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HISTÓRIA DO CINEMA Uma câmara escura, uma invenção, grande ideias: SÉCULO XIX: OS PIONEIROS. Tendo como base fundamental a imagem, posteriormente o som, cinema é descendente direto da fotografia, tecnologia que o precede e que, em poucos anos, desperta em visionários como os Lumiere – que serão tratados posteriormente – a vontade de levar ao público uma nova forma de entretenimento, perspectiva que irá despertar também um vislumbre comercial. Desde cedo a sétima arte torna-se uma maneira lucrativa de entretenimento, explorada com vigor por seus entusiastas, sobre tudo, nas primeiras décadas, na Europa. No entanto, antes de se pensar nos modos de captação e reprodução da imagem em movimento, deve-se considerar as tecnologias que fomentam seu surgimento. Essas invenções antecipam a fotografia, tendo como protótipo fundamental a chamada câmara escura, cujos primeiros escopos aparecem entre os séculos XIV e XV. Dispositivo de lentes que deixava a luz passar por um buraco para projetar uma imagem refletida. O processo óptico da fotografia parte do princípio da luz visível, de como ela se comporta no ambiente, observando esse ponto foram desenvolvidos instrumentos e métodos, por pintores principalmente, para estudar esse comportamento e aproxima-los, enquanto técnica, para constituição de suas

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HISTRIA DO CINEMAUma cmara escura, uma inveno, grande ideias: SCULO XIX: OS PIONEIROS.

Tendo como base fundamental a imagem, posteriormente o som, cinema descendente direto da fotografia, tecnologia que o precede e que, em poucos anos, desperta em visionrios como os Lumiere que sero tratados posteriormente a vontade de levar ao pblico uma nova forma de entretenimento, perspectiva que ir despertar tambm um vislumbre comercial. Desde cedo a stima arte torna-se uma maneira lucrativa de entretenimento, explorada com vigor por seus entusiastas, sobre tudo, nas primeiras dcadas, na Europa.No entanto, antes de se pensar nos modos de captao e reproduo da imagem em movimento, deve-se considerar as tecnologias que fomentam seu surgimento. Essas invenes antecipam a fotografia, tendo como prottipo fundamental a chamada cmara escura, cujos primeiros escopos aparecem entre os sculos XIV e XV. Dispositivo de lentes que deixava a luz passar por um buraco para projetar uma imagem refletida.O processo ptico da fotografia parte do princpio da luz visvel, de como ela se comporta no ambiente, observando esse ponto foram desenvolvidos instrumentos e mtodos, por pintores principalmente, para estudar esse comportamento e aproxima-los, enquanto tcnica, para constituio de suas obras primas, um desses instrumentos desenvolvidos foi a cmara obscura, cuja funo trouxe aos seus utilizadores uma nova forma de observar a realidade e de transcreve-la.A cmara obscura, estruturalmente, uma caixa que contem paredes retas com tonalidades escuras em seu interior, uma dessas paredes contm um furo central acessvel a luz, enquanto a outra oposta pode tanto, possuir uma tonalidade mais clara, um vidro ou uma tela de projeo, que sobre elas aparecem as imagens invertidas projetadas de qualquer outro objeto que seja colocado em frente desse orifcio. Essa tecnologia, implementada de maneira consistente no sculo XV, teve seus primeiros esboos desenvolvidos ainda na antiguidade, ao que autores como Ramirez (1997) e Sougez (2001), indicam o filsofo grego Aristteles (384 - 322 a.C.) como o responsvel pelos primeiros comentrios esquemticos da cmara obscura. Se diz que Aristteles, durante um eclipse solar, observou o fenmeno de projeo do sol,sobre uma superfcie sob as sombras[footnoteRef:1]. [1: Disponvel em: https://fotojornalismojf.files.wordpress.com/2013/07/cap1_-a-fotografia.pdf. Acesso em 03 de maro de 2015.]

O fenmeno da cmara obscura, tambm foi abordado e experimentado por Da Vinci, onde em seus relatos ele trata uma relao com o eclipse solar, em seu texto agregado ao cdex do atlntico que nunca foi publicado. (...) quando o sol, durante um eclipse, assume a forma de lua crescente, tomando-se uma chapa de metal delgado e fazendo em seu centro um pequeno orifcio e colocando-a de frente ao sol, se mantermos uma folha de papel atrs da chapa, a uma distncia mdia; veremos a imagem do sol aparecer sobre a folha em forma de lua crescente, similar em forma e cor a sua causa (...) porm, entre a chapa perfurada e o papel no dever outra abertura seno apenas o pequeno orifcio. (DA VINCI, Leonardo. Cerca de 1519. Apud POLLACK, 1977 . P.36)5 . O desenvolvimento e a evoluo da cmara obscura manifestaram a novas experincias no processo ptico, ao longo do sculo XIV, onde cada vez novas prticas foram agregadas e aprimoraram a ferramenta em si, atravs do uso de lentes biconvexas, Girolano Gardano, buscou melhorar a resoluo das imagens reproduzidas, deixando-as mais ntidas, nos sculos seguintes foram desenvolvidos novos formatos de cmara obscura, onde o inventor Daniel Scwenter desenvolve um sistema de lentes elaboradas de forma que, no mesmo aparato, fosse capaz de combinar trs distncias focais diferentes, sendo o antecessor do conhecido atualmente zoom.Alm do processo ptico, estudado atravs da cmara obscura, um outro processo foi considerado necessrio para o desenvolvimento e prtica da fotografia posteriormente, o processo qumico, no qual foi fundamental para estigmatizar a atividade, atravs de observaes feitas a partir de condies naturais, como observar como algumas cores esbranquiavam em contato com o sol.

Atravs do processo qumico, a fotografia comeou a se moldar, uma das primeiras fotografias foi produzida por Joseph NicphoreNipce, utilizando uma tcnica conhecida como heliografia, do grego helios sol e graphein escrever, essa tcnica, atravs de uma exposio ao sol de cerca de horas, traz a capacidade da cmara obscura capturar uma imagem.

A primeira fotografia, ou mais especificamente, a mais antiga fotografia conhecida feita em uma cmera, foi tirada por Joseph NicphoreNipce em 1826 ou 1827. A imagem retrata a viso a partir de uma janela no segundo andar, na casa de Nipce, em Le Gras na regio de Borgonha na Frana [footnoteRef:2]. [2: The First Photograph, or more specifically, the earliest known surviving photograph made in a camera, was taken by Joseph NicphoreNipce in 1826 or 1827. The image depicts the view from an upstairs window at Nipce's estate, Le Gras, in the Burgundy region of France. ]

A heliografia consiste em atravs de utilizao de componentes qumicos capturar a imagem gerada pela cmara obscura e grava-las em uma chapa de metalProcesso inventado por J.N. Nipce por volta de 1825 no qual o betume que tinha sido revestido por vidro ou metal, teria sido endurecido em relao exposio; quando molhado com leo de lavanda deixaria somente a rea endurecida de imagem [footnoteRef:3]. [3: Process invented by J.N. de Nipce around 1825 in which bitumen that had been coated on glass or metal hardened in relation to exposure; by washing with oil of lavender left only the hardened image area. ]

Em parceria com Louis Jacques MandDaguerre, Nipce desenvolveu mais seus estudos de captura de imagem, com os novos adventos partindo de observaes sob cada material utilizado para perpetuar a imagem desejada na chapa, Daguerre comeou analisar mais a fundo o processo de Nipce e conseguiu aprimora-lo.Daguerre desenvolveu o que atualmente conhecido como processo daguerreotipo, ele descobriu que o iodo de prata (feito atravs de placas de prata fumegante com iodo, como Nipce tinha feito) era por si s sucetivel a luz e poderia ser usado sozinho sem o betume para produzir imagens.[footnoteRef:4] [4: Daguerre developed what is now known as the daguerreotype process. He discovered that silver iodine (made by fuming the silver plates with iodine as Nipce had been doing) was itself sensitive to light and could be used alone without the bitumen to produce images. He also found that a latent, non visible image on the silver plate could be made visible or developed out by exposure to mercury fumes. However, this fragile layer of silver amalgam particles and silver iodide that sat atop the silver plate could not be made permanent. ]

No incio o daguerreotipo passou por vrios ajustes para o fim de conseguir criar imagens com saturaes controladas e cores equilibradas, mantendo uma cpia o mais fiel possvel do que quisera ser retratado, esse processo partiu de diversas experimentaes que Daguerre se dedicava at conseguir o resultado desejado, em 1833 Nipce veio a bito, e no presenciou os adventos desenvolvidos por Daguerre.Aps apresentaes de Daguerre conseguiu patentear seu instrumento, logo suas novidades impulsionaram o mercado, e logo diversos estabelecimentos fotogrficos aproveitaram o furor para se estabelecerem nos meados da dcada 1840 e disseminar a prtica.O crescimento dos estabelecimentos fotogrficos reflete o crescimento da popularidade; de uma quantidade pequena em meados da dcada de 1840 o nmero havia crescido para 66 em 1855, e aumentado dois anos depois para 147. Em Londres, a avenida favorita era a Regent Street onde, no pico da dcada de 1860, no havia nada mais nada a menos do que quarenta e dois estabelecimentos fotogrficos! Na amrica o crescimento foi mais dramtico: em 1850 existiam 77 galerias fotogrficas em Nova York apenas.[footnoteRef:5] [5: The mushrooming of photographic establishments reflects photography's growing popularity; from a mere handful in the mid 1840s the number had grown to 66 in 1855, and to 147 two years later. In London, a favourite venue was Regent Street where, in the peak in the mid 'sixties there were no less than forty-two photographic establishments! In America the growth was just as dramatic: in 1850 there were 77 photographic galleries in New York alone. ]

Esse crescimento da cultura da fotografia foi to intenso que centros urbanos semeados com diversas galerias fotogrficas, expandiam cada vez mais suas fronteiras, chegando a encosta-la na extremidade tnue da pintura, de forma que alguns pintores se assustassem e imaginassem por um segundo o fim da fotografia, essa agitao cultural culminou na criao de uma nova forma de expresso o Impressionismo. Rapidamente, os grandes centros urbanos da poca ficaram repletos de daguerretipos, a ponto de vrios pintores figurativos, como Dellaroche, exclamarem em desespero: "A pintura morreu". Como sabemos, foi nessa efervescncia cultural que foi gerado o impressionismo. 1.0 O Primeiro Cinema

O cinema comeou por volta de 1895 apesar de ainda no ter sido reconhecido como a stima arte, ele estava combinado com outros eventos culturais como a mgica, o teatro popular entre outros, onde era apresentado em locais para diverses populares como parques, circos, espetculos de variedades entre outros, alm de ser apresentado em eventos de cientistas, que apresentavam suas invenes em palestras e feiras de invenes.

A inveno do cinema no pode ser atribuida apenas a uma pessoa, e no surgiu em um lugar especfico, um conjunto de fatores tcnicos no final do sculo XIX influenciados por diversos inventores, que demonstravam resultados de suas descobertas na rea de projeo de imagens em movimento, segundo Flvia Cesarino Costa, desenvolvendo o aperfeioamento de tcnicas fotogrficas, a inveno da celulide e aplicao de tcnicas de maior preciso na construo dos aparatos de projeo (p.17).

Em 1893, foram exibidos os primeiros filmes, atravs do quinetoscpio, um aparelho com um visor individual, que quando inserida uma moeda ele reproduzia com looping imagens em movimento de nmeros engraados, animais amestrados e bailarinas, o prpioquinetoscpio capturava as imagens e as reproduzia. O primeiro salo de quinetoscpios, com dez mquinas, cada uma delas mostrando um filme diferente, iniciou suas atividades em abril de 1894 em Nova York.(Costa, p.18). Thomas Edson gravava essas imagens de bailarinas acrobatas e animais em uma espcie de estdio totalmente preto que tinha um teto retrtil para aproveitar a luz do sol, apelidado de Black Maria podendo ser considerado o primeiro estdio cinematogrfico.

Em 28 de dezembro de 1895 os irmos Louis e Auguste Lumire demonstraram em Paris a primeira e mais famosa exibio pblica e paga de seu invento, o cinematgrafo, apesar de no serem os percussores eles se tornaram marcantes por conseguir transformar seu invento em lucro, vendendo cmeras e filmes, sua famlia era uma das maiores produtoras europias de placas fotogrficas deixando o marketing uma coisa mais natural em suas negociaes.

A formula mercadolgica percebida por Lumiere com a capacidade de proporcionar sensaes aos seus observadores, a partir de seu instrumento, veio inicialmente de anlises que fazia sobre como o individuo necessitava se identificar e de se sentir reconhecido, tudo percebido por experincias vendo reaes de quem se maravilhava com suas gravaes realizadas, com isso conseguiu aprimorar suas ideias e desenvolver cada vez mais seu instrumento.

Lumiere reveladesde as primeiras sesses os prazeres da identificao e a necessidadedo reconhecimento; aconselha os seus operadores a filmar as pessoasna rua e chega ao ponto de lhes dizer que finjam estar a filmar para"as convidar a representarem". (P.153 EXPERIENCIA DO CINEMA)

A exibio do filme ao pblico foi no Grand Caf, em Paris em 28 de dezembro de 1895, um local decisivo para a evoluo do cinema em seu preldio, pois o local era habitado por visitantes que buscavam por entretenimento variado, e permeavam buscando por diverso como beber com companheiros, ler jornais e revistas, assistir apresentaes de artistas e etc, em suas verso americana o caf era chamado de Vaudeville complementado de integrantes da classe mdia, era um ponto de encontro para amigos se divertirem e assistirem um espetculo, atravs de diversas performances. Logo com o furor da novidade, atravessando o atlntico a notcia do cinematgrafo estria chegando aos Estados Unidos, Edson desenvolve um novo projetor o vitascpio.

No incio a caracteristicas dos primeiros filmes eram indepentes devida a facilidade de encaixar a exibio em teatros de variedades

Os primeiros filmes tinham herdado a caracterstica de serem atraes autnomas, que se encaixavam facilmente nas mais diferentes programaes desses teatros de variedades. Eram em sua ampla maioria compostos por uma nica tomada e pouco integrados a uma eventual cadeia narrativa. Os irmos Lumire ofereciam um esquema de marketing muito interessante para os vaudeviles, seu alvo predileto no mercado. Eles forneciam os projetores, o suprimento de filmes e os operadores das mquinas, e se encaixavam nas programaes locais. (Costa p.20)

O sucesso do cinematgrafo comparado com o vitascpio de Edson bastante simples, o cinematgrafo era mais leve e no precisava de energia eltrica para funcionar, tornando um diferencial poderoso para ser mais funcional e escolhido por donos de vaudevilles, enquanto o vitascpio pesava 500 quilos alm da necessidade de eletricidade.

Parte do sucesso do cinematgrafo deve-se ao seu design, muito mais leve e funcional. Em 1894, os Lumire construram o aparelho, que usava filme de 35 mm. Um mecanismo de alimentao intermitente, baseado nas mquinas de costura, captava as imagens numa velocidade de 16 quadros por segundo - o que foi o padro durante dcadas - em vez dos 46 quadros por segundo usados por Edison.(Costa p.19)

No se deixando estagnar, Edson desenvolveu um outro projetor, o projectingkinetoscope, que at certo ponto enfraqueceu a dominancia dos irmos Lumire, porm os irmos ja haviam criado um padro de exibio que se manteve at a prxima dcada

O fornecimento, para os vaudeviles, de um ato completo, incluindo projetor, filmes e operador num esquema pr-industrial, que mantinha a autonomia dos exibidores de filmes em relao produo. (Costa p.21)

O que enfraqueceu o incio de uma indstria cinematogrfica, inicialmente, a dependncia dos vaudeviles e dos servios prestados pelos irmos Lumire e pelas produtoras Biograph e Vitagraph, que no requisitaram a necessidade de criao de uma indstria cinematogrfica e atrasaram por um tempo o avano do cinema para desenvolver seu prpio caminho, segundo Costa a estrutura do vaudevile no precisava de uma diviso de indstria entre as suas unidades de produo, distribuio e exibio, essas funes faziam parte da incubncia do operador, que por si s tornava o nmero autnomo do vaudevile.

A Vitagraph, fundada em 1898, por dois empresrios de vaudeviles, James Stuart Backton e Albert Smith, desenvolveram uma produtora para produzir filmes e exibi-los em suas redes de vaudeviles, os videos eram gravados com cenas inicialmente improvisadas e no telhado de seus prdios, J a Biograph foi fundada por Willian K.L Dickson, que deixou a companhia de Edson para fundar sua prpia junto de outros trs scios, Dickson inventou o mutoscpio, que folheava imagens fotogrficas impressas passando a sensao de movimento parecido com o quinetoscpio, porm com mais qualidade, que logo dominaram o mercado, essas duas produtoras se tornaram concorrentes para Edson, que com dificuldades conseguiu combate-las.

Durante a poca de 1903 a 1906, a estrutura do cinema comea a se tornar mais industrial, se modificando para uma nova constituio, surgindo os distribuidores, que so empresrios que compram filmes de produtoras e os alugam para aquele gostaria de exibir, ampliando a acessibilidade dos filmes, aumento o mercado dos nickelodeons nos Estados Unidos da Amrica.Os nickelodeons so populares a partir de 1905, onde as salas de exibies se alocam em espaos maiores e tem mais destaques em eventos culturais, os nickelodeons eram locais rsticos, abafados e pouco confortveis (Costa, p.27), onde espaos como armazns ou depsitos grandes eram utilizados para exibir filmes, onde a inteno era lotar o espao cobrando apenas um nquel.H a popularizao dos nickelodeons, o custo barato atraia a classe mais baixa, causando popularizao em massa do primeiro cinema, logo, mais nickelodeons comeam a surgir e popularizar o cinema, assim gerando demanda de filmes que com demanda alta necessita uma reconfigurao em sua estrutura de produo, se dividindo industrialmente.As companhias dividiram-se entre os diferentes setores da produo e organizaram-se industrialmente, adotando uma estrutura hierrquica centralizada. Essa especializao substitua o "sistema colaborativo" do perodo do vaudevile, no qual empresas como a Edison, a Vitagraph e a American Mutoscope and Biograph produziam num sistema de parceria, em que dois realizadores dividiam o trabalho de operao de mquinas e de confeco dos filmes (o que torna a discusso da autoria uma tarefa particularmente complicada). Esse sistema foi extinto com o aumento na produo de filmes logo depois de 1907 (Musser 1991). (Costa p.27)

Enquanto os Lumires, na Frana possuiam apenas dois riviais, a produtora do mgico Georges Melis, Star Film, que dominou a produo de filmes de fico durante os primeiros anos, com filmes como Le Voyage danslaLune em portugus Viagem Lua e a Companhia Path.

A Star Film, produtora de Mlis, produziu centenas de filmes entre 1896 e 1912, mantendo escritrios de distribuio em Nova York e vrias cidades da Europa. Mas seus filmes passaram a perder pblico quando o cinema encontrou uma forma narrativa prpria, na segunda dcada, e Mlis foi falncia em 1913. (Costa p.21)

Diferente da Star Film, a Companhia Panth, fundada por Charles Panth, conseguiu se manter at o primeiro perodo que se consolidou como produtora e distribuidora de filmes, dominando o mercado mundial de cinema at a Primeira Grande Guerra Mundial, comprando as patentes dos Lumires em 1902 e a Star Film de Melis que comeou a perder pblico no momento que o cinema encontrou sua prpria forma de narrativa.

2.0 A Definio da linguagem cinematogrfica.

O cinema inicialmente era mesclado com atraes dentro de Vaudevilles, teatros, eventos de feira entre outras, e consigo havia sempre uma forma de linearidade. Sua linguagem ainda era primitiva, e no teria encontrado uma narrativa consistente. Assim a histria do cinema durante seus 20 anos foi considerada de pouco interesse para ser estudada, segundo Flvia Cesarino Costa (p.22).

Os filmes teriam aos poucos superado suas limitaes iniciais e se transformado em arte ao encontrar os princpios especficos de sua linguagem, ligados ao manejo da montagem como elemento fundamental da narrativa.

Ao analisar o primeiro cinema, h uma segmentao que pode ser tomada para definir suas etapas, A primeira etapa consiste no conhecido como cinema de atraes perodo que vai de 1894 at 1906-1907, que segundo o historiador Tom Gunning, consiste em espantar e maravilhar o espectador (Costa p.24) onde a narrativa no o objetivo a ser mostrado, e a segunda etapa, considerada perodo de transio que vai de 1906 at 1913-1915, onde o cinema comea a ser construdo devido o aumento de demandas por filmes de fico, dando assim o incio da construo de uma narrativa cinematogrfica.

No perodo chamado de cinema de atraes, em seu incio, de 1894 at 1903 seu carter era mais documental, onde o objetivo era instigar a surpresa no espectador atravs de espetculos, estruturalmente com um plano nico, no qual eram filmes que mostravam truques, histria de fadas e atos cmicos (Costa, p.26), todo o tipo de performance que era intempestiva e trazia e a admirao ao espectador, era popular em eventos de variedades, vaudevilles, quermesses, dentre outros. Sua estrutura narrativa era uma cmera era esttica e seu enquadramento mostrava uma viso de todos os atores participantes do plano, enquadrados por completo, se assimilando com uma viso de um plano teatral.

Em geral, a cmera ficava esttica, de modo a mostrar o corpo inteiro de todo um conjunto de pessoas, realizando panormicas apenas para reenquadrar certas aes mais movimentadas. Quando dentro de estdios, a cmera se localizava no que seria o lugar de um espectador de teatro (Costa, p.29)

H por um instante, segundo os historiadores, um perodo hbrido, onde o primeiro cinema trabalhado com dois gneros distintos: o primeiro a fico, onde podemos analisar as peas de Melis e o segundo gnero realismo documental, que podemos observar atravs, de observaes nas obras filmadas dos irmos Lumieres.

A mistura entre esses dois registros era aparentemente considerada normal pelos espectadores. Assim, mais produtivo entender os primeiros gneros de filmes em torno de assuntos filmados do que como uma distino clara entre fico e documentrio, j que todos estavam dominados pelo hibridismo miditico e por referncias extratextuais, que caracterizam a esttica das atraes. Em 1898, as tenses entre Estados Unidos e Espanha na disputa (Costa p.31) Alguns experimentadores da fico, como o mgico Melis e tambm Path em destaque, buscaram criar espetculos, onde suas fices sobressaiam-se comparados s outras formas documentais representativas de espetculo inicialmente. Atravs deles que a estrutura de uma narrativa comeou a ser criada para atenuar a dramaticidade de suas cenas.

A Mlies se atribui o primeiro corte. Desde ento, o filme tem se mostrado cada vez mais apto a transformaes que vo alm daquelas condicionadas pela cmera. De incio, o truque de Mlies dependia do acionar e deter o mecanismo fotogrfico; entre uma operao e outra, criaes (adicionam-se objetos ao campo de viso), mutaes (substitui-se um objeto por outro), desaparecimentos (remove-se o rejeitado). (Stan Brakhage Artigo Metforas da Viso)

No inicio as narrativas eram bem aproximadas com as atraes, por no trazerem um roteiro estruturado, trazia certa atemporalidade que dependiam de um conhecimento prvio do espectador para que fosse compreendida a histria, foram nomeadas de formas no clssicas de narrativa, que esto mais prximas das atraes do que do cinema de absoro narrativa.As narrativas em fragmentos so as formas no-clssicas que esto mais distantes do cinema de absoro narrativa e mais prximas das atraes, porque tm no desenvolvimento temporal impreciso o seu trao fundamental. (Costa, 33)

A narrativa comeou a evoluir, onde Porter, em seu filme Jack and the beanstalk comeou a criar conexes que entre os planos que compunham seu filme, recriando a histria do Joo e o p de Feijo, o filme apesar dos cortes especificando as cenas precisavam ser explicadas atravs de um catlogo impresso, para dar sentido do enredo aos seus espectadores.O formato mais comum para a poca e o mais antigo do cinema a gag, um estilo peculiar de comdia onde suas aes se aplicam em duas fases: a preparao e o desfecho inesperado (Costa, p.33) so filmagens de curta durao, que traz uma temporalidade rpida e congnere com as atraes, no desfecho inesperado h uma interrupo que termina com a histria, no procrastinando posteriormente o enredo.Por inclurem uma surpresa, as gags tm a temporalidade tpica das atraes, contendo uma interrupo que finaliza a histria, sem permitir que a ao pea um desenrolar posterior do enredo. (Apud, Gunning 1993a)

Com o desenvolvimento de uma percepo narrativa, num perodo de 1902 e 1907, diretores em seus filmes traziam a questo de mltiplos planos como normas, antes poucos exploradas, e agora passam a experimentar vrias conexes em vrios planos estabelecendo segundo Costa (p.34) vnculos temporais pouco definidas das narrativas em fragmentos, mas tambm as confuses mais estruturadas, criando assim os conhecidos filmes de perseguio.

Diferentemente dos filmes narrativos clssicos, as perseguies dependiam de aes fsicas e no mostravam personagens com motivaes psicolgicas complexas. Mas as perseguies construam uma linha nica de ao narrativa, usando uma estratgia de repetio que tornava inteligvel o espao ficcional percorrido. Apesar de fornecerem um modelo de estruturao de linearidade causai entre planos, as perseguies esto, no entanto, a meio caminho entre a narrao e a atrao. (Gunning 1991, pp 66-68)

Nesses filmes de perseguio podemos, citar o diretor Edison Porter, que comeou a incrementar em seus filmes a dramaticidade das perseguies como podemos ver no filme The great train robbery, nessa poca era comum as produtoras plagiarem umas as outras, em exemplo, o filme produzido pela produtora Biograph, chamado Personal, foi plagiado por Porter mais adiante.Diversas experimentaes narratolgicas feitas pelos cineastas atravs de tentativas de juntar planos de forma a preservar pela continuidade eram tomadas para seguir com um enredo slido, o encavalamento no inicio trazia a seu pblico certo estranhamento, por estarem acostumados com o mesmo plano ao estilo teatral, o encavalamento simplesmente uma mudana abrupta do plano.O encavalamento era uma maneira freqente de conectar planos, resultado do desejo dos cineastas de, ao mesmo tempo, preservar a integridade dos planos e enfatizar aes importantes. (Costa p.36)

Melis, foi um dos cineastas que experimentaram criar novas relaes de espao e tempo entre os planos, o filme Le Voyage dans la lune ou Viagem a Lua em portugus, atravs de montagens, buscava conectar os planos por dissolues, criados a partir do uso de um dispositivo chamado de a Lanterna Mgica que funciona como uma espcie de projetor, que era capaz de criar um efeito de sobreposio de imagens, perfeito para transies de planos.A introduo de novos planos, como o plano aproximado que tem o foco de mostrar a ao detalhadamente de perto tambm conhecido como cut in e tambm tomadas subjetivas onde o objetivo era mostrar o ponto de vista do personagem, esse ltimo incentivou a criao de uma nova possibilidade de narrativa, o voyeurismo.O plano aproximado do tornozelo da mulher em Thegayshoe clerk(Porter, Edison, 1903) obedece a essa lgica, reiterando o nvolvimento do casal que j havia sido mostrado no plano anterior, exemplificando a abordagem voyeurista do primeiro cinema. (Costa p37)

No cinema de transio, a linguagem comea a se adequar, os filmes desde 1907, j buscavam por uma narrativa consistente, e j poderiam ser feitos em maior extenso de tempo, os personagens estavam mais completos, onde dentro de suas capacidades j era visvel, apesar das dificuldades do espectadores de no compreender relaes de espao e tempo, motivaes e sentimentos que completavam e significavam o personagem, nesse perodo existe o avano em tcnicas de filmagem, atuao, iluminao, enquadramento e montagem, dando um sentido no enredo para o espectador, e para fortalecer ainda mais a estrutura h tambm a criao dos interttulos.Os interttulos so essenciais para guiar o espectador e imergi-lo dentro da trama narrativa, eles so legendas que apontam o enredo ao espectador, explicando a ao tomada, servindo posteriormente, para indicar falas de personagens durante a atuao.

Durante esse perodo, o uso de interttulos passou a auxiliar na criao de personagens mais definidos. No comeo, eram letreiros compridos, que descreviam a situao que seria apresentada a seguir. Os interttulos com fragmentos de dilogos comeam a aparecer em 1910, antes dos planos em que as falas eram ditas. (Costa p.41)

No cinema de transio, h um desenvolvimento em sua construo, a partir de experimentaes, os diretores comearam a fugir de padres de filmagens, enquadrando o corpo inteiro dos atores, e a partir de 1909 os atores so colocados mais perto da cmera deixando salientar suas expresses faciais, centralizando a subjetividade dos personagens e exibindo suas respostas emotivas, atravs dessas experimentaes h ento o desenvolvimento dos enquadramentos.

Alm de experimentaes nos enquadramento, cineastas comearam a pontuar suas histrias, interconectando planos de forma que eles complementassem e ritmassem seu enredo, h ento a percepo da montagem como elemento flmico importante para contar seus scripts, os autores Bordwell e Thompson destacam trs maneiras bsicas de conexes entre planos: montagem alternada, montagem analtica e montagem em contiguidade.Na montagem alternada h diferentes cenas paralelas, distintos espaos diegticos so conectados por planos intercalados e constituem um ritmo flmico, onde a inteno mostrar aes que ocorrem num mesmo espao de tempo, um dos percussores dessa montagem foi D.W. Griffith, que conseguiu desenvolver e significar essas alternncias dando o sentido desejado em seus filmes, trazendo-as com frequncia e diminuindo a durao dos planos, aprimorando a tcnica em seus enredos para atenuar ainda mais os seus suspenses.Montagem analtica traz o destaque de um plano, no qual para se