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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL GUSTAVO ANDRÉ FALCÃO PEIXOTO RELATÓRIO FINAL DO MÉDIA METRAGEM DEKASEGI: A VIDA DE UM NISSEI NA CIDADE DE JOÃO PESSOA JOÃO PESSOA - PB 2014

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1

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE COMUNICAÇÃO, TURISMO E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

GUSTAVO ANDRÉ FALCÃO PEIXOTO

RELATÓRIO FINAL DO MÉDIA METRAGEM

DEKASEGI: A VIDA DE UM NISSEI NA CIDADE DE JOÃO PESSOA

JOÃO PESSOA - PB

2014

2

GUSTAVO ANDRÉ FALCÃO PEIXOTO

RELATÓRIO FINAL DO MÉDIA METRAGEM

DEKASEGI: A VIDA DE UM NISSEI NA CIDADE DE JOÃO PESSOA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao Curso de Comunicação Social do Centro de

Comunicação, Turismo e Artes da

Universidade Federal da Paraíba como parte

dos requisitos para obtenção do título de

Bacharel em Comunicação Social –

habilitação Jornalismo.

Orientador: Profº. Dr. Wilfredo Maldonado

JOÃO PESSOA – PB

2014

3

GUSTAVO ANDRÉ FALCÃO PEIXOTO

RELATÓRIO FINAL DO MÉDIA METRAGEM

DEKASEGI: A VIDA DE UM NISSEI NA CIDADE DE JOÃO PESSOA

APROVADA em _____/_____/_____

Banca Examinadora

_____________________________________________

Profº. Dr. Wilfredo Maldonado (Orientador)

____________________________________________

Profº Dr. Luiz Mousinho

____________________________________________

Profº. Ms. Arthur Lins

4

AGRADECIMENTOS

A Deus,

Pela maravilhosa benção e privilégio de viver para realizar este sonho.

Meus pais,

Pelo suporte, carinho, amor e compreensão a cada dia, nos mínimos detalhes.

Minha namorada,

Pelo amor, força e incentivo que meu ofereceu para enfrentar essa batalha.

Meus professores,

Pelo ensino e suporte necessários nas orientações sempre que precisas.

Meus amigos,

Por todo esforço, dedicação e apoio ao longo dessa jornada, onde cada um se

fez insubstituível para mim.

5

Dedico este trabalho, acima de tudo, a Deus e a todas as pessoas que - juntas -

acreditaram, sonharam e caminharam comigo ao longo desses meses com o propósito de

transformar este sonho em realidade.

6

"O cinema não tem limites nem fronteiras. É um

fluxo constante de sonho."

Orson Welles

7

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................8

2 JUSTIFICATIVA.......................................................................................................10

3 OBJETO DE ESTUDO.............................................................................................11

3.1 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA........................................................................11

3.1.1 Recursos Narrativos..........................................................................................12

3.1.2 Trilha Sonora.....................................................................................................14

3.1.3 Fotografia..........................................................................................................15

4 OBJETIVOS...............................................................................................................23

4.1 Objetivo geral.......................................................................................................23

4.2 Objetivos específicos............................................................................................23

5 METODOLOGIA......................................................................................................24

5.1 Roteiro..................................................................................................................25

5.2 Diário de gravação................................................................................................25

5.3 Diário de edição e finalização...............................................................................27

6 CRONOGRAMA.......................................................................................................28

7 REFERÊNCIAS........................................................................................................29

8

1. INTRODUÇÃO

Este projeto de pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)

consiste na criação de um média-metragem do gênero Documentário, intitulado

“Dekasegi: A vida de um nissei na cidade de João Pessoa”. Aqui a expressão “dekasegi”

assume o sentido de “trabalhar longe de casa”, caracterizando o indivíduo que sai de sua

região ou país a trabalho. O cinema é uma das formas mais eficazes para se representar

a realidade, comparado até como uma “fábrica de sonhos”. Realizar um filme significa

promover ao público sentimentos, e emoções que vão além do mero entretenimento

através de sua representação.

O média-metragem que se desenvolve neste projeto conta a história de Jorge

Massao Mitsunaga, que nasceu e cresceu em uma comunidade japonesa, no interior do

estado do Rio de Janeiro. Na juventude, após sua formação como Engenheiro Civil, o

personagem experimentou a crise da falência de sua firma de engenharia, aberta em

parceria com mais dois sócios, partindo em seguida para viver no Japão com sua

família, durante a década de 1990, em busca de novas oportunidades de trabalho. Neste

contexto, família é conceituada como um grupo de indivíduos parentes ou aliados que

vivem conjuntamente, conforme a classificação proposta por Lalande (1999). Durante o

tempo de estadia no Japão, sua família retorna ao Brasil, passando Jorge a morar

sozinho no país por mais de uma década. Alguns anos se passam e, então, Jorge retorna

ao Brasil, especificamente para a cidade de João Pessoa na Paraíba, a fim de ficar mais

próximo de sua família, mas se depara com uma dura realidade local: o desemprego. Por

cerca de dois anos o protagonista procurou por alguma vaga de emprego até que lhe

fosse oferecida uma única oportunidade para conseguir o seu sustento: um ponto no

Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto para trabalhar com massoterapia em

passageiros que fazem escalas de vôos na cidade.

O roteiro da obra é original, escrito pelo autor deste projeto, Gustavo André

Falcão Peixoto. A edição do curta é baseada na estética das obras cinematográficas "The

Cove" (A Enseada), de Louie Psihoyos, e Jonestown - The life and death of the

Pleople's Temple," (Jonestown - A vida e morte do Templo do Povo) de Stanley Nelson.

A composição estética do filme é estruturada por três elementos fundamentais

9

intrinsecamente ligados por todo o filme. São estes: narrativa, direção fotográfica e

trilha sonora.

O filme foi rodado na cidade de João Pessoa e no município de Bayeux. Na

cidade de João Pessoa, as captações ocorreram no centro da capital, no bairro de

Mangabeira e na residência do protagonista. Já no município de Bayeux,as gravações

ocorreram no Aeroporto e suas proximidades. A direção geral do filme é de Gustavo

André Falcão Peixoto, autor do projeto, que também assina a produção, roteiro, direção

de arte, direção de fotografia, trilha sonora e edição/finalização.

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2. JUSTIFICATIVA

Este média metragem se justifica como uma obra audiovisual, além de uma

ferramenta de estudo, no que diz respeito às temáticas relacionadas aos descendentes

japoneses migrantes para o estado da Paraíba desde o final da Segunda Guerra.

A comunidade japonesa é uma parcela social a qual pouco tem se procurado

estudar e conhecer a respeito de seus hábitos, costumes e tradições não somente na

Paraíba, como também no Brasil. Existem alguns estudos realizados por estudiosos e

associações nipo-brasileiras pelo país, no que diz respeito ao processo migratório e a

inclusão social desse povo em terras brasileiras; mas poucos são os recursos

audiovisuais encontrados sobre essa temática.

Em vista dessa situação, este filme procura contribuir de alguma forma para a

criação de um novo olhar sobre as relações sociais de um indivíduo nissei residente na

cidade de João Pessoa, com o fim colaborar para uma melhor compreensão sobre a

população nipônica no país, além de incentivar a realização de estudos e obras - quer

audiovisuais ou não - sobre essa parcela social presente entre o povo brasileiro.

11

3. OBJETO DE ESTUDO

3.1. Fundamentação Teórica

Segundo Bernard (2008, p. 2), documentários “conduzem seus espectadores a

novos mundos e experiências, por meio da apresentação de informação factual sobre

pessoas, lugares e acontecimentos reais [...] ”. Com base nisso, pretende-se apresentar

neste presente projeto, um documentário que exponha ao telespectador um recorte de

uma realidade da qual este não faça parte, mas ainda assim, compartilhe de suas

experiências, dificuldades e vivências experimentadas no filme.

Em outras palavras, espera-se que mediante uma construção narrativa – uma

história – o espectador possa experimentar das vivências expostas neste filme – quer

pelos personagens, quer não – que compõem um fragmento de uma realidade maior.

Uma história é narrativa, é contar um acontecimento, ou uma série de

acontecimentos, elaborada de modo a suscitar o interesse do público, seja

ele composto de leitores, ouvintes ou espectadores. Em suas linhas mais

gerias, uma história compreende início, meio e fim. Tem personagens

cativantes, uma tensão crescente e um conflito que chega a alguma espécie

de resolução. Envolve o público em um nível emocional e intelectual,

motivando os espectadores a querer saber o que acontecerá a seguir.

(BERNARD, 2008, p. 15)

Para a construção narrativa da obra, têm-se como base os estudos sobre a

narrativa dramática no documentário apresentado por Bernard (2008). Os elementos

narrativos fundamentais para a estrutura da história que devem ser utilizados no filme

são dificuldade e tangibilidade - metas ou alvos difíceis, mas possíveis de se alcançar -,

personagens ativos, isto é, participativos na construção narrativa, além da tensão

crescente que envolve o público cada vez mais com a história e o protagonista do filme.

Conforme Bernard afirma (2008, p. 26), tensão "é o que sentimos quando questões ou

acontecimentos encontram-se sem resolução, especialmente quando queremos que

sejam resolvidos. [...] Precisamos saber, por que o não saber tal coisa provoca em nós

um desconforto."

Com base nisso, percebe-se que dificuldade, tangibilidade e tensão são pré-

requisitos para que se alcance uma boa participação de um público em um filme. Para

tanto, na maioria das vezes, também é essencial que se tenha a participação de um

12

personagem - protagonista - ativo, embora, em alguns casos, a passividade de um

personagem também possa funcionar como um recurso dramático em alguns momentos

do filme. De maneira geral, o personagem ativo está em busca de seus objetivos,

enfrentando uma situação de crise devido à oposições e dificuldades que podem ser de

origem particular - subjetividade - ou geral – objetividade e/ou factualidade.

Dessa forma, o filme busca convidar o espectador a percorrer uma narrativa

dramática, mediante a exploração de suas temáticas abordadas. Cada uma destas

temáticas, funcionando como elementos diegéticos, procurará ser pensada para provocar

diferentes emoções e reações no público. Para isto, opta-se pelo uso de recursos e

técnicas narrativas e cinematográficas, mediante a perspectiva do diretor sobre a visão

de mundo dos personagens - vale aqui salientar que, embora se faça uso da mistura dos

modos (ou tipos) de documentários apresentados por Nichols (2005) para a elaboração

do filme, este aspira - de fato - à representação do real, caminhando num sentido mais

propenso à produção ficcional em aspectos estritamente cinematográficos, como a

direção cênica, de arte e fotografia.

Sendo assim, o projeto tem em vista a utilização de três recursos fundamentais

para a estruturação da narrativa do filme: os recursos narrativos - narração e entrevistas

-, a trilha sonora e a fotografia. O documentário buscará uma abordagem que relacione

trilha sonora e fotografia para fomentar a estrutura narrativa e enfatizar a linguagem, os

aspectos dramáticos e os principais temas durante todo o filme.

3.1. 1 Recursos Narrativos

Para a elaboração da narrativa como tal, faz-se necessário a existência de uma

voz narradora, uma entidade narrativa, isto é, um narrador que transmita informações

para que, desse modo, a história avance e possa de fato ser contada. Essa voz narradora

pode variar em estilo, tom e modo por diversas vezes, mas se faz imprescindível para

que a construção de uma estrutura narrativa obtenha êxito.

De fato, com freqüência, o documentário exibe um conjunto mais amplo

de tomadas e cenas diversificadas do que a ficção [...] uma retórica

organizada em torno de uma lógica ou argumento que lhe dá direção Os

personagens, ou atores sociais, podem ir e vir, proporcionando informação,

dando testemunho, oferecendo provas. Lugares e coisas podem aparecer e

desaparecer, conforme vão sendo exibidos para sustentar o ponto de vista

13

ou a perspectiva do filme. Uma lógica de implicação faz a ponte entre

esses saltos de uma pessoa ou lugar para outro. (NICHOLS, 2005, p. 56-

57)

Para tanto, lançou-se mão de alguns recursos referentes a narratologia

cinematográfica para a elaboração da narrativa do documentário; são estes: o narrador e

as entrevistas sistemáticas. No que diz respeito ao narrador, a voz narrativa do filme,

procurou-se atê-la à abertura e ao encerramento do documentário, como um modo de

levantamento das questões e temas explorados no decorrer do filme, em uma forma de

breves prólogo e epílogo.

No prólogo, o assunto com os temas é colocado em evidência de forma ampla,

generalizada, para o espectador; de maneira que este, ao assistir, possa fazer um breve

reconhecimento sobre o que tratará a história. Já no epílogo, há um fechamento da

narrativa trazendo novamente a tona - desta vez, de maneira resumida - as idéias e temas

que percorreram todo o filme, tendo em vista o que o espectador presenciou até aquele

momento.

Dessa forma o narrador funciona, então, como a voz que se comunica

diretamente com o público apresentando, lembrando e reforçando as idéias centrais e os

temas importantes expostos na narrativa.

Além do narrador, outro recurso presente em praticamente todo o filme é a

entrevista. Os entrevistas assumiram a função de focalizadores da narrativa. Estes atuam

de modo a levantar questões e temas, responder perguntas e caracterizar situações e/ou

circunstâncias. Dessa forma, a narrativa permite que a história avance de maneira

satisfatória, apresentando novas informações a cada cena, sequência e ato narrativos.

Grosso modo, poderíamos dizer que a entrevista está para o documentário

assim como a encenação está para o filme de ficção [...] Esse momento da

entrevista constrói um personagem que se revela na interação com o

entrevistador (muitas vezes o próprio diretor do filme); não em situação de

ação, mas através de uma exposição que pode descrever ações de uma

narrativa ou simplesmente exteriorizar comentários. (SOARES, 2007, p.

100)

Neste ponto, é válido salientar a posição de entrevistado por parte do

protagonista do filme, junto com os demais personagens entrevistados que colaboram

com seus depoimentos para a estruturação narrativa. Com isso, estabelece-se uma

função de personagens ativos, quer para o protagonista, quer para os demais

14

entrevistados, uma vez que todos participam ativamente para a construção e o avanço da

narrativa.

Sendo assim, a abordagem escolhida para este recurso narrativo de condução das

entrevistas para o filme foi a inclusão de um protagonista ativo, entrevistado, em

situação de conflito, que - em unidade com os demais entrevistados - funcione como um

focalizador da narrativa que sirva a uma entidade narrativa maior, em harmonia com os

demais recursos utilizados.

Uma das estratégias de se manter o interesse do espectador é fazer com

que o filme seja conduzido por personagens fortes, que vivam situações de

risco, conflituosas, que enfrentem obstáculos, na busca de se atingir uma

meta, e que consigam superar obstáculos. A receita busca o efeito de

empatia entre personagem e espectador, o que acontece quando o

espectador passa a sentir as dores e infortúnios do personagem. (SOARES,

2007, p. 95)

3.1.2 Trilha Sonora

Outro recurso requisitado como fundamental para a construção da narrativa

dramática do documentário foi a trilha sonora. Conforme Nichols (2005, p. 59), muito

do poder de persuasão "vem da trilha sonora do documentário". A música por si só tem

o poder de influenciar na narrativa de um filme, e na maneira como esta é contada para

o público. Conforme Berchmans (2008, p. 20), uma definição justa para a função da

música no cinema é de que "ela existe para 'tocar' as pessoas." É baseando-se nesse

conceito que o documentário visa produzir significado mediante a utilização de músicas

próprias - originais - compostas especificamente para o filme.

A música sozinha já tem um grande poder de comunicação emocional. O

cinema é uma criação coletiva, mais dependente de outros recursos, usa

mais sentidos, e com isso necessita de outros elementos. É certo que o

modo como os filmes requerem um elemento musical varia muito em

função de estilo, época, linguagem, história, etc., mas geralmente o cinema

necessita da música como necessita da direção de arte, da cenografia, da

fotografia, dos atores, etc. (BERCHMANS, 2008, p. 22)

É importante definir aqui que trilha sonora, na verdade, representa tecnicamente

"todo o conjunto sonoro de um filme, incluindo além da música, os efeitos sonoros e os

diálogos," como afirma Berchmans (2008, p. 19).

15

Sabendo disso, o documentário procurou fazer uso das músicas, em harmonia

com os diálogos e o silêncio presentes no decorrer de todo o filme. A função desse

arranjo sonoro foi estabelecer uma relação significativa entre a trilha sonora e as idéias e

temas centrais do filme, de maneira que o espectador pudesse compreender mais

facilmente o que se passa na tela.

Em outras palavras, a música, os diálogos e o silêncio convergem para

reforçarem temas como solidão, nostalgia, perseverança, etc., com o fim de atrair um

maior dinamismo ao filme, assim como fornecerem material suficiente para a empatia

do público com a história.

Não existe um padrão específico para as composições musicais para o cinema,

mas o documentário procurou trabalhar a estética musical de maneira criar um clima em

cada situação, valendo-se muito de instrumentos clássicos de cordas - violinos, cellos e

contra-baixos -, instrumentos característicos da cultura japonesa como a flauta japonesa

e o koto, além da presença notória e constante do piano nas principais melodias.

Dessa forma, mediante a utilização desses conceitos e técnicas, pode-se lançar

mão do recurso da trilha sonora do filme para atingir os propósitos narrativos

adequadamente.

3.1.3 Fotografia

No que diz respeito à fotografia, o documentário vale-se do uso desse recurso

para acrescentar peso dramático ao filme mediante o funcionamento em conjunto dos

elementos técnicos (proporção de tela, formato, distância focal, por exemplo.), das

opções composicionais (planos, ângulos, regra dos terços, ponto focal, etc.) e do

contexto narrativo para criar significado.

Para isso, foi utilizada uma direção de fotografia no filme a fim de transmitir o

olhar do diretor em aspectos intrínsecos à narrativa, que não poderiam ser expostos mais

claramente de outra forma. Dessa maneira, as captações de imagem aconteceram das

seguintes formas: como registros documentais ou representações encenadas do

cotidiano do personagem. Aqui, a diferença entre ambas as modalidades, encontra-se no

modo como as captações aconteceram. Para os registros documentais, não houve uma

interferência direta por parte da direção do filme no fato registrado em si, o que

diminuiu bastante as possibilidades de ação da direção fotográfica do documentário,

uma vez que para faz-se necessário uma intervenção plena do documentarista sobre o

16

momento para captar uma fotografia mais específica. Contudo, apesar de reduzido o

potencial interventivo da direção do documentário, os registros ainda assim constituíram

uma fotografia que seguisse o padrão das demais cenas e funcionasse em harmonia com

todo filme.

Quanto às representações encenadas, o filme valeu-se dos conhecimentos

conceituais e técnicos necessários, como planificação e movimentos de câmera, para a

elaboração de uma fotografia inteligente que transmitisse e reforçasse as idéias centrais

do filme. Movimentos de dolly da câmera fizeram-se presentes em diversos momentos

do filme, indicando uma aproximação do público com o personagem ao entrar

gradativamente na sua vida, dando a sensação de seguir em frente junto ao protagonista.

Além disso, planos gerais que incluíssem o personagem e o ambiente ao seu redor,

transmitindo a idéia de solidão e /ou isolamento, também foram utilizados.

Além disso, para a elaboração da direção de fotografia do filme, foram

utilizadas duas técnicas comuns às produções cinematográficas com a finalidade de

reforçar temáticas na narrativa: os planos emblemáticos e o sistema de imagens.

Primeiro precisamos compreender o que necessariamente são estes recursos para então

entendermos as suas funções narrativas no documentário.

Planos emblemáticos são planos cinematográficos dotados de significados

fundamentais para a narrativa e que estão presentes para além do que se percebe

literalmente na imagem.

Planos emblemáticos têm a força de comunicar ideias abstratas, complexas

e associativas com composições que revelam conexões especiais entre os

elementos visuais no quadro Planos emblemáticos podem “contar uma

história” com uma única imagem, transmitindo ideias que geralmente são

maiores do que a soma de suas partes. (MERCADO, 2011, p. 107)

Em outras palavras, planos emblemáticos são planos capazes de comunicar

significados, conceitos e/ou idéias mais profundos e intrínsecos à narrativa através de

sua construção composicional mediante a direção fotográfica do filme. Sendo assim, o

documentário procurou aplicar essa técnica à direção de fotografia com o intuito de

transmitir idéias em uma camada narrativa mais profunda, para além daquela que é

literalmente exposta em tela.

Em harmonia com os planos emblemáticos, o documentário valeu-se do uso de

um sistema de imagens que trabalhasse reforçando temas fundamentais na história. É

uma prática comum às produções cinematográficas relacionarem planos emblemáticos a

17

um sistema de imagens previamente concebido para reforçar os temas e idéias postos

em questão por esses planos.

O termo “sistema de imagens” ou “sistema imagético” foi inicialmente

introduzido por teóricos do cinema em artigos que tentavam criar uma

compreensão sistemática do cinema por meio da análise das imagens,

padrões de edição, composição das cenas e tendências ideológicas de

certos diretores. [...] são usados para decodificar as camadas de significado

que um filme poderia ter com base nas conotações que certas imagens têm

além do seu significado literal. (MERCADO, 2011, p. 21)

Neste ponto, faz-se fundamental a distinção apontada pelo autor abaixo no que

diz respeito à definição de um sistema de imagens:

Uma distinção importante a considerar é que um sistema de imagens não

deve ser confundido com uma estratégia visual (escolhas em relação a

materiais, formatos, objetivas e iluminação). Esses elementos não

constituem um sistema de imagens, mas, em vez disso, são algumas das

ferramentas que farão seu sistema de imagens funcionar [...] (MERCADO,

2011, p. 21)

Para exemplificar a função narrativa de planos emblemáticos em harmonia com

um sistema de imagens presente no documentário, analisemos as seguintes imagens

retiradas do documentário:

Figura 1 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

18

Figura 2 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

Figura 3 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

A Figura 1 mostra um relógio no centro da composição cercado por diversos

objetos organizados - expressando a importância do tempo na narrativa - enquanto esses

elementos todos aparecem desfocados, transmitindo uma conotação de um tempo fora

19

de alcance, ou fora de controle do personagem - o que virá a ficar claro mais adiante na

narrativa. Já a Figura 2 compõe um quadro de uma janela gradeada com um céu azulado

e um dia ensolarado do lado de fora, enquanto dentro há apenas escuridão. Esse plano

emblemático levanta os temas de isolamento - ou mesmo uma prisão - solidão que são

vividos pelo personagem. Por fim, a Figura 3 retrata um banco aparentemente igual aos

demais que aparecem nas bordas da composição; no entanto, devido a sua posição

central na composição, seu grau de importância passa a ideia singularidade e, até

mesmo, é capaz de reforçar a ideia de solidão por este estar vazio.

Percebe-se que a força de um plano emblemático para comunicar ou reforçar

ideias e temas centrais no filme faz-se bastante válida como um recurso útil para

auxiliar na aproximação do público com o filme, pois o convida para uma interpretação

e análise mais profunda da narrativa.

Como um exemplo de um sistema de imagem funcionando em harmonia com

planos emblemáticos no documentário, vejamos as imagens a seguir:

Figura 4 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

20

Figura 5 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

Figura 6 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

21

Figura 7 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

Figura 8 - Dekasegi - Gustavo Peixoto

Nas Figuras 4, 5, 6, 7 e 8 existe uma variação entre os planos geral, médio e

americano. Contudo, é perceptível a utilização de um padrão de tratamento da imagem

com acúmulo de regiões escuras e densas em contrastes com áreas iluminadas na

composição, enquanto o tema principal, isto é, o protagonista, aparece recortado na cena

22

como uma silhueta. Essa composição é recorrente durante todo o percurso do início ao

fim do filme e funciona como uma forma reforçar os temas de solidão, isolamento e

angústia vividos pelo personagem que se encontra preso em uma situação dramática que

o aflige. Em outras palavras, os planos emblemáticos em harmonia com o sistema de

imagens são capazes de externalizar um pouco do drama interior do personagem de

maneira a reforçarem essa questão intermitentemente.

Dessa maneira, utilizando todos esses recursos apresentados, o público é capaz

de aprofundar-se gradativamente na narrativa, acompanhar o protagonista em sua

jornada, enquanto é lembrado continuamente a respeito dos conteúdos e significados

fundamentais que o filme lhe procura transmitir na história.

23

4. OBJETIVOS

4.1. Objetivo Geral

Realizar um filme média metragem do gênero Documentário que exponha a

realidade de um indivíduo nissei na cidade de João Pessoa.

4.2. Objetivos Específicos

Mostrar como as relações sociais do personagem central se integram no meio

coletivo pessoense.

Expor as dissonâncias culturais entre o personagem e o meio.

Mostrar as dificuldades e/ou conflitos que tangenciam os aspectos sócio-

econômicos na vida do personagem.

Utilizar as técnicas da direção fotográfica para transmitir conteúdo.

Utilizar conceitos da presença da música como recurso dramático.

24

5. METODOLOGIA

A criação de um planejamento específico seguido durante a execução do projeto

foi de suma importância para que todas as fases da criação do filme fossem cumpridas

dentro dos espaços de tempo pré-determinados. O trabalho foi dividido em quatro

etapas: pré-produção, produção, pós-produção e elaboração do relatório final.

Na fase da pré-produção, através de ligações telefônicas e reuniões presenciais

foram definidas as locações, equipamentos, calendário de produção, autorizações para

uso da imagem, equipe técnica, storyboard, compra dos materiais para a direção de arte

e organização das pautas de gravação.

Na segunda etapa - a produção - aconteceram os registros das imagens e a

captura de som. Essa etapa foi a mais longa de todo o projeto. Ao longo de cinco meses,

foram realizadas quatro diárias de captação das entrevistas, cinco diárias de captações

externas para tomadas de apoio pela cidade de João Pessoa e, por fim, dezoito diárias de

captações de registros e encenações do cotidiano do personagem em seu dia-a-dia em

sua casa, bem como seu ambiente de trabalho. De maneira geral, as diárias começavam

a partir das 10h00 e se estendiam até as 17h, quando toda a desmontagem dos

equipamentos era feita pela equipe técnica. Em alguns casos, alguns registros foram

realizados nos períodos entre noite e madrugada, devido ao horário de trabalho do

protagonista do filme. Nesses casos, as captações começavam às 22h00 e encerravam-se

às 05h00 - com o retorno do protagonista para sua casa.

Na pós-produção, foi realizada a edição de todo o material coletado. Um

primeiro corte foi elaborado, e a partir daí a trilha sonora original começou a ser

desenvolvida. Com toda a sonorização feita, foi dado inicio ao processo de finalização

do filme.

Após todas as fases do processo de pesquisa, produção e pós-produção do filme,

o relatório final foi desenvolvido. Foram realizadas diversas pesquisas através de livros

e filmes como fontes de estudo, para assim atingir os objetivos desejados na realização

do trabalho.

25

5.1 Roteiro

O roteiro da obra é original, escrito pelo autor deste projeto, Gustavo André

Falcão Peixoto e conta a história de Jorge Massao Mitsunaga, que nasceu e cresceu em

uma comunidade japonesa, no interior do estado do Rio de Janeiro e, após viver sozinho

por mais de uma década no Japão, retornou para o Brasil – desta vez para João Pessoa -

a fim de viver próximo a sua família, em busca de uma vida melhor.

Uma vez que este filme seja um documentário, o seu roteiro pode apenas ser

formado durante o processo de edição, na qual as imagens captadas assumem

significado narrativo, por coesão e coerência de ideias, tomando a forma de filme.

Dessa maneira, procurou-se utilizar uma narrativa dramática em três atos, que

podem ser descriminados como: introdução, desenvolvimento e conclusão. No primeiro

ato, o filme inicia com um prólogo apresentando as idéias principais que serão

abordadas no decorrer da história para então passar à apresentação da história em si.

Nesse momento, o documentário procura esclarecer sobre o que acontece, de quem a

história se trata e quando ocorre; apenas assim, a narrativa pode fazer uma exposição da

história de fundo do protagonista, isto é, o passado que o trouxe até aquele momento.

No segundo ato, o filme desenvolve as ideias e temas centrais da narrativa, além

de explorar a situação adversa em que o protagonista se encontra, o modo como este

lida com aquela e as perspectivas de seus familiares a respeito do assunto. Grande parte

do filme e suas questões fundamentais são expostas nesse momento do filme.

Por fim, o terceiro ato procura apresentar os aspectos mais profundos da situação

e dos personagens envolvidos; levantando reflexões sobre seus sentimentos e

frustrações. Aqui, o filme encerra sem uma resolução prática e definitiva a respeito da

situação: o que se apresenta é uma perspectiva futura sobre uma solução para a crise que

ainda não pode ser resolvida, na esperança de uma vida melhor.

5.2 Diário de Gravação

A etapa de produção do filme aconteceu especificamente mediante a realização

de reuniões previamente combinadas com a equipe técnica, como também com o

protagonista e os demais entrevistados. Além disso, foram realizadas todas as captações

de som e imagem do documentário, que incluem as gravações externas e entrevistas.

As gravações externas aconteceram entre os meses de Agosto de 2013 e Janeiro de

26

2014. As captações procuraram fazer um registro do dia-a-dia do protagonista, tendo

início no dia 8 de Agosto de 2013, no seu ambiente de trabalho – o Aeroporto

Internacional Presidente Castro Pinta, localizado no município de Bayeux.

Para a realização das gravações no aeroporto, fez-se necessário uma petição de

liberação para uso da imagem do local no filme via ofício, em acordo com a

Superintendência da Infraero na Paraíba. Uma que este filme seja um documentário, o

seu roteiro pode apenas ser formado durante o processo de edição, na qual as imagens

captadas assumem significado narrativo, por coesão e coerência de ideias, tomando a

forma de filme.

A partir daí, as demais gravações no local aconteceram até o dia 8 de Dezembro

de 2013, após se encerrar o prazo de gravações acordado com a instituição. Ao longo

desse processo de gravações, totalizam-se nove diárias de captações no aeroporto.

Nesse período, as captações alternaram em horário, ocorrendo durante o dia ou

madrugada, e estilo, em forma de representação encenada ou registro documental.

Os focos das captações foram nos temas e idéias centrais do filme, como determinação,

solidão e persistência, além de enfatizar as dificuldades enfrentadas pelo protagonista

em seu ambiente de trabalho. Além disso, também foram registrados os trajetos do

personagem de ida e retorno do trabalho, por se tratar de um fator com implicações

centrais na narrativa.

Além das captações externas realizadas no aeroporto, também foram realizadas

gravações da cidade de João Pessoa, assim como a casa do protagonista e trechos do

bairro de Mangabeira, onde sua residência se encontra.

Da mesma forma como as gravações no aeroporto, as captações realizadas na casa do

protagonista e no bairro de Mangabeira, tiveram como objetivo a representação e/ou o

registro do cotidiano vivido pelo personagem.

No entanto, é válido salientar que algumas gravações aconteceram de forma encenada, a

fim de representar ao público alguns aspectos, temas e idéias baseados no ponto de vista

do diretor que não seriam evidenciados de outra forma.

No que diz respeito as entrevistas, essas aconteceram de forma alternada ao

longo dos meses de Agosto à Dezembro de 2013, totalizando-se em cinco diárias.

No primeiro dia, realizou-se um apanhado histórico com Jorge Masao, protagonista do

filme, sobre sua própria vida desde o nascimento até os dias de hoje. Aqui procurou-se

coletar o material necessário para compor a história de fundo que serviria de suporte e

complemento para a história principal do filme. No segundo dia, a entrevista foi

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realizada com Massao Mitsunaga, filho do protagonista, que falou um pouco sobre

alguns aspectos específicos sobre a história de vida de seu pai, bem como acrescentou o

seu ponto de vista a respeito das temáticas abordadas no decorrer do filme. No terceiro

dia, entrevistou-se a irmã do protagonista, Tomoe Mitsunaga, que fez acréscimos

significativos sobre o passado de Jorge, bem como reforçou e complementou

argumentos narrativos da história. No quarto dia, o sobrinho do protagonista, Brian

Guzman, foi entrevistado a respeito de seu ponto de vista sobre a trajetória e as

dificuldades enfrentadas por seu tio, acrescentando o seu olhar à narrativa do filme.

No quinto e último dia, o protagonista foi entrevistado mais uma vez a respeito de temas

e aspectos centrais expostos no decorrer do filme, levantando questões sobre si mesmo e

a situação na qual se encontra.

5.3 Diário de edição/finalização

Para realizarmos a edição do curta metragem foi utilizado a plataforma PC, com

o sistema operacional Windows 7. A configuração da máquina foi processador intelcore

I7, memória de 24gb DDR3, HD de 3 Tera com uma reserva de 500GB para imagens

do filme.

O software utilizado para edição foi da Adobe Premiere, e a finalização ficou a

cargo do Adobe After Effects. A edição foi inicializada logo após o fim das últimas

captações. O primeiro corte serviu como base para a criação das composições musicais

para a trilha sonora que ficou a cargo do compositor Valfredo Cardoso, bem como do

diretor do filme Gustavo Peixoto. A produção das Musicais Originais do filme

buscaram transmitir e reforçar idéias, valores e emoções que perpassam todo o

documentário, no intuito de contribuir para a dramaticidade do filme, como também

auxiliar na estruturação estética da obra cinematográfica.

As músicas e o som foram inseridas no filme após a mixagem, masterização,

equalização e finalização do áudio na produtora Gota Sonora, em João Pessoa, que

contou com a participação do produtor musical Renato Oliveira.

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6. CRONOGRAMA

ATIVIDADES OUT/13 NOV/13 DEZ/13 JAN/14 FEV/14 MAR/14

Levantamento Bibliográfico X X X X X X

Planejamento e Pré - Produção X X X X X X

Captação das Entrevistas X X X X X X X X X X X X

Captação das externas X X X X X X X X X X X X X X X X

Edição e Finalização X X X X

Elaboração do relatório final X X X X

Apresentação do trabalho X

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7. REFERÊNCIAS

BERCHMANS, Tony. A música do filme: tudo o que você gostaria de saber sobre a

música de cinema. São Paulo: Escrituras, 2008. p. 19-22.

BERNARD, Sheila Curran. Documentário: Técnicas para uma produção de alto

impacto. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, 2008. p. 2; 15; 26.

LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. São Paulo: Martins

Fontes, 1999. p. 382-383.

MERCADO, Gustavo. O olhar do cineasta: aprenda (e quebre) as regras da

composição cinematográfica. Rio de Janeiro: Elservier, 2011. p. 21; 107.

NICHOLS, Bill. Introdução ao Documentário. Campinas: Papirus, 2005. p. 56-59.

SOARES, S. J. P. Documentário e roteiro de cinema: da pré-produção à pós-

produção. Campinas, UNICAMP, 2007. p. 95; 100.