hall, stuart. estudos culturais e seu legado teorico

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1 FICHAMENTO HALL, Stuart. Estudos culturais e seu legado teórico. In: ______. Da diáspora. RESUMO: O título do texto já propõe olhar para o passado para pensar presente e futuro através de arquealogia. “... no que toca aos estudo culturais sinto-me como um tableau vivant , um espírito do passado ressuscitado, outorgando-se a si próprio a autoridade de uma origem.”. (p.199) A origem britânica é de Hall, Raymond Williams e Richard Hoggart. Não quer falar dessa origem britânica, mas quer falar do passado. Quer se esquivar da representação que as pessoas guardam. Ele confessa que carrega algumas tais: 1. Esperam que ele fale por todos de raça negra sobre questões teóricas e críticas; 2. Espera-se que fale da política britânica; 3. Esperam que fale dos estudos culturais. A isso ele chama o fardo do homem negro. Em paradoxo, seu objetivo é voltar-se para uma visão autobiográfica. A posição que ele deseja tomar é em relação à grande narrativa dos estudos culturais para incentivar reflexões sobre esses estudos enquanto prática, posicionamento institucional, projeto. Deseja marcar suas impressões de alguns momentos nos estudos culturais, para se posicionar quanto à relação entre teoria e política. “Os estudos culturais são uma formação discursiva, no sentido foucaultiano do termo.”. (p.200) Afirma que ele e outros autores estavam juntos na “edificação” dos estudos culturais quando esse campo tomou tal nome, mas que as teorizações e os estudos já haviam começado há tempos. Raymond Williams concorda e situa esse início desde a gênese do movimento de educação dos aultos. Os estudos culturais abarcam vários discursos com várias histórias. [? Não seriam estórias com e?] São um conjunto de formações com trajetórias diversas (metodologicamente e posicionalmente falando).

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Page 1: HALL, Stuart. Estudos Culturais e Seu Legado Teorico

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FICHAMENTO

HALL, Stuart. Estudos culturais e seu legado teórico. In: ______. Da diáspora.

RESUMO:

O título do texto já propõe olhar para o passado para pensar presente e futuro

através de arquealogia.

“... no que toca aos estudo culturais sinto-me como um tableau vivant, um

espírito do passado ressuscitado, outorgando-se a si próprio a autoridade de

uma origem.”. (p.199)

A origem britânica é de Hall, Raymond Williams e Richard Hoggart. Não quer

falar dessa origem britânica, mas quer falar do passado.

Quer se esquivar da representação que as pessoas guardam. Ele confessa que

carrega algumas tais: 1. Esperam que ele fale por todos de raça negra sobre

questões teóricas e críticas; 2. Espera-se que fale da política britânica; 3.

Esperam que fale dos estudos culturais. A isso ele chama o fardo do homem

negro.

Em paradoxo, seu objetivo é voltar-se para uma visão autobiográfica.

A posição que ele deseja tomar é em relação à grande narrativa dos estudos

culturais para incentivar reflexões sobre esses estudos enquanto prática,

posicionamento institucional, projeto.

Deseja marcar suas impressões de alguns momentos nos estudos culturais, para

se posicionar quanto à relação entre teoria e política.

“Os estudos culturais são uma formação discursiva, no sentido foucaultiano do

termo.”. (p.200)

Afirma que ele e outros autores estavam juntos na “edificação” dos estudos

culturais quando esse campo tomou tal nome, mas que as teorizações e os

estudos já haviam começado há tempos.

Raymond Williams concorda e situa esse início desde a gênese do movimento

de educação dos aultos.

Os estudos culturais abarcam vários discursos com várias histórias. [? Não

seriam estórias com e?]

São um conjunto de formações com trajetórias diversas (metodologicamente e

posicionalmente falando).

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Fala do trabalho Center for Contemporary Cultural Studies como “ruído

teórico”, cheio de conflitos, discussões, sentimentos negativos, etc.

Dizer isso seria dizer os estudos culturais não constituem uma área disciplinar

regulamentada? Vale tudo?

Hall responde que mesmo que o projeto dos EC seja aberto não se pode reduzir a

pluralismo simplista.

O projeto: 1. Recusa-se a ser grande narrativa; 2. É aberto ao desconhecido, ao

que não se consegue nomear; 3. Mas têm interesses nas escolhas.

É projeto sério, ou seja, os EC possuem um aspecto político. A política não está

a priori nos EC.

Mas há um jogo nos EC que não se vê em outras disciplinas.

O dilema de Hall: não quer fechar o campo mas ao mesmo tempo quer defender

interesses com ele.

Para Hall, mesmo sem ele acreditar no fechamento do conhecimento, a política

só pode ser feita através do que ele chama de “clausura arbitrária”.

HÁ UM INATISMO DA POLÍTICA: A definição de posicionamentos é

inerente a qualquer projeto de conhecimento ou de formação de um campo de

estudos.

Como diz Eduard Said, trata-se da “mundanidade” dos estudos culturais; a

sujeira do jogo semiótico.

Precisa examinar as “viradas” das conjunturas teóricas dos EC, remexendo a

sujeira.

A primeira desconstrução: ideia de que os EC britânicos se definem por terem se

tornado prática crítica marxista. O que é os EC como teoria crítica marxista? Ele

confessa que entrou para os EC pela Nova Esquerda (que sempre considerou o

marxismo um problema, um perigo).

Hall e os Ec foram influenciados pelas questões do marxismo como projeto

político.

“Em nenhum momento os estudos culturais e o marxismo se encaixaram

perfeitamente, em termos teóricos.”. (p.203)

As insuficiências teóricas e políticas, silêncios, evasões. Marx não falava e

parecia não compreender – cultura, ideologia, linguagem, o simbólico – e que

eram objeto de estudo dos EC.

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Elementos que aprisionavam o marxismo já estavam presentes – ortodoxia,

doutrinário, determinismo, reducionismo, etc.

Denuncia o eurocentrismo da teoria marxista – ligado não ao lugar onde nasce

Marx, mas ao modelo de evolução do capitalismo por suas próprias

transformações.

Para o trabalho teórico Hall sugere a metáfora de luta, de combate.

“A única teoria que vale a pena reter é aquela que você tem de contestar, não a

que você fala com profunda fluência.”. (p.204)

Relata que no Centre for Contemporary Cultural Studies, decidiram aprofundar

leituras na teoria do pensamento europeu, para não passarem apenas por um

capítulo do zeitgeist.

Afirma que a noção de que o marxismo encaixou perfeitamente nos Estudos

Culturais, de imediato, como momento fundador dos estudos culturais é

completamente errada.

No seu trabalho, Hall tentou aprender com avanços teóricos de Gramsci. Pelo

que Hall chama de “enigmas da teoria”, essa metáfora dá conta daquilo que a

teoria de Marx não respondia, assuntos do mundo moderno tratados por

Gramsci.

As questões que Hall queria trabalhar eram inacessíveis, a não pelo desvio de

Gramsci, que não resolveu, mas abordou essas questões.

Contribuições de Gramsci para os EC: quantidade de coisas sobre a cultura,

sobre a disciplina, sobre importância de especificidade histórica, sobre a

metáfora da hegemonia, sobre a forma de pensar relações de classe.

A importância de Gramsci para os EC se dá pelo que ele desloca das heranças

marxistas nesses estudos. Mas há outros contributos.

Diz que eles problematizavam no Centre o que pensavam estar fazendo com o

tipo de trabalho intelectual e que Gramsci assim definia como “produção de

intelectuais orgânicos”.

Os membros dos EC buscavam uma prática para produzir um intelectual

orgânico. O conceito tratava de um alinhamento entre intelectual e o movimento

histórico emergente.

Segundo aspecto da definição de Gramsci do trabalho intelectual: a exigência do

intelectual orgânico trabalhar nas frentes: a. da vanguarda no trabalho teórico

intelectual (obrigação de conhecer mais e melhor do que os outros intelectuais);

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b. o intelectual orgânico precisa transmitir essas ideias, pela função intelectual,

mesmo aos que não são profissionalmente intelectuais.

Confessa que o seu trabalho não é antiteórico, mas problematiza o trabalho

intelectual e teórico como prática política.

Nunca se produziu intelectuais orgânicos no Centro.

“... o nosso exercício foi metafórico. Contudo, as metáforas são coisas sérias.

Afetam a prática.”. (p.208)

Os EC terão que continuar com essa tensão.

Relata que houveram várias rupturas nos EC vindas de forças exteriores.

Outra metáfora para o trabalho teórico >> o trabalho teórico como interrupção.

Duas interrupções no Instituto dos CS: em torno do feminismo e da raça.

Formas de intervenção do feminismo sobre os EC, reorganizado o campo: 1.

Questão do pessoal como político (mudanças no objeto de estudo dos EC); 2.

Expansão radical da noção de poder (antes na dimensão do público); 3.

Centralidade das questões de gênero e sexualidade para entender poder; 4.

Abertura de muitas questões (colocando sujeito no centro das questões); 5.

Reabertura da fronteira entre teoria social e teoria do inconsciente (psicanálise).

Feminismo, psicanálise, estudos culturais.

Não se sabe como começou o feminismo na teoria:

... chegou como um ladrão à noite, invadiu, interrompeu, fez um barulho

inconveniente, aproveitou o momento, cagou na mesa dos estudos culturais.”.

(p.209)

Women take issue: marco de realização do feminismo.

Na década de 70, muitos homens decidiram introduzir os trabalhos feministas de

qualidade nos estudos culturais.

O feminismo veio para denunciar o patriarcalismo que se acreditava

desautorizado.

Hall afirma que os homens diziam pra si: aqui não há líderes. Todo mundo é

livre para decidir. Mas na leitura do currículo foi que ele descobriu a natureza

sexuada do poder. (p.210)

Uma coisa é abrir mão do poder e outra é ser silenciado.

Outra metáfora para a teoria: a forma de rompimento do feminismo com os

estudos culturais.

Agora a questão racial...

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Colocar a raça, a política racial, críticas da política cultural foi uma luta teórica

pesada.

Ele acredita que os movimentos provocam momentos históricos.

As conjunturas históricas são momentos de evolução teórica.

O que deslocou o caminho do Centro de EC foi a “virada linguística”,

descoberta da discursividade, textualidade.

Mais uma vez o autor se reduz a relatar os progressos teóricos diante do

encontro com trabalho estruturalista, semiótico e pós-estruturalista.

A importância: a. da linguagem; b. metáfora; c. noção de texto e textualidade

(fonte de significado ou o que o adia); d. heterogeneidade de significados; e. a

arbitrariedade da semiose; f. representação como poder; g. simbólico como fonte

de identidade. Hall reconhece que são enormes avanços.

Sobre a linguagem: Raymond Williams, antes da revolução semiótica.

“No entanto, a reconfiguração da teoria, que resultou em ter de se pensar

questões da cultura através das metáforas da linguagem e da textualidade,

representa um ponto para além do qual os estudos culturais têm agora que

necessariamente se localizar.”. (p.211)

Para Hall o deslocamento do discursivo está sempre implícito no conceito de

cultura.

Nenhuma das questões da textualidade, da linguagem está fora dos EC.

O projeto de Hall é atrelar um projeto acadêmico a pedagogias ativas para

indivíduos e grupos, fazer diferencial no mundo institucional.

Nunca no campo teórico dos EC foi possível dar conta das relações de cultura e

de seus efeitos.

Há uma tensão inerente: saber dos processos e ao mesmo tempo saber que os

processos são determinados. Sem admitir essa tensão, o trabalho intelectual será

produzido, mas a prática intelectual como política será perdida. >> [? Hall se

refere aos EC, mas não trataria-se de uma deontologia do profissional intelectual

das ciências sociais ou de outras ciências?]

É isso o que faz a diferença nos EC: a manutenção das tensões entre questões

políticas e teóricas como algo não resolvido, permanente.

A AIDS: um sinal de incompetência dos intelectuais por não produzirem efeitos

reais.

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“Diante da urgência das pessoas que estão morrendo, qual, em nome de Deus, é

o propósito dos estudos culturais?”. (p.213)

Qual o sentido do estudo das representações?

[CLARAMENTE: O TEXTO VERSA SOBRE A FUNÇÃO SOCIAL DO

INTELECTUAL]

Se a prática, a ação não incomodar é porque a teoria ficou pra trás.

Os EC podem tocar em aspectos da natureza política da representação: efeitos de

linguagem, textualidade como local de vida e morte. (p.214)

Chama esse trabalho de trabalho teórico sério.

Diz que não sabe o que dizer sobre os EC americanos. A institucionalização lá

como brutal; momento perigoso, mas que se vai por isso.

Para Hall, os EC e outras formas de teoria crítica representam um perigo

fortíssimo. Ou seja, é difícil falar de produção política e intelectual como crítica

diante de pressões como carreira, publicação, etc., advindos da

institucionalização.

Não há mais quase nada nos EC americanos que não tenha sido teorizado como

poder (política, raça, classe, gênero, dominação, exclusão,etc.). Uma dúvida:

essa textualização dos EC constitui o poder e a política como questões de

linguagem e textualidade? Hall considera que são coisas, também, discursivas e

representações, mas que há uma dimensão de “significante flutuante” (momento

em que poder e cultura parecem livres de significação – esse um momento

perigoso da institucionalização, no bem-financiado profissional acadêmico).

Retorna à discussão do trabalho como intelectual como algo muito sério.

Trabalho intelectual e trabalho acadêmico não são a mesma coisa.

Defende a prática crítica e cultural genuína, que fuja de uma metanarrativa e se

vincule a um trabalho político-intelectual orgânico.

Martela na política da teoria [? Ou função social do intelectual?]. Como

dialogismo; prática que pensa a intervenção no mundo, podendo levar a efeitos.

Compreender a política do trabalho intelectual e não substituir a política pelo

trabalho intelectual.