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Psicologia: Teoria e Pesquisa

Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210

Pesquisa Qualitativa Versus Pesquisa Quantitativa:Esta a Questo?1

Hartmut Gnther2Universidade de Braslia

RESUMO Diante da falta de dilogo entre pesquisadores qualitativos e quantitativos, este artigo adota uma posio ecumnica. Argumenta que ambas as abordagens tm suas vantagens, desvantagens, pontos positivos e pontos negativos, considerando que o mtodo escolhido deve se adequar pergunta de uma determinada pesquisa. O trabalho apresenta algumas diferenciaes entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. Em seguida, aponta a complexidade da pesquisa qualitativa em termos de pressupostos, coleta, transcrio e anlise de dados. Discutimos, tambm, critrios de qualidade para a pesquisa qualitativa. Concluimos com consideraes sobre as conseqncias para a pesquisa, ao se optar pela pesquisa qualitativa e/ou pela pesquisa quantitativa.

Palavras-chave: pesquisa qualitativa; pesquisa quantitativa; abordagem multi-metodolgica; triangulao.

Qualitative Research Versus Quantitative Research:

Is that Really the Question?

ABSTRACT Given the lack of dialogue between qualitative and quantitative researchers, this article assumes an ecumenical position. The text argues that both perspectives present advantages, disadvantages, positive and negative points, considering that the chosen method must be adequate to the question of a certain research. The paper presents some distinctions between qualitative and quantitative research. Next it points out the complexity of qualitative research in terms of its underlying assumptions, as well as data collection, transcription and analysis. Next, quality criteria for qualitative research are considered. The paper closes with a discussion of implications for research when choosing qualitative research and/or quantitative research.

Key words: qualitative research; quantitative research; multi-methodological approach; triangulation.

Ao se considerar como objeto de estudo do cientista social a variabilidade do comportamento e dos estados subjetivos, i., pensamentos, sentimentos, atitudes, segue-se a pergunta: a que atribuir esta variabilidade? Sob a tica das cincias sociais empricas existem trs aproximaes principais para compreender o comportamento e os estados subjetivos3 : a) observar o comportamento que ocorre naturalmente no mbito real; b) criar situaes artificiais e observar o comportamento diante das tarefas definidas para essas situaes; c) perguntar s pessoas sobre o seu comportamento, o que fazem e fizeram e sobre os seus estados subjetivos, o que, por exemplo, pensam e pensaram. Cada uma destas trs famlias de mtodos de conduzir estudos empricos observao de comportamento, experimento e survey apresentam vantagens e desvantagens distintas (Kish, 1987). As vantagens e desvantagens so ligadas

O trabalho fruto do Seminrio em Psicologia: Metodologia Qualita-tiva oferecido pelo autor no programa de ps-graduao em psicologia durante o segundo semestre de 2003. O trabalho contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico

(CNPq).

Endereo: Departamento de Psicologia Social e do Trabalho, Univer-sidade de Braslia, DF, Brasil 70910-000. E-mail: [email protected]

Em Ingls comum falar em behavior, termo que se refere tanto a comportamento aberto quanto a estados subjetivos, i., comportamento coberto. Em portugus a palavra comportamento tem tradicionalmente um sentido mais restrito.

qualidade dos dados obtidos, s possibilidades da sua ob-teno e maneira de sua utilizao e anlise4. Consideran-do que este artigo trata, predominantemente, da pesquisa qualitativa e de dados qualitativos, convm explicitar que a primeira vertente, observao, inclui registros de compor-tamento e estados subjetivos, como documentos, dirios, filmes, gravaes, que constituem manifestaes humanas observveis.

O que une os mais diversos mtodos e tcnicas de pes-quisa includos nestas trs grandes famlias de abordagem o fato de todos partirem de perguntas essencialmente quali-tativas. Por que existe variabilidade verificada? Como lidar com a mesma? Quais as suas implicaes? Estas perguntas exigem, por sua vez, respostas qualitativas. A variabilidade existe por essa ou aquela razo. Tem essas ou aquelas im-plicaes. Assim, usando nmeros, ou no, na tentativa de se chegar de uma pergunta qualitativa a uma resposta qua-litativa, qual seria a diferena entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa? Ser que se pode argumentar que todo tipo de pesquisa qualitativa?

Neste artigo, comeamos com a apresentao de algu-mas diferenciaes entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa

Apesar das variaes dentro das reas de conhecimento que utilizam estes mtodos de pesquisa, podemos afirmar que cada um tem seu ponto forte. O da observao o realismo da situao estudada. O do experimento permitir uma randomizao de caractersticas das pes-soas estudadas e inferncias causais. O do levantamento de dados por

amostragem ou survey assegura melhor representatividade e permite generalizao para uma populao mais ampla.

201H. Gnther

quantitativa. Mostraremos, depois, a complexidade da pes-quisa qualitativa em termos de pressupostos, coleta, trans-crio e anlise de dados. A seguir, apontamos critrios de qualidade para a pesquisa qualitativa. Conclumos o artigo com implicaes para pesquisa, ao se optar para a pesquisa qualitativa e/ou a pesquisa quantitativa.

Diferenciaes entre a PesquisaQualitativa e a Pesquisa Quantitativa

Ao revisar a literatura sobre a pesquisa qualitativa, o que chama ateno imediata o fato de que, freqentemente, a pesquisa qualitativa no est sendo definida por si s, mas em contraponto a pesquisa quantitativa. Apresentaremos alguns destes contrastes e comparaes. Para organizar as diferenas e similaridades entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, consideramos: a) caractersticas da pesquisa qualitativa; b) postura do pesquisador; c) estrat-gias de coleta de dados; d) estudo de caso; e) papel do sujei-to e f) aplicabilidade e uso dos resultados da pesquisa.

Caractersticas da pesquisa qualitativa

A clssica afirmao de Dilthey explicamos a nature-za, compreendemos a vida mental (citado por Hofsttter, 1957, p. 315) pode ser vista como o ponto de partida para as diferenas entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantita-tiva. A primazia do compreender a vida mental reaparece em todas as discusses sobre a natureza da pesquisa qualita-tiva. Qual, ento, a natureza da pesquisa qualitativa? Quais alguns dos pressupostos desta abordagem?

Flick, von Kardorff e Steinke (2000), apresentam quatro bases tericas: a) a realidade social vista como construo e atribuio social de significados; b) a nfase no carter processual e na reflexo; c) as condies objetivas5 de vida tornam-se relevantes por meio de significados subjeti-vos; d) o carter comunicativo da realidade social permite que o refazer do processo de construo das realidades so-ciais torne-se ponto de partida da pesquisa. Subseqente-mente, estes autores traduzem estas bases tericas em 12 caractersticas da pesquisa qualitativa. Mayring (2002), por outro lado, apresenta 13 alicerces da pesquisa qualitativa. Agregando estes dois conjuntos, chegamos a cinco grupos de atributos da pesquisa qualitativa: a) caractersticas ge-rais; b) coleta de dados; c) objeto de estudo; d) interpretao dos resultados; e) generalizao.

Caractersticas gerais

Seguindo o pensamento de Dilthey citado acima, Flick e cols. (2000) apontam a primazia da compreenso como princpio do conhecimento, que prefere estudar relaes complexas ao invs de explic-las por meio do isolamento de variveis. Uma segunda caracterstica geral a constru-o da realidade. A pesquisa percebida como um ato sub-jetivo de construo. Os autores afirmam que a descoberta e a construo de teorias so objetos de estudo desta abor-dagem. Um quarto aspecto geral da pesquisa qualitativa, conforme estes autores, que apesar da crescente importn-cia de material visual, a pesquisa qualitativa uma cincia baseada em textos, ou seja, a coleta de dados produz textos que nas diferentes tcnicas analticas so interpretados her-meneuticamente.

Cabe alertar ao leitor que a primeira destas quatro ca-ractersticas pode ser considerada um contraponto artificial.

5 As aspas so do original. Dificilmente um pesquisador adjetivado como quantitativo exclui o interesse em compreender as relaes complexas. O que tal pesquisador defende que a maneira de chegar a tal compreenso por meio de explicaes ou compre-enses das relaes entre variveis. Segundo, sem dvida, pode-se conceber as mltiplas atividades que compem o processo de pesquisa como um ato social de construo de conhecimento. A questo no respondida, porm , qual a correspondncia entre o conhecimento socialmente cons-trudo e a realidade alheia? supondo, obviamente, que ela exista independentemente do pesquisador. A descoberta e a construo de teorias simplesmente constituem o cerne de qualquer cincia. Uma preferncia por material textual uma legitima opo de procedimento, desde que no se con-traponha aos princpios elencados no prximo pargrafo.

Coleta de dados

Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) consi-deram o estudo de caso como o ponto de partida ou elemen-to essencial da pesquisa qualitativa. Em ambas as publica-es ressaltam-se o princpio da abertura. Tal postura vai alm da formulao de perguntas abertas. Nas palavras de Mayring (p. 28), nem estruturaes tericas e hipteses, nem procedimentos metodolgicos devem impedir a viso de aspectos essenciais do objeto [de pesquisa]. Ao mes-mo tempo, enfatiza, que apesar da abertura exigida, os mtodos so sujeitos a um controle contnuo (...) Os passos da pesquisa precisam ser explicitados, ser documentados e seguir regras fundamentadas (p. 29). O princpio da aber-tura se traduz para Flick e cols. (2000) no fato da pesquisa qualitativa ser caracterizada por um espectro de mtodos e tcnicas, adaptados ao caso especfico, ao invs de um m-todo padronizado nico. Ressaltam, assim, que o mtodo deve se adequar ao objeto de estudo.

Pode-se argumentar que no somente o controle meto-dolgico, mas tambm as demais caractersticas menciona-das acima, aplicam-se a qualquer tipo de pesquisa. A ques-to subjacente que se coloca a seguinte: a partir de que momento do processo de pesquisa vai-se de um caso espec-fico, deixando-se portas abertas para agregar dados no es-perados, no se restringindo a um nico mtodo padroniza-do? Ao conceber o processo de pesquisa como um mosaico que descreve um fenmeno complexo a ser compreendido fcil entender que as peas individuais representem um espectro de mtodos e tcnicas, que precisam estar abertas a novas idias, perguntas e dados. Ao mesmo tempo, a diver-sidade nas peas deste mosaico inclui perguntas fechadas e abertas, implica em passos predeterminados e abertos, utili-za procedimentos qualitativos e quantitativos.

Objeto de estudo

Para Mayring (2002) a nfase na totalidade do indi-vduo como objeto de estudo essencial para a pesquisa qualitativa, i., o princpio da Gestalt. Alm do mais, a concepo do objeto de estudo qualitativo sempre visto na sua historicidade, no que diz respeito ao processo de-senvolvimental do indivduo e no contexto dentro do qual o indivduo se formou. Tanto Mayring quanto Flick e cols. (2000) sublinham que o ponto de partida de um estudo seja centrado num problema, pois a diferenciao entre pesquisa bsica e aplicada no frutfera. Flick e cols. salientam, ainda, que as perspectivas de todos os partici-pantes da pesquisa so relevantes e no apenas a do pes-quisador.

A questo do objeto de estudo na pesquisa qualitativa nos leva de volta s controvrsias entre a posio da Gestalt

202Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210Pesquisa Qualitativa Versus Quantitativa

e dos experimentalistas. A afirmao o todo maior do que a soma das suas partes no significa que no possa ser conveniente, concentrar-se apenas numa parte do proces-so da pesquisa.

Interpretao dos resultados

Tanto Mayring (2002) quanto Flick e cols. (2000) apon-tam acontecimentos e conhecimentos cotidianos como ele-mentos da interpretao de dados. Os acontecimentos no mbito do processo de pesquisa no so desvinculados da vida fora do mesmo. Isto leva, ainda, a contextualidade como fio condutor de qualquer anlise em contraste com uma abstrao nos resultados para que sejam facilmente ge-neralizveis. Implica, ainda, num processo de reflexo con-tnua sobre o seu comportamento enquanto pesquisador e, finalmente, numa interao dinmica entre este e seu objeto de estudo.

Uma distino mais acentuada entre a pesquisa qualita-tiva e a pesquisa quantitativa diz respeito interao din-mica entre o pesquisador e o objeto de estudo. No caso da pesquisa quantitativa, dificilmente se escuta o participante aps a coleta de dados. Uma incluso de acontecimentos e conhecimentos cotidianos na interpretao de dados depen-de, no caso da pesquisa quantitativa, da audincia e do meio de divulgao. Ao mesmo tempo em que um nvel maior de abstrao pode impedir a incluso do cotidiano, qualquer passo na direo de uma aplicao de resultados necessaria-mente inclui o dia-a-dia. O mesmo se aplica para a questo do contexto. A reflexo contnua, obviamente, no espe-cfica da pesquisa qualitativa; deve acontecer em qualquer pesquisa cientfica.

Generalizao de resultados

A generalizao de resultados da pesquisa qualitativa passa por quatro dimenses. Mayring (2002) introduz o conceito da generalizao argumentativa. medida que os achados na pesquisa qualitativa se apiem em estudo de caso, estes dependem de uma argumentao explcita apon-tando quais generalizaes seriam factveis para circuns-tncias especficas. No caso da pesquisa quantitativa, uma amostra representativa asseguraria a possibilidade de uma generalizao dos resultados. Relaciona-se a isto a nfase no processo indutivo, partindo de elementos individuais para chegar a hipteses e generalizaes. Entretanto, este processo deve seguir regras, que no so uniformes, mas especficas a cada circunstncia. Desta maneira, de suma importncia que as regras sejam explicitadas para permitir uma eventual generalizao. Finalmente, Mayring no ex-clui a quantificao, mas enfatiza que a funo importante da abordagem qualitativa a de permitir uma quantificao com propsito. Desta maneira, poder-se-ia chegar a genera-lizaes mais consubstanciadas.

Postura pessoal do pesquisador

Uma primeira distino entre a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa refere-se ao fato de que na pesquisa qualitativa h aceitao explcita da influncia de crenas e valores sobre a teoria, sobre a escolha de tpicos de pesqui-sa, sobre o mtodo e sobre a interpretao de resultados. J na pesquisa quantitativa, crenas e valores pessoais no so consideradas fontes de influncia no processo cientficas. Ser mesmo? Considerando que um tema importante da psicologia social o estudo de atitudes, crenas e valores, a questo no se valores influenciam comportamentos e estados subjetivos, inclusive os valores do cientista. O que se coloca como lidar com esta influncia no contexto da pesquisa seja ela qualitativa ou quantitativa.

Alm da influncia de valores no processo de pesqui-sa, h de se constatar um envolvimento emocional do pes-quisador com o seu tema de investigao. A aceitao de tal envolvimento caracterizaria a pesquisa qualitativa. J a inteno de control-lo, ou sua negao, caracterizariam a pesquisa quantitativa. Da mesma maneira que os valores fa-zem parte da vida humana, o estudo das emoes assunto importante da psicologia clnica e da personalidade, razo pela qual, mais uma vez, volta-se questo mais relevante: como lidar com esta influncia no contexto da pesquisa?

Estratgias de coleta de dados

Uma resposta ao problema de como lidar com os valo-res e o envolvimento emocional do pesquisador com o seu objeto por meio do controle das variveis do estudo. O contraponto feito entre a pesquisa qualitativa e a pesqui-sa quantitativa o de estudar um determinado fenmeno no seu contexto natural versus estud-lo no laboratrio. A primeira estratgia da pesquisa qualitativa implica em relativa falta de controle de variveis estranhas ou, ainda, a constatao de que no existem variveis interferentes e irrelevantes. Todas as variveis do contexto so considera-das como importantes. Na segunda estratgia da pesquisa quantitativa tenta-se obter um controle mximo sobre o contexto, inclusive produzindo ambientes artificiais com o objetivo de reduzir ou eliminar a interferncia de variveis interferentes e irrelevantes. Entre as variveis irrelevantes e potencialmente interferentes, incluem-se tanto atributos do pesquisador, por exemplo, seus valores, quanto variveis contextuais ou atributos do objeto de estudo que no inte-ressam naquele momento da pesquisa.

Antes de tudo, consideramos essa classificao de vari-veis em relevantes e interferentes uma questo estratgica no processo de pesquisa. Em princpio, qualquer varivel pode explicar uma parte, mesmo que infinitsima, da va-riabilidade do fenmeno sob estudo. Entretanto, existem variveis que por razes tericos e/ou de experincia prvia so mais promissoras do que outras. Alm do mais, por ra-zes prticas, h de se limitar as variveis estudadas num mesmo tempo a um nmero manejvel, seja em termos de recursos de tempo e dinheiro por parte do pesquisador, seja da disponibilidade dos participantes da pesquisa. Des-ta maneira, limitar o nmero de variveis estudadas numa determinada pesquisa no implica que as demais variveis sejam necessariamente consideradas improcedentes uma boa pesquisa sempre est aberta ao surgimento de novas va-riveis e a explicaes alternativas do cenrio considerado no incio da investigao. O fato de se levar em conta mais explicitamente os valores e os demais atributos do pesqui-sador requer, por parte da pesquisa qualitativa, maior deta-lhamento dos pressupostos tericos subjacentes, bem como do contexto da pesquisa. Por outro lado, a estandardizao dos procedimentos na pesquisa quantitativa pode indicar avano no estabelecimento de um maior grau de intersub-jetividade entre pesquisadores que usam um determinado procedimento.

Estudo de caso

O chamado paradoxo da psicologia coloca em confron-to o estudo aprofundado de um evento individual, objeto de interesse da Psicologia por excelncia com a necessidade do estabelecimento de parmetros para os atributos destes eventos. Por exemplo, mdias constituem parmetros para

Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210203H. Gnther

descrever eventos individuais, mas, tais parmetros so ob-tidos somente em estudos que ignoram a individualidade dos eventos. Assim, ao descrever a individualidade de uma pessoa como agradvel, est implcita a resposta pergun-ta em termos de que referencial? Este referencial pode ser qualitativo: mais agradvel do que fulano ou pode ser quantitativo: sete pontos numa escala de 0 a 10. Seja como for, tais parmetros referenciais somente so obtidos por meio de investigaes mais complexas do que de es-tudos de caso. Observa-se, assim, que abordagens quali-tativas, que tendem a serem associadas a estudos de caso, dependem de estudos quantitativos, que visem gerar resul-tados generalizveis, i., parmetros. Desta maneira dilui-se a controvrsia entre o estudo de caso, i., uma investigao aprofundada de uma instncia de algum fenmeno, e o es-tudo envolvendo um nmero estatisticamente significativo de instncias de um mesmo fenmeno, a partir do qual seria possvel generalizar para outras instncias. Alm do mais, num estudo de caso possvel utilizar tanto procedimentos qualitativos quanto quantitativos.

Papel do sujeito

Mencionou-se, acima, a questo do envolvimento emo-cional e valorativo do pesquisador com a temtica do seu estudo. Deve-se indagar, tambm, sobre o grau de passivi-dade dos participantes de uma pesquisa. At que ponto os sujeitos de um estudo so envolvidos na concepo, rea-lizao e interpretao de resultados de uma pesquisa? A associao feita de que um participante ativo supe uma pesquisa qualitativa, j um participante passivo, sujei-to de uma pesquisa quantitativa. Embora a pesquisa-ao seja uma abordagem que permite um papel mais ativo do participante, h de se ressaltar que no desenvolvimento ori-ginal da pesquisa-ao por parte de Lewin (1982), qualquer abordagem observacional, experimental, survey, qualitati-va, quantitativa poderia ser utilizada, como demonstrado por Sommer e Amick (1984/2003). Voltaremos questo da pesquisa-ao e pesquisa participante, mais adiante.

Aplicabilidade e uso da pesquisa

Existe uma longa controvrsia sobre o valor relativo da natureza da cincia bsica versus aplicada. A argumentao compreende desde pesquisa sem aplicao um desper-dcio at gerar conhecimento um fim em si, qualquer utilidade secundria (Gnther, 1986). Por alguma razo pouco clara, a posio da primazia da pesquisa aplicada associada pesquisa qualitativa e da pesquisa bsica pes-quisa quantitativa. Esta associao pode estar relacionada ao processo de traduo da questo inicialmente quali-tativa em estratgias de coleta de dados quantitativos e (re)traduo dos resultados quantitativos para uma resposta qualitativa.

Subjacente discusso em torno da pesquisa bsica ver-sus pesquisa aplicada est a questo da finalidade do conhe-cimento. Uma postura ativista, conforme a qual a finalidade da cincia seria a de ajudar as pessoas (participantes da pes-quisa) a obter autodeterminao seria mais caracterstica da pesquisa qualitativa. Por outro lado, a cincia que somen-te contribui para com o avano do conhecimento aplicvel a todas as pessoas podendo ou no manter o status quo seria postulado pela pesquisa quantitativa. No surpreen-de que essa associao seja mais contestada pelos cientistas naturais, vide, por exemplo, a palestra do fsico Res Jost (1970/1995) sobre o conto de fada da torre de marfim.

Sem dvida, o prprio fato de existirem estas associaes indica que pesquisas, de qualquer natureza, no so ativida- des desvinculadas das caractersticas do pesquisador, nem do contexto sociocultural dentro do qual so realizadas. Por outro lado, temos srias dvidas quanto procedncia das respectivas associaes com a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa. A postura do pesquisador diante do seu objeto de estudo pode levar a estratgias de pesqui-sa diferentes, mas no significa que um, ou outro, atribua maior valor ao contexto sociocultural da pesquisa. O ato de se abordar indivduos para que participem em pesquisa demonstra o reconhecimento da sua expertise. Da mesma maneira que difcil defender a participao de todos os participantes de uma pesquisa em todas as fases da mesma (por exemplo, crianas de cinco anos sendo observadas num playground), o pesquisador deve solicitar e utilizar os comentrios dos seus sujeitos sobre a sua pesquisa. O fato de considerar a distino entre pesquisa aplicada versus bsica pouca vantajosa no contexto do avano do conhecimento, torna uma eventual associao destas duas vertentes a pesquisa qualitativa e a pesquisa quantitativa, respectivamente, ainda menos relevante. Em resumo, os pontos listados acima constituem (devem constituir) preo-cupaes de qualquer pesquisador.

Pesquisa Qualitativa: Delineamento, Coleta, Transcrio e Anlise de Dados

No incio deste artigo, apontamos trs aproximaes bsicas para compreender o comportamento e os estados subjetivos na psicologia: a) observar o comportamento que ocorre naturalmente no mbito real; b) criar situaes arti-ficiais e observar o comportamento diante de tarefas defi-nidas para essas situaes; e c) perguntar s pessoas sobre o seu comportamento e seus estados subjetivos. Diante da exposio sobre os pressupostos da pesquisa qualitativa fica a pergunta, onde e como tcnicas qualitativas espec-ficas se enquadram nesta diviso tripartite? Conforme j afirmado, so caractersticas da pesquisa qualitativa sua grande flexibilidade e adaptabilidade. Ao invs de utilizar instrumentos e procedimentos padronizados, a pesquisa qualitativa considera cada problema objeto de uma pes-quisa especfica para a qual so necessrios instrumentos e procedimentos especficos. Tal postura requer, portanto, maior cuidado na descrio de todos os passos da pesquisa: a) delineamento, b) coleta de dados, c) transcrio e d) pre-parao dos mesmos para sua anlise especfica. Inspirado em Mayring (2002), que organizou seu livro introdutrio desta maneira, trataremos de cada um destes quatro passos para o contexto da pesquisa qualitativa de maneira sepa-rada. Julgamos esta separao til, uma vez que existem muitas combinaes entre os diferentes delineamentos, maneiras de coletar, transcrever e analisar os dados. Fre-qentemente, manuais da pesquisa qualitativa apresentam coleta e anlise de dados interligados (por exemplo, Camic, Rhodes & Yardley, 2003; Denzin & Lincoln, 1994). Mesmo que se considere tal juno interessante, j que mostra a integrao entre coleta e anlise, tal procedimento tende a ocultar as demais possibilidades de combinar elementos destas tcnicas de pesquisa.

Delineamentos da pesquisa qualitativa

Mayring (2002) apresenta seis delineamentos da pes-quisa qualitativa: estudo de caso, anlise de documentos, pesquisa-ao, pesquisa de campo, experimento qualita-tivo e avaliao qualitativa. Para qualquer pesquisador acostumado a trabalhar quantitativamente fica evidente que nenhum destes delineamentos necessariamente qua-litativo.

204Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210Pesquisa Qualitativa Versus Quantitativa

Estudo de caso

No contexto de um estudo de caso, delimitado como a coleta e anlise de dados sobre um exemplo individual para definir um fenmeno mais amplo (Vogt, 1993) podem-se coletar e analisar tanto dados quantitativos quanto quali-tativos. Alm disto, concebvel observar comportamento no seu contexto natural, criar experimentos que utilizem o sujeito como seu prprio controle (Campbell & Stanley, 1963; Ibrahim, 1979), bem como realizar entrevistas, apli-car questionrios ou administrar testes.

Anlise de documento

A anlise de documentos a variante mais antiga para realizar pesquisa, especialmente no que diz respeito re-viso de literatura. Alm de procedimentos tradicionais de leitura e resumo de idias, possvel extrair e sumarizar resultados por meio de meta-anlise (e.g., Rosenthal, 1984). A utilizao de documentos como fonte sistemtica de da-dos foi iniciada por Leopold von Ranke, o pai da histria cientfica na primeira parte do sculo XIX (Grafton, 1997). Desde ento, desenvolveram-se tanto tcnicas mais quanti-tativas quanto qualitativas para lidar com fontes secundrias e documentais. Dependendo da natureza dos documentos existem as mais diferentes maneiras de encar-los, desde relatos verbais e respostas a perguntas de pesquisadores fu-turos, at segmentos de texto selecionados como sujeitos entre um corpo lingstico grande, por meio de procedi-mentos de amostragem.

Pesquisa-ao

No somente no Brasil a pesquisa-ao foi incorpora-da ao campo da pesquisa qualitativa (vide Thiollent, 1985). Num texto que prope dar uma breve introduo pesqui-sa-ao, Newman (2000) sequer faz referncia a Lewin, embora a perspectiva original da pesquisa-ao tenha sido a de realizar investigaes que contribuam, ao mesmo tempo, para o avano cientfico e transformao social (Lewin, 1982). Conforme apontado por Sommer (1977) e Sommer e Amick (1984/2003), a pesquisa-ao independe da tcnica, podendo ser utilizada com experimento, observao ou sur-vey. Observa-se, ainda, uma juno entre a pesquisa-ao e a pesquisa participante (vide Brando, 1985, 1987).

Pesquisa de campo

Esta abordagem engloba, desde a dcada de 1930, uma ampla variedade de delineamentos desde a sua introduo ao contexto acadmico por Jahoda, Lazarsfeld e Zeisel (1933). Este estudo especialmente interessante do ponto de vista do mtodo da pesquisa qualitativa, ao mesmo tempo em que se constitui como exemplo de triangulao, i., uma inte-grao de diferentes abordagens e tcnicas qualitativas e quantitativas num mesmo estudo. O manual de mtodos em antropologia cultural (Naroll & Cohen, 1970) inclui a seco processo de pesquisa de campo envolvendo desde mtodos quantitativos experimentais (e.g., Sechrest, 1970) at procedimentos qualitativos clnicos (Edgerton, 1970). Amplitude semelhante de tcnicas pode ser encontrada na obra de Werner e Schoepfle (1987), bem como em outros livros sobre pesquisa de campo. cedimentos, alm da interpretao tradicional da pesquisa quantitativa, podem incluir uma abordagem qualitativa.Em suma, nenhum dos seis delineamentos metodolgi-cos comentados acima constitui seara qualitativa ou quanti-tativa. Num prximo passo, analisaremos elementos do pro-cesso de pesquisa coleta, transcrio e anlise de dados utilizados na pesquisa qualitativa.

Coleta de dados na pesquisa qualitativa

Para o contexto da pesquisa qualitativa, as trs maneiras de coleta de dados apontadas por Kish (1987) observao, experimento e survey podem ser reagrupadas como coleta de dados visuais e verbais. Independente dos delineamen-tos elencados acima, diferentes tcnicas de coleta de dados visuais e verbais podem ser utilizadas. Diante dos objetivos deste artigo, constatamos um grande nmero de procedi-mentos em diversos livros da rea. Flick (1995) diferencia entre quatro tipos de entrevistas: a) focalizada, b) semi-es-tandardizada, c) centrada num problema e d) centrada no contexto (e.g., com especialistas ou etngrafos). Alm do mais, aponta trs tipos de relatos: a) entrevista narrativa, b) entrevista episdica e c) contos. Descreve, ainda, trs tipos de procedimentos grupais: a) entrevista em grupo, b) discus-so em grupo e c) narrativa em grupo. No que diz respeito aos procedimentos visuais, Flick menciona a) observao, b) observao participante, c) etnografia, d) fotografia e e) anlise de filmes. Mayring (2002) descreve quatro maneiras de levantar dados no contexto da pesquisa qualitativa: a) dados verbais por meio de entrevista centrada num proble-ma, b) entrevista narrativa, c) grupo de discusso e d) dados visuais por meio da observao participante.

Seguem-se algumas referncias em Portugus e Ingls que tratam de maneiras de coleta de dados com maior de-talhe:

Dados verbais:

Entrevista de maneira geral: Banister, Burman, Pa-

rker, Taylor e Tindall (1994); Fontana e Frey (1994); Entrevista centrada no problema: Schorn (2000); Entrevista episdica: Flick (2002); Entrevistas individuais e grupais: Gaskell (2002); Entrevista narrativa: Dick (2000), Jovchelovitch e Bauer (2002);

Entrevista por telefone: Burke e Miller (2001).

Dados visuais: Uso de vdeo, filme e fotografias: Loizos (2002), Ratcliff (2003), Neiva-Silva e Koller (2002);

Observaes: Adler e Adler (1994), Banister e cols. (1994).

Transcrio de dados na pesquisa qualitativa

No apenas na pesquisa qualitativa, o passo entre a co-leta de dados e a sua anlise parece ser o mais ignorado na literatura. Especialmente na pesquisa qualitativa, este passo de suma importncia diante da grande variabilidade nas maneiras de coletar dados e da sua no-estandardizao. Mayring (2002) diferencia entre a) meios de representao de dados, b) transcrio de dados propriamente dita e c) construo de sistemas descritivos.

Experimento qualitativo e avaliao qualitativaRepresentao de dados

O fato de qualificar experimento e avaliao com o ad-jetivo qualitativo refora a constatao de que estes pro- Os meios de representao de dados de qualquer pes-quisa so intimamente ligados s tcnicas de coleta dos

Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210205H. Gnther

mesmos. Isto mais evidente no caso de escolher meios visuais: o prprio ato de fotografar ou filmar um determi-nado evento j inclui a transcrio de uma idia em uma representao, no caso visual. As imagens j se encontram concatenadas.

Transcrio de dados

A transcrio de material verbal pode tomar as mais variadas formas. A maneira mais detalhada a transcrio literal de uma entrevista gravada com a incluso de sinais indicando entonaes, sotaques, regionalismo e erros de fala. a transcrio mais completa, mais informativa e, tam-bm, a mais cara em termos de tempo e de dinheiro. Existe a transcrio comentada, no necessariamente mutuamente excludente da anterior, na qual se registra explicitamente hesitaes na fala alm das expresses faciais e corporais que acompanham as verbalizaes da pessoa. Registros filmados ajudam, consideravelmente, na preparao deste tipo de transcrio. Outra forma de transcrio consiste no protocolo resumido, se bem que este j implique num pro-cessamento da informao dentro de algum esquema inter-pretativo j existente. Os protocolos seletivos, apropriados no caso de muito material, no somente supem um esque-ma interpretativo subjacente, mas necessitam ainda mais do que as outras formas, de transcrio e de regras explcitas para a seleo do material.

Construo de sistemas descritivos

Se o meio de representao de dados forma o elo com a tcnica da coleta de dados, a construo de sistemas des-critivos a partir da transcrio faz o elo com a interpretao dos dados. Embora a pesquisa qualitativa seja mais indutiva do que dedutiva, no h como afirmar que a construo de um sistema descritivo seja totalmente livre de perspectivas, valores e emoes de quem prepara um sistema de catego-rizao de eventos. Diante das consideraes acima sobre a postura do pesquisador e as estratgias de coleta de dados, uma descrio detalhada dos procedimentos da coleta, da transcrio e da anlise de dados essencial. A grounded theory um exemplo do quanto transcrio e a interpreta-o esto entrelaadas (Glaser & Strauss, 1967).

Anlise de dados na pesquisa qualitativa

A variedade de tcnicas de anlise de dados corresponde variedade de coleta, embora no exista uma relao direta entre as duas. Mayring (2002) menciona sete maneiras de analisar dados qualitativos: a) grounded theory, b) anlise fenomenolgica, c) parfrase social-hermenutica, d) an-lise de contedo qualitativa, e) hermenutica objetiva, f) interpretao psicanaltica de textos e g) anlise tipolgica. No livro de Bauer e Gaskell (2000/2002) h oito captulos apresentando enfoques analticos para texto, imagem e som. medida que os recortes de cunho metodolgico-analticos variam, Camic e cols. (2003) e Denzin e Lincoln (1994) apresentam vrios captulos sobre anlise de dados qua-litativos. Soma-se a esta diversidade o uso cada vez mais intenso de recursos computacionais na rea; no Anexo so apresentadas algumas referncias e links para pginas de programas.

Critrios de Qualidade de Pesquisa

O que constitui pesquisa bem feita, confivel, merece-dora de ser tornada pblica para contribuir para o manancial de conhecimento sobre um determinado assunto? Lienert (1989) diferencia entre critrios principais e critrios secun-drios. Entre os primeiros, constam objetividade, fidedigni-dade e validade. Entre os segundos, constam utilidade, eco-nomia de esforo, normatizao e comparabilidade. Seria difcil, se no impossvel, verificar a base cientfica de uma pesquisa por meio de estudos adicionais se a mesma no satisfaz a estes critrios.At que ponto estes ou outros critrios se aplicam pesquisa qualitativa? Steinke (2000) aponta trs posturas quanto aplicabilidade de critrios de qualidade pesquisa qualitativa. Uma primeira posio rejeita critrios de quali-dade. O freqentemente citado argumento de Feyerabend (1976), segundo o qual qualquer coisa vale, parece-nos confortvel, entretanto mal compreendido. Diante da multiplicidade de problemas a serem estudados, deve-se adaptar o mtodo pergunta. Neste sentido, qualquer m-todo que d conta do recado vale. Tal estratgia, porm, no exime o pesquisador de mostrar at que ponto h uma correspondncia entre o mtodo escolhido e a pergunta e, muito menos, da indagao sobre a qualidade dos resulta-dos. Raciocnio semelhante aplica-se ao argumento scio-construtivista contra uma avaliao da pesquisa qualitativa: conhecimento e avaliao so parte do processo de criao de conhecimento, resultado de construo social e, portan-to, dependente do contexto e dos atores, no constituindo uma realidade parte. Mesmo assim, h de se reconhecer que parte inerente do processo social da construo de co-nhecimento o julgamento dos atores (pesquisadores) em aceitar, ou no, a posio subjetiva do outro.

Uma segunda posio argumenta em favor de critrios especficos da pesquisa qualitativa, questionando a aplica-bilidade de critrios de qualidade utilizados na pesquisa quantitativa. Partindo da natureza sui generis da pesquisa qualitativa, podem ser utilizados vrios critrios especficos (Steinke, 2000): a validao comunicativa implica numa checagem com o participante da pesquisa, no sentido de perguntar se o pesquisador o entendeu corretamente. Na validao da situao de entrevista verifica-se at que pon-to foi possvel estabelecer uma relao de confiana entre pesquisador e entrevistado. A triangulao implica na uti-lizao de abordagens mltiplas para evitar distores em funo de um mtodo, uma teoria ou um pesquisador.

A terceira posio tenta adaptar critrios da pesquisa quantitativa para determinar a qualidade da pesquisa qua-litativa. Miles e Huberman (1994) apresentam uma srie de critrios que constituem tais adaptaes. Grunenberg (2001) foi alm, ao realizar uma meta-anlise de pesquisas quali-tativas das reas da educao e das cincias sociais com o objetivo de verificar a qualidade da pesquisa qualitativa. O resultado desta anlise foi a criao de uma lista de critrios de qualidade.

Agregando as consideraes de Grunenberg (2001), Mayring (2002), Miles e Huberman (1994), bem como as de Steinke (2000), apresentamos os seguintes critrios formulados em termos de perguntas para uma anlise de at que ponto uma pesquisa qualitativa pode ser considera-da de boa qualidade.

As perguntas da pesquisa so claramente formula-

das? O delineamento da pesquisa consistente com o objetivo e as perguntas?

Os paradigmas e os construtos analticos foram bem explicitados?

A posio terica e as expectativas do pesquisador foram explicitadas?

Adotaram-se regras explcitas nos procedimentos metodolgicos?

Os procedimentos metodolgicos so bem docu-

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mentados?

Adotaram-se regras explcitas nos procedimentos analticos? Os procedimentos analticos so bem documenta-

dos? Os dados foram coletados em todos os contextos, tempos e pessoas sugeridos pelo delineamento?

O detalhamento da anlise leva em conta resulta-dos no-esperados e contrrios ao esperado?

A discusso dos resultados leva em conta possveis alternativas de interpretao?

Os resultados so ou no congruentes com as expectativas tericas?

Explicitou-se a teoria que pode ser derivada dos dados e utilizada em outros contextos?

Os resultados so acessveis, tanto para a comuni-dade acadmica quanto para os usurios no campo?

Os resultados estimulam aes bsicas e aplica-das futuras?

Consistente com os princpios tanto da pesquisa quali-

tativa quanto da pesquisa quantitativa (i.e., validade), estes critrios podem alcanar algum nvel numa gradao quali-tativa, mas no valor numrico. H de se lembrar que, sem tais critrios, no existe dilogo entre resultados de pesqui-sa sejam estes de natureza qualitativa ou quantitativa. Sem dilogo entre os resultados, no h como se chegar a uma compreenso no sentido de Dilthey da natureza do ser humano.

O capitulo Making good sense: Drawing and verifying conclusions do livro de Miles e Huberman (1994) apresenta uma anlise mais detalhada da qualidade das pesquisas qua-litativas. Igualmente interessante a discusso na revista on-line Forum: Qualitative Social Research sobre a questo da qualidade. Esta discusso foi iniciada por Reichertz em 2000 e seguida, em cada nmero subseqente da revista, de rplicas e trplicas (em ordem de publicao: Breuer, 2000; Huber, 2001; Kiener & Schanne, 2001; Breuer & Reichertz, 2002; Lauken, 2002; Fahrenberg, 2003; Rost, 2003; Breuer, 2003).

A Escolha entre a PesquisaQualitativa e a Pesquisa Quantitativa

Inicialmente, devemos admitir que no concordamos com a dicotomia de Dilthey quando afirmou explicamos a natureza, compreendemos a vida mental. O ser humano e, portanto, sua vida mental faz parte da natureza; desta ma-neira, encontra-se em constante interface com a natureza. Conseqentemente, a cincia do ser humano e da sua vida mental consiste em um esforo concomitante de explicar e compreender. Mais enfaticamente, explicao e compre-enso dependem uma da outra, so impossveis uma sem a outra.

Para o processo de investigao cientfica, tal perspec-tiva implica que o pesquisador, enquanto consumidor de pesquisa, na fase da reviso de literatura, no se deve res-tringir a resultados frutos de uma determinada abordagem, ignorando ou, at, vilificando as demais, muitas vezes por falta de conhecimento.

Enquanto participante do processo de construo de conhecimento, idealmente, o pesquisador no deveria es-colher entre um mtodo ou outro, mas utilizar as vrias abordagens, qualitativas e quantitativas que se adequam sua questo de pesquisa. Do ponto de vista prtico existem razes de ordens diversas que podem induzir um pesquisa-dor a escolher uma abordagem, ou outra.

Assim como difcil ser fluente em mais de uma cultu-ra e lngua, igualmente difcil aproximar-se de um tema de pesquisa a partir de paradigmas distintos. Turato (2004) alerta para uma lamentvel indiferena real no-harmo-nia dos paradigmas (p. 22), argumentando contra aborda-gens que combinam mtodos qualitativos e quantitativos. Ns ressaltamos, entretanto, que uma abordagem mista no necessariamente implica numa algaravia metodolgica.

Um primeiro argumento em favor de um determinado mtodo est implcito no princpio da abertura (veja subi-tem Coleta de dados), na escolha de um mtodo adequa-do para a pergunta que est sendo estudada. medida que perguntas de pesquisa freqentemente so multifacetadas, comportam mais de um mtodo. Assim, uma segunda con-siderao, obviamente, a da competncia especfica do pesquisador. Cabe ressaltar que tal competncia deve incluir a sabedoria quando for apropriado, de no realizar uma pes-quisa por extrapolar determinadas habilidades, ao invs de modificar a pergunta em funo da sua competncia.

Consideraes mais objetivas incluem recursos dispon-veis: quanto tempo existe para realizar a pesquisa e preparar o relatrio com os resultados? Que incentivos esto dispon-veis para contratar colaboradores e assistentes de pesquisa? Quais os recursos materiais (gravadores, mquinas fotogr-ficas, filmadoras, computadores) existentes? Qual o acesso populao a ser estudada?

Em suma, a questo no colocar a pesquisa qualitativa versus a pesquisa quantitativa, no decidir-se pela pesqui-sa qualitativa ou pela pesquisa quantitativa. A questo tem implicaes de natureza prtica, emprica e tcnica. Consi-derando os recursos materiais, temporais e pessoais dispo-nveis para lidar com uma determinada pergunta cientfica, coloca-se para o pesquisador e para a sua equipe a tarefa de encontrar e usar a abordagem terico-metodolgica que permita, num mnimo de tempo, chegar a um resultado que melhor contribua para a compreenso do fenmeno e para o avano do bem-estar social.

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5HFHELGR_HP___________ 3ULPHLUD_GHFLVmR_HGLWRULDO_HP___________ 9HUVmR_QDO_HP___________

$FHLWR_HP___________

Anexo

Seguem alguns links para recursos computacionais para a anlise de dados qualitativos. medida que existe grande di-versidade na coleta e anlise de dados, no surpreende a existncia de vrios programas.

Um bom ponto de partida a pgina do Computer Assisted Qualitative Data Analysis (CAQDAS) Networking Project, http://caqdas.soc.surrey.ac.uk/, que apresenta, no seu stio uma comparao de seis importantes programas computacionais: ATLAS.ti, HyperRESEARCH, MAXqda, N6, NVivo, Qualrus.

primeira vista, estes programas oferecem recursos muito semelhantes, como anlise de dados no somente textuais, mas tambm grficas, udio e vdeo, bem como interface com SPSS ou EXCEL. As pginas dos programas na Internet freqen-temente trazem links para textos sobre pesquisa qualitativa. A maioria dos programas tem interface em ingls, o MAXqda tambm tem interface em alemo e espanhol. O programa Alceste, desenvolvido na Frana, difere dos demais por ser orientado mais diretamente para uma anlise de contedo, tendo verses com interface em francs e ingls.

A revista online Forum: Qualitative Social Research traz em maio de 2002 um nmero especial sobre o uso de tecnologia no processo de pesquisa qualitativa. A URL deste nmero www.qualitative-research.net/fqs/fqs-e/inhalt2-02-e.htm

Links para Programas

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Qualrus www.qualrus.com/Qualrus.shtml Alceste http://www.image.cict.fr/

Duas revista online e de acesso gratuito para pesquisa qualitativa:Forum: Qualitative Social Research URL: www.qualitative-research.netThe Qualitative Report URL: www.nova.edu/ssss/QR/

Psic.: Teor. e Pesq., Braslia, Mai-Ago 2006, Vol. 22 n. 2, pp. 201-210209