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I Módulo 801 Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado 1) Revisar a anatomia da hipófise e hipotálamo, a fisiologia dos hormônios da hipófise anterior e sua interação com o hipotálamo e glândulas endócrinas 1) Introdução O hipotálamo é composto por diversos neurônios, os quais regulam a função hipofisária, podendo levar a sintomas de hipopituitarismo. o Os núcleos médio-basais contêm os neurônios secretores de fatores hipofisiotróficos e os neurônios do centro da saciedade. Estes núcleos são próximos dos núcleos supraóptico e paraventricular que produzem ocitocina e ADH. Portanto, uma lesão hipotalâmica pode comprometer todos esses núcleos, levando ao pan- hipopituitarismo, ao diabetes insipidus central e, eventualmente, a obesidade hipotalâmica (por hiperfagia patológica). A hipófise é uma glândula pequena (mede aproximadamente 1cm 2 e pesa 0,5 gramas), localizada na sela túrcica, que secreta diversos hormônios os quais estimulam as glândulas endócrinas periféricas (tireoide, suprarrenal, gônadas...). o É dividida anatomicamente em adeno-hipófise (anterior) e neuro-hipófise (posterior). o Suas relações anatômicas são importantes para a compreensão de sinais e sintomas decorrentes de lesões expansivas dessa estrutura. Superiormente: diafragma da sela (deflexão da dura-máter), protege contra a pressão do espaço subaracnoide. Anteriormente: quiasma óptico (possível acometimento da visão) Lateralmente: seios cavernosos, sifão carotídeo e pares cranianos (III, IV, VI e V) De modo geral, a regulação hormonal da hipófise anterior apresenta três níveis de controle o Primeiro nível: hormônios atingem a hipófise, via sistema porta, exercendo feedback sob o próprio órgão

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I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

1) Revisar a anatomia da hipófise e hipotálamo, a fisiologia dos hormônios da hipófise anterior e sua

interação com o hipotálamo e glândulas endócrinas

1) Introdução

• O hipotálamo é composto por diversos neurônios, os quais regulam a função hipofisária, podendo levar a

sintomas de hipopituitarismo.

o Os núcleos médio-basais contêm os neurônios secretores de fatores hipofisiotróficos e os

neurônios do centro da saciedade. Estes núcleos são próximos dos núcleos supraóptico e

paraventricular que produzem ocitocina e ADH.

▪ Portanto, uma lesão hipotalâmica pode comprometer todos esses núcleos, levando ao pan-

hipopituitarismo, ao diabetes insipidus central e, eventualmente, a obesidade hipotalâmica

(por hiperfagia patológica).

• A hipófise é uma glândula pequena (mede aproximadamente 1cm2 e pesa 0,5 gramas), localizada na sela

túrcica, que secreta diversos hormônios os quais estimulam as glândulas endócrinas periféricas (tireoide,

suprarrenal, gônadas...).

o É dividida anatomicamente em adeno-hipófise (anterior) e neuro-hipófise (posterior).

o Suas relações anatômicas são importantes para a compreensão de sinais e sintomas decorrentes

de lesões expansivas dessa estrutura.

▪ Superiormente: diafragma da sela (deflexão da dura-máter), protege contra a pressão do

espaço subaracnoide.

▪ Anteriormente: quiasma óptico (possível acometimento da visão)

▪ Lateralmente: seios cavernosos, sifão carotídeo e pares cranianos (III, IV, VI e V)

• De modo geral, a regulação hormonal da hipófise anterior apresenta três níveis de controle

o Primeiro nível: hormônios atingem a hipófise, via sistema porta, exercendo feedback sob o

próprio órgão

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

o Segundo nível: secreção de de citocinas e fatores de

crescimento no interior da própria hipófise,

regulando a sua função por sinalização parácrina e

autócrina.

o Terceiro nível: exercido pelos hormônios periféricos

sob a hipófise (em geral, feedback negativo sob a

síntese de hormônios que estimulam sua produção)

• As doenças da hipófise e do hipotálamo podem levar a

estados de hipo ou hiperfunção hormonal.

2) Adeno-Hipófise (Pituitária Anterior)

• Essa estrutura contém células especializadas na síntese e liberação de hormônios peptídicos.

• A função das células da adeno-hipófise é controlada por neurônios hipotalâmicos especializados,

localizados na porção médio-basal do hipotálamo.

• O pedículo hipofisário é de extrema importância para o bom funcionamento dessa estrutura, visto

que ele abriga o sistema porta, através do qual os hormônios hipotalâmicos atingem a hipófise.

o ATENÇÃO! O comprometimento do pedículo leva a queda de todos os fatores liberadores (GH,

TSH, ACTH, LH e FSH). A única excessão é a prolactina, a qual perde o seu estímulo inibitório

(DOPAMINA) e sua secreção é estimulada!

• Abaixo, uma tabela resumindo os hormônios, o tipo celular na hipófise que os secreta e sua função:

Hormônio Tipo Celular Função

GH Somatotrofo - Produção de IGF

- Regula metabolismo de

carboidratos, proteínas e

lipídeos

- Promove anabolismo e

crescimento

Prolactina Lactotrofo - Desenvolvimento mamário

- Lactação

TSH Tireotrofo - Estimula secreção de T3 e

T4 por parte da tireoide

ACTH Corticotrofo - Estimula secreção de

cortisol

- Estimula secreção de

andrógenos

- Estimula secreção de

aldosterona (em menor nível)

LH Gonadotrofo - Estimula produção de

testosterona

- Estimula ovulação

FSH Gonadotrofo - Estimula crescimento

testicular

- Estimula espermatogênese

- Estimula geração de

folículos ovarianos

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

a) Hormônio do crescimento/somatotrofinas (GH)

• Células: somatotrofos, as mais numerosas da hipófise (~50% da massa celular)

• Estímulo hipotalâmico: GHRH, hormônio produzido pelo núcleo arqueado do hipotálamo

o O estrógeno causa aumento dos receptores desse hormônio nos somatotrofos, otimizando a sua

ação e a consequente síntese e secreção de GH.

• O GH apresenta meia vida de 20 minutos e sua secreção é pulsátil (sendo sua secreção maior e mais

frequente à noite/madrugada). Esses pulsos tendem a aumentar durante a puberdade e reduzir após a

terceira década de vida e com o envelhecimento.

o Aumento da síntese de GH: jejum, hipoglicemia, grelina, exercício físico, diabetes,

hipertireoidismo.

o Redução da síntese de GH: GH e IGF-1 (feedback negativo), hipercortisolismo crônico,

hipotireoidismo, hiperglicemia pós-prandial, obesidade

• O GH exerce seu efeito principalmente ao se ligar a receptores hepáticos, estimulando a produção de

IGF (fatores de crescimento semelhantes à insulina), os quais irão mediar os efeitos sistêmicos do GH.

Os estrógenos orais reduzem a produção de IGF, enquanto os andrógenos a estimulam.

o Aumento da síntese de IGF: puberdade, gravidez, hipertireoidismo e acromegalia

o Redução da síntese de IGF: desnutrição, cirrose ou hepatite ativa, hipotireoidismo, insuficiência

cardíaca, AIDS, reposição VO de estrógeno

• O GH e o IGF-1 agem promovendo o crescimento e regulando o metabolismo de carboidratos, proteínas,

lipídeos e o metabolismo mineral ósseo.

• Em excesso, o GH provoca resistência insulínica, levando ao aumento da produção hepática de glicose e

à menor oxidação e captação da glicose por tecidos periféricos.

b) Somastotatina

• A somatostatina é uma proteína produzida em várias partes do corpo, inibindo a proliferação e o

crescimento das células somatotróficas.

c) Prolactina

• Células: lactotrofos (10 a 20% das células, podendo chegar a 50% na gestação – hiperplasia da hipófise

durante a gestação e amamentação)

• “Estímulo” hipotalâmico: É estimulado em parte pelo TRH (sem fator específico). A dopamina é seu

principal inibidor.

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

• Sua função é basicamente permitir o desenvolvimento mamário, a lactação nos mamíferos e estimular o

comportamento do instinto materno.

• A regulação de sua síntese e secreção é feita principalmente

pela via de inibição dopaminérgica. A dopamina produzida

no hipotálamo inibe a secreção e produção de prolactina, além

de inibir a proliferação dos lactotrofos.

• ATENÇÃO! Concentrações excessivas de prolactina

bloqueiam a síntese e a liberação de GnRH hipotalâmico, o que

leva a amenorreia e alteração de espermatozoides em pacientes

com hiperprolactinemia.

• ATENÇÃO! O estrógeno, ao contrário do que o corre no GH,

estimula a secreção e síntese da prolactina!

d) Hormônio adrenocorticotrófico (ACTH)

• Células: corticotrofos (cerca de 20% das células da adeno hipófise – produzem a POMC).

• Estímulo hipotalâmico: CRH, produzido no núcleo

paraventricular.

• O ACTH se liga principalmente ao córtex da adrenal,

onde estimula as camadas fasciculada e reticulada a

secretarem cortisol e andrógenos principalmente.

Também exerce um pequeno estímulo sob a secreção

de aldosterona.

• O ACTH e o cortisol são secretados conforme o ritmo

circadiano, com pico pela manhã e declínio ao longo do

dia.

• ATENÇÃO! O principal hormônio inibidor da síntese

e liberação tanto do CRH hipotalâmico quanto do

ACTH hipofisário é o próprio cortisol, através de

feedback negativo.

e) Gonadrotrofinas (LH e FSH)

• Células: gonadotrofos (correspondem a aproximadamente 10% das células)

• Estímulo hipotalâmico: GnRH, produzido pelo núcleo arqueado do hipotálamo

o Estimulam a síntese de GnRH: catecolaminas, kisspeptina, serotonina, MSH, TNF-alfa

o Reduzem a síntese de GnRH: PRL, opioides, GABA, betaendorfinas

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• FSH: estimula o crescimento testicular e espermatogênese, nas

mulheres estimula a geração de folículos ovarianos e a

aromatização de andrógenos.

• LH: estimula a produção de testosterona e em mulheres induz a

ovulação.

• ATENÇÃO! A secreção das gonadotrofinas depende da

secreção pulsátil do GnRH (caso secretado constantemente e

não em pulsos, as gonadotrofinas não são produzidas e nem

secretadas). Pulsos de GnRH a cada 1 hora estimulam a

produção de LH e pulsos a cada 3/4 h favorecem a produção de

FSH.

o A pulsatilidade ocorre até os 12 meses de idade

(minipuberdade) durante o primeiro ano de vida,

depois, só volta a ocorrer na puberdade, onde há reativação do eixo gonadotrófico.

• ATENÇÃO! O LH e o FSH têm sua produção inibida pelo hormônio inibina, que é produzido pelas

gônadas. É um hormônio produzido principalmente pelos folículos ovarianos e pelas células de Sertoli,

por isso sua dosagem é um marcador da integridade desses órgãos.

• ATENÇÃO! Os esteroides sexuais apresentam feedback negativo sob a produção de GnRH (exceto o

estradiol, quando sua exposição é prolongada e está em altas concentrações – importante para o pico de

LH no meio do ciclo ovulatório)

f) Tireotropina (TSH)

• Células: tireotrofos (5% das células da adeno-hipófise)

• Estímulo hipotalâmico: TRH, produzido pelos núcleos medial

e paraventricular do hipotálamo.

• É um hormônio proteico, composto por duas subunidades. A

subunidade alfa é a mesma que compõe as moléculas de LH,

FSH e HCG (a beta é específica para o TSH). Também

apresenta secreção pulsátil.

• O TSH se liga nas células foliculares da tireoide, onde

estimulam a glândula a produzir e secretar T3 e T4.

Perifericamente a T4 é convertida em T3.

• O TSH é inibido por T3, somastotatina, GH, dopamina,

desnutrição, anorexia, infecção e inflamação.

• ATENÇÃO! A insuficiência adrenal causa elevação aguda de

TSH.

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3) Hipófise posterior (neuro-hipófise)

• Consiste em um tecido neural, composto apenas de axônios distais de neurônios originados no

hipotálamo. Portanto, não contém células!

o Esses axônios contêm pacotes de hormônios armazenados para posterior liberação.

• A neuro-hipófise, ao contrário da hipófise anterior, apresenta irrigação diretamente das artérias

hipofisárias posterior (a adenohipófise é irrigada pelo sistema porta hipofisário).

• Secreta só dois hormônios: ADH e Ocitocina

a) Vasopressina (ADH)

• Na realidade, é produzido no hipotálamo na forma de pró-ADH, sendo transportado pela haste

hipofisária até a hipófise posterior, onde será clivado em ADH e neurofisinas 2 (responsáveis pelo

brilho da hipófise na RM e carreiamento de ADH).

• É responsável pela regulação da concentração da quantidade plasmática de sódio (natremia).

• No organismo, liga-se a três receptores, presentes na hipófise anterior, rins e vasos sanguíneos:

o Receptor V1: presente no músculo liso vascular, estimula a vasoconstrição e a agregação

plaquetária.

o Receptor V2: presentes nos túbulos coletores renais, estimulando a reabsorção de água

(expressão das aquoporinas e transporte por mecanismo de contracorrente)

o Receptor V3: presente na hipófise anterior nos corticotrofos, estimulando a secreção de ADH

• O principal fator que regula a secreção de ADH é a osmolaridade sérica, a qual é percebida

através de osmorreceptores. Quando a osmolaridade passa de 280 mOsm/kg, a secreção desse

hormônio é estimulada até um “nível máximo” (isso ocorre por volta de 295 mOsm/kg), no qual o

mecanismo da sede passa a ser o fator mais importante para o controle da osmolaridade.

o OBS: a PA e a volemia sanguínea também apresentam efeito sob a secreção de ADH, contudo,

tem um papel menor do que a osmolaridade sanguínea (barorreceptores no arco aórtico e no seio

carotídeo).

b) Ocitocina

• Seus principais efeitos são obstétricos: permite a contração do miométrio e contração da musculatura

lisa da mama (importante para ejeção do leite na amamentação).

• Também apresentam um efeito no sistema nervoso central, relacionado ao comportamento maternal.

• O principal estímulo para sua liberação é a sucção mamária. O estrógeno também estimula sua

liberação

2) Compreender o quadro clínico apresentado pelo paciente: pan-hipopituitarismo

1) Introdução

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

• O termo hipopituitarismo se refere à redução de um ou mais hormônios hipofisários decorrente de

condições que acometem a região hipotálamo-hipofisária (o termo pan-hipopituitarismo é reservado para

condições em que há redução de todos os hormônios hipofisários ao mesmo tempo)

• É uma condição rara, com incidência de 4,2 em 100 mil pessoas/ano e prevalência de 45 em 100 mil

pessoas.

• Apresenta diversas etiologias, e quadro clínico variável (depende do tipo celular mais acometido e da

consequente deficiência hormonal). Costuma ser um quadro subdiagnosticado e de diagnóstico tardio

devido a inespecificidade das manifestações clínicas.

o Na criança, costuma se manifestar por déficit de crescimento

o No adulto, costuma se manifestar pelo hipogonadismo

o Graus variáveis de hipotireoidismo e hipoadrenalismo podem aparecer, podendo levar a

manifestações clínicas exuberantes devido a sua gravidade.

2) Etiologia

• É um evento causado pela destruição da adeno-hipófise ou pela deficiência de estímulos hipotalâmicos

que normalmente atuam sobre a hipófise (como por exemplo, lesões no hipotálamo médio basal ou no

pedículo hipfisário).

• Podemos dividir as etiologias em: doenças hipotalâmicas e doenças hipofisárias (hipopituitarismo

hipotalâmico ou hipofisário)

Hipopituitarismo Hipotalâmico

- Embriopatias congênitas da linha mediana: acometimento de fibras que ligam os dois hemisférios

cerebrais e dos tratos ópticos e olfativo. Assosiam-se ao lábio leporino e à fenda palatina.

- Síndrome de Prader-Willi: distúrbio relacionado a microdeleções no cromossomo 15. Manifesta-se

por hipotonia muscular nos primeiros meses de vida, evoluindo com obesidade hipotalâmica

(hiperfagia), baixa estatura, hipogonadismo hipogonadotrófico e alterações craniofaciais. Predominam

as deficiências de GnRH e GH.

- Síndrome de Bardet-Biedl: doença autossômica recessiva rara que se manifesta por obesidade

hipotalâmica, retinite pigmentosa, polidactilia e malformações renais.

- Síndrome de Kallman: distúrbio genético ligado ao X, caracterizado por anosmia/hiposmia (falha da

migração neuronal para o bulbo olfatório e hipotálamo), associada ao hipogonadismo

hipogonadotrófico. Manifesta-se por alta estatura e envergadura, micropênis, voz fina e testículos pré-

puberais.

- Adenomas hipofisários: acometem o hipotálamo por expansão

- Craniofaringioma: tumor comum em crianças, explicado abaixo (tumores selares e parasselares)

- Sarcoidose: invasão hipotalâmica dos grânulos sarcoides

- Outros: radioterapia, trauma cranioencefálcio, síndrome X

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

Hipopituitarismo Hipofisário

- Adenoma Hipofisário: o tumor pode comprimir a glândula funcionante, levando a redução

progressiva de sua secreção hormonal. Além disso, como já citado, podem se estender para o

hipotálamo, levando ao hipopituitarismo hipotalâmico.

- Síndrome da Sela Vazia: entidade comum no sexo feminino, marcada por um defeito no diafragma

da sela túrcica, que permite a herniação da membrana aracnoide para a fossa hipofisária. Isso leva ao

achatamento da hipófise no assoalho da célula e estiramento do pedículo hipofisário (o que explica a

hiperprolactinemia). Pode ser secundária a cirurgia, radioterapia ou infarto hipofisário.

- Apoplexia hipofisária: definida como uma hemorragia da hipófise que evolui para necrose, levando a

um quadro de pan-hipopituitarismo súbito. Geralmente ocorre devido a sangramento de tumor

hipofisário (secundário a hipertensão, diabetes). O quadro clínico é marcado por uma forte cefaleia,

associada a náuseas e vômitos. O paciente evolui rapidamente com queda do estado de consciência,

choque refratário à reposição volêmica e hiponatremia grave.

- Síndrome de Sheehan: causa de pan-hipopituitarismo no período puerperal.

a) Causas genéticas

• Geralmente se manifestam na infância, podendo causar deficiência isolada ou combinada de hormônios

hipofisários. São inúmeras as mutações que podem dar origem ao quadro de hipopituitarismo.

o ATENÇÃO! Algumas mutações genéticas, relacionadas a fatores de transcrição expressos no

período embrionário, podem levar a quadros de pan-hipopituitarismo por má-formação da

hipófise! Pode, inclusive, levar a málformações em outras áreas do SNC, gerando alterações

concomitantes ao pan-hipopituitarismo, como: displasia septo-óptica, neuro-hipófise ectópica,

rigidez de coluna cervical, malformações de Chiari (defeito congênito que acomete a conexão

cervical, levando a uma protusão posterior, a mais comum é a do tipo 2, geralmente vista em

crianças com espinha bífida, em que há o deslocamento da parte posterior do cérebro para baixo

através da parte inferior do crânio – pode haver hidrocefalia devido a obstrução do fluxo de

fluido cerebroespinhal), agenesia renal (síndrome de Kallman).

• O hormônio mais acometido nessa etiologia é o GH, o que leva a baixa estatura do indivíduo (déficit de

crescimento).

b) Tumores selares e parasselares

• Os principais são os adenomas hipofisários, neoplasias bem diferenciadas originadas da

adenohipófises. Podem ser divididos em funcionantes (3/4 dos casos – secretam hormônios) e não

funcionantes (1/4 dos casos). O tipo mais comum é o prolactinoma.

• Os microadenomas (tumor < 10 mm) não costumam causar insuficiência hipofisária diretamente.

• Os macroadenomas (tumor > 10 mm) hipofisários e outros tipos de tumores selares podem causar

hipopituitarismo pelo efeito compressivo sob o tecido hipofisário ao redor do tumor.

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• ATENÇÃO! O craniofaringioma é o tumor mais comum dessa região em crianças. É o terceiro tipo de

tumor mais frequente do SNC nessa faixa etária. Manifesta-se com sinais de lesão expansiva do SNC

(cefaleia, vômitos, distúrbios visuais), poliúria (diabetes insipidus – 20% dos casos) e pan-

hipopituitarismo (50-75% dos casos). Nas crianças, manifesta-se por déficit de crescimento (em adultos

o quadro é de hipogonadismo). Sua característica mais marcante é a sua enorme tendência à

calcificação, a qual é visível na TC ou RNM de região selar. O tratamento é feito através da cirurgia

de ressecção, associada ou não a radioterapia e o prognóstico são bons.

Adenomas Hipofisários

Hormônio Secretado Tipo de Adenoma Síndrome Clínica Frequência Relativa

Prolactina Prolactinoma Hipogonadismo,

galactorreia

25-40%

GH Somatotrófico Acromegalia/gigantismo 10-15%

ACTH Corticotrófico Doença de Cushing 10-15%

LH/FSH Gonadotrófico Pan-Hipopituitarismo 10-15%

TSH Tireotrófico Hipertireoidismo < 3%

Nenhum Não funcionante Pan-hipopituitarismo 10-25%

c) Hipofisite

• É a inflamação da hipófise, a qual pode ocorrer por diversas causas.

• Deve ser desconfiada principalmente nos seguintes pacientes:

o Histórico de doença endócrina autoimune + hipopituitarismo

o Mulheres com aumento do tamanho da hipófise e hipopituitarismo durante gestação ou período

pós-parto.

d) Síndrome de Sheehan

• É uma causa clássica de hipopituitarismo.

• Só pra lembrar: é típico no pós-parto, em que o parto foi complicado por alterações hemodinâmicas

significantes, levando a necrose hipofisária por hipofluxo sanguíneo. Mais de 75% da adeno-hipófise

deve ser acometida.

• Geralmente as pacientes têm agalactia (falta de prolactina), amenorreia secundária (falta de LH e

FSH) e sintomas inespecíficos (adinamia, astenia, letargia, anorexia – fruto da baixa de outros

hormônios). Devido a falta do ADH, as pacientes podem se apresentar com

poliúria/polidipsia/noctúria, sintomas de diabetes insipidus, porém, essa é uma manifestação rara.

3) Quadro Clínico

• O desenvolvimento de sinais e sintomas costuma ser lento e insidioso, dependendo do início e da

magnitude da lesão hipotálamo-hipofisária.

• Geralmente, a sintomatologia é inespecífica e pode se manifestar com um quadro de fraqueza, mal-estar,

letargia, frio, perda de peso, perda de apetite, dor abdominal, entre outras queixas.

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

• Frequentemente, quando a causa do hipopituitarismo é adquirida, os sintomas e déficts hormonais

surgem na seguinte ordem: GH → LH, FSH → TSH → ACTH → PRL (exceto em casos de hipofisite,

quando o ACTH costuma ser o primeiro eixo acometido)

• No caso de lesões com efeito de massa, podem estar presentes sintomas compressivos, como alterações

visuais e neurológicas.

o A cefaleia é um sintoma comum, podendo ser retro-orbitária ou referida para a parte superior do

crânio. Seu início súbito associado a outros sintomas (náuseas, vômitos) indica apoplexia.

o O quiasma óptico é a estrutura geralmente acometida, sendo que é a estrutura responsável por

conduzir as fibras provenientes dos dois campos temporais da visão. Portanto, o

acometimento dessa estrutura leva a hemianopsia bitemporal (perda de visão lateral – o

paciente irá frequentemente esbarrar em objetos com a parte lateral do corpo)

o A compressão dos nervos cranianos adjacentes (III, IV, VI e V) pode levar aos seguintes

sintomas:

▪ III Nervo: perda do reflexo fotomotor e consensual (midríase paralítica)

▪ III, IV e/ou VI nervo: oftalmoplegia com estrabismo

▪ V nervo: perda do reflexo corneopalpebral

• ATENÇÃO! Diferentemente da IA primária, a zona glomerular e o SRAA estão íntegros no

hipopituitarismo, portanto, não se observa desidratação, depleção de sódio ou hiperpotassemia

• Ao exame físico, geralmente os pacientes se encontram um pouco acima do peso normal. A pele

costuma ser fina, pálida e lisa, com finas rugas na face. A pilificação pode estar deficiente e ocorrer

hipotensão postural. Redução de força muscular e hiporreflexia podem estar presentes.

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4) Diagnóstico

• A avaliação diagnóstica do paciente com suspeita de hipopituitarismo deve determinar:

o A presença, o tipo e o grau de deficiência hormonal

o A etiologia da deficiência hormonal

o A presença de alterações visuais

• Abaixo, alguns achados laboratoriais dos principais diagnósticos

o Deficiência de GH

▪ GH basal, IGF-1 e IGF-BP3 baixos ou normais

▪ Durante ITT, pico de GH < 5 ng/ml em crianças e < 3 ng/ml em adultos

o Deficiencia de ACTH

▪ ACTH basal: baixo ou normal baixo (< 10 pg/ml)

▪ Cortisol Basal < 3 ug/dl

▪ Durante ITT, pico de cortisol < 18 mg/dl

o Deificência de TSH

▪ TSH basal: baixo ou normal, às vezes, algo elevado (TSH biologicamente inativo)

Sintomas de acordo com o hormônio acometido

GH FSH/LH ou

GnRH

TSH ACTH ou

CRH

PRL

- Período neonatal

• Hipoglicemia

• Icterícia

• Hipotermia

• Micropênis

• ↓Crescimento

- Crianças

• ↓Crescimento

• Voz fina

• Ganho de

peso (lipólise

reduzida)

• Alteração na

dentição

- Adultos

• ↓Bem estar

• Astenia

• Ganho de

peso

• Depressão

• Labilidade

emocional

• Resistencia à

insulina

• Dislipidemia

• Hipertensão

diastólica

- Período neonatal

• Criptoquidia

• Micropênis

- Crianças

• Atraso no

desenvolvimento

puberal

• Atraso na idade

óssea

- Mulheres

• Amenorreia

• ↓Libido

• Infertilidade

• Secura vaginal

• Dispaureunia

• Osteoporose

• Sintomas

climatéricos

- Homens

• Disfunção erétil

• Hipotrofia

testicular

• Redução da

libido

• Infertilidade

• Redução da

massa muscular

e óssea

• Depressão

• Défict

cognitivo

• Intolerancia

ao frio

• Ganho de

peso

• Rouqidão

• Edema

• Sonolencia

• Constipação

intestinal

• Perda de peso

• Anorexia

• Fraqueza

• Náusea

• Dor abdominal

• Febre

• Choque

(Situações de

estresse –

ausência de

glicocorticoides

para

reatividade

vascular)

• Perda da

lactação

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

▪ T4 livre baixo, T3 normal ou baixo

o Deficiencia de gonadotrofinas

▪ LH e FSH basais: baixos ou normais

▪ Testosterona baixa (em homens) e estradiol baixo (em mulheres)

• ATENÇÃO! Geralmente, para o diagnóstico da deficiência de GH e ACTH, tornam-se necessários os

testes de estímulo, como o teste de tolerância à insulina (ITT).

o ITT: coleta-se amostras para dosagem de cortisol após administração IV de insulina regular.

Apresenta como efeitos adversos sudorese, palpitação, tremor e crise convulsiva. É

contraindicado em idosos, portadores de doenças vasculares, cardiopatas e pessoas com

histórico de convulsão.

o Estímulo com ACTH: a hipófise, por se encontrar atrofiada, nem sempre responde a esse

estímulo. São raros os efeitos colaterais e não apresenta contra-indicações.

o L-arginina: utilizada para dosagem de GH (infunde-se arginina e mensura-se o GH). Seu

principal efeito colateral são náuseas.

o L-arginina + GHRH: mesma coisa do teste acima. Seu principal efeito colateral é rubor.

5) Tratamento

• Os hormônios hipofisários apresentam secreção pulsátil e ritmos secretórios que variam com uma

enorme gama de fatores. Por isso, não é possível a reposição fisiológica dos hormônios hipofisários

para o tratamento do hipopituitarismo, o qual é feito quase sempre por meio da substituição dos

hormônios dos órgãos alvo.

a) Deficiência de GH

• Os níveis de IGF-1 devem ser utilizados como marcador de tratamento, devendo ser mantidos entre o

valor médio e o limite superior da faixa de referência ajustada para a idade do paciente, visando a um

nível ótimo de função física e psicossocial.

• A reposição hormonal é feita com GH humano recombinante (rhGH), administrado por via

subcutânea antes de dormir.

• Efeitos colaterais: cefaleia, artralgia, mialgia, síndrome do túnel do carpo, edema de extremidades

(retenção hídrica provocada pelo GH)

• Contraindicações: doença malgina ativa, hipertensão intracraniana benigna e retinopatia diabética

proliferativa.

• ATENÇÃO! A reposição não está indicada e não há qualquer benefício demonstrado em estados de

deficiência funcional de GH, como observado no processo de envelhecimento (“somatopausa”),

obesidade e síndrome metabólica.

• ATENÇÃO! Nas deficiências hormonais, o ideal é começar com a reposição de rhGH apenas quando os

outros déficts já estejam adequadamente tratados. É importante monitorar os níveis séricos de cortisol

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

e T4 livre, pois quadros subclinicos de ACTH e TSH podem se tornar manifestos com o início do

tratamento do rhGH.

b) Deficiência de ACTH (insuficiência adrenal secundária ou terciária)

• Há necessidade apenas de repor os glicocorticoides, pois o SRAA não é afetado na IA por déficit de

ACTH.

• O objetivo do tratamento é repor, de modo mais fisiológico possível, a menor dose de glicocorticoide

que mantenha o paciente livre dos sintomas de insuficiência adrenal e sem os riscos de hipercortisolismo

iatrogênico (continua sendo um risco com o tratamento prolongado)

• Reposição mais utilizada: hidrocortisona VO na dose de 20 mg (10 mg ao acordar, 5 mg ao meio-dia e

5 mg ao fim da tarde). Em situações de estresse (cirurgia, doença), o paciente deve dobrar ou triplicar a

dose do GC oral ou fazer reposição por via parenteral.

• Crise Adrenal (quadro agudo): hidrocortisona IV, 50 a 100 mg

• Quadros crônicos e assintomáticos: reposição de GC em situações de estresse, orientando o paciente a

carregar consigo um cartão/bracelete em caso de crise adrenal.

• ATENÇÃO! As doses do GC podem necessitar de ajuste em pacientes que iniciam tratamento com

rhGH, já que o GH inibe a conversão de cortisona em cortisol. Os ajustes de dose dependem da

avaliação clínica, pois não há parâmetro bioquímico e hormonal para avaliação de resposta.

• ATENÇÃO! A reposição de deidroepiandrosterona em mulheres para correção da insuficiência

androgênica não é recomendada.

c) Deficiência de TSH (hipotireoidismo central)

• É idêntico ao tratamento do primário, e consiste na administração de levotiroxina (T4 livre) em dose

única ao acordar pela manhã, antes de se alimentar.

• A dose inicial deve variar entre 50 e 100 ug/dia (exceto em idosos e cardiopatas), com ajustes até se

atingir a dose de manutenção (50 a 200 ug/dia). Essa dose deve ser um pouco maior nos pacientes em

uso concomitante de estrógenos e rhGH.

• ATENÇÃO! Com o início do tratamento com rhGH ou estrogênios, os níveis séricos de T4 livre devem

ser monitorados para eventuais ajustes da dose de tiroxina. Uma queda nos níveis de T4 livre é esperada,

visto que o GH aumenta a conversão de T4 para T3.

• ATENÇÃO! A presença de hipocortisolismo deve ser tratada antes ou durante a reposição do

hormônio tireoidiano, pois o T4 livre pode aumentar a necessidade de glicocorticoides, eventualmente

precipitando uma crise adrenal.

d) Deficiência de FSH e LH (hipogonadismo hipogonadotrófico)

• O tratamento do hipogonadismo, obviamente, difere entre homens e mulheres.

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

1. Homens

• Reposição de testosterona, a qual pode ser feita por via transdérmica, intramuscular, intranasal, bucal,

ou na forma de implantes subcutâneos.

• Alguns estudos tem mostrado reversibilidade do hipogonadismo hipogonadotrófico congênito em cerca

de 5 a 10% dos pacientes com reposição androgênica, portanto, é válida a tentativa de suspensão

periódica dessa reposição para verificar possibilidade de interrupção definitiva do tratamento.

• Quando o objetivo for promover aumento testicular ou restauração da fertilidade, pode-se empregar

GnRH pulsátil ou terapia combinada com gonadotrofinas.

• A reposição de esteroides gonadais por 3 a 4 meses é uma abordagem usada em casos de retardo puberal,

sendo muitas vezes útil para diferenciar o hipogonadismo hipogonadotrófico do atraso constitucional da

puberdade.

2. Mulheres

• Deve ser feita a reposição estroprogesterônica, sendo que várias preparações estão disponíveis. Deve-se

dar preferência aos estrogênios naturais para o tratamento a longo prazo, sobretudo ao estradiol e ao

17B-estradiol.

• Sobre as vias de administração: uma importante desvantagem da via oral em relação ao uso em gel ou

transdérmico é a primeira passagem hepática, que resulta em síntese de proteínas pró-inflamatórias e

pró-trombóticas, além de ter efeitos indesejáveis sobre a pressão arterial e os níveis de SHBG (em

contrapartida, apresenta melhora do perfil lipídico). O Vilar orienta a dar preferência às preparações

estrogênicas transdérmicas em pacientes que necessitem reposição de GH; estrogenoterapia oral

implica em doses muitos mais altas de rhGH.

• O tratamento de infertilidade dessas pacientes apresenta riscos e é extremamente complexo, devendo ser

realizado somente em centros de reprodução com experiência em técnicas de estimulação ovariana.

• ATENÇÃO! A reposição estrogênica em mulheres com útero deve sempre ser acompanhada da

administração cíclica ou contínua de progestógenos, visando minimizar o risco de hiperplasia ou câncer

do endométrio, bem como promover maior regularidade nos ciclos menstruais.

3) Descrever as principais causas de tumores hipofisários funcionantes: prolactinoma, acromegalia e

Doença de Cushing

1) Prolactinoma

a) Introdução

• A hiperprolactinemia se caracteriza por níveis séricos elevados de prolactina, cuja principal função é

estimular a lactação. Apesar de sua prevalência baixa na população em geral, sua prevalência é mais

elevada em indivíduos com sintomas relacionados ao excesso da secreção desse hormônio, como

amenorreia, galactorreia e infertilidade.

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

• A hiperprolactinemia em si é apenas um achado laboratorial, o qual pode resultar de causa fisiológicas,

farmacológicas e patológicas. A principal etiologia patológica são os prolactinomas, adenomas

secretores de prolactina.

o Fisiológicas: gravidez e amamentação, estresse, exercício, manipulação da mama e sono.

o Farmacológicas: antipsicóticos (antagonizam receptores D2 na hipófise anterior) e

antidepressivos são os mais relacionados a esse quadro (risperidona, fenotiazinas e

bunofenonas).

o Patológicas:

▪ Tumores: prolactinoma e tumores que cursam com produção aumentada de PRL ou

comprometimento da haste hipotálamo-hipofisária,

▪ Hipotireoidismo: o aumento do TRH estimula a síntese de PRL e o lactotrofo tem

sensibilidade reduzida ao efeito da dopamina e da queda de T3 e T4

▪ Doença de Addison: os glicocorticoides suprimem a expressão do gene da PRL e sua

liberação

▪ Cirrose Hepática

▪ Insuficiência Renal (redução da depuração renal da PRL – principalmente em

pacientes com hemodiálise)

▪ Hiperprolactinemia neurogênica: elevação reflexa de PRL em decorrência de lesões

irritativas da parede torácica (herpes-zóster, toracotomia, queimaduras) e por

patologias do cordão medular (ependimoma cervical, siringomielia, tumore

extrínsecos).

▪ Crise convulsiva: convulsão do lobo frontal e temporal pode levar a desequilíbrio dos

neurotransmissores da região hipotálamo-hipofisária.

o Macroprolactinemia: condição suspeitada quando o paciente se apresenta sem sintomas típicos

ou evidência de tumores a RM. Está associada a menor biodisponibilidade da prolactina.

• Os prolactinomas são a principal causa patológica de hiperprolactinemia. Na prática clínica,

microprolactinomas (< 1 cm) são mais prevalentes do que macroprolactinomas (> 1 cm) e ocorrem mais

frequentemente em mulheres com idade entre 20 e 50 anos (pode estar relacionado ao subdiagnóstico em

homens, devido ao quadro clínico mais típico em mulheres – síndrome de amenorreia-galactorreia).

o Em homens, os macroadenomas são mais frequentes.

b) Quadro Clínico

• O quadro clínico se dá pelo excesso de prolactina, cursando com os seguintes sintomas:

o Galactorreia: pode ser espontânea, intermitente ou detectável apenas à expressão mamilar. Pode

estar ausente em casos graves de hipogonadismo (como pós-menopausa). Em homens, é

praticamente patognomônica de prolactinoma.

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o Hipogonadismo: causado pela inibição da secreção do GnRH hipotalâmico por parte da

prolactina.

▪ Em mulheres manifesta-se por anovulação, infertilidade, oligo ou amenorreia e

redução da lubrificação vaginal com dispaureunia.

▪ Em homens pode cursar com redução da libido, disfunção erétil, oligospermia,

infertilidade, ejaculação precoce e, menos frequentemente, ginecomastia.

▪ Em ambos os sexos cursa com redução da densidade mineral óssea.

o Outras manifestações: hirsutismo e acne, obesidade e alterações devido a expansão tumoral.

▪ A expansão tumoral cursa com os seguintes sintomas, a depender de sua direção:

• Infrasselar: rinorreia liquórica, com risco de meningite

• Suprasselar: cefaleia, redução ou perda de visão e hemianopsia bitemporal,

hipertensão craniana ou hidrocefaleia (compressão do III ventrículo).

• Parasselar: oftalmoplegia e/ou dor facial

c) Diagnóstico

• O diagnóstico é feito pela constatação de hiperprolactinemia associado a achados de imagem

sugestivos do tumor (TC ou RM). Sempre lembrar de excluir possíveis causas fisiológicas e

farmacológicas para o quadro.

o Hiperprolactinemia: PRL de 20 a 25 ng/ml em mulheres e 15 a 20 ng/ml em homens. Em casos

duvidosos, é de bom grado pedir outra amostra (elevações discretas da PRL podem ser fruto da

pulsatilidade da secreção do hormônio ou estresse da venopunção)

▪ ATENÇÃO! Níveis séricos > 250 ng/ml são quase patognomônicos dos

prolactinoma. Níveis > 500 ng/ml são capazes de confirmar esse diagnóstico.

▪ ATENÇÃO! Os níveis de PRL podem se encontrar falsamente baixos em volumosos

macroprolactinomas e acentuada hiperprolactinemia, devido ao efeito gancho

(saturação de anticorpos de captura e sinalizadores no imunoensaio).

▪ Em geral, é possível correlacionar os níveis de prolactina e o tamanho do tumor.

• Microprolactinomas: PRL entre 100 e 250 ng/ml

• Macroprolactinomas: PRL entre 250 e 1.000 ng/ml, podendo exceder esse

valor, principalmente nos casos de prolactinomas gigantes.

o Exames de imagem: úteis para detectar o tumor e classifica-lo em microadenoma (diâmetro <

1 cm), macroadenoma (diâmetro > 1cm) ou prolactinomas gigantes (> 4 cm). Os principais

são a TC e a RM.

• ATENÇÃO! O principal diagnóstico diferencial são os pseudoprolactinomas (adenomas clinicamente

não funcionantes), os quais cursam com elevação dos níveis de prolactina devido a compressão da haste

hipofisária, sendo o seu tratamento cirúrgico.

o Nessa condição, os valores de PRL costumam ser < 100 ng/ml

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• ATENÇÃO! Outro diagnóstico diferencial importante é a macroprolactinemia, situação em que há

predomínio da macroprolactina, levando a uma mensuração laboratorial elevada de PRL, contudo sem

repercussões clínicas (visto que a molécula é biologicamente inativa). Pode cursar com sintomatologia,

quando associada a distúrbios concomitantes (hiperprolactinemia farmacológica, síndrome dos ovários

policísticos...)

d) Tratamento

• O tratamento dos prolactinomas pode ser realizado por meio de cirurgia, radioterapia e farmacoterapia

com agonistas dopaminérgicos (esse último é o de escolha para a situação). Pacientes assintomáticos

com microprolactinomas não apresentam indicação absoluta de tratamento (deve ser instituído

apenas caso surjam sintomas).

• Cirurgia: indicada principalmente para os casos de

resistência ou intolerância ao tratamento farmacológico,

assim como nos que existem complicações tumorais

(apoplexia ou rinoliquiorreia). Em casos de

prolactinomas gigantes e invasivos, dificilmente a

cirurgia pode ser curativa. A técnica de escolha costuma

ser a cirurgia transesfenoidal, que apresenta como

intercorrência comum o diabetes insípido transitório

• Radioterapia: indicada apenas para tumores resistentes a

DA e cirurgia (como massa tumoral significativa ou que

cresça durante o seguimento), com tendência

comprovada para crescimento. Os prolactinomas são

tumores hipofisários secretores menos responsivos à

radioterapia. A complicação crônica mais frequente é o

hipopituitarismo induzido por radiação (mais de 50%

dos pacientes que receberem radioterapia desenvolverão

no mínimo uma deficiência de hormônio da hipófise

anterior na década seguinte).

• Farmacológico: é feita através de agonistas dopaminérgicos, sendo o tratamento de primeira linha

para esses tumores (bromocriptina e cabergolina). Seu mecanismo de ação se dá pela estimulação dos

receptores dopaminérgicos D2, responsáveis por inibir e reduzir a síntese e secreção de prolactina.

o Carbergolina: é o agonista mais utilizado para tratamento, devido a sua seletividade para o

receptor D2. Sua posologia também é útil: só necessita de uma única dose oral apenas a ½ vezes

por semana, enquanto a bromocriptina requer três tomadas diárias. Além disso, estudos

demonstram que apresenta efeito metabólico benéfico, sendo capaz de reduzir a prevalência de

síndrome metabólica e resistência insulínica nesses pacientes. É o tto de escolha, pois, além dos

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benefícios supracitados, se mostrou mais eficaz em normalizar PRL e induzir redução tumoral e

menor taxa de intolerância do que a bromocriptina.

o Bromocriptina: fármaco de segunda escolha, geralmente é administrada 2 a 3 vezes/dia. Pode

causar hipotensão postural e, em doses elevadas, fenômeno de Raynauld. Usada na gestação.

o Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, cefaleia, tontura, congestão nasal, dor abdominal,

fenômeno de Raynauld. Depressão, psicose, rinoliquorreia e herniação do quiasma óptico são

efeitos colaterais mais raros, porém presentes. Alguns estudos indicam risco de valvopatia

(regurgitação tricúspide) devido a presença de receptores dopaminérgicos nas valvas cardíacas

(leva a mitogenese e proliferação de fibroblastos) → ainda está em discussão a necessidade

de realizar ecocardiograma de screening (apenas devem ser acompanhados pacientes que

utilizam doses elevadas por períodos prolongados).

• ATENÇÃO! A grande maioria dos tumores da hipófise são lesões benignas, de crescimento lento e não

invasivas. Entretanto, podem estar presentes tumores com invasão local, recidiva após cirurgia e

resistência a tratamento medicamentoso. Esses se enquadram como carcinomas (<1% dos tumores

hipofisários) ou adenomas atípicos. O prognóstico desses pacientes é reservado, porém estudos

documentam o uso de temozolomida como eficaz para tumores agressivos produtores de PRL ou ACTH

(como é um fármaco que induz à mielosupressão, deve ser utilizado apenas em último caso).

2) Acromegalia

a) Introdução

• A acromegalia é uma doença sistêmica crônica, decorrente da produção excessiva de GH e IGF-1.

• Em quase 100% dos casos, a acromegalia é causada por um adenoma hipofisário secretor de GH

(somatotropinoma). Esse adenoma pode ser de células puras de GH ou misto, com células de GH e

prolactina.

o Apesar de raras, existem outras causas de acromegalia, como: adenomas mistos de células

secretoras de GH e prolactina, adenomas ectópicos secretores de GH, carcinoma de células

somatotróficas, adenomas pluri-hormonais e linfomas.

• É uma doença rara, porém certamente é subdiagnosticada.

• Acomete igualmente homens e mulheres, principalmente entre 30 e 50 anos.

o Em crianças se manifesta por crescimento linear excessivo e gigantismo (ocorre antes do

fechamento das cartilagens de crescimento).

• Em razão de sua evolução insidiosa, seu diagnóstico é frequentemente feito em torno de 7 a 10 anos após

o aparecimento dos primeiros sinais e sintomas. Isso é importante pelo fato de o diagnóstico e o

tratamento mais precoces poderem evitar ou minimizar o surgimento das complicações cardiovasculares

respiratórias e neoplásicas, principais responsáveis pelo aumento de mortalidade nessa condição.

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b) Quadro Clínico

• É um distúrbio insidioso, com progressão gradual dos sinais e sintomas, os quais podem resultar da

compressão do tumor sob estruturas adjacentes, da secreção excessiva de GH ou das complicações

sistêmicas resultantes do excesso desse hormônio.

• Há aumento das extremidades em praticamente 100% dos casos, mas não é motivo de consulta por

parte dos pacientes, que atribuem ao ganho de peso o fato de anéis, luvas e sapatos ficarem mais

apertados.

• Em crianças, pode estar presente o gigantismo, devido ao aumento da secreção excessiva de GH antes

do fechamento das cartilagens de crescimento. Deve ser considerado em crianças que estejam mais de

três desvios padrões acima da altura média para a idade ou mais de dois DP além da altura ajustada para

a altura dos pais.

• Modificações fisionômicas: alargamento do nariz, aumento dos lábios, crescimento exagerado da

mandíbula com prognatismo, proeminência frontal, separação dos dentes, maloclusão dentária,

macroglossia e aumento dos arcos zigomáticos. Devido ao caráter insidioso de seu surgimento, são o

motivo de consulta inicial de apenas 10% dos pacientes.

• Manifestações articulares: artralgia (70% dos casos) e artropatia

• Manifestações cutâneas: hiperidrose, pele oleosa com odor desagradável, espessamento cutâneo. Os

acrocórdons (skin tags) podem ser observados em alguns pacientes, sendo importantes marcadores para

a existência de pólipos colônicos adenomatosos. O fenômeno de Raynaud pode ser observado em até um

terço dos acromegálcios.

• ATENÇÃO! Frequentemente o diagnóstico é estabelecido casualmente, a partir de manifestações

clínicas frutos de complicações da doença, como irregularidades menstruais, diabetes melito, apneia do

sono, síndrome do túnel do carpo...

Complicações da acromegalia

Cardiovasculares Respiratórias Endócrinas Metabólicas Neoplasias

- Hipertensão

- Cardiomegalia

- Hipertrofia

ventricular

- Arritmias

- AVC

- Apneia do

sono

- Depressão de

centros

respiratórios

- Calcificação

traqueal

- Artropatia da

junta

cricoaritenóidea

- Hiperprolactinemia

- Hipopituitarismo

- Anormalidade

menstruais

- Disfunção erétil

- Diabetes Melito

- Hipertrigliciridemia

- Hipercalcemia

- Hipercalciúra

- Tireoide

- Pólipos

- Cólon

- Esôfago

- Mama

- Estômago

- Tireoide

c) Diagnóstico

• Envolve a avaliação de aspectos clínicos, laboratoriais e radiológicos.

• A suspeita clínica da doença é confirmada a partir da dosagem basal de GH e IGF-1.

o Exames adicionais são RM da sela túrcica e exames de imagem toracoabdominais.

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• Dosagem de GH basal: geralmente estão > 10 ug/l. Pelo fato de a secreção de GH ser pulsátil, apresenta

pouco valor no diagnósitco da doença (pode apresentar dosagem ao acaso em níveis normais).

• Dosagem do GH durante o teste oral de tolerância à glicose: indicados nos casos em que o diagnóstico

não pode ser descartado ou confirmado com dosagens basais de GH e IGF-1. Na acromegalia, o TOTG

em geral não consegue suprimir o GH.

o Falso-positivo: DM descompensado, doença renal ou hepática crônica, hipertireoidismo,

anorexia nervosa, uso de opioides, desnutrição e adolescência.

o Contra-indicação: DM

• Dosagem de IGF-1: reflete a secreção integrada do GH, não apresentando flutuação circadiana e nem

secreção pulsátil, o que o torna um exame de maior confiabilidade para o diagnóstico. Os valores de

referência variam conforme a idade do paciente. Níveis normais de IGF-1 praticamente excluem o

diagnóstico de acromegalia.

• Dosagem de GHRH: indicada nos casos de acromegalia com GH e/ou IGF-1 elevados, em que a RM não

mostre nenhum tumor na região ou sugira hiperplasia hipofisária. Níveis elevados indicam secreção

desse hormônio por tumor ectópico (tumores hipotalâmicos não cursam com GHRH elevado, visto que

esse não entra na circulação sistêmica)

• Exames de imagem: devido a elevada incidência de adenoma hipofisário secretor de GH; deve-se

realizar uma RM com contraste da hipófise após confirmação de diagnóstico bioquímico, para

avaliar tamanho do tumor, magnitude da extensão extrasselar e a relação do tumor com o quiasma

óptico.

o Tumores ectópicos podem ser observados por RM e TC de tórax e abdome; a cintilografia com

inpentetreotida (octreoscan) pode ser útil para a detecção de tumores menores.

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• Diagnósticos diferenciais: DM descompensado, cirrose, anorexia nervosa, uremia, doenças agudas,

SIDA, desnutrição... São condições que cursam com produção ou ação deficiente do GH e suas proteínas

carreadoras. Manifestações observadas no hipotireoidismo grave podem lembrar as da acromegalia.

Em crianças, o gigantismo pode estar relacionado a outras condições, como alta estatura familiar,

síndrome de Marfan e hiperinsulinismo.

d) Tratamento

• São três as modalidades terapêuticas: cirurgia, tratamento medicamentoso e radioterapia.

• Cirurgia: único tratamento que tem chance de cura imediata do quadro (eficácia de 90% em

microadenomas e de 50% nos macroadenomas); é considerada a terapia de primeira escolha na

maioria dos casos. Além disso, fornece tecido tumoral para análise histopatológica e molecular, o que

permite melhor caracterização do tumor e tratamento adjuvante mais apropriado na ausência de cura.

Quando realizada por neurocirurgiões experientes, o índice de complicações é baixíssimo (a mais

frequente é o diabetes insípido transitório). O hipopituitarismo e a recorrência da acromegalia são

outras complicações.

• Farmacológico: devem ser considerados para esse os pacientes com níveis séricos de IGF-1 normais

para a idade e GH randômico < 1,0 ug/l. Os fármacos utilizados são análogos da somatostatina,

agonistas dopaminérgicos e antagonistas do receptor do GH.

o Análogos da somastotatina: são o octreotide e o lanreotide. São indicados como terapêutica

adjuvante à cirurgia ou como tratamento primário naqueles tumores com baixa chance de

cura cirúrgica (extrasselares). Sua aplicação é intramuscular ou subcutânea e os principais

efeitos colaterais são gastrintestinais.

o Agonistas dopaminérgicos: são a carbergolina e a bromocriptina. Assim como nos

prolactinomas, a carbegolina apresenta melhores resultados que a bromocriptina. É

preferencialmente utilizada em adenomas cossecretores de GH e prolactina. Pode ser

utilizado como monoterapia adjuvante em pacientes com níveis pouco elevados de GH e IGF-1.

Seus principais efeitos adversos já foram descritos.

o Antagonistas do Receptor de GH: é o pegvisomanto (PEG-V); indicada para pacientes com

resistência ou intolerância aos análogos da somatostatina, ou naqueles em que houve falência

do tratamento cirúrgico. Agem se ligando aos receptores hepáticos e bloqueando a produção de

IGF-1. Não apresenta efeito sobre a massa tumoral (ação periférica), a qual pode inclusive

aumentar. Elevações de transaminases e lipo-hipertrofia são os efeitos adversos mais comuns.

• Radioterapia: é uma modalidade eficaz no controle da doença, contudo, devido ao risco de efeitos

colaterais graves, é utilizada apenas para tumores não controlados com tratamento cirúrgico e

medicamentoso. O hipopituitarismo é o efeito mais frequente, entretanto, lesão de vias ópticas ou de

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pares cranianos, déficit cognitivo, doença cerebrovascular e malignidades secundárias também podem

aparecer.

3) Doença de Cushing ACTH dependente

OBS pros calouros: essa parte também está no problema 06, mas o resumo de lá foi feito pelo Medcurso

2019, e esse daqui pelo livro da Patrícia.

a) Introdução

• A síndrome de Cushing é um estado clínico resultante do excesso de cortisol circulante do organismo

(decorrente da ingestão de glicocorticoide ou da produção endógena)

• As etiologias dividem-se entre ACTH-dependente (80% dos casos) e ACTH independente (15 a

20%). A primeira apresenta como principal etiologia o adenoma de hipófise, já a segunda apresenta

como principal etiologia o adenoma adrenal.

o ACTH-dependente: adenoma de hipófise (doença de Cushing); tumor produtor de ACTH

ectópcio, síndrome do CRH ectópico

o ACTH-independennte: adenoma adrenal, carcinoma adrenal, hiperplasias da adrenal

• É uma condição rara, com incidência de 0,7 a 2,4 por 1.000.000 de habitantes por ano. É mais comum

em mulheres.

b) Quadro Clínico

• Pode causar um largo espectro de manifestações, desde quadros subclínicos até quadros mais

exuberantes, a depender da duração e intensidade de produção dos glicocorticoides.

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• Obesidade centrípeta e visceral: principalmente na fossa supraclavicular e no tronco, fácies em lua cheia

e giba cervical. Pode desencadear síndrome da apneia obstrutiva do sono por deposição acentuada de

gordura em região cervical.

• Manifestações cutâneas: estrias violáceas largas (> 1cm), equimoses espontâneas (fragilidade capilar por

redução da síntese de colágeno), escurecimento da pele nos casos de ACTH dependente (devido a

produção de melanotrofina derivada da POMC). Hirsutismo, alopecia, hiperandrogenismo e acne

podem estar presentes devido a produção de andrógenos. A acantose nigricans pode estar presente

devido a resistência insulínica (cortisol é hiperglicemiante)

• Sistema musculoesquelético: miopatia e fraqueza proximal (glicocorticoide é catabólico), osteoporose

(redução na reabsorção intestinal e renal de cálcio – pode ser agravada pelo hipogonadismo)

• Sistema cardiovascular: hipertensão arterial sistêmica (aumento do angiotensinogênio, dano vascular,

vasoconstrição sistêmica e perda do descenso noturno da pressão dependente do ciclo do cortisol),

dislipidemia (ativação da lipase lipoproteica subcutânea, aumentando a lipólise e liberando AGL e TG),

hipercoagulabilidade/estado pró-trombótico.

o A dislipidemia apresenta-se com hipercolesterolemia e hipertrigliceridemia. O fármaco de

escolha deve ser a rouvastatina/pravastatina, pois a sinvastatina apresenta metabolismo reduzido

com o uso de cetoconazol, o que aumenta o risco de toxicidade medicamentosa.

• Sistema neurológico: agitação, ansiedade, depressão, pânico e alterações cognitivas e de memória

• Hipogonadismo hipogonadotrófico: amenorreia, perda de libido, disfunção erétil e infertilidade (cortisol

inibe GnRH).

• Infecções de repetição: onicomicose ou tínea versicolor.

• Pediatria: atraso da idade óssea e déficit do crescimento.

c) Diagnóstico

• Sempre questionar acerca de fontes exógenas de corticoide (nasal, cremes, comprimidos)

1. Confirmação do hipercortisolismo

• Cortisol livre urinário: deve ser feito em urina de 24h. Pode ser falso-positivo nos casos de poliúria, uso

de glicocorticoides e síndrome pseudo-cushing. Pode ser falso-negativo quando a coleta é inadequada e

em casos de insuficiência renal.

• Cortisol salivar à meia noite: devem ser coletadas preferencialmente duas amostras. Orientar o paciente a

não beber nem fumar por 24 horas, não comer 1h antes do exame, não escovar os dentes 2h antes e lavar

a boca com água antes de coletar o exame. Pode ser falso-positivo (sangue na amostra, idosos, estresse,

trabalhadores noturnos)

• Cortisol sérico à meia noite: deve ser coletado com o paciente internado (de preferência após 48h de

internação para reduzir o estresse dessa).

I Módulo 801 – Problema 09 I Thiago Almeida Hurtado

• Teste de supressão com dose baixa de dexametasona: inibe a secreção de ACTH pela adeno-hipófise.

Pode ser feito através da administração de 1mg de dexametasona (coleta no dia seguinte) ou pelo

protocolo de Liddle 1 (0,5 mg de dexametasona de 6/6h durante 48h com coleta de cortisol sérico na

manhã do terceiro dia).

2. Distinção entre formas ACTH-dependente ou independente

• Deve ser confirmado o hipercortisolismo com pelo menos dois dos testes anteriormente citados.

• É feito através da dosagem do ACTH

o ACTH < 5 pg/ml → ACTH independente

o ACTH 5 a 20 pg/ml → necessidade de realização de testes dinâmicos (caso responsivo é ACTH

dependente)

o ACTH > 20 pg/ml → ACTH dependente

3. Testes dinâmicos

• Teste de desmopressina (DDAVP): realizado para diferenciar doença de Cushing de tumor ectópico

secretor de ACTH. Coleta-se o ACTH e o cortisol sérico após a administração de desmopressina. Um

aumento de 35% no ACTH e de 20% no cortisol sugerem Doença de Cushing. A resposta “aumentada”

da Doença de Cushing se deve a presença de mais receptores para esse hormônio nos adenomas

corticotróficos, induzindo a uma maior secreção de ACTH.

• Teste do CRH humano ou ovino: realizado para diferenciar doença de Cushing de tumores ectópicos

coleta-se o ACTH e o cortisol sérico após a administração de CRH humano ou ovino IV. Um incremento

de 105% de ACTH e de 14% de cortisol (quando administrado CRH humano) sugerem Doença de

Cushing (adenomas corticotróficos são mais ricos em receptores de CRH). É muito mais sensível e

específico do que o DDAVP, porém é mais caro e menos disponível.

• Teste de supressão com dose alta de dexametasona ou Liddle 2: Administra-se dexametasona 2mg Vo

6/6h ou dexametasona 8 mg à meia-noite. Dosa-se o cortisol sérico pela manhã ou urinário 24h do dia

seguinte da última dose. Altas doses de glicocorticoides suprimem parcialmente a secreção de ACTH em

adenomas corticotróficos, ao contrário do que ocorre em tumores adrenais e na secreção ectópica de

ACTH.

4. Averiguar a etiologia/localização

• RM hipofisária: imagens > 6 mm sugerem o diagnóstico de doença de Cushing. Se a imagem for menor

do que 6 mm, realizar cateterismo bilateral para confirmar a hipótese. 40 a 50% dos casos podem não ter

imagem visível na RM e cerca de 10% da população pode ter incidentalomas hipofisários (geralmente <

6mm).

• Cateterismo bilateral e simultâneo dos seios petrosos inferiores: é o método padrão ouro para

diferenciação entre fonte hipofisária e não hipofisária de síndrome de Cushing ACTH-dependente.

Cateterizam-se os seios petrosos e uma veia periférica, mensurando-se o gradiente de ACTH após

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administração com CRH ou DDAVP. Um gradiente centro/periferia > 2 (basal) ou > 3 (pós-estímulo

com secretagogo) sugere doença de Cushing.

• Exames localizatórios em caso de suspeita de tumor ectópico: TC de tórax, abdome, pelve e marcadores

tumorais.

d) Tratamento

• O padrão ouro sempre será a cirurgia, idealmente por via transesfeinoidal. Caso haja falha, pode ser

indicada nova cirurgia ou tratamento medicamentoso, adrenalectomia uni ou bilateral ou radioterapia.

o ATENÇÃO! Ao contrário do tto medicamentoso na acromegalia e nos prolactinomas, na DC

os medicamentos não são capazes de reduzir o tamanho tumoral

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• Cirurgia hipofisária: tto de primeira linha, geralmente realizado por via transesfeinoidal (90% dos casos

são microadenomas). Para os casos que não entram em remissão, deve ser realizada uma segunda

cirurgia.

• Traatmento medicamentoso: indicado para pacientes sem controle cirúrgico ou enquanto aguardam os

efeitos tardios da radioterapia. Melhora as comorbidades do paciente, portanto, pode também ser

utilizada no pré e pós-operatório e enquanto o diagnóstico de hipercortisolismo ACTH-dependente não

estiver firmamente estabelecido.

1. Moduladores da secreção de ACTH

• Cabergolina (agonista dopaminérgico): geralmente utilizada em associação com outros tratamentos,

como o cetoconazol (melhora a resposta, pois o hipercortisolismo reduz a expressão de receptores D2

nos corticotrofos).

2. Medicamentos com ação nas adrenais

• Cetoconazol: é o medicamento mais utilizado para o controle do hipercortisolismo. Apresenta um

mecanismo de ação triplo: inibe as enzimas da esteroidogênese adrenal e gonadal, reduz a produção de

ACTH e apresenta ação competitiva com o cortisol nos receptores de glicocorticoides.

o Efeitos colaterais: elevação das enzimas hepáticas, intolerância TGI, cefaleia, sedação,

ginecomastia, redução de libido, disfunção erétil.

• Mitotane: apresenta efeito citotóxico sobre as adrenais, inibindo a esteroidogênese e apresentando efeito

adrenolítico direto. Seu início de ação é demorado (~6 semanas), porém, apresenta efeito prolongado.

o Efeitos colaterais: insuficiência adrenal (dose-dependente), intolerância de TGI,

hepatotoxicidade, ginecomastia, artralgia, leucopenia, dislipidemia, rash, teratogenicidade.

• Etomidato: medicamento IV, usado em casos graves, que inibe a secreção aguda de cortisol.

• Adrenalectomia videolaparoscópica: indicada apenas em pacientes com falha no tratamento cirúrgico

que não podem ou não desejam passar por uma nova abordagem neurocirúrgica. Apresenta certeza de

cura quando bilateral, às custas de insuficiência adrenal para o resto da vida.

• Radioterapia: indicada apenas nos casos sem cura cirúrgica e sem melhor alternativa terapêutica.

Apresenta início de ação lento, demorando cerca de 12 a 18 meses para cursar com melhora do

hipercortisolismo, além de poder evoluir com hipopituitarismo à longo prazo. Deve ser sempre associada

a algum tipo de tratamento medicamentoso devido a seu efeito demorado.

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