caminho quaresmal “40 dias no deserto com jesus”

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O SENTIDO DO DESERTO “Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo demônio durante quarenta dias.” (Lc 4, 1-2a) Também nós queremos que o Espírito Santo nos con- duza ao deserto! Na tradição bíblica, como nos primeiros séculos da Igreja, o deserto é considerado um lugar espe- cial de encontro com Deus: “Por isso a atrairei, conduzi-la- -ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2, 16). Ir ao deserto com Jesus durante este tempo de quares- ma – ou outro tempo que você mesmo eleger (não neces- sariamente a Quaresma) – é colocar-se no rme propó- sito de ter um encontro com Deus e com nossa própria verdade. O deserto não é um lugar, mas uma disposição espiritual. Os “demônios” que precisamos enfrentar estão, antes de tudo, dentro de nós. São nossos próprios traços de per- sonalidade, inclinações, atitudes que precisam ser recon- ciliados ou até mesmo vencidos, “exorcizados” para viver- mos sob a Vontade de Deus. Uma batalha que se trava no decorrer de toda a vida. Sempre precisaremos de mudança, conversão. Ninguém se sinta pronto por ter percorrido um determinado trecho de sua senda espiritual. Sempre haverá a necessidade de se co- locar novamente a caminho, de se confrontar, de mudar, de crescer. É tarefa de uma vida inteira. É preciso ainda lembrar que, sem a graça de Deus, toda ascese (disciplina espiritual) é vã. A iniciativa é de Deus! É o Espírito Santo quem conduz Jesus ao deserto. “Porque é Deus quem segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar.” (Fp 2, 13) ENTRANDO NO DESERTO Entre no deserto! Mas entre com a determinação de abrir-se à Palavra e à Graça de Deus. Ninguém julgue estar pronto para essa empreitada por si mesmo. Não temos que provar nada a Deus. Não temos que “obrigá- -lo” a fazer algo por nós, pois suas ações em nosso favor são sempre amorosas. O jejum é uma prática voltada para nosso crescimento e não para um Deus que exige sacrifício. Jesus já realizou o único e denitivo sacrifício, oferecendo-se por todos nós na cruz (Hb 10, 10). Os 40 DIAS nos lembram os 40 dias que Jesus este- ve no monte das tentações. O tempo dedicado ao jejum é reservado para buscar o Senhor, mesmo em meio às atividades cotidianas. Em Mt 6, 1-18, vemos como Jesus indica o jejum, a oração e a esmola(a solidariedade com os mais pobres) como sinais característicos da vida de um cristão el. Em alguns momentos de decisão, po- rém, somos convocados a intensicar nossa comunhão com o Senhor. Outro fator importante em um tempo de jejum é o propósito que nos move a fazê-lo. Um jejum sem pro- pósito denido é como vagar num túnel escuro, sem saber de onde ou para onde se vai. Olhando as Sagradas Escrituras, encontraremos muitas razões que levaram as pessoas ao jejum. Se vamos jejuar temos que ter objeti- vos rmes e claros pelos quais lutar: - Estar com Deus; receber sua Palavra e alguma orien- tação concreta; interceder por alguém ou alguma situa- ção; fortalecer-se no ministério que Deus quer conar a você; enfrentar o “inimigo” e suas tentações etc... COMO FAREMOS NOSSO JEJUM? Jejuaremos às SEXTAS-FEIRAS, durante o período de nosso Caminho Quaresmal, como estará indicado no roteiro à frente. Mas, durante os 40 dias, evitaremos ali- mentos pelos quais buscamos mais saciar nosso gosto do que as necessidades de nosso organismo (doces, re- frigerantes, excesso de frituras ou outros alimentos que constituem hábitos alimentares aos quais estamos ape- gados). Além disso, evitando extravagâncias, vamos Texto e Coordenação: Pe. Sérgio Luiz e Silva, CSsR Caminho Quaresmal “40 dias no Deserto com Jesus” 2017

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Page 1: Caminho Quaresmal “40 dias no Deserto com Jesus”

O SENTIDO DO DESERTO “Cheio do Espírito Santo, voltou Jesus do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde foi tentado pelo

demônio durante quarenta dias.” (Lc 4, 1-2a) Também nós queremos que o Espírito Santo nos con-

duza ao deserto! Na tradição bíblica, como nos primeiros séculos da Igreja, o deserto é considerado um lugar espe-cial de encontro com Deus: “Por isso a atrairei, conduzi-la--ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os 2, 16).

Ir ao deserto com Jesus durante este tempo de quares-ma – ou outro tempo que você mesmo eleger (não neces-sariamente a Quaresma) – é colocar-se no firme propó-sito de ter um encontro com Deus e com nossa própria verdade. O deserto não é um lugar, mas uma disposição espiritual.

Os “demônios” que precisamos enfrentar estão, antes de tudo, dentro de nós. São nossos próprios traços de per-sonalidade, inclinações, atitudes que precisam ser recon-ciliados ou até mesmo vencidos, “exorcizados” para viver-mos sob a Vontade de Deus.

Uma batalha que se trava no decorrer de toda a vida. Sempre precisaremos de mudança, conversão. Ninguém se sinta pronto por ter percorrido um determinado trecho de sua senda espiritual. Sempre haverá a necessidade de se co-

locar novamente a caminho, de se confrontar, de mudar, de crescer. É tarefa de uma vida inteira.

É preciso ainda lembrar que, sem a graça de Deus, toda ascese (disciplina espiritual) é vã. A iniciativa é de Deus! É o Espírito Santo quem conduz Jesus ao deserto. “Porque é Deus quem segundo o seu beneplácito, realiza em vós o querer e o executar.” (Fp 2, 13)

ENTRANDO NO DESERTO Entre no deserto! Mas entre com a determinação de

abrir-se à Palavra e à Graça de Deus. Ninguém julgue estar pronto para essa empreitada por si mesmo. Não temos que provar nada a Deus. Não temos que “obrigá--lo” a fazer algo por nós, pois suas ações em nosso favor são sempre amorosas. O jejum é uma prática voltada para nosso crescimento e não para um Deus que exige sacrifício. Jesus já realizou o único e definitivo sacrifício, oferecendo-se por todos nós na cruz (Hb 10, 10).

Os 40 DIAS nos lembram os 40 dias que Jesus este-ve no monte das tentações. O tempo dedicado ao jejum é reservado para buscar o Senhor, mesmo em meio às atividades cotidianas. Em Mt 6, 1-18, vemos como Jesus indica o jejum, a oração e a esmola(a solidariedade com os mais pobres) como sinais característicos da vida de um cristão fiel. Em alguns momentos de decisão, po-rém, somos convocados a intensificar nossa comunhão com o Senhor.

Outro fator importante em um tempo de jejum é o propósito que nos move a fazê-lo. Um jejum sem pro-pósito definido é como vagar num túnel escuro, sem saber de onde ou para onde se vai. Olhando as Sagradas Escrituras, encontraremos muitas razões que levaram as pessoas ao jejum. Se vamos jejuar temos que ter objeti-vos firmes e claros pelos quais lutar:- Estar com Deus; receber sua Palavra e alguma orien-tação concreta; interceder por alguém ou alguma situa-ção; fortalecer-se no ministério que Deus quer confiar a você; enfrentar o “inimigo” e suas tentações etc...

COMO FAREMOS NOSSO JEJUM?Jejuaremos às SEXTAS-FEIRAS, durante o período

de nosso Caminho Quaresmal, como estará indicado no roteiro à frente. Mas, durante os 40 dias, evitaremos ali-mentos pelos quais buscamos mais saciar nosso gosto do que as necessidades de nosso organismo (doces, re-frigerantes, excesso de frituras ou outros alimentos que constituem hábitos alimentares aos quais estamos ape-gados). Além disso, evitando extravagâncias, vamos

Texto e Coordenação: Pe. Sérgio Luiz e Silva, CSsR

Caminho Quaresmal “40 dias no Deserto com Jesus”

2017

Page 2: Caminho Quaresmal “40 dias no Deserto com Jesus”

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escolher entre duas opções:- Iniciar a alimentação diária só a partir das 12h, ou

simplesmente cortar uma das refeições do dia.Cuidado somente para não “descontar” na próxima re-

feição para compensar o que não foi comido. Pessoas que fazem uso de medicação devem estabelecer o jejum em conformidade com o horário dos remédios, bem como aquelas com problemas de pressão alta, diabetes ou outro tipo de limitação de saúde ou restrição alimentar podem fazer jejum de televisão, conversas ou outras coisas. Mas lembre-se: inicialmente o jejum consta de algum sacrifí-cio na alimentação.

A INSPIRACAO PARA NOSSO CAMINHO

Por ocasião do Natal de 2016, sugeri à Comunidade Redentorista que cada confrade escrevesse sobre um “ver-bo”, dentro do espírito dos “verbos que brotam do Verbo (Jesus)” que se fez carne. Foi exatamente o que escrevi que

me inspirou a buscar alguns dos tantos verbos que podem nos guiar num Caminho Quaresmal. Assim, surgiram as quarenta meditações deste ano.

Alguns verbos, como você verá, seria mais apropriado empregá-los na forma passiva, mas preferi, como título de cada dia, apenas empregar o verbo no infinitivo. Que cada um se abra à força que o verbo traz, seja na sua forma pas-siva ou infinitiva. Que cada verbo coloque em movimento a ação do Espírito em nosso interior. No Espírito Santo é que o Verbo – Jesus – continua a fecundar em nós os ver-bos que geram vida e a nos libertar daqueles que podem conduzir à morte!

Você verá que sugiro um Texto Bíblico a cada dia para meditação. Ele é essencial neste caminho. Leia-o atenta-mente pelo menos duas vezes. Veja como ele ilumina sua vida. Há também uma jaculatória, uma breve oração para você invocar a cada dia, com o uso ou não do Terço de Nossa Senhora. Não importa quantas vezes seja rezada, mas, sim, que você o faça muitas vezes durante todo o dia.

ORACAO PARA TODOS OS DIAS

Ao início da meditação de cada dia, reze:

Senhor, no silêncio desta hora de graça, venho pedir-te a paz, a sabedoria e a força.

Quero olhar o mundo com olhos cheios de amor. Quero ser paciente, compreensivo, manso e pru-dente. Quero ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vês e, assim, Senhor, ver senão o bem em cada um deles. Fecha meus ouvidos a toda calúnia. Guarda minha língua de toda maldade. Que só de bênçãos se encha minh’alma. Que eu seja tão bom e tão alegre que todos aqueles, ao se apro-ximarem de mim, sintam tua presença. Reveste-me de tua beleza, Senhor, e que, no decurso desse dia, eu te revele a todos.

Dá-me, assim, pelo Espírito Santo, viver o dia de hoje em comunhão contigo, em atenção ao que se passa comigo e vigilante diante dos desvios do ca-minho.

Inspira-me com tua luz, defende-me com tua gra-ça, santifica-me com teu amor.

Invoco o preciosíssimo Sangue de Jesus para que me guarde, a intercessão da Mãe Santíssima para que me valha em todas as horas e a proteção dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael na jornada deste dia. Em nome de Jesus. Amém.

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ROTEIRO PARA O CAMINHO QUARESMAL “40 DIAS NO DESERTO COM JESUS” 2017

1º Dia – Segunda-feira, 6 de março: PREDISPOR“Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe--ei ao coração... para preparar ao Senhor um povo bem disposto” (Os 2, 16; Lc 1, 17)

É Deus quem chama, mas é necessário docilidade, não tanto para ser levado ao deserto – pois este vem de uma forma ou de outra em algum momento da vida – mas para, no deserto, poder ouvir o que Deus irá falar. Apenas predisponha-se. Queira. E, ao toque do Espírito, sua alma se abrirá para o que Deus quer falar e realizar, pois o Espírito está preparando não apenas um povo, mas “um povo bem-disposto”. Você quer fazer parte deste povo?

Medite em Oséias 2, 16-25Reze: Fala ao meu coração, Senhor!

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2º Dia – Terça-feira, 7 de março: QUEBRANTAR“Meu sacrifício, ó Senhor, é um espírito contrito, um co-ração arrependido e humilhado, ó Deus, que não haveis de desprezar.” (Sl 50, 19)

Quebrantar o coração é reconhecer, diante de Deus, sua própria fraqueza e limites e tudo aquilo que não brotou do amor. É ainda reconhecer que qualquer sen-tença de Deus é justa e totalmente merecida; mas, ao mesmo tempo, clamar pela sua misericórdia que não

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despreza aquele que humildemente a Ele recorre. Colo-que-se totalmente diante do Senhor. Reconheça que você é pecador e precisa profundamente do seu perdão.

Medite no Salmo 31Reze: Tem piedade de mim, Senhor,

conforme a tua bondade!

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3º Dia – Quarta-feira, 8 de março: RASGAR“Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e indulgente...” (Jl 2, 13)

Sinceridade é uma daquelas virtudes que falta a mui-tos. Há pessoas que confundem falta de educação, desres-peito com sinceridade. Ser sincero não é falar tudo o que se quer, na hora que se quer, mas é pautar a vida na ver-dade amorosa, sobretudo diante de si mesmo e de Deus. É esta a sinceridade que agrada a Deus. Ao aproximar-se do Senhor, rasgue realmente seu coração. Seja sincero. Não tente maquiar a sua verdade. Fale o que você está sentin-do. Deus sabe o que se passa em você, mas é necessário que você se exponha na sua verdade.

Medite em Joel 2, 12-17Reze: Diante de ti, tudo o que sou, Senhor!

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4º Dia – Quinta-feira, 9 de março: CONVERTER“Na qualidade de colaboradores seus, exortamo-vos a que não recebais a graça de Deus em vão. Pois ele diz: Eu te ouvi no tempo favorável e te ajudei no dia da salvação (Is 49,8). Agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação.” (2Cor 6, 1-2)

A resposta mais imediata diante do anúncio do Evan-gelho deve ser a conversão. O sentido mais próximo do verbo converter é “pôr-se a pensar”. Converter é trans-formar ou/e transformar-se; é mudar a direção. Eu diria, ainda, que não é mudar algo, mas, em primeiro lugar, por Alguém: Jesus! É um primeiro movimento de um longo e contínuo caminho que dever ser renovado, retomado a cada etapa da vida, a cada encruzilhada em que é necessá-rio escolher em que direção seguir. Estamos vivendo um “tempo favorável” para um bom exame de consciência sobre as direções de nossa vida. Suas decisões, pequenas ou grandes, estão levando você em que direção? É preciso alguma correção de rumo? Não há este ou aquele que não necessite de alguma conversão. Qual será sua resposta?

Medite em Marcos 1, 12-15Reze: Converte-me, Senhor, para a vida verdadeira!

tttttttt

5º Dia – Sexta-feira, 10 de março: JEJUAR“Quando jejuares, perfuma a tua cabeça e lava o teu rosto. Assim, não parecerá aos homens que jejuas, mas somente a teu Pai que está presente ao oculto; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.” (Mt 6, 17-18)

Perceba que Jesus diz “quando jejuares” e não “se jeju-ares”. O jejum é uma ação do corpo que se torna remédio para a alma; é uma confissão de que “não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4, 4). Não é a capacidade de suportar ficar sem comer, mas a busca do autodomínio através da disciplina que nos leva, sobretudo, à prática da caridade. Vejamos o que nos diz o Catecismo da Igreja Católica, 1438: “Os tempos e os dias de penitência ao longo do ano litúrgico (o tempo da quaresma, cada sexta-feira em memória da mor-te do Senhor) são momentos fortes da prática penitencial da Igreja. Esses tempos são particularmente apropriados aos exercícios espirituais, às liturgias penitenciais, às pere-grinações em sinal de penitência, às privações voluntárias como o jejum e a esmola, à partilha fraterna (obras de cari-dade e missionárias).” O convite é para que você dedique, especialmente, as sextas-feiras ao jejum, como sugiro na motivação inicial do nosso Caminho Quaresmal.

Medite em Isaías 58Reze: Tua Palavra é meu alimento, Senhor!

*Dia de Jejum

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6º Dia – Sábado, 11 de março: ORAR“Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á.” (Mt 6, 6)

Tanto se fala sobre oração, tanto se escreve... Estes recursos, com toda certeza, nos ajudam em nosso ca-minho espiritual. Eu resumiria a atitude que brota deste verbo em duas expressões: “Orar é falar com Deus” e “é orando que se aprende a orar”. Então, apenas faça a experiência. Quando digo sobre “falar com Deus”, não significa que é preciso falar o tempo todo; a fala deve estar presente dentro do contexto do diálogo. No diálo-go, além do falar, a escuta é fundamental. Como vai sua vida de oração? Você tem dialogado com Deus? Apro-veite estes dias para renovar este encontro com Deus. Não há como sair deste encontro sem ser, de alguma forma, transformado. Ora fale, ora silencie. Ore!

Medite em Lucas 18, 1-8Reze: Pai, eis-me aqui!

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7º Dia – Domingo, 12 de março: SOLIDARIZAR“Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.” (Mt 6, 3-4)

Solidariedade é o sentido mais apropriado que damos ao termo esmola. Fazer-se próximo do outro em suas ne-cessidades e dores; chorar com os que choram e alegrar--se com os que se alegram (Rm 12, 15). Ser gratuito em sua expressão de caridade, é este o significado da mão esquerda não saber o que faz a direita. A solidariedade nos liberta de uma das raízes mais danosas para a vida espiritual e social: o egoísmo. Ele produz no mundo mi-séria, violência, destruição; distancia as pessoas, fecha o espírito diante da ação da graça. Diariamente há muitas formas de tornar-se solidário. Esteja aberto e você verá como Deus o usará para ser canal diante das necessidades não só de outras pessoas, mas de outras criaturas tam-bém.

Medite em Mateus 25, 31-46Reze: Ao teu dispor, ao dispor de meu irmão!

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8º Dia – Segunda-feira, 13 de março: SACRIFICAR“Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradá-vel a Deus: é este o vosso culto espiritual.” (Rm 12, 1)

Sacrifício vem do latim e significa fazer/tornar sagra-do. Por isso, pelo Batismo, unidos ao único e suficien-te sacrifício de Jesus, podemos e devemos fazer de cada momento de nossa vida uma oferta de nós mesmos, de tudo que temos e somos, ao Senhor. “Os leigos, em virtude de sua consagração a Cristo e da unção do Espírito San-to, recebem a vocação admirável e os meios que permitem ao Espírito produzir neles frutos sempre mais abundantes. Assim, todas as suas obras, preces e iniciativas apostólicas, vida conjugal e familiar, trabalho cotidiano, descanso do corpo e da alma, se praticados no Espírito, e mesmo as pro-vações da vida, pacientemente suportadas, se tornam ‘hós-tias espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo’ (l Pd 2,5), hóstias que são piedosamente oferecidas ao Pai com a oblação do Senhor na celebração da Eucaristia. É assim que os leigos consagram a Deus o próprio mundo, prestan-do a Ele, em toda parte, na santidade de sua vida, um cul-to de adoração.” (Catecismo da Igreja Católica, 901) Esta oblação de si mesmo se dá, como se vê, por excelência na participação da Eucaristia. Faça, portanto, de sua parti-cipação na Santa Missa um sacrifício agradável a Deus.

Medite em Hebreus 13, 7-17Reze: Recebe, Senhor, tudo o que tenho e sou!

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9º Dia – Terça-feira, 14 de março: RETOMAR“Lembra-te, pois, donde caíste. Arrepende-te e retorna às tuas primeiras obras.” (Ap 2, 5a)

Quantas coisas em nossa vida ficam inacabadas. Em cer-tas pessoas isto acaba sendo um comportamento compulsi-vo: coisa após coisa, vez após vez, vai ficando pela metade. Algumas delas precisam, realmente, ficar para trás. Talvez nem devessem ser iniciadas. Retomar não é nem tanto vol-tar a fazer da mesma forma, mas resgatar o que é impor-tante, sobretudo os valores esquecidos ou menosprezados. O texto da Carta à Igreja de Éfeso, no livro do Apocalipse, retrata bem este espírito. Aquela Igreja apresentava pontos positivos em seu comportamento, mas havia esquecido o fundamental: o Amor. Se há algo que precisa ser retomado é a intensidade de nosso amor a Deus e ao próximo, de um jeito bem concreto no dia a dia. Pense nisso e veja o que você precisa retomar. A Palavra de Deus ajudará você neste processo.

Medite em Hebreus 4, 11-13Reze: Quero voltar ao primeiro amor!

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10º Dia – Quarta-feira, 15 de março, Dia de S. Clemente Maria Hofbauer: RECOMEÇAR“É graças ao Senhor que não fomos aniquilados, porque não se esgotou sua piedade. Cada manhã ele se manifesta e grande é sua fidelidade.” (Lam 3, 22-23)

Todos os dias temos a chance de recomeçar. Deus gra-ciosamente fez dia e noite, tarde e manhã. Sol e lua. Fez as estações do ano. Cada um com seu propósito. E ao sétimo dia descansou… Para então recomeçar. Para dar exem-plo a nós. O descanso vem para o recomeçar. Vivemos recomeços constantes. Erramos e então recomeçamos. Terminamos e então recomeçamos. Desistimos e depois recomeçamos. E na vida espiritual é sempre possível e necessário recomeçar. A Bíblia está cheia de histórias de recomeço. Assim foi com Abraão, com Jacó, Moisés, Sansão, Rute, Davi, o filho pródigo, a mulher pecadora... Você pode recomeçar. Não se deixe convencer por nin-guém, nem pela sua mente, do contrário.

Medite em Lucas 15, 11-32Reze: Quero recomeçar, Senhor!

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11º Dia – Quinta-feira, 16 de março: RECICLAR“Guias cegos! Filtrais um mosquito e engolis um camelo.” (Mt 23, 24)

Tenho usado verbos que são muito próximos uns dos outros, mas cada um é carregado de sentido. Eles se com-plementam como pinceladas num quadro, onde existem não apenas as cores, mas as nuances de cada cor. Assim,

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também, com estes verbos. Reciclar talvez seja um dos mais necessários diante de uma cultura consumista e descartável, como vivemos em nossos dias. Mais do que reutilizar, eu diria que é requalificar, dar um novo sen-tido, uma nova energia. É interessante que na coleta se-letiva para reciclagem, cada elemento tem um destino. Há certas coisas que precisam, de fato, ser descartadas. Mas, muitas vezes, acabamos por misturar tudo. O que era para ser jogado fora fica guardado e o que era para re-ceber um outro tratamento é descartado. O que hoje em sua vida significaria reciclar, tanto na vida pessoal como na sua vida espiritual?

Medite em Filipenses 1, 3-11Reze: Dá-me o dom do discernimento, Senhor!

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12º Dia – Sexta-feira, 17 de março: PERDOAR“Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai-vos mutua-mente.” (Cl 3, 13b)

Não há Caminho Espiritual sem perdão. Isto porque o centro da vida espiritual é o Amor e o amor em nós está ferido pelo pecado. A forma como o amor pode ser curado é através do perdão. Perdoar, pedir perdão, liberar perdão, perdoar-se. Não dar espaço ao perdão é como amarrar uma corda ao pescoço, tendo uma pedra (a mágoa, o ressenti-mento, o ódio...) na outra extremidade. Esta pedra levará a pessoa para o fundo do mar, para o abismo. O perdão que Jesus conquistou na cruz nos possibilita cortar esta corda, para que não sejamos arrastados à infelicidade, ao vazio, aos adoentamentos diversos da alma e, até mesmo, à condena-ção. Mas é necessário cortar esta corda. Nem sempre você conseguirá lidar com a pedra, mas poderá cortar a corda. Isto está ao seu alcance. E este é um exercício constante.

Medite em Mateus 18, 15-35Reze: Liberta-me, Senhor, pela força do perdão!

*Dia de Jejum

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13º Dia – Sábado, 18 de março: SUPERAR“Veio o Anjo do Senhor uma segunda vez, tocou-o e disse: ‘Levanta-te e come, porque tens um longo caminho a per-correr’”. (1Rs 19, 7)

Há horas que dói demais. E a dor parece insuportável. Há horas em que parece que se chegou ao fim da linha, a um túnel sem saída, a um buraco sem fundo. O terror pa-rece dominar a alma. A morte parece, senão o fim, a úni-ca saída. Para Elias pareceu isto. Para Sansão significou não apenas a perda de toda força, mas também a ceguei-ra. Entretanto, como conta a lenda da Fênix, da cinza se renasce. Superação. Resiliência. A vida é mais forte. Deus

é mais forte! É Ele quem tem a última palavra. E a última palavra é vida. Pela vitória de Jesus sobre a morte, cada situação que vivemos é iluminada pela ressurreição. Algo precisa ser superado em sua vida?

Medite em Juízes 16, 4-31Reze: Tudo posso naquele que me fortalece!

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14º Dia – Domingo, 19 de março: AMAR“Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos ou-tros. Como Eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.” (Jo 15, 34)

E Jesus completa dizendo: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros.” Ele não fala de práticas piedosas, de gestos rituais, de vestes eclesiásticas ou determinadas preces. Ele fala do amor. Todas as outras coisas, se não nos ajudarem a viver no amor, são inúteis. Nosso culto, nossa liturgia, nossas es-truturas, nossos templos, se não nos ajudarem a vivermos o Mandamento Novo, serão apenas barulho religioso: “bronze que soa, ou címbalo que retine” (1Cor 13, 1). Vã será nossa teologia, espiritualidade e mística. Este Cami-nho que estamos fazendo se não nos levar a este cerne, se nele não nos confirmar, será, na verdade, descaminho. Só no amor e pelo amor que nos salvamos. Rezar mais para amar mais; ir mais à missa para amar mais; ler e formar--se para amar mais; e assim por diante. Se assim não for, ouviremos do Senhor: “nunca vos conheci. Retirai-vos de mim, operários maus” (Mt 7, 23)

Medite em 1Coríntios 13Reze: Ama em mim, Senhor!

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15º Dia – Segunda-feira, 20 de março, Solenidade de São José: LARGAR“Quem de vós estiver sem pecado, seja o primeiro a lhe ati-rar uma pedra.” (Jo 8, 7)

Estavam todos prestes a apedrejar aquela mulher pega em flagrante adultério, mas, diante das palavras de Jesus, um a um foi deixando cair – largando – as pedras e se retiraram. Seja largar a pedra, pôr a mão no arado e olhar para trás, deixar que os mortos enterrem seus mortos, deixar pai e mãe, tudo se refere a esta liberdade interior. Largar é deixar cair, soltar. Não abre a mão quem não abre mão. As pedras que se ajuntam nas mãos para serem lançadas, são recolhidas na pedreira do coração. É ali que a dureza prende, impede de ser livre. O que você precisa largar, de algo material a um sentimento? O que é neces-sário que se solte? Deixe a pedra cair, deixe o peso sair.

Medite em Lucas 9, 51-62Reze: Deixo cada pedra cair!

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16º Dia – Terça-feira, 21 de março: SUBIR“O sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos.” (Prov 15, 24)

Eu diria que para subir à presença de Deus e no cami-nho da vida, e evitar a descida à mansão dos mortos – a condenação – é preciso descer ao interior de si mesmo. Para tocar o céu é preciso beijar a terra. Para ser exalta-do é necessário ser humilde. José, o filho mais novo, o mais fraco dos irmãos, que depois de descer ao “fundo do poço”, depois de ser escravo e ainda assim, como escravo, condenado à prisão, veio a ser exaltado por Deus e ser o governador do Egito. Porque para subir é preciso se liber-tar do excesso, dos pesos extras que só retardarão a eleva-ção. Tão diferente da lógica humana, onde os detentores de poder humilham os pequenos, porque acham que são melhores. Mas Ele “derrubou do trono os poderosos e exal-tou os humildes” (Lc 1, 52). Você quer subir ao monte de Deus? Aceite a disciplina das planícies e o despojamento do “vale escuro” (Sl 22, 4).

Medite em Lucas 1, 46-56Reze: Lembra-te de teu pobre servo, Senhor!

tttttttt

17º Dia – Quarta-feira, 22 de março: CAMINHAR“O coração do homem dispõe o seu caminho, mas é o Se-nhor que dirige seus passos.” (Prov 16, 9)

Cora Coralina, uma das grandes escritoras brasilei-ras, assim escreve: “O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada. Caminhando e semeando, no

fim terás o que colher.” Quantos tem um ponto de partida positivo, no seio familiar com muito amor, boa educação, princípios sólidos transmitidos, mas, ao longo do cami-nho foram se esquecendo de sua origem e se desviaram. É sempre Deus que dirige nossos passos, mas isto se dá dentro de nossa liberdade. São as pequenas permissões que damos diariamente que favorecem nosso caminho ou abrem um descaminho. O livro do Êxodo, tão próprio para se meditar durante a Quaresma, é a história da ca-minhada do Povo de Israel e como entre luzes e sombras chegou à Terra de Canaã. Infelizmente, na sua grande maioria, muitos perderam o foco, diante das provações. Não deixe que isso aconteça com você. Há trechos difí-ceis, mas saiba que você jamais estará sozinho.

Medite em João 14, 1-6Reze: Não os meus caminhos,

mas os teus caminhos, Senhor!

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18º Dia – Quinta-feira, 23 de março: OUVIR“Por isso, como diz o Espírito Santo: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações...” (Hb 3, 7-8)

Certa vez ouvi uma definição de diálogo que me to-cou e que guardei, procurando nela me inspirar para falar e ouvir. Nem sempre dou conta de segui-la, mas ela con-tinua a me desafiar: diálogo é a palavra que atravessa o coração! E quando se fala de palavra, não é apenas o que se fala, mas a realidade do outro, da vida como um todo. Ouvir é, assim, acolher a realidade, passando-a no cora-ção, como fez Maria que “conservava todas estas coisas meditando sobre elas em seu coração” (Lc 2, 19). A me-ditação, como desdobramento da escuta, permite à alma discernir sobre o que deve ser guardado e o que deve ser afastado. Há pessoas que guardam tudo indistintamen-te e até pior: guardam o que adoece, o que machuca. O que você tem ouvido e o que você tem guardado? Só lem-brando: o verbo ouvir aparece 1085 vezes na Bíblia. Dá pra perceber que ele é essencial, não é verdade?

Medite em Tiago 1, 22-27Reze: Efatá! Abre meus ouvidos, Senhor!

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19º Dia – Sexta-feira, 24 de março: VIGIAR“Vigiai, pois, com cuidado sobre a vossa conduta: que ela não seja conduta de insensatos, mas de sábios que aproveitam ciosamente o tempo, pois os dias são maus.” (Ef 5, 15-16) Dizer que os dias são maus não é alimentar uma visão negativa sobre a atualidade; é, antes, ser consciente da maldade que está dentro de nós, pelo pecado, ao redor de nós, no mundo, e nos planos invisíveis. Esta vigilân-cia implica uma postura ativa que deve levar o discípulo a viver no mundo, sem ser do mundo (Jo 15, 19). Estar

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no mundo e não ser do mundo, não é apenas evitar o pecado: é viver a mensagem que Cristo nos ensina e Sua verdade servindo os marginalizados, todos os que sofrem injustiça, os refugiados, pobres, doentes, presos, nossos inimigos e “o menor deles”, como diz o Senhor no Evan-gelho. Vigiar para manter a lâmpada acesa, para que a escuridão não reine. Como anda sua lâmpada interior? Você tem cuidado para que não falte “óleo”?

Medite em Mt 25, 1-13Reze: Mantém minha chama acesa, Senhor!

*Dia de Jejum

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20º Dia – Sábado, 25 de março: INCLINAR“Mantém o teu coração firme e sê constante, inclina teu ou-vido e acolhe as palavras de inteligência, e não te assustes no momento da contrariedade.” (Eclo 2, 2)

Os salmos apresentam um pedido que algumas ve-zes é repetido: “inclina, Senhor, teus ouvidos”. Mas se o homem quer receber o inclinar dos ouvidos de Deus, é necessário que ele incline seus ouvidos, seu corpo, sua atenção; é necessário que ele se incline, se curve, se dobre diante de Deus. O relato do livro do Gênesis sobre a queda do ser humano (Gn 3) mostra que o homem e a mulher se deixaram seduzir por aquele que recusou a curvar-se diante de Deus: satanás. E a grande sedução que ele con-tinua a exercer sobre o gênero humano é esta: “Deus sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3, 4). Incline-se diante de Deus e, com humildade, acolha toda sabedoria que fluirá sobre você no momento em que você se predispuser a escutar. Acolha o inclinar definitivo e amoroso de Deus sobre a humanidade, quando o Verbo se fez carne e assumiu em tudo nossa humanidade, me-nos no pecado (Fp 2, 6-7).

Medite no Salmo 39Reze: Inclino meu ser. Quero te escutar, Senhor!

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21º Dia – Domingo, 26 de março: RECONHECER“Foi assim que José reconheceu a seus irmãos, mas eles não o reconheceram.” (Gn 42, 8)

Não basta conhecer; é necessário reconhecer. Um rela-cionamento para se estreitar e manter-se no decorrer dos anos necessita de reconhecimento, ou seja, conhecer de novo. Cada um dos apóstolos conheceu Jesus numa deter-minada circunstância e com Ele conviveram durante três anos. Em sua despedida, durante a última Ceia, Ele indicou como O deveriam reconhecer no partir do pão. Não é de se espantar que eles não O tenham reconhecido, quando se manifestou a eles já ressuscitado. E mais: era necessário que aprendessem a reconhecê-Lo, mesmo sem O verem (Jo 20,

29). Não há discipulado verdadeiro se não reconhecemos como o Senhor se faz presente junto de nós nos tempos e circunstâncias diversos. Peça esta sabedoria ao Espírito.

Medite em Lucas 24, 13-35Reze: Abre meus olhos para que eu veja, Senhor!

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22º Dia – Segunda-feira, 27 de março: SERVIR“Servi o Senhor com alegria.” (Sl 99, 2)

Certamente você já ouviu o seguinte adágio: quem não vive para servir, não serve para viver. O próprio Papa Francisco, recentemente falou sobre isto: “Tem gente que passa toda a vida sem nunca perceber as necessidades dos outros. Pessoas que passam sem viver, que não servem os outros. Lembrem-se bem: quem não vive para servir, não serve para viver”. Quem se coloca aberto aos ensinamen-tos do Mestre e se deixa ser guiado pelo Espírito, perce-berá que diariamente terá muitas oportunidades de ser-vir. Mas é preciso lembrar que este serviço não pode se limitar às pessoas que gostamos. É preciso sair de si para ir ao encontro do outro que mais sofre. “Olhar Jesus no faminto, no prisioneiro, no doente, no nu, em quem não tem trabalho e deve levar avante uma família. Olhar Jesus em quem está triste, só, em quem erra, em quem precisa de conselho, caminhar em silêncio com quem precisa de com-panhia – estas são as obras que Jesus pede a nós. Olhar Jesus nestas pessoas. Por quê? Porque Jesus nos olha assim”, afirma Francisco. Como anda seu serviço?

Medite em João 13, 1-20Reze: Dispõe de mim, Senhor!

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23º Dia – Terça-feira, 28 de março: CONTEMPLARDisse Moisés: “Vou me aproximar, disse ele consigo, para contemplar esse extraordinário espetáculo, e saber porque a sarça não se consome.” (Êx 3, 3)

De uma sarça – um arbusto – crepitante no deserto à in-timidade de um homem que falava face a face com Deus e Deus ouvia: “O Senhor se entretinha com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo” (Êx 33, 11). Moisés foi conduzido não apenas pelos caminhos da autoridade espiritual, mas da intimidade com Deus. De um espetácu-lo que despertava os sentidos à mais despojada experiên-cia interior, feita de esvaziamento e de pura fé. Só assim, Ele pôde depois de quarenta anos, contemplar Canaã ao longe e morrer no alto do monte Nebo, sem, no entanto, pisar na terra das promessas (Dt 34, 1-5). Na verdade, ele contemplava a verdadeira Canaã que está junto de Deus. O caminho da contemplação é o caminho da intimidade. Estreite a cada dia esta intimidade com o Pai.

Medite no Salmo 26Reze: Quero contemplar tua face, Senhor!

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24º Dia – Quarta-feira, 29 de março: MORTIFICAR

“... castigo o meu corpo e o mantenho em servidão, de medo de vir eu mesmo a ser excluído depois de eu ter pre-gado aos outros.” (1 Cor 9, 23)

Santo Afonso de Ligório diz que “ou a alma subjuga o corpo, ou o corpo escraviza a alma”. Este é um ponto que um cristianismo açucarado não gosta de tratar. É claro que não devemos entrar numa espécie de rigorismo que vê as mortificações como meios de santidade e elevação espirituais nelas mesmas. Não é Deus que precisa de nos-sa mortificação, somos nós. Aqui, entendemos por mor-tificação como abnegação, autodomínio e autodisciplina. Gestos que visam nossa união a Cristo e sua vontade. Veja o que diz o Catecismo da Igreja Católica,1434: “A penitência interior do cristão pode ter expressões bem va-riadas. A escritura e os padres insistem principalmente em três formas: o jejum, a oração e a esmola, que exprimem a conversão com relação a si mesmo, a Deus e aos outros. Ao lado da purificação radical operada pelo batismo ou pelo martírio, citam, como meio de obter o perdão dos pe-cados, os esforços empreendidos para reconciliar-se com o próximo, as lágrimas de penitência, a preocupação com a salvação do próximo, a intercessão dos santos e a prática da caridade, ‘que cobre uma multidão de pecados’” (1Pd 4,8). Qual gesto de penitência, mortificação, você pode fazer hoje?

Medite em 1Coríntios 9, 19-27Reze: Liberta-me de mim mesmo, Senhor!

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25º Dia – Quinta-feira, 30 de março: DISCIPLINAR“Meu filho, não desprezes a disciplina do Senhor, nem te espantes que ele te repreenda, porque o Senhor castiga aquele a quem ama, e pune o filho a quem muito estima.” (Prov 3, 11-12)

Sem disciplina não há crescimento em nenhuma área da vida. Disciplina não pode e nem deve ser encarada como um fardo pesado, mas como processo de autoedu-cação para que se possa evoluir. Certamente você já ouviu falar de Oscar Schmidt e toda sua história de superação frente ao câncer. Ele é reconhecido, além disso, como o maior “cestinha” de todos os tempos e, por isso, foi cha-mado de “mão santa”, por causa das espetaculares cestas que marcava em cada partida. Mas veja o que ele declarou: “Mão santa, coisa nenhuma; eu treino muito para ser preci-so nos arremessos. Depois de cada treino com a equipe, para me aprimorar ainda mais, eu fico na quadra e pratico cer-ca de mil arremessos”. Como queremos nos aprimorar na Obra de Deus e no crescimento espiritual sem disciplina na meditação da Palavra, na oração, na vida de comunhão e estudo? Como anda sua disciplina espiritual? Não está na hora de algum gesto de mudança nesta área?

Medite em Jó 5Reze: Quero me comprometer com a excelência, Senhor!

26º Dia – Sexta-feira, 31 de março: ROMPER“Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiço-ai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra.” (Cl 3, 1-2)

Romper pode ter tantos sentidos!... Quando você ouve este verbo o que lhe vem à mente? Algum rela-cionamento? Uma pessoa que deixou você ou que você deixou? Uma quebra, um corte? Talvez um pouco disto tudo. Normalmente, rompimentos em nossa vida cau-sam transtorno e dor. Mas até mesmo para superar estas dores é necessário romper com o que as causa. Romper o que rompe! Mudar de atitude e o consequente corte, sempre em vista de uma vida nova, de algo mais verda-deiro. Não digo que seja algo mais prazeroso, pois, às vezes, o rompimento precisa se dar em relação ao pra-zer para que se prove mais autenticidade e, a longo ou médio prazo, felicidade. Romper com velhos hábitos não é fácil. Eles se grudam em nós como carrapatos. Depois de algum tempo, parece que fazem parte do corpo, mas são parasitas que estão sugando sangue, minando a vida. É preciso romper com algo ou até mesmo com alguém para você ser mais livre? Veja que ao me referir a romper com alguém não quero dizer cortar relações, mas romper com uma determinada forma de vincular-se a tal pessoa. Pense nisto!

Medite em Colossenses 3, 1-10Reze: Ajuda-me a romper com tudo aquilo

que me afasta de ti, Senhor!*Dia de Jejum

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27º Dia – Sábado, 1º de abril: QUEBRAR“Em seguida, tomando o bezerro que tinham feito, quei-mou-o e esmagou-o até reduzi-lo a pó, que lançou na água e a deu de beber aos israelitas.” (Êx 32, 20)

Assim como no “romper”, quebrar também está em vista de uma vida mais liberta e, consequentemente, mais plena e feliz, ainda que de imediato não pareça. O pere-grinar do povo de Israel pelo deserto foi um longo ca-minho para se libertar de seus ídolos e eles eram bem maiores, mais sutis e poderosos que o bezerro de ouro, que confeccionaram num determinado momento. Quan-do Moisés quebrou o tal bezerro, reduzindo-o a pó, fa-zendo o povo beber daquela água (Êx 32, 20), indicava que a verdadeira idolatria estava no interior de cada um deles e era isso que precisava ser quebrado. Muitos ou-tros acontecimentos se seguiram após este fato. Não foi sem motivo que aquele povo esteve errante pelo deserto durante quarenta anos. Quebre o que quebra você, pois tudo começa no seu interior. O maior ídolo é o “ego”, daí, o egoísmo. E a mente é poderosa para fabricar estes sub-terfúgios. Vale a pena conferir o livro do jesuíta Anthony de Mello, “Quebre o ídolo”. Há algo a ser quebrado dentro

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de você, para que Deus seja Deus em sua vida e você seja mais livre?

Medite no Salmo 106Reze: Quebra todo ídolo em meu interior!

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28º Dia – Domingo, 2 de abril: ATRAVESSAR“Ide às águas mais profundas...” (Lc 5, 4)

“Há um tempo em que é preciso / abandonar as roupas usadas / Que já têm a forma do nosso corpo / E esquecer os nossos caminhos que / nos levam sempre aos mesmos lu-gares. / É o tempo da travessia / E se não ousarmos fazê-la / Teremos ficado para sempre / À margem de nós mesmos” (Poema de Fernando Teixeira de Andrade). Ao voltar a visitar o livro do Êxodo, você consegue perceber que foi mais fácil o povo de Israel atravessar o Mar Vermelho do que atravessar a mentalidade escrava, para chegar à terra da verdadeira liberdade? Não foi sem motivo que o de-serto se prolongou. Travessia dos hábitos herdados, das respostas prontas, das justificativas ensaiadas, até chegar à condição de eterno aprendiz, do amor às próprias ques-tões – mesmo sem respostas rápidas – da sinceridade do não-saber. Talvez estas fundamentais travessias na vida comecem com um atravessar a rua, andar por outra cal-çada e assim por diante. Pequenos gestos, pequenas atitu-des que darão a nota de travessia à sua vida.

Medite em Eclesiastes 3, 1-11Reze: Leva-me às águas mais profundas.

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29º Dia – Segunda-feira, 3 de abril: LUTAR“Tomai, portanto, a armadura de Deus, para que possais resistir nos dias maus e manter-vos inabaláveis no cumpri-mento do vosso dever.” (Ef 6, 13)

Os grandes guerreiros são forjados nas grandes bata-lhas, assim como os grandes navegadores são formados na escola das grandes tormentas. É preciso ter alma de guerreiro para poder avançar, poder vencer os gigantes que se apresentam, antecipar os combates que se avizi-nham, para perceber quem são os verdadeiros inimigos. É preciso ter alma de guerreiro para saber usar as armas certas nas horas certas, saber quando avançar e quando recuar, para levantar a espada e para deixá-la cair. En-quanto neste plano estivermos, não há vida espiritual sem luta, não há paz sem confronto, não há vitória sem combate. Não se luta contra alguém; luta-se contra uma mentalidade, um jeito de ser que foi impetrado no mun-do por aquele que preferiu algo – o poder – em detrimen-to de Alguém – Deus. Quer cumprir o propósito de Deus para sua vida? Saiba que você precisa desenvolver alma de navegador e atitude de guerreiro.

Medite em 1Samuel 17Reze: Vou lutar e vencer! Vou plantar e colher!

30º Dia – Terça-feira, 4 de abril: CONFRONTAR“... se vos mordeis e vos devorais, vede que não acabeis por vos destruirdes uns aos outros.” (Gl 5, 15)

O dicionário conceitua o verbo confrontar da seguin-te forma: verbo transitivo direto e pronominal > estar defronte, ser fronteiro a (“nossa casa confronta o lago”); transitivo indireto > fazer fronteira com; limitar-se, con-finar (“nossas terras confrontam com a estrada de ferro”). Pode parecer uma diferença muito sutil entre um signifi-cado e outro, mas leia novamente. Quando se pensa nos relacionamentos que temos, incluindo com nós mesmos, vivemos esse confrontar como um estar diante do outro (defronte) ou no sentido de limitado, confinado entre as fronteiras do que cada um é? Quando se confronta, no primeiro sentido, descobre-se que o outro é diferente, mas também semelhante a nós; quando é a segunda acep-ção que prevalece, o que vige é a postura expressa por frases como esta: sua liberdade termina onde a minha co-meça. Confrontos, então, tornam-se conflitos. Parece-me que a forma como superamos os conflitos e criamos pon-tes de fraternidade com o outro, é quando o confrontar é vivenciado, como estar defronte o outro com respeito, aceitação e amor. O que tem sido para você confrontar?

Medite em Filipenses 2, 1-5Reze: Amoriza todos os meus relacionamentos, Senhor!

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31º Dia – Quarta-feira, 5 de abril: ESPERAR“Esperando, esperei no Senhor, e inclinando-se, ouviu meu clamor.” (Sl 39, 2)

Há uma esperança que não frustrará jamais. Ela pode ficar obscurecida pelas nuvens escuras, como acontece nos dias nublados, ou até mesmo parecer se anular, como acontece quando a noite cai, mas ela estará ali. Ela é o sol e nós somos semelhantes à terra. Não é o sol que se move e, sim, a terra. Nesse movimento existencial, as noites da vida chegam e, por vezes, são tremendamente escuras, mas o amanhecer logo vem, como diz o salmista: “Pela tarde, vem o pranto, mas, de manhã, volta a alegria” (Sl 29, 6). A esperança sorrirá para você com o nascer do sol. A noite não pode deter o amanhecer. Ele pode tardar, mas chegará; pode parecer distante, mas chegará; pode se assemelhar a uma quimera, mas chegará. Assim a es-perança será o seu alimento nas prolongadas noites da dor, do medo, da solidão. Lembre-se, no entanto, que o Senhor penetrou na mais densa escuridão da morte, para transformá-la no amanhecer da ressurreição. Veja o que a Palavra fala sobre Abraão: “Esperando, contra toda a es-perança, Abraão teve fé e se tornou pai de muitas nações, segundo o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência (Gn 15,5). Não vacilou na fé, embora reconhecendo o seu próprio corpo sem vigor - pois tinha quase cem anos - e o seio de Sara igualmente amortecido. Ante a promessa de Deus, não vacilou, não desconfiou, mas conservou-se forte na fé e deu glória a Deus. Estava plenamente convencido

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de que Deus era poderoso para cumprir o que prometera. Eis por que sua fé lhe foi contada como justiça” (Rm 4, 18-22). Você não será decepcionado! “Espera no Senhor e sê forte! Fortifique-se o teu coração e espera no Senhor” (Sl 26, 14).

Medite em Rm 5, 1-5Reze: Eu espero em ti, Senhor!

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32º Dia – Quinta-feira, 6 de abril: PURIFICAR“Ouvi e compreendei. Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele. Eis o que man-cha o homem.” (Mt 15, 11)

Purifique o seu coração das segundas, das terceiras, das más intenções. Purifique-se do desejo egoísta de tudo reter. Purifique-se das palavras que ferem, derrubam e, até, matam o outro. Purifique-se dos olhares que se ar-voram em juízes. Purifique-se do hábito iníquo – e até maligno – de fofocar, quando não, de caluniar. Purifique--se das mesquinharias que afastam o outro. Purifique-se dos preconceitos que fazem você se sentir mais e me-lhor do que alguém. Purifique-se da inveja que acomo-da e destrói, não só o outro, mas, sobretudo a si mesmo. Purifique-se da religião que se baseia apenas em práticas externas, sem a verdade da intimidade. Purifique-se do egoísmo travestido de amor em vazios sorrisos e frios gestos. Purifique-se do orgulho que não deixa o arrepen-dimento se manifestar em pedido de perdão. Purifique-se da autossuficiência de se sentir puro. E como nenhum de nós dá conta de purificar-se sozinho, aproxime-se daque-le que disse: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o fazem” (Lc 23, 34). Apenas peça perdão e coloque-se num movi-mento de purificação.

Medite no Salmo 50Reze: Purifica-me do meu pecado!

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33º Dia – Sexta-feira, 7 de abril: MERGULHAR“Ignorais que todos os que fomos batizados em Jesus Cris-to, fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova.” (Rm 6, 3-4)

“Banhados em Cristo, somos uma nova criatura. As coisas antigas já se passaram, somos nascidos de novo.” No tempo pascal, entoamos repetidamente este mantra, renovando a consciência de que fomos mergulhados na morte de Cristo para ressuscitarmos na plenitude de sua vida. Pelo Batismo, já somos participantes desta tremen-da graça, “mas ainda não se manifestou claramente o que havemos de ser” (1Jo 3, 2). Mas isto certamente não nos dispensa de a ela corresponder e buscá-la no cotidiano, pois ainda existem e resistem em nós raízes de amargura

que, se não arrancadas podem nos fazer mergulhar num “danoso quarteto de M’s” (medo, mediocridade, melan-colia, murmuração): “Cuidem que ninguém se exclua da graça de Deus; que nenhuma raiz de amargura brote e cau-se perturbação, contaminando muitos” (Hb 12, 15). E con-tamina mesmo: a pessoa e quem está por perto. Ninguém conclua muito rapidamente que dela está isento. As raí-zes de amargura crescem em nós porque são regadas por águas amargas. Foi o que aconteceu com o povo de Israel (confira no texto bíblico recomendado à sua meditação). Para tanto, é necessário que nas águas dos lençóis freáti-cos de nossa alma seja mergulhado o madeiro da Cruz que tem o poder de saná-las. Percebe como não dá para ficar se gabando de que já se foi mergulhado em Cristo pelo Batismo e que tudo está pronto? É preciso perma-necer mergulhado no Espírito, ou seja, continuamente batizado no Espírito .

Medite em Êxodo 15, 22-27Reze: Mergulha-me mais e mais em teu Espírito, Senhor!

*Dia de Jejum

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34º Dia – Sábado, 8 de abril: LEVANTARPedro, porém, disse: Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho eu te dou: em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!” (At 3, 6)

Uma das expressões bíblicas mais fortes que indica ânimo, superação, coragem, força é quando se diz: levan-ta! Elias estava entregue à depressão e ao desejo de morte (1Rs 19, 1-7); o paralítico há trinta e oito anos justifica-va sua sina de não ser curado, permanecendo na míse-ra condição (Jo 5, 1-14); o coxo mendigava à porta do templo e já fizera daquele seu estilo de vida (At 3, 1-8). Até que chegou o momento de mudar! Já não dava mais para ficar ao chão. Era hora de levantar-se para uma nova vida. Como canta a música que gosto de entoar: “Quanto tempo esperei, chegou a minha vez. Sei que hoje é meu dia. Jesus está aqui”. Há uma bela frase que reza: “o cair é do homem e o levantar é de Deus”. Antes que eu ou você possa se levantar, Deus se levanta como misericordioso Senhor para nos colocar de pé, como está expresso no salmo: “O Senhor sustém os que vacilam, e soergue os abatidos” (Sl 144, 14). Se você se sente ao chão, ou até mesmo está ao chão, por alguma grave situação que lhe acomete, deixe que o Senhor envie seu mensageiro, um anjo do céu ou da terra, para dizer hoje a você: levanta e anda, em nome de Jesus!

Medite em 1Rs 19, 1-7Reze: Tua Palavra me põe de pé!

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35º Dia – Domingo de Ramos, 9 de abril: NEGAR “Se alguém quer vir após mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-me.” (Lc 9, 23)

O não delimita. Devolve-nos à consciência de que não somos absolutos, de que nossos desejos não são a medida da realidade. Éramos crianças de colo, quando começa-mos a ouvir os primeiros nãos. Aos poucos, começamos a perceber que eles eram uma barreira à nossa satisfação imediata; protestávamos logo num choro insistente ou amuados permanecendo num canto. Aprendemos que essa atitude era poderosa diante de adultos nem sempre amadurecidos para sustentar o não, necessário algumas vezes. Alguns de nós levaram isso pela vida afora. Resul-tado: um bocado de adultos infantilizados. Iluminações nos vêm das Escrituras: há o negar necessário para se se-guir mais livre no discipulado (Lc 9, 23); há o negar que é quase traição (Lc 22, 60); há o negar que está em vista do sim, pois em Deus todo não orienta-se ao Sim (1Cor 1, 19-20). Negar a si mesmo – não fazer o ego prevalecer a todo custo – para não negar a Deus. Sinal de maturidade humana e espiritual é aprender a conjugar o sim e o não nas diversas realidades cotidianas: “Dizei somente: Sim, se é sim; não, se é não” (Mt 5, 37). Nem sempre é fácil, nem sempre é prazeroso, nem sempre agrada, nem sem-pre produz bem estar. Até porque todos nós vivemos os mesmos dilemas. Nossos sins e nãos se entrelaçam e, por vezes, se embaralham. Na convivência com alguns, será mais fácil, já com outros... bem, você sabe o resultado. Todavia, sendo o sim ou o não, que seja dado, que seja vivido sempre com sabedoria.

Medite em Lucas 22, 54-62Reze: Digo sim à tua vontade para mim!

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36º Dia – Segunda-feira Santa, 10 de abril: LEMBRAR“Lembra-te da minha aflição e do meu pranto, do absinto e do veneno. Minha alma, continuamente, os recorda e se abate dentro de mim. Quero trazer à memória o que me pode dar esperança.” (Lam 3, 19-21)

Quando nos dirigimos a Deus, pedindo que ele se lembre de nós, não quer dizer que nos esqueceu. É o grito da alma pedindo a misericórdia do Altíssimo que venha ao seu encontro. Mas é preciso que a gente se lembre tam-bém. Quantas pessoas, mesmo crendo em Deus e em sua Palavra que diz “não vos lembreis mais dos acontecimentos de outrora, não recordeis mais as coisas antigas, porque eis que vou fazer obra nova, a qual já surge: não a vedes?” (Is 43, 18-19), continuam a amargar nas memórias ne-gativas, amarradas em traumas, incapazes de seguir em frente. O que você traz à memória? E suas memórias levam você aonde? É claro que não se trata de um pro-cesso automático e que a mesma mente que é poderosa para alavancar uma pessoa é também capaz de lançá-la

ao fundo do poço. Não tenho dúvida, porém, que a fé é poderosamente terapêutica e nos ajuda a recobrar a es-perança e a organizar a vida noutra direção. Então, traga à memória o que Deus é e tem feito por você e que você é sustentado por ele: “recorda-te, pois, que não és tu que sustentas a raiz, mas, sim, a raiz a ti” (Rm 11, 18). Se, antes, meditamos sobre as raízes amargas, lembremo-nos agora que a Raiz de nosso ser, mais profunda que todas as demais raízes que possam se desenvolver em nós, é Deus.

Medite em Eclesiastes 12Reze: Quero trazer à memória o que me dá esperança!

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37º Dia – Terça-feira Santa, 11 de abril: MOLDAR“Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário pro-vém de Deus e não de nós.” (2Cor 4, 7)

Para mim, quando se fala do oleiro, não se trata apenas de uma bela alegoria. Cresci à sombra de uma cerâmica e no “meio” do barro, pois meu pai é ceramista. Não obstan-te nunca ter aprendido a moldar um vaso ou outra peça, brinquei muito com barro e sempre admirei o trabalho de meu pai. Somos todos extremamente preciosos diante de Deus. Ele chega mesmo a dizer que troca reinos por nós (Is 43, 4). Alguns acabam concluindo, ou vivendo, que têm um tipo de preciosidade como o ouro ou prata – ou até mes-mo diamante – por terem um “nome” de família, posses, estudos e os outros são um punhado de argila. Aqueles que agem assim deveriam lembrar-se das Escrituras: “lembra--te que és pó e ao pó hás de tornar” (Gn 3, 19). Como barro é que somos preciosos, um punhado de barro que Deus tomou em suas mãos, modelou, soprou e nos fez viventes (Gn 2, 7). Como o pote seria um pote se não fosse o oleiro? Sem as mãos do oleiro, a argila não se torna em cerâmica. Sem a habilidade do oleiro, o barro não se torna vaso. Sem o talento do oleiro, o barro não se torna em nada útil ou de valor. Deixe, pois Deus ser o oleiro em sua vida. Deixo com você uma pequena oração que fiz há alguns anos...Sou TERRA: pó, barro; não há porque me orgulhar.- Perdão, Senhor, por todas as vezes que deixei que o orgu-lho falasse mais alto!Sou ÁGUA: que dá maleabilidade ao barro.- Modela-me, Senhor, na força da água viva de tua Graça!Sou AR: passageiro, que não se sabe de onde vem nem para onde vai.- Sopra, Senhor, teu hálito em mim e renova-me na força de teu Espírito!Sou FOGO: que aquece, queima, transforma.- Purifica, Senhor, meu coração. Acrisola-me com teu amor.Amém.

Medite em Jeremias 18, 1-6Reze: Eu quero ser um vaso novo

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Page 12: Caminho Quaresmal “40 dias no Deserto com Jesus”

38º Dia – Quarta-feira Santa, 12 de abril: CUIDAR “Que é o homem, digo-me então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com eles?” (Sl 8, 4)

“Deus cuida de mim à sombra das suas asas. Deus cuida de mim, eu amo a sua casa. E não ando sozinho, não estou sozinho, pois sei: Deus cuida de mim”. Quantas vezes cantei esta música de Kleber Lucas e nela expressei a certeza do amor de Deus que vela por mim em cada circunstância e que neste cuidado sou chamado a descansar. O cuidado é uma das características mais próprias do amor. Ele de-monstra interesse, delicadeza, zelo pelo outro. O cuidado de Deus chega a nós nos detalhes, mas é preciso ter olhos, sensibilidade, para perceber os pequenos sinais. Quem não tem olhos para as pequenas delicadezas, provavel-mente não terá para os maiores sinais. Acabam achando que Deus e a vida sempre lhes estão devendo algo. Diante disso, Deus é quem chama nossa atenção para termos cui-dado para que o pecado não nos domine “Por que estás irado? E por que está abatido o teu semblante? Se pratica-res o bem, sem dúvida alguma poderás reabilitar-te. Mas se precederes mal, o pecado estará à tua porta, espreitando-te; mas, tu deverás dominá-lo” (Gn 4, 6-7). Lembrando ainda o poeta ao dizer que “quando a gente ama, é claro que a gente cuida”, cuidemos uns dos outros em pequenos gestos que demonstrem atenção e amor.

Medite em Isaías 49, 14-21Reze: Deus cuida de mim!

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39º Dia – Quinta-feira Santa, 13 de abril: FIRMAR“Vigiai! Sede firmes na fé! Sede homens! Sede fortes!” (1Cor 16, 13)

Firma teus passos, ainda que te custe andar. Firma tua decisão de não recuar, ainda que teu coração se arreceie. Firma tua esperança, ainda que tudo pareça desmoronar. Firma teus sonhos, ainda que só pesadelos povoem tuas noites. Firma tua alegria, ainda que teus olhos estejam ma-rejados pela tristeza. Firma teu propósito de prosseguir, ainda que o cansaço te roube a energia. Firma tua deci-são, ainda que as dúvidas solapem tua mente. Firma tua fé, ainda que tudo esteja obscuro. Firma teu senso de justiça, ainda que te decepcionem. Firma teu amor à verdade, ain-da que estejas rodeado de mentiras. Firma tua humildade, ainda que o orgulho grite em teu interior. Firma tua entre-ga, ainda que teu ego se revolva em resistência. Firma tua condição de discípulo e entra no Cenáculo com o Mestre. Encontra ali tua razão de seguidor e toma lugar à Mesa. Deixa que Ele te lave os pés e aprende com ele a servir. Es-tende tua mão, ainda que indigna, e recebe o Pão da Vida. Apura teus ouvidos para que o Mandamento Novo do Amor se torne norma para tua alma. Acolhe as promessas que de Seu Coração derivam para que não esmoreças nas horas de tribulação. Entra com Ele no Getsêmani e vigia,

ainda que o sono do medo e do cansaço te tonteiem. Per-manece, então, em silêncio, pois qualquer palavra que pos-sas dizer apenas te afasta do centro do Mistério revelado.

Medite em 2Tessalonicenses 2, 13-16Reze: Firme em tuas promessas, eu seguirei!

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40º Dia – Sexta-feira Santa, 14 de abril: SILENCIAR“O Senhor reside em sua santa morada; silêncio diante dele, ó terra inteira!” (Hab 2, 20)

É hora de silêncio. Silenciar para melhor acolher o mis-tério. Diante de algumas partilhas que são feitas a mim, prefiro silenciar. Há horas em que alguma palavra apenas atrapalha. Tentar “defender” Deus? Ou pior: dizer que tal coisa foi Vontade de Deus? Não seriam tais palavras apenas uma tentativa de escapar do constrangimento de não se sa-ber o que dizer? Então não fale. É melhor silenciar; apenas escutar e estar perto. Na vida de fé deve haver espaço para o silêncio, especialmente o silêncio de Deus. Ele pode não responder ou a gente não entender a resposta que Ele está dando. Pode não ficar claro para nós, talvez o tempo todo ou seria melhor dizer durante todo o Tempo. O Tempo sempre será o lugar da possibilidade do silêncio. E se há uma palavra a ser dita nas adversidades do Tempo, ela já foi pronunciada uma vez por todas, quando “o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). O mistério da cruz e da morte do Senhor convidam ao silêncio diante do Verbo/Palavra que se cala, como “um cordeiro que se conduz ao matadouro e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador (Ele não abriu a boca)” (Is 53, 7). Silencie hoje. Silencie sempre que as coisas não forem claras. Acolha aquele que, sendo Palavra, se fez silêncio por nossa salvação.

Medite em Jo 19, 17-37Reze: Meu Senhor e meu Deus!

*Dia de Jejum e abstinência de carne

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aFaremos a entrega deste tempo de jejum e oração no Domingo de Páscoa, dia 16 de ABRIL, parti-cipando da Procissão da Ressurreição com o Santíssimo Sacramento, às 18h30, saindo da Capela de São Roque até a Matriz, onde acontece a Solene Missa da Páscoa! Neste dia, não se esqueça de trazer pelo menos UM QUILO DE ALIMENTO NÃO PERECÍVEL para parti-lhar com nossos irmãos mais carentes e CONSAGRAR O SEU DÍZIMO como sinal concreto de seu compromisso com o Senhor e a Comunidade.