revista mistérios da psique, nº2, mensagens subliminares, por jarbas cardoso

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VERSÃO DIGITAL ELABORADA POR PACO’S AGÊNCIA DIGITALPACO’S

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ÍNDICERepressão e

neurose

Acumuladores Compulsivos

Transtorno de PICA

Vivendo o passado no presente

O que são atos falhos e por que eles

ocorrem?

Mensagens subliminares

Turbinando odesempenho físico

Mitos e caminhos da Superdotação

Págs.04 a 08

Págs.25 a 32

Págs.17 a 24

Págs.33 a 37

Págs.09 a 16

Págs. 44 a 48

Págs.38 a 43

Págs.49 a 55

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Editor-Executivo: Alex Alprim

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Gerente de Vendas/Livros: Adriana Ferreira S. Costa

Coordenação de Consignação: Mônica A. Silva

Números Atrasados: Fabiana Dionísio

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Manipulação

JAMES VICARY REALIZOU EM 1957 UMA DAS MAIS REFERENCIADAS EXPERIÊNCIAS COM MENSAGENS SUBLIMINARES, INSERINDO AS FRASES “BEBA COCA-COLA” E “COMA PIPOCA” DURANTE A PROJEÇÃO DE UM FILME, NUM CINEMA EM NOVA JERSEY. A EXPERIÊNCIA TERIA AUMENTADO EM 57,7% AS VENDAS DE PIPOCA E EM 18,1% AS VENDAS DE COCA-COLA DURANTE AS SESSÕES. ANOS MAIS TARDE, OS RESULTADOS FORAM RELATIVIZADOS PELO PRÓPRIO AUTOR DA PESQUISA E, NOS DIAS ATUAIS, AINDA HÁ CONTROVÉRSIAS SOBRE A EFICÁCIA DAS MENSAGENS SUBLIMINARES.

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Mensagenssubliminares

JÁ PENSOU SER POSSÍVEL INFLUENCIAR SEUS AMIGOS E COLEGAS DE TRABALHO? TER A CAPACIDADE E O DOMÍNIO DO USO DE TÉCNICAS PARA PERSUADIR AS PESSOAS EM SEU MEIO? O TEMA “MENSAGEM SUBLIMINAR” É SEMPRE ATRATIVO, POIS NOS FAZ FICAR ATENTOS SOBRE

COMO PODEMOS ESTAR SENDO INFLUENCIADOS. DOMINAR ESSE CONHECIMENTO É SEMPRE ALGO INSTIGANTE, FOI EXATAMENTE POR ESSA CURIOSIDADE E PELA BUSCA DA CAPACIDADE DE ENTENDER E TENTAR INFLUENCIAR AS PESSOAS QUE MUITOS CIENTISTAS, PESQUISADORES E PROFISSIONAIS DO MARKETING E PROPAGANDA DEDICARAM SEUS ESFORÇOS PARA COMPREENDER A MENSAGEM SUBLIMINAR. MAS, AFINAL, O QUE É MENSAGEM SUBLIMINAR E COMO ELA PODE EXERCER INFLUÊNCIA SOBRE NÓS?

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Manipulação

Ao pesquisarmos sobre a literatura que trata sobre o tema, encontramos algumas definições: “As mensagens subliminares são todos os estímu-los produzidos abaixo do limiar de nossa consciência cotidiana, quando o cérebro trabalha no que os psicólogos chamam de frequência beta, e nor-malmente, para sua transmissão, são utilizados recursos visuais ou audi-tivos” (Oliveira 2005, 5). “Mensagem subliminar é um conteúdo dissimula-do, uma mensagem visual ou auditiva escondida que atua no subconsciente da pessoa que é exposta à mensagem em questão. São mensagens implícitas que têm algum objetivo predefinido e normalmente são usadas como uma forma subtil de incentivar algum tipo de comportamento, seja ele a compra de algum produto ou uma atitude no âmbito da ética e moral” (Significados, 2016). “Mensagens subliminares são aquelas que os sentidos humanos não conseguem perceber de forma consciente, assim, a mensagem atinge outra parte do cérebro humano sub-consciente” (UOL/Brasil escola 2016).

Ou seja, mensagem subliminar é um tipo de informação recebida pelo nosso cérebro de forma não conscien-te, ou melhor, não percebida de forma consciente por nós. “São informações que entram pelas nossas portas da percepção, e vão mergulhar no mais profundo na nossa consciência” (Baggio 2010, 45). Vamos supor que nesse momento você esteja lendo exatamente esta frase, concentrado nela. Provavelmente, sua atenção está focada nas letras, mas, se, sem tirar os olhos dessa frase, observar ao redor, o que está em sua visão periférica, irá ouvir os sons que os cercam (uma música tocando em uma sala ou casa próxima, uma batida de porta, um latido de cão, um acelerar de uma motocicleta ou carro), irá sentir os cheiros ao redor (provavelmente um perfume, o cheiro do almoço que a vizinha esteja preparando ou alguém que passou fumando e o cheiro do cigarro chegou até você). Você não estava percebendo essas informações, porque sua atenção estava focada no texto que está lendo. Ou seja, mes-mo você concentrado em sua leitura, seus órgãos sensitivos captaram tais

impressões, mas como isso não inte-ressava no momento, tais estímulos não chamaram sua atenção, sendo filtrados e direcionados para o “fundo de sua consciência”, ou melhor, para seu subconsciente (Baggio 2010, 49).

O interesse por tal fenômeno não é recente. Na antiguidade, os filóso-fos já se questionaram sobre como funciona nossa consciência e como ela é influenciada pelo meio, pelas impressões, logo, por mensagens que recebemos e que nos influenciam sem que percebamos. Porém, o termo mensagem subliminar é recente. Surge a partir da segunda metade do século 20, com uma experiência realizada pelo publicitário norte-americano, James Vicary. Esse experimento, que ainda hoje é um dos mais conhecidos e reverenciados sobre mensagem subliminar, foi divulgado no ano de 1957, em uma conferência realizada para a impressa. Vicary anunciou ter desenvolvido uma nova técnica de vendas, chamada “projeção subli-minar”. Essa técnica consistia em utilizar um taquitoscópio, que é um

OU SEJA, MENSAGEM SUBLIMINAR É UM TIPO DE INFORMAÇÃO RECEBIDA PELO NOSSO CÉREBRO DE FORMA NÃO CONSCIENTE (...)

“O interesse por tal fenômeno não é recente, na antiguidade os filósofos já se questionaram (...)”

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“Como eram proje-tadas numa velo-cidade maior que o olho podia captar, estas imagens não eram vistas conscientemente.”

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dispositivo capaz de projetar ima-gens numa tela muito rapidamente, para exibir imagens entre os quadros de um filme durante uma fração de segundos (para ser mais preciso, 0,00033 s). Como eram projetadas numa velocidade maior que o olho podia captar, estas imagens não eram vistas conscientemente. Vicary acredi-tava que elas atingiam diretamente o subconsciente. Para provar a eficiên-cia de suas propagandas subliminares, Vicary, portanto, divulgou o resultado do experimento que teria conduzido num cinema de New Jersey, nos EUA. Ao inserir as frases “Drink Coke” e “Eat Popcorn” durante a projeção do filme (em noites alternadas), segundo ele, teria aumentado em 57,7% as ven-das de pipoca e em 18,1% as vendas de Coca-Cola durante as sessões do cinema (Wikipédia 2016). Na época, a experiência foi muito divulgada na imprensa e circulou por muito tempo como sendo válida. No entanto, mais tarde, o estudo foi colocado em dúvi-da pelo próprio Vicary, pois o mesmo alegou não ter dados seguros que

comprovassem a influência do experi-mento na decisão das pessoas sobre o consumo de Coca-Cola e pipoca.

Com o passar do tempo, outros experimentos foram realizados, e algumas evidências constataram que, sob condições cuidadosamente controladas, as pessoas podem ser influenciadas por informações fora de sua consciência. Segundo Nunberg (1988, citado em Morris e Maisto 2004), em determinado estudo com-portamental foi mostrada a um grupo de pessoas uma lista de palavras relacionada à competição, enquanto um segundo grupo observava uma lista de palavras neutras. Mais tarde, ao participar de um jogo, as pessoas a que tinha sido mostrada a lista subliminar de palavras com sugestão de competitividade tornaram-se es-pecialmente competitivas. O estudo demonstrou, ao menos, em um ce-nário de laboratório, que as pessoas podem processar as informações que ficam fora de sua consciência e reagir a elas. Mesmo assim, os pesquisado-res observam que não há evidência científica segura que mensagens subliminares usadas em propagandas ou mesmo em materiais de autoajuda tenham um efeito considerável.

Por outro lado, isso prova que as mensagens sublimares existem e que pessoas se preocuparam em entender essa lógica e como explorar a técnica para incentivar ou mesmo manipular o comportamento de outras pessoas.

O fator mensagem subliminar fica mais claro quando entendemos como funciona nosso mecanismo de per-cepção. Segundo ALVES, AREDES e CARVALHO (2002), nossa sensação e percepção ocorrem juntas, pois não há um delimitador claro, mas, para fins de compreensão, os termos são descritos separados, sendo sensação o processo fisiológico de ligação do organismo com o meio, por meio dos órgãos sen-soriais, e consiste na transmissão de um influxo nervoso (corrente elétrica que percorre os nossos nervos) desde o órgão sensorial (que pode ser nos-sos olhos, ouvidos, tato, nariz, boca), que é levado até os centros de decodi-ficação. Essa é realizada por estímulo específico sobre receptor apropriado para o receber. Por exemplo, nossos

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olhos recebem estímulos luminosos, os ouvidos estímulos sonoros, etc.

Os nossos sensores são, assim, os órgãos dos sentidos que recebem e transmitem mensagens bioquímicas sob a forma de influxo nervoso que, após serem decodificadas e inter-pretadas nos centros nervosos de conexão (espinal medula e encéfalo), desencadeiam uma resposta motora ou glandular. Já a percepção é o pro-cesso de interpretação e organização simbólica da sensação, por meio de fatores de significação da linguagem e das referências culturais que criamos. Nossa percepção é uma construção in-dividual, fruto de nossa relação com o nosso meio, a qual permite construir-mos uma visão da realidade, à qual é atribuído um significado particular.

Atualmente, se pesquisarmos na internet, vamos encontrar na literatura que fala sobre mensagem subliminar muitos estudos, alguns sérios, que afirmam que as mensagens sublimi-nares, por exemplo, são usadas para motivar as pessoas a perderem peso, na redução e controle da ansiedade e de fobias, para aprender uma segunda língua e mesmo em anúncios de pro-dutos ou de uma causa. Mas, atenção, já falamos acima, não há um estudo seguro, e os que existem são muitas vezes colocados em dúvida, sendo às vezes usados mais para comércio do que resultados efetivos. Há também muitas publicações tipo “teoria da conspiração”, onde se constata argu-mentos que mensagens subliminares são usadas para questões de mani-pulações políticas, de sexualidade, questões macabras/demoníacas ou por grupos neonazistas, etc. Um veícu-lo de comunicação e de produção de cinema, por exemplo, muito criticado por usar recursos subliminar, é a Walt Disney. Os analistas e críticos afirmam que em muitos dos seus filmes há o uso das mensagens subliminares, em especial com apelo à questão da sexualidade. Para os críticos, há toda uma maquinaria de construção de valores direcionados às crianças para induzi-las ao consumo de produtos.

Para entender a exploração da sexualidade em comerciais (que é usada também em demasia de forma normal, em especial em comerciais

de cerveja ou de carros, os quais hoje são muito criticados por usarem a figura da mulher como objeto) é preciso compreender um pouco de psicanálise, teoria ainda hoje válida em muitos aspectos. Segundo o cria-dor da psicanálise, Sigmund Freud, possuímos o instinto da vida, uma energia (chamada de libido) que nos impulsiona a viver, esse instinto é o da sexualidade. Essa energia (natural em nós) é responsável por nos fazer procurar o prazer, esse muito além da questão meramente do ligado a sexo genital, e sim em amplo sentido de busca de prazer, ou prazeres. Os publicitários (marketing e a propa-ganda) procuram estudar e conhecer a natureza humana, nossos valores e comportamentos exatamente para explorar no quesito venda ou de en-gajamento a publicidades. Eles procu-ram, por exemplo, ligar determinado produto a uma sensação de prazer.

No Brasil tivemos alguns casos polêmicos do uso de mensagens subli-minares, alguns comprovados, outros não. Um exemplo comprovado e que

ELES PROCURAM, POR EXEMPLO, LIGAR DETERMINADO PRODUTO A UMA SENSAÇÃO DE PRAZER.

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a justiça brasileira solicitou para que o mesmo fosse retirado do ar, foi o de uma vinheta promocional da antiga MTV Brasil, no ano de 2002. O vídeo mostrava um Buda e a logomarca da emissora, no entanto, em forma subli-minar, a emissora inseriu imagens de pessoas praticando sadomasoquismo em vários momentos da vinheta. A re-tirada da vinheta não necessariamente foi pelo uso de técnica de mensagem subliminar, mas pelo conteúdo su-bliminar, que no entender da justiça poderia causar danos às pessoas, em especial aos menores de idades. Veja reportagem tratando sobre o tema: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,mtv-condenada-por-vinheta-fora-do-ar,20021106p6605) ou https://www.youtube.com/watch?v=WvwncSmUoMQ.

Outro exemplo polêmico que en-contramos na internet é sobre a cam-panha publicitária conhecida por to-dos nós, que faz apelo para não dirigir após o consumo de álcool “Se beber, não dirija”. Segundo alguns analistas, a estrutura da frase deveria ser ao

contrário, exatamente para ser mais eficiente “Se dirigir, não beba”. Para os críticos, a frase da campanha publici-tária teve todo o cuidado subliminar de instigar as pessoas ao consumo de bebidas alcoólicas. Se analisarmos a frase, percebemos que o advérbio de negação “não” foi colocado na frente do verbo “dirigir” e não do verbo “be-ber”. Ou seja, você pode beber, está livre para isso, o que não pode é dirigir caso tenha bebido álcool. Na verdade, a peça publicitária tem sua origem via indústria cervejeira, e mais tarde é que virou lei, e obrigatória aparecer nos anúncios de venda de bebida alcoólica “Se beber, não dirija”. Se analisarmos pela ótica de nossos valores, da cultu-ra presente em nosso meio ao qual nos constituímos como sujeitos, a crítica à campanha publicitária tem sentido, pois o “não” é muito forte em nós... quem afinal não escutou um não do pai, um não da mãe, ou da professora quando criança ou adolescente? O não de fato exerce em nós o significado de bloqueio, do parar. Portanto, parece que o publicitário da empresa cerve-jeira teve todo o cuidado de colocar o adverbio “não” na frente do verbo “dirigir” e não do verbo “beber”.

Na atualidade, o uso da mensagem subliminar tem se inovado e procu-rado expandir o uso da técnica às de-mais vias de percepção para além de imagens. Segundo Martin Lindstrom, em seu livro “A Lógica do Consumo”, a audição e o olfato podem ser explora-dos tanto quanto a visão no processo de marketing e publicidade. Claro, isso não quer dizer que as imagens visuais não deixam de ser ainda componentes importantes do processo, essas na ver-dade se tornam mais eficazes e memo-ráveis quando associadas a outras vias de percepção. Após imensas críticas e uma legislação que proibe quase que globalmente, por exemplo, de propa-gandas de cigarros nos meios tradicio-nais de comunicação, é que empresas desse setor foram obrigadas a achar formas alternativas de gravar sua mar-ca e produto na cabeça das pessoas exatamente pelo uso da aplicação de modernas técnicas que exploram o som, as cores e o cheiro, sendo muitas dessas de forma subliminar.

No som, por exemplo, pelo

“Na atualidade, o uso da mensagem subliminar tem se inovado e procu-rado expandir o uso da técnica às demais vias de percepção para além de imagens.”

“Para os críticos há toda uma maqui-naria de construção de valores direcio-nados às crianças, para induzi-las ao consumo de produtos.”

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“Em outro mo-mento, quando colocado música portuguesa, houve também um au-mento significativo no aumento das vendas de vinhos portugueses.”

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barulhinho crocante no comercial do salgadinho de batata Ruffles. Ou ainda, na velha prática que grandes redes de supermercados de colocarem músicas calmas para fazerem o consumidor an-dar mais devagar e passar mais tempo dentro do mercado, de forma a aumen-tar as chances de os mesmos fazerem uma compra por impulso. Não bastas-se isso, por exemplo, na seção de vi-nhos, se coloca para tocar uma música italiana, e os vinhos italianos tiveram um aumento expressivo nas vendas. Em outro momento, quando colocado música portuguesa, houve também um aumento significativo no aumento das vendas de vinhos portugueses. Segundo o autor, o som desencadeia fortes associações e emoções, e pode exercer uma influência poderosa no nosso comportamento. Pois a atenção dos consumidores aumenta quando eles ouvem uma melodia caracterís-tica, o que de uma forma ou de outra, acaba ligando o produto a determi-nado ambiente, o consumidor passa a prestar mais atenção a determinado produto relacionado.

Igualmente nas cores, cada cor passa uma “mensagem” para o consu-midor. Por exemplo: vermelho trans-mite robustez, excitação e juventude. O azul passa confiança e força. Já o amarelo transmite claridade, otimis-mo e conforto. Já o verde passa a ideia de saúde, paz e crescimento. Quem já não associou determinada cor a algum produto? Nesse sentido, e não menos importante, as cores tam-bém representam uma forte ligação emocional entre nós e uma marca. Já é dado comprovado que quando pre-cisamos fazer um julgamento rápido, algo em torno de 90 segundos, sobre uma pessoa, um ambiente ou um produto, cerca de 60% a 90% dessa avaliação se baseia apenas na cor. Quando a cor está fortemente enrai-zada à marca, não é preciso estampar logotipo em anúncio algum para que de fato os consumidores possam per-ceber a sua presença, é o caso, hoje do azul marcante do Facebook.

O cheiro também tem forte influên-cia na decisão de escolha por algo, e nesse sentido também o mesmo é

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explorado muitas vezes em mensa-gens subliminares, e Martin Lindstrom nos traz alguns exemplos do empre-go da técnica. Desde a já clássica forma de organizar o espaço de um supermercado, colocando o espaço de venda dos pães bem ao fundo do supermercado, primeiro porque é um produto que diariamente consumimos e vamos comprar, então até chegar-mos aos pães podemos ser cativados a comprar mais produtos, um vinho da serra gaúcha, por exemplo. Além do mais, profissionais da área de venda perceberam que o aroma de pão recém-assado atrai o consumidor para dentro do mercado, fazendo com que aumentem as vendas de produ-tos similares. Há mercados que até já começaram a espalhar, em deter-minado horário, um aroma artificial de pão recém-assado em seus dutos de ventilação. Além dessa experiên-cia, Lindstrom traz outros exemplos de técnicas que muitas vezes nem percebemos, mas que acabam nos influenciando na decisão ou consumo de algo. É por exemplo a experiência, realizada com pares de tênis seme-lhantes e da mesma marca, mas que em um dos pares foi borrifado um aro-ma floral. O resultado é que 84% dos participantes preferiram os tênis que haviam visto na sala com aroma floral, além disso, os tênis dessa sala foram atribuídos com um valor de 10 dólares mais caros. Em uma tentativa ousada, os donos de uma loja de roupas expe-rimentaram borrifar “aromas femini-nos”, como baunilha, no departamento de roupas femininas, e as surpresas vieram, as vendas dobraram. Ou ainda, quem iria imaginar que os frascos de Nescafé são projetados para que assim que abertos, liberarem o máximo de fragrância possível no ar?

O marketing e a publicidade, justa-mente por mexerem com o nosso ima-ginário, são campeões na arte de dei-xar subentendido muitas informações as quais têm o intuito, muitas vezes, de nos fazer querer muito algum produto sem nem sabermos explicar o porquê. Ou seja, não há como negar que existe em nosso meio toda uma maquina-ria para nos influenciar em nossas decisões. Dentro delas há o uso da mensagem subliminar. Muitos desses

usos são até interessantes. Há casos também que são incluídas mensagens subliminares propositalmente, não para influenciar as pessoas, mas para gerar polêmica, e, com isso, promover o produto ou marca. E, há casos que visam, de forma errada, a manipulação das pessoas. O importante é sempre lembrarmos e respeitarmos que cada pessoa é um sujeito único e a este cabe sua autonomia em suas decisões. Por isso mesmo é importante saber-mos que há um mundo que nos rodeia e que tenta nos influenciar, despertar em nós a busca de consumo, de nossa atenção e escolha para algo.

* Jarbas Cardoso é formado em Filosofia UFSM/2000. É professor de Filosofia da Rede Pública Estadual do Rio Grande do Sul. Foi Assessor Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Giruá/RS (2009-2010). Foi coordenador Regional de Educação Adjunto, na 17ª CRE, Santa Rosa/RS (2011-2012) e Secretário Municipal de Administração do município de Giruá (2013-2015). Atualmente é estudante do curso de mestrado em Intervenção Social, Inovação e Empreendedorismo na Universidade de Coimbra, Portugal. E-mail: [email protected]

IGUALMENTE NAS CORES, CADA COR PASSA UMA “MENSAGEM” PARA O CONSUMIDOR.

“O importante é sempre lembrarmos e respeitarmos que cada pessoa é um sujeito único e a este cabe sua escolha autonomia em suas decisões.”

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