henrique murachco, gramatica grega - teoria

736
mur00.p65 22/01/01, 11:35 1

Upload: helena-papa

Post on 26-Nov-2015

437 views

Category:

Documents


17 download

TRANSCRIPT

  • mur00.p65 22/01/01, 11:351

  • mur00.p65 22/01/01, 11:352

  • L N G U A G R E G AViso Semntica, Lgica, Orgnica e Funcional

    Volume I

    Teoria

    mur00.p65 22/01/01, 11:353

  • mur00.p65 22/01/01, 11:354

  • H E N R I Q U E M U R A C H C O

    L N G U A G R E G AViso Semntica, Lgica, Orgnica e Funcional

    discurso editorial

    Volume I

    Teoria

    mur00.p65 22/01/01, 11:355

  • Ficha catalogrfica: Sonia Marisa Luchetti CRB/8-4664

    Murachco, HenriqueLngua grega: viso semntica, lgica, orgnica e

    funcional / Henrique Murachco. So Paulo: Discur-so Editorial / Editora Vozes, 2001.

    2 v.

    ISBN v.1: 85-86590-22-3ISBN v.2: 85-86590-23-1

    1. Lngua Grega Clssica 2. Semntica I. Ttulo

    CDD 481481.7485

    Copyright by Henrique Murachco, 2001

    Nenhuma parte desta publicao pode ser gravada,armazenada em sistemas eletrnicos, fotocopiada,

    reproduzida por meios mecnicos ou outros quaisquersem a autorizao prvia da editora.

    Produo grfica: Logaria BrasilProjeto grfico, editorao e capa: Guilherme Rodrigues Neto

    Tiragem: 2.000 exemplares

    discurso editorial

    Av. Prof. Luciano Gualberto, 315 (sala 1033)05508-900 So Paulo SPTel. 3818-3709 (ramal 232)

    Tel./Fax: 814-5383E-mail: [email protected]

    M972

    mur00.p65 22/01/01, 11:356

  • Agradeo:

    Ao Prof. Robert H. AUBRETONMestre e amigo.

    Todos ns de Letras Clssicas lhe devemos muito,e eu, quase tudo.

    A todos os meus inumerveis alunos, colegas e amigosde todos os lugares, de todas a idades,

    que me proporcionaram o prazer de servir.Com um amor de amigo enorme.

    A France, Cristina, Slvia e Karine, esposa e filhas,comeo, fim e razo de tudo,

    pelo silencioso afeto,conivncia afetuosa e compreenso paciente.

    A Jean Baptiste e Arthur Aymeric,meus netos, raios de sol.

    A Helosa, minha neta, nos dedos-rosa da aurora.Por existirem.

    mur00.p65 22/01/01, 11:357

  • mur00.p65 22/01/01, 11:358

  • Introduo:Guia do leitor

    Depois de ter escrito e reescrito cerca de 600 laudas, depois de terlido e relido, sempre com a preocupao de encontrar uma falha, um va-zio, um lapso, e depois das cobranas dos alunos, ex-alunos, que nuncaso ex-, e sobretudo de meus colegas, sento-me frente do computa-dor para escrever uma ou a introduo ao meu trabalho, que, tambm,devido cobrana desses amigos, acabou sendo a tese de doutoramento.

    Vou conseguir? O tempo dir.Como comear? Pelo comeo!O comeo, perdido no tempo, situa-se em 1969, quando a reforma

    curricular do Curso de Letras introduziu as matrias optativas. Essasmatrias visavam a um fim preciso: abrir os horizontes dos alunos; nodeix-los presos a esquemas fechados.

    Viu-se ento que o interesse pela Antigidade Grega, pela Litera-tura Grega e pela Lngua Grega era grande, e o nmero de interessadosfoi crescendo.

    Mas, como fazer para que essa passagem de um, dois, trs e at nomximo quatro semestres pudesse deixar uma marca, ou, melhor dizen-do, para que professor e aluno no ficassem com a sensao de teremperdido seu tempo, e para que os crditos obtidos pelos alunos no seassemelhassem a tantos outros, em que, de um lado, se finge que se ensi-na e, de outro lado, se finge que se aprende: d-se um programa de ummanual; repete-se em aula o que est escrito nele, sem comentrio e semcontestao, e cobra-se no fim do semestre numa prova, em que o alunodevolve o que recebeu. E essa devoluo em geral assume um sentido

    mur01.p65 22/01/01, 11:359

  • 10 introduo: guia do leitor

    denotativo; isto , devolve-se de fato! O aluno vai embora com seus cr-ditos e o professor fica com a sensao de tarefa terminada.

    Mas, como minha postura na sala de aula sempre foi de dilogo,de querer saber se o aluno entendia ou no o que eu tentava passar-lhe,surgiram as primeiras perguntas e contestaes, e a comearam as primei-ras apostilas com redao pessoal, diferente dos manuais e gramticas.

    Mas, o que se dizia e se discutia na sala de aula era muito diferentedo que as apostilas traziam; ou melhor, o que se dizia na sala de aulaera no s diferente, mas muitas vezes mais extenso e variado do que oque estava na apostila. E as edies das apostilas foram se sucedendoem folhas avulsas, sempre com a inteno de servir aos alunos.

    Nunca tive a idia de escrever um mtodo ou uma gramtica degrego. No era necessrio! Havia tantas gramticas no mercado! Todaselas lastreadas em tradio multissecular!

    Era um respeito quase ou mais que religioso que me impedia dis-cuti-las e muito menos critic-las. Eu mesmo devia meus conhecimen-tos de grego a elas.

    Quantos helenistas no deviam seu slido saber a elas?Mas eu no encontrava nelas as respostas s perguntas que os alu-

    nos faziam: por que essa funo se exprime por esse caso e aquela pelooutro. O que significa nominativo? O que significa acusativo? Porque o sujeito vai para o nominativo e o objeto direto vai para o acu-sativo? Por que a relao de lugar para onde vai tambm para o acusati-vo? No uma relao adverbial?

    Fui buscar essas explicaes nas gramticas. Passei pelas gregas (alista delas est na Bibliografia); passei pelas latinas, pelas portuguesas,pelas francesas e sempre encontrei as mesmas coisas: uma nomenclaturafixa, com algumas variaes superficiais, mas definindo e delimitando deuma maneira autoritria e final que as relaes das palavras na frase esta-vam definidas e que o que o aluno deve fazer aprend-las de cor e, pelosexerccios, fix-las na mente at que fiquem automticas.

    Todas as gramticas so descritivas, historicistas, formalistas,prescritivas.

    Ao critic-las no quero desmerec-las. Elas prestaram relevantesservios evoluo cultural do Ocidente. Elas so preciosas sobretudoporque nos conservaram e passaram centenas de documentos, de textos,de testemunhos antigos, em todas as lnguas. um material imenso queest nossa disposio.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3510

  • 11introduo: guia do leitor

    No quero discutir as metodologias e didticas modernas, atuais,que usam de inmeros instrumentos para o ensino de idiomas: desde ahipnopedia at as muitas variantes dos audiovisuais. Elas so destinadas aalunos e aprendizes de diversas idades: desde a pr-escola (jardim da in-fncia) at a adultos, que, de repente, precisam do ingls, do francs, docastelhano, do alemo instrumental.

    Mas nenhum desses mtodos entra em profundidade na lngua;nenhum deles faz pensar a lngua. Todas as abordagens das gramticase mtodos tradicionais abordam o estudo das lnguas de fora para dentro,isto , da teoria para a prtica, do abstrato para o concreto. Ns achamosque dessa maneira estamos na contramo.

    As escolas despejam sobre as crianas uma srie de conhecimentosabstratos, transformados em regras, muito antes de as crianas terem acapacidade de abstrao. por volta dos 12 aos 14 anos que o adolescen-te se torna capaz de pensamento abstrato.

    Ora, desde a alfabetizao at as regras de gramtica, de acentua-o, ortografia, so formas de conhecimento abstrato, arbitrrio, dizemalguns, que a criana acaba aprendendo de cor, e devolvendo de cor,mas no entendendo1.

    Na Grcia, a gramtica surgiu no perodo alexandrino, depois dasconquistas de Alexandre Magno e da formao do seu imprio que nochegou a comandar; mas o grande feito de Alexandre foi o de tornar alngua grega a lngua comum ( koinfl gltta) de todo o Mediterr-neo, o que vale dizer, de todo o mundo antigo conhecido, ocidental, bementendido. E a gramtica do grego foi concebida para que estrangeiros,isto , os no gregos, aprendessem a lngua de todos.

    Pensou-se ento em regras prticas: um conjunto de informaesnecessrias para que o falante de outra lngua aprendesse rapidamente alngua grega.

    Essa a origem da gramtica descritiva. Ela dispensa o porqu;quer ser prtica, objetiva.

    1 Em grego a raiz may- desenvolve o verbo manynv, que significa em primeirolugar eu entendo, e da, naturalmente, o significado se ampliou para eu apren-do. Aprender, ento, pressupe necessariamente entender.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3511

  • 12 introduo: guia do leitor

    A gramtica de Dionsio Trcio herdeira dessa gramtica pri-meira. Ela descritiva e j contm alguns vcios de nomenclatura, que osgramticos latinos herdaram quando a traduziram, adaptaram e adotarampara o latim.

    Durante a exposio das diversas partes deste trabalho, vamos co-mentar essa nomenclatura, como, por exemplo, a expresso subjunti-vo, para um modo que nem sempre exprime uma subordinao.

    Mas os autores gregos, Plato, Aristteles e outros, no estuda-ram a lngua grega pela gramtica. Mas sabiam muito bem a lingua grega!Muito mais do que isso: transformaram-na num instrumento perfeito,para exprimir com perfeio todos os matizes do pensamento humano.

    Como, ento, eles aprenderam a lngua?No vamos tratar disso com pormenores. No o tema deste tra-

    balho. Mas no podemos furtar-nos de reproduzir a fala de Protgoras,quando explica a Scrates, a funo da educao2:

    Comeando desde a tenra infncia at o fim da vida (os pais) ensi-nam e exortam.

    Assim que uma criana compreenda o que dito, tanto a ama, quantoa me, o pedagogo e at o prprio pai discutem a respeito dela, de modo a queo menino seja o melhor possvel; a cada gesto, a cada palavra eles do liesdemostrando que isto justo, aquilo injusto, isto bonito, isto feio e queisto permitido aquilo proibido e faz isto, no faas aquilo. E se ele obedecede boa vontade, (...) se no, eles o endireitam com ameaas e com pancadas,como a uma vara torta e curva.

    Depois disso, ao envi-lo escola, eles tm em vista mais cuidar dobom comportamento das crianas do que das letras e da ctara. Os mestres seencarregam dessas coisas, e quando, por sua vez, as crianas entendem as letrase passam a entender os escritos, como antes a fala, eles, os mestres, dispemsobre as carteiras, para ler, os poemas dos bons poetas e os obrigam a aprenderde cor aqueles nos quais se encontram muitos preceitos, muitas digresses (nar-rativas), muitos conselhos e muitos elogios dos homens antigos bons, a fim deque o menino, por emulao, os imite e procure tornar-se igual a eles.

    Os citaristas, por sua vez, empreendem outras coisas desse tipo; eles sepreocupam com a moderao e para que os jovens no se dirijam para o mal.

    2 Plato, Protgoras, 325c5-326e6.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3512

  • 13introduo: guia do leitor

    Alm disso, quando os meninos aprendem a tocar ctara eles ensinam poemasde outros poetas bons, os lricos, acordando-os ao som da ctara e condicionamas almas dos meninos a se habituarem com os ritmos e com a harmonia paraque eles sejam mais calmos e para que, tornando-se mais bem ritmados e maisharmoniosos, eles se tornem aptos para a fala e para a ao; pois toda a vidado homem precisa de bom ritmo e de harmonia...

    Pelo que se v, a lngua era aprendida nos textos e pelos textos.Essa passagem de Protgoras nos d ainda outra idia: que o me-

    nino ateniense, depois de aprender muitos textos dos poetas picos (Ho-mero e Hesodo) e dos poetas lricos, que eram de toda a Grcia, ao pas-sar para as aulas de ginstica, ele no mais um menino ateniense, ele um menino grego! A unidade da Grcia, desde o Ponto Euxino at Mar-selha e mesmo s Colunas de Heracls, se fez pela lngua. Os Jogos Olm-picos a cada 50 lunaes eram a expresso dessa Grcia3.

    Foi essa a gramtica de Plato, Aristteles, Lsias, Demstenes,Grgias e outros.

    Mas, a gramtica pensada para os estrangeiros passou tambm aser empregada nas escolas, e os meninos do perodo alexandrino, aos pou-cos, passaram a ter que aprender, alm dos textos dos poetas, tambm asregras de gramtica.

    essa a origem da gramtica descritiva e impositiva, prescritiva.Ela se manteve intocvel durante sculos; at agora mesmo. Como

    exemplo poderamos citar Konstantinos Lskaris, um dos intelectuais bi-zantinos que emigraram para Npoles, por ocasio da tomada de Cons-tantinopla pelos turcos em 1453. Convidado por um nobre milans paraensinar a lngua grega para suas filhas, escreveu uma gramtica, em 1476.

    A base dela a de Dionsio Trcio, com alguns acrscimos, massem aprofundar nada. At os paradigmas so os mesmos!

    No correr deste trabalho aludiremos muitas vezes a esses fatos, parao que, antecipadamente, pedimos desculpas. Mas vcio de professor. Arepetio exausto acaba por prevalecer. Alm disso, essa desordem, seno foi pretendida no incio, acabou prevalecendo, como uma conseqn-

    3 Conclui-se daqui que as diferenas dialetais, que as gramticas valorizam tanto,eram sentidas como meras variantes da lngua, sem nenhuma dificuldade de en-tendimento e de fixao.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3513

  • 14 introduo: guia do leitor

    cia natural do meu trabalho que foi se desenvolvendo de uma maneiraartesanal, diria, geralmente na sala de aula. E a cada nova abordagemesbarrvamos nos mesmos problemas de sempre: descritivismo, falta deexplicao e falta de coerncia.

    Nosso objetivo nesta Introduo ( preciso uma introduco! umaintroduo preciso!) tentar guiar o leitor pelo nosso caminho e du-rante o percurso mostrar-lhe que a lngua grega de uma coerncia to-tal, a comear pelo enunciado, que a base de todo o sistema.

    O que o enunciado?Podemos cham-lo de frase, orao, perodo, discurso etc. O enun-

    ciado uma palavra ou um conjunto delas que exprime um pensamentointeiro, acabado.

    A base do enunciado , como j disse, a essncia (osa) e opredicado (kathgora, kathgreuma)4. Em outros termos: o sujeito(t pokemenon), o de que se diz alguma coisa e o verbo (=ma), oque dito daquele de que se diz alguma coisa.5

    O enunciado a base do discurso. Ele repousa sobre dois pilares: osujeito e o predicado; o substantivo e o verbo; a essncia e a ao.

    O sujeito deve ser, necessariamente, um substantivo (pokeme-non) e o predicado deve ser, necessariamente, um verbo (=ma). No henunciado sem sujeito e predicado. uma impossibilidade funcional,lgica, semntica.

    O enunciado, ento, s completo se contm sujeito e predicado,num encadeamento de dependncia: um no existe sem outro; a noodo sujeito supe o predicado e a noo do predicado supe o sujeito6.

    4 Isto est na primeira obra do rganon, de Aristteles, chamada As categorias;na verdade so: uma essncia osa, e nove categorias predicados. O mes-mo acontece no enunciado: o sujeito: pokemenon osa, e =ma kath-gora / kathgreuma.

    5 O significado de verbo nesta dicotomia sujeito/verbo no significa ao masresultado da ao, isto : o que dito. O sufixo -ma significa resultado da ao,contrapondo-se ao sufixo -siw , que significa a ao, (sufixo -o em portugus).

    6 s vezes pode acontecer que o sujeito ou o verbo no estejam expressos. Isso fezalguns gramticos criarem as frases chamadas nominais / frases sem verbo, ou

    mur01.p65 22/01/01, 11:3514

  • 15introduo: guia do leitor

    Mas o sujeito pode vir modificado, ampliado, enriquecido e o pre-dicado pode vir tambm modificado, ampliado, enriquecido. O sujeitopode ter adjunto adnominal (epteto), predicativo, aposto, e o predicado(verbo) precisa ter sujeito, agente ou paciente; ele pode ser tambm am-pliado, modificado, enriquecido, completado; pode ter advrbio (que oadjetivo do verbo), pode ter complemento direto, pode, com a ajuda dapreposio, exprimir relaes espaciais etc.

    Todas essas relaes dentro do enunciado esto encadeadas orga-nicamente, logicamente, como os elos de uma corrente, com todos oselementos formando um todo e cada elemento ligado e dependente deum e ligando e condicionando um outro. Assim, se identificarmos umdesses elementos, ns teremos o fio da meada ou um elo da corrente, epor ele podemos chegar a outros e a todos.

    Essa identificao se faz atravs do sujeito e do verbo, essencial-mente, e a seguir entre substantivos e verbos, no caso de desdobramen-tos de sujeito e predicado.

    Em grego ns temos a tarefa facilitada pela identificao formaldas funes dos nomes. Eles esto em determinados casos, que corres-pondem a determinadas funes. Rigorosamente, sem desvios. Basta iden-tificarmos os casos para identificarmos as funes.

    Identificada a funo, passamos a procurar o que determinou essafuno: se sujeito, porque est no nominativo, vamos procurar o verboque fala do sujeito; se o verbo est na voz ativa ou mdia, o sujeito agente; se est na voz passiva, o sujeito paciente. Se est na voz ativa oumdia, e o verbo incompleto, isto , transitivo, vamos buscar o seu com-plemento que estar no caso semanticamente compatvel com a relaocom o verbo. Se o verbo est na voz passiva, o sujeito paciente de umato verbal desencadeado por um agente externo, que o agente da passi-va. E assim por diante. Os elementos acessrios, adjetivos e advrbios,sero reconhecidos a seu tempo.

    Mas, para dar instrumentos para que o estudante de grego identi-fique as partes, preciso que ele aprenda a flexo dos nomes e dos ver-bos, para que possa identificar exatamente a funo dos nomes e a voz, apessoa, o modo, o aspecto do verbo.

    as frases s com verbos. Na verdade o verbo est implcito nas frases nominais, eo sujeito est implcito nas frases verbais.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3515

  • 16 introduo: guia do leitor

    So a flexo nominal e a flexo verbal.No vou cham-las de declinao para os nomes e conjugao

    para os verbos.Vou cham-las de flexo nominal e flexo verbal. O leitor encon-

    trar, no correr da obra, a justificativa dessa opo.No momento, basta dizer que os nomes7 e verbos flexionam-se com

    base numa parte fixa, que eu denomino tema.Na flexo dos nomes, se a sucesso de casos sobre o tema, no

    existe, ipso facto, um caso que se possa chamar reto, que seria o ponto apartir do qual os outros se sucederiam, numa espcie de escada declinante(declinao) a que se deu o nome de caso oblquo.

    O tema nominal, enquanto no receber o caso (a ptsiw, desi-nncia) que lhe determine a funo, est fora do enunciado e contmnele apenas o significado virtual da palavra. Assim nyrvpo- encerra osignificado de homem, ser humano; mas, quando recebe o -n, que amarca do acusativo, ele recebe a funo de completar o significado de umverbo, ou uma funo anloga. Este um fato da lngua grega. No regra. Por isso no tem exceo.

    Comearemos por definir o que entendemos por caso, e o que cadacaso representa. Procuraremos, a partir da relao significante-significa-do, explicar e justificar os nomes dos casos e mostrar que o nome quereceberam corresponde s funes que eles exercem.

    Na medida em que formos explicando e identificando os casos, ire-mos arrolando exemplos hauridos em dezenas de gramticas, procurandomostrar sempre que h uma coerncia semntica no uso dos casos e queo uso deles orgnico, lgico, semntico.

    No h regras; isto , no h interferncias externas, abstratas (asregras so interferncias externas e abstratas). H uma organicidade coe-rente, forte, contnua. Por isso a abundncia de exemplos.

    O leitor ver tambm que tivemos sempre a preocupao de tradu-zir os exemplos da maneira mais linear, concreta, denotativa, procurandosentir as relaes. No nos preocupamos com o estilo. No nem o mo-mento nem o lugar para isso.

    7 Entendo por nomes, como Dionsio Trcio, tanto os substantivos como os ad-jetivos e os diticos todos (comumente chamados de pronomes-adjetivos).

    mur01.p65 22/01/01, 11:3516

  • 17introduo: guia do leitor

    Mostraremos que o nominativo se chama assim porque identificao sujeito e as relaes secundrias do sujeito.

    Mostraremos tambm que o nominativo um caso: isto , recebeuma ptsiw que corresponde sua funo, e que a denominao casoreto contraditria nos seus prprios termos. Se caso no reto e se reto no caso. Mostraremos tambm que essa denominao temorigem de m leitura da viso dos esticos na relao do sujeito agenteryw, ereto, reto, em condies de agir, e sujeito paciente ptow, dei-tado, supino, passivo.

    A partir da idia de uma posio reta, ereta do sujeito agente, deu-se o nome de reto ao caso.

    uma viso meramente formal, externa, mas que teve desdobra-mentos ruins, porque permitiu a viso de outros casos, que caam, quedeclinavam do caso reto, isto , casos oblquos. Da se originou todo osistema de declinaes, que consideramos falso.

    Aproveitaremos o espao para mostrar o que entendemos portema.

    Mostraremos tambm que o vocativo no um caso, porque notem funo e que, coerentemente, tem desinncia zero, isto , o pr-prio tema. Diremos tambm que o vocativo toma emprestado as desi-nncias do nominativo, quando a manuteno do tema em consoante,com a apcope delas, menos o -w, -r, -n, descaracteriza fontica e se-manticamente a palavra.

    Por isso desdobraremos as explicaes sobre o genitivo e acusativo.Separaremos no acusativo a relao do verbo transitivo (incom-

    pleto) com o seu complemento (termo do ato verbal) e a relao espacialpara onde, expressa com o auxlio das preposies.

    Mostraremos tambm que no acusativo sempre est a idia de mo-vimento, quer na sua expresso concreta, espacial, quer nas expresses me-tafricas de expresso de durao de tempo e nas extenses referenciais,que costumamos chamar de acusativo de relao ou adverbial: accusa-tivus graecus das gramticas latinas.

    Demostraremos tambm que o nome acusativo no vem de casoda causa, culpa, mas caso da procura, da busca.

    No genitivo identificaremos a relao nominal de definio, restri-o, delimitao (complemento ou adjunto adnominal) como no genitivolatino, e a relao espacial de lugar de onde expressa por preposies (abla-tivo latino) e ainda, por analogia, incluiremos a relao do agente da pas-

    mur01.p65 22/01/01, 11:3517

  • 18 introduo: guia do leitor

    siva, que uma relao de origem, separao; por isso relao de geniti-vo com preposio (ablativo latino com preposio).

    Mostraremos tambm o valor semntico das relaes do genitivonas regncias de alguns verbos, como os verbos que significam poder,domnio, privao, necessidade, desejo, aspirao etc. Insistiremos mui-to sobre este fato da lngua: os casos no so determinados por uma re-gra exterior, mas pelas relaes semnticas entre as partes, sobretudo entreverbos e nomes.

    Definiremos o dativo como o caso da dao, interesse, atribuio,lateralidade, simultaneidade, exatamente como o dativo latino. No acei-tamos a incluso das relaes de instrumental e locativo sob a denomi-nao de dativo por contradio nos prprios termos.

    Separaremos esses dois casos, embora os trs tenham a mesmadesinncia. Nisto seguimos uma sugesto preciosa de Quintiliano.

    Mostraremos que o locativo a expresso do lugar onde, com aidia de estabilidade, de ausncia de movimento. Ela pode ser concreta oumetafrica. Os exemplos confirmaro essas afirmaes. Mostraremos tam-bm, pelos exemplos, que nos casos de dvida, pela proximidade dos sig-nificados entre a noo de lateralidade e de locativo, o prprio texto dara resposta certa.

    Definiremos tambm o instrumental como o objeto inerte (que noage por si) pelo qual passa o ato verbal desencadeado por um agente queno ele, o instrumento.

    Mostraremos tambm que a distino entre o instrumental oucomplemento de instrumento ou meio e o agente da passiva no spassa pela identificao formal (lugar de onde, expresso pelo genitivo comp), mas tambm, e sobretudo, pela relao semntica.

    Passaremos ento para a parte formal, falando em primeiro lugarda flexo nominal.

    A gramtica da lngua grega divide os nomes em declinaes. Sotrs (no latim so cinco).

    A primeira declinao, anloga latina, contm os nomes que fa-zem o genitivo singular em -aw/-hw (a latina faz em -ae).

    A segunda declinao, anloga latina, contm os nomes que fa-zem o genitivo singular em -ou (a latina faz em -i).

    A terceira declinao, anloga latina, contm os nomes que fa-zem o genitivo singular em -ow (a latina faz em -is).

    mur01.p65 22/01/01, 11:3518

  • 19introduo: guia do leitor

    Mas h inmeras excees: na primeira, os nomes masculinos em-a/-h fazem o genitivo singular em -ou; na terceira, temos nomes fa-zendo o genitivo singular em -ouw, em -vw etc.

    Cremos que a melhor forma de encarar a flexo dos nomes verneles, como Aristteles viu (Potica, 20), um composto de duas partes: otema e a desinncia, isto , uma parte fixa e outra mvel.

    parte fixa damos o nome de tema e parte mvel damos onome de casos, para a flexo nominal.

    A partir da basta acrescentar os diversos casos, conforme as fun-es que os nomes exercerem no enunciado, para termos a flexo deles.

    Um estudo detalhado, mais profundo, poder constatar que o gru-po de casos (desinncias nominais) um s, e que as diferenas que apre-senta para os nomes de tema em vogal e para os nomes de temas em con-soante ou semivogal so aparentes e so produto de acidentes fonticos.

    No momento, vamos manter os dois grupos: nomes de tema emvogal e nomes de tema em consoante e semivogal8.

    Veremos que podemos construir toda a flexo dos temas em vogala partir de um quadro de desinncias.

    As dificuldades que surgiro sero de natureza fontica e nomorfolgica, que so conseqncias das alteraes, acomodaes fonti-cas que acontecem na juno dos temas s desinncias. Elas sero desta-cadas e explicadas sempre que aparecerem9.

    por isso que iniciamos o trabalho com uma introduo sobre osistema fontico da lngua grega, mostrando todos os acidentes fonticosque acontecem nos encontros dos sons: vogal + vogal, consoante +consoante.

    Essas alteraes fonticas so constantes, mas no se deve tem-las. Elas tm causas fsicas, fisiolgicas, concretas e acontecem no apare-lho fonador, no momento da articulao dos diversos sons no ponto de

    8 As semivogais so: o -i / u , e o -j / W , que so sentidas mais como consoantes doque como vogais. A prova que nos temas verbais terminados em semivogais, aprimeira pessoa do indicativo infectum -v como nos verbos de tema emconsoante.

    9 Essas explicaes estaro tambm no quadro geral sobre o alfabeto e os sons, noincio deste trabalho.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3519

  • 20 introduo: guia do leitor

    articulao e modo de articulao. Constataremos tambm que essas al-teraes fonticas so comandadas por duas leis: a lei do menor esfor-o e a competncia lingstica e preservao semntica.

    Constataremos tambm que, se os componentes so os mesmos, oresultado sempre o mesmo. uma questo orgnica, natural.

    No h regras nem excees.Devemos insistir, contudo, que no estaremos escrevendo um tra-

    tado de fontica grega, mas, com finalidade exclusivamente prtica, es-taremos registrando e explicando os vrios acidentes fonticos que acon-tecem na flexo nominal e verbal.

    Ao tratarmos dos nomes de temas em vogal, apresentaremos umquadro geral das desinncias com explicao detalhada de cada acidentefontico e, a seguir, para facilitar a consulta, apresentaremos vrios qua-dros de flexo, sempre com as explicaes necessrias.

    Teremos sempre em mente que a flexo nominal e tambm a ver-bal so um sistema de construo, de montagem. Nunca pediremos aoaluno que decore paradigmas, embora no sejamos contra a que o alunomonte o seu, a partir da identificao das duas partes da palavra: tema edesinncia.

    No faremos distino entre substantivos, adjetivos, diticos (pro-nomes-adjetivos na nomenclatura corrente). No h razo para isso, namedida em que a flexo se faz sobre tema e desinncia, que so expres-ses de funes.

    No grupo dos nomes de temas em consoante ou semivogal come-aremos por traar um quadro das desinncias e a seguir mostraremoscomo elas se acoplam aos diversos temas.

    Constataremos que a flexo desses nomes todos absolutamenteregular e que todos os problemas que surgem so acidentes fonticos quese originam desse acoplamento das desinncias aos temas. Mas todos soexplicveis e sero explicados.

    Daremos a seguir vrios quadros de flexo dos diversos temas, comoum referencial seguro para o leitor.

    A seguir abordaremos a flexo verbalComearemos por afirmar que no verbo grego h apenas dois fatos

    importantes: o aspecto e o modo. Diremos que o tempo medido, cursi-vo, determinante est fora da forma verbal. Ele o enquadramento doato verbal.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3520

  • 21introduo: guia do leitor

    Por isso a noo de tempo s se exprime pelo indicativo: a marca dopassado no uma desinncia, mas uma forma exterior ao tema, e se usaapenas no indicativo.

    No h tempo nos outros modos verbais.A partir da idia de que uma forma gramatical, nominal ou verbal

    semntica e sintaticamente autnoma, estudaremos os trs aspectosverbais (que denominamos tempo interno do verbo), servindo-nos deinmeros exemplos e frases que fomos buscar nas gramticas.

    Mais uma vez no seremos econmicos. Acreditamos que pelarepetio que se aprende.

    Tentaremos explicar o infectum, que, quase sempre, faremos acom-panhar da palavra inacabado, mostrando o leque de seus significados,que no so divergentes; todos mantm a idia da continuidade do pro-cesso verbal, desde a entrada no processo, at as relaes de repetio,hbito etc.

    O leitor ver nos exemplos que h uma coerncia semnticacompleta.

    Estudaremos tambm o aoristo, que primeira vista parece difcil,mas se identificarmos no aoristo a raiz-tema, isto , o ponto de partidapara o infectum e o perfectum, veremos mais uma vez que a relaosignificante-significado muito clara.

    Mostraremos que h dois aoristos no indicativo: um que o atoverbal na sua essncia, sem nenhuma conotao temporal, usado nas ex-presses de carter geral, mximas e provrbios (aoristo gnmico), e queh o aoristo narrativo, pontual, enquadrado; dentro de um quadro nar-rativo, que d o enquadramento temporal, o aoristo pontual que expri-me os fatos isolados, que incidem, pontuam a linha narrativa. A deno-minao de aoristo pontual sugestiva, na medida em que ele incidesobre o processo narrativo, exprimindo apenas o ato verbal isolado, semidia de durao ou acabamento.

    Mostraremos tambm que, por coerncia semntica, o tema doaoristo a base para a formao dos temas do Infectum-Inacabado e doPerfectum-Acabado.10

    10 Ao introduzirmos o estudo das flexes faremos meno especial para esses fatos.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3521

  • 22 introduo: guia do leitor

    Mostraremos que o perfeito, perfectum acabado tambm faz jusao nome: exprime o ponto de chegada do ato verbal, do processo internodo verbo, sem indicao de tempo externo.

    Mostraremos tambm que o perfeito mais antigo o perfeito m-dio, intransitivo, que d a idia de resultado; o perfeito passivo derivadessa idia. O perfeito ativo mais recente; menos usado e tem confli-tos semnticos com algumas formas em alguns verbos.

    Mostramos tambm que, como o infectum tem o passado expres-so pelo imperfeito e o aoristo tem o passado expresso pelo aoristo enqua-drado, narrativo, o passado do perfeito expresso pelo mais-que-perfeito.

    Mostraremos que no h outros modos no passado; s o indicativo.Ao tratarmos da morfologia dos aspectos, veremos em primeiro

    lugar que o infectum-inacabado, quando no tem o tema igual ao doaoristo, ele o tem alargado, ampliado, por prefixos (redobro), infixos esobretudo sufixos formadores. Ns vemos nisso uma ntida relao designificante e significado. O tema do infectum-inacabado nunca me-nor11 do que o do aoristo. Isso no mero acaso.

    Comearemos apresentando o quadro geral das desinncias, que sopoucas, e mostraremos que no h desinncias especiais para esse ou aqueletema verbal, e que a opo para -v ou -mi da 1a pessoa da voz ativa mero problema fontico: os temas em consoante e semivogal optam pelo-v, e os temas em vogal optam pelo -mi.

    Constataremos tambm que as desinncias no pertencem a esseou quele quadro ou paradigma; elas pertencem, so propriedades daspessoas gramaticais. Isso significativo e importante e explica por que ogrego no usa o sujeito-pronome. que as desinncias o representamsuficientemente.

    Cada pessoa gramatical tem suas desinncias:

    11 Salvo alguns raros casos, antigos na lngua, como gagon. Ver na flexo do aoristo.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3522

  • 23introduo: guia do leitor

    Quadro das desinncias verbais

    1 pessoa sing. ativa prim. -v/-mi

    secund. -m >-n (>a depois de consoante)

    mdia/ pas. prim. -mai

    secund. -mhn

    2 pessoa sing. ativa prim. -si / w

    secund. -w

    mdia/ pas. prim. -sai

    secund. -so

    3 pessoa sing. ativa prim. -ti

    secund. -t

    mdia/ pas. prim. -tai

    secund. -to

    1 pessoa pl. ativa prim. -men

    secund. -men

    mdia/ pas. prim. -meya

    secund. -meya

    2 pessoa pl. ativa prim. -te

    secund. -te

    mdia/ pas. prim. -sye

    secund. -sye

    3 pessoa pl. ativa prim. -nti

    secund. -n (sa-n)

    mdia/ pas. prim. -ntai

    secund. -nto

    mur01.p65 22/01/01, 11:3523

  • 24 introduo: guia do leitor

    As desinncias do imperativo apresentam apenas um problema: oimperativo singular (o verdadeiro, original, primeiro), na voz ativa do in-fectum, seria de desinncia zero, naturalmente.12 Mas os temas em con-soante e semivogal precisaram de uma vogal de apoio -e que, por analo-gia, os outros verbos usam; krne/t-ye-e > t-yei.

    No aoristo sigmtico singular da voz ativa e mdia, usam-se anti-gas frmulas, mas so de 2 pessoa -so-n / -sai. E no aoristo passivosingular toma-se emprestada a desinncia do locativo -yi sobre o tema deaoristo passivo.

    Observe-se ainda a sintonia ou sinfonia fontica entre as consoan-tes das pessoas gramaticais e as desinncias:

    1o -m- dos pronomes de 1 pessoa e o -m da primeira pessoa:no singular:me/mou/moi -m-> -n/-mi/-mai/-mhn13;No plural, mew mterow -m-

    2o -s- das 2as pessoas correspondem a tu > su -w/-sai/-so

    3o -t- das 3as pessoas do singular tw e do plural (com -n- epenttico) -ti / -t/-nt/ntai/-nto

    tw um antigo ditico empregado por Homero e Herdoto comsignificado de este, um anafrico; e a um conetivo anafrico tam-bm, por sua vez so os formadores do pronome de 3 pessoa, na ver-dade um ditico: a tw > atw.

    Ao tratarmos da morfologia do aoristo, veremos que h um aoristoflexionado sobre a prpria raiz do verbo. Chamaremos esse aoristo deaoristo de raiz-tema. o aoristo que as gramticas denominam aoris-to segundo ou aoristo temtico. So denominaes imprprias: a pri-meira porque meramente administrativa, pois as gramticas estudam o

    12 Faria contraponto com o vocativo, que o gancho do dilogo apenas; no temfuno e por isso no tem desinncia (caso).

    13 g absoluto; no tem plural nem feminino, e as flexes dele so sobre temadiferente. Mas a variante -v de primeira pessoa no deve ser mera coincidncia.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3524

  • 25introduo: guia do leitor

    aoristo sigmtico antes desse aoristo; a segunda, como j dissemos, por-que confunde vogal temtica com vogal de ligao.

    Diremos tambm que esse aoristo de raiz-tema o mais antigopor razes semnticas e arrolaremos uma lista de verbos homricos, to-dos com significados dos atos primeiros, essenciais, concretos, do serhumano.

    Estudaremos a seguir o aoristo em -h, que na origem tem um sig-nificado mdio, intransitivo e depois serviu para exprimir a voz passiva,sobretudo dos verbos de tema em soante-lqida, fazendo contrapontocom outra caracterstica da passiva, mais tardia e mais forte, que passou aser a paradigmtica, -yh- / syh.

    Falaremos a seguir do aoristo e do futuro sigmticos.Embora o aoristo sigmtico esteja presente nos textos homricos,

    sua criao certamente recente. Mas, por ser uma marca forte, acabouprevalecendo e passou a ser o aoristo-referncia, e todos os verbos no-vos que foram sendo criados passaram a ter o aoristo sigmtico.

    Dentro do aoristo sigmtico mostraremos o tratamento fonticoque ele sofre depois de temas em soante-lqida: l, m, n, r.

    Vincularemos a flexo do futuro do aoristo, mostrando que, porrazes semnticas, o futuro no poderia ser construdo sobre o tema doinfectum-inacabado.

    Provaremos tambm que morfologicamente ele se constri sobre otema do aoristo.

    Ao tratarmos do perfectum-acabado, mostraremos que formalmenteele se constri sobre o tema do aoristo; falaremos sobre o redobro e suasvariantes e mostraremos que cronologicamente o perfeito mdio-intran-sitivo anterior ao passivo, que se serviu de suas desinncias, e que operfeito ativo o mais recente.

    Diremos tambm que o perfeito ativo mais difcil de formularem portugus, e que, estatisticamente, o menos freqente.

    Ao pensarmos em portugus, temos dificuldades em diferenciar umpretrito perfeito simples de um aoristo narrativo (pontual). A diferenaexiste, mas s o contexto nos pode esclarecer.

    O imperativo perfeito ativo, embora formalmente possvel, exigeuma operao mental complexa: a noo do acabado, perfeito no se co-aduna com a noo eventual do imperativo. No temos lembrana de atermos encontrado em textos.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3525

  • 26 introduo: guia do leitor

    Passamos ento a estudar os modos, numa seqncia que mante-remos sempre: indicativo, subjuntivo, optativo, imperativo, particpio einfinitivo.

    O estudo dos modos em grego precedido de algumas considera-es sobre os modos em portugus e latim. Mostraremos que a nomen-clatura referente aos modos discutvel, e que esse problema j est emDionsio Trcio, em sua gramtica que j sofre os vcios da gramticadescritiva, que deixa de lado a relao significante-significado.

    Explicaremos os modos a partir de seus nomes. preciso ter em mente, antes de tudo, que o uso desse ou daquele modo

    num enunciado qualquer depende do emissor da mensagem, ele o donoda mensagem, e de como ele quer que o receptor a receba. Estamos fa-lando de uma mensagem pensada coerente, claro.

    Essa observao muito importante porque, sempre que pensa-mos em estudar os modos verbais de determinada lngua, pensamos nasintaxe dos modos. Essa viso a partir do abstrato para o concreto acausadora principal da dificuldade do entendimento e do emprego dosmodos em qualquer lngua.

    Ns entendemos, e a prtica na sala de aula nos confirmou, que aspalavras so autnomas, as expresses, quer verbais quer nominais, tmum significado em si mesmas e por si mesmas e dentro do enunciado soelos da cadeia e so interdependentes; o que os comanda a linha se-mntica do enunciado, que o que o emissor elaborou ou est elaboran-do em sua mente e est transmitindo ao receptor da maneira que ele querque o receptor a aceite. A interpretao e o entendimento dos modosempregados depende desse dilogo direto, sem intermedirios, entre lei-tor > texto. Entendemos por texto o prprio emissor.

    por isso que no teremos um captulo de Sintaxe dos Modosou Sintaxe do Subjuntivo, ou do Optativo etc. ou da Sintaxe das Ora-es Temporais, Causais, Relativas, Participiais, Infinitivas.

    Os inmeros exemplos que arrolaremos nos levaro a entender osmodos gregos. Mostraremos, por exemplo, que um subjuntivo eventual,e em portugus se traduz pelo presente ou futuro do subjuntivo quer eleesteja numa orao final, temporal, causal, modal etc.

    Mostraremos que o indicativo o modo da realidade objetiva e subje-tiva e, por coerncia, ele tambm o modo da irrealidade. Exemplificaremoscom algumas frases, estabelecendo as correspondncias em portugus.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3526

  • 27introduo: guia do leitor

    O grego usa o mesmo modo, indicativo, quer na realidade objetivaou subjetiva enunciativa, quer na irrealidade supositiva, hipottica depresente e de passado, em que usa, respectivamente o imperfeito e aoris-to indicativos, apenas marcados por e na condicionante e n nacondicionada.

    O portugus emprega o indicativo para a realidade objetiva ou sub-jetiva enunciativa presente; para a irrealidade presente, usa o imperfeitodo subjuntivo com marcador se na condicionante e o condicional sim-ples sem marcador na condicionada; e, para a irrealidade passada, o por-tugus usa o mais-que-perfeito do subjuntivo com o marcador se nacondicionante e o condicional composto, sem marcador, na condiciona-da. Ver exemplos nas pginas 251 e 267.

    Diremos tambm que a denominao subjuntivo/ conjuntivo imperfeita, porque sugere que o modo da subordinao, quando a su-bordinao apenas uma parte de seu significado: nas expresses de de-liberao, exortao, pedido (voto), no h subordinao. Ela s est pre-sente na suposio da probabilidade, futura, com o se, ou caso, no caso de,quando na condicionante e subjuntivo presente ou futuro, e geralmentefuturo (indicativo) sem nada na condicionada; nas construes de finali-dade, ou se usa para que, a fim de que e o subjuntivo presente ou a cons-truo para com infinitivo.

    Insistiremos no sentido da eventualidade do subjuntivo. O subjun-tivo o modo do eventual, do provvel, do fato futuro no determinado. uma espcie de modo da antecipao.

    Portanto, a traduo em portugus ser ou pelo subjuntivo pre-sente ou pelo subjuntivo futuro ou pelo infinitivo precedido de para.

    Essa eventualidade, no entanto, no sentida em portugus nouso do quando eventual, isto , quando exprime o fato repetido como pre-sente: cada vez que, sempre que. O portugus usa o indicativo. O gregono. Usa coerentemente o subjuntivo, isto , o eventual, porque, na me-dida em que um fato sucessivo, repetido, ele no um fato s, isto ,no delimitado, e por isso o uso do indicativo imprprio.

    Esse sentido da eventualidade, fato futuro, explica o uso de desinnciasprimrias para todo o subjuntivo.

    Ao tratarmos do optativo, diremos que o modo da possibilidade ouda afirmao atenuada e que em portugus ns o traduziremos ou pelo

    mur01.p65 22/01/01, 11:3527

  • 28 introduo: guia do leitor

    imperfeito do subjuntivo ou pelo condicional simples, que so os modos queexprimem em portugus a possibilidade e a afirmao atenuada. Diremosque a denominao imperfeito do subjuntivo imprpria, porque o optativo o modo da possibilidade, do possvel, da transmisso da afirmao deterceiros, do voto negativo, incerto, da imprecao negativa, incerta, ten-dente irrealidade.

    Esse sentido de possvel, de incerteza, aproxima o optativo mais do ir-real do que do real ou eventual. Isso explica o uso de desinncias secundriasem todo o optativo.

    Ao tratarmos do modo imperativo, diremos que o modo do dilo-go, que bipolar, horizontal, singular na relao eu/tu e que, por issomesmo, mais uma vez, a denominao imperativo no corresponde exa-tamente ao seu significado. Nem sempre, ou quase nunca, o imperati-vo contm uma ordem.

    Mostraremos tambm que os outros imperativos so formaesanalgicas e que h dois imperativos: os de 2as pessoas (tu e vs), quedenominamos imperativo direto e os de 3as pessoas, tambm analgicos,que denominamos imperativo indireto, porque a 3 pessoa no est no eixodo dilogo e a mensagem dada indiretamente.

    Ao tratarmos do particpio, mostraremos a riqueza do uso do par-ticpio em grego. Cada aspecto tem trs particpios: da voz ativa, mdia epassiva: so doze (infectum, aoristo, futuro, perfeito), e cada um comtrs formas: masculino, feminino e neutro. So ento, ao todo, trinta eseis particpios. Formalmente so trinta, porque no infectum e perfectuma voz mdia e a voz passiva tm a mesma forma

    Mostraremos as correspondncias em portugus, que no so cla-ras por causa da invaso do gerndio, que ocupou as funes do partic-pio da voz ativa.

    Em grego, o particpio um verbo-adjetivo; disso que ele tira seunome metoxfi, participao. Ele tem formas nominais, mas funcionamen-to e natureza verbal: ele pode ser adjunto adnominal (epteto), predicativo(aposto, conjunto), pode ser substantivado, mas no perde sua naturezaverbal e pode ter objeto direto, pode exprimir relaes de espao, como overbo de que ele a expresso nominal.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3528

  • 29introduo: guia do leitor

    O infinitivo o ltimo item desta seqncia, mas ele j ter sidotratado em parte no captulo do infectum-inacabado, na voz ativa, por-que, como noo substantiva do verbo, isto , um substantivo, pode exer-cer todas as funes de um substantivo, e mostraremos como o infinitivogrego descarrega todas as funes e todos os casos no artigo, contraria-mente ao latim que, no tendo artigo, foi obrigado a criar casos para oinfinitivo, e o gerndio representa esses casos; e que, em portugus, ogerndio representa os casos instrumental e locativo (raramente o geni-tivo-ablativo).

    Mas, tambm no infinitivo, o grego mais rico do que o latim e oportugus: cada aspecto tem trs infinitivos: ativo, mdio e passivo:infectum, aoristo, futuro e perfeito. So 12 infinitivos, com seu signifi-cado prprio. Na verdade so ento, ao todo, 12 infinitivos, semantica-mente, mas morfologicamente, formalmente, so 10, uma vez que no in-fectum e no perfectum a voz mdia e a voz passiva tm a mesma forma.

    Completaremos a srie falando dos adjetivos verbais em -tw, -tfi, -tn, que correspondem aos adjetivos de sufixo bilis, e, em latim, e-vel, em portugus: o que pode ser feito; e -tow, -ta, -ton, que cor-respondem aos adjetivos de sufixo -ndus, a, um do gerundivo em latim, eem portugus ao sufixo erudito -ndo do gerundivo latino, com o signifi-cado de o que deve ser feito, ambos construdos sobre o tema verbal puro,isto , sobre o tema do aoristo.

    Depois da flexo nominal e verbal, passaremos a tratar dasInvariveis.

    Na verdade elas so a conexo na relao substantivo/verbo; elasso circum-stanciais, perifricas, peritta.

    Comearemos pelas preposies e mostraremos que todas elas soadvrbios com significado espacial. No h nenhuma preposio com signi-ficado temporal.

    Mostraremos tambm, individualmente, que os casos que as pre-posies regem so decorrentes da relao espacial que elas determi-nam e que, por regerem mais de um caso, no mudam necessariamentede significado, que permanece o mesmo, concreto, espacial. O que podeacontecer elas serem usadas em outro plano, metafrico, figurado, mas,a relao espacial metafrica sendo a mesma, o caso ser o mesmo. H

    mur01.p65 22/01/01, 11:3529

  • 30 introduo: guia do leitor

    uma coerncia total nessas construes. Mas para demostr-la foram pre-cisos inmeros exemplos que fomos buscar em vrias gramticas.

    A seguir abordaremos as conjunes e conetivos em geral, que agramtica grega denomina sndesmoi, amarraes.

    Mostraremos que o que chamamos de partculas so, na base,conetivos da oralidade, que permaneceram na mente do homem grego.Por coincidncia, nos textos em que a oralidade est mais presente, comono teatro ou nos dilogos de Plato, h mais desses conetivos do que nostextos de Aristteles, por exemplo. Mas eles so mais instrumentais emarcadores, e por isso difcil identificar neles um significado prprio,independente, permanente. Eles so mais conotativos. Os inmeros exem-plos mostraro isso com bastante clareza.

    Mas no estudaremos as partculas separadas das conjunes; elasestaro na mesma lista, por ordem alfabtica.

    Nas conjunes propriamente ditas, vemos amarraes entre fra-ses, enunciados. Tambm a, por meio de inmeros exemplos, mostrare-mos que as conjunes no regem esse ou aquele modo verbal. Elastm um significado prprio e o modo verbal decorrente de como o enunciado passado do emissor para o receptor: se h uma realidade ou irrealidade oindicativo; se h uma eventualidade, o modo o subjuntivo ou futuro; seh uma possibilidade, ou atenuao da mensagem, o modo o optativo.

    A seguir estudaremos os advrbios propriamente ditos; eles dife-rem das preposies, antigos advrbios, na medida em que no exigemuma relao espacial depois deles; so usados de maneira absoluta. Elesso os adjetivos do verbo, isto , do =ma, o que dito do sujeito.

    Eles so basicamente circunstanciais: modais, instrumentais, tem-porais e espaciais, em suas vrias relaes de acusativo, genitivo e locati-vo, e por isso muitos deles so formas petrificadas desses casos.

    este o roteiro da exposio de nossa teoria sobre a lngua grega.Mas esta teoria quer ser essencialmente prtica, porque foi da pr-

    tica que ela nasceu, durante anos sucessivos, em que nenhuma aula sobreum determinado ponto foi igual anterior ou posterior. Alm disso, aprtica, isto , o ensino foi a razo e causa deste nosso trabalho.

    Por isso, apresentaremos aqui tambm a parte didtica, na qual fo-ram aplicadas todas estas idias sobre o funcionamento da lngua grega.

    At agora ela foi apresentada nas diversas verses de nossas apos-tilas, na qual era apresentada a teoria e a prtica, isto , as frases que

    mur01.p65 22/01/01, 11:3530

  • 31introduo: guia do leitor

    deviam ser traduzidas. Mas a teoria que estava nessas apostilas ou era su-mria ou estava em processo de elaborao, e por isso ns solicitvamosaos alunos que usassem a pgina anterior em branco para anotar nossaexposio oral que s vezes at contrariava a escrita.

    As frases foram reunidas enfocando um ponto determinado damatria, que foi dividida em unidades didticas, ou mdulos, na seguinteordem:

    A/ Flexo dos nomes de tema em vogal e formas do verbo ser. So osTextos I e II.

    Neles esto substantivos, adjetivos e diticos em -o e -a/-h nosdiversos casos, menos no acusativo, porque os verbos de ao sero dadosa seguir.14

    Mas a traduo dessas frases no um fim em si; ela s tem sen-tido se o enunciado foi entendido no relacionamento de suas partes. Porisso deve-se agir da forma seguinte: copiar o texto, mas s a frase que vai trabalhar15; identificar o sujeito e o verbo, e os outros casos, relacionando estreita-

    mente caso e funo. Por isso deve-se deixar uma linha em branco eregistrar isso nessa linha;

    s ento traduzir, coerentemente com a anlise feita.

    As palavras esto no vocabulrio de mais ou menos 5.000 palavras,que foi preparado para isso.

    Traduzida essa frase, veremos a seguir propostas de verso, ou deuma frase imitando ou parodiando a que acabamos de traduzir, ou ainda

    14 Procuramos registrar apenas frases abonadas, isto , frases de autores gregos ou datradio grega. Frases pensadas e enunciadas em grego. Isto extremamente im-portante: o aluno sente que est penetrando num mundo diferente e que esse mundoo envolve.

    15 A transcrio manual extremamente importante, essencial. Esse primeiro conta-to concreto com o texto tem um efeito muito importante, no s completando aalfabetizao do estudante, mas familiarizando-o com o texto: a partir da o textogrego no ser o estranho com quem se bate ou de quem se foge.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3531

  • 32 introduo: guia do leitor

    veremos alguns sintagmas em portugus, em que veremos as mesmas pala-vras que acabamos de usar na traduo. Poder ainda haver uma propostapara manipular, transformar a frase, quer passando-a para o singular oupara o plural, ou ainda mudando-a da voz ativa para a passiva e vice-versa.

    Esses exerccios complementares, que foram denominados versoe ginstica nas edies anteriores, tm o objetivo de fazer fixar no s oscasos da flexo nominal e as desinncias da flexo verbal, mas sobretudofazer fixar um vocabulrio bsico.

    Na verso teremos em portugus todas ou quase todas as frasesque foram traduzidas do grego, mas em forma de glosa: muda-se o verbo,mudam-se as relaes entre os nomes, muda-se o nmero. A verso visaa que se vejam as relaes da lngua a partir do lado do leitor. Na fraseexpressa em grego, ele tem os casos para os quais precisa encontrar a fun-o; na frase expressa em portugus, ele deve identificar a funo para lheaplicar o caso correspondente.

    A verso tem tambm outra finalidade: fazer a reviso da frase gre-ga que acabou de ser traduzida, para se identificar nela a glosa em portu-gus. Isso propicia ver pelo menos duas vezes as palavras empregadas, fi-xar o significado delas e assim guard-las mais facilmente na memria.

    A ginstica, isto , exerccio com os sintagmas, apresentada emduas partes: a primeira compe-se basicamente de sintagmas das relaes nominais

    que se encontram nas frases traduzidas. De novo, somos levados a releras frases, identificar as palavras e dar-lhes o caso compatvel com a fun-o que ele identifica no sintagma.

    O objetivo dessa ginstica familiarizar o leitor com o sistema decasos da lngua grega e ajud-lo a identificar sempre a relao funo-caso / caso- funo;

    a segunda parte consiste em registrar em grego algumas das frases tra-duzidas, pedindo ao leitor pass-las para o plural, se esto no singular,e vice-versa; passar para a voz passiva e vice-versa; passar as formas ver-bais do presente para o imperfeito ou futuro etc.

    O objetivo dessa ginstica obrigar o leitor a voltar uma terceiravez para as frases traduzidas, propiciando-lhe novo contato com as pa-lavras e as formas, ajudando-o a adquirir vocabulrio e firmeza e cons-cincia no uso das formas nominais.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3532

  • 33introduo: guia do leitor

    B/ Todas as formas do infectum dos verbos so introduzidas nos Tex-tos Gregos II, III e IV, sempre com nomes de temas em vogal.

    O modelo de traduo o mesmo, mas, alm do acusativo, entrama todos os verbos, tanto em -v quanto em -mi. Alis, mostramos que adiviso tradicional em duas categorias de verbos, com desinncias di-ferentes no verdadeira. A nica desinncia diferente a da 1 pessoada voz ativa, e isso decorre de fator fontico: os temas em consoante esemivogal tm a desinncia -v, e os de temas em vogal tm a desinncia-mi.

    Nesses dois grupos de textos usamos todas as formas do infectumdas trs vozes e de todos os modos, menos o particpio ativo, por ser umnome de tema em consoante do qual ainda no se viu a flexo.

    Segue-se o mesmo esquema e traduzem-se as formas verbais de-pois de identific-las e analis-las; mas a traduo parte do texto, isto , dosignificado da forma dentro do enunciado.

    Cada um desses textos vem seguido de uma verso e de ginsticacom os mesmos objetivos dos textos I e II.

    C/ As formas do imperfeito de todos os verbos esto nos Textos III eIV que introduzimos evidentemente depois de explicarmos a construodo passado em grego.

    Novamente, passamos pela traduo das frases e depois pela versoe ginstica.

    Nesse ponto o leitor se surpreende e pergunta a razo por que ogrego no tem imperfeito do subjuntivo.

    Com o texto IV, termina o Mdulo I do curso.Em geral ele dado em um semestre.

    D/ A flexo dos nomes de temas em consoante e semivogal d incio aoMdulo II.

    Damos o quadro geral das desinncias e solicitamos ao leitores otrabalho de acoplar essas desinncias aos diversos temas.

    A primeira dificuldade encontrar o tema: na maior parte dosnomes, o registro no genitivo singular ajuda a identific-lo; mas nos te-mas em -w, -W, -j no.

    Os Textos Gregos V e VI contm essencialmente nomes de temasem consoante e semivogal e as formas do infectum dos verbos (presente eimperfeito), em todos os modos.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3633

  • 34 introduo: guia do leitor

    No introduzimos a o futuro, como fazem as gramticas, porque ofuturo construdo sobre o tema do aoristo.

    O ritual com os Textos Gregos V e VI o mesmo dos outros: oaluno faz a traduo, depois a verso e ginstica. Os objetivos tambmso os mesmos.

    E/ O aoristo vem a seguir nos textos que denominamos Exerccios deaoristo e futuro, que seriam os Textos Gregos VII e VIII.

    O ritual o mesmo, mas, alm da traduo, pede-se que se iden-tifique o tema verbal, para que se acostume com a idia de que o verda-deiro tema verbal o aoristo; a seguir pede-se que se construa o infectuma partir do aoristo. Percebe-se ento com mais clareza que h uma rela-o estreita de significante e significado nas formas verbais. Usa-se paraisso todo o quadro denominado Formao dos temas do infectum.

    As diversas formas de aoristo que esto nessa srie de frases levamo estudioso a identificar e se familiarizar com todos os aoristos e futurosnas trs vozes e em todos os modos. Nunca a partir de paradigmas, mas apartir das frases, que apresentam as formas como elementos semntica esintaticamente autnomos.

    Acontece ento que, por iniciativa prpria, o estudioso apresentadiversas construes do verbo grego, a partir do tema do aoristo!

    Isto mostra que, afinal, ele est entendendo a estrutura da flexoverbal!

    F/ O perfeito. Finalmente, temos os Exerccios sobre o tema do perfeito.Inicialmente houve uma introduo, em que ficou demonstrado

    que o perfeito, por ser um resultado presente de um ato passado, umestado presente e que, por conseguinte, o perfeito mdio-intransitivoteria sido o mais antigo, do qual derivou o passivo e finalmente cons-truiu-se o ativo.

    So os Textos Gregos IX e X.O estudioso comea por transcrever e traduzir as frases, tendo em

    vista sobretudo a identificao das formas verbais no perfeito. Ele en-contra as vrias formas do perfeito, que esto explicadas no manual, e vaitentando traduzir uma a uma essas formas para o portugus.

    mur01.p65 22/01/01, 11:3634

  • 35introduo: guia do leitor

    Depois de cada frase vm a Verso e a Ginstica. Mas, j, juntocom o perfeito, estar enfrentando textos de autores, sobretudo de Plato,cuja traduo e leitura so instigantes e gratificantes.

    esse o projeto! Foi esse o projeto!

    Resta ver agora se na teoria ele se justificou. A prtica, ao que pa-rece, o aprovou!

    mur01.p65 22/01/01, 11:3635

  • 36 o alfabeto grego

    O alfabeto grego

    Signo grego som Denominao Exemplos fonticosA - a16 a lfa lpha altar, fadaB - b b bta bta belo, boloG - g gue gmma gma gato, guerraD - d d dlta dlta dado, dedoE - e e ciln e psiln17 mesa, medoZ - z dz zta dzta Zeus (Dzeus/Zdeus)H - h ta ta atleta, teseY - y th yta thta th (ingl. thing)I - i i ta ita nadaK - k k kppa kpa Kant, KentL - l l lmbda lmbda lado, lidoM - m m m m ms, malN - n n n n nadaJ, j ks j ks axiomaO - o o mikrn o mikrn toloP - p p p p pedraR - r r /rh = rh rei, rato (vibrante)S - s, w18 s () sgma sgma sal, ser (sempre )T - t t tau tau tardeU - u y ciln y psilon hypnose (u francs)F - f ph f ph fugaX - x kh x kh khrisC - c ps c ps psicoseV - v mga o mga hora

    16 A fonte grega utilizada neste livro a Athenian.17 Ns no seguimos a denominao tradicional dos grafemas gregos e, o, v, respec-

    tivamente psilon, mikron e mega; preferimos denomin-los pelo que eles so:e psiln, e simples, desguarnecido, o mikrn, o pequeno, curto, breve e o mga, ogrande, longo.

    18 O s- usa-se no incio e no meio das palavras, e -w no final.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3636

  • 37o alfabeto grego

    Exerccio de leitura e transcrio:

    Leia com auxlio da transcrio em caracteres latinos as palavras abai-xo, todas existentes em portugus, e a seguir transcreva-as em caracteres gre-gos; os acentos na transcrio em portugus so para auxiliar a leitura: o acentocircunflexo no indica vogal fechada, que no existe em grego.19

    Omhrow Hmeros filanyrvpa philanthropatrpeza trpeza drma drmasbestow sbestos biografa biographabiblon biblon graf graphgumnsion gymnsion gnesiw gnesisdhmokrata demokrata dignvsiw dignosisyatron thatron labrinyow labyrinthosciw psis metafor metaphorjvma aksoma zon zion/zonbow bos briw hybris20=inokrvw rhinokros =ema rhemad oid/od cux psykhxaraktr kharaktr keanw okeansnaw nas fainmenon phainmenonegenw eugens plotow plotosggelow ngelos gkura nkyralrugj lrynks ra hrakrsiw krsis Flippow Phlipposmoiow hmoios damvn damonmnow hymnos =uymw rhythms_ppoptamow hippoptamos mmow mmosstoikw stoiks nvmala anomaladilogow dilogos _ppdromow hippdromosmousik mousik klinikw kliniksSprth Sprte sfgj sphnksKasar Kasar krpoliw akrpolis

    19 H um equvoco quando se fala de vogais fachadas em grego: v / h so vogaislongas, articuladas, abertas; mas e /o so breves, simples, soltas no articuladas, eno so necessariamente fechadas.

    20 O -y- no comporta acento nas lnguas modernas.

    Omhrowtrpezasbestowbiblongumnsiondhmokratayatronciwjvmabow=inokrvwdfixaraktfirnawegenfiwggelowlrugjkrsiwmoiowmnowppoptamowstoikwdilogowmousikfiSprthKasar

    filanyrvpadrmabiografagraffignesiwdignvsiwlabrinyowmetaforzonbriw=emacuxfikeanwfainmenonplotowgkuraraFlippowdamvn=uymwmmownvmalappdromowklinikwsfgjkrpoliw

    mur02.p65 22/01/01, 11:3637

  • 38 o alfabeto grego

    fvsfrow phosphros polglvttow polyglottospitfiow epitphios pgramma epgramma=eumatismw rheumatisms a_morraga haimorragaprofulatikw prophylatiks Yedvrow Thedorosdrma drma potenousa hypotenousakubernetik kybernetik Ay_nai Athnailgow lgos nmow nmoskan_n kann knhma knemaknhsiw knesis kvmikw komiksdiskoblow diskoblos kunikw kyniksgevrgikw georgiks cttakow psttakospardojow pardoksos duspeca dyspepsakklvc kyklops fntasma phntasmapaxdermow pakhydermos kntaurow kntaurossrigj syrinks frmigj phrminkssgxronow synkhronos lyh lthekaydra kathdra xrusostmow krysostmosboukolikw boukoliks ama hamax_ ekh noma nomappow hppos liow hliosm_numow homnymos xrusnyemon khrysnthemonmayhmatikw mathematiks ttanow ttanostuf_n typhn rmona harmonapntaylon pntathlon metevrologa meteorologamyow mythos yumw thymsylhtw athlets lurikw lyriksgevmetra geometra riymhtik arithmetikpolitikw politiks pliw plisbiblioykh bibliothke krobthw akrobtestomow tomos sterskow asterskosbelskow obelskos stronoma astronomapologa apologa tragda tragoida /tragodakvmda komoida/ _larw hilars

    komodadespthw desptes y_raj thrakskatlogow katlogos dskow dskosfilnyrvpow philnthropos ceud_numow pseudnymosmustrion mysteron kataklusmw kataklysmsdilektow dilektos atxyvn autkhthonroskpow horoskpos strathgw strategsasthrw austers pokritw hypokrits

    fvsfrowpitfiow=eumatismwprofulatikwdrmakubernetikfilgowkannknhsiwdiskoblowgevrgikwpardojowkklvcpaxdermowsrigjsgxronowkaydraboukolikwxppowmnumowmayhmatikwtufnpntaylonmyowylhtfiwgevmetrapolitikwbiblioyfikhtomowbelskowpologakvmda

    despthwkatlogowfilnyrvpowmustfiriondilektowroskpowasthrw

    polglvttowpgrammaamorragaYedvrowpotenousaAynainmowknhmakvmikwkunikwcttakowduspecafntasmakntaurowfrmigjlfiyhxrusostmowamanomaliowxrusnyemonttanowrmonametevrologayumwlurikwriymhtikfipliwkrobthwsterskowstronomatragdalarw

    yrajdskowceudnumowkataklusmwatxyvnstrathgwpokritfiw

    mur02.p65 22/01/01, 11:3638

  • 39o alfabeto grego

    lejikn leksikn brbarow brbarostojikw toksiks yrnow thrnosseismw seisms prblhma prblemafrsiw phrsis bolw obolsdgma dgma Perikl_w PeriklsPltvn Plton Svkrthw SokrtesDhmosynhw Demosthnes Aljandrow AlksandrosDiognhw Diognes Ekldhw EukldesPuyagraw Pythagras Arximdhw ArkhimdesLevndaw Leondas Axillew AkhillesPramow Pramos Aristotlhw AristotlesMiltidhw Miltides Odussew OdyssesAgammnvn Agammnon Sofokl_w SophoklsJenof_n Ksenophn Aristofnhw AristophnesZew Zes Poseidn PoseidnErm_w Herms Arhw `resApllvn Apllon Hfaistow HfaistosHra Hra Dhmthr DemterEsta Esta Afrodth AphrodteArtemiw `rtemis Ayna AthnaKli_ Kli Melpomnh MelpomneOrana Ourana Etrph EutrpeTercixrh Terpsikhre Kalli_ph KallipeYala Thala Erat_ EratPolumna Polymna

    ZEUS ZEUS POSEIDVN POSEIDONERMHS HERMES ARHS ARESAPOLLVN APOLLON HFAISTOS HEPHAISTOSHRA HERA DHMHTHR DEMETERAFRODITH APHRODITE ARTEMIS ARTEMISAYHNA ATHENA KLIV KLIOMELPOMENH MELPOMENE OURANIA OURANIAEUTERPH EUTERPE TERPSIKHOREKALLIVPH KALLIOPE YALIA THALIAERATV ERATO POLUMNIA POLYMNIA

    lejikntojikwseismwfrsiwdgmaPltvnDhmosynhwDiognhwPuyagrawLevndawPramowMiltidhwAgammnvnXenofnZewErmwApllvnHraEstaArtemiwKliOranaTercixrhYalaPolumna

    ZEUS

    ERMHS

    APOLLVN

    HRA

    AFRODITH

    AYHNA

    MELPOMENH

    EUTERPH

    KALLIVPH

    ERATV

    brbarowyrnowprblhmabolwPeriklwSvkrthwAljandrowEkldhwArximfidhwAxillewAristotlhwOdussewSofoklwAristofnhwPoseidnArhwHfaistowDhmfithrAfrodthAyfinaMelpomnhEtrphKalliphErat

    POSEIDVN

    ARHS

    HFAISTOS

    DHMHTHR

    ARTEMIS

    KLIV

    OURANIA

    TERCIXORH

    YALIA

    POLUMNIA

    mur02.p65 22/01/01, 11:3639

  • 40 o alfabeto grego

    Normas de transliteraoPara comodidade do aluno, transcrevemos a seguir as Normas de

    transliterao de palavras do grego antigo para o alfabeto latino acor-dadas pela Sociedade Brasileira de Estudos Clssicos, com algumas dis-cordncias de nossa parte, expressas nas Observaes.

    Signo grego Denominao Signo latino ExemplosA, a lfa - alfa A, a gph - agpeAi, & ita suscrito ai dv/idv - do / idoB, b bta - beta B, b brbarow - brbarosG, g gmma - gama G, g gevrgw - georgsgg gama nasal ng ggelow - ngelosgk nk gkow - nkosgj nks slpigj - slpinksgx nkh gxein - nkheinD, d dlta - delta D, d dkh - dkeE, e ciln - e psiln E, e edvlon - idolonZ, z zta - dzta/ zta Z, z zfithsiw - ztesisH, h ta - ta E, e liow - hliosHi, ita suscrito ei cux / cuxi - psykh / psykhiY, y yta - thta Th, th yew - thesI, i ta - ita I, i da - idaK, k kppa - kpa k kakn - kaknL, l lmbda - lmbda L, l lvn - lonM, m m - m / my M, m martura - martyraN, n n - n / ny N, n nmow - nmosJ, j j - ksi Ks, Ks juln - ksylnO, o mikrn - o mikrn O, o lgow - olgosP, p p - pi P, p potamw - potamsR-, =- = - rh (inicial) Rh, rh =uymw - rhythms-r- r - r (interno) R, r riymw - arithmsS, -s-, -w sgma - sgma S, s Sfgj - SphnksT, t ta - tau T, t tarow - taros

    mur02.p65 22/01/01, 11:3640

  • 41o alfabeto grego

    U, u ciln - y psiln , lra - lyra / lraau au agfi - augeu eu eagglion - euanglionhu eu hjmhn - euksmenou ou plotow - plotosui ui uw - huisF, f f - phi Ph, ph frmakon - phrmakonX, x x - khi Kh, kh xriw - khrisC, c c - psi Ps, ps cuxfi - psykhV, v v mga - o mega O, o mw - omsVi, ita suscrito oi tragda - tragoida/

    tragvida - tragoida esprito brando -.- rgfi - org esprito rude h stora - histora

    Mantm-se os acentos agudo, grave e circunflexo na forma e noslocais em que se encontram em grego, mas, respeitando-se a acentuaodiacrtica do portugus.

    Por exemplo, os nomes gregos zta, ta, yta levam acentocircunflexo em grego no por terem vogais fechadas, mas por serem lon-gas (abertas). Acentu-las com circumflexo em portugus induziria o lei-tor de lngua portuguesa a pronunci-las fechadas. Seria um erro. Porisso empregamos o acento agudo. No o caso de S, sgma, sgma, quepoder receber o circumflexo no -i-, e de plotow, plotos, sem trans-tornos para a leitura.Exemplo:

    t tj noma bow, rgon d ynatowti tksoi noma bos rgon d thnatosAo arco o nome vida, a obra, morte (Herclito)

    Observaes:l. O leitor deve ter notado que, na transcrio para caracteres latinos, h, noportugus e no latim, um deslocamento da vogal tnica:

    a) nas palavras gregas oxtonas de mais de duas slabas, como, metafora transcrio para o portugus se faz para metfora, proparoxtona;

    b) nas palavras gregas oxtonas de duas slabas, como dfi, a transcri-o para o portugus se faz para ode, paroxtona;

    mur02.p65 22/01/01, 11:3641

  • 42 o alfabeto grego

    c) nas palavras gregas proparoxtonas de trs slabas com a penltima lon-ga, jvma, a transcrio para o portugus se faz para axioma, pa-roxtona e as com a penltima breve metafor se faz para proparo-xtona.A explicao est na prosdia latina, intermediria entre o gre-go e o portugus, porque: O latim no tem acentos. O latim no tem oxtonas; por isso desloca a tnica das oxtonas

    gregas de trs slabas para proparoxtonas: o caso de metafor > metfora;e das oxtonas gregas de duas slabas para paroxtonas: o caso de: dfi > ode;

    Nas palavras latinas de mais de duas slabas, a posio da tnica determinada pela quantidade da penltima slaba:se a penltima longa, a palavra paroxtona,jvma (penltima longa) > axioma;se breve, a palavra proparoxtona:krpoliw (penltima breve) > acrpole.

    2. Particularidades da sonoridade e representao grfica das letras gregas:a) O som do G, g, gma, se produz no plato, isto o cu, ou vu daboca; por isso ora denominado gutural, ora palatal ora velar. Os lingistaspreferem denomin-lo velar; ns o denominaremos palatal ou velar. Adificuldade est em l-lo corretamente na transcrio de gnow,ggnomai, isto , seguido de -e- e -i-. Genos soa guenos e ggnomai soagugnomai.b) A seqncia de um gama velar e uma outra consoante velar, sem vogalintermediria, leva necessariamente a primeira velar a sair pelas fossasnasais. Da a existncia do g nasal.c) A transcrio do J, j , ksi, deve ser exatamente k + s, que seu verda-deiro som: a transcrio por x, dadas as vrias pronncias do x em por-tugus, leva a pronncias equivocadas.d) Ultimamente os editores dos textos gregos preferem o iota adscrito, epor isso pronunciado; os textos mais antigos, antes dos anos 50, trazem oiota suscrito, no pronunciado. Pura conveno.e) prefervel a transcrio do u em y e no em u, porque este y cha-mado y grego evoluiu para i em grego.f) O ditongo "ou apenas formal; no se l como ditongo, o que muitoincmodo; l-se como um u longo (-ou- francs).

    mur02.p65 22/01/01, 11:3642

  • 43o alfabeto grego

    Alguns dadosde fontica aplicadaConsideraes gerais

    No curso deste trabalho, ao tomar contato com as flexes nominale verbal, o leitor ver repetidas vezes referncias a alteraes fonticasque as formas nominais e verbais sofrero.

    Ver tambm que essas alteraes ou acidentes fonticos sero apre-sentados como normais, como se o autor supusesse que o leitor conhe-cesse fontica grega.

    Esse comportamento pode ser explicado pela experincia que oautor adquiriu na sala de aula. Ao apresentar o sistema das declinaese conjugaes da lngua grega, o autor constatou que estaria repetindoas lies multisseculares de latim e grego, em que se apresentam os es-quemas numa certa ordem e o aluno decora um a um os paradigmas (de-clinaes e conjugaes) de flexo nominal e verbal, independentes umdo outro. E, ao notar que h quebras na sucesso das desinncias, agramtica e o professor afirmam que uma regra da lngua e que se deveaprender assim. Os alunos mais curiosos e teimosos iam procurar o por-qu, isto , as explicaes, nos tratados de fontica histrica ou de mor-fologia histrica, que so recentes.

    Mas, ao estudar durante anos a fio a lngua grega e tambm du-rante anos a ensinar (o que a mesma coisa que aprender), tentamos noscolocar do outro lado da sala, isto , do ponto de vista do aluno, e perce-bemos que devamos explicar-lhe que uma lngua um conjunto de si-nais que tm a finalidade de comunicar, que uma lngua um idioma,isto , a identificao cultural de um povo e que, por isso mesmo, ela um todo slido, concreto, orgnico, lgico, coerente, que o falante ad-quire, conserva e vigia, porque o elemento de sua identificao dentrodo grupo, e que qualquer alterao, qualquer atentado que ela sofre, ime-diatamente sentido e expulso como um elemento perturbador.

    Ns sentimos isso na lngua grega, que a lngua de uma civiliza-o extraordinria, toda ela construda na oralidade. Toda a tradio cul-

    43alguns dados de fontica aplicada

    mur02.p65 22/01/01, 11:3643

  • 44 alguns dados de fontica aplicada

    tural grega foi transmitida oralmente, desde a tradio oral anterior aospoemas homricos, os prprios poemas homricos, as obras de Hesodo,a introduo do alfabeto (sc. VIII e VII a.C.) e os lricos, para no ultra-passarmos o sculo VI a.C. Mas, mesmo depois da introduo do alfabe-to, os meios de transmisso da palavra escrita eram extremamente raros ecaros. A oralidade e a memria eram as grandes armas para a transmis-so e conservao do conhecimento.

    o que vemos na lngua grega: uma lngua s, com variantes lo-cais, mas que todos os gregos entendiam, durante os Jogos Olmpicos,por exemplo. essa lngua que o menino ateniense vai aprender ao de-corar passagens de Homero, Hesodo e dos lricos na casa do mestre,segundo diz Protgoras (Plato, Protgoras, 325c6-326c6). E quando, de-pois de saber de cor esses poemas, aprender a cant-los ao som da lira ouda ctara, o menino vai para o mestre de ginstica, ele no um meninos ateniense, circunscrito ao ambiente familiar, ele um menino grego.E esse o sentimento que o acompanha a vida toda.

    Essa transformao, essa insero do menino, do efebo, e depoisdo adulto, na nao grega, foi feita pela lngua grega.

    Pois bem, acreditando nessa coerncia lingstica, ns comeamosa passar aos alunos uma nova viso da lngua grega.

    Constatamos que o sistema de flexo da lngua grega simples,orgnico e lgico.

    A flexo (nominal ou verbal) se constri sobre uma parte fixa, quevamos chamar de tema, e outra parte varivel, que vamos chamar dedesinncias21.

    Ns no vamos usar as expresses declinao nem conjugao,porque no vamos adotar a idia de que existe um caso reto (que seria onominativo) e outros oblquos.

    No h um caso reto, e por isso no h casos oblquos.Os nomes se compem de duas partes: de um tema, que a sede

    do significado, em que o nome est em estado virtual, isto , sem funo,

    21 Para Aristteles, todas as "quebras" no final das palavras so ptseiw, que osgramticos latinos traduziram por "casus". Mas a tradio da gramtica ocidentalreservou a palavra "caso" para a flexo nominal, com certa ampliao do significadono sistema das "declinaes".

    mur02.p65 22/01/01, 11:3644

  • 45alguns dados de fontica aplicada

    at que receba uma ptsiw, isto , um casus, uma desinncia, que lhed essa funo dentro do enunciado.

    A flexo dos nomes simples: consiste na identificao desse temae na aplicao das desinncias que correspondam funo que o nomeexercer no enunciado. Veremos isso na Flexo nominal.

    A flexo verbal segue o mesmo modelo: haver um tema, sede dosignificado virtual, e o sistema de desinncias (so poucas) que daro aotema a pessoa, a voz (sujeito agente ou paciente), o nmero (se singu-lar, dual ou plural) e o modo. Veremos isso na Flexo verbal.

    Tanto a flexo nominal quanto a flexo verbal so absolutamenteregulares, normais. Bastaria, ento, conhecer as ptseiw/casus/desi-nncias nominais e verbais (que so muito poucas) e aplic-las aos temasnominais ou verbais.

    H, contudo, um elemento complicador: a transformao fonticaque a lngua grega sofreu no correr dos sculos. No vamos falar aqui desua derivao de um tronco indo-europeu e suas opes fonticas; vamosfalar nas modificaes internas da lngua grega e sobretudo dos proble-mas fonticos que surgiram na aplicao dessas ptseiw/casus/desinn-cias que so voclicas, semivoclicas ou consonnticas, a temas tambmvoclicos, semivoclicos e consonnticos.

    O encontro, por exemplo, de um tema voclico com uma desinn-cia voclica recebe tratamentos diversos segundo os dialetos. O jnico, odrico e o elico, por exemplo, admitem hiatos; o tico, no entanto, optapela contrao.

    Tambm os encontros entre temas consonnticos com desinnciasconsonnticas apresentam problemas: ou as consoantes se acomodam,assimilam, dissimilam, ou sofrem sncope dependendo das condies, ouvo buscar uma vogal para ajudar a pronunciar os encontros consonnticosdifceis. Essa vogal se chama vogal de ligao ou vogal de apoio.

    Mas precisamos ter em mente que o que preside s modificaesem todas as lnguas, e a lngua grega no exceo, so dois princpios,contraditrios mas harmnicos: de um lado o princpio da facilidade, quepoderamos chamar de praticidade, acomodao ou mesmo preguia, queos fillogos acordaram em denominar lei do menor esforo e, de outrolado, o significado da forma, a semntica, isto , o fundamento do exer-ccio da lngua, que a comunicao.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3645

  • 46 alguns dados de fontica aplicada

    Todo e qualquer ser humano, que usa da fala, quer comunicar al-guma coisa, e da maneira mais clara e prtica possvel. Esse princpio ainda mais fundamental na transmisso oral: a relao entre o emissor ereceptor da mensagem momentnea, fugaz; ento a maior brevidade eclareza so indispensveis. evidente que o cdigo dos dois (emissor/receptor) deve ser o mesmo, e bem conhecido. Vemos, ento, que clareza(significado) e praticidade (lei do menor esforo) se vigiam mutuamente.

    As transformaes e simplificaes s se admitem quando no des-caracterizam as formas e a mensagem. Teremos ocasio de repetir isso in-meras vezes no curso da apresentao das flexes. Mas esses coment-rios, repetidos, exageradamente, propositadamente repetidos, estodispersos.

    Vamos agora agrup-los num espao apropriado, para que o leitortenha sempre onde buscar uma explicao, uma referncia.

    Finalmente, ns no nos incomodamos em usar uma terminologiatcnica ortodoxa. No tivemos a inteno de fazer tratado de fontica oufonologia. Respeitamos a nomenclatura tradicional na medida em queela significante, mas usamos do vocabulrio do cotidiano para mostrarque essas modificaes fonticas so absolutamente normais, fisiolgi-cas, concretas. Elas acontecem no aparelho fonador, isto , na boca, la-ringe, fossas nasais, pulmes etc. A experincia na sala de aula nos mos-trou que os alunos no s aceitam essas explicaes, mas no queremoutras.

    Por isso vamos, neste captulo, apresentar foneticamente a lnguagrega.

    Vamos, a seguir, estudar todos os elementos (stoixa) do alfabe-to grego, primeiro individualmente quanto pronncia e depois nas suascombinaes entre si, nos seus diversos encontros: vogal com vogal; con-soante com vogal; soante com vogal, soante com soante, consoante comconsoante.

    Esses encontros s vezes apresentam certas dificuldades que as gra-mticas tentam resolver enquandrando-as nas leis fonticas que apre-sentam, mas no comentam.

    Faremos algo parecido, mas insistiremos, como estamos fazendoem todo este trabalho, em no abusar do vocabulrio tcnico, preferin-do o uso de expresses do cotidiano, e procuraremos mostrar sempre que

    mur02.p65 22/01/01, 11:3646

  • 47alguns dados de fontica aplicada

    esses fenmenos so naturais; acontecem e so produzidos na boca, quechamamos aparelho fonador, acima mencionado.

    preciso ter em conta que a lngua grega foi transmitida por viaoral. No havia outro registro. A escrita entrou tardiamente, quando jhavia uma larga tradio cultural e literria.

    Ento, essas modificaes fonticas que constatamos foram aceitase transmitidas porque ou quando no causavam dano mensagem,isto , ao contedo da mensagem, e sobretudo no causavam dano in-tegridade da lngua grega, que era o fator de unificao daquele povo.

    As vogaisAs vogais so modificaes do som glotal, que produzido pelas

    cordas vocais superiores ou inferiores, com o sopro mais ou menos forteque vem dos pulmes.

    Essas cordas vocais, obedecendo vontade, ora se aproximam, orase afastam; se se aproximam, comprimem o ar e produzem um som quese pode chamar de som glotal; se se afastam, o ar sai livre sem ser modi-ficado e no produz som. A esse som glotal, produzido pelas cordas vo-cais, chamamos vogais. Como diz Aristteles (Potica, 1456b): sti tfvnen mn neu prosbolw xon fvnfln koustfin... a vogal o que tem um som audvel sem aplicao (sem articulao, isto , semaplicao da lngua ou dos lbios).

    Conforme a abertura ou o fechamento do aparelho fonador (boca),no sentido vertical ou horizontal, produzido esse ou aquele timbre davogal.

    Os timbres extremos das vogais gregas so: a, da abertura mximae u, i, mnima, prxima glote. O -i- a vogal mais fraca; a ltima dasvogais. Da posio mxima do a, posio anterior, da frente, at a mni-ma, posterior de u, i, h uma progresso de fechamento das vogais: asvariantes do som o velares, redondas, e as variantes do som e glotais late-rais (palatais).

    Alm de diferena de timbre, o grego reconhecia uma diferena dedurao nas vogais: uma vogal longa tinha a durao de duas breves.

    47as vogais

    mur02.p65 22/01/01, 11:3647

  • 48 as vogais

    Essa durao de tempo era tambm sentida como um desdobra-mento do tom: uma elevao da voz na primeira metade da vogal (rsis) euma posio (thsis). Ns, que falamos as lnguas ocidentais, no temosmais ouvido para sentir essas mudanas de tonalidade, e por isso mesmosomos incapazes de produzi-las.

    Os timbres e e o tm grafias diferentes para longa e breve: e/h;o/v; os outros a, u, i, no; os gramticos as chamam de dxrona, dedois tempos, ou mfbola, ambguas, e para serem reconhecidas gra-ficamente eram marcadas pelos sinais: mkron longo -, e brxia, bre-ve , curto.

    Os fonemas voclicos em grego so 12:a /a, e / e/ h, o /o /v, i / i, u /u.22

    Alm disso eles podem ser aspirados23 ou no.A marcao da aspirao das vogais iniciais das palavras teve altos e

    baixos. Com a adoo do alfabeto jnico pelo tico empregava-se a letraH para indicar o pnema das, spiritus asper, esprito rude, sopro for-te, para marcar a aspirao. Posteriormente os gramticos alexandrinospassaram a usar a metade esquerda do H, que foi se simplificando at serrepresentado por um sinal que se assemelha ao nosso apstrofo, que usa-mos para marcar eliso, mas em sentido esquerda/direita. E por uma es-pcie de isonomia passaram a marcar tambm, com a outra metade doH, a ausncia de aspirao, ou pnema ciln, spiritus lenis, esprito leve,suave, doce.

    A representao grfica das vogais foi tirada do alfabeto fencio, donome de alguns sons de consoante, ausentes no grego: aleph > A, het >H, yod > I, ayin > O, waw > Y. No incio, havia s uma letra para o some. Foi em Mileto que comeou o uso do H para o e longo, aberto, edepois, por analogia, criou-se V para o longo, aberto.

    22 Devemos considerar os timbres do a longo e breve; do e breve e longo ei; do obreve e longo ou; do i breve e longo e do u breve e longo com diferenas detimbre imperceptveis para ns.

    23 O termo aspirado se presta a confuso, porque o ato de aspirar chupar o ar. Otermo gramatical vem do latim ad spiratum, isto soprado para (em cima) de spiritus,sopro. Ento teremos vogais e consoantes aspiradas, isto , sopradas, acompanha-das de uma lufada de ar. Todas as vogais podem ser sopradas e as consoantes oclusivassurdas (mudas), p, k, t.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3648

  • 49as vogais

    Os ditongos

    Segundo A.C. Juret, o ditongo um timbre em movimento. uma espcie de deslocamento do som voclico de uma posio de abertu-ra, para a de fechamento; o ponto extremo do ditongo a posio u/i,que so chamadas semivogais. Por isso se diz que o ditongo so dois sonspronunciados em uma s emisso de voz.

    Na composio do ditongo a vogal prottica e a semivogal hipottica24.

    So basicamente 12, assim definidos pelos gramticos antigos:

    1. difyggoi kat krsin - ditongos por fuso (uma s emisso devoz); por isso so chamados kriai, principais, e so:

    au, eu, ou, ai, ei, oi (o u soa u em au, eu, ou).O ditongo ou soa u;em portugus: au, eu, ou (u), ai, ei, oi.

    2. difyggoi kat dijodon - ditongos pela sada, porque a vogalprottica sendo longa, a voz permanece mais tempo sobre ela e s nofim (sada) que vai para a hipottica, e so:

    hu, vu, ui (u longo).Para os gramticos, esses ditongos so kakfvnoi, cacfonos, e

    os primeiros kat krsin so efvnoi, ufonos.

    3. difyggoi kat pikrteian - ditongos por dominao, porqueprevalece o som de uma vogal s, a que se ouve. So:

    hi, vi, ai (a longo).O enfraquecimento do -i- desses ditongos j completo desde o

    IV sc. a.C. e passou a ser subscrito a partir do sc. XII:o -hi- se tornou e aberto25;o vi se tornou aberto (desde 150 a.C.);o ai se tornou a longo (desde 100 a.C.).

    24 O verdadeiro ditongo comea com vogal e termina na semivogal (i/u); o quealguns chamam de "ditongo decrescente"; o chamado "ditongo crescente", isto ,semivogal seguida de vogal um hiato, e no ditongo.

    25 No dialeto tico j se pronunciava e se escrevia -ei no sc. V. A maioria dosescritores dessa poca escreve assim.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3649

  • 50 as vogais

    As edies recentes dos textos gregos restabeleceram a grafia anti-ga, com o -i- adscrito e no subscrito, e nas salas de aula voltou a pro-nncia cacofnica.

    Alternncia voclica

    Chama-se alternncia voclica (metafonia/apofonia) a alterao dotimbre voclico que se verifica no corpo de uma palavra, em suas diversaspartes (raiz/tema, sufixos, desinncias), ligada aos diversos aspectos dosignificado que ela assume. Essas alteraes nunca acontecem juntas, isto, presas a um paradigma. Elas so sempre isoladas e na maior parte dasvezes acontecem na raiz ou no tema (radical).

    Essa alternncia no exclusiva da lngua grega. Muitas lnguasantigas e mesmo as modernas as tm. Assim, em portugus, o verbo fa-zer sofre alternncia voclica em fao, fazemos, fiz, fez, feito.

    A alternncia pode ser qualitativa (variao do timbre), como fiz/fez/fao; e quantitativa (variao da durao - longas/breves), como emfez/feito, em portugus.

    1. Alternncia qualitativa:Em grego temos trs graus de alternncia voclica, na alternncia

    qualitativa; o que se chama de vocalismo; vocalismo o (grau fraco); vocalismo e (grau forte), e vocalismo zero (reduzido), corresponde ausncia de vogal.

    Assim os diversos temas dos verbos:-gn-/gen-/gon- tornar-se, vir a serg-gn-o-mai eu me torno, venho a ser (presente, infectum)-gen--mhn eu me tornei, aconteci (aoristo)g-gon-a eu me tornei, nasci, sou (perfeito)leip-/lip-/loip- deixar, abandonarlep-v eu deixo, abandono (presente, infectum)-lip-o-n eu deixei, deixo (aoristo)l-loip-a eu deixei (perfeito)

    mur02.p65 22/01/01, 11:3650

  • 51as vogais

    Alternncia tambm na flexo dos nomes:T. - ptr- / pter-to patr-w - do pai (gen.) tn patr-a - o pai (acus.)T. - genes-t gnow - a raa (nom. voc. acus.)to gnes-ow > gneow > gnouw - da raa (gen.)T. - nyrvpo- nyrvpo-w - o homem (nom.) nyrvpe - homem (voc.)

    2. Alternncia quantitativa: a alternncia de durao (quantidade da vogal: longa/breve):

    fhm/ famn digo / dizemost-yh-mi / t-ye-men coloco / colocamosd-dv-mi / d-do-men dou / damos

    3. Observao:Na flexo nominal dos nomes e adjetivos de tema em soante / lqida,

    h uma falsa alternncia voclica; nos temas masculinos e femininos em vogalbreve, essa vogal se alonga no nominativo singular e permanece breve nos ou-tros casos. um fato normal, porque no nominativo masculino e feminino oalongamento se faz compensando a apcope do sigma, marca do nominativodos seres animados, sobretudo dos masculinos. No se trata pois de alternnciavoclica.

    T. =tor N. =fitvr o orador;T. damon N. damvn o nume;T. poimn N. poimfin o pastor;

    Mas, quando o tema longo, no h alternncia voclica;T. gn N. gn a luta.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3651

  • 52 as vogais

    Vogal de ligao ou de apoio

    um recurso de que lanam mo todas as lnguas, e no s a gre-ga, para desfazer encontros consonnticos difceis e que no devem seconfundir, fundir ou assimilar, para no descaracterizar a palavra.

    A vogal de ligao isola as duas consoantes e facilita a pronncia.O -a- epenttico que as raizes e temas trilteres desenvolvem antes

    da lqida (visto acima) um exemplo disso.T. stl -stl-h-n eu fui enviadoT. fyr -fyr-h-n eu fui destrudoT. nr nr-sin > n-d-r-sin > ndr-sin aos homens26

    As vogais de ligao bsicas do grego so: e /o e s vezes -h- (nolatim so i/u e e antes do -r).

    importante lembrar que as vogais de ligao ou de apoio no fazemparte do corpo da palavra, como as vogais temticas. Elas so meros re-cursos fnicos de que a lngua oral faz uso sempre e na medida em queprecisa delas.

    Elas tambm no so elementos da flexo; no so desinncias nem su-fixos que, no sistema verbal, indicam a relao da pessoa gramatical com overbo, ao indicarem o singular/plural, a voz (ativa/mdia/passiva) e o modo.

    Por exemplo, nos verbos de tema em consoante ou semivogal (cha-mados verbos em -v), a vogal de ligao se faz presente em todo o infec-tum-inacabado porque as desinncias so consonnticas ou em soante(semivogal)27; e, por analogia, tambm no futuro ativo e mdio por causada introduo da marca do futuro -s-.

    fr-o-men ns portamos-fr-e-te vs portveisfr-o-i-e-n eles portassem, portariamls-o-men ns desligaremosls-e-sye vs desligareis para vs

    26 Nesse caso, o que vemos uma consoante de ligao. O -d- se desenvolve natural-mente entre o ponto de articulao do -n- e do -r-. O castelhano e o francs tam-bm desenvolvem um d epenttico na flexo verbal: je viendrais < venirais; yoviendria < veniria.

    27 As semivoclicas so sentidas como consonnticas.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3652

  • 53as vogais

    Mas no aoristo ativo e mdio, a vocalizao da desinncia -n, (-s-n> sa), no perfeito ativo (-k-n > ka), dispensa a vogal de ligao.-lus-n > -lu-sa eu desliguei, eu desligo-l-sa-men ns desligamos-lu-s-meya ns desligamos para nsl-lu-kn > l-luka eu completei o ato de desligar, eu desligueile-l-ka-men ns completamos o ato de desligar, desligamos

    Na caracterstica do aoristo passivo (-h-/yh-), a presena da vogaltambm dispensa a vogal de ligao:

    -d-yh-sye vs fostes dados, sois dados-stl-h-men ns fomos enviados, somos enviados

    Mas, nas formas do perfeito mdio-passivas, a lngua prefere o en-contro entre as consoantes:p-prag-tai > p-prak-tai ele foi feito, est feitot-trib-sai > t-tricai tu foste esmagado, ests esmagadope-pey-meya > pe-pes-meya ns fomos convencidos, estamos convencidos

    Mas, na 3a pessoa do plural:p-prag-ntai > peprg-a-tai, eles foram, esto feitos;o -n- interconsonntico se vocaliza em -a-.

    Essa a opo que encontramos nos lricos e em Herdoto; o di-aleto tico construiu uma forma analtica, em lugar de vocalizar o -n-interconsonntico:pe-prag-mnoi, ai, a esin eles foram, esto feitos

    Veremos isso com mais detalhes quando tratarmos da flexo verbal.

    mur02.p65 22/01/01, 11:3653

  • 54 as vogais

    Encontro de vogais

    O encontro de vogais chamado hiato, isto , vcuo, vazio; para todosos gramticos o hiato uma cacofonia e a tendncia geral elimin-lo.

    Essa a tendncia no dialeto tico; nos dialetos jnico, drico eelico o hiato permanece