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Ensinar a Palavra de Deus e capacitar seus participantes a cumprirem a missão que

Jesus nos deu.

Ensinar a Palavra de Deus e capacitar seus participantes a cumprirem a missão que

Jesus nos deu.

MISSÃO DA ESCOLA BÍBLICA

Estudos para a Escola Bíblica Sabatina. É proibida a reprodução parcial ou total sem autorização da Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira.

Os Estudos Bíblicos e as Meditações Bíblicas Diárias estão baseados na International Bible Lessons for Christian Education (Lições Bíblicas Internacionais para o Ensino Cristão).

Os textos das referências bíblicas foram extraídos da versão Almeida Revista e Atualizada (Sociedade Bíblica do Brasil) salvo indicação específi ca.

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

Diretor: Pr. Jonas Sommer

EXPEDIENTE

Revisão de textos: Márcio Magno Melo Capa: João Paulo Delfi no da Silva

www.jampadesigner.com

Revisão teológica:

Pr. Jonas Sommer, Pr. Daniel Miranda Gomes Diagramação: Anselmo Burgath

Atendimento e tráfego:

Marcelo Negri (41) 3379-2980

Impressão gráfi ca:

Gráfi ca Monalisa www.grafi camonalisa.com.br

Redação: Rua Erton Coelho Queiroz, 50 - Alto Boqueirão - CEP 81770-340 - Curitiba - PRhttp://www.ib7.org / [email protected]

Copyright© CBSDB, 2013

No caminho com Jesus: Estudos no Evangelho de João / Daniel Miranda Gomes (org). - - Curitiba, PR: CBSDB, 2013.

212 p. ; 21 cm.

ISBN 978-85-98889-04-7 1. Educação Religiosa. 2. Estudo Evangelho. I. Gomes,

Daniel Miranda. II. Título.

CDD: 268

N7391

SUMÁRIO

Estudos no Evangelho de João

Abreviaturas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

Editorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6Pr. Jonas Sommer

Capítulo 1E o Verbo se Fez Carne . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 2Transformando Água em Vinho. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25Pr. Daniel Miranda Gomes

Capítulo 3A Purifi cação do Templo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39Pr. Wesley Batista de Albuquerque

Capítulo 4O Novo Nascimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53Pr. Gelci André Colli

Capítulo 5A Mulher Samaritana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66Heloise Gonçalves Nunes Lemos

Capítulo 6A Cura do Paralítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80Pr. Bernardo Ferreira Ignácio Júnior

No Caminho comJ e sus

Capítulo 7O Pão da Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95Pr. Antônio Renato Gusso

Capítulo 8A Cura do Cego de Nascença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111Pr. Edvard Portes Soles

Capítulo 9Jesus, o Bom Pastor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128Pr. Norberto Carlos Marquardt

Capítulo 10A Ressurreição e a Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143Pr. Alfredo Oliveira Silva

Capítulo 11O Caminho, a Verdade e a Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 158Pr. Jonas Sommer

Capítulo 12Para que Todos Sejam Um . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 172Pr. Bernardino de Vargas Sobrinho

Encarte Missionário . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 186

Capítulo 13A Palavra Viva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196Pr. Jonas Sommer

Nossos Autores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 209

Página do Tesoureiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 212

AA – Almeida Atualizada ARA – Almeida Revista e AtualizadaARC – Almeida Revista e CorrigidaACRF – Almeida Corrigida e Revisada Fiel AS21 – Almeida Século 21 ECA – Edição Contemporânea de Almeida

GnÊxLvNmDtJsJzRt

1Sm2Sm1Rs2Rs1Cr2CrEdNeEtJóSlPvEcCtIsJr

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MateusMarcosLucasJoão AtosRomanos1 Coríntios2 CoríntiosGálatasEfésios FilipensesColossenses1 Tessalonicenses2 Tessalonicenses1ª Timóteo2ª TimóteoTitoFilemonHebreus Tiago 1 Pedro2 Pedro1 João 2 João 3 João Judas Apocalipse

MtMcLcJoAt

Rm1Co2CoGlEfFpCl

1Ts2Ts1Tm2TmTtFmHbTg

1Pe2Pe1Jo2Jo3JoJdAp

NOVO TESTAMENTO

GênesisÊxodo LevíticoNúmeros DeuteronômioJosuéJuízesRute1 Samuel2 Samuel 1 Reis2 Reis 1 Crônicas 2 CrônicasEsdrasNeemiasEster Jó Salmos Provérbios Eclesiastes CânticoIsaías Jeremias Lamentações Ezequiel Daniel Oséias Joel Amós Obadias Jonas Miquéias Naum Habacuque Sofonias Ageu Zacarias Malaquias

ANTIGO TESTAMENTO

L I V R O S D A B Í B L I A

NVI – Nova Versão InternacionalKJA – King James Atualizada BV – Bíblia Viva BJ – Bíblia de Jerusalém TEB – Tradução Ecumênica da BíbliaNTLH – Nova Tradução na Ling. de Hoje

ABREVIATURAS DAS VERSÕES BÍBLICAS UTILIZADAS

ABREVIATURAS DE

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“Pode-se resumir o fato mais relevante de toda a Histó-ria em quatro palavras: Jesus Cristo é Deus!”.1

A maior afirmação de toda a Bíblia é que Deus se fez carne e habitou entre nós! Foi o próprio Deus, na pessoa de Jesus Cristo, que maravilhou as pessoas de seu tempo com grandes milagres, ensinamentos surpreendentes e sinais indescritíveis. Foi Ele quem viveu uma vida comple-tamente perfeita, sem pecado algum, e, ao final, deixou-se ser morto numa cruz, sob a égide de Roma, ao levar sobre si os pecados da humanidade. Foi Ele que, três dias depois de sua morte, ressuscitou dentre os mortos, deixando sua mortalha no sepulcro vazio. A divindade de Jesus – o fato de que Ele era Deus na forma humana – é o fundamento da fé cristã.

O apóstolo João, o discípulo amado, quando parou para escrever seu Evangelho não estava interessado em sim-plesmente contar sua versão da história, acrescentando alguns detalhes aos demais relatos já existentes da vida e obra do Messias: Jesus Cristo. João escreveu sua obra com um propósito muito específico:

Jesus fez diante dos discípulos muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. Mas estes foram escritos para que vocês creiam que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, crendo, tenham vida por meio dele. (Jo 20:30-31).

O Evangelho de João não é uma simples biografia, é um argumento teológico. Ele quer nos convencer que Jesus de Nazaré é, de fato, o Deus Filho. Por conseguinte, quer nos mostrar como esse fato mudará radicalmente a nossa vida! É por meio da fé em Jesus Cristo como o Filho de Deus

1 CONNELLY, Douglas. João: série crescimento espiritual. São Paulo: Sheed Pub-licações, 2008, p. 7.

EDITORIAL

8 Estudos Bíblicos

que encontramos vida – vida real, vida plena, vida que vale a pena, vida eterna.

Neste trimestre faremos uma viagem ao Evangelho de João e caminharemos diariamente com Cristo para apren-dermos mais dele. Os estudos foram preparados com amor e na busca da unção divina para que você, caro leitor do Brasil e além-mares, continue a “crescer na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3:18).

Nossa gratidão aos autores convidados deste trimes-tre. Pela graça divina temos a colaboração de irmãos pela primeira vez nesta edição. Esperamos continuar contando com vocês. Obrigado também aos que já são “figuras carim-badas” em nossos estudos e devocionais. Agradecemos, ainda, aos nossos convidados especiais deste trimestre, que Deus os abençoe ricamente! Expresso, igualmente, minha gratidão pessoal ao Pr. Daniel Miranda Gomes, que teve a árdua tarefa de editar o presente volume. Ele tem sido um amigo de muita valia nos últimos estudos. Creio que posso dizer por todos os autores: que nossos esforços resultem na edificação do corpo de Cristo e tragam glórias a Deus!

Que tenhamos um bom estudo.

Deus o(a) abençoe!

Pr. Jonas SommerDiretor do Departamento de Educação Cristã

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Domingo – Gênesis 1:1-5

“No princípio Deus...”. A Bíblia começa falando sobre Deus, sobre o que Ele é, o que Ele fez e determinou desde o princípio da criação do universo. Ele é o princípio e fim de todas as coisas. Tudo começa n’Ele e tudo converge para Ele. Portanto, Ele é o tema central de toda a Escritura. Isso não é deveras maravilhoso? O nosso Deus é princípio, o meio e o fim de tudo que existe; e tudo quanto Ele ordena acontece segundo a Sua vontade. Tudo o que Deus criou, segundo a Sua determinação, foi por amor a mim e a você! Por isso, adore a Deus pelo que Ele é e O louve pelo que Ele fez.

Segunda-feira – Romanos 1:1-6

Paulo foi chamado com o propósito de anunciar uma mensagem de boas-novas vinda da parte de Deus e que outrora fora anunciada pelos santos servos do Senhor, os profetas, acerca da salvação que há em Jesus Cristo, nosso Senhor, o qual foi ressuscitado dentre os mortos e declarado Filho de Deus, para que por meio d’Ele e por causa de seu nome, que é sobre todos os nomes, rece-bêssemos a graça de nos tornarmos filhos de Deus, por meio da fé. Por meio dessa demonstração suprema de sua capacidade para conquistar a morte, com um poder que pertence unicamente a Deus, Jesus comprovou que é, sem dúvida alguma, Deus Filho. Este poderoso filho de Deus venceu a morte para lhe dar vida. Agradeça a Deus, em oração, por este maravilhoso favor concedido a você.

Jeferson Ezequiel

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Terça-feira – Hebreus 4:12-16

No texto de hoje são feitas três declarações importan-tíssimas a respeito do nosso Sumo Sacerdote: a primeira é que Ele é grande, destacando a Sua superioridade em relação aos outros sumos sacerdotes da ordem araônica. A segunda declaração é que Ele penetrou nos céus, pro-vavelmente visando comparar esse ato com a entrada limi-tada do Sumo Sacerdote da Antiga Aliança ao lugar “Santo dos Santos” no Templo, enquanto que Jesus penetrou nos céus na presença de Deus Pai. E a terceira declaração é acerca do seu nome, mostrando que o nosso grande Sumo Sacerdote é Jesus de Nazaré, o filho do Deus Altíssimo. Por isso, conservemos firmes a nossa confissão.

Quarta-feira – Hebreus 5:1-10

Basicamente, o texto de hoje trata do ofício sumo-sacerdotal, constituição ou nomeação, função e direcionamento da honra. A nomeação ou constituição era feita de forma teocrática: Deus elegia o sumo sacer-dote com a função de interceder pelo povo e por ele mesmo, por meio dos sacrifícios, e como o sumo sacer-dote era passível de erro, poderia condoer-se pelo povo errante. De fato, servir a Deus no Santo dos Santos é uma honra muito grande, mas não depende de uma escolha própria, mas sim do chamado divino. Jesus, sendo o Cristo, poderia tomar essa honra para Si, mas por obediência e submissão optou por deixar o direcio-namento da honra ao Pai, que o constituiu sacerdote eterno segundo a ordem de Melquisedeque, o qual, por meio do perfeito sacrifício expiatório na cruz do Calvá-rio, tornou-se o Autor da nossa salvação.

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Quinta-feira – Filipenses 2:5-11

Paulo estabelece um modelo a ser imitado por nós. Seu principal apelo é que o mesmo sentimento que governava Cristo também deveria governar o seu povo. Ele enfatiza a preexistência de Jesus em forma de Deus antes mesmo do princípio de tudo que conhecemos (cf. Jo 17:5); e, mesmo possuindo essa glória, não se apegou à mesma, antes assumiu a forma de servo, tornando-se à semelhança de homens. Isso significa que Jesus, apesar de possuir a mesma glória do Pai, não usurpou a Sua autoridade, antes assumiu uma posição de humildade, obedecendo ao Pai em tudo, inclusive aceitando a morte na cruz. Por isso, Deus o exaltou e lhe deu um nome, que está acima de todos os nomes, pelo qual todos os seres humanos devem se submeter e confessar que “Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai”.

Sexta-feira – 1 Timóteo 3:16

Temos diante de nós um hino a Cristo. O hino contém promessa e exortação. Dirige-se contra as heresias da época que negavam a encarnação de Jesus e mesclavam o Evangelho com outras doutrinas de salvação. No entanto a letra do hino motiva a Igreja a ofertar a Deus um sacrifício de louvor, confessando com os lábios “o Nome”. O hino sub-divide-se em três estrofes e explicita o mistério da piedade: Jesus foi revelado à Igreja e, apesar disso, não pode ser compreendido e apreendido pelos homens. O hino começa no terreno e termina no celestial. Na esfera terrena diz-se que Jesus foi manifesto na carne, proclamado aos povos e crido no mundo. Na esfera celestial, o nosso Senhor foi confirmado no Espírito, contemplado pelos anjos e aco-lhido na glória. Louvemos ao Senhor nosso Deus!

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Sábado – João 1:1-14

O propósito de João, em seu Evangelho, era que todos os homens soubessem que Jesus Cristo era plenamente Deus em forma humana; que Ele estava desde o princípio com Deus e que ele era o próprio Deus, e que tudo quanto existe veio à existência por intermédio d’Ele e para Ele. Tudo o que Deus era, Jesus também o era; todas as pala-vras e ações de Jesus eram palavras e ações de Deus. João, então, nos diz que o Senhor Jesus se fez carne, habi-tou em nosso meio com o propósito de trazer luz a você e a mim, nós que estávamos perdidos nas trevas, para que por meio d’Ele nos tornássemos filhos de Deus Pai, nós os que cremos em seu nome e confessamos que Jesus Cristo é o Senhor.

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E o Verbo se fez Carne

Pr. Daniel Miranda GomesEstudo da Semana: João 1:1-146 de Abril de 2013

1TEXTO BÁSICO:

E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai. (Jo 1:14)

INTRODUÇÃO

Jesus é Deus? Ele era apenas um profeta, um revolu-cionário ou era algo mais? Será mesmo que Deus se fez como um de nós? Essas perguntas nos levam ao cerne do que Jesus realmente era. Alguns acreditam que Ele era simplesmente um grande professor de moral, já outros pensam que ele foi simplesmente o líder da maior reli-gião do mundo. Porém, acreditamos em algo muito maior. Como cristãos acreditamos que Deus nos visitou em forma humana, e há muitas evidências históricas que provam isso, como veremos no decorrer dos estudos deste trimes-tre.

A forma de João começar o seu Evangelho deve ser compreendida antes de seu conteúdo ser analisado. Os primeiros versos trazem um estilo de poesia semítica, bem como uma forma hinódica. As imagens poéticas sugerem que esse material foi adaptado para ser usado como hino no culto cristão primitivo. Portanto, estes versos refletem não apenas uma preocupação filosófica e uma afirmação

O LOGOS PREEXISTENTE

14 Estudos Bíblicos

teológica, mas também uma adoração doxológica de um Senhor pessoal.2

Nos primeiros cinco versículos do capítulo 1 do Evange-lho de João temos algumas informações preciosas sobre quem é Jesus. Senão, vejamos.

1. A eternidade de Jesus. Logo no introito João apre-senta a figura central do Evangelho, mas não a chama de Jesus ou Cristo. Neste ponto Ele é o que os gregos deno-minavam de Logos, ou seja, a Palavra: No princípio era o Verbo [...]. Ele estava no princípio com Deus (vv. 1, 2). Esses dois versículos mostram que Jesus Cristo sempre existiu! Ele não “se fez” Verbo no princípio; Ele “era” o Verbo no princípio.3 Jesus é eterno. Ele não começou a existir a partir da criação, não foi criado por Deus, como alguns têm afirmado.

Em grego o termo logos significa “palavra, discurso, pensamento, razão”. Expressava inicialmente a palavra escrita ou falada, ou seja: o Verbo. Para os filósofos gregos, logos era mais um princípio filosófico do que uma força pessoal. Seria apenas um pensamento e não uma pala-vra. Mas esse termo, a partir de filósofos como Heráclito, passou a ter um significado mais amplo: logos passa a ser um conceito filosófico traduzido como razão, tanto como a capacidade de racionalização individual ou como um prin-cípio cósmico da ordem e da beleza. Na teologia cristã o conceito filosófico do logos veio a ser adaptado no Evan-gelho de João, referindo-se a Jesus Cristo como o Logos, isto é, a Palavra eterna, criadora, profética e sapiencial de Deus que se manifestou ao mundo (cf. vv. 1, 9, 14).4

2. A identidade de Jesus. O pensamento de João remonta ao primeiro livro da Bíblia: “No princípio criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1). O que João diz é isto: o

2 CLIFTON JR., Allen (Ed.). Comentário bíblico Broadman, v. 9: Lucas e João. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1987, p. 250.3 PFEIFFER, Charles F.; HARRISSON, Everett F. Comentário bíblico Moody, v. 4: os Evangelhos e Atos. São Paulo: Imprensa Bíblica Regular, 1990, p. 177.4 KONINGS, Johan. Evangelho segundo João: amor e fidelidade. São Paulo: Loyola, 2005, p. 76.

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Verbo não é uma das coisas criadas; ele estava presente antes da criação; “o Verbo estava com Deus, e o verbo era Deus” (v. 1b). O Verbo não é uma parte do mundo que começou a existir no tempo; o Verbo é uma parte da eternidade e estava com Deus antes do tempo e antes do princípio do mundo. Jesus estava com Deus, ou seja, “Ele existia na mais estreita comunhão possível com o Pai”.5

João diz, ainda, que Jesus, o Verbo, não somente estava com Deus; Ele era Deus! Para muitos é difícil com-preender essa afirmação. Na gramática grega um subs-tantivo quase sempre é acompanhado do artigo definido. A palavra grega para Deus é theos, e o artigo definido é ho. Assim, em grego, temos ho theos. Agora, quando o grego não emprega o artigo definido com o substantivo este se converte em algo semelhante a um adjetivo; des-creve o caráter, a qualidade da pessoa. João não disse que o Verbo era ho theos; isso teria significado que o Verbo era idêntico a Deus; antes diz que o Verbo era theos – sem o artigo definido –, o que quer dizer que o Verbo era do mesmo caráter, essência, qualidade e ser que Deus. Em Jesus podemos ver como Deus é. É por essa razão que Jesus disse a Felipe: “Quem me vê a mim vê o Pai” (Jo 14:8).6

3. A capacidade de Jesus. Três pontos são ressalta-dos por João acerca da capacidade de Jesus:

Primeiro, Ele é o criador de todas as coisas. João diz que: “Todas as coisas foram feitas por meio dele” (v. 3a). Para os filósofos gregos pré-socráticos, a arché (origem) seria um princípio que deveria estar presente na existên-cia de todas as coisas: no início, no desenvolvimento e no fim de tudo. A arché, portanto, seria o princípio pelo qual tudo o que existe veio a ser.7 Paulo escreve: “Pois, nele,

5 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: o Evangelho de João. São Paulo: Editora Cristã, 2004, p. 101.6 BARCLAY, William. Comentario al Nuevo Testamento. Barcelona: Editorial Clie, 2006, p. 378.7 SPINELLI, Miguel. Filósofos pré-socráticos: primeiros mestres da filosofia e da ciência grega. 2. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2003.

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foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra [...] Tudo foi criado por meio dele e para ele” (Cl 1:16). Em outra carta, ele escreve sobre o Senhor Jesus Cristo, “pelo qual são todas as coisas” (1Co 8:6). O autor de Hebreus fala do Filho, “pelo qual também fez o universo” (Hb 1:2).

Segundo, Ele é a origem, o autor e o doador da vida. João diz que “a Palavra era a fonte da vida” (v. 4a, NTLH). A mensagem de João vem ao encontro de nós, seres huma-nos, em nosso mais profundo anseio, quando nos declara: “A vida estava nele”. No Evangelho de João, a palavra “vida” (gr. zoê) aparece mais de 35 vezes, e o verbo “viver” ou “ter vida” (gr. zen) mais de 15. O objetivo de João ao escrever o Evangelho foi que os homens pudessem crer “que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20:31). Esta palavra está nos lábios de Jesus todo o tempo. Ele afirma que “assim como o Pai tem vida em si mesmo, também concedeu ao Filho ter vida em si mesmo” (Jo 5:26). Ele se lamenta de que os homens não se aproximem dEle para poder ter vida (Jo 5:40). Assegura que veio para que os homens tenham vida e para que a tenham em abundância (Jo 10:10). Anuncia que dá vida aos homens e que jamais perecerão, porque ninguém os arrebatará de sua mão (Jo 10:28). Afirma, ainda, que Ele é o caminho, a verdade e a vida (Jo 14:6).8

Terceiro, Ele é a luz do mundo. João diz que “a vida era a luz dos homens” (v. 4b). A palavra “luz” aparece mais de 21 vezes no Evangelho de João. Em duas ocasiões Jesus se denomina a si mesmo “a luz do mundo”, dizendo: “Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará nas trevas; pelo contrário, terá a luz da vida” (Jo 8:12); e: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo 9:5). Em outra ocasião, Jesus disse: “Eu vim como luz para o mundo” (Jo 12:46). João diz que: “A luz brilha na escuridão, e a escuridão não conseguiu apagá-la” (vv. 4, 5, NTLH). As trevas são hostis à luz. A luz resplandece nas trevas, mas, por mais que se esforcem, as trevas não podem extingui-

8 BARCLAY, William. Op. cit., p. 379-380.

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-la. O homem pecador ama as trevas e odeia a luz, porque esta mostra muitas coisas. É por isso que, no versículo 9, João diz que a luz, uma vez “vinda ao mundo, ilumina a todo homem”.9

Dando prosseguimento à sua exposição, João diz que o Verbo eterno, oriundo de Deus e voltado para Deus, “estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (vv. 10,11). Sabemos que esse mundo não é divino, e sim um mundo do pecado e da morte. Porém não devemos esquecer que “o mundo foi feito por intermédio dele” (v. 10). Independente da situa-ção do mundo hoje, sua origem está em Deus e em seu Verbo. Ao contrário de todas as visões dualistas de mundo, o Evangelho não vê o mundo como mau e contrário a Deus em si mesmo, nem como formado por um poder hostil a Deus. O mundo é e continua sendo criação de Deus.10

Lamentavelmente, João diz que “o mundo não o conhe-ceu. Veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (vv. 10,11). A Palavra criadora e diretriz de Deus veio a este mundo sob a forma do homem Jesus. A Palavra veio “para o que era seu”;11 porém o seu próprio povo não a recebeu. O Logos era como um senhor que retorna para casa, e agora seus próprios familiares lhe fecham a porta. É pre-ciso considerar que o texto refere-se especificamente ao povo judeu, que deveria ter reconhecido, antes de todos os outros povos, que Jesus era a Palavra de Deus. Mas pre-

9 BARCLAY, William. Op. cit., p. 380.10 BOOR, Werner de. Comentário Esperança: Evangelho de João. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002, p. 22.11 No grego, a expressão eis ta idia pode significar “sua própria casa”, como em Jo 16:32 e 19:27.

O LOGOS ENCARNADO

18 Estudos Bíblicos

cisamente é o povo judeu quem expulsa Jesus e o mata. Receberam-no com ódio e não com adoração.12

Qual a razão de o Filho de Deus, o Verbo eterno, vir em forma humana a este mundo? A Bíblia responde dizendo que a manifestação de Jesus, o Verbo encarnado, teve dois objetivos bem definidos.

1. Ele veio para nos tornar “filhos de Deus”. Jesus se fez gente para que a salvação se tornasse possível ao ser humano! João diz que nem todos rechaçaram a Jesus quando Ele veio; houve alguns que o receberam e lhe deram as boas-vindas. E, a estes, “aos que o receberam, aos que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tor-narem filhos de Deus” (v. 12, NVI). Nem todos os seres humanos são filhos de Deus. Todos são criaturas de Deus, mas somente alguns se convertem em filhos de Deus, desfrutando, então, da profunda intimidade da autêntica relação entre pai e filho. E João afirma que os homens só podem entrar nessa relação verdadeira e autêntica por meio de Jesus Cristo.13

João diz que os verdadeiros filhos de Deus são aqueles que “não nasceram por descendência natural, nem pela vontade da carne nem pela vontade de algum homem, mas nasceram de Deus” (v. 13, NVI). Ou seja, este nas-cimento não é resultado de uma reprodução biológica, da hereditariedade ou esforço humano, mas de Deus. Quando João diz que não procede de sangue está empregando o pensamento judaico, porque os judeus consideravam que um filho físico nascia da união da semente do pai com o sangue da mãe. Porém este caráter de filho de Deus não procede de nenhum impulso ou desejo humano, nem de nenhum ato da vontade humana; procede inteiramente de Deus. Não podemos nos tornar filhos de Deus por nossos próprios meios; devemos entrar em uma relação que Deus nos oferece em Cristo Jesus.14

12 BOOR, Werner de. Op. cit., p. 22.13 BARCLAY, William. Op. cit., p. 383.14 BARCLAY, William. Op. cit., p. 383.

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2. Ele veio para se identificar conosco. No versículo 14 João diz que “o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Jesus se fez homem. Aquele que criou o mundo, que exis-tia antes do mundo, veio participar da história do mundo. Jesus já existia desde a eternidade (v. 1; 8:24), mas seu papel como Redentor foi realizado na carne. Ele enfrentou as tentações e sofreu a morte como homem.

João diz que ele “se fez carne”. Aqui, há um sentido especial. O texto grego afirma que Jesus tornou-se uma pessoa humana histórica e real, limitada e mortal, mas não sugere que Ele deixou de ser o que era antes. Possivel-mente aqui, mais que em qualquer outro lugar do Novo Tes-tamento, encontramos a gloriosa proclamação da humani-dade de Jesus em toda sua plenitude. Em Jesus vemos o Verbo criador de Deus, a Razão controladora de Deus, assumindo a humanidade. Ele abriu mão da sua posição, mas não da sua divindade (Fl 2:5-11). Ele era, ao mesmo tempo, Deus e homem. Com essa declaração, João se dis-tância de vez da interpretação helenista, em que as divin-dades se camuflavam por curto período de tempo como se fossem homens ou mulheres comuns para, depois de realizarem algum feito entre os mortais, voltarem ao seu lugar de origem, livres do peso da fingida humanidade.

Quando João diz “carne”, aponta para a fraqueza e para a limitação, para o sofrimento e para a realidade da morte inerente à carne. Somente porque Deus se tornou “carne” houve história e o Evangelho de Jesus pôde ser escrito por João e os demais evangelistas. Entretanto, os evangelhos sinópticos (Mateus, Marcos e Lucas) viram em Jesus o cumprimento das profecias do Antigo Testa-mento, o “enviado por Deus”. João, diferentemente deles, vê em Jesus o Deus encarnado, Deus em forma de pessoa humana, semelhante a mim e a você!

A palavra “habitou” vem da mesma palavra grega tra-duzida por tabernáculo (skênôo). Se traduzida mais lite-ralmente, do grego para o português, a expressão “habi-tou entre nós” significa que o Logos eterno “armou seu

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tabernáculo” ou “morou em sua tenda entre nós”. Para os judeus, o termo traria à mente o tabernáculo onde Deus se encontrava com Israel, antes do templo ser construído (Êx 25:8). Agora o evangelista sugere que Deus escolheu habitar entre seu povo de uma forma ainda mais pessoal.15 Literalmente, a ideia é que Jesus “tabernaculou” entre os homens. Jesus veio morar conosco para que um dia nós possamos morar com Ele!

Deus se fez gente para identificar-se com o ser humano. O Verbo encarnado enfrentou os mesmos dilemas que enfrentamos, tais como amargura, compaixão, ira, angústia e rejeição. Habitar entre nós significa dizer que Deus, em Cristo Jesus, veio ao nosso encontro, estabelecendo Sua morada em nossa história. Habitou, também, os recantos mais obscuros do coração dos homens e das mulheres de seu tempo. Frequentou nossas dores e curou nossas enfermidades; experimentou e sentiu nossas limitações físicas e temporais.

Pelo fato de que o Verbo se fez carne e habitou entre nós, tornou-se possível o que João atesta em seguida: “E vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (v. 14). Jesus revelou a glória de Deus em sua pessoa, em suas obras e em suas palavras. Testemunhas oculares viram a Jesus “com poder e grande glória”. Porém não aquela gló-ria de Deus, diante da qual até os anjos ao redor do trono escondem o rosto, mas uma glória cheia de graça e ver-dade. Jesus é a glória refletida de Deus, e nEle podemos ver a “glória como do unigênito filho do Pai”.16

Frequentemente, em nossa ânsia de provar que Jesus era completamente Deus, tendemos a nos esquecer do fato de que Ele também era completamente homem. Em Jesus vemos a Deus vivendo a vida tal como Deus a teria vivido se tivesse sido um homem. Embora não pudésse-

15 CARSON, D.A. O comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 127,128.16 A expressão “unigênito” é a tentativa de reproduzir da maneira mais literal pos-sível o termo grego monogenous. O sentido mais próximo dessa expressão seria “único no seu modo de ser”.

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mos dizer nada mais sobre Jesus, poderíamos afirmar que ele nos mostra como Deus teria vivido esta vida que nós temos que viver.17

Deus se fez homem. O Senhor dos senhores se fez servo. Aquele que é santo se fez pecado por nós e o que é exaltado acima dos querubins assumiu o nosso lugar, como nosso fiador. Ele se fez maldição por nós e sorveu sozinho o cálice amargo da ira de Deus, morrendo morte de cruz, para nos dar a vida eterna.

Jesus veio nos revelar de forma eloquente o amor de Deus. Não foi sua encarnação que predispôs Deus a nos amar, mas foi o amor de Deus que abriu o caminho da encarnação. A encarnação do verbo não é a causa da graça de Deus, mas seu glorioso resultado. Jesus veio ao mundo não para mudar o coração de Deus, mas para reve-lar-nos seu infinito e eterno amor.

1. Por que João usa a palavra “Verbo” para descrever Jesus? Como isso explica a preexistência de Jesus antes de seu nascimento? (vv. 1,2)

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2. Segundo João, qual foi o papel do Logos na Criação? (v. 3)

17 BARCLAY, William. Op. cit., p. 384.

UMA PALAVRA FINAL

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

22 Estudos Bíblicos

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3. Quais são os conceitos chave de “vida” e “luz” no Evan-gelho de João? (v. 4)

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4. João afirma que as trevas não podem prevalecer con-tra a luz. Qual é a relação dessa figura de linguagem com Jesus? (vv. 5, 9)

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5. Por que Jesus foi rejeitado pelo seu próprio povo? Cite alguns exemplos nos quais esta rejeição aconteceu de forma declarada. (vv. 10,11)

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6. Qual é a bênção para aqueles que recebem e creem em Jesus? (vv. 12,13)

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7. Como o apóstolo João resume a encarnação gloriosa da Palavra? (v. 14)

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Domingo – João 17:1-5

Jesus estava plenamente cônscio de seu iminente sacrifício na cruz e sabia que era chegada a hora de sua glorificação. Ele intercedeu ao Pai para que, por meio de sua glorificação, pudesse Lhe render glória, e sabia que o instrumento para tal seria a cruz. Destarte, mediante a autoridade concedida pelo Pai, e obediência a Ele, Jesus pôde dar vida eterna a você, vida esta que resulta num conhecimento visceral do verdadeiro Deus. Por isso, louve a Deus pela glorificação de Seu filho, pois é por meio dela que você gozará a vida eterna.

Segunda-feira – João 5:39-47

Pouco antes desse evento os judeus haviam acusado Jesus de violar a lei. Certamente, se Jesus tivesse agido de conformidade com os judeus, eles o teriam honrado. Mas por que Jesus haveria de preferir a glória vinda da parte dos homens ao invés da glória vinda da parte de Deus? O apoio dos judeus era a lei mosaica e eles acre-ditavam entender o bastante sobre o assunto. No entanto Jesus fala para eles examinarem as Escrituras, pois elas testificavam a seu respeito, e essa mesma Escritura, mais especificamente a Lei, era que os julgava, pois Cristo não veio para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. Irmão, jamais busque uma religiosidade com o intuito de ser glorificado pelas pessoas, mas procure com zelo a glória que vem de Deus.

Terça-feira – João 7:10-18

Antecedendo este acontecimento os irmãos de Jesus convidaram-no para uma festa com o intuito de tornar os

Jeferson Ezequiel

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

24 Estudos Bíblicos

seus sinais públicos, pois o pensamento daquela época era buscar a autopromoção por meio da religiosidade. Porém, Jesus veio ao mundo com o propósito de fazer a vontade do Pai, e seus ensinos tinham como base render glórias a Deus. Por isso, os judeus se maravilhavam de sua doutrina dizendo: “Como este homem tem tanta instrução sem ter estudado?”. Jesus se preocupava em ensinar de conformi-dade com a vontade do Pai. Suas palavras sempre foram as palavras do Pai. Seus ensinos e suas ações sempre foram os ensinos e ações do Pai. Sua glória era glorificar ao Pai. Qual tem sido o motivo de suas ações?

Quarta-feira – João 8:48-59

Diante dos ensinos e sinais que Jesus realizara, os judeus se desesperaram. E, numa tentativa de rebaixá-Lo, acusaram-no de possuir demônios. Jesus lhes respondeu que honrava ao Pai e disse que aquele que guardasse a sua palavra jamais veria a morte eterna, e concluiu: “antes de Abraão Eu Sou”. Esta expressão “Eu Sou” significa que Jesus estava dizendo que Ele era o próprio Deus e que essa glória quem concedeu a Ele foi o Pai, a quem os judeus diziam ser o seu Deus. Jesus é o autor da vida, rejeitado e humilhado pelos judeus, porém glorificado nas maiores alturas por Deus. A Ele seja a glória para todo o sempre. Amém!

Quinta-feira – João 12:36-43

Jesus já estava bem conhecido. Seus sinais e prodígios já tinham se espalhado por todas as redondezas e muitas pessoas, inclusive líderes religiosos, que vinham à festa para adorar no templo, desejavam vê-Lo; e não só viram, mas ouviram-No. Porém, eles estavam tão habituados com uma falsa glória tributada a eles pelos homens, por intermé-dio de sua religiosidade e erudição, que se sentiram com medo de perder esse desfrute. Por essa razão, amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus. Muitos

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líderes religiosos sucumbem a essa tentação e aceitam uma glória que não lhes pertence e, por seu imediatismo, contentam-se com uma glória vinda dos homens ao invés de esperar com paciência a glória que nos está reservada por Deus.

Sexta-feira – João 17:20-24

Jesus pôde desfrutar da glória juntamente com Deus, e pede ao Pai que o glorifique com a mesma glória que tinha antes de o mundo existir. Sua vontade é que, unidos juntamente com Ele e o Pai, pudéssemos vislumbrar a Sua glória e, consequentemente, participar da mesma. A prova de que Deus ama Seu filho é o fato de ter Lhe restituído a Sua glória. E esse mesmo amor nos atingiu pelo fato de que Cristo intercede ao Pai em nosso favor, para que, unidos com Ele e o Pai, possamos desfrutar dessa mesma glória. Louvado seja Deus por isso. Amém!

Sábado – João 2:1-12

O propósito de João ao escrever a respeito dos sinais que Jesus realizou foi para que os seus leitores estives-sem cientes de que Jesus é o Cristo, o filho de Deus (Jo 20:30,31). No texto de hoje, vemos o primeiro sinal de Jesus. A festa de casamento naquela época poderia durar cerca de uma semana e o término do vinho antes do fim da festa poderia afetar a reputação do hospedeiro. Pode-mos perceber claramente a preocupação de Maria quanto a esta questão. Porém ela estava confiante de que Jesus poderia mudar esta situação. Então, ela diz aos atenden-tes: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Ao manifestar a sua glória por meio deste sinal, os seus discípulos creram nele. João mostrou que o propósito do seu Evangelho era o mesmo alcançado anteriormente pelo Mestre. Meu desejo é que essa palavra alcance o mesmo propósito em sua vida.

26 Estudos Bíblicos

Transformando Água em Vinho

Pr. Daniel Miranda GomesEstudo da Semana: João 2:1-1113 de Abril de 2013

2TEXTO BÁSICO:

Este sinal miraculoso, em Caná da Galileia, foi o pri-meiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele. (Jo 2:11, NVI)

INTRODUÇÃO

No Evangelho de João encontramos o registro do pri-meiro “sinal miraculoso” realizado por Jesus, ao iniciar seu ministério, o qual tem uma considerável importância sim-bólica: é o primeiro dos sete sinais milagrosos por meio dos quais a natureza divina de Jesus é atestada e à volta dos quais o Evangelho de João é construído.18 É impor-tante o leitor ter sempre em mente que João escreveu o seu Evangelho com um propósito bem definido: “para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20:31).

O casamento em Caná da Galileia e a transformação da água em vinho são interpretados de muitas formas pelos comentaristas bíblicos, incluindo algumas altamente espe-culativas ou alegóricas.19 Ora, a própria riqueza do Quarto Evangelho apresenta um problema àqueles que querem estudá-lo, pois em todos os relatos joaninos há sempre duas possibilidades de leitura: a superficial, que qualquer pessoa pode compreender e repetir; e uma cujo conteúdo tem significados mais profundos, para aquele que tem o

18 Embora nenhum dos evangelhos sinóticos relate este evento, a tradição cristã majoritária defende que este foi o primeiro milagre público de Jesus. 19 CARSON, D. A. O comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 166.

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desejo de procurar, o olho para ver e a mente para com-preender.20

Assim sendo, no presente estudo, vamos primeiro ana-lisar a história com toda simplicidade, para situá-la em seu contexto, e, ao final, compreender a verdade permanente que João quis nos relatar.

João começa o relato do ministério público de Jesus dizendo que: “Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galileia, achando-se ali a mãe de Jesus” (vv. 1,2). A cena do “primeiro sinal” acontece durante uma festa de casamento, entre amigos e familiares, em Caná da Gali-leia, pequena aldeia donde provém Natanael (Jo 21:2). Não sabemos com segurança a localização de Caná. Provavel-mente ela é a atual Khirbet Kaná, uma vila em ruínas, que fica há aproximadamente 14 km ao Norte de Nazaré, na planície de Asochis. São Jerônimo, que viveu na Palestina, diz que a via desde Nazaré, e Flávio Josefo escreve que “de Caná a Tiberíades, leva-se uma noite de caminhada (Vita, § 186, 207)”.21

O “terceiro dia” é contado após a referência cronológica dada em João 1:35-43.22 Lá Jesus tinha reunido um grupo de seguidores, que confessaram crer que a esperança messiânica de Israel se cumpria nele.

Entre os convidados primeiro é mencionada “a mãe de Jesus” (João nunca a chama pelo nome) e, depois, ele mesmo com os seus discípulos.23 Essa informação de que Maria também estava na festa pode indicar que ela tinha um relacionamento mais estreito com a família do noivo, 20 BARCLAY, William. Comentario al Nuevo Testamento. Barcelona: Editorial Clie, 2006, p. 391.21 LEON-DUFOUR, Xavier. Leitura do Evangelho segundo João, v. 1. São Paulo: Loyola, 1196, p. 160.22 A maioria esmagadora das traduções situa o episódio “no terceiro dia”, exceto as versões da Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH) e Bíblia Viva (BV), que registram: “dois dias depois” do encontro de Jesus com Natanael em João 1:47-51.23 KONINGS, Johan. Evangelho segundo João: amor e fidelidade. São Paulo: Loyola, 2005, p. 101.

O CENÁRIO

28 Estudos Bíblicos

e que, nesse caso, ela não era apenas uma das pessoas convidadas, mas uma das que ajudavam a servir a festa, pois de outro modo, provavelmente, não teria demonstrado tanta preocupação pessoal com as comemorações. Isto explicaria por que ela sabia que o vinho havia se acabado e suficiente autoridade para ordenar aos serventes que fizessem o que Jesus dissesse.24

João diz que “Jesus também foi convidado, com os seus discípulos, para o casamento” (v. 2). Talvez Jesus, o filho mais velho da família, tenha sido convidado justamente em razão de que o pai não vivia mais. O fato de Natanael ser oriundo de Caná pode ter sido uma das razões do convite também ter sido estendido aos discípulos de Jesus, que a essa altura já eram cinco: André, Simão, Felipe, Natanael e mais um, cujo nome não é mencionado (Jo 1:35). Este último certamente era João, que também testemunhou o milagre.25

A cerimônia festiva de casamento era uma das ocasi-ões mais importantes e alegres da vida da família judaica. Naquela época, as cerimônias de casamento entre os judeus poderiam durar até sete dias (Jz 14:17). Em razão disso, todos os preparativos deveriam ser feitos com ante-cedência, levando-se em consideração o número dos con-vidados. A anfitriã, nestes casos, a família do noivo, era a responsável pelas despesas financeiras e pela organi-zação geral, de modo a proporcionar aos convidados o melhor atendimento possível.26

24 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: o Evangelho de João. São Paulo: Editora Cristã, 2004, p. 122.25 Há um antigo conjunto de prefácios aos livros do Novo Testamento, chamado Prefácios Monarquicanos, nos quais se afirma que o noivo era o próprio João e que sua mãe era Salomé, a irmã de Maria.26 SILVA, Genilson da (Ed.). Quem é Jesus? Lições Bíblicas. Maringá, n. 288, jul./set. 2009, p. 14.

A SITUAÇÃO

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Craig Keener diz que os anfitriões convidavam o maior número possível de pessoas, sobretudo hóspedes distin-tos como os mestres, para as cerimônias de casamento. Deixar que acabasse o vinho, num casamento, era, social-mente falando, uma verdadeira gafe, e acabaria se tor-nando objeto de zombaria anos a fio. Era, pois, responsabi-lidade do anfitrião abastecer seus hóspedes com suficiente provisão de vinho para sete dias.27 Há alguma evidência de que o noivo poderia ser sujeito à abertura de um pro-cesso movido pelos parentes ofendidos da noiva.

João relata que durante a festa o vinho acabou, e a mãe de Jesus veio a Ele com o problema, dizendo-lhe: “Eles não têm mais vinho” (v. 3). A atitude tomada por sua mãe revela que ela cria firmemente numa solução do problema por parte de Jesus. William Barclay, seguido por outros comentaristas, sugere que é muito provável que a chegada de Jesus tenha causado alguns problemas. Foi convidado à festa, mas não tinha ido sozinho, tinha levado consigo seus cinco discípulos.28 Na verdade, nós não sabemos por que isso aconteceu, e é melhor não especular. Mas seria errado supor que a falta de vinho foi provocada pela che-gada inesperada de Jesus e seus discípulos, vez que tam-bém foram convidados para a festa e eram esperados.29 Além do mais, outros convidados também podiam ter che-gado inesperadamente.

A tradução literal da resposta de Jesus fá-la parecer muito rude e até mesmo áspera. Faz-lhe dizer: “Mulher, que tenho eu contigo?” (v. 4). Mas esta é a tradução das palavras; de maneira nenhuma transmite o tom. O uso do termo “Mulher” era uma forma de tratamento educada (Jo 19:26; 20:13). Na cruz, quando Jesus se dirige a Maria, ele usa a mesma expressão (Jo 19:26). De maneira que, longe de ser uma palavra descortês e grosseira, era um título de respeito. Em nosso idioma não há uma forma que expresse

27 KEENER, Craig S. Comentário bíblico Novo Testamento. Belo Horizonte: Atos, 2004, p. 277.28 BARCLAY, William. Op. cit., p. 391.29 HENDRIKSEN, William. Op. cit., p. 123.

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o mesmo significado; mas é melhor traduzi-lo por senhora, que, pelo menos, lhe dá a nota de cortesia que tem em sua forma original.30

A expressão idiomática “que tenho eu contigo?” era uma frase muito comum e servia como uma declaração eficiente de independência, como uma clara alusão de que Maria não deveria reivindicar autoridade sobre Ele. A Nova Versão Internacional preferiu traduzir por: “Que temos nós em comum, mulher?”. A Nova Tradução na Linguagem de Hoje traduz melhor o que Jesus quis dizer à sua mãe naquele momento: “Não é preciso que a senhora diga o que eu devo fazer”. A expressão é, no mínimo, uma repre-ensão moderada. Jesus deixa claro para a mãe que não se encontrava mais sob sua tutela, mas que, dali por diante, seguiria as ordens do Pai (cf. Lc 2:40-52).31 Quando Jesus disse isto a Maria o que lhe estava dizendo era que dei-xasse as coisas em suas mãos, que Ele enfrentaria a situ-ação a seu modo.

Jesus acrescenta: “Ainda não é chegada a minha hora” (v. 4). Nesse ponto, João introduz um dos elementos-chave de seu registro, o conceito de “hora”. Jesus vivia de acordo com um “cronograma celestial” determinado pelo Pai (cf. Jo 7:30; 8:20; 11:9,10; 12:23; 13:1; 17:1). Ao estudar o Evan-gelho de João, vemos como o autor desenvolve esse con-ceito, que se relaciona à morte e exaltação de Jesus. Ao assim agir, Jesus demonstra que não queria chamar para si a atenção dos circunstantes, principalmente porque, segundo ele, o momento certo ainda não era chegado.

Como quer que seja que Jesus tenha falado, Maria tinha confiança em seu filho. Ela disse aos serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (v. 5). As palavras de Maria para os servos mostram que estava disposta a deixar que seu Filho fizesse o que lhe aprouvesse e que confiava que Ele faria a coisa certa. Ela ainda não sabia o que Ele faria, mas ela entrega o problema a Ele e confia nEle. Ela O aborda como

30 HENDRIKSEN, William. Op. cit., p. 123.31 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento, v. 1. Santo André/SP: Geográfica editora, 2006, p. 374.

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mãe e é repreendida, mas ela responde como crente e sua fé é honrada.32

Continuando sua narrativa, João diz que “ali perto esta-vam seis potes de pedra; em cada um cabiam entre oitenta e cento e vinte litros de água. Os judeus usavam a água que guardavam nesses potes nas suas cerimônias de puri-ficação” (v. 6, NTLH). João escreve o Evangelho para os gregos e por isso explica que estes potes com água eram tradicionalmente usados pelos judeus para banhos cerimo-niais, a fim de se purificarem de qualquer contaminação (cf. Mt 15:2; Lc 7:44).

Então Jesus disse aos servos: “Enchei de água as talhas. E eles as encheram totalmente” (v. 7). Jesus dá aos serventes uma incumbência incompreensível para eles, mas que eles cumprem – como servos acostumados a obedecer, e preparados pela instrução da mãe de Jesus. Uma vez cheios, Jesus instruiu os servos a tirar a água dos grandes recipientes para recipientes menores e levar ao mestre-sala. E eles o fizeram (v. 8).33

A lição final, para os discípulos, veio logo em seguida. Ao experimentar a água transformada em vinho, não sabendo donde viera, o mestre-sala chamou ao noivo e disse-lhe: “Todos costumam pôr primeiro o bom vinho e, quando já beberam fartamente, servem o inferior; tu, porém, guar-daste o bom vinho até agora” (vv. 9,10). Considerando a observação feita pelo mestre-sala, o vinho resultante da transformação da água, comparado ao que antes tinha sido servido aos convidados, era-lhe superior em qualidade, o que, sem dúvida, encheu a família do noivo de grande ale-gria.34 A partir daí, a desanimada festa recebeu uma nova

32 CARSON , D.A. Op. cit., p. 173.33 BOOR, Werner de. Evangelho de João: comentário esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002, p. 43.34 SILVA, Genilson da (Ed.). Op. cit., p. 15.

A FONTE

32 Estudos Bíblicos

vida, como consequência da transformação operada por Jesus.

A verdade mais profunda do incidente é que, simbo-licamente, o Judaísmo foi revelado como deficiente (na ênfase dada às abluções cerimoniais, a ponto de negli-genciar assuntos espirituais, e em sua exaustão indicada pelos cântaros vazios), quando Cristo fornece plenitude de bênçãos da mais alta qualidade (cf. 7:37-39). Mais do que isso, ele o fez sem chamar a atenção para si mesmo, um exemplo agradável.35

O primeiro milagre de Jesus não foi um acontecimento espetacular testemunhado por todos. Maria, os discípulos e os servos sabiam o que havia acontecido, mas ninguém na festa sequer suspeitou que um milagre havia ocorrido.

João termina a sua narrativa dizendo que: “Este sinal miraculoso, em Caná da Galileia, foi o primeiro que Jesus realizou. Revelou assim a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (v. 11, NVI).36 O milagre serviu para revelar a glória de Jesus aos discípulos (Jo 1:14) e para dar um fundamento mais sólido a sua fé. Apesar de os milagres, por si mesmos, não serem evidência suficiente para decla-rar que Jesus é o Filho de Deus (2 Ts 2:9, 10), por certo, o efeito cumulativo de inúmeros sinais os convenceria da divindade de Cristo. Os discípulos precisavam começar de algum lugar, e, nos meses seguintes, sua fé se torna-ria cada vez mais profunda, à medida que conhecessem melhor Jesus.37

No entanto esse milagre vai além do simples ato de suprir uma necessidade humana e de salvar uma família de uma situação embaraçosa. Ao contrário dos outros três

35 PFEIFFER, Charles F.; HARRISSON, Everett F. Comentário bíblico Moody, v. 4: os Evangelhos e Atos. São Paulo: Imprensa Bíblica Regular, 1990, p. 181.36 Esta declaração refuta os evangelhos apócrifos que narram milagres da infância de Jesus.37 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 374.

O SIGNIFICADO

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evangelhos, João procura compartilhar o significado inte-rior, a relevância espiritual dos atos de Jesus, de modo que cada milagre é, na verdade, um “sermão prático”. É pre-ciso cuidado para não “espiritualizar” demais esses acon-tecimentos, a ponto de perderem suas bases históricas. Porém, ao mesmo tempo, não devemos nos apegar tanto à história a ponto de não enxergar a história de Deus.

Em primeiro lugar, o termo grego que João usa em seu livro não é dunamis, que enfatiza o poder, mas sim semeion, que significa “um sinal”. O que é um sinal? É algo que aponta para além de si, para outra coisa maior. Com esse primeiro sinal, Jesus revelou a sua glória. Não bas-tava o povo crer nas obras de Jesus; precisavam crer nele e no Pai que O havia enviado (Jo 5:14-24). Isso explica por que, em várias ocasiões, Jesus fez um sermão depois de um milagre e explicou o sinal.

Se Jesus tivesse pregado um sermão depois de trans-formar a água em vinho, o que teria dito? É possível que tivesse dito ao povo que a alegria do mundo acaba e não pode ser recuperada, mas que a alegria que ele oferece se renova e sempre satisfaz. Nas Escrituras, o vinho é um símbolo da alegria (cf. Jz 9:13; Sl 104:15).

Mas, sem dúvida, Jesus também teria uma mensagem especial para os líderes religiosos de Seu povo, Israel. O vinho acabou, e Israel ficou com seis talhas vazias. Tinham água para a limpeza exterior, mas não havia nada que provesse a purificação e a alegria interior. Nesse milagre, Jesus trouxe plenitude onde havia vazio; trouxe alegria onde havia decepção e algo interior onde havia apenas algo exterior (água para lavagens cerimoniais).

Jesus precisou eliminar as imperfeições da Lei, e subs-tituí-las pelo vinho novo do Evangelho de Sua graça. Com sua vinda, Jesus transformou a imperfeição da Lei na per-feição da graça.

34 Estudos Bíblicos

Cada história que João nos conta nos diz não o que Jesus fez uma vez e não voltou a repetir nunca mais, e sim algo que faz eternamente. João nos relata não as coi-sas que Jesus fez uma vez na Palestina, e sim as coisas que continua fazendo ainda hoje. E o que João quer que vejamos aqui não é que um dia Jesus converteu algumas talhas de água em vinho; quer que vejamos que, quando Jesus entra na vida, traz consigo uma nova qualidade, que é como se transformasse a água em vinho. Sem Jesus, a vida é monótona, amarga e chata; quando Jesus entra na vida esta se transforma em algo ágil, dinâmico, emocio-nante. Sem Jesus a vida resulta pesada e carente de inte-resse; com Jesus a vida é algo emocionante, maravilhoso e cheio de alegria.

1. Quem foi convidado para o casamento em Canaã? O que aconteceu durante a celebração? (vv. 1-3)

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2. Pesquise os costumes da época e responda: O que Jesus quis, de fato, dizer com: “Mulher, que tenho eu con-tigo”? (v. 4)

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3. O que Jesus quis dizer a seus ouvintes, ao afirmar: “Ainda não chegou a minha hora”? (v. 4)

UMA PALAVRA FINAL

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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4. Que evidência da fé de Maria em Jesus podemos ver no verso cinco?

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5. Qual item comum Jesus usou para resolver o problema do noivo? Qual era o real significado daqueles utensílios? Para que se prestavam? Como Jesus usou essas talhas de água comuns? (v. 6-8)

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6. Qual foi a resposta do mestre-sala quando experimentou o vinho? (vv. 9-10)

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7. Qual foi o significado do primeiro milagre de Jesus? (v. 11)

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36 Estudos Bíblicos

Domingo – 1 Crônicas 28:1-10

Quando lemos esta passagem, torna-se fácil entender porque Davi era um homem segundo o coração de Deus. Deve ter sido difícil deixar de construir um santuário ao Senhor. Afinal esse era o seu desejo e, aparentemente, não havia nada de errado nisso, exceto por um detalhe que Davi deixa bem claro no verso 5: o reino pertence ao Senhor. Davi não pôde edificar o templo nem passar o trono para o primogênito. Afinal a escolha de Salomão como sucessor foi estabelecida por Deus. A prosperidade do seu reinado dependeria unicamente do seu relaciona-mento com Deus. Caso fosse fiel ao Deus Eterno e guar-dasse Seus mandamentos, teria Seu amparo. Do contrá-rio, seria rejeitado! Este relato é capaz de explicar muitos fracassos pessoais. Não importa qual seja o nosso desejo, mesmo que seja para agradar a Deus, todo ato da nossa vida deve passar pela aprovação do Rei dos reis. Façamos como Davi e reconheçamos, diariamente, o senhorio de Deus em nossa vida.

Segunda-feira – Salmos 132

Constantemente ouvimos e utilizamos a expressão “inversão de valores”. Não é de se espantar, visto que assistimos em nossa sociedade a uma supervalorização do “ter” em detrimento do “ser”. Infelizmente, esta visão perniciosa adentrou os lares e templos que professam a fé cristã. Para aplacar a consciência, o termo ganância parece ter sido substituído pela palavra prosperidade, algo aparentemente mais aceitável. O lema é: quanto mais con-forto melhor. Contrariando esta perspectiva, Davi se mostra incomodado com o fato de habitar num palácio, enquanto a arca da aliança, o principal símbolo da presença de Deus,

Pr. Humberto Agnello Bolaños Cordeiro

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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estava numa tenda. Ele não descansaria enquanto isso não fosse corrigido, era necessário construir uma morada para Deus, e essa morada seria em Sião, segundo a esco-lha divina. Hoje, o Espírito Santo nos chama para sairmos da nossa zona de conforto e priorizarmos o que realmente importa: fazer de nosso coração a morada de Deus.

Terça-feira – 2 Crônicas 30:1-9

Ezequias foi rei de Judá durante o período da Nação de Israel dividida entre os reinos do Norte (Israel) e do Sul (Judá). Seu pai, Acaz, havia praticado a idolatria, e entre seus atos, sacrificou crianças, despedaçou os utensílios da Casa do Senhor e fechou as portas desta. Reinou por 16 anos em Jerusalém e tais foram suas abominações, que sequer foi enterrado junto aos reis de Israel. No lama-çal espiritual de Judá, eis que se levanta Ezequias, que já no primeiro ano do seu reinado, abre as portas do Templo e o reforma para a celebração da Páscoa. O convite do Rei Ezequias, foi para todos, tanto para o reino do Norte, já invadido pelos assírios, quanto para o reino do Sul. Hoje, o Espírito Santo também lhe convida para fazer uma reforma em sua vida. Não importa qual seja sua condição, nem que em sua vida tenha praticado o que é mau perante os olhos de Deus. Assim como o Senhor implantou no coração de Ezequias o desejo de restaurar a Sua casa e celebrar a libertação da escravidão, também quer restaurar o seu coração e libertá-lo do jugo do pecado.

Quarta-feira – Salmos 122

Quem não gosta de viajar para descansar? Salvo raras exceções, creio que todo mundo se alegra só de pensar em arrumar as malas e sair de férias. Não era muito diferente quando um israelita se preparava para ir à Casa do Senhor. Muitos tinham que percorrer longas distâncias, mas só a perspectiva da viagem e a ideia de estar em Jerusalém enchiam de alegria os pulmões do adorador. Estar no Tem-

38 Estudos Bíblicos

plo era mais que especial, envolvia pausar as atividades seculares e as preocupações diárias; era um momento de reencontrar amigos, familiares e, principalmente, o Senhor. Certamente, todos que retornavam das celebrações vol-tavam com os ânimos renovados! Esse mesmo fervor e alegria o nosso Pai celeste deseja que sintamos ao nos reunirmos com os nossos irmãos na fé. Talvez, até o dia de hoje, você tenha sentido que ir aos cultos seja uma obriga-ção. Mas, lembre-se: o real motivo da sua ida ao templo é para celebrar ao Deus de Israel. Ele merece sua alegria ou sua insatisfação?

Quinta-feira – Lucas 2:41-51

Terminada a festividade da Páscoa, era hora de retornar para casa. Agora, as caravanas tornavam rumo aos lares e as pessoas, com o coração jubiloso, compartilhavam suas experiências. Mulheres e crianças na frente, homens atrás. Onde estaria Jesus? À frente com sua mãe, ou atrás com seu pai? Possivelmente, Maria achava que seu filho estava com José, e este cria que Ele estava com Maria. O fato é que só foram notar sua ausência um dia após a partida. A Escritura nos relata que Jesus foi encontrado por seus pais no Templo. Ao ser repreendido por eles, respondeu: “Por que me procuráveis? Não sabia que cumpria estar na casa de meu Pai?” Esta é a primeira declaração de Jesus quanto a sua filiação celestial. Ele sabia quem era e seu entendimento das Escrituras era tamanho que causava admiração entre os doutores da Lei. Por que Jesus não voltou para casa com seus pais? Porque o Templo era a Casa de seu Pai!

Sexta-feira – Salmo 69:1-15

Às vezes, passamos por momentos extremamente difí-ceis em nossa vida. Falsas acusações, desprezo por parte de familiares, perseguição e zombaria. A sensação é de estar no meio de um rio caudaloso, onde as margens são

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distantes e a correnteza é tão forte que a única coisa que se pode esperar é ser arrastado por ela. Por tais amargu-ras também passou o rei Davi. As palavras águas, lama-çal, profundezas das águas e corrente, todas foram usa-das para mostrar a natureza extrema de seus problemas. Seus inimigos eram numerosos, odiosos e poderosos. Davi estava sendo perseguido por causa de suas convicções religiosas, por causa de sua lealdade, fidelidade e zelo pela Casa de Deus. Como Jesus, Davi lutava contra o for-malismo liberal da religião do seu tempo. Sabe como ele venceu essas provações? Oração e amor a Deus. Ao bus-car ao Senhor em oração, seu desespero se transforma em triunfo e suas queixas se convertem em um louvor con-vidativo na presença do Senhor.

Sábado – João 2:13-22

Alguns dias, antes da festa de Páscoa Jesus foi até a cidade de Jerusalém. Quando adentrou ao pátio do Tem-plo, o cenário que encontrou foi escandalizador. A Casa do Pai havia se transformado numa feira-livre, cheia de mesas, cambistas e comerciantes, que anunciavam seus produtos. O memorial sagrado da libertação da escravidão no Egito estava sendo menosprezado. Os líderes religio-sos eram coniventes com estas práticas, pois atendiam seus interesses financeiros. Ao invés de oração, louvor e adoração, gratidão e súplica, as pessoas, esquecidas de Deus, estavam mais preocupadas com o lucro pessoal. Não pensavam em Deus, e sim no dinheiro. Contrariado com o sacrilégio, Jesus improvisou um açoite e expulsou da área do Templo todos os comerciantes e os animais, e mostrou ao povo o real propósito da Casa de Deus. O Senhor viera subitamente ao seu Templo e o purificara (Ml 3:1-3). O incidente fez seus discípulos se lembrarem de uma passagem em um Salmo messiânico: “O zelo da tua casa me consumirá” (Sl 69:9). O zelo pela Casa do Senhor também o tem consumido?

40 Estudos Bíblicos

A Purifi cação do Templo

Pr. Wesley Batista de AlbuquerqueEstudo da Semana: João 2:13-2220 de Abril de 2013

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A OCASIÃO

TEXTO BÁSICO:

Depois ele chegou aos homens que vendiam pombos, e disse: “Tirem essas coisas daqui! Não transformem a Casa do meu Pai em um mercado!” (Jo 2:16, BV)

INTRODUÇÃO

“Mas, de fato, habitaria Deus na terra? Eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que edifiquei” (1Rs 8:27). Estas foram palavras de Salomão quando orou ao Senhor depois que o Tem-plo ficou pronto. A partir daí se desenvolveu uma teolo-gia fortíssima em torno do Templo. O problema é que com o passar dos anos o povo judeu nutriu uma expectativa errada em torno deste símbolo da habitação de Deus com os homens. Verdadeiros desatinos eram cometidos, como bem denuncia Jeremias (Jr 7). Na época de Jesus não era muito diferente. Vejamos como o Filho de Deus lidou com isto, sendo Ele o Messias, a expressão exata do ser de Deus.

O verso 13 afirma que a Páscoa estava próxima,38 e que por este motivo Jesus subiu para Jerusalém. Em com-

38 No âmbito dos estudos exegéticos é salientado que João destoa dos demais evangelistas aqui nesta narrativa. Marcos, Mateus e Lucas posicionam esta narrativa no final do ministério de Jesus, na semana da paixão. João, ao trazer esta narrativa do final do ministério de Jesus para o começo de seu Evangelho, revela o manejo proposital para salientar suas intenções teológicas. Ele não tem interesse primário numa narrativa cronológica, mas sim numa narrativa temática. Ele quer mostrar an-tecipadamente como atitudes de Jesus vão desembocar na crucificação.

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paração aos demais evangelhos, João é o que mais pro-curou situar Jesus dentro das festas judaicas. Seu possível objetivo era o de mostrar como no exercício de seu minis-tério Jesus aprofundou o significado teológico dessas fes-tas. Afinal, tudo apontava para o Messias que traria, por meio de sua pessoa, autoridade, obra e palavras uma nova ordem. Esta nova ordem se manifestou por meio do Reino de Deus. Essa nova ordem traria uma interpretação da Lei que contrastaria com o judaísmo vigente. Tudo ganha-ria um novo espectro sob a ótica do Reino de Deus, que estava vivo e atuante na pessoa de Jesus.

O impacto que Jesus causou na própria compreensão escriturística dos doutores da Lei foi algo estrondoso e extenso (cf. o diálogo com Nicodemos e o discurso em João 6:60-61). Até mesmo os discípulos de Jesus não enten-diam de imediato o significado de suas palavras. O nosso texto de estudo deste sábado é uma prova disso. Perceba que nos dois versos em que está escrito “lembraram-se os discípulos”, fica implícito que o entendimento mais pleno das palavras ditas pelo Mestre, só fizera sentido após o evento da ressurreição.

Com isso em mente, devemos caminhar cautelosa-mente por meio destes versos bíblicos para que não per-camos, com consequência de uma leitura rápida, sua pre-ciosidade, veracidade e amplitude.

Quando Jesus chegou ao Templo se deparou com uma situação que O levou a fazer algo que provoca desconforto em alguns leitores. Afinal, quem poderia imaginar que uma pessoa tão pacífica como Jesus agiria desta maneira? Tal questão só será corretamente compreendida quando entendermos melhor nosso texto. Não permitamos que uma possível avaliação psicológica da personalidade de Jesus ofusque o que o texto realmente quer nos dizer.

A AÇÃO DO MEDIADOR DA NOVA ORDEM

42 Estudos Bíblicos

1. Jesus – aquele que purifica o templo. O verso 14 nos informa o porquê de Jesus se comportar daquela maneira. O pátio do Templo estava repleto de animais e cambistas. O que toda esta estrutura significava? Signi-ficava que as prescrições da antiga aliança estavam em plena vigência. Os bois, ovelhas e pombas eram ofereci-dos em sacrifícios na adoração do templo.39 Este sistema sacrificial tem sua base em Êxodo 12. A festa da Páscoa tinha um significado importantíssimo na vida do povo de Israel. Era a ocasião em que se comemorava a libertação da escravidão egípcia. Na ocasião de sua instituição, todo um aparato como refeições em família, a maneira de cozer o alimento e a maneira de comê-lo estavam incluídas.

Já no que se refere aos cambistas, o que se entende é que eles estavam ali por conveniência. Eles prestavam um serviço aos adoradores. A venda de animais no templo proporcionava uma grande facilidade para os peregrinos. Sem sombra de dúvidas, seria muito mais fácil comprar a vítima do sacrifício ali do que trazê-la de longe.40 Outra boa explicação para os serviços prestados por estes cambistas é oferecida por D. A. Carson:

Pessoas de todo o império romano vinham para Jerusa-lém para as grandes festas, trazendo muitas moedas dife-rentes com eles; mas a taxa do templo, que devia ser paga por todo judeu consciente do sexo masculino, com vinte anos ou mais, tinha de ser depositada em cunhagem tíria (por causa da alta pureza de sua prata). [...] Os cambistas convertiam o dinheiro na moeda aprovada, cobrando uma porcentagem por seu serviço. As mesas dos cambistas não ficavam no local o ano todo, mas somente por volta do tempo em que o imposto do templo era recolhido. Em Jerusalém, isso acontecia de 25 de adar em diante. 41

39 Se os animais foram colocados propositadamente nessa ordem por João não sabemos. Mas é interessante que eles estão dispostos na ordem do mais caro para o mais barato. Assim, só quem tinha uma boa condição financeira é que poderia oferecer um boi (ou novilho).40 Como consequência da Diáspora, muitos judeus fixaram residência em lugares bem além dos limites das terras de Israel.41 CARSON, D. A. O comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 179.

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Se esta era a condição, ou seja, se era um momento tão significativo na história do povo de Israel e os cam-bistas estavam facilitando a aquisição de uma oferta para o Senhor, por que Jesus ficou tão irritado? Mais uma vez Carson explica:

A afirmação de Jesus não é que eles sejam culpados de práticas comerciais desonestas e devam, portanto, refor-mar sua vida ética, mas que eles não deveriam estar na área do templo de forma alguma. Ele exclama: “Parem de fazer da casa de meu Pai um mercado”. Em lugar da solene dignidade e do murmúrio de oração, há o rugido do gado e o balido das ovelhas. Em lugar de quebrantamento e contrição, santa adoração e prolongada petição, há o barulho do comércio. 42

De fato, devemos concordar que o texto em si não diz que Jesus estava confrontando a moral daqueles homens. Contudo não podemos deixar escapar a ideia de que todo aquele aparato comercial era a evidência de um desvio de foco. Ou seja, será que a adoração a Deus era o verdadeiro foco? Será que não havia aproveitadores ali para lucrar com todo aquele câmbio comercial? É possível que sim. A própria denúncia de Jesus vem em tom retumbante: “Não façais da casa de meu Pai casa de negócios” (v. 16). Car-son chega a afirmar que os cambistas estavam utilizando uma área do templo que era designada aos gentios. Sendo assim, eles estavam tomando um espaço que poderia ser utilizado pelos gentios com o objetivo de adorar a Deus.

Além desta explicação, outros estudiosos veem aqui o cumprimento de algumas profecias. Frederick F. Bruce (assim como Carson) concorda que Malaquias 3:1-5 e Zacarias 14:21 ofereciam o pano de fundo para esta atitude do Mestre.43 Aliás, o próprio texto evoca uma passagem do Salmo 69. E em que estas passagens do Antigo Testamento ajudam a entender esta atitude de Jesus? Estas passagens bíblicas nos ajudam a montar o quebra-cabeça da vida e

42 Ibid., p. 179.43 BRUCE, Frederick F. João: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 75.

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da obra do Messias esperado. Havia muita expectativa acu-mulada a respeito da vida deste indivíduo. Segundo as pro-fecias, a vinda do Messias traria muitas mudanças na vida do povo (no âmbito religioso, político e social). O que nos leva a considerar em conjunto as explicações relacionadas acima. As explicações supracitadas têm sua relevância.

O fato, no entanto, era que ninguém saberia exatamente o dia e a hora do surgimento desta figura tão importante. Ou muito menos o seu rosto. As profecias ofereciam pistas, mas não todos os detalhes. Então, é aqui que Jesus age, conforme as Escrituras, para confirmar a legitimidade de sua messianidade. No salmo 69, por exemplo, encontramos Davi sendo perseguido. A pressão e a perseguição exercida por seus inimigos deixaram-no cansado e desfalecido. O mais interessante neste salmo, é que uma das razões pela qual os inimigos de Davi estavam furiosos era porque ele amava o Senhor. Ele estava sofrendo afrontas por causa do nome do Senhor. Sofria retaliações por que amava a Casa do Senhor. O compromisso que Davi tinha com a Casa do Senhor era muito forte e isso também irritava seus inimigos (cf. Sl 42). É assim que este salmo mostra-se num “tipo” de zelo que é comparável ao zelo de Jesus.

Agindo da forma que agiu Jesus esperava que, de alguma forma, os leitores mais atentos das Escrituras fizes-sem a correta conexão entre a profecia e o cumprimento.44 Perceba que é justamente o que João faz! Ao apresentar a nota redacional – “Lembraram-se os discípulos de que está escrito: O zelo de tua casa me consumirá” – João está nos mostrando que houve um entendimento mais profundo sobre aquele episódio um tanto constrangedor, pois quem imaginaria ver o Mestre daquele jeito? Porém, João não diz se os discípulos lembraram-se destas palavras naquela exata ocasião e lugar ou se foi somente após a ressurreição de Jesus.45 Apesar de não podermos afirmar com toda

44 Cumprimento que poderia ser parcial. Isso porque havia profecias de cumpri-mentos múltiplos. Ou seja, uma mesma profecia poderia ter mais de um estágio de cumprimento ao longo da história da redenção.45 Digo isso porque devemos considerar a diferença entre a data do evento e a data da redação do evangelista.

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a certeza, é possível que tenha sido depois da ressurrei-ção. A narrativa dos evangelhos nos dá margem para isso. Podemos nitidamente perceber nas narrativas que os dis-cípulos tiveram o entendimento tardio de muitas das coisas que Jesus fez e ensinou.

Em resumo, podemos ver que este ato de purificação de Jesus se encaixou perfeitamente na obra do Messias. Isso traz algumas implicações muito significativas.

Primeiro, apesar de Jesus, na sequência do diálogo, apresentar a perspectiva de um novo templo (tipológico, obviamente), Ele foi o único que entendeu ali naquele momento como a Casa do Senhor deveria ser reveren-ciada. Longe do que as falsas testemunhas apresentaram ao sumo sacerdote no dia de sua prisão, Jesus não veio se apresentar como um depreciador da religião judaica. Apenas veio trazer à luz aquilo que estava sob o espectro daquelas sombras e símbolos. Jesus, portanto, zela pelo templo de uma forma que nem mesmo os judeus de sua época estavam zelando.

Em segundo lugar, a cegueira espiritual dos judeus era tão lastimável que não viram diante deles o sinal da autori-dade messiânica de Jesus. O zelo de Jesus já era uma cre-dencial de sua autoridade. No verso 18 os judeus vão pedir um sinal, mas o sinal, ironicamente, já havia sido dado, só que eles não perceberam. Mesmo assim, Jesus dará outra credencial de sua autoridade, mas esse é um assunto para nosso próximo tópico.

2. Jesus – aquele que apresenta um novo templo. Conforme dito acima, os judeus ficaram intrigados com aquela atitude de Jesus. Então perguntam: “Que sinal nos mostra para fazeres estas coisas?” (v. 18). Isto é, eles que-riam saber com que autoridade Jesus tinha feito aquilo. A resposta de Jesus é o que podemos considerar a mesma versão dada aos fariseus em Mateus 12:38-40, só que com uma pequena diferença. Ele diz: “Destruí este santu-ário e em três dias o reconstruirei” (v. 19). Obviamente que os judeus não entenderam, nem os discípulos. Tanto que João apresenta mais uma nota explicando que, somente

46 Estudos Bíblicos

depois da ressurreição de Jesus foi que os discípulos se lembraram do que as Escrituras diziam a este respeito (v. 22). Mas o que havia nesta resposta um tanto enigmática que os deixou sem compreensão?

Em primeiro lugar, Jesus estava prenunciando sua morte. Tal coisa foi difícil de entender até que este evento viesse de fato a se cumprir. Jesus indicou não somente quem seriam os agentes de sua execução, como também o tempo que ficaria sepultado. Os agentes seriam os judeus, com o aval dos romanos. O verbo “destruir” está conjugado na segunda pessoa do plural, no original grego. Quando os judeus pediram um sinal, Jesus falou de modo imperativo: “Destruam vocês este templo e em três dias eu o recons-truirei”. O fato de Jesus profetizar sua morte desta maneira os deixou sem compreensão. Outra coisa que precisa ser considerada é que nenhum judeu aguardava um Messias que morresse, ainda mais crucificado. Isso era contraditó-rio, pois a Torá diz que será maldito qualquer um que for pendurado num madeiro.46

Em segundo lugar, eles estavam pensando em ter-mos estritamente materiais. Quando Jesus falou do “tem-plo”, em sua resposta, não estava falando daquele templo físico, mas sim do templo de seu corpo! Aquele templo, que fora construído por Herodes o Grande, era apenas um tipo, uma sombra, da casa favorita de Deus. Em seu corpo, Jesus trouxe a realidade mais exata do templo do Senhor.

Temos um avanço na revelação de Deus, ou seja, um acrescentamento de detalhes que fugiram do escopo inter-pretativo daqueles judeus, e até mesmo dos doutores da Lei.47 Estava diante deles aquele que era maior do que o templo. Porém, ainda assim não entenderam. Na compre-ensão de muitos judeus o templo havia se tornado um fim 46 BRUCE, Frederick F. Paulo: o apóstolo da graça – sua vida, cartas e teologia. São Paulo: Shedd Publicações, 2003, p. 66, 67.47 Confira o diálogo de Jesus com Nicodemos e a mulher samaritana. Isso revela uma tendência do evangelho de João. Ou seja, ele nos mostra, em vários discursos narrativos, como a compreensão dos textos escriturístico por parte do judaísmo da época esbarrou num cumprimento diferenciado na pessoa e obra de Jesus. Jesus causou tumulto mental quando disse: eu sou o pão da vida, eu sou a luz do mundo etc.

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em si mesmo. Na realidade o templo apontava para um fim. Isso fica muito claro, por exemplo, no diálogo de Jesus com a samaritana. Ali é dito que havia chegado um tempo em que os verdadeiros adoradores não mais dependeriam de um lugar físico para adorar a Deus. A adoração se daria em outro nível: em espírito e em verdade. No ensino pos-terior dos apóstolos e escritores do Novo Testamento fica ainda mais notória esta desvinculação do templo, incluindo também seu sistema sacrificial.48 Se na morte de Jesus foi oferecido o único e suficiente sacrifício, então de que adiantaria ficar preso ao templo? É claro que o templo não foi destruído na época de Jesus nem os serviços ministra-dos ali deixaram de ser feitos em sua época. Mas, antes disso acontecer, Jesus já estava dando indícios de que toda aquela estrutura cederia lugar a uma nova ordem. A nova aliança já começava a despontar.

Sem sombra de dúvidas esta atitude de Jesus para com o templo e para com seu corpo não causou resposta de vida aos judeus que lhe pediram um sinal. Porém, na vida dos discípulos foi outra história. Aquilo tudo, às véspe-ras da Páscoa, os ajudou a crer nas Escrituras e na palavra de Jesus (v. 22). Isso significa que eles já não criam antes? Sim, já criam antes. A questão é que o ministério de Jesus se desenvolveu de maneira gradativa. E, à medida que as evidências da messianidade se somavam, mais resolutos os discípulos ficavam sobre quem era Jesus. Que relação fascinante desenvolveram os discípulos! Fizeram a ligação certa entre o texto bíblico e as palavras do Mestre. Que façamos de igual modo nos dias de hoje!

“Mas tendes chegado... a Jesus, o Mediador de uma nova aliança” (Hb 12:22, 24). Este trecho da carta aos Hebreus é uma verdadeira conclusão cristológica. Fico impressionado como o autor parte do evento marcante do

48 A pregação paulina em que nosso corpo é templo do Espírito Santo pode ter se originado deste ensinamento original de Jesus.

APLICAÇÃO

48 Estudos Bíblicos

encontro de Deus no Sinai com o povo, e faz uma aplica-ção centrada na pessoa de Jesus. Mas, o que isso tem a ver com nosso texto de estudos deste sábado? Tem a ver que outrora alguns símbolos (Tabernáculo), locais (como o Sinai), e pessoas (como Moisés e Davi) eram sombras de uma realidade ainda por vir. Ou seja, em Jesus nós encon-tramos a realidade para a qual tudo isso apontava.

No contexto da citação de Hebreus, o autor exortou o povo a seguir a santificação (Hb 12:14). E, ainda acrescen-tou uma razão do porquê buscá-la: “sem a qual ninguém verá o Senhor”. Agora acompanhe o raciocínio. Se o tem-plo simbolizava a morada de Deus, e hoje, sob a revelação da pessoa de Cristo, nós somos esta atual morada (cf. Jo 14:23; 1Co 6:19), então, mais do que nunca, devemos nos santificar. E, se naquela antiga casa Jesus acabou manifes-tando um zelo messiânico, que nem mesmo os judeus reli-giosos de sua época conseguiram alcançar, então devemos atentar para o zelo e o real propósito que Jesus tem sobre nosso corpo ou vida (a atual morada de Deus).

Em suma, lhe pergunto: Você tem uma vida santa? A questão não é o quanto você conhece sobre Deus, mas o quanto tem se dedicado a Deus. Sob o escrutínio da Pala-vra de Deus, afirmaria categoricamente que sua vida é um lugar que Deus tem usado para cumprir seus propósitos?

Há uma canção que gostamos de cantar, a qual diz em certo trecho: “Eu quero ser um lugar, onde o Senhor gosta de estar. Eu quero ser tua casa favorita, quero ser o teu altar”. Então, você quer ser mesmo este lugar? Aliás, está sendo este lugar? Se sim, então que o zelo do Senhor o consuma de tal forma que não faça outra coisa a não ser se assemelhar a Jesus em suas atitudes e gestos! Amém.

1. Que sentido tinha a Páscoa judaica para Jesus? (v. 13)__________________________________________________________________________________________________

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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2. O que Jesus encontrou no Templo? Quais foram as suas ações para purificar o Templo? (vv. 14, 15)___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Com quem Jesus está falando no versículo 16, e qual é o significado de sua declaração?___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Em qual parte das Escrituras as ações de Jesus levaram os discípulos a relembrarem, e qual era o seu significado? (v. 17)___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

5. Por que os judeus desafiaram Jesus a provar Sua autori-dade? Como Jesus lhes respondeu? (vv. 18, 19)___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. Em sua resposta aos judeus, o que Jesus tencionava dizer quando se referiu à destruição e reconstrução do Templo em três dias? A qual templo Jesus estava se refe-rindo em Sua resposta aos judeus? (v. 20, 21)____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. Quando os discípulos finalmente compreenderam o que Jesus quis dizer a respeito do Templo? (v. 22)___________________________________________________________________________________________________________________________________________________

50 Estudos Bíblicos

Domingo – Mateus 5: 13-16

O biólogo inglês Richard Dawkins talvez seja o ateu mais famoso da atualidade. Polêmico, já participou de cam-panhas como a que afixou cartazes em ônibus e outdo-ors nas cidades de Londres (Inglaterra) e Nova York (EUA) com a frase: “Deus provavelmente não existe, portanto vá viver a sua vida”. Um de seus argumentos em defesa do ateísmo é que pessoas em nome de Deus já queimaram semelhantes em fogueiras e jogaram aviões em prédios. Mas não estaria ele culpando Deus pelas atitudes huma-nas? Sim. E o grande problema é que os cristãos se aquie-tam frente a esses ataques. Como sal da terra, nosso tem-pero de amor e esperança tem mudado a vida dos que nos cercam? Como luz do mundo, as nossas atitudes têm refletido a Cristo ou damos argumentos para que as pes-soas neguem ou até acusem a Ele? “Mas eu nunca cometi barbaridades como aquelas!”, você pode dizer. Que bom que jamais chegou a esses extremos. Porém, lembre-se que o mundo nos vê diariamente testemunhando sobre Deus, por meio de nossas ações ou omissões. Seja para o bem ou para o mal.

Segunda-feira – Jó 24:13-17

Nos versos lidos, vê-se a indignação de Jó ao ver pessoas más não receberem punição. Porém, no fim do livro, vê-se a justiça divina. Assim como era nos tempos de Jó, também é hoje. Políticos corruptos roubam verbas da saúde sem se importar que pessoas morram nos cor-redores de hospitais. Criminosos agem sem escrúpulos, e quando são presos muitas vezes têm diversas regalias nos

Cristiano Daniel Fritzen

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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presídios. E a lista segue... Mas qual a nossa postura frente às pessoas que estão em trevas? Não é difícil encontrar “gente de bem” comemorando a morte de bandidos, ou de alguém que irresponsavelmente causou um grave aci-dente. Isto é certo? Este é o dever cristão? Óbvio que não! E, por mais que determinadas situações sejam dificílimas de entender, sabemos que temos o mandamento de amar a todos. Portanto, vamos orar pelos que vivem nas trevas e, como a fé sem obras é nula (Tg 2:17), procuremos alguma maneira de alcançar essas pessoas, que precisam de sal-vação tanto como você e eu.

Terça-feira – Salmo 52

Na situação deste salmo, Davi faz um balanço das escolhas de um homem ímpio e as consequências dessas escolhas. Desde aquele tempo até o século atual, dá para se dizer que os deuses principais do mundo são o poder, o dinheiro e a fama. Por eles as pessoas matam, roubam, mentem, se prostituem, praticam diversas outras más ações e podem até conseguir o que querem. Mas levarão o que depois da morte? Lembremo-nos da parábola do rico insensato (Lc 12:16-21), que buscou apenas saciar as suas necessidades terrenas e com certeza não tinha em mente o primeiro mandamento (Ex 20:3; Dt 5:7). É isso que fazemos quando não colocamos Deus em primeiro lugar na nossa vida. Acabamos cultuando outros deuses e dedi-camos nosso tempo, nossa atenção, nosso existir a eles. Precisamos tomar cuidado para não pormos a nossa fé em outro “deus” que não seja Jesus.

Quarta-feira – Números 21:4-9

Mais uma vez o povo reclamava de Deus. Estava no deserto por desobediência e falta de fé (Nm 13, 14). Em seu descontentamento, Deus permitiu que serpentes

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venenosas invadissem o acampamento dos hebreus. Ao se verem em apuros, e percebendo que sem a ajuda divina nem teriam chegado até onde estavam, recorreram ao Pai Celeste novamente. Mas o método de cura estipulado por Deus exigia fé ao tomar a atitude de olhar a serpente e saber que seriam sarados. Da mesma forma os cristãos, ao serem “mordidos pela serpente do pecado”, precisam agir indo ao encontro daquele que foi levantado num madeiro para nos livrar do pecado, nos sarar e nos perdoar. Pense na cruz e na promessa feita por Aquele que foi pregado lá: “Todo aquele que nele crê, não perecerá, mas terá a vida eterna” (Jo 3:14-15).

Quinta-feira – 2 Reis 18:1-7

Por muito tempo a serpente de bronze confeccionada durante o episódio da invasão de cobras venenosas no acampamento israelita foi guardada. E agora, o povo já estabelecido nas suas terras, ao invés de reconhecer todo o cuidado de Deus, desviava-se novamente dos cami-nhos dEle. A própria serpente de metal, que era apenas um símbolo, agora era um deus que ganhou até nome. Mas, durante a reforma do rei Ezequias ela foi destruída. Com certeza Ezequias precisou de coragem para efetuar a reforma religiosa em Judá, visto que seu pai era idóla-tra, e muitos dentre o povo com certeza também o eram. Igualmente nós também necessitamos ter essa coragem para propagar a notícia do Reino. Creia, Deus nos dará segurança.

Sexta-feira – Neemias 9:9-15

Sob a liderança de Neemias, o povo faz um reconhe-cimento do poder divino e das maravilhas por Ele ope-radas no êxodo dos israelitas do Egito. Mas, no contexto dessa oração, também reconhecem que muitas vezes se

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deixaram levar por pensamentos vindos de outros povos, afastando-se do verdadeiro Deus e, consequentemente, ficaram em trevas. Assim como Deus conduziu o povo no deserto, nos conduz hoje, com a luz que os cristãos veem por meio de Jesus. Mas não podemos repetir os erros do povo e nos desviarmos dessa Luz, perdendo o foco e caindo em escuridão. Deixar-se levar por Sua luz é ter a certeza de que Ele nos acompanha e nos cuida de dia e de noite e nos guiará até a Terra Prometida!

Sábado – João 3:11-21

Já passei pela experiência de oferecer um curso bíblico e a pessoa recusar por saber que na Bíblia encontraria diversos pontos que confrontariam diretamente a religião que tradicionalmente sua família seguiu. Preferiu não sair da sua “zona de conforto”, pois ao aceitar Jesus e mudar o modo de vida, muitos de seus próximos se incomoda-riam. Infelizmente, é com frequência que vemos pessoas se esquivarem da luz divina, por amarem mais a sua tra-dição e o mundanismo. Muitos são realmente “cegos” para as “coisas celestes”, enquanto que outros já têm algum conhecimento, mas simplesmente não aceitam. Tanto em um caso quanto em outro temos a responsabilidade de levar a mensagem de Cristo, pois foi para isso que Ele veio: para salvar o mundo (v. 17).

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O Novo Nascimento

Pr. Gelci André ColliEstudo da Semana: João 3:1-2127 de Abril de 2013

4TEXTO BÁSICO:

Respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus. (Jo 3:3)

INTRODUÇÃO

O evangelista João usou uma variedade de recursos literários para expor sua mensagem do Evangelho. Nosso texto de estudo é um exemplo do uso de alguns recursos. Por exemplo, em todo o Evangelho de João há muitas ocor-rências de pares opostos que dividem a realidade em dois domínios bem distintos: luz e trevas, bem e mal, verdade e mentira, céu e terra, vida e morte. No texto em questão alguns pares opostos também aparecem: carne e espírito, coisas do céu e coisas da terra, luz e trevas. Alguns teó-logos entendem esses pares opostos em João como uma influência da cosmovisão dualista, proveniente do gnosti-cismo. Mas isso não faz justiça ao que João escreveu, pois, seu dualismo é de ordem ética, é um dualismo de decisão.

Outro recurso que encontramos aqui é o dos diálogos. João apresenta algumas situações em que os interlocu-tores de Jesus demonstram incompreensão diante das declarações dEle. Nosso texto é o primeiro desse tipo de diálogo no Evangelho de João. Nesta técnica literária, o evangelista mantém um esquema tripartido: 1) Uma pala-vra de Jesus, geralmente paradoxal; 2) A incompreensão dos ouvintes; e 3) Uma ocasião para Jesus explicar o sen-tido da palavra. Deste modo, a incompreensão requer a explicação de Jesus, e isto reforça o tema do Filho que

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vem revelar o Pai, pois a pessoa natural não compreende as coisas do alto, e somente pelo Filho e pelo crer nEle é que se alcança a revelação.

Nosso texto faz parte de um bloco maior no Evangelho de João, e está bem no meio desse bloco, entre os capítu-los 2 e 4. Deve ser compreendido na narrativa do início do ministério de Jesus em João 2:1-25. Portanto, as narrativas anteriores, capítulo 2, e posteriores, capítulo 4, servem de base para a interpretação dessa mensagem, pois lançam luz ao nosso texto, e esse àqueles, respectivamente.

No evangelho de João, antes do nosso texto, Jesus começou seu ministério em Caná, uma cidadezinha da Galileia. Ali, numa festa de casamento, Jesus transformou água em vinho. A narrativa leva o leitor a refletir sobre a relação do bom vinho com a revelação de Deus na história. A água transformada em vinho apontava simbolicamente para a passagem da antiga para a nova ordem que che-gara com o Filho de Deus.49 Após este evento, Jesus vai a Jerusalém para participar da Festa da Páscoa. No templo, Jesus promove a purificação daquele santuário, algo que ocorre apenas no final de seu ministério nos outros evan-gelhos. No debate com os judeus, Jesus faz alusão a sua futura ressurreição, de modo que nem mesmo os discípu-los compreenderam imediatamente, mas apenas quando Ele ressuscitou dos mortos.

Após o nosso texto, mais uma vez João Batista apa-rece para dar testemunho de Jesus. Embora seja evidente a separação entre a narrativa de Nicodemos e a de João Batista no capítulo 3, não se pode deixar de perceber que as partes formam uma unidade, pois, no texto de João Batista, vários temas do diálogo com Nicodemos são reto-mados. Mais evidente ainda, sobre a ligação entre as duas

49 LEON-DUFOUR, Xavier. Leitura do Evangelho segundo João, v. 1. São Paulo: Loyola, 1996, p. 214.

O TEXTO EM SEU CONTEXTO

56 Estudos Bíblicos

narrativas, é o fato de elas culminarem numa exposição fundamental do objetivo do Evangelho. Quem crer no Filho de Deus tem vida eterna e quem não crer permanece sobre a ira de Deus.50

Na sequência, Jesus vai até o Poço de Jacó, na cidade de Sicar, região de Samaria. Ali Jesus encontra uma mulher junto a poço e inicia uma conversa. Embora esta mulher fosse desprezada duplamente, por ser mulher e por ser samaritana, pelo judaísmo ortodoxo. Em relação a Nico-demos, ambos têm dificuldade de entender do que Jesus falava para eles. Mas, a samaritana conseguiu ir além de Nicodemos e chegou a dar testemunho de Jesus, embora não fosse completamente correta sua compreensão da pessoa de Cristo.51

A cena começa no capítulo 2, verso 23, em que o evan-gelista nos informa que Jesus estava em Jerusalém e ali, por fazer muitos sinais, muitos judeus criam nEle. Interes-sante é a informação de que, apesar de muitos crerem nEle, Ele não lhes dá crédito por conhecer quão volúvel é o ser humano.

A sequência da narrativa insere um fariseu chamado Nicodemos, descrito como alguém muito importante entre os judeus, que procura Jesus para ter uma conversa com Ele. Este encontro de Nicodemos com Jesus só é relatado aqui no Evangelho de João.

Durante a conversa Jesus diz a Nicodemos que ele deve nascer de novo, do alto, pela água e pelo Espírito, como condição sine qua non para ver e entrar no Reino de Deus. O tema do novo nascimento é introduzido como uma alusão ao batismo, que se tornou o rito cristão de iniciação. Nicodemos parece reconhecer Jesus como um mestre

50 LEON-DUFOUR, Xavier. Op., cit., pp. 215-218.51 SMITH, D. Moody. The Theology of the Gospel of John. Cambridge: Cambridge University Press, 1995, p. 28.

A CENA

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enviado por Deus, e as respostas de Jesus parecem ser a perguntas que Nicodemos não fez, de modo que ele não as entende. Perplexo, Nicodemos pergunta a Jesus como seria possível ele nascer de novo, do Espírito (v. 9). Ironica-mente, Jesus provoca Nicodemos dizendo que, sendo ele mestre em Israel, não entende do que Ele fala.

Em João 3:16 Jesus faz uma declaração concentrada da natureza e finalidade da mensagem do Evangelho. Nos últimos versículos de nosso texto, de 17 a 21, descreve-se a natureza crítica do advento do Filho de Deus. Qualquer juízo: condenação ou salvação dependem da resposta da pessoa diante da revelação do Filho de Deus e sua obra salvífica. O encontro entre Jesus e Nicodemos marca um ponto de retorno ao início da narrativa (v. 13). Jesus recebe amigavelmente um representante da elite judaica que antes havia rejeitado de forma rude.

As implicações da narrativa são bem claras. Apesar de muitos judeus terem se entusiasmado com os sinais, Jesus demonstrou certo desprezo pela recepção positiva. Já com Nicodemos foi diferente. A visita à hora da noite por Nicodemos faz do cenário uma ilustração antecipatória da mensagem. Jesus é a luz que dissipa as trevas (vv. 19-21).

Nicodemos, apesar de sua origem étnica, religiosa, e grau acadêmico serem impecáveis de acordo com a tra-dição judaica, não consegue compreender claramente a mensagem. Os rabinos costumavam estudar até de noite, de tão ávidos pela verdade de Deus, mas Nicodemos, como seu representante, demonstra a condição humana diante do Filho de Deus.52 O ser humano natural não con-segue compreender as coisas do alto. Este fato não serve para um julgamento apressado sobre a crença de Nicode-

52 KONINGS, John. Evangelho segundo João: amor e fidelidade. São Paulo: Loyola, 2005, p. 113.

NICODEMOS E O NOVO NASCIMENTO

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mos em Jesus ou não. Sobre isso, a discussão ainda está aberta.

Nicodemos abordou Jesus como uma pessoa dese-josa de saber mais sobre seus ensinos, e não como um descrente ou polemista. Jesus claramente não facilita o aprendizado de Nicodemos, restringindo a conversa à con-dição da necessidade do novo nascimento de Nicodemos, para que ele chegue ao entendimento do que deseja saber. Nascer de novo não se refere à repetição do parto natu-ral, mas à participação e intimidade com as coisas do alto reveladas no Filho.

Nascer da água e do Espírito aponta para o batismo e para a vida em comunhão com Jesus Cristo e sua Igreja. Nicodemos não consegue entender essa linguagem porque ainda não está em comunhão com Jesus.53 No entanto, o fato de que Nicodemos não rejeitou Jesus explicitamente, por defendê-lo (Jo 7:50-51), e por ajudar a sepultá-lo (Jo 19:39), parece indicar uma posterior conversão de Nicode-mos, ou no mínimo a simpatia dele para com Jesus.54

Por três vezes Nicodemos demonstra sua dificuldade em compreender Jesus, como vemos em 3:2, 4 e 10. Nas três respostas Jesus solenemente iniciou dizendo: “Em verdade, em verdade te digo”. O esquema sequencial no diálogo é marcado pela abertura solene de Jesus em suas respostas, para ajudar a especificar, e torna precisa a temática, além, é claro, de esclarecê-la aos olhos de quem crê.55

Na abertura da última resposta, que se torna um monó-logo, Jesus introduz um “nós sabemos e testemunhamos” (v. 11), deixando clara a distância entre Nicodemos e os que ele representa, o judaísmo como um todo, e Jesus e seus discípulos. Não é somente Jesus que sabe das coisas que confundem Nicodemos, mas também os que andam

53 Ibid, p. 114.54 SMITH, D. Moody. Op. cit., p. 28.55 FABRIS, Rinaldo; MAGGIONI, Bruno. Os Evangelhos II: Lucas e João. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2006, p. 308.

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junto com Ele sabem e em comunhão com Ele dão teste-munho delas.

O silêncio de Nicodemos é marcante e deixa, suspen-sas no ar, as alternativas possíveis do ser humano diante do Evangelho. É como se duas comunidades, dois grupos, cujos interesses eram comuns, mas agora se tornaram tão divergentes e opostos, que por falarem línguas diferentes não podem mais conversar.56

O Evangelho é apresentado em alta concentração em 3:16-21, em que a nitidez das alternativas é claramente estabelecida. Antes, Jesus faz uma alusão a sua crucifica-ção e o mistério da revelação de Deus no Filho e o status daqueles que creem nele, têm a vida eterna. A crucificação é pré-anunciada aqui de maneira diferente dos Sinóticos, que a entendem como o sofrimento e martírio de Jesus.

Em João é revestida da noção de elevação e glorifica-ção de Cristo. Portanto, a própria salvação que o Filho traz e o meio pelo qual Ele a realiza são revelação do alto que nenhum ser humano natural pode compreender, é neces-sário o passo de fé.57 Deus enviou seu Filho não para jul-gar, mas para salvar o mundo. Porém, essa salvação pode ser aceita ou rejeitada pelo indivíduo que se depara com a mensagem. O ser humano torna-se responsável por sua atitude diante do Evangelho, cuja salvação é oferecida por Deus por intermédio de Jesus Cristo.

O monólogo de Jesus termina com uma frase crítica: “Quem pratica a verdade se aproxima da luz” (v. 21). Essa expressão é o oposto das obras más no verso 20. Logi-camente, o oposto de obras más deveria ser boas obras. Será que a expressão é recurso estilístico de João para se referir às boas obras? O termo grego utilizado para verdade é aletheia e tende a significar não uma verdade daquilo que é senso comum ou natural, que é conhecida, mas algo que foi desvelado. Isso por que o sentido prático visual do termo é de algo sendo descoberto ao se retirar o

56 LEON-DUFOUR, Xavier. Op. cit., p. 228.57 KONINGS, John. Op. cit., p. 116.

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véu que o cobre. Nesse sentido, a verdade que aqui deve ser praticada só pode ser por meio do recebimento do dom divino, ou seja, ter uma nova compreensão de si mesmo por meio da fé em Cristo. Assim como a vinda do Filho foi iniciativa do Pai, pois Ele deu o Seu Filho Unigênito, assim também parte do Pai, a revelação desta verdade quando alguém a capta com fé. A verdade é conhecida somente por quem não se fecha diante dela.58

A verdade no Evangelho de João não é uma realidade que pode ser aprendida cognitivamente. Por ser divina, deve ser recebida como o plano salvífico de Deus, por meio de Seu Filho, e esta verdade/salvação recebida deve ser construída na realidade do novo nascimento.

O novo nascimento foi para Nicodemos um desafio tão grande que praticamente o “suspendeu imóvel no ar”. O deixou provavelmente paralisado, até que tomasse uma decisão que definiria sua existência. João não relata que decisão Nicodemos tomou, mas deixou claro que Jesus exigiu uma decisão dele e de quem mais quisesse O seguir.

Assim como foi para Nicodemos também o é para nós, hoje: O novo nascimento se desenrola vinculado à com-preensão e recepção do Evangelho com fé viva. Em outras palavras, novo nascimento é arrepender-se e converter-se vindo a crer na pessoa e obra de Jesus Cristo. Também deve ser entendido como novo e do alto, ou seja, sobrena-tural. Como qualquer nascimento natural que tem um dia, um tempo certo marcado para ocorrer, o novo e do alto inicia-se quando o ser humano passa a perceber o estado de densas trevas em que a condição humana o mantém e a necessidade de voltar-se para Deus não se apresenta apenas como uma alternativa, mas única esperança de salvação.

58 HUBNER, H. “alhqeia” in: BALZ, Horst Robert; SCHNEIDER, Gerhard (Eds.). Diccionario Exegético del Nuevo Testamento, v. 1. Salamanca: Ed. Sigueme, 1998, p. 172-180.

NÓS E O NOVO NASCIMENTO

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Os judeus ávidos por sinais, Nicodemos ávido por conhecer mais profundamente as coisas concernentes ao Reino de Deus, são contrastados com João Batista e a mulher samaritana. Estes conseguem, cada um, reconhe-cer quem é Jesus por revelação. Já aqueles, sucumbem no meio das densas trevas que cercam a humanidade. As dúvidas e incertezas naturais do ser humano os impedem de se achegar a Deus com fé.

Nicodemos sentiu a tensão da hora definitiva. Qual foi sua decisão? A nós não nos importa. Ele responderá por ela diante de Deus. A nós, hoje, importa nos atermos a qual é a nossa decisão diante do Evangelho, pois respondere-mos cada um por tal coisa. Importa também nos apercebe-mos se já nascemos de novo, se praticamos a verdade, se estamos na luz e temos a vida eterna.

1. Por que Nicodemos teve dificuldades em assimilar o que testemunhou de Jesus? (v. 11)

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2. Por que os fariseus não aceitaram a verdade sobre Jesus? (v. 12)

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3. Que verdade celestial Jesus declarou a Nicodemos? (v. 13)

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PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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4. Que analogia Jesus usou para explicar sua missão? (vv. 14-15)

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5. Por que Deus deu ao mundo “seu filho unigênito”? (vv. 16-17)

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6. Qual advertência é dada aos que não crerem? (v. 18)

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7. Por que a maioria amou mais as trevas do que a luz? (vv. 19-20)

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8. O que significa “praticar a verdade”? (v. 21)

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Domingo – Salmo 1

O salmista utiliza como exemplo uma árvore plantada junto a ribeiros de água, para nos ensinar algumas lições. A primeira delas é que Jesus é o nosso ribeiro de água. A segunda é que nós somos as árvores plantadas junto a esse ribeiro. A água é fundamental para a existência de toda a fauna e flora. Sem ela nenhum ser vivo subsistiria. Assim, nós também não seríamos capazes de sobreviver sem Jesus. Existem diferenças entre as árvores plantadas junto às águas e as plantadas em outros lugares. Uma delas é que as que estão junto às águas sempre são viço-sas, enquanto que as outras, durante a seca, perdem toda sua vitalidade. Quando estamos plantados junto a Jesus, por mais lutas e dificuldades que passemos, não perdemos nossa alegria, vitalidade e produzimos frutos e uma som-bra agradável. Como é bom estar plantado junto a Jesus!

Segunda-feira – Salmo 42

A sede ocorre quando o nível de água no corpo é insu-ficiente para atender suas necessidades. Outro detalhe é que, quanto maior o corpo, maior é a sede. O salmista diz que tem sede do Deus vivo, ou seja, a profundidade do relacionamento que ele tem com Deus é insuficiente para suprir as suas necessidades espirituais. Isso ocorre por-que ele não está estacionado em sua vida espiritual, cada vez mais está crescendo e se desenvolvendo. Portanto, ele sempre precisa de mais água, isto é, de Jesus. Isso nos faz pensar: Estou com sede de Jesus? Se sim, vamos à próxima pergunta: A quantidade de água que eu preciso é sempre a mesma? Se a primeira resposta for não, ou a segunda resposta for sim, isto é um problema. Enquanto

Daisy Moitinho

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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há tempo, vamos crescer e cada vez mais beber dessa água que é pura e cristalina.

Terça-feira – Apocalipse 22:10-17

O corpo humano é composto de 70% a 75% de água. De acordo com alguns estudos científicos, o ser humano só consegue viver de três a cinco dias sem ingerir uma gota de água. Então, nós precisamos desesperadamente de água para viver. O Senhor Jesus, sendo nosso Criador, sabe desta necessidade. E, neste texto, Ele nos convida a beber água, mas não a água que nós estamos acostu-mados, e sim água da vida. E, além disso, Ele nos oferece essa água gratuitamente. É maravilhoso ver o cuidado do nosso Deus para conosco! Nós precisamos de Jesus, a nossa água da vida, para que tenhamos uma vida espiritual saudável. Consequentemente, todas as áreas da nossa vida serão beneficiadas. Então, vem a pergunta: “Como podemos beber desta água?” A resposta é bem simples: estudando e praticando a Palavra de Deus, orando e tendo comunhão com os irmãos.

Quarta-feira – 2 Reis 17:26-34

Os samaritanos tinham um costume muito comum nos dias de hoje. Servir a dois senhores. O versículo 33 deixa claro que eles serviam o Deus de Israel e também os deuses das outras nações. Hoje, isso ocorre de forma muito sutil. Os outros deuses de nossa vida podem ser, por exemplo, dinheiro, carro, televisão, um time de futebol, um cantor, um artista, a carreira profissional etc. Muitas vezes, esses outros deuses passam despercebidos de nosso entendi-mento. Há algumas formas de verificarmos se temos ser-vido a outros deuses. Uma delas é que “a boca fala do que o coração está cheio” (Mt 12:34). O que nós temos falado? Outra forma de identificação é como gastamos o nosso

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tempo. Nós sempre encontramos tempo para o que gos-tamos. Vamos adorar somente ao único Deus verdadeiro, pois Ele é o único que realmente nos ama.

Quinta-feira – João 4:16-22

O ser humano foi criado com a necessidade de adorar a Deus. Desde a Antiguidade até os dias atuais todas as pessoas adoram a alguém ou a alguma coisa. O problema é que a maioria não conhece verdadeiramente o que ou quem adora. Infelizmente, isso é uma realidade entre os cristãos. Inclusive muitos dos que são assíduos nas pro-gramações da igreja não conhecem o Senhor da Igreja. Para conhecer alguém precisamos dedicar tempo junto com aquela pessoa e estudar sobre ela. Para que nós não caiamos no mesmo erro dos samaritanos, de adorar o que não conhecemos, precisamos desenvolver um relaciona-mento profundo com o nosso Senhor. Isso implica em dedi-carmos todos os dias um tempo de devocional com Ele, lembrando-se de deixar tempo para Ele falar conosco.

Sexta-feira – João 4:35-42

O “ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda cria-tura” (Mc. 16:15) tem sido, muitas vezes, negligenciado por nós. São várias as razões: acreditar que isso é função do pastor e consagrados da igreja, vergonha, medo de não saber o que falar ou não saber responder a uma pergunta etc. O Senhor Jesus disse que os campos estão prontos para a colheita. Há muitas pessoas sedentas por Cristo que só precisam de uma palavra. Além disso, contamos com a ajuda do Espírito Santo. O que precisamos fazer é pregar o Evangelho a todos quantos nos cercam. Mas vamos lembrar o que Jesus disse: “um é que o semeia e outro o que ceifa” (v. 37). Não será todas as vezes que colheremos o fruto do nosso trabalho, assim como muitas

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vezes nós colheremos o fruto do trabalho de outro irmão em Cristo. O que realmente importa é cumprir o ide de Jesus. Vamos colher?

Sábado – João 4:7-15, 23-26, 28-30

A mulher samaritana é uma das primeiras evangelis-tas do Novo Testamento. É muito lindo ver que Jesus não disse para ela anunciar na cidade o que ele havia dito a ela. Antes, ela descobriu quem era Jesus e imediatamente foi anunciar isso para as outras pessoas. Ela não ficou pen-sando no que as pessoas iriam pensar dela. Ela convidou a todos a vir e ver o que ela havia descoberto. Eu imagino o entusiasmo, a alegria e o brilho nos olhos daquela mulher falando de Jesus. Sua atitude levou aquelas pessoas a Jesus. Isso nos traz uma lição: devemos anunciar Jesus com a mesma motivação, entusiasmo e alegria de quando falamos da vitória do nosso time de futebol, por exemplo, pois assim as pessoas também sentirão vontade de conhe-cer o nosso Jesus.

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A Mulher Samaritana

Heloise Gonçalves Nunes LemosEstudo da Semana: João 4:1-4204 de Maio de 2013

5TEXTO BÁSICO:

Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna. (Jo 4:14)

INTRODUÇÃO

Muitos estudiosos abordam o capítulo 4 do Evangelho de João como um manual prático da verdadeira adora-ção a Deus. Mas, este texto é tão rico em ensinamentos que não podemos o restringir ao tema da adoração. Antes precisamos entender outros aspectos relevantes que se desenvolvem antes, durante e depois do diálogo de Jesus com a mulher samaritana.

O estudo de hoje tem como objetivo enfatizar que Cristo rompe todas as barreiras religiosas, culturais ou sociais. Jesus tem uma proposta de eternidade para nós e nosso encontro com Ele é restaurador. Além disto, a boa nova da salvação é para todos. Esta conversa nos levará ao entendimento de que o testemunho do nosso encontro com Cristo pode atrair muitas pessoas a Ele, assim como ocorreu neste episódio.

Não devemos supor que a atividade de Jesus na Judeia tenha sido breve. Uma vez que no verso 35 Jesus pede aos discípulos para calcularem que ainda faltam quatro meses até a colheita, a época deve ter sido dezembro ou o começo de janeiro. Mesmo que Jesus tenha permanecido

ANTES DA CONVERSA

CRISTO ROMPE AS BARREIRAS

68 Estudos Bíblicos

em Jerusalém dias ou até semanas após a Páscoa, ainda restam vários meses para a atuação na Judeia. Somente assim seria possível a formação de um movimento de grande porte e que pudesse causar desconforto aos fari-seus. A Judeia é aquela região da Palestina que está mais firmemente ligada a Jerusalém. Por essa razão, os fari-seus tinham um interesse especial no que acontecia nessa área. Já tinham se oposto a João Batista e, por conta disso, foram alvo de severa crítica por parte deste (Mt 3:7-10). E agora Jesus fazia e batizava mais discípulos que João!59

Jesus sabia que a sua notoriedade era ameaçadora para os fariseus (Jo 4:1-2). Estes repudiaram sua populari-dade, pois a sua mensagem desafiava muitas concepções farisaicas. Entendendo não ser aquele o momento ideal para um confronto com este grupo, Jesus resolve partir dali com seus discípulos para a Galileia, que se localizava na periferia espiritual, um lugar longe do centro da religião. Samaria ficava entre os dois locais e sua população era composta por israelitas miscigenados, o que os fez perder sua pureza racial e, consequentemente, religiosa. Jesus decide fazer essa trajetória não por ser o caminho mais curto, mas por um encargo divino (Jo 4:4).60 Em sua narra-tiva, João é bastante enfático: “E era-lhe necessário passar por Samaria” (v. 4).

Alguns estudiosos, dizem que o caminho natural de um judeu para a Galileia era pelo vale do Jordão, cerca de 175 quilômetros. Mas Jesus escolheu passar por Samaria, uma cidade que ficava entre a Judeia, ao sul, e a Galileia, ao Norte. Afinal, por que este detalhe é relevante? Depois que o reino do Norte, com sua capital em Samaria, foi derrotado pelos assírios, em 722 a.C., muitos israelitas foram depor-tados para a Assíria, e colonos estrangeiros foram levados para colonizar Israel e ajudar a manter a paz (2Re 17:24). A miscigenação racial entre estrangeiros e israelitas resul-tou em um povo mestiço, que se estabeleceu no Reino do

59 BOOR, Werner de. Evangelho de João: comentário esperança. Curitiba: Editora Evangélica Esperança, 2002, p. 65.60 SILVA, Genilson da (Ed.). Quem é Jesus? Lições Bíblicas. Maringá, n. 288, jul./set. 2009, p. 22.

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Norte, e que passou a ser considerado impuro na opinião de judeus etnicamente puros. Estes odiavam os samarita-nos, porque sentiam que seus compatriotas haviam traído seu povo e sua nação com tais casamentos. Os samarita-nos, inclusive, haviam instituído um centro alternativo para adoração no monte Gerizim (Jo 4:20), para concorrer com o templo em Jerusalém. Qualquer judeu mais ortodoxo faria um caminho mais longo, para não ter que cruzar com um samaritano, pois as diferenças religiosas entre esses dois grupos eram sérias e tinham raízes profundas.61

Diante de tantas diferenças e preconceitos, os judeus faziam o possível para evitar viajar pelo território da Sama-ria. Porém, Jesus não tinha razões para viver segundo essas restrições culturais, religiosas ou sociais. A rota por Samaria era a mais curta e foi a que Ele escolheu. Havia um propósito de salvação e restauração naquela cidade e o Mestre não desperdiçava oportunidades. Jesus Cristo se torna a esperança onde pensam não tê-la mais.

A falta da visão da graça universal de Deus tem sido uma barreira para propagação do Evangelho. Muitos cristãos experimentam dessa graça, mas se enrijecem em meio aos preconceitos doutrinários, sociais e culturais. A vida cristã acaba se tornando aquele “caminho mais longo”, aparen-temente, o mais confortável e seguro, o mais frequentado por todos e o mais comum para o nosso grupo, pois não confronta nossas ideias, costumes e nossa realidade.

Jesus escolheu o caminho mais curto para a Galileia. Por este caminho, sabia que encontraria um público mar-ginalizado por seu “grupo”, mas não hesitou em romper as barreiras discriminatórias impostas por eles. Como Filho de Deus, veio ao mundo para mostrar que o grande amor divino está ao alcance de todos. E é nosso dever como discípulos de Cristo romper as amarras do preconceito em nossos dias, e proclamar o Seu grande amor a todos os povos, tribos, línguas e nações.

61 SAWADOGO, Jean-Baptista; MUNGER, Marcia A. O reino, o poder e a glória: uma introdução ao Novo Testamento. Springfield, Missouri: Universidade Global, 2009, p. 15.

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Como judeu Jesus poderia escolher o caminho mais longo. Como Deus, Ele escolheu o caminho mais curto pen-sando na salvação dos samaritanos. Este é um dos capí-tulos que melhor apresenta a humanidade e a divindade de Jesus. Ele se mostra, ao mesmo tempo, como Filho do homem e Filho de Deus. Somente como Deus e como homem Jesus poderia compreender a carência afetiva e espiritual daquela mulher. Em contraste com sua natureza humana e seu pedido simbólico, Jesus oferece à mulher algo duradouro e verdadeiro.62

Após alguns quilômetros percorridos, Jesus e seus discípulos chegaram a uma cidade de Samaria, chamada Sicar. Era mais ou menos meio-dia, quando resolveu dar uma pausa na caminhada para descansar e se alimentar. Jesus se assentou perto do poço de Jacó, coincidindo com o momento em que uma mulher samaritana se aproximava para retirar água do poço.

Onde estariam os discípulos, nessa hora? João diz que eles tinham ido à cidade para comprar comida (v. 8). É importante que tenhamos essa informação em mente, pois esta conversa se desenvolveria de forma tão bela e pro-funda, que qualquer intervenção “imatura” dos discípulos a ofuscaria.

Observemos que nesse encontro inicial o horário em que a mulher samaritana foi ao poço não era o mais apro-priado para realizar tal atividade. Geralmente as mulheres samaritanas buscavam água no poço nos períodos da manhã e ao entardecer, em grupos.63 No entanto, esta mulher ao meio-dia, estava ali sozinha e Jesus dirigiu-lhe a palavra com um pedido: “Dê-me um pouco de água” (v. 7).

Podemos entender o porquê de aquela mulher estar naquele horário. No desenvolver da conversa concluímos

62 SILVA, Genilson da (Ed.). Op. cit. p. 22.63 CARSON, D. A. O comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 218.

UM ENCONTRO NA HORA CERTA

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que ela estava em pecado e isso a afastou do convívio social. Trazendo-lhe até o receio de ser vista num local público por pessoas que conheciam sua reputação.

Vejamos a estratégia usada por Jesus para apresentar a possibilidade de uma nova vida. Ele pediu água à mulher samaritana. Parece um pedido simples, e que, ao atendê-lo, ela faria uma cortesia habitual. Contudo, três fatores impe-diam aquela situação de ser corriqueira. Em primeiro lugar porque Jesus era judeu e ela samaritana, e “os judeus não se dão bem com os samaritanos” (Jo 4:9, NVI). Naquela época, um judeu nunca partilharia o mesmo prato com um samaritano, temendo uma contaminação, devido à impu-reza racial e religiosa. Em segundo lugar, porque na cul-tura judaica um homem não poderia falar com uma mulher. John Stott declara:

Outra característica de Jesus que essa história destaca é a sua atitude para com a tradição. Ele era conservador em relação à Escritura, crendo que ela era a Palavra de Deus. Contudo, era radical em relação à tradição, sabendo que ela consistia somente em palavras humanas. Um radi-cal é alguém que é crítico acerca de todas as tradições e convenções, que se recusa a aceitá-las apenas por terem sido herdadas do passado. A mim me parece que preci-samos de uma nova geração de cristãos conservadores radicais.64

O pedido de Jesus foi o início de um diálogo restaurador. Jesus pede água e a mulher naturalmente expõe sua sur-presa. Jesus era um judeu e ela era, além de samaritana, mulher. Mesmo conseguindo identificar a origem daquele homem, a mulher samaritana fica no plano superficial da conversa, enquanto que Jesus sabiamente já a conduz a um plano eterno.

A mulher samaritana erroneamente creu que se rece-besse a água, que Jesus lhe ofereceu, não teria que retor-

64 STOTT, John. A Bíblia toda, o ano todo: meditações diárias de Gênesis a Apocalipse. Viçosa, MG: Ultimato, 2007, p. 74.

DURANTE A CONVERSA

RESTAURAÇÃO PARA A SAMARITANA

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nar à fonte todos os dias, naquele mesmo horário, para evitar contato ou proximidade com qualquer pessoa que pudesse lhe causar vergonha. A princípio, ela se interes-sou pela mensagem de Jesus porque pensou que sua vida seria mais fácil. Mas se a vida fosse sempre assim as pes-soas aceitariam a Cristo por motivos errados.

Jesus parte de uma pergunta simples para o plano da sede existencial: oferece-lhe água viva. Com uma pers-pectiva superficial, a mulher pede aquela água: “Senhor, dê-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem precise voltar aqui para tirar água” (v. 15, NVI). Ele, então, conduziu o diálogo de modo a fazê-la entender a necessi-dade que tinha de salvação. Ele a surpreende mais uma vez, ao mostrar que conhecia sua vida. Ele sabe seus dese-jos, seus pensamentos, e toca justamente no ponto vulne-rável: pede para chamar seu marido (v. 16). A mulher se esquiva com uma resposta evasiva: “Não tenho marido” (v. 17). Jesus, porém, conhecia as minúcias de sua vida e as desvenda (vv. 17, 18). Frustração, amargura e decepção eram o resultado da sua história de vida. Jesus expõe o pecado que ela fazia questão de omitir, mas não faz para envergonhá-la. Ela, como os demais samaritanos, estava desorientada espiritualmente.65

Conforme Warren Wiersbe, a única maneira de preparar o solo do coração para a semente é ará-lo com a convicção de que se é pecador. Por essa razão, o Senhor mandou que ela fosse chamar o marido, forçando-a a admitir o pecado. Não é possível haver conversão enquanto a pessoa não estiver convencida de seu pecado. Só depois dessa convic-ção e do arrependimento é que a fé salvadora poderá agir. Jesus havia despertado sua mente e suas emoções, mas também era preciso tocar em sua consciência.66

Essa mulher precisava de orientação, apoio e mudança. Tinha ela uma sede interior muito grande que nem a água do velho poço, nem as sucessivas aventuras amorosas, nem as lembranças nostálgicas do antigo templo do monte 65 SILVA, Genilson da (Ed.). Op. cit. p. 23.66 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento, v. 1. Santo André/SP: Geográfica editora, 2006, p. 386.

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Gerizim, destruído cerca de 150 anos antes, podiam satis-fazer. Mas Jesus, “cansado da viagem”, revelou-se a ela como o Messias, chamado Cristo, que estava para vir, e lhe deu a “água viva”, aquela água misteriosa que mata a sede interior e ainda jorra para a vida eterna.67

Cristo não veio para afastar os desafios, mas para mudar-nos interiormente e nos capacitar a lidar com os problemas de acordo com a perspectiva de Deus. Cristo veio para trazer restauração. E quando aquela mulher des-cobriu que Jesus sabia tudo de sua vida particular, rapi-damente mudou de assunto e levantou uma questão polê-mica entre os judeus e samaritanos: “Qual o lugar correto para a adoração?” (v. 20). Será que tal pergunta não era um escape que tinha a finalidade de manter Jesus longe da mais profunda necessidade dela? E não é assim que muitas vezes agimos, quando somos confrontados pela Palavra de Deus, que nos mostra quem verdadeiramente somos e como nos sentimos? O Mestre conduziu a con-versa a um ponto muito mais importante: o lugar da ado-ração não é tão relevante quanto à atitude do adorador. Quem nós somos quando estamos a sós com Deus?

Uma conversa com aquele a quem tanto os samarita-nos esperavam a fez enxergar sua realidade e a querer beber dessa nova vida. Seu desejo agora era o de com-partilhar dessa notícia com todos. À medida que a con-versa evolui, a samaritana compreende que Ele não era um homem comum. De um simples judeu, passa a pro-feta ou, talvez, fosse o tão esperado Messias. Em qualquer outro contexto, Jesus hesitaria em revelar sua identidade, mas aqui não! Ele assume: “Eu o sou” (v. 26), referindo-se ao Messias. O interesse de Jesus era fazer-se conhecido a todos os samaritanos. Diante de tal declaração, a mulher deixou o cântaro junto ao poço, simbolizando que já estava satisfeita espiritualmente e, então, corre à cidade para avi-sar aos seus compatriotas o que lhe acontecera. Seu teste-munho simples conduziu os samaritanos a Jesus Cristo.68

67 Mesmo cansado, Jesus gasta tempo com a mulher samaritana. Revista Ultimato, ed. 288, maio/jun. 2004.68 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 387

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As pessoas mais capacitadas para divulgar o Evange-lho naquela cidade eram os discípulos. Aqueles que dia-riamente tinham o acompanhamento do Seu Mestre, que já tinham presenciado eventos milagrosos e experimen-tado do amor e profunda compaixão de Cristo. No entanto, foram à cidade e voltaram somente com a comida.

Eles não foram capazes de testemunhar aos samari-tanos, muito provavelmente por conta de seus preconcei-tos. Isso é demonstrado quando ao retornarem se surpre-endem com a cena incomum que viram (v. 27). Nenhum ousou questionar sobre o assunto; apenas insistiram em que Jesus se alimentasse (v. 31). Jesus revelou que certas necessidades são satisfeitas somente no âmbito espiritual (v. 32; cf. Mt 4:4). Vendo o embaraço dos discípulos para compreenderem, explicou-lhes que seu alimento era fazer a vontade do Pai (vv. 33, 34). Para Ele, era fundamental atender as necessidades espirituais daquele povo. Usa, então, a metáfora de uma seara, para explicar aos discípu-los a missão deles. Jesus apresenta-se como o semeador e diz que veriam muitos frutos da conversa que tivera com a samaritana. Os discípulos, portanto, deveriam colher os frutos (vv. 35-38).

A mulher pecadora, discriminada e solitária, deixa para trás seu cântaro, corre para a vila e dá a notícia daquele estrangeiro que expôs sua vida diante de seus olhos e lhe ofereceu uma água a jorrar para a vida eterna. E muitos concidadãos seus jamais teriam conhecido a Jesus se não fosse o testemunho dessa mulher, a princípio sem nome, mas com uma visão missionária bem esclarecida. Muitos samaritanos creram pela palavra da mulher, e muitos mais creram pela Palavra de Cristo: “E diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo” (v. 42).

APÓS A CONVERSA, UMA NOTÍCIA:

SALVAÇÃO PARA TODOS

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Jesus não teve que mandar essa mulher espalhar a notícia. Ele não ofereceu aulas de “técnicas de evange-lismo”. Ele tinha plantado nela uma semente de verdade eterna, de modo que ela fosse naturalmente compelida a partilhar as boas novas. A mulher samaritana imediata-mente partilhou sua experiência restauradora com outras pessoas. Apesar da sua reputação, muitos aceitaram o convite e foram ao encontro de Jesus.

Talvez haja pecados em nosso passado dos quais nos envergonhamos, mas Cristo nos restaura e nos transforma. À medida que as pessoas enxergam as mudanças em nós, sentem-se curiosas. Use estas oportunidades para con-duzi-las a Cristo. Seja um instrumento de Deus para mani-festar a Salvação em Cristo a todos que o cercam.

1. Onde Jesus e seus discípulos estavam? Por que eles decidiram ir para a Galileia? Por que Jesus decidiu fazer o caminho mais curto? (vv. 1-6)

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2. Qual era o cenário quando a mulher samaritana encon-trou Jesus no poço de Jacó? (vv. 7, 8)

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3. Por que Jesus pediu água para a mulher samaritana? Qual foi a reação dela? Por que ela ficou surpresa? Como respondeu ao pedido de Jesus? (v. 9)

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4. Que verdade, Jesus realmente queria compartilhar com a mulher samaritana? Como interpretou as palavras de Jesus? (vv. 10-12)

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

UMA PALAVRA FINAL

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5. Como Jesus aproveitou da ênfase na necessidade por água e elevou a conversa para o campo da necessidade de “água espiritual”? (vv. 13-15)__________________________________________________________________________________________________

6. Por que Jesus teria pedido para falar com o marido da mulher samaritana? Que tipo de conhecimento Jesus demonstrou sobre a vida dela? Quem ela entendeu ser Jesus? (vv. 16-19)__________________________________________________________________________________________________

7. Por que a samaritana levantou a questão sobre a verda-deira adoração? Que verdade sobre o Messias os samari-tanos partilhavam com os judeus? (vv. 20-26)__________________________________________________________________________________________________

8. Que comportamento não convencional os discípulos perceberam em Jesus quando retornaram? Por que os dis-cípulos não estavam com Jesus? O que poderia ter acon-tecido se eles estivessem? (v. 27)__________________________________________________________________________________________________

9. Por que a mulher deixou seu cântaro e retornou à cidade? O que ela fez em seguida? Por que foi importante o teste-munho da mulher samaritana? (vv. 28-30)__________________________________________________________________________________________________

10. Jesus partiu de uma necessidade cotidiana (água) para falar de uma necessidade espiritual (salvação). Como você pode em seu ambiente de trabalho, escola, na sua vizi-nhança, usar coisas corriqueiras para falar de Jesus?_________________________________________________

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Daisy Moitinho

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

Domingo – Mateus 9:9-13

Misericórdia é compaixão pela desgraça alheia. O Senhor Jesus espera que sejamos misericordiosos. O ver-sículo 13 diz: “Misericórdia quero e não sacrifícios”. Quando lemos os evangelhos percebemos que os fariseus se pre-ocupavam muito com sacrifícios, mas não com a miseri-córdia. Jesus várias vezes os admoestou sobre isso. Nos dias atuais, não é diferente entre os cristãos. Muitas vezes fazemos muitos sacrifícios para nos mostrarmos santos como os fariseus, mas não faltam desculpas quando pre-cisamos exercer a misericórdia. Para colocar a misericór-dia em prática é necessário perceber e compreender as necessidades das pessoas. Lembre-se: Jesus não curava somente as pessoas que o procuravam. Algumas vezes, Ele se dirigiu até estas pessoas.

Segunda-feira – Mateus 12:14-21

O versículo 20 diz que Jesus “não esmagará um galho que está quebrado, nem apagará a luz que já está fraca” (NTLH). O nosso Deus é verdadeiramente um Pai amo-roso, que nos conhece. Uma vez eu ouvi esta frase: “O exército de Cristo é o único exército a abandonar e matar seus soldados feridos”. Eu fiquei muito triste, pois era ver-dade. Quantas vezes eu já presenciei irmãos sofrendo e que, ao invés de receber uma palavra de amor e ânimo, receberam acusações e julgamentos. Eu creio que um dom que a Igreja necessita urgentemente é o de discernimento de espírito, para saber como reagir de forma coerente ante as situações. Nós precisamos começar a exercer a regra de ouro: “Ame ao próximo como a ti mesmo” (Mt 22:39).

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Em suma, antes de agir, responda a essa pergunta: “Eu gostaria que me tratassem dessa maneira?”.

Terça-feira – Lucas 4:14:21

Imagine o susto e a surpresa das pessoas que estavam na sinagoga naquele sábado. De repente, descobrem que uma pessoa comum da comunidade deles era o Messias. Eles tiveram o privilégio de ver uma profecia se cumprindo. Por outro lado, Jesus conhecia aquelas pessoas e sabia o que estava no coração delas. O texto por duas vezes diz que o Espírito do Senhor estava sobre Jesus. E, por esta razão, Ele faria milagres e evangelizaria as pessoas. Nós vemos isso se cumprindo nos quatro evangelhos. Isso nos traz uma lição: que nós também precisamos estar cheios do Espírito do Senhor para anunciarmos as boas novas de Jesus às pessoas. Para isso, necessitamos ter uma comu-nhão mais profunda com o Espírito Santo permitindo que Ele opere em nós e por meio de nós.

Quarta-feira – Lucas 7:18b-23

João Batista, devido ao sofrimento, começou a duvidar se Jesus era realmente o Cristo. João foi testemunha do que aconteceu no batismo de Jesus. Ele tinha provas irrefutáveis de que Jesus era o Cristo, mas a injustiça, a prisão e o iso-lamento colocaram dúvidas em seu coração. Assim como João Batista, nós também, às vezes, devido às tribulações e angústias de nossa vida, somos tentados a duvidar de Jesus e a nos esquecermos de todas as bênçãos e provas que Ele já nos deu. Mas Jesus, em sua infinita misericórdia e amor, responde à pergunta de João Batista citando o cum-primento das promessas de Isaías 61:1. Para João com-preender a resposta de Jesus, ele precisaria conhecer as Escrituras. Isso vale para nós também, pois o Senhor Jesus

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responde às nossas dúvidas dentro da Sua Palavra. Mas se nós não a conhecermos não entenderemos a resposta.

Quinta-feira – Marcos 5:25-34

Assim como a mulher hemorrágica, nos dias de hoje vemos as pessoas com muita confiança nos seus bens materiais, na tecnologia, na medicina e na ciência. Quando tudo isso falha, as pessoas buscam o auxílio divino. Mas para o Senhor Jesus solucionar o problema de quem O procura é necessário ter fé nEle. Sabemos que “de fato, sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11:6). A fé é fun-damental para sermos salvos e termos um relacionamento com Deus. Não adianta lermos a Bíblia, orarmos, jejuar-mos e irmos à igreja se não tivermos fé. A mulher do fluxo de sangue só recebeu a cura porque teve fé. Nos evange-lhos lemos várias vezes “a tua fé te salvou” e “vai e seja feito conforme a tua fé”. Para refletir: O que aconteceria se Jesus respondesse às nossas orações com esta frase: vai e seja feito conforme a tua fé?

Sexta-feira – Marcos 1:40-45

Quão maravilhoso é lermos “Sim, Eu quero! Seja curado” (v. 41). É tão bom saber que o nosso Pai conhece as nossas necessidades e que de bom grado quer suprir todas elas. O que precisamos é pedir reconhecendo que Ele é o Senhor. O Senhor Jesus faz além do que Lhe pedi-mos. No caso deste leproso, ele não apenas curou o seu corpo físico, mas também a sua alma rejeitada. Quando o Senhor Jesus se compadeceu profundamente daquele homem, talvez pela primeira vez em anos ele se sentiu amado e aceito. Mas Jesus não parou por aí, Ele ainda o tocou. Depois de tanto tempo sendo rejeitado, sem poder tocar e ser tocado por ninguém, não sabemos a dimen-são da alegria que aquele homem sentiu quando Jesus o

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tocou. Quando o Senhor Jesus responde: “Sim eu quero! Seja curado”, é muito mais do que nós pedimos a Ele.

Sábado – João 5:1-15

O tanque de Betesda era a esperança para os enfermos na época de Jesus, pois representava uma casa de mise-ricórdia. Ali havia um paralítico com fé e esperança de ser curado. Para sua surpresa a sua cura não veio do tanque, mas do Senhor dos milagres que ali se encontrava. Mui-tas vezes vamos à “Casa de Misericórdia”, que é igreja, e acreditamos que a resposta aos nossos problemas virá do púlpito. Mas, como o nosso Deus não pode ser limitado pelos nossos costumes, Ele nos responde de formas ines-peradas e surpreendentes. Ele sabe quanto tempo esta-mos esperando e sofrendo. E, quando menos esperamos, Ele nos pergunta: “Queres ser curado?” Que nós seja-mos como esse paralítico, que, mesmo após 38 anos de enfermidade, não desistiu de esperar em Deus a sua cura.

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A Cura do Paralítico

Pr. Bernardo Ferreira Inácio JuniorEstudo da Semana: João 5:1-1811 de Maio de 2013

6TEXTO BÁSICO:

Jesus viu o homem deitado e, sabendo que havia muito tempo que ele estava doente, perguntou-lhe: “Você quer ficar curado?”. (Jo 5:6, NTLH)

INTRODUÇÃO

O contexto da situação, na porção do Evangelho estu-dada nesta lição, traz informações sobre a existência de um local para onde concorriam enfermos de várias catego-rias, os quais se aglomeravam nos pavilhões “de um tan-que, que em aramaico, é chamado Betesda” (v. 2, NVI), em busca da tão sonhada cura, por meio de um evento que ocorria apenas uma vez por ano. Acreditava-se que um anjo vinha e movia as águas e que o primeiro a ser posto dentro do tanque, “depois de agitada as águas, era curado de qualquer doença que tivesse” (v. 4, NVI).69 Ora, um lugar com essa fama de poderes terapêuticos atraía “um grande número de pessoas doentes e inválidas: cegos, mancos e paralíticos” (v. 3, NVI). Era uma verdadeira multidão de peregrinos que não media esforços para obter alívio ao seu sofrimento.

João nos informa que entre todos aqueles doentes encontrava-se certo homem acometido de uma parali-sia que o assolava havia 38 anos e que, provavelmente, já estava ali junto ao tanque há bastante tempo (v. 5). Foi a esse homem que o Senhor Jesus se dirigiu em meio

69 O fim do versículo 3 e todo o versículo 4 constituem uma expansão primitiva do texto original. Trata-se, na verdade, de uma glosa marginal que reflete uma crença popular sobre a causa da agitação da água. A versão Almeida Revista e Atualizada a identifica com colchetes.

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àquela multidão, perguntando-lhe se desejava ser curado (v. 6). Essa era uma pergunta aparentemente absurda, visto que isso parecia óbvio. Com um lamento na voz, o homem respondeu que não havia quem o pusesse nas águas quando estas eram movimentadas pelo “anjo”. E, concluiu: “Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim” (v. 7, NVI). Diante disso, Jesus simples-mente lhe ordena que levante, tome seu leito e ande. E a cura se estabeleceu naquela vida (vv. 8,9).

Esse episódio é de uma riqueza imensa, no sentido de compreendermos melhor os processos de adoecimento que nos atingem, bem como a forma como eles são explo-rados por um sistema de crenças que nada mais é que invenção de homens. Assim sendo, em nosso estudo de hoje, vamos analisar esta história sob o ponto de vista espiritual, emocional e psicológico, extraindo dela algumas lições para a nossa existência.

João começa o seu relato dizendo que “algum tempo depois, Jesus subiu a Jerusalém para uma festa dos judeus” (v. 1, NVI).70 Quando ali chegou, Ele se dirigiu ao local onde existe um “um tanque que, em aramaico, é cha-mado Betesda, tendo cinco entradas em volta”, e que fica “perto da porta das Ovelhas” (v. 2, NVI). O tanque era tra-pezoidal, medindo entre 50 a 67 metros de largura por 96 metros de comprimento. Havia quatro colunatas, mais uma sobre a partição, formando, assim, os cinco pórticos men-cionados por João.71 Betesda era um lugar não muito pra-zeroso de se visitar, era um lugar onde mendigos, doentes, paralíticos, cegos e coxos se ajuntavam à espera de uma

70 Havia três festas judaicas que eram festas para guardar: Páscoa, Pentecostes e a Festa dos Tabernáculos. Todo homem judeu adulto que vivesse a 30 quilômetros de Jerusalém tinha a obrigação legal de assistir a elas.71 BOCK, Darrell L. Jesus segundo as Escrituras. São Paulo: Shedd Publicações, 2006, p. 415.

O CENÁRIO

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cura. Um lugar de desespero onde muitos jaziam mortos, mesmo ainda tendo vida. Esse era um lugar de muita dor, de feridas purulentas, de impotência manifesta, de defor-midades explícitas e chocantes, de gemidos de amargu-ras e de cansaço existencial, de expressões frequentes de desesperança e de mágoas.

Porque essas pessoas jaziam ali no pátio do tanque, uma praça de calamidade, de agonia, de gemidos e de dores, esse lugar chamado Betesda é aqui no texto cla-ramente definido pra nós em duas perspectivas. Senão, vejamos.

1. A limitação geográfica da cura. Se alguém qui-sesse ser alcançado por um milagre de cura precisaria ir a um determinado endereço, que ficava perto da porta das Ovelhas, e entrar num local, que tinha cinco pavi-lhões, chamado em hebraico Betesda, que significa “Casa de Misericórdia” (v. 2). Agora, perceba que esse lugar da misericórdia tem limites: tem cinco pavilhões e um tanque. Isso é que é extraordinário e a lição para nós está no fato de que, quando a fé se mistura com os lugares sagrados, surgem os limites para a graça de Deus. Quando você faz com que a manifestação da graça de Deus se associe a um lugar sagrado; a uma pessoa ungida especial; a qual-quer elemento de conteúdo simbolicamente religioso, você pode ter certeza: a misericórdia vai ficar do tamanho do tanque; vai ficar do tamanho do que você oferece para ela. Ela não será maior do que o tanque que você diz que ela pode se manifestar.

Deus não está enclausurado em um endereço fixo. Antes de morrer, Betsie disse à sua irmã Corrie Ten Boom: “Não há abismo tão profundo que o amor de Deus não possa alcançar”. Esta frase foi dita enquanto ambas esta-vam presas no campo de concentração de Ravensbruck, na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial. Até mesmo naquele “poço profundo”, o amor de Deus foi anun-ciado. Por mais profundo que seja o sofrimento, o Senhor

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pode ir além.72 O centurião que abordou Jesus disse-lhe: “Não sou digno de que entres em minha casa, mas dize uma só palavra e meu criado será curado” (Mt 8:8). E lá onde o servo estava a cura chegou. O Senhor Jesus afir-mou que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18:20). De modo que não há endereços sagrados, mas pessoas que são santi-ficadas pela presença do Senhor de onde quer que invo-quem seu Nome.

2. A limitação temporal do agir de Deus. O relato diz que o fenômeno do movimento das águas só ocorria uma vez a cada ano (e ninguém sabia a data). Portanto, todos tinham que ficar ali esperando, pois a qualquer dia, nin-guém sabia quando, segundo a crença popular, um anjo descia do céu e agitava a água e o primeiro que conse-guisse pular naquela água agitada era curado de qualquer mal que tivesse. Percebe-se que isso limita de forma gro-tesca a graça de Deus, como se ela estivesse sujeita a horas definidas e a lugares específicos, como podemos verificar em muitos movimentos religiosos de nosso tempo, em que há dia e lugar marcados para cura; outro, para libertação; outro, para que as finanças sejam abençoadas e, assim, sucessivamente.

É triste constatar que esse sistema religioso arrebanha multidões, como podemos observar no próprio texto. Hoje vemos milhares de pessoas que estão tão somente inte-ressadas em “movimentos de cura” que, supostamente, venham trazer-lhes novo ânimo e realizar-lhes os desejos do coração. Enquanto isso, o Senhor Jesus passa des-percebido, é retirado do centro e colocado na posição de mero coadjuvante em meio a modismos de toda sorte, que embriagam de mentira e iludem mentes fragilizadas pelas dores da vida, desviando-as da essência do Reino

72 BOOM, Corrie Ten. O refúgio secreto. Belo Horizonte: Betânia, 2000, p. 308.

A SITUAÇÃO

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de Deus, ou seja, da paz, da justiça e da alegria no Espírito Santo.

O mais estarrecedor é que toda essa história de um anjo descendo e movimentando as águas não passava de uma crença surgida em torno daquele lugar. Crença essa que se propagou de modo intenso, mostrando-nos que, em inúmeras ocasiões, o marketing tem-se constituído como grande responsável pelo despertar do interesse das pessoas, e não o Evangelho da verdade. Os fenômenos sobrenaturais chamam intensamente a atenção de muitos, embora tenhamos um Deus que se revela na simplicidade dos fatos cotidianos e naturais da nossa vida e que está interessado, acima de tudo, na verdade da Sua Palavra, e não em fantasias espetaculares, cuja finalidade é impres-sionar seres fragilizados.

Mesmo diante de tal quadro, é consolador saber que Jesus visita àqueles que são vitimados por esse sistema perverso, muito embora também possuam responsabili-dade com respeito à condição em que se encontram.

Neste ponto, vale a pena destacar quais foram as atitu-des de Jesus em relação àquele homem.

1. Jesus começou perguntando ao homem se queria ser curado. João diz que Jesus passa por ali, vê aquele homem e notou que “estava assim havia muito tempo”(v. 6); então procurou despertar sua vontade e lhe excitar a sua esperança com a pergunta: “Você quer ficar curado?” (v. 6, NTLH). A pergunta de Jesus apontou para o coração do problema. Será que este homem queria realmente ser curado? A pergunta pode parecer estranha, mas é possível que, depois de tantos anos nesta condição, o homem pre-feria não enfrentar os desafios de uma vida sadia normal.73

Em psicologia, há uma terminologia definida como “ganho secundário da doença”, que seria um mecanismo psíquico desenvolvido pelo fato de o sujeito perceber que sua enfermidade lhe traz benefícios, como, atenção, com-

73 CARSON, D.A. O comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 115.

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paixão, solidariedade e, em muitos casos, recompensas financeiras.74 Quando Jesus faz a pergunta ao homem, referente ao desejo de cura, isso indica que existia a possi-bilidade de, inconscientemente, ele não desejar ser curado. É possível que aquele homem tivesse feito uma espécie de pacto com sua doença e a ela se apegado de tal maneira, que foi necessário Jesus lhe perguntar se desejava real-mente livrar-se daquela condição. Poderia ser que no mais íntimo de seu coração se sentisse satisfeito de continuar sendo um inválido porque, se ficasse curado, teria que enfrentar-se com todo o peso de ganhar a vida e assumir novamente todas as suas responsabilidades.75

Perceba que a resposta do homem não foi claramente um sim, como era de se esperar, mas apresentou imedia-tamente uma dificuldade que justificaria o fato de que ele estaria fadado a carregar aquela paralisia até o fim de seus dias. Ante à pergunta, ele respondeu à Jesus: “Senhor, não tenho ninguém que me ajude a entrar no tanque quando a água é agitada. Enquanto estou tentando entrar, outro chega antes de mim” (v. 7, NVI). A resposta do homem revela que a pergunta de Jesus é a pergunta mais crucial a se fazer a um doente, porque não existe cura possível se o doente não quiser ser curado. Um doente que exerce o seu livre arbítrio para alimentar as suas doenças tem a liberdade de ficar doente até morrer. A resposta do homem revela que a pergunta de Jesus estava carregada de uma análise divina que trazia das vísceras dele a verdade sobre o real desejo de cura.

Isso é mais real e corriqueiro do que podemos imagi-nar, inclusive, dentro da dinâmica familiar, em que, muitas vezes, se percebe uma configuração na qual existe uma pessoa adoecida, não necessariamente de uma enfermi-dade orgânica, porém de um transtorno qualquer, e que

74 CHIATTONE, H. B. C., SEBASTIANI, R. W. A ética em psicologia hospitalar. in ANGERAMI-CAMON, V.A (org). A ética na saúde. São Paulo: Pioneira, 1997, p. 111-140.75 BARCLAY, William. Comentario al Nuevo Testamento. Barcelona: Editorial Clie, 2006, p. 411.

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se mantém em tal posição, por um lado, com o objetivo de ser cuidada; por outro, como uma espécie de bode expiató-rio, de depósito de todas as mazelas psíquicas dos outros membros, ou seja, alguém que adoece para os outros per-manecerem com a sensação de que estão sadios.

2. Jesus ordenou ao homem que tentasse o impos-sível. Diante daquele quadro, o Senhor Jesus usa sua autoridade e dá três ordens ao homem: “Levante-se! Pegue a sua maca e ande” (v. 8, NVI). O objetivo final era fazê-lo andar. Para isso, contudo, teria que passar, antes, por outros dois momentos:

Em primeiro lugar, precisaria levantar-se de sua condi-ção de parceiro da própria enfermidade, de autocomisera-ção, da postura de vítima, na qual se encontrava deitado literalmente. O homem poderia haver dito, com ressen-timento e dor, que isso era exatamente o que não podia fazer, mas ele decidiu obedecer à ordem do Senhor Jesus.

Em segundo lugar, necessitaria carregar e não ser carregado, tomar a responsabilidade por sua existência, trocar de função com seu leito – o que antes o conduzia, agora, teria que ser conduzido por ele. E, assim feito, o homem pôde, de fato, andar, isto é, viver sua existência neste mundo dia após dia contando com “suas próprias pernas”.

Faz-se necessário, portanto, tomar atitudes em direção às palavras de Jesus, pois elas são Espírito e Vida. Seus decretos têm o poder de desfazer os processos de morte que se desenvolvem no íntimo da natureza decaída, trans-formando-a pela ação regeneradora do Evangelho que livra a alma da paralisia imposta pelo pecado.

Precisamos fazer um exercício de autoavaliação em busca de possíveis estados doentios que, porventura, habi-tem nosso ser, pois é possível acostumar-se, realmente, ou mesmo fazer uma espécie de parceria com aquilo que de ruim se instalou em nós. Isso é extremamente perigoso, pois viver dessa forma é colocar-se à mercê daquilo que trará destruição.

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A partir desse momento, quando a palavra do Cristo trouxe cura para aquele homem, vemos a hipocrisia fari-saica em ação, na medida em que suas tradições eram colocadas acima das necessidades das pessoas. Os líde-res dos segmentos religiosos dos tempos de Jesus costu-mavam distorcer a lei de Deus, acrescentando-lhe deta-lhes, conforme suas próprias interpretações. Assim, che-gavam ao absurdo de considerarem uma cura realizada num sábado como sendo uma afronta à vontade de Deus.

É importante sabermos que as concepções acerca da Lei variavam dentro do judaísmo de acordo com o entendi-mento dado pelas escolas rabínicas. Definiam, por exem-plo, até a distância que seria permitida percorrer num dia de sábado sem que tal jornada fosse uma transgressão e, assim, diferiam em suas posições, perdendo-se em ques-tões insignificantes que somente atavam fardos cada vez mais pesados nos homens.

Essa postura religiosa constituía um dos fatores que, de certo modo, produzia “os tanques de Betesda”, ou seja, lugares repletos de pessoas extremamente carentes e sofridas, em busca de respostas mágicas para seus pro-blemas, enquanto os clérigos permaneciam passivos em suas cerimônias, deixando-as depositar sua confiança em um “movimento de águas”.

Hoje, presenciamos um panorama religioso que tam-bém é deveras adoecedor, na medida em que põe o foco na bênção material e a ela associa a fé bíblica e a fideli-dade a Deus. Isso deixa aqueles que não obtêm o mila-gre sentindo-se culpados por sua falta de fé ou revoltados com um “deus” que promete e não cumpre. Ora, a maio-ria das coisas que são propagadas como promessa de Deus nunca foi por Ele prometida. Jesus nunca disse que a vida seria um “mar de rosas” e, se houve alguém que prometeu tudo, caso fosse adorado, esse alguém não foi

O SIGNIFICADO

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o Cristo. Enquanto tal sistema vai alimentando culpa, por um lado; ganância e revolta, por outro, as pessoas vão se aglomerando e criando as novas multidões dos enfermos de Betesda, aprisionados e adoecidos, necessitados da palavra que cura verdadeiramente, que seguem sofrendo e confiando em falácias cheias de engodo e sedução sem ter quem lhes abra os olhos espirituais.

No meio daquela multidão que se aglomerava junto ao tanque, havia, certamente, muitos que precisavam ape-nas de atenção, da empatia de alguém disposto a ouvir suas angústias e aflições. Claro que ali se encontravam pessoas com doenças orgânicas de fato, mas até essas podem ser aliviadas quando há uma atitude de afeto vol-tada para aquele que sofre. Quando falou de sua segunda vinda, Jesus disse: “Estive enfermo e não foste ver-me” (Mt 25:36). Ou seja, não há aqui uma obrigação de ir e curar, mas de ir e ver, doar sua presença, seu tempo, seus ouvidos à dor do outro. Deus não está tão interessado em atitudes cerimoniais, mas muito mais voltado para o amor que se manifesta na fome e na sede de justiça. No livro do profeta Isaías, contemplamos o jejum que agrada ao Senhor, a saber: “Soltar as correntes da injustiça, desatar as cordas do jugo, pôr em liberdade os oprimidos e romper todo jugo”. E mais: “Partilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encon-trou, e não recusar ajuda ao próximo” (Is 58:6,7, NVI). É preciso que jejuemos de nós mesmos, que abramos mão de interesses egoístas em favor do outro que padece em meio a grandes aflições e necessidades. Inclusive, nesse mesmo texto, são citados os efeitos maravilhosos na vida daqueles que praticam tal jejum: “Então, tua luz romperá como a alva e a tua cura apressadamente brotará; justiça irá adiante de ti e glória do Senhor será tua retaguarda [...]

UMA PALAVRA FINAL

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o Senhor te fartará em lugares secos e a tua escuridão será como o meio-dia” (Is 58:8-10).

Vivemos sobrecarregados de angústia porque nos satu-ramos de nós mesmos, de nossas próprias dores e tormen-tos, dos quais passamos grande parte do tempo a pensar e a remoer, vivenciando uma verdadeira indigestão na alma de tanto que nos alimentamos desses conteúdos. A cura nos é proposta pelo Senhor e passa pelo jejum capaz de nos fazer renunciar a algo de nós mesmos. É necessário, então, realizar uma visita aos “tanques de Betesda” de nos-sos dias, não em busca de um anjo que movimenta águas, mas, sobretudo, do próximo que está sobrecarregado com jugos que o oprimem, para livrá-lo, pois, para isso, veio sobre nós o Espírito do Senhor. Amém!

1. Por qual razão Jesus subiu para Jerusalém? Onde ficava o tanque chamado “Betesda”? Por qual razão uma multi-dão ficava próxima a esse tanque? Que tipo de pessoas compunha essa multidão? (vv. 1-4)

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2. Há quanto tempo aquele paralítico estava enfermo? Por qual razão Jesus perguntou ao homem inválido se ele que-ria ficar curado? (vv. 5-6)

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PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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3. Partindo da resposta do paralítico, qual era o entendi-mento dele sobre Jesus? (v. 7)

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4. Em qual dia da semana Jesus realizou este milagre? Segundo os críticos, Jesus estaria quebrando algum man-damento? No zelo deles em aplicar esse mandamento o que eles deixaram de ver sobre Jesus? (vv. 9-15)

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5. O que Jesus quis dizer ao paralítico quando lhe ordenou: “Não volte a pecar, para que algo pior não lhe aconteça”? (v. 14)

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6. Jesus explica aos judeus que a obra da criação terminou ao sétimo dia, mas não a obra da compaixão (vv. 16-17). Por que essa explicação deixou os inimigos dEle ainda mais determinados a matá-lo?

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92 Estudos Bíblicos

Domingo – João 6:1-15

Nesta passagem Jesus ensinou pelo menos três lições aos seus discípulos: 1ª) Devemos, sim, nos importar com as necessidades físicas do nosso próximo. O Mes-tre não se preocupou apenas em alimentar o espírito dos seus seguidores, mas o corpo também; 2ª) Deus está sem-pre no controle. Jesus já sabia o que iria fazer, porém, fez questão de provar a fé de Filipe, como faz muitas vezes conosco; 3ª) O pouco com Deus é muito. Não importa o que você tem, use-o para o Senhor. Coloque a sua vida na mão de Deus e Ele fará maravilhas. Ainda existem multi-dões que precisam ser alimentadas, tanto espiritual como fisicamente. A lição já nos foi ensinada pelo nosso Salva-dor. Será que ficaremos olhando para as nossas limitações ou olharemos para aquilo que temos em nossas mãos? Seja pouco ou muito, use para o Senhor.

Segunda-feira – João 6:16-21

Esta passagem me fez lembrar uma canção intitu-lada “Deus nos surpreende”. Jesus preferiu não subir na embarcação para atravessar o mar, antes optou por dedi-car um tempo a mais em oração (Mt 14:23), e, quando o barco já estava a quase 5 quilômetros da praia, Ele vai ao encontro dos seus discípulos. O detalhe é que o Mes-tre não foi em outro barco ou muito menos nadando, foi caminhando sobre as águas de um mar agitado pelo vento. É maravilhoso saber que o nosso Deus não se limita às leis da física, da natureza ou qualquer outra lei que impere sobre este mundo. Ele, a todo instante, nos surpreende,

Pr. Renato Sidnei Negri Jr.

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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vindo ao nosso encontro da maneira que menos espera-mos.

Terça-feira – João 6:36-40

A vontade de Deus é clara: que “todo homem que vir o Filho do homem e nele crer tenha a vida eterna”. Mui-tas pessoas têm desprezado essa dádiva ou tentam alcan-çar a salvação por outros meios, ou por meio de outros “profetas” que enganam ou enganaram a muitos. Em outra ocasião Jesus disse: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14:6). A vida eterna nos é dada por meio de Jesus. Entretanto é preciso crer a se achegar junto a Ele, pois o Salvador não despreza a nenhum que se aproxima buscando a remissão dos pecados. Você já se achegou um pouco mais a Jesus hoje? Aproveite este momento para fazer isso. Prolongue um pouco mais este devocional dedicando alguns minutos em oração e comunhão com Deus.

Quarta-feira – João 6:41-51

Muitas vezes, lemos este texto e não conseguimos entender como aqueles judeus puderam desprezar o Pão Vivo que desceu do céu. É fácil fazer uma crítica sobre o comportamento dos outros, o difícil é fazer uma autocrítica do comportamento que temos em relação a Jesus. Quan-tas vezes desprezamos as palavras de vida proferidas pelos pastores. Inúmeras vezes trocamos os momentos de comunhão com Deus por programas que não alimen-tam em nada o nosso espírito. Infelizmente, um capítulo de filme, novela ou seriado têm sido mais importantes do que um capítulo da Bíblia. Talvez ainda estejamos comendo o maná do deserto. Precisamos receber e participar do Pão da Vida, Jesus Cristo nosso Senhor.

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Quinta-feira – João 6:60-65

Qual tem sido a nossa prioridade: estar com a des-pensa de nossa casa cheia ou manter o espírito bem ali-mentado? Provavelmente, em primeira mão, respondamos que estamos cuidando primeiro do espírito, mas talvez isso seja só na teoria. Vamos pôr no papel e considerar: a) Quantos dias esta semana você tomou café da manhã? E, quantas vezes fez um devocional ao raiar o dia? b) Quan-tos e-mails, SMS, ou recados no Facebook você mandou no dia de ontem? Quantas orações você fez ontem? c) Quanto você gasta com as compras do mês, despesas gerais e entretenimento? Quanto você ofertou este mês na igreja? Não sejamos como muitos daqueles “discípulos”, que estavam com a barriga cheia, mas o coração vazio. Devemos ser aqueles que buscam ansiosa e diariamente o alimento vivificante para o nosso espírito, por meio da comunhão com Jesus.

Sexta-feira – João 6:66-71

Dizem que um verdadeiro amigo é aquele que sem-pre nos fala a verdade. Por que será, então, que muitos abandonaram Jesus, depois que Ele falou com veraci-dade sobre os conceitos errados que estavam vivendo? Ninguém gosta de ser corrigido. Muitas vezes, a palavra fala profundamente conosco e até mesmo machuca, mas é necessário. “Vinde e tornemos ao Senhor, porque Ele nos despedaçou e nos sarará; fez a ferida e a ligará” (Os 6:1). Não foram todos que abandonaram o Mestre. Ficaram apenas aqueles que entenderam que as palavras de Jesus eram carregadas de verdade e vida. E para onde iremos nós, eu e você? Que a nossa escolha seja estar junto ao nosso único e verdadeiro amigo, tão amigo que morreu em nosso lugar. Obrigado, Jesus!

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Sábado – João 6:22-35

Durante o tempo em que esteve no deserto o povo do Israel saía todas as manhãs, exceto no sétimo dia, para colher o maná, o pão que Deus fazia chover do céu (Ex 16:4). Este pão sustentou fisicamente o povo naqueles dias. Quando Jesus falou aos seus ouvintes que o verda-deiro pão do céu é Deus quem dá, eles assimilaram isso ao maná. A preocupação deles em saciar a fome física era tanta que os impediu de entender o conceito principal da mensagem de Cristo. Quando eles declararam “Senhor, dá-nos sempre deste pão”, não estavam preocupados com suas almas, e sim com seus estômagos. Que a nossa pre-ocupação, hoje, seja nos alimentarmos com o verdadeiro pão do céu, Jesus. O nosso salvador jamais nos deixa sair da Sua presença famintos.

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O Pão da Vida

Pr. Antônio Renato GussoEstudo da Semana: João 6:22-5918 de Maio de 2013

7TEXTO BÁSICO:

E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede. (Jo 6:35)

INTRODUÇÃO

A fome, desde tempos remotos, tem sido um dos maio-res problemas da humanidade. Em todas as partes do mundo existem pessoas que estão passando fome. A situa-ção da fome, em todo o mundo, é de calamidade e merece a atenção e a ação de todos nós para que, em um esforço comum, possamos sanar, ou ao menos diminuir, as suas consequências terríveis. Entretanto, sem diminuir a impor-tância desta questão, é possível perceber que ela não é a mais importante do mundo. Maior do que o número de famintos que necessitam de alimento para sustentarem os seus corpos já prejudicados, é o número de pessoas que, mesmo bem alimentadas, passam fome espiritual, por não se alimentarem do Pão Espiritual, Jesus, o Pão da Vida.

A situação é trágica! Da mesma forma que o faminto pelo pão material entra em desespero e se alimenta com qualquer coisa que se lhe apresente, o faminto espiritual também se desespera. Por isso, vemos inúmeras pessoas se alimentando com qualquer tipo de “comida”, tiradas, muitas vezes, de lugares piores do que latas imundas de lixo. São modos de vida incoerentes com a prática cristã, são falsas crenças baseadas no engano e na superstição.

Não são poucos aqueles que têm recorrido às fontes deterioradas para adquirirem o alimento espiritual. Aca-

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bam que não se sustentam e ainda prejudicam a sua vida. Obtêm sequelas terríveis que os acompanharão por toda a trajetória neste mundo, afastando-os cada vez mais do alimento puro e verdadeiro. O pior de tudo é que isto não seria necessário, pois Jesus, o alimento espiritual para a nossa vida, é suficiente para todos e está à disposição daqueles que o queiram. Basta, pela fé, ir até esta fonte maravilhosa e se alimentar. Isto torna ainda mais trágica a situação dos famintos espirituais.

Para que se possa compreender melhor a declaração de Jesus – “Eu sou o pão da vida” – é importante ter uma visão geral do contexto em que Ele a pronunciou. Vamos, a seguir, apresentar isto em linhas gerais.

Um dia antes deste acontecimento Jesus havia feito um sinal extraordinário, alimentando uma multidão de quase 5.000 homens com apenas cinco pães de cevada e dois peixinhos (vv. 9, 10). O texto paralelo em Mateus nos mostra que foi ainda maior a multidão que se alimen-tou naquela ocasião. João, seguindo o costume judaico, cita apenas o número de homens. Mateus, não se sabe exatamente por que, registra que além dos homens havia mulheres e crianças presentes, as quais também participa-ram daquela refeição tão impressionante que chegou a ser relatada pelos quatro evangelistas (Mt 14:21).

A reação do povo foi imediata. Eles estavam prontos para reconhecer em Jesus o profeta semelhante a Moisés que haveria de vir. Moisés tinha dado o pão do céu, o maná, agora Jesus lhes havia multiplicado pães e peixes. Quem sabe, ainda tenham visto nele um tipo de Eliseu, que no passado também multiplicou pães, mesmo que em número bem menor, vinte pães de cevada para alimentar uma cen-tena de homens.76 Jesus lhes trazia a esperança de solu-

76 TASKER, R. V. G. Mateus: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 115.

O TEXTO EM SEU CONTEXTO

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ção para os problemas econômicos e, então, pensaram em proclamá-lo rei. Mas ele, sabendo disto e não querendo se envolver nas questões políticas da época, pois não era esta a sua missão, retirou-se só para um monte e lá ficou por muitas horas (v. 15).

Seus discípulos tomaram um barco, segundo Mateus, por ordem de Jesus, e passaram sem o Mestre para o outro lado do Mar da Galileia que, na verdade, é um grande lago de água doce com mais ou menos o tamanho de 21 x 11 quilômetros.77 Foi nesta ocasião que aconteceu o milagre de Jesus ir ter com os discípulos no meio do mar andando por sobre as águas.

No outro dia, a multidão procurava Jesus. Porém não sabia que ele havia partido e alcançado seus discípulos a meio caminho no mar. Após ter percebido que ele não se encontrava mais na região e que também seus discípulos haviam partido, tomaram barcos e foram rumo a Cafar-naum à procura de Jesus. Acabaram por encontrá-Lo ensi-nando na sinagoga local (vv. 24, 59).

Quanto esforço! Até parecia que ali estavam pessoas prontas para seguirem Jesus a qualquer custo, mas isto não passava de um engano. Eles estavam atrás de Jesus não por que o haviam reconhecido como aquele que podia alimentar as suas almas sedentas e famintas, mas sim por que comeram do pão que Ele lhes deu. Queriam, na verdade, como se diz de forma popular, “sombra e água fresca”. Queriam seguir alguém que lhes desse o pão material, mas não pensavam no mais importante, no pão espiritual. Acabaram por ficar sem nenhum dos dois. Este é o resultado da inversão dos valores. Todas as pessoas sentem necessidades espirituais, mas muitas creem que as necessidades materiais são as mais importantes. Ou creem que, suprindo as necessidades materiais, automati-camente as necessidades espirituais também serão supri-das, quando o contrário é que é a verdade. Afinal, o pouco com Deus sempre foi e continua sendo muito.

77 DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 651.

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Como é fácil encontrar pessoas com os valores troca-dos. Muitos são os que se aproximam da Igreja, de Jesus e de sua Palavra com estes pensamentos. Se achegam com a intenção de receberem bens materiais em troca, talvez, do seu “grande favor” de ser fiel a Jesus. Com a explo-são nacional da Teologia da Prosperidade, então, isto se verifica todos os dias, seja nas igrejas, seja nos progra-mas de rádio e televisão. Que pena! Aqueles que agem desta forma acabam como os contemporâneos de Jesus citados neste capítulo de João. Não recebem nem os bens materiais, que tanto querem, nem os espirituais, que tanto necessitam, pois Deus não é subornável e bem conhece os corações daqueles que o buscam.

As pessoas que atuam nesta passagem foram tão auda-ciosas quanto os pretensos cristãos da atualidade que pro-curam “encostar Deus na parede”, ou seja, querem tirar dEle alguma coisa, ainda que seja pela força. Chegaram a insinuar que Jesus não havia feito ainda nenhum sinal para que eles pudessem crer nele; como se a multiplicação dos pães no dia anterior não fosse um tremendo sinal de sua divindade. Estavam agindo como uma criança que pede ao seu companheiro que o deixe provar do sorvete para saber se realmente é bom.

A intenção deles, em sua petulância, era a de levar Jesus a produzir-lhes mais pão, da mesma forma que foi produzido o maná na época em que Israel esteve vagando pelo deserto. Eles “sonhavam” com isto. Este milagre do maná era, inclusive, considerado nos escritos rabínicos como o maior milagre de todos os tempos.78 Eles espera-vam um grande milagre que lhes garantisse vida boa aqui na Terra.

Por mais incrível que possa parecer, estava diante deles nada mais nada menos do que o Filho de Deus, o cria-dor do universo. O qual já havia feito, diante deles, muitos sinais que bem comprovavam quem Ele era. Contudo eles

78 CHAMPLIM, Russel Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo. São Paulo: Milenium, 1985, p. 358.

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queriam, apenas, um padeiro. Um padeiro bondoso que não cobrasse por sua produção. Na realidade, queriam um escravo que lhes servisse. Talvez um gênio da lâmpada, como o da estória de Aladim.

Não temos pessoas em nossos dias que tratam Deus desta maneira? Temos sim! Para muitos, Ele não passa de uma sentinela, guarda da sua casa, médico da famí-lia, provedor de seu alimento, gênio da lâmpada que, se não trabalhar direito, perde a amizade de seu amo. Não é raro encontrarmos pessoas brigadas com Deus. De “cara virada” porque não receberam aquilo que tanto queriam e pensam merecer; porque alguns de seus caprichos ainda não foram atendidos. De fato, nunca o serão, pois Deus não é nosso servo, como muitos O procuram tratar.

Deus, pela Sua bondade, nos deu o que temos, pois tudo é dEle. Porém não devemos nos esquecer de que nada merecemos e que a forma, o que, quanto e o momento de nos dar algo pertencem a Deus, assim como nós também Lhe pertencemos. Está claro que devemos pedir coisas ao Senhor. Isto demonstra a nossa dependência e o reconhe-cimento de que Deus é o dono de tudo. Mas não devemos imaginar que Ele tenha a obrigação de nos dar seja lá o que for. Ele não nos deve nada. Nós é que lhe somos deve-dores de uma conta impagável.

Foi em meio a este clima pesado de inversão de valo-res que Jesus fez esta declaração: “Eu sou o pão da vida”. Com isto ele estava colocando tudo em seus devidos luga-res. Estava dizendo que, em primeiro lugar, os homens pre-cisam é do alimento espiritual para suas almas, e não do material, que só tem efeitos para esta vida física. De certa forma, esta preocupação com o material é compreensível, pois somos seres necessitados. Precisamos de comida, vestuário e tantas outras coisas que a vida moderna nos impõe, mas a forma de buscá-las é que tem sido errada. Seria bom sempre termos em nossa mente o ensino de Jesus registrado no Evangelho de Mateus sobre este assunto (Mt 6:25-34).

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Estejamos atentos às prioridades da vida espiritual. Busquemos em Deus as bênçãos mais preciosas. Não podemos nos contentar ou esperar de Jesus só para esta vida. Ele nos tem prometido muito mais do que bens mate-riais: a possibilidade de juntarmos um tesouro no céu, onde nada poderá danificá-lo (Mt 6:19-20).

Jesus aproveitou o sinal que havia feito no dia anterior, ao multiplicar os pães, para dar uma demonstração de que “Ele era o pão celeste, necessário para a existência e para o bem estar espiritual dos homens”.79 Neste capítulo, Ele se identificou como o pão do céu (v. 32), o pão de Deus (v. 33), o pão da vida (v. 35) e o pão vivo (v. 51). Expressões estas que apontam, inclusive, para a Sua divindade. Ele se apresenta como um alimento especial, espiritual, divino e de Deus, para a vida. Na verdade, o único alimento que possui substâncias com poderes de influir para melhor na vida eterna. Qualquer outro alimento que seja apresentado não passa de engano. Não será capaz de satisfazer àquele que dele se alimenta.

Muitas das pessoas que minutos atrás se diziam ser seguidoras de Jesus, ao ouvirem o seu discurso, dizendo-se ser o pão da vida, o que veio do céu, o que deve ser comido, perceberam que Jesus não era o tipo de Messias político e terreno que eles estavam esperando. Logo, viram que Ele não lhes daria uma vida de conforto aqui na Terra. Por isso, vários de seus seguidores acabaram dizendo: “Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (v. 60). E, depois de mais algumas explicações a respeito de sua procedência divina, muitos de seus seguidores o deixaram, “voltaram para trás e não andavam mais com ele” (v. 66).

Para estes, os que o abandonaram, Jesus não tinha mais nada para dar. Estava claro que eles queriam bên-

79 CHAMPLIM, Russel Norman. Op. cit., p. 353.

JESUS O ALIMENTO ESPIRITUAL PARA A VIDA

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çãos materiais e Jesus lhes oferecia bênçãos espiritu-ais. Eles queriam o pão material e Jesus lhes oferecia o “Pão Celeste”. Seus olhos estavam cerrados, assim como o de muitos hoje em dia, para a realidade da brevidade da vida terrena. Queriam tão pouco, quando Jesus tinha tanto para lhes dar. Não perceberam que a vida espiritual, a vida eterna, é muito mais do que a vida física. O ser humano, sem Cristo, tem agido sempre da mesma forma. Não enxerga a incoerência de viver esta vida tão breve, por mais longa que ela venha a ser para alguns, como se ela fosse mais importante do que a vida eterna que nunca acabará.

Jesus, diante daquele momento de impopularidade, parece que aproveitou a ocasião para provar a fé de seus doze apóstolos, e perguntou-lhes: “Quereis vós também retirar-vos?” (v. 67); o que deu oportunidade para a tre-menda resposta de fé do apóstolo Pedro, a qual com toda probabilidade foi aceita pelos outros como sendo a opinião do grupo todo: “Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna” (v. 68). Os apóstolos vinham vivendo próximos de Jesus já há algum tempo e sabiam que não havia outra fonte na qual poderiam alimentar as suas almas. Só Jesus tinha e tem as palavras da vida eterna. Buscar em outros lugares não passa de perda de tempo e perigo para a saúde espiritual.

Nós, como discípulos de Jesus dos tempos modernos, também sabemos disto. Portanto, além de nos alimen-tarmos deste pão espiritual, faremos bem em alertar o nosso país de famintos para a existência e a disponibili-dade deste alimento eficaz. Não podemos nos conformar ao vermos nossos irmãos brasileiros procurando alimento para as suas almas na idolatria grosseira; na adoração da natureza; nos dizeres dos astrólogos; nos búzios; nas cartomantes; nas pedras e cristais; nas seitas orientais e até mesmo no satanismo. Não podemos ficar impassíveis, como se o problema não fosse também nosso, pois são milhões de pessoas que Deus quer que sejam salvas e

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cheguem ao conhecimento da verdade (1Tm. 2:4), mas que continuam se alimentando da escória, do lixo espiri-tual, o qual as torna cada vez mais enfermas. Precisamos alertar ao nosso povo da disponibilidade do alimento sau-dável que é Jesus. Precisamos distribuir o pão verdadeiro e, se assim o fizermos, contemplaremos o milagre da mul-tiplicação em escala infinita; pois Jesus, “O Pão da Vida”, mesmo sendo um, é capaz para alimentar a todos aqueles que o buscarem.

Não imaginemos que a tarefa seja fácil. As multidões são imediatistas e preferem o alimento para seus corpos, o qual é muito necessário, e desprezam o que serve para as suas almas e demonstrará seu poder máximo na eter-nidade. Isto ficou bem claro naquele encontro do povo com Jesus em Cafarnaum e tem se mostrado verdade a cada dia. Mesmo passando fome espiritual, a maioria dos seres humanos está mais preocupada com o bem-estar mate-rial e, por não se alimentarem de Jesus, creem em qual-quer bobagem mentirosa, menos na verdade da Palavra de Deus.

Contudo não podemos ficar calados. Assim como Pedro e os outros apóstolos tiveram seus olhos abertos para esta realidade, e, da mesma forma, milhões de discípulos no decorrer da história, e nós nos dias atuais o tivemos, cer-tamente, muitos outros o terão, se nós lhes mostrarmos, com paciência e amor, que Jesus é o alimento perfeito para suas vidas.

Jesus deixa claro que Ele é o alimento espiritual ade-quado para a vida. Mas a forma como devemos nos ali-mentar dele tem sido bastante discutida. Alguns comen-taristas pensam que os judeus, ao ouvirem Jesus falar da necessidade de comer a sua carne e beber o seu sangue para ter a vida eterna (v. 54), interpretaram suas palavras

COMO SE ALIMENTAR DE JESUS

104 Estudos Bíblicos

de forma literal, sendo esta a razão principal de se terem retirado escandalizados.80

A interpretação oficial da Igreja Católica Romana, ainda que com grandes diferenças, tem alguma semelhança com esta possível interpretação dos judeus que ouviram Jesus. Segundo a Igreja Católica, os seguidores de Jesus comem o corpo de Cristo e bebem o seu sangue durante a Ceia. Para ela, o capítulo todo, aqui tratado, é uma referência à Ceia, chamada em seu contexto de Eucaristia. Sendo assim, na opinião católica, Jesus estava prometendo que daria o pão eucarístico, que é seu próprio corpo, o qual serviria para a vida eterna. Desta forma, ao participar da Ceia, o seguidor desta religião estaria comendo o corpo de Jesus literalmente, pois, segundo eles, o pão, de forma milagrosa, se transforma no corpo de Jesus neste ritual.81

Esta interpretação não leva em conta o que o texto real-mente diz. Seria bom atentar com cuidado para o capítulo todo e perceber que não existe nele nenhuma referência sequer à Ceia, a qual foi instituída mais tarde. Sem contar a incoerência de se interpretar um texto altamente simbólico como este de forma literal.

Também, deve-se pensar um pouco no ritual católico em si, no qual qualquer bom observador percebe a incoe-rência desta interpretação. Eles partem do princípio de que o versículo 54, deste capítulo 6, deve ser seguido à risca, e, por isso, levam o povo a pensar que comem o corpo de Jesus em forma de pão. Contudo, não percebem nem mesmo o que o texto diz em sua inteireza: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.” Se o pão é de fato a carne de Jesus, usando-se o vocabulário da Ceia, o vinho é o san-gue. Os dois deveriam ser ingeridos pelo participante, se realmente possuíssem em si o poder de dar a vida eterna. Porém, não é isto o que se vê no catolicismo. O povo par-ticipa apenas do pão, ficando o vinho só para o sacerdote,

80 BÍBLIA. N. T. Português. Bíblia sagrada. São Paulo: Edições Paulinas, 1969, p. 140.81 Ibid., p. 139-141.

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o que torna o seu erro duplo. Além do ato não ter nenhum poder, pois isto não é ensinado na Bíblia, até mesmo como símbolo é parcial. O povo se alimenta simbolicamente do corpo de Cristo, mas não participa do seu sangue, que é simbolizado pelo vinho.

Seja como for, o texto nem trata disto. A conclusão mais lógica é a de que pela fé nós nos alimentamos de Jesus, alimento poderoso para dar a vida eterna. Afinal, o ver-sículo 47 não pode ser tirado da passagem e ele é bas-tante claro quando diz: “Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna”. Vida esta que não inicia só depois da morte, nem se apresenta, apenas, como uma vida que não acaba mais; é um tipo de vida que tem quali-dade superior e começa agora.

Jesus, sem dúvida, é o alimento espiritual para a nossa vida. Aquele que tem o poder de sanar a fome espiritual por completo. No versículo 35 Ele usa uma forma poética hebraica para enfatizar a sua afirmação dizendo: “Aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede”. Ele está dizendo a mesma coisa de duas formas um pouco diferentes com a intenção de salientar a verdade. “Aquele que vem a mim” está em para-lelo com “quem crê em mim”; significando que ir a Jesus é um ato de fé. A expressão “de modo algum terá fome” está em paralelo com “jamais terá sede”, significando que todas as necessidades espirituais serão sanadas. Aquele que busca pela fé, em Jesus, o alimento espiritual para a sua vida, nunca correrá o risco de passar fome, ou de ficar insatisfeito. O próprio Jesus está garantindo satisfa-ção total para aqueles que o buscam.

Lembre-se que o alimento pode estar à nossa disposi-ção. Podemos ter a geladeira repleta, mas se não formos a ela e nos alimentarmos, passaremos fome. Pior do que passar fome é passar fome próximo do alimento, sabendo como obtê-lo, mas deixando-o de lado. Jesus, o Pão da Vida, está à disposição de todos aqueles que têm fome espiritual e desejam saciá-la. Não perca mais tempo!

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As pessoas que conversavam com Jesus, naquela oca-sião, pretendiam fazer do Mestre a sua fábrica de pães. Queriam que o milagre do maná se repetisse, como se isto fosse a solução para a vida deles. Elas se lembraram do maná que seus antepassados comeram no deserto, sem precisar trabalhar para isto, mas se esqueceram de que estes mesmos, em pouco tempo estavam insatisfeitos e reclamavam do alimento que Deus lhes dava. O maná logo não satisfazia; sentiam saudades da comida que tinham no Egito (Nm 11:5-7).

Se Jesus tivesse atendido a vontade daquelas pessoas e lhes tivesse dado a cada dia o alimento material, vindo do céu, sem nenhum esforço para eles, certamente, den-tro de pouco tempo, eles estariam reclamando e exigindo coisa melhor. Esta é a realidade! A necessidade verdadeira do ser humano é espiritual e não material. Com a situa-ção espiritual equilibrada tudo se resolve, pois o restante é secundário. Mas, sem resolver esta questão, nada satis-faz. Pode ter abundância de tudo e, ainda assim, estará faminto.

Sabendo disto, e sabendo que Jesus é o alimento espi-ritual adequado para a nossa vida, não deixemos de nos alimentar dEle, o que seria um desperdício imperdoável. Também não nos esqueçamos de oferecer ao nosso povo faminto a solução definitiva para o anseio, a fome de suas almas: Jesus “O Pão da Vida”.

1. Por que a multidão ficou intrigada pela ausência de Jesus? (v. 22)

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2. Por que as pessoas procuram tão atentamente por Jesus e por que a procura as levou para Cafarnaum? (vv. 23,24)

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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3. O que Jesus dizia era o real motivo para as pessoas O procurarem? Segundo Jesus, o que o povo deveria bus-car? (vv. 26, 27)

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4. Que pergunta feita pelos discípulos demonstrou que eles não tinham entendido que Jesus pretendia ensinar? Qual foi a resposta de Cristo? (vv. 28, 29)

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5. Por que o povo pediu um sinal? Por que a multidão se referiu ao maná dos céus que Deus proveu a Israel durante a jornada pelo deserto? (vv. 30, 31)

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6. O que disse Jesus sobre o pão que eles disseram que Moisés havia lhes dado? (vv. 32, 33)

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7. Como Jesus é o “pão da vida” e a resposta para todos os problemas deles? (vv. 34, 35)

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108 Estudos Bíblicos

Domingo – Isaías 29:17-21

O profeta Isaías profetizou a ruína e o sofrimento dos reinos de Israel e de Judá por causa da desobediên-cia, mas também anunciou lindas promessas de redenção para o povo de Deus. Jesus iria trazer o ano aceitável (Is 61), luz onde predominavam as trevas (Is 9:2) e também regozijo aos pobres (v. 19). Isaías fala sobre uma luz que viria após um longo período de escuridão, ou seja, uma esperança para o futuro. Jesus realmente veio e cumpriu cabalmente todas estas promessas e nos deixou outra ainda maior, que em breve virá nos buscar (Jo 14:3). Isso traz alegria para nosso coração, saber que findarão todas as nossas aflições e estaremos com o nosso Salvador para todo o sempre.

Segunda-feira – Gênesis 1:14-19

Quando lemos a história da criação notamos que no início havia apenas as trevas. A primeira coisa que o Senhor criou foi à luz. Interessante, não é? Já no quarto dia Ele criou os luzeiros, o sol, a lua e as estrelas. Note que Deus coloca o sol para governar o dia e a lua para governar a noite. Repare que em nenhum momento o Senhor deixa que as trevas dominem por sobre a terra. Isso nos faz lembrar sobre a importância de sermos a luz neste mundo, que, embora pareça estar dominado pelas trevas, sempre será governado pelo Pai das luzes (Tg 1:17). E este mesmo Deus nos separou para brilharmos resplandecendo a Sua glória por onde quer que ande-mos, seja de dia ou à noite.

Pr. Renato Sidnei Negri Jr.

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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Terça-feira – Êxodo 13:17-22

Algum tempo atrás eu tive a oportunidade de visitar uma pequena cidade do estado do Amazonas, longe da correria da cidade, da poluição e também sem o beneficio da energia elétrica. Quando a noite chegava era impos-sível sair da casa sem ajuda de uma lanterna, lamparina ou lampião. Em alguns momentos isso trouxe um pouco de medo, pois muitos perigos chegavam ao anoitecer. As noites eram mais longas. Com certeza, se Deus não estivesse com Israel, iluminando o seu caminho durante a noite, eles teriam sido alcançados pelos inimigos e seriam abatidos. Da mesma maneira, se o Senhor não iluminar os nossos passos estaremos sujeitos a todos os perigos que nos cercam durante a nossa caminhada e que não conseguimos enxergar. Que Deus nos ilumine hoje e sempre!

Quarta-feira – João 9:18-23

Quantas vezes nós fazemos como aqueles judeus. Achamo-nos tão bons que pensamos que tudo que vai contra aquilo que acreditamos não pode ser verdade. Falamos que cremos em milagres, mas quando ouvimos alguém testemunhar um grande milagre de Deus, duvida-mos em nosso coração. Achamos que só as nossas ora-ções têm poder, somente o nosso louvor é verdadeiro ou somente as nossas pregações surtem efeito. Você, que é um ministro na casa de Deus, não se esqueça de que antes de curar você precisa ser curado, antes de ensinar é preciso ser ensinado e antes de falar da verdade você precisa vivê-la. Ore comigo: Senhor, vem curar o nosso interior, não queremos crer apenas de palavras. Manifesta o Teu poder no nosso meio, oh! Deus. Pai, nós queremos experimentar também os Seus milagres em nossa vida. Amém!

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Quinta-feira – João 9:24-34

Mais uma vez os fariseus passam a interrogar aquele que dantes era cego. É importante lembrar que os fariseus eram um dos principais grupos religiosos dos judeus. Aquele homem passou a relembrá-los que desde a antiguidade não havia relatos de alguém que havia curado um cego de nascença. Interessante, não é? Uma pessoa simples, que nunca havia enxergado sequer uma letra das Escrituras, ensinando àqueles que a conheciam por inteiro! Os fariseus estavam tão cheios de orgulho que não percebiam que eram eles quem realmente estavam tomados pela cegueira. Querido irmão, conhecimento é importante, sim, se for bem aplicado. Precisamos nos dei-xar ensinar até mesmo pelas coisas mais simples. Infeliz é aquele que pensa que já sabe tudo. Jesus veio em sim-plicidade, não se esqueça disso.

Sexta-feira – João 9:35-41

Você já parou para se perguntar por que fechamos os nossos olhos quando oramos, ou nos momentos em que é ministrado o louvor? Por que será que quando nós fechamos os olhos, nestes momentos, parece que conse-guimos sentir com mais relevância a presença de Deus em nosso meio? É maravilhoso poder “enxergar” com os olhos fechados, não é? Muitas pessoas ainda não experi-mentaram isso. Existem muitas vidas que enxergam, mas não veem que Jesus está em sua frente. Muitos vivem na escuridão da alma, sem conhecer Aquele que lhes pode abrir os olhos e trazer a luz que ilumina os nossos cami-nhos, Jesus.

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Sábado – João 9:1-17

Por muitas vezes Jesus afirmou aos seus discípu-los que Ele era a luz do mundo (v. 5), mas também afirmou que eles deviam tornar-se “filhos da luz” (Jo 12:36), ou seja, a luz que receberam de Jesus deveria continuar bri-lhando em sua vida. Amados, é nosso dever brilhar neste mundo, mas de nós mesmos não podemos. É preciso crer na Luz que veio ao mundo para que possamos, então, refletir o brilho de Sua glória. E quais são os raios de luz que devem ser encontrados em nossa vida? Os mesmos que existiam em Jesus: amor, graça, misericórdia, per-dão e o poder do Espírito Santo. Você consegue enxergar estes elementos em sua vida? Devemos ser luz, como Jesus também foi, devemos dar vista aos “cegos” que, sem saber, estão caminhando para um terrível abismo. Se eu e você não fizermos nada, triste será o fim destes.

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A Cura do Cego de Nascença

Pr. Edvard Portes SolesEstudo da Semana: João 9:1-4125 de Maio de 2013

8TEXTO BÁSICO:

Então Jesus afirmou: “Eu vim a este mundo para julgar as pessoas, a fim de que os cegos vejam e que fiquem cegos os que veem”. (Jo 9:39, NTLH)

INTRODUÇÃO

O texto em estudo nos leva a olhar sob a perspectiva divina, não humana, os infortúnios da vida. Somos con-duzidos pelo Espírito Santo a entendermos que os propó-sitos eternos de Deus ultrapassam toda a compreensão humana, pois um homem cego, que vivia à margem da sociedade, que era excluído, que dependia da mendicân-cia e da bondade alheia, foi escolhido para ser o meio pelo qual o mundo de sua época pudesse contemplar a verdadeira Luz, recebendo seus benefícios e tornando-se uma testemunha inconteste de que um homem “chamado Jesus” havia lhe dado visão.

João não informa o nome do homem que fora curado, sua idade, nem o nome de seus pais. As informações sobre ele são escassas, mas estes pormenores sobre sua vida tornam-se irrelevantes diante do milagre recebido. Sua cura o coloca em um cenário único, pois o conduz para o debate sobre uma das questões mais importantes a respeito de quem era aquele homem que realizava milagres, falava com autoridade e reivindicava para si atributos divinos.

Vejamos neste estudo alguns aspectos importantes a respeito deste homem e que lições nós podemos aprender.

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Chama-nos a atenção como o apóstolo João introduz os acontecimentos do capítulo 9: “caminhando Jesus viu um homem cego de nascença” (v. 1). Todos “viam” aquele cego, pois estava ali sua vida toda, ou maior parte dela, pedindo esmolas, mas Jesus o “viu” de forma diferente. Alguma coisa naquele homem prendeu Sua atenção, e não foi somente a cegueira em si, mas principalmente o propósito dela. É como se o Senhor visse nele a pes-soa a quem Ele mesmo estava endereçado. Aquele era o homem pelo qual seriam manifestas as obras de Deus. Não era um cego apenas, era um cego que tinha um propósito que ele mesmo desconhecia, mas que estava no comando de Deus, assegurado por seu soberano poder.

Segundo Carson, não é claro quando os acontecimen-tos do capítulo 9 tenham ocorrido, mas está localizado entre as Festas das Cabanas e da Dedicação. A Festa das cabanas encontra-se no capítulo 8, em que Jesus é a “Luz do mundo”, e a da Dedicação, no capítulo 10, no qual Jesus é o “Bom Pastor”.82 Não se pode ter certeza quanto ao local ou tempo em que os fatos aconteceram, mas, pela ligação dos capítulos 8, 9 e 10, Jesus se encontrava em Jerusalém.83 Isto coloca os acontecimentos do capí-tulo 9 como um “interlúdio” entre dois grandes discursos de Jesus sobre sua natureza e missão. O fato é que a pior cegueira não é quando a pessoa não vê, e sim quando esta a atrapalhe de ser “vista” por Deus, vive escondida em seus próprios erros, presa em sua própria escolha e em sua religiosidade aparente, pois, mesmo que o Senhor veja todas as coisas (Hb 4:13), tais pessoas não atraem a atenção dEle para si da forma como este cego fez.

82 CARSON, D. A. Comentário de João. São Paulo: Shedd Publicações, 2007, p. 360.83 CARSON, D. A. Op. cit., p. 362.

UM CEGO QUE ATRAIU A ATENÇÃO DE JESUS

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Este homem já nasceu cego, algo praticamente irrever-sível e que desafia até a medicina moderna de hoje. Sua cura, com certeza, era algo de causar espanto e admira-ção, pois não permitia truques, sendo assim um aconteci-mento sem igual, pois, afinal, “jamais se ouviu que alguém tenha aberto os olhos de um cego de nascença” (v. 32).

Mesmo não sabendo e sem entender muito do que se passava, aquele homem, pela situação na qual se encon-trava, fez com que os discípulos colocassem diante do Mestre um assunto que era comum entre os judeus. Na crença deles, pecado e sofrimento estavam intimamente ligados, pois era o ensino que haviam recebido, e os discí-pulos não fugiam a essa regra. A pergunta dos discípulos, no verso 2 – “Mestre, quem pecou, este ou teus pais para que nascesse cego?” –, revela que ainda não haviam com-preendido os planos de Deus.

A explicação dos judeus para que alguém nascesse com alguma “deficiência”, como coxo, paralítico ou cego, neste caso específico, era que seus pais haviam cometido algum pecado ou o próprio indivíduo poderia ter pecado ainda antes de seu nascimento.84 Tal interpretação se apoiava em passagens bíblicas como Gênesis 25:22, em que havia “luta” entre Esaú e Jacó no ventre materno, e em Salmos 58:3, em que se apresenta o ímpio em seu estado pecaminoso “desde sua concepção”. Outra explicação era o fato de que se uma mulher grávida participava em um rito pagão o feto era considerado participante do mesmo ritual.85

Assim, os discípulos se mostram arraigados a um sis-tema religioso cujo ensino é um tanto arcaico. Estavam apegados a uma tradição antiga, desatualizada e que pre-

84 Convém lembrar que o termo “deficiente” hoje não é mais utilizado. O correto é “Portadores de Necessidades Especiais” (PNE).85 CARSON, D. A. Op. cit., p. 363.

UM CEGO QUE TRAZ À TONA ASSUNTOS RELEVANTES

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cisava ser corrigida. Neste ponto, Jesus mostra outra pos-sibilidade e a faz de duas maneiras: primeiro, Ele rebate tal ensino afirmando que “nem ele pecou, nem seus pais” (v. 3a); ou seja, a cegueira daquele homem não havia sido causada por algum pecado “específico”. Assim, Jesus nega que todo sofrimento está diretamente ligado ao fato de quem o sofre pode ter cometido pecado. A segunda coisa que Jesus faz é chamar a atenção dos discípulos para outra possibilidade de interpretação, dizendo que aquele homem havia nascido cego “com a finalidade de que as obras de Deus se tornassem conhecidas por meio dele” (v. 3).86

Nota-se, no entanto, que Jesus não estava negando que o pecado traz sofrimento. O que Ele nega é a generaliza-ção e, também, esclarece que, no caso específico daquele homem, havia um propósito maior, e que tal propósito não estava relacionado à “causa”, mas ao “resultado” de sua cegueira. Três lições podem ser aqui aprendidas: primeira, o sofrimento nem sempre está relacionado com pecado; segunda, Deus tem o controle de tudo; e, terceira, sem-pre pode haver um propósito maior nos acontecimentos, mesmo que não percebamos isso.

Jesus esclarece uma dúvida, mas avança um pouco mais dizendo: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (v. 5a). Para F. F. Bruce, a luz, neste capítulo, refere-se ao ministério de Jesus, momento que Ele ainda está atuante, como o Messias enviado de Deus, e que as trevas seriam marcadas por sua ausência no mundo.87 Jesus é a luz que “brilha radiante enquanto ele vive sua vida humana, e por todo aquele período é a luz que expõe o mundo, julga o mundo, salva o mundo”.88 Jesus pro-

86 Tradução livre do autor.87 BRUCE, F. F. João: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 186.88 CARSON, D. A. Op. cit., p. 363.

UM CEGO TOCADO POR JESUS

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cura deixar claro aos discípulos que a obra de Deus requer urgência e também associa seus discípulos ao seu traba-lho quando diz: “precisamos realizar a obra daquele que me enviou” (v. 4, NVI). Assim, o Mestre chama seu povo à mesma atitude para com o mundo carente, sem Deus, e que vive na mais densa escuridão.

O evangelista prossegue o relato: “Dito isto, cuspiu na terra e, tendo feito lodo com a saliva, aplicou-o aos olhos do cego, dizendo: Vai e lava no tanque de Siloé (que quer dizer enviado). Ele foi, lavou e voltou vendo” (vv. 6, 7). Ao nos depararmos com este texto o que nos chama atenção é o fato de Jesus ter feito lodo com sua saliva e, depois de aplicar nos olhos do cego, mandou que o mesmo fosse se lavar no tanque de Siloé. Mas o Senhor não faz nada que não tenha um propósito ou que não tenha uma lição a nos ensinar. E, a partir desse gesto, notamos que não se trata apenas de um milagre, mas de um “sinal, a obra do Pai, mediada pelo seu enviado para derramar luz sobre aqueles que vivem nas trevas. Desse modo, o evangelista diz aos seus leitores que o Messias, longamente esperado, realmente é Jesus”.89

Também é provável que Jesus, aqui, tenha a inten-ção de mostrar um sinal de sua filiação com o Pai, pois, segundo citações rabínicas, a saliva do primogênito de um pai tem propriedades curativas. Mesmo que isto não seja aplicado à mãe de Jesus (da qual Ele era o primogênito à luz de Lucas 2:7), não se pode negar que, para “efei-tos legais”, Jesus era filho de José (Mt 13:55), ao mesmo tempo em que Ele reivindicava sua filiação divina com o Pai (Lc 2:49; Jo 1:14; 12:49). Considerando que o Evange-lho de João é essencialmente cristológico, e que enfatiza mais a natureza divina de Cristo, não se pode deixar de ver nesse gesto a intenção do Mestre em mostrar que Ele era Filho de Deus, e, em natureza e essência, o próprio Deus (Jo 14:9).

89 CARSON, D. A. Op. cit., p. 364.

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Além de enfatizar sua filiação com Deus, outro fator relevante é que muitos pais da Igreja primitiva viam aqui uma alusão a Genesis 2:7, em que, no ato da criação, Deus usou o barro para criar o homem. Sendo assim, Jesus faz uso de seu atributo como Criador (Jo 1:3) para “criar” os olhos, com todas as suas funções, daquele homem. Esta-ria Jesus mostrando aos seus discípulos que Ele é também Criador e que pode trazer à existência o que não existe (Rm 4:17)? Pode-se dizer que sim.90

Havia uma tradição na Palestina de que os dejetos humanos, como urina, leite materno, saliva etc., eram fonte de contaminação cerimonial, sujeira etc., mas que, sob determinadas condições, aquela mesma sujeira, nas mãos de pessoas autorizadas e com o poder apropriado, podia ser transformada em um instrumento de bênção.91 Pode-se admitir que Jesus, ao fazer uso de saliva, fez uma declaração de ter autoridade religiosa, como no caso do homem leproso, em que Jesus não contrai lepra ao tocá-lo, mas o cura (Mt 8:1-4).

Carson destaca também que ao fazer uso da saliva Jesus ainda quebra tabus cerimoniais e lança um ataque ao sistema social, político e religioso de seu tempo, pois tabus relativos ao corpo humano dão expressão simbólica às massivas coerções sociais, e ao atacar estes símbo-los seria percebido como um ataque a estes sistemas.92 Essa interpretação ganha força quando percebemos que havia entre os fariseus e demais autoridades o medo que tinham de perder o poder com a popularidade e liderança de Jesus (cf. Jo 11:47-48).

Mas por que o cego precisou se lavar no Tanque de Siloé? Siloé é uma transliteração do hebraico siloah, que por sua vez é derivado do verbo salah, que significa “enviar”.93 Siloé era apenas um tanque cujas águas vinham de um canal feito no Reinado de Ezequias, e suas águas

90 CARSON, D. A. Op. cit., p. 365.91 Ibid.92 Ibid.93 CARSON, D. A. Op. cit., p. 366.

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não tinham poderes “miraculosos”. Assim, as águas desse tanque apenas cumpriram sua função de “lavar” o lodo que Jesus aplicara nos olhos do cego. O que deve ser levado em conta é a obediência a uma ordem de Jesus, e também o simbolismo do tanque de Siloé, que serviu para que as pessoas entendessem que Jesus era o “enviado” de Deus, testificando a origem dos ensinos do Mestre, que recebia críticas dos escribas ao afirmarem que “não sabiam de onde Jesus vinha” (v. 29).

A observação feita por João, no verso 14, é pertinente e apropriada. As autoridades religiosas criaram muitas regras para conduzir o povo, principalmente com relação à prática da guarda do sábado. Elas eram rigorosas quanto a questões sem muito valor como, por exemplo, não comer sem lavar as mãos, os pratos etc. Tais preceitos vinham da tradição oral dos judeus e de comentários como o Talmude, por exemplo, no qual se criava um mandamento para expli-car o outro, o que acabava por desviar o povo do verda-deiro ensino dos preceitos da Torá (Mc 7:6-8).

O fato de a cura ter sido em um sábado chamou aten-ção dos fariseus e criou uma discussão em torno da auto-ridade de Jesus como homem “santo”. Um dos tipos de tra-balhos especificamente proibido no sábado, pela interpre-tação tradicional da lei, era amassar pão ou algo parecido. E isto incluía fazer uma massa de terra e saliva.94 Assim, na visão deles, Jesus transgrediu o sábado.

Todo o interrogatório dos fariseus a respeito da uma cura feita no dia de sábado tinha como objetivo questionar o ato por ser uma “quebra” da lei. Na lógica deles, Jesus “transgrediu o sábado”. Portanto, é um homem “pecador”. E, como pecador, Ele não poderia ter sido enviado por Deus. E, se Ele não foi enviado por Deus, então seus mila-gres são operados por espíritos malignos. Logo, se trata de um falso profeta.95

94 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 186.95 CARSON, D. A. Op. cit., p. 368.

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Isso mostra que há divisão entre eles. O primeiro tem seu enfoque sobre o sábado. Está convencido de que sua interpretação do sábado está correta. Portanto, Jesus vio-lara a lei. Ora, um homem que quebra a lei do sábado não pode ser de Deus.96 O segundo grupo tem seu enfoque sobre o milagre. Jesus curou um cego de nascença. Uma obra desta natureza não pode ter sido realizada por qual-quer um. Se Jesus realizou o milagre só pode ter sido o poder de Deus em operação, e Ele não usaria para isto um pecador ou transgressor da Lei, pois “até onde a memória e a experiência podem avaliar, a cegueira congênita era invariavelmente incurável, e que um milagre dessa mag-nitude precisa ser reconhecido como resposta de oração; o homem que recebeu esta resposta não pode ser um homem comum”.97

O primeiro grupo tem um argumento lógico: realizar milagres não pode ser prova cabal de que alguém vem de Deus, pois os magos de Faraó também realizaram os mesmos sinais que Moises, e as Escrituras advertem sobre os falsos profetas que enganam o povo (Dt 13:1-5). No entanto o segundo grupo também tem um argumento lógico, embora menos convincente que o do primeiro, mas com uma verdade inquestionável: um homem cego de nas-cença foi curado, e se Jesus assim o fez é porque ele é de Deus, e se ele é de Deus seu ato não transgrediu o sábado, e se ele fez algo que as autoridades religiosas proibiam, sem que isso quebrasse a lei, a conclusão é óbvia: os fariseus haviam deturpado o sábado e sua inter-pretação estava errada.

Tanto o interrogatório do homem que fora curado quanto dos seus pais é com a intenção de apurar os fatos. No caso do homem o questionamento gira em torno de “como che-

96 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 186.97 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 191.

DE CEGO A TESTEMUNHA DA LUZ

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gara a ver” (v. 15), o que seria a mesma interrogação do povo em geral (v. 10). E a resposta foi a mesma: “Ele colo-cou uma mistura de terra e saliva em meus olhos, eu me lavei e agora vejo” (v. 15, NVI). Não podiam negar que ele estava vendo, mas sobre se havia nascido cego ainda res-tava dúvida, pois embora o fato dele ter nascido cego fosse decisivo, neste caso ele mesmo não poderia testemunhar. F. F. Bruce afirma que “mesmo que ele não pudesse se lembrar de alguma vez ter visto, poderia ser que ele tivesse perdido a visão por alguma doença ou acidente durante sua primeira infância”.98 Nesse caso, somente seus pais poderiam responder. Ao serem interrogados, eles simples-mente confirmam o fato de que “ele nasceu cego” (v. 20). Mas sobre quem o havia curado nada disseram, apenas que ele poderia responder por si mesmo (v. 21), e o motivo foi o medo de serem expulsos da sinagoga (v. 22).

O que fez com que os fariseus fossem procurados foi que o povo queria a opinião deles sobre a cura ocor-rida, uma vez que eram autoridades religiosas, e se fazia necessário um “parecer técnico”. Mas os fariseus não fica-ram satisfeitos com o resultado, pois tanto o testemunho do homem quanto o de seus pais não deixaram dúvidas: houve um milagre e este milagre foi operado diretamente por Jesus. E o testemunho corajoso daquele homem não deixava dúvida quanto ao fato: “Eu era cego e agora vejo” (v. 25).

O testemunho desse homem ganhou força com o pas-sar do tempo, e ele se tornou símbolo de coragem. Seu argumento tem sido repetido por cristãos ao longo da his-tória, como uma forma bem simples e objetiva, mas com muita profundidade para pessoas que foram alcançadas pela graça salvadora de Jesus: “Eu era cego e agora vejo”. Embora ele ainda não estivesse totalmente certo a res-peito de quem o havia curado, já sabia que fora um homem chamado Jesus (v. 11), que este homem era um profeta

98 BRUCE, F. F. Op. cit., pp. 187-188.

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(v. 17), que não poderia ser um pecador (v. 31) e que era enviado de Deus (v. 33).

O homem acabara de ser expulso da sinagoga (v. 34) como uma forma de intimidação, uma vez que os fariseus já haviam advertido sobre isso antes (v. 22). Mas agora que podia “ver com seus próprios olhos” e que experimentara uma experiência real, verdadeira e muito além do que a elite religiosa de seu tempo podia lhe oferecer, sua vida jamais seria a mesma.

Desde que fora curado ele ainda não havia estado frente a frente com Jesus, mas já estava pronto para desafios maiores. Por isso, Jesus coloca diante dele uma pergunta que se torna praticamente um convite: “Você crê no Filho do Homem?” (v. 35). Ou seja: “Você deposita confiança no Filho do Homem a ponto de entregar sua vida a Ele e segui-Lo”? A resposta do homem foi afirmativa. Ele estava pronto para crer e também já havia perdido sua confiança nas autoridades religiosas.99 E, como observa F. F. Bruce, “em quem ele estaria pronto para crer a não ser naquele que lhe restaurou a visão”?100

Sua dúvida agora era: “Quem é ele, Senhor, para que eu nele creia?” (v. 36, NVI). E Jesus se revela ao homem de forma clara, inconfundível e completa. O Filho do Homem estava diante dele e sua atitude foi de aceitação e adora-ção. Sua resposta foi simples, mas decisiva, sem hesitação: “Senhor, eu creio. E o adorou” (v. 38, NVI). Esse homem presta culto ao Senhor e o adora, prostrando-se diante dele e O reconhecendo como “Senhor”. Carson observa que talvez sua intenção não fosse de adoração propria-mente dita, mas para o evangelista ele já estava adorando mais do que imaginava.101

99 CARSON, D. A. Op. cit., p. 377.100 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 193.101 CARSON, D. A. Op. cit., p. 378.

ANTES CEGO, AGORA VENDO CLARAMENTE

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O que se tem aqui é a confissão de um homem acom-panhada de sua firme decisão por Jesus. Isso nos ensina que a coragem necessária para enfrentar opositores é pos-sível apenas quando estamos na influência da Luz, quando vivemos a experiência da Luz e quando a “verdadeira Luz” se revela ao homem. E a diferença entre luz e trevas, nesse caso, não está nos olhos, mas no entendimento e no cora-ção do homem.

O evangelista chega ao ápice do relato com uma apli-cação de tudo o que se passara, com a afirmação feita pelo próprio Jesus: “Eu vim a este mundo para julgar as pessoas” (v. 39, NTLH). Essa afirmação não deve ser vista como uma contradição com João 3:17, em que Jesus diz que não veio para “condenar”. Conforme F.F. Bruce, “Jesus não está dizendo aqui que veio para executar juízo; sua própria existência no mundo constitui um julgamento, pois obriga as pessoas a se posicionarem a favor ou contra ele. Os que se colocam contra ele ‘já estão julgados’ (3.18), não porque ele os julgasse, mas porque eles mesmos se condenaram”.102 Assim, a revelação de Sua pessoa exige uma decisão. Jesus não permite neutralidade: ou se está com Ele ou não; ou O recebe ou, então, O rejeita (Mt 12:30).

Embora a cura daquele homem tenha sido física, ela também ocorreu na esfera espiritual. E no âmbito espiri-tual os cegos são os que estão perdidos e têm consciência disso. A estes Jesus veio trazer a luz da revelação que os tornará capazes de ver. Mas os que veem (ou pensam que veem) são os que rejeitam a verdadeira luz, pois “estão tão seguros de que podem ver que rejeitam totalmente qual-quer sugestão ao contrário, e, assim, confirmam suas pró-prias trevas”.103

102 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 193.103 CARSON, D. A. Op. cit., p. 379.

OS CEGOS QUE NÃO SÃO CEGOS

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A cura do cego de nascença pode ser entendida como uma parábola ilustrada. F. F. Bruce escreve a esse respeito dizendo que “a cura do cego de nascença é apresentada como uma parábola de iluminação espiritual. Graças à vinda da luz verdadeira ao mundo muitos antes que esta-vam às escuras estão agora iluminados [...] culpados eram aqueles que viviam em trevas, mas diziam estar vendo [...] a auto ilusão que chega a fechar os olhos para a luz é um estado sem esperanças”.104

Os fariseus se mostraram satisfeitos com a luz que pos-suíam. Para eles, bastava a revelação da Lei e a tradição na qual se apoiavam e criam. Eles se fecharam para a luz verdadeira, trazendo sobre si juízo e reprovação, pois a rejeição da Luz elimina a possibilidade de crer e ter acesso à revelação salvadora do Evangelho. Não pode haver tra-gédia maior do que a cegueira da alma, e somente aos que se assumem serem cegos e carentes é que os olhos podem ser abertos, e assim confessarem em alto e bom som: “Eu era cego e agora vejo”.

1. Por que os discípulos acreditavam que a cegueira daquele homem fosse por causa de algum pecado? Baseando-se em que eles chegaram a tal entendimento? (vv. 1, 2)

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2. Como Jesus desafiou o julgamento deles? De que maneira Jesus enfatizou a urgência de sua obra? (vv. 3-5)

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104 BRUCE, F. F. Op. cit., p. 193.

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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3. Por que Jesus usou barro para ungir os olhos do cego? Há algum significado no fato de Jesus ter dito ao homem para se lavar no tanque de Siloé? Se sim, qual? (vv. 6, 7)

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4. Qual foi a reação dos vizinhos do ex-cego quando o viram curado? Como ele explicou a sua cura? (vv. 8-12)

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5. Como os fariseus reagiram à cura do homem e qual foi a sua resposta à pergunta deles? (vv. 13-15)

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6. Por que houve divisão entre os fariseus a respeito deste milagre? Que explicação deu o ex-cego quando foi pergun-tado sobre o que ele achava acerca de quem lhe abrira os olhos? (vv. 16,17)

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7. Cite pelo menos três atributos divinos de Jesus que Ele demonstrou ao curar o cego de nascença.

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8. O que impediu os fariseus de receberem a Luz da reve-lação de Jesus?

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Domingo – 2 Crônicas 18:12-22

O bom líder é aquele que conduz os seus liderados por caminhos corretos. O bom governante é o que governa com sabedoria e coerência, sempre visando o bem comum. O bom pastor é aquele mentor atento que guia as ovelhas pelo caminho verdadeiro, focando seu olhar, assim como o de toda a Igreja, na tarefa de agradar e servir a Deus de todo coração, com temor e tremor. Infelizmente, o que se tem observado em nossos dias são líderes religiosos preocupa-dos apenas com bens materiais, com mensagens focadas na prosperidade terrena, levando suas ovelhas a olvidarem da importância do Reino de Deus. Oremos para que Deus conserve nossos pastores em sintonia com as coisas lá do alto, a fim de que Suas ovelhas permaneçam seguras no aprisco de nosso Mestre Jesus, o Supremo Pastor.

Segunda-feira – Números 27:12-20

Moisés é descrito como o homem mais manso da terra (Nm 12:3). No entanto tal virtude é momentanea-mente rechaçada por uma estranha atitude de descrença e arrogância perante Deus (Nm 20:10-12). Com o direito de entrar em Canaã vedado, Moisés é agraciado com uma visão panorâmica da tão sonhada terra prometida vista do monte Nebo e, finalmente, adormece nos braços do Altís-simo. Antes, porém, era-lhe necessário apresentar a Israel seu substituto. Deus indicou-lhe Josué, o qual é constituído como o novo líder do povo sob as mãos impostas do próprio Moisés perante todos. Israel sempre precisou de um líder. O mesmo acontece na Igreja do Senhor. Ano após ano, gera-ção após geração, um novo líder assume a Igreja do Senhor, trazendo consigo mudanças administrativas, estilos e ten-

Pr. Marcos de Oliveira

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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dências. Uma coisa, porém, nunca muda: a Palavra de Deus (Mt 24:35). Sacerdotes terrenos precisam ser substituídos devido à limitação de seu tempo no mundo. Mas o Supremo Pastor, nosso Senhor Jesus Cristo, é o mesmo ontem, hoje e o será eternamente. Aleluia!

Terça-feira – Salmo 78:67-72

Nesta vida precisamos fazer escolhas. Quando esco-lhemos sabiamente colhemos frutos de boa qualidade e de proveito duradouro. Se nossas escolhas são más, paga-mos o preço, amargando com as consequências. O texto de hoje é um gritante exemplo de como as escolhas de Deus para nós são incomparavelmente melhores do que aquilo que julgamos ser o ideal. Israel escolheu Saul como rei, e seu reinado foi prejudicial para todos. Fez-se necessário um novo rei, que fosse um homem segundo o coração de Deus (At 13:22). Davi foi à divina escolha para pastorear o povo de Deus. Jesus, o Eterno Pastor, é aquele que reinará para sempre entre nós. Quanto às suas escolhas, deixe que o Senhor as faça na sua vida e assim você verá a triunfante carreira que Ele lhe proporcionará nessa Terra.

Quarta-feira – Salmo 28

Quando se lê os rogos de Davi, a primeira impressão que podemos ter é de alguém desesperado, clamando como se fosse o derradeiro brado antes do trágico fim. Na verdade, Deus está sendo exaltado por alguém que vive a vida exa-lando aos quatro ventos suas grandes experiências de vitó-rias alcançadas pelo Senhor. O pedido de ajuda feito por alguém que conhece a capacidade do ajudador serve como alento para todo aquele que realmente encontra-se em situ-ação crítica de desesperança ao extremo. Assim age todo aquele que conhece a Deus. Sabe que o problema é grande, o adversário é cruel e a situação, perturbadora. Faz conhe-cer, porém, que existe um Pai amoroso e que é infinitamente

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maior do que todo e qualquer problema e seu agravante. Se eu confio Nele, posso repetir em meu caminhar o Salmo 23: “O Senhor é o meu Pastor e nada me faltará”. Que sua vida, caro amigo, seja o reflexo gritante da sua confiança nAquele que tudo pode, pois Ele nunca lhe dará motivo algum para deixar de buscá-Lo em todo o tempo. Ore e busque em você mesmo uma vida pastoreada pelo Senhor.

Quinta-feira – Salmo 80:1-7

Por três vezes repete-se neste salmo a súplica “res-taura-nos, faze resplandecer o teu rosto e seremos salvos”. Observe a ênfase de forma insistente usada pelo salmista e que acrescenta, a cada novo rogo, algo a mais na apre-sentação da divindade invocada. No verso 3 o nome Deus é mencionado. No verso 7 Seu nome vem acompanhado com a menção do poderio reconhecido sob o domínio do mesmo: Deus dos Exércitos. E, em Seu poder soberano, Ele é chamado, no verso 19, de Senhor Deus dos Exércitos. Lembre-se de que não existem limites para o Senhor. Ele é o Deus Todo-Poderoso, entronizado acima de todos os prin-cipados e potestades, sejam do mundo físico ou espiritual. Não há razão para desconfiarmos de Sua eficácia quanto ao corrigir, restaurar ou converter em bênção toda e qual-quer situação, por pior que seja. Ore por restauração, como fez Asafe. O Senhor Deus dos Exércitos fará Seu rosto res-plandecer e seremos salvos!

Sexta-feira – João 10:1-6

Certo pastor percebia o sumiço diário de uma ovelha por vez. Sua experiência lhe permitiu cogitar a possibilidade de um lobo estar disfarçado entre elas. O pastor as enfileirou num corredor estreito, fazendo com que todas passassem por um teste. Com seu cajado, o ardiloso pastor golpeava uma vez o lombo de cada animal. As dóceis ovelhinhas suportavam caladas o flagelo e passavam. De repente, com

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uma pancada de igual impacto, o lobo disfarçado em pele de ovelha foi descoberto por sua instintiva atitude de revolta ante ao teste aplicado. O pastor, então, termina de golpear o predador infiltrado, acabando de vez com o voraz inimigo. Jesus mostra no texto de hoje quem são suas ovelhas: aquelas que ouvem a sua voz ao chamá-las pelo nome (v. 3), aquelas que reconhecem a voz do pastor e o seguem (v. 4); aquelas que não seguem a outro que não seja o pró-prio pastor (v. 5). O Senhor espera de suas ovelhas submis-são total e que elas O sigam por onde Ele andar. Você tem escutado a voz de Cristo? Tem respondido com obediência ao Seu chamado? Tem se desviado de toda a aparência do engano? Busque a Deus em oração e aceite, com paciência e submissão, as provas de fidelidade que Ele tem permitido na sua vida, pois isso é para sua própria segurança.

Sábado – João 10:7-18

Em toda a Bíblia nos são apresentados apenas dois caminhos, nunca três ou quatro, mas somente dois. Nosso Senhor apresenta-se para nós como o caminho certo. Ele nos remete a uma visão geral sobre as vantagens e desvan-tagens em uma trama sobre a qual o bem e o mal andam em paralelo. Quando nos fala a respeito do bem, mostra-nos também o mal com suas desvantagens, tal como os saltea-dores que o antecederam (v. 8), o ladrão que rouba, mata e destrói (v. 10), e o mercenário que bate em retirada ao ver que o perigo se aproxima (vv. 12,13). No texto de hoje vis-lumbramos a esperança e a felicidade em permanecermos juntos de nosso Bom Pastor Jesus. Ele nos conhece, doa-se a Si mesmo por nós e preocupa-Se por buscar aqueles que ainda não pertencem ao Seu rebanho. Louve a Deus neste sábado e agradeça-Lhe mais uma vez por nos ter enviado Seu Amado Filho, a fim de que vivêssemos a fé com espe-rança no porvir garantido de gozo e satisfação eternos!

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Jesus, o Bom Pastor

Pr. Norberto Carlos MarquardtEstudo da Semana: João 10:1-1801 de Junho de 2013

9TEXTO BÁSICO:

Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas. (Jo 10:11)

INTRODUÇÃO

Este capítulo do Evangelho de João está intimamente ligado ao anterior. Aqui o Senhor Jesus ilustra seu rela-cionamento com seus discípulos com a relação entre um pastor e suas ovelhas. Para tanto, Ele usa imagens de ovelhas, apriscos e pastores. Sem dúvida, estas imagens constituem um retrato das regiões rurais do Oriente, mas têm muito a nos ensinar hoje, mesmo em nosso mundo urbano e industrializado. Paulo usa uma imagem parecida ao admoestar os líderes espirituais da igreja de Éfeso (At 20:28-31). As verdades associadas ao pastor e a suas ove-lhas podem ser encontradas ao longo de toda a Bíblia e continuam sendo relevantes para nós hoje. Os símbolos usados por Jesus ajudam a entender quem Ele é e o que deseja que façamos.105

O discurso sobre o Bom Pastor traz três comparações ligadas entre si: Jesus fala do pastor e dos assaltantes (vv. 10:1-6); Jesus é a porta das ovelhas (vv. 7-10); Jesus é o Bom Pastor (vv. 11-18). Portanto, a maneira mais fácil de abordar o capítulo 10 do Evangelho de João é observar as três comparações que Jesus faz a respeito de Si mesmo.

105 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento, v. 1. Santo André/SP: Geográfica editora, 2006, p. 423

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Jesus começou seu sermão com uma ilustração conhe-cida, que todos os seus ouvintes compreenderiam: “Em verdade, em verdade vos digo: o que não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador. Aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas” (vv. 1,2). Naquele tempo, os pastores cuidavam do rebanho durante o dia. Ao anoite-cer os pastores de uma mesma região levavam as ovelhas para um curral comunitário, bem protegido contra ladrões e lobos, e deixavam seu rebanho ao cuidado do porteiro do aprisco, que tomava conta de tudo durante a noite. O aprisco normalmente era um cercado feito de pedras, pos-suindo uma porta. Durante a noite, o pastor (ou um por-teiro) guardava o rebanho dentro do aprisco deitando-se junto à porta. No dia seguinte, pela manhã, cada pastor chamava suas ovelhas, que o seguiam, e, desse modo, os rebanhos eram separados. Cada ovelha reconhecia a voz de seu pastor.106

O verdadeiro pastor entrava no aprisco pela porta e era reconhecido pelo porteiro. Os ladrões e salteadores não podiam passar pela porta, pois lá havia o vigia que tomava conta. Portanto, precisavam saltar o muro e entrar furtivamente no aprisco. Mesmo que conseguissem entrar, as ovelhas não os seguiriam, pois só obedeciam à voz do próprio pastor. Os falsos pastores não tinham como condu-zir as ovelhas, de modo que eram obrigados a carregá-las. O Senhor afirma que aquele que não entra pela porta é ladrão e salteador.

João deixa claro que os ouvintes não entenderam o que Jesus disse nem o propósito de suas palavras (v. 6). Jesus deu essa lição quando o mendigo foi expulso da sinagoga (Jo 9:34). Nosso Senhor está comparando-se com os fari-seus que haviam expulsado o ex-cego. Os falsos pastores

106 WIERSBE, Warren. Op. cit., p. 423.

O PASTOR, AS OVELHAS E OS LADRÕES

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não se importaram com esse homem; antes, o maltrataram e o rejeitaram. Mas Jesus, o Pastor, foi procurá-lo e levá-lo para seu aprisco (Jo 9:35-38). Eles são os ladrões, e Jesus é o Bom Pastor.

Uma vez que o povo não entendeu a linguagem sim-bólica, Jesus acrescentou uma aplicação à sua ilustração (vv. 7-10). Ele lhes explicou, dizendo: “Em verdade, em ver-dade vos digo: eu sou a porta das ovelhas” (v. 7). Nestes versos temos duas aplicações em destaque.

1. Jesus é a Porta do aprisco. Ele permite que as ove-lhas saiam do aprisco (a religião judaica) e entrem no reba-nho. Os fariseus expulsaram o ex-cego da sinagoga, mas Jesus o conduziu do judaísmo para o rebanho de Deus. No entanto o pastor não se atém a conduzir as ovelhas para fora; ele também as conduz para dentro do rebanho. Elas se tornam parte de “um só rebanho”, a Igreja de Cristo.

Ao declarar que “todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores” (v. 8), Jesus deixa claro que tem em mente os líderes religiosos de seu tempo, e não os profetas ou servos de Deus que haviam ministrado antes de Ele vir ao mundo. Essa advertência contra os falsos pastores é introduzida pela solene fórmula: “Em verdade, em verdade vos digo”. Sem dúvida alguma uma termino-logia autêntica de Jesus, contida também nos evangelhos sinóticos, embora nestes apareça sempre no singular (“Em verdade vos digo”), ao passo que em João quase sem-pre apareça no plural, como aqui. Essa fórmula salienta a solenidade, a seriedade e a dignidade de qualquer afirma-ção. Literalmente, é transliteração, para o grego, do termo hebraico “amém”, que tem o sentido de “assim seja”. Em Apocalipse 3:14 é empregada essa fórmula como nome do próprio Senhor Jesus, a fim de confirmar a validade de suas declarações, sua augusta e autoritativa posição e

A PORTA DAS OVELHAS

132 Estudos Bíblicos

exaltação, e com o propósito de salientar que a mensagem por Ele anunciada é totalmente veraz e deve ser atendida.

Os fariseus não criam em Cristo e perseguiam qualquer um que cresse nEle (Jo 9:22). Eram “líderes espirituais” que não aceitavam o enviado de Deus. Mas como pode-riam guiar o povo se eles mesmos não aceitavam o cami-nho de Deus? Assim eles não eram verdadeiros pastores nem tinham a aprovação de Deus para seu ministério. Não amavam as ovelhas; antes, as exploravam e abusavam delas. Não eram pastores de forma alguma, mas usurpa-dores, pois se colocavam em um lugar que não poderiam ocupar. Esse tipo de pastor só pode fazer mal às ovelhas. O mendigo foi um excelente exemplo do que os “ladrões e salteadores” eram capazes de fazer.

O profeta Ezequiel diz que Deus julgará os falsos pas-tores e protegerá suas ovelhas, enviando-lhes um pastor: Davi (Ez 34). Podemos entender que esta é uma referência direta ao Senhor Jesus Cristo. Ao contrário dos fariseus, Ele entra pela porta, ou seja, pela porta aberta pelo Pai, que é o fato de Ele ser um autêntico enviado de Deus para ser o Pastor de Suas ovelhas. Portanto, apenas Ele tem legitimidade para entrar no aprisco. A Ele o porteiro abre. Apenas Ele pode chamar as suas ovelhas, sendo reconhe-cido por elas. Ele vai à frente delas, e elas jamais seguirão a um estranho, mas deles fugirão, pois não reconhecem a voz dos falsos pastores.

Quando o verdadeiro Pastor faz sair todas as que Lhe pertencem, Ele não as força, mas as conduz. Ele não lhes pede para ir a qualquer lugar que primeiramente Ele não tenha ido. Ele está sempre na frente das ovelhas como seu Salvador, Guia e Exemplo. As que são verdadeiras ove-lhas de Cristo O seguem. Elas não se tornam ovelhas por seguir seu exemplo, mas por nascer de novo. Depois de salvas, têm um desejo de ir para onde Ele as guia.

As ovelhas ouvem a voz do pastor, elas reconhecem sua voz como a do verdadeiro pastor. Como as ovelhas reconhecem a voz do próprio pastor, assim havia entre o

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povo judeu os que reconheceram o Messias quando Ele apareceu. Por meio do Evangelho, temos ouvido o Pastor chamando suas ovelhas pelo nome. Ele chamou vários dis-cípulos no capítulo 1, e todos ouviram Sua voz e respon-deram. Ele chamou o homem cego no capítulo 9. O Senhor Jesus ainda chama os que O receberão como Salvador, e esse chamado é pessoal e individual.

O mesmo instinto que habilita uma ovelha a reconhecer a voz do verdadeiro pastor também a instiga a fugir de um estranho. Os estranhos eram os fariseus e outros líderes do povo judeu que somente se interessavam pelas ove-lhas para sua própria vantagem. O homem que recebeu a vista exemplifica isso. Ele reconheceu a voz do Senhor Jesus, mas sabia que os fariseus eram estranhos. Conse-quentemente, recusou-se a lhes obedecer, mesmo sendo excomungado.

2. Jesus é a Porta da salvação. Dois pontos podem ser aqui ressaltados. Primeiro, o cuidado protetor de Jesus. No verso 9, Jesus diz: “Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo”. Uma vez que Jesus é a Porta, livra os pecadores da escravidão e os conduz à liberdade. Eles são salvos! O verbo “salvar” significa “livrar de perigo e entregar em segurança”.107 Jesus estava mostrando que cuida da segurança das suas ovelhas. Ele as protege de todo perigo e de todo mal.

Um segundo ponto que pode ser ressaltado diz res-peito ao cuidado provedor de Jesus. Jesus diz que as suas ovelhas “entrarão, sairão, e encontrarão pastagens verdes” (v. 9, BV). Os que creem nele, e entram no rebanho do Senhor, têm o privilégio maravilhoso de sair para encontrar pastos verdejantes (Sl 23:2).

O verdadeiro Pastor veio salvar as ovelhas, mas os fal-sos pastores aproveitam-se delas. Por trás desses falsos pastores está a figura do “ladrão” (v. 10), provavelmente uma referência a Satanás. O ladrão deseja tirar as ovelhas

107 WIERSBE, Warren. Op. cit., p. 424.

134 Estudos Bíblicos

do aprisco, matá-las e destruí-las. Porém, as ovelhas estão seguras nas mãos do Pastor e do Pai.

Jesus Cristo é a porta; ou seja, o Cristianismo não é um credo, nem uma denominação. Antes é uma pessoa, e essa pessoa é o Senhor Jesus Cristo. Foi Ele mesmo quem disse: “Se alguém entrar por mim, será salvo” (v. 9). A salvação só pode ser recebida por meio de Cristo. O batismo não salva, nem a ceia do Senhor, nem mesmo a observância dos Dez Mandamentos. Devemos entrar por Cristo e pelo poder que Ele dá. O convite é para qualquer pessoa. Cristo é o Salvador tanto do judeu como do gentio. Mas para ser salvo o indivíduo deve entrar. Ele deve rece-ber a Jesus Cristo pela fé. É um ato pessoal e sem ele não há Salvação. Os que entram são salvos da penalidade, do poder e, por fim, da presença do pecado.

Ao passar pela Porta, recebemos vida com abundância e somos salvos. Ao entrar no rebanho e sair para a pasta-gem, desfrutamos vida abundante nos pastos verdejantes do Senhor. Suas ovelhas desfrutam plenitude e liberdade. Jesus não apenas deu sua vida por nós, mas também dá sua vida para nós a cada dia!

Cristo é a única Porta de acesso ao Pai. É assim porque apenas Ele morreu na cruz pagando o preço pelo pecado de suas ovelhas. Dessa forma a pastagem que oferece é o conhecimento e a comunhão com Ele mesmo e com o Pai. Esta é a vida eterna, a vida abundante da qual Ele nos fala, a vida que dá a todos os que o Pai Lhe deu (Jo 17:2,3). Trata-se de estar perdoado, de ter-se paz com Deus, de ter Deus como Deus, de saber de seu amor e de amá-Lo e de glorificá-Lo, de alegrar-se nEle. Esta é a vida de fato.

Outra vez o Senhor fala de Si, dizendo: “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas ovelhas” (v. 11). A palavra “bom” vem do grego kalos, e significa aquilo que

EU SOU O BOM PASTOR

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é “ideal, digno, escolhido, excelente”.108 Jesus é tudo isso! Depois Ele fala do relacionamento muito íntimo que existe entre Ele e suas ovelhas. Ele as conhece e elas O conhe-cem (v. 14). Eis uma verdade maravilhosa.

Há três pontos nestes versos que caracterizam o Bom Pastor. Senão, vejamos.

1. O Bom Pastor dá sua vida pelas ovelhas. No antigo sistema sacrificial, as ovelhas morriam pelo pastor; agora, o Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas! Em cinco ocasiões ao longo deste sermão, Jesus afirma claramente a natureza sacrificial de sua morte (vv. 11, 15, 17, 18). Ele não morreu como um mártir, executado por homens; antes morreu como um substituto, entregando a vida voluntaria-mente por nós (v. 17).109

Jesus apresenta um contraste entre Ele e os líderes judaicos, chamando-os de “mercenários”, ao dizer que: “O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa. O mercenário foge, porque é mercenário e não tem cuidado com as ovelhas” (vv. 12, 13). O mercenário não tem cuidado com as ovelhas, pois está mais interessado no próprio bem-estar do que no bem delas. Existem muitos mercenários hoje. São homens que escolheram o ministério pastoral como ocupação confor-tável, sem verdadeiro amor pelas ovelhas de Deus. Eles só pensam no salário, no lucro. São egoístas. Apenas pensam em si e não nas ovelhas. Que quadro diverso do anterior. Quando surge o perigo, o lobo, o mercenário foge, enquanto que o verdadeiro pastor permanece com o reba-nho para cuidar das ovelhas. Eles não arriscam a vida para salvar as ovelhas, então o lobo vem, ataca e dispersa todo o rebanho. Por que os mercenários agem assim? Porque as ovelhas não lhes pertencem (v. 12).

108 AMARAL, Júnior Vasconcelos do (Ed.). Jesus, o Bom Pastor. Disponível em: <http://www.revistatheologando.com.br/2012/04>. Acesso em 10 jan. 2013109 WIERSBE, Warren. Op. cit., p. 423.

136 Estudos Bíblicos

De modo semelhante, os falsos pastores sempre têm uma intenção egoísta. Pensam no dinheiro das ovelhas, ou no poder que exercem sobre elas, ou ainda na fama que gozam por dominá-las. Mas quando correm alguns riscos eles fogem. Não as amam de fato, mas só querem algum lucro. Assim foram os fariseus que não demonstraram qual-quer amor ou interesse pelo ex-cego, mas o expulsaram da sinagoga. Assim é hoje com aqueles que só querem o dinheiro das pessoas e as roubam até deixá-las na misé-ria, para depois abandoná-las.

No meio evangélico brasileiro ocorre o mesmo com os pastores que exercem domínio sobre o povo pelo sim-ples prazer que este domínio lhes dá, deixando as pobres pessoas em um cativeiro mental e espiritual, pois sequer podem questioná-los e às suas doutrinas falsas. Todos eles pensam em algum lucro imediato e nunca seriamente que estão trazendo sobre si e sobre muitos de seus seguidores a condenação do juízo eterno. Que egoísmo! Jesus não é assim. Ele dá a vida pelas ovelhas.

2. O Bom Pastor conhece e é conhecido por suas ovelhas. Jesus disse: “Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas; e elas me conhecem” (v. 14, NVI). O cui-dado do Pastor está ligado ao conhecimento e afeição mútuos que caracterizam a relação entre Ele e as ovelhas.110 No Evangelho de João, o termo “conhecer” significa muito mais do que ter consciência intelectual. Refere-se ao rela-cionamento íntimo entre Deus e seu povo (cf. Jo 17:3). No Oriente, os pastores conhecem as ovelhas individualmente. Portanto, eles sabem qual é a melhor maneira de cuidar de cada uma delas. Como é reconfortante ter a certeza de que o Bom Pastor conhece suas ovelhas pelo nome.111

À medida que o pastor cuida de suas ovelhas, elas pas-sam a conhecê-lo cada vez melhor. O Bom Pastor conhece suas ovelhas, e elas sabem quem Ele é. Era isto que os

110 PFEIFFER, Charles F.; HARRISSON, Everett F. Comentário bíblico Moody, v. 4: os Evangelhos e Atos. São Paulo: Imprensa Bíblica Regular, 1990, p. 204.111 WIERSBE, Warren. Op. cit., p. 425.

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fariseus não aceitavam. Eles desprezavam as ovelhas e as chamavam de povo maldito e ignorante (Jo 7:49; 9:34). Eles pensavam ter o olhar certo para discernir as coisas de Deus, mas na realidade eram cegos.

3. O Bom Pastor traz outras ovelhas para o rebanho. No verso 16 lemos outra afirmação do Bom Pastor: “Tenho outras ovelhas que não são deste aprisco. É necessário que eu as conduza também” (NVI). O aprisco mencionado por Jesus refere-se ao judaísmo. Infelizmente, João 10 é usado com frequência para ensinar que o aprisco é o céu e que não há outra forma de entrar senão por meio de Cristo. Trata-se de um ensinamento verdadeiro, mas que não tem como base esse versículo. Jesus deixou claro que o aprisco é a nação de Israel (v. 16). Os gentios são as “outras ove-lhas”, que não fazem parte do aprisco de Israel.112

A expressão “e as conduz para fora” (v. 3) pode se refe-rir ao fato de que o Senhor Jesus conduziu as ovelhas que ouviram sua voz para fora do aprisco de Israel. Ali estavam fechadas e cercadas. Não havia liberdade debaixo da lei. O Senhor conduz suas ovelhas para a liberdade da sua graça. No capítulo 9, João diz que os fariseus expulsaram o homem da sinagoga. Com essa atitude, mesmo sem saber, estavam prestando ajuda ao trabalho do Senhor.

No início de seu ministério Jesus se concentrou em cui-dar das “ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mt 10:5, 6; 15:24-27). Os que se converteram em Pentecostes eram judeus e prosélitos (At 2:5, 14), mas a Igreja não deveria ser um “rebanho judeu”. Pedro levou o Evangelho aos gen-tios (At 10), e Paulo transmitiu a mensagem aos gentios até os confins do império romano (At 13). Existe apenas um rebanho, o povo de Deus que pertence ao Bom Pastor. O povo de Deus encontra-se espalhado por todo o mundo (cf. At 18:1-11), e um dia Ele chamará e juntará Suas ove-lhas.113

112 WIERSBE, Warren. Op. cit., p. 424.113 WIERSBE, Warren. Op. cit., p. 426.

138 Estudos Bíblicos

Jesus tem “outras ovelhas que não são deste aprisco” (v. 16, NVI). Elas ainda não ouviram a voz de Jesus, mas quando a ouvirem vão perceber que Ele é o Pastor e vão segui-Lo. Os judeus gostavam de achar que a promessas de Deus correspondiam apenas a eles. Mas, Jesus mos-tra algo absolutamente diverso deste pensamento. Ele nos diz que tem ovelhas de outro aprisco, o que indica que o presente aprisco é Israel e o outro se refere aos gentios. Fica evidente que nem toda a ovelha do aprisco de Israel é seu rebanho, mas apenas as Suas, que são as que o Pai Lhe deu. Também fica evidente que nem todos os gentios fazem parte de Seu rebanho, mas há dentre eles aqueles que são Suas ovelhas. Quanto a estas, disse Jesus: “elas ouvirão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pas-tor” (v. 16, NVI)

Tudo isso é totalmente adverso do que pensavam os judeus. O fato é que Deus concedeu ovelhas ao Bom Pas-tor de todas as nações, e o Bom Pastor irá atrás de cada uma delas, mas não de outras que não Lhe pertencem. Este rebanho é vitorioso, pois o Filho está comprometido a buscar a cada ovelha de forma a conduzi-la sem exce-ção. Logo este rebanho estará completo, mas na mente de Deus já o está.

Devemos nos consolar grandemente por sabermos que o futuro do povo de Deus é certo, pois está em Suas mãos. Isso fica mais evidente nos versos 17 e 18, em que Cristo nos fala do amor do Pai pelo Filho, porque este dá Sua vida espontaneamente para depois reassumi-la. Tudo isso ele faz por mandato do próprio Pai. Fica claro que ambos estão no mesmo propósito de salvação do rebanho internacio-nal do Bom Pastor. Realmente este rebanho está seguro. Nenhum ladrão, salteador, estranho, mercenário ou lobo

UMA PALAVRA FINAL

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lhes fará mal. Console-se, querida ovelha do Senhor, você que crê no Cristo das Escrituras. A Ele seja a glória!

1. João diz que Jesus, em seu discurso, estava falando por parábola (v. 6). O que os versículos 1 e 2 significam neste caso? Qual é a diferença entre entrar pela porta e pular o muro do aprisco?

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2. Ao reler a passagem, identifique quem ou o que repre-sentam as seguintes imagens: o aprisco, o pastor, o por-teiro, o ladrão, as ovelhas, a porta.

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3. Como um pastor chama as suas ovelhas? Qual é a importância do pastor conhecer as ovelhas pelo nome? Que isto significa em nossos dias? (v. 3)

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4. Qual é a responsabilidade do bom pastor? E quanto às ovelhas, qual a responsabilidade delas? O que uma ove-lha “boa” faz? Como pode a ovelha conhecer a quem ela segue? Como elas reagem aos estranhos? (vv. 4,5)

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5. O que significa dizer que Jesus é a porta das ovelhas? (v. 7)

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6. Quem são aqueles que vieram antes de Jesus? A quem Ele está se referindo? Por que Ele os chama de ladrões e

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

140 Estudos Bíblicos

salteadores? Qual é a diferença entre Jesus e outros falsos profetas e cristos da Sua época? (v. 8)

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7. Segundo Jesus, o ladrão vem para roubar, matar e des-truir (v. 10). O que o inimigo de nossas almas pode roubar de nós?

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8. Jesus disse que Ele veio para nos dar vida em abun-dância (v. 10). O que Ele desejou disser com isso? Como Ele pode nos dar vida abundante? Essa afirmação significa que teremos uma vida livre de problemas e cheia de saúde e prosperidade financeira?

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9. Nos versos 11 a 15 Jesus fala sobre o cuidado do pas-tor com suas ovelhas. O que você aprendeu a respeito do cuidado dEle com você e de seu relacionamento com Ele nestes versos?

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10. O que Jesus revelou concernente ao futuro do seu rebanho? O que significa que Jesus tem “outras ovelhas”? Quem são elas? De que forma você se sente parte de “um rebanho” sob a direção de um “bom pastor”? (v. 16)

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Domingo – Filipenses 3:7-11

A ressurreição é a base sustentadora do edifício do Cristianismo. Compêndios seriam necessários para rela-tar as maravilhas de tal feito divino. A preciosidade da res-surreição do nosso Mestre é vê-Lo deixar o túmulo como resultado de nós mesmos termos deixado o túmulo do mundanismo. Embora, não possamos, como os discípu-los, vê-Lo visivelmente, devemos desejar ver Jesus com os olhos da fé; conquanto não possamos tocá-Lo como Maria Madalena, mesmo assim temos o privilégio de conversar com Ele por meio da oração, e saber que Ele ressuscitou, e que fomos ressuscitados nEle em novidade de vida. É muito bom conhecer que o nosso Salvador foi crucificado e lavou todos os meus pecados; mas é sublime conhecer o Salvador ressuscitado porque Ele me justificou e entender que Ele me deu nova vida, tornando-me nova criatura por meio de Sua própria novidade de vida. Sem isto, ninguém ouse ficar satisfeito.

Segunda-feira – João 5:19-24

Certa vez um perito da lei, movido por sua má intenção, perguntou a Jesus o que precisa ser feito para alcançar a vida eterna. A pergunta pressupõe que a salvação é alcan-çada pelo esforço humano e não um dom gratuito do Pai Celeste. Muitas vezes, nós realizamos perguntas similares sobre como alcançarmos nossa felicidade ou como obter sucesso. Neste dia, baixe as armas com Deus e examine quais são suas intenções com Ele. Não se relacione com Ele cheio de expectativas, movido pelos interesses de con-quistar Seus favores e bênçãos. Tenha interesse verdadeiro de viver agora a vida eterna. Ela não é algo para depois,

André Garcia Ferreira

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

142 Estudos Bíblicos

começa agora. Assim, a melhor pergunta que devemos fazer é: O que o Senhor precisa fazer em mim para eu her-dar a vida eterna? Tire um tempo deste dia para fazer esta pergunta a Deus. E não tenha pressa de sair dela!

Terça-feira – João 5:25-29

Quando compreendemos a obra regeneradora de Cristo e a herança eterna que obtemos dEle, entendemos a nossa nova constituição. Se eu consigo ver o que sou em Cristo, percebo que “nenhuma condenação há”, pois estou morto para o pecado, mas vivo para Deus em Cristo Jesus. Portanto, estar em Cristo e permanecer nEle significa que estamos “mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6:11). Que fantástico! Como mortos e ressuscitados em Cristo estamos diante de Deus desfrutando tudo que Ele tem, sem nenhuma con-denação.

Quarta-feira – João 10:22-28

A vida eterna é o resultado da nossa união com Deus, por intermédio de Cristo. Desta forma, começamos a expe-rimentar, hoje, uma parcela daquilo que viveremos por toda a eternidade. A paz que sentimos, o amor, a comunhão, a alegria são aperitivos gloriosos que nos consolam e nos fortalecem diante das dificuldades impostas pela vida. Nós já participamos da vida eterna dada por Cristo. A alegria gerada pelo feito de Jesus é um convite para prosseguir-mos. Está desanimado? O que o tem magoado? Nada disso é maior do que a herança que temos em Deus. Por isso, caminhe! Há um novo lugar preparado para você!

Quinta-feira – João 1:1-10

A vinda de Cristo Jesus é o ápice da glória de Deus. Jesus veio a esse mundo para salvar os pecadores, pes-

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soas que desprezaram Sua Glória. O inimigo cegou o entendimento dos incrédulos para impedir que eles vejam a luz do Evangelho da Glória de Deus. Assim, ao enviar Cristo, para morrer em nosso lugar, Deus não apenas nos resgata da falha de viver para a Sua Glória, mas mostra o ponto áureo de Sua Majestade. A glória de Cristo foi vindi-cada quando Deus enviou seu único Filho a esse mundo, para que vivêssemos em alegria perpétua. Por isso, ale-gre-se na liberdade que Deus lhe oferece por meio do per-dão e da justificação e da substituição de Seu Filho por nós.

Sexta-feira – João 11:11-16

A ressurreição de Lázaro tinha o objetivo principal de levar-nos a crer nas verdades espirituais pregadas por Cristo. A principal é que Deus nos ama, tem propósitos específicos e bons, de acordo com Seu plano, e irá agir em nossa vida no tempo determinado por Ele. Além disso, a palavra final em todas as circunstâncias pertence a Jesus, que tem toda a autoridade nos céus e na terra. Portanto, confiemos, nos entreguemos, esperemos e descansemos em Deus.

Sábado – João 11:17-27

Na história, o homem sempre buscou a imortalidade. De mumificações no Egito Antigo a injeções feitas a partir de animais, na Franca do século XIX. Hoje em dia, cientis-tas tentam, por meio de remédios e manipulação celular, alcançar tal feito, que para nós cristãos já está definido: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá, e quem vive e crê em mim nunca morrerá”. Se você tem a este Jesus em seu coração, então você tam-bém está livre do medo e do poder da morte.

144 Estudos Bíblicos

A Ressurreição e a Vida

Pr. Alfredo Oliveira SilvaEstudo da Semana: João 11:1-4508 de Junho de 2013

10TEXTO BÁSICO:

Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. (Jo 11:25)

INTRODUÇÃO

O Evangelho de Jesus Cristo, segundo João, também chamado de Quarto Evangelho, tem a sua estrutura defi-nida a partir dos “sete sinais” feitos por Jesus e registrados pelo apóstolo João.114 No estudo de hoje vamos tratar do sétimo e último dos sinais: A ressurreição de Lázaro.

A ressurreição de Lázaro é o ponto de partida de uma série de eventos que culmina com a morte e ressurreição de Jesus Cristo, sendo uma introdução à narrativa dos even-tos que antecedem à Páscoa, um dos eixos deste Evan-gelho, conforme destacaram Mateos e Barreto, “as linhas chaves da teologia de João são duas: o tema da criação e o da Páscoa-aliança”.115 Esta abordagem tem seu ponto de partida no Prólogo – onde a criação é descrita com instru-mental arquitetônico da filosofia grega – alcançando a res-surreição, celebrando a Páscoa-aliança. Entre um e outro ponto desenrola-se toda a temática do Quarto Evangelho, que culmina no calvário. “A cruz de Jesus é o ponto de che-gada para o qual João faz convergir às diversas linhas teo-lógicas do Antigo Testamento”.116 Isso significa que o Evan-

114 1º. Água transformada em vinho em Caná (2:1-11); 2º. Cura do filho de um oficial (4:46-54); 3º. Cura de um paralítico (5:1-15); 4º. Multiplicação de pães e peixes (6:1-14); 5º. Jesus andando sobre as águas (6:15-21); 6º. Cura do cego de nascença (9:1-12); e, 7º. A ressurreição de Lázaro (11:1-45).115 MATEOS, Juan; BARRETO, Juan. O Evangelho de São João: grande comen-tário bíblico. São Paulo: Paulinas, 1989, p. 7.116 MATEOS, Juan e BARRETO, Juan. Op. cit., p. 10.

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gelho de João deve ser teologicamente observado a partir dele mesmo, não de outra fonte externa, mesmo que esta fonte seja o Antigo Testamento. Logo, estamos diante de um capítulo central para a compreensão de todo o Quarto Evangelho.

Na Bíblia são apresentados outros seis exemplos de ressurreição. A vida é devolvida por Elias ao filho da viúva de Sarepta; por Eliseu ao filho da sunamita; por Jesus à filha de Jairo e ao filho da viúva de Naim; enfim por Pedro a Tabita e por Paulo a Êutico.117 Nos casos enumerados, a morte é recente; no caso da ressurreição de Lázaro o dife-rencial é que ela ocorre quatro dias após o óbito.

Em nosso estudo de hoje veremos que ressurreição e a vida são temas interdependentes e que se revelam cruciais para a compreensão, vivência e testemunho da mensagem cristã.

O relato joanino começa simplesmente pela apresen-tação dos personagens e da situação. Lázaro, de Betâ-nia, é desconhecido nos evangelhos sinóticos, o que não acontece com Maria e Marta, suas irmãs, já conhecidas do relato evangélico (v. 2; Lc 10:38-42).118 O núcleo familiar de Lázaro estava na aldeia de Betânia, que “ficava a menos de três quilômetros de Jerusalém” (v. 18, NTLH), e que não deve ser confundida com a Betânia que ficava do outro lado do Jordão (Jo 1:28; 10:40). A localização geográfica dos eventos bíblicos ajuda não somente como argumento de comprovação histórica, como também para um melhor entendimento dos ensinos contidos à luz do contexto.

Lázaro adoece e suas irmãs decidem chamar o Mes-tre por meio de um recado, que, embora discreto, traz con-sigo alguns indicadores preciosos (v. 3). Em primeiro lugar sinaliza urgência, pois a enfermidade as motiva a requerer a atenção do Mestre. Em segundo lugar, percebe-se que

117 1Re 17:17-24; 2Re 4:29-37; Mc 5:22-43; Lc 7:11-17; At 9:36-41; 20:9-12.118 CLIFTON JR., Allen (Ed.). Comentário bíblico Broadman, v. 9: Lucas e João. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1987, p. 363.

O CENÁRIO

146 Estudos Bíblicos

havia entre Jesus e aquela família uma relação de amizade fraterna e a convicção de que a sua presença faria toda a diferença (v. 32).

Destaque-se que o enfermo – Lázaro – é descrito como o discípulo a quem Jesus amava (v. 3). Lázaro não chega a participar do grupo dos Apóstolos. Caso contrário, seria referido nos outros Evangelhos como tal, mas é mencio-nado como um discípulo amado por Jesus. Amor aqui é a tradução da palavra grega phileõ�, que descreve uma rela-ção de amizade e carinho, o que situa Lázaro não somente como mais um discípulo, mas como um amigo que é amado por Jesus (v. 36).119 João também registra o amor de Jesus por toda a família quando no versículo 5 utiliza a palavra agapao�, o tão celebrado amor ágape.

O Mestre estava ensinando na Pereia,120 às margens do Jordão, quando, de repente, chegou um mensageiro que lhe dá o aviso: “Senhor, o seu querido amigo Lázaro está doente!” (v. 3, NTLH). Como no caso do cego de nascença (9:3), Jesus não viu a enfermidade corporal como uma tra-gédia, pois ao receber a mensagem, proferiu a seguinte frase: “Esta enfermidade não é para morte, e sim para gló-ria de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glo-rificado” (v. 4). Provavelmente, a esta altura, Lázaro já havia morrido (v. 39), mas o significado é mais amplo e aponta tanto para o sinal da ressurreição de Lázaro quanto para a futura ressurreição do próprio Jesus Cristo.

João diz que Jesus “quando, pois, soube que Lázaro estava doente, ainda se demorou dois dias no lugar onde estava” (v. 6). Comentando este evento, Antônio Renato Gusso destaca que “Jesus ao receber a notícia da enfermi-dade de Lázaro, poderia ter partido ao seu encontro imedia-tamente, e poderia ter curado Lázaro da mesma maneira como curou tantos outros, mas esperou que ele estivesse

119 Esta ênfase suscita a possibilidade da identificação de Lázaro com o “discípulo amado”, já que ele é o único seguidor do qual se diz Jesus tê-lo amado.120 Pereia era uma região da Palestina e ficava próximo da Judeia no outro lado do Rio Jordão. A distância entre a Betânia além do Jordão e a Betânia perto de Je-rusalém era de cerca de 30 quilômetros.

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morto, para ir então a Betânia onde o falecido estava”.121 Na verdade, ao reconstruir os fatos, fica claro que a mensa-gem de que Lázaro estava doente levou um dia para chegar a Jesus na Transjordânia. Portanto, quando o mensageiro entregou-lhe o recado, ele já sabia que Lázaro havia mor-rido (v. 14).122

Marta e Maria estavam bastante preocupadas com a saúde do irmão. A esperança era que Jesus viesse logo. Podemos imaginá-las no quarto de Lázaro repetindo o tempo todo: “Se pelo menos Jesus estivesse aqui!”.123 Elas tinham certeza de que Ele, ao ouvir o recado, viria apressa-damente atendê-las. Mas Jesus não se apressou e Lázaro morreu. Ele sequer compareceu ao enterro; apareceu somente quatro dias depois. Por quê? João 11 nos ajuda a entender. Esse texto pinta um quadro sobre Jesus. Nele, vemos o atraso, o plano, o choro e o poder de Jesus, que nos permite conhecê-lo melhor.124

Ao chegar a Betânia Jesus encontra um cenário de luto, pois “já fazia quatro dias que Lázaro havia sido sepultado” (v. 17, NTLH). Ao que tudo indica Lázaro morreu logo depois que o mensageiro foi enviado. Dando um dia para a sua via-gem, dois dias para a demora de Jesus, e um dia para a sua volta, chegamos ao total de quatro dias.

Diante da morte do irmão, Marta e Maria começavam a vivenciar os seis estágios descritos por Elisabeth Kübler-Ross: negação e isolamento, raiva, barganha, depressão e aceita-ção.125 As irmãs de Lázaro agem de maneira caracterís-

121 GUSSO, Antônio Renato. Jesus se apresenta: conheça melhor aquele que pode transformar sua vida. Curitiba, PR: FatoÉ, 2004, p. 80.122 CARSON, D. A. O comentário de João. São Paulo: Sheed Publicações, 2007, p. 407.123 HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: o Evangelho de João. São Paulo: Editora Cristã, 2004, p. 507.124 SILVA, Genilson da (Ed). Quem é Jesus? Lições Bíblicas. Maringá, n. 288, jul./set. 2009, p. 54.125 KÜBLER-ROSS, Elisabeth. Sobre a morte e o morrer: o que os doentes têm para ensinar aos médicos, enfermeiras, religiosos e aos seus próprios parentes. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

JESUS: A RESSURREIÇÃO E A VIDA

148 Estudos Bíblicos

tica: Marta indo a Jesus e apresentando sua percepção dos fatos (vv. 20, 21), enquanto que Maria permanece imóvel em seu luto (v. 20). O comportamento delas é um testemu-nho de que as pessoas têm personalidades distintas e que se expressam de maneiras diferentes mesmo expostas às mesmas situações. A imposição de estereótipos deve ser evitada, sobretudo em momentos de forte carga emocional, como o das perdas.

Quando Marta recebeu a notícia de que Jesus estava chegando, foi ao encontro dEle, e lhe disse: “Senhor, se estivesses aqui, meu irmão não teria morrido. Mas sei que, mesmo agora, Deus te dará tudo o que pedires” (vv. 20-22, NVI). Marta fala como alguém que tem fé. Suas primeiras palavras a Jesus não são uma repreensão, como se ela estivesse dizendo que Jesus devia ter estado lá. Antes, elas são palavras de dor e de fé: ela está confiante de que se Jesus tivesse estado presente enquanto seu irmão estava doente, Ele o teria curado.126 É a mesma fé que se mani-festa na certeza que ela tem de que Deus atende a qual-quer pedido de Jesus.

Diante daquele quadro de tristeza e fé, Jesus afirma a Marta: “Teu irmão há de ressuscitar” (v. 23, ARC). Marta, porém, recebe estas palavras de Jesus como uma pala-vra convencional de conforto esperança, comum entre os judeus que criam na ressurreição, e lhe diz: “Eu sei que ele vai ressuscitar na ressurreição, no último dia” (v. 24, NVI). Graças à influência dos fariseus e daqueles que seguiam sua maneira de pensar, a crença na ressurreição e no juízo final era generalizada entre os judeus, a despeito dos sadu-ceus que não criam na ressurreição (At 23:8).127

Nesse momento, uma palavra poderosa de Jesus traz o futuro distante do “último dia” para dentro do presente, vinculando a esperança, inicialmente apenas doutrinária, à sua pessoa. Jesus lhe disse: “Eu sou a ressurreição e a

126 CARSON, D.A. Op. cit., p. 411.127 BRUCE, F.F. João: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 210.

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vida” (v. 25). Ao dizer “Eu sou” (gr. Ego� eimi), Jesus encar-nou a realidade do último dia já agora neste presente tempo.

Ressurreição e vida não se referem à mesma coisa; antes se referem a dois aspectos complementares, eluci-dados nas duas afirmações seguintes: “Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (v. 26). Estas duas afirmações de Jesus, apesar de paralelas, não são sinônimas. Charles Harold Dodd sugere que a primeira esclarece a afirmação “eu sou a ressurreição”, e a segunda o faz em relação às palavras “eu sou a vida”. Teríamos então: “Eu sou a res-surreição; quem crê em mim, ainda que morra, viverá. Eu sou a vida; todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente”.128

Quem crê em Jesus e passa pela morte física mesmo assim não morre. Como pode ser isso? As palavras gregas usadas por Jesus foram zoê e zesetai, e significam “pleni-tude de vida”. A vida em Cristo é uma modalidade de vida plena, completa, vida de qualidade. Jesus diz que “o ladrão não vem senão a roubar, a matar, e a destruir; eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância” (Jo 10:10). Vida eterna não significa apenas imortalidade, mas a quali-dade da nova vida que começamos a viver quando nasce-mos de novo. Essa qualidade de vida vamos vivê-la plena-mente no céu, com Deus, os anjos e todos os salvos. Um dia, a vida mortal chegará ao fim; porém, a vida verdadeira dura para sempre.

Ante a pergunta de Jesus, “Você crê nisso?” (v. 26, NVI), Marta responde com a profissão de fé cristã: “Sim, Senhor, creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo” (v. 27, ARC). Confissão extraordinária, paralela à de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16:16). Esta é a confissão de fé da Igreja de Cristo. E esta é a nossa mensagem.

128 DODD, Charles Harold. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Pau-lus, 2003, p. 365.

150 Estudos Bíblicos

Nestes versículos encontramos uma narrativa carre-gada de emoção. Uma família chora a morte de um dos seus membros e é consolada. Em meio à dor da perda, e do luto, Jesus chega e sofre com os que estão sofrendo. Jesus demonstra seu interesse não apenas por aquela que o busca – Marta, mas também por aquela que permane-ceu isolada em sua dor – Maria. O nosso Mestre não nos abandona em nenhum momento. Deus se contextualizou em Cristo, quando o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1:14). Em todo o seu ministério terreno, Jesus Cristo identificou-se com o ser humano em seus sofrimentos, e os curou (At 10:38).

Logo depois de sua confissão a Cristo, Marta “reti-rou-se e chamou Maria, sua irmã, e lhe disse em particular: O Mestre chegou e te chama. Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa e foi ter com ele” (vv. 28,29). Contudo sua saída não passa despercebida, pois “os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar-se depressa e sair, seguiram-na, supondo que ela ia ao túmulo para chorar” (v. 31). Quando Maria alcança Jesus, ela cai a seus pés e diz a mesma coisa que Marta disse (v. 32; cf. 21). Quando Jesus viu Maria chorar, e os judeus também, ficou muito perturbado. E perguntou: “Onde o sepultastes? Eles lhe responderam: Senhor, vem e vê!” (v. 34).

Em meio à dor e ao sofrimento daquelas irmãs, o sen-timento de Jesus se traduz no solene registro: “Jesus cho-rou” (v. 35). Por que Ele chorou, se sabia que Lázaro vol-taria a viver? Ele chorou porque sentiu a dor de perder um grande amigo, mesmo por apenas quatro dias. Chorou por ver a dor das irmãs e dos amigos de Lázaro. Chorou por-que seu amor é compassivo e solidário. Chorou por ver a miséria humana e por saber a sua causa. Chorou porque era humano, as lágrimas dele revelam a sua plena humani-dade, e Ele não disfarçava as emoções de um coração sen-sível e cheio de compaixão. Ele é Deus que se solidariza

JESUS CHOROU

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com nossa dor. Ele sofre e chora conosco. A exemplo do Mestre, precisamos recuperar a capacidade de chorar com as dores do nosso povo; não podemos ser insensíveis. Sen-tir o sofrimento do outro nos move para a ação, que no caso do cristão vai além da promoção da dignidade humana, e alcança o testemunho evangelizador.129

Um dos desafios permanentes da Igreja Cristã é perma-necer sensível aos sofrimentos das pessoas, é permanecer humana (Rm 12:15). Não podemos cair no mesmo erro dos religiosos dos tempos de Jesus, que por meio de um sis-tema religioso estabelecido, e para manter o status, não se solidarizavam com o povo. Quando o sistema religioso é manipulado por forças opressoras contra o povo, que deve-ria por ele – o sistema religioso – ser confortado; quando é mencionado o sistema classista – apoiado pelo templo – fica claro que os estamentos sociais, tal qual estabelecidos, constituem-se em uma deformação do ideal de Deus, que nivela a todos como irmãos.130 Não é difícil perceber que a crítica feita por Jesus em seu tempo continua atual.

A manifestação de emoção de Jesus é interpretada de duas formas pelos judeus. Para alguns, as lágrimas de Jesus diante do túmulo de Lázaro eram um testemunho de “como ele o amava” (v. 36, NVI). Outros, porém, lem-braram-se da cura do cego de nascença, e questionaram: “Ele, que abriu os olhos do cego, não poderia ter impedido que este homem morresse?” (v. 37, NVI). Na verdade, essa recordação não é valorizada positivamente, mas aprovei-tada como ponto de partida para criticar Jesus.

Diante de tanta presunção, Jesus se conteve e “foi até o túmulo, que era uma gruta com uma pedra colocada na entrada” (v. 38). Jesus dirige-se ao sepulcro, cravado na rocha, movido por profundos sentimentos. Ele poderia ter ressuscitado Lázaro sem ir lá, poderia ter ordenado que o

129 SILVA, Genilson da (Ed). Op. cit., p. 55.130 PIXLEY, George V. O reino de Deus. São Paulo: Paulinas, 1981, p. 86.

A RESSURREIÇÃO DE LÁZARO

152 Estudos Bíblicos

sepulcro se abrisse. Mas não! Preferiu dar uma ordem que faria dos humanos, partícipes do milagre: “Tirai a pedra” (v. 39). Esta ordem Cristo nos leva a pensar: “Será que nós não temos alguma pedra que precisamos tirar, para que um milagre aconteça em nossa vida”? É claro que Jesus pode tirar todas as pedras, mas Ele não fará aquilo que está ao nosso alcance. Façamos o possível, e deixemos o impossí-vel para aquele que é especialista em realizar milagres que transcendem a compreensão humana!

Naturalmente, Marta argumenta sobre o estado fétido do cadáver, que provavelmente já estava em decompo-sição, dizendo-lhe: “Senhor, ele já cheira mal, pois já faz quatro dias” (v. 39, NVI). Na crença popular judaica, o espí-rito humano pairava próximo ao corpo durante três dias, partindo a seguir quando o corpo do cadáver começava a mudar de cor. Para uma pessoa enterrada há quatro dias, a morte era irrevogável, devendo toda esperança ser aban-donada.131 Porém, o Senhor trabalha em outra direção, e lhe responde: “Não lhe falei que, se você cresse, veria a glória de Deus?” (v. 40, NVI). A ação de Deus não depende da lógica humana, mas se desenvolve no exercício do Seu incomparável poder, e ainda concede-nos o privilégio nos juntarmos à Sua ação.

Um aspecto importante do milagre é que o Senhor Jesus age em oração, e profunda comunhão com Deus, e a Ele atribui a glória ao enfatizar o aspecto testemu-nhal “para que creiam que tu me enviaste” (vv. 41, 42). Os milagres de Deus não acontecem para alimentar persona-lismos nem caprichos pessoais, mas têm uma finalidade evangelizadora. Tendo orado ao Senhor, de maneira peda-gógico-testemunhal, Jesus Cristo, então, chama Lázaro da morte para a vida: “Lázaro, venha para fora!” (v. 43, NVI). Lázaro sai do túmulo, ainda envolto pelas faixas da morte, mas o Mestre ordena que os presentes o ajudem (V. 44). Uma aplicação evangelística se faz possível quando lem-bramos que quando pessoas são salvas, é importante que sejam ajudadas para prosseguir em sua nova jornada.

131 CLIFTON JR., Allen (Ed.). Op. cit., p. 364.

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A reação do público se dá de duas maneiras: muitos dos judeus que estavam com Maria e viram isto acontecer, finalmente creram nele. Porém alguns saíram, foram aos fariseus e contaram aquilo que Jesus realizara (vv. 45,46).

A morte de Lázaro e sua ressurreição deve ser um para-digma, um modelo de certeza de vida eterna que todos os crentes em Jesus podem e devem ter. Paulo, escrevendo aos coríntios, sentenciou: “E, se não há ressurreição de mortos, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, logo é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé” (1Co 15:13,14). A Igreja do Senhor está funda-mentada na Rocha dos Séculos – Jesus Cristo – e na cer-teza de que Ele ressuscitou. A ressurreição do Senhor nos dá a certeza de que a morte não é o fim, e que a vida vivida em obediência ao Senhor tem sentido e propósito.

1. Por meio dos indícios fornecidos no capítulo, descreva o relacionamento de Jesus com cada membro dessa família: Marta, Maria e Lázaro.

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2. Como resolvemos o aparente conflito entre o amor de Jesus por Lázaro e sua demora proposital em ajudá-lo? (vv. 4, 5, 15)

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3. Que elementos de dúvida e fé você vê nas declara-ções de Marta para Jesus? Por que ela foi “ao encontro” de Jesus quando soube que Ele estava chegando? Neste breve encontro, como Jesus aumenta a fé de Marta? (vv. 17-27).

UMA PALAVRA FINAL

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

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4. Como a declaração de Marta “mas sei que, mesmo agora, Deus te dará tudo o que pedires” (v. 22) deve ser interpretada?

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5. Nos versos 25 e 26 Jesus declara “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”. Em cada caso, a que espécie de “vida” e “morte” Ele se refere? Como essa afirmação de Jesus altera nossa visão normal da vida e da morte?

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6. O apóstolo João enfatiza que Cristo estava profunda-mente comovido pela dor e pesar daquelas duas irmãs a ponto de chorar. Como isto nos ajuda a enfrentar os momentos de luto e pesar?

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7. Ao chegar ao túmulo de Lázaro, Jesus manda retirar a pedra (v.39). Por que Ele pede isto? Ele não poderia ter ordenado à pedra sair?

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8. Qual foi o significado da oração que Jesus pronunciou antes de realizar o milagre (vs. 41-42)?

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9. Como a ressurreição de Lázaro é semelhante àquela que vai acontecer quando Jesus Cristo voltar (vs. 43,44)?

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Domingo – Êxodo 18:13-23

Na Bíblia, o deserto é a escola da vida, espaço de aprendizagem, para onde Deus conduziu Seu povo, a fim de educá-los como o pai educa seu filho. No deserto houve conflitos entre as pessoas e, normalmente, nos habitua-mos a considerar as crises como algo pesado, desgas-tante, insuportável, e que somos obrigados a encarar. Os capítulos 15 a 18 de Êxodo nos convidam a refletir que a crise pode ser assumida como oportunidade de cresci-mento e amadurecimento da nossa vida. Nas duras prova-ções do deserto, aprendemos que a solução para os pro-blemas não está na murmuração, mas no conhecimento da Palavra de Deus que direciona e propõe amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Dessa maneira a adversidade torna-se um trampolim para a construção de pessoas e comunidades maduras espiri-tualmente.

Segunda-feira – Êxodo 32:7-14

A idolatria é o culto aos falsos deuses e constitui-se uma corrupção da verdadeira religião. Em hebraico pode também significar vaidades ou coisas vazias. Este tema é importante para nós. Normalmente, consideramos idóla-tras somente aqueles que adoram ou veneram imagens. Entretanto, nós evangélicos não estamos imunes a esse pecado só porque não adoramos imagens. Paulo afirma que a avareza, ou seja, possuir um coração mesquinho, é idolatria (Cl 3:5). Ele também define o idólatra como a pessoa que pratica a cobiça (Ef 5:5). A idolatria procede da falta de reconhecimento do verdadeiro Deus e se opõe

André Garcia Ferreira

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

156 Estudos Bíblicos

ao fruto do Espírito. Pedro nos adverte que a idolatria deve ser coisa do passado e não do nosso presente (1Pe 4:3). Verifique se você não está adotando uma postura idólatra: Você está sendo fiel a Deus? Está colocando Ele em pri-meiro lugar? Ou tem algo mais importante em sua vida? Queridos, fujam da idolatria!

Terça-feira – Salmo 51:1-7

Há pessoas que passam a vida inteira prometendo que emagrecerão e melhorarão a qualidade de vida. Esforçam-se e perdem peso, mas depois relaxam e retornam ao estado inicial. Os nutricionistas nos alertam para o perigo desse efeito “sanfona” (emagrece e depois engorda), que é nocivo para nosso organismo. Há muitos crentes que vivem esse “efeito sanfona” na vida espiritual. Constantemente estão pecando e chorando pelo pecado. Arrependem-se e depois voltam a pecar. O objetivo de Deus para nossa vida é que tenhamos estabilidade espiri-tual. E isto não provém do nosso esforço, mas do Espírito Santo. Por isso, Davi pediu um coração puro ao Nosso Deus. Quando precisamos de uma renovação interior, o Salmo 51 é o texto para seguir.

Quarta-feira – Salmo 15

Neste salmo, Davi ensina dez princípios éticos que determinam a vida dos justos, dos cidadãos celestiais, aqueles que agem de acordo com a vontade de Deus e estão aprovados para entrarem no Tabernáculo celestial e subirem ao Santo monte do Senhor. Estamos no limiar da eternidade, e muitos vivem em uma falsa segurança. Somente os que são íntegros poderão entrar nos portais das mansões celestiais. Temos nós buscado a Deus a fim de que esse caráter possa ser visto em nós? Se nós bus-

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carmos sinceramente a Jesus Cristo, Ele nos dará o Seu Espírito abundantemente, a fim de transformar a nossa vida, perdoando os nossos pecados e nos levando à inte-gridade e perfeição. Desse modo, jamais seremos abala-dos, “ainda que a terra se transtorne e os montes se aba-lem no seio dos mares”.

Quinta-feira – Atos 5:17-21

Pensando na pregação da igreja contemporânea, em contraste com a pregação dos apóstolos, percebe-se que ela abandonou a pregação ousada. Gradualmente, ela amenizou seu testemunho; depois, passou a aceitar e jus-tificar os modismos que estavam em voga no mundo; e, no passo seguinte, começou a tolerá-las em suas frontei-ras. Agora, a igreja as adotou sob o pretexto de ganhar as multidões. Leonard Rayenhill, bem observa ao declarar “Se Jesus houvesse pregado as mensagens que muitos dos ‘ministros pregam hoje, Ele nunca teria sido crucifi-cado!”. A igreja passou a ser o espaço de entretenimento. Este é antagônico ao ensino e à vida de Cristo. A igreja foi chamada para ser o “sal da terra” e não o “docinho do mundo”. A igreja do entretenimento causa danos entre os novos convertidos, pois o Evangelho pregado é parcial e não produz convertidos verdadeiros. O ministro da Palavra de Deus deve ter instrução bíblica fiel, bem como ardente espiritualidade. A necessidade de nossa época é a dou-trina bíblica que produz devoção verdadeira no íntimo dos convertidos.

Sexta-feira – Mateus 7:13-20

Quanto custa ser um cristão? Se for apenas de aparên-cia, não custa grande coisa. Mas, segundo o ensino bíblico, custa caro ser cristão. Há inimigos a vencer, batalhas a evitar; deve-se abandonar o Egito, cruzar o deserto, carre-

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gar o peso da cruz e tomar parte na grande jornada num caminho estreito. A conversão marca o início de um grande conflito, e a vitória vem após muitas feridas e contendas. Daí a importância de calcularmos este custo. Melhor iriam as coisas em nossas igrejas se ensinassem a seus mem-bros a calcular o custo que implica a profissão de fé cristã. Hoje, parece que o único grande fim a que se propõem é a conversão instantânea de almas. Esta maneira tão par-cial e vazia de ensinar o Cristianismo é funesta. É claro que a salvação é imediata, gratuita e completa em Cristo. Mas estas verdades não podem ser apresentadas em si mesmas, isoladas e sem relação com as demais verda-des de todo conselho de Deus. Por muito que seja o custo, tomaremos a determinação de nos esforçar para entrar pela porta apertada? Saiba que a presença e companhia de Cristo compensarão os sofrimentos deste mundo pelo caminho estreito.

Sábado – João 14:1-11

Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Nin-guém vem ao Pai senão por mim” (v. 6). Com estas palavras Ele nos conduz além de uma sabedoria humana ou filoso-fia e nos insere no conhecimento de Sua própria pessoa. Jesus nos ensina que ele é o Salvador, nosso único Salva-dor, o único caminho pelo qual o homem pode se chegar a Deus. Não existem muitas formas para ser salvo, mas um caminho e uma única forma. Ele é exclusivo. O apóstolo Pedro testificou esse ensinamento do Mestre afirmando que “não há salvação em nenhum outro, pois debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pela qual devamos ser salvos” (At 4:12).

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O Caminho, a Verdade e a Vida

Pr. Jonas SommerEstudo da Semana: João 14:1-1415 de Junho de 2013

11TEXTO BÁSICO:

Respondeu-lhe Jesus: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim”. (Jo 14:6)

INTRODUÇÃO

Este é indubitavelmente o meu capítulo favorito no Evangelho de João. Jesus sabendo que sua hora estava chegando, inclusive já havia alertado seus discípulos no capítulo anterior, começa a, antecipadamente, consolar e confortar o coração de seus discípulos. Por isso mesmo, estas palavras de Jesus oferecem muito conforto para nós nos momentos difíceis de nossa jornada com Cristo.

Vivemos em um mundo repleto de incertezas, onde poucos sabem para onde realmente vão. Em nossos dias, o relativismo põe em cheque a existência da verdade abso-luta, deixando-a obscurecida e com seu valor questionado e diminuído pelo domínio da falsidade, do engano e da mentira. Embora o mundo ao nosso redor possa descrer da verdade absoluta, tente nos dizer que todos os caminhos levam a Deus e que você pode viver sua vida como quiser e encontrar felicidade e vida plena em vários lugares, em nosso texto o Senhor Jesus se apresenta de forma abso-luta, como: “O caminho, e a verdade, e a vida”. Ele não é apenas mais uma opção de caminho no meio de tantas outras, é o único; não é apenas a verdade relativa dos cris-tãos, é a única verdade que liberta; e é o único capaz de fazer nossa vida realmente valer a pena.

Nas palavras do Pr. Antônio Renato Gusso:

160 Estudos Bíblicos

O uso do pronome pessoal enfático, no texto grego, em conjunto com o verbo ser (Ego eimi) e os artigos definidos antes de caminho, verdade e vida, não deixam dúvidas quanto à posição especial de Jesus. No meio de tantos caminhos propostos, Ele é o caminho; entre tantas ver-dades apresentadas, Ele é a verdade; e, embora existam muitas maneiras de se viver a vida, Ele é a vida que ver-dadeiramente é vida.132

Esta passagem bíblica pode ser considerada como uma grande rocha, na qual podemos firmar nossos pés. Se o seu coração está perturbado por uma coisa ou por conta de alguém. Se você já acumulou algumas desilusões ao longo do caminho que estão minando a sua vida espiritual, roubando a sua alegria e lhe causando dor, esta passagem é capaz de trazer um novo ânimo para sua caminhada e restaurar a sua alegria e paz mais uma vez.

O contexto, do qual João 14 faz parte, é, sem dúvidas, carregado de emoções. Tanto Jesus quanto seus discípu-los estavam passando por um momento muito especial. Aproximava-se o evento principal do ministério de Cristo. Ele estava prestes a cumprir a sua nobre e inigualável mis-são de morrer em uma cruz como sacrifício perfeito, em prol de todos os pecadores da humanidade. Na verdade, em favor de todas as pessoas do mundo, pois todas são pecadoras.133

A preocupação de Jesus para com os discípulos emana, inquestionavelmente, de Seu amor por eles (1Jo 4:7-9). Quando Jesus fala estas palavras: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim”, os discípulos provavelmente estavam pensando na predi-ção dEle de que um deles iria traí-lo (Jo 13:21-26) e na sua

132 GUSSO, Antônio Renato. Jesus se apresenta: conheça melhor aquele que pode transformar sua vida. Curitiba, PR: FatoÉ, 2004, p. 95-96.133 Ibid, p. 96.

UM CORAÇÃO TURBADO

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insistência em que Pedro o negaria três vezes (13:37,38). Isso certamente seria o suficiente para causar-lhes preo-cupações, mas ainda não é nada comparado com o que Jesus está prestes a dizer-lhes: Ele mesmo vai deixá-los em breve (14:28-30), e os discípulos seriam odiados e per-seguidos (15:18-16:4).

Apesar de terem proclamado sua fidelidade a Ele, Jesus sabia que eles falhariam durante sua hora mais obscura. Eles precisariam de algumas palavras de con-forto para olhar para trás. Em circunstâncias difíceis, mui-tas vezes é útil olhar para as palavras de Jesus como fonte de encorajamento.

O Salvador começou exortando seus discípulos para acalmar o coração perturbado, e o remédio que Ele deu foi colocar a sua confiança no Pai, assim como no Filho. De acordo com Carson, a maneira com que João emprega o verbo grego “crer” (pisteuô) pode ser traduzida de três formas diferentes, estando no modo indicativo ou no impe-rativo, sendo assim, a frase poderia ser: “Creiam em Deus; creiam também em mim”; “vocês já confiam em Deus, con-fiem também em mim” e, por fim, “da mesma forma que vocês creem em Deus, creiam também em mim”. A pri-meira aparenta estar mais coerente com o contexto, porém, todas as três apresentam uma cristologia formidavelmente elevada.134

É notável, também, que Jesus permanece focado em confortar seus discípulos ao invés de lidar com suas pró-prias necessidades. A iminente traição de Judas e a incons-tância do restante dos discípulos não impediu o Salvador de continuar sendo uma presença calmante entre eles. Ele provou mais uma vez ser a melhor fonte de paz.

Como parte do seu conforto aos discípulos, Cristo passa a falar acerca da Casa do Pai. Segundo D. A. Car-son, embora haja muitas outras interpretações, a expli-cação mais simples e melhor é que a “casa de meu pai”

134 CARSON, D. A. Op., cit., p. 488.

162 Estudos Bíblicos

refere-se ao céu.135 A Casa do Pai é um lugar real, não é um produto da imaginação religiosa ou o resultado de uma mentalidade empolgada. O céu é o lugar onde Deus habita e onde Jesus está assentado à Sua destra. O céu é des-crito como um reino (2Pe 1:11), uma herança (1Pe 1:4), um país (Hb 11:16), uma cidade (Hb 11:16), e aqui como uma casa. Jesus promete aos discípulos que Ele vai reservar um lugar para eles lá. Neste mundo os discípulos sofreriam por sua fé e não encontrariam um lugar de descanso, mas poderiam ficar confiantes na certeza de que Cristo irá for-necer uma morada eterna, onde verdadeiramente estariam em casa.

O termo grego monê, neste contexto, talvez ficasse melhor se traduzido por “lugar ou quarto”,136 pois demons-tra aos discípulos que a casa de Deus tem lugar para eles. Não necessariamente uma morada separada dos demais, mas um lugar de habitação, um quarto ou aposento entre a família de Deus nosso Pai.137

Conquanto as imagens populares sobre o céu enfo-quem portões de pérolas e ruas de ouro, a Bíblia consis-tentemente enfatiza que o céu é um lugar onde Deus e Seu povo poderão ficar juntos para sempre. O Evangelho de João raramente se refere à segunda vinda de Cristo dire-tamente, mas este versículo é uma notável exceção: Jesus irá morrer, ascenderá ao céu e voltará posteriormente para levar os discípulos para estarem novamente, e eterna-mente, com Ele. Conhecer este fato daria aos discípulos (e a nós também) esperança diante da dor e da perseguição.

A partícula se aqui não deve ser tomada como uma indicação de dúvida. No grego, esta estrutura de frase sig-nifica que a segunda cláusula será sempre decorre da pri-meira: Se Jesus vai, então certamente Ele voltará – Ele não abandonará seu povo. Neste caso em particular, não há nenhuma dúvida sobre a partícula “se”, uma vez que

135 CARSON, D. A. Op., cit., p. 489.136 GINGRICH, F. W. Léxico do Novo Testamento, grego/português. São Paulo: Vida Nova, 1984, p. 137.137 GUSSO, Antonio Renato. Op. cit., p. 97.

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Jesus está bem ciente da iminência de Sua morte, ressur-reição e ascensão.

O CAMINHO, A VERDADE E A VIDA138

Não obstante estas palavras consoladoras de Jesus, a preocupação tomava conta dos discípulos. Não queriam acreditar que Jesus iria para um lugar que a eles estava vedado naquele momento! Aos olhos do cristão moderno pode parecer que os apóstolos não passavam de uns cabeças-duras. Como é que ainda não tinham entendido as palavras de Jesus? Ele tinha sido tão claro! Seja como for, esta explicação toda resultou em mais uma declaração maravilhosa de Jesus a respeito de sua pessoa. Foi esta conversa emocionada de Jesus com os discípulos, em um momento tão difícil, que levou o Mestre a dizer: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (Jo 14:6). Palavras estas que têm eco-ado por mais de dois mil anos, confortando, consolando e orientando discípulos de todas as épocas, raças, nações e classes sociais.

Nesta declaração Jesus se apresenta, primeiramente, como o caminho que leva ao Pai. Suas palavras não dei-xam dúvidas quanto ao fim que conduz este caminho. Ele é a única forma de se chegar a Deus. Aquele que não tri-lhar por este caminho, por melhores que sejam as suas intenções, está fadado a não atingir o objetivo de alcançar a presença do Pai.

Estas palavras de Jesus foram tão marcantes para os apóstolos e para a Igreja primitiva que eles ficaram sendo conhecidos como os seguidores do Caminho (At 9:2). Este título serviu, inclusive, para descrever aquilo que chama-

138 Este tópico é uma síntese das páginas 99-107 do capítulo 9 do livro “Jesus se apresenta: conheça melhor aquele que pode transformar sua vida”, de Antonio Renato Gusso, utilizado com autorização do autor.

164 Estudos Bíblicos

mos hoje de cristianismo.139 Os seguidores de Jesus eram seguidores do Caminho. Os seguidores do Caminho eram os seguidores de Jesus. Os nomes poderiam ser intercam-biáveis, pois Jesus é o Caminho e o Caminho é Jesus.

Em nossos dias, pessoas bem intencionadas estão enganadas em relação ao caminho apropriado para se chegar ao Céu, para se obter a salvação. São muitos os que procuram o caminho das obras, quando, na verdade, as obras devem ser consequência de se andar no Cami-nho. São muitos os que procuram preparar os seus pró-prios caminhos, quando Jesus se apresenta como o Cami-nho, não deixando nenhuma possibilidade para que venha a existir mais algum que possa levar a este final feliz. Nós cristãos bem sabemos: ainda que a maioria das religiões possuam coisas boas, nenhuma é boa o suficiente para nos salvar. Nenhuma pode substituir o Caminho estabe-lecido por Deus; e aqueles que trilham por elas, e não por Jesus, acabarão, infelizmente, no inferno.

A passagem bíblica em foco, neste estudo, é tão clara. Está registrada na Palavra de Deus há tantos anos, ser-vindo de alerta para os “viajantes deste mundo”. No entanto, muitos ainda não conseguem enxergar o caminho que ela aponta. Ou, enxergando, o ignoram, na busca de um mais fácil, mais lógico, ou que se possa conquistar pelos méritos pessoais.

Precisamos, urgentemente, alertar a todas as pessoas que nos cercam, sobre o perigo que estão correndo. Elas devem ser alertadas para que deixem de seguir qualquer outro caminho que não seja Jesus, porque Ele é o único que pode levar ao Pai. Não existe uma segunda, terceira ou qualquer outra opção. Ou seguimos por Jesus e temos a salvação, ou vamos por outros caminhos rumo à perdição eterna.

Além de se apresentar como o Caminho, Jesus tam-bém se apresenta como a Verdade. Não mais uma verdade

139 MARSHAL, I. Howard. Atos: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 163.

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entre outras, mas como a verdade absoluta, a única real. Apresenta-se como a verdade personificada140 a qual pos-sui poder sobre aqueles que a conhecem. Isto fica mais claro no capítulo 8 deste mesmo Evangelho de João, quando Jesus diz a alguns judeus que se eles fossem seus discípulos conheceriam a verdade e por ela seriam libertos (8:31-32). Qualquer outra opção que seja apresentada com a pretensa intenção de tirar os pecados do ser humano, de libertá-lo desta situação, não passa de mentira.

Os séculos se passaram, mas nada indica que esta situação tenha mudado. O ser humano, sem Cristo, conti-nua escravo do pecado, e na sua maioria vive para servir ao pecado. Só será libertado deste poder opressor pela Verdade de Deus: Jesus, a verdade absoluta que liberta.

Em uma época tumultuada como a nossa, na qual a mentira, muitas vezes, passa por verdade e a verdade acaba sendo reputada como mentira, cabe a todos os cristãos, conhecedores de Jesus, a verdade absoluta a respeito de Deus, a missão grandiosa de alertarem, a todos aqueles que os cercam, do perigo pelo qual estão passando ao não darem à devida atenção ao alerta dos evangelhos. Não existe meio termo, nem a possibilidade de se posicionar em cima do muro. Pela Bíblia se percebe que só existem duas opções: Ou estamos com a verdade ou com a mentira. Por isso, é bom lembrar aos indecisos entre estas duas opções: O diabo é o pai da mentira; Deus é o pai da verdade; seguindo-se a mentira chegar-se-á ao diabo, seu pai; indo pela Verdade (Jesus), não há como errar, nosso destino será a casa de Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, Pai da verdade.

Sendo assim, busquemos dia a dia apresentar Jesus aos nossos contemporâneos. Pois Ele é Verdade absoluta de Deus, aquela que pode libertar qualquer pessoa das garras do pecado. Façamos isto na esperança de que os

140 DOUGLAS, J. D. O novo dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 1650.

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da verdade venham a ouvir a sua voz (Jo 18:37) e passem a seguir pelo caminho verdadeiro.

Em terceiro lugar, no verso 6 Jesus se apresenta como a Vida. Ele já havia se apresentado assim, por ocasião da ressurreição de Lázaro, mas aqui é outro contexto e exis-tem algumas diferenças. Da mesma forma como Ele é o Caminho e a Verdade, também é a Vida. Não é uma forma de vida entre outras. Não é um estilo especial ou determi-nado de vida. Ele é a Vida! A vida que realmente vale a pena ser vivida. Fora de sua pessoa a vida deveria tomar outro nome, pois sem Ele, distanciado dele, ninguém pode viver verdadeiramente.

Ainda que uma pessoa goze de boa saúde, realize mui-tas atividades, seja dinâmica e empreendedora, gaste seu tempo em trabalho intenso, se não tem Jesus em seu cora-ção não tem a Vida. Não passa de um cadáver ambulante caminhando para um fim de trevas, para a morte eterna.

De acordo com o Livro de Eclesiastes, ainda que alguém consiga toda a riqueza do mundo, goze dos pra-zeres disponíveis, consiga realizar todos os seus projetos, possua o mais elevado grau de sabedoria, ao olhar para trás e avaliar a trajetória feita neste mundo vai chegar à triste conclusão: Tudo é vaidade, ilusão; o tempo passou como a brisa, está se aproximando o fim de sua existência e continua tão insatisfeito quanto sempre esteve.

Por outro lado, observamos pessoas que, material-mente falando, não possuem praticamente nada. Muitos não gozam de boa saúde, nem pensam em grandes reali-zações neste mundo, mas vivem satisfeitos por terem em si a Vida que vale a pena ser vivida. Possuem um tesouro incalculável, a vida eterna, e isto lhes basta.

Sempre é bom lembrar que não pagamos nada por esta vida. Não merecemos tamanho presente e devemos procu-rar compartilha-lo com todas as pessoas. Devemos anun-ciar àqueles que continuam perdidos, vegetando na terra, mortos vivos, que não precisam continuar neste estado. Nem devem procurar a vida onde ela não se encontra, pois

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não existe mais de uma fonte onde se possa achar. Temos que dizer a eles: “Que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo 5:11-12).

Precisamos contar ao mundo, ansioso por vida, a melhor descoberta de todos os séculos. Devemos anun-ciar em alta voz: Vida que é vida é Jesus! Não se compra com dinheiro; não se obtém com favores; não se adquire atingindo o sucesso; não se ganha pela força, mas sim, recebe-se pela fé. Vida que está à disposição de todas as pessoas dispostas a aceitá-la com humildade, arrepen-dendo-se de seus pecados e tomando uma atitude de con-fiança na Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada.

Os discípulos conheciam Jesus, todavia ainda não O conheciam tão bem quanto podiam, ou deviam, tê-Lo conhecido. Se tivessem conhecido a Cristo como deve-riam, eles teriam sabido que o Seu reino é espiritual e não é deste mundo. Se O tivessem conhecido bem, saberiam que estavam vendo o Filho e estariam também vendo o Pai. Porque Jesus e o Pai são um (Jo 10:30; 17:11, 21-23), então, qualquer um que conhece a Jesus conhece a Deus. Conhecer a Jesus é a chave para conhecer o Pai. Não pre-cisamos esperar até entrar no céu para conhecer o Pai (Jo 20:28-31). Podemos conhecê-Lo hoje e receber dEle os recursos espirituais de que necessitamos para continuar quando os dias são difíceis.

Enquanto Tomé se concentra nas declarações de Jesus sobre “o caminho”, Filipe levanta uma pergunta sobre o Pai. Aparentemente, ele estaria pedindo uma teofania (mani-festação da glória de Deus), semelhante à de Moisés (Ex 33:18-23). Filipe não percebeu que a glória de Deus é visí-vel no Filho.

Por isso, Jesus lhe disse: “Você nem sabe ainda quem Eu sou, Filipe, mesmo depois de todo esse tempo que

QUEM CONHECE A MIM CONHECE A MEU PAI

168 Estudos Bíblicos

tenho estado com vocês? Qualquer um que Me viu, viu o Pai! Portanto, como você está pedindo para ver meu Pai?” (Jo 14:9, BV). Jesus estava desapontado que Filipe ainda não entendesse a sua declaração sobre conhecer e ver a Deus (v. 7). Ele havia sido um dos primeiros discípulos (Jo 1:43). Em vista deste fato, a falta de compreensão de Filipe é incrível. Jesus simplesmente repete o que anteriormente disse a Tomé: qualquer um que O tenha visto em ação já viu a Deus (c/c Jo 12:45; Cl 1:15; Hb 1:3).

A construção grega da pergunta feita no verso 10 indica que o Senhor esperava como resposta um sim de Filipe. Sendo esse o caso, ele deveria ter percebido que as pala-vras de Jesus, bem como suas obras, vieram do Pai e reve-laram o Pai.

Três temas do Evangelho de João se cruzam neste verso. Primeiro, a frase “no Pai” indica a unidade de Cristo com Deus, um tema que será destaque na última oração de Jesus em João 17 (cf. Jo 10:38; 14:20). Em segundo lugar, Jesus nunca diz nada sobre Si próprio sem uma diretiva de Deus, porque Cristo e o Pai são um, assim, quando Cristo fala, nós ouvimos a voz de Deus (cf. 7:16; 8:28; 12:49). Em terceiro lugar, e estreitamente relacionado com as obras que Jesus faz – que incluem tanto os Seus ditos quanto Seus milagres –, são expressões do poder de Deus (cf. 5:19, 36; 8:29; 9:4, 10:25). Porque Jesus é um com o Pai, Ele diz que o Pai quer que Ele diga e faz o que o Pai quer que Ele faça.

Ao contrário do entendimento popular de que há mui-tos caminhos que podem levar ao sucesso, e a destinos específicos, o mesmo não se aplica a Deus. Segundo o Evangelho de João, e outras passagens do Novo Testa-mento, há apenas um caminho que leva a humanidade a Deus: Jesus. Há apenas uma maneira de conhecê-Lo, e

UMA PALAVRA FINAL

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essa maneira é Jesus. Enquanto muitas religiões afirmam levar-nos a Deus, Cristo declara ser “o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim”. Jesus tam-bém é o caminho para Deus que nos dá poder para teste-munhar ao mundo. Você está usando a capacitação que Deus já lhe deu para testemunhar de Jesus?

1. Qual é o contexto do capítulo 14 de João? Por que os discípulos estavam, ou ficariam, com o coração turbado? (v. 1)

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2. Como as promessas que Jesus faz nos versos 1 a 4 trazem conforto para os discípulos, e consequentemente a nós, para os momentos de medo e dificuldades? (vv. 1-4)

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3. O que Jesus intentou dizer ao declarar “eu vou prepa-rar um lugar”? O que significa dizer que “a casa de meu Pai tem muitas moradas”? O que Jesus quis comunicar quando disse aos discípulos: “Eu voltarei e os levarei para mim”? Sobre o que Ele estava falando? (vv. 2-3)

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4. O que Jesus quis dizer com esta afirmação: “vocês conhecem o caminho para onde vou”? (v. 4)

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5. O que revelou a pergunta que Tomé fez a Jesus? Como Jesus respondeu à pergunta de Tomé sobre a forma de

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

170 Estudos Bíblicos

“casa do Pai”? Após mais de três anos de convivência com Jesus, o que os discípulos não perceberam sobre Ele? (vv. 2, 5, 6)

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6. Coloque a afirmação de Jesus, no verso 6, em suas pró-prias palavras. À luz desses versículos, como você respon-deria a alguém que acha que existem “muitos caminhos para se chegar a Deus”?

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7. Em sua opinião, Filipe demonstrou falta de compreen-são quando pediu a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta”? O que Jesus quis dizer com: “Se vocês realmente me conhecessem, conheceriam também o meu Pai”? (vv. 7-9)

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8. Por que Jesus pediu a Filipe para ele crer em Sua uni-dade com o Pai, com suas palavras e com suas obras Por que quem viu a Cristo viu ao Pai? Como as obras de Cristo manifestam o Pai? (vv. 9-11)

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9. Por que é tão difícil para o mundo aceitar que Jesus é o único caminho para Deus? Como Jesus se revelou para você como o caminho, a verdade e a vida? Como você pode compartilhar o que Jesus tem feito em sua vida com as pessoas em sua área de influência?

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Domingo – Salmos 133

Nesse texto o Salmista utiliza duas figuras de lingua-gem para ilustrar a união entre os irmãos. Tal como o óleo da unção sobre a cabeça do sacerdote simbolizava sua consagração e unção espiritual, assim o espírito do amor fraternal deve permear os nossos relacionamentos uns com os outros. Nós precisamos do óleo do Espírito Santo em nossa vida para que não haja desgastes desnecessá-rios em nossos relacionamentos interpessoais. Tal como o orvalho sobre a vegetação simbolizava fertilidade e cresci-mento, a verdadeira fraternidade deve ser reavivada e des-pertar a devoção da Igreja como um todo. Manter a união espiritual do povo de Deus é responsabilidade de cada cristão, com a ajuda do Espírito Santo.

Segunda-feira – Efésios 4:1-6

Quero chamar sua atenção para o versículo dois de nossa leitura bíblica de hoje. O apóstolo Paulo nos orienta a dar suporte aos nossos irmãos, ajudá-los quando se fizer necessário. A ideia aqui não é a de que temos que “tolerar” os outros, com suas manias. A palavra “suportar” vem do grego anechomai, e significa, entre outras coisas, “levan-tar, sustentar, carregar”. É como se Paulo dissesse para nós: “Sirvam de apoio uns aos outros”. E isso deve ser feito em amor. Quando toda a Igreja tem em comum a fé e o propósito do Evangelho, quando se esforça para manter a unidade do Espírito, os membros chegam à maturidade e à medida da plenitude de Cristo.

Terça-feira – Efésios 4:11-16

Muitos sãos os ministérios no corpo de Cristo. Uns são chamados para ensinar, outros para serem líderes, outros para a música, outros para o ministério da visitação e a

Pr. Claudir Oliveira

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

172 Estudos Bíblicos

lista não tem fim. Assim como um corpo humano tem mui-tos membros, e para que ele funcione corretamente todos devem estar interligados, da mesma forma é o corpo de Cristo. Não podemos ter ministérios sem estarmos liga-dos ao corpo e, acima de tudo, à cabeça, que é Jesus. Em nossos dias vemos muitos crentes dizendo serem cha-mados para diversos ministérios, mas muitos desses não têm comunhão com o corpo, nem procuram ter. No verso 16 de nossa leitura de hoje Paulo nos diz que se nós qui-sermos que esse corpo cresça devemos estar bem ajus-tados e ligados em amor.

Quarta-feira – João 10:22-30

Uma das maiores dificuldades enfrentada por qualquer tipo de liderança é manter o espírito de equipe, seja no tra-balho, na escola e, infelizmente, até na igreja. Por vezes, deixa-se de trabalhar em equipe e passa-se a trabalhar em “euquipe”. Isso traz grandes problemas. Jesus disse que Ele o Pai eram um e esse deve ser o exemplo a ser seguido por todos nós. Precisamos buscar a unidade no corpo de Cristo, porque quando uma igreja tem comunhão o Senhor produz o crescimento (cf. At 2:42-47). Perceba que na Igreja primitiva todos eles estavam unidos com um único objetivo e propósito e, como resultado, “todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (v. 47). Amados, deixemos o Eu e procu-remos o Nós. Quero convidar você a orar por comunhão e unidade em sua igreja nesse dia.

Quinta-feira – João 17:1-5

Temos visto um grande crescimento no Brasil de pes-soas que se dizem convertidas. Mas, lamentavelmente, os crimes e a corrupção não diminuíram. Jesus diz: “E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (v. 3). O termo “conhecer”, frequente nas Escrituras, significa muito mais do que apenas entendimento intelectual; envolve tam-

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bém sentimento e compromisso. Muitos dizem conhecer a Deus, mas poucos vivem de acordo com a Sua vontade e ensinos. Conhecer o Senhor traz mudanças em nosso falar, agir, sentir e pensar. E, por meio dessa mudança, pessoas são impactadas e a sociedade transformada.

Sexta-feira – João 17:6-19

Jesus, em Sua oração Sacerdotal, não orou pelo bem temporal de seus discípulos, mas sim pela santificação. Que coisa maravilhosa saber que estamos inclusos nessa oração! Mas como manter o foco em meio a tantas here-sias e mentiras? Essa resposta nos é dada pelo próprio Senhor Jesus. É necessário ter uma vida santificada pela Palavra (v. 17). Somente ela é a verdade e, se quisermos ser santos, devemos nos debruçar sobre as Escrituras. Essa é a receita. Infelizmente, muitos, em suas correrias diárias, não desfrutam da bênção de ter sua vida direcio-nada pela Palavra de Deus, pois não têm tempo para exa-miná-la. Convido-o para fazer o ano bíblico, para que veja os resultados maravilhosos. Que nossa vida seja guiada pela palavra de Deus.

Sábado – João 17:20-26

Um grande técnico disse, certa vez: “Achar bons atle-tas não é tarefa difícil. O que é difícil é fazer com que eles joguem em equipe”. Jesus, em sua oração, diz que preci-samos ser um como o Pai é um no Filho, que precisamos ser um para que o mundo creia que Ele é o Filho de Deus, que precisamos ser um para que resplandeça a glória de Deus. Amados irmãos, isso é o que as pessoas esperam encontrar na Igreja de Cristo: apoio, suporte e, acima de tudo, amor, pois de disputas e conflitos o mundo já está cheio. Se quisermos contemplar as bênçãos do Senhor e ver nossas igrejas crescerem, precisamos buscar a uni-dade, devemos ter um só coração e um só pensamento. Desafio você a buscar isso e a contagiar seus irmãos, para que o nome do nosso Deus seja exaltado.

174 Estudos Bíblicos

Para que Todos Sejam Um

Pr. Bernardino de Vargas SobrinhoEstudo da Semana: João 17:1-2622 de Junho de 2013

12TEXTO BÁSICO:

Minha oração não é apenas por eles. Rogo também por aqueles que crerão em mim, por meio da mensagem deles, para que todos sejam um, Pai, como tu estás em mim e eu em ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. (Jo 17:20,21, NVI)

INTRODUÇÃO

Na busca de se reviver os ares respirados pela Igreja Primitiva, como vimos, sob os mais variados enfoques nas lições bíblicas do trimestre passado, a Igreja do Senhor é desafiada a cultivar a unidade. Não se trata de fantasiosa utopia. É possível, sim, uma Igreja formada por mem-bros das mais diversas culturas, idades, sexo, raça, cor, enfim, com uma formação caracterizadamente heterogê-nea, ainda assim, encontrar estímulos alvitrando sempre a busca da unidade. Com mais razão a mensagem cravada neste capítulo 17 do Evangelho de João torna-se impres-cindível, mormente nos dias atuais, porquanto vivemos num mundo em acelerada transformação, em que se valo-riza sobremaneira o individualismo, em detrimento do cole-tivo e comunitário.

Anote-se, por oportuno, que quando se estuda o Evan-gelho de João não se está menosprezando o indivíduo. Pelo contrário, percebe-se na teologia Joanina um signifi-cativo esforço por valorizar o individual sem perder de vista o coletivo. E, do mesmo modo, valoriza-se o comunitário sem que se olvide do individual. Nesse contexto, o pedido de Jesus – “para que todos sejam um” – constitui inegavel-

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mente, em si mesmo, um formidável paradoxo a ser enten-dido.

É imperioso assinalar que o capítulo 17 de João é conhecido no seio da Igreja cristã como “a oração sacerdo-tal de Jesus”. Referindo-se a esta oração, Charles Harold Dodd, um dos maiores estudiosos do Quarto Evangelho, escreveu que ela se caracteriza, principalmente, pela pro-fundidade e densidade de suas palavras e ideias.141

Ao estudar a oração sacerdotal, vamos dividi-la em três tópicos principais, que serão apreciados mais detidamente a seguir.

No capítulo anterior, após prometer a presença do Consolador, que viria para auxiliar os seus discípulos, na tarefa de permanecer nele, Jesus faz o seguinte alerta: “No mundo, tereis aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16:33, ARC). Ele deixa claro que o propósito de Deus havia sido alcançado por Ele e que teria continui-dade e conclusão pela ação poderosa do Espírito Santo, que usaria os discípulos e a Igreja (Jo 16:1-24).

Para que isso se tornasse uma realidade possível, Jesus levantou os olhos fixando-os no céu, e disse: “Pai é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti” (v. 1). Jesus começou orando por si mesmo, mas, ao fazê-lo, também orava por nós. E ele levantou os olhos aos céus na sublime certeza de que Deus lhe dera “autoridade sobre toda a carne”, isto é, sobre toda a huma-nidade (v. 2).

Agora que a hora final da missão de Jesus tinha che-gado, a unidade completa do humano e do divino seria vista de duas maneiras. Em primeiro lugar, o Pai glorifi-caria o Filho, e o Filho por sua vez, glorificaria o Pai (v. 1). A prioridade de Jesus era a glória de Deus, e essa glória

141 DODD, Charles Harold. A interpretação do quarto evangelho. São Paulo: Pau-lus, 2003, p. 550.

JESUS ORA POR SI MESMO

176 Estudos Bíblicos

seria concretizada em sua obra consumada na cruz. Jesus era um espelho perfeito da majestade divina, a refletir o resplendor de Deus, em vez de chamar a atenção sobre si mesmo. Em segundo lugar, Jesus daria vida eterna àque-les que Deus lhe dera (v. 2). Ele não pediu qualquer crédito para seus discípulos, independentemente da operação de Deus em sua vida. Alguns homens oram por aquilo que pensam poder conseguir de Deus; Jesus orou por aquilo que devolvia a Deus, numa vida de serviço fiel e obedien-te.142

Em que consiste essa vida eterna? Surpreendemo-nos com a resposta: “Conhecer o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que o Senhor enviou a Terra!” (v. 3, BV). A vida eterna consiste em conhecer a Deus pessoalmente. Conhecer a Deus não é sinônimo de obter algumas infor-mações a respeito. Conhecer a Deus demanda convivên-cia com Ele. Não apenas ter informações sobre Deus, mas ter um relacionamento pessoal com Ele pela fé em Jesus Cristo. A vida eterna não é algo merecido pelo próprio cará-ter ou conduta; é uma dádiva que recebe quem reconhece que é pecador, arrepende-se e crê única e exclusivamente em Jesus Cristo.143

Aqui está uma das indicações mais claras, em o Novo Testamento, de que a fé e o conhecimento podem ser equi-valentes, em vez de serem antitéticos. Conhecer a Deus, no sentido joanino, é ter um compromisso existencial com Ele como um sujeito vivo, em vez de aceitar certos fatos a seu respeito como um objeto de contemplação.144 O mara-vilhoso e encantador em tudo isso é que Deus, sendo o criador do universo com todas as suas riquezas e comple-xidades, sendo tão majestoso e soberano, concordou em se mostrar a nós, em se revelar por meio de Jesus Cristo, sendo, pois, cognoscível!

142 CLIFTON JR., Allen (Ed.). Comentário bíblico Broadman, v. 9: Lucas e João. 2. ed. Rio de Janeiro: JUERP, 1987, p. 397.143 WIERSBE, Warren W. Comentário bíblico expositivo: Novo Testamento, v. 1. Santo André/SP: Geográfica editora, 2006, p. 475.144 CLIFTON JR., Allen (Ed.). Op. cit., p. 397.

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A razão porque Jesus era digno de ficar ao lado de Deus como instrumento de conhecimento salvífico era que ele glorificara o Pai na terra (v. 4). Ele havia revelado ao mundo a natureza gloriosa de Deus. Em lugar de se apre-sentar como Deus, Jesus fez apenas a obra que lhe fora dada fazer, servindo, assim, sua vida, para apontar para Aquele que o enviara.

A fim de ampliar o significado histórico de seu ministé-rio, Jesus orou, agora, para que pudesse ser novamente glorificado com a mesma glória que tinha com o Pai, antes que o mundo existisse (v. 5). Nesse momento seu olhar e seu anseio ultrapassam a exaltação na cruz, chegando à glória perfeita, que corresponde ao que ele já possuía ori-ginalmente.

Para si próprio Jesus pediu ao Pai que o glorificasse. Agora sua oração se volta para os discípulos e torna-se uma intercessão por eles. Neste ponto da oração, ele nos dá uma definição de sua obra. Jesus disse ao Pai: “Mani-festei o teu nome aos homens que do mundo me deste” (v. 6, ARC). A grande afirmação de Jesus é que ele mostrou a verdadeira natureza e o verdadeiro caráter de Deus aos homens e que nos aproximou tanto a Ele que até o cristão mais simples pode pôr em seus lábios o nome que fora impronunciável, o nome de Deus.145 Cristo deu aos seus discípulos a vida eterna e também lhes deu a revelação do nome do Pai.

O Filho não é capaz de fazer nada por si próprio, nem mesmo transformar pessoas em discípulos. Somente pode acolher aqueles que o próprio Pai lhe dá. Sua escolha dos discípulos estava alicerçada sobre uma escolha do Pai (Jo 15:16). Por isso, Jesus enfatiza: “Eles eram teus, e tu os deste para mim” (v. 6, NTLH). E, novamente: “É por eles

145 BARCLAY, William. Comentario al Nuevo Testamento. Barcelona: Editorial Clie, 2006, p. 474.

JESUS ORA POR SEUS DISCÍPULOS

178 Estudos Bíblicos

que eu rogo; [...] por aqueles que me deste, porque são teus” (v. 9).146

O Pai se manifesta no Filho não em experiências mís-ticas, mas na palavra inequívoca. Em razão disso, Jesus pode constatar o fruto de sua revelação: “E eles têm guar-dado a tua palavra” (v. 6). Isto os capacitou a reconhecer por eles mesmos a revelação de Deus por meio de Jesus: “Agora eles reconheceram que todas as coisas que me tens dado provêm de ti” (v. 7). Deus primeiro lhes deu Jesus e este, por sua vez, lhes deu tudo quanto o Pai lhe dera (vv. 7,8). Para Jesus, essa afirmação é tão grandiosa no diá-logo com o Pai que ele a repete, com maior clareza: “Por-que eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e chegaram a crer que tu me enviaste” (v. 8). As palavras que Deus deu a Jesus não são meras palavras, mas sim rhemata, ou seja, palavras eficazes e plenas de realidade. Jesus é o Revelador, que traz a realidade pró-pria a Deus até as pessoas.

Nesta segunda parte de sua intercessão, Jesus expli-cita quem constitui o alvo da mesma, ao dizer: “É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo” (v. 9). A oração de Jesus vale para pessoas nessa situação. Não pode valer para o mundo enquanto mundo, mas somente por aque-les que o Pai lhe deu. O fato de que pessoas chegaram a Jesus e até esse momento permaneceram junto dele reside exclusivamente na dádiva de Deus. Esse dar acon-tece com liberdade divina. Deus dispõe das pessoas, elas são d’Ele, porque Ele é seu Criador.

Nesse momento da oração, Jesus articula mais uma vez toda a unidade que o liga ao Pai de maneira bem real: “Ora, todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e, neles, eu sou glorificado” (v. 10). O Pai con-cede ao Filho com amor pleno. Mas o Filho não segura

146 BOOR, Werner de. Evangelho de João: Comentário Esperança. Curitiba: Edi-tora Evangélica Esperança, 2002, p. 232.

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nada para si, porém alegremente coloca à disposição do Pai o que foi adquirido por meio de sua atuação.

Por que Jesus precisa interceder pelos discípulos? Por-que, ele responde, “já não estou no mundo, mas eles con-tinuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti” (v. 11). Jesus agora pode sair de todas as aflições, lutas e tribulações do mundo e ir para a glória junto do Pai. Os discípulos, porém, ainda não podem acompanhá-lo. Eles estão no mundo. E Jesus sabe o que isso significa. O mundo é como um largo e forte rio cuja correnteza arrasta tudo incessantemente, cada vez mais para longe de Deus. Procedem também do mundo os intensos golpes com que Satanás, o príncipe deste mundo, tenta arrancar os fiéis de Deus. Estar no mundo� significa ter de viver constantemente no seu ódio. Nessa situação, Jesus irrompe em nova prece: “Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós” (v. 11). Não se trata de proteger contra aflição e sofrimentos. Tampouco de pre-servar seu bem-estar terreno ou sua vida passageira. Con-tudo, em todas as situações os discípulos devem permane-cer naquilo que lhes foi revelado a respeito da essência, da verdade, do poder e da graça de Deus. Jesus suplica que seus discípulos também preservem o nome de Deus no fracasso, em derrotas, medo e tribulação, dessa maneira permanecendo apegados a Deus, porque Deus os segu-ra.147

O Senhor enfatiza, no verso 14, a importância da Pala-vra: “Dei-lhes a tua palavra” (NVI). A Igreja do Senhor Jesus precisa estar alicerçada sempre na Palavra de Deus, que é viva e eficaz, “e corta mais do que qualquer espada afiada dos dois lados. Ela vai até o lugar mais fundo da alma e do espírito, vai até o íntimo das pessoas e julga os desejos e pensamentos do coração delas” (Hb 4:12, NTLH). Esta Palavra precisa ser a base para todas as doutrinas defendi-das pela Igreja. Tanto individual, quanto comunitariamente, precisamos ser balizados pela inconfundível Palavra do

147 BOOR, Werner de. Op. cit., p. 233.

180 Estudos Bíblicos

Senhor! Os grandes movimentos de reforma na história do cristianismo tiveram como ponto de partida a Palavra de Deus. Basta lembrar o mote de Martinho Lutero: Sola Scriptura.148

Mostra-se conveniente, nesse passo, formular a seguinte indagação: De que maneira a Palavra de Deus nos leva a vencer o mundo? Pode-se responder que, em primeiro lugar, ela nos dá alegria (v. 13), e essa alegria nos dá força interior para vencer (Ne 8:10). Registre-se, por oportuno, que a Palavra não somente produz a alegria do Senhor, mas, em face do ódio que o mundo alimenta pelos salvos, a Palavra também traz a certeza do amor de Jesus (v. 14). E não há, aqui, motivo para o desânimo, visto que o mundo nos odeia precisamente porque não perten-cemos ao seu sistema de valores (Jo 15:18-19). E, graças a Deus, nos recusamos a nos conformar com suas práticas e padrões de conduta (Rm 12:2).

Enfim, a Palavra de Deus, para além de transmitir alegria e o amor de Deus, traz em seu bojo também a transmissão do poder de Deus que nos habilita a viver em santidade (vv. 15-17). É preciso ter consciência de que estamos no mundo, mas não somos do mundo e, portanto, não deve-mos viver de acordo com os padrões e valores do mundo.

O Senhor, por saber que os discípulos e a Igreja per-maneceriam no mundo, intercede para que fossem prote-gidos do Maligno (v. 15). Cabe aqui uma reflexão. O que a Bíblia quer significar quando usa o vocábulo “mundo”? À obviedade, trata-se de uma palavra polissêmica tanto na cultura grega quanto na hebraica. Às vezes, “mundo” é utilizado como sinônimo de cosmos, universo, e, às vezes como sinônimo de sistema de coisas, hábitos, costumes, valores, enfim, culturas antagônicas e que discrepam dos princípios e valores cultivados por aqueles que são súditos da pátria celestial. Assim, quando Jesus orou suplicando ao Pai para que não os tirasse do mundo, decerto, referia-Se a este plano de existência. Ora, neste plano de existência,

148 Frase em latim, cujo significado é: “Somente a Escritura”.

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prepondera o mal e o pecado. Daí Jesus pedir que o pai nos livre do mal.

Um grande evangelista, ao referir-se à Igreja do Senhor, como elogiável acerto disse: “No mundo, mas não do mundo!”. Sem dúvida, esta expressão serve para a Igreja coletivamente, mas, também, deve ser empregada a cada um de nós individualmente. O Senhor espera que reconhe-çamos que estamos no mundo, mas não somos do mundo e, portanto, somos exortados a viver de modo que sejamos diferentes dos padrões que o mundo estabelece.

No entanto, não se trata apenas da proteção do mal. A vida dos discípulos também precisa ser desenvolvida em termos positivos. Essa configuração e realização posi-tiva da vida significam santificação. O fundamento dela foi lançado na nova existência que separa os discípulos do mundo. Sobre esse fundamento é possível rogar, e agora Jesus solicita ao Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (v. 17). O que significa ser santificado? Com preponderância este vocábulo, tanto no hebraico quanto no grego, carrega o sentido de “separação”, ou seja: estar ou ser separado para um propósito específico. Na conota-ção bíblica traz ínsita a ideia de exclusão do mundo e seu sistema maléfico e pecaminoso, para identificar-se com o reino de Deus.

Warren Wiersbe advoga que a verdadeira santificação, ou seja, ser separado para Deus, dá-se pelo ministério da Palavra de Deus: “Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo 15:3). Ao sermos salvos, somos separa-dos para Deus. Ao crescer na fé, experimentamos cada vez mais a santificação e nosso amor por Deus é cada vez maior. Desejamos lhe servir e ser bênção a outros. Tudo isso se dá por meio da Palavra.149

Russel N. Champlin, comentando o verso 17, diz que o sentido básico da palavra hebraica aqui traduzida por “san-tificar” é de separação e não perfeição. Por toda a Bíblia a ideia apresentada é de alguém ou de algo separado por

149 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 474.

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Deus e para Deus, e, portanto, separado para o que é reto ao mesmo tempo em que é separado do que é errado, como o mal, o mundo e os objetivos inferiores. O termo hebraico também pode significar “brilho”, e esse conceito leva-nos à ideia de luz, em contraste com as trevas, ou do bem, em contraste com o mal. Isso nos conduz à ideia neo-testamentária da santificação como uma transformação interior (ética e moral em sua natureza), que gradualmente vai tendo lugar nos remidos, resultando na pureza de vida e de interior.150

Com isso, somos levados a admitir que a verdade de Deus foi dada em três “edições”: Sua Palavra é a verdade (v. 17); Seu Filho é a verdade (Jo 14:6); e Seu Espírito é a verdade (Jo 15:6). Precisamos desses três elementos, a fim de experimentar a verdadeira santificação que toca todas as partes de nosso ser interior. Com a mente, apren-demos a verdade de Deus pela Palavra. Com o coração, amamos a verdade de Deus, Seu Filho. Com a volição, nos entregamos ao Espírito e vivemos a verdade de Deus cada dia. É preciso que os três estejam presentes para que a santificação seja equilibrada.151

As Escrituras têm um efeito purificador sobre nosso coração. Elas assinalam o pecado, movem-nos a confes-sar, renovam nossa relação com Cristo e nos guiam de retorno ao bom caminho. Como bem frisou D.L. Moody, ao escrever na contracapa de sua Bíblia: “Ou este livro o afas-tará do pecado ou o pecado o afastará deste livro”.

Jesus não pediu que Deus tirasse aos crentes do mundo, mas sim os usasse no mundo (vv. 15-18). Como Jesus nos envia ao mundo, não temos que tratar de escapar dele. Tampouco devemos evitar toda relação com inconversos. Temos o chamado a ser sal e luz e devemos fazer a obra que Deus nos enviou a fazer.

150 CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento interpretado versículo por versículo, v. 3. São Paulo: Hagnos, 2002, p. 580.151 WIERSBE, Warren W. Op., cit., p. 478.

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Por último, Jesus intercede por aqueles que vão crer na mensagem pregada pelos discípulos (vv. 20-26). Jesus antevê o resultado do cumprimento de Sua missão. Ele sabia que a evangelização do mundo não fracassaria! A intercessão de Cristo tem dois grandes alvos: 1º) que os salvos, ao longo da história, sejam um, unidos num só pro-pósito espiritual; 2º) que a Igreja esteja sempre unida a Cristo e ao Pai, na forma como estes estão unidos eterna-mente (v. 21). Com isso, Jesus ora por uma unidade mun-dial e revela seu desejo de preservar a pureza da Igreja até que Ele volte.152

Jesus, ao orar “para que todos sejam um”, deu também o motivo: “para que o mundo creia que tu me enviaste” (v. 21). O mundo precisa ver que somos um para crer que Jesus verdadeiramente foi enviado pelo Pai. Foi Jesus quem fez esta afirmação, então deveríamos dar o devido valor a ela.153

Ao voltar sua atenção para o futuro e orar por nós, que vivemos hoje, pela Igreja ao longo de todas as eras. Já orou por segurança e por santidade e, agora, enfatiza a unidade. Sua preocupação é que seu povo viva em har-monia espiritual, como o Pai e o Filho são um. Em várias ocasiões, os cristãos mostraram um espírito de egoísmo, competitividade e desunião e, com isso, devem ter entriste-cido profundamente o coração do Salvador.154

Fico devaneando como Jesus se sente quando vê o estado de desunião claramente percebido em muitas igre-jas hoje. Como escreveu o pregador puritano Thomas Brooks: “A discórdia e a divisão não condizem com cristão algum. Não causa espanto os lobos importunarem as ove-

152 SILVA, Genilson da (Ed.). Quem é Jesus? Lições Bíblicas. Maringá, n. 288, jul./set. 2009, 2009, p. 81.153 SILVA, Luciano. A igreja de casa em casa. Balneário Piçarras, SC: Casa Edi-tora e Publicadora, 2012 , p. 203.154 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 478.

JESUS ORA POR NÓS

184 Estudos Bíblicos

UMA PALAVRA FINAL

lhas, mas uma ovelha afligir outra é contrário à natureza e abominável”.

Jesus deseja que sua unidade com o Pai contagie os discípulos e se espalhe por toda a Igreja em todos os tem-pos (v. 21). Não é a unidade organizacional, denominacio-nal, institucional, mas orgânica, a unidade do corpo vivo de Cristo. Qual é a base para a verdadeira unidade entre os cristãos? A pessoa e a obra de Jesus Cristo e sua glória (vv. 2-5). Ele já nos deu sua glória e promete que experimenta-remos ainda mais dessa glória quando regressar. Qualquer que seja sua aparência exterior, todos os cristãos sinceros trazem dentro de si a glória de Deus. A harmonia cristã não se baseia nas coisas externas da carne, mas sim nas coi-sas eternas do Espírito no ser interior. Devemos enxergar além dos elementos do primeiro nascimento - raça, cor, aptidões - e construir a comunhão com base nos elemen-tos essenciais do novo nascimento.155

Jesus termina sua intercessão afirmando que o mundo não conheceu ao Pai, mas os discípulos o conheceram, através do Filho (v. 25). Ele declara que ainda vai revelar o Pai com mais intensidade aos discípulos, e, por extensão, ao mundo, em seu último e decisivo ato messiânico, na cruz (v. 26). Seu desejo final e mais relevante é que o amor de Deus esteja nos discípulos e em todos os que nele cre-rem. Antes de exigir dos salvos obediência às suas pró-prias regras, leis, estatutos e juízos, ele quer que seu amor transborde neles para que possam “cumprir espontânea e prazerosamente todos os seus preceitos”.156

Querida Igreja, ao estudarmos esta magnífica oração, salta-nos aos olhos as prioridades espirituais no coração do Senhor Jesus. São elas: 1) a glória de Deus; 2) a santi-dade do povo de Deus; e, 3) a unidade da Igreja, sem abrir

155 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 479.156 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 478.

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mão do ministério de compartilhar o Evangelho da Salva-ção com o mundo perdido.

Hoje, somos todos comissionados a pregar a Palavra. Não sabemos o que o futuro nos reserva. Talvez enfren-temos desafios enormes. Nossa fé deverá ser testada. As modernas perseguições nos alcançam das maneiras mais sutis. Como ser uma Igreja atual e, ao mesmo tempo, revi-ver a experiência da Igreja Cristã Primitiva? Que o Senhor nos convença a abraçar com dedicação as mesmas prio-ridades. Oh, que Deus nos desperte a todos para uma busca daquela fé primitiva constatada no livro de Atos dos Apóstolos! A promessa é: Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida! Amém!

1. É-nos dito no verso 1 que Jesus orou depois de ter “falado estas coisas”. Ao que “estas coisas” se referem? Qual foi o primeiro pedido de Jesus?

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2. Como a definição de Jesus de vida eternal, no verso 3, difere de apenas viver para sempre?

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3. Entre os versos 1-5 quantas vezes Jesus usou a palavra glória/glorificar? O que isto significa?

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PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

186 Encarte MissionárioEncarte Missionárrio186 Estudos Bíblicos

4. De acordo com os versos 6-19, que ministérios Jesus têm em relação a seus discípulos?

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5. Jesus por duas vezes pede ao Pai que proteja seus discí-pulos do maligno (vv. 11, 15). Por que seria tão importante essa proteção na mente de Jesus quando Ele enfrentaria a cruz?

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6. Jesus também pede ao Pai que santifique seus discípu-los por meio de Sua Palavra (v. 17). Como podemos deixar que a Palavra de Deus tenha esse tipo de efeito em nossa vida?

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7. Jesus ora para que aqueles que creem nele sejam um. Qual razão Jesus apresenta para que sejamos unidos? Por que nossa união é um argumento poderoso para a verdade das afirmações de Jesus? (vv. 21, 23)

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Encarte Missionário 187

O trabalho missionário em Luanda, Angola, começou em novembro de 2011, por meio da irmã Lucia Paulo Cuzungu-luca, que procurava uma Igreja Batista que observasse o quarto mandamento da Lei do Senhor. Feitos os primeiros contatos com a Igreja brasileira, a Igreja Batista do Sétimo Dia nasceu

naquele país.A Igreja em Luanda já tem em seu rol de membros, atual-

mente, 21 irmãos, entre adultos, jovens e crianças, os quais se reúnem todos os sábados, debaixo de uma tenda, para estu-darem as Sagradas Escrituras e a Revista de Estudos Bíblicos, sob a ministração do Pr. Leio Sungo, pastor da Igreja Evangélica Batista em Angola, e Tenente Coronel das Forças Aéreas, o qual está sempre acompanhado de sua esposa brasileira Sandra Sungo. Ele crê na vigência do quarto man-damento e tem sido uma bênção de Deus para a nossa igreja em Luanda.

O Departamento de Missões e Evangelismo da Conferência Batista

IGREJA BATISTA DO SÉTIMO DIA DE LUANDA

MissõesMissões“Ide por TODO o mundo e pregai

o Evangelho a TODA criatura” (Mc 16:15)

DEMEDEPARTAMENTO DE MISSÕES E EVANGELISMO

188 Encarte Missionário

do Sétimo Dia Brasileira está empenhado em levantar ofertas missionárias para aquele país e, dentro dos próximos meses enviará o Pr. Daniel Miranda Gomes àquele país, para que ele possa promover oficialmente o recebimento destes irmãos e organizar um local para a nova congregação se reunir.

Os nossos irmãos, em cumprimento à ordem do Senhor Je-sus, têm evangelizado os familiares e amigos mais próximos a eles, oferecendo o Curso Bíblico Libertos pela Verdade, e temos notícias de que há muitas pessoas interessadas em conhecer a nossa Igreja naquele país.

A Conferência Ba-tista do Sétimo Dia Brasi-leira, por meio do Departa-mento de Missões, tem en-viado gratuitamente àque-les irmãos lições bíblicas, livros, revistas e folhetos, para eles evangelizarem aquela cidade e os vilarejos mais próximos.

Nossos irmãos em Angola necessitam da nossa ajuda fi nanceira, por meio do Projeto Luanda. Não podemos parar de orar e de contribuir para que nossos irmãos angolanos tenham condições de levar adiante a obra do Se-nhor naquele país tão sedento da Palavra de Deus.

Temos consciência do amor de Deus por nossos irmãos de Luanda e sabemos que Sua gloriosa vontade se cumprirá fi elmente naquele país!

Portanto, queremos convidá-lo a que continue investindo cada vez mais na obra missionária, fazendo uma oferta generosa no 13º Sábado, para que possamos manter este e outros projetos mis-sionários.

FAÇA HOJE SUA DOAÇÃO PARA MISSÕES

Bradesco

AG. 2037 - C.C. 36573-4

Ç

B dd

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100 ANOS DE HISTÓRIA NO BRASIL!

Foi realizado entre os dias 17 e 20 de Janeiro de 2013, na Chácara da Esperança em Curitiba-PR, o evento come-morativo aos 100 anos de história da Igreja Batista do

Sétimo Dia no Brasil. A celebração teve início às 15 horas do dia 17/01, com a recepção e acomodação de mais de 240 participantes que vie-ram de todas as regiões do país.

A solenidade de abertura foi ofi cializada pelo Presidente da CBSDB, Pr. Leonildo Lebkuchen, e em seguida realizou-se a primeira sessão deliberativa, com a apre-sentação de relatórios, pareceres e balanços fi nanceiros.

Todo o evento foi mar-cado por momentos de intensa comunhão, louvor e adoração a Deus. Foram realizadas palestras, ora-ções, devocionais que edi-fi caram a toda a Igreja que se reunia naquele local.

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Esta celebração do centenário con-tou com a presença de nossos irmãos norte-americanos: Pr. George Calhoun, Pr. Andrew Samuels, Pra. Liz Green, Clin-ton Brown (Diretor Executivo da Socie-

dade Missionária da Igreja Batista do Sétimo Dia) e Renee San-ford; e também dos nossos irmãos do Chile: Pr. Manuel Orlando Neira Basaez e Pr. Pedro Maria Aguilera Castillho, resultado do trabalho missionário liderado pelo Departamento de Missões da CBSDB.

Uma data tão expressiva não poderia ter sido esquecida, e todas as igrejas batistas do sétimo dia no Brasil e no mundo oraram e agradeceram a Deus por esta oportunidade histórica: 100 anos em terras canarinho.

Neste grandioso evento a Federação de Mulheres Batistas do Sétimo Dia, presidida pela Dsa. Marli Raquel Brand, também promoveu uma programa-ção especial para as irmãs, a quais puderam vivenciar momentos agradáveis na presença de Deus. Nesta oportunidade foi apresen-tada a nova Revista da Fede-ração, com mensagens para o casal e toda a família estudarem juntos.

Os pequeninos também tiveram seu espaço de alegria. Sob a coordenação do Departamento Infanto-Juvenil, foi desenvol-

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vido um traba-lho maravilhoso com as crianças que estavam acompanhando seus pais. Além do lazer, estes pequenos apren-deram mais da Palavra de Deus, com uma didática voltada especialmente para eles.

Sobre o evento, o Pastor e Presidente Leonildo Lebkuchen, ressaltou:

“Sou grato a Deus pelos nossos irmãos, que desde 1913 enfren-taram muitas difi culdades para trazer até nós esta doutrina e fé puramente da Bíblia. Foi esse o motivo pelo qual nós celebra-mos estes 100 anos de história. Espero que estejamos juntos e fi rmes na fé, a fi m de continuarmos a História da IBSD Brasi-leira com um grande avanço em número de almas para Cristo”.

Louvado seja o Senhor nosso Deus e Pai, a seu Filho Jesus Cristo e ao Espírito Santo.

Fraternalmente,Departamento de Comunicação e Marketing da CBSDB.

Fotos: Chris Brand e Douglas Machado.

Texto: Heloise Gonçalves Nunes Lemos.

OFERTA MISSIONÁRIASEMANA MUNDIAL DE ORAÇÃO

IGREJA BATISTA DO SÉTIMO DIA

Em nome da Federação Mundial Batista do Sétimo Dia, gostaría-mos de agradecer o envio das ofertas das Igrejas Batistas do Sétimo Dia no Brasil, que foram arrecadadas durante a Semana Mundial de Oração.

O valor arrecadado neste ano foi de R$ 10.256,80, provenientes de 27 igrejas, sendo elas: Artex – São José dos Pinhais/PR, Bayeux/PB, Bituruna/PR, Bocaiúva do Sul/PR, Campinas/SP, Campo Grande/MS, Cascavel/PR, Congregação Valentina – João Pessoa/PB, Primeira IBSD de Curitiba, Segunda IBSD de Curitiba, Linha dos Alemães - Dois Vizinhos/PR, Garuva/SC, Jaguaré/SP, João Pessoa/PB, Primeira IBSD de Joinville/SC, Patriarca/SP, Pavãozinho – Agudos do Sul/PR, Porto União/SC, Santo Antônio do Sudoeste/PR, Tijucas do Sul/PR, Tubarão/SC, Primeira IBSD de União da Vitó-ria/PR, Segunda IBSD de União da Vitória/PR, Uruguaiana/RS, Vila Rica/MT, Violeta/PB, Xaxim – Tijucas do Sul/PR.

Nas palavras do Pr. Jan Lek, secretário executivo da Federação Mundial:

É maravilhoso ver como os batistas do sétimo dia brasileiros man-têm outros irmãos em sua mente e coração. Irmãos e irmãs da Angola que estão vivendo em circunstâncias às vezes terríveis. É encorajador ver o esforço de nossos irmãos brasileiros em seu tra-balho com nossa igreja nascente no Chile. Temos certeza que Deus fará este trabalho crescer e frutificar para a glória dele e para a sal-vação de vidas pela mensagem do Evangelho. Sou pessoalmente grato pelo suporte que as igrejas brasileiras têm dado à Federação Mundial Batista do Sétimo Dia. Que Deus abençoe todos os meus irmãos no Brasil.

Sua oferta, certamente, será muito abençoadora na vida de nossos queridos irmãos angolanos e jamaicanos.

Deus lhes abençoe.Pr. Jonas Sommer

Vice-Presidente da Federação Mundial para a América do Sul.

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Domingo – 1 Timóteo 1:12-17

Quão maravilhosa é a vida daquele que caminha com Cristo! Certamente é repleta de grandes experiências. Mas a principal é a primeira, quando ocorre o inesquecível encontro com o Salvador. Como é precioso poder relem-brar o momento em que o curso da nossa vida mudou. O caminho que era para a morte se converte em caminho de vida. A misericórdia de Deus resgata o pobre pecador das mãos do inimigo de nossa alma. Assim é o amor de Cristo Jesus: um amor que salva. Entretanto Cristo não somente salva, Ele faz algo ainda muito melhor: Ele arregimenta o outrora perdido para batalhar nas fileiras do Seu poderoso ministério! Amado irmão, você já sentiu este chamado para lutar ao lado do Senhor Jesus?

Segunda-feira – João 19:4-16

Nada poderia mudar a trajetória para a cruz, que estava destinada ao Cordeiro. O plano já estava traçado antes da fundação do mundo (Ef 1:4). Somente faltava a ordem: “Cumpra-se”. Não havia como Jesus sair incólume daquele julgamento. Por um lado, os sacerdotes e os guardas que incitavam a morte de Jesus. Por outro lado, um governante covarde que temia perder seu cargo, caso fizesse oposi-ção aos líderes religiosos. Quem poderia livrá-Lo da con-denação? O único que detinha autoridade para tal, o Pai, não iria fazê-lo. O Cordeiro de Deus, apesar de inocente, precisava ser sentenciado e condenado à morte. Na ver-dade, eles apenas fizeram tudo o que Deus, por seu poder e vontade, já havia resolvido que ia acontecer. Só assim Jesus poderia ser o Cordeiro de Deus que carrega sobre si

Pr. Humberto Agnello Bolaños Cordeiro

MEDITAÇÕES BÍBLICAS DIÁRIAS

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o pecado do mundo. Sim, Jesus morreu na cruz para que você e eu tivéssemos vida, e vida em abundância.

Terça-feira – Mateus 26:57-68.

Dizia a lei mosaica que todo “aquele que blasfemar o nome do Senhor será morto” (Lv 24:16). Ao lançarem mão da lei os sacerdotes assumiram uma posição de total rejei-ção a Jesus como Messias, apesar da própria lei apontar o contrário, trazendo para si mesmos a prerrogativa de julgar esta questão religiosa. Não era por suas obras que queriam condená-lo, mas pela alegada blasfêmia de se fazer filho de Deus (Jo 10:33). Esta era a única via capaz de conde-nar Jesus, e por isso mesmo foi utilizada. Aqueles judeus sabiam que não tinham um processo legal contra Jesus; por isso tinham de usar acusações forjadas. As acusações, entretanto, eram tão vagas e inconsistentes que não pude-ram encontrar nem mesmo duas testemunhas – o mínimo especificado por lei (Dt 17:6) – que concordassem entre si. Quando Jesus assumiu que era o Cristo, o Filho de Deus, ele foi acusado do mais grave ultraje religioso e declarado réu de morte. Algumas horas mais tarde, um centurião e os que com ele participaram da execução iriam confessar: “Verdadeiramente este era Filho de Deus” (Mt 27:54).

Quarta-feira – João 19:17-25

Sim, era o Messias que estava sendo crucificado! Ele havia percorrido uma via de humilhação e dor rumo à morte, porque veio para dar sua vida em resgate de mui-tos. Estava escrito que o Cordeiro de Deus tiraria o pecado do mundo (Jo 1:29). O profeta Isaías havia escrito que o Salvador seria contado entre os transgressores, intercede-ria por eles e levaria o pecado de muitos (Is 53:12). Davi já havia profetizado que repartiriam as vestes do Cristo e lançariam sorte sobre a sua túnica (Sl 22:18). As Escrituras

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eram esclarecedoras, mas os olhos dos que condenaram a Jesus para a morte de cruz estavam fechados para uma dura verdade que somente mais tarde viria à tona: eles haviam negado o Santo e o Justo, e pediram para si um homem homicida. Eles haviam matado o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, declarando-O Seu Filho com poder (At 3:14,15).

Quinta-feira – Salmo 31:1-5

Você conhece alguém que quando está passando por uma dificuldade costuma dizer que o seu problema está nas mãos de Deus? E esse alguém tem o costume de pegar o problema de volta, quando a resposta parece demorar? Claro que conhece! Provavelmente esse alguém seja você mesmo. Assim somos nós. Parece que a con-fiança no Senhor vai até determinado ponto, tal como um prazo de validade. A confiança no Senhor não pode ser a mesma que depositamos nas pessoas. Jesus sabia disso. Sabia até que seria deixado pelos seus discípulos em seu momento mais difícil, mas tinha a certeza que jamais seria abandonado por seu Pai, mesmo quando todos os pecados do mundo o separaram, momentaneamente, Dele. Louve-mos o Senhor e em Suas mãos entreguemos nossa vida!

Sexta-feira – João 19:38-42

Tem crente que parece um agente secreto. Sua especia-lidade é trabalhar escondido na obra do Senhor. Se alguém encontrá-lo entrando numa igreja é capaz de dizer que tem que falar com alguém e que em seguida estará saindo. Esse é o crente que tem medo de assumir sua posição ao lado de Cristo. No texto de hoje vemos um crente assim: José de Arimatéia. Ele era discípulo secreto de Jesus, e providen-ciou um sepulcro novo para sepultá-lo. Entretanto, sua obra foi feita em silêncio por medo dos judeus. Ele temia que

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soubessem do seu feito e acabasse perdendo sua posição social e religiosa, enfim, seu status. Muitos são os que, por medo ou vergonha, temem tomar uma posição ao lado de Cristo, esquecendo-se que Jesus morreu declarando publi-camente seu amor e perdão por nós.

Sábado – João 20:1-10, 19-20

Diz a tradição hebraica que quando o servo punha a mesa de jantar para seu amo, fazia-o na certeza de que estaria do seu agrado. Enquanto ele não terminasse de comer, o servo não poderia retirar a mesa, sob hipótese alguma, e não poderia estar no alcance da visão do seu senhor. Quando terminasse de comer, o amo pegaria o lenço, limparia a boca, a barba e dedos, o embolaria e joga-ria sobre a mesa. O lenço embolado era ao equivalente ao amo dizer: “Eu terminei”. Entretanto, caso o Amo se levan-tasse da mesa, e deixasse o lenço dobrado ao lado do prato, o servo não poderia retirar a mesa. O lenço enrolado ou dobrado equivaleria ao amo dizer: “Não terminei. Eu vol-tarei!”. O lenço que cobria o rosto de Jesus estava dobrado. Tradição ou não, uma coisa é certa: Ele vai voltar!

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A Palavra Viva

Pr. Jonas SommerEstudo da Semana: João 20:1-2929 de Junho de 2013

13TEXTO BÁSICO:

Recomendou-lhe Jesus: Não me detenhas; porque ainda não subi para meu Pai, mas vai ter com os meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, para meu Deus e vosso Deus. (Jo 20:17)

INTRODUÇÃO

João começa o seu Evangelho com uma referência a Jesus como o Verbo encarnado, ou seja, a Palavra encar-nada (1:1), e com isso dá uma visão gloriosa de Jesus, que existia mesmo antes da criação do mundo (1:2), tendo tomado parte no ato da criação (1:3). Neste trimestre tam-bém já estudamos eventos e ensinamentos marcantes do ministério terreno de Cristo. O nosso estudo de hoje enfoca o relato de João a respeito da ressurreição de Jesus den-tre os mortos. Veremos, portanto, a descoberta do túmulo vazio e as posteriores aparições da Palavra Viva, o Cristo ressurreto.

Nos dias de Jesus, as famílias mais abastadas de Jeru-salém tinham túmulos esculpidos em montanhas de pedra calcária e nas encostas rochosas da região. Esses túmulos tinham várias camas – como prateleiras – onde os corpos poderiam ser colocados como se estivessem dormindo. A entrada para estes túmulos normalmente eram seladas com uma pedra esculpida em forma de disco, de modo que

O SEPULTAMENTO DE JESUS

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pudesse ser rolada em frente da entrada do sepulcro (cf. Mt 27:60).

Segundo a lei romana o corpo dos condenados à cru-cificação pelo crime de sedição,157 não poderiam ser retira-dos da cruz. Eram deixados para os abutres, causando a máxima indignidade e vergonha e servindo de exemplo aos demais, para não se levantarem contra o Império Romano. Neste ínterim entra em ação José de Arimatéia, membro do Sinédrio,158 que pede a Pilatos autorização para reti-rar o corpo e sepultá-lo. O fato de Pilatos ter atendido à solicitação de José de Arimatéia possivelmente revela a convicção dele de que Jesus não era realmente culpado, sendo assim uma última censura às autoridades judaicas por haverem condenado um inocente.159

Jesus foi sepultado na tumba que era de José de Ari-matéia. Mateus o retrata como um discípulo de Jesus (Mt 27:57), e Marcos acrescenta que ele era um “ilustre mem-bro do Sinédrio” (Mc 15:43). João é ainda mais revelador quando o chama de “discípulo secreto” (Jo 19:38). Mas seu segredo foi revelado quando ele usou sua influência para obter o corpo de Jesus e enterrá-lo em seu próprio túmulo, recém-esculpido sobre a rocha.

João é o único dos evangelistas a mencionar a parti-cipação de Nicodemos no sepultamento de Jesus. Este personagem também aparece em outras duas referên-cias bíblicas (cf. Jo 3; 7:50-52). Nesta ocasião ele aparece trazendo 45 quilos de especiarias próprias para o sepul-tamento. Essa quantidade demonstra que Nicodemos também era rico, sendo também membro do Sinédrio.160 Segundo uma tradição, tanto Nicodemos quanto José de

157 Essa foi a condenação de Jesus.158 O Sinédrio era a Corte Suprema da lei judia, com a missão de administrar justiça, interpretando e aplicando a Torá (Pentateuco ou Lei de Moisés), tanto oral como escrita. Exercia, simultaneamente, a representação do povo judeu perante a autoridade romana. Ser membro do Sinédrio facilitava alguém a ter acesso ao governador.159 CARSON, D.A. O comentário de João. São Paulo: Sheed Publicações, 2007, p. 631160 BRUCE, F.F. João: Introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011, p. 324.

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Arimatéia sofreram duras represálias das demais autorida-des judaicas, tendo, inclusive, sido presos.161

Jesus não ficou muito tempo no túmulo. Depois de três dias e três noites, Deus o ressuscitou. Warren Wiersbe comenta que se o Evangelho de João fosse uma biogra-fia qualquer o capítulo 20 não existiria, pois praticamente todas as biografias terminam com a morte e o sepultamento da pessoa em questão, e não há uma biografia que fale da ressurreição de alguém! O fato de João ter continuado seu relato e compartilhado seu entusiasmo com o milagre da ressurreição mostra que Jesus Cristo não é como qualquer outro homem. Ele é, de fato, o Filho de Deus.162

Desde o princípio, os inimigos de Jesus tentaram negar o fato histórico de sua ressurreição. Os líderes judeus afirmaram que o corpo de Cristo havia sido tirado de seu túmulo. Trata-se de uma declaração absurda, pois como seus seguidores poderiam ter roubado o corpo? Havia soldados romanos guardando o túmulo, e um selo oficial romano fora colocado na pedra de entrada. Quanto à dis-paratada argumentação de que Jesus não morreu, mas apenas desmaiou e depois voltou a si, não é preciso dizer muita coisa. Várias testemunhas viram que Jesus estava morto quando seu corpo foi tirado da cruz. Posteriormente, foi visto com vida por testemunhas confiáveis. A única con-clusão lógica é que Jesus cumpriu sua promessa e ressur-giu dentre os mortos.

Maria Madalena é a primeira, segundo o relato joanino, a ir ao sepulcro. Ao chegar ao local percebe que a pedra fora revolvida. Volta, então, correndo e avisa a Pedro e ao discípulo a quem Jesus amava, ou seja, João, sobre o ocor-rido. Os dois correm ao sepulcro para ver o que tinha acon-

161 BOCK, Darrell L. Jesus segundo as Escrituras. São Paulo: Shedd Publicações, 2006, p. 509.162 WIERSBE, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo: Novo Testamento. v. 1. Santo André, SP: Geográfica, 2006, p. 500.

O TÚMULO VAZIO

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tecido. Ao chegar ao túmulo, João foi cauto e permaneceu do lado de fora, apenas olhando para dentro. Há quem diga que estivesse esperando por Pedro para entrar na câmara onde o corpo ficava. O que ele viu? Faixas sobre a pedra sem qualquer evidência de violência nem de crime. Porém, não havia nada além das faixas! Parecia um casulo vazio, ainda com a forma do corpo de Jesus.

Como já era de se esperar, Pedro, quando lá chegou, em um gesto impulsivo, entrou logo no túmulo. Igualmente viu as faixas de linho sobre a pedra e o lenço para a cabeça enrolado cuidadosamente e colocado de lado. Ladrões de túmulos não desenrolariam o corpo com todo cuidado, dei-xando tudo arrumado. Na verdade, considerando-se que as faixas eram enroladas com especiarias, seria quase impossível desenrolá-las sem danificar o tecido. A única explicação possível era que Jesus havia passado pelo tecido quando ressuscitou.163

Alguns consideram que o lenço, que tinha sido envolto na face de Jesus, ainda detinha a forma da cabeça de Cristo e estava separado das faixas de linho por uma distância equivalente ao comprimento do pescoço de Jesus. Outros aventam que, graças à mistura de unguentos, todo o tecido que cobrira a Cristo ainda conservava a forma do corpo dele. Carson, no entanto, conclui que tais sugestões vão além do que o texto diz. O que parece claro é que o após-tolo João está fazendo um contraste com a ressurreição de Lázaro, que deixou o sepulcro envolto em sua mortalha, ao passo que o corpo ressurreto de Cristo aparentemente passou por meio de suas roupas fúnebres, especiarias e tudo mais, da mesma forma que Ele depois adentrou em uma sala fechada.164

Digno de nota também é o uso que João faz, ao escre-ver este relato, dos três diferentes termos gregos para ver. Em João 20:5 o verbo significa apenas “espiar, olhar de relance”. Em João 20:6 tem a conotação de “olhar com cuidado, observar”. Por outro lado, o termo “viu”, em João

163 WIERSBE, Warren W. op. cit, p. 501.164 CARSON, D.A. op. cit., p. 638-639.

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20:8, quer dizer “perceber com uma compreensão intelec-tual”, ou seja, a fé dele na ressurreição estava nascendo como um novo dia!165

Ao pensar em Maria Madalena sozinha no jardim me vem à mente o seguinte verso: “Amo os que me amam, e quem me procura me encontra” (Pv 8:17). Maria amava seu Senhor e permaneceu no jardim para expressar esse amor.

Novamente nos deparamos com a descrição sucinta de João. Não é mencionado, mas simplesmente suben-tende-se que Maria voltou correndo até o sepulcro com os dois discípulos. Tampouco diz algo sobre uma conversa com os discípulos, aos quais chamou especialmente para que a ajudassem na aflição com a sepultura aberta. Será que não teve coragem de interpelá-los mais uma vez? Será que estaria completamente absorta em sua dor?

Seja como for, não consegue deixar o local da sepul-tura antes que tenha reencontrado o Senhor amado. Con-sequentemente, ela se encontra do lado de fora da sepul-tura, chorando. Enquanto chorava, abaixou-se e olhou para dentro do túmulo e viu dois anjos vestidos de branco, sen-tados onde o corpo de Jesus fora posto, um à cabeceira e outro aos pés. Então, eles lhe perguntaram: “Mulher, por que choras?” Por que Maria voltou-se para trás em vez de continuar a conversa com os dois desconhecidos? Será que ouviu um barulho atrás de si? Ou quiçá os anjos se levantaram ao reconhecer a presença de seu Senhor? Tal-vez as duas coisas, ou nenhuma delas.

De qualquer modo, por que Maria se demorou ali no túmulo, uma vez que estava certa de que o corpo de Jesus não se encontrava mais ali? Por que não reconheceu Aquele pelo qual procurava com tanto anseio? É possível que Jesus tenha se ocultado dela propositadamente, como

165 WIERSBE, Warren W. op. cit, p. 502.

A PRIMEIRA APARIÇÃO

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fez quando caminhou com os discípulos na estrada para Emaús (Lc 24:1332). Por outro lado, ainda estava escuro nessa parte do jardim. Também é provável que seus olhos estivessem turvos por suas muitas lágrimas.

Jesus lhe fez a mesma pergunta que os anjos haviam feito: “Por que choras?”. Que tristeza pensar que chorava, quando poderia estar louvando, caso tivesse percebido que Cristo estava vivo! Então, acrescentou: “A quem procu-ras?”. Como é confortante saber que Jesus conhece todas as nossas tristezas. O Salvador sabia que o coração de Maria estava aflito e que a mente dela estava confusa e não a repreendeu. Antes, revelou-se a ela com toda ter-nura. A fim de que ela o reconhecesse, tudo o que precisou fazer foi dizer o nome dela. Mais uma vez, cumpriram-se as Escrituras, pois as ovelhas reconhecem sua voz quando Jesus as chama pelo nome (Jo 10:3).

Temos, então, a ordem de Cristo: “Não me detenhas, porque ainda não subi para meu Pai” (v. 17). Algumas ver-sões, como a Bíblia Viva, vertem para “não me toque”, o que cria uma contradição com a própria ordem posterior de Jesus a Tomé para que o tocasse. O verbo grego haptomai pode se referir a “tocar” ou a “agarrar-se”. Carson advoga que o que Cristo estaria dizendo a Maria é: “Pare de se agarrar a mim, pois ainda não subi ao Pai (ou seja, ainda não ascendi definitivamente), vá testemunhar de que me vistes aos meus irmãos”.166 Esse é o tempo para alegria e para compartilhar as boas novas de ir até aos demais e anunciar a ressurreição do Salvador.

Alguns estudiosos creem que nosso Senhor voltou para o Pai naquela manhã e que essa foi a ascensão à qual se referia no verso 17. Porém, não encontramos outra passa-gem do Novo Testamento que possa corroborar essa inter-pretação. Afirmar que se estava cumprindo o simbolismo do Dia da Expiação e apresentando o sangue ao Pai é ir longe demais (Lv 16). Diga-se de passagem, Ele não tinha sangue algum para apresentar; pois já realizara esse ato

166 CARSON, D.A. Op. cit. p. 645-646.

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na cruz, quando foi feito pecado por nós. A ressurreição, em si, era prova de que a obra de redenção havia sido consumada (“e ressuscitou por causa da nossa justifica-ção”, Rm 4:24, 25). Não havendo, portanto, mais nada a ser feito!167

É bastante sugestivo que Jesus, deliberadamente, escolheu aparecer a Maria Madalena por primeiro, fazendo dela a primeira testemunha ocular de que Ele havia ressus-citado! Entre os judeus daquela época o testemunho das mulheres não era tido em alta consideração. Os rabinos costumavam dizer: “É melhor que as palavras da Lei sejam queimadas do que entregues a uma mulher”.168 Jesus, quebrando este paradigma, entrega a uma mulher uma mensagem mais importante do que a Lei, fazendo dela a primeira porta-voz de que o Salvador estava vivo! De sua parte, Jesus concedeu à mulher uma nova posição, tanto aqui quanto já durante sua atuação anterior. Não é João, mas Maria quem está sendo enviada por Jesus como men-sageira autorizada para os demais.

Posteriormente, ao cair da tarde, acontece à revelação do Ressuscitado entre os discípulos. Torna-se clara a nova forma de existência de Cristo, às vezes inconcebível para nós. Por um lado, ela é tão física e real, pois Jesus traz visíveis em seu corpo as chagas de sua morte, podendo, desse modo, demonstrar aos discípulos sua identidade de Crucificado; Por outro lado, Ele está além das leis da maté-ria. Atravessando portas fechadas, de repente está dentro do recinto, no meio deles. Ele fala a seus discípulos com voz audível, assim como também havia chamado Maria, usando a voz que lhes era completamente familiar. A pri-

167 WIERSBE, Warren W. Op. cit., p. 504168 Ibid., p. 501.

A PRIMEIRA APARIÇÃO AOS DISCÍPULOS

204 Estudos Bíblicos

meira palavra de sua boca é uma simples saudação, que todas as pessoas em Israel usavam: Paz seja convosco.

A palavra hebraica para paz, shalom, abrange a com-preensão judaica de vida plena (saúde, paz, prosperi-dade, longevidade, fertilidade). Aqui podemos assumir que abrange toda a salvação. Tudo foi perdoado e apagado. Não se ouve nenhum tom de recriminação. Não é feito nenhum acerto de contas, depois do qual também poderia haver uma reconciliação. No primeiro reencontro, aquele que foi abandonado pelos discípulos, negado por Simão Pedro, não possui nada mais que paz, amor e salvação para os seus. A paz que o mundo não pode dar é a paz do perdão. Jesus conquistou essa paz para os seus na cruz. O perdão se fundamenta nos ferimentos de Jesus. É por isso que Jesus mostra as mãos e o lado a seus discípulos, imedia-tamente depois da saudação de paz. Essas chagas, que a rigor são uma mutilação de seu corpo e uma acusação ao mundo, constituem agora o sinal da paz. É por isso que o Senhor também os preserva em seu corpo ressurreto. A identificação do Ressuscitado (e Exaltado) com o Cruci-ficado possui importância fundamental. O que aconteceu na cruz não é algo passageiro. Continua válido para a eter-nidade e caracteriza a natureza e o poder de Jesus até a consumação. . Cristo não se desfez das chagas, como fez com a fraqueza terrena restante. O Cristo Ressurreto traz em si as chagas.

O verso 20 traz uma passagem intrigante quando Jesus, reunido com seus discípulos, sopra sobre eles e diz: “Recebam o Espírito Santo”. Há três possibilidades de interpretação para essa questão: O Espírito Santo foi dado antes do Pentecoste; o pentecoste Joanino ou uma Ação Simbólica.

Sopro tem a ver com a própria palavra Espírito. O ato de soprar tem a ver com expelir vento. A palavra Espírito em grego é pneuma e tem relação com soprar, ventar. O “sopro” e a ideia da concessão do Espírito Santo têm cone-xão nesse texto. A pergunta é se isso é apenas simbólico,

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ou se de fato isso aconteceu como outorga prematura do Espírito Santo, antes do Pentecoste, ou, ainda, se foi o Pentecoste na perspectiva Joanina.

A segunda alternativa é de difícil harmonização com o Pentecoste de Lucas. Parecem ser dois eventos diferen-tes. Em João 20 temos Jesus e mais 10 discípulos (Tomé estava ausente e não teria recebido o sopro de Jesus), e em Atos 2 temos 120 discípulos (Jesus estava ausente), e todos receberam o Espírito. Depois que houve o sopro de Jesus, em João 20:22, os discípulos voltaram a pescar. Em Pentecoste, no livro de Atos, com o recebimento do Espírito Santo, houve uma mudança de vida profunda nos discípulos, a ponto de eles estarem dispostos a morrer por Cristo, o que não acontece no Evangelho de João, no qual eles simplesmente voltam a fazer o que faziam antes, ou seja, pescar.

O mais importante aqui é olhar para a pneumatologia que João oferece. No Evangelho de João, a glorificação (Jo 17) é um processo. Inclui o sofrimento, a cruz, morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Terminado esse pro-cesso, o Espírito Santo poderia ser enviado aos discípulos. Em virtude disso, o Espírito Santo ainda não poderia ser enviado no Evangelho de João antes de se cumprir toda uma etapa que fazia parte do processo da glorificação de Cristo. Sendo assim, a alternativa 1, que diz que o Espírito Santo foi dado antes do Pentecoste, cai por terra.

É mais razoável pensar que o que aconteceu em João 20:22 foi uma ação simbólica de Jesus, sinalizando que eles receberiam o Espírito Santo quando Ele fosse glorifi-cado. Podemos pensar que Jesus foi sempre direto no que disse ou fez, mas há muitas ações simbólicas de Jesus ao longo dos evangelhos, como, por exemplo, a passagem da maldição da figueira (Mc 11:12-26) ou no episódio da puri-ficação do templo (Jo 2:12-21), quando Ele se referia ao seu próprio corpo enquanto falava do templo. Suas pala-vras ou ações, quando simbólicas, tinham uma mensagem a comunicar. Por isso, a ideia em João 20:22 parece ser

206 Estudos Bíblicos

muito mais a de deixar os discípulos com mais convicção e com a certeza de que eles realmente receberiam o Espírito Santo quando Jesus fosse glorificado.

No meio cristão Tomé sempre foi criticado por sua incredulidade. Primeiramente, é preciso lembrar que ele não foi o único a descrer da ressurreição, basta ver os dis-cípulos no caminho de Emaús, em Lucas 24. Porém, o fato de Jesus aparecer a ele e dizer-lhe para tocar Seu corpo nos fornece bons argumentos para defendermos a ressur-reição corpórea de Cristo. Ninguém pode dizer que Jesus apareceu apenas em espírito, ao transpassar as paredes do recinto onde eles estavam reunidos, porque Jesus pro-porcionou a Tomé a oportunidade de tocá-lo!

Para nós é um grande estímulo saber que Deus se inte-ressou pessoalmente e se preocupou com o “Tomé incré-dulo”. Mostrou o desejo de fortalecer a fé de Tomé e de incluí-lo nas bênçãos reservadas aos seguidores de Cristo. Tomé serve para nos lembrar de que a incredulidade nos priva de bênçãos e de oportunidades. Pode parecer sofisti-cado e intelectual questionar o que Jesus fez, mas tais per-guntas normalmente indicam um coração endurecido, não uma mente perscrutadora. Tomé representa a “abordagem científica” à vida – abordagem que não funcionou! Afinal, quando o céptico diz: “Recuso-me a crer a menos que...”, já está reconhecendo que tem fé. Crê na validade do teste ou experimento que ele próprio elaborou. Se esse indivíduo crê na validade da própria “abordagem científica”, por que não é capaz de crer no que Deus revelou? Devemos nos lembrar de que todo mundo vive pela fé. A grande diferença é o objeto dessa fé. Os cristãos depositam sua fé em Deus e em sua Palavra, enquanto os nãos salvos depositam sua fé em si mesmos.

A INCREDULIDADE DE TOMÉ

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A ressurreição de Cristo é um evento central para a fé cristã. Não somente do ponto de vista histórico ela acon-teceu, como do ponto de vista testemunhal, precisamos anunciá-la; e, ainda, do ponto de vista prático, precisa-mos experimentar a realidade da ressurreição em nossa vida cristã diária vivendo em novidade de vida, como bem expressou o Apóstolo Paulo (Gl 2:20).

1. Quem era Maria Madalena e por que ela foi ao túmulo de Jesus no primeiro dia da semana de madrugada, sendo ainda escuro? (v. 1)

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2. O que Maria fez quando viu que o túmulo estava vazio? Qual foi sua interpretação original da situação? (v. 2)

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3. Como Pedro e João responderam à notícia de Maria quando ela relatou sobre o que viu no sepulcro? (vv. 3-5)

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4. Que evidências acerca da ressurreição de Jesus os apóstolos Pedro e João encontraram no túmulo? (vv. 6, 7)

UMA PALAVRA FINAL

PERGUNTAS PARA REFLEXÃO

208 Estudos Bíblicos

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5. Como João descreve a sua crença e, todavia, sua falta de entendimento? (vv. 8-10)

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6. O que aconteceu na tarde daquele dia? Por que os dis-cípulos estavam reunidos com as portas fechadas? (v. 19)

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7. Como Jesus provou a sua identidade aos seus seguido-res? (v. 20)

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8. Quando Jesus apareceu aos seus discípulos pela pri-meira vez, quem estava ausente? Qual foi a consideração que Ele fez? Quando Jesus apareceu novamente, o que Ele disse ao discípulo que havia duvidado da ressurrei-ção? Por que isso é importante a nós hoje? (vv. 25-27).

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NOSSOS AUTORES

Comentários

Pr. Bernardino de Vargas Sobrinho, 58 anos, casado com Línia L. Loureiro Vargas, é Bacharel em Teologia pela UNASP e em Direito pela Universidade Presbite-riana Mackenzie de São Paulo. Atua como Assessor Jurídico do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. É pastor titular da 1ª Igreja Batista do Sétimo Dia de São Paulo e presidente da Câmara Disciplinar da CBSDB.

Pr. Bernardo Ferreira Inácio Júnior, casado com Sanielly Sales e pai de dois filhos: Letícia e Levi. Possui o título de Bacharel em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará. Além de Psicólogo, é pastor titular da Segunda Igreja Batista do Sétimo Dia de Fortaleza, Ceará, e pastor auxiliar na 1ª Igreja Batista do Sétimo Dia da mesma cidade.

Pr. Daniel Miranda Gomes, 42 anos, casado com Daniela S. Durlo Gomes. Advogado, possui o título de Bacharel em Ciências Jurídicas pela UNORP de São José do Rio Preto-SP, e Pós-Graduação pela UNINTER de Curitiba-PR. Cursou Teologia pelo Seminário Teoló-gico Cristão Evangélico do Brasil e Grego e Hebraico pela Faculdade Teológica Batista do Paraná. É o atual Diretor do Departamento de Missões e Evangelismo e Assessor Jurídico da CBSDB.

Pr. Edvard Portes Soles, 36 anos, é Pastor Titular na Igreja Batista do Sétimo dia de Itararé, São Paulo. Casado com Janaína com quem tem dois filhos: Maria Eduarda e João Pedro. Possui o título de Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná.

Heloise Gonçalves Nunes Lemos, 25 anos, é casada com Edonir Lemos com quem tem uma filha chamada Lívia. É membro da Igreja Batista do Sétimo Dia de Garuva, Santa Catarina. Seminarista do TIME, colabora na igreja local como professora da Escola Bíblica Infan-til e como líder do Grupo de Jovens. Ministra de Louvor, aprecia tocar e compor hinos ao Senhor.

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Pr. Jonas Sommer, 37 anos, é casado com Clarice e tem um filho, Marcos Paulo. Graduado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná, possui Licenciatura Plena em Letras Português-Inglês pela UNISEB. É Mestrando em Teologia pela Escola Supe-rior de Teologia de São Leopoldo/RS (EST). É diretor do Departamento de Educação Cristã da CBSDB e coordenador do TIME. É membro da Igreja Batista do Sétimo Dia de União da Vitória, Paraná.

Pr. Wesley Batista de Albuquerque, 30 anos, é pas-tor titular da 1ª Igreja Batista do Sétimo Dia de Join-ville, Santa Catarina. É graduado em Teologia pelo Seminário Teológico Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição, de São Paulo. Ele e sua esposa Sâmia têm duas filhas: Lydia e Lara.

Meditações Bíblicas Diárias

André Garcia Ferreira, 33 anos, é casado com Ana Patrícia e pai de Arthur. Possui o título de Bacharel em História pela Universidade de São Paulo (USP) e Pós-Graduação em Gestão Escolar pela Universidade Gama Filho. Seminarista do TIME, é o atual presidente da 1ª Igreja Batista do Sétimo Dia de São Paulo.

Cristhiano Daniel Fritzen é casado com Deborah e pai dos pequenos Nicolas e Lucas. Médico Veterinário for-mado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Lages e conheceu a fé Batista do Sétimo Dia em Irineópolis (SC), sua terra natal, ao voltar da faculdade. Hoje reside em Prudentópolis (PR), onde ainda não há congregação BSD. É aluno da 3�ª turma do TIME.

Pr. Claudir Oliveira, 27 anos, é casado com Ivina Kathe-rine Rocha, com quem tem uma filha, Heloisa. É Pas-tor Titular da Igreja Batista do Sétimo Dia de Bocaiúva do Sul, Paraná. Seminarista do TIME e Presidente da Federação de Jovens Batistas do Sétimo Dia do Brasil.

Cristhiano Daniel Fritzen é casado com Deborah e pai dos pequenos Nicolas e Lucas. Médico Veterinário for-mado pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) em Lages e conheceu a fé Batista do Sétimo Dia em Irineópolis (SC), sua terra natal, ao voltar da faculdade. Hoje reside em Prudentópolis (PR), onde ainda não há congregação BSD. É aluno da 3�ª turma do TIME.

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Daisy Moitinho, 31 anos, solteira. Possui o título de Bacharel em Estatística pela UNICAMP. Fez o curso de Liderança Cristã pelo Instituto Haggai. Colabora com a CBSDB, atuando como intérprete em língua inglesa. É membro da Igreja Batista do Sétimo Dia de Campinas, São Paulo.

Pr. Humberto Agnello Bolaños Cordeiro, 37 anos, casado com Luciane com quem tem um filho, Gabriel. Possui o título de Bacharel em Odontologia pela UNIVALE em Governador Valadares. É Oficial de Justiça e Pastor da Igreja Batista do Sétimo Dia de Uruguaiana, Rio Grande do Sul.

Jeferson Ezequiel, 25 anos, é casado com Aline Cristina H.T. Ezequiel. É membro da 2ª Igreja Batista do Sétimo Dia de Joinville, Santa Catarina, onde auxilia o pastor local, ministrando ensinos bíblicos e pregações. Semi-narista do TIME e graduando em Teologia da Faculdade Teológica Batista do Paraná.

Pr. Marcos de Oliveira, 35 anos, casado, filho do sau-doso Pr. Ourizo Pereira de Oliveira. É Pastor da Igreja Batista do Sétimo Dia de Santa Rosa, Rio Grande do Sul, e seminarista do TIME.

Pr. Renato Sidnei Negri Junior, 27 anos, é casado com Priscilla Negri e tem um filho, Eduardo. É Técnico em Eletromecânica pelo Centro Estadual de Educa-ção de Curitiba. É pastor titular da 1ª Igreja Batista do Sétimo Dia de Campinas, São Paulo. Aluno da primeira turma do TIME, também colabora na 2ª Igreja Batista do Sétimo Dia de Curitiba, Paraná, como Ministro de Louvor e no Ministério da Palavra.

CONVIDADOS ESPECIAIS

Pr. Alfredo Oliveira Silva, é casado com Lídia Souto de Moraes Oliveira Silva e pai de Anália e Mateus. Bacharel e Mestre em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil. É Pastor Auxiliar na Igreja Presbi-teriana Memorial de Piedade, Jaboatão dos Guarara-pes-PE, e professor da Academia Memorial de Ensino Superior de Pernambuco (AMESPE).

212 Estudos Bíblicos

Pr. Antônio Renat o Gusso, casado com a Professora Sandra Fátima Gusso e pai de Ana e Francisco. Gradu-ado em Ciências Contábeis pela Universidade Federal do Paraná, Bacharel em Teologia pela Faculdade Teoló-gica Batista do Paraná, Mestrado e Doutorado em Teo-logia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, Mestrado e Doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e pós-doutorado em Teologia pela Escola Superior de Teologia (EST), em São Leopoldo/RS. Professor de Línguas Bíblicas e Exegese, é, também, diretor da Faculdade Batista Pioneira, em Ijuí/RS, e professor na Faculdade Teo-lógica Batista do Paraná. Autor de dezenas de livros, tem colaborado com o TIME lecionando nos Simpósios sobre o Antigo Testamento.

Pr. Gelci André Colli, casado com Zaira Colli e pai do pequeno Ethan. Doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia. Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e Bacha-rel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista do Paraná. Professor nos cursos de Bacharel em Teologia, com ênfase em Exegese e Teologia Bíblica na Bíblia Hebraica e no Novo Testamento, na Faculdade Cristã de Curitiba, na Faculdade FACEL. Professor nos cur-sos de Pós Graduação: História, Filosofia e Teologia no IBPEX; e Leituras da Bíblia e Mundo Contemporâneo na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões (URI) em Santo Angelo/RS.

Pr. Norberto Carlos Marquardt, 49 anos, casado com Regina Knopp e pai de Thomas Augusto. Graduado em Teologia pelo Seminário e Instituto Bíblico Betânia (SEMIB) de Altônia-PR. Pastor, músico, conferencista e blogueiro. É Pastor Adjunto da Igreja Luterana Reno-vada Nova Aliança, de São Paulo-SP.

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PÁGINA DO TESOUREIRO

Prezados irmãos e irmãs em Cristo Jesus,A Tesouraria da Conferência Batista do Sétimo Dia Bra-

sileira tem como objetivo melhorar cada vez mais o desem-penho de suas atribuições e prestação de serviços. Mas, para tanto, a colaboração de cada um de vocês é indispen-sável, neste processo.

Solicitamos, portanto, que os valores referentes à remessa mensal sejam depositados impreterivelmente até 5º dia útil de cada mês, nas seguintes agências e con-tas bancárias, abaixo descritas, em nome da Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira:

1. Banco do Brasil: Agência 1458-3 / Conta Corrente n.

19941-9

2. Banco Bradesco: Agência 2037 / Conta Corrente n.

37693-0

3. Banco Itaú: Agência 3703 / Conta Corrente n. 06312-7

Por favor, não mandem o recibo original do depósito, pelo correio. Tirem uma fotocópia, se forem enviar pelo cor-reio. Aqueles que puderem, usem o Scanner para copiar tanto o recibo de depósito quanto o recibo do talão de remessa, e enviem por e-mail para o seguinte endereço eletrônico: [email protected].

As cópias dos recibos de depósito bancário e o recibo do talão de remessa deverão ser enviados para o endereço da sede geral da CBSDB, no máximo até o dia 15 de cada mês. O tesoureiro que enviar os comprovantes de depósito e recibo de remessa por e-mail não precisará mandar pelo correio as cópias dos mesmos.

Muito Obrigado!