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Helder Zaluth Barbalho

Governador do Estado do Pará

Jarbas Vasconcelos do Carmo

Secretário Extraordinário para Assuntos Penitenciários

Superintendente do Sistema Penitenciário

João Claudio Tupinambá Arroyo

Diretor da Escola de Administração Penitenciária

Fábia Jacqueline da Silva Miranda

Coordenação de Educação em Serviços Penais (em exercício)

Tatiana Cordeiro de Jesus

Coordenação de Apoio Pedagógico

Vanda da Consolação Fernandez

Coordenação de Planejamento e Pesquisa

Sergio Ricardo Nunes Lustosa de Aragão

Secretário da Diretoria

Equipe Técnica Administrativa

André Silva de Oliveira

Adriana Rodrigues Caxias

Ana Rita de Nazaré Sarmento Bezerra

Anderson Marcel Souza Cals

Fernanda Carolina Matos Ferreira

Cleice Kelen Favacho da Rocha

Cleidy da Silva Lima

Gerson Haroldo Nobrega Barbosa

José Alvanderly Mesquita

Marcelo Sergio Genu Lima

Oberdan Pacheco Damasceno Silva

Renan Moraes de Araújo

Renata Maia Damasceno

Telma Maria Medeiros de Lima

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CURSO DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

PROFESSORES CONTEUDISTAS

FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL

Andressa Nery Lamarão – Advogada na Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará –

SUSIPE. Docente do Instituto de Ensino de Segurança do Pará.

ETICA, POSTURA PROFISSIONAL E RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Profa. Veridiana Valente Pinheiro Castro

Graduação em Letras - Habilitação Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará

Mestrado em Teoria Literária

Doutora em Letras: Linguística e Teoria Literária

Membro do projeto de pesquisa Narrativa de Resistência: Formas, Performances e Trajetos na

Amazônia

Docente da Universidade da Amazônia (UNAMA)

DIREITOS HUMANOS NO CÁRCERE

Mário Célio da Silva Morais - Mestrando em Direitos Fundamentais/UNAMA. Curso Superior

Bacharel em Direito/Estácio. Especialização em Processo civil/LFG. Especialização em Ciências

Criminais/Estácio. Formação Técnica em Segurança do Trabalho/Senac. Imobilizações Táticas.

CATI/SWAT. Curso de operações na selva Fuzileiros Navais. Patrulhamento Tático/Policia

Militar

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SUMÁRIO

Apresentação ........................................................................................................................................... 03

Informações do Professor Conteudista ............................................................................................... 04

Disciplina: Fundamentos Jurídicos da Responsabilização Criminal .................................................. 05

Disciplina: Direitos Humanos no Cárcere............................................................................................. 06

Disciplina: Ética, Postura Profissional e Ralações Interpessoais........................................................ 07

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APRESENTAÇÃO

Bem vindos/as à Susipe!

O Curso de Formação Profissional do concurso C-204 é mais uma porta de entrada para novos

servidores permanentes do Sistema Penitenciário no Estado do Pará e muito nos orgulha ter merecido sua

escolha em partilhar conosco o desafio de aperfeiçoá-lo cotidianamente.

O Govenador Helder Barbalho nos lidera na implementação de uma nova Doutrina de Segurança

baseada, de um lado, na garantia e ampliação do acesso aos direitos básicos de saúde, educação, cultura,

esporte, moradia e trabalho, principalmente para as famílias dos territórios mais vulneráveis à violência

urbana. De outro, na preparação dos profissionais do Sistema em um patamar elevado de combate e

inteligência contra a criminalidade, particularmente para o efetivo e ostensivo enfrentamento das organizações

criminosas.

Este desafio, que em última instância está sustentado pelo inarredável compromisso de garantir

segurança pública à Sociedade como um todo, exige de cada um de nós, a consciência de que só será vencido

se avançarmos significativamente na Reinserção Social, a partir da garantia de oportunidades e da disciplina

restauradora da cidadania, esta é a missão do Sistema Penitenciário.

Neste sentido, os servidores precisam desenvolver a competência e a consciência de sua

responsabilidade individual e coletiva, desde as funções de suporte até as de combate, entendendo que estas

se complementam e formam uma cadeia de procedimentos interdependentes, daí a importância da

capacidade de trabalho em equipe.

As disciplinas que compõem o Eixo Introdutório, visam contextualizar os desafios do Sistema

Penitenciário. Conhecimentos fundamentais que deverão ser aperfeiçoados e atualizados ao longo da vida

funcional de cada servidor.

Aqui, apresentamos os Textos-base de cada disciplina, referência aos docentes enquanto conteúdo

mínimo a ser ministrado e, aos candidatos/as enquanto referência de conteúdo a partir do qual serão

avaliados.

No mais, permanecemos à disposição através da EAP(Escola de Administração Penitenciária) para

juntos fazermos deste momento impar um momento de realização e sucesso pata todos e todas.

Belém, julho de 2019

Jarbas Vasconcellos do Carmo

Secretário Extraordinário para Assuntos Penitenciários do Estado do Pará

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DISCIPLINA: FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA

RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL Carga Horária: 12h

Nível Superior

Eixo: Introdutório

Professor Conteudista: Andressa Nery Lamarão – Advogada na Superintendência do Sistema

Penitenciário do Pará – SUSIPE. Docente do Instituto de Ensino de Segurança do Pará.

OBJETIVO DA DISCIPLINA: Ampliar conhecimentos de cunho sociológico sobre a história das

prisões a fim de possibilitar uma percepção das mudanças e transformações do processo de

aprisionamento ao longo do tempo. a) Responsabilização criminal, respostas institucionais

alternativas à prisão e outros mecanismos de solução de conflitos. b) Teorias da punição e penas:

restritiva de direitos, privativa de liberdade e multa. c) Sociedade Brasileira e prisões; o fenômeno

do encarceramento massivo no Brasil contemporâneo. d) Sistema de Justiça Penal. e) Lei de

Execução Penal (LEP)

CONTEUDO PROGRAMÁTICO

I) RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL, RESPOSTAS INSTITUCIONAIS ALTERNATIVAS À PRISÃO E OUTROS

MECANISMOS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS.

II) TEORIAS DA PUNIÇÃO E PENAS: RESTRITIVA DE DIREITO,PRIVATIVA DE LIBERDADE E MULTA ;

III) SOCIEDADE BRASILEIRA E PRISÕES; O FENÔMENO DO ENCARCERAMENTO MASSIVO NO BRASIL

CONTEMPORÂNEO.

IV) SISTEMA DE JUSTIÇA PENAL.

V) LEI DE EXECUÇÃO PENAL (LEP).

I – RESPONSABILIZAÇÃO CRIMINAL

Responsabilização Criminal é o dever jurídico de responder pela ação delituosa que recai

sobre o agente imputável. Entretanto, cabe esclarecer o que seria a imputabilidade.

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A imputabilidade está relacionada a capacidade civil da pessoa que praticou o ato definido

como crime. Seria a capacidade de entender o que está fazendo e de poder determinar se, de

acordo com esse entendimento, será ou não legalmente punida. Essa capacidade pode ser absoluta

ou relativa.

Absoluta: não importam as circunstâncias, o indivíduo definido como "inimputável" não poderá ser

penalmente responsabilizado por seus atos.

Ex: Menor de 18 anos.

Relativa: o indivíduo pertencente a certas categorias definidas em lei poderá ou não ser

penalmente responsabilizado por seus atos, dependendo da análise individual de cada caso na

Justiça, segundo a avaliação da capacidade do acusado, as circunstâncias atenuantes ou agravantes,

as peculiaridades do caso e as provas existentes.

Ex: Doença mental (crônica ou transitória);

Com o cometimento de um delito, uma pessoa considerada putável será submetida a uma

pena. Ao inimputável será aplicada uma medida de segurança, medida esta que visa impedir o

provável retorno ao crime sem caráter aflitivo, mas de índole assistencial, preventiva e

recuperatória.

A Constituição estabelece formas distintas de responsabilização pela prática de condutas

definidas em Lei como crime. O artigo 5º, XXXIX, da Constituição molda o sistema jurídico-penal a

partir do princípio da legalidade, fixando a pena como resposta ao ilícito - "[...] não há crime sem lei

anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal." (BRASIL, 1988, art. 5º).

Como consequência da prática de um delito, a pena tem como destinatário o sujeito capaz.

A personificação do ilícito impõe e limita a sanção: "[...] nenhuma pena passará da pessoa do

condenado [...]" (BRASIL, 1988, art. 5º).

Observa-se assim que nossa Constituição nos mostra dois princípios para a

Responsabilização Criminal, Legalidade e Pessoalidade, ou seja, para cada crime uma pena definida

em lei, pena essa que não pode passar da pessoa do condenado.

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1. Respostas Institucionais Alternativas à Prisão

Desde 2011 a dinâmica adotada pelo Código de Processo Penal é distinta, pois a liberdade é

a regra e a prisão é a exceção. Antes de 2011 era diversa pois primeiro eram analisados os

elementos relativos a decretação da prisão, caso não estivessem presentes esses requisitos, seria

concedida a liberdade. A alteração se deu com a alteração pela Lei 12.403/2011, através do artigo

319 do Código de Processo Penal.

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:

I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para

informar e justificar atividades; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por circunstâncias

relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para evitar o

risco de novas infrações; (Redação dada pela Lei nº 12.403, de 2011).

III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias

relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; (Redação dada pela Lei

nº 12.403, de 2011).

IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou

necessária para a investigação ou instrução; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou

acusado tenha residência e trabalho fixos; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou

financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações penais; (Incluído

pela Lei nº 12.403, de 2011).

VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou

grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código

Penal) e houver risco de reiteração; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do

processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem

judicial; (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

IX - monitoração eletrônica. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

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§ 4o A fiança será aplicada de acordo com as disposições do Capítulo VI deste Título,

podendo ser cumulada com outras medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 12.403, de 2011).

As medidas cautelares podem ser aplicadas isoladamente ou cumulativamente. É possível

ainda que elas sejam revogadas e posteriormente decretadas.

Há ainda as medidas cautelares previstas na Lei 11.340/2006 – Lei Maria da Penha.

Encontramos no artigo 22 da referida Lei as medidas impostas ao agressor, quais sejam:

Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos

desta Lei, o juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as

seguintes medidas protetivas de urgência, entre outras:

I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão

competente, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;

II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;

III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:

a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo

de distância entre estes e o agressor;

b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de

comunicação;

c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica

da ofendida;

IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de

atendimento multidisciplinar ou serviço similar;

V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.

§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na

legislação em vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo

a providência ser comunicada ao Ministério Público.

§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições

mencionadas no caput e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz

comunicará ao respectivo órgão, corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência

concedidas e determinará a restrição do porte de armas, ficando o superior imediato do agressor

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responsável pelo cumprimento da determinação judicial, sob pena de incorrer nos crimes de

prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.

§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar,

a qualquer momento, auxílio da força policial.

§ 4º Aplica-se às hipóteses previstas neste artigo, no que couber, o disposto no caput e nos §

§ 5º e 6º do art. 461 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil).

As medidas impostas ao ofendido como forma de resguardarem os seus direitos estão

previstas no artigo 23:

Art. 23. Poderá o juiz, quando necessário, sem prejuízo de outras medidas:

I - encaminhar a ofendida e seus dependentes a programa oficial ou comunitário de

proteção ou de atendimento;

II - determinar a recondução da ofendida e a de seus dependentes ao respectivo domicílio,

após afastamento do agressor;

III - determinar o afastamento da ofendida do lar, sem prejuízo dos direitos relativos a bens,

guarda dos filhos e alimentos;

IV - determinar a separação de corpos.

A aplicação das medidas da referida lei será feita de maneira complementar as medidas

previstas no Código de Processo Penal.

II – TEORIAS DA PUNIÇÃO E PENAS

Para que se possa conceituar a finalidade da pena, utiliza-se três grupos de teorias, cada

qual com seu grau de punição:

Teoria Absoluta – a pena é um castigo e uma conseqüência pelo crime realizado, não

possuindo qualquer outro desiderato, senão ser um fim em si mesma, e por aplicar as sanções

previstas na legislação, é considerada como uma forma de fazer justiça

Teoria Relativa – possui uma pretensão diversa da anterior, e têm por objetivo a prevenção

de novos delitos, ou seja, busca obstruir a realização de novas condutas criminosas; impedir que os

condenados voltem a delinqüir.

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Teoria Mista – também conhecida como unificadora ou eclética, aderiu às outras duas

teorias, possuindo dois interesses, o primeiro retribuir ao condenado o mal causado, e o segundo

prevenir que o condenado e a sociedade busquem o cometimento de novas condutas criminosas.

A pena tem por objetivo punir o condenado, retribuindo a este o mal causado em

decorrência de seu delito, simultaneamente a pena objetiva a prevenção de novas condutas

delituosas, fazendo com que o criminoso não realize novas condutas ilícitas, bem como, que a

própria sociedade tenha receio em desobedecer a legislação penal, logo, concluir-se-á que mesmo

havendo os três grandes grupos de penas indicadas, o ordenamento jurídico brasileiro é adepto da

teoria mista.

A – Penas Restritivas de Direito

As penas restritivas de direitos são (art.43 CP):

Prestação Pecuniária — é uma quantia fixada pelo juiz, entre 1 e 360 salários mínimos, a

ser paga em dinheiro à vítima, seus dependentes, entidades públicas ou privadas de destinação

social. Havendo aceitação do beneficiário, a prestação pecuniária pode ser de outra natureza (art.

45 §§1° e 2° CP);

Perda de Bens e Valores — é a perda em favor do Fundo Penitenciário Nacional dos bens e

valores pertencentes ao condenado em razão da prática do crime, nela sendo incluída a maior

quantia entre o prejuízo ou o provento obtido pelo agente ou por terceiro (art.45, §3° CP);

Prestação de Serviços à Comunidade ou a Entidades Públicas — consiste no

cumprimento de tarefas gratuitas de acordo com a aptidão do condenado na razão de 1 hora de

trabalho por 1 dia de condenação em entidades comunitárias ou estatais, como escolas, hospitais e

orfanatos. O tempo mínimo de condenação para substituição por prestação de serviços à

comunidade é de 6 meses, podendo a condenação superior a 1 ano ser cumprida em tempo inferior

ao previsto na sentença, desde que não menor que a metade da pena privativa de liberdade

aplicada (art.46 e §§ 1°, 2°, 3° e 4° CP);

Interdição Temporária de Direitos — consiste em proibições específicas que se

relacionam com a natureza do crime que o agente foi condenado, como (art.47 CP):

I — proibição do exercício de cargo, função ou atividade pública, bem como do mandato

eletivo;

II — proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de habilitação

especial, de licença ou autorização do poder público;

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III — suspensão de autorização ou de habilitação para dirigir veículo;

IV — proibição de frequentar determinados lugares;

Limitação de Fim de Semana — é a permanência aos sábados e domingos por 5 horas

diárias em casa de albergado ou outro estabelecimento adequado, em que poderão ser ministradas

palestras ou outras atividades educativas (art.48 e parágrafo único CP).

A conversão da pena restritiva de direito em privativa de liberdade ocorre nas hipóteses de

descumprimento injustificado da restrição imposta ou de nova condenação por outro crime, na

forma dos §§ 4º e 5º do art. 44 do CP.

B – Penas Privativas de Liberdade

As penas privativas de liberdade são as que serão cumpridas nos Regimes fechado,

semiaberto e aberto (arts. 33 a 37 do CP).

Súmula Vinculante nº 56 do STF: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a

manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nesta

hipótese, os parâmetros fixados no Recurso Extraordinário (RE) 641320”

C – Multa

A multa como pena é o pagamento feito pelo condenado ao fundo penitenciário nacional

(art. 49 do CP).

A pena de multa vem expressamente prevista no tipo penal (princípio da legalidade) de

forma alternativa ou de forma cumulativa à pena privativa de liberdade.

Ex: Art. 168 do CP. Apropriar-se de coisa alheia móvel de que tenha a posse ou a detenção: Pena —

reclusão, de 1 a 4 anos, e multa).

Art. 163 do CP. Destruir, inutilizar ou deteriorar coisa alheia: Pena — detenção, de 1 a 6 meses, ou

multa)

A pena de multa pode ser ainda substitutiva da pena privativa de liberdade (art.58,

parágrafo único c/c art. 44, §2° CP):

Para crimes dolosos cuja pena seja igual ou inferior a 1 ano;

Para crimes culposos ou dolosos cometidos sem violência ou grave ameaça, quando a pena for

maior de 1 ano e não superior a 4 anos, cumulada com pena restritiva de direitos.

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Após o trânsito em julgado a pena de multa transforma-se em dívida de valor, não podendo

ser convertida em pena privativa de liberdade (art.51 CP).

IV) ENCARCERAMENTO BRASILEIRO

No que tange ao encarceramento Brasileiro, possuímos a 3º Maior População Carcerária do

mundo.

Segundo estudo divulgado em 10 de Setembro de 2018 pela Pastoral Carcerária, o Brasil

possui mais de 725 mil pessoas presas, ficando atrás apenas da China (1,6 milhão) e dos EUA (2,1

milhão) em população carcerária. As prisões do país têm uma taxa de ocupação de 200% – ou seja,

elas têm capacidade para receber somente a metade do número de presos.

O aumento da taxa de encarceramento é tão intensa que o quadro de superlotação, na

verdade, tende a se agravar, a despeito dos muitos presídios inaugurados regularmente e que, na

realidade, só fazem fomentar ainda mais a banalização das prisões.

De acordo com especialistas, o Brasil deve diminuir o número de presos para evitar

tragédias como rebeliões e mortes de detentos e agentes de segurança em cadeias. Entre as

medidas estão a diminuição de presos provisórios que cometeram crimes sem gravidade e que

poderiam esperar pelo julgamento em liberdade.

Ainda com base nos dados fornecidos pela pesquisa realizada pela Pastoral Carcerária,

quase metade dos 725 mil detentos brasileiros não têm condenação definitiva, mais da metade

estão presos por crimes não violentos e mais de 70% estão nas penitenciárias devido a crimes

contra o patrimônio ou pequeno comércio ilegal de drogas.

Outra medida seria a aplicação de mais penas alternativas, que atualmente são previstas

para condenações de até quatro anos e não são aplicadas com muita frequência em casos

envolvendo o tráfico de drogas. Além da revisão da Lei de Drogas de 2006, que é uma das principais

responsáveis pela superlotação das prisões brasileiras pelo fato de endurecer as penas para

pequenos traficantes que nem sempre representam perigo à sociedade.

V) SISTEMA DE JUSTIÇA PENAL

O sistema de justiça penal abrange órgãos dos Poderes Executivo e Judiciário em todos os

níveis da Federação. O sistema se organiza em três frentes principais de atuação: segurança pública,

justiça criminal e execução penal. Ou seja, abrange a atuação do poder público desde a prevenção

das infrações penais até a aplicação de penas aos infratores. As três linhas de atuação relacionam-

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se estreitamente, de modo que a eficiência das atividades da Justiça comum, por exemplo, depende

da atuação da polícia, que por sua vez também é chamada a agir quando se trata do

encarceramento – para vigiar externamente as penitenciárias e se encarregar do transporte de

presos, também à guisa de exemplo.

Os órgãos de Justiça criminal no Brasil organizam-se nos níveis federal e estadual: juízes

federais, Tribunais Regionais Federais, Ministério Público Federal e Defensoria Pública da União, no

primeiro caso, e juízes estaduais, Tribunais de Justiça, Ministérios Públicos e Defensorias Públicas

Estaduais, no último.

As competências de cada um destes órgãos são ditadas pela Constituição Federal e pelas

legislações específicas, como as leis estaduais de organização judiciária.

O Poder Judiciário no âmbito federal é composto pelas justiças especializadas – Justiça do

Trabalho, eleitoral e militar e Justiça comum, constituída pelos juízes federais e pelos Tribunais

Regionais Federais.

Os juízes de direito, em primeira instância, e os Tribunais de Justiça, em segunda instância,

integram o Poder Judiciário nos estados.

Os Tribunais de Justiça Estaduais atuam por meio das varas criminais, Juizados Especiais

Criminais e tribunais do júri. O número e a distribuição das varas criminais, das varas não-

especializadas que tratam das causas relacionadas a crimes, das varas de execução penal e dos

juizados especiais e tribunais do júri são determinados pela lei de organização judiciária de cada

estado, complementada pelo regimento interno do Tribunal de Justiça Estadual.

VI) LEI DE EXECUÇÃO PENAL – LEP – LEI Nº7.210, DE JUNHO DE 1982.

Art. 1o: “A execuc ão penal tem por o jetivo efetivar as disposic ões de sentenc a ou decisão

criminal e proporcionar condic ões para a harmo nica integrac ão social do condenado e do

internado”.

Art. 2o: “A jurisdic ão penal dos u zes ou ri unais de ustic a, em todo o erritório acional,

será exercida no processo de execuc ão, na conformidade desta ei e do Código de rocesso enal

arágrafo nico Esta ei aplicar-se-á igualmente ao preso provisório e ao condenado pela ustic a

Eleitoral ou ilitar, quando recolhido a esta elecimento sujeito jurisdic ão ordinária”.

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1 –

PER DE A DA

REMIC DE E A

R GRE DE REG E

A DA E R R A

REGRE DE REG E

LIVRAMENTO CONDICIONAL

INDULTO

COMUTAC DE E A

1.1 –

Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semia erto e os presos

provisórios poderão o ter permissão para sair do esta elecimento, mediante escolta, quando

ocorrer um dos seguintes fatos:

I – falecimento ou doenc a grave do co njuge, companheira, ascendente, descendente ou irmão;

II – necessidade de tratamento m dico (parágrafo nico do artigo 14)

. A permissão de sa da será concedida pelo diretor do esta elecimento onde se

encontra o preso.

1.2 – REMIC

Art. 126. O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semia erto poderá remir,

por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execuc ão da pena

1o A contagem do tempo para o fim deste artigo será feita razão de:

1 (um) dia de pena por 3 (tre s) de trabalho;

1 (um) dia de pena a cada 12 (doze) horas de freque ncia escolar;

4o preso impossi ilitado, por acidente, de prosseguir no tra alho ou nos estudos, continuará a

beneficiar-se com a remic ão;

§ 6o O condenado que cumpre pena em regime aberto ou semiaberto, e o que usufrui liberdade

condicional poderá remir pela freque ncia, a curso de ensino regular ou de educac ão profissional,

parte do tempo da execuc ão da pena ou do per odo de prova

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Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar at 1 3 (um terc o) do tempo remido,

observado o disposto no art. 57, recomec ando a contagem a partir da data da infrac ão disciplinar

Em 2011 a Lei 12.433, surge com modificac ões ei de Execuc ão enal ao instituto da remic ão onde

se acrescentou que:

O tempo a remir em func ão das horas de estudo será acrescido de 1 3 (um terc o) no caso de

conclusão do ensino fundamental, m dio ou superior durante o cumprimento da pena, desde que

certificada pelo órgão competente do sistema de educac ão

Possibilidade de acumulac ão dos casos de remic ão – tra alho estudo -, desde que exista

compati ilidade das horas diárias (art 126, 3o, E )

1.3 –

Art. 112: A pena privativa de li erdade será executada em forma progressiva com a

transfere ncia para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o preso tiver

cumprido ao menos um sexto (1 6) da pena no regime anterior e ostentar om comportamento

carcerário (requisito o jetivo mais su jetivo), comprovado pelo diretor do esta elecimento e dois

quintos (2 5) para crimes hediondos, sendo r u primário e tre s quintos (3/5) se for reincidente.

1.4 –

Art. 122. s condenados que cumprem pena em regime semia erto poderão o ter

autorizac ão para sa da temporária do esta elecimento, sem vigila ncia direta, nos seguintes casos:

- visita fam lia;

II - frequ e ncia a curso supletivo profissionalizante, bem como de instruc ão do 2o grau ou superior,

na Comarca do u zo da Execuc ão;

III - participac ão em atividades que concorram para o retorno ao conv vio social

Obs.1: Com a alterac ão da E , ocorrida em 2010, todos os internos, no momento da sa da

temporária, deverão ser su metidos ao monitoramento eletro nico para fins de controle

extramuros s 2: intervalo entre uma sa da temporária e outra deve ser, no m nimo, de 45

dias.

s 3: A somatória das sa das temporárias durante 01(um) ano, não poderão ultrapassar 35 dias

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1.5 –

Art. 118: A execuc ão da pena privativa de li erdade ficará sujeita forma regressiva, com a

transfere ncia para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando o condenado:

I – Praticar fato definido como crime doloso ou falta grave;

II – Sofrer condenac ão, por crime anterior, cuja pena, somada ao restante da pena em execuc ão,

torne inca vel o regime

1.6 – LIVRAMENTO CONDICIONAL

um enef cio previsto no art 83 do Código enal, ao preso condenado que: - Cumpre 1/3

da pena para crime comum;

- Cumpre 2/3 da pena para crime hediondo;

- Cumpre metade da pena para o reincidente.

Reincidente: aquele que comete outro crime após ter sido condenado por crime anterior

1.7 – INDULTO

Ato privativo do residente da Rep lica, atrav s de decreto, pu licado sempre ao final de

cada ano, onde se tem “perdoada” a pena imposta pelo Estado, respeitando alguns requisitos

1.8 – COMUTAC

erdão de parte da pena, na frac ão de 1 4, se não reincidente e 1 5 se reincidente,

respeitando alguns requisitos.

2 – DIREITOS E DEVERES DA PESSOA PRESA:

2.1 – DIREITOS (Art. 41 – LEP):

I - alimentac ão suficiente e vestuário;

II - atribuic ão de tra alho e sua remunerac ão;

III - Previde ncia Social;

IV - constituic ão de pec lio;

V - proporcionalidade na distribuic ão do tempo para o trabalho, o descanso e a recreac ão;

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- exerc cio das atividades profissionais, intelectuais, art sticas e desportivas anteriores, desde que

compat veis com a execuc ão da pena;

VII - assiste ncia material, sa de, jur dica, educacional, social e religiosa;

VIII - protec ão contra qualquer forma de sensacionalismo;

IX - entrevista pessoal e reservada com o advogado;

X - visita do co njuge, da companheira, de parentes e amigos em dias determinados; XI -

chamamento nominal;

XI - igualdade de tratamento salvo quanto s exige ncias da individualizac ão da pena;

XIII - audie ncia especial com o diretor do estabelecimento;

XIV - representac ão e petic ão a qualquer autoridade, em defesa de direito;

XV - contato com o mundo exterior por meio de corresponde ncia escrita, da leitura e de outros

meios de informac ão que não comprometam a moral e os ons costumes

– atestado de pena a cumprir, emitido anualmente, so pena da responsa ilidade da autoridade

judiciária competente.

2.2 – DEVERES (Art. 39 – LEP):

Comportamento disciplinado e cumprimento fiel da sentenc a;

Obedie ncia ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva relacionar-se;

Urbanidade e respeito no trato com os demais condenados;

Conduta oposta aos movimentos individuais ou coletivos de fuga ou de su versão ordem ou

disciplina;

Execuc ão do tra alho, das tarefas e das ordens rece idas;

u missão sanc ão disciplinar imposta;

Indenizac ão v tima ou aos seus sucessores;

Indenizac ão ao Estado, quando poss vel, das despesas realizadas com a sua manutenc ão;

Higiene pessoal e asseio da cela ou alojamento;

Conservac ão dos objetos de uso pessoal.

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3 – DISCIPLINA (Art. 44 e seguintes):

A disciplina consiste na colaborac ão com a ordem, na o edie ncia s determinac ões das

autoridades e seus agentes e no desempenho do trabalho.

Estarão sujeitos disciplina os presos condenados e o preso provisório.

poder disciplinar será exercido pela autoridade administrativa a que estiver sujeito o condenado.

4 – FALTAS DISCIPLINARES

: Previstas no Regimento Interno da SUSIPE (arts: 29 e 30)

Graves: art. 50 da LEP.

As faltas graves, mesmo que de forma tentada, ou seja, não tenha sido concretizada de

forma plena, deverão ser apuradas e punidas.

o rigatório a instaurac ão do -PDP para apurar as

faltas graves praticadas pelos presos Após a instaurac ão do D , a autoridade administrativa

DE comunicar o Juiz da Execuc ão enal, comunicando o fato e o isolamento preventivo de 10

dias, se ocorreu a necessidade deste ltimo

4.1 – Faltas graves (art. 50 da LEP)

I. Incitar ou participar de movimento para subverter a ordem ou a disciplina;

II. Fugir/evadir-se;

III. ossuir, indevidamente, instrumento capaz de ofender a integridade f sica de outrem;

IV. Provocar acidente de trabalho;

V. Descumprir, no regime aberto, as condic ões impostas;

VI. Deixar de prestar obedie ncia ao servidor e respeito a qualquer pessoa com quem deva

relacionar-se;

VII. Deixar de executar o trabalho, as tarefas e as ordens recebidas;

VIII. Tiver em sua posse, utilizar, fornecer ou ocultar aparelho telefo nico, de rádio ou similar, que

permita a comunicac ão com outros presos ou com o ambiente externo;

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5 – SANC

As sanc ões que poderão colocar em perigo a integridade f sica e moral do preso são

proibidas pela LEP. Sendo vedado o emprego de cela escura e sanc ões coletivas (art 45 1o)

De acordo com o art. 53 da LEP, as sanc ões disciplinares são:

Adverte ncia verbal;

Repreensão;

uspensão ou restric ão de direitos;

solamento na própria cela ou em local adequado (Conselho Disciplinar)

nclusão no Regime Disciplinar Diferenciado – RDD;

Perda de at 1 3 (um terc o) do tempo remido;

6 – RECOMPENSAS

Elogio;

Concessão de regalias;

REFERÊNCIAS

FRAGOSO, Heleno Cláudio, Lições de Direito Penal - A Nova Parte Geral, 7ª ed., Rio de Janeiro,

Forense, 1985, p. 203 apud Rodolfo Pamplona Filho "Responsabilidade civil do empregador por ato

do empregado". Jus Navegandi, novembro de 2000.

CARNELUTTI, Francesco, Lições Sobre o Processo Penal, volume 1, 1º edição, Campinas: Bookseller,

2004.

MIRABETE, Julio Fabbrini, Manual de Direto Penal, Parte Geral, 22º edição, São Paulo, editora Atlas,

2005.

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DISCIPLINA: DIREITOS HUMANOS NO CÁRCERE

Carga Horária: 12h

Nível Superior

Eixo: Introdutório

Professor Conteudista: Professor Conteudista: Mário Célio da Silva Morais - Mestrando em Direitos

Fundamentais/UNAMA. Curso Superior Bacharel em Direito/Estácio. Especialização em Processo

civil/LFG. Especialização em Ciências Criminais/Estácio. Formação Técnica em Segurança do

Trabalho/Senac. Imobilizações Táticas. CATI/SWAT. Curso de operações na selva Fuzileiros Navais.

Patrulhamento Tático/Policia Militar

OBJETIVO DA DISCIPLINA: Aprofundar conhecimentos básicos acerca dos Direitos Humanos

Aplicado ao Ambiente Prisional. Entender a finalidade e objetivos dos Direitos Humanos Aplicado ao

Ambiente Prisional. Ampliar conhecimento sobre Direito Humanos e Cidadania em função do

Estado Constitucional de Direito, a evolução dos preceitos, a proteção dos direitos, os sistemas de

garantias e as normas e tratados vigentes. Verificar a importância dos Direitos Humanos Aplicado

ao Ambiente Prisional na unidade e do sistema Penal.

Conteúdo programático

I) O ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITOS E A SEGURANÇA DOS DIREITOS HUMANOS;

II) A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS DIREITOS HUMANOS;

III) PROTEÇÃO DOS DIREITOS;

IV) NORMAS E TRATADOS VIGENTES: TRATADOS E A PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS

HUMANOS;

V) A DICOTOMIA ENTRE DIREITO E A GARANTIA DE DIREITO;

VI) COMPREENSÃO DAS FORMAS DE TORTURA E VIOLAÇÃO DE DIREITOS NO CUMPRIMENTO DA

PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE;

VII) DADOS SOBRE VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO;

VIII) GRUPOS VULNERÁVEIS NO CONTEXTO PRISIONAL;

IX) HUMANIZAÇÃO, ENCARCERAMENTO.

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1. O ESTADO CONSTITUCIONAL DE DIREITOS E A

SEGURANÇA DOS DIREITOS HUMANOS 1.1. Conceito de Direitos humanos:

Conjunto de faculdades e instituições que, em cada momento histórico, concretizam as

exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas, as quais devem ser reconhecidas

positivamente pelos ordenamentos jurídicos em nível nacional e internacional.

Dignidade: base dos Direitos Humanos é a dignidade da pessoa.

1.2. ESTRUTURA NORMATIVA DOS DIREITOS HUMANOS

Possuem normatividade aberta, com maior incidência de princípios que de regras

NORMAS:

No âmbito internacional:

a) aos tratados internacionais;

b) aos costumes; e

c) aos princípios gerais do Direito Internacional.

No âmbito interno destaca-se:

a) Constituição Federal;

b) Leis específicas; e

c) Atos normativos secundários (como decretos executivos).

Os Direitos Humanos não foram criados ou declarados apenas para determinadas pessoas e

sim para todos, por isso são tidos como universais.

Função: Garantem que os seres humanos não fiquem sob o total domínio dos governantes.

1.3. Características e historicidade

Os Direitos Humanos decorrem de formação histórica, surgindo e se solidificando conforme

a evolução da sociedade são resultados de um longo processo histórico, de uma lenta evolução.

Eles não nasceram em uma data específica e nem foram engendrados em um único país sua

relevância gira em torno de interesses de ordem mundial

Nessa evolução histórica, vieram às várias declarações de direitos do homem, como as já

mencionadas Magna Charta Libertatum (1215), a Declaração americana (1776), a francesa (1789), e a

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Declaração da ONU (1948), que, certamente, influenciaram o surgimento das proteções jurídicas

dos direitos fundamentais em outros países.

E essa evolução ainda se encontra em andamento, posto que à medida que a humanidade

avança outros direitos necessitam ser garantidos e outras tantas violações desses direitos precisam

ser coibidas.

Universalidade

Os direitos humanos destinam-se a todas as pessoas e abrangem todos os territórios.

Não se deve desconsiderar as diferenças, mas com respeito às particularidades, objetivas e

encontrar um modo de proteger a condição humana, independentemente do sexo, da cor, da

religião ou condições econômicas e sociais.

Um dos seus objetivos mesmo é de garantir que todos os homens tenham acesso aos

direitos fundamentais, num tratamento isonômico que lhe preconiza, que deve ser universal.

Relatividade

Os direitos humanos podem sofrer limitações para adequá-los a outros valores coexistentes

na ordem jurídica.

Esta característica decorre da ideia de que os direitos fundamentais não podem ser tidos

como absolutos, de aplicação ilimitada. Ao se exercitar tais direitos, muitas vezes um deles

conflitará com outro.

O exercício do direito de informação pode encontrar óbice no direito à imagem. E assim por diante.

Alexandre de Moraes, afirma que:

“quando houver conflito entre dois ou mais direitos ou garantias fundamentais, o int rprete deve

utilizar-se do princípio da concordância prática ou da harmonização, de forma a coordenar e

combinar os bens jurídicos em conflito, evitando o sacrifício total de uns em relação aos outros,

realizando uma redução proporcional ao âmbito de alcance de cada qual (contradição dos

princípios), sempre em busca do verdadeiro significado da norma e da harmonia do texto

constitucional com a sua finalidade prec pua”

IRRENUNCIABILIDADE

Não poderão os titulares do direito humano dispor desse direito, ainda que pretenda fazê-

lo.

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Uma marca dos direitos fundamentais é que os seus destinatários não podem a eles

renunciar. Têm a faculdade de escolher o momento de exercê-los, em certas hipóteses, mas nunca

de dispor dos mesmos de forma definitiva.

A dignidade humana deve ser observada e respeitada pela simples condição humana. Desta

feita renúncia a direito humano é fator nulo.

INALIENABILIDADE

Os Direitos Humanos não poderão ser comercializados pela pessoa tutelada por esse direito

assim tal característica relaciona-se com a irrenunciabilidade.

IMPRESCRITIBILIDADE

As normas de Direitos Humanos não se esgotam com o passar do tempo. Os Direitos

Humanos não se sujeitam a prazos prescricionais.

Apretensãoindenizatóriadecorrentedeviolaçãodadeterminadodireitohumanoestásujeitaàpre

scrição.

INTERDEPENDÊNCIA

Constitui a relação mútua entre os direitos humanos protegidos pelos diversos diplomas

internacionais assim sendo tem condão com Proteção Internacional dos Direitos Humanos por

conseguinte tem relação com a parte do Direito Internacional Público, que se responsabiliza pela

temática dos direitos humanos, por meio de um conjunto de normas e de medidas internacionais

voltadas à proteção da dignidade da pessoa em sentido amplo.

CONSTITUCIONALISMO – país governado por leis e não pelos homens.

O Constitucionalismo vem caracterizado por um sistema de freios e contrapesos (idealizado

por Montesquieu), que defende o regime constitucional, ou seja, que o Governo e não apenas o

cidadão seja regulado por uma Constituição. A Constituição, por sua vez, é a legislação superior de

um país e traz não só as informações administrativas e políticas como também incluem normas e

preceitos relativos à defesa dos Direitos Humanos nas Constituições.

• jetivo do constitucionalismo , sem d vida, a proteção dos direitos fundamentais do ser

humano.

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“ exerc cio dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão os que asseguram aos

outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos. Esses limites não podem ser

determinados senão por lei ”

O pacto social precisa de um documento escrito, claro, preciso, com caráter educativo e que

contenha os direitos naturais e as limitações destes. A Constituição estabelece o Poder Político, mas

ela própria garante o cumprimento do Pacto Social onde os direitos fundamentais são a própria

limitação do poder.

Gerações de Direitos Humanos:

Primeira Geração:

Os direitos humanos de primeira geração marcam a passagem de um Estado autoritário

para um Estado de Direito e, nesse contexto, o respeito às liberdades individuais. O seu

reconhecimento surge com maior evidência nas primeiras constituições escritas, frutos do

pensamento liberal burguês do século XVIII.

Liberdades Públicas (Coletivos):Liberdade, igualdade e fraternidade, Presunção de Inocência

(Princípio da Inocência) Sufrágio Universal (Direito ao voto)

Proteção internacional à dignidade da pessoa humana:

Características:

a) legitimidade ativado signatário do tratado para denunciar lesões a direito humanos;

b) possibilidade de peticionamento pelo indivíduo que teve seu direito violado junto aos órgãos

internacionais.

Organismos Internacionais: a) ONU; b) OEA.

Documentos: a) Cartadas Nações Unidas; b) Convenção Americana de Direitos Humanos.

Segunda Geração:

Direitos de segunda geração põem a ênfase nos direitos econômicos sociais e culturais, nos

quais existe como dívida da sociedade para com os indivíduos, e que só podem ser desfrutados com

o auxílio do estado, são o direito ao trabalho em condições justas e favoráveis, o direito à educação

e um nível adequado de vida.

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São, portanto, os direitos de igualdade (substancial), a saber, os direitos sociais, econômicos

e culturais bem como os direitos coletivos ou de coletividade, evidenciando em alguns documentos,

como Constituição de Weimar, de 1919, na Alemanha, o Tratado de Versalhes de 1919 (OIT) e, no

Brasil, a Constituição de 1934

Direitos Econômicos e Sociais (Individuais – Direito Privado): Salário Mínimo,13 salário,

Educação; Saúde e lazer.

Garantia de paz e segurança dos grupos vulneráveis em razão de conflitos militares e

bélicos.

Terceira Geração (Direitos de Solidariedade - Coletivos):

Os direitos fundamentais de terceira geração são os direitos de fraternidade, dentre os

quais, o direito ao desenvolvimento, a paz, ao meio ambiente, a comunicação e ao patrimônio

comum da humanidade.

A sua origem está relacionada com as mudanças da sociedade internacional, em especial

com o crescente avanço tecnológico e científico, identificando profundas alterações nas relações

econômico-sociais.

- Direito ao meio ambiente sadio e equilibrado (Preservação do Meio Ambiente), Direito à qualidade

de vida.

Quarta Geração ou Dimensão

Os direitos de quarta geração ou dimensão, por sua vez, são os resultantes da globalização

como, por exemplo, o direito à informação e a democracia. Segundo Paulo Bonavides, a

globalização política na esfera da normatividade jurídica introduz os direitos de quarta dimensão,

que, aliás, corresponde à última fase da institucionalização do Estado social e, ainda, acrescenta que

esses direitos decorrem da globalização dos direitos fundamentais, o que significa universalizá-los

no campo institucional, caracterizando uma nova fase no reconhecimento dos direitos humanos

fundamentais

Page 27: Helder Zaluth Barbalho Jarbas Vasconcelos do Carmo...anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal." (BRASIL, 1988, art. 5º). Como consequência da prática de um

2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E OS DIREITOS HUMANOS

Os Direitos Humanos partindo da ideia de que do momento em que os homens passaram a

viver em sociedade, este vínculo de direito estabeleceu-se entre eles e que o seu grande marco, na

história da humanidade, ocorreu no século XVIII com a Declaração de Virgínia (1776) e a Declaração

dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). No tempo contemporâneo, um diploma internacional,

a Declaração Universal dos Direitos do Homem (ONU, 1948), passou a guarnecer a humanidade.

Desta feita os direitos humanos estão consolidados na Constituição da República Federativa

do Brasil no título que trata dos princípios fundamentais, no título sobre os direitos e garantias

fundamentais e por último no art. 225, sobre o meio ambiente, sem eliminar outros artigos. que

possam ter matéria dos direitos fundamentais. Encontram-se nesses dispositivos toda a evolução

internacional dos direitos humanos.

Por conseguinte, em seu artigo 5º, traz um extenso rol de direitos, preponderando as

chamadas liberdades individuais, direitos do cidadão contra o Estado. Ao lado destes, prescreve

também direitos coletivos e deveres individuais coletivos. O art. 6º define os direitos sociais a serem

concretizados por todos os órgãos estatais. O art. 7º eleva os direitos dos trabalhadores a nível

constitucional, o que traz relevantes consequências dogmáticas, como a incidência do dever estatal

de tutela, sendo que a omissão ou não cumprimento deste dever pelo Estado dá azo a ações

constitucionais.

A influência da Declaração Universal dos Direitos do Homem na Constituição Brasileira de

1988 pontos relevantes.

Primordialmente Iniciado o processo de redemocratização, depois de 21 anos de regime

ditatorial, foi convocada pela Emenda Constitucional n. 26, em 27 de novembro de 1985, a

Assembleia Nacional Constituinte, a qual desembocou na promulgação da Constituição brasileira de

1988, propiciando um significativo avanço no que se refere aos direitos e garantias

fundamentais, pois pela primeira vez, na história do constitucionalismo pátrio, a matéria foi

tratada com a devida relevância.

Por assim dizer a sedes matéria e o tulo , que trata “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais”, regulamentando os direitos individuais, coletivos, sociais e pol ticos, assim como as

Page 28: Helder Zaluth Barbalho Jarbas Vasconcelos do Carmo...anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal." (BRASIL, 1988, art. 5º). Como consequência da prática de um

respectivas garantias. Não obstante, a Constituição de 1988 refere-se aos direitos fundamentais em

diversas partes de seu texto, não se caracterizando pela sistematicidade

Outrossim a seguir indicamos as devidas influencias seus correspondentes na Constituição

Brasileira de 1988:

DIGNIDADE HUMANA

Artigo 1°DUDH. Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São

dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de

fraternidade.

Art. 5º CF, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta

Constituição. (destaques nossos).

NÃO DISCRIMINAÇÃO

Artigo 2º DUDH Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades

proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de

sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de

nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada

no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa,

seja esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de

soberania. (destacamos)

Art. 5ºCF, XLI - a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades

fundamentais; (destaques nossos).

Art. 5º, XLII CF - a prática do racismo constitui crime inafiançável imprescritível, sujeito à

pena de reclusão, nos termos da lei; (destaques nossos).

VIDA, LIBERDADE, SEGURANÇA

Artigo 3° DUDH Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Art. 5º CF - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se

aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade(...)(destaques nossos).

Page 29: Helder Zaluth Barbalho Jarbas Vasconcelos do Carmo...anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal." (BRASIL, 1988, art. 5º). Como consequência da prática de um

Artigo 4° DUDH Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o

trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos.

Artigo 5° DUDH Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis,

desumanos ou degradantes.

Art. 5º, III CF - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante; (destaques nossos).

Art. 5º, XLIII CF- a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a

prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os crimes

definidos como hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo

evitá-los, se omitirem; (destaques nossos).

Art. 5º, XLIX CF - é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; (destaques

nossos).

Art. 5º, L – CF às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer

com seus filhos durante o período de amamentação; (destaques nossos).

PESSOA HUMANA

Artigo 6° DUDH Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua

personalidade jurídica.

Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios

e Distrito Federal, constituiu-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)

III - a dignidade da pessoa humana; (destaques nossos).

IGUALDADE

Artigo 7°DUDH Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção

da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente

Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Art. 5º, I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta

Constituição. (destaques nossos).

ACESSO À JUSTIÇA

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Artigo 8°DUDHToda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais

competentes contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou

pela lei.

Art. 5º, XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

(destaques nossos).

INOCÊNCIA

Artigo 11°DUDH1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que

a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas as

garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas.

Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento da sua prática, não

constituíam ato delituoso face ao direito interno ou internacional. Do mesmo modo, não será

infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o ato delituoso foi

cometido.

Art. 5º, XXXIX CF- não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia

cominação legal; (destaques nossos).

Art. 5º, XL- CF - a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu; (destaques nossos).

Art. 5º, XLVI - CFa lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, a seguinte:

a) privação ou restrição da liberdade; b) perda de bens; c) multa; d) prestação social alternativa; e)

suspensão ou interdição de direitos; (destaques nossos).

Art. 5º, XLVII CF- não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos

termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis;

(destaques nossos).

Art. 5º, LVII CF- ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença

penal condenatória. (destaques nossos).

Artigo 12° DUDH Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua

família, no seu domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra

tais intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito à proteção da lei.

Art. 5º, X CF - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,

assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

(destaques nossos).

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LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA

Artigo 18° DUDH Toda a pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de

religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de convicção, assim como a

liberdade de manifestar a religião ou convicção, sozinho ou em comum, tanto em público como em

privado, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelos ritos.

Art. 5º, VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre

exercício de cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção nos locais de culto e as suas

liturgias; (destaques nossos).

Art. 5º, VII - é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas

entidades civis e militares de internação coletiva; (destaques nossos).

LIVRE EXPRESSÃO

Artigo 19°DUDH Todo o indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que

implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem

consideração de fronteiras, informações e idéias por qualquer meio de expressão.

Art. 5º, IX – CF é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,

independentemente de censura ou licença; (destaques nossos).

INSTRUÇÃO

Artigo 26° DUDH 1. Toda a pessoa tem direito à educação. A educação deve ser gratuita,

pelo menos a correspondente ao ensino elementar fundamental. O ensino elementar é obrigatório.

O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos superiores deve estar

aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito. (destaques nossos)

A educação deve visar à plena expansão da personalidade humana e ao reforço dos direitos

do Homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a

amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou religiosos, bem como o

desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz (destaques nossos).

Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o gênero de educação a dar aos filhos.

Art. 205 – CF A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e a sua qualificação para o trabalho. (destaques nossos).

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3. PROTEÇÃO DOS DIREITOS

As cláusulas pétreas

Uma das normas mais importantes da Constituição de 1988, dentro da temática dos direitos

fundamentais, é a que implantou o sistema das cláusulas pétreas, fixadas no art. 60, § 4º, da Lei

Maior.

Impõe-se uma restrição material ao Poder Constituinte Reformador, como uma manifestação, nas

palavras de ngo Wolfgang arlet, da chamada “eficácia protetiva” dos direitos fundamentais, pois

não se permitem alterações na Constituição que desvirtuem o conteúdo desses direitos. Nas

palavras do referido autor:

“A existência de limites materiais justifica-se, portanto, em face da necessidade de preservar as

decisões fundamentais do Constituinte, evitando que uma reforma ampla e ilimitada possa

desembocar na destruição da ordem constitucional, de tal sorte que por detrás da previsão destes

limites materiais se encontra a tensão dialética e dinâmica que caracteriza a relação entre a

necessidade de preservação da Constituição e os reclamos no sentido de sua alteração”

Decerto observam-se, no corpo da Constituição, normas que enunciam direitos e normas

que prescrevem os instrumentos para assegurá-los

Nesta matéria, a doutrina consagra a lição de Rui Barbosa, segundo o qual é possível

distinguir as disposições constitucionais meramente declaratórias, que positivam os direitos e a

estes reconhecem existência legal, das de natureza assecuratórias, que protegem os direitos e

limitam o poder.

Indubitavelmente, no atinente às garantias fundamentais, Uadi Lammêgo Bulos apresenta a

seguinte classificação:

“1ª) garantias fundamentais gerais: vêm convertidas naquelas normas constitucionais que

proíbem os abusos de poder e todas as espécies de violação aos direitos que elas asseguram e

procuram tornar efetivos. Consignam técnicas de limitação das arbitrariedades do Poder Público,

contra toda e qualquer forma de discriminação pessoa humana ” Es oçam-se através de

princípios insculpidos pelo constituinte (art. 5º, II, III,IV, VI,VII,X,XII XIII, XIV, etc.)

2ª) garantias fundamentais específicas – são as garantias propriamente ditas, porquanto são

estas que instrumentalizam, verdadeiramente, os direitos, fazendo valer o conteúdo e a

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materialidade das garantias fundamentais gerais. Através das garantias fundamentais específicas os

titulares dos direitos encontram a forma, o procedimento, a técnica, o meio de exigir a proteção,

incondicional, de suas prerrogativas.

Veja-se o exemplo do habeas corpus, do mandado de segurança, do mandado de segurança

coletivo, do mandado de injunção, do habeas data, da ação popular, da ação civil pública.

or certo de outra forma, elucida as chamadas garantias institucionais, definidas como “a

proteção que a Constituição confere a algumas instituições, cuja importância reconhece

fundamental para a sociedade, bem como a certos direitos fundamentais providos de um

componente institucional que os caracteriza” Como exemplos de garantias institucionais, vide as

normas que protegem a propriedade (art. 5º, XXII), a herança (art. 5º, XXX) e o Tribunal do Júri (art.

5º, XXXXVIII).

4. NORMAS E TRATADOS VIGENTES: TRATADOS E A

PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS O direito internacional dos direitos humanos

Pode-se definir o Direito Internacional dos Direitos Humanos como sendo aquele que visa

proteger todos os indivíduos, qualquer que seja a sua nacionalidade, sendo os mesmos positivados

em tratados ou costumes internacionais, ou seja, são aqueles direitos que já ascenderam ao

patamar do direito internacional público.

Além disso a internacionalização da proteção dos direitos humanos é um fenômeno recente,

que se iniciou após a Segunda Guerra Mundial. Os abusos perpetrados contra os indivíduos naquela

Guerra impulsionaram a criação de normas e princípios concernentes em assegurar o respeito à

dignidade humana, bem como a responsabilização dos Estados no plano internacional.

ONU

A Organização das Nações Unidas, criada à época para diligenciar pela paz e segurança

mundial é que deu início ao movimento, sendo que no âmbito da ONU, desenvolveu-se desde a sua

criação, instrumentos de proteção aos direitos humanos que dão forma a uma sistemática

normativa internacional e universal de proteção desses direitos.

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Os principais instrumentos são a Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos

Direitos do Homem e os Pactos e Tratados temáticos internacionais, que são frutos de uma

codificação das regras de proteção.

A declaração universal dos direitos do homem

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, datada de 10 de dezembro de 1948, é composta

por 30 artigos além do preâmbulo, constitui o primeiro instrumento de âmbito geral de direitos

humanos adotado por uma organização internacional.

Em uma análise perfunctória, vemos primeiramente que a respectiva Declaração determina direitos

que pertencem a todas as pessoas, independentemente de limitações, tais como: nacionalidade,

raça, sexo, cor ou religião. Desta feita, incorpora-se a ideia de universalidade de direitos e

liberdades pertencentes aos seres humanos e decorrentes de sua própria existência.

Contribuição da Declaração de Viena

O caráter universal e a indivisibilidade dos direitos humanos foram confirmados de forma

expressa na Declaração de Viena (1993), quando da Conferência Mundial de direitos de Viena.

Onde destacamos o artigo 5º Todos os direitos humanos são universais, indivisíveis

interdependentes e inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos humanos

de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase. Embora

particularidades nacionais e regionais devam ser levadas em consideração, assim como diversos

contextos históricos, culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos os

direitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemas políticos,

econômicos e culturais. (destacou-se).

Da corte internacional de justiça

O Tribunal Internacional de Justiça ou Corte Internacional de Justiça é o principal órgão

judiciário da Organização das Nações Unidas (ONU). Tem sede em Haia, nos Países Baixos. Por isso,

também costuma ser denominada como Corte de Haia ou Tribunal de Haia. Sua sede é o Palácio da

Paz.

A Corte Internacional de Justiça, é o principal órgão judiciário das Nações Unidas, e funciona

conforme as normas previstas em seu Estatuto, que é parte integrante da Carta da ONU.

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A competência da referida Corte se estande às questões a ela submetidas pelos Estados e a

todos os assuntos previstos na Carta das Nações Unidas, e ainda, nos tratados e convenções

vigentes à época.

Ao proferir suas sentenças, a Corte recorre às fontes de direito previstas no Artigo 38 do

Estatuto, vejamos:

Artigo 38

A Corte, cuja função é decidir de acordo com o direito internacional as controvérsias que lhe

forem submetidas, aplicará:

a. as convenções internacionais, quer gerais, quer especiais, que estabeleçam regras

expressamente reconhecidas pelos Estados litigantes;

b. o costume internacional, como prova de uma prática geral aceita como sendo o direito;

c. os princípios gerais de direito, reconhecidos pelas nações civilizadas;

d. sob ressalva da disposição do Artigo 59, as decisões judiciárias e a doutrina dos juristas mais

qualificados das diferentes nações, como meio auxiliar para a determinação das regras de direito.

A presente disposição não prejudicará a faculdade da Corte de decidir uma questão ex

aequo et bono, se as partes com isto concordarem.

Por fim a Corte Internacional de Justiça é composta por 15 magistrados independentes,

sendo eleitos pela Assembleia Geral e pelo conselho de Segurança pelo período de nove anos, com

a possibilidade de reeleição, desempenhando um papel de extrema importância na solução de

controvérsias internacionais no tocante a matéria de direitos humanos.

Dessa maneira, a proteção internacional de direitos humanos é assunto de extrema

importância no cenário atual. Os Estados nacionais têm promovidos diversos acordos por meio de

convenções e tratados internacionais de direitos humanos, no sentido assegurarem o respeito e a

dignidade humana de quaisquer violações de direitos.

Pois com o surgimento dos direitos humanos internacionais está relacionado com a criação

das Nações Unidas em 1945, após a Segunda Guerra Mundial, que em decorrência das violações de

direitos cometidos principalmente contra os judeus durante o holocausto, o que fez com que as

sociedades internacionais passassem a elaborar normas e documentos capaz de proteger os

indivíduos.

Assim no Brasil, com o advento da Constituição de 1988, os tratados internacionais de

direitos humanos, devidamente ratificados passaram a integrar o ordenamento jurídico brasileiro

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com status de norma constitucional, em razão do seu art. 5º, § 2º, no qual os direitos e garantias

expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela

adotados.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à

igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do

regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República

Federativa do Brasil seja parte.

(...)

5. A DICOTOMIA ENTRE DIREITO E A GARANTIA DE DIREITO

Com o advento do homem Moderno a conduta de todas as pessoas no convívio familiar, nas

relações sociais, no ambiente de trabalho e nos vínculos religiosos pressupõem-se direitos, deveres

e obrigações. Baseada no direito e via mediação Estatal, a solução de conflitos de interesses torna

possível a convivência humana em sociedade.

O direito, conjunto de pressupostos e normas que disciplinam relações humanas em busca

do ideal de justiça, define a política, a economia e a sociedade de inúmeras maneiras: o direito

contratual determina tudo desde o preço da passagem de ônibus até as regras do mercado de

ações e da bolsa de valores; o direito administrativo gerencia as atividades administrativas do

Estado; o direito constitucional oferece parâmetros para a criação de leis, para proteção dos

Direitos Humanos e para as eleições; o Direito Internacional regula as relações entre Estados

desde comércio e políticas ambientais até crimes internacionais e ações militares. O direito,

portanto, Alicerça a organização humana e é o mais instantâneo mediador social das relações entre

indivíduos tendo afrente o estado como disciplinador de tais direitos .

A ciência jurídica, no entanto, não objetiva apenas discernir, dentre as normas que regem a

conduta humana, aquelas que são especificamente jurídicas, mas focaliza, também, questões

importantes acerca do ideal da justiça, personificação da força moral intrínseca ao direito que busca

a imparcialidade a partir do equilíbrio de interesses conflitantes.

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A função do Direito é buscar a essência do direito enquanto fenômeno jurídico

relacionando-o com a sociedade. Definir, deontologicamente, aquilo que deveria ser o direito é o

grande dilema do estudo normativo-analítico do direito.

Função primordial do Direito

Com o paradigma do Estado Democrático de Direito, surgem diversas questões quanto a

função primordial do direito e quanto à legitimidade do fenômeno jurídico. O que pouco se vê, no

entanto, é que o direito não pode ser um fenômeno totalmente autônomo. A sociedade é dividida

em diversos grupos que se relacionam, e o direito faz parte do fenômeno social, embora não seja

totalmente dependente da organização social.

Quanto as garantias de Direitos

O movimento humanista, que atravessou o século do Iluminismo, não só fazia do homem o

condutor da vida política, dando tamanho ímpeto ao indivíduo e à razão de que é portador que

este, tornado o único agente da potência e da autoridade políticas, era saudado, em sua autonomia,

como criador das normas da ordem jurídica e destinatário de sua proteção.

SIMONE GOYARD-FABRE, salientados aspectos do constitucionalismo moderno aduz que, no

século XVI, a palavra Constituição era utilizada conjuntamente com a metáfora "corpo político" para

designar a organização do Poder.

Daí em diante, sua evolução culmina com a ideia de "lei fundamental", que se consubstancia

num corpo de normas superior a todas as outras, determinando sua regularidade ou irregularidade

e, em consequência, sua validade ou invalidade jurídica.

Pois a Constituição, ao definir as bases sobre as quais se estabelece o estatuto orgânico do Estado,

é, portanto, a regra ‘fundamental’ que a potência estatal impõe so re si mesma o governo só exerce

um poder real na medida em que este é constitucional e reconhecido por todos.

Desta forma só se estabelece a supremacia do Direito e do poder do Estado, se sua

estrutura se fundar na democracia; o Estado deve espelhar-se em sua constituição democrática

intermediando a dicotomia entre direito e garantias de direito. Está a constituição democrática

como superior – lei das leis –, se concretiza por um documento escrito que prevê a organização e,

de outro lado, sua própria limitação.

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Nesse passo, NORBERTO BOBBIO, ressalta que "o reconhecimento e a proteção dos direitos

do homem estão na base das Constituições democráticas modernas. A paz, por sua vez, é o

pressuposto necessário para o reconhecimento e a efetiva proteção dos direitos do homem em

cada Estado e no sistema internacional.

Ao mesmo tempo, o processo de democratização do sistema internacional, que é o caminho

o rigatório para a usca do ideal da ‘paz perp tua’, no sentido kantiano da expressão, não pode

avançar sem uma gradativa ampliação do reconhecimento e da proteção dos direitos do homem,

acima de cada Estado."

6. COMPREENSÃO DAS FORMAS DE TORTURA E VIOLAÇÃO DE

DIREITOS NO CUMPRIMENTO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. Considerações gerais sobre o crime de tortura

O art. 5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 – CRFB/88 estabelece no

inciso III que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. Além

disso, no inciso XLIII refere que:

Art. 5º, CF XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a

prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como

crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los,

se omitirem;

Inquestionavelmente a CRFB/88 considera que a tortura é crime inafiançável e insuscetível de graça

e anistia.

Somando-se, o Brasil é signatário de tratados internacionais anteriores que obrigam que os países

criminalizem a tortura em seus respectivos ordenamentos jurídicos internos, dentre eles a

Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, de

1984; e a Convenção interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985. A CRFB/88 veio

também nesse intento.

Segundo o art. 1º da referida Convenção Internacional contra a Tortura e Outras Penas ou

Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes, define-se tortura da seguinte forma:

ARTIGO 1º

1. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou

sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de

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obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou

uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta

pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer

natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra

pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou

aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam consequência

unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.

(destaque)

No Brasil a Lei n.º 9.455/97 – Lei de Tortura – adveio com o propósito de definir os crimes de

tortura, uma vez não foram previstos no Código Penal e ainda não constavam de legislações

extravagantes.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a

seguinte Lei:

Art. 1º Constitui crime de tortura:

I - Constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico

ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa;

II - Submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave

ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de

caráter preventivo.

Pena - reclusão, de dois a oito anos.(destaque)

§ 1º Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita a medida de segurança a

sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto em lei ou não resultante

de medida legal.

§ 2º Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las,

incorre na pena de detenção de um a quatro anos.

§ 3º Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão de quatro a dez

anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.

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§ 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:

I - Se o crime é cometido por agente público; (destque)

(...)

§ 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição para seu

exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.(destaque)

§ 6º O crime de tortura é inafiançável e insuscetível de graça ou anistia. (destaque)

§ 7º O condenado por crime previsto nesta Lei, salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da

pena em regime fechado.

Art. 2º O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime não tenha sido cometido em território

nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob jurisdição brasileira.

Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

OS EFEITOS DA CONDENAÇÃO POR CRIMES DE TORTURA

Segundo Cleber Masson, efeitos da condenação são todas as consequências que direta ou

indiretamente atingem o condenado em razão de uma condenação definitiva. São efeitos que

ocorre principalmente na esfera penal, mas também na área cível, administrativa, trabalhista dentre

outros.

O pressuposto para que ocorram tais efeitos é justamente a existência de uma condenação

definitiva. Os efeitos da condenação em geral podem ser divididos em efeito principal e efeitos

secundários.

Por efeito principal considera-se a imposição da pena ou de da medida de segurança. A

pena poderá ser privativa de liberdade, restritiva de direitos ou de multa; a medida de segurança

poderá ser detentiva ou restritiva, a depender do caso concreto.

Efeitos Penais da Condenação

Os efeitos secundários, por sua vez, podem ter natureza penal ou extrapenal e estarem

previstos no Código Penal ou em outras leis penais.

Dentre os efeitos secundários de natureza penal previstos no Código Penal, MASSON elenca os

seguintes: caracterização da reincidência para crimes futuros (art. 63 e art. 64); imposição do regime

fechado se for praticado novo crime (art. 33, §2º); configuração de maus antecedentes (art. 59);

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Aumento em 1/3 do prazo da prescrição da pretensão executória (art. 110, caput, e art. 117,

VI); impedimento à concessão e revogação da suspensão condicional da pena e do livramento

condicional (art. 77, I e §1º; art. 81, I; art. 86, caput; art. 87); entre outros.

Efeitos Extrapenais da Condenação Previstos na Lei de Tortura

A Lei de Tortura prevê no §5º do art. 1º efeitos extrapenais específicos, que se aplicam

exclusivamente aos crimes previstos na referida Lei. In verbis:

Art. 1º, § 5º A condenação acarretará a perda do cargo, função ou emprego público e a interdição

para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.

Trata-se de efeito da condenação que só pode ser aplicado após o trânsito em julgado da sentença

penal condenatória. São efeitos automáticos, que decorrem diretamente da condenação,

prescindindo-se de qualquer declaração expressa na sentença.

Gabriel Habib aponta importantes diferenças entre os efeitos previsto na Lei 9.455/97 e o

previsto no art. 92, I do CP:

“ o art 92, do Código enal, a lei trata da perda do cargo que já era ocupado pelo condenado o

art. 1º, §5º da lei 9.455/97, a lei trata não só da perda do cargo, como também da interdição, que é a

impossibilidade de se vir a ocupar cargo ou função pública, com efeitos futuros. Ademais, no art. 92,

I, do Código Penal a perda do cargo não é automática, dependendo de motivação expressa na

sentença, ao contrário do previsto na lei de tortura, em que a perda do cargo automática ”

7. DADOS SOBRE VIOLÊNCIA E VIOLAÇÃO DE DIREITOS

HUMANOS NO SISTEMA PENITENCIÁRIO. Os encarcerados no Brasil têm previsão de garantia de suas integridades física e moral em

diversas legislações, tanto nacionais quanto internacionais, destes últimos, como exemplo as Regras

Mínimas para tratamento de reclusos, instituída no I Congresso das Nações Unidas para Prevenção

do Crime e para o Tratamento de Delinqüentes (1955, Genébra – Suíça).

Em 11 de julho de 1984, entra em vigor a Lei de Execucoes Penais, que também trata das

regras para tratamento dos presos, cumprimento da pena, condições de clausura, do trabalho e da

remição do preso. Pelos capítulos da Lei, é possível identificar a preocupação do legislador com o

caráter humanitário do cumprimento da pena

Os direitos fundamentais dos apenados no Brasil

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A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XLIX, assegura ao preso o respeito à integridade

física e moral. A Carta consigna, ainda, que ‘ningu m será su metido a tortura nem a tratamento

desumano ou degradante (art. 5º, III). A Lei de Execucoes Penais, em seu capítulo II, elenca o rol de

assistências assegurado aos presos.

A realidade carcerária brasileira aquém dos ideais internacionais

O Brasil é um dos países que mais ratifica Tratados de Direitos Humanos, sendo por isso

visto como um país com características humanitárias e preocupado com a proteção aos direitos

fundamentais.

Têm chamado atenção da comunidade internacional as graves violações aos direitos

humanos ocorridas nos presídios brasileiros. As regras internacionais vêm sendo flagrantemente

desrespeitadas, num total descaso das autoridades públicas.

Por conseguinte, a superlotação carcerária tem sido uma das maiores violações aos direitos

humanos dos presos no Brasil, sobretudo pelas péssimas condições dos compartimentos de

clausura. Celas em que se amontoam dezenas de presidiários, sem o mínimo de conforto e higiene,

conforme determinam tanto as Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos quanto a Lei de

Execução Penal Brasileira.

Desta feita a quantidade de presos provisórios aguardando julgamento é fator decisivo na

questão da superlotação carcerária. Essa categoria de detidos é alocada com os presos condenados,

justamente por não se ter estabelecimentos suficientes para esse tipo de preso, o que acaba

inflando as penitenciárias, em nítido desacordo com as Regras Mínimas para o Tratamento de

Reclusos, em que os presos provisórios deverão ser mantidos separados dos condenados.

Os presos provisórios e as violações aos direitos humanos

Uma grave violação aos direitos humanos bem presente no cenário prisional brasileiro é

cometida face aos presos provisórios, que têm ultrapassado – em muito – seu prazo de prisão

preventiva. Nesse ínterim, ficam – sem o aparato da lei e, portanto, ilegalmente – reclusos,

aguardando julgamento em três, quatro e até quinze anos17.

Há grave violação aos direitos humanos no que diz respeito ao excesso de prazo da prisão

preventiva, pois fere o direito à liberdade do indivíduo, conforme ratifica o posicionamento do

Supremo Tribunal Federal nos acórdãos sobre a matéria:

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Ementa: HABEAS CORPUS. EXCESSO DE PRAZO DA PRISÃO PREVENTIVA. CARACTERIZAÇÃO.

SITUAÇÃO INCOMPATÍVEL COM O PRINCÍPIO DA RAZOÁVEL DURAÇÃO DO PROCESSO (CF, ART. 5º,

LXXVIII). CONSTRANGIMENTO ILEGAL CONFIGURADO. ORDEM CONCEDIDA. 1. A jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal é no sentido de que a demora para conclusão da instrução criminal,

como circunstância apta a ensejar constrangimento ilegal, somente se dá em hipóteses

excepcionais, nas quais a mora seja decorrência de (a) evidente desídia do órgão judicial, (b)

exclusiva atuação da parte acusadora, ou (c) outra situação incompatível com o princípio da

razoável duração do processo, previsto no art. 5º, LXXVIII, da CF/88. Precedentes. 2. No caso,

transcorridos mais de 4 anos sem que o paciente sequer tenha sido levado a júri, é de se concluir

que a manutenção da segregação cautelar representa situação de constrangimento ilegal. 3. Ordem

concedida, para que o paciente seja posto em liberdade, salvo se por outro motivo estiver preso.

Em suma o Brasil tem demonstrado interesse em seguir a corrente de reconhecimento e

valorização desses direitos, ratificando inúmeros tratados de direitos humanos frente à

Comunidade Internacional. Um dos mais importantes, a Convenção Americana de Direitos

Humanos, subscrita pelo Brasil em 1992, trata de diversas matérias sobre direitos humanos, dentre

as quais a proteção da honra e da dignidade, e dos direitos à vida e à integridade.

8. GRUPOS VULNERÁVEIS NO CONTEXTO PRISIONAL

O que é grupos de vulneráveis?

Conforme consenso majoritário é um grupo de pessoas que pertencem a uma minoria que

não tem o mesmo acesso a bens e serviços disponíveis para a maioria da população. Esta pessoa

tem pouca autossuficiência.

São pessoas que são excluídas da sociedade sofrendo socialmente e psicologicamente com

isto. Esta exclusão pode ocorrer por motivos de cor de pele, incapacidade física, opção sexual e etc.

Exemplos: mulheres, homossexuais, idosos, negros, indignas dentre outros

Não obstante à posição brasileira, o País tem sido palco de graves violações aos direitos

humanos, especialmente dos indivíduos submetidos à privação de liberdade. Assassinatos,

propagação de doenças, constantes lesões corporais cometidas pelos agentes estatais e por outros

encarcerados, ocorridos dentro das unidades prisionais reforçam a conclusão de que o sistema

penitenciário brasileiro se encontra em grave crise.

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Sem dúvida os direitos humanos são considerados universais, isto é, inerentes a todos os

seres humanos independentemente de cor, sexo, raça, etnia, religião, tenha nacionalidade ou não

(apátrida). São interdependentes, inter-relacionados e indivisíveis. No dizer de Hannah Arendt

(1998) não são um dado, mas sim um construído, por meio de um processo histórico de lutas e

conquistas.

Ações afirmativas e convenções internacionais de proteção especial a grupos vulneráveis

As ações afirmativas, também conhecidas como discriminação positiva por alguns

doutrinadores, é forma de discriminação para igualização de situações e pessoas, ou pelo menos a

tentativa desta. É utilizada como método de aplicação interpretativa do princípio da igualdade em

uma nova perspectiva.

Para Warbuton, a discriminação positiva significa: [...] recrutar ativamente pessoas de

grupos previamente em situação de desvantagem. Por outras palavras, a discriminação positiva

trata deliberadamente os candidatos de forma desigual, favorecendo pessoas de grupos que

tenham sido vítimas habituais de discriminação. O objetivo de tratar as pessoas desta forma

desigual é acelerar o processo de tornar a sociedade mais igualitária, acabando não apenas com

desequilíbrios existentes em certas profissões, mas proporcionando também modelos que possam

ser seguidos e respeitados pelos jovens dos grupos tradicionalmente menos privilegiados.

(WARBUTON, 1998, p. 112, (grifou-se)

O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos estabelece em seu art. 27 que:

No caso em que haja minorias étnicas, religiosas ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas

minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com outras membros de seu

grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião e usar sua própria

língua.

(...)

ARTIGO 27 Nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou lingüísticas, as pessoas

pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente com

outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua própria religião

e usar sua própria língua.

(...)

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9. HUMANIZAÇÃO, ENCARCERAMENTO

Pela humanização do sistema carcerário um Grupo de entidades e cidadãs tomou a iniciática

de expor publicamente os anseios que se buscam na Humanização em cárcere.

O Brasil tem a quarta maior população carcerária do mundo. De acordo com o Ministério da

Justiça, mais de 540 mil pessoas estavam presas no País. Só em São Paulo há 74 mil presos a mais

do que a capacidade dos presídios. Para desafogar esse sistema, seriam necessárias 93 novas

penitenciárias.

Manifesto pelo Cárcere Cidadão

“ ós, cidadãos e entidades a aixo su scritos, no cumprimento do nosso compromisso com

os direitos fundamentais e com o primado da dignidade humana, atento aos mandamentos

constitucionais e considerando a deplorável situação da segurança pública, como um todo, e do

sistema penitenciário, em particular, vem, ladeado das entidades e pessoas subscritoras, apresentar

o manifesto a aixo”, nos seguintes termos:

1. A Política Criminal deverá ser articulada entre os três poderes da república e a sociedade civil, de

modo a atingir a finalidade ressocializadora da pena;

2. A política criminal não deve buscar a solução para problemas sociais na criação de novos crimes,

mas sim na articulação de medidas que promovam a inclusão social;

3. As soluções de Política Penitenciária devem se basear em medidas alternativas ao cárcere, mais

do que na simples construção de novas vagas;

4. A Lei de Execução Penal e as resoluções do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária

devem ser rigorosamente observadas, sob pena de o Estado igualar-se ao detento na violação de

direitos;

5. O Estado deverá fornecer meios para formação profissional e educacional no cárcere, além de

medidas de individualização da pena;

6. Os três Poderes devem fixar parâmetros mais estáveis para as prisões processuais e cautelares,

de modo a solucionar o problema da alta percentagem de presos provisórios por tão longo tempo;

7. A execução penal deverá ser informatizada, para agilizar os procedimentos e evitar o

prolongamento de penas juridicamente já cumpridas;

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8. É preciso estruturar medidas de acompanhamento dos egressos, com atenção aos Patronatos,

cujo apoio é fundamental em qualquer política de prevenção de reincidência;

9. As Ouvidorias e Corregedorias deverão ser fortalecidas e independentes, para que sejam

instrumento eficiente de prevenção e combate à corrupção e ao abuso de autoridade;

10. O Estado deverá investir na estrutura física do sistema e na formação dos profissionais que nele

atuam, com o objetivo de respeitar as necessidades e individualidades dos encarcerados.

É preocupante as questões de Humanização e encarceramento no Brasil. Pois no campo

dogmático e ideal do que seria realmente humanitário o Estado Democrático deixa Muito desejar .

Existe uma crise em nosso sistema penitenciário assim Fechar os olhos para o que acontece dentro

do cárcere significa também fechar os olhos para a violência que persiste fora dele. Um Estado que

abandona aqueles por quem mais deveria se responsabilizar não pode esperar trazer paz e justiça,

onde quer que seja.

Por conseguinte, a negligência em relação a essa pauta, tão fundamental para uma

democracia, vai de encontro ao próprio conceito de república. É o desafio da atual geração fazer

evoluir uma democracia conquistada a duras penas pelas gerações anteriores. Essa missão não

poderá ser cumprida sem que se questione a lógica do nosso sistema carcerário, à luz do moderno

direito penal e dos direitos humanos.

Entidade e colaboradoras do manifesto Cidadão Ações como tal manifesto tendem a

fomentar a opinião pública e sociedade em geral na busca de melhorias ao que estão em estado de

ressocialização:

Centro Acadêmico Visconde de Cairu (FEA-USP)

Centro Acadêmico André da Rocha (FD-UFRGS)

Centro Acadêmico Afonso Pena (FD-UFMG)

DCE Livre da USP Alexandre Vanucchi Leme – Gestão “ ão vou me adaptar

Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCRIM

Instituto de Defesa do Direito de Defesa

Instituto Pró-Bono

Instituto Sou da Paz

Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama

Alberto Toron (Advogado)

Alexandre Pariol (Diretor do SINTUSP)

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Prof. Alvino Augusto de Sá (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Profa. Ana Elisa Bechara (Professora FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Dalmo de Abreu Dallari (Professor TitularFD-USP Largo São Francisco)

Davi Tangerino (Advogado)

Prof. Diogo Coutinho (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Enrique Ricardo Lewandowski (Professor Titular FD-USP Largo São Francisco)

Profa Eunice Aparecida de Jesus Prudente (Professora FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Fabio Konder Comparato (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Fernando Dias Menezes (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Fernando Salla (Professor do NEV-USP)

Profa. Helena Lobo (Professora FD-USP Largo São Francisco)

Profa. Janaía Paschoal (Professora FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Jorge Luiz Souto Maior (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Prof. José Afonso da Silva (Professor Titular FD-USP Largo São Francisco)

Min. José Carlos Dias (Ex-Ministro da Justiça)

Marcelo Raffaini (Advogado)

Prof. Marcus Orione (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Profa. Mariângela Magalhães (Professora FD-USP Largo São Francisco)

Profa. Maristela Basso (Professora FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Min. Miguel Reale Jr. (Professor Titular FD-USP Largo São Francisco e ex-Ministro da Justiça)

Prof. Pierpaolo Cruz Bottini (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Renato de Mello (Professor Titular FD-USP Largo São Francisco)

Roberto Podval (Advogado)

Roberto Tardelli (Promotor de Justiça do Ministério Público)

Prof. Sebastião Botto de Barros Tojal (Professor FD-USP Largo São Francisco)

Prof. Sérgio Salomão Shecaira (Professor Titular FD-USP Largo São Francisco)

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REFERÊNCIAS:

AGRA, Walber de Moura. Manual de direito constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002.

BONAVIDES, Paulo. Os direitos humanos e a democracia. In: SILVA, Reinaldo Pereira e (Org). Direitos

humanos como educação para a justiça. São Paulo: LTr, 1998.

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição Federal Anotada. São Paulo: Saraiva, 2003.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional. Coimbra: Almedina, 1993.

DIMOULIS, Dimitri; MARTINS, Leonardo. Teoria geral dos direitos fundamentais. São Paulo: Revista

dos Tribunais, 2007.

HERKENHOFF, João Batista. Gênese dos direitos humanos. Disponível em:

<www.dhnet.org.br/direitos/militantes/herkenhoff/livro1/dhbrasil>. Acesso em: 7 maio de 2007.

MELLO, Celso D. de Albuquerque. Curso de direito internacional público. Rio de Janeiro: Renovar,

2004.

MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: Atlas, 2003.

SARLET, Ingo Wolfgang. A eficácia dos direitos fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado,

2007.

MELLO, Celso D. De Albuquerque. Curso de direito Internacional público. Vol. I, 15ª ed. Rev. E aum.

Rio de Janeiro: Renovar, 2004.

MAZZUOLI, Valério de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público, 9ª ed. São Paulo: Editora

Revista dos Tribunais, 2015.

PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito Internacional Público e Privado, 4ª ed. Salvador: Editora

jusPODVM, 2012.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Direitos Humanos Fundamentais. São

Paulo: Saraiva, 2008. PLT

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DISCIPLINA: ETICA, POSTURA PROFISSIONAL E RELAÇÕES

INTERPESSOAIS Carga Horária: 12h

Nível Superior

Eixo: Introdutório

Professor Conteudista: Profa. Veridiana Valente Pinheiro Castro

Graduação em Letras - Habilitação Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Pará

Mestrado em Teoria Literária

Doutora em Letras: Linguística e Teoria Literária

Membro do projeto de pesquisa Narrativa de Resistência: Formas, Performances e Trajetos na

Amazônia

Docente da Universidade da Amazônia (UNAMA)

OBJETIVO DA DISCIPLINA:

Refletir sobre a postura profissional dos servidores, visando uma leitura crítica e criativa da

realidade, enfatizando o ambiente carcerário, para responderem aos desafios éticos e

posicionamento moral: Valores éticos; Ética e moral; Conceito de virtude; Conceito de cidadania;

Ética e globalização; Dimensões do agir profissional; Comportamento antiético no local de trabalho;

Práticas profissionais e suas consequências. Compreender a importância de suas condições

pessoais (físicas, psicológicas, éticas, relacionais) no exercício das funções desempenhadas.

Assimilar a importância de trabalho no âmbito da cooperação. a) O espaço do trabalho nas

Unidades Penitenciárias Estaduais: equipes e comunicação. b) Equipes integradas, unidades

eficientes e seguras. c) Comunicação interpessoal e relacionamento profissional.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

I) VALORES ÉTICOS: ÉTICA E MORAL

II) CONCEITO DE VIRTUDE

III) CONCEITO DE CIDADANIA

IV) ÉTICA E GLOBALIZÇÃO

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V) DIMENSÕES DO AGIR PROFISSIONAL

VI) O ESPAÇO DO TRABALHO NAS UNIDADES PENITENCIÁRIAS ESTADUAIS: EQUIPES E

COMUNICAÇÃO.

VII) COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL E RELACIONAMENTO PROFISSIONAL

1. VALORES ÉTICOS: ÉTICA E MORAL

1. 1. ÉTICA

Nossa abordagem sobre o tema da ética será voltada para sua conceituação aplicada à prática,

contudo, acredito que é importante saber um pouco sobre os antecedentes filosóficos que servirão

como base para a construção do conceito que muitos autores utilizam atualmente. Em sua obra, Sá

(2009, p. 17) ensina que ética deve ser compreendida como “a ciência da conduta humana perante o

ser e seus semelhantes” Observe por este primeiro conceito que se trata de um estudo científico, ou

seja, baseado em normas e o devido rigor. Ainda analisando este conceito, você vê que a ética relaciona a

conduta de uma pessoa à sua relação com outra pessoa. Podemos aqui nos lembrar daquela frase que

todos conhecemos: “a liberdade de uma pessoa termina quando começa a liberdade do outro”

Existem limites para nosso convívio, existem regras que impomos e que desejamos ver respeitadas.

Muito embora as questões éticas estejam a todo instante presentes na mídia, bem como em

materiais de comunicação como anúncios na mídia impressa, TV, rádio e internet feitas pelas empresas, é

bom que se saiba que se trata de um termo trazido pelos trabalhos de Pitágoras no século VI a.C., ou seja,

há mais de 2.600 anos atrás! Também Aristóteles, no século IV a.C., há mais de 2.400 anos, falou sobre a

tica em sua o ra “ tica a icômaco”

Ética está presente na vontade e nas atitudes virtuosas de uma pessoa em relação a ela mesma e

àqueles com quem convive. A virtude está presente nas relações em que se busca o bem comum.

Assim sendo, a ética existe quando o indivíduo está na presença de outras pessoas, mas também,

principalmente, quando está sozinho. Imagine a seguinte cena, a pessoa está dirigindo sozinha em

seu carro e deseja se desfazer de um papel. Além disso, não há mais nenhum carro à sua volta. Aquele

que respeita o fato de que a via é pública e que é preciso respeitar os componentes éticos presentes na

cidadania guardará este papel consigo para jogá-lo num cesto de lixo.

Por outro lado, o indivíduo cujo respeito pelo bem comum é limitado ou inexistente, simplesmente

abre o vidro do carro e atira na rua o papel sem utilidade. O mesmo princípio vale para CDs e DVDs

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piratas, quadros falsos, apropriação do que não lhe pertence, utilização do bem público para

benefício privado, entre outro.

O estudo da ética conforme ensina Srour (2003, p. 15) está vinculado “aos códigos e normas que

regulam as relações e condutas entre os agentes so- ciais, os discursos normativos que identificam, em

cada coletividade, o que é certo ou errado fazer” Observe que neste conceito, temos presentes alguns

componentes importantes para a compreensão da ética. São eles: as normas reguladoras; a distinção da

ética segundo o grupo social; a escolha entre o certo e o errado. Ao normatizar a convivência entre os

indivíduos, a ética examina a moral.

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1.2. Moral

É comum se dizer que ética e moral são a mesma coisa. Na verdade, são conceitos diferentes,

conforme veremos a seguir. Enquanto a ética diz respeito à disciplina teórica e à sistematização

por meio de regras a serem seguidas e que estabelecem o que é bom para a coletividade, já a

moral direciona a prática cotidiana. O senso comum ainda apresenta alguma confusão entre o

que é ética e o que é moral. Para resolver este impasse, veja a Figura a seguir.

A ética – disciplina teórica, estudo da moralidade é confundida com:

Figura: Terminologia para ética, moral e conduta

Fonte: SROUR, 2003.

Veja que a moral diz respeito ao indivíduo inserido no contexto social e que os padrões éticos

estabelecem a norma a ser seguida pelas pessoas na busca pelo convívio para o bem.

Outra confusão que existe, reside entre os termos: moral, imoral e amoral. Vamos observar na

figura abaixo alguns exemplos que nos ajudam a esclarecer este impasse.

Figura: Situações morais, imorais e amorais

Fonte: SROUR, 2003, pág. 30.

Padrões éticos

Norma (regra de

conduta, pauta de

ação

Falta de ética

Valor cultural

(qualidade

Minha ética

Moral (conjunto

de normas de

conduta)

É amoral É imoral

Positivo Neutro Negativo

Dirigir com cuidado

Ter um carro

Dirigir embriagado

É moral

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2. CONCEITO DE VIRTUDE

Virtude é uma palavra que tem origem no latim virtus e seu significado original é o de

força viril. Hoje o significado de virtude está mais ligado ao de uma qualidade manifestada por

um indivíduo, que tanto pode ser uma qualidade inata como adquirida. E nesse sentido

podemos distinguir as virtudes intelectuais e as virtudes morais, as primeiras relacionadas à

inteligência e as outras ligadas à ideia de fazer o bem.

A capacidade de aprendizagem, a reflexão, a capacidade de raciocinar, a lógica, o

pensamento abstrato, o diálogo, a busca pelo conhecimento, seriam virtudes intelectuais.

Agir de acordo com as noções de bem, dentro da ética e com justiça, fugindo das tentações e

buscando sempre a prudência e a temperança nas ações, são as virtudes morais. Assim, virtude

no sentido moral seria a inclinação de uma pessoa de buscar praticar o bem ou, em outras

palavras, tudo o que encontramos na personalidade de um indivíduo que o leve a fazer boas

ações.

Dentro do Cristianismo, encontramos ainda as virtudes teologais, teológicas ou

sobrenaturais, que seriam aquelas virtudes que são um dom de Deus. São elas: fé, esperança e

caridade; por outro lado temos as virtudes cardeais, que se adquirem pelo esforço e são de onde

todas as outras virtudes se originam. São elas: prudência, valentia, temperança e justiça.

Contudo, apesar de virtude tradicionalmente estar associada a moral, a questões intelectuais e

teológicas, é comum usar-se a palavra “virtude” para se referir a qualquer qualidade apresentada

por uma pessoa ou para designar alguma característica do caráter de alguém valorizado pela

sociedade.

Virtude também pode ser usada como sinônimo de causa, motivo ou consequência.

Como por exemplo, na frase: “A garota faleceu em virtude do acidente da ltima segunda-feira”

2.1 VIRTUDE NA FILOSOFIA

Virtude foi um tema recorrente na filosofia desde a sua origem. Para Platão, os

epicuristas e os estoicos as virtudes são as características essenciais que possibilitam a uma

pessoa ter uma vida feliz e proveitosa. Essas virtudes seriam sabedoria, coragem, temperança e

justiça, ideia muito semelhante a das chamadas virtudes cardeais.

Para Aristóteles não existem virtudes inatas, pois elas seriam adquiridas com a reflexão e

a experiência. Para ele tudo o que contribui para completar com excelência a natureza humana é

chamado de virtude, e agir conforme a razão seria a mais importante das virtudes.

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Na filosofia clássica grega as ideias de felicidade e de virtude sempre estiveram

conectadas. Entretanto, nunca houve um consenso se as virtudes eram as condições necessárias

para uma vida feliz ou se a felicidade é que era a condição para a virtude. O filósofo alemão do

século XVIII Immanuel Kant retoma o tema. Para ele as virtudes não fazem de ninguém uma

pessoa mais feliz, mas são elas que tornam alguém digno da felicidade.

As virtudes humanas são perfeições habituais e estáveis da inteligência e da vontade

humanas. Elas regulam os atos humanos, ordenam as paixões humanas e guiam a conduta

humana segundo a razão e a fé. Adquiridas e reforçadas por atos moralmente bons e repetidos,

os cristãos acreditam que estas virtudes são purificadas e elevadas pela graça divina.

Entre as virtudes humanas, são constantemente destacadas as virtudes cardeais, que são

consideradas as principais por serem os apoios à volta dos quais giram as demais virtudes

humanas:

1 - A prudência, que "dispõe a razão para discernir em todas as circunstâncias o verdadeiro bem

e a escolher os justos meios para o atingir. Ela conduz a outras virtudes, indicando-lhes a regra e

a medida", sendo, por isso, considerada a virtude-mãe humana.

2- A justiça, que é uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido;

3 – A fortaleza que assegura a firmeza nas dificuldades e a constância na procura do bem;

4 - A temperança que "modera a atração dos prazeres, assegura o domínio da vontade sobre os

instintos e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados", sendo, por isso, descrita como

sendo a prudência aplicada aos prazeres.

Para contrariar e opôr-se aos sete pecados capitais, existe também um outro tipo de

organização das virtudes, que é baseada nas chamadas sete virtudes: castidade, generosidade,

temperança, diligência, paciência, caridade e humildade.

a) Castidade é a pureza espiritual em relação ao sexo, significando, assim, a abstenção de

conduta sexual desviante, conforme definido pelos padrões morais e diretrizes de uma cultura,

civilização ou religião. O termo pode ser associado com a abstinência sexual, especialmente no

contexto do sexo pré-marital e extraconjugal (e pode ser usado de forma intercambiável). Nas

religiões abraâmicas, a castidade é uma das regras para manter-se ao lado de Deus. Nas religiões

e crenças orientais, como o Budismo, a castidade é vista como o caminho para atingir a

libertação ou iluminação dos sofrimentos e decepções humanas.

b) Generosidade é a virtude em que a pessoa ou o animal tem quando acrescenta algo ao

próximo. Ela se aplica também quando a pessoa que dá algo a alguém tem o suficiente para

dividir ou não. Não se limita apenas em bens materiais. Generosos são tanto as pessoas que se

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sentem bem em dividir um tesouro com mais pessoas porque isso as fará bem, tanto quanto

aquela pessoa que dividirá um tempo agradável para outros sem a necessidade de receber algo

em troca.[carece de fontes].

Já segundo René Descartes, em Tratado das paixões e também nos Princípios de filosofia, a

generosidade é apresentada como uma despertadora do real valor do eu e ao mesmo tempo

como mediadora para que a vontade se disponha a aceitar o concurso do entendimento,

acabando assim a causa do erro. Neste caso, passa a ser um conceito de mediação entre a

vontade e o entendimento.

c) A temperança (em latim: temperantia de em latim: temperare "guardar o equilíbrio") é uma

das quatro virtudes cardinais, caracterizada pelo domínio de si e pela moderação dos desejos. As

noções de virtude e vício da ética clássica grega, presentes nos trabalhos de Hobbes e Platão,

foram sistematizadas por Aristóteles (384 a.C-322 a.C.) em Ética a Nicômaco, texto dirigido ao seu

próprio filho.

d) Paciência é a característica de manter um controle emocional equilibrado, sem perder a

calma, ao longo do tempo. Consiste basicamente na tolerância a erros ou fatos indesejados.

Também pode ser descrita como a capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda a

ordem, de qualquer hora ou em qualquer lugar; assim como a capacidade de persistir numa

atividade difícil, mantendo uma ação tranquila e acreditando que irá conseguir o que quer, de

ser perseverante, de esperar o momento certo para certas atitudes, de aguardar em paz a

compreensão que ainda não se tenha obtido, capacidade de ouvir alguém, com calma, com

atenção, sem ter pressa, capacidade de se libertar da ansiedade.

e) Caridade, é a doação voluntária de ajuda aos necessitados, como um ato humanitário.

f) Humildade vem do latim humilitas, e é a virtude que consiste em conhecer as suas próprias

limitações e fraquezas e agir de acordo com essa consciência. Refere-se à qualidade daqueles

que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A

Humildade é considerada pela maioria das pessoas como a virtude que dá o sentimento exato

do nosso bom senso ao nos avaliarmos em relação às outras pessoas. Características como

cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade, embora sejam frequentemente associadas à

humildade, são independentes. Portanto, quem as possui não precisa necessariamente ser

humilde.

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3. CONCEITO DE CIDADANIA

Para Camargo (2019), no decorrer da história da humanidade, surgiram diversos

entendimentos de cidadania em diferentes momentos – Grécia e Roma da Idade Antiga e Europa

da Idade Média. Contudo, o conceito de cidadania como conhecemos hoje insere-se no contexto

do surgimento da Modernidade e da estruturação do Estado-Nação.

Origem do termo

O termo cidadania, etimologicamente, tem origem no latim civitas, que significa "cidade".

Estabelece um estatuto de pertencimento de um indivíduo a uma comunidade politicamente

articulada – um país – e que lhe atribui um conjunto de direitos e obrigações, sob vigência de

uma Constituição. Ao contrário dos direitos humanos, que tendem à universalidade dos direitos

do ser humano na sua dignidade, a cidadania moderna, embora influenciada por aquelas

concepções mais antigas, possui um caráter próprio e possui duas categorias: formal e

substantiva.

Cidadania formal vs. Cidadania Substantiva

A cidadania formal é, segundo Camargo (2019) conforme o direito internacional,

indicativo de nacionalidade, de pertencimento a um Estado-Nação, por exemplo, uma pessoa

portadora da cidadania brasileira. Em segundo lugar, na ciência política e sociologia, o termo

adquire sentido mais amplo. A cidadania substantiva é definida como a posse de direitos civis,

políticos e sociais. Essa última forma de cidadania é a que nos interessa.

A compreensão e ampliação da cidadania substantiva ocorrem a partir do estudo clássico

de T.H. Marshall – Cidadania e classe social, de 1950 –, que descreve a extensão dos direitos civis,

políticos e sociais para toda a população de uma nação. Esses direitos tomaram corpo com o fim

da 2ª Guerra Mundial, após 1945, com o aumento substancial dos direitos sociais por meio da

criação do Estado de Bem-Estar Social (Welfare State), que estabeleceu princípios mais coletivistas

e igualitários. Os movimentos sociais e a efetiva participação da população em geral foram

fundamentais para que houvesse uma ampliação significativa dos direitos políticos, sociais e

civis, alçando um nível geral suficiente de bem-estar econômico, lazer, educação e político.

A cidadania esteve e está em permanente construção. É um referencial de conquista da

humanidade por meio daqueles que sempre buscam mais direitos, maior liberdade, melhores

garantias individuais e coletiva e não se conformando frente às dominações, seja do próprio

Estado, seja de outras instituições.

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A cidadania é, portanto, o conjunto de direitos e deveres exercidos por um indivíduo que

vive em sociedade, no que se refere ao seu poder e grau de intervenção no usufruto de seus

espaços e na sua posição em poder nele intervir e transformá-lo.

4. ÉTICA E GLOBALIZÇÃO

A ética deve ser a ideia orientadora para evitar que o processo globalizante não se tome

mais uma arma de dominação de poucos países. Porém, cabe a pergunta: como a ética pode

influenciar nações tão díspares para um mundo melhor?

O tema crucial do processo de integração mundial são os valores que presidem o

relacionamento internacional neste início de século e de milênio. O atentado ao World Trade

Center surpreendeu o mundo. Após a fase inicial de estupor e revolta diante da tragédia, o

desastre começou a ser esclarecido. Ao compasso das investigações sobre a ação terrorista,

surgiram tentativas de explicação e a ética nas relações internacionais tornou-se o tema do

momento.

A globalização, de acordo com Huntington, contribuiu para um cenário e tem a sua parte

de responsa ilidade: “a glo alização incentiva e permite que gente como Bin aden trame seus

ataques ao centro de anhattan, enquanto está em uma gruta do Afeganistão po re” ( Estado

de S. Paulo, 28/10/2001, pág. A23). O ataque terrorista, na opinião de Huntington, restituiu ao

Ocidente sua identidade comum.

A interpretação dos ataques aos Estados Unidos levantou a questão de saber quais são

os valores que presidem às diversas civilizações como elementos subjacentes à explicação dos

acontecimentos e da história. É preciso esclarecer, entretanto, que o responsável pela tragédia

não foi o mundo islâmico, mas apenas um grupo radical que não representa adequadamente o

slã Como apontou Henry Kissinger, “a Am rica e seus aliados precisam tomar cuidado para não

apresentar esta nova política como choque de civilizações entre o Ocidente e o Islã. A batalha é

contra uma minoria radical que macula os aspectos humanos manifestados pelo islamismo em

seus per odos grandiosos” (Folha de Paulo, 20/11/2001, Especial, pág.6).

O episódio das Torres Gêmeas, entretanto, alertou o mundo quanto à importância dos

valores que presidem as culturas e civilizações. Ou seja, a ética nas comunicações, na economia,

na política e na cultura é o elemento-chave para o futuro do mundo. Este é o fator fundamental

que deve ser analisado na globalização.

Antes de avançar nesse estudo é necessário indagar: há uma única ética correta, aplicável

a uma determinada situação, ou a ética é passível de interpretação diversa em função de fatores

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circunstanciais? Mais: há valores universais, que se aplicam a todos os povos de todos os tempos,

ou os valores éticos são relativos?

O mundo presente vive mergulhado no relativismo ético. Sob a égide do relativismo, a

ética torna-se subjetiva, sendo impossível chegar a qualquer conclusão objetiva e permanente.

Esse é o grande dilema e limitação do mundo moderno: a ética esqueceu as suas origens como

estudo filosófico, na Grécia clássica, sob a poderosa luz da inteligência de Sócrates.

5. DIMENSÕES DO AGIR PROFISSIONAL

O funcionário que trabalha no Sistema Penitenciário realiza um importante serviço

público de alto risco, por salvaguardar a sociedade civil contribuindo através do tratamento

penal, da vigilância e custódia da pessoa presa no sistema prisional durante a execução da pena

de prisão, ou de medida de segurança, conforme determinadas pelos instrumentos legais.

Desta sorte, existe a necessidade de que os Agentes Penitenciários apresentem um perfil

adequado para o efetivo exercício da função, requer, pois um engajamento e um compromisso

para com a instituição a que pertençam.

Devem ter atitudes estratégicas e criteriosas, para corroborar com mudanças no trato do

homem preso, e realizá-las em um espírito de legalidade e ética.

Ter a humildade de reconhecer a incapacidade a respeito dos meios capazes de

transformar criminosos em não criminosos, visto que determinados condicionantes tendem a

impedir essa metamorfose, parecendo provável que algumas delas favoreçam o aumento do

grau de criminalidade das pessoas. (Thomphson, 1980).

É necessário, finalmente, aos Agentes Penitenciários reconhecerem as contradições

inerentes à própria função; as possíveis orientações que variam conforme os pressupostos

ideológicos de cada administração, pois, devem transcender a estas questões a fim de contribuir

para a promoção da cidadania e assumir definitivamente como protagonista de seu papel de

ordenador social, de funcionário público honrado.

É que suas práticas profissionais condizem com o seu agir profissional, ou o profissional

deve considerar ter no exercício de sua função:

01 – APTIDÃO: que tenha disposição inata, um dom natural de lidar com pessoas;

02 – HONESTIDADE: que seja íntegro. Precisa ser parte exemplar da instituição a que pertença e

conduta inatacável;

03 – CONHECER FUNÇÕES E ATRIBUIÇÕES: distinguir com clareza uma ação própria, de seus

direitos e prerrogativas;

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04 – RESPONSABILIDADE: que tenha capacidade de entendimento ético e uma determinação

moral;

05 – INICIATIVA: que seja capaz de propor ou empreender ações iniciais e principiar

conhecimentos;

06 – DISCIPLINA: que sua observância dos preceitos ou normas seja uma ação natural;

07 – LEALDADE: que não seja apenas sincero e franco, mas principalmente fiel aos seus

compromissos e honesto com seus pares;

08 – EQUILÍBRIO EMOCIONAL: que sua estabilidade mental seja definida por ações comedidas e

prudentes;

09 – AUTORIDADE: que não tenha apenas direito ao poder, mas que tenha o encargo de

respeitar as leis com competência indiscutível;

10 – LIDERANÇA: que seu comando tenha tom condutor, um representante de um grupo;

11 – FLEXIBILIDADE: que a destreza, bom senso e transigência estejam sempre a serviço do bem

comum;

12 – CRIATIVIDADE: que sua capacidade de criação e inovação possa superar as adversidades;

13 – EMPATIA: que saiba sempre se colocar no lugar do outro, antes de uma decisão importante;

14 – COMUNICABILIDADE: que se comunique de forma expansiva e franca;

15 – PERSEVERANÇA: que seja firme e constante em suas ações e ideais.

Obs: Comportamento antiético nos locais de trabalho.

Levar um objeto da empresa para casa, tirar vantagem de um colega e divulgar

informações falsas são apenas alguns exemplos do que podemos chamar de comportamento

antiético. Infelizmente, alguns já são tão recorrentes, principalmente nas empresas, que acabam

sendo ignorados por boa parte das pessoas.

nclusive, o tão conhecido “jeitinho rasileiro” apenas mais uma prova de que a falta de

ética pode se esconder mesmo nas pequenas ações, não apenas nos atos criminosos. E, com

frequência, eles são vistos como aceitáveis e até são valorizados por aqueles que acreditam se

tratar de esperteza.

Infelizmente, até mesmo alguns gestores de empresas valorizam essas atitudes, por

julgarem que elas contribuem para o crescimento da organização. No entanto, o que pode

parecer vantajoso a princípio, a longo prazo pode comprometer a cultura organizacional e o

funcionamento do negócio como um todo.

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6. O ESPAÇO DO TRABALHO NAS UNIDADES

PENITENCIÁRIAS ESTADUAIS: EQUIPES E COMUNICAÇÃO. Material consta no: Levantamento Nacional DE INFORMAÇÕES PENITENCIÁRIAS -

Atualização - Junho de 2016. Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-

1/noticias/infopen-levantamento-nacional-de-informacoes-penitenciarias-

2016/relatorio_2016_22111.pdf. Acesso em: 05-06-2019.

6.1. EQUIPES INTEGRADAS, UNIDADES EFICIENTES E SEGURAS

O que é e como funciona uma equipe

o dicionário Aur lio (2010, p 216), a definição de equipe : “grupo de pessoas que

juntas participam duma competição esportiva ou se aplicam a uma tarefa ou tra alho ”

Donnellon (2006, p 4) indica que equipe um “grupo de pessoas organizadas de forma a

trabalhar em conjunto, ou como um grupo que executa tarefas semelhantes ou se reporta a uma

mesma pessoa ”

Veja a equipe em que você trabalha e/ou a equipe que você lidera. Com- pare com outras

equipes que existem na organização em que você trabalha. O que você observa? Considerando

que a diversidade é um elemento presente nas organizações, então as equipes são diferentes,

certo? Seu comportamento, os resultados que obtem, o relacionamento com seu líder, entre

outros.

Observe na Tabela a seguir, os diferentes tipos de equipes descritos por Donnellon

(2006, p. 5). Reflita sobre as facilidades e dificuldades no re- lacionamento interpessoal de cada

um destes tipos de equipes. Como a liderança deve se comportar em cada um destes modelos

para ser eficien- te e eficaz?

Já ouvi pessoas dizerem que não conseguem trabalhar em equipe, outras se questionam como é

possível que alguém prefira fazer tudo sozinho. Veja como é difícil a tarefa da liderança. Como

manter um ambiente harmonioso de trabalho com tanta diversidade?

Tabela: Tipos de equipes e suas descrições

Tipos de equipes Descrição da equipe

Equipe funcional

Um grupo organizado que se reporá a um único chefe e pode ou não ser

obriga- do a trabalhar em conjunto, para atingir os objetivos do

grupo.

Equipe multifuncional

Um grupo formado por membros provenientes de diferentes áreas de

uma mesma organização cujo tempo é em parte dedicado ao trabalho em

equipe e, em parte, dedicado a outras responsabilidades funcionais.

Equipe de ataque

Um grupo formado por membros provenientes de diferentes áreas de

uma mesma organização cujo tempo é totalmente dedicado ao

trabalho em equipe.

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Equipe ad-hoc ou força tarefa Um grupo temporariamente reunido, a fim de resolver determinado

problema ou aproveitar determinada oportunidade.

Comitê ou comissão

Um grupo constituído em caráter permanente, que desenvolve e

monitora deter- minada filosofia ou política de trabalho ou ainda um

conjunto de procedimentos.

Fonte: DONNELLON, 2006.

Diante das mudanças constantes nos ambientes organizacionais, equipes de alto

desempenho necessitam desenvolver habilidades extras para que possam interagir na busca de

um mesmo objetivo obtendo sucesso. Tais habilidades associadas a um senso de

responsabilidade coletivo, experiências e motivação empoderam de tal maneira o grupo tornando-

o capaz de agir com presteza diante da dinâmica organizacional e assim obtendo melhores

resultados na execução das tarefas.

Executar processos e construir projetos de forma eficiente e em alto nível, requer

empenho no aprimoramento de algumas qualidades:

a) Autogerenciamento: Todos os membros da equipe devem conhecer claramente as funções a

ele destinadas e saber como executá-las de forma eficiente.

b) Antecipação: Os membros necessitam de uma visão ampla, sistêmica, e possuir a percepção

para variáveis que venham a surgir, criando maneiras objetivas, criativas e eficazes de lidar com

elas, cientes de que há situações que podem ser evitadas ou controladas já que dependem

exclusivamente de fatores internos e também existem contingências inevitáveis, pois organizações

estão inseridas em ambientes que sofrem influencias externas e para tais a equipe deve estar

preparada para enfrentá-las. Em ambos os casos deve-se evitar ao máximo o improviso, cercando-

se o quanto possível de um ambiente seguro.

c) Adaptação: A capacidade de se adaptar é essencial, encarar o imprevisível de maneira positiva.

Os ambientes organizacionais estão em constante mudanças e adaptar-se a elas é muito

importante, essencial mesmo.

d) Cooperação: A individualidade deve dar lugar à cooperação e o trabalho em equipe. Juntos um

grupo se torna forte e mais capaz.

e) Desenvolvimento: Constante treinamento, capacitação e aperfeiçoamento deve ser

preocupação prioritária para uma equipe que pretende se manter com alta performance e

evolução. Nesse contexto deve-se considerar a importância de preparar pessoas para sucessão

garantindo assim a continuidade, o nível de excelência e a vantagem competitiva das

organizações.

f) Desenvolver e motivar o espírito empreendedor de cada membro das equipes, estimulando

para que a criatividade dentro das empresas seja potencializado.

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g) Empowerment: A liberdade dada aos membros da equipe para que tragam e exponham suas

idéias, conhecimentos, experiências e motivação é extremamente bem vinda, pois enriquece o

capital intelectual de toda a equipe que compartilhará das informações.

h) Diversidade: Diferentes tipos de pessoas formam uma Equipe de Alta Performance,

apresentam diferentes habilidades, complementando-se e aprimorando o trabalho, com o

potencial de cada um. Talentos individuais, juntos, podem resultar em tarefas bem sucedidas.

i) Relacionamento e Feedback: A amizade não é um fator essencial numa Equipe de Alta

Performance, o essencial é que cada membro saiba respeitar o outro e criar uma relação de

confiança. Pessoas possuem crenças, culturas e valores diferentes, o que resulta em

comportamentos diversos. Para que pessoas diferentes possam conviver em harmonia, o uso do

feedback e a redução dos ruídos na comunicação são ferramentas bastante eficazes promovendo

o desenvolvimento dos membros e evidenciando a diferenção entre processos e pessoas.

j) Interdependência: Uns auxiliando os outros, esforço conjunto e cada um caminhando para

que juntos alcancem um mesmo objetivo. Foco sempre no futuro, enxergar além o horizonte, criar

estratégias embasadas no máximo possível de informações seguras, e mesmo tentar prever e/ou

reagir em improváveis cenários.

Estar ciente da diversidade de personalidades, e que todos possuem sua autonomia, expressam

suas opiniões sem objeções, aumentando, através desse ato, o nível intelectual dos diálogos nas

organizações.

Usar de forma inteligente as ferramentas contemporâneas de gestão, como benchmarking,

Empowerment, Downsizing Endomarketing etc. de forma a acompanhar o mercado.

Identificar e investir em fatores que motivacionais para os colaboradores, considerando a

importância de sua realização pessoal, facilitando a instalação de ambiente amigável de parceria e

colaboração.

Vantagem competitiva no mercado se obtém através do fortalecimento das equipes, o que faz o

diferencial entre o fracasso e o sucesso tanto individual de seus membros quanto da equipe como

um todo.

Uma Liderança comprometida e que possua tal visão tem grandes possibilidade no êxito da

construção de uma Equipe de Alta Performance. Cabe ao líder a maior parte da responsabilidade

no desenvolvimento de sua equipe.

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7. COMUNICAÇÃO INTERPESSOAL E RELACIONAMENTO

PROFISSIONAL Trata-se da oportunidade que é oferecida para que lideranças e integrantes da equipe conversem

claramente sobre as questões envolvidas no cotidiano das organizações. Nestes encontros, são

valorizadas as trocas simultâneas de informações, o feedback e o esclarecimento de dúvidas

importantes. Por que estamos mencionando este tema nesta nossa disciplina? Porque hoje, temos

um grande vilão nos processos de comunicação, do ponto de vista de Macedo (2007, p. 83): o

email.

Figura 11.1: Email

Fonte: http://www.mundodastribos.com

Quantas e quantas vezes você já recebeu um email do seu colega de trabalho que está sentado

na sua frente! enho certeza de que você já se perguntou: “por que ele não veio falar comigo

pessoalmente?” As respostas para esta pergunta passam: pela dificuldade das pessoas em falar

abertamente, olhando para as outras; pela falta de gestão adequada do tempo; ou ainda pela

necessidade que muitos têm de deixar tudo registrado, caso precisem de uma “prova” Costumo

dizer que as pessoas têm tempo, o que lhes falta é saber administrá-lo adequadamente. Muitas

vezes, porque é mais prático, envia-se um email. Pode ser mais prático, é verdade, mas não

proporciona a comunicação interpessoal que é fundamental para o ambiente harmonioso entre

os indivíduos.

Outro problema sério que as organizações enfrentam o “mal das reuni- ões” ara tudo, se

marca uma reunião, já percebeu isso? Para ser produtiva, uma reunião tem que ter: objetivo;

planejamento; condução firme; prepa- ração prévia dos participantes; participação ativa de

todos, finalização e en- caminhamento Do contrário, fica um “ ate papo” sem resultados

práticos além do desperdício de recursos finitos como tempo, energia e dinheiro.

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Via email é impossível fazer uma comunicação interpessoal eficiente e eficaz porque dela fazem

parte movimentos como: esclarecimento de dúvidas, per- suasão, monitoramento da

compreensão de todos. E não adianta fazer um email extenso! Você lê emails extensos?

Enfim, minha sugestão é que você privilegie a comunicação interpessoal pla- nejada, fale com as

pessoas olhando nos olhos. Seja objetivo, busque um resultado final. Use o email para

comunicações breves.

7.1 - COMO DEVE SER UM FEEDBACK

Muitas pessoas acreditam que dar um feedback consiste em chamar para conversar

abertamente. Pode ser verdade....em parte. Existem técnicas para que o feedback seja positivo

para ambas as partes. Observe que Moscovici (2008, p. 95-96) ensina que um feedback deve ser:

•Descritivo e não avaliativo – é feito o relato de uma situação e não um julgamento sobre ele. O

interlocutor se sente à vontade para oferecer elementos para uma discussão positiva.

•Específico ao invés de geral – indique o comportamento da pessoa, descrevendo uma situação

ao invés de qualificá-la ão diga “você desatento” Descreva alguma situação que a própria

pessoa chegue a esta conclusão.

•Compatível com as expectativas do emissor e do receptor da mensagem – é o caso comum que

ocorre quando um l der quer “cha- mar a atenção” de algu m e você quer construir, então

converse.

•Dirigido – pense em comportamentos que o interlocutor possa mudar para melhorar o

relacionamento interpessoal.

•Solicitado e não imposto – o próprio interlocutor pode solicitar um

feedback se perceber que tem esta oportunidade.

•Oportuno – não espere até a poeira baixar completamente, senão o fato cai no esquecimento e

você tem que relembrar a pessoa o que faz com que a força do feedback se perca.

•Claro e preciso – procure fazer com que o interlocutor faça um resumo do que foi dito durante

este encontro de feedback. Lembre-se que o ob- jetivo é fazer as correções necessárias para que

o fato ruim não se repita e o fato bom seja um exemplo.

8. DIFICULDADES EM DAR E RECEBER FEEDBACK

amos relem rar aqui uma frase sá ia: “elogios se faz em p lico e reprimendas, em particular”

Só com esta indicação, boa parte das dificuldades estará resolvida. Ninguém gosta de ser

criticado em público, nem as crianças, nem os adultos. Se você precisa dizer algo difícil para

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alguém, se prepare, chame a pessoa e converse seguindo o que dissemos no item anterior. Se

for elogiar, aí sim aproveite a melhor ocasião e torne esta pessoa um exemplo.

Você participa com entusiasmo durante as reuniões de equipe e nunca hesitou em oferecer

sugestões criativas ou opinião. Isso tem que parar!!

Quando o feedback é negativo, o receptor, conforme ensina oscovici (2008:96) ”nega a validade

do feed ack”, para de ouvir, parte para a agres- são apontando as deficiências do emissor.

Também não é fácil dar feedback. Muitas pessoas se sentem poderosas, impor- tantes ao

chamar algu m para “conversar” com o o jetivo de chamar a aten- ção para problemas. O que

estas pessoas não percebem é que ao acreditarem que se trata de um poder, elas deixam de se

preparar adequadamente. Com isso, não analisam previamente o seu interlocutor e não

preveem suas reações.

Outra situação é a da pessoa que teme as reações do outro e vai para a reunião de feedback na

defensiva, já começa se explicando, justificando as coisas que vai dizer.

REFERENCIAS

CAMARGO, Orson. "Conceito de Cidadania"; Brasil Escola. Disponível em:

https://brasilescola.uol.com.br/sociologia/cidadania-ou-estadania.htm. Acesso em 08 de julho de

2019

Levantamento Nacional DE INFORMAÇÕES PENITENCIÁRIAS - Atualização - Junho de 2016.

Disponível em: http://depen.gov.br/DEPEN/noticias-1/noticias/infopen-levantamento-nacional-

de-informacoes-penitenciarias-2016/relatorio_2016_22111.pdf. Acesso em: 05-06-2019.

http://www.mundodastribos.com

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DISCIPLINA: TRATAMENTO E DIAGNÓSTICO DO SISTEMA

PRISIONAL Carga Horária: 20h

Nível Superior

Eixo: Introdutório

Professor Conteudista: Profa. Risolete Farias Gesta

Graduação em Psicologia. Especialização em Saúde Mental.

OBJETIVO DA DISCIPLINA: Compreender a concepção de política penitenciária que se insere na

inclusão do tratamento penitenciário como política de garantia de direitos humanos, fator de

redução de danos e minimização de vulnerabilidade que o sistema punitivo produz. Análise e

aplicação do conceito de humanização; o tratamento penitenciário como política de garantia de

direitos humanos, as políticas de reinserção social da SUSIPE. a) Regras Mínimas de tratamento

de Prisioneiros da ONU e Revisão. Regras de Mandela aplicadas ao Sistema. b) Rotinas práticas e

protocolos de atenção à pessoa privada de liberdade: alimentação, vestuário, higiene, saúde, etc.

c) Integração entre políticas sociais e assistências no tratamento penitenciário. d) Prevenção e

Combate à Tortura. f) Históricos de vida, horizontes pessoais e possibilidades de superação de

óbices individuais das pessoas privadas de liberdade. Apresentar uma caracterização do sistema

prisional brasileiro com ênfase no contexto carcerário do Estado do Pará: População prisional:

perfis demográficos e dados analíticos sobre diversidade das populações no sistema prisional;

Análise se dados qualitativos e quantitativos sobre o sistema prisional; Interpolações entre

exclusão social, renda e encarceramento do Brasil; Gênero e diversidade no sistema prisional,

com especial atenção a mulher e LGBTTT encarcerados.

Conteúdo programático

1. ABORDAGEM CONCEITUAL DE TRATAMENTO

PENITENCIÁRIO E O MARCO LEGAL DE SUA

APLICABILIDADE

Tratamento penitenciário está associado, via de regra, a contribuir com a reintegração

social da pessoa presa ou egressa do sistema penitenciário, que por sua vez consiste em

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processo dialogal ao qual o condenado tem direito, mas que não lhe é obrigatório. Como todo

direito, pode ou não ser exercido por seu titular. Assim, o privado de liberdade deve ter

assegurados os meios para a chamada ressocialização. Mas, caso prefira não aderir a esses

meios, isso deve ser respeitado

É importante que todo profissional envolvido na execução da pena, entenda que o fato

do preso ter praticado um crime, mesmo que seja hediondo, não significa ter deixado de ser um

ser humano, e que embora parte dos seus direitos tenham sido cerceados, existem muitos deles

que se mantêm e devem ser resguardados e respeitados, pois o valor intrínseco à própria

condição humana, segundo Silva e Neto (2012), "independe de qualidade e condição pessoal de

cada um para ser respeitado".

Nessa mesma linha de entendimento no âmbito internacional, a Convenção Americana

de Direitos Humanos de 1969, expressa: Art 5º Direito á integridade pessoal “Buscar a aplicação

de um tratamento penal efetivo é o desafio de todos, que tem a missão de fazer com que o

cárcere seja menos punitivo, na finalidade precípua da reinserção do apenado, que sofre

inúmeras perturbações com a pena privativa de liberdade, o quer só pode ser possível se os

direitos dos mesmos forem assegurados e respeitados” Decorre da que não se conce e mais a

ideia de punir por punir (retribuição), pois, segundo a Lei de Execução Penal, no seu: art.10º,

expressa: “A assistência ao preso tem como o jetivo prevenir o crime e orientar o retorno do

apenado a convivência em sociedade, possibilitando as mudanças do seu comportamento e de

suas atitudes”

Ainda no contexto internacional, destacam-se importantes tratados e protocolos de

intenção firmados entre países alinhados ao Estado Democrático de Direitos, dentre os quais as

Regras Mínimas de Tratamento de Prisioneiros da ONU, também conhecida como Regras de

Mandela.

Como princípio fundamental, as Regras Mínimas Padrão para o Tratamento de

risioneiros asseveram, em seu caput, que: “As regras que se seguem deverão ser aplicadas

imparcialmente. Não haverá discriminação alguma baseada em raça, cor, sexo, língua, religião,

opinião política ou qualquer outra opinião, origem nacional ou social, fortuna, nascimento ou em

qualquer outra situação”

De maneira geral, o referido tratado internacional para o tratamento de prisioneiros está

estruturado nos seguintes aspectos:

◦ Registro;

◦ Separação de categorias;

◦ Locais destinados aos presos;

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◦ Roupas de vestir, camas e roupas de cama;

◦ Alimentação;

◦ Exercícios físicos;

◦ Serviços médicos;

◦ Disciplina e sanções;

◦ Instrumentos de coação;

◦ Informação e direito de queixa dos presos;

◦ Contatos com o mundo exterior

◦ Biblioteca;

◦ Religião;

◦ Depósitos de objetos pertencentes aos presos;

◦ Notificação de morte, doenças e transferências;

◦ Transferência de presos;

◦ Pessoal penitenciário;

◦ Inspeção.

No tocante ao aspecto Pessoal Penitenciário, o referido diploma legal estabelece que:

◦ Deve abranger todas as categorias, posto que, da integridade, humanidade,

aptidão pessoal e capacidade profissional desse pessoal, dependerá a boa

direção dos estabelecimentos penitenciários.

◦ Esforço para despertar e manter no espírito do pessoal e na opinião pública a

convicção de que a função penitenciária constitui um serviço social de grande

importância e, sendo assim, utilizará todos os meios apropriados para ilustrar o

público.

◦ Efetivo deve atuar com exclusividade como funcionários penitenciários

profissionais, tenham a condição de funcionários públicos. A remuneração do

pessoal deverá ser adequada, a fim de se obter e conservar os serviços de

homens e mulheres capazes. Determinar-se-á os benefícios da carreira e as

condições do serviço tendo em conta o caráter penoso de suas funções.

As Regras de Mandella enfatizam a necessidade de minimizar os efeitos deletérios do

cárcere para a pessoa privada de li erdade, elencando em seu Artigo 58 que: “o encarceramento

e medidas que resultam na exclusão do infrator do mundo exterior são penosos exatamente

pelo fato de tirar do indivíduo o direito de autodeterminação por meio de privação de liberdade.

Portanto, o sistema penitenciário não deve, exceto como circunstância incidental à segregação

justificável ou manutenção da disciplina, agravar o sofrimento inerente a esta situação”

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Do ordenamento jurídico internacional, podemos extrair, também, como importante

avanço no combate à tortura a Convenção da ONU Contra a Tortura e Outros Tratamentos ou

Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes (1984), que traz a seguinte definição para tal prática:

“a tortura definida como qualquer ato cometido por agentes p licos ou atores no exerc cio da

função pública pelo qual se inflija intencionalmente a uma pessoa dores ou sofrimentos graves,

físicos ou mentais, a fim de obter informação ou confissão; de castigá-la por um ato que cometeu

ou que se suspeite que tenha cometido; intimidar ou coagir; ou por qualquer razão baseada em

algum tipo de discriminação”

Os efeitos da Convenção supramencionada fizeram-se sentir em solo brasileiro, a partir

da ei Federal 9 455 1997, que define tortura da seguinte forma: “[…] constranger algu m com

emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento psíquico ou mental com a

finalidade de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceiros; para provocar

ação ou omissão de natureza criminosa; em razão de discriminação racial ou religiosa. Ainda,

define como tortura submeter alguém sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de

violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo

pessoal ou medida de caráter preventivo”

2. ROTINAS PRÁTICAS E PROTOCOLOS DE ATENÇÃO À

PESSOA PRIVADA DE LIBERDADE SOB O VIÉS DA

HUMANIZAÇÃO E DA DIGNIDADE HUMANA

Tratamento penitenciário, como já salientado anteriormente, consiste no conjunto de

práticas direcionadas pelo Estado por meio de seus agentes legais, em atenção à pessoa privada

de liberdade. Neste sentido, é comum que o termo seja interpretado com aquele derivado das

ciências médicas, cujo significado gira em torno de remédios (assistências) direcionados ao

paciente (cuja doença é ter cometido um crime) promovendo sua efetiva cura (retorno pacífico e

normalizado ao meio social livre).

Tal interpretação não guarda amparo no arcabouço teórico que trata da questão

penitenciária em toda a sua complexidade. Como exemplo, destaca-se Goffman que classifica o

sistema penitenciário como uma instituição total, que extrai todo e qualquer traço de

subjetividade do indivíduo, impelindo-lhe nova identidade estigmatizada pela sociedade que zela

pela lei e pela ordem.

O efeito gerado coloca em xeque a visão clássica e positiva do tratamento penitenciário,

pois o cárcere no Brasil e no mundo ainda guarda ranços do modelo retributista, afastando-se

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cada vez mais da humanização da pena, capaz de fazer do preso ou internado uma pessoa com a

intenção e a capacidade de viver com respeito à lei penal, trabalhando na medida do possível,

desenvolver no reeducando uma alta estima e responsabilidade individual, e social com respeito

a sua família, ao próximo e a sociedade em geral.

De modo geral, humanização compreendida como a “ação ou efeito de humanizar, de

tornar humano ou mais humano, tornar en volo, tornar afável” (dicionário Aur lio) or outro

lado, de um ponto de vista conceitual, Rios (2009) afirma que a humanização consiste na ação de

reconhecimento da condição humana sob as mais diversas perspectivas, embasado nos

postulados do humanismo. Desta forma, Rios (2009, p. 3) diz que:

Humanizar, então, não se refere a uma progressão na escala biológica ou antropológica,

o que seria totalmente absurdo, mas o reconhecimento da natureza humana em sua essência e

a elaboração de acordos de cooperação, de diretrizes de conduta ética, de atitudes profissionais

condizentes com valores humanos coletivamente pactuados.

Percebemos, na concepção da autora, que o ato de humanizar condiz com a relação

dialética construída entre os humanos para atingir interesses comuns ou individuais, pautados

no respeito intrínsecos à própria condição humana. O processo de humanização implica a

evolução do Homem, pois ele tenta aperfeiçoar as suas aptidões através da interação com o seu

meio envolvente. Para cumprir essa tarefa, os indivíduos utilizam recursos e instrumentos como

forma de auxílio. A comunicação é uma das ferramentas de grande importância na humanização.

No sistema penitenciário brasileiro, falar de humanização é um desafio e, ao mesmo

tempo, uma necessidade, pois a conduta dos agentes públicos responsáveis pela custódia de

pessoas presas deve atentar para o propósito de minimizar o encarceramento de caráter

punitivo e garantir a assistência que determina a Lei de Execução Penal – LEP (que será abordada

adiante), orientando e conscientizando o retorno do apenado ao convívio em sociedade.

Nesta perspectiva, o agente público do sistema penitenciário deve tomar como base a

obrigatoriedade de estabelecer uma conduta pautada no respeito à condição humana inerente à

pessoa presa. Isto porque, segundo o Manual de Tratamento Penitenciário Integrado (VILLAR,

BRETAN, 2011), alguns tratados internacionais, dos quais o Brasil é signatário, apontam para tal

exigência, como exemplo geral, o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o Pacto de

Direitos Econômicos Sociais e Culturais.

Em síntese, espera-se que esse profissional envolvido na execução da pena, entenda que

o fato do preso ter praticado um crime, mesmo que seja hediondo, não perde a condição

humana, visto que ela é indissociável, mesmo que parte dos seus direitos tenham sido

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cerceados. Assim, todos os demais direitos da pessoa privada de liberdade devem ser

assegurados pelo órgão de custódia (de acordo com o Art. 41, da LEP).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos representa o marco legal que buscou

consagrar os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, direitos esses também previstos

na Constituição Federal de 1988 (art. 1º, inciso III), que consagra o Estado Democrático de Direito.

Nota-se, no contexto normativo apresentado, que o principal objetivo dos legisladores buscava

salvaguardar a dignidade da pessoa humana como valor intrínseco, independente de qualquer

outra condição/situação, conforme salienta Silva e Silva Neto (2012, p. 61):

O princípio em tela, como fundamento da República Federativa do Brasil, insculpido no

Art. 1º, III, da Constituição Federal de 1988, cuida de valor intrínseco a própria condição humana,

por isso independe da qualidade e condição pessoal de cada um para ser considerado. Todavia,

quando se constata as péssimas condições dos cárceres em todo o país, torna-se inevitável

analisar que a realidade está dissociada das linhas constitucionais aqui aludidas.

De acordo com as concepções apresentadas, dignidade da pessoa humana é condição

inafastável e presente na figura do apenado, não cabendo ao agente público responsável pela

custódia optar por garanti-la ou não.

Como ponto de inferência, podemos compreender tratamento penitenciário como um

conjunto de ações de diversas áreas do saber, ou seja, ações interdisciplinares na fase executória

da pena, que tem como finalidade precípua, a reeducação do preso, desde a sua inclusão no

sistema penitenciário até a sua devolução a sociedade. Na perspectiva teórica, tratamento

penitenciário diz respeito ao ideário ressocializador, e segundo Bittencourt (2011, p. 139) pode

ser compreendido da seguinte forma:

Parte-se da suposição de que, por meio do tratamento penitenciário – entendido como um

conjunto de atividades dirigidas à reeducação e reinserção social dos apenados -, o interno se

converterá em uma pessoa respeitadora da lei penal. E, mais, por causa do tratamento, surgirão

nele atitudes de respeito a si próprio e de responsabilidade individual e social em relação à sua

família, ao próximo e à sociedade. Na verdade, a afirmação referida não passa de uma carta de

intenções, pois não se pode pretender, em hipótese alguma, reeducar ou ressocializar uma

pessoa para a liberdade em condições de não-liberdade, constituindo isso verdadeiro paradoxo.

Partindo-se de outro prisma, colocando de lado o ideário ressocializador, pode-se partir

das vulnerabilidades e danos que se apresentam a pessoa presa em cumprimento de pena,

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ensejando um conjunto de ações e práticas para mitigar seus efeitos. O rol dessas ações e

práticas serão melhor detalhados adiante.

De acordo com o Manual de Tratamento Penitenciário do DEPEN (VILLAR, BRETAN, 2011),

o tratamento penitenciário deve ser desenvolvido a partir de “ações, projetos e programas

devem, sempre, ser planejadas e executadas de forma integrada, com a participação de todos os

operadores (…)” o que tange integração suscitada, o órgão de custódia deve estar

estruturado institucionalmente para atender ao preso de forma integrada.

3. TRATAMENTO PENITENCIÁRIO E A LEP: o papel da

Susipe na Integração entre políticas sociais e

assistências.

O tratamento penitenciário, segundo a LEP, tem como premissa a prevenção do crime e a

orientação para o retorno do preso à convivência em sociedade, utilizando-se para isso do

conjunto de assistências preconizadas no Art. 10, do referido diploma legal:

Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do estado, objetivando prevenir o

crime e orientar o retorno à convivência em sociedade.

Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso

O texto do artigo expressa, clara e objetivamente, que a finalidade das assistências

aponta para atenuar as consequências maléficas que o convívio carcerário pode acarretar para a

sociedade, uma vez que a pessoa privada de liberdade é o foco das assistências no campo

preventivo e formativo de valores socialmente aceitos.

Com esse propósito, a LEP destaca no Art. 11, os tipos de assistências orientadas a

pessoa privada de liberdade, a saber:

Art. 11. A assistência será

I – material

II – a saúde

III – Jurídica

IV – educacional

V - social

VI – religiosa

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Comparativamente, percebe-se que para cada assistência elencada na LEP existe, direta

ou indiretamente, política pública proporcional, cujo conjunto é tratado como políticas sociais.

Deste modo, descreveremos as assistências e a integração que ela deve fazer com as políticas

sociais consolidadas no Brasil.

3.1. DA ASSISTENCIA MATERIAL

A assistência material destinada à pessoa privada de liberdade traz como principal

finalidade proporcionar condições de custódia minimamente adequadas e de acordo com as

regras mínimas para o tratamento de prisioneiros, já mencionadas anteriormente. Assim,

figuram nesta categoria de assistência os aspectos “ ocais destinados aos presos”; “Roupas de

vestir, camas e roupas de cama” e “Alimentação”, tal como pode ser verificado no Art 12 da E :

Art. 12. A assistência material ao preso e ao internado consistirá no fornecimento de

alimentação, vestuário e instalações higiênicas.

Na estrutura da Susipe, pode-se destacar o papel da Diretoria de Logística, Patrimônio e

Infraestrutura (DLPI) que irá se debruçar em suas diversas coordenadorias para dar conta, desde

a abertura de novas vagas, como a aquisição de materiais e serviços diversos para contemplar as

necessidades das unidades penitenciárias e do órgão como um todo.

3.2. DA ASSISTENCIA A SAÚDE

A presença de um médico Clínico Geral e de um Psiquiatra nas unidades penais é

indispensável, tendo em vista que muitos presos chegam com problemas de saúde causados por

negligência ou por maus tratos ou até mesmo pelo tipo de vida pregressa do indivíduo. Por

vezes são pessoas de núcleo social desfavorecido, de alimentação precária ou exposto a lugares

insalubres de higiene duvidosa, que certamente refletirá de maneira negativa a todos. Os

problemas de saúde mental ou vícios necessitarão de apoio específico, da mesma forma que

muitos outros cuja saúde mental pode ser significativa ou adversamente afetada pelo fato de

estarem reclusas.

Art. 14. Assistência à saúde do preso e do internado, de caráter preventivo e curativo,

compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico.

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§ 1º (vedado)

§ 2º Quando o estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência

médica necessária, esta será prestada em outro local, mediante autorização da direção do

estabelecimento.

3.3. DA ASSISTENCIA JURÍDICA

Art. 15. A assistência jurídica é destinada aos presos e aos internados sem recursos

financeiros para constituir advogados.

A assistência jurídica tem como objetivo assegurará prestação dos serviços jurídicos na

fase executória da pena, com os procedimentos inerentes ao cargo, vislumbrando a defesa

legítima, observando a legalidade, conforme a Lei de Execução Penal.

Esta atividade tem conotação social, tanto para o preso condenado, que vive

intranquilamente devido às situações que atrapalham a progressão de regime, como para as

famílias que aguardam o retorno de seu familiar. E como não são poucas as queixas dos

apenados, que muitas vezes alegam que já cumpriram a parte que lhe dar direito à progressão

de regime, ou até mesmo que já deveriam ter ganhado a liberdade, terem direito de saída

temporária etc., cabe aquele que vive mais aproximado do preso (Agente Penitenciário), levar ao

conhecimento do seu superior imediato, a queixa. Do contrário pode ser um começo, para o

desequilíbrio da cadeia.

Para Giuseppe Bettio, para que aja possibilidade de arrependimento e de emenda, a pena

deve ser justa, proporcional à gravidade do dano e da culpa, penas desproporcionais e penas

mal executadas, só serve para alimentar o espirito de revolta diante da injustiça.

3.4. DA ASSISTENCIA EDUCACIONAL

Como as demais assistências colaboradoras na reeducação do preso, a educação tem

também um papel de grande relevância, pois, mais que a pobreza da falta de dinheiro é a da

falta de educação, uma pessoa sem educação é uma pessoa com pouca perspectiva seja ela de

emprego, poder de compra, espaço mais apropriado de lazer enfim, o que diferentemente

acontece com uma pessoa que fundamentou sua vida na educação, onde porta e mais porta se

abrem, então trabalhar a educação do apenado é dá um novo horizonte, como combater um

grande mal vivenciado pelo homem encarcerado, a ociosidade.

Como nos diz Farias (2002, p. 226), "A ociosidade é a mãe de todos os vícios e

ensejadora de todas às maquinações e mazelas"

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Art. 17 A assistência educacional compreenderá, a instrução escolar, e a formação

profissional do preso e do internado.

Art. 18 O ensino do primeiro grau será obrigatório, integrando-se no sistema escolar da

Unidade federativa.

Art. 19 O ensino profissional será ministrado em nível de iniciação ou de

aperfeiçoamento técnico.

Parágrafo único. A mulher condenada terá ensino profissional adequado a sua

condição.

Art. 126 da Lei de Execução Penal, foi alterado pela Lei nº 12.433, de 29 de junho de

2011, que lhe deu nova redação, passando a aduzir que:

Art, 126 - O condenado que cumpre a pena em regime fechado ou semiaberto poderá

remir, por trabalho ou por estudo, parte do tempo de execução da pena

§ 1º - A contagem de tempo referido no caput será feito à razão:

I - 1 (um) dia de pena a cada 12 (doze), de frequência escolar - atividade de

fundamental, médio inclusive profissionalizante, ou superior ou ainda de requalificação

profissional - divididas no mínimo em 3 (três) dias.

3.5. DA ASSISTENCIA SOCIAL

Art. 22 A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-

los para o retorno á liberdade

Art. 23 Incube ao serviço de assistência social

I - conhecer os resultados de exames.

I. Relatar por escrito ao diretor do estabelecimento os problemas e dificuldades

enfrentados pelo assistido.

II. Acompanhar os resultados das permissões de saídas e de saídas temporárias.

III. Promover, no estabelecimento, pelos meios disponíveis a recreação.

IV. V. promover a orientação, na fase final do cumprimento da pena e do liberado, de modo

a facilitar o seu retorno á sociedade.

V. Providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência e do seguro por

acidente do trabalho.

VI. Orientar e amparar quando necessário, a família do preso do internado e da vitima.

VII. A Assistência Social representa não só o elo entre o apenado e sua família, mas a

reconstrução, o resgate da identidade e cidadania. Promove a reinserção social,

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visando um retorno harmonioso, uma relação positiva com o grupo familiar. Trabalha

de forma preventiva conduzindo-os ao exercício pleno de sua cidadania.

3.6. DA ASSISTENCIA RELIGIOSA

A assistência religiosa tem sido vista por uma grande maioria de penitenciarista, de

forma positiva, pois não podemos negar que o discurso bíblico que serve de base para a referida

assistência em algumas religiões, inculca valores na vida do apenado que contribui para uma

ressignificação de sua vida.

Art.24. A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos

internados, permitindo-se lhes a participação nos serviços organizados no estabelecimento

penal, bem com a posse de livros de instrução religiosa.

§ 1º No estabelecimento haverá local apropriado para os cultos religiosos.

§ 2º nenhum preso ou internado poderá ser obrigado a participar de atividade religiosa

4. DESAFIOS PARA A SUPERAÇÃO DE ÓBICES INDIVIDUAIS

DAS PESSOAS PRIVADAS DE LIBERDADE: históricos de

vida, horizontes pessoais e os projetos de reinserção

social na SUSIPE. IMPLICAÇÕES DA MÁ-CONDUTA PROFISSIONAL A preocupação com a corrupção, que é

uma constante em qualquer unidade prisional, adquire ainda mais relevância no sistema

penitenciário pela sua natureza e pelos critérios utilizados para a definição do perfil das pessoas

ali encarceradas. Desta forma, faz-se necessário atentar para as proibições e vedações legais que

norteiam a conduta do servidor penitenciário. Segundo o Art. 178 da Lei 5.810/1994,

Art. 178: É vedado ao servidor (em parte):

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[…]

II - revelar fato de que tem ciência em razão do cargo, e que deve permanecer em sigilo, ou

facilitar sua revelação;

[...]

IV - deixar de comparecer ao serviço, sem causa justificada, por 30 (trinta) dias consecutivos;

[...]

X - tratar de interesses particulares ou desempenhar atividade estranha ao cargo, no recinto da

repartição;

XI - referir-se, de modo ofensivo, a servidor público e a ato da Administração;

XIII - permutar ou abandonar serviço essencial, sem expressa autorização;

[...]

XV - desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de decisão judicial;

XVI - deixar, sem justa causa, de observar prazos legais administrativos ou judiciais;

XVII - praticar ato lesivo ao patrimônio Estadual;

XVIII - solicitar, aceitar ou exigir vantagem indevida pela abstenção ou prática regular de ato de

ofício;

XXI - praticar atos, tipificados em lei como crime, contra a administração pública;

Atuar no sistema penitenciário não é tarefa fácil, pois há uma peculiaridade e

especificidade no trabalho dentro das prisões e exige do servidor um comprometimento ético

com as ações que desempenha nas unidades penais. Conforme Foucault (2004), a prisão surge

antes mesmo da existência das leis penais, ou seja, antes mesmo de existir um sistema

carcerário punitivo legalizado, havia algumas outras formas de penalidades voltadas àqueles que

infligissem s normas impostas pela “sociedade”

.

Segundo Michel Foucault, no livro Vigiar e Punir o poder não são só uma força exercida

verticalmente, de cima para baixo, mas atravessa e constitui cada espaço das relações no interior

das sociedades. Para Foucault, a punição dos criminosos se transforma, em grande parte,

porque o jeito de exercer o poder também mudou. Nos séculos em que a execução pública e

precedida por suplícios era a regra, pode-se dizer que o destino dado aos criminosos era a

manifestação física da vingança do rei sobre seus súditos.

artigo 5º , da Constituição Federal, prevê que “ assegurado aos presos o respeito

à integridade física e moral. Hoje, os Direitos Humanos não permitem o castigo físico, para

aquele que foi condenado à prisão, por ter cometido qualquer ato ilícito penalmente, pois o

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único direito que a pessoa em situação de prisão perde, por um determinado tempo, é o de ir e

vir.

Portanto, é imprescindível que os profissionais, especialmente, os que atuam no sistema

prisional, tenham práticas comprometidas com a missão da SUSIPE e com o preconiza a LEP e

outras leis que garantem a defesa dos direitos humanos.

4.1. ESTRUTURA DO TRATAMENTO PENITENCIÁRIO NA SUSIPE

4.1.1. Diretoria de Reinserção Social

À Diretoria de Reinserção Social, subordinada diretamente à Diretoria Geral Penitenciária,

compete planejar, coordenar, supervisionar, executar, monitorar, promover, fomentar e avaliar

as atividades de assistência ao egresso e família, dar educação prisional e laboral à pessoa presa

e internada do Sistema Penitenciário.

Diretoria de Assistência Biopsicossocial

À Diretoria de Assistência Biopsicossocial, subordinada diretamente à Diretoria Geral

Penitenciária, compete planejar, coordenar, executar, supervisionar, monitorar, promover e

avaliar as atividades de assistência biopsicossocial e de promoção à saúde e prevenção de

doenças de pessoas presas e internadas no Sistema Penitenciário.

REGRAS DE MANDELA: REVISÃO DAS REGRAS MÍNIMAS PARA O TRATAMENTO DE RECLUSOS

No entanto, cientes de que nesta revisão das Regras Mínimas para o Tratamento de Reclusos,

recomenda-se a leitura destas Regras com o espírito proposto pelas Nações Unidas, no caso a

regras de Mandela aplicando-as tanto para os homens como para as mulheres a cumprirem

penas privativas de liberdade. Resolução da Assembleia-Geral adotada a 17 de dezembro de

2015

5. REGRAS DE MANDELA

REGRAS DE MANDELA: REVISÃO DAS REGRAS MINIMAS PARA TRATAMENTO DE PRESOS DA

ONU

As chamadas Regras de Mandela são preceitos mínimos da Organização das Nações

Unidas (ONU) para o tratamento de presos. O documento oferece balizas para a estruturação

dos sistemas penais nos diferentes países e reveem as "Regras Mínimas para o Tratamento de

resos” aprovado em 1955 jetiva-se a melhoria das condições do sistema carcerário e

garantia do tratamento digno oferecido às pessoas em situação de privação de liberdade.

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As Regras de Mandela levam em consideração os instrumentos internacionais vigentes no Brasil,

como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e a Convenção contra Tortura e outros

Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes. As regras têm caráter programático

e se prestam, primordialmente, a orientar a atuação e influenciar o desenho de novas políticas

pelo Poder Judiciário para o sistema carcerário.

A tradução e a publicação das Regras de Mandela conferem instrumental e qualificam o trabalho

dos juízes, na medida em que atualizam as orientações das Nações Unidas para os mínimos

padrões que devem nortear o tratamento das pessoas presas no país. As regras buscam

estabelecer bons princípios e sugerir boas práticas no tratamento de presos e para a gestão

prisional, assegurando a dignidade e respeito não só às pessoas privadas de liberdade, como

também a seus familiares.

O documento está dividido em regras de aplicação geral, direcionadas a toda categoria de

presos, e regras aplicáveis a categorias especiais, como presos sentenciados, presos com

transtornos mentais ou problemas de saúde, entre outros tipos.

Sem tortura – Entre as regras de aplicação geral, está previsto que “nenhum preso deverá ser

su metido tortura ou tratamentos cru is e desumanos”, e que “não haverá discriminação

baseada em raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou qualquer outra opinião”

documento também enfatiza a necessidade da separação de presos homens de mulheres, bem

como dos jovens de adultos.

Em relação às acomodações dos presos, as Regras de Mandela estabelecem que todos os

ambientes de uso dos presos, inclusive as celas, devem satisfazer exigências de higiene e saúde,

levando-se em conta as condições climáticas, a iluminação e a ventilação. Há previsão também

em relação ao vestuário, roupas de cama, alimentação, exercício e esporte, bem como serviços

de saúde que deverão estar à disposição dos presos.

Revistas íntimas – As regras deixam claro que revistas íntimas e inspeções não serão utilizadas

para assediar, intimidar ou invadir desnecessariamente a privacidade do preso. As revistas das

partes íntimas de pessoas serão conduzidas apenas por profissionais de saúde qualificados.

Onde forem permitidas visitas conjugais, as Regras de Mandela estabelecem que este direito

deverá ser garantido sem discriminação, e as mulheres presas exercerão este direito nas

mesmas bases que os homens.

De acordo com as novas regras, os instrumentos de restrição, como é o caso das algemas, não

devem ser utilizados em mulheres em trabalho de parto, nem durante nem imediatamente após

o parto.

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Em relação aos presos com transtorno mental ou problemas de saúde, o documento prevê que

os indivíduos considerados inimputáveis, ou que posteriormente forem diagnosticados com

deficiência mental ou problemas de saúde severos, não devem ser detidos em unidades

prisionais, a eles reservando-se instituições para doentes mentais assim que possível. As regras

estabelecem, ainda, que os serviços de saúde das instituições penais devem proporcionar

tratamento psiquiátrico a todos os outros prisioneiros que necessitarem.

Regra 1 Todos os reclusos devem ser tratados com o respeito inerente ao valor e dignidade do

ser humano. (...)

Regra 2 . Estas Regras devem ser aplicadas com imparcialidade. Não deve haver nenhuma

discriminação em razão da raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou outra, origem

nacional ou social, património, nascimento ou outra condição. (...)

Regra 3 A detenção e quaisquer outras medidas que excluam uma pessoa do contacto com o

mundo exterior são penosas pelo facto de, ao ser privada da sua liberdade, lhe ser retirado o

direito à autodeterminação. (...)

Regra 4 . Os objetivos de uma pena de prisão ou de qualquer outra medida restritiva da

liberdade são, prioritariamente, proteger a sociedade contra a criminalidade e reduzir a

reincidência.

Regra 5. O regime prisional deve procurar minimizar as diferenças entre a vida durante a

detenção e aquela em liberdade que tendem a reduzir a responsabilidade dos reclusos ou o

respeito à sua dignidade como seres humanos.

Regra 6 Em todos os locais em que haja pessoas detidas, deve existir um sistema uniformizado

de registo dos reclusos.

Regra 7 Nenhuma pessoa deve ser admitida num estabelecimento prisional sem uma ordem de

detenção válida.

Regra 8 Informações devem ser adicionadas ao sistema de registo do recluso durante a sua

detenção, quando aplicáveis: (a) Informação relativa ao processo judicial, incluindo datas de

audiências e representação legal;

Regra 9 Todos os registos mencionados nas Regras 7 e 8 serão mantidos confidenciais e só serão

acessíveis aos que, por razões profissionais, solicitem o seu acesso.

Regra 10 O sistema de registo dos reclusos deve também ser utilizado para gerar dados fiáveis

sobre tendências e características da população prisional

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Regra 11 As diferentes categorias de reclusos devem ser mantidas em estabelecimentos

prisionais separados ou em diferentes zonas de um mesmo estabelecimento prisional, tendo em

consideração o respetivo sexo e idade.

Regra 12 . As celas ou locais destinados ao descanso noturno não devem ser ocupados por mais

de um recluso.

Regra 13 Todos os locais destinados aos reclusos, especialmente os dormitórios, devem

satisfazer todas as exigências de higiene e saúde, tomando-se devidamente em consideração as

condições climatéricas, espaço mínimo, a iluminação, o aquecimento e a ventilação.

Regra 14 Em todos os locais destinados aos reclusos, para viverem ou trabalharem: (a) As janelas

devem ser suficientemente amplas de modo a que os reclusos possam ler ou trabalhar com luz

natural e devem ser construídas de forma a permitir a entrada de ar fresco, haja ou não

ventilação artificial; (b) A luz artificial deve ser suficiente para permitir aos reclusos ler ou

trabalhar sem prejudicar a vista.

Regra 15 As instalações sanitárias devem ser adequadas, de maneira a que os reclusos possam

efetuar as suas necessidades quando precisarem, de modo limpo e decente.

Regra 16 As instalações de banho e duche devem ser suficientes para que todos os reclusos

possam, quando desejem ou lhes seja exigido, tomar banho ou duche a uma temperatura

adequada ao clima,

Regra 17 Todas as zonas de um estabelecimento prisional utilizadas regularmente pelos reclusos

devem ser sempre mantidas e conservadas escrupulosamente limpas.

Regra 18 . Deve ser exigido a todos os reclusos que se mantenham limpos e, para este fim, ser-

lhes-ão fornecidos água e os artigos de higiene necessários à saúde e limpeza.

Regra 19 . Deve ser garantido vestuário adaptado às condições climatéricas e de saúde a todos

os reclusos que não estejam autorizados a usar o seu próprio vestuário. Este vestuário não deve

de forma alguma ser degradante ou humilhante.

Regra 20 Sempre que os reclusos sejam autorizados a utilizar o seu próprio vestuário, devem ser

tomadas disposições no momento de admissão no estabelecimento para assegurar que este seja

limpo e adequado.

Regra 21 A todos os reclusos, de acordo com padrões locais ou nacionais, deve ser fornecido um

leito próprio e roupa de cama suficiente e própria, que estará limpa quando lhes for entregue,

Regra 22. A administração deve fornecer a cada recluso, a horas determinadas, alimentação de

valor nutritivo adequado à saúde e à robustez física, de qualidade e bem preparada e servida.

Regra 23. Todos os reclusos que não efetuam trabalho no exterior devem ter pelo menos uma

hora diária de exercício adequado ao ar livre quando o clima o permita. 2. Os jovens reclusos e

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outros de idade e condição física compatíveis devem receber, durante o período reservado ao

exercício, educação física e recreativa.

Regra 24. A prestação de serviços médicos aos reclusos é da responsabilidade do Estado.

Regra 25. Todos os estabelecimentos prisionais devem ter um serviço de saúde incumbido de

avaliar, promover, proteger e melhorar a saúde física e mental dos reclusos,

Regra 26. Os serviços de saúde devem elaborar registos médicos individuais, confidenciais,

atualizados e precisos para cada um dos reclusos, que a eles devem ter acesso, sempre que

solicitado.

Regra 27. Todos os estabelecimentos prisionais devem assegurar o pronto acesso a tratamentos

médicos em casos urgentes.

Regra 28 Nos estabelecimentos prisionais para mulheres devem existir instalações especiais para

o tratamento das reclusas grávidas, das que tenham acabado de dar à luz e das convalescentes.

Regra 29 1. A decisão que permite à criança ficar com o seu pai ou com a sua mãe no

estabelecimento prisional deve ser baseada no melhor interesse da criança.

Regra 30 Um médico, ou qualquer outro profissional de saúde qualificado, seja este subordinado

ou não ao médico, deve observar, conversar e examinar todos os reclusos, o mais depressa

possível após a sua admissão no estabelecimento prisional

Regra 31 O médico ou, quando aplicável, outros profissionais de saúde qualificados devem visitar

diariamente todos os reclusos que se encontrem doentes,

Regra 32 . A relação entre o médico ou outros profissionais de saúde e o recluso deve ser regida

pelos mesmos padrões éticos e profissionais aplicados aos pacientes da comunidade,

Regra 33 O médico deve comunicar ao diretor sempre que julgue que a saúde física ou mental

do recluso foi ou será desfavoravelmente afetada pelo prolongamento ou pela aplicação de

qualquer modalidade do regime de detenção.

Regra 34 Se, durante o exame de admissão ou na prestação posterior de cuidados médicos, o

médico ou profissional de saúde detectar qualquer sinal de tortura, punição ou tratamentos

cruéis, desumanos ou degradantes, deve registar e comunicar tais casos à autoridade médica,

administrativa ou judicial competente.

Regra 35. O médico ou o profissional de saúde pública competente deve proceder a inspeções

regulares e aconselhar o diretor

Regra 36 A ordem e a disciplina devem ser mantidas com firmeza, mas sem impor mais

restrições do que as necessárias para a manutenção da segurança e da boa organização da vida

comunitária.

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Regra 37 Os seguintes pontos devem ser determinados por lei ou por regulamentação emanada

pela autoridade administrativa competente: (a) Conduta que constitua infração disciplinar; (b) O

tipo e a duração das sanções disciplinares que podem ser aplicadas; (c) Autoridade competente

para pronunciar essas sanções;

Regra 38. As administrações prisionais são encorajadas a fazer uso, sempre que possível, da

prevenção de conflitos, da mediação ou de qualquer outro meio alternativo de resolução de

litígios para prevenir infrações disciplinares e resolver conflitos.

Regra 39. Nenhum preso pode ser punido, exceto com base nas disposições legais ou

regulamentares referidas na Regra 37 e nos princípios de equidade e de processo legal; e nunca

duas vezes pela mesma infração.

Regra 40. Nenhum recluso pode ser colocado a trabalhar no estabelecimento prisional em

cumprimento de qualquer medida disciplinar.

Regra 41 . Qualquer alegação de infração disciplinar praticada por um recluso deve ser

prontamente transmitida à autoridade competente, que deve investigá-la sem atrasos

injustificados.

Regra 42 As condições gerais de vida expressas nestas Regras, incluindo as relacionadas com a

iluminação, a ventilação, a temperatura, as instalações sanitárias, a nutrição, a água potável, a

acessibilidade a ambientes ao ar livre e ao exercício físico, a higiene pessoal, os cuidados

médicos e o espaço pessoal adequado, devem ser aplicadas a todos os reclusos, sem exceção.

Regra 43. Em nenhuma circunstância devem as restrições ou sanções disciplinares implicar

tortura, punições ou outra forma de tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.

Regra 44 Para os efeitos tidos por convenientes, o confinamento solitário refere-se ao

confinamento do recluso por 22 horas ou mais, por dia, sem contato humano significativo. O

confinamento solitário prolongado refere-se ao confinamento solitário por mais de 15 dias

consecutivos.

Regra 45. O confinamento solitário deve ser somente utilizado em casos excecionais, como

último recurso e durante o menor tempo possível,

Regra 46. Os profissionais de saúde não devem ter qualquer papel na imposição de sanções

disciplinares ou de outras medidas restritivas. Devem, no entanto, prestar especial atenção à

saúde dos reclusos mantidos sob qualquer forma de separação involuntária,

Regra 47. O uso de correntes, de imobilizadores de ferro ou de outros instrumentos de coação

considerados inerentemente degradantes ou penosos deve ser proibido.

Regra 48. Quando a utilização de instrumentos de coação for autorizada, de acordo com o

parágrafo 2 da regra 47, os seguintes princípios serão aplicados: (a) Os instrumentos de coação

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só devem ser utilizados quando outras formas menos severas de controlo não forem efetivas

face aos riscos representados por uma ação não controlada;

Regra 49 A administração prisional deve procurar obter e promover formação no uso de técnicas

de controlo que evitem a necessidade de utilizar instrumentos de coação ou que reduzam o seu

caráter intrusivo.

Regra 50 As leis e regulamentos sobre as revistas aos reclusos e inspeções de celas devem estar

em conformidade com as obrigações do Direito Internacional e devem ter em conta os padrões e

as normas internacionais.

Regra 51 As revistas aos reclusos e as inspeções não serão utilizadas para assediar, intimidar ou

invadir desnecessariamente a privacidade do recluso.

Regra 52. Revistas íntimas invasivas, incluindo o ato de despir e de inspecionar partes íntimas do

corpo, devem ser feitas apenas quando forem absolutamente necessárias.

Regra 53 Os reclusos devem ter acesso aos documentos relacionados com os seus processos

judiciais e ser autorizados a mantê-los consigo, sem que a administração prisional tenha acesso a

estes.

Regra 54 Todo o recluso, no momento da admissão, deve receber informação escrita sobre: (a) A

legislação e os regulamentos do estabelecimento prisional e do sistema prisional;

Regra 55. As informações mencionadas na regra 54 devem estar disponíveis nas línguas mais

utilizadas, de acordo com as necessidades da população prisional. Se um recluso não

compreender qualquer uma destas línguas, deve ser providenciada a assistência de um

intérprete.

Regra 56. Todo o recluso deve ter a oportunidade de, em qualquer dia, formular pedidos ou

reclamações ao diretor do estabelecimento prisional ou ao membro do pessoal prisional

autorizado a representá-lo

Regra 57. Todo o pedido ou reclamação deve ser prontamente apreciado e respondido sem

demora. Se o pedido ou a reclamação for rejeitado, ou no caso de atraso indevido, o reclamante

deve ter o direito de apresentá-lo à autoridade judicial ou a outra autoridade.

Regra 58. Os reclusos devem ser autorizados, sob a necessária supervisão, a comunicar

periodicamente com as suas famílias e com amigos: (a) Por correspondência e utilizando, se

possível, meios de telecomunicação, digitais, eletrónicos e outros; e (b) Através de visitas.

Regra 59 Os reclusos devem ser colocados, sempre que possível, em estabelecimentos prisionais

próximos das suas casas ou do local da sua reabilitação social.

Regra 60. A entrada de visitantes nos estabelecimentos prisionais depende do consentimento do

visitante de submeter-se à revista. 2. Os procedimentos de entrada e revista de visitantes não

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devem ser degradantes e devem ser regidos por princípios tão protetivos como os delineados

nas Regras 50 a 52. As revistas feitas a partes íntimas do corpo devem ser evitadas e não devem

ser aplicadas a crianças.

Regra 61. Os reclusos devem ter a oportunidade, tempo e meios adequados para receberem

visitas e de comunicar com um advogado escolhido por si ou com um defensor público,

Regra 62. A reclusos de nacionalidade estrangeira devem ser concedidas facilidades razoáveis

para comunicarem com os representantes diplomáticos e consulares do Estado a que

pertencem.

Regra 63 Os reclusos devem ser mantidos regularmente informados das notícias mais

importantes através da leitura de jornais, publicações periódicas ou institucionais especiais,

através de transmissões de rádio, conferências ou quaisquer outros meios semelhantes,

autorizados ou controlados pela administração prisional.

Regra 64 Cada estabelecimento prisional deve ter uma biblioteca para o uso de todas as

categorias de reclusos, devidamente provida com livros recreativos e de instrução e os reclusos

devem ser incentivados a utilizá-la plenamente.

Regra 65. Se o estabelecimento prisional reunir um número suficiente de reclusos da mesma

religião, deve ser nomeado ou autorizado um representante qualificado dessa religião.

Regra 66 Tanto quanto possível, cada recluso deve ser autorizado a satisfazer as exigências da

sua vida religiosa,

Regra 67. Quando o regulamento não autorizar aos reclusos a posse de dinheiro, objetos de

valor, peças de vestuário e outros objetos que lhes pertençam, estes devem, no momento de

admissão no estabelecimento, ser guardados em lugar seguro.

Regra 68 Todo o recluso deve ter o direito de ter oportunidade e os meios de informar

imediatamente a sua família ou qualquer outra pessoa designada por si sobre a sua detenção,

transferência para outro estabelecimento prisional ou sobre qualquer doença ou ferimento

graves.

Regra 69 No caso de morte de um recluso, o diretor do estabelecimento prisional deve informar

imediatamente o parente mais próximo ou a pessoa previamente designada pelo recluso.

Regra 70 Um recluso deve ser informado imediatamente da morte ou doença grave de qualquer

parente próximo, cônjuge ou companheiro. No caso de doença crítica de um parente próximo,

cônjuge ou companheiro, o recluso deve ser autorizado, quando as circunstâncias o permitirem,

a estar junto dele, quer sob escolta quer só, ou a participar no seu funeral.

Regra 71. Não obstante uma investigação interna, o diretor do estabelecimento prisional deve

comunicar, imediatamente, a morte, o desaparecimento ou ferimento grave à autoridade judicial

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ou a outra autoridade competente independente da administração prisional e deve determinar

uma investigação imediata, imparcial e efetiva às circunstâncias e às causas destes casos.

Regra 72 A administração prisional deve tratar o corpo de um recluso falecido com respeito e

dignidade.

Regra 73. Quando os reclusos são transferidos, de ou para outro estabelecimento, devem ser

vistos o menos possível pelo público e devem ser tomadas medidas apropriadas para os

proteger de insultos, curiosidade e de qualquer tipo de publicidade.

Regra 74. A administração prisional deve selecionar cuidadosamente o pessoal de todas as

categorias, dado que é da sua integridade, humanidade, aptidões pessoais e capacidades

profissionais que depende a boa gestão dos estabelecimentos prisionais.

Regra 75. Os funcionários devem possuir um nível de educação adequado e deve ser-lhes

proporcionadas condições e meios para poderem exercer as suas funções de forma profissional.

Regra 76. A formação a que se refere o parágrafo 2 da Regra 75 deve incluir, no mínimo, o

seguinte: (a) Legislação, regulamentos e políticas nacionais relevantes, bem como os

instrumentos internacionais e regionais aplicáveis que devem nortear o trabalho e as interações

dos funcionários com os reclusos;

Regra 77 Todos os membros do pessoal devem, em todas as circunstâncias, comportar-se e

desempenhar as suas funções de maneira a que o seu exemplo tenha boa influência sobre os

reclusos e mereça o respeito destes.

Regra 78. Na medida do possível, deve incluir-se no pessoal um número suficiente de

especialistas, tais como psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais, professores e instrutores

técnicos.

Regra 79. O diretor do estabelecimento prisional deve ser adequadamente qualificado para a sua

função, quer pelo seu carácter, quer pelas suas competências administrativas, formação e

experiência.

Regra 80. O diretor, o seu adjunto e a maioria dos outros membros do pessoal do

estabelecimento prisional devem falar a língua da maior parte dos reclusos ou uma língua

entendida pela maioria deles.

Regra 81. Nos estabelecimentos prisionais destinados a homens e mulheres, a secção das

mulheres deve ser colocada sob a direção de um funcionário do sexo feminino responsável que

terá à sua guarda todas as chaves dessa secção.

Regra 82. Os funcionários dos estabelecimentos prisionais não devem, nas suas relações com os

reclusos, usar de força, exceto em legítima defesa ou em casos de tentativa de fuga ou de

resistência física ativa ou passiva a uma ordem baseada na lei ou nos regulamentos.

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Regra 83. Deve haver um sistema duplo de inspeções regulares nos estabelecimentos e serviços

prisionais.

Regra 84. Os inspetores devem ter a autoridade para: (a) Aceder a todas as informações sobre o

número de reclusos e dos locais de detenção, bem como a toda a informação relevante ao

tratamento dos reclusos, incluindo os seus registos e as condições de detenção;

Regra 85. Depois de uma inspeção, deve ser submetido à autoridade competente um relatório

escrito.

Regra 86 Os princípios gerais a seguir enunciados têm por finalidade a definição do espírito

dentro do qual os sistemas prisionais devem ser administrados e os objetivos a que devem

tender,

Regra 87 Antes do termo da execução de uma pena ou de uma medida é desejável que sejam

adotadas as medidas necessárias para assegurar ao recluso um regresso progressivo à vida na

sociedade.

Regra 88. O tratamento não deve acentuar a exclusão dos reclusos da sociedade, mas sim fazê-

los compreender que continuam a fazer parte dela.

Regra 89. A realização destes princípios exige a individualização do tratamento e, para este fim,

um sistema flexível de classificação dos reclusos por grupos; é por isso desejável que esses

grupos sejam colocados em estabelecimentos prisionais separados,

Regra 90 O dever da sociedade não cessa com a libertação de um recluso.

Regra 91 O tratamento das pessoas condenadas a uma pena ou medida privativa de liberdade

deve ter por objetivo, na medida em que o permitir a duração da condenação,

Regra 92. Para este fim, há que recorrer a todos os meios apropriados, nomeadamente à

assistência religiosa nos países em que seja possível, à instrução, à orientação e à formação

profissionais,

Regra 93. As finalidades da classificação devem ser: (a) De separar os reclusos que, pelo seu

passado criminal ou pela sua personalidade, possam vir a exercer uma influência negativa sobre

os outros reclusos;

Regra 94 Assim que possível após a admissão e depois de um estudo da personalidade de cada

recluso condenado a uma pena ou a uma medida de uma certa duração deve ser preparado um

programa de tratamento que lhe seja destinado,

Regra 95 Há que instituir em cada estabelecimento um sistema de privilégios adaptado às

diferentes categorias de reclusos e aos diferentes métodos de tratamento,

Regra 96. Todos os reclusos condenados devem ter a oportunidade de trabalhar e/ou participar

ativamente na sua reabilitação,

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Regra 97. O trabalho na prisão não deve ser de natureza penosa.

Regra 98. Tanto quanto possível, o trabalho proporcionado deve ser de natureza que mantenha

ou aumente as capacidades dos reclusos para ganharem honestamente a vida depois de

libertados.

Regra 99. A organização e os métodos do trabalho nos estabelecimentos prisionais devem

aproximar-se tanto quanto possível dos que regem um trabalho semelhante fora do

estabelecimento,

Regra 100. As indústrias e as explorações agrícolas devem, de preferência, ser dirigidas pela

administração prisional e não por empresários privados.

Regra 101. Os cuidados prescritos destinados a proteger a segurança e a saúde dos

trabalhadores em liberdade devem igualmente existir nos estabelecimentos prisionais.

Regra 102. As horas diárias e semanais máximas de trabalho dos reclusos devem ser fixadas por

lei ou por regulamento administrativo, tendo em consideração regras ou costumes locais

respeitantes ao trabalho dos trabalhadores em liberdade.

Regra 103. O trabalho dos reclusos deve ser remunerado de modo equitativo.

Regra 104. Devem ser tomadas medidas no sentido de melhorar a educação de todos os

reclusos que daí tirem proveito, incluindo instrução religiosa nos países em que tal for possível.

Regra 105 Devem ser proporcionadas atividades recreativas e culturais em todos os

estabelecimentos prisionais em benefício da saúde mental e física dos reclusos.

Regra 106 Deve ser prestada atenção especial à manutenção e melhoramento das relações entre

o recluso e a sua família que se mostrem de maior vantagem para ambos.

Regra 107 Desde o início do cumprimento da pena de um recluso, deve ter-se em consideração o

seu futuro depois de libertado, devendo este ser estimulado e ajudado a manter ou estabelecer

relações com pessoas ou organizações externas,

Regra 108. Os serviços ou organizações governamentais ou outras, que prestam assistência a

reclusos colocados em liberdade para se reestabelecerem na sociedade,

Regra 109. As pessoas consideradas inimputáveis, ou a quem, posteriormente, foi diagnosticado

uma deficiência mental e/ou um problema de saúde grave, em relação aos quais a detenção

poderia agravar a sua condição, não devem ser detidas em prisões.

Regra 110 É desejável que sejam adotadas medidas, de acordo com os organismos competentes,

para que o tratamento psiquiátrico seja mantido,

Regra 111. Os detidos ou presos em virtude de lhes ser imputada a prática de uma infração

penal, quer estejam detidos sob custódia da polícia, quer num estabelecimento prisional, mas

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que ainda não foram julgados e condenados, são doravante designados nestas Regras por

“detidos preventivamente”

Regra 112. As pessoas detidas preventivamente devem ser mantidas separadas dos reclusos

condenados.

Regra 113 As pessoas detidas preventivamente devem dormir sozinhas em quartos separados,

Regra 114 Dentro dos limites compatíveis com a boa ordem do estabelecimento prisional, as

pessoas detidas preventivamente podem, se o desejarem, mandar vir alimentação do exterior a

expensas próprias,

Regra 115 A pessoa detida preventivamente deve ser autorizada a usar a sua própria roupa se

estiver limpa e for adequada. Se usar roupa do estabelecimento prisional, esta será diferente da

fornecida aos condenados.

Regra 116 Será sempre dada à pessoa detida preventivamente a oportunidade de trabalhar, mas

esta não será obrigada a fazê-lo. Se optar por trabalhar, será remunerada.

Regra 117 A pessoa detida preventivamente deve ser autorizada a obter, a expensas próprias ou

a expensas de terceiros, livros, jornais, material para escrever e outros meios de ocupação

compatíveis com os interesses da administração da justiça e com a segurança e boa ordem do

estabelecimento prisional.

Regra 118 A pessoa detida preventivamente deve ser autorizada a ser visitada e a ser tratada

pelo seu médico pessoal ou dentista se existir motivo razoável para o seu pedido e puder pagar

quaisquer despesas em que incorrer.

Regra 119. Todo o recluso tem o direito a ser imediatamente informado das razões de sua

detenção e sobre quaisquer acusações apresentadas contra si.

Regra 120. Os direitos e as modalidades que regem o acesso de uma pessoa detida

preventivamente ao seu advogado ou defensor oficioso, com vista à sua defesa, devem ser

regulados pelos mesmos princípios estabelecidos na Regra 61. 2.

Regra 121 Nos países cuja legislação prevê a prisão por dívidas ou outras formas de prisão

proferidas por decisão judicial na sequência de processos que não tenham natureza penal, os

reclusos não devem ser submetidos a maiores restrições nem ser tratados com maior

severidade do que for necessário para manter a segurança e a ordem.

Regra 122 Sem prejuízo das disposições contidas no artigo 9.º do Pacto Internacional sobre os

Direitos Civis e Políticos 3 , deve ser concedida às pessoas presas ou detidas sem acusação a

proteção conferida nos termos da secção C, Partes I e II desta Regra.

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6. Documento faz análise do sistema prisional

brasileiro e busca soluções O primeiro dos órgãos da execução penal é o Conselho Nacional de Política Criminal e

Penitenciária, com sede na Capital da República e subordinado ao Ministro da Justiça. Já

existente quando da vigência da lei (foi instalado em junho de 1980), o Conselho tem

proporcionado, segundo consta da exposição de motivos, valioso contingente de

informações, de análises, de deliberações e de estímulo intelectual e material às atividades de

prevenção da criminalidade.

Preconiza-se para esse Órgão a implementação, em todo o território nacional, de uma nova

política criminal e principalmente penitenciária a partir de periódicas avaliações do sistema

criminal, criminológico e penitenciário, bem como a execução de planos nacionais de

desenvolvimento quanto às metas e prioridades da política a ser executada

O Conselho Nacional de Política Criminal, órgão subordinado ao Ministério da Justiça,

lançou, em dezembro de 2015, o Plano Nacional de Política Criminal e Penitenciária - PNPCP

(2015-2018), que busca compreender a crise da política criminal brasileira, cuja população

carcerária vem crescendo a cada ano sem impacto na melhoria dos indicadores de segurança

pública, além de apontar diretrizes para uma formulação apta a superar os desafios atuais.

O documento se divide em duas partes. A primeira apresenta as medidas relacionadas à

porta de entrada do sistema penal, com o objetivo de revelar o que ocorreu para o crescimento

contínuo da população carcerária. Já a segunda parte fixa diretrizes para o funcionamento do

sistema prisional, o qual não dará ênfase, pois o objetivo é de mostrar apenas a primeira parte,

no sentido de ressaltar o diagnostico do sistema prisional.

A violação de direitos fundamentais da população carcerária tem atraído a atenção dos

meios de comunicação de massa nos últimos anos e tornou-se objeto de pesquisas no campo

dos estudos penitenciários. O ideal reabilitador das penas tem sido confrontado pela crescente

deterioração das condições carcerárias nos últimos anos. Em outro ângulo, o texto constitucional

não reproduz a concepção expressa por quaisquer teorias das penas, mas preocupa-se em

estabelecer mecanismos que contenham os efeitos produzidos pelo poder punitivo. Apresenta e

discute mecanismos que, normativamente, assegurem os direitos fundamentais dos apenados.

Objetivando e propondo, possível roteiro de análise e de ações da política penitenciária, a partir

de decisões do Supremo Tribunal Federal. Analisando os fundamentos dos julgados daquele

Tribunal, pertinentes aos direitos fundamentais da população carcerária, a fim de detectar

possível adoção de teorias penais ou eventual opção por uma abordagem agnóstica das penas.

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7. PRINCIPAIS PONTOS ABORDADOS PELO PLANO

NACIONAL DE POLÍTICA CRIMINAL E PENITENCIÁRIA

(subdividido em duas partes, lembrando que será

trabalhada apenas a primeira parte). PARTE 1: PORTA DE ENTRADA

Medida 1: Governança da política criminal e penitenciária

Atualmente, a agenda legislativa aumenta as penas, de pena de crimes, que resulta no

crescimento progressivo da população carcerária. Entre os anos de 1990 e 2014 a população

aumentou 6,7 vezes, passando de 90 mil pessoas presas para 607 mil. O custo de construção

para cada vaga no sistema prisional varia entre 20 e 70 mil reais.

Medida 2: Alternativas penais, com justiça restaurativa e mediação penal priorizada

A privação de liberdade é o principal mecanismo central de politica criminal brasileira. O

investimento nas alternativas penais deve implicar no combate á cultura do encarceramento,

fomentando modelos que superem o paradigma de politica criminal.

Medida 3: Prisão Provisória sem abuso

Esta prisão continua sendo um dos instrumentos mais utilizados na politica criminal

brasileira. Vale ressaltar que 41% da população carcerária é de presos provisórios

(INFOPEN/2014).

Medida 4: Implementação dos direitos das pessoas com transtornos mentais

Atualmente, pessoas que poderiam estar sendo acompanhadas em meios aberto

continuam entrando no sistema de internação .Outro fator importante observado é a relação do

uso de drogas com a existência de comorbidade que merecem diagnósticos mais precisos para

adequar o tratamento.

Medida 5 : Redução do encarceramento feminino

Apesar da mulher encarcerada hoje possuir o perfil semelhante ao dos homens, este

aprisionamento feminino tem grande impacto para a sobrevivência das famílias das mulheres

presas. Em regra, elas não têm com quem deixar seus filhos.

Medida 6 : Reconhecimento do racismo como elemento estrutural do sistema punitivo

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O racismo é um eixo estruturante da política criminal brasileira, sendo uma prática que

se atualiza, retroalimenta e que sustenta privilégios consolidados. Esta prática estruturou o

processo de formação social do Brasil e sua existência ampara a manutenção das prerrogativas

de poder e coloca a população negra em situação de desvantagem até os dias atuais. O combate

ao racismo orienta os desafios a serem enfrentados tanto do ponto de vista das pessoas

criminalizadas, como das metodologias e das práticas adotadas no interior do sistema de justiça

criminal. Vale ressaltar que , dois em cada três presos são negros.(INFOPEN /2014)

Medida 7 : A vulnerabilidade dos mais pobres ao poder punitivo

A concentração da população carcerária entre as pessoas de baixa renda é uma característica

que se perpetua no sistema punitivo brasileiro. Os mecanismos de seleção dos processos de

criminalização, desde a elaboração de leis até a atuação da polícia e do sistema de justiça, são

influenciados por estereótipos e padrões que favorecem a inclusão de pessoas pobres no

sistema carcerário. É necessário reconhecer a maior vulnerabilidade das pessoas de baixa renda

ao poder punitivo e enfrentar as razões que levam a esse quadro.

Medida 8 : Novo tratamento jurídico para os crimes Contra o Patrimônio

A pena de prisão deve se restringir apenas aos crimes mais graves, sobretudo àqueles

cometidos com violência ou grave ameaça. No entanto, ainda é significativamente aplicada em

casos de crimes cujo bem jurídico atingido é tão somente o patrimônio. Como consequência,

90.000 pessoas encontram-se privadas da liberdade em razão do cometimento de crimes de

furto ou receptação(pouco mais que 15% do total da população carcerária). É necessário

modificar essa realidade, para alcançar maior proporcionalidade e eficácia no tratamento

jurídico-penal das infrações contra o patrimônio. O sistema de sanções deve possibilitar a

expansão do leque de aplicação de medidas despenalizadoras ou alternativas penais para esta

infração, tendo como pressuposto a reflexão demodelos teóricos baseados na auto-

responsabilização, na reparação do dano e, sobretudo, na restauração dos laços sociais

rompidos a partir da infração penal.

Medida 9 : O im “ ”

A proibição de algumas drogas, escolhidas de forma arbitrária em tratados

internacionais, nos quais o Brasil teve pouca participação, e sem qualquer estudo científico que a

em asasse, denominada e encarada pelos poderes p licos como “guerra s drogas”, depois de

mais de 50 anos de endurecimento, não demonstrou qualquer queda no consumo dessas

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substâncias, mas aumentou o número de mortes de pessoas inocentes, fortaleceu e possibilitou

a criação de organizações criminosas dentro o fora dos estabelecimentos penais, permitiu que se

agravasse a corrupção de pessoas e instituições, com a perda considerável de recursos que

poderiam estar sendo investidos na saúde, no efetivo combate à criminalidade e na educação,

inclusive na educação sobre o uso e abuso dessas drogas.

Medida 10: Defensoria Pública plena

Ainda há Estados no País em que a Defensoria Pública tem quadro de pessoal aquém do

necessário. Vale ressaltar que 72% das comarcas brasileiras não têm defensores públicos.

8. DADOS ATUAIS DA POPULAÇÃO PRISIONAL PARAENSE

Segundo os dados do site oficial da SUSIPE/PA, a população prisional no Estado do Pará é

apresentada no gráfico abaixo:

8.1. POPULAÇÃO FEMININA E LGBTTT NO SISTEMA PRISIONAL

Imagem do Centro de Reeducação Feminino (CRF).

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O Centro de Reeducação Feminino (CRF) foi inaugurado em 1977. Na época, a

Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) tinha como titular Eduardo Galeão

Pereira Lima. A primeira diretora desta Unidade Prisional foi Geane Salzer. O centro é

especializado em atender mulheres custodiadas no regime semiaberto, fechado e provisório. As

internas participam de Projetos como: Amanha em suas mãos, Começar de Novo, Conquistando

a liberdade, Dó-RÉ-MI-FAZ Melhor, Sala de Cordas, Coro Cênico, Teatro, Cineart, Crochê, Futuro

começa aqui-PRONATEC, Arca da leitura e Oficinas de EVA e Biscuit. O CRF tem a 1ª Unidade

Materno-Infantil do Norte do país, destinada às detentas grávidas. O local dispõe de 14 leitos que

abrigam internas grávidas e que acabaram de dar à luz a seus bebês. O atendimento às

dententas funciona 24 horas e conta com ambulância para emergências.

O tratamento dado às Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transexuais (LGBT) que estão

custodiados no sistema penitenciário paraense. Como qualquer outro cidadão, a população

carcerária LGBT tem os seus direitos garantidos e o respeito a sua opção sexual preservado.

O Pará foi o primeiro estado brasileiro a autorizar a visita íntima homoafetiva nos centros

de detenção, ainda no ano de 2009. Antes mesmo da resolução direcionada à população LGBT

assinada em 2014 pelo Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária e pelo Conselho

Nacional de Combate à Discriminação, a Susipe já garantia celas exclusivas para essa população,

ainda que os presídios do estado não possuam pavilhões específicos para internos. O objetivo é

sempre de garantir a integridade física dos homossexuais e transgêneros.

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REFERÊNCIAS

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GOFFMAN, Erwing. Manicômios, prisões e conventos. Trad. Dante Moreira Leite. São Paulo:

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MARCONDES, Pedro. A Individualização Executória da Pena Privativa de Liberdade no

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PARÁ. Susipe em números: jun. 2019. Belém: Superintendência do Sistema Penitenciário do

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