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__________________________________________________________________________________________ Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação ISSN: 2316-1566 Getúlio Vargas RS Brasil 1 INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU GIARDÍASE EM UM CANINO: RELATO DE CASO BERTOLDO, Taiana Piana 1 [email protected] FACCIN, Jean Carlo 1 [email protected] FERRONATO, Ana Raquel Marsiglio 1 [email protected] LEMOS, Eloiza 1 [email protected] PERUZIN, Raissa Antonya 1 [email protected] SEBEM, Juliana Gottlieb 2 [email protected] FACCIN, Ângela 2 [email protected] RIBEIRO, Ticiany Maria Dias 2 [email protected] BRUSTOLIN, Joice Magali 2 [email protected] OLIVEIRA, Daniela dos Santos de 2 [email protected] ¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível V 2017/1- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível V 2017/1 - Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. Resumo: A Giardíase é causada pelo protozoário do gênero Giárdia spp., sendo um grave problema capaz de atingir animais e humanos através da água contaminada com os cistos do protozoário, responsável por causar problemas gastrointestinais. A Giárdia spp., tem maior prevalência em regiões de clima temperado e tropical. O presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de giardíase, em um canino macho, com um ano de idade, atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis, na Faculdade Ideau na cidade de Getúlio Vargas RS, bem como o diagnóstico utilizado para detecção do parasita e medicamentos utilizados no tratamento do paciente. Para tanto, foi utilizado o teste de ELISA (Ensaio de Imunoabsorção Ligado a Enzima) para descartar a suspeita clínica de doenças virais, o exame de hemograma para avaliação do estado de saúde do paciente e o exame parasitológico de fezes, que identificou a presença do protozoário nas fezes do animal. Para o tratamento foi prescrito o uso de metronidazol com sulfadimetoxina, antibióticos de amplo espectro antiprotozoariano e coccideostático utilizados em infecções por Giárdia spp. e Isóspora spp.. Ainda, como terapia de suporte, foi administrado metoclopramida, para controle do vômito e um probiótico para repor a flora intestinal. O animal apresentou uma resposta satisfatória às medicações prescritas e total recuperação do quadro clínico. Palavras-chave: Cão, zoonose, Giárdia spp., tratamento. Abstract: Giardiasis is caused by the protozoan of the genus Giárdia spp., A serious problem that can reach animals and humans through water contaminated with protozoan cysts, responsible for causing gastrointestinal problems. Giárdia spp., Is more prevalent in temperate and tropical regions. The objective of this study was to report a case of giardiasis in a one - year - old male canine, attended at the São Francisco de Assis Veterinary Hospital, at the Ideau School in the city of Getúlio Vargas - RS, as well as the diagnosis used for detection Of the parasite and medications used in the treatment of the patient. The ELISA test (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay) was used to rule out the clinical suspicion of viral diseases, the blood count test to assess

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Mostra de Iniciação Científica e Mostra de Criação e Inovação – ISSN: 2316-1566 – Getúlio Vargas – RS – Brasil 1

INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI

FACULDADES IDEAU

GIARDÍASE EM UM CANINO: RELATO DE CASO

BERTOLDO, Taiana Piana1

[email protected]

FACCIN, Jean Carlo1

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FERRONATO, Ana Raquel Marsiglio1

[email protected]

LEMOS, Eloiza1

[email protected]

PERUZIN, Raissa Antonya1

[email protected]

SEBEM, Juliana Gottlieb2

[email protected]

FACCIN, Ângela2

[email protected]

RIBEIRO, Ticiany Maria Dias2

[email protected]

BRUSTOLIN, Joice Magali2

[email protected]

OLIVEIRA, Daniela dos Santos de2

[email protected]

¹ Discentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível V 2017/1- Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

² Docentes do Curso de Medicina Veterinária, Nível V 2017/1 - Faculdade IDEAU – Getúlio Vargas/RS.

Resumo: A Giardíase é causada pelo protozoário do gênero Giárdia spp., sendo um grave problema capaz de

atingir animais e humanos através da água contaminada com os cistos do protozoário, responsável por causar

problemas gastrointestinais. A Giárdia spp., tem maior prevalência em regiões de clima temperado e tropical. O

presente trabalho teve como objetivo relatar um caso de giardíase, em um canino macho, com um ano de idade,

atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis, na Faculdade Ideau na cidade de Getúlio Vargas – RS,

bem como o diagnóstico utilizado para detecção do parasita e medicamentos utilizados no tratamento do

paciente. Para tanto, foi utilizado o teste de ELISA (Ensaio de Imunoabsorção Ligado a Enzima) para descartar a

suspeita clínica de doenças virais, o exame de hemograma para avaliação do estado de saúde do paciente e o

exame parasitológico de fezes, que identificou a presença do protozoário nas fezes do animal. Para o tratamento

foi prescrito o uso de metronidazol com sulfadimetoxina, antibióticos de amplo espectro antiprotozoariano e

coccideostático utilizados em infecções por Giárdia spp. e Isóspora spp.. Ainda, como terapia de suporte, foi

administrado metoclopramida, para controle do vômito e um probiótico para repor a flora intestinal. O animal

apresentou uma resposta satisfatória às medicações prescritas e total recuperação do quadro clínico.

Palavras-chave: Cão, zoonose, Giárdia spp., tratamento.

Abstract: Giardiasis is caused by the protozoan of the genus Giárdia spp., A serious problem that can reach

animals and humans through water contaminated with protozoan cysts, responsible for causing gastrointestinal

problems. Giárdia spp., Is more prevalent in temperate and tropical regions. The objective of this study was to

report a case of giardiasis in a one - year - old male canine, attended at the São Francisco de Assis Veterinary

Hospital, at the Ideau School in the city of Getúlio Vargas - RS, as well as the diagnosis used for detection Of

the parasite and medications used in the treatment of the patient. The ELISA test (Enzyme-Linked

Immunosorbent Assay) was used to rule out the clinical suspicion of viral diseases, the blood count test to assess

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the patient's health status and the stool parasitological examination, which identified the presence of Protozoa in

the animal's feces. For the treatment was prescribed the use of metronidazole with sulfadimethoxine, broad

spectrum antiprotozoal and coccidiostatic antibiotics used in Giárdia spp. And Isospora spp. Still as supportive

therapy, metoclopramide was administered to control vomiting and a probiotic to restore intestinal flora. The

animal presented a satisfactory answer to the prescribed medications and total recovery of the clinical picture.

Key Words: Dog, zoonosis, Giárdia spp., treatment.

1 INTRODUÇÃO

A Giardíase é uma infecção causada pelo protozoário do gênero Giardia spp., sendo

considerada um grave problema de saúde coletiva por atingir animais e humanos, este

causador de problemas do trato gastrointestinal (BOREHAM et al., 1990). A Organização

Mundial da Saúde (OMS) considera essa doença como uma zoonose, por conta de um grande

acúmulo de animais parasitados em riachos e reservatórios de água contaminados. Em

humanos a transmissão ocorre pela ingestão de água, verduras, legumes e frutas cruas

contaminadas pelos cistos do protozoário. Também está presente a forma direta da

transmissão, através do contato com pessoas, sendo mais comum de ser transmitido em asilos,

creches e orfanatos (COURA, 2013).

A mesma é considerada uma enfermidade endêmica, tendo maior prevalência em

regiões de clima temperado e tropical. É uma doença de veiculação hídrica, ou seja, a sua

principal fonte de contaminação é a água contaminada com cistos da Giardia spp. (SWANGO

et al., 1992).

Existem três formas de manifestação da doença, sendo elas assintomáticas, agudas e

crônicas. Essas manifestações dependem de dois fatores principais, o hospedeiro (seu estado

imunológico e seu estado nutricional) e também ao protozoário (relacionado à virulência e a

patogenicidade do agente) (LALLO et al., 2003). O ciclo de vida da Giárdia spp. se divide

em dois estágios, sendo a forma trofozoítica, denominada Cercomonas intestinalis, quando

presente no trato gastrointestinal e a fase cística que é a forma infectante, presente no

ambiente (FOCACCIA, 2006).

A infecção sintomática atinge principalmente animais jovens com idade abaixo de um

ano e os adultos apresentam a forma assintomática mais frequentemente, porém podem

apresentar sintomatologia eventual e disseminam os cistos no ambiente (THOMPSON, 2000).

Conforme Focaccia (2006), as infecções ocorrem quando o animal ingere por via

fecal-oral ou pela água, dez ou menos cistos do parasita, sendo estes muito resistentes,

podendo ser encontrados até dois meses após serem excretados no ambiente. Deve-se ressaltar

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que, a transmissão direta também é possível em áreas em que existe um aglomerado de

animais, como cães e gatos (LEIB et al., 1999).

Segundo Fernandes (2012) há dúvidas quanto à patogenia do protozoário, embora já se

saiba que em sua forma de trofozoíto o mesmo cause danos ao epitélio do intestino delgado.

Os mecanismos patogênicos propostos indicam que o parasita altere as funções normais do

intestino delgado como motilidade, perda de microbiota local, apoptose celular, inibição das

enzimas e ainda danos as microvilosidades e produção de toxinas (FERNANDES, 2012).

Cistos de Giárdia spp. normalmente são excretados nas fezes de gatos e cães, mas observa-se

que não há uma relação consistente com diarréia ou outros problemas gastrointestinais

(TAYLOR et al., 2010).

A desinfecção pela luz ultravioleta e pela cloração da água são insuficientes para a

destruição dos cistos do protozoário e muitas vezes, faz-se necessário o aquecimento de água

acima de 60°C. A liberação dos cistos não é contínua, isso justifica o resultado de exames

parasitológicos de fezes falso-negativos (CIMERMAN, 2013).

Os sinais clínicos podem variar dependendo do estado do paciente. O período de

incubação pode ser de uma a duas semanas e os sinais clínicos apresentados incluem diarréia

pastosa mucóide, desconforto abdominal, náuseas, emagrecimento e emese (FOCACCIA,

2006).

Existem algumas maneiras de detecção do parasita, dentre elas a Técnica de Flutuação

em Sulfato de Zinco a 33% (Técnica de Faust e Cols. 1939), que tem sido considerada a

técnica mais eficiente para a identificação de cistos da Giardia spp.. Existe ainda, o teste de

ELISA que irá identificar o antígeno presente nas fezes (BARUTZKI et al., 2000) e o

esfregaço direto de fezes que também irá detectar cistos do protozoário (TAYLOR et al.,

2014).

O presente trabalho teve como objetivo relatar o caso de um canino com diagnóstico

positivo para Giardia spp., atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis em

Getúlio Vargas – RS, bem como seu tratamento.

2 MATERIAL E MÉTODOS

Foi atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis, da Faculdade IDEAU na

cidade de Getúlio Vargas-RS, um canino, macho, da raça Labrador, um ano de idade, pesando

5kg, com a queixa de não se alimentar a um dia. A tutora revelou ainda, que o paciente estava

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apático, com emese, porém sem diarréia. Nega sinais respiratórios, reprodutivos ou cutâneos.

O animal era alimentado com ração comercial, possuía a imunoprofilaxia incompleta

(polivalente apenas uma dose), convivia com outros sete animais que não apresentavam

sintomatologia semelhante. O exame clínico revelou temperatura retal de 40,2ºC, apatia e

desidratação (Figura 1).

Figura 1: Paciente demonstrando sinais de apatia e fraqueza – Fonte: Bertoldo, T. P.,

2017. Getúlio Vargas - RS.

Foram solicitados os exames laboratoriais de ELISA (para descartar a possibilidade de

doença viral), exame parasitológico de fezes e hemograma. Para a realização do teste de

ELISA, foi utilizado um swab estéril para coleta de material fecal da ampola retal, em seguida

o mesmo foi imerso em um frasco contendo o reagente presente no Kit, após homogeinizou-se

o conteúdo e com o auxílio de uma pipeta retirou-se uma pequena quantidade da amostra,

sendo esta depositada sobre o local indicado. O teste imunológico apresentou resultado

negativo para presença do Parvovirus canino-2 e Morbilivírus, pois, apenas a banda de cor T

(teste) apresentou uma banda colorimétrica. O exame parasitológico de fezes foi realizado

através do método de Flutuação (Willys, 1927), que consistiu em diluir as fezes em solução

hipersaturada de NaCl, após, as fezes foram filtradas com auxilio de um funil e gaze. Em

seguida, completou-se a solução filtrada contendo as fezes com a mesma solução

hipersaturada até a borda do frasco, e uma lâmina foi sobreposta durante quinze minutos e em

seguida observada ao microscópio óptico em um aumento de 40x. Foi encontrado no exame

de fezes cistos do parasita, confirmando o resultado positivo para Giárdia spp. (Figura 2). No

intestino do animal é que são encontrados trofozoítos do parasita, estes que se aderem às

vilosidades intestinais dificultando a absorção de água e nutrientes (Figuras 3 e 4).

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Figura 2 – Cisto de Giardia spp. – Fonte: BOWMAN, D. D., Geordis Parasitologia

Veterinaria., 9ª ed., cap. 3 pg. 86, 2010.

Figura 3 – Trofozoítos de Giárdia spp.observados através da técnica de Faust e Cols

com coloração de lugol em aumento de 40X no microscópio óptico – Fonte: SILVA,

2010.

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Figura 4 – Trofozoítos de Giárdia spp. em um esfregaço fecal canino observado em

aumento de 1000X – Fonte: RICHARD et al., 2010

Para realização do hemograma foi realizada a antissepsia da região do pescoço, sendo

coletado da veia jugular 3 mL de sangue venoso e depositado em frasco contendo EDTA, em

seguida, observou-se a análise hematimétrica em aparelho automatizado, no Laboratório de

Análises Clínicas do HV São Francisco de Assis (Tabela 1).

Tabela 1: Hemograma de um canino positivo para Giárdia spp..

Células Resultado Normal para espécie

Leucócitos totais 13,3 6 – 17 x 10³/uL

Linfócitos 1,1 0,8 – 5,1 x 10³/uL

Célula intermediária 0,6 0 – 1,8 x 10³/uL

Granulócitos 11,6 4 – 12 x 10³/uL

Eritrócitos totais 3,5 5,5 – 8,5 x 10³uL

Hemoglobina 7,0 11 – 19 x g/dL

Hematócrito 21,4 39 – 56 %

VCM 58,6 62 – 72 fL

CHCM 32,8 30 – 38 g/dL

Plaquetas 215 117 – 460 x 10³/uL

Fonte: Hospital Veterinário São Francisco de Assis, 2017.

O hemograma do paciente apresentou anemia microcítica normocrômica e leucograma

dentro dos parâmetros fisiológicos para a espécie.

Para tratamento do animal, foi prescrito o antibiótico metronidazol associado à

sulfadimetoxina, na dose de 25 mg/Kg, 12-12 horas, por via oral, durante dez dias,

metoclopramida, administrado cinco gotas a cada seis horas durante três dias e um Probiótico

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bisnaga 2g, duas vezes ao dia para melhor digestão e absorção intestinal. Também foi

orientado ao proprietário oferecer uma alimentação a base de vitaminas, até a total

recuperação do paciente. Após o tratamento, o mesmo retornou após quinze dias e revelou

melhora nos sinais clínicos e uma ótima recuperação.

3 RESULTADOS E ANÁLISE

De acordo com Spinosa (2011), a Giárdia spp., acomete animais jovens, causando

lesões nas células epiteliais do intestino delgado. Em altas infestações pode ocorrer uma

enterite, juntamente com parada do trânsito intestinal e diarréia.

O parasita ataca o intestino delgado, mais em especial o duodeno, se aderindo as

microvilosidades das células epiteliais, causando dano à membrana (Figura 5). Já foi

constatado que a Giardia spp., induz a apoptose dos enterócitos, fazendo com que a

permeabilidade da membrana fique maior. Quando a infestação do parasita é em grande

escala, os mesmos diminuem a absorção de açúcares simples e dissacarídeos, pelo motivo da

destruição das microvilosidades. Então a ingesta é fermentada pela microbiota e tem a

produção de gás, que atrai osmoticamente água para dentro do lúmen, onde uma enterotoxina

induz a secreção intestinal de cloro (DONALD et al., 2013).

Figura 5: Protozoário flagelado no lúmen intestinal (seta). Coloração H&E. Fonte: DONALD,

2013.

Um estudo realizado em Porto Alegre – RS evidenciou que a prevalência de Giardia

spp. em cães de rua chegava a um índice de 20% no caso dos animais domiciliados, essa taxa

de positividade para o parasita era de 16,89%, sendo que 74% dos animais domiciliados

segundo os proprietários, não tinham acesso a ambiente externo. A autora ainda comparou as

possibilidades de infecção desses animais e constatou que ambos apresentam o mesmo risco

de contaminação. Ao comparar a faixa etária em que ocorriam maiores casos do parasita, os

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resultados apontaram que animais com menos de 12 meses de vida, apresentavam maior

incidência que animais com 12 meses ou mais. (SILVA, 2010). Porém, de acordo com Pitães

(2015) as infecções por Giárdia spp. acometem em maior porcentagem animais adultos. No

presente relato o paciente era um canino macho, jovem, com apenas um ano de vida,

concordando com o descrito por Silva (2010).

De acordo com estudos feitos por Bartmann et al., (2014), a prevalência de Giardia

spp. em cães atendidos em clinicas de Porto Alegre – RS, pode chegar a 37,64%, podendo

variar de 33% a 42%. A diferença entre animais machos e fêmeas contaminadas é de 36,27%

para machos e 39,26% para fêmeas positivas evidenciando pouca diferença entre os grupos.

Em pesquisa Brinker et al., (2009), constatou a prevalência de Giárdia spp. em 5,2% das 77

amostras de fezes de caninos coletados no município de Caxias do Sul – RS.

Através de estudos feitos por Focaccia (2006), os sinais clínicos incluem diarréia

pastosa mucóide, desconforto abdominal, náuseas, emagrecimento e emese. Na anamnese o

paciente encontrava-se apático, com emese, porém sem diarréia, não apresentava sinais

respiratórios, reprodutivos e/ou cutâneos.

Essa protozoose pode ser tratada com o antimicrobiano metronidazol, seu mecanismo

de ação baseia-se em entrar na célula alvo, atingir o DNA do protozoário, levando à perda de

sua estrutura helicoidal e quebrando as alças dessa estrutura. Parte do medicamento é

biotransformado no fígado por oxidação e conjugação com glicuronídio e a outra metade é

excretada via urina em sua forma ativa (SPINOSA, 2011).

Segundo Spinosa (2011) para o tratamento da giardíase recomenda-se administrar o

metronizadol na dose de 25mg/kg duas vezes ao dia, durante um período de cinco dias pela

via oral ou intravenosa, devido sua baixa solubilidade em água. Já Moraes (2012) cita que é

indicado na dose de 25 a 30 mg/kg pela via oral a cada 12 horas num período de cinco a dez

dias. No animal do relato, o fármaco de escolha, concordando com os autores citados, foi o

metronidazol, na dose de 25mg/Kg, durante 10 dias, pois segundo Lallo et al. (2003), é o

medicamento mais utilizado para o tratamento de Giárdia spp. por apresentar bom controle

deste parasita no organismo do animal e ter poucos efeitos colaterais.

Vale ressaltar que, caso ocorra uma dosagem maior do que a indicada, o cão pode vir a

apresentar uma intoxicação com consequente disfunção do sistema nervoso central (SNC),

clinicamente traduzindo-se por ataxia, tremores, espasmos da musculatura lombar e dos

membros posteriores e cauda caída (SPINOSA, 2011). O metronidazol é contraindicado para

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fêmeas prenhes, pois tem a capacidade de promover mutagênese, causando quadros de

neutropenia hepatotoxicidade, hematúria e distúrbios neurológicos (MORAES, 2012). No

paciente relatado, não foram observados sinais de intoxicação pelo medicamento.

A quinacrina tem uma ótima eficácia contra a forma trofozoítica do parasita, mas pode

causar vômito e anorexia ao paciente. Já o Albendazol pode causar efeito tóxico no organismo

do animal podendo até provocar pancitopenia (THOMPSON et al., 1993).

A sulfadimetoxina é um medicamento também utilizado no tratamento de giardíase

que participa do grupo de compostos químicos chamados de Sulfas, uma denominação dos

derivados de para-aminobenzenossulfonamida. Essa classe de medicamento foram os

primeiros antimicrobianos utilizados por via sistêmica na prevenção e cura das infecções

bacterianas nos animais e no homem. As sulfonamidas, quando são administradas em

concentrações terapêuticas, são bacteriostáticas, ou seja, são capazes de deter o crescimento

de determinadas bactérias dificultando a sua proliferação e deixando que o sistema imunitário

elimine as bactérias que já estão presentes no organismo do animal, e em altas concentrações,

tem um efeito bactericida, este capaz de destruir a bactéria por meio de vários mecanismos,

como por exemplo, destruindo a parede celular da bactéria (SPINOSA, 2006).

Spinosa (2006) cita que este medicamento é um análogo do ácido p-aminobeinzoico

(PABA) fazendo assim, a síntese do ácido fólico, o qual, por sua vez, quando em sua forma

reduzida, o ácido tetra-hidrofólico, é fundamental para a formação do DNA e RNA

bacteriano, ou seja, funciona como um antimetabólico. A mesma é biotransformada no fígado

por acetilação e oxidação, onde a acetilação se faz no grupo amino ligado ao C4 do núcleo

benzênico, resultando em outro metabólito chamado de N4-acetil derivado, que não possui

atividade microbiana, e é menos solúvel em água, consequentemente levando há um aumento

de riscos tóxicos. A eliminação das sulfas é via renal, por filtração glomerular, e a toxicidade

pode ocorrer pelo seu uso prolongado, mas os efeitos são bastante raros. Incluem reações de

hipersensibilidade, juntamente com poliartrite, febre, anemia aplástica, trombocitopenia e

eosinofilia. Então é evitado o uso de sulfas em animais com alguma alteração no processo de

coagulação sanguínea. Deve-se administrar o medicamento principalmente pela via oral. Sua

eliminação se faz por via renal e pela filtração glomerular.

Para controle do vômito associado a refluxo gastroesofágico, distúrbios envolvendo o

estímulo da ZQD ou baixa motilidade gastrointestinal indica-se o uso do metoclopramida que

atua antagonizando os receptores de dopamina e 5-HT serotoninérgicos apresentando efeito

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colinérgico periférico. Este fármaco causa aumento no esvaziamento gástrico devido ao

antagonismo de receptores D2 periféricos, porém há evidências de algumas experiências com

animais de que os efeitos gastrointestinais deste medicamento possam ser dissociados de sua

ação bloqueadora de receptores dopaminérgicos. Há estudos de que a metoclopramida tem

efeitos anticolinesterágicos, podendo sensibilizar a musculatura lisa gastrointestinal aos

efeitos de acetilcolina (JILL, 2010).

De acordo com Jill (2010) o uso da metoclopramida deve ser evitado em casos de

suspeita de hemorragia e obstrução ou perfuração gastrointestinal em pacientes com

insuficiência renal, pois pode reduzir o fluxo sanguíneo renal e exacerbar uma doença

preexistente, já em felinos pode apresentar comportamentos desorientados e de excitação,

também é contraindicado administrar este medicamento em pacientes com quadro de

convulsão. No canino do relato a metoclopramida demonstrou-se eficaz no controle da emese,

sem observação de efeitos colaterais eventuais associados ao uso do fármaco.

Segundo Souza et al., (2010) a utilização da associação de febantel, pamoato de

pirantel e praziquantel tem eficácia no controle de protozoítos diminuindo a liberação de

cistos pelas fezes, mas esse controle populacional dos parasitas tem período curto,

apresentando pouca eliminação cística nos primeiros nove dias pós-tratamento mas ao

decorrer de semanas a infestação ressurge.

Para o controle dos sinais clínicos provocados pela giardíase, indica-se a adição de

fibras na dieta, pois ajudam na redução da ligação do parasita às microvilosidades intestinais e

controle do crescimento bacteriano. Já para a prevenção, indica-se administrar a vacina contra

Giárdia spp., sendo possível observar uma diminuição na eliminação dos cistos em alguns

cães (TRANGTRONGSUP & SCORZA, 2010). Porém, segundo Bowman (2009), a

imunoterapia não tem se mostrado eficaz para retirar o parasita das fezes dos animais. No

paciente relatado foi adicionado uma medicação probiótica para restaurar a microflora

intestinal e evitar a diarréia associada à doença.

Ressalta-se que através de contaminação ambiental, pode ocorrer uma reinfecção,

sendo de extrema importância higienizar canis e gatis, estes sendo uma grande via de

transmissão para outros animais da espécie (LEAL, 2015). Bowman (2009) cita que o uso de

hipoclorito de sódio e lisol são bastante eficazes para desinfecção do ambiente. O ozônio é um

oxidante que funciona como um desinfectante alternativo ao cloro. É eficaz na desativação de

protozoários, bactérias, vírus, entre outros (BONI, 2016).

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4 CONCLUSÃO

Através de exames complementares como Teste de ELISA, hemograma e Técnica de

Flutuação foi possível detectar a presença de Giárdia spp. no organismo do animal. Para o

tratamento foi utilizado um antibiótico a base de metronidazol com sulfadimetoxina, além da

metoclopramida para o controle do vômito. Também foi administrado um Probiótico para

melhor recuperação do paciente.

O animal apresentou resultado satisfatório perante o tratamento utilizado, se

recuperando no tempo esperado sem demonstrar recaídas, resultado este que se deve tanto à

boa escolha dos fármacos prescritos pelo Médico Veterinário, como pelos proprietários,

seguindo as recomendações corretamente.

REFERÊNCIAS

BARROS, C.M., STASI, L. C. D. Farmacologia Veterinária – São Paulo, Barueri, 2012.

BARTMANN, A., ARAÚJO, F. A. P., Frequencia de Giárdia lamblia em cães atendidos

em clinicas veterinárias de Porto Alegre, RS, Brasil., Ciencia Rural, Santa Maria, v, 34,

n.4, pg. 1093-1096, jul-ago, 2004.

BARUTZKI, D. et al.. Eficácia de Pamoato de Pirantel, Febantel e Praziquantel contra

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