer legislação federal única para o Imposto sobre a Circulação de Merca-dorias e Serviços, o ICMS, mantendo com os estados a competência de administrar e arrecadar o tributo, incluindo dispositivo claro vedando a guerra fiscal;

4. estabelecer, na legislação do ICMS, o mes-mo percentual de 25% como cota-parte a ser repartida entre os municípios, porém estabelecendo como único critério para repasse da cota-parte a cada município o número de habitantes anualmente infor-mado pelo IBGE;

5. suprimir o tributo municipal sobre ser-viço de qualquer natureza, o ISS, por es-tar sobreposto ao ICMS, mantendo-se na competência municipal os tributos sobre propriedade predial e territorial urbana e sobre as transações intervivos, causa mortis e doações;

6. extinguir o Imposto sobre Produtos Indus-trializados, o IPI, e estabelecer um percen-

tual da arrecadação do ICMS a ser repas-sado para a União, visando compensar a perda de recursos gerados pelo imposto extinto. Essas medidas, mais a extinção do Imposto Sobre Serviços de qualquer natu-reza, o ISS, representam importante passo para a desoneração do setor produtivo;

7. fim de todo e qualquer tributo sobre os produtos da cesta básica e redução de im-postos sobre outros itens de alimentação;

8. fim da desvinculação das receitas da união — DRU, como forma de dar maior transparência ao uso do dinheiro públi-co e garantir maior efetividade ao orça-mento da União;

9. buscar a eficiência tributária, evitando que o próprio trabalho de recolher im-postos se transforme em mais um ônus ao contribuinte, ou seja, simplificar aumenta a eficiência e a arrecadação;

10. desvincular o Fundo de Amparo ao Tra-balhador — FAT - do orçamento da União;

11. simplificar o sistema de arrecadação como medida para diminuir o custo das empre-sas com a burocracia;

12. regulamentar o Inciso VII do Artigo 153 da Constituição relativo ao imposto de grandes fortunas;

13. propor a redução da alíquota de ICMS para produtos recicláveis.

14. manter a universalidade do sistema previ-denciário público. Não privatizá-lo. Tor-ná-lo verdadeiramente universal graças à unificação dos mercados formal e informal de trabalho;

15. instituir o sistema único da previdência social baseado na universalização dos benefícios e das contribuições para que possa operar de maneira sustentável, abrangendo: os trabalhadores do setor público e do setor privado, com teto de benefício para aposentadorias e pensões de 12 (doze) salários mínimos e piso de 1 (um) salário mínimo;

16. estabelecer que o custeio do sistema pre-videnciário único e universal seja baseado nas contribuições:

17. dos trabalhadores e empregados das em-presas privadas da indústria, do comér-cio, dos serviços de qualquer natureza, das empresas agroindustrial e agrícola, pelos servidores do setor público dos três poderes e das três esferas da administra-ção — União, estados e municípios — das autarquias, das fundações e das empresas estatais, equivalentes a 10% dos salários até o teto estabelecido para o beneficio, descontados em folha de pagamento mensalmente, e repassados ao caixa do sistema autônomo;

18. dos trabalhadores domésticos, autôno-mos e profissionais liberais, equivalentes a 10% dos ganhos declarados até o teto estabelecido para o benefício, recolhidos mensalmente através de carnê próprio;

19. das empresas industriais, comerciais, agroindustriais e agrícolas, das empre-sas de intermediação financeira, das em-presas prestadoras de serviços e demais pessoas jurídicas, inclusive fundações, clubes, associações, instituições privadas de saúde e de ensino, equivalente a 6% do faturamento. No caso das empresas de intermediação financeira, consideram--se faturamento os ganhos com tarifas cobradas e sobre os ganhos da interme-diação financeira;

20. dos governos da União, dos estados e dos municípios, o equivalente a 4% sobre as receitas próprias brutas;

Com estas propostas, abertas sempre a crí-ticas e sugestões, a UGT acredita ser possível processar a reconstrução da esfera pública, valorizar o trabalho, a produção e o desen-volvimento.

além dO crescente númerO de investidOres, cOmemOra-se a adesãO de 5,1 milHões de micrO e pequenas empresas aO simples naciOnal

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Turismo

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Plano de desenvolvimento turístico prevê a concessão para a iniciativa privada de alguns serviços dos parques estaduais, como estratégia

para a recuperação das áreas de conservação

Inspirado no modelo de gestão do Parque Nacional do Iguaçu, na região Oeste do Paraná, o governo estadual estuda rees-truturar a forma de uso das 28 áreas de conservação abertas à visitação no Esta-do e desenvolver novos produtos turís-

ticos em parceria com o setor privado. Entre as possibilidades estão a exploração de

turismo de aventura e ecoturismo (caminhada, trilhas, rappel, rafting, entre outras) e conces-sões de serviços como transporte interno e re-feições. A proposta é liberar licenças em acordo com o plano de manejo de cada área para que empresas ofereçam novos serviços nos parques.

A novidade faz parte do Plano de Desenvolvi-mento Turístico e Uso Público em Unidades de Conservação do Estado que está sendo elaborado pela secretaria do Turismo (Setu) e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

Segundo o secretário do Turismo, Faisal Sa-leh, estão sendo realizados estudos de viabili-dade econômica, ambiental e social dos novos produtos turísticos, que servirão de base para a normatização das licitações. Os licenciamentos levarão em conta as medidas necessárias para a manutenção dos ecossistemas das áreas de con-servação e para a conscientização da população.

“O lazer é uma opção turística viável nessas áreas, como atividade de cunho educativo que integra o homem à natureza, por meio de ati-vidades esportivas ou apenas contemplativas”, disse Harvey Schlenker, do Departamento de Unidades de Conservação do IAP.

Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), o setor turístico tem impacto sobre 52 atividades econômicas. “Hoje o turismo é a maior indústria empregadora do planeta e com o menor custo de geração de emprego. A ativida-de está diretamente ligada ao desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade”, diz o se-

cretário estadual do Turismo, Faisal Saleh. De acordo com o secretário, a primeira unida-

de a operar nesse novo cenário deve ser o Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa. A se-guir, virão os parques do Guartelá (Tibagi), do Monge (Lapa) e da Ilha do Mel (no Litoral).

VILA VELHA O Parque Estadual de Vila Velha está em uma área de 3.803,28 hectares na região dos Campos Gerais. Em 2010, o parque recebeu 59.940 visitantes no complexo que reúne três atrativos principais: Arenitos, Furnas e Lagoa Dourada.

O parque oferece ao turista infraestrutura de alimentação, recepção e informação com servi-ços de monitoramento e acompanhamento nas trilhas. Para percorrer toda a extensão da área é

disponibilizado transporte interno com ônibus especial adaptado.

FOZ DO IGUAÇU Foz do Iguaçu sediou em junho um dos mais importantes eventos do setor de tu-rismo do país. Faisal Saleh destacou o papel do governo estadual no fomento e desenvolvimento turístico.

O evento é considerado o maior do segmento já realizado no Paraná. Foi promovido pela Fun-dação Parque Tecnológico Itaipu e pela De Angeli Feiras, com o apoio do Governo do Estado.

O ministro do Turismo do governo federal Pe-dro Novais disse que o turismo representa 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e que o governo federal trabalha para ampliar essa par-

O secretário de Turismo Faisal Saleh desenvolve plano de reestruturação em parceria com o setor privado

DE CIMA PARA BAIXO: Ilha do Mel, Parque Nacional do Iguaçu e Vila Velha

ticipação com investimento e parcerias. “Preci-samos do trabalho feito em Foz do Iguaçu porque isso contribui para que o País alcance um novo patamar de turismo internacional”, afi rmou.

Para o diretor geral da Itaipu Binacional, Jor-ge Samek, o turismo em Foz vive um momento de desenvolvimento e o festival confi rma a im-portância das parcerias para o fortalecimento turístico dos três países da fronteira. “Juntos cresceremos para cada dia receber mais turistas e estarmos preparados para a Copa do Mundo”, disse Samek.

ESTADOS SE UNEM POR INTEGRAÇÃO TURÍS-TICA Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul querem atuar em bloco para atrair mais recursos e desenvolver os atrativos turísticos da região Sul. Para isso, vão articular

O TURISMO É A MAIOR INDÚSTRIA EMPREGADORA DO PLANETA E COM O MENOR CUSTO DE GERAÇÃO DE EMPREGO

relações políticas para conseguir melhores linhas de créditos do governo federal e ganhar mais vi-sibilidade no cenário nacional.

Esse é o resultado do encontro dos secretá-rios de Turismo dos quatro estados. “Precisamos nos unir para que o Sul seja reconhecido como um grande destino do turismo brasileiro”, disse Faisal Saleh, secretário paranaense.

Para Abgail Pereira, secretária de Turismo do Rio Grande do Sul e coordenadora da Comissão Permanente de Turismo do Codesul, a região precisa de união para fortalecer o setor. “Po-demos ter uma participação mais competitiva no cenário turístico nacional e internacional. Temos interesses legítimos e precisamos de um espaço no Ministério de Turismo para defendê--los”, disse Abgail.

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Turismo

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Plano de desenvolvimento turístico prevê a concessão para a iniciativa privada de alguns serviços dos parques estaduais, como estratégia

para a recuperação das áreas de conservação

Inspirado no modelo de gestão do Parque Nacional do Iguaçu, na região Oeste do Paraná, o governo estadual estuda rees-truturar a forma de uso das 28 áreas de conservação abertas à visitação no Esta-do e desenvolver novos produtos turís-

ticos em parceria com o setor privado. Entre as possibilidades estão a exploração de

turismo de aventura e ecoturismo (caminhada, trilhas, rappel, rafting, entre outras) e conces-sões de serviços como transporte interno e re-feições. A proposta é liberar licenças em acordo com o plano de manejo de cada área para que empresas ofereçam novos serviços nos parques.

A novidade faz parte do Plano de Desenvolvi-mento Turístico e Uso Público em Unidades de Conservação do Estado que está sendo elaborado pela secretaria do Turismo (Setu) e o Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

Segundo o secretário do Turismo, Faisal Sa-leh, estão sendo realizados estudos de viabili-dade econômica, ambiental e social dos novos produtos turísticos, que servirão de base para a normatização das licitações. Os licenciamentos levarão em conta as medidas necessárias para a manutenção dos ecossistemas das áreas de con-servação e para a conscientização da população.

“O lazer é uma opção turística viável nessas áreas, como atividade de cunho educativo que integra o homem à natureza, por meio de ati-vidades esportivas ou apenas contemplativas”, disse Harvey Schlenker, do Departamento de Unidades de Conservação do IAP.

Para a Organização Mundial do Turismo (OMT), o setor turístico tem impacto sobre 52 atividades econômicas. “Hoje o turismo é a maior indústria empregadora do planeta e com o menor custo de geração de emprego. A ativida-de está diretamente ligada ao desenvolvimento socioeconômico de uma comunidade”, diz o se-

cretário estadual do Turismo, Faisal Saleh. De acordo com o secretário, a primeira unida-

de a operar nesse novo cenário deve ser o Parque Estadual de Vila Velha, em Ponta Grossa. A se-guir, virão os parques do Guartelá (Tibagi), do Monge (Lapa) e da Ilha do Mel (no Litoral).

VILA VELHA O Parque Estadual de Vila Velha está em uma área de 3.803,28 hectares na região dos Campos Gerais. Em 2010, o parque recebeu 59.940 visitantes no complexo que reúne três atrativos principais: Arenitos, Furnas e Lagoa Dourada.

O parque oferece ao turista infraestrutura de alimentação, recepção e informação com servi-ços de monitoramento e acompanhamento nas trilhas. Para percorrer toda a extensão da área é

disponibilizado transporte interno com ônibus especial adaptado.

FOZ DO IGUAÇU Foz do Iguaçu sediou em junho um dos mais importantes eventos do setor de tu-rismo do país. Faisal Saleh destacou o papel do governo estadual no fomento e desenvolvimento turístico.

O evento é considerado o maior do segmento já realizado no Paraná. Foi promovido pela Fun-dação Parque Tecnológico Itaipu e pela De Angeli Feiras, com o apoio do Governo do Estado.

O ministro do Turismo do governo federal Pe-dro Novais disse que o turismo representa 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil e que o governo federal trabalha para ampliar essa par-

O secretário de Turismo Faisal Saleh desenvolve plano de reestruturação em parceria com o setor privado

DE CIMA PARA BAIXO: Ilha do Mel, Parque Nacional do Iguaçu e Vila Velha

ticipação com investimento e parcerias. “Preci-samos do trabalho feito em Foz do Iguaçu porque isso contribui para que o País alcance um novo patamar de turismo internacional”, afi rmou.

Para o diretor geral da Itaipu Binacional, Jor-ge Samek, o turismo em Foz vive um momento de desenvolvimento e o festival confi rma a im-portância das parcerias para o fortalecimento turístico dos três países da fronteira. “Juntos cresceremos para cada dia receber mais turistas e estarmos preparados para a Copa do Mundo”, disse Samek.

ESTADOS SE UNEM POR INTEGRAÇÃO TURÍS-TICA Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul querem atuar em bloco para atrair mais recursos e desenvolver os atrativos turísticos da região Sul. Para isso, vão articular

O TURISMO É A MAIOR INDÚSTRIA EMPREGADORA DO PLANETA E COM O MENOR CUSTO DE GERAÇÃO DE EMPREGO

relações políticas para conseguir melhores linhas de créditos do governo federal e ganhar mais vi-sibilidade no cenário nacional.

Esse é o resultado do encontro dos secretá-rios de Turismo dos quatro estados. “Precisamos nos unir para que o Sul seja reconhecido como um grande destino do turismo brasileiro”, disse Faisal Saleh, secretário paranaense.

Para Abgail Pereira, secretária de Turismo do Rio Grande do Sul e coordenadora da Comissão Permanente de Turismo do Codesul, a região precisa de união para fortalecer o setor. “Po-demos ter uma participação mais competitiva no cenário turístico nacional e internacional. Temos interesses legítimos e precisamos de um espaço no Ministério de Turismo para defendê--los”, disse Abgail.

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Lázaro

Parana Competitivo

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