história contemporânea i - p2
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Atividade acadêmica apresentada como avaliação para a disciplina de História Contemporânea ITRANSCRIPT
UNIVERSIDADE VEIGA DE ALMEIDA
CAMPUS IV – CABO FRIO
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA I
PROFESSOR: CARLOS LEONARDO BAHIENSE
ALUNO: DANIEL SANTANNA LIMA
MATRÍCULA: 052170160
Proposta de trabalho: Resumo da obra “Maldita Guerra – Nova História da Guerra do
Paraguai”, de Francisco Doratioto.
O livro de Doratioto propõe-se no início a desmistificar a idéia criada pela
historiografia revisionista que tende a acusar o imperialismo britânico de ser o principal
agente deflagrador da Guerra do Paraguai. Ainda na introdução cita uma peculiaridade
interessante deste conflito, apontando que geralmente na história das guerras travadas até
então, o agressor saía-se vitorioso, resultado contrário ao da Guerra do Paraguai, onde Solano
López foi derrotado e morto pelos aliados. Durante o primeiro capítulo intitulado
“Tempestade no Prata”, Doratioto contextualiza a região platina com suas respectivas tensões
e contradições políticas, além de traçar um histórico da vida política paraguaia, apontando
como uma das suas principais características o “isolacionismo político” imposto pelas
tradicionais ditaduras sob as quais vivera aquela nação. A partir de então traz à tona todo o
contexto diplomático platino no início da segunda metade do séc. XIX, fazendo alusão
inclusive à “Questão Christie”, episódio chave da crise diplomática entre o Império do Brasil
e o Império Britânico. Seguindo o raciocínio, Doratioto mostra a crise brasileira com o
Uruguai no tocante aos maus-tratos aplicados aos súditos brasileiros em território uruguaio,
além de apontar também o conflito interno uruguaio entre o partido da situação (blanco),
liderado pelo presidente Berro, e os opositores colorados representados principalmente pela
figura do caudilho Venâncio Flores, conflito esse que acabou por ocasionar uma guerra civil.
Enquanto isso, no território argentino o líder portenho Bartolomé Mitre busca a manutenção
do unitarismo territorial, obtido com a vitória sobre os caudilhos opositores, liderados por
Urquiza de Entre Rios, embora, apesar de derrotadas, as províncias ainda resistissem,
especialmente Entre Rios e Corrientes. O fato de o governo uruguaio apoiar os separatistas
contra Mitre, gerou grande descontentamento ao governo argentino. Este é o ponto
culminante deste trecho da obra, pois o autor propõe que a guerra civil uruguaia foi o
“elemento catalisador” de todas as contradições regionais e que consequentemente gerou o
ambiente propício ao conflito entre o Paraguai e seus vizinhos platinos. Do lado Paraguaio,
temos nesse período “pré - guerra”, a busca do ditador Solano López por uma maior
participação nas questões diplomáticas platinas, colocando-se como “peça chave” na
manutenção do equilíbrio político na região através da “instrumentalização das contradições”
políticas ali existentes (p.50). Expõe-se também o rompimento diplomático do Uruguai com a
argentina devido ao apoio de Mitre aos rebeldes colorados liderados por Flores e a
animosidade estabelecida entre a Argentina e o Paraguai devido à “política incisiva de defesa
dos seus [paraguaios] interesses” na região. Paralelo à esta situação temos o esforço
diplomático argentino-brasileiro nos sentido de pacificar o Uruguai, através da ação conjunta
dos diplomatas Elizalde e Saraiva, que embora tenham falhado em sua missão, contribuíram
significativamente para que as relações entre o Império brasileiro e a Argentina fossem
estreitadas, tendo o autor, citado nesta parte a seguinte declaração dada por Saraiva: “A
Tríplice Aliança [...] foi constituída em Puntas del Rosário” (p.56). O autor apresenta também
a questão do medo britânico da postura anexionista do Império brasileiro e da Argentina,
medo esse, fomentado pelo governo paraguaio que esperava enredar a Inglaterra em uma
intriga onde Brasil e Argentina eram acusados de desejar anexar territórios à custa de Estados
menores, além de possuírem a intenção de monopolizar o comércio no Prata. Já caminhando
para a definição do problema uruguaio, Doratioto cita o ultimatum dado pelo Império
brasileiro ao governo uruguaio, que busca desesperadamente o apoio paraguaio, sob pretexto
das já citadas intenções anexionistas brasileiras, e aponta também a neutralidade do governo
argentino nesse momento. O governo uruguaio rejeita o ultimato, rompe relações diplomáticas
com o Brasil e pressiona o governo Paraguaio a aliarem-se contra o Império. Toda essa
seqüência de fatos resulta na assinatura de um documento entre Brasil e Argentina que
legitima ações intervencionistas no Uruguai, visando a pacificação. O Paraguai por sua vez
posiciona-se publicamente contra o Império brasileiro, afirmando a possibilidade de
intervenção caso o Brasil invadisse o território uruguaio (p.60). Nem o Império nem a
Argentina dão crédito ao protesto paraguaio. Este é um ponto importante da narrativa, pois
fica explícita a subestimação da força paraguaia por parte do Brasil e da Argentina, sendo este
um erro político brutal, pois o isolamento mantido tradicionalmente pelo Paraguai, acabou por
“mascarar” o seu potencial bélico. Doratioto explica que isto se deu basicamente pela falta de
informações por parte das nações vizinhas (p.61), e aponta também que Solano López possuía
uma “lógica peculiar” em seu raciocínio, totalmente fora da previsibilidade creditada pelos
diplomatas das nações envolvidas na questão uruguaia, expondo de forma brilhante o
comportamento do ditador paraguaio e o trato dado a seus opositores, sobretudo da elite, além
de mostrar que esta elite desejava o conflito com o Império para livrar-se de López. Expõe
ainda um outro aspecto muito importante e cuja compreensão será de grande valia para
analisar o andamento da Guerra do Paraguai em todos os seus enfrentamentos, que é a questão
da carência de oficiais militares capacitados e com forte liderança, em virtude do caráter
autoritário e agressivo de Solano López, que “podava” o brilhantismo e a iniciativa pessoal
dos seus subalternos antes que sobressaíssem. Também são citados a crescente militarização
paraguaia, o acordo de Santa Lúcia, assinado em 20 de outubro de 1864, onde Tamandaré
coopta o apoio de Venâncio Flores, (embora ainda não houvesse declaração formal de guerra
ao Uruguai), e a posterior invasão do território uruguaio, comandada pelo General Menna
Barreto, que após a vitória no cerco à cidade de Paissandu, entrega-o ás forças de Venâncio
Flores, em dezembro do mesmo ano. Outro episódio importante no curso dos acontecimentos
platinos desse período foi a captura do navio a vapor brasileiro, de nome Marquês de Olinda,
que levava uma delegação brasileira à Mato Grosso, da qual um dos membros era o novo
presidente desta província. Os soldados paraguaios declararam ao capturar o navio que o
Brasil estava em guerra com o Paraguai, o que naquele momento era mentira. A partir de
então o Império do Brasil rompe diplomaticamente com o Paraguai e a atmosfera de tensão
aumenta cada vez mais, citando-se como forte evidência disso, o atentado contra o cônsul –
geral do Brasil em Assunção, Amaro Barbosa, além de outros casos de violência explícita,
como o de Juan Barbosa, espancado e classificado com “vagabundo”. Segundo Doratioto,
essa postura do governo paraguaio se deve em grande parte à informações equivocadas
fornecidas pelo diplomata uruguaio Vasquez Sagastume, além da ausência de um serviço
diplomático paraguaio. Em meio a todos estes acontecimentos, o Império reivindica o apoio
argentino, obtendo resposta negativa por parte de Mitre, que alegou a possibilidade de
embaraços políticos entre o governo de Buenos Aires e o povo das províncias argentinas que
eram avessos ao Brasil e simpáticos ao Paraguai, devido á afinidade cultural, haja vista que
falavam também o idioma guarani. Aponta-se aqui a pacificação definitiva do Uruguai, com o
bloqueio de Montevidéu e assinatura do “Protocolo de Paz de Villa Unión”, onde fica definida
a posse de Flores e estreitam-se ainda mais a aliança entre o Império e o novo governo
uruguaio.
Doratioto discute ainda no primeiro capítulo, a questão do revisionismo histórico
paraguaio, promovido inicialmente pelo escritor Juan Emiliano O’Leary no final do séc. XIX,
onde o país encontrava-se na total penúria do pós - guerra e carecia da figura de um herói
nacional, decidindo-se, portanto, mitificar Solano López. Aproveita também para apontar a
situação econômica da família López, sendo interessante a expressão “feudo da família
López”, pois gigantescas extensões de terra e grande quantidade de imóveis na capital
pertenciam à Solano López e aos seus. Doratioto conta que após a guerra, as autoridades
judiciais paraguaias embargam todos os bens de Solano López, inclusive os de sua
“concubina”, considerando – o [Solano López] traidor da pátria e “fora da lei”, sendo os bens
transferidos para o Estado Paraguaio. O revisionismo histórico acima descrito visava, segundo
Doratioto, não apenas solucionar o problema ideológico paraguaio, mas sim o beneficiamento
dos herdeiros de López, com o resgate dos direitos civis e a revogação dos decretos
humilhantes do pós-guerra, além do resgate das possessões adquiridas pela família. Cita
ainda que O’Leary iniciou a “campanha Lopizta” por interesses financeiros, visando prestígio
e vantagens materiais e que o revisionismo histórico foi utilizado como um instrumento de
legitimação histórica da ditadura paraguaia na segunda metade do séc. XX, sob o governo de
Alfredo Stroessner, chamada de “coloradismo”. Doratioto encerra o capítulo reafirmando que
a teoria revisionista que culpabiliza o imperialismo inglês pelo desencadeamento da guerra
não possui fundamento consistente, pois toda a infra – estrutura paraguaia foi implementada
pelos britânicos. Além disso, os empresários e banqueiros britânicos é que emprestaram
dinheiro às potências platinas e não o governo. Observa-se ainda que o diplomata inglês
Edward Thornton buscou que a guerra não ocorresse, durante todo o período em que esteve
colaborando nas negociações entre o Paraguai e os países vizinhos.
No segundo capítulo (O Paraguai ataca: o fracasso da guerra relâmpago), em que se
explica detalhadamente o ataque a Mato Grosso, Doratioto traça inicialmente um panorama da
situação paraguaia às vésperas do conflito, citando os principais fatores que, analisados
racionalmente, levam a conclusão de que o ataque paraguaio foi um desatino total, como a
desvantagem demográfica e a conseqüente impossibilidade de ampliar o exército num curto
espaço de tempo, e a desvantagem geográfica decorrente do isolamento do país no interior do
continente, sem acesso ao mar, impossibilitando o recebimento de provisões e armamentos do
exterior, haja vista o bloqueio fluvial promovido pela esquadra brasileira (p.98). Aponta
ainda, o problema do número insatisfatório de comandantes militares, pelas razões já
discutidas anteriormente, citando o curioso fato de que Solano López era o único general do
exército paraguaio, além de mostrar as “condições anacrônicas” de armamento, no tocante à
tecnologia, relatando que o exército paraguaio era mal armado, mal comandado,
despreparado, porém extremamente valente. Seguindo o capítulo, Doratioto explica que o
ataque precipitado ao Mato Grosso foi incoerente, pois impediu que o Paraguai recebesse o
armamento moderno encomendado na Europa, pois, como já foi citado, os rios foram
bloqueados pela esquadra imperial. Um outro fator negativo quanto ao ataque, é que não
houve adesão dos Uruguaios, pois os blancos já haviam sido depostos do poder, além da não-
adesão também das províncias argentinas. Fora isso, os paraguaios não se aproveitaram do
fator surpresa, observando-se que a proposta era de uma “guerra relâmpago”. Do lado
brasileiro, também havia problemas sérios no tocante à defesa militar das províncias atacadas
por López (Mato Grosso e Rio Grande do Sul), sendo os principais: a debilidade e o
isolamento militar, devido a grande dispersão da tropas dentro da província, e a ausência de
uma esquadra própria para combates fluviais, devido à preocupação com a defesa costeira
contra possíveis ataques britânicos (já foi citado que Brasil estava em meio a uma crise
diplomática com o Império Britânico). A partir deste ponto, Doratioto passa a narrar como se
deu o confronto no Mato Grosso, desde a estratégia traçada por Solano López , que consistia
na organização de duas colunas , uma terrestre e uma fluvial, que convergiriam
posteriormente sobre Cuiabá ,até a invasão de fato, iniciando pela tomada do Forte Coimbra,
onde ocorreram de início 200 baixas paraguaias. Importante citar que de acordo com o autor,
a historiografia brasileira apontava como causa para a tomada do forte a falta de munição da
guarnição, enquanto que segundo a versão de militares paraguaios que estavam na batalha,
entre eles Centurión, isso não passa de um grande equívoco, e de fato os registros confirmam
que havia realmente munição. Nota-se que paralelo à esse movimento bélico, o governo
paraguaio apresentava-se como agredido e culpava o Império Brasileiro pelo confronto.
Prosseguindo, Doratioto narra a tomada fácil de Corumbá, onde a cidade foi evacuada por
ordem do coronel Oliveira, sem que sequer se confrontasse os atacantes. A postura das forças
brasileiras foi tão covarde, que civis foram abandonado à própria sorte, sendo o coronel
responsável destituído posteriormente pelo governo imperial. Importante citar também o
episódio do confronto entre o vapor brasileiro Anhambaí e o vapor de guerra paraguaio Iporá,
onde orelhas de marinheiros brasileiros foram arrancadas e penduradas nos mastros da
embarcação paraguaia. Seguem-se os absurdos erros de defesa brasileira, com a tomada do
posto naval de dourados, repleta de munição, e a seguir caem as posições de Miranda,
Dourados e Nioaque, com os paraguaios capturando enormes quantidades de munição, sendo
citada apreensão pelos paraguaios de mais de 50 canhões. Interessante a citação que apresenta
bem o estado de coisas nesse momento: “A entrada do exército paraguaio em Mato Grosso
pareceu mais um treinamento militar do que uma invasão” (p.106). Apesar da ocupação
paraguaia, cita-se neste capítulo a existência de uma guerrilha indígena brasileira (Mbaya) que
atormentava o exército paraguaio na região. Doratioto aponta também que os moradores
fugitivos eram obrigados a retornar à vila de Corumbá e que era comum a ocorrência de
violência sexual contra brasileiras, além é claro, da prática do saque às cidade ocupadas. Os
acusados de espionagem eram mortos à lança. Interessante lembrar o fato de que as mulheres
de Assunção iam a Corumbá com o pretexto de cuidar dos feridos paraguaios, mas na
realidade pretendiam apoderar-se das riquezas saqueadas. Todos os moradores eram
obrigados a transferir-se para Assunção, sob pena de fuzilamento. Somente aqueles que
possuíam riqueza e contatos importantes conseguiram bons abrigos e boas condições de
alimentação. Neste ponto da narrativa, é descrita a dura rotina dos prisioneiros brasileiros,
que sequer eram alimentados direito, sendo os militares alimentados com carne estragada.
Assunção é apresentada como um “Sibéria tropical”, devido ao super-isolamento e a
conseqüente impossibilidade de fuga. Em meio a essa situação de penúria dos brasileiros em
território paraguaio, surge a figura de José Maria Leite Pereira, “gerente” do consulado
português no Paraguai, citada por Doratioto como um “anjo da guarda”, através do qual se
conseguiu que o consulado distribuísse roupas e alimentos entre os militares brasileiros
prisioneiros, em troca de cerca de três quilos de ouro pagos pelo Império. Além de mobilizar
o consulado, Leite Pereira abrigava prisioneiros de guerra em sua casa. Devido à ajuda
prestada aos brasileiros, Leite Pereira foi perseguido e morto pelo governo paraguaio, que
com a ajuda de um ministro português (Azevedo) que espionava à seu serviço, conseguiu que
o governo português negasse proteção à vítima. A partir da invasão do Mato Grosso, inicia-se
a mobilização para o recrutamento, e a princípio os brasileiros indignados, apresentam-se
animados para combater, esperando que a guerra não fosse se prolongar muito. Neste ponto
Doratioto contextualiza o exército imperial, mostrando a situação caótica em que se
encontravam os quartéis, com soldados sendo maltratados e vistos como escória da sociedade,
sendo o serviço militar um “purgatório”, uma espécie de castigo, de degradação (p.111). A
instrução militar era precária, sem condições de enfrentar um exército organizado. Cita-se
também o comportamento elitista da guarda nacional, que não admitia membros das classes
populares, e embora fosse bastante numerosa, também era despreparada para a guerra, pois
exercia apenas função para – policial. Este grupo recusava-se veementemente a ir à guerra em
todas as províncias, exceto Bahia e Goiás. Para sanar o problema do recrutamento é criado em
07 de janeiro de 1865, o Corpo de Voluntários da Pátria. O estímulo ao alistamento era feito
através da concessão de gratificações em dinheiro e vantagens em caso de invalidez (meio
soldo) ou morte (pensão à herdeiro escolhido), além da promessa de extensões de terra em
“colônias militares e agrícolas existentes em diferentes pontos do Brasil” (p.114). A elite
relutava em ir à guerra, ao contrário das classes populares que tinham entusiasmo patriótico.
Alistaram-se cerca de 10 mil voluntários no início da campanha, sendo a província da Bahia a
mais entusiasmada do Império. Um dado importante apontado por Doratioto é que a maioria
dos soldados brasileiros em 1965 era do Norte/Nordeste, e devido à drástica mudança
climática, 400 soldados morreram de frio, pois não receberam uniformes adequados, além de
sucumbirem às doenças, haja vista o consumo excessivo de carne fresca e o uso da água
impura dos rios. Cita-se ainda o plano do marquês de Caxias para a invasão do Paraguai em
três colunas, que segundo os cálculos do militar brasileiro, necessitaria de um total de 50.000
soldados para sua execução, sendo 45.000 no front e 5.000 na reserva em território brasileiro,
baseados no Rio de Janeiro e em Santa Catarina. De acordo com o plano de Caxias, a
conquista da fortaleza de Humaitá era imprescindível para que fosse executada qualquer ação
militar contra Solano López. Relata-se que os acampamentos do exército imperial não
possuíam infra – estrutura, ou por falta de equipamentos básicos como uniformes, capacetes e
barracas, ou por falta de saneamento, pois vários soldados faleciam por conta de crises de
diarréia. Destaque para a figura do general Manuel Luís Osório, que implementou melhoras
significativas nas tropas próximas a Montevidéu, como a construção de um hospital militar,
além da duplicação da artilharia e um considerável aumento do efetivo. Organizou também a
administração financeira das tropas, pagando os soldos em dia. Faz-se alusão também ao
episódio da “Retirada da Laguna”, descrito no livro de mesmo título escrito por Visconde de
Taunay. Segundo Doratioto, nesta obra, Taunay descreve em detalhes um dos maiores
malogros militares brasileiros, com centenas de mortos, incluindo mulheres e crianças, que
foram aniquiladas pela cólera morbus, além de outros problemas de saúde decorrentes da
brusca variação climática, caracterizada pelo calor escaldante diurno seguido pelo frio glacial
noturno (p.127). Cita ainda a campanha desastrosa em Miranda, região geograficamente
desfavorável com terreno pestilento e pantanoso onde um terço do exército sucumbiu devido
às doenças e aos afogamentos. Importante ressaltar a questão do “saque aos túmulos”, prática
paraguaia comum na guerra, que consistia na retirada das roupas e utensílios dos cadáveres do
exército adversário. Outra passagem importante neste trecho do livro é o episódio do
abandono de mais de 130 soldados brasileiros assolados pela cólera morbus em uma clareira,
juntamente com um cartaz deixado ao inimigo que continha os seguintes dizeres: “compaixão
com os coléricos”. Posteriormente todos foram assassinados pelo exército paraguaio.
Doratioto relata ainda a retomada de Corumbá, onde 160 paraguaios foram degolados,
frisando que a posição não pode ser mantida devido ao surto de varíola que acometeu metade
da tropa. Os retirantes levaram consigo a doença para Cuiabá, onde metade da população foi
dizimada, considerando-se que “em seu auge, a epidemia matou cem moradores por dia”. Em
função dessa situação caótica, os corpos eram cremados, pois não havia com sepultar todos.
Em 1865, Solano López declara guerra á Argentina, invadindo Corrientes, acreditando que
obteria apoio dessa província contra o Brasil, devido à afinidade cultural dos correntinos com
os paraguaios. Para frustração do comandante paraguaio, os correntinos, em sua maioria, não
apóiam o governo paraguaio, devido aos saques e abusos cometidos contra a população,
embora fosse estabelecida uma junta “pró-Paraguai”. López responsabilizou o diplomata José
Berges pela “má impressão” deixada em Corrientes. Doratioto ressalta nesta parte, a inércia
da esquadra brasileira, devido à falta de um comandante mais ativo, com formação militar
adequada. Note-se que a Marinha Imperial era numericamente e belicamente superior à
paraguaia. Insere-se neste trecho a questão da política adotada pelo caudilho entrerriano
Urquiza, que era favorável ao Paraguai e posteriormente passou a aliar-se à Mitre, devido ao
seu “senso” de oportunismo, pois, enriquecia com o abastecimento das tropas aliadas durante
a guerra. Ainda em 1865, é assinado o Tratado da Tríplice Aliança, que consistia na aliança
dos três países platinos (Brasil, Argentina e Uruguai), contra Solano López. O tratado foi
assinado pelos principais comandantes dos países aliados: Osório, Tamandaré, Mitre, Urquiza
e Flores. Segundo o autor, o exército argentino era pequeno, possuindo pouco mais de 6.000
soldados, sendo boa parte desses soldados mercenários e ex-presidiários (bandidos). O
armamento argentino também era obsoleto, datando de fins do século XVIII, e assim como o
Brasil, a Argentina também teve problemas no tocante ao recrutamento de soldados, pois
havia feroz resistência dos “voluntários” ao alistamento. Começam a aparecer os problemas
de deserções em massa, começando pelas divisões entrerrianas. O general Urquiza fuzila
desertores para controlar a situação, mas, não consegue conter outras sublevações e ondas de
fuga, pois a razão para as fugas era o fato dos entrerrianos cultivarem simpatia pelos
paraguaios e aversão aos brasileiros e aos portenhos. Destaque para a figura do general
Paunero, que estabeleceu um sistema de execução de desertores através de sorteio,
denominado “quintada”, onde a cada cinco soldados apanhados nessa condição, um era
sorteado e sumariamente fuzilado (p.145). Passada a entrada dos Argentinos e dos Uruguaios
no conflito, Doratioto dedica-se a relatar a batalha naval do Riachuelo, confronto cujo saldo
de mortos foi de 2.000 paraguaios e 124 brasileiros. Nesta batalha, apenas quatro
embarcações paraguaias escaparam, e ainda assim bastante avariadas, contra apenas uma
embarcação brasileira perdida. Embora não tenha sido decisiva, a vitória brasileira permitiu
aos aliados o bloqueio do contato marítimo paraguaio com o exterior. Enquanto isso, Solano
López impunha o terror em seus subordinados, que por medo davam informes falsos ao
comandante, o que prejudicava o andamento das operações paraguaias. A política adotada por
López era tão descabida, que oficiais eram valorizados pela ousadia irresponsável e pelo
desprezo à superioridade do inimigo. Além de aterrorizar o exército, o ditador também
adotava medidas repressivas absurdas contra o povo paraguaio, como por exemplo, proibir
aos parentes dos mortos lamentarem em público e também aos militares de divulgar os nomes
dos soldados falecidos. Para burlar a proibição, os soldados comunicavam as mortes por meio
de gestos e expressões faciais (p.152 -153). O povo era obrigado a alegrar-se, sendo as
famílias que se abstivessem, convocadas aos bailes públicos pela polícia. As mulheres
paraguaias eram comparadas pela imprensa às mulheres espartanas. No campo político, o
governo brasileiro desconfia das ambições argentinas, quanto à questão territorial no pós-
guerra. A Seção de Negócios estrangeiros do Império questiona cláusulas do Tratado da
Tríplice Aliança, que deixam “brechas” e acabam por evidenciar o desejo anexionista
argentino. Neste trecho da obra, merece destaque o caso do capelão paraguaio Pe. Duarte, que
estimula os soldados paraguaios a saquear os povoados conquistados. Voltando ao front,
Doratioto relata a tomada da cidade de Uruguaiana, no Rio Grande do Sul, onde a atuação da
defesa brasileira foi vergonhosa. Estabelece-se um verdadeiro “jogo de empurra” entre as
autoridades brasileiras, no tocante às responsabilidades pela derrota. O que houve, segundo o
autor foi a falta de coordenação entre as tropas defensoras, devido à disputas políticas internas
que influenciavam diretamente o comando militar nas províncias. Havia ainda uma forte
corrupção, que visava o “enriquecimento às custas do tesouro nacional” aplicado na guerra.
Doratioto ressalta que a inércia e a desorganização militar eram tão grandes, que o próprio
imperador teve que ir à província rio grandense, e faz breve alusão à batalha de Jataí, onde os
aliados foram vitoriosos. Neste trecho vale ressaltar a admiração do general Flores diante da
bravura dos soldados paraguaios, que estavam em inferioridade numérica, mas mesmo assim
venderam caro a derrota. Cito:
“Combateram como bárbaros [...] não há força humana que os faça renderem-se e
preferem a morte à rendição”.
Esta postura do exército paraguaio foi decorrente, segundo Doratioto, da atitude de
Solano López, que estimulava seus soldados a preferir morrer do cair prisioneiro do inimigo.
Segue-se a estes apontamentos, o relato do cerco à Uruguaiana, onde os paraguaios
encontravam-se em situação de penúria total, chegando a comer carne de ratos e insetos,
sendo vitimados por doenças, devido às más condições higiênicas. Nos bastidores das ações
militares, havia de acordo com Doratioto, uma disputa infrutífera entre Mitre e o conde de
Porto Alegre a respeito de quem deveria comandar as tropas. Destaque neste trecho, para a
citação a respeito da 1ª Companhia de Zuavos Baianos, tropa formada exclusivamente por
negros. O autor também fala a respeito do tratamento “trocado” entre aliados e paraguaios
durante o conflito, as notas geralmente terminavam com: “Deus guarde a V.S.”. Outro detalhe
importante citado nesta parte é o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a
Inglaterra, através de um pedido público de desculpas, feito pelo Império Britânico ao Brasil.
O capítulo encerra com uma breve alusão ao comércio de pinga (cachaça) na guerra, onde os
brasileiros compravam aguardente a preços extorsivos. Também é relatada a prática do furto
entre a soldadesca, que vendia o produto destes furtos aos comerciantes locais. E finalmente,
o autor faz referência à atuação das mulheres brasileiras e argentinas na guerra, que acabaram
ficando “ocultas na penumbra da história”. Destaque para o exemplo de “Florisbela”, que foi
esquecida, devido à “preferência” da historiografia em enaltecer Ana Justina Ferreira Nery,
porque esta era viúva de um Capitão de Fragata e mãe de oficiais brasileiros. Além disso,
Doratioto aponta que morriam diariamente nos acampamentos entre 60 e 100 soldados
vítimas de sarampo, tifo e disenteria, o que reforça a idéia de que a doença matava mais do
que os combates.
No início do terceiro capítulo (A guerra de posições: 1866 – 1867), o autor insere a
Guerra do Paraguai no novo contexto bélico inaugurado pela guerra civil norte-americana,
que consistia em conflitos longos e inovações tecnológicas que ampliaram drasticamente o
índice de mortalidade durante os enfrentamentos (inclusive a introdução do submarino, ainda
que incipiente) e o envolvimento da sociedade civil como atuante e “alvo potencial”.
Seguindo esse raciocínio, a Guerra do Paraguai seria a segunda “guerra total” da época
contemporânea. Reafirma-se aqui (e em outros tantos trechos da obra) a impopularidade
crescente de Solano López e a severa repressão aplicada a quem ousasse reclamar do governo,
além da questão da falta de saneamento nos acampamentos aliados (destaque para o relato a
respeito do excesso de moscas varejeiras). Voltando à narrativa das ações militares, observa-
se que a iniciativa neste ponto da guerra pertencia aos aliados, que se preparavam para invadir
o Paraguai, desconhecendo, porém o terreno, pois, não possuíam mapas do interior devido ás
décadas de isolamento político impostas pelos governos anteriores à Solano López. Traça-se
também um panorama da estratégia defensiva paraguaia, que consistia em fortificações
fluviais, cujo epicentro era a fortaleza de Humaitá, que protegiam o acesso à capital
Assunção. Por terra, a cidade era rodeada por mata densa infestada de animais peçonhentos e
insetos, o que impedia o avanço dos aliados, que desconheciam o terreno, cortado por riachos
e pântanos extensos. Há registros do uso de táticas guerrilheiras por parte do exército
paraguaio, causando pesadas baixas aos aliados, que eram surpreendidos por este tipo de ação.
Doratioto ressalta (não só aqui, mas em diversos outros trechos) a hesitação excessiva da
esquadra imperial em atacar o Paraguai, o que irritava muito as forças aliadas. O diplomata
Almeida Rosa (um dos articuladores da Tríplice Aliança) comentou inclusive, que atribuía o
problema á “decrepitude [senilidade precoce] de Tamandaré”. A questão da violência
excessiva também é bastante presente neste capítulo, citando-se a prática de decapitação
durante as incursões guerrilheiras do exército paraguaio, com destaque para o episódio do
sargento negro paraguaio que foi promovido por Solano López por decapitar nove soldados
aliados. No campo econômico, Doratioto toca na questão dos empréstimos feitos pelo império
junto aos britânicos, os quais cobraram juros “draconianos” sob o valor emprestado,
chegando-se no final das contas a 160% de ágio. O fator psicológico dos homens no front
também é abordado, destacando-se o trecho em que o oficial brasileiro Mariz e Barros, diante
da necessidade de amputar as duas pernas, pede ao médico que a cirurgia seja feita sem o uso
do clorofórmio (anestésico), pois alegava que “isso é para mulheres”, e devido à essa atitude
faleceu algumas horas após a operação. A partir deste ponto, o auto narra o desembarque das
tropas aliadas em solo paraguaio, o qual ocorreu sem resistência, pois López não distribuiu
corretamente as tropas ao longo do rio. A partir do assentamento da tropa aliada em Tuiuti
inicia-se a guerra de posições, que se estenderia pelos dois anos seguintes. Após um ataque
surpresa paraguaio, inicia-se a batalha de Tuiuti, onde as forças atacantes foram derrotadas,
apesar da imprudência dos generais aliados em não guarnecer pontos importantes. Solano
López executou o plano e combate de forma equivocada, não observando os obstáculos
naturais e negligenciando o equilíbrio de forças nas colunas de ataque. Segundo Doratioto,
esta foi a maior batalha vista pela América do Sul, onde havia no front 24.000 paraguaios
contra 32.000 aliados, e ao final do combate registrou-se o saldo de 6.000 mortos e cerca de
7.000 feridos no lado paraguaio, e cerca de 1.000 baixas nas forças aliadas. Aponta-se
precariedades em todos os setores do exército aliado, do sistema de saúde ao religioso, além
das constantes desavenças entre chefes militares e especialmente entre o comando brasileiro e
o argentino. O autor ressalta que a postura de Mitre era o tempo todo de fidelidade a Tríplice
Aliança, ao contrário do que tem sido proposto pela historiografia brasileira até hoje. No lado
paraguaio, a situação era ainda pior, com os erros estratégicos de Solano López, erros esses,
mascarados o tempo todo pela imprensa paraguaia, que apresentava todos os resultados
negativos como vitórias do exército guarani. A guerra chega a ficar paralisada, devido á falta
de meios logísticos, e define-se a necessidade do estabelecimento de posições, de forma
gradual, garantindo-se o controle da navegação no Rio Paraguai até a altura da fortaleza de
Humaitá. Neste momento as divergências entre Mitre e Tamandaré se acentuam, devido a já
citada inércia do almirante brasileiro. Mitre estava tão irritado com este estado de coisas, que
chegou a declarar em uma carta que “nada espero da esquadra, nem conto com ela para nada”
(p.229). Durante este intervalo nas atividades bélicas, ambos os lados aproveitam para
“aumentar e consolidar obras de fortificação”. Vale frisa que neste momento do conflito as
posições eram muito próximas, a ponto dos soldados paraguaios trabalharem com grande
cuidado “para não alertar os soldados brasileiros, de quem se ouviam os risos e as tosses”.
Importante destacar que no lado paraguaio, todos os cavalos foram “tomados emprestados” da
população para emprego no esforço de guerra, gerando prejuízos agrícolas, além da prática de
libertação dos escravos para engrossar o efetivo na frente de batalha. Doratioto cita que “há
indícios de Solano López os enviava para as missões mais perigosas”, gerando
consequentemente um maior índice de mortalidade de soldados negros. Um outro dado
interessante é o uso de “minas fluviais” pelas tropas paraguaias, visando pôr a pique os navios
da esquadra brasileira. As minas eram feitas de pólvora e colocadas em três caixas que
ficavam uma dentro da outra, sendo a última de zinco, onde havia um detonador feito com
uma cápsula de vidro que continha ácido sulfúrico e uma mistura de potássio e açúcar branco
coberto com lã e algodão. Cita-se ainda o encontro entre Solano López e Bartolomé Mitre em
Itaiti – Corá, em que López tenta convencer o general aliado a retirar a Argentina do conflito,
sendo a resposta de Mitre negativa. Após mencionar estes detalhes, Doratioto volta a falar do
front, relatando a dramática batalha de Curupaiti, onde os aliados são derrotados devido ao
atraso no ataque, que permitiu a fortificação da trincheira paraguaia e o alagamento do terreno
por onde transitariam os aliados. O número de baixas no exército aliado é bastante expressivo,
chegando a cerca de 4.000 soldados. Paralelo à isso, as desavenças entre Mitre e os primos
Tamandaré e Porto Alegre atingem um ponto crítico, enquanto a opinião pública argentina
pressiona o general portenho a retirar o país do conflito. Mitre se recusa a fazer isso, pois
causaria transtornos políticos irremediáveis no futuro, com o Império saindo-se vitorioso ou
não. Devido à essa postura firme do presidente argentino em não retirar a Argentina da guerra,
eclodem sublevações na províncias argentinas, chamadas de “montuneras”. Ainda neste
período, Flores deixou o teatro de guerra, e registram-se casos de deserção no exército
paraguaio, destacando-se aqui a crueldade das punições aplicadas, como a relatada no caso de
Bernardo Pelaes, que morreu moído em uma prensa de tabaco. Em outubro de 1866, o
marquês de Caxias entra de fato na guerra, no cargo de comandante-em-chefe do exército
brasileiro no Paraguai. Essa medida visava “pôr fim às intrigas e discórdias entre os generais
brasileiros”. Uma das medidas iniciais de Caxias foi retirar Tamandaré e Polidoro da guerra.
Além disso, destacam-se a reorganização que este promoveu no exército, dando àquela
instituição uma identidade própria, a reforma sanitária com a manutenção da limpeza nos
acampamentos e nos hospitais militares, melhorando as condições de higiene, incluindo
alimentação, vestuário e asseio, a reforma administrativa que engrossou as fileiras na frente de
batalha através da nomeação de uma comissão de saúde que detectava os “falsos doentes” e os
trazia de volta ao front, além é claro da instrução militar às tropas. Doratioto aponta que no
contexto internacional, a opinião pública era favorável ao Paraguai, que era visto como o lado
mais fraco (p.257), tendo inclusive a simpatia dos E.U.A, que enviam representantes
diplomáticos ao país guarani, representantes estes que logo se aproximaram de Solano López.
É abordada ainda nesta etapa, a dificuldade do governo imperial em conseguir recrutas, sendo
obrigado a caçar os homens dentro de casa. Para se livrarem do alistamento, homens jovens
casavam-se com mulheres que tinham o dobro da sua idade. Aqueles que eram mais abastados
podiam optar pelo pagamento de 600$000 a um substituto que assinava um contrato onde se
responsabilizava juridicamente por qualquer atitude contrária ás cláusulas estabelecidas.
Importante ressaltar que o alistamento era utilizado também para fins políticos, como
perseguir membros do partido opositor e apoiar “colegas” na nomeação para os altos cargos
municipais. O exemplo citado é o do barão de Itaúna. Doratioto traz questões culturais que
permeavam o ambiente da guerra, como as canções folclóricas que faziam alusão ao
sentimento de perda e insatisfação com o conflito, e as publicações paraguaias de cunho
racista, que continham adjetivos pejorativos e agrediam o governo brasileiro. Cito: “!Atras el
Império macacuno! !Atrás los negros y anegrados del monarca esclavizador! !Atras
dominación esclavócrata del infame macacon del Brasil!”. A presença maciça de negros no
exército brasileiro levou à funesta associação à “macacos” e ao temor de uma “macaquização”
do Paraguai através da imposição do escravismo. Aproveitando a menção da questão
escravocrata, vale frisar que “a participação de escravos e negros livres na guerra também
contribuiu para que a instituição da escravidão fosse questionada após 1870”. Caxias apontava
a presença de negros livres no exército como um dos fatores do baixo aproveitamento militar,
pois acreditava que os negros livres eram indisciplinados e serviam de mau exemplo para a
tropa, sendo “homens que não compreendem o que é pátria, sociedade e família [...]”. Em um
outro trecho, a discriminação por parte da própria sociedade brasileira fica ainda mais
explícita: “honra que se entrega aos cuidados de galés e pretos minas não é honra, é mentira!”.
Doratioto também aponta que a epidemia de cólera matou até fins de maio de 1867, 4.000
soldados brasileiros, dos quais, cerca de 130 oficiais. Desse modo, o exército imperial sofreu
perdas equivalentes “a uma batalha decisiva sem sair do lugar” (p.284). Além disso, mostra
que a doença não ficou restrita apenas ao front, mas atingiu também cidades muito distantes
do teatro de guerra, como Buenos Aires que ficava a centenas de quilômetros. Cita ainda, a
proximidade entre brasileiros e paraguaios, nas trincheiras da chamada “linha negra”.
Segundo o autor, as tropas estavam próximas, que “[...] soldados dos dois lados conversavam
aos gritos”, como pode ser visto no relato comovente de Dionísio Cerqueira a respeito de um
diálogo entre ele e um velho soldado paraguaio (p.286). No tocante ao andamento da guerra,
segundo o autor, a situação se manteve estática, devido à falta de recursos paraguaios para
atacar, embora López tivesse recursos para sustentar posições defensivas. Os aliados também
estavam inertes por diversos motivos, entre eles, a falta de um quadro suficiente de oficiais e a
falta de conhecimento geográfico da posição. Aborda também ao cotidiano dos
acampamentos, sendo alguns deles verdadeiras “cidades” como é o caso de Itapiru, que
possuía “bazares”, onde os comerciantes eram em sua maioria, imigrantes europeus. Destaque
para o caso do Frei Salvador, que lutava pela salvação das perdidas (prostitutas) que viviam a
perambular pelo local. Outro detalhe importante foi o pioneirismo de Caxias, na utilização de
balões de observação (primeira vez na América do Sul). Ao final do capítulo, Doratioto
comenta sobre o cerco a Humaitá, com o corte dos cabos telegráficos nos arredores da
fortaleza (isolamento por terra) e à discussão sobre quem seria o idealizador de tal façanha.
Embora Caxias tenha reivindicado a autoria da idéia, atribuiu-se a idealização à Mitre na
maioria das versões. Nesse momento, as divergências entre Caxias e Mitre estavam bastante
agudas, devido á insistência do general argentino para que a esquadra brasileira ultrapassasse
Humaitá. Nos bastidores políticos, havia a desconfiança de que o governo portenho estava
interessado no prolongamento da guerra para manter a continuidade dos lucros de
comerciantes argentinos, e também para desgastar a esquadra imperial, possibilitando a
Argentina impor-se como nação hegemônica na região platina após a guerra.
O quarto capítulo (1868: O ano decisivo) trata das atividades militares que definiram o
curso da guerra, especialmente a “passagem” da Fortaleza de Humaitá, efetuada pela esquadra
brasileira e a posterior tomada desta posição pelo exército aliado. O autor relata a complicada
situação de Solano López devido ao avanço das tropas aliadas e a formação do cerco à
Humaitá e descreve o ataque paraguaio ao acampamento aliado em Tuiuti. Destacam-se nesta
narrativa, o comportamento enlouquecido dos soldados paraguaios, que além de infligir danos
e baixas consideráveis, se embriagavam deliberadamente. Apesar do desfecho, com 2734
mortos do lado paraguaio, o exército guarani obteve resultados expressivos, como a
destruição praticamente total do acampamento inimigo e de sua munição, e a captura de
armamentos, incluindo canhões novos. O Exército paraguaio não diz a verdade à Solano
López, temendo castigos, como no exemplo citado do tenente Bargas , que ao falar a verdade
foi fuzilado. A propaganda do governo paraguaio mentia escandalosamente, anunciando as
derrotas fragorosas de López como vitórias decisivas (Jornal “El Centinela”). Enquanto isso,
no Brasil, os opositores ao gabinete liberal aproveitam-se dos incidentes ocorridos no
andamento da guerra para desprestigiá-lo. No front, Caxias exausto “pede paz” ao Império.
Observa-se a escassez total de recursos e a impopularidade da guerra entre a opinião pública
brasileira (argentina também), em suma, o povo quer o término do conflito, Cito: “A guerra
não era contra a nação paraguaia, mas sim, contra Solano López” (p.339). Porém, o imperador
Pedro II, manteve-se inflexível quanto a continuidade da guerra, chegando a ser visto como
um “senhor da guerra”. Doratioto relata também os problemas psicológicos de Solano López,
que em seu desespero com o desenrolar da guerra, passa a viver “um carnaval de paranóia”
(p.340-341), prendendo e executando o próprio irmão, sob a acusação de uma suposta
conspiração (que nunca existiu), além de instaurar “tribunais fictícios” para “julgar” e matar
supostos conspiradores. As confissões eram obtidas com cruéis sessões de tortura, sendo que
muitas vezes as vítimas não suportavam e acabavam falecendo. O “revisionismo lopizta”
mascarou muito essa realidade, concluindo-se que “na adulteração da história, o lopizmo foi
mais eficiente do que o stalinismo” (p.345). Para ilustrar melhor essa situação, o autor aponta
que em 1868, ¾ dos prisioneiros que morreram nas cadeias do Paraguai eram acusados de
traição, citando-se o tratamento infligido aos referidos prisioneiros:
“Os condenados eram lanceados com uma arma com ponta
de aço. O verdugo mirava e golpeava a lança no coração da vítima,
atravessando o tórax; no esforço para retirá-la, pedaços do corpo
vinham na ponta da arma. Às vezes o verdugo errava o golpe,
decepava um pedaço do rosto, fendia o crânio ou, se atingia o ventre,
colocava os intestinos para fora” (p.347)
Há ainda o relato de que quando os aliados avançavam, passavam por locais que
continham valas com cadáveres insepultos e placas indicando “traidores da pátria”. A partir
deste trecho, Doratioto dedica-se a relatar a seqüência decisiva de vitórias dos aliados que
ocorrem em dezembro de 1868, sendo por isso chamada de “Dezembrada”, iniciando pela
batalha de Itororó, caracterizando-a como um ataque precipitado, onde houve o desperdício de
muitas vidas no Exército brasileiro, incluindo dois generais (Argolo e Gurjão). No dia
seguinte, Caxias marchou até a capela de Iparé, sob “sol causticante”, que ofez perder mais
dezenove soldados, por insolação. Na seqüência, relata a batalha do Avaí, onde as tropas
brasileira se vingam dos paraguaios após a vitória, estuprando mulheres e assassinando
soldados adolescentes. Relata também a batalha de Ita - Ivaté, apontando o saldo de 8000
paraguaios mortos. O autor cita que Caxias irrita-se com a covardia das tropas brasileiras na
frente de batalha e que este [Caxias], aponta três hipóteses para esta atitude dos soldados,
sendo: a existência de negros no exército, a longa duração da guerra que aumentava o
descontentamento e o desânimo das tropas, e a falta de energia e incentivo moral dos oficiais
comandantes. Caxias irritava-se também com a postura do Império no tocante ás infrações por
indisciplina dos soldados. O Imperador comutava as penas por deserção (pena de morte) na
grande maioria dos casos, o que esvaziava o poder dos comandantes (p.370) Para burlar as
comutações, os oficiais faziam uso das punições por “pranchadas”, golpes aplicados com
“espadas de prancha”, sem ponta nem gume, para os quais não havia um regulamento que
definisse o limite máximo permitido. Além de dolorosa, a punição era humilhante e muitas
vezes, levava o soldado punido à morte, destacando-se o episódio narrado por Dionísio
Cerqueira (p.370 – 372), em que um soldado desmaiou (a ponto de ser declarado morto pelo
médico que, acredita-se, quis ajudá-lo) após receber 1.500 pranchadas. Após a queda de Ita –
Ivaté e Angostura , observa-se a aniquilação total do Exército paraguaio e a fuga de Solano
López (30/12/1868). Aponta-se que metade do efetivo brasileiro (10.079 soldados) foi posta
fora de combate nesta seqüência de batalhas e também é registrada a atuação de crianças com
barbas postiças nas tropas paraguaias, sendo a grande maioria vitimada em combate (p.374).
Ao final do capítulo, Doratioto traz a discussão a respeito do grave erro cometido por Caxias
em permitir a fuga de Solano López, desguarnecendo o único local pelo qual López poderia
escapar. Especula-se que após uma negociação entre López e Caxias, através do intermédio
do embaixador norte-americano Mac Mahon, Caxias teria deixado López escapar, com a
garantia do diplomata de que este [López] sairia do Paraguai. Caxias negou totalmente essas
acusações.
No quinto e último capítulo (A caça a Solano López), aborda-se desde a retirada de
Caxias do conflito até a captura e morte de Solano López em Cerro Corá. Inicialmente,
Doratioto narra a o episódio do desmaio de Caxias e o sua declaração de que a guerra havia
terminado em uma ordem do dia. Referindo-se à exaustão de Caxias, Paranhos escreve que o
general estava prostrado “moral e materialmente”. A saída deste general do teatro de
operações levou a tropa ao total desânimo, e, além disso, a sua declaração que afirmava o fim
da guerra, acabou por estimular que outros oficiais pedissem licença ou exoneração para
retornar ao Brasil. Isso criou um caos, pois ao perceber que os seus oficiais estavam se
retirando da guerra, os soldados também começaram a debandar. Devido às circunstâncias em
que se retirou da guerra, Caxias caiu no descrédito junto à opinião pública nacional, e mais,
decepcionou ao próprio Imperador. Ainda assim, Caxias recebeu de Pedro II “honrarias que
nenhum outro brasileiro recebera desde a fundação do Império do Brasil: o título de Duque e
o ‘Grão Colar da Ordem de D.Pedro I’”. A oposição liberal aproveita-se do desprestígio de
Caxias naquele momento para atacar o partido conservador, partido pelo qual Caxias era
Senador. Na continuação, narra a atuação violenta da tropa brasileira em Assunção,
saqueando as casas e lojas, gerando uma péssima imagem junto à opinião pública (p.385). O
autor cita também a prática nefasta do “roubo de crianças”, para posterior cobrança de resgate
(seqüestro), feita por soldados brasileiros e argentinos, sendo que em alguns casos, os
soldados tomavam as crianças com cativas ou as exibiam como troféu de guerra (p.386).
Aborda também o envio do diplomata Paranhos à Assunção para definir os acordos de paz,
pos acreditava-se que seria instaurado um governo provisório na capital paraguaia. Lá
chegando, Paranhos se depara com o quadro caótico em que de encontravam as forças aliadas,
onde a saúde e alimentação eram precárias, “a falta de ambulâncias fazia com que os soldados
ficassem nos campos de batalha até oito dias sem curativos” (p.395). Faltava armamento e a
evasão de soldados (já mencionada) era grande. Vale destacar a postura deste diplomata, que
“com sua presença e sua ação decidida, fez sentir a autoridade do governo imperial às tropas
brasileiras, ao mobilizá-las para retomarem as operações militares”, em contraposição à
atitude do general (substituto provisório de Caxias), Xavier de Souza, que “se mantivera
inativo até então”. Enquanto isso, Solano López organizava suas defesas no interior e enviava
espiões até Assunção, onde roubavam cavalos e assassinavam pessoas que incomodavam o
ditador, como ocorreu com o irmão do ministro da Fazenda de López, “conhecedor de seus
segredos”, que foi degolado em sua chácara, próxima da cidade (p.396). Doratioto também
fala a respeito da escolha do genro de D. Pedro II, conde d’Eu para substituir Caxias como
comandante – em - chefe do Exército brasileiro contra a sua vontade. Anteriormente, d’Eu
havia se oferecido por duas vezes para ir à guerra, no que foi recusado. Porém, após perceber
que aquele conflito “não lhe renderia glórias fáceis” e sim sacrifícios, mudou de idéia e
passou a recusar-se a ir a guerra (p.399). Logo perceberam a inexperiência do conde, quando
este assumiu o comando em 16/04/1869. Segundo um dos generais, o príncipe consorte era
um “pobre rapaz [que] tem tanto de soldado quanto eu de frade” (p.401). Voltando a López, o
autor relata que este se refugiou na Cordilheira de Altos, instalando-se na cidadezinha de
Peribebuí, transformando-a na nova capital paraguaia. Neste período, Solano López
reorganiza seu exército agrupando em torno de 12 a 14.000 pessoas, entre velhos e crianças
dos vilarejos próximos e cria também uma fundição rudimentar em Ibicuí, para a fabricação
de armamentos. Posteriormente o Exército brasileiro destrói esta fundição e controla a única
estrada de ferro que ligava a capital ao interior, além de seguir até as cordilheiras, tomando e
saqueando as regiões pelas quais passavam, registrando-se abuso sexual das mulheres
execuções por degolamento. Para defender-se, Solano López usava uma estratégia que
consistia em evacuar territórios ameaçados pelos aliados, para que estes não tivessem a
possibilidade de obter alimentos ou outros recursos. Isto causava de fato dificuldades aos
aliados, mas a principal vítima era a população paraguaia, que devido à falta de homens por
causa da guerra, era formada basicamente por mulheres e crianças, sendo que as mulheres
substituíram os homens em todos os afazeres e ainda faziam roupas para os soldados. O autor
fala neste ponto a respeito do que Solano López fazia com as famílias envolvidas no conflito,
classificando-as em dois grupos: destinadas (que eram enviadas a locais distantes) e residentas
(que acompanhavam o exército em sua marcha para o interior do país). Na seqüência,
Doratioto passa a narrar todas as etapas do ataque a Peribebuí, desde a marcha pela
cordilheira, onde os brasileiros libertam mulheres e crianças em estado de total penúria, além
de prisioneiros da invasão do Mato Grosso, até o ataque à posição paraguaia, onde cita que
havia 18 aliados para cada paraguaio e ainda assim o combate durou 2 horas, devido à bravura
dos soldados guaranis. Com carência de armamentos, os paraguaios atiravam “projéteis de
todo gênero” sobre os atacantes, desde ossos e pedras a pedaços de vidro. Neste combate veio
a falecer o general Menna Barreto, fato que deixou o conde d’Eu irado, a ponto deste ordenar
o degolamento dos oficiais paraguaios capturados. Importantíssimo destacar a indignação dos
brasileiros com o uso de crianças na guerra, expressa nos relatos do visconde de Taunay, e de
Dionísio Cerqueira. Após a batalha de Peribebuí, o autor passa a narrar a batalha de Campo
Grande (ou Acosta-Ñu), onde Deodoro da Fonseca (mais tarde, primeiro Presidente da
República) era um dos comandantes da infantaria, e cita que esta foi a última grande batalha
da Guerra do Paraguai, com uma fragorosa derrota de Solano López, que foge para
Caraguataí. Neste ponto, Doratioto passa a falar do contexto político-diplomático, no tocante
às negociações entre Brasil e Argentina a respeito da instauração do governo provisório
paraguaio. O Brasil temia que a Argentina anexasse o Paraguai e se transformasse em uma
“super república” englobando todo o território do antigo Vice-reino do Rio da Prata, enquanto
que a Argentina temia que o Brasil transformasse o Paraguai em um protetorado. Após
começarem as articulações, tendo como peça chave o diplomata brasileiro, Paranhos, surgem
dois partidos disputando o governo provisório no Paraguai: os bareiristas (consevadores,
liderados por Cándido Bareiro) e os Decouistas (liberais, liderados por Juan Francisco
Decoud). Após um longo processo de negociação, ficou decidido que um triunvirato
governaria o Paraguai até que fosse estabelecido um governo definitivo. Este triunvirato era a
princípio manipulado pelo império através da ação diplomática eficiente de Paranhos, que não
permitia à Argentina impor os seus interesses. Importante notar a questão territorial pela
anexação da região do Chaco pela Argentina. Retornando à narrativa da caçada a Solano
López, Doratioto relata a marcha do Exército aliado rumo a Caraguataí, e o episódio do
ataque paraguaio ao destacamento que carregava as bagagens do conde d’Eu, onde as vítimas
foram exterminadas com requintes de crueldade, segundo Dionísio Cerqueira. Cito: “[...]
jaziam com as mais horrendas mutilações, enforcados na orla da mata, em galhos de árvores
sobre fogueiras que lhes tinham carbonizado os pés” (p.438). Conforme o exército segue para
o interior, o abastecimento torna-se mais difícil e a escassez de víveres torna-se
desesperadora, causando fome geral, aponto dos soldados serem obrigados a se alimentar com
uma colher de extrato de carne dissolvido na água. Registrou-se a ocorrência de roubo de
comida, e os argentinos começaram a matar os cavalos brasileiros. As punições eram severas,
chegando até ao fuzilamento dos infratores. Um pouco depois a situação foi normalizada.
Importante citar o caso do tenente Tito, que considerava muito o seu cavalo e, inconsolado
por sua morte, suicidou-se com um tiro na cabeça. Enquanto isso, Solano López ficava cada
vez mais insano, perseguindo e matando todos a sua volta sob suspeita de traição, torturando
inclusive as irmãs e a própria mãe, além de ordenar que o irmão Venâncio López, fosse
açoitado diariamente, e que fosse arrastado nu, durante toda a marcha por um acorda arrastada
na cintura. A situação do Exército paraguaio era tão precária, que López “contava com seu
filho com apenas 15 anos de idade, coronel Juan Francisco – Panchito – como chefe do
Estado Maior”. Finalmente, Doratioto narra a entrada da cavalaria e da infantaria aliada em
Cerro Corá, último reduto de Solano López, onde este tenta fugir a cavalo,m as é atingido por
uma lança, atirada pelo cabo Francisco Lacerda, conhecido com “Chico Diabo”. A princípio,
acreditava-se que teria sido a lança a causadora da morte de Solano López, mas
posteriormente surgiu um a versão de que López teria sido morto a tiro. O seu filho, Juan
Francisco (Panchito) também é morto, após recusar a render-se, apesar do apelo desesperado
de sua mãe, Elisa Lynch: “Panchito, entrega-te!”. Após narrar o desfecho de López, Doratioto
cita uma comparação feita pela o intelectual paraguaio Guido Rodríguez Alcalá, entre Solano
López e Hitler, onde alega que ambos mobilizaram toda a população de suas nações para o
conflito, desencadeando uma guerra total e afirma ainda que López seria “um precursor do
totalitarismo moderno” (p.454). Ao final do capítulo, o autor faz um balanço geral da guerra,
citando que segundo os últimos estudos feitos a respeito das estatísticas da Guerra do
Paraguai (Whigham e Potthast), o Paraguai perdeu no conflito 70% da sua população. O
Brasil perdeu cerca de 30.000 homens, a Argentina 18.000 e o Uruguai 3.120 soldados. Outra
colocação importante é a de Guerra do Paraguai foi o ápice da “obra de unificação” do Brasil,
pois houve o envolvimento de todas as províncias no esforço de guerra, e consequentemente
uma afirmação da identidade nacional. No tocante à economia, Doratioto aponta que o
Império gastou com a guerra, cerca de 614.000 Réis. Cita ainda, que cinqüenta por cento do
orçamento nacional era gasto com o Ministério da Guerra, durante o conflito. No campo
diplomático, como já foi dito, a ação de Paranhos foi fundamental para a manutenção dos
interesses imperiais no Paraguai, enquanto ainda estavam em andamento as negociações sobre
o estabelecimento de um governo permanente, considerando que nesse período, Paranhos
transformou o Paraguai em um “quase-protetorado” brasileiro, visando impedir a sua
anexação por parte da Argentina. Quando as tropas brasileiras se retiram do Paraguai, após
formar-se o governo definitivo, a economia paraguaia entrou em profunda crise, pois eram os
gastos do Exército brasileiro que faziam o dinheiro girar no país. Posteriormente o Império
também entra em crise e diminui inclusive a presença diplomática no Paraguai.
Nas conclusões, Doratioto aponta que o Império tinha como principais objetivos na
região platina a livre navegação para a comunicação marítimo-fluvial da província do Mato
Grosso com o resto do Império, e a contenção da expansão territorial argentina, ambos
alcançados após a guerra. Depois, o autor faz um breve resumo de todas as questões
discutidas ao longo dos capítulos, em uma espécie de recapitulação.