habilidades sociais e competência acadêmica em uma amostra de crianças do ensino fundamental

III congresso de Produo Cientfica e XII SIC da Universidade Federal de So Joo del Rei, 2004, So Joo del Rei. III Congresso de Produo Cientfica, 2004.

HABILIDADES SOCIAIS E COMPETNCIA ACADMICA EM UMA

AMOSTRA DE CRIANAS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Luisa Gonalves Pires*, Marina Bandeira Ph.D., Sandra Silva Rocha

INTRODUO

Os problemas relacionados educao escolar, ao fracasso escolar e s

dificuldades de aprendizagem so bastante conhecidos no Brasil e alvo de vrias

discusses (Del Prette e Del Prette, 1998, 2003). Crianas com dificuldades escolares

geralmente manifestam problemas de ordem emocional e comportamental que

ultrapassam o mbito escolar, podendo afetar a vida da criana na famlia e nas relaes

interpessoais (Medeiros e Loureiro, 2004).

O sucesso escolar mostra-se como um fator importante para a criana no incio

da escolarizao e garante a valorizao por parte da sociedade. J o insucesso

acadmico, ao contrrio, pode gerar na criana um senso de no cumprimento da tarefa

social referente sua escolarizao (Lindahl, 1998; Marturano, 1997; Medeiros,

Loureiro, Linhares e Marturano, 2000).

As dificuldades de aprendizagem, segundo Marturano, Linhares e Parreira

(1993), se caracterizam como uma sndrome psicossocial, onde o dficit nas interaes

sociais pode ser visto como um possvel fator do fracasso escolar (Del Prette e Del

Prette,1998, 2003). Um repertrio bem elaborado de habilidades sociais, em crianas

em idade pr-escolar, est associado a um maior sucesso escolar posterior (Ferreira e

Marturano, 2002, Marinho, 2003, Del Prette e Del Prette, 2003). Vrios so os estudos,

realizados com crianas, que mostram a associao entre dficits de habilidades sociais

e problemas de aprendizagem (Medeiros, Loureiro, Linhares, 2003; Marturano,

Linhares e Parreira, 1993; Estevanato, Loureiro, Linhares e Marturano, 2003; Lemos e

Meneses, 2002; Del Prette e Del Prette, 2002; Del Prette e Del Prette, 2003).

As habilidades sociais, segundo Segrin e Flora (2000), se referem capacidade

de um indivduo para se comunicar e interagir com os outros, de uma maneira que seja

efetiva e apropriada. Esta capacidade envolve um conjunto de habilidades complexas,

incluindo, dentre outras, as habilidades de fazer perguntas, lidar com crticas, solicitar


mudanas de comportamento e resolver situaes interpessoais conflituosas. Alm

disso, as habilidades sociais possuem um carter situacional, variando conforme o

contexto social e a cultura, sendo adquiridas atravs do processo de aprendizagem (Del

Prette e Del Prette, 1999).

Neste contexto, a infncia merece peculiar ateno uma vez que se caracteriza

como um perodo crtico para aprendizagem dessas habilidades (Caballo, 2003; Del

Prette e Del Prette, 1999), o que enfatiza ainda mais a importncia da habilidade social

para o desenvolvimento infantil.

Estudos sobre as relaes entre estas variveis so particularmente necessrios e

relevantes em nosso pas, devido gravidade do fracasso escolar no Brasil (Del Prette &

Del Prette, 1998, 2003). De fato, vrios autores apontam para a elevada ocorrncia de

dificuldades de aprendizagem em estudantes de ensino fundamental em nosso pas

(Patto, 1987; Freller, 1999; Del Prette e Del Prette, 1998, 2003). Entretanto, deve-se

considerar que as dificuldades escolares variam de uma regio para outra (Carvalho,

2003).

Tendo em vista a relao observada entre dificuldades acadmicas e as

habilidades sociais, torna-se importante aprofundar o conhecimento sobre as formas de

desenvolvimento e de aquisio das habilidades sociais, assim como identificar os

dficits especficos destas habilidades apresentados pelas crianas. Pesquisas nesta rea

so pertinentes para a preveno e diminuio da ocorrncia de dificuldades de

aprendizagem, pois, segundo Carvalho (2003), as dificuldades de aprendizagem variam

de acordo com a regio e as habilidades sociais variam igualmente de acordo com a

cultura dessas regies (Del Prette e Del Prette, 1999). Assim, necessrio ampliar a

compreenso acerca da relao entre as habilidades sociais e a competncia acadmica,

principalmente em contextos ainda no investigados.

A presente pesquisa teve como objetivo avaliar a relao entre as habilidades

sociais e a competncia acadmica, no contexto especfico da cidade de So Joo del-

Rei, onde ainda no se encontram, na literatura, estudos realizados sobre este fenmeno.


REVISO DE LITERATURA

Competncia Acadmica

Segundo Erickson (1976), o desenvolvimento socioemocional se processa por

etapas, sendo que cada etapa possui tarefas e desafios prprios. A resoluo satisfatria

ou o fracasso em uma dada etapa influencia as etapas posteriores do desenvolvimento

Uma fase importante para o desempenho acadmico de crianas seria a fase dos 6 aos

12 anos, pois esta etapa corresponde ao incio da escolarizao. A criana tem

necessidade de aprender com os adultos e de se mostrar competente e com capacidade

produtiva, buscando reconhecimento social (Erickson, 1976).

H perodos da vida em que determinadas influncias so de maior impacto para

o desenvolvimento, so os chamados perodos sensveis (Bronfenbrener, 1996). O

processo inicial de escolarizao pode ser considerado um perodo sensvel para a

trajetria do desempenho escolar (Marturano e Loureiro, 2003).

O desempenho escolar pode se constituir como condio de proteo ou de

vulnerabilidade para o desenvolvimento (Marturano e Loureiro, 2003). O bom

desempenho favorece a superao de dificuldades e o envolvimento em projetos de vida

que potencializam a auto-realizao. O mau desempenho escolar acentua as dificuldades

e as vivncias de menos valia, favorecendo outras dificuldades comportamentais e

emocionais.

Diversos estudos foram realizados como o intuito de identificar aspectos

relacionados competncia acadmica. Desses estudos, trs analisaram a influncia do

gnero da criana na competncia acadmica (Carvalho, 2004; Barbosa, 1999; Souza e

cols., 2003) e concluram que meninas possuem melhor desempenho acadmico que

meninas.

Uma pesquisa (Dal Vesco e cols., 1998) comparou a inteligncia de alunos de

escolas pblicas e alunos de escolas particulares, atravs do teste WISC, observando

que alunos da escola particular obtiveram pontuaes significativamente melhores em

compreenso, vocabulrio e cdigo.


Trs das pesquisas analisadas (Carvalho, 2004; Barbosa, 1999; Ferro, 2001)

investigaram a influncia do nvel scio-econmico, tendo verificado que os alunos com

melhor nvel socioeconmico possuam maior competncia acadmica.

Das pesquisas analisadas, trs (Medeiros e cols., 2003; Marturano e cols., 1993 e

Estevanato e cols., 2003) investigaram os fatores que influenciavam a competncia

acadmica de crianas com dificuldades de aprendizagem. Os resultados destas

pesquisas mostraram que alunos com dificuldades de aprendizagem apresentavam

igualmente dficits em interaes sociais. Dessas trs pesquisas, duas (Medeiros e cols.,

2003 e Estevanato e cols., 2003) compararam um grupo de alunos com dificuldades de

aprendizagem com um outro grupo sem estas dificuldades. A outra pesquisa (Marturano

e cols., 1993) analisou apenas um grupo de crianas com queixa de dificuldade de

aprendizagem e observou que esses alunos tambm possuam dificuldades em

interaes sociais.

Trs pesquisas (Lemos e Meneses, 2002; Del Prette e Del Prette, 2002; Del

Prette e Del Prette, 2003) estudaram o repertrio de habilidades sociais de crianas,

comparando dois grupos. A pesquisa de Lemos e Meneses (2002) utilizou um grupo de

crianas com competncia acadmica alta e um grupo com competncia acadmica

baixa, e avaliou as habilidades sociais atravs do inventrio SSRS, observando que os

melhores alunos possuiam maior repertrio social que os piores alunos. Duas pesquisas

(Del Prette e Del Prette, 2002; Del Prette e Del Prette, 2003), aplicando inventrios,

utilizaram um grupo de alunos com dificuldades e um grupo de alunos sem dificuldades

de aprendizagem, sendo que uma (Del Prette e Del Prette, 2003) observou que os alunos

com dificuldades de aprendizagem eram socialmente menos habilidosos do que os

alunos sem dificuldades de aprendizagem. O estudo de Del Prette e Del Prette (2002)

avaliou as habilidades sociais atravs de um inventrio multimdia, aplicando um pr e

um ps-teste. Os resultados indicaram um menor repertrio de habilidades sociais em

crianas com dificuldades de aprendizagem apenas durante o pr-teste.

Uma pesquisa (Molina, 2003) avaliou a relao existente entre o repertrio de

habilidades sociais de crianas e a competncia acadmica, para tanto se utilizou de

intervenes e verificou que a promoo e treino do repertrio social aumenta o

acadmico, entretanto, o treino acadmico no influenciou no repertrio social.


Habilidades Sociais

O campo de estudo das habilidades sociais mostra-se como uma rea de estudos

importante, pois os seres humanos passam a maior parte do tempo em alguma forma de

interao. Alm disso, estudar as habilidades sociais em crianas tem ainda maior

importncia porque, segundo Caballo (2003), a infncia configura-se como um perodo

crtico para a aprendizagem dessas habilidades.

Para Del Prette e Del Prette (1999), as habilidades sociais so definidas como

"um constructo descritivo do conjunto de desempenhos apresentados pelo indivduo

diante das demandas de uma situao interpessoal" (p. 47). Tais desempenhos so

caracterizados por componentes abertos, cognitivo-afetivos e fisiolgicos que, quando

adequadamente articulados entre si e ao contexto situacional e cultural, mostram-se

serem funcionais para: a) a consecuo dos objetos; b) a manuteno ou melhoria das

relaes com o interlocutor; c) a manuteno ou melhoria da auto-estima; d) a

manuteno ou ampliao dos direitos humanos socialmente estabelecidos. Essa

funcionalidade define a competncia social do indivduo. Muitas vezes, as interaes

sociais insatisfatrias resultam tanto de dficits em habilidades especficas como de

dificuldade em articular de uma maneira produtiva suas dimenses (Del Prette, Del

Prette & Barreto, 1999; Del Prette, Del Prette, Pontes & Torres, 1998).

A importncia da interao social na aprendizagem e no desenvolvimento da

criana vem sendo h muito reconhecida (Del Prette e Del Prette, 2003), podendo-se

afirmar que as qualidades das relaes sociais influenciam o desenvolvimento de

caractersticas pessoais (modo de agir, pensar e sentir) e concepes de mundo (Del

Prette & Del Prette, 1995).

No caso de crianas e adolescentes, Gresham e Elliot (1990) destacam-se trs

tipos de interaes sociais que demonstram que as crianas esto sendo socialmente

habilidosas: aceitao pelos colegas, julgamento positivo por outros significantes e

outros comportamentos adaptativos correlatos.

As habilidades sociais mais freqentemente enfatizadas e valorizadas nos

estudos internacionais dos ltimos anos, segundo Del Prette e Del Prette (2003), podem

ser agrupadas em cinco conjuntos de comportamentos: 1. relao com os companheiros


(cumprimentar, elogiar, oferecer ajuda ou assistncia, convidar para jogo de interao),

2. autocontrole (controlar o humor, seguir regras, respeitar limites), 3. habilidades

sociais acadmicas (envolver-se na tarefa, realiz-la de forma independente, seguir

instrues), 4. ajustamento (seguir regras e comportar-se de acordo com o esperado), e

5. assero (iniciar conversao, aceitar elogios, fazer convites).

De acordo com Severson e Walker (2002), os dois maiores desafios da

socializao, enfrentados pela criana em idade escolar, consistem em se ajustar s

demandas do professor e em responder s expectativas dos colegas. Se a criana chegar

a falhar nessas habilidades, possivelmente ter como conseqncia o fracasso escolar e

a rejeio pelos colegas, como tambm outros padres de comportamentos

problemticos (Del Prette & Del Prette, 2003).

METODOLOGIA

Participantes:

Participaram desta pesquisa 257 crianas de 1 a 4 srie do ensino fundamental,

de duas escolas pblicas e uma escola particular da cidade de So Joo del-Rei. Em

cada escola, participou uma turma de cada srie, totalizando doze turmas. Participaram

ainda 185 pais dessas crianas e 12 professores.

As crianas possuam idade mdia de 8,62 anos (d.p.=1,49), sendo 111 (43,2%)

meninas e 146 (56,8%) meninos. A amostra da escola pblica foi composta por 182

(70,80%) crianas e da escola particular por 75 crianas (29,20%).

Os pais possuam idade mdia de 38,09 anos (d.p.=8,93), sendo que 185 (72%)

aceitaram participar da pesquisa e 99 (38%) se recusaram, mas autorizaram a incluso

dos filhos na pesquisa.

Os professores que participaram eram todos do sexo feminino, com idade mdia

de 43,16 anos (d.p.=5,06) e lecionavam para as crianas participantes.

Instrumentos de Medida

Para a coleta de dados acerca das habilidades sociais foi utilizado o Inventrio de

habilidades sociais SSRS (Social Skills Rating System Gresham & Elliot, 1990). Para

a coleta sobre o nvel socioeconmico dos alunos foi utilizado o Critrio Brasil.


Inventrio de Habilidades Sociais Social Skills Rating System: O SSRS

(Social Skills Rating System Gresham & Elliot, 1990) um sistema de avaliao das

habilidades sociais de estudantes, que consiste em trs questionrios, sendo um

destinado ao estudante (auto-relato), um aos pais e um terceiro questionrio destinado

ao professor. A adaptao transcultural do SSRS para o Brasil foi realizada por Del

Prette (2003).

O questionrio de auto-avaliao dos estudantes possui 35 questes relacionadas

freqncia de ocorrncia dos comportamentos indicados em cada questo.

O questionrio destinado aos pais contm 38 questes de avaliao do repertrio

de habilidades sociais, que devem ser respondidas com relao freqncia de

ocorrncia destas habilidades nas crianas e com relao ao grau de importncia que os

pais atribuem a elas. Possui tambm 17 questes destinadas a avaliar os

comportamentos problemticos das crianas, que devem ser respondidas com relao

freqncia de ocorrncia dos comportamentos.

O questionrio destinado aos professores contm 30 questes para avaliao do

repertrio de habilidades sociais das crianas, que devem ser respondidas em relao

freqncia de ocorrncia das habilidades e ao grau de importncia atribuda pelos

professores a estes comportamentos. O questionrio possui outras 18 questes referentes

avaliao dos comportamentos problemticos das crianas, que devem ser respondidas

em termos da freqncia de ocorrncia destes comportamentos e 9 questes referentes

competncia acadmica, que classifica cada aluno em relao ao desempenho do seu

grupo.

Para a avaliao da freqncia de ocorrncia, h trs alternativas de respostas: 0

(nunca), 1 (algumas vezes) e 2 (muito freqente). Para a avaliao do grau de

importncia dos comportamentos, h trs alternativas de respostas: 0 (no importante), 1

(importante) e 2 (muito importante). Para a avaliao da competncia acadmica das

crianas, as questes do questionrio possuem cinco alternativas de respostas, que

variam de 1 (est entre os 10% piores) a 5 (est entre os 10% timos).

Critrio Brasil: O Critrio Brasil mede o poder aquisitivo de consumidores,

atravs de critrios estabelecidos pela Associao Brasileira de Anunciantes (ABA),

Associao Nacional das Empresas de Pesquisa de Mercado (ANEP) e Associao


Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado (Abipeme), com base nos

Levantamentos Socioeconmicos de 1993 e 1997.

O Critrio Brasil possui 11 questes referentes posse de bens de consumo

durveis e instruo do chefe da famlia que classificam os sujeitos dentro das classes:

A1, A2, B1, B2, C, D e E.

Procedimento:

Inicialmente, foram contatadas as trs escolas participantes. Aps esse contato,

escolheram-se quatro turmas em cada escola e foram enviadas cartas aos pais dos

estudantes selecionados, em que era solicitada a autorizao para a participao do

filho.

Em seguida, foi feita a aplicao dos questionrios dos estudantes, realizada em

sala de aula, de forma coletiva e acompanhada da superviso dos aplicadores. Os

sujeitos que tiveram dificuldades em responder receberam uma superviso individual.

Cada srie respondeu ao questionrio em diferentes dias.

Para a aplicao do questionrio dos pais, foi enviada uma carta marcando uma

reunio na escola. Nessa reunio, os pais respondiam primeiro o Critrio Brasil e depois

ao questionrio da pesquisa. A aplicao foi coletiva, mas com a superviso individual

do aplicador quando necessrio. Aqueles pais que no compareceram reunio tiveram

atendimento individualizado e responderam ao questionrio em novo dia e horrio.

Para a aplicao dos questionrios das professoras, a reunio foi marcada

mediante a autorizao da diretora em horrio de trabalho e foi adotado o mesmo

procedimento seguido com os pais. As professoras responderam um questionrio para

cada aluno participante. Ao final das aplicaes foi verificado se no havia questes em

branco.

Anlise dos Dados

Para a comparao dos resultados entre mdias de dois grupos, foi utilizada a

anlise estatstica t de Student. Aplicou-se esta anlise ao comparar a competncia

acadmica em cada tipo de escola, gnero e entre os piores e os melhores alunos.


Utilizou-se a anlise de varincia para comparao da competncia acadmica

das crianas nas quatro sries. Utilizou-se o teste post hoc Tukey para comparaes

mltiplas entre as mdias, visando identificar quais sries apresentavam maior

competncia acadmica.

Para a verificao da existncia de correlao entre as variveis nvel

socioeconmico e competncia acadmica, foi utilizado a anlise de correlao de

Pearson. O mesmo tipo de anlise foi utilizado para verificar correlaes entre

Habilidades Sociais e Competncia Acadmica e entre Habilidades Sociais e Nmero de

Reprovaes.

RESULTADOS

A seguir sero apresentados os resultados relativos anlise descritiva da

competncia acadmica e dificuldade de aprendizagem da amostra geral, em termos de

porcentagem. Em seguida sero apresentados os resultados das relaes entre os escores

de competncia acadmica e srie, tipo de escola, nvel socioeconmico, gnero e

Habilidades Sociais.

Dificuldade de Aprendizagem

Os dados coletados mostraram que 7,9% das crianas da amostra possuam

muita dificuldade de aprendizagem, 23% das crianas possuam pouca dificuldade de

aprendizagem e 69,1% das crianas no possuam dificuldade de aprendizagem.

Competncia Acadmica

A Tabela 1 apresenta a classificao da competncia acadmica dos alunos, em

termos de sua posio em relao classe. So apresentadas as porcentagens (%) de

alunos que foram classificados pelas professoras em cada uma das categorias de

respostas referentes competncia acadmica.


Tabela 1: Porcentagem de sujeitos em cada categoria de resposta referente

competncia acadmica.

Questes de avaliao da competncia

acadmica

Categorias de respostas

10% piores 20% piores 40% mdios 20% bons 10%

timos

N % N % N % N % N %

Desempenho acadmico geral 12 4,70 17 6,60 65 25,54 68 26,60 94 36,70

Leitura 12 4,70 17 6,60 60 23,40 76 29,70 91 35,50

Matemtica 13 5,10 15 5,90 64 25,00 60 23,40 104 40,60

Expectativa de leitura 13 5,10 17 6,60 57 22,30 65 25,40 104 40,60

Expectativa de matemtica 11 4,30 17 6,60 64 25,00 58 22,70 106 41,40

Motivao Geral 11 4,30 17 6,60 51 19,90 77 30,10 100 39,10

Estmulo dos pais 10 3,90 16 6,30 50 19,50 76 29,70 104 40,60

Funcionamento intelectual 12 4,70 18 7,00 58 22,70 75 29,30 93 36,30

Comportamento Geral em classe 12 4,70 14 5,50 52 20,30 86 33,60 92 35,90

Podemos observar na tabela 1 que, em todas as nove questes que avaliam a

Competncia Acadmica, a maioria dos alunos (entre 35, 5% a 41.4% da amostra) se

classifica na alternativa de respostas 10% timos e uma minoria de alunos (entre 3,9%

a 5,1% da amostra) se classifica entre os 10% piores.

Competncia Acadmica por srie: Em relao srie cursada, verificou-se que

as quatro sries no diferiram entre si com relao competncia acadmica, pois no

houve uma diferena estatisticamente significativa entre as mdias da competncia

acadmica das quatro sries estudadas, na anlise de varincia (p > 0,05).

Competncia Acadmica por Tipo de Escola: Verificou-se que os alunos da

escola particular obtiveram competncia acadmica significativamente maior do que os

alunos da escola pblica (t=-5,09, p


da competncia acadmica, verificou-se que houve uma diferena estatisticamente

significativa entre meninos e meninas quanto ao seu desempenho na escola. O

desempenho acadmico foi melhor entre as meninas do que entre os meninos (t=-2,23;

p


Tabela 2 Mdias, desvios-padro (dp) e nvel de significncia (p) do escore de

habilidades sociais, dos piores alunos e dos melhores alunos, em relao ao

desempenho acadmico geral.

Alunos N Mdia dp p

Habilidades sociais avaliadas

pelos alunos

Piores 12 44,42 7,46 0,01*

Melhores

94 50,47 6,70


pelos pais

Piores 10 35,70 9,96 0,00*

Melhores

64 50,59 9,18


pelas professoras

Piores 12 23,92 6,61 0,00*

Melhores

94 48,78 6,21

De acordo com a tabela 2 observa-se que os alunos com melhor desempenho

acadmico geral apresentaram signigicativamente mais habilidades sociais do que os

alunos com pior desempenho acadmico geral. Este resultado foi o mesmo quando as

habilidades sociais foram avaliadas pelos estudantes (t=-2,67; p


De acordo com a tabela 3, pode-se observar que os melhores alunos em leitura

apresentaram significativamente mais habilidades sociais do que os piores alunos em

leitura. Este resultado foi o mesmo quando as habilidades sociais foram avaliadas pelos

estudantes (t=-2,73; p


Tabela 5 Mdias, desvios-padro (dp) e nvel de significncia (p) do escore de

habilidades sociais dos alunos com maior e dos alunos com menor

estmulo dos pais para o xito acadmico.

Alunos N Mdia dp p


pelos alunos

Menor estmulo 10 43,30 7,24 0,01*

Maior estmulo

104 50,47 6,42


pelos pais

Menor estmulo 6 33,50 9,91 0,00*

Maior estmulo

72 51,05 8,87


pelas professoras

Menor estmulo 10 24,00 6,22 0,00*

Maior estmulo

104 48,30 6,57

De acordo com a tabela 5, observa-se que os alunos com maior estmulo dos pais

apresentaram significativamente mais habilidade sociais do que os alunos com pior

estmulo dos pais. Este resultado foi o mesmo quando as habilidades sociais foram

avaliadas pelos estudantes (t=-3,01; p


De acordo com a tabela 6, observa-se que os alunos com maior motivao geral

apresentaram significativamente mais habilidade sociais do que os alunos com pior

motivao geral. Este resultado foi o mesmo quando as habilidades sociais foram

avaliadas pelos estudantes (t=-2,38; p


(26,6%) e timos alunos (36,7%), sendo que uma pequena porcentagem foi

classificada como piores alunos, ou seja, no geral, a amostra obteve um bom

resultado.

Ao se analisar os nveis de dificuldades de aprendizagem da amostra, os dados

coletados mostraram que 7,9% das crianas possuam muita dificuldade de

aprendizagem, 23% possuam pouca dificuldade de aprendizagem e 69,1% no

possuam dificuldade de aprendizagem. Esses resultados representam um nvel de

dificuldade menor do que o encontrado Carneiro, Martinelli e Sisto (2003), ao avaliar o

desempenho na escrita de crianas de escolas pblicas da 3 srie de ensino fundamental

de Campinas. Na sua amostra, 15,2% das crianas apresentavam dificuldade acentuada

de aprendizagem, 33,2% apresentavam dificuldade moderada 31,8% dificuldade leve e

19,8% no apresentaram indcios de dificuldade de aprendizagem na escrita. Esses

resultados podem indicar diferenas nas dificuldades das crianas nas duas amostras ou

podem refletir diferenas resultantes da avaliao realizada em uma e outra pesquisa,

sendo uma referente dificuldade geral de aprendizagem e a outra especificamente da

dificuldade na escrita.

Com relao influncia do tipo de escola, constatou-se que a competncia

acadmica foi significativamente maior nas crianas da escola particular do que nas

crianas das escolas pblicas. Tais resultados se assemelham aos encontrados no estudo

de Dal Vesco, Mattos, Benina (1998), onde os alunos da escola particular obtiveram

pontuaes significativamente melhores nos subtestes de compreenso, vocabulrio e

cdigo do WISC.

No que se refere relao significativa encontrada, no presente estudo, entre o

nvel socioeconmico e a competncia acadmica das crianas, os dados se assemelham

aos encontrados por Carvalho (2004), Barbosa (1999), Ferro (2001), onde tambm se

observou uma correlao positiva e significativa entre essas duas variveis, sendo a

posio social dos alunos um fator que contribui para a determinao do desempenho

escolar.

No que se refere ao gnero, os resultados obtidos mostraram que no houve uma

diferena estatisticamente significativa da competncia acadmica geral entre os sexos.

Entretanto, ao se comparar especificamente o desempenho acadmico, que consiste em


um dos itens da competncia acadmica, as meninas obtiveram melhor desempenho do

que os meninos, confirmando os dados da literatura. Os estudos de Carvalho (2004);

Barbosa (1999); Souza, Teixeira e Silva (2003) mostraram que as meninas possuiam um

desempenho acadmico melhor do que os meninos.

Ao se analisar a correlao existente entre as habilidades sociais e a competncia

acadmica, os dados da presente pesquisa mostraram que quanto maior era o repertrio

de habilidades sociais apresentado pelas crianas, maior era sua competncia

acadmica. Estes resultados esto de acordo com os estudos presentes na literatura,

descritos abaixo.

Vrios estudos mostraram que alunos com problemas de aprendizagem

apresentavam maiores dificuldades em vrios aspectos da vida social. O estudo de

Medeiros, Loureiro e Linhares (2003) observaram que alunos com dificuldades de

aprendizagem apresentavam poucos recursos de organizao para adequarem seu

padro de interao, ou seja, eles tinham dificuldade em adequar seu comportamento s

situaes sociais. Alm disso, Marturano, Linhares e Parreira (1993) encontraram que as

crianas com dificuldades de aprendizagem apresentavam modos de enfrentamento

inadequados frente s relaes interpessoais, predominando condutas indicativas de

baixa capacidade de auto-regulao. Estevanato, Loureiro, Linhares e Marturano (2003)

observaram ainda que as crianas que apresentavam dificuldades de aprendizagem se

percebiam com dificuldades diante de situaes sociais.

Na presente pesquisa, observou-se que as habilidades sociais foram mais

elevadas no sub-grupo dos melhores alunos da classe e foram menos elevadas nos

piores alunos da classe. Este resultado confirma os dados encontrados no estudo de

Lemos e col. (2002), utilizando igualmente o SSRS, onde os alunos com baixa

realizao acadmica apresentaram significativamente menos habilidades sociais do que

os alunos um uma melhor realizao acadmica.

Uma outra confirmao destes resultados pode ser encontrada nas pesquisas que

compararam as habilidades sociais de alunos com e sem dificuldades de aprendizagem.

Por exemplo, Del Prette e Del Prette (2003) observaram que alunos com dificuldades de

aprendizagem apresentavam um repertrio de habilidades sociais menos elaborado do

que crianas sem dificuldades de aprendizagem. No estudo de Del Prette e Del Prette


(2002), tambm se observou que as crianas sem dificuldades de aprendizagem

apresentavam um escore mais elevado de habilidades sociais.

Estes resultados indicam a presena de uma relao, consistentemente observada

na literatura, entre o repertrio de habilidades sociais e o desempenho acadmico das

crianas, quando se comparou grupos de sujeitos e quando se correlacionou estas duas

variveis. Esta relao foi ainda confirmada em uma pesquisa onde se introduziu uma

interveno visando desenvolver as habilidades sociais, o que teve como efeito uma

melhora significativa no desempenho acadmico das crianas (Molina, 2002). Os

resultados da presente pesquisa constituem, portanto, em uma nova confirmao para a

relao entre estas duas variveis, com dados de crianas de escolas de ensino

fundamental de uma regio brasileira ainda no estudada.

CONCLUSES

Os resultados encontrados no presente estudo mostraram que, de uma maneira

geral, os alunos da amostra sanjoanense obtiveram uma boa competncia acadmica,

pois uma grande porcentagem deles foi classificada como bons alunos e timos

alunos. Entretanto, foi observado que 7,9% das crianas estudadas possuam muita

dificuldade de aprendizagem. Embora esta porcentagem seja inferior observada por

Carneiro e cols. (2003), em uma amostra paulista, a presente pesquisa coloca em

destaque a necessidade destas crianas receberem uma ateno especial, pois as

dificuldades de aprendizagem, alm de resultar em vrios problemas de ordem

emocional e comportamental (Medeiros e Loureiro, 2004), influenciam negativamente a

vida futura dessas crianas (Marturano e Loureiro, 2003). Alm disso, esta porcentagem

encontrada ainda alta, demonstrando a necessidade de intervenes visando reduzir

este nmero.

A presente pesquisa constatou que a competncia acadmica variou em funo

dos indicadores scio-demogrficos e pde identificar grupos com maiores dificuldades,

como o grupo de meninos, o grupo de crianas de baixo nvel socioeconmico e o grupo

de crianas de escolas pblicas, mostrando que estes grupos se encontram em maior

risco de desenvolver problemas escolares e, portanto, necessitam de uma ateno

especial.


No que diz respeito s habilidades sociais, os resultados mostraram uma

associao entre um repertrio bem elaborado de habilidades sociais e uma maior

competncia acadmica. Tendo em vista que as habilidades sociais envolvem

comportamentos da criana na escola que afetam sua ateno, seguimento de regras,

aceitao de crticas e envolvimento nas tarefas escolares, pode-se compreender sua

relao com o desempenho acadmico. Estes dados colocam em destaque a importncia

das habilidades de comunicao interpessoal como um fator de proteo para o

desempenho acadmico das crianas.

Os resultados dessa pesquisa confirmam dados da literatura da rea. Tendo em

vista as implicaes negativas causadas pelo fracasso escolar no desenvolvimento

posterior das crianas, os dados encontrados vm salientar a importncia do repertrio

de habilidades sociais das crianas e sugerem a necessidade e a relevncia de

intervenes visando desenvolver estas habilidades nas crianas de ensino fundamental.

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