historia da igreja.vol.1 - das origens até o cisma no oriente - carlos verdete

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  • CARLOS VERDETEHISTRIA DA IGREJA CATLICA

    Volume IDas origens at ao Cisma do Oriente

    (1054)Apontamentos

    para a formao bsica de cristos leigosDireco de coleco e apresentao

    Padre Senra Coelho

  • Imagem da capa:

    Bom Pastor, mausolu de Galla Placidia, Ravena, Itlia,sculo v

    Pr-impresso e capa:

    PAULUS Editora

    Impresso e acabamento:Manuel Peres, Jnior & Filhos,S.A.

    Depsito legal n.

    ISBN: 978-972-30-1410-5

    PAULUS Editora,

    2009Rua Dom Pedro de Cristo,

    101749-092 LISBOA

    Tel. 218 437 620 Fax 218 437 629

    [email protected]

    Departamento de Difuso

    Estrada de So Paulo

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    www.paulus.pt

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta pub-licao pode ser reproduzida ou transmitida de qualquerforma ou por quaisquer meios, electrnicos ou mecnicos,incluindo fotocpias, gravaes ou qualquer sistema de

  • armazenamento e recuperao de informao sem autoriza-o prvia, por escrito, do editor.

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  • Apresentao dacoleco

    Uma exposio resumida da Histria daIgreja deve procurar uma certa homogen-eidade nos critrios utilizados para a ap-resentao dos acontecimentos. Quando nosreferimos apresentao sucinta da Histriada Igreja, pensando especialmente na form-ao de adultos, temos de distinguir criteri-osamente os acontecimentos mais import-antes dos menos importantes, acentuandoalguns aspectos dos factos histricos e apon-tando apenas outros. Impe-se-nos a arte deseleccionar com acerto e censo histrico,fazendo com critrio a seleco das matriasmais importantes para a formao de umleigo adulto.

  • A obra que coordenamos e agora ap-resentamos est dividida em trs volumes: oprimeiro volume refere-se ao primeiromilnio cristo, das origens do Cristianismoat ao Cisma do Oriente em 1054; o segundovolume refere-se ao segundo milnio daHistria Crist, at final do Pontificado deLeo XIII (1903). Reservamos o terceirovolume para a Histria recente, ou seja, o s-culo xx e o incio do sculo xxi. Pareceu-nosbem incluir no terceiro volume um conjuntode temas teis como os Papas da IgrejaCatlica, uma lista dos Papas, o Estado Pon-tifcio, o Colgio Cardinalcio, o Primado Ro-mano, a doutrina dos dois poderes e asntese histrica de cada um dos concliosecumnicos.

    evidente que a seleco que fizemossobre as matrias parte de juzos subjectivosde acordo com a nossa compreenso daHistria e da Igreja. Podemos estar certos deque a falta de homogeneidade no s

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  • inevitvel, como por vezes necessria, pois ahistria o passado que chega vivo aopresente, pelo historiador que lhe d vida,segundo o olhar do seu juzo. Para algo serhistrico no depende apenas da sua existn-cia histrica, mas tambm das suas reper-cusses histricas. Expor em sntese dois milanos de Histria da Igreja um projecto se-dutor. Porm, a necessidade de seleccionaros acontecimentos face aos objectivos daobra coloca muitas vezes o autor em angstiae dvida. A enorme quantidade de factos e avasta riqueza das fontes bibliogrficas exigegrande ponderao e humildade cientfica.O autor desta til publicao, Carlos Verdete,soube-o fazer sempre com a colaborao docoordenador desta coleco.

    O futuro do Cristianismo parece-nos de-pender mais do que nunca da sua unidade,da capacidade de superarmos os problemasintelectuais e espirituais que a pluralidadedas nossas experincias de adultos cristos

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  • colocam. A Histria da Igreja deixa-nos acerteza de que ao longo de vinte sculos estainstituio, apesar de demonstrar grandesprogressos e enormes debilidades, per-manece fiel sua essncia e infalvel aoncleo da F, resistindo s ditaduras dosdiferentes relativismos. com a luz da Fque captamos a finura dos sinais de Deus naHistria da sua Igreja, onde fala atravs dosentido das coisas e dos acontecimentos. AF com que lemos a Histria da Igreja nosurge separada da crtica histrica. nestaconvergncia de olhares e saberes que aHistria da Igreja se converte tambm emTeologia.

    A Histria da Igreja ajuda os cristos aformarem um conceito justo da Igreja, im-pedindo um falso espiritualismo ou volatiza-o da Igreja real. A Histria mostra que aIgreja tem um corpo que visvel e que apartir da sua experincia vivida ao longo dossculos, deve ser superada a falsa distino

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  • entre Igre-ja ideal e Igreja real e apro-fundado o entendimento da nica Igreja Igreja Una que ao mesmo tempo institu-io divina e humana (fruto do crescimentohistrico) e invisvel, que s se pode captarpela F, e visvel, que se pode comprovarpela Histria.

    O conhecimento da Histria da Igreja d-nos ainda a sabedoria da verdadeira san-tidade da Igreja, evitando falsos entendimen-tos dessa santidade. A Santidade da Igrejaaparece objectiva e no exclui a pecamin-osidade dos seus membros, incluindo dosseus pastores. De facto, a Santidade da Igrejavem-lhes da divindade do seu fundador e es-ta no diminui pelos pecados dos seusmembros.

    A Histria da Igreja um dos melhores in-strumentos para nos fazer com-preender averdadeira dimenso da F Catlica: a suariqueza e a sua verdade. F que respondeu sexigncias mais profundas e srias de tantas

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  • personalidades espalhadas por todas as po-cas e lugares e que impulsionou insuperveisrealizaes aos mais elevados nveis do serhumano.

    A cultura do actual Ocidente continua aapresentar-se com muita frequncia hostil eestranha Igreja. Porm, em grande parteesta cultura baseia-se nos valores cristos efoi criada pela Igreja. No srio e honestoignorar historicamente as razes crists daEuropa ou pretender comp-las a qualqueruma das outras presenas espirituais e reli-giosas de passagem pelo Ocidente. Comomembros da Igreja, os leigos catlicos sen-tem a necessidade natural, e at o dever, deconhecerem a Histria da Igreja a que per-tencem, como famlia sobrenatural.

    O estudo da Histria da Igreja rege-sepelos mesmos critrios da crtica histricaque rege toda a cincia histrica autntica.Assim, a Histria da Igreja no pode ser de-duzida dos ideais, nem sequer da revelao,

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  • mas deve ser descoberta com fidelidade nosacontecimentos que decorreram sem a inter-veno do historiador, procurando l-loscom objectividade e racionalidade,diferenciando-se da cincia puramente nat-ural, pelo facto de a Histria da Igreja per-manecer aberta possibilidade da inter-veno de Deus na Histria, verificando quemuitas vezes Deus escreve direito por linhastortas. De facto, pretender eliminar daHistria da Igreja as suas diversas debilid-ades, deficincias e tenses seria equivalentea dispensar a misericrdia de Deus sobre ela,prescindindo da sua obra de salvao. OCristianismo reduzir-se-ia a um humanismoapenas e a salvao operada por Nosso Sen-hor Jesus Cristo seria dispensvel.

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  • Apresentao dovolume I

    No volume i apresentamos a Histria daIgreja vivida no primeiro milnio cristo. Aprimeira parte do volume diz mormente re-speito Antiguidade Crist vivida no con-texto do Imprio Romano. Esta pocacaracteriza-se sobretudo pelo facto de o Cris-tianismo se ter encontrado perante umacivilizao amadurecida, evoluda e consolid-ada; uma civilizao que tinha crescido semo Cristianismo e antes dele. No seu conjunto,o paganismo do Imprio Romano era es-tranho ao Cristianismo e permaneceusempre estranho e at antagnico, sem pos-sibilidades de qualquer integrao.

    Uma das consequncias imediatas e maisimportantes desta constatao foi que na sua

  • Antiguidade o Cristianismo viveu para den-tro de si mesmo; na primeira metade desteperodo, sobretudo at paz de Constantino(311-313) o Cristianismo apresentava umariqussima vida interna, com predomnioquase exclusivo das actividades religiosas.Nesta primeira parte da sua Antiguidade, aIgreja cria as formas fundamentais da suavida interna: piedade, liturgia e dogmtica,seguindo sempre com grande fidelidade asbases que Jesus Cristo e os seus Apstoloslhes indicaram, sobretudo nos livros canni-cos chamados Novo Testamento. Nesta po-ca, a Igreja enfrentou ainda vrias lutas teo-lgicas: contra os exageros do Cristianismojudaico, contra infiltraes gnsticas no Cris-tianismo, contra a literatura anticrist, con-tra as heresias trinitrias e cristolgicas.Desta necessidade de apario e definio daF surgiram grandes contributos em que sehaveriam de alicerar os vrios saberes teo-lgicos: recompilao dos escritos do Novo

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  • Testamento, fixao do smbolo da F, apro-fundamento da revelao crist, com apregao, os testemunhos de vida e a defin-io dos dogmas.

    At 313, os cristos eram uma minoria so-ciolgica, que defendia o seu direito de ex-istncia atravs de uma posio predomin-antemente defensiva face s perseguiessangrentas, que tinham de ser sustidas at-ravs do supremo testemunho dos mrtires.Neste perodo, a Igreja apresenta os seusprimeiros ensaios de dilogo com a culturahelnica j assimilada pelo Imprio.

    A partir de 313 garantida a liberdade aoCristianismo, que paulatinamente se foitransformando em religio do Estado. A vidada Igreja vira-se mais para fora de si,tornando-se mais activa ao assumir maioresiniciativas j com dimenses sociais. A Igrejacomea a estreitar laos com o Estado e coma cultura, tornando-se fonte importante do

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  • Imprio. neste contexto que as massaspopulacionais comeam a aderir Igreja.

    Dentro da Igreja continua a sentir-se a ne-cessidade da clarificao doutrinria, sobre-tudo nas questes trinitrias e cristolgicas.Esta a poca dos grandes conclios que vodefinindo e aprofundando as grandesquestes da F: sintetizamos com J. Lortz:

    A antiguidade crist a poca do nascimento daIgreja, da sua primeira actividade missionria e daconsolidao da sua existncia frente ao Estado e heresia, assim como da fixao da sua auto-inter-pretao dogmtica bsica.1

    A segunda parte deste volume assume apoca histrica denominada por Alta IdadeMdia, at ao Cisma do Oriente em 1054.Nesta poca, a Igreja passa a estar numasituao predominante face cultura superi-or. a prpria Igreja que cria uma novacultura eclesistico-crist e que a eleva plena autonomia. O Ocidente cristo

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  • medieval vai crescendo e solidificando-se at-ravs da fuso de trs componentes cul-turais: o direito romano, a vitalidade ger-mnica e a tica crist. O Estado de direitoque a romanidade nos deixou serviu de base estruturao social que a germanidadefecundou com a sua concepo de pro-priedade privada e de consanguinidade e queo Cristianismo espiritualizou atravs da suatica eminentemente humanista. Podemosconcluir que a Europa , na sua gnese,rvores com trs razes, sendo uma delas,desde o primeiro momento, a raiz crist, apar da romanidade e do contributogermnico.

    Nesta poca a vida interna da Igrejatornou-se muito florescente na liturgia, naarte, na teologia, no direito e na religiosidadepopular. tambm nesta poca que passampara primeiro plano os problemas de polticaeclesistica, sobretudo as dificuldades surgi-das volta do prprio ordenamento

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  • cannico da Igreja e das suas relaes com oEstado.

    O Cristianismo desenvolveu sempre, ecomo referncia, a figura do heri cristo,apresentado pela sua santidade como mode-lo de vida. At 313, o he-ri cristo , semdvida, o Mrtir, que Santo Incio de An-tioquia to bem interpreta, sobretudo na suacarta aos cristos de Roma. Depois da Pazde Constantino sobretudo o monge afigura herica do Cristianismo tardo-anti-go.A Alta Idade Mdia comea a sentir a ne-cessidade de aliar aos monges a defesa dacristandade que aos brbaros e ao Islo, nas-cendo a figura herica do monge-cavaleiroque acompanhar toda a Idade Mdia at-ravs das clebres ordens militares.

    Recordo aos leitores que Carlos Verdetefar no volume iii a sntese histrica dos con-clios ecumnicos, mesmo dos referentes aoprimeiro milnio, e por essa razo os grandes

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  • conclios da Antiguidade crist no sero ap-resentados neste volume.

    Padre Senra Coelho1 Lortz, 1982: 36.

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  • PrlogoNa sequncia de obras anteriores

    Doutrina Social da Igreja e Mestre, ondemoras? pareceu-nos que num programa deformao crist de base de adultos era ne-cessrio um estudo da Histria da IgrejaCatlica.

    Na consolidao da identidade crist, toquestionada actualmente nas suas vertenteseclesial, moral e cultural, importante aformao crist dos adultos, pondo um cuid-ado especial no alicerce da vida crist,requerendo-se uma iniciao crist integralaberta a todas as componentes da vidacrist, requisito indispensvel para se at-ingir a maturidade crist dirigida a uma par-ticipao activa na vida e misso da Igreja.

    A Histria de vinte sculos de vida daIgreja coloca-nos algumas questes, fruto

  • das diferentes pocas por que a Igreja pas-sou. Uma Histria da Igreja, desde o seu nas-cimento at aos dias de hoje, reflecte os con-tributos sucessivos das vrias pocas at seter chegado nossa existncia crist actual.

    A transmisso da misso evanglica pelasgeraes que se sucederam em dois milniosfez-se atravs de acontecimentos e de pess-oas, acontecimentos polticos, sociais, econ-micos, pessoas de vrias raas e dispersasgeograficamente pelo mundo inteiro. Atransmisso da mensagem evanglica fez-seno quadro da Histria geral da humanidade,pelo que a Histria da Igreja no se podeseparar dessa Histria geral. A Histria daIgreja desenrola-se numa geografia que bal-iza as vrias etapas da expanso crist.Desde a mais remota provncia do ImprioRomano a Palestina essa expanso fez-sepelos pases do Mediterrneo e, da, para to-do o mundo.

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  • Assim, a mensagem de Jesus ouviu-se, aolongo da expanso crist, nas mais variadaslnguas, exprimiu-se dentro das culturas emque penetrou, sofrendo necessariamente in-fluncia das mesmas, sem deixar, no ent-anto, de se manter fiel sua pureza inicial.

    A expanso crist adaptou-se, nosprimeiros tempos, s estruturas e modos devida prprios da sociedade em que se deu: oImprio Romano, com a sua vida urbana,municpios e colnias. Neste contextohistrico nasceu o Cristianismo, sendo, destemodo, as cidades a sede das primeirascomunidades crists, vivendo num ambientepago hostil que serviu para favorecer acoeso e a solidariedade interna destas Igre-jas locais, que comunicavam entre si e sesentiam integradas numa mesma IgrejaUniversal, a nica Igreja fundada por Cristo.

    As comunidades crists organizavam-seem instituies de acolhimento e de celeb-rao do culto, de modo que, naturalmente,

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  • se sentiam, por vezes, tentadas a organizar-se tomando como modelo as sociedades en-volventes, como instituies poltico-sociais,com a sua hierarquia de poderes e, com otempo, perturbaes na linha doutrinal, oque determinou que se fizesse uma formu-lao serena, impossvel nos tempos con-turbados em que a Igreja vivia nos primeirossculos da sua existncia. A formulao dog-mtica da f crist, que constitui um captulofundamental de qualquer Histria da Igreja,fez-se lentamente.

    Quando crucificaram Jesus, os soldados repartiramas suas vestes em quatro partes, uma parte paracada soldado. Deixaram de lado a tnica. Era umatnica sem costura, feita de uma pea nica, de altoa baixo. Ento eles combinaram: No vamos re-partir a tnica. Vamos deitar sortes, para ver comquem fica. Isto era para se cumprir a Escrituraque diz: Repartiram as minhas vestes e sortearama minha tnica. E foi assim que os soldados fizer-am. ( Jo 19,23-24)

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  • A diviso da roupa dos condenados pelosexecutores da sentena de morte aqui, ossoldados romanos era um direito recon-hecido aos carrascos.Na execuo de Cristo ofacto referido como um cumprimento dasEscrituras (Sl 22,9) e citado explicitamenteapenas por So Joo. Haver aqui, tambm,uma possvel aluso ao sacerdcio de Cristona cruz: que a tnica do sumo-sacerdote,na Liturgia hebraica, devia ser sem costura.

    A preocupao que tiveram os soldadosromanos em no rasgar a tnica que recobriaJesus no a tiveram, mais tarde, muitoscristos, que no hesitaram em rasg-la emmltiplas heresias, apostasias e cismas.

    A cada passo, na Histria da Igreja, de-paramos com heresias e apostasias, levando,muitas vezes, a cismas. O seu conhecimento muito importante na compreenso decomo a mensagem de Jesus pde ser tantasvezes distorcida, ou mesmo repudiada, con-duzindo frequentemente a cismas, numa

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  • recusa de sujeio ao Sumo Pontfice ou decomunho com os membros da Igreja quelhe esto sujeitos.1

    Fundamental numa Histria da Igreja serum captulo que se debruce sobre os primeir-os escritos cristos os livros inspirados quecontm a Revelao divina, compreendendo,na tradicional classificao das EscriturasSagradas, livros histricos (os quatro evan-gelhos e os Actos dos Apstolos), os livrosdidcticos (as catorze cartas de So Paulo eas sete epstolas catlicas de So Pedro, SoJoo, So Tiago e So Judas) e um livroproftico o Apocalipse de So Joo.

    A esses escritos inspirados acrescenta-se aliteratura crist dos sculos i e ii, de es-critores de lngua grega os chamadosPadres Apostlicos escritos de ndole pas-toral que tm como destinatrios os fiiscristos dos primeiros tempos.

    A poca das perseguies deu origem auma literatura martirolgica, constituda

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  • pelas actas dos interrogatrios a que eramsubmetidos os mrtires.

    Ainda dentro da primitiva literatura cristpodemos contar com os escritos anti-herti-cos, bem como com uma literatura apologt-ica em defesa da verdade crist e tendo comodestinatrios os pagos hostis aoCristianismo.

    Por ltimo, citemos os escritos destinados catequese dos novos conversos, consistindonuma exposio do conjunto da doutrina daf, ponto de partida de uma nova cinciateolgica.

    Compreende-se, assim, ser indispensvel aincluso de um captulo sobre a primeira lit-eratura crist numa Histria da Igreja.

    A Histria da Igreja Catlica feita deluzes e sombras, sucedendo-se e alternando-se, ou existindo simultaneamente. Assim, aolado dos Padres da Igreja e dos comeos davida monstica, de uma vida consagrada coma sua espiritualidade prpria de abandono de

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  • tudo pelo Reino, assiste-se a inmeras dis-putas na lenta formulao do credo catlico.Heresias, cismas, as lutas e choques entre ahierarquia catlica e o poder temporal sooutras tantas sombras que no conseguemesconder as crises por que ia passando aIgreja.

    Ser cristo hoje hic et nunc (isto , aquie agora) , depois das vicissitudes por quepassou a Igreja ao longo da sua Histria,constitui o fruto do ser-se cristo nosprimeiros sculos, na Idade Mdia, no sculoxix e nos anos mais prximos de ns. Da aimportncia que representa na bagagem doleigo cristo o conhecimento da herana dopassado.

    Na relao dos fastos (e dos nefastos) daHistria da Igreja adoptmos uma sistemat-izao com uma nica finalidade: a de arru-mar os acontecimentos numa sucesso tem-poral, compreendendo vrios captulos, unspropriamente histricos, outros didcticos,

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  • consequncia dos primeiros e ajudando suamelhor compreenso.

    No plano geral da obra dividimo-la emquatro partes.

    Na primeira parte, que designamos comoPr-Histria da Igreja, percorremos aHistria desde Abrao at ao Messiasesperado.

    Na segunda parte, que designamos deProto-Histria da Igreja, vamos desde o nas-cimento de Jesus Cristo at sua Ascenso.

    Na terceira parte registamos a Histria doprimeiro milnio, desde o Pentecostes at primeira ciso sria da Igreja: o Cisma doOriente.

    A quarta parte regista a Histria da IgrejaCatlica no segundo milnio da sua existn-cia, desde o Cisma do Oriente at aos nossosdias, com Bento XVI.

    Num programa de formao crist deadultos leigos torna-se indispensvel umestudo do passado da Igreja, de modo a

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  • poder compreender melhor o tempopresente: s assim se poder entender comoe porqu a Igreja se tornou aquilo que actu-almente: una, santa, catlica e apostlica.Para essa compreenso contribui, dentro dacronologia dos acontecimentos, o conheci-mento da imbricao das pocas sucessivas,bem como dos problemas que se forampondo aos protagonistas das mudanas quese iam fazendo em torno de um eixo essen-cial cristo, consistindo no acolhimento daBoa Nova proclamada por Jesus Cristo edeixando-se transformar por ela.

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  • I Parte

  • PR-HISTRIA DA IGREJA

    O PAI ELEIO

    Pr-Histria da Igreja

    Aps a transgresso do primeiro casal hu-mano Ado e Eva , apesar de desapon-tado, Deus no os amaldioa (como fez coma serpente tentadora), mas no deixou de ospunir pela sua desobedincia: mulher comos sofrimentos da gravidez e as dores doparto e ao homem com a obrigao desustentar a famlia com o suor do seu rosto,

  • arrancando o alimento da terra custa depenoso trabalho todos os dias da sua vida.

    E a Histria do homem prosseguiu fora dojardim do den, trazendo sucessivos desa-pontamentos a Deus Caim, a corrupogeral da Humanidade estendida a toda aTerra a ponto de Se arrepender amarga-mente de ter criado o homem (Gn 6,6-7), to-mando a resoluo de eliminar completa-mente a humanidade com um dilvio.

    No entanto, havia ainda um homem justoe perfeito entre os outros homens e que an-dava sempre com Deus No e com ele re-solveu o Senhor refazer o Seu plano criador,comeando uma nova Humanidade. E dodilvio so excludos No e os seus trs filhosSem, Cam e Jaf, as suas trs noras e a suamulher.

    Aps a multiplicao da nova Humanid-ade notica que havia substitudo a admica,todos os povos que se espalharam sobre a

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  • Terra depois do dilvio descendiam dos trsfilhos de No.

    A Humanidade notica caminhou para oOcidente, acabando por encontrar umaplancie (terra de Sinear) onde se fixou,comeando a organizar uma civilizao urb-ana, com a sua diviso do trabalho operri-os de olaria e forjadores de metais, os mer-cadores e os servios especializados (es-crivos para o registo dos negcios, dos cen-sos, das leis, etc.), a necessidade de um gov-erno, de uma administrao. E, assim, naMesopotmia, ou seja, nas terras frteisentre os rios Tigre e Eufrates (territrio domoderno Iraque), terra sem pedras mas ar-gilosa, facilitando o fabrico dos tijolos paraas construes, nasciam as primeirascidades-estado h cerca de cinco mil anos,constituindo a mais antiga cultura con-hecida: a cultura sumria.

    Ao lado do desenvolvimento material, ohomem sempre manifestou uma

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  • religiosidade, expresso de uma busca deDeus, sentimento inscrito no seu corao,criado como tinha sido imagem de Deus,sentindo-se chamado a conhec-lO e a am-lO. E essa religiosidade foi-se traduzindo emmagnficos templos (zigurates ou pirmidesem degraus, que abundavam na Meso-potmia), ritos, imagens e cnticos, com umacaracterstica que, certamente, desagradavamuitssimo ao Senhor: o politesmo, ou seja,a admisso de um panteo de deuses, maisou menos numeroso.

    Numa dessas cidades-estado, prottipo detodas as outras, o orgulho dos homens pre-tendeu desafiar os cus, levando-os a con-strurem uma torre para se tornaremfamosos, um zigurate... Conta-nos aSagrada Escritura:

    Disseram uns aos outros: Vamos fazer tijolos ecoz-los no fogo! Utilizaram tijolos em vez depedras, e betume em vez de argamassa. Disseram:Vamos construir uma cidade e uma torre que

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  • chegue at ao cu, para ficarmos famosos e no nosdispersarmos pela superfcie da Terra. (Gn 11,3-4)

    Profundamente desagradado e amarga-mente desapontado, mais uma vez, o Senhorresolveu dispers-los por toda a superfcie daTerra, para o que Se serviu de um artifciomuito simples: a confuso da linguagem detodos os habitantes da Terra, que, ao noconseguirem comunicar entre si, se dispers-aram, ficando por acabar a construo dacidade com a sua altiva torre. Essa cidade eraBabel.

    E uma Humanidade bablica veio sub-stituir a anterior, em que todos os homenstinham apenas uma lngua e empregavam asmesmas palavras.

    Mas o Senhor no desistiu do homem Ele nunca desiste e resolveu purificar omovimento humano de procura da verdade.Para executar o Seu projecto o desgnio be-nevolente da Revelao Ele estabeleceu umplano, pois no quis deixar nada ao acaso. A

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  • execuo desse plano compreendia vriasfases de um programa, que se ia desenrolan-do gradualmente numa longa preparao,nunca margem da evoluo humana e dassituaes histricas. O caminho que ohomem era livre de tomar estava perfeita-mente assinalado e balizado nesse programa.

    Tal desgnio benevolente da Revelaocomporta uma particular pedagogia divina:Deus comunica-Se gradualmente ao homeme prepara-o por etapas, para receber aRevelao sobrenatural que faz de Si e quevai culminar na pessoa e misso do VerboEncarnado, Jesus Cristo.

    Aps uma Pr-Histria em que se evoluiude uma Humanidade admica para uma Hu-manidade notica e depois para uma Hu-manidade bablica, comea a Histria daSalvao, que constitui o plano maravilhosode Deus a favor do homem.

    Essa Histria comea no sculo xviii a. C.(1700 a. C.), com a vocao de Abro, filho

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  • de Tar, por sua vez descendente de Sem, umdos filhos de No.

    Originrios de Ur, na Caldeia, Abro e asua famlia migraram em determinada alturapara a Mesopotmia superior, comeandopor se fixarem em Haran, onde, entretanto,Tar morreu.

    Tem incio, ento, a histria de Abro,com a sua vocao:

    O Senhor Deus disse a Abro: Sai da tua terra, domeio dos teus parentes e da casa de teu pai, e vaipara a terra que Eu te mostrar. Eu farei de ti umgrande povo, e abenoar-te-ei; tornarei famoso oteu nome, de modo que se torne uma bno.Abenoa-rei os que te abenoarem e amaldioareios que te amaldioarem. Em ti, todas as famlias daTerra sero abenoadas. (Gn 12,1-3)

    E assim, aos 75 anos, Abro convidadopor Deus a deixar o mundo que conhecia e apr-se a caminho do desconhecido.

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  • Era preocupao de Deus estava no seuplano constituir, por intermdio de Abro,um grande povo.

    Abro, tomando consigo sua mulher Sarai,o seu sobrinho Lot, rfo de pai (irmo deAbro), e todos os bens e escravos quepossua, ps-se com todos a caminho doOcidente, para a terra que se estendia do rioJordo at ao Mediterrneo: a terra deCana. Abro patenteou, assim, uma grandef e obedincia ao deixar a sua terra comtudo o que lhe era mais caro: a terra, afamlia e a casa do pai, indo assentar arraiaisem pas desconhecido e distante, confiadoapenas na palavra e proteco divinas.

    Com este chamamento de Abro, da Meso-potmia para a Palestina, Deus deu incio formao daquele povo que ser conhecidomais tarde como Povo de Deus ou PovoEscolhido.

    A promessa que Deus lhe faz Em ti to-das as famlias da Terra sero abenoadas

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  • (Gn 12,3) o primeiro passo para ocumprimento de uma outra promessa maisgeral, esta feita a Ado e Eva:

    Eu porei inimizade entre ti e a mulher [Deus diziaisto serpente aps a queda dos pais da humanid-ade, seduzidos pela serpente], entre a tua des-cendncia e os descendentes dela. Estes esmagar-te-o a cabea e tu ferirs o calcanhar deles. (Gn3,15)

    Esta promessa de Deus constitui aprimeira boa nova sobre o Messias. Trata-se de um proto-evangelho em que a lutaentre a descendncia da serpente e a des-cendncia de Eva terminar com a vitriadesta, pois que a verdadeira descendncia damulher-Eva Cristo, que, com a Sua morte eressurreio, esmagou a cabea da serpente,a prpria morte.

    Estreitamente associada a Ele encontra-seSua Me, Maria, a nova Eva.

    A Abrao (repare-se! j no simplesmenteAbro, com apenas um a) seguem-se os

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  • outros Patriarcas: seu filho Isaac (nome queem hebraico significa aquele que traz aalegria), seu neto Jacob (palavra que signi-fica calcanhar, por ele ter nascido a agarraro calcanhar de seu irmo gmeo Esa, comoque a tentar impedir que este nascesseprimeiro do que ele, o que, de facto, aconte-ceu...), que viu o seu nome alterado pelo anjodo Senhor com quem havia lutado, con-seguindo resistir, para Israel, significando oque luta com Deus.

    Deus havia prometido a Abrao numa se-gunda vez em que lhe apareceu: Darei estaterra tua descendncia. (Gn 12,7)

    Mas a descendncia de Abrao acabou porficar escrava no Egipto e a Terra Prometidapor Deus parecia cada vez mais distante einacessvel.

    aqui que comea a grande histria reli-giosa de Israel, com as intervenes suces-sivas de Deus: de uma multido de escravosEle formou o seu Povo o Povo de Deus e

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  • encaminhou-o para a terra que tinha sidoprometida ao seu antepassado Abrao.

    Essa caminhada desde o Egipto at terrade Cana a Terra Prometida , conduzidospor Moiss, constitui a epopeia do xodo,libertao do povo hebreu da sua condiode escravo, libertao que foi a primeira sal-vao operada por Deus a favor do seu Povo,autntico smbolo de todas as salvaesfuturas.

    Esta primeira fase da Histria do Povo deDeus decorre entre os anos 1800 e 1200 a. C.Nessa fase, Deus ditou aos filhos de Israel,atravs de Moiss, os Dez Mandamentos aLei comeando por propor uma Aliana.

    Seguiu-se o perodo do estabelecimento doPovo de Deus em Cana, o que se verificouentre os anos 1200 e 1000 a. C.

    Moiss havia conduzido o Povo de Deusat vista dessa Terra Prometida.

    Cana uma estreita faixa de terramontanhosa que fica entre a costa do

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  • Mediterrneo e os confins do deserto, desdeGaza, ao sul, at Hermat, ao norte. Canaquer dizer o pas da prpura, devendo estenome ao produto extrado de um caracolmarinho que havia nas suas praias. Esseproduto era o corante mais clebre domundo antigo, a prpura, muito difcil deobter, muito raro, e portanto muito caro, detal modo que s os muito ricos o podiamcomprar para tingirem as suas vestes.

    Um outro nome dessa terra Palestina foi-lhe dado pelos romanos, muito maistarde, a partir do nome dos mais ferozes in-imigos de Israel, os filisteus, designados deFilishtin, donde surgiu o nome dePalestina.

    Palestina ou Cana: a Terra Prometidaonde o Povo de Deus foi introduzido pelo su-cessor de Moiss, Josu.

    Foi uma terra conquistada aps muitaslutas entre o Povo de Deus e os habitantesdessas terras. Comeou por cair a cidade

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  • cananeia de Jeric, a primeira praa-forte daTerra Prometida, cidade-chave para a con-quista de Cana.

    Depois de Jeric, e de cidade em cidade,os hebreus acabaram por se apossar de todoo Cana.

    A fidelidade dos filhos de Israel Lei con-stitui a condio para obterem a terra queDeus lhes prometera, mas com um severoaviso:

    Prestai ateno vs mesmos, para que o vosso cor-ao no se deixe seduzir nem vos desvieis paraservir a outros deuses [...] desaparecereis rapida-mente da Terra boa que o Senhor vai dar-vos. (Dt11,16-17)

    As tribos nmadas hebraicas vo-se fixan-do na terra medida que vo conquistandoas vrias cidades-estado. Vo-sedispersando, fixando-se a tribo de Jud aosul de Jerusalm e as outras todas ao nortedesta cidade. Jerusalm, entretanto,

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  • mantinha-se ainda por conquistar, en-cravada entre os dois grupos de tribos.

    Israel conquista a terra de Cana, mas semque se altere a sua fidelidade revelao quelhe havia feito o Senhor, o Deus nico, nodeserto. Facto notvel! Realmente, quandoum povo nmada, um povo de pastores(como era o caso do povo hebreu) se fixa terra, se sedentariza, dedicando-se agricul-tura e criao de gado, normalmente mudade religio, adoptando, habitualmente, umasrie de divindades locais da agricultura e dafecundidade. Era o que acontecia com ospovos nmadas dessas regies, como odemonstra a cincia comparativa dasreligies.

    Ora, isso no aconteceu com Israel, em-bora muitas vezes tentado fortementetentado at a adoptar os Baal e as Astartes,deuses locais, respectivamente da agriculturae da fecundidade. O povo hebreu nuncacedeu, como um todo, a essas tentaes,

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  • concedendo-lhe o Senhor a fora, a unidadee a paz.

    fase do estabelecimento em Canaseguiu-se a fase da monarquia por quase 500anos.

    Por volta do ano 1000 a. C., Israel, conver-tido em nao pela forte presso do mundoque o rodeia e ameaa a sua existncia comotal, correndo o risco de cair sob o jugo dosfilisteus, adopta um governo que a poca im-punha como forma de poder agir com de-ciso e de melhor cimentar os dbeis laosque mantinham unidas as vrias tribos: amonarquia.

    O seu rei mais clebre, David, chefe militarvaloroso, alargou as fronteiras de Israel econquistou Jerusalm, fazendo dela acapital.

    David era um homem genial, to diver-samente dotado que nem sabemos qual dosseus dotes mais digno de admirao: almde chefe militar valoroso e verdadeiro

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  • criador do estado hebreu, era um poeta,compositor e msico de grande mrito.

    Mas o reino acabou por entrar em de-gradao aps a autntica idade de ouro queviveu com o filho sucessor de David: o rei Sa-lomo. A monarquia degenerou no correntedespotismo antigo-oriental, observvel nosEstados vizinhos. E medida que o despot-ismo se ia instalando e crescendo, nasciatambm e tornava-se cada vez maior a in-fluncia dos profetas.

    Os profetas constituam, no meio do povo,um ncleo de adoradores fiis do Senhor, ochamado resto. Estado e religio no coin-cidem, caso nico na Histria, em contra-posio, por exemplo, ao deus de Babel,Marduk, mera projeco do Estado, deusfantasmagrico, criao do Estado, paradizer e fazer o que o Estado quisesse, escravodo Estado, enfim.

    Pelo contrrio, o Senhor um DeusVivo, criador e no criado do Estado de

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  • Israel. Pelos seus profetas, que exercem a suaactividade em todo o tempo da realeza, Deusvai continuamente purificando a suaRevelao.

    Em 935 a. C., o reino dividia-se em doispequenos Estados: o reino do Norte, ou Is-rael, com a capital em Samaria, e o reino doSul, ou Jud, com a capital em Jerusalm.

    O povo no foi fiel aos compromissos como Senhor, mesmo perante os avisos dos vri-os profetas que tentaram, em vo, trazer Is-rael fidelidade.

    Em 721 a. C., o reino do Norte invadidopelos assrios e muitos dos seus habitantesso deportados para a Assria, nomeada-mente para a sua capital Nnive (junto deMossul, no actual Iraque).

    Por outro lado, instalaram-se colonos as-srios no lugar dos homens de Israel. Essescolonos adoptaram, mesmo, a religio juda-ica, acabando por formar uma comunidaderival de Jerusalm, a ponto de erguerem um

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  • templo no monte Garizim. Esses samarit-anos, que se consideram os verdadeiros des-cendentes dos israelitas do reino do Norte,conservam ainda hoje uma notvel coeso.Actualmente contam-se ainda cerca de 500samaritanos, vivendo em Nablus e Holon, re-spectivamente na Cisjordnia e Israel. Elescelebram todos os anos a Pscoa no monteGarizim.

    Os judeus, do reino do Sul, consideravam-nos bastardos, reinando a inimizade entreeles, inimizade que persistia ainda no tempode Jesus.

    Mais pequeno do que Israel, o reino deJud resistiu durante mais tempo aos invas-ores. Mas chegou a sua vez entre os anos de578 e 581 a. C.: os babilnios, sob o comandode Nabucodonosor II, destroem e devastam asua capital, Jerusalm, arrasam o Templo eem trs deportaes levam a maior parte dosseus habitantes para Babilnia.

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  • O povo do Norte, absorvido pela popu-lao estrangeira no pas onde estava cativo a Assria , nunca mais voltou a aparecerna Histria. Todas as investigaes feitaspara averiguar o paradeiro das dez tribos queali tinham a sua ptria foram inteis.

    Quanto ao povo do Sul, esta fase do exlio,em que o povo de Jud foi deportado para aBabilnia, acabou por se tornar umaautntica escola para os judeus que de cam-poneses e criadores de gado na sua terra setornaram comerciantes e banqueiros. Tra-balharam e multiplicaram-se, seguindo oconselho do profeta Jeremias contido nacarta que lhes enviou de Jerusalm:

    Constru casas para morardes, plantai pomares ecomei os seus frutos, casai-vos, gerai filhos e filhas,arranjai esposas para os vossos filhos e maridospara as vossas filhas e que eles tambm gerem fil-hos e filhas. Multiplicai-vos em vez de diminuir.Lutai pelo progresso da cidade para onde vos exilei

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  • e rezai a Deus por ela, pois o progresso desse lugarser tambm o vosso progresso. (Jr 29,5-7)

    O reino do Sul Jud com a capital emJerusalm, desaparecera como Estado, talcomo os profetas tinham predito desde hmuito. Mas, embora a nao tenha desapare-cido, o Senhor permaneceu como o Deusnico no meio de outros povos com os seusdeuses, dando unidade e fora aos cativosque esperavam a libertao do cativeiroanunciada pelos profetas.

    Sobe a um monte alto, mensageira de Sio; levantabem alto a tua voz, mensageira de Jerusalm.Levanta-a, no tenhas medo. Diz s cidades deJud: Aqui est o vosso Deus! Olhai: o SenhorDeus chega com poder, e com o seu brao detm ogoverno. Ele traz consigo o prmio, e os seus tro-fus O precedem. Como um pastor, Ele cuida dorebanho, e com seu brao o rene; leva os cordeir-inhos ao colo e guia mansamente as ovelhas queamamentam. (Is 40,9-11)

    assim que o termo boa nova (Evangelhoem grego) dirigido pela primeira vez aos

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  • cativos de Babilnia, quando se comea adesenhar a sua libertao iminente.

    No mesmo captulo de Isaas anunciadoaos cativos de Babilnia um novo xodo, maseste, agora, atravs do deserto da Sria, acaminho de Jerusalm.

    Uma voz grita: Abri no deserto um caminho parao Senhor; na regio da terra seca, aplanai uma es-trada para o nosso Deus. Que todo o vale seja ater-rado, e todo o monte e colina sejam nivelados; queo terreno acidentado se transforme em plancie, eas elevaes em lugar plano. (Is 40,3-4)

    De facto, a libertao anunciada sucedeuem 539 a. C., quando a Babilnia foi con-quistada pelos persas e os cativos forammandados de volta Terra Santa pelo seurei, Ciro.

    Esta triste experincia do exlio leva opovo a tomar conscincia de quanto tinhapecado: at no deserto, junto ao monte Sinai,de onde lhe falava o prprio Deus,esquecendo-se constantemente do Senhor,

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  • ao ponto de preferir as cebolas da es-cravido no Egipto.

    E convence-se de que a salvao s podevir de Deus e a esperana renasce com o re-gresso do exlio.

    Aps a fase do cativeiro em Babilnia,entre 587 e 539 a. C. cerca de cinquentaanos , seguiu-se a fase do post-exlio ou dojudasmo. So principalmente os exilados doreino do Sul, ou de Jud, os que regressamdo cativeiro, chamando-se, por esse motivo,aos cinco sculos que se seguiram a esse re-gresso, o perodo do judasmo.

    A distncia que separa a Babilnia dalongnqua Jerusalm de quase 1300 quil-metros. Os hebreus pem-se a caminho echegam a Har, junto das margens do rioBalic, no ponto em que este desagua no Eu-frates. A partir dali seguem um caminhoidntico ao que, 1400 anos antes, tinhaseguido Abrao ao dirigir-se para Cana,passando por Damasco.

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  • Pouco depois da sua chegada a Jerusalmdeitaram mos obra de reconstruo doTemplo, com grande entusiasmo. No ent-anto, essa reconstruo foi-se fazendo comgrande lentido, dada a necessidade quehavia de granjear o po de cada dia e de re-construir, tambm, as casas em runas.

    Do domnio dos persas o povo hebreu pas-sou, em 330 a. C., ao domnio greco-macednio, aps a vitria de AlexandreMagno sobre Dario III.

    Embora a tolerncia de Alexandre Magnopermitisse que tudo quanto respeitava aoculto permanecesse inclume, j com um dossucessores de um dos generais de Alexandre,Antoco IV, Israel experimentou tudo quantoum povo pode sofrer na sua histria de maishorrvel e humilhante. Nunca, nem com osassrios, nem com os babilnios, havia rece-bido um to grande golpe como o que lhedesferiu o rei Antoco IV, o qual, alm desaquear e profanar o Templo de Jerusalm,

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  • no ano 168 a. C., mandou colectores de im-postos que se apoderavam dos gados elevavam cativas as mulheres e as crianas.Ele queria, mesmo, acabar com a f dosjudeus, proibindo-lhes o culto no Templo,assim como a circunciso das crianas judi-as, e mandando, at, construir altares paraos dolos. As Escrituras Sagradas foramdestrudas e estabelecida a pena de mortepara quem no cumprisse as suas proibies.Esta foi, verdadeiramente a primeiraperseguio religiosa da Histria!

    Seguiu-se a ocupao romana: as legiesromanas cercaram Jerusalm, que ocuparamno ano 63 a. C., fazendo de Jud e daSamaria (o antigo reino do Norte ou Israel)uma provncia romana. Com este aconteci-mento terminou at aos nossos dias a inde-pendncia poltica de Israel.

    Mas coisa notvel! mais uma vez severifica que a fora do povo judeu no residena sua autonomia poltica. Jerusalm o

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  • centro de um povo disperso por todo omundo antigo, mas subsistindo como povo.

    Ao conjunto dos judeus que vivem fora daPalestina chamou-se dispora e nesse povosempre houve homens simples, profunda-mente religiosos, que reconheciam a prpriainsuficincia, pondo toda a sua confiana noSenhor e esperando intensamente a Suavinda salvadora: so os pobres do Senhor e no meio deles que estar o bero de Jesus,para a salvao de todos os homens.

    Anuncio-vos a Boa Notcia, que ser uma grandealegria para todo o povo: hoje, na cidade de David,nasceu-vos um Salvador, que o Messias, o Sen-hor. Isto vos servir de sinal: encontrareis umrecm-nascido, envolto em faixas e deitado numamanjedoura. (Lc 2,10-12)

    Esta foi a alegre notcia que no ano 1 danossa era (ou era crist) o Anjo do Senhordeu aos pastores que guardavam durante anoite aos seus rebanhos, nos campos deBelm.

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  • Havia nascido o Salvador esperado, oEmanuel, o Deus Connosco Jesus Cristo.

    A Boa Notcia consistia nisto: Deus visitouo Seu Povo e cumpriu as promessas feitas aAbrao e sua descendncia.

    E f-lo para alm de toda a expectativa:enviou o seu Filho muito amado Jesus deNazar, nascido hebreu, em Belm, de umafilha de Israel, no tempo do rei Herodes e dogrande imperador Csar Augusto, carpin-teiro de profisso ele o Filho eterno deDeus feito homem: o Verbo fez-Se carne ehabitou entre ns. ( Jo 1,4)

    Estamos no limiar da Histria da Igreja.

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  • II Parte

  • PROTO-HISTRIA DAIGREJA

    O FILHO VOCAO

    Jesus Cristo comeou por formar umpovo, tal como o Pai havia feito no AntigoTestamento ao formar o povo de Israel.

    A princpio um pequeno grupo, umpequenino rebanho, como lhe chama Jesus.

    No tenhas medo, pequeno rebanho,porque o vosso Pai tem prazer em dar-vos oReino. (Lc 12,32)

    Este reino o Reino de Deus e a sua vinda insistentemente anunciada por Jesus deuma forma peremptria: Convertei-vos

  • porque o Reino de Deus est prximo. (Mt3,2)

    Tendo como pano de fundo a esperana deIsrael no Reino de Deus, j anunciado pelosprofetas, Jesus proclama que o tempo jhavia atingido o seu termo, que o Reino jestava a, presente no meio dos Seus ou-vintes. Porm, no um reino poltico, no umreino com um rei que trouxesse a restaur-ao poltica de Israel.

    Nem se poder dizer: Est aqui ouEst ali, porque o Reino de Deus est nomeio de vs. (Lc 17,21)

    E Jesus traz a alegre notcia a Boa Nova.Deus tinha vindo oferecer-lhes o Reino echamava-os a cooperarem com Ele. Mas, aomesmo tempo, Jesus pede--lhes que mudemde vida, isto , pede-lhes a converso, numadeciso sem quaisquer reservas por Deus eem Deus, pelos outros.

    Neste decidir-se, em Deus, pelos outrosest o mandamento do amor a Deus e ao

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  • prximo. H um vnculo ntimo e indis-solvel que une o amor a Deus e o amor aoprximo, que, caso no se verifique, agrande mentira de que falava Joo Evan-gelista. (1Jo 2,3-5)

    No mago de um sermo que Jesus pregounuma das montanhas da Galileia, e que con-stitui como que um discurso inaugural danova Lei do Reino, Ele aponta aquilo quepara Si contava acima de tudo. Esse sermo o Sermo da Montanha e preenche trscaptulos do Evangelho de So Mateus: o 5, o6 e o 7.

    Em primeiro lugar buscai o Reino de Deus e a suajustia, e Deus vos dar, em acrscimo, todas essascoisas. Portanto, no vos preocupeis com o dia deamanh, pois o dia de amanh ter as suas preocu-paes. Basta a cada dia a prpria dificuldade. (Mt6,33-34)

    A medida da nossa deciso por Deus -nos indicada por Jesus: tornar--nos prxi-mos dos outros, completamente disponveis

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  • e com total renncia, carregando sobre nsos problemas do homem concreto, daquelecom quem estamos em contacto.

    O amor ao prximo deve vencer todas asbarreiras erguidas pelos homens: a raa, acor da pele, a classe a que pertence. E, ven-cendo todos esses obstculos, comea umnovo tipo de relao.

    Mas trata-se de um amor que se faz prx-imo de todos, sem excluir ningum:

    Amai os vossos inimigos e rezai poraqueles que vos perseguem (Mt 5,44), poiso Senhor faz com que a chuva caia sobre osjustos e os pecadores.

    Viver para os outros viver j em Deus, noQual est a nascente de um amor semlimites.

    E a nossa reconciliao com os outros con-stitui uma condio para esta vida.

    Portanto, se fores at ao altar para levares a tuaoferta, e a te lembrares de que o teu irmo tem al-guma coisa contra ti, deixa a oferta a diante do

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  • altar e vai primeiro fazer as pazes com o teu irmo;depois, volta para apresentar a oferta. (Mt 5,23-24)

    Jesus, ao anunciar o Reino, pe-nos per-ante uma escolha, por vezes muito difcil:

    Se algum quer seguir-Me, renuncie a si mesmo,tome cada dia a sua cruz e siga-Me. Pois, quemquiser salvar a vida, vai perd-la; mas, quem perdea vida por minha causa, salv-la-. (Lc 9,23-24)

    Tal escolha consiste no compromisso pelapalavra e pela proposta de Jesus vivercomo Ele, no pondo qualquer reserva naobedincia vontade de Deus.

    Tal escolha consiste em assumir todo opeso, por vezes insuportvel, das situaesda sua vida de todos os dias; no procurarpretextos para alijar sobre os outros a cargada prpria responsabilidade; no subordinaro bem comum sua utilidade pessoal; nopreferir a vingana ao perdo, no preferir asdesavenas reconciliao.

    Em suma, tal escolha consiste em tomar asua cruz aceitando as provaes e os

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  • sofrimentos, enfrentando tais provas com acoragem de f em Deus: uma cruz feita emsrie e no uma cruz por medida, que seriaocasio de vaidade e vanglria. Isto , umacruz como a de Jesus, que no inventou nemescolheu a sua, tomando aquela que todos oshomens Lhe puseram sobre os ombros.2

    Fazer-se prximo e tomar a cruz so ossinais essenciais de uma deciso que leva comunho de vida: uma comunho entre oshomens que faz deles iguais e tambmirmos, filhos daquele Deus que, em Cristo,se fez seu Pai.

    E mais ainda: eles descobrem, agora, queo Reino j est ali, que amar os outros comoa si mesmos j no basta. necessrio umamor mais radical e generoso, pronto a darat a vida pelos outros, tal como Jesus, quenos d um mandamento novo: que nosamemos uns aos outros como Ele nos amou.E precisamente por esse amor uns aos

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  • outros que todos sabero que somos discpu-los de Jesus.

    So numerosos os sinais que nos indicamque Jesus tinha em mente a formao de umpovo. O sinal mais claro de que Jesuspensava numa comunidade, num povo, estna sua preocupao em formar discpulos.

    E Jesus particularmente exigente com osseus discpulos. Por exemplo:

    Enquanto iam a caminho [na subida para Jerus-alm], algum disse a Jesus: Seguir--Te-ei paraonde quer que fores. Mas Jesus respondeu-lhe:As raposas tm tocas e os pssaros tm ninhos;mas o Filho do Homem no tem onde repousar acabea. (Lc 9,51-58)

    Jesus disse a outro: Segue-Me. Ele respondeu:Deixa-me primeiro ir sepultar meu pai. Jesus re-spondeu: Deixa que os mortos sepultem os seusprprios mortos; mas tu, vai anunciar o Reino deDeus. (Lc 9,59-60)

    Outro ainda disse-Lhe: Seguir-Te-ei, Senhor, masdeixa que primeiro v despedir-me da gente da

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  • minha casa. Mas Jesus respondeu-lhe: Quempe a mo no arado e olha para trs, no serve parao Reino de Deus. (Lc 9,61-62)

    Jesus fundou, assim, uma Igreja o novoPovo de Deus que foi consti-tuda sob aforma de uma comunidade visvel de sal-vao, qual os homens se incorporam peloBaptismo.

    O pequeno rebanho inicial foi sendo in-strudo nos segredos do Reino de Deus. Je-sus chamou os primeiros discpulos aquandodo incio do seu ministrio na Galileia, emCafarnam, cidade situada beira-mar, ondecomeou a pregar: Convertei-vos, porque oReino do Cu est prximo. (Mt 4,17)

    Ao caminhar ao longo do mar da GalileiaJesus depara com os dois irmos pescadores,Simo e Andr, encontrando-os na altura delanarem as redes ao mar.

    Dos numerosos discpulos que O seguiam,Jesus escolheu doze para os enviar (envia-dos, ou seja, apstolos) como arautos de um

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  • grande acontecimento: a vinda do Reino deDeus e da vontade do Senhor.

    A esses doze os Doze Apstolos d in-strues especiais: ensina-os a baptizar, d-lhes o poder de expulsar espritos impuros ede curar todas as doenas e males.

    A escolha dos Doze Apstolos feita comuma finalidade simblica: tal como o Povode Deus era constitudo por doze tribos, des-cendendo dos doze filhos de Jacob (Israel),Ele forma o novo Povo de Deus com dozehomens.

    Alm de Simo e de Andr, seu irmo,chamou Tiago e Joo, filhos de Zebedeu estes quatro pescadores , mas tambmFilipe, Bartolomeu, Mateus, o publicano,Tom, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simo, ozelote, e Judas Iscariotes, que haveria de Otrair.

    Enquanto os outros discpulos O seguiamepisodicamente ou permaneciam em suas ca-sas, continuando as suas ocupaes

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  • habituais, os Doze deixaram casa, famlia,ocupaes e ficaram com Jesus durante todoo tempo da sua vida.

    Entre esses Apstolos h um cuja posio a de maior relevo. Trata-se de Simo, opescador, filho de Joo (Barjona), ocupandosempre o primeiro lugar em todas as listas deApstolos assinalados, tanto nos Evangelhos,como nos Actos dos Apstolos.

    Jesus d-lhe um segundo nome: Pedro.Tal nome significa, simbolicamente, rocha,rochedo. E confia-lhe uma misso especial:ser ele a dirigir o pequenino rebanho, isto, a Igreja, depois da morte de Jesus.

    Jesus chegou regio de Cesareia de Filipe e per-guntou aos seus discpulos: Quem dizem os ho-mens que o Filho do Homem? Eles respon-deram: Alguns dizem que Joo Baptista; outros,que Elias; outros ainda, que Jeremias ou algumdos profetas. Ento Jesus perguntou-lhes: E vs,quem dizeis que Eu sou? Simo respondeu: Tus o Messias, o Filho do Deus vivo. Jesus disse:s feliz Simo, filho de Jonas, porque no foi um

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  • ser humano que te revelou isso, mas o meu Pai queest no Cu. Por isso Eu te digo: tu s Pedro, esobre esta pedra construirei a minha Igreja, e opoder da morte nunca poder venc-la. Dar-te-eias chaves do Reino do Cu, e o que ligares na Terraser ligado no Cu, e o que desligares na Terra serdesligado no Cu. (Mt 16,13-19)

    Esta eleio de Pedro confirmada por Je-sus mais tarde, aps a Sua morte e ressur-reio, nas margens do lago de Tiberades,depois de ter suscitado uma pesca mil-agrosamente abundante a um grupo dos seusdiscpulos (Simo Pedro, Tom Natanael, Ti-ago e Joo, filhos de Zebedeu, e mais outrosdois) que passaram a noite a pescar mas semconseguirem apanhar nada. Era a terceiravez que Jesus aparecia aos seus discpulosdepois de ter ressuscitado.

    Depois de comerem, Jesus perguntou a SimoPedro: Simo, filho de Joo, amas--Me mais doque estes? Pedro respondeu: Sim, Senhor, Tusabes que Te amo. Jesus disse: Cuida dos meuscordeiros. Jesus perguntou de novo a Pedro:

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  • Simo, filho de Joo, tu amas-Me? Pedro re-spondeu: Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo. Je-sus disse: Toma conta das minhas ovelhas. Pelaterceira vez Jesus perguntou a Pedro: Simo, filhode Joo, tu amas-Me? Ento Pedro ficou triste,porque Jesus perguntou trs vezes se ele O amava.Disse a Jesus: Senhor, Tu conheces tudo e sabesque Te amo. Jesus disse: Cuida das minhas ovel-has. (Jo 21, 15-17)

    A tradio catlica viu neste encargo depastorear todo o rebanho de Cristo (cordeir-os e ovelhas) o cumprimento da promessa doprimado.

    Muito antes, j no final da ltima Ceia, Je-sus previne Pedro da dura prova a que seriasubmetido.

    Simo, Simo! Olha que Satans pediu autoriza-o para vos joeirar como trigo. Eu, porm, rezeipor ti, para que a tua f no desfalea. E tu, quandotiveres voltado para Mim, fortalece os teusirmos. Mas Simo disse: Senhor, contigo estoupronto a ir at mesmo para a priso e para amorte! Jesus, porm, respondeu: Pedro, Eu te

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  • digo que hoje, antes que o galo cante, trs vezesseguidas negars conhecer-Me. (Lc 22,31-34)

    E viu-se, de facto, como Pedro, no ptio dacasa do sumo-sacerdote, aps a priso de Je-sus, O negou trs vezes at o galo cantar.Quando ouviu o galo cantar, voltou-se e en-carou com o Senhor, cujo olhar lhe fez re-cordar as suas palavras na ltima Ceia.Ento Pedro saiu para fora e chorou amar-gamente. (Lc 22,62) Pedro chorou simples-mente, como uma criana envergonhada.3Verificava-se uma autntica converso dePedro, predita pelo Senhor, pondo mais umavez em destaque a pessoa do Apstolo, cujaf foi decisiva na formao da comunidadeprimitiva: E tu, quando tiveres voltado paraMim, fortalece os teus irmos. (Lc 22,32)

    A vida de Jesus entre os homens culminoucom a sua Paixo e Morte, no ano 30 da eracrist.

    Ele mesmo Se apresentou como o Cristo,isto , o Messias j anunciado pelos profetas

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  • e que o Povo de Israel esperava ansio-samente como enviado de Deus para realizara salvao.

    Mas o Povo escolhido repudia o Salvador,pois o esperava um chefe terreno que o liber-tasse do jugo dos opressores romanos que napoca ocupavam a Palestina. Pensavam naconcepo ento dominante, poltico-admin-istrativa, que a salvao trazida pelo Messiasconsistiria na restaurao do Reino de Israelem todo o seu esplendor.

    Ora, Jesus Cristo no foi reconhecidocomo tal e, repudiado e preso, levado presena de Pncio Pilatos, Ele mesmo de-clarou ao governador romano: O meu reinono deste mundo. Se o meu reino fossedeste mundo, os meus guardas lutariam paraque Eu no fosse entregue s autoridadesdos judeus. (Jo 18,36)

    Aps o atabalhoado julgamento a que Osujeitaram, foi condenado a morrer na cruz.A prova decisiva da verdade da doutrina que

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  • pregou durante os trs anos da sua vidapblica est no facto de ter ressuscitado aoterceiro dia, como j havia anunciado antesdos acontecimentos que conduziram suamorte.

    Eis que estamos a subir para Jerusalm, e o Filhodo Homem vai ser entregue aos sumos-sacerdotese aos doutores da Lei. Eles conden-lO-o morte,e entreg-lO--o aos pagos para zombarem dEle,flagel-lO e crucific-lO. E no terceiro dia Ele res-suscitar. (Mt 20,18-19)

    A Ressurreio de Cristo o dogma cent-ral do Cristianismo apresentando-se osApstolos, a partir de ento, como testemun-has de Cristo Ressuscitado.

    Estavam reunidos todos os elementos paracomear uma nova histria: a Histria daIgreja.

    Essa Histria comeou a desenrolar-senum vasto Imprio unificado em torno detoda a bacia do Mediterrneo, em que se dis-frutava de uma paz que permitia a livre

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  • circulao de pessoas, mercadorias e doutri-nas: o Imprio Romano.

    Graas Pax Romana, pessoas e mer-cadorias circulavam livremente de um ex-tremo ao outro do Imprio, por terra ou pelomar. Os caminhos das pessoas e das mer-cadorias eram tambm os caminhos dasdoutrinas e do Evangelho.

    O Imprio Romano foi uma autnticapreparao evanglica, permitindo a rpidadifuso do Evangelho atravs da Via pia,que levava de Roma para o sul, at Brindisi;da Via Aurlia, que seguia de Roma para onorte, at Gnova; da Via Domcia, levandode Itlia a Espanha; e pela Via Incia, queconduzia at Bizncio. Mas tambm a viamartima foi utilizada, navegando-se deItlia para o Egipto, de Cades at ao porto destia (Roma), da Glia at Roma.

    Estavam lanados os dados, a histria iacomear...

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  • Vs sois testemunhas disso. Agora vou enviar-vosAquele que meu Pai prometeu. Por isso, esperai nacidade, at que sejais revestidos da fora do alto.(Lc 24,48-49)

    Jesus Cristo no fundou apenas uma reli-gio o Cristianismo. Ele fundou, tambm,uma Igreja, o novo Povo de Deus, constitudasob a forma de uma comunidade visvel desalvao, na qual os homens se incorporampelo Baptismo.

    Na sua ltima apario aos Onze, aps terressuscitado, Jesus deu-lhes esta ordem:Ide pelo mundo inteiro e anunciai a BoaNotcia a toda a Humanidade. Quem acredit-ar e for baptizado, ser salvo. Quem noacreditar, ser condenado. (Mc 16,15-16)

    So Mateus, no seu Evangelho, escrevepraticamente o mesmo, embora de outromodo:

    Toda a autoridade Me foi dada no Cu e sobre aTerra. Portanto, ide e fazei com que todos os povosse tornem meus discpulos, baptizando-os em

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  • nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo, eensinando-os a observar tudo o que vos ordenei.Eis que Eu estarei convosco todos os dias, at aofim do mundo. (Mt 28,18-20)

    J na ltima Ceia, no discurso de despe-dida (Jo 13,14-15), por cinco vezes anunciaaos Onze (entretanto Judas Iscariotes sarapara cumprir a sua traio) a vinda doEsprito Santo, o Esprito da verdade, quelhes ensinaria tudo o que ouviram a Jesus, oParclito (Consolador), que dar ao mundoprovas irrefutveis de uma culpa, pois nohaviam acreditado em Jesus, de uma inocn-cia, pois Ele iria para o Pai e j no O veriam,e de um julgamento, pois o prncipe destemundo ficara condenado.

    Pode dizer-se que a Igreja, aps umagestao de trs anos, nasceu no dia dePentecostes, comeando, desde ento, pro-priamente a sua Histria.

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  • III Parte

  • A Histria da Igreja

    O ESPRITO SANTO

    A MISSOPrimeiro Milnio

    Do Pentecostes ao Cisma do

    Oriente

    O Nascimento daIgreja

  • Fundada pelo prprio Senhor, a Igreja,novo Povo de Deus, edificada sobre a rochaque era Simo Pedro, foi constituda sob aforma de uma comunidade visvel de sal-vao volta de doze homens os Apstolos instrudos de uma forma especial ao longode trs anos, ensinados a baptizar e tendo-lhes sido conferido o poder de expulsar es-pritos impuros e de curar todas as doenas emales. Essa Igreja, na ltima apario doSenhor Ressuscitado, recebe a ordem de irpelo mundo inteiro proclamando o Evan-gelho a toda a criatura, fazendo discpulosem todos os povos, incorporando-os no seuseio pelo Baptismo em nome do Pai, do Filhoe do Esprito Santo, com a promessa da suapresena at ao fim dos tempos.

    Com tais ordens e promessa, a Igreja nas-ceu para a misso no ano 30 da nossa era,em Jerusalm, no dia em que se celebrava,cinquenta dias depois da Pscoa, a festa doPentecostes. Nessa festa os hebreus

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  • celebravam a aliana entre Deus e o seu Povono Sinai.

    Aps a Ascenso de Jesus, no monte dasOliveiras, situado frente a Jerusalm, osApstolos dirigiram-se para a casa onde ha-bitualmente se encontravam. A, juntamentecom Maria, me de Jesus, e com os irmosde Jesus, entregaram--se assiduamente orao.

    Ao fim de alguns dias, numa ocasio emque estavam reunidos cerca de cento e vintediscpulos, Pedro fez uma proposta: que deentre os discpulos de Jesus, que O haviamacompanhado desde o dia do Baptismo doSenhor at ao da sua Ascenso, se escolhesseum deles para se tornar, com os Onze,testemunha da Ressurreio.

    E assim, para ocupar o lugar deixado vagopor Judas Iscariotes, foi escolhido Matias.

    No dia de Pentecostes, Jesus cumpriu asua promessa de enviar o Esprito Santo.

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  • Quando chegou o dia de Pentecostes, todos eles es-tavam reunidos no mesmo lugar. De repente, veiodo cu um barulho como o sopro de um forte ven-daval, e encheu a casa onde eles se encontravam.Apareceram ento uma espcie de lnguas de fogo,que se espalharam e foram poisar sobre cada umdeles. Todos ficaram repletos do Esprito Santo, ecomearam a falar em outras lnguas, conforme oEsprito lhes concedia que falassem. Acontece queem Jerusalm moravam judeus devotos de todas asnaes do mundo. Quando ouviram o barulho, to-dos se reuniram e ficaram confusos, pois cada umouvia os discpulos a falar na sua prpria lngua.(Act 2,1-6)

    O milagre das lnguas constitui um dosfrutos do Esprito Santo derramado sobre osApstolos de Jesus no dia de Pentecostes.Nesse dia inverteu-se aquilo que aconteceuna Torre de Babel: a confuso das lnguas,simbolizando a situao de alienao e inim-izade recprocas. Em Babel a comunidadedos homens tentava criar um poder semDeus, mas onde no h Deus o homem sproduz diviso. Assim, com o Pentecostes, o

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  • Esprito de Deus reconstruiu a unidadequebrada em Babel.

    Ento, no meio da estupefaco geral poraquilo a que assistiam, Pedro, no meio dosdoze Apstolos, levantou-se e dirigiu um dis-curso breve e simples, mas eloquente e arre-batador e cheio de autoridade de algum queest seguro daquilo que diz.

    Falou-lhes do Jesus que eles, judeus,haviam crucificado e morto, mas que haviaressuscitado. Pedro terminou o seu discursode uma forma incisiva: Que todo o povo deIsrael fique a saber com certeza que Deustornou Senhor e Cristo aquele Jesus que vscrucificastes. (Act 2,36)

    Irmos, que devemos fazer? (Act 2,37)perguntavam os ouvintes, emocionados atao fundo do corao com tudo aquilo quetinham ouvido, acreditado pelos fenmenosque antecederam o discurso de Pedro, o factode escutarem os Apstolos no seu prprioidioma e eram dezasseis os idiomas dos

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  • presentes e a autoridade que Pedro puseranas suas palavras.

    Arrependei-vos, e cada um de vs sejabaptizado [...] (Act 2,38) respondeu-lhesPedro. Receberam o Baptismo e o dom doEsprito cerca de trs mil pessoas nesse dia.

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  • Gesta de Pedro

    Simo Pedro Barjona, o Apstolo que ocu-pa o primeiro lugar em todas as listas deApstolos assinaladas tanto nos evangelhoscomo nos Actos dos Apstolos...

    Simo, a quem Jesus dera um segundonome Pedro , nome que significa simbol-icamente pedra, rocha, rochedo...

    Simo Pedro, a quem confiada directa-mente por Jesus uma misso especial de dir-eco do pequeno rebanho, isto , a Igreja,aps a Sua morte: Tu s Pedro e sobre estapedra edificarei a minha Igreja... (Mt 16,18)

    Simo Pedro, cuja eleio de chefe daIgreja foi confirmada, mais tarde, por Jesus,aps a Sua morte e ressurreio, nas mar-gens do lago de Tiberades: Cuida dos meuscordeiros [...], toma conta das minhas ovel-has [...] (Jo 21,15-16)

  • Simo Pedro, o chefe incontestado, quetomou a iniciativa, numa assembleia decento e vinte irmos, de propor a eleio deuma testemunha da Ressurreio de Jesusentre os homens que acompanharam osApstolos durante todo o tempo em que oSenhor viveu entre eles, desde o SeuBaptismo at Sua Ascenso. Aps terem or-ado para essa finalidade, de entre os designa-dos para esse efeito Jos Barsabas, o Justo,e Matias foi escolhido Matias depois de tir-arem sorte... (Act 1,15-26)

    Simo Pedro, o porta voz dos DozeApstolos depois da descida do EspritoSanto sobre eles na casa onde O esperavam,no dia do Pentecostes, dirigindo-se aosjudeus piedosos provenientes de todas asnaes que h debaixo do cu... e que se en-contravam em Jerusalm por altura das fest-as da Pscoa e Pentecostes, num discurso oseu primeiro discurso como chefe da Igrejanascente que levou s primeiras

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  • converses: cerca de trs mil pessoas... (Act2,37-41)

    Simo Pedro, que certamente dirigia, cabea dos Apstolos, a Igreja de Jerusalm,uma comunidade modelo em que os irmoseram perseverantes em ouvir o ensina-mento dos Apstolos, na comunho fraterna,no partir do po e nas oraes. (Act 2,42)

    Simo Pedro simplesmente Pedro, desdeento iniciou, aps o Pentecostes, umagesta de que se ocupam praticamente met-ade dos captulos dos Actos dos Apstolos (aoutra metade constitui a gesta de Paulo).

    Essa gesta retoma o seu curso alguns diasdepois dos acontecimentos do Pentecostes,em que Pedro e Joo subiram ao Templo,tendo a Pedro realizado o seu primeiro mil-agre ao curar o coxo da Porta Formosa, coxode nascena que ali era colocado todos os di-as a pedir esmola.

    O povo, que conhecia o coxo desdesempre, assombrado quando o viu caminhar,

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  • louvou a Deus e foi-se juntando em torno dePedro e Joo. Ento, Pedro tomou a palavra:Israelitas, porque vos admirais com o queaconteceu? (Act 3,12) E continuou falandodo julgamento inquo a que haviam sub-metido Jesus, tendo-O eles negado quando jPilatos estava resolvido a libert-lO,exigindo-lhe a libertao de um assassino noseu lugar. Meus irmos, sei que agistes porignorncia (Act 3,17), de maneira quearrependei-vos e convertei--vos para que osvossos pecados sejam perdoados. (Act 3,19)

    E muitos dos que ouviam a Palavra ab-raaram a f e mais dois mil convertidos sejuntaram aos crentes. (Act 3,1-26; 4,4)

    Estava ainda Pedro a falar ao povo sob oprtico de Salomo, no Templo, quando sur-giram os sacerdotes, o comandante do Tem-plo e os saduceus, que, irritados por veremos Apstolos a ensinar o povo a testemunhara Ressurreio de Jesus, os prenderam,fazendo-os comparecer, no dia seguinte,

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  • perante uma assembleia presidida pelosumo-sacerdote Ans e ainda Caifs.

    Interrogaram-nos, querendo saber comque poder ou em nome de quem haviam feitoo anncio da Ressurreio de Jesus, coisaque os saduceus no admitiam por noacreditarem na ressurreio dos mortos.

    Ento, cheio do Esprito Santo, Pedroadianta-se e volta a tomar a palavra, de-fendendo com desassombro a sua causa per-ante o sumo-sacerdote e o Sindrio:

    pelo Nome de Jesus Cristo, de Nazar Aqueleque crucificastes e que Deus ressuscitou dos mor-tos , pelo seu Nome, e por nenhum outro, queeste homem [o aleijado da Porta Formosa] estcurado diante de vs. Jesus a pedra que vs, con-strutores, rejeitastes, e que se tornou a pedra angu-lar. No existe salvao em nenhum outro. (Act4,10-12)

    Perante tal desassombro, e reconhecendoa realidade do milagre, os membros doSindrio no tiveram meio de os castigar, por

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  • receio do povo, que no cessava de glorificara Deus pelo que tinha acontecido. E resolv-eram, ento, libertar os Apstolos, emboraproibindo-os formalmente de falar ou ensin-ar em nome de Jesus.

    Mas os Apstolos, no receando asameaas do Sindrio, continuaram a pregarCristo no Templo, junto ao Prtico de Sa-lomo. Pregavam e faziam muitos milagres,pelo que a multido que os rodeava era cadavez maior, vindo mesmo gente das cidadesprximas de Jerusalm transportandodoentes. Os doentes eram trazidos para asruas, colocados em enxergas e catres, a fimde que passagem de Pedro, ao menos a suasombra cobrisse alguns deles e os curasse.

    Atrados pela agitao gerada por estesacontecimentos, surgiram o sumo--sacerdotee os saduceus, que voltaram a prender osApstolos.

    Mas durante a noite o Anjo do Senhor ab-riu as portas da priso e conduziu os

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  • Apstolos para o exterior, dizendo-lhes paravoltarem ao Templo para continuarem apregar ao povo a Palavra da Vida.

    De manh cedo, eis que eles esto nova-mente no Templo a anunciar a salvao deJesus Cristo.

    Reunido o Sindrio foram mandados bus-car os Apstolos cadeia. Para espanto detodos encontraram a cadeia fechada comtoda a segurana, at com guardas de sen-tinela porta, mas dos presos no havia omnimo sinal. Perplexos, o sumo-sacerdote eo comandante do Templo no percebiam osucedido, para o qual no viam qualquer ex-plicao, e mais perplexos ficaram aindaquando algum veio comunicar-lhes que osApstolos estavam naquele momento noTemplo a ensinar o povo.

    O comandante do Templo dirigiu-se ime-diatamente para l com os guardas, trazendoos Apstolos presena do Sindrio, sem os

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  • forarem, pois receavam ser apedrejadospela multido.

    Em resposta s consideraes do sumo-sa-cerdote pela sua desobedincia ao continuar-em a espalhar a sua doutrina, recusaram-seresolutamente a deixar de pregar porque,dizia Pedro, preciso obedecer antes aDeus do que aos homens. (Act 5,29)

    Esta atitude dos Apstolos aumentou-lhesa irritao, pensando, ento, seriamente emmat-los. Interveio, entretanto, um homemilustre, um fariseu doutor da Lei, Gamaliel,respeitado por todo o povo, e que advertiu osmembros do Sindrio:

    No vos preocupeis com estes homens [...] se o seuprojecto ou actividade de origem humana, serdestrudo; mas, se vem de Deus, no conseguireisaniquil-los. Cuidado, no corrais o risco de vosmeterdes contra Deus! (Act 5,38-39)

    Chamados razo com estas palavras deGamaliel, os membros do Sindrio man-daram aoitar os Apstolos, voltaram a

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  • proibi-los de falar em nome de Jesus elibertaram-nos.

    E os Apstolos saram do Sindrio cheiosde alegria por terem sido dignos de sofrer ul-trajes por causa do Nome do Senhor.

    E cada dia, no Templo e pelas casas, nocessavam de anunciar a Boa Notcia de JesusMessias. (Act 5,42)

    Entretanto, iam sendo evangelizados, dur-ante os primeiros anos, os judeus de culturaaramaica, aqueles que falavam a lngua deJesus o aramaico , alis a lngua maisfalada no Mdio Oriente naquela poca.Esses primeiros convertidos continuavam acomportar-se como qualquer judeu piedoso:rezavam no Templo, observavam os precei-tos alimentares e praticavam a circunciso.Constituam mais uma seita no meio das queexistiam at a, isto , os fariseus, os sa-duceus e os zelotes.

    O que os distinguia desses era, principal-mente, o baptismo em nome de Jesus e eram

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  • conhecidos como os Nazarenos, isto ,seguidores de Jesus de Na-zar. Eles con-stituam, em Jerusalm, uma comunidademodelo:

    Eram perseverantes em ouvir o ensinamento dosApstolos, na comunho fraterna, no partir do poe nas oraes. Em todos eles havia temor, porcausa dos numerosos prodgios e sinais que osApstolos realizavam. Todos os que abraaram a feram unidos e colocavam em comum todas ascoisas; vendiam as suas propriedades e os seusbens e repartiam o dinheiro entre todos, conformea necessidade de cada um. Diariamente, todos jun-tos frequentavam o Templo e nas casas partiam opo, tomando alimento com alegria e simplicidadede corao. Louvavam a Deus e eram estimadospor todo o povo. E todos os dias o Senhor acres-centava comunidade outras pessoas que iamaceitando a salvao. (Act 2,42-47)

    At a, como vimos, a pregao era diri-gida, em aramaico, aos judeus dessa culturae a Igreja no cessava de crescer.

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  • Pouco tempo depois comeam tambm aser evangelizados os helenistas, os judeus decultura grega. Mas judeus, ainda...

    Comeou, com esta abertura aos judeushelenistas, a converso, primeiro dacomunidade helenista de Jerusalm, e de-pois, a partir do ano 36, a dos judeus de ter-ras mais distantes, mesmo fora da Palestina,merc das perseguies que, entretanto,comeavam a sofrer os nazarenos.

    Os helenistas, em Jerusalm, que sequeixavam de ser esquecidas as suas vivasno servio das mesas, isto , no servio dacaridade, preteridas em relao s vivas doshebreus, recorreram aos Doze, fazendo subirat eles as suas queixas.

    Resolveram, ento, os Apstolos confiar atarefa do servio s mesas a sete homens deboa reputao, escolhidos pela assembleiados discpulos, destinados a esse servio oudiaconia (do grego diakonia, ou seja, ser-vio), a fim de que eles os Doze se

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  • dedicassem com assiduidade orao e aoservio da palavra.

    Foram, assim, depois de escolhidos, desig-nados sete diconos. Os Actos dos Apstolosregistaram os nomes dos sete: Estvo, chefedos sete, Filipe, Prcuro, Nicanor, Timo,Parmenas e Nicolau, proslito de Antioquia(isto , um no judeu que observava a Leijudaica e era proveniente de Antioquia).

    Em breve, Estvo, cheio de graa e depoder, fazia grandes prodgios e sinais (Act6,8), provoca a inveja e a ira de alguns mem-bros da sinagoga, acabando por ser preso efalsamente acusado de blasfemo. Arrastadopara fora da cidade, a apedrejado at morte.

    Naquele dia, desencadeou-se uma grandeperseguio contra a Igreja de Jerusalm.(Act 8,1) Todos os discpulos se dispersarampela Judeia e Samaria, com excepo dosDoze.

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  • O grande perseguidor era Saulo, que, indode casa em casa, prendia os discpulos de Je-sus e entregava-os priso.

    Embora dispersos pela perseguio, osdiscpulos tornam-se autnticos missionriosentre os judeus dos vrios lugares aondechegam, anunciando a Boa Nova e realiz-ando milagres, conseguindo a converso demultides.

    Uma das regies evangelizadas foi precis-amente a Samaria e o protagonista dessaevangelizao foi um dos fugitivos: o diconoFilipe, um dos sete.

    A Samaria, que havia hostilizado Jesus,no O recebendo porque Ele ia a caminho deJerusalm, era palco de um cisma religiosoque vinha dos tempos do regresso do exliona Babilnia, altura em que se acentuaramas rivalidades entre samaritanos e judeus eque j haviam comeado nos incios da mon-arquia, com a diviso em dois reinos: o do

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  • Norte, Israel, correspondendo Samaria, e odo Sul, Jud, com capital em Jerusalm.

    A Samaria constitui a segunda etapa daexpanso do Evangelho, aps uma primeiraetapa de evangelizao de Jerusalm.

    Nestas duas primeiras etapas, a evangeliz-ao era dirigida apenas aos judeus, como vi-mos, embora a evangelizao da Samariaconstitusse j o esboo de uma abertura dapregao aos judeus segregados do antigoreino do Norte Israel , os Samaritanos,deportados para a Assria no tempo do reiOseias, levados por Sargo, rei assrio, em721 a . C. porque os israelitas pecaram con-tra o Senhor, seu Deus, que os havia tiradoda terra do Egipto. (2Rs 17,7) O rei assriohavia mandado vir gente de vrias partes doseu Imprio da Babilnia, de Creta, deHarmat, etc. estabelecendo essa gente nascidades da Samaria no lugar dos filhos de Is-rael. Os estrangeiros foram-se misturandocom os israelitas que tinham permanecido

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  • em Samaria, acabando por se gerar uma mis-tura social que, ao mesmo tempo que ad-orava o Senhor, Deus de Israel, continuava asacrificar aos deuses gentios: adoravam oSenhor mas honravam, ao mesmo tempo, osseus dolos, costumes que mantiveram at gerao do tempo de Jesus. Esses Samarit-anos, oriundos da mistura de judeus e gen-tios, nunca mais foram bem aceites pelosjudeus.

    Foram esses mesmos Samaritanos que, aoouvirem o dicono Filipe a pregar Cristo e aov-lo realizar milagres, aderiram em mul-tido a essa pregao, recebendo o Baptismo.

    A Igreja de Jerusalm, ao tomar conheci-mento do que se passava em Samaria, envioupara l Pedro e Joo.

    Ora, os Samaritanos haviam apenas rece-bido o Baptismo em nome do Senhor Jesus,no tendo ainda descido sobre nenhum deleso Esprito Santo. Ento, Pedro e Joo, depoisde orarem pelos Samaritanos, foram-lhes

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  • impondo as mos a fim de receberem oEsprito Santo.

    Vivia em Samaria um homem que prat-icava magia, assombrando o povo com assuas habilidades mgicas. Chamava-seSimo e ele mesmo tambm acreditou napregao do dicono Filipe, tendo recebido oBaptismo. Vivia espantado com os milagres eprodgios que Filipe fazia.

    E mais pasmado ficou quando, aps achegada de Pedro e Joo Samaria, os viaconferirem o Esprito Santo pela imposiodas mos. E o convertido Simo prope aPedro comprar-lhe o seu poder apostlico dedar o Esprito Santo pela imposio dasmos. Porm, Pedro repreende-oveementemente, concitando-o ao arrependi-mento e a pedir a Deus que lhe perdoasse. Osamaritano Simo arrependeu-se, pedindomesmo a intercesso do Apstolo junto doSenhor, de modo a no perder a salvao.Deste episdio, relatado nos Actos dos

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  • Apstolos, nasceu um novo termo simo-nia que passou a designar a compra evenda de poderes ou cargos eclesisticos.

    A Igreja ia sendo edificada, crescendo coma assistncia do Esprito Santo, graas pazde que gozava, entretanto, em toda a Judeia,Galileia e Samaria.

    Pedro andava por todo o lado, anunciandoa palavra do Senhor, procla-mando a BoaNova em muitas aldeias e vilas.

    Ao passar por Lida, terra situada a cercade 20 quilmetros de Jope ou Jafa, encon-trou l um paraltico, Eneias, que vivia hoito anos estendido num catre. Ao v-lo,disse-lhe Pedro: Eneias, Jesus Cristo vaicurar-te! Levanta-te e arruma a tua cama.(Act 9,33) E logo o paraltico se levantou,curado, facto que puderam comprovar todosos habitantes de Lida, que, perante aquilo aque tinham assistido, se converteram todosao Senhor.

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  • De Lida, Pedro dirigiu-se a Jope, chamadopelos discpulos de Jesus existentes nessacidade. O facto que tinha adoecido e mor-rido uma discpula muito estimada pelasgenerosas esmolas que distribua e pelasboas obras que praticava. Tratava-se deTabit, em grego Drcada, palavra que signi-fica gazela.

    Pedro, ao chegar junto do corpo de Tabit,exposto numa sala, mandou sair todos ospresentes, ajoelhou-se e orou. Depois,voltando-se para o corpo, disse: Tabit,levanta-te ! (Act 9,40). E Tabit imediata-mente abriu os olhos e sentou-se. Pedro,tomando-a pela mo, mostrou-a, viva, a to-dos. O milagre tornou-se conhecido em todaa cidade, o que levou muitos a converterem-se e a acreditarem no Senhor.

    Entretanto, Pedro ficou instalado em Jopedurante bastante tempo, em casa de umcurtidor chamado Simo.

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  • Estes dois milagres a cura do paralticode Lida e a ressurreio de Tabit em Jope precederam a manifestao da prpria acode Deus quando resolveu abrir as portas daIgreja aos gentios por intermdio de Pedro,como que numa confirmao do primado doApstolo. Essa manifestao do universal-ismo cristo deu-se em Cesareia.

    [...] ao meio-dia Pedro subiu ao terrao para rezar.[em Jope, ou Jafa, em casa do curtidor Simo].Sentiu fome e quis comer; mas, enquanto prepara-vam a comida, Pedro entrou em xtase. Viu o cuaberto e uma coisa que descia para a terra; pareciauma grande toalha sustentada pelas quatro pontas.Dentro dela havia toda a espcie de quadrpedes, etambm rpteis da terra e aves do cu. E uma vozdisse-lhe: Levanta--te, Pedro, mata e come! MasPedro respondeu: De modo nenhum, Senhor!Porque eu nunca comi coisa profana e impura! Avoz disse-lhe pela segunda vez: No consideresimpuro o que Deus purificou. Isto repetiu-se portrs vezes. Depois a coisa foi recolhida para o cu.(Act 10,9-16)

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  • E, enquanto Pedro meditava sobre a es-tranha viso que tinha tido, chegaram, en-tretanto, trs mensageiros que lhe pediramque fosse a casa do seu senhor, o centurioromano Cornlio, em Cesareia, cerca de 55quilmetros a norte de Jafa.

    O centurio Cornlio, homem piedoso etemente a Deus, que dava grandes esmolasaos pobres e orava continuamente a Deus,havia tido tambm uma viso extraordinriade um Anjo de Deus que lhe disse para envi-ar homens a Jope a chamar um certo Simo,conhecido por Pedro.

    E quando Pedro, correspondendo ao quelhe fora solicitado, chega ao contacto comCornlio, compreende completamente aviso que tinha tido: Deus havia-lhemostrado que no se devia chamar impuro ahomem algum. Na realidade, os judeus es-tavam impedidos de contactar com os gen-tios e de comer com eles, pois estes comiamanimais considerados impuros. Eles

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  • obedeciam a um cdigo de pureza ritual, nopodendo comer coelhos, lebres, porcos porque no tm a unha do p dividida emdois cascos os rpteis e os animais aquti-cos sem barbatanas ou escamas, e pratica-mente todas as aves do cu. Todas estas pre-scries se encontram no Levtico (Lv11,1-47).

    E mais ainda quando Cornlio fala dasua viso em que um Anjo lhe dissera paramandar chamar o Apstolo, Pedro replicou:Agora compreendo que Deus no faz difer-ena entre as pessoas (Act 10,34) e continu-ou o seu discurso de testemunha de Jesus,terminando por dizer que quem acreditasserecebia a remisso dos pecados.

    Pedro ainda falava quando o EspritoSanto desceu sobre Cornlio e quantosouviam a palavra comearam a falar em ln-guas e a glorificar a Deus.

    E perante esta manifestao do EspritoSanto, qual, alm de Pedro, assistiam

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  • estupefactos os seus companheiros vindoscom ele de Jope, discpulos judeus nessa cid-ade, Pedro no teve qualquer dvida emministrar a Cornlio e toda a sua famlia oBaptismo em nome de Jesus.

    A notcia do acontecido correu clere echegou a Jerusalm, onde causou grandeperturbao nos Apstolos e nos discpulosde Jesus, os irmos da Judeia...

    Os Apstolos e os irmos que viviam na Judeiasouberam que tambm os pagos haviam acolhidoa Palavra de Deus. Quando Pedro subiu a Jerus-alm, os fiis de origem judaica comearam a dis-cutir com ele, dizendo: Tu entraste em casa de in-circuncisos e comeste com eles! Ento Pedrocomeou a relatar-lhes, passo a passo, o que haviaacontecido [...] Ao ouvirem isto, os fiis de origemjudaica acalmaram-se e glorificaram a Deus,dizendo: Tambm aos pagos Deus concedeu aconverso que leva vida! (Act 11,1-4;18)

    Depois do Pentecostes dos judeus, em Jer-usalm, o Esprito Santo derramara os seus

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  • dons num Pentecostes dos gentios, emCesareia.

    A terceira etapa estava prestes a comear,merc da feroz perseguio movida aos dis-cpulos de Jesus: a fundao da Igreja de An-tioquia, na Sria. A a pregao era feitaapenas aos judeus l residentes, emboracomeassem tambm a ser evangelizados al-guns gregos. Quando a notcia chegou Igreja de Jerusalm, esta enviou Barnab aAntioquia, para constatar esta grande graaconcedida por Deus. (Act 11,22-24)

    Antioquia era a capital da provncia ro-mana da Sria e a terceira maior cidade doImprio Romano, depois de Roma eAlexandria.

    E foi em Antioquia que os discpulos re-ceberam, pela primeira vez, o nome decristos. (Act 11,26)

    Entretanto, no ano 41, comea de novo aperseguio dos cristos, movida por umsobrinho de Herodes Antipas que se tornara

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  • rei da Judeia e Samaria: o rei Herodes Agri-pa I.

    Alguns membros da Igreja de Jerusalmforam particularmente maltratados: TiagoZebedeu, irmo de Joo, que foi mandadomatar espada, para regozijo dos judeus; ePedro, que foi preso para tambm ser morto.

    Pedro foi colocado na priso e acor-rentado. Para sua guarda foram destacadosquatro piquetes de quatro soldados cada um:dos quatro soldados de cada turno, doisficavam colocados um de cada lado de Pedroe os outros dois ficavam de sentinela portada priso.

    Pedro dormia quando, de sbito, apareceuo Anjo do Senhor, ficando a masmorra in-undada de luz; o Anjo despertou Pedro, aquem caram as correntes das mos;mandado pelo Anjo que o seguisse, assimfez. Passaram pelos postos da guarda at porta de ferro da priso que dava para a rua.Essa porta abriu-se imediatamente, por si

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  • mesma, e Pedro e o Anjo saram, comeandoa caminhar por uma rua, aps o que o Anjodesapareceu de junto de Pedro.

    Pensando no melhor caminho a tomar,Pedro decidiu-se a ir a casa de Maria, me deJoo Marcos (primo de Barnab e compan-heiro, como este, de Paulo numa das suasviagens).

    Em casa de Maria estavam reunidos a orarnumerosos fiis que ficaram estupefactosquando viram Pedro. Este contou-lhes a suamilagrosa libertao, recomendando-lhesque o participassem aos irmos de Jerus-alm. Depois disso, Pedro retirou-se paraparte incerta. Os escritos no nos do contadesse lugar...

    Pedro como que se eclipsa, para sreaparecer mais tarde numa assembleia emJerusalm, onde se discutiu uma questo le-vantada, em Antioquia, pelos cristos judaiz-antes que preconizavam a necessidade dacircunciso para se poder ser salvo. Paulo e

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  • Barnab haviam sido enviados de Antioquiaa Jerusalm para consultarem os Apstolos eos Ancios sobre esta questo.

    Em Jerusalm, alguns do partido dosfariseus, que se haviam convertido, insi-stiram na necessidade de observncia da Leide Moiss: os pagos convertidos f cristteriam de ser circuncidados.

    Aps longa discusso, Pedro levantou-se enum discurso lembrou como em Cesareia,aps terem abraado a f, aos pagos tam-bm havia sido concedido o Esprito Santo,sem lhes impor o jugo da circunciso.

    Em seguida, com o acordo de toda aIgreja, foi enviada uma carta apostlica a An-tioquia em que, nomeadamente, referiamque decidimos, o Esprito Santo e ns, novos impor nenhum fardo (Act 15,28) senoa absteno de carnes imoladas aos dolos,do sangue, de carnes sufocadas e daimoralidade.

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  • Aps esta assembleia de Jerusalm os es-critos so completamente omissos a respeitode Pedro: o Novo Testamento no mencionao local para onde se dirigiu Pedro aps a suapriso e libertao miraculosa, bem comodepois da Assembleia de Jerusalm.

    No entanto, a tradio desde os fins dosculo ii refere Pedro como chefe da Igrejade Roma: Ireneu, na sua obra Contra as Her-esias, menciona explicitamente os ApstolosPedro e Paulo como fundadores da Igreja deRoma, a Igreja venervel, muito antiga econhecida de todos4; Tertuliano refere omartrio de Pedro e Paulo em Roma; e Or-genes afirma que Pedro foi crucificado emRoma de cabea para baixo. Eusbio deCesareia, alm de citar que Pedro e Paulo fo-ram mortos em Roma, afirma que os nomesdos dois Apstolos se encontravam ainda noscemitrios daquela cidade.

    Mas o grande instrumento escolhido porDeus para converter os gentios era o mais

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  • judeu e fariseu fantico entre os judeus,de nome Saulo, natural de Tarso, cidadegrega da Cilcia, prxima da costa sul da siaMenor (actual Turquia) e que ficava quaseem frente de Antioquia, do outro lado domar.

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  • Gesta de Paulo

    Saulo, que era conhecido tambm pelo seunome greco-romano Paulo , possua umavasta instruo, no s filosfica, greco-ro-mana, mas tambm das Escrituras hebraicas,tendo estudado com o mais importantemestre rabnico do seu tempo: Gamaliel.

    Munido de uma slida instruo nas duasculturas, a greco-romana e a hebraica,acabou por se tornar um fariseu entregue misso de catequizar os gentios convertidosao judasmo os proslitos , que se sub-metiam circunciso e eram admitidos aber-tamente na comunidade judaica, e ostementes a Deus (caso do centurioCornlio, por exemplo), que eram apenassimpatizantes e semi-convertidos.

    Pelo ano 36, Saulo, ainda jovem, parti-cipou no martrio de Estvo. Os Actos dosApstolos referem-se a ele como um jovem

  • aos ps do qual os lapidadores de Estvodepuseram as suas capas para mais desem-baraadamente procederem ao apedreja-mento. (Act 7,58)

    No mesmo dia do martrio de Estvodesencadeou-se uma terrvel perseguio aosmembros da Igreja de Jerusalm, especial-mente aos helenistas, que fugiram,dispersando-se pelas terras da Judeia e daSamaria. Entretanto os Apstolos e oscrentes hebreus no fugiram e foram aprincpio poupados, por se manterem fiis aojudasmo local, continuando a frequentar oTemplo diariamente para as suas oraes.

    Saulo devastava a Igreja: entrava nas cas-as e arrastava para fora homens e mulheres,para os meter na priso. (Act 8,3) E, res-pirando ameaas e mortes contra os discpu-los do Senhor (Act 9,1), foi pedir credenci-ais ao sumo-sacerdote para poder trazeralgemados para Jerusalm quantos

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  • encontrasse em Damasco e fossem crentesem Jesus de Nazar.

    Durante a viagem, quando j estava pertode Damasco, Saulo viu-se repentinamentecercado por uma luz que vinha do Cu. Caiupor terra e ouviu uma voz que lhe dizia:Saulo, Saulo, porque Me persegues? Sauloperguntou: Quem s Tu, Senhor? a voz re-spondeu: Eu sou Jesus, a quem tupersegues. Agora levanta-te, entra na cidade,e a te diro o que deves fazer. Os homensque acompanhavam Saulo ficaram cheios deespanto, porque ouviam a voz, mas no viamningum. Saulo levantou-se do cho e abriuos olhos, mas no conseguia ver nada. Entolevaram-no pela mo para Damasco. E Sauloficou trs dias sem poder ver, e no comeunem bebeu nada. (Act 9,3-9)

    A o foi encontrar Ananias, um discpulode Jesus, mandado pelo Senhor para o curare lhe ministrar o Baptismo.

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  • Saulo comeou imediatamente a pregar nasinagoga de Damasco e, depois, em Jerus-alm, onde foi levado presena dos Apsto-los por intermdio de Barnab, que fez o re-lato da maravilhosa viso de Saulo a cam-inho de Damasco e como, depois disso,anunciava desassombradamente o nome deJesus nas sinagogas de Damasco. Aceitepelos Apstolos, Saulo pregava cora-josamente em Nome de Jesus (Act 9,28)por todos os lados, em Jerusalm.

    Mas a sua vida corria perigo em Jerus-alm, de tal modo que os discpulos o en-caminharam para a sua terra natal, Tarso,onde ficou cerca de dez anos. A o foi procur-ar Barnab para o levar consigo para An-tioquia, onde ambos se mantiveram juntosdurante um ano inteiro, ensinando muitagente, primeiramente os judeus nas sinago-gas e depois os pagos, embora sem lhes im-por as prticas judaicas (a circunciso e as

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  • interdies alimentares: rejeio da carne deporco, do sangue, etc.).

    Estava-se no ano 46 e, a partir de An-tioquia, a Igreja faz-se ao largo com Saulo eBarnab. Antioquia constitua o ponto departida da evangelizao do Imprio Ro-mano, e da se lanaram Saulo e Barnab nasua primeira viagem missionria.

    A primeira paragem foi a ilha de Chipre,ptria de Barnab. A pregavam nas sinago-gas judaicas, mas anunciavam, tambm, apalavra do Senhor aos pagos. Foi a partirda que Saulo passou a usar o seu nomegreco-romano: Paulo, como que assinalandoo contacto do Apstolo com o mundo dosgentios.

    De Chipre embarcaram para a sia Menor,dirigindo-se a Antioquia de Pis