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História do Brasil

República Velha

Professor Thiago Scott

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História do Brasil

REPÚBLICA VELHA (1889-1930)

Os vários grupos que disputaram o poder tinham interesses diversos e divergiam em suas con-cepções de como organizar a República. Os representantes políticos da classe dominante das principais províncias – São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul – defendiam a idéia da Re-pública federativa, que asseguraria um grau considerável de autonomia às unidades regionais. O PRP e os políticos mineiros sustentavam o modelo liberal, sendo os republicanos gaúchos, positivistas.

O marechal Deodoro da Fonseca tornou-se chefe do governo provisório e algumas dezenas de oficiais foram eleitos para o Congresso Constituinte. Existiam ainda diferenças pessoais de con-cepções entre os militares, separando os partidários de Deodoro e de Floriano Peixoto. Em tor-no do Velho marechal, reuniam-se os chamados tarimbeiros, quase todos veteranos da Guerra do Paraguai. Muitos desses oficiais não haviam freqüentado a Escola Militar e recebido a influ-ência do positivismo.

Uma vez proclamada a República, instituiu-se imediatamente um governo provisório, consti-tuído por Marechal Manoel Deodoro da Fonseca (chefe do governo provisório), Aristides da Silveira Lobo (ministro do interior), tenente-coronel Benjamin Constant Botelho de Magalhães (ministro da guerra), chefe de esquadra Eduardo Wandenkolk (ministro das relações exteriores e, interinamente, da Agricultura, Comércio e Obras Públicas).

Embora Floriano não fosse positivista e tivesse participado também da Guerra do Paraguai, os oficiais que se reuniam à sua volta possuíam outras características. Eram jovens que haviam freqüentado a Escola Militar e recebido a influência do positivismo. Pela natureza de suas fun-ções, pelo tipo de cultura desenvolvida no interior da instituição, os oficiais do Exército, positi-vistas ou não, posicionavam-se como adversários do liberalismo.

Recebida com restrições da Inglaterra, a proclamação da República brasileira foi saudada com entusiasmo na Argentina e aproximou os Estados Unidos. O nítido deslocamento do eixo da diplomacia brasileira de Londres para Washington se deu com a entrada do Barão do Rio Bran-co para o Ministério das Relações Exteriores (1902-1912), que tentou sem êxito implantar um acordo estável entre Argentina-Brasil-Chile, conhecido como ABC.

Na gestão do Barão do Rio Branco, o Brasil definiu questões de limites com vários países da América do Sul, entre eles o Uruguai, o Peru e a Colômbia. Um conflito armado opôs brasileiros e bolivianos na disputa pelo Acre. Uma solução negociada resultou no Tratado de Petrópolis (1903), pelo qual a Bolívia reconheceu a soberania brasileira no Acre, recebendo em troca uma indenização de 2,5 milhões de libras esterlinas.

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A primeira constituição republicana

Os partidários da República liberal apressaram-se em garantir a convocação de uma Assem-bléia Constituinte. Como dizia Rui Barbosa – ministro da Fazenda do governo provisório -, era necessário dar uma forma constitucional ao país para garantir o reconhecimento da República e a obtenção de créditos no exterior.

Uma comissão de cinco pessoas foi encarregada de redigir um projeto de constituição, subme-tido depois a profunda revisão por parte de Rui Barbosa, que foi promulgada em 24 de feve-reiro de 1891, inspirando-se no modelo norte-americano, consagrando a República federativa liberal.

Os Estados ficaram implicitamente autorizados a exercer atribuições diversas, como as de con-trair empréstimos no exterior e organizar forças militares próprias (forças públicas estaduais). Outra atribuição importante para os Estados foi a de decretar impostos sobre a exportação de suas mercadorias. Todavia, não podemos achar que o governo federal ficou completamente sem poderes. A idéia de um ultrafederalismo, sustentada pelos positivistas gaúchos, foi comba-tida tanto pelos militares como pelos paulistas. A União ficou com os impostos de importação, com os direitos de criar bancos emissores de moeda, de organizar as forças armadas nacionais etc.

A Constituição estabeleceu os três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário -. O Poder Executivo seria exercido por um presidente da República, eleito por um período de quatro anos. O Legislativo foi dividido em Câmara de Deputados e Senado, mas os senadores teriam um mandato de nove anos, três senadores representando cada Estado e três representando o Distrito federal.

Fixou-se o sistema de voto direto e universal, ou seja, suprimiu-se o censo econômico. Foram considerados eleitores todos os cidadãos brasileiros maiores de 21 anos, excluindo certas categorias, como os analfabetos, os mendigos e os praças militares. A Constituição não fez referência às mulheres, mas considerou-se implicitamente que elas estavam impedidas de votar.

Estado e Igreja passam a ser instituições separadas. Deixou assim de existir uma religião oficial no Brasil. A República só reconhecia o casamento civil, e os cemitérios passaram às mãos da administração municipal. Neles seria livre o culto de todas as crenças religiosas. Em 1893, foi criado o registro civil para nascimento e o falecimento das pessoas. Outra medida importante foi a grande naturalização. Por ela, tornaram-se cidadãos brasileiros os estrangeiros que, achando-se no Brasil a 15 de novembro de 1889, não declarassem o desejo de conservar a nacionalidade de origem.

O projeto apresentado pelo governo moldava-se pela Constituição dos Estados Unidos. Vivas as influências argentinas e mais atenuadas as da confederação suíça. Em vez dos doutrinários franceses e ingleses de outrora, os publicistas norte-americanos. Como os homens de 1824, os de 1891 acreditavam religiosamente nas formas do liberalismo político. (...) Da extrema centralização para o mais largo federalismo, eis o salto que o Brasil ia dar.

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O Encilhamento

O primeiro ano da república foi marcado por uma febre de negócios e de especulação financei-ra conhecido como Encilhamento. Desde os últimos dias do Império, constatava-se que o meio circulante era incompatível com as novas realidades do trabalho assalariado e do ingresso em massa de imigrantes.

Ao assumir o Ministério de Fazenda do governo provisório, Rui Barbosa baixou vários decretos com o objetivo de aumentar a oferta de moeda e facilitar a criação de sociedades anônimas. A medida mais importante foi a que deu a alguns bancos a faculdade de emitir moeda. Essas medidas concorreram para expandir o crédito e gerar a idéia de que a República seria o reino dos negócios.

No início de 1891 veio a crise, com a derrubada dos preços das ações, a especulação cresceu e o custo de vida subiu fortemente. O valor da moeda brasileira começou a despencar, princi-palmente depois da fuga de capitais estrangeiros em função de uma crise da Argentina (1890).

Deodoro na Presidência

A vitória de Deodoro no Congresso se deu pela margem relativamente estreita de 129 votos contra 97, atribuídos ao paulista Prudente de Morais, que contou não só com os votos de con-gressistas dos grandes Estados como também dos florianistas.

Ao pleito concorreram duas chapas: uma composta por Deodoro e Eduardo Wandenkolk e ou-tra por Prudente de Morais e Floriano Peixoto.

O resultado, porém, revelou um certo desajuste político, pois foram eleitos Deodoro e Floriano.

Deodoro entrou em choque com o Congresso e atraiu suspeitas ao substituir o ministério, que vinha do governo provisório, por outro sob o comando de um tradicional político monárquico – o Barão de Lucena. A 3 de novembro de 1891, Deodoro fechou o congresso, prometendo a revisão da Constituição que iria no sentido de “fortalecimento do Poder Executivo e da União e de uma comedida autonomia dos Estados, sem os exageros de soberania que trariam fatal-mente a dissolução da nacional”. Ante a reação dos florianistas, da oposição civil e de setores da Marinha, Deodoro acabou renunciando, a 23 de novembro de 1891, subindo ao poder o vice-presidente Floriano Peixoto.

Floriano Peixoto

O marechal Floriano encarnava uma visão de República não identificada com as forças eco-nômicas dominantes. Pensava construir um governo estável, centralizado, vagamente nacio-nalista, baseado sobretudo no Exército e na mocidade das escolas civis e militares. Essa visão chocava-se com a da chamada “República dos fazendeiros”, liberal e descentralizada, que via com suspeitas o reforço do Exército.

A elite política de São Paulo via na figura de Floriano a possibilidade mais segura de garantir a sobrevivência da República, a partir do poder central. Floriano, por sua vez, percebia que sem o PRP não teria base política para governar.

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A ação de Floriano no combate às primeiras revoltas do período republicano foi enérgica e deci-dida, o que lhe valeu, da parte de seus admiradores, a alcunha de o Marechal de Ferro.

Os conflitos que se registraram tiveram mais o caráter de disputa entre facções pelo predomí-nio político no novo regime.

A revolta da armada e a luta entre federalistas e republicanos no Rio Grande do Sul foram os conflitos que, realmente, exigiram a atuação do governo da república.

A Marinha, que nunca fora identificada com a República, se apresentava, pelo menos para a im-prensa governista, como um reduto de monarquistas que se opunham ao novo regime, dentre os quais se desatacavam: Saldanha da Gama, Custódio de Melo e Eduardo Wandenkolk.

Prudente de Morais

O acordo tático entre Floriano e a elite de São Paulo terminou por ocasião da escolha de seu sucessor. Prevaleceu o nome do paulista Prudente de Morais, eleito em 1 de março de 1894.

No governo de Prudente, tornou-se aguda a oposição, já existente na época de Floriano, entre a elite política dos grandes Estados e o republicanismo jacobino, concentrado no Rio de Janei-ro. Os jacobinos formavam um contingente de membros da baixa classe média, alguns operá-rios e militares atingidos pela carestia e as más condições de vida.. Acreditavam numa república forte, capaz de combater as ameaças monárquicas que, para eles, estavam em toda parte... Adversários da política liberal assumiam também a velha tradição patriótica e antiluzitana.

Canudos.

No sertão da Bahia se formara, em 1893, às margens do Rio Vaza-Barris, em uma fazenda abandonada, uma povoação conhecida como Arraial de Canudos. Seu líder era Antônio Vicen-te Mendes Maciel, mais conhecido como Antônio Conselheiro que, fixado em Canudos, atraiu uma população de sertanejos de 20-30 mil habitantes, com uma pregação que concorria com a da Igreja. Um incidente relacionado com corte de madeira levou o governador da Bahia à deci-são de dar uma lição aos ‘fanáticos”.

Primeiro as forças estaduais e depois as federais foram derrotadas. No Rio de Janeiro, protestos jacobinos reforçavam a necessidade da destruição de canudos (os jacobinos viam o dedo oculto dos políticos monarquistas no movimento).

Uma expedição sob o comando do general Arthur Oscar, constituída de 8 mil homens e dotada de equipamento moderno, arrasou o arraial em agosto de 1897, após um mês e meio de luta. Seus defensores morreram em combate e, quando prisioneiros, foram degolados.

Euclides da Cunha, em seu livro Os Sertões, narrou a epopéia de Canudos e, apesar de demons-trar concepções que revelam preconceitos de “civilizado” falando sobre “incultos”, deixou claro que o que ocorreu em Canudos foi a revolta desesperada de uma população miserável que era desconhecida pelo regime que lhe exigia fidelidade sem retribuir com as providências neces-sárias para as soluções dos flagelos que atingiam as populações marginalizadas do interior do país.

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Campos Sales

A consolidação da República liberal foi completa com a sucessão de Prudente de Morais por outro paulista, Campos Sales (1898-1902). A elite política dos grandes Estados, com São Paulo à frente, tinha triunfado.

Tentando controlar o Poder Legislativo, Campos Sales concebeu um arranjo conhecido como política dos governadores. Seus objetivos podem ser assim resumidos: reduzir ao máximo as disputas políticas no âmbito de cada Estado, prestigiando os grupos mais fortes; chegar a um acordo básico entre a União e os Estados; pôr fim à hostilidade existente entre Executivo e Le-gislativo, domesticando a escolha dos deputados.

Por ocasião das eleições para a Câmara, realizadas nos Estados com o emprego de todo tipo de ilegalidade, os candidatos eleitos recebiam um diploma. Na falta de uma justiça eleitoral, a validade do diploma dependia de exame por parte de uma comissão de verificação de poderes, constituída de deputados escolhidos pelo plenário da Câmara, mas presidida pelo antigo presi-dente da Câmara, sempre um governista.

Os problemas financeiros

O governo republicano herdara do Império uma dívida externa que consumia anualmente gran-de parte do saldo da balança comercial. O quadro tendeu a se agravar no curso da década de 1890, com o aumento do déficit público. Muitas despesas relacionavam-se com os custos das operações militares naquele incerto período. O apelo ao crédito externo foi usado com fre-qüência, e a dívida cresceu em cerca de 30% entre 1890 e 1897, gerando novos compromissos de pagamentos. Por outro lado, a extensão das plantações de café no início da década resul-taram em grandes colheitas em 1896 e 1897. A ampliação da oferta do produto no mercado internacional provocou acentuada queda de preços e uma redução de ingresso de divisas.

No final de seu governo, quando se tornou clara a impossibilidade de continuar o serviço da dívida, Prudente de Morais iniciou conversações para chegar a um acordo com os credores in-ternacionais. Houve entendimentos no Rio de Janeiro com o London and Plate Bank, enquanto Campos Sales – presidente eleito mas não empossado – foi a Londres para se entender com a Casa Rothschild. Os Rothscild desempenhavam, desde a independência, o papel de agente financeiro do Brasil na Europa.

Foi então acertado o penoso funding loan, em junho de 1898. Funding loan significa um em-préstimo de consolidação de uma dívida. Na prática, era um esquema para dar folga e garantir através de um novo empréstimo o pagamento dos juros e do montante de empréstimos ante-riores. O Brasil recebeu um crédito de 10 milhões de libras, emitindo novos títulos de dívida correspondente a esse crédito. Parte dos títulos serviu para pagar durante três anos os juros da dívida total e ficaram suspensas as amortizações, isto é, o pagamento do próprio débito, até junho de 1911.

A República concretizou a autonomia estadual, dando plena expressão aos interesses de cada região. Isso se refletiu no campo da política através da formação dos partidos republicanos res-tritos a cada Estado e, se havia um traço comum na forma pela qual essas oligarquias monopo-lizavam o poder político, havia também diferenças nas suas relações com a sociedade.

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Em São Paulo, a elite política oligárquica esteve mais próxima dos interesses dominantes, liga-dos à economia cafeeira e, com o tempo, também com a industrial.

Tanto a oligarquia gaúcha como a mineira, que controlavam respectivamente o PRR e o PRM tiveram bastante autonomia em suas relações com a sociedade. O PRR impôs-se como uma máquina política forte, inspirada em uma versão autoritária do positivismo, arbitrando os in-teresses de estancieiros e imigrantes em ascensão. A oligarquia mineira também não foi “pau mandado” de cafeicultores ou criadores de gado.

Como o voto não era obrigatório e o povo, em regra, encarava a política como um jogo entre os grandes, a porcentagem de votantes oscilou entre um mínimo de 1,4% da população total do país (Afonso Pena) e um máximo de 5,7% (Júlio Prestes). E, ainda, o voto não era secreto e a maioria dos eleitores estava sujeito à pressão dos chefes políticos bem como também havia a fraude eleitoral através da falsificação de atas, do voto de mortos, dos estrangeiros, etc.

Confrontando-se as eleições para a última legislatura do Parlamento imperial (1886) com a pri-meira eleição para a presidência da República, em que votaram eleitores de todos os Estados (1898), verificamos que a participação eleitoral aumentou 400 %.

Os Coronéis

O coronelismo representou uma variante de uma relação sócio-política mais geral – o clientelis-mo – existente tanto no campo como nas cidades. A desigualdade social, a impossibilidade de os cidadãos efetivarem os seus direitos, a precariedade ou inexistência de serviços assistências do Estado, todas essas características vinham do tempo da Colônia, mas a República criou con-dições para que os chefes políticos locais concentrassem maior soma de poder.

Seria errôneo, porém pensar que os “coronéis” dominaram a cena política na Primeira Repú-blica. Em primeiro lugar, lembremos que os outros grupos, expressando diversos interesses ur-banos, tiveram papel significativo na condução da política. Além disso, os coronéis dependiam de outras instâncias de poder, principalmente nos grandes Estados, onde o governo estadual não era formado por um ajuntamento de coronéis. Os coronéis favoreciam votos aos chefes políticos do respectivo Estado, mas dependiam deles para proporcionar muitos dos benefícios esperados pêlos eleitores.

O coronelismo teve marcas distintas, de acordo com a realidade sócio-política de cada região do país. Na Bahia, o governo do Estado – constituído principalmente de políticos profissionais, de representantes do comércio e dos produtores para a exportação – tinha de se harmonizar com os coronéis do “sertão”.

Em contraste, nos estados mais importantes, os coronéis dependiam de estruturas mais am-plas, ou seja, a máquina do governo e o Partido Republicano. Ao longo dos anos, cresceu em São Paulo a expressão do Estado como representante de interesses de classe, e não apenas de alguns grupos de poderosos. Cresceu também o aparelho estatal como corpo administrativo (o governador Jorge Tibiriçá, em 1906, cria uma polícia de carreira e Washington Luís, em 1921, estimulou a profissionalização dos integrantes do Poder Judiciário, o que concorreu para tornar a polícia e os juizes menos dependentes dos grandes proprietários rurais).

No Rio Grande do Sul, como nas outras áreas, os coronéis eram geralmente proprietários ru-rais. Mas um requisito mais importante consistia em ser obediente às ordens de cima, no caso

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o governo do Estado. Daí o nome de coronéis burocratas, aplicado aos coronéis gaúchos. O PRR controlava as eleições de prefeitos e forçava sua demissão quando eles não atendiam às exi-gências partidárias. A falta de autonomia municipal foi a causa de constantes desentendimen-tos políticos após a Revolução Federalista.

O caso de Minas Gerais pode ser resumido em uma frase que quase ninguém ousava contestar: “Fora do PRM não há salvação”.

A Relação entre a União e os Estados

O “café-com-leite” exprime a idéia de uma aliança entre São Paulo e Minas comandou, no pe-ríodo, a política nacional. A realidade era porém mais complexa que isso. Para entendê-la, de-vemos olhar mais de perto as relações entre a União e pelo menos três Estados – São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul -, bastante diversos entre si.

São Paulo

Na esfera federal, os políticos paulistas concentraram-se nos assuntos cambiais e financeiros mais relacionados com os negócios cafeeiros e nas iniciativas para obter apoio do governo fe-deral aos planos de valorização do café. A partir da década de 1890, a produção cafeeira de São Paulo cresceu enormemente, gerando problemas para a renda da cafeicultura (a grande oferta do produto fazia o preço baixar no mercado internacional e a valorização da moeda brasileira, a partir do governo Campos Sales, impedia a compensação da queda de preços internacionais por uma receita maior em moeda nacional.

Para garantir a renda da cafeicultura, surgiram em São Paulo, no começo do século, vários planos de intervenção governamental no mercado cafeeiro. Afinal, chegou-se em fevereiro de 1906 a um acordo, chamado Convênio de Taubaté, por Ter sido celebrado nessa cidade paulista. Assinaram o acordo os Estados de São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. Os dois pontos básicos do convênio eram os seguintes: negociação de um empréstimo de 15 milhões de libras para custear a intervenção do Estado no mercado por meio da compra do produto por um preço conveniente à cafeicultura; criação de um mecanismo destinado a estabilizar o câmbio, impedindo a moeda brasileira. O governo deveria comprar com os recursos externos as safras abundantes, fazendo estoques de mercadoria para vendê-la no mercado internacional no momento oportuno.

As resistências opostas pelo governo federal ao plano e as reticências dos demais Estados integrantes do convênio levaram o Estado de São Paulo a agir por conta própria, associando-se a um grupo de importadores dos Estados Unidos, liderados por Hermann Sielcken. Até o fim de 1907, São Paulo comprou cerca de 8,2 milhões de sacas, que foram armazenadas nas principais cidades da Europa e dos Estados Unidos. Esses números fazem sentido, quando comparados com o total de 20 milhões de sacas da safra brasileira de 1906-1907, a maior até então colhida no país.

Em 1908, o presidente Afonso Pena avalizou um novo empréstimo feito pelo Estado de São Paulo de 15 milhões de libras para prosseguir a operação de valorização.

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Minas Gerais

A postura dos políticos mineiros era diferente. Eles representavam um Estado economicamente fragmentado entre o café, o gado, e, de certo modo, a industria. Esse quadro levou a elite política mineira a guardar certa distância dos interesses específicos do “café” e do “leite”, e a acumular poder políticos profissionais. Os mineiros possuíam uma bancada de 37 membros, enquanto os paulistas eram apenas 22. Além disso, os mineiros controlaram o acesso a muitos cargos federais e tiveram êxito em um de seus objetivos prioritários: a construção de ferrovias em território mineiro (nos anos 20, quase 40% das novas construções).

Rio Grande do Sul

A presença dos gaúchos na política nacional teve a peculiaridade de relacionar-se com a presença militar (a III Região Militar, criada em 1919, constituiu uma ponte para o Ministério da Guerra e do Clube Militar).

Os políticos gaúchos representavam um Estado dedicado essencialmente a atividades voltadas para o mercado interno, principalmente o charque e a estabilidade da economia foi sempre uma preocupação maior.

O “café-com-leite”

Apesar da influência militar, São Paulo saiu na frente nos primeiros anos da República. Entre 1894 e 1902, foram eleitos seguidamente três presidentes paulistas – Prudente de Morais, Campos Sales e Rodrigues Alves – , o que foi possível pelo abandono das divergências entre os diferentes setores paulista e a união em torno do PRP, união essa que somente foi conseguida pelos mineiros em 1897.

Um acordo entre São Paulo e Minas perdurou de 1898, com a eleição de Campos Sales, até 1909. Nesse ano, abriu-se a dissidência entre os dois Estados, que facilitou a volta provisória dos militares e a volta permanente do rio grande do Sul à cena política nacional. A campanha para a presid6encia da República, em 1909-1910, foi a primeira efetiva disputa eleitoral da República. O marechal Hermes da Fonseca, sobrinho de Deodoro, saiu candidato com o apoio do Rio Grande do Sul, de Minas e dos militares. São Paulo, na oposição, lançou a candidatura de Rui Barbosa, em aliança com a Bahia.

As principais mudanças socioeconômicas – 1890 a 1930

A Imigração

Cerca de 3,8 milhões de estrangeiros entraram no Brasil entre 1887 e 1930. O período 1887-1914 concentrou o maior número (2,74 milhões, cerca de 72% do total, para a lavoura de café, na sua grande maioria). As regiões Centro-sul, Sul e Leste foram as que receberam imigrantes

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maciçamente (em 1920, 93,4% da população estrangeira estavam nessas regiões, sendo SP responsável por 52,4% desse total).

No período referido, italianos :35,5%,

Portugueses, 29% e espanhóis, 14,6%.

Em março de 1902, o decreto Prinetti proibiu a imigração subsidiada para o Brasil devido às más condições de recepção e estadia.

O peso das atividades agrícolas

Segundo o censo de 1920, dos 9,1 milhões de pessoas em atividade, 69,7% se dedicavam à agricultura, 13,8% à indústria e 16,5% aos serviços.

Ao mesmo tempo em que a produção cafeeira tendeu a aumentar, ocorreu em São Paulo uma diversificação agrícola que se ligava à ascensão dos imigrantes. Estimulada pela demanda das cidades em crescimento, a produção de arroz, feijão e milho expandiu-se.

A Urbanização

Todas as cidades cresceram, mas o salto mais espetacular se deu na capital do Estado de São Paulo (grande centro de distribuição de produtos importados, o elo de ligação entre a produção cafeeira e o porto de Santos e sede dos maiores bancos).

A partir de 1886, São Paulo passou a crescer em ritmo acelerado. A grande arrancada se deu entre 1890 e 1900 (população paulista passou de 64 934 para 239 820 habitantes). No início do século chegaria ao segundo lugar, embora ainda muito distante dos 688 mil habitantes da capital da República.

Sucessão presidencial na República Velha

Governo Provisório (1889 – 1891)

O Mal. Deodoro da Fonseca assume provisoriamente a presidência da república após a proclamação, até que fosse elaborada uma nova Constituição. Este governo secularizou os cemitérios, criou os cartórios civis e outras mudanças que caracterizariam a laicização do país, consumada pela separação do Estado e da Igreja.

• Encilhamento: desde os últimos anos do Império constatava-se que a moeda circulante era incompatível com a mão-de-obra assalariada. O ministro da fazenda Rui Barbosa, desde que assumiu, baixou vários decretos que objetivavam aumentar a oferta de moeda circu-lante. Em 17 de janeiro de 1890, o governo dividiu o Brasil em zonas financeiras, cada uma com um banco emissor. Contudo, a política emissionista acarretou inflação, pois a emissão não teve nenhuma base sólida. Assim, em vez de o aumento de moeda no meio circulante estimular a criação de empreendimentos produtivos, resultou em pura especulação, com criação de empresas falsas, que se lançavam na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro.

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• Constituição de 1891: promulgada a primeira Constituição da república. Era baseada na constituição dos EUA, e sua principal característica era o elevado grau de federalismo, ou seja, as unidades da federação (os estados) gozavam de certa autonomia. Os poderes eram três: executivo, legislativo e judiciário. O presidente, os governadores, os senadores, os de-putados e os vereadores seriam eleitos pelo voto direto. O universo de votantes era bas-tante restrito. Para ser eleitor era necessário ser homem, maior de 21 anos, não ser padre nem soldado e ser alfabetizado. Esta última exigência acabou por restringir o eleitorado a apenas 3% da população. O voto era aberto, e o resultado da eleição precisava ser legiti-mado pela comissão eleitoral. Esse sistema deu margem, nos quarenta anos seguintes, a uma infinidade de fraudes, eleições anuladas a formação dos “currais eleitorais”, onde se praticava o “voto a cabresto”.

Governo Mal. Deodoro da Fonseca (1891)

A Assembléia Constituinte que promulgou a Carta de 1891 também elegeu, de forma indireta (e sob pressão) e para um mandato de quatro anos, o Mal. Deodoro da Fonseca. Contudo, o marechal não conseguia se adaptar à vida republicana, e nomeia um ministério composto quase que exclusivamente por antigos monarquistas, como ele próprio. O descontentamento da elite cafeeira paulista vai levar a uma série de atritos com os deputados que vai resultar no fechamento do Congresso e decretação de estado de sitio por Deodoro, na manhã do dia 03/11. A insatisfação toma conta de todo o país, com articulações políticas em Minas, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

• Revolta da Esquadra: No dia 23/11 a Marinha, liderada pelo contra-almirante Custódio de Melo, aponta os canhões para o Rio de Janeiro e ameaça bombardear a capital se o presidente não renunciar. Deodoro, acuado pelas pressões, acaba renunciando.

Governo Floriano Peixoto (1891 – 94)

O Mal. Floriano Peixoto assume o governo disposto a mudar a imagem deixada por seu colega. Reabre o Congresso Nacional e demite todos os governadores dos estados, com a exceção de Lauro Sodré, do Pará, pois esse havia sido o único que não silenciara nem apoiara o golpe de Deodoro.

• Revolução Federalista (1893-1995): A disputa política no Rio Grande do Sul, deflagrada por essa demissão, vai por em choque os dois grupos políticos do estado. De um lado, grupo castilhista, do Partido Republicano Rio-Grandense (republicanos, pica-paus ou chimangos) apoiados pelo presidente Floriano, e de outro, o Partido liberal, liderado pelo ex-conselhei-ro do Império Gaspar Silveira Martins (federalistas ou maragatos) Os chimangos saem vito-riosos e encastelam-se no poder no Rio Grande do Sul pelos próximos 30 anos.

• Revolta da Armada (1893): A inabalável firmeza de Floriano frustrou o contra-almirante Custódio de Mello, que ambicionava a presidência. E assim, por uma pura questão de le-aldade pessoal, e não por razoes políticas ou ideológicas, as Forças Armadas se dividiram. Custódio liderou outra rebelião da Marinha, onde sublevou parte da armada estacionada na Baia de Guanabara. A revolta foi imediatamente apoiada pelo contra-almirante Salda-nha da Gama, diretor da Escola Naval, conhecido por sua posição monarquista. Porém, ao contrário de Deodoro, Floriano resiste e derrota os revoltosos em Desterro, SC (Atual Flo-rianópolis), de onde eles pretendiam se juntar com os Federalistas do Sul.

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Floriano, o consolidador da República, e também conhecido como Marechal de Ferro, entrega a presidência para o primeiro presidente civil, encerrando o pequeno ciclo militar no início da nossa vida republicana, a República da Espada.

Governo Prudente de Moraes (1894 – 1898)

O governo do paulista Prudente de Moraes se caracterizou como uma transição entre a República da Espada e o pleno domínio da oligarquia cafeeira, que será alcançado com Campos Salles.

• Guerra de Canudos(1893-97)

• nas margens do rio Vaza-Barris, desenvolve-se uma comunidade de beatos, (Arraial de Ca-nudos) que seguia ao líder espiritual Antônio Conselheiro e que vai chegar a abrigar cerca de 30 mil pessoas, sendo a quarta maior cidade do nordeste. Um movimento de car’ater messiânico e monarquistas, levados pela fome, pela miséria e falta de terras, foi uma gran-de ameaça para a Republica. Três expedições militares serão necessárias para arrasar Canu-dos, em outubro de 1897.

Governo Campos Salles (1898 – 1902)

O governo do também paulista Campos Salles vai consolidar a dominação oligárquica. Durante seu mandato é celebrado Pacto da Política do Café com Leite, que combinava a alternância entre São Paulo e Minas Gerais na presidência, e a Política dos Governadores, articulada pelo senador gaúcho Pinheiro Machado, que garantia total cooperação entre coronéis e governador e entre governadores e presidente.

• Funding Loan (1898): O ministro da fazenda, Joaquim Duarte Murtinho, negociou com ban-queiros o funding-loan. Trata-se de um acordo pelo qual o pais credor, suspende, por algum tempo, a cobrança de juros de empréstimos anteriores. Assim, o pais devedor, através do recebimento de novo empréstimo, pode criar condições materiais para saldar sua divida. Para tanto foi exigida uma política econômica de enxugamento da economia, visando uma valorização da moeda nacional. A valorização foi alcançada com o fim do encilhamento, portanto a diminuição da moeda circulante. A conseqüência foi a recessão e o desempre-go. Campos Salles deixou a presidência com índices de popularidade baixíssimos.

Governo Rodrigues Alves (1902 – 06)

O paulista Rodrigues Alves, utilizando os empréstimos conseguidos por Campos Salles e a ex-plosão comercial da borracha no exterior, vai promover o chamado “Quadriênio Progressista”. Uma grande reurbanização do Rio de Janeiro será promovida, tendo como modelo as reformas de Londres e principalmente de Paris do final do século XIX. Foi neste sentido, que construiu o Teatro Municipal do Rio de Janeiro e a Biblioteca Nacional.

• Revolta da Vacina (1904): Os surtos de febre amarela, peste bubônica e varíola, desencade-ados pelas péssimas condições de saneamento das populações que se instalavam nos mor-

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ros e baixadas fluminenses vai levar Rodrigues Alves a iniciar uma campanha de vacinação, coordenada pelo sanitarista e chefe do Departamento de Saúde Publica, Oswaldo Cruz. O Congresso Nacional aprova o caráter obrigatório da vacina e a criação da Brigada da Vacina. A falta de uma campanha de conscientização da população e os abusos da Brigada levam o povo à revoltar-se contra a campanha de vacinação. O combate será feito com a utilização do exército, novamente.

• Convênio de Taubaté (1906): o governo federal compromete-se a comprar o excedente de café e estoca-lo ate um momento propicio para a venda. Com isso os cafeicultores ficavam a salvo das oscilações do mercado. Faziam parte dês Convênio o estado de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. O preço do café poderia cair o quanto quisesse: os cafeicultores não teriam prejuízo. Já o Brasil... é a famosa privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.

Governo Affonso Penna (1906 – 09)

Affonso Penna, o primeiro presidente mineiro, assume o governo sob uma grave crise de desvalorização do café. Para garantir a sua posse terá de encampar o Convênio de Taubaté, em nível federal. O presidente Penna no Rio de Janeiro indispôs-se com o senador Pinheiro Machado, a eminência parda da República Velha. Para montar o seu ministério, procurou políticos que não estivessem ligados ao caudilho gaúcho, e esse ministério foi apelidado de ministério do Jardim da Infância, devido a pouca idade dos ministros.

Penna morre em 1909, e o final de seu mandato será exercido pelo vice, Nilo Peçanha.

Governo Nilo Peçanha (1909 – 10)

O carioca Nilo Peçanha encerra o quadriênio que seria mineiro. Peçanha criou o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), deixado a cargo do Mal. Cândido Rondon. O governo de Peçanha foi marcado pela ferrenha disputa eleitoral entre o civil Rui Barbosa e o gaúcho (e sobrinho de Deodoro) Mal. Hermes da Fonseca.

• Campanha civilista: Rui Barbosa inicia esta campanha, alegando que a Republica deveria permanecer nas mãos dos civis e não retroceder elegendo um militar para a presidência. Contudo, o Mal. Hermes, com apoio de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, de Pinheiro Machado e de Nilo Peçanha conseguiu derrotar Barbosa, mesmo que esse contasse com o apoio paulista.

Governo Mal. Hermes da Fonseca (1910 – 14)

O Mal. Hermes, apesar de gaúcho, representava muito mais os militares do que a oligarquia char-queadora do Rio Grande do Sul. Seu governo foi marcado por diversas revoltas e confusões políticas.

• Política Salvacionista: sob o pretexto de acabar com o domínio das oligarquias, o Marechal intervem nos estados, demite os governadores que apoiaram a Campanha Civilista e coloca no poder homens de sua confiança.

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• Revolta da Chibata (1910): desde o período colonial, o recrutamento de soldados e mari-nheiros era feito de maneira violenta. Era arbitrário e visava as pessoas de origem humilde. Estes homens eram submetidos a constantes violências, que incluíam desde péssima ali-mentação ate castigos corporais. No dia 22/11 os marinheiros revoltam-se, sob a liderança de João Candido, o Almirante Negro:

Os revoltosos tomam quatro navios. Os objetivos da revolta eram claros: conseguir o fim dos castigos corporais (chibata) e melhor alimentação. O governo frente a ameaça de bombardeio acaba cedendo as exigências dos revoltosos e lhes concede anistia (que não foi cumprida).

• Revolta de Juazeiro (1913): o Pe. Cícero Romão Batista começou reunindo fieis para rezar e fazer promessas nos desastrosos períodos de seca. Logo ganhou fama de milagreiro e passou a reunir adeptos em numero crescente. Estes passaram a residir em Juazeiro (Ceara) ou a vi-sitá-lo em grandes romarias. O Padre Cícero chocou-se com as autoridades da Igreja Católica e, ao mesmo tempo, integrou-se no sistema coronelista. Ele se transformou em um misto de padre e coronel que se envolveu com suas forcas militares, nas lutas políticas da região. Sua gente disciplinada foi posta a serviço de diversas atividades. Devido ao seu bom relaciona-mento com os coronéis, seus seguidores foram usados para combater a política salvacionista.

• Guerra do Contestado (1911-15): Contestado era uma região limítrofe entre o Paraná e Santa Catarina, cuja posse vinha sendo reivindicada por ambos os Estados. O movimento social que surgiu, porem não tinha por objetivo esta disputa. Nasceu reunindo seguidores de um coronel tido como amigo dos pobres. Entre estas pessoas estavam trabalhadores rurais expulsos da terra pela construção de uma ferrovia e por uma empresa madeireira. Os rebeldes agruparam-se em torno de Jose Maria, figura que morreu nos primeiros choques com a milícia estadual e foi santificada. Estabeleceram vários acampamentos, organizados na base da igualdade e fraternidade entre os membros. Reivindicaram a posse da terra, enquanto esperavam a ressurreição de Jose Maria. Fustigados por tropas estaduais e do Exercito, os rebeldEs foram liquidados em 1915.

Governo Wenceslau Brás (1914 – 18)

Durante o governo do mineiro Brás, o Brasil vai aproveitar-se do contexto da I Guerra Mundial para promover um surto de industrialização (das 13.000 industrias do Brasil, 6.000 foram criadas no governo de Brás) As necessidades internas e a incapacidade da importação dos antigos fornecedores (EUA e Europa, voltados para o conflito) vai criar no Brasil uma indústria leve de bens de consumo não-duráveis, como tecidos e alimentos. A classe média urbana é o setor que mais via crescer. Terminada a guerra o fluxo de importações volta a acontecer, e os “industriais” brasileiros voltam seus capitais para um negócio mais rentável, garantido pelo governo: o café.

• Greve Geral de 1917: os primeiros movimentos operários brasileiros, de forte inspiração no anarco-sindicalismo dos imigrantes italianos, culminam com a grande greve: influenciados pela vitória bolchevique, 50.000 trabalhadores pedem aumentos salarial, proibição do trabalho de menores de 14 anos, proibição do trabalho noturno feminino e jornada de trabalho de 8 horas.

1917: paralização

• Gripe Espanhola: Outro surto que vai atingir o Brasil. Epidemia que matou 28 milhões de pessoas no mundo todo. Dentre os atingidos o presidente eleito: Rodrigues Alves. O seu vice Delfim Moreira vai presidir o país durante um ano, até a eleição e posse de um novo presidente.

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Governo Epitácio Pessoa (1919 – 22)

O governo do paraibano Epitácio Pessoa vai marcar o início da decadência da República do Café com Leite. A chamada “Crise dos Anos 20” vai chegar ao Brasil também. Os setores urbanos e a classe média não aceitam mais a dominação das oligarquias rurais, e a política do Convênio de Taubaté está se esgotando na medida que está esgotando a economia do Brasil. O movimento operário tam-bém se organiza e recebe inspiração da Revolução Russa, vitoriosa em 1921 e que funda a URSS.

• PCB: fundado em marco de 1922, foi produto imediato da Revolução Soviética. Era favorá-vel a transformação da luta econômica em luta política, defendia a centralização e, ao invés da extinção do Estado, tinha como meta a tomada do Estado e a instalação da “ditadura do proletariado”. Enfim, os comunistas defendiam tudo aquilo que horrorizava os anarquistas.

• Semana de Arte Moderna: A oposição urbana se manifestava pela intelectualidade artística, onde eram contestados os valores estéticos e morais das classes dominantes. Alem da litera-tura, a pintura deixa o paradigma impressionista renascentistas, dando lugar ao dadaísmo, surrealismo, etc. A arte deixa de ser uma imitação da realidade e passa a ter duplo sentido.

• Revolta do Forte de Copacabana: eclode devido a cartas que o candidato eleito Artur Bernardes havia mandado a um amigo seu, falando mal do exército. No dia 05/07 jovens oficias d Forte de Copacabana se rebelaram, com apoio de guarnições do DF, RJ e MT. O objetivo era impedir a posse de Artur Bernardes. Embora a rebelião tenha fracassado, os jovens militares resolveram abandonar o forte e marchar pela praia, para combater, inutilmente, as forcas legalistas. Dos 18 tenentes que marchavam, apenas dois sobreviveram: Siqueira Campos e Eduardo Gomes.

• Tenentismo: foi um movimento de oposição aos valores da república velha. Essencialmente militar, desenvolveu-se nas camadas da baixa oficialidade (tenentes, sargentos, cabos) sem nunca empolgar nem os altos escalões do exército nem as massas civis. Pregavam a necessidade do voto secreto e o fim da corrupção eleitoral, mas seus ideais revolucionários paravam por aí. Era necessário reformar, havia muita coisa errada, mas eles não sabiam exatamente como fazê-lo. Esses tenentes consideravam-se uma verdadeira elite intelectual do país, sendo os únicos capazes de promover a “salvação nacional”. Se dos “18 do Forte” de Copacabana apenas Siqueira Campos e Eduardo Gomes sobreviveram, os ideais tenentistas estavam apenas nascendo.

Governo Arthur Bernardes (1922 – 26)

O mineiro Arthur Bernardes quase não assumiu o governo, devido ao episodio das “Cartas Falsas” que eram ofensivas aos militares foram atribuídas a ele, na esperança de que um golpe militar não o permitisse assumir a presidência. Era a Reação Republicana, articulada por RJ, BA, PE e RS, que haviam disputado as eleições de 22 com a candidatura de Nilo Peçanha. Por mais que tenha sido provada a falsidade das cartas, Bernardes virou persona non-grata no exército, principalmente entre os jovens da baixa oficialidade – os tenentes.

O governo de Bernardes dar-se-á 80% do tempo em estado de sítio, devido aos constantes levantes tenentistas. Os mais importantes foram a • Revolução Paulista de 24: tenentes comandados pelo Gal. Isidoro Dias Lopes tomam a cidade de São Paulo e resistem por semanas ao cerco legalista.

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• Coluna Prestes (1924-27): uma marcha militar que, saindo de Santo Ângelo (RS) percorreu 24 mil quilômetros e confrontou-se contra o exército 53 vezes, derrotando o exército nas 53 oportunidades. A coluna, comandada pelo Cap. Luís Carlos Prestes, percorreu os estados do RS, SC, PR, SP, MS, MT, GO, TO, MA, PI, CE, PB, PE, AL, SE, BA e MG, além de ter passado pelo Paraguai no meio do caminho e terminar com o exílio na Bolívia. O seu objetivo era manter acesa a “chama revolucionária” e ir conscientizando a população por onde passavam, com o objetivo de chegar ao Rio de Janeiro e derrubar o presidente Bernardes. Como Bernardes deixa o poder em 26, a coluna perde o sentido e busca o exílio na Bolívia.

• Revolução de 23: A Reação Republicana custou caro para Borges de Medeiros, um de seus mentores. O presidente Bernardes apoiou oposição maragata, liderada por Assis Brasil que vai protestar após a quinta reeleição de Borges para o governo do RS. Os maragatos, contando com o apoio federal, vão pegar em armas. A resolução do conflito se dará com o Pacto de Pedras Altas, quando ficará acordado que Borges de Medeiros cumprirá o sexto mandato, mas não poderá concorrer à nova reeleição.

Governo Washington Luís (1926 – 30)

Washington Luís recebeu o golpe final na economia brasileira: a crise econômica de 29. A quebra da bolsa de valores de Nova Iorque faz diminuírem muito as vendas do café e os empréstimos in-ternacionais para o Brasil, fazendo com que a nossa economia quase entrasse em colapso.

Washington Luis, ao contrario do que era esperado, não indicou como seu sucessor um minei-ro, como era tradicional na Política do Café com Leite. Preferiu apoiar a candidatura do paulista Julio Prestes, para garantir as práticas de proteção ao café. Ora, Antonio Carlos, governador do estado de Minas Gerais, esperando ser o presidente da republica, viu-se frustrado.

Imediatamente, Antonio Carlos tomou o encargo de articular uma candidatura de oposição. Para isso, buscou apoio do Rio Grande do Sul. Dessa união nasceu a Aliança Liberal, que lançou Getulio Vargas (ex-ministro da fazenda de Washington Luis e governador do Rio Grande do Sul) como candi-dato a presidência e o paraibano João Pessoa, como vice. Contavam com as adesões da maioria dos Tenentes, de uma dissidência paulista, o PD (Partido Democrático) e das massas urbanas.

Entretanto, nas eleições de 1°/03/1930, o candidato eleito foi Julio Prestes. Os velhos lideres gaúchos, como Borges de Medeiros, tendiam a aceitar o resultado. Porem, um forte inconfor-mismo tomou conta de políticos então emergentes como Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor, aos quais se juntaram os tenentes Juarez Távora e Miguel Costa. Um grave acontecimento veio enfim precipitar a revolução: o assassinato de João Pessoa.

A 3/10 toda oposição se uniu, e um movimento militar teve inicio no Rio Grande do Sul. No Nordeste, sob a liderança de Juarez Távora, começou a rebelião. Enquanto isso, Washington Luis nada podia fazer, em virtude de seu isolamento. O próprio Estado de São Paulo não estava coeso em torno dele e o Partido Democrático, fundado em 1926, fazia-lhe oposição. Assim a perspectiva de resistência contra as tropas do Sul, sob o comando do tenente-coronel Góes Monteiro, era nula. Para evitar maiores conseqüências, em 24/10 Washington Luis foi deposto pelos Generais Mena Barreto, Tasso Fragoso e o Almirante Isaias de Noronha. Washington Luis partiu para o exílio e Getulio Vargas, chefe do movimento, assumiu a chefia do Governo Provisório.

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SLIDES – REPÚBLICA VELHA

Períodos da República Brasileira

• República Velha (1889 – 1930)• Era Vargas (1930 – 1945)• República Populista (1946 – 1964)• Ditadura Militar (1964 – 1985)• Nova República (1985 – 2017)

República Velha (1889 – 1930)

• Federalismo – Constituição de 1891• Coronelismo e clientelismo• República do Café-com-leite (SP e MG) – República das

Oligarquias• Política de Valorização do Café – Convênio de Taubaté (1906)• I Guerra Mundial e o Brasil (1914 – 1918) – Surto Industrial• Tenentismo – crise política• Crise de 1929 – Crise do Café!• Revolução de 1930 – Vargas assume (oligarquias marginais)

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Política de Valorização do Café

• Conjunto de medidas adotadas pelo poder público durante a Primeira República como forma de assegurar ao setor cafeeiro brasileiro condições para enfrentar a queda de preços do produto no mercado internacional. Essas medidas incluíam a criação de mecanismos de estabilização do câmbio, além da compra e estocagem de excedentes da produção cafeeira. Com isso o produto era retirado do mercado até que os preços internacionais voltassem a subir.

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“Questão social é questão do polícia”

• Manutenção da desigualdade • O fim da escravidão não significou inclusão• Fluxos migratórios• Revoltas messiânicas: Canudos, Contestado,

Juazeiro.• Revoltas Urbanas: Vacina, Greves de 1917,

Anarcosindicalismo, PCB e Tenentismo

Revolta da Vacina (1904)

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Crise de 1929= Crise do Café

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Crise do Café = Revolução de 1930

O café vai virar indústria

• A crescente expansão cafeeira, principalmente nos fins do século XIX, permitiu que os grandes fazendeiros paulistas diversificassem suas atividades, investindo em estradas de ferro, em companhias de seguro, em instalações comerciais dos portos brasileiros, na organização de bancos, nos setores industriais têxteis e alimentares.