cinema-história e representação

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CINEMA-HISTÓRIA: Múltiplos aspectos de uma relação CINEMA-HISTORY: history: multiple aspects of a relationship  José D’Assunção Barros 1 RESM!: Dentro do âmbito de uma convergência entre História Cultural e Hi stória Polí ti ca, es te ar ti go bu sca escl ar ecer e disc ut ir as ria s  possibilidades de inte ração e as relaçes possív eis entre História e Cinema,  particularmente e!aminando o Cinema como "onte #istórica, como meio  para a representaçã o #istoriográ"ica, como tecnologia de apoio para o trabal#o #istoriográ"ico, e como agente $ue inter"ere no processo #istórico%  &a 'ltima parte do artigo, são apresentadas as modalidades "ílmicas $ue conservam algum tipo de relação com a representaçã o #istoriográ"ica% "ala#ras-c$a#e: Cinema( representação #istoriográ"ica( imagem% A%STRACT: )nside t#e ambit o" a convergence bet*een Cultural Histor+ and Political Histor+, t#is article attempts to clari"+ and discuss t#e several  possibilities o" interaction and t#e possible relations bet*een Histor+ and Cinema, particularl+ e!amining t#e Cinema as #istorical "ont, as *a+ "or t#e #istorical representation, as tec#nolog+ to support t#e #istoriograp#+c *or, and as an #istorical agent t#at inter"eres in t#e #istorical process% )n t#e last part o" t#e article t#e+ are presented t#e modalities o" "ilms t#at maintains relations *it# t#e #istorical representation%  &e' (ords: Cinema( #istorical representation( image% -u ando o #is tor iad or .ar c /erro cun#ou a e!p res são Cinema0Histó ria , est ava interessado em c#amar atenção para os m'ltiplos aspectos de uma relação comple!a, onde os dois termos da e!pressão interagem reciprocamente sem $ue um pese demasiado sobre o outro% &ão se trata a$ui, nem de considerar $ue a  História se apropria de um ob1eto estático 2  Historiador e Doutor em História pela 3niversidade /ederal /luminense% 4tua como pro"essor nos cursos de 5raduação e .es tra do em His tór ia da 3ni ver sid ade /ed era l 6ur al do 6io de 7an eir o 83/6679, e como Pro"essor0Colaborador no Programa de Pós05raduação em História Comparada da 3/67%  / / RE V IS T A D I SP O SI TI V A , v . 3 , n .º 1 // 1)

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CINEMA-HISTÓRIA:

Múltiplos aspectos de uma relação

CINEMA-HISTORY:

history: multiple aspects of a relationship

 José D’Assunção Barros1

RESM!: Dentro do âmbito de uma convergência entre História Culturale História Política, este artigo busca esclarecer e discutir as várias

 possibilidades de interação e as relaçes possíveis entre História e Cinema, particularmente e!aminando o Cinema como "onte #istórica, como meio para a representação #istoriográ"ica, como tecnologia de apoio para otrabal#o #istoriográ"ico, e como agente $ue inter"ere no processo #istórico%

 &a 'ltima parte do artigo, são apresentadas as modalidades "ílmicas $ueconservam algum tipo de relação com a representação #istoriográ"ica%

"ala#ras-c$a#e: Cinema( representação #istoriográ"ica( imagem%

A%STRACT: )nside t#e ambit o" a convergence bet*een Cultural Histor+and Political Histor+, t#is article attempts to clari"+ and discuss t#e several

 possibilities o" interaction and t#e possible relations bet*een Histor+ andCinema, particularl+ e!amining t#e Cinema as #istorical "ont, as *a+ "or t#e #istorical representation, as tec#nolog+ to support t#e #istoriograp#+c*or, and as an #istorical agent t#at inter"eres in t#e #istorical process% )nt#e last part o" t#e article t#e+ are presented t#e modalities o" "ilms t#atmaintains relations *it# t#e #istorical representation% 

&e' (ords: Cinema( #istorical representation( image%

-uando o #istoriador .arc /erro cun#ou a e!pressão Cinema0História, estava

interessado em c#amar atenção para os m'ltiplos aspectos de uma relação comple!a, onde os

dois termos da e!pressão interagem reciprocamente sem $ue um pese demasiado sobre o

outro% &ão se trata a$ui, nem de considerar $ue a História se apropria de um ob1eto estático

2 Historiador e Doutor em História pela 3niversidade /ederal /luminense% 4tua como pro"essor nos cursos de

5raduação e .estrado em História da 3niversidade /ederal 6ural do 6io de 7aneiro 83/6679, e comoPro"essor0Colaborador no Programa de Pós05raduação em História Comparada da 3/67% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 1)

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 para ser analisado de "orma unilateral, o Cinema, e nem, ao contrário, de uma relação onde o

Cinema ocupa o centro do palco apenas iluminado pela História com suas abordagens e

metodologias% Cinema e História, assim se pensava com a instituição de uma nova e!pressão

$ue traia para o centro das discusses uma relação comple!a e interativa, tin#am algo a

ensinar e a trans"ormar um no outro% ; Cinema podia ensinar aos #istoriadores um novo

modo de "aer a História e de representá0la, e a História podia ensinar ao Cinema um novo

modo de seu auto0perceber #istoricamente e como "en<meno0processo em contínua

trans"ormação% Por "im, nessa relação de m'tua trans"ormação, Cinema-História constituiria

algo novo, não apenas um novo ob1eto de estudo ou apenas um novo campo de saber, mas

uma nova "orma de e!aminar os seus termos e considerar o $ue um campo poderia incorporar 

do outro% ; presente artigo pretende e!aminar esta relação na $ual o Cinema se integra =

História de m'ltiplas maneiras: como sujeito $ue inter"ere na própria História, como  fonte

 para a compreensão desta mesma História, como meio  para representar a História, como

linguagem  e tecnologia da $ual pode se apropriar a História, para al>m, > claro, de um

 processo $ue pode ser ele mesmo #istoriado na perspectiva mais tradicional de uma História

do Cinema%

4 possibilidade de amadurecer uma nova noção comple!a, contudo, tem sempre

tamb>m a sua #istória, e neste caso esta #istória está diretamente relacionada = progressiva

capacidade de um pólo se integrar ao outro, o $ue "oi obra, certamente, de mais de um s>culo

de #istória %%% e de cinema% Cinema e História, de "ato, têm desenvolvido relaçes bastante

íntimas desde $ue os primeiros "ilmes começaram a surgir por volta do alvorecer do s>culo

??, e pode0se dier $ue estes dois campos da atividade e da criação #umana não cessaram de

intensi"icar progressivamente suas possibilidades de interação = medida $ue o Cinema "oi se

"irmando como a grande arte da contemporaneidade% /orma de e!pressão artística para a $ual

concorrem diversas outras artes @ como a .'sica, o Aeatro, a Biteratura, a /otogra"ia e as

demais 4rtes isuais @ o Cinema terminou por vir constituir a partir de si mesmo uma

linguagem própria e uma ind'stria tamb>m especí"ica, e ao par disto não cessou de inter"erir 

na #istória contemporânea ao mesmo tempo em $ue seu discurso e suas práticas "oram se

trans"ormando com esta mesma #istória contemporânea% is a$ui a rai de um comple!o 1ogo

de interrelaçes possíveis $ue têm permitido $ue o Cinema se mostre simultaneamente como

E"onteF, EtecnologiaF, Esu1eitoF e Emeio de representaçãoF para a História% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 1*

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 &o seu aspecto mais irredutível o Cinema @ incluindo todo o imenso con1unto das

obras cinematográ"icas $ue 1á "oram produidas e tamb>m as práticas e discursos $ue sobre

elas se estabelecem @ pode ser considerado nos dias de #o1e uma "onte primordial e

inesgotável para o trabal#o #istoriográ"ico% 4 partir de uma "onte "ílmica, e a partir da análise

dos discursos e práticas cinematográ"icas relacionados aos diversos conte!tos

contemporâneos, os #istoriadores podem apreender de uma nova perspectiva a própria #istória

do s>culo ?? e da contemporaneidade% De igual maneira, como se verá mais adiante, os

#istoriadores políticos e culturais podem e!aminar os diversos usos, recepçes e apropriaçes

dos discursos, práticas e obras cinematográ"icas%

Para al>m deste "ato mais evidente de $ue o Cinema @ en$uanto E"orma de e!pressão

culturalF especi"icamente contemporânea @ "ornece "ontes e!traordinariamente signi"icativas

 para os estudos #istóricos sobre a própria >poca em $ue "oi e está sendo produido, uma outra

relação "ulcral entre História e Cinema pode aparecer atrav>s da dimensão deste 'ltimo como

ErepresentaçãoF% ; Cinema não > apenas uma "orma de e!pressão cultural, mas tamb>m um

Emeio de representaçãoF% 4trav>s de um "ilme representa0se algo, se1a uma realidade

 percebida e interpretada, ou se1a, um mundo imaginário livremente criado pelos autores de um

"ilme%

Para o âmbito das relaçes entre Cinema e História, interessa particularmente a

 possibilidade de a obra cinematográ"ica "uncionar como meio de representação ou como

veículo interpretante de realidades #istóricas especí"icas, ou, ainda, como linguagem $ue se

abre livremente para a imaginação #istórica% m um caso, trataremos dos c#amados E"ilmes

#istóricosF @ entendidos a$ui como a$ueles "ilmes $ue buscam representar ou estetiar 

eventos ou processos #istóricos con#ecidos, e $ue incluem entre outras as categorias dos

E"ilmes >picosF e tamb>m dos "ilmes #istóricos $ue apresentam uma versão romanceada de

eventos ou vidas de personagens #istóricos% m outro caso, será possível destacar ainda

a$ueles "ilmes $ue c#amaremos de E"ilmes de ambientação #istóricaF, a$ui considerando os

"ilmes $ue se re"erem a enredos criados livremente mas sobre um conte!to #istórico bem

estabelecido%

4o lado dos E"ilmes #istóricosF e dos E"ilmes de ambientação #istóricaF, uma terceira e

importante modalidade ainda a ser discutida neste tipo de relação entre o Cinema e a

representação #istórica > a dos Edocumentários #istóricosF @ $ue podem ser de"inidos mais // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 1+

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especi"icamente como trabal#os de representação #istoriográ"ica atrav>s de "ilmes,

di"erenciando0se dos atrás mencionados "ilmes #istóricos se1a pelo rigor documental em $ue

se apóiam, se1a pelo "ato de $ue neles o "ator est>tico > deslocado para segundo plano e não >

$uem condu os rumos da narrativa ou da construção "ílmica% Desta maneira, en$uanto o

E"ilme #istóricoF narra criativamente um evento ou processo #istórico, tomando0o para enredo,

o Edocumentário #istoriográ"icoF analisa os acontecimentos = maneira dos #istoriadores,

comparando depoimentos e "ontes, sobrepondo imagens da >poca, analisando situaçes

atrav>s da lógica #istoriográ"ica e do raciocínio #ipot>tico0dedutivo, e encamin#ando uma

s>rie de operaçes $ue são algo similares =$uelas das $uais os #istoriadores lançam mão ao

e!aminar um processo #istórico em obra #istoriográ"ica em "orma de livro% 4ssim, o "io

condutor do Edocumentário #istoriográ"icoF > essencialmente a análise de eventos e processos

#istóricos, e não a mera narração destes processos mediada pelo mesmo tipo de estetiação

$ue aparece nos "ilmes "iccionais% ale ainda lembrar $ue, en$uanto o E"ilme #istóricoF oculta

as "ontes em $ue se apoiou, o Edocumentário #istóricoF desenvolve0se #abitualmente

e!plicitando suas "ontes para os espectadores e marcando uma distância clara entre o discurso

do cineasta0#istoriador e estas mesmas "ontes 8o discurso dos outros, as imagens e

documentos de >poca, e assim por diante9% m suma, ressalvadas as especi"icidades de cada

linguagem e as características pessoais de cada autor, o cineasta0#istoriador age analogamente

ao $ue "aria um #istoriador tradicional $ue escreve um livro de História nos dias de #o1e%

m síntese @ sobre o E"ilme #istóricoF, o E"ilme de ambientação #istóricaF, e o

Edocumentário #istóricoF, entre outros tipos similares $ue poderiam tamb>m ser mencionados

 @ pode0se dier $ue estas três modalidades "ílmicas relacionadas = História 8considerada a$ui

como ob1eto de con#ecimento9 correspondem respectivamente, na Biteratura, ao Eromance

#istóricoF propriamente dito, = obra de "icção com ambientação #istórica, e =s próprias

representaçes #istoriográ"icas produidas pelos #istoriadores pro"issionais ou diletantes%

Gobre todos estes tipos de E"ilmes de HistóriaF 8no sentido amplo9, > importante

ressaltar ainda $ue eles possuem uma dupla naturea, uma esp>cie de duplo vínculo em

relação = História% 4l>m de serem E"ontesF importantes para a percepção de processos

#istóricos diversi"icados $ue se dão na própria >poca de sua produção, tal como aliás ocorre

com os demais "ilmes 8inclusive os de "icção9, os E"ilmes de HistóriaF são tamb>m "ontes

 primordiais para o estudo das próprias representaçes #istoriográ"icas% &este sentido, al>m de // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,

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ser possível neste tipo de "ontes cinematográ"icas estudar a História 8en$uanto ob1eto de

con#ecimento9, > possível estudar a partir deles as próprias representaçes e concepçes

#istoriográ"icas 8isto >, a História en$uanto campo de con#ecimento9, discutindo a

Historiogra"ia nos seus diversos níveis% Pode0se dier $ue atrav>s dos E"ilmes de HistóriaF de

diversos tipos o Cinema começa a penetrar de diversi"icadas maneiras no próprio mundo dos

#istoriadores, e não apenas no mundo de acontecimentos #istóricos $ue os #istoriadores

e!aminam com algum tipo de distanciamento%

4s possibilidades acima apresentadas de relacionar Cinema e representação #istórica

levam a pensar tamb>m em uma terceira relação importante $ue, agora, aparece atrav>s da

mediação dos saberes pedagógicos e educativos% ; Cinema atrav>s de sua produção "ílmica, e

não apenas dos documentários #istóricos, tamb>m pode ser utiliado para ensinar História @ 

ou, mais ainda, para veicular e at> impor uma determinada visão da História% ntramos a$ui

em uma outra possibilidade de apreensão das relaçes possíveis entre Cinema e História%

Aanto os #istoriadores podem estudar os usos políticos e educacionais $ue têm se mostrado

 possíveis atrav>s do Cinema, como de igual maneira os pedagogos 8e tamb>m os pro"essores

de #istória9 podem utiliar o Cinema para di"undir o saber #istórico e #istoriográ"ico de uma

determinada maneira%

Para al>m do papel do "ilme como veículo "inal de uma determinada representação

#istoriográ"ica @ isto >, como um EmeioF propriamente dito para esta representação

#istoriográ"ica @ > importante ressaltar $ue a "ilmagem pode "uncionar ainda como

Einstrumento de pes$uisaF importante para a prática #istoriográ"ica, ten#a esta como produto

"inal um "ilme ou um livro% 4ssim, se o uso do gravador e da "otogra"ia veio traer 

instrumentos importantíssimos para os antropólogos e sociólogos dos 'ltimos tempos, as

 práticas cinematográ"icas vieram traer uma contribuição "undamental ao acenarem com a

 possibilidade do uso "ilmagem nas pes$uisas ligadas =s ciências #umanas, a$ui considerando

$ue a "ilmagem permite a captação de imagens0som em movimento para posterior análise 8por 

e!emplo, o ritual de uma tribo indígena ou as imagens de um determinado dist'rbio social9%

; Cinema, assim, apresenta0se como tecnologia adicional para a  História Oral   @ 

acrescentando uma nova dimensão = coleta de depoimentos @ mas tamb>m para outras

 Gobre as possibilidades de relacionar Cinema e nsino de História, ve1a0se .;&A6D,

 Historia, cine y ensean!a% Iarcelona: Baia, 2JKL% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,1

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in'meras modalidades #istoriográ"icas como a História "a Cultura #aterial  ou a História "o

Coti"iano  8basta pensar na "ilmagem de estruturas urbanas para posterior análise pelo

#istoriador da cultura material, ou na "ilmagem de situaçes da vida cotidiana para

interpretação posterior pelo #istoriador do cotidiano9M% 4 tecnologia cinematográ"ica, por "im,

mostra0se magní"ico instrumento para a  História $me"iata, a$ui entendida como a$uela

modalidade da História em $ue o #istoriador participa mais diretamente do próprio processo

ou situação #istórica $ue está investigando%

m vista do $ue se disse at> a$ui, cada ve mais a #istoriogra"ia dos 'ltimos tempos

tem se dado conta das m'ltiplas potencialidades do Cinema simultaneamente como "onte para

o estudo da #istória, como veículo privilegiado para a di"usão das próprias representaçes

#istoriográ"icas, e como tecnologia au!iliar para a História% &aturalmente $ue, 1á $ue o

 próprio Cinema > relativamente recente na #istória, seu uso pela Historiogra"ia tamb>m >

recente% 4l>m disto, acresce $ue tamb>m não dei!a de ser recente mesmo a utiliação pela

#istoriogra"ia de "ontes não propriamente documentais ou te!tuais% 4 primeira metade do

s>culo ??, como se sabe, marca precisamente a e!pansão das concepçes de E"onte #istóricaF,

 1á $ue trou!e = tona um interesse mais vivo por "ontes iconográ"icas, por "ontes da cultura

material, pela #istória oral, e por tantas novas possibilidades de materiais para serem

trabal#ados pelos #istoriadores% 4 "onte "ílmica, $ue aliás integra ao discurso verbal as

dimenses da visualidade e da oralidade, en$uadra0se compreensivelmente neste mesmo

movimento de e!pansão de temáticas e de possibilidades de novas "ontes #istoriográ"icas%

3ma 'ltima relação possível entre Cinema e História @ para al>m de seu papel como

Ee!pressãoF, ErepresentaçãoF e EtecnologiaF @ vincula0se ao "ato de $ue o Cinema tamb>m

 pode corresponder a uma EaçãoF $ue inter"ere na História 8não mais a História no sentido de

campo do saber, mas a própria História realiada pelos #omens na sua vida social9% eremos

mais adiante $ue, do Cinema, podem se apropriar poderes diversos $ue NagemO na História( e

$ue, de outro lado, o Cinema tamb>m pode se apresentar como campo de resistência a

diversos poderes instituídos% Por isto, vale dier $ue, em todos estes casos, o Cinema tem sido

um poderoso Eagente #istóricoF desde os anos $ue o viram surgir%

M  aliás interessante perceber $ue desde a sua origem o Cinema, nas mãos dos próprios irmãos BumiQre, 1á

mostrava este camin#o de estreitamento de relaçes com a História atrav>s de "ilmes $ue e!ploravam a

 possibilidade de registrar cenas da realidade vivida% 3m e!emplo > a película  %a sortie "u train "e la ciotat 

82KJR9, onde se registra a cena da saída de operários de uma "ábrica, ao "inal do e!pediente% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,,

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; Cinema apresenta0se como Eagente da #istóriaF se1a atrav>s da )nd'stria Cultural,

se1a atrav>s das açes estatais e dos diversos usos políticos, se1a atrav>s da di"usão de

diversi"icadas ideologias, ou se1a atrav>s da resistência a estas mesmas "orças% )sto sem contar 

$ue @ atrav>s de uma obra "ílmica mais especí"ica @ diversos agentes estão "re$Sentemente

atuando de modo bastante signi"icativo na História% 4$ui, portanto, o Cinema assume @ para

muito al>m de sua dimensão como meio e como o&jeto de estudo @ a "unção de  sujeito  da

História%

! Ci.ema como /a0e.te $istrico2

4compan#ando as dimenses norteadoras atrás citadas, será possível adentrar em

seguida a comple!a relação entre História e Cinema a partir de alguns ângulos $ue conv>m

 precisar% Discutiremos três dos ei!os "undamentais atrás estabelecidos, $ue permitem avaliar o

cinema como Eagente da #istóriaF, o cinema como E"onte #istóricaF, e o cinema como meio

 para produir uma nova "orma de Erepresentação #istoriográ"icaF ou de transmissão do

con#ecimento #istórico%

m primeiro lugar, consideraremos a id>ia de $ue acima de tudo o Cinema pode ser 

visto ele mesmo como agente 'istórico% ; Cinema mostra0se um Eagente #istóricoF importante

no sentido de $ue inter"ere direta ou indiretamente na História% ;u, mais propriamente,

 poderíamos acrescentar $ue o Cinema tem se mostrado um instrumento particularmente

importante ou um veículo signi"icativo para a ação dos vários agentes #istóricos, para a

inter"erência destes agentes na própria História% ; Cinema, então, mostra0se como poderoso

instrumento de di"usão ideológica, ou mesmo como arma imprescindível no seio de um bem

articulado sistema de propaganda e mareting% Por isso mesmo, em uma primeira instância, 1á

se mostra bastante interessante para os #istoriadores contemporâneos a possibilidade de

e!aminar sistematicamente as relaçes entre Cinema e Poder, o $ue @ como se verá adiante @ 

"ará da arte "ílmica e das práticas cinematográ"icas um importante ob1eto de estudo para a

História Política 8e não apenas para a História Cultural9%

ssa relação entre Poder e Cinema > m'ltipla e igualmente comple!a% Desde cedo, as

diversas agências associadas aos poderes instituídos compreenderam a importância do

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,3

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Cinema como veículo de comunicação, de di"usão e at> de imposição de id>ias e ideologias T%

Arate0se de um documentário, de um "ilme de propaganda política, ou de uma obra de "icção

cinematográ"ica, o Cinema tem sido utiliado em diversas ocasies como instrumento de

dominação, de imposição #egem<nica e de manipulação pelos agentes sociais ligados ao

 poder instituído 8instituiçes governamentais, partidos políticos, igre1as, associaçes

diversas9, e tamb>m por grupos sociais diversos $ue têm sua representação social 1unto a estes

 poderes instituídos% ssa tem sido sem d'vida uma primeira relação política importante a ser 

considerada%

Por outro lado, o Cinema tamb>m conservou obviamente a sua autonomia em relação

aos poderes instituídos, e por isso ocorre $ue tamb>m ten#a "uncionado como Contrapoder%

 &este sentido, se o Cinema com sua produção "ílmica pode ser e!aminado como Einstrumento

de dominaçãoF e de imposição #egem<nica, ele tamb>m pode ser e!aminado como meio de

EresistênciaF% Daí $ue as "ontes associadas ao Cinema podem ser analisadas tanto como

documentação importante para compreensão dos mecanismos e processos de dominação,

como tamb>m podem ser encaradas como documentação signi"icativa $ue tra e revela dentro

de si as m'ltiplas "ormas de resistências, as diversi"icadas voes sociais 8inclusive as $ue não

encontram representação 1unto ao Poder )nstituído9, e de resto os variados padres de

representação associados a uma sociedade%

; Cinema @ e a sua realiação 'ltima $ue > o /ilme @ > sempre construção poli"<nica,

 para utiliar uma metá"ora emprestada = .'sica% &ele cantam inevitavelmente todas as voes

sociais, não apenas as $ue invadem a cena atrav>s de seus discursos como tamb>m as $ue nela

 penetram atrav>s da imagem% 4inda $ue uma determinada produção "ílmica se1a montada para

a e!pressão de um modo de vida $ue > o de alguma classe dominante, ou ainda $ue o "ilme

se1a empregado como parte de estrat>gias políticas especí"icas @ e ainda $ue os diálogos

 principais postos em cena atendam ou e!pressem interesses sociais e políticos especí"icos @ 

#averá sempre algo $ue se impe ou dá0se a perceber atrav>s da imagem e $ue pode revelar 

inesperadamente os demais modos de vida, ou algo $ue se #á de impor como contra0discurso

e entredito $ue se constrói = sombra dos diálogos $ue entretecem o discurso principal%

T .arc /erro 1á observava a este respeito: NParalelamente, desde $ue o cinema se tornou uma arte, seus pioneiros

 passaram a intervir na #istória com "ilmes, documentários ou de "icção, $ue, desde sua origem, sob a aparência

de representação, doutrinam e glori"icamO 8.arc /66;, Cinema e História, 6io de 7aneiro: Pa e Aerra, 2JJ,

 p%2M9% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,4

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4penas para dar um e!emplo de estudo de caso $ue permite traer = tona estas

relaçes, o Cinema apresentou0se no Irasil do stado &ovo com todas estas "acetas% /oi

utiliado como instrumento de doutrinação política atrav>s dos documentários produidos

 pelo D)P (De)artamento "e $m)rensa e *ro)agan"a do 5overno argas9, como veículo para

a alienação atrav>s de alguns "ilmes e c#anc#adas de "icção, mas tamb>m como instrumento

de resistência e contrapoder a partir diversos outros "ilmes de "icção% Para considerar o caso

dos "ilmes satíricos, > sempre importante lembrar $ue a obra de #umor artístico pode veicular 

 por diversas vees críticas ao Poder )nstituído $ue não poderiam circular atrav>s do discurso

Ns>rioO% ssas relaçes várias, por outro lado, podem aparecer em algumas ocasies dentro de

um 'nico "ilme, o $ue mostra a potencialidade da obra cinematográ"ica como produto

comple!o%

3m "ilme, en"im, pode se apresentar como um pro1eto para agir sobre a sociedade,

 para "ormar opinião, para iludir ou denunciar% Portanto, um pro1eto para inter"erir na História,

 por trás do $ual podem se esconder ou se e!plicitar desde os interesses políticos de diversas

 procedências at> os interesses mercadológicos encamin#ados pela )nd'stria Cultural% ,

certamente, atrav>s de um "ilme podem tamb>m agir os indivíduos $ue representam posiçes

especí"icas% Bembremos a$ui os polêmicos documentários de .ic#ael .oore @ como +iros

em Colum&ine  8UU9 ou  a'ren'eit .//  8UUT9 @ onde o autor, valendo0se do gênero

Documentário, na verdade o utilia de uma nova maneira, não apenas para registro e

interpretação da realidade como tamb>m com vistas a uma e!plícita e imediata inter"erência

nesta realidadeR% 4ssim, ao ocupar a posição de entrevistador, o autor instiga, provoca, assume

nitidamente uma posição, impe situaçes $ue $uerem mudar o curso da realidade e!aminada%

4ge, portanto, sobre a História%

R m  Bo0ling for Colum&ine 8UU9, a prete!to de investigar a "ascinação dos americanos pelas armas de "ogo,

.ic#ael .oore $uestiona a origem dessa cultura b>lica e busca respostas visitando pe$uenas cidades dos

stados 3nidos, onde a maior parte dos moradores guarda uma arma em casa% ; ponto de partida > o col>gio

Columbine, na cidade de Bittleton, onde dois adolescentes utiliaram as armas dos pais para matar 2T estudantes

e um pro"essor no re"eitório% V m  a'ren'eit .// 8UUT9, a prete!to de investigar como os stados 3nidos se

tornaram alvo de terroristas por ocasião dos eventos ocorridos no atentado de 22 de setembro de UU2,

encamin#a0se a den'ncia de uma rede de poderes políticos e econ<micos $ue > entretecida atrav>s de paralelos

entre as duas geraçes da "amília Ius# $ue 1á comandaram o país, discutindo0se ainda as relaçes entre o atual

Presidente americano, 5eorge W% Ius#, e ;sama Iin Baden% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,5

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 &aturalmente $ue, al>m dos usos políticos voluntários e involuntários, conscientes e

inconscientes, os "ilmes tamb>m se apresentam como registro das representaçes e vises de

mundo presentes nas sociedades $ue os produiram% Aal como se disse, atrav>s de uma obra

"ílmica e!pressam0se de maneira comple!a várias voes sociais e diversi"icadas perspectivas

culturais% ; Cinema, considerado como agente #istórico, pode ser por isto compreendido mais

 propriamente como um "ei!e de agentes #istóricos diversos @ e se ele permite um estudo

sistematiado das relaçes políticas, permite tamb>m um estudo acurado das práticas e

representaçes culturais% Daí seu simultâneo interesse tanto para a História Política como para

a História Cultural%

! Ci.ema como /6o.te $istrica2

Ge o Cinema > Eagente da HistóriaF no sentido de $ue inter"ere direta ou indiretamente

na História, ele tamb>m > inter"erido todo o tempo pela História, $ue o determina nos seus

m'ltiplos aspectos% ale dier, o cinema > Eproduto da HistóriaF @ e, como todo produto, um

e!celente meio para a observação do Elugar $ue o produF, isto >, a Gociedade $ue o

conte!tualia, $ue de"ine a sua própria linguagem possível, $ue estabelece os seus "aeres,

$ue institui as suas temáticas% Por isto, $ual$uer obra cinematográ"ica @ se1a um documentário

ou uma pura "icção @ > sempre portadora de retratos, de marcas e de indícios signi"icativos da

Gociedade $ue a produiu% neste sentido $ue as obras cinematográ"icas devem ser tratadas

 pelo #istoriador como E"ontes #istóricasF signi"icativas para o estudo das sociedades $ue

 produem "ilmes, o $ue inclui todos os gêneros "ílmicos possíveis% 4 mais "antasiosa obra

cinematográ"ica de "icção tra por trás de si ideologias, imaginários, relaçes de poder,

 padres de cultura% sta a"irmação, $ue de resto tamb>m > per"eitamente válida para as obrasde Biteratura, dá suporte ao "ato de $ue a "onte cinematográ"ica tem sido utiliada com cada

ve mais "re$Sência pelos #istoriadores contemporâneos%

; lugar $ue produ o Cinema > tamb>m o lugar $ue o recebe, de modo $ue a "onte

"ílmica pode dar a compreender uma Gociedade simultaneamente a partir do sistema $ue o

 produ e do seu universo de recepção% ; p'blico consumidor e a crítica inscrevem0se desde 1á

na rede $ue produ o "ilme, con1untamente com os demais "atores $ue atuam na sua Produção,

e isto por$ue o p'blico receptor > sempre levado em consideração nos momentos em $ue o // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,7

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"ilme > elaborado% 4s competências e e!pectativas do consumo, en"im, são antecipadas no

momento em $ue > produida a obra cinematográ"ica, de modo $ue analisar um "ilme >

analisar tamb>m o p'blico $ue irá consumi0lo%

Com relação a estes e outros aspectos, a "onte cinematográ"ica, particularmente a "onte

"ílmica, torna0se evidentemente uma documentação imprescindível para a História Cultural @ 

uma ve $ue ela revela imaginários, vises de mundo, padres de comportamento,

mentalidades, sistemas de #ábitos, #ierar$uias sociais cristaliadas em "ormaçes discursivas,

e tantos outros aspectos vinculados = de uma determinada sociedade #istoricamente

localiada% .as como a )nd'stria Cinematográ"ica contempla em todas estas instâncias

relaçes de poder @ se1a no $ue concerne = sua inserção no universo da )nd'stria Cultural, se1a

no $ue se re"ere = sua apropriação pelos poderes p'blicos e privados @ > natural $ue pelos

estudos #istóricos do Cinema se interessem tamb>m a História Política, a História Gocial, e

mesmo a História con<mica em sua inserção com estas modalidades #istoriográ"icas%

muito importante para o #istoriador avançar na compreensão dos poderes $ue

atravessam o Cinema, alguns inter"erindo diretamente na "eitura de "ilmes% 4penas para nos

atermos ao âmbito dos poderes $ue circulam na es"era da )nd'stria Cultural, iremos encontrar 

todo um con1unto de poderes e micropoderes $ue enredam a "eitura de um "ilme, e isto

variando de acordo com os diversos conte!tos e com as diversas "ases da História do Cinema%

; Cinema $ue surge com os irmãos BumiQre irá logo empreender uma criativa luta para se

trans"ormar de mera tecnologia em 4rte, e a partir daí se empen#a em construir uma

linguagem inteiramente nova% ; Cinema $ue convive com a Aelevisão, por e!emplo, > 1á

outro e deve con"rontar0se com a id>ia de $ue seus ob1etos "ílmicos em determinado momento

 passarão das grandes Aelas ao circuito da Aelevisão 8e mais tarde, 1á nas 'ltimas d>cadas do

s>culo ??, ao circuito da televisão por assinatura e das locadoras do vídeo9% Audo isto

inter"ere na sua "eitura, por$ue a )nd'stria Cultural alme1a e!plorar todas as mídias e

mercados, e neste sentido seus produtos devem ser polivalentes e adaptativos com vistas =

geração de lucros crescentes%

Haverá mesmo "ilmes "eitos especialmente pela Aelevisão, e outros previstos para

gerarem s>ries para a Aelevisão% -uando se escreve um roteiro de "ilme para televisão, deve0

se antecipar as reaçes de um telespectador $ue não está mais preso por duas #oras dentro de

um recinto "ec#ado de sessão cinematográ"ica para a $ual 1á comprometeu o valor de um // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,)

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ingresso% sse novo espectador $ue assiste na televisão a um "ilme @ se1a um "ilme $ue 1á

 percorreu o circuito das salas de cinema ou um "ilme tipicamente televisivo @ possui

literalmente nas mãos um novo poder: o !a))ing  @ esta possibilidade de apertar um botão no

controle remoto e mudar o canal% ;s roteiros, desta "orma, não podem ser concebidos

livremente, pois desde o instante da sua gestação 1á so"rem a presença desta "ormidável

multidão de micropoderes% preciso capturar a atenção do espectador comum, e neste sentido

as emissoras pressionarão roteiristas para "aerem cortes nos seus roteiros de modo a

conseguirem mais e!citação, mais suspense, por vees maior velocidade ou maior nível de

adaptação = competência do espectador comum% Desta maneira, os grandes interesses das

emissoras e as pe$uenas e!pectativas do telespectador comum se enredam para pressionar a

"eitura do "ilme% m operação inversa, ocorre ao #istoriador $ue ele pode partir de um "ilme @ 

a$ui tomado como "onte #istórica @ para precisamente desvendar esta rede de poderes e

micropoderes, de e!pectativas de mercado e de competências espectadoras, de padres

culturais impostos pela mídia e de representaçes culturais $ue surgem espontaneamente% ;u

se1a, partindo de um produto, ele estará apto a deci"rar a sociedade $ue o produiu%

m vista deste mundo de novas possibilidades #istoriográ"icas, e!aminaremos nos

 pró!imos parágra"os os diversos tipos de "ontes relacionadas com o Cinema, e de $ue podem

ser valer os #istoriadores do mundo contemporâneo% Gerá necessário considerar a$ui toda uma

gama de "ontes importantes, desde a$uelas geradas )ara e )ela produção de um "ilme @ como

roteiros, sinopses, cenários, registros de marcaçes de cenas, mas tamb>m contratos,

 propagandas, críticas de cinema, receitas e despesas de produção @ at> a$uela $ue > a "onte

 por e!celência: o "ilme%

De "ato, no $ue se re"ere =s "ontes primárias para o estudo da História do Cinema, ou

então da História atrav>s do Cinema, a primeira "onte mais óbvia a se considerar > o próprio

"ilme, o produto "inal da arte cinematográ"ica% &este sentido, um ponto de partida

metodológico para e!aminar sistematicamente a relação entre Cinema e História deve vir 

ancorado na compreensão de $ue o "ilme, pretenda ele ser imagem ou não da realidade, e

en$uadre0se dentro de um dos gêneros documentários ou dentro de um dos gêneros de "icção,

> em todos estes casos História% &ão importa se o "ilme pretende ser um retrato, uma intriga

autêntica, ou pura invenção, sempre ele estará sendo produido dentro da História e su1eito =s

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,*

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dimenses sociais e culturais $ue decorrem da História @ isto independente da vontade dos

$ue contribuíram e inter"eriram para a sua elaboração%

4ssim, o mais "antasioso "ilme de "icção cientí"ica não e!pressa senão as

 possibilidades de uma realidade #istórica, se1a como retratação dissimulada, como inversão,

como tendência discursiva $ue o estrutura, como visão de mundo $ue o in"orma e $ue o

en"orma 8$ue l#e dá "orma9, e assim por diante% por isto, tal como se observou antes, $ue >

sempre possível dier $ue a "icção, por mais criativa e imaginativa $ue se1a, permite em todos

os casos uma aguda leitura da realidade social e #istórica, o $ue implica em dier $ue o

#istoriador ou o analista da "onte documental cinematográ"ica sempre poderá alme1ar 

en!ergar por trás de um "ilme algo da sociedade $ue o produiu, e $ue poderá analisar a "onte

"ílmica como um produto comple!o $ue se vê potencialiado pelo "ato de $ue para ela

con"luem diversos tipos de linguagens e materiais discursivos denunciadores de uma >poca,

de camin#os culturais especí"icos, de agentes sociais diversos, de relaçes de poder bem

de"inidas, de vises de mundo multi0diversi"icadas%

4penas para registrar um e!emplo, a Bos 4ngeles do s>culo ??) $ue nos >

apresentada em  Bla"e 1unner   82JK9 @ um "ilme $ue intermescla os gêneros da "icção

cientí"ica e do "ilme policial @ > uma Bos 4ngeles certamente "ictícia, imaginada pelo

romancista de cu1o te!to "oi e!traído o enredo e pelo roteirista da película L% Contudo, uma

análise acurada poderia nos mostrar como são pro1etadas nesta Bos 4ngeles imaginária vários

dos medos típicos dos americanos ou do #omem moderno, de modo geral%

4 Bos 4ngeles de Bla"e 1unner , com seu submundo "ormado por ruas estreitas e

 poluídas #abitadas por uma população $ue se reparte em etnias e dialetos, e $ue se vê

contraponteado por pr>dios de centenas de andares e por uma so"isticada tecnologia, >

certamente o espaço imaginário de pro1eção de alguns dos grandes medos americanos: a

L Bla"e 1unner  @ "ilme de 6idle+ Gcott produido em 2JK com base no romance de P#ilip X% Dic @ tra uma

visão apocalíptica ambientada no início do s>culo ??), >poca em $ue uma grande corporação #avia

desenvolvido um andróide $ue mais "orte e ágil $ue o ser #umano% stes NreplicantesO eram utiliados como

escravos na coloniação e e!ploração de outros planetas, at> $ue um grupo dos rob<s mais evoluídos provoca um

motim em uma col<nia "ora da Aerra, e a partir deste incidente os replicantes passam a serem considerados

ilegais na Aerra% 4 partir de então, policiais de um es$uadrão de elite, con#ecidos como  Bla"e 1unner , são

orientados para e!terminar $ual$uer replicante encontrado na Aerra% 4t> $ue, em U2J, $uando cinco replicantes

c#egam a Aerra, um e!0Ilade 6unner > encarregado de caçá0los% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // ,+

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 poluição, a violência, a escasse alimentar, a opressão tecnológica, a presença de migrantes

vindos de outros países, a ameaça da perda de uma identidade propriamente NamericanaO, os

desastres ecológicos $ue no "ilme aparecem sob a "orma de uma c#uva ácida com a $ual têm

de conviver os #abitantes deste "uturo imaginário% ;s re)licantes @ andróides criados pelos

#omens do "uturo @ e!pressam com sua revolta os temores dos #omens de #o1e diante de uma

tecnologia $ue pode sair do controle, da criatura $ue ameaça o criador @ tema $ue de resto

sempre "oi caro = "icção cientí"ica 1á clássica%

De igual maneira, na temática de um mundo dominado e controlado por uma mega0

corporação, aparecem nos labirintos discursivos de  Bla"e 1unner  os receios diante de um

"uturo onde a mpresa Capitalista passa a assumir o papel de stado e a ter plenos poderes

sobre a vida e a morte de todos os indivíduos @ o $ue, em 'ltima instância, tra = tona o temor 

diante da possibilidade da perda de liberdade individual% Para al>m disto, as relaçes entre os

#omens e a .emória, na $ual se apóiam para a construção de sua identidade individual e $ue

no entanto l#es > tão inconsistente, são traidas a nu na "amosa cena $ue se re"ere a uma

replicante $ue não possui se$uer a consciência de ser uma replicante 8isto >, não0#umana9, e

$ue se depara com a cruel realidade de $ue a memória $ue "oi nela implantada não

corresponde a nen#uma vivência e"etivaY% 4s relaçes com Deus e a .orte por "im, aparecem

na parábola $ue dá "orma geral ao "ilme atrav>s de um enredo onde os replicantes procuram

obstinadamente os seus criadores na esperança de prolongarem a própria vida, e $ue tra

como um dos des"ec#os a cena da Criatura $ue termina por assassinar o seu Criador,

evocando as intrincadas relaçes psicológicas $ue permeiam desde sempre as relaçes entre o

#omem e Deus atrav>s das realidades religiosas por ele mesmo engendradas na #istória real%

Y &o "ilme Bla"e 1unner , os replicantes não possuem memória, visto $ue 1á nascem prontos, preparados $ue são

 para durarem apenas $uatro anos% &o caso da replicante mencionada 86ac#el9, tratava0se ainda de um caso

especial: uma replicante $ue "ora programada para pensar $ue era #umana, e $ue por isso possuía uma memória

implantada $ue acreditava corresponder a vivências e"etivas 8e $ue era re"orçada por "otogra"ias $ue ela possuía

e $ue acreditava serem "otos suas de in"ância9% ; "ilme dei!a no ar, aliás, a possibilidade de $ue o próprio

Decard 8o caçador de andróides9 poderia ser ele mesmo um replicante $ue acreditava ser #umano, tal como a

replicante 6ac#el% Como saber, en"im, se as memórias $ue possuímos são realmente nossas, correspondentes a

e!periências e"etivas $ue um dia "oram vividas por nós 8Z9 @ tal > a re"le!ão percorrida nas cenas de  Bla"e

 1unner  $ue evocam as relaçes dos personagens @ #umanos ou replicantes @ com a .emória% 4 este propósito,

cumpre lembrar $ue 6idle+ Gcott procurou dotar seu "ilme de uma s>rie de ambigSidades, permitindo $ue dele

sur1am di"erentes leituras% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 3

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Por "im,  Bla"e 1unner   levanta em diversas ocasies um $uestionamento típico desta nossa

>poca $ue entremeia o 6eal e o irtual e $ue, para al>m disto, ense1ou perturbadoras re"le!es

"ilosó"icas sobre a desconstrução do su1eito, esta desconstrução tão típica da pós0modernidade

e $ue vem abalar "ortemente as certeas do #omem contemporâneo em relação = sua própria

e!istência ob1etivaK% is, portanto, um e!emplo entre tantos $ue poderiam ser dados de $ue

toda a "icção está sempre impregnada da realidade vivida, se1a com a intenção ou sem a

intenção de seu autor%

por isto $ue, a princípio, $ual$uer "ilme @ se1a um policial, um "ilme de "icção

cientí"ica, uma porn<0c#anc#ada, um "ilme de amor @ pode ser constituído em "onte pelo

#istoriador $ue este1a interessado em compreender a sociedade $ue o produiu e $ue o tornou

 possível como obra% Desnecessário dier $ue um "ilme ambientado na )dade .>dia $ue se1a

elaborado #o1e "alará ao #istoriador muito mais sobre a )dade Contemporânea do $ue sobre a

)dade .>dia% Geria de se perguntar o $uanto o "ilme Cru!a"a de 6idle+ Gcott 8UUR9 @ $ue

acompan#a a narrativa de uma cruada medieval ocorrida em 22KR @ "ala0nos por e!emplo do

impacto da 5uerra do )ra$ue e de outros con"rontos contemporâneos envolvendo naçes

ocidentais e o mundo islâmico% ;u, para lembrar outro "ilme de Gcott, at> $ue ponto O

2la"ia"or  8UUT9 @ ao abordar o )mp>rio 6omano @ não nos "ala do )mp>rio 4mericano, do

7ogo de Poder, da corrupção e decadênciaZ

ainda oportuno lembrar $ue os "ilmes tamb>m podem ser trabal#ados em s>rie, e

não apenas a partir de análises individualiadas de seus discursos e de seu enredo% Pode0se

estudar a evolução de interesses temáticos a partir de um levantamento geral de obras "ílmicas

em um determinado período% Ge os tempos recentes mostram a renovação de interesses por 

"ilmes ambientados na )dade .>dia ou em tempos antigos, isso certamente di algo ao

#istoriador sobre o atual conte!to sócio0cultural, ou mesmo político, $ue permitiu a renovação

deste interesse% Com a produção ligada ao Cinema ocorre, de resto, o $ue tamb>m se veri"ica

 para a produção literatura ou artística em geral% 4 emergência de determinado tipo de obras,

os temas $ue por elas circulam, o seu vocabulário, as novidades "ormais $ue se tornam

 possíveis %%% tudo isto nos "ala ainda mais dos receptores da obra do $ue de seus próprios

autores individualiados%

K &este sentido, Bla"e 1unner  prenuncia uma discussão sobre o verdadeiro estatuto da ErealidadeF $ue mais tarde

seria a temática de base de outro grande marco do Cinema 4mericano, o "ilme #atri3 8UUM9% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 31

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4s possibilidades de "ontes #istóricas relativas ao Cinema não se esgotam nesta obra

"inal $ue > o "ilme propriamente dito% Para al>m desta "onte mais óbvia, e $ue pode ser 

e!aminada sob sua "orma de registro em ídeo, > preciso considerar ainda $ue a "onte "ílmica

gera outros tipos de "ontes como substratos, etapas e instrumentos de trabal#o% Por e!emplo%

; E6oteiroF mostra0se como um tipo de transposição literária do "ilme, $ue terá sido em

algum momento tanto um instrumento de trabal#o para os produtores do "ilme, como terá se

convertido em outro momento em obra literária por si mesma, posta = venda para a leitura de

interessados% ste tipo de "onte tamb>m apresenta grande utilidade para o #istoriador e

estudiosos de Ciências de Comunicação $ue estudam o Cinema% &aturalmente $ue os m>todos

de análise $ue se direcionam para o E"ilmeF na sua "orma de imagens pro1etadas na tela @ e

$ue deste modo se apresenta como uma obra integral $ue incorpora diversas linguagens @ 

devem ser di"erenciados dos m>todos a serem empregados para a análise do 6oteiro,

transposição do enredo e diálogos do "ilme para o te!to escrito%

Para al>m disto, outros tipos de substratos de "ilmes tamb>m podem ser 

considerados, como a EGinopseF @ $ue consiste em um tipo especialiado de 6esumo do "ilme,

e $ue se di"erencia radicalmente do 6oteiro pelo seu caráter breve e sint>tico% Por outro lado,

> preciso ainda considerar $ue o /ilme tamb>m gera documentação sobre o /ilme% Por 

e!emplo, a Crítica dei!a registros te!tuais de suas leituras sobre "ilmes especí"icos atrav>s de

ECr<nicas specialiadasF, normalmente publicadas em 7ornais e 6evistas% ste tipo de "onte

tamb>m deve ser abordado pelo #istoriador do Cinema, com a plena consciência de $ue neste

caso ele não estará mais estudando o "ilme como "onte direta, mas sim e!aminando um

discurso $ue se estabelece sobre o "ilme% ;s depoimentos dos próprios autores e envolvidos

na produção do "ilme tamb>m podem ser en$uadrados nesta modalidade de "ontes sobre o

Cinema, e um outro substrato possível são as propagandas sobre o produto cinematográ"ico,

se1a a propaganda sobre o "ilme $ue vai =s telas de cinema 8ou de televisão, posteriormente9,

se1a a propaganda sobre o "ilme convertido em vídeo para circular nas c#amadas locadoras%

Há ainda a documentação propriamente dita sobre Cinema 8no sentido de

documentação registrada atrav>s da escrita9% Aal como 1á se disse o Cinema tamb>m gera

apropriaçes, manipulaçes e resistências% stas relaçes, $ue permeiam a própria interação

entre História e Cinema, tamb>m geram in'meros tipos de documentação $ue podem ser 

utiliados pelos #istoriadores% Pode0se estudar por e!emplo a documentação o"icial, // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 3,

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institucional e governamental sobre a produção cinematográ"ica: Begislação sobre a

normatiação e controle do Cinema, documentos da Censura, e assim por diante% 4penas para

dar um e!emplo, os sucessivos governos brasileiros e!erceram cada $ual um tipo de política

cultural para a produção cinematográ"ica( alguns, como o governo do stado &ovo, criaram

mesmo órgãos para produir "ilmes para "ins de Propaganda 5overnamental, para a di"usão de

ideologias, e assim por diante% ; Cinema, en"im, está su1eito a este tipo de apropriaçes,

embora ao mesmo tempo tem um grau de autonomia en$uanto obra de arte $ue deve ser 

considerado%

/ontes ensaísticas sobre o /ilme, escritas nos vários períodos da História do Cinema,

tamb>m podem revelar como o Cinema tem sido visto pela Gociedade, por setores especí"icos

desta sociedade, e por agentes #istóricos e artísticos vários% Desta "orma, os nsaios sobre o

Cinema podem ser tomados como "ontes para a análise das várias vises de mundo sobre o

Cinema% 4ssim, por e!emplo, diversos cineastas escreveram te!tos importantes sobre o

Cinema, como 7ean psteinJ, 7ean 6enoir 2U, Gerguei isenstein22, 7ean0Claude CarriQre2,

/rançois Aru""aut2M, e tantos outros% Da mesma "orma, outros escreveram autobiogra"ias $ue

certamente elucidam suas relaçes com o Cinema, bem como aspectos de sua inserção como

cineastas em uma sociedade produtora e consumidora de "ilmes% ntre estes podemos citar 

Buís Iu[uel2T  e /rederico /ellini2R, $ue tamb>m nos o"erece outro e!emplo de "onte

importante para compreender o pensamento, as práticas e as representaçes dos autores de

"ilmes: a ntrevista2L% tamb>m o caso das entrevistas de /rançois Aru""aut   2Y% Aodos estes

tipos de "ontes podem ser trabal#ados pelos #istoriadores em cone!ão com "ontes "ílmicas

J  7ean PGA)&, \; Cinema e as Betras .odernas\ 82J29 )n: ?4)6, )smail 8;rg%9%  A 43)eri5ncia "o

Cinema% 6io de 7aneiro: 5raal, 2JJ2%

2U 7ean 6&;)6, 4scritos so&re o Cinema6 /78-/9/, 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JJU%22  829 Gerguei )G&GA)&, A orma "o ilme, 6io de 7aneiro: 7orge ]a#ar editor, 2JJU% 89

Gerguei )G&GA)&, O :enti"o "o ilme; 6io de 7aneiro: 7orge ]a#ar editor, 2JJU%2 7ean0Claude C466)^6, A %inguagem :ecreta "o Cinema% 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JJR%2M /rançois A63//43A, Os filmes "e min'a <i"a; 6io de 7aneiro, &ova /ronteira, 2JKJ%2T Buis I3_3B, #eu =ltimo sus)iro, 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JK%2R /rederico /BB)&), ellini )or ellini, Bisboa: Don -ui!ote, 2JKR%2L  /rederico /BB)&), 4u sou um gran"e mentiroso, entre<ista a Damien *ettigre0 ,  6io de 7aneiro, &ova

/ronteira, 2JJR%

2Y /rançois A63//43A% +ruffaut . Hitc'coc> ? 4ntre<istas% Irasiliense, Gão Paulo, 2JKL% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 33

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 propriamente ditas, apenas para considerar os te!tos de autoria dos próprios produtores diretos

de "ilmes2K%

! Ci.ema como /represe.tação $istrica2

Diíamos ao princípio deste ensaio $ue um importante campo de interesse em torno

das relaçes entre Cinema e História re"ere0se ao "ato de $ue o próprio Cinema, atrav>s dos

"ilmes produidos, presta0se tamb>m = representação #istoriográ"ica% &aturalmente $ue, para

adentrar a $uestão, > importante apro"undar a re"le!ão a respeito do $ue são os E"ilmes de

HistóriaF, sempre lembrando $ue a 6epresentação Historiográ"ica não é a própria História,

mesmo no $ue concerne aos c#amados documentários #istóricos% 4ssim, tal como 1á se disse,

devem ser consideradas como "ontes "ílmicas interessantes para o estudo das relaçes entre

Cinema e 6epresentação Historiográ"ica não apenas os documentários #istoriográ"icos

8representaçes #istoriográ"icas, propriamente ditas9, mas tamb>m $uais$uer "ilmes de

ambientação #istórica, e neste caso se en$uadram, para al>m dos E"ilmes #istóricosF

romanceados, mesmo os "ilmes de pura "icção construídos sobre um conte!to #istórico bem

de"inido% De "ato, estes vários tipos podem ser considerados em certa medida como um tipo

de Erepresentação #istóricaF atravessado pela "icção 8ou um tipo de "icção atravessado pela

Erepresentação #istóricaF9%

 &este momento "inal, no intuito de iluminar os usos do cinema como meio mais direto

 para a representação #istoriográ"ica, e!aminaremos os gêneros de "ilmes $ue atrás de"inimos,

em sentido mais amplo, como E"ilmes de HistóriaF, e $ue traem no seu enredo e na sua

temática um "undo #istórico $ue se1a, $uando não um pro1eto de representação da própriaHistória no $ue se re"ere a algum evento ou processo considerado% ;s e!emplos escol#idos

neste momento re"erem0se mais particularmente aos "ilmes #istóricos relacionados com a

História do Irasil% .ostraremos algumas situaçes bem distintas de "ilmes $ue pertencem a

gêneros cinematográ"icos di"erenciados, embora todos se re"iram a algum processo, evento ou

2K 7á nem mencionaremos a vasta literatura ensaística e de crítica cinematográ"ica $ue traem a nu as diversas

representaçes% vises de mundo e análises individuais sobre o cinema ou sobre "ilmes especí"icos, e $ue podem

ir desde as obras "ilosó"icas de 5illes DB3] at> as cr<nicas diárias sobre a produção "ílmica $ue são

 publicadas nos periódicos todos os dias% // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 34

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 personagem da História do Irasil% ;s "ilmes escol#idos para essa e!empli"icação

metodológica são: Jango 82JKT9, Carlota Joa@uina 82JJR9, ica "a :il<a 82JYL9, 2uerra "e

Canu"os  82JJY9, #emórias "o Crcere 82JKM9 e *ra rente Brasil  82JKM9% Cada "ilme a$ui

tomado como e!emplo, con"orme se verá, corresponde a um tipo de representação

#istoriográ"ica distinta atrav>s da linguagem cinematográ"ica%

 Jango 82JKT9 > o típico e!emplo de documentário de cun#o #istoriográ"ico e político2J%

)sto $uer dier $ue o "ilme se prope a "aer e!plicitamente uma representação #istoriográ"ica

dos processos e acontecimentos $ue pretende descrever @ no caso a História do Irasil

 perceptível a partir da "igura do e!0presidente da 6ep'blica 7oão 5oulart% ste tipo de

documentário, naturalmente, deve ser e!aminado como se e!amina uma montagem

#istoriográ"ica $ual$uer 8um trabal#o de #istoriogra"ia, por e!emplo9, considerando0se, >

claro, as especi"icidades da própria linguagem cinematográ"ica e a necessidade de um certo

vi>s narrativo $ue > implícita a um tipo de "ilme $ue pretende alcançar o grande p'blico%

 Jango, como $ual$uer documentário elaborado com seriedade, > construído a partir de

determinadas "ontes% )sto não impede, naturalmente, $ue o analista o avalie como construção

#istoriográ"ica, inclusive atravessada por uma ideologia $ue pode ser deci"rada 8mas $ue,

involuntariamente, tra nas suas voes internas diversos discursos políticos, e logo, novas

ideologias na vo dos vários personagens $ue são e!postos no "ilme9%

.uito di"erente de 7ango > o "ilme  ica "a :il<a  82JYL9% ste "ilme, como  Jango,

tamb>m "oi construído com apoio em "ontes #istóricas% &a verdade, o "ilme "oi construído

sobre uma 'nica "onte #istórica: a Cr<nica de 7oa$uim /elício dos Gantos, um cronista da2J ; gênero de "ilme categoriado como Documentário @ não necessariamente o documentário #istoriográ"ico @ 

surge de maneira mais consolidada na )nglaterra nos anos 2JMU com o trabal#o de 7o#n 5rierson 82KJK02JY9 @ 

sendo o seu "ilme Drifters 82JJ9 a obra $ue marca o Nmovimento documentarista britânicoO% 3ma curiosidade >$ue no seu te!to N/irst principles o" documentar+O, 5rierson de"iniu o documentário como Ntratamento criativo

da realidadeO 8H46DB`, /ors+t#, 2rierson on "ocumentary, Bos 4ngeles: 3niversit+ o" Cali"órnia Press, 2JLL,

 p%2TR02RL9% Desta$ue0se ainda $ue desde os irmãos BumiQre @ $ue "ilmaram entre 2KJR e 2KJL pe$uenas

 películas como  A :a"a "a &rica ou  A C'ega"a "o +rem  @ tin#a0se 1á um embrião do gênero documentário,

considerando0se ainda $ue, em seguida, 1á no início do s>culo, diversos operadores empen#aram0se em "ilmar 

atualidades, noticiários ou cenas de viagens%

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 35

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segunda metade do s>culo ?)?, sobre a c>lebre personagem do Irasil escravocrata $ue "icou

con#ecida como ?ica da Gilva% Pode0se dier $ue este "ilme > uma montagem livre,

esteticamente orientada 8o ob1etivo > mais entreter do $ue documentar9 sobre uma cr<nica

#istórica% ; "ilme segue livremente, desta "orma, o "io narrativo do próprio cronista do s>culo

?)?, mas desconstruindo esta narrativa em vista de um resultado cinematográ"ico% evidente

$ue temos a$ui um e"eito de realidade distinto da$uele $ue pretende obter o roteirista de

 Jango%

2uerra "os Canu"os 82KJY9 > tamb>m um e!emplo de narrativa cinematográ"ica $ue

se baseia em episódio retratado por uma "onte de >poca, a cr<nica 1ornalística Os :ertes de

uclides da Cun#a% Contudo, trata0se de uma elaboração mais livre, onde não > seguido

 propriamente o "io narrativo do cronista% 4l>m disto, a "onte primária de re"erência > de outro

cun#o, $ue não a cr<nica tradicional, mas sim uma cr<nica 1ornalística $ue intermescla

trec#os ensaísticos bem "undamentados em documentação diversa% .as por outro lado, temos

uma di"erença importante em relação aos "ilmes anteriores, $ue giravam em torno de uma

"igura #istórica% Canu"os não gira em torno da "igura de 4nt<nio Consel#eiro tomado como

ei!o narrativo central @ tem0se a$ui uma narrativa multi"ocada a partir de diversos atores,

inclusive alguns construídos "icticiamente embora a partir de um conte!to #istórico mais

rigoroso% Arata0se, con"orme se ê, de uma representação #istórica e cinematográ"ica

comple!a%

;utro "ilme #istórico $ue se destacou nos 'ltimos anos, de teor completamente

distinto, "oi Carlota Joa@uina ? *rincesa "o Brasil  82JJR9% ste "ilme > o $ue poderíamos

c#amar de "icção #istórica% ;s personagens centrais têm uma e!istência #istórica concreta,

mas o enredo > na verdade construído com liberdade "iccional, embora seguindo determinados

 baliamentos #istóricos% ste "ilme na verdade "oi elaborado a partir do 6omance #om<nimo

de 7oão /elício dos Gantos% sta obra em $ue se baseia en$uadra0se no gênero literário $ue

 pode ser denominado Eromance #istóricoF% ; gênero cinematográ"ico E"icção #istóricaF, na

verdade, corresponde precisamente ao gênero literário con#ecido como Eromance #istóricoF,

do $ual a Biteratura nos dá in'meros e!emplos% &ão pode ser e!igido, neste caso, uma

"idedignidade = $ual teve de se ater o documentário #istórico Jango 8$ue seria, grosso modo, a

contrapartida de um ensaio de #istoriogra"ia pro"issional9%

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 37

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3m e!emplo singular > o "ilme #emórias "o Crcere 82JKM9% &este caso, temos uma

narrativa cinematográ"ica construída sobre uma narrativa memorialística% ; "ilme re"ere0se =

vida do escritor 5raciliano 6amos, particularmente ao período de sua reclusão = prisão por 

motivos políticos na ocasião do stado &ovo% .as agora o te!to básico $ue in"orma o roteiro

> um livro de .emórias, escrito pelo próprio 5raciliano 6amos, e $ue recebe o mesmo título%

Aemos então mais um caso de obra cinematográ"ica construída sobre uma 'nica "onte

 primária de naturea literária, mais especi"icamente um livro de memórias auto0re"erenciado

8$ue marca sua distância em relação ao e!emplo $ue 1á vimos anteriormente, e $ue era a "onte

 primária de naturea cronística por>m re"erenciada em um personagem $ue não se con"unde

com o narrador9% claro $ue este tipo de representação #istoriográ"ica tra consigo suas

 próprias singularidades, e a obra "ílmica elaborada sobre este tipo de "onte literária tamb>m

terá suas próprias especi"icidades%

3m 'ltimo e!emplo, completamente distinto dos anteriores, pode ser demonstrado

com o "ilme *ra rente Brasil  82JKM9% ; $ue se tem a$ui > uma "icção inteiramente livre

sobre um conte!to #istórico determinado: o da repressão imposta pela Ditadura .ilitar 

durante os c#amados Nanos de c#umboO da 6ep'blica Irasileira% ; ob1etivo central do "ilme >

denunciar as práticas militares e para0militares do período, cu1o mais vergon#oso

desdobramento "oi a tortura imposta contra os prisioneiros políticos% ; "ilme, contudo, >

construído em torno da "icção de um inocente $ue teria sido con"undido com um terrorista e

$ue recebe em vista disto o tratamento $ue, #istoriogra"icamente se sabe, era dispensado aos

 presos políticos diversos% ; personagem "ictício > um indivíduo comum, $ue poderia ser 

$ual$uer um @ daí a sua "orça dramática desde as primeiras cenas% 4$ui, o $ue se tem > uma

ambiência #istórica muito precisa @ a dos tempos da cruel repressão militar, contraponteada

ironicamente pela eu"oria com a Copa do .undo @ mas a narrativa construída > de caráter 

"iccional% ;s personagens não são #istóricos, embora a ambiência conte!tual o se1a%

Aodos estes "ilmes são "ontes em diversos sentidos% les são "ontes para estudar o

 período em $ue "oram produidos, permitindo deci"rar ideologias e voes sociais diversas%

.as são tamb>m "ontes para o estudo dos tipos distintos de representaçes #istoriográ"icas,

 pois cada $ual se re"ere de uma maneira especí"ica a algum elemento #istórico% Por "im, todos

estes "ilmes podem ser utiliados como instrumentos para a mediação na transmissão do

con#ecimento #istórico 8atrav>s do nsino, por e!emplo9, se1a para e!aminar os processos e // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 3)

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eventos aos $uais eles se re"erem no plano narrativo, se1a para e!aminar as vises de mundo

#istoricamente localiadas $ue eles traem ao nível da produção do sentido% ;u se1a, a partir 

destes "ilmes > possível estudar tanto História como Historiogra"ia%

stes e!emplos, a título meramente demonstrativo de suas potencialidades, dão a

 perceber como > importante compreender, para cada caso, o gênero de representação

cinematográ"ica 8o tipo de "ilme @ documentário, "icção, etc9 na sua cone!ão com as

modalidades de representação #istoriográ"ica $ue são tomadas como "ontes para a

recuperação da >poca e dos acontecimentos 8uma cr<nica, uma obra de #istoriogra"ia, "ontes

de >poca9%

Cinema e História, en"im, estão destinados a uma parceria $ue envolve intermináveis

 possibilidades% ; Cinema en$uanto E"orma de e!pressãoF será sempre uma ri$uíssima "onte

 para compreender a realidade $ue o produ, e neste sentido um campo promissor para a

História, a$ui considerada en$uanto área de con#ecimento% Como Emeio de representaçãoF,

abre para esta mesma História possibilidades de apresentar de novas maneiras o discurso e o

trabal#o dos #istoriadores, para muito al>m da tradicional modalidade da literatura $ue se

apresenta sob a "orma de livro% , por "im, agora considerando a História como o vasto

universo dos acontecimentos $ue a"etam os #omens ou $ue são por eles impulsionados, o

Cinema apresenta0se certamente como um dos grandes agentes #istóricos da

contemporaneidade% ; Cinema inter"ere na História, e com ela se entrelaça inevitavelmente%

Re6er8.cias

%A&HTIN, .i#ail% Mar9ismo e iloso6ia da ;i.0ua0em% Gão Paulo: Hucitec, 2JK2%

%A&HTIN, .i#ail% <uest=es de literatura e est>tica% Gão Paulo: Hucitec, 2JJM%

%A?RI;;AR?, 7ean% Simulacro e simulação% Bisboa: 6elógio dFgua, 2JJ2%

%A@IN 4ndr>% ! Ci.ema - e.saios% Gão Paulo, Irasiliense, 2JJ2%

%ERNAR?ET, 7ean0Claude% ! autor .o ci.emaB Gão Paulo: Irasiliense V dusp, 2JJT%

%E;, Buis% Meu último suspiro; 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JK%

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 3*

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%&ATMAN Gcott% %lade Ru..er% Bondon: I/) .odern Classics, 2JJY%

CARRIDRE, 7ean0Claude% A ;i.0ua0em Secreta do Ci.ema% 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JJR%

?E;E@E, 5illes% A ima0em-mo#ime.to% Gão Paulo: ditora Irasiliense, 2JKR%

EISENSTEIN, Gerguei% A orma do ilme; 6io de 7aneiro: 7orge ]a#ar editor, 2JJU%

  ! Se.tido do ilmeB 6io de 7aneiro: 7orge ]a#ar editor, 2JJU%

PGA)&, 7ean% NBe Cinematograp#e u de lFtnaO )n crits sur le Ci.>ma, Aome ), 2JY02JTY%

Cin>ma Club V Geg#ers, Paris: 2JYT, p%2M202LK%

E"STEIN, 7ean% \; Cinema e as Betras .odernas\ 82J29 )n: FAGIER , )smail 8;rg%9% A

E9peri8.cia do Ci.ema% 6io de 7aneiro: 5raal, 2JJ2%

E;;INI, /rederico% elli.i por elli.i% Bisboa: Don -ui!ote, 2JKR%

E;;INI, /rederico% Eu sou um 0ra.de me.tiroso e.tre#ista a ?amie. "etti0re; 6io de

7aneiro: &ova /ronteira, 2JJR%

ERR!, .arc% Ci.ema e Histria, 6io de 7aneiro: Pa e Aerra, 2JJ%

HAR?;, /ors+t#% 8ed%9% 2rierson on "ocumentary% Bos 4ngeles: 3niversit+ o" Cali"órnia Press,

2JLL%

MAR?ER , lissa% NIlade 6unnerFs .oving GtillO )n Camera oJscura, n% Y, p% KK02UY, 2JJ2%

M!NTER?E, 7% % Historia ci.e ' e.seKa.La% Iarcelona: Baia, 2JKL%REN!IR , 7ean% Escritos soJre o Ci.ema6 /78-/9/% 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JJU%

TRAT, /rançois% !s 6ilmes de mi.$a #ida; 6io de 7aneiro: &ova /ronteira, 2JKJ%

TRAT, /rançois% Tru66autHitc$coc - E.tre#istas% Gão Paulo: Irasiliense, 2JKL%

FAGIER )smail 8;rg%9% A E9peri8.cia do Ci.ema% 6io de 7aneiro: 5raal, 2JJ2%

@MTH!R , Paul% A ;etra e a GoL% Gão Paulo: Cia% das Betras, 2JJM%

!Jras 6Olmicas citadas .este e.saio:

2 @  Bo0ling for Colum&ine  834: UU9% Direção: .ic#ael .oore% Produção: C#arles Iis#op, 7im

Carneci, .ic#ael Donovan, Xat#leen 5l+nn e .ic#ael .oore; 6oteiro: .ic#ael .oore%

Distribuidora: .etro05old*+n0.a+er V 3nited 4rtists% .odalidade: Documentário% Duração:

2U minutos%

@  a'ren'eit .//  834: UUT9% Direção: .ic#ael .oore% Produção:  C#arles Iis#op, 7im

Carneci, .ic#ael Donovan, Xat#leen 5l+nn e .ic#ael .oore; 6oteiro: .ic#ael .oore%

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 3+

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http://slidepdf.com/reader/full/cinema-historia-e-representacao 24/24

Distribuidora: .etro05old*+n0.a+er V 3nited 4rtists% .odalidade: Documentário% Duração:

22 minutos%

M @  Bla"e 1unner  834: 2JK9% Direção: 6idle+ Gcott% Produção: .ic#ael Deele+; 6oteiro: Hampton

/ranc#er e David Webb Peoples, baseado em livro de P#ilip X% Dir% Distribuidora: Columbia

Aristar V Warner Iros% .odalidade: /icção Cientí"ica% Duração: 22K m%

T @ Cru!a"a 8 Eing"om of Hea<en9 834: UUR9% Direção: 6idle+ Gcott% 6oteiro: 6idle+ Gcott%

Distribuidora: /o! /ilms% .odalidade: Drama% Duração: 2TR minutos%

R @ 2la"ia"or 834: UUR9% Direção: 6idle+ Gcott% Produção: David H% /ranoni, Gteven Gpielberg e

Douglas Wic% 6oteiro: David /ranoni, 7o#n Bogan e William &ic#olson% Distribuidora:

DreamWors V 3niversal Pictures% .odalidade: pico% Duração: 2RR m%L @  #atri3 834: UUM9% Direção: 4nd+ Wac#o*si e Barr+ Wac#o*si% Produção: 5rant Hill e 7oel

Gilver ; 6oteiro: 4nd+ Wac#o*si e Barr+ Wac#o*si% Distribuidora: Warner Iros%

.odalidade: /icção Cientí"ica% Duração: 2J minutos%

Y @ :on'os 834 V 74P;: 2JJU9% Direção: 4ira Xurosa*a e )s#ir< Honda% Produção: .ie `%

)noue e Hisao Xurosa*a% 6oteiro: 4ira Xurosa*a% Distribuidora: Warner Iros% .odalidade:

Drama% Duração: 22J minutos%

K @ Carlota Joa@uina ? *rincesa "o Brasil  8Irasil: 2JJR9% Direção: Carla Camurati% 6oteiro: Carla

Camurati e .elanie Dimantas% Distribuidora: uropaVCarati% .odalidade: /icção #istórica

 baseada em romance #istórico 8o livro #om<nimo de 7oão /elício dos Gantos9% Duração: 2UR

minutos%

J @ 2uerra "os Canu"os 8Irasil: 2JJY9% Direção: G>rgio 6eende% 6oteiro: G>rgio 6eende e Paulo

Halm% Distribuidora: Col'mbia Aristar% .odalidade: pico Histórico% Duração: 2LR minutos%

2U@  Jango  8Irasil: 2JKT9% Direção: Gílvio Aender% 6oteiro: Gílvio Aender e .aurício Dias%

Distribuidora: Caliban% .odalidade: Documentário #istórico% Duração: 22Y minutos%

22@  #emórias "o Crcere  8Irasil: 2JKM9% Direção: &>lson Pereira dos Gantos% 6oteiro: &>lsonPereira dos Gantos% Distribuidora: 6io /ilmes% .odalidade: &arrativa cinematográ"ica

construída sobre narrativa memorialística% Duração: 2KU minutos%

2@  *ra rente Brasil  8Irasil: 2JJY9% Direção: 6oberto /arias% 6oteiro: 6oberto /arias% Distribuidora:

Politel% .odalidade: /icção sobre conte!to #istórico de"inido% Duração: 2UR m%

2M@  ica "a :il<a 8Irasil: 2JYL9% Direção: Cacá Diegues% 6oteiro: Cacá Diegues e 7oão /elício dos

Gantos% .odalidade: Bivre narrativa sobre cr<nica de >poca 8a cr<nica oitocentista de 7oa$uim

/elício dos Gantos9% Duração: 2U minutos%

 // REVISTADISPOSITIVA, v. 3, n.º 1 // 4