hortal jesus - o caminho para o cmi

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  • 8/16/2019 Hortal Jesus - O Caminho Para o CMI

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    O CAMINHO PARA O CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS

    1. A Conf erência de Missões de Edimburgo (1910) . Já vimos como, durante a segunda metade do século XIX, associedades missionárias protestantes e anglicanas se esforçaram por encontrar um caminho para a cooperação por meiodas Conferências Internacionais de Missões. Tratava-se, porém, de reuniões esporádicas. O cenário muda em 1910.

     Nesse momento, entram em ação homens excepcionais, provenientes dos movimentos ecumênicos da juventude. Entre

    eles se destacam Charles H. Brent (bispo episcopal das Filipinas), Mare Boegner (a grande figura do protestantismofrancês), Joseph H. Oldham e, sobretudo, John R. Mott, impulsor da Federação Mundial de Estudantes Cristãos.

    A Mott se deve o sucesso da Conferência de Edimburgo. Em primeiro lugar, pela sua esmerada preparação, medianteum comitê que trabalhou ardorosamente durante dois anos e do qual ele próprio era presidente e Oldham secretário. Osestudos preparatórios engajaram pessoas espalhadas pelo mundo inteiro. Contudo, uma limitação se fará sentirrapidamente: quase todas as sociedades missionárias eram de origem britânica ou norte-americana. Assim, boa parte do

     protestantismo europeu ficará, naquele momento, à margem do movimento ecumênico, que ensaiava os primeiros pas-sos.

    Um segundo ponto positivo da organização da Conferência de Edimburgo é o fato de os participantes serem verdadeirosdelegados, credenciados pelas sociedades missionárias e não indivíduos isolados, a título pessoal, como acontecia nasconferências anteriores. Passava assim a haver um verdadeiro compromisso institucional na caminhada ecumênica. Nãose tratava, porém, de uma verdadeira obrigatoriedade jurídica. As decisões de Edimburgo não vinculavam as Igrejas. O

    compromisso era antes moral mais que jurídico.As missões católicas e ortodoxas não foram convidadas nem participaram na Conferência de Edimburgo. Mas o climaecumênico da reunião fez com que numerosos oradores pedissem uma colaboração também com essas Igrejas. De resto,em Edimburgo, foi defendido o princípio de não considerar a América Latina como terra de missão, por ser umcontinente já evangelizado pela Igreja católica. Essa questão não deixará de provocar acirradas discussões noscongressos posteriores.

    2. O Conselho I nternacional de M issões . A fim de assegurar a continuidade da obra empreendida, a Conferência deEdimburgo criou um “Comitê de continuação”, que iniciou, em 1912, a publicação da International Review of Missions.As suas atividades, porém, se viram interrompidas pela Primeira Guerra Mundial. Em 1921, na Conferência da cidadede Lake Mohonk, no Estado de Nova Iorque, surgiu formalmente o Conselho Internacional de Missões, que promoveráas conferências seguintes: Jerusalém (1928), Tambaram (Calcutá-Índia, 1938), Whitby (Província de Ontário-Canadá,1947), Willingen (Alemanha, 1952) e Acera (Gana, 1958). Já em 1947, tinha-se decidido que o Conselho Internacional

    de Missões seria associado ao Conselho Mundial de Igrejas, então em formação. Para uma integração mais completa,existia o obstáculo de que nem todas as Igrejas que participavam do movimento missionário estavam dispostas aingressar no nascente Conselho Mundial de Igrejas. Na Conferência de Acera, porém, decidiu-se a integração completa,que ficou concretizada em razão da Terceira Assembléia Geral do CMI em Nova Déli, em 1961. Desde então o antigoConselho Internacional de Missões passou a ser a Comissão de Missão e Evangelização do CMI, que convocou asseguintes conferências: México (1963), Bangkok (Tailândia, 1972), Melbourne (Austrália, 1980). O movimentomissionário impulsionou a colaboração, nos mais diversos campos, entre igrejas e sociedades missionárias protestantese anglicanas; propiciou inclusive uma delimitação fraternal dos campos de trabalho missionário; estimulou a presença ea participação das jovens igrejas da Ásia, África e América Latina; fez, enfim, surgir a consciência de que o testemunhocristão não estava limitado a alguns territórios em particular, mas abrangia todos os continentes e se devia manifestarnos diversos campos da vida. Uma vez integrado ao CMI, o movimento missionário deu lugar a ações significativas,como o Programa de Luta contra o Racismo.

    3. O Movimento“ Fée Constituição 

    ” .  Na Conferência de Missões de Edimburgo tinha-se tomado a determinação denão discutir questões doutrinárias. Nem todos os participantes ficaram contentes com essa atitude. Entre eles destacava-

    se o americano Charles-Henry Brent, bispo da Igreja episcopal dos Estados Unidos e mais tarde de Manila, nas IlhasFilipinas. Foi secundado em seus esforços pelo leigo Robert H. Gardiner. Para Brent, o que mais dificulta a açãomissionária são as diferenças doutrinárias; por isso, era necessário chegar a um acordo, a fim de que o anúncio evan-gélico aos não-cristãos ganhasse credibilidade.

    As tentativas para reunir uma conferência que tratasse desses temas começaram logo depois de Edimburgo (1910), masforam interrompidas por causa da Primeira Guerra Mundial. Acabada esta, em 1919, uma delegação do comitêorganizador percorreu a Europa e o Oriente, procurando adesões para o projeto. Houve também algumas reuniões

     preparatórias. Finalmente, em 1927, reuniu-se em Lausana (Suíça) a Primeira Conferência de “Fé e Constituição” (eminglês, “Faith and Order ”), para tratar de questões dogmáticas (fé) e organizativas (constituição) da Igreja. Estavam

     presentes 394 delegados pertencentes a 108 igrejas diferentes. Não se tratava, porém, de representantes oficiais, mas de participantes a título pessoal. Os católicos estavam completamente ausentes, por determinação da Santa Sé, que achou a

    conferência incompatível com o conceito católico de Igreja. Em contrapartida, os ortodoxos eram numerosos, mas semostraram bastante reticentes e até se negaram a aceitar as conclusões, porque a conferência parecia supor que a Igrejauna ainda estava por ser criada, sendo que a Ortodoxia se considera a si mesma essa Igreja una. Houve também

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     presença significativa de luteranos dos países escandinavos e de reformados de diversos países europeus. Contudo, eraclaro o predomínio do mundo anglo-saxônico e mais especificamente do anglicanismo. As Igrejas alemãs negaram--se acomparecer, a fim de “não favorecer o imperialismo anglo--saxônico”. Não esqueçamos que as feridas da PrimeiraGuerra Mundial continuavam profundas e que na Alemanha era já visível a ascensão de um movimento nacionalistaradical.

    Lausana não conseguiu nenhum resultado concreto. As declarações finais foram tão vagas e imprecisas que poderiamser assinadas por qualquer um. Mas a conferência serviu para mostrar o desconhecimento mútuo e os preconceitos

    existentes entre as Igrejas. Quebrou o gelo e destruiu o tabu das questões doutrinárias. De modo semelhante ao queacontecera com o movimento missionário, também  Fé e Constituição  nomeou um Comitê de continuidade, que

     promoveu cuidadosos estudos sobre temas teológicos, como a graça, com vistas a futuras reuniões.

    A segunda Conferência de  Fé e Constituição  teve lugar em Edimburgo (Escócia), em agosto de 1937, quasecontemporaneamente com a Segunda Conferência do  Movimento Vida e Ação, que se reuniu em Oxford. Arepresentação era mais ampla (504 participantes) e oficial (123 Igrejas enviaram delegações credenciadas) do que emLausana. Faltavam, porém, as Igrejas alemãs, proibidas pelo governo nazista de participar num acontecimento“internacionalista”. Os católicos romanos também se fizeram presentes em número de cinco, mas apenas a título deobservadores não-oficiais. Tinha caído, contudo, a proibição romana de participação nessas conferências. Os temasfundamentais foram a graça, a relação entre Igreja e Palavra, e entre ministério e sacramentos, a unidade da Igreja navida e no culto. Mais do que em Lausana, em Edimburgo manifestaram-se as duas tendências que se têm confrontadonas questões doutrinárias no movimento ecumênico; a “católica”, representada sobretudo pelos ortodoxos, mas também

     por alguns anglicanos, privilegiando a dimensão sacramental da Igreja; e a“

     protestante”

    , que dá muito menos ênfase àinstituição e, conseqüentemente, se preocupa menos com a questão do ministério ordenado e a sucessão apostólica nas pessoas. Apesar, porém, das diferenças nas concepções eclesiológicas, a conferência reconheceu que a meta domovimento Fé e Constituição era uma “união orgânica”  entre as Igrejas-membros. É interessante sublinhar que norelatório sobre a graça chega-se a afirmar que as questões relativas a esse tema “não fornecem razões para manter de péa separação entre as Igrejas”.

    Durante a reunião de Edimburgo, foi aprovada uma moção para a constituição do Conselho Mundial de Igrejas. Porisso, a Conferência de  Fé e Constituição elegeu sete delegados que, junto com os do movimento-irmão Vida e Ação,constituíram o “comitê dos 14”. Mas isso pertence já à história direta do CMI, que estudaremos mais adiante.

    Apesar da fundação, em 1948, do CMI, Fé e Constituição não se integrou inicialmente, de modo definitivo, nele. Porisso, em 1952, celebrou sua terceira conferência geral, em Lund (Suécia). Mas foi precisamente nela que se definiu ocaráter dessa integração. Para lá a Igreja católica romana enviou, pela primeira vez, observadores “oficiais”  a uma

    reunião ecumênica, demonstrando, conforme as palavras do presidente da conferência,“que a Igreja de Roma não éindiferente ao que atualmente se realiza para conseguir um melhor entendimento entre os cristãos de diferentes

    tradições. Os temas tratados em Lund giraram fundamentalmente em torno das idéias de Igreja, culto e intercomunhão.Talvez o resultado mais significativo tenha sido perceber que o ponto central da discussão doutrinária deveria ser acristologia, centro de referência para a Igreja, seu culto e seus sacramentos. Por outro lado, começou a esboçar-se aidéia de que as concepções eclesiológicas “católica”  e “ protestante”  poderiam ser consideradas como aspectoscomplementares e não necessariamente conflitantes.

    Ao terminar a conferência em Lund, Fé e Constituição ficou definitivamente integrada no Conselho Mundial de Igrejas,onde permanece até hoje, como comissão autônoma.

    4. O Movimento “ Vida e Ação ” . A vertente “ prática” do movimento ecumênico não se manifestou apenas no campomissionário. Já desde fins do século XIX espalhara-se a idéia de um “Evangelho Social”, ou seja, da construção de umanova sociedade, a partir do espírito cristão. Entre as diversas iniciativas, nesse sentido, merece destaque a Aliança

    Universal para a Amizade entre as Igrejas, nascida com o propósito explícito de promover a solução pacífica dosconflitos entre as nações. A sua fundação teve lugar em Constança (Alemanha), no dia 2 de agosto de 1914, exatamentea data em que a França decretava a mobilização geral. Por isso, os delegados apenas puderam reunir-se na oração eadiar seus planos para depois da Primeira Guerra Mundial. A Aliança foi um dos motores do movimento ecumênico,mas não quis integrar-se ao Conselho Mundial de Igrejas. Transformou-se, porém, em “Amizade Internacional entre asReligiões”, título com o qual perdura.

    A tragédia da Guerra Mundial levou não poucos cristãos a levantar a questão do testemunho social a ser dado pelosseguidores de Cristo. Surge então a extraordinária figura de Nathan Sóderblom, arcebispo luterano primaz da Suécia.Em 1919, durante a “Conferência Cristã pela Paz”, celebrada em Oud Wassenaar (Holanda), por iniciativa da AliançaUniversal para a Amizade entre as Igrejas, Söderblom lançou a idéia de um Conselho Ecumênico, que deveria ser “avoz da consciência social no mundo”. A semente lançada naquela ocasião demorará ainda trinta anos para frutificar

     plenamente. Os esforços incansáveis de Söderblom desembocaram na reunião, em 1925, da primeira conferênciamundial do movimento Vida e Ação, que teve lugar em Estocolmo (Suécia). Estiveram presentes 610 delegados,designados em grande parte por Igrejas de 37 países, embora sem representá-las oficialmente. Os ortodoxos se fizeram

     presentes, pela primeira vez, em reuniões desse tipo. Pelo contrário, a Igreja católica romana achou impossível participar, posição que manterá dois anos mais tarde, como já vimos, na conferência de Fé e Constituição, em Lausana.

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    Os temas tratados em Estocolmo referiam-se a problemas práticos, de caráter moral e social, como a família, a juventude, a sexualidade, a educação, as relações internacionais, o racismo etc. Contra o que muitos esperavam, aConferência de Vida e Ação ( Life and Work, no inglês; também conhecida como “Cristianismo Prático”), constatou queo axioma de Kapler, “o dogma divide, o serviço une”, não era tão evidente como se poderia pensar: as divisõesdoutrinárias influenciavam as tomadas de decisões práticas e vice-versa. Mas essa constatação acabou por representarum bem, já que evitou o distanciamento entre Vida e Ação, de um lado, e Fé e Constituição, do outro.

    O Comitê de continuidade de Vida e Ação, surgido em Estocolmo, trabalhou intensamente. A fim de preparar as

    conferências posteriores, fundou, em 1927, o Instituto Social Internacional de Genebra, que promoveu estudos sobre osmais variados temas da atualidade, especialmente sobre ética social.

    Em 1937 (12 a 26 de julho) teve lugar em Oxford a segunda conferência de Vida e Ação. Interessante sublinhar o fatode que 95 delegados, dentre os 425 presentes, participarão também, poucos dias depois, da Conferência Fé eConstituição, em Edimburgo. O tema central de Oxford encontrava-se condicionado pelas circunstâncias históricas:Igreja, Nação, Estado. Mas é um tema carregado de implicações doutrinárias que fará sentir, muito mais do que emEstocolmo, que o “cristianismo prático” não é um atalho para o ecumenismo, mas um caminho paralelo e inseparáveldo diálogo dogmático. Em Oxford, faltou quase por completo a representação alemã, impedida pelo governo nazista de

     participar. Mas já se fizeram presentes, com força, as novas Igrejas da Ásia, África e Extremo Oriente. Uma vez mais, porém, a Igreja católica romana não aceitou o convite, embora alguns católicos tenham colaborado individualmente na preparação da conferência. Como já falamos anteriormente, em Oxford, foi aprovada a criação de um Conselho Ecumênico das Igrejas, para o que se promoveu a soma de esforços com Fé e Constituição, no “Comitê dos 14”, que

    dará o sinal para a arrancada final antes de chegar a Amsterdã, em 1948. Lá, Vida e Ação se integrou plenamente noCMI, como Departamento de “Igreja e Sociedade”.

    5. As un iões de Igrejas. O caso da Igreja do Sul da índi a.  Na marcha do ecumenismo, em nosso século, entre as Igrejas protestantes e anglicanas, não podemos esquecer as tentativas de federação e fusão de algumas denominações. Nemsempre deram o resultado esperado. Ainda mais, com freqüência, deram lugar a novas dissidências. Mas mantiveramfirme a consciência da unidade a ser procurada. Neste sentido, podemos citar a federação das Igrejas reformadas daSuíça, calvinistas e zuinglianas, constituída em 1920; a Igreja unida do Canadá, formada pela reunião de diversasIgrejas metodistas, presbiterianas e congregacionais, em 1925; a Igreja reformada da França, constituída em Lião, em1938, e que congrega a grande maioria dos protestantes daquele país.

     Nenhum caso, porém, é mais significativo do que o da Igreja do Sul da índia, nascida em 1947, um ano antes doConselho Mundial de Igrejas, após quase trinta anos de negociações. O primeiro passo foi dado com o “manifesto deTranquebar ”, em 1919, no qual os participantes, numa conferência de caráter missionário, lamentavam as cisões:“Cisões pelas quais não somos responsáveis, que nos foram impostas como que de fora, que não desencadeamos e quenão desejamos continuar ”. Anglicanos, presbiterianos, congregacionais e metodistas, após longos anos de conversações,

    conseguiram um consenso básico em torno dos pontos do “quadrilátero de Lambeth”: Sagrada Escritura, credos daIgreja antiga, batismo e Santa Ceia, episcopado histórico. Este último ponto é que representou maiores dificuldades deconcordância e também maiores ambigüidades nas conclusões, pois se renunciou a impor a todos os parceiros qualquerteoria sobre a sua origem histórica ou qualquer interpretação doutrinária a respeito. Contudo, combinou-se que  —  semreordenar os pastores que já estivessem em funções  — , no futuro, todos os candidatos deveriam ser ordenados por

     bispos na linha da sucessão histórica anglicana ou metodista. Por outro lado, a Igreja do Sul da índia aceitou também oselementos congregacionais e presbiterianos acentuando o testemunho e ministério leigo, assim como a possibilidade deum ministério temporário, por delegação (embora incluindo a ordenação).

    Os batistas, que inicialmente pareciam estar dispostos a participar da Igreja do Sul da índia, não conseguiram aceitar o batismo de crianças, sem rebatismo na idade adulta, pelo que acabaram por não se integrar na nova denominação. Osluteranos, de seu lado, avançaram consideravelmente no caminho da união, sem contudo fusionar-se na nova Igreja.

    A importância da experiência da Igreja do Sul da índia reside no fato de não ter surgido na base de um compromisso“mínimo”, nem tampouco pelo desejo de “somar ” liberalmente todos os elementos das Igrejas que pretendiam fusionar-se. Pelo contrário, houve um esforço sincero de descobrir valores diferentes, enriquecendo o conjunto com as diversastradições. Embora para a Igreja católica romana esses elementos sejam ainda insuficientes, a caminhada da Igreja do Sulda índia não deixa de ser significativa, ao indicar a possibilidade de uma diversidade reconciliada.

    O CONSELHO MUNDIAL DE IGREJAS

    6. Os trabalhos preparatórios .  Nas vésperas das conferências de Vida e Ação em Oxford e de Fé e Constituição emEdimburgo, em 1937, reuniram-se em Londres 35 representantes desses dois e de outros cinco movimentos ecumênicosmais importantes, que já estudamos: Aliança Universal para a Amizade entre as Igrejas, Conselho Internacional de

    Missões, Aliança Mundial das Associações Cristãs de Moços, Aliança Mundial das Associações Cristãs Femininas eFederação Universal dos Movimentos de Estudantes Cristãos. Tratava-se de estudar a possibilidade de constituir umConselho Ecumênico de Igrejas. Superando os receios mútuos, os participantes acabaram por recomendar às duasconferências que estavam para acontecer que cada uma nomeasse sete membros, constituindo assim o “comitê dos 14”,

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    com a finalidade de ultimar o projeto. Como vimos, embora com algumas resistências, sobretudo da parte de Fé eConstituição, esse Comitê foi efetivamente designado. Ele convocou uma reunião mais ampla, em 1938, na cidade deUtrecht (Holanda), onde ficaram fixados os pontos fundamentais do futuro Conselho Mundial. Deixou-se bem claro quenão deveria ser uma “superigreja”, mas apenas uma associação fraternal de Igrejas. Como base doutrinária adotou-se amesma de Fé e Constituição: “O Conselho Mundial de Igrejas é uma comunhão de igrejas que aceitam nosso SenhorJesus Cristo como Deus e Salvador ”. Foram também acertados alguns critérios para a eleição de delegados. Finalmente,constitui-se um “Comitê provisório”  e o pastor Visser ’t Hooft foi nomeado secretário-geral, nomeação que seráconfirmada em Amsterdã. Logo depois, o anteprojeto era enviado às Igrejas participantes das conferências de 1937.

    A primeira Assembléia Geral do CMI estava prevista para 1941, mas a Segunda Guerra Mundial veio frustrar esses planos. As atividades do Comitê provisório, porém, não se interromperam. Inclusive desenvolveu uma ação notável emfavor dos perseguidos, prisioneiros e refugiados durante aqueles anos trágicos. Fundou, em 1946, um InstitutoEcumênico, em Bossey (Suíça), que já formou milhares de ecumenistas do mundo inteiro.1 

    7. A Assembléia fundacional: Amsterdã, 1948 . Passada a Segunda Guerra Mundial, o Comitê provisório convocou,finalmente, a Assembléia Constitutiva do Conselho Mundial de Igrejas para os dias 22 de agosto a 4 de setembro de1948, em Amsterdã (Holanda). Ela começou com um culto solene na  Nieuwe Kerk, na tarde do primeiro dia. Na manhãdo dia 23, o pastor reformado francês, Mare Boegner, apresentou formalmente a proposta de fundação do ConselhoMundial de Igrejas (CMI), aceita unanimemente. Estavam presentes 350 delegados, representantes oficiais de 147Igrejas, provenientes de 44 países. Acrescentando os suplentes, os consultores e os convidados, o número total de

     participantes chegava a 1.300. Em virtude das recusas anteriores, a Igreja católica romana não tinha sido convidadaoficialmente. Houve, porém, convites a diversos teólogos católicos, a título pessoal. Mas o Santo Ofício, em 5 de junhode 1948, publicou uma severa advertência (monitum)  proibindo a participação de católicos em reuniões ecumênicas, deacordo com o que estava disposto no Código de Direito Canónico de 1917. Mesmo assim, alguns sacerdotes católicos

     participaram da Conferência de Amsterdã, na qualidade de jornalistas.

    De sua parte, a maioria das Igrejas ortodoxas também estivera ausente da Conferência Constituinte do CMI. Era a épocada Guerra Fria e o patriarcado de Moscou, temendo o influxo norte-americano no tratamento dos temas de estudo,declarou que o movimento ecumênico era “antidemocrático” e “não religioso”.

    A terrível experiência da Segunda Guerra Mundial determinou o tema de Amsterdã: “  A desordem dos homens e odesígnio de Deus”. Foi desdobrado em quatro subtemas: a) A Igreja universal no desígnio de Deus; b) O desígnio deDeus e o testemunho da Igreja; c) A Igreja e a desordem da sociedade; d) A Igreja e a desordem internacional. Embora

    as diferenças fossem notáveis, ficou bem claro que a conferência de Amsterdã não“

    canonizou”

      a Organização das Nações Unidas, enquanto o movimento ecumênico entre as duas Guerras Mundiais parecia querer identificar-se com aextinta Sociedade das Nações.

    O espírito da primeira Assembléia Geral do CMI fica patente no lema adotado: “ Queremos permanecer juntos”.

    8. As outr as Assembléias Gerais do CM I . As Assembléias Gerais do CMI são celebradas geralmente a cada sete anos.A segunda teve lugar na Northwestern University de Evanston, um subúrbio de Chicago (Illinois), de 15 a 31 de agostode 1954. Foi a primeira grande conferência ecumênica fora do solo europeu. O número de Igrejas-membros aumentou

     para 162, representadas por 502 delegados oficiais. Faltavam, porém, as Igrejas da China, que participaram deAmsterdã. Continuavam também ausentes as Igrejas ortodoxas do Leste Europeu, embora alguns grupos protestantesdos países socialistas enviassem delegações. Igualmente, a Igreja católica romana continuou em sua atitude de não-

     participação. O tema de Evanston foi “ Cristo, a única esperança do mundo”. O estudo foi preparado durante mais dequatro anos e, no decurso da Assembléia, foi dividido em seis subtemas:

    1 No esquema faltam as Assembléias de Harare-Zimbabwe (3-14 dec. 1998), e a de Porto Alegre, RS, Brasil (14-23 fev.2006).

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    a) A nossa unidade em Cristo e a nossa desunião como Igrejas.

     b) A missão da Igreja perante os que se encontram fora dela.

    c) A sociedade e suas responsabilidades no plano mundial.

    d) Os cristãos e a luta por uma comunidade internacional.

    e) A Igreja em meio às tensões nacionais e étnicas.

    f) O cristão na vida profissional.Muito mais do que em Amsterdã, na Conferência de Evanston manifestou-se o conflito entre as tendências “ protestante” e “católica”, esta representada principalmente pelos ortodoxos, que fizeram fortes reservas às conclusões da primeiracomissão. Pelo contrário, ficou muito mais claro o compromisso de assumir mais energicamente o serviço prestado aomundo pela pregação da Boa Nova de Cristo e do testemunho, pela ajuda prática em todos os setores da vida. Evanstonfoi também um marco na formulação de uma “teologia da esperança”, na qual foi sublinhado o aspecto transcendente daesperança cristã, ao mesmo tempo em que se descrevia seu aspecto temporal. Não faltaram, porém, momentos de tensãodurante a Assembléia, como a discussão sobre o papel de Israel na esperança cristã, tema que poderia ser malinterpretado pelos árabes; ou problemática do racismo sul-africano, contra o qual se conseguiu que a Igreja reformadada África do Sul aderisse à condenação explícita. O lema de Evanston foi: “ Queremos crescer juntos”.

    Um forte crescimento do CMI verificou-se por ocasião da 3a Assembléia Geral, em Nova Déli (18 de novembro a 6 dedezembro de 1961). O número de Igrejas oficialmente representadas chegou a 198. Quatro grandes Igrejas ortodoxas do

    Leste Europeu aderiram: a russa, a búlgara, a romena e a polonesa. Ficou assim reforçada a ala “católica” do CMI. AIgreja católica romana se fez presente, pela primeira vez, mediante o envio de cinco “observadores oficiais”. Tambémdurante a Assembléia de Nova Déli aconteceu a integração do Conselho Internacional de Missões do CMI, que passou acontar com uma comissão de “Missão e Evangelização”. E as Igrejas do Terceiro Mundo começaram a mostrar uma

     presença forte e atuante.

    O tema de Nova Déli foi “  Jesus Cristo, Luz do Mundo” , desenvolvido em três seções, onde foi explanado que otestemunho comum (martyria), a ser dado pelos cristãos, chama-os ao serviço mútuo (diakonia)  para com o mundo,mas que ambas as coisas só têm autoridade e crédito quando são realizadas na unidade (koinonia). Daí a procura de umafórmula de unidade, descrita em Nova Déli do seguinte modo:

    “Cremos que a unidade, que é, ao mesmo tempo, vontade de Deus e dádiva à Igreja, se torna manifesta, se emcada lugar onde todos os que foram batizados em Jesus Cristo e o confessam como Senhor e Salvador, foremconduzidos pelo Espírito Santo a uma comunhão responsável que confessa a mesma fé apostólica, prega omesmo Evangelho, parte um só pão, se congrega em oração e vida comum, em testemunho e serviço a favor detodos. Ao mesmo tempo, são unidos com toda a cristandade, em todos os lugares e todos os tempos, de talmodo que o ministério e os membros sejam por todos reconhecidos, que todos possam agir e falar em conjunto,tal como a situação concreta o exigir no que diz respeito às tarefas para as quais Deus chama o seu povo.Cremos que é nosso dever orar e trabalhar para tal unidade”.

    Creio que podemos concordar com esse ideal. O problema está em saber como alcançá-lo.

    Em Nova Déli modificou-se também a base constitutiva do CMI, com a seguinte formulação, que perdura atualmente:“O Conselho Mundial de Igrejas é uma associação fraterna de Igrejas que confessam o Senhor Jesus Cristo como Deuse Salvador, segundo as Escrituras, e que se esforçam para responder conjuntamente a sua vocação comum, para a glóriado único Deus, Pai, Filho e Espírito Santo”.

     Nova Déli manifestou claramente o desejo expresso em seu lema: “ Queremos prosseguir juntos”.

    A  quarta Assembléia Geral aconteceu em Uppsala (Suécia), de 4 a 20 de julho de 1968. O número de Igrejas participantes chegava a 235, com 701 delegados. As Igrejas ortodoxas constituíam o grupo mais numeroso com vozdeliberativa. A Igreja católica romana, que nos anos anteriores acabava de celebrar o Concílio Vaticano II, com a

     presença de observadores do CMI, e que participava num Grupo Misto (composto de seis católicos e oito não-católicos), com o mesmo Conselho, enviou a Uppsala quinze observadores delegados e um certo número de hóspedesoficiais. Ainda mais, Paulo VI transmitiu uma mensagem ao presidente da Assembléia.

    O tema geral, que correspondia aos desejos da Conferência Mundial para a Igreja e a Sociedade (divisão do CMIherdeira de Vida e Ação), celebrada dois anos antes em Genebra, estava inspirado no Apocalipse: “  Eis que faço novastodas as coisas”.  No seu desenvolvimento, porém, a Assembléia voltou-se conscientemente para os problemas domundo, por meio da afirmação da co-responsabilidade das Igrejas no desenvolvimento integral dos povos e do seucomprometimento no serviço à sociedade humana, especialmente no Terceiro Mundo. Esse tema foi desdobrado em seissubtemas:

    a) O Espírito Santo e a catolicidade da Igreja.

     b) Renovação na missão.

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    c) O desenvolvimento econômico e social do mundo.

    d) Rumo à justiça e à paz nos assuntos internacionais.

    e) O culto.

    f) Rumo a novos estilos de vida.

    Deve-se destacar a ênfase dada em Uppsala à ação do Espírito Santo, à “catolicidade dinâmica” da Igreja e sua relação

    com a unidade da humanidade, e às novas formas de culto e de vivência cristã no nosso mundo secularizado. AAssembléia, porém, sofreu fortes questionamentos da parte dos jovens, que se fizeram presentes com grande força.

    “  Jesus Cristo liberta e une”  foi o tema da 5a  Assembléia Geral, realizada em 1975, na cidade africana de Nairobi(Quênia), com a participação de 700 delegados de 271 Igrejas. O número de observadores católicos foi de 17. Sob

     proposta do Secretário-Geral, foi reformulado o objetivo ecumênico da “unidade desejada em Cristo”. Em lugar da“fórmula de unidade” de Nova Déli, o CMI comprometeu-se a conclamar as Igrejas a caminharem em direção à meta deuma unidade visível, numa só fé e numa só comunhão eucarística, que se expresse no culto e na vivência comum emCristo, “ para que o mundo creia”. Conceito-chave para essa meta da caminhada e para a relação intereclesial é o deconciliariedade ou comunhão conciliar, que visa não à uniformidade eclesiástica, mas à diversidade reconciliada.

    O tema de Nairobi  —  “Jesus Cristo liberta e une”  —  foi desenvolvido sobre o pano de fundo do fracasso da “década dodesenvolvimento” e dos crescentes problemas nas novas nações africanas e do Terceiro Mundo, em geral. Superando asmeras declarações verbais, a Assembléia endossou o programa de combate ao racismo, iniciou a ação para eliminar a

    discriminação contra a mulher e analisou o testemunho cristão em relação à ambigüidade do poder da tecnologia, àqualidade de vida, ao problema do meio ambiente e aos direitos humanos.

    De 24 de julho a 10 de agosto de 1983, teve lugar em Vancouver (Canadá) a VI Assembléia Geral do CMI, sobre otema “  Jesus Cristo, Vida do Mundo”. Foi a maior reunião ecumênica de todos os tempos, com 304 Igrejasrepresentadas e 3.599 participantes, entre delegados, observadores e convidados. Foi marcante o esforço para umarepresentação mais justa de setores tidos como “marginalizados”: as mulheres chegavam a 29% dos delegados, com trêsdas sete presidências, e os jovens a 11%.

    Com relação à unidade houve uma visão eucarística. Conforme afirmava o relatório do grupo n° 2: “O Cristo, vida domundo, une o céu espiritual e o profano. Seu corpo e seu sangue, que nos são dados no pão e no vinho, integram aliturgia com a diaconia, a proclamação com os atos de cura. A nossa visão eucarística abraça, portanto, na suaglobalidade, a vida e o testemunho cristão e tende... a nos fazer ver, à luz de um novo dia, que a unidade cristã concerneao conjunto do povo de Deus na sua riqueza e na sua grande diversidade”.

    Tensões muito sérias se produziram, durante a Assembléia de Vancouver, a propósito dos temas mais candentes daatualidade. Houve acusações da utilização de dois pesos e duas medidas: censura aberta à política norte-americana naAmérica Central, mas abstenção de medida similar na questão da ocupação soviética do Afeganistão; luta decidida e

     justificada contra a segregação racial na África do Sul, mas silêncio sobre a violação dos direitos humanos,especialmente da liberdade religiosa, nos países socialistas. A Assembléia também se distinguiu por uma clareza maiorno aspecto missionário e evangelizador e pela constatação de um consenso crescente em torno do batismo, da Eucaristiae da compreensão do ministério na Igreja, de acordo com os estudos levados a cabo por Fé e Constituição.

    A sétima Assembléia realizou-se em Canberra (Austrália), de 7 a 22 de fevereiro de 1991, sob o lema “ Vem, EspíritoSanto, renova toda a criação”. Embora o número de delegados fosse de 950, o total de participantes chegou perto doscinco mil. O pano de fundo da temática discutida parecia ser o desafio às Igrejas representado pelos movimentos

     pentecostais e carismáticos. Daí a ênfase nas liturgias participadas. Nesta assembléia, em que participaram delegaçõesde 311 Igrejas, pareceu manifestar-se um certo cansaço do movimento ecumênico. Também se manifestaram as tensões

    decorrentes da queda do “muro de Berlim”  e as acusações de colabora-cionismo com os regimes comunistas contracertas Igrejas orientais.

    9. A estru tura do CM I . Como temos dito repetidamente, o CMI não é nem pretende ser uma superigreja, mas umaassociação fraterna para as mais de 300 Igrejas-membros que assumiram o compromisso  —  independentemente de suasconcepções particulares  —  de procurar uma expressão visível de unidade e de obediência, mediante o estudo teológico,o encontro, o testemunho e o serviço comuns. Da importância do CMI pode dar uma idéia o fato de que são mais de 400milhões os cristãos nele representados por suas Igrejas.

    Autoridade máxima do CMI é a Assembléia Geral, que se reúne ordinariamente cada sete anos. Nela, o número dedelegados e de votos atribuídos a cada Igreja-membro está em proporção ao respectivo número de fiéis. A Assembléiadefine as diretrizes que devem orientar o trabalho dos sete anos seguintes: estabelece programas e determina aconstituição de organismos. A ela corresponde também a eleição dos Presidentes (7) e do Comitê Central (com perto de150 membros). Em Vancouver, essa eleição obedeceu a critérios de equilíbrio entre os diversos setores. Assim, foram

    eleitos 26,21% de mulheres e 11,72% de jovens; os clérigos são 59,31% enquanto os leigos, 40,69%. Também se procurou uma participação confessional equilibrada: assim, os ortodoxos são 32; os reformados, 29; os luteranos, 22; osanglicanos, 15; os metodistas, 14; os da Igreja Unida, 14; e os batistas, 7; além de representantes de denominaçõesmenores.

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    O Comitê Central, por sua vez, elege um pequeno Comitê Executivo, assim como as comissões e grupos de trabalho, para dirigir os diferentes programas.

    Figura-chave do CMI é o Secretário-Geral (eleito pela Assembléia Geral), cargo atualmente ocupado pelo metodistauruguaio Emífio Castro. A ele, auxiliado pelos dois subsecretários, cabe coordenar as tarefas das Unidades de Trabalho;é também responsável pelo Grupo Misto com a Igreja católica romana. Da Secretaria Geral dependem diretamente osserviços de apoio: Departamento de Comunicação, Departamento de Finanças e Serviços Gerais, Instituto Ecumênicode Bossey, a Biblioteca e o Escritório de representação em Nova Iorque.

    Para o desenvolvimento de suas linhas de ação, o CMI conta com três Unidades de Trabalho. A primeira, denominadaFé e Testemunho, realiza o seu trabalho mediante o exame das questões teológicas relativas à unidade; estuda acompreensão contemporânea da fé cristã e os diversos modos de compartilhá-la. Divide-se em quatro subunidades ouseções: Fé e Constituição; Missão Mundial e Evangelização; Igreja e Sociedade (a partir da qual se desenvolveu ISAL:Igreja e Sociedade na América Latina); Diálogo com as Religiões e Ideologias de Nosso Tempo.

    A segunda, Unidade, Justiça e Serviço, é provavelmente a mais conhecida. Seus principais campos de trabalho são:desenvolvimento, racismo, assuntos internacionais e serviço às necessidades humanas básicas.

    Compreende sete seções: Participação das Igrejas no Desenvolvimento; Assuntos Internacionais; Programa de Combateao Racismo; Ajuda Intereclesiástica; Serviço Mundial de Refugiados; Comissão Médica Cristã; Fundo Ecumênico deAjuda às Igrejas.

    A Terceira Unidade leva o nome de Educação e Renovação e tem um tríplice propósito: incrementar a participação damulher, dos jovens e dos leigos na Igreja e na sociedade; estimular os cristãos a refletirem sobre a educação cristã;conseguir que o movimento ecumênico seja uma realidade em nível de comunidade local (“congregação”). Com essafinalidade, estruturam-se suas cinco seções: Educação, Mulheres, Juventude, Renovação e Vida em Congregação,

    Educação Teológica.

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    O orçamento do CMI, que é praticamente igual ao geral da Santa Sé, ou seja, ao redor de setenta ou oitenta milhões dedólares por ano, nutre-se não só com as contribuições voluntárias das Igrejas (não existem quotas fixas), mas tambémcom subvenções dos organismos de ajuda, eclesiásticos e seculares.

    Além das Assembléias Gerais, o CMI promove um bom número de conferências e congressos sobre os assuntosespecíficos das diversas seções. Continua assim a trilha dos movimentos que lhe deram vida (Fé e Constituição, Vida eAção, Conselho Internacional de Missões), assim como do Conselho Mundial de Educação Cristã, nascido da antigaAssociação Mundial de Escolas Dominicais e que se incorporou ao CMI em 1971.

    São notáveis as publicações do CMI. Deve-se destacar The Ecumenical Review, que recolhe artigos de maior fôlego einformações sobre o movimento ecumênico: a  International Review of Mission, continuadora da homônima publicada

     pelo Conselho Internacional de Missões; One World, de caráter mais popular, para a divulgação dos acontecimentoseclesiais em todo o mundo. Também merece destaque a coleção de  papers e documentos de estudo de Fé eConstituição, que compreende mais de uma centena de títulos.

    10. As Igr ejas do Brasil e o CMI . São relativamente poucas as Igrejas brasileiras que participam do CMI, emboramostrem boa representatividade dos grandes ramos do protestantismo, com exceção dos batistas. Trata-se da IgrejaCristã Reformada (que, por não contar com 10.000 membros, adere ao CMI por meio da Igreja Reformada Latino-Americana), da Igreja Episcopal do Brasil, da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), da IgrejaMetodista, da Igreja Pentecostal O Brasil para Cristo e da Igreja Presbiteriana Unida. Algumas outras Igrejas, como aIELB e a Presbiteriana Independente, tomam uma atitude de aproximação do CMI, sem que, até o presente, tenhamdado o passo da adesão formal.

    11. A I greja Católi ca Romana e o CMI . Como vimos ao descrever a história do CMI, a Igreja Católica Romana adotouinicialmente uma atitude completamente negativa a seu respeito. Progressivamente, porém, passou para umcomportamento mais positivo; ainda mais, para uma colaboração ativa. Muitos, porém, se perguntam por que não sechegou a uma adesão plena, de modo a tornar-se a Igreja católica membro de pleno direito do CMI. A questão éverdadeiramente complexa e as razões para essa atitude são múltiplas. Em primeiro lugar, devemos dizer que a maioriados católicos, no mundo inteiro, ainda não assimilou a caminhada ecumênica feita por sua Igreja e estes poderiaminterpretar erradamente um passo que, em si, não significa renúncia à consciência da continuidade da Igreja fundada porCristo. O próprio CMI proclama que a adesão de uma Igreja não implica o abandono de suas concepções eclesiológicas.Mas o povo católico, acostumado durante séculos a uma atitude de isolamento diante das outras confissões cristãs, iriacompreender essas nuanças?

    Em segundo lugar, a adesão da Igreja Católica ao CMI não está isenta de problemas para o mesmo Conselho. Todas asIgrejas que atualmente fazem parte dele congregam aproximadamente quatrocentos milhões de cristãos. Pois bem, a

    Igreja Católica romana sozinha reúne mais de novecentos milhões de batizados. Por isso, seria necessário elaborar umafórmula que evitasse um desequilíbrio acentuado na atribuição de votos. Mesmo assim, a entrada da Igreja católica noCMI seria, na expressão de Eugene Carson Blake, antigo Secretário-Geral do CMI, como a chegada de um elefantenuma pastagem ocupada por uma tropa de cavalos.

    Uma dificuldade suplementar representa o próprio tipo de organização da Igreja Católica. Enquanto as Igrejas-membrosdo CMI têm uma base nacional, de tal forma que, por exemplo, a Igreja metodista de um país pode aderir ao Conselho,sem que a de um outro faça o mesmo, a Igreja católica tem um âmbito universal e uma organização centralizada. O seumodo de agir resultaria realmente estranho para os atuais membros do CMI. Por outro lado, o pessoal que trabalha nosorganismos do CMI, embora provenha de diferentes Igrejas, não o faz em nome delas nem em referência a sua pertençaconfessional; essas pessoas são como que uma unidade em si mesma, diferente das Igrejas-membros. Uma tal atitudedificilmente seria aceita pela Igreja Católica Romana para os seus fiéis.

    Por essas razões, pode-se dizer que ainda não chegou o momento da adesão da Igreja Católica Romana ao CMI.Contudo, isso não significa um afastamento completo entre ambas as instituições. Pelo contrário, a aproximação écrescente. Como já vimos, desde 1961, observadores católicos, nomeados pelo Secretariado para a Unidade dosCristãos, participaram das Assembléias Gerais do CMI. Em 1965, foi criado um Grupo Misto de Trabalho, que se reúneanualmente para discutir problemas de interesse comum. A Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos é preparadasempre por um grupo representativo do CMI e do Secretariado Vaticano para a Unidade dos Cristãos, que fornece ossubsídios litúrgicos a todas as Igrejas. Ainda mais, a Comissão Fé e Constituição do CMI compreende quinze teólogoscatólicos, já que a Igreja Católica Romana é nela membro de pleno direito. Também foram realizados alguns programasconjuntos de ação. O mais importante de todos foi o SODEPAX ou Comissão para a Sociedade e Desenvolvimento e aPaz, formada em junho de 1967. A sua tarefa, porém, não foi fácil, em virtude dos problemas de relacionamento globalentre CMI e Igreja Católica, assim como pela suscetibilidade das autoridades eclesiásticas locais diante das atividadesdesenvolvidas sem a sua aprovação, A partir de 1976, a SODEPAX iniciou um programa de reflexão, com o título “À

     procura de uma nova Sociedade”. O seu acento recaiu sobre a situação econômica mundial e a necessidade detransformar as estruturas injustas. Três pontos foram sugeridos para alcançar essa meta: a) uma nova ordem econômicainternacional (NIEO), proposta à Assembléia Geral da ONU em 1975; b) novos modelos de desenvolvimento, baseadosna participação dos pobres; c) a mobilização dos recursos materiais e espirituais da humanidade. O mandato concedidoa SODEPAX encerrou-se definitivamente em 1981. Em seu lugar, surgiu um Grupo Consultivo Misto sobre o

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    Pensamento e a Ação Social. Infelizmente, porém, não se conseguiu chegar a uma coordenação entre CMI e IgrejaCatólica no campo da ação internacional.

    Talvez a pertença da Igreja Católica ao CMI resulte ainda difícil de conseguir, mas a colaboração crescente entre osdois grandes corpos cristãos só poderá servir à causa da paz e da justiça.

    12. A oposição organ izada ao CMI : O Conselho I nternacional de Igr ejas Cri stãs (CI I C) . A história do ecumenismoque descrevemos até agora também tem uma face negativa, representada pelas tendências fundamentalistas, do lado

     protestante, e integristas, do lado católico. São tentativas de manter o isolamento confessional e prolongar as divisõesque desgarram o cristianismo.

    Em 1948, de 11 a 19 de agosto, portanto poucos dias antes da Assembléia Constitutiva do CMI, reuniram-se, tambémna cidade de Amsterdã, algumas denominações que se opunham às tendências ecumênicas. Fundaram então o ConselhoInternacional de Igrejas Cristãs, que se proclama abertamente fundamentalista na sua interpretação da Bíblia, rejeitatoda colaboração com católicos romanos e ortodoxos e se opõe à orientação social do CMI, especialmente em seus

     programas de combate ao racismo e de ajuda ao Terceiro Mundo, qualificando essas ações de “comunistas”. Para se teruma idéia da mentalidade que anima o CIIC, basta olhar alguns parágrafos da resolução n° 9, aprovada em seu XICongresso Mundial (Cape May, New Jersey, EUA, 16 a 30 de junho de 1983):

    “Os mandamentos de Deus ao Seu povo, no sentido de ficar separado de toda a descrença e corrupção sãoclaros e positivos... Portanto, nós, com lealdade à Palavra revelada, como uma parte organizada do povo deDeus, estamos obrigados a nos opor a todas as formas do modernismo, do sectarismo, do romanismo e do novo

    evangelicalismo. O diálogo com as falsas religiões é ímpio, antibíblico, traiçoeiro e infiel a um Deus santo,conforme ele se revelou a nós na sua Palavra infalível e inerrante”.

    Por ocasião do citado Congresso de Cape May, o CIIC alegava contar com 399 “denominações”. Trata-se, porém, degrupos francamente minoritários, dentro do quadro do cristianismo mundial.

    Fonte: HORTAL Jesus. E haverá um só rebanho, pp. 183-204.Links importantes: www.oikoumene.org (Conselho Mundial de Igrejas).Para ver a lista de Igrejas membros: http://www.oikoumene.org/en/member-churches.html 

    http://www.oikoumene.org/http://www.oikoumene.org/http://www.oikoumene.org/http://www.oikoumene.org/en/member-churches.htmlhttp://www.oikoumene.org/en/member-churches.htmlhttp://www.oikoumene.org/en/member-churches.htmlhttp://www.oikoumene.org/en/member-churches.htmlhttp://www.oikoumene.org/