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GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
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1. Objetivo
A presente Nota Técnica tem o escopo de servir como uma orientação geral às
associadas da Associação Brasileira de Companhias de Energia Elétrica - ABCE,
no tocante ao aproveitamento de créditos de PIS/COFINS, apurados no sistema
não-cumulativo. Não será objeto de análise, portanto, a base de débitos das
contribuições, o que demandaria o estudo também das contas de receitas das
empresas.
Para fins didáticos, a análise dos créditos será efetuada de acordo com o rol de
despesas e custos creditáveis admitidos pela legislação, a natureza dos
dispêndios apresentados e as atividades desempenhadas (geração, transmissão
e distribuição). Nesse contexto, as orientações serão construídas sempre de
acordo com a legislação e a jurisprudência que vêm se formando sobre o tema,
sobretudo do CARF (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) e do STJ
(Superior Tribunal de Justiça), sem prejuízo do aporte de opiniões formalizadas
pela RFB (Receita Federal do Brasil). Ainda que não existam decisões específicas
para todos os dispêndios que serão tratados na presente Nota Técnica, o uso da
jurisprudência será feito, quando possível, por aproximação entre os casos
analisados ou julgados e a situação concreta ora em análise.
Por ser uma Nota Técnica direcionada a uma razoável quantidade de empresas,
dificilmente todos os custos e despesas incorridos por cada uma das associadas
da ABCE serão abrangidos no presente estudo. Sem embargo, com o material
fornecido, foram avaliadas objetivamente a grande maioria dos dispêndios
incorridos pelo setor elétrico, de acordo com os planos de contas que foram
fornecidos por algumas associadas.
Deve-se fazer a ressalva de que não compreende o objeto do presente estudo
uma análise aprofundada das contas contábeis das empresas, de modo que não
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se pode descartar a existência de dispêndios ocultos que poderão ensejar o
aproveitamento dos créditos. Ressaltamos, ainda, que os “insumos” enumerados
no item 3.2 foram descritos pelas associadas.
2. Fatos
A não-cumulatividade foi introduzida na sistemática de apuração do PIS pela
Medida Provisória n.º 66/2002, posteriormente convertida na Lei n.º 10.637/2002.
No caso da COFINS, a não-cumulatividade foi introduzida pela Medida Provisória
n.º 135/2003, convertida na Lei n.º 10.833/03. Essas providências vieram a
atender um antigo reclamo dos contribuintes, que sempre exigiram maior
complacência do Fisco no tocante à contribuição ao PIS e à COFINS, tributos
que, por incidirem sobre o faturamento/receita bruta dos contribuintes, revelam-se
bastante onerosos.
Posteriormente à instituição do PIS/COFINS não-cumulativos pela legislação, foi
promulgada a Emenda Constitucional n.º 42/2003 (“EC 42/03”), que alterou o
artigo 195 da Constituição Federal (“CF/88”), que trata do custeio da seguridade
social. Embora essa Emenda não tenha traçado a não-cumulatividade para o
PIS/COFINS com o mesmo detalhamento aplicado pela CF/88 ao ICMS e ao IPI,
alçou ao nível constitucional a não-cumulatividade das contribuições, exigindo que
o legislador ampliasse o rol de créditos a serem apropriados pelos contribuintes, e
indicando um vetor de interpretação (e aplicação) de toda a legislação
infraconstitucional.
A legislação infraconstitucional atualmente vigente, contudo, não espelha
satisfatoriamente a exigência constitucional. Isso porque as Leis n.ºs 10.637/02 e
10.833/03, com as alterações que lhe foram impostas pela Lei n.º 10.865/04 e
outras, determinam que do valor dos débitos das contribuições a pessoa jurídica
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poderá descontar créditos calculados em relação a alguns custos e despesas
incorridos no exercício de suas atividades. Trata-se de rol bastante diminuto de
possibilidades, que não confere eficácia máxima à não-cumulatividade
Por outro lado, ainda mais restrita é a aplicação que a Receita Federal do Brasil
dá à legislação, tanto via Instruções Normativas quanto em diversas Soluções de
Consulta e Soluções de Divergência, que restringem sobremaneira o campo de
possível creditamento dos contribuintes, sobretudo no tocante ao conceito de
“insumos”.
Felizmente, o posicionamento dos Tribunais administrativo (CARF) e judiciais
(STJ e Tribunais Regionais Federais, com destaque para a 4ª Região) têm
divergido da interpretação da RFB, ao afirmar que a apropriação de créditos de
PIS e COFINS não se restringe aos parâmetros adotados, tendo em vista
peculiaridades dessas contribuições. Nesse contexto, a título de exemplo, as
decisões mais recentes têm considerado que os insumos passíveis de crédito de
PIS e COFINS são bens e serviços essenciais ao fator de produção, mesmo que
não sejam aplicados ou consumidos durante o processo produtivo.
No setor elétrico a questão se torna ainda mais dramática, tendo em vista tratar-
se de setor essencial à economia, tanto pela sua importância na atividade
produtiva, quanto em função da necessidade de seu consumo pela população em
geral. Tais circunstâncias revelam a urgência de se obter uma modicidade
tributária, com vistas à desoneração fiscal da geração, transmissão e distribuição
de energia elétrica.
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3. Análise dos créditos e fundamentação legal
Neste tópico analisamos os principais dispêndios incorridos pelas empresas do
setor. Sempre que necessário, tendo em vista as atividades distintas dos
membros da ABCE, abriremos tópicos específicos para cada segmento (geração,
transmissão e distribuição), para fins de análise da apuração das contribuições
nessas atividades específicas.
Não podemos deixar de mencionar, porém, que a conclusão alcançada nesta
Nota Técnica não assegura que não possa haver divergência de interpretação por
parte da RFB. Contudo, caso haja interpretação divergente da RFB e,
consequentemente, autuação de alguma associada, acreditamos que são boas as
chances de êxito nas esferas administrativa ou judicial.
3.1. Bens adquiridos para revenda
3.1.1. Energia elétrica utilizada para revenda
A energia elétrica adquirida para revenda amolda-se ao item “bens adquiridos
para revenda”, presente nos artigos 3º, incisos I, das Leis n.ºs 10.637/02 e
10.833/03. Ainda que a energia elétrica não seja um bem corpóreo, não há
dúvidas de que a CF/88 deu-lhe tratamento de um bem sujeito ao comércio,
chegando, até mesmo, a equipará-la a “mercadoria” para fins de ICMS.
Por essas razões, o crédito de PIS/COFINS sobre a energia elétrica adquirida
para revenda é legítimo.
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3.1.2. Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica
(Proinfa)1
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa),
conforme descrito no Decreto nº 5.025/2004, foi instituído com o objetivo de
aumentar a participação da energia elétrica produzida por empreendimentos
concebidos com base em fontes eólica, biomassa e pequenas centrais
hidrelétricas (PCH) no Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN).
Para tanto, foi estabelecido que o valor pago pela energia elétrica adquirida, além
dos custos administrativos, financeiros e encargos tributários incorridos pela
Eletrobrás na contratação desses empreendimentos, fossem rateados entre todas
as classes de consumidores finais atendidas pelo SIN, com exceção dos
consumidores classificados na Subclasse Residencial Baixa Renda (consumo
igual ou inferior a 80 kWh/mês).
Nesses termos, o pagamento efetuado pelas empresas a título de PROINFA,
segundo informações, corresponde a uma espécie de “aquisição rateada” de
energia elétrica, que, por sua vez, também é revendida. Dessa forma,
entendemos que também esse dispêndio pode ser enquadrado como “bens
adquiridos para revenda”, nos termos do item anterior. Essa conclusão é,
inclusive, confirmada pela Nota Técnica 554/2006 da ANEEL, que declarou que
estas parcelas se caracterizam como insumos do serviço de distribuição de
energia e, por tal motivo, geram direito ao aproveitamento dos créditos de
PIS/COFINS, quando cobradas de consumidores cativos.
A única ressalva a ser feita se deve às operações realizadas com os
consumidores livres. Isso porque, nas operações em que a concessionária de
1 Com fontes das páginas eletrônicas do ministério de Minas e Energia, ANEEL.
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distribuição ou de transmissão atue apenas como uma espécie de
“transportadora” da energia, em que o consumidor tenha adquirido a energia
diretamente de um terceiro, o dispêndio relacionado ao PROINFA assume a
característica de mero repasse efetuado pela concessionária à ELETROBRÁS,
não assumindo qualquer vinculação com a prestação do serviço de distribuição ou
transmissão. Nesse caso, não seria devido o aproveitamento dos créditos
correspondentes.
3.2. Insumos (bens e serviços utilizados como insumos na produção de
bens e na prestação de serviços)
Os créditos referentes a “insumos” encontram guarida nos artigos 3º, incisos II,
das Leis n.ºs 10.637/02 e 10.833/03, que apontam como creditáveis os dispêndios
referentes a “bens e serviços, utilizados como insumo na prestação de serviços e
na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda, inclusive
combustíveis e lubrificantes”. Atualmente, trata-se do ponto mais polêmico no
tocante ao creditamento das contribuições, sendo objeto de diversos processos
administrativos e judiciais que discutem o alcance dessa expressão.
Com efeito, tais créditos foram regulamentados pela RFB por intermédio das
Instruções Normativas n.ºs 247/2002 e 404/2004, que adotaram critérios bastante
restritivos na definição dos “insumos” sujeitos a creditamento, tomando de
empréstimo, por exemplo, as definições de Matéria-Prima, Produtos
Intermediários e Materiais de Embalagem na definição dos bens passíveis de
creditamento pelas indústrias. Ainda que o termo “insumo” não tenha sido definido
pelas Leis n.ºs 10.637/02 e 10.833/03, restou evidente que as aludidas Instruções
Normativas restringiram indevidamente os termos legais, sobretudo se efetuarmos
uma interpretação de acordo com o princípio da não-cumulatividade previsto na
CF/88.
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Na linha das aludidas INs, a RFB tem emitido diversos pronunciamentos adotando
uma postura bastante restritiva, em clara afronta à legislação e à própria CF/88.
Felizmente, a jurisprudência não vem seguindo a interpretação restritiva adotada
pela RFB. Nesse sentido, a Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF) avaliou
recentemente a questão, em decisão2 unânime que decidiu que o conceito de
“insumos” aplicado pela RFB é ilegal. Esse julgamento tratou de pedido de
créditos de PIS/COFINS de despesas com combustíveis e lubrificantes utilizados
pela frota de veículos e com a remoção de resíduos industriais, em que a CSRF
afastou a aplicação do conceito do IPI na sistemática no PIS/COFINS, ao dar uma
interpretação sistemática às legislações das contribuições.
A decisão considerou que, como os próprios incisos II dos artigos 3º das Leis n.ºs
10.637/02 e 10.833/03 abriam a possibilidade de créditos referentes a dispêndios
com serviços contratados pelo contribuinte, bem como com combustíveis e
lubrificantes, a legislação não acolheu definições próprias do IPI, em que o crédito
de tais despesas seria absolutamente impensável. Além disso, uma vez que os
incisos seguintes do artigo 3º permitem o creditamento de aluguéis de prédios,
máquinas e equipamentos utilizados nas atividades da empresa, máquinas e
equipamentos adquiridos para utilização na fabricação de produtos destinados à
venda, bem como outros bens incorporados ao ativo imobilizado, entendeu a
Corte que o legislador não quis restringir o creditamento das contribuições às
2 “CRÉDITO. RESSARCIMENTO. A inclusão no conceito de insumos das despesas com serviços contratados pela pessoa jurídica e com as aquisições de combustíveis e de lubrificantes, denota que o legislador não quis restringir o creditamento do PIS/Pasep. As aquisições de matérias-primas, produtos intermediários e ou material de embalagens (alcance de insumos na legislação do IPI) utilizados, diretamente, na produção industrial, ao contrário, ampliou de modo a considerar insumos como sendo os gastos gerais que a pessoa jurídica precisa incorrer na produção de bens ou serviços por ela realizada. Recurso negado” (Processo 11065.101271/2006-47, rel. Cons. HENRIQUE PINHEIRO TORRES, Acórdão 9303-01.035, julgado em 23/08/2010).
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aquisições de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de
embalagens, que representam o alcance de “insumos” na legislação do IPI.
Em outro julgamento3, a CSRF analisou pedido de ressarcimento de créditos de
PIS/COFINS apresentado por uma agroindústria, com despesas com uniformes
obrigatórios e água utilizada na lavagem e congelamento dos produtos. Na
análise do caso, a CSRF houve por bem afastar os conceitos das legislações do
IPI e do IRPJ, entendendo que o conceito previsto nas leis que instituem o
PIS/COFINS são autoaplicáveis, não carecendo de complementação. Além disso,
a CSRF entendeu que os uniformes são de utilização obrigatória por lei, sob pena
de paralisação da atividade da empresa pela ANVISA, do que resulta clara a sua
indispensabilidade e essencialidade no processo produtivo, o que os enquadra
como insumos passíveis de creditamento.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) também tem se manifestado contrariamente
à posição da RFB quanto ao conceito de “insumos”, como se verifica em
julgamentos recentes.
No primeiro caso4, já definido, o STJ concede interpretação extensiva para o
conceito de insumos, em caso tratando de créditos sobre embalagens de
acondicionamento, utilizadas para a preservação das características dos bens 3 Processos 13053.000112/2005-18 e 13053.000211/2006-72, rel. Cons. HENRIQUE PINHEIRO TORRES, julgado em 09/11/2011, acórdão ainda pendente de formalização. 4 “PROCESSUAL CIVIL - TRIBUTÁRIO - PIS/COFINS - NÃO CUMULATIVIDADE - INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA - POSSIBILIDADE - EMBALAGENS DE ACONDICIONAMENTO DESTINADAS A PRESERVAR AS CARACTERÍSTICAS DOS BENS DURANTE O TRANSPORTE, QUANDO O VENDEDOR ARCAR COM ESTE CUSTO - É INSUMO NOS TERMOS DO ART. 3º, II, DAS LEIS N. 10.637/2002 E 10.833/2003. 1. Hipótese de aplicação de interpretação extensiva de que resulta a simples inclusão de situação fática em hipótese legalmente prevista, que não ofende a legalidade estrita. Precedentes. 2. As embalagens de acondicionamento, utilizadas para a preservação das características dos bens durante o transporte, deverão ser consideradas como insumos nos termos definidos no art. 3º, II, das Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003 sempre que a operação de venda incluir o transporte das mercadorias e o vendedor arque com estes custos. Agravo regimental improvido” (Segunda Turma, AgRg no REsp 1125253/SC, rel. Min. HUMBERTO MARTINS, julgado em 15/04/2010, DJe de 27/04/2010).
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durante o transporte. No caso, o STJ declarou que os “insumos” devem ser
considerados todas as despesas essenciais ao funcionamento e/ou manutenção
do fator de produção, afastando-se a aplicação de conceitos da legislação do IPI.
Entretanto, ao menos nesse julgamento, em nenhum momento o STJ direciona
seu posicionamento à aplicação ampla e irrestrita da legislação do IRPJ na
apuração do PIS/COFINS não-cumulativo.
Já no segundo caso5, que conta com votos favoráveis do Ministro Mauro
Campbell e de mais dois Ministros da Turma (que é formada por cinco julgadores
– atualmente se aguarda pedido de vista do Ministro Herman Benjamin), discute-
se o direito do contribuinte, fabricante de produtos alimentícios, de ver
assegurado o aproveitamento de créditos provenientes de gastos com materiais
de limpeza, desinfecção e serviços de dedetização usados no ambiente produtivo.
Em seu voto (ainda pendente de revisão), o Min. Campbell afastou a aplicação do
conceito de “insumo” da IN/RFB n.º 404/04, sem defender a aplicação direta do
conceito de custos e despesas da legislação do IRPJ. Para ele, a utilização ampla
e irrestrita da legislação do IRPJ encontra óbice no excessivo alargamento do
conceito de “insumos”, ao equipará-lo ao conceito contábil de “custos e despesas
operacionais”, que abarca todos os custos e despesas que contribuem para a
produção de uma empresa.
Dessa forma, atesta o voto do Min. Campbell que não se trata de desonerar a
cadeia produtiva ou o produtor, mas o processo produtivo de determinado
produtor ou a atividade-fim de determinado prestador de serviço. Desse modo,
ainda que afastando os conceitos do IPI, entende que o PIS/COFINS não deve
adotar as mesmas bases que o IRPJ e a CSLL, devendo o conceito de “insumos”
fiar-se em quatro orientações:
5 Segunda Turma, REsp 1246317, rel. Min. MAURO CAMPBELL MARQUES.
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� O bem ou serviço deve ter sido adquirido para ser utilizado na prestação do
serviço ou na produção, ou ainda para viabilizá-los (pertinência ao
processo produtivo);
� A produção ou prestação do serviço deve depender daquela aquisição
(essencialidade ao processo produtivo, não ao produto ou serviço em si);
� Não se faz necessário o consumo do bem ou a prestação do serviço em
contato direto com o produto (possibilidade de emprego indireto no
processo produtivo);
� Conceito de “essencialidade”: é preciso que a subtração do bem ou serviço
importe na impossibilidade mesma da prestação do serviço ou da
produção, isto é, obste a atividade da empresa, ou implique em substancial
perda de qualidade do produto ou serviço daí resultante.
Por tudo isso, a nossa análise parte das conclusões que vêm sendo adotadas
pela jurisprudência nos casos envolvendo a definição de “insumos”, adaptando-
as, evidentemente, às atividades exercidas pelas associadas da ABCE, de acordo
com o setor.
Nesse prisma, entendemos que a atividade de geração de energia poderá ser
equiparada à produção de bens para venda, ou seja, à atividade industrial, tendo
em vista a obtenção de novos bens a partir da atividade operacional das
geradoras.
Já as atividade de distribuição e transmissão de energia elétrica caracterizam-se
como autênticas prestações de serviços, o que é reconhecido pela própria RFB
no caso da distribuição (vide SC COSIT 27/2008, abaixo citada). Nesse caso,
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embora as decisões do CARF e do STJ que trataram do assunto se voltam a
empresas industriais, podemos entender o “processo produtivo” das distribuidoras
como todas as atividades por ela exercidas, desde a aquisição da energia elétrica
até sua efetiva entrega ao consumidor, entrega esta que deve estar a contento
dos usuários. Além disso, tendo em vista as exigências da ANEEL, todo o
atendimento que é prestado aos consumidores e usuários deve estar
compreendido como inerente às suas atividades.
Com relação às transmissoras, entendemos que seu “processo produtivo”
engloba todas as etapas inerentes ao processo de transportar energia entre dois
pontos, o que é realizado por linhas de transmissão de alta potência, geralmente
usando corrente alternada, que de uma forma mais simples conecta uma usina ao
consumidor.
Postas essas considerações, vejamos as contas relacionadas a “insumos”
apresentadas à análise.
3.2.1. Sistemas de refrigeração – Materiais e serviços de manutenção
Trata-se de dispêndio com a aquisição de partes e peças a serem utilizados nos
sistemas de refrigeração, bem como serviços de manutenção de tais
equipamentos.
No caso das empresas geradoras, tais equipamentos são utilizados diretamente
na usina, ou seja, na produção de energia elétrica, pois se prestam à refrigeração
dos equipamentos de geração, computadores, parte elétrica da turbina etc. Já no
caso das transmissoras, tais equipamentos são geralmente utilizados na sala de
controle da transmissão na subestação, que tem equipamentos que devem
necessariamente ser refrigerados.
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A posição da Receita Federal quanto ao assunto foi pacificada pelas Soluções de
Divergência n.ºs 12/07 e 14/07, nos seguintes termos:
“SOLUÇÃO DE DIVERGÊNCIA nº 12/2007 - Coordenação-Geral do Sistema
de Tributação – COSIT
Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Não se consideram insumos, para fins e desconto de créditos da Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS, materiais de limpeza
de equipamentos e máquinas, graxas, pinos, tarraxas e ferramentas. Os
créditos calculados sobre a aquisição de peças de reposição utilizadas nas
máquinas e equipamentos, que efetivamente respondam pela fabricação
dos bens ou produtos destinados à venda, desde que não façam parte
do ativo imobilizado, podem ser utilizados para desconto da Contribuição
para o Financiamento da Seguridade Social – COFINS. (...).” (g.n.)
“Solução de Divergência nº 14/07 - Coordenação-Geral do Sistema de
Tributação – COSIT
Assunto: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
Ementa: Crédito presumido da Cofins. Partes e peças de reposição e serviços
de manutenção. As despesas efetuadas com a aquisição de partes e
peças de reposição e com serviços de manutenção em veículos,
máquinas e equipamentos empregados diretamente na prestação de
serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à
venda, pagas à pessoa jurídica domiciliada no País, a partir de 1º de fevereiro
de 2004, geram direito a créditos a serem descontados da Cofins, desde
que às partes e peças de reposição não estejam incluídas no ativo
imobilizado. (...).”
Dessa forma, com base nas Soluções de Divergência acima, o Fisco uniformizou
o seu entendimento no seguinte de que o crédito sobre as partes e peças de
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máquinas fica condicionado ao emprego direto no processo produtivo, mas não
necessariamente no produto em fabricação, critério menos restrito que o
determinado pelas Instruções Normativas n.ºs 404/04 e 247/02.
Logo, tendo em vista que os dispêndios em análise são vinculados diretamente à
geração de energia elétrica, entendemos que poderão ser objeto de creditamento
de PIS/COFINS, caso não correspondam a ativo imobilizado das empresas, ou
seja, tenham valor de até R$ 326,60, e não aumentem a vida útil do bem em mais
de um ano. Caso preencham esses dois requisitos, os dispêndios
correspondentes devem ser capitalizados (ativo), para servirem de base a
depreciações futuras para apropriação dos créditos. Caso contrário, ao ser
considerado como insumo, o crédito poderá ser feito no momento da aquisição
dos bens ou serviços utilizados na produção ou na prestação de serviços.
Na prática, entendemos que as partes e peças de reposição, de modo geral, não
aumentam a vida útil dos bens, justamente por se tratar de mera reposição de
algo que já estava em funcionamento. Tais insumos são destinados, portanto, não
a aumentar a vida útil do bem, mas evitar que a vida útil estimada seja abreviada.
Por tudo isso, caso respeitem os limites impostos, poderão ensejar o crédito
integral e imediato, a título de “insumos”. Caso esses limites não sejam
respeitados, a empresa deverá incluir os dispêndios em seu ativo, promovendo os
créditos de acordo com os prazos de depreciação.
Por outro lado, a RFB vem impedindo o crédito sobre partes e peças de máquinas
que, mesmo não sendo classificadas como ativo imobilizado, sejam utilizadas
indiretamente no processo produtivo, tal como no caso dos materiais de limpeza
de equipamentos e máquinas, graxas, pinos, tarraxas e ferramentas, conforme
exposto pela própria SD n.º 12/07. Esse posicionamento tende a ser relativizado,
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de acordo com os entendimentos mais recentes do CARF apontados acima6,
razão pela qual somos favoráveis ao crédito correspondente.
Com relação à manutenção em si dos equipamentos de refrigeração, entendemos
que tais serviços estão diretamente relacionados à geração de energia elétrica,
razão pela qual se enquadram no conceito de “insumos”.
3.2.2. Materiais e serviços de manutenção dos sistemas elétricos
Trata-se de dispêndio com a aquisição de partes e peças a serem utilizados no
sistema elétrico da empresa, diretamente na geração ou na transmissão de
energia elétrica, bem como na prestação de serviços na manutenção dos mesmos
sistemas.
Com relação a tais dispêndios, também entendemos que poderão dar ensejo ao
aproveitamento de créditos das contribuições, desde que, com relação às partes e
peças, não devam ser incluídos no “ativo imobilizado”.
3.2.3. Combustíveis e lubrificantes
Trata-se dos seguintes dispêndios:
- combustíveis utilizados em veículos próprios das associadas em poder de
terceiros (basicamente, prestadores de serviços de manutenção), utilizados por
6 Sobre o tema, merece destaque a seguinte decisão do CARF: “(...) REGIME NÃO CUMULATIVO. INSUMOS. MATERIAIS PARA MANUTENÇÃO DE MÁQUINAS. O conceito de insumo dentro da sistemática de apuração de créditos pela não cumulatividade de PIS e Cofins deve ser entendido como toda e qualquer custo ou despesa necessária a atividade da empresa, nos termos da legislação do IRPJ, não devendo ser utilizado o conceito trazido pela legislação do IPI, uma vez que a materialidade de tal tributo é distinta da materialidade das contribuições em apreço (...) ” (Processo n° 11020.001952/2006-22, Acórdão n.º 3202-00.226, rel. Cons. GILBERTO DE CASTRO MOREIRA JÚNIOR, julgado em 08/12/2010).
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eles (terceiros) dentro da área de produção. Tais veículos são utilizados na
manutenção dos equipamentos utilizados na geração de energia, sendo apenas
de forma minoritária aplicados em questões relacionadas à área administrativa
(embora estejam lotados na área operacional).
- combustíveis e lubrificantes utilizados em equipamentos automotivos (tratores,
empilhadeiras, carregadoras, guinchos etc., que servem para carregar
equipamentos, parte e peças ligados à geração de energia elétrica.
- combustíveis e lubrificantes consumidos nos equipamentos destinados
diretamente à geração de energia elétrica;
- combustíveis e lubrificantes consumidos em veículos (próprios ou alugados)
utilizados na área operacional da empresa, ou seja, diretamente ligados à
geração de energia elétrica;
- combustíveis e lubrificantes utilizados em caminhões com guincho e outros
equipamentos, que servem para a manutenção das redes de transmissão.
Tendo em vista que os combustíveis e lubrificantes estão relacionados às
atividades de geração e transmissão de energia, direta ou indiretamente, bem
como que o item da legislação que trata dos insumos aponta expressamente os
dispêndios com “combustíveis” e “lubrificantes” como passíveis de creditamento,
entendemos que os valores inseridos nessa conta podem ser creditados.
Por outro lado, caso em contas semelhantes existam combustíveis e lubrificantes
consumidos em veículos ligados à área administrativa, entendemos que os
dispêndios correspondentes não poderão ser creditados.
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No caso das distribuidoras, existem gastos relativos a combustíveis destinados
aos veículos da empresa, empenhados no corte, religação, manutenção de
medidores e linhas de distribuição. Nesse caso, entendemos que os combustíveis
são efetivamente empregados na prestação de serviços de distribuição de energia
elétrica, pois são essenciais ao atendimento a contento dos consumidores.
3.2.4. Combustíveis e lubrificantes utilizados em veículos de terceiros
São registrados neste código os gastos relativos a combustíveis destinados aos
veículos de terceiros que prestam serviços às empresas. Nesses casos,
entendemos ser mais dificultosa a aceitação dos créditos, na medida em que a
relação com as atividades das associadas é mais distante.
3.2.5. Compra de água clarificada UEGARC
Dentro da produção gerada por gás natural (em Araucária), existe a necessidade
de usar água clarificada para produzir energia elétrica. Nesse caso, a água é
aplicada diretamente na produção da energia elétrica, o que lhe confere o
indubitável caráter de “insumo” aplicado na atividade da empresa.
A própria RFB, por intermédio da SC 88/2009, permite o crédito quando água é
aplicada no produto ou, sem incorporar-se ao produto, perde suas propriedades
físicas ou químicas, o que é o caso.
3.2.6. Encargos do Uso do Sistema Transmissão
Em apertada síntese, os encargos do uso do sistema de transmissão
correspondem aos custos de transmissão de energia devidos aos agentes de
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transmissão, decorrentes do transporte da energia elétrica entre o ponto de
geração e o ponto de consumo. A Apuração Mensal dos Serviços e Encargos de
Transmissão (AMSE) envolve, basicamente, os cálculos dos valores mensais das
receitas dos prestadores do serviço de transmissão (Agentes de Transmissão e
ONS) e os encargos de uso do sistema de transmissão a serem cobrados de
cada Usuário.
Com efeito, a legislação do PIS/COFINS permite o crédito dos dispêndios
relacionados à aquisição de bens e serviços aplicados ou consumidos na
produção de outros bens e na prestação de serviços. Desse modo, os valores
pagos pelas empresas a título de encargos do uso de sistema de transmissão,
desde que correspondam à contraprestação pelo serviço de utilização das redes,
dará direito a crédito das contribuições como “insumos”. Essa, inclusive, é a
orientação manifestada pela RFB, por intermédio da Coordenação Geral de
Tributação (COSIT):
“SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 27 de 09 de Setembro de 2008
ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
EMENTA: ATIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.
REGIME DE APURAÇÃO NÃO CUMULATIVA. DESCONTO DE CRÉDITOS.
A atividade de distribuição de energia elétrica pode ser entendida como
prestação de serviço. Para fins de desconto de créditos da Cofins, no regime
de apuração nãocumulativa, considera-se insumo na atividade de distribuição
de energia elétrica: I) o encargo de uso do Sistema de Transmissão,
deduzidas as parcelas não correlacionadas com prestação de serviço; II) o
encargo de Uso do Sistema de Distribuição, deduzidas as parcelas não
correlacionadas com prestação de serviço; III) o encargo decorrente do
Contrato de Conexão ao Sistema de Transmissão (CCT); IV) o Encargo de
Serviços do Sistema (ESS). Adicionalmente, dão direito ao desconto de
créditos da Cofins, no regime de apuração não cumulativa, na atividade de
distribuição de energia elétrica: I) os gastos com materiais aplicados ou
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
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consumidos na atividade de fornecimento de energia elétrica, desde que não
estejam, nem tenham sido incluídos, no ativo imobilizado; II) os encargos de
depreciação de máquinas, equipamentos e outros bens do ativo imobilizado,
observado o art. 31 da Lei nº 10.865, de 30/04/2004. (...)”.
Por outro lado, o modelo de contrato do uso de transmissão (CUST) veiculado
pela ANEEL7, ao desmembrar as parcelas que compõem os encargos devidos
pelos usuários, informa o seguinte:
“a. Pagamento às CONCESSIONÁRIAS DE TRANSMISSÃO pela prestação
dos SERVIÇOS DE TRANSMISSÃO, mediante controle e supervisão do
ONS, especificados nos CONTRATOS DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE
TRANSMISSÃO - CPST;
b. Pagamento ao ONS pelos serviços por ele prestados, conforme definidos
na Cláusula 2ª deste CONTRATO;
c. Pagamento às CONCESSIONÁRIAS DE TRANSMISSÃO por eventuais
ultrapassagens do MONTANTE DE USO contratado;
d. Pagamento às CONCESSIONÁRIAS DE TRANSMISSÃO por eventuais
SOBRECARGAS em suas instalações e equipamentos” (grifamos).
Já no caso específico dos distribuidores, as seguintes parcelas são agregadas:
“e. Pagamento por eventuais reduções onerosas dos MONTANTES DE USO
contratados.
f. Recolhimento à CONCESSIONÁRIA DE TRANSMISSÃO à qual está
conectada das quotas de rateio da Conta de Consumo de Combustíveis
Fósseis – CCC e da Conta de Desenvolvimento Energético – CDE e das
quotas de custeio do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de
Energia Elétrica – PROINFA.
7 In http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/audiencia/arquivo/2011/004/documento/anexo_3_cust_audi%C3%AAncia_publica_04_2011.pdf. Acesso em 06/11/2012.
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
20
g. Pagamento da parcela de ineficiência por sobrecontratação, esta apurada
mensalmente e paga anualmente.”
Com relação às parcelas “a” e “b”, não restam dúvidas que se tratam de
contraprestação pela prestação de serviços. Já com relação às parcelas “c” e “d”,
aparentemente, tratam-se de cláusulas penais pela ultrapassagem ou sobrecarga
no uso das redes de transmissão, o que aproxima tais rubricas de verdadeiras
multas contratuais.
No entanto, não se trata de penalidades por descumprimento de prazos ou outras
condições contratuais estranhas ao objeto principal da contratação, mas
intimamente ligadas à própria prestação de serviços, razão pela qual entendemos
que, diferentemente da RFB, o montante total pago a título de encargos do uso do
sistema de transmissão poderão ser objeto de creditamento de PIS e COFINS.
Já no tocante às parcelas arcadas exclusivamente pelas distribuidoras,
entendemos que os itens “e” e “g” caracterizam-se por verdadeiras cláusulas
penais, razão pela qual não seria possível o creditamento correspondente. Com
relação às rubricas integrantes do item “f”, entendemos que se trata de encargos
voltados ao setor (CCC e CDE), e não exatamente de serviços fornecidos ao
contratante, o que as aproximam de contribuições de intervenção no domínio
econômico (CIDEs), não exatamente de pagamento pela prestação de serviços.
Por esta razão, não são passíveis de creditamento.
3.2.7. Telecomunicação – manutenção do sistema
As usinas podem ser operadas pelos responsáveis técnicos lotados nas sedes
das empresas, não pelos funcionários presentes nas próprias usinas. Para tanto,
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
21
a associadas incorrem em dispêndios com sofisticada rede de telecomunicações,
sem a qual a geração de energia elétrica restaria inviabilizada.
Dessa forma, existe uma relação direta entre o dispêndio e a geração de energia
elétrica, o que torna essenciais os gastos com serviços de manutenção do
sistema de telecomunicações, tornando-os aptos a compor a base de créditos de
PIS/COFINS.
3.2.8. Materiais e serviços de manutenção, reforma e conservação das
unidades operativas (inclusive linhas e redes de distribuição)
São registrados neste código, exclusivamente, os gastos gerais relativos a
materiais e serviços destinados à manutenção, reforma e conservação das
unidades operativas, inclusive linhas e redes de distribuição.
Tais despesas se amoldam ao conceito de “insumos” para fins de créditos de
PIS/COFINS, desde que os materiais não devam ser registrados no ativo. Essa
possibilidade de créditos, no caso das distribuidoras, foi confirmada pela RFB,
conforme a SC COSIT n.º 27/2008, embora haja posicionamento da RFB em
sentido contrário8.
8 Conforme posição da 3ª Região Fiscal: SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 10 de 08 de Junho de 2011 ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins EMENTA: DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA. CRÉDITOS. INSUMOS. A atividade de distribuição de energia elétrica é considerada, para fins tributários, como comercialização de bem. Não se classificam como insumos, para fins de apuração de créditos de Cofins, nos termos do inciso II do art. 3º da Lei nº 10.833, de 2003, os bens e serviços, adquiridos de terceiros, consumidos na manutenção de subestações e redes e linhas de distribuição de energia elétrica, bem como os serviços de emergência no atendimento a consumidor. Consideram-se insumos, para fins de apuração de créditos da Contribuição para o PIS/Pasep não cumulativa, os bens e serviços adquiridos de pessoas jurídicas, utilizados na prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda. No caso de bens, para que estes possam ser considerados insumos, é necessário que sejam consumidos ou sofram desgaste, dano ou perda de propriedades físicas ou químicas em função da ação diretamente exercida sobre o serviço que está sendo prestado ou sobre o bem ou produto que está sendo fabricado.
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
22
3.2.9. Materiais e serviços de limpeza das unidades operativas (inclusive
linhas e redes de distribuição)
São registrados neste código, exclusivamente, os gastos gerais relativos a
materiais e serviços destinados à limpeza das unidades operativas (inclusive
linhas e redes de distribuição). Ainda que se trate de dispêndios na área
operativa, entendemos que não necessariamente ensejarão o aproveitamento de
créditos das contribuições.
Vale lembrar que as decisões do CARF e do STJ que se manifestaram de acordo
com o creditamento de despesas com limpeza tratavam de casos de indústrias do
ramo alimentício, no qual a assepsia do ambiente produtivo resulta de exigência
da vigilância sanitária. Desse modo, caso as associadas entendam que existam
dispêndios com limpeza relacionados ao seu processo produtivo (sobretudo no
tocante às linhas e redes de distribuição), recomendamos que seja apresentada
consulta formal à RFB.
3.2.10. Materiais de manutenção, reforma, limpeza e conservação das
unidades administrativas (geral)
São registrados neste código, exclusivamente, os gastos relativos a materiais de
manutenção, reforma, limpeza e conservação das dependências da administração
das empresas. Tendo em vista tratar-se de dispêndios não vinculados
diretamente à atividade de distribuição da energia elétrica, segundo a própria
informação da empresa, mas à área administrativa, entendemos que não podem
ser enquadrados como “insumos”.
3.2.11. Materiais de manutenção e conservação de transformadores
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
23
São registrados neste código os gastos com materiais destinados à manutenção e
conservação de transformadores. Nesse caso, entendemos que tais despesas
podem ser incluídas no conceito de “insumos”, desde que respeitem os limites
para que não sejam considerados bens do ativo imobilizado (vide item 3.2.1).
Essa possibilidade de créditos, no caso das distribuidoras, foi confirmada pela
RFB, conforme a SC COSIT n.º 27/2008.
3.2.12. Materiais de oficinas eletromecânicas
São registrados neste código os gastos relativos a materiais destinados a manter
as oficinas eletromecânicas em operação. Embora alguns dispêndios
relacionados a essa conta possam encontrar óbice da RFB, entendemos que,
tendo em vista sua essencialidade na prestação dos serviços de distribuição,
poderão ensejar créditos de PIS/COFINS.
3.2.13. Materiais – laboratório de análise de equipamentos
São registrados neste código os gastos relativos a materiais destinados a manter
o laboratório de análise de equipamentos em operação. Com relação a este item,
entendemos que os dispêndios correspondentes se voltam à própria manutenção
dos equipamentos, o que enseja o aproveitamento de créditos de PIS/COFINS,
por tratar-se de equipamentos que, segundo informações das associadas,
relacionam-se diretamente à distribuição de energia elétrica.
3.2.14. Materiais de telecomunicação, telecontrole e teleprocessamento
São registrados neste código os gastos relativos a materiais destinados a manter
em operação os sistemas de telecomunicação, telecontrole e teleprocessamento,
bem como aos serviços prestados por terceiros (custo do 0800 – pagamento à
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
24
EMBRATEL). Trata-se de dispêndio exigido pela ANEEL para o atendimento aos
consumidores, tais como ligações novas, reclamações etc.
Tendo em vista a premissa firmada quanto ao “processo produtivo” da prestação
de serviços de distribuição de energia elétrica, entendemos que tais dispêndios se
amoldam ao conceito de “insumos” passíveis de créditos de PIS e COFINS.
3.2.15. Materiais e mão-de-obra terceirizada - operação veraneio
São registrados neste código os gastos relativos a materiais e serviços
(eletricistas, atendentes, recepcionistas, etc.) destinados à operação veraneio.
Essa operação ocorre nos meses da baixa primavera e verão, em que a
população flutuante de cidades litorâneas, mais ocupadas nos meses de férias,
aumenta consideravelmente, em função da grande quantidade de turistas ali
presentes. Essa circunstância causa a necessidade de providências da empresa
relacionadas ao aumento abrupto do consumo de energia elétrica, inclusive a
aquisição de materiais.
Dessa forma, desde que se tratem exclusivamente de despesas diretamente
ligadas à atividade de distribuição de energia elétrica, entendemos que poderão
ser consideradas como insumo. Caso existam também despesas de natureza
administrativas (pessoal ou material vinculados à administração), entendemos
que não deverão fazer parte da base dos créditos das contribuições.
3.2.16. Serviços de manutenção e conservação de transformadores e
equipamentos especiais de distribuição
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços prestados por
terceiros na manutenção e conservação de transformadores e equipamentos
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
25
especiais de distribuição, efetuados em oficinas contratadas pela empresa ou nas
próprias instalações das empresas.
Tendo em vista tratar-se de serviços ligados à prestação dos serviços de
distribuição de energia elétrica, entendemos que poderão ser passíveis de
creditamento.
3.2.17. Serviços de fiscalização, manutenção, limpeza, calibração e leitura de
medidores
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços prestados por
terceiros para fiscalizar unidades consumidoras (medidores), bem como na
manutenção, limpeza, calibração e leitura dos medidores.
Nesse ponto, tendo em vista que os medidores são imprescindíveis ao exercício
da atividade de distribuição de energia elétrica, entendemos que esses dispêndios
são essenciais, razão pela qual poderão compor a base de créditos de
PIS/COFINS.
3.2.18. Serviços de entrega e cobrança de notas fiscais de energia elétrica
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços prestados por
terceiros na entrega e na cobrança das notas fiscais de energia elétrica. Nesse
caso, embora relevantes à atividade, entendemos que as despesas são
relacionadas exclusivamente à cobrança pelos serviços, não à sua prestação em
si. Por essa razão, não recomendamos o aproveitamento de créditos de
PIS/COFINS.
3.2.19. Serviços de roçada e limpeza de faixa de servidão
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
26
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços prestados por
terceiros na execução de roçada e limpeza de faixa de servidão, sob a forma de
empreitada. Trata-se de servidões em que são alocados os postes utilizados nas
redes de distribuição.
Tendo em vista sua ligação direta com a atividade de distribuição de energia
elétrica, entendemos que se encaixam no conceito de “insumos” para fins de
créditos de PIS/COFINS.
3.2.20. Serviços de corte e religação
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços prestados por
terceiros de corte e religação dos consumidores, incluindo a retirada de
medidores.
Nesse caso, considerando que a prestação de serviços de energia elétrica é
essencial e que existe uma relação perene entre consumidores e distribuidores,
os cortes e religações podem ser entendidos como tarefas inerentes à prestação
de serviços, ainda que ensejem interrupções ou retomadas de consumo. Por
conta disso, entendemos que tais dispêndios poderão ensejar o aproveitamento
de créditos de PIS e COFINS, sobretudo nos casos em que se tratar de cortes e
religações em função de mudanças de endereço dos consumidores (quanto aos
demais casos, entendemos também ser possível, mas o risco é um pouco maior).
3.2.21. Serviços de teleatendimento - call center
São registrados nesta Classe de Custo os gastos com serviços de
teleatendimento, realizados no call center da empresa por empresa terceirizada.
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
27
Não se trata de call center destinados à venda de serviços, mas às solicitações de
novas ligações e emergências solicitadas pelos clientes (que usam o serviço).
Por conta disso, por se tratar de pagamento pela prestação de serviços inerentes
às atividades da distribuidora, entendemos que tais dispêndios podem compor a
base de créditos de PIS/COFINS.
3.2.22. Serviços de frete - pessoa jurídica
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços de frete prestados
por terceiros (exclusivamente pessoa jurídica), no transporte de materiais
aplicados na manutenção das redes de distribuição.
Entendemos que o frete deve integrar o custo de aquisição dos materiais
adquiridos, o que permite que sejam creditados como insumos ou ativo
imobilizado, dependendo das condições já apresentadas.
3.2.23. Mão-de-obra contratada - pessoa jurídica
São registrados neste código os gastos relativos aos serviços prestados por
terceiros, exclusivamente pessoas jurídicas. No caso dessa conta, entendemos
que ensejarão direito a crédito somente os dispêndios relacionados diretamente à
atividade de distribuição de energia elétrica, o que poderá ocorrer no caso de
contratação de engenheiro, topógrafo, eletricista etc., dependendo da função a
ser desempenhada.
3.2.24. Despesas financeiras
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
28
Embora a contratação da instituição financeira seja imprescindível para a maioria
das empresas, a tomada de créditos de despesas financeiras ficou prejudicada
com o advento da Lei n.º 10.865/04, que alterou a redação dos incisos V dos §§
3º do arts. 3º das Leis n.º 10.637/02 e 10.833/03, que passaram a não mais
prever a possibilidade desse creditamento. Além disso, a Lei n.º 10.865/04 passou
a prever, em seu art. 27, que o Poder Executivo poderá autorizar o desconto de
crédito relativamente às despesas financeiras, o que, até o momento, não foi feito.
Essa circunstância torna o crédito, ao menos pelo ponto de vista estritamente
legal, não aproveitável, ante a falta de regulamentação do tema pelo Governo
Federal (talvez propositadamente). Confira-se:
“Art. 27. O Poder Executivo poderá autorizar o desconto de crédito nos
percentuais que estabelecer e para os fins referidos no art. 3o das Leis nos
10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de dezembro de
2003, relativamente às despesas financeiras decorrentes de empréstimos
e financiamentos, inclusive pagos ou creditados a residentes ou
domiciliados no exterior.
§ 1º Poderão ser estabelecidos percentuais diferenciados no caso de
pagamentos ou créditos a residentes ou domiciliados em país com
tributação favorecida ou com sigilo societário.
§ 2º O Poder Executivo poderá, também, reduzir e restabelecer, até os
percentuais de que tratam os incisos I e II do caput do art. 8o desta Lei, as
alíquotas da contribuição para o PIS/PASEP e da COFINS incidentes
sobre as receitas financeiras auferidas pelas pessoas jurídicas sujeitas ao
regime de não-cumulatividade das referidas contribuições, nas hipóteses
que fixar.”
Sendo assim, ante a disposição especial limitando o creditamento das despesas
financeiras, entendemos que sua inclusão na cláusula geral de insumos não é
devida, o que impossibilita a apropriação dos créditos correspondentes.
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
29
3.2.25. Serviços contratados para implantação MCPSE
São registrados neste código os gastos relativos a Serviços Contatados para
Implantação do MCPSE (Manual de Controle Patrimonial do Setor Elétrico).
Nesse caso, as empresas tiveram que contratar empresa para a implantação no
sistema exigido pela ANEEL, envolvendo as áreas de engenharia, comercial
contabilidade, o que incluiu a adequação do seu sistema, treinamentos etc.
Tendo em vista que o MCPSE não está vinculado diretamente às atividades das
associadas, voltando-se mais à sua administração, entendemos que os
montantes despendidos nesta conta não são passíveis de creditamento.
3.2.26. Serviços de atendimento presencial
São registrados neste código os gastos relativos a Serviços Contratados para
Atendimento Presencial, em atendimento à Resolução ANEEL n.º 414/2010.
Neste caso, para cidades com mais de 3000 habitantes, a distribuidora é obrigada
a adotar atendimento presencial (comercial e operacional).
Tendo em vista que esses dispêndios estão vinculados ao atendimento dos
consumidores na prestação dos serviços de distribuição, entendemos que são
passíveis de aproveitamento, eis que se inserem no conceito de “insumos” da
atividade.
3.2.27. Serviços de fornecimento de combustível
São registrados neste código os gastos relativos a aquisição de combustível para
os veículos da empresa (atividade operacional). Trata-se de despesa com a
contratação de empresa que fornece cartão para a aquisição dos combustíveis
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
30
(semelhante a um vale refeição), que é paga de acordo com a utilização
(funcionário abastece automóvel da empresa via cartão e depois esta paga à
fornecedora o valor do combustível e 1% de taxa).
Tendo em vista que o serviço viabiliza a aquisição de combustíveis, entendemos
que tais dispêndios são passíveis de creditamento, desde que se possa separar o
que é efetivamente aplicado na área operacional.
3.2.28. Outros insumos
Com relação a outros possíveis insumos, registramos novamente a SC COSIT n.º
27/2008, destinada às atividades das distribuidoras, nos seguintes termos:
“SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 27 de 09 de Setembro de 2008
ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social - Cofins
EMENTA: ATIVIDADE DE DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA.
REGIME DE APURAÇÃO NÃO CUMULATIVA. DESCONTO DE CRÉDITOS.
A atividade de distribuição de energia elétrica pode ser entendida como
prestação de serviço. Para fins de desconto de créditos da Cofins, no regime
de apuração nãocumulativa, considera-se insumo na atividade de distribuição
de energia elétrica: I) o encargo de uso do Sistema de Transmissão,
deduzidas as parcelas não correlacionadas com prestação de serviço; II) o
encargo de Uso do Sistema de Distribuição, deduzidas as parcelas não
correlacionadas com prestação de serviço; III) o encargo decorrente do
Contrato de Conexão ao Sistema de Transmissão (CCT); IV) o Encargo de
Serviços do Sistema (ESS). Adicionalmente, dão direito ao desconto de
créditos da Cofins, no regime de apuração não cumulativa, na atividade de
distribuição de energia elétrica: I) os gastos com materiais aplicados ou
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
31
consumidos na atividade de fornecimento de energia elétrica, desde que não
estejam, nem tenham sido incluídos, no ativo imobilizado; II) os encargos de
depreciação de máquinas, equipamentos e outros bens do ativo imobilizado,
observado o art. 31 da Lei nº 10.865, de 30/04/2004. Não se considera
insumo na atividade de distribuição de energia elétrica, não concedendo
direito a desconto de créditos da Cofins, no regime de apuração não
cumulativa: I) a quota da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC); II) a
quota da Reserva Global de Reversão (RGR); III) os gastos a serem
destinados à Conta de desenvolvimento Energético (CDE).”
Essa SC COSIT confirma a possibilidade de aproveitamento de créditos em
algumas despesas objeto desta Nota Técnica, bem como veda o creditamento
dos dispêndios com alguns encargos setoriais. Neste caso, entendemos que
alguns encargos deverão ser excluídos da base de cálculo das contribuições, não
compondo sua receita, ao invés de aproveitados como créditos.
3.3. Energia elétrica e energia térmica, inclusive sob a forma de vapor,
consumidas nos estabelecimentos da pessoa jurídica
Trata-se esse ponto dos dispêndios incorridos pelas empresas com energia
elétrica e energia térmica, inclusive sob a forma de vapor, consumidas nos
estabelecimentos da pessoa jurídica, nos termos do artigo 3º, inciso IX, da Lei n.º
10.637/02, e artigo 3º, inciso III, da Lei n.º 10.833/03.
No caso da energia elétrica consumida, não existem restrições por parte da RFB,
uma vez que o creditamento não está relacionado à produção de bens ou
prestação de serviços, como é o caso dos “insumos”, mas à atividade da empresa
em sentido amplo, inclusive administrativa, o que é aceito pela RFB. O
creditamento vale tanto para imóveis próprios quanto de terceiros, desde que
sejam estabelecimentos do contribuinte.
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
32
3.4. Aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, pagos a pessoa
jurídica, utilizados nas atividades da empresa
Da mesma forma que o consumo de energia elétrica, as despesas com aluguéis
de prédios, máquinas e equipamentos, previstas nos artigos 3º, incisos IV, das
Leis n.ºs 10.637/02 e 10.833/03, não encontram restrições em função da atividade
do contribuinte. As únicas restrições da RFB para o aproveitamento de tais
créditos refere-se à qualificação de “máquinas e equipamentos”, havendo
Soluções de Consulta que, por exemplo, entendem que “veículos automotores e
caminhões” não se enquadram em tal rubrica (SC 291/04), por “ausência de
previsão legal”.
Felizmente, existe decisão do CARF9 que autoriza créditos semelhantes (no caso,
aluguel de guincho), o que confere maior segurança ao seu aproveitamento.
Nas contas apresentadas pelas empresas não foram observados pontos
polêmicos, razão pela qual entendemos que os créditos de PIS/COFINS
correspondentes devem ser mantidos. O único ponto de preocupação, por parte
da geradora/transmissora, refere-se à locação de máquinas copiadoras, que são,
inclusive, segregadas em contas separadas dos demais equipamentos locados.
No entanto, entendemos que também esses dispêndios são passíveis de
creditamento, pois não há necessidade de vinculação entre bem e atividade,
como já dito.
3.5. Arrendamento mercantil
9 Segundo Conselho de Contribuintes, Primeira Câmara, processo n.º 13053.000112/2005-18, rel. Cons. WALBER JOSÉ DA SILVA, j. em 04/02/2009. Essa decisão foi mantida pela CSRF, em decisão já citada nesta Nota Técnica.
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
33
A legislação do PIS/COFINS também permite a apropriação de despesas
correspondentes às contraprestações de operações de arrendamento mercantil,
conforme artigos 3º, incisos V, das Leis 10.637/02 e 10.833/03, desde que pagos
a pessoa jurídica que não seja optante pelo SIMPLES. Além disso, outra restrição
se volta a bens que já tenham integrado o patrimônio da pessoa jurídica.
3.6. Máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo
imobilizado
A legislação do PIS e da COFINS permite o crédito dos dispêndios com
máquinas, equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado,
adquiridos ou fabricados para locação a terceiros, ou para utilização na produção
de bens destinados à venda ou na prestação de serviços. É o que determinam os
artigos 3º, incisos VI, das Leis n.ºs 10.637/02.
Para que determinado bem seja caracterizado como ativo imobilizado, com base
no CPC 27 e no art. 301 do RIR/99, é necessário que: a) sirva à manutenção das
atividades da empresa, podendo os bens ser de propriedade industrial ou
comercial; b) seja provável que a empresa aufira futuros benefícios econômicos
em decorrência da sua utilização; c) o custo do ativo possa ser medido de forma
confiável; d) seu valor seja maior ou igual a R$ 326,61; e e) sua vida útil seja
superior a um ano.
No caso dos bens adquiridos para a produção ou para prestação de serviços nas
atividades de energia elétrica, também poderão ser apropriados créditos, no
momento da aquisição, dos chamados “componentes menores” e da prestação de
serviços de montagem contratadas de terceiras pessoas jurídicas, que foram
utilizados na formação da unidade de cadastro, como, por exemplo, as
GT ACOMPANHAMENTO TRIBUTÁRIO – ESTUDOS
NOTA TÉCNICA – CRÉDITOS DE PIS/COFINS NO SETOR ELÉTRICO
34
abraçadeiras, cruzetas, fios, parafusos e serviços de montagem, que são
necessários para que o transformador entre em funcionamento.
Com relação à base de cálculo a ser considerada na apuração dos créditos, as
legislações que abordam o tema mencionam o termo “custo de aquisição”,
embora a IN RFB n.º 457/04 se refira a “valor de aquisição”. Do ponto de vista
contábil, “custo contábil” é um conceito diferente do “custo de aquisição”, pois
excluiria o ICMS da base dos créditos das contribuições, quando seja
recuperável.
Nesse particular, as 3ª, 6ª e 7ª Regiões Fiscais da RFB (CE/MA/PI, MG e RJ/ES,
respectivamente) já se manifestaram em Soluções de Consulta sobre o tema10,
entendendo que o ICMS e o IPI, sempre que não sejam recuperáveis, poderão
integrar o “custo de aquisição” do bem, para fins de créditos das contribuições.
Também a 9ª Região Fiscal (Paraná e Santa Catarina) confirmou esse
entendimento11, especificamente no tocante ao IPI (que nunca é recuperável no
caso de ativo).
Quanto ao momento em que se poderia dar início ao aproveitamento do crédito
com depreciação, como a legislação do PIS/COFINS não traz regras específicas
quanto à depreciação de bens do ativo imobilizado para fins de apuração dos
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É a posição da 6ª Região Fiscal: SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 167 de 29 de Setembro de 2008 ASSUNTO: Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social – Cofins EMENTA: COFINS. CRÉDITOS. BENS INCORPORADOS AO ATIVO IMOBILIZADO. CUSTO DE AQUISIÇÃO. IPI E ICMS. Integram a base de cálculo dos créditos da Cofins apurados nos termos do art. 3º, § 14, da Lei nº 10.833/2003 os valores do IPI e do ICMS suportados na compra de máquinas e equipamentos incorporados ao ativo imobilizado, desde que tais valores não sejam recuperados pelo contribuinte. No mesmo sentido: SC n.º 128/2009 (7ª Região Fiscal) e SC n.º 4/2009 (3ª Região Fiscal). 11 SOLUÇÃO DE CONSULTA Nº 453 de 21 de Dezembro de 2006 EMENTA: BEM INCORPORADO AO ATIVO IMOBILIZADO. INCLUSÃO DO IPI NO CUSTO. Na aquisição de bem incorporado ao ativo imobilizado, sendo ou não o adquirente contribuinte de IPI, o valor desse imposto será sempre incluído no custo de aquisição do bem, objeto dos encargos de depreciação, que é a base de cálculo do crédito na sistemática não-cumulativa da COFINS.
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créditos, aplicam-se, neste caso, as regras previstas na legislação do imposto de
renda. Nesse sentido, vale observar que o artigo 305, § 2º, do RIR/99 dispõe que
os encargos de depreciação somente podem ser considerados dedutíveis na
apuração do imposto de renda a partir do momento em que o bem é instalado,
posto em serviço ou em condições de produzir.
Por outro lado, embora a legislação originalmente não tenha previsto quaisquer
restrições temporais, a Lei n.º 10.865/2004 passou a vetar a apropriação dos
créditos de bens adquiridos até 30 de abril de 2004, que vigorou somente até 31
de julho de 2004, conforme artigo 31:
“Art. 31. É vedado, a partir do último dia do terceiro mês subseqüente ao da
publicação desta Lei, o desconto de créditos apurados na forma do inciso III
do § 1º do art. 3º das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833,
de 29 de dezembro de 2003, relativos à depreciação ou amortização de bens
e direitos de ativos imobilizados adquiridos até 30 de abril de 2004.
§ 1º Poderão ser aproveitados os créditos referidos no inciso III do § 1º do art.
3º das Leis nos 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e 10.833, de 29 de
dezembro de 2003, apurados sobre a depreciação ou amortização de bens e
direitos de ativo imobilizado adquiridos a partir de 1º de maio”.
Portanto, a partir de 1º de agosto de 2004, foi vedada a continuidade do
aproveitamento de créditos de PIS e COFINS sobre imobilizados adquiridos até
30/04/2004, ante a restrição imposta pela Lei n.º 10.865/04. Entretanto, essa
restrição foi declarada inconstitucional pelo Tribunal Regional Federal da 4ª
Região, nos autos da Apelação em Mandado de Segurança nº
2005.70.00.000594-0/PR, sob a alegação de ter ferido o direito adquirido do
contribuinte. Embora o tema ainda não tenha sido definitivamente julgado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF), se considerarmos os argumentos envolvidos na
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discussão, entendemos haver boas chances de êxito aos contribuintes na
discussão.
Na regra geral, os encargos de depreciação devem ser determinados mediante a
aplicação da taxa de depreciação fixada pela Receita Federal do Brasil (RFB), em
função do prazo de vida útil do bem, conforme IN RFB nº 162/98, que fixa prazo
de vida útil e taxa de depreciação dos bens que relaciona. Contudo, o contribuinte
poderá optar por outros prazos dispostos na legislação, que foram reduzidos no
decorrer dos anos, segundo as seguintes opções:
Data de Aquisição Prazo Base legal
Até 30/04/2004 1/48 - Até
31/07/2004* Art. 31 da Lei nº 10.865/04
A partir de
1º/05/2004 48 meses Art. 3º, § 14º da Lei nº 10.833/03
A partir de
1º/10/2004 24 meses Art. 2º da Lei n.º 11.051/2004**
A partir de
1º/05/2008 12 meses
Art. 1º da Lei nº 11.774/2008
(redação original)***
A partir de
1º/08/2011
11 meses (regressivo
por mês) Art. 4º da Lei nº 12.546/11***
* Passível de discussão judicial ** Restrita às máquinas dos anexos dos Decretos nº 4.955/04 e nº 5.173/04, e desde que empregados na produção de bens ou na prestação de serviços *** Desde que empregados na produção de bens ou na prestação de serviços
Nas contas que nos foram apresentadas, verificamos que as empresas apenas
aproveitam a depreciação dos bens adquiridos a partir de 01/05/2004, o que é
bastante discutível, conforme visto acima.
3.7. Edificações e benfeitorias em imóveis próprios ou de terceiros
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Com o advento da Lei nº 10.637/02, ao contribuinte foi conferido o direito de
apuração de créditos de PIS sobre a depreciação e amortização de edificações e
benfeitorias em imóveis de terceiros, quando o custo, inclusive de mão-de-obra,
tenha sido suportado pela locatária. A partir de 1º de fevereiro de 2004, com o
advento da Lei nº 10.833/03, que dispôs sobre o regime não-cumulativo também
para a COFINS, as regras de apropriação de créditos do PIS foram alteradas,
haja vista que passaram a seguir as mesmas regras aplicáveis à COFINS12.
Nesse contexto, a possibilidade de aproveitamento de créditos referentes à
despesa com mão-de-obra própria empregada na edificação, ante o silêncio da
Lei n.º 10.833/03, restou tacitamente vedado. Reforça esse fato os artigos 3º, §§
2º, incisos I das Leis n.ºs 10.637/02 e 10.833/03, incluídos pela Lei n.º 10.865/04,
que vedam o crédito sobre mão-de-obra paga a pessoa física.
Embora essa circunstância não tenha surgido nas contas contábeis das
empresas, formos informados que as despesas com mão-de-obra própria foram
ativadas, o que entendemos ser procedimento inadequado.
Vale lembrar que, conforme definido no artigo 6° da Lei n° 11.488/2007, a
empresa poderá optar pelo desconto dos créditos do PIS e COFINS em 24 meses
para as edificações incorporadas ao ativo imobilizado, adquiridas ou construídas
para utilização na produção de bens ou na prestação dos serviços, como, por
exemplo, barragens de usinas e edificações em subestações de energia elétrica.
4. Conclusão
12 Conforme artigo 15, inciso II da Lei nº 10.833/03.
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Ante todo o exposto, concluímos que a interpretação da RFB quanto aos créditos
passíveis de aproveitamento, para fins de apuração de PIS/COFINS, é bastante
restritiva. Em vista disso, o Grupo de Trabalho Acompanhamento Tributário da
ABCE traçou diretrizes gerais para suas associadas, de acordo com os
entendimentos dos Tribunais (administrativo e judicial) e de uma interpretação
juridicamente sustentável, em face da legislação vigente, visando a atender ao
princípio da modicidade tributária, buscando a redução de custos para as
associadas.
A presente Nota Técnica reflete a visão da ABCE, embasada no trabalho do GT
Acompanhamento Tributário e tem caráter de mera orientação de suas
associadas. A adoção das sugestões aqui contidas poderá gerar questionamentos
e autuações pelo Fisco, razão pela qual deve ser cuidadosa e previamente
avaliada pelo departamento jurídico de cada associada, conforme sua política de
riscos, conveniência e oportunidade.
A ABCE não se responsabiliza pelos questionamentos, autuações, penalidades,
prejuízos ou quaisquer consequências que suas associadas ou demais empresas
venham a experimentar decorrentes da adoção das sugestões contidas neste
trabalho.
Agradecemos aos integrantes do GT Acompanhamento Tributário da ABCE, aos
advogados convidados que contribuíram de forma decisiva para sua elaboração,
bem como, em especial, ao Coordenador deste Grupo de Trabalho, Dr. Delvani
Alves LEME.
São Paulo, janeiro de 2013 Alexei Macorin Vivan Presidente do Conselho de Administração