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    COMISSO PARA A REFORMA DO IMPOSTO SOBRE O RENDIMENTO DASPESSOAS SINGULARES - 2014

    PROJETO DA

    REFORMA DO IRSUMA REFORMA DO IRS ORIENTADA

    PARA A SIMPLIFICAO, A FAMLIA E AMOBILIDADE SOCIAL

    SETEMBRO DE 2014

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    PROJETO DA REFORMA DO IRS

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    ACOMISSO PARA A REFORMA DO IRS

    Professor Doutor Rui Duarte Morais (Presidente)

    Professor Doutor Joo Ricardo Catarino

    Mestre Diogo Feio

    Dra. Rosa Freitas

    Dra. Teresa Gil

    Professora Doutora Paula Rosado Pereira

    Dra. Maria Quintela

    Professor Doutor Miguel Gouveia

    Dra. Cristina Pinto

    Dr. Filipe Abreu (Secretrio Tcnico)

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    ndice

    1 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ......................................................................................................................... 5

    2 NOTA INTRODUTRIA AO PROJETO FINAL .......................................................................................................... 7

    2.1 O Projeto final da reforma do IRS ............... ................ ................. ................ ................. ............... ............... 72.1.1 Agregado familiar ................ ................ ................. ................ ................ ................. ................ ................ . 7

    2.1.2 Ttulos de educao .............. ................. ................ ................. ................ ................. ................ .............. 8

    2.1.3 Arrendamento ............... ................. ................ ................ ................. ................ ................. ................ ...... 9

    2.1.4 Acrscimos patrimoniais e despesas no justificados .................................................................... 10

    2.1.5 Atos isolados .............. ................. ................ ................. ................ ................. ................ ................ ....... 11

    2.1.6 Residentes no habituais ............... ................ ................. ................ ................ ................ ................. .... 11

    2.1.7 Recomendaes.......... ................. ................ ................. ................ ................. ................ ................. ...... 12

    2.1.8 Nota final sobre o Projeto ora apresentado .............. ................. ................ ................. ................ .... 12

    3 NOTA INTRODUTRIA AOANTEPROJETO .......................................................................................................... 13

    3.1 O Mandato da Comisso ............... ................. ................ ................. ................ ................. ................ ............ 13

    3.1.1 O Despacho de nomeao e as linhas gerais do trabalho efetuado ............................................ 13

    3.1.2 O exerccio do mandato ............... ................ ................. ................ ................ ................ ................. .... 14

    3.1.3 Limitaes ................. ................ ................. ................ ................ ................. ................ ................ .......... 15

    3.2 A necessidade de reforma do IRS ................. ................ ................. ................ ................. ............... ............. 15

    3.2.1 A tributao por diferentes categorias: a semidualizao e o direito de opo ........................ 16

    3.2.2 A residncia adaptada liberdade de circulao ............................................................................. 17

    3.2.3 A unidade fiscal ................ ................ ................. ................ ................. ................ ................. ............... .. 17

    3.3 Grandes linhas orientadoras ............... ................ ................. ................ ................. ............... ................. ....... 19

    3.3.1 Simplicidade ................ ................. ................ ................. ................ ................. ................ ................ ....... 19

    3.3.2 A opo tomada ............... ................ ................. ................ ................. ................ ................. ............... .. 19

    3.3.3 A considerao da famlia............... ................. ................ ................. ................ ................ ................ .. 21

    3.3.4 A opo tomada ............... ................ ................. ................ ................. ................ ................. ............... .. 21

    3.3.5 A mobilidade social .............. ................. ................ ................. ................ ................. ................ ............ 22

    3.3.6 A opo tomada ............... ................ ................. ................ ................. ................ ................. ............... .. 22

    3.4 Outras propostas relevantes ................ ................ ................. ................ ................. ............... ................. ....... 23

    3.4.1 Categorias A (trabalho dependente) e H (penses) ....................................................................... 233.4.2 Categoria B (rendimentos empresariais e profissionais) ............................................................... 24

    3.4.3 Categoria E (rendimentos de capitais) e mais-valias mobilirias ................................................. 24

    3.4.4 Categoria F (rendimentos prediais) .................................................................................................. 25

    3.4.5 Categoria G (incrementos patrimoniais).......................................................................................... 26

    3.5 Concluses ............... ................. ................ ................ ................. ................ ................ ................ ................. .... 26

    4 AEVOLUO RECENTE DO IRS ........................................................................................................................... 28

    4.1 As alteraes verificadas em 2012 ................. ................ ................. ................ ................. ............... ............. 28

    4.1.1 Estratgia de consolidao oramental ............................................................................................ 28

    4.1.2 A progressividade em sede de IRS ................ ................ ................. ................ ................. ............... .. 28

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    5.2.11 Fim da presuno de que o representante fiscal o gestor de bens ou direitos de noresidentes 55

    5.2.12 Estruturas fiducirias ............... ................. ................ ................ ................. ................ ................. ......... 55

    5.2.13 Incompatibilidades com o Direito da Unio Europeia ................................................................. 56

    5.3 No mbito das questes associadas famlia .............. ................. ................ ................. ................ ............ 58

    5.3.1 Quociente familiar ................ ................. ................ ................. ................ ................. ................ ............ 58

    5.3.2 Vales sociais de educao (at aos 16 anos de idade) .................................................................... 63

    5.3.3 Tributao separada ................ ................. ................ ................ ................. ................ ................. ......... 64

    5.3.4 Comunicabilidade de perdas entre cnjuges ................................................................................... 67

    5.3.5 Procedimento declarativo ............... ................. ................ ................. ................ ................ ................ .. 67

    5.3.6 Responsabilidade pela dvida de imposto no mbito do casamento .......................................... 67

    5.3.7 No atrao da situao de residncia do cnjuge ......................................................................... 68

    5.3.8 Rendimentos e dedues dos dependentes ................ ................ ................ ................ ................. .... 68

    5.3.9 Penses de alimentos ................. ................ ................. ................ ................. ................ ................. ...... 68

    5.3.10 Converso da generalidade das dedues coleta a valores fixos a atribuir por conta dasdespesas do agregado, numa base de capitao .................................................................................................. 68

    5.4 No mbito de questes procedimentais e processuais ............................................................................ 70

    5.4.1 Alargamento do regime de dispensa de declarao ....................................................................... 70

    5.4.2 Reformulao do regime de reteno na fonte ................. ................ ................. ............... ............. 71

    5.4.3 Simplificao dos deveres de cooperao - Dispensa de entrega de declarao ...................... 72

    5.4.4 Opo pelo englobamento ................ ................ ................. ................ ................. ................ ............... 72

    5.4.5 Prazos de entrega da declarao anual de rendimentos ................................................................ 72

    5.4.6 Obrigaes de registo ................. ................ ................. ................ ................. ................ ................. ...... 73

    5.4.7 Deveres de cooperao de terceiros ................. ................ ................ ................. ................ ............... 73

    5.4.8 Reforo da proteo das garantias do contribuinte ....................................................................... 73

    5.4.9 Reviso do regime das manifestaes de fortuna ............... ................. ................ ................ .......... 74

    6 RECOMENDAES ................................................................................................................................................... 76

    6.1 Reduo do nvel de tributao ............... ................. ................ ................. ................ ................ ................ .. 76

    6.2 Renncia ao mandato de representante fiscal ................ ................ ................. ................ ................. ......... 77

    6.3 Taxas liberatrias e especiais em sede de IRS e de IRC .......................................................................... 77

    6.4 Declarao/Liquidao simplificada de IRS ............... ................. ................ ................. ................ ............ 776.5 Reembolso de retenes na fonte ................. ................ ................. ................ ................. ............... ............. 78

    6.6 Incluir as despesas de educao e sade no benefcio em sede de IRS e de IVA pela exigncia defatura 79

    6.7 Correo de remisses ................. ................ ................. ................ ................ ................. ................ ............... 79

    6.8 Alienao onerosa de direitos reais menoressujeio a IRS .............................................................. 79

    6.9 Mais-valias imobilirias relativas a partilha de heranas .......................................................................... 80

    ANEXO IPROJETO DA PROPOSTA DE ALTERAO LEGISLATIVA.......................................................................... 81

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ATAutoridade Tributria e Aduaneira

    ATIAcordos sobre Troca de Informaes em Matria Fiscal

    CDTConvenes para evitar a Dupla Tributao

    CFICdigo Fiscal do Investimento

    CGICode Gnral des Impts

    Cdigo do IRSCdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    Cdigo do IRCCdigo do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

    Cdigo do IVACdigo do Imposto sobre o Valor Acrescentado

    CMVMComisso do Mercado de Valores Mobilirios

    DGCIDireo-Geral dos Impostos

    DMRDeclarao Mensal de Remuneraes

    EBFEstatuto dos Benefcios Fiscais

    EMEstados-membros da Unio Europeia

    IASIndexante de Apoios Sociais

    IES/DAInformao Empresarial Simplificada /Declarao Anual de Informao Contabilstica e Fiscal

    IMIImposto Municipal sobre Imveis

    IMTImposto Municipal sobre as Transmisses Onerosas de Imveis

    IPImpostos sobre o Patrimnio

    IRImpostos sobre o Rendimento

    IRCImposto sobre o Rendimento das Pessoas ColetivasIRPFImpuesto sobre la Renta de las Personas Fisicas

    IRSImposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

    ISSInstituto da Segurana Social

    ISVImposto sobre Veculos

    IVAImposto sobre o Valor Acrescentado

    mMilhares de Euros

    MMilhes de Euros

    MMMilhares de milhes de Euros

    MFMinistrio das Finanas

    OCDEOrganizao para a Cooperao e Desenvolvimento Econmico

    p.p.Pontos percentuais

    PACPoltica Agrcola Comum

    PAEFPrograma de Assistncia Econmica e Financeira

    RGITRegime Geral das Infraes Tributrias

    TFUETratado sobre o Funcionamento da Unio Europeia

    TJUETribunal de Justia da Unio Europeia

    UEUnio EuropeiaVPTValor Patrimonial Tributrio

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    NOTA INTRODUTRIA AO PROJETO FINAL

    2.1 O Projeto final da reforma do IRS

    A Comisso de Reforma do IRS vem, nos termos e no prazo estabelecidos no mandatorecebido, apresentar o Projeto de cuja elaborao foi incumbida.

    A Comisso congratula-se com a ampla participao que aconteceu na fase de discussopblica do Anteprojeto. Foram recebidas centenas de sugestes, as quais foramatentamente examinadas e acolhidas sempre que consideradas pertinentes.

    A todos os que quiseram colaborar nesta tarefa que era de todos o nosso muitoobrigado.

    Grande parte das sugestes recebidas incidiu sobre questes de pormenor, de tcnica

    legislativa (v.g. melhorias de redao do texto inicialmente proposto, no sentido deesclarecer potenciais dvidas e completar lacunas), das quais no cabe aqui dar notcia. Istosem prejuzo da importncia de tais sugestes, pois o rigor e a clareza da lei so valoresessenciais.

    Relativamente a aspetos estruturais da nossa proposta, as sugestes recebidas, apesar de sefocaram em apenas alguns pontos, obrigaram-nos a novas reflexes e introduo dealteraes substanciais. Assim:

    2.1.1

    Agregado familiar

    Foi por muitos observado que a definio de agregado fiscal, para efeitos deste imposto,no se deveria circunscrever famlia nuclear, ou seja, grosso modo, ao conjunto dosujeito(s) passivo(s) e seus filhos, devendo incluir, tambm, os ascendentes sem recursoseconmicos suficientes que vivam em economia comum com o sujeito(s) passivo(s).

    Esta sugesto assenta numa ideia de solidariedade familiar que, cremos, merecedora detraduo fiscal. Na realidade, a lei vigente apenas contempla situaes em que um sujeitopassivo suporta, relativamente a ascendentes carecidos, despesas com lares ou instituies

    semelhantes e apoio domicilirio. Ou seja, a atual lei no reflete a diminuio de capacidadecontributiva das famlias que tm a residir consigo ascendentes cujas necessidadeselementares satisfazem de forma direta.

    A integrao dos ascendentes, economicamente carecidos, no agregado familiar relevarpara efeitos, nomeadamente, de aplicao do quociente familiar e das dedues coleta.

    A Comisso, antes de decidir, procuroucomo seu timbreestimar os custos de uma talmedida, em termos de perda de receita, tendo a anlise efetuada demonstrado ser tal customarginal.

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    Assim sendo, prope-se que os ascendentes, com rendimentos inferiores penso mnimado regime geral passem a integrar o agregado familiar do(s) sujeito(s) passivo(s) com quemresidam, mantendo-se as dedues previstas no Anteprojeto para os casos em que um ou

    vrios sujeitos passivos suportem despesas com o internamento de tais ascendentes em

    lares, instituies semelhantes ou com apoio domicilirio.

    Ainda no tocante ao quociente familiar, foi sugerido que o valor mximo de reduo deimposto atingvel em razo da introduo deste mecanismo fosse fixado em funo donmero de dependentes, ou seja, que esse valor no fosse referido ao agregado familiar. Aanlise estatstica efetuada demonstrou que, pressupondo a manuteno da despesa fiscalassociada a esta medida, tal alterao resultaria, de facto, numa substancial diminuio doimposto a ser pago pelas famlias com mais de trs dependentes (um universo muito poucoexpressivo em termos numricos), mas levaria tambm a uma diminuio do ajustamentofiscal associado ao quociente familiar para as demais famlias com (menos) dependentes.

    Assim, a Comisso entendeu ser de manter a proposta inicial.

    2.1.2 Ttulos de educao

    A proposta de alargamento dos beneficirios dos chamados vales sociais de educaoconheceu enorme aplauso pblico, sendo muitos os que sugeriram que a idade mximadeveria ser fixada nos vinte e cinco anos, ou seja, que tal benefcio se deveria manterenquanto algum seja, fiscalmente, considerado dependente e o agregado familiar em que

    se insere continue a suportar despesas com a sua educao.

    Ponderada esta questo, a Comisso entendeu ser tal sugesto da maior justia, porquanto,obviamente, a diminuio da capacidade contributiva de um agregado familiar resultante daexistncia de despesas com a educao dos seus dependentes no cessa quando estesatingem dezasseis anos de idade.

    Numa atitude de prudncia, a Comisso decidiu criar um limite mximo ao valor que, poresta forma, poder ser pago com excluso da base de incidncia do IRS.

    O xito desta medida depender, em primeiro lugar, da adeso que conhecer por parte dostrabalhadores e das respetivas entidades patronais e, em segundo lugar, da aceitao de taisttulos como forma de pagamentodas despesas a que os mesmos respeitam.

    Com os objetivos de generalizar o uso de tais ttulos e promover a no discriminaoentre os contribuintes cujos dependentes frequentem o ensino pblico ou o ensino privado(questo esta que se coloca, essencialmente, ao nvel do ensino bsico e secundrio,porquanto o valor da propina mxima que hoje exigida no ensino universitrio pblico de montante equivalente ao limite mximo, fiscalmente relevante, que propomos para taisttulos), a Comisso considerou que os mesmos devem poder ser utilizados no

    pagamento de despesas escolares, que no apenas mensalidades ou propinas,

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    nomeadamente na aquisio de livros e outro material escolar e no pagamento deexplicaes.

    Mais ainda, recomenda-se que o Governo diligencie no sentido de tais ttulos passarem a

    ser aceites, como forma de pagamento de propinas e similares, pelos estabelecimentos deensino pblico.

    O custo desta medida, em termos de perda de receita, depender, obviamente, da maior oumenor generalizao do uso de tais ttulos, o que, obviamente, no pode ser estimado.De todo o modo, o alargamento do universo dos potenciais beneficirios resultar, dealgum modo, contrabalanado pela fixao de um valor mximo dedutvel.

    S a experincia de aplicao prtica do que propomos suscitar, ou no, a eventualnecessidade de introduo de ajustamentos ao que deixamos preconizado.

    A Comisso tem conscincia de eventuais impactos desta medida ao nvel da seguranasocial. No entanto, porque esta questo extravasa claramente o mbito do mandato daComisso, apenas alerta para tal facto.

    2.1.3 Arrendamento

    A Comisso comea, tambm aqui, por se congratular pelo apoio generalizado quemereceram as alteraes preconizadas no Anteprojeto relativamente aos rendimentosprediais, quer por ter sido considerado que introduzem maior justia na tributao, querpelos previsveis efeitos positivos que podero ter na resoluo do problema habitacional,quer, por ltimo, pelo seu efeito de estmulo ao desenvolvimento de alguns sectores daeconomia.

    As crticas recebidas incidiram principalmente sobre o reporte de prejuzos que, segundo oAnteprojeto, seria feito relativamente a cada prdio, ainda que dentro de um horizontetemporal muito alargado.

    Foi-nos manifestado que, relativamente aos sujeitos passivos titulares de mais de um prdioou de partes de prdios colocados no mercado de arrendamento, a soluo que havamos

    preconizado, para alm da maior delonga na traduo fiscal do investimento realizado -nomeadamente em obras de melhoramento, implicaria elevados custos de cumprimento,quer para aAutoridade Tributria e Aduaneira (AT)quer para os sujeitos passivos, sendomesmo previsvel a existncia de situaes de impossibilidade de individualizao, porprdio, de determinados gastos.

    A Comisso reconheceu a razo de ser de tais crticas, pelo que a soluo agorapreconizada que o apuramento global do rendimento tributvel seja feito globalmente,relativamente a todos os prdios ou partes de prdios, geradores de rendimentos destacategoria e que as perdas apuradas possam ser comunicadas aos resultados positivos desta

    categoria obtidos em anos posteriores, limitados a um mximo de seis.

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    2.1.4 Acrscimos patrimoniais e despesas no justificados

    imperiosa a reviso profunda do atual regime legal das chamadas manifestaes defortuna, uma vez que se tem revelado complexo, de difcil interpreta o, sendo fonte de

    inmeros litgios, de diferentes e contraditrias orientaes jurisprudenciais e, mais grave,de profundas injustias.

    A necessidade de reviso deste normativo havia sido j sentida pela prpria administraotributria, pelo que, anteriormente ao incio dos trabalhos desta Comisso, havia sidonomeado um grupo de trabalho com tal objetivo.

    Na audio pblica foram efetuadas crticas pertinentes ao articulado inicialmenteproposto, tendo sido assinaladas incongruncias e contradies que subsistiam.

    Na realidade, a evoluo legislativa recente nesta matria traduziu-se na pretenso de

    acolher, em simultneo, dois regimes que correspondem a duas diferentes vises sobre aquesto:

    i) O regime das manifestaes de fortuna, no qual aparecem tipificados, numa tabela,os sinais exteriores de riqueza tidos por relevantes, a cada um dos quais a lei fazcorresponder a presuno de existncia de um determinado rendimento-padro;e

    ii) O regime dos acrscimos patrimoniais e despesas no justificados, segundo oqual o relevante para a presuno da existncia de um rendimento no declarado

    o conjunto dos sinais exteriores de riqueza detetados. Tais acrscimos oudespesas relevaro, para este efeito, quando superiores a determinado montante ou,em alternativa, quando o seu valor se revele claramente desproporcionadorelativamente aos rendimentos declarados.

    A coexistncia dos dois sistemas - tal como acontece na lei vigente e aconteceria, tambmna proposta de alterao legislativa constante do Anteprojeto - no se afigura possvel, pois,como a prtica vem demonstrando, alm de extremamente complexa , potencialmente,geradora das maior incongruncias e injustias.

    Ponderados estes aspetos, a Comisso optou por, apenas, um dos sistemas. Preferiu-se omtodo dos acrscimos patrimoniais e despesas no justificados porquanto se entendeuque qualquer tipificao sempre resultar numa relativa frustrao do intuito legislativo,uma vez que sempre existiro outros sinais exteriores de riqueza no expressamenteprevistos na lei. Ou seja, entendeu-se que a excessiva tipificao se ope finalidade antievasiva deste tipo de normas.

    Entendeu-se tambm que, estando em causa uma presumvel subdeclarao derendimentos, o que dever relevar, como condio de aplicabilidade do sistema, acomparao entre os rendimentos declarados e o valor total dos acrscimos patrimoniais e

    despesas no justificados. Segundo a nossa proposta, o recurso a este sistema apenaspoder acontecer quando, no perodo, o total dos rendimentos declarados ou comunicados

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    AT, relativamente a determinado sujeito passivo, seja inferior a dois teros da soma dosvalores dos acrscimos patrimoniais e despesas no justificados detetados. Tal soluocorresponde, alis, prevista na verso originria da atual lei.

    No obstante, para evitar que a AT fique legalmente compelida a ter que utilizar estesistema de avaliao indireta da matria coletvel em casos em que a potencial ocultao derendimentos tenha expresso residual, estabeleceu-se que a divergncia atrs indicada tem,ainda, que ser num valor mnimo de 5.000 euros

    Por ltimo, atento o interesse social ou econmico de tais aquisies e, em especial, acompreensvel dificuldade da maioria desses sujeitos passivos em fazer a prova da origemdos meios financeiros empregues, prope-se a excluso de determinadas aquisies, comosejam as de imveis, destinados a habitao prpria, e de viaturas, at determinados valores.

    Tambm no seguimento de sugestes recebidas, se excluram os suprimentos e outrasformas de capitalizao de sociedades, at determinado valor, porquanto se reconhece que -especialmente no caso das pequenssimas empresas - os sujeitos passivos, muitas vezes, notm o cuidado de guardar a documentao capaz de comprovar, de forma indiscutvel, aorigem dos meios financeiros utilizados. Ou seja, sem esta excluso poderamos estar acriar um obstculo ao (desejvel) financiamento das sociedades pelos seus prprios scios.

    2.1.5 Atos isolados

    Acolhendo sugestes nesse sentido, a Comisso, motivada essencialmente pelo desejo depromover a progressiva integrao de jovens do mercado de trabalho, a qual muitas vezesacontece pela realizao (nomeadamente por estudantes), de tarefas pontuais remuneradas,prope que o rendimento obtido pela prtica do que a lei designa por atos isolados,quando no exceda anualmente o valor correspondente a quatro vezes o montante doIndexante de Apoios Sociais (IAS), fique isento de IRS, sem exigncia do cumprimento dequaisquer obrigaes declarativas por parte dos beneficirios.

    Esta iseno anloga que a lei j hoje prev em sede de segurana social, pelo quetambm por esta via se logra uma maior harmonizao da efetiva incidncia dos dois

    tributos.

    2.1.6 Residentes no habituais

    O atual regime legal dos residentes no habituais tem conhecido assinalvel xito na atraode pensionistas (que, motivados pela existncia de tal sistema, optam por passar a residir nonosso pas).

    Tambm por essa razo, a Comisso entende que se deve otimizar a utilizao do mtodo

    de iseno, pela sua aplicao a outros tipos de rendimentos. Por essa razo, a Comissoprope a utilizao do mtodo de iseno, como forma de eliminao da dupla tributao

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    NOTA INTRODUTRIA AOANTEPROJETO

    3.1 O Mandato da Comisso

    3.1.1

    O Despacho de nomeao e as linhas gerais do trabalho efetuadoNo passado dia 19 de maro, foi publicado, na II Srie do Dirio da Repblica, o Despachon 4168-A/2014, do Secretrio de Estado dos Assuntos Fiscais, nomeando a Comissopara a Reforma do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) 2014, emque se assumia como objetivos primordiais ...promover a simplificao do imposto, a mobilidadesocial e a proteo das famlias, tendo nomeadamente em considerao a importncia da natalidade.

    O contexto da nomeao extraordinariamente exigente tendo em ateno a necessidadede concretizar as propostas de alterao do regime do imposto num contexto nico de...consolidao oramental, respeitando os objetivos com que Portugal se comprometeu com osseus parceiros

    internacionais, nomeadamente atravs da reduo estrutural da despesa pblica e do reforo da nova

    estratgia de combate fraude e evaso fiscais, com o correspondente alargamento das bases tributveis..

    No mesmo despacho, entende-se que a Comisso de Reforma dever proceder a uma avaliaoaprofundada do IRS (...) considerando neste exerccio o trabalho realizado por grupos de trabalho

    anteriormente constitudos com o mesmo desiderato, e propondo as alteraes legislativas consideradas

    necessrias, ainda que no mbito de um calendrio faseado:

    a) Reviso e simplificao do IRS e demais regimes fiscais aplicveis ao rendimento das pessoas

    singulares, de forma a simplificar o regime das respetivas obrigaes declarativas e a facilitar o

    cumprimento das obrigaes inerentes a este imposto, de acordo com as melhores prticas

    internacionais;

    b) Promoo da mobilidade social atravs, designadamente, da avaliao da tributao que incide

    sobre os rendimentos do trabalho, com o objetivo de reconhecer e valorizar o mrito e o esforo;

    c) Proteo das famlias, tendo nomeadamente em considerao a importncia da natalidade,

    atravs da avaliao das bases gerais da tributao da famlia em sede de IRS e do reforo das

    polticas fiscais familiares, de forma a contribuir para a inverso do atual dfice demogrfico na

    sociedade portuguesa..

    Dentro destes parmetros, a Comisso produziu um trabalho de natureza eminentementetcnica, que se consubstancia num alargado conjunto de propostas de alteraes legislativase de recomendaes. Para que fique claro, o trabalho da Comisso passou apenas porsugerir alteraes de natureza tcnica que possam servir como guio para o legisladordecidir o que entender por conveniente. At ao dia 30 de setembro de 2014 a Comissodesenvolver o seu trabalho, depois ser o tempo e a hora do legislador.

    Com este desiderato, fica sugerida a introduo de novas normas, capazes de darem melhorresposta aos grandes problemas que o imposto hoje suscita, tornadas necessrias em razo

    da desatualizao, por fora do decurso do tempo, de solues pensadas na dcada deoitenta do sculo passado. O objetivo foi o de produzir um trabalho em que resultem

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    equilibrados a necessria estabilidade, o acompanhamento das novas realidades e apraticabilidade das solues propostas.

    Foi precisamente com esse intuito que se caminhou, tambm, para a reviso pontual de

    (numerosas) solues legais vigentes, em ordem a desbloquear pontos de frico que aexperincia da sua aplicao mostra existirem. Para esse efeito, foi tida em ateno no s aperceo dos membros da Comisso, as principais questes concretas que se colocaram anvel jurisprudencial e na prtica corrente de diversos agentes, como tambm oscontributos que lhe foram remetidos em 218 propostas que analisou.

    3.1.2 O exerccio do mandato

    Neste enquadramento, o trabalho da Comisso foi desenvolvido no respeito das

    orientaes genricas que lhe foram transmitidas e que atrs ficaram enumeradas. O acervode propostas agora tornado pblico passou pelo estudo de alternativas possveis e pelaescolha das solues tidas por mais capazes de traduzirem, na medida do desejvel, osobjetivos que lhe foram apontados.

    Procurou-se sempre que as solues preconizadas fossem sistemicamente coerentes comos princpios estruturantes da proposta elaborada e com o restante normativo do IRS.

    Tambm se tentou que esta reforma, melhorando o imposto, no pusesse em causa a suaestabilidade, to necessria para a reposio da confiana em todo o sistema. Com isto,assumiu-se o objetivo de lograr o enquadramento sistemtico das inmeras alteraes que

    foram sendo introduzidas ao longo dos anos num processo em constante mutao, porvezes excessivaatravs da remodelao do sistema por forma a conceder-lhe coerncia,recorrendo a critrios orientadores e corporizando uma reforma fiscal atual e respeitadorado mandato atribudo.

    Para alm destes elementos de natureza geral, teve-se um cuidado especial e circunstancial,excluindo-se das propostas solues que, por geradoras de uma significativa diminuio dareceita, resultassem incompatveis com o continuado equilbrio oramental que o pasprecisa atingir. A referncia a este elemento afigura-se especialmente pertinente nummomento em que ainda no se identificaram alternativas possveis ao atual nvel de

    tributao. Desta forma, a Comisso apresenta propostas de articulado que podero sermais desenvolvidas quanto aos seus efeitos oramentais, no mdio prazo, bem comorecomendaes que se podero transformar em alteraes circunstanciais da lei, quando ascondies de natureza econmica assim o vierem a permitir.

    precisamente nesse plano que se encontra a necessidade de, logo que osconstrangimentos se mostrem ultrapassados, promover uma reduo da carga fiscal nesteimposto. Por essa razo e quanto a essa questo, a Comisso entendeu, preservando toda asua autonomia de natureza tcnica e no respeito do mandato recebido, estabelecer apenasuma recomendao. A sua concretizao depender de decises no plano legislativo, que

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    podero assumir uma determinao mais ou menos faseada de acordo com a avaliao quese v fazendo dos enquadramentos existentes e das circunstncias que se apresentem.

    3.1.3

    Limitaes

    O cabal cumprimento da misso de que a Comisso foi incumbida implicaria mais tempopara a executar. No entanto, apesar desta limitao, a Comisso prope uma amplamodificao da estrutura do IRS, em que se compreendem algumas solues muitoinovadoras que colocaro o imposto ao nvel das melhores prticas internacionais.

    Poder-se-ia ir mais longe? Obviamente que sim. H tarefas que no puderam ser realizadas,a principal das quais seria a reviso global do articulado, com a produo de um novoCdigo, simplificando totalmente a porventura complexa redao de muitas normas. No

    obstante, houve um aturado esforo para tornar o texto legal mais claro e, portanto, maiscompreensvel para a generalidade dos contribuintes, eliminando obrigaes fiscais eexpurgando solues que, a seu tempo, foram introduzidas como resposta a situaesconcretas que, ento, se colocavam, mas cuja manuteno, entretanto, perdeu a suajustificao.

    Neste contexto, a Comisso no se debruou apenas sobre as urgncias. Pelo contrrio, foibem para alm desse desiderato, propondo alteraes profundas a diversos regimes legais.

    Acresce que a Comisso procedeu ao expurgo, no Cdigo do IRS, de normas que, em

    virtude da posterior entrada em vigor de diplomas de carter geral (casos da Lei GeralTributria e, at, do Cdigo de Procedimento e de Processo Tributrio), se tornaramrepetitivas ou contraditrias com o nele disposto.

    Adicionalmente, estabeleceram-se as adaptaes possveis no sentido de uniformizar assolues normativas dos impostos sobre o rendimento (IRS e IRC). A Comisso tambmprope uma atualizao das solues normativas do Cdigo do IRS face a novosproblemas que tm surgido, simplificando um conjunto relevante das suas disposies coma retirada de referncias desnecessrias, procurando uma relao mais equilibrada eequitativa entre os contribuintes e a administrao tributria, sem deixar de realar o papel

    essencial que esta ltima deve assumir na relao jurdica de imposto.

    3.2 A necessidade de reforma do IRS

    Criado no final da dcada de 80 do sculo passado, e objeto de reestruturaes sucessivas,o atual sistema de tributao do rendimento das pessoas singulares mostra algumdesajustamento face realidade econmico-social do Pas e s solues tcnicas que vmsendo internacionalmente defendidas nesta matria. De facto, assistiu-se crescentecomplexidade, ao agravamento da tributao, instabilidade e a alguma falta de coernciainterna do regime das diferentes categorias de rendimento.

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    Perante este contexto, pretendeu-se a alterao de aspetos estruturais do sistema, poroposio a uma reviso legislativa meramente casustica. Porque se alteraram aspetosestruturais do sistema, justo dizer que a proposta da Comisso corresponde a uma

    verdadeira reforma deste imposto, que deve ser analisada luz de uma evoluo de

    elementos centrais do IRS, tal como ficaram expressos na sua arquitetura inicial.

    3.2.1 A tributao por diferentes categorias: a semidualizao e o direito deopo

    O princpio da unicidade do imposto foi sempre matizado, de forma a assegurar a eficinciado imposto e a sua adaptabilidade realidade. A demonstrao de que este princpio nuncafoi concretizado na ntegra nota-se, por exemplo, na existncia de rendimentos de capitaisou de mais-valias que sempre estiveram sujeitos a taxas proporcionais, que podem serliberatrias ou especiais, pois a concorrncia fiscal internacional - que se faz sentirespecialmente em relao a estes rendimentos, dada a facilidade de deslocao das suasfontes geradoras - tem criado um conflito permanente com o ideal de maior justia nadistribuio da carga tributria.

    evidente que a globalizao tem levado a que os Estados acabem com as barreiras legaisque limitam a circulao de bens e capitais, gerando um mercado que quase alcana aconcorrncia perfeita. Em consequncia, hoje, os Estados em geral, e os da Unio Europeiaem especial, encontram-se tambm numa situao muito prxima da concorrncia

    tributria perfeita. Isso tem levado a que se alterem os equilbrios existentes dentro dosistema fiscal, com a admissibilidade crescente de elementos de semidualizao, os quaisacabam por facilitar a tributao efetiva dos rendimentos cuja fonte o capital.

    Por essa razo, foi aceite e reforada a j existente semidualizao do sistema: tributaodiferenciada por categorias de rendimentos e uniformizao genrica das taxas liberatrias eespeciais aplicveis s diferentes categorias de rendimentos. Deste modo, ser possveltributar de forma mais eficiente este tipo de rendimentos relacionados com o capital sujeitos a uma taxa de 28%, seja na categoria E (rendimentos de capital), seja na categoriaG (mais-valias mobilirias e alguns outros incrementos patrimoniais) - e simplificar todo o

    sistema do IRS, por forma a alcanar uma maior amplitude de rendimentos tributveis.As solues preconizadas cumprem os princpios constitucionais em matria de impostosobre o rendimento das pessoas singulares, porquanto garantida a possibilidade, poropo, do englobamento da generalidade dos rendimentos que, em regra, esto sujeitos ataxas especiais e liberatrias. Em resumo, no s se mantm o peso significativo dosrendimentos que esto obrigatoriamente sujeitos a taxas progressivas, como tambm sedetermina, mesmo para os casos em que as taxas liberatrias e especiais tm que existir, queo contribuinte possa optar pela tributao atravs do regime de taxas gerais, mantendo-seassim os princpios da unicidade e da progressividade do imposto.

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    3.2.2 A residncia adaptada liberdade de circulao

    Tambm quanto vertente da sujeio pessoal convm salientar algumas das linhas que aComisso assumiu. Procurou acompanhar-se as mais recentes evolues no que se refere

    residncia fiscal. Este conceito essencial, pois os residentes so tributados, no nossoordenamento jurdico, numa base mundial, ou seja, por todos os rendimentos obtidos,independentemente do local em que sejam produzidos, enquanto que os no residentes,que so tributados numa base mais estrita, que apenas considera os rendimentos obtidos noterritrio nacional.

    A Comisso vem propor a admissibilidade de residncia fiscal parcial como modo deresponder a situaes de alterao de residncia no decurso do ano fiscal, que tantas vezestm levado a situaes jurdicas de enorme complexidade.

    Nos termos deste conceito, possvel que algum que, no ano em que muda a suaresidncia para outro Estado, passe a ser qualificado por este como seu residente fiscal apartir da data em que efetivamente passou a residir no seu territrio. Por outro lado, quemse ausenta para passar a residir noutro Estado, continua a ser qualificado como residentefiscal at data da respetiva partida. Desta forma, proposta a adequao do nosso sistemafiscal aos Comentrios da Conveno Modelo da OCDE, sendo sugerida uma soluo quelimita os conflitos de competncia de tributao entre Estados.

    Ainda quanto residncia, prope-se que seja aferida de forma separada relativamente acada sujeito passivo do agregado familiar, enquadrando-se assim dinmicas familiares cada

    vez mais comuns, bem como um aperfeioamento pontual do regime dos residentes nohabituais, para que este possa ser mais efetivo na atrao de novos residentes para o nossopas.

    Em resumo, aquilo que se prope no so alteraes capazes de desvirtuar o conceito deresidncia, mas sim moldar tal conceito a novas realidades. Realidades que so cada vezmais estruturais e resultam na necessidade de o sistema fiscal se adequar evoluo de ummundo e de uma Europa cada vez mais globais.

    3.2.3

    A unidade fiscal

    Desde o incio da vigncia do IRS que se coloca a questo de responder a uma opoestrutural. A capacidade econmica alvo de tributao deve ser aferida relativamente famlia ou ao indivduo? A opo inicial do nosso legislador, favorvel tributaoconjunta, foi condicionada por uma determinada leitura dos princpios enformadores doCdigo, a qual, porm, tem sido consistentemente posta em causa. Hoje genericamenteaceite que a considerao da famlia e das suas necessidades pode ser alcanada em sistemasde tributao separada.

    Para alm de toda a discusso terica e ideolgica volta do tema, convm tomar emateno a evoluo genrica entretanto ocorrida nos sistemas fiscais mais desenvolvidos,

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    bem como o pensamento doutrinal hoje dominante, os quais vo no sentido da tributaoseparada, com base em princpios de eficincia e simplicidade na tributao.

    A esta evoluo no estranha a eroso de que o sistema de tributao conjunta tem sido

    alvo, seja relativamente aos casados, seja aos unidos de facto. Quanto aos primeiros, desdelogo pela inadaptao da tributao conjunta face aos diferentes regimes civis de bens;quanto aos segundos, fundamentalmente, por uma questo de princpio e dereconhecimento da sua situao, o que levou a que fosse admitida a possibilidade deoptarem pela tributao conjunta. Este direito de opo gerou uma discriminao, paramuitos inconstitucional, que urge resolver.

    Por essa razo, proposto que a tributao separada seja a regra, salvaguardando, noentanto, a possibilidade de opo pela tributao conjunta para os contribuintes casados epara os unidos de facto. A Comisso f-lo, alis, na sequncia de vrias autorizaes

    legislativas que acabaram por no ser executadas. A soluo mais radical (obrigatoriedadeda tributao separada) embora sendo, reconhecidamente, uma soluo mais simples que aque decorre da preconizada existncia de uma dualidade de sistemas, foi afastada por duasordens de consideraes:

    i) A existncia de referncia expressa, no n. 1 do artigo 104. da Constituio daRepblica Portuguesa (CRP), ao agregado familiar; e

    ii) O facto de a tributao conjunta proteger os casais em que os sujeitos passivosobtenham rendimentos de valores dspares, sendo que, na realidade atual, tal

    corresponde, em numerosos casos, a situaes de desemprego de um dos sujeitospassivos.

    Assim, e mais uma vez, a Comisso optou pelo estrito cumprimento do acervoconstitucional vigente e pela adaptao do IRS s novas circunstncias existentes.

    Aproveitou-se para compatibilizar a responsabilidade dos cnjuges pelo cumprimento dasdvidas de imposto com o regime de bens a que se encontrem sujeitos, acabando-se com aincompreensvel contradio existente entre o disposto na lei civil e na lei fiscal. Nos casosde opo pela tributao conjunta, a responsabilidade ser sempre solidria; na tributaoseparada, relativamente aos casados, aplicar-se-, quanto comunicabilidade das dvidas de

    imposto, o regime da lei civil.

    H que notar que, mais uma vez, a proposta da Comisso preconiza uma adaptao snecessidades estruturais da vida atual, neste caso por via de uma opo dos contribuintes.

    Assim se mantm a estrutura inicial do IRS, mas adaptada ao contexto socialcontemporneo.

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    a ser realizado na informatizao da administrao tributria. S com os nveis de eficinciaque hoje se alcanaram na disponibilizao da informao essencial para a liquidao doimposto que possvel dar este passo. Aps se ter consolidado a transio do papel paraos dados informticos, altura de reforar as vantagens que estes podem ter na liquidao

    do imposto.

    A simplificao das obrigaes acessrias que a Comisso preconiza e prope tambmexige simplicidade legislativa: cada particularismo que seja introduzido no sistema dificultaeste desiderato. Por exemplo, cada benefcio fiscal que seja criado implica, por regra, custosde administrao elevados, para os contribuintes e para a administrao tributria, muitas

    vezes de valor superior ao efeito til de uma tal regra especial. Devido a esse motivo, aintroduo de medidas com objetivos extrafiscais deve ser reduzida ao verdadeiramenteessencial e deve ser especialmente ponderada. A aplicao das solues do IRS,independentemente da complexidade da realidade subjacente, deve ser o mais simples

    possvel. Mais do que uma legislao cheia de regras, excees e contra regras, deve-setrilhar um caminho de uma legislao simples e de fcil aplicao. A simplificao dosistema redunda muitas vezes em maior justia, muito embora, numa primeira anlise, talpossa no surgir como uma evidncia.

    Num exemplo, a consagrao de dedues fixas coleta relativas a despesas de sade,educao e habitaoque a Comisso preconizapode ser entendida como menos justado que a possibilidade de deduo de determinada percentagem das despesas efetivamenterealizadas. Todavia, para alm da radical simplificao, em termos de obrigaesdeclarativas e de necessidade de controlo, que assim se atinge, verifica-se que:

    i) Por um lado, os contribuintes de rendimentos relativamente modestos, por falta demeios, no aproveitam totalmente das dedues que a lei lhes faculta; e

    ii) Por outro lado, relativamente aos contribuintes com maiores rendimentos (que soos que apresentam maior volume de despesas deste tipo) tais dedues so, hoje,fixas (quando no inexistentes).

    O mesmo dizer que a existncia de dedues fixas coleta, mormente as relativas adespesas do agregado, atribudas numa base de capitao (tal como proposto) redundar

    numa maior justia na tributao e, mesmo, num acentuar parcial da progressividade desteimposto. Mais, um sistema de dedues fixas torna ainda o imposto relativamente imunea tentativas de introduo de benefcios fiscais, muitas vezes ditados porcircunstancialismos pontuais, permitindo, a mdio prazo, lograr aquilo que hoje se entendedever ser caracterstica essencial de um bom imposto: uma ampla base tributvel e taxasmais baixas.

    Outra das reas que passou por um teste de simplicidade a das retenes na fonte. AComisso no s prope a sua dispensa de modo a resolver um problema que tem sidofonte de litigiosidade, o das retenes na fonte sobre rendimentos em espcie, como

    tambm defende a reformulao global do regime, como adiante melhor se dir.

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    3.3.3 A considerao da famlia

    O IRS assumiu, desde o incio, uma viso estrita, mas adequada, do agregado familiar, oqual, em traos largos, abarca apenas os progenitores ou progenitor e filhos dependentes.O conceito de dependente, que assenta num misto de elementos relativos incapacidade deexerccio de direitos e falta de autonomia econmica, assume grande relevncia, mais queno seja pela obrigatoriedade de consagrao, num imposto com caratersticas depessoalizao, de dedues coleta derivadas da existncia de tais pessoas e de despesas aque elas do causa.

    Acresce que o atual sistema consagra o quociente conjugal. De acordo com esse regimeassumindo-se que o imposto incide, pelo menos, sobre a soma dos rendimentos doscnjuges ou unidos de facto e independentemente do nmero de dependentes , orendimento coletvel dividido por dois, aplicando-se a tabela das taxas de acordo comesse resultado. Para todos os sujeitos casados e para os unidos de facto que optem pelatributao conjunta, tal conduz a um resultado econmico equivalente tributao de cadaum dos sujeitos passivos por metade do rendimento do agregado familiar.

    3.3.4 A opo tomada

    Como expressamente sugerido no mandato da Comisso, procurou-se, nos limites do

    possvel, uma maior e mais realista traduo fiscal da composio do agregado familiar.Entende-se que esta questo apenas deve relevar, em termos de tributao, na medida doestritamente necessrio, aceitando-se que problemas como o fomento da natalidade emaiores apoios educao ou sade devem encontrar resposta em mecanismos de apoiosocial, ou seja, em prestaes do Estado. A via fiscal deve ser apenas complementar face aestes elementos principais.

    De todo o modo, no que ao IRS diz respeito, esta no uma questo que deva serconsiderada de forma neutra. Bem pelo contrrio, admite-se nesta matria a procura deefeitos extrafiscais. O legislador fiscal no deve ser indiferente a necessidades que,

    relativamente famlia, a nossa sociedade vem demonstrando.

    A Comisso debruou-se fundamentalmente sobre duas hipteses para acentuar a vertentefamiliar da tributao: o aumento das dedues pessoalizantes (em funo do nmero demembros do agregado) ou a introduo do quociente familiar (diviso, para efeitos dedeterminao da taxa, do rendimento tributvel por um quociente que atende ao nmerode membros do agregado).

    Optou-se por uma soluo mista: dedues fixas per capita e introduo do quocientefamiliar. Deste modo, para efeitos de determinao da taxa aplicvel, o rendimento

    coletvel ser dividido por um divisor que traduz a existncia de cada sujeito passivo(naturalmente, uma unidade por cada um), ao qual se soma um valor relativo a cada

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    dependente. Nas situaes de tributao separada dos sujeitos passivos integrantes de ummesmo agregado familiar, o divisor relativo aos dependentes ser, obviamente, objeto derepartio entre aqueles.

    A nossa proposta no impede que, no futuro, e de acordo com as concretas circunstncias,a expresso da proposta da Comisso possa vir a ser maior. Por enquanto, e por meracautela de natureza tcnica derivada das condies oramentais, a Comisso prope queesta medida possa ser compensada com uma diminuio do montante das deduespessoalizantes. Diminuio que, h que frisar, no acontecer em muitos casos concretos,uma vez que os novos valores, alm de fixos (i.e., independentes da prova da efetivarealizao de despesas) passam a ser aferidos em funo do nmero de membros doagregado familiar e no, como hoje sucede, em funo do agregado familiar considerado noseu todo. O que, obviamente, representa uma vantagem significativa para as famliasnumerosas.

    3.3.5 A mobilidade social

    Uma das vertentes que assume maior relevncia, no contexto de qualquer sistema detributao dos indivduos, a imposio a que est sujeito o rendimento derivado do fatortrabalho, dadas as suas profundas consequncias, no s em termos de justia fiscal mastambm em termos de evoluo econmica e social.

    A considerao de que o mrito e o esforo devem ser premiados deveria, por princpio,

    ser tomada em ateno no momento da tributao. Esta exigncia resulta ainda maisacentuada numa altura, como aquela que neste momento vivemos, em que existe umanecessidade de fomentar o empreendedorismo e a produtividade.

    3.3.6 A opo tomada

    A Comisso debruou-se sobre vrias formas possveis de alcanar este objetivo. Com basenessa reflexo, concluiu que qualquer soluo quanto a esta matria deve ser extremamente

    cautelosa, sob pena de se poder estimular formas de fraude que no s socontraproducentes como, tambm, podem corresponder a um sinal contrrio face aoenorme esforo que se tem produzido para combater a evaso fiscal.

    Da que se tenha concludo no ser recomendvel diferenciar fiscalmente as vrias formasde remunerao do trabalho dependente.

    Ainda neste contexto, e como modo de facilitar a mobilidade do fator trabalho, a Comissosustenta que, dentro de cuidadosos condicionalismos, se deve excluir a tributao, nacategoria A (trabalho dependente), dos valores atribudos como compensao pelamudana de residncia motivada pela alterao do lugar habitual de prestao do trabalho.

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    Com o objetivo de facilitar a integrao no mercado de trabalho, prope-se, ainda, adispensa de quaisquer obrigaes declarativas relativamente a situaes meramentepontuais de trabalho por conta de outrem, o que bem se compreende porquanto, dado o

    valor dos rendimentos em causa, no existir sujeio a tributao.

    Por outro lado, quanto categoria B (trabalho independente) a Comisso prope a reduoda tributao dos empreendedores que iniciem atividade pela primeira vez no mbito doregime simplificado.

    3.4

    Outras propostas relevantes

    3.4.1 Categorias A (trabalho dependente) e H (penses)

    Relativamente s categorias A e H, consagrou-se o princpio da igualdade das regras detributao aplicveis, o que parece conforme ao facto de estarem em causa rendimentos denatureza equivalente. Estabeleceu-se, assim, o princpio da unificao do regime detributao destes rendimentos, com o consequente fim de discriminaes verdadeiramenteincompreensveis, hoje existentes.

    Porm, optou-se pela no integrao formal das duas categorias, por se entender serconveniente esperar pela consolidao definitiva da opo ora tomada.

    Prope-se tambm uma reformulao do regime das retenes na fonte, para que este seja

    mais simples e adequado, limitando em muito a necessidade de pagamentos ou devoluesaps a liquidao final do imposto. As regras relativas reteno na fonte passam aincorporar o articulado do prprio Cdigo, o que no deve ser entendido como umaalterao meramente formal, antes como expresso do intuito de limitar a intervenoadministrativa nesta matria.

    A Comisso tem em devida conta que a grande questo que se coloca, relativamente aosrendimentos derivados do trabalho, por conta de outrem ou por conta prpria, e depenses a da sua sobretributao, comparativamente com rendimentos de outras fontes,em razo de serem os rendimentos mais significativos obrigatoriamente sujeitos s taxas

    progressivas. relativamente a estes rendimentos (sujeitos s taxas gerais do imposto) que,no entender da Comisso, se deve concentrar o esforo de reduo da carga tributria, logoque para tal estejam reunidas as necessrias condies.

    Por essa razo avanou-se com uma recomendao, de natureza tcnica, no sentido queessa tarefa se inicie pela progressiva eliminao da sobretaxa.

    Ainda relativamente sobretributao que claramente hoje se verifica neste imposto, no sepode concluir sem deixar de se fazer mais duas consideraes. Primeira, a deciso dereduzir as taxas do imposto e a sua medida, de acordo com as condies que sejampresentes, no competncia desta Comisso. Segunda, no podemos deixar de salientar oconforto, no que ao IRS diz respeito, conferido pelas sugestes do relatrio da OCDE

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    Aprofundar reformas estruturais para apoiar o crescimento e a competitividade, de julhode 2014, bem como a declarao final da reunio do Eurogrupo, de 7 de julho de 2014, queafirma a existncia de desafios no que respeita elevada carga fiscal sobre o trabalho, apontaEstados que esto a promover reformas para responder a este problema e a necessidade de

    mais esforospara cumprir essa tarefa.

    Em resumo, a Comisso aponta, atravs de uma recomendao e com as cautelas devidas,o sentido que, quanto a esta matria, deve vir a ser seguido.

    3.4.2 Categoria B (rendimentos empresariais e profissionais)

    Quanto categoria B (rendimentos empresariais e profissionais), procurou-se que,relativamente aos sujeitos passivos cujo rendimento seja apurado com base em

    contabilidade organizada, se apliquem solues equivalentes s vigentes em IRC.

    Na realidade, nada justifica que a opo pela forma jurdica societria para titular umadeterminada atividade econmica (que, muitas vezes, continua, na forma do seu exerccio, arevestir caratersticas individuais) se projete em acentuadas diferenas na tributao. Porm,sem embargo de todo o esforo possvel de uniformizao, no se pode deixar de constatara impossibilidade de total correspondncia entre os dois regimes, pois h diferenasestruturais entre os dois impostos que no podem nem devem ser ultrapassadas.

    Paralelamente, propem-se outras modificaes tais como: (i) as relativas deduo das

    importncias pagas para regimes de segurana social, nos casos de scios de sociedadessujeitas ao regime da transparncia fiscal e de profissionais independentes abrangidos peloregime simplificado; e (ii) as relativas definio do momento em que ocorre o factogerador do imposto.

    3.4.3 Categoria E (rendimentos de capitais) e mais-valias mobilirias

    Relativamente aos rendimentos de capitais e s mais-valias mobilirias procurou-se, deforma essencialmente pragmtica, clarificar o diferente enquadramento de alguns

    rendimentos numa ou noutra dessas categorias.

    Assim, foram deslocados dacategoria E para a categoria G rendimentos que, emborano diretamente resultantes da alienao do bem gerador do rendimento, derivam desituaes economicamente equivalentes, como seja a extino da fonte do rendimento. Taisrendimentos passam a estar sujeitos s taxas especiais, permitindo-se igualmente a relevaode eventuais perdas.

    Entende-se que a opo seguida tem o mrito de clarificar as regras de tributaoatualmente existentes e, mais, de possibilitar que os contribuintes passem a pagar imposto

    (apenas) pelo acrscimo patrimonial que efetivamente obtiveram.

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    3.4.4 Categoria F (rendimentos prediais)

    A categoria F mereceu especial ateno. Na realidade, por razes conhecidas, ocorreurecentemente uma profunda alterao na forma de resoluo do problema habitacional dasfamlias, com o recrudescer do recurso ao arrendamento face aquisio de habitao. Estefacto, para alm de implicar a necessidade de alteraes legislativas no regime doarrendamento, tambm tem, naturalmente, de ter consequncias de natureza fiscal.

    por demais conhecido que a oferta de prdios para arrendamento, quando asseguradapor pessoas individuais, esbarra na sobretributao a que as rendas esto sujeitas em IRS,questo que s recentemente foi parcialmente atenuada pela recente consagrao dapossibilidade da sua sujeio a uma taxa especial. Apesar disso, tal sobretributao mantm-se, em resultado, essencialmente, de dois fatores: (i) a cumulao da sujeio dos prdiosarrendados a IMI com a sujeio a IRS das rendas; e (ii) a reduzida considerao fiscal dosgastos implicados por esta atividade econmica. Acrescem dificuldades de delimitao detais gastos, nomeadamente quando relativos a despesas de conservao e manuteno.

    Perante estes elementos, a Comisso ponderou dois cenrios: o estabelecimento de umapresuno de gastos ( semelhana do que acontece no regime simplificado da categoria B)ou um alargamento das dedues especficas consideradas para efeito de determinao dorendimento desta categoria, atualmente quase restritas, para alm do IMI, s despesas deconservao e manuteno.

    A existncia de um coeficiente fixo, como forma de traduo fiscal dos gastos suportadoscom a atividade de arrendamento, teria o mrito de pr fim s numerosas questes quehoje se colocam na identificao das despesas dedutveis. Porm, a informao estatsticadisponvel mostrou que uma tal medida teria efeitos perniciosos, contribuindo para acriao de desigualdades profundas entre contribuintes titulares de rendimentos destacategoria.

    Assim, atendendo aos efeitos pretendidos, a soluo encontrada, pese embora implicaralguma complexidade administrativa, passou por admitir a deduo da maioria dos gastosque sejam efetivamente suportados e pagos pelo sujeito passivo para obter tais

    rendimentos. Esta ampliao das dedues especficas permitidas levou a que se tenhamtomado algumas cautelas capazes de prevenir abusos que, de outro modo, certamenteocorreriam. Em primeiro lugar, mantm-se a necessidade de apresentao de documentoscomprovativos das despesas que se pretende deduzir; em segundo lugar, prope-se oestabelecimento da regra de que as perdas apenas podem ser deduzidas aos ganhos de cadaprdio em concreto, mas com a consagrao de um generoso prazo de reporte para futuro.

    Para aqueles sujeitos passivos que exercem a locao imobiliria num contextoverdadeiramente empresarial, fica aberta a possibilidade de serem tributados segundo asregras da categoria B.

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    Com este conjunto de propostas de alterao, a Comisso pretende dar um sinal claro daabertura que o IRS deve demonstrar perante as evidentes alteraes que esto a acontecerno mercado do arrendamento e, mais, criar estmulos reais a uma maior oferta e, ainda, recuperao de prdios que j esto ou vo passar a estar nesse mercado.

    3.4.5 Categoria G (incrementos patrimoniais)

    Relativamente categoria G, para alm do que se deixou j referido no tocante delimitao entre mais-valias mobilirias e rendimentos de capitais, assinala-se, quanto smais-valias imobilirias, a proposta de uma norma, necessariamente transitria, isentandoos ganhos obtidos com a alienao de prdios, afetos a habitao prpria, quando oproduto da alienao seja utilizado no pagamento ou amortizao parcial de emprstimoscontrados para a sua aquisio. De forma excecional, sugere-se este benefcio fiscal (que,por estar em causa a consagrao de uma iseno, no tem implicaes diretas nadeterminao do rendimento tributvel, e, portanto, no obriga a maior complexidadeadministrativa) porque o mesmo se tem por plenamente justificado, atentas as atuaisdificuldades de muitas famlias em solver compromissos assumidos para aquisio da suahabitao.

    Mostra-se, ainda, necessria uma reviso profunda das regras de tributao relativas aosincrementos patrimoniais decorrentes da constatao de manifestaes de fortuna nojustificadas, pois as atuais regras, aplicveis a pessoas singulares, demonstraram ser

    incoerentes, contraditrias mesmo, sendo fonte de permanentes litgios. A Comissoaproveitou o trabalho desenvolvido por um grupo que, no seio da AT, j havia sidoincumbido da reformulao de tais normas, cujas solues propostas, no essencial,mereceram concordncia. Contudo, preconizam-se alguns importantes ajustamentos, aindaque meramente pontuais, quer no que toca definio de algumas das manifestaes defortuna, quer quanto aos meios de garantia ao dispor dos sujeitos passivos, por se entenderque tais regras, ainda que plenamente justificadas em termos de justia na tributao,podem resultar na penalizao de contribuintes que, por negligncia ou outros fatores, noesto em condies de justificar a origem dos rendimentos utilizados em tais aquisies oudespesas.

    3.5

    Concluses

    Em todo o trabalho produzido houve o cuidado, genrico, de no ultrapassar os limites domandato da Comisso. Assim, por exemplo, optou-se, no possvel e necessrio, poruniformizar as normas do IRS com as do IRC, recentemente alterado. Apenas foramsugeridas algumas alteraes pontuais de outros diplomas, respeitando um princpio deestabilidade, quando tal se demonstrasse imprescindvel e inevitvel face manuteno dacoerncia do sistema fiscal no seu todo.

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    A tomada de posio sobre outras necessrias alteraes legislativas, em relao s quais serefletiu mas que se entende excederem o mbito do mandato, surge sob a forma derecomendaes. So variadas e podem servir de bssola a um legislador, presente oufuturo, que pretenda tomar opes polticas de fundo ou adaptar o IRS face aos novos

    desafios que constantemente vo surgindo.

    No decurso do trabalho da Comisso tomou-se conhecimento das alteraes legislativas,em sede de IRS, preconizadas por outras Comisses cujos trabalhos decorreram emparalelo. Independentemente de terem subsistido algumas divergncias, perfeitamentecompreensveis pela diversidade de objetivos propostos aos diferentes grupos de trabalho,teve-se em considerao tais contributos, naquilo que diretamente relevam em sede de IRS.

    Caber, por ltimo, assinalar que no integrando o mandato da Comisso promover areduo da carga fiscal, muitas das solues preconizadas tero esse efeito, pelo menos

    relativamente grande maioria dos contribuintes por elas abrangidos. Pese embora esteefeito, a necessidade e a bondade de tais propostas de alteraes resultou de imperativos demaior justia na repartio do encargo do imposto e necessidade de adequao do IRS adesafios que se colocam na nossa sociedade de forma to diversa. Entre estes, e s parasalientar alguns temas, no passaram em claro as questes da natalidade, do excesso deburocracia a cargo dos cidados, da segurana e eficcia na cobrana dos impostos e, at,das modificaes ocorridas em algumas atividades econmicas especficas, como omercado do arrendamento.

    A Comisso acredita que aps esta reforma do IRS 2014 se garante uma maior justia,

    eficincia e equidade na tributao dos cidados. Foi esse o seu objetivo e para eletrabalhou numa vertente eminentemente tcnica. Com o comeo da discusso pblica aComisso aguarda por mais propostas que nos venham a ser feitas, em especial por partedos parceiros sociais, sempre com um esprito de total abertura para modificar aquilo quese venha a demonstrar necessrio para melhorar o IRS.

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    4

    AEVOLUO RECENTE DO IRS

    Com a descrio que se segue, a Comisso no pretende fazer um qualquer juzo valorativosobre a evoluo recente do IRS.

    Considerou-se importante transmitir, no mbito deste relatrio, a imagem fiel (extrada dedocumentos oficiais) do que , hoje, a realidade deste imposto porquanto, necessariamente,ela esteve sempre presente e condicionou, em muito, o trabalho da Comisso.

    Dito de forma mais simples, se a realidade fosse outra, a Comisso poderia ter ido maisalm naquilo que prope.

    4.1

    As alteraes verificadas em 2012

    4.1.1 Estratgia de consolidao oramental

    No obstante os compromissos internacionais assumidos no mbito do Programa deAssistncia Econmica e Financeira (PAEF), assumiu-se como prioridade o respeito peloprincpio da equidade social na austeridade, protegendo os grupos mais vulnerveis dasociedade portuguesa e salvaguardando o esforo necessrio de proteo social. Assim, ageneralidade das alteraes legislativas aprovadas nos ltimos anos foram no sentido deexigir uma contribuio acrescida s famlias com maior capacidade contributiva.

    4.1.2 A progressividade em sede de IRS

    A progressividade do IRS encontra-se patente no facto de, em 2012:

    10% dos agregados familiares portugueses com rendimentos mais elevados teremsuportado cerca de 75% da receita total do IRS;

    Mais de metade dos agregados familiares portugueses no paga IRS, por auferirrendimentos reduzidos.

    Dados oficiais disponibilizados pela AT referentes a 2012, relativos s declaraes de IRSapresentadas em 2013, confirmam que as famlias com rendimento anual superior a

    50.000 (agregados com rendimento mensal a partir de 3.571,43), pagaram 12 vezes maisIRS do que a mdia (agregado representativo com rendimento anual de 15.933,66, ou seja,de 1.138,12 mensais).

    Nestes termos, da anlise dos dados oficiais publicados pela AT possvel constatar que:

    As famlias com rendimento anual bruto at 50.000 representam cerca de 96% dototal, mas contribuem com menos de metade da receita do IRS;

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    Uma minoria de cerca de 4% das famlias, com rendimento anual bruto superior a 50.000, suporta cerca de 53% da receita do IRS.

    A Lei do Oramento do Estado para 2012 concretizou um conjunto variado de medidas de

    poltica fiscal, no sentido de uma maior progressividade, de que se destacam:

    i) Criao da taxa adicional de solidariedade: Sujeio das famlias comrendimentos mais elevados pertencentes ao ltimo escalo a uma taxa adicionalde 2,5% sobre o respetivo rendimento coletvel.

    ii) Reviso das dedues coleta:Eliminao da possibilidade das famlias comrendimentos mais elevados, ou seja, as famlias que integram os dois ltimosescales de rendimento, beneficiarem de dedues coleta relativas a despesasde sade, educao, encargos com lares e penses de alimentos e encargos com

    imveis.Adicionalmente, foi mantida a possibilidade de deduo coleta ilimitada porparte das famlias com rendimentos mais reduzidos, abrangidas pelos 1. e 2.escales de rendimento. Em paralelo, introduziram-se, de forma progressiva,limites globais s dedues coleta das famlias integradas nos 3., 4., 5. e 6.escales de rendimento, majorveis em 10% por cada dependente, mantendo-seainda as dedues de carter pessoalizante ou relativas aos portadores dedeficincia.

    iii) Aumento da tributao dos rendimentos de capitais e das mais-valias

    mobilirias:Aumento de 21,5% para 25% da taxa de tributao aplicvel aosrendimentos de capitais e s mais-valias de partes sociais, outros valoresmobilirios e instrumentos financeiros derivados. Posteriormente, com efeitos apartir de novembro de 2012, aquelas taxas foram incrementadas em 1,5 p.p.,para 26,5%.

    4.1.3 Manuteno do nvel de tributao efetiva

    Numa anlise em termos agregados, com base em dados oficiais coligidos pela AT, em2012 a taxa efetiva de tributao das famlias manteve-se em linha com os anos anteriores,situando-se em cerca 10%. No entanto, refletindo a forte progressividade do IRS, a taxaefetiva de tributao das famlias com rendimentos mais elevados superou largamenteaquela taxa, ascendendo a 40,05% para as famlias do ltimo escalo do IRS.

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    Quadro 1 Taxa efetiva de tributao por escalo de rendimento em 2012

    (Fonte: AT)

    4.1.4 As dedues coleta

    Relativamente ao ano de 2012, o total das dedues coleta ascendeu a 2.852M,representando, assim, 34,77% do IRS liquidado. Deste montante global, 65,32% respeitams dedues pessoalizantes e 24,89% s despesas com sade, habitao e educao,conforme evidenciado no seguinte grfico:

    Grfico 1 Distribuio das dedues coleta em 2012 (despesa fiscal)

    (Fonte: AT)

    Taxa Efetiva

    Escalo () 2012

    0 - [ 0 ] n.a.

    01 - [ 1 A 5.000 [ 0,57%

    02 - [ 5.000 A 10.000 [ 0,66%

    03 - [ 10.000 A 13.500 [ 2,25%

    04 - [ 13.500 A 19.000 [ 3,88%

    05 - [ 19.000 A 27.500 [ 6,91%

    06 - [ 27.500 A 32.500 [ 11,08%

    07 - [ 32.500 A 40.000 [ 13,33%

    08 - [ 40.000 A 50.000 [ 15,26%

    09 - [ 50.000 A 100.000 [ 20,99%

    10 - [ 100.000 A 250.000 [ 28,90%

    11 - [ 250.000 A *** [ 40,05%

    Total 10,12%

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    4.2

    As alteraes verificadas em 2013

    4.2.1 Estrutura de taxas em IRS

    A estrutura das taxas gerais aplicveis em 2013 sofreu uma alterao profunda. O grficoseguinte evidencia, por rendimento bruto escalonado em decis (por grupos correspondentes a10% dos contribuintes), o efeito estimado para 2013 em termos de aumento mdio doimposto.

    Grfico 2 - Aumento mdio de IRS em 2013 - Por decil de rendimento bruto, em euros

    (Fonte: Ministrio das Finanas)

    Por outro lado, a sobretaxa de IRS, equivalente a 3,5% do rendimento coletvel que excedeo valor anual do salrio mnimo nacional, em combinao com a taxa de solidariedade de

    2,5% para rendimentos entre 80.000 e 250.000, e 5% acima deste valor , traduziu-se numaumento adicional da taxa mdia em cerca de 1,5 p.p., ou seja, elevando a taxa mdia deIRS para cerca de 13,5%.

    Grfico 3 - Taxa Mdia de IRS por escales em 2013 (em %)

    (Fonte: Ministrio das Finanas)

    4.2.2 Resumo das medidas tomadas em 2013

    A Lei do Oramento de Estado para 2013 introduziu as seguintes alteraes estruturais nombito do Cdigo do IRS:

    0.5

    7.0

    17.7

    25.3

    35.0

    1.5

    10.7

    22.4

    31.4

    42.3

    0.0

    5.0

    10.0

    15.0

    20.0

    25.0

    30.0

    35.0

    40.0

    45.0

    de 0 a 7000 de 7000a

    20000

    de 20000 a

    40000

    de 40000 a

    80000

    maior que

    80000

    Escalo de Rendimento Coletvel

    Inicial

    Final

    Mdia - Inicial

    Mdia - Final

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    i) Tabela Geral A nova tabela geral de IRS foi restruturada, tendo-se reduzidode 8 para 5 os escales de rendimentos, nos termos seguintes:

    Quadro 2 Tabela geral do IRS em 2013

    Rendimento coletvel (em euros)Taxas (em percentagem)

    Normal Mdia

    At 7 000 14,50 14,500

    De mais de 7 000 at 20 000 28,50 23,600

    De mais de 20 000 at 40 000 37,00 30,300

    De mais de 40 000 at 80 000 45,00 37,650

    Superior a 80 000 48,00 -

    ii) Taxas adicionais de solidariedade Para os sujeitos passivos comrendimentos mais elevados pertencentes ao ltimo escalo manteve-se a taxaadicional de solidariedade de 2,5% sobre o rendimento coletvel, tendo-secontudo reduzido o limiar desse escalo de 153.300 para 80.000.

    Adicionalmente, foi criada uma nova taxa adicional de solidariedade de 5%sobre rendimentos coletveis superiores a 250.000.

    iii) Dedues pessoalizantes Foram reduzidas em 10 p.p. do IAS as deduespessoalizantes dos sujeitos passivos de IRS, aumentando-se, por sua vez, em 5p.p. a deduo pessoalizante aplicvel aos dependentes, com possibilidade deaumento em 10 p.p. nos agregados familiares com 3 ou mais dependentes.

    iv) Encargos com imveis Foram tambm atualizados os limites da deduodos encargos com juros e rendas relacionados com imveis, reduzindo parametade o limite mximo desta deduo coleta (de 591 para 296).

    v) Limite geral das dedues coleta - Por fora da reformulao da tabelageral do IRS, os limites gerais para as dedues relativas a despesas de sade,

    educao, encargos com lares, penses de alimentos e encargos com imveisforam reestruturados para 2013, passando a abranger os novos 2., 3. e 4.escales. Manteve-se para os contribuintes do ltimo escalo a impossibilidadede deduzir quaisquer encargos relativos a sade, educao, lares, penses dealimentos e imveis. Foi ainda reduzido o limite para o 4. escalo.

    4.3

    O combate fraude e evaso fiscais no mbito do IRS

    O alargamento da base tributvel atravs do combate fraude e evaso fiscais constitui umobjetivo que essencial atingir. De facto, este alargamento da base no apenas conduz a

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    um sistema fiscal mais justo e equitativo, uma vez que conduz a uma maior repartio doesforo fiscal, como tambm uma das condies para uma futura, e desejvel, reduo donvel geral de tributao em sede de IRS, ao mitigar o impacto oramental da diminuio dacarga fiscal sobre as famlias portuguesas.

    4.3.1 A Declarao Mensal de Remuneraes

    A Declarao Mensal de Remuneraes (DMR), que foi criada com a Lei n. 66 -B/2012,de 31 de dezembro, veio estabelecer a obrigatoriedade de entrega mensal, por parte dasentidades devedoras de rendimentos do trabalho dependente, de declarao de modelooficial com indicao, por trabalhador, dos rendimentos e retenes de imposto, dascontribuies obrigatrias para regimes de proteo social e subsistemas legais de sade,assim como de quotizaes sindicais.

    Esta nova declarao permite um reforo do controlo sobre as retenes na fonteentregues por mais de 400 mil empresas, atravs do cruzamento de dados recebidosmensalmente na DMR com as retenes efetivamente entregues, devendo a sua utilizaoser aprofundada enquanto ferramenta essencial no combate atempado evaso fiscal.

    Em resultado do cruzamento de informao efetuado entre os valores declarados nas DMRe os apresentados nas guias de reteno na fonte foram identificadas e notificadas 12.599empresas em situao de divergncia. Em 80,9% dos casos estas situaes foramregularizadas voluntariamente, atravs da entrega de uma DMR de substituio (58,3%) ou

    mediante o pagamento do imposto em falta, dado que a ele havia lugar, em 22,6% doscasos.

    Em apenas 345 divergncias (2,7%), at 31 de dezembro de 2013, foi efetuado olevantamento por indicao dos servios de finanas.

    Quadro 3 Divergncias entre as DMR e as Guias de Pagamento

    CDIGO DE SITUAO N DIVERGNCIAS

    Divergncias Ativas 2.063

    Levantamento por Entrada de Dec. Substituio 7.349

    Levantamento por Entrada de Dec. Reteno Fonte 2.842

    Levantamento por Indicao dos Servios de Finanas 345

    Total 12.599

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    4.3.2 Pr-preenchimento das declaraes de impostos sobre o rendimento

    Desde 2007 que se tem dado continuidade ao projeto do pr-preenchimento dasdeclaraes Modelo 3 do IRS. Assim a declarao j tem os seguintes dados pr-

    preenchidos:

    Rendimentos de trabalho dependente (categoria A) e penses (categoria H) pagosou colocados disposio dos respetivos titulares;

    Rendimentos de capitais (categoria E) de englobamento obrigatrio;

    Retenes na fonte efetuadas sobre os rendimentos das categorias A, B(rendimentos profissionais e empresariais), E, G (incrementos patrimoniais) e H;

    Descontos obrigatrios para a Segurana Social relativos aos rendimentos das

    categorias A e H;

    Quotizaes sindicais pagas em sede das categorias A e H;

    Pagamentos por conta no mbito da categoria B;

    Planos de poupana-reforma (PPR);

    Contribuies individuais para fundos de penses, para associaes mutualistas eoutros regimes complementares de segurana social;

    Prmio de seguros ou contribuies pagos a associaes mutualistas que cubramexclusivamente riscos de sade;

    Juros e amortizaes de dvidas com a aquisio, construo, beneficiao deimveis e prestaes de contratos celebrados com cooperativas de habitao ou noregime de compras em grupo, com imveis para habitao prpria e permanente ouarrendamento para habitao permanente do arrendatrio;

    NIB constante do registo de contribuintes;

    Sobretaxa.

    Em 2013, foram pr-preenchidas 5.159.899 declaraes Modelo 3 de IRS, as quaiscorrespondem totalidade das declaraes submetidas eletronicamente.

    4.3.3 Alertas no preenchimento e receo da declarao Modelo 3 de IRS

    A AT tem intensificado o sistema de alertas com o objetivo de evitar erros e ou omissesno preenchimento das declaraes Modelo 3 entregues pela Internet. Este sistema assenta

    no cruzamento da informao constante das suas bases de dados, nomeadamente das

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    DMR e das declaraes Modelo 10, permitindo que os tempos de liquidao sejammenores e o controlo dos elementos declarados mais eficaz.

    De realar a forte adeso que se tem verificado no envio de declaraes pela Internet que,

    em 2013, atingiu 5.159.899 declaraes correspondendo a 87% do total de declaraesrececionadas (5.930.995). Em 2012 a percentagem de declaraes submetidaseletronicamente foi de 85% do total.

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    PRINCIPAIS PROPOSTAS DE ALTERAO LEGISLATIVA

    5.1 No mbito da incidncia objetiva

    5.1.1

    Unificao do regime de tributao dos rendimentos das categorias A eH

    A Comisso de Reviso do IRS, constituda pelo Despacho n. 1.041/98 (2. srie), de 9 dejaneiro, do Ministro das Finanas, j havia recomendado a unificao das categorias A e Hface inexistncia de razes prticas para as diferenas de tratamento fiscal entre osrendimentos de trabalho e os rendimentos de penses derivados do trabalho.1

    Os nicos impedimentos apontados adoo imediata desta medida eram os seguintes: (i) adeduo especfica aplicvel aos rendimentos de penses ser, ao tempo, de montantesuperior ao aplicvel aos rendimentos de trabalho dependente; e (ii) o contexto da categoriaH abranger outros rendimentos que no eram passveis de enquadramento na mesmacategoria que os rendimentos de trabalho.

    Os valores das dedues das duas categorias encontram-se, atualmente, igualizados. Anica diferena que subsiste a regressividade do montante da deduo na categoria Hquando o rendimento bruto exceda determinado valor. Face continuada existncia derealidades integradas na categoria H que no so passveis de serem unificadas com osrendimentos de trabalho, prope-se a manuteno desta categoria, mas com eliminao daregra da regressividade da deduo especfica.

    5.1.2 Categoria B - Deduo de contribuies obrigatrias para regimes deproteo social no mbito do regime da transparncia fiscal

    Atualmente, os rendimentos imputveis aos scios das sociedades abrangidas pelo regimeda transparncia fiscal so considerados lquidos na categoria B, sem haver lugar aquaisquer dedues.

    Tal suscetvel de conduzir a situaes de desigualdade no que respeita dedutibilidade dascontribuies obrigatrias para regimes de proteo social, quer entre os contribuintes queexercem a atividade profissional em nome individual e aqueles que o fazem atravs desociedade de profissionais, quer por comparao com o tratamento deste tipo decontribuies no mbito da categoria A.

    Assim, a Comisso prope que ao rendimento lquido da categoria B resultante daimputao de lucros de sociedades sujeitas ao regime de transparncia fiscal sejamdedutveis as contribuies obrigatrias para regimes de proteo social, comprovadamenteefetuadas, desde que o contribuinte exera a sua atividade profissional atravs de uma talsociedade.

    1Relatrio da Comisso de Reviso do IRS, Direo-Geral dos Impostos, 1998

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    5.1.3 Categoria B - Enquadramento nos regimes simplificado e decontabilidade organizada

    A determinao dos rendimentos empresariais e profissionais faz-se com base no regimesimplificado ou da contabilidade.

    O enquadramento dos contribuintes num ou noutro regime tem sido fonte de significativalitigiosidade, relacionada, designadamente, com a existncia de um perodo mnimo depermanncia de trs anos.

    Acresce que as regras de enquadramento no regime simplificado de IRS e de IRC sodistintas, o que se traduz numa maior complexidade do sistema, sem razo aparente.

    Prope-se, assim, a revogao da norma que prev o referido perodo mnimo depermanncia.

    5.1.4 Categoria B - Opo pela tributao de acordo com as regras dacategoria A

    Tambm no que respeita opo pela tributao de acordo com as regras da categoria A,possvel quando os rendimentos auferidos resultarem de servios prestados a uma nicaentidade, a obrigatoriedade de o contribuinte manter a opo por trs anos apenas introduz

    complexidade no sistema fiscal, sem qualquer ganho do ponto de vista da eficincia.

    Em nome da simplificao e desburocratizao, sugere-se a eliminao de talobrigatoriedade.

    5.1.5 Categoria B - Indicadores objetivos de base tcnica ou cientfica

    Prope-se a revogao das normas que remetem para a aplicao de indicadores objetivosde base tcnica ou cientfica.

    Na realidade, tais indicadores nunca foram aprovados, no se prevendo que tal venha aacontecer.

    Assim, todas as situaes em que a lei se refere a estes indicadores constituem um elementode complexidade do sistema, sem qualquer efeito til.

    5.1.6 Categoria B - Atos isolados

    O objetivo da alterao legislativa proposta clarificar que os contribuintes que obtenhamrendimentos superiores a 200 000,00 em resultado de um ato desta natureza, no esto

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    Tal como sucede no regime simplificado do IRC, o rendimento tributvel do anoem que se verifica o incumprimento da condio de que ficou dependente aexcluso de tributao ser acrescido do valor no reinvestido, majorado em 15%.

    v) Sugere-se a introduo de uma norma visando obviar a que, em consequncia dapreconizada reduo dos coeficientes nos dois primeiros anos de atividade, oscontribuintes recorram, de forma sistemtica, a cessaes e reincios de atividadecomo forma de perpetuarem a aplicao de tais redues.

    vi) Sugere-se ainda, no mbito do regime simplificado, a possibilidade de os sujeitospassivos que obtenham rendimentos relativos a prestaes de servios poderemdeduzir os montantes comprovadamente suportados com contribuiesobrigatrias para regimes de proteo social, conexas com as atividades em causa,na parte em que excedam