qualidades de orixa

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QUALIDADES DE ÒRÌS A...!? http://www.altair.togun.nom.br/arquivo/cultura01.htm Altair T’Ogun Olá amigos! Primeiramente, agradeço o prestígio de suas presenças para conhecerem um pouco do meu trabalho e das minhas idéias. Alguns leitores antigos, que me conhecem, estão acostumados com a minha maneira de ser, polêmica e irreverente. Isto, porque procuro externar minhas idéias e meus pensamentos, às vezes sutil, às vezes jocosa e agressivamente. Como todo filho de Ògún, sou contestador e também, bem teimoso com relação às minhas idéias, mesmo

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caminhos e gualidades de orixas cultuados no candomblé

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Page 1: qualidades de orixa

QUALIDADES DE ÒRÌSA...!?

http://www.altair.togun.nom.br/arquivo/cultura01.htm

Altair T’Ogun

Olá amigos!

Primeiramente, agradeço o prestígio de suas presenças para

conhecerem um pouco do meu trabalho e das minhas idéias.

Alguns leitores antigos, que já me conhecem, estão

acostumados com a minha maneira de ser, polêmica e irreverente. Isto,

porque procuro externar minhas idéias e meus pensamentos, às vezes sutil,

às vezes jocosa e agressivamente. Como todo filho de Ògún, sou

contestador e também, bem teimoso com relação às minhas idéias, mesmo

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que contrariando tudo ou a todos. Se, é positivo ou negativo, não sei. Deixo

para que as outras pessoas decidam.

Essas minhas contestações não são gratuitas, mas sim, elas

visam tão somente pensar ou repensar algumas coisas que nos foram

passadas, como produtos acabados e imutáveis. Então, penso sobre

algumas dessas coisas. As minhas conclusões, tiro-as para mim mesmo.

Não querendo fazê-las descer de goela abaixo nas outras pessoas.

Reconheço o direito de todos a terem suas próprias opiniões e discordarem

das minhas; assim como, reivindico o meu direito de também discordar e

ter meus próprios conceitos. E também ainda, de chamar a atenção das

outras pessoas, que como eu, têm dúvidas e questionamentos acerca da

nossa Religião.

Não desejo afrontar ninguém, quero tão somente colocar aqui o meu

pensamento particular a respeito das tão faladas “Qualidades de òrìsà”, que

eu friso com (...!?), para ressaltar minhas dúvidas sobre isso. E, como já

dizia o nosso saudoso Abelardo Chacrinha: “Eu não vim para explicar, eu

vim para confundir...” (no bom sentido, para dar motivos para que outras

pessoas pensem a respeito).

Segundo os conceitos Yorùbá, o Òrìsà é uno, para eles não

existem as tão chamadas “qualidades” que temos aqui no Brasil. Lá, eles

cultuam um òrìsà em cada casa separadamente. Tendo casas, onde somente

se iniciam filhos de Ògún; outras somente de Sòngó, outras ainda, somente

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de Òòsààlà, e assim por diante, etc. Esses rituais de iniciação são feitos no

templo do òrìsà, onde fica um assentamento comum a todos, chamado de

Ojubo. Não existem igbá individuais. Para eles, se for assentado mais de

um igbá, a força será divergida e dividida entre esses igbá. Ao passo que,

se todos os rituais forem feitos num único igbá ou ojubo, essas forças

convergirão e se somarão. Aumentado assim o àse para a casa e para

todos.

Ainda, nos festivais em louvor aos òrìsà, quando da

incorporação desse òrìsà, esta se fará num único filho, não importando

quem quer que seja. Então, numa multidão ninguém sabe quem será o

escolhido para incorporar aquele òrìsà. E quando isso acontece, todos os

demais filhos respeitam e aceitam aquele transe como o único; porque

aquele foi o filho escolhido pelo òrìsà para manifestar-se.

Ao virem para o Brasil como escravos os nossos antepassados

trouxeram consigo o culto aos òrìsà. E com o passar dos anos a religião foi

se enraizando aqui. E durante esses séculos que se passaram, desde a

chegada dos negros com sua religião até os dias atuais muitas coisas se

perderam, tais como: rituais diversos e a própria língua Africana Mãe,

diluindo-se quase que totalmente atualmente, onde a grande maioria das

pessoas, da religião, não têm conhecimento da língua ritual. E isso ensejou

uma série de equívocos, tais como “qualidades de òrìsà”.

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Alguns òrìsà que eram cultuados antigamente e cujos cultos se

perderam no tempo, em grande parte, pelo famigerado “segredo”, que só

serviu para nos legar uma grande dose de ignorância sobre a nossa própria

religião; perderam seus cultos individuais e passaram a serem cultuados

como espécies de outros òrìsà assemelhados. Como: no caso de Airá, que

não é qualidade de Sàngó; Ògunte, que não é qualidade de Yemonja;

Òpàrà, que não é qualidade de Òsún; Erìnle, que não é qualidade de Òsóòsì;

Sòrókè, que não é qualidade de Ògún; Gbálè e Oníra, que não são

qualidades de Oya; etc. Alguns desses òrìsà tinham cultos semelhantes aos

destes outros, então, o brasileiro os inseriu como iguais e assim ficou. Ou

que ainda é simplesmente um oríkì pelo qual o òrìsà é chamado, e pelo

desconhecimento da língua Yorùbá, acabaram virando mais “qualidades”.

Poderíamos citar inúmeros exemplos, mas, citaremos os mais comuns

dentre nós, como “Qualidades”, hoje falando de Èsù.

Èsù é um òrìsà quiçá, o mais importante no panteão Yorùbá. Tudo e

todos necessitam da intervenção de Èsù, para executarem “n” tarefas. É aí

que entram com as tais qualidades, mas, que não passam apenas de funções

diversas exercidas por Èsù. Temos algumas como:

Èsù Elégbára:

Significa literalmente, Èsù Senhor da força ou do poder, o qual ele

detém incontestavelmente, de quem todos os demais òrìsà necessitam para

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executarem seus feitos. Não é qualidade, é um oríkì pelo qual ele é

chamado.

Èsù L’ònòn:

Èsù no caminho, local onde ele mora, na orítà (encruzilhada).

Èsù Ònòn ou Olóònòn

Èsù do caminho, Senhor dos caminhos, o Senhor das estradas, função

em que ele abre ou fecha os caminhos; a quem pedimos licença para

transitar tudo o que desejamos, inclusive a nós mesmos. Ele é o Oníbodè

(O Porteiro), Oníbodè-òrun (O Porteiro do Céu); ou Olútójú (O guardião, o

Vigia), que revista a todos que transitam por aquela porta onde ele está de

guarda.

Èsù Elébo:

O Senhor das oferendas, função em que ele é o dono das oferendas

recebidas ou que as transporta aos demais òrìsà, com os nossos pedidos de

bênçãos e beneces.

Èsù Òdára:

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A função exercida quando ele nos traz tudo de bom, bem como as

respostas dos òrìsà aos nossos rogos, sempre é mensageiro de coisas e

notícias boas.

Èsù Òjíse:

O Mensageiro, função em que ele faz a comunicação entre o ayé e o

òrun, entre os seres humanos e os ara-òrun. Também levando os nossos

pedidos e retornando com as respostas dos òrìsà. É também chamado de

Òjíse Ebo (O Mensageiro das Oferendas).

Èsù Elérù:

O Senhor do carrego, quando ele despacha tudo aquilo que não

queremos, para que vá para longe de nós, os males diversos como: morte,

ruína, doenças, perdas, negatividades, etc.

Estas e muitas outras denominações de Èsù são apenas para

especificar qual a função que ele exerce naquele momento, ou em

definitivo.

Admite-se até que existe o Èsù Bára (Èsu do Corpo), o Èsù

individual que mora dentro de cada pessoa. Neste caso, no fundo é o

mesmo Èsù, que de acordo com a lenda do nascimento de Èsù, parido por

Yèmòwò esposa de Òòsààlà, e que logo ao nascer come todos os seres

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vivos do ayé, e quando tudo se acaba, ele ainda continua com fome e tanto

faz, que termina por comer sua própria mãe, que se deixa devorar apenas

para alimentar o filho.

Òòsààlà, seu pai neste ìtàn, ao vê-lo comer a própria mãe, enfurecido

puxa de sua espada e persegue-o para matá-lo. Ao alcançá-lo, Òòsààlà

desfere um golpe e parte Èsù ao meio. Ao invés de morrer, ele se

transforma de dois. Então, Òòsààlà desfere outro golpe cortando os dois;

que se transformam em quatro, e assim sucessivamente, até serem tantos

que ocuparam quase todo o espaço do ayé. Então, para que aquilo

terminasse, Èsù fez acordo em que prometeu a Òòsààlà, que restituiria

tudo o que fora comido. Tudo aquilo que ele recebera como oferenda, seria

restituído em forma de retribuição a estas oferendas por ele recebidas.

Nesse ìtàn ele comeu todas as criaturas vivas, todas as frutas, todas as

sementes, todos os vegetais e bebeu toda a água, otí, emu; daí lhe ser

atribuido o termo: " boca que tudo come", e é por isso também, que ele

recebe qualquer coisa como oferenda.

E, como Èsù se dividira tanto, tanto; ficou também com a

incumbência de cada uma de suas “cópias” ficar como protetora do corpo

de cada ser humano que fosse moldado por Òòsààlà.

Portanto, o nosso Bára é ao mesmo tempo o nosso Èsù individual,

porque vive dentro de nós. Mas, ele também é apenas uma parte do todo de

Èsù que foi dividido; sendo assim, o primogênito que se dividiu “n” vezes,

mas que, cada subdivisão é apenas uma pequena parte de um todo, que é o

próprio Èsù.

Page 8: qualidades de orixa

OGUN

Olá, àwon òré mi!

Eis -me aqui novamente para continuarmos o nosso assunto anterior,

sobre “Qualidades de Òrìsà...!?”.

Hoje falaremos das "Qualidades de Ògún" e, se houve tempo,

dos demais Òrìsà em geral. Sempre em conversas, quando digo que sou

filho de Ògún, perguntam-me, de “qual qualidade é o meu Ògún”. Então

eu digo que sou Omo Ògún e que não tem qualidade alguma. Muitas

pessoas não entendem ou não aceitam isso. Pois, instituiu-se dezenas de

“qualidades” para cada Òrìsà. Muitos vangloriam -se de serem

conhecedores dessas “qualidades”, que no fundo, não passam de oríkì de

louvação a cada Òrìsà ou especifica a região onde ele é cultuado..

Ògún é o Òrìsà conhecido quase que exclusivamente como o

Òrìsà das lutas, guerras, brigas, confusões, nervoso, teimoso e de fácil

irritabilidade. Mas, muitos se esquecem de dizer de suas qualidades

amenas (aí no sentido da capacitação como o patrono das artes que exigem

destreza manual); o guia nos caminhos; lavrador, caçador, etc.

Ògúnjà ou Ògún jà:

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É quando Ele exerce a sua atividade de guerreiro, militar e

querelante. É quando Ele realmente está para briga.

Ògún Sórókè:

Tida como uma das “qualidades” mais conhecidas, violentas e

preferidas de Ògún, mas, que na verdade significa: Sé orí òkè; que

contraído dá Sórókè. Dizem, que é um Ògún bravo e sanguinolento como

resultado de sua “mistura” com Èsù

Uma das lendas de Ògún, conta que Ele estava no alto da montanha,

para onde ia quando saía à caça, pois, Ele é também um

Òrìsà Ode (Caçador). Essa lenda inicia-se por contar que:

“Ojó ntí Ògún sórókè bo...” (No dia em que Ògún estava no alto da

montanha e desceu...). Esse era o dia que Ele havia marcado para seu

retorno à cidade. Mas, diz essa mesma lenda, que Ògún é um Òrìsà que não

suporta que o ignorem. Ele é Òrìsà Pàtàkì (importante), e não tolera que

não lhe dêem a devida importância e atenção. Nessa cidade morava, na

mesma época, um desafeto de Ògún, que era conhecido como um grande

feiticeiro (Osó), que se chamava Àparò Degbeaha. E sabedor desse fraco

de Ògún, Àparò organizou uma cerimônia ritual na cidade, em que as

pessoas teriam que ficar sem falar, comer e beber por um dia inteiro. E

esse dia coincidiria com o dia da chegada de Ògún, somente para irritá-lo.

Quando Ògún chegou na cidade, ninguém falava com Ele,

ninguém o saudou como Òrìsà importante, aquilo já o deixou enfurecido.

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Mas, como Ele estava com fome, dirigiu-se a uma cantina para que lhe

servissem comida e emu (vinho de palma). Chegando lá, ninguém o

saudou, nem lhe dirigiu a palavra. Ele pediu que lhe dessem comida e

bebida, mas, ninguém lhe respondeu alguma coisa ou serviu-o, porque

naquele dia era dia de abstinência total. Quando Ele insistiu e mais uma vez

foi ignorado, pegou o facão e golpeou os barris de vinho, derramando tudo

no chão; quando vieram para impedir que Ele fizesse aquilo, Ele cortou as

pessoas ao meio. E dizem, que quando Ògún fica nervoso, ele perde

completamente o juízo. E assim foi. Ele matou homens, mulheres, crianças

e depois foi para casa.

No dia seguinte foram à sua casa para lhe pedirem que Ele não

continuasse zangado com o povo da cidade, e lhe explicaram o que tinha

acontecido e do festival organizado por Àparò. Quando tomou

conhecimento de tudo, Ògún ficou enfurecido, mas, desta vez, contra

Àparò. Pois, ao saber que matara tantas pessoas inocentes por causa dele

Àparò, Ògún sentiu grande arrependimento, mas, o mal já estava feito.

Ele saiu à procura de Àparò, este quando avistou Ògún vindo

em sua direção, fugiu. Mas, Ògún perseguiu-o. Àparò estava desesperado,

pois, sabia que Ògún não teria compaixão dele. Então, fugiu, mas, Ògún o

perseguiu, e quando estava quase sendo alcançado por Ògún, Àparò

transformou-se num pássaro e voou para o alto do igi opé (a palmeira de

Òrúnmìlà). Como era uma palmeira sagrada, ele achava que Ògún não a

tocaria. Mas, estava enganado, Ògún começou a golpear a palmeira,

acabando por derrubá-la. Num último esforço de esperança, Àparò,

escondeu-se por entre as folhas da palmeira, pois, achava que Ògún não

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cometeria o sacrilégio de destruir toda a palmeira de Òrúnmìlà. Estava

enganado novamente. Ògún desfolhou a palmeira e agarrou Àparò, que

pediu clemência, mas Ògún sem responder nada, cortou-lhe a cabeça que

rolou diante de si, que sentiu-se vingado. Como Àparò era um feiticeiro

poderoso, não morreu imediatamente. Ele olhou para Ògún e lançou uma

praga, dizendo: “Você Ògún, insensato que é, na hora da minha morte eu

lhe coloco meu último feitiço, o de que você haverá sempre de fazer coisas

na hora da raiva e se arrepender tardiamente, como foi hoje. Essa maldição

cairá sobre você Ògún e todos os seu filhos, que haverão de fazer coisas na

hora da raiva e se arrependerem depois, quando já não houver mais

conserto”. E tendo dito isto, morreu.

A história conta que foi a partir daí que Ògún sempre que ia

matar um desafeto, amarrava suas mãos, pés e prendia sua boca, para que

ele não lhe rogasse praga, como Àparò. Daí também, os sacerdotes que

executavam sacrifícios, passaram a imobilizar suas vítimas porque também

temiam a praga de Àparò Degbeaha. É o que fazemos até hoje quando

vamos sacrificar qualquer animal no ritual, prendemos suas bocas ou bicos,

patas e asas, para que não se debatam. Esse debater é interpretado como

uma praga na hora da morte, e não se quer dar chance a nenhuma das

vítimas dos sacrifício de amaldiçoarem seus executores.

Como dizia na maldição de Àparò, Ògún não sentia paz por

causa de ter matado tanta gente inocente. Então, reuniu as pessoas da

cidade e disse-lhes que iria embora e que só voltaria se precisassem da sua

ajuda. Mas também deveriam reverenciá-lo e saudá-lo assim:

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“Pàtàkì Òrìsà”. Então, enfiou sua espada no chão e sumiu por dentro da

terra.

E conta ainda, que Òrúnmìlà, não permitiu que essa praga

caísse por sobre todos os filhos de Ògún, que também eram inocentes, e

ensinou-os um oríkì que diz: “Má jékí orí mi rí ìjà Ògún...” (Não

permita que minha cabeça veja a briga de Ògún). Pois dizem que a cabeça

que vê a briga de Ògún, torna-se maluca, a pessoa enlouquece totalmente.

A história foi um pouco longa, mas ela tem relação com a

fama do mau comportamento de “Ògún Sórókè”, que não é qualidade, mas

algo que se diz sobre Ògún.

Ògún Aláàgbède:

Ògún é ferreiro, uma de suas profissões com forjador de metais.

Ògún gbénòn-gbénòn:

Ògún é carpinteiro, patrono dos artesãos que trabalham com

entalhes e nas confecções de móveis e utensílios de madeira.

Ògún Elémònòn:

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Ògún, Senhor que conhece o caminho, é padroeiro dos

motoristas.

Ògún ìkolà:

Ògún que usa marcas no rosto. Marcas faciais que indicam a

origem tribal, status e descendência. (kolà ojú).

Ògún OníÌré:

Ògún, Senhor da cidade de Ìré. Título que recebeu como uma

espécie de “padroeiro” da cidade de Ìré.

Ògún AláArá:

Ògún, Senhor da cidade de Ará. Título também recebido como

“padroeiro” da cidade de Ará.

Ògún Méje:

Ògún sete, esse número é menção às sete sementes que Ògún

plantou nos sete caminhos por onde passou. “Kàtà-kàtà ó gbìn méje, ó gbìn

méje ònòn gbogbo”.

Ògún Dàgòlóònòn kò yá:

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É tida como a mais “nova qualidade de Ògún” dentre os

experts, mas, na realidade apenas se está pedindo licença ao Senhor dos

caminhos e que esses caminhos nos sejam suaves de percorrer.

Se para falar de tristeza meu tempo não dá, meu tempo não

dá...(Zeca Pagodinho); o meu também não, se for para falar de “qualidades

de òrìsà”. Como me estendi um pouco falando sobre Ògún, continuaremos

na próxima semana, sobre mais alguns òrìsà.

Ó di òsè tó nbo! Àse àti ki Ògún ìwúre wa!

OUTROS ORIXAS

Parece que existe, para cada òrìsà que conhecemos, uma

“qualidade” que é logo citada por alguém, mas, como costumo dizer aos

meus amigos, para mim só existem qualidades é de sabonete, sabão em pó,

margarina; mesmo assim, se formos investigar a fundo veremos que em sua

maioria pertencem à mesma indústria, mudando tão somente o nome

fantasia, não passando de maquiagem os seus nomes. Tomo primeiramente

como exemplo Òsóòsì, onde temos algumas “qualidades” como:

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Ode Inlè: É outro òrìsà ode cujo culto original se perdeu no tempo e

como no caso de alguns outros òrìsà, acabou “virando qualidade a mais, de

Òsóòsì”.

Ode Ofà: Não é qualidade, significa, “o arco e a flecha do caçador,

sendo de Òsóòsì o seu principal apetrecho”.

Ode táfà-táfà: O caçador arqueiro, aquele que exímio atirador de

flechas, é predicado que se diz de Òsóòsì.

Ode Dáná-dáná: Literalmente, o caçador acendeu o fogo; quando

termina a sua caçada ele acende o fogo para cozinhá-la e preparar sua

refeição.

Ode Erìnlè: É também um outro òrìsà ode, que, a exemplo de Inlè,

cujo culto também caiu no obscurantismo, acabando por tornar-se

“qualidade de Òsóòsì”.

Ode Akúeran: (Ode ó kú eran); O caçador, aquele que mata animal

(a caça), é o que faz todo caçador.

Page 16: qualidades de orixa

Ode tó kú eran: O caçador é quem mata a caça, diz-se da atuação do

caçador.

Ode Otókansósó: Não é qualidade, é um oríkì que significa o

caçador que só tem uma flecha. Ele não precisa de mais nenhuma flecha

porque jamais erra o alvo. Título que Òsóòsì recebeu ao matar o pássaro de

Ìyámi Eléye. Não fazendo parte do rol dos caçadores que possuíam várias

flechas, Òsóòsì era aquele que só tinha uma flecha. Os demais erraram o

alvo tantas vezes quantas flechas possuíam, mas, Òsóòsì com apenas uma

flecha, foi o único que acertou o pássaro de Ìyámi, ferindo-o com um tiro

certeiro no peito. Por essa razão é que ele não recebe mel, pois o mel é um

dos elementos fabricado pelas abelhas, que são tidas como animais

pertencentes à Òsún, mas, também às Ìyámi Eléye. Então, é èèwò

(proibição) para Òsóòsì. Por essa razão também, é que se dá para Òsóòsì o

peito inteiro das aves, como reminiscência desse ìtàn.

Para Òsányìn, temos Aroni, que é òrìsà igbó, tinha culto

assemelhado ao de Òsányìn, e que fisicamente tem uma perna só, e que

aqui no Brasil é sincretisado com o Saci Pererê, do folclore brasileiro. Por

isso, muitos dizem que Òsányìn só tem uma perna. Mas, quem tem somente

uma perna é Aroni, que é òrìsà da família de Òsányìn.

Temos ainda Ààjà, entidade também de culto assemelhado ao de

Òsányìn, um imálè igbó, benéfico e com formas femininas, de baixa

estatura como um duende. Diz-se que ela leva as pessoas para o interior das

Page 17: qualidades de orixa

florestas, para ensiná-las a usar a magia e a medicina das ervas. É

considerada a divindade dos apanhadores de ervas (erveiros).

Para Lògún Ode, já não ouço falar tanto de qualidades, a não ser,

dizerem que Lògún pertence a esta ou àquela “nação”, que ele é “métà-

métà”, isto é, dizem, seis meses macho, seis meses fêmea. Particularmente

não concordo com essas coisas, primeiro: porque métà é o algarismo três,

então está errado afirmá-lo como dois. Segundo: Porque Lògún, segundo a

mitologia Yorùbá, é um òrìsà Ode, filho de Òsún sua mãe e de Òsóòsì,

seu pai. E segundo o pouco que sei, não existe essa androgenia entre os

òris

à como algumas pessoas alegam por aí. Lògún é

òrìsà ako (òrìsà masculino). Por ser filho de Òsún, a Senhora das águas

frias e profundas, ele é herdeiro do reino de Òsún, isto é, o reino das águas

do rio. Por isso, ele é considerado um òrìsà odò (òrìsà do rio). E sendo

também filho de Òsóòsì, o Senhor das matas, das florestas, ele é

considerado herdeiro também do reino de seu pai, o das matas, como

òrìsà igbó (òrìsà das florestas).

Diz sua lenda, que ele passa metade do tempo com sua mãe no reino

das águas, onde ele tem o nome de Olóodò (Senhor do Rio), e metade do

tempo com seu pai, aprendendo a arte da caça no reino das florestas, onde

ele tem o nome de Oní igbó (Senhor das Matas - florestas). Então, ele é

chamado de Oníigbó-Olóodò (Senhor das florestas e Senhor dos rios). Diz-

se também que o barro das profundezas do rio (amòn) pertence a Lògún,

que também atende pelo nome de Alámòn ibú odò (Senhor do barro das

profundezas do rio). É òrìsà que está relacionado com o luxo, a riqueza, a

beleza, aquele que entende tanto a mente feminina quanto a mente

masculina. Isto, por causa de sua convivência com a mãe no reino das

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águas, e da sua convivência com o Pai, no reino das matas. Não

significando por isso que ele seja andrógeno ou hermafrodita (macho e

fêmea), uma desculpa muito utilizada por alguns para justificarem suas

personalidades, sem quererem assumir suas responsabilidades, jogando-a

assim sobre o òrìsà.

Obalúwàiyé - Omolú: Embora digam que são qualidades, o correto é

que é o mesmo òrìsà atendendo por nomes diferentes. Obalúwàiyé - Rei e

Senhor da Terra - Omolú - Filho do Senhor. É mais conhecido como o

òrìsà das pestes, doenças e sofrimentos corporais. Mas, ele

também é o òrìsà que protege das doenças, das pestes, das epidemias,

endemias, doenças de pele e outras, da saúde em geral. É conhecido

como o médico dos pobres, e Senhor que tem boa memória (Oní iyè).

Sapánnán: Outro nome de Obalúwàiyé (sé - a - pa - inón - Aquele

que pode nos matar com o fogo), referindo-se ao sofrimento causado pela

ardência da varíola, que dizem queimar como fogo e também, aquele que

pode esculpir na carne das pessoas, isto com relação às cicatrizes que ficam

da varíola.

Sakpata e Ajunsu: São Vodun Jeje, correspondentes à entidade

Obalúwàiyé, que são cultuados como “qualidades de Obalúwàiyé”.

Page 19: qualidades de orixa

Jagun: Título de Obalúwàiyé (soldado, guerreiro), não é qualidade,

como dizem, e que seria uma espécie de Omolú que tem “fundamento”

como Òòsààlà e se veste de branco. Obalúwàiyé-Omolú é considerado um

guerreiro, por isso é chamado de jagun.

Òsùmàrè: Outro òrìsà que suscita polêmica, porque dizem que é

também ser métà-métà, o erro também começa por aí, pois, como já dito

acima, métà é o algarismo três e não dois, como se entende. Então acho

que só mesmo levando na brincadeira essa história de métà (três): deve ser

a turma do terceiro sexo que quer incluir o òrìsà como mais um

“coleguinha”. Não censuro e nada tenho a haver com a vida particular de

cada um, mas, as pessoas precisam saber separar a sua vida íntima da vida

religiosa. Não, querendo achar desculpas para seus atos e suas

preferências culpando os òrìsà.

Há controvérsias sobre a origem de Òsùmàrè, que dizem ser de

origem Jeje, e outros, dizem ser de origem Yorùbá. Existe na mitologia

Yorùbá a história sobre Òsùmàrè. O seu correspondente Jeje seria ou é

Besén. Com a mescla das duas “nações” é que é que incorporaram e

mixaram mutuamente suas mitologias, causando um pouco de confusão.

Mas, segundo a lenda Yorùbá, Òsùmàrè era um dos ministros de Sàngó, e

que era responsável pelo suprimento de água potável no ayé. E acreditava-

se que ele (pois, segundo a mitologia Yorùbá, Òsùmàrè é masculino,

também sem androgenia) transformava-se numa grande serpente que

baixava sua boca até o mar sugando a água necessária para a vida no ayé, e

que era devolvida em forma de chuva. Por acreditar-se ser o arco-íris essa

serpente de Òsùmàrè, é que ele foi identificado com a imagem da serpente.

Penso eu, que essa história de macho e fêmea para Òsùmàrè, surgiu do

Page 20: qualidades de orixa

folclore popular, onde dizem que em se passando sob o arco-íris, os

meninos virariam meninas e as meninas virariam meninos. Mas, todos

sabem que isso é uma brincadeira, mas, o caso é que muita gente levou a

sério e acreditou nisso, e outros ainda, gostariam tanto que isso fosse

verdade, aí complicando e embaralhando o assunto. Na mitologia Yorùbá,

não existe o “macho e a fêmea”, nem é necessário fazer oferendas com

casais de animais. O mais antigos tinham ciência da forma masculina de

Òsùmàrè, tanto que o sincretisaram com São Bartolomeu. Eles não o

sincretisaram com uma santa da igreja católica, mas, sim com um santo,

isto na época em que os negros eram obrigados a somente cultuar santos da

igreja católica, então, São Bartolomeu foi escolhido como “capa” ou “testa

de ferro” de Òsùmàrè.

Sàngó: O Deus dos raios e dos trovões é um outro òrìsà prolífero em

“qualidades”, algumas das mais conhecidas são:

Àfònjà: Tido como uma das mais famosas “qualidades” de Sàngó,

segundo a história de Òyó, no início do século dezenove Òyó era

governadab pelo rei Aolè, ele possuía aliados que tinham o título de

Àfònjà, que eram como uma espécie de generais que lhe davam apoio,

logístico, mantendo o seu poder e prestígio para governar Òyó e suas

cidades anexas que constituíam o reino de Òyó. Mas, um desses generais, o

Àfònjà conhecido como o Kaka-m-fò de Ìlorin, rebelou-se contra ele e

declarou-se independente do Oba. Aolè, o Oba de Oyó, por ter perdido

esse apoio que era crucial para sua manutenção no poder, envenenou-se, e

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o ààfin (o palácio real) foi pilhado pelos rebeldes, fato que marcou a

dissolução do reino Yorùbá de Òyó. Atualmente aqui no Brasil, na

instituição dos Oba de Sàngó, Oba kaka-m-fò é o título de um dos seus

Olóyè, ou seja, de um dos Oba de Sàngó.

Sàngó Aláààfin: Também muito conhecido é apenas literalmente

(Sàngó, o Dono ou Senhor do Palácio, ou seja, o Rei).

Sàngó Ògòdò: Muito falado também, é apenas o que se diz sobre

Sàngó, pois, ògòdò é o verbo bocejar. Então, quando está trovejando, o

que se diz é que Sàngó está bocejando.

Sàngó Aládó: É o que se diz sobre Sàngó, que ele é o Senhor do

Pilão e que ele costuma despedaçar o pilão com relâmpagos, se fica

enfurecido. Por ser Senhor do Pilão, é que colocamos o seu igbá sobre um,

e ao mesmo tempo, relembra a sua aliança com Òòsààlà.

Sàngó Airá: Conhecidíssimo, mas que não é qualidade de Sàngó,

Airá é um outro òrìsà, que foi também um dos ministros de Sàngó. Como

era cultuado de maneira semelhante à de Sàngó, aqui acabou virando

qualidade deste. Segundo a lenda da visita do Óòní de Ifè ao Oba de

Òyó, quando do regresso de Òòsààlà para o seu reino, quem o carregou

desde o reino de Òyó até Ifè foi Airá, que tentou tirar partido da situação

intrigando Òòsààlà contra Sàngó. Pois, Airá tentou convencer Òòsààlà que

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Sàngó fora o único culpado dele Òòsààlà, ter passado os sete anos

sofrendo maus tratos na prisão, porque fora preso pelos Òotá, os oficiais da

guarda real de Òyó. E, seu comandante supremo era Sàngó, então ele tinha

toda culpa. Mas, Òòsààlà não cedeu a seu veneno e perdoou Sàngó, que

sabedor do acontecido cortou relações com Airá porque este o atraiçoara.

Então, é considerado ofensa para Sàngó, chamá-lo de Airá ou chamar

Airá de Sangó.

Sàngó Káwò: Káwòó kábìèsí! É parte da saudação de Sàngó.

Oyá é também conhecidíssima com suas “qualidades”, são tantas as

que lhe são atribuídas, que até dizem coisas engraçadas sobre isso, como

certa vez uma pessoa me disse ser de “Oiá de balé” e que ela dançava na

pontinha dos pés mesmo, como uma bailarina... Fiquei calado...!

Oyá é a deusa dos raios e das tempestades, é a Senhora dos ventos.

Ela controla todo tipo de ventos desde o mais suave ao mais bravio como o

do ciclone ou do furacão. Ela também é detentora do título de Olúàféèfé

(Senhora dos ventos - aquela que comanda os ventos) e também, divide

com Sàngó o título de Aláàrá (a Senhora dos raios e trovões, o título de

Sàngó). Das esposas de Sàngó, foi a mais amada e apesar dela ter se

apropriado do poder do raio e do trovão que estavam sob sua guarda.

Lenda diz que Sàngó era detentor do poder do raio e do trovão, e quando

ele falava saia fogo de sua boca, esse fogo representava o raio e o barulho

de sua voz era ensurdecedora quando ele vomitava fogo. Esse era um poder

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muito bem guardado e que Sàngo queria somente para sí. Então pediu a

Oyá para guardá-lo. Era uma espécie de magia de era bebida e conferia

aquele poder. Então, Oyá ficou louca de curiosidade e resolveu

experimentar somente um pouquinho. Ela provou, mas, não sentiu nada.

Colocou a magia no lugar e foi reunir-se aos demais para o jantar. Mas,

durante o jantar quando Oyá abriu a boca para falar, saiu-lhe fogo da boca

com um barulho ensurdecedor. Sàngo vendo isso ficou irado porque sentiu-

se traído por Oyá, que agora também tinha um dos poderes de que ele mais

se ufanava de possuir. Então começaram a brigar, e o efeito da briga foi

terrível com os dois vomitando fogo e trovões. Mas, como os poderes

agora se igualavam, os dois resolveram entrar num acordo para pacificar a

convivência. Aí, resolveram dividir os títulos de Aláàrá (Senhor do raio e

do trovão) e Olúàféèfé (Senhor dos ventos). Então, os dois passaram a

controlar esse poder mesmo porque Sàngó tinha um grande amor por Oyá e

ela por ele. Quando Sàngó caiu em desgraça no reio de Òyó e teve que

fugir para não ser assassinado por seus ministros, todos o abandonaram, até

mesmo suas duas outras esposas, Òsún e Obà. Somente Oyá acompanhou-

o no exílio demonstrando sua fidelidade irrestrita.

Oyá Gbálè: É um nome de Oyá muito conhecido, senão, o mais

conhecido dentre todos. Gbálè é o verbo varrer. Então, como ela é senhora

dos ventos, diz-se que ela “gbá+ilè” (varre a terra). A Contração de gbá+ilè

é gbálè. Então, quando se diz que Oyá gbálè, o que quer se dizer, é que

Oyá está varrendo. Não é qualidade de Oyá e sim o seu ato de ventar e

varrer a terra.

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Oyá Oníra = Oyá Oní Ira: É um dos títulos de Oyá (Oní - Senhora

- Ira, segundo a lenda de Oyá, sua cidade natal, onde é muito venerada, por

isso lhe conferiram esse título. É mais ou menos como aqui no nosso caso

com Nossa Senhora Aparecida, que tem o título de padroeira do Brasil,

Então Oyá, é a padroeira de Ira.

Oyá Tópé: É o que se diz quando agradecemos a Oyá. (Oyá, tí + a

quem, opé - agradecemos).

Oyá Padà: Padà é o verbo voltar, então se quer dizer que Oyá voltou

ou voltará.

Oyá Onílè: Título de Oyá (Senhora da terra). Em alusão à ligação

de Oyá com os Egúngún e com os imolè (espíritos) da terra. Oyá e a

Senhora suprema dos Espíritos dos mortos, por isso Senhora da terra.

Òsún: É òrìsà odò (dos rios), é a Senhora das águas da vida Olóòmi

ayè, mãe das águas frias e profundas (Ìyá Ominíbú); foi também uma das

esposas de Sàngó, juntamente com Obà e Oyá. Ela é mãe cuidadosa

(Yéyé kare); Òrìsà da maternidade, aquela que propicia a gestação de

filhos. É òrìsà que tem grande poder de feitiço, por ser a Olórí Ìyámi

Eléye, isto é, aquela que tem o poder e é a líder das Ìyámi Àjé, sendo

Ìyámi Òsòròngà, aquela que mais ligação tem com Òsún. É sabido que

Page 25: qualidades de orixa

quando Òsún fica zangada ela pode usar os poderes de Ìyámi Àjé, para

causar problemas a alguém que a tenha ofendido.

Na lenda que fala dos primórdios do ayé, quando os òrìsà

vieram se assentar aqui na terra, conta que vieram também os dezesseis

Odù àgbà (os dezesseis odù principais). Eles vieram para ensinar aos

aráayé (os habitantes da terra) como cuidar dela, e quando estes tivessem

condições de cuidar da terra sozinhos, eles, os Odù àgbà, voltariam para o

òrun (céu).

Eles convidaram Òsún para auxiliá-los na tarefa e ela aceitou.

Mas, quando eles iam deliberar sobre alguma coisa importante, nunca

chamavam Òsún. Quando eles iam participar de algo de alta

responsabilidade, também não chamavam Òsún. Òsún era somente para

lavar suas roupas, fazer suas comidas, cuidar da casa e não participava de

nada com eles. Até que um dia ela se fartou disso. E foi aí que ela lançou

mão dos poderes de Ìyámi Àjé, de quem ela é a Chefe. Então, quando

eles deliberavam sobre a doença de uma pessoa e diziam que esta pessoa

não sobreviveria, Òsún colocava seu àse, e fazia com que acontecesse o

contrário: aquela pessoa sobrevivia. Quando eles diziam que alguém

sobreviveria, Ela fazia com que aquela pessoa não sobrevivesse, ela morria.

Se eles diziam que alguém teria muitos filhos, Ela fazia com que aquela

pessoa não tivesse nenhum filho. Se eles diziam que alguém jamais teria

filhos, Ela fazia com que aquela pessoa tivesse muitos filhos.

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Então, as coisas começaram todas a dar errado no ayé, por

mais que eles fizessem para que houvesse prosperidade e fartura no ayé, só

havia decadência, fome, seca, e Eles não conseguiam mais acertar suas

previsões e não tinham a idéia do que causava aquilo. Então, eles

intrigados foram à Òrúnmìlà, para que ele os orientasse sobre o que estava

acontecendo. E Òrúnmìlà lhes disse que o motivo daquilo tudo, era a

décima sétima pessoa do grupo quem estava causando isso colocando o àse

das Ìyámi Àjé, por não ser chamada a participar das decisões, e que essa

décima sétima pessoa era Òsún. E que eles deveria chamá-la para participar

de tudo aquilo que fosse deliberado, para que as coisas voltassem ao

normal.

Eles voltaram para o ayé e foram pedir a Òsún que se juntasse

a eles para que houvesse harmonia e prosperidade no ayé. Mas, ela era

muito caprichosa e se recusava a juntar-se a eles, porque não fôra chamada

antes e somente agora que estavam precisando dela é que a chamavam.

Eles pediram, imploraram, ajoelharam-se aos seus pés, mas, ela manteve-

se irredutível. Eles ficaram desesperados com a atitude de Òsún e já não

sabiam mais o que fazer para dissuadi-la. E como Òsún estava grávida,

resolveu então que ela não participaria com eles, mas, que quando o seu

filho nascesse, este se juntaria a eles tomando o lugar de Òsún.

Então, eles ficaram ansiosos pelo nascimento do filho de Òsún, que

seria o décimo sétimo elemento dos Odù àgbà. E todos os dias, eles

vinham pela manhã antes do raiar do sol, colocar suas mãos sobre o ventre

de Òsún, para passarem àse ao seu filho. Conta esse ìtòn que Ela deu a

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luz à Èsù e que ele recebeu o nome de Òsétura (aquele que recebeu àse

ainda no ventre da mãe) que tem àse de acalmar o corpo.

Então, Èsù passou a integrar o grupo todas as vezes em eles se

reuniam. Aí o número dos Odù àgbà passou a ser o dezessete, ou seja,

dezesseis mais um; esse um é o significante de Èsù. E, é sabido que

quando os bàbáláwo vão jogar, sempre colocam um kawri, que é preparado

num ritual de Ifá, para Èsù, significando a presença dele como do décimo

sétimo elemento. Esse kawri não pode ser visto ou tocado por outra pessoa

além o Olúwo, e fica escondido no local do atendimento das pessoas, longe

dos seus olhos. Então, Èsù ao tomar o lugar de Òsún junto aos dezesseis

Odù àgbà, tornou-se o décimo sétimo elemento do jogo divinatório, de

qualquer espécie ou instrumento.

Òsun é considerada um òrìsà de grande poder de feitiço, pois, ela é

detentora do poder dos òrìsà, das Ìyámi Eléye e do poder de Èsù, tornado-

se por isso perigosa.

Òsún Ominíbú: Longe de ser uma “qualidade”, é um oríkì que diz

que ela é a própria água profunda (omi = água + ní +estar + ibú =

profundezas).

Òsún Ìyá Ominíbú: Òsún, mãe das águas profundas.

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Òsún Olóòmi Ayè: Diz que ela é a Senhora das águas da vida. É a

padroeira de todo o tipo de água potável e fria, do líquido amniótico, que é

a água da gestação da vida.

Òsún Léwà: Òssún é linda, é bonita.

Òsún kare: Aquela que pode nos fazer felizes ou cuidar de nós:

Oríkì.

Òsún, Rora Yéyé: Òsún, Mãe cuidadosa. Saudação popular de Òsún.

Òsún Òpàra ou Àpàrà: É Opàrà, como já dito, cujo culto

assemelhava-se ao de Òsún, mas, que se perdeu no tempo e terminou

virando qualidade por aqui. Sabe-se pouco sobre Òpàrà além de

semelhanças com Òsún, ela, ao invés de um abèbè (leque), ela usa uma àdá

(espada). E recebe em oferenda, ao invés de cabras, de òdá (bodes

castrados).

Òsún Yèyépondá ou Yepondá: Òsún, Mãe que é o vale para onde

convergem as águas da criação. Oríkì.

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Òsún Ààbòtó: Aquela que nos dá bastante cobertura, que nos cobre

em todas as nossas necessidades. É um oríkì de Òsún.

Òsún Ìjimu ou Ìjumu: Muito conhecida como “qualidade”, mas,

segundo a lenda de Òsún, Ìjimu é sua cidade natal. Então a cidade de Ìjimu

é sagrada para Òsún. Também, pode ser Òsún ijemun = Ì = aquela; je =

comer + òmun = leite do seio = amamentar.

Òsún Òsògbó: Òsògbó é uma cidade onde o culto de Òsún é muito

forte, onde Òsún reina soberana (ó joba-jobà). Acredita-se que em se

pedindo a Òsún qualquer coisa em nome de Ìjimu ou Òsògbó, ela atenderá.

São inúmeros os oríkì em que lhe são atribuídas “qualidades”, como

ainda, por exemplo Òsún Ìjèsà. Ìjèsà, é o habitante da cidade de Ilésà,

cidade também Yorùbá, onde o culto a Òsún é fortíssimo. Por ter ritmo e

cadência diferentes, diz-se aqui que é “outra nação” de Òsún. É apenas uma

outra cidade que cultua Òsún de maneira ligeiramente diferente com as

diferenças regionais.

Daria para dizer um sem número de “qualidades”, mas, para Òsún,

ficaremos por aqui.

Àse para todos e até o próximo texto.

T’Ògún