gomes, arthur - a repetição do ponto de vista estética - uma análise a partir de kierkegaard

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Arthur Bartholo Gomes A REPETIÇÃO DO PONTO DE VISTA ESTÉTICO: UMA ANÁLISE A P ARTIR DE KIERKEGAARD Brasília 2013 1

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8/17/2019 GOMES, Arthur - A Repetição Do Ponto de Vista Estética - Uma Análise a Partir de Kierkegaard

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Arthur Bartholo Gomes

A REPETIÇÃO DO PONTO DE VISTA ESTÉTICO: UMA

ANÁLISE A PARTIR DE KIERKEGAARD

Brasília

2013

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8/17/2019 GOMES, Arthur - A Repetição Do Ponto de Vista Estética - Uma Análise a Partir de Kierkegaard

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Arthur Bartholo Gomes

A REPETIÇÃO DO PONTO DE VISTA ESTÉTICO: UMAANÁLISE A PARTIR DE KIERKEGAARD

Dissertação de Mestrado apresentada ao programa de pós-graduaçãodo departamento de Filosoia da !ni"ersidade de Brasília# so$orientação do proessor Dr% Mar&io Gimenes De 'aula# para o$tençãodo título de Mestre em ilosoia%

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO( Filosoia da )eligião

ORIENTAÇÂO( 'ro% Dr% Mar&io Gimenes de 'aula%

*nstituto de +i,n&ias umanas

Departamento de Filosoia'rograma de pós-graduação em Filosoia

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Brasília2013

Arthur Bartholo Gomes

A REPETIÇÃO DO PONTO DE VISTA ESTÉTICO: UMAANÁLISE A PARTIR DE KIERKEGAARD

Dissertação deendida no programa de pós-graduação do departamento de ilosoia da!ni"ersidade de Brasília para o$tenção do título de Mestre em Filosoia# e a"aliada em 3 de maio de2013# pela Ban&a ./aminadora &onstituída pelos proessores(

Dr% Mar&io Gimenes de 'aula'residente da Ban&a

Dr% Andr ui4 Muni4 Gar&ia./aminador *nterno

Dr5% 6il"ia 6a"iano 6ampaio 7 '!+ - 6'./aminadora ./terna

Dr5%% 'ris&ila )ossinetti )uinoni6uplente

*nstituto de +i,n&ias umanas

Departamento de Filosoia'rograma de pós-graduação em ilosoia

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Resumo:

.sta dissertação trata do pro$lema da repetição em 8ier9egaard do ponto de "ista da:uilo

:ue ele &on&e$e &omo sendo o estti&o% ;anto as arti&ulaç<es do signii&ado deste &on&eito dentro

da o$ra A Repetição, :uanto o signii&ado do estti&o nesta e em outras o$ras# serão tra$alhados nosentido de apro/imar a:uilo :ue# no te/to# apare&e asso&iado de maneira apenas indireta% A tarea#

 portanto# e/ige uma e/posição detalhada da ideia de repetição em toda a sua a$rang,n&ia tal &omo

8ier9egaard apresentou# $em &omo o signii&ado do estti&o e &omo a repetição a$re seus limites

 para o religioso en:uanto uma postura e/isten&ial :ue a ultrapassa% A &olisão entre o estti&o e o

religioso# a partir da :ual o poti&o apare&e &omo uma orma de reali4ação da repetição# &onsiste#

 portanto# na ideia &entral deste tra$alho e no tema &ha"e# em :ue seus elementos de"erão ser

desen"ol"idos tanto em seus aspe&tos di"ergentes :uanto &on"ergentes%

'ala"ras-&ha"e( )epetição# .stti&a# )eligião# 'oti&a%

Abst!"t:

;his dissertation intents to see the pro$lem o repetition in 8ier9egaard rom that point o"ie= =hi&h he &on&ei"es to $e aestheti&al% Both the meaning o this &on&ept inside the $oo9

 Repetition# as =ell as the meaning o the aestheti& on this matter in this te/t and in other =ritings#

=ill $e de"eloped in order to $ring together =hat appears lin9ed in the te/t onl> in an indire&t

manner% ;he tas9 altogether re:uires a detailed e/position o the idea o repetition in all its

&omple/it> as =as sho=n $> 8ier9egaard# as =ell as the meaning o the aestheti&al and the limits

opened $> repetition to=ards the religious as an e/istential posture that surpasses it% ;he &ollision

 $et=een the aestheti&al end the religious# rom =hi&h the poeti&al appears as a =a> o reali4ingrepetition# &onsists# or that matter# in the main idea o this =or9 and its 9e>-theme# in =hi&h its

elements shall $e de"eloped in $oth its di"ergents and &on"ergent aspe&ts%

8e>=ords( )epetition# Aestheti&s# )eligion# 'oeti&s%

?

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Sum#$o

*ntrodução%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%@1% A )epetição &omo psi&ologia e/perimental do ponto de "ista estti&o%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%10

1%1% ponto de "ista do o$ser"ador# ou uem +onstantin +onstantius%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1?1%2% Delineamento psi&ológi&o da melan&olia( o Co"em da )epetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1

1%3% &arEter demonía&o do e/perimento psi&ológi&o%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%21%?% As ormas da repetição do ponto de "ista estti&o-psi&ológi&o%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%321%% )esultados do e/perimento estti&o-psi&ológi&o%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%3

 2% *nteresse# *ronia e )epetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%?12%1% A negati"idade da repetição do ponto de "ista da ironia%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%?22%2% As arti&ulaç<es irHni&as do te/to%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%?I2%3% A repetição &omo &ategoria te/tual( o interessante%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%2%?% A superação da &ontemplação( o su$lime%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%@32%% *ronia e repetição &omo parado/o%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%@I

3% Metaísi&a e )epetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%I03%1% )e&ordação# Mediação e )epetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%I13%2% A origem da mediação%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%I3%3% A &ondição de possi$ilidade para a repetição do ponto de "ista estti&o%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%@3%?% ./&eção e alteridade( a dialti&a da repetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%101

?% )epetição e ;emporalidade%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%10?%1% A repetição &omo ;rans&end,n&ia%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%110?%2% )epetição# temporalidade e mo"imento%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%11?%3% )epetição &omo tarea da li$erdade%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%12??%?% instante &omo a temporalidade do mo"imento para a rente%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%131?%% .ternidade e repetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%13

% imiar da )epetição%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1??%1% 6eriedade e &omi&idade &om relação J Kti&a%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1?%2% A$raão# Ló e a in&ompreensão demonía&a%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%13%3% limiar entre o ti&o e o religioso%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1@0%?% limiar entre o estti&o e o religioso%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1@I%% A estti&a da repetição &omo arsa%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1@

@% +on&lusão%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%11Bi$liograia%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%1?

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 Introdução

.m 1I?3 oram pu$li&ados simultaneamente os li"ros Temor e Tremor   e  Repetição#

 Cuntamente &om os Três Discursos Edificantes% A tradição ilosói&a posterior pautou# a&er&a da

gradação de importn&ia na o$ra de 8ier9egaard# em geral pela pre"al,n&ia do primeiroN em$ora a

 pertin,n&ia da o$ra so$re a repetição não tenha sido de todo des&artada# pois &ostuma-se re&onhe&er

:ue ali a pergunta so$re a repetição oi &olo&ada da maneira :ue tornou-se &orrente na ilosoia

&ontempornea% *sso por:ue a o$ra# :ue o próprio 8ier9egaard &hama alhures de Oesse pe:ueno e

estranho li"roP1# não &onstitui um tratado nem uma e/posição analíti&a do &on&eito# mas se dE na

orma de uma narrati"a psi&ológi&a# um ormato espe&íi&o :ue poderia in&lusi"e "ir a &onstituir-se

en:uanto g,nero literErio% .ntrementes# a leitura do li"ro Repetição pode sus&itar as mais "ariadas

impress<es# desde a &onusão &ausada pela aus,n&ia e/plí&ita de uma estrutura ilosoi&amente&on&isa :ue se desenrole numa &onstrução &on&eitual deinida e sistemEti&a# at ao deleite de um

entretenimento des&ompromissado# de uma narrati"a :ue em Qltima instn&ia os&ila na inde&isão

entre a prepondern&ia de seu teor melan&óli&o e intempesti"o ou de seu &arEter des&ompromissado

do lQdi&o e Co&oso%

6egundo &onsta no a&-símile da &apa do li"ro Gjentagelsen2 apresentado na edição norte-

ameri&ana dos ong# o título original em dinamar:u,s não &onsta do artigo deinido pre&edente% A

edição portuguesa passou por &ima disso e intitulou-se O A RepetiçãoP# pro"a"elmente reprodu4indo

o título da edição ran&esa Oa )ptitionP% Dessa maneira i&a dado a entender :ue o li"ro de"e ser

&on&e$ido &omo um tratado de e/posição &on&eitual# :ue erige uma &on&epção lógi&a ou

sistemEti&a do &on&eito da repetição# &omo se a repetição relatada no li"ro osse OAP repetição no

sentido mais estrito e &ientíi&o do termo% ra# a intenção do autor era presumi"elmente a oposta a

esta( ao retirar o artigo deinido# o termo "aga num plano mais a$strato e indeinido# o :ue relete

 $em o &arEter de in&erte4a :ue o próprio te/to nos mostra a respeito das proposiç<es mais

&ategóri&as a&er&a da repetição# em :ue a pergunta so$re a repetição enati4ada antes de :ual:uerresposta( não hE nele nenhuma deinição peremptória &omo tampou&o :ual:uer dedução :ue se

arrogue um &arEter o$Ceti"o ou &ientíi&o# alm de serem ausentes :uais:uer elementos :ue possam

delimitar a repetição de facto J:uilo :ue se passa no li"ro en:uanto e/peri,n&ia indi"idual dos

 personagens :ue ali se en&ontram% A remissão do termo sem o artigo não a repetição &omo um

1 Ruma anotação de ras&unho da &arta de +onstantin +onstantius ao leitor# em :ue se l,( O Repetition =asinsignii&ant# =ithout an> philosophi&al pretension# a droll little $oo9# dashed o as an oddit>P% +%  Journal and Papers# *S B 120 nd, 1I?3# op% &it% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32?% .sta edição norte-ameri&ana tra4

numerosos adendos e suplementos :ue serão utili4ados a:ui de maneira &omplementar ao &orpo do te/to prin&ipalda Repetição# o :ual# toda"ia# serE tra$alhado a:ui por meio da edição em portugu,s%

2 título do li"ro em dinamar:u,s# no original%

@

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&on&eito prontoN a aus,n&ia do artigo redire&iona a repetição a um mo"imento mesmo &uCa e/e&ução

de"e ser $us&ada não só na leitura do te/to mas na e/peri,n&ia "i"a de &ada um :ue o l,% K

ne&essErio :ue se dei/e a$erta a possi$ilidade para :ue o leitor en&ontre a repetição en:uanto

OensaioP ou Oe/perimentoP não apenas &om relação aos &aminhos e des&aminhos dos personagens

do te/to# mas tam$m &om relação a si próprio e J:uilo :ue ele "i"e en:uanto indi"íduoN e a

deinição tra4ida pelo título da tradução es&amoteia essa possi$ilidade ao restringir# &om a

determinação tra4ida pelo artigo# as possi$ilidades da repetição J:uilo :ue apresentado no li"ro%

 Resse sentido# os ong a&ertadamente tradu4iram o título do li"ro em ingl,s puramente por

 Repetition# e não OT$eP Repetition% 6uperar esse tipo de leitura e:ui"o&ada # no entanto# uma das

maiores dii&uldades propor&ionadas pelo próprio te/to# pois a orma em :ue oi es&rito dE

 propositadamente margem para mal-entendidos na sua leitura# &omo hE de ser detalhado em

 pormenores ao longo desta e/posição%

utra dii&uldade &om respeito J tradução se dE na própria pala"ra Gjentagelsen# &uCo

signii&ado radi&al dado na Cunção entre Gjen# :ue signii&a no"amente# e a su$stanti"ação do

"er$o at tage# :ue signii&a tomar% !ma $oa maneira de se tradu4ir# se se atm ao sentido literal da

 pala"ra# seria retomada% +om eeito# a ideia de uma retomada a de uma re&uperação atual e eeti"a

do :ue CE oi# e :ue pelo ato de "ir-a-ser no"amente torna-se ele próprio no"o% K o tema do "elho

tornado no"o# do no"o &omeço# :ue enati4ado em termos religiosos &omo uma re%ligação  na

interioridade# &omo um renas&imento espiritual e uma reno"ação sem pre&edentes de si mesmo no

tempo% K disso :ue o li"ro trata% termo latino OrepetiçãoP# por sua "e4# remete J re%petitio# :ue#

 por  &onotar indiretamente algo &omo Opedir no"amenteP# indi&a uma inten&ionalidade 7 o &uerer  a

repetição# :ue um tema undamental arti&ulado na e/pressão da repetição# &onsiste numa tradução

a&urada# porm não e/ataN pois tra4 tam$m# no seu &ampo semnti&o# o a&ento na identidade :ue

se airma &omo tal no mo"imento da repetição# de um mesmo :ue se airma &omo mesmo no seu

 pHr-se a si mesmo% A tradição psi&analíti&a se apropriou do termo e apli&ou-a no sentido patológi&o#

rela&ionada aos transtornos &ompulsi"os# OJ similitude na reprodução da pala"ra ou do gesto# a

es&lerose do hE$itoP3% A retomada# pre&isamente por enati4ar um a$andono no tempo seguido dum

re&o$rar o a$andonado# uma inten&ionalidade negati"a :ue superada na própria e/ist,n&ia

temporal# tra4 portanto a insígnia do no"o# para alm do sentido me&ni&o da repetição# :ue o

"elho :ue "em a ser no"amente en:uanto "elho% A retomada tra4 uma diferença# :ue Custamente a

mar&a do no"oN tal &ompreensão deu enseCo para :ue a repetição osse posteriormente &on&e$ida na

tradição ilosói&a sempre ao lado da insígnia da dierença%

Desse modo# :uando se ala repetidamente em repetição# ainda :ue &om a intenção de

3 S*AAR.*T ,  Rell>N  'a Reprise# op% &it% AM.*DA# eonardo '% DeN  (otas so"re o Gjentagelsen )ier*egaardiano

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e isso o :ue dE a ele a sua ri:ue4a% A &ara&terísti&a da prosa 9ier9egaardiana# no :ue di4 respeito J

&omuni&ação indireta# se a4 presente no te/to atra"s de numerosos artií&ios :ue serão le"ados em

&onta na anElise do seu &onteQdoN este serE $asi&amente o mote dos dois primeiros &apítulos# os

:uais# portanto# possuem entre si uma unidade "in&ulante# prin&ipalmente no :ue di4 respeito ao

traçamento da &on&epção de uma a$ordagem estti&a da temEti&a% +omo serE mostrado ali# a própria

orma de e/posição do te/to esta$ele&e esse "ín&ulo &om o estti&o# :ue mantm-se a todo o tempo

&omo uma orma metódi&a de apresentação do pro$lema# e &uCos elementos são gradati"amente

mostrados &omo &entrais e indispensE"eis%

A temEti&a dos dois &apítulos seguintes# :ue tam$m esta$ele&em uma &erta pro/imidade

dialógi&a entre si 7 nos temas da temporalidade e da trans&end,n&ia 7 CE a$ordam a repetição do

 ponto de "ista em :ue ela poderia se instituir &omo &on&eito# e na:uilo em :ue ele próprio se mostra

insui&iente en:uanto tal% tema do aundamento da metaísi&a um dos estamentos mais

&ontundentes :ue a ideia 9ier9egaardiana de repetição &olo&a# e portanto# o &apítulo so$re a

repetição en:uanto mediação e so$re a repetição en:uanto temporalidade mostram-na apenas

na:uilo em :ue tais &on&epç<es são insui&ientes para a$ar&ar a ideia de repetição# e pro&uram

remeter a ideia no"amente J arti&ulação estti&a 7 ou# mais propriamente# &omo 8ier9egaard gosta

de &hamar no te/to#  po+tica# termos estes :ue deiniti"amente guardam uma pro/imidade mas não

designam o mesmo 7 :ue ha"ia sido posta nos primeiros dois &apítulos% &arEter metaísi&o da

dis&ussão se ramii&a nos temas da mediação e da temporalidade# :ue se tangem na &on&epção da

repetição &omo uma &ategoria de mo"imentoN essa tang,n&ia# por sua "e4# tem a unção de

&ir&uns&re"er a ideia do religioso rente a :ual serE posta a ideia do estti&o em seguida% Qltimo

&apítulo# por sua "e4# e/pli&ita as ormas estti&as so$ as :uais a repetição se maniesta# e mostra

em :ue sentido ela pode ser &on&e$ida dentro desses termos# e tam$m &omo a repetição pode ser

&on&e$ida na relação espe&íi&a entre o estti&o e o religioso# no :ual ela tem seu sentido mais

estrito%

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0 A Repetição como psicologia e1perimental do ponto de -ista est+tico

.ste primeiro &apítulo da dissertação tem o intuito de situar o pro$lema da repetição em

unção do estti&o por meio de um desen"ol"imento dos &on&eitos desta nature4a presentes de

maneira in&ipiente nessa o$ra% Sale ressaltar :ue não se trata de# &om isso# reali4ar a:ui um panegíri&o da &on&epção 9ier9egaardiana do estti&o em :ue este se so$reponha Js outras OeserasP

da e/ist,n&ia# no sentido de &on&e$er uma leitura unilateral pan-esteti&ista em :ue ele seCa &apa4 de

dar &onta de tudoN dado :ue uma &ríti&a ero4 ao estti&o le"ada a &a$o por 8ier9egaard

 pre&isamente nessa sua ase de produção em :ue oram produ4idos Eit$er# r, Temor e Tremor e

 Repetição# em meio a di"ersos dis&ursos edii&antes# e Custamente por meio desta a$rem-se as "ias

 para sua &on&epção do ti&o# &omo o &aso em  Eit$er# r % As &one/<es de"em ser eitas não &om

 $ase nas relaç<es positi"as# :ue são muito restritas# mas prin&ipalmente nas &one/<es negati"as#

 parado/ais e muitas "e4es am$íguas# da maneira :ue a orma da &omuni&ação indireta

9ier9egaardiana se imp<e &omo modo de leitura%

De antemão de"e ser dado :ue o &on&eito de repetição ultrapassa a possi$ilidade de uma

&on&epção puramente estti&aN e o eno:ue a ser traçado# :ue &onstitui o ponto de "ista da e/posição

&omo um todo# a:uele &on&ernente ao próprio limite% Rão se trata propriamente de uma tarea

&ríti&a# no entantoN pois a ultrapassagem desse limite não impli&a# so$ :ual:uer ponto de "ista# num

a$andono sem pre&edentes do ponto de "ista anteriorN em se tratando de uma relação dialti&a# oestti&o sempre reapare&erE so$ uma orma distinta e reela$orada nas eseras mais altas do ti&o e

do religioso% .m$ora a repetição seCa um mo"imento religioso em sentido estrito# ela &onstitui

tam$m um mo"imento ti&o em :ue a instauração da seriedade "em a ser na superação do estti&o

en:uanto imediato% ti&o # portanto ele próprio um pressuposto# muito em$ora toda a

&omposição do li"ro seCa# de uma maneira muito ri&a# &al&ada predominantemente em elementos

estti&os% +aptar estes mo"imentos e rela&ionE-los &om os :uesitos da repetição# &larii&ando em

alguma medida a linguagem Oanti-herti&aP@ em :ue o li"ro oi es&rito# um dos intentos deste

&apítulo# $em &omo do pró/imo# o primeiro so$ o aspe&to da orma de e/posição narrati"a do te/to#

e o segundo so$ o aspe&to do &onteQdo te/tual e da maneira em :ue ele esteti&amente apresentado%

Alguns elementos do te/to da Repetição# se pensados de maneira independente do &onteQdo

do seu respe&ti"o su$título# o de Oensaio de psi&ologia e/perimentalP# &orro$oram para :ue essa

designação ela mesma não se torne um mal-entendido# e um deles o &arEter reratErio a :ual:uer

 ponto de "ista &ientíi&o do :ue poderia ser essa psi&ologia :ue ali se desdo$ra( o signii&ado da

 psi&ologia e/perimental de"e ser tratado# antes de tudo# num aastamento de :ual:uer sentido :ue se

@  Repetição# p% 13%

10

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 possa rela&ionar a um pensamento o$Ceti"o# em :ue as determinaç<es psi&ológi&as poderiam "ir a

&onstituir uma doutrina do sa$er% .la se &onstitui# ao &ontrErio# de maneira e/perimental e

ensaísti&a# e &omo tal repousa so$re a aus,n&ia da &erte4a de uma resposta positi"a J pergunta so$re

a repetição# e tam$m tem &omo orma de apresentação o ensaio# ou seCa# mesmo a &on&epção da

e/peri,n&ia en:uanto tal minada de suas pretens<es J generalidade%

!ma &on&epção "ulgar de e/peri,n&ia não &apa4 de a$ranger a:ui a espe&ii&idade do

signii&ado da psi&ologia e/perimental a:ui empregado% termo utili4ado por 8ier9egaard no título

 E1perimenterende Ps2c$ologie# em$ora no dinamar:u,s &orrente o "er$o utili4ado para

e/peri,n&ia seCa gj3re Erfaring   similar ao alemão erfa$ren4 A ,nase na e/pressão deri"ada do

Oe/perimentarP latino pode ser "ista &omo uma pre&aução :ue enati4a o &arEter su$Ceti"o da

e/peri,n&ia# :ue# alm de se mostrar no seu desen"ol"imento &omo um ra&asso tanto

epistemológi&o :uanto e/isten&ial# se dirige muito mais a um &arEter singular de um proCeto

despretensioso :ue se dieren&ia O&ategori&amente da ar:uitetHni&a &orrespondente ao V6istemaVPI%

Dessa maneira# &arEter e/perimental do te/to não &on&erne somente ao :ue di4 respeito ao

&onteQdo# mas tam$m J orma ensaísti&a em :ue o te/to se apresenta% e1perimentar   na

 pro$lemEti&a da repetição não se resume a uma di"agação a&er&a do :ue pode signii&ar o

traçamento de uma personalidade psi&ológi&a tipii&ada# &omo uma tentati"a de responder J

One&essidade de e/perimentar uma e/ist,n&ia assinalada &omo e/emplarP# mas se en&ontra

 presente na própria aparição enigmEti&a dos elementos mais &entrais do te/to# sugeridos pela orma

&irada em :ue# por e/emplo# se insinuam as intenç<es "a&ilantes do Co"em melan&óli&o ou dos

ra&assos e/perimentais e de"aneios deli$erati"os do autor +onstantin +onstantius# :ue ele

 próprio a um só tempo e/perimentador# o$ser"ador# personagem e autor da o$ra% Assim não se pode

di4er :ue se trata de uma o$ra &uCo g,nero # do ponto de "ista literErio# uniormeN ela alterna entre

um e/&urso psi&ológi&o# uma narrati"a de e/peri,n&ia# uma srie de &artas de teor líri&o-religioso e

uma digressão estti&o-ilosói&a% A pseudonímia# re&urso :ue 8ier9egaard toma &omo anElogo ao

O:ue$ra-&a$eça das &ai/inhas &hinesasP10#   mais um ponto de "ista :ue impede uma apreensão

uniorme da o$raN para Guiomar de Grammont# seria um rele/o do suCeito atirado J &onting,n&ia

e/trema# Oum teatro de su$Ceti"idades mQltiplas# um Cogo de mEs&aras &uCa inalidade não o&ultar

um rosto "erdadeiro# mas re"elar o drama de uma e/ist,n&ia ragmentadaP11%

s dierentes traços psi&ológi&os de &ada uma das personii&aç<es da tentati"a de eeti"ação

 psi&ológi&a da repetição na e/ist,n&ia ogem# portanto# do sentido empíri&o tradi&ional de

Ro sentido hegeliano do termo# o de uma identidade entre lógi&a e metaísi&a% Detalhes em .G.# Enciclop+diadas .iências !ilos5ficas, .iência da '5gica# W2?# p% %

I GRXA.X# DarioN 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I3%

GRXA.X# DarioN 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I3%10  Eit$er#r # p% 32%11 G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% 13%

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e/peri,n&iaN e o &arEter e/perimental da psi&ologia da repetição se mostra# nesse sentido# nessa

i&&ionalidade teatral das personagens# a :ue ong alude &omo construção imaginati-a ou

imagin6ria12# de tal modo :ue as &ara&terísti&as das possí"eis interpretaç<es da repetição apare&em

e/perimentalmente en&arnadas# por assim di4er# nestas iguras% Rão o$stante# nenhuma delas pode

ser lida &omo igurando o &on&eito de repetição em uma identidade a$soluta# pois a Qni&a :ue a

representa de modo paradigmEti&o no li"ro Ló% As iguras são ne&essErias pre&isamente para

espe&ii&ar a distn&ia a :ue &ada uma delas se en&ontra dessa identidade paradigmEti&a% ;al

&oniguração na estrutura do li"ro não &onstitui senão uma estratgia para &ir&uns&re"er a repetição

en:uanto &on&eito13# o :ue# por outro lado# pare&e ser uma tarea &om uma dii&uldade anEloga a

Omatar um homem e dei/E-lo "i"oP1?# dado :ue a repetição não &onstitui um &on&eito :ue se possa

dedu4ir ou so$re o :ual se possa espe&ular%

signii&ado do e/perimento# de a&ordo &om R% R% .ri9sen# pode ser &ompreendido em

dois ní"eis% primeiro deles a:uele :ue se dE na Orepresentação de uma srie de indi"idualidades

e situaç<es nas :uais o signii&ado psi&ológi&o da repetição "em J tonaP 1% 6ua delimitação se

restringe J relação entre personagens e situaç<es imanentes ao próprio &enErio igurati"o do te/toN

di4 respeito J:uilo :ue apare&e# por e/emplo# &omo o mal-entendido &on&ernente ao signii&ado da

repetição entre um personagem e outro# &omo no &aso da relação de +onstantius en:uanto

e/perimentador e o Co"em apai/onado &om o :ual lida de dierentes maneiras em di"ersos tre&hos

do te/to# e tam$m o des&ompasso :ue hE entre a e/pe&tati"a da repetição no &aso do Co"em e a sua

eeti"ação plena em Ló% A e/peri,n&ia então delimitada na:uilo :ue &on&erne Js su&essi"as

tentati"as de reali4ação desta# seguidas su&essi"amente da:uilo :ue 8ier9egaard gosta de designar

&omo o"ser-aç7es psicol5gicas# :ue teriam a:ui o seu anElogo no resultado da e/peri,n&ia mesma%

6e tal ní"el de &ompreensão do signii&ado desta resume portanto toda a estrutura interna

imanente do li"ro# o segundo ní"el# mais proundo e o$s&uro# de"e reerir-se J maneira &omo a

totalidade do li"ro# :ue "ai alm do seu signii&ado imanente# apreendida pelo leitor atra"s da

&omuni&ação indireta% Rão &onsta no li"ro uma &on&lusão de&isi"a nem a&er&a da história do Co"em

nem do &on&eito de repetição# e tanto um &omo o outro são apresentados mais &omo um enigma do

12 RG# %# !ear and Trem"ling# RepetitionN in 8istorical Introduction# p% TT*S% ong tam$m demonstra o modo&omo os termos Ypsi&ologiaY e Ypsi&ológi&oY :ualii&am essa &onstrução imaginati"a de uma orma  po+tica por meioda in&orporação de uma ideia ou &on&eito em um personagem# p% TT*T%

13 Ra edição portuguesa do li"ro A Repetição# &onsta uma nota na &ontra&apa :ue trata da relação do uso da noção de psi&ologia e/perimental por 8ier9egaard &om as &on&epç<es históri&as tanto do &on&eito de psi&ologia :uanto dae/peri,n&ia% Airma-se :ue a psi&ologia tem# antes de tudo# Oum sentido meramente etimológi&oP# no sentido de umadoutrina da alma# em analogia &om a psi&ologia ra&ional &lEssi&a% A noção de e/peri,n&ia a mesma reerida a:ui#distintamente de um empirismo &ientíi&o# por e/emplo( a de uma estratgia i&&ional de delineamento &on&eitual darepetição# &uCo &arEter est+tico permane&e mais desta&ado do :ue o metódi&o% ;ais deiniç<es# no entanto# não

esgotam o sentido mais proundo da intenção do su$título do li"ro%1?  A Repetição# 13%1  )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition : A Reconstruction# p% 1%

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:ue propriamente uma representação eeti"aN muito em$ora isso seCa o :ue &onstitui o ponto de

transição# em :ue a inten&ionalidade da e/peri,n&ia psi&ológi&a ultrapassa os limites do li"ro e

remete-se ao leitor mesmo( Oem apresentando sua &ategoria na orma de uma &harada# da :ual o

signii&ado não pode ser dedu4ido do te/to mas apenas preigurado por meio de um ato de

apropriação# +onstantius entra numa relação de e/perimentação &om o leitorP1@% *sso possi$ilita :ue

o te/to mesmo tra&e alguns padr<es de leitura do próprio leitorN &omo se mostra na &arta :ue

apare&e ao inal do li"ro1% Ali o leitor torna-se o interlo&utor# e as possi$ilidades de &ompreensão do

li"ro são Cogadas inteiramente para a responsa$ilidade deste# na medida em :ue o próprio

e/perimentador se interp<e ao retirar-se de toda a responsa$ilidade :ue lhe poderia ser imputada%

;al de&orre não somente do ato de :ue o autor de&lara-se Oum personagem sem importn&iaP# &uCa

Opersonalidade um pressuposto de &ons&i,n&iaP1I :ue se retira para :ue o interesse &aia so$re o

o$Ceto da e/perimentação# ou seCa# a personagem do Co"em# &omo tam$m do ato do li"ro Oter sido

es&rito de tal maneira :ue os herti&os o não entendamP1# o :ue# independentemente da maneira

&omo se o l,# a responsa$ilidade se en&ontra sempre no leitor# pois a este li"ro alta o

Ogenuinamente espe&ulati"oP20 :ue di4 a realidade do pensar por meio de um tipo :ual:uer de

autoridade# seCa esta a ra4ão argumentati"a ou a igura do ilósoo en:uanto a:uele :ue sa$e%

A e/pressão da psi&ologia da repetição en:uanto teatro de su$Ceti"idades &onstitui um

 ponto-&ha"e para a &ompreensão do estti&o no te/to e na delimitação deste% Rela &on&e$e-se :ue as

mQltiplas a&etas de &ada personagem estão dadas não somente na interação entre eles# mas em

&onstante relação &om o espe&tador# o :ual entra em Cogo en:uanto indi"íduo não somente

&ontemplador passi"o# mas &omo um agente produti"o :ue "em a &onstituir ati"amente a si mesmo#

na medida em :ue a relação mais a$rangente de si para si% *sso $em reiterado por +onstantius

:uando ele trata do O&onte/to tão le"e e passageiro &omo o são as ormasP 21 em :ue Oo indi"íduo

:uer apenas "er e ou"ir pateti&amente# mas 7 note-se $em 7 "er e ou"ir-se a si mesmoP 22# e airma

:ue Otal &onte/to dado pelo pal&o# e por isso :ue este se ade:ua pre&isamente ao ;c$attenspiel

do indi"íduo &rípti&oP23% .ssa relação da repetição &om o teatro apare&e ao longo do te/to muitas

"e4es na orma de uma alusão ou metEora poti&a $re"e# ou em orma de digress<es longas a

respeito do espe&tador do &Hmi&o $urles&o :ue +onstantius ", &omo &omponente essen&ial da

1@ *dem# p% 1%1 A:ui o autor elu&u$ra e/perimentalmente so$re os dierentes modos de &ompreensão possí"eis do li"ro# seCa este

lido por um Og,nio temporErioP# para :uem o assunto seria tomado Odemasiado a srioP# um OCo"ial amigo da &asaP# para :uem tudo se tri"iali4a demais# Oum "igoroso deensor da realidadeP# para :uem Otodo o li"ro gira em torno denadaP# et&% A Repetição# p% 13@%

1I  A Repetição# p% 1?0%1 *dem# p% 13%20 *dem# p% 13@%

21  A Repetição# p% %22 *dem# p% %23 *dem# p% @0% ;c$attenspiel ( Cogo de som$ras# em alemão no original%

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relação do arses&o &om a repetição2?%

Dessa orma# o teatro pode ser "isto &omo um domínio onde o desen"ol"imento psi&ológi&o

da personalidade se dE por meio de uma imitação na :ual o OCo"em &om um pou&o de imaginaçãoP2 

Oarre$atado para dentro dessa realidade artii&ial de modo a poder# &omo um duplo# "er-se e ou"ir-

se a si próprio# ragmentar-se em todas as possí"eis "ariaç<es de si mesmo# e# &ontudo de talmaneira :ue &ada "ariação &ontinua a ser ele mesmoP 2@% A personalidade se desen"ol"e de maneira

dupli&ada# pois ela passa a o$ser"ar-se e &ondu4ir-se a si própria por meio desse duplo sem :ue#

&om isso# dei/e de ser ela mesma( a:ui tem-se o undamento para :ue a repetição possa ser deinida

não somente en:uanto algo pelo :ue se a&ometido# mas &omo uma "erdadeira  performance# em

:ue o teatro "em a ser o espelho ou a metEora para a &riação de si mesmo% &on&eito de repetição

depende# &omo mostra Gon4ale4# de uma Oe/ist,n&ia :ue toma a si mesma &omo &ampo de uma

&erta e/perimentaçãoP# e# em$ora o&orra :ue essa e/perimentação se manieste momentaneamente

&om uma le"e4a irHni&a negati"a# em :ue Oa possi$ilidade do indi"íduo "agueia sem rumo na

 própria possi$ilidadeP2# ela aí não de"e se deter-se :uer eeti"ar-se &omo algo &on&reto( Oela

tam$m  gestaltend  e portanto :uer ao mesmo tempo ser "istaP2I% Dessa orma# +onstantius pare&e

 pretender elu&idar uma possí"el saída para o desespero estti&o de uma personalidade e"anes&ente

moldada por uma ironia indomada# em :ue tudo "olatili4ado pelo negati"o a$strato2# por meio da

instauração de um Cogo em :ue a autonomia da personalidade se unda na o$ser"ação de si mesma%

Desse modo ela i&a e/imida da responsa$ilidade so$re si mesma# e a&a$a por ser sal"a

esteti&amente30% Desta&a-se assim o &arEter undamentalmente estti&o da psi&ologia da repetição

en:uanto perorman&e# sem :ue &ontudo se atinCa o seu undamento no  farsescoN o :ue serE

desen"ol"ido em outro &apítulo31% +a$e agora pormenori4ar as &ara&terísti&as prin&ipais dos

Opersonagens-atoresP do li"ro%

00 ponto de -ista do o"ser-ador # ou <uem + .onstantin .onstantius

'osto o &arEter e/perimental da psi&ologia da repetição# tem-se &omo dada tam$m a

ne&essidade de :ue se esta$eleçam os papis distintos do o$ser"ador e e/perimentador# e a:uele :ue

2? .ste tema mere&e um tratamento espe&ial# :ue dar-se-E no &apítulo desta e/posição%2  Repetição# p% I%2@ *dem# p% I%2 *dem# p% %2I *dem# p% %2 Ser .onceito de Ironia# p% @%

30 $"iamente# este intento representa mais uma e/peri,n&ia ra&assada de repetição# por ser &ompletamente &al&adana autonomia a$strata do indi"íduo% .ste ra&asso em espe&íi&o serE ade:uadamente detalhado adiante%

31 Ser &apítulo %

1?

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&onstitui o :ue 8ier9egaard &hama alhures de <uidam  da e/peri,n&ia32# o seu pa&ienteN am$os

&onstituem iguras psi&ológi&as :ue se determinam numa arti&ulação &on&eitual-e/isten&ial da

repetição% primeiro +onstantin +onstantius# o autor do li"roN e o segundo o Co"em sem nome%

e/perimentador a:uele :ue não somente relata &omo &ondu4 a Oe/peri,n&iaP# mas o a4 em

"irtude de sua própria tentati"a de reali4E-la# e desse modo e/perimenta a si próprio &omo algum

:ue se su$mete na e/ist,n&ia J possi$ilidade da repetição% &onteQdo do e/perimento a :ue o li"ro

se reere a todo instante a tentati"a de reali4ação da repetição na e/ist,n&ia# :ue# in a"stracto# se

tradu4 na pergunta so$re esta possi$ilidade mesma% +a$e in"estigar :ual o sentido da e/peri,n&ia

en:uanto não somente uma em :ue se &on&e$e um o$ser"ador e/terno e desinteressado :ue adu4

o$ser"aç<es do e/perimento# mas tam$m &omo tendo sua eeti"idade numa estrutura de

 personagens pseudoními&os# os :uais representam indi"idualmente iguras :ue &ondensam em si

uma srie de arti&ulaç<es de pro&essos &ara&teri4ados &omo psi&ológi&os# mas :ue são# em seu

mago# &on&eituais# no sentido de :ue os personagens são &on&e$idos em unção destas arti&ulaç<es

mesmas% o$ser"ador# nesse sentido# não pode ser somente um regulador alheio e impassí"el de

ser aetado pelo mo"imento do te/to# e isso :ue enri:ue&e a igura de +onstantin +onstantius

en:uanto personagem%

nome +onstantin +onstantius &arrega ele próprio uma espirituosidade in&omum# pois

uma repetição 7 &ategoria :ue para ele designa mo"imento 7 de um nome :ue designa &onstn&iaN

de ato# o :ue se torna para ele as&inante na ideia da repetição &orporii&ada no Co"em a presença

da ideia em mo-imento33# uma e/pressão re&orrente :ue pode designar tanto uma disposição

 psi&ológi&a :uanto uma tonalidade religiosa em sua personalidade# e :ue +onstantius airma ser

in&apa4 de al&ançar% *sso se enati4a na digressão so$re o eleatismo logo no iní&io do te/to# pois ele

 próprio en:uanto personagem pode ser des&rito &omo Oo imo$ili4ado# a:uele suspenso na

&onstn&ia eleEti&aP3?% Ro entanto# +onstantius não ne&essariamente se &on&reti4a nessa suspensão

da possi$ilidade do mo"imento# pois a sua $us&a pela repetição &onstitui ela própria uma $us&a por

uma esta$ilidade# :ue ele em Qltima instn&ia não &onsegue al&ançar 7 a &ontrapartida do Co"em :ue

se en&ontra no estado de suspenso gradu3 demonstra :ue este apenas mais "olEtil do :ue ele# o

:ue# toda"ia# o sui&iente# na medida em :ue esse o seu papel( pare&er irme diante da

"aria$ilidade melan&óli&a do Co"em intempesti"o%

A $us&a de +onstantius em :ue para ele se &olo&a a pergunta so$re a repetição a sua

"iagem a Berlim% A proposta moti"ada a partir do enseCo dado por Diógenes na sua reutação aos

32 Ser YGuilt2=#=(ot Guilt2= # in ;tages on t$e 'ife9s >a2N p% 1I e ??@% +uriosamente# esta orma de &onstrução serepete neste ensaio# &uCo su$título Y&onstrução psi&ológi&a imaginEriaY%

33  Repetição# p% 12%3? +A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 11%3  Repetição# p% 12%

1

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eleatas( se hE de ato repetição# então Opodes ainal ir a Berlim# CE lE esti"este uma "e4# e agora

 pro"a a ti mesmo se uma repetição possí"el e o :ue signii&aP3@% Mais &Hmi&o do :ue a própria

tentati"a em si pressupor :ue não somente se e/perimentarE uma repetição dessa maneira# mas

tam$m se &ompreenderE dela o signii&adoN ou# de outro modo# a pro"a do mo"imento# ou da

repetição# dar-se ia numa eeti"ação material( o ra&asso ine"itE"el# e a des&rição dos su&essi"os

desarranCos no esperado geram um eeito :ue &oaduna &om os e/tensos &omentErios de +onstantius

so$re a arsa# o :ue le"a a &rer :ue tal Oe/peri,n&iaP seria antes uma uga real do pro$lema# &om um

 propósito no undo $em esta$ele&ido pela ingenuidade meramente superi&ial do autor( Oesta

imediata alta de seriedade 7 so$ a :ual a "iagem mesma ad:uire a isionomia de uma uga# uma

orma de Odi"ersãoP e não a &on&retude meditada de um proCeto 7 a4 do desentendimento a "ia

mais segura para a reutaçãoP3# em analogia &om Diógenes% .ntrementes# a analogia &essa na

ressal"a de :ue toda a mo"imentação de +onstantius no li"ro pare&e resultar em :ue ele não saia do

lugar# na medida em :ue o resultado de toda e/peri,n&ia sempre o mesmo( a impossi$ilidade ou

ine/ist,n&ia da repetição% pro"a :uando di4( Oha"ia des&o$erto :ue simplesmente não e/iste

repetição e tinha-me &on"en&ido disso a &usta de o "er repetido de todas as maneiras possí"eisP3I% A

ormulação do pro$lema por si mesma parado/al# pois ela &olo&a a si mesma na medida em :ue a

resposta se p<e &omo o negati"o 7 ela não &essa a pergunta# mas re&olo&a a ne&essidade da própria

ormulação% +onstantius portanto não pode parar aí( ele se depara no"amente &om a OesperançaP do

ad"ento da repetição# &ondição esta ela própria da rustração da impossi$ilidade% A dQ$ia a&eta do

lirismo e do de$o&he denota a aparente superi&ialidade do modo &om :ue a personagem se depara

&om o pro$lema# mas :ue não es&onde um &erto &arEter de mera apar,n&ia( OMas a "iagem não "ale

a penaN pois não pre&iso me/ermo-nos do lugar para nos &on"en&ermos de :ue não hE repetição

alguma% Rão# permaneçamos tran:uilamente sentados no :uartoN :uando tudo "aidade e tudo

 passa# "iaCa-se mais depressa do :ue num &om$oioP3%

6e a analogia da reutação eleEti&a pro&ede# da mesma orma :ue não hE mo"imento# não hE

repetição# e a $us&a por uma repetição na regularidade termina por sa&rii&ar in&lusi"e o uni"erso

dos sentidos e das a&uldades# negados da mesma orma :ue ha"ia sido a possi$ilidade mesma

da:uela( Oapesar de ter me &on"en&ido de :ue não e/iste repetição# &ontinua a ser sempre "erdade e

&oisa &erta :ue# &om inle/i$ilidade e tam$m em$otando as nossas a&uldades de o$ser"ação# se

&onsegue o$ter uma uniormidadeP?0% +omo não hE de ato repetição# então seria ne&essErio erigir

uma Ometodologia psi&ológi&aP para :ue se esta$eleça :ual:uer tipo de i/ide4# ainda :ue seu

3@ *dem# p% 31% 8ier9egaard ele mesmo ha"ia ido para Berlim pela segunda "e4 da po&a da redação do li"ro# o :uemostra :ue a &itação não depropositada%

3 GRXA.X# D%N 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I1%

3I  Repetição# p% @%3 *dem# p% I1%?0 *dem# p% I3%

1@

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undamento seCa algo inessen&ial ou meramente a&identalN o :ue designa então o &onteQdo dos

Oprin&ípios &onser"adoresP?1 :ue o guiam na sua personalidade# :ue &onstituem uma &on&epção de

eli&idade estEti&a# &uCo mago &omporta uma atara1ia determinada antes por uma imo$ilidade

negati"a do :ue pela plenitude# e :ue teria sua &ulminn&ia no :ue $em des&rito do en/adrista nos

 Diapsalmata?2% repetido ad"ento da impossi$ilidade da repetição mostra o ponto de "ista de

+onstantius no registro do :ue ele &hama de Orepetição in"ertidaP ?3  7 :ue &onstitui nada menos o

mo"imento da re&ordação??# a Oer"a daninhaP :ue Osuo&a"a &ada pensamento J nas&ençaP?N &omo

mostra Dalton( O.sta uma &on&epção de eli&idade &omo stasis# &omo a manutenção de um pr"io

 7 agora passado 7 estado de eli&idade# o :ual desem$o&a todo ele numa teoria da eli&idade &omo

re&ordaçãoP?@% :ue &ulmina em Qltima instn&ia# numa insatisação perene# pois a atualidade

nun&a de ato al&ançada 7 a eeti"idade Cogada ao passado# e# para :ue este seCa preser"ado#

+onstantius passa a a$ominar :ual:uer mudança# o :ue indi&a no"amente a materialidade da sua

&on&epção de repetição# :ue &omi&amente não se eeti"a nun&a da maneira esperada% Daí a sua

des&rença &om a possi$ilidade de :ual:uer satisação perene( Odesde essa altura a$andonei :ual:uer

esperança de alguma "e4 me a&har satiseito em a$soluto e de todas as maneiras Z não de&erto de

estar a$solutamente satiseito em todos os momentos# mas ao menos em &ertos instantesP?%

ponto de "ista de +onstantius pode a&ilmente le"ar a pensar :ue a plenitude da repetição

da :ual ele se sente in&apa4 de parti&ipar &arente de sentido# na medida em :ue se &onstata em sua

 personalidade o :ue Moone> &hama de Ocomplacência e/isten&ialP?I% .ssa &on&epção estEti&a de

eli&idade# no entanto# não su$siste se não se su$s&re"e o pressuposto su$Ca&ente de uma &on&epção

da repetição &omo plenitude em algum sentido# em relação J :ual +onstantius situa a si mesmo

conscientemente  a:um% Resse sentido# não se pode di4er :ue a e/peri,n&ia de +onstantius se

&ara&teri4e &omo desinteressada desde o prin&ípio# em$ora ainda resida nela a rugalidade estti&a

do o$ser"ador% +onstantius sem dQ"ida um $rin&alhão# mas :ue se en&ontra em alguma medida

&ons&iente da seriedade do seu di"ertimentoN mesmo por:ue se isso não osse "erdade# a

 possi$ilidade de atri$uir :ual:uer positi"idade J:uilo :ue ele mesmo a4 apare&er por meio do

re&olhimento de si próprio# ou seCa# o Co"em &omo protagonista da repetição# seria em algum sentido

o$s&ure&ida# pois ele próprio seria so$reposto J:uele em termos de importn&ia eeti"a ?%  seu

?1 *dem# p% @%?2 O* eel as a &hessman must =hen the opponent sa>s o it( that pie&e &annot $e mo"edP% Ser Eit$er# r # p% ??%?3  Repetição# p% ?%?? )e&orde-se :ue Yrepetição  uma e/pressão de&isi"a para a:uilo :ue era Yre&ordaçãoY entre os gregosYN  Repetição#

 p% 31% .ssa relação serE $em detalhada no &apítulo 3%? *dem# p% %?@ DA;R# 6tuartN )ier*egaard9s Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 11%?  Repetição# p% %?I MR.[# .d=ard F%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 2I%

? Rote-se :ue +onstantius ele mesmo# na &arta a ei$erg# alega :ue a segunda parte do li"ro  Repetição  a :ue di4 o:ue de"e ser dito# e todo o resto 7 onde en&ontram-se as airmaç<es :ue ele a4 a&er&a de si mesmo 7 Y$uonariaou "erdade relati"aY% .ste tópi&o serE melhor tratado no &apítulo seguinte% Ser  !ear an Trem"ling# Repetition# p%

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interesse na repetição de ato estti&o# aparente# mas nem por isso superi&ialN uma curiosidade

desinteressada  não ne&essariamente torna a $us&a ortuita# e por isso des&artE"el &omo um

O&apri&ho inantilP0# mas pode &onstituir uma orma de ocasião para :ue algo mais proundo seCa

"islum$rado% A Opsi&ologia enomenológi&aP1  de +onstantius # segundo .ri9sen# de ato um

ra&assoN não o$stante# este ra&asso não de"e ser entendido &omo uma pro"a da ineeti"idade ou

ine/ist,n&ia do &on&eito# mas &omo uma O-ia negati-aP2 para sua apreensão%

A igura do o$ser"ador en&ontra-se# outrossim# apartada do &uid  dessa des&o$erta# pois a

apreensão de um elemento e/isten&ial de tal nature4a o tornaria algum :ue a&ometido da

e/peri,n&ia# e não :ue apenas &onstitui o e/perimentador% o$ser"ador# nesse sentido# possui mais

um en&argo maiêutico do :ue ati"amente pro&edente# &omo ele mesmo &onirma( Otudo arranCado

maieuti&amente por mim de maneira própria para o Co"em :ue de"e supostamente des&o$rir Z a

repetiçãoP3% A tarea mai,uti&a se mostra tam$m na Oarte do o$ser"adorP &uCo intuito Oe/por o

:ue estE es&ondidoP# o :ue ine"ita"elmente arE &om :ue ele seCa Oen&arado &omo um espião da

 polí&ia :ue presta altos ser"içosP?% De ato# a e/terioridade do ponto de "ista do o$ser"ador# o

interesse Oo$Ceti"o e ideal pelos homensP# engendra nele a &apa&idade mesma de uma

&ontemplação nostElgi&a# :ue "em a ser no deparar-se &om a posse do sentimento alheio( Otodas as

emoç<es proundas desarmam no homem o o$ser"ador :ue possa ha"erP@N o :ue resulta numa

melan&olia :ue anseia por essa posse da :ual ele en&ontra-se e/&luídoN daí ele di4er :ue Omuitas

"e4es $astante triste ser-se o$ser"ador# algo :ue nos torna melan&óli&os &om se Hssemos

 poli&iaisP% ra# trata-se a:ui de uma relação :ue se assemelha J do &ontemplador estti&o# a:uele

:ue não se en&ontra de posse da ideia# mas por isso mesmo mantm &om ela uma relação e/terior#

:ue possi$ilita ao mesmo tempo uma relação de des&o$erta &om ela en:uanto totalidade# &omo se

osse &onstituída uma relação em :ue o o$ser"ador e&undado no seu interesse# e a ideia apare&e

em "islum$re( Oen:uanto assim empalide&e# a ideia e&undou-o# e a partir daí ele estE em relação de

des&o$erta &om a realidade% Z a:uele :ue não des&o$re a totalidade não des&o$re propriamente

nadaPI%

;al O&isãoP enom,ni&a do o$ser"ador le"a +onstantius# &omo ele próprio &hega a admitir #

30%0 MR.[# .d=ard F%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 2I%1 6egundo a &ara&teri4ação de .ri9sen% +% .)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% 22%2 *dem# p% 22%3 O* maieuti&all> arrange e"er>thing properl> or the >oung man =ho is supposed to dis&o"er Z repetitionP%  !ear

and Trem"ling# Repetition# p% 303%?  Repetição# p% 3% *dem# p% I%@ *dem# p% 3% *dem# p% 3%

I *dem# p% ?I% O%%% the latter part o the $oo9# =here repetition is propounded or the irst time# =hereas e"er>thing earlier is onl>

 Cest or rellati"e statements# Z \=hi&h] are true onl> &ompletel> in a"stracto and thereore# =ith respe&t to

1I

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ao desespero# pois seu registro de &on&epção da repetição in a"stracto% Mas a sua personalidade

inten&ionalmente posta nessa &ondição# na medida em :ue ela &onstitui Oum pressuposto de

&ons&i,n&iaP# :ue Onun&a poderE &hegar onde \o Co"em] &hegaP@0% 6eu desespero se de"e ao deparar-

se &om asserti"a undamental da repetição do ponto de "ista estti&o( a sua impossi$ilidadeN a

&ondição# toda"ia# de :ue# por meio do próprio desespero# seCa "islum$rada a possi$ilidade de um

 ponto de "ista distinto% De"e-se enati4ar no"amente :ue isso se maniesta na re&orrente rustração

e/perimentada por +onstantius ad"inda dos repetidos ra&assos da própria repetição# em :ue ele

termina por ser le"ado ao estado de suspenso gradu e/perimentado pelo Co"em um momento antes

do arre$atamento da repetição@1% Daí ele &hegar a esta$ele&er :ue o seu ponto de "ista o de um

Opsi&ólogoP :ue Ose utili4a de &ategorias religiosasP@2# no sentido de :ue este aponta para algo alm

de si mesmo% Resse sentido# tal des&rição aglutina em si uma estrutura :ue representa a um só golpe

tanto a relação do estti&o &om a repetição# &omo tam$m a relação do o$ser"ador &om o

o$ser"ado# no &aso# o Co"emN o :ue permite :ue seCa desen"ol"ido por meio dela um ponto rutíero

de analogias e &omparaç<es mQtuas%

0B Delineamento psicol5gico da melancolia@ o jo-em da Repetição

.n:uanto :ue +onstantius poderia ser denominado# em termos da teatralidade &ara&terísti&a

da  persona por ele representada na:uilo :ue .ri9sen &hama de psi&ologia enomenológi&a# um

agente regulati"o# no sentido de :ue toda a &oniguração da pro$lemEti&a do li"ro se en&ontra so$

sua gide# ao mesmo tempo# ele inten&ionalmente p<e a si mesmo num patamar de e"id,n&ia menor

do :ue a do suCeito ipso facto da repetição# o Co"em sem nome% Co"em # pois# uma &riação

 poti&a sua@3N e os &ontornos Opuramente estti&os e psi&ológi&osP@? apli&am-se restritamente ao seu

 ponto de "ista en:uanto &riador( O&ada mo"imento :ue i4 apenas destinado a lançar lu4 so$re

eleP@N en:uanto :ue a sua suposta indierença se se &ara&teri4a de ato &omo um artií&io proposital

 para :ue a sua &riação se desen"ol"a li"re de interer,n&ias alheias@@%   6e a negati"idade da personalidade de +onstantius &onstituída nessa sua retirada :ue ao mesmo tempo esta$ele&e seu

reali4ation# ha"e to $e retra&ted# =hi&h is illustrated $> m> despairP#  !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30@%@0  Repetição# p% 1?0%@1 O+omo me senti humilhado 7 eu# :ue ha"ia sido tão $rus&o &om a:uele Co"em 7 por ser agora le"ado ao mesmo

 ponto em :ue ele se en&ontra"aN de ato sentia-me &omo se eu próprio osse esse Co"emP# Repetição# p% %@2  !ear and Trem"ling# RepetitionN p% 2II%@3  Repetição# p% 13I@? *dem# p% 13I%

@ *dem# p% 13I%@@ O%%% i&o muito longe de ser a:uilo :ue o Co"em temia# ou seCa# ser indierente J sua pessoa% .sse oi um erro :ue eu

 próprio pro"o:uei para tam$m dessa maneira o engendrarPN *dem# p%N 13I%

1

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domínio# na sua posição de O"entrílo:uoP@#  o negati"o da personagem do Co"em se dE em ele

 próprio ser igurati"amente indeterminado# em ele não ter nome% .sse elemento pode possuir

muitos signii&adosN um deles :ue# de &erta orma# em se tratando de um pro$lema estti&o-

 psi&ológi&o# a &ondição para seu surgimento # &omo um ator estti&o# &aso ortuitoN a pro$lemEti&a

em :uestão poderia# então# "ir a a&ometer a :ual:uer um# e ao mesmo tempo# a ningum em

determinado% Risso# ele se mostra &omo a in&ógnita do li"ro# mas ao mesmo tempo so$re :uem

re&ai o interesse do leitor% A aus,n&ia de nome# :ue relete a sua pro/imidade maior &om o &on&eito

da repetição Custamente na:uilo :ue o &ara&teri4a &omo poeta em :ue +onstantius se torna apenas

o enseCo imaginati"o 7 ele próprio não se arroga a posse do &riador poti&o( Oo Co"em :ue &riei

 poeta% Mais não posso a4er# por:ue no mE/imo posso imaginar um poeta e engendrE-lo &om o meu

 pensamentoN pessoalmente não sou &apa4 de me transormar em poetaP@IN em outras pala"ras# ele

deine a si mesmo esteti&amente &omo um mero OprosadorP @# mas se mostra &apa4 de reali4ar uma

&riação poti&a# mostra reletida no Co"em en:uanto personagem a "a&uidade da própria repetição

&on&e$ida en:uanto &on&eito( ao mesmo tempo em :ue J sua personalidade dado o maior

enri:ue&imento líri&o# esse &onteQdo eeti"o sinteti4ado num indeterminado sem nome# en:uanto

:ue no &on&eito de repetição nada do :ue dele des&rito ou :ue a ele se reere ou a partir dele se

desen"ol"e pare&e estar J altura da sua eeti"ação e/isten&ial%

Co"em representado por +onstantius a todo momento atra"s de diagnósti&os

 psi&ológi&osN sua disposição de o$ser"ador impli&a nesse tipo de e/posição# em :ue os mais sutis

mo"imentos aními&os de"em "ir J tona para :ue não alte nada J des&o$erta da ideia em mo"imento

na sua totalidade% As dierentes maneiras &omo o Co"em retratado portanto impli&am numa

&ompreensão su$stan&ial# em$ora inita# da ideiaN o :ue mostra :ue# em se tratando de um

o$ser"ador estti&o# não hE nada :ue possa garantir :ue todo o seu diagnósti&o &onstitui de ato a

&ompreensão ade:uada do signii&ado da repetição no Co"em% ponto de partida hipostEti&o dessa

&apa&idade :uase &líni&a do personagem # &ontudo# o próprio su$strato teóri&o da:uilo :ue ele

intenta pro"ar &omo sendo a repetiçãoN prin&ipalmente na:uilo em :ue ele a deine &om relação J

re&ordação0%

ogo no iní&io do relato so$re o desenrolar dos en&ontros entre o melindroso Co"em e

+onstantius# &onsta :ue a:uele pade&e de uma pai/ão arre$atadora &uCa tonalidade melan&óli&a

@ *dem# p% 13I

@I *dem# p% 13I%

@ *dem# p% 12%0 .ssa relação serE $em detalhada no &apítulo seguinte# pois trata-se de uma &on&epção metaísi&a :ue# em$ora

&ondi&ione o :ue hE de ser pro"ado pelo e/perimento# en&ontra-se de &erta orma em relação &om ele &omo um

 pressuposto a priori% 6em dQ"ida um elemento de ironia de"e ser apontado a:ui( a pro"a desse su$strato teóri&o&ondi&iona a e/peri,n&ia e a le"a ao ra&asso# o :ue mostra de :ue maneira a seriedade de +onstantius redunda emQltima instn&ia em $uonaria%

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impediu a sua &onsumação# designada &omo Oamor-re&ordaçãoP1% .ste se op<e ao Oamor-

repetiçãoP# na:uilo em :ue &apa4 de tornar um homem eli4 ou ineli4% Ao mesmo tempo :ue

maniestam-se arrou$os de nimo líri&os e uma elo:u,n&ia ardente da sua disposição2# +onstantius

nota :ue o Co"em pare&e ter saltado a$ruptamente por &ima da eeti"idade da sua pai/ão(

Oele esta"a prounda e sin&eramente apai/onado# isso era &laro# e &ontudo# logo num dos primeiros dias# esta"a em &ondiç<es de re&ordar do seu amor% Ro undo# CE tinha &hegado ao im

da:uela relação% Ao &omeçar# ha"ia dado um passo tão terrí"el :ue saltara por &ima da "ida% Z Ro

undo de tudo isto tinha de ha"er um e:uí"o&o%P3

Ao mesmo tempo em :ue a pai/ão do Co"em &onstituía um &omeço 7 pois ela não dei/a de ser uma

disposição er5tica?# &ara&terísti&a de todo &omeço 7 ele mantinha-se no im# o :ue# do ponto de

"ista estti&o de +onstantius# &onsiste num erro undamental e insanE"el @% .ssa disposição eróti&a

torna"a-se su$limada por sua melan&olia de tal orma :ue o mante"e numa imo$ilidade eeti"a# mas

:ue poten&iali4ou o eróti&o na ideia# ou seCa# transormou-o em poeta% +onstantius &on&e$e essa

ideia do amor eeti"o porm ideal &omo uma Ore&ordação poten&iadaP# :ue a insígnia do amor

eeti"o# porm ideal% A idealidade dessa disposição tornou-se para ele tão estimada :ue a própria

moça :ue a sus&itou tornou-se diante dela Oum moti"o o&asional :ue nele desperta"a o poti&o e

:ue a4ia dele poetaPI% 6o$ este ponto de "ista# a moça de :uem ele se enamora nada mais :ue um

su$strato inerte# mas :ue ha"ia ser"ido no :ue Oele &res&era aastando-se dela# :ue CE não pre&isa"a

da es&ada &om :ue su$iraPN situando-se ineriormente em importn&ia &om relação J própria

disposição eróti&a# por meio da :ual ele "i"e%

.ssa "ida poti&a# no entanto# tem# ao menos na situação do Co"em em :uestão# algo de

insui&ienteN ela situa-se no &omeço e nele permane&e# pois# de a&ordo &om a e/pli&ação de

+onstantius# o Co"em &are&eria de uma Oelasti&idade irHni&aPI0 para poder utili4ar-se da Ore&ordação

 poten&iadaP &ara&terísti&a do amor em seu iní&io% .sse elemento asso&ia-se imediatamente J igura

do sedutor Lohannes de Eit$er#r ( ele preigura o indi"íduo :ue# por meio dessa elasti&idade#

1 *dem# p% 32%

2 *dem# p% 3@%3 *dem# p% 3%? Lan olmgaard mostra de maneira pro"eitosa em :ue sentido uma leitura estti&a do li"ro  A Repetição de"e passar

no seu primeiro momento pelo eróti&o en:uanto disposição# passando pela suspensão estEti&a para :ue &ulmine noEpi&e da Oterrí"el e/plosãoP da repetição# :ue segundo sua leitura# se dE no &on&eito do su$lime 7 em$ora ele

 próprio esteCa &iente do tratamento inCusto dado ao te/to de 8ier9egaard dessa maneira% Ser MGAA)D# L%O;he Aestheti&s o )epetitionP# p% ?# %

+onstantius airma num tom magistralmente irHni&o( Oa disposição dele era uma disposição eróti&a# e :uem no seuamor não a ti"er "i"ido pre&isamente no prin&ípio# esse nun&a amouPN a tonalidade indi&a# no entanto# :ue mesmoum o$ser"ador melan&óli&o CE possui essa etapa eróti&a &omo uma re&ordação# &omo algo a se deseCarnostalgi&amente%

@ *dem# p% 3I% *dem# p% 3I%

I *dem# p% 3% *dem# p% 3%I0 *dem# p% 3I%

21

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no sope^ não seiN só sei :ue estou e :ue estou suspenso gradu# a4 CE um m,s inteiro Z .spero por

uma tempestade 7 e pela repetiçãoP0% 'ortanto# a resolução da disposição poti&a so$ a :ual o

 Co"em se dei/a &aptar se dE na melan&olia# mas &om ares de uma religiosidade :ue situa-se no

 por"ir# no limiar do estti&o &om o religiosoN a melan&olia seria nesse sentido o prenQn&io do mais

ele"ado da personalidade :ue se resol"e no en&ontro do Oponto de unidadeP 1 do indi"íduo% A sua

designação &omo um poeta líri&o de"e ser entendida dessa maneira# o :ue +onstantius dei/a &laro

ao di4er :ue Omesmo :uando tudo a&a$a em melan&olia hE um sinal :ue aponta para ele# :ue aponta

 para um estado nele% K esse o undamento para :ue todos os mo"imentos se pro&essem de maneira

 puramente líri&aP2% ra# se o Co"em reali4ou algum tipo de repetição# na medida em :ue a sua

 personalidade de ato oi &apa4 de romper a inr&ia do  suspenso gradu em :ue se en&ontra"a#

dado &on&e$er de alguma orma nele uma repetição ao menos delineada pelo estti&o# em :ue a sua

 personalidade permane&e &on&e$ida numa &aptação líri&a de um &onteQdo da repetição no seu

&arEter ineE"el%

.ssa &on&epção# &ontudo# limita-se uni&amente pelo ato de sua origem situar-se no ponto de

"ista do o$ser"ador psi&ológi&oN a auto-reer,n&ia das disposiç<es melan&óli&as nesse mo"imento

em direção J personalidade do Co"em não institui por si só um mo"imento religioso na medida em

:ue delimitada pelo poti&o% Dessa maneira# torna-se possí"el apenas dete&tar indí&ios remotos de

algo :ue ultrapasse o estti&o# :ue permane&e para esse ponto de "ista apenas um hori4onte por

demais indeinido% A postura de +onstantius &om relação ao &aso do Co"em se unda Onum interesse

o$Ceti"o e ideal pelos homens# mas tam$m no sentido de o ter# tanto :uanto possí"el# por todos

a:ueles :ue a ideia estE em mo"imentoP3% mo"imento da ideia redu4ido ao estti&o pois ele se

resol"e em algo &uCa e/pressão se dE apenas na orma $ela do poti&o# &uCo undamento não pode

ser per&e$ido por ele &omo religioso# mas apenas &omo psi&ológi&o% &aso da moça :ue enseCa a

disposição melan&óli&a do Co"em em$lemEti&o( ela per&e$ida pelo o$ser"ador &omo tendo Ouma

importn&ia enorme# Z porm ela não tem importn&ia por si mesma mas sim por "ia da relação

&om eleP# e mais J rente( Oela por assim di4er a ronteira para o ser dele# mas essa relação não

eróti&aP?% A insui&i,n&ia do ponto de "ista do o$ser"ador nesse aspe&to "em a ser por im

ressaltada pelo próprio +onstantius( OMas tal"e4 eu não o &ompreenda inteiramente# tal"e4 ele

es&onda alguma &oisa# tal"e4 apesar de tudo ele ame "erdadeiramenteP# e ele termina por admitir

:ue Ouma outra e/pli&açãoP ha"eria de ser en&ontrada para sua insui&iente teoria da repetição &aso

0 *dem# p% 12%1 A proposta de +onstantius alude ao ponto de unidade na medida em :ue a resolução da personalidade do Co"em

&omo sedutor determinE-lo-ia &omo indi"íduo# ainda :ue um indi-Cduo est+tico% *sso de"erE ser melhor detalhadoadiante%

2 *dem# p% 13I%

3 *dem# p% I%? *dem# p% 0% *dem# p% 1%

23

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O\o Co"em] metesse na &a$eça :ue ela tinha &asadoP@%

Do ponto de "ista de +onstantius# a igura do Co"em representa a insui&i,n&ia da melan&olia

rente J tarea da ironia# :ue se &onigura na sua in&apa&idade de mostrar a elasti&idade irHni&a para

 por em termos o seu amor pela Co"em# elasti&idade esta :ue seria o ne&essErio para &on&reti4ar uma

"ida poti&a% ;oda"ia# por relati"i4ar a importn&ia da Custii&ação de si perante o mais alto# ela temseu eeito de es"a4iamento da positi"idade do "alor dessa Custii&ação na pro"aN o Co"em :uer

 permane&er# &omo Ló# na airmação de :ue tem ra4ão% K nesse sentido :ue# en:uanto o$Ceto de um

e/perimento# a personalidade do Co"em não pode nem de"e &onstituir uma resposta deiniti"a J

 pergunta so$re a repetição( a possi$ilidade da sua su$Ceti"idade Custii&ada de"e ser sempre um ator

determinante no :ue di4 respeito J manutenção da irme4a do seu ponto de "ista% re&ordar do

 Co"em anseia por um Oinstante ideali4adoPI :ue se en&ontra perdido# e a sua disposição de"e passar

 pela melan&olia da distn&ia e pela angQstia da impossi$ilidade# para :ue daí surCa e1%ni$ilo uma

no"a possi$ilidade de restauração de si mesmo% *sso não signii&a :ue o Co"em não seCa um poeta

 por en&ontrar-se na situação em  suspenso gradu# mas :ue a impossi$ilidade da e/pressão do

religioso &onstitui# por si só nesse anseio# um momento anterior ao poti&o :ue se &on&reti4a nesse

:uerer pro"ar-se &erto diante de Deus% A alha do e/perimento de +onstantius se de"e J irme4a do

 Co"em em não dei/ar su&um$ir o sentimento J negati"idade da ironia%

A história# &omo +onstantius $em aponta# poderia ter tido um outro rumo( o da

transormação do Co"em em um sedutor 

100

N o :ue teria sido o &aso# se a sua proposta ao Co"emti"esse o$tido ,/ito% .ssa tensão entre o de&orrido de ato no e/perimento &om a e/pe&tati"a de

+onstantius de"e e/pli&ar at :ue ponto o &arEter do Co"em se &onigura esteti&amente na

melan&olia# e at :ue ponto a própria melan&olia em ra4ão de uma proundidade religiosa% Dito de

outro modo# p<e-se em &onronto na igura do Co"em o estti&o# por meio da disposição eróti&a de

um amor-re&ordação :ue &ulmina na sua melan&olia estEti&a# e o religioso 7 no :ue &on&erne J sua

relação &om Ló# a espera pela tempestade e o suposto ad"ento da repetição% A al,n&ia da proposta

de +onstantius mostra-se então undamental no determinar o :ue di4 respeito ao :ue "ai alm dos

limites da melan&olia# mas :ue &ondu4 ao limiar do religioso%

@ *dem# p% 1% A presença positi"a da moça na idealidade poti&a do Co"em aria &om :ue a "ida dele Oi&asse in pausaP# de tal maneira :ue a própria aus,n&ia dela en:uanto uma igura personii&ada na generalidade do te/to dE aentender :ue o seu mo"imento 7 o de se ausentar-se ainda mais ao &asar-se 7 de"a ser &ompreendido &omo umes"a4iamento da idealidade estti&a :ue a$re "a4ão J idealidade religiosa%

*dem# p% 11%I GRXA.6# DarioN 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I?% :ue +onstantius atri$ui a uma in&apa&idade pode muito $em ser redeinido &omo um posi&ionamento

"oluntariamente aguerrido% olmgaard airma :ue o Co"em não pode ser deinido &omo poeta no sentido irHni&o dotermo# en:uanto um "i"er poti&o% Mas o Osu&um$ir J disposição aeti"aP pode# por outro lado# ser atri$uído ao

 Co"em na medida em :ue sua personalidade se resol"e na melan&olia# mas :ue depois da repetição "em a ser

redupli&ada na orma da produti"idade poti&a% u seCa# o Co"em de ato um poeta# mas não no sentido dali$erdade poti&a ininita e negati"a da ironia% Ser MGAA)D# LanN T$e Aest$etics of Repetition, p% %

100 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32# 32@%

2?

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0 car6ter demonCaco do e1perimento psicol5gico

A e/perimentação da repetição # na narrati"a do li"ro# mar&ada por alguns momentos-&ha"e

em :ue ela posta em mo"imento de modo mais enEti&o# tal :ue por meio destes elementos se

 poderia preigurar algum tipo de &on&epção eeti"a do &on&eito% Ro entanto# nenhum desses

momentos se mostra &on&lusi"o para essa intençãoN a repetição permane&e# &omo para +onstantius#

Odemasiado trans&endenteP101# o :ue &onstatado OJ &usta de o "er repetido de todas as maneiras

 possí"eisP102% .ntre os mais mar&antes &onstam a "iagem de +onstantius a Berlim# e a proposta

e/perimental Opedagógi&aP de +onstantius ao Co"em# no sentido de ele Oromper# se possí"el# &om

sua e/ist,n&ia de poetaP103 para superar a melan&olia :ue impede a &onsumação do seu amor e :ue#

 por &onstituir a tentati"a de a4er o Co"em derontar-se &om a ironia# poderia ser tida do mesmo

modo &omo a tentati"a de a4,-lo tornar-se um esteta entre outros episódios menores em :ue a

repetição se mostra pre&isamente na sua impossi$ilidade# &omo o en&ontro de +onstantius &om uma

 $ela Co"em na "iagem10?# ou a in&onstn&ia do droguista :ue deendia a pereição do estado de

solteiro e após &asar-se deendia a pereição do seu no"o estado10% ;anto a "iagem de +onstantius

:uanto seu e/perimento &om o Co"em podem# entrementes# ser esteti&amente delimitados# em$ora o

e/perimento &om o Co"em em espe&íi&o não possa ser a$rangido na sua totalidade do ponto de "ista

estti&o# em "irtude da sua &onsumação religiosa% *sso signii&a :ue uma leitura estti&a da "iagemde +onstantius esgota a&ilmente o seu es&opo# na medida em :ue não hE outra resolução para ela

senão na &ategoria do humor ou do arses&oN mas no :ue &on&erne J história do Co"em# em$ora a

leitura estti&a de"a permane&er todo o tempo en:uanto uma possi$ilidade# ela não o sui&iente

 para a$ar&ar todos os elementos :ue o te/to mostra%

A melan&olia do Co"em no seu amor-re&ordação torna-se# ao "er de +onstantius# um ator

:ue de&orreria numa situação de sorimento tanto para o Co"em :uanto para a moça# &aso osse a ela

re"elada o &arEter poti&o do seu sorimento% *sso signii&aria# no seu &on&e$er# uma O$rilhantíssimaretirada# despa&hando-a &om a e/pli&ação de :ue ela não era o ideal e &onsolando-a di4endo :ue ela

era sua musaP10@# &om a ressal"a de :ue dessa maneira o preCuí4o para a moça seria muito maior do

:ue se a&aso ela se sentisse $urlada( Oela i&a na "erdade mais proundamente magoada do :ue uma

:ue se sou"esse  enganadaP10% A proposta de +onstantius ao Co"em de :ue ele de"eria# nessas

101*dem# p% 1%102*dem# p% @%103*dem# p% ?@%10?*dem# p% ?%

10*dem# p% %10@*dem# p% ?3%10*dem# p% ?3%

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&ondiç<es# assumir para si o papel de $urladorN se# de uma maneira ou de outra# o seu amor

irreali4E"el# &om o intuito de minimi4ar o sorimento para am$as as partes# +onstantius o a&onselha(

Odestrua tudo# transorme-se num homem despre4í"el :ue só en&ontra pra4er em mistii&ar e

enganar% 6e o or &apa4 de a4er# gerar-se-E um e:uilí$rioP 10I% .sse e:uilí$rio proposto a:ui se

&oniguraria num mo"imento estti&o# em :ue o Co"em tornar-se-ia para ela algum Odestituído de

toda interioridadeP10% *sso signii&a a:ui :ue não de"eria maniestar-se por trEs dessa proposta um

su$strato ti&o em :ue ele eetuaria um &El&ulo :ual:uer# &omo# por e/emplo# o do menor dos

malesN e tampou&o o do registro do religioso# em :ue o ato do a$andono se transiguraria num de

sa&rií&ioN signii&a de ato :ue a sua pai/ão de"eria passar por uma nadii&ação# de"endo ser

Otransmutada em ato ormalP110N o :ue a destituiria e1teriormente de sentido  sem no entanto

ani:uilE-la111%

'ara isso# +onstantius lança mão de um artií&io &uCa tri"ialidade só pode ser entendida

&omo &Hmi&a( o Co"em de"eria dei/ar-se ser "isto na &ompanhia de uma outra moça# de modo a

Oespalhar-se o rumor de :ue tem um no"o &aso amoroso# et &uidem de um g,nero muito pou&o

 poti&oP112% Desse modo# por meio do &ontraste# preser"ar-se-ia a idealidade da Co"em# pois ela

ha"eria de permane&er iel ao Co"em# e ele terminaria &omo um sedutor  par e1cellence  de"e

terminar% eeito esperado o :ue mostrado no Don Gio-anni( o dese&ho trEgi&o de Ouma .l"ira

:ue arran&a $ra"os no seu papel# &horada pelos amiliares# Z :ue pode alar &om energia e "igor

da inidelidade dos homens# inidelidade :ue# &omo e"idente# lhe &ustarE a "idaP 113# mas por outro

lado in&apa4 de dar ao Co"em a Qni&a &oisa O:ue ele pre&isa"a e :ue ela lhe podia oere&er 7 a

li$erdade# :ue pre&isamente o sal"aria se osse ela a dar-lhaP11?% poti&o su$siste a toda a situação

nesse &aso( desse modo legitima-se o ato de am$os estarem errados e &ertos ao mesmo tempo#

muito em$ora o homem saia Custii&adamente perdendo por ser o mais orte( Oa "ingança# supondo

:ue o Co"em esteCa em &ondiç<es de le"ar a &a$o meu plano# a atingirE de modo terrí"el# ainda :ue

somente &om legitimidade poti&aP11% em$re-se no"amente :ue o plano de +onstantius # de&erto#

&ondi&ionado ao seu ponto de "ista de o$ser"ador estti&o# mas o mal-entendido tem seu eeito na

medida em :ue ele pressup<e Custamente o Co"em de posse de uma le"iandade :ue para ele a:ui

uma orça# um atri$uto mas&ulino11@ da :ual ele simplesmente não dE pro"as% Ao &ontrErio# o seu

10I*dem# p% ?3%10*dem# p% ?3%110*dem# p% ?3%111.sse pro&esso# na medida em :ue se trata de uma e/peri,n&ia de es"a4iamento de sentido# de"e ter a ironia &omo um

 pressuposto% A psi&ologia de 8ier9egaard# nesse sentido# &omeça &om o nada do sa$er gerado pela ironia% *sso serEmais detalhado no &apítulo seguinte% Ser G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard %

 p% 11-11IN112 Repetição# p% ??%113*dem# p% ?%

11?*dem# p% ??%11*dem# p% ?%11@G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% 31%

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 pade&er tem traços eminis# e a sua aus,n&ia de orças engendra o seu desapare&imento e atesta ao

mesmo tempo a al,n&ia do plano%

Co"em# por sua "e4# re&onhe&e a magnitude e a engenhosidade do plano :ue não oi &apa4

de le"ar a termo( Oseu plano era e/&elente# mesmo inigualE"el% Z esse era o meu uturo# a igura

heroi&a :ue teria eito de mim um herói# &aso eu ti"esse tido a orça ne&essEria para a en"ergarP11

%A asso&iação &om o heroísmo indi&a o limiar do ti&o :ue seria atingido ao inal do plano# distinto

da humilhação sorida &om a ra:ue4a tornada patente &om a Qni&a saída pelo religioso% .m$ora a

estti&a da sedução osse a:ui o mote do dese&ho# o resultado terminaria no ti&o# pois ainda assim

maniestar-se-ia nele alguma grande4a# Onão aos olhos do mundo# mas em si mesmoP11I% 'ara ele#

tornar-se um impostor não impli&aria num sa&rií&io da honra# mas sim a preser"aria ao mostrar o

"alor depositado na própria moça( Opor:ue por algo de insignii&ante não se sa&rii&a a honra_P 11%

 plano de +onstantius# segundo ele próprio# Otinha por &ritrio a ideiaP :ue# a seu "er# Oesta"a em

mo"imento no amor desse Co"emP120%   ideal seria O&onser"ar-se saudE"el e de $om humor# se

 possí"el# e &ontudo sal"ar seu sentimentoP121N o :ue se tradu4iria numa esp&ie de idelidade a um

sentimento ideal# um O:uerer ser"ir J ideiaP122% .sta ideia a :ue ele se reere # propriamente# a

idealidade da disposição do Co"em perante a moça% Mas ao mesmo tempo +onstantius ", a

ne&essidade de :ue se imponha so$re a moça a e/ig,n&ia a$surda de :ue ela seCa &apa4 de "i"er

 pela ideia# da mesma orma :ue o Co"em melan&óli&o# :ue ela suportasse e manti"esse "i"a a

Oidealidade do próprio enamoramentoP123% *roni&amente# essa possi$ilidade posta no te/to

imediatamente antes da epístola em :ue a moça de&larada &omo &asadaN o :ue atesta sua inaptidão

J interioridade ne&essEria para "i"er pela ideia da mesma orma :ue o Co"em%

Diante de uma disposição original de espírito de tal no$re4a# pode-se &onsiderar :ue o plano

de +onstantius &onsiste numa esp&ie :ual:uer de en"enenamentoN a melan&olia do Co"em# a

O&onstante &ontradição &onsigo mesmoP12? em :ue ele se en&ontra# tornaria impossí"el :ue :ual:uer

ma:uinação dessa esp&ie osse &on&e$ida em seu espírito# muito em$ora esse mesmo ator o

impulsione J ne&essidade de se apro/imar de +onstantius e ter nele um &onidente% Assim# da

mesma maneira :ue Meistóeles nun&a a$andona a &ons&i,n&ia de Fausto# permane&endo ali a todo

instante &omo um Opressuposto de &ons&i,n&iaP12# ou mesmo &omo um d6imon em sentido

11 Repetição# p% ?%11I*dem# p% %11*dem# p% %120*dem# p% 12%121*dem# p% 12I%122*dem# p% ?1%

123*dem# p% 130%12?*dem# p% I?%12*dem# p% 1?0%

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so&rEti&o12@# o "eneno da proposta de +onstantius tem o seu eeito na &ons&i,n&ia do Co"em# e o :ue

ele semeia na sua alma se enraí4a proundamente# de modo :ue a &ulminn&ia do desenrolar da

história ruto dessa Oe/peri,n&iaP% A relação &oniden&ial entre os dois personagens pode nesse

sentido ser designada &omo demonCacaN isso se e/pressa de maneira indireta na possi$ilidade de

alusão dos termos da proposta &om uma esp&ie tentação em &ue se -ende a alma( Onão &ome&e#

 porm# se não ti"er orça para le"ar tudo at o im# &aso &ontrErio o Cogo estarE perdidoP12% Co"em

mesmo sente-se tentado a esta proposta# ele em alguma medida se engaCa nesse Cogo demonía&o# ao

e/&lamar para +onstantius( O"o&,# $astando :ue ite uma pessoa# tem um poder demonía&o &apa4 de

tentE-la a :uerer arroCar-se a tudo# a :uerer ter orças :ue em outras &ir&unstn&ias não teriaP 12I% K

nesse sentido :ue a personalidade de +onstantius sore uma re"ira"olta após o en&ontro &om o

 Co"emN este passa a depositar nele sua ne&essidade de um &onidente# Ona presença de :uem pudesse

alar em "o4 alta &onsigo próprioP12# o :ue# &ontudo# não minimi4a a am$iguidade da sua posição

de o$ser"ador# e tampou&o se interp<e &ontra a e/terioridade da sua posição de psi&ólogo# na :ual

ele se arroga a posição de Oser e não ser simultaneamente o ser e o nadaP 130# e em :ue os mistrios

em :ue ele ini&iado pelo Co"em des&ansam so$ a ru$ri&a do sil,n&io% *sso desen&adeia a srie de

reaç<es aními&as do Co"em &olri&o# :ue# des&aminhado na sua O&ontradição &onsigo mesmoP131 

em :ue +onstantius &onstata :ue ele OdeseCa :ue eu seCa seu &onidente# e &ontudo não o deseCa#

aliEs# atormenta-o :ue eu o seCaP132# se dei/a le"ar pelo Cogo am$íguo e sutil da proposta demonía&a

de seu &onidente%

A relação de &onid,n&ia :ue se esta$ele&e entre os dois pode ser &ara&teri4ada &omo uma

orma de &omuni&ação indireta% A e/ig,n&ia por parte do Co"em# diante de sua in&apa&idade de

reali4ação da proposta da e/peri,n&ia# :ue +onstantius dei/e de ser um &onselheiro e passe J

unção de mero re&eptor# um interlo&utor silen&ioso 7 haCa "isto o repetido "o&ati"o meu

 silencioso confidenteF# por meio do :ual ele possa Odar "a4ão a si mesmoP 133% Daí :ue a srie de

&artas :ue ele en"ia ao &onidente serem sem endereço ou :ual:uer elemento :ue d, pistas so$re

seu desapare&imento% Mas o sil,n&io do interlo&utor # ao mesmo tempo :ue um sil,n&io passi"o da

es&uta# um pelo :ual o elo&utor atraído de maneira irresistí"el# a ponto de enure&,-lo( Oe/ige-me

sil,n&io# sil,n&io in:ue$rantE"el Opor tudo o :ue hE de sagradoP# e &ontudo i&a &omo :ue urioso

12@Muito em$ora o demHnio so&rEti&o tenha para 8ier9egaard um sentido puramente negati"o# muito maisdesa&onselhador do :ue &onselheiroN o :ue mostra em :ue medida ele se torna tam$m distinto da posição doe/perimentador# na medida em :ue este a&onselha e distingue% .sse tópi&o entremostra a relação :ue a posição de+onstantius mantm &om a ironia# tema &entral do &apítulo seguinte% Ser% .onceito de Ironia# p% 12%

12 Repetição# p% ?3%12I*dem# p% ?%12*dem# p% 3@%130*dem# p% I%

131*dem# p% I?%132*dem# p% I?%133*dem# p% I?%

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&om a ideia de :ue eu tenha esse poder de permane&er silen&iosoP13?% sil,n&io e/igido se

&orporii&a numa negati"idade tão e/trema :ue a &ondição de &onidente prati&amente anula a si

mesma( O:ue eu sou seu &onidente# ningum pode sa$er# nem uma Qni&a alma# &onse:uentemente

nem ele próprio o :uer sa$er# nem eu posso sa$,-loP13% .sse "órti&e o$sessi"o de negação por parte

do Co"em indi&a :ue no undo da sua Qria diante do Ore&onhe&imento indiretoP 13@# em :ue at o

 próprio sil,n&io moti"o de in:uietação13# Ca4 um &onlito :ue poderia ser &ara&teri4ado &omo uma

dH-ida f6ustica :ue o Coga no interstí&io entre o estti&o proposto por +onstantius 7 a tentação do

engodo 7 e o religioso 7 o autosa&rií&io em nome da ideia% *sso tam$m dE indí&ios de em :ue

medida# ainda :ue apenas negati"amente# o Co"em sentiu-se eeti"amente tentado a engaCar-se na

 proposta de seu &onselheiro# ou em :ue medida a pala"ra lançada te"e seu eeitoN &omo e/pli&a

Grammont( Oa pro/imidade entre o esteta e o &a"aleiro da # ou# em outras pala"ras# entre o estEdio

estti&o e o religioso# reside no sil,n&ioP13I% A a&usação de :ue +onstantius seria um pertur$ado

mental tem sua origem na in&apa&idade do Co"em em reali4ar a proposta% Depois de passar pela

e/peri,n&ia da sua própria insui&i,n&ia# o Co"em &apa4 de "er a :ue ponto se pre&isaria &hegar

 para le"E-la a &a$o(

Ou não serE uma esp&ie de pertur$ação mental ter a tal ponto su$Cugado so$ o rio

regimento da rele/ão todas as pai/<es# todas as emoç<es# todas as disposiç<es de espírito_

 Rão serE pertur$ação mental ser normal dessa maneira# somente ideia# nada de ser humano#

nada de igual Js outras pessoas# le/í"eis e intransigentes# perdidas e perdendo-se_P13

.ssa dialti&a entre as duas posiç<es na personalidade do Co"em# :ue ora se mostra ora

OdespertoP e O&ons&ienteP# ora Ona o$s&uridade ou a$sortoP1?0# mostra mais uma "e4 a medida em

:ue ele se en&ontra em mo-imento# en:uanto +onstantius permane&e constante  &omo &entro de

gra"idade da situação# na sua rie4a nadii&ada e silen&iosa de o$ser"ador# o :ue não signii&a de

modo algum :ue sua posição &areça de :ual:uer interesse% o&o# toda"ia# de"e permane&er no

 Co"em# este Odesditoso &a"aleiro do amor ineli4P1?1# pois ele a:uele para :uem a repetição apare&e

&omo pro"lema interior # ou seCa# ele :uem estE de posse da ideia% 6ua in&apa&idade de amar a

moça en&ontra-se arraigada na sua melan&olia poti&a( Opara amE-la realmente pre&isaria primeiro

de ser li$ertado da &onusão poti&a em :ue tinha entradoP1?2% A ruptura momentnea entre ele e

13?*dem# p% I?%13*dem# p% I?%13@*dem# p% I%13OFi&a in&lusi"e 4angado :uando aço a:uilo :ue insistentemente de mim e/ige 7 i&o em sil,n&ioPN R%# p% I%13IG)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% ?I% A relação de Fausto &om o geral#

 pelo :ual ele moralmente &ondenado por &ausa da própria dQ"ida# ha"erE de ser detalhada no &apítulo % 'or ora#&a$e apenas elu&idar a relação do sil,n&io Eusti&o &om o demonía&o da tentação da proposta da e/peri,n&ia%

13 Repetição# p% ?%

1?0*dem# p% ?%1?1*dem# p% ?%1?2*dem# p% ?%

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+onstantius# :ue se dE &om o seu desapare&imento# parte da disparidade entre a proposição mesma

dada por +onstantius# :ue de &arEter estti&o# e a sua $us&a# :ue# ao mesmo tempo em :ue ele se

de&lara insui&ientemente Oartista :ue ti"esse orça sui&iente para uma tal prestação# ou a

ne&essEria perse"erançaP1?3# aponta# na proundidade de sua melan&olia# para ora dele% ato da

ideia estar nele em mo"imento apare&e &ons&ientemente para ele no momento em :ue ele $eira uma

&atarse de admiração do &onidente ao mesmo tempo em :ue o tem &omo um pertur$ado mentalN ele

angustia-se da Osuperioridade :ue a4 parte de um sa$er so$re todas as &oisas tão grande :ue nada

no"o ou des&onhe&idoP1??# Custamente por não se "er &apa4 de a4er uso dessa sa$edoria sem t,-lo

&omo um g,nio# um d6imon lutuante na sua &ons&i,n&ia a &ada momentoN ele angustia-se pelo

sil,n&io do &onidente# pois# en:uanto tal# não mais &onselheiro% A sa$edoria e/perimental de

+onstantius &onstituiu para o Co"em Ouma des&o$erta no m$ito do eróti&oP 1?# mas do :ual ele

ha"ia inad"ertidamente sido e/&luído% +onstantius diagnosti&a por im tal e/&lusão na

&ara&teri4ação da pro/imidade do rapa4 &om a Co"em &omo determinada pelo arrependimento, ou

 seja, uma categoria +ticaN :uer di4er# a melan&olia en:uanto o Qltimo lastro do real na interioridade

do Co"em tem o seu undamento no arrependimento% *sso di4 muito a&er&a da possi$ilidade mesma

da reali4ação da repetição religiosa nele( o ato de ele se en&ontrar a ser"iço de uma ideia em

mo"imento &ondi&iona a possi$ilidade da repetição eeti"a%

Dessa orma# a proposta de transormar o Co"em num sedutor indu4 a uma identii&ação da

tentação estti&a &om o demonía&o# o :ue não impli&a# entrementes# :ue o estti&o torne-se eo ipso

in&on&iliE"el &om a repetição% sedutor# a:uele :ue assume a tarea de "i"er poeti&amente#

tam$m o paradigma repetição no estti&oN ele a:uele :ue O"i"e so$ o imprio de dois go4os( o

go4o da realidade# e o go4o de si mesmo nesta realidade e do :ue ele próprio a4ia &om elaP1?@% A

repetição estti&a des&rita &omo este segundo go4o# em :ue sua personalidade esteti&amente

sa$oreada por meio de uma refle1i-idade po+tica(

O poti&o era o elemento adi&ional :ue ele mesmo ha"ia tra4ido &onsigo% .ste adi&ional era

o elemento poti&o :ue ele desruta"a na situação poti&a propor&ionada pela realidadeN este

elemento oi por ele re&uperado na orma da rele/ão poti&a% .ste era o segundo go4o Z%

 Ro primeiro &aso# ele sa$orea"a o elemento estti&o pessoalmente# no segundo ele sa$orea"a

a si mesmo esteti&amente Z% Ro primeiro &aso# ele possuía uma ne&essidade &onstante da

realidade &omo o&asião# &omo um elementoN no segundo &aso# a realidade se aunda"a no

 poti&oP1?

1?3*dem# p% %1??*dem# p% ?%1?*dem# p% %1?@G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard  p% 23%

1?O;he poeti& =as the e/tra element he himsel $rought =ith him% ;his e/tra =as the poeti&al element he enCo>ed inthe poeti& situation pro"ided $> realit>N this element he too9 $a&9 in the orm o poeti& rele&tion% ;hat =as these&ond enCo>ment Z% *n the irst &ase# he sa"oured the aestheti& element personall># in the se&ond he sa"oured his

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 Resse mo"imento# não se pode negar :ue o&orre de ato um redo$ramento da &ons&i,n&ia# em :ue

ela# por meio dessa rele/i"idade# passa a o$ser"ar a si própria a partir de si própria% Designa#

 portanto# de ato uma esp&ie de repetição# :ue se maniesta esteti&amente num tornar-se mito de si

 próprio1?I# muito em$ora# Custamente por isso# alte a ela a seriedade :ue mantm o "ín&ulo &om a

realidadeN a &ons&i,n&ia não pode se satisa4er &om essa realidade em$e$ida do poti&o# pois nela o

 próprio real se perde na distinção%

 Resse sentido# não se pode di4er :ue a repetição estti&a se redu4 ao e/perimento de

+onstantius# muito em$ora esta seCa adada ao ra&asso &omo e/perimento# e a:uela# &omo orma

 primEria da repetição# le"a a indi"idualidade a desesperar-se% *sso se dE por:ue# da maneira &omo

+onstantius &olo&a :uando se pergunta Ose uma &oisa ganha ou perde em repetir-seP1?#

aparentemente :ual:uer &oisa pode ser repetida# desde :ue para isso se en&ontre o e/perimento

ade:uado10% uando o Co"em desespera da ilosoia moderna11# sua asserti"a "ai na mesma

direção# pois se tudo pode ser repetido# então da mesma orma nada o podeN e a repetição torna-se

impossí"el% próprio +onstantius o re&onhe&e# na &arta a ei$erg# :uando assume :ue sua "iagem

a Berlim ora uma par5dia do pro$lema do Co"em# :ue &onsiste na possi$ilidade da repetição(

O pro$lema do Co"em se a repetição possí"el% .n:uanto isso# eu parodiei isto de

antemão para ele ao empreender uma "iagem a Berlim para "er se a repetição possí"el% A

&onusão &onsiste nisso( o pro$lema mais interior da possi$ilidade da repetição e/presso

e/ternamente &omo se a repetição# se osse possí"el# de"esse ser en&ontrada ora do

indi"íduo :uando de ato de"e ser en&ontrada dentro deleP12%

A paródia de +onstantius Coga para o e/terior um pro$lema interiorN ao passo :ue a Odes&o$ertaP 13 

do Co"em mostra :ue a repetição &omo mo"imento só pode eeti"ar-se-se no reino do espírito# no

indi"íduo em :ue a ideia posta em mo"imento( Onão se trata da repetição de algo e/terno# mas da

repetição de sua própria li$erdadeP1?% K nesse sentido :ue a repetição estti&a ultrapassa a

&on&epção demonía&a do e/perimento de +onstantius# em :ue o destino do Co"em posto em

e/peri,n&ia at o ra&asso# pois ela aponta para um mo"imento :ue# ainda :ue redunde no

desespero# &onsiste num "ir-a-ser em :ue se pode tratar de um  primeiro  e um  segundo go4o da

o=n person aestheti&all> Z% *n the irst &ase he =as in &onstant need o realit> as the o&&asion# as an elementN inthe se&ond &ase realit> =as dro=ned in the poeti&P% Eit$er# r # p% 2?%

1?IG)AMMR;# G%N p% 2?%1? Repetição# p% 31%10Arne Gr`n mostra isso :uando indaga so$re a "alidade da repetição na "iagem de +onstantius a Berlim% Ser G)R#

A%N Repetition and t$e concept of Repetition# p% 1?@%11 Repetição# p% 2%12O;he >oung manVs pro$lem is =hether repetition is possi$le% Mean=hile * parodied this or him in ad"an&e $>

underta9ing a Courne> to Berlin to see i repetition is possi$le% ;he &onusion &onsists in this( the most interior pro$lem o the possi$ilit> o repetition is e/pressed e/ternall> as i repetition# i it =ere possi$le# =ere to $e ound

outside the indi"idual =hen in a&t it must $e ound =ithin the indi"idualP%  !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30?%13*dem# p% 30?%1?O*t is not a :uestion o the repetition o something e/ternal $ut o the repetition o his reedomP% *dem# p% 30?%

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 personalidade e da situação poti&a% olmgaard se pergunta se Oseria esta a &on&epção de repetição

:ue +onstantius tinha em mente^ +ertamente :ue não# mas um mo"imento :ue aponta para &omo

o indi"íduo pode repetir a si mesmo esteti&amente de modo ininitoP1%

A igura do Co"em poeta# em oposição J:uela :ue ele não &onseguiu reali4ar# a do sedutor

rele/i"o# tam$m pode &onstituir uma igura estti&a &uCa relação &om a repetição sustenta umamElgama# ou ainda# um ponto de tang,n&ia# entre o religioso 7 a repetição interior da li$erdade

indi"idual 7 e a indi"idualidade poti&a por ele &on&reti4ada% Mas esse &ontato# &omo serE agora

mostrado# apare&e num pro&esso de eeti"ação dessa li$erdade# em :ue ela "em a tornar-se id,nti&a

J repetição%

0 As formas da repetição do ponto de -ista est+tico%psicol5gico

ra# se o li"ro atesta :ue a repetição o Qni&o mo"imento eeti"o# então de"e ser mostrado

tam$m em :ue sentido a repetição se identii&a &om a Oideia em mo"imentoP na e/peri,n&ia# :ue

 pode ser traçado numa relação undamental &om o supra&itado auto-engendramento perormEti&o da

 personalidade# do :ual o Co"em "em a ser o e/emplo% Ro li"ro# isso i&a apenas su$entendidoN mas

 pode-se en&ontrar detalhada essa relação na anElise eita por .ri9sen a&er&a da psi&ologia

enomenológi&a de +onstantius% As atitudes &om relação J repetição são igurati"amente ilustradas#

toda"ia# em Eit$er# r # prin&ipalmente# no :ue di4 respeito J &on&epção de psi&ologia e/perimental

rela&ionada a &ategorias estti&as% .ri9sen as enumera da seguinte orma( a primeira delas a:uela

na :ual a li$erdade na repetição identii&ada &om o deseCo# tal &omo na enomenologia hegeliana#

onde o deseCo o imediato da &ons&i,n&ia-de-si# e &uCa en&arnação igurati"a o Don Luan &omo o

estEgio eróti&o imediato ou o eróti&o musi&al% A segunda# a:uela &uCa orma a do desespero na

li$erdade# :ue# assumindo a orma da prud,n&ia# tenta ganhar na repetição uma "aria$ilidade tal :ue

não seCa a&ometida pelo tdio# a :ual $em ilustrada pelo te/to  Rotação de .ulti-os% Ra Qltima

etapa# a li$erdade passa a ser id,nti&a J repetiçãoN esta# no entanto# na tentati"a de reali4ar-se#

termina por degringolar no poti&o# ao in"s de &on&reti4ar-se &omo repetição religiosa eeti"a( a:ui

onde o Co"em situa-se% A &ulminação dessa gradação portanto negati"aN de a&ordo &om .ri9sen#

o e/perimento psi&ológi&o do tipo reali4ado por +onstantius na "erdade des&a$ido# pois todos os

tr,s momentos da sua psi&ologia enomenológi&a ra&assam no :ue di4 respeito a uma reali4ação

eeti"a da repetição# ao passo :ue ele se en&ontra de posse da &ons&i,n&ia de :ue ela Odemasiado

trans&endenteP1@ para ele( Osou &apa4 de me &ir&una"egar# mas não sou &apa4 de ele"ar-me a&ima

1MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% %1@ A Repetição# p% 1%

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de mim mesmoP1% +ada momento serE analisado detalhadamente adiante%

A primeira igura# :ue na !enomenologia do EspCrito se identii&a &om o deseCo &omo o

imediato da &ons&i,n&ia-de-si# a do Don Luan mo4artiano :ue apare&e em  Eit$er# r % .ste estEgio

&hamado de erotismo musi&al# pois na sua eeti"idade ainda não se a4 presente a rele/i"idade

&omo mediação &om a repetiçãoN por isso a determinidade musi&al do  Don Gio-anni o puramentesensual# a:uilo# :ue de a&ordo &om o esteta A# o autor de  Eit$er# r # se en&ontra e/&luído da esera

do espírito1I% A rele/i"idade não se en&ontra presente# pois ela tem seu eeito na negação do

imediato( Oa rele/ão mata o imediato e por isso :ue impossí"el e/pressar o musi&al na

linguagemP1% A totalidade da "ida se en&ontra para ele no imediato( não hE "ida alm do momento#

de tal orma :ue ele in&apa4 de :ual:uer relação positi"a &om o próprio passado ou &om o uturoN

donde se deri"a o &arEter sensual da musi&alidade( pelo ato do seu amor e da sua sedução

&are&erem de rele/i"idade# ele in&apa4 de atingir o amor espiritual pois este re:uer alguma

duração temporal( Oas repetiç<es do amor sensual de Don Luan são opostas Js do amor psí:ui&oP1@0#

e a sua OmE-ininitudeP no m$ito da sedução dE-se Opre&isamente para e"itar o senso de

&ontinuidade :ue segue de uma relação :ue resiste atra"s do tempoP1@1% A sua repetição apare&e#

 pois# &omo uma uga in&ons&iente da relação &om a temporalidade( não hE nenhum sentido no seu

 passado# e sua orça# :ue o sustenta nessa in&onstn&ia# na "erdade não lhe perten&e# mas su$siste

somente &omo uma negação da realidade espiritual1@2% 'or isso ine"itE"el :ue ele su&um$a :uando

o passado se interp<e diante dele# personii&ado pelo antasma da estEtua do &omendadorN a

introdução da temporalidade signii&a o suplantar do erotismo imediato de Don Gio"anni% A sua

repetição &ara&teri4ada por .ri9sen &omo uma repetição compulsi-a# Oprodu4ida pre&isamente

 pela sua uga in&ons&iente da repetição desses momentos na &ons&i,n&ia re&ordação ou na

atualidade repetição ti&aP1@3%

su&um$ir de Don Gio"anni J temporalidade se &onigura tam$m no seu assumir-se

&ulpado pelo seu próprio passado# ponto em :ue ele dei/a de ser ele mesmo en:uanto sedutor% A:ui

a repetição a&eita en:uanto O&ondição da "idaP1@?N sendo ela ines&apE"el# para um esteta o maior

 perigo se torna então a monotonia dentro da:uilo :ue sempre repete# e apare&e a  prudência social

so$ a orma da di"ersão en:uanto mtodo para e"itar o tdio na repetição( tal o su$título do te/to

1*dem# p% 1%1I Eit$er#r # p% I1%1O)ele&tion 9ills the immediate and that is =h> it is impossi$le to e/press the musi&al in languageP% *dem# p% I0%1@0.)*86.R# R%R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition : A Reconstruction# p% 2?%1@1*dem# p% 2?%1@2A relação &om a temporalidade tratada no li"ro de .ri9sen so$ a ru$ri&a do &on&eito de $istoricalidade# :ue

designa a relação em dierentes ní"eis de gradação do indi"íduo &om o próprio passado e &om o uturo% .sse

&on&eito serE a$ordado em proundidade no &apítulo ?%1@3*dem# p% 2%1@?*dem# p% 2@%

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O)otação de +ulti"os( uma ensaio so$re ;eoria da 'rud,n&ia 6o&ialP% s tr,s prin&ípios $Esi&os de

:ue o esteta OAP parte# a sa$er# de :ue todas as pessoas são entediantes# de :ue o tdio a rai4 de

todo o mal# e de :ue a ess,n&ia do tdio um sentido do nada :ue hE em todas as &oisas1@# denotam

um tipo de relação &om a repetição em :ue ela tomada &omo um pressuposto# mas não le"ada a

srio o sui&iente a ponto de eeti"ar-se &omo uma onte de sentido# ela um pressuposto :ue

 pretende ser superado na &ontemplação o&iosa da "ida( Oa "ida o&iosa não de maneira alguma a

rai4 do malN mas# pelo &ontrErio# um modo de "ida "erdadeiramente di"ino# desde :ue não se

esteCa entediadoP1@@% A airmação de todas as pessoas &omo entediantes gera a su$di"isão entre os

 ple$eus# :ue são a:ueles :ue entediam os outros e são di"ertidos para si próprios# e os aristo&ratas#

:ue entediam a si mesmo mas geralmente são di"ersão para os outros% Ra de"ida proporção#

O:uanto mais proundamente eles se entediam# mais poderoso o meio de di"ersão :ue oere&em

aos outrosP1@% 'ara um ple$eu# o destino da sua "ida o tra$alho# e a o&iosidade não pode para ele

ter um sentido positi"o% 6omente um aristo&rata do espírito tem &ondiç<es# portanto# de reali4ar o

mtodo proposto para anular o tdioN o próprio tdio# en:uanto rai4 de todo o mal# se &onstitui &omo

a totalidade do :ue de"e ser superado( Oo tdio o panteísmo demonía&o% 6e permane&ermos nele

&omo tal ele se torna malignoN por outro lado# assim :ue ele anulado ele "erdadeiro% Mas só se o

anula se se di"erte 7 ergo o indi"íduo de"e di"ertir-seP1@I% panteísmo a:ui &hamado de

demonía&o prin&ipalmente por:ue ele se identii&a &om um niilismo a :ualidade de panteísmo do

tdio entra em &onormidade na relação &om o todo na medida em :ue este negati"o( Opanteísmo#

em geral# &ontm a :ualidade da &ompletudeN &om o tdio se dE o oposto# ele se $aseia na

"a&uidade# mas# por esta mesma ra4ão# uma &ategoria panteísti&aP1@% .ssa negati"idade resulta na

 $us&a &onstante por di"ertimento não &omo uma uga da alta de realidade# &omo no &aso do

 primeiro estEgioN a repetição se dE a:ui numa in"enti"idade su$Ceti"a# numa ingenuidade indu4ida

 pela &ons&i,n&ia &om o Qni&o o$Ceti"o de suspender o negati"o :ue sempre se repete# retornando

sempre so$ a orma do tdio% Rão pode ha"er# pois# um di"ertimento a$soluto# pois o negati"o

 permane&e o a$solutoN ele permane&e# pois# sempre J espreita# &omo um pano de undo ao

di"ertimento :ue se so$rep<e mas em seguida so$repuCado%

segredo da rotação de &ulti"os a "aria$ilidade ininita do inito% sentido undante do

termo retirado da agri&ultura# &onsiste numa tro&a de &ulti"o dentro do mesmo solo( Odepende da

1@*dem# p% 2%1@@O*dleness as su&h is $> no means a root o e"ilN :uite the &ontrar># it is a trul> di"ine =a> o lie so long as one is not

 $oredP% Eit$er#r # p% 230%1@ O;he more prooundl> the> $ore them sel"es# the more po=erul a means o di"ersion the> oer othersP% *dem# p%

230%1@I OBoredom is demoni& pantheism% * =e remais in it as su&h it $e&omes e"ilN on the other hand# as soon as it is

annuled it is true% But one annuls it onl> $> amusing onesel 7 ergo one ought to amuse oneselP% *dem# p% 231%1@ O'antheism# in general# &ontains the :ualit> o ullnessN =ith $oredom it is the opposite# it is $ased on emptiness#

 $ut is or that "er> reason a pantheisti& &ategor>P% *dem# p% 232%

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ilimitada ininitude da mudança# na sua dimensão e/tensi"aP10% 6ua mudança se dE num limite $em

deinido# e o :ue "aria propriamente o mtodo de &ulti"o e o tipo de &olheitaN pro&ura-se Oalí"io

na intensidade antes da e/tensãoP11% Ao &ontrErio do mtodo "ulgar e inartísti&o12# no :ual o tdio

"en&ido por meio do mo"imento dentro da e/tensão# seCa atra"s da "ariação espa&ial o deseCo

ininito de "iaCar# ou da material O:ueimar metade de )oma para ter uma ideia da &onlagração em

;roiaP13% .sse mtodo &onsiste# segundo OAP# na mE-ininitude% A "erdadeira rotação de &ulti"os

depende antes de tudo da limitação( ne&essErio limitar-se para :ue a in"enti"idade tenha seu lugarN

o ininito se dE de maneira imanente ao inito( O:uanto mais tu limitas a ti mesmo# mais engenhoso

tu te tornasP1?% Desse modo# possí"el a4er &om :ue o se&undErio apareça &omo essen&ial# e o

essen&ial i:ue em segundo planoN mas tal in"enti"idade &ondi&ionada a uma regra geral da

relação entre a recordação e o es&uecimento1%  es:ue&imento para ele uma arte passí"el de ser

dominadaN :uem a domina &onsegue "i"er artisti&amente# no sentido de ter um domínio so$re a

inten&ionalidade da "ista do o$Ceto de tdio não mais &omo um negati"o# mas &omo uma o&asião

 para a in"enti"idade% A arte do es:ue&imento &onsiste numa maneira pe&uliar de re&ordar# pois

a:uilo :ue es:ue&ido não suprimido# mas apenas so$reposto por a:uilo :ue se lem$ra%

elemento in"oluntErio não desapare&e nessa inten&ionalidade do es:ue&imento# mas pode ser

&ondi&ionado pela própria maneira &omo essa inten&ionalidade tem o seu enseCo na &ons&i,n&ia(

Oser &apa4 de es:ue&er depende sempre do modo &omo se re&orda# mas o modo &omo se re&orda

depende por sua "e4 em &omo se e/perimenta a realidadeP1@% A:ui apare&e a prud,n&ia# na orma

do nil admirar i1# &omo sa$edoria de "ida( a introCeção da re&ordação no momento presente eeti"a

a suspensão do imediato da di"ersão# e insere o elemento da temporalidade( O:uando &omeçares a

notar :ue tu estEs sendo le"ado pelo &ontentamento ou por uma situação de "ida de maneira

demasiado orte# para por um momento e re&ordaP1I% A repetição CE se mostra de alum modo nessa

asserti"a# na medida em :ue a re&ordação CE "ista a:ui &omo algo :ue de"e ser &ontraposto# muito

em$ora a insui&i,n&ia desse modo de &ontraposição se mostre en:uanto ela permane&e em relação

dialti&a &om o es:ue&imento( Oo suCeito es:ue&e em unção de re&ordarP 1%   :ue alta a esta

atitude para &om a repetição Custamente o mo"imento :ue dE e/tensão ao temporal# apontando para o uturo# para alm da atualidade# o mo"imento da &ons&i,n&iaN pois a di"ersão propor&ionada

10 ODepends on the unlimited ininit> o &hange# on its e/tensi"e dimensionP% *dem# p% 232%11.)*86.R# R%R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition : A Reconstruction# p% 2%12 Eit$er#r # p% 233%13OBurn hal o )ome to get an idea o the &onlagration at ;ro>P% *dem# p% 233%1?Othe more >ou limit >oursel# the more resour&eul >ou $e&omeP% *dem# p% 233%1*dem# p% 233%1@ OBeing a$le to orget depends al=a>s on ho= one remem$ers# $ut ho= one remem$ers depends in turn on ho= one

e/periments realit>P% *dem# p% 23?%1*dem# p% 23?%

1I Obhen >ou $egin to noti&e that >ou are $eing &arried a=a> $> enCo>ment or a lie-situation too strongl># stop or amoment and remem$erP% *dem# p% 23?%

1 One orgets in order to remem$erP% *dem# p% 23%

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 por este mtodo tem sua reer,n&ia apenas a atualidade presente%

A &ondição psi&ológi&a para ati"ar a relação dialti&a entre a re&ordação e o es:ue&imento

&ara&teri4ada &omo o a$andono da esperançaN a temporalidade :ue se a4 presente no mo"imento

&ru&ial da dialti&a da re&ordação e do es:ue&imento por meio da introCeção da re&ordação no

momento apenas psi&ológi&a# poeti&amente des"ane&ida# em :ue nenhuma relação positi"a &om oindi"íduo esta$ele&ida( Opara um suCeito "erdadeiramente artísti&o# no entanto# :ual:uer momento

na "ida insignii&ante o sui&iente para ser es:ue&idoP1I0% a$andono da esperança irma-se &omo

o pressuposto na medida em :ue &onstitui o ato inten&ional da instauração da negati"idade &omo

 pano de undo ontológi&oN ela &onstitui a garantia de :ue nenhum momento na "ida su$siste

en:uanto norte de sentido para o uturo# pois en:uanto a esperança su$siste# o a&onte&imento se

en&ontra na possi$ilidade# su$siste en:uanto uma promessa de preen&himento positi"o% momento

estti&o de"e $astar-se a si mesmo# de tal orma :ue seCa possí"el uma rele/i"idade psi&ológi&a em

:ue ele "i"ido &on&omitantemente &omo atualidade e &omo re&ordação% !m detalhe :ue pare&e

de&isi"o o ato de o &onselho dado para o apereiçoamento do OmtodoP pelo esteta OAP

&onstituir-se na suspensão da atualidade por meio da eeti"idade inten&ional da re&ordação% De ato#

ela por si só &onstitui a $arreira imposta pela "ontade ao puro ruir da situaçãoN &onstitui# pois# um

elemento da rele/ão% Mas ao mesmo tempo ela &onstitui a mediação por meio da :ual se instaura a

dialti&a da re&ordação e do es:ue&imento# CE :ue este Qltimo # por si só# o negati"o# e &omo tal não

se en&ontra  su" judice &om relação J &ons&i,n&ia% .le só "em a &onstituir-se &omo positi"o na

medida em :ue a dialti&a CE se en&ontra em mo"imento# mas o  fiat  primordial :ue instaura esse

mo"imento "em a ser somente ora do seu domínio% 'ortanto# a relação temporal genuína

 permane&e negada ao indi"íduo# na medida em :ue este só a &onstitui so$ a instn&ia da re&ordação#

e na temporalidade passada &omo plataormaN esta ainda não "ista &omo algo &onstituído por ele

 próprio en:uanto parte &onstituinte da totalidade da e/ist,n&ia%

A ter&eira etapa# de a&ordo &om .ri9sen# identii&a-se &om a repetição na orma de

reprodução poti&a# &uCa igura seria o próprio Co"em do li"ro% Ao mesmo tempo em :ue o Co"em

a&redita ter sido li$ertado pela Co"em :uando ela se &asa# no :ue ela torna-se para ele o inessen&ial#

a o&asião para o poti&o# e ele re&e$e de "olta a si mesmo e torna-se li"re para o Omundo do

 poeti4arP1I1# +onstantius pensa :ue sua eeti"idade poti&a não &onigura uma transiguração

religiosa no sentido mais estritoN mas sim :ue ele o$te"e apenas Ouma produti"idade poti&a :ue

&ondu4ida por um humor religioso% Ra sua ess,n&ia a e/ist,n&ia poti&a religiosidade

ra&assadaP1I2% .ssa &oniguração de posiç<es distintas entre os personagens &onstitui o resultado do

1I0.)*86.R# R%R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition : A Reconstruction# p% 2I%1I1*dem# p% 32%1I2*dem# p% 33%

3@

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e/perimento psi&ológi&o# :ue serE detalhado a seguir%

0K Resultados do e1perimento est+tico%psicol5gico

:ue se pode depreender dessa relação# prin&ipalmente no :ue &on&erne a +onstantius e ao

 Co"em# :ue# na medida em :ue o estti&o &onstitui uma determinação da personalidade para

am$os# &ada :ual J sua maneira# ele assume a orma de uma determinação psicol5gica# no sentido

de esta$ele&er-se &omo a orma :ue a$range o &onteQdo da e/peri,n&ia% Dessa maneira# poder-se-ia

di4er :ue não &onstituiria um a$uso terminológi&o a su$stituição da:uilo :ue designado &omo

e/perimento psi&ológi&o por uma e/pressão tal &omo e/perimento estti&o-literErio# na medida em

:ue am$os os personagens re&onhe&em :ue# em primeiro lugar# o estti&o se deine em unção do

religioso &omo o negati"oN em segundo# :ue am$os os personagens prin&ipais# +onstantius e o

 Co"em# se en&ontram por ele determinado# e portanto aastados do &uid  da repetição na medida em

:ue esta se deine na sua relação &om a eternidade1I3%

&onteQdo parti&ular do elemento da ideia em mo"imento na personagem do Co"em

 permane&e um tanto o$s&uro tanto para o leitor :uanto para o próprio e/perimentadorN só se

&onhe&e-o por meio de uma dialti&a :ue os&ila entre o estti&o e o religioso# em :ue am$os

apare&em um para o outro atra"s de um mal-entendido na &omuni&ação indireta% E# nesse sentido#

no e/perimento proposto por +onstantius# um profundo mal%entendido entre ele próprio e o Co"em(

a sua Oe/peri,n&iaP não te"e o eeito deseCado pois ele não le"ou sui&ientemente a srio a

 proundidade do amor do rapa4# e esse mal entendido :ue gera o eeito &Hmi&o :ue o li"ro

 pretende tra4er de maneira su$Ca&ente% )ealmente# +onstantius só passa a des&oniar :ue o Co"em

ama"a a moça &om tanta intensidade depois :ue de&larado &omo um Opertur$ado mentalP# sem

:ue &om isso a relação por si só seCa rompida( O:uando na &arta &heguei J:uela e/pli&ação não

 propriamente ineli4 segundo a :ual eu era um pertur$ado mental# prontamente me o&orreu( agora

tem de&erto um segredoP1I?% ato de depois disso ele persistir na &rença de :ue a situação por

isso mais re&onortante# pois agora o Co"em não manteria mais nenhuma reser"a en:uanto

&onidente# pode ser "isto &omo# no mínimo# irHni&o% Mas desse mal-entendido de&orre :ue a

 proundidade insondE"el do Co"em &onstitui agora um enseCo para :ue este possa se en"eredar pelo

m$ito da repetição religiosa# &oisa para :ual desde o iní&io o o$ser"ador se mostrou inapto%

signii&ado da ideia em mo"imento se dE :uando ela &orretamente &on&e$ida &omo

onte de sentido para o amor do Co"emN a ela tudo se su$mete# pois ela &onere unidade Js mQltiplas

1I3*dem# p% 132%1I?*dem# p% I%

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8/17/2019 GOMES, Arthur - A Repetição Do Ponto de Vista Estética - Uma Análise a Partir de Kierkegaard

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atualidade transormada ela própria num sonho# e dessa maneira o Co"em passa a "i"er para trEs%

'ara +onstantius# esse o erro do Co"em( ele se en&ontra# no seu rela&ionamento &om a moça# no

im de algo :ue de"eria estar apenas &omeçando% uando ela se &asa &om outro# o Co"em sente-se#

 pois# li$ertadoN pois agora se en&ontra li"re do ardo do passado e das amarras da responsa$ilidade#

e reali4a um retorno ao poti&o# iludido &om a &rença de :ue atingiu a repetição% +onstantius no

entanto permane&e &on"en&ido de :ue ele situa-se na re&ordação( ele permane&e preso ao poti&o#

no :ue a repetição &onstituiria Oum retorno J atualidadeP 1@N o Co"em alha em eeti"ar este retorno

ao romper &om a segunda pot,n&ia do sonho# e a esperada transiguração religiosa da atualidade se

tradu4 numa produti"idade poti&a apenas &ondu4ida por um humor religioso1% ;al o &onlito em

:ue o li"ro se en&erra( a repetição religiosa permane&e apartada da eeti"idade poti&a na medida

em :ue esta se dE no registro da re&ordação% Mas a &one/ão# o momento de identidade# apare&e na

medida em :ue o indi"íduo "em a ser para si mesmo um sa&rií&io em nome da ideia% Ro poti&o#

tal determinação se a4 presente de maneira in&ons&iente( Oa e/ist,n&ia poti&a na sua

generalidade um sa&rií&io humanoP1IN pois# na medida em :ue o mo"imento da poesia ele"ar a

realidade J ideia# su$stituindo-a pela idealidade# o religioso eeti"a o mo"imento &ontrErio# tra4endo

a idealidade ao "ir-a-ser do real% Resse sentido# a totalidade do sentido dada no religioso em

unção da eeti"idade desse sa&rií&io na &ons&i,n&ia# pois essa totalidade apare&e somente em

unção do &on&eito ti&o de arrependimento%

A e/ist,n&ia so$ a insígnia do poti&o mostra-se então &omo o negati"o do religioso# &uCa

mediação o redire&ionamento do mo"imento :ue de"eria ser &ara&teri4ado &omo repetição rumo J

re&ordação poti&a% ;al o signii&ado da Oreligiosidade ra&assadaP1( não hE uma

transu$stan&iação da realidade :ue a re&on&ilie &om o indi"íduo# mas ele permane&e apartado desta

e mantm &om ela uma relação demasiado e/terior# &ontemplati"a# indierente# tendo &omo Qni&o

reQgio o estti&o% A dor do inortQnio do poeta de"e ser transigurada no $eloN mas isso &om relação

ao religioso tradu4-se na impossi$ilidade de reali4ação deste mesmo% 'ara superar esse tormento#

ele de"e a$andonE-lo ao humilhar-se ao próprio tormento na % uando o poeti4ar su$stitui o ser# o

indi"íduo se torna um sa&rií&io humanoN no entanto# Oo sentido deste sa&rií&io permane&e o$s&uro

 para ele próprioP200# na medida em :ue o poeta a$re mão de si mesmo em nome da o$ra# mas a o$ra

 permane&e diante dele &omo uma &iraN muito em$ora ainda seCa o Qni&o mundo ha$itE"el para ele

en:uanto poeta%

Desse modo# não in&orreto :ue# ainda :ue em lugar algum seCa airmado :ue o Co"em

8ier9egaard# e a ele oi dedi&ado o li"ro .onceito de AngHstia%1@ )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition : A Reconstruction# p% 32%1*dem# p% 32%

1I Journal and Papers, *** A @2 n%d%# 1I?0%1 )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition : A Reconstruction# p% 33%200*dem# p% 3?%

3

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atingiu a repetição em sentido pleno ele próprio o re&onhe&e( Oa:ui só possí"el a repetição do

espírito# em$ora nun&a seCa tão pereita na temporalidade &omo na eternidade# :ue a "erdadeira

repetiçãoP201# e ainda :ue +onstantius não o re&onheça# se possa di4er :ue o Co"em atingiu de

alguma maneira o resultado# isto # algum ní"el de repetição# o :ue &ara&teri4a de alguma orma a

legitimidade do poti&o &omo uma repetição "iE"el# e &omo uma relação &om o religioso# ainda :ue

meramente negati"a% !ma pro"a disso :ue a repetição# ao longo de todo o li"ro# só de&larada

&omo e/istente pelo Co"em e apenas duas "e4es202% ato de a moça ter se &asado impli&ou numa

li$eração da responsa$ilidade :ue ele sentia perante ela# o :ue oi re&e$ido por ele &omo uma

generosidade% +omo ;sa9iri atesta( Oem$ora o Co"em não tenha ele"ado sua &ons&i,n&ia ao ní"el

religioso# ele não o$stante ele"ou-a J segunda pot,n&iaP203%

.sse sentido negati"o :ue &onstitui o poti&o asso&ia-se &om o próprio resultado ra&assado

da e/peri,n&ia e da &on&epção do &on&eito de repetiçãoN tanto :ue .ri9sen# ao &omparar a

enomenologia de egel &om a e/peri,n&ia da repetição em 8ier9egaard# &on&lui(

O+ontrariamente J enomenologia de egel# entretanto# o &on&eito nun&a ",m J tona nas

indi"idualidades retratadas na Repetição% Resse ní"el# o proCeto de +onstantius de ato um

ra&asso% ;oda"ia# num ní"el mais proundo essa alha &onstitui uma -ia negati-a  para o

signii&ado da repetiçãoN o ra&asso do seu proCeto se torna mais um enigma do :ue uma

resposta% Mas a reali4ação desse segundo ní"el do proCeto de +onstantius depende do seu

leitorP20?%

.sse ponto de "ista da -ia negati-a  pode ser interpretado de mQltiplas maneiras# por meio dos

aparatos orne&idos pela ilosoia de 8ier9egaard e de &on&eitos presentes no próprio li"ro da

 Repetição# e &onstitui o tema :ue serE &onrontado no &apítulo :ue se segue%

201 R%# p% 132%202+omo atesta o próprio +onstantius na &arta a ei$erg( Oonl> t=i&e is repetition de&lared to e/ist# $oth times $> the

>oung man =hom * ha"e made the su$Ce&t o m> dis&ussionP% +% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%203;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition, .ontemporaneit2# p% 131%20?*dem# p% 3I%

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B Interesse, Ironia e Repetição

A ironia &onstitui# Cuntamente &om a ideia do interessante e o &on&eito de re&ordação# o ei/o

a partir do :ual se pode &onstituir o &arEter estti&o do te/to da  Repetição% A re&ordação# no entanto#apare&e igurada no te/to numa orma tal :ue poderia# &om alguma reser"a# denominar-se &omo

uma arti&ulação metaísi&o-&on&eitual da repetição# na medida em :ue ela "em J tona para deinir a

repetição na in"ersão de seu mo"imentoN este tipo de e/posição # &ontudo# &ondi&ionada pela

inCunção da ideia do interessante &om a ironia# na :ual a:uela en&ontra-se enrai4ada 7 o :ue

&orro$orado pelo ato de a repetição &onstituir o OinteresseP da metaísi&a# e a:uilo em :ue ela

nauraga20% .ssa arti&ulação mais anterior de"e ser# portanto# detalhada para :ue i:ue &lara a

relação do inter%esse undado na ironia :ue possi$ilita :ual:uer &on&epção metaísi&a ou &on&eitualde repetição%

termo Oestti&aP &arrega na o$ra de 8ier9egaard a dupla im$ri&ação de uma teoria da o$ra

de arte :ue se tradu4 na eeti"idade da e/ist,n&ia num modo de "idaN ela se &ara&teri4a &omo uma

teoria :ue "em a ser algo mais :ue uma teoria% estti&o# nesse sentido# signii&a mais do :ue uma

teoria do $elo( ele aponta para uma proposta de realiLar o "elo na eeti"idade# ou# de outro modo#

um modo de "i"er em :ue a e/ist,n&ia torna-se $ela# no &hamado -i-er poeticamente% A igura do

artista # nesse sentido# &entralN e o &on&eito propriamente do artísti&o &ontemplati"o i&a emsegundo plano( a:ui# a produção torna-se mais importante :ue o produto# e 8ier9egaard tornar-se-ia

Oum artista :ue# seguindo uma tend,n&ia de seu tempo# preere dedi&ar-se J rele/ão so$re a arte a

 produ4í-laP20@% Ra o$ra de 8ier9egaard# o pro$lema do $elo en:uanto aCui4amento estti&o de uma

o$ra superado na medida em :ue o artista se desta&a na sua produti"idade e por meio dela# de

maneira :ue ele "em a ser Oum personagem :ue ha$ita a maior parte dos te/tos de 8ier9egaard# sem

:ue o pensador dinamar:u,s se detenha propriamente so$re o pro$lema da arteP 20% :ue não

signii&a :ue o pro$lema dei/e de su$sistir# mas dessa orma ele apare&e &ondi&ionado por um

 pro$lema de e/peri,n&ia estti&o-e/isten&ial% .ssa espe&ii&idade tem uma &onse:u,n&ia ormal na

&onstituição da própria autoria 9ier9egaardiana# ou seCa# a produção dita estti&a assume ela própria

um ormato &ondi4ente a essa denominação%

'ara pre&isar &om detalhes essa unção estti&a do te/to e assim rela&ionE-la J repetição e ao

 papel :ue ela representa &om a arte e o artista# o te/to da  Repetição de"e ser tomado de tal modo

:ue nele se e/pli&item as &ategorias estti&as :ue determinam essas relaç<es# e :ue nem sempre se

20Ser Repetição, p% 1%20@G)AMMR; , p% 11%20*dem# p% 11%

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e"iden&iam de maneira te/tual% *sso serE eito em seguida no trato :ue &on&erne Js &ategorias da

ironia e do interessante# :ue são as duas arti&ulaç<es prin&ipais dentre outras mais se&undErias% De

ato# a estrutura do te/to não uní"o&a# o :ue torna seu &arEter estti&o dií&il de determinarN seus

elementos se alternam em epístolas# narrati"as# alus<es $í$li&as e o$ser"aç<es psi&ológi&as# e em

&ada orma não só o &arEter te/tual e a disposição de nimo &ara&terísti&a de &ada iguração muda#

mas tam$m o modus operandi da &omuni&ação indireta 9ier9egaardiana se transorma% Ro entanto#

o elemento irHni&o :ue apare&e simultaneamente &omo o pano de undo &omum a todas essas

maniestaç<es# $em &omo ator &ondi&ionante desse Cogo multia&etado# # pelo seu &arEter

undamentalmente estti&o# o :ue possi$ilita :ue a repetição seCa &on&e$ida simultaneamente

en:uanto &on&eito e en:uanto te/to# e assim &ompreendamos a autoironia &om relação J tentati"a

mesma de se esta$ele&er :ual:uer Cuí4o estti&o so$re o li"ro# im$uída na ala de um +onstantin

+onstantius &onormado :ue# ainda :ue o li"ro tenha :ual:uer leitor# mesmo assim ele não se presta

a :ual:uer &ompreensão a não ser &omo um rele/o negati-o da:uele mesmo :ue o l,20I%

o$Ceti"o deste &apítulo mostrar de :ue modo a noção de interesse tem sua origem na

ironia e &omo a ironia ela própria não pode &onstituir um undamento para a repetição 7 o :ue le"a

J possi$ilidade de :ue# sendo o interessante a prin&ipal relação da repetição &om a metaísi&a# seCa

mostrado em seguida20 em :ue sentido esta &onstitui o seu maior interesse e ao mesmo tempo seu

o&aso%

B0 A negati-idade da repetição do ponto de -ista da ironia

Dentre as "Erias mudanças no dire&ionamento interlo&utório presentes na o$ra  Repetição#

a:uela :ue poderia ser desta&ada# se se $us&a uma &ha"e espe&íi&a para a leitura irHni&a do te/to#

a &arta &on&lusi"a de +onstantius# a:uela :ue su&ede a srie epigrEi&a de autoria do Co"em no Epi&e

da sua e/peri,n&ia da repetição# na :ual a elo&ução retomada por +onstantius e o o&o

redire&ionado para o Oleitor realP da o$ra# o OhonorE"el senhor R% R%P 210% Ali logo de iní&io são

dadas &omo des&artadas todas as possi$ilidades listadasN nenhum registro de leitura ali e/pli&itado 7a leitora &uriosa# o pai de amília# 6ua )e"er,n&ia# et&% 7 &onstitui a &ha"e ade:uada para a

&ompreensão da o$ra% Atra"s desse mo"imento# +onstantius intenta a&entuar o mote do unter uns

 por meio do :ual ele posto numa relação pessoal &om o leitorN tipo de &omuni&ação este :ue

enati4a o sentido $idire&ional indi"íduo para indi"íduo% .m se tratando de uma &omuni&ação

20I Repetição# p% 13@( OMeu &aro leitor_ Ainal podemos &on"ersar assim so$re estas &oisas a:ui unter uns# pois :ue tu $em &ompreendes :ue não minha opinião :ue na realidade "enham a ser ormulados todos estes Cuí4os# uma "e4:ue o li"ro não terE muitos leitoresP% .stes Cuí4os# &omo relatado pou&o antes# seriam reerentes J:uilo :ue# nogeral# &onstitui a personalidade do próprio leitor no negati"o da:uilo :ue ele espera en&ontrar no li"ro e não o

en&ontra 7 daí a desesperança da sua popularidade editorial%20Ro pró/imo &apítulo da presente dissertação# isso serE mostrado%210 Repetição, p% 13?% Ra edição inglesa# o nome desse leitor OrealP &onsta &omo OMr% TP%

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&irada# a ideia :ue se &rie um registro pri"ilegiado em :ue o a&esso da lógi&a dialti&a torne-se

restrito# em :ue se dE o Cuí4o Ode a&har indes&ulpE"el o ato de de$alde se pro&urar maneira de

di4er( primeiro# segundo e ter&eiroP211% ;rata-se# portanto# de um mal-entendido inten&ional# em :ue

os interlo&utores são postos numa relação tal :ue somente sua su$Ceti"idade indi"idual en&ontra-se

em mo"imento# e :ue# tendo em "ista :ue a asserti"a tem &omo o$Ceto o li"ro &omo um todo# se

estende a toda a mensagem te/tual da o$ra%

A pergunta so$re onde se situa esta ruptura interlo&utória# esse des&ompasso na

&omuni&ação da repetição# se identii&a &om a :uestão undamental da ironia# :ue o mal-

entendido% 8ier9egaard mesmo a deine &omo Oa igura do dis&urso retóri&o &uCa &ara&terísti&a estE

em se di4er o &ontrErio do :ue se pensaP212# o :ue se tradu4 na per&epção da sua deinição &omo o

Omomento em :ue o enHmeno se mostra &omo sendo &ontrErio J ess,n&iaP 213# e no enHmeno :ue

não mostra a ess,n&ia# mas a o&ulta21?% .n:uanto a ironia su$siste# essa ruptura permane&e eeti"aN

no entanto# a própria ironia permite uma arti&ulação am$ígua no :ue di4 respeito J sua &ontinuidade

em termos de su$sist,n&ia% !m dos pro$lemas da ironia não ser possí"el determinar onde ela

termina# uma "e4 identii&ada# muito em$ora ela per&a algo de seu# por assim di4er# eeito

Omistii&adorP no ato mesmo de sua identii&ação &omo tal# sintoma este do "ir J tona da perda do

sentido uní"o&o da realidade% K essa operação :ue +onstantius se prop<e a impingir no leitor &om

a:uelas asserti"as a&er&a do signii&ado do unter uns% 'ode-se# dessa maneira# di4er :ue a ironia

&onstitui o undamento ormal deste# em$ora seu o$Ceti"o seCa a instauração de um diElogo

interpessoal determinado pela &omuni&ação indireta# na medida em :ue a adoção de um modo

irHni&o do dis&urso pode Oengatilhar o mo"imento da interioridadeP21# sendo esta Qltima a

&ara&terísti&a undamental do indi"íduo da interlo&ução su$Ceti"a em :uestão% *sso $em mostrado

na &on&epção :ue +onstantius dei/a entre"er do OleitorP :uando di4( Oapesar de seres uma

 personagem poti&a# para mim não s de modo algum uma pluralidade# antes apenas um# e assim

somos apenas tu e euP21@%

A airmação de +onstantius no te/to endereçado a ei$erg pode# &ontudo# ser "ista ao

menos em algum sentido &omo uma &ontraditória% .le airma ali :ue Osomente na Qltima seção domeu pe:ueno li"ro 7 :ue mar&ada &omo uma seção por ter o título O)epetiçãoP no"amente 7

somente ali hE airmaç<es aut,nti&as so$re a repetiçãoP21% A seção a :ue se reere pre&isamente

211*dem# p% 13@% K esse sentido :ue tem o desen"ol"imento imediatamente ulterior da:uilo :ue se poderia &hamar onQ&leo dialti&o da repetição# &onstituído pela dialti&a da e/&eção e do uni"ersal# uni&amente o de delinear o &ampode "alidade dessa &omuni&ação pri"ilegiada%

2128*.)8.GAA)D% Journal ME1traits4 S# 1I?-1I# 1@1# p% 1IN op% &it% G)AMMR; , p% 11%213G)AMMR;# p% 11%21?.onceito de Ironia# p% 20?%21;6A8*)*# p% 2?%

21@ Repetição# p% 13%21Onl> in the latter se&tion o m> little $oo9 7 =hi&h is mar9ed as a se&tion $> ha"ing the heading O)epetitionP again

 7 onl> there is the authenti& statement a$out repetitionP% !ear an Trem"ling # RepetitionN p% 2%

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esta em :ue a asserti"a do unter uns  posta &omo mote# e :ue ele su$mete ao signo da seriedade%

6o$ este prisma# a ironia apare&e a:ui &omo um momento ultrapassado ou dominado# e# &omo tal#

ne&essErio para a &onstituição do su$Ceti"o no dis&urso% 6e esta airmação não pudesse ela própria

ser "ista &omo irHni&a# então a parte do li"ro em :uestão de"eria ser tomada &omo um dis&urso

estritamente dogmEti&o# e seria in&orreto esta$ele&er :ual:uer arti&ulação irHni&a nela mesma# e a

ironia de"eria ser toda ela relegada Js partes anteriores do te/to% ato de +onstantius reiterar

repetidas "e4es a rele"n&ia da parte inal so$re as anteriores não pode ser "isto &omo algo muito

signii&ante# pois ele mesmo nun&a airma peremptoriamente se Oalguma &oisa ganha ou perde ao

repetir-seP21IN e dado :ue a Qni&a &one/ão esta$ele&ida entre o nQ&leo deste en&erramento# a

dialti&a do poeta &omo e/&eção21# e o resto do te/to pre&isamente para esta$ele&er o &arEter do

 Co"em &omo poeta# tem-se :ue não se pode pres&indir da ironia na interpretação dessa passagem#

dada a ligação ne&essEria entre a &on&epção do poti&o en:uanto orma de "ida e a ironia en:uanto

determinação espiritual%

próprio +onstantius airma não ser &apa4 de apreender a posição do Co"em# o :ue resulta

no ato de ele Odesesperar da possi$ilidadeP220 e de ele airmar-se Oin&apa4 de reali4ar o mo"imento

religiosoN &ontrErio J minha nature4aP221#   em$ora não negue a possi$ilidade de algo :ue

trans&ende o seu próprio ponto de "ista# :ue# segundo ele próprio# o da iman,n&ia222( Oainda assim

não nego a realidade \ Realiteten] de tal &oisa# ou :ue se pode aprender muito atra"s do Co"emP223%

*sso torna possí"el airmar :ue +onstantius # parti&ularmente en:uanto o$ser"ador# um o"ser-ador

irNnico# mas dessa "e4 no sentido maiêuticoN de ato# ele se esta$ele&e apenas &omo &ondição de

maniestação da ideia :ue se &orporii&a no Co"em# em$ora ele tenha aí a sua limitação( Oo Co"em

:ue &riei poeta% Mais não posso a4erN por:ue no mE/imo posso imaginar um poeta e engendrE-lo

&om o meu pensamentoN pessoalmente não sou &apa4 de me transormar em poetaP 22?% .le de ato

&hega a &omparar-se &om uma parteira( Yeu sou uma personagem sem importn&ia# &omo uma

 parteira em relação J &riança :ue aCudou a dar J lu4P22% K nesse sentido :ue o ra&asso da repetição

no estti&o pode ser interpretado do ponto de "ista mai,uti&o na:uilo :ue .ri9sen designa &omo

uma -ia negati-a para o signii&ado da repetiçãoN nesse mo"imento# o mo"imento da repetição transerido para a responsa$ilidade do leitor# e ele se torna assim um &o-autor da eeti"ação do

signii&ado do &on&eito( Oesse ra&asso &onstitui uma -ia negati-a para o signii&ado da repetiçãoN o

ra&asso de seu proCeto torna-se mais um enigma do :ue uma resposta% Mas a reali4ação desse

21I Repetição, p% 31%21A temEti&a da dialti&a da e/&eção serE a$ordada no pró/imo &apítulo%220 !ear an Trem"ling # RepetitionN p% 30%221*dem# p% 30%222*dem# p% 31# 31I%223O[et * do not thereore den> the realit> \ Realiteten] o su&h a thing# or that one &an learn "er> mu&h rom the >oung

manP% *dem# p% 30%22? Repetição# p% 13I%22*dem# p% 1?0%

??

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segundo ní"el do proCeto de +onstantius depende do seu leitorP22@% De outro lado# a própria

des&rição da repetição &omo o trans&endente22 designa de antemão a ina&essi$ilidade do religioso

num,ni&o pelo o$ser"ador psi&ológi&o% .ste inal&ançE"el de :ue +onstantius se aparta para ele

des&rito ora &omo o religioso# ora &omo o poti&o# se $em :ue am$os se im$ri&am mutuamente na

igura do Co"em &om o :ual ele p<e a si mesmo nessa relação e/terior% A ironia se mostra dessa

maneira &omo a &ondição para :ue se dei/e entre"er a &one/ão do poti&o &om o religioso# e nisso

desde CE o est+tico como uma forma po+tica do su"strato indiLC-el do religiosoBBO%

.sse su$strato &onstitui a orma Qltima :ue determina a realidade e &ondi&iona o indi"íduo a

ela# mas &uCa orma de re&onstrução em sentido e/terior não pode ser esta$ele&ida de outro modo a

não ser esteti&amente% A e/pli&ação psi&ológi&a do Co"em &omo poeta dE indí&ios de tal asserti"a(

Oele &onser"a uma disposição religiosa &omo se osse um segredo :ue não &onsegue e/pli&ar#

en:uanto este segredo aCuda a e/pli&ar poeti&amente a realidadeP22% A:ui torna-se e"idente :ue a

distinção :ue se apli&a tanto ao esteti&ismo 9ier9egaardiano em relação J estti&a en:uanto teoria da

arte# &omo tam$m J distinção entre o  po+tico e a proposta de -i-er poeticamente  propriamente a

mesma distinçãoN pois o esteti&ismo :ue se tradu4 num &on&eito da e/ist,n&ia se distingue do

 poti&o na medida em :ue este su$siste &omo modo undamental de e/pressão da repetição% Resse

sentido# &a$e tomar &omo "Elida uma dupla asserção da unção estti&a no te/to :ue se &onigura na

orma da &omuni&ação indireta# &irada# determinada pela li$erdade poti&a de um lado e pela

inten&ionalidade &on&isa da o$ser"ação psi&ológi&a de outro% A &omuni&ação indireta# nesse sentido#

se im$ui da tarea de tra4er para o dis&urso algo :ue trans&ende a sua própria possi$ilidade# e :ue

O"isa J e/pressão da e/ist,n&ia &omo interioridade% Assim a orma mais ri&a# mais prounda# de

e/pressar sua tese &entral &riar personagens :ue são o testemunho "i"o delas e Z ganham "ida

 própriaP230N ora# os personagens 7 ou# mais propriamente# os pseudHnimos 7 a:ui &riados não são

eles mesmos senão e/press<es poti&as da interioridade# são &orporii&aç<es imaginati"as 231  de

&on&eitos postos numa eeti"idade estti&o-psi&ológi&a%

A trans&end,n&ia do dis&urso por si só CE &onstitui um alm &om relação J ironia# no sentido

de :ue na ironia a su$Ceti"idade# por &onstituir-se na ininitude da li$erdade negati"a &ondi&ionada pela &riação poti&a# não pode ter nenhum undamento ontológi&o em-si% Mas dessa orma o

22@.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% 3I%22O)epetition is trans&endent# a religious mo"ement $> "irtue o the a$surd 7 =hen the $orderline o the =ondrous is

rea&hedP% A passagem de autoria de +onstantius# mas impli&itamente OemprestadaP de Lohannes de 6ilentio# nasua des&rição do salto para o religioso% !ear an Trem"ling # RepetitionN p% 30%

22I religioso# nesse sentido# &onstituir-se-ia na sua relação &om o poti&o &omo uma maneira de determinar ou mesmodisciplinar   a li$erdade negati"a da ironia :ue# na orma da possi$ilidade# se &on"erte em angQstia# &omo umamaneira de a"enturar-se aora dos limites estreitos Oonde a ra4ão pretende en&errar a "erdadeP% 6o$re este tema# "erS.)G;.# %B%N ;ens et r+p+tition# p% ?2# op% &it% G)AMMR; p% 11%

22 Repetição# p% 13%230G)AMMR;# p% 10I%231u# &omo :uiser# e/perimentos imaginErios# no sentido psi&ológi&o do su$título do li"ro%

?

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dis&urso se en&ontra de antemão &ondi&ionado a um tipo de limitação imanente# pois a sua initude#

o seu limite# independe da positi"idade ou da negati"idade ontológi&a do an sic$ do suCeito irHni&o%

Bem entendido# a partir da ironia o dis&urso li$ertado# pois o suCeito torna-se ininitamente li"re

 para a &riação poti&a( a ironia Oa negati-idade infinita a"solutaP232# uma Odem,n&ia di"ina#

uriosa &omo um ;amerlão :ue não dei/a pedra so$re pedraP233N Oo irHni&o não tem an sic$# por:ue

sua li$erdade uma li$erdade negati"a# ele &ria a si mesmo e ao mundo poeti&amenteP 23?% De"e-se

notar :ue# nesse &aso# a su$Ceti"idade# seCa ela so&rEti&a ou &ristã# positi"a ou negati"a# passí"el de

assumir a ironia e empregE-la &omo mtodo% 6e a ironia a negati"idade a$soluta# no &aso do

indi"íduo religioso ela ad:uire a orma de um dis&urso negati"o :ue &ondi&ionado em Qltima

instn&ia pelo sil,n&io oriundo do ineE"el da repetição em "irtude do a$surdoN não o$stante# o :ue

sal"a o sil,n&io religioso do mutismo sua arti&ulação &om uma ironia :ue origina um poti&o#

em$ora num registro &ompletamente distinto em :ue ela se torna dominada e dei/a de ser Oa

"erdade# o resultado# mas o &aminhoP23# a:uele em :ue a e/ist,n&ia poti&a  Digter : Til-aerelse

entra em sintonia &om a realidade# ou seCa# O:uando a ess,n&ia se &olo&a em a&ordo &om o

enHmeno e o enHmeno &om a ess,n&iaP23@% Dessa maneira# se se pode &on&e$er a pseudonímia

9ier9egaardiana &omo o mtodo indispensE"el de domínio da ironia# então# em Qltima instn&ia#

en:uanto um meio de distan&iamento antes de mistii&ação 23#  ela se identii&a &om o mtodo

irHni&o  per se# na medida em :ue o papel a ser &umprido o de es"a4iamento da positi"idade

autoral do dis&urso e distan&iamento do elo&utor &om relação J li$erdade da sua &riação poti&a#

dei/ando# por assim di4er# Oo leitor a sós &om as ideiasP23I%

Desse modo# a ideia dis&ursi"a undamental de :ue o leitor esta$ele&e en:uanto leitor uma

relação &om o autor ou emissor da mensagem não su$siste# pois o o&ultamento da OautoridadeP dE

lugar a um registro em :ue o leitor posto# antes# numa relação &onsigo mesmo% Daí a airmação de

ong# na sua Introdução 8ist5rica J edição norte-ameri&ana da Repetição# em :ue se l, Oum leitor

não pre&isa sa$er a$solutamente nada so$re o es&ritor e as parti&ularidades pessoais de &hum$o :ue

oram transmutadas no ouro do tra$alho pseudoními&o imaginati"amente moldadoP 23% A orma de

es&rita de +onstantius uma &onse:u,n&ia direta desse es"a4iamento autoral( a sua insistentea"ersão ao dis&urso didEti&o-&ientíi&o# auto-pro&lamado de posse do sa$er# O.m momento algum

eu es&re"i de tal modo :ue o leitor sentisse um traço do didEti&oP2?0# e :ue &onse:uentemente

&ulmina numa mai,uti&a em :ue a responsa$ilidade do :ue pensado transerida para o leitor#

232 .onceito de Ironia# p% 22@%233*dem# p% 22%23?G)AMMR;# p% 11%23*dem# p% 11%23@*dem# p% 11%23MA+8.[# %N )ier*egaard@ a *ind of poet p% &it% !ear an Trem"ling # RepetitionN p% T*%

23I !ear an Trem"ling # RepetitionN p% T%23*dem# p% T%2?0*dem# p% 31%

?@

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 pois em Qltima instn&ia ele mesmo termina por nada di4er# permite :ue nesse re&urso dis&ursi"o

seCa identii&ada a determinação da ironia% A importn&ia da mensagem# por sua "e4# não se torna

dessa orma diminuída ou menospre4adaN a in"ersão irHni&a da e/posição impli&a na "erdade num

mo"imento de apropriação interior da mensagem por parte da:uele :ue a re&e$e# e não somente um

deronte e/teriori4adoN de tal orma :ue a eeti"idade mo"ente do pensar ad:uire uma ,nase

&orrespondente J noção re&orrente da ideia em mo-imento# por meio da :ual ela se distingue do ato

me&ni&o do simples elen&o de ormulaç<es a$stratas% Dito de outro modo# a aus,n&ia de uma

 positi"idade de auctoritas impli&a# na dinmi&a da &omuni&ação &irada a:ui presente# não num

es"a4iamento do &onteQdo# mas num redire&ionamento do nQ&leo de importn&ia# de tal orma :ue o

leitor posto numa relação dialti&a# mo"ente# &om a ideia%

 Ra  Repetição# a:uele pensado so$re o :ual &ai a responsa$ilidade do leitor a repetição

en:uanto &on&eito% tratamento multidire&ional :ue ele re&e$e na o$ra de"e reger a orma &om :ue

o leitor se rela&iona &om ele( ali o &on&eito e/perimentado# pensado# reormulado# representado#

"i"ido# et&%N o :ue mostra :ue a disposição da :ual de"e-se partir no lidar &om a repetição a de :ue

ela &onsiste# &omo mostra Lean bahl# numa O&ategoria da:uilo :ue estE por &ima de toda

&ategoriaP2?1# o :ue poderia ser deinido tam$m &omo um &aso limite da impossi$ilidade de

redução J deinição% Resse sentido# &onstatado por meio da própria e/peri,n&ia posta em

eeti"idade a initude inerente ao pensamento representati"o# e a repetição então apresentada

&omo um &on&eito negati"o% +om eeito# nada do :ue o li"ro tra4 J tona de ato a repetiçãoN

se:uer a repetição do Co"em# a sua retomada de si mesmo na OtempestadeP aguardada# &onstitui a

repetição sensu eminentiori% As dierentes tentati"as de tra4,-la J tona são repetidamente alidas#

 pois en:uanto tentati"as inten&ionais elas &onstituem uma mediação &om a linguagem dis&ursi"a% K

nesse sentido :ue Gr`n airma :ue Oo li"ro mostra o :ue a "erdadeira repetição não % A tentati"a de

+onstantius de repetição ser"e somente para pHr a "erdadeira repetição em e"id,n&iaP2?2%

6o$ &erto aspe&to# a possi$ilidade da &on&epção do &on&eito de repetição &omo negati"idade

en:uadrar-se-ia pro"a"elmente na:uilo :ue +onstantius &hama de leitura alida do li"ro no ponto de

"ista do O"igoroso deensor da realidadeP# :ue opinaria :ue Oo li"ro gira em torno de nadaP 2?3% Rãose pode# de ato# identii&ar a negati"idade da repetição &om a negati"idade da ironiaN por:uanto a

ironia &onsiste num ponto de "ista# &omo o &aso em 6ó&rates# en:uanto a repetição &onstitui um

mo"imento# e &omo tal pode muito $em possuir um momento ou um aspecto negati-o% &on&eito

negati"o apenas na sua orma de apresentação# mas a sua eeti"idade trans&endente# a repetição :ue

O a realidade# e a seriedade da e/ist,n&iaP 2??# paira na sua não-&on&reti4ação no li"ro a todo

2?1bA# L%N Etudes )ier*egaardienesN 'aris# '%!%F%# 1?N p% ?0?N op% &it% GRXA.X# DarioN 'a repetici5n 2 sue1periencia#  p% I0%

2?2G)R# ArneN Repetition and t$e .oncept of RepetitionN p% 1??%2?3 Repetição# p% 13@%2?? Repetição# p% 33%

?

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momento &omo um nHmeno# um  postulado :ue# em$ora ininitamente "elado no te/to# dii&ilmente

 poderia ser dado &omo um prin&ípio meramente regulati"o# pois antes de"e ser tomado &omo uma

&ategoria te/tual passí"el de &aptação e de desco"erta  Ono "igor e/pressi"o :ue tem o seu

&on&eitoP2?% Sigilius auniensis dei/a entre"er essa arti&ulação :uando alega :ue o :ue

+onstantius Odes&o$riu# porm# "oltou a es&ond,-lo# disarçando o &on&eito so$ os gra&eCos da

representação &orrespondente Z ele só :uis se o&upar do assunto estti&a e psi&ologi&amenteP 2?@%

Mas a unção dessa &aptação te/tual# desse des"elar do &on&eito seguido de um "elamento na &ira

Oanti-herti&aP2? do te/to# só pode ser e/pli&ada por meio desse aspe&to negati"o da repetição# o

:ue i&a &laro :uando +onstantius airma t,-la interpretado no li"ro Oiluminando-a no &ontraste

entre a $uonaria e o desesperoP2?I% .stas duas &ategorias &onstituiriam o anteposto dialti&o por

meio do :ual a repetição oi &on&e$ida# donde se depreende# segundo Gr`n# as determinaç<es

&orrespondentes &omo a melan&olia e a o$ser"ação# um na igura do Co"em e outro na igura de

+onstantius( O6e a Repetição não somente para atestar# mas para demonstrar o :ue a repetição#

ela o a4 negati"amente# na orma de uma antítese# a antítese do desesperoP 2?% +ontudo# esse

negati"o se maniesta não somente na &onstituição da anElise dialti&o-psi&ológi&a do &on&eito# mas

tam$m na &omposição igurati"a do te/to na orma da Oatmosera negati"a :ue a pai/ão do

a$surdo a :ual &orresponde o &on&eito de VrepetiçãoVP20# se $em :ue esta seCa apresentada de

maneira oposta J Oatmosera positi"a do Oeis :ue tudo no"oP 21% .stE portanto indi&ada a nature4a

dialti&a da repetição# a :ual atinge sua maniestação mais a&urada na relação da repetição &om a

mediação# a :ual serE detalhada no &apítulo seguinte%

;em-se &om isso delineadas as primeiras relaç<es undamentais da ironia &om a repetição#

no sentido de uma anElise estti&o-&on&eitual da ironia e do modo de elo&ução dis&ursi"a de am$as%

+a$e agora aproundar essa relação por meio de uma anElise mais detalhada da orma te/tual em

:ue a ironia e o estti&o em geral se maniestam em elementos &on&retos do te/to%

BB As articulaç7es irNnicas do te1to

!m dos motes mais importantes do &on&eito# a relação deste &om a undamentação

metaísi&a do mo"imento# desen"ol"ido &on&retamente no te/to de ato# porm ora do registro de

uma arti&ulação lógi&o-argumentati"a# ou ora do ra&asso dialti&o em :ue se tenta em "ão instituir

2? .onceito de AngHstia# p% 20% .ssa asserti"a de auniensis tra4 no seu mago a &on&epção da repetição em unçãodo seu mero poder e/pressi"o# ou seCa# &omo uma &ategoria estti&a%

2?@*dem# p% 20%2? Repetição# p% 13%2?I O*lluminating it in the &ontrast o Cest and despairP% !ear an Trem"ling # RepetitionN p% 31?%2?G)R# ArneN Repetition and t$e .oncept of RepetitionN p% 1% .sse tema# toda"ia# e/trapola os limites dessa

a$ordagem# e serE desen"ol"ido em outra oportunidade%20 .onceito de AngHstia# p% 1%21*dem# p% 1%

?I

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Oo primeiro# o segundo e o ter&eiroP22% A :uestão do mo"imento apare&e de orma estrutural na

relação interna de elementos nem sempre e/pli&itados# ou# dito de outro modo# se maniesta

espe&ii&amente na relação# no seu mo"imento interno% A analogia da a$ertura do te/to di4 tudo(

Diógenes não reuta a negação eleEti&a do mo"imento# apenas p<e-se Oa andar algumas "e4es para a

rente e para atrEs# &om o :ue a&ha"a sui&ientemente t,-los reutadoP# em$ora &om isso tam$m se

"alide a airmação de :ue ele Oa"ançou na :ualidade de opositorN a"ançou realmente# pois não disse

 pala"ra algumaP23% .ssa alusão ao episódio do &íni&o grego uma metonímia do mo"imento do

 próprio te/to% .m Qltima instn&ia# a tentati"a de apreensão do te/to e uma arti&ulação &om seu

&onteQdo per se in"Elida# pois seu &onteQdo latente inapreensí"el por esse meio argumentati"o%

Mais ainda# pre&iso pro&urar um argumento no seu mo"imento# muito em$ora seCa &erto :ue sua

argumentação não pode tomar outra orma :ue não a do &Hmi&o%

6em di4er pala"ra alguma# Diógenes reali4a o salto do plano lógi&o para o plano da

realidade eeti"a% A repetição nesse sentido se deine &omo atualidade# e# &omo ato# ela de"e ser

 performada# antes mesmo de ser &on&e$ida por um pensamento espe&ulati"o% te/to reali4a o

mesmo mo"imento de Diógenes no sentido de mo"er-se para trEs e para renteN a pro"a disso a

ala de +onstantius ao inal do li"ro :ue insinua :ue os &aminhos do li"ro são in"ertidos# o :ue

re&ondu4 o leitor no"amente para o iní&io( O%%% um re&enseador "ulgar Z a&harE dií&il

&ompreender o &aminho :ue o li"ro segue# uma "e4 :ue o in"ersoP2?% E a:ui um Cogo :ue remete

J di&otomia entre a repetição e a re&ordação# em :ue uma se mo"imenta para trEs e outra para

rente% De ato# não se recorda ao inal do li"ro &om e/atidão o :ue se per&orreu ao longo da leitura

 7 da mesma maneira :ue# ao diagnosti&ar o estado de espírito do leitor na &on&lusão de  Eit$er# r #

Si&tor .remita adi"inha :ue o leitor pro"a"elmente se es:ue&eu de tudo o :ue ha"ia lido at ali#

 pro"a"elmente o &on"o&ando a uma no"a leitura( Otal"e4 tu ti"este a mesma e/peri,n&ia &om a

minha &arta anterior :ue eu ti"eN tu te es:ue&este da maior parte do :ue ha"ia nelasP 2% A tentati"a

de re&ordar o te/to para re&onstruí-lo e assim atingir a &ulminn&ia teóri&a suprema# o &uod erat

demonstrandum# a:ui inQtilN e o leitor Cogado no"amente ao indeterminado# o imediato# e

orçado a repetir o mo"imento%A parte inal do li"ro# segundo +onstantius# a Qni&a passí"el de leitura sria# mas ela

mesma in&on&lusi"a so$re a repetição do ponto de "ista &on&eitualN o :ue signii&a :ue o &on&eito

não en&ontra uma estEti&a# mas mantm-se em mo"imento% +onstantius &hama isso de repetição

 poten&iada( uma em :ue algum grau de repetição atingido e no :ual se desespera da sua própria

 possi$ilidadeN a Qltima parte do li"ro# segundo ele# não &on&reti4a# mas e/emplii&a o e/emplo da

22 Repetição# p% 13@%23*dem# p% 31%

2?*dem# p% 13@%2O'erhaps >ou ha"e the same e/perien&e =ith m> pre"ious letters as * ha"eN >ou ha"e orgotten most o =hat =as in

themP% Eit$er#r # p% 3%

?

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seria a:ui um pressuposto do indi"íduo :ue "i"e poeti&amente( Oo Co"em de"eria ingir seu amor a

outra moça 7 o :ue signii&a :ue +onstantius :ueria :ue o Co"em dissesse uma &oisa :uerendo di4er

de ato outra# ou seCa# se tornasse um irHni&oP2@0% Co"em não o teria &onseguido pois# &omo poeta#

isso e:ui"aleria a estar de posse de duas linguagem# e O+onstantius de"e admitir :ue o Co"em

en:uanto poeta só possui uma linguagem# en:uanto o ironista tem duasP 2@1% .ntrementes# a &itação

em :ue +onstantius a4 suas as pala"ras de amann( Oe/primo-me em di"ersas línguas e alo a

língua dos soistas# dos Cogos de pala"ras# dos &retenses e dos Era$es %%%P 2@2 mostra em :ue medida

+onstantius pode ser de ato tomado &omo um autor irHni&oN o :ue# de &erta orma# o impede por

outro lado de atingir a proundidade da linguagem poti&a :ue "ista por ele numa uni"o&idade%

ato de o Co"em pre&isar de um &onidente mostra :ue ele não possuía uma aptidão para o sil,n&io

:ue o propor&ionaria um a&esso a Oum ala$eto :ue tem tantas letras &omo o :ue se usa em geral#

de modo :ue &onseguirE e/pressar tudo na sua linguagem &odii&adaP 2@3# o :ue o le"a J direção

oposta# a da $us&a por uma orma ade:uada de e/pressão poti&a &uCa pulsão essen&ial osse tal"e4

a re&ordação# na medida em :ue esta aponta para uma unidade originEria :ue "eio a perder-se na

temporalidade%

A:ui se entremostra uma dierença sutil entre o esteta e o irHni&oN en:uanto o esteta possui

uma determinação na medida em :ue determinado pelo poti&o# ainda :ue se trate da

determinação negati"a do $elo :ue se eeti"a na e/ist,n&ia e :ue para isso re:uer uma

 personalidade "olEtil o sui&iente :ue suporte uma redupli&ação na &ontemplação# o irHni&o não

 pode determinar-se de maneira alguma# pois ele de"e &onstituir-se da pura negati"idade% A ess,n&ia

do esteta &am$iE"el# mas em algum momento ela de"e mostrar-se temporariamente positi"a( Oa

indi"idualidade tem portanto um fim :ue seu im a$soluto# e sua ati"idade $us&a pre&isamente

reali4ar esse im# sa$orear a si mesma em e durante esta reali4ação# :uer di4er# sua ati"idade

&onsiste em tornar fr sic$ para si o :ue ela an sic$ em siP2@?% Ao &ontrErio# Opara $em poder

"i"er poeti&amente e para $em poder &riar a si mesmo# o irHni&o não pode ter nenhum an sic$P2@%

.ssa dupla unção in&ide na Olacuna  entre o pensado e o e/primidoP2@@  &ara&terísti&a da ironia

apontada por enri-Bernard Sergote# :ue instaura-se na medida em :ue o elo&utor irHni&o eetuauma :ue$ra no e:uilí$rio da &omuni&ação em "irtude da sua própria "olatili4ação en:uanto

enun&iador &arente de positi"idade dis&ursi"a%

Daí ser ne&essErio re&onhe&er na postura de +onstantius uma tend,n&ia J e"asão das

determinaç<es impostas por :ual:uer elemento positi"o :ue "enha J tona ao longo de todo o te/to%

[email protected].)G# Arne# Repetition Min t$e *ier*egaardian sense of t$e term4 p% 2%2@1*dem# p% 2%2@2 Repetição# p% 2%2@3 R%# p% ?@%

2@? .onceito de Ironia# p% 2?3%2@*dem# p% 2?3%2@@S.)G;.# % B%N ;ens et Repetiti5n# "ol% *# p% 1%

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.le mesmo mostra isso :uando e/pli&a sua postura de o$ser"ador não &om relação ao e/perimento#

mas &om relação ao teatro durante sua "iagem( Onão se oi ao teatro na :ualidade de turista# nem de

esteta ou de &ríti&o# mas sim# se possí"el# na :ualidade de &oisa nenhuma# e i&a-se satiseito por se

estar $em sentado# &onorta"elmente# :uase tão $em :uanto na sala de estarP 2@% *sso não somente

&orro$ora &om uma &on&epção de espe&tador irHni&o# &omo tam$m mostra em :ue medida ele se

en&ontra a&ometido de ato &om a sua e/peri,n&ia% +om eeito# por mais :ue se ateste a

 possi$ilidade da repetição para ele# ele pare&e sempre mostrar-se &ti&o# não tal"e4 indierente J

repetição mesma# mas indierente de ato J sua possi$ilidade% Resse sentido# a ironia em :ue

e/&lama( OMas a "iagem não "ale a penaN pois :ue não pre&iso me/ermo-nos do lugar para nos

&on"en&ermos de :ue não hE repetição alguma% Rão# permaneçamos tran:uilamente sentados no

:uartoN :uando tudo "aidade e tudo passa# "iaCa-se mais depressa :ue num &om$oioP 2@I &onstitui

tam$m um en"aide&imento no :ual a su$Ceti"idade irHni&a mantm-se ele"ada(

Ona ironia# :uando tudo se torna "aidade# a su$Ceti"idade se li$erta% uanto mais tudo se

torna "ão "aidade# "a&uidade# :uanto mais "a4io de &onteQdo# tanto mais "olEtil se torna a

su$Ceti"idade% . en:uanto tudo se torna "aidade# o suCeito irHni&o não se torna "aidade para

 si mesmo# mas sim li$erta sua própria "aidade% 'ara a ironia# tudo se torna nada# mas o nada

 pode ser tomado de "Erias maneirasP2@

.sse li$ertar-se da su$Ceti"idade distingue-se da:uele Onimo de"otoP :ue# O:uando di4 :ue tudo

"aidade# não a4 e/&eção J própria pessoa Z# mas pelo &ontrErio ela tam$m tem de ser posta de

lado para :ue o di"ino não seCa aastado por sua resist,n&iaP

20

% Mas esta mesma "aidade 7 o "a4io:ue se transigura seCa no nada espe&ulati"o# no nada místi&o ou no nada da morte# Ona :ual a ironia

apare&e &omo antasmaP21# este mesmo niilismo &uCo undamento o nada esteti&amente

transigurado# :ue &onstitui a possi$ilidade do impulso &riador poti&o# :ue permite a +onstantius

esta$ele&er demiurgi&amente o seu papel de o$ser"ador e de Opressuposto de &ons&i,n&iaP#

e"adindo-se da situação e dando lugar J sua &riação poti&a% Resse sentido# e"iden&ia-se no seu

&arEter uma &erta am$iguidade :ue os&ila o$stinadamente entre uma de"oção# &uCo dire&ionamento

o &riado# e a pura e simples "aidade de uma su$Ceti"idade a$soluta( ao mesmo tempo :ue ele p<e a

si mesmo &omo &riador# ele torna-se apto a manter um "ín&ulo &om o uni"erso da sua &riação#

su$sistindo apenas# toda"ia# &omo um pressuposto negati"o%

.ssa am$iguidade engendra na leitura do li"ro a ne&essidade de uma dQ"ida pr"ia :ue de"e

ser admitida# de &erta orma# &omo uma atitude metodológi&a &om relação Js alas de +onstantius%

.le próprio nos le"a a isso# mas sem ugir J premissa da &omuni&ação indireta :ue se engendra a

2@ Repetição# p% 0%2@I Repetição# p% I1%

2@ .onceito de Ironia# p% 22?%20*dem# p% 22?%21*dem# p% 22?%

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 partir de uma am$iguidade( Oele e/pli&a o uni"ersal en:uanto repetição# e &ontudo entende a própria

repetição de outra maneiraN Z "i"eu um amor# ato :ue se ade:ua essen&ialmente a um poetaN mas

este amor totalmente am$íguoN eli4# ineli4# &Hmi&o# trEgi&oP22% 6e o amor :ue sustenta sua

 personalidade poti&a essen&ialmente am$íguo# então ele "em a &on&reti4ar-se na orma de um

Oato de &ons&i,n&iaP# :ue se tradu4 Onuma elasti&idade dialti&a :ue o tornarE produti"o no plano

da disposiçãoP23% Resse sentido# a &ha"e de leitura :ue se adota &om o personagem +onstantius

de"e ser distinta da :ue se adota &om relação ao Co"em% seu impulso de produti"idade poti&a#

em$ora Osustentado por algo de indi4i"elmente religiosoP# de"e ser &onsiderado de tal orma :ue

mesmo esse su$strato seCa "isto nele &omo uma determinação da su$Ceti"idadeN daí +onstantius

retirar-se para :ue a su$Ceti"idade do Co"em se mostre na sua plenitude(

OMesmo :uando a a&&ia e a e/u$ern&ia pare&em &a$riolar sem moti"o aparente por

&ausa dele :ue tal a&onte&e# mesmo :uando tudo a&a$a em melan&olia hE um sinal :ue

aponta para ele# :ue aponta para um estado nele% K esse o undamento para :ue todos os

mo"imentos se pro&essem de maneira puramente líri&aP2?

A leitura do te/to so$ a óti&a do líri&o # &om eeito# alm da &ha"e inal orne&ida por +onstantius

no seu &on"ite J uma releitura da personagem do Co"em# tam$m a:uela em :ue ele se mostra da

maneira ade&uada :  em :ue a Odisposição singularP do Co"em apare&e de modo eeti"o# a :ual

ha"ia sido impedida ao longo de toda a e/posição por sua am$iguidade de o$ser"ador e &riador

 poti&o simultaneamente% A partir do líri&o# :ue en&ontra sua e/pressão na mudança da e/posição

do estilo mais analíti&o de +onstantius para o estilo epistolar do Co"em angustiado# o Co"em podeser delineado en:uanto personagem a partir da poti&o em sua personalidade% .ntretanto# mesmo

essa no"a &ha"e de leitura se mostra trun&ada diante da am$iguidade do seu próprio enun&iante#

em$ora tenha sua "alidade &omo um alento meramente insinuado%

A dii&uldade em en&ontrar um apoio irme# um Oponto de Ar:uimedesP2 :ue propor&ione

essa uni"o&idade te/tual e"ita a ormulação de um sa$er eeti"o so$re a repetiçãoN &omo di4

Gon4ale4( Oa su&essão de elementos heterog,neos in&identalmente em$renhados no te/to

 Custamente o :ue permite o deslo&amento e a &ir&ulação indeinida do lugar presumi"elmente

legado ao Vsa$erV da repetiçãoP2@% A negati"idade da ironia destrói a possi$ilidade dessa alo&ação

e/terior e inaut,nti&a pre&isamente para tornar "iE"el a possi$ilidade da su$Ceti"idade indi"idual#

 para um &omeço de uma e/ist,n&ia eeti"aN a :ual se e/emplii&a no  ser possC-el  do Co"em :ue se

e/pressa na sua &ondição de &riatura poti&a( Orenun&iar J proli/idade de uma e/posição metódi&a

signii&arE ao mesmo tempo guardar plena idelidade ao ser meramente possí"el dos mo"imentos

22 Repetição# p% 13%23 R%# p% 13%

2? R%# p% 13I%2 R%# p% 2%[email protected]# DarioN 'a repetici5n 2 su e1periencia# p% I3%

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do Co"em# re"elar o undo "a4io de sua su$Ceti"idadeP2%  ato de esta possi$ilidade undamental

 para a &ompreensão do signii&ado do Co"em en:uanto personagem mostrar-se &omo tal somente ao

inal do li"ro um sinal da orma temporal da e/peri,n&ia em :ue a &ons&i,n&ia dessa possi$ilidade

se mostra para +onstantius# o :ue e/pli&a a ne&essidade de :ue o li"ro seCa es&rito na orma

de&orrente de uma e/peri,n&ia "i"ida e O&onstruída passo a passoP2I# e não na orma de uma

retrospe&ti"a em :ue se a o$ser"a &omo algo a&a$ado%

A ironia tra4 no seu mago o dilema de :ue nela nenhum signii&ado pode instaurar-se numa

interpretação em detrimento de outro# ela torna hori4ontal a relação entre os dierentes sentidos

da:uilo em :ue in&ide# e torna impossí"el :ue se esta$eleça :ual:uer so$reposição hierEr:ui&a ou

mesmo :ual:uer "aloração o$Ceti"a% A &onse:u,n&ia disso :ue a ironia su$Ceti"a não a$re espaço

 para :ue seCa tomada uma es&olha de&isi"a# em :ue o suCeito :ue se prop<e a uma "ida poti&a

 perde-se ininitamente em am$iguidades% De&erto os signii&ados deri"ados desta são internamente

rela&ionados entre si# o :ue# &ontudo# a&entua ainda mais a du$iedade diante do Cogo de dupla a&e

do signii&ado do o$Ceto da ironia% +omo atesta olmgaard( O*ronia não nos di4 :ue não hE

signii&ado# mas ela nos ensina :ue um signii&ado não pode ter prioridade so$re outro% 6empre hE a

 possi$ilidade de se di4er algo :uerendo signii&ar outroP2% ;al dilema atinge por &erto a

&onstituição estti&a do poti&o# na medida em :ue esta ne&essita partir de algum tipo de norte

estti&o-"alorati"o o$Ceti"o# :ue não senão a ideia de $ele4a% De"e ha"er# nesse sentido# uma

 prioridade e uma hierar:uia o$Ceti"as( algo serE ou não serE de $om gosto e de a&ordo &om uma

O"isão artísti&a da "idaP2I0 se se aCusta a essas e/ig,n&ias2I1%

A:ui a ironia por si só CE não pode &ir&uns&re"er o estti&oN o :ue le"ou 8ier9egaard a4er a

distinção entre a ironia su$Ceti"a e a ironia o$Ceti"a# :ue ele &hama de ironia dominada% A ironia

meramente su$Ceti"a# :ue rotulada &omo romnti&a# a ininitude da su$Ceti"idade negati"a# ela

não possui seus limites &laramente deinidosN nun&a se sa$e :uando ela termina% Resse sentido# ao

dominar-se a ironia# ela não perde a sua ininitude negati"a &ara&terísti&a# mas passa a ser orientada

no Oespírito a ser"iço do poetaP2I2# e Oe/e&uta um mo"imento :ue o oposto da:uele em :ue ela

maniesta sua "ida indomada%  A ironia limita, finitiLa, restringe, e com isso confere -erdade,realidade, conteHdoN ela disciplina  e  pune, e &om isso dE sustentação  e consistênciaBO% .la se

&onstitui &omo uma &ondição pr"ia J Orelação &ons&iente e internaP entre o poeta e sua o$ra# :ue

2*dem# p% I?%2I*dem# p% I?%2MGAA)D# LanN T$e Aest$etics of Repetition# p% @%2I0 Repetição# p% 12I%2I1.ssa dis&ussão remete ao &lEssi&o de$ate entre 8ant e 6&hiller# em :ue posta em Cogo a possi$ilidade de uma

o$Ceti"idade do Cuí4o de gosto# e# portanto# do &on&eito de $ele4aN 8ant resol"e# na ter&eira +ríti&a# uma noção desu$Ceti"idade uni"ersal em :ue in&idem os Cuí4os de gosto em geral# en:uanto 6&hiller ormula# na o$ra epistolar

 )allias# a &on&epção de $ele4a &omo li$erdade na o$Ceti"idade 7 a heautonomia do Cuí4o de gosto%2I2 .onceito de Ironia# p% 2@#2I3*dem# p% 2%

?

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 por sua "e4 engendra de modo undamental Oa:uela ininitude interior :ue uma &ondição a$soluta

 para "i"er poeti&amenteP2I?% A:ui a ironia se distingue portanto da ironia meramente su$Ceti"a# na

medida em :ue nela se &onstitui uma orientação positi"a &om a realidade# em :ue O\o poeta] só "i"e

 poeti&amente :uando ele mesmo estE orientado e assim integrado no tempo em :ue "i"e# estE

 positi"amente li"re na realidade a :ual perten&eP2I% De modo um tanto parado/al# a relação

ade:uada &om a ironia# ao mesmo tempo em :ue Oli$erta a poesia e o poetaP# tam$m &onstitui o

OinCcio a"soluto da -ida pessoal P2I@# no :ual ela dei/a de ser um im em :ue a totalidade se

arredonda em si mesma# e passa a ser apenas Oum guia para o camin$oP2I% .ntão# ao O&olo&ar a

,nase ade:uada na realidadeP# a :ual "em a ad:uirir Oa sua "alidade na açãoP# a ironia passa a

restringir-se para :ue &om ela possa se dar uma es&olha a$soluta sem :ue ela "enha por isso mesmo

a ser anulada% Dessa maneira a sua am$iguidade undamental preser"ada# e no entanto passa a ser

dotada de um sentido autoengendrado# :ue impede :ue a mesma ação aut,nti&a de Odegenerar em

uma &erta insist,n&ia estQpidaP# na Oorma medrosa e eeminada de ugir do mundoP 2II  :ue

&ara&teri4a a su$Ceti"idade romnti&a%

.ssa unidade do su$strato religioso  :ue se ele"a para alm das am$iguidades da ironia

su$Ceti"a e :ue dE o &aminho para a e/ist,n&ia poti&a # &omo di4 +onstantius# indi4í"el# mas ele

de"e de ato possuir esta disciplina irHni&a :ue se tradu4 num dire&ionamento eeti"o# este Oapriori

em si# :ue impeça de perder-se numa ininidade sem &onteQdoP 2I# para :ue possa ao menos

insinuar-se por meio da &omuni&ação e dessa orma dotE-la da proundidade ne&essEria para :ue o

 poti&o "enha a ser o$Ceti"amente% &on&eito estti&o :ue se dE no a$soluto :ue origina-se a partir

da am$iguidade da ironia o interessante# :ue apare&e na o$ra da Repetição  &omo um &on&eito

undamental para rela&ionar o poti&o &om o religioso# $em &omo a relação da repetição &om a

metaísi&a% A:ui serE desen"ol"ida a relação do interessante &om o poti&o do ponto de "ista da

&onstrução estti&a do te/to# sendo :ue as suas determinaç<es metaísi&as serão melhor a$ordadas

no &apítulo seguinte%

B A repetição como categoria te1tual@ o interessante

A &ategoria do interessante se e/pli&a de iní&io pela relação undamental &om a dualidadeN a

sua própria rai4 etimológi&a o denota( inter%esse# o :ue estE-entre% 6e a ironia tem o papel de

tra$alhar a orma e/pressi"a do am$íguo# no sentido de :ue ela designa a sua maniestação por si# o

2I?*dem# p% 2%2I*dem# p% 2%2I@*dem# p% 2%

2I*dem# p% 2I%2II*dem# p% 2%2I*dem# p% 2%

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sentido J a&epção do recon$ecimento do o&ulto en:uanto tal no sentido de uma re"elação# de um

des"elamento do seu &onteQdo# mas de tal orma :ue# para o estti&o# este des"endamento do

interessante se eeti"a numa initude esgotE"el# &uCa &onsumação se dE sempre no seu oposto# o

indierenteN por outro lado# a seriedade :ue a ti&a e/ige do indi"íduo só pode dar-se no interessante

na medida em :ue este &on&e$ido &omo uma ininitudeN ou seCa# a seriedade# :ue o seu

undamento# de"e tornar sua determinação mar&ada pelo infinitamente interessante% Resse sentido#

a &ategoria do interessante não pode ser deinida &omo uma &ategoria pura e e/&lusi"amente do

domínio da estti&a# pois uma &ategoria limite2N para Lohannes De 6ilentio# &om eeito# o

e/emplo paradigmEti&o do interessante 6ó&rates( O6ó&rates oi o mais interessante dos homens

:ue "i"eram# e a sua "ida a mais interessante das "idas "i"idasN mas esta e/ist,n&ia oi-lhe ads&rita

 pela di"indadeP2I%

'ara :ue se possa eeti"ar algo da nature4a do ininitamente interessante# orçoso :ue se

&on&e$a a possi$ilidade de :ue o &onteQdo dessa ininitude "enha a entrar em mo"imento no

indi"íduo% Dito de outro modo# não se pode &on&e$er algo dessa nature4a sem :ue ele "enha a

retornar   para o indi"íduo &omo algo positi"o e digno de &ompromissoN nesse sentido# CE se

ultrapassou a:uele limite# o limiar do estti&o e do ti&o# e CE se mo"e dentro deste segundo m$ito%

Mas esse mo"imento de retorno a própria repetição# :ue se ", na história do Co"em e :ue se

eeti"a na ideia do poti&oN a repetição :ue "em para ele nessa orma eeti"a-se por meio de uma

seriedade assumida por ele &om a ideia# e :ue de"e retornar &om uma seriedade eeti"a a todo

instante na orma da produção poti&a% signii&ado o&ulto# o Osu$strato indi4í"elP do Co"em# :ue

em 6ó&rates era o nada puro e simples# ao mesmo tempo o &onteQdo da sua repetição# :ue se

re"ela para ele na determinação do seu amor na ideia% A sua produti"idade poti&a # ao im das

&ontas# engendrada pela elasti&idade dialti&a &uCa origem a am$iguidade do interessante# &uCa

maniestação propi&iada pela ironia do seu Opressuposto de &ons&i,n&iaP7 o próprio +onstantiusN

daí ele airmar :ue o interesse de toda a e/posição re&aia so$re o Co"em2%

A:ui se ", :ue o pressuposto em si uma &ategoria  finita de mo"imento# o :ue pode ser

adu4ido do :ue ele designa &omo mo-imento pendular ( OApesar de hE muito ter renun&iado aomundo e a$di&ado de toda a teori4ação# não posso &ontudo negar :ue o Co"em me su$traiu

no"amente um pou&o ao meu mo"imento pendular# por interesse por eleP 300% ;al mo"imento

2+omo pensa Grammont( Yo interessante# a &ategoria estti&a por e/&el,n&iaY# &% G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% 30%

2ITemor e Tremor # p% 1@0%2YMeu &aro leitor_ entenderEs agora :ue o interesse re&aia so$re o Co"em# en:uanto eu sou uma personagem sem

importn&ia# &omo uma em relação J &riança :ue aCudou a dar J lu4Y% Repetição# p% 1?0%300 Repetição# p% 12% *sso signii&a :ue +onstantius só pode ser &on&e$ido &omo atingindo alguma orma eeti"a de

mo"imento na medida em :ue a$sor"ido pela ideia do interessante &uCo Yo&o gra"ita&ionalY o$Ceti"o o Co"em#

mas ainda assim &omo mero pressuposto de &ons&i,n&ia# ou seCa# seu mo"imento eeti"o de ato  por emmo-imento o jo-em no plano da o$Ceti"idade da e/pressãoN o :ue não signii&a :ue ele atinCa a repetição em sentido

 pleno% De outra orma# só se o pode &on&e$er no imediato da indierença%

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 pressup<e uma inr&ia :ue tende ao estEti&o# :ue seria o inter-esse da os&ilação# o :ue em

+onstantius tradu4-se numa pol,mi&a alida &om o interessante( Oa repetição e permane&e uma

&ategoria religiosa% Desse modo# +onstantin +onstantius não pode prosseguir adiante% .le esperto#

um ironista# $atalha &om o interessante 7 mas não &iente de :ue ele próprio estE preso neleP 301 

+onstantius en&ontra-se# segundo 8ier9egaard ele mesmo# preso ao :ue ele &hama de segunda

orma do interessante# :ue :uerer a repetição numa autossui&i,n&ia# num interesse ainda não

a$soluto# sem no entanto pre&isar de algo :ue ultrapasse seu próprio domínio( Oa primeira orma do

interessante amar a mudançaN a segunda :uerer a repetição# mas ainda em ;el"stgenugsam*eit

\autossui&i,n&ia]# sem sorimento 7 assim +onstantin en&ontra-se en&alhado na:uilo :ue ele

mesmo des&o$riu# e o Co"em "ai adianteP302% Dessa orma# o interesse de +onstantius na repetição

mostra-se &omo um interesse destituído da seriedade :ue ele mesmo apregoa &omo sendo a própria

repetição# :ue separa-se por um a$ismo da ne&essidade "ital da repetição :ue permeia a

 personalidade dos seus ar:utipos A$raão e Ló# &omo tam$m do sorimento pelo :ual passa o

 Co"em303%

A am$iguidade do interessante# :ue dE origem ao mo"imento dialti&o da ideia no Co"em# se

maniesta $asi&amente de duas ormas( a orma e:uí"o&a &omo o Co"em &ompreende a repetição# e

a dualidade da possi$ilidade de &ompreensão da nature4a do seu amor ideal% A primeira orma da

am$iguidade remete J des&rição dQ$ia :ue por"entura poderia degenerar numa in&ompreensão

irHni&a# em :ue o Co"em e/pli&a e &ompreende a repetição de maneiras distintasN e a segunda na

am$iguidade essen&ial do seu amor poti&o30?% e/perimento de +onstantius tem sua ra4ão em :ue

ele# ao tornar o Co"em um irHni&o# poria um im Js am$iguidades e o re&on&iliaria &om o uni"ersal

atra"s do :ual ele e/pli&a a repetição# porm# nesse &aso# a ele seria pri"ado o a&esso J Osegunda

 pot,n&iaP da sua &ons&i,n&ia% Mas aí reside o interesse :ue mo"e +onstantius em direção ao Co"em#

 pois a sua des&rição da in&apa&idade do Co"em em amar a moça# e por outro lado o de ter sido

in&apa4 de tornar-se um sedutor irHni&o# degringola na sua airmação de :ue o Co"em tal"e4 não a

amasse realmente# mas a ti"esse apenas &omo uma ocasião para sua produção poti&a% Ainda :ue tal

 ponto de "ista seCa para o Co"em uma in&ompreensão# ele &onstitui para +onstantius e# diga-se de passagem# tam$m para :ual:uer leitor# pois tal mote nun&a "em a tornar-se plenamente &laro a não

ser em termos religiosos o oculto :ue engendra o mo"imento do interessante%

8arsten arries mostra :ue a &on&epção da noção de interessante do ponto de "ista estti&o

301 O)epetition is and remains a religious &ategor>% +onstantin +onstantius thereore &annot pro&eed urther% e is&le"er# an ironist# $attles the interesting 7 $ut is not a=are that he himsel is &aught in it% P Journal and Papers# ***3?  Pap% *S A 1@ nd, 1I??N op% &it% !ear and Trem"ling # p% 32@%

302O;he irst orm o the interesting is to lo"e &hangeN the se&ond is to =ant repetition# $ut still in ;el"stgenugsam*eit\sel-sui&ien&>]# =ith no suering 7 thereore +onstantin is =re&9ed on =hat he himsel has dis&o"ered# and the

>oung man goes urtherP% *dem# p% 32@%303+omo $em o mostra MR.[# .%N Repetition@ Getting t$e ?orld "ac* # p% 2I%30? Repetição# p% 13%

I

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depende de tr,s noç<es undamentais( a de ocasião# a do primeiro e o t+dio .stas diretri4es oram

adu4idas de Eit$er# r # parti&ularmente nos ensaios estti&os O 'rimeiro AmorP e O)otação de

+ulti"osP30# em :ue a &ategoria do interessante en&ontra sua resolução &omo a &ha"e para o

entendimento da "ida estti&a J maneira do personagem OAP% A o&asião deinida por este mesmo

 personagem &omo o "ín&ulo da interioridade inspirada do poeta &om o mundo e/terior em :ue ele

situa-se de&isi"amente( Oum elemento adi&ional para :ue uma de&isão interior se torne uma de&isão

e/terior Z a o&asião o :ue liga a inspiração J realidadeP30@%  A o&asião tem &on&retamente

:ual:uer &oisa de insignii&ante e ortuito# mas :ue ser"e ao poeta &omo matria-prima para a

&riação e ponto de partida para a &onstrução do poti&o na idealidadeN ela # pois# uma mera

transição# :ue e/pli&itamente deinida por A &omo um parado/o em :ue se unem a a$soluta

ne&essidade e &onting,n&ia( o o&asional para o poti&o indispensE"el ao mesmo tempo :ue o

inessen&ialN Oa o&asião simultaneamente o mais signii&ante e o mais insignii&ante# o mais alto e

o mais $ai/o# o mais importante e o menos importanteP 30# Oa o&asião sempre o a&idental# e o

 parado/o prodigioso :ue o a&idental a$solutamente tão ne&essErio :uanto o ne&essErioP30I% Rão

o$stante# Custamente da &onting,n&ia :ue depende a própria espontaneidade do artísti&oN a ideia# o

mais ele"ado e ne&essErio# tem a sua maniestação na:uilo :ue a ela diametralmente oposto# o

momento ortuito e a&identalN o :ue mostra :ue a o&asião indispensE"el para :ue se &on&e$a o

artísti&o &on&reto na produção# e portanto para :ual:uer &on&eituação da $ele4a%

 Ra esera do estti&o# a o&asião "em a ser &on&e$ida na pretensão de uma &ategoria de

transição e mo"imento( Oa o&asião a &ategoria inal# a &ategoria essen&ial de transição da esera da

ideia para a atualidadeP30# em$ora não possa resultar em mo"imento eeti"o a não ser so$ a

determinação da produção poti&a% Daí :ue se pode depreender :ue o Co"em da  Repetição

en&ontra-se determinado pela &ategoria do interessante apenas na medida em :ue en&ontra-se in

 suspenso gradu# no estado de imo$ilidade anterior J repetição e ao momento em :ue a Co"em se

&asa% Resse sentido# pode-se $em di4er :ue a moça era o :ue o impedia de atingir uma "erdadeira

moção espiritual por &onstituir para ele apenas uma o&asiãoN ele não oi de ato &apa4 de re&onhe&er

o amor :ue ele nutria por ela &omo eeti"o a não ser a partir do momento em :ue se "iu li$erto dele próprio atra"s da produti"idade% *sso permite :ue +onstantius airme :ue a repetição atingida por

ele deu-se no m$ito do poti&o# mas &arregada por um humor religioso(

O.n:uanto esta produti"idade se torna o lado e/terior dele# ele sustentado por algo

30O;he First o"eP e O)otation o +ropsP# respe&ti"amente%30@OAn e/tra element or an inner de&ision to $e&ome an outer de&ision Z ;he o&&asion is =hat ties inspiration to

realit>P% Eit$er# r # p% 233N op% &it% A))*.6# 8%N (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r # p% %30O;he o&&asion is simultaneousl> the most signii&ant and the most insignii&ant# the highest and the lo=est# the most

important and the most unimportantP% *dem# p% I%30IO;he o&&asion is al=a>s the a&&idental# and the prodigious parado/ is that the a&&idental is a$solutel> Cust as

ne&essar> as the ne&essar>P% *dem# p% I0%30O;he o&&asion is the inal &ategor># the essential &ategor> o transition rom the sphere o the idea to a&tualit>P%

*dem# p% I%

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indi4i"elmente religioso% K assim :ue nas primeiras &artas \onde ele situa-se in suspenso

 gradu]# so$retudo em algumas delas# o mo"imento esta"a muito mais pró/imo de uma

solução propriamente religiosa# porm# no instante em :ue &essa a suspensão temporEria# ele

re&e$e-se a si mesmo de no"o# mas E-lo-E en:uanto poeta# e o religioso aunda-se# i%e%#

torna-se uma esp&ie de su$strato indi4í"elP310

*sso signii&a :ue# no estado de suspensão# o amor pode apenas apare&er determinado &omointeressante# e# nesse sentido# dotado de uma idealidade ineeti"a% ;al amor o :ue se &ara&teri4a na

"ida estti&a &omo o primeiro amor # o Qni&o &apa4 de ser &ara&teri4ado &omo interessante311%

A noção do OprimeiroP de&isi"a na &on&epção do esteti&ismo romnti&o prin&ipalmente no

:ue se reere ao amor% OprimeiroP# segundo arries# se apro/ima da ideia goetheana de eleiçãoN

entrementes# amar signii&a a:ui Osituar o amado alm de :ual:uer &omparação% Da mesma orma

:ue algum disse a&er&a da o$ra de arte( a &omparação se torna odiosaP312N o pro$lema :ue o outro

a:ui não mais :ue uma o&asião para :ue se possa ruir esteti&amente a idealidade do próprio amor#:ue nun&a &hega a tangen&iar a alteridade do outro% 6egundo arries# no entanto# esse $lo:ueio da

 possi$ilidade de &omparação CE ultrapassa de alguma orma o terreno do mero interessante# pois

a:ui o amado posto Oa&ima ou a$ai/o da moralidade% parti&ular mais alto ou mais $ai/o

:ue o uni"ersalP313% Resse sentido# o interessante &onirmado no"amente &omo uma &ategoria-

limite# em :ue en&ontram-se parado/almente en:uanto possi$ilidade elementos estti&os e

elementos :ue o ultrapassamN isso tam$m e"iden&iado pela semelhança desta deinição &om a

deinição propriamente da en:uanto parado/o( Oa Custamente a:uele parado/o segundo o:ual o *ndi"íduo se en&ontra &omo tal a&ima do geralP31?% Mas :uando o interessante ainda situa-se

na mera ideali4ação# o parado/o do amor não atinge a sua plenitude# e Oem tais &asos sempre tem-se

um indi"íduo :ue se re&usa a tornar-se si mesmo% .le ou ela transere a responsa$ilidade de ter de

tornar-se algo para a outra pessoaP31%

A "ida estti&a into/i&ada pela igura do primeiro amor# pre&isamente por:ue o &arEter

Qni&o da:uilo :ue primeiro impli&a em ele não poder ser repetido% interessante na sua orma de

Oamor J mudançaP# a "aria$ilidade ininita do estti&o :ue &onstitui nesse sentido a OmE

ininitudeP# se &on&reti4a Custamente atra"s dessa i/ação no ideal a$strato do e"adir-se da

repetição% OprimeiroP# nesse sentido# não pode ser :ualii&ado em termos temporais ou históri&os#

 pois ele nun&a de ato &hega a se eeti"arN31@  nesse sentido :ue +onstantius parado/almente

310 Repetição# p% 13%311A))*.6# 8%N (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r # p% I2%312*dem# p% I?%313*dem#p% I?%31?Temor e Tremor # p% 1?2%31A))*.6# 8%N (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r # p% I?%

31@ +omo di4 +aputo# Y\o esteta] não pode imaginar o amor sem :ue ele seCa Co"em e no"oY% +%%  Radical 8ermeneutics# p% 2% Resse sentido# o amor-re&ordação instaura a própria repetição em estti&o na medida em :ueela não pode su$sistir sem :ue alguma relação &om a repetição seCa instaurada na sua própria &on&epção% 6hlomith

@0

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&on&orda &om o OautorP :ue ha"ia dito :ue Oo amor da re&ordação o Qni&o eli4P# mas ad"erte :ue#

apesar deste ter Otam$m inteira ra4ãoP# de"emos nos re&ordar :ue Oprimeiro a4 um homem

ineli4P31% amor re&ordação a resolução a&a$ada do OprimeiroP# na sua iman,n&ia ideal

autoCustii&ada# e a airmação de :ue ele um amor eli4# :ue no undo Oa e/pressão da mais

 prounda melan&oliaP# apenas reairma a distn&ia da:uele :ue o ", de longe pre&isamente por :ue

dele não permitido parti&ipar% .sta relação designa pre&isamente a estti&a do OprimeiroP &omo

uma estti&a do $elo asso&iada J pereição ideal imanenteN Gon4ale4 mostra a orça dessa idealidade

ao mostrE-la na Co"em &omo o negati-o  :ue se repete para o Co"em( Oo Co"em ama tão

 proundamente a moça# e tal a sua idelidade J pure4a da primeira maniestação desse amor# :ue a

 presença da:uela &hega a ser um o$stE&ulo ou mesmo uma ameaça J VidentidadeV do sentimento :ue

ela mesma sus&itaP31I% Dito de outro modo# o OprimeiroP o  per%feito# a:uele :ue se en&erra na sua

 própria &ompletude e autossui&i,n&ia31% A ineli&idade :ue ad"m do amor re&ordação unda-se

ipso facto  numa &ontemplação estti&a e/terior# mas nem por isso +onstantius nega :ue ela

&onstitua algum tipo de felicidade% A distn&ia :ue impede a mete1is do suCeito &ontemplati"o &om a

ideia originEria do primeiro algo inerente J própria &ontemplação% . se# de algum modo#

 permitido pensar uma estti&a em :ue a parti&ipação "enha a ser possí"el# então a ideia mesma de

&ontemplação de"e ser re:uestionada% A temEti&a da &ontemplação serE retomada adiante%

'or im# o t+dio apare&e em relação &om o interessante# analogamente# J maneira negati"a

em relação &om a repetição( a repetição mata o interessante# e por isso# entediaN daí a tese estti&a da

"aria$ilidade ininita do inito# :ue deri"a do :ue o esteta A &hama de panteCsmo demonCacoBQ% 'ara

arries# Oo interessante melhor entendido &omo uma resposta para o tdioP321# e o OmtodoP para o

&ulti"o do interessante a rotação de &ulti"os% pro$lema apare&e :uando esse &ulti"o do

interessante se tradu4 numa $us&a inerte e indis&riminada pelo no"oN pois a:ui a resolução inal das

noç<es de reno"ação históri&a e originalidade artísti&a se dE no"amente num es"a4iamento niilista

:ue# no im das &ontas# tam$m entediante% arries &ita F% 6&hlegel# :ue &hegou a tratar so$re o

)immon-8enan tradu4 essa asserti"a no seu ter&eiro parado/o da repetição( Ya primeira "e4 CE uma repetição# e a

repetição a própria primeira "e4Y% A:ui# e"iden&ia-se a ne&essidade de :ue# na medida em :ue a repetição areali4ação de algo uma outra "e4# ela mantm uma relação undamental e $idire&ional &om o primeiro# no sentido de:ue uma primeira "e4 só pode ser atuali4ada# e portanto &on&e$ida# por meio da repetição% +% )*MMR-8.RAR#6%N T$e parado1ical status of repetition# p% 1%

31 Repetição# p% 32%31IGRXA.X# DarioN 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I2%31K nesse sentido :ue# no .onceito de AngHstia# ao tratar do &on&eito de repetição# Sigilius auniensis designa &omo

uma trans&end,n&ia a:uilo :ue Ysepara da primeira e/ist,n&ia a repetição por um a$ismoY# e somente umaYlinguagem iguradaY :ue esta$ele&e entre elas a mediaçãoN mas essa linguagem igurada pode &on&reti4ar-se nalínguagem anti-herti&a da  Repetição# em :ue a relação mQtua entre o primeiro e a repetição se dE# &omoauniensis mesmo di4# em :ue Ya:uela totalidade# na sua impereição# de"a preigurar  praeformere

 prototipi&amente tudo o :ue a outra re"elaY% A relação &om o ideal trans&endente :ue a noção de YprimeiroY preigura a:ui não a de negação# mas Custamente a partir dele emana a positi"idade da repetição% *sso serE melhor

tratado no inal desta e/posição% S% .onceito de AngHstia# p% 1-20%320 Eit$er# r # p% 2IN op% &it% A))*.6# 8%N (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r # p% 0%321A))*.6# 8%N (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r # p% I%

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&on&eito de interesse do ponto de "ista &ríti&o322# para :uem a lei do desen"ol"imento da estti&a da

literatura moderna a no"idade(

Oo artista :uer ser original# ainda :ue tal esorço para a originalidade le"e a&ilmente ao

a$surdo Z o pQ$li&o :uer :ue o artista não seCa nada mais mais :ue um mero

entretenimento Z interessante se torna o &ho&ante# o o$s&eno# at o ponto :ue Z

termina em mero alatório% Ro inal# o interessante de"e retornar então ao entedianteP323%

;ornar algo interessante nesse sentido &onerir positi"idade J:uilo :ue dela &are&e# o :ue signii&a

 por outro lado :uerer dar sentido J:uilo :ue no undo não pode t,-lo% K# nesse sentido# uma

Opromessa de resposta J :uestão do niilismoP32?% .sse o propósito da rotação de &ulti"os no :ue

di4 respeito ao seu m+todo intensi-o# :ue não &onsiste na simples "ariação ininita# mas na "ariação

ininita &er&eada por um limite inito% Mas nesse sentido# o indi"íduo ne&essita no"amente de uma

distn&ia para poder esta$ele&er esse limite e deini-lo &omo interessante% .sse Omo"imento de

rele/ão :ue permite :ue o indi"íduo desta:ue-se do seu ser engaCado no mundo para desrutE-loP32 

ne&essita de uma orma# ainda :ue primiti"a# de repetição &omo redupli&ação da &ons&i,n&ia# :ue de

alguma maneira se dE na orma do Oruir a si mesmoP# onde o suCeito ao mesmo tempo ele próprio

e o$Ceto dele mesmo%

+a$e a&res&entar# por im# :ue a &ategoria do interessante &onstitui a ligação undamental da

repetição &om a metaísi&aN para +onstantius# Oa repetição o interesse da metaísi&a# e ao mesmo

tempo# o interesse a&e ao :ual a metaísi&a ra&assaP32@% A relação :ue se esta$ele&e a:ui entre a

repetição e a metaísi&a de &erta orma preigurada pela historieta :ue +onstantius &onta algumas pEginas antes32 so$re uma Co"em des&onhe&ida &om :uem ele ha"ia "iaCado% .la per&orreu oito mil

milhas &om ele so4inha na estrada# o :ue para ele &onstituiu uma situação :ualii&ada &omo

OinteressantePN não o$stante a tentação de t,-la em seu poder# Oa &oniança &om :ue se entregou nas

minhas mãos era uma deesa melhor do :ue toda a prud,n&ia e ha$ilidade emininasP 32I% 'ara ele# a

segurança e a sal"ação da moça &onstituíram sua entrega sem reser"as# e# dessa Omaneira dis&retaP

&om :ue se dispHs# e4 &om :ue o narrador Operdesse de "ista o lado interessante e pi&ante da

situaçãoP# o :ue resultou em :ue ela Onão poderia ter "iaCado mais segura do :ue &om um irmão ou

&om um paiP32% A disposição &a"alheires&a de a&olhimento te"e sua &ontrapartida na &oniança

desinteressadaN o :ue o le"a a &on&luir :ue Ouma rapariga :ue :uer o interessante torna-se uma

322Ao &ontrErio da:uilo :ue :uer a4er &rer Grammont# para :uem o interessante Yuma &ategoria estti&a pore/&el,n&ia# &riada por 8ier9egaardY# am$as as asserti"as# &omo CE se "iu# errHneas% Ser G)AMMR;# G%N  Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% 30%

323A))*.6# 8%N (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r # p% %32?*dem# p% @%32*dem# p% %32@ Repetição# p% 1%

32*dem# p% ?%32I*dem# p% ?%32*dem# p% ?%

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armadilha na :ual ela mesma apanhada% !ma rapariga :ue não :uer o interessante a&redita na

repetiçãoP330% +om esta historieta pode-se traçar o mo"imento dialti&o :ue a metaísi&a esta$ele&e

&om a &ategoria do interessanteN ironi&amente# en:uanto a repetição posta &omo uma meta

interessada# ela própria nun&a atingida# pois dessa maneira não permitida nela uma &rença

genuína# pois a repetição não oi em momento algum e1perimentada% A metaísi&a o ruto

negati"o da aus,n&ia da:uilo :ue se $us&a# o :ue só possí"el na medida em :ue não se o tem% 6e o

interessante # toda"ia# suspenso# aí :ue &omeça a sua possi$ilidade eeti"a% +om isso "em J tona

a relação parado/al :ue o interessante esta$ele&e &om a metaísi&a da repetição# e a preiguração na

anedota de +onstantius toma a orma da ironia na sua e/pressão por meio da asso&iação do :uerer a

repetição no interessante &omo uma orma garantida de não o$t,-la# &omo uma Oarmadilha em :ue

ela mesma apanhadaP# o ra&asso da metaísi&a331%

B A superação da contemplação@ o su"lime

6e a asserti"a de +onstantius de :ue o interessante e a repetição são in&ompatí"eis em seu

todo "erdadeira# então não se pode alar dele &omo uma &ategoria limite ou &omo uma &ategoria :ue

aponte para o domínio da ti&a ou mesmo o interpenetre% Ro entanto# &omo CE oi mostrado# a ala

de +onstantius a&er&a do interessante en&ontra-se na primeira parte do li"ro# e segundo ele próprio

tudo o :ue dito ali ou $uonaria ou uma meia "erdade% .sta asserti"a a$re a possi$ilidade para

:ue a &ategoria do interessante seCa &on&e$ida do ponto de "ista da ininitude da idealidade ti&a# de

tal modo :ue ela se &oniguraria no ideal &omo o ininitamente interessante# :ue CE se distingue da

orma simples e imediata do interessante :ue Oamar a mudançaP 332% A ;el"stgenugsam*eit   de

+onstantius# o :uerer a repetição sem sorimento# mais um indí&io da ironia dessa sua ala# o :ue

a4 &om :ue ele aunde na sua própria des&o$erta% A primeira asserti"a# o amor J mudança# e a

segunda# o :uerer insui&ientemente a repetição# &onsistem na primeira e na segunda orma do

interessante% A ter&eira# e/emplii&ada pelo Co"em da repetição# indi&a um mo"imento a mais# &uCo

signii&ado# en&ontra sua e/pli&ação para alm do interessanteN e para &ompreend,-lo pre&iso pensar não o interesse &omo uma &onormidade a ins# mas agora transigurado no inter%esse# num

estar entre duas ininitudes# e num &onronto parado/al &om a própria noção de ininito% A retóri&a

tra$alhada no te/to da Repetição# $em &omo nas notas :ue remetem a ele# mostra :ue essa a$ertura

 para a ininitude tra4 a possi$ilidade de uma interpretação estti&a# em$ora num sentido espe&íi&o%

ra&asso em se atingir a repetição le"a +onstantius a uma des&rença na sua possi$ilidadeN

no entanto# ele a&onselha o Co"em a seguir em sua $us&a# ainda :ue não a&redite mais nela%

330*dem# p% 0%331*dem# p% 0% A relação da repetição &om a metaísi&a serE melhor detalhada no &apítulo seguinte%332 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32@%

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 Co"em# por sua "e4# mesmo :uando tudo pare&e perdido# &ontinua a &rer# e por im a repetição

apare&e para ele# em$ora numa orma não plenamente ade:uada% Mas para o próprio Co"em isso não

importa( O:ue a repetição de $ens terrenos# :ue são indierentes no :ue respeita J determinação do

espírito# :uando &omparada a uma repetição &omo esta^ Z 6ó possí"el a repetição do espírito#

em$ora nun&a seCa tão pereita na temporalidade &omo na eternidade# :ue a "erdadeira

repetiçãoP333% seu estado de nimo # nessa o&asião# de rego4iCos ine/pli&E"eis# &uCa des&rição só

 pode ser dada em :ue ele di4( Osou de no"o eu mesmoP33?% A sua repetição oi a re&uperação e a

retomada de si próprio# li"re da Oórmula mEgi&aP33 :ue o aprisiona"a%

+hama a atenção# no entanto# o modo &omo ele des&re"e o OCQ$ilo esti"oP :ue o arre$ata na

Qltima sentença de sua Qltima &arta( O:ue "i"a a dança do tur$ilhão do ininito# :ue "i"a o

mo"imento das ondas :ue me es&onde no a$ismo# :ue "i"a o mo"imento das ondas :ue me lança

 pra lE das estrelasP33@% sentimento ineE"el :ue o Co"em e/perimenta a:ui o da sua interioridade

em mo"imento# Oonde a &ada instante se arris&a a "ida# onde a &ada instante se perde a "ida e se

"olta a ganhE-laP33# mas um mo"imento :ue os&ila no interstí&io  entre o a$ismo e as estrelas% .sse

estar%entre  a:ui no"amente a igura do inter%esse# mas num sentido distinto# não mais teleológi&o

e &onormado J generalidade do uni"ersal% S,-se portanto em :ue medida o interessante ultrapassa#

nesse sentido# o meramente estti&o des&rito en:uanto esera da e/ist,n&ia# &ontudo preser"ando

 parado/almente um elemento undamentalmente estti&o :ue remete J :uestão do su$lime% A:uilo

:ue olmgaard &hama de est+tica da repetição se &onirma no su$lime por meio da noção &om :ue

o Co"em aguarda a resolução o seu &onlito( a tempestade# :ue a superação do seu estado de

suspensão( Oa segurança de :ue ele oi harmoniosamente Vunii&adoV &onsigo mesmo no"amente

a&ompanhada do ato estranho de :ue o mo"imento de sua alma tão assustador :uanto ele"ado#

transormando a própria ideia de unidade e identidade em uma luta interior &om o ininitoP33I%

A &on&epção do Osu$stratoP religioso :ue a&ompanha o nimo de poeta do Co"em so$ a

ru$ri&a do su$lime indi&a :ue o seu mo"imento religioso en&ontra de algum modo uma e/pressão

e/terior no poti&o# so$ a determinação da &omuni&ação indireta# &uCas iguras determinantes entre

elas a pseudonímia e a ironia são elementos indispensE"eis% Mas isso não o sui&iente# pois em8ier9egaard os elementos estti&os se mostram o tempo todo &omo artií&ios :ue# na maniestação

e/plí&ita de sua artii&ialidade# só podem ser &on&e$idos no seu &arEter estti&o &omo não estando J

altura do religioso# e portanto não podem e/pressE-lo nun&a de maneira ade:uadaN o :ue os le"a#

dessa maneira# em todo momento a &onlagrar-se &om seus próprios limites e &om o sa$er de sua

333 Repetição# p% 132%33?*dem# p% 132%33*dem# p% 132%

33@*dem# p% 133%33*dem# p% 132%33IMGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% I-%

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 própria superi&ialidade% ;al o sentido negati"o do poti&o :ue designa esse su$strato religioso do

 Co"emN e &omo sa$ido# tal negati"idade poti&a# ou &omo se &hama no .onceito de Ironia# a

su$Ceti"idade negati"a a$soluta33# a própria igura da ironia%

 Resse sentido# &a$e apontar no"amente :ue a origem da própria noção de interessante a

mesma da ironia% solo &omum entre as duas # pois# a &isão undamental entre o dito e o

signii&ado  einung # ou seCa# a am"iguidade infinita3?0( en:uanto a ironia a tem &omo undamento

de sua maniestação# o interessante designa propriamente o locus onde a ideia se determina 7 ou

ainda# onde ela se esorça por se determinar# pois o interesse &omo am$iguidade a:ui a mar&a do

seu esorço por determinação# no :ual ele ainda não se pre&ipita no a$ismo do nada# nem se

&onsuma no ser-si-mesmo% A ironia# &om relação ao sa$er de si mesma em "alidade positi"a#

en&ontra-se num Oest6dio intermedi6rio# :ue não o no"o prin&ípio e &ontudo o P 3?1% Desse modo#

no :ue se reere ao poti&o :ue determina o espírito do Co"em da  Repetição# tanto o interessante

&omo a ironia en&ontram sua su$sist,n&ia# sem :ue no entanto se tornem nele o traço predominante%

&arEter undamental da sua disposição poti&a unda-se# $em entendido# no su$strato proundo do

religioso# no O"oo do pensamentoP e no Operigo da "ida a ser"iço da ideiaP3?2# a :uem o poti&o se

torna# pelo $em da própria possi$ilidade de &omuni&ação# um elemento su$Cugado% ;al relação

assemelha-se J &hamada ironia dominada# na:uilo em :ue ela dei/a de &ir&uns&re"er uma

disposição meramente estti&a# e passa a su$sistir a ser"iço da ideia &omo um  pressuposto de

consciência# em :ue Onão en&ontra-se presente em algum ponto parti&ular da poesia# mas sim

onipresente# de tal modo :ue a ironia "isí"el na poesia por sua "e4 dominada ironi&amenteP3?3%

.ssa relação assume em A Repetição a orma da relação de +onstantius# o prosador irHni&o

 por e/&el,n&ia# &om o Co"em poeta :ue "i"e pela ideia# e a :uem# portanto# a ironia en&ontra-se

su$ordinada% Resse sentido# a ironia tam$m permeia a relação autor-o$ra# no sentido de :ue nela

Oa realidade dada impereita Z assim pare&e tornar-se ne&essErio mais uma "e4 rela&ionar-se

ironi&amente &om toda e :ual:uer produção poti&a indi"idual# CE :ue &ada produto indi"idual

mera apro/imaçãoP3??N e# &omo a realidade mais alta se &orporii&a no eeti"o apenas de modo

impereito# a ideia não en&ontra-se na poesia# mas Oem permanente "ir-a-serP 3?% .ri9sen nota :ueessa relação designa na "erdade o positi"o do ponto de "ista so&rEti&o# na medida em :ue o sa$er de

6ó&rates en&ontra o seu momento positi"o no sa$er de sua negati"idade( Oa ignorn&ia so&rEti&a não

somente uma alta de sa$edoria# mas o sa$er da alta de sa$edoria# e portanto uma relação &om o

33S% .onceito de Ironia# p% 22@%3?0.onceito de Ironia# p% 1@I%3?1.ssa a designação :ue 8ier9egaard pretende dar J "alidade históri&o-uni"ersal do prin&ípio so&rEti&o# em :ue aos

olhos do geral ele torna-se um herói% 'or isso sua "ida pode ser designada Ya mais interessante de todasY% +%.onceito de Ironia# p% 1@?%

3?2 Repetição# p% 133%

3?3.onceito de Ironia# p% 2%3??*dem# p% 22%3?*dem# p% 22%

@

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des&onhe&ido en:uanto des&onhe&idoP3?@%

ra# essa relação irHni&a &om o eeti"o de"e# se se a :uer posta ade:uadamente em prEti&a#

ter &omo um pressuposto a negação da &ompletude ao próprio eeti"oN dito de outro modo# o

resultado de"e ele próprio ser "isto &omo algo ina&a$ado e em permanente "ir-a-ser de si mesmo%

resultado disso :ue a determinação estti&a da contemplação  posta em /e:ue# na medida em :ue

ela possí"el somente numa totalidade plenamente atuali4ada# o :ue permane&e de ato impossí"el#

a não ser na ideia% *sso indi&a por :ue ra4ão uma repetição do ponto de "ista do poti&o sempre

inade:uada &om relação J sua pereição na eternidadeN mas mostra tam$m# por outro lado# :ue a

atitude do indi"íduo perante a repetição# para :ue se preser"e a sua designação undamental de

&ategoria de mo"imento# de"e se esta$ele&er na medida em :ue a própria li"erdade indi-idual +

 posta em mo-imento3?% +onstantius# na &arta a ei$erg# desen"ol"e em "Erios momentos uma

&ríti&a J atitude &ontemplati"a do indi"íduo &om a repetição# em :ue o indi"íduo estaria

supostamente num locus pri"ilegiado em :ue tanto ele :uanto a repetição seriam &on&e$idos em

 pleno ato% .le &omeça a opor a &ontemplação J li$erdade(

O%%% :ual o signii&ado :ue a repetição possui no domínio do espírito# pois de ato todo

indi"íduo# apenas ao s,-lo# :ualii&ado &omo espírito# e seu espírito possui uma história%

A:ui o pro$lema emerge no"amente# e a :uestão se torna( :ual signii&ado a repetição possui

a:ui Z% A:ui o indi"íduo não se rela&iona &ontemplati"amente &om a repetição# pois os

enHmenos em :ue ela apare&e são enHmenos do espírito# mas ele se rela&iona &om eles na

li$erdadeP 3?I

A &ríti&a de +onstantius a ei$erg temo &omo mote o ato de :ue este Qltimo ", a repetição

&omo um pro$lema estti&o% 'ara ele# o ideal da repetição a da lei do enHmeno natural# en:uanto

:ue no mundo do espírito ha"eria somente progresso% Mas dessa orma# a repetição e/terna ao

indi"íduo# e &a$e a ele rente J repetição apenas uma atitude &ontemplati"a# pois ele não pode dessa

orma ser &on&e$ido &omo &apa4 de uma ação li"re :ue interira no &urso do mundo3?% Assim# p<e-

se &omo essen&ial na pergunta so$re a repetição a :uestão da indi"idualidade históri&a na relação

&om a repetição# :ue se tradu4 na pergunta so$re se no indi"íduo por pressuposto situa-se na

&ontinuidade &om o passado indi"idual e históri&o e &om o desen"ol"imento espiritual do mundo(

OA :uestão &on&erne J relação da li$erdade &om os enHmenos do espírito# no &onte/to no

:ual o indi"íduo "i"e# en:uanto a sua história a"ança em &ontinuidade &om o seu próprio

 passado e &om o pe:ueno mundo :ue o rodeia% A:ui a :uestão se torna a:uela da repetição

3?@.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 1@3%3?.sse tema desen"ol"er-se-E no &ap% ? dessa e/posição%3?IO%%% =hat meaning does repetition ha"e in the domain o the spirit# or indeed# e"er> indi"idual# Cust in $eing an

indi"idual# is :ualiied as spirit# and his spirit has a histor>% ere the issue arises again# and the :uestion $e&omes(bhat meaning does repetition ha"e here %%%% ere the indi"idual does not relate &ontemplati"el> to the repetition#

or the phenomena in =hi&h it appears are phenomena o the spirit# $ut he relates to them in reedomP%  !ear andTrem"ling# Repetition# p% 2I%

3?*dem# &% 2I2# 2I@# 2I%

@@

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nas ronteiras da sua "ida# da repetição dentro da sua "idaP30

indi"íduo &ontemplati"o permite a si mesmo o pri"ilgio de assistir a sua própria e/ist,n&ia pois

ele pressup<e inad"ertidamente essa &ontinuidade históri&a &om o presente &omo algo dado de

antemão# e não &hega a perguntar-se so$re a possi$ilidade mesma de uma distonia em algum pontoN

o :ue se tradu4 na :uestão so$re a possi$ilidade ou não da repetição no espírito% ei$erg# segundo

+onstantius# &on&e$e a repetição na nature4a# pois a ha"ia dado &omo pressuposta na

indi"idualidade :ualii&ada &omo espírito li"re# o :ue mostra :ue o  primeiro pro"lema da

li"erdade@ se $6 ou não repetição, se:uer &hega a ser posto em :uestão(

Ouando se ala so$re indi"idualidade# sempre se a &on&e$e &omo &ontemplati"a ou &omo

esteti&amente am$ígua% ue hE uma repetição sempre &erto# e o :ue te preo&upa aCudar o

indi"íduo a ganhar um sentido para a repetição% Mas a primeira tarea da li$erdade 7 se hE ou

não repetição 7 não posta de maneira nenhumaP31

A pergunta pela repetição "in&ula-se J :uestão da &ontemplação espe&ialmente atra"s da:uestão temporal do iní&io# em :ue a indi"idualidade li"re "em a tornar-se eeti"a% A :uestão

&on&erne espe&ii&amente J possi$ilidade de o indi"íduo perder-se a si mesmo no seu iní&io e

 portanto ter de re&omeçarN se tal iní&io possí"el e se possí"el re&uperar repetir a:uilo :ue se

 perde nesse iní&io% ponto :ue a:ui o indi"íduo# pelo simples ato de en&ontrar-se em Cogo na

situação temporal# o tempo todo arris&ando perder-se e re&uperar-se a si mesmo# não pode ser

situado esteti&amente &omo um indi"íduo &ontemplati"o( este Qltimo CE per&orreu o &aminho# CE

atingiu a plenitude do a$solutoN # no di4er de egel# o ponto de "ista do a&a$amento% .le # para simesmo e para o mundo eeti"o# &omo uma di"indade% A lamentosa interpelação de +onstantius

so$re a "aidade# em :ue o tempo dei/a de a4er :ual:uer sentido# di4 respeito a este ponto de "ista

estti&o &ontemplati"o em :ue a repetição não oi posta en:uanto :uestão pertinente( Y:uando tudo

"aidade e tudo passa# "iaCa-se mais depressa :ue num &om$oio %%% +ontinua# tu# drama da "idaN

:ue ningum lhe &hame uma &omdia# ningum uma tragdia# pois :ue ningum lhe "iu o im_Y32%

dis&urso de ei$erg ", a repetição &om relação ao estti&o apenas no domínio da

metodologia analíti&a( a repetição seria um modo de deparar-se no"amente &om o pra4er de

desrutar uma o$ra de arte &omo tam$m um meio de aproundar-se nela% +onstantius re$ate

airmando :ue a sua e/peri,n&ia da repetição &om a "iagem a Berlim tam$m pode ser lida desse

modoN pois uma $ela &idade# assim &omo uma o$ra tam$m $ela% Mas nesse sentido :ual:uer

&oisa pode ser su$metida a esta operação esteti4ante# e tudo pode tornar-se $elo de alguma maneira%

30O;he :uestion &on&erns the relation o reedom to the phenomena o the spirit# in the &onte/t o =hi&h the indi"idualli"es# inasmu&h as his histor> ad"an&es in &ontinuit> =ith his o=n past and =ith the little =orld surrounding him%ere the :uestion $e&omes that o repetition =ithin the $oundaries o his lie# o repetition in his lieP% *dem# p% 2II%

31Obhen >ou spea9 a$out the indi"idualit># >ou al=a>s &on&ei"e o him onl> as &ontemplating or as estheti&all>am$iguous% ;hat there is repetition al=a>s remains &ertain# and =hat preo&&upies >ou is assisting the indi"idual to

gain a eeling or repetition% But the irst issue o reedom=hether there is repetitionis not tou&hed on at allP%*dem# p% 2I%

32 Repetição# p% I1%

@

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 Resse sentido# tomar algo &omo $elo passa ser o mesmo :ue tomE-lo &omo di"ertido# algo :ue não

de"e ser le"ado a srio# um mero entretenimento# &oisa a :ue +onstantius não estE disposto( Oeste

o aspe&to di"ertido da repetição# :ue Camais de"e-se le"ar a srioP33% A &on&epção da repetição

nesse sentido termina por ani:uilar a própria possi$ilidade do estti&o% A e/&lusão da repetição do

domínio do t$eor+in &ontemplati"o termina# assim# por sal"ar o mesmo# na medida em :ue ele

 pre&isa de uma neutralidade e/terior :ue não pode ser &on&edida pelo &on&eito de repetição# :ue

reere-se somente J interioridade do indi"íduo na li$erdade% A repetição de"e ser &on&e$ida &omo

seriedade# mas a seriedade na &ontemplação totalmente distinta do ponto de "ista &ontemplati"o

em :ue tudo passa a ser regido pelo espe&tro do entretenimento e da distração% ponto :ue a ideia

em sua totalidade# o :ue in&lui tam$m o aspe&to do $elo# não se eeti"a por esta "iaN tudo o :ue

 perten&e a este m$ito de"e engaCar-se na positi"idade do espírito na repetição em sentido pleno( a

repetição da pr5pria indi-idualidade ele-ada a uma no-a potênciaK% A ideia não somente

 preser"a-se neste mo"imento# mas ele"a a si própria# no mo"imento :ue &onstitui a repetição  sensu

eminentiori e o interesse mais proundo da li$erdade3%

Mas na medida em :ue &onstitui um interesse# tem-se no"amente nessa no"a pot,n&ia uma

designação de &unho estti&oN de tal orma :ue se a4 ne&essEria uma &ategoria :ue d, &onta da

"ertigem da su$Ceti"idade na li$erdade dentro de seu próprio mo"imento% ;al a unção do su$limeN

mas no sentido de :ue o &arEter estti&o :ue permeia seu &on&eito CE não se determina mais pelas

&ara&terísti&as do esteti&ismo romnti&o "ulgar# em :ue o interessante se degenera numa $us&a

ar$itrEria pelo no"o em si e por si# e em :ue o &on&eito de $ele4a redu4ido ao entretenimento

superi&ial% Ao &ontrErio# estes &on&eitos transiguram-se na &ondição undamental do artísti&o em

sentido ele"ado e ao mesmo tempo proundo# mas de uma orma tal :ue o sentido do estti&o

ultrapassa a si próprio na instauração de seu sentido Qltimo# apontando para um su$strato :ue em

8ier9egaard se designa &omo o religioso# mas ao :ual ela permane&e su$ordinada# dominada 7 o

:ue se dE no &aso do Co"em &om o poti&o# na transiguração da melan&olia na produção poti&a por

meio da dialti&a da e/&eção# :ue instaura# do mesmo modo :ue em A$raão# a Ypresença de um

 parado/o :ue es&apa a todas as mediaç<esY3@%

BK Ironia e repetição como parado1o

6e tal &on&epção "iE"el# tem-se :ue tanto o interessante :uanto a ironia su$sistem de

orma su$ordinada J repetiçãoN mas se a repetição a Yseriedade da e/ist,n&iaY# e o :uerer a

33O;hat is the amusing aspe&t o repetition# =hi&h one should ne"er ta9e seriousl>P%  !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%

3?*dem# p% 2?%3*dem# p% 2?%3@Temor e Tremor # p% 1?%

@I

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repetição signii&a ao mesmo tempo Yamadure&er em seriedadeY3# então de alguma maneira os dois

&on&eitos de"em ser arti&ulados em unção dessa seriedade% ;rata-se# portanto# de &on&e$er uma

ironia sria ou uma seriedade na ironia# o :ue se tradu4 em en&ontrar no negati"o do ponto de "ista

irHni&o algo de positi"o por ele propi&iado% A arti&ulação da ironia :ue permite esse dire&ionamento

a ironia dominada# em :ue ela# Y&ompleta em si mesmaY# aponta para algo alm dela na medida

em :ue re&onhe&e seu limite% 'or outro lado# &on&e$,-la &omo sria aria &om :ue ela dei/asse de

ser ela mesmaN o :ue não "em a se &on&reti4ar# pois ela tam$m de"e &ontinuar a ser ela mesma%

Assim# orçoso :ue se d, uma a$ertura para o parado/o da eeti"idade da ironia dominadaN o

a&a$amento# a síntese suprema do positi"o# se dE somente na orma do parado/o% 8ier9egaard

e/pli&a essa arti&ulação :uando ala da seriedade da ignorn&ia no ponto de "ista so&rEti&o( Yneste

 ponto# sria sua ignorn&ia ao mesmo tempo em :ue tam$m não sria# e neste ponto e/tremo

temos :ue manter 6ó&ratesY3I% . ainda(

Y&om eeito# :uando a ironia de"e ormular um enun&iado supremo# a&onte&e aí &omo para

todos os pontos de "ista negati"os# ela pronun&ia algo de positi"o# ela le"a a srio a:uilo :ue

di4% 'ara a ironia nada estE esta$ele&ido# ela "ira e me/e &om tudo ad li"itumN mas se ela

:uer enun&iar isto# di4 algo de positi"o# &om o :ue então a sua so$erania neste ponto

a&a$aY3

A seriedade não-sria de 6ó&rates indi&a em :ue sentido 8ier9egaard &on&e$e sua a ironia

&omo um enHmeno en&arnado num ponto de "ista a$soluto# &omo a:uele &uCa e/ist,n&ia a mais

interessante possí"el e por Qltimo &omo a:uele :ue introdu4iu a su$Ceti"idade na orma da ironia

3@0

%uando 8ier9egaard :ualii&a a ne&essidade de &on&e$er 6ó&rates num Ye/tremoY# ele aponta :ue a

 posição so&rEti&a indi&a um limite# &uCa linha di"isória o próprio parado/oN e o re&onhe&imento

desse parado/o &omo limite delineia o &arEter &ríti&o da proposta 9ier9egaardiana :ue )i&oeur

&hama de crCtica da e1istência# :ue tem o parado/o &omo ei/o &entral para seu esta$ele&imento e

&uCa &ondição de possi$ilidade o próprio limite da linguagem rente ao parado/o3@1% s re&ursos

estti&os dominados no dis&urso 9ier9egaardiano dire&ionam-se na &omuni&ação indireta o tempo

todo a esse ponto ul&ral do limite do parado/o# e o indi4í"el "em J tona a todo instante# para

retrair-se em seguida so$ o manto do &olorido soísti&o do dis&urso% As &ontradiç<es não resol"idas

maniestam-se sem nenhuma reser"a e J re"elia# de tal orma :ue a sugestão do :ue no te/to pode

ha"er de positi"o ou negati"o in"ertida no momento da repetição% uando +onstantius airma :ue

o &aminho do te/to o in"erso3@2# a repetição transorma o mo"imento do te/to numa alegoria do

3 Repetição# p% 33%3I.onceito de Ironia# p% 233%3*dem# p% 233%3@0Muito em$ora não a tenha dominadoN ele Ya"istou a idealidade J distn&ia# mas não a dominouY# e a su$Ceti"idade

negati"a da ironia &onstitui na "erdade Ya orma mais le"e e mais e/ígua da su$Ceti"idadeY% +% .onceito de Ironia#

 p% 1%3@1p% &it% ;6A8*)*# S%N An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 2%3@2 Repetição# p% 13@%

@

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mo"imento eeti"o# em :ue a repetição "em a ser uma in"ersão :ue propi&ia a sua ele"ação

 poten&iada% De a&ordo &om Mel$erg# a ordo in-ersus a :ue nos o$riga a repetição não pode

des"in&ular-se dela própria en:uanto mo"imento( Ya ordem re"ersa-repetida :uer di4er &olo&ar as

&oisas de &a$eça para $ai/o( &olo&E-las no lugar &ertoYN o :ual se dE na pro/imidade da in"ersão

&om o su$lime# em "irtude do pat$os :ue a a&ompanha indisso&ia"elmenteN &itando 'aul +elan#

Y:uem :uer :ue ande de &a$eça para $ai/o# senhoras e senhores 7 :uem :uer :ue ande de &a$eça

 para $ai/o# este tem os &us &omo a$ismo a$ai/o de siY3@3%

A impossi$ilidade de a&esso ao nHmeno  mais íntimo da "erdade a$re &aminho para o

di"ór&io deiniti"o entre a linguagem e o real eeti"oN de tal modo :ue a relação entre este Qltimo e

o dito pode esta$ele&er-se apenas no registro do parado/o% Mas a possi$ilidade de e/pressão de tal

registro não pode pres&indir de &ategorias estti&as &omo a ironia e o interessante# ainda :ue do

 ponto de "ista do dis&urso logi&amente arti&ulado resulte em aporia% mo"imento de in"ersão do

li"ro do e/terior 7 a "iagem para Berlim 7 para o interior 7 a repetição da &ons&i,n&ia 7 mostra a

 primeira &omo uma paródia da segunda# mas &uCo &arEter de paródia de"e maniestar-se &omo tal

 para :ue o sentido mais proundo apareça% 'ortanto# o estti&o de"e mostrar-se# na sua resolução#

limitado por a:uilo :ue propriamente o trans&endeN mas a pretensa seriedade :ue se instaura nessa

mudança do Ydis&urso irHni&o para o patti&o e &onessional mesmo :ue não se es&ape do :uadro

irHni&o do li"ro# e do passado para o presenteY3@?# &uCo undamento não senão o próprio lirismo

 poti&o do dis&urso do Co"em# mantm-se limitada do ponto de "ista e/terior pela mar&a indel"el

do patti&o# no sentido mais negati"o do termo3@%

A repetição en:uanto e/peri,n&ia tem a sua maniestação no te/to atra"s do parado/o :ue

e/pressa a sua impossi$ilidade( a pro-a da impossi"ilidade da repetição se d6 pela pr5pria

repetição% A:ui# toda"ia# não se pode a$strair do ponto de "ista estti&o dire&ionado a partir do

e/terior# pois a "ia de maniestação da repetição en:uanto &on&eito se undamenta apenas &omo

uma -ia negati-a% A e/peri,n&ia do ra&asso o$Ceti"o da pro"a# :ue tam$m a pro"a &ríti&a da "ida

estti&a &omo tal# "i"ida prin&ipalmente por +onstantius# e pelo Co"em apenas na medida em :ue

este "isto por +onstantius &omo um poeta 7 de modo :ue a auto&ontradição em :ue o Co"em entra:uando o &arEter patti&o do seu dis&urso líri&o predomina e impede :ue a repetição se eeti"e na

Yelasti&idade irHni&aY de um "i"er poti&o li"re das amarras da ironia indomada3@@% A &isão

undamental entre e/terior e interior torna-se e/plí&ita na enun&iação desse parado/o# pois nele toda

3@3Ober aus dem 8op geht# meine Damen und erren#7 =er aus dem 8op geht# der hat den immel als A$grundunter si&hP% Der eridian und andere prosa K0# p% &it% M.B.)G# A%N Repetition Min t$e *ier*egaardian sense oft$e term4# p% I1%

3@?MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% %3@ dis&urso do Co"em pare&e# nessa perspe&ti"a# in&omensurE"el &om a magnitude da interioridade religiosa atingida

 por Ló( esse o undamento do humorísti&o :ue auniensis enati4a no te/to da  Repetição# e :ue esteti&amente

delineado no te/to por +onstantius no dis&urso so$re a arsa% .sse tema serE tratado e/tensamente no &apítulo %3@@K assim :ue olmgaard des&re"e o estado de  suspenso gradu no poti&o do Co"em# :ue pre&ede a repetição e a

eeti"ação do su$lime% +% MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p%%

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a possi$ilidade da positi"idade da e/peri,n&ia Cogada para o interior# e a e/peri,n&ia da repetição

desta orma posta na sua possi$ilidade eeti"a apenas &omo e/peri,n&ia su$Ceti"a% .ntretanto# não

se e/tingue &om isso a possi$ilidade de +onstantius# ainda :ue do ponto de "ista meramente

e/terior# aça asserç<es de &unho metaísi&o ou &on&eitual a&er&a da repetição# na medida em :ue a

 possi$ilidade da pro"a metaísi&o-&on&eitual o$struída por este parado/oN o :ue não impli&a :ue#

so$ este ponto de "ista# ele en&ontre uma resolução e/terior &on&retaN ao &ontrErio# passa a um

mo"imento de desdo$ramento3@ em :ue no"as aporias são poeti&amente postas em Cogo# mas desta

"e4 inseridas na interioridade su$Ceti"a e mar&adas pela insígnia do poti&o%

Assim# o tratamento &on&eitual da repetição mantm um "ín&ulo &om o estti&o na medida

em :ue ele se eeti"a# em "irtude do parado/o e do ponto de "ista da e/terioridade da:uele :ue a

o$ser"a de ora# &omo o poti&o so$ a determinação do líri&o# e# do ponto de "ista interior# &omo a

redupli&ação da &ons&i,n&iaN portanto não mais se arredondando num modo de "ida em si mesmo#

mas su$Cugado 7 do mesmo modo :ue a ironia 7 ao ser"iço J ideia% A sua "in&ulação uni&amente ao

modo e/terior da representação negati"a limita a possi$ilidade da própria &omuni&ação# :ue passa a

instituir-se so$ a própria determinação do poti&o3@I# :ue se eeti"a por meio da linguagem &irada%

 Resse sentido# hE no &arEter arses&o da paródia de +onstantius# em sua "iagem# um elemento :ue

 possi$ilita uma a$ertura para a própria seriedade# em :ue ela apare&e somente &omo uma pot,n&ia

do dis&urso# ou seCa# &omo possi$ilidadeN de ato# &omo mostra .ri9sen3@# ela &onstitui um interesse

da própria intenção irHni&a da paródia# pois ela &onstitui um ser :ue ainda não "eio-a-ser na sua

 plenitude% .la situa-se no interstí&io do "ir-J-e/ist,n&ia# sem no entanto &onstituir um não-ser

a$soluto nem um ser eeti"o pleno% A ironia # nessa relação &om a seriedade# a porta-"o4 de mais

uma a&eta do parado/o da repetição( a ironia a forma e1terior de uma seriedade não%s+ria# na

:ual su$siste o elemento determinante do mal-entendido# a la&una entre o dito e o signii&ado

men&ionada por Sergote30% uando a realidade da ironia pura possi$ilidade# :uando ela ainda não

oi dominada# o indi"íduo se ", li"re da Ysua tarea de reali4ar a realidade eeti"a# %%% de sentir a

seriedade da responsa$ilidadeY31% Mas ao passo em :ue ela dominada# a seriedade posta nela

&omo um ator em mo"imento# em :ue a possi$ilidade se pre&ipita no sair de si mesma%

3@A proposta de 6hlomith )immon-8enan por uma  po+tica da repetição  tem portanto &orretamente a suaundamentação a partir do &arEter aporti&o e parado/al da repetição do ponto de "ista estti&o# &uCa primeiramaniestação o parado/o da pro"a supra&itado% A repetição maniesta# para ele# tr,s modos undamentais da unção

 poti&a do parado/o( 1 a repetição se a4 presente em todo lugar e em nenhum lugarN 2 a repetição &onstruti"aenati4a a dierença e a repetição destruti"a enati4a a identidadeN ou seCa# repetir &om su&esso não repetirN 3 a

 primeira "e4 CE uma repetição e a repetição a própria primeira "e4% +%( )*MMR-8.RAR# 6%N T$e parado1ical status of repetition# p% 11-1%

3@IDaí a identii&ação :ue Grammont a4 entre estti&a# pseudonímia e ironia( estas designaç<es são modos da&omuni&ação em :ue o irHni&o ou o esteta "i"em poeti&amente% Ser G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% 11%

3@.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% 12%30+% S.)G;.# %B%N ;ens et Repetition# "% *# p% 1%31 .onceito de Ironia# p% 2?1%

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6e a pergunta so$re a possi$ilidade da repetição de"e ser le"ada a srio# &omo +onstantius

:uer a4er &rer :ue seCa possí"el# torna-se impossí"el pensE-la# na medida em :ue a própria

seriedade estE &omo dada nesse registro# pois a repetição# a seriedade da e/ist,n&ia# então apare&e

a:ui &omo mais uma a&eta do parado/o# pois a pergunta so$re a repetição passa a pressupor a

 própria repetição% Do mesmo modo# se a ironia dominada # &omo di4 ;sa9iri# Yum gatilho para a

interioridadeY32# então :uando o indi"íduo se pergunta onde ele de"e tornar-se srio# da mesma

orma :ue a pergunta so$re a repetição CE a pressup<e &omo dada# então aí a seriedade tam$m

en&ontra-se posta% K nesse sentido a seríssima ad"ert,n&ia de 8ier9egaard numa nota :ue di4( Ouma

 pessoa de"e ter &uidado na:uilo so$re o :ue ela se torna sriaP33( essa &autela# repetidamente

in"o&ada pelo sedutor na a$ertura do Di6rio do ;edutor  representa o próprio interesse da ironia &om

relação J realidade eeti"a :ue mantm o negati"o &omo uma possi$ilidade sempre J espreita# &omo

a Y"elo&idadeY3? :ue A pressup<e :ue o esteta de"e possuir para e"adir-se da atualidade%

 Ra  Repetição# esse indi"íduo :ue "em a ser por meio desta relação interessante &om a

 possi$ilidade &hamado indi-Cduo crCptico% Ao mesmo tempo em :ue ele disp<e-se ironi&amente

&om relação J possi$ilidade# nele en&ontra-se in&ipiente uma disposição J e/teriori4ação :ue# no

entanto# não sa&rii&a a própria interioridade nesse mo"imentoN +onstantius o des&re"e a partir de

uma metEora sonora# os&ilando entre o murmQrio do "ento e a melodia da disposição aeti"a# não

&om outra intenção senão remeter J primeira etapa do esteti&ismo# a do deseCo :ue en&ontra

e/pressi"idade musi&al(

YZ a possi$ilidade do indi"íduo "agueia sem rumo na sua própria possi$ilidade# des&o$rindo ora

uma# ora outra% Mas a possi$ilidade do indi"íduo não :uer meramente ser ou"idaN não apenas

algo :ue passa %%%# ela tam$m gestaltend # e portanto :uer ao mesmo tempo ser "ista% Daí :ue

&ada possi$ilidade do indi"íduo seCa uma som$ra sonora% indi"íduo &rípti&o %%% :uer apenas "er

e ou"ir pateti&amente# mas 7 note-se $em 7 "er-se e ou"ir-se a si mesmoY3

Mas para o indi"íduo &rípti&o# a seriedade ainda o demonía&o :ue# toda"ia# se a4 presente &omo

uma orça repressora# a Y"igiln&ia angustiante da responsa$ilidade( aí estamos no domínio do

demonía&oY3@% Ro domínio da paródia# :ue des&rito a:ui &omo o am$iente ideal do indi"íduo

&rípti&o# a repetição o&orre na redupli&ação :ue dada Ypela realidade artii&ialY em :ue ele pode

Y&omo um duplo# "er-se e ou"ir-se a si mesmoY 3% A redupli&ação o&orreu na e/terioridade# e não

na &ons&i,n&ia# pois a:ui Ya personalidade não estE ainda des&o$erta# a sua energia limita-se a

anun&iar-se na pai/ão da possi$ilidadeY3I% :ue de"e ser ressaltado :ue o indi"íduo &rípti&o tem

32;6A8*)*# S%N An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 2?%33OA person must $e &areul a$out =here he $e&omes earnestP% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 321%3? Eit$er# r # p% 23?%3 Repetição# p% %

3@*dem# p% %3*dem# p% I%3I*dem# p% I%

2

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reali4adaY3I# a reer,n&ia J segunda pot,n&ia da su$Ceti"idade CE estE posta% A similitude &om o

dis&urso &ristão não e"idente por a&aso# pois# no :ue di4 respeito J :uestão da ironia &omo uma

orientação e/isten&ial# tem-se :ue ela# de modo am$íguo# a$re a possi$ilidade para as arti&ulaç<es

de Y&riar poeti&amente a si mesmoY e por outro lado o de Yse dei/ar &riarYN essa segunda asserti"a

&orresponde ao posi&ionamento &ristãoN em :ue Yo &ristão se dei/a &riar# e neste sentido um &ristão

 $em simples "i"e muito mais poeti&amente do :ue uma porção de &a$eças talentosasY30% !ma

airmação deste tipo torna in:uestionE"el não somente a "ig,n&ia da possi$ilidade de o indi"íduo

manter-se irHni&o na seriedade re:uerida pelo religioso# &omo tam$m a "alidade estti&a do ponto

de "ista da redupli&ação# em :ue o sentido do "i"er poti&o ad:uire um no"o signii&ado mais

ele"ado mesmo atra"essando a idealidade e/igida pela responsa$ilidade ti&a% Ainda :ue a

imediate4 da idealidade estti&a não possa su$sistir J repetição# esta Qltima permane&e sendo a

Y$ele4a da "idaY31# na medida em :ue a própria "ida uma repetição% 6e a su$Ceti"idade# nesse

sentido# posi&iona-se na idealidade da realidade efeti-a :ue surge a partir do &ho:ue entre a

Yidealidade deseCada pela .stti&aY e a Yidealidade e/igida pela Kti&aY32# a ciência e1istencial  :ue

se desen"ol"e a partir dela de"e undar-se no interesse  &onstituti"o dessa su$Ceti"idade apartada

entre o ser e o não-ser% Resse sentido# a seriedade da responsa$ilidade não ela própria o a$soluto

em :ue o indi"íduo se sustenta# pois mesmo Ya indi"idualidade mais amadure&ida# :ue se sa&ia &om

o orte alimento da realidade# não propriamente inluen&iada por um :uadro $em pintadoY 3?N ela

termina por redu4ir-se a uma idealidade :ue não propriamente uma idealidade plena# mas :ue se

&ontenta &om a superi&ialidade do prosaísmo%

A su$Ceti"idade orientada nesse sentido "i"e# pois# a ser"iço da ideiaN &a$e# na medida em

:ue nela se estE em mo"imento# &ondu4ir a e/ist,n&ia so$ a sua unidade# o :ue preser"a ao mesmo

tempo Yo indi"íduo saudE"el e de $om humorY# sal"a o sentimento e dE a ele a auto&ertii&ação da

resolução da "ida so$ a ru$ri&a do artísti&o% 'or isso# +onstantius ad"erte so$re a grande4a de ato

:ue de&orre do Co"em não ter desposado outra moçaN isso &onstituiria Yuma ra:ue4a# um

"irtuosismo simplistaY :ue inade:uado a :uem :uer :ue possua Yuma "isão artísti&a da "idaY 3%

;am$m por isso# so$ outro ponto de "ista# o poeta Yum par"o &om as moçasY 3@N se a sua "idade"e dei/ar-se &aptar por uma &ategoria# tarea esta :ue não nem um pou&o E&il se não le"ada a

srio# a sua reali4ação ininitamente dii&ultada pela própria presença do emininoN +onstantius

3I*dem# p% 2?1%30*dem# p% 2?2%31 Repetição# p% 33%32.onceito de AngHstia# p% 1%33+uCo undamento o Inter%esse# en:uanto o esse  o undamento da ontologia e da matemEti&a% +%  Journal and

 Papers# *S + 100 n%d%# 1I?2-?3%

3? Repetição# p% @1%3*dem# p% 12I%3@*dem# p% 12I%

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atesta :ue Ysó muito raramente "i uma moça &uCa "ida se dei/asse &aptar so$ uma dada

&ategoriaY3% Ro entanto# ele re&onhe&e :ue se isso osse por"entura possí"el# ou seCa# se a moça

osse dotada de interioridade# a dor do Co"em intensii&ar-se-ia de ato# mas a Yalegria de admirar a

amadaY teria a &onse:u,n&ia de :ue Ysua "ida pararia &omo a dela# mas pararia &omo as Eguas :ue

 parassem eneitiçadas pelo poder da mQsi&aY3I%

.ssa &onstituição ideal do poeta de"e ser tomada so$ a ru$ri&a da ironia Custamente por :ue

seu porta-"o4 o próprio +onstantiusN ela tem &omo re&urso para es&apar J ne&essidade eeti"a do

mo"imento a uga no estado de  suspenso gradu% .ntretanto# este mote permite &ontrastar &om

&lare4a a distinção entre esse "i"er poti&o estagnado e o "i"er poti&o em :ue se possui a ideia em

mo-imento( Yo poeta não "i"e poeti&amente pelo ato de &riar uma o$ra poti&a# %%% ele só "i"e

 poeti&amente :uando ele mesmo estE orientado e assim integrado no tempo em :ue "i"e# estE

 positi"amente li"re na realidade J :ual perten&eY3% A Yininitude interiorY :ue ne&essEria para :ue

o indi"íduo se torne assim positi"amente li"re &onstitui portanto a ironia dominada# e a orientação

de :ue se ala a:ui dada pela própria ideia% 'or isso# na medida em :ue todo indi"íduo

supostamente &apa4 da redupli&ação de si próprio na &ons&i,n&ia# o :ue "ale para a e/ist,n&ia de

 poeta "ale para :ual:uer outro indi"íduo :ue não seCa propriamente um poeta# na medida em :ue

este não sa$eria dar a este &onteQdo uma orma e/pressi"a &on&reta# Yuma &oniguração poti&a ao

:ue oi "i"en&iado poeti&amenteY?00# o :ue &onsiste num dom raro Odigno de in"eCaP?01% A suspensão

:ue o irHni&o de"e eetuar não # nesse sentido# de uma realidade espe&íi&a# mas a própria realidade

em sua totalidade# na medida em :ue ele en&ontra-se em &onstante &ho:ue &om elaN por isso

Yimportante  suspender  a:uilo :ue o &onstituinte da realidade eeti"a# a:uilo :ue a ordena e

sustenta# isto # a moral e a -ida +ticaY?02% Apare&e então a ne&essidade da operação undamental da

ironia no mo"imento para o ininito :ue &ara&teri4a a repetição( o irHni&o torna-se a:ui Ya:uele .u

eterno# para o :ual nenhuma realidade ade:uadaY?03% Resse sentido# o &ristão# :ue Y"i"e muito

mais poeti&amente do :ue uma porção de &a$eças talentosasY?0?# en&ontra seu lugar uma "e4 :ue

tam$m a estti&a# da mesma orma :ue a ti&a# ou a generalidade# de"e retornar depois da

instauração da ininitude interior por meio da redupli&ação%Dessa maneira# a:uele :ue a&eita a tarea de &riar a si mesmo poeti&amente não só entra no

mo"imento por meio do :ual ele se torna o :ue ele # mas &om isso transigura toda a realidade J

sua "olta# :ue "em-a-ser Cuntamente &om ele numa no"a pot,n&ia% ong mostra :ue 8ier9egaard

3*dem# p% 12%3I*dem# p% 130%3.onceito de Ironia# p% 2@-2%?00*dem# p% 2%?01*dem# p% 2%

?02*dem# p% 2?%?03*dem# p% 2?%?0?*dem# p% 2?2%

@

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&on&e$e# &omo Aristóteles# o poi+in &omo um faLer ( Yo poeta # &omo a pala"ra mostra# um a4edor#

mas um a4edor no reino do possí"elP?0% Desse modo# a poesia rela&iona-se &om a realidade por

meio da realidade poti&a# e de ato O uma esp&ie de re&on&iliação# mas não a "erdadeira

re&on&iliaçãoP# pois ela re&on&ilia &om o ideal# mas não eeti"a uma transu"stanciação da

realidade% 'or meio da realidade superior# a poesia redime a "ida ao e/pli&E-la# iluminE-la e

desen"ol",-laN ela# nesse sentido# mais ilosói&a :ue a história% Mas o seu operar se dE por meio

desta suspensão do impereito# em :ue ele posto de lado para :ue o ideal apareça sem :ue &ontudo

dei/e de s,-lo in acto% 6o$ este aspe&to# o "i"er poti&o permite :ue se &hegue apenas J orma do

su$lime :ue ante&ede a repetição em sentido pleno%

A orientação temporal dada pelo irHni&o não atinge a eeti"idade da história# na medida em

:ue poeti&amente determinada# entretanto# não &onsiste tam$m numa imo$ilidade &onstanteN por

isso ela de"e passar por esse momento de suspensão# :ue rompe &om a &ontinuidade ne&essEria J

história?0@% A situação temporal do poeta nessa suspensão se dE na medida em :ue ela se mostra

&omo um interesse entre a disposição imediata do estti&o# :ue olmgaard &hama de disposição

eróti&a# e a &onsumação da repetição# :ue ele designa &omo o su$lime% A di"isão assim eetuada

elu&ida de maneira $astante satisatória o por:u, da orma &omo a repetição ser introdu4ida no te/to

 por meio de alus<es eróti&asN toda a história do Co"em &ondi&ionada J sua pai/ão ardente pela

moça# e o próprio +onstantius torna-se interessado no Co"em pela orça do seu deseCo% A própria

melan&olia do Co"em# :ue no undo uma Odisposição eróti&aP# da :ual ele di4 :ue O:uem no seu

amor nun&a a ti"er "i"ido pre&isamente no prin&ípio# este nun&a amouP?0#  designada por ele &omo

uma Ore&ordação poten&iadaP :ue Oe/pressão eterna do amor em seu iní&ioP ?0I% A disposição

eróti&a # por sua "e4# desen"ol"ida por meio da ironia# ou ainda# da elasticidade irNnica# para :ue

manieste-se a Oorça "ital para matar a morte e a transormar em "idaP ?0 e para :ue a re&ordação

 poten&iada seCa atingida( assim eeti"ar-se-ia o amor na atualidade# e o amor-repetição tornaria o

 Co"em um pai de amília# o :ue o aria dei/ar de ser um poeta% Mas# &omo oi "isto# o Co"em não oi

&apa4 disso# e a sua repetição apenas su"limou a sua disposição eróti&a atra"s da poesia%

A estti&a da repetição di"ide-se# portanto# de a&ordo &om olmgaard# entre disposiçãoer5tica# suspensão e resol"e-se no su"lime% .ssa di"isão satisatória na medida em :ue nela tanto

a ironia :uanto o interessante su$sistem &on&eitualmente na medida em :ue em &ada momento elas

se eeti"am &omo arti&ulaç<es :ue ligam a repetição &om o estti&o% Ro entanto# a repetição não

 pode resol"er-se aí simplesmenteN ne&essErio :ue a própria ironia mostre a &on&epção estti&a da

?0 !ear and Trem"ling# Repetition# p TT***%[email protected] des&ontinuidade o :ue undamenta a repetição &omo um &on&eito :ue tra4 J realidade eeti"a o :ue a

mediação ha"ia pretendido sem &ondição nenhuma de eetuar% .sse assunto serE tratado ade:uadamente no &apítuloseguinte%

?0 Repetição# p% 3I%?0I*dem# p% 3I%?0*dem# p% 3I%

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repetição &omo um mero interesse# para :ue nela apareça a orça undamental :ue impulsiona o

 Co"em em direção J ideia# o  su"strato indiLC-el do religioso% 'ara isso a estti&a só pode ser

sui&iente &omo &omuni&ação indiretaN mas de"e ha"er nela um elemento de &arEter estti&o :ue

aponte para esse su$strato sem no entanto atingi-lo% .sse elemento dado no li"ro pelo $umor # e

 pela in&omensura$ilidade do deseCo do Co"em &om a seriedade e/igida pela Oatmosera negati"a :ue

a pai/ão do a$surdo a :ue &orresponde o &on&eito de repetiçãoP?10% Mas o "ín&ulo &om o estti&o

mantm-se nessa atmosera negati"a na medida em :ue o negati"o# o nada :ue se maniesta

en:uanto um estado aními&o de "ertigem no a$ismo do su$lime# determina toda a atualidade

e/terior# ao passo :ue Oo su$lime um mo"imento interior# e ainda um mo"imento :ue o tempo

todo pare&e in&essantemente apontar para a ininitude inimaginE"el e indi4í"el da alma do

 Co"emP?11% su$lime mostra o indi"íduo na sua Custa medida# uma "e4 :ue a sua situação

determinada no estar-entre o ininito do &u estrelado e o a$ismo sem-undo% +omo não hE o limite

:ue possi$ilite a mensuração# i&a impossí"el esta$ele&er um &ritrio de reer,n&ia a$soluta :ue

sir"a &omo um uni"ersal( nesse sentido# o indi"íduo # na relação &om ele# uma e1ceção :ue se dE

na orma do poti&o( o su$lime O essen&ialmente uma disposição estti&a alm do tempo e da

atualidade# Cogando o suCeito numa "isão &ósmi&a de &ontínua os&ilação entre VtudoV e VnadaV# entre Vo

a$ismoV e Vas estrelasV% +ertamente# hE um tom religioso su$Ca&ente a tudo issoP?12% .# no entanto# o

 Co"em permane&e poeta% A relação entre o estti&o e o religioso pare&e não poder ser &ompreendida

a:ui de outra maneira# &omo um interesse na ininitude do indi4í"el religioso :ue se tradu4 na

disposição do su$lime%

mo"imento da repetição nesse sentido se mostra &omo um interesse &uCa atuali4ação se

tradu4 na undação da própria metaísi&a# mas tam$m no seu a&a$amento# &onsumação e

aundamento% A Oautossui&i,n&iaP da metaísi&a em :ue +onstantius en&alha# a segunda orma do

interessante?13# rompida para dar lugar J ininitude da interioridade no interesse do su$lime% K

nesse sentido :ue o Co"em eetuou um mo"imento religioso en:uanto mante"e-se poetaN ele de ato

Ooi adianteP?1?  pois ele oi &apa4 de  sacrificar  a sua autossui&i,n&iaN esta a ter&eira orma do

interessante# para alm do amor J mudança e do :uerer a repetição sem sorimento( o interesseininito na e/ist,n&ia não pode dar-se na iman,n&ia de um .u :ue engendra a si mesmo% Ra

repetição &omo interesse da metaísi&a# ela en&ontra sua &onsumação pois seu pretenso desinteresse

desmas&aradoN &omo di4 auniensis( Otão logo apare&e o interesse# a metaísi&a se es:ui"a% Z

 Ra realidade eeti"a# todo o interesse da su$Ceti"idade "em J tona# e então a metaísi&a en&alhaP?1%

?10.onceito de AngHstia# p% 1%?11MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% %?12*dem# p% %

?13 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32@%?1?*dem# p% 32@%?1.onceito de AngHstia# p% 20%

I

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auniensis asso&ia o estti&o em sentido 9antiano &om a metaísi&a# no sentido de :ue am$os

de"eriam ser desinteressados# o :ue não pode su$sistir &om a repetição% Resse sentido# tanto o

estti&o :uanto a metaísi&a Oen&alhamP% 'ara dar &ontinuidade ao mo"imento# de"e-se a$andonar

estes registros e inserir-se no lu/o por meio do próprio parado/o :ue este representaN &omo e/pli&a

+aputo( Oassim :ue a metaísi&a torna-se interessada# assim :ue ela inserida no lu/o e perde sua

 $arreira protetora# ele orçada a dar-se &onta do Cogo sem undo# o a$ismo# a aus,n&ia :ue ha$ita

interiormente toda a rei"indi&ação de presençaP?1@% .sse o momento da repetição :ue &oin&ide &om

o su$lime( a:uele em :ue o indi"íduo perde a si mesmo em meio a ininitude a$ismal# mas a &ada

momento "olta a ganhar-seN a repetição identii&a-se a:ui &om o próprio lu/o e &om o próprio

de"ir# :ue não pode ser pleno se não or um tornar-se si-mesmo% A &ompreensão da repetição &omo

um &on&eito de mo"imento *inesis de"e ser undamentada a partir de dois momentos( o da sua

relação &om a mediação# e portanto &om a metaísi&a em geral# e o da sua &ompreensão &omo um

&on&eito da inserção do indi"íduo na realidade# ou seCa# &omo um &on&eito históri&o temporal% .sse

serE o tema dos &apítulos :ue se seguem%

?1@+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 3%

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etafCsica e Repetição

intento prin&ipal deste &apítulo serE o de delimitar uma &on&epção metaísi&a da repetição#

em toda a a$rang,n&ia dos pro$lemas e dii&uldades em :ue tanto direta :uanto indiretamente tal

tentati"a impli&a% 6erE a$ordada a:ui a relação entre repetição e mediação# mais espe&ii&amente

dentro do pro$lema da repetição &omo o :ue +onstantius denomina Oa no"a &ategoria :ue pre&iso

des&o$rirP?1  e o erro históri&o :ue# segundo ele# &onsistiu em se &hamE-la de mediação%

Desen"ol"er-se-E tam$m a relação negati"a :ue os &on&eitos de re&ordação e mediação# em$ora

em sentidos distintos# mantm &om a repetição# le"ando em &onta as determinaç<es estti&o-

 psi&ológi&as deste ponto de "ista# &omo as e/postas nos &apítulos anterioresN $em &omo o

delineamento do pro$lema do est+tico referido U repetição en&uanto categoria metafCsico%

conceitual % ;al arti&ulação tem o intuito de e"itar :ue o dis&urso se per&a na:uele alarido a$strato

:ue +onstantius a$omina &omo Oina&reditE"el agitaçãoP e O&on"ersa idiotaP?1I  a respeito da

mediação% A a$ordagem metaísi&a# portanto# teria a intenção de mostrar os mo"imentos da própria

noção de mo"imento na e/ist,n&ia# nomeadamente na orma do &onsagrado torna%te &uem tu +s( as

:uest<es CE reeridas do "elho :ue se torna no"o e da repetição en:uanto retomada serão

aproundadas nessa o&asião% A :uestão do mo"imento# por sua "e4# de"erE ser detalhada no &apítulo

seguinte%

uando se trata da relação :ue a repetição mantm &om a metaísi&a# ne&essErio antes de

tudo uma distinção undamental entre os hori4ontes de sentido de uma e de outra% Rão se pode de

imediato alar de uma metaísi&a da repetição ou da repetição &omo uma &ategoria metaísi&a sem

:ue antes se resol"a o pro$lema de se a repetição# na medida em :ue &on&e$ida &omo uma

&ategoria ti&o-e/isten&ial# se presta propriamente a :ual:uer &ategori4ação sistemEti&a# ou se ela

 própria e/trapola esse intento dogmEti&o e a$re o &aminho para uma no"a &on&epção do :ue seCa a

metaísi&a% ;al não impli&a di4er :ue a repetição não pode# so$ :ual:uer &ir&unstn&ia# ser a$ordada

 por meio de um "is &on&eitual ou mesmo metaísi&oN mas# na medida em :ue tal empreitada

le"ada a &a$o# a prerrogati"a de :ue tal ponto de "ista se erige apenas en:uanto uma possi$ilidade#

:uer di4er# en:uanto um es&opo dentre outros :ue imediatamente o ultrapassam 7 Custamente por ser

o mais a$strato# o mais imediato do ponto de "ista do entendimento 7 e# por assim di4er# não o

esgota# mas apenas p<e em e"id,n&ia a a$rang,n&ia do pro$lema e a radi&alidade da de&isão so$re

sua resolução%

?1 A Repetição# p% 0%?1I*dem# p% 0%

I0

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*sso se dE por:ue a própria repetição# se pensada &omo uma etapa ou um estEgio no

desen"ol"imento da &ons&i,n&ia &uCa pre&ed,n&ia e su&essão são &on&e$í"eis numa relação

ne&essEria e determinada &om ela# resulta numa instn&ia :ue &on&e$e o indi"íduo apenas &omo

generalidade# e daí temos somente mediação e alatório% .sse dis&urso não &apta o :ue Lohannes

+lima&us &hama de Opai/ão ininitamente interessadaP?1 pela e/ist,n&ia# :ue &ara&teri4a o modo de

e/ist,n&ia do indi"íduo e tam$m a mar&a undamental do religioso% De maneira &ontrEria J

ilosoia hegeliana# o mote das &ríti&as de 8ier9egaard a seus &ontemporneos# :ue di4 respeito J

generalidade uni"ersal do .spírito e aos mo"imentos imanentes da &ons&i,n&ia históri&a# indi&a :ue

essa &on&epção de indi"idualidade &ria uma issura na totalidade da &on&epção do a$soluto

hegeliano e institui uma relação de pol,mi&a entre o uni"ersal e o poti&o :ue dele se e/&lui &omo

e1ceção  .ssa pol,mi&a possui uma dinmi&a dialti&a própria :ue tam$m serE tratada neste

&apítulo# paralelamente ao :ue di4 respeito ao aproundamento do sentido da relação entre

re&ordação e repetição# agora não mais numa a$ordagem estritamente estti&o-psi&ológi&a &omo

a:uela pre"iamente dada anteriormente# para :ue então "enha J tona o sentido mais pre&iso dessa

dialti&a e se mostre em :ue medida ela su$siste para alm dos limites do estti&o% A relação entre

re&ordação e repetição en:uanto mo-imento  de&isi"a para :ue se &ompreenda tam$m a in&ógnita

inal do segundo &apítulo# a sa$er# a repetição en:uanto uma &ategoria &apa4 de tradu4ir o

mo"imento &on&reto da e/ist,n&ia# a partir da :ual dada a perspe&ti"a em :ue se &on&e$e os tr,s

&on&eitos ali &olo&ados# histori&idade# trans&end,n&ia e de"ir% ;odos eles re&e$em# &om a

instauração da repetição# um signii&ado distinto e espe&íi&o# &uCo detalhamento essen&ial não

somente para &ompreender o mo"imento religioso# mas tam$m para :ue este# e por &onseguinte a

 própria repetição# esta$eleça sua relação espe&íi&a &om o estti&o%

0 Recordação, ediação e Repetição

A &on&epção da repetição en:uanto &ategoria e/isten&ial depende de sua &omparaçãonegati"a rente aos &on&eitos &om os :uais ela se rela&iona e a partir dos :uais ela deinida% Dito

de outro modo# a repetição na sua deinição em geral determinada apenas de maneira negati"a#

dado :ue uma deinição geral da repetição um mal-entendido% Di4-se dela o :ue ela não # para a

 partir daí e por meio de mtodos indiretos poder-se &hegar a "islum$rE-la# em$ora sua eeti"idade e

&ompletude na totalidade da ideia só se deem en:uanto e/peri,n&ia indi"idual# e ainda assim na sua

&omuni&ação um res:uí&io de inea$ilidade seCa em Qltima instn&ia ines&apE"el% s &on&eitos

 prin&ipais &om os :uais ela se rela&iona negati"amente são# pois# a re&ordação e a mediação% .ssas

?1 Postscriptum# p% 31%

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relaç<es serão a$ordadas em &ontínuo &onronto uma &om a outra# não o$stante o ponto-&ha"e para

a &ompreensão da repetição en&ontre-se aí# mas propriamente em nenhuma das duasN ora#

&onsiderando :ue a determinação da generalidade da repetição negati"a e os &on&eitos &om os

:uais ela se rela&iona negati"amente são eles próprios insui&ientes para e/pli&E-la# :ual:uer

relação dialti&a# por mais :ue se aça presente em "Erios momentos do te/to e se mostre de&isi"a

 para um delineamento da repetição &om respeito ao estti&o# não esgota o sentido proundamente

trans&endente desta# muito em$ora i:ue &laro :ue :ual:uer possi$ilidade de mensuração dessa

 proundidade mesma depende intrinse&amente de uma &larii&ação a respeito da dialti&a%

A dialti&a da re&ordação em relação J repetição pode ter o seu iní&io a partir da mera

relação de oposição entre dois pontos undamentais( o primeiro a ser &itado no li"ro o da repetição

&omo um mo"imento anElogo porm oposto ao da re&ordação( Orepetição e re&ordação são o mesmo

mo"imento# apenas em direção oposta# pois a:uilo :ue se re&orda# oi# repete-se para trEsN en:uanto

a repetição propriamente dita re&ordada para dianteP ?20% 'elo próprio modo de e/pli&ação# da

repetição em unção da re&ordação e "i&e-"ersa# i&a a:ui e"idente :ue a relação de oposição

mantm-se en:uanto dialti&a na medida em :ue su$siste entre elas uma identidade em seu &arEter

:ualitati"o no :ue di4 respeito ao mo-imentoN em$ora nada alm disso i:ue patente# a e/pli&ação

tautológi&a e &ir&ular% )e&ordar( repetir para trEsN repetir( re&ordar para a rente% .sta relação

ultrapassada somente na medida em :ue posta a relação da repetição e da re&ordação &om a

eli&idade temporal do indi"íduo# o :ue &onstitui a ponte para o desenrolar da história do Co"em :ue#

ao menos do ponto de "ista de +onstantius# a en&arnação do Odesditoso &a"aleiro do amor eli4# o

da re&ordaçãoP?21# mas &uCa eli&idade apenas aparente# uma mEs&ara meramente e/terior para sua

melan&olia%

segundo ponto undamental e/presso# portanto# na relação de oposição dos mo"imentos

 para-trEs ou para-rente &om a &lEssi&a di&otomia con$ecimento : -ida( Orepetição uma e/pressão

de&isi"a para a:uilo :ue era Vre&ordaçãoV entre os gregos% ;al &omo estes ensina"am :ue todo

&onhe&er um re&ordar# tam$m a no"a ilosoia ensinarE :ue a "ida toda ela uma repetiçãoP ?22N e

logo em seguida( Odeste modo# se \a repetição] possí"el# a4 o homem eli4# ao passo :ue a

re&ordação o a4 ineli4P?23% A $em-a"enturança reali4a-se na eeti"idade &on&reta do amor-

repetição# no"amente em oposição ao amor-re&ordação# tal :ue a:uele emprega a &onstn&ia ti&a

do :uerer &ontínuo na seriedade# en:uanto o outro se re&olhe num lnguido aastamento# numa

Osaudade melan&óli&a e nostElgi&a de um paraíso perdidoP?2?% ;oda a pro$lemEti&a apare&e a:ui em

?20 Repetição# p% 32%?21*dem# p% ?%

?22*dem# p% 31# 32%?23 *dem# p% 32%?2? +A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 1%

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:uatro registros( a da relação imediata entre re&ordação e &onhe&imento e entre repetição e "ida?2# e

as respe&ti"as relaç<es opostas da repetição-re&ordação e de &onhe&imento-"ida% A:ui elas se

mostram numa oposição irre&on&iliE"el# em$ora ainda apareçam &omo deiniç<es do mo"imento

en:uanto tal% .stas relaç<es tra4em J tona "Erios elementos em Cogo na ilosoia grega# :ue seriam

&ortados O&om o dois de espadasP?2@ pela doutrina da repetição?2% aastamento do mundo :ue o

&onhe&imento pressup<e na doutrina da anamnese :ue se en&ontra em Cogo na doutrina da

re&ordação &omo o proton pseudos do indi"íduo na e/ist,n&ia# :ue resulta na melan&olia e no amor

ineli4N e o melan&óli&o# &uCa determinação aními&a se so$rep<e a :ual:uer outra determinação 7

não $asta a alegria de uma pai/ão para &urE-lo# pois# Ose se trata realmente de um melan&óli&o#

&omo ha"eria de ser possí"el :ue a sua alma não se o&upasse melan&oli&amente da:uilo :ue para

ele se tornou a mais importante de todas as &oisasP?2I% .sta representação "em a ser ela própria o

retrato in"ertido do :ue seria o indi"íduo ar:uetipi&amente eli4 na repetição% A:uele :ue "i"e na

re&ordação meramente &ontempla a "ida de ora# situando a si mesmo na alteridade da esera da

"idaN por meio da re&ordação# o Co"em Osaltara por &ima da "idaP e e/perien&ia o amor de maneira

 poti&a# :ue &omeça a partir do negati"o irHni&o da própria perda# o :ue# não o$stante# &onstitui a

"antagem e a segurança da re&ordação( Oa re&ordação tem a grande "antagem de &omeçar &om a

 perdaN por isso mais segura# CE :ue nada se tem a perderP?2%

A nostalgia de :ue se trata a:ui se deine# no ponto de "ista de olmgaard# &omo um proCeto

de interpretação da su$stn&ia originEria% A deinição romnti&a da própria ilosoia &omo

nostalgia?30  um anElogo do :ue +onstantius deine &omo re&ordação# &uCa reali4ação seria Ouma

 $us&a tradi&ional pela "erdade do ser em termos de origem e onte# e tam$m a4er da tarea da

ilosoia retornar o homem ao seu ser original# então não permitindo ao suCeito outra opção senão

tomar a su$stn&ia &omo parte de um proCeto nostElgi&oP ?31% Ra repetição# portanto# não pode ha"er

nenhuma nostalgiaN em$ora# nesse sentido# a Osal"ação do sentimentoP ?32  pela :ual o Co"em#

?2 Mais espe&ii&amente# a e/pressão da repetição da "ida se dE na totalidade( Oa "ida toda ela  uma repetiçãoP% signii&ado dessa e/pressão tra4 J tona os temas não só de uma a$ertura na repetição para a eternidade e para atrans&end,n&ia# mas o signii&ado do mo"imento en:uanto de"ir% .ste o tema &entral do pró/imo &apítulo%

?2@ A Repetição# p% 0% ./pressão de um Cogo de &artas espanhol :ue se assemelha a um /e:ue-mate%?2 s prin&ipais seriam a doutrina platHni&a da anamnese : :ue depende# por sua "e4# da doutrina da transmigração

das almas e/posta no !+don# e tam$m a doutrina aristotli&a da "ida &ontemplati"a# :ue se tradu4 na etafCsica na&ondição undamental do t$eor+in e do olhar &ientíi&o por e/&el,n&ia# $em &omo na  Po+tica# em :ue se desen"ol"ea :uestão da &atarse &ontemplati"a e da mimesis representati"a# na :ual :ue a arte# seguindo os passos da doutrina

 platHni&a# "em a ser uma imitação poten&iada do eidos &on&reto%?2I *dem# p% 3%?2 *dem# p% 3%?30Ro"alis tra4 uma &le$re deinição da ilosoia &omo nostalgia( Yphilosoph> is a&tuall> nostalgia( the urge to $e

e"er>=here at homeY% .m alemão# a pala"ra ;en$suc$t N a rai4 "em do "er$o se$nen# :ue denota nsia ou deseCoardente# ou# ainda# saudadeN en:uanto 6uc$te signii&a o$sessão ou "í&io% Ra "erdade# di4-se :ue a ormaOnostalgiaP# :ue e/iste "Erias línguas# de"m de uma Cunção de duas partí&ulas gregas n5stos 7 "oltar J &asa# e6lgos : sorimentoN daí a sintomEti&a deri"ação em ingl,s do $omesic*ness% +% RSA*6# P$ilosop$ical >ritings,

I# ?N p% 13%?31MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% 2%?32 Repetição# p% 12I%

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segundo +onstantius# de"eria passar# osse assim identii&ada em seu mago &omo parado/al# pois o

sentimento de"e ser sal"o Js e/pensas da atualidade da re&ordação e portanto da melan&olia# sem

:ue &ontudo seCa ani:uilada na repetição a sua disposição aeti"a% A opção entre a sal"ação do

sentimento# &om a &ontrapartida da melan&olia e da nostalgia# e a repetição# &om a :ual todo o "elho

se torna no"o# pare&e ser radi&al# pois nesta a disposição aními&a só poderia ser mantida por meio

de um parado/o trans&endente%

 Resse sentido# a nature4a melan&óli&o-poti&a ilustrada pelo Co"em ultrapassa# no :ue di4

respeito a esta relação dialti&a &om a repetição# a mera determinação psi&ológi&a de uma

disposição aeti"a ou de um Gemt # e aponta para um su$strato metaísi&o :ue se tradu4 numa

eeti"idade e/isten&ial em :ue apare&e patente a relação da ideia &om o indi"íduo% ;rata-se a:ui de

uma relação dialti&a eeti"a do mo"imento de su$sunção de toda a personalidade pade&ente J

unidade da melan&oliaN a suprema&ia irrestrita dessa &ara&terísti&a so$re todas as outras% K isso o

:ue 8ier9egaard &hama de Oestar a ser"iço da ideiaPN e as nuan&es deste ser"iço podem ser

 per&e$idas em "Erias instn&ias pelas :uais o te/to &aminha% .sse um dos elementos no te/to :ue

 permitem &on&e$er a leitura do Co"em# a:uele em :uem a ideia se en&ontra em mo"imento# &omo

um apai/onado er"oroso de ato# mas &uCas atitudes dQ$ias ganham &arEter poti&o na medida em

:ue não &orrespondem J e/terioridade de um apai/onado# &omo se nele não hou"esse nenhuma

seriedade da &on&epção dessa ideia# enim# &omo se ele osse um esteta% Mas# se de ato se pode

&on&e$er algum traço de seriedade# esta se mostraria somente por um &aminho indireto e :uase

insondE"elN pois# se se &on&e$e a ideia &omo o a$strato da orma da interioridade# então não se pode

determinar :uantas mediaç<es são tra4idas para a atualidade eeti"a do personagem# pois ha"erE

sempre o des&ompasso entre a interioridade e o e/terior% De ato# no iní&io do relato# :uando o

 Co"em ainda não se mostrou atingido pelo dilema de&isi"o da pro"ação# a &onstatação de

+onstantius so$re o Co"em# de :ue Ono seu amor a ideia esta"a em mo"imentoP?33# mostra :ue hE

ainda um &erto &ompasso entre o "ir-a-ser do indi"íduo e a relação &om a ideia(

O%%% :uem não esti"er &on"en&ido de :ue# no amor# a ideia o prin&ípio da "ida e de :ue por

ela# se ne&essErio# pre&iso sa&rii&ar a "ida ou# o :ue mais # sa&rii&ar o próprio amor por

muito :ue a realidade o a"oreça# esse estE e/&luído da poesia% nde# pelo &ontrErio# o amor

esti"er na ideia# a &ada mo"imento# mesmo a mais ugidia emoção# nun&a serE sem

signii&ado %%%P?3?

.stas asserti"as# note-se $em# demonstram apenas o ponto de "ista de +onstantius so$re o

 Co"em# e não ne&essariamente mostram nem a maneira &omo o Co"em de"e por si só ser

&ompreendido nem &omo ele &ompreende a si mesmo% A ideia em mo"imento instaura uma relação

?33 *dem# p% ?1%?3? *dem# p% ?1%

I?

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do indi"íduo &om o real a partir de uma ideia :ue "i"ida na eeti"idadeN dito de outro modo#

esta$ele&e-se uma dialti&a &uCo undamento uma &isão entre real e ideal% Mas o pro&eder do

 Co"em não atinge a repetição# pois ele se &ara&teri4a pela reer,n&ia &onstante J ideia# :ue

 permane&e sempre# &ontudo# &omo um idealN sem :ue nessa dualidade o Co"em o re&onheça &omo

tal% u seCa# ele termina por não ser &apa4 de ir alm do ato romnti&o da re&ordação# ainda :ue seu

ser"iço J ideia &onstitua por si mesmo uma relação dialti&a entre um e outro# na :ual# toda"ia e por

&onse:u,n&ia desse mo"imento ser demasiado $rando# a repetição não tem &ondiç<es de surgir(

O:uerer ser"ir J ideia Z tam$m um ser"iço atiganteN por:ue nenhuma $eldade pode ser tão

e/igente &omo a ideia# nem o desagrado de nenhuma rapariga pode ser tão pesado &omo a &ólera da

idea# :ue a&ima de tudo impossí"el de es:ue&er%P?3

6e não se :uer a repetição# se não hE a seriedade e a persist,n&ia diante da pro"ação &omo

 pressupostos da &ons&i,n&ia# a repetição não pode surgir% K isso :ue torna o amor do Co"em ineli4N

Lon 6te=art enumera $em as ra4<es(

OA re&ordação no amor não pode ser realmente eli4 por duas ra4<es% 'rimeiro# re&ordar um

amor impli&a :ue ele CE não e/iste mais Z% 6egundo# a re&ordação de um amor antes da

sua &onsumação dolorosa CE :ue &onsiste num estado de in&erte4a e errn&ia de :uando o

resultado posto em dQ"ida% .m &ontraste# a repetição a Oa$ençoada segurança do

momentoP?3@% uando o amor tomado &omo um estado e não um pro&esso# então ele pode

ser &on&e$ido &omo a repetição ha$itual de aç<es espe&íi&as na "ida &otidianaP ?3%

De ato# a re&ordação designa sempre um mo"imentoN mas o mo"er-se da re&ordação para

trEs# sempre no sentido de resgatar algo :ue se perdeu# e para isso a insui&i,n&ia do ponto de "ista

do indi"íduo :ue re&orda 7 no sentido de :ue ele en&ontra-se sempre apartado do &onteQdo dessa

re&ordação 7 sempre enati4ada% *sso era algo patente na ilosoia so&rEti&a( a ignorn&ia so&rEti&a

mantm# na relação &om a re&ordação# a orma intele&tual mais undamental do :ue era para ele o

&onhe&imento# na medida em :ue todo ele dependia de uma re&onstituição da totalidade do passado%

.ssa re&onstituição o :ue apare&e no .onceito de Ironia &omo o &riar poeti&amente a si mesmo#

em oposição ao e:ui"alente religioso do dei1ar%se criar # :ue nem por isso dei/a de ser

esteti&amente determinado% ;al pro&edimento independe# nesse sentido# da segurança dada pela

identidade do suCeito &onsigo próprio# pois a re&onstituição do passado se dE no plano da pura

a$stração% .ri9sen o mostra da seguinte maneira(

Oo entendimento da relação de um ser humano &om a "erdade impli&ada pela tese de :ue

todo sa$er re&ordação de"e ser :ualii&ada por esta e/peri,n&ia de ignorn&ia e in&erte4a% K

?3 *dem# p% ?1%

?3@ A partir da tradução inglesa% .sse tre&ho &orresponde na edição portuguesa ao dito da repetição &omo a posse daOditosa &erte4a do instanteP% +% Repetição# p% 32%

?3 6;.bA);# LonN )ier*egaard9s Relation to 8egel Reconsidered # p% 20%

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de pou&o pro"eito sa$er :ue a "erdade repousa dentro de si próprio# se o suCeito mesmo

e"apora numa inspeção mais a&uradaP?3I

Fa4 parte portanto da orma undamental da re&ordação essa negati"idade :ue termina por

assolar o próprio suCeito e :ue &onstitui o elemento undamental da disposição melan&óli&a# :uando

se ultrapassa o &onte/to so&rEti&o do mero plano intele&tual a$stratoN não tanto pelo suCeito :ue se

sa$e eternamente apartado da:uilo :ue ele re&orda pelo próprio tempo# mas prin&ipalmente por:ue

ele se ", perdido nesse "E&uo em :ue &onsiste o próprio passado a partir do :ual ele &onstitui a si

mesmo% presente es"a4iado de sentido# e &omo tal não pode esta$ele&er nenhuma relação

 positi"a &om o passado ou &om o uturoN essa relação de aus,n&ia tradu4ida na relação do suCeito

irHni&o# :ue se:uer &hega a &onstituir uma su$Ceti"idade e/primí"el# pois a aus,n&ia de :ual:uer

determinação su$Ceti"a ou o$Ceti"a o :ue &onstitui a orma undamental de toda relação% K isso

:ue# em parte# 8ier9egaard pare&e :uerer apontar :uando &olo&a :ue esse ponto a$strato do nada

o Oponto de &oin&id,n&ia para as duas &on&epç<es :ue pro&edem seCa da místi&a su$Ceti"a# seCa da

ironiaP?3N &omo as Oaspiraç<es e nostalgiasP são sempre dire&ionadas para Oum tornar-se sempre

mais le"e# para um &on&entrar-se num su$limado sempre mais "olEtilP??0# a própria su$Ceti"idade

termina por se en&errar no nada ineE"el do misti&ismo su$Ceti"o% A negati"idade a$soluta da ironia

apare&e a:ui na sua mais determinante relação &om a re&ordação atra"s da própria repetição( o :ue

não pode ser es:ue&ido o por:ue nun&a oi re&ordado# mas tam$m nun&a este"e presente na

&ons&i,n&ia% 'or isso pode-se di4er# &om )immon-8enan# :ue a Orepetição não # assim# uma

reprodução de uma presença ante&edente mas uma produção &omo uma Vpeça de e/peri,n&ia realV% .

o :ue esta e/peri,n&ia presente repete no"amente a aus,n&iaP ??1%  A maniestação mesma da

aus,n&ia a4 &om :ue ela própria se torne presente en:uanto aus,n&ia# ou seCa# a:uilo :ue oi

re&ordado não oi em momento algum es:ue&ido% 'ortanto# a insui&i,n&ia da re&ordação a:ui se dE

 pois o seu &arEter negati"o só "em J tona para ela própria atra"s do mo"imento da repetição# em

:ue ela própria posta de maneira in"ertida%

K &urioso notar :ue tudo o :ue +onstantius airma so$re a insui&i,n&ia da re&ordação

apli&a-se tam$m J esperança# en:uanto instn&ia temporal anEloga J re&ordação% Rão se pode di4er

:ue esta &onstituiria um re&ordar para rente# pois esta a designação dada J própria repetição%

uando +onstantius a4 a &omparação do amor repetição &om a re&ordação# ele simultaneamente

introdu4 a esperança &omo uma orma similar J re&ordação( Oo amor da repetição o Qni&o eli4%

;al &omo o da re&ordação# não tem a in:uietação da esperança# não tem a alarmante a"entura da

?3I.)*86.R , R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a Reconstruction# p% I?%

?3.onceito de Ironia# p% @%??0*dem# p% @%??1)*MMR-8.RAR# 6%N T$e Parado1ical ;tatus of Repetition# p% 1@%

I@

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des&o$erta# mas tam$m não tem a melan&olia da re&ordação# tem sim a ditosa &erte4a do

instanteP??2% 6e se in&orre na tentati"a# de&erto um tanto inade:uada# de situar a repetição em

&ategorias temporais lineares 7 passado# presente e uturo &omo su&essão 7 então a repetição situa-

se pre&isamente no instante# no presente e"anes&ente# em$ora &onstitua um mo"imento de

so$rele"ação do próprio presente# o :ue impli&a numa no"a &on&epção de temporalidade ??3% A

esperança não um re&ordar para rente# mas uma proCeção da própria re&ordação para o uturo#

 pois o &onteQdo da esperança ele próprio uma re&onstituição de elementos a partir do passadoN sua

 pulsão en"ol"e mais propriamente um deseCo de restituição &uCo mo"imento enati4a# &omo na

re&ordação# o ato de :ue algo se perdeu eeti"amenteN a e/pressão da esperança apenas a de um

deseCo :ue no undo não :uer realmente uma restituição# não tem orças para airmar a atualidade

do próprio :uerer( Oa:uele :ue :uer apenas ter esperança &o"arde# a:uele :ue apenas :uer

re&ordar "oluptuoso# mas a:uele :ue :uer a repetição um homem# e :uanto mais energi&amente

or &apa4 de a tornar &lara para si próprio# tanto maior serE a sua proundidade &omo &riatura

humanaP???%

A re&ordação &onstitui um ponto de "ista da &ons&i,n&ia :ue tem em +onstantius a plenitude

do sa$er de si mesma en:uanto tal% Resse sentido# :uando +onstantius di4 :ue o Co"em uma

&riação poti&a dele próprio# se permitido pensar :ue pro"a"elmente a in&ompreensão do Co"em

 pelo seu &onidente se dE Custamente pela ininita pro/imidade entre os dois% A relação assemelha-se

a uma dialti&a entre dois opostos( +onstantius a:uele :ue não se mo"e# en:uanto no Co"em a

ideia estE em mo"imentoN a "isão do Co"em da:uele :ue sore passionalmente todos os re"eses da

"ida# en:uanto +onstantius# em$ora apai/onado pela "ida num outro sentido# permane&e &om

relação a ela num ponto de "ista e/teriorN dialti&a esta :ue# em "irtude da ininitude da

interioridade do Co"em e do des&ompasso a$soluto entre as &ategorias do repouso e do mo"imento#

não pode atingir um termo a$soluto% ;al pro/imidade se e/emplii&a ainda mais no ponto de "ista

de +onstantius so$re a melan&olia do Co"em( Oalgum &om esta nature4a não pre&isa de amor

eminino# algo :ue &uido de e/pli&ar a mim mesmo pela ideia de :ue numa e/ist,n&ia anterior o

indi"íduo oi uma mulher# e de :ue# agora :ue se tornou homem# &onser"a a re&ordação dissoP??%

6em muita dii&uldade pode-se notar o Cogo de rele/os presente nesse tre&ho( ao mesmo

tempo :ue +onstantius repro"a o Co"em por ha"er sido demasiado apegado J ideia ao aerrar-se ao

 poti&o# ele próprio pro&ura e/pli&aç<es no m$ito da re&ordação# na medida em :ue ela &onstitui-

se em ainidade &om a doutrina da alma reen&arnada :ue remete aos gregos% A disposição aními&a

eminina do Co"em e/pli&a a sua alta de orças para eeti"ar o plano &al&ulista do e/perimento e a

??2 A Repetição# p% 32%

??3 *sso serE tratado mais detalhadamente no &apítulo seguinte%??? *dem# p% 32%?? *dem# p% I%

I

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sua &ontenção no estado de suspensão% Mas o tremor :ue o Co"em espera se tradu4 num estado

eeti"o de superação em :ue# &ontudo# hE uma preser"ação do todo do passado en:uanto

re&ordação( Opor mais :ue ela me transorme# espero porm :ue a respe&ti"a re&ordação permaneça

&omigo &omo uma &onsolação inesgotE"el# :ue permaneça depois de me ter a&onte&ido a:uilo :ue

em &erto sentido temo mais :ue o sui&ídio# pois me a$alarE numa proporção dierenteP ??@% Rote-se

:ue o estado de suspensão anterior J repetição am$íguo tanto no :ue &on&erne J &on&epção da

re&ordação tanto :uanto J nature4a da:uilo :ue se e/ige da:uele :ue deseCa ardentemente a

repetição( a re&ordação tornar-se-E na própria repetição uma re&ordação# mas por outro lado a

repetição "iria a ser uma transu$stan&iação a$soluta# uma graça di"ina na :ual o Co"em airma :ue

ela OdestruirE por inteiro a minha personalidade# Z tornar-me-E prati&amente irre&onhe&í"el

 perante mim mesmoP??% Co"em deseCa uma ruptura tão radi&al :uanto a repetição# mas ao mesmo

tempo :uer :ue algo do passado seCa preser"ado# ainda :ue &omo um mero alento da in&isão do

sorimento# &omo um parmetro "ago para :ue essa transiguração seCa em alguma medida

mensurE"el% +ontudo# na medida em :ue su$siste a re&ordação de ato# ela &onstitui um elo da sua

 personalidade &om o passado# pois este &onstituti"o da &ons&i,n&ia# e não pode nessas &ondiç<es

"ir a ser repetido%

pressuposto a:ui o de :ue o es:ue&imento de ato o remdio &ontra o sorimento

gerado pela &ulpa imposta pela &ons&i,n&ia do passado e de :ue ele serE uma dEdi"a dada pela

repetiçãoN mas# por outro lado# não se pode &on&e$er :ue esta tenha sua eeti"idade sem :ue se

esteCa disposto a dei/ar a &arga do passado para trEs% +a$e perguntar se# em algum sentido# a

repetição :ue ele atinge oi em alguma medida es:ue&imento% .ri9sen mostra :ue# alm da orma

estti&a de es:ue&imento mostrada na Rotação de .ulti-os# em :ue ele um Oato de &ons&i,n&iaP#

 pode-se &on&e$er outra orma em :ue ele seria Ouma dEdi"a para a &ons&i,n&iaP# o :ue representaria

uma esp&ie de Oredenção do si na &onissão do pe&adoP# em :ue o indi"íduo e/purgado

a$ençoado &om Oum no"o &omeçoP% .sta seria a orma do es:ue&imento &omo repetição( Oo

signii&ado da repetição &omo a dEdi"a do es:ue&imento rela&ionada a esta redenção de si mesmo

na &ons&i,n&ia do pe&ado e na &erte4a do perdãoP??I% Mas o es:ue&imento &omo redenção não pode

a:ui ser &on&e$ido sem a &ategoria ti&a do arrependimento# na :ual a repetição torna-se de ato Oo

lema em :ual:uer intuição ti&aP# e a Oconditio sine &ua non  para todo e :ual:uer pro$lema

dogmEti&oP??% 'orm# o Co"em en&ontra-se a ser"iço da ideia# e +onstantius o$rigado a notar :ue

um Oser"iço atiganteP de tal nature4a re:uer uma seriedade de sa&rií&io at do próprio amor na

realidade# se ne&essErio# para sal"ar a idealidade poti&a e es&apar OJ &ólera da ideia# :ue a&ima de

??@ *dem# p% 12%

?? *dem# p% 12%??I.)*86.R , R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a Reconstruction# p% 1@%?? Repetição# p% 1-2%

II

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tudo impossí"el de es:ue&erP?0%  es:ue&imento em ser"iço de algo mais ele"ado não pode# por

&onse:u,n&ia# senão tradu4ir-se no es&uecimento de si pr5prioN e# nesse sentido# o es:ue&imento

dei/a de &ondi&ionar-se ao suCeito :ue :uer &riar-se a si mesmo# e o &ondi&iona a dei/ar-se ser

&riado# por meio do :ue ele re&e$e a si mesmo de "olta &omo uma dEdi"a# da mesma orma :ue

o&orre &om o Co"em% 'ortanto# Oes:ue&er a si mesmo a e/pressão "erdadeira do amorP ?1# mas

tam$m a &ondição para :ue o si mesmo seCa re&uperado pela repetição%

;udo isso mostra# ademais# :ue o :uerer do Co"em se &onstitui em alguma medida ainda no

registro da mediação# ao menos nessa etapa da narrati"a em :ue ele se en&ontra in suspenso graduN

sua personalidade remete nesse momento a uma esp&ie de Lohannes +lima&us :ue no entanto não

se mo"e# &omo este Qltimo# no plano da espe&ulação intele&tual mas sim no plano da sensi$ilidade

aními&a# da passionalidade de um apai/onado# não pela ideia# mas por uma moça% .le :uer de ato a

repetição# mas não se en&ontra preparado para ela# e# so$ esse prisma# +onstantius estE &erto em

di4er dele o :ue se di4 do Co"em do poema de erder( O:ueria de"eras a repetição# por isso te"e-a# e

a repetição matou-oP?2% 'or outro lado# o ato de a re&ordação dei/ar de ser uma penQria e passar a

ser um &onsolo demonstra# por sua "e4# :ue o próprio signii&ado do re&ordar tam$m

transigurado &om a repetição% K tam$m nesse sentido :ue ;sa9iri nota :ue Oem$ora 8ier9egaard

indi:ue o &urto al&an&e da noção de re&ordação# ele toda"ia a &onsidera &omo um mo"imento

indispensE"el :ue ante&ede a repetiçãoP?3% A re&ordação a:ui o :ue pro", a &ondição da

consciência eterna# e assim O&ondi&iona o ser humano a eetuar o mo"imento do arrependimento e

então a resignar-se na ininitudeP??% A própria possi$ilidade do es:ue&imento tam$m

transmutada radi&almente# na medida em :ue ele dei/a de ser uma uga e passa a ser uma redenção%

'or isso de"e ser lem$rado a:ui :ue essa &oniguração do poti&o en:uanto mera re&ordação

est+tica  não resume a totalidade da personalidade do Co"em# mas &orresponde apenas J:uele

momento da espera imó"el pela repetição% .ssa # pois# a in&ongru,n&ia do mo"imento deseCado

&om a imo$ilidade eeti"a na mediaçãoN a dialti&a a:ui não posta na eeti"idade# mas "em a

&onstituir-se apenas en:uanto um mo"imento interrompido# não &onsumado# o$struído pela própria

&ontradição no :uerer%

B A origem da mediação

?0*dem# p% ?1?1.)*86.R , R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a Reconstruction# p% I%?2 Repetição# p% I0% A:ui i&a &laro tam$m :ue o mo"imento da ideia :ue se en&arna na personagem do Co"em

 pre&isamente essa tensão entre o :uerer superar e o :uerer preser"ar# :ue tipi&o da Auf$e"ung # :ue suspende mas

ao mesmo tempo &onser"a# :ue ultrapassa mas remete J:uilo :ue oi ultrapassado# :ue supera mas re&orda%?3;6A8*)*# S%N )ier*egaard@  An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 1?0%??*dem# p% 1?0%

I

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Dierentemente da relação da repetição &om a re&ordação# &uCa identidade se dE na instn&ia

do mo"imento e da oposição en:uanto dial+tica# na medida em :ue nessa relação su$siste a

identidade e a dierença 7 am$as são mo"imentos# mas em direç<es opostas ?  7 a :uestão da

repetição# em relação &om a mediação# apare&e no te/to &omo uma mera suspensão e negação%

+omo +onstantius airma# Oa repetição propriamente a:uilo a :ue por erro se &hamou a

mediaçãoP?@% Dierentemente da primeira relação# em :ue o ponto de identidade o próprio

mo"imento 7 na medida em :ue tanto repetição :uanto re&ordação são mo"imento 7 e a dierença

se dE apenas no dire&ionamento do mo"imento# no :ue di4 respeito J relação da repetição &om a

mediação# não hE propriamente nenhuma instn&ia de identidade# a não ser mera semelhança

aparente# no sentido de :ue am$as &onstituem-se &omo resposta ao pro$lema do mo"imento# ou

"isam a es&lare&er Oa relação entre os .leatas e erE&litoP?% f primeira "ista# portanto# a mediação

se mostra apenas &omo uma alsa resposta a essa :uestão# num mo"imento meramente aparente# na

medida em :ue a &ar,n&ia de elu&idação do &on&eito pe&a ao permane&er sem Oe/pli&ar de onde

"em a mediação# se resulta do mo"imento de am$os os momentos en"ol"idos e em :ue sentido CE

estE &ontida neles# ou se algo no"o :ue "em a&res&entar-se# e# nesse sentido# &omoP?I%

A ideia da mediação apare&e na Repetição &omo um OalaridoP?# uma O&on"ersa idiotaP?@0#

em :ue o :ue su$siste a alsa impressão de mo"imentoN o mo"imento eeti"o# a repetição# dar-se-

ia numa arti&ulação dialti&o-rele/i"a# :ue no entanto teria uma eeti"idade negati"a# de tal modo

:ue a:uilo :ue se repete mantm-se sal"aguardado &omo uma interioridade determinada apenas

 para o suCeito% A órmula &ondensada no simples estamento( Oa dialti&a da repetição E&ilN

 por:ue a:uilo :ue se repete oi# &aso &ontrErio não podia repetir-se# mas pre&isamente o ato de ter

sido a4 &om :ue a repetição seCa algo de no"oP ?@1% +om eeito# a repetição a &ategoria :ue

e/pressa um mo"imento eeti"o para a rente# en:uanto a re&ordação para trEs% A :uestão &olo&ada

 por 8ier9egaard numa de suas anotaç<es mais &ontundentes(

OA ilosoia estE pereitamente &erta em airmar :ue a "ida de"e ser entendida para trEs% Mas

então se es:ue&e da outra &lEusula 7 :ue ela de"e ser "i"ida para a rente% uanto mais se

 pensa por meio desta &lEusula# mais se &on&lui :ue a "ida na temporalidade nun&a se torna

 propriamente &ompreensí"el# simplesmente por:ue nun&a# em tempo algum# se tem repouso

 pereito para se tomar a atitude( para trEs%P?@2

mo"imento de O"i"er para a renteP e a repetição podem ser lidos &omo :uerendo di4er o mesmo#

?.ste tema serE a$ordado em detalhes no item seguinte%?@ *dem# p% 0%? *dem# p% 0%?I *dem# p% 0-1%? *dem# p% 1%

?@0 *dem# p% 0%?@1 *dem# p% 1%?@2 Journal and Papers# *S A 1@? n%d%# 1I?3# p% 33%

0

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ao menos no :ue di4 respeito J oposição rente J re&ordação% Mas o mo"imento do entendimento

ainda um mo"imentoN a re&ordação# no sentido grego# ainda um mo"imento# dierentemente da

mediação# :ue poderia ser &onstituída &omo a tentati"a moderna de re&onstruir as mediaç<es do

 passado na atualidade presente# ou seCa# uma tentati"a de pHr em mo"imento o momento presente

a partir de uma tomada de &ons&i,n&ia da totalidade de determinaç<es :ue o &onstituem% Resse

sentido# a mediação depende da re&ordação# mas da re&ordação em sentido a$soluto# :uer di4er# na

&on&epção do passado &omo resol"ido numa unidadeN pois o &onhe&imento a$soluto depende da

unii&ação do &onhe&imento dessas determinaç<es numa totalidade%

 Ra re&ordação# a *inesis interpretada apenas logi&amente# o :ue torna o "ir-a-ser na

atualidade de todo o passado impossí"el# pois o passado &omo &ategoria temporal não pode por si só

ser tomado &omo o a$solutoN a re&ordação sempre uma orma limitada# inita# de o$tenção de

&onhe&imento# e o a$soluto# &on&e$ido em unção da initude da re&ordação# "em a ser ele próprio

&arente de uma positi"idade J altura da &ompletude por ele e/igida% 'orm# uma maneira distinta de

interpretação da *inesis  aristotli&a# so$ a &ha"e não da lógi&a# mas da e/ist,n&ia# na:uilo :ue

O&orresponde J &ategoria moderna de VtransiçãoVP?@3  e a :ual +onstantius di4 :ue Omere&e ser

espe&ialmente le"ada em &ontaP?@?# pode ser esta$ele&ida para &ompreender o seu signii&ado na

repetição% .ssa a &ompreensão de .ri9sen(

O%%% 8ier9egaard interpreta essa deinição mais e/isten&ialmente :ue logi&amente%  )inesis

então "em a denotar uma transição e/isten&ial em :ue o indi"íduo passa de um estado de

 possi$ilidade ou não-ser para um estado de atualidade ou ser% 6e esta uma interpretação

&on"in&ente de Aristóteles# tal"e4 não seCa uma :uestão importante nesse &onte/to% ponto

 para +onstantius pare&e ter sido :ue essa noção mostra :ue a :uestão do signii&ado do de"ir

não ha"ia sido resol"ido de maneira e/isten&ialmente &on"in&ente &om a &ategoria da

re&ordação% A &ategoria grega da *inesis en&ontra-se em desa&ordo &om a re&ordação ZP?@

A &ríti&a de +onstantius J OmediaçãoP a4 reer,n&ia ao seu uso &onstante por egel na

.iência da '5gica% Mediação# no entanto# apenas uma designação a$strata para o tipo de

mo"imento :ue se dE no sistema hegeliano# em :ue a transição ela mesma designada &omo

 Auf$e"ung # tradu4ida &omo suprassunção# mas tam$m por "e4es rele"ação ou superação%

mo"imento &onsiste# &omo sa$ido# numa dupla a&epção de ultrapassagem e negação# mas ao

mesmo tempo uma so$rele"ação e &onser"ação# a um só tempo% A dialti&a da  Auf$e"ung  se dE na

medida em :ue a negação de um positi"o passa a ser per&e$ida &omo determinadaN a oposição passa

a ser "ista então &omo uma unidade sintti&a# na medida em :ue o elemento pensado  produL  na

eeti"idade espe&ulati"a o seu &ontrErio# e a oposição assim superada na medida em :ue ela

?@3 *dem# p% 1%?@? *dem# p% 1%?@ .)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .oncept of Repetition@ a reconstruction# p% 11 7 11I%

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 própria passa a &onstituir um elemento em mo"imento# :ue produ4 no"amente o seu &ontrErio e

então suprassumido su&essi"amente% .ssa &adeia de superaç<es su&essi"as re&onstruída pela

&ons&i,n&ia-de-si da e/peri,n&ia enomenológi&a# :ue erige &ada etapa# &ada passagem de momento

da &ons&i,n&ia para outro# &omo uma mediação eeti"a da &ons&i,n&ia históri&a% u# dito de outro

modo# O&on&eitos indi"iduais geram seus opostos# e então esses pares de &ategorias são mediadas#

 produ4indo assim no"os &on&eitosP?@@%

A &ríti&a de +onstantius 7 Ode onde "em a mediaçãoP?@  7 se en&aminha de &erta maneira ao

modo &omo esta mediação passí"el de eeti"idade na medida em :ue a  produção dos &ontrErios se

dE a partir do mo"imento eeti"o pressuposto no próprio &on&e$er espe&ulati"o# portanto# lógi&o e

a$strato# do elemento positi"o do :ual se parte?@I% A &ompreensão de egel a:ui seria a do

mo"imento &omo algo :ue parte da ess,n&ia pensada a partir do o$Ceto e/istente# e portanto &omo

algo concreto# presente ele próprio na ess,n&ia das &oisas# portanto# imanente J totalidade do

 pensamento% 'orm# essa geração de &ontrErios não algo :ue possa ser dete&tado na realidade

eeti"a# mas se dE apenas na a$stração do &on&eito# e :ue tomado ar$itrariamente &omo se osse o

mo"imento reali4ado na:uela% Ademais# a &onusão eludida por +onstantius entre os &on&eitos de

repetição e mediação se dE :uando se &on&e$e :ue o mo"imento da  Auf$e"ung ele próprio de

negação# mas tam$m de &onser"ação# em :ue# ao longo do pro&esso de ele"ação e enri:ue&imento

disposto no sistema# :ue instaura inad"ertidamente a repetição na própria dialti&a espe&ulati"a(

ORa dialti&a de egel# hE um sentido da repetição em :ue os "Erios &on&eitos e &ategorias

repetem-se nos "Erios ní"eis do sistema% Z +onstantius airma :ue# sendo o mo"imento na

ógi&a somente um mo"imento de &ategorias a$stratas# então esse mo"imento imanente ao

 pensamento mesmo% .le não mantm nenhuma relação &om nada ora do pensamentoP?@%

A repetição desses elementos não re"oga a totalidade da iman,n&ia# mas "ista apenas &omo a

mediação de um mais ele"ado rumo J totalidade% Mas essa totalidade mesma não ultrapassada# ela

o pressuposto de toda rele"ação &uCo mo"imento se dE de si para si mesma# mantendo-se#

 portanto# imó"el na sua identidade a$strata% Daí di4er-se :ue o mo"imento de uma &ategoria

a$strata para outra um mo"imento inaut,nti&o# e :ue Oa repetição a sugestão para um &on&eito

anElogo J mediação mas na esera da li$erdade Z A repetição o &on&eito apropriado para a

esera da li$erdade pois ela representa uma relação de trans&end,n&iaP?0# e não mais do pensamento

imanente% Daí poder-se alar de um mutismo no &erne da doutrina da Auf$e"ung # pois este signii&a

?@@6;.bA);# L% )ier*egaard9s Relation to 8egel Reconsidered # p% 23%?@ Repetição# p% 0%?@I+omo e/emplo# pode-se tomar a dialti&a do ser e do nada :ue engendram o de"ir% ser o ser por:ue não o

nada# mas nessa deinição de ser o nada CE estE &ontido 7 portanto ser e nada são o mesmo# e :uando postos nessa

dialti&a se o$tm assim o de"ir( o ser :ue se torna nada e o nada :ue "em a ser%?@6;.bA);# L%N )ier*egaard9s Relation to 8egel Reconsidered # p% 2?%?0*dem# p% 2?%

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um alerta entre Oos partidErios do lu/o :ue a4em muito $arulho so$re o de"ir# :uando o :ue eles

t,m &omo truno na manga apenas a :uietude silen&iosa da Auf$e"ung P?1% A lógi&a &onstitui assim

um mero desdo$ramento da ne&essidade# e o seu mo"imento &on&eitual não produ4 :ual:uer

mudança eeti"aN hE dessa orma muito alatório so$re mo"imento# mas não se ", mo"imento

algum% 6e o mo"imento ele mesmo uma ne&essidade imanente# alha-se em ",-lo &omo uma

tarefa da e/ist,n&ia( OCE :ue egel entende o de"ir &omo a ess,n&ia mesma da e/ist,n&ia# ele alha

em ",-lo &omo uma tarea :ue :ualii&a a e/ist,n&iaP ?2% 6e# por outro lado# se en&ara o mo"imento

&omo tarea# as determinaç<es ne&essErias podem elas mesmas serem trans&endidas# o :ue instaura

a repetição# desse modo# &omo a &ondição primeira da li$erdade%

A possi$ilidade de se instaurar um ponto de "ista a$soluto a partir do :ual a totalidade possa

ser "islum$rada a possi$ilidade mesma do espe&ulati"o &onstruído por meio da mediação# &ontra

o :ual a repetição se &olo&a &omo &on&eito% . isso se &onigura atra"s da repetição &omo O&ríti&a

eeti"a J espe&ulação a$strataP# e &omo O&ríti&a ao pensamento representati"o imposta pela

apli&ação negati"a do &on&eitoP?3( diante da &ons&i,n&ia da initude da e/ist,n&ia e da tentati"a da

&onstituição espe&ulati"a do a$soluto# a repetição en:uanto interesse da metaísi&a a4 &om :ue esta

naurague na medida em :ue ela mesma se torna limitada pela initude da e/ist,n&ia% Resse sentido

metaísi&o# o interesse a:ui se reere J &ondição de pro/imidade do ser# &on&e$ida distintamente da

identidade ontológi&a entre ser e pensar% interesse da metaísi&a &onstituído pela repetição a

instauração de um &ampo distinto do a$soluto pensado nessa relação% A repetição apare&e na

trans&end,n&ia :ue depende# na sua própria &on&epção# do esta$ele&imento de um limite% Mas esse

mo"imento de limitação &onstitui tam$m o mesmo mo"imento de instauração da repetição &omo

interesse da metaísi&a# em$ora não se en&ontre mais restrito a ela# dado :ue a metaísi&a ela mesma

nauraga pois depende não somente da totalidade do a$soluto# &omo tam$m da própria e/ist,n&ia#

 pois agora a possi$ilidade da totalidade CE apare&e so$ a determinação do negati"o% K nesse sentido

:ue a repetição opera &omo uma &ríti&a ao espe&ulati"o( o ra&asso da metaísi&a dire&iona o

interesse para a totalidade da initude da própria e/ist,n&ia# e uma mediação espe&ulati"a &om o

a$soluto não representa diante desse interesse nada de eeti"o% 'ode-se alar nesse sentido de um ir-

alm &om relação ao ponto de "ista espe&ulati"o na medida em :ue a metaísi&a ra&assa# mas esse

ra&asso aponta ele mesmo para uma e/peri,n&ia da:uilo :ue situa-se para alm dela própria e nos

limites de toda possi$ilidade de &ategori4ação%

.ssa a mesma separação :ue se ", entre as eseras da ne&essidade# em :ue situada a

mediação# e a esera da li$erdade# em :ue propriamente se situa a repetição% +omo mostra 6te=art#

?1+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% @%?2.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .oncept of Repetition@ a reconstruction# p% 120%?36egundo GRXA.X# D%N 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I0%

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a '5gica hegeliana ainda tem a:ui sua "alidade# e a &ríti&a 9ier9egaardiana a egel não totalmente

e/&ludente por ainda preser"ar &ertos elementos do pensamento hegeliano( Onão o$stante# ele

\8ier9egaard] &on&ede :ue a doutrina da mediação de egel ou da Auf$e"ung  da lei do ter&eiro

e/&luído &orreta :uando limitada J Vesera da ne&essidadeVP??% A esera da li$erdade ne&essitaria#

 portanto# de uma &on&epção de temporalidade radi&almente distinta da:uela &on&ernente J da esera

da ne&essidadeN esta Qltima re:uer uma re&onstrução da linearidade se:uen&ial dos elementos

temporais# ao passo :ue a repetição airma nesse &onte/to uma simultaneidade não se:uen&ial dos

elementos do tempo# &onstituindo assim uma Osuspensão da ordem temporal do antes-depois no ou

 pelo :ue o agora oi &hamado de instanteP?% A mediação re&onstitui essas &ategorias temporais e

intenta reatuali4E-las no presente# mas nisso termina por des&onsiderar a esera da li$erdade# e por

&onseguinte o próprio instaurar-se da plenitude do sentido no presente# pois a re&onstituição da

totalidade das mediaç<es parte da pressuposição assumida sem mais de uma totalidade plenamente

eeti"ada :ue as &onstitui% A aus,n&ia dessa mediação :ue d, sentido J repetição na e/ist,n&ia o

:ue possi$ilita a &on&epção da eeti"idade da repetição &omo uma pro-ação(

OA &i,n&ia estuda e e/pli&a a e/ist,n&ia e a relação do homem &om Deus no m$ito da

e/ist,n&ia% ra# :ue &i,n&ia estE &onstituída de tal modo :ue nela haCa lugar para uma relação

:ue se deine &omo uma pro"ação# a :ual# pensada em termos ininitos# não e/iste# antes

apenas e/iste para o indi"íduo^ !ma tal &i,n&ia não e/iste e não pode e/istir% A&res&e ainda(

&omo &hega o indi"íduo a sa$er :ue se trata de uma pro"ação^P?@

A repetição trans&endente# pois a pro"ação não apare&e &omo uma &erte4a o$Ceti"a# mas

 plenamente interior# na :ual o indi"íduo se sustenta pela orça do a$surdo( Oa &ategoria da pro"ação

a$solutamente trans&endente e &olo&a o indi"íduo numa relação puramente pessoal de oposição a

DeusP?% ;al &ondição indi"idual não pode ser simplesmente elu&idada ou de&omposta

analiti&amente por um Cuí4o e/teriorN a &omuni&ação desse tipo de relação es&apa a :ual:uer

dis&urso no :ual se pretenda uma relação direta entre o o$Ceto e o di4er# ou seCa# entre as &oisas e o

 'ogos# uma identidade entre ser e pensar ?I%

A posição de Ló se esta$ele&e para ele próprio# segundo o Co"em# &omo uma pro"ação# mas

 para :ue ela su$sista para ele en:uanto tal# ele não pode esta$ele&er &om ela nenhuma relação

??6;.bA);# L%N )ier*egaard9s Relation to 8egel Reconsidered # p% 302%?M.B.)G# A%N  Repetition MIn T$e )ier*egaardian ;ense f T$e Term4# p% 3% sentido temporal do instante na

relação &om a repetição serE melhor detalhado nos &apítulos seguintes%?@ Repetição# p% 11# 120%?*dem# p% 121%?IResse sentido# o próprio impulso por uma $us&a desta mesma relação in&ide no mo"imento su$Ceti"o de

+onstantius# para :uem o mo"imento da ininitude se tradu4 num mo"imento pendular# e só "em a ser suspenso namedida em :ue para ele o interesse se &onigura na personalidade do Co"em# em "irtude do :ual ele passa a se&onstituir en:uanto o$ser"ador% .sse interesse se imis&ui do ato de :ue o amor ineli4 do Co"em "em a ser uma

 preiguração e/isten&ial da &isão metaísi&a undamental# de modo :ue a &isão epistemológi&a entre suCeito e o$Cetodo &onhe&imento poderia ser poeti&amente tradu4ida numa Orelação de amor ineli4P% 'ara maiores detalhes# &%.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% 1I%

?

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 positi"a# em :ue ele possa sa"er  a si mesmo &omo a:uele :ue estE sendo posto em pro"a% A &i,n&ia

O:ue estuda e e/pli&a a e/ist,n&ia e a relação do homem &om Deus no m$ito da e/ist,n&iaP

dependeria# en:uanto &i,n&ia# de um pro&esso representati"o direto :ue não poderia pres&indir de

uma mediação &om o geral# e por isso Ouma tal &i,n&ia não e/iste e não pode e/istirP ?% Mesmo o

sa$er da pro"ação so$ os auspí&ios da dogmEti&a# a :ual "em a ser desen"ol"ida no .onceito de

 AngHstia &omo essa O&i,n&iaP# mas CE em outro sentido# tem para o Co"em um eeito anElogo( Ologo

:ue um tal sa$er entra em Cogo# a elasti&idade da pro"ação ",-se enra:ue&ida e a &ategoria passa a

ser eeti"amente outraP?I0% !ma airmação desta nature4a não pode ser lida senão &omo irHni&a# na

medida em :ue a própria pro"ação de alguma maneira aludida no dis&urso% A própria

 possi$ilidade de en/ergar a pro"ação &omo uma &ategoria passí"el de uma Yelasti&idadeY CE mostra

em :ue sentido a trans&end,n&ia# em$ora não se preste a um sa$er eeti"o# pode ser su$metida a um

 pro&esso dialti&o negati"o em :ue ela "enha J tona de maneira indireta% :ue mostra no"amente o

elemento estti&o a ser-iço do trans&endente ineE"el do :ual se pretende alar sem :ue no entanto

se &aia na "a&uidade do dis&urso mediati"o%

K nesse sentido :ue o  sa"er filos5fico  propriamente dito mantm &om a repetição uma

relação negati"a( na medida em :ue o sa$er introdu4ido# a &ategoria da repetição se retrai por sua

 própria nature4a% 'orm# &omo olmgaard ad"erte# Oisso não signii&a :ue a ilosoia não mantenha

nenhuma relação &om a repetição# mas meramente :ue esta relação de"e ser de&isi"amente

negati"aP?I1% A:ui tam$m se insere a relação undamental da repetição &om a metaísi&a &omo

interesse( na mesma medida em :ue a metaísi&a de"e ser desinteressada# a repetição ainda não oi

 posta# pois todo o mo"imento eeti"ado o da re&onstituição dos elementos do passado por meio de

&adeias de mediação# &uCo Oimpulso se&reto e inesgotE"elP # segundo Gon4ale4# Ouma reparação da

"erdade perdidaP?I2% Mas o interesse posto impli&a em uma indi"idualidade &omprometida &om a

sua e/ist,n&ia# e portanto &om o seu uturoN a e/ig,n&ia então de um mo"imento para rente# o :ue

a metaísi&a undamentada na mediação não &apa4 de &omportar% 'or isso a repetição e/ige Ouma

a$ertura e1 ni$ilo de possi$ilidades sempre reno"adasP?I3% .m "irtude desse e1 ni$ilo &omo ponto

de partida , a repetição# nesse sentido# não ne&essariamente de"e manter uma relação positi"a &om a

metaísi&a# pois ela pressup<e um mo"imento de suspensão em :ue todo o &onteQdo do passado# da

mesma orma :ue todo o &onteQdo do geral 7 am$os determinados por meio da mediação dialti&a 7

posto a$ai/o da possi$ilidade da li$erdade do indi"íduo( nesse sentido :ue olmgaard airma

:ue Oa ilosoia deseita pelo o$Ceto da sua rele/ãoP ?I?N a repetição # desse modo# indierente Js

?*dem# p% 120%?I0*dem# p% 120%?I1MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% 3%

?I2GRXA.X# D%N 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I?%?I3GRXA.X# D%N 'a Repetici5n 2 su E1periencia# p% I?%?I?MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% 3%

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&on:uistas do sa$er o$Ceti"o# pois ela unda a possi$ilidade da su$Ceti"idade por meio de uma

e/&lusão do geral# e portanto da mediação%

'ortanto# a oposição da mediação J repetição signii&a# do ponto de "ista metaísi&o# a

instauração da repetição &omo o paradigma para uma ilosoia da &ons&i,n&ia :ue# dierentemente

dos moldes enomenológi&os em :ue a &ons&i,n&ia re&onstruída olhando para trEs# o indi"íduo "isto &omo algo a ser de&idido a todo instante# ou ainda# dito de outro modo# &omo um  projeto para

o futuro?I%

A condição de possi"ilidade para a repetição do ponto de -ista est+tico

+omo oi "isto anteriormente# o &on&eito de repetição dialeti&amente determinado a partirdo &on&eito de re&ordação# em :ue a repetição "em a ser deinida en:uanto mo"imento 7 no :ue ela

se identii&a &om a re&ordação# em$ora dieren&ie-se no seu dire&ionamento% )e&ordar mo"er-se

 para trEs# e a repetição um mo"er-se para rente% mo"imento # no entanto# &ompreendido a:ui

em dois sentidos distintos# analogamente J distinção entre &onhe&imento e "ida( mo"er-se para trEs

&ompreender ou &onhe&er# e o mo"er-se para rente propriamente "i"er% A própria órmula da

Odialti&a da repetiçãoP atesta essa interdepend,n&ia entre repetição e re&ordação(Opor:ue a:uilo

:ue se repete oi# &aso &ontrErio não podia repetir-se# mas pre&isamente o ato de ter sido a4 &om

:ue a repetição seCa algo de no"oP?I@N a possi$ilidade mesma da repetição depende de alguma orma

de :ue a:uilo :ue oi seCa de alguma orma resgatado# tra4ido J tona para :ue seCa ini&ialmente

&onstatado &omo algo perdido% .sta &onstatação depende inten&ionalmente da re&ordação# pois

nesta torna-se eeti"a a idealidade da retomada% A:uilo :ue oi só passa a ser "isto &omo tal por

meio da re&ordaçãoN e a possi$ilidade da dQ"ida só apare&e :uando a ideia# na sua identidade

&onsigo própria 7 ou seCa# na idealidade 7 ultrapassa nesse sentido a si própria na eeti"idade# do

 ponto de "ista da &ons&i,n&ia( a ideia passa a maniestar o em$rião de sua eeti"idade%

Mas a:ui o mo"imento eeti"o da repetição tem apenas a disponi$ilidade de suas &ondiç<es%

?I pro$lema do papel da &ons&i,n&ia indi"idual &om relação J repetição $em &olo&ado no es$oço de 8ier9egaardso$re Lohannes +lima&us# o De mni"us Du"itandum Est # em :ue a &ons&i,n&ia apare&e &om a instn&ia em :uea:uela separação entre &onhe&imento e "ida en&ontra o seu ponto de tang,n&ia% Ali en&ontra-se muito $em des&rita amaneira &omo a &ons&i,n&ia se instaura a partir do O&ho:ueP da idealidade e realidade# no :ue ela "em a se &onstituir&omo algo e/istente e não mais uma a$stração espe&ulati"a% A relação undamental des&rita ali entre o real e oideal# entre o mundo e a linguagemN e &uCa &ontradição tem &omo lugar de &ho:ue a &ons&i,n&ia# :ue permane&e umsu$strato alheio J própria di&otomia% A:ui "em a ser enati4ado o &arEter tricotNmico  desta relação# em :ue a&ontradição produ4ida pela dupli&idade do ideal e do real na &ons&i,n&ia( ela a relação entre as duas% .ssadialti&a um outro registro em :ue a repetição# en:uanto uma :uestão e/pli&itamente posta# se torna de&isi"a%

Ademais# essa relação transposta para o te/to da repetição so$ a orma da dialti&a da e/&eção# a partir da :ual oindi"íduo surge na orma do poti&o%

?I@ *dem# p% 1%

@

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A re&ordação di4 respeito J:uilo :ue oi% Rão se pode di4er :ue a órmula impli:ue dialeti&amente

na asserti"a de :ue a re&ordação ante&ede temporalmente a repetiçãoN o ato de a repetição tra4er

algo de no"o so$ a mesma determinação da:uilo :ue ha"ia sido sustenta de alguma orma :ue na

repetição hE ainda um distan&iamento do :ue "em a repetir-se da eeti"idade da &ons&i,n&ia% Mas

:uando a repetição &on&erne J própria ele"ação da &ons&i,n&ia a uma pot,n&ia superior# &omo di4

+onstantius# Ona esera da li$erdadeP?I então nesta ele"ação ela de"e manter a si mesma so$ a

 própria determinação da ele"ação% *sso signii&a :ue de"e permane&er a possi$ilidade de :ue ela

seCa &apa4 de "er a si própria não só &omo agente da própria ele"ação# mas tam$m de tomar

&ons&i,n&ia da dierença de ní"el :ue ela mantm nesse no"o patamar &om relação ao estado

anterior% Dito de outro modo( a repetição de"e ser para a &ons&i,n&ia algo passí"el de aper&epção

auto&ertii&adaN ela de"e &onter a mar&a do in&onundí"el# em$ora não seCa ne&essariamente

 passí"el de e/pressão% Assim o para o Co"em( a ele não es&apa a &erte4a da eeti"idade em$ora o

es&ape a +onstantius da repetição :uando ele e/&lama de todo o &oração( O"oltei a ser eu mesmoN

eis :ue tenho a repetiçãoN entendo tudo e a e/ist,n&ia surge-me agora mais $ela do :ue alguma

"e4P?II% imediato de ato superado em :ue o "elho se airma &omo talN aí pre&isamente situa-se o

interesse da &ons&i,n&ia# na:uilo em :ue o :ue CE oi apare&e na sua &ompletude 7 inter-esse pois

não se trata mais do imediato em :ue ela estE de posse do elemento em :uestão# nem tampou&o da

resolução em :ue ela "eio a re&uperE-lo%

'ara :ue o o$Ceto da repetição seCa dado &omo "elho# ne&essErio em alguma medida um

mo"imento de distan&iamento# em :ue seCa dada a própria ne&essidade da repetição# e se eeti"e

assim a &ons&i,n&ia interessada% Mas este mo"imento de distan&iamento ele próprio imanente J

totalidade da ideiaN ele &onstitui por assim di4er o momento negati"o da re&ordação 7 # portanto# o

es:ue&imento% Mas o es:ue&imento &on&e$ido# desse modo# &omo uma mediação negati"a# p<e a

ne&essidade de esta$ele&er as &ondiç<es de possi$ilidade do es:ue&imento% *sso eito pelo esteta A

na Rotaç7es de .ulti-os% Ro entanto# :uando o esteta se dE &onta de :ue# no simples enun&iar :ue se

es:ue&eu de algo# de alguma maneira CE re&orda-o# ele introdu4 o elemento do nil admirari%

*nstaura-se desta maneira o distan&iamento da prud,n&ia &omo orma de "ida e o

des&omprometimento :ue &ara&teri4a a indeterminação do "i"ente estti&o% Resse &onte/to#

:ual:uer repetição meramente negati"a# e a repetição eeti"a da &ons&i,n&ia apare&e en:uanto

impossi$ilidade% Ro entanto# este ponto de "ista pare&e não se dar &onta de :ue o negati"o do

es:ue&imento ele próprio ines&rutE"elN e# ao se airmar :ue o es:ue&imento não pode ser um

&on&eito imediato por:ue depende do &onteQdo da re&ordação para esta$ele&er-se &omo negati"o#

de"e-se &on&eder :ue não possí"el separar um do outro% ;odo re&ordar tem &omo determinação

?I !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30%?II Repetição# p% 131%

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essen&ial um tornar-se &ons&iente do es:ue&imentoN somente nesse sentido pode-se designar o

&onteQdo positi"o do primeiro originErio# muito em$ora apenas por meio da idealidade%

Determinar o :uanto de es:ue&imento hE na re&ordação uma :uestão :ue de"e

ne&essariamente pHr o interesse da &ons&i,n&ia# na medida em :ue ela depende da determinação do

 primeiro &omo algo perdido# ou seCa# da instauração do "elho en:uanto tal% *sso não pode dar-se deoutro modo# pois todo &onteQdo de re&ordação em &erto sentido uma determinação da idealidade

na &ons&i,n&ia% Ra medida em :ue se re&orda algo# CE se o perdeuN e nesse sentido :ue o amor-

re&ordação do Co"em Oha"ia dado um passo tão terrí"el :ue saltara por &ima da "idaP ?I e &omeçado

a relação &omo se esta CE esti"esse terminada% A &olisão :ue se dE na &ons&i,n&ia do Co"em a da

realidade sendo progressi"amente esgotada de todas as possi$ilidades# &om a idealidade &ada "e4

mais ideal da ideia perdida por meio da re&ordação% ato da re&ordação e do es:ue&imento serem

&on&eitualmente tão apro/imados tende# no entanto# a a4er &om :ue a reatuali4ação da tonalidade

aeti"a# o &onteQdo do primeiro originErio# se d, para a &ons&i,n&ia de maneira &ada "e4 mais tur"a

e distanteN por isso a re&ordação não Osal"a o sentimentoP ?0# &omo a repetição de"e a4er% A

repetição# ao &ontrErio# se &ara&teri4a &omo a ideia em mo"imentoN por essa e/pressão pode-se

entender não somente :ue essa insui&i,n&ia da re&ordação oi superada# de modo :ue a ideia agora

tenha sempre a possi$ilidade de tomar seu espírito em toda a sua plenitude# &omo tam$m :ue ela

se torna &onstituti"a da própria &ons&i,n&ia# na medida em :ue esta tem a sua determinação

undamental no poti&o engendrado por essa ideia%

Desse modo# a repetição &apa4 de reali4ar o :ue na re&ordação não possí"el# a sa$er( a

atuali4ação eeti"a da ideia na e/ist,n&ia% A:uilo :ue &om ela se restaura mantm para ela

 parado/almente ao mesmo tempo a sua &onstituição do "elho# do primeiro originErio# e tam$m a

insígnia do no"o# so$ um mesmo aspe&to# de orma :ue toda a negati"idade 7 :ue# &om relação J

re&ordação# apare&ia dialeti&amente so$ a orma do es:ue&imento 7 assim dominada e su$metida

aos moldes estti&os do poti&o% A Oe/altada &rença na mulherP?1 :ue a4 parte da personalidade do

 Co"em o :ue dE a ele essa irme4a de determinação# em$ora ele de"a# &om relação a ela# tornar-se

 poeti&amente li"re para :ue a repetição se d, desta maneira% 'ara isso ne&essEria# no"amente# :ue

a ideia se d, &omo uma totalidade% ;orna-se então "isí"el a eeti"idade da dialti&a da repetição &om

relação J re&ordação( se a repetição uma reapropriação# uma retomada# ela indi&a a originariedade

do primeiro não mais &omo uma tonalidade aeti"a a ser ruída esteti&amente# mas &omo uma

e/peri,n&ia em si resol"ida# &uCa tonalidade torna-se a &ondição para uma no"a eeti"ação do

mo"imento# em :ue o estti&o apare&e so$ a insígnia da produção poti&a%

?I*dem# p% 3%?0*dem# p% 12I%?1*dem# p% 12%

I

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A asso&iação :ue se a4 deste domínio e/er&ido pela negati"idade e:ui"ale J igura da ironia

dominada% A ironia por si só designada &omo o ponto de "ista negati"amente determinadoN o :ue

em 6ó&rates se tradu4 no limite da ironia pela ideia?2% K nesse sentido :ue 8ier9egaard airma

tam$m :ue O6ó&rates &hegou J ideia de dialti&a# mas não possuía de Ceito nenhum a dialti&a da

ideiaP?3N ele não a4ia &om :ue a ideia de dialti&a em sua negati"idade atingisse a Opositi"idade

 prounda e ri&a de &onteQdoP atra"s do pro&esso em O:ue ela &hegue a &ons&ienti4ar-se de si

mesmaP# pois Oa mantinha &onstantemente apenas &omo possi$ilidade :ue Camais se torna"a em

realidadeP??% As aporias so&rEti&as são um indí&io da:uela &ontradição da &ons&i,n&ia &uCa

ininitude# ao sustentar-se na possi$ilidade ininita# torna"a o sa$er :ue tem o negati"o &omo ponto

de partida uma tarea ininita% +omo mostra ;sa9iri( O!ma tal tarea tal"e4 nun&a seCa &ompletada#

mas isso dii&ilmente redu4 a sua dinmi&a CE :ue# &omo um mo"imento aporti&o# ela a$re para

ininitas possi$ilidadesP?% Ro :ue di4 respeito J ideia de dialti&a# de"e-se assinalar :ue sua

e/pressão e/terior se dE sempre no negati"oN porm# a dialti&a da ideia# :ue designa pre&isamente

a ideia da ironia dominada# pressup<e uma positi"idade na ideia :ue# se se torna determinante na

sua e/teriori4ação# termina por limitar esta a$ertura para a possi$ilidade# instaurando assim a

seriedade do próprio &ompromisso &om a ideia% :ue a&onte&e &om o Co"em da repetição# no

entanto# des&re"e-se da seguinte maneira( a ideia por assim di4er o$struída na sua menor tentati"a

de e/pressão assinalada e direta# de tal modo :ue ela se tradu4 na eeti"idade por meio do poti&oN

ou seCa# da mesma orma :ue o&orre &om a repetição en:uanto &on&eito# a ideia religiosa do Co"em

en&ontra-se para alm de :ual:uer mediação positi"a# e resta apenas o mtodo indireto de alusão

negati"a# :ue resulta ao im de tudo em aporia%

+ontudo# a aporia não a$solutaN o Co"em de ato atingiu alguma gradação da repetição# e

isso CE permite :ue algo a&er&a dela seCa dito% A possi$ilidade não mais uma ininitude

indeterminadaN o :ue le"a a &on&luir :ue pode-se atri$uir J repetição uma Odialti&a da ideiaP

apropriada% s ras&unhos de 8ier9egaard :ue pre&ederam a es&rita do De mni"us Du"itandum Est

tra4em algumas rele/<es enri:ue&edoras nesse sentido% Ruma das primeiras &onsta( Oa:ui a dQ"ida

 poderia ser suspensa 7 se assume :ue não hE repetição% Mas isto não pode ser eito sem :ue se

 ponha uma repetiçãoP?@% .sta airmação de"e ser tida &omo uma das mais signii&ati"as &om

respeito ao un&ionamento da dialti&a :ue en"ol"e a &olo&ação da pergunta so$re a repetição :ue#

&omo o li"ro mostra# não se dE na orma da pergunta so$re a essência da repetição# mas sim so$re o

?28ier9egaard airma :ue O6ó&rates tinha a ideia &omo limiteP% +% .onceito de Ironia# p% 13%

?3*dem# p% 13%??*dem# p% 13%

?;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 2%?@Oere $ou$t &ould $e $ro9en o 7 one assumes that there is no repetition% But it &annot $e done =ithout positing a

repetitionP% +% JP *** 32  Pap% *S B 10(3# ?# I# n%d %# 1I?2-?3# op% &it% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%

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seu signii&ado e possi$ilidade% A nature4a dessa pergunta undamental não pode ser disso&iada da

dQ"ida# CE :ue# ao mesmo tempo :ue a dQ"ida in&ide so$re a eeti"idade da repetição na medida em

:ue ela mera possi$ilidade# ela su$siste mesmo :uando uma resposta negati"a "em J tonaN o :ue

le"a a pressupor :ue# em Qltima instn&ia# a possi"ilidade da pergunta so"re a repetição j6

 pressup7e a repetição como posta% ponto de "ista estti&o so$re a repetição en&ontra aí a  sua

condição fundamental de possi"ilidade( se a repetição oi dada por +onstantius &omo impossí"el do

 ponto de "ista estti&o# tal &onstatação estE atrelada em seu mago J própria eeti"idade da

repetiçãoN &omo ele mesmo di4( Oha"ia des&o$erto :ue simplesmente não e/iste repetição e tinha-

me &on"en&ido disso J &usta de o "er repetido de todas as maneiras possí"eisP?%

uando# pois# a pergunta so$re a repetição estE posta# CE se saiu do imediato# a &ons&i,n&ia CE

soreu a &olisão entre o real e o ideal% 8ier9egaard o &onirma :uando di4( OA primeira e/pressão da

relação entre o imediato e a mediação repetiçãoP?I% A repetição a e/pressão mesma da saída do

imediato# pois tam$m a emerg,n&ia da &ons&i,n&ia# a partir do :ue a :uestão da repetição estE

 posta% .m seguida( ORo imediato não hE repetiçãoN isto pode ser pensado &omo dependente da

dissimilaridade das &oisasN de maneira alguma# mesmo se tudo no mundo osse a$solutamente

id,nti&o# ainda assim não ha"eria repetiçãoP?% A identidade ou a dierença de todos os elementos

do mundo são atores independentes da repetição# pois são &on&ernentes J esera do realN não hE

ainda a &olisão &om o ideal% +lima&us di4 o mesmo( Yse tudo no mundo osse a$solutamente igual#

não ha"eria nenhuma repetição na realidade# pois ela só no momentoY00# ao passo :ue na

idealidade# a ideia permane&e a mesma% 'or isso ele termina por di4er( OMas :uando a possi$ilidade

da repetição posta# então surge a :uestão da sua atualidade( isto de ato uma repetiçãoP 01N a:ui

se ", :ue a pergunta so$re a possi$ilidade da repetição se identii&a# na medida em :ue "em J tona#

&om a pergunta so$re a atualidade da repetição# pois na medida em :ue a própria pergunta se

&olo&a# a repetição CE estE dada en:uanto possi$ilidade%

A esera da li$erdade# o locus da repetição em sentido estrito# a esera onde o mo"imento

dialti&o da repetição posto na atualidade% *nteressa notar :ue essa pressuposição de si mesma :ue

o &aso &om a pergunta da repetição "ale de orma anEloga para a li$erdade# em :ue ela própria se

torna o negati"o para o seu próprio eeti"ar-se% .sse elemento indi&a no"amente :ue a repetição

en:uanto um mo"imento sensu eminentiori se &onigura &omo uma so$rele"ação parado/al# :ue

? Repetição# p% @%?IO;he irst e/pression or the relationship $et=een immedia&> and media&> is RepetitionP% +% JP *** 32  Pap% *S

B 10(3# ?# I# n%d %# 1I?2-?3# op% &it% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%?O*n immedia&> there is no repetitionN it ma> $e thought to depend on the dissimilarit> o thingsN not at all# i

e"er>thing in the =orld =ere a$solutel> identi&al there still =ould $e no repetitionP% *dem# p% 2?%

00 V Preciso Du-idar de Tudo# p% 11%01 OBut =hen the possi$ilit> o repetition is posited# then the :uestion o its a&tualit> arises( is it a&tuall> a repetitionP%

+% JP *** 32  Pap% *S B 10(3# ?# I# n%d %# 1I?2-?3# op% &it% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%

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elemento da ideia em mo"imento no espírito do Co"em da Repetição ad:uire &ontornos

dialti&os na medida em :ue se ", a repetição &omo a:uilo :ue ocasiona esse mo"imento# de tal

orma :ue para ele a própria ideia :ue se repete en:uanto tal% .la ad:uire na sua idealidade# por

assim di4er# a Yorça "ital# o segredo# a ideiaY# em :ue Ya sua perse"erança e a sua orça e"iden&iamautoridade e autori4açãoY0# mas ao mesmo tempo em :ue atra"s dela dada J própria realidade o

enseCo para desdo$rar-se no seu desen"ol"imento% A &olisão dialti&a na &ons&i,n&ia 7 ou seCa# a

repetição 7 se tradu4 na história do Co"em no pro&esso dele tornar%se poeta# o :ue +onstantius

deine tam$m &omo um tornar-se e1ceção A "ida do poeta designada por ele &omo e/&eção pois

Ya "ida de um poeta &omeça na disputa &om a e/ist,n&ia# toda elaN trata-se de en&ontrar um meio de

tran:uilidade ou de Custii&açãoN por:ue na primeira disputa ele terE sempre de perder# e se :uer

"en&er imediatamente# então não estE Custii&adoY0I% A totalidade da ideia para o Co"em o :ue o

&olo&a em &ontradição &om a e/ist,n&ia# e em "irtude desse &onlito ele pade&e na tentati"a de

 Custii&ação em$ora seu espírito esteCa seguro de si próprio% Da mesma orma &omo ele des&re"e Ló(

YestE em $om entendimento &om o 6enhor# sa$e-se ino&ente e puro no mais íntimo do seu &oração#

sa$endo ao mesmo tempo tudo isto Cuntamente &om o senhor# e &ontudo a e/ist,n&ia# toda ela#

&ontradi-loY0% A &ontradição engendra o mo"imentoN e diante dela o Co"em en&ontra orças para

manter-se na airmação de :ue tem ra4ão somente pela seguridade e pela seriedade do ser"iço J

ideia%

.sta &oniguração designa o &onlito :ue se origina no momento em :ue Ya e/&eção irrompe

no meio do uni"ersal det AlmeneY10% A partir daí se desenrola o &onlito# o &ho:ue :ue resulta na

repetição# :ue +onstantius &hama de Ypro&esso durante o :ual a e/&eção luta at se impor e se

 Custii&a en:uanto talN por:ue a e/&eção não Custii&ada re&onhe&e-se pre&isamente pelo ato de

:uerer &ontornar o uni"ersalY11% 6e trata# pois# de uma luta por Custii&ação# e não propriamente de

uma luta de "ida e morte# de ani:uilação mQtuaN isto tornaria tudo E&il demais para o lado mais

orte# e este sempre o uni"ersal% Ro de&orrer da luta# o martírio da e/&eção não a ani:uila# mas

ortale&eN e não por um des&uido# mas por uma $ene"ol,n&ia por parte do uni"ersal(

Yno seu &onCunto trata-se de uma luta &orpo a &orpo em :ue o uni"ersal rompe &om a

e/&eção# dila&era-a no &om$ate e ortale&e-a por intermdio desta luta% 6e a e/&eção não

&onsegue suportar a &ar,n&ia :ue sore# o uni"ersal não a so&orre %%%% A e/&eção enrgi&a e

determinada :ue# apesar do &om$ate &om o uni"ersal# &ontudo um re$ento nas&ido da sua

0 Repetição# p% 11%0I*dem# p% 13I-13%

0*dem# p% 11%10*dem# p% 13@%11*dem# p% 13%

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rai4# essa &onser"a-seY12

momento em :ue a e/&eção apare&e &onstitui o primeiro momento deste &om$ate

Ye/tremamente dialti&o e ininitamente mati4adoY13#  &uCo desen"ol"imento torna-se Ytão dií&il

:uanto matar um homem e dei/E-lo "i"oY1?% A:ui não hE possi$ilidade de entendimento mQtuo

entre as partes# prin&ipalmente por:ue# para alm desse &onlito a$soluto# &ada parte pare&e ter seudesen"ol"imento dialti&o próprio# em :ue rela&iona-se &om a outra apenas de maneira negati-aN

 por isso +onstantius reitera :ue o seu a&ompanhamento re:uer Y&omo &ondição uma prontidão

a$soluta na dialti&a do uni"ersalY1# $em &omo &olo&a :ue Ydo outro lado# &om$atem o :ue hE de

insu$ordinado e o :ue hE de o$stinado na e/&eção# a respe&ti"a ra:ue4a e mor$ide4Y 1@%  .sse

elemento negati"o mostra no"amente em :ue se e/trapolam as possi$ilidades da mediaçãoN o

"ín&ulo positi"o mantm-se apenas na medida em :ue# apesar dessa e/trapolação# a e/&eção # &om

relação ao uni"ersal# Yum re$ento nas&ido de sua rai4Y1# ou seCa# o "ín&ulo positi"o di4 respeito

apenas J origem :ue# no entanto# se perde pelo próprio próprio aastamento 7 a originariedade#

nesse sentido# poderia ser re&onstituída somente por meio da re&ordaçãoN mas não poderia ser# nesse

sentido# repetida( a:ui apare&e deiniti"amente situada a &olo&ação da pergunta so$re a atualidade

da repetição# em :ue a própria repetição CE en&ontra-se posta &omo tarea% A e/&eção# pois# deinida

&omo tal# tem &omo determinação de si o a$andono dessa relação originEria# em :ue ela possa por

im "ir a Custii&ar-se a si própria e atra"s de si própriaN mas# nesse sentido# ela mantm-se

"in&ulada a esse impulso :ue nun&a se atuali4a plenamente# e no im das &ontas ela &apa4 de

&onser"ar-se apenas na medida em :ue re&onhe&e a si mesma &omo tendo aí a sua origem% Daí a

airmação de :ue

Ya e/&eção enrgi&a e determinada :ue# apesar do &om$ate &om o uni"ersal# &ontudo um

re$ento nas&ido de sua rai4# essa &onser"a-se% A relação a seguinte% A e/&eção# ao

e/aminar-se a si mesma# pensa tam$m o uni"ersal# ao tra$alhar-se a si própria# tra$alha em

a"or do uni"ersal% 'ortanto# a e/&eção e/pli&a o uni"ersal e e/pli&a-se a si mesmaY 1I

.ste tra$alho da e/&eção se dE em unção do seu outro apenas indiretamente# em :ue se

maniesta Ya &ólera e a impa&i,n&ia do uni"ersal so$re a $arulheira :ue a e/&eção &ausaY1% Rão hE

a:ui re&onhe&imento# mas desentendimentoN a mediação # no seu mago# negati"a% De a&ordo &om

.ri9sen# esta relação negati"a de alteridade entre uni"ersal e e/&eção mostra de :ue modo no

mesmo instante  Wie"li**et  am$os os termos en"ol"idos sustentam parado/almente a mesma

12*dem# p% 13%13*dem# p% 13%1?*dem# p% 13%1 Repetição# p% 13%1@*dem# p% 13%

1*dem# p% 13%1I*dem# p% 13%1*dem# p% 13%

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"alidade# e não "alidades alternadas 7 não um &omo positi"o e outro &omo negati"o# mas am$os em

sua "alidade eterna mutuamente im$ri&ada% A negati"idade# a aus,n&ia do outro :ue tam$m

&onstituti"a da própria alteridade# o :ue instaura o outro en:uanto presença negati"a( Ya inelutE"el

aus,n&ia do outro 7 a alteridade do outro 7 pre&isamente a presença do outro en:uanto outroY 20%

outro só se torna outro :uando estE perdido &omo para-siN e a partir de então a aus,n&ia# a

negati"idade &onstituti"a da alteridade# passa a tornar-se eeti"a &omo uma instn&ia doadora de

sentido# &omo um modo de e/ist,n&ia%

.ste o segundo momento do &om$ate# :ue se &onigura nessa reduplicação dos termos em

:ue a alteridade &onsumada no negati"o% A:ui "em a maniestar-se a Ypredileção apai/onada :ue

o uni"ersal tem pela e/&eçãoY21# $em &omo o ato de :ue Ya e/&eção pensa o uni"ersal &om uma

 pai/ão enrgi&aY22% A dialti&a então não ani:uila a alteridade numa instn&ia a$soluta positi"a( Ya

e/&eção Custii&ada re&on&ilia-se no uni"ersalY23 pre&isamente nessa negati"idade &onstituti"a# pois

a:ui am"os# o uni"ersal e a e/&eção# en&ontram-se Custii&ados% A dupla Custii&ação# # pois# a

repetiçãoN :ue# não o$stante a reairmação positi"a de &ada parte# mantm o negati"o &omo

&onstituti"o da própria relação% A e/&eção e/pli&a o uni"ersal e a si mesma# mas o uni"ersal não

 pode ser &ondes&endenteN ele # ao &ontrErio# Yradi&almente pol,mi&o &ontra a e/&eçãoN pois não

:uer :ue note sua predileção antes :ue a e/&eção o o$rigue# por assim di4er# a &onessE-loY 2?% Daí

se inere :ue a luta não # de ato# por re&onhe&imento# pois a determinação undamental da e/&eção

a própria e1clusão da esera do uni"ersalN e nesta e/&lusão ela p<e a si mesma &omo positi"a

somente por meio de uma luta por Custii&ação# a :ual se tradu4# num di4er religioso# numa

 pro-ação eeti"aN e por im Yo +u reCu$ila mais &om um pe&ador :ue se arrepende do :ue &om

no"enta e no"e CustosY2# muito em$ora isso seCa "elado para o ponto de "ista do pe&adorN de tal

maneira se e/pli&a o ato de a &ólera di"ina maniestar-se anteriormente ao amor e J miseri&órdia(

elas só t,m sentido no pro&esso de Custii&ação da e/&eção :ue os &ontrap<em% uni"ersal# por seu

lado# perde todo o sentido &aso não seCa &on&e$ido em unção dessa pro"açãoN o uni"ersal se

e/pli&a somente se se e/pli&a a e/&eção%

A repetição se &onstitui nesse sentido &omo o paradigma undamental da alteridade a$soluta#

 portanto# da dierença% A :uestão da alteridade &onstitui# de a&ordo &om .ri9sen# o undamento da

noção temporal do "i"er para rente# portanto# da temporalidade aut,nti&a% .sta relação só pode ser

undada :uando Ya "erdade do suCeito &onsiste na sua relação &om o utro a$soluto# no estar-diante-

20.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 1%21 Repetição# p% 13%22*dem# p% 13I%

23*dem# p% 13%2?*dem# p% 13%2*dem# p% 13%

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de-DeusY2@% Ra re&ordação# por e/emplo# o outro en&ontra-se de alguma orma presente# na medida

em :ue pode ser e"o&ado de alguma orma pela &ons&i,n&ia# pode ser re-&oletado# re-mediadoN a

re&ordação# di4 .ri9sen# Yuma repetição na &ons&i,n&ia# de modo :ue o outro en&ontra-se

integrado no si# e a repetição uma repetição da &ons&i,n&ia# a transiguração do si por meio de

uma relação &om o outroY2% Ra repetição não hE mediação nem remdio# a transiguração só pode

ter seu ad"ento :uando tudo estE perdido para a e/&eçãoN sem esta asserti"a a dierença

simplesmente não "em J tona# e por isso ela de"e ser testada at o seu mE/imo desgaste% Resta

 pai/ão :ue ela demonstra pelo uni"ersal# portanto# a e/&eção# :ue ha"ia renun&iado anteriormente

ao uni"ersal# termina por Custii&ar-se apenas no momento em :ue ela renun&ia a si própria em

nome da:ueleN no :ue# toda"ia# ela não "em a ani:uilar-se a si própria# mas ela re&e$e a si mesma

de "olta &omo uma dEdi"a# em :ue o uni"ersal maniesta por ela a sua predileção%

A dialti&a da repetição# # desse modo# a dialti&a parado/al da e/&eção reorçando a regra#

em :ue a orça de uma se mede pela orça da outra% +omo di4 Domini& Desro&hes# ela &onstitui

uma Y:ue$ra em :ue os dois termos suportam um ao outroY 2I#  uma ruptura na iman,n&ia do

mo"imento# pois a Auf$e"ung   a:ui interrompida na medida em :ue não hE mais positi"o nem

negati"o# mas duas instn&ias igualmente "Elidas e Custii&adas% .sta :ue$ra da iman,n&ia

designada por .ri9sen &omo Yas noç<es de totalidade e sentidoY :ue de"em ser rompidas para :ue

YseCa ou"ida a "o4 do outroY2% A e/&eção# &omo atesta Desro&hes# Ynão deinida em oposição ao

geral# ou o uni"ersal# mas somente des&o$erta atra"s de um pro&esso &ontrErio Js &ara&terísti&as

do período# dialti&a hegelianaY30# e se &ontrap<e a ele em unção do seu próprio pro&esso de

 Custii&ação# o :ue não poderia dar-se sem :ue ela apare&esse &omo tal% A "alidade eeti"a da

e/&eção se dE pela simples &onstatação da sua e/ist,n&ia# &omo di4 +onstantius( YE e/&eç<es% 6e

não se &onsegue e/pli&E-las# tampou&o se &onsegue e/pli&ar o uni"ersalY 31% 'ortanto# a relação de

in-ersão 7 e não de simples oposição 7 da dialti&a da repetição &om a dialti&a hegeliana aludida

 por +onstantius :uando ele ad"erte :ue seria em "ão a tentati"a de Ypro&urar maneira de di4er(

 primeiro# segundo# ter&eiroY# $em &omo serE Ydií&il &ompreender o &aminho :ue o li"ro segue# uma

"e4 :ue o in"ersoY32% +onstantius tam$m a&usa a in&ompreensão do Yre&enseador "ulgarY em

e/pli&ar Ya e/ist,n&ia de tal maneira :ue tanto o uni"ersal &omo o parti&ular são ani:uiladosY 33% 6e

o singular ou o indi"idual# &omo na dialti&a da mediação# apare&em &omo o negati"o do uni"ersal#

não só o singular &omo o próprio uni"ersal não &apa4 de se sustentar% *sso mostra# &ontrariamente#

2@.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% @3%2.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 1@%2ID.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 32%2.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 10%30D.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 31%

31 Repetição# p% 13I%32*dem# p% 13@%33*dem# p% 13@%

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:ue na dialti&a da repetição os dois termos su$sistem# suportando um ao outro sem ani:uilar-seN e

da e/&eção &a$e simplesmente &onstatar-lhe a e/ist,n&ia% +omo e/pli&a Desro&hes# Yse não

 podemos e/pli&E-las \as e/&eç<es] &omo e/&eç<es a um uni"ersal# tampou&o podemos e/pli&ar o

uni"ersal% Ro"amente# apare&e uma dialti&a  sem sCntese% +ompreender um termo sem o outro

impossí"el% .m suma# o segundo termo &onirma o primeiroY3?%

A determinação da e/&eção # portanto# a simples e/ist,n&ia% Mas na medida em :ue ela não

determinada pelo uni"ersal# ou seCa# não pode ser mediada# ela se torna o  singular  indi"idual% Mas

o &onlito irre&on&iliE"el &om o uni"ersal a4 &om :ue# nesta airmação de si en:uanto e/&eção# não

só a repetição apareça de no"o na sua impossi$ilidade3 &omo tam$m :ue o uni"ersal en:uanto tal

"enha a ser suspenso# ao passo :ue# :uando a e/&eção renun&ia a si mesma 7 :ue se tradu4# em

termos religiosos# num ato de sa&rií&io# o uni"ersal dei/a de ser suspenso e posto no"amente em

eeti"idade# mas agora &oe/istente en:uanto uni"ersal lado a lado &om a e/&eção en:uanto

indi-Cduo# no :ue ele passa a ser designado# então# &omo o +tico( o mo"imento de suspensão do

uni"ersal # portanto# o :ue Lohannes de 6ilentio &hama de  suspensão teleol5gica do +tico3@# para

:ue o religioso apareça na orma do sa&rií&io% Mas o uni"ersal tam$m a:ui a linguagem# e a sua

suspensão tam$m a maniestação do sil,n&io do religiosoN e a Yintradu4i$ilidade da singularidade

J uni"ersalidadeY3  um indí&io do moti"o de a orma geral da repetição ser e/pressa somente

atra"s da sua impossi$ilidade% Ysil,n&io :ue es&onde em si todos os horrores# &omo um segredo

:ue ningum ousa nomearY3I# &om eeito# um elemento da su$Ceti"idade em :ue a relação &om o

uni"ersal ultrapassada na medida em :ue este "em a ser suspensoN ele designa# no di4er de

Desro&hes# Yuma relação &om o a$soluto :ue a linguagem não &apa4 de e/pressarY 3% estado

 parado/al de suspensão do Co"em não e/primí"el 7 a:ui ele adota a orma epistolar líri&a :ue

redundam numa lamentação patti&a# mas :ue não designa uma e/pressão essen&ial da:uilo :ue ele

espera na orma de uma tempestade%

ti&o# portanto# oi suspenso na orma do uni"ersal% Mas a suspensão ela própria o

estado em :ue o ti&o não mais eeti"o# mas em :ue o religioso  sensu eminentiori ainda não

apare&eu na orma da repetição% .le ad:uire portanto a e/pressão na orma do líri&o não por a&asoN

 pois o líri&o indi&a a:ui a apoteose da melan&olia do Co"em# e o reairma assim &omo a:uele :ue# na

sua e/pe&tati"a pela tempestade# demonstra uma ati"idade espiritual :ue# em$ora não possa ser

&ara&teri4ada &omo um mo"imento em sentido estrito# tampou&o se redu4 J:uela imo$ilidade

3?D.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 32%3+onstantius nota a in&ompati$ilidade na &aptação do singular eeti"o pelo uni"ersal na orma da sua melan&olia pela

 Co"em do &asa&o "erde :ue espera"a reen&ontrar# mas :ue se perde na re&uperação arses&a pelo Yhumano-uni"ersalYdo tom do &asa&o do to&ador de harpa% +% Repetição# p% @%

3@Temor e Tremor # p% 1?1%

3;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 1??%3I Repetição# p% 11%3D.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 2?%

10@

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ineeti"a da re&ordação &ontemplati"a do esteta imediato% Co"em situa-se a:ui no interesse entre a

imo$ilidade aeterno modo e o mo"imento trans&endente da repetiçãoN a re&ordação en&ontra-se

 presente# mas não mais &omo uma &ontemplação idíli&a do passado# mas &omo um ati"idade interior

:ue o impulsiona para alm dela própria# numa imin,n&ia do mo"er# no limiar da repetição% s

meandros desse limite de"erão ser tratados &om maior &uidado no &apítulo % :ue importa agora

:ue se tenha em mente a atualidade da re&ordação nesse momento% .m$ora a possi$ilidade de se

espe&ular so$re a repetição apare&e sempre "in&ulada J sua impossi$ilidade# tem-se por outro lado

:ue a igura da impossi$ilidade da repetição não # na eeti"idade# outra :ue não a re&ordação% A

repetição propriamente nun&a apare&e maniestadamente# pois a linguagem en&ontra-se sempre

a:um da sua eeti"idadeN mas desse modo# CE :ue o religioso en&ontra-se ainda em imin,n&ia# e o

ti&o# por sua "e4# oi teleologi&amente suspenso# então resta ao Co"em apenas o est+tico en:uanto

m$ito do Qni&o mo"imento líri&o-poti&o :ue lhe dado e/e&utar# e :ue se distingue# Custamente

 por ter o mo"imento eeti"o en:uanto possi$ilidade na e1ortação  do religioso# do esteti&ismo

&ontemplati"o e romnti&o do esteta A# por e/emplo# :ue aunda desesperançosamente num

niilismo superi&ial%

A impossi$ilidade estti&a da repetição en&ontra-se duplamente "in&ulada ao re&urso

dis&ursi"o da linguagem lógi&a por um lado 7 :ue# na medida em :ue instaura-se a ne&essidade

 parado/al de pensar o impensE"el# retrai-se no sil,n&io 7 e J re&ordação &omo um re&urso

engendrador de mo"imento :ue possi$ilita uma positi"idade do &uid  da própria repetição na própria

&ons&i,n&ia# mas apenas &omo um mo"imento para trEs# da :ual não pode surgir o no"o%

mo"imento da repetição# em :ue o "elho "em a se tornar no"o e tam$m um tornar-se si próprio#

depende de :ue se &on&e$a a ligação originEria &om o outro &omo dada anteriormenteN &omo

e/pli&a .ri9sen# Ypara :ue o si rela&ione-se &onsigo próprio ele de"e primeiro ser separado de si

 próprioN esta separação só pode ter lugar numa relação &om o outro :uando o si ", a si mesmo &omo

outro &ue o outroY?0% A identidade na dierença# a dupli&ação do tornar-se si mesmo# &onigura-se

nesse sentido &omo uma dupla negação da alteridade imediataN e a tarea da redupli&ação se torna na

"erdade uma $us&a ati"a de Yseparar-se a si próprio de relaç<es inaut,nti&as &om o outroY?1% Resse

sentido# ainda :ue o mo"imento da repetição seCa para rente# ele não pode suplantar a &one/ão &om

esta originariedade :ue indi&a o lugar autêntico do si-mesmo do :ual a &ons&i,n&ia en&ontra-se

apartada% 6e na repetição Ya:uilo :ue e/istiu "olta a e/istirY# a e/ist,n&ia primordial apontada por

meio desse olhar retroati"o para o próprio passadoN e o aut,nti&o re&uperar-se a si próprio

inten&ionalmente "oltado para o uturo# mas ele de"e por em termos as determinaç<es de alteridades

inaut,nti&as de um passado &indido% +ontudo# esse olhar inten&ional de"e despir-se de :ual:uer

?0.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 10I%?1*dem# p% 10%

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melindre &ontemplati"oN o indi"íduo de"e estar portanto J altura de seu próprio passado# e não se

su$meter a ele &omo se ele osse a história temporal do irre&uperE"el?2%

E# &om isso# :ue se &on&e$er uma estti&a :ue suplante a noção de &ontemplação e :ue

nem por isso per&a de "ista o &arEter poti&o do pade&er na e1pectati-a% A noção de e/pe&tati"a #

no ponto de "ista de .ri9sen# Yundada na relação &om o utro a$solutoY?3

% .la &onsiste numainserção primeira da &ons&i,n&ia numa relação temporal aut,nti&a# em :ue o aguarde não se torna

mais algo no"o em adição ao antigo# mas se tradu4 numa Yredenção do passado por meio do uturoY

e da Yno"idade do "elhoY??% .ste # por assim di4er# o trampolim ne&essErio para :ue o salto da

repetição possa ser "isto do ponto de "ista estti&o% 6omente nesse sentido a re&ordação digna de

re&e$er um estatuto anElogo J repetição no :ue di4 respeito ao mo"imento# e# da mesma maneira em

:ue uma situa-se dialeti&amente &om a outra# su$sistir ao lado dela en:uanto possi$ilidadeN tra4endo

então# &omo di4 Sergote# Yem si a mar&a da eternidadeY?% A espera pela tempestade# a e/pressão

mE/ima do &uerer a repetição# nesse sentido# &omo nota olmgaard# # alm de uma YmetEora do

su$limeY?@# tam$m deinida por uma relação simultnea &om o uturo do ad"ento# e tam$m &om

o passado re&ordado :ue se mantm no interstí&io do interesse do in suspenso na &ons&i,n&ia e do

&ompleto a$andono na repetição# pois a:uilo :ue era # por meio da própria e/pe&tati"a#

anunciado &omo algo a ad"ir# &omo algo a ser repetido% Resse sentido# ele se a4 presente atra"s da

aus,n&ia# e se mostra então &omo uma "erdadeira alteridade# pois a sua própria determinação de

re&ordado &omo passado oi suspensa% A:ui não possí"el mais determinar o &onteQdo da

re&ordação &omo sendo &on&ernente ao passado# pois ele passa a instaurar-se &omo uma

 possi$ilidade eeti"a no instante da e/pe&tati"a%

?2 ponto de "ista temporal da repetição so$ esta determinação serE o tema do pró/imo &apítulo%?3.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% @3%

??*dem# p% @3%?S.)G;.# % B%N ;ens et Repetition# S% *# p% 202%?@MGAA)D L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% %

10I

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Repetição e Temporalidade

 Reste &apítulo serE a$ordada# &omo uma e/tensão do &apítulo anterior# a :uestão da

repetição do ponto de "ista metaísi&o# agora no :ue &on&erne a ela &omo uma &ategoria positi"a em

sentido temporal% +omo oi mostrado no &apítulo anterior# a disso&iação da repetição do &on&eito de

mediação le"a J sua instauração &omo &ategoria undante da dogmEti&a 9ier9egaardiana# em :ue ela

"em a instaurar o parado/o undamental :ue norteia as noç<es de temporalidade# li$erdade e

indi"íduo% A:ui a repetição serE primeiramente mostrada &omo um &on&eito da trans&end,n&ia# e de

:ue maneira essa determinação lança as $ases para uma temporalidade em :ue o indi"íduo se situa

histori&amente# $em &omo a partir disto seCam dadas as &ondiç<es para :ue este situar-se

histori&amente seCa &on&e$ido &omo li$erdade% A partir da noção de li$erdade# apare&e tam$m a

noção de pe&ado :ue undamenta a O&i,n&ia dogmEti&aP desen"ol"ida em .onceito de AngHstia# a:ual# entretanto# de"erE limitar-se a apare&er apenas em suas relaç<es mais imediatas &om a o$ra

so$re a RepetiçãoKX %

A primeira noção a ser tratada a:ui a de trans&end,n&ia# no sentido de :ue esta instaura a

"erdadeira designação da repetição &omo um mo"imento no Oreino do espíritoP?I# &omo

+onstantius gosta de insistir% A tentati"a de ei$erg de &on&e$er uma repetição na esera da

nature4a imanente ou &omo lei do enHmeno natural repudiada na medida em :ue não ", o

mo-imento ascendente :ue a redupli&ação eetuada na repetição representa na esera do espírito# em

:ue a repetição dei/a de ser um retorno indeinido ao imediato# e passa a representar um mo"imento

 poten&iado de desen"ol"imento progressi"o% A pro$lemEti&a da repetição do ponto de "ista estti&o

&onstitui# no ponto de "ista de ei$erg# na &on&epção da repetição &omo uma alternn&ia ininita#

em :ue o mo"imento do &osmo torna-se passí"el apenas de uma &ontemplação desinteressada e de

uma des&rição e/terior o$Ceti"a% A repetição no reino do espírito algo distintoN ela &onstitui-se# na

"erdade# da maneira diametralmente oposta a estes termos( ela se torna portanto a e/pressão de uma

ati"idade interessada no m$ito do suCeito 7 ela se torna para ele um o$Ceto de "ontade# do &uerer arepetição 7 :ue# no entanto# &on&reti4a-se apenas en:uanto um mo"imento interior da &ons&i,n&ia#

na sua dinmi&a eeti"a% Ainda :ue possa en&ontrar alguma e/pressão e/terior# este mo"imento serE

sempre uma orma de &omuni&ação tam$m dupli&ada# duplamente reletida# :ue se reali4a na

orma do te/to em :ue# &omo des&re"e Arne Grcn# Oo leitor literalmente pu/ado para dentro do

te/to# mas mais ou menos para :ue seCa Cogado para ora dele outra "e4% te/to se endereça

?Alguns aorismos importantes de 8ier9egaard so$re a repetição en&ontrados em suas anotaç<es a4em estes

"ín&ulos de modo mais enEti&os# o :ue os torna dignos de serem men&ionados# ainda :ue estas noç<es não "enhama ser ade:uadamente desen"ol"idas a:ui%

?I !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30%

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diretamente a seus leitores e orne&e uma des&rição de :uem este leitorP?%

'ortanto# o estti&o &ontemplati"o posto de lado &omo possi$ilidade de &ompreensão da

repetição en:uanto mo"imento na esera do espírito# na medida em :ue designaria um mo"imento

meramente os&ilatório &arente de progressão eeti"aN e a pergunta so$re a repetição perde a

 possi$ilidade de ser &olo&ada de um ponto de "ista estti&o% sentido deste mo"imento# portanto#de"erE ser a:ui detalhado# $em &omo o signii&ado das &ategorias temporais de instante e eternidade

 por meio das :uais o indi"íduo histori&amente &on&e$ido na relação &om a repetiçãoN a relação do

indi"íduo &onsigo mesmo e &om a história apare&erão nestes meandros# na medida em :ue a

repetição or &on&e$ida &omo uma tarefa da li"erdade# ou um pro&esso &ontínuo de instauração da

trans&end,n&ia% sentido de eeti"ação históri&a da repetição o :ue undamenta a &ompreensão

de todo o seu signii&ado religioso# a partir do :ual pode ser traçado este limite &om o estti&o# no

:ual se delineia o confinium entre o estti&o e o religioso0# :ue propriamente o locus  da

repetição% Resse sentido# o signii&ado da repetição &omo a &ategoria propriamente moderna1 

de"erE "ir J tona nesse desen"ol"imento# e em :ue sentido ela se op<e OJ "isão tni&a da "idaP 2# o

:ue &orresponderia J "isão &ristã em oposição ao paganismo% A im$ri&ação mQtua entre o sentido

históri&o-temporal da repetição e a signii&ação plena da sua &on&epção religiosa portanto o ponto

&entral deste &apítulo# e de"e ser mostrado sui&ientemente nas suas &one/<es e &onse:u,n&ias para

:ue a repetição possa ser &on&e$ida ade:uadamente &omo uma &ategoria de mo-imento# mas

 prin&ipalmente para :ue se mostre &laro em :ue sentido este mo"imento e/&lui o estti&o# e em :ue

sentido ele poderia su$sistir ao &ho:ue no confinium &om o religioso%

0 A repetição como Transcendência

 Ro te/to da Repetição# a airmação da repetição &omo um mo"imento trans&endente tem# de

maneira sintomEti&a# seu lugar numa passagem em :ue +onstantius# desiludido &om o seu ra&asso

insistente na sua reali4ação &ontemplati"a da repetição# $em &omo tam$m &om sua in&ompreensão

do signii&ado da ideia em mo-imento do Co"em# termina por airmar não só :ue Otam$m para mim

a repetição demasiado trans&endenteP# &omo tam$m :ue# na sua relação &om a ilosoia moderna#

:ue Oem geral a4 apenas muito alarido# a4 rele"ação# e se por a&aso a4 algum mo"imento# este

 permane&e sempre na iman,n&iaP# termina por &olo&ar :ue# dessa "e4# :ue não só para ele# mas

?G)R# ArneN =Repetition= and t$e .oncept of Repetition# p% 1%

0 Repetição# p% 11?%1*dem# p% 1%2*dem# p% 1%

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sempre Oa repetição e permane&erE trans&end,n&iaP3% 6e a ideia em mo"imento do Co"em# para

+onstantius# &onigura-se de ato &omo um mo"imento eeti"o# então tam$m para ele ela de"e

&onsistir numa trans&end,n&ia% .sta asserti"a# em$ora +onstantius seCa &apa4 de &onstatE-la# ele não

se arroga na posição de &ompreend,-la% Ra &arta a ei$erg# ele dei/a &laro :ue a rai4 do seu

desespero &om a teoria da repetição se dE Custamente nessa in&ompreensão# em :ue ele se depara

&om a des&o$erta do seu próprio ponto de "ista &omo imanente?% sentido trans&endente da ideia

em mo"imento se dE na medida em :ue sua determinação a dialti&a da e/&eçãoN :uer di4er# o

mo"imento eeti"o da repetição dialeti&amente e/presso por meio da relação entre e/&eção e

uni"ersal# :ue se dE na &oe/ist,n&ia simultnea de uma atração apai/onada e uma repulsão

dis&iplinadora# em :ue a irrupção da e/&eção se transorma num mo"imento de antagonismo &uCa

re&on&iliação mantm-se na Custii&ação mQtua de am$as as partes% K isso :ue +onstantius preigura

:uando o$ser"a :ue Oonde Z o amor esti"er na ideia# aí &ada mo"imento# mesmo a mais ugidia

emoção# nun&a serE sem signii&ado por:ue a &oisa mais importante estarE sempre presente# a

&olisão poti&a# a :ual# tanto :uanto sei# pode ser muito mais terrí"el do :ue a :ue a:ui des&re"oP%

sentido desta &olisão poti&a remete Custamente ao :ue ele des&re"erE mais tarde &omo a irrupção

da e/&eção no seio do uni"ersal# e &uCo adCeti"o Oterrí"elP &ondi4 ao &arEter &ríti&o :ue dE a

tonalidade desse em$ate# mas :ue # por assim di4er# inerente J própria dialti&a% Mas se esta

dialti&a # por im# a dialti&a da repetição# então a ideia em mo"imento a sua própria &ondição%

sentido desta asserti"a mostra em :ue medida a iman,n&ia &apa4# em si e por si só a# de

suportar a Oruptura terrí"elP e a &olisão de&isi"as no ad"ento da repetição% Rão J toa :ue

+onstantius relega J &rise na iman,n&ia o &arEter de ilusóriaN na iman,n&ia não hE nenhuma &rise

su$stan&ial# pois a:ui tanto a &ons&i,n&ia :uanto a realidade são indiferentes( O6e se ala so$re a

li$erdade nas :ualii&aç<es da iman,n&ia# então toda &rise e tudo a ela rela&ionado são somente

ilusórios# moti"o pelo :ual tão E&il anulE-los% Mas logo :ue isto apreendido &om o interesse da

atualidade# então a distinção prontamente apare&e %%%P@% mo"imento em :ue a &ons&i,n&ia

 posta &omo o ponto de &olisão entre a realidade eeti"a e a idealidade eeti"a não pode ser imanente#

 pois nesse &aso não hE uma distinção &lara entre uma instn&ia e outra# o :ue a4 &om :ue# nessa

&onusão# elas dei/em de ser# &ada um por si só# eeti"as# e desse modo não pode ha"er &olisão% A

trans&end,n&ia de"e estar pressuposta nesse c$o&ue crCtico# em :ue a &ons&i,n&ia posta em ris&o#

em :ue# Yse ne&essErio# pre&iso sa&rii&ar a "ida ou# o :ue mais # sa&rii&ar o próprio amor por

3*dem# p% 121%?Y*# ho=e"er# in despair ha"e relin:uished m> theor> o repetition# $e&ause m> position also lies =ithin immanen&eY%

+% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31-31I% Repetição# p% ?1%

@O* one spea9s o reedom in the :ualii&ations o immanen&e# then &risis and e"er>thing related are onl> illusor>#=hi&h is =h> it is also so eas> to get them annulled% But as soon as this is grasped =ith the interest o a&tualit># thenthe distin&tion =ill readil> appear %%%P% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31I%

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muito :ue a realidade o a"oreçaY%

&arEter trans&endente do mo"imento eeti"o de"e ser &ompreendido no seu &arEter &ríti&o

na medida em :ue ele imp7e um limite tanto J idealidade :uanto J realidade eeti"as# por meio do

 próprio &ho:ue em :ue uma se p<e &omo limite da outraN da mesma orma &omo a&onte&e :ue a

e/&eção e o uni"ersal são postos &omo pólos antagHni&os de uma dialti&a de uma pol,mi&a $rutalsem :ue# no inal# um termine por ani:uilar ao outro# e# ao &ontrErio# a4 &om :ue am$os en&ontrem

no outro a sua Custii&ação% Ro &aso da &ons&i,n&ia# &uCa determinação # por assim di4er# o Yponto

de Ar:uimedesY# em :ue se dE a &olisão do real e do ideal# a pressão o&asionada por esta

 Custamente a orça :ue a impulsiona para frente# numa e/pressão de&isi"a da Yin:uietude da

li$erdadeY# :ue +onstantius des&re"e &omo Y&olisão espiritualYI% Daí a metEora da &ir&una"egação

de si( o ponto de "ista imanente de +onstantius o permite &hegar apenas ao ponto de desesperar-se

da repetição na medida em :ue ele ", a possi$ilidade de ir alm deste autodiagnósti&o# em :ue ele

di4( Ysou &apa4 de me &ir&una"egar# mas não sou &apa4 de ele"ar-me a&ima de mim mesmo# este

 ponto de Ar:uimedes# não o &onsigo des&o$rirY%

+onstantius &ons&iente so$re a insui&i,n&ia da iman,n&ia en:uanto um ponto de "ista seu%

A sua Cornada a Berlim# as repetidas tentati"as alhas e o ato de ele di4er de si mesmo( Ynão

&onsigo e/e&utar um mo"imento religiosoN algo de &ontrErio J minha nature4a% Mas nem por isso

nego a realidade de tal &oisa ou o ato de se poder aprender muito &om um Co"emY@0# permitem# por

outro lado# di4er :ue a &ons&i,n&ia da iman,n&ia CE aponta para alm dela# da mesma orma :ueimpor um limite J totalidade # de &erta orma# ultrapassE-lo% +onstantius não pode negar a realidade

da trans&end,n&ia Custamente por :ue ele sa$e de si mesmo &omo imanente# ou# por:ue# em outras

 pala"ras# a repetição para ele se deu &omo impossí"elN não o$stante# nessa mesma pergunta pela

repetição# a própria repetição CE en&ontra-se posta de alguma orma% A pergunta pela repetição a

mesma pergunta pela trans&end,n&ia# :ue tam$m pode ser tradu4ida na pergunta undamental pelo

di"ino% uando +onstantius airma :ue Yse Deus não ti"esse :uerido a repetição# o mundo nun&a

teria surgidoY@1# ele não e4 mais do :ue airmar :ue a repetição se dE tam$m na pergunta so$re

DeusN se se pergunta so$re a possi$ilidade de pensE-o# a sua e/ist,n&ia CE en&ontra-se dada de

antemão# e nesse sentido a pergunta so$re a repetição apenas repete no seu mago o argumento

ontológi&o da pro"a de Deus%

A asserti"a &ontrEria# no entanto# digna de nota( YDeus teria seguido os planos superi&iais

da esperança# ou teria "oltado a retirar todas as &oisas e t,-las-ia preser"ado na re&ordação% Rão o

 Repetição# p% ?1%I !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31I%

 Repetição# p% 1-2%@0*dem# p% 2%@1*dem# p% 33%

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e4# por isso &ontinua a ha"er mundo# e &ontinua a ha"er pelo ato de ser repetiçãoY @2% A esperança

superi&ial# &uCa e/pressão não senão a própria re&ordação# pode ser &onstatada &omo a prin&ipal

determinação de personalidade de +onstantius na medida em :ue este tenta repetidas "e4es reali4ar

a repetição sem &onsegui-lo# o :ue termina por transormE-lo num o$ser"ador &ontemplati"o

&indido da realidade eeti"a# para :uem o mundo simultaneamente uma no"idade entediante# uma

Yardósia na :ual o tempo ins&re"e a &ada instante um no"o te/toY e um YmemorialY @3# uma

esperança &arente de &onteQdo e um museu de re&ordaç<es em$alsamadas% mundo# portanto#

ad:uire uma "alidade ontológi&a positi"a na medida em :ue # ele próprio# repetiçãoN e não apenas o

mundo# mas tam$m Ya "ida toda ela uma repetiçãoY @?# o :ue signii&a :ue o indi"íduo

temporalmente orientado no mundo possui# por assim di4er# o mesmo estatuto ontológi&o positi"o

:ue a totalidade% Mas esse estamento signii&a tam$m uma designação do próprio mo"imento :ue

se eeti"a tanto na história do mundo &omo na e/ist,n&ia indi"idual do suCeito# em :ue# de alguma

orma# uma se torna a repetição da outra%

6e esta repetição designa um mo"imento eeti"o# então o suCeito :ue apare&e no pro&esso da

história do mundo ele mesmo o indi-Cduo singular # em pro&esso de tornar%se si mesmoN pois ele

 pode ser tido &omo um no"o elemento na &onstituição do mundoN o esta$ele&er-se en:uanto

indi"íduo o próprio indi"íduo &onstituindo-se a si próprio na e/ist,n&ia# de tal modo :ue nessa

repetição temporal de si mesmo ele termina por so$rele"ar-se ao mundo e a si mesmo% &orre o

mesmo a:ui :ue 8ier9egaard des&re"e no &on&eito de ironia so$re a (

Ya "erdadeira realidade "em a ser o :ue ela %%% a uma "itória so$re o mundo# e

&ontudo ela CE um &om$ate# e :uando &om$ateu CE "en&eu o mundoN e no entanto ela CE

tinha "en&ido o mundo antes de ter &om$atido% Assim a i&a o :ue ela %%% ela um

"itória :ue &om$ate% %%% a:uela realidade superior do espírito não mero de"ir# mas ela

 presente# em$ora ao mesmo tempo "enha a serY@%

A "erdadeira realidade só se eeti"a na medida em :ue pressup<e a si própria# e o seu eeti"ar-se

um pro&esso digno de ser &hamado de Yrealidade superior do espíritoY na medida em :ue#

 Custamente# &onsiste num mo"imento de repetição% indi"íduo# nesse sentido# en&ontra-se a&ima do

mundo desde o iní&io# mas a pro"ação :ue o ele"a a esta ele"ação trans&endente se eeti"a a todo

momento num Ypermanente "ir-a-serY@@% Assim# na repetição o -el$o torna%se no-o# e tudo :ue

su$siste a essa ele"ação torna-se transiguradoN esta passagem signii&a para +onstantius um

"erdadeiro desen"ol"imento# em :ue se dE uma dierença :ualitati"a entre os dois momentos# e o

@2*dem# p% 33%@3*dem# p% 33%

@?*dem# p% 32%@.onceito de Ironia# p% 22%@@*dem# p% 22%

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no"o ad:uire uma signii&ação a$soluta para a:uele :ue a eetua( Oa &ons&i,n&ia ele"ada a sua

segunda pot,n&ia não de ato nenhuma repetição sem signii&ado# mas uma repetição de tal

nature4a :ue o no"o possui signii&n&ia a$soluta em relação ao :ue oi anteriormente# algo

:ualitati"amente dierente da:uelaP@%

A dierença :ualitati"a o :ue :ualii&a a &ons&i,n&ia na eeti"idade% .ntretanto# na medidaem :ue se trata de uma transição :ualitati"a em :ue a possi$ilidade da metaísi&a posta em

&he:ue# esta dierença pode somente apare&er &omo tal numa alteridade a$soluta# &arente de

:ual:uer mediação &om a realidade imediata% Resse sentido# a repetição instaura um dualismo

trans&endente# em :ue a impossi$ilidade de esta$ele&er uma mediação &om o outro pre&isamente

o elemento negati"o# em :ue a alteridade se esta$ele&e &omo a$soluta% Dito de outro modo# não hE

uma resolução para este dualismo# nem pode ha"er para este m$ito suprassunçãoN apenas a

de&laração :ue# ainda :ue todo dualismo seCa mediado# &omo pretende a ilosoia espe&ulati"a#

sempre ha"erE na alteridade um su$strato Qltimo :ue lhe es&apa da apreensão% .ri9sen aponta :ue a

ignorn&ia so&rEti&a um e/emplo em :ue a repetição do negati"o esta$ele&e uma relação positi"a

&om o des&onhe&ido en:uanto tal( Ya ignorn&ia so&rEti&a não meramente a aus,n&ia de sa$edoria#

mas a sa$edoria da aus,n&ia de sa$edoria# :ue uma relação &om o des&onhe&ido en:uanto tal# esta

determinação positi"a da ignorn&ia &omo uma relação com o outro a"solutoY@I% De a&ordo &om

.ri9sen# a transição :ue ainda não atingiu a trans&end,n&ia :ualitati"a uma transição dialti&a

meramente &on&ernente J ess,n&ia# em detrimento da e/ist,n&ia% 'ara designar a transição

:ualitati"a em oposição J transição dialti&a# 8ier9egaard se utili4a da e/pressão Ytransição plena

de  pat$osY@#  uma transição &uCo undamento dado antes por uma &on"i&ção do :ue por uma

ra4ão sui&iente(

O6e realmente possuo uma &on"i&ção e isto uma determinação do espírito em direção ao

espírito então para mim minha &on"i&ção mais alta :ue ra4<esN na "erdade a &on"i&ção

:ue sustenta a ra4ão# não a ra4ão :ue sustenta a &on"i&ção%%% V)a4<esV podem por o"os tanto

:uanto um galo o pode Z !ma &on"i&ção emerge em outro lugar% *sto oi o :ue :uis di4er

&om o pro$lema( Vda distinção entre uma transição plena de pathos e uma transição

dialti&aP0

A transição plena de pat$os designa# portanto# um mo"imento &uCa origem se dE no m$ito

@O+ons&iousness raised to its se&ond po=er is indeed no meaningless repetition# $ut a repetition o su&h a nature thatthe ne= has a$solute signii&an&e in relation to =hat has gone $eore# is :ualitati"el> dierent rom itP%  !ear andTrem"ling# Repetition# p% 30%

@I.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% I@%@ Journal and Papers# 'ap% T#1 A ?I1# p% 3@0IN op% &it% .)*86.R# R% R%N  )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p%

123%0O* * reall> ha"e a &on"i&tion and this is a determination o spirit in the dire&tion o spirit then to me m> &on"i&tion

is higher than reasonsN it is a&tuall> the &on"i&tion =hi&h sustains reason# not the reasons =hi&h sustains the&on"i&tion%%% V)easonsV &an la> an egg no more than a rooster &an %%% A &on"i&tion arises else=here% ;his is =hat *ha"e meant =ith the pro$lem( Von the distin&tion $et=een a pathos-illed and a diale&ti&al transa&tionP% *dem# p% 123%

11?

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oposto ao da ra4ão# e :ue a &on"i&ção se dE para alm delaN e por isso ela &arregada de pai/ão( ela

designa um mo"imento &on&ernente J atualidade da e/ist,n&ia# em :ue o indi"íduo ele próprio

 posto em relação &om o mundo% 6egundo .ri9sen# Yse a transição dialti&a le"a de uma

 possi$ilidade a outra# uma transição plena de pat$os le"a da possi$ilidade J atualidadeY1% ra# esta

distinção &on&erne Custamente J distinção entre repetição e re&ordação% 6e na re&ordação a

Ye/ist,n&ia :ue e/iste e/istiuY2#   a atualidade nesse sentido repetida no"amente J sua

 possi$ilidade na ideiaN en:uanto :ue na repetição o mo"imento se dE ao &ontrErio( Ya e/ist,n&ia :ue

e/istiu passa agora a e/istirY3 graças a uma passagem da possi$ilidade para a atualidade% A

transição dialti&a se mostra &omo meramente lógi&a# imanente ao pensamento# na medida em :ue

nela a passagem da possi$ilidade para a atualidade resulta apenas numa Ypertur$ação do sil,n&io

autoen&errado do pro&esso lógi&o por meio de alar so$re mo"imento e transiçãoY ?% Mas a

 possi$ilidade ela mesma não se esgota no pro&esso de atuali4açãoN na esera da li$erdade# a

 possi$ilidade permane&e Cunto J atualidade% +onstantius airma isso &laramente( Ona esera da

li$erdade# no entanto# a possi$ilidade permane&e e a atualidade emerge &omo uma

trans&end,n&iaP% .ssa &oe/ist,n&ia um rele/o de&orrente da dupli&ação Custii&ada :ue o&orre

na dialti&a da repetiçãoN o :ue mostra :ue a lógi&a não em si ani:uilada pela repetição# mas ela

simplesmente não dE &onta de atingir a eeti"idade do seu mo"imento%

&arEter trans&endente da repetição se &onigura# do ponto de "ista metaísi&o# &omo a:uilo

a :ue a ra4ão aspira# a Custii&ação da &on"i&ção# mas J :ual nun&a dado su$stituir o &arEter

de&isi"o desta na e/ist,n&iaN esta des&rição &oaduna $em &om a noção de &on&eito limite# a:uilo

 pelo :ue se $us&a in&essantemente 7 a repetição &omo tarefa da li"erdade 7 mas &uCa presença

eeti"a sempre na orma do negati"o# em :ue ele se mostra na sua trans&end,n&ia% Resse sentido

:ue Moone> indaga :ue Otal"e4 a repetição seCa algum tipo de &on&eito limitante ou totali4ante :ue

 podemos aspirar possuir e mirar na sua direção# mas apesar disso nun&a podemos esperar &apturar

&ompletamenteP@% Ro mesmo sentido :ue o nHmeno trans&endental 9antiano a$re para o suCeito a

ne&essidade da ti&a &omo autonomia na li$erdade# pode-se interpretar o sentido da airmação de

:ue Oa repetição o lema \ '3snet ] em :ual:uer intuição ti&aP# &omo apontando a

trans&endentalidade da repetição &omo um elemento :ue dire&iona a própria tarea da li$erdade na

e/ist,n&ia mundana% 'or outro lado# o mo"imento religioso da repetição ainda não oi atingido

1*dem# p% 123%2 Repetição# p% 1%3*dem# p% 1%?Y;hus# in logi&# =hen possi$ilit># $> means o the immanen&e o thought# has determined itsel as a&tualit># one onl>

distur$s the silent sel-in&losure o the logi&al pro&ess $> tal9ing a$out mo"ement and transitionY% +%  !ear andTrem"ling# Repetition# p% 30%

O*n the sphere o reedom# ho=e"er# possi$ilit> remains and a&tualit> emerges as a trans&enden&eP% *dem# p% 310%@MR.[# .%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 2@% Repetição# p% 1%

11

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nesse ínterim# pois na medida em :ue ela permane&e inatingí"el para a su$Ceti"idade# ela tam$m

não pode ainda ser designada &omo mo"imento eeti"o% Daí de&orre# portanto# :ue# em$ora a

repetição seCa um mo"imento inteiramente trans&endente# a sua eeti"ação tem alguma rein&id,n&ia

na iman,n&ia do mundoN em$ora CE nessa altura a iman,n&ia metaísi&a seCa dada portanto &omo

nauragada# pois a su$Ceti"idade posta &omo interessadaI% Mas o mo"imento do aundamento da

metaísi&a Custamente o ad"ento do no-o ou da diferença &ualitati-a# em :ue a lógi&a se depara

&om um o$stE&ulo :ue seu mo"imento imanente não &apa4 de a$ar&ar%

A trans&end,n&ia :ue p<e a li$erdade &omo elemento positi"o diante da lógi&a mostra :ue a

tarea de reali4ar um mo"imento :ue trans&ende a própria possi$ilidade só se eeti"a# para o

indi"íduo :ue se situa &omo uma e/&eção a ser Custii&ada rente a uma alteridade a$soluta# na

orma de uma relação temporal do indi"íduo &onsigo próprio( o "ir-a-ser de si próprio% A Ono"a

hierar:uiaP :ue surge a partir dessa autoCustii&ação da e/&eção Custamente a:uela dierença

:ualitati"a# a pro-a do seu "alor positi"o diante do uni"ersal% 6e num primeiro momento# a:uele em

:ue o ti&o se eeti"a# ele su$mete a si mesmo ao poder trans&endente do a$soluto e se Custii&a

su$ordinadamente apenas por meio dele e por &ausa dele# num segundo momento a &ons&i,n&ia se

 poten&iali4a e ele"a a si mesma J altura do uni"ersal ao designar-se &omo e/&eção# o :ue instaura a

dialti&a da repetição% 6endo esta# portanto# deinida &omo pro"ação# ela tem# desse modo# a

 prima4ia so$re o ti&o na medida em :ue ela a insígnia da auto"aloração do indi"íduo diante do

a$solutoN e a no"a hierar:uia# Oa honra e &onsideraçãoPI0 :ue a e/&eção "olta a desrutar tem agora

&omo undamento Qltimo o "alor :ue ela mesma lutou para arrogar-se a si mesma%

6e esta pro"ação não pode ser &on&e$ida senão &omo um pro&esso# no de&orrer do :ual a

indi"idualidade de"e tam$m por a termo a resolução do seu passado# então a repetição não pode

instaurar-se &omo um mo"er-se para rente# &omo uma disposição temporalmente decidida a partir

do indi"íduo :ue p<e a si mesmo &omo e/&eção( tal ato só pode ser eeti"ado na temporalidade%

Desse modo# a dialti&a :ue media"a re&ordação e es:ue&imento superada numa dialti&a em :ue

a temporalidade do indi"íduo posta em &onlito &om a eternidade# &om a dierença :ue a:ui a

mediação não o&orre# e tanto uma :uanto a outra su$sistem na sua atualidade% A:ui# o no"o ad"ento

do :ue CE oi o :ue sustenta# do ponto de "ista do eterno# o interesse ininito do indi"íduo pela

e/ist,n&ia temporalN se essa reno"ação não oi ainda atingida# não se pode alar :ue a metaísi&a

aundou no interesse da repetição% Ro entanto# no ponto de &ontato entre o temporal e o eterno

de"em sustentar-se tanto o interesse pelo ad"ento por si só 7 :ue uma determinação estti&a#

:uanto a "alidade a$soluta do :ue 7 :ue a determinação ti&a% ;al tarea só pode ser eeti"ada de

I.sse por-se a si mesma da su$Ceti"idade interessada deinida pelo Cui4 bilhelm &omo a escol$a a"soluta do ti&o#

:ue não se &onigura na prEti&a senão &omo a es&olha de si mesmo% +% Eit$er# r # p% ?0# ?1% Repetição# p% 13I%I0*dem# p% 13I%

11@

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repetem tanto em si mesmo :uando uma em outra# uma geração possa &omeçar a partir de onde uma

outra parou# e tam$m em :ue medida um indi"íduo pode re&omeçar algo di"ersas "e4es# ou se

 possí"el re&uperar algo perdido nesse pro&essoI% .sses pro$lemas só se le"antam :uando a

repetição posta no domínio do espírito# ou seCa# o indi"íduo CE não mantm &om ela nenhuma

relação &ontemplati"aI@% K ne&essErio :ue os &on&eitos de mo"imento a :ue se reerem a repetição

seCam "istos não &omo representaç<es alheias ao indi"íduo na eeti"idadeN ao &ontrErio# isto de"e

ser eito J maneira :ue +onstantius a4# de um Ypsi&ólogo :ue se utili4a de &ategorias religiosasY IN

&aso &ontrErio# elas se redu4iriam a &ategorias meramente lógi&as em :ue se perderia esta dialti&a

 parado/al o :ue torna a repetição um Ymo"imento em "irtude do a$surdoYII :ue o mo"imento

mantm &om a noção espiritual de temporalidadeI%

A repetição só pode manter-se &omo solução para o pro$lema do mo"imento se se sustenta o

 parado/o em :ue a realidade eeti"a# a atualidade presente# or &onstantemente tra4ida J tona &omo

uma reairmação do :ue CE e estE sendo% .sse pro&esso pode ser designado &omo um pro&esso de

 produção# na medida em :ue a repetição sempre pressup<e a si mesma no ato de repetir-se% A:uilo

:ue repetido CE # portanto# dado de antemão# ou ainda# a repetição ante&ede a:uilo :ue se repeteN e

a identidade :ue apare&e repetida na atualidade # portanto# sempre a&ompanhada da dierença%

+omo airma +aputo(

Ya repetição &omeça do prin&ípio# não do inal% .la intenta produ4ir algo# e não reprodu4ir

uma sentença anterior% %%% temporalidade signii&a uma tarea urgente# um tra$alho a ser

eito% A metaísi&a :uer pensar seu &aminho ora do tempo# en:uanto %%% \na repetição] todo

momento literalmente instantneo# uma o&asião para a es&olha no instanteY0

A depend,n&ia ontológi&a desses &on&eitos &om a repetição mostrada por +onstantius :uando ele

airma :ue Yse se não disp<e nem da &ategoria da re&ordação nem da de repetição# a "ida dissol"e-

se toda ela num ruído "a4io e sem sentidoY1% .ste pro&esso produti"o da realidade # no entanto#

mar&ado por uma des&ontinuidade temporal# em :ue a repetição# o momento da YtempestadeY#

&onstituiria um momento pri-ilegiadoN a:ui CE não se pode mais atrelar a atemporalidade do

&on&eito ao mo"imento :ue a repetição instauraN ela um &on&eito temporal :ue se atrela# por assim

di4er# J mo$ilidade do lu/o# e em &ada instante :ue o&orre essa &olisão a própria -erdade apare&e

no seu &arEter eterno% Mas esse agora pri"ilegiado orçosamente de"e sempre su$sistir en:uanto

I*dem# p% 2II%I@+% *dem# p% 2II%I*dem# p% 2II%II*dem# p% 321%IY\)epetition] is trans&endent# religious# a mo"ement $> "irtue o the a$surd% Moreo"er# or the "er> reason that

mo"ement is diale&ti&al =ith respe&t to the &ategor> o time# it has $een assigned a pla&e in the philosoph> o spiritin $oth an&ienta nd modern philosoph># $ut# please note# has $een mista9enl> applied to logi& onl> $> egelY% S%

 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 321-322%0+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 1%1 Repetição# p% 1%

11I

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 possi$ilidadeN ele tanto sempre oi &omo pode sempre ad"irN ele só se torna pri"ilegiado na sua

eeti"idade# em$ora seCa sempre tam$m possi$ilidade# o :ue um parado/o% +omo e/pli&a

Mel$erg# Y\a repetição] tenta &om a presença de um agora pri"ilegiado en:uanto e1clui esta mesma

 presençaY2%

+onstantius &olo&a a pergunta so$re o mo"imento so$ a arti&ulação em :ue se le"a Yem&onta a &onsideração grega do &on&eito de *inesis# :ue &orresponde J &ategoria moderna de

VtransiçãoV \-ergang ]Y3% A *inesis aristotli&a para +onstantius o paradigma da &on&epção grega

do mo"imento# pois nela se preser"a a dualidade pot,n&ia-ato sem :ue se negue o mo"imento#

&omo a4iam os eleatas# nem :ue se airme o puro lu/o# &omo em erE&lito% A airmação da *inesis

em termos de poten&ialidade e atualidade # no entanto# meramente des&riti"aN a realidade

mo"imento em si não se resume a uma síntese &on&eitual dos dois# mas e/iste pre&isamente no

interstí&io entre pot,n&ia e ato# na passagem entre um e outro% paradigma se deine a:ui &omo

repetição na medida em :ue a atualidade se eeti"a &omo uma repetição da:uilo :ue en&ontra"a-se

na pot,n&ia# em :ue se esta$ele&e uma relação ne&essEria de anterioridade# pois a repetição

ne&essita da noção do YprimeiroY originErio% ;am$m por isso# :uando +onstantius ormula a

repetição &omo Ya no"a &ategoria :ue pre&iso des&o$rirY ?# ele "in&ula esta des&ontinuidade a

uma poten&ialidade eeti"a &uCa determinação a utura eeti"açãoN a possi$ilidade sempre presente

da es&olha e da des&o$erta da repetição &ontinuamente reatuali4ada no tempo# e :uando essa

 pot,n&ia se atuali4a# a "erdade posta então em mo"imento% A repetição um &on&eito do uturo# e

&omo tal e/ige para sua eeti"ação :ue nela tudo se ponha em ris&o e tudo se per&a# para :ue possa

ser de no"o repetido% .ri9sen &onirma essa asserti"a :uando airma( Ya &ategoria da repetição de"e

ha$ilitar uma ilosoia do uturo para airmar este mundo temporal &omo lugar de nas&imento do

eternoY%

Da mesma orma :ue a dialti&a entre tempo e espaço rompida &om a prima4ia da:uele

so$re este# na medida em :ue o indi"íduo :ue apare&e situado no interesse entre o ser e o não-ser#

tam$m rompida a identidade metaísi&a entre ser e pensar% .ri9sen e/pli&a da seguinte orma( Oa

metaísi&a se &onsuma :uando o estar-entre \inter%esse] da su$Ceti"idade apare&e# isto # :uando

apare&e :ue o 6i não estE unido &om o ser# mas os&ila entre o ser e o não-serP@% A re&ordação &omo

mo"imento se daria na remissão da atualidade para o &ampo das possi$ilidades e na e/pli&ação do

eeti"o por meio de uma remissão a um passado &onsumado% Desse modo# se a mediação intenta

reatuali4ar uma noção de &ons&i,n&ia temporal por meio de uma re&onstrução da totalidade desse

2M.B.)G# A%N Repetition Min t$e )ier*egaardian sense of t$e term4# p% %3 Repetição# p% 1%

?*dem# p% 0%.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 120%@.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 11%

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 passado# ainda :ue o$tenha ,/ito tal intento não &onstitui ainda um "i"er aut,nti&o no sentido da

O&i,n&ia e/isten&ialP :ue 8ier9egaard pretende es$oçar % *sso se dE por:ue# da mesma maneira :ue

na re&ordação# o passado dado &omo consumado# e &omo tal não passí"el de uma reatuali4ação

:ue o redima% A:uela ideia :ue guia a realidade não su$siste mais &omo diretri4# e o&orre então do

Oindi"íduo não e/istir graças J orça do pensamentoP I% pensamento# nesse sentido# dei/a de

apoiar-se nas arti&ulaç<es positi"amente mediadas a partir da re&onstrução ideal do passado# e passa

a reali4ar-se numa e/pe&tati"a atenta# em :ue &ada mo"imento de si próprio na atualidade temporal

torna-se signii&ati"o# Custamente pelo ato dele não estar mais histori&amente orientado pelo

 próprio passadoN portanto# ele posto na arti&ulação temporal do "ir-a-ser de si mesmo# em :ue ele

se ani:uila e se re&onstitui a &ada momento%

.ri9sen mostra :ue o &on&eito de "ir-a-ser de"e Ypressupor tanto &ue haCa algo i/o :uanto

:ue haCa o lu/o# tanto identidade :uanto mudançaY% 6e am$as as determinaç<es são sustentadas

na repetição# então# na medida em :ue ela se &onstitui &omo uma ilosoia do uturo# então ela a$re

espaço para a &onting,n&ia en:uanto possi$ilidade eeti"a# o :ue# so$ os olhos da lógi&a# não era

 possí"el# CE :ue ela sempre se en&ontraria su$metida J mediação% De a&ordo &om ;sa9iri( Y

impossí"el a4er Custiça J atualidade dentro dos limites da lógi&a# pois a atualidade tem a

&onting,n&ia &omo uma parte essen&ial e a Qltima não pode ser admitida dentro do m$ito da

lógi&aY@00% 6e na re&ordação a re&onstituição da totalidade a pressup<e ela própria en:uanto ser# a

repetição# na medida em atua em outro registro :ue não o da mediação re&onstruti"a# mas o da

 produção ati-a de atualidade# não pode pressupor o ser da totalidade# mas o próprio "ir-a-ser

en:uanto totalidade( Yna re&ordação o ser \Til-aerelse] pre&ede o de"ir \Til"li-else]# na repetição o

de"ir pre&ede o serY@01%   de"ir &omo &ondição undamental para a repetição e/pli&a tam$m

 por:ue +onstantius# na medida em :ue um o$ser"ador imó"el# não &apa4 de airmar a repetição#

:uando di4 :ue Ynão pre&iso me/ermo-nos do lugar para nos &on"en&ermos de :ue não hE

repetição algumaY@02N essa prima4ia do mo"imento so$re o ser se esta$ele&e# &omo di4 .ri9sen#

tam$m &om relação ao tempo so$re o espaço(

Yo mo"imento dialti&o tanto &om relação ao espaço o meio da nature4a :uanto ao tempo

o meio da &ons&i,n&ia ou do espírito% Ros pr-so&rEti&os a :uestão era a&er&a da transição

de um o$Ceto de um lo&al para outro# mas a :uestão de"eria antes ser reormulada em relação

ao tempo% .m "e4 de "er o mo"imento em termos do mo"imento de um o$Ceto no espaço# ele

de"e ser &onsiderado e/isten&ialmente &omo a transição da possi$ilidade para a

 Journal and Papers# *S + 100 n%d%# 1I?2-?3# p% I%I Repetição# p% 120%*dem# p% 112%

@00;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 20%@01.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% 121%@02 Repetição# p% I1%

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atualidadeY@03

 A "erdade mo"ente do Co"em não &oaduna &om a ideia ria e estEti&a de +onstantiusN a

metEora espa&ial :ue este Qltimo se utili4a designa muito $em esta oposição entre tempo e espaço e

a prima4ia do primeiro so$re a repetição% A igura do Co"em# no entanto# não &orporii&a a

atualidade do mo"imento antes da eeti"ação plena da repetiçãoN a sua progressão espiritual passaantes pelos estados da disposição eróti&a e da suspensãoN mas na medida em :ue essa passagem

&onstitui uma progressão# apare&e a:ui no"amente o &arEter descontCnuo desta%

&arEter de &ontinuidade do tempo &omo  sucessão infinita  tam$m &riti&ado por

auniensis &omo uma espacialiLação do tempo em .onceito de AngHstia% Ali# &onsta :ue a

deinição do tempo &omo su&essão ininita impli&aria na di"isão estan:ue entre presente# passado e

uturoN mas# &omo em Agostinho# nem o passado nem o uturo propriamente são# na medida em :ue

não se dão na atualidadeN nem tampou&o o presente# pois segundo eleOCustamente por:ue todo e :ual:uer momento# assim &omo o a soma dos momentos#

 pro&esso um desilar# então nenhum momento um presente e# neste sentido# não hE no

tempo nenhum presente# nem um passado# nem um uturo% 6e a&reditamos :ue somos

&apa4es de sustentar esta di"isão# isto o&orre por:ue espa&iali4amos um momento 7 mas &om

isso paralisamos a su&essão ininita 7 isto o&orre por:ue introdu4imos a representação#

i4emos do tempo algo para a representação# em "e4 de o pensarmosP@0?

+om isso# o &on&eito de presente "isto a partir da su&essão se torna Oum nada ininitamente

"a4ioP@0# :ue só pode ser pensado positi"amente na medida em :ue espa&ialmente representado%

 Ro entanto# auniensis ad"erte :ue esta di"isão tripartídi&a do tempo possí"el somente se se

 pressup<e um ponto de "ista e/terno ao próprio tempo a partir do :ual esta di"isão se eeti"e

inten&ionalmenteN a distinção# pois# Oapenas surge em "irtude da relação do tempo &om a

eternidadeP@0@% Mas este ponto de "ista e/terior não pode ser &on&e$ido se não a partir de uma

redupli&ação eeti"ada da &ons&i,n&ia# em :ue ela # por assim di4er# &apa4 de "er a si própria &omo

temporalmente determinada% A partir desta relação do tempo &om a eternidade# surge a noção de

instante Wie"li**et  &omo Oum presente :ue não tem pretrito nem uturoP@0#  Oum Etomo de

eternidadeP e uma Osíntese do temporal e do eternoP@0I% A a$olição da su&essão temporal # em

Qltima instn&ia# impingida por um mo"imento de repetição# em :ue a a$ertura para a eternidade

tem &omo &onse:u,n&ia anterior a instauração da própria possi$ilidade de :ue a temporalidade seCa

&on&e$ida nessa di"isão entre passado# presente e uturo% A eeti"idade da dialti&a da repetição

@03.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition# p% 122%@0? .onceito de AngHstia# p% 3%@0*dem# p% 3%

@0@*dem# p% 3%@0*dem# p% ?%@0I*dem# p% @% A :uestão do instante serE melhor tratada logo em seguida%

121

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a:ui e"identeN o próprio auniensis atesta :ue a síntese entre o temporal e o eterno não &onstitui de

ato uma síntese# mas am$os se Custii&am sem :ue resulte disso um ter&eiro(

OA segunda síntese tem apenas dois momentos( o temporal e o eterno% nde se a&ha a:ui o

ter&eiro^ .# não ha"endo ter&eiro# não hE a rigor nenhuma síntese# pois uma síntese# :ue

uma &ontradição# não se pode &ompletar &omo síntese sem um ter&eiroN pois# o ato de uma

síntese ser uma &ontradição# enun&ia ainal Custamente :ue não hE sínteseP@0%

Dito de outro modo# a eternidade en&ontra-se posta na própria &on&epção do tempo linear @10#

e a repetição eeti"ada em sua plenitude permite :ue então ela se reali4e no próprio de&orrer da

su&essão por meio do instante( O&om isso estE posto o &on&eito de temporalidade# em :ue o tempo

in&essantemente &orta a eternidade e a eternidade &onstantemente impregna o tempo% 6ó agora

ad:uire sentido a men&ionada di"isão( o tempo presente# o tempo passado # o tempo uturoP@11% .ste

sentido da eternidade :ue in&ide no tempo des&rito de maneira enigmEti&a por ;sa9iri na relação

:ue mantm &om o indi"íduo# &omo uma Oimagem da eternidade :ue mo"e o indi"íduo em uma

e/peri,n&ia da "ida utura# em :ue este dia irE repetir-se eternamenteP@12% mo"imento da repetição

não anula o passado nem o presente e nem o uturoN ao &ontrErio# a4 &om :ue eles seCam postos em

relação &om a eternidade em :ue hE uma im$ri&ação mQtua# em :ue o indi"íduo não só ",

impregnados de eternidade o passado e o uturo# mas tam$m o próprio presente atra"s do instante%

'or isso ;sa9iri airma :ue Oo passado eterno# o presente eterno e o uturo eterno são aeons

 paralelos# :ue ne&essariamente e/istem de maneira simultneaP@13( pois na relação do indi"íduo &om

a eternidade# a des&ontinuidade do luir temporal a4 &om :ue &ada instn&ia ad:uira para ele uma

"alidade eternaN o :ue signii&a :ue hE nesta relação um "alor in&omensurE"el :ue não apare&e na

 per&epção "ulgar do tempo &omo passagem%

 Resse sentido# a própria &omi&idade um indí&io de :ue o eterno en&ontra-se posto# e# nesse

sentido# o humor um pre&edente do religioso% *sto &onstitui de ato um indí&io do moti"o de

+onstantius es&re"er um longo relato a&er&a de moti"os do teatro arses&o para tratar da repetição# e

tam$m mostra em :ue sentido o "ín&ulo de"e ser eito% 'ara olmgaard# um indí&io deste "ín&ulo

estti&o em parti&ular &om a repetição se de"e ao &arEter da repetição &omo força produti-a# em :ue

@0 .onceito de AngHstia# p% 2-3%@10*sso mostra no"amente em :ue sentido a repetição apenas instaura a dualidade entre tempo e eternidade e as p<e em

&ontato dialti&o# sem :ue# toda"ia# tudo resulte numa representação &omo a espiral hegeliana# :ue em &erto sentido preser"a uma &on&epção temporal circular  :ue a &ara&terísti&a prin&ipal do  paganismo% 6e a repetição restaurassede ato uma &on&epção de tempo &ir&ular# 8ier9egaard não ugiria J:uilo :ue ele mesmo &riti&a :uando di4 :ue Yare&ordação a "isão tni&a pagã# a repetição a "isão modernaY% .m 8ier9egaard# ao &ontrErio# apare&e a&entuadaa des&ontinuidade &omo mar&a prin&ipal da temporalidadeN e a orma temporal da repetição apenas a&entua o saltode&isi"o :ue instaura um instante pri"ilegiado# o :ue não &oaduna &om o simplismo de uma &on&epção linear nemtampou&o &om uma &on&epção &ir&ular% Ser Repetição# p% 1N ;6A8*)*# S%N  )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and.ontemporaneit2# p% ?%

@11*dem# p% @%@12;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% @3%@13*dem# p% 102%

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ele ", Ouma orte tend,n&ia de tornar a atualidade e o tempo passado# presente e uturo em

&ategorias parado/ais ou mesmo irHni&asP@1?% A "alidade positi"a do temporal tam$m não su$siste

J negati"idade da ironia# :uando ela prop<e a si mesma de Oin"entar um mundoPN esta ironia não

 pode# então# ser

Oum momento da realidade dada :ue de"ia ser negado e desaloCado por um no"o momentoNmas toda realidade $ist5rica era negada# para a$rir lugar a uma realidade autoprodu4ida% Rão

era a su$Ceti"idade o :ue de"ia surgir a:ui# pois a su$Ceti"idade CE esta"a presente nas

relaç<es do mundo mas era uma su$Ceti"idade e/altada# uma  segunda potência da

su$Ceti"idade% ogo se ", :ue esta ironia era &ompletamente inCustii&adaP@1

A &ríti&a ao romantismo :ue 8ier9egaard pretende le"ar a &a$o a:ui in&ide na:uilo em :ue o mundo

a ser in"entado pela poesia romnti&a mantm a mesma relação de  par5dia &om a realidade eeti"a

:ue a temporalidade da realidade eeti"a mantm &om o eterno@1@% A autoprodução da realidade de"e

&hegar# na repetição# ao momento da dupla Custii&ação da e/&eção rente ao uni"ersal# em :ue o

 poeta en&ontra-se Custii&ado en:uanto poeta% Mas na medida em :ue# em "irtude da

indisso&ia$ilidade da ironia deste pro&esso de autoprodução# a negação da realidade históri&a não

 pode ser tam$m suspensa# ainda :ue do ponto de "ista da realidade o$Ceti"a da história o produto

da repetição não seCa senão uma paródia# de"e ha"er# portanto# uma so$reposição ne&essEria do

 pro&esso produti"o &ara&terísti&o da repetição# &uCa nature4a se eeti"a por meio do  po+tico# por

so$re a atualidade do real históri&o% ;al o sentido de sua Custii&ação perante o real en:uanto

e/&eção( a re&on&iliação não pode o&orrer &omo uma ani:uilação da sua oposição# mas ela se

eeti"a# por assim di4er# um a&ordo momentneo em :ue o &ontraponto não &hega a ser suspenso%

artista &Hmi&o retratado na  Repetição &omo um indi"íduo em mo"imentoN o artista

&Hmi&o de talento ele"a a disposição do in&omensurE"el at o ponto em :ue ela se so$rep<e a ele

 próprioN ele Onão se distingue pela deinição da personagem# mas sim pelo trans$ordar da

disposição% Rão grandioso na:uilo :ue artisti&amente mensurE"el# mas digno de admiração

na:uilo :ue indi"idual e in&omensurE"elP@1% ra# esse elemento Oindi"idual e in&omensurE"elP

 pre&isamente o :ue deine a interioridade religiosa do indi"íduo :ue se dei/a guiar pela ideia#

a:uilo pelo :ual ela mesma en&ontra-se em mo"imento% 'or isso tam$m +onstantius reere-se ao

@1?MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% ?%@1 .onceito de Ironia# p% 23I% +urioso# ainda# a:ui o Co"em 8ier9egaard Custii&ar a atitude de egel diante dessa

inCustii&ação romnti&a reerida a 6&hlegel e a ;ie&9# &uCa semelhança &om a repetição poti&a eeti"ada pelo Co"emda Repetição# muito em$ora ali ela seCa sustentada pelo ineE"el su$strato religioso 7 o :ue tal"e4 a torne Custii&E"el

 perante o uni"ersal# muito em$ora não menos &Hmi&a 7 de um modo ou de outro# salta aos olhos% 6e o &on&eito derepetição# ainda :ue na sua e/terioridade negati"a# na sua impossi$ilidade estti&a# seCa indisso&iE"el do poti&o#então esta atitude de 8ier9egaard para &om o romantismo em geral de"e tam$m ela própria ser "ista &omo irHni&a%

@1@ Daí auniensis airmar :ue a su&essão ininita do tempo# :ue para ele um Opresente ininitamente "a4ioP# umaOparódia do eternoP( a paródia surge a partir desse sentimento de in&omensura$ilidade# em :ue a alta de sentido :ue

um ad:uire nesse &onronto &om o outro# por eeito do a$ismo ininito :ue os separam# não &ausa senão um eeito&Hmi&o% +% .onceito de AngHstia# p% 3%

@1 Repetição# p% @%

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artista &Hmi&o &omo a:uele :ue Onão só sa$e andar# mas sa$e -ir andando% .ste "ir andando algo

de &ompletamente dierenteP@1I# no sentido de :ue não somente algo :ue # mas algo :ue &onstitui

um mo-imento de algo :ue # um "ir-a-ser do :ue % A indi"idualidade in&omensurE"el algo :ue o

&Hmi&o guarda para si na medida em :ue a sua "erdade se &ontrap<e &onlituosamente &om a

"erdade uni"ersal# em "irtude da :ual# Custamente por ser indi"idual e interior# ela não pode ser

ani:uilada# muito em$ora diante dela Camais "enha a ser le-ada a s+rio% ;al"e4 isso tam$m seCa ao

:ue +onstantius alude :uando di4 Oo meu Co"em amigo# esse pensa"a( dei/a andarN e desse modo

i&a"a melhor do :ue se ti"esse &omeçado &om a repetiçãoP @1N a reer,n&ia ao Co"em a:ui ao

momento em :ue ele en&ontra-se na suspensãoN ele di4 Odei/a andarP# mas ele mesmo não se p<e a

a4,-lo# &omo Diógenes o aria% Resse &aso e por isso mesmo# a repetição o ani:uilaria# assim &omo

a&onte&eu &om a:uele Oamante da &anção popularP do poema de erder# o :ual O:ueria de"eras a

repetição# por isso te"e-a# e a repetição matou-oP@20%   'ode-se &om isso airmar :ue a

in&omensura$ilidade :ue a repetição &ausa ao inringir o uni"ersal não ne&essariamente mata# mas

destrói a e/&eção por meio do humor# diante do :ual ela en&ontra a sua pro"ação@21%

A repetição no seu &arEter produti"o pode ser "ista tam$m &omo um ato &riador# na medida

em :ue o ad"ento do no"o se dE por meio dela# muito em$ora este no"o seCa a:ui uma repetição do

:ue sempre oi% .ri9sen e/pli&a( Ono undamento da deinição da repetição &omo o momento em

:ue nada mudou e# no entanto# tudo se tornou no"o# pode-se "er :ue a repetição pre&isamente a

transição do não-ser para o serP@22% Mas se este ato &riador depende de ato indi"idual de auto-

 Custii&ação# ele tam$m se le"ado a ser &on&e$ido en:uanto li$erdade# o :ue passarE a ser

analisado agora%

Repetição como tarefa da li"erdade

A repetição# posta &omo uma Otarea da li$erdadeP# mas tam$m &omo Oo interesse mais

 proundo da li$erdadeP@23# signii&a não só o ad"ento do no"o ou um mo"imento de produção deste#

mas tam$m# na medida em :ue ela &olo&a ade:uadamente a temporalidade# signii&a tam$m um

no"o &omeço% A e/&eção pode somente apartar-se do uni"ersal na medida em :ue ela# na sua

li$erdade# li"ra-se das determinaç<es :ue ele lhe impingia# e passa portanto a se auto-determinar%

@1I*dem# p% @I%@1*dem# p% I0%@20*dem# p% I0%

@21 .sta temEti&a serE ade:uadamente a$ordada no &apítulo %

@22 Repetição# p% I0%@23 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%

12?

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.sta gradação CE oi de &erta orma a$ordada anteriormente# no primeiro &apítulo% Ro

entanto# a relação dos estEgios da &ons&i,n&ia indi"idual &om a li$erdade apare&em agora &omo

apontando para o seu próprio emergir# na medida em :ue a:ui apare&e o modo de "ir-a-ser da

repetição en:uanto um interesse# algo :ue o indi"íduo de"e :uerer% utra dierença &ru&ial a

iluminação da repetição na li$erdade so$ a determinação Yda $uonaria e do desesperoY@2%  A

 $uonaria o elemento &Hmi&o :ue a&ompanha a e/posição de +onstantius so$re a repetição% Mas o

desespero apare&e a:ui &omo uma orma de al,n&ia das primeiras ormas da li$erdade rente J

 possi$ilidade da repetição% A primeira orma# a li$erdade &omo deseCo# :ue des&rita em Eit$er# r

&omo a musi&alidade de Don Gio"anni# "em a desesperar-se na medida em :ue o imediato da

"aria$ilidade ininita ameaçado pela repetição% A segunda# :ue des&rita na )otação de +ulti"os#

a orma da prud,n&ia saga&it># :ue desespera-se :uando a repetição apare&e para ela &omo não

atingida pelo seu mtodo% A Qltima relação a in"ersão da primeira( a repetição passa a ser

ameaçada pela "aria$ilidade# e a li$erdade passa então a ser "ista &omo a determinação em :ue o

seu mo"imento# o "ir-a-ser de si mesma# teme ser interrompido pelo $ur$urinho da realidade "ulgar%

.ste desespero &onstitui uma orma de transição em :ue o parado/o &olo&ado pelo

apare&imento da repetição # na Yelasti&idadeY da li$erdade# orçado at o seu limiteN a partir de

então# a própria li$erdade não pode mais su$sistir# entrando num &olapso rente J repetição# o :ue

a4 &om :ue ela seCa o$rigada a retomar a si mesma do &omeço# mas agora ele"ada a um no"o

 patamar% Ro estEgio mais ele"ado# a repetição apare&e &omo o religioso# na orma da li$erdade

ele"ando a si própria# o :ue# &ontudo# pode ser eito apenas na medida em :ue ela p<e a si mesma

&omo seu próprio o"st6culo% .ste interpor-se &ontra si mesma &onstitui o  pecado% +omo e/pli&a

8ier9egaard(

O6e a li$erdade a:ui \na repetição &omo um mo"imento religioso] agora des&o$re um

o$stE&ulo \Anstcd]# então ele de"e estar na própria li$erdade% A li$erdade agora mostra-se

não em sua pereição no homem mas de estar pertur$ada% .sse distQr$io# no entanto# de"e ser

atri$uído J própria li$erdade# &aso &ontrErio não ha"eria li$erdade em a$soluto# ou a

 pertur$ação seria uma :uestão de &onting,n&ia de :ue a li$erdade poderia remo"er% A

 pertur$ação :ue atri$uída J própria li$erdade o pe&adoP@2@%

namel># repetition o the tri&9er> $> =hi&h saga&it> =ants to ool repetition and ma9e it into something else%6aga&it> despairs% & Ro= reedom $rea9s orth in its highest orm# in =hi&h it is :ualiied in relation to itsel% eree"er>thing is re"ersed# and the "er> opposite o the irst standpoint appears% Ro= reedomVs supreme interest is

 pre&isel> to $ring a$out repetition# and its onl> ear is that "ariation =ould ha"e the po=er to distur$ its eternalnature% ere emerges the issue( Is repetition possi"leY Freedom itsel is no= the repetitionP%  !ear and Trem"ling# Repetition# p% 301-302%

@2YLest and despairY# +% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31?%@2@O* reedom here \in repetition as a religious mo"ement] no= dis&o"ers an o$sta&le \Anstcd]# then it must lie in

reedom itsel% Freedom no= sho=s itsel not to $e in its pere&tion in man $ut to $e distur$ed% ;his distur$an&e#

ho=e"er# must $e attri$uted to reedom itsel# or other=ise there =ould $e no reedom at all# or the distur$an&e=ould $e a matter o &han&e that reedom &ould remo"e% ;he distur$an&e that is attri$uted to reedom itsel is sinP% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 320%

12@

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8ier9egaard alando de si mesmo &omo um est5ico# a mais alta orma de $ adCa&ente a & @30# em

:ue a li$erdade ainda não oi a$solutamente redimida na repetiçãoN so$ este ponto de "ista# em :ue

o o$ser"ador &apa4 de airmar a e/ist,n&ia do salto# mas não de reali4E-lo# o próprio salto CE

en&ontra-se posto# mas a sua reali4ação nesse sentido &on&erne a um mo"imento religioso :ue

 permane&e indi4í"el% Malants&hu9 indi&a :ue os primeiros estEgios da li$erdade repousam no

estti&o# em :ue hE somente a luta pela eli&idade mundana# em :ue Yo deseCo e a a"ersão são orças

motoras simpatti&as e antipatti&as na "ida humana% As pessoas ",em pontos i/os no :ue

transitório e e"itam o &ontato &om o duradouro e eternoY@31% Do ponto de "ista de auniensis# no

entanto# a relação :ue se esta$ele&e entre as &ari&aturas e a repetição na li$erdade eeti"a# em$ora se

apenas se d, na possi$ilidade de uma Ylinguagem iguradaY# pode ser interpretada &omo uma

Ypreiguração prototípi&aY# impereita# da:uilo Y:ue a outra re"elaY@32% 'ortanto# esta relação pode

ser designada &omo a determinação do est+tico com relação U li"erdade na repetição( uma

 preiguração prototípi&a# impereita# &ari&atural# da transiguração da li$erdade no eterno# mas &uCa

&ontri$uição &om o mal-entendido a&entuam o próprio &arEter trans&endente da repetição% 'or isso

o&orre tam$m :ue# na:uilo em :ue a repetição a4 a li$erdade desesperar-se# a repetição "em a

tornar-se para ela um interesse em :ue ela ao mesmo tempo en&ontra a:uele o$stE&ulo em :ue se dE

a interposição do pe&adoN mas a ligação em :ue a li$erdade desespera da repetição ainda um

mo"imento de re&ordação( no seu desespero# a li$erdade in&apa4 de es:ue&er a repetição%

A repetição &omo o "ir-a-ser de si mesma na li$erdade deine-a &omo um mo"imento Yno

reino do espíritoY@33# em :ue o estti&o apare&e &omo insui&iente na medida em :ue este mo"imento

não pode dar-se na &ontemplação% signii&ado do &on&eito de espírito# &omo mostra Grcn#

 pre&isamente Y"oltar a si mesmo em re&uperar-se a si mesmoY@3?% reino do espírito &onstituído#

na medida em :ue o reino da li$erdade# pelo indi"íduo@3# :ue a li$erdade na atualidade% Mas na

&ontemplação a inten&ionalidade do :uerer "er a repetição # para +onstantius# meramente

ar$itrEria( O# antes# uma e/pressão da o$ser"ação indi"idual na sua ar$itrariedade# uma e/pressão

do indi"idual :ualii&ada esteti&amente somente de maneira am$ígua &om relação ao seu o$CetoP@3@%

indi"íduo &ontemplati"o# nesse sentido# apenas o$ser"a a sua reali4ação e/terior# e não se &olo&a

a pergunta so$re a possi$ilidade dela ser reali4ada no espírito# e não pode# nesse sentido# ser

:ualii&ado &omo um indi"íduo li"re% espírito &ontemplati"o# ou# nos di4eres de auniensis# o

Oespírito initoP :ue se desespera rente J repetição# mantm apenas uma relação e/terior &om a

@30*dem# p% 320%@31MAAR;6+!8# G%N )ier*egaard9s .oncept of E1istence# p% @%@32 .onceito de AngHstia# p% 1%@33 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 311%@3?G)R# A%N Repetition and t$e .oncept of Repetition# p% 1%

@3 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 312%@3@O*t is rather an e/pression o indi"idual o$ser"ation in its ar$itrariness# an e/pression o the indi"idual onl>

estheti&all> am$iguousl> :ualiied in his relation to the o$Ce&tP% *dem# p% 312%

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repetição do espírito# em :ue para ele O$em e mal alternariam &omo "erão e in"ernoP @3#  e sua

disposição deine-se apenas &omo esteti&amente desinteressada% A repetição da li$erdade# ao

&ontrErio# tem a tarea de O&on"erter a repetição em algo de interior# na tarea própria da li$erdade#

no seu supremo interesse# se ela realmente pode# en:uanto tudo J "olta se modii&a# reali4ar a

repetição% A:ui desespera o espírito initoP@3I% A dierença da repetição &omo uma reali4ação interior

:ue ela se torna uma tarea suprema# por meio da :ual se atinge uma infinitude do espCrito% A

repetição posta &omo tarea de"e então ser &ompreendida &omo uma ininitude# e &omo tal &onsiste

num mo"imento :ue nun&a se en&erra na sua dinmi&aN &omo mostra ;sa9iri( Otal tarea tal"e4 não

 possa nun&a ser &ompletada# mas isso dii&ilmente redu4 a sua dinmi&a# CE :ue# &omo um

mo"imento aporti&o# ela a$re para ininitas possi$ilidadesP@3%

De ato# a repetição# en/ergada do ponto de "ista da e/terioridade# nada a&res&entaN no

espírito# a repetição engendra um a&rs&imo positi"o# e a:uilo :ue en&ontra-se posto transigurado

 pelo simples ato de repetir-se% .sta dierença radi&al no m$ito interior ou e/terior em :ue a

repetição apare&e mostra tam$m uma &ara&terísti&a pe&uliar J temporalidade própria J esera do

espíritoN somente nela apare&e o signii&ado mais a$rangente de di4er :ue o primeiro dado antes

da repetição# pois nela ele dei/a de s,-lo na mesma medida em :ue ele se reairma en:uanto tal%

Grcn e/pli&a( Ouma repetição posterior J:uilo :ue se repete% Ro reino do espírito# esta dierença

temporal tam$m uma dierença de signii&ado% A repetição a&onte&e em outro lugar e &om outra

&ons&i,n&ia% A repetição transorma o :ue se repete pre&isamente ao repeti-loP@?0% Risto instaura-se

uma a&epção de temporalidade distinta da temporalidade dos primeiros estEgios da li$erdade# da

mesma orma :ue a temporalidade históri&a dada a partir da noção de pe&ado% Assim# o tempo

anterior ao pe&ado a-históri&o# ou seCa# de &erta orma# atemporalN e somente o tempo depois da

:ueda propriamente onde a li$erdade se eeti"a histori&amente%

A orma da temporalidade anterior ao pe&ado &onstitui# portanto# a temporalidade

 propriamente estti&a# e# na medida em :ue anterior J :ueda# tam$m a &on&epção pagã de

temporalidade% auniensis deine a noção de destino da seguinte orma( Odestino uma relação

&om o espírito &omo relação e/teriorN Z Destino pode signii&ar &oisas e/atamente opostas# dado

:ue ele unidade de ne&essidade e &onting,n&iaP@?1% Ro destino# hE a &oe/ist,n&ia simultnea de

ne&essidade e &onting,n&ia# sem :ue# no entanto# &om isso esteCa posta a li$erdade do indi"íduo%

uando +onstantius des&re"e a repetição &omo a tarea da li$erdade em sal"ar a personalidade do

indi"íduo da "olatili4ação e de :ue ela se torne um mero marionete do destino# ele a asso&ia

@3 .onceito de AngHstia# p% 20%@3I*dem# p% 20%

@3;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 2%@?0G)R# A%N Repetition and t$e .oncept of Repetition# p% 1?%@?1 .onceito de AngHstia# p% 10?%

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 Custamente J um a$andono da Oindol,n&ia aristo&rEti&a da &ontemplaçãoP( Oa repetição apare&e

&omo uma tarea da li$erdade# em :ue a :uestão se torna a de sal"ar a personalidade indi"idual de

ser "olatili4ada e# por assim di4er# um peão dos e"entosP @?2% Ra relação &om o espírito &omo o

e/terior# a repetição &omo tarea da li$erdade não pode apare&er# pois nesta relação o espírito

limitado pela própria li$erdade# no :ue# re&ipro&amente# ela tam$m apare&e &omo limitada pelo

desen"ol"imento do espírito do :ual ela não parti&ipa%

uando a li$erdade se eeti"a interiormente ao reino do espírito# no entanto# o seu o$stE&ulo

 passa a ser ela própria no pe&ado# em :ue o espírito en&ontra-se# então# posto# e a relação da

repetição &om a li$erdade apare&e &omo uma tarea a ser &umpridaN muito em$ora a insui&i,n&ia da

 própria li$erdade apareça nesta tarea &omo o pe&ado do espírito# em :ue a redenção a própria

tarea de ele"ação% A tarea # pois# tornar-se si mesmoN mas# da mesma orma :ue# antes :ue o

mo"imento de tornar-se seCa posto em eeti"idade# o si mesmo do indi"íduo de"e en&ontrar-se de

alguma orma dado como ponto de partida# pois :ue sem isso ele não poderia "ir-a-ser# esse

mo"imento de"e ter &omo pressuposto a &ons&i,n&ia do pe&ado# ou seCa# da li$erdade interposta a si

mesma% Mas# segundo auniensis# Yo pe&ado entrou no mundo por meio de um pe&adoY@?3# ou seCa#

o pe&ado pressup<e a si mesmo# na medida em :ue o seu mo"imento de "ir-a-ser # na sua

 psi&ologia# um salto :ualitati"o# em :ue tudo retomado do iní&io% A "isão do pe&ado insere a

li$erdade &omo tarea pois ela &olo&a a ra4ão do indi"íduo na redenção :ue ainda terE ad"ento# o

:ue pressiona a li$erdade para rente# e a eternidade dei/a de ser um passado a ser re&ordado e

torna-se um ad"ento uturo% *sso e/pli&a a arti&ulação undamental da &on&epção da repetição &omo

um "ir-a-ser( algo posto em mo"imento de"e tomar o algo &omo uma realidade eeti"a# &omo uma

e/ist,n&ia inserida no tempo% uando se di4 :ue# na repetição# o indi"íduo pressup<e a si próprio#

não se estE senão a enun&iar a &ondição de possi$ilidade do próprio mo"imento espiritual# em :ue a

eeti"idade do mo"imento dada na medida em :ue ele p<e a si próprio na atualidade# portanto#

repetindo a si próprioN em :ue apare&e o essen&ial da dierença :ue &ara&teri4a o mo"imento( tudo

torna-se no"o na medida em :ue ele próprio posto no"amente a&ima de si próprio%

A temEti&a do pe&ado &om relação J repetição ser"e apenas para elu&idar a sua ormulação

&omo tarea da li$erdade# em :ue o "ir-a-ser de si mesma na orma de li$erdade se dE no pe&ado

&omo interposição da li$erdade a si mesma &omo um o$stE&ulo J sua eeti"ação% As relaç<es do

 pe&ado &om a angQstia# &uCa arti&ulação a deinição da angQstia em unção da li$erdade &omo Ya

realidade da li$erdade &omo possi$ilidade antes da possi$ilidadeY@??# re:ueririam uma anElise mais

 prounda da noção de possi$ilidade em unção da repetição 7 a possi$ilidade da possi$ilidade 7 a

@?2O)epetition appears as a tas9 or reedom# in =hi&h the :uestion $e&omes that o sa"ing oneVs personalit> rom

 $eing "olatili4ed and# so to spea9# in pa=n to e"entsP% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31%@?3 .onceito de AngHstia# p% 3?%@??*dem# p% ?%

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:ual não # a:ui# oportuna% A ,nase a ser dada a:ui apenas a da repetição &omo um &on&eito da

li$erdade# em :ue ela se torna Yrealmente possí"el apenas :uando a li$erdade al&ança um ní"el num

indi"íduo em :ue se pode alar da repetição no sentido próprioY@?# ou seCa# ela ultrapassou os

estEgios ini&iais do deseCo e da prud,n&ia para :ue possa enim por-se a si própria &omo eeti"a#

 para :ue a repetição de si própria seCa então possí"el% *sso o sui&iente para :ue seCa &ara&teri4ada

a eeti"idade temporal da li$erdade a partir da &ategoria da repetição &omo um mo"imento

religioso# em :ue a história da li$erdade se torna uma &onstante ele"ação dela a&ima de si própria%

instante como a temporalidade do mo-imento para frente

A repetição# deinida paradigmati&amente &omo um mo"imento para rente# op<e-se J

re&ordação apenas &om relação ao dire&ionamento deste mo"imento# ela &omo um re&ordar para

rente% A re&ordação &onstituía o paradigma da antiguidade# e a repetição instaura o paradigma dos

tempos modernos# &uCa determinação Custamente o ad"ento do no"o% A &olo&ação da repetição

&omo um mo"imento atual# real# # nesse sentido# uma airmação peremptória de :ue a Qni&a

&on&epção "Elida de mo"imento do mo"imento dire&ionado para rente# em :ue a indeterminação

do uturo ganha prepondern&ia de&isi"a rente J imuta$ilidade do passado# :ue en&errado em

suas determinaç<es% A a$ertura da possi$ilidade presente na li$erdade eeti"ada Custamente por

esta não-atualidade do uturo# em :ue a repetição en&ontra sentido pela simples representação

indeterminada da mudança# :ue a rai4 do interesse :ue situa o indi"íduo na atualidadeN o :ue

tam$m# por outro lado# deine a atualidade presente para o indi"íduo &omo um tempo de &rise% Daí

+onstantius airmar(

O6e se ala de li$erdade nas :ualii&aç<es da iman,n&ia# então a &rise e tudo a ela rela&ionado são

apenas ilusórios# e por isso tam$m tão E&il anulE-los% Mas logo :ue este apreendida &om o

interesse da atualidade# então a distinção prontamente apare&er entre a re&ordação grega e a

repetição# :ue entra depois de todo o mo"imento da &rise ter &omeçado# mas entra pre&isamente pressionando para a renteP@?@%

A &rise ilusória no ponto de "ista da re&ordação Custamente por a:uilo :ue +onstantius &riti&a no

 Co"em :uando di4 :ue ele &omeça no imN a re&ordação depende em si mesma da totalidade do

a&a$ado# e não pode dar-se &aso haCa uma ruptura da iman,n&ia% :ue permite o Co"em airmar de

@?MAAR;6+!8# G%N )ier*egaard9s .oncept of E1istence# p% %@?@O* one spea9s o reedom in the :ualii&ations o immanen&e# then &risis and e"er>thing related are onl> illusor>#

=hi&h is =h> it is also so eas> to get them annulled% But as soon as this is grasped =ith the interest o a&tualit># then

the distin&tion =ill readil> appear $et=een the Gree9 re&olle&ting and repetition# =hi&h enters in ater the =holemo"ement o the &risis has started# $ut enters in pre&isel> $> pressing or=ardP%  !ear and Trem"ling# Repetition# p%31I%

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si mesmo a &erta altura( Y&omeço do prin&ípio# e depois do &omeço do im para o prin&ípioY @?# CE

designa um mo"imento a mais :ue# alm de pre&eder a re&ordação ela mesma# torna-se tam$m

anterior J re&ordação% A modernidade# o tempo da li$erdade# o momento em :ue o&orre uma

ele"ação da &ons&i,n&ia históri&a a&ima de si própria# em :ue a ingenuidade grega não pode mais

su$sistir# e a &rise apare&e &omo um instante decisi-o em :ue tudo de"e ser &omeçado no"amente%

tempo do instante # portanto# o presenteN mas a proCeção da repetição &omo mo"imento

 para adiante determina :ue o tempo presente da repetição se &ondi&ione a este uturo en:uanto

indeterminado de maneira intrínse&a# o :ue undamenta o seu &arEter &ríti&o( daí Mel$erg airmar

:ue Yo agora da VrepetiçãoV sempre um depoisY@?I% Ro entanto# ao Co"em permitido &omeçar do

 prin&ípio para em seguida &omeçar do im para o prin&ípio# a repetição pre&edendo a re&ordaçãoN

nesse sentido# o antes :ue a re&ordação representa apare&e de ato somente depois da repetição#

 portanto# um antes :ue "em depois% paradigma da repetição# na medida em :ue nele prepondera

uma so$erania do momento presente so$re todos os outros# Custamente por ele ser o Qni&o em :ue a

de&isão undamental pode ser tomada# reali4a então uma suspensão da se:u,n&ia temporal ha$itual(

Yo agora :ue sempre um depois "em na "erdade antes 7 o agora do VinstanteV# a inter"enção

sQ$ita na ordem do tempo se:uen&ial# a &esura :ue deine o :ue CE oi e prepara o :ue estE por

"irY@?% interesse da e/ist,n&ia posto a:ui :uando o sentido do negati"o atuali4ado no instanteN

na medida em :ue este um depois# o instante en&ontra-se sempre para alm de si mesmo# e sua

 plenitude sempre a sua reatuali4ação# a sua repetição% Mas isso de"e pressupor uma aus,n&ia no

 presente# um ser :ue em algum sentido não # um inter-esse :ue tende sempre ao a$soluto eterno#

&uCa eeti"ação se dE no uturo% A plenitude da atualidade do instante apare&e# na segunda parte do

te/to# "in&ulada ao :ue o Co"em &hama de Ytro"oadaY@0# :ue designa o instante :ue separa o "elho

do no"oN segundo olmgaard este o m$ito da interioridade# :ue Yo estado mental não-arti&ulado#

a dimensão alm da linguagemY@1 "em a ser a &ondição para o ad"ento da repetição( este o agora

em :ue ela se torna uma eeti"idade no tempo%

instante # portanto# uma ruptura na iman,n&ia do tempo% .sta ruptura não só in"alida as

&on&epç<es linear e &ir&ular de temporalidade 7 am$as são possí"eis apenas imanentemente 7 &omo

tam$m a &on&epção do tempo &omo su&essão *ronos &omprometida% Ra &on&epção linear# não

 pode ha"er o instante# pois o presente o ininitesimal entre dois nadas# o passado e o uturoN e na

&on&epção &ir&ular# todos os momentos são redu4idos J &ir&ularidade :ue os iguala# de modo :ue

não pode ha"er um momento de&isi"o% Ra repetição# não pode su$sistir o atalismo inerente a estas

@? Repetição# p% %@?IM.B.)G# A%N Repetition Min t$e *ier*egaardian sense of t$e term4# p% ?%

@?*dem# p% ?%@0 Repetição# p% 123%@1MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% %

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duas posiç<esN ela de"e tra4er &onsigo o ad"ento do no"o# e para isso mesmo a &ompletude do

 passado e a ine/ora$ilidade do uturo de"em ser su$metidos ao &ri"o da es&olha a$soluta no

instante# a partir do :ual tudo então transigurado% Reste pro&esso# a própria &on&epção de tempo

se &ontrap<e &omo relati"a# na medida em :ue a &on&epção do eterno surge a partir desta &on&epção

de tempo# em :ue# &omo di4 George Bedell# a su&essão de momentos indierentes anulada Yna

soma de toda a temporalidade no &uidado pro"iden&ial# pr-"isional# inten&ional# "etorialmente

orientado de DeusY@2% f parte das &on&epç<es linear e &ir&ular de tempo# a repetição instaura# de

a&ordo &om ele# uma &on&epção -etorial de tempo *a2ros# em :ue tudo se dire&iona para o ininito

trans&endente da eternidade# :ue en&ontra-se para alm do próprio tempo% Mas o eterno tem uma

in&id,n&ia de&isi"a na própria temporalidade su&essi"a# em :ue "em J tona o &on&eito de

en&arnação(

Ya en&arnação a interseção da mera su&essi"idade e a su&essão anulada e o mais srio

desta soma pro"iden&ial% A eternidade :ue estE presente uma soma ainda pareada &om a

su&essão %%%% +on&e$ido assim# &ada momento tem um "alor# mas &ada momento tem seu

"alor próprio e Qni&o %%%% 'ode ha"er instantes por :ue hE o *nstanteY@3%

A própria su&essão só possí"el em unção da eternidade# :ue esta$ele&e &om o presente

uma relação de interse&ção% 6em a eternidade# o presente redu4ido a nada# da mesma orma &omo#

 para o pensamento a$strato# o tempo dei/a de e/istir na medida em :ue não hE nenhuma instn&ia

temporal positi"a% instante# nesse ínterim# ad:uire o "alor de um Etomo indi"isí"el :ue aponta

 para o eterno# pre&isamente em termos "alorati"os% 'or isso o estti&o# :ue &on&e$e o tempo &omo

 puro luir# &omo momento atrEs de momento# não esta$ele&e nenhuma relação &om o eterno# e não

&apa4 de &ir&uns&re"er uma totalidade de sentido QltimoN o seu presente e"anes&ente# e portanto

não pode possuir um "alor positi"o Qltimo% tempo no estti&o ininitamente di"isí"el# e dessa

orma nenhuma instn&ia temporal pode "ir a ad:uirir uma "alidade eterna% A "etorialidade do

tempo# por sua "e4# torna o presente de&isi"o para o ad"ento do uturo# em :ue tanto o presente

&omo o passado ",m-a-ser em unção dele# ad:uirindo então o estatuto do no"o% A:ui# a ruptura

&om as noç<es da temporalidade &omo su&essão impli&a num preCuí4o na relação do indi"íduo &om

o tempo :ue transpare&e na atualidade &omo &riseN mas pelo parado/o da repetição tam$m a

restauração do sentido temporal :ue se perde na ragmentação dos sentidos lineares e &ir&ulares

tam$m re&uperada# em :ue elas reapare&em &ondi&ionadas J relação do tempo &om o eterno% *sso

signii&a :ue a mudança da &on&epção do tempo na repetição a$andona deiniti"amente o registro

da relação entre o passado e o presente# :ue termina por se transigurar# no di4er de olmgaard#

num Omo"imento ininito perda e renas&imentoP@?%

@2B.D.# G% +%N )ier*egaard9s conception of Time# p% 2@%@3*dem# p% 2@%@?MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% -@0%

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A instauração do tempo "etorial tem# no seu mago# um signii&ado religioso espe&íi&oN ele

alude# prin&ipalmente# J transiguração do tempo :ue se instaurou &om o ad"ento da es&atologia

&ristã% uando +onstantius airma :ue o mundo repetição# ele airma :ue# antes de tudo# ele se

atrela &omo repetição ao ato primeiro :ue deu origem ao seu mo"imento# ou seCa# o sentido

históri&o da li$erdade no pe&ado 7 o :ue depende# portanto# da noção de &uedaN mas esse ato

"isto por ele mesmo &omo uma determinação di"ina do &uerer a repetição# segundo o :ual Deus

deu ao mundo uma no"a &han&e de &ontinuar e/istindo% ;sa9iri mostra isso muito $em :uando di4

:ue o termo Opode não reerir-se J primeira &riação do &osmo in&luindo os seres humanos# mas ao

:ue poderia ser &on&e$ido &omo uma re&riação do mundo após a :uedaP @% instante tem &omo

reer,n&ia para a totalidade um uturo ad"ento# pre&isamente no sentido de :ue o ato de o mundo

"ir a e/istir no mo"imento do instante se de"e a ele ser repetição% mo"imento &omo mudança

a$soluta# do ser para o não-ser# só &on&e$í"el sem interesse# nos dois e/tremos# no plano do

 pensamento a$stratoN mas se assim osse no mundo e/istente# ele seria imediatamente ani:uilado ao

mo"er-se# e Deus Oteria "oltado a retirar todas as &oisas e t,-las-ia preser"ado na re&ordaçãoP @@%

salto :ualitati"o 7 :ue uma &ara&terísti&a da :ueda# em :ue se dE a introdução do pe&ado por meio

de uma repetição 7 se unda portanto &omo um e"ento paradigmEti&o# &omo Oo primeiroP pe&ado#

:ue se repete &omo tal em todas as geraç<es posteriores# e se proCeta para o uturo por:ue para ele

determinante# na medida em :ue este repetição%

A repetição da :ueda não signii&a uma ne&essidade# mas pre&isamente o ad"ento da

li$erdade% logos &ósmi&o do mundo grego de&orria numa ne&essidade eeti"a no tempo# em :ue o

mo"imento ou eleati&amente negado ou &on&e$ido em termos de atuali4ação de pot,n&ias na

*inesisN no &ristianismo# a li$erdade instaura-se não por:ue Deus aastou-se do mundo e dei/ou :ue

ele &orresse por &onta própria sem :ue hou"esse :ual:uer interer,n&ia# mas# pelo &ontrErio# sendo o

ser do mundo algo &ontingente# o ato da &riação di"ina# a airmação positi"a do ser do mundo na

li$erdade# de"e ser repetido a todo instante# para :ue a e/ist,n&ia do mundo seCa mantida% Resse

sentido# +aputo es&lare&e( O8ier9egaard tem uma &on&epção proundamente protestante e

"oluntarista das &oisas% próprio ser do mundo &ontingente ao passo :ue se origina do ato li"re

da &riação di"ina# e tudo :ue a&onte&e no mundo a&onte&e &ontingentementeP @% K nesse sentido

:ue a repetição de"e ser &ompreendida tam$m &omo uma tarefa# pois assim deinida ela passa a

ser algo &uCa totalidade &on&reta sempre um proCeto para o uturo# mas :ue urge ao mesmo tempo

:ue se aça Cus J ação instantnea :ue ela e/igeN tal proCeção temporal apare&e sempre esteti&amente

 para o indi"íduo &omo uma impossi$ilidade# mas# na medida em :ue assumida indi"idualmente

en:uanto tarea# a impossi$ilidade torna-se não o$stante uma e/ig,n&ia errenha% A:ui a própria

@;6A8*)*# S%N )ier*egaard@  An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 133%@@ Repetição# p% 33%@+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 1I%

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noção de repetição na temporalidade torna-se insui&iente# pois o anseio undamental do espírito o

eterno( Oa:ui só possí"el a repetição do espírito# em$ora nun&a seCa tão pereita na temporalidade

&omo na eternidade# :ue a "erdadeira repetiçãoP@I%

uturo # na medida em :ue nele se &on&reti4a a proCeção da repetição &omo tarea# o

eterno# em :ue a repetição "em a se eeti"ar na sua plenitude% .ssa "isão &ontrasta# pois# tanto &oma "isão grega# em :ue a totalidade se &onigura"a no passado a ser re&ordado# mas tam$m &om a

"isão metaísi&a# :ue tende a pensar o eterno &omo uma instn&ia cindida do tempo# na medida em

:ue o eterno &on&eitualmente deinido em oposição ao temporal# em$ora admita :ue o temporal

su$siste apenas em unção da:uela% Ra medida em :ue apenas tende J plenitude# o passado então

deinido &omo uma representação impereita# uma imitação do eterno% Resse sentido# portanto#

tam$m não se pode &on&e$er a eternidade &omo tarea% +omo mostra +aputo( Oo &ristão ", o

tempo em termos de uturidade e de&idi$ilidade% Mas na metaísi&a# o tempo e o mo"imento são

impereiç<es# imitaç<es% Rada de&idido no tempoP@% A &on&epção do instante &omo um momento

 pri"ilegiado no tempo de"e un&ionar# so$ este aspe&to# &omo uma arti&ulação de legitimação do

tempo em unção do eterno# mas atra"s do próprio tangen&iamento do instn&ia do eterno no

temporalN por isso auniensis persiste na disso&iação do nQ&leo do instante &om o tempo e em

asso&iE-lo &om o eterno( Oentendido dessa orma# o instante não # propriamente# um Etomo do

tempo# mas um Etomo da eternidade% K o primeiro rele/o da eternidade no tempo# sua primeira

tentati"a de# poderíamos di4er# a4er parar o tempoP@@0%

 Ro instante# na medida em :ue o ponto de tang,n&ia entre o temporal e o eterno# instaura-

se a partir desta possi$ilidade a &ondição para o parado/o a$soluto# em :ue o Deus trans&endente se

a4 &arne% A aparição temporal do di"ino # em Qltima instn&ia# a &ondição undamental para :ue se

eeti"e a possi$ilidade do históri&oN e a sua aparição &onstitui o instante  primeiro# :ue# &omo di4

l"aro Salls# O o :ue dE a :ualidadeP @@1# o :ue pree/iste J singularidade do indi"íduo sem :ue#

 parado/almente# ela dei/e de ser Qni&a% :ue impulsiona a en&arnação de Deus na e/ist,n&ia

 Custamente o seu amor pela "alidade eterna do instante# o amor-repetição :ue se distingue da

melan&olia da re&ordação# &uCa languide4 e:ui"ale# na atualidade# a uma desist,n&ia do "ir-a-ser

eeti"o% .ri9sen &hama a temporalidade eeti"ada para alm da mera possi$ilidade de $istoricidade

Gesc$ic$tlic$*eit  :ue &onstitui# para ele# ao lado das :uest<es da alteridade e do de"ir# uma das

:uest<es-guia para se entender a ideia de repetição% A :uestão da histori&idade $em &olo&ada

:uando parte de um posi&ionamento históri&o do indi"íduo na atualidade# pensando-o

simultaneamente &omo algum determinado pelo passado# e# de outro lado# O&ontinuamente

@I Repetição# p% 132%

@+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 1%@@0 .onceito de AngHstia# p% @%@@1 .onceito de AngHstia# p% 1%

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trans&endendo esta determinação ao entrar em relação &om ela e proCetar a si mesmo no uturoP @@2%

A histori&idade# segundo ele# a instn&ia em :ue de&orre o pro$lema da dualidade entre

&ompreender e "i"er# em :ue entram em Cogo as &ategorias de mo"imento da re&ordação e da

repetição% A al,n&ia da metaísi&a e a insui&i,n&ia da re&ordação apare&em em sua plenitude

:uando le"ada a termo a determinação undamental da modernidade# ou seCa# a ruptura da unidade

entre ser e pensar% Resse momento# a repetição torna-se de&isi"a no sentido de ir alm da

re&ordação# pois# se nesta Oa "ida suprassumida no entendimento# na repetição o entendimento

suprassumido no "i"erP@@3%

Dessa maneira# a histori&idade :ue se unda a partir da re&ordação 7 &uCo elemento undante

o entendimento :ue re&onstrói na &ons&i,n&ia-de-si a totalidade do passado 7 se distingue

radi&almente da histori&idade so$ o paradigma da repetição( nesta# não se pode mais atri$uir ao

entendimento o papel de re&onstituição da totalidade# Custamente pois ele se unda na re&ordação e

se remete ao passado% uando se "i"e para rente# a instn&ia temporal :ue &onstitui a totalidade

 passa a ser o uturo# e o Qni&o elemento :ue pode se arrogar um papel de &onstituição do uturo a

% 'or meio dela# o pro$lema da histori&idade passa a ser &omo Oreali4ar uma a$ertura genuína para

o uturoP@@?% .ri9sen e/pli&a esta arti&ulação por meio da noção de transiguração# :ue de&orre da

repetição% A transiguração o momento da repetição em :ue o "elho se torna no"o# e a suspensão

do &onlito entre o homem e Deus resol"ida por meio de uma de&isão indi"idual :ue se tradu4

numa apropriação interior # em :ue nada mais inlui a não ser a relação pessoal do indi"íduo &om

Deus% A perorman&e mais importante de +onstantius no te/to o seu mo"imento de retração# o seu

retirar-se de &enaN pre&isamente por:ue isto a$re espaço para :ue o leitor entre ele próprio &om a

sua perorman&e aut,nti&a# em :ue a repetição se eeti"a no real% .ri9sen e/pli&a( Oo proCeto de

+onstantius na Repetição se desintegra# en:uanto# num outro ní"el# um no"o proCeto impli&ado

 Custamente por esta desintegração% .m resignar-se do proCeto# +onstantius não o le"a a um termo#

mas o entrega a seu leitorP@@% .sta arti&ulação des&re"e uma apropriação Custamente na:uilo em :ue

o te/to permite ser reletido de si mesmo para o leitorN este não pode manter-se na mera

&ontemplação# mas de"e ad:uirir um interesse srio Custamente na:uilo em :ue o te/to alha na

&omuni&ação# mas :ue tam$m permite :ue se esta$eleça uma re&ipro&idade interior# uma

interpenetração mQtua entre o te/to e o leitor( Oa:ui a relação entre es&ritor e leitor tal :ue o leitor

não Vreprodu4 diretamenteV o :ue oi dito &omo um Ve&oV de seu próprio pensamento# mas o Vrepete

interiormenteV de modo :ue isto VressoaV neleP@@@%

@@2.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a Reconstruction# p% 11%@@3*dem# p% 12%

@@?*dem# p% ?1%@@*dem# p% %@@@*dem# p% %

13@

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.ste no"o registro de &omuni&ação mostra em :ue medida estes re&ursos estti&o-

dis&ursi"os en&ontram-se tam$m atrelados J repetição na a&epção temporal do termo% A

transposição do mo"imento para a interioridade re:uer :ue a repetição dei/e na sua &on&epção um

"a4io não resol"ido Custamente para :ue nele apareça a possi$ilidade de :ue a:uele :ue a pensa

ele"e-se a&ima de si próprio# indo alm# portanto# do próprio te/to e das arti&ulaç<es so$re a

repetição ali &ontidas# Oe/perimentandoP de ato o mo"imento da repetição% olmgaard ", na

des&rição deste mo"imento uma metEora do su$limeN mas a transiguração :ue dE &onta do

 pro$lema da histori&idade pre&isamente um ele"ar-se a&ima da noção de temporalidade# e repetir a

si mesmo na ininitude ele"ada da eternidade% A resolução do entendimento na "ida :ue o&orre na

repetição apare&e representada pelo salto entre o modo de di4er duas sentenças so$re a repetição

:ue# ainda :ue radi&almente distintas# di4em o mesmoN esta a passagem apontada por olmgaard

entre Oa e/ist,n&ia :ue e/istiu# passa agora a e/istirP# e Oonde a &ada instante se arris&a a "ida# onde

a &ada instante se perde a "ida e se "olta a ganhE-laP @@N uma sentença então Opoeti&amente

transormadaP@@I  na outra# num Omo"imento :ue aponta &omo o indi"íduo pode repetir-se

esteti&amente de maneira ininitaP@@% .ste modo de repetição &onsistiria então numa no"a "ia para

al&ançar a eternidade# em :ue o instante torna-se por im um instante su"lime# num Omo"imento

:ue aponta repetida e impla&a"elmente em direção J inimaginE"el e indi4í"el ininitude da almaP@0%

K Eternidade e repetição

Antes de uma passagem &uriosa em :ue +onstantius des&re"e o seu en&ontro &asual &om

uma Co"em no teatro# :ue lhe &ausara Omais alegria do :ue 6e/ta-eira a )o$insonP @1# ele emprega

algumas &opiosas linhas em respeito a uma nina re&onortadora# a &uCa Oino&ente pure4aP ele

atri$ui o $ena4eCo a&aso :ue o le"ara a este en&ontro ortuitoN ali# ele a &on"o&a pela sua Cu"entude

 perene :ue mostra a ele o &ontraste &om ele próprio na:uilo em :ue ele ha"ia CE se tornado# então#

"elho# a ponto de ansiar pelo des&anso eterno e ali"iar-se do ardo da humanidade(

O;u# minha iel re&onortadora# tu :ue ao longo dos anos preser"aste a tua ino&ente pure4aN

:ue não en"elhe&este# en:uanto eu ui i&ando "elhoN tu# nina tran:uila perto de :uem "oltei

a reugiar-me# &ansado dos homens# &ansado de mim mesmo# tão &ansado :ue pre&isa"a de

uma eternidade para des&ansar# tão triste :ue pre&isa"a de uma eternidade para es:ue&er% Rão

me negaste a:uilo :ue os homens me :uerem negar ao a4erem da eternidade algo de tão

@@ Repetição# pgs% 1# 132%@@IMGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% %

@@*dem# p% %@0*dem# p% %@1 Repetição# p% 1%

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atareado e de mais atro4 ainda :ue o tempo% Deitei-me então ao teu lado e desapare&i de

mim mesmo no espaço imenso do &u so$re a minha &a$eça# e es:ue&i-me de mim mesmo

no em$alo do teu murmurar_P@2

Da mesma maneira :ue o Co"em $us&a a repetição na orma de uma tempestade :ue a tudo

re&on&ilia# a sede de eternidade :ue +onstantius maniesta a:ui maniesta tam$m a &ons&i,n&ia de

:ue a eternidade a própria repetição% A nsia por um situar ade:uado do suCeito na temporalidade#

no entanto# maniesta-se para +onstantius &omo um &ansaço# uma ra:ue4a# uma esp&ie de  pat$os

:ue se re&onorta apenas num es:ue&er-se de si mesmo na &ontemplação passi"a da &anção míti&a

das ninas# a&ompanhado da presença indierente da Co"em espe&tadora do teatro% niilismo de

+onstantius na sua posição a$solutamente passi"a de o$ser"ador se origina# &om relação a este

anseio pela eternidade# na e/ig,n&ia mundana de uma ade:uação a um geral em :ue o indi"íduo não

se re&onhe&eN o uni"ersal# ou ainda# o ti&o# para ele uma instn&ia de e/ig,n&ias ininitas :ue

simplesmente não oere&em nenhum &onorto a não ser a promessa a$strata de uma eternidade

"indoura# &uCo ad"ento# apesar de tudo# hE de a&onte&er no inter"alo de tempo imensurE"el# eterno%

A Qni&a eternidade # para ele# o tempo :ue se le"a para atingir a plenitude da eternidade% seu

reQgio# o seu &onsolo mundano# :ue de orma alguma tra4 uma plenitude da alma# a

&ontemplação irHni&a do murmQrio lamentoso :ue des&re"e a sua própria misria% A des&rição do

Odesapare&er de si mesmo no imenso do &u so$re a minha &a$eçaP uma alusão ao su$lime#

en:uanto um sentimento re&onortante# mas ao mesmo tempo inó&uoN apenas um ragmento de

eternidade# um Etomo da plenitude do eterno% eeito :ue a:ui se tem a de&orr,n&ia do instante

su$lime( a sal"ação e a li$ertação no Omelan&óli&o murmQrioP@3%

lamentoso &lamor de +onstantius # para ele# uma de&orr,n&ia da sua in&apa&idade de

reali4ar a repetição% Ro entanto# ela en&ontra-se su$-repti&iamente presente% es:ue&er-se de si

mesmo só pode re&onortar na medida em :ue ele reere a si mesmo# e ele re&e$e a si mesmo de

"olta na orma de uma &ontemplação estti&a de si mesmo na a$ertura para a ininitude do Oespaço

imenso do &uP# em :ue ele atinge a a$soluta aus,n&ia de determinação e se perde no puro

&ontemplar% A impossi$ilidade da repetição :ue apare&e para ele apenas o impede de li$ertar-se do

 puro &ontemplar :ue o mantm distante do o$Ceto% 'or isso a repetição "in&ula-se J &ontemplação

e/terior da Co"em do teatro# de :uem des&re"e( O)apariga eli4_ 6e alguma "e4 um homem ganhar o

teu amor# :ue possas# sendo tudo para ele# a4,-lo tão eli4 &omo a mim me a4es ao nada por mim

a4eresP@?% A &omi&idade do relato apare&e não numa alsidade de sua disposição niilista# mas sim

 pelo ato de ele pro&urar a repetição na ruição do reen&ontro &om a moça uma segunda "e4 no

teatro# o :ue termina por não o&orrer% ;al"e4 ti"esse inad"ertidamente se deparado &om ela não na

@2*dem# p% 1%@3*dem# p% 1%@?*dem# p% 3%

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ele atinCa o mesmo patamar do mo"imento do Co"em Custamente o :ue OdestruirE por inteiroP a sua

 personalidade e o tornarE Oprati&amente irre&onhe&í"elP diante dele mesmo@N a personalidade de

+onstantius# por sua "e4# apenas suspensa na temporalidade# para depois ser retomada &omo

re&ordação# en:uanto :ue na repetição a retomada de"e ser pre&edida de uma destruição total em

:ue ela "em a tornar-se irre&onhe&í"el%

A personalidade na repetição# portanto# de"e ser &onsiderada portanto &omo presente no

instante# em :ue o presente mantm# para :ue não se torne apenas um momento e"anes&ente# uma

relação undamental &om o eternoN nesse sentido :ue Bedell di4(

Oo ato de :ue Vo presente &omo o eternoV tam"+m não possui passado ou uturo e/atamente

o :ue &onstitui sua pereição% .ntão# :uando se di4 de algum :ue possui ou transpare&e

 presença# não se di4 senão :ue ele não nem &arregado pelo lu/o da instantaneidade# nem

tampou&o a$straído na VatemporalidadeVP@I0

uando o presente ad:uire# atra"s dessa determinação# uma atualidade na sua relação &om o

eterno# ele se torna passí"el de es&olha ao mesmo tempo em :ue não se perde o "ín&ulo nem &om o

 passado e nem &om o uturo# pois am$os en&ontram-se Oem uma no"a dimensão de &ompletudeP@I1%

Dessa orma# o eterno# ao in&idir so$re a temporalidade# dE ao presente o &arEter de eternidade# e a

recordação para frente :ue a repetição representa tem o eeito de restituir o &onteQdo poten&ial da

ideia na realidade eeti"a% K nesse sentido :ue +onstantius airma :ue na ideia aut,nti&a &omo o a

do primeiro amor Oo presente e o uturo &om$atem entre si para en&ontrarem uma e/pressão eterna#

e este re&ordar pre&isamente o relu/o da eternidade para o presente# supondo :ue este re&ordar

seCa sãoP@I2% A saQde da re&ordação a saQde :ue dire&iona o indi"íduo para o uturoN trata-se a:ui

não propriamente da re&ordação# mas da repetição% inlu/o da eternidade no presente ruto de

um &onronto deste &om o uturo# &uCo resultado o re&ordar para rente% A relação undamental

entre o eterno e o presente e/pressa no seu mago por auniensis( Oo eterno o presente &omo

su&essão a$olida Z% +ompreende-se então por instante a a$stração do eterno# ou se :uisermos

tomar &omo presente# uma paródia dele% presente o eterno# ou# mais &orretamente# o eterno o

 presente# e o presente o plenoP@I3%

 Ra medida em :ue a temporalidade mundana resol"ida no instante &omo o presente em

&ontato &om o eterno# então# &omo di4 .ri9sen# Oa &ategoria da repetição de"e permitir :ue uma

ilosoia do uturo airme este mundo temporal &omo o lugar de nas&imento do eternoP@I?% Resse

@ Repetição# p% 12%@I0B.D.# G% +%N )ier*egaard9s .onception of Time# p% 2@I%@I1*dem# p% 2@I%

@I2 Repetição# p% 3I%@I3 .onceito de AngHstia, p% ?%@I?.)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a reconstruction# p% 120%

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sentido# a Oorça "italP :ue mata a morte e a transorma em "ida @I de"e ter a sua origem na

ininitude da plenitude inaugurada pela inusão da eternidade no tempo# :ue instaura Cunto &om ela

o "elho# o amiliar# mas agora pleno de um "alor eterno e ininito% K nesse sentido :ue o mo"imento

 pode ser designado &omo su"lime( a ininitude do "alor :ue se inunde de maneira trans&endente na

realidade imanente a&ompanhado de uma "ertigem em :ue o indi"íduo tomado por um

mara"ilhamento( O:uando o limiar do mara"ilhoso al&ançado# a eternidade a "erdadeira

repetiçãoP@I@% A eternidade a onte ininita do "alor supremo da realidade# a :ual# no entanto#

su$siste somente na medida em :ue esta en&ontra-se impregnada por ela% parado/o da união entre

o eterno e o históri&o dado primeiramente pela "inda de Deus J e/ist,n&ia no mistrio da

en&arnação# em :ue o históri&o se eternali4a e o eterno se histori&i4a@I%

A anElise de 6te=art so$re o &on&eito de repetição desde o ponto de "ista religioso mostra-o

so$ tr,s aspe&tos distintos( a nature4a trans&endente da repetição# a repetição &omo a$surdo# e a

repetição &omo eternidade# os :uais segundo ele# são assim elu&idados por auniensis% A:ui ele se

reere a uma nota em :ue 8ier9egaard enun&ia(

O)epetição apare&e de no"o em toda parte% 1 uando eu "ou agir# minha ação e/istiu em

minha &ons&i,n&ia na &on&epção e em pensamento 7 de outro modo# eu agi sem pensar 7 ou

seCa# eu não agi% 2 Ra medida em :ue eu "ou agir# eu pressuponho :ue eu estou em um

estado original integral% Agora "em o pro$lema do pe&ado# :ue a segunda repetição# pois

agora tenho de retornar a mim mesmo no"amente% 3 "erdadeiro parado/o pelo :ual eu

me torno o indi"íduo singular# pois# se eu permane&er no pe&ado# entendido &omo o

uni"ersal# hE apenas a repetição n% 2P @II%

.stas tr,s designaç<es reerem-se não J enumeração triEdi&a desta gradação eita por

8ier9egaard# mas &on&erne a possi$ilidade de "er esta mesma gradação de tr,s maneiras distintas% A

repetição &omo o trans&endente reere-se espe&ii&amente# para ele# a esta segunda aparição da

repetição# ou seCa# a segunda repetição como pecado% .ste &onstitui na sua entrada no mundo um

@I Repetição# p% 3I%@I@Obhen the $orderline o the =oundrous is rea&hed# eternit> is the true repetitionP% !ear and Trem"ling# Repetition#

 p% 30%@IResse ponto# pre&iso ao menos apontar a eeti"idade da transiguração :ue o&orre :uando o indi"íduo situa-se na

tarea de  tornar%se contemporZneo &om o homem-deus# em :ue propriamente se dE a &olisão do instante% Roentanto# este tema traria a ne&essidade de :ue ossem tratados outros e/tensos# &omo a psi&ologia dogmEti&a de8ier9egaard e um aproundamento da noção de pe&ado# tal"e4 ainda a :uestão do es&ndalo e do desespero% Diantedessa e/ig,n&ia# &a$e apenas airmar :ue# do ponto de "ista estti&o# a &ontemporaneidade pode ser tratada domesmo modo &omo o salto para o ininito o para o indi"íduo# ou seCa# tal &omo uma perorman&e em :ue oindi"íduo li"re para por a si mesmo so$ o Cugo do &Hmi&o# do ponto de "ista do geral% A ne&essidade destaarti&ulação da perorman&e &om o &Hmi&o serE tratada em seguida no pró/imo &apítulo%

@IIO)epetition &omes again e"er>=here% 1 bhen * am going to a&t# m> a&tion has e/isted in m> &ons&iousness in&on&eption and thoughtother=ise * a&t thoughtlessl>that is# * do not a&t% 2 *nasmu&h as * am going to a&t# *

 presuppose that * am in an original integral state% Ro= &omes the pro$lem o sin# =hi&h is the se&ond repetition# orno= * must return to m>sel again% 3 ;he real parado/ $> =hi&h * $e&ome the single indi"idual# or i * remain insin# understood as the uni"ersal# there is onl> repetition no% 2P% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30%

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salto :ualitati"o( Ooriginalmente os homens "i"iam num estado de harmonia paradisía&a# e então

"eio o pe&ado original# :ue signii&ou uma ruptura radi&al deste estadoP @I% Reste estado# toda ação

do indi"íduo "in&ulada J pe&a$ilidade# sem :ue haCa a possi$ilidade de uma redençãoN o indi"íduo

en&ontra-se apartado de si mesmo 7 não portanto indi"íduo# mas uma su$Ceti"idade &indida# :ue

anseia em re&on&iliar-se no"amente &onsigo própria% 6te=art airma :ue a morte de +risto signii&a

a ultrapassagem desse estado# a redenção entre homem e Deus# em$ora para ele Oeste estEgio inal

num &erto sentido represente uma repetição do primeiro estEgioP@0% Resta ter&eira repetição# o

 pe&ado original dei/a de ser algo de&isi"o para a es&olha do homem# mesmo por:ue a es&olha

suplantada pela es&olha undamental :ue en"ol"e a repetição no salto para o ininito% A graça di"ina

 permite :ue o pe&ado seCa ultrapassado# e esta ter&eira orma a :ue indi&a a orma mais alta da

repetição% A des&ontinuidade :ue &ara&teri4a a passagem para o pe&ado e do pe&ado para a graça

di"ina o :ue deine o &arEter trans&endental da repetição%

A segunda orma# :ue parte da airmação da repetição &omo um mo"imento em "irtude do

a$surdo# re&orrente nas anotaç<es de 8ier9egaard# mas não &onsta propriamente no li"ro% De

a&ordo &om 6te=art# o a$surdo designa nessa relação o :ue +lima&us &hama de &ontradição da

&ons&i,n&ia# a sa$er# Oa undamental e irre&on&iliE"el in&omensura$ilidade entre atualidade e

idealidade ou parti&ularidade e uni"ersalidade# Deus e o homem# em dianteP@1% Mas essa

in&omensura$ilidade tam$m o :ue designa a arti&ulação undamental do parado/oN o mo"imento

em "irtude do a$surdo seria# nesse sentido# o mo"imento do OsaltoP :ue torna eeti"o o parado/o% A

in&omensura$ilidade entre as duas instn&ias a4 &om :ue elas possam ser postas em relação

somente por meio de uma arti&ulação parado/al :ue não permite uma mediação lógi&o-dialti&a# o

:ue tem &omo &onse:u,n&ia a aus,n&ia de síntese &ara&terísti&a da dialti&a da e/&eção# &uCo

e/emplo o Co"em poeta% *sso permite &on&luir :ue# Cunto ao su$strato parado/al do religioso :ue

dE enseCo ao salto# o poti&o apare&e &omo a determinação e/terior# aparente# do a$surdo intrínse&o

a este mo"imento# e torna-se# portanto# a sua Qni&a orma de e/pressão%

Mas o parado/o espe&íi&o :ue se desta&a no :ue di4 respeito J determinação da

temporalidade a inusão do eterno no tempo# :ue designa portanto a ter&eira orma :ue 6te=art ",

&omo possi$ilidade de interpretação desta passagem% .m rela&ionando a ter&eira repetição# em :ue

se dE o parado/o do tornar-se indi"íduo# &om a designação da repetição &omo eternidade# a

des&rição do indi"íduo eita por auniensis do indi"íduo &omo uma Osíntese do temporal e do

eternoP@2 torna-se essen&ial para :ue se &ompreenda :ue a in&omensura$ilidade dos dois termos

impli&a :ue esta em :ue síntese seCa de natureLa parado1al # da mesma orma :ue o no &aso da

@I6;.bA);# L%N )ier*egaard9s Relation to 8egel Reconsidered # p% 2I%

@0*dem# p% 2%@1*dem# p% 300%@2 .onceito de AngHstia# p% @%

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K 'imiar da Repetição

;endo sido e/pli&adas as a&etas metaísi&o-&on&eituais da repetição# so$ a sua dupla

determinação en:uanto uma &ategoria negati"a &om relação ao pro&edimento metaísi&o de

&on&eituali4ação# e en:uanto uma &ategoria positi"a de mo"imento em relação J temporalidade# a

tarea agora tra4er estas arti&ulaç<es para um m$ito em :ue elas possam ser "islum$radas do

 ponto de "ista estti&o% 'ara :ue isto seCa possí"el ne&essErio :ue apareça &laramente o  ponto de

infle1ão em :ue a repetição a&onte&e en:uanto mo"imento# em :ue por meio dela designada uma

atualidade em :ue a li$erdade posta numa eeti"idade temporal aut,nti&a% Reste es&opo# a

repetição de"e apare&er so$ a determinação do modo de &omuni&ação em :ue se situa o estti&o

&omo uma forma po+tica de e1posiçãoN de maneira :ue sua delimitação depende# por sua "e4# da

deinição da repetição &omo um &on&eito da li$erdade no &arEter uni"ersal do +tico# $em &omo da

orma est+tica da e/posição da repetição &omo parado/o# em :ue se &olo&a ao mesmo tempo a

:uestão da in&omensura$ilidade# :ue resulta# portanto# na :uestão da orma humorísti&a da

repetição# :ue se determina no te/to de maneira espe&íi&a por meio do farsesco%

tema geral deste &apítulo &on&erne# portanto# ao em$ate entre# de um lado# o ti&o# para o

:ual a repetição &onstitui a sen$a 7 a temporalidade ti&a tem na repetição a sua conditio sine &ua

non : e# de outro# o estti&o# :ue# para a repetição# &onsiste na:uilo :ue de"e em si ser resol"idoN na

medida em :ue &onstitui a orma imediata e não ela$orada da li$erdade# para o :ual a :uestão da

repetição de"e ser posta de maneira ade:uada% A insui&i,n&ia do estti&o rente J tarea da

repetição# em$ora CE tenha sido tratada nos &apítulos anteriores# serE re&uperada a:ui na sua relação

&om os limites do ti&o# na medida em :ue ele designado# ao mesmo tempo# &omo uma esera

transitória# em :ue# apesar da tarea da li$erdade CE estar posta# a repetição ainda não &ulminou na

redenção do indi"íduo% Resse sentido# a ti&a de"erE ser posta na medida em :ue a tarea da

li$erdade "ista não &omo uma meta posta pelo indi"íduo para si próprio na medida em :ue ele se

ele"a a&ima de si próprio# mas &omo uma e/ig,n&ia e/terior# :ue permane&e ausente do mo"imento parado/al :ue o torna# ele próprio# indi"íduo e/istente% A e/ig,n&ia ormal do ti&o tem seu lugar no

uni"ersal a$strato# e a sua generalidade rente J li$erdade do indi"íduo gera uma

in&omensura$ilidade na medida em :ue este# CE :ue ela de"e su$sistir nesse sentido &omo e/ig,n&ia#

não nun&a &apa4 de &umprir &om os seus ditames a$solutos% uando estE posta a

in&omensura$ilidade# surge a :uestão do &Hmi&o &omo um elemento undamental para :ue se

&ompreenda não só os limites do ti&o# mas tam$m em :ue medida o estti&o reapare&e &omo um

elemento no"amente "Elido ao passo em :ue posto este limite%A &ompreensão da relação dos limites &ríti&os em :ue o ti&o e o estti&o são postos na

1??

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repetição dependem de um mo"imento religioso# :ue e/emplii&ado no te/to da  Repetição  por

meio da igura de Ló# :ue ao mesmo tempo uma igura e/emplar da repetição# e tam$m um

 personagem perormEti&o tipii&ado% A representação :ue Ló ad:uire no te/to des&rita &omo um

confinium &om a poesia# em :ue posto em :uestão o ponto ininitesimal da ronteira da repetição

&om o estti&o% De outro lado# a igura de A$raão tipii&a# por assim di4er# o limiar da repetição &om

relação ao ti&o# em :ue posta em :uestão a suspensão do ti&o no mo"imento religioso do

sa&rií&io de *saa&% Da mesma orma :ue Ló re&e$e tudo em do$ro após a sua pro"ação# A$raão

re&e$e de "olta o seu ilho atra"s do salto religioso no parado/o da N A$raão pode ser "isto &omo

um personagem da repetição tam$m neste sentido# em :ue ele re&e$e a *saa& de "olta# e Cunto a

isso# a Custii&ação da sua diante de Deus% 'or meio destes dois personagens# a repetição apare&e

 portanto no seu limiar &om o estti&o e &om o ti&oN mas a delimitação de Ló rente ao religioso em

espe&íi&o tem tam$m a unção de determinar o al&an&e e a proundidade da sua pro"ação em

ra4ão da pro"ação pela :ual passa o Co"em da  RepetiçãoN esta serE mostrada a prin&ípio num

des&ompasso &om relação J:uela# em :ue uma se torna diante da outra &on&e$í"el apenas de

maneira &Hmi&a# tal :ue o &arEter arses&o do li"ro seCa posto em e"id,n&ia para :ue seCa possí"el

"in&ulE-lo ao estti&o% Ro entanto# o in&omensurE"el de"e permane&er a:ui &omo um pressuposto

meramente possí"el# dado :ue ele se eeti"a somente a partir do ponto de "ista do geral# o Qni&o a

 partir do :ual pode surgir o humorísti&o%

K0 ;eriedade e comicidade com relação U Vtica

uando Sigilius auniensis airma da Repetição :ue O um li"ro engraçado# &omo# aliEs# o

deseCou o autorP@# logo em seguida ele airma :ue seu autor +onstantin +onstantius teria sido Oo

 primeiro# :ue eu sai$a# a ha"er &aptado &om energia Oa repetiçãoP e a t,-la des&o$erto no "igor

e/pressi"o :ue tem o seu &on&eitoP@@% E nesta airmação uma &erta am$iguidade insidiosa( ao

mesmo tempo :ue o li"ro oi es&rito propositadamente para ser engraçado# ele ao mesmo tempo

&apa4 de &aptar o O"igor e/pressi"oP da repetição# no :ual nada se perde pelo ato de o tratamentointen&ional do li"ro ser &al&ado no humor% +om isso# auniensis pare&e airmar# ao &ontrErio# :ue#

na medida em :ue a intenção de +onstantius ora mesmo esta# o ato do &Hmi&o ser determinante na

&ompreensão da repetição torna-a de &erta orma &ondi&ionada ao seu apare&imentoN uma leitura

&orreta do li"ro# :ue seCa em alguma medida &apa4 de des"endar a  sen$a da repetição na linguagem

cifrada# anti%$er+tica em :ue o li"ro oi es&rito# de"e passar então pelo &Hmi&o :ue oi ali inundido

 propositadamente% .sta unção do te/to# no entanto# apare&e no mínimo &omo um mal-entendido#

@.onceito de AngHstia# p% 20%@@*dem# p% 20%

1?

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 pois a &hega a ser dito na primeira parte do te/to :ue Oa:uele :ue :uer a repetição amadure&eu em

seriedadeP@# e a própria repetição deinida &omo Oa seriedade da e/ist,n&iaP @I% 6e se le"a em

&onta a airmação de +onstantius de :ue tudo o :ue dito nesta mesma parte do te/to $uonaria

ou meia "erdade# o pro$lema se torna ainda mais srio# pois a própria noção de repetição apare&e

mais "a4ia na medida em :ue a airmação mais &ategori&amente sria so$re a relação da repetição

&om a seriedade e maturidade na e/ist,n&ia tornar-se-ia ela mesma algo digno de gargalhadas% A

 própria airmação de +onstantius de :ue a primeira parte do te/to não de"e ser le"ada a srio

tam$m digna da dQ"ida de se ela mesma de"e ser le"ada a srio% Ainda :ue a ,nase dada por ele

de :ue a seriedade da repetição a sua Ode&laração de "otoP@ seCa le"ada em &onsideração# o

 pro$lema não se resol"e# pois a sua airmação pre&ede apenas o ra&asso perormEti&o da repetição

 por parte da:uele mesmo :ue enun&ia a sua realidade e seriedade%

A "iagem rustrada de +onstantius apenas um dos elementos# em$ora seCa o :ue mais salta

aos olhos# em :ue o humorísti&o "em J tona no li"ro% 'ode-se apontar inQmeros outros pre&isamente

onde apare&e o mal-entendido no in&omensurE"elN dentre eles# poder-se-ia &itar a pretensão

inundada da re&ordação em mo"er-se para a rente# a da pretensão da  Auf$e"ung em ser um

dis&urso eeti"o de mo"imento# a tentati"a do Co"em em e:uiparar-se a Ló# e em meio a tudo isso as

inumerE"eis anedotas menores :ue +onstantius insiste em tra4er para a narrati"a# &uCas relaç<es

&om o tema prin&ipal são em grande parte pou&o e"identes# &ausando uma :ue$ra no ritmo :ue por

"e4es le"a o leitor a perder-se na impa&i,n&ia &ausada por tantas digress<es aparentemente

inessen&iais% A elasticidade : ou tal"e4 a alta de um rigor mais propriamente &on&eitual 7  :ue o

&on&eito de repetição ad:uire no tratamento humorísti&o a ele dado por +onstantius mais um ator

de &omi&idade# a :ual não passa desper&e$ida para auniensis(

O+omo ele só :uis o&upar-se do assunto estti&a e psi&ologi&amente# tudo pre&isa"a ser

disposto humoristi&amente# e o eeito al&ançado a4endo-se :ue esta pala"ra ora signii:ue

tudo# ora a &oisa mais insignii&ante de todas# e a passagem ou# mais &orretamente# o

&onstante &air das nu"ens# moti"ado pela sua &ontrapartida $urles&aP00

E um ator &omum a todos estes elementos :ue e"iden&ia-se na medida em :ue se os ",

&ada um deles &omo uma pretensão rustrada# &omo um O&onstante &air das nu"ensPN a dis&repn&ia

em :ue uma intenção ideal se dissol"e na rigide4 aterradora de um real :ue se imp<e% A

in&omensura$ilidade surge na &ontrapartida de um ideal :ue não pode possuir nenhuma

determinação eeti"a a não ser a própria pretensão# no :ue ele se mostra tão trans&endente para o

indi"íduo :ue tenta reali4E-la &omo a repetição se mostra para +onstantius% A impossi$ilidade da

idealidade o :ue "em a ser para auniensis a determinação undamental do ti&o% A idealidade da

@ Repetição# p% 33%

@I*dem# p% 33%@*dem# p% 33%00.onceito de AngHstia# p% 20%

1?@

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ti&a por si só # para a &ons&i,n&ia en:uanto locus da repetição &omo o &ho:ue entre real e ideal#

apenas um Opoder :ue o$rigaP# uma normati"idade e/terior J :ual a &ons&i,n&ia não tem outra

opção senão &ontrapor-se# pois a ti&a i&a a:ui redu4ida J mera idealidade% .la só ganha a

determinação eeti"a &om a repetição# &omo mostra auniensis( Ose a repetição não posta# a Kti&a

transorma-se num poder :ue o$riga e por isso# pro"a"elmente# :ue ele di4 :ue a repetição a

senha solução na &on&epção ti&aP01%  A solução :ue a repetição impli&a# no &aso do ti&o# a

 própria possi$ilidade da dogmEti&a religiosa# na medida em :ue esta signii&a a repetição da

li$erdade &omo pecado# em :ue# pela própria noção da pe&a$ilidade do homem# atesta a própria

impossi$ilidade da ti&a en:uanto pura idealidade% A a"or disso# auniensis e/plí&ito(

O:uanto mais ideal a Kti&a# tanto melhor% .la não de"e dei/ar-se transormar pela &on"ersa

o&a dos :ue airmam :ue de nada adianta e/igir o impossí"elN pois dar ou"idos a tais

&on"ersas CE não ti&o# algo para o :ue a Kti&a não tem tempo nem oportunidade Z %

 pe&ado então só perten&e J Kti&a na medida em :ue nesse &on&eito em :ue ela en&alhaP02

 Ro entanto# a possi$ilidade da dogmEti&a dada pela repetição não impli&a :ue a ti&a# na

medida em :ue en&ontra-se a:ui disso&iada do real eeti"o# seCa então a$andonada# da mesma orma

:ue a idealidade estti&a# :ue não atrai o indi"íduo &omo uma e1igência# &omo no &aso da ti&a#

mas sim &omo uma idealidade desej6-el # mas :ue Custamente por isso tam$m se torna uma

idealidade diante da :ual a li$erdade se desespera% .sta distinção dada tam$m por auniensis#

ao &omentar o intento do autor de Temor e Tremor (

OAí# o autor le"a "Erias "e4es a idealidade deseCada pela .stti&a a en&alhar na idealidadee/igida pela Kti&a# a im de a4er surgir desses em$ates a idealidade religiosa &omo a:uela

:ue Custamente a idealidade da realidade eeti"a# e por isso tão deseCE"el :uanto a da

.stti&a e não impossí"el &omo a da Kti&a# mas de tal maneira :ue esta idealidade irrompe no

salto dialti&o e na atmosera positi"a do Veis :ue tudo no"o_VP03

.sta designação dialti&a :ue a Kti&a esta$ele&e &om o religioso da repetição na orma do -el$o &ue

 se torna no-o  o :ue permite situE-la na Otopologia e/isten&ialP de 8ier9egaard# &omo mostra

Desro&hes# &omo uma Oesera de transiçãoP0?# na medida em :ue seria a esera intermediEria entre o

estti&o e o religioso% s limites do ti&o# ou seCa# a maniestação da sua idealidade &omo

impossí"el# se dão ao mesmo tempo em :ue se eeti"a o &on&eito de pe&ado# mas a redenção :ue

 propi&iada no religioso &orresponde a esta Oirrupção da idealidadeP :ue se dE na repetição# em :ue

 parado/almente a eeti"idade do ideal ti&o su"siste ao lado de sua eeti"idade%

pe&ado# a ideia de :ue o homem en&ontra-se a:um da &ondição de possi$ilidade do ideal

ti&o# onde a ti&a en&ontra# portanto# o seu limite( O6e a ti&a a&olher o pe&ado# a&a$ou-se a

01*dem# p% 20%

02*dem# p% 1%03*dem# p% 1%0?D.6)+.6# D%N T$e e1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 23%

1?

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idealidade dela% Z Agora tudo estE perdido para a Kti&a# e a Kti&a &ontri$uiu para a perda totalP0%

A &ons&i,n&ia do pe&ado# &ontudo# &onsiste na insui&i,n&ia da lei moral na medida em :ue ela

aunda no seu próprio pressuposto% +omo mostra Moone>( Ouma responsa$ilidade re:uerida por si

e pelos outros :ue ultrapassa o :ue os agentes morais podem dispor por &onta própria% Ra medida

em :ue o ardo do sorimento moral &ausado por esta ine"ita$ilidade aumenta# a ti&a &hega a um

impasseP0@% A Qni&a saída a este impasse # portanto# a :ue$ra da ei :ue indu4 ao pe&ado% Mas se o

 pe&ado &onsiste undamentalmente numa transgressão da ei# então# na medida em :ue esta institui

o uni"ersal# a e/&eção só pode ser :ualii&ada &omo uma e/&eção religiosa# na medida em :ue sua

igura undamenta a noção de pe&ado% Mas o uni"ersal# na sua dialti&a &om a e/&eção# só se

 Custii&a por meio da:uilo :ue o transgride# da própria e/&eção% Assim# da mesma orma :ue Deus

institui a ei# .le tam$m :uis :ue a ei osse transgredida# pois nesta transgressão .le "em a ser

 Custii&ado% K nesse sentido :ue Desro&hes des&re"e a  suspensão teleol5gica do Vtico eetuada por

A$raão em Temor e Tremor N o sa&rií&io de A$raão &onstitui uma transgressão do uni"ersal# e

 portanto uma irrupção da e/&eção( ODeus prop<e uma no"a lei a A$raão :ue não pode ser uni"ersal#

um no"o modo de interpretar o mundo% .sta lei não pode ser e/pli&ada na ordem da linguagem e

&onse:uentemente não pode tornar-se normaP0% A ordem di"ina :ue se en&ontra a&ima da lei geral

só a&essí"el J:uele :ue ultrapassa o mero entendimento das determinaç<es do geral atra"s de

uma outra instn&ia :ue não o entendimento# ou seCa# a própria f+# na medida em :ue somente nela o

 parado/o :ue transgride o geral da lei di"ina possi$ilitadoN daí auniensis airmar :ue Ona

&omeça a repetição# e a o órgão para os pro$lemas dogmEti&osP0I%

A idealidade do ti&o :ue se torna perdida no pe&ado # portanto# re&uperada no parado/o da

# na repetição em :ue se dE o parado/o 0 em :ue o indi"íduo singular "em-a-ser a si mesmo 7

retorna a si mesmo% Ra medida em :ue de"e ser dessa maneira retomada# a idealidade do ti&o por

si só não pode orne&er um aca"amento J e/ist,n&iaN a repetição# nesse sentido# apare&e &omo um

no"o &omeço em :ue a possi$ilidade deste a&a$amento ela própria posta nos termos da

temporalidade utura% +omo mostra auniensis( Oou $em toda a e/ist,n&ia estE a&a$ada na

e/ig,n&ia ti&a# ou então a &ondição en&ontrada# e a "ida e a e/ist,n&ia toda re&omeça doiní&ioP10% A possi$ilidade da suspensão teleológi&a do ti&o se dE a partir do próprio ra&asso dela

em propi&iar este a&a$amento# no :ue "em a ser possí"el uma relação em :ue todo o uni"ersal

suspenso sem :ue# no entanto# o próprio de"er o seCa# CE :ue ele se mantm &om respeito J ordem

0 .onceito de AngHstia# p% 20-21%0@MR.[# .% F%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 2%0D.6)+.6# D%N T$e e1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 2@%0I .onceito de AngHstia# p% 20%

0Ser a nota 1?2 do &apítulo anterior# a&er&a dos tr,s momentos em :ue a repetição reapare&e &omo pressuposto% +% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30%

10 .onceito de AngHstia# p% 1%

1?I

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di"ina e somente a ela# no :ue ele se torna o Ode"er a$soluto para &om DeusP 11% A suspensão do

ti&o neste de"er a$soluto não signii&a# pois a a$olição da ti&a# mas sim# &omo e/pli&a De

6ilentio# ela Ore&e$e uma e/pressão muito dierente# a do parado/oP12# :ue tem sua determinação

na e/ig,n&ia di"ina :ue apare&e &omo &ompletamente antagHni&a# ou melhor di4endo# independente

do geral% A relação do indi"íduo duplamente dire&ionada ao geral e ao a$soluto se in"erte :uando o

Oindi"íduo superior ao geralP no parado/o da ( Oo indi"íduo determina sua relação &om o geral

tomando &omo reer,n&ia o a$soluto# e não a relação ao a$soluto em reer,n&ia ao geralP 13% ;em-se#

deste modo# :ue o reorço do ti&o pela e/&eção representada pela indi"idualidade de"e permitir um

mo"imento parado/al da norma ti&a para determinar a e/&eção# pois ainda :ue ela seCa de &arEter

uni"ersal# a determinação da e/&eção não simplesmente negati"a# pois# se uma se Custii&a por

meio da outra# hE uma relação simultaneamente positi"a e antagHni&a# ou seCa# parado/al%

 Resse sentido# na medida em :ue a e/ig,n&ia do ti&o imp<e uma escol$a de si mesmo

diante do geral# &uCo pressuposto não senão um :uerer a si mesmo# ela pressup<e# portanto# a

repetição# o "ir-a-ser de si mesmo% no"o :ue a repetição tra4 o :ue CE oi :ue "olta a e/istirN e a

es&olha de si mesmo no ti&o# &omo mostra Grcn# O &ara&teri4ada pelo deseCo de uma pessoa em

 permane&er numa &ontinuidade &onsigo própria% *sso e/presso na e/ig,n&ia de es&olher a si

mesmo# e isto &ontm uma repetição( :uerer a si mesmo no"amenteP1?% Do ponto de "ista ti&o da

es&olha a$soluta# portanto# a repetição este assumir-se a si mesmo no"amente por meio de um

:uerer a si próprio :ue se identii&a &om o :uerer a repetição% aundamento do ti&o no seu

en&ontro &om o pe&ado o :ue mostra o desespero de &arEter ti&o do indi"íduo :ue :uer a si

mesmo# mas não o &onsegue a não ser num mo"imento religioso em "irtude do a$surdo% ;al o

&aso do Co"em poetaN ele $us&a uma solução ti&a para o seu impasse 7 uma tempestade :ue o

OtornarE apto a ser esposoP1# e OdestruirE por &ompletoP1@ a sua personalidade# sal"arE a sua honra

e redimirE o seu orgulho% Mas ele se desespera pois# ainda :ue a sua espera seCa dotada da mais

sin&era seriedade# ela só se dE em "irtude do a$surdo% A seriedade# &omo mostra ;sa9iri# Oa

disposição &orrespondente ao pe&adoP1# en:uanto :ue# do ponto de "ista estti&o# o pe&ado

&orresponde J melan&olia1IN o Co"em se aper&e$e do pe&ado somente na repetição# :uando eleapare&e propriamente &omo a repetição da li$erdade# em :ue ele re&e$e a si mesmo de "olta% A:ui

ele não pode mais ser deinido# portanto# &omo um melan&óli&o# e a sua disposição poti&a ad:uire

 portanto uma a&eta muito mais religiosa do &ue propriamente est+tica

11Temor e Tremor # p% 10%12*dem# p% 11%13*dem# p% 11%1?G)R# A%N Repetition and t$e .oncept of Repetition# p% 10%1 Repetição# p% 12%

1@*dem# p% 12%1;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 22%1I*dem# p% 2%

1?

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pe&ado en:uanto repetição da li$erdade# ou seCa# a instn&ia onde a li$erdade se rela&iona

&om sua tarea# ela própria deinida por +onstantius &omo a instn&ia da seriedade( O6omente na

relação da li$erdade &om a tarea de li$erdade :ue hE seriedadeN onde :uer :ue o espírito se

rela&ione &om seu outro de tal orma :ue este outro não a li$erdade# a o$ser"ação &Hmi&a tão

legítima# e/atamente tão legítima# &omo a sentimentalP1% A relação undamental do espírito a

relação dele &onsigo próprio# o :ue mostra :ue o espírito só posto pelo pe&ado e atra"s dele#

sendo ele a sua &ondição undamental% .m "irtude desta arti&ulação# Grcn se permite airmar :ue

Ono seu sentido pleno# a repetição pressup<e o &on&eito de pe&adoP 20 o :ue signii&a# por outro

lado# :ue a repetição da li$erdade :ue dE origem ao pe&ado não a repetição em sentido pleno%

Mas a relação &onsigo próprio# :ue ormulada no "ir-a-ser da atualidade# a própria repetiçãoN o

indi"íduo então só pode rela&ionar-se &onsigo próprio eeti"amente# no :ue ele posto en:uanto

espírito# na repetição en:uanto pe&ado# no :ue se en&ontra imposta a seriedade% .sta seriedade

&hamada por 8ier9egaard de Ooriginalidade ad:uiridaP# em oposição J noção de hE$ito# :ue Oo

desapare&imento da auto-sens&i,n&iaP21# a partir da :ual ele deine a repetição genuína &omo

seriedade22% A originalidade ad:uirida tem o seu sentido na:uilo em :ue a repetição representa a

eeti"idade do no"oN auniensis e/pli&a esta ligação da seguinte orma( O:uando a originalidade na

seriedade &on:uistada e &onser"ada# aí o&orre uma su&essão e repetiçãoN mas :uando alta

originalidade na repetição# aí temos então o hE$ito% homem srio Custamente srio graças J

originalidade &om :ue ele retorna ao ponto ini&ialP23%

'or outro lado# a a&usação de auniensis de :ue o assunto Opre&isa"a ser disposto

humoristi&amenteP2? retira da seriedade a determinação undamental da maniestação da repetição#

legando a sua eeti"idade apenas J interioridade e ao sil,n&io% Mas se a seriedade osse o sui&iente

 para e/pressar a proundidade da repetição em sentido pleno# $asta"a :ue se ela osse disposta de

maneira a en&ontrar no ti&o a sua resolução% A insui&i,n&ia do ti&o# portanto# o :ue a4 &om :ue

o humorísti&o se torne impres&indí"el para a apresentação da repetiçãoN e somente assim a4

sentido a a&usação de auniensis so$re +onstantius( Oo :ue ele des&o$riu# porm# "oltou a

es&ond,-lo# disarçando o &on&eito so$ os gra&eCos da representação &orrespondenteP2% A ligação&om o &Hmi&o retoma# no"amente# a possi$ilidade de :ue a Ode&laração de "otoP de +onstantius

1Onl> in reedomVs relation to the tas9 o reedom is there earnestnessN =here"er else spirit relates to its other insu&h a =a> that this other is not reedom# &omi& o$ser"ation is Cust as legitimate# Cust e/a&tl> as legitimate# as thesentimentalP% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 22%

20G)R# A%N Repetition and t$e .oncept of Repetition# p% 11%21 !ear and Trem"ling# Repetition## p% 32%22*sso permite :ue se &on&lua :ue# :uando +onstantius airma :ue a repetição Oa seriedade da e/ist,n&iaP e &onirma

isto &omo uma de&laração de "oto# ele não estE sendo espirituosoN o :ue# por outro lado# mostra a espirituosidade presente na sua airmação de :ue tudo o :ue dito na primeira parte do te/to $uonaria# "isto :ue esta airmação lEse en&ontra% +% Repetição# p% 33%

23 .onceito e AngHstia# p% 1@%2?*dem# p% 20%2*dem# p% 20%

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so$re a repetição &omo seriedade seCa ela mesma uma 4om$ariaN e orma de apresentação da

repetição toma a orma de um gra&eCo pois# de alguma orma# a seriedade do ti&o não &apa4 de

des&re"er o CQ$ilo do su$lime :ue atingido na repetição - da mesma orma :ue o Co"em não

&apa4 de airmar se OestE num estado de $eatitude ou de alegria ou aundado num estado de

&ar,n&iaP2@% A seriedade# ao &ontrErio# "em a ser# da mesma orma :ue o humorísti&o# su$ordinada

ao modo da relação a$soluta do indi"íduo &onsigo próprio na sua tarea# mas não des&re"e o mago

desta relação# :ue# pre&isamente por não poder ser des&rita# &onstitui o &arEter trans&endente da

repetição% Desse modo# &omo ha"ia mostrado auniensis# a seriedade "em a esta$ele&er uma

relação &om a repetição :ue poderia# &om alguma impre&isão# ser des&rita &omo regulati"a# na

medida em :ue ela sustenta a repetição na:uilo :ue ela tra4 de no"o e :ue a distingue do hE$itoN

muito em$ora esta unção seCa de ato indispensE"el% auniensis pare&e arti&ulE-la tam$m desta

maneira( O "erdade :ue se di4 :ue um sentimento "i"o e interior &onser"a a originalidade% 'orm a

interioridade do sentimento um ogo :ue pode arree&er sempre :ue a seriedade não &uidar dele# e#

 por outra parte# a interioridade do sentimento de nimo instE"elP2%

auniensis &hega a deinir a seriedade &omo Oa personalidade mesma# e só uma

 personalidade sria uma personalidade eeti"aP2I% indi"íduo só pode "ir-a-ser en:uanto tal na

seriedadeN no entanto# ela de"e ser posta ade:uadamente em relação ao seu o$Ceto# de modo :ue

uma inade:uação nesse sentido des&o$erta pela inspeção impla&E"el da ironia# e o srio degenera

então no &Hmi&o( O:ue as &oisas o&orrem deste modo# a ironia o des&o$re# e a:ui ela tem muito o

:ue a4erN pois todo a:uele :ue i&a srio no lugar errado eo ipso &Hmi&oP2% o$Ceto ade:uado

da seriedade no indi"íduo # nesse sentido# o próprio indi"íduo na seriedadeN e o o$Ceto da seriedade

 por si só a própria seriedade% De ato# se não se srio so$re a própria seriedade# ela se torna

apenas um re&urso retóri&o &om uma inalidade alheia# &uCa des&o$erta um desmas&aramento :ue

redunda no &Hmi&o(

O:uem não se tornou srio em relação a si mesmo# porm# a partir de :ual:uer outra &oisa# de

:ual:uer &oisa grandiosa ou $arulhenta# # apesar de toda a sua seriedade# um $rin&alhão# e

mesmo :ue &onsiga durante algum tempo enganar a ironia# a&a$arE# -olente deo# por setornar &Hmi&o# pois a ironia 4ela pela seriedadeP30

.ssa aparente auto-reer,n&ia &í&li&a da seriedade não signii&a :ue ela no seu &arEter undamental

se esta$eleça &omo um isolamento de todo o resto :ue não lhe di4 respeitoN mas# ao &ontrErio# ela se

torna a perspe&ti"a $asal :ue permite um posi&ionamento a&er&a de :ual:uer outro ponto de "ista#

 pois ela tem# ao &ontrErio das Otagareli&esP da:uilo :ue se pretende srio sem passar pela escol$a

2@ Repetição# p% 132%2 .onceito de AngHstia# p% 1@%

2I*dem# p% 1%2*dem# p% 1%30*dem# p% 1%

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 fundamental   do :ue conse&uente  na seriedade# uma undamentação rele/i"a em si própria%

A:uilo :ue# portanto# toma a orma do srio# de"e permear em todas as outras instn&ias en:uanto

uma esp&ie Cuí4o a"aliador :ue p<e o alheio em unção dele mesmo# na:uilo em :ue ele "em a se

mostrar atra"s dela &omo digno de ser le"ado em &onta%

.ntretanto# ironi&amente parado/al :ue a própria ironia "enha a ad:uirir na determinação

da seriedade# em relação J:uilo :ue a undamenta# este papel de 4eladora# de disciplinadora31# em

:ue a sua inspeção des"ela a positi"idade da:uilo :ue se arroga srio% Resse sentido# a ironia

en&ontra-se dominada# mas ela só pode s,-lo em "irtude de uma repetição# ou seCa# a repetição da

 pr5pria seriedade# na:uilo em :ue ela se positi"a apenas :uando o Onimo instE"elP da

interioridade do sentimento re&uperado# repetido# pelo retorno da seriedade a si mesma# em :ue

esta insta$ilidade ad:uire alguma regularidade &om este mo"imento de retorno dela O&om a mesma

regularidade J mesma &oisaP32%  Assim# auniensis deine a repetição da seriedade( Omas# esta

&oisa# sempre a mesma# J :ue a seriedade de"e retornar mais e mais &om a mesma seriedade só

 pode ser a própria seriedadeN pois# senão# "em a ser pedantismoP33% o$Ceto supremo da seriedade

# pois# a indi"idualidade# o indi"íduo na relação &om sua li$erdade en:uanto tarea% 6e este não or

o ponto de "ista determinante da seriedade# então ela desmas&arada pela ironia &omo sendo o

&Hmi&o% A es&olha a$soluta do ti&o :ue instaura esta relação a repetição da seriedade tornada

eeti"a# o :ue em Qltima instn&ia a identii&a# então# &om o &uerer a repetição# &om o indi"íduo

:ue se pretende srio &om relação a si próprio% 'retender ser srio e:ui"ale# portanto# a :uerer a

repetição# e a possi$ilidade do ti&o se unda nestas duas arti&ulaç<es :ue# no entanto# "ão alm da

eti&idade &orrespondente ao uni"ersal# pois o indi"íduo só se torna ele próprio na dialti&a da

e/&eção%

ti&o meramente en:uanto uni"ersal # por si só# então# a mera e/terioridade# uma orça

:ue o$rigaN &omo mostra Moone># ao :uestionar a passagem do estti&o ao ti&o( O.s:uemas

 pereitamente gerais ou uni"ersais de a"anço moral enterram o ator &ru&ial da es&olha indi"idual#

da de&isão pessoal no progresso moralN a meta de assimilação um su$stituto enganoso para a meta

apropriada de indi"iduação &ontínuaP3?% A seriedade :ue se pretende &al&ada neste e/terior simplesnão tem a li$erdade &omo tarea indi"idual# e a:uele :ue se su$mete J sua lei# na medida em :ue

ainda não possui a si mesmo# &ai portanto no &Hmi&o% 'or isso auniensis di4( Oa interioridade a

&erte4a# seriedadeP3% Mas tam$m# na medida em :ue o indi"íduo en&ontra-se em oposição ao

uni"ersal# na medida em :ue na oposição nenhum deles en&ontra-se Custii&ado a determinação de

am$os a initude% 6e esta initude entendida &omo temporalidade# então apare&e no"amente o

31 .onceito de Ironia# p% 2%32 .onceito de AngHstia# p% 1@%

33*dem# p% 1%3?MR.[# .% F%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 2I@%3 .onceito de AngHstia# p% 1I%

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8/17/2019 GOMES, Arthur - A Repetição Do Ponto de Vista Estética - Uma Análise a Partir de Kierkegaard

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&Hmi&o# nos termos em :ue 8ier9egaard es&re"e(

O &Hmi&o uma &ategoria :ue perten&e espe&ii&amente ao temporal% &Hmi&o estE sempre

em &ontradição >iederspruc$% Mas na eternidade todas as &ontradiç<es são &an&eladas# e o

&Hmi&o &onse:uentemente e/&luído% A eternidade + de fato a -erdadeira repetição# em :ue

a história &hega ao im e todas as &oisas são e/pli&adasP%3@

A:ui i&a e"idente# portanto# por :ue a eternidade e a seriedade apare&em simultaneamente &omo

deiniç<es &ategóri&as da repetiçãoN se a eternidade o &an&elamento da temporalidade onde se dão

as &ontradiç<es do &Hmi&o# então a seriedade tem a sua eeti"idade indisso&iE"el do eterno# na

medida em :ue o indi"íduo "em a ser &omo tal na repetição% A airmação de auniensis :ue Oa

seriedade a su$Ceti"idade Z% uando alta a interioridade# o espírito redu4ido J initude% 'or

isso# a interioridade a eternidade# ou a determinação do eterno num ser humanoP 3% ti&o

 portanto atinge sua ininitude na seriedade :ue "ai alm do uni"ersal# mas para isso a sua suspensão

teleológi&a de"e ser um mo"imento ne&essErio para :ue o indi"íduo "enha a ser posto% salto parado/al do religioso e o mo"imento da repetição ad:uirem a:ui entre si "Erias nuan&es de

 pro/imidade# as :uais de"erão ser es&lare&idas a seguir%

KB A"raão, J5 e a incompreensão demonCaca

e/emplo paradigmEti&o do mo"imento em :ue a ti&a suspensa teleologi&amente para

a$rir o pre&edente para o religioso # pois# a história de A$raão% mo"imento de suspensão# :ue porsua "e4 apare&e igurado no mote do  suspenso gradu  em :ue o Co"em se en&ontra antes da

repetição# ad:uire no &onte/to deste personagem so$ uma a orma estti&a da melan&olia e do

 pade&er poti&oN a suspensão pode# portanto# ser pensada não somente &omo um mo"imento a partir

do ti&o# mas tam$m &omo possí"el tendo &omo ponto de partida o estti&o# muito em$ora o

 pro$lema ti&o tam$m de"a apare&er# ainda :ue so$ um "is distinto% Desro&hes mostra :ue a

suspensão identii&a-se &om o mo"imento de tornar-se e/&eção# na medida em :ue ela p<e em

e"id,n&ia uma relação antagHni&a &om o geral na medida mesma em :ue ele determinado &omo

talN a pergunta posta nos seguintes termos( O&omo possí"el ir do estti&o ao religioso en:uanto se

&olo&a o ti&o entre par,ntese^P3I% .ste mo"imento a:ui não em sentido estrito o mo"imento de

A$raão# pois para ele o ti&o en&ontra-se $em determinado na positi"idade da sua realidade eeti"a

 7 sua amília e seu ilho% Ro &aso do Co"em# o ti&o apare&e apenas en:uanto possi$ilidade de

tornar-se esposo# o :ue para ele # no entanto# sempre negado en:uanto realidade% .sta negação

3@O;he &omi& is a &ategor> that $elongs spe&ii&all> to the temporal% ;he &omi& al=a>s lies in &ontradi&tion>iederspruc$% But in eternit> all &ontradi&tions are &an&eled# and the &omi& is &onse:uentl> e/&luded% Eternit2 isindeed t$e true repetition# in =hi&h histor> &omes to an end and all things are e/plainedP%  !ear and Trem"ling#

 Repetition# p% 32%3 .onceito de AngHstia# p% 1I%3ID.6)+.6# D%N T$e e1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 2%

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8/17/2019 GOMES, Arthur - A Repetição Do Ponto de Vista Estética - Uma Análise a Partir de Kierkegaard

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"iagem% Mas# nesse &aso# :uando sua &onsumada# ou seCa# dada na realidade eeti"a &omo

"Elida atra"s da pro"a# ele retorna ao geral# e a sua re&on&iliação &al&ada na o :ue torna o

 próprio geral Custii&ado% Dito de outro modo# nele o geral se Custii&a na medida em :ue a

 Custii&ada# mas a:ui ela termina numa reconciliaçãoN ou seCa# a tra4 de "olta o :ue ele mais

 pre4a"a# nada oi &om ela# então# perdido# mas# ao &ontrErio# ganhou-se &om ela o :ue poderia sem

ela perder-se% +omparado &om o &aso do Co"em# tem-se uma situação &ompletamente assimtri&aN o

 Co"em perdeu o :ue possuía sem se:uer &hegar a ganhE-lo de ato# e a sua # o su$strato religioso

:ue o sustenta en:uanto um poeta de ato o Qni&o "alor positi"o :ue# na aus,n&ia da re&on&iliação#

su$siste &omo um "alor em si mesma# ou &omo uma orça engendradora :ue possi$ilita a própria

 produção% A in&ompati$ilidade da situação do Co"em &om a de A$raão pode le"ar a &on&luir :ue os

mo"imentos de &arEter religioso :ue permeiam o espírito de am$os são ou distintos em seu mago#

ou são mesmo mutuamente e/&ludentes% Mas o ato de o Co"em inspirar-se em Ló signii&a :ue este

representa para ele# mais do :ue A$raão# o modelo de pro"ação :ue mais se apro/ima da:uele a :ue

ele su$metido%

+onstantius des&re"e o mo"imento religioso de Ló &omo uma &ontenda em :ue o mo"imento

da &rise Opressionado adianteP na:uilo em :ue ele mantm a si mesmo &omo &erto diante de Deus%

A &rise de Ló# a perda a partir da :ual ele &olo&a a si mesmo diante de Deus &omo tendo ra4ão na

sua penQria# primeiramente des&rita &omo um mo"imento trans&endente# pois para 8ier9egaard a

&rise imanente ilusóriaN e o Opressionar adianteP :ue &ara&teri4a o mo"imento da repetição

e/emplii&ado em Ló na &rise do &onronto &om Deus( O;al pressionar adiante des&rito em Ló#

 parti&ularmente no :ue ele mantm :ue ele estE &erto# pois esta in:uietude apai/onada da li$erdade

um impulso espiritual# e de um impulso ísi&o não hE a dQ"idaP?2% "ir-a-ser de sua li$erdade

des&rito &omo um in&ansE"el em$ate espiritual# em :ue ele Osa$e-se ino&ente e puro no mais íntimo

do seu &oração# sa$endo ao mesmo tempo tudo isto Cuntamente &om o 6enhor# e &ontudo a

e/ist,n&ia# toda ela# &ontradi-loP?3% Ra orça de Ló em airmar-se diante de toda uma e/ist,n&ia :ue

o &ontradi4 en&ontra-se airmada a persist,n&ia :ue sim$oli4a o &uerer  a repetição &om todas as

orças# :ue no entanto# apare&e so$ a orma de uma luta aguerrida &ontra o geral% .m A$raão# nota-se pre&isamente o &ontrErioN não hE uma luta e/terior# mas um &onlito a$soluto &al&ado na relação

do indi"íduo &om Deus# &uCa e/pressão apenas interior e apenas sim$oli4ada no sil,n&io% A

irme4a de Ló# no entanto# não se en&ontra em agir# mas em Custii&ar-seN ainda :ue Deus ponha em

teste a sua li$erdade# ele não pode a4er &om :ue Ló a$di:ue da:uilo :ue a ele próprio oi dado( OLó

 permane&e irme na airmação de :ue tem ra4ão% Z apesar de ser rEgil e de rapidamente estiolar

?2O6u&h a pressing or=ard is des&ri$ed in Lo$# parti&ularl> in his maintaining that he is right# or this passionate

sleeplessness o reedom is a spiritual thrust# and o a ph>si&al thrust there is no :uestionP%  !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31I%

?3 Repetição# p% 11%

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&omo a "ida da lor# &ontudo# no :ue di4 respeito J li$erdade# algo de grande# um ser :ue tem uma

&ons&i,n&ia da :ual nem Deus o pode pri"ar# apesar de ter sido ele a dar-lhaP??%

A perse"erança da sua # o seu grande eito# estE em não arrepender-se nem tampou&o

resignar-se# en:uanto :ue seus amigos insistentemente &lamam :ue ele de"eria en&arar sua perda

&omo um &astigo e então pedir perdão# ou mesmo :ue amaldiçoe a Deus por uma sina tão &ruel%

ad"ento da repetição# no entanto# pare&e &ondi&ionado J persist,n&ia de en&arar a desdita &omo uma

 pro"ação# in&lusi"e a tentação da possi$ilidade dele estar errado% +omo mostra o Co"em# Oa desdita

dele o maior argumento dos amigos# e &om isso para eles tudo estE de&ididoP ?% Resse sentido# a

&oragem de opor-se ao argumento da e/ist,n&ia o indí&io de :ue o undamento da sua relação &om

Deus a:ui plenamente indi"idualN em$ora ele oponha-se a Deus# a oposição não &onstitui uma

aronta J sua mesma# mas ao &ontrErio# &omo na dialti&a da e/&eção# reorça a "alidade positi"a

do a$soluto% mo"imento pol,mi&o de Ló des&rito pelo Co"em &omo a Oideia em mo"imentoP ?@#

mas esta e/pressão ad:uire a:ui o signii&ado da Custii&ação da e/&eção en:uanto tal perante o

uni"ersal( Oo segredo em Ló# a orça "ital# o ner"o# a ideia# :ue Ló# apesar de tudo# tem ra4ãoP ?%

 Resse sentido# o mo"imento na ideia des&rito# &omo e/emplo# na disputa dele &om as ad"ert,n&ias

dos amigos# em :ue ela apare&e &omo um Opurgatório onde purii&ado um pensamento# o de :ue

ainal ele tem ra4ãoP?I% Ló de ato mostra situar-se num patamar em :ue suas in"estidas não o

atingem :uando# logo antes do ad"ento milagroso da repetição# apare&e para ele o :ue ;sa9iri

designa &omo a Qltima tarea da sua pro"ação# na :ual ele re4a pela sal"ação dos seus tr,s

&ompanheiros :ue# Oao in"s de &onortE-lo# o tortura"am &om pala"ras de CulgamentoP?%

Desse modo# a deinição de Ló &omo uma e/&eção se dE so$ duas determinaç<es distintas(

 primeiro# a relação de in&ompreensão :ue seu patamar religioso engendra &om o geral da e/ist,n&ia

:ue se p<e em oposição a ele# &om seus amigos :ue o repreendem# et&%N e segundo# Oa relação

 puramente pessoal de oposição a DeusP0 em :ue ele posto atra"s da pro"ação% Disto depreende-

se :ue Ló en&ontra-se soLin$o  &omo indi"íduo em oposição a a$solutamente tudo# e :ue ele de"e

en&ontrar apenas em si mesmo as orças para eetuar a sua Custii&ação positi"aN tam$m por isso ele

Onão pode dar-se por satiseito &om uma e/pli&ação em segunda mãoP 1# pois a ele e somente ele pode ser atri$uído o Culgamento de sua &ulpa ou ino&,n&ia% A pro"ação# o mo"imento de tornar-se

ino&entado diante de Deus# parte do pressuposto de :ue Ló &ulpado 7 ou seCa# o seu inortQnio

de"e ser "isto &omo uma punição pelos seus pe&adosN mas para isso Ló de"e &olo&ar-se &omo

??*dem# p% 11I%?*dem# p% 11%?@*dem# p% 11?%?*dem# p% 11%?I*dem# p% 11I%

?;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 1I@%0 Repetição# p% 121%1*dem# p% 121%

1@

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 pe&ador# ou seCa# a li$erdade de"e impor-se &omo repetição para :ue surCa a própria &ategoria da

 pro"a# na:uele sentido em :ue a repetição pressup<e a si própria% Desse modo# Ló só pode ser

&onsiderado ino&ente a partir do ponto de "ista religioso em :ue ele airma a si próprio na sua

Oresolução na ad"ersidadeP# CE :ue# do ponto de "ista ti&o em :ue o pe&ado ainda eeti"o# a

&ategoria da pro"ação ainda não apare&euN daí tem-se :ue o mo"imento da repetição em Ló se

identii&a portanto &om o do apare&imento da pro"ação en:uanto tal# no :ue ela "em a distinguir-se

da tentação de autode&larar-se &ulpado e re&olher-se na resignação ininita do ti&o# :ue# neste

 ponto de "ista# ainda não tem o religioso &omo undamento# o :ue a4 &om :ue ele en&alhe no seu

 próprio pressuposto%

 Ra medida em :ue sua ino&,n&ia "alidade diante do geral# o mo"imento religioso de Ló#

 portanto# de&lara-se &omo &erto e promo"e assim uma re&on&iliação% A:ui portanto se en&erra a

dialti&a da e/&eção em Ló( ele somente pode ser considerado e1ceção nesse mo-imento de

 justificar%se% Da mesma orma :ue o poeta deinido &omo uma e/&eção# o Co"em reluta em

en/ergar a Ló &omo uma igura poti&a( O6e Ló uma igura poti&a# se nun&a hou"e homem algum

:ue alasse da:uela maneira# então aço minhas as suas pala"ras e tomo a responsa$ilidade% Mais

não possoN pois :uem terE elo:u,n&ia &omparE"el J de Ló# ou :uem estarE em &ondiç<es de poder

melhorar algo :ue ele tenha dito^P2% K nesse sentido :ue se deine o confinium entre o poti&o e o

religioso em Ló( ter em si a ideia em mo"imento signii&a &olo&ar-se &omo e/&eção diante do

uni"ersal% A re&on&iliação :ue tudo apa4igua# o re&e$er tudo em do$ro# em :ue Ló# O&ensurado pela

humanidadeP3# a$sol"ido :uando Oo 6enhor e Ló &hegaram a entendimento# re&on&iliaram-seP?#

a4 &om :ue se instaure o parado/o em :ue a e/&eção a$sol"ida# ou seCa# reintegre-se na

totalidade# en:uanto :ue# ao mesmo tempo# su$siste na sua indi"idualidade a$soluta &uCo

undamento a relação pessoal &om Deus# :ue su"siste ap5s a resolução da oposição# ainda :ue de

uma outra orma% *sso o pro"a o Co"em :uando airma :ue Oa pro"ação uma &ategoria temporEria#

eo ipso determinada em relação ao tempo e por isso tem de ser rele"ada no tempoP%

Mas esta Orele"açãoP# esta superação# de"e ser entendida &omo a própria repetição# por meio

da :ual a "em a eeti"ar-se no espírito% De ato# a repetição de Ló um mo"imento espiritual e umsalto :ualitati"oN o seu Ore&e$er tudo em do$roP não de"e ser &ompreendido materialmente nem

:uantitati"amente% +omo mostra +onstantius# o :ue &hama a atenção do Co"em em Ló o ato de

este estar &om a ra4ão diante de Deus# e não propriamente o ato de ele ter re&e$ido de "olta o :ue

ha"ia perdido(

O.m sua alição# pare&e-lhe :ue Ló e/perimentou repetição por:ue ele re&e$eu tudo em

do$ro% Mas o :ue realmente agrada a ele em Ló :ue Ló esta"a &erto% Agora tudo gira em

2*dem# p% 11?%

3*dem# p% 123%?*dem# p% 123%*dem# p% 120%

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torno disso% destino pregou uma peça so$re ele e dei/ou-o tornar-se &ulpado% 6e esse o

 Ceito :ue # então ele não pode mais tomar a si mesmo de "olta% 6eu ser oi di"idido# e por

isso não uma :uestão de repetição de algo e/terno# mas da repetição de sua li$erdadeP%@

Ló oi impedido de repetir-se a si mesmo pois sua indi"idualidade oi di"idida pela &ulpa% A

repetição da sua li$erdade se &ara&teri4a portanto num pro&esso de retomada &ontínuo e penoso# em

:ue a não &onstituída &om Oa imediatidade de uma &riançaP# mas en&ontra-se &onstantemente

em Cogo no litígio# pois ao longo do pro&esso a sua ino&,n&ia não oi ainda eeti"amente dada%

 Co"em des&re"e a importn&ia de Ló na:uilo em :ue Oas disputas de ronteiras a respeito da terem

sido tra"adas dentro de si próprio# em no ser a:ui apresentada a monstruosa su$le"ação das orças

sel"agens e $eli&osas da pai/ãoPI% Daí Ló não ser digno de ter o mesmo estatuto ele"ado de

A$raão# a:uele de $er5i da f+N em$ora Ló ponha a si mesmo numa relação &om Deus em :ue ele

"em a esta$ele&er-se en:uanto indi"íduo# o ato de ele dar OJ lu4 a &ategoria da Vpro"açãoV por entre

terrí"eis dores# pre&isamente por:ue ele tão adulto :ue não a possui &om a imediati&idade de uma&riançaP  determinante para :ue ele e/emplii:ue antes o pro&esso em :ue a "em a se

esta$ele&er no indi"íduo# do :ue propriamente o signii&ado mais proundo e parado/al da # &omo

o &aso em A$raão% Ló não &apa4 de apa4iguar# mas sim somente de propor&ionar um Oalí"io

temporErioP@0# pois para ele a ainda uma tarea Erdua e onerosaN por isso# re&e$e o epíteto de

Oproessor da humanidade e não de indi"íduosP@1# pois ele o protótipo de todo homem :ue se

deronta &om uma pro"ação% Ao &ontrErio# A$raão antes uma testemun$a do :ue um e/emplo 7

ele possui a imediatidade da N en:uanto e/emplo# ele ainda &on&erne ao geral# e no geral# toda"ia#o seu ato eti&amente &ondenE"elN Ló# no entanto# pode ainda ser &on&e$ido so$ &ategorias ti&as#

ainda :ue em sua &ontenda ao Custii&ar-se ele se aparte do geral momentaneamente%

A de Ló &on"erte portanto a duras penas a sua &ondenação em sal"ação# em "irtude da sua

 perse"erança% impulso espiritual em :ue ele se engaCa o :ue sustenta a transormação da

inCustiça em Custiça eterna( Oentão Ló re&e$eu uma inCustiça^ 6im_ .ternamenteN pois :ue não pode

apresentar-se perante um tri$unal mais alto do :ue a:uele :ue o &ondenou% )e&e$eu Ló Custiça^

6im_ eternamente# pelo ato de ter re&e$ido inCustiça  perante DeusP

@2

%  esorço em Custii&ar-sea4 &om :ue o indi"íduo ponha-se no mesmo patamar de Deus# em :ue a Custiça di"ina passa a ser

en&ontrada no próprio ato de inCustiça% *sso não signii&a $las,mia# pois o indi"íduo nesse sentido

@O*n his distress# it seems to him that Lo$ e/perien&ed repetition $e&ause he re&ei"ed e"er>thing dou$le% But =hatreall> appeals to him in Lo$ is that Lo$ =as right% Ro= e"er>thing re"ol"es around that% Fate has pla>ed a tri&9 onhim and let him $e&ome guilt>% * that is the =a> it is# then he &an no longer ta9e himsel $a&9 again% is $eing has

 $een split# and so it is not a :uestion o the repetition o something e/ternal $ut o the repetition o his reedomP% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30?%

 Repetição# p% 121%I*dem# p% 120%*dem# p% 121%

@0*dem# p% 120%@1;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 13@%@2 Repetição# p% 12?%

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o predileto# a:uele pelo :ual os &us reCu$ilam pelo ato de ele por a si mesmo so4inho diante do

mais alto% Resse prostrar-se a &ondenação &on"erte-se em sal"ação# e Ló eetua um retorno ao

uni"ersal# mas desta "e4 en:uanto indi"íduo &onstituído% A:ui trata-se de um mo"imento de retorno

em :ue ele passa a ser indi"íduo na e/&eção# mas ao mesmo tempo integrado no uni"ersal# :ue se

diere do mo"imento do Co"em# em :uem a e/&eção o estado inal em :ue ele se esta$ele&e &omo

 poeta% A &on&epção indi"idual de Ló e/pressa a importn&ia de sua relação &om o uni"ersal

en:uanto indi"íduo# a :ual não pode# nesse sentido# ser e/pressa senão de maneira parado/alN pois o

indi"íduo só pode permane&,-lo ao re&on&iliar-se no parado/o% A:ui apare&e de :ue modo a pre&e

de Ló# o mote Oo 6enhor deu# o 6enhor tomou# lou"ado seCa o nome do 6enhorP# o :ue se &orro$ora

 pelo ato de ele di4,-lo apenas uma "e4# sem mais repeti-lo# não tem tanta importn&ia :uanto a sua

irme4a na # :ue demonstrada atra"s da perse"erança na airmação de :ue ele estE &erto%

A &ondenação em :ue Ló tudo perde # portanto# a &ondição para sua sal"ação% A repetição só

entra em "oga :uando somente a possi$ilidade di"ina su$siste a todo o ani:uilamento# em :ue toda

a possi$ilidade humana posta em /e:ue% K nesse sentido :ue +aputo di4( O a não ser :ue o homem

 per&a sua alma ele não pode rea",-la# Z \e a partir] de si mesmo o homem nada pode a4erP @3%

:ue le"a a &rer :ue# ainda :ue A$raão e Ló seCam personagens paradigmEti&os do religioso# a eles

não pode ser atri$uída a inten&ionalidade da repetição en:uanto proCeto% A repetição ad"eio para

eles &omo um milagre# e tudo o :ue eles tinham para &onirmE-la era ou a perse"erança ou a

ina$alE"eis% Moone> o$ser"a :ue# en:uanto o espírito de Ló e A$raão anseiam proundamente pela

repetição# sua determinação &omo tarea pare&e residir em outro lugar :ue não a sua eeti"idade(Onão pelas suas próprias orças ou em se determinando a atingir a meta :ue eles ganham a

repetição% 'arado/almente# eles a ganham :uando seu &oração se situa em outra &oisa% Ló não

demanda ou tra$alha para :ue seu mundo seCa restaurado( ele se pergunta por&ue ele lhe oi

tirado# ele demanda raL7es% A$raão não demanda ou age para re&uperar *saa&# ele apenas

 parte para entregE-lo% Am$os $enei&iam-se da repetição# mas nenhum deles a4 da

reali4ação da repetição um proCeto e/plí&itoP@?

A repetição atingida por Ló te"e ainda em alguma medida um &arEter temporal# initoN a "erdadeira

repetição# :ue se identii&a &om o eterno# não pode ser :ualii&ada nem nos termos da re&uperação

da:uilo :ue mais se pre4a# mesmo :ue num patamar puramente espiritual% Resse sentido# ainda :ue

Ló não &hegue a ser designado &omo um herói da resignação# ainda não atinge o patamar do

&a"aleiro da % A eternidade :ue a ele ad"eio se deu na orma da Custiça di"ina e da restauração na

# e não da miseri&órdia na orma do perdão%

*sso se e/pli&a pois a pro"ação de Ló diere da de A$raão no sentido de :ue neste Qltimo# o

&onlito pro"o&ado por uma ordem di"ina# por meio da :ual ela própria se "alida atra"s de uma

@3+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 32%@?MR.[# .%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 300%

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so$rele"ação para a&ima da lei% Ro &aso de Ló# de a&ordo &om o Co"em# a &olisão se dE por um ator

demonía&o# em :ue o negati"o da perda oi lançado de modo e/terior J determinação di"inaN o

mo"imento em Ló # portanto# o de airmação &ontínua do di"ino em oposição J negati"idade

&onstituti"a da perda% +omo o mostra o Co"em( OLó # por assim di4er# toda a su$stan&ial peça de

deesa do homem no grande litígio :ue op<e Deus e o homem# no amplo e terrí"el pro&esso :ue

te"e o seu undamento em 6atanEs ter lançado o mal entre Deus e Ló e :ue a&a$a no ato de tudo ser

uma pro"açãoP@% ato de o Co"em ter &ompreendido a Ló dessa maneira# no entanto# mostra um

&erto des&ompassoN pois para Ló Deus apenas tomou o :ue anteriormente o ha"ia dado# e# so$ este

 ponto de "ista# a pro"ação não surge do ato de :ue o mal em si tenha ad"indo de uma instn&ia

independente do poder di"ino# mas sim ad"eio a partir dele próprio# o :ue o &olo&a em posição de

ser :uestionado ele próprio en:uanto um mal% A Custiça di"ina oi eita atra"s da perda# e isso o

:ue torna a pro"ação tão dií&il de ser superadaN e não propriamente uma miseri&órdia di"ina :ue

triuna so$re um mal alheio%

A in&ompreensão se mostra ainda mais palpE"el :uando# apesar de &orro$orar o "is da

 pro"ação demonía&a# o Co"em por outro lado airma :ue OLó tam$m não se tornou demonía&o Z

 CE :ue Deus não pode a4er o mundo de outra maneira por sua &ausa# o indi"íduo :uer ser

sui&ientemente magnnimo para &ontinuar a amE-loP@@% A:ui# Deus ainda se en&ontra posto so$

determinaç<es ti&as# o :ue para ele signii&a in&orrer numa Opai/ão inteiramente demonía&a :ue

mere&eria um tratamento psi&ológi&o espe&ial# :uer se d, o &aso de ela humoristi&amente suspender

 por assim di4er a disputa para não le"antar mais pro$lemas# ou o de &ulminar numa teimosia egoísta

em torno do "igor do seu sentimentoP@N no entanto# isso :ue ele o a4 ao &ompreender a pro"ação

de Ló &omo algo de&orrente da inusão do mal entre ele e Deus por 6atanEs% Co"em &ai na sua

 própria armadilha e alha em &ompreender Ló so$ o prisma do puro religioso# pois ainda hE# nesse

sentido# um res:uí&io ti&o na sua interpretação da pro"ação# muito em$ora ele tenha &ons&i,n&ia de

:ue um entendimento pleno dessa &ategoria ultrapasse a estti&a# a ti&a e mesmo a dogmEti&a@I%

.ssa in&ompreensão mais um elemento :ue aponta para o in&omensurE"el da relação de Ló &om o

 Co"em da repetição# :ue de"e ser tomada ade:uadamente a partir da ideia do &Hmi&oN no entanto#&omo se trata a:ui de um &onronto entre o ti&o e o religioso em :ue o demonía&o da relação

en&ontra-se J espreita# este limiar de"e ser in"estigado pormenori4adamente antes :ue se a$ra o

espaço para o &Hmi&o%

K limiar entre o +tico e o religioso

@ Repetição# p% 120%

@@*dem# p% 11I%@*dem# p% 11I%@I*dem# p% 120%

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A digressão de Lohannes de 6ilentio so$re o pro$lema do religioso em A$raão se dE em tr,s

arti&ulaç<es distintas( a suspensão teleológi&a do ti&o# por meio da :ual posta a tarea da

 pro"açãoN o de"er a$soluto para &om Deus# :ue possi$ilita a própria suspensão do ti&o# na medida

em :ue p<e a relação pessoal &om o a$soluto &omo a&ima de todas as outras do m$ito do geralN e a

 Custii&ação ti&a do sil,n&io# :ue permite :ue se sustente esta relação pessoal &om Deus# e :ue

de&orre desta situar-se para alm dos limites do di4í"el% ;odas as tr,s tem &omo denominador

&omum o pro$lema ti&o inerente ao ato religioso# em :ue o indi"íduo se ele"a a&ima do uni"ersal%

.m Ló# esta ele"ação ad:uire a ru$ri&a da e/&eção# na medida em :ue a relação a$soluta &om o

a$soluto não se dE# &omo em A$raão# na orma do de"er# mas na da oposição em "ias de

 Custii&ação% A :uestão do sil,n&io e da linguagem t,m a "er &om a possi$ilidade restrita da

determinação da ordem di"ina no m$ito da indi"idualidade# e da sua impossi$ilidade no geralN ela

não pode ser algo e/primí"el# e o sil,n&io a sua Qni&a e/pressão% Resse sentido# a ordem di"ina#

ao mesmo tempo :ue não poderia ser determinada se não osse &ompreensí"el para o indi"íduo# ela

dei/aria de ser ela mesma &aso osse inteligí"el uni"ersalmente% 'ortanto# a suspensão do ti&o um

 pressuposto &ondi&ional J possi$ilidade de se es&utar a ordem di"inaN o :ue impede :ue :ual:uer

diretri4 dis&ursi"a atinCa o seu undamento# o :ual permane&e# nesse sentido# o$s&uro at para o

entendimento do indi"íduo em :uestão% *sso permite :ue ;sa9iri airme(

Oa alta de &erte4a# a no a$surdo# a pedra de to:ue do pensamento de 8ier9egaard% K

somente na  e atra-+s da  nossa interioridade  e  su"jeti-idade  e independente de todos os"alores esta$ele&idos# independente de todas as ess,n&ias determinadas# :ue de"emos de&idir

:ue o :ue ou"imos a "o4 de DeusP@

undamental no religioso en:uanto relação a$soluta &om Deus portanto passí"el de

de&isãoN tal de&isão# no entanto# não possui propriamente o &arEter ti&o da es&olha# mas ela se dE

 Custamente na suspensão do ti&o en:uanto uma determinação geral :ue a undamenta% 'or isso De

6ilentio di4 :ue Osó o *ndi"íduo pode de&idir-se se estE "erdadeiramente em &rise ou se um

&a"aleiro da P0% A &rise# no entanto# a pro"ação espiritual pela :ual passa Ló% 6e nenhuma

&ategoria do uni"ersal pode determinar a de&isão# então este uni"ersal na orma do ti&o en&ontra-se

&indido do singular# de tal orma :ue o telos se torna o trans&endente( Omuito dierente o &aso de

A$raão% 'or meio do seu ato ultrapassou todo o estEdio moralN tem para alm disso um telos perante

o :ual suspende este estEdioP1% Diante disso# De 6ilentio &olo&a-se a pergunta de O&omo se pode

&ondu4ir a sua ação ao geral# e se possí"el des&o$rir# entre a &onduta dele e o geral# uma outra

relação alm da de o ter ultrapassadoP2% .ssa des&o$erta# no entanto# de"eria ter &omo um re:uisito

@;6A8*)*# S%N )ier*egaard@ An1iet2, Repetition and .ontemporaneit2# p% 1?%

0Temor e Tremor # p% 1%1*dem# p% 1??%2*dem# p% 1??%

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o próprio per&orrer da e/peri,n&ia da audição da "o4 di"inaN nesse sentido# o indi"íduo não pode

 $us&ar o undamento numa instn&ia do geral :ue agora para ele  passado# e o$rigado a en&ontrE-

lo no decorrer da e1periência &ue se d6 no instante% A:ui no"amente apare&e a arti&ulação da

repetição em oposição J re&ordação( a impulsiona o indi"íduo para o uturo# pois somente nele#

&omo mostra Desro&hes# a ti&a pode "ir a ser restaurada( Oa assegura a re&uperação de algo

 pre"iamente perdido% *sso &onirma# no"amente# :ue para 8ier9egaard o mo"imento não de"e ser

eito para trEs Z# mas para rente# para pre&isamente onde possí"el restaurar o :ue oi

li"remente suspendido# ou seCa# o ti&oP3%

de"er a$soluto para &om Deus# en:uanto algo :ue no mo"imento religioso inseparE"el

da suspensão do ti&o# impli&a em :ue 6ua relação &om o indi"íduo não possa se &al&ar numa noção

de de"er no sentido ti&o-uni"ersalN o de"er ad:uire portanto uma &onotação a$solutamente distinta

:uando se trata do religioso% Mas nesse sentido não &a$e tomar Deus &omo um undamento para o

ti&o# nem tampou&o o ti&o &omo um &aminho :ue le"a a DeusN e a in&ursão em uma destas

asserti"as le"a ao parado/o em :ue o amor a Deus redu4ido a uma possi$ilidade geral# o :ue

&ondena a ação de A$raão# e# por outro lado# a moralidade do geral passa a intererir da relação

 pessoal &om Deus% .ste parado/o oi $em diagnosti&ado por Grammmont( Onem o amor a Deus

 pode ser redu4ido J um ato moral por:ue# neste &aso# não seria a$solutoN nem a moral de"e

su$mergir na transitoriedade ao ser reerida J di"indade# em toda a entrega a$soluta :ue o amor a

Deus e/igeP?% uando De 6ilentio di4 :ue Oo herói trEgi&o renun&ia a si mesmo para e/primir o

geralN o &a"aleiro da renun&ia ao geral para se &on"erter em *ndi"íduoP # ele reere-se portanto

duplamente J impossi$ilidade de se e/primir o geral na suspensão do ti&o# e portanto de

esta$ele&er a possi$ilidade de reer,n&ia do religioso a Deus de modo e/primí"el# &omo tam$m ao

inundado da relação pessoal &om Deus em unção do geral% *sso signii&a :ue este tornar-se

indi"íduo &ometer um pe&ado# no :ual a tarea se torna Custamente a redenção deste rente ao

ti&o( O indi"íduo ser o&ulto% A sua tarea moral &onsiste então em se li$ertar do se&reto para se

maniestar no geral% ;odas as "e4es :ue :uer permane&er o&ulto# &omete um pe&ado e entra numa

&rise de onde só pode sair pela maniestaçãoP@% Resse sentido# a relação de Deus &om o geral  Custamente a de &olo&ar o indi"íduo &omo tal en:uanto pe&ador# ou seCa# en:uanto algum :ue se

op<e ao geral ao mesmo tempo :ue re&onhe&e sua "alidade%

A representa# portanto# um "alor maior :ue o "alor do ti&o-uni"ersal% ;rata-se# portanto#

de um limite  imposto pelo religioso J "alidade da ordem ti&a# :ue possi$ilita a sua própria

suspensão% .ste limite demonstrado na impossi$ilidade de Custii&ação ti&a do sil,n&io de A$raão%

3D.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 3?%

?G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% I%Temor e Tremor # p% 1%@*dem# p% 1%

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uando De 6ilentio airma :ue Oa ti&a e/igia a maniestação e punia o o&ultoP # ele enun&ia

 Custamente o ra&asso do ti&o na:uilo :ue es&apa ao geral# ou seCa# na repetição en:uanto uma

tarea da li$erdade# uma pro"ação% :ue &om ela se instaura no religioso portanto o telos :ue

ultrapassa a determinação do e&hamento da totalidade ti&aN o mo"imento# a *inesis da repetição

não pode dar-se sem :ue a ti&a seCa portanto trans&endida em nome de um o$Ceti"o mais alto :ue

ela própria% A pro"ação# :ue Desro&hes &hama de Oum esorço &ontra DeusP I# maniestaria nesse

sentido uma relação genuína &om o di"ino pre&isamente na medida em :ue esta ultrapassa a

&on&epção de Deus &omo um prin&ípio instaurador do ti&o-uni"ersal# e passa a ser a instn&ia do

a$soluto :ue possi$ilita :ue o indi"íduo "enha a ser ele mesmo% Mas o mo"imento de

ultrapassagem da ti&a entendido &omo uma suspensão# e não &omo uma transgressão# no sentido

de :ue o &a"aleiro da # ou a e/&eção# não a4em pou&o &aso do geral ou se prop<em a des&onstruí-

lo# mas mantm &om ele uma relação dialti&a em :ue ele mantm a sua "alidade positi"a# ou seCa#

reali4a# &om relação J ti&a# o mo"imento da resignação infinita# :ue pre&ede Custamente a

repetição% De 6ilentio des&re"e :ue o &a"aleiro da O&on"erte em resignação ininita a prounda

melan&olia da "idaN &onhe&e a eli&idade do ininitoN e/perimentou a dor da total renQn&ia J:uilo

:ue mais ama no mundo Z% .# no entanto# toda essa representação do mundo :ue ele igura

no"a &riação do a$surdoP%

A resignação ininita o :ue permite# portanto# a repetição pelo a$surdo# o mo"imento da %

De 6ilentio e/pli&a da seguinte orma( Oa resignação ininita o Qltimo estEdio :ue pre&ede a #

 pois ningum a al&ança antes de ter reali4ado pre"iamente esse mo"imentoN por:ue na resignação

ininita :ue# antes de tudo# tomo &ons&i,n&ia do meu "alor eternoP I0% A &ons&i,n&ia do eterno o

:ue dE a su$stn&ia J ideia :ue permane&e# para ele# o a$soluto# a Osu$stn&ia da sua "idaPI1 diante

da :ual# mas tam$m somente em unção da :ual# todo o resto ad:uire signii&ado% A resignação

ininita o :ue p<e a ideia &omo o eterno# e por isso denominada en:uanto um mo"imento

ininitoN &aso ela não se d,# tem lugar então a multipli&idade inorme e o es:ue&imento de siN a

resignação ininita# portanto# depende in&ondi&ionalmente do mo"imento da re&ordação(

Oas nature4as proundas nun&a perdem a re&ordação de si mesmas e nun&a podem &hegar aser outra &oisa :ue o :ue CE oram% &a"aleiro# portanto# re&ordar-se-E de tudo# mas essa

re&ordação serE pre&isamente a onte da sua dorN no entanto# graças J sua ininita resignação#

en&ontra-se re&on&iliado &om a "idaPI2

"ín&ulo da orça representada por este tipo de mo"imento na re&ordação mostra seu &arEter de

repetição :uando De 6ilentio di4( Oo &a"aleiro não a$andona a resignação# o seu amor &onser"a a

*dem# p% 1@2%ID.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 30%Temor e Tremor # p% 132%

I0*dem# p% 13%I1*dem# p% 132%I2*dem# p% 133-13?%

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res&ura do primeiro momento# não o dei/a nun&a e isso pre&isamente por:ue reali4ou o mo"imento

ininitoPI3% A:ui ela apare&e não &omo um a$andono &onormado da:uilo :ue dE enseCo J ideia#

mas pre&isamente alude J sua eeti"idade reatuali4ada a todo momento# em :ue a originariedade

"irginal do primeiro reatuali4ada não por meio de uma re&ordação ineeti"a# mas por meio de um

 parado/o :ue le"a em &onta a impossi$ilidade eeti"a do ato% A re&on&iliação a e/pressão da

resignação nesta impossi$ilidade# e a repetição seria esta &ontradição ele"ada J pot,n&ia do

 parado/oN mas por isso mesmo a resignação ininita ainda não o mo"imento eeti"o# a tarea da

li$erdade# mas sim Oo repouso# a pa4 e a &onsolação no seio da dorPI?%

Desse modo# :uando +onstantius e/&lama da disposição do Co"em apai/onado :ue Otanto os

heróis :uanto os &o"ardes# não estarão todos eles de a&ordo :ue a "ida uma torrente% +omo pode

arranCar-se uma tão lou&a ideia e# &oisa# :ue ainda mais lou&a# :uerer a4er dela um prin&ípioP I#

ele próprio termina por arrogar-se a:uela Onature4a ineriorPI@# e se mostra in&apa4 de "er na

impossi$ilidade o a$ismo do parado/o em :ue inalmente se poderia Otradu4ir a idealidade em

realidadePI% De 6ilentio# ao airmar :ue# de um amor de tal nature4a# os Oes&ra"os miserE"eis#

sapos atolados no pntano da "ida# e/&lamarão sem dQ"ida :ue lou&ura# tal amor_PII# tem em mente

 Custamente a postura de +onstantius diante do amor do Co"em# :ue# alm de tentar $urlE-lo na

multipli&idade do rugal e su$stituí-lo por outra relação mais prosai&a# ad"erte o Co"em a&er&a dos

 perigos en"ol"idos no le"E-lo Js Qltimas &onse:u,n&ias e J repetição# ao &omparE-lo &om o Co"em

do poema de erder# :ue O:ueria de"eras a repetição# por isso te"e-a# e a repetição matou-oP I% A

morte pela repetição não a:ui de ato a repetição plena# mas a resignação ininita# o repouso e o

alento na própria dor% Resse sentido# +onstantius en&alha Custamente na resignação ao &onundi-la

&om a repetição# e permane&e pois Otran:uilamente sentado no :uartoP 0 en:uanto a "ida passa J

rente da sua superioridade &ontemplati"a%

A resignação passa a &onstituir um mo"imento ininito ali onde a todas as possi$ilidades

humanas en&ontram-se esgotadasN nesse sentido# a ideia# &uCo &arEter meramente ideal# ou

&onser"a a possi$ilidade apenas na idealidade# não pode nesse sentido ser mais a&reditada a não ser

em "irtude do a$surdo% mo"imento da de"e &omeçar no deronte do in"idíduo &om aimpossi$ilidade a$soluta# e# para 6ilentio# Odo ponto de "ista do ininito# su$siste a possi$ilidade no

seio da resignaçãoP1% A dor do "alor perdido na initude se &onsola &om o ganho na eternidade#

I3*dem# p% 13?%I?*dem# p% 13%I Repetição# p% I0%I@Temor e Tremor # p% 133%I*dem# p% 132%II*dem# p% 132%

I Repetição# p% I0%0*dem# p% I1%1Temor e Tremor # p% 13@%

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Osem ser entretanto por isso um a$surdo para a ra4ãoP2% A orça :ue sustm a resignação e o

repouso no seio da dor não pode# então# ad"ir da própria resignação# mas do mo"imento ininito :ue

sustenta a impossi$ilidade atra"s do a$surdo# ou seCa# a % Resse sentido# esta Qltima não en&ontra-

se plenamente presente no mo"imento da resignação em si# mas a &ons&i,n&ia eterna nesse sentido

 CE a &ondição para :ue o limiar do salto da repetição seCa eetuado% +omo mostra Grammont( Oo

a$surdo &onsiste em :ue# pela lógi&a# o indi"íduo não V&r,V mais em nenhuma alternati"a# mas

&onser"a a possi$ilidade no seio da resignação do ponto de "ista do ininito# ou seCa# atra"s da % A

resignação ainda não a # mas o :ue ad:uiro no meio dela a minha &ons&i,n&ia eternaP3% :ue

o Co"em &hama de e/istir graças J orça do pensamento a orma de "ida em :ue a Oorça do

espíritoP o enseCo para :ue se eeti"e o mo"imento do salto# e a resignação ininita d, lugar J

&ategoria da pro"ação(

Oantes disso e"idente :ue o indi"íduo não e/iste graças J orça do pensamento% ual:uer

e/pli&ação possí"el e o tur$ilhão da pai/ão estE J solta% Reste parti&ular# só os homens :ue

não t,m uma representação ou então :ue t,m uma indigna representação do :ue seCa "i"er na

orça do espírito a&ham ter rapidamente resol"ido o assuntoP?

A resignação# en:uanto um repouso imó"el diante do :ual trans&orre todo o lu/o da "ida#

de"e portanto ser asso&iada ao aeterno modo  da e/peri,n&ia estti&a# :ue não pode senão ser

&on&e$ida en:uanto uma &ontemplação passi"a# em :ue a tarea da repetição ainda não oi postaN #

 portanto a ineeti"idade do mo"imento na ti&a% Mas# na medida em :ue ela instaura um modo de

"ida em :ue o indi"íduo se &onstitui negati"amente atra"s da perda da possi$ilidade eeti"a# entãoela &onsiste tam$m numa resolução da ti&a no estti&o# em :ue o ti&o na sua insui&i,n&ia a$di&a

do mo"imento e retorna J &ontemplação% A repetição ti&a# :ue# segundo +aputo# O a &onstn&ia e a

&ontinuidade da es&olha pela :ual o indi"íduo se &onstitui &omo talP# de"e ser a:ui a$di&ada# e hE

 portanto uma similaridade &om a repetição estti&a# :ue# por não ser auto&onstituti"a# nesse sentido#

signii&a o mesmo :ue a aus,n&ia de mo"imento% .sta insui&i,n&ia tem origem na própria

indi"idualidade ti&a# :ue em Qltima instn&ia não &apa4 de sustentar a si própria a partir de si

 prórpia% A e/peri,n&ia do ti&o na resignação ininita portanto a do indi"íduo auto&onstituti"o

&omo uma ilusão(

Ono ti&o# o indi"íduo ne&essita apenas de si mesmo# e isto uma ilusão% Z A

repetição ti&a mantm a ilusão de :ue uma "ontade resoluta &om $oas intenç<es

 $asta para &onstituir o indi"íduo# para manter o homem &omo um todo# :ue e:uilí$rio

possí"el entre os atores estti&os e ti&os na personalidadeP@

2*dem# p% 13@%3G)AMMR;# G%N Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard # p% 0%? Repetição# p% 120%

+A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 30%@ Alusão ao título do segundo &apítulo do segundo "olume de  Eit$er# r # :ue es&rito pelo Lui4# o personagem ti&o

 por e/&el,n&ia% S% *dem# p% 31%

1@

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 Resse sentido# a resignação "in&ula-se ao estado de  suspenso gradu em :ue o Co"em se

en&ontra na:uilo em :ue a ti&a en&ontra-se prestes a ser suspensa em nome do parado/o# o :ue

tam$m uma &ondição para :ue seCa posta a espera pela tempestade% Ra resignação# a$andona-se a

tarea da Orepetição &ontínua# :ue tão dií&il :uanto uma primeira apro/imaçãoP% &onteQdo da

su$Ceti"idade no "ir-a-ser do indi"íduo ela própriaI# e por isso o indi"íduo não se &onstitui

:uando dela se a$di&a% Ra suspensão# o indi"íduo ti&o oi perdido# e de"e então ser re&uperado na

repetição% Resse sentido# a repetição a sen$a para o ti&o no sentido de :ue ela o suplementa#

:uando ela ", a si mesma ra&assando no seu próprio pressuposto% .ste ra&asso &onsiste na mesma

arti&ulação :ue a metaísi&a mantm &om a repetição# a de nauragar no seu próprio interesse%

Osorimento ti&o &ausado pela &ons&i,n&ia desta ina$ilidadeP :ue mostra Moone> se dE em

"irtude do prin&ípio ti&o ser# en:uanto e/ig,n&ia de Opura idealidadePI00# &omo o mostra

auniensis# uma determinação alheia ao indi"íduo% Assim# a realidade da e/ist,n&ia ti&a nun&a

en&ontra-se J altura da sua e/ig,n&ia# pois a &isão entre o real e o ideal ela própria um pressuposto

do ti&o &omo e/terioridade alheia ao indi"íduo# no :ue ela en&ontra-se de ato perdida diante do

 por a si mesmo deste% A ti&a não &on&ede nada ao indi"íduo# mas tam$m não resiste :uando ele

 p<e a si próprio# o :ue não pode dar-se senão &omo e/&eção%

indi"íduo :ue de"m nessas &ir&unstn&ias não &onsiste no eu puro e "a4io so$re a :ual a

lei ormal# tam$m "a4ia# do ti&o en:uanto uni"ersal a$strato se so$rep<e# mas sim a própria

su$stn&ia &uCo "alor supremo de&isi"o diante da própria "alidade uni"ersal do ti&oN mas este

mo"imento não # ele próprio# de &arEter ti&o# mas um mo"imento religioso e parado/al% Atra"s

da resignação# tudo posto in suspenso para :ue o indi"íduo en&ontre-se ao inal de tudo &onsigo

 próprio# mas nisso ele próprio a$re mão da sua determinação mais íntima( ele próprio se torna o

negati"o% ;oda"ia# reali4ar a repetição impli&a em :ue ele de"a ser &apa4 tam$m de perder a si

mesmo para ganhar a si próprio no"amenteN a re&ompensa para a:uele :ue reali4a o mo"imento da

o :ue De 6ilentio des&re"e &omo Oeu próprio na &ons&i,n&ia de minha eternidade# mergulhado

em uma $em-a"enturada harmonia &om o meu amor pelo ser eternoPI01% uando De 6ilentio di4 :ue

a resignação Oum mo"imento estritamente ilosói&oPI02# ele reere-se J &apa&idade :ue oselementos do mo"imento ilosói&o# :ue ele e/emplii&a &omo a ironia e o humor I03#   t,m de

es"a4iar o &onteQdo positi"o do seu o$Ceto ao reletirem so$re si próprios# no :ue ele "em a

signii&ar do ponto de "ista da e/ist,n&ia uma orma de resignação eeti"a% Mas isso tam$m

 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32%I S% *dem# p% 32% MR.[# .%N Repetition@ Getting t$e >orld ac* # p% 2%I00  .onceito de AngHstia# p% 1%

I01 Temor e Tremor # p% 13%I02 *dem# p% 13%I03 *dem# p% 13%

1@@

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impli&a em :ue &om ela nada Oalm da minha &ons&i,n&ia eternaPI0? de ato se ganha# e por isso ele

tam$m a resignação não impli&a a # mas a re:uer a resignaçãoN para :ue a repetição a&onteça#

ne&essErio :ue tudo se per&a# para :ue tudo se "olte a ganhar%

 Resse sentido# o mo"imento da resignação o mo"imento &ontrErio ao da % ra# se o salto

da des&rito por De 6ilentio pode de algum modo ser des&rito &omo uma repetição# então a

analogia da resignação &omo um mo"imento &ontrErio J repetição se dE Custamente na sua

semelhança &om a recordação% De ato# a:uele :ue se disp<e a re&ordar CE um resignado# algum

:ue &hegou ao im de uma relação# :ue pHs a termo a:uilo :ue para ele mais tinha signii&ado% Disto

 pode-se deri"ar não somente :ue a re&ordação seria um mo"imento ne&essariamente anterior#

em$ora &ontrErio# J repetição# da mesma orma :ue a resignação &onstitui um mo"imento anterior

ao da N &omo tam$m :ue a resignação portanto uma orma de mo"imento inaut,nti&o#

dire&ionado para trEs# o :ue a4 &om :ue De 6ilentio# na sua in&apa&idade de reali4ar o Omo"imento

místi&oPI0 em "irtude do a$surdo# assemelhe-se &om o +onstantin +onstantius# :ue &apa4 de

&ir&una"egar-se# mas não de ele"ar-se a&ima de si mesmo% . se o limiar da li$erdade estti&a

atingido &om a insui&i,n&ia :ue a re&ordação representa diante da realidade eeti"a e da

ne&essidade de nela se orientar# no mesmo passo segue o desespero do ti&o em "irtude da

insui&i,n&ia da resignação para &om a e/ig,n&ia da ti&a# a :ual permane&e um poder :ue o$riga#

uma orça tirni&a :ue termina por rea&ender no indi"íduo um deseCo por uma li$erdade a$strata

:ue# não o$stante# pare&e para ele mais atrati"a do :ue a mera e/terioridade da norma% Ra medida

em :ue tal deseCo portanto uma pulsão de uma indi"idualidade negati"a# es"a4iada pela orça do

geral# ele surge &omo uma orça :ue se op<e J determinação do ti&o# mas :ue nisso aponta

no-amente para o est+tico# e &om isso não resol"e o pro$lema# mas &ria a mE-ininitude de um

em$ate interminE"el entre o ti&o e o estti&o# e :ue rompe &om a totalidade do Oe:uilí$rio entre o

ti&o e o estti&oP re:uerido pelo prosaísmo do ideal ti&o%

mo"imento da resignação # portanto# ne&essErio para a eeti"idade do religioso# mas não

o sui&iente% Co"em da Repetição en&ontra-se resignado# pois# na arti&ulação da sua personalidade

melan&óli&o-poti&a &om o seu amor-re&ordação# o :ue permite &onsiderar a sua igura &omo umdelineamento estti&o do signii&ado da resignação ininita em paralelo &om o mo"imento da

re&ordação% 6e# para De 6ilentio# a resignação &onser"a no seio da dor ainda uma possi$ilidade :ue

impede o "ir-J-tona do parado/o# &uCa &ondição Ore&onhe&er a impossi$ilidade de todo o &oração

e &om toda a pai/ão da sua almaPI0@# a re&ordação do Co"em &onsiste para ele numa possi$ilidade#

ainda :ue meramente poti&a# de atuali4ar o seu amor pela moça% A sua repetição# :ue "em para ele

na orma do &asamento desta# &onigura-se então no ad"ento efeti-o da impossi$ilidade# a partir do

I0? *dem# p% 13%I0 *dem# p% 13I%I0@ *dem# p% 13@%

1@

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:ue ele ",-se re&uperado para si próprio% Mas &omo o seu &arEter melan&óli&o e o seu sorimento

 poti&o &ara&teri4am a sua personalidade por meio de uma determinação estti&a# então a sua

repetição en&ontra-se muito mais apro/imada do estti&o do :ue a:uela e/emplii&ada por A$raão%

*sso se &ompro"a por meio da rele/ão da  persona do Co"em em Ló# em :uem Custamente ele ", o

confinium do po+tico com o religioso% .sta pro/imidade serE posta em "istas em seguida%

K limiar entre o est+tico e o religioso

Do ponto de "ista religioso# a determinação da resignação ininita &omo uma perda

transigurada no seu oposto# e# em "irtude do a$surdo# tudo o :ue se ha"ia perdido resta$ele&ido

&om um duplo ganho de signii&ado% A renQn&ia :ue permeia todo mo"imento religioso transorma#

nesse sentido# o próprio signii&ado a$soluto da:uilo :ue se perde e da:uilo :ue se ganha( um se

transigura no outro a$solutamente# e a perda a$soluta &onstitui-se &omo um ganho a$soluto% Resse

sentido# a possi$ilidade positi"a :ue permane&e no mo"imento da resignação por si só não

suspensa num mo"imento negati"o :ue re"ela a impossi$ilidade# mas esta se re"ela no próprio

ad"ento da % Dito deste modo# a renQn&ia dei/a em a$soluto de ser uma perda# pois a:uilo :ue se

 perde a$solutamente &onstitui no religioso um ganho a$soluto% *sso se tradu4 em :ue# do ponto de

"ista do religioso# a realidade eeti"a do -alor   ti&o &onstitui-se a partir da sua impossi"ilidade

efeti-a# da mesma orma :ue# na estti&a# &onstitui-se a realidade eeti"a da "eleLa% ;anto a $ele4a

:uanto o "alor são# nesse sentido# superados na:uilo :ue &are&em por si só en:uanto idealidade# ou

seCa# a presença plena de sentido%

A es&olha# en:uanto conditio sine &ua non do ti&o# se &ara&teri4a anteriormente &omo o

momento em :ue a realidade eeti"a en&ontra-se posta parado/almente# o :ue a deine portanto

&omo uma renHncia negati-a# em :ue a dualidade ti&a-estti&a não # em Qltima instn&ia#

resol"idaI0# na medida em :ue interp<em-se uma J outra sem :ue nenhuma en&ontre seu

undamento na sua própria idealidadeN e por isso auniensis di4 :ue a tarea de des&re"er o

mo"imento religioso a de le"ar Oa idealidade deseCada pela estti&a a en&alhar na idalidade e/igida pela Kti&a# a im de a4er surgir desses em$ates a idealidade religiosa &omo a:uela :ue Custamente

a idealidade da realidade eeti"aPI0I% Resse sentido# sem :ue a idealidade seCa posta ade:uadamente

atra"s da renQn&ia# o mo"imento se dE apenas nos liames do ti&o e do estti&o# em :ue am$as

nun&a se &omplementam na nostalgia latente :ue possuem da sua &ontrapartida% Do ponto de "ista

I0 !m dos irHni&os ra&assos de +onstantius em "er a repetição# a:uele em :ue o droguista deende a "alidade estti&ado &asamento após ter-se &asado# sendo Oe/tremamente $em-su&edido# tanto :uanto da Qltima "e4 o ora :uandotratara de pro"ar a pereição do estado de solteiroP# e/pressa $em a relati"i4ação da suprema&ia da "itória do ti&o

so$re o estti&o :ue se deu em  Eit$er# r # $em &omo a "a&uidade de um ponto de "ista ti&o :ue termina porredu4ir-se ao estti&o &aso não en&ontre um undamento mais proundo do :ue ele próprio% +% Repetição# p% %

I0I .onceito de AngHstia# p% 1%

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estti&o# a resignação ininita 7 :ue pre&edida pelo arrependimento da es&olha ti&a 7 &onstitui

uma ação de mau-gosto :ue não &on&ilia uma totalidade harmHni&a% Mas hE# neste tornar i/a a

determinação da es&olha sem :ue# no entanto# se d, um a$andono eeti"o da possi$ilidade# um

&arEter :ue no undo permane&e meramente e/terior# &omo se ainda se tratasse de uma

 performance# na medida em :ue ainda Ca4 no mago do ti&o uma nostalgia pelo estti&o% A

idealidade deseCE"el :ue &onstitui o estti&o de"e ser posta de lado por meio do arrependimento# o

:ual no entanto tem &omo &ondição a sua própria e/teriori4ação para :ue seCa "alidado% A "alidação

do arrependimento # &omo no ti&o :ue Culga# tam$m e/terior# e só depende do indi"íduo :ue a

 perorma na medida em :ue este não &on&e$ido em sua indi"idualidade%

Desse modo# a aludida &on&ordn&ia entre a e/ist,n&ia e o &on&eito# :ue no te/to da

 Repetição representada por Ló e o seu mote Oo 6enhor deu# o 6enhor tomou# lou"ado seCa o nome

do 6enhorP# $em &omo a relação deste &om a ação de lou"or a ele asso&iada# a4 &om :ue o ato

religioso de Ló possa ser "isto &omo uma ação perormEti&a# mas nem por isso menos genuína 7

em$ora tam$m sua autenti&idade não se d, apenas em unção disto% .ri9sen o &onirma :uando

mostra :ue Oa signii&n&ia de Ló não estE no :ue ele disse# mas no :ue e4% Z K o ato de o seu

dito ser um eito :ue e4 dele um genuíno VprotótipoV para a humanidade# antes de seu VproessorVPI0%

A perorman&e poderia# nesse sentido# &onstituir um momento estti&o em :ue o eito &oin&ide &om

o ditoN ainda :ue a perorman&e seCa para o artista o inessen&ial# ela :ue eeti"a o $elo na ação# o

:ue a torna a &ondição para :ue o artista "enha a ser ele próprio% A perorman&e de Ló tem# pois# o

&arEter de uma pre&e# :ue &ondi&iona a própria seriedade do dito diante do perormadoN &omo

mostra .ri9sen# Oo signii&ado das pala"ras de Ló dependem então do seu &arEter perormati"o

en:uanto pre&ePI10% 'ara ele# o signii&ado ad:uire "alor positi"o na medida em :ue Oo momento da

 pre&e signii&a a completude# não no sentido de :ue ele realiLa os &lamores do passado# mas no

sentido de :ue ele silen&ia estes &lamores ao tradu4ir ganho para dEdi"aPI11% ato de Ló não ter

repetido seu mote mostra :ue o sil,n&io te"e seu lugar no :ue tudo o :ue ele possuía oi

transigurado para uma dEdi"a di"ina# e &uCa perda portanto seguida de um agrade&imento( Oao

tradu4ir o  seu ganho e perda para as &ategorias do dar e tomar de Deus# ele oi &apa4 de "er o seu passado &omo &ompletoPI12%

6e 8ier9egaard deine a pre&e &omo um Oesorço &ontínuo para atingir a "erdadeira

interioridadePI13# então a sua perorman&e# ainda :ue# para :ue seCa pensada ade:uadamente# de"a

ser im$uída do &arEter da seriedade# &arrega um elemento estti&o undamental :ue não pode ser

ignorado% Ainda :ue a apresentação de Ló &omo um Oprotótipo religiosoP tenha sido eita no intuito

I0 .)*86.R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a Reconstruction# p% ?3%I10 *dem# p% ?3%

I11 *dem# p% ??%I12 *dem# p% ??%I13 O ;o pra> means &ontinual stri"ing t a&hie"e the true in=ardnessPN !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32I%

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de aastar uma interpretação mais apai/onada :ue se &oaduna &om o e/perimento psi&ológi&o I1?#

esta Qltima a :ue predomina no te/to# e :ue em Qltima instn&ia permite apro/imar o estti&o do

religioso de maneira a mostrar o confinium% silen&iamento# :ue em A$raão se tradu4 na :uietude

da sua "iagem de tr,s dias at o lo&al do sa&rií&io# ad:uire em Ló o &arEter do :ue .ri9sen &hama

de &uietude no agradecimento% Ro entanto# o elemento do sil,n&io presente na gratidão da de Ló

ele próprio anterior ao ad"ento da plenitude da repetiçãoN o :ue se tradu4 na ala do Co"em# :uando

di4( O:uando tudo para# :uando o pensamento se imo$ili4a# :uando a língua se &ala# :uando a

e/pli&ação regressa desesperada J &asa 7 aí tem :ue a&onte&er uma tro"oadaP I1%   sil,n&io do

 Co"em neste limiar se relete# por sua "e4# na sua e/ig,n&ia de sil,n&io tam$m por parte de

+onstantius en:uanto seu &onidente# em :ue a sua postura se mostra am$ígua( OA minha posição

en:uanto &onidente ainda mais &ríti&a# por:ue ele ainda mais "irginal em relação aos seus

mistriosN i&a in&lusi"amente 4angado :uando aço a:uilo :ue ele insistentemente de mim e/ige 7

:uando i&o em sil,n&ioPI1@%

ineE"el da repetição aut,nti&a :ue o Co"em eeti"a e :ue a institui &omo uma e/peri,n&ia

religiosa gera essa du$iedade do mal-entendido# em :ue se e/ige tanto o sil,n&io &omo um

a&onselhamento :ue de todo modo nun&a serE sui&iente ou ade:uadoN e :ue transorma o sil,n&io

na sua mar&a positi"a :ue indi&a pre&isamente a sua proundidade# ao in"s de &onotar uma

"a&uidade dis&ursi"a ou uma &ar,n&ia &on&eitual% Resse sentido# o sil,n&io pode ser tratado &omo

uma e1pressão est+tica  negati"a do religioso# mas :ue não aponta para uma negati"idade

&onstituti"a de uma e/peri,n&ia &arente de si mesma no seu mo"imento% sil,n&io# nesse sentido#

de"e ser distinguido do mutismo# e a nsia do Co"em em &oniden&iar sua melan&olia para

+onstantius re"ela sua in&apa&idade de &alar-se e e/pressar-se por meio da Olinguagem

&odii&adaPI1 :ue o sil,n&io le"ado a &a$o permite arti&ular# e em :ue ele se torna um indí&io de

uma O&on"ersa pri"adaPI1I# em :ue a idealidade estti&a se desenrola% A interioridade :ue a4 do

 Co"em um poeta a instn&ia da ideia em mo"imento no sentido de :ue nela a idealidade en&ontra-

se no seu "ir-a-ser# &uCa e/pressão e/terior# en:uanto mero "ir-a-ser su$Ceti"o# sempre um sil,n&io#

mas :ue em seguida dE lugar a uma e/pressão estti&o-poti&a :ue# &ontudo# não anula a "alidade positi"a da:uilo diante de :ue o sil,n&io ne&essErio%

.sta per&epção do sil,n&io so$ a ru$ri&a do estti&o $em apontada por Mel$erg# :ue

&ara&teri4a o sil,n&io do Co"em &omo um Osil,n&io su$limePI1% A guinada religiosa do Co"em se

mostra na transormação do inal triste de sua história num sentimento ininito de reno"ação# em

I1? +omo admite 8ier9egaard numa nota a"ulsa# em :ue ele e/pli&a a dierença do Ló da  Repetição do Ló do dis&ursoedii&ante :ue ele mesmo es&re"era% +% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 32I%

I1 Repetição# p% 123%I1@ *dem# p% I%

I1 *dem# p% ?@%I1I +% !ear and Trem"ling# Repetition# p% *T%I1 M.B.)G# A%N Repetition Min t$e )ier*egaardian sense of t$e term4# p% @%

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:ue Oo Co"em pare&e preparado para interpretar o dese&ho ineli4 de maneira eli4# &omo uma

VrepetiçãoV realPI20% Ainda :ue tal mo"imento seCa permeado por uma Oironia pesadaPI21# ele e/pressa

uma e/peri,n&ia &uCo &arEter em Qltima instn&ia poti&oN o :ue não poderia se dar de outra orma#

 CE :ue a melan&olia do Co"em pare&e ser undada num segredo :ue apenas se insinua no te/to# e &uCa

aus,n&ia maniestamente presente mostra :ue ele en&ontra-se o tempo todo J espreita% A o&asião em

:ue +onstantius o nota se dE :uando :ualii&ado pelo Co"em de Opertur$ado mentalPN daí ele

entende :ue o Co"em Oagora tem de&erto um segredo# um segredo mais íntimo do :ue o mais íntimo

dos segredos# e esse segredo estE guardado por um &iQme :ue tem mais de &em olhosP I22% seu

segredo se &onirma no sil,n&io# e reletido em Ló no momento em :ue o Co"em airma :ue

Osomente em silhueta aper&e$o-me de Ló# :ue estE sentado Cunto J lareira# e dos seus amigosN mas

ningum di4 pala"raN porm este sil,n&io es&onde em si todos os horrores# &omo um segredo :ue

ningum ousa nomearPI23% ra# se o ineE"el do religioso en&ontra-se agarrado ao sil,n&io en:uanto

Qni&a orma de e/teriori4ação do seu sentido proundo# então este sil,n&io en&ontra-se en&errado no

 poti&o &omo seu su$strato Qltimo# da mesma orma :ue o próprio religioso o su$strato da ideia

:ue se mo"e na disposição poti&o-religiosa do Co"em% Resse sentido# o poti&o en&ontra-se

determinado em unção do religioso# sem :ue no entanto a sua e/teriori4ação na orma de

linguagem &onstitua por si um ruído &apa4 de :ue$rar a proundidade do sil,n&io do seu

undamento Qltimo% 'or isso ele &apa4 de atri$uir a Ló uma elo:u,n&ia suprema &apa4 de e/primir

a Opai/ão da dorP :ue Oem parte alguma en&ontrou tal e/pressãoPI2?# ao mesmo tempo em :ue a ele

atri$ui uma interioridade insondE"el pelo dis&urso direto# a não ser pelo poti&o &al&ado no sil,n&io%

A pergunta ruidosa so$re a possi$ilidade da repetição# &uCo $arulho &onsiste nas repetidas

"e4es em :ue ela &olo&ada e nas repetidas "e4es em :ue sua resposta negati"a reiterada no te/to#

e/pressam pre&isamente a instn&ia em :ue a repetição ainda não oi posta &omo uma tarea

assumida pela indi"idualidade# e em :ue o estti&o ainda não en&ontrou a orma poti&a do religioso

en:uanto seu su$strato% Osil,n&io su$limeP# nesse sentido# a e/pressão da atualidade da

repetiçãoN en:uanto su$lime# aponta para esta instn&ia :ue en&ontra-se para alm da linguagem#

mas :ue nesse apontar indi&a tam$m o des&ompasso temporal :ue hE entre a linguagem e a&apa&idade dela e/primir a atualidade presente# :ue e/pressa por meio de metEoras :ue os&ilam

entre o &u e o a$ismo# a Qria e a &almaria prounda(

OA&a$ou# a minha &anoa CE "oga# no minuto seguinte estarei de no"o lE onde esta"a o deseCo

da minha alma# lE onde as ideias espumam &om Qria elementar# onde os pensamentos se

erguem ruidosamente &omo as naç<es nas migraç<es dos po"os# lE onde em outras alturas hE

I20 *dem# p% @%I21 *dem# p% %

I22 Repetição# p% I%I23 *dem# p% 11%I2? *dem# p% 11?%

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uma :uietude semelhante ao proundo sil,n&io dos Mares do 6ulPI2

.stas metEoras indi&am não só a aus,n&ia de sentido Oa minha &anoa CE "ogaP do mo"imento

os&ilante entre a altura e a proundidade# entre o sil,n&io e a Qria ruidosa no erguer-se da ideia# e a

tempestade :ue se &oe/iste &om o proundo sil,n&io do mar% su$lime então mostra-se em "oga

&omo uma e/pe&tati"a da presença dupla Otanto do a$ismo :uanto dos &usPI2@# em :ue Oo deseCo do

te/to por um agora pri"ilegiado pode ser reali4ado apenas alm de uma linguagem de sentidoPI2%

A linguagem para alm da linguagem :ue &apa4 de e/pressar o &arEter do sil,n&io de"e

ultrapassar a determinação direta do sentidoN tal a &ara&terísti&a da comunicação indireta  do

dis&urso 9ier9egaardiano% 'ortanto# pode-se di4er :ue o poti&o desta meta-linguagem 7 cuja auto%

refle1i-idade indica precisamente uma repetição efeti-a 7 ade:uado ao &arEter estti&o do su$lime

 Custamente na medida em :ue seu undamento o trans&endente do sentido :ue &onstitui seu

su$strato religioso% *sso e/pli&a em parte por :ue o amor do Co"em tra4 a dupla determinação de

uma de"oção religiosa de um lado# e de outro a de :ue a moça &onstitui apenas uma o&asião para

:ue o amor en:uanto ideia seCa nele engendradoN dualidade esta :ue em momento nenhum do te/to

dada &omo peremptoriamente resol"ida% *sso se dE por:ue# at o momento da repetição# ele ama

seu o$Ceto apenas atra"s da re&ordação# muito em$ora &om a repetição o o$Ceto deste amor

en&ontre-se de alguma orma morto para ele# &omo a moça :ue se &asa &om outro% uanto a isso#

e/pli&a .ri9sen# Ore&ordE-lo no amor não amE-lo# mas dei/E-lo ser uma o&asião para :ue o amor

desdo$re a si mesmo na:uele :ue o re&ordaP I2I% A transfiguração po+tica :ue se &onstitui en:uanto

elemento da repetição tem um eeito so$re a linguagem :ue pode ser e/pli&ado &omo umaapropriação interior da:uilo :ue perde a sua eeti"idade na realidadeN nele# a linguagem dei/a de

&onstituir uma determinação o$Ceti"a da realidade :ue pretende e/pli&ar# e redire&iona sua

inten&ionalidade para uma re&onstituição poti&a do o$Ceto interiormente en:uanto o&asião# no :ue

8ier9egaard &hama de transfiguração \ !or*larelse]( Oo religioso perten&e ao reino da

transiguração \ !or*larelse] antes do da e/pli&ação% A tarea &omuni&ar o religioso de tal maneira

:ue ele não se redu4a ao reino da e/pli&açãoPI2% Qni&o modo para isso introdu4ir o re&eptor da

linguagem# ou o leitor do dis&urso &omo um elemento ati"o na apropriação do sentido do dis&urso#:ue# pre&isamente pela sua "a&uidade parado/al de sentido# passa a reletir a interioridade da:uele

 próprio :uem o l,( Osomente em a4endo a "erdade do dis&urso depender da apropriação do leitor

 pode ser mantida a transiguração &omo e/pli&açãoPI30%

 Resse sentido# argumenta .ri9sen# a passi"idade do espe&tador estti&o :ue$rada# e ele

I2 *dem# p% 132%I2@ M.B.)G# A%N Repetition Min t$e )ier*egaardian sense of t$e term4# p% @%I2 *dem# p% %

I2I .)*8.6R# R% R%N )ier*egaard9s .ategor2 of Repetition@ a Reconstruction# p% %I2 *dem# p% I%I30 *dem# p% I%

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então posto em eeti"idade en:uanto indi"íduoN disso de"eria de&orrer então :ue o paradigma

estti&o &ompletamente a$andonado e suplantado pelo religioso( Ose# no paradigma do estti&o# o

es&ritor ala com o seu leitor# no paradigma religioso ele ala atra-+s dele em$ora não no sentido

de manipulaçãoPI31% Ro entanto# esta airmação des&onsidera a determinação poti&a :ue oi de ato

atingida pelo Co"em# em :ue o poti&o "em a esta$ele&er-se &omo algo religiosamente determinado#

e do :ual o religioso &onsiste num su$strato Qltimo em :ue su$siste apenas a dialti&a entre a ala

 poti&a e o sil,n&io ineE"el% Alm disso# tem-se o mo"imento interior da ideia# em :ue

 pre&isamente o religioso esta$ele&e uma relação o&asional &om a e/terioridade% A:ui# o &on&eito de

o&asião re&e$e de"eras um tratamento distinto da:uele da esera estti&a# no :ual a interioridade

rela&iona-se &om a generalidade do e/terior en:uanto e/&eção% Mas nisso o geral "em a ser para ela

 Custamente a o&asião para :ue ela assim se determine dialeti&amente# sem :ue# no entanto# a

nenhum dos dois "enha a ser negada a Custii&ação mutuamente im$ri&ada% Resse sentido# não se

 pode di4er :ue a indi"idualidade religiosa do Co"em o seCa plenamente em unção da e/&lusão do

estti&o :ue permeia a re&ordaçãoN ao &ontrErio# no mo"imento da repetição# o amor-re&ordação

 passa então pela transiguração :ue o transorma num amor-repetição# o :ue ele passa a signii&ar

após a ideia ser posta em mo"imento% A re&ordação :ue aponta"a para trEs# para a temporalidade

 perdida# redire&ionada para rente e passa a apontar para a eternidade# :ue a repetição em

sentido pleno% Mas o signii&ado deste amor não perde desta maneira o seu &arEter estti&o# ainda

:ue apenas na medida em &ue pode ser e1pressado poeticamente# em "istas da manutenção da sua

relação &om o religioso en:uanto su$strato%

Desse modo# se no &aso de A$raão o :ue o impulsiona a reali4ar o mo"imento para rente

um ordenamento di"ino# estritamente religioso# o su$strato religioso :ue mantm a ideia em

mo"imento no Co"em p<e a am$iguidade do pro$lema no interstí&io entre o religioso e o eróti&o( o

:ue o impulsiona para rente num mo"imento :ue em alguma medida se "in&ula &om o religioso #

 portanto# um sentimento de &arEter estti&o% +onstantius mostra isso na signii&ação dQ$ia :ue a

moça mantm para o Co"em( ela teria Ouma importn&ia enorme# ele nun&a poderE es:ue&,-la#

 porm ela não tem importn&ia por si mesma mas sim por "ia da relação &om ele% .la por assimdi4er a ronteira para o ser deleN mas uma tal relação não eróti&aP I32% erotismo en&ontra-se

ele"ado ao Epi&e poten&ial :uando suspenso no ponto em :ue Ohumanamente alando# seu amor

não se dei/a reali4arPI33# e a partir do :ual a moça passa a signii&ar uma Ois&a no an4olP I3?  :ue

Deus usa para &apturar a indi"idualidade religiosa do Co"em% Ainda :ue isso possa dar-se somente

no ponto de "ista do o$ser"ador# pois não i&a &laro em :ue medida o limiar a:ui e/&ludente ou do

I31 *dem# p% @0%

I32 Repetição# p% 0%I33 Repetição# p% 0%I3? *dem# p% 0

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estti&o ou do religioso# a &olisão mostrada por +onstantius :uando di4( Oa história de amor do

meu amigo lhe tinha dei/ado uma impressão $astante mais unda do :ue eu ha"ia suposto Z% 'ois

se esta a situação# nada lhe resta a não ser e/e&utar um mo"imento religioso% Deste modo o amor

&ondu4 um homem mais e mais para diantePI3% 6endo :ue a repetição se &onstitui &omo um

mo"imento de restauração# ela só se torna permeada pelo religioso na medida em :ue este &arEter

estti&o se en&erra na sua impossi$ilidade# de modo :ue a eeti"idade do amor :ue o Co"em sente

 passa a ser a:uilo :ue de"e ser retomado no mo"imento religioso% Mas este mo"imento impli&a

tam$m em :ue a indi"idualidade &onstituída inteiramente em "irtude desta relação# &uCo Qni&o

undamento a impossi$ilidade so$ a mar&a da eternidade% ;rata-se portanto de uma relação :ue at

&erto ponto eróti&a# mas &uCa impossi$ilidade le"a J su$limação do seu mo"imento na

trans&end,n&ia do eterno%

indi"íduo# portanto# a:uele :ue en&ontra-se de posse da ideia e no eterno e em :uem ela

en&ontra-se em mo"imento em "irtude do eterno# no parado/o da realidade eeti"a em "irtude da

sua própria impossi$ilidade% mo"imento pelo :ual o indi"íduo ganha a si mesmo su&ede a:uele

em :ue ele se perde# mas no instante su$lime da repetição ele tanto en&ontra-se perdido &omo de

 posse de si mesmo# em :ue# na sua O:uietude na :ual uma pessoa se ou"e a si mesma alarPI3@# ele

não mais &apa4 de e/pli&ar em :ue patamar de perda ou de ganho ele atualmente se en&ontra% ;al

dialti&a parado/al o :ue engendra o poti&o na repetição# e o :ue permite &hamar a repetição do

 Co"em poeta de uma repetição est+tica% Ro entanto# esta repetição distingue-se so$remaneira da

repetição estritamente religiosa# em :ue a re&on&iliação mais prounda e o sentimento de plenitude

 prepondera# na medida em :ue ani:uila o dia$óli&o da pai/ão estti&a :ue o prende J o&asião%

 Co"em um poeta da repetição# tal"e4 da mesma orma :ue Lohannes De 6ilentio um poeta da (

a relação :ue o poeta mantm &om o seu o$Ceto tem a am$iguidade undamental de uma

 pro/imidade aastada# e de um aastamento íntimoN e sustenta o parado/o de :ue a impossi$ilidade

real do mo"imento mais ele"ado tam$m a &ondição de sua possi$ilidade eeti"a%

A &omuni&ação indireta um elemento estti&o ruto da impossi$ilidade da repetição# e

aponta na sua insui&i,n&ia para o místi&o :ue su$Ca4 J "a&uidade do ineE"el da ideia religiosaN oseu &arEter estti&o deri"a Custamente da determinação de mera  aparência :ue ad:uire então a

instn&ia :ue a arti&ula( a pseudonímia% .la &onsiste# por assim di4er# na personalidade :ue p<e a si

mesma inten&ionalmente en:uanto um simula&ro# $em &omo no mo"imento &on&eitual :ue

inten&ionalmente p<e a si mesmo en:uanto um e/perimento psi&ológi&o% Mas este &arEter de

aastamento :ue esses elementos ad:uirem no estti&o ad:uirem a nuan&e do mo"imento da

repetição# o do "elho tornando-se no"o# no instante ininitesimal do apontar para a possi$ilidade do

I3 *dem# p% II%I3@ *dem# p% 132%

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místi&o Custamente na sua impossi$ilidadeN o :ue torna sal"o o estti&o na medida em :ue este

en&ontra-se a ele su$ordinado%

Do ponto de "ista do uni"ersal# o sil,n&io :ue engendra o poti&o &onsiderado &omo a

e/pressão da e/&eção# o :ue e:ui"ale a di4er :ue o sil,n&io "in&ula-se J e/&eção J norma geral na

medida em :ue esta pura e/terioridade% .ntão# o interstí&io entre interioridade e e/terioridade# em

:ue a:uela se e/pressa apenas de maneira indireta para não terminar &on"ertendo-se na outra#

 pre&isamente o poti&o# mas :ue# en:uanto e/&eção# e/&lui-se a si mesmo do geral numa linguagem

&irada# &uCo hermetismo aponta para o &arEter místi&o da interioridade% +omo mostra Desro&hes#

Ono m$ito da repetição &omo uma &ategoria trans&endente# o sil,n&io e/pressa a e/&eção J

ti&aPI3% Do ponto de "ista ti&o# a e/pressão do amor do Co"em para ele impossí"el# pois a

eeti"idade da relação tornaria tudo uma tentação demonía&a( Oo meu amor não se dei/a e/primir

num &asamento% 6e o i4er# a moça i&arE redu4ida a nada% ;al"e4 a possi$ilidade lhe tenha pare&ido

tentadora% uanto a isso# não posso e"itE-loN tam$m para mim o oiP I3I% .sta impossi$ilidade

e/pressa na igura do Co"em o :ue pode ser designado &omo uma ruptura ti&a# uma suspensão

teleológi&a do ti&o% Ro entanto# esta suspensão de"e ad"ir para ele na orma do  sacrifCcio  da

 própria eeti"idade da sua indi"idualidade# a :ual re&uperada por meio da repetição% +om eeito# a

repetição eeti"a-se no sa&rií&io atra"s da reatualiLação do -alor perdido da:uilo :ue ha"ia sido

 posto &omo sa&rii&ado% A dialti&a do sa&rií&io &onigura-se &omo uma dialti&a parado/al :ue

"in&ula-se &om a e/&eção# no sentido de :ue a:uilo :ue posto para ser sa&rii&ado não perde seu

"alor na sua ani:uilação# mas# ao &ontrErio# este se ele"a% Resse sentido# o "alor# :ue se determina

no uni"ersal# ainda :ue seCa nele determinado atra"s do ti&o# de"e su$sistir J suspensão deste# a

:ual "em portanto a reinstaurar o "ín&ulo da "aloração &om o estti&o# &omo o&orre na própria

transiguração da indi"idualidade religiosa de 8ier9egaard numa personalidade esteticamente

 produti-a(

O.u sou um poeta% Mas# muito antes de me tornar um poeta# eu era destinado J "ida da

indi"idualidade religiosa% . o a&to pelo :ual me tornei um poeta oi uma ruptura ti&a \um

tema em repetição] ou uma suspensão teleológi&a da ti&a \um tema em ;emor e tremor]% .am$as as &oisas me a4em :uerer ser algo mais do :ue Vo poetaVPI3

A indi"idualidade :ue se deronta &om a repetição no limiar do estti&o &om o religioso# na

medida em :ue de"e eetuar a suspensão do ti&o# e &om ele a arti&ulação ti&a de "aloração# de"e

transpor portanto o undamento desta para o estti&o tendo &omo su$strato o religioso% A:ui a

repetição mostra-se no"amente na sua relação &om a re&ordação en:uanto mo"imento( a tentati"a

I3 D.6)+.6# D%N T$e E1ception as Reinforcement of t$e Et$ical (orm# p% 31%I3I Repetição# p% 10%I3 O* am a poet% But long $eore * $e&ame a poet * =as intended or the lie o religious indi"idualit>% And the e"ent

=here$> * $e&ame a poet =as an ethi&al $rea9 \a theme in Repetition] or a teleologi&al suspension o the ethi&al \atheme in !ear and Trem"ling ]% And $oth o these things ma9e me =ant to $e something more than Vthe poetVP% Journals and Papers S* @1I  Pap% T3 A I# op% &it% !ear and Trem"ling# Repetition# p% TS**%

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de repetir algo posta na medida em :ue se &al&a no "alor do :ue oi perdido# o :ue só pode ser

&onstatado neste sentido por meio da re&ordação% Resta &onstatação do "alor perdido# a re&ordação

inten&ionalmente retomada# repetida# pois dela ad"m a eeti"idade do "alor perdido e da

idealidade desta mesma retomada# :ue "em-a-ser posteriormente en:uanto atualidade do

mo"imento pleno% &arEter de tal mo"imento repetiti"o ati"o e inten&ional# no :ual su$siste

entretanto um elemento estti&o não-&ontemplati"o# em :ue o Cuí4o de "alor reatuali4ado en:uanto

 Cuí4o estti&o-religioso# do :ual o Cuí4o ti&o passa a depender% A ,nase do estti&o no "elho :ue

representa o mesmo transigura-se então na perspe&ti"a religiosa em :ue o "elho su$siste en:uanto

&ondição de possi$ilidade da reno"ação de sentidoN no :ue tam$m a re&ordação mantm a nature4a

de seu mo"imento e redire&iona-o para rente%

sa&rií&io une# portanto# o poti&o &om o religioso no sentido de :ue tanto num &omo

noutro a realidade da indi"idualidade inten&ionalmente entregue J ideia &omo o$lação% Ra

repetição# o Co"em ele mesmo sa&rii&ado em seu nome# "indo a tornar-se dela um iel ser"o(

O'ertenço J ideia% 6e ela me a&ena# sigo-aN se mar&a um en&ontro# espero pelo momento dia e noite

Z% 6e a ideia me &hama# largo tudo# ou# mais rigorosamente# nada tenho a largar# ao ser leal para

&om a ideia não deraudo ningum# não aliCo ningumP I?0% *sso indi&a :ue a resolução da repetição

em  ser-ir U ideia &onsiste Custamente no ponto ininitesimal do confinium# da colisão entre o

est+tico e o religioso# na medida em :ue a e/pressão desta relação a produti"idade da

indi"idualidade &omo tal# um &on&eito religioso poeti&amente determinada% Ro entanto# por trEs

disso tudo# resta a e/ig,n&ia ineE"el da idealidade religiosa :ue simplesmente não pode ser

satiseita desta maneiraN a in&omensura$ilidade da eeti"idade poti&o-religiosa do Co"em &om a

seriedade e a proundidade a$ismal do &a"aleiro da su$siste nesta relação &uCa e/pressão ad:uire

uma outra orma estti&a ade:uada a este in&omensurE"el% .sta orma # pois# a do $umorCsticoN o

 poti&o :ue &ara&teri4a a e/&eção p<e-se em em$ate &om o uni"ersal apenas na medida em :ue o

sa&rií&io dado humoristi&amente# pois assim# ele não ani:uilado# o :ue &ondição para a

 Custii&ação do uni"ersal% resultado deste sa&rií&io não # nesse sentido# a o$lação# mas o riso#

&uCa determinação aponta sempre para o uni"ersal% religioso no seu sentido pleno permane&einatingido pela repetição estti&a# e isto se mostra no te/to da  Repetição  &omo um elemento

 presente atra"s do arses&o# o :ual serE posto em "istas adiante%

KK A est+tica da repetição como farsa

ogo após o relato das penQrias do melan&óli&o Co"em e da proposta da Oe/peri,n&iaP#

+onstantius passa a dis&orrer so$re a sua "iagem a Berlim# e &omo ela representa para ele uma

I?0 Repetição# p% 132%

1@

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O"iagem de in"estigaçãoP &uCo o$Ceti"o seria OpHr J pro"a a possi$ilidade e o resultado da

repetiçãoPI?1% A "iagem ra&assada mais tarde &ompreendida por +onstantius &omo uma paródia da

"erdadeira repetição no :ue di4 respeito J ideia de mo"imentoI?2% A arti&ulação negati"a :ue a

demonstração dos e/emplos ad:uirem &om relação J repetição en:uanto um &on&eito paradigmEti&o

se dE# portanto# so$ a negação atra"s do cNmico# em :ue se maniesta o in&omensurE"el entre a

ideia e a pro"aN e a "iagem de +onstantius presumi"elmente o elemento &ha"e :ue introdu4 essa

ideia( Oa "iagem de +onstantius a Berlim não algo a&idental% .la gera em parti&ular o humor para

a Posse \arsa] e a:ui ela atinge o ponto e/tremo do humorísti&oPI?3% Ro entanto# a ideia do &Hmi&o

apare&e desen"ol"ida outrossim na demorada anElise do arses&o   eita por +onstantius logo em

seguida J apresentação da proposta da sua "iagem e/perimental# em :ue i&a patente o

in&omensurE"el por meio da in&ongru,n&ia do autor em ela$orar de uma maneira tão su&inta um

&on&eito ilosói&o &omple/o &omo o da repetição# e dedi&ar uma e/tensão tal"e4 grande demais a

digress<es so$re o teatro da arsa e do &Hmi&oI??% ra# na medida em :ue +onstantius ao inal do

li"ro se de&lara o autor poti&o do pro$lema :ue se mostra $asi&amente em duas instn&ias 7 de um

lado# o ra&asso de sua empreitada em Berlim# e de outro# o Co"em en:uanto suCeito da repetição 7

então o lado negati"o representado por ele próprio en:uanto personagem indi&a somente a sua

retirada e a aus,n&ia de positi"idade do seu ponto de "ista# por meio do :ual ele a$re o espaço para

a Operorman&eP do Co"em%

As representaç<es e/emplares do &on&eito de repetição :ue +onstantius apresenta a todo

momento ao longo da e/peri,n&ia apare&em# portanto# so$ a insígnia do &Hmi&o# em :ue

salientada a in&omensura$ilidade da ele"ação do &on&eito &om a realidade Custamente atra"s dos

su&essi"os ra&assos de sua reali4ação% Daí auniensis tomar a Odes&o$ertaP de +onstantius# a

Oorça e/pressi"aPI? :ue possui o &on&eito de repetição# &omo algo :ue se o&ulta por trEs das

representaç<es a ele &orrespondentes% Resse sentido# :uando +onstantius airma# na &arta de

resposta a ei$erg# :ue ele torna-se &ons&iente da seriedade da repetição pre&isamente atra"s da

&ons&i,n&ia de seu lado &Hmi&o# ele reere-se J &apa&idade :ue o humorista tem de sustentar esse

I?1 *dem# p% 3%I?2 O* also managed to &ast a &omi& light o"er the Courne> * too9 to Berlin# $e&ause mo"ement there$> $e&ame a punPN

&% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30%I?3O+onstantin +onstantiusVs Courne> to Berlin is not something a&&idental% e generates in parti&ular the mood or the

 Posse \ar&e] and here rea&hes the e/treme point o the humorousP% *dem# p% 32@%I?? A importn&ia deste ponto de "ista estranhamente des&onsiderada pela maioria dos &omentadores# os :uaistomam a repetiti"a anElise da :uestão &omo um modo do autor de des"iar o leitor do &erne da :uestão# e tendem a o&arsua anElise na :uestão da repetição muito mais &omo uma &ategoria lógi&o-metaísi&a# &uCa seriedade imediata &ontrasta&om tudo a:uilo :ue tal"e4 possa ser sugerido por uma arti&ulação desse tipo% Resse sentido# o &Hmi&o :ue representa arepetição pode ser tomado &omo a &ategoria em :ue a ti&a ra&assa# pois aí ra&assa tam$m a  seriedade  por elae/igida% +omo mostra 6tuart Dalton# O:uando pressionados a &omentar so$re este estranho momento do te/to# os&omentadores &on&ordam em uma &oisa :uase uni"ersalmente( uma digressão% amor de +onstantin +onstantius pela

arsa e sua longa dis&ussão so$re o modo &omo ela perormada no 8`nigstjdter ;heater essen&ialmente lateral e pode seguramente ser ignoradaP% + DA;R# 6%N )ier*egaard9s Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1%I? .onceito de AngHstia# p% 20%

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in&omensurE"el :ue o ilósoo naturalmente despre4a(

Oa leitura repetida de um li"ro ou a apre&iação de uma o$ra de arte não podem de maneira

alguma ser tomadas &omo uma repetição em sentido pleno# pois elas ainda são passí"eis a

uma am$iguidade dialti&a# J $uonaria na repetição# algo a :ue eu esta"a parti&ularmente

atento por:ue eu esta"a atento J seriedadePI?@

+air nessa armadilha para ele redu4ir-se ao estti&o# e a:ui re"ela-se desse modo o sentido da

repetição estti&a no sentido propriamente &on&eitual# apli&E"el J o$Ceti"idade de anElise do

artísti&o( o indi"íduo nessas &ir&unstn&ias tomado &omo "a4io# pois a o$ra passa a não a4er

reer,n&ia a nada e/terior a ela própria# o :ue a es"a4ia tam$m da sua possi$ilidade de sentido%

Assim# a repetição indi&a a eeti"idade da indi"idualidade posta# mas a:ui o estti&o 7 entendido

agora &omo uma pretensão de nature4a ilosói&a 7 ultrapassado% +om eeito# a &on&epção de

8ier9egaard do ilósoo &omo um sistemati4ador &onrontada nessa perspe&ti"a# em :ue o

in&omensurE"el# na medida em :ue a limitação da linguagem por ele e/trapolada atra"s doa$ismo por ele e/pressado# "in&ulado ao ineE"el do religioso(

O humorista ele mesmo tornou-se atento ao in&omensurE"el :ue o ilósoo nun&a pode

des&o$rir e# portanto# de"e despre4ar% .le "i"e na a$undn&ia e # dessa orma# sensí"el ao

:uanto sempre dei/ado de lado# mesmo :ue ele tenha se e/pressado &om toda a eli&idade

daí a a"ersão J es&rita% sistemati4ador a&redita :ue ele pode di4er tudo# e :ue o :ue não

 pode ser dito errHneo e se&undErioPI?%

+onstantius# :uando a4 uso do &Hmi&o para e/pressar o seu desespero e retirar-se de &ena

ao desistir da repetição 7 O"i"a a trompa do postilhão_PI?I# mostra-se &omo par&ialmente

determinado no in&omensurE"el na sua &ons&i,n&ia da ele"ação da repetição e da sua in&apa&idade

de al&ançE-laN toda"ia em parte apenas &omo a:uele :ue desiste# sendo :ue na &arta a ei$erg i&a

muito mais e"idente a sua determinação da:uele :ue sa$e a repetição &omo um mo"imento em

"irtude do a$surdo e da sua eeti"ação da ele"ação da &ons&i,n&ia% .sses traços espe&íi&os da

repetição religiosa não são postos e/pli&itamente por ele en:uanto personagem da  Repetição# mas

sim pelo Co"emN e# so$ este aspe&to# pode-se di4er :ue o +onstantius da narrati"a se diere

sui&ientemente do +onstantius mais enEti&o# &uCo tom &ríti&o $eira o doutrinErio# do +onstantius

da resposta a ei$erg :ue &hega a apropriar-se e/teriormente da o$ra :ue ele próprio es&re"e-a

reerindo-se a ela &omo um Ope:ueno e estranho li"roPI? para :ue o primeiro seCa salientado mais

I?@O;he repeated reading o a $oo9 or enCo>ment o a =or9 o art &an $> no means $e regarded as a repetition in the pregnant sense# or it is still lia$le to the diale&ti&al am$iguit># to the Cest in repetition# something * =as parti&ularl>a=are o $e&ause * =as a=are o the earnestnessP% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 2?%

I? O;he humorist himsel has &ome ali"e to the in&ommensura$le =hi&h the philosopher &an ne"er igure out andthereore must despise% e li"es in the a$undan&e and is thereore sensiti"e to ho= mu&h is al=a>s let o"er# e"en ihe has e/pressed himsel =ith all eli&it> thereore the disin&lination to =rite% ;he s>stemati4er $elie"es that he &ansa> e"er>thing# and that =hate"er &annot $e said is erroneous and se&ondar>P%  Journals and Papers# ** A 1?0 n%d%# p%

0I%I?I Repetição# p% I0%I? !ear and Tremp"ling# Repetition# p% 2I3%

1I

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espe&ii&amente &omo a en&arnação deste humorísti&o :ue# pre&isamente pela Odesin&linação a

es&re"erP# pre&isa re&orrer a uma linguagem &odii&adaI0  para se a4er entender de alguma orma%

+omo mostra Grcn# Oo +onstantin :ue lemos nas  Anotaç7es não mais o +onstantin :ue tinha

&one/<es &om o Co"em% K o +onstantin :ue toma posse do seu li"ro e assume ser ele próprio seu

autor Z% Ras Anotaç7es# não somente o Co"em# mas o e/perimento 7 e portanto o li"ro OestranhoP

 7 são retratadosPI1% A dualidade# no entanto# indi&a uma relação &omplementar# pois a &ons&i,n&ia

do &arEter de $uonaria e tam$m da seriedade da repetição são# em Qltima instn&ia# o mesmo

mo"imentoN o :ue# &ontudo# por si só não a atinge# mas tal"e4 seCa dela uma &ondição undamental%

 Resse sentido# :uando +onstantius e/&lama( Oha"eria de ser a e/ist,n&ia ainda mais

enganadora do :ue um $an&arroteiro_ .sse ainda dE 0 por&ento# ou 30N pelo menos dE alguma

&oisa% &Hmi&o ainal o mínimo :ue pode e/igir-seN ha"eria tam$m ele de não poder repetir-

se^PI2# e/pressa-se o &Hmi&o &omo a:uilo a partir do :ual a repetição indi&ada# sem :ue &om ele

tam$m se &onstitua uma garantia da repetiçãoN ele se &onstitui &omo algo e/terior J repetição# mas

:ue nesta e/terioridade a delineia e aponta para a sua nature4a ele"ada Custamente atra"s do

re$ai/amento da:uilo :ue a ela não &on&erne# atra"s do :ue i&a posto o in&omensurE"el# o limite

do inito por meio do :ual se re"ela a ininitude% 'or isso o &Hmi&o ele próprio não se repete# o :ue

le"a +onstantius ao desesperoN mas ele indi&a a repetição por meio da instauração &ontínua da

&olisão entre o finito e o infinito% Ra medida em :ue ele não se repete# ele de"e ser designado &omo

uma &ategoria estti&aI3N mas &omo por meio dele "em a ser posto o in&omensurE"el# então ele

 pode ser &on&e$ido &omo a  forma geral   da maniestação da repetição% A maniestação do

in&omensurE"el posta em outros termos na:uilo em :ue +onstantius des&re"e da proposta do

e/perimento psi&ológi&o &omo uma tentati"a de OiluminE-la no &ontraste entre a $uonaria e o

desesperoPI?# por meio do :ual ela apare&e de maneira negati"a o&asionada pela introdução do

in&omensurE"el% Ao mostrar as insui&i,n&ias da repetição tanto en:uanto e/peri,n&ia :uanto

&ategoria# são instituídas duas ormas de se en/ergar o mo"imento# nas :uais o leitor

 primeiramente inserido no de&orrer patti&o do li"ro# em :ue a dor e o desespero do ra&asso

apare&e repetidamente na orma da impossi$ilidade da própria repetição# e# em seguida# e/pelido

I0 *sso se pro"a :uando se nota :ue# nas anotaç<es# as &itaç<es so$re o humorísti&o a4em &onstante reer,n&ia aamman( Oamann is still the greatest and most authenti& humorist# the genuinel> humorous )o$inson +rusoe# noton a desert island $ut in the noise o lieN his humor is not an estheti& &on&ept $ut lie# not a hero in a &ontrolleddramaP# en:uanto :ue a argumentação kVq de amman ela mesma a inspiração para a linguagem anti-herti&a de +onstantius% +% Repetição# p% 2N e Journals and Papers# ** A 13@ August ?# 1I3# p% 0I%

I1 G)R# A%N Repetition and t$e .oncept of Repetition# p% 1@%I2 Repetição# p% ?%I3 A du$iedade da relação do &Hmi&o &omo uma &ategoria estti&a :ue se rela&iona indiretamente &om a repetição se

dE no :ue ele dei/a de ser ele próprio na medida em :ue a repetição se dE a partir dele mesmo 7 uma piada &ontadaduas "e4es# por e/emplo# nun&a tem a mesma graça%

I? Ao &omparar a sua a$ordagem da repetição &om a de ei$erg# +onstantius es&re"e( O;o interpret repetition as *

ha"e $> illuminating it in the &ontrast o Cest and despair ne"er o&&urred to the proessor# $ut to &orre&t m>&on&eption  &ertainl> did% As soon as =e thin9 o reedom# all the proessorVs serious 9no=ledge a$out repetition"anishes as a CestP% +% !ear and Trem"ling# Repetition# p% 31?%

1

8/17/2019 GOMES, Arthur - A Repetição Do Ponto de Vista Estética - Uma Análise a Partir de Kierkegaard

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 perdeu a amada# e tam$m oi &astigado &om eridas malignas a:uele :ue perdeu a honra e o

orgulho Cuntamente &om a orça e o sentido da "idaPII

utro des&ompasso :ue mar&a a relação do Co"em &om Ló a da repetição &omo li$erdadeN

&omo mostra Dalton# o inortQnio de Ló não o impediu de O&on&e$er a si mesmo &omo uma pessoa

li"re e responsE"el% Co"em# por sua "e4# &onsistentemente re&usa-se a e/er&itar a sua própria

li$erdadePI% Resse sentido# a in&omensura$ilidade de seu sorimento &om relação ao de Ló torna

inCustii&E"el a sua própria tentati"a de Custii&ação perante Deus# e ela dei/a de ser um apelo &om

um enseCo proundamente religioso e torna-se um &horamingo maçante e pueril% A sua o$sessão em

&onsiderar-se &ulpado pelo im$róglio &om a moça e# não o$stante# $us&ar a todo &usto uma

 Custii&ati"a# e :ue o impede de arrepender-se e# &om isso# reali4ar o ti&o# pare&e nesse sentido

transormar-se numa apologti&a em :ue o :ue sal"a são somente prete/tos(

Oou a minha re&ompensa serE tornar-me poeta^ )e&uso toda e :ual:uer re&ompensa# e/iCo os

meus direitos# i%e%# a minha honra Z u# se sou &ulpado# então tenho o poder dearrepender-me da minha &ulpa e remediar o mal em $em% ./pli:uem-me &omo% ei-de tal"e4

ainda por &ima arrepender-me de :ue o mundo se permita $rin&ar &omigo &omo uma &riança

 $rin&a &om um es&ara"elho^PI@0

ato mesmo de o Co"em não possuir um nome indi&a um anElogo ao sorimento pelo :ual ele se

di4 passar# &uCa indeterminação pode &onsistir ao mesmo tempo numa insignii&n&ia ou numa

signii&n&ia a$soluta# mas tal"e4 apenas para ele próprio( Onão hE ningum :ue me entendaN a

minha dor e o meu sorimento não t,m nome# tal &omo eu mesmo não o tenhoP I@1# o :ue o impede

tam$m de simplesmente a$di&ar da penQria atra"s do es:ue&imento( Oou serE por"entura melhor

es:ue&er tudo isto^ .s:ue&erN na "erdade# se o es:ue&er# dei/o simplesmente de serPI@2%

+onstantius ele próprio &hega a notar uma &omi&idade nessa sua o$sessão em &ulpar-se sem

:ue no undo seCa &apa4 de assumir essa &ulpa Js Qltimas &onse:u,n&iasN no :ue a espera pela

tempestade perde tam$m a sua "alidade# pois a realidade se torna para ele não uma instn&ia de

 Custii&ação# mas passa a &onstituir um prete/to para :ue ele próprio en&ontre-se a si mesmo

en:uanto &ulpado( O;al"e4 esteCa in&lusi"amente J espera de uma distorção da sua própria

 personalidade# mas isso nada serE# se apenas &onseguir# por assim di4er# "ingar-se da e/ist,n&ia :ue

se riu dele ao a4er dele &ulpado :uando ele esta"a ino&ente# ao tornar sem sentido# neste ponto# a

relação dele &om a realidadePI@3% *sso mostra o :uão implausí"el a ino&,n&ia :ue por meio da :ual

o Co"em tenta instaurar a &ategoria da pro"ação# :ue para ele lhe tão &araN a sua tentati"a de

&onstituir para si mesmo a designação de herói trEgi&o por meio de sua impostura tam$m não pode

II Repetição# p% 10%I DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1?%I@0 Repetição# p% 110%

I@1 *dem# p% 111%I@2 *dem# p% 110I@3 *dem# p% 0%

1I1

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senão ter um eeito &Hmi&o( Oa4er de si mesmo um patie# um impostor# apenas para mostrar em

:ue alta &onta se tinha a moça Z por essa "ia ser herói# não aos olhos do mundo# mas em si

mesmoPI@?% erro em :ue in&orreu# nesse sentido# seria somente o de ser in&onse:uentemente

am$íguo ao ponto de Omaniestar idelidade &om uma imposturaPI@#   terminando por &air no

ridí&ulo# por não ser &apa4 de dar um e&hamento a uma atitude tão inopinada%

A personagem do Co"em atinge o &Hmi&o mais ele"ado no estado de suspensão# em :ue ele

se prostra na espera pela tempestadeN esse momento# segundo Dalton# Oo Epi&e da &omdia :ue

resulta da re&usa do Co"em em assumir a própria li$erdadeP I@@% próprio +onstantius se aper&e$e

desta impertin,n&ia# de&larando :ue O impossí"el manter uma relação &om ele# e nessa medida

uma grande sorte :ue ele não :ueira respostaN por:ue seria ridí&ulo uma pessoa &orresponder-se

&om um indi"íduo :ue tem na mão um truno &omo uma tempestadePI@% estado de suspensão

&hega a maniestar sua &omi&idade# por im# at mesmo para o próprio Co"em# :uando ele# na

tentati"a de edu&ar-se para tornar-se esposo# di4( Otodas as manhãs $ar$eio-me de tudo o :ue em

mim ridí&uloN de nada ser"e# na manhã seguinte a minha $ar$a "olta ao mesmo tamanhoPI@I%

A possi$ilidade do &Hmi&o pare&e estar presente em todas as instn&ias em :ue dois

 personagens se rela&ionam uns &om os outrosN a des&oniança :ue +onstantius nutre &om o Co"em e

at &om a própria moça Ose eu próprio não osse tão "elho# trataria de me di"ertir tomando-a para

mim# só para aCudar este homemPI@N Osupondo :ue o arre$atamento dela hou"esse de

 posteriormente re"elar-se um e/agero# um pe:ueno impromptu líri&o# um di-ertissement  emo&ional#

Z pois $em_ ;al"e4 nesse &apítulo a sua ideia de generosidade o ti"esse tam$m aCudadoP I0# a

relação do Co"em &om +onstantius :ue os&ila entre uma de"oção &oniden&ial e a a&usação de :ue

ele seria um pertur$ado mentalI1# e na própria relação em :ue um # por assim di4er# o &riador

 poti&o de outro% Resse sentido# o &Hmi&o apare&e no"amente tam$m na relação de &ada um deles

&om a repetiçãoN ao im de tudo# &omo mostra ong# O+onstantius e o Co"em tornam-se paródias um

do outro( +onstantius desespera da repetição estti&a em "irtude da &onting,n&ia da "ida# e o Co"em#

ao desesperar-se da repetição pessoal em relação ao ti&o# o$tm por a&idente a repetição

estti&aPI2% A repetição religiosa :ue ad:uire &ontornos estti&os "ista# so$ a determinação da&omparação no geral da ele"ação religiosa &om o estti&o# &omo uma idealidade :ue maniesta

no"amente o in&omensurE"el &uCo eeito o &Hmi&o# e &uCa eeti"ação indi&a a impossi$ilidade de

atingir pelos meios do geral a ele"ação do religioso%

I@? *dem# p% %I@ *dem# p% 10I%I@@ DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1%I@ Repetição# p% 12%I@I *dem# p% 12@%I@ *dem# p% 12%

I0 *dem# p% 12%I1 *dem# p% ?%I2 !ear and Trem"ling# Repetition# p% TT%

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A maniestação da idealidade &omo tal# em :ue ela se mostra neste des&ompasso &om o :ue

dado ao indi"íduo al&ançar no real# o :ue maniesta o in&omensurE"el diante do :ual o mais

 $ai/o se torna &Hmi&o% Desse modo# a parti&ularidade deste Qltimo tem sua Custii&ati"a perante o

geral apenas nela própria# e nun&a em "irtude da sua relação &om o geralN e a &omparação da

idealidade :ue rege o geral &om a realidade do indi"íduo sempre onte do mal-entendido do :ual

 parte o humorísti&o% Dalton mostra isso :uando airma( Oa mE apropriação da história de Ló so$re a

repetição da parte do Co"em ressalta o ato de :ue toda história de repetição uma história pessoal

&uCo signii&ado não pode ser separado do &onte/to parti&ular e su$Ceti"o em :ue ela o&orrePI3% *sso

aponta tam$m para a &omi&idade im$uída na proposta de +onstantius em erigir uma teoria da

repetição# o :ue maniesta sua ingenuidade em não assumir a in&oer,n&ia entre a o$Ceti"idade de

uma teoria &ientíi&a e a indi"idualidade da repetiçãoN isto e:ui"ale# para Dalton# a Oassumir :ue a

repetição algo pu$li&amente o$ser"E"el# su$metida J mensuração e anElise o$Ceti"asPI?# e ignorar

a insinuação de :ue tal"e4 o e/agero no olhar teorti&o seCa uma ameaça J autonomia do :ue

o$ser"ado%

Mas se se o$ser"a o próprio &Hmi&o so$ este ponto de "ista# então i&a &laro :ue a orma da

apresentação do te/to 7 seCa ela &ompreendida &omo um instrumento estti&o da &omuni&ação

indireta# ou simplesmente a ormulação superi&ial do &Hmi&o# sem nenhuma pretensão para alm

dele próprio 7 de"e ser arti&ulada dessa maneira a todo momento# o :ue endossa :ue o &Hmi&o

in&ide não só nessa anElise da teoria metaísi&a da repetição# mas na própria e/perimentação poti&a

:ue ali de&orre% *sso se &onirma &om a anElise da orma arses&a eita por +onstantius na anElise do

teatro% A arsa &onsiste# pois# não somente num &aso ortuito em :ue a repetição mais uma "e4 se

apresenta na sua impossi$ilidade# mas tam$m na orma  fundamental por meio da :ual a repetição

 sempre "em J tona para o geral 7 pois a própria apresentação# en:uanto uma e/teriori4ação# CE

&onsiste numa representação para o geral# o :ue instaura ine"ita"elmente o mal-entendido% Ra

medida em :ue uma teoria metaísi&a não se demonstra eeti"a num teste empíri&o# a tentati"a se

resol"e no arses&o da e/perimentação alida% Resse sentido# o e/perimento psi&ológi&o# ainda :ue

&on&e$ido en:uanto um &onstruto imaginati"o# apresenta-se &omo um teatro psi&ológi&o arses&oem :ue o próprio ideal da repetição religiosa não # em Qltima instn&ia# en&ontrado &omo

&on&reti4ado em lugar nenhumN nem no Co"em# nem em +onstantius# e nem propriamente em LóN

&omo mostra +aputo( Oam$as as partes da  Repetição  são então um tipo de arsa# um &onstruto

imaginati"o# &uCo resultado inal mostrar :ue a repetição não en&ontrada em lugar nenhum 7

nem em +onstantius# nem no Co"em# nem na ilosoia# nem mesmo# propriamente# em Ló% A

repetição genuína &ontinua sempre deerindo a si mesmaP%I% A pro"ação de Ló designa o confinium

I3 DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1%I? *dem# p% 10%I +A'!;# L%N Radical 8ermeneutics# p% 2@%

1I3

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do poti&o &om o religioso# mas a repetição em sentido ainda não se eeti"a a:ui &omo um

mo"imento da eternidade% ;odas as instn&ias em :ue ela apare&e de"em ser ade:uadamente

 per&e$idas &omo  par5dias da repetição "erdadeira# a :ual simplesmente não pode ser e/pressa

senão na eternidade%

K tam$m neste sentido :ue Dalton airma :ue Oo entusiasmo de +onstantius pela arsa

e/tremamente rele"ante para o te/to do :ual ele o autor# por:ue o próprio te/to uma arsaPI@%

 Resse sentido# o teatro psi&ológi&o em :ue se desen"ol"e a repetição ele próprio de nature4a

arses&aN e# de outro lado# pode-se &on&e$er o elemento arses&o en&arnado nas personagens

tam$m &omo a:uilo :ue mais os apro/ima da repetição% .ssa relação desen"ol"ida por

+onstantius na sua anElise da arsa :ue ele assiste durante sua "iagem a Berlim% Opal&oP onde se

desen"ol"e o O;c$attenspiel do indi"íduo &rípti&oP o pal&o de uma arsa# &uCo desen"ol"imento

torna-se para o espe&tador 7 relação esta :ue ele mantm &om o desen"ol"imento da história do

 Co"em 7 determinado pelo Opra4er soísti&o da imaginaçãoP# :ue tem Oo mundo inteiro numa &as&a

de no4 :ue maior :ue o mundo inteiro# e &ontudo não tão grande :ue o indi"íduo não &onsiga

en&h,-laPI% &onteQdo da arsa posto numa relação &om o indi"íduo em :ue ele# &ontudo# ao

mesmo tempo :ue mantm a posição de espe&tador# ati"amente preen&he suas determinaç<es &om o

&onteQdo rele/i"o de si próprio# o :ue &onigura nesse sentido uma repetição# na medida em :ue

a:ui ele redupli&ado no personagem "a4io :ue protagoni4a a arsa% A:ui nota-se uma

rele/i"idade de &arEter puramente estti&o# em :ue hE a separação do espe&tador indi"idual da:uilo

:ue por ele o$ser"ado# mas# por outro lado# o o$Ceto de sua o$ser"ação &onstituído por ele

 próprio% 'ara isso# di4 +onstantius# ne&essErio um amadure&imento do espírito em :ue Oa alma

reuniu suas orças &om seriedadePII% 6eu amor pela arsa se dE pois Oele espelha o pro&esso

e/isten&ial da &riação de uma identidadeP atra"s de uma auto%diferenciação est+tica e

e1perimental ( Oa história da nossa "ida o&ulta 7 a história da &onstrução de si mesmo atra"s da

e/perimentação &onstante &om dierentes papisPI%

A psi&ologia da repetição impli&a portanto num pro&esso de auto-&onstituição da

 personalidade :ue passa ne&essariamente por este momento estti&o# :ue# no entanto# &omo

+onstantius enati4a# en"ol"e uma atuação alm da o$ser"ação# sem :ue no entanto o &arEter

artísti&o de am$as seCa suspenso% A mera posição de o$ser"ador não satisa4 a seriedade da

maturidade( Oa indi"idualidade mais amadure&ida# :ue se sa&ia &om o orte alimento da realidade#

não propriamente inluen&iada por um :uadro $em pintadoPII0# e esta pre&isa ir mais alm na:uilo

em :ue ela "em a &onstituir o o$Ceto de sua própria o$ser"ação &om o seu próprio &onteQdo

I@ DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1%I *dem# p% @1%

II *dem# p% @1%I DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1%II0 Repetição# p% @2%

1I?

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redupli&ado% Daí ele di4er :ue o indi"íduo srio não se satisa4 &om uma pintura representati"a# mas

o agrada melhor as gra"uras de Rurem$ergN pois# na sua artisti&idade &arente de si mesma 7 do

mesmo modo :ue a arsa &ontrasta &om o teatro mais ele"ado 7 a a$stração do todo não se dE por

um pro&esse meramente &ontemplati"o# mas um em :ue a indi"idualidade "em a ser &onstituída# no

entanto# atra"s de uma atuação estti&a :ue se &onigura ati-amente( O'ara +onstantius# o

desen"ol"imento da identidade indi"idual re:uer uma atuação% As possi$ilidades pre&isam ser

atuadas no pal&o da imaginação antes :ue elas possam ter :ual:uer signii&ado# antes :ue elas

tornem-se &andidatos srios para uma ação no pal&o da atualidadePII1%

 Resse sentido# a orma arses&a se ade:ua &om pereição J proposta Custamente em "irtude

da sua impereição% indi"íduo &rípti&o# :ue O:uer apenas "er e ou"ir pateti&amente# mas 7 note-se

 $em 7 "er e ou"ir a si mesmoPII2# não &onsegue "er este interstí&io em :ue ele apare&e reletido

so$re si mesmo na &ompletude da o$ra en&errada em si mesma( O!ma "e4 :ue a tragdia# a &omdia

e a &omdia ligeira não &onseguem agradar-lhe# pre&isamente por &ausa da respe&ti"a pereição#

"ira-se para a arsaPII3% K &urioso notar :ue pre&isamente nesse momento Oda idade mais madura#

:uando a alma reuniu suas orças &om seriedadePII?# :ue o estti&o mostra-se para o indi"íduo &omo

uma instn&ia não sui&ientemente sria para a$ar&ar essa apropriação de si mesmo do indi"íduo# a

 partir do :ual ele sente-se impelido a Oa$rir-se ao &Hmi&o e &omportar-se a&e J prestação teatral de

maneira produti"amente &Hmi&aPII% .sta a$ertura para o &Hmi&o &onstitui# nesse sentido# o limiar

do estti&o &om o apare&imento da indi"idualidade# em :ue o indi"íduo posto &omo crCptico# &uCa

representati"idade "em a ser para ele próprio# na medida em :ue ele imerge na atualidade do lu/o

da sua personii&ação no pal&o# uma orma irrefle1i-a de representação% Dalton mostra :ue um ator

arses&o $em-su&edido de"e ser Oundamentalmente irrele/i"oPII@# portador de uma imediatidade

:ue gera uma esp&ie &Hmi&a de ingenuidade :ue instaura na sua impereição uma pretensão

despretensiosa de artisti&idadeN daí +onstantius di4er :ue tal igura Opro"o&a um eeito indes&rití"el#

na medida em :ue não se sa$e se ha"emos de rir ou de &horar e todo o eeito se assenta na

disposição do o$ser"adorP% Resse sentido# a indeterminação da imediate4 irreletida do ator

redire&iona a rele/i"idade do o$ser"ador para si próprio# em :ue ele ne&essariamente suspende a passi"idade inerente a essa posição e passa a assumir a posição do Og,nio produti"oPII &uCa origem

&riati"a a própria indi"idualidade# em :ue Otem de ser o indi"íduo a de&idir por siPIII%

.sse redire&ionamento do e/terior para o interior no o$ser"ador resulta# portanto# da

II1 DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 2%II2 Repetição# p% %II3 *dem# p% @1%II? *dem# p% @1%II *dem# p% @1%

II@ DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 2%II Repetição# p% @%III *dem# p% @?%

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imediate4 &ara&terísti&a da arsa# :ue &onsiste numa &oniança ing,nua Osuspende-se o respeito

mQtuo entre teatro e pQ$li&o# :ue nos outros &asos tanta &oniança propor&ionaPII e aparente :ue

gera dialeti&amente uma des&oniança anEloga# em :ue o indi"íduo passa a inserir-se &omo

elemento determinante% +onstantius e/pli&a da seguinte orma(

ORa arsa# nenhum eeito produto da ironia# tudo ingenuidade# de onde resulta :ue o

espe&tador tem de estar ati"o inteiramente &omo indi"íduoN por:ue a ingenuidade da arsa

tão ilusória :ue para uma pessoa &ulti"ada se torna impossí"el &omportar-se ingenuamente

em relação a elaN mas nesse &omportamento a&e J arsa reside em grande medida o

di"ertimento# &oisa :ue o espe&tador tem portanto de arris&arPI0%

A des&oniança gerada da :ue$ra da &umpli&idade entre ator e espe&tador# :ue não o$stante

sustenta dialeti&amente a "alidade da ingenuidade aparente# tradu4ida nesta dialti&a em termos da

determinação a$solutamente interior da eeti"idade do di"ertimento( Oassim sendo# ningum pode

&ontar &om o "i4inho do lado ou da rente para sa$er se se di"ertiu ou nãoPI1

% Mas a :ue$ra dorespeito mQtuo se tradu4 tam$m# &omo mostra Dalton# numa Oalta de &ontrole ra&ional :ue

&ara&teri4a a arsaP e :ue termina por Otra4er esta orma de &omdia a uma pro/imidade perigosa da

oensi"idade# ou mesmo da lou&uraPI2% ris&o :ue o espe&tador de"e &orrer de &eder a esta

OenergiaPI3 ne&essEria para :ue o espírito do indi"íduo se di"irta rente J ingenuidade# na mesma

medida em :ue o ator arses&o de"e in&orrer no ris&o inerente ao poder do impro"iso artísti&o :ue a

situação e/ige na espontaneidade# tendo somente a si mesmo &omo ponto de partida% Resse sentido#

a arti&ulação entre a arsa e a interioridade se dE no :ue uma apare&e &omo o meio pelo :ual esta seinsinua &omo atuante# na medida em :ue o ator :ualii&ado &omo um g,nio produti"o%

Assim# a orma arses&a dei/a de ser uma e/pressão meramente teatral# e passa a permear a

e/ist,n&ia na medida em :ue a repetição apare&e eeti"amente en:uanto impossi$ilidade# diante da

:ual apare&e então a tarea parado/al de tornar-se indi"íduo% A re&ordação algo a:ui superada pelo

indi"íduo e/istente da mesma orma :ue ela o pelo ator arses&oN o :ue Dalton aponta muito $em(

Otanto o ator em &ena &omo o indi"íduo e/istente são in&apa4es de &ompreender inteiramente

o :ue estão a4endo de ato em :ual:uer momento dado# CE :ue a "ida só pode ser entendida

 para trEs# mas de"e ser "i"ida para rente% Renhum deles pode $asear sua perorman&e em

&on&eitos rele/i"os # mas em "e4 disso eles de"em agir &omo g,nios produti"os# &riando

su$Ceti"amente de uma maneira :ue tem o poten&ia de surpreender a todosPI?%

A arsa dE J e/ist,n&ia o humor ne&essErio para :ue o indi"íduo "enha J tona &omo um g,nio

 produti"o% .sta &ategoria estti&a tra4 em si a possi$ilidade de :ue a repetição seCa &on&e$ida &omo

II *dem# p% @?%I0 *dem# p% @?%I1 *dem# p% @?%

I2 DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 3%I3 *dem# p% 3%I? *dem# p% 3%

1I@

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uma perorman&e ati"a# e :ue es&apa J tentati"a de +onstantius de reali4E-la esteti&amente por meio

de uma &ontemplação de um &onteQdo de re&ordação% :ue ele :ualii&a &omo repetição estti&a

não esgota# portanto# as possi$ilidades por ele mesmo "islum$radas# e :ue de"em em Qltima

instn&ia en&ontrar-se presente na personagem do Co"em% .ste # pois# o e/emplo do g,nio

 produti"o :ue reali4a a repetição# :ue# en:uanto tal# &on&e$ida do ponto de "ista estti&o%

 poti&o no Co"em então sus&itado na dialti&a da e/&eção em &ontraste Custamente &om o

humorísti&o :ue a &olo&a# :ue se entre", na $re"e alusão de +onstantius so$re o ator arses&o e seu

Oentendimento líri&o &om o risoPI# por meio do :ual ele pres&inde de toda determinação alheia ao

su$Ceti"o(

ORão ne&essita de apoio "indo da representação &onCunta &om os outros ou dos &enErios e

dos adereçosN pre&isamente por:ue se en&ontra na disposição re:uerida# transporta &onsigo

tudo a:uilo :ue pre&isoN ao mesmo tempo :ue trans$orda de graça# "ai pintando ele mesmo

seu &enErio tão $em &omo um &enógraoPI@

A igura do Co"em e/pressa $em esse ponto em :ue o teatro e a e/ist,n&ia se inter&ru4am#

 pois a e/ist,n&ia poti&a em :ue o seu g,nio produti"o &ulmina não apenas uma relação e/terior#

ideal# mas sim &ondi&ionada a toda a atualidade% Ro entanto# &omo mostra olmgaard# a espera pela

OtempestadeP tam$m a espera pela a&eitação da atualidade# em :ue ele tornar-se-ia OmaridoP da

repetição# e não pelo desta&amento &ompleto da atualidade &omo o&orre por ele não :uerer a

repetição e por ser poetaN nesse sentido# teria ,/ito a sua ala 7 :ue não dei/a de ser &Hmi&a(

Ore&orto-me a mim mesmo# separo o :ue in&omensurE"el para me tornar &omensurE"elPI

%;ornar-se marido signii&aria Oa&eitar a atualidade e tornar a repetição sua amada esposa% Z Mas

a&onte&e :ue ele não li$erado do estado de suspensão ao a&eitar a atualidade# mas sim o &ontrErio#

ele &ompletamente desta&ado da realidade no :ue um outro algum toma seu lugar &omo

VmaridoVPII% Ro momento de espera em :ue o in&omensurE"el de"eria des"ane&er# ele# ao &ontrErio#

apare&e na sua e/pressão mais a$surda# na :ual o &Hmi&o tem sua origem% Muito em$ora o Co"em

não seCa &apa4 de se "er &omo &ulpado# ele de ato o N a $analidade do seu &omportamento rente

ao seu modelo# o de Ló# não o a$sol"e# dado :ue ele não deu J moça nenhuma e/pli&ação

&on"in&ente# o :ue a magoou ainda mais# e a Osua tri"ialidade apenas enati4a a proundidade da

teimosia do Co"em em re&usar-se a a&eitar a responsa$ilidade pelos seus próprios atosP I% A espera

 pela tempestade maniesta-se &omi&amente no :ue ela pro"aria a sua ino&,n&iaN

mo"imento da repetição não # portanto# atingido nessa arti&ulação do seu insistente

ra&asso do :ual resulta o &Hmi&o% Ro entanto# se se &on&e$e o mo"imento do li"ro &omo a tentati"a

I Repetição# p% @%I@ *dem# p% @%

I *dem# p% 12@%II MGAA)D# L%N T$e Aest$etics of Repetition# p% I%I DA;R# 6%N Repetition as a .omed2 in T?o Acts# p% 1%

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de e/teriori4ar o pro$lema do Co"em# :ue# segundo +onstantius# Custamente o de se a repetição

 possí"el00  7 deiní-la &omo possí"el CE pressup<e uma e/terioridade &om relação a ela 7 ela

somente pode e/pressar-se so$ este ponto de "ista &omo impossi$ilidade na medida em :ue ela

apenas autenti&amente deinida &omo um mo"imento su$Ceti"o% Co"em# apesar de sa$er a si

mesmo &omo um protagonista do ridí&ulo da situação# a&redita# &ontudo# em seu amor# ainda :ue#

Ohumanamente alando# o seu amor não se dei/a reali4arP01# o :ue o le"a a re&orrer ao mara"ilhoso

e ao a$surdo% Ainda :ue a sua nostalgia de uma re&on&iliação &om o geral seCa posta em termos

a$surdos# ela não &hega a &onigurar uma "aidade# &omo +onstantius insiste em &olo&ar 7 pois para

ele tudo "aidadeN a restauração da sua honra não pode ser deinida por ele mesmo &omo orgulho#

 pois# &omo ele des&re"e na repetição# Oas angQstias da simpatia# :ue en&ontra"am apoio e alimento

no meu orgulho# CE não se eguem dentro de mim para desintegrar e separarP 02% Resse sentido# o

 Co"em se torna &Hmi&o apenas para :uem o ", so$ a óti&a da "aidade# diante da :ual ele apare&e em

Otudo posto Js a"essasP03N e# :uando +onstantius airma :ue o mo"imento do li"ro O o in"ersoP0?#

ele indi&a pre&isamente a inade:uação entre o mo"imento interior da repetição e a sua

e/teriori4ação na orma da pergunta so$re a possi$ilidade# a :ual# não o$stante re"ele-se &omo

negati"a# de"e# no entanto# pressupH-la &omo eeti"a% Daí mais um moti"o &Hmi&o :ue alise

desen"ol"e( a in"ersão do mo"imento de e/teriori4ação tam$m a in"ersão do próprio &Hmi&o#

&uCo mo"imento a interiori4ação e a repetição eeti"a%

+a$e apontar# por im# os indí&ios de :ue esses elementos são postos por meio do arses&o% A

repetição :ue o Co"em re&e$e# :ue# de"ido Js &ir&unstn&ias# de"eria le"E-lo ao desespero#

transigura-se num estado de ,/tase &uCa alegria ditirm$i&a re"ela a ressonn&ia religiosa de sua

alma# Custamente na:uilo :ue +onstantius des&re"e so$re o ator arses&o# em :ue ele e/pressa o

in&omensurE"el no Oin&ógnito no :ual ha$ita o lou&o demHnio do &Hmi&o :ue depressa se

desem$araça e tudo arre$ata desenreadamenteP0% A atitude do Co"em para &om este &om o

in&ógnito da interioridade religiosa se e:uipara J do ator da arsa :ue# num rompante de estrid,n&ia

&Hmi&a# Oi&a &ompletamente ora de si% A lou&ura do riso CE não &onsegue &a$er nem nas ormas#

nem nas alas# e o :ue lhe resta para dar seguimento J disposição a4er &omo Mn&hhausen#agarrar-se a si mesmo pelos &olarinhos e pHr-se a dar &a$riolas sem tinoP 0@% Agarrar-se a si mesmo

 pelo &olarinho pressup<e# por sua "e4# uma genialidade &onstituti"a# uma Oautoridade do g,nio#

&aso &ontrErio resulta algo de e/tremamente repugnanteP0# mas de"e tam$m pressupor a

00 !ear and Trem"ling# Repetition# p% 30?%01 Repetição# p% 0%02 *dem# p% 131%03 *dem# p% 12%0? *dem# p% 13@%

0 *dem# p% @I%0@ *dem# p% @%0 *dem# p% @%

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 possi$ilidade de ele"ar-se a&ima de si mesmo# &omo +onstantius en:uanto espe&tador in&apa4 de

a4er# e o Co"em# num &erto sentido# de ato o a4% A insinuação da sua interioridade a ser re"elada

no mo"imento de in"ersão do li"ro o :ue +onstantius des&re"e &omo a "o4 do &Hmi&o $urles&o

O:ue se re&onheça imediatamente :uando ainda estE nos $astidores# para assim poder preparar a sua

entrada em &enaP0I% A alegria des&on&ertante :ue o Co"em e/i$e no dese&ho &onse:u,n&ia#

tam$m# de uma &oe/ist,n&ia dessa &omi&idade da sua perorman&e in"ertida &om o mo"imento

 pelo :ual ele se torna poeta# em :ue se dE o :ue +onstantius pre", &omo um Oentendimento líri&o

&om o risoP0% A "eia poti&a do Co"em Custii&a# portanto# a &omi&idade da e/&eção :ue# en:uanto

 poeta# ele se torna# sem :ue ele não o$stante se torne por isso mesmo menos &Hmi&o%

A e/&eção poti&a :ue dE origem ao &Hmi&o deinida &omo uma transição para a e/&eção

religiosa% 6e o &Hmi&o então o :ue aponta para o mo"imento de in"ersão do li"ro# então o

humorísti&o "em a ser ele próprio uma &ategoria de transição :ue aponta Custamente para a

 proundidade da seriedade religiosa &omo o seu &ontrErio% A in"ersão tem a:ui a &ara&terísti&a de

engendrar uma transiguração da realidade por meio da :ual os papis são redeinidos# e o artista

&Hmi&o passa a representar o modo de e/ist,n&ia mais ele"ado( O6e se i4er assim# surge então uma

no"a hierar:uia# e a po$re e/&eção# se "ale alguma &oisa# "olta a desrutar de honra e &onsideração

Z% !ma destas e/&eç<es um poeta# :ue &onstitui a transição para as e/&eç<es propriamente

aristo&rEti&as# para as e/&eç<es religiosasP10% .sta in"ersão se dE Custamente na tensão ina&a$ada

entre a e/&eção e o uni"ersal# em :ue a síntese a$soluta minada pela tend,n&ia reratEria da

e/&eção a ser a$sor"ida nas determinaç<es do uni"ersal% ra# mas esta tend,n&ia se demonstra

atra"s do mo"imento humorísti&o da in"ersão do te/to( ela indi&a pre&isamente o momento em :ue

a e/&eção deli$eradamente se aasta do uni"ersal# e por meio disso preser"a tanto a si mesma &omo

ao próprio uni"ersal% humor# de ato# não pode ser a:ui uma re&on&iliação# mas um a&ordo

temporErio :ue não suprime a tensão# e :ue re"ela nessa perman,n&ia no 4,nite a  força interior  da

e/&eção# :ue aponta para uma interioridade de su$strato religioso%

+om isso# as determinaç<es estti&as da repetição en&ontram-se postasN as arti&ulaç<es da

estti&a &om o religioso# :ue são indi&adas na história so$ a orma da teatralidade estti&o- psi&ológi&a# en&ontram no arses&o o &arEter undamental em :ue a repetição apare&e so$ a orma

do estti&o% Resse sentido# a maniestação da repetição so$ a ru$ri&a do &Hmi&o não a redu4 ao

estti&o per seN ao &ontrErio# a am$iguidade do &Hmi&o o :ue permite apontar a insui&i,n&ia do

estti&o :ue a$re para o religioso# e :ue "olta a rein&idir so$re o estti&o na orma do su$lime# em

:ue o &Hmi&o # enim# suspenso# dando lugar J sua "ertigem &ara&terísti&a% indi"íduo

representado pelo ator arses&o somente preigura a determinação da "ertigem do su$lime na

0I *dem# p% @%0 *dem# p% @%10 *dem# p% 13I%

1I

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medida em :ue ele deine-se &omo uma su$Ceti"idade negati"a no seu ele"ar-seN &ontudo# essa

ele"ação de"e ne&essariamente pre&eder a redupli&ação# e o ator arses&o# nesse sentido# a:uele

:ue se en&ontra mais pró/imo da repetição em sentido estti&o# pois nele a poten&ialidade do

su$lime se mes&la J orma e/terior do &Hmi&o :ue# no entanto# se mostra para ele próprio de outra

ormaN e dessa orma o Co"em da  Repetição "em a ser o e/emplo pereito desta arti&ulação% K nesse

sentido tam$m :ue o poti&o por ele atingido# ao mesmo tempo :ue se resol"e no estti&o# pode

tam$m ser :ualii&ado &omo uma repetição eeti"a# na medida em :ue tem o religioso &omo uma

esp&ie de Y&hão in"isí"elP a partir do :ual o poti&o se erige &omo produti"idade%

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S .onclusão

+om isso# tem-se delineados os traços da repetição do ponto de "ista estti&o em

8ier9egaard% As &onse:u,n&ias desta relação dire&ionam-se para muitos sentidos# tanto no :ue di4

respeito J uma dogmEti&a religiosa :ue &onsiga lidar de maneira satisatória &om a inCunção da ti&a

&om a estti&a tanto no sentido de &on&e$er uma $oa arte &omo uma $ela ti&a# o :ue só possí"el

na medida em :ue o religioso se en&ontra &omo su$strato &apa4 de unir as duas instn&ias# :uanto

no :ue di4 respeito J instauração uma dis&urso duplamente reletido &uCa relação &om o mo"imento

religioso da repetição o impede de pres&indir de &ategorias estti&as em sua maniestação%

A repetição e permane&e uma &ategoria religiosaN &ontudo# o próprio religioso# na medida

em :ue instaura-se numa interioridade &uCa inea$ilidade imp<e um m+todo  de &omuni&ação

e/terior a ele próprio# de"e ser &on&e$ido &omo esta$ele&endo uma relação de &ompletude &om o

estti&o e "i&e-"ersa11% A dimensão religiosa de"e# pois# instituir-se &omo o su$strato para o

desen"ol"imento do estti&o# seCa so$ a orma da melan&olia :ue# em Qltima instn&ia# pressupunha

a repetição desde o iní&io# seCa so$ a orma da produti"idade poti&a :ue se maniesta na repetição

atingida pelo Co"em% Ro :ue &on&erne J repetição# distinção entre o estti&o e o religioso não pode#

 portanto# ser :ualii&ada &omo nítida ou peremptória# e de"e-se penetrar nos meandros de uma e de

outra rela&ionando-as de modo &onstante% Mas a insui&i,n&ia da repetição ela própria en:uanto

&on&eito para designar o religioso en:uanto eternidade indi&a :ue o salto para o ininito re:uer# emQltima instn&ia# :ue se a$andone no seu eeti"ar-se a própria noção de repetição en:uanto tal# o

:ue a4 &om :ue ela "enha a se tornar apenas uma no"a representação de algo :ue a ultrapassa#ou

seCa# um elemento estti&o &uCo O"igor e/pressi"oP en&ontra-se a ser"iço de um mo"imento interior

:ue ela in&apa4 de esgotar%

Desse modo# a pergunta so$re a repetição de um ponto de "ista estti&o de"e situar-se so$re

o signii&ado do estti&o dentro da &ara&terísti&a da repetição &omo &ategoria  produti-a# ou seCa#

&omo a repetição se dE# do ponto de "ista estti&o# &omo um mo"imento :ue &ir&unda ainterioridade religiosa numa pulsão &onstante em e/primi-lo# sem# &ontudo# Camais esgotE-loN e em

unção dela o poti&o de"e se esta$ele&er% Resses meandros# a pergunta so$re o estti&o de"e

tam$m ser posta so$ "Erios ngulos distintos# mo"imento este a partir do :ual surgirão arti&ulaç<es

&omo o sa&rií&io líri&o-poti&o e a transiguração religiosa no su$lime# :ue sugerem :ue a

apro/imação entre o estti&o e o religioso sustentam# de &erta orma# uma possi$ilidade de

re&on&iliação parado/alN mas &uCo undamento depende não mais de uma &on&epção do estti&o

11+omo Mar&io Gimenes de 'aula airma dos estEdios da e/ist,n&ia# todos eles Yespelham a&etas da e/ist,n&iahumana e# de &erta orma# se &ompletamY% +% 'A!A# M% G%N  A Repetição e o Instante em )ier*egaard@ umentrelaçamento de conceitos# p% @?%

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&omo a:uele esteti&ismo melan&óli&o do Co"em in suspensu grado# do esteta A de Eit$er# r # ou

mesmo do sedutor Lohannes# mas sim de um outro tipo de &on&epção do estti&o :ue engendrado

 pelo próprio mo"imento produti"o &uCo undamento a repetição# num mo"imento de retomada

da:uilo :ue para ela o enseCo undamental apontado no te/to# ou seCa# a &ategoria "i"a e pulsante

do poti&o# &uCo limiar &om o religioso &onsiste na arti&ulação undamental da repetição en:uanto

&ategoria%

A intenção de &on&e$er esta perspe&ti"a em :ue a asso&iação do estti&o &om o religioso# ou#

dito de outro modo# o entrelaçamento entre f+ e poesia0B# se desdo$ra em outros registros# &omo por

e/emplo na &on&epção de uma retomada da ti&a e da estti&a num sentido mais ele"ado a partir da

repetição# serE# não o$stante# apenas sugerida &omo &on&lusão deste tra$alho% A ormulação

 parado/al da repetição do ponto de "ista estti&o 7 :ue# ao mesmo tempo em :ue mostra-se &omo

uma impossi$ilidade eeti"a# pressup<e a própria repetição e ele"a o próprio estti&o a um outro

 patamar 7 a$re pre&edente para :ue se &on&e$a um esteticismo dominado atra"s do religioso &omo

uma segunda est+tica13# &uCa redupli&ação tem &omo undamento prin&ipal a &ategoria do su$lime%

.sse mo"imento &ara&teri4ar-se-ia &omo uma ele"ação do estti&o a&ima de si próprio# e &uCa

rele/i"idade trans&endente engendraria a produti"idade na su$Ceti"idade% Resse sentido# a noção de

indi"íduo i&a &on&e$ida do ponto de "ista da repetição# en:uanto confinium do estti&o e do

religioso# so$ a determinação do sa&rií&io poti&oN a produti"idade poti&a portanto re"ela a

&on&epção religiosa do indi"íduo na medida em :ue ela en&ontra na:uela a sua Qni&a possi$ilidade

de e/pressão# no :ue o poti&o toma a orma da &omuni&ação indireta%

Dessa orma# o poti&o atinge uma redupli&ação :ue in&ide na linguagem de orma em :ue

ela num só mo"imento ele"a-se a&ima de si mesma# e re"ela a instn&ia do não-dito &omo a:uilo a

 partir do :ue ela "em a ser limitada% .sta arti&ulação tem seu eeito na medida em :ue a repetição

&onsiderada um mo"imento :ue engendra uma metaperspecti-aN a:ui# a di"isão da estti&a entre

uma teoria da arte e um modo de "ida ad:uire &ontornos a$solutamente distintos# em :ue se poderia

alar de uma meta-estti&a &uCa perspe&ti"a possi$ilita uma :ualii&ação poti&a :ue# Custamente por

eetuar esse mo"imento de redupli&ação# instaura-se &omo uma modalidade da e/ist,n&ia :ue "ai

alm do mero &ontemplati"o e/igido por uma teoria do $elo% Ro entanto# na medida em :ue a

repetição se deine &omo uma &ategoria do "ir-a-ser# ela aponta para o uturo e re"ela o mo"imento

 para a rente &omo um parado/o# &uCa eeti"idade só pode re"elar-se no presente por meio de uma

 perspe&ti"a :ue se determina pela initude da:uilo :ue ainda não se reali4ou# e :ue se maniesta

esteti&amente na atualidade por meio do humorísti&o% A importn&ia da arsa para a &ategoria da

12'ara usar uma e/pressão de de 'aula% +% 'A!A# M% G%N  Repetição e Instante@ um entrelaçamento de conceitos# p%

@%13.sse esteti&ismo dominado se institui de maneira anEloga J  secunda p$ilosop$ia aludida por auniensis# O&uCa

ess,n&ia a trans&end,n&ia ou a repetiçãoP% +% .onceito de AngHstia# p% 23%

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repetição se re"ela então na modalidade estti&a por meio da :ual a repetição se a4 presente para o

 poti&o# o :ual# por sua "e4# darE a ela a sua orma de e/pressão por meio de uma &omuni&ação :ue

aponta para o estti&o &omo um meta-dis&urso :ue permite e/pressE-la indiretamente%

Desse orma# hE a ne&essidade in&ontornE"el de uma retomada do estti&o e do ti&o a partir

da transu$stan&iação parado/al eeti"ada pelo mo"imento eeti"o da redupli&ação so$ uma perspe&ti"a tam$m interpenetrada pela alteridade :ue dele resulta% Mas desse modo# a &ondição de

 possi$ilidade de uma meta-estti&a a mesma :ue a de uma metati&a# o :ue impli&a :ue am$as só

 podem su$sistir uma ao lado da outra# e interpenetrando-se mutuamente numa relação dialti&a

&al&ada na aus,n&ia de síntese espe&íi&a do parado/o gerado pelo indi"íduo en:uanto e/&eção%

Dessa orma# não pode ser dada &omo gratuita a designação da e/&eção &omo uma e/&eção poti&a#

 pois o estti&o 7 $em &omo o poeta &omo a:uele :ue "i"e em unção do ser"iço J ideia 7 possui#

nessas &ondiç<es# a tarea de ser"ir ao mais ele"ado# e sua aut,nti&a repetição# em :ue ele "em-a-ser

ele próprio um esteti&ismo mais $elo# de"e dar-se nesse registro%

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%$b&$o'!($!

)o*tes P$m#$!s:

.)*86.R# Riels R>mannN )ier*egaard9s categor2 of Repetition@ a reconstruction% Berlim

 Ro"a [or9( .d% balter de Gru>ter# 2000%

8*.)8.GAA)D# 6orenN A Repetição% is$oa( )elógio DVgua editores# 200%

 N Eit$er#r ondres( 'enguin +lassi&s# 200?%

 N  !ear an Trem"ling# Repetition Ro"a Lerse>( 'rin&eton !ni"ersit>

'ress# 1I3

 [[[[[[[[[[[[[[[[[[[[ .onceito de AngHstia Bragança 'aulista( .ditora !ni"ersitEria

6ão Fran&is&o# 2010%

 [[[[[[[[[[[[[[[[[[[[ .onceito de Ironia .onstantemente Referido a ;5crates

25edição% Bragança 'aulista( .ditora !ni"ersitEria 6ão Fran&is&o# 200%

)o*tes Se"u*+#$!s

+A'!;# Lohn D%N Radical 8ermeneutics@ Repetition, Deconstruction and t$e 8ermeneutic

 Project % Bloomington and *ndianapolis( *ndiana !ni"ersit> 'ress# 1I%

G)AMMR;# Guiomar deN  Don Juan, !austo e o Judeu Errante em )ier*egaard %

'etrópolis( +atedral das etras .ditora# 2003%

A))*.6# 8arstenN (i$ilism and !ait$@ )ier*egaard9s Eit$er# r Berlin Ro"a [or9( de

Gru>ter# 2010%

.G.# G% b% F%N Enciclop+dia das .iências !ilos5ficas : .iência da '5gica% 6ão 'aulo(

.diç<es o>ola# 25 edição# 1%

.G.# G% b% F%N !enomenologia do EspCrito% 6ão 'aulo( .ditora So4es# 25 edição# 2003%

 N .oncluding \nscientific Postscript % Ro"a Lerse>( 'rin&eton

!ni"ersit> 'ress# 12%

1?

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 N V preciso du-idar de tudo 6ão 'aulo( Martins Fontes# 2003%

 N Journal and Papers Bloomington ondres( *ndiana !ni"ersit>

'ress# 1@%

 

 [[[[[[[[[[[[[[[[[[[[ ;tages on t$e 'ife9s >a2 Ro"a Lerse>( 'rin&eton !ni"ersit> 'ress#

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