histÓrias simples para pessoas complicadas - vol. i - emanuel r. marques

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“Histórias simples para pessoas complicadas” apresenta situações de forma simples, irónica, cómica e por vezes ridícula, acessíveis à compreensão de qualquer leitor...."

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Page 1: HISTÓRIAS SIMPLES PARA PESSOAS COMPLICADAS - Vol. I - Emanuel R. Marques
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APRESENTAÇÃO

Page 3: HISTÓRIAS SIMPLES PARA PESSOAS COMPLICADAS - Vol. I - Emanuel R. Marques

CAPITÃO RISSOL

Certa manhã muito chuvosa e friaEspalhou químicos o cientista poluidor,Quis o destino com sua ironiaQue fosse no mesmo sítio do cozinheiro amador.

Deu-se então a fantástica transformaçãoDe um abandonado rissol banalE do contacto com a maléca poção,Nasceu assim o combatente do mal.

A sua fama rapidamente correuPela veemência da extrema dedicação,Muitos inimigos ele sozinho combateu,Por toda a parte se ouvia a canção:

“ Faça chuva ou faça solNão é rijo nem é moleEle combate o malEle é fenomenal,É o capitão rissol! “

Mas curto foi o seu reinadoPois também trágico é o destinoE aparecera outro herói mutadoE todos clamavam pelo capitão pepino.

“ Cante o galo ou toque o sinoNão é grosso nem é noEle combate o malEle é fenomenal,É o capitão pepino! “

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O JOVEM ADOLESCENTE QUE SE APAIXONOU POR UM AZULEJO DE CASA-DE-BANHO

Foi de facto um pouco estranhoVer o jovem Ulisses apaixonadoPor um azulejo de casa de banhoQue já era velho e riscado.

Mas convicta foi a sua decisãoApesar de por todos ser gozado,Dos pais haver bastante repreensãoE dos dias em que era apedrejado.

Pelo menos não estava a ngirE cada vez era maior o sentimento,Era vê-los passear e sorrirCom longos beijos de contentamento.

Veio a tragédia do carrossel distintoNuma manobra veloz e ousada,O azulejo esquecera-se de apertar o cintoDeixando a alma de Ulisses quebrada.

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A VINGANÇA DA FOLHA DE ACETATO

Era uma normal folha de acetatoBastante limpa e até discreta,Tinha apenas duas frases como fatoNuma caligraa pouco concreta.

Veio o senhor da caneta com exuberânciaCom a qual a tentou riscar,Foi o traço da sua arrogânciaQue a transformou e fez revoltar.

Saltou com suas pernas nasFazendo o rico senhor espantar,Colou-se-lhe rme às duas narinasNuma tentativa de o asxiar.

Mas o senhor era conhecedorQue pela boca conseguia respirarE num gesto cauteloso e reprovadorLá a conseguiu arrancar.

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BEATRIZ “A GILLETTE“

Em tempos fora jovem e saudávelE nada a conseguia parar,Recorda como era então admirávelSempre, sempre, sempre, a cortar.

Essa época nunca mais irá voltar,Inveja agora as colegas descartáveisE só pensa em se reformar,As suas lâminas estão lastimáveis.

Sua sina é triste e penosaJunto a um branco tubo dentífrico,Vai tirando pêlos saudosaE sonha com uma ilha no pacíco.

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O ATAQUE DOS PICA-MAMAS

Ela era jovem e até muito bonitaMas o ego não estava ainda satisfeito,Fez implantes numa clínica algo esquisitaQue lhe aumentou exageradamente o peito.

Tal foi a mudança destas duas ampliaçõesQue pareciam ter enchido dois balõesE naquela noite estrelada de luarVeio uma ventania e ela foi-se pelo ar.

No dia seguinte à sua subidaPairou assustada numa oresta desconhecida,Viu apenas umas aves voarem insanas,Eram estranhas criaturas – Os pica-mamas.

Uma espécie que poucos conheciamQue habita debaixo das pontes,Recentemente observados enquanto comiamPor um cientista de Trás-os-Montes.

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A VASSOURA

Sempre em busca de acção andavaMesmo quando estava só,Da vida não queria mais nadaA não ser o seu essencial pó.

Mas certo dia limpou demaisPor pouco não lhe foi fatal,Correu dezenas de hospitaisTodos diagnosticavam o mesmo mal.

Vários meses passou a pensarSe no pó deveria voltar a tocar,Finalmente sentiu-se libertadaE hoje até está casada.

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O BELO ROMANCE

Tudo começou por ser brincadeiraE ainda pouco havia por dizer,Mas viveram uma vida inteiraAté um deles acabar por morrer.

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A FORMIGA DE BABEL

Era pequena que todos a conheciamMas grandes eram as suas ambiçõesE dela até por vezes se riamQuando começava com divagações.

Maior foi o espanto localNo dia em que a viram trabalhar,Pois a sua azafama era talQue nem parava para falar.

Com paus de fósforo queria construirUma torre que chegasse aos céus,Pois o seu sonho nunca iria conseguirQue era visitar os Pirinéus.

Dia e noite sem nunca pararE a obra já começava a nascer,Mas o vento começou a soprarFazendo a torre desaparecer.

A formiguinha está hoje internadaNenhum pau de fósforo é mais preciso,Dizem que já não se lembra de nadaE até já está a apanhar juízo.

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A ELOQUENTE BARRIGA

Naquela grande barriga abastada,Quando a fome se fazia notar,Ouvia-se do estômago a voz iradaE eis que começava a discursar.

Não existia para o fenómeno explicaçãoMas a sua eloquência era já mítica,Aquela barriga tinha uma vocação,Um jeito especial para a política.

Houve mesmo quem lançasse louvoresPara que ela se pudesse candidatar,Mas logo correram rumoresDo seu hábito em se embebedar.

E certa vez perante uma assembleiaQue de tão espantada a queria ouvir,Embriagara-se tanto a noite inteiraQue os vómitos começaram a surgir.

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O COPO DE CRISTAL QUE TOCAVA MÚSICAS DE NATAL

Fora construído do mais no cristal,Não era preciso ser sábio para o perceber,Mas este era um copo muito especialPelo qual todos queriam beber.

Sua particularidade era deveras excepcional,Quando com um dedo húmido lhe passavamEntoava conhecidas músicas de Natal,E todos o aplaudiam e admiravam.

Tal era a fama que lhe dedicavamQue percebeu a dimensão do seu poder,As inúmeras vezes que agora o agarravamEram a fonte do seu altivo envaidecer.

E foram tais as geradas discussõesQue nem o seu dono lhe resistiu,Mas o destino teve das suas lições,O copo caiu ao chão e partiu.

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O REFORMADO DOURADO

Durante o dia ele lia o jornal,Por nada mais ter que fazer,Sem nunca dar nenhum sinalDo plano que estava a conceber.

Quando o dia começou a escurecerEle desapareceu para um canto isolado,Era, então, chegada a hora de aparecerO justiceiro reformado dourado.

Uma ofuscante capa e um fato a luzirE tudo parecia estar controlado,Mas os bandidos desataram a rirE o pobre homem foi ignorado.

A realidade era dura e crua,Foi tal o asco da situaçãoQue agora pouco sai à ruaFicando em casa a ver televisão.

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O PÉRFIDO MEALHEIRO

Ele tinha um porquinho como mealheiroA quem as suas poupanças conava,Durante anos lá depositou algum dinheiro,E a quantia tornava-se já elevada.

Mas certo dia, por mera distracção,Não fechou bem a porta quando saiu,O porquinho comprou um bilhete de aviãoE, desde então, nunca mais alguém o viu.

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O LOBO MAU

Um lobo mau sentia-se inútil e desfeitoO psicólogo diagnosticara-lhe uma depressão,O xanax e o prosac já não faziam efeitoE foi por isso em busca da verdadeira vocação.

Encontrou um rebanho bem alinhado,Mas só uma ovelha ele não queria comer,Pois, se fosse o pastor a ser eliminadoEle tornar-se-ia dono e senhor do poder.

O rebanho, ao ver o seu pastor destronado,Ficou intrigado e sem alguma coisa perceber,Mas a necessidade em ser comandadoFê-lo facilmente ao astuto lobo obedecer.

Uma fábrica de lãs e manteigas abriuE o rebanho venera todos os seus conselhos,Dizem que depois que a sua vida subiuAté já engatou duas capuchinhos vermelhos.

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A INFLUÊNCIA DO TIO BALTAZAR NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS

«Adivinhem quem acabou de chegar!»- Disse a mãe ao Luís e à Inês -«É o vosso querido tio Baltazar E trouxe presentes para vocês!»

E o menino que esperava entusiasmadoRecebeu apenas uma embalagem de pilhas,A menina que olhava atenta a seu ladoFoi ofertada com um par de palmilhas.

As crianças estavam traumatizadasE não mais teriam uma infância normal,O destino deixava-os bem marcadosPor uma situação aparentemente normal.

Mas os presentes viriam ainda a signicar,Apesar de tudo na vida lhes correr mal,Quando com eles vieram a ganharO grande prémio de arte conceptual.

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MARIAZINHA E O PACOTE DE BATATAS FRITAS

Uma elegante andorinha de nome MariazinhaEra bastante cobiçada quando passava a voar,Mas, numa quente tarde em que voava sozinha,Deixou-se por um pacote de batatas fritas apaixonar.

Cantou bem alto para o tentar conquistar,Mas o canto do pacote de batatas era nada,Apesar de claramente a estar a ignorarA pobre andorinha estava ainda mais fascinada.

Passou meses nesta inocente e cega ilusãoE por algumas vezes o conseguiu debicar,Chegou então a inevitável temida situaçãoEm que para o sul foi obrigada a voar.

Regressou, tempos depois, muito entusiasmadaPiando já casamento e outras coisas esquisitas,Mas o que viu foi como uma punhalada,Alguém comia o seu pacote de batatas fritas.

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O SONHO DE SAMUEL

Samuel sonhava ser um grande marinheiroE, para tal, construiu uma robusta jangada,Despediu-se de todos e rumou ligeiroEm direcção à sua fabulosa empreitada.

Lançou a sua jangada ao revoltado marE conrmou o dinheiro que tinha na carteira,Mas, por mais que tentasse remar,Não conseguia ultrapassar a zona costeira.

Percebia assim como a vida é desilusãoPara aqueles que não possuem um motor,Não chega ter vontade e dedicação,Também é preciso ter o vento a favor.

Como não alcançou a sua grande ambiçãoConformou-se com uma menor ideia,Passa as noites inteiras a fazer pãoE os dias a construir castelos de areia.

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O FEITIÇO

Começou por ser uma auspiciosa coincidência, Quando no caminho um vulto lhe apareceu,Ninguém previa que aquela simples ocorrênciaFosse culminar no que depois sucedeu.

Deparou-se com uma ambígua bruxa malvadaDe poderes reconhecidos em todo o lado,Substimou-a, incrédulo, por a julgar uma fadaE ela transformou-o em interruptor de luz desligado.

E hoje, lá está exilado em constante apatia,Um botão apagado sem qualquer sentimento,Espera, enm, que alguém o prima um diaE o liberte do terrível encantamento.

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GINA

Gina era amiga dos seus amigosPor mais que lhe pudesse custar,Nunca lhes recusava quaisquer pedidosE todos com ela queriam estar.

Tinha o dom de construir amizadesCom grande entusiasmo e facilidade,Conhecia pessoas em todas as cidadesE vivia em constante ansiedade.

Mas mesmo assim sentia-se solitáriaAté conhecer um ilustre rebuçado de S. Bráz,Infelizmente ele chamou-lhe ordináriaE ela não tinha como voltar atrás.

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SANITA DAS VERDADES

Chamavam-lhe sanita das verdades,A qual ninguém ousava utilizar,E sempre que estavam em diculdadesSomente com ela se iam aconselhar.

Inúmeras situações ajudou a resolver,Todos a tinham em grande consideração;De onde lhe vinha tanto saberAinda hoje não há explicação.

Mas por descuido ou cinismoHouve um homem que a utilizou,E após ter puxado o autoclismoPara sempre a sanita se calou.

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O SABONETE

O Sabonete Silvino tem a vida tramadaE amanhã irá ser ouvido em tribunal,A senhora que com ele tanto se esfregavaDecidiu processá-lo por assédio sexual.

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PEDRA NO SAPATO

A pedra no sapato começava a incomodar,Era essencial pensar em a remover,Mas àquele sítio já ela se estava a habituarE seria quase inevitável fazê-la sofrer.

Um hábil plano devia ser encontrado,De forma a tentar atenuar a situação,O sapato estava já desesperado,Mas também tinha um bom coração.

E sem mais como poder ngirConseguiu reunir toda a sua coragem,Disse-lhe que seria melhor sair,Pois chegara ao m aquela viagem.

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O CANDIDATO VINHO

Quando o vinho anunciou a candidaturaMuitos julgaram as suas ideias primitivas,Mas a sua atitude não foi loucuraE os votos excederam as expectativas.

Ergueram várias garrafas para comemorarA sua grandiosa chegada ao poder,Mas quando o vinho começou a discursarEstavam demasiado ébrios para o compreender.

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