hidratação em atletas de alta performance...um esporte como o mma proporciona uma eleadav demanda...
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Michele Nunes Tavares
Hidratação em atletas de alta performance
Campos dos Goytacazes/RJ
2015
Michele Nunes Tavares
Hidratação em atletas de alta performance
Monogra�a apresentada junto ao curso denutrição da Faculdade Redentor de Camposdos Goytacazes como requisito para obtençãodo título de bacharel em nutrição, sob orien-tação do Prof. Dr. Vagner Rocha Simoninde Souza
Orientador: Dr. Vagner Rocha Simonin de Souza
Faculdade Redentor de Campos dos Goytacazes
Campos dos Goytacazes/RJ
2015
Monogra�a sob o título Hidratação em atletas de alta performance, defendida por
Michele Nunes Tavares e aprovada no dia 08/12/2015, em Campos dos Goytacazes, Estado
do Rio de Janeiro, pela banca examinadora constituída pelos doutores:
Prof. Dr. Vagner Rocha Simonin de SouzaOrientador
Profª. Tatiana Soares Louvain Rodrigues
Profª. Crislaine das Graças de Almeida
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus que permitiu que tudo isso pudesse se realizar, ao longo de minha
vida, e não somente nestes anos como universitária, mas que em todos os momentos é o
maior mestre que podemos ter.
Agradeço a todos os professores por me proporcionar o conhecimento não apenas
racional, mas a manifestação do caráter e afetividade da educação no processo de formação
pro�ssional, por tanto que se dedicaram a mim, não somente por terem me ensinado, mas
por terem me feito aprender.
Agradeço ao meu querido orientador Prof.Vagner da Rocha Simonim, pelo incentivo
e prestreza no auxílio dedicado à elaboração deste trabalho de conclusão de curso, onde
com toda certeza seus conhecimentos foram partilhados.
Agradeço a meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional. E em especial a
minha mãe Cristina Maria, que desde o primeiro momento apoiou meu sonho. E por
último e não menos importante, agradeço ao meu namorado e amigo Kirill Lassounski,
pelo apoio, pasciência e incentivo que me deu para chegar até aqui !
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Sumário
Lista de Figuras 3
Lista de Tabelas 4
Resumo 5
Abstract 6
1 Introdução 7
2 Objetivos 9
2.1 Objetivos gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.2 Objetivos especí�cos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
3 Desenvolvimento do tema 10
3.1 Equilíbrio hidroeletrolítico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.1.1 A água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.1.2 A água no organismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
3.1.3 A sede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
3.2 Desidratação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.3 Hidratação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
3.4 Implicações �siológicas da hidratação insu�ciente . . . . . . . . . . . . . . 13
3.5 Cuidados com a hidratação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
3.6 Recomendações para adequada hidratação no exercício físico . . . . . . . . 14
3.6.1 Antes do exercício físico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2
3.6.2 Durante o exercício físico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
3.6.3 Após o exercício físico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
3.6.4 Mixed Martial Arts (M.M.A.) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
4 Metodologia 19
4.1 Instrumento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.2 Características da amostra . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.3 Coleta de dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
4.4 Tratamento dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.5 Aspectos éticos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
5 Resultados e discussões 21
6 Conclusões 34
Referências Bibliográ�cas 36
3
Lista de Figuras
1 Frequência de hidratação dos atletas durante o exercício . . . . . . . . . . 22
2 Período de hidratação em treinamento e competições . . . . . . . . . . . . 23
3 Consumo de água e/ou isotônico antes, durante e depois dos treinos . . . . 25
4 Soluções líquidas usualmente consumidas pelos atletas . . . . . . . . . . . . 26
5 Preocupação dos atletas quanto à necessidade de hidratação é mais frequente 28
6 Opinião dos atletas sobre como deve ser uma hidratação . . . . . . . . . . 30
7 Opinião dos atletas sobre a função dos isotônicos . . . . . . . . . . . . . . 32
4
Lista de Tabelas
1 Bebidas energéticas de preferência dos atletas . . . . . . . . . . . . . . . . 27
2 Manifestações �siológicas relatadas pelos atletas decorrentes da desidratação 28
5
Resumo
O objetivo deste trabalho foi investigar o nível de conhecimento e os hábitos de hidrataçãode atletas de artes marciais mistas (M.M.A.) que participaram de competições de maneiraregular, durante o ano de 2015 no Estado do Rio de Janeiro, pertencentes às categoriasleve, médio e pesado, com diversas graduações de faixas. Foram avaliados 21 atletas dosexo masculino, com idade média de 15 ± 50 anos, possuindo em média 3 ± 40 anos deprática na modalidade. A metodologia empregada foi do tipo exploratória, através de umapesquisa do tipo descritiva, utilizando um questionário padronizado, auto-administrativo,com 15 questões objetivas. Os principais resultados indicaram que a maior parte dosatletas avaliados não apresentam estratégia de consumo de líquidos apropriada. Um totalde 57,14% informou que sempre se hidrata em competição. Quando questionados sobre asolução (água ou isotônico) consumida antes, durante e após o exercício, a água apresentoumaior índice de resposta nos momentos que antecedem treinos e competições. Dentreas soluções ingeridas, a Coca-Cola® aparece com 14,28% de adeptos. Dos lutadoresentrevistados 57,1% frequentemente registram o peso corporal e 61,9% a�rmaram não teridéia de como deve ser realizada uma hidratação adequada. Os sintomas mais comunsapresentados para veri�cação do nível de desidratação dos atletas foram perda de força(66,6%), caimbras (61,9%) e sede intensa (57,14%). Esses resultados sugerem que oslutadores de M.M.A. apresentam uma série de hábitos inadequados de hidratação e que amaior parte dos atletas nunca tiveram algum tipo de orientação técnica sobre o assunto,o que pode propiciar menor rendimento nos treinamentos e competições.
Palavras chave: Hidratação, Desidratação, M.M.A., Perfomance
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Abstract
The objective of this study was to investigate the level of knowledge and multi martialarts (M.M.A.) athletes hydration habits that participated in regularly competitions du-ring the year 2015 in the state of Rio de Janeiro, belonging to the light, medium and heavycategories, with several tracks graduations. They evaluated 21 male athletes, mean age15 ± 50 years, having on average 3 ± 40 years of practice in the sport. The methodologyused was the exploratory type, through a survey descriptive, using a standardized ques-tionnaire, self-governing, with 15 objective questions. Results indicated that most of theevaluated athletes have no intake of liquids suitable strategy. A total of 57.14% reportedthat moisturizes always in competition. When asked about the solution (water or isoto-nic) consumed before, during and after exercise, the water had a higher response rate inthe moments prior training and competition. Among the solutions ingested, Coca-Cola®appears with 14.28% of fans. Fighters interviewed often record 57.1% body weight and61.9% said they had no idea how adequate hydration should be performed. The mostcommon symptoms for verifying the level of dehydration of athletes were strength loss(66.6%), cramps (61.9%) and extreme thirst (57.14%). These results suggest that M.M.A.�ghters have a number of inadequate hydration habits and that most athletes never hadsome kind of technical guidance on the subject, which can provide lower yield in trainingand competitions.
Keywords: Hydration, Dehydration, M.M.A., Performance
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1 Introdução
A água é o maior componente único do organismo. A proporção de água corporal varia
de acordo com a idade, o sexo e a proporção de tecido adiposo e muscular. As células
musculares e viscerais apresentam maior percentual de água, enquanto os tecidos calci�-
cados tem menor proporção. Sua reposição deve ser diária, pois a perda intensa de água
corporal pode causar uma série de doenças graves e afetar as funções �siológicas ou até
mesmo levar a morte. A reposição insu�ciente de líquidos irá desencadear complicações,
prejudicando o desempenho durante o exercício em atletas e praticantes de atividades
físicas em geral (MCARDLE; KATCH; KATCH, 2001).
A desidratação leva ao aumento da temperatura corporal (hipertermia), pela redução
da dissipação do calor ou pela diminuição da sudação. A desidratação leva ao decrés-
cimo da água corporal total, o que inclui o dé�cit de volume dos líquidos extracelular e
intracelular, tal como a redução do volume de plasma sanguíneo (MOQUIN; MAZZEO,
2000).
Os efeitos �siológicos da desidratação induzida pelo exercício apresentam diversas
respostas e reações de acordo com a �siologia do organismo de cada indivíduo, quando
estes não repõem as perdas de líquido durante um exercício prolongado, ou as repõem
parcial ou totalmente, o que ocasiona diminuição no volume plasmático com o início do
exercício. Esta redução é in�uenciada pelo tipo do exercício e pela intensidade. Indivíduos
que iniciam um atividade física com um dé�ce hídrico, terão um rendimento inferior ao
que seria de esperar se o iniciassem hidratados (BURKE et al., 1998).
A hidratação é considerada um dos aspectos mais in�uentes no rendimento e na saúde
do atleta. Quando falamos de hidratação em termos de saúde e bem-estar, é importante
destacar que todos os organismos vivos são compostos por água. �Esta água não aparece
em forma líquida ou visível, mas é a que compõe os músculos, os ossos e os diferentes
tecidos�. Assim, diante da perda de líquido natural do corpo ou organismo, se produz o
fenômeno da desidratação, que é essencialmente uma condição �siológica decorrente de
8
uma prolongada perda hídrica corporal(CASA et al., 2000).
A produção de suor conduz à perda de água corporal, devido a isso a adequada hidra-
tação é essencial, principalmente nas sessões de treino prolongadas ou em competições.
Durante a prática desportiva é comum grandes dé�ces de �uído corporal, que se não fo-
rem corrigidos poderão conduzir ao estado de desidratação crônica (MOQUIN; MAZZEO,
2000).
O consumo de líquidos preserva a hidratação e ajuda a regular a temperatura cor-
poral, além de evitar a desidratação e manter um adequado volume plasmático, �sendo
extremamente importante para a manutenção da função cardiovascular e para o rendi-
mento no exercício�. Inúmeros indivíduos apresentam di�culdade em manter a hidratação
adequada e voluntária durante treinos e eventos desportivos, e muitas vezes falham na
correta hidratação, levando a reduções na água corporal, o que afeta vários processos
�siológicos e limita a capacidade durante o exercício (ACSM, 1996).
A adequada hidratação antes da prática de exercício ajuda a melhorar a resposta
�siológica e aumenta o rendimento físico do atleta. Um esporte como o MMA proporciona
uma elevada demanda metabólica do atleta tanto no treinamento quanto em competições.
Para que um atleta tenha um rendimento adequado, vários fatores deverão estar bem
ajustados, com a �nalidade de não afetar negativamente o desempenho atlético. Entre
estes fatores, a nutrição desempenha um importante papel (ACSM, 1996).
Neste contexto, as artes marciais mistas (AMM), mais conhecidas pela sigla MMA (do
inglês: mixed martial arts) são um conjunto de técnicas de luta individual que incluem
tanto golpes de cobate em pé quanto técnicas de luta no chão. (SAMULSKI, 2002).
As Artes Marciais Mistas podem ser praticadas como esporte de contato em uma
maneira regular ou em um torneio no qual dois concorrentes tentam derrotar um ao
outro. Utilizam uma grande variedade de técnicas permitidas de artes marciais, tais como
golpes utilizando os punhos, pés, cotovelos, joelhos, além de técnicas de imobilização. O
treinamento diário de um atleta de MMA pode chegar a seis horas, provocando uma perda
hídrica superior a 4 litros, o que torna o consumo de líquidos primordial para que o atleta
suporte toda a carga de treinamento, evitando que sofra um quadro de desidratação. É
importante ressaltar que quando submetido a um treinamento intenso e de longa duração
a alimentação também é considerada fundamental nos momentos que antecedem e após
treinos e competições, com o objetivo de repor as energias gastas durante o exercício
(SAMULSKI, 2002).
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Neste presente trabalho será abordada a importância da hidratação antes, durante
e após a atividade física, treinos e competições, além de analisar o nível de hidratação
corporal e todos os malefícios que o corpo sofre, e de que maneira este tipo de hidratação
pode alterar a performance do atleta, especi�camente atletas de MMA.
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2 Objetivos
2.1 Objetivos gerais
O objetivo do estudo foi investigar o nível de conhecimento e os hábitos de hidratação de
atletas, bem como a in�uência disso sobre o desempenho.
2.2 Objetivos especí�cos
� Veri�car o nível de conhecimento dos atletas de M.M.A. no que diz respeito à hi-
dratação.
� Conhecer os possíveis sintomas que podem afetar o atleta quando desidratado.
� Veri�car seus hábitos de hidratação durante a atividade de acordo com os períodos
em que ela ocorre.
� Investigar a compreensão dos atletas sobre o uso de isotônicos com o objetivo de
analisar se os mesmos têm conhecimento sobre os benefícios dos isotônicos e sobre
sua correta utilização.
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3 Desenvolvimento do tema
3.1 Equilíbrio hidroeletrolítico
3.1.1 A água
A água é uma das substâncias mais abundantes do organismo e uma das mais essenci-
ais à vida. É o solvente universal e está envolvida em milhares de processos orgânicos
(RODRIGUES, 2001).
A água é essencial para todos os tecidos corporais, permite que os solutos se tornem
disponíveis para a função celular, participa como substrato em reações metabólicas, com-
ponente estrutural, dando forma as células, é essencial para os processos �siológicos da
digestão, absorção e excreção também possui um papel direto na manutenção da tempera-
tura corporal (FOSS; KETEYIAN, 2000), (RODRIGUES, 2001), (MCARDLE; KATCH;
V.L.KATCH, 2003).
3.1.2 A água no organismo
A água exerce funções diferentes e vitais ao organismo, devido ao seu grande número de
propriedades, dentre as atividades da água no organismo destaca-se o transporte de vita-
minas, proteínas, carboidratos e sais minerais que são levados através do organismo pela
água. Resíduos como a uréia que é �ltrada pelos rins e eliminada pela urina também é
transportada pela água. Também são efetuados pela água a regulação da temperatura, eli-
minando o excesso de calor através da transpiração (MCARDLE; KATCH; V.L.KATCH,
2003).
organismo apresenta uma quantidade constante de água, mantendo um equilíbrio
entre a quantidade excretada por meio da urina, fezes, suor, vapor da respiração, perdas
insensíveis e a água adquirida através da ingestão dos alimentos e o consumo de líquidos
no decorrer do dia (MCARDLE; KATCH; V.L.KATCH, 2003).
12
Da água corporal total, em média 62% representam água intracelular e 38% provém de
fontes extracelulares, esses dados variam de acordo com idade, sexo e composição corporal
(MCARDLE; KATCH; V.L.KATCH, 2003).
O interior da célula humana é formado por materiais orgânicos e inorgânicos dissolvi-
dos em água. Essas substâncias participam constantemente de inúmeras reações químicas
destinadas a produzir energia e consequentemente, manter a vida (FOX; HENNEMAN,
1986).
O corpo dispõe de dois compartimentos hídricos: o intracelular e o extracelular, além
da linfa, saliva, líquido existente nos olhos, líquido secretado pelas glândulas e pelo apa-
relho digestivo, líquido que banha os nervos raquidianos e líquido excretado através da
pele e dos rins (MCARDLE; KATCH; V.L.KATCH, 2003).
3.1.3 A sede
Nem sempre a sede é consequência direta da necessidade �siológica de ingerir água. Ela
pode partir de fatores que não estão relacionados entre si, como hábito, ritual, paladar
ou vontade de ingerir nutrientes, estimulantes, bebidas que aqueçam ou que refresquem.
Diversas sensações associadas à sede são aprendidas, por exemplo, o impulso de se ingerir
�uidos quando a boca ou a garganta está seca e a interrupção da ingestão de água assim
que o estômago se dilata. A sensação inicial de alívio da sede acontece antes que volumes
signi�cativos de �uidos sejam absorvidos e entrem para os compartimentos do corpo,
restaurando os dé�cits. Isso demonstra o papel dos receptores da boca, esôfago e estômago,
que respondem ao volume de �uido ingerido. (BURKE et al., 2004).
A ingestão e a excreção de água se dão através de uma interação complexa entre
fatores neurais e hormonais que respondem a um determinado número de impulsos dife-
rentes. Determinados receptores dos centros de controle da sede respondem diretamente
às alterações na osmolalidade do plasma, no volume e na pressão sanguínea. Já outros são
estimulados por hormônios que vão equilibrar a proporção de �uidos e regular a excreção
renal. Essencialmente, a regulação da sede é controlada separadamente pela pressão e
pelo volume osmótico dos �uidos do corpo (BURKE et al., 2004).
Indivíduos �sicamente ativos com disponibilidade imediata de líquidos apresentam
diminuição do volume plasmático causada pela desidratação. A ausência da sensação de
sede poderá justi�car este achado. As diretrizes do ACSM publicadas em 1996 referiam
que a sensação �siológica de sede era um mau indicador das necessidades hídricas do atleta
13
em esforço físico. Os atletas não costumam ingerir quantidades su�cientes de água para
prevenir a desidratação. Eles apenas ingerem voluntariamente de 30 a 70% das perdas.
Só apresentam sensação de sede quando o dé�ce de água corporal atinge 2% do seu
peso corporal, o que implica comprometimento no seu rendimento desportivo (BROAD;
QUERI; LAMBERT, 1996).
3.2 Desidratação
A desidratação é um processo de perda de água corporal, que no contexto desportivo
acontece principalmente através da sudorese. Ocorre com mais intensidade no atleta não
aclimatizado e naquele que não realiza corretamente a hidratação. É um dos problemas
nutricionais mais comuns que ocorrem durante o exercício físico de alta intensidade. A
desidratação correspondente a 2% do peso corporal, e pode afetar consideravelmente o
rendimento durante a atividade executada pelo atleta. Aqueles que iniciam a competição
num estado de desidratação, estão claramente em desvantagem competitiva (BUSKIRK;
IAMPIETRO; BASS., 1958).
Uma perda de 5% do peso corporal compromete em 30% na capacidade para realizar
exercício de alta intensidade. O comprometimento no rendimento causado pela desidra-
tação irá depender da percentagem da perda, e também da tolerância individual a esta
desidratação e da temperatura ambiente. (MURRAY, 1997).
Cerca de 3% de desidratação do peso corporal apresenta pouca in�uência sobre a
diminuição do desempenho em exercícios aeróbios se praticados em ambiente frio. No
entanto, considera-se que o indivíduo tolera perdas de água corporal até 2% do seu peso
sem risco signi�cativo para a saúde ou para o rendimento nos exercícios de resistência
aeróbia, isto quando a temperatura ambiente é baixa (5 a 10ºC) ou temperada (20 a
22ºC). Quando o exercício físico é praticado em ambientes quentes (temperaturas iguais
ou superiores a 30ºC), a desidratação correspondente a 2% do peso corporal, prejudica o
rendimento no exercício e aumenta a possibilidade de sofrer agressão térmica. (SALTIN;
COSTILL, 1988).
A desidratação irá afetar também a força muscular máxima, o pico de potência e a
resistência com cargas altas, sendo este o tipo de exercício mais afetado. A perda de água
corporal igual ou maior que 20% do peso poderá causar a morte, enquanto a perda de
10% causa perturbações graves (SHIRREFFES; MERSON; HORSWILL, 2005).
14
3.3 Hidratação
A hidratação essencialmente é a reposição de água no organismo, mantendo sua composi-
ção corporal. A hidratação pode ser realizada através da via oral ou intravenosa (BURKE;
SHIRLEY, 1973).
As diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva, a respeito da reposição
hidroeletrolítica, recomendam de forma geral que o indivíduo inicie a hidratação com 250
a 500ml de água duas horas antes do exercício e mantenha a ingestão de líquido a cada
15 a 20 minutos durante o exercício. O volume a ser ingerido varia conforme a taxa de
sudorese, podendo oscilar de 500 a 2.000ml/h. Após o exercício, deve continuar a ingestão
de líquido, para que sejam supridas as perdas adicionais pela urina e sudorese.
3.4 Implicações �siológicas da hidratação insu�ciente
A hidratação adequada é considerado um fator de extrama importância na diminuição do
estresse �siológico e quebra da homeostase (equilíbrio) durante um esforço físico além de
minimiza o risco de desidratação e as consequências que daí podem origiar-se, ajuda a
manter a função cardiovascular e a melhorar o rendimento atletico (ROWELL, 1974).
Sabe-se que as implicações �siológicas com a utilização ou a não utilização de repo-
sição hídrica são muitas, como a diminuição da pressão arterial média; menor resistência
periférica total; redução do �uxo sanguíneo esplênico; aumento das concentrações de lac-
tato; redução do volume sistólico; aumento da freqüência cardíaca. Quando se perde água
em demais, especialmente com a inclusão de exercícios, há uma vasodilatação de artérias
e veias periféricas e constrição de outras regiões, como fígado, rins e músculos em ativi-
dades. Isto interfere diretamente na performance do atleta (APUD CARPENTER 2002)
(LAMB, 1987).
3.5 Cuidados com a hidratação
Durante a atividade, os atletas devem manter baixos níveis de desidratação, consumindo
líquidos su�cientes, mas não em exagero. Os atletas devem estar conscientes de que o
consumo excessivo de líquidos pode levar a consequências potencialmente fatais. Embora
da desidratação seja mais comum, os sintomas resultantes do consumo excessivo de líqui-
dos (hiperhidratação) são consideravelmente perigosos. A hiperhidratação pode levar à
15
diminuição da osmolalidade, à diluição dos níveis de sódio no plasma, aumentando o risco
de hiponatremia. A hiponatremia refere-se à situação em que os líquidos corporais estão
diluídos, devido ao excesso de água relativamente ao sódio total do corpo (MAUGHAN;
NOAKES, ).
A hiponatremia caracteriza-se clinicamente por disfunção neurológica, devida à en-
trada de água dentro das células cerebrais, em que o sujeito poderá �car letárgico, confuso,
irritável, paralisado ou comatoso, assim como podem ocorrer espasmos musculares e con-
vulsões. A hiponatremia severa pode causar edema dos órgãos vitais, cérebro e pulmões.
Corpo (MAUGHAN; NOAKES, ).
3.6 Recomendações para adequada hidratação no exer-
cício físico
Para a realização de um trabalho físico com o máximo de e�ciência deve-se primeiro
abastecer o organismo de líquidos antes, durante e depois de cada atividade. Comparando-
se a um consumo de �uidos limitado ou inexistente durante o exercício, a ingesta de água
e/ou eletrólitos frequentemente melhora o desempenho atlético. A administração correta
de água antes, durante e após o exercício mantém o desempenho do atleta e impede a
fadiga. (CARPENTER, 2002).
3.6.1 Antes do exercício físico
Recomenda-se que os atletas consumam quantidades adequadas de �uidos durante as 24h
que precedem o evento, especialmente durante o período entre a última alimentação e o
exercício. Esta recomendação visa promover uma boa hidratação antes do exercício ou
da competição. Os atletas devem ingerir cerca de 500 ml de �uidos, aproximadamente 2h
antes do exercício, com o objetivo promover uma hidratação adequada e dar um intervalo
para que o excesso de água seja eliminada. Caso a urina permanecer escura, ou altamente
concentrada, o atleta deverá consumir um volume extra de mais 3 a 5 mL/kg peso corporal
cerca de 2 horas antes do início do evento (ACSM, 1996).
Em relação ao tipo de líquido utilizado para hidratação, a ingestão de isotônico pré
exercício tem apresentado diversas vantagens em relação à água. Os pontos positivos de
uma hidratação com carboidratos, são: manutenção da glicemia sanguínea, diminuição na
possibilidade de hipoglicemia, aumento no tempo de exercício, menor índice de percepção
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do esforço, absorção intestinal mais rápida e níveis de glicemia ideais durante o exercício.
Como pontos negativos tem-se: possível sensação de plenitude gástrica, desconforto gás-
trico e custo �nanceiro. Em relação à água, os pontos positivos são: rápido esvaziamento
gástrico, desnecessária adaptação para a palatabilidade da solução e custo praticamente
zero, entretanto os efeitos negativos da água são: Não permitir a manutenção da glicemia
e alterar a qualidade do exercício (NASSIS; WILLIAMS; CHISNALL, 1998), (BRITO;
MARINS, 2005).
3.6.2 Durante o exercício físico
Durante o exercício, os atletas devem iniciar a ingestão de líquido cedo e em intervalos
regulares, com o objetivo de consumir �uidos em uma frequência capaz de repor a água
perdida através da sudorese. É recomendada a ingestão de �uidos com temperatura
inferior à ambiental, cerca de 15ºC e 22ºC (R.MURRAY et al., 1991).
O objetivo da ingestão de �uidos durante o exercício é prevenir qualquer nível de
desidratação. A importância de manter o organismo plenamente hidratado se re�ete
nas respostas cardiovasculares, termorreguladoras e de desempenho, que são otimizadas
quando ocorre a reposição de 80% da sudorese ocorrida durante o exercício, já que a desi-
dratação, mesmo pequena (1,8% do peso corporal) pode alterar o desempenho esportivo
(MEYER; PERRONE; NOAKES, 2004).
O efeito ergogênico da ingestão de carboidratos durante o exercício já foi demonstrada
em muitos experimentos. Foram efetuados utilizando etapas de treinamento com dura-
ção de uma a quatro horas ou mais (COGGAN; COYLE, 1991),(NASSIS; WILLIAMS;
CHISNALL, 1998).
A ingestão de 4 a 8% de carboidratos, contendo combinações de sacarose, glicose,
frutose e maltodextrina demonstrou que quando 45g de carboidrato era ingerida por
hora, ocorria uma melhora signi�cativa no desempenho desportivo. Este fato pôde ser
observado mesmo quando os pesquisadores forneceram entre 20 a 25g por hora; contudo
a ingestão de quantidades mais elevadas de carboidratos é recomendada. Salienta-se que
a velocidade de utilização do carboidrato pelo organismo é da ordem de 60 a 75g/hora
ou seja de 1 a 1,5g/minuto. Não foi observada nenhuma vantagem com quantidades de
carboidratos superiores, ao contrário, as bebidas contendo quantidades superiores a 7%
(cerca de 17g/copo) podem provocar uma diminuição na velocidade de absorção intestinal,
o que aumenta o risco de mal-estar gastrointestinal (R.MURRAY et al., 1991).
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Bebidas que contém apenas frutose não são indicadas devido ao fato da frutose ser
absorvida mais lentamente a nível intestinal e é convertida em glicose no fígado antes de
ser metabolizada pelos músculos, tornando, portanto, a frutose pouco efetiva como fonte
de energia para o desempenho atlético (MURRAY et al., 1989).
3.6.3 Após o exercício físico
Um dé�cit hídrico decorrente da prática de exercício físico poderá comprometer a sessão
seguinte de exercícios caso não ocorra uma adequada reposição de líquidos. Assim, na
recuperação após o exercício físico é essencial repor qualquer dé�ce de líquidos e eletrólitos.
(NOAKES; GOODWIN; RAYNER, 1985).
O consumo de bebidas imediatamente após a realização do exercicío em ambientes
quentes, contribui para reposição de líquidos e eletrólitos corporais, e deve ser utilizado
quando o objetivo é a rehidratação imediata, para que o atleta possa treinar e competir
com segurança, e não comprometer a sessão seguinte de exercício. O volume a ingerir
varia naturalmente de acordo com a quantidade de líquido perdido durante a atividade, a
qual pode ser estimada pela diferença de peso corporal veri�cado antes e após a conclusão
da sessão de exercício (BELTRAMI; HEW-BUTLER; NOAKES, 2008).
A composição da bebida a ser consumida pós exercícios físicos também é importante,
sobretudo se toda a ingestão que ocorre é na forma líquida. A água simples não é con-
siderada a melhor bebida para ser consumida após o exercício com objetivo de repor as
perdas de água e eletrólitos, particularmente o sódio, isto porque a água simples diminui
a natremia e aumenta o volume sanguíneo e a sua diluição, com diminuição da sensação
de sede e aumento da produção de urina, o que poderá levar à desidratação (NOAKES,
BELTRAMI, 1985).
A normalização do volume plasmático também pode ser relizada por via endovenosa,
pela administração dos vários tipos de soro, mas esta via não tem apresentado vantagens
com relação à via oral. Contudo, quando houver sessões de exercício físico no mesmo dia
ou desidratação considerada grave, maior que 7% do peso corporal em que a ingestão de
grandes volumes de líquidos podem causar desconforto gastrointestinal, a via endovenosa
pode ser usada simultaneamente com a via oral (NOAKES, BELTRAMI, 1985).
18
3.6.4 Mixed Martial Arts (M.M.A.)
As primeiras artes marciais surgiram no Extremo Oriente e inicialmente representavam
técnicas para manejarem armas brancas. As artes marciais também envolvem processos
de defesa pessoal com ou sem armas, o que explica o nome marciais ou guerreiras. Mais
tarde, as artes marciais se transformaram em atividades esportivas, que tinham como
objetivo aperfeiçoar o corpo e a mente (SAMULSKI, 2005).
O M.M.A é um conjunto de técnicas de luta individual, que incluem tanto golpes
de combate em pé quanto técnicas de luta no chão. No M.M.A. utiliza-se uma grande
variedade de técnicas, como golpes onde são usados punhos, pés, cotovelos, e joelhos, além
de técnicas de imobilização executadas no jiu jitsu. (SAMULSKI, 2005).
Pode chegar a seis horas o treinamento diário de um lutador de M.M.A na semana
anterior da competição, provocando uma perda hídrica superior a 4 litros, o que torna o
consumo de líquidos uma prática fundamental para que o atleta suporte toda a carga de
treinamento, evitando assim que o atleta possa vir a apresentar um quadro de desidratação
(SAMULSKI, 2005).
Uma luta tem duração de 5 minutos cada round. No entanto, pode acabar a qualquer
momento antes desse limite de tempo, desde que ocorra uma �nalização ou um nocaute.
O M.M.A. é um esporte de alta intensidade e curta duração intercalado por breves pe-
ríodos de descanso, o que nesta atividade caracteriza-se pelo predomínio do metabolismo
anaeróbico glicolítico como transferência de energia ao longo dos primeiros minutos de
esforço com um crescente aumento do sistema aeróbico nos últimos minutos (ARTIOLI,
2008), (PAIVA, 2009).
Os atletas possuem o hábito de se pesarem antes e após os treinos, fazendo assim
seu próprio acompanhamento da perda de peso. Apenas alguns atletas inicia a redução
de massa corporal de uma a três semanas e a grande maioria em exatamente um mês.
Entretanto todos os atletas perdem um número signi�cante durante a semana que antecede
a pesagem (SAMULSKI, 2005).
A prática de perda de peso antes de competições é comum entre lutadores, pois as
categorias em competições são divididas de acordo com o peso corporal. Assim os atletas
buscam se bene�ciar, perdendo peso antes da pesagem o�cial e tentando recuperar a
massa corpórea no espaço de tempo compreendido entre a pesagem e a luta. Essa perda
chega de 8 a 14kg. Alguns métodos de perda de peso são conhecidos, como restrição
dietética, restrição hídrica, aumento na intensidade dos treinos, utilização de roupas de
19
plástico, laxantes e diuréticos (SAMULSKI, 2005), (OPPLIGER, 2006).
A desidratação forçada pode prejudicar o crescimento do adolescente, pois leva a
diminuição da liberação do GH (hormônio do crescimento). Portanto atletas jovens que
estão em fase de crescimento, utilizando os procedimentos incorretos e inadequados pode
prejudicar seu desenvolvimento corporal, mesmo que haja ajustes no período pós luta
(SINNING, 1997).
A combinação de restrição alimentar e privação de �uidos cria um efeito �siológico
adverso e sinérgico no organismo do lutador, enfraquecendo-o para a competição. Além
disso, a maior parte das formas de desidratação, como o suor exagerado e o uso de diuré-
ticos, contribui para a perda de eletrólitos (FOSS; KETEYIAN, 2000).
Os lutadores esperam repor os �uidos corporais, eletrólitos e glicogênio durante o breve
período (30min a 20h) entre a pesagem e a competição. Entretanto, o restabelecimento
da homeostase hídrica pode levar de 24 a 48h; a restauração das reservas de glicogênio
muscular pode levar até 72h; e programas que tornam necessário avaliar a composição
corporal e incluem uma educação nutricional (FOSS; KETEYIAN, 2000).
Deve-se conhecer �siologicamente os atletas para que haja uma melhora no plano
nutricional e no plano de treinamento, pois isso pode levar a preparação física dos atletas
e�caz e com melhora no rendimento e desempenho (OPPLIGER, 2006).
Aumentar a atividade pode ser recomendado, desde que isso ocorra em todo período
de treinamento e não apenas no período pré-competitivo, com o plano nutricional indi-
vidualizado, o recomendado seria de nunca fazer o uso de estratégias de desidratação e
ausência de refeições por dias. Além de aumentar o desempenho do atleta, o mesmo seria
mais saudável sem deixar muitas sequelas no organismo ao longo do tempo (OPPLIGER,
2006).
20
4 Metodologia
4.1 Instrumento
Empregou-se uma metodologia exploratória através de uma pesquisa do tipo descritiva,
utilizando um questionário padronizado, auto-administrativo, com 15 questões objetivas.
Algumas perguntas do questionário, utilizado na pesquisa já haviam sido aplicadas anteri-
ormente em maratonistas, triatletas (MARINS et al., 1999), judocas (BRITO; MARINS,
2001), universitários e jogadores de futebol (FERREIRA; MARINS, 2002a). No Anexo I
encontra-se o modelo do questionário aplicado aos atletas.
4.2 Características da amostra
Foram entrevistados 20 atletas (todos do sexo masculino). A amostra foi selecionada
de maneira aleatória. Os atletas apresentavam uma média de idade de 15 a 50 anos,
experiência prévia de competições na modalidade de 3 a 40 anos e peso corporal de 61kg
a 120 kg. Os atletas treinavam em média, 5 vezes por semana, no mínimo, 2 horas em
cada sessão. A amostra foi composta por atletas de alta performance, distribuídos entre
esportes diferentes, Jiu jitsu, Muay Thay e M.M.A., diversos níveis de graduação por
faixa. Foram submetidos a avaliação, atletas de categorias diversas como: Peso Leve (até
70kg), Peso médio (até 89kg) e Peso Pesado (de 89 a 120 kg).
4.3 Coleta de dados
A coleta de dados foi realizada em academias de luta na cidade de Campos dos Goytacazes.
A coleta compreendeu o período de junho a julho de 2015.
21
4.4 Tratamento dos dados
Após a coleta de dados, estes foram tratados e os resultados foram expressos em tabelas
e grá�cos. Para análise estatística, utilizou-se a análise de frequência, média e desvio
padrão. As questões não respondidas no questionário foram descartadas da amostra.
4.5 Aspectos éticos
O presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de ética da faculdade Redentor sob o nú-
mero C.A.E 143257.240987.98. Todos os participantes, foram informados sobre os riscos
e benefícios da pesquisa, bem como a sua metodologia, após assinaram o termo de con-
sentimento livre e esclarecido e responderam adequadamente o questionário.
22
5 Resultados e discussões
São apresentados a seguir os resultados obtidos neste trabalho, visando obter práticas
usuais e nível de conhecimento sobre a hidratação de atletas de alta perfomance e sua
maneira de se hidratarem.
Foi perguntado no questionário aplicado sobre o hábito de hidratação dos atletas em
treinos e competições, no que se refere à frequência do consumo de líquidos, que varia
entre quase nunca, as vezes e sempre.
Na �gura 1, observa-se que, um número importante de atletas relatou quase nunca se
hidratar durante treinamentos e competições (14,28% durante treinamentos e em compe-
tição). Os dados em questão são considerados preocupantes, uma vez que a desidratação
tende a elevar a temperatura corporal (MARINS et al., 2000), o que pode reduzir a ca-
pacidade física do atleta, principalmente se ele está competindo em ambientes quentes,
podendo aumentar a possibilidade de sofrer agressão térmica (Saltin e Costill e STRA-
CHAN et al., 2005).
Nesse contexto, atletas que iniciam a competição num estado de desidratação, estão
claramente em desvantagem competitiva. (BUSKIRK e col, 1958). Já houveram casos de
mortes por desidratação, que ocorreram em esportes categorizados por peso em atletas
que se preparavam para competições (CDC, 1998), o que torna fundamental o consumo
frequente de líquidos durante os treinamentos e competições. Entretanto, a quantidade
de líquidos a ser consumida durante o treinamento ou competição deve ser calculada de
acordo com a perda do atleta, pois o excesso de água também pode vir a prejudicar,
causando hiponatremia (ALMOND et al., 2005).
23
Figura 1: Frequência de hidratação dos atletas durante o exercício
Quando os atletas foram questionados sobre o período de hidratação (�gura 2), notou-
se que 47,61% destes relataram que sempre se hidratam durante os treinamentos e 23,80%,
durante as competições. Esse fato se mostra preocupante, uma vez que uma grande parte
dos entrevistados apresentou hábitos inadequados de hidratação, neste caso, é recomen-
dável que os atletas sempre se hidratem durante os treinamentos e competições (ACSM,
1996), (MARINS; DANTAS; ZAMORA, 2000). Resultados pouco distinto foram encon-
trados por Brito e Marins (2001), em uma amostra de judocas onde 53,96% e 54,34% se
hidratavam sempre durante os treinamentos e competições. Pode-se observar que houve
uma tendência dos atletas se hidratarem mais durante os treinamentos (47,6%) do que em
competições (23,80%), o que é um procedimento inadequado visto que os atletas devem
manter em competições o mesmo hábito de hidratação que realizam nos treinamentos. A
hidratação adequada ajuda a otimizar a resposta �siológica e aumenta o rendimento fí-
sico. Um esporte como o M.M.A proporciona uma elevada demanda metabólica do atleta
tanto no treinamento quanto em competições (SAMULSKI, 2005). Apesar de ser um
comportamento inadequado, esta dissemelhança possivelmente se explica pela diferença
de duração entre as atividades. Pode chegar a seis horas o treinamento diário de um
lutador de M.M.A na semana anterior a competição, enquanto que uma luta tem dura-
ção máxima de 5 minutos cada round, podendo ser concluída antes se ouver nocaute ou
�nalização. Isto faz com que variem as necessidades de reposição de líquidos dos atletas
durante competições e treinamentos(SAMULSKI, 2005).
Recomenda-se que durante a prática esportiva, os atletas devam começar a ingerir lí-
24
quidos desde cedo em intervalos regulares no intuito de consumir �uidos em uma frequên-
cia que possa repor toda a água perdida através da sudorese . Recomenda-se ainda, que
a ingestão de líquidos após o exercício é de extrema importância no auxílio a recuperação
rápida entre as séries de treinamento ou competição (ACSM, 1996).
Observou-se que não existe grande preocupação para se hidratar nos períodos que
antecedem os treinos, (33,3%) .Considera-se que os atletas devem beber líquidos periodi-
camente, de acordo com as oportunidades que vão surgindo durante o exercício (ACSM,
1996).
Apenas 57,14% dos atletas se hidratam após a competição , e 71,42% após os trei-
namentos, este comportamento não seria o ideal para se repor o glicogênio muscular e
restabelecer o equilíbrio hidro-eletrolítico. Recomenda-se após o exercício reidratar-se
com uma bebida que contenha mais eletrólitos do que aquela que se utiliza durante o
exercício. A hidratação após a atividade é fundamental para uma boa recuperação, pois,
além de repor as perdas hidroeletrolíticas, pode, caso esteja associada à ingestão de car-
boidratos, restaurar as fontes energéticas, permitindo ao atleta uma recuperação mais
rápida e e�ciente para a próxima sessão de treino ou competição(ACSM, 1996).
Os treinadores devem estimular os atletas a se hidratarem antes de sentirem sede.
O sinal de sede aparece quando o atleta já apresenta 2% de desidratação. Este grau
de desidratação leva a reações �siológicas negativas, como redução em 10% do Vo2máx,
redução da taxa de esvaziamento gástrico e aumento da temperatura interna (MARINS;
DANTAS; ZAMORA, 2000).
Figura 2: Período de hidratação em treinamento e competições
Sobre a hidratação dos atletas, foi perguntando o tipo de �uido utilizado para a
25
hidratação, água ou isotônico, nos momentos que antecedem, durante e depois de um
treinamento ou competição, veri�cou-se que, do total de atletas que responderam esta
questão 61,91% a�rmaram que, sim, se preocupam com a combinação de nutrientes de sua
hidratação. E 38,09% responderam que não se preocupavam com o o tipo de hidratação.
É importante considerar que um treino de M.M.A dura em média 2 horas, podendo durar
até 6 horas em treinamentos que antecedem a competição. A utilização de isotônico
como �uido hidratante é mais recomendada, a�m de manter a qualidade do treino. Em
competição o tempo em que o atleta permanece lutando pode variar signi�cativamente,
podendo ser recomendado ou não a utilização de um isotônico com agente hidratante.
Entretanto é importante destacar que, por mais que um atleta elimine rapidamente seus
adversários, o tempo total de competição muitas vezes pode ser superior a 20 minutos,
indicando assim que o atleta utilize um isotônico para repor os sucessivos desgastes das
lutasBrito2001.
Quando foi perguntado sobre a solução consumida pelos atletas durante as atividades
�gura 3, observou-se que o tipo de solução mais ingerida pelos competidores durante
treinos e competições foi a água (27,77%), enquanto apenas 8,33% fazem consumo de
isotônicos durante as atividades.
No período que antecede a atividade apenas 16,66% dos atletas se hidratam com água,
enquanto a metade dos atletas (50%) utilizam isotônicos antes de treinos e competições.
Foi comprovado a e�ciência da ingestão de isotônicos sobre a água em exercícios com
duração acima de 1 hora . A ingestão de isotônico antes do exercício tem apresentado
mais vantagens do que a água. Os pontos positivos de uma hidratação com carboidratos
são muitos, como: manutenção da glicemia sanguínea, diminuição na possibilidade de
hipoglicemia, aumento no tempo de exercício, menor índice de percepção do esforço,
absorção intestinal mais rápida e níveis de glicemia ideais durante o exercício.Em relação
a água, os pontos positivos são: rápido esvaziamento gástrico, desnecessária adaptação
para a palatabilidade da solução e custo praticamente zero (BRITO; MARINS, 2001).
Do total de atletas apenas 41,66% se hidratam com isotônicos após o exercício, quando
todos deveriam repor os estoques de glicogênio e a homeostasia hídrica, visto que pes-
quisas demonstram claramente que após o exercício a reidratação só pode ser conseguida
quando se repõe água e eletrólitos. Adicionando-se ainda carboidratos, com o objetivo de
uma rápida recuperação do glicogênio muscular e glicogênio hepático. É possível diferen-
ciar uma ação de hidratação para uma condição de treino ou competição. Para treinos e
competições de curta duração, com um tempo máximo de 60 minutos, é viável o consumo
26
de um isotônico antes da atividade, além de água durante e um isotônico depois do exer-
cício. Em condições de treinamentos longos, deve-se priorizar o consumo de isotônicos
antes, durante e depois, com atenção especial na concentração e quantidade de líquido
consumido, procurando evitar a sensação de plenitude gástrica. Por outro lado, em com-
petições com diversas etapas classi�catórias, o consumo de isotônicos também pode ser
indicado antes e após a atividade. Durante o intervalo entre as lutas o isotônico pode
funcionar como um agente de manutenção calórica. (MARINS; DANTAS; ZAMORA,
2000).
Figura 3: Consumo de água e/ou isotônico antes, durante e depois dos treinos
Quando questionados sobre o momento em que os atletas achavam que devem ter a
iniciativa de se hidratarem, (antes da sensação de sede, somente depois de setir sede ou
quando a sede é intensa), a maioria deles responderam que costumam se hidratar antes da
sensação de sede (61,9%). Este referencial é importante, já que a sensação de sede é uma
resposta a um quadro de desidratação. ACSM publicadas em 1996 referiam que a sensação
�siológica de sede era um mau indicador das necessidades hídricas do atleta em esforço
físico. Os atletas não ingerem quantidade su�ciente de água para prevenir a desidratação.
Os atletas apenas ingerem voluntariamente entre 30 a 70% das perdas, eles apenas têm a
sensação de sede quando o dé�ce de água corporal atinge 2% do seu peso corporal, o que
implica comprometimento no seu rendimento durante treinos e competições (BROAD;
QUERI; LAMBERT, 1996). Para se evitar este tipo de perda, o treinador deve incentivar
o consumo de líquidos pelos atletas mesmo que estes não sintam sede, uma estratégia que
pode ser adotada é a utilização de intervalos regulares para que os atletas se hidratem.
De acordo com os dados apresentados na �gura 4, a solução mais consumida como
agente reidratante foi a água (52,94%), Pode-se observar uma carência de orientações
27
adequadas sobre hidratação aos atletas, pois a outra metade dos competidores consomem
bebidas impróprias à prática esportiva, como Coca-cola® (8,82%), e café (5,88%). O
consumo de bebidas gasosas durante o exercício causa desconforto gástrico (CASA et
al., 2000), (MARINS, 2004). O consumo de café tem sido recomendado devido à ação
ergogênica da cafeína (WALTON et al., 2002), entretanto sua ingestão como solução
reidratante não é recomendada (BRITO; MARINS, 2001). O atletas apresentam um
consumo moderado de outra fonte líquida que fornece carboidratos, como os sucos naturais
(17,64%). Parte do carboidrato pode ser reposto na forma de sucos ou refrescos. Esta
reposição pode ser feita principalmente após o exercício, quando os receptores de insulina
estão mais ativos, o que facilita a reposição do glicogênio (GUERRA, 2004), (BRITO;
MARINS, 2001).
Figura 4: Soluções líquidas usualmente consumidas pelos atletas
Umas das perguntas do questionário buscou identi�car os tipos de bebidas usualmente
consumidas pelos atletas. Podemos observar que 80,9% dos avaliados a�rmaram ser Gato-
rade® a marca de preferência e 19,04% SporAde®. Já os demais produtos apresentaram
preferência muito inferior entre os atletas como demonstrado na tabela 1. Em outros
trabalhos, a preferência pelo consumo de Gatorade® também foi superior em relação a
outras bebidas, com preferência de 77,04% dos caratecas e 85,9% dos judocas. Podemos
observar que as bebida sportdrink® ( 4,76%) e energil C® (4,76%) apresentaram pior
desempenho, devendo assim ser alvo de estudo por parte da empresa fabricante, já que
possui uma boa rede de distribuição, incluindo supermercados. Apesar do isotônico Ener-
gil C apresentar uma fórmula equilibrada, a bebida carboidratada Energil C light® não
deve ser recomendada por apresentar apenas 1% de carboidrato (ACSM, 1996).
28
Tabela 1: Bebidas energéticas de preferência dos atletas
Bebidas energéticas Qual sua preferência?
Gatorade 80,9%
Sport Ade 19,4%
Marathon 9,52%
Redbull 9,52%
Energil C 4,76%
Sportdring 4,76%
A bebida energética Red Bull® apesar de não ser isotônico, apresenta alto índice de
preferência comparada as demais (sportdrink e energil C), com 9,52%, mesmo sendo pouco
conhecida pelos atletas. Bebidas energéticas como Red Bull® podem não ser recomenda-
das para atletas, pois contém alta concentração de carboidrato, além de substâncias que
não acrescentam nenhum efeito a performance. Segundo (BONCI, 2002), determinadas
bebidas energéticas, com uma composição inadequada, não devem ser usadas nem em
treinamento como na recuperação. O ideal é que os técnicos orientem seus atletas a con-
sumirem bebidas que apresentem uma determinada composição de nutrientes adequados
com as necessidades e objetivos estabelecidos (WIDERMAN; R.D.HAGAN, 1982).
Além das situações de treino e competição, buscou-se conhecer os hábitos de hidrata-
ção fora da academia. Foi perguntado aos avaliados quanto à preocupação de se hidratar
em diferentes estações do ano. Podemos observar na �gura 5, que 52,3% dos atletas se
preocupam com a hidratação independente da estação climática, o que revela ser um há-
bito correto, uma vez que mesmo no inverno, quando as temperaturas se mantêm baixa,
existe a possibilidade de desidratação, em consequência da ingestão reduzida de líquidos
associada à sua perda através do suor durante o exercício físico. A porcentagem de atle-
tas que se preocupa mais no verão representou 33,3% da amostra total, sendo que 9,52%
responderam não se preocupar e 4,7% revelou se preocupar mais no inverno. Entre as per-
guntas realizadas, foi questionado aos atletas sobre o costume de se pesar antes e depois
de um treino ou competição, a maior parte da amostra (66,6%) se pesa frequentemente,
a minoria dos atletas relatou quase nunca se pesar (14,2%), e 19,04% responderam que
se pesam, mas não frequentimente. A prática de perda de peso antes de competições é
comum entre lutadores, pois as categorias em competições são divididas segundo o peso
corporal, com isso se justi�ca a maioria das amostras responderem que se pesam frequen-
timente, com o objetivo de controlar o peso para o dia da pesagem e competição (ALVES;
COSTA; SAMULSKI, 2006).
29
Figura 5: Preocupação dos atletas quanto à necessidade de hidratação é mais frequente
A tabela 2 apresenta diversos sintomas característicos de desidratação e hipoglicemia
que foram relatados pelos lutadores de M.M.A.
Tabela 2: Manifestações �siológicas relatadas pelos atletas decorrentes da desidratação
Sinais Frequência
Sensação de perda de força 66,66%
Câimbras 61,90%
Sede muito intensa 57,14%
Dor de cabeça 38,09%
Sonolência 33,33%
Palidez 28,57%
Di�culdade de realização de um movimento técnico facilmente
realizado em condições normais28,57%
Difuculdade de concentração 28,57%
Alterações visuais 23,80%
Insensibilidade nas mãos e pés 19,04%
Olhos fundos 14,28%
Desmaios 9,52%
Fadiga generalizada 9,52%
Perda momentânea da consiência 9,52%
Alucinações 4,70%
Convulsões 0%
Interrupção da produção de suor 0%
30
Dentre as manifestações �siológicas de uma condição de desidratação ou condições
associadas, ocorridas durante um treino ou competição, veri�camos que os vários fatores
estão diretamente ligados a uma hidratação inadequada.
Podemos identi�car que 57,14% dos atletas, responderam que apresentam �sede muito
intensa�, sendo esta manifestação muito importante, pois representa um quadro de de-
sidratação superior a 2%. A sede é decorrente de desidratação, ou seja, perda hídrica
do organismo. Durante a exposição ao calor, a transpiração intensi� ca a perda de sais,
aumentando a probabilidade de dor e espasmos musculares, principalmente nos músculos
exercitados, se não for feita a reposição dos eletrólitos devida. Identi�cou-se que 61,90%
dos atletas a�rmaram sentir caimbras durante treinos ou competições. O aparecimento
de cãibras ocorre, provavelmente, em virtude de um desequilíbrio no nível de hidratação e
das concentrações eletrolíticas, de modo que a transpiração elevada aliada à de�ciência de
eletrólitos pode levar à câimbras, mesmo na ausência de contrações musculares intensas
ou de fadiga. Também esta relacionado ao excesso de trabalho e surge em situações de
fadiga ou sobrecarga intensa (BERGERON, 2008).
A sensação de �perda de força� apresentada por 66,66% está ligada provavelmente a
redução da glicemia sanguínea, mostrando que água somente não é su�ciente para hi-
dratar adequadamente os atletas. Além disso, 28,57% apresentaram ainda �di�culdades
em realizar movimentos facilmente executados em condições normais�, demonstrando as-
sim mais um fator decorrente de uma condição de hipoglicemia interferindo no Sistema
Nervoso Central. Os resultados de algumas manifesações são preocupantes, pois estão
diretamente relacionadas a hábitos de hidratação. Como foi dito anteriormente, a mani-
festação de sede muito intensa está ligada a no mínimo 2% de desidratação, o risco ainda
maior se encontra quando se ultrapassa 2% de desidratação, o desempenho físico �ca com-
prometido, a temperatura corporal e a freqüência cardíaca aumentam, acarretando riscos
a saúde do atleta. Destaca-se dois registros de desmaios, apresentado por atletas durante
treinos e competições, caracterizando provavelmente um quadro de hipoglicemia. Ou-
tros resultados alarmantes veri�camos nos resultados obtidos quando foi perguntando aos
atletas sobre a sensação de sonolência (33,33%), insensibilidade nas mãos e pés (19,04%),
perda momentanea de consciência (9,52%). Entretando sintomas como convulsões e coma
não foram citados, idicando a inexistência de problemas extremos relacionados á desidra-
tação.
Um outro fator que os treinadores devem �car atentos é quanto a di�culdade de
concentração apresentada por 28,57% dos atletas, essa informação é consideravelmente
31
preocupante, pois está relacionada a uma desidratação superior a 5%, isto interfere sig-
ni�cativamente na performance do atleta, uma vez que o lutador terá sua capacidade
de aprendizado prejudicada assim como na manutenção do padrão de movimento que o
atleta apresenta em condições normais. Este tipo de manifestação pode fazer a diferença
na decisão de uma competição, um lutador desconcentrado �cará em desvantagem, uma
vez a disputa pode ser de�nida com a aplicação de uma técnica perfeita.
Uma hidratação correta implica em uma relação adequada entre a quantidade ingerida
e o intervalo de tempo . Desta forma, uma das perguntas elaboradas para o questionário
busca investigar o conhecimento do volume de líquido e a frequência que eles devem se
hidratar . Como mostrado na �gura 6, um total de (61,90%) a�rmaram que não sabem
a maneira correta de se hidratarem. Dos 38,1% restante que responderam qual seria a
maneira correta de se hidratar, apenas 14,28% estavam corretos indicando o consumo de
¼ de litro a cada 15 minutos e os demais a�rmaram beber meio litro para cama meia hora
(23,80%). A hidratação feita de forma incorreta pode vir a prejudicar o rendimento do
atleta, pois a ingestão de grandes volumes pode causar desconforto gástrico no atleta.
Figura 6: Opinião dos atletas sobre como deve ser uma hidratação
Foi perguntado aos atletas sobre a opnião deles em relação a temperatura de líquido
que eles costumam se hidratar. A maior parte dos atletas entrevistados (47,61%) preferem
que o líquido esteja �moderadamente gelado�, para a minoria dos entrevistados (19,04%)
a temperatura �normal� é a ideal, e uma parte considerável dos atletas (33,33%) preferem
�extremamente gelado�. Ao contrário do que se acreditava, a temperatura gelada dos
líquidos pode não facilitar o processo de absorção. Possivelmente a melhor temperatura
32
seja aquela em que o atleta está acostumado. Pesquisas recentes tem demonstrado que a
temperatura do líquido exerce pouco efeito signi�cativo na taxa de esvaziamente gástrico
(BRONS, 1998). Não foram observadas diferenças no rendimento esportivo ou em uma
série de respostas �siológicas em 6 sujeitos que realizaram o trabalho submáximo a 60%
do VO2 máx, consumindo água em três temperaturas diferentes, a 10ºC, 24ºC e a 38ºC.
A orientação nutricional exerce um papel importante nas escolhas das estratégias e
práticas de hidratação, o que certamente irá in�uenciar o rendimento do atleta durante
treinos e competições. Sobre a freqüência de respostas obtidas quando os atletas foram
questionados se receberam alguma orientação nutricional. A maioria dos atletas (71,42%)
responderam que �não tiveram nenhum tipo de orientação� sobre qual a melhor maneira
de se hidratar, o que justi�ca os índices de respostas com procedimentos inadequados
apresentados anteriormente pelos atletas, visto através do presente trabalho que muitos
deles se hidratam de maneira incorreta. Dentre os 28,57% que já tiveram algum tipo de
orientação, destaca-se: o treinador (66,6%),e o preparador físico (16,6%), e �sioterapeuta
(16,6%), com apenas um relato. Este resultados representam os meios onde os atletas
mais obtém informações sobre a maneira correta de se hidratarem. Os pais (26,19%),
o professor de Educação Física da escola (22,62%), livros (20,23%) e revistas (22,62%)
aparecem como fontes de informação que devem ser consideradas. Este comportamento
demonstra a preocupação dos atletas em se manterem informados sobre nutrição, entre-
tanto não se sabe a qualidade das informações que chegam aos atletas através dos meios
de comunicação. Segundo (CORLEY; DEMAREST-LITCHFORD; BAZZARRE, 1990),
nos Estados Unidos, a mídia bombardeia os técnicos e atletas com informações erradas
sobre nutrição e dietas da moda. Concluíram em seus estudos que treinadores muitas
vezes tem conhecimentos limitados e inadequados sobre nutrição. Entretanto existem re-
latos onde foram encontrados efeitos positivos nos hábitos nutricionais após a intervenção
de um pro�ssional (SPEAR et al., 1991).
Observa-se através do questionário aplicado aos atletas, a falta de orientação sobre o
assunto, hidratação. Uma das perguntas do questionário referia-se ao conhecimento sobre
a função dos isotônicos, por considerar que este conhecimento pode auxiliar no aumento
do consumo dessa solução. Visando estabelecer o nível de conhecimento dos atletas em
relação aos isotônicos, foi questionado sobre a função do isotônico no organismo. Como
pode ser observado na �gura 7, apenas 38,09% dos atletas responderam corretamente a
pergunta, que informa que a função dos eletrólitos é hidratar e repor eletrólitos e energia,
esse resultado revela o baixo nível de conhecimento quanto às funções dos isotônicos, po-
dendo ser um fator determinante para o baixo consumo desta solução no grupo estudado.
33
Possivelemente , a ingestão de isotônicos não é limitada apenas pelo desconhecimento de
sua função, mas provavelmente pela di�culdade econômica, que limita o acesso do público
a este produto (MARINS; FERREIRA, 2005).
Figura 7: Opinião dos atletas sobre a função dos isotônicos
A ultima pergunta do questionário aborda a prática de perda de peso através da
desidratação, caso fossse respondido que sim, era questionado também, sobre quanto
tempo ocorria essa prática. De acordo com os resultados obtidos, veri�cou-se que mais
da metade dos atletas (57,14%) responderam que sim, são adeptos a essa prática. E os
demais, 42,8% responderam que não são adaptos a perda de peso através da desidratação.
Ao questionar aos atletas que a�rmaram executar a prática de desidratação, sobre o
tempo esse procedimento durava, as respostas foram distintas, variando de 1 semana a 1
mês. Acredita-se que essa diferença considerável se dê em razão das diferentes respostas
�siológicas dada pelo organismo de cada indivíduo, em resposta a perda de peso através
da desdratação.
Com relação aos lutadores que responderam que não são adeptos a prática, observou-
se que esses possuiam uma experiência superior a 15 anos como atleta. Pode-se constatar
através dos resultados que 42,8% dos atletas, não realizam essa prática, por já conhece-
rem os malefícios causados a saúde e a performance durante treinos e competições. A
combinação da atividade física e do estresse do calor impõe um desa�o signi�cativo para
o sistema cardiovascular. Quando líquidos são perdidos através do suor mais rapidamente
do que são repostos, os indivíduos estarão em um processo de desidratação. O baixo nível
de liquido corporal, tem um impacto progressivamente negativo no desempenho do exercí-
cio, efeito impulsionante na redução da potência aeróbia máxima e o tempo de fadiga em
intensidade sub-máximas também �ca mais curto. Os atletas devem iniciar os exercícios
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bem hidratados. Segundo o presente estudo, atletas não costumam hidratarem-se corre-
tamente, nota-se a necessidade de esclarecer alguns pontos e buscar estratégias adequadas
para uma melhor hidratação em lutadores de M.M.A. (ARAGÓN, 2001).
35
6 Conclusões
Com base nas respostas obtidas através do questionário, podemos concluir que, grande
parte dos lutadores de M.M.A avaliados neste estudo possui baixo nível de conhecimento
em relação à hidratação. Uma pequena parte desses lutadores demonstraram possuir um
nível de conhecimento maior sobre a importância da hidratação para o rendimento ao
consumirem líquidos. Os resultados obtidos levam à conclusão de que este fato poderia
ser justi�cado pelo número reduzido de atletas que já receberam algum tipo de orientação
quanto à melhor maneira de se hidratar. Enquanto uma minoria de lutadores mostra
um nível de conhecimento maior, porém esse nivel de conhecimento foi adquirido com a
experiência em treinos e lutas. Essa pequena porção de atletas é composta por lutadores
mais experientes, considerando que o tempo de treino e luta levaram eles a conclusão dos
benefícios e malefícios de uma hidratação nos momentos que antecedem, duante e depois.
Por outro, lado a forma de hidratação adotada na maior parte dos casos não é executada
de forma adequada, minimizando assim os benefícios da hidratação.
Também podemos observar que o consumo de líquidos é maior durante as competições
do que em treinamentos, possivelmente pelo fato de alguns atletas serem adeptos da prá-
tica de perda de peso através da desidratação, ou seja nos ultimos treinos que antecedem
a pesagem os atletas reduzem a ingestão de água para baixar ou manter o peso para a
pesagem, depois da pesagem o atleta aumeta a reposição de água e outras substância com
o intuito de retomar o peso normal para a luta.
Concluiu-se também que o consumo de soluções inadequadas, como o café e refrige-
rante, com a �nalidade de se hidratar, e o consumo relativamente baixo de isotônicos,
re�ete a necessidade de um maior envolvimento dos treinadores, em conjunto com uma
equipe especializada, composta por nutricionista e educador físico, na conscientização dos
atletas e seus instrutores quanto à formação de hábitos saudáveis de hidratação e nutri-
ção, com objetivo de preservar a saúde do atleta, além de não prejudicar suas habilidades
durante treinos e lutas.
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O consumo de água é predominante para a hidratação da maioria dos atletas, apesar
da importância dos isotônicos, eles são pouco utilizados pelos atletas. Os isotônicos mais
conhecidos pelos atletas são Gatorade, SportAde e Energil C, sendo também os de maior
preferência entre os atletas. Dos sintomas relatados pelos atletas, destacou-se em primeiro
lugar a �sensação de perda de força�, seguida de �sede intensa� e �caimbras�. Esses sin-
tomas estão diretamente relacionados com os efeitos de uma desidratação e condições de
hipoglicemia, decorrentes de uma ação de hidratação inadequada e insu�ciente. Dentre
os sintomas apresentados pelos atletas, muitos poderiam ser minimizados com a ingestão
adequada de isotônicos durante os treinamentos ou competições.
Uma elevada proporção de atletas se queixaram de uma série de sintomas relacionados
a má hidratação, é considerada preocupante, principalmente, por se tratar de equipes
pertencentes a comissão atlética Brasileira de M.M.A. Os atletas precisam ser melhor
conscientizado sobre os benefícios da hidratação, pois um lutador desidratado poderá ter
comprometido sua saúde e rendimento esportivo.
É recomendado que as Federações responsáveis pela modalidade veri�que se houve
resultados similares encontrados em outros estudos, con�rmando os resultados obtidos
no presente trabalho. Será necessário o estabelecimento de campanhas de orientação a
atletas e treinadores para que se adotem hábitos de reposição hídrica que atendam às
necessidades da modalidade.
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