grão de ouro a história sem fim -...

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Grão de Ouro Abril e Maio de 2013 A história sem fim Rubens Augusto de Miranda João Carlos Garcia* O Plantio de milho no hemisfério Norte se inicia e, com ele, uma nova etapa da história sem fim da produção agrícola em nosso planeta. Como o rio Amazonas, que em determinada época recebe mais água dos seus afluentes no Norte e em outra é alimentado por seus afluentes do Sul, na maioria dos produ- tos agrícolas esta divisão acontece e as colheitas dos hemisférios Norte e Sul se complementam (a safra de segunda época de milho no Brasil estabeleceu um novo paradigma com suas vantagens e desvantagens). Neste ano, o hemisfério Sul colheu uma boa safra de milho, o que serviu para garantir o abastecimento interno nas principais regiões consumidoras do Brasil e viabilizar as exportações pela Argentina, que vão contribuir para encerrar este ciclo turbulento que se iniciou com a quebra da safra de 2012 nos Estados Unidos. A safra em processo de colheita na Argentina deve atingir 25,7 milhões de toneladas (segundo o Ministerio de Agricultura, Ganaderia y Pesca da Argentina), produção recorde do país e 21% superior à do ano passado, o que deverá gerar um excedente exportável de 18 milhões de toneladas. Devido ao fato de que toda a produção de milho na Argentina ocorre na safra de verão, a corrida pelas exportações se inicia logo após a colheita e concorre com a soja pela estrutura existente para transporte até os portos e embarque. Neste ano especificamente, é neces- sário exportar a maior quantidade de milho possível antes da colheita da safra americana, para aproveitar parcialmente as condições de preços ainda altos, que poderão retroceder, dependendo do comportamento da produção americana, a partir do segun- do semestre. Embora ainda exista um controle das exportações, a liberação do limite exportável ocorreu de uma só vez e não gradativamente, como anteriormente. Isto facilita a venda mais próxima da colheita. Nos Estados Unidos, o plantio se iniciou e está atrasado por motivos climáticos. Em comparação com os 16% da área plantados historicamente nesta época, os 4% semeados até agora já se constituem em motivo de preocupação (este valor é 22 pontos percentuais abaixo do verificado no ano passado, que foi realmente muito antecipado, e 12 pontos percentuais abaixo da média dos últimos cinco anos). Se esta preo- cupação vai se transformar em um fato negativo, ainda é muito cedo. No ano passado, a antecipação do plantio pode ter agravado o efeito da seca, embora o contrário fosse esperado. De qualquer forma, devido ao parque de máquinas disponível nas principais regiões produ- toras, este atraso pode serrecuperado e o jogo da produção de milho começa realmente a ser jogado. A perspectiva é otimista (pior não podia ficar) e o simples anúncio de uma disponibilidade maior de milho estoca- do, não reportada em relatórios anterio- res do USDA, reduziu os preços na Bolsa de Chicago em cerca de US$ 1,00 por bushel (de US$ 287 por tonelada para US$ 248) em apenas dois pregões, no início do mês de abril, estabelecendo um patamar ao redor de US$ 6,50 por bushel no restante do mês. O próprio início das atividades de plantio cria um ambiente favorável para a redução dos preços que, convenhamos, se encontra- vam em níveis insustentáveis. Como tudo ainda se encontra no plano das expectativas, a próxima sa- fra ainda se anuncia como promissora nos EUA. A área plantada com milho deverá ser recorde, 39,33 milhões de hectares, mas isto é só o início e, a não ser que exista uma propensão para o jogo, o negócio é acompanhar os acontecimentos e se adaptar às situações resultantes.

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•• Grão de OuroAbril e Maio de 2013

A história sem fimRubens Augusto de MirandaJoão Carlos Garcia*

OPlantio de milho no hemisférioNorte se inicia e, com ele, uma nova

etapa da história sem fim da produçãoagrícola em nosso planeta. Como o rioAmazonas, que em determinada épocarecebe mais água dos seus afluentes noNorte e em outra é alimentado por seusafluentes do Sul, na maioria dos produ-tos agrícolas esta divisão acontece e ascolheitas dos hemisférios Norte e Sulse complementam (a safra de segundaépoca de milho no Brasil estabeleceu umnovo paradigma com suas vantagens edesvantagens).

Neste ano, o hemisfério Sul colheuuma boa safra de milho, o que serviupara garantir o abastecimento internonas principais regiões consumidorasdo Brasil e viabilizar as exportaçõespela Argentina, que vão contribuir paraencerrar este ciclo turbulento que seiniciou com a quebra da safra de 2012nos Estados Unidos.

A safra em processo de colheita naArgentina deve atingir 25,7 milhõesde toneladas (segundo o Ministeriode Agricultura, Ganaderia y Pesca daArgentina), produção recorde do país e21% superior à do ano passado, o quedeverá gerar um excedente exportávelde 18 milhões de toneladas. Devido aofato de que toda a produção de milhona Argentina ocorre na safra de verão,a corrida pelas exportações se inicialogo após a colheita e concorre coma soja pela estrutura existente paratransporte até os portos e embarque.Neste ano especificamente, é neces-sário exportar a maior quantidadede milho possível antes da colheitada safra americana, para aproveitarparcialmente as condições de preçosainda altos, que poderão retroceder,dependendo do comportamento daprodução americana, a partir do segun-do semestre. Embora ainda exista umcontrole das exportações, a liberação

do limite exportável ocorreu de umasó vez e não gradativamente, comoanteriormente. Isto facilita a vendamais próxima da colheita.

Nos Estados Unidos, o plantio seiniciou e está atrasado por motivosclimáticos. Em comparação com os 16%da área plantados historicamente nestaépoca, os 4% semeados até agora já seconstituem em motivo de preocupação(este valor é 22 pontos percentuaisabaixo do verificado no ano passado,que foi realmente muito antecipado, e12 pontos percentuais abaixo da médiados últimos cinco anos). Se esta preo-cupação vai se transformar em um fatonegativo, ainda é muito cedo. No anopassado, a antecipação do plantio podeter agravado o efeito da seca, embora ocontrário fosse esperado. De qualquerforma, devido ao parque de máquinasdisponível nas principais regiões produ-toras, este atraso pode serrecuperadoe o jogo da produção de milho começarealmente a ser jogado.

A perspectiva é otimista (pior nãopodia ficar) e o simples anúncio de umadisponibilidade maior de milho estoca-do, não reportada em relatórios anterio-res do USDA, reduziu os preços na Bolsade Chicago em cerca de US$ 1,00 porbushel (de US$ 287 por tonelada paraUS$ 248) em apenas dois pregões, noinício do mês de abril, estabelecendoum patamar ao redor de US$ 6,50 porbushel no restante do mês. O próprioinício das atividades de plantio cria umambiente favorável para a redução dospreços que, convenhamos, se encontra-vam em níveis insustentáveis.

Como tudo ainda se encontra noplano das expectativas, a próxima sa-fra ainda se anuncia como promissoranos EUA. A área plantada com milhodeverá ser recorde, 39,33 milhõesde hectares, mas isto é só o início e,a não ser que exista uma propensãopara o jogo, o negócio é acompanharos acontecimentos e se adaptar àssituações resultantes.

Abril e Maio de 2013Grão de Ouro 19

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~W/ZARDIHGLls COM I/fHU~C"

~EDUCAR~VIRTUAL

SITUAÇÃO INTERNA - No Brasil, acolheita da safra de verão de milho noCentro-Sul está terminando e o abas-tecimento do primeiro semestre estágarantido. Como resultado, os preços re-cuaram em praticamente toda a região(embora em algumas praças já se notecerta estabilização). No Centro-Oeste,os preços continuam caindo, frente auma perspectiva favorável de produçãona safrinha. Esta confiança no resultadopotencial da safrinha tem permitido,inclusive, a ocorrência de exportaçõesde milho pelo porto de Rio Grande - RS(foram exportadas por este porto cercade 400 mil toneladas de milho no mês demarço). Estasexportações são estimula-das pela queda temporal dos preços (émelhor exportar agora do que esperare ocorrer uma redução ainda maior dospreços). Além disso, estão baseadastambém na crença de que vai ser ne-cessária alguma intervenção do governofederal para dar suporte aos preços daPolítica de Garantia de Preços Mínimosno segundo semestre (ao redor de R$17,46 no Sul, Sudeste, MS, GO e DF eR$13,02 em MT e RO), o que garantiriao abastecimento no segundo semestrea preços razoáveis.

Quem assistiu, na safra passada, aos

AVIMIG~. ~ .

SlftpaMlctJuntos pela Avicultura de Minas

· • Estácio

ehagro

pedidos de ações do governo federalno sentido de restringir as exportaçõesde milho, ou mesmo pedidos de im-portação de milho com isenções fiscaispara garantir preços baixos no mercadointerno, pode achar estas exportaçõesum pouco ilógicas. A razão se encontrano simples fato de que os produtoressempre buscarão vender ao maiorpreço possível, mesmo que precisemexportar quando há escassez na região.Ano passado, a indústria de carnes,principal consumidora de milho, chegoua solicitar ao governo federal a restriçãoàs exportações, devido aos preços "im-praticáveis" do milho e à impossibilidadede repassar o aumento de custos aosseus produtos, mas se esqueceram deque, em 2010, pagaram R$ 7,00 pelomilho mato-grossense e R$ 14,00 pelomilho paranaense. No final das contas,há sempre reclamações quando se éprejudicado, mesmo com benefícios empassado recente.

As exportações de milho pelo Bra-sil continuaram a recuar em março.Foram exportadas cerca de 1,6 milhãode toneladas, com um acumulado de7,3 milhões de toneladas no primeirotrimestre e 25,6 milhões de toneladasnos últimos 12 meses. Longe de se cons-

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tituir em um exemplo das dificuldadesde logística, motivo de inflamadas erecorrentes declarações que ocupamo noticiário nesta época do ano, istoreflete um novo padrão de utilizaçãodos portos para exportação de milho esoja. As exportações de soja ocorrem apartir de maio, até setembro/outubro,e as exportações de milho acontecem apartir de agosto/setembro, até janeiro/fevereiro. Esta divisão permitiu quefossem exportadas no ano civil de 2012cerca de 33 milhões de toneladas de soja(um recorde e resultado de um cresci-mento constante ao longo dos últimoscinco anos) e 19 milhões de toneladasde milho (outro recorde). Além destasegmentação, a incorporação de novosportos ao processo de exportação demilho (como decorrência da abertura deoutras frentes regionais de crescimentoda área plantada com milho) serve paraaliviar a pressão sobre os portos tradicio-nais. Portos como Vitória - ES(1,8 milhãode toneladas exportadas em 2012);Itacoatiara - AM; Santarém - PA; e SãoLuiz - MA se encontram nesta situação.

*Pesquisadores da área deeconomia agrícola

da Embrapa Milho e Sorgo

PORCÃO+BELO HORIZONTE

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