homeostase e ambiente interno

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1 Homeostase e Ambiente Interno O conceito de Homeostase tem muito valor para o estudo da fisiologia porque permite perceber o “porquê” e o “como”, dos diversos mecanismos reguladores. O conceito de Homeostase também pode ser uma boa forma de diagnóstico médico. Em particular medidas do ambiente interno, como as quantidades de substâncias dissolvidas no sangue, onde desvios significantes em relação aos valores normais, mostram que o Homeostase não foi mantida e que essa pessoa se encontra doente. A quantificação dessas medidas, combinadas com as observações clínicas, permitem identificar defeitos particulares do mecanismo. Para manter o meio interno constante, o corpo possui diversos sensores para detectar alterações do “set point” . O “set point” funciona como um termóstato para a temperatura das nossas casas. Do mesmo modo, há um “set point” para temperatura, concentração de glicose no sangue, tensão dos tendões, etc. Quando o sensor detecta alterações nos valores padrão, envia informação para o Sistema integrado , que recebe informação dos diferentes sensores. O Sistema integrado é uma região particular do cérebro ou da espinal medula, mas em alguns casos pode ser um grupo de células em glândulas endócrinas. As forças relativas dos diferentes sensores são pesadas no sistema integrado e ele responde através do aumento ou diminuição da actividade de efectores particulares, geralmente músculos ou glândulas. Se a temperatura do corpo exceder os 37ºC, os sensores contidos no encéfalo vão detectar isso e vão activar o sistema integrado , estimulando a actividade dos efectores para baixar a temperatura. Os agentes efectores “defendem” os pontos de regulação dos desvios. Quando a actividade dos efectores é influenciada pelos efeitos que eles produzem, essa regulação dá-se no sentido negativo, ou reverso Feedback Negativo. A natureza do desvio feedback negativo pode ser entendido através da analogia com o termóstato e o ar condicionado. Quando o ar condicionado está ligado durante algum tempo num quarto, a temperatura baixa consideravelmente. Quando isso acontece, o ar condicionado vai desligar-se. O efector (ar condicionado) vai ligar quando a temperatura estiver alta, o que vai fazer a temperatura baixar (produz alterações negativas) que vão levar à desactivação do efector (ar condicionado desliga- se). Assim é mantida uma certa constância na temperatura. Fig. 1 Ambiente interno constante Homeostase. Fig. 2 Detecção pelos sensores, processamento da informação e resposta. Feedback negativo.

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Homeostase e Ambiente Interno

O conceito de Homeostase tem muito valor para o

estudo da fisiologia porque permite perceber o “porquê” e o

“como”, dos diversos mecanismos reguladores. O conceito

de Homeostase também pode ser uma boa forma de

diagnóstico médico. Em particular medidas do ambiente

interno, como as quantidades de substâncias dissolvidas no

sangue, onde desvios significantes em relação aos valores

normais, mostram que o Homeostase não foi mantida e que

essa pessoa se encontra doente. A quantificação dessas

medidas, combinadas com as observações clínicas,

permitem identificar defeitos particulares do mecanismo.

Para manter o meio interno constante, o corpo possui

diversos sensores para detectar alterações do “set point”. O

“set point” funciona como um termóstato para a temperatura

das nossas casas. Do mesmo modo, há um “set point” para

temperatura, concentração de glicose no sangue, tensão dos

tendões, etc. Quando o sensor detecta alterações nos valores

padrão, envia informação para o Sistema integrado, que

recebe informação dos diferentes sensores. O Sistema

integrado é uma região particular do cérebro ou da espinal

medula, mas em alguns casos pode ser um grupo

de células em glândulas endócrinas. As forças

relativas dos diferentes sensores são pesadas no

sistema integrado e ele responde através do

aumento ou diminuição da actividade de

efectores particulares, geralmente músculos ou

glândulas.

Se a temperatura do corpo exceder os 37ºC,

os sensores contidos no encéfalo vão detectar

isso e vão activar o sistema integrado,

estimulando a actividade dos efectores para

baixar a temperatura. Os agentes efectores

“defendem” os pontos de regulação dos desvios.

Quando a actividade dos efectores é influenciada

pelos efeitos que eles produzem, essa regulação dá-se no sentido negativo, ou reverso –

Feedback Negativo.

A natureza do desvio feedback negativo pode ser entendido através da analogia

com o termóstato e o ar condicionado. Quando o ar condicionado está ligado durante

algum tempo num quarto, a temperatura baixa consideravelmente. Quando isso

acontece, o ar condicionado vai desligar-se. O efector (ar condicionado) vai ligar

quando a temperatura estiver alta, o que vai fazer a temperatura baixar (produz

alterações negativas) que vão levar à desactivação do efector (ar condicionado desliga-

se). Assim é mantida uma certa constância na temperatura.

Fig. 1 – Ambiente interno constante

– Homeostase.

Fig. 2 – Detecção pelos sensores,

processamento da informação e resposta. –

Feedback negativo.

2

É importante que esse feedback negativo

seja um processo contínuo. Então, uma fibra

nervosa que faz parte dum mecanismo efector

pode sempre mostrar alguma actividade, e uma

hormona particular, que faz parte de outro

mecanismo efector, pode estar sempre presente

no sangue. A actividade do nervo e a

concentração da hormona podem diminuir em

resposta a alterações no ambiente interno numa

direcção (fig. 2), ou podem aumentar em

resposta a alterações em direcção oposta (fig.

3). Alteração ao normal para qualquer direcção

é compensada por alterações reversas na

actividade efectora.

A curva de feedback negativo

responde após variações ao “set

point” terem estimulado os

sensores, o ambiente interno nunca

é absolutamente constante. A

Homeostase concebeu o estado de

Constância Dinâmica, essas

condições são estabilizadas acima ou abaixo do “set point”. Essas condições podem ser

medidas quantitativamente: em graus Célsius para temperatura corporal; ou em

miligramas por decilitro para glicose no sangue. O “set point” pode ser tomado como

sendo o ponto médio das medições (fig. 4).

A concentração sanguínea de glicose, cálcio e outras substâncias é regulada por

um feedback negativo, envolvendo hormonas que promovem os efeitos opostos. Com a

insulina, por exemplo, quando os níveis de glicose sanguíneos estão baixos, outras

hormonas vão aumentar a glicemia. Do mesmo modo, o batimento cardíaco é

controlado por nervos fibrilares que produzem os efeitos contrários: a estimulação de

um grupo de nervos fibrilares aumenta o ritmo cardíaco; a estimulação de outro grupo

diminui o ritmo.

Feedback positivo

A manutenção do ambiente interno é mantida pelas acções dos agentes efectores

para compensar as alterações que servem como estímulo de activação, através do

feedback negativo. O oposto ocorre durante o feedback positivo, neste caso, a acção

dos efectores amplifica a alteração que os estimulou. Por exemplo, um termóstato que

trabalhe com um feedback positivo diminui ainda mais a temperatura, em resposta a

uma diminuição da temperatura.

Obviamente, a homeostase deve ser mantida preferencialmente por controlo

negativo e não por feedback positivo. No entanto, a eficácia de alguns mecanismos de

feedback negativo está ligada a mecanismos de feedback positivo para amplificar a

acção das suas respostas. A coagulação sanguínea, por exemplo, ocorre como resultado

de uma activação sequencial de factores de coagulação; a activação de um factor de

activação leva à activação de muitos, numa cascata de feedback positivo. Nesta via, uma

simples alteração é amplificada para formar um coágulo sanguíneo. No entanto,

formação do coágulo previne a perda de sangue, assim representa um complemento do

feedback negativo para restaurar a homeostase.

Fig. 3 – Detecção pelos efectores, diminuição do

estímulo.

Fig. 4 – Curva de feedback negativo mantêm o estado de

constância dinâmica, no ambiente interno.

3

Regulação Neurológica e Endócrina

A homeostase é mantida através de dois mecanismos reguladores: intrínsecos,

para a regulação dos órgãos; e extrínsecos, onde os órgãos são regulados por nervos e

pelo sistema endócrino. O sistema endócrino combina-se com o sistema nervoso na

regulação e integração das funções do corpo e manutenção da homeostase. O sistema

nervoso controla a secreção de muitas glândulas endócrinas, e algumas hormonas vão

afectar a função do sistema nervoso. Juntos, o sistema nervoso e o sistema endócrino,

regulam a actividade de muitos outros sistemas do corpo.

A regulação pelo sistema endócrino é activada pela secreção de reguladores

químicos, chamados hormonas. As hormonas são secretadas no sangue e percorrem

todo o corpo, passando por todos os órgãos. No entanto, apenas órgãos específicos vão

responder a uma hormona particular, são os chamados órgãos alvo da hormona.

As fibras nervosas que regulam os órgãos estão nos respectivos órgãos. Quando

estimuladas, essas fibras produzem impulsos nervosos electroquímicos que são

conduzidos desde a origem da fibra até ao seu fim, no órgão alvo enervado pela fibra.

Esses órgãos alvo podem ser músculos ou glândulas que têm funções na manutenção da

homeostase.

Controlo Feedback da Secreção de

Hormonas

As hormonas são secretadas em resposta a

um estímulo químico específico. O aumento na

concentração de glicose no plasma, por exemplo,

estimula o pâncreas a libertar insulina. As

hormonas são libertadas, apenas, em resposta a

uma estimulação nervosa e a uma estimulação por

outras hormonas.

A secreção de hormonas pode ser inibida

pelos seus efeitos, numa forma de feedback

negativo. A insulina libertada em resposta aos

níveis altos de glicose no sangue vai provocar uma

diminuição de glicose. Nesta situação há uma

inibição da secreção. Este sistema de controlo

fechado é chamado inibição por feedback

negativo.

As hormonas que regulam a manutenção da homeostase podem dividir-se em

grupos químicos:

Derivados de aminoácidos: por exemplo a

tiroxina, é produzida pela tiróide e deriva da

tirosina. Tem 3 ou 4 iodos incorporados, dai

se poder designar por T3 e T4,

respectivamente.

Proteínas: a insulina, sintetizada no pâncreas, deriva

da pró-insulina e é constituída por duas cadeias péptidicas.

Fig. 5 – Controlo por feedback negativo da

secreção de insulina e concentração de

glicose no sangue.

4

Esteróides, que são derivadas do colesterol.

São exemplos de homonas esteróides: a

progesterona e o estradiol (hormonas sexuais

femininas); cortisol (hormona animal); e a

testosterona (hormona sexual masculina).

Mecanismo de acção hormonal

As hormonas esteróides e tiroxinas permeiam a membrana plasmática e têm

receptores membranares, capazes de produzir mensageiros secundários intracelulares.

Por exemplo: a activação do receptor leva à produção cAMP, Ca2+

ou IP3; o sistema de

tirosina-cinase não envolve propriamente segundos mensageiros.

O efeito final da acção de algumas hormonas é

a activação da transcrição de genes, levando à síntese

de novas proteínas que não estavam a ser sintetizadas

nas células, anteriormente.

Algumas hormonas esteróides são moléculas

apolares que são transportadas no sangue com a

ajuda de proteínas transportadoras. Quando chega à

célula alvo, desliga da proteína cargo e passa pela

membrana até chegar ao seu receptor intracelular,

ligando-se a este. O complexo hormona-receptor

migra para o

núcleo, onde se

liga a um

determinado

local do DNA,

promovendo a

transcrição desse gene.

Nas hormonas sintetizadas na tiróide, o

mecanismo é o mesmo, mas os receptores

encontram-se no núcleo, e não livres no citoplasma.

Fig. 6 – Mecanismo de acção das

hormonas esteróides nas células alvo.

Fig. 7 – Mecanismo de acção das

hormonas tiróides nas células alvo.

5

Mas há hormonas que actuam através da acção de mensageiros secundários, por

exemplo:

A adrenalina, produzida nas

células do fígado, vai ligar-se

a um receptor que se encontra

na membrana plasmática.

Quando se liga ao receptor,

este vai activar um 2º

mensageiro, o cAMP. Este

mecanismo engloba a

activação de uma proteína G

com 3 subunidades (α, β e γ),

onde a subunidade α se

dissocia das restantes e vai

activar a enzima adenilato

ciclase, que catalisa a

produção de cAMP. Este vai

activar uma proteína cinase

(ligando-se à subunidade inibidora), que por sua vez, vai activar proteínas que

estavam inactivas na célula, fosforilando as enzimas que as vão activar ou

inibir.

Nestes casos diz-se que a hormona é um mensageiro primário.

Fosfolipase C: a hormona liga-se ao

receptor membranar, que através da

activação de uma proteína G, vai

activar a fosfolipase C (PLC), que por

sua vez vai activar o IP3. Este vai

estimular a libertação de Ca2+

do

retículo sarcoplasmático, através da

abertura de canais iónicos, aumentando

a concentração de Ca2+

, o que vai

causar a respostas na célula.

Os mensageiros secundários

intracelulares são o Ca2+

e o IP3.

A insulina liga-se a dois

receptores e promove a

dimerização deles. O dímero

forma-se no lado

citoplasmático e funciona

como cinase de resíduos de

tirosina. Ocorre então uma

auto-fosforilação e aumentam

os níveis de resíduos que

podem funcionar como sinal e

provocar uma cascata de

reacções.

Fig. 8 – Mecanismo de acção de uma hormona activadora de

cAMP.

Fig. 9 – Mecanismo de acção da fosfolipase C.

Fig. 10 – Receptor da insulina.

6

Hipófise: é uma pequena

glândula endócrina inserida no

hipotálamo, na base do encéfalo. É

geralmente dividida em duas partes: a

anterior e a posterior. O lóbulo

anterior secreta ACTH, TSH, FSH

LH, hormonas de crescimento e

prolactina. O posterior liberta

oxitocina e uma hormona anti-

diurética (ADH), que são produzidas

pelo hipotálamo.

Lóbulo posterior da hipófise:

neurónios com corpos celulares no

hipotálamo com axónios muito

compridos para o lóbulo da hipófise.

Aqui vai libertar duas hormonas:

Oxitocina – hormona

libertada no parto;

ADM – hormona anti-

diurética.

Lóbulo anterior da hipófise:

Neurónios com axónios mais curtos e

com terminais nervosos no pedúnculo

da glândula endócrina. Há substâncias

libertadas pelos neurónios do

hipotálamo que vão estimular a

produção de hormonas no lóbulo

anterior.

Fig. 11 - Hipófise

Fig. 12 – Lóbulo posterior da hipófise

Fig. 13 – Lóbulo anterior da hipófise

7

Fig. 14 – Organização do Sistema Nervoso.

O Sistema Nervoso (SN)

No sistema nervoso há detecção de estímulos que irão originar uma resposta, que é

processada pelo SNC e desencadeada através de agentes efectores – os músculos.

O SNC é constituído pelo encéfalo e pela espinal-medula, enquanto que o SNP é

constituído pelos nervos e respectivos gânglios.

O SNP pode dividir-se em duas vias:

Aferente (Sensorial) – que conduz a

informação desde os receptores para o

SNC.

Eferente – transporta a resposta para os

órgãos efectores: músculos ou

glândulas. É composto pelo:

o SN Somático – controla os músculos

esqueléticos.

o SN Autónomo – que controla

músculos lisos, cardíaco e glândulas.

Ainda se pode dividir em SN

Simpático e SN parassimpático, que

normalmente têm efeitos

antagónicos (contrários)

Por vezes considera-se também a

existência do SN Entérico, que existe no

tubo digestivo e que pode funcionar de

maneira autónoma. No entanto não vai ser

mencionado.

O SN é composto por Neurónios e por

Células da Glia. O bom funcionamento depende de

ambas as unidades.

Os Neurónios:

Apresentam tamanhos muito variados;

Podem ou não ter axónio;

Dendrites grandes ou pequenas.

A informação é recebida pelas dendrites, passa pelo

corpo celular e segue pelo axónio antes de ser

transferida para a célula seguinte.

Há muitos tipos de células da Glia:

Fig. 15 – Neurónios.

Fig. 16 – Diversidade de Células da Glia.

8

As Células de Schwann e os Oligodentrócitos formam a banda de mealina em

volta do axónio dos neurónios.

Os Astrócitos:

Dão suporte ao SNC;

Ajudam a formar a barreira protectora;

Liberta factores neurotróficos (estímulos

necessários para a sobrevivência das células

nervosas);

Captam neurotransmissores libertados pelos

neurónios (sabe-se hoje que o inverso também

acontece).

A Microglia tem função de defesa: metaboliza

substâncias agressivas para o SNC.

As Células Epidérmicas revestem espaços

internos do SNC.

As células do SN funcionam por impulsos

eléctricos que as percorrem.

Se colocarmos um eléctrodo dentro do axónio e outro de fora, verifica-se que há

diferença de potencial (geralmente, -70 mV) ou seja, no interior há mais cargas

negativas.

A membrana do axónio permite que se gere corrente eléctrica, uma vez que é

impermeável a iões.

Numa experiência com duas concentrações de

KCl, separadas por uma membrana permeável

apenas a cargas positivas. No princípio verifica-se

que o sistema não tem potencial, mas depois, pelo

gradiente químico, as moléculas de K+ passam pela

membrana. Essa transferência é compensada pelo

gradiente eléctrico, que vai gerar diferença de

potencial.

Potencial em equilíbrio de um ião (Equação

de Nernst):

O potencial de membrana é formado pelo transporte de iões através da membrana

plasmática. Isso pode acontecer por difusão simples ou por bombas de electrões.

Fig. 18 – Experiência com KCl.

Formação de potencial

Fig. 19 – Formação de potencial de membrana nos axónios.

Fig. 17 – Função das Células da Glia no

SNC.

9

Os iões mais importantes para a determinação de potenciais são: K+, Na

+ e Cl

-.

A Equação de Goldman mede a diferença de potencial:

P – permeabilidade da membrana ao ião

Tem em conta os três iões principais. No entanto, como a permeabilidade

da membrana para o Cl- é muito baixa, pode-se excluir a ultima parte da

equação (PCl[Cl-]int / PCl[Cl

-]ext).

As variações na permeabilidade da membrana para o Na+

são devidas à

abertura de canais iónicos de Na

+.

Geralmente, PK = 40 PNa.

A isto é chamado Potencial de Repouso, o que significa que a membrana não está

a ser estimulada (≈ -70 mV).

Por exemplo, se fizermos variar o PK ou o PNa, o potencial de membrana varia.

Assim como com a temperatura e com a concentração. A alteração do potencial de

membrana por alteração da permeabilidade é causada por canais eléctricos.

Quando há recepção de um estímulo que

excita as células, só o sentimos quando ele

chega ao nosso SNC.

As células do SN são excitáveis, ou seja,

quando há uma excitação causada por um

estímulo, há uma despolarização causada por

diminuição das cargas negativas do potencial de

membrana. No final há uma repolarização,

voltando aos valores normais de potencial de

membrana. A hiperpolarização acontece quando

há um aumento de cargas negativas.

Se tivermos 3 estímulos de diferentes

intensidades: quanto maior a intensidade desse

estímulo, maior é a despolarização. Se chegar ao

potencial limiar de despolarização, entra em

Potencial de Acção.

Fig. 21 – Alteração do potencial de

membrana, com estímulos diferentes.

Fig. 20 – Alterações do potencial de membrana.

10

Há vários tipos de receptores de estímulos:

Mecanoreceptores, quando, depois da

recepção de um estímulo, se abrem os canais

iónicos, por distensão da membrana,

permitindo o transporte de Na+, o que gera

despolarização do potencial de membrana.

Os paraplégicos também captam estímulos, mas estes não chegam ao SNC,

logo não se apercebem deles.

Quimioreceptores são específicos para

determinadas moléculas. Essa molécula é captada pelo

receptor e vai abrir o canal iónico, dando-se a

despolarização.

Fotoreceptores, funcionam ao contrário dos

outros receptores, abrem quando não há

estímulo. Ou seja, quando não há luz o canal

iónico está aberto, quando há luz o canal

iónico fecha. O estímulo gera uma

repolarização.

Para a Transdução Sensorial é necessário que haja estímulos e receptores.

Quando os receptores são activados há uma alteração da permeabilidade, que vai fazer

alterar o potencial de membrana, que pode gerar potencial de acção quando atinge o

potencial limiar.

Os Potenciais Graduais dependem da

intensidade do estímulo e diminuem a sua intensidade

à medida que se afasta do local onde foi captado.

Enquanto que os Potenciais de

Acção têm sempre a mesma

intensidade e não dependem da

intensidade do estímulo.

A despolarização, embora seja um processo rápido, demora algum tempo a

percorrer o neurónio.

Os potenciais de acção são gerados na zona de emparelhamento do axónio (zona

de iniciação ou zona de iniciação do axónio).

Fig. 22 – Potencias Graduais

Fig. 23 – Potenciais graduais vs. Potenciais de acção

11

Nos potenciais graduais podem gerar potencial de acção, que vai passar todo o

axónio. Isso depende apenas da intensidade do estímulo, tem de atingir o potencial

limiar.

O potencial de acção só se dá no axónio

porque aí os canais são sensíveis à voltagem,

enquanto que nas dendrites e no corpo celular

os canais são sensíveis a estímulos (químicos e

mecânicos).

Nos canais sensíveis à voltagem há uma

cancela de activação que controla a passagem

de substâncias. A abertura da cancela é

activada por um sensor de voltagem.

Enquanto que o canal de potássio tem uma cancela, o de sódio tem duas:

activação e inactivação:

No início, é necessário um

estímulo eléctrico que vai fazer com

que a membrana saia do repouso. 1Esse estímulo vai ser reconhecido

pelo sensor de voltagem que vai

influenciar a cancela de activação que

por sua vez vai activar a cancela que

inactivação (a cancela de inactivação

depende indirectamente da voltagem,

ao contrário da cancela de activação

que depende directamente) – fase de

rastreio. 2Posteriormente, a cancela de

activação também é activada,

deixando que o sódio entre na célula,

gerando despolarização. 3Quando a

cancela de inactivação inactiva, o sódio não pode entrar na célula e, como o potássio

está a sair, há uma repolarização. 4A cancela de activação inactiva (fecha). No entanto,

como ainda há saída de potássio para o espaço extracelular, porque a cancela do

potássio é mais lenta a inactivar, o que vai aumentar o número de cargas negativas na

célula, criando uma hiperpolarização.

Numa célula há vários canais de sódio

e de potássio e nem todos fecham ao mesmo

tempo. Isto leva a que a permeabilidade aos

iões aumente progressivamente até ser

máxima (é nessa altura que se atinge o maior

valor de potencial de acção). Depois, a

inactivação dos canais de sódio também é

gradual.

A partir de um certo momento, as

cancelas de inactivação inactivam,

terminando o ciclo.

Há dois tipos de período refractário: o

absoluto e o relativo.

Fig. 24 – Canal iónico sensível à voltagem

Fig. 25 – Regulação das cancelas dos canais iónicos.

Fig. 26 – Movimento dos iões durante o potencial

de acção.

12

O primeiro corresponde a um intervalo

de tempo muito curto (despolarização e

repolarização) onde é impossível gerar um

novo potencial de acção naquele local da

membrana, mesmo que o segundo estímulo

seja mais intenso que o primeiro. Isto acontece

porque as cancelas de activação do sódio estão

abertas, por isso o sensor de activação não

consegue receber o estímulo para, depois,

activar as cancelas de inactivação,

recomeçando um novo ciclo.

No segundo já é possível gerar um novo

potencial de acção, mas a intensidade do novo

estímulo tem de ser superior à do primeiro.

Neste caso a cancela de activação está fechada, uma vez que corresponde à fase de

hiperpolarização e termina quando a carga volta ao valor inicial.

Os potenciais de acção, quando se

geram, atingem sempre o mesmo valor

para uma célula. Então o que mede a

intensidade de um estímulo não é a medida

da variação da intensidade, mas a

frequência de potenciais de acção.

No entanto nunca há fusão de

potenciais de acção devido ao período

refractário absoluto, que obriga a que haja

um intervalo de tempo onde não se forma

potencial.

A propagação do potencial de acção pelo axónio depende de mealinização deste:

Quando não há mealinização a abertura dos canais de sódio, e a entrada deste,

fazem com que a concentração aumente no axónio criando um gradiente, abrindo os

canais de sódio e fazendo com que o potencial se

desloque. O fecho dos canais de sódio depois da passagem

do potencial evita que este recue.

Não é apenas um potencial de acção que atravessa o

axónio, são vários. Isto porque cada potencial gera outro e

assim sucessivamente ao longo de todo o axónio.

Quando o axónio é mealinizado, a bainha isola-o

electricamente. No entanto há nódulos de Ranvier, que

são locais onde não há bainha de mealina e onde há canais

iónicos. Nestes casos o potencial formado é muito grande,

muito superior ao necessário para o potencial de

Fig. 27 – Período refractário.

Fig. 28 – Codificação da intensidade de um estímulo

13

despolarização atingir o nódulo seguinte. O potencial de acção não percorre todo o

axónio, a condução é saltatória.

A velocidade de passagem de um estímulo depende do diâmetro do axónio e da

existência de bainha de mealina.

Há situações onde a bainha de mealina é destruída, por exemplo na esclerose

múltipla. Nestes casos a corrente de despolarização pode perder-se na região de entre-

nódulos, fazendo diminuir a velocidade do potencial e, em casos extremos, pode

acontecer que a corrente que chega ao nódulo não seja necessária para gerar um novo

potencial, fazendo com que o estímulo se perca.

A informação dos estímulos tem de passar por várias células para poder chegar

SNC: pode haver uma rede neuronal, em que o neurónio recebe informação de vários

neurónios e/ou passa a informação para vários neurónios; ou então, pode haver um canal

único de neurónios, em que cada neurónio contacta apenas com outro neurónio e assim

sucessivamente.

Até ao princípio do século XX, pensava-se que a informação passava de neurónio

em neurónio apenas por sinapses eléctricas, onde as cargas eléctricas, sob a forma de

potenciais de acção, podem passar directamente de uma célula para outra através de

gap-junctions.

Mas em 1921, Loewi, fez uma experiência com dois

corações colocados em tinas diferentes, mas com contacto de

liquido banhante. Ambos os corações batiam a um determinado

ritmo cardíaco. Loewi estimulou o nervo vargus do coração 1,

que provocou uma diminuição do ritmo cardíaco deste.

No entanto, verificou-se que o ritmo do segundo coração

também diminuiu aquando da estimulação do nervo vargus do

coração 1. Como os corações apenas estavam a contactar

através do líquido banhante, concluiu-se que a informação do

estímulo passou através de mensageiros químicos para o

coração 2 e fez com

que este também

diminuísse o ritmo

cardíaco.

A este tipo de passagem de informação

chama-se sinapse química: quando o estímulo

chega à extremidade do axónio de um neurónio,

fundem-se com a membrana e são

libertados os neurotransmissores para a

fenda sináptica. Aí os neurotransmissores

vão ligar aos canais de sódio que estão

nas dendrites do neurónio seguinte,

activando-os. Com a entrada de sódio na

célula, gera-se uma despolarização

formando um novo potencial.

Fig. 29 – Experiência de Loewi.

Fig. 30 – Sinapse química vs Sinapse eléctrica

Tabela 1: Características das sinapses: eléctrica e química.

14

Nos terminais nervosos há canais de Ca2+

sensíveis à voltagem. Quando um

potencial eléctrico chega ao terminal vai activar os canais, fazendo aumentar a

concentração de cálcio. Este vai ligar-se a proteínas exocitóticas sensíveis ao Ca2+

,

activando-as, o que vai induzir a exocitose.

Após a abertura dos canais iónicos da célula seguinte, é necessário baixar os

níveis de neurotransmissores, sendo inactivados: degradados ou reabsorvidos pelo

sangue, células da Glia ou novamente pelo terminal nervoso.

Há muitos tipos

diferentes de

neurotransmissores, e estes

podem ter várias naturezas

químicas: podem ser

aminoácidos, aminas,

proteínas, etc.

A desregulação dos

neurotransmissores pode

originar doenças, como por

exemplo: Parkinson.

A Acetilcolina é um neurotransmissor que

induz a estimulação dos músculos esqueléticos.

Quando está no terminal nervoso é

exocitada para a fenda sináptica onde se vai ligar

ao receptor da membrana pós-sináptica,

activando-o. Depois é degradada, pela

acetilcolinesterase, em acetato e em colina. Esta

ultima, é novamente recaptada pelo terminal

nervoso, onde, por acção de uma enzima, reage

com acetil CoA formando Acetilcolina, que vai

entrar na vesícula sináptica e volta a fazer o

ciclo.

Este ciclo é incompleto, uma vez que uma

parte do ciclo não é feita pela Acetilcolina,

sendo substituída pela Colina.

Os Receptores Nicotínicos, são

receptores ianotrópicos – eles próprios

formam o canal iónico para o sódio e potássio

– que necessitam de ligar duas moléculas de

Acetilcolina para activar e deixar passar os

iões ao através dele. A entrada de iões Na+,

faz com que se forme despolarização –

Receptor Excitatório.

Tabela 2: Principais neurotransmissores

Fig. 31 – O ciclo da Acetilcolina.

Fig. 32 – Receptores Nicotínicos para a Acetilcolina

15

Os Receptores Muscarínicos ligam

apenas uma molécula de Acetilcolina. São

Receptores Metabotrópicos, uma vez que

quando a Acetilcolina se liga ao receptor, este

vai interagir com uma proteína G que por sua

vez vai activar os canais de potássio,

causando hiperpolarização – Receptor

Inibitório.

O facto de um receptor ser excitatório ou inibitório, não quer dizer que cause

apenas despolarização ou hiperpolarização, respectivamente.

Há substâncias, como a nicotina ou a muscarina, que quando se ligam a um

receptor conseguem desencadear a mesma resposta que a Acetilcolina. A estas

substâncias chama-se substâncias agónicas. Pelo contrário, as substâncias

antagónicas (como o curare e a atropina) ligam-se ao receptor e bloqueiam a sua acção.

É muito fácil afectar a transmissão nervosa e quer nós humanos, como os restantes

animais usam substâncias para regular o sistema nervoso (quer seja o seu ou o de outro

animal, predador ou presa). Por exemplo:

A toxina do botulismo (botax) é usada para reduzir as rugas de

expressão. Esta toxina bloqueia a exocitose da acetilcolina, por isso não

permite a contracção dos músculos que causam as rugas.

O curare é uma substância retirada da raiz das árvores e muito usada

pelos Índios para imobilizar as suas presas. Esta toxina bloqueia os

receptores para a acetilcolina, impedindo a contracção muscular, logo as

presas não se mexem.

α-bungarotoxina é uma neurotóxica existente no veneno das cobras, que

vai bloquear os receptores para a acetilcolina das suas presas, causando-

lhes imobilização.

A tetradotoxina existe no fugu (peixe muito comido no Japão), que vai

inibir os canais de sódio dependentes da voltagem nos indivíduos que o

ingerirem. Se os canais de sódio são bloqueados, os estímulos não podem

ser transportados, logo esse indivíduo fica paralisado e morre.

O gás dos nervos foi muito utilizado durante a 2ª Guerra Mundial. Esse

gás inibe a acetilcolinesterase não se permitindo a degradação da

acetilcolina, o que causa uma hiperestimulação, ou seja, os músculos não

consegue relaxar.

Nos neurotransmissores pode haver uma despolarização ou uma hiperpolarização

pós-sináptica, causada pelo aumento da permeabilidade ao Na+ e ao K

+ ou ao Cl

-,

respectivamente.

Fig. 33 – Receptor Muscarínico para a Acetilcolina.

16

Quando há uma rede neuronal com diferentes informações, temos de somar os

estímulos que são próximos temporalmente e só depois é que podemos se há ou não

formação de potencial de acção.

Fig. 34 – Simulação de potenciais pós-sinápticos.

17

Encéfalo Humano

Há vários mecanismos que protegem o

encéfalo de agressões externas: crânio e meninges.

Há três meninges: dura mater, aracnóide e pia

mater;

O líquido cefalorraquidiano é produzido

nos ventrículos – quatro cavidades existentes no

interior do encéfalo: duas laterais e duas centrais –

e vai envolver todo o encéfalo. Tem mais ou

menos a mesma função que o sangue, uma vez que

liberta para o encéfalo: glicose, oxigénio e

vitaminas e absorve produtos de excreção.

Funciona como almofada para os choques, uma

vez que absorve a energia deste.

É um líquido límpido, tanto que só a sua

observação é, desde logo, um diagnostico para

doenças, como meningite.

Fig. 35 – Constituição do encéfalo humano

Fig. 36 – Mecanismos de protecção:

A – Encéfalo; B- Medula Espinal.

A

B

18

Está sempre a ser produzido e absorvido, por isso se houver perda de líquido, por

exemplo numa anestesia epidoral, ele é rapidamente recuperado.

O facto de o encéfalo estar envolto em líquido retira-lhe algum do seu peso, caso

contrário poderia ser uma estrutura muito pesada em cima da coluna, o que poderia

facilmente causar lesões.

No encéfalo, os capilares estão revestidos por asterócitos e têm uma barreira

hematoencefálica que dificulta a troca de

substâncias. O que pode ser uma vantagem, por

exemplo quando há substâncias tóxicas em

circulação, uma vez que as células nervosas não

toleram grandes alterações no ambiente.

Mas há zonas em que estas barreiras

representam uma desvantagem, e em que ela não

está presente, como é o caso do lóbulo posterior da

hipófise e o centro de vómito, porque precisam de

saber se há determinadas substâncias em circulação

no organismo para reagirem.

Os doentes de Parkinson têm défice de

dopamina, mas esta não pode ser utilizada nos

tratamentos uma vez que não consegue atravessar a

barreira hematoencefálica. Por isso usa-se um precursor da dopamina (L-DOPA) que

consegue atravessar a barreira e, uma vez no encéfalo, vai formar dopamina.

O encéfalo está dividido em 2 hemisférios

separados por uma fenda. Cada hemisfério está

dividido em lóbulos. A comunicação entre os dois

hemisférios dá-se através do corpo caloso, onde

passam fibras

O facto de ser meio enrugado serve para

aumentar a superfície do córtex cerebral.

Há matéria de duas cores no

encéfalo: cinzenta e branca. A diferença

deve-se à existência ou não de mealina a

envolver os axónios.

Na parte mais periférica existe o córtex

cerebral, que é onde existe: as partes sensoriais

específicas (como: visual, gustativo e auditivo);

partes motoras primárias, que enviam informação

para os músculos para induzir o movimento; há

outra parte motora que é responsável pelos

movimentos mais complexos; as áreas de

associação existem no lóbulo frontal.

Fig. 37 – Barreira hematoencefálica

Fig. 38 – Corte transversal do encéfalo

Fig. 39 – Divisões do córtex cerebral.

Fig. 40 – Transmissão e processamento da

informação sensorial no sistema nervoso.

19

Fig. 41 – Divisões do córtex sensorial e motor.

Fig. 42 – Lateralização celular

Um estímulo só é sentido, e transformado em sensação, quando chega á zona

somatossensorial. Antes disso se houver reacção esta é espontânea.

O córtex sensorial está dividido por partes

do corpo. Uma zona é tanto maior quanto mais

terminais nervosos essa zona tiver.

Com o córtex motor passa-se a mesma

coisa, mas o tamanho da zona depende do número

de músculos que a correspondente parte do corpo

tem.

Sistema Nervoso Periférico Estímulos diferentes, mesmo que sejam captados na mesma zona, tomam vias

aferentes diferentes e vão ser processados em diferentes zonas do encéfalo. Nas vias

aferentes, a informação segue diferentes vias, consoante o órgão de origem.

O SN somático e o SN autónomo apresentam várias diferenças para a contracção

do músculo esquelético, a via necessita de passar por um neurónio que liberta

acetilcolina.

O SN autónomo necessita que haja dois

neurónios a libertar neurotransmissores: o neurónio

pré-ganglico e o neurónio pós-ganglico, separados

por um gânglio autónomo. Neste caso há

estimulação de um neurónio e inibição de outro.

Fig. 43 – SN somático e SN autónomo.

20

Os músculos estão constantemente a ser estimulados. A diferença está na

frequência de potenciais de acção gerados no neurónio. Se houver um aumento de

frequência de potenciais de acção dá-se a contracção muscular; quando a frequência de

potenciais diminui causa relaxamento muscular.

O SN Simpático tem uma função de

estimulação dos músculos, enquanto que o SN

Parassimpático inibe os músculos.

No SN Simpático há um neurónio pré-

ganglico curto e um pós-ganglico longo, ao

contrário do que acontece no SN Parassimpático.

Além disso saem de zonas diferentes da espinal-

medula.

Também há diferenças nos

neurotransmissores usados: a via Parassimpática é

feita por acetilcolina, enquanto que a via

Simpática é feita por acetilcolina no gânglio e por

epinefrina na célula alvo.

Há situações em que estes dois SN têm

funções semelhantes, por exemplo na produção de

saliva: ambos estimulam a produção de saliva,

mas com diferentes viscosidades.

Podem ainda ter funções de cooperativas.

Por exemplo no pâncreas o parassimpático

estimula a libertação de enzimas e o simpático

activa a contracção do intestino.

Há centros de controlo situados ao nível do SNC, onde partem as informações, de

locais diferentes consoante o estímulo. Por exemplo a estimulação e inibição do ritmo

cardíaco partem de locais diferentes, próximos, mas diferentes.

O Sistema Límbico é constituído por várias zonas do SNC, todas muito primárias,

e controla muitas das nossas emoções e comportamentos. O facto de haver poucas

ligações entre o sistema límbico e o córtex faz com

que haja comportamentos que não controlamos, como

comer, beber e sexo.

Estes comportamentos dão-nos prazer e

queremos repeti-los, porque eles vão activar o sistema

de recompensa, ou sistema mesolímbico

dopaminérgico que faz parte do sistema límbico. É

criada um estímulo na zona VTA que projecta o

estímulo dopaminérgico para o nucleus acumbens e

que depois migra para o córtex.

Este é o sistema que utiliza a dopamina como

neurotransmissor e funciona com a libertação deste.

Numa experiência com ratinho com a estimulação eléctrica de zona VTA ou

nucleus acumbens, ele vai repetir esse comportamento, por ele lhe dá prazer. Deixa

mesmo de comer e beber para estar constantemente a premir a alavanca que fornece o

estímulo.

Fig. 44 – SN Simpático e SN Parassimpático

Fig. 45 – Circuito de recompensa

21

Toxicodependência A cocaína vai actuar na zona de activação do circuito

de recompensa, inibindo a reabsorção de dopamina, o que

vai activar o circuito de recompensa.

O problema é que, um indivíduo sob acção desta

droga vai sofrer a uma redução da actividade do encéfalo.

Nos indivíduos viciados há uma redução, bastante drástica

das zonas activas, se ele estiver 10 dias sem consumir a

droga. Passados 100 dias sem consumo, há uma ligeira

recuperação, mas pode

nunca ficar com os

níveis normais.

Os Opiáceos (como a heroína, a morfina e a codeína) são substâncias derivadas

da papoila do ópio que actuam ao nível dos receptores de opiáceos. O nosso corpo

produz endomorfinas – opiáceos endogéneos.

A libertação de dopamina está refreada pelos GABA-receptores, que, na presença

de GABA libertado por outras células, vão ser activados.

Na presença de opiáceos, estes vão ser activados por morfina e vão ligar-se aos

seus receptores que, por sua vez irão inibir a

libertação de GABA. Por isso não vai haver

controlo na libertação de dopamina, havendo

uma libertação excessiva.

O consumo de opiáceos origina sensações

diferentes das reais, uma vez que actua, também, no

córtex sensorial, o que vai fazer com que as

sensações recebidas sejam deturpadas.

Os opiáceos podem ainda influenciar ou alterar

alguns factores de transcrição, o que vai alterar a

expressão de genes e síntese proteica.

Fig. 46 – Locais de acção da cocaína.

Fig. 47 – Mecanismos de acção da cocaína.

Fig. 48 – Efeitos da cocaína.

Fig. 49 – Acção dos Opiáceos.

Fig. 50 – Locais de acção dos Opiáceos.

22

Há diferenças entre os termos habituação ou tolerância, dependência e

viciação.

No primeiro o organismo deixa de responder à droga, necessitando de uma maior

quantidade para obter o mesmo efeito. A tolerância pode ocorrer por uma “down-

regulation” dos receptores para a substância, ou por um aumento das enzimas que

degradam essas substâncias. No segundo o organismo funciona bem na presença da

droga, caso contrário entra em distúrbios de abstinência: dores, comportamentos

violentos, etc. No terceiro há uma procura compulsiva da droga para causar boas

sensações. Normalmente a viciação surge antes da dependência.

O Ecstasy interfere com a seretonina, bloqueando os seus receptores, impedindo

que seja recaptada.

Actua ao nível do hipotálamo (redução

de apetite), redução de sensações, etc. Mas tem

muitos factores prejudiciais, como a

hipertermia, que causa desidratação exagerada,

o que facilita a ocorrência de arritmias e

insuficiências renais.

No dia seguinte há toma do

ecstasy, há pouca seretonina disponível

para ser libertada pelos terminais

nervosos, uma vez que não foi recaptada

por causa da acção da droga

anteriormente.

A longo prazo afecta

a existência de seretonina,

e de dopamina, nos

neurónios, causando danos

irremediáveis e até pode

causar Parkinson.

Fig. 51 – Mecanismos de acção do ecstasy.

Fig. 53 – Efeitos a curto prazo do Ecstasy.

Fig. 52 – Efeitos do ecstasy.

Fig. 54 – Níveis de transportadores

de seretonina.

Fig. 55 – Níveis de dopamina nos

neurónios depois do consumo de ecstasy.

23

Sentidos

Há sentidos especiais e sentidos somáticos:

Nos primeiros, há órgãos de captação específicos,

enquanto que, os segundos podem ser captados em todo

o corpo. Também é possível captar estímulos internos

do nosso corpo.

Para gerar uma sensação é necessário que seja

captado um estímulo que

forme potenciais de acção,

que depois são enviados

para uma determinada zona

do córtex e só aí tomamos consciência desse estímulo e

desencadeamos uma resposta. Se o estímulo não tiver

intensidade suficiente para formar potenciais de acção, a

sua intensidade vai perder-se progressivamente e não chega

ao córtex, logo não tomamos consciência dele.

Há casos em que podem ocorrer erros durante o

processamento ao nível do córtex.

Pode ainda acontecer que a sensação seja gerada por várias zonas do córtex.

Tacto Em toda a nossa pele há receptores sensoriais

(uns mais à superfície que outros). Os receptores mais

à superfície são activados por impulsos mais pequenos

que os receptores mais profundos, onde é necessário

que o impulso seja maior.

Por vezes basta o mexer de um pêlo para

haver uma sensação, isto porque este tem

muitos terminais nervosos na raiz. Este

mecanismo serve para detectar qualquer

movimento nas proximidades.

Os receptores cutâneos captam

diferenças de temperatura e não a temperatura

em si.

Os estímulos são processados no lado

oposto onde foram captados. Esta troca dá-se

já a nível superior.

Pode haver duas vias de transporte de um estímulo para o córtex: pela espinal-

medula ou pela via antero-lateral.

Fig. 57 – Mecanismo das sensações.

Fig. 58 – Receptores sensoriais cutâneos.

Fig. 59 – Transmissão e processamento da

informação sensorial no sistema nervoso

Fig. 56 - Sentidos

24

Há mecanismos que permitem determinar o local exacto onde um estímulo foi

recebido:

Por Inibição Lateral: Um estímulo pode

ser recebido por vários neurónios que

libertam neurotransmissores de segunda

ordem, mas o neurónio que recebe a maior

parte do estímulo liberta mais

neurotransmissores. Por sua vez o

neurónio de segunda ordem liberta

neurotransmissores inibidores que vão

inibir os outros neurónios. O efeito

inibitório dos outros neurónios também

existe, mas como são menos estimulados,

esse efeito inibitório é muito menor do que o do neurónio que foi mais

estimulado, não se fazendo sentir.

Por Campos Receptores: Quanto mais terminações

nervosas existirem numa zona, a sensação gerada é maior, do que

quando há apenas um único neurónio que ocupa uma área maior.

O que acontece é que dois estimulos recebidos em locais muito

próximos, podem ser sentidos como apenas um (fig. 61 B).

Para zonas diferentes da nossa pele, há

diferentes percepções dos estimulos. Por

exemplo nos lábios dois estímulos são

sentidos independentes se estiverem

afastados 0,2 cm, enquanto que nas costas

têm de estar afastados por 4 cm.

Pode acontecer também que os campos

receptores estejam ligados apenas a um

neurónio de segunda ordem, sentindo-se apenas um

estímulo nessa zona; ou podem estar ligados, cada um, a

um neurónio secundário.

O primeiro caso aumenta a sensibilidade aos impulsos,

uma vez que permite que haja somação destes.

Visão Nós, humanos, temos a visão limitada

a uma gama entre os 400 e os 700 nm – luz

visível.

Um estímulo mecânico não pode

gerar uma sensação visual. Mas, se a via de

transdução for activada, esse estímulo pode

ser sentido. Por exemplo: os boxers quando

levam um murro nos olhos têm visões,

apesar de terem os olhos fechados. Isto

acontece porque a energia mecânica

aplicada pelo murro vai activar o nervo

óptico.

Fig. 60 – Inibição lateral

Fig. 61 – Campos receptores

Fig. 62 – Discriminação de

dois estímulos.

Fig. 63 – Anatomia do glóbulo ocular.

25

No glóbulo ocular, a retina é onde se gera o

sinal, com a chegada de luz, e é enviado para o

córtex.

A íris é composta por duas camadas

musculares coradas: circular e radial. Em situações

de baixa luminosidade, a pupila dilata e está sob o

comando do SN simpático. O processo inverso é

comandado pela SN parassimpático.

A luz entra pela pupila e chega, invertida, à

retina.

A lente ou cristalino é o que nos permite

ver um objecto que está longe ou mais próximo:

quando está mais longe, os raios luminosos que

recebe são paralelos e o cristalino faz com eles

convirjam na retina; no caso de os objectos

estarem mais próximos, a luz não chega de forma

paralela, obrigando o cristalino a aumentar a sua

espessura para aumentar a convergência para a

retina. A esta capacidade de, o cristalino, alterar a

sua espessura chama-se acomodação.

Quando queremos ver um objecto que está perto, as fibras musculares relaxam,

permitindo ao cristalino ficar mais arredondado.

Quando o objecto está longe, as fibras contraem-se,

esticando e “empurrando” o cristalino, fazendo-o ficar

mais plano.

A capacidade

de acomodação do

cristalino diminui

com a idade.

As cataratas

afectam o cristalino,

tornando-o opaco.

A Retina é constituída por vários tipos de neurónios, além de células da glia.

Sendo que todas as células são importantes para o bom funcionamento do olho.

A luz passa por várias camadas de neurónios antes de chegar aos fotorreceptores,

excepto na Fóvea Central, onde as outras células foram como que “empurradas”. Esta é

a zona mais utilizada pela retina.

No ponto cego não há fotorreceptores, por isso não há percepção de uma imagem

que seja focada nessa zona. É nessa zona que chega o nervo óptico e vasos sanguíneos.

Fig. 64 – Imagem invertida na retina.

Fig. 65 – Acomodação.

Fig. 66 – Acomodação: alteração da

espessura do cristalino por contracção ou relaxamento das fibras musculares.

Fig. 67 – Gráfico da diminuição da

acomodação, com o aumento da idade.

26

São as Células Ganglionares que formam o

nervo óptico e levam a informação para fora do olho.

As Células Horizontais formam sinapses com

os fotorreceptores e com as células bipolares,

regulando a passagem de informação. Depois essa

informação passa para as Células Ganglionares e

sai do olho para o encéfalo, sendo que os seus

axónios vão formar o nervo óptico.

Há dois tipos de fotorreceptores:

Os Cones, que permitem ver com melhor

resolução e com cores. Existem em baixo

número: 6 milhões, no caso dos humanos.

Os bastonetes são muito mais numerosos (120

milhões) e fornecem imagens em condições de

baixa luminosidade, mas a resolução é baixa e

não detectam a cor.

Na zona da fóvea, existe quase só cones. Nas

zonas periféricas o número de cones diminui e

aumenta o número de bastonetes.

Durante a noite só usamos os bastonetes,

logo não usamos a fóvea. No entanto, quando há

boa luminosidade os bastonetes deixam de

responder, porque são muito sensíveis à luz.

Nós possuímos 120 M de bastonetes e 6 M

de cones, mas apenas temos 1,2 M de neurónios

ganglionares. Logo tem de haver convergência de neurónios, mas essa convergência não

é igual: nos cones a razão é quase de 1:1 enquanto que nos bastonetes é muito maior.

Fig. 70 – Camadas da Retina.

Fig 71 – Fotorreceptores: cones e bastonetes.

Fig. 68 – Organização laminar da retina. Fig. 69 – Fóvea Central.

Fig. 72 – Distribuição dos fotorreceptores na retina.

27

Isto acontece porque os bastonetes recebem

impulsos mais pequenos, sendo que o facto de

eles convergirem facilita a formação de potenciais

de acção.

A rodopsina é um

complexo que existe nos

bastonetes composta por

uma proteína – opsina – e

por um derivado da

Vitamina-A – retinal – que

pode estar numa

configuração cis ou trans.

Esta passagem é regulada

pela presença ou ausência de luz: quando não há luz adquire uma conformação 11-cis-

Retonina, activando a rodopsina; quando há luz a transforma-se em trans-Retonina,

inactivando a rodopsina.

Na ausência de luz há muito cGMP, que vai abrir os canais de sódio, ou seja, vai

despolarizar a membrana.

Quando chega a luz e a rodopsina é activada, esta activa uma proteína G, que tem

ligada a si, e que por sua vez vai activar uma fotodiesterase que converte cGMP em

GMP, não podendo este activar os canais de sódio, fechando-os, o que causa uma

repolarização da membrana. Controlando os níveis de cGMP, regulamos a polarização

da membrana. Quando isto acontece não há libertação de glutamato (responsável pela

passagem de informação dos fotorreceptores para as células bipolares e para as

ganglionares).

Nos cones acontece mais ou menos o mesmo, excepto o pigmento. Há três tipos

de cones: azul, verde e vermelho. Diferenciados pelos pigmentos que cada um possui.

Fig. 73 – Convergência dos cones e bastonetes.

Fig. 74 – Fotodissociação da rodopsina.

Fig. 75 – Fototransdução.

28

Nós vimos diferentes cores, quando há

activação diferente dos cones. Quando fixamos

uma imagem branca com um círculo vermelho e

passados alguns segundos o círculo desaparece,

nós vimos uma sombra azul-turquesa. Isto porque

a luz vermelha saturou os receptores de vermelho,

que não vão conseguir receber a cor vermelha,

nessa zona, quando a imagem fica branca.

Na cegueira das cores – daltonismo – os genes para os pigmentos vermelho e

verde estão no cromossoma X. No caso do homem, como só tem um cromossoma X, é

mais frequente. O gene para o azul existe noutro cromossoma, por isso esta mutação não

acontece.

Os gatos vêm melhor que os homens no

escuro porque: além de terem uma maior

flexibilidade da pupila, possuem um tapete

reflector depois dos fotorreceptores, que permite

que a luz passe novamente por estes. Enquanto

que em nós há uma camada preta que recebe toda

a luz depois de esta passar pelos fotorreceptores.

Em algumas células o glutamato dos bastonetes pode ir inactivar as células

bipolares na ausência de luz. Isto deve-se ao

efeito inibitório do glutamato e tem como

causa a existência de diferentes receptores

para o glutamato nas células bipolares: se os

receptores forem ianotrópicos, ao ligar

glutamato abrem canais de sódio causando

despolarização da membrana, ficando

inactivas. Quando a luz está presente, não há

glutamato para se ligar aos receptores,

inactivando os canais de sódio causando

repolarização da membrana e fazendo com

que as células bipolares libertem glutamato.

Fig. 76 – Sensibilidade dos diferentes cones.

Fig. 77 – A visão dos gatos.

Fig. 78 - Efeito inibitório do glutamato.

29

A luz influencia as sinapses entre os

fotorreceptores e as células bipolares: na sua ausência,

os canais de sódio estão abertos, a rodopsina está

inactiva e o glutamato é libertado do segmento interno

do bastonete para as células bipolares. Estas vão ser

inibidas ou estimuladas de acordo com os receptores de

glutamato. Na presença de luz, os canais de sódio estão

fechados, a rodopsina está activa, não ocorre libertação

de glutamato para as células bipolares. Estas tanto

podem libertar glutamato por serem inibidas ou por

serem suprimidas, dependendo dos receptores para o

glutamato.

Os humanos possuem visão binocular uma vez

que necessitam dos dois olhos para ter uma visão

tridimensional, com noção de profundidade. Isto

deve-se à sobreposição dos campos visuais. Os

predadores têm geralmente visão binocular, enquanto

que os herbívoros têm visão periférica (monocular).

A informação é transmitida a

partir do nervo óptico para os núcleos

geniculares laterais, em seguida saem do olho,

pelas fitas ópticas, chegam ao tálamo e só

depois ao córtex visual.

Ambos os olhos enviam a informação

para os

hemisférios,

tanto direito

como esquerdo.

As imagens

obtidas pela

metade direita e pela metade esquerda de cada olho são

enviadas para o hemisfério direito e esquerdo

respectivamente. A imagem que é projectada na retina

está invertida, permitindo-nos percepcionar a imagem

correctamente. A informação de todas as imagens que

não são projectadas na retina, tem de ser cruzada para o

hemisfério correcto. A informação cruza-se no quiasma

óptico e segue para o núcleo genicular lateral.

Nem toda a informação é enviada para o córtex

visual, uma pequena parte (20%) das fibras nervosas

vai para os colículas superiores, que permitem a

coordenação motora dos olhos, por exemplo, para

seguir objectos em movimento.

Fig. 79 – Efeito da luz nas sinapses

entre os fotorreceptores e as células

bipolares.

Fig. 80 – Condução do sinal visual.

Fig. 81 – Condução do sinal visual:

imagem monocular e binocular.

Fig. 82 – Córtex estriado (17) e áreas de

associação visual (18 e 19).

30

Paladar Os receptores para o paladar são

receptores químicos constituintes do botão

gustativo, que existe em zonas especializadas

da língua chamadas papilas, além do palato,

epiglote e da faringe, onde existem em menor

quantidade. São células epiteliares modificadas

e não neurónios.

Em cada botão gustativo há cerca de 50

células gustativas (receptores) e na extremidade

há umas microvilosidades, chamadas pêlos

gustativos, que se estendem para uma abertura

no epitélio chamada poro gustativo.

Os receptores dividem-se por diferentes zonas da língua:

Nos mecanismos de transdução do

salgado há entrada de sódio nas células,

causando a despolarização da membrana, e

que vai permitir a abertura dos canais de

Cálcio sensíveis à voltagem. Assim pode

haver libertação de neurotransmissores que

vão ser reconhecidos pelos neurónios

aferentes e vão levar a informação até ao

córtex cerebral.

No caso do mecanismo de

transdução do azedo, há entrada de H+, em

vez de sódio. Estas células podem, também,

atingir a despolarização membranar através

da inibição dos canais de potássio (se o

potássio não pode sair, gera-se

despolarização). Depois essa despolarização

vai activar os canais de Cálcio sensíveis à

voltagem, permitindo a libertação de

neurotransmissores (glutamato).

Fig. 83 – Botão gustativo.

Fig. 84 – Distribuição dos botões gustativos.

Fig. 85 – Mecanismo de transdução do salgado e do azedo.

31

Para a transdução do doce há receptores

metabotrópicos, que são activados pelo doce, e que vão activar

uma proteína G que, por sua vez, vai activar a enzima adenilato

ciclase para esta ir transformar o ATP em cAMP, que vai activar

uma proteína cinase A (PKA) para esta ir fosforilar os canais de

potássio, causando a despolarização da membrana por

diminuição da entrada de K+. Podendo, esta despolarização

activar os canais de cálcio, essenciais para a libertação de

neurotransmissores.

Para o

amargo há mais

do que uma via de

transdução

1. A substância

amarga vai ligar-

se aos receptores

ianotrópicos

existentes nos

canais de

potássio,

inactivando-os, o

que vai originar

uma

despolarização da

membrana. Essa

despolarização vai

activar os canais de

cálcio sensíveis à

voltagem,

permitindo a

entrada de cálcio

que vai ajudar a

formar as vesículas

sinápticas, para libertar os neurotransmissores.

2. A substância amarga liga-se a receptores metabotrópicos,

activando uma proteína G. Esta vai activar uma fosfolipase

C, que vai converter o PIP2 em IP3 que, por sua vez vai actuar

sobre as reservas de cálcio, fazendo com que este se liberte e

vá formar as vesículas sinápticas para libertar os

neurotransmissores.

Há quem considere um quinto sabor, o “umami” que em

japonês significa delicioso. O “umami” é um intensificador de

sabor, um aditivo de glutamato monossódico. O “Umami” vai

ligar-se a receptores ianotrópicos nos canais de sódio,

activando-os. A entrada de sódio na célula leva a uma

despolarização da membrana, indo activar os canais de cálcio

sensíveis à voltagem, fazendo com que este entre e permita

libertar os neurotransmissores.

Fig. 86 – Mecanismo de

transdução para o doce.

Fig. 87 – Mecanismos de transdução para o amargo.

Fig. 88 – Mecanismo de transdução para o Umami

(delicioso em Japonês).

32

O síndrome do restaurante chinês é causado por uma hiper estimulação, havendo

grandes quantidades de glutamato, que vão causar uma hiperactivação dos canais de

sódio. As pessoas sensíveis ao “umami” podem ficar mal dispostas.

No entanto foi realizada uma experiência

em que se viu que não há um mapa de sabores

assim tão linear, uma vez que o que os

receptores reconhecem alguns elementos, que

podem estar em substâncias de diferente

natureza. Consoante a natureza da substância

testada, o resultado não foi a que se esperava.

Os receptores que desencadearam resposta eram

diferentes dos que inicialmente se esperava,

como acontece com o HCl, nos gráficos, onde

há uma elevada resposta nos neurónios sensíveis

aos sais, por causa do ião Cl-.

Os estímulos recebidos nos receptores

gustativos passam pelo tálamo e vão para o

córtex gustativo.

Olfacto O epitélio olfactivo existe na parede

superior da cavidade nasal e é constituído por

células de suporte e por neurónios olfactivos

que possuem cílios que estão embebidos em

muco. É o único local do corpo humano em que

os neurónios estão em contacto directo com o

exterior.

O epitélio olfactivo está constantemente a

ser renovado.

As moléculas odoríferas vão

activar as proteínas receptoras de

odores – receptores metabotrópicos

– situadas na membrana plasmática,

que vão activar uma Proteína G, que

por sua vez vai activar a Adenilato

ciclase, indo esta formar cAMP a

parir de ATP para este ir activar os

canais de Cálcio e Sódio. Depois o

cálcio vai activar os canais de

Cloreto, que vão provocar a saída

deste ião, causando uma

despolarização da membrana,

permitindo a passagem do estímulo.

Fig. 89 – Preferências dos neurónios

receptores do paladar.

Fig. 90 – Epitélio olfactivo

Fig. 91 – Mecanismo de transdução olfactiva em vertebrados.

33

Esse estímulo vai ser enviado pelos axónios dos neurónios olfactivos, que entram

no bolbo olfactivo, onde passam a informação para as células mitrais ou para as células

tufadas. Estas, por sua vez, enviam a informação para o cérebro, através das vias

auditivas, e sinapsam com neurónios de associação no bolbo olfactivo. Os neurónios

de associação recebem também informação vinda do encéfalo, podendo modificar a

informação olfactiva antes de esta abandonar o bolbo olfactivo.

O olfacto é a única sensação que vai directamente para o córtex cerebral sem ter

de passar pelo tálamo. O córtex olfactivo localiza-se junto ao sulco lateral do cérebro e

divide-se em três partes:

Área olfactiva externa, que está envolvida na percepção consciente do

cheiro;

Área olfactiva interna, que é responsável pelas reacções emocionais e

viscerais aos odores. Tem ligação com o sistema límbico, através do qual

se liga ao hipotálamo.

Área olfactiva intermédia, possui neurónios que se estendem ao longo

das vias olfactivas até ao bolbo olfactivo, onde sinapsam com neurónios de

associação. É um mecanismo importante pelo qual a informação é

modulada no bolbo olfactivo.

Nós, humanos, conseguimos distinguir cerca de 10 000 odores diferentes. Mas

isto não significa que tenhamos 10 000 receptores diferentes, temos menos (embora não

se saiba quantos receptores temos ao certo).

Um determinado odor é originado pela activação simultânea de um dado número

de receptores.

Os ratinhos têm cerca de 1 000 receptores; enquanto que os cães têm muito mais

receptores, além de possuírem um epitélio maior, o que lhes confere uma capacidade

olfactiva maior.

Audição O som gera-se com a passagem de ondas

de grande amplitude, seguidas por ondas de

pequena amplitude.

A amplitude e a frequência dessas ondas

influenciam o som:

A frequência da vibração (ciclos/s)

mede o tom, em Hz. Quanto maior for

a frequência, mais alto é o tom do

som. Os sons mais frequentes ocorrem

entre 1000 e 4000 Hz, mas os

humanos conseguem ouvir frequências

entre os 20 e os 20000Hz. Mas há

animais com maior capacidade auditiva, por exemplo os cães conseguem ouvir

frequências até 40000 Hz.

A amplitude mede a intensidade (em decibéis

[dB]). O nosso limiar de audição é 0 dB. Uma conversa

normal corresponde a cerca de 50-60 dB e a música alta

corresponde a mais de 130 dB. É importante ter em

conta que uma elevação de 10 dB traduz um aumento de

10 vezes na intensidade, ou seja, um som com 60 dB é

106 mais intenso que outro com apenas 10dB).

Fig.92 – Formação do som.

Fig. 93 – Escala de decibéis.

34

O aparelho auditivo divide-se em 3

partes: ouvido externo, ouvido médio e

ouvido interno.

O ouvido externo é constituído pelo

pavilhão auditivo que liga ao tímpano pelo

canal auditivo. As ondas sonoras vão fazer

vibrar o tímpano, que por sua vez vai fazer

com que 3 ossículos, situados no ouvido

médio (martelo, bigorna e estribe) vibrem

também. O vibrar do martelo vai fazer

vibrar o bigorna, que por sua vez vai

transmitir a vibração ao estribe e que vai

fazer vibrar a janela oval, passando o

estímulo para o ouvido interno.

O ouvido médio tem um canal

que liga à garganta e que permite que o

ar no seu interior, esteja à mesma

pressão que o do exterior. O facto de

quando estamos no avião a subir

ficarmos com a sensação de ter os

ouvidos tapados é devido a uma

alteração de pressão no ouvido médio e

necessitamos de engolir em seco para o

ar voltar a entrar.

Os ossículos estão ligados ao

crânio por tendões, de modo a que

possam libertar energia, quando os

sons têm muita intensidade, para evitar

lesões.

A janela oval comunica com o tubo

vestibular que por sua vez comunica com

o tubo timpânico e são compostos pelo

mesmo líquido – perilinfa. No final do

tubo timpânico há uma membrana que

absorve os sons que chegam até lá –

janela redonda. Entre estes dois canais há

o canal coclear, que é constituído por

endolinfa. As ondas têm tendência a

encurtar caminho, passando através do canal

coclear para chegar ao canal timpânico,

fazendo movimentar a membrana tectorial.

Há medida que a frequência dos sons

aumenta, as ondas tendem a encurtar o seu

curso, atravessando o canal coclear mais

próximo da janela oval.

Fig. 94 – Aparelho auditivo.

Fig. 95 – Ouvido médio.

Fig. 96 – Condução do sinal sonoro.

Fig. 97 – Efeito de som com várias frequências na

membrana basilar.

35

Embebidos na membrana tectorial há cílios que se

movimentam com o movimento da membrana basilar. É

isto que permite activar a recepção da audição.

Se o movimento se der do mais pequeno para o

maior, há abertura dos canais de potássio, havendo

entrada de potássio, causando uma despolarização da

membrana.

No caso de o

movimento se dar do maior

para o mais pequeno há

inactivação dos canais de

potássio, não havendo

despolarização da

membrana.

A endolinfa é muito

diferente dos restantes

líquidos que banham as

nossas células. Neste caso

há uma elevada concentração de H+ e baixa concentração de Na

+, por isso a

despolarização é causada pela entrada de K+.

O reconhecimento dos diferentes sons depende do local onde foi detectado. Os

estímulos causados pelos sons são enviados através do nervo auditivo, passando pelo

tálamo, e vão para zonas distintas do córtex, consoante a sua frequência.

Se o som for muito forte pode provocar lesões nas células ciliadas e, como estas

células não têm capacidade de regeneração, essas lesões nunca são curadas.

Equilíbrio

Localizam-se nos nossos ouvidos

alguns órgãos responsáveis pelo nosso

equilíbrio, funcionando de uma forma

semelhante ao mecanismo de detecção de

sons.

Os Órgãos Otolíticos – Utrículo e

Sáculo – são capazes de reconhecer

diferentes acelerações.

Fig. 98 – Composição da Cóclea

Fig. 99 – Despolarização das células ciliares.

Fig. 100 – Cóclea e Aparelho Vestibular.

36

Os cílios dos órgãos otolíticos estão numa membrana otolítica que tem uma

grande inércia, por isso é muito sensível a acelerações: quando a aceleração aumenta a

membrana desliza para trás, permitindo-nos detectar a aceleração, devido à inibição dos

canais de potássio, uma vez que os cílios se deslocam na direcção do mais pequeno. No

caso de haver desaceleração acontece o oposto, a membrana desloca-se para a frente,

fazendo com que os cílios de desloquem para trás, activando os canais de potássio.

Os movimentos de rotação são

reconhecidos através de um mecanismo

semelhante, onde os cílios se deslocam

com o movimento da água em que

estão embebidos.

Um mecanismo semelhante a este

é também usado por peixes para

detectar deslocações da água.

Fig. 101 – Células Ciliares. Fig. 102 – Órgãos Otolíticos.

Fig. 103 – Ampola para detecção de movimentos de

rotação

37

Quando nós estamos a rodar e paramos de repente ficamos com dificuldade em

manter o equilíbrio. Isso acontece

porque o aparelho vestibular

fornece informação de movimento

e os olhos informam que estamos

parados, isso são informações

contraditórias, que fazem com que

o SNC não saiba como responder.

O contrário acontece

durante uma viagem, em que os

nossos olhos fornecem

informação de movimento rápido,

enquanto o aparelho vestibular diz

que estamos parados. Neste caso a

reacção pode dar enjoos.

Há animais que têm diferentes capacidades sensoriais que os humanos, por

exemplo:

Algumas espécies conseguem ver luz UV e IF;

Os elefantes conseguem comunicar através de ultrasons – sons de baixa

frequência, capazes de percorrer longas distâncias;

Algumas espécies utilizam a ecolocalização como modo de orientação e

procura de presas. Como é o caso de, por exemplo, golfinho e morcegos;

Alguns peixes conseguem detectar campos eléctricos.

Fig. 104 – Vias neuronais envolvidas na manutenção do

equilíbrio.