guerra orixa

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guerra orixa

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  • SUMRIO

    1 - 5 INFORMAES ADICIONAIS..........................................................................72 ........ 4

    5.1 OBRAS REALIZADAS POR MAGGIE E PETER FRY....................... 72 .. 5 6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................73 ........ 5 2 - DESCRIO DAS PARTES ADJACENTES DA OBRA ............................................... 8 2.1 APRESENTAO DE PETER FRY (ABA DO LIVRO) ............................................... 8 2.2 PREFCIO DA TERCEIRA EDIO ............................................................................ 8 2.3 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO .......................................................................... 10 2.4 INTRODUO .............................................................................................................. 11 3 - ANLISE DAS PARTES ADJACENTES DA OBRA .................................................. 13 3.1 APRESENTAO DE PETER FRY (ABA DO LIVRO) ............................................. 13 3.2 PREFCIO DA TERCEIRA EDIO .......................................................................... 14 3.3 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO .......................................................................... 16 3.4 INTRODUO .............................................................................................................. 16 4 DECRIO E ANLISE DA OBRA ............................................................................ 17 4.1 CAPTULO 1 - O TERREIRO .................................................................................... 17 4.1.1 DESCRIO ............................................................................................................ 19 4.1.2 ANLISE ................................................................................................................. 28 4.1.3 CONCLUSO DO GRUPO ..................................................................................... 31 4.2 CAPTULO 2 - O DRAMA ......................................................................................... 34 4.2.1 DESCRIO ............................................................................................................ 34 4.2.1 ANLISE .................................................................................................................. 41 4.3 CAPTULO 3 QUATRO PERSONAGENS DO DRAMA ...................................... 43 4.3.1 DESCRIO ............................................................................................................ 43 4.3.2 ANLISE .................................................................................................................. 52 4.3.2 CONCLUSO DO GRUPO ..................................................................................... 56 4.4 CAPTULO 4 RITUAL E CONFLITO: ANLISE SIMBLICA .......................... 58

    5.1 OBRAS REALIZADAS POR MAGGIE E PETER FRY ...................... 71 5.2 OUTROS TRABALHOS ORIENTADOS POR PETER FRY .............. 71 6 - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................ 73

    4.4 CAPTULO 4 - QUATRO PERSONAGENS DO DRAMA...................59

    5 INFORMAES ADICIONAIS..........................................................................72

    5.1 OBRAS REALIZADAS POR MAGGIE E PETER FRY....................... 72

  • 5.2 OUTROS TRABALHOS ORIENTADOS POR PETER FRY................72

    6 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS..................................................................73

    1. CONTEXTUALIZAO HISTRICA

    Em 1972, ano em que a autora realizou seu estudo de caso que deu origem obra

    aqui em estudo Guerra de Orix, o Brasil vivenciava o perodo considerado mais duro e

    repressivo do Regime Militar, os anos de chumbo. Perodo este governado pelo general

    Emilio Garrastazu Mdici (1969-1974), que fez valer uma rigorosa poltica de censura, tendo

    todas as formas de expresso severamente vigiadas e reprimidas (muitos professores,

    polticos, msicos, artistas e escritores foram investigados, presos, torturados ou exilados do

    pas neste perodo), se necessrio fosse.

    Vivia-se ainda o conhecido Milagre Econmico, que segundo Fausto: ... estendeu-

    se de 1969 a 1973, combinando o extraordinrio crescimento econmico com taxas

    relativamente baixas de inflao (FAUSTO, 2001, p. 268). Este autor nos traz ainda um

    outro dado pertinente anlise da Conjuntura econmica de 1972: ... 52,5% da populao

    economicamente ativa recebiam menos de um salrio mnimo1, e 22,8% entre um e dois

    salrios. (FAUSTO, 2001, p. 269), estes dados nos aproximam da realidade das personagens

    descritas por Meggie em sua tese.

    1 O salrio mnimo em vigor era de R$ 268,80, conforme documento disponvel no site da Justia Federal do Paran.

    5

  • Em uma contextualizao macro, em 1994, poca em que o golpe militar completava

    30 anos Darcy Ribeiro descreveu o contexto em que o pas estava inserido e a partir do qual

    amarga at hoje as conseqncias.

    Segundo ele, o golpe militar de 1964 foi uma interrupo abrupta do fluxo histrico

    brasileiro, revertendo inclusive o sentido natural deste fluxo, pois, o pas vinha h dcadas

    construindo, a duras penas, uma nao autnoma, moderna, socialmente responsvel e

    respeitosa da ordem civil quando ento, veio o golpe e a reverso.

    O objetivo do golpe foi afastar ameaas da poca (como a reforma agrria, e etc...)

    para preservar os interesses do latifndio e das empresas multinacionais a fim de perpetuar

    uma ordem social retrgrada e uma economia dependente e socialmente irresponsvel de que

    o nosso pas se esforava h dcadas para escapar.

    O primeiro resultado do Golpe foi o enriquecimento mais escandaloso dos ricos e o

    empobrecimento mais perverso dos pobres isso se demonstra pela redistribuio da renda

    nacional em que a participao dos 20% mais pobres viu-se comprimida, passando de 3,5%

    para 3,2% de 1960 a 1980, enquanto os 10% mais ricos, elevaram de 39,7% para 49,7% sua

    participao na renda.

    O efeito mais perverso da poltica econmica da ditadura foi de lanar milhes de

    brasileiros no desemprego com mo de obra descartvel condenando uma quinta parte da

    populao a indigncia, a fome a violncia, o abandono de menores e a prostituio infantil.

    A ditadura desmontou a poltica social do trabalhismo, anulando o direito de greve,

    acabando com a instabilidade no emprego e submetendo os sindicatos dos operrios a

    interveno policial.

    No plano da cultura vimos decair a criatividade brasileira. Na educao o ensino

    piorou tanto que nossas escolas primrias produzem mais analfabetos que alfabetizados para

    6

  • cometer tamanhas barbaridades a servios dos interesses estrangeiros e de uma elite

    descendente de senhores de escravos, os golpistas de 64 degradaram toda a institucionalidade

    brasileira afundando o pas num despotismo crescente.

    Comearam rasgando a constituio vigente, prosseguiram, liquidando a vida

    partidria anulando o congresso, decapitando o STF, impondo, a censura mais estrita a

    imprensa, liquidando com nossas manifestaes culturais e artsticas, caando direitos

    polticos, demitindo, rendendo e exilando milhares de cidados.

    Assim, a partir desta breve insero no momento vivenciado pela sociedade brasileira,

    faremos algumas reflexes para entender se este cenrio no foi um dos motivadores, seno o

    principal, para que a Professora Maggie se limitasse s quatro paredes de um nico Terreiro

    (Tenda Esprita Caboclo Serra Negra situada no bairro do Andara Rio de Janeiro) como o

    vis para desempenhar seu papel como uma das personagens da histria do pas ... de uma

    gerao que buscou novos caminhos e novas perguntas para entender a sociedade brasileira.

    (MAGGIE, 2001, p.7).

    certo que o pressuposto acima mencionado acalmaria os nimos de muitos que

    leram seu ... estudo de caso de um terreiro... (MAGGIE, 2001, p. 16) caso ela, respeitando

    os regras cientficas apropriados s Cincias Humanas no tocante a este tipo de mtodo,

    houvesse limitado suas concluses ao cenrio pesquisado (o Terreiro em questo), mas,

    lamentavelmente a autora transgrediu esta regra ao extrapolar suas consideraes ... minhas

    concluses talvez possam explicar terreiros que tenha uma equivalncia estrutural com o caso

    estudado. (MAGGIE, 2001, p. 17), nos causando alguns desconfortos, sobretudo quanto ao

    rigor cientfico de seu trabalho e de seu orientador, ou ainda falta de rigor, mas, tambm nos

    sentimos desconfortveis ao nos depararmos no decorrer de nosso estudo com relatos nada

    isentos de juzo de valor ou livre de esteretipos por parte da autora, relatos estes que

    buscaremos trazer luz da racionalizao no desenrolar de nosso trabalho.

    Ento, passamos a seguir a dissertar sobre a obra e sobre os quatro pilares por meio do

    qual a autora embasou a sua tese:

    Captulo 1: O Terreiro: unidade de anlise;

    7

  • Captulo 2: O Drama: drama social e seus princpios organizatrios e subjacentes;

    Captulo 3: Quatro personagens do drama: estratificao social;

    Captulo 4: Ritual e conflito: anlise simblica: diferenas de modelo dentro do grupo

    estudado.

    2 - DESCRIO DAS PARTES ADJACENTES DA OBRA

    2.1 APRESENTAO DE PETER FRY (ABA DO LIVRO)

    Traz o comentrio de Peter Fry, dizendo que o livro leitura obrigatria (1) para todos

    que querem entender melhor as religies afro-brasileiras. Ele diz que a autora narra a breve

    historia de um terreiro de umbanda e que este estudo de caso (2), aborda a cosmologia da

    umbanda, a organizao dos terreiros, a iniciao dos mdiuns e a centralidade da magia tanto

    para o bem quanto para o mal. Diz que o livro marca poca na historia da antropologia do

    Brasil. Termina dizendo que muito se escreve sobre as religies Afro-brasileiras, mas pouco

    so os trabalhos que emanam vitalidade e empatia (3), deste primeiro trabalho

    antropolgico.Traz a foto da autora e a apresenta como professora titular de antropologia do

    departamento de antropologia cultural do instituto de filosofia e cincias sociais da UFRJ, e o

    que ela j fez e foi.

    2.2 PREFCIO DA TERCEIRA EDIO

    8

  • Vinte e seis anos depois (1) de escrever guerra de orix, onde a autora lanou-se como

    antroploga, apresenta o livro dizendo que como qualquer outro produto cultural, marcado

    pela sua poca e que por isso mantm-se atual em muitos sentidos.

    Foi escrito na dcada de 70, no auge da represso militar, o livro faz parte de um

    conjunto de livros e filmes caracterizados por essa vontade de entender e conhecer os limites

    das vises utpicas sobre a sociedade brasileira (no posfcio uma das referncias que a autora

    traz sobre esse conjunto, o filme Dama da Lotao onde traz uma mulher sexualizada e

    travestida de pomba-gira !?!.

    A autora diz tambm que guerra de orix inaugurou uma nova maneira de fazer

    etnografia e explicita duas crticas que foram levantadas e que mereciam ser discutidas (2).

    A primeira por ser um estudo de caso (3), e apenas um terreiro, no pode explicar a

    complexidade de uma religio, explica ento que foi o palco por onde tentou desvendar as

    formas por maio das quais o poder estruturado nesta instituio religiosa e que estudou em

    um terreiro e no o terreiro, cita trs autores: Nina Rodrigues, Nunes Pereira, e Ruth Landes,

    dizendo que foram importantes para a compreenso das religies afro e que at hoje no

    perderam sua fora explicativa, pois os autores acreditaram na verso dos informantes e por

    terem se aproximado do grupo estudado de forma no preconceituosa(4) e que seu livro

    guerra de orix segue esta mesma trilha.

    A segunda crtica que a autora discute sobre a interpretao do ritual como

    representao de verses do grupo sobre a sociedade mais ampla, ou seja, a socializao da

    realidade. Cita Durkheim que demonstra a relao entre a religio e as relaes sociais.

    A tenso que descreve no terreiro entre o cdigo de santo e o cdigo burocrtico

    (abordado em detalhes no captulo 3) ao interpretar a guerra de orix, a demanda e o conflito

    que funda a histria descrita, s possvel porque o ritual e a crena em questo so partes

    desta sociedade em questo.

    9

  • O seu segundo livro, de 1992 encontrou a relao possvel entre os terreiros, os

    diversos segmentos da crena e os princpios que organizam as hierarquias dos terreiros. Aps

    anos de pesquisa (5) em terreiros diversos e muitos processos criminais estudados a autora

    coloca que volta a pensar como Durkheim, que aqui no Brasil, a religio o elo entre os

    vrios grupos que compem nossa sociedade e que as religies medinicas atingem pessoas

    de todas as classes.

    Foi no terreiro do Caboclo Serra Negra, que viveu pela primeira vez a problemtica

    que a ocupa at hoje: A importncia de se ter estudo para aquele grupo e a relao cotidiana

    entre brancos e negros na vida brasileira.

    Diz que em meio aquelas guerras, em que deuses lutavam por homens e mulheres

    escolhidos, viveu a tenso entre ter estudo e ser bom no santo e tambm entre ser um bom pai

    de santo e ser um estudante, independente de ser negro ou branco.

    Guerra de orix foi o livro de estria que se constituiu no plano de vo de sua vida

    profissional (7), agradece ainda a Jorge Zahar, que acreditou e confiou nela dando-lhe

    coragem para lanar este livro.

    2.3 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO

    Foi apresentado como dissertao de mestrado no programa de ps-graduao em

    Antropologia Social da Diviso de Antropologia do Museu Nacional da UFRJ. Teve como

    ponto de partida a leitura crtica da literatura sobre cultos afro-brasileiros realizada no Brasil e

    na universidade do Texas (Estados Unidos). Quis buscar respostas atravs de um estudo de

    caso.

    Este trabalho de campo foi realizado em um terreiro de umbanda do bairro do Andara

    no subrbio do Rio de Janeiro, no perodo de junho a setembro de 1972, foram quatro meses

    10

  • que observou a vida desde sua inaugurao at o seu fechamento(1); e de setembro a outubro

    de 1972 acompanhou a trajetria do grupo que se dispersou.

    2.4 INTRODUO

    A autora conta que quando iniciou suas leituras sobre religies afro-brasileiras ficou

    impressionada com a continuidade e constncia com que eram tratados certos temas que no

    mudaram desde o incio do estudo sobre essas religies.

    Relata que os problemas e as interpretaes variavam pouco apesar da imensa

    bibliografia existente (1).

    Diz que foi necessrio fazer um crtica da ideologia subjacente as informaes dos

    estudiosos que se dedicaram a esse tema. A primeira as religies afro brasileiras foram

    sempre vistas como um fenmeno de sincretismo religioso dos traos africanos, associados

    aos traos catlicos, esse sincretismo inicial foi somado a traos do espiritismo Kardecista, e

    tambm a traos indgenas. Seu nome genrico expressa a viso de uma religio sincretizada,

    pois afro vem de traos africanos, e brasileira vem de traos catlicos, espritas e indgenas. A

    segunda os traos foram associados a um maior ou menor grau de desenvolvimento ou de

    evoluo cultural; sendo que afro - vrtice mais baixo seguido dos indgenas e catlicos e no

    vrtice mais elevado os traos espritas. Eram classificadas como primitivas, fetichistas e

    mgicas e que frente a outras religies estariam num estgio inferior de evoluo cultural.

    A partir dessa abordagem evolucionista, desenvolveu-se uma forma de classificao

    dos cultos afro-brasileiros.

    Os autores explicavam que esse primitivismo se devia ao fato de serem religies de

    negros, trazidos para c na poca da escravido. Depois o primitivismo foi associado, as

    camadas baixas da populao brasileira, que as adotavam por no terem ainda alcanado

    estgios mais altos da evoluo cultural, a civilizao. Mais recentemente um outro tipo de

    associao foi feito sobre uma maior ou menor adaptao ao meio de vida urbano. O plo

    11

  • rural seria primitivo, emocional, no racional, ligados aos traos africanos e o plo urbano

    civilizado, no emocional e racional, ligados aos traos espritas.

    Apresenta a classificao evolucionista desses cultos tendo na Bahia o candombl, no

    Rio de Janeiro, So Paulo e Sul a macumba, com origens africanas e a umbanda com

    caractersticas espritas. Apesar dessa diferenciao, esses cultos eram colocados como um

    todo no vrtice mais primitivo em relao s religies civilizadas.

    Cita autores como Roger Bastide, Nina Rodrigues, entre outros, com seus esteretipos

    e preconceitos dizendo que at hoje continua sendo o documento mais importante sobre o

    assunto. Chamar essas religies de afro escondia um medo de cham-las de religies negras.

    As origens africanas lhes davam um carter mais limpo e aristocrtico, pois, os africanos so

    estrangeiros e isto lhes conferia um outro status (2).

    A autora diz que no est interessada nos sincretismo, nem na origem dos traos, nem

    no primitivismo ou fetichismo, tambm no as v como religies negras. No est preocupada

    em explicar o fenmeno, no pretende esgotar o estudo das religies chamadas afro-

    brasileiras.

    Apresenta ento seu objetivo - estudo de caso de um terreiro, um local de culto, e que

    sua preocupao bsica foi partir das informaes do universo pesquisado, tentando verificar

    como um grupo de pessoas vivia numa determinada poca, usando determinados rituais,

    smbolos e costumes (3). Depois procurou interpretar o que estava sendo expresso atravs da

    histria desse terreiro, de seus rituais e da exegese dos membros do grupo. Pretendia perceber

    a lgica que estava por traz desses rituais, dos smbolos e do discurso daqueles que os

    praticavam.

    Suas concluses, afirma a autora, sero limitadas ao universo pesquisado, e por este

    motivo no explica todo o fenmeno da umbanda ou da macumba no Rio de Janeiro, mas na

    medida que este terreiro fazia parte de um universo maior de terreiros, suas concluses talvez

    possam explicar terreiros que tenham equivalncia estrutural com o que foi estudado(4).

    12

  • 3 - ANLISE DAS PARTES ADJACENTES DA OBRA

    3.1 APRESENTAO DE PETER FRY (ABA DO LIVRO)

    O livro apresentado por Peter Fry como uma leitura obrigatria, por este motivo

    consideramos relevante a apresentao do mesmo.

    Peter Fry um antroplogo nascido na Inglaterra, naturalizado brasileiro, possui

    diversos trabalhos sobre sexualidade, poltica e religio africana.

    O grupo localizou um artigo na revista Mundo e Misso que achamos de extrema

    relevncia, por descrever suas reais afinidades com as religies afro-brasileiras. O texto

    segue abaixo:

    O jeitinho e a malandragem

    A umbanda preferida pelas pessoas que, diariamente, esto acostumadas a manipular atravs

    do jeitinho e da malandragem. A manipulao das entidades para obter favores insere-se num

    fundo de uma vida recheada de jeitinhos e favores.

    13

  • Neste sentido a umbanda parece espelhar uma particular maneira de ser do capitalismo

    brasileiro e o refora. Mostra que o sucesso na vida, pode ser obtido no necessariamente

    atravs de canais oficiais de trabalho e estudo, mas tambm pela manipulao de

    relacionamentos pessoais, pedidos de favor e troca de benefcios.

    (1) Quais as referncias que Peter Fry se baseia ao indic-lo como leitura obrigatria,

    pois as referncias bibliogrficas do livro so basicamente de culto de nao.

    (2) Questionamos a quantidade e a qualidade das informaes propostas na aba do

    livro, pois no se concretizam durante toda a leitura. Trata-se de um nico caso de

    um nico terreiro, sem historia, dentre muitos que existem no Brasil.

    (3) Vitalidade e empatia na viso de quem? Com certeza somente dos no

    simpatizantes da umbanda.

    3.2 PREFCIO DA TERCEIRA EDIO

    (1) Atual em que sentido? No h referncias s diferentes escolas de umbanda e nem

    a sua diversidade. No houve mudanas do quadro scio poltico no Brasil desde o

    golpe militar at os dias atuais, que fariam uma dialtica no s na umbanda mas

    em outros setores filo-religiosos?

    (2) Quais crticas foram recebidas e discutidas? Com quem? Pois o livro se mantm na

    ntegra, a autora no coloca nada novo nem como nota de rodap.

    (3) Segundo Antonio Carlos Gil, autor do livro Como Elaborar Projetos de Pesquisa,

    onde explana claramente o que um estudo de caso. Abaixo segue,

    resumidamente:

    14

  • O estudo de caso, refere-se a falta de rigor metodolgico, pois diferentemente do que ocorre

    com os experimentos e levantamentos, para a realizao de estudos de caso no so definidos

    procedimentos metodolgicos rgidos. Por essa razo, so freqentes os vieses no estudos de

    caso, os quais acabam comprometendo a qualidade de seus resultados. Ocorre, porm, que os

    vieses no so prerrogativa dos estudos de caso; podem ser constatados em qualquer

    modalidade de pesquisa. Logo, o que cabe propor ao pesquisador disposto a desenvolver

    estudos de caso que redobre seus cuidados tanto no planejamento quanto na coleta e anlise

    do dados para minimizar o efeito dos vieses. Outra objeo refere-se a dificuldade de

    generalizao. A anlise de um ou de poucos casos de fato fornece uma base muito frgil a

    generalizao. Outra objeo refere-se ao tempo destinado a pesquisa. Alega-se que os estudos

    de caso demandam muito tempo para serem realizados, e que freqentemente seus resultados

    tornam-se pouco consistentes.

    Convm ressaltar, no entanto, que um bom estudo de caso, constitui tarefa difcil de realizar.

    Mas comum encontrar pesquisadores inexperientes, entusiasmados pela flexibilidade

    metodolgica dos estudos de caso, que decidem adot-lo em situaes para as quais no

    recomendado. Como conseqncia, ao final de sua pesquisa, conseguem apenas um amontoado

    de dados que no conseguem analisar e interpretar.

    (4) Tenta se explicar citando outros autores que no foram pr-conceituosos em seus

    estudos. Como dizer que ela no foi pr-conceituosa fazendo um estudo de caso

    em 4 meses e dizendo que mantm-se atual at o dias de hoje?

    (5) Segundo sua descrio sobre os vrios anos de pesquisa para o lanamento de

    seu segundo livro, a autora no faz nenhuma nova meno sobre umbanda. D-se

    ao trabalho de fazer um prefcio a 3 edio, mas que no muda uma vrgula sobre

    a viso cosmognica ou sobre a iniciao dos mdiuns em um terreiro.

    (6) Como descrevemos em uma breve sntese sobre o golpe militar de 64, as pessoas

    h exatos 30 anos atrs, no tinham acesso ao conhecimento acadmico como nos

    dias de hoje. Obviamente a autora ao observar que para o grupo era algo

    diferenciado ter o estudo atualmente sabemos, que o acesso ao conhecimento e

    cultura no to restrito, mudou, houve uma dialtica.

    15

  • (7) Em nossa viso acreditamos que realmente s pode ter sido o incio do seu plano

    de vo profissional, pois a autora foi ao encontro da ideologia dominante poltica e

    social da poca. Conseguindo, inclusive, apoio financeiro para viagens ao exterior

    para se aprofundar em seu estudo.

    3.3 PREFCIO DA PRIMEIRA EDIO

    (1) Quatro meses de estudo? Voltaremos a citar o livro de Antonio Carlos Gil.

    3.4 INTRODUO

    (1) Bibliografia extensa e no muda. A autora tendncia a sua viso, pois

    obviamente no buscou novos escritores. Onde esto os livros de W.W. da Mata e

    Silva?

    (2) Preconceito. Pois os negros e/ou africanos sofrem descriminao no mundo inteiro

    at hoje.

    (3) Colheu informao onde e com quem? Esses quatro meses foram suficientes?

    (4) Obviamente a autora generalizou, afirmando que o estudo em questo poderia

    explicar a equivalncia estrutural em outros terreiros.

    16

  • 4 DECRIO E ANLISE DA OBRA

    4.1 CAPTULO 1 - O TERREIRO

    O captulo em questo descreve como eram executados os ritos, sua composio

    espiritual e social.

    Porm, como manter a total neutralidade de valores , quase, impossvel

    principalmente quando se trata de temas subjetivos, como o caso da religio -, o

    importante, no entanto, no negar esse tipo de interferncia, mas conscientiz-la (Velho,

    1975: 155).

    Os objetivos da autora ao iniciar a etnografia do terreiro Tenda Esprita Caboclo Serra

    Negra, foram a priori, sua descrio fsica, seus principais rituais, a composio da clientela e

    dos mdiuns e o relato sobre sua histria. Mesmo utilizando essa distino e a delimitao de

    funes referentes aos membros do terreiro, havia uma ambigidade nessa delimitao.

    Partindo do conceito de Drama Social como conflito, a autora faz uma anlise

    simblica do terreiro Tenda Esprita Caboclo Serra Negra, levando em considerao os

    17

  • diferentes nveis sociais e experincias de seus participantes, conseqncia de sua localizao

    num centro urbano.

    As oposies que podem ser encontradas no Drama descrito pela autora , dentre

    outras, a relao entre o profano x sagrado. Esta oposio est presente em vrias situaes,

    inclusive na demarcao espacial da estrutura e disposio das salas do terreiro, que possua

    uma parte interna (constituda de duas partes principais, uma sagrada, reservada para os

    mdiuns trabalharem e para guardar as imagens dos Orixs a Sala do Gong -, e uma

    profana, reservada para os clientes a Sala de Assistncia) e uma parte externa (onde,

    normalmente, est situada a casa dos Exus); onde para cada uma dessas partes h um

    comportamento ritual que deve ser seguido, a autora d como exemplo, para transpor a porta

    que dava entrada ao sagrado, os clientes, localizados no lado profano, tinham de tirar os

    sapatos. Para sair da parte sagrada, tanto mdiuns quanto clientes no podem dar as costas

    para o Gong (Velho, 1975).

    Apesar dessa separao (sagrado profano), as entradas, sadas e partes marginais dos

    terreiros so tratados com rituais especiais, a partir de regras que devem ser seguidas

    rigorosamente, a fim de livrar de perigos tanto os mdiuns como os clientes.

    Outra oposio diz respeito aquilo que a autora tenta relacionar entre o terreiro (Terra

    dos Orixs) e a sociedade (Terra dos Homens).

    Essa oposio entre Mdiuns x Clientes mais um lado da diviso sagrado profano,

    que como descreve a autora em termos espaciais Sala de Gong (mdiuns) e Sala de

    Assistncia (consulentes ou clientes). Assim, muitas vezes, os clientes possuem um status

    superior aos dos mdiuns, mas, ao procur-los, tornam-se dependentes e inferiores a estes.

    Essa inverso de status tambm se faz presente na organizao hierrquica do terreiro

    estudado, pois, o pai-de-santo, apesar de pertencer a uma classe social baixa na sociedade, no

    terreiro ele tem a posio mais elevada, pois tinha o domnio das Leis do Santo, tendo,

    assim, um maior poder.

    18

  • 4.1.1 DESCRIO

    No primeiro captulo a autora faz a etnografia do terreiro Tenda Esprita Caboclo Serra

    Negra e um breve relato de sua histria, assim como descreve os principais rituais realizados e

    a composio da clientela (1) e dos mdiuns. Ela foi apresentada aos membros do grupo

    estudado pelo ento presidente da Tenda, Mrio, que era seu aluno no curso de Cincias

    Sociais, e que por este motivo fazia questo de apresent-la como sua professora da

    universidade. Para o grupo, ter estudo, era um sinal de prestgio, este valor era enfatizado

    pelo presidente, que era um estudante universitrio.

    Mas ter estudo no era apenas um sinal de prestgio, tambm era sinal de ignorncia

    das leis da umbanda ou da lei espiritual, das coisas do santo, como diziam. Ela mesma

    se definia como ignorante no assunto, pretendendo aprender com eles, saber como pensavam

    e o que significa tudo o que ali se passava.

    O terreiro foi inaugurado com 14 mdiuns e algumas pessoas ligadas a eles, a me

    desanto era Maria Aparecida, que era conhecida por todos. Alm desses mdiuns havia ainda

    duas pessoas que ajudaram a abrir o terreiro e que estavam sempre presentes. Passados uns

    dez dias da abertura, a me-de-santo ficou maluca, como diziam, e foi internada em um

    hospital psiquitrico. Depois disso chamaram um pai de santo (Pedro) para substitu-la. O

    terreiro teve um curto perodo de vida sob a chefia desse novo pai-de-santo, mas durante esse

    tempo houve intensa participao dos membros do grupo.

    A autora constatou (2), no decorrer da pesquisa, que as definies de macumba,

    umbanda, quimbanda e espiritismo eram empregados nesse terreiro de forma que se

    19

  • distanciava das definies que ela conhecia atravs da literatura sobre religies afro-

    brasileiras.

    Embora o nome do terreiro fosse Tenda Esprita Caboclo Serra Negra, o grupo dizia

    que o terreiro era traado(3), Umbanda com Candombl.

    O Pai-de-Santo dizia: Hoje no existe mais terreiro quimbandeiro puro, ou candombl

    puro ou umbanda pura, so sempre traados.

    No terreiro estudado, a autora nunca ouviu algum definir outra pessoa como esprita

    ou umbandista, nem se definir com estas categorias. Falavam em pessoas que trabalhavam no

    santo e s usavam umbanda para definir a religio em termos amplos as leis da umbanda

    assim como macumba. A categoria usada para definir um grupo de mdiuns era o trabalho no

    santo. Sempre se referiam a esse negcio de santo, trabalhar no santo s no da dinheiro e

    etc. Mdium era aquele que trabalhava no santo e trabalhar no santo era um ofcio(4). Santo

    era uma das denominaes dadas aos deuses ou espritos que tambm eram chamados de

    guias, Orixs e entidades - no tendo esses termos uma distino muito clara (5).

    Trabalhar no santo era a expresso usada para definir o estado de possesso. Logo o

    trabalho no santo, expressa o aspecto central dos rituais de umbanda, a possesso.

    Algumas pessoas do terreiro estudado usavam o termo macumba para definir sua

    religio, outras usavam macumba ou macumbeiro para definir algum que usava magia-negra,

    quimbanda era raramente usada e sempre no sentido de acusar algum de trabalhar para o

    mal. A autora ento procurou saber com o pai-de-santo a diferena entre umbanda e

    20

  • macumba, onde teve a seguinte explicao: Macumba o instrumento dos santos, o

    tambor e macumbeiro o tocador.

    Os Orixs eram classificados da seguinte forma: Oxal ou Zambi o Orix maior -

    apenas comandava os outros Orixs classificados em linhas - (no utilizava nenhum cavalo).

    As sete linhas de umbanda eram as seguintes: Linha de Iemanj, Linha de Xang,

    Linha de Oxossi ou Caboclos, Linha de Ogum, Linha de Pretos-Velhos, Linha de Criana e

    Linha de Exu. Cada Linha com seu chefe e seus subordinados era dividida em sete falanges,

    cada um tambm com seu chefe e seus subordinados, todos subordinados ao chefe de linha(6).

    Cada linha era associada a um local, uma cor, um dia da semana e a determinados

    tipos de comida. Havia tambm a categoria Orix cruzado, que definia um mesmo Orix

    pertencente a duas linhas. Alm dessas linhas de umbanda o grupo falava nas naes do

    candombl.

    No terreiro estudado havia ainda a classificao das entidades em duas categorias: os

    guias que davam consultas Pretos-Velhos, Exus e Caboclos e os guias que no davam

    consultas das linhas de Xang, Ogum, Iemanj e Crianas (estes ltimos Orixs eram

    associados a santos catlicos).

    O grupo estudado classificava ainda os terreiros em duas categorias: terreiro de rua

    (terreiros em casas nos vrios bairros ou subrbios da cidade) e terreiro de morro (terreiros

    localizados nas favelas).

    21

  • O objeto de estudo era um terreiro de rua, mas havia vrias categorias para design-lo

    que dependendo da situao eram empregadas de maneiras diferentes. Tenda, terreiro, terra ou

    centro. Em primeiro lugar centro e terreiro eram os mais usados pelos mdiuns. No incio da

    pesquisa o grupo usava mais a categoria centro quando falava com a autora, embora entre eles

    terreiro fosse o termo mais utilizado. No final da pesquisa, passaram a utilizar este ltimo

    termo quando se dirigiam a ela. Assim para a autora parecia que a categoria centro era mais

    empregada para falar com pessoas de fora, com pessoas que no pertenciam ao grupo(7).

    Os mdiuns desse terreiro eram compostos por estudante universitrio, datilgrafo,

    camel, manicura, dobradora de roupa, vendedor, confeiteiro, boy, enfermeira e empregada

    domstica. A primeira me-de-santo vivia apenas do dinheiro das consultas dadas nas casas

    de pessoas conhecidas. O pai-de-santo era pedreiro.

    A clientela era composta na sua maioria, por pessoas modestas do bairro: empregadas

    domsticas, dona de casa, motorista de nibus, vendedores de loja, era tambm freqentado

    por pessoas de posio social mais elevada. A grande maioria dos clientes era composta de

    mulheres.

    O grupo classificava a hierarquia que organizava o terreiro em duas categorias: a

    hierarquia espiritual (pai ou me-de-santo, me-pequena, samba e mdiuns, nessa seqncia)

    e a hierarquia material (presidente e scios).

    O terreiro estudado era filiado Congregao Esprita Umbandista do Brasil mbito

    Nacional. Tal filiao no significava que a Congregao tivesse algum tipo de controle sobre

    o terreiro, que nunca foi visitado por nenhum membro dessa entidade, e os mdiuns no lhe

    22

  • deviam nenhuma obrigao. O certificado era necessrio para legitimar o terreiro perante os

    rgos policiais (8).

    A autora faz uma descrio detalhada sobre o terreiro, sobre seu tamanho, com rea da

    clientela, casa de exu (1 m de largura por 1,5 m de comprimento e 1,5 de altura) pintada de

    vermelho; a casa das almas (pintada de branco e um pouco menor que a outra); a sala do

    Gong (Cong) tinha 7 m de comprimento por 3 m de largura. O gong era uma mesa alta e

    larga com 1 m de altura, 1 m de comprimento por 60 cm de largura, coberta por um pano azul

    claro sobre o qual se colocava outro de renda branca que descia at o cho. Acima dessa mesa

    havia duas prateleiras. Na primeira ficavam as imagens de Yemanj, Yans, e Mame Oxum.

    Na segunda, vasos de flores e a imagem do Sagrado Corao de Jesus.

    O gong devia sempre ter uma luz acesa, mesmo durante a noite, quer de vela, quer de

    luzes azuis, para no deixar os santos no escuro. Os bancos da assistncia eram separados

    em dois grupos, um para homens e outro para mulheres, a fim de impedir liberdades. Na

    cozinha havia uma porta em frente ao banheiro e outra que dava para a rea onde estavam as

    casas de exu e das almas. Havia problemas com a gua, pois os canos e ralos estavam sempre

    entupidos, com freqncia ficavam alagados, a cozinha e a rea, sentindo sempre um cheiro

    de gordura e de podre.

    O terreiro foi sendo modificado durante sua curta existncia, dentre estas modificaes

    estava por exemplo, a aquisio de novas imagens e afixaram numa das paredes da sala de

    assistncia uma pequena caixa de madeira, para que nela fosse depositado o dinheiro das

    consultas.

    Havia uma grande flexibilidade no uso da casa e dos itens rituais, por exemplo,

    quando chovia, a consulta dos exus se fazia dentro da sala do gong e no perto da casa de

    23

  • exu como habitualmente, ou, no tendo pemba de cor branca, utilizava-se pemba de outra

    cor(9).

    Os limites do terreiro no terminavam nesse sobrado, faziam trabalhos na mata,

    cachoeira, praia, encruzilhada e cemitrio, realizando no terreiro trs tipos de rituais distintos:

    as consultas, o desenvolvimento e as sesses de domingo.

    As consultas eram realizadas as segundas e sextas-feiras: segundas para caboclos e

    pretos-velhos e sextas para exus. Nesses dias no se batia tambor e os mdiuns antes de

    comear a consulta iam at o gong, batiam cabea, colocando a testa em cima da mesa e

    levemente trs vezes, para a esquerda, direita e depois de frente.

    Os clientes eram encaminhados para falar com os guias pela me-pequena, que antes

    recolhia o dinheiro do consulente, uma quantia de cinco cruzeiros (10) para cada consulta.

    Geralmente o guia inicia a consulta, perguntando como ia a pessoa e logo depois seu nome,

    quando no era conhecida, o cliente ento, comeava a contar o problema que o levara a

    consulta.

    O pai de santo jogava bzios, as vezes incorporado, as vezes no. Mrio quando

    recebia sua pomba-gira, botava cartas e lia a mo. Os guias de Carmen apenas conversavam

    com os clientes e costumavam mais dos que os outros descarregar as pessoas. Costuma-se

    dizer que a pessoa est carregada, quer dizer, com problemas causados por feitio, olho

    grande ou pelos orixs e que precisam ser descarregadas. um ato de purificao que o guia

    faz passando a mo pelo corpo do cliente e puxando suas mos com fora para baixo.

    24

  • Os clientes, muitas vezes, procuravam vrios guias no mesmo dia. Alm dessa

    clientela irregular, cada mdium tinha sua clientela fixa, que quanto maior fosse, maior

    prestgio lhe dava no terreiro e maiores, os comentrios sobre ele (11).

    Pedro o pai-de-santo, tinha tambm uma clientela grande, mas alguns mdiuns

    tentavam desprestigi-lo, dizendo: tudo gente da famlia dele. Isso significava uma

    importncia menor diante da clientela dos outros, que eram compostos por um nmero maior

    de no parentes.

    Os clientes contavam aos guias os mais variados problemas, relativos a si mesmos ou

    a pessoas prximas. A autora recolheu uma pequena lista dos problemas: doenas; problemas

    com marido mulher ou namorado; problemas de emprego; problemas com filhos.

    Em uma das consultas que a autora acompanhou desde o incio, relata o caso de uma

    empregada domstica que falava sobre a acusao de roubo que estava lhe sendo feita na casa

    de seus patres. O pai de santo, jogando os bzios, indicou o possvel ladro, depois de ter

    perguntado sobre todas as pessoas que moravam na casa. A indicao era ambgua (12), pois

    o nome das pessoas no era dito. Mas a empregada sai dizendo: eu sabia que era ele. O pai

    de santo mandou que a moa voltasse para fazer um trabalho que resolveria o caso(13).

    As consultas, como ela percebeu, no era uma conversa com um medicine man, como

    muitas vezes se disse (14). Os clientes no procuravam os guias s para cura de doenas e

    quando o faziam diziam que j tinham corrido muitos mdicos e eles no tinham dado jeito

    (15).

    25

  • As consultas eram impressionantes por sua eficcia simblica e seria importante

    aprofundar mais o estudo deste tipo de ritual neste aspecto. Na viso da autora, cabe aqui dois

    nveis de anlise.

    O primeiro refere-se aos modelos representados pelos guias e outro referente ao que

    dito pelo guia. Como so feitas as perguntas e como so dadas as respostas? Mas a

    complexidade do assunto exigiria um estudo parte, que no cabe no objeto que a autora se

    props a analisar.

    O desenvolvimento era uma aula, nas palavras do pai de sento, que iniciou uma delas

    dizendo: hoje dia de desenvolvimento, no s para desenvolver os guias. uma aula;

    para vocs saber riscar um ponto, saber o que um tambor, uma vela e para que serve: para

    vocs aprender as coisas da lei. Todos os mdiuns eram obrigados a comparecer nesse dia. O

    pai de santo iniciava os trabalhos fazendo uma breve preleo e depois mandava comear a

    bater e os mdiuns, de p, formavam dois semicrculos, de um lado e de outro do altar,

    homens a direita e mulheres a esquerda.

    Essas sesses demoravam muito e muitas vezes um ou outro mdium passava mal,

    exigindo cuidados especiais do pai de santo. A autora conta um caso especfico em que uma

    senhora que estava na assistncia, e que era a sua primeira visita ao terreiro quando um dos

    guias comeou a xing-la (este guia baixou em uma mdium que quase nunca incorporava)

    e at amea-la de morte(16).

    O desenvolvimento parecia uma aula de preparao de ator para que representasse

    bem o papel. No eram papis que um ator de teatro representa com certo distanciamento.

    Eram figuras, guias que faziam parte ou eram parte do ator em causa, o cavalo.

    26

  • O terceiro tipo de ritual realizado no terreiro era a sesso de domingo, a gira. Tais

    sesses eram dedicadas ao trabalho com todos os orixs, permitindo que todos viessem a

    terra. Neste de tipo de ritual havia preparao (dar firmeza), chamada dos orixs, defumao e

    abertura (17), sendo que na hora da chamada dos exus, geralmente colocava-se um pano sobre

    as imagens do altar e ningum podia sair do terreiro. Os exus falavam alto, dizendo palavres

    e os clientes apenas riam, sem se importar, pois eram os guias que estavam falando(18). Cada

    entidade tinha uma representao corporal, voz ou gritos especficos, como os exus que

    falavam palavres e as pombas-giras faziam gestos obscenos, masturbando-se, chamando os

    homens.

    Os pontos para os guias de cada mdium no seguiam a ordem de importncia na

    hierarquia, dependiam da vontade da me pequena ou do pai de santo. Este mesmo estando

    incorporado dirigia a sesso mandando cantar os pontos (19).

    Aps as exigncias do presidente da casa, de se terminar os ritos mais cedo, no se

    permitiam mais consultas a participao da assistncia no ritual diminuiu. Os mdiuns tinham

    mais dificuldade de entrar em transe e muitos passavam mal, inclusive o pai-de-santo. Os

    mdiuns comearam a demorar para chegar ao terreiro e muitos comearam a faltar s

    sesses.

    A diferena fundamental foi, a mudana de papel do presidente da casa que passou a

    ficar a sesso inteira incorporado com sua pomba-gira, no era mais um mdium obedecendo

    as ordens do pai-de-santo.

    A autora descreve que a sua participao sofreu algumas alteraes. Na primeira

    sesso de domingo apesar de convidada participou apenas como observadora, mas isso no

    27

  • durou at o fim da sesso, quase no final o pai de santo incorporado com um preto-velho

    chamou-a para a sala do gong, olhou-a nos olhos e disse-lhe: algum est com olho grande

    na senhora, perguntou-lhe se ela acreditava no Deus da igreja ou se era crente. A mesma

    disse que respeitava todas as religies apesar de no acreditar em nenhuma delas. Foi ai que o

    preto-velho lhe perguntou: respeita? Ento v a uma igreja de So Jorge e pea a Deus que

    abra os seus caminhos. Terminando a consulta o preto-velho mandou que ela voltasse no dia

    seguinte para fazer uma nova consulta com ele.

    A autora afirma que esta atitude do preto-velho no deixou que ela ficasse numa

    posio diferente das outras pessoas e mostrou que com seus conhecimentos podia saber

    muito a seu respeito, colocando-a assim, na sua dependncia(20). Na sesso seguinte mandou-

    a bater cabea como os mdiuns faziam e sentar no banco reservado para pessoas importantes.

    4.1.2 ANLISE

    (1) A autora refere-se ao termo clientela, para deixar claro que o terreiro em questo

    cobrava as consultas. Em nenhum momento aprofundou-se na problemtica

    financeira do terreiro, pois se o seu estudo era o de uma viso antropolgica,

    deveria esmiuar o termo utilizado. Ser que se o estudo fosse em uma igreja

    catlica ela utilizaria esse mesmo termo ou utilizaria o termo fiis?

    (2) Mais uma vez a autora no se aprofunda explicitando quais essas definies lidas

    por ela.

    (3) O grupo questionou sobre a falta de conhecimento sobre o que umbanda-traada.

    28

  • (4) A autora coloca que os mdiuns acreditavam ser uma profisso e que

    financeiramente poderiam ter recompensas.

    (5) Passados 26 anos a autora no consegue ainda fazer distino entre os termos

    umbanda, macumba, etc..

    (6) Ser que a cosmologia de umbanda algo que pode ser colocado em apenas alguns

    pargrafos do captulo?

    (7) J na poca existia um preconceito em usar o termo terreiro com pessoas de fora,

    porque a autora no aprofundou-se para entender melhor o porque desta

    diferenciao e se por acaso fez esse aprofundamento no deixa claro a no ser

    quando fala da questo das religies ligadas a vrtices da evoluo cultural.

    (8) A autora em sua reviso deveria citar as perseguies na poca da ditadura, pois

    dessa poca que resulta o nome Congregao esprita e no umbandista.

    (9) Mais uma vez a autora menciona a questo financeira do terreiro, mas no se

    aprofunda para entender o que necessrio para que uma casa de atendimento

    espiritual mantenha-se ativa.

    (10)Tivemos o interesse em converter para a moeda corrente. Pelo site da FGV

    Fundao Getulio Vargas localizamos que o valor do salrio mnio era de 268,80

    (cruzeiros, moeda vigente em 1972) ento, 5 cruzeiros correspondia a 1,86% do

    valor do salrio mnimo, que trazendo para os dias atuais onde o salrio mnimo

    de R$ 380,00 os mesmos 1,86% corresponde a R$ 7,00 por consulta realizada.

    (11)O que a autora quis dizer com prestgio? Faltou aprofundamento para os leitores

    compreenderem o sentido da palavra.

    29

  • (12)O que a autora quis dizer com ambgua? Idem comentrio anterior.

    (13)O que aconteceu com a empregada? A autora fez uma entrevista com a clientela

    para saber do porque ela ter sado com tanto certeza do atendimento? Mais uma

    vez nosso grupo entendeu que a autora no utilizou de clareza para abordar este

    assunto.

    (14)Medicine Man como muitas vezes se disse Falado por quem?

    (15)Podemos observar que desde aquela poca as pessoas de renda menos favorecida

    procuravam os terreiros para ajud-las principalmente na questo da sade, pois

    este sempre foi um tendo de Aquiles em nossa poltica de desenvolvimento

    social(vide texto Darcy Ribeiro).

    (16)Em uma gira de desenvolvimento havia pessoas na assistncia? Faltou

    detalhamento deste fato.

    (17)Observamos que provavelmente a autora no detalhou os preparativos das giras de

    atendimento e das giras de domingo.

    (18) Como a autora sabia que os consulentes no se importavam ou tinham medo das

    atitudes dos exus? No cita qualquer entrevista que fez com qualquer consulente,

    ou seja, entendemos que foi uma concluso particular.

    (19)Que hierarquia era essa citada pela autora?

    (20)A autora subliminarmente fala dos guias que tinham interesse na total dependncia

    de seus clientes, para que assim financeiramente voltassem para consultas futuras.

    30

  • 4.1.3 CONCLUSO DO GRUPO

    To marcado pelo preconceito e superficialidade, este livro faz parte de esteretipos

    criados na ditadura em relao aos denominados cultos no oficiais. uma obra de cunho

    poltico, apresentada como estudo religioso. Reflete o pensar de determinado grupo e o

    apresenta como uma frmula ou descrio de uma religio. Ignora os principais fundamentos

    da Umbanda e sua diferentes escolas, limitando sua exemplificao em um nico caso,

    generalizando assim suas concluses.

    Esse estudo tenta esclarecer questes que referem-se ao simbolismo que envolvem o

    campo religioso, e nos deixa a mensagem que a estrutura organizacional do terreiro no se

    diferencia muito da estrutura da sociedade brasileira, fazendo referncia s raas

    formadoras da nossa sociedade e as desigualdades sociais (econmicas/de classe) que sempre

    se fizeram presentes no Brasil, mas que apesar de toda essas semelhanas necessrio, para a

    sua melhor compreenso, o entendimento da lgica interna que existe em cada campo

    diferente das sociedades.

    Nos ltimos anos, as pesquisas que tm como objeto de estudo os terreiros, vem

    crescendo cada vez mais, e um dos fatores que leva a isso a diferena estrutural da sua

    organizao religiosa, pois, enquanto nas religies de igrejas, que a autora, define como

    sendo uma religio organizada de cima para baixo, ou seja, os superiores ditam as normas

    que devem ser seguidas por todas as suas comunidades religiosas em diferentes partes do

    mundo; na Umbanda, os terreiros so autnomos, ou seja, as leis ditadas so as de seus

    antepassados, e estas variam de uma Nao para outra, e de um terreiro para outro.

    Porm, as limitaes do termo terreiro, torna-se difcil, pois a diversidade social de

    seus participantes, na sociedade de forma mais ampla, como uma noo de estratificao

    31

  • social, precisa ser feita para se entender a posio de cada indivduo no drama. Aqui a

    Umbanda mostra que respeita as diferenas mas no aceita as desigualdades.

    Podemos dizer que o Drama, contado pela autora, ocorreu devido a impossibilidade de

    coexistncia, em um mesmo grupo de duas camadas detentoras do poder, o Pai-de-santo e o

    Presidente, que legitimavam esse poder, dentro do terreiro de maneiras diferentes - uma que

    se referia prpria lgica do terreiro, e a outra, a da sociedade que o terreiro estava inserido,

    portanto constatou-se a existncia de dois cdigos: o Cdigo do Santo e o Cdigo

    Burocrtico, o primeiro controlado pelo pai-de-santo, e o segundo, pelo presidente do

    terreiro, que negava que o pai-de-santo, por ser uma pessoa humilde, possusse mais poder

    que ele, que era um estudante universitrio e detentor de cultura. Estando a implcito

    noes da sociedade em que este vivia.

    Essa oposio entre Cdigo de Santo e Cdigo Burocrtico no est sendo usada

    no sentido das oposies feitas entre rural e urbano, tradicional e moderno, pois eram cdigos

    utilizados por pessoas que tinham posies sociais diferentes, sem levar em considerao, o

    ponto mais importante para a compreenso das diversas sociedades: a lgica prpria que

    existe em cada umas delas e no houvendo um equilbrio desses dois cdigos, o fechamento

    do terreiro foi inevitvel.

    Esse fato leva a uma analogia que a nossos olhos parece bem mais fcil de ser

    compreendida: com o povoamento do Brasil, no sculo XVI, onde os portugueses impuseram

    cdigos vigentes na sociedade portuguesa, da poca, para a sociedade indgena que habitavam

    as terras brasileiras. Essa imposio alimentou muitos conflitos, e culminou com a morte de

    vrios ndios, e os que a isso sobreviveram, foram obrigados a aculturar-se.

    32

  • Mas esse no o nico exemplo para demonstrar esse fenmeno, que se faz to

    presente nas sociedades modernas onde pessoas, por serem de status mais elevados, querem

    impor suas verdades a grupos inferiores socialmente.

    Tratar da religio afro-brasileira, e, em especial da Umbanda, muito difcil, pois

    apesar desta ser a legtima religio brasileira, a mais discriminada por ter sido tida como

    uma religio tpica das regies pobres(periferia) e, consequentemente, ser comum entre

    pessoas marginalizadas. Isso foi uma das razes da perseguio que esta religio sofreu na

    dcada de 1930 e que resultou com o fechamento e desaparecimento, temporrio, de muitos

    terreiros.

    A autora procurou localizar-se na etnografia como observador participante da vida

    do terreiro, buscando assim, uma pesquisa em que dados de relevncia no fossem

    esquecidos. Notamos, entretanto, que existe a necessidade de uma pesquisa aprofundada sobre

    este estudo de caso, em virtude da existncia do terreiro se dar somente durante a elaborao e

    concluso deste trabalho.

    33

  • 4.2 CAPTULO 2 - O DRAMA

    Este captulo formula toda base da histria narrada pela autora em sua obra, nos

    trazendo os elementos da histria que pactuaram para o desenrolar do Drama, no qual vem

    ao leitor todo desenrolar da histria trazendo como pano de fundo um Terreiro, relatando

    conflitos que desde sua inaugurao tornaram-se uma constante, at o fechamento do

    Terreiro, revelando interesses pessoais, de poder, sua fragmentao da unidade inicial, tendo

    este captulo em seu ncleo de pesquisa, uma temtica rica em contedo, porm abordando

    um nico terreiro, a Tenda Esprita Caboclo Serra Negra.

    4.2.1 DESCRIO

    Neste captulo a autora descreve a histria da vida do Terreiro: nascimento, vida e

    morte da Tenda Esprita Caboclo Serra Negra, preocupando-se com o aspecto do cotidiano

    deste terreiro, diferentemente do que havia sido desenvolvido at ento, estudos nos quais os

    autores, em sua maioria, ocuparam-se em descrever rituais e entender suas origens, vindo a

    autora a identificar uma preocupao semelhante sua em um trabalho desenvolvido por

    Turner Schism and Continuity in na African Society trabalho este no qual o autor procura

    ir um pouco alm da viso superficial, mergulhando nas contradies e conflitos que se

    passam no contexto estudado.

    34

  • Segundo a autora a crise que desencadeou o Drama iniciou-se no momento em que

    mdiuns dissidentes de um terreiro tomaram a iniciativa de abrir uma nova casa, quebrando,

    segundo ela, uma norma bsica que regula a relao entre filhos e pais ou mes-de-santo, a de

    obedincia dos primeiros para com os segundos, denotando que em um ato de

    desobedincia abriram um novo terreiro, coisa que s poderia se desenrolar em um processo

    conflituoso, dando margem s vrias demandas2 que justificaram os problemas do terreiro.

    Este novo Terreiro teve frente num primeiro momento, a me-de-santo Aparecida

    que veio a enlouquecer, segundo concluiu a autora no desenrolar de seu estudo, esta loucura

    foi conseqncia de um demanda. Esta me-de-santo foi substituda por outro pai-de-santo

    (Pedro), que durante todo o Drama foi parte, juntamente com o presidente Mrio, de uma

    disputa de poder, tendo desta, resultado vrias demandas, que segundo a autora, implica na

    realizao de prticas mgicas. Relataremos a seguir como se desenrolaram todos estas

    demandas.

    Segundo a autora, sempre se dava um processo de acusao de uma das partes em

    relao outra parte sendo acusada de ter demando, conforme segue:

    1 Demanda: Terreiro da Rua do Bispo (de um eram provenientes parte dos mdiuns)

    versus Tenda Esprita Caboclo Serra Negra;

    2 Demanda: Primeira me-pequena (Marina) versus me-de-santo (Aparecida)

    ou

    Me-de-santo de Aparecida versus me-de-santo Aparecida;

    3 Demanda: Me-de-santo Aparecida versus Tenda Esprita Caboclo Serra Negra;

    4 Demanda: Pai-de-santo Pedro versus seu pai-de-santo;

    2 Guerra de orix, batalha ou briga de santo. (MAGGIE, 2001, p. 143).

    35

  • 5 Demanda: Preto-velho do pai-de-santo (Pedro) versus preto-velho do presidente

    (Mrio).

    A LOUCURA DA ME-DE-SANTO

    Domingo, 25 de junho de 1972:

    Esta foi a data da inaugurao da Tenda na qual a autora acompanhou a cerimnia

    como observadora tendo tido, nesta ocasio seu primeiro contato com este grupo,

    decidindo, aps esta cerimnia acompanhar a vida deste terreiro que comeava.

    A autora relata que quem presidia os trabalhos era a me-de-santo ...Maria Aparecida

    uma senhora negra, fumando um charuto e com olhos enormes... (MAGGIE, 2001, p. 47).

    Sexta-feira, 30 de junho:

    Neste dia foi realizado um trabalho no cemitrio, episdio no qual Marina, a primeira

    me-pequena, incorporada se envolveu em uma briga com um mdium de um outro terreiro,

    oportunidade na qual este mdium foi acusado de demandar contra seu pai-de-santo.

    Retornando ao terreiro a me-de-santo colocou Marina para fora, acabou mandando

    todos os mdiuns para fora, ficando apenas o presidente (Mrio) e dois ou trs mdiuns.

    Segunda-feira, 3 de julho:

    Todos os mdiuns se reuniram no Terreiro a pedido de Aparecida, encontrando vrios

    sinais que denotavam ter sido a realizado um trabalho, que segundo Aparecida eram a

    36

  • demanda de Marina contra ela. Nesta ocasio Aparecida ameaava matar Marina e se

    dirigiu at a casa desta, l chegando comeou a quebra tudo, em seguida se dirigiu a casa de

    sua madrinha3, agredindo-a fisicamente e retornado ao terreiro, completamente fora de si,

    tendo sido, por fim, internada no Hospital Psiquitrico de Engenho de Dentro, tendo ficado o

    terreiro fechado por alguns dias

    Foi Mrio, o presidente que decidiu reabrir o terreiro, assumindo ento a direo

    espiritual da casa o pai-de-santo Pedro, que foi levado ao terreiro por um casal de mdiuns do

    grupo inicial, tendo este substituindo a me-pequena Marina por Snia.

    Segundo a autora todos viam Pedro como um bom pai-de-santo, dizendo que ele era

    bom no santo, viso esta que veio a mudar no desenrolar dos interesses prprios de cada

    participante do Drama.

    A VOLTA DA ME-DE-SANTO

    Domingo, 16 de julho:

    Enquanto se processava uma sesso, neste dia, a me-de-santo Aparecida - havia

    regressado, tendo ficado na porta do terreiro durante esta sesso. Este episdio levou a uma

    discusso entre o grupo a respeito da possvel volta da me-de-santo e como se desencadearia

    todo o processo seguido desta volta, levando preocupaes como: Quem permaneceria na

    casa? Quem era de direito ou de fato os dirigentes espirituais e administrativos da casa? Enfim

    veio a tona a preocupao com a ocupao dos cargos.

    Segunda-feira, 24 de julho:

    3 Madrinha-de-santo. Pessoa que acompanha os iniciados na cerimnia de fazer cabea. (MAGGIE, 2001, p. 148)

    37

  • Na sesso que se processou neste dia a autora relata que havia um mdium do terreiro

    vizinho que era acusado de ter demandado contra a Tenda Esprita Caboclo Serra Negra e,

    durante a sesso ele foi submetido a uma prova de fogo a fim de testar sua mediunidade,

    tendo se submetido a prova e cado no santo, vindo a compor o grupo de mdiuns da Tenda.

    Este episdio reforou perante o grupo o poder de Pedro, o pai-de-santo: ...Pedro mostrou

    que era bom no santo e que conhecia bem as tcnicas rituais. Sempre que o grupo narrava o

    fato, ressaltava a eficincia do pai-de-santo por ter conseguido fazer com que o acusado casse

    no santo dentro do crculo de fogo. (MAGGIE, 2001, p. 54).

    Quarta-feira, 26 de julho:

    A autora relata que nesta data a me-de-santo Aparecida entrou na Tenda Esprita

    Caboclo Serra Negra incorporada, chegando a tentar fazer com que Mrio casse no santo,

    mas, no obteve xito, ...Aparecida no consegui demonstrar sua fora. (MAGGIE, 2001, p.

    54).

    Assim sendo, Aparecida se dirigiu ao gong, bateu cabea e se retirou, ato este, que

    segundo autora denotava sua despedida e uma aparente aceitao de sua derrota, permitindo

    que Pedro assumisse a posio de pai-de-santo, e reforado a importncia tambm de Mrio,

    por ter este sido forte o bastante para no cair no santo.

    A DEMANDA DE APARECIDA

    No desenrolar deste captulo a autora relata que a me-de-santo Aparecida acabou

    procurando um outro pai-de-santo para fazer cabea no candombl, o que gerou desconforto

    para todo o grupo, pois, afinal, ela j no tinha a cabea feita?! Alm disso, este episdio, para

    eles, implicaria em demanda desta me-de-santo contra o grupo, tendo inclusive ocorrido

    38

  • vrios episdios relatados pela autora que foram atribudos pelo grupo a esta demanda,

    afetando tanto a vida espiritual quanto a material dos mdiuns.

    Por ocasio deste captulo a autora relata ter realizado uma entrevista com Mrio

    (presidente), apesar da mesma ter sido agenda com Pedro (pai-de-santo), causando um grande

    desconforto entre os dois, trazendo tona a disputa entre eles.

    AS DUAS ORDENS

    Neste momento a autora descreve todo o conflito que se desencadeou entre os

    interesses de Mrio, que se pautava pelo Cdigo Burocrtico, e os de Pedro, que por sua vez,

    se pautava pelo Cdigo Espiritual, relatando todos os embates travados entre eles. Marcando

    inclusive a ciso do grupo, em favor de um ou de outro lado, de todo o grupo de mdiuns.

    A VINDA DA VELHA LEDA

    Sexta-feira, 25 de agosto:

    A me de Santo do Pedro vem ao terreiro, no chamada por ele e apesar de brigarem

    vem em seu socorro percebendo suas dificuldades. Demonstrou ser bastante experiente e

    impressionou bastante a todos inclusive ao presidente. Dessa forma conseguiu reforar a

    posio de Pedro.

    Domingo, 27 de agosto:

    39

  • Todos os mdiuns apresentaram dificuldades na incorporao e no entendimento dos

    fatos ocorridos.

    Segunda-feira, 28 de agosto:

    Dona Leda no Terreiro ao mesmo tempo em que deu autoridade e segurana ao Pedro

    demonstrou erros e excessos do mesmo. Permitiu com isso certa normalidade terreiro. Mario

    o presidente decidiu organizar o terreiro em relao a federao e manteve sua desconfiana

    querendo levar o nome de Pedro para ver se o mesmo era de fato um Pai de Santo.

    A PROVA DE FOGO OU UMA GUERRA DE ORIX

    Segunda-feira, 11 de setembro:

    Observa-se nesse momento a guerra de vaidades entre Pedro e Mario atravs

    divergncias sobre condutas a serem tomadas estando ambos incorporados por suas entidades.

    Pedro atravs da prova de fogo tentava desmoralizar Mario e segundo Mario, Pedro estaria

    perdendo seu controle. Em tese um Filho de Santo contrariava e desafiava continuamente seu

    Pai!

    O CISMA

    Quarta-feira, 13 de setembro:

    O Pai de Santo disse que ia embora por ter sido derrotado. Manteve a colocao das

    Demandas. Mario vem com uma mulher desconhecida e expulsa a todos do local. O Terreiro

    permanece, porem sem mdiuns.

    40

  • Domingo, 17 de setembro:

    Mario volta ao terreiro para promover uma limpeza astral seguindo instruo de seus

    mentores e Fecha o Terreiro.

    A Autora deixa a resposta de fechamento aos componentes do Terreiro conforme

    segue:

    1- A demanda da primeira me de santo;

    2- Desunio do grupo pela demanda;

    3- As causas da demanda variavam segundo as opinies;

    4- Duvidas em relao ao potencial do Pai de Santo e aos sentimentos em

    relao a me pequena;

    5- No concordncia ao destino do dinheiro das consultas o Pai de Santo

    sugeriu dividir entre os mdiuns;

    6- Pai de Santo demandava contra Dona Leda que foi ajud-lo;

    7- Uma coisa que comea mal acaba mal.

    Enfim uma fragmentao de vises e linguagens .

    4.2.1 ANLISE

    A autora faz uso de experimento utilizado por Turner (Drama Social), fazendo a

    comparao do terreiro a uma aldeia, para sua anlise, mesmo respeitando o limite de ambos,

    fica evidente que a mesma restringe sua ao de avaliao a apenas um terreiro, fato gritante

    para a veracidade do estudo, cujo alvo parecia ser um estudo comportamental de membros e

    consulentes de um terreiro.

    41

  • Seu estudo focando apenas um conflito, esquecendo dos ritos que ali ocorriam, sua

    falta de interesse, em informar-se mais sobre comportamentos dos mdiuns dentro de um

    terreiro, j que toma como base e exemplo, apenas o terreiro de seu amigo e aluno e um dos

    personagens central da histria.

    Relata que os membros do terreiro so provenientes de outro terreiro e no procura

    fazer o perfil destes na tentativa de observar o comportamento dos mesmos e se este

    comportamento se repetia nos terreiros de origem.

    Qual seria a inteno da autora na anlise de um terreiro, estaria ela querendo ver os

    fatores positivos ou negativos?

    A autora escreveu sobre algo que no tinha conhecimento algum, estando este trabalho

    mais para um Romance, que pesquisa acadmica, levando-se em considerao que naquela

    poca na Cidade do Rio de Janeiro existiam vrios pequenos terreiros que poderiam lhe trazer

    maiores condies de compreender o que estava presenciando.

    Visto que no teriam grau de instruo e posio social aceitvel para a autora, a

    mesma faz crtica velada quanto capacidade dos mdiuns de estarem frente de um terreiro.

    Dentro dos parmetros narrados pela autora, pode-se concluir que os personagens

    realmente no estavam capacitados a abrirem um terreiro diante dos fatos que foram narrados,

    uma vez que a me-de-santo responsvel pela inaugurao e direo do terreiro tinha sido

    internada em ocasio anterior.

    A autora demonstra at na concluso do livro que a sua pesquisa leva o leitor a deduzir

    que os Ritos de Umbanda so permeadas de conflitos no demonstrando os aspectos

    essenciais como prtica da Caridade dentro de um Terreiro.

    42

  • 4.3 CAPTULO 3 QUATRO PERSONAGENS DO DRAMA

    Com este estudo objetivamos realizar uma breve descrio dos pontos abordados no

    Capitulo III Quatro personagens do drama do livro Guerra de Orix, procurando

    descrever os relatos apresentados pela autora, e a seguir fazer uma anlise crtica destes

    relatos procurando demonstrar a no utilizao de uma postura cientfica adequada pela

    autora, embora embasado em fatos reais.

    Demonstraremos ainda que o estudo de caso realizado pela autora em questo

    restringiu-se a um universo bastante adverso, mas, que pode ser encontrado sempre que nos

    depararmos com mdiuns decados, e que este, representa apenas uma parcela da diversidade

    existente no movimento umbandista.

    4.3.1 DESCRIO

    Neste captulo, no aspecto lato senso a autora pretendeu descrever a histria de quatro

    participantes do grupo e sua relao com o desenvolver do drama visando utilizar suas

    observaes para estabelecer um paralelo entre o terreiro estudado como uma representao

    menor da sociedade em relao sociedade mais ampla demonstrando seu aspecto de

    estratificao social e, no aspecto strictu senso ela entendeu ser necessrio realizar esta anlise

    por ser o indivduo a figura central nos rituais de Umbanda seja manifestando as possesses

    ou atuando como parte do dia-a-dia do terreiro, no qual cada um deles tinha um papel

    significante visto o nmero reduzido de mdiuns que compunham o mesmo.

    Tendo ela considerado a possesso, no aspecto individual a valorizao do indivduo,

    ... o mdium uma pessoa que se transforma em deus... exclusivamente o seu deus.

    (MAGGIE, 2001, p.84) e no aspecto coletivo uma manifestao que se utiliza de smbolos

    43

  • aceitos pela sociedade, o que possibilita um encontro entre estes dois aspectos denotando que

    h no aspecto individual uma construo de modelos sociais por estes atores que buscam

    localizar seu papel na sociedade, viso esta que ela tentar ao longo do captulo constatar.

    Segundo a autora os indivduos estudados foram escolhidos pela importncia de sua

    participao no desenrolar da histria. So eles: o presidente, o pai-de-santo, a primeira me-

    pequena e a segunda me pequena, identificando-os conforme segue:

    MRIO: O PRESIDENTE

    Aspecto Social: personagem ocupada por Mrio, branco, solteiro, natural de Alagoas,

    tinha 31 anos e era estudante universitrio de Cincias Sociais, desempenhou funes das

    mais diversas, desde servente, professor de aulas particulares, a assessor do diretor do

    Instituto Nacional do Livro.

    Aspecto Espiritual: teve contato com a espiritualidade quando vivenciou um fenmeno

    por meio do qual recebeu ajuda espiritual ao ganhar uma prova de Matemtica respondida

    aps ter recebido esclarecimento de um pai-de-santo sobre atuao de Ogum em sua vida e

    ter acendido uma vela para So Jorge. Sofreu ainda a influncia de sua me, que segundo ele,

    aps fumar dois charutos podia prever o futuro, mas, s veio a ingressar na Umbanda

    quando recebeu ajuda de uma me-de-santo, ajuda fsica (livrando-o de problemas nas vistas)

    e espiritual (livrando-o do encosto de suas me), se tornando filho desta me-de-santo,

    Aparecida, tendo tido sua primeira manifestao em trabalho realizado na mata conduzido

    pelo caboclo Serra Negra.

    Iniciou ento sua atuao no terreiro da Rua do Bispo, vindo, aps seis meses a dispor

    de sua casa para que Aparecida que ... era muito pobre e costumava dar consulta na casa

    dos outros. (MAGGIE, 2001, p.88) pudesse prestar seus atendimentos, formando a partir de

    44

  • ento um grupo que passou a se reunir, tendo este mesmo grupo dado origem ao terreiro

    caboclo Serra Negra tendo a frente como Presidente e locatrio do imvel em questo.

    No incio da pesquisa, em julho de 1972, Mrio ainda no havia completado um ano

    de trabalho no santo, e demonstrava no ter inteno de assumir grandes compromissos,

    adotando uma postura ignorncia, em relao s coisas do santo e de humilde, postura esta

    que mudou a partir da loucura da me-de-santo, postura esta reforada pela presena da

    prpria no terreiro, aumentando o poder de Mrio perante os demais membros. Segundo a

    autora, aps a primeira entrevista ela identificou mudana de atitude, no mais se colocando

    como um ignorante disse ter ...mais cultura e seus guias eram da linha oriental, de um ramo

    de cultura mais adiantado. (MAGGIE, 2001, p.90) estando apto a assumir a funo de chefe

    de um terreiro, no mais aceitando as ordens do pai-de-santo.

    Em relao a espiritualidade, por sua vez, esta mudana tambm se deu, no primeiro

    momento (antes da loucura da me-de-santo) Mrio trabalhava sobretudo com entidades

    masculinas, principalmente o caboclo boiadeiro Joo Menino, tendo recebido entidade

    feminina (pomba-gira) apenas uma vez na rua do Bispo e duas vezes no terreiro estudado at

    ento, e no segundo momento (aps a loucura da me-de-santo), principalmente ...depois

    que o conflito entre ele e o pai-de-santo se agravou, passou a receber mais sua pomba gira e

    quase no recebia o boiadeiro. (MAGGIE, 2001, p.91)

    Segundo a autora a construo da representao de sua personagem (Pomba Gira) foi

    sendo elaborado com implementao de adornos prprios, evoluo nos passos da dana e

    alterao na vocalizao que se tornou mais lenta e educada.

    Mrio apesar das mudanas sofridas durante o drama, manteve-se convicto da

    importncia do Preto Velho em sua jornada... O preto-velho uma grande parcela de mim

    45

  • mesmo.... Aconselha muito, no mente e procura ser justo. Eu, na vida real, procuro ser

    assim. (MAGGIE, 2001, p.92)

    Mrio, que inicialmente temia entregar sua cabea a um pai-de-santo que poderia

    segundo ele retirar toda sua fora, aps ter expulsado o pai-de-santo do terreiro foi procurar

    uma me-de-santo para fazer sua cabea a fim de no ser questionado ao se tornar um pai-

    de-santo.

    MARINA: A PRIMEIRA ME-PEQUENA

    Aspecto Social: personagem ocupada por Marina, negra, solteira, natural do Rio de

    Janeiro, tinha 24 anos e era manicura, tinha o primrio incompleto.

    Aspecto Espiritual: aos 13 anos de idade teve contato com a espiritualidade quando

    passou a ver bichos e sentir coisas, chegando quase a loucura, poca em que sua colega a

    convenceu a ir a um terreiro (que era o mesmo que sua tia havia j feito uma consulta sobre o

    caso). L chegando foi chamada pelo pai-de-santo que lhe disse que suas aflies eram

    causadas pelos orixs por ela no estar trabalhando no santo. Mesmo assim ela s caiu no

    santo por ter se assustado ao receber um aviso dado por um pai-de-santo a uma amiga que

    no era bom deixar roupa virgem em casa. Como ela no havia contado a ningum que havia

    feito a roupa e a guardava sem uso, ficou impressionada e decidiu iniciar sua jornada

    espiritual.

    O incio de sua histria no terreiro no mencionado, sendo, entretanto abordado os

    aspectos turbulentos de sua jornada espiritual (11 anos), a saber:

    46

  • Ficou boa aps ter se firmado no santo;

    A me-de-santo havia colocado sete exus na sua cabea, prendendo seus guias

    levando-a quase a loucura;

    Foi acusada de ter demandado contra a me-de-santo, afastando-se do terreiro por

    algum tempo;

    Vestia-se sempre muito bem com roupas rendadas e engomadas para cair no santo;

    Mudou sua posio aps Mario: o presidente, ter ameaado jogar sua pomba gira na

    rua, passando desde ento para o lado de Pedro: o pai-de-santo;

    J ao final da vida do terreiro, restabeleceu o contato com seus guias recebendo menos

    exus com o auxlio de seu preto-velho, o velho Cipriano, que era metade exu, metade

    preto-velho.

    PEDRO: O PAI-DE-SANTO

    Aspecto Social: personagem ocupada por Pedro, etnia ignorada, porm com dois

    defeitos fsicos segundo a autora (mo direita atrofiada e perna direita mais curta), solteiro,

    natural do Rio de Janeiro, tinha 27 anos e era pedreiro trabalhando em um colgio da zona sul

    (aps ter iniciado como servente (de pedreiro ou da cantina?)4 passando a responsvel pela

    cantina no mesmo local), tinha o primrio incompleto.

    Aspecto Espiritual: O seu primeiro contato com a macumba foi aos 13 anos de

    idade no terreiro de sua prima, onde se sentiu muito bem e resolveu ficar na macumba.

    4 Observao nossa, por no ter ficado claro se a inteno da autora enobrecer o fato de o Pedro ter iniciado como servente de pedreiro e aprendido o ofcio, ou de diminu-lo dizendo que fora um simples servente na cantina escola.

    47

  • Comeou como og5 e aos 17 anos chegou a ia6 recebendo permisso para abrir seu gong7.

    Aps preparar os mdiuns deste terreiro deixou a direo e abriu outro terreiro procedendo da

    mesma maneira, partindo aps haver preparado os mdiuns. Afirmava trabalhar com todas as

    linhas e ter uma coroa bonita, trabalhando com muitos orixs, todos muito fortes.

    Pedro dizia gostar de uma boa briga, saindo a procura de um terreiro quando o seu no

    batia em busca de uma macumba boa pois naquela procura sempre saia uma briga e ele

    gostava de brigar incorporado, por afirmar que quando estava sem santo era medroso.

    O incio de sua histria no terreiro se deu ao ser convidado por um casal de mdiuns

    do grupo original, quando da internao da me-de-santo Maria Aparecida. Sua proposta

    inicial era de ajudar preparando outros mdiuns para assumir a direo, mas que foi mudando

    com o tempo chegando ao ponto de solicitar que o registro da casa na Congregao Esprita

    Umbandista fosse passado em seu nome logo aps a tentativa de retorno da me-de-santo

    anterior. Aps esta data passou a morar no terreiro e 15 dias aps ficou desempregado saindo

    durante alguns dias para fazer biscates no mesmo colgio em que fora despedido retornando

    muito cansado.

    Pedro contou ter brigado com sua me-de-santo (sua prima) por causa da filha dela

    que de posse da chave do cofre teria aberto o mesmo e levado o dinheiro, tendo ele Pedro sido

    avisado pelo seu preto-velho.

    Segundo Pedro, no existiam mais terreiros quimbandeiros puros, s os traados e ele

    utilizava a magia negra para a defesa de seu anjo de guarda.5 og Pessoa que toca o atabaque (MAGGIE, 2001, p.148)6 ia Filho de Santo (MAGGIE, 2001, p.147)7 gong Altar ou ainda terreiro onde no se bate tambor e no necessrio ter mais de 13 mdiuns (MAGGIE, 2001, p.97 &146)

    48

  • O pai-de-santo tinha seu cotidiano quase integralmente dedicado ao terreiro e as coisas

    do santo, e embora parecendo no duvidar de nada ao ouvir uma gravao feita de uma sesso

    de domingo disse parecer ser maluquice o que estava ouvindo segundo a autora.

    Aps o conflito com Pedro passou a no mais receber seus guias em todas as sesses,

    como costumava fazer, causando dvidas entre os mdiuns que diziam que ele podia no ter

    santo , principalmente Mrio, o presidente.

    SONIA: A SEGUNDA ME PEQUENA

    Aspecto Social: personagem ocupada por Sonia, branca, solteira, natural do Rio de

    Janeiro, tinha 19 anos e era manicura por conta prpria, tinha o ginsio incompleto.

    Aspecto Espiritual: Acompanhava sua me a terreiros desde pequena, vindo a entrar

    pro santo em 1970, motivada por ser esta uma religio ... animada, menos por causa do

    santo e mais porque bom e animado. (MAGGIE, 2001, p.100).

    Consultava-se com a me Maria Aparecida h cinco anos, por isso resolveu trabalhar

    com ela compondo o grupo que abriu a Tenda Caboclo Serra Negra. Segundo a autora, Sonia

    acreditava ter uma estrela de me-de-terreiro, por isso era invejada por seus colegas,

    sobretudo por Mario.

    49

  • Inicialmente Sonia entrava em transe nas sesses, mas, no dava consulta porque seus

    guias no falavam, contudo com o acirramento do conflito entre o presidente e o pai-de-santo

    ela passou apenas a prestar ajuda aos mdiuns e ao pai-de-santo, no mais entrando em transe.

    Conforme relatado pela autora neste momento Sonia passou a questionar seus guias e a

    espiritualidade.

    Maggie via Sonia como uma das mdiuns mais dedicadas, realizava desde a limpeza

    no terreiro at cuidar do bom andamento dos trabalhos, inclusive era cobrada pelo pai-de-

    santo para ser mais rgida com os mdiuns a fim de fazer com que estes cumprissem as suas

    obrigaes, coisa que ela se recusava a fazer para no ter problemas, dizendo que quem

    deveria fazer isto era o Mario, situao que se agravou com o conflito entre este e o pai-de-

    santo, momento a partir do qual Sonia, que antes diziam ser apaixonada por Mario, colocou-

    se do lado de Pedro.

    A autora relata que posteriormente Sonia veio a perceber que o pai-de-santo havia se

    apaixonado por ela alm de tambm ter se dado conta de que Pedro era ignorante nas coisas

    de santo. Sonia reclamava de sua condio em relao aos seus guias denotando considerar

    Pedro inapto a desempenhar a funo de pai-de-santo.

    Para a autora esta preocupao de Sonia vinha apenas confirmar sua teoria a respeito

    da identidade do mdium ser construda a partir do uso dessa mscara (personalidade dos

    guias), que lhe atribua diversos papis na sociedade, como Sonia no conseguia estabelecer

    esta relao tambm tinha dificuldades para delimitar sua prpria identidade.

    ANLISE: O CDIGO DO SANTO E O CDIGO BUROCRTICO

    Atravs das histrias relatadas a autora encontra explicao para trs questes, a serem

    esclarecidas, conforme segue:

    50

  • Socializao de um mdium o contato deste mdium com a religio em

    questo que em um determinado momento passa de eventual para constante. A

    autora constata que nos quatro casos descritos este contato desde muito cedo

    existia (me vidente; menino que botava cartas; um pai-de-santo vizinho, a

    me que levava a criana desde cedo a terreiros para consultar-se, etc),

    Desenvolvimento da relao entre o cavalo e seus orixs refere-se

    construo da identidade dos indivduos e a relaes de suas manifestaes

    com seus orixs, ou seja, Pedro e Sonia acabaram perdedores por falta de

    habilidade de lidar com o poder e por conseqncia ao final j nem recebiam

    seus orixs enfraquecendo assim a sua mscara com a qual se apresentam na

    sociedade (personalidade) enquanto que Mrio e Marina acabaram ganhadores,

    Mrio se tornando pai-de-santo e Marina restabelecendo o contato com seus

    guias que haviam ficado presos. Portanto estes ltimos ao conseguirem

    melhorar a qualidade da relao com seus orixs melhor definiram sua

    personalidade.

    Conflitos ou problemas estruturais da sociedade mais ampla aparecimento

    de oposies na disputa de poder. A autora descreve como sendo a disputa

    entre controle mgico (pai-de-santo) e o controle atravs do prestgio

    econmico social (presidente), que ela demonstra relacionando os cdigos de

    conduta de cada um, como por exemplo:

    Cdigo do Santo Cdigo Burocrtico

    Obedincia a me-pequena

    Os guias deviam zelar pelo

    comportamento dos mdiuns,

    controlando-os atravs de surras de

    santo, isto , um controle mgico

    Um estatuto atravs do qual se

    regularia o comportamento dos

    mdiuns

    51

  • 4.3.2 ANLISE

    Com a anlise que faremos a seguir pretendemos demonstrar que a autora parte de um

    ponto de vista prprio e preconceituoso, para demonstrar que os umbandistas, sobretudo os

    mais desfavorecidos scio-culturalmente, ingressam na UMBANDA para se projetarem de

    uma forma social mais valorizada no universo social mais amplo (Sociedade) a partir de um

    universo social mais reduzido (terreiro), uma vez que nesse universo, o indivduo tem direito

    a livre expresso sem represlias.

    Em nosso modo de ver a autora deixa claro que existe uma separao entre o cdigo

    de santo e o cdigo burocrtico, Esses dois cdigos eram atualizados por pessoas de posies

    sociais distintas. O cdigo de santo, por um pedreiro, analfabeto, que atravs do ritual tinha a

    possibilidade de inverter a posio que ocupava na sociedade mais ampla. ... O cdigo

    burocrtico era atualizado por um mdium de posio social mais elevada em relao ao resto

    do grupo,... pelo fato de ter estudado, ... (MAGGIE, 2001, p.109) .

    A autora considera que as personagens do drama utilizam as manifestaes da

    Umbanda como uma forma de complementar suas personalidades, sendo assim a utilizao do

    cdigo do santo se daria principalmente pelos desfavorecidos socialmente, em geral os negros

    e as pessoas com pouco estudo, ... Sonia no manipulava bem as tcnicas do santo, era uma

    das poucas mdiuns brancas, tinha um certo grau de escolaridade e seus guias no falavam.

    (MAGGIE, 2001, p.109).

    Podemos observar ainda, no trecho acima mencionado, que cada uma das personagens

    analisadas pela autora tinha uma motivao maior para estar na Umbanda, visto que Sonia

    por exemplo, que era branca e tinha um certo grau de estudo, no tinha uma boa relao com

    52

  • seus guias denotando a no necessidade de complementao de sua personalidade ou melhor a

    utilizao desta representao para fortalecer sua posio na sociedade mais ampla.

    Segundo W.W. da Mata e Silva as quedas e fracassos dos mdiuns tem trs principais

    causas: vaidade, dinheiro e sexo (Silva, 1994, p.32). com base neste pensamento que

    podemos constatar que cada uma das quatro personagens analisadas pela autora apresenta as

    seguintes caractersticas, que possivelmente levaram ao fechamento do terreiro:

    Mario Vaidade (tentativa de imposio de seu maior grau de instruo);

    Dinheiro (o aluguel do terreiro estava em seu nome e ele expulsou o pai-de-santo);

    Sexo (utilizao de sua aproximao com a autora para fortalecer sua posio

    mediante o grupo).

    Marina Vaidade (roupas sempre bem engomadas e rendadas);

    Pedro Sexo (suposta paixo pela me-pequena); Dinheiro (foi morar no

    terreiro); Vaidade (confundir o poder das entidades com o seu);

    Sonia Vaidade (sua coroa era bonita, sua estrela era de me de terreiro).

    A autora mostrou-se tendenciosa no mantendo uma postura cientfica adequada em

    alguns momentos, a saber:

    No captulo III, que se prope a descrever as personagens, foi omitido a etnia de Pedro

    (o pai-de-santo) mencionando apenas que o mesmo apresentava uma deficincia fsica na mo

    e perna direitas. Etnia esta que s mencionada no captulo IV cujo objetivo era descrever a

    simbologia existente nos rituais versus os conflitos existentes dentro do terreiro. Fato este

    que demonstra a importncia atribuda pela autora etnia nos conflitos.

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  • A autora utilizou referncias estrangeiras para definir mediunidade de uma forma

    m