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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO BIOMÉDICO DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA BIOMEDICINA DOMÊNICA MIRANDA HESPANHOL DIAGNÓSTICO DE GIARDÍASE EM CRIANÇAS DE CRECHE DE PETRÓPOLIS Trabalho de conclusão de curso NITERÓI 2018

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Page 1: DOMÊNICA MIRANDA HESPANHOL...DOMÊNICA MIRANDA HESPANHOL DIAGNÓSTICO DE GIARDÍASE EM CRIANÇAS DE CRECHE DE PETRÓPOLIS Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Biomedicina,

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

INSTITUTO BIOMÉDICO

DEPARTAMENTO DE MICROBIOLOGIA E PARASITOLOGIA

BIOMEDICINA

DOMÊNICA MIRANDA HESPANHOL

DIAGNÓSTICO DE GIARDÍASE EM CRIANÇAS DE CRECHE DE

PETRÓPOLIS

Trabalho de conclusão de curso

NITERÓI

2018

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DOMÊNICA MIRANDA HESPANHOL

DIAGNÓSTICO DE GIARDÍASE EM CRIANÇAS DE CRECHE DE

PETRÓPOLIS

Monografia apresentada ao Curso de Graduação

em Biomedicina, da Universidade Federal

Fluminense, como requisito parcial à obtenção do

grau Bacharel em Análises Clínicas.

ORIENTADORA:

PROFª CLAUDIA MARIA ANTUNES UCHÔA SOUTO MAIOR

NITERÓI

2018

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DEDICATÓRIA

À minha mãe, por toda sua garra ao criar três filhas sozinhas. Por não medir

esforços para eu estar me formando na Federal que sempre sonhei. Por nunca

deixar eu desistir dos meus sonhos. Por todo ombro amigo, por todo puxão de

orelha, todo colo, todos conselhos. Não conseguiria sem você.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à querida mãe-professora Claudia Uchôa, por todo ensinamento, por toda

paciência, pela compreensão desse semestre tão conturbado para mim. Sem dúvida

é a maior inspiração que vou levar da UFF.

À minha família, em especial à minha mãe e minhas irmãs, que me aturaram por

todos esses anos. Obrigada, mãe, por disponibilizar de seu tempo, do seu emocional

e do seu financeiro pra me manter nesses 4 anos na faculdade. Obrigada pelos

incentivos. Obrigada família, por aturarem meu estresse e choro. Por

compartilharem momentos de alegria e por estarem felizes por mim. Obrigada, irmãs

pela felicidade em compartilhar essa jornada comigo.

Ao Vinícius Linhares, que em tão pouco tempo, fez tamanha diferença! Obrigada por

cada apoio, preocupação. Obrigada por compartilhar das minhas loucuras, aturar

meus choros, minhas TPM’s, me abraçar nos momentos de desespero e fazer de

tudo para no fim dar certo.

Ao meu Quarteto Desesperado: André Almo, Nicolle Martins e Thais Vieitos.

Obrigada por me ensinarem que viver não cabe no Lattes.

Agradeço aos amigos que formei ao longo da faculdade: Camila Duarte, Ana

Carolina Motta e Mariana Magaldi. Vocês fizeram a diferença! Agradeço aos que eu

pude conhecer melhor no fim da faculdade com ECO I e que me apoiaram em todos

os momentos que passamos juntas. Agradeço aos antigos colegas de turma, aos

veteranos e calouros. Obrigada por cada conversa, cada desabafo, cada desespero

compartilhado, cada alegria, cada cervejinha, cada noitada. À toda Biomed UFF, em

especial a coordenação, que igual a nossa não existe!

Aos meus amigos da escola, que me acompanham desde 2009. Por todas as nossas

saídas, conversas, viagens. Agradecimento especial às “Venenosas”, por fazerem

questão dos encontros mensais para podermos relaxar durante o período

acadêmico. Compartilhar a jornada com vocês foi maravilhoso!

Agradeço também ao meu melhor amigo, Daniel Medeiros, por todo apoio,

conselhos, alegrias, tristezas, piadas. Enfim, obrigada amigo, por todo apoio e por

ser você, mesmo com essa distância que vivemos e estamos vivendo ao longo de

todos esses anos.

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À minha sis e melhor amiga de infância, Iasmim Passos, obrigada por sempre estar

presente, mesmo de longe. Obrigada por toda paciência, por todos “oi sumida” e

pelos melhores conselhos! Viver a vida dessa forma leve que você leva é meu

objetivo de vida.

A todos da 212C, pelas conversas no almoço, saídas no congresso e risadas. Em

especial Alynne, suas IC’s e o professor Otílio, que me ajudaram durante todo esse

projeto e toda minha trajetória na Parasito. Obrigada às escolas que participei até o

presente momento. Obrigada às crianças que fizeram um pouco de alegria nos dias

que estiveram presentes pelo Biomédico. Me tornaram mais humana.

Obrigada UFF, por cada cantinho que vaguei, por cada bandejão que comi no

HUAP, por cada funcionário que eu dei “bom dia”, por cada degrau na escada da

morte, por cada café tomado, pela vista do campus da PV, pelas horas no anatômico

com cheiro de formol, pelos desesperos de provas, pelo orgulho de ser UFFiana.

Obrigada UFF, por todos os professores que passaram na minha vida, por cada

ensinamento que estou levando comigo. Por cada monitor e por cada docente que

sempre se dispôs a ajudar.

Por fim, gratidão a todos aqueles que fizeram parte dessa minha jornada acadêmica

e a todos que fizeram parte dessa monografia.

Amo vocês!

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“determinação (s.f.)

(...) é ir contra o mundo inteiro se for preciso pra

realizar um sonho.”

João Doerderlein @akapoeta

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RESUMO

Giardia duodenalis é um protozoário que pode habitar o intestino delgado do ser

humano e de outros animais determinando desde quadros assintomáticos a

casos com diarreia aguda ou crônica com esteatorreia. O parasito apresenta

ampla distribuição geográfica, sendo sua prevalência associada à má qualidade

higiênico sanitária, principalmente em regiões tropicais e subtropicais,

abrangendo áreas de baixo nível socioeconômico. Este protozoário acomete

diversos grupos populacionais, dentre os quais destacam-se crianças de 8

meses a 10 anos, com maior frequência em creches, interferindo no

desenvolvimento físico e cognitivo infantil. Baseado neste contexto, este estudo

teve como objetivo identificar a frequência da infecção por Giardia duodenalis

em crianças de creche em Petrópolis. Após sensibilização e adesão ao estudo,

foi solicitada a coleta de duas amostras fecais de dias diferentes sem

conservante químico. No laboratório, as amostras foram aliquotadas,

conservadas com SAF e processadas pelas técnica Faust et al., Ritchie

modificada e Lutz para pesquisa de cistos e ensaio imunoenzimático (ELISA)

para pesquisa de antígenos de Giardia sp.. No período de agosto a setembro

de 2018, foram convidados a participar do estudo funcionários e crianças de dois

centros de educação infantil (CEI) em Petrópolis, RJ, dos quais 51/117 (43,6%)

aderiram ao estudo e entregaram amostra fecal. G. duodenalis foi detectado em

8,3% das crianças, havendo concordância entre as técnicas parasitológicas

microscópicas e o ELISA. Não houve detecção de G. duodenalis nos

funcionários. Positividade para outros enteroparasitos foi evidenciada em 21,6%

(11/51) dos participantes, sendo de 25% (9/36) em crianças, com maior

frequência entre as crianças do CEI de Pedro do Rio e de 13,3% (2/15) em

funcionários, todos do CEI do Centro de Petrópolis. Também foi detectada

positividade por Endolimax nana, Entamoeba coli, complexo Entamoeba

histolytica, Blastocystis sp. e Ascaris lumbricoides, que foi o parasito com maior

frequência entre as crianças. O perfil socioeconômico e ambiental evidenciado

nos dois grupos estudados de Petrópolis demonstrou a existência de diversos

fatores de risco para aquisição de parasitoses intestinais e tornam essencial o

emprego de medidas educativas e programas de melhoria da infraestrutura de

saneamento básico com objetivo de reduzir a frequência de parasitos intestinais

nestas comunidades.

Palavras-chave: Giardíase. Helminto. Criança. Protozoário. Diagnóstico.

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ABSTRACT

Giardia duodenalis is a protozoan that can inhabit the small intestine of humans

and other animals, determining from asymptomatic cases to cases with acute or

chronic diarrhea with steatorrhea. The parasite has a wide geographic

distribution, and its prevalence is associated with poor hygienic sanitary quality,

mainly in tropical and subtropical regions, covering areas of low socioeconomic

level. This protozoan affects several population groups, among which are

children from 8 months to 10 years, more frequently in day care centers,

interfering in the physical and cognitive development of children. Based on this

context, this study aimed to identify the frequency of Giardia duodenalis infection

in day care children in Petrópolis. After sensitization and adherence to the study,

it was requested the collection of two fecal samples of different days without

chemical preservative. In the laboratory, the samples were aliquoted, preserved

with SAF and processed by the techniques Faust et al., Modified Ritchie and Lutz

for cysts research and enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) to

investigate antigens of Giardia sp .. In the period from august to september 2018,

employees and children from two primary education centers (CEI) in Petrópolis,

RJ, were invited to participate in the study, of which 51/117 (43.6%) adhered to

the study and delivered a fecal sample. G. duodenalis was detected in 8.3% of

the children, and there was concordance between the microscopic parasitological

techniques and the ELISA. There was no detection of G. duodenalis in

employees. Positivity to other enteroparasites was found in 21.6% (11/51) of the

participants, being 25% (9/36) in children, with a higher frequency among children

in the CEI of Pedro do Rio and 13.3% (2/15) in employees, all from the CIS of the

Petropolis Center. Positivity was also detected by Endolimax nana, Entamoeba

coli, Entamoeba histolytica complex, Blastocystis sp. and Ascaris lumbricoides,

which was the parasite most frequently among children. The socioeconomic and

environmental profile evidenced in the two groups studied in Petrópolis

demonstrated the existence of several risk factors for the acquisition of intestinal

parasitoses and make essential the use of educational measures and programs

to improve the basic sanitation infrastructure in order to reduce the frequency of

parasites intestinal infections in these communities.

Keywords: Giardiasis. Helminth. Children. Protozoa. Diagnosis.

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LISTA DE GRÁFICOS E TABELAS

TABELA 1 - Adesão de crianças e funcionários ao diagnóstico de parasitos

intestinais de duas creches de Petrópolis RJ 52

TABELA 2 - Faixa etária dos participantes da pesquisa sobre enteroparasitos por

técnicas parasitológicas microscópicas e ELISA de dois Centros de Educação

Infantil de Petrópolis-RJ por meio de técnicas coproparasitológicas 52

TABELA 3 - Perfil socioeconômico-ambiental das 36 crianças de dois Centros de

Educação Infantil participantes do estudo sobre parasitoses intestinais, obtidas

por meio de questionário, Petrópolis-RJ, 2018 54

TABELA 4 - Resultado da positividade para enteroparasitos pesquisadas em

amostras fecais de 36 crianças e dos 15 funcionários de dois Centros de

Educação Infantil de Petrópolis-RJ

por meio de técnicas coproparasitológicas 55

TABELA 5 - Resultado da positividade por espécie/gênero de parasito intestinal

de amostras fecais de 36 crianças e dos 15 funcionários de dois

Centros de Educação Infantil de Petrópolis-RJ por meio de técnicas

coproparasitológicas 56

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Espécies de Giardia 20

QUADRO 2 - Valores de referência para interpretação

do valor de Kappa (κ) 51

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - A) Cisto de Giardia duodenalis com coloração por tricrômio. B)

Trofozoítos de Giardia duodenalis em um imprint de mucosa com coloração por

Giemsa. (Fonte: https://www.cdc.gov/dpdx/giardiasis/index.html) 18

FIGURA 2 - Ciclo biológico de Giardia duodenalis. Adaptado de

Ankarklev et al., 2010 22

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 14

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................ 17

2.1. GIARDÍASE .......................................................................................... 17

2.2. GIARDIA DUODENALIS....................................................................... 17

2.3. TAXONOMIA ........................................................................................ 18

2.4. CICLO BIOLÓGICO ............................................................................. 21

2.5. PATOGENIA E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS .................................... 23

2.6. DIAGNÓSTICO .................................................................................... 26

2.7. EPIDEMIOLOGIA ................................................................................. 30

2.7.1. Giardíase em crianças de creche ................................................................... 37

3. OBJETIVOS ............................................................................................... 44

3.1. OBJETIVOS GERAIS ........................................................................... 44

3.2. OBJETIVOS ESPECIFICOS ................................................................ 44

4. JUSTIFICATIVA ........................................................................................ 45

5. MATERIAIS E MÉTODOS ........................................................................ 46

5.1. COLETA DE AMOSTRAS .................................................................... 46

5.2. PROCESSAMENTO DE AMOSTRAS .................................................. 47

5.3. TÉCNICA DE FAUST E COLS. (1938) ................................................. 48

5.4. TÉCNICA DE LUTZ (1919) ................................................................... 49

5.5. TÉCNICA DE RITCHIE (1938) MODIFICADA POR YOUNG (1979) .... 49

5.6. ELISA ................................................................................................... 50

5.7. COMITÊ DE ÉTICA E ANÁLISE ESTATÍSTICA ................................... 50

6. RESULTADOS .................................................................................... 52

7. DISCUSSÃO ....................................................................................... 57

8. CONCLUSÃO ...................................................................................... 65

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................... 66

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10. ANEXOS ................................................................................................... 80

10.1. ANEXO 1. PARECER CONSUBSTANCIAL DO CONSELHO DE ÉTICA

E PESQUISA ........................................................................................ 80

11. APÊNDICES................................................................................................81

11.1. QUESTIONÁRIO EPIDEMIOLÓGICO...........................................81

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1. INTRODUÇÃO

A giardíase é uma infecção causada por Giardia duodenalis, um pequeno

protozoário flagelado, que apresenta duas formas em seu ciclo de vida: trofozoíto

e cisto. Este protozoário tem como habitat o intestino delgado, acometendo

diversos hospedeiros, incluindo o humano, sendo que a infecção ocorre pela

ingestão de cistos (ADAM, 2001).

Considerando informações do Center for Disease Control (CDC, 2015), a

giardíase é transmitida por meio de água e alimentos contaminados, contato

interpessoal, como também por relação sexual, sendo a água a principal fonte

de transmissão. O potencial de transmissão zoonótica de Giardia sp. vem sendo

discutido (RYAN e CACCIÒ, 2013; FANTINATTI et al., 2016). O parasito pode

sobreviver, na forma de cisto, fora do organismo por semanas ou meses (CDC,

2015).

A infecção pode ser assintomática, mas quando tem sintoma manifesta-se

entre 7 a 12 dias após infecção. As manifestações clínicas mais comuns são

diarreia, náuseas, vômitos e perda de peso (EIRNASSON, MA’AYEH, SVÄRD;

2016). A infecção pode interferir no ganho estatural-ponderal em crianças,

determinando alterações antropométricas sendo relatado maior gravidade se

associado a amamentação por período curto e saneamento inadequado

(MATOS et al., 2008) Em imunocomprometidos, o risco de infecção por Giardia

duodenalis é maior (FARIA et al., 2017), levando a quadro de diarreia severa

(ADAMU, WEGAYEHU e PETROS 2013).

O diagnóstico desta parasitose é realizado tradicionalmente pela detecção

de cistos ou trofozoítos em amostras fecais por meio da microscopia utilizando

amostras frescas ou preservadas por exame direto ou esfregaços corados. O

uso de técnicas parasitológicas de concentração aumenta a sensibilidade do

diagnóstico, quando comparado às outras técnicas de diagnóstico. Porém, esta

metodologia necessita de microscopista treinado e coleta de amostras múltiplas

devido a intermitência de liberação de formas evolutivas. Além da microscopia,

utiliza-se a detecção de antígenos por meio de testes imunocromatográficos,

imunoenzimáticos e cistos por meio de imunofluorescência, Entero-test, aspirado

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duodenal, biopsia duodenal, assim como pela detecção de anticorpos (HUANG

& WHITE, 2006). As técnicas moleculares possibilitam a identificação de

espécies e genótipos (KOEHLER et al., 2014).

A prevalência da infecção varia de 2 a 5% em países desenvolvidos,

enquanto que países em desenvolvimento há uma prevalência de 20 a 30%.

Países como Ásia, África e da América Latina apresentam 200 milhões de casos

sintomáticos, com incidência de 500.000 novos casos por ano (FENG & XIAO

2011). A pobreza, desnutrição e condições higiênico-sanitárias insatisfatórias

são os principais fatores de risco que contribuem para a transmissão de cistos

de Giardia duodenalis (CHOY et al., 2014).

A infecção é mais frequente entre crianças que vivem em áreas cuja

transmissão é intensa, por causa dos fatores de saneamento e água. A giardíase

prevalece em grupos de baixo poder socioeconômico (ZEMENE & SHIFERAW,

2018). Segundo Gurgel et al. (2005) crianças mantidas em creche no município

de Aracajú apresentaram 1,5 vezes mais chances de se infectarem por

enteroparasitos. A aglomeração das crianças em creche justifica a maior

prevalência de protozoários, por terem transmissão pessoa-a-pessoa e por meio

de alimentos, água e mãos contaminados (GURGEL et al., 2005). Segundo a

Organização Mundial da Saúde (WHO, 2018), viajantes apresentam um elevado

risco de infecção pelo protozoário, uma vez que viajam para locais sem água

filtrada.

A variação da frequência dessa parasitose entre diversos estudos, tem

sido relacionada ao público alvo, técnicas laboratoriais utilizadas e regiões

geográficas (ESCOBEDO et al., 2010). Delfino et al. (2016) relataram

prevalência de 18%, 16,5% e 23,06% nos anos de 2003, 2010 e 2011

respectivamente para G. duodenalis em crianças menores de cinco anos de

áreas urbanas de Assis Brasil, AC. Em pacientes com síndrome do intestino

irritável e dispepsia, Grazioli et al. (2006) evidenciaram, por meio da pesquisa

direta do parasito nas amostras de biópsia de duodeno, exames histológicos da

biópsia e métodos parasitológicos, como método de formaldeído-éter, seguido

de microscopia, técnica de imunocromatografia e também o ensaio

imunoenzimático direto, 9/137 (6,5%) de positividade. Em pessoas idosas do

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munícipio de Nova Olinda do Norte, Amazonas, Hurtado-Guerrero, A., Alencar e

Hurtado-Guerrero, J. (2005) detectaram Giardia duodenalis em 6/81 casos

(6,8%).

Em Caxias do Sul, RS, Basso et al. (2008), em um estudo de 35 anos com

9.787 escolares, evidenciaram positividade de 24%. Em Ribeirão Preto, SP, a

avaliação parasitológica em amostras fecais de 32 crianças de dois a seis anos,

de uma instituição filantrópica, com objetivo de avaliar a prevalência de

Cryptosporidium spp., Giardia spp e outros enteroparasitos, demonstrou

positividade em 62,5% das amostras por técnicas parasitológicas microscópicas

e imunológicas, com elevada frequência de Cryptosporidium spp. (31%) e

Giardia spp. (25 %), sendo a idade de 3 a 4 anos a mais acometida por esses

microrganismos (Dias et al., 2018).

Baseado neste contexto, este estudo teve como objetivo identificar a

frequência da giardíase em crianças de creche de Petrópolis e comparar técnicas

para o diagnóstico da parasitose.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Giardíase

A giardíase é uma parasitose intestinal amplamente distribuída pelo mundo,

com alta prevalência em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil.

Embora seja uma infecção que apresenta bom prognóstico para os indivíduos

infectados, pode determinar quadros de maior gravidade em pessoas com

desnutrição, fibrose cística ou algumas imunodeficiências (SANTANA et al.,

2014).

Causada pelo protozoário Giardia duodenalis, a giardíase ocorre de forma

direta pela transmissão fecal-oral e pela forma indireta, por meio de água e

alimentos contaminados (ESCOBEDO et al., 2010). A infecção está comumente

relacionada com períodos crônicos e prolongados de diarreia, tanto em

indivíduos saudáveis, quanto em imunocomprometidos (CERTAD et al., 2017).

2.2. Giardia duodenalis

Giardia duodenalis (Giardia intestinalis, Giardia lamblia) é um protozoário

eucarioto flagelado unicelular, que comumente causa diarreia em vários locais.

O parasito apresenta um ciclo monoxeno, consistindo em duas formas

evolutivas: trofozoíta, que coloniza o lúmen intestinal e cisto, sendo a forma

infectante e resistente (PEDROSO & AMARANTE, 2006).

O trofozoíto tem formato de pêra, com aproximadamente 12 a 15 μm de

comprimento e 5 a 9 μm de largura. Possui corpo com aspecto achatado na

região ventral e a dorsal convexa, dois axóstilos, corpo parabasal, quatro pares

de flagelo (anterior, posterior, caudal e ventral) e disco ventral, onde se encontra

enzimas como tubulina e giardina, que mantem a conexão do parasito com a

mucosa intestinal do hospedeiro (ADAM, 2001; PEDROSO & AMARANTE,

2006). Os trofozoítos apresentam dois núcleos, com cariossoma do mesmo

tamanho, relacionados com a transcrição do material genético (PEDROSO &

AMARANTE, 2006) sem nucléolo, localizados anteriormente e simetricamente

(Figura 1B). No citoplasma, são encontrados vacúolos lisossomais, bem como

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ribossomo, grânulos de glicogênio. Apenas no encistamento do trofozoíto torna-

se possível observar o complexo de Golgi (ADAM, 2001).

O cisto de Giardia duodenalis mede, aproximadamente, 5 μm de largura

por 7 a 10 μm de comprimento (Figura 1A). Apresenta de dois a quatro núcleos,

com axonemas presentes no citoplasma, vacúolos, ribossomos, fragmentos de

disco suctorial e corpos parabasais (PEDROSO & AMARANTE, 2006). Os cistos

são recobertos por uma parede com 0,3 a 0,5 μm de espessura, composta por

camada filamentosa externa e membranosa interna, formada por duas

membranas. A parte externa da parede do cisto é coberta de filamentos de 7 a

20 nm. Por serem formas de resistência no ambiente, os cistos apresentam baixa

taxa metabólica, representando 10 a 20% da taxa dos trofozoítos (ADAM, 2001).

A) B)

Figura 1: A) Cisto de Giardia duodenalis com coloração por tricrômio. B) Trofozoítos de Giardia duodenalis em um imprint de mucosa com coloração por Giemsa. (Fonte: https://www.cdc.gov/dpdx/giardiasis/index.html)

2.3. Taxonomia

Giardia sp. foi inicialmente observada por Anthony van Leeuwenhoek, em

1681, após examinar suas próprias fezes diarreicas através de microscopia. A

descrição mais detalhada do protozoário ocorreu posteriormente, por Lambl, em

1859, que a nomeou como Cercomonas intestinalis, por achar que pertencia ao

gênero Cercomonas. A definição do gênero Giardia foi utilizado pela primeira vez

após Kunstler ao descrever o organismo em girinos como Giardia agilis, em 1882

e 1883. Em 1888, Blachard sugeriu o nome Lamblia intestinalis, o qual foi

modificado por Stiles, em 1902, como Giardia duodenalis. Posteriormente,

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Kofoid e Christiansen propuseram os nomes Giardia lamblia em 1915 e Giardia

enterica em 1920. Desde os anos 1980, G. duodenalis passou a ser a

nomenclatura mais usualmente utilizada por pesquisadores. No entanto, até

presente momento, Giardia lamblia ainda tem sido amplamente aceito na

literatura médica e científica (ADAM, 2001).

A classificação taxonômica dos parasitos de gênero Giardia tem passado

por revisões. Segundo Thompson e Monis (2012) Giardia é classificada no Filo

Metamonada, Subfilo Trichozoa, Superclasse Eopharyngia, Classe

Trepomonadea, SubClasse Diplozoa e Ordem Giardiida. A taxonomia das

espécies de Giardia tem sido alvo de abordagens filogenéticas, resultando numa

confusão de nomenclatura, onde uma mesma espécie acaba por receber

diferentes nomes. Thompson & Monis (2012) apresentaram 11 espécies dentro

do gênero Giardia, capazes de infectar uma diversidade de hospedeiros (Quadro

1). O número de espécies de Giardia permanece como uma controvérsia a

muitos anos, uma vez que alguns pesquisadores sugerem a nomeação com

base no hospedeiro de origem, enquanto outros mantêm o foco na morfologia

(ADAM, 2001).

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Quadro 1: Espécies de Giardia

Espécie Linhagem Hospedeiros

Giardia duodenalis* A Humanos e outros primatas, cães, gatos, gado, roedores e outros mamíferos selvagens

Giardia enterica B Humanos e outros primatas, cães, gatos e algumas espécies de mamíferos silvestres

Giardia canis C/D Cães e outros canídeos

Giardia bovis E Bovinos e outros animais com cascos

Giardia cati F Gatos

Giardia simondi G Ratos

G.? H Pinípedes (foca)

G.? Marsupiais

G. microti* Roedores

Giardia psittaci* Pássaros

Giardia ardeae* Pássaros

Giardia muris* Roedores

Giardia agilis* anfíbios

Fonte: Thompson & Monis (2012)

No caso da Giardia duodenalis existem dois sinônimos aceitos: G.

intestinalis e G. lamblia. Essa diferença na taxonomia provém da diferença

morfológica de cistos e trofozoítos, acompanhada de uma extensa variação entre

as espécies, relacionada com proteínas e ao polimorfismo do DNA (CERTAD et

al., 2017).

Feng e Xiao (2011) relataram a existência de seis espécies do gênero

Giardia aceitas pela maioria dos pesquisadores, sendo elas: Giardia agilis,

Giardia ardeae, Giardia muris, Giardia microti, Giardia psittaci que infectam

diversos animais e Giardia duodenalis, responsável pela infecção em humanos

e muitos outros mamíferos. Cacciò, Lalle e Svärd (2017) definiram sete espécies

válidas, incluindo às espécies citadas anteriormente, Giardia peramelis

infectando marsupiais. Embora Giardia duodenalis seja a única espécie

encontrada infectando humanos, animais de estimação e de produção, tem sido

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considerada um complexo de espécies, apresentando oito genótipos diferentes

descritos, nomeados de A a H, sendo A e B os mais frequentemente detectados

em humanos e outras espécies de mamíferos. Outros genótipos, como C e D

são comumente encontrados em cães e outros canídeos; E em animais

ungulados, incluindo gado; F em gatos; G em roedores e H em mamíferos

marinhos (FARIA et al., 2017).

De acordo com Sprong, Cacciò e Giessen (2009), o potencial zoonótico de

Giardia duodenalis ainda está em debate, visto que pode haver transmissão

humano-animal e vice-versa, principalmente em áreas endêmicas, onde animais

e humanos convivem.

Fantinatti et al (2016) evidenciaram infecção humana pelo genótipo E no

Rio de Janeiro e sugeriram que assim como o genótipo A, o genótipo E pode

apresentar um perfil zoonótico ou antropozoonótico. A grande distância genética

que separa os genótipos de Giardia duodenalis sugere que eles representam

espécies distintas, o que é reforçado pelo sequenciamento do genoma total dos

genótipos A, B e E (CACCIÒ, LALLE, SVÄRD, 2017).

2.4. Ciclo Biológico

Giardia duodenalis apresenta ciclo monoxeno, sendo a infecção

determinada pela ingestão de cistos. A natureza ácida do estômago induz o

processo de desencistamento, a partir do qual são gerados dois trofozoítos, que

então colonizam a parte proximal do intestino delgado, sem invadir o epitélio

(ANKARKLEV et al., 2010). Os trofozoítos multiplicam-se por divisão binária,

com um tempo de 6 a 12 horas in vitro, e mantem-se no intestino delgado por

meio de movimentação vigorosa e adesão aos enterócitos da porção superior do

intestino delgado. A transformação de trofozoítos móveis em cistos ocorre ao

longo do sistema digestório induzida por fatores do hospedeiro como pH básico,

elevada concentração de bile e níveis baixos de colesterol. Dessa maneira, os

cistos são liberados do hospedeiro através das fezes e haverá um novo ciclo

quando houver ingestão desses cistos, podendo ser uma autoinfecção ou

heteroinfecção (ADAM, 2001; ANKARKLEV et al., 2010) (Figura 2).

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O encistamento pode ser dividido em duas fases: inicial e final. Após iniciar

o processo, o organismo não entra no processo total de encistamento como um

passo único. A fase inicial leva cerca de 10 horas e consiste na síntese

intracelular e no transporte de componentes presentes na parede do cisto. Nessa

etapa, a membrana do complexo de Golgi já pode ser vista e pode estar

relacionado com o transporte de moléculas para vesículas específicas de

encistamento. Essa membrana golgiense é inibida por Brefeldin A e então as

vesículas passam a ser visíveis à microscopia, estando relacionada com o

transporte de substâncias que constituem a parede do cisto. A fase final do

encistamento, com total de 16 horas, consiste no aparecimento da membrana

plasmática do trofozoíto em locais de inibição de parede cística, seguido da

formação de filamentos (ADAM, 2001).

Um indivíduo infectado pode liberar até 2x106 cistos por grama de fezes. A

quantidade necessária para causar infecção é de 10 a 100 cistos, com período

de incubação variando entre 3 a 25 dias (SANTOS, 2011).

Figura 2: Ciclo biológico de Giardia duodenalis. Adaptado de Ankarklev et al., 2010

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2.5. Patogenia e Manifestações clínicas

A adesão do trofozoíto a células epiteliais por meio do disco ventral, dá

origem à diarreia (HALLIEZ & BURET, 2013). A patogenicidade de Giardia

duodenalis vem sendo relacionada ao dano direto causado pelo trofozoíto à

borda em escova e a mucosa do intestino. Este dano induz uma resposta imune,

resultando em secreção de fluido e lesão ao intestino, alterando o conteúdo da

secreção biliar ou composição da microbiota intestinal, bem como induzindo a

apoptose de células epiteliais do intestino delgado (HUANG & WHITE, 2006;

HALLIEZ & BURRET, 2013). Essa perturbação nas células da borda em escova

do intestino pode estar relacionada com intolerância a lactose que se desenvolve

comumente à infecção. Estudos in vitro mostraram que alterações advindas da

infecção por G. duodenalis atingem a zona íntima das junções ocludentes das

células, aumenta a permeabilidade e induz apoptose de células epiteliais do

intestino delgado (HUANG & WHITE, 2006).

Segundo Huang & White (2006), estudos demonstraram que anticorpos

IgM, IgG e complemento são eficientes para eliminação dos trofozoítos de

Giardia sp.. Indivíduos com giardíase de diferentes regiões do mundo

apresentam anticorpos circulantes como IgG, IgM e IgA anti-Giardia. A secreção

de anticorpo IgA tem sido relacionado à diminuição de adesão dos trofozoítos às

células epiteliais intestinais (PEDROSO & AMARANTE, 2006). No lúmen

intestinal, onde os trofozoítos estão localizados, a secreção de anticorpos IgA é

importante para o controle da infecção por Giardia duodenalis, provavelmente

pela sua ligação com trofozoítos, e assim prevenindo que esse parasito faça

adesão às células epiteliais do intestino. A ausência de IgA está associada à

incapacidade de eliminar a infecção por G. duodenalis e relaciona-se com

quadros crônicos de giardíase em humanos (HUANG & WHITE, 2006).

Indivíduos que apresentam déficit de anticorpos ou redução da secreção gástrica

possuem uma predisposição para giardíase e, uma vez infectados, esses

pacientes podem desenvolver diarreia prolongada, má absorção e histologia

anormal do intestino delgado, que apresentam lesões características do tipo

"spruelike", com achatamento acentuado das vilosidades, hipertrofia da cripta e

um infiltrado celular mononuclear denso da submucosa (HUANG & WHITE,

2006).

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A giardíase pode resultar em quadros assintomáticos, diarreia aguda ou

diarreia crônica e má absorção, dependendo da susceptibilidade do hospedeiro

e diferenças genotípicas dos patógenos relacionados à virulência. A infecção

pode ocorrer pela ingestão de aproximadamente 10 a 25 cistos e, uma vez que

ingere os cistos, 5% a 15% dos hospedeiros não apresentam sintomas, 25%-

50% desenvolvem diarreia aguda e 35% a 70% não possuem evidência de

infecção (HUANG & WHITE, 2006).

As manifestações clínicas da infecção por G. duodenalis ocorrem após um

período de incubação de 1 a 2 semanas, incluindo quadros de diarreia, dor

epigástrica, náuseas e vômitos (CERTAD et al., 2017), mal-estar, flatulências,

fezes oleosas e malcheirosas, cólicas abdominais, inchaço, anorexia e perda de

peso (HUANG & WHITE, 2006). Além disso, manifestações clínicas como

urticária, constipação, doença do trato biliar e infecção gástrica também são

relatados (HUANG & WHITE, 2006). A fase aguda da infecção dura de 1 a 3

semanas, embora em alguns pacientes a sintomatologia persista por meses. Na

fase crônica, pode ocorrer desde perda de peso à má absorção gastrointestinal.

Existem estudos que tentam correlacionar a sintomatologia com os

diferentes genótipos de G. duodenalis (NUNES, 2016). O genótipo A vem sendo

associado à diarreia em estudos na Índia, Espanha e Turquia, enquanto que

estudos na Malásia apontaram o genótipo B também como causador de quadros

de diarreia (CERTAD et al., 2017).

Indivíduos que têm giardíase geralmente apresentam sintomatologia por

mais de 7 a 10 dias. Aqueles que desenvolvem diarreia crônica, persistente por

mais de 14 dias, podem apresentar profundo mal-estar, fadiga, ocasionais dores

de cabeça, desconforto abdominal difuso e, desconforto epigástrico, que é

exacerbado ao comer e perda de peso. As fezes de pessoas com diarreia crônica

são frequentemente gordurosas e fétidas ou espumosas e amareladas e são

eliminadas em pequenos volumes. Períodos de diarreia podem alternar com

períodos de constipação (HUANG & WHITE, 2006).

Em revisão, Halliez e Buret (2013) relataram consequências da giardíase,

extra intestinais e nutricionais, a longo prazo. Dentre as manifestações extra

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intestinais, existem as doenças oculares, artrite, alergia e complicações

musculares.

As lesões oculares, como coroidite e hemorragia de retina, foram

relacionadas aos quadros de diarreia pela presença de Giardia sp..

Aparentemente, as crianças pequenas são mais susceptíveis a lesões oculares

durante quadros de giardíase e acredita-se que essas lesões sejam causadas

por danos às células da retina, acompanhadas pela liberação de grânulos de

pigmento nas camadas da retina, onde podem ser vistos como pontos negros.

Existem especulações de que a degeneração do pigmento pode ser resultado

dos metabólitos tóxicos produzidos pelo parasito (HALLIEZ & BURET, 2013).

A artrite inflamatória também foi descrita após quadros infecciosos por

Giardia sp. Concomitante à presença de G. duodenalis, manifestações cutâneas

alérgicas vêm sendo relatadas, além dos sintomas gastrointestinais. Estudos

recentes com crianças demonstraram a associação da giardíase com aumento

significativo do nível sérico de IgE e uma resposta aumentada de anticorpos IgE

a alérgenos comuns. Essas observações sugerem que a alteração na captação

do antígeno pelo intestino delgado durante a giardíase pode contribuir para o

desenvolvimento de alergia (HALLIEZ & BURET, 2013).

Quanto às complicações musculares, casos de miopatia seguida de

hipocalemia induzida pela giardíase tem sido reportada em pessoas normais e

imunocomprometidos, sugerindo que G. duodenalis desencadeia problemas

musculares independentemente do estado imunológico do indivíduo. Isso

porque, durante a giardíase, a perda de potássio está intimamente relacionada

com o número de quadros de diarreia por dia e essa perda de potássio resulta

em hipocalemia, desencadeando uma severa miopatia (HALLIEZ & BURET,

2013). Essa associação do parasito com hipocalemia ocorre mais

frequentemente em pessoas idosas, principalmente mulheres (HALLIEZ &

BURET, 2013; GENOVESE, SPADARO & SANTORO, 1996).

Crianças que apresentam sintomatologia para giardíase podem

desenvolver esteatorreia, bem como má absorção de lactose, carboidratos,

gorduras, ferro, vitaminas A, B3, B5, B6, B12, e vitamina E (HALLIEZ & BURET,

2013; HUANG & WHITE, 2006). A deficiência da enzima lactase pode ocorrer

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em 20% a 40% dos casos após infecção por Giardia, podendo persistir por

semanas, mesmo após tratamento (HUANG & WHITE, 2006). Também foi

demonstrado a relação da giardíase com déficit no desenvolvimento cognitivo,

verbal e físico de crianças nos seus dois primeiros anos de vida (HALLIEZ &

BURET, 2013).

A fase aguda da giardíase dura de duas semanas a dois meses, podendo

apresentar ou não picos de manifestações clínicas. A fase crônica da doença

dura meses e, quando não tratada, pode persistir por anos, fazendo com que os

sinais e sintomas variem de leves à graves (PEDROSO & AMARANTE, 2006).

Machado et al. (2008) apresentaram que o aleitamento materno contribui

para a proteção contra G. duodenalis. Isso porque, uma resposta imune

promovida por IgA, no trato intestinal, induz modulação de resposta a futuras

exposições. Os componentes não-imunes no leite materno podem contribuir

para a destruição de trofozoítos de Giardia sp. no lúmen intestinal. Pereira et al.

(2018) relataram que a atividade fagocítica sofrida por trofozoítos de G.

duodenalis é afetada por componentes bioativos presentes no colostro,

sugerindo que é um mecanismo adicional contra giardíase em crianças.

Wolyniec et al. (2018), em revisão de literatura sobre a relação entre

infecções parasitárias e pacientes transplantados na Europa. Os autores

evidenciaram que o risco de infecção por enteroparasitos é mínimo, porém real,

e que a diarreia é a manifestação clínica mais associada a parasitos, sendo que,

na Europa, os principais agentes causais de diarreia são Giardia duodenalis e

Cryptosporidium sp.

2.6. Diagnóstico

O diagnóstico clínico da giardíase baseia-se nos sintomas apresentados

pelo indivíduo, caracterizados por diarreia aguda autolimitada ou intermitente ou

crônica e persistente, frequentemente com muco e coloração clara. Em casos

mais graves observa-se a esteatorreia, que se caracteriza por fezes volumosas

com gordura, odor fétido de cor pálida e perda de peso. Podem ocorrer cólicas

abdominais, enterite e emagrecimento, devido a perturbações na mucosa, que

dificulta a absorção de gordura. Porém, as manifestações clínicas não permitem

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um diagnóstico preciso, tornando necessária a confirmação laboratorial

(PEDROSO & AMARANTE, 2006).

Os métodos convencionais de diagnóstico consistem na microscopia óptica

e métodos imunológicos (KOELHER et al., 2014). A microscopia consiste na

detecção de cistos do gênero Giardia em amostras biológicas ou ambientais.

Porém, a detecção das espécies não é possível por meio deste método. A

técnica de Faust et al. (1938) é considerada a mais sensível para a detecção de

cistos deste protozoário, quando comparada à técnica de Lutz, sendo que a

leitura de três lâminas do sedimento utilização de três lâminas possibilita o

aumento de sensibilidade. A técnica de Lutz necessita de alta carga parasitária,

não sendo indicada para diagnóstico de infecções por G. duodenalis

(COGNIALLI, 2013). No geral, as técnicas de concentração de cistos são

utilizadas pois aumentam a capacidade de detectar estruturas parasitárias

(NUNES, 2016). A eficiência da microscopia de luz é influenciada pela carga

parasitária e pela experiência do microscopista (VAN DEN BOSSCHE et al.,

2015).

Os métodos de coloração, como lugol, hematoxilina férrica, Giemsa e

tricrômio são utilizados para facilitar a identificação de trofozoítos e cistos do

gênero Giardia, possibilitando a diferenciação deste de debris fecais e outros

protistas. Técnicas de concentração que utilizam, por exemplo, o formaldeído-

éter ou formaldeído-etil acetato aumentam a eficiência do diagnóstico. Os

trofozoítos móveis podem ser detectados pelo exame direto em amostras fecais

frescas, enquanto que trofozoítos mortos podem ser detectados por esfregaços

corados com Giemsa (KOEHLER et al., 2014).

Koehler et al. (2014), em revisão de literatura, relataram que o uso de

métodos imunológicos para pesquisa de cistos e trofozoítos do gênero Giardia,

em amostras biológicas, apresenta vantagens quando comparado com técnicas

microscópicas. Técnicas de microscopia de fluorescência direta com anticorpo

monoclonal apresentam elevada especificidade (99,8 a 100%) e sensibilidade

(93 a 100%), para casos de detecção de cistos em amostras fecais e amostras

do ambiente, como água.

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A detecção de antígenos de Giardia em amostras fecais por Ensaios

Imunoenzimáticos (ELISAs) apresentaram especificidade variando de 87 a 100%

e sensibilidade de 63 a 100%, dependendo do estudo. A imunocromatografia

apresenta especificidade de 79 a 100% e sensibilidade de 26 a 100%,

dependendo do estudo, podendo apresentar menor eficiência de diagnóstico

dependendo da abordagem. Porém, algumas situações como reação cruzada,

liberação intermitente de cistos ou antígenos e uso de fixadores, como formalina,

podem determinar menor eficiência de técnicas de detecção de coproantígenos,

quando comparadas com a microscopia de luz. Alguns kits comerciais

apresentam leitura visual, o que pode determinar interpretações subjetivas dos

resultados. Como vantagens, estas técnicas possuem a capacidade de detectar

a infecção em período pré-patente, ou seja, antes da liberação de cistos, e menor

custo benefício associado a maior rapidez na análise de grande número de

amostras (KOEHLER et al., 2014).

Rocha et al. (1999) realizaram pela primeira vez no Brasil uma avaliação

do ensaio em microplaca ProSpecT Giardia (Alexon, Inc., BIOBRÁS) para

detecção de coproantígenos de Giardia sp., demostrando ser uma boa

alternativa para o diagnóstico da giardíase, especialmente em casos onde o

exame parasitológico de fezes é repetidamente negativo e o paciente apresenta

sintomas compatíveis com a doença.

Em 2001, Machado et al. relataram a comparação de quatro métodos

laboratoriais para diagnóstico da giardíase em crianças. Os métodos

pesquisados foram: o método direto com coloração por lugol, a técnica de

hematoxilina férrica, o método de concentração de Faust et al. e a pesquisa de

coproantígeno (em microplaca ProSpect Giardia®). Como resultado, a

hematotoxilina férrica e o exame direto apresentaram menor positividade,

enquanto que a técnica de Faust et al. apresentou maior eficiência, sendo uma

boa escolha, principalmente em áreas com recurso financeiro limitados. O

ELISA, embora tenha detectado menor frequência, não apresentou diferença

estatística significativa quando comparado a técnica de Faust et al.

A detecção de anticorpos em soro também pode auxiliar no diagnóstico.

Guimarães e Sogayar (2002) realizaram análises comparativas entre as técnicas

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de imunofluorescência indireta e a reação imunoenzimática (ELISA) para

pesquisa de IgG anti-giardia em soro, tendo como base técnicas microscópicas,

de 147 amostras de crianças de 0 a 6 anos. Os autores verificaram que a

imunofluorescência indireta apresentou maior concordância com o resultado do

exame microscópico, porém ambas as técnicas não apresentaram concordância

satisfatória com as técnicas parasitológicas. Foi sugerido que os títulos de

anticorpos podem ser uma ferramenta válida para determinar a frequência de

infecção no foco endêmico.

Os testes rápidos de diagnóstico (RDTs) representam uma metodologia

válida para triagem rápida em países desenvolvidos. Isso porque há menor

frequência de infecções por enteroparasitos e são locais onde a microscopia é

utilizada como metodologia complementar. Esses testes também são utilizados

em locais remotos ou com surtos, onde as técnicas não estão disponíveis, e

também onde há ausência de microscopista experiente. Os RDTs são testes de

imunocromatografia de fluxo lateral, que detectam antígenos de um ou mais

protozoários em um único teste, sendo de fácil execução, interpretação e

dependentes de pouca infraestrutura (VAN DEN BOSSCHE et al., 2015). A

comparação entre quatro testes rápidos para diagnóstico de Giardia sp.

(ImmunoCardSTAT!®CGE (Meridian Bioscience Inc., Cincinnati, Ohio, USA),

Crypto/Giardia Duo-Strip (Coris Bioconcepts, Gembloux, Belgium),

RIDA®QUICK Cryptosporidium/Giardia/Entamoeba Combi (R-BioPharm,

Darmstadt, Germany) and Giardia/Cryptosporidium Quik Chek (Techlab Inc.,

Blacksburg, Virginia, USA), evidenciou sensibilidade variada, entre os diferentes

Kits, e excelente especificidade (VAN DEN BOSSCHE et al. 2015).

Outro procedimento utilizado no diagnóstico da giardíase é a citometria de

fluxo. El-Nahas et al. (2013), em estudo com 84 crianças do Hospital

Universitário Infantil de Mansoura, Egito, examinaram amostras fecais a fim de

comparar os diferentes tipos de diagnóstico para cistos de Giardia duodenalis,

utilizando microscopia de luz, imunofluorescência direta (DIF) e citometria de

fluxo. Nesse estudo, foi demonstrado que DIF foi capaz de detectar 500 cistos

por grama de fezes concentrada, sendo considerada, pelos autores, como

padrão ouro de diagnóstico e indicada em casos de pacientes com suspeita

clínica e microscopia negativa. A citometria de fluxo, embora comparativamente

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tenha apresentado menor sensibilidade, pode ser uma técnica alternativa eficaz,

especialmente para estudos epidemiológicos em larga escala ou programas de

vigilância extensiva, pois tem o atributo benéfico de velocidade e não dependem

de um microscopista experiente.

Para identificação de espécies e genótipos do gênero Giardia utilizam-se

os métodos de detecção de material genético. A maioria dos procedimentos

baseiam-se na amplificação específica de um ou mais loci de pequenas

quantidades de DNA genômico do parasito pela reação em cadeia da polimerase

(PCR), enquanto alguns fundamentam-se na hibridização in situ de sondas para

loci genéticos particulares dentro do genoma do parasito. O uso da PCR

determinou um aumento do conhecimento sistemático, biológico,

epidemiológico, ecológico e relaciona as populações genéticas do parasito,

contribuindo para o controle e prevenção (KOEHLER et al., 2014). Os métodos

moleculares são mais sensíveis e específicos, porém não são muito acessíveis

e tem um custo elevado (VAN DEN BOSSCHE et al., 2015).

2.7. Epidemiologia

Giardia duodenalis é o protozoário mais comum entre os humanos (RYAN

& CACCIÒ, 2013). Sua prevalência varia entre os diversos países, ocorrendo em

20% a 30% da população, com relatos de 100% de prevalência em algumas

populações nos países em desenvolvimento e com taxas de 3% a 7% nos países

desenvolvidos (HALLIEZ & BURET, 2013).

Em 2004, Giardia sp. foi inserida na Iniciativa de Doenças Negligenciadas,

que consiste em um grupo heterogêneo, com foco em doenças causadas por

parasitos, bactérias e vírus, com distribuição focal de sobreposição heterogênea,

que ocorrem em países em desenvolvimento onde o clima, a pobreza e a falta

de acesso a serviços influencia sua ocorrência, interferindo no desenvolvimento

integral dos infectados (SAVIOLI, SMITH & THOMPSON, 2006). Uma série de

fatores contribuíram para a inserção da Giardia sp. neste grupo: a natureza

benigna da infecção, que, na maioria das vezes não requer internação; a

disponibilidade de métodos de diagnóstico e tratamentos medicamentosos

eficientes; o foco da comunidade cientifica para outras doenças mais

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“modernas”; o fato de ser uma doença com sintomas similares a muitas outras;

e o fato de, em países em desenvolvimento, onde é mais prevalente, ocorrer em

locais pobres. Tais condições determinam falta de investimentos por parte da

indústria farmacêutica na produção de novos fármacos. Porém o interesse na

giardíase tem se renovado devido a sua reemergência em países desenvolvidos

(ESCOBEDO et al., 2010).

Apesar de sua distribuição ampla no mundo, a parasitose predomina em

certos grupos da população. Representam grupos de risco: viajantes para países

endêmicos, crianças de creche e seus contactantes, homens que fazem sexo

com homens, refugiados, pessoas que ingerem alimentos e água contaminados,

ingestão de água recreacional contaminada e pessoas que tem contato com

pacientes infectados (ESCOBEDO et al., 2010). Também há predominância de

giardíase em crianças cujos pais trabalham em campos, possuindo contato

direto com solo contaminado. As crianças pequenas são mais predispostas a

infecção pelos parasitos possuírem uma parasitose porque seu sistema imune

não está totalmente formado e por estarem em contato constante com solo,

dessa forma contaminando suas mãos e posteriormente alimentos ou se auto

infectando (ZEMENE & SHIFERAW, 2018).

Entre escolares de 6 a 10 anos de 17 comunidades do México, Giardia

duodenalis foi o parasito patogênico mais frequente sendo evidenciado em 24%

(122) dos participantes (QUIHUI et al., 2006). Os autores evidenciaram que as

famílias com menor renda, defecação em áreas abertas, desemprego e baixo

grau de escolaridade das mães como os fatores significativos associados às

infecções parasitárias. O uso de sanitários tem sido associado a redução do risco

de infecção por parasitos intestinais (HOLLAND et al., 1988). Especificamente

na infecção por Giardia duodenalis.

Waldram et al. (2017) estimaram a prevalência de infecção por Giardia em

domicílios com casos de índices de giardíase, bem como identificar

características de domicílios com mais de um caso de giardíase, em Lancashire,

Reino Unido. Foram identificados 186 casos de giardíase, no qual 143 casos

foram aceitáveis, após critérios de exclusão. Desses, 91 casas participaram

(64%), com 27 (30%) domicílios positivos para G. duodenalis. Nos domicílios, 41

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dos 212 moradores apresentavam positividade por G. duodenalis, dos quais 37

(90%) eram assintomáticos. As idades com maior frequência de quadros

assintomáticos foram de 0 a 4 anos (51%) e 5 a 9 anos (35%), sendo observado

membros na família também infectados. Foram identificados dois fatores de risco

associados à infecção por G. duodenalis nos domicílios: ter crianças menores de

5 anos em casa e ter qualquer outro indivíduo com alguma manifestação clínica

do trato gastrointestinal. Considerando o ambiente, houve associação com uso

de fraldas pelas crianças, bem como possuir menos de uma cama e banheiro

por pessoa nos domicílios.

Um estudo recente de Wolyniec et al. (2018) avaliou o risco de infecções

por parasitos após pacientes se submeterem a transplantes, na Europa. Apesar

de ser incomum na Europa, fatores como mudança climática, migração e

globalização podem estar mudando essa epidemiologia. A giardíase é

responsável por pelo menos 1% de infecção parasitária pós transplante. O fato

de se apresentar em baixa incidência provavelmente está associada ao fato de

giardíase ser facilmente tratada com metronidazol.

No Brasil a giardíase não é uma doença que demanda notificação

obrigatória (NUNES, 2016). O país tem melhorado sua infraestrutura e educação

em saúde nos últimos anos, porém ainda apresenta uma disparidade entre suas

regiões. Na Região Sudeste, 82,3% das residências apresentam adequadas

condições sanitárias, enquanto que na região Norte, esse quadro se apresenta

em apenas 22,4% das residências (COELHO et al., 2017).

Estudos vêm relacionando o nível de educação dos pais, em especial a

mãe, com a presença das parasitoses nas crianças. Isso se justifica em estudo

de Machado et al. (1999) que relacionaram a maior frequência de giardíase em

famílias cujos pais possuíam do 1ª grau completo pra baixo. Sob essa ótica

Quihui et al. (2006), em um estudo realizado em grupos de Oaxaca e Sinaloa,

México, também relacionou o nível educacional com a transmissão da

parasitose. Em ambos estudos, o baixo nível educacional dos pais apresentou

alto risco de infecção para as crianças. Nobre et al. (2013) observaram que a

presença da mãe em casa permite que as crianças sejam mais bem cuidadas,

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tanto em termos de saúde quanto de nutrição, pois inclui as boas práticas de

higiene pessoal e alimentar dessas crianças.

No estudo de Machado et al. (1999) foi evidenciado que a giardíase teve

frequência entre aqueles que consumiam hortaliças de sua própria horta ou de

uma horta rural muito próxima a cidade estudada, Mirassol, em São Paulo, Brasil.

Sobre esse fato, pode-se justificar pelo uso da água não tratada na irrigação

dessas hortas, pois, uma vez que não são cloradas, cistos de G. duodenalis

tendem a resistir.

A relação da faixa salarial e a giardíase demonstra a presença do

protozoário na população de baixa renda, como mostra o estudo de Machado et

al. (1999). Porém, também foi demonstrado nesse estudo que famílias de renda

elevada também apresentam casos de giardíase, uma vez que consomem maior

número de hortaliças.

Com objetivo de investigar a prevalência de infecção por Giardia lamblia

em pacientes com síndrome do intestino irritável e dispepsia, Grazioli et al.

(2006) avaliaram amostras de 137 pacientes, por meio da pesquisa direta do

parasito nas amostras de biópsia de duodeno, exames histológicos da biópsia e

métodos parasitológicos, como método de formaldeído-éter, seguido de

microscopia, técnica de imunocromatografia e também o ensaio

imunoenzimático direto. Do total, 9 (6.5%) apresentavam G. lamblia. O exame

direto no duodeno e a microscopia apresentaram concordância em todos os

pacientes positivos para G. duodenalis, enquanto que a avaliação histológica da

biópsia foi positiva em apenas dois casos, com sensibilidade e especificidade de

22,2% e 100%, respectivamente. Dos positivos, nenhum apresentavam sintomas

específicos de giardíase. Além disso, como observado nesse estudo, pacientes

com outros distúrbios gastrointestinais poderiam sobrepor os sintomas de outra

doença. No entanto, a prevalência de giardíase naqueles que possuíam

síndrome do intestino irritável e/ou dispepsia foi intimamente relacionada como

causa dessas doenças.

Lima Júnior, Kaiser e Catisti (2013) avaliariam 29 amostras da comunidade

“Araras 2”, em Araras, SP. Todas as amostras foram processadas pelas técnicas

de Lutz e Faust et al. Os autores observaram que G. intestinalis foi o parasito

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mais frequente, com 96,6% de positividade. No que diz respeito às informações

recuperadas com o questionário socioeconômico demográfico dos pais e/ou

responsáveis, os mesmos alegaram ter completado a educação básica. Nesse

estudo, foram analisadas as condições habitacionais da população em questão,

no qual 41,37% das casas eram de lona e apenas 34,48% recebiam água,

enquanto 62,06% possuíam eletricidade. Maior parte do lixo não era coletado,

mas queimado no jardim ou depositado em beira de rio. As famílias não

cultivavam vegetais em suas casas e 86,2% possuíam animais domésticos,

sendo 75,86% eram vacinados e 20,68% viviam fora de casa. Dentre os animais,

86,2% eram cães, 13,79% cavalos, 6,89% gatos e 3,44% dividiam-se em vacas,

porcos e galinhas.

Ferraz et al. (2014) realizaram um estudo com crianças de 2 a 12 anos de

idade atendidas em laboratórios vinculados ao serviço de saúde pública de

Timon (MA) e Macapá (AM). As amostras foram coletadas por três dias e

processadas pelo método de Hoffman et al. Giardia lamblia esteve entre os

parasitos mais prevalentes no estudo, com positividade de 50,5% (880/1745).

Segundo os autores, a evidência de parasitos pode ser associada a problemas

como a poluição da água e dos alimentos, o não tratamento de esgoto e a falta

de educação em saúde como medida de prevenção às parasitoses. Prado et al.

(2003) identificaram como fatores de risco em Salvador, BA o número de

crianças no domicílio com menos de cinco anos; lixo não coletado da casa;

presença de esgoto visível nas proximidades e ausência de banheiro.

Mori et al. (2016) em um estudo com 1996 escolares, de cinco a 15 anos

de idade, da rede municipal de ensino de Cambé, PR, revelaram que 86,9% dos

positivos eram de zona urbana, e 13,1%, de zona rural, sendo encontrados 464

amostras positivas, das quais 128 (6,4%) positivas para Giardia duodenalis.

Nesse estudo, as amostras foram processadas pela técnica de Faust et al.,

sendo uma técnica de centrífugo-flutuação em sulfato de zinco e pela técnica de

Hoffman, Pons e Janer, também conhecida como técnica de sedimentação

espontânea. Na população estudada também foram avaliados dados de

saneamento básico, cuja prevalência está associada a esses fatores. Como

resultado, 4,3% das crianças não possuíam água tratada, 0,5% não utilizavam a

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rede pública de esgoto e 11,5% não possuíam privadas em casa. Como atividade

de lazer, 10,2% das crianças frequentavam córregos.

Um estudo transversal de Hurtado-Guerrero, A., Alencar e Hurtado-

Guerrero, J. (2005) envolveu 81 pessoas idosas do munícipio de Nova Olinda do

Norte, Amazonas. Nesse, demonstrou-se um grau de monoparasitismo em

43,2% dos idosos, seguido de biparasitismo (23,5%) e poliparasitismo (6,2%),

com maior frequência em idosos na faixa de 60 a 69 anos (83,3%). Giardia

lamblia foi detectada em 6 casos (6,8%). O aparecimento de parasitoses nesses

idosos pode estar relacionada com as tarefas domesticadas praticadas por eles,

como cultivo de hortas caseiras e limpeza do quintal, por exemplo.

Visando estudar a variação em 35 anos da prevalência de enteroparasitos

em escolares de Caxias do Sul, RS, Basso et al. (2008) avaliaram 9.787

amostras fecais por meio da técnica de centrífugo-sedimentação. Giardia lamblia

apresentou positividade em 24% do total, notando que não houve diferença

significativa na prevalência de giardíase durante os anos estudados.

A transmissão de G. duodenalis também foi reportada em homens que se

relacionam com homens, bem como em relações oral-anal, como mostra o

estudo de Meyers, Kuharic e Holmes (1977). William et al. (1978) relataram que

12% (11/27) dos homens que fazem sexo com homens, atendidos por um projeto

de saúde, de cinco bairros de Nova York, EUA, estavam parasitados por Giardia

duodenalis.

A ocorrência de giardíase na gestação pode comprometer a amamentação.

Por outro lado, a amamentação reduz a infecção por Giardia lamblia, pois tanto

o colostro quanto o leite materno apresentam células do sistema imune capazes

de lutar contra o protozoário (PEREIRA et al., 2018).

O estudo de Machado et al. (2018) teve como objetivo investigar a

ocorrência de enteroparasitos em indivíduos que tinham diabetes tipo 1 e tipo 2

em Taguatinga, DF. Giardia lamblia obteve positividade em 16% do total de

indivíduos com diabetes, sendo o parasito mais detectado em pacientes com

diabetes do tipo 2, seguido de Ascaris lumbricoides. O estudo demonstrou que

pacientes com diabetes do tipo 1 (62%) eram menos parasitados que os com

tipo 2 (78%), podendo estar relacionado com a resposta imune.

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A prevalência dessa parasitose varia de acordo com diversos fatores, tais

como a área geográfica, o grupo em estudo, a sensibilidade quanto aos métodos

de diagnóstico e a acessibilidade à ajuda médica (ESCOBEDO et al., 2010).

Países subdesenvolvidos apresentam elevada prevalência e incidência. Certas

áreas do mundo apresentam relatos de infecção associadas a viagem,

constatando um parasitismo em turistas determinado por um quadro conhecido

como diarreia do viajante (ADAM, 2001).

Feng e Xiao (2011), em revisão sobre o tema, relataram que cistos do

parasito permanecem infectantes por 56 dias em temperaturas de 0ºC a 4ºC e

por 14 dias em temperaturas de 20ºC a 28ºC. Ainda nesse estudo, foram

encontrados resultados similares em água de rio, mostrando viabilidade dos citos

por 56 dias a 0ºC a 4ºC e por 28 dias a 17ºC a 20ºC. Se expostos a temperaturas

elevadas no meio externo, os cistos podem sofrer dissecação, mas podem ser

viáveis por vários meses, desde que haja condições satisfatórias de umidade e

clima, como ser mais ameno (PEDROSO & AMARANTE, 2006).

O tratamento convencional de água inclui processos como: coagulação,

floculação, sedimentação, filtração e desinfecção. No estudo de Betancourt e

Rose (2004) foi relatado os processos de tratamento para remoção de cistos de

G. duodenalis da água. Foi constatado que os cistos de G. duodenalis são

resistentes a desinfetantes, como cloro, rotineiramente usado para tratamento

de água. Sendo assim, o método mais indicado para remoção de cisto desse

parasito na água é por meio da filtração (PEDROSO & AMARANTE, 2006).

O decréscimo da taxa de giardíase conforme a idade da pessoa aumenta,

tanto nas instituições públicas quanto privadas, pode ser explicada pelo aumento

da resistência imuno-mediada, uma vez que foi adquirida em função de

exposição sucessiva ao parasito, bem como a higiene pessoal que se torna mais

efetiva à medida que a criança cresce (MACHADO et al., 1999).

Intervenções na saúde pública, bem como provisão de água limpa,

educação em saúde que englobe toda comunidade, higienização de alimentos e

manter boas condições higiênico-sanitárias são fundamentais para o controle da

parasitose (ZEMENE & SHIFERAW, 2018).

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2.7.1. Giardíase em Crianças de Creche

A creche, em período integral ou parcial, vem se tornando uma realidade

em consequência das transformações socioeconômicas ocorridas nas últimas

décadas, caracterizada por maior inserção da mulher no mercado de trabalho.

Os pré-escolares constituem uma parcela vulnerável à aquisição de doenças,

devido, sobretudo, a imaturidade do sistema imune. Nesse viés, crianças que

frequentam creches apresentam taxas de morbidades maiores do que as

cuidadas exclusivamente em casa, em especial a enteroparasitoses (PEDRAZA,

QUEIROZ & SALES, 2014; GURGEL et al., 2005; BARROS, HALPERN &

MENEGON, 1998). As doenças infecciosas são as mais prevalentes, podendo

associar-se a desnutrição, principalmente entre crianças menores de 24 meses

(FISBERG, MARCHIONI & CARDOSO, 2014), constituindo um sério problema

de saúde pública (TORRES et al., 1991). As infecções causadas por parasitos

passaram a representar um importante problema no contexto das creches, por

ocasionar danos no desenvolvimento físico e mental na infância (FRANCO &

CORDEIRO, 1996), irritabilidade, dentre outras alterações psicológicas, estando

diretamente associada à carga parasitária no indivíduo (BATISTA, TREVISOL,

F. & TREVISOL, D., 2009). As crianças são mais susceptíveis às infecções

parasitárias intestinais por apresentar hábitos higiênicos não consolidados,

encontrarem-se em fase de oralidade, no qual qualquer objeto é levado à boca

e por apresentarem o sistema imune em fase de crescimento e desenvolvimento

(BATISTA, TREVISOL, F. & TREVISOL, D., 2009). Estima-se que 55,3% das

crianças no Brasil apresentam infecção por enteroparasitos (PEDRAZA,

QUEIROZ & SALES, 2014).

Em locais como creche, o grande contato interpessoal entre criança-

criança, criança-adultos e criança-espaço escolar, aumenta a predisposição e a

vulnerabilidade destas a adquirirem e desenvolverem infecções gastrointestinais

(ANDRADE, SÁ & BEZAGIO, 2017).

Na Colômbia, Londoño, Mejía e Gómez-Marín (2009), ao avaliarem a

prevalência de parasitismo intestinal de crianças de creche de Calarcá e sua

relação com fatores de risco sociodemográficos, de saneamento e práticas de

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higiene, obtiveram positividade de 13,2% por Giardia duodenalis, entre outros

protozoários e helmintos. Os principais fatores de risco associados a presença

de parasitos intestinais foram: idade maior que 2 anos, ter irmãos, alimentar-se

de comidas diferentes do leite materno e não tratar animais de estimação que

possuíam parasitos.

Em Cuba, o estudo de Cañete et al. (2012) demostrou que mesmo com o

governo implementando melhorias nas condições socioeconômicas, na saúde,

no saneamento básico e no abastecimento de água, algumas infecções

parasitárias, em especial por protozoários, ainda são causas de mortalidade,

envolvendo os grupos de maior risco, como crianças de creche e de idade pré-

escolar, principalmente de áreas rurais. Os autores avaliaram a prevalência de

parasitos intestinais em 104 crianças de creche, com idade entre 6 meses a 5

anos, em Matanzas, pelas técnicas de Ritchie e Kato-Katz. G. duodenalis foi um

dos parasitos mais frequentes, com 54,8% de prevalência. Beber água não

filtrada, comer frutas não lavadas e levar as mãos a boca foram associados como

importantes fatores de riscos para infecção por parasitos.

Del Pino (2016), no Peru, com objetivo de determinar a prevalência de

parasitoses em crianças de idade pré-escolar e escolar em Celedín - Cajamarca,

pela técnica de sedimentação espontânea, detectou 90,6% (87/96) de

positividade para enteroparasitos. G. duodenalis foi evidenciado em 9,4% das

crianças, tendo uma baixa prevalência. Também foi relatada positividade para

outros protozoários como Blastocystis sp., Iodamoeba butschii, Endolimax nana

e helmintos como Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis. O

poliparasitsimo foi encontrado em 60,4% das crianças, enquanto o biparasitismo,

triparasitismo e tetraparasitismo 31,3%, 26,0% e 3,1%, respectivamente.

Na Colômbia, Bouwmans et al. (2016) estudando 239 crianças de creche

de bairros vulneráveis de Bogotá detectaram, pela técnica de Ritchie, frequência

de 26,4% para enteroparasitos, sendo G. duodenalis (15,1%) o parasito mais

evidenciado. Helmintos como T. trichiura (2,1%), A. lumbricoides (1,3%) e H.

nana (1,7%) foram evidenciados em baixa frequência. A presença de parasitos

intestinais foi associada a quatro fatores de risco: morar com irmãos abaixo de

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cinco anos, grande número de pessoas habitando a mesma casa, contato com

cães não domiciliados e sexo das crianças (meninas sob maior risco).

Na Argentina, Cabrera et al. (2017) avaliaram, pela técnica de Ritchie, a

prevalência de enteroparasitoses em crianças, de 6 meses a 5 anos de idade,

dos Centros de Atenção à infância e família, em Montevideo, com taxa de adesão

de 54,9% (317/577). Foi observada positividade em 30,6% (97), com presença

de G. duodenalis em 18,6% (59) das crianças, sendo o parasito mais encontrado.

Houve poliparasitismo em 22 (6,6%) crianças, com presença também de

helmintos, como Ascaris lumbricoides e Enterobius vermicularis.

No Brasil, Torres et al. (1991), analisando a frequência e distribuição de

infecção por G. lamblia em 3076 crianças de 0 a 6 anos, de 52 creches mantidas

pela Prefeitura do Município de São Paulo, nos anos 1982 e 1983, obtiveram

positividade de 32,8% entre as crianças e 4% (2/50) entre os funcionários. As

amostras foram processadas pelo método de sedimentação espontânea e o

exame direto também foi realizado para as fezes que apresentavam pouca

consistência. O meio mais provável de transmissão de infecção foi de pessoa a

pessoa, uma vez que as crianças constituem as fontes prováveis de

disseminação da parasitose.

Cardoso, Santana e Aguiar (1995) realizaram levantamento da prevalência

de giardíase entre crianças na faixa etária de 2 a 5 anos que frequentavam duas

creches de Aracaju, SE, com diferentes níveis socioeconômicos. Trinta amostras

de crianças foram analisadas pelas técnicas de centrífugo-flutuação em solução

de sulfato de zinco a 33% (técnica de Faust et al.) e centrífugo-sedimentação em

formol-éter (técnica de Ritchie) em ambas creches. A prevalência de G. lamblia

observada na creche com nível socioeconômico elevado foi de 50% (15

crianças), enquanto que na creche com nível socioeconômico baixo foi de 63,3%

(19 crianças). Foram apresentados como possíveis fatores de risco na creche de

nível socioeconômico elevado o hábito de ingerir hortaliças e para a creche de

baixo nível socioeconômico o abastecimento de água não potável, destino

inadequado do lixo, hábito de ingerir hortaliças e dormitório coletivo.

Franco e Cordeiro (1996) avaliaram a prevalência de Giardia duodenalis

em 310 crianças de 2 a 60 meses de idade de oito creches no município de

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Campinas-SP. As amostras foram processadas pelas técnicas de Ritchie e pela

técnica de centrífugo-sedimentação em éter com PBS, sendo obtida positividade

em 14,5%, sem diferença estatística significativa entre os sexos, com maior taxa

de positividade nas crianças com 19 a 24 meses de idade.

Em Niterói, RJ, crianças e funcionários de cinco creches comunitárias

foram estudadas por Uchôa et al. (2001), sendo obtido taxa de adesão de 64,1%

(218/340) para crianças e de 79,6% (43/54). As amostras foram processadas

pelas técnicas de Faust et al. (1938), Lutz (1919) e Baermann & Moraes (1948),

sendo obtida positividade em 120 (55%) crianças, sendo Giardia duodenalis o

parasito mais frequente (38,3%), seguido por Entamoeba coli (26,6%),

Endolimax nana (17,5%), Entamoeba histolytica (11,6%) e Blastocystis hominis

(2,5%). E. coli foi o parasita mais frequente entre os funcionários. Entre os

helmintos o mais frequente foi Ascaris lumbricoides (30%) seguido por Trichuris

trichiura (26,6%), Hymenolepis nana (0,8%) e Enterobius vermicularis (0,8%).

Dentre as 120 amostras positivas, 106 foram diagnosticadas por Faust e cols e

100 pelo Lutz.

Matos et al. (2008) estudaram a infecção por G. duodenalis em 629 pré-

escolares de Salvador, BA, utilizando a técnica de sedimentação espontânea e

obtiveram positividade de 13,5% para G. duodenalis, sendo o parasito mais

frequente Ascaris lumbricoides (23,1%). Poucas famílias não tinham acesso a

água encanada, porém quase metade não possuía sistema de esgoto adequado.

Foi observado que as mães possuíam baixa escolaridade e a grande maioria

amamentou seus filhos por menos de seis meses. As crianças que possuíam

giardíase apresentavam déficit no peso 1,8 vezes maior que em uma criança não

parasitada, independentemente de aleitamento materno.

Batista, Trevisol F. e Trevisol D., (2009) avaliando 75 crianças de uma

creche filantrópica de Santa Catarina evidenciaram, utilizando as técnicas de

Lutz, Ritchie e exame direto, positividade em 29,3%, sendo o parasito mais

frequente Giardia duodenalis (18,7% - 14/75). Os autores relataram que pais ou

responsáveis apresentaram baixas condições socioeconômicas, porém tal

variável não apresentou relação significativa com a positividade para parasitos.

Foram apontados como fatores de risco o contato com solo, areia e com animais,

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sendo evidenciada associação significativa entre infecção por Giardia duodenalis

e contato com cães. Outros parasitos detectados foram Ascaris lumbricoides em

uma criança, três com Blastocystis sp. e um com Endolimax nana. Co-infecção

entre Ascaris lumbricoides e Endolimax nana, Entamoeba hystolitica e

Endolimax nana, e Entamoeba coli e Endolimax nana foram evidenciadas em um

caso cada.

Uchôa et al. (2009) analisaram amostras fecais de 372 crianças e 57

funcionários de oito creches comunitárias do município de Niterói, RJ. A taxa

média de adesão foi de 62,9% entre as 591 crianças e de 46,7% dos 122

funcionários. Nesse estudo, as amostras foram processadas pelas técnicas de

Faust et al. (1938), Lutz (1919) e Baermann & Moraes (1948). Giardia duodenalis

foi o protozoário mais frequente, representando um total de 123 positivos,

seguido de Entamoeba coli, positiva em 32 amostras. Helmintos como Ascaris

lumbricoides e Trichuris trichiura também foram encontrados, com 33 e 21

amostras positivas, respectivamente. Os autores também relataram

poliparasitismo em 53 crianças, com associação mais frequente ocorrendo entre

G. duodenalis e E. coli, A. lumbricoides e T. trichiura.

Prado et al. (2003) analisaram os fatores de risco associados a infecção

por G. duodenalis em 694 crianças com diarreia em Salvador, BA. Foram

identificados quatro fatores de risco, sendo eles: o número de crianças com idade

menor que 5 anos, que moram numa mesma casa, ausência de coleta de lixo,

presença de esgoto a céu aberto próximo a residência e ausência de banheiro,

sendo a presença deste último considerado um fator protetor por representar

maior status socioeconômico ou maior consciência de higiene, ao invés das

vantagens higiênicas do vaso sanitário.

Nobre et al. (2013) avaliaram 214 crianças, com média de idade de 4,9

anos, em Diamantina, MG para identificar a prevalência de parasitos intestinais,

por Lutz e Baermann-Moraes e os fatores de riscos que poderiam estar

associados a infecção. Foi evidenciada positividade em 59 crianças (27,5%), das

quais 14 (23,7%) estavam com dois ou mais parasitos. Desses, G. lamblia

apresentou positividade em 29% das crianças, sendo o segundo protozoário

mais frequente. Ascaris lumbricoides e Trichuris trichiura foram detectados em

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39% e 2% respectivamente. A baixa renda per capita da família apresentou

significativa associação com o aumento do risco de apresentar infecção por

parasito intestinal, bem como o fato da mãe trabalhar fora de casa. Nesse

estudo, a pobreza foi o maior preditor para presença de parasitos intestinais em

crianças de creche, uma vez que, usualmente, encontra-se associada à precária

higiene pessoal e de alimentos, não lavagem de mãos antes de comer, famílias

muito grandes, condições ambientais inadequadas e pequena cobertura de rede

de esgoto.

Delfino et al. (2016) descreveram os determinantes socioeconômicos e

ambientais para infecção por parasitos intestinais numa população de crianças

menores de cinco anos, residentes em áreas urbanas de Assis Brasil, AC, entre

os anos 2003, 2010 e 2011, pela técnica de centrífugo-sedimentação. Giardia

duodenalis foi o protozoário mais frequente em todos os anos estudados, com

prevalência de 18%, 16,5% e 23,06% nos anos de 2003, 2010 e 2011

respectivamente. Dentre os helmintos, Ascaris lumbricoides foi evidenciado em

9,9% em 2003, 4,5% em 2010 e 5,5% em 2011. As crianças maiores de dois

anos foram as mais propensas a terem giardíase, sendo a idade um fator de

risco para giardíase presente em todos os anos estudados. Os fatores de risco

que se associaram à presença de giardíase foram: não possuir água fornecida

pelo governo em suas casas, saneamento básico precário, baixa renda familiar

e o baixo nível educacional das mães. No período do estudo foram realizadas

mudanças socioeconômicas e no ambiente, as quais determinaram redução das

helmintíases, porém não interferiram na prevalência de giardíase.

Oliveira-Arbex et al. (2016) ao estudar prevalência de giardíase em

crianças de 0 a 6 anos, de Botucatu, SP, por técnica de centrifugação e

centrífugo flutuação com sulfato de Zinco observaram positividade para

enteroparasitos em 40,6% (50/123), das quais 21,9% apresentaram G.

duodenalis. Também foram detectados parasitos como Entamoeba coli,

Blastocystis sp., Enterobius vermicularis e Ascaris lumbricoides. Todos os 14

funcionários estudados foram negativos pela microscopia.

Zamproni et al. (2017) em 57 crianças de centro de Educação Infantil

Municipal (CMEI) de Rondonópolis, MT evidenciaram positividade em 10

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(17,54%), sendo Giardia duodenalis detectada em 7 crianças, por técnicas de

sedimentação espontânea. Já em João Pessoa, PB, Silva et al. (2018) avaliaram

67 amostras fecais de crianças de creche, e demonstraram pela técnica de Lutz

positividade em 37 (55,2%), sendo Giardia duodenalis detectada em 11 (17,7%)

crianças.

Em Ribeirão Preto, SP, a avaliação parasitológica em amostras fecais de

32 crianças de dois a seis anos, de uma instituição filantrópica, com objetivo de

avaliar a prevalência de Cryptosporidium spp. e Giardia spp e outros

enteroparasitos, demonstrou positividade em 62,5% das amostras por técnicas

parasitológicas microscópicas e imunológicas, com elevada frequência de

Cryptosporidium spp. (31%) e Giardia spp. (25 %), sendo a idade de 3 a 4 anos

a mais acometida por esses microrganismos (Dias et al., 2018).

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3. OBJETIVOS

3.1. Objetivos gerais

Analisar a frequência de infecção por Giardia duodenalis em crianças de creche

em Petrópolis.

Comparar os resultados das técnicas utilizadas para o diagnóstico da giardíase.

3.2. Objetivos específicos

Identificar a frequência da parasitose por técnicas parasitológicas por

microscopia.

Identificar a frequência da parasitose por técnica imunológica.

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4. JUSTIFICATIVA

Giardia duodenalis é um protozoário que infecta uma grande diversidade

de hospedeiros, dentre eles o ser humano. Nesse último, apresenta maior

prevalência entre indivíduos imunocomprometidos, crianças e idosos

determinando casos de diarreia, podendo interferir na qualidade de vida,

principalmente de crianças.

No Brasil foram encontrados poucos estudos em crianças de creche e

nenhum na cidade de Petrópolis. Mediante a importância desse parasito para a

população infantil, em especial de creches, faz-se necessário analisar a

frequência desse parasito em creches desse município. este estudo justifica-se.

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5. MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi realizado em duas creches, CEI Vila São José e CEI Vila

Leopoldina, localizadas em Petrópolis, Rio de Janeiro. No período de agosto a

setembro de 2018, foram convidados a participar do estudo crianças e

funcionários das duas creches. A creche Centro de Educação Infantil Vila São

José localizava-se no bairro Centro. Na mesma, haviam 47 crianças e 19

funcionários e atendia crianças residentes na área urbana. A creche Centro de

Educação Vila Leopoldina haviam 37 crianças e 14 funcionários e situava-se no

distrito Pedro do Rio, atendendo a crianças de uma comunidade de periferia

residente na margem de um rio. Todos os funcionários e crianças das creches

foram convidados a participar do estudo. O aceite de participação no projeto foi

voluntário, sendo as crianças representadas por seus pais e/ou responsáveis em

caso de menores de 18 anos, mediante assinatura do termo de consentimento

livre e esclarecido (TCLE). A diretora de cada creche foi contatada e foi

convidada a assinar o Termo de Autorização, permitindo a execução do projeto.

Foi solicitada autorização para apresentação do projeto aos pais e/ou

responsáveis em reunião, sendo os interessados convidados a assinarem o

TCLE. Estes receberam a orientação de coleta de amostras e os potes coletores.

Aos funcionários e aos pais e/ou responsáveis das crianças, foi entregue

neste mesmo dia um questionário epidemiológico, para o levantamento dos

aspectos socioeconômicos e culturais e identificação dos saberes e práticas.

Estes foram ser preenchidos pelo próprio ou com auxílio de um dos membros da

equipe e devolvido junto com o TCLE assinado, no momento da sensibilização.

O projeto foi explicado para cada criança e foi solicitada consentimento de

participação por meio da assinatura do Termo de Assentimento, via coleta de

impressão digital.

5.1. Coleta das Amostras

As amostras fecais foram recolhidas pelo responsável pela criança na

residência ou pelo funcionário da creche sendo entregue na Instituição, seguindo

cronograma estabelecido junto com a equipe. As amostras foram

acondicionadas em recipiente isotérmico e transportadas até o Laboratório de

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Bioagentes Ambientais do Instituto Biomédico da Universidade Federal

Fluminense. A coleta múltipla de amostras, em diferentes dias se justifica, pois,

esse procedimento aumenta a eficácia do diagnóstico (CARTWRIGHT, 1999;

MELLO, ROCHA & MOREIRA, 2000).

Foram incluídos no estudo crianças com idades entre 6 meses e 3 anos e

11 meses que estavam matriculadas nas creches participantes, devidamente

autorizadas pelos responsáveis.

Os resultados obtidos foram entregues para os pais e/ou responsáveis em

laudo individual e para a Instituição em relatório geral. Ao término da

identificação dos parasitos circulantes, os resultados foram apresentados a

comunidade em reunião a ser agendada, sendo também divulgadas informações

sobre as enteroparasitoses detectadas e sua prevenção.

5.2. Processamento das amostras

As amostras fecais recebidas foram homogeneizadas com 40 mL do

conservante Acetato de sódio-Ácido Acético-Formaldeído (SAF). As amostras

foram processadas, em pool, pelas técnicas de Ritchie modificada por Young et

al. (1979), Faust et al. (1938) e Lutz (1919). A utilização simultânea de técnicas

com diferentes fundamentos tem como o objetivo de aumentar a acurácia

diagnóstica e, consequentemente, diminuir os resultados falso-negativos

(MELLO, ROCHA & MOREIRA, 2000; CERQUEIRA & BARRETO, 1993; NUNES

et al., 1993; SANTOS et al., 1984).

As amostras de dois dias alternados foram homogeneizadas e misturadas

com água destilada. Após a dissolução do material fecal, a solução foi filtrada

em gaze sobre tamiz em um cálice de fundo cônico. O filtrado foi homogeneizado

e aliquotado em tubos de centrífuga de fundo cônico de 15 mL para a realização

das técnicas conforme listado abaixo:

• 7 mL do filtrado para a técnica de Ritchie (1948) modificada por Young

(1979);

• 15 mL do filtrado para a técnica de Faust et al. (1938);

• 10 mL filtrado foi mantido no cálice para a técnica de Lutz (1919).

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O volume de 15 mL da suspensão de fezes em água, obtida no pré-

processamento das amostras, foi transferida para tubo de centrífuga de fundo

cônico de 15 mL. Esse material foi centrifugado por 10 minutos a 1500 R.P.M. O

sobrenadante foi descartado e 500 microlitros do sedimento foram

acondicionados em microtubos tipo eppendorf, congelados em freezer a –20ºC

e foi posteriormente processado por técnica imunoenzimática para pesquisa de

antígenos de Giardia sp. Após todo o processamento laboratorial as amostras

foram descartadas em hipoclorito 2,5%.

5.3. Técnica de Faust et. al (1938)

Consiste em uma técnica de centrífugo-flutuação de formas evolutivas de

parasitos utilizando solução de sulfato de Zinco P.A com densidade de 1.180

kg/m³. A técnica é indicada para pesquisa de formas evolutivas de parasitos

leves como cistos/oocistos de protozoários e ovos de pequeno e médio peso de

helmintos.

A amostra foi depositada em tubo plástico de centrífuga de fundo cônico

de 15 mL. O tubo foi submetido à centrifugação por 1 minuto a 2500 R.P.M. Após

esta etapa, o sobrenadante foi descartado e o sedimento foi suspenso em 15 mL

de água destilada. Após homogeneização, foi realizada nova centrifugação a

2500 R.P.M. durante 1 minuto, seguido por descarte do sobrenadante e

suspensão em água destilada. Este procedimento foi repetido até que o

sobrenadante se tornasse translúcido.

Ao fim da lavagem, o sobrenadante foi descartado e o sedimento foi

suspenso em 7 mL de solução de sulfato de zinco – ZnSO4 . 7 H2O (VETEC®)

de densidade 1,180 g/mL. A amostra foi centrifugada a 2500 R.P.M. por 1 minuto.

O tubo foi retirado com cuidado da centrífuga, sendo coletada a película de

flutuação com auxílio de uma alça de platina em ângulo de 90º e foi transferida

para a superfície de uma lâmina de microscopia, sendo coberta com lamínula

(tamanho 22x22 mm) após quatro alçadas. A leitura foi realizada em microscópio

óptico Olympus® BX 41 em aumento de 100x e confirmação em aumento de

400x.

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5.4. Técnica de Lutz (1919)

Essa técnica consiste na sedimentação espontânea de formas evolutivas

de parasitos intestinais, priorizando a detecção de formas evolutivas de maior

densidade, tais como ovos de média e grande densidade e larvas, em cálice de

fundo cônico.

Parte da suspensão fecal, equivalendo a cerca de 10 mL, foi mantida no

cálice após homogeneização e filtração, sendo adicionada água destilada. O

material foi coberto com filme de policloreto de polivinila (PVC) transparente e foi

deixado em repouso por 24 horas.

Após esse período, parte do sedimento foi coletado com pipeta

descartável do tipo Pasteur primo utilizada, sendo depositado uma gota do

material sobre uma lâmina de microscopia. O material foi coberto por uma

lamínula (24 x 32 mm). A leitura foi realizada em microscópio óptico Olympus®

BX 41 em aumento de 100x e confirmação em aumento de 400x.

5.5. Técnica de Ritchie (1948) modificada por Young (1979)

Consiste em uma técnica de centrífugo-sedimentação. É indicada para

pesquisa de ovos de helmintos de pequena e média densidade e cistos de

protozoários. Nessa técnica utilizou-se o acetato de etila, que tem a importante

função de limpar o sedimento, por diminuir a gordura presente nas fezes.

O volume de 7 mL da suspensão fecal em água destilada foi transferido

para um tubo de centrifuga de 15 mL de fundo cônico. Foi adicionado 3 mL de

Acetato de Etila PA (VETEC®) e uma gota de detergente neutro (Ypê ®), sendo

a amostra homogeneizada por inversão. O material foi centrifugado a 2.000

R.P.M. por 2 minutos.

Em seguida, o sobrenadante foi descartado e foi adicionado água

destilada até o volume de 7 mL. O material foi homogeneizado e submetido a

centrifugação por 2 minutos, a 2.000 R.P.M. Após esse processo, o

sobrenadante foi descartado e coletou-se parte do sedimento com auxílio de uma

pipeta do tipo Pasteur descartável primo utilizada. Uma gota do sedimento foi

depositada sobre uma lâmina de microscopia, sendo acrescido uma gota de

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água destilada como preconizado por Carvalho et al. (2002). O material foi

coberto com uma lamínula 24x32 mm. A leitura foi realizada em microscópio

óptico Olympus® BX 41 em aumento de 100x e confirmação em aumento de

400x.

5.6. ELISA

O volume de 500 µl do sedimento foi acondicionado em microtubos tipo

eppendorf de 2 mL, congelados em freezer a –20ºC. Posteriormente, as

amostras foram processadas por técnica imunoenzimática (ELISA) para

pesquisa de antígenos de Giardia (IVD Research inc. Lot LN1337 ref GL2-96). A

técnica foi realizada seguindo orientações do fabricante, sendo lidas em leitor de

ELISA (Thermoplate –Theader®) com comprimento de onda de 450 nm,

diferencial de 620 nm. O valor referencial de absorbância para definição de

positividade foi maior que 0,08 DO. Após todo o processamento laboratorial as

amostras foram descartadas em hipoclorito 2,5%.

5.7. Comitê de ética e análise estatística

Este trabalho faz parte do projeto “Parasitoses intestinais em crianças de

creche”, o qual foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade

Federal Fluminense CAAE 89858418.1.0000.5243, tendo obtido parecer

favorável em 11 de julho de 2018, sob número 2.766.913 (Anexo 1).

Os resultados obtidos foram analisados de forma descritiva. A associação

entre fatores de risco e a positividade foi analisada pelo teste de Fischer, com

intervalo de confiança de 95%. A concordância entre as técnicas foi avaliada por

meio do índice de concordância de Kappa (κ) (Quadro 2).

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Quadro 2: Valores de referência para interpretação do valor de Kappa (κ)

κ CONCORDÂNCIA

< 0,00 0,00 – 0,21 0,21 – 0,41 0,41 – 0,61 0,61 – 0.81 0,81 – 1,00

Sem concordância Fraca

Ligeiramente fraca Moderada

Substancial Quase perfeita (excelente)

Fonte: Landis J.R. e Koch G.G. The measurement of observer agreement for categorical data. Biometrics 1977; 33: 159-174.

Para análise da taxa de adesão, considerou-se como valores de referência

de 100% a 90% como excelente, de 89,9% a 70 como muito boa, de 69,9% a

50% boa e 49,9 % a 30% regular e abaixo de 29,9% como fraca. Esses

parâmetros foram desenvolvidos pelo autor devido à falta de referência na

literatura utilizados por falta de referência na literatura para avaliação desse

parâmetro.

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6. RESULTADOS

A adesão ao estudo mediante assinatura do TCLE foi de 42,9% (36/84) entre

as crianças e de 45,5% (15/33) entre os funcionários, sendo ambas consideradas

como regular. Foi observada diferença entre a taxa de adesão por categoria

entre os dois Centros de Educação Infantil, sendo as taxas de adesão do CEI do

Centro regular tanto para funcionários como para crianças e do CEI de Pedro do

Rio boa para ambas as categorias de participantes. O total de participantes de

cada instituição por categoria estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1: Adesão de crianças e funcionários ao diagnóstico de parasitos intestinais de duas creches de Petrópolis RJ

CEI Crianças Funcionários

Total Participantes Total Participantes

Centro 47 12 (33,3%) 19 6 (31,6%) Pedro do Rio 37 24 (64,9%) 14 9 (64,3%)

Total 84 36 (42,9%) 33 15 (45,5%) CEI – Centro de Educação Infantil

Giardia duodenalis foi evidenciado em 8,3% (3/36) das crianças, sendo

uma da Instituição localizada no Centro de Petrópolis e duas de Pedro do Rio.

Quanto a idade, duas crianças tinham três anos e uma quatro anos.

Considerando a faixa etária, entre as crianças participantes, a maioria

apresentou entre 1 ano a 2 anos e 11 meses e entre os funcionários de 30 a 39

anos e 11 meses (Tabela 2).

Tabela 2: Faixa etária dos participantes da pesquisa sobre enteroparasitos por técnicas parasitológicas microscópicas e ELISA de dois Centros de Educação Infantil de Petrópolis-RJ.

Faixa etária Positivos Negativos

(19,6%) 10 (7,8%) 4 3 ך 1 (19,6%) 10 (5,9%) 3 4 ך 3 (13,5%) 7 (3,9%) 2 6 ך 4

(5,9%) 3 0 30 ך 18 (1,9%) 1 (3,9%) 2 40 ך 30 (11%) 6 0 50 ך 40 (5,9%) 3 0 61 ך 50

Em relação às condições de vida, a maioria das crianças (75% - 27/36) vivia

em casa sem quintal ou com quintal de cimento sem jardim. Quanto ao grau de

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escolaridade das mães, a variação entre não letrado e Ensino Fundamental I

completo foi relatada por 8 participantes (22,2%). Ter cursado até o Ensino

Fundamental II incompleto representou 22,2%, enquanto Ensino Fundamental II

completo foi relatado por 13,8% (5/36), equivalendo a 58% (21/35) das mães

com graus de escolaridade entre o não letramento e o Ensino Fundamental II

completo, sendo observada maior heterogeneidade entre as mães das crianças

de Pedro do Rio (Tabela 3).

Quanto ao abastecimento de água das residências 20/36 (55,5%) relataram

vir de caixa de água central e quanto a destino de dejetos 22/36 (61,1%)

relataram despejo direto em rio. Quanto a água consumida na casa, 23/36 (64%)

informaram ser direto da torneira. A presença de manifestações clínicas que

poderiam ser associadas a parasitismo intestinal foi relatada em várias crianças,

havendo associação de sintomatologia em 5/36 (14%) crianças. A manifestação

clínica relatada com maior frequência foi dor de barriga em 15 crianças seguido

pela diarreia em 12 (Tabela 3). Foi observada maior frequência e variação entre

as manifestações clínicas entre as crianças de Pedro do Rio sem diferença

estatística entre as duas localidades considerando dor de barriga e diarreia.

Considerando as condições de moradia das crianças positivas para Giardia

duodenalis, todas residiam em casa com quintal de cimento e sem jardim, duas

tinham água canalizada da rede pública e duas não tinham acesso a rede de

esgoto, sendo os resíduos encaminhados direto para o rio Piabanha. Das três

crianças positivas, houve relato de consumo de água direto da torneira por duas.

O grau de escolaridade das mães das crianças positivas foi considerado como

baixo, uma vez que uma estudou até o nível do ensino fundamental I e as outras

duas tinham estudado até o Ensino Fundamental II, tendo uma das mães

concluído e outra não. Dentre as crianças positivas para G. duodenalis houve

relato de dor de barriga e diarreia em duas.

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Tabela 3: Perfil socioeconômico-ambiental das 36 crianças de dois Centros de Educação Infantil participantes do estudo sobre parasitoses intestinais, obtidas por meio de questionário, Petrópolis-RJ, 2018

Variável Característica CEI

Centro n=12

% CEI Pedro

do Rio n=24 %

Tipo de residência Casa sem quintal 3 25% 8 33,3% Casa com quintal terra batida 1 8,3% 4 16,7% Casa com quintal e jardim 0 0 3 12,5%

Casa com quintal cimento e sem jardim

8 66,7% 8 33,3%

Não informado 0 0 1 4,2%

Escolaridade Mãe Não letrado 0 0 1 4,2%

EFI incompleto 1 8,3% 1 4,2%

EFI completo 2 16,7% 3 12,5%

EFII incompleto 1 8,3% 7 29%

EFII completo 3 25% 2 8,3%

Ensino Médio incompleto 1 8,3% 4 16,7%

Ensino Médio completo 3 25% 2 8,3%

Superior incomp./comp. 1 8,3% 3 12,5%

Não informado 0 0 1 4,2%

Renda familiar Salário mínimo R$ 954,00

0 – 0,5 salário (477) 2 16,7% 5 21% 0,5 – 1,0 salário 3 25% 7 29% 1,0 – 2,0 salários 2 16,7% 6 25%

> 2,0 salários 4 33,3% 6 25%

Não informado 1 8,3% 0 0

Abastecimento de água

Rede Pública 4 33,3% 8 33,3%

Poço Artesiano 2 16,7% 0 0

Caixa d’água central 5 41,7% 15 62,5% Captação fonte natural 1 8,3% 0 0 Poço superficial 0 0 1 4,2%

Tipo de água consumida na residência

Direto da torneira 9 75% 14 58,4% Filtros domésticos 2 16,7% 8 33,3% Direto da fonte natural 1 8,3% 2 8,3%

Eliminação do esgoto da casa

Fossa seca 0 0 1 4,2%

Tubulação jogando em rio 7 58,3% 15 62,5%

Rede pública de esgoto 5 41,7% 8 33,3%

Número de moradores na casa

≤ 4 7 58,3% 12 50%

5-8 3 25% 10 41,7% 8-11 1 8,3% 2 8,3% Não informado 1 8,3% 0 0

Possui animal em casa

Sim 7 58,3% 18 75%

Não 5 41,7% 6 25%

Espécie de animal que possui

Cachorro 3 25% 12 50%

Gato 4 33,3% 9 37,5%

Outros 0 0 2 8,3%

Utiliza hortaliças cruas na alimentação

Sim 10 83,3% 10 41,7%

Não 2 16,7% 14 58,3%

Alterações intestinais nos moradores da casa

Dor na barriga 5 41,7% 10* 27,5%

Prisão de ventre 3 25% 3 8,3%

Coceira 3 25% 7 19,5%

Diarreia 3 25% 9** 25%

Vômito 1 8,3% 1 2,5% Não possui 2 16,7% 3 8,3% Não informado 2 16,7% 2 5,5%

EFI – Ensino Fundamental I (1 ao 5 ano de ensino) EFII – Ensino Fundamental II (60 ao 90 anos de ensino) *P=1,0, **P=0,7280

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Em relação as técnicas utilizadas para o diagnóstico, cistos de G.

duodenalis foram evidenciados nas três técnicas parasitológicas microscópicas,

havendo positividade também pelo ELISA. O índice de concordância entre as

técnicas parasitológicas microscópicas e o ELISA foi igual a 1, sendo

considerado excelente.

A positividade geral para enteroparasitos foi de 21,6% (11/51), sendo de

25,0% (9/36) em crianças, com maior frequência entre as crianças do Centro de

Educação Infantil (CEI) de Pedro do Rio e de 13,3% (2/15) em funcionários do

CEI do Centro de Petrópolis (Tabela 4). Houve detecção de protozoários em 9/11

(81,8%) dos participantes positivos e de helmintos em 6/11(54,5%).

Tabela 4 – Resultado das análises para enteroparasitos em amostras fecais de 36 crianças e dos 15 funcionários de dois Centros de Educação Infantil de Petrópolis-RJ por meio de técnicas coproparasitológicas

CEI Positivo Negativo Total

Crianças Centro 2 (16,7%) 10 (83,3%) 12 Pedro do Rio 7 (29%) 17 (71%) 24 Funcionários Centro 2 (33%) 4 (67%) 6 Pedro do Rio 0 9 (100%) 9

Total 11 (21,5%) 40 (78,4%) 51

CEI – Centro de Educação Infantil

As espécies de parasitos detectadas estão apresentadas na Tabela 5,

sendo Ascaris lumbricoides, o parasito intestinal mais frequente, evidenciado em

6/9 (66,7%) crianças, todas do CEI de Pedro do Rio.

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Tabela 5 – Resultado da positividade por espécie/gênero de parasito intestinal pesquisadas em amostras fecais de 36 crianças e dos 15 funcionários de dois Centros de Educação Infantil de Petrópolis-RJ por meio de técnicas coproparasitológicas

Criança Funcionário

Espécie/Gênero Centro Pedro do Rio Centro Pedro do Rio

Endolimax nana 0 0 2 0 Giardia duodenalis 1 2 0 0 Entamoeba coli 1 1 0 0 Complexo Entamoeba histolytica 0 0 1 0 Ascaris lumbricoides 0 6 0 0 Blastocystis sp. 0 1 0 0

O monoparasitismo foi evidenciado em seis crianças, sendo duas do

Centro e quatro de Pedro do Rio e em um funcionário do Centro. Em quatro

crianças, uma do Centro e três de Pedro do Rio e em um funcionário do Centro

foi detectado parasitismo por dois parasitos ao mesmo tempo. As associações

parasitárias evidenciadas entre as crianças foram: G. duodenalis e Blastocystis

sp., A. lumbricoides e G. duodenalis, Blastocystis sp. e A. lumbricoides,

Entamoeba coli e Ascaris lumbricoides. No funcionário foi observado associação

entre Endolimax nana e Complexo Entamoeba histolytica.

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7. DISCUSSÃO

A adesão geral desse estudo mediante assinatura do TCLE foi de 42,9%

(36/84) entre as crianças e de 45,5% (15/33) entre os funcionários, ambas

consideradas como regular. A adesão de crianças e funcionários do presente

estudo foi inferior a obtida por Uchôa et al. (2001), em cinco creches de Niterói,

RJ, que relataram 64,1% de adesão entre as crianças e de 79,6% entre os

funcionários e por Nunes (2012) com escolares da Ilha de Marambaia,

Mangaratiba, RJ, com taxas de 86,7% e 64% para escolares e funcionários

respectivamente. Já Uchôa et al. (2009) em oito creches de Niterói, RJ,

obtiveram 62,9% de adesão geral de crianças e de 46,7% de funcionários com

variação entre as diversas instituições, sendo a taxa de adesão de funcionários

similar à do presente estudo. Segundo os autores, a adesão variada entre os

funcionários pode ser associada a vergonha ou descaso na coleta do material,

ou até mesmo a falta de consciência da importância do diagnóstico e dos

problemas causados por parasitos intestinais. Para Kunz et al. (2008), a

necessidade de ajuda dos pais para a coleta das amostras de fezes pode ser um

empecilho da realização de exames de fezes, resultando em baixa adesão.

Nos dois centros de Educação Infantil participantes, a adesão boa a

regular, bem como a diferença de adesão entre os participantes das duas

instituições pode ter sido determinada pela greve do funcionalismo público

Municipal que ocorreu durante a realização desse estudo. A greve interferiu nos

horários de funcionamento das instituições, bem como na frequência dos

funcionários, o que determinou, principalmente no CEI do Centro, maior

ausência das crianças, visto que a Instituição só funcionou por meio período de

atendimento.

A creche, por ser um ambiente coletivo, pode favorecer a transmissão de

parasitos intestinais entre crianças e entre crianças e funcionários através do

contato interpessoal; por treinamento inadequado de funcionários e pelas baixas

condições de higiene (MAGALHÃES et al., 2013), bem como por descuido na

adequação das normas técnicas (GURGEL et al., 2005). Nas creches estudadas,

Giardia duodenalis foi diagnosticada em três crianças, das quais duas tinham 3

anos e uma 4 anos de idade, estando de acordo com os resultados obtidos por

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Carvalho-Costa et al. (2007) com maior frequência em crianças de 25 a 60

meses, no Rio de Janeiro e Zaiden et al. (2008) em crianças de 3 anos de todas

as creches estudadas em Rio Verde, GO. Belloto et al. (2011) verificaram maior

frequência de G. duodenalis na faixa etária de 2 a 4 anos (2,58% - 8/39).

Diferindo dos resultados encontrados, Franco e Cordeiro (1996) relataram maior

prevalência de G. duodenalis em crianças na faixa etária de 19-24 meses, em

Campinas, SP; Ferreira et al. (2015) maior positividade em crianças de 4 a 5

anos de idade (38,1%) e Delfino et al. (2016) em Assis Brasil, AC, na faixa de 12

a 23 meses em 2003 e 2010 e de 24 a 35 meses, em 2011. Segundo Belloto et

al. (2011) crianças menores possuem maiores riscos de adquirirem infecções

por Giardia spp., sendo que a taxa de giardíase sofre decréscimo conforme a

faixa etária aumenta, visto que contatos sucessivos com o parasito aumentam a

imunidade do hospedeiro. A imunidade também pode ter interferido na

positividade na faixa etária de 3 e 4 anos, uma vez que todas as crianças

mantidas nas creches de Petrópolis estavam expostas a condições de risco

similares.

O índice de positividade geral para enteroparasitoses, obtido no presente

estudo teve como faixa etária predominante de 1 ano a 2 anos e 11 meses de

idade em crianças (7,8%) e de 30 a 39 anos e 11 meses (3,9%), em funcionários.

Cabrera et al. (2017) relataram maior frequência de enteroparasitos em 37,1%

das crianças entre 2 e 3 anos. Andrade, Sá e Bezagio (2017) relataram maior

predominância de parasitos intestinais em crianças de 1 ano (40,6%), seguido

da faixa etária de 2 anos (31,3%). Por outro lado, Góes (2017) relataram que a

faixa etária mais acometida por enteroparasitos foi entre 4 e 6 anos de idade

(71,43% - 20/28), embora seis casos tenham ocorrido em crianças de até três

anos (21,43%). Andrade et al. (2013) apresentaram que o risco de ser parasitado

foi mais elevado nas idades de dois, três e quatro anos. Dados relativos à idade

da criança reforça o fato de estarem num período da vida em que a incidência

de parasitoses é maior, pois passam por mudanças em relação às respostas

imunes aos parasitos, hábitos pessoais, sociais e alimentares (ZAIDEN et al.,

2008), bem como acentuam o contato físico com o ambiente (COSTA-MACEDO

et al., 1998). Nesta fase da vida da criança, são introduzidos alimentos crus, há

diminuição do cuidado constante dos responsáveis, há maior contato com solo,

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com outras pessoas e animais domésticos (ZAIDEN et al., 2008). Tais fatores

também podem ser associados a frequência de parasitos entre as crianças deste

estudo.

O tipo de abastecimento de água e o sistema de esgoto sanitário precário

tem sido associados à presença de parasitos intestinais em escolares e pré-

escolares (MORAES NETO et al., 2010; FERREIRA et al. 2000). No presente

estudo, a maioria das crianças (75% - 27/36) viviam em casas sem quintal ou

com quintal de cimento sem jardim. Também foi relatado o consumo de água

direto da torneira, tanto para beber quanto para cozinhar. Esses fatores também

foram relatados por Prado et al. (2003), Moraes Neto et al. (2010) e Mori et al.

(2016) como fatores associados a aquisição de enteroparasitoses. Em

Petrópolis, foi evidenciado que 58,3% dos participantes do CEI do Centro e

62,5% do CEI de Pedro do Rio destinavam seus esgotos em rios. Cabral-

Miranda, Dattoli e Dias-Lima (2010) relataram associação entre enteroparasitos

e falta de rede de esgoto em 96,6% de indivíduos de uma comunidade

quilombola na Bahia. Belo et al. (2012), em estudo com escolares de São João

Del-Rei, MG, observaram que o uso do filtro de água nas residências mostrou-

se fortemente associado à redução da prevalência geral de helmintos e

protozoários. Apesar de Oliveira-Arbex et al. (2016) relatarem que 76,8% das

residências das crianças de creche de Vitoriana, Botucatu- SP, terem acesso ao

abastecimento público de água, estarem conectadas a uma rede pública de

esgoto e 91,9% terem acesso à coleta pública de lixo, houve positividade para

enteroparasitos em 40,6% (50/123) destas. A frequência de parasitos intestinais

evidenciada nesse estudo pode ser associada a condições inadequadas de

saneamento ambiental, bem como de práticas higiênicas.

Quanto as positivas por Giardia duodenalis, todas residiam em casas com

quintal de cimento e sem jardim, duas possuíam água canalizada da rede pública

e duas não tinham acesso a rede de esgoto, sendo os resíduos depositados

diretamente no rio. Das três crianças positivas, duas consumiam água direto da

torneira. Consoante a isso, Santos-Júnior, Silva e Santos (2006) relataram que

das crianças infectadas por G. duodenalis, 72% residiam em domicílios que não

utilizavam água tratada. Siqueira (2016) demonstrou que dois estudantes de

Niterói, RJ, que estavam positivos para G. duodenalis, não possuíam filtro nas

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residências e utilizavam água da torneira para consumo próprio e para cozinhar.

Em contrapartida, Nunes (2016) relatou maior frequência de giardíase na

população que bebia água trazida por caminhão-pipa, bem como em casas que

armazenam água de chuva em cisternas. No estudo de Nunes (2016), foi

ressaltada a importância de filtrar a água, uma vez que foi observada baixa

prevalência de giardíase naqueles que bebiam água do dessanilizador que foi

instalado na comunidade. Segundo o estudo de Cardoso, Santana e Aguiar

(1995), o parasitismo por G. duodenalis pode estar relacionado com o tipo de

abastecimento de água, com a presença ou não de animais domésticos, com o

habito de ingerir hortaliças e destino de dejetos. Uma vez que a transmissão

hídrica tem sido relacionada a infecção por G. duodenalis, provavelmente a

infecção das crianças de Petrópolis pode ter ocorrido devido ao hábito de

ingestão de água direto da torneira associada a contaminação fecal do ambiente.

Dentre as crianças positivas para Giardia duodenalis, o nível de

escolaridade da mãe foi considerado baixo, visto que uma estudou até o Ensino

Fundamental I e outras duas até o Ensino Fundamental II, tendo uma concluído

e a outra não. Santos-Júnior, Silva e Santos (2006) relataram que 61% dos

pais/responsáveis de 290 crianças com enteroparasitos possuíam pouco nível

educacional, o que indicou baixos níveis socioeconômicos da população

estudada. Carvalho, T., Carvalho L. e Mascarini (2006) evidenciaram que as

mães de 88 das 265 crianças parasitadas de creche em Botucatu, SP, possuíam

grau de escolaridade até o Ensino Fundamental. Zaiden et al. (2008) relataram

que 71% das mães das crianças de creche de Rio Verde, GO, possuíam Ensino

Fundamental incompleto e 7,6% eram analfabetas. O baixo grau de escolaridade

está intimamente ligado à falta de conhecimento sobre o assunto, sendo um dos

fatores contribuintes para a infecção por enteroparasitos (CARVALHO &

GOMES, 2014). Autores como Siqueira (2016) relacionaram a positividade de G.

duodenalis com o baixo letramento da mãe, as quais possuíam até Ensino

Fundamental incompleto. A melhora na escolaridade das mães justificaria o

declínio de giardíase (FERREIRA, M., FERREIRA, C., MONTEIRO, 2000). Além

das condições ambientais de Petrópolis, o grau de escolaridade das mães

também pode ter favorecido a infecção por enteroparasitos, bem como por G.

duodenalis.

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Em relação à sintomatologia, apesar de alguns pais /responsáveis

relatarem “coceira” e “vômito”; diarreia e dor de barriga foram relatados em

75%(27/36) das crianças. A diarreia é uma das manifestações clínicas

associadas a infecções por enteroparasitos e dentre elas a giardíase (HUANG &

WHITE, 2006; CERTAD et al., 2017). Nas três crianças positivas para G.

duodenalis, em uma foi relatada presença de diarreia, a qual pode ter sido

determinada pelo parasito.

Observou-se neste estudo concordância entre os resultados obtidos pelas

técnicas parasitológicas microscópicas e ELISA (κ=1). Cistos de G. duodenalis

foram evidenciados por todas as técnicas microscópicas. Machado et al. (2001)

relataram divergência de positividade para diagnóstico de G. duodenalis entre

as técnicas de exame direto, a técnica de hemotoxilina férrica, Faust et al. e

ELISA, observando maior eficácia da Técnica de Faust et al. Berne et al. (2014),

verificaram que o ELISA para detecção de Giardia duodenalis apresentou 3.4

vezes mais chances de detectar amostras positivas se comparado com a técnica

de centrifugo-sedimentação, embora em 7 casos positivos por centrifugo-

flutuação e 2 por centrifugo-sedimentação o ELISA tenha apresentado resultado

negativo, o que discorda do presente estudo. Para Cognialli (2013), a técnica de

Faust et al. foi a mais sensível para a detecção de cistos de G. duodenalis

quando comparada à técnica de Lutz. Esta técnica tem sido considerada um

procedimento eficaz para diagnóstico desse protozoário (MACHADO et al.,

2001). Góes (2017) obteve alta concordância quase perfeita (excelente) entre a

microscopia e o ELISA, similar ao obtido no presente estudo. No estudo de Góes

(2017) houve discordância de resultado de diagnóstico em quatro crianças,

sendo 3 positivas somente por ELISA e 1 somente pela microscopia, o que diferiu

deste estudo. A concordância entre as três técnicas parasitológicas

microscópicas e o ELISA pode ser associada à elevada quantidade de cistos

liberados nas fezes dos indivíduos positivos, possibilitando a detecção do

parasito sem diferença entre os fundamentos das técnicas utilizadas.

A positividade geral de enteroparasitoses foi evidenciada em 21,6% (11/51)

dos participantes, sendo 25% (9/36) em crianças. Consoante a isso, Barçante et

al. (2008) obtiveram um percentual de 22,7% de positividade. Os resultados do

presente estudo foram superiores aos observados por Zemene e Shiferaw

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(2018), que obtiveram prevalência de 17,4% de crianças infectadas na Etiópia e

dos obtidos por Zamproni et al. (2017) em Rondonópolis-MT (17,54%). No

entanto, foi inferior aos de Belloto et al. (2011), que apresentaram 30,32% de

positividade para parasitos intestinais em Mirassol-SP, bem como aos de Uchôa

et al. (2001) com 55% (149/218) em crianças de creche de Niterói, Kunz et al.

(2008) com 35,5% (38/106) em escolares de Florianópolis, Uchôa et al. (2009)

com 51,6% (192/372) em crianças de creche de Niterói e Silva et al. (2018) com

55% de positividade em crianças de creche de João Pessoa. As diferenças de

frequência entre os diversos estudos podem estar associados a diferenças

geográficas, técnicas utilizadas, bem como outras características

epidemiológicas, como proposto por Escobedo et al. (2010).

Neste estudo foi evidenciada maior positividade por protozoários do que

por helmintos, sendo este fato também observado por Silva et al. (2018) em João

Pessoa-PB e Magalhães et al. (2013) em Vale do Aço-MG. A maior frequência

de protozoários do que de helmintos tem sido relacionada a tratamentos em

massa para helmintos, bem como a mudanças ambientais por ação antrópica

que inviabilizam o ciclo de geohelmintos (NUNES, 2012).

No presente estudo, o monoparasitismo ocorreu em 66,6% (6/9) das

crianças e poliparasitismo em 4/9 (44,4%), com associação de duas espécies.

Uchôa et al. (2001) evidenciaram 57,5% dos casos com monoparasitismo, assim

como Carvalho e Gomes (2014), com 66,7%, em seu estudo com escolares de

Teresina, PI. O poliparasitismo encontrado por Carvalho e Gomes (2001)

ocorreu em 30% (duas espécies) e 3,3% (mais de duas espécies). Uchôa et al.

(2009) relataram que a infecção entre as crianças monoparasitadas ocorreu em

144/192 (75%) e o poliparasitismo em 53 (27,6%), observando associação entre

dois agentes em 34 (17,7%). O poliparasitismo observado em estudo de Zaiden

et al. (2008) foi associado ao fato das creches de Rio Verde-GO, receberem

crianças de diversas áreas geográficas. Mori et al. (2016) evidenciaram

monoparasitismo em 78,9% das crianças, enquanto 22,1% apresentavam mais

de uma espécie de parasito. As 37 crianças de creche de João Pessoa-PB,

estudadas por Silva et al. (2018) apresentaram monoparasitismo em 46%,

biparasitismo em 43% e poliparasitismo em 11%. O monoparasitismo no estudo

de 2018 foi considero alto. Casos de multiparasitismo são preocupantes,

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podendo haver agravamento das infecções e dificultando o tratamento, pois

quanto mais espécies o indivíduo abriga, mais comprometida fica a eficácia

terapêutica dos medicamentos (SILVA et al., 2018). Em Petrópolis o

poliparasitismo foi observado em quase metade das crianças, provavelmente

devido as condições ambientais de onde estas vivem.

Para os funcionários, houve ocorrência de poliparasitismo em um dos dois

funcionários positivos, apresentando duas espécies. Segundo Uchôa et al.

(2009), o monoparasitismo foi observado em 15 funcionários (68,2%), com

associação entre dois parasitos em quatro funcionários e entre três agentes em

apenas um.

Neste estudo, Ascaris lumbricoides foi o parasito mais frequente, positivo

em 6 (16,6%) amostras de crianças, seguido de Giardia duodenalis, em 3 (8,3%)

crianças. Diferente do observado neste estudo, Silva et al. (2018) em João

Pessoa, Andrade et al. (2013) em Aracaju e Cañete et al. (2012) em Cuba

evidenciaram maiores prevalências de A. lumbricoides e G. duodenalis nas

crianças de creche, porém com maior frequência para G. duodenalis. Assim

como esses autores, Costa-Macedo et al. (1998) no RJ, Uchôa et al. (2001) no

RJ, Carvalho, T., Carvalho L. e Mascarini (2006) em SP, Uchôa et al. (2009) no

RJ, Nunes (2016) no Norte do Brasil, também relataram maior positividade entre

esses parasitos em questão, sempre com G. duodenalis sendo o mais frequente

entre os protozoários e A. lumbricoides o mais frequente entre os helmintos.

Diferindo desses estudos e concordando com o evidenciado em Petrópolis,

Matos et al. (2008) em Salvador-BA e Nobre et al. (2013) em Diamantina-MG

evidenciaram maior frequência para A. lumbrocoides e menor para G. duodenalis

em crianças de creche. Para Zaiden et al. (2008), a incidência de G. duodenalis

e A. lumbricoides foi relacionada às condições ambientais, falta de hábitos de

higiene e saneamento básico. Em Petrópolis a positividade para A. lumbricoides

foi observada nas crianças de Pedro do Rio, que consiste em uma área com

deficiência de saneamento básico, sendo o esgoto das casas encaminhado

diretamente para o rio, bem como a presença de solo desnudo com vegetação,

favorecendo a manutenção do ciclo de geohelmintos.

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Todos os participantes positivos deste estudo foram tratados, sendo

realizadas orientações e entrega de medicamentos para o tratamento

individualmente por um profissional médico. Apesar dessa medida profilática, o

perfil socioeconômico ambiental evidenciado demonstrou a existência de

diversos fatores de risco para aquisição de parasitoses intestinais nos dois

grupos estudados e tornam essencial o emprego de medidas educativas e

programas de melhoria da infraestrutura de saneamento básico com objetivo de

reduzir o agravo determinado por parasitos intestinais a estas comunidades.

Cabe ressaltar que, como não houve adesão de todos os participantes e pelo

diagnóstico ter sido uma ação pontual, os resultados aqui apresentados não

podem ser analisados como a realidade das comunidades estudadas, mas sim

como um recorte sobre parasitoses intestinais momentâneo, devido ao processo

dinâmico da relação parasito-hospedeiro.

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8. CONCLUSÃO

O parasito Giardia duodenalis foi detectado em 8,3 % das crianças de dois

centros de Educação Infantil de Petrópolis, RJ, sem positividade entre os

funcionários;

Cistos de Giardia duodenalis foram detectados pelas três técnicas

parasitológicas microscópicas com concordância total entre elas;

O ELISA detectou antígenos de Giardia duodenalis em 8,3% das crianças.

As técnicas parasitológicas microscópicas e o ELISA apresentaram índice de

concordância quase perfeita (excelente), apresentando eficácia igual no

diagnóstico da infecção por Giardia duodenalis nas crianças dos dois Centros de

Educação Infantil de Petrópolis

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10. ANEXOS

10.1. Anexo 1. Parecer Consubstanciado do Conselho de Ética e Pesquisa

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11. APÊNDICES

11.1. Questionário Epidemiológico

QUESTIONÁRIO EPIDEMIOLÓGICO

Nome da Instituição: ________________________________________________________ Nome do responsável: _______________________________________________________ Nome do estudante: _________________________________________________________ Endereço: ________________________________________________________________ ________________________________________________________________________

1 – Tipo de residência: ( ) casa sem quintal ( ) casa com quintal de terra batida ( ) casa com quintal de terra batida e jardim ( )casa com quintal de cimento e jardim ( )casa com quintal de cimento e sem jardim

2 – Grau de escolaridade do pai: ( ) não letrado ( ) ensino fundamental I incompleto (antiga 1 a 4 série do 1grau) ( ) ensino fundamental I completo (antiga 1 a 4 série do 1grau) ( ) ensino fundamental II incompleto (antiga 5 a 8 série do 1grau) ( ) ensino fundamental II completo (antiga 5 a 8 série do 1grau) ( ) ensino médio incompleto (antigo 2 grau) ( ) ensino médio completo (antigo 2 grau) ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior completo

3 – Grau de escolaridade da mãe: ( ) não letrado ( ) ensino fundamental I incompleto (antiga 1 a 4 série do 1grau) ( ) ensino fundamental I completo (antiga 1 a 4 série do 1grau) ( ) ensino fundamental II incompleto (antiga 5 a 8 série do 1grau) ( ) ensino fundamental II completo (antiga 5 a 8 série do 1grau) ( ) ensino médio incompleto (antigo 2 grau) ( ) ensino médio completo (antigo 2 grau) ( ) ensino superior incompleto ( ) ensino superior completo

4 – Abastecimento de água: ( ) captação de fonte natural (encanamento próprio trazendo a água da mina ou rio direto para casa) ( ) água obtida por baldes em fonte natural e utilizada imediatamente ( ) água obtida por baldes em fonte natural e mantida em reservatório ( ) rede de abastecimento a partir de caixa d’água central ( ) rede de abastecimento do governo ( canalizada) ( ) poço superficial ( ) poço artesiano

5 – Tipo de água consumida na residência (beber): ( ) direto da torneira ( ) fervida ( ) filtros domésticos ( ) direto da fonte natural (rio, mina, etc)

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6 –Tipo de filtro utilizado em casa: ( ) não possui filtro ( ) filtro de barro ( ) filtro de carvão ( ) Outro. __________________________

7 –Esgoto sanitário utilizado: ( ) rede de esgoto do governo ( ) fossa seca ( ) tubulação jogando o esgoto em rio ou no mar ( ) tubulação jogando o esgoto atrás da casa ( ) fossa de alvenaria com diversos compartimentos ( ) não sei informar

8– Renda familiar (soma de ganhos dos membros da família): ( ) inferior a R$ 300,00 ( ) de R$ 300,00 a 600,00 ( ) de R$ 600,00 a 1000,00 ( ) de R$ 1000, 00 a 2000,00 ( ) superior a R$ 2000,00

9 – Número de moradores na casa: ( )1 ( )2 ( ) 3 ( ) 4 ( )5 ( ) outro: _________

10- Número de crianças na casa: ( )1 ( )2 ( ) 3 ( ) 4 ( )5 ( ) outro: _________ definir idades: ______________________

11 – Outras informações: ( ) possui animal em casa. Quantos? _______ Espécie: ( )cão ( )gato ( ) outro ____ ( ) tem horta em casa ( ) utiliza hortaliças cruas na alimentação. Quais? ____________________________ ( ) cria porcos em casa ( ) consome carne de suíno Com que freqüência? _____________.

12) Alterações intestinais na criança: ( ) dor de barriga ( ) diarréia ( ) coceira noturna no bumbum ( ) vômito ( ) prisão de ventre ( ) Outros. _________________________

13) Freqüência que observa alterações intestinais na criança:

( ) período inferior a uma semana ( ) uma vez ao mês ( ) raramente ( ) nunca

Informações sobre parasitoses

O que são parasitoses intestinais? ______________________________________________________________________ Parasito intestinal e verme são sinônimos? ______________________________________________________________________ Qual verme/parasito intestinal você conhece?

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_____________________________________________________________________ Onde vivem os parasitos intestinais nas pessoas? ______________________________________________________________________ Como as pessoas adquirem os parasitos intestinais? ______________________________________________________________________ ___________________________________ Os parasitos intestinais são perigosos para a nossa saúde? Por quê? ______________________________________________________________________ ___________________________________ O que devemos fazer quando temos parasitos intestinais ou para não ter?

______________________________________________________________________