helen keller, uma vida dedicada aos excluídos

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MUNDO Helen Keller, uma vida dedicada aos excluídos www.portaldovoluntario.org.br O Portal do Voluntário é um site com conteúdos, expe- riências e oportunidades para participação de ações volun- tárias em todo o país. vinte e um anos, que havia estudado na Escola Perkins para Cegos, aceitou o desafio de ensinar e educar Helen, que na época tinha sete anos de idade. A própria Anne, quando criança tinha sido cega, mas recuperou a visão através de nove operações. Utilizando o sentido do tato, como elo entre os mundos de ambas e escrevendo as palavras nas mãos de Helen, Anne Sullivan, realizou seu trabalho com uma perseverança inigualável. A nova pro- fessora tentou, insistentemente, dar a entender à Helen a relação entre as pa- lavras e aquilo que elas significam. O início do sucesso e da transformação no aprendizado, deu-se com a palavra “água”. Enquanto a água de uma bica jorrava sobre uma das mãos da sua alu- na, Anne escrevia “água” na outra. “Mantive-me quieta, toda a minha aten- ção concentrada sobre o movimento dos seus dedos”, recordou certa ocasião Helen. “Subitamente, senti a emoção de uma idéia que se repetia, e, assim, me foi revelado o mistério da linguagem”. Desde esse dia, Helen “viu” o mundo de outra maneira. O sentido do tato tor- nou-se para ela uma espécie de visão. “Não posso dizer se vemos melhor com as mãos ou com os olhos, sei apenas que o mundo que vejo com as minhas mãos é vivo, colorido gratificante”. Em alguns momentos dessa trajetória, He- len chegou a falar, por imitação das vibrações da garganta de Anne, as quais captava com as pontas dos dedos. Durante um mês, Sullivan ensinou-a a soletrar palavras. Enquanto tocava com os dedos de uma mão de Helen um ob- jeto, colocava os dedos da outra mão de sua aluna em sua boca e pronunciava o nome do objeto. Helen só não sabia que estava formando palavras, porque não sabia que elas existiam. Certa tarde, Anne mergulhou a mão esquerda de Hellen num balde d’água e soletrou “água” com a outra mão. Repetiu várias vezes a operação e o milagre aconteceu: Helen entendeu que “água” era o nome Helen Adams Keller, nasceu em 27 de junho de 1880, em Tuscumbia, no Esta- do norte americano do Alabama. Descendente de uma tradicional família do Sul dos Estados Unidos, filha de Arthur Keller, prefeito do Alabama do Norte, ficou cega e surda subitamente, aos dezoito meses de idade, devido a uma doença diagnosticada, naquela época, como febre cerebral e que, pro- vavelmente, tenha sido escarlatina. A pequena Helen foi crescendo como uma selvagem, num universo escuro e silencioso, sendo que, em decorrência disso, foi excluída do mundo. Por indicação de Alexander Graham Bell, Anne Sullivan, uma professora de 28 Helen Keller aos nove anos com sua professora Anne Sullivan. Trabalho perseverante que a tirou de um mundo de exclusão, tornando-a referência mundial na luta pelos direitos dos deficientes visuais e como jornalista, ativista dos direitos humanos. Divulgação Idealismo

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Matéria da revista “Meu sonho não tem fim” sobre a “grande sonhadora” Helen Keller.

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Page 1: Helen Keller, uma vida dedicada aos excluídos

MUNDO

Helen Keller, uma vida dedicada aos excluídos

www.portaldovoluntario.org.br

O Portal do Voluntário é um site com conteúdos, expe-riências e oportunidades para participação de ações volun-tárias em todo o país.

vinte e um anos, que havia estudado na Escola Perkins para Cegos, aceitou o desafio de ensinar e educar Helen, que na época tinha sete anos de idade. A própria Anne, quando criança tinha sido cega, mas recuperou a visão através de nove operações.

Utilizando o sentido do tato, como elo entre os mundos de ambas e escrevendo as palavras nas mãos de Helen, Anne Sullivan, realizou seu trabalho com uma perseverança inigualável. A nova pro-fessora tentou, insistentemente, dar a entender à Helen a relação entre as pa-lavras e aquilo que elas significam.

O início do sucesso e da transformação no aprendizado, deu-se com a palavra “água”. Enquanto a água de uma bica jorrava sobre uma das mãos da sua alu-na, Anne escrevia “água” na outra.

“Mantive-me quieta, toda a minha aten-ção concentrada sobre o movimento dos seus dedos”, recordou certa ocasião Helen. “Subitamente, senti a emoção de uma idéia que se repetia, e, assim, me

foi revelado o mistério da linguagem”. Desde esse dia, Helen “viu” o mundo de outra maneira. O sentido do tato tor-nou-se para ela uma espécie de visão.

“Não posso dizer se vemos melhor com as mãos ou com os olhos, sei apenas que o mundo que vejo com as minhas mãos é vivo, colorido gratificante”. Em alguns momentos dessa trajetória, He-len chegou a falar, por imitação das vibrações da garganta de Anne, as quais captava com as pontas dos dedos.

Durante um mês, Sullivan ensinou-a a soletrar palavras. Enquanto tocava com os dedos de uma mão de Helen um ob-jeto, colocava os dedos da outra mão de sua aluna em sua boca e pronunciava o nome do objeto. Helen só não sabia que estava formando palavras, porque não sabia que elas existiam. Certa tarde, Anne mergulhou a mão esquerda de Hellen num balde d’água e soletrou “água” com a outra mão. Repetiu várias vezes a operação e o milagre aconteceu: Helen entendeu que “água” era o nome

Helen Adams Keller, nasceu em 27 de junho de 1880, em Tuscumbia, no Esta-do norte americano do Alabama.

Descendente de uma tradicional família do Sul dos Estados Unidos, filha de Arthur Keller, prefeito do Alabama do Norte, ficou cega e surda subitamente, aos dezoito meses de idade, devido a uma doença diagnosticada, naquela época, como febre cerebral e que, pro-vavelmente, tenha sido escarlatina.

A pequena Helen foi crescendo como uma selvagem, num universo escuro e silencioso, sendo que, em decorrência disso, foi excluída do mundo.

Por indicação de Alexander Graham Bell, Anne Sullivan, uma professora de

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Helen Keller aos nove anos com sua professora Anne Sullivan. Trabalho perseverante que a tirou de um mundo de exclusão, tornando-a referência mundial na luta pelos direitos dos deficientes visuais e como jornalista, ativista dos direitos humanos.

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Helen Keller recebendo o Oscar em 1955, por sua atuação em “Helen Keller in Her Story”. Filme sobre sua impressionante vida.

do líquido que sentia pelo tato. Até o fim daquele dia, aprendeu mais trinta palavras. Em pouco tempo, dominou o alfabeto Braille, demonstrando incrível facilidade em ler e escrever.

Anne Sulivan e Helen Keller, tornaram desde então, inseparáveis até a morte de sua querida professora, em 1936.

Helen descobriu maneiras engenhosas de sentir as imagens e os sons. Certa vez mencionou, “por vezes, se tiver sorte, coloco suavemente a mão numa pequena árvore e sinto o feliz estreme-cer de um passarinho que canta” e, por meio do tato, ela conseguia “detectar o riso, a tristeza e muitas outras emoções óbvias. Conheço minhas amigas só por tocar-lhes as faces”. Ela sentia que o silêncio e a escuridão em que vivia, lhe tinham aberto as portas para um mundo de sensações de que as pessoas mais “afortunadas” pouco exploravam, “com os meus três queridos guias fiéis, o tato, o olfato e o paladar, faço inúmeras ex-cursões às zonas limites da cidade da luz”, dizia ela.

Com muito carinho, dedicação e perse-verança, Anne Sullivan conseguiu ensi-nar à aluna os alfabetos Braille e manu-al. Os esforços de sua mente em procu-rar se comunicar com o exterior, teve como resultado o afloramento de uma

inteligência excepcional, considerada uma das maiores vitórias individuais da história da educação.

Sob a orientação de Anne, Helen matri-culou-se no Instituto Horace Mann para Surdos, em Boston e anos mais tarde na Escola Wright-Humason Oral, em Nova York.

Aos dez anos de idade, aprendeu a falar para dizer, “algum dia cursarei uma faculdade”, o que de fato aconteceu. Em 1904, formou-se com louvor, sendo a primeira cega e surda a completar um curso universitário, recebendo o diplo-ma de bacharel em Filosofia pela Uni-versidade Radcliffe, além de dominar perfeitamente os idiomas francês, latim e alemão.

Ela foi uma educadora, escritora, jorna-lista e advogada de cegos. Tinha muita ambição e grande poder de realização. Ao lado de Sullivan, percorreu vários países do mundo promovendo campa-nhas para melhorar a situação dos defi-cientes visuais e auditivos. É considera-da, até hoje, uma das grandes heroínas do mundo moderno.

Sua luta árdua e vitoriosa para se inte-grar na sociedade, tornando-se, além de célebre escritora, filósofa e conferencis-ta, uma personagem famosa pelo traba-lho incessante que desenvolveu para o bem estar das pessoas portadoras de deficiências. Tornou-se referência de superação em todo o mundo, assim co-mo sua dedicação à defesa dos direitos das mulheres e dos pobres. Graças a Helen, nossa percepção com relação ao deficiente mudou drasticamente.

Recebeu centenas de títulos e diplomas honorários por todo o mundo, assim como, tornou-se membro honorário de sociedades científicas e organizações filantrópicas dos cinco continentes.

Em 1902, fez sua estréia na literatura escrevendo sua autobiografia “A Histó-ria de Minha Vida” e, em seguida, no jornalismo, criou uma série de artigos no jornal “Ladies Home Journal”. A partir daí, jamais parou de escrever. Seus livros foram traduzidos para diver-sos idiomas.

Em 1954, seu local de nascimento, em Tuscumbia, foi transformado em museu permanente. Na cerimônia de inaugura-ção realizou-se também a première do seu filme biográfico intitulado “Helen Keller in Her History”. Posteriormente, em 1955, esse filme ganhou o Oscar, como o melhor documentário de longa metragem do ano.

De 1924 até sua morte, foi membro fixo da American Foundation for the Blind, onde pôde trabalhar pelo bem-estar das pessoas cegas e surdo-cegas, compare-cendo perante governos, dando confe-rências, escrevendo artigos e, sobretu-do, pelo exemplo pessoal do que uma pessoa severamente prejudicada, pode alcançar.

Porém, sua participação ativa na área de trabalho para os cegos, começou muito antes, mais precisamente em 1915, quando o “Fundo Permanente de Ajuda aos Cegos de Guerra”, posteriormente chamado - Imprensa Braille Americana - foi fundado. Ela foi membro de sua primeira junta de diretores. Quando a Imprensa Braille Americana transfor-mou-se na “American Foundation for Overseas Blind” (hoje Helen Keller Internacional Incorporated), em 1946, Helen Keller foi eleita conselheira em relações internacionais.

Foi nesta época, que iniciou viagens pelo mundo, em benefício dos cegos, fato esse que a tornou muito conhecida em seus últimos anos de vida. Durante sete viagens, entre 1946 e 1957, ela visitou 35 países em cinco continentes. Em 1953, a convite oficial do governo brasileiro e da “Fundação para o Livro do Cego no Brasil”, veio ao Brasil, on-de realizou visitas e palestras no Rio de Janeiro e em São Paulo. Seu exemplo, estimulou a todos e deu um grande im-pulso à educação e à reabilitação de cegos no Brasil.

Uma mesa re-donda realizada com sua presen-ça na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo deu

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“Não há melhor maneira de agradecer a Deus pela visão, do que dar ajuda à

alguém que não a possui”.

Helen Keller

origem à criação, no SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) de um Serviço de Orientação e Coloca-ção Profissional de Cegos, que até hoje é responsável pela colocação no merca-do de trabalho, principalmente, nas in-dústrias do Estado de São Paulo, de grande número de deficientes visuais.

Numa palestra para 550 pessoas no Hospital das Clínicas, também em São Paulo, alguém lhe perguntou:

- “O que você gostaria mais de ver, se Deus lhe desse visão por cinco minu-tos?”, Helen respondeu:

- “As flores, o pôr do sol e o rosto de uma criança”.

Hellen fez sua última aparição pública, num encontro do Lions Club, em Wa-shington. Nesse encontro, ela recebeu o “Prêmio Humanitário Lions”, por sua vida dedicada à servir a humanidade e por inspirar a criação e adoção de inú-

meros programas de ajuda aos cegos e também para projetos de conservação da visão.

Em 1961, recolheu-se definitivamente, para viver tranqüilamente em “Arcan Ridg”, onde recebia sua família, amigos íntimos e membros da “American Foun-dation for the Blind” e da “American Foundation for Overseas Blind” (hoje intitulada, Helen Keller International Incorporated).

Porém, apesar de seu afastamento da vida pública, jamais foi esquecida. Em 1964, recebeu a “Medalha Presidencial da Liberdade”, maior honra dada a um civil de seu país. Em 1965, foi uma das vinte eleitas para o “Hall da Fama Fe-minina”, na Feira Mundial de Nova York. Hellen Keller e Eleanor Roose-velt receberam a grande maioria dos votos, entre as cem mulheres indicadas.

Hellen Keller faleceu em 1º de junho de

1968 em “Arcan Ridge”, algumas se-manas antes de completar 88 anos. Suas cinzas foram depositadas ao lado das de sua querida professora Anne Sullivan Macy, na Capela de São José, na Cate-dral de Washington.

Em seu último adeus, o Senador Lister Hill, do Estado do Alabama, sua terra natal, sintetizou muito bem o que Helen Keller representou para a humanidade. Disse ele: “Ela viverá; ela foi um dos poucos nomes imortais, que não nasceu para morrer. Seu espírito perdurará en-quanto o homem puder ler e histórias puderem ser contadas sobre a mulher que mostrou ao mundo, que não exis-tem limitações para a coragem e a fé”.

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O veredicto

Conta uma lenda que, na Idade Média, um homem muito religioso foi injustamente acusado de ter assassinado uma mulher.

Na verdade, o autor era pessoa influente do reino e, por isso, desde o primeiro momento procurou-se um “bode expiatório” para acobertar o verdadeiro assassino. O homem foi levado à julgamento. Ele sabia que tudo seria feito para condená-lo e levá-lo à forca e que teria poucas chances de sair vivo desta historia. O juiz, que também estava combinado para levar o pobre homem à morte, simulou um julgamento justo, fazendo uma proposta ao acusado que provasse sua inocência.

Disse o juiz:

- Sou de uma profunda religiosidade e por isso vou deixar sua sorte nas mãos do Senhor; vou escrever em um pedaço de papel a palavra inocente e noutro pedaço a palavra culpado. Você sorteará um dos papéis e aquele que sair será o veredicto. O Senhor decidirá seu destino, determinou o juiz.

Sem que o acusado percebesse, o juiz separou os dois papéis, mas em ambos escreveu culpado, de maneira que, naquele instante, não existia nenhuma chance do acusado se livrar da forca. Não havia saída, nem alternativas para o pobre homem.

O juiz colocou os papéis em uma mesa e mandou o acusado escolher um. O homem pensou alguns segundos e pressentin-do a vibração, aproximou-se confiante da mesa, pegou um dos papéis e rapidamente colocou-o na boca e o engoliu.

Os presentes ao julgamento reagiram surpresos e indignados com a atitude do homem.

- Mas, o que você fez? E agora? Como vamos saber qual o seu veredicto?

- É fácil, respondeu o homem. Basta olhar o outro pedaço que sobrou e saberemos que acabei engolindo o seu contrário.

Imediatamente o homem foi libertado.

Por mais difícil que seja uma situação, não deixe de acreditar e de lutar até o último momento.

Seja criativo! Quando tudo parecer perdido, ouse!

“A vida está cheia de desafios que, se aproveitados de forma criativa, transformam-se em oportunidades”.