gestÃo do conhecimento na sala de aula: limites e … · 2009. 12. 9. · 1 gestÃo do...
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GESTÃO DO CONHECIMENTO NA SALA DE AULA:
LIMITES E POSSIBILIDADES
Tânia Mara Trentin Scremin* Marjorie Bitencourt Emilio Mendes**
Resumo Este artigo constitui-se no trabalho final produzido para conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE, proposto pela Secretaria de Estado da Educação do Estado do Paraná. Esta produção objetiva refletir questões referentes à gestão do conhecimento na sala de aula, seus limites e possibilidades. Trata-se de uma produção de cunho bibliográfico e implementação pedagógica que analisa o interior da escola e, mais precisamente, a sala de aula, considerando VYGOTSKY (1989), onde aprender e ensinar só são possíveis pela intervenção e interação com o mundo objetivo, marcado pela atividade humana, pela mediação do outro, onde os sujeitos se apropriam das categorias conceituais. A escola pode ser um lugar em que a proposição de sentidos e de significados seja possível. Ela pode ser, mas ela não vai se tornar assim, através de nenhuma força natural ou tendência histórica irreversível. As ações dos agentes sociais envolvidos nas relações pedagógicas, o professor e o aluno, é que construirão os significados particulares de cada situação escolar específica. Com este artigo pretende-se promover reflexões sobre os entraves existentes na sala de aula, referentes ao processo de ensino-aprendizagem, bem como os protagonistas de direito e de fato: professor e aluno. Palavras-Chaves: conhecimento- ensino- aprendizagem- professor- aluno Abstract This article is based in the final paper produced for the conclusion of the Educational Development Program –EDP, proposed by the Educational Secretary from the State of Parana. This production aims to reflect questions referring to the management of the knowledge in the classroom, its limits and its possibilities. It is about a production based in bibliography, which analyzes the interior of the school and, more precisely, the classroom, taking into account VYGOTSKY (1989), where learning and teaching are only possible through intervention and interaction with the objective world, characterized by the human activity, by others mediation, where the individuals take advantage of conceptual categories. The school can be a place where the proposition of senses and meanings can be possible. It can be, but it won’t make it easier, through non natural force or irreversible historical trend. The actions of the involved social agents in the pedagogical relations, the teacher and the student, it is what will build the particulars meanings of each specific scholar situation. With this article is intended to promote reflections regarding the existents hardships in the classroom, referring to the process of teaching-learning, as well as the protagonists of right and fact: teacher and student. Key-Words: knowledge – teaching – learning – teacher – student *Professora de Didática e Prática de Ensino da Rede Pública Estadual de Ensino Especialista em Educação Contato: taniascremin@ seed. pr.gov.br **Professora Orientadora da produção do artigo Mestre em Educação - Professora da Universidade Estadual de Ponta Grossa Coordenadora do Colegiado do Curso de Pedagogia Contato: [email protected]
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Introdução É histórico o discurso de que o professor como um profissional
especializado, por meio do seu longo aprendizado e da sua experiência, é
capaz de dominar seu ofício e de realizá-lo com competência. Assim, o
professor é visto como alguém que conhece e domina sua profissão.
A partir do século XVII, o ensino é pensado como uma profissão. Essa
profissão, no entanto, acabou sendo definida como tendo uma natureza muito
diferente das demais, já que ela envolve um conjunto de objetivos e de
atributos de seus praticantes que a aproximam de missão. Parte dessa
confusão ou mistura de significados parece derivar das origens da escola no
mundo ocidental, ligadas aos estabelecimentos religiosos, tais como o templo,
o mosteiro, o convento, o que acabou deixando a marca permanente de
associação entre magistério e sacerdócio. Essa associação tem sido discutida
e, em alguma medida, amenizada no processo de constituição da profissão
docente, ao longo dos anos.
A partir deste artigo, pretende-se contribuir para o resgate do sentido e
significado do ato de ensinar e os seus componentes: a aula, o ensino, a
aprendizagem, o professor, o aluno, as situações didáticas e o conhecimento
construido no espaço da sala de aula.
Inicialmente, foram pesquisados e analisados subsídios para esclarecer
as relações e implicações que envolvem a idéia de ensinar. Para entender as
diversas configurações com que essas questões de ensino aparecem, deve-se
concentrar toda atenção no núcleo da atividade da escola que é a aula.
Na sequência, são analisados os aspectos que tratam da identidade
profissional do professor, como um espaço de construção das maneiras de ser
e de estar na profissão.
Discute-se no texto, a concepção de aluno a partir da noção de
transitoriedade que vai da condição de “paciente”, aquele que recebe a ação
do trabalho institucional e pedagógico da escola, até a situação de “agente”,
aquele que durante o processo de aprendizagem e com base nele, conquista
sua liberdade por meio da aquisição de um conjunto de instrumentos,valores,
modos de agir, pensar e se relacionar com o mundo, com a sociedade e com
as pessoas.
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Objetiva-se uma breve discussão do espaço da sala de aula como uma
célula que representa o todo da escola: o currículo, o projeto da área de ensino
e o planejamento da disciplina.
Pretende-se também refletir sobre algumas possibilidades no trabalho
pedagógico, apesar dos limites impostos pelo próprio sistema escolar.
O interesse pelo tema em pauta surge da própria experiência
profissional da autora, no trabalho como professora de Didática e Prática de
Ensino junto aos Cursos de Formação de Docentes e do enfoque trazido pelas
Diretrizes Curriculares Estaduais do Ensino Profissionalizante no que se refere
à relevância da gestão do conhecimento na sala de aula.
A abordagem adotada para o desenvolvimento desse trabalho foi
pautada na pesquisa de cunho bibliográfico, entendendo que as concepções
teóricas, os escritos já efetivados pelos autores: ABREU e MASSETO (1990),
BOING (2002), CONTRERAS (2002), CORDEIRO (2007), FREITAS (2003),
LIBANEO (1990), MELLO (1992), MOURA (2001), NOVOA (1992), PATTO
(1991), PARANÁ (1992), PIMENTA (1997), SACRISTÁN (1998), SAVIANI
(1995), VEIGA (1998), ZABALA (1998), dentre outros, subsidiam os conceitos
e compreensões aqui apresentados na perspectiva de melhor entender o
contexto escolar e seus determinantes.
Assim, é fundamental discutir a sala de aula, como um espaço de
investigação de tudo o que se passa no processo de ensino-aprendizagem: os
sujeitos envolvidos, as relações de poder, as experiências vividas, o objeto do
conhecimento oferecido, a metodologia e as formas de avaliação.
Sala de aula: ”locus” principal da gestão do conhecimento Como professora de Didática e Prática de Ensino da Rede Pública do
Estado do Paraná, em constante aprimoramento profissional, principalmente
através de pesquisas sobre os fundamentos teóricos e práticos do trabalho
pedagógico na sala de aula, observa-se que é histórico o processo de ensino
centrado no professor, valorizando assim, apenas o conhecimento. Na sala de
aula, o ensino ganhou autonomia em relação à aprendizagem, criando seus
próprios métodos. Atualmente faz-se necessário estabelecer a unidade entre
ensino e aprendizagem.
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Sendo a aprendizagem um projeto social é fundamental destacar a
importância das interações e procedimentos de ensino, bem como focar as
ações nos gestores do processo, o professor e o aluno.
É necessário ir além dos paradigmas que têm insistido na idéia do
professor reflexivo para instalar definitivamente um processo em que os
diversos profissionais da área, tanto individual quanto coletivamente possam
vivenciar processos de discussão e de reflexão a respeito dos diversos
aspectos que dão os contornos atuais dessa profissão. Esses processos
podem e devem se instaurar o mais cedo possível, de preferência nos próprios
Cursos de Formação Inicial, embora se possa admitir que grande parte do que
se precisa saber para o exercício da docência só será de fato elaborado
durante o próprio exercício profissional.
Aprender e ensinar só são possíveis pela intervenção e interação com o
mundo objetivo, marcado pela atividade humana, pela mediação do outro,
onde segundo VYGOTSKY(1994), os sujeitos se apropriam das categorias
conceituais. São, portanto, atividades que se desenvolvem por meio de uma
relação de cumplicidade. No caso da relação com o saber, ela é ao mesmo
tempo, relação consigo próprio, com o outro e com o mundo, na medida em
que esse saber e essa relação ajudam a constituir a identidade do sujeito, a
sua particularidade diante dos outros sujeitos e também permitem organizar,
pôr em ordem e interpretar o mundo circundante.
Tentando vislumbrar este novo fazer pedagógico que inicia pela
superação do fazer individual e descomprometido emergindo da reflexão sobre
a prática, e tendo como ponto de chegada uma escola pública de qualidade
para a maioria da população, surge uma polêmica causadora de conflitos no
interior da escola, ora acusando o trabalho pedagógico de tecnicista, ora de
politicista que conduzem ao risco de um certo romantismo, onde confundem o
saber bem ou fazer bem, com conhecer o bem ou fazer o bem.
SAVIANI, denuncia o romantismo no interior da escola, quando cita a fase romântica da defesa do compromisso político em educação. Nessa fase, os elementos da luta contra a concepção técnico-pedagógica restrita e supostamente apolítica se dilataram morbidamente por causa do contraste e da polêmica. É necessário passar à fase clássica, encontrando nos fins a atingir, a fonte para a elaboração das formas adequadas de realizá-los. Ora, a identidade dos fins
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implica imediatamente competência política e mediatamente competência técnica. A elaboração dos métodos para atingi-los implica por sua vez, imediatamente competência técnica e mediatamente competência política. Logo, sem competência técnica e política não é possível sair da fase romântica (1991, p.12).
Com a citação acima, fica nítida em alguns casos, a situação do fazer
pedagógico atual. Existe muito professor preocupado em fazer, sem levar em
conta o saber bem ou fazer bem.
Isto explica a situação do professor “bonzinho” que mantém um ótimo
relacionamento com seus alunos, mas não ensina os conteúdos necessários e
significativos; o pedagogo que ora “passa a mão” na cabeça do aluno,
protegendo-o das exigências do professor e, em outro momento faz “quase
tudo” para o professor. Neste enfoque, o fazer da escola tem sido prejudicado
pela falta de reflexão e romantismo acentuado na sua ação.
Ao mesmo tempo, o processo didático, espaço-tempo em que se dão as
relações diretas e imediatas do ensinar, aprender, pesquisar e avaliar não
existe em si mesmo e por si, mas na correlação, na dinâmica interna da sala
de aula, seu lugar social, pois não são dimensões isoladas e estanques, não
apenas coexistem, mas se interpenetram. Portanto, nenhuma delas pode ser
relegada a segundo plano. Cada uma precisa ser compreendida, analisada e
valorizada para que se organizem na unidade do processo didático.
O ensino e suas relações no cotidiano escolar Não se pode compreender o ensino atendendo apenas aos fatores
visiveis visíveis da sala de aula, pois segundo CONTRERAS “o ensino é um
jogo de práticas aninhadas, onde fatores históricos, culturais, sociais, ins-
titucionais e trabalhos tomam parte junto com os individuais “(2002,p.75). O que impulsiona o ensino é, por um lado, a contradição entre as
atividades teóricas e práticas resultantes dos processos de ensinar e, de outro,
o nivel de conhecimento mediante a aprendizagem do aluno. O objetivo maior
do ensino passa a ser a construção do conhecimento contando com o
envolvimento do aluno. O resultado do ensino é dar resposta a uma outra
necessidade: a do aluno que procura aprender. O professor aparece como
protagonista responsável pelo ensino, onde orienta, coordena, estabelece uma
relação pedagógica com o aluno, mediada pelo conhecimento.
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O professor na relação com os alunos proporciona-lhes o encontro com
a realidade, levando em consideração a experiência e os saberes que já
possuem, procurando articulá-los a novos saberes e práticas. O ensino é
também um ato interpessoal, intencional e flexível, conectado em seu contexto
mais amplo. O ensino não existe por si mesmo, mas na relação com a
pesquisa e a aprendizagem.
Desse modo percebe-se que ensinar envolve a interação profunda entre
professores e alunos. Trata-se de um processo dinâmico e interdependente. É
um processo relacional que comporta a interação dialética do ensinar e
aprender.
A intencionalidade educativa está presente no processo de ensino,
sendo indicadora das concepções de quem a propõe. Nesse sentido, LA
TORRE afirma que “ensinar significa mais que transmitir conhecimentos,
significa desenvolver as potencialidades de uma pessoa. Ensinar é
intercambiar, confrontar, debater idéias e mediante estas atividades o sujeito
transcende seus conhecimentos adquiridos, gerando novas estruturas mentais:
aprende”. (1993, p.58)
Nesta perspectiva chamamos a atenção para três características
básicas do ensino: apreensão da realidade, ensino como processo articulado à
aprendizagem e ensino como prática social.
A primeira característica é que o ensino exige a apreensão da realidade.
A esse respeito RIOS “afirma que tratar o fenômeno do ensino como uma
totalidade concreta, buscar suas determinações, pensá-lo em conexão com
outras práticas sociais é o que se procura fazer, do ponto de vista de uma
concepção crítica do trabalho pedagógico” (2001, p.55). Analisar e revisar o
processo de ensino à luz do contexto social, às mudanças ocorridas na
instituição educativa e às condições objetivas do exercício profissional é uma
tarefa do professor. Essas mudanças exercem uma influência no planejamento
e no desenvolvimento do processo pedagógico.
A segunda se baseia na idéia do ensino como processo que se articula
à aprendizagem. É uma ação consecutiva de aprendizagem.
A terceira característica diz respeito à visão de ensino como prática
social específica que determina o desenvolvimento social e cognitivo dos
alunos, sujeitos de aprendizagem. O ensino como prática social é uma
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atividade profissional complexa que exige preparo, compromisso e
responsabilidade do professor para instrumentar política e tecnicamente o
aluno, ajudando-o a constituir-se como sujeito social.
Os objetivos do ensino visam melhorar os resultados de aprendizagem
dos alunos e elevar a qualidade de sua formação. Para tanto, os professores
devem ter conhecimento da como os estudantes aprendem e sob quais
condições a aprendizagem é encaminhada para o sucesso. Uma preocupação
essencial é a que diz respeito à heterogeneidade de estudantes na sala de
aula, os quais têm diversos interesses, diversas motivações, capacidades e
expectativas. A tarefa-chave do professor é garantir a organicidade e coerência
ao processo de ensinar e aprender.
Dizer que o professor ensina algo que os alunos devem aprender e que
muitas vezes, de fato aprendem, não implica assumir que ensinar seja igual
apenas a transmitir conhecimento, este pensado como um conjunto de
proposições a respeito de determinado assunto, tema ou fato. Também não
implica admitir que o professor só ensina os alunos a fazer alguma coisa, como
se imagina em certas versões das pedagogias renovadas.
Ensinar é um termo de grande alcance, que pode recobrir diversos
significados e produzir diferentes resultados naqueles que aprendem,
conforme insiste PASSMORE quando cita que “os meios que permitem saber
se alguém é um bom professor não consiste em verificar se escreve com
clareza no quadro, se mantém a disciplina ou se sabe utilizar o mais recente
apoio visual, mas se os alunos aprendem o que lhes tenta ensinar” (2001,
p.65).
A aula: núcleo da atividade na escola Hoje, o que chamamos de escola ou sistema escolar é algo muito
semelhante no mundo todo. Se algum estudante do século XVII pudesse ser
transportado numa viagem pelo tempo até os dias de hoje e, por acaso, caísse
numa sala de aula, ele se encontraria no que lhe pareceria um ambiente
familiar. Alguns detalhes poderiam parecer diferentes, mas muitos seriam
reconhecidos: uma sala retangular, com cadeiras e mesas, um quadro negro, à
frente um adulto controlando e supervisionando as atividades, várias crianças
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ou jovens, todos mais ou menos da mesma idade, cumprindo algumas tarefas,
instrumentos e suportes para receber a escrita (antes, giz e pequenas lousas
de ardósia e o grande quadro-negro; mais recentemente lápis, caneta,
cadernos), livros e, eventualmente, outros instrumentos que poderiam ser
percebidos com alguma facilidade como sendo escolares, tais como mapas,
quadros, ilustrações.
Voltando o pensamento para a escola pública atual, questiona-se de
que forma as atividades de ensino podem cumprir sua intenção inicial que é a
de produzir aprendizagem significativa para todos os seus alunos?
Inicialmente é preciso que se admita que há algo relevante para se
ensinar e que deve ser aprendido pelos alunos. Mas, é preciso que na
organização do ensino fique indicada a possibilidade de que o aluno aprenda o
conteúdo proposto.
Acontece que, se o ensino é uma atividade diretamente ligada ao
conteúdo que é ensinado, há, no entanto, um conjunto de problemas e de
questões comuns que envolvem quase todos os tipos de ensino, em especial o
que se pratica nas escolas e que não dependem exclusivamente do conteúdo
daquilo que se ensina como, por exemplo, os fatores que envolvem os agentes
de ensino e da aprendizagem, o professor e alunos, a relação pedagógica no
sentido mais amplo, os problemas da disciplina e da indisciplina, as
dificuldades ligadas à avaliação dos resultados da aprendizagem.
Para entender as diversas configurações com que essas questões de
ensino aparecem, devemos concentrar nossa atenção nesse núcleo da
atividade que é a aula.
A aula é a concretização do ensino. É o momento em que o professor
executa os procedimentos preparados anteriormente. Supostamente, um
planejamento bem realizado deveria garantir o sucesso e a eficiência desse
empreendimento. No entanto, sabemos que não é bem assim. A nossa
experiência com alunos já nos fez perceber que uma aula é uma atividade que
se realiza sob risco permanente: um acontecimento imprevisto, uma gracinha,
uma pergunta tendenciosa de um aluno, ou qualquer outro acontecimento
pode fazer uma aula desviar-se de seu foco principal.
De acordo com CORDEIRO “para entender as diferenças de
expectativas com que os alunos vêem para a escola e também os diferentes
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níveis de resultados efetivos que se consegue em termos de aprendizagem
dos alunos, num primeiro momento o professor deve deter-se de modo mais
demorado na aula. O que acontece ali? O que é proposto e o que se consegue
fazer efetivamente?” (2007, p.37 ).
Acredita-se que na sala de aula, as atividades físicas ou mentais devem
permitir a interpretação da realidade e a construção de significados, tanto para
o aluno quanto para o professor, permitindo novas possibilidades de ação, de
reconstrução de conhecimento. Nesse processo de interação com o objeto do
conhecimento, o aluno e o professor, como sujeitos, constroem novas
representações.
Com esta conotação, a concepção de ensino e de aprendizagem deve
ser concebida como um ato de confronto, de perspectivas inacabadas, que
provoca a passagem de um lugar para outro, ou seja, o professor e o aluno
poderão entender que o conhecimento resulta do trabalho coletivo e
historicamente construído. Portanto, o conhecimento pode ser revisto,
enriquecido, transformado pelas múltiplas relações estabelecidas na sala de
aula.
Percebe-se que é fundamental discutir o espaço da sala de aula como
um espaço de investigação de tudo o que se passa no processo de ensino e
aprendizagem: os sujeitos envolvidos, as relações de poder, as experiências
vividas, o objeto de conhecimento oferecido, a metodologia, as formas de
avaliação, os sinais que emergem. Para tal, é necessário haver troca entre
professor e aluno. Sem trocas não há como criar, investigar, crescer e produzir
conhecimento. O professor e o aluno devem construir juntos a experiência de
aprender. A pedagogia dialética condiciona o contexto da sala de aula, na qual
eles vivenciam o fenômeno educativo.
A sala de aula é um espaço privilegiado, pois pode igualar o discurso do
professor e do aluno, traduzindo-se em uma proposta educacional que
compreende a dinâmica da igualdade, pois é na relação professor-aluno que
se estabelece a oportunidade para a construção do processo de ensino e
aprendizagem.
Na atuação do professor estão em jogo valores ligados aos próprios
conteúdos escolares e valores referentes às questões sociais que permeiam
toda a ação educativa. Na aula, o professor precisa estar atento às
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interferências, pois ele se posiciona e incentiva atitudes, influencia as relações
de respeito e a construção de auto-estima dos alunos, ou não. Nesse enfoque,
a sala de aula não é apenas um local para transmitir conteúdos teóricos, é
também, local de aprendizado de valores e comportamentos, de aquisição de
uma mentalidade científica, lógica e participativa que poderá possibilitar ao
aluno bem orientado, interpretar e transformar a sociedade e a natureza em
um benefício do bem estar coletivo.
Professor: discurso e expectativas SAVIANI (1995) passa um recado aos professores para que se
empenhem no domínio de formas que possam garantir às camadas populares
o ingresso na cultura letrada, vale dizer, a apropriação dos conhecimentos
sistematizados. E, no interior das escolas, lembrem-se sempre de que o papel
próprio dos professores será provê-las de uma organização tal que cada
criança, cada educando, em especial aquele das camadas trabalhadoras, não
veja frustrada a sua aspiração de assimilar os conhecimentos metódicos,
incorporando-os como instrumento irreversível a partir do qual será possível
conferir uma nova qualidade às lutas no seio da sociedade.
Tal como aparece hoje, a profissão docente exibe, mesmo aos olhos do
observador comum, sinais evidentes de precariedade, visíveis pela simples
comparação com datas passadas. Atualmente, os usuários da escola vivem
nostalgias, que em geral valorizam mais o que já passou (a minha escola, a
minha professora), onde não é difícil constatar a perda de prestigio, de poder
aquisitivo, de condições de vida e, sobretudo de respeito e satisfação no
exercício do magistério.
Todas as vezes que se lastima o declínio da profissão docente acaba-se
por voltar, em última instância, ao fator econômico, que se encontra na base
do processo de decadência do magistério, aliado a outros fatores a ele
agregados. Há 30 ou 40 anos atrás, o salario do professor representava
garantia de vida digna para o profissional celibatário, ou uma ajuda
considerável no orçamento familiar dos casados.
Em sã consciência, será que alguém poderia condenar um profissional,
de qualquer área, por ficar desmotivado trabalhando numa situação ao menos
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próxima à que vive hoje o professor brasileiro? E ainda assim, a motivação é
grande, verdadeiro milagre, face às barreiras e dificuldades que enfrentam.
Muitos estão adoecendo na profissão, a chamada síndrome de Bournout. Há,
sim, professores deprimidos, há os que emigram para outras profissões, enfim,
há o que é natural que haja em tal situação. Mas, por incrível que pareça, há
ainda muitos motivados e prontos para assumir mais e mais tarefas
educacionais. São esses que lotam auditórios, participando de cursos,
seminários e congressos para discutir problemas, inventar hipóteses, tentar
soluções, trocar experiências, bem ou mal sucedidas.
O professor na verdade é um herói, o grande herói brasileiro anônimo,
movido por uma espécie de convicção interior, que o domina e faz continuar
tentando, tentando, tentando. Sem essa abençoada compulsão, o que seria do
sistema educacional brasileiro?
Afinal, de que profissão se está falando quando se trata do magistério?
Hoje, sua preparação pode ser feita em diferentes instituições formadoras, até
mesmo em níveis de ensino diferentes. Assim, convivem agora os cursos
oferecidos pelas Universidades, como os de Pedagogia e de Licenciatura, o
Curso Normal Superior, dentro dos Institutos Superiores de Educação, e ainda
o antigo Curso Normal, em nível médio. Essa é apenas uma das dificuldades
que se levantam quando tentamos entender o magistério como uma profissão.
O contato com vasta literatura sobre o tema permite ao mesmo tempo,
perceber características mais ou menos consensuais entre os especialistas no
assunto, quando se trata de conceituar uma profissão, mas também certos
traços quase incompatíveis, ao tentar aplicar esse conceito ao magistério.
Entre os vários estudiosos, destaca-se BOURDONCLE (1991 e 1993), com
dois artigos que, numa visão ao mesmo tempo histórica e sociológica,
desvelam o panorama no qual vem se desenvolvendo o grupo ocupacional
dedicado ao magistério, ao longo dos tempos. O autor traz à tona as
dificuldades de conceituação do que seja uma profissão e procura identificar os
atributos essenciais comuns a todas as profissões: a) uma profunda base de
conhecimentos gerais e sistematizados; b) o interesse geral acima dos
próprios interesses; c) um código de ética controlando a profissão pelos
próprios pares; d) honorários como contraprestação de um serviço e não a
manifestação de um interesse pecuniário.
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Tratando do aspecto estratégico e da desvalorização do saber docente,
conclui-se que essa relação é, no mínimo, ambígua. Ao mesmo tempo em que
se evidencia a importância do saber docente na sociedade da informação,
percebe-se que a profissão de professor não mantém o mesmo prestigio
social. Primeiro, por uma divisão de trabalho na qual os professores
universitários foram assumindo a pesquisa e professores da educação básica,
a formação. Segundo, por causa da relação moderna entre saber e formação,
deslocando o foco dos saberes em si para procedimentos de transmissão
desses saberes. Terceiro, o aparecimento das Ciências da Educação, fazendo
com que a Pedagogia passasse a se subdividir em muitas especialidades.
Quarto, pelo fato de as instituições escolares serem tratadas como uma
questão pública. Finalmente, a desconfiança dos diversos grupos sociais com
relação aos saberes transmitidos pela escola, por avaliarem que estes têm
pouca aplicabilidade na sociedade atual.
Os discursos e as expectativas recaem sobre o professor como se ele
fosse o salvador da pátria, mas, na prática, não são dadas a esse profissional
as condições necessárias de responder adequadamente ao que se espera
dele.
Aluno: a vivência coletiva na escola Se o professor constitui sua identidade, tanto a profissional quanto a
pessoal, com base na sua relação com a escola, o mesmo acontece com a
criança e o jovem na sociedade moderna.
A experiência mais duradoura e mais comunitária, por assim dizer, que
tem marcado a vida de quase todos nos tempos recentes é a da passagem e
da vivência coletiva na escola.
Isso pode ser percebido com bastante clareza quando são selecionadas
nas obras literárias aquelas que se ocupam de expor as memórias de autores
e autoras. Percebe-se, em grande parte delas, que as referências ao período
da infância costumam ser fortemente marcadas pelas lembranças dos tempos
de escolas. Neste sentido, ser criança e ser jovem é, em larga medida, ser
estudante, ser aluno.
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É preciso reconhecer o aparecimento de um novo modelo de
estudante, para quem a experiência da escolarização já deixou de ser a
principal maneira de construção da sua identidade e das representações de
criança e jovem.
Progressivamente, o currículo, compreendido enquanto todo o
conjunto de atividades e de experiências formadoras tende a se desvincular da
escola, passando esse papel a ser exercido predominantemente pelos
conteúdos veiculados na indústria cultural, principalmente, a televisão e a
internet. Como as novas gerações estão se formando num momento em que
se perdeu o sentido de continuidade entre passado, presente e futuro, ou seja,
o próprio sentido da história, se ocupando apenas com o presente, o diálogo
com as gerações anteriores da qual provém os próprios professores torna-se,
no mínimo, tenso.
O tempo destinado a uma aula pode parecer excessivamente
monótono para quem foi programado desde muito cedo para se mover num
outro ritmo e numa outra percepção de tempo. A escola continua operando
com a temporalidade do momento anterior e diante das dificuldades
encontradas, tenta se adaptar ou seduzir os alunos, acenando com algumas
modificações superficiais que tornem o currículo escolar mais atraente ou
interessante.
A passagem pela escola foi durante muito tempo, para a grande
maioria das crianças, a principal e mais importante experiência de
socialização, mas na sociedade atual, outras instâncias sociais contribuem
com grande força para essa socialização.
Admitindo-se que exista hoje uma outra instância, muito poderosa
dessa socialização, a qual se constitui e opera no universo da cultura da mídia,
a escola continua tendo bastante peso, embora ela tenha que ser ponderada
juntamente com esses outros espaços e instituições, onde se acrescenta a
própria família.
Na escola, a maioria dos alunos se encontra com colegas de mesma
idade e de condições físicas, emocionais e intelectuais muito mais próximas,
tanto no espaço do recreio, do pátio e da quadra de esportes, quanto na sua
própria classe, durante os intervalos, oficiais ou inventados pelos alunos,
diante dos ritmos diferenciados de realização das tarefas escolares. É nessa
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instância de socialização entre os iguais, que se constituem e onde se afirmam
aspectos importantes da construção da personalidade de cada um dos alunos.
Do ponto de vista dos alunos, a escola possui uma dimensão afetiva e
relacional que é percebida por eles, muitas vezes e em diversos momentos,
com o mais relevante e significativo do que aquilo que a escola formalmente se
propõe a cumprir em termos do ensino e da aprendizagem de um conjunto de
saberes propriamente escolares. Do ponto de vista da escola e dos
professores, seria importante levar isso em consideração.
CORDEIRO afirma que “as soluções para diversos problemas
enfrentados hoje nas escolas e que são entendidos como exclusivamente
pedagógicas, pudessem ser mais claramente percebidas se fossem levadas
em consideração esses aspectos sociais e se fosse aproveitado esse ímpeto
ou essa vontade que move os alunos para a escola, para além das obrigações
impostas pelos pais e das cobranças dos demais adultos” (2007, p.84).
Ser aluno, portanto, só pode ser compreendido a partir da noção de
transitoriedade que vai da situação de paciente, daquele que recebe a ação do
trabalho institucional e pedagógico da escola, até a situação de agente, aquele
que durante o processo da aprendizagem e com base nele, conquista sua
liberdade por meio da aquisição de um conjunto de instrumentos, modos de
agir, valores, pensar e se relacionar com o mundo, com a sociedade, com as
pessoas.
Compreender o aluno por meio desta perspectiva da transição, de uma
situação que se transforma continuamente, pode ajudar os professores a rever
seus juízos e atenuar a rigidez das suas classificações: aluno bom, mau, forte,
fraco, pois conforme PATTO, “rever os juízos sobre os alunos também pode
conduzir os professores a serem mais flexíveis nas cobranças que eles
acabam impondo a si próprios”. (1991, p.98)
Isso não deve implicar, obviamente, rebaixar a qualidade do trabalho.
Mas pode e deve atenuar o tipo de exigências impostas por um tipo de
perfeccionismo que costuma caracterizar a profissão docente e que resulta nos
fortes sentimentos de culpa que nos têm marcado nos últimos tempos.
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Gestão do conhecimento na sala de aula A partir dos anos 90, as Políticas Públicas Educacionais no Brasil
afirmam, de forma explicita, a importância de garantir aos cidadãos uma
igualdade de oportunidades face à educação. Esta preocupação tem sido
atendida progressivamente por meio de diferentes medidas tomadas e que
tentam contribuir para que as crianças oriundas das classes populares tenham
uma igualdade de acesso à escola.
De fato, muitas crianças, adolescentes e jovens entram e
permanecem, pelo menos algum tempo, na escola. É também discutível que
os grupos socioculturais de origem desses alunos são muito diversificados. No
entanto, através de pesquisas na realidade escolar percebe-se que essa
igualdade de acesso que a escola pública tenta oferecer não é geralmente
acompanhada de uma igualdade de sucesso dos alunos que a freqüentam.
As pesquisas revelam ainda, que o sucesso acontece de modo
desigual, nos diferentes grupos socioculturais que constituem a população
escolar. Quem tem mais sucesso na escola são, sobretudo, os alunos da
classe media e da classe alta, face às oportunidades de acesso à múltiplas
formas de conhecimento.
A escola oferece habitualmente um tipo único de processo de ensino,
embora a população escolar seja bem heterogênea quanto às origens sociais,
étnicas e culturais. A escola constrói-se e funciona para o aluno ideal. A
presença da participação de grupos com comportamentos diferentes é por
vezes perturbadora de seu funcionamento. A distância entre as propostas, as
exigências da escola e o tipo e nível de saberes e interesses dos alunos é
demasiada grande. As linguagens e os interesses divergem. Assim, se poderá
em parte explicar o pesado insucesso que acontece na escola pública ou
particular, no meio urbano ou rural.
No entanto cada um destes grupos de crianças são detentoras de
saberes específicos e se posicionam, face aos problemas do cotidiano de uma
maneira própria. Não pode, portanto deixar de se pensar como será
enriquecedor para todos que o “diferente”, em vez de ser considerado estranho
ou ignorante, seja tido como alguém que tem muito a desvendar para o grupo,
tem uma contribuição própria no processo educativo.
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No momento em que o professor passa a conhecer os seus alunos e se
dá conta de suas diversidades poderá desenvolver propostas flexíveis e
variadas de ensino e, é na gestão destas propostas na sala de aula que o
conhecimento necessário e significativo se faz presente no processo de ensino
e aprendizagem.
Na sala de aula, as atividades físicas ou mentais devem permitir a
interpretação da realidade e a construção de significados, tanto para o aluno
quanto para o professor, permitindo novas possibilidades de ação, de
apropriação de conhecimento. Nesse processo de interação com o objeto do
conhecimento, o aluno e o professor constroem novas representações. É
nessa relação que o professor e aluno estabelecem a oportunidade para
construção do processo de ensino e aprendizagem.
Na atuação do professor sempre estão em jogo valores, tanto ligados
aos próprios conteúdos escolares, quanto referentes às questões sociais que
permeiam toda ação educativa. O professor precisa estar atento às
interferências, pois ele se posiciona e incentiva atitudes, influencia as relações
de respeito e a construção de auto-estima dos alunos.
MOURA (2001), ao falar da gestão do conhecimento pedagógico,
enfatiza entre outros aspectos, o processo de tomada de decisões pelo
professor sobre: que conteúdo trabalhar? Com qual objetivo? De que forma?
Com quais recursos? Em que tempo? Para qual aluno? Para que tipo de
sociedade?
Ao enfatizar o processo de tomada de decisões, MOURA destaca de
modo especial a figura do professor, profissional que administra grande parte
dessas decisões. Ser um professor mediador não pode significar ser um
observador passivo dos fatos que se desenrolam na sala de aula. Mediar é
essencialmente decidir, dirigir, intervir, avaliar, reconduzir, desencadear ações
de apoio ao aluno para que a aprendizagem efetivamente aconteça.
É preciso conhecer a realidade para planejar e tomar decisões quanto às
estratégias de trabalho, pois o professor é quem, em última instancia, decide
os aspectos a serem desenvolvidos na classe, especificando quanto tempo
dedicará a uma determinada matéria, que tópicos vai ensinar, a quem os
ensina, quando e quanto tempo conceder-lhe-á e com que qualidade serão
aprendidos.
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Confrontando a teoria com a realidade escolar
Para melhor relacionar a fundamentação teórica com o contexto real
da escola, foi proposta uma ação de intervenção contemplando o Projeto PDE-
PR, no Instituto de Educação Professor Cesar Prieto Martinez, no primeiro
semestre de 2009. A intervenção foi realizada sob a forma de grupo de
estudos com 30 professores e Oficina Pedagógica com 50 alunos do Curso de
Formação de Docentes para a Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Inicialmente, para fins de diagnóstico, foi aplicado um
questionário para todos os participantes com a finalidade de verificar os limites
e possibilidades da ação pedagógica no interior da sala de aula, numa reflexão
sobre a trajetória de cada um e de todos.
Após análise comparativa e reflexiva entre o referencial teórico e a
prática pedagógica dos professores, foi constatado que 90% demonstraram
uma preocupação em articular a competência, a técnica e a política existente
no seu trabalho docente, reforçando o pensamento de MELLO (1992), quando
cita que a competência profissional envolve várias características as quais são
importantes indicar. Em primeiro lugar, o domínio adequado do saber escolar a
ser transmitido, juntamente com a habilidade de organizar e transmitir esse
saber, de modo a garantir que ele seja efetivamente apropriado pelo aluno. Em
segundo lugar, uma visão relativamente integrada e articulada dos aspectos
relevantes mais imediatos de sua própria prática, ou seja, um entendimento
das múltiplas relações entre os vários aspectos da escola, desde a
organização dos períodos de aula, passando por critérios de matrícula e
agrupamento de classes, até o currículo e os métodos de ensino. Em terceiro,
uma compreensão das relações entre o preparo técnico que recebeu, a
organização da escola e os resultados de sua ação. Em quarto, uma
compreensão mais ampla das relações entre escola e a sociedade, que passa
necessariamente pelas questões de suas condições de trabalho e de
remuneração.
O restante dos professores, ou seja, 10% responderam com evasivas,
demonstrando preocupação com o fazer, sem levar em conta o saber bem ou
fazer bem. Esses professores são denunciados por SAVIANI (1991) como
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pertencentes de uma fase romântica, onde os mesmos estão sempre
ocupados com seus fazeres fragmentados, tornando fragil o processo
pedagógico.
No mesmo período foi entregue um questionário evidenciando as
questões que envolvem o processo de ensino e aprendizagem para os alunos.
Após análise das respostas foi constatado que mesmo possuindo uma visão
romântica da educação escolar, 100% dos alunos indicaram a competência
técnica e o compromisso político, fundamentais para o profissional da
educação.
Na continuidade dos trabalhos, durante a Oficina Pedagógica, os alunos
demonstraram a preocupação com uma boa formação profissional propulsora
do espírito de equipe, trabalho em colaboração, construção coletiva, exercício
responsável da autonomia profissional e adequadas condições de trabalho.
Nos dias em que foram realizados os grupos de estudos com
professores, foi feita a leitura e análise do Caderno Temático do PDE/2008,
oriundo da produção didático-pedagógica da professora autora deste artigo. Os
textos contidos no Caderno Temático forneceram suporte e elencaram
subsídios para as discussões sobre a gestão do conhecimento na sala de aula,
propiciando assim, elementos para os encaminhamentos metodológicos da
intervenção pedagógica.
O grupo de estudos entre os professores do Instituto de Educação
resultou em maior conscientização de cada um e de todos no processo de
melhoria da qualidade do Curso. Assim, foram pontuadas algumas questões
fundamentais para a melhoria do Curso de Formação de Docentes do já
referido estabelecimento de ensino:
• uma adequada gestão da heterogeneidade constituída através do
posicionamento do professor e também da organização de turmas
poderá contribuir para um maior sucesso escolar dos diferentes tipos
de alunos e uma maior aproximação do que se designa por escola
democrática;
• numa escola em que esta gestão não é feita, em que a diversidade não
é valorizada, sobrevivem com mais facilidade os alunos que pela sua
origem sociocultural, estão naturalmente mais próximos dos saberes,
valores e das normas que vigoram na escola;
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• se a educação escolar tem como objetivo fundamental promover, de
forma intencional, o desenvolvimento de certas capacidades e a
apropriação de determinados conteúdos da cultura, necessários para
que os alunos possam ser membros ativos, em seu âmbito sociocultural
de referência, o professor deve conseguir o difícil equilíbrio de oferecer
uma resposta educativa, tanto compreensiva quanto diversificada,
posicionando uma cultura comum a todos os alunos, que evite a
discriminação e a desigualdade de oportunidades e, ao mesmo tempo,
que respeite suas características e suas necessidades individuais;
• as dimensões do processo de ensino e aprendizagem através da
dimensão lingüística mediadora do diálogo na sala de aula, a dimensão
pessoal estabelecendo vínculos afetivos e relacionais entre professor e
alunos e a dimensão cognitiva com base na relação triática, isto é,
numa relação entre professor, aluno e conhecimento;
• a gestão do conhecimento poderá contribuir para uma educação
escolar de qualidade para todos, pois redimensiona o papel dos
professores e exige uma formação muito superior à atual, que não
atende mais às reais necessidades dos usuários do sistema educativo.
É relevante o papel dos professores para a formação dos alunos e,
consequentemente, é urgente uma formação adequada ao exercício
profissional e condições necessárias para um trabalho educativo eficaz.
• não se trata de responsabilizar pessoalmente os professores pela
insuficiência das aprendizagens dos alunos, mas de considerar que
muitas evidências vem revelando que a formação de que dispõem não
tem sido suficiente para gestar o conhecimento imprescindível para que
crianças e jovens não só conquistem sucesso escolar, mas,
principalmente, capacidade pessoal que lhes permita plena participação
social num mundo cada vez mais exigente sob todos os aspectos. Além
de uma formação inicial consistente, é preciso proporcionar aos
professores oportunidades de formação continuada: promover seu
desenvolvimento profissional é também intervir em suas reais
condições de trabalho;
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• uma boa formação profissional, inicial e continuada, aliada a um
contexto institucional que favoreça o espírito de equipe, o trabalho em
colaboração, a construção coletiva, o exercício responsável de
autonomia profissional e adequadas condições de trabalho, são
ingredientes sem os quais não se alcançará a qualidade pretendida na
educação. São, na verdade, direitos dos profissionais da educação,
principalmente se a meta for a qualidade real. E devem ser objeto de
sua luta se a meta da categoria for a conquista de níveis superiores de
profissionalização, não apenas o salario e as condições de trabalho,
que são reivindicações históricas, mas, também , as demais condições
que permitam aos educadores não só oferecer um ensino que de fato
promova a aprendizagem, mas, também, intervir nos destinos da
educação e da profissão.
Estas considerações poderão contribuir para fundamentar reflexões sobre as
decisões referentes à organização do trabalho na sala de aula, reconhecendo
que poderão ter efeitos muito importantes no significado e nos resultados de
todo o processo pedagógico.
O descortinar das possibilidades para uma gestão do conhecimento no espaço da sala de aula
Segundo MOREIRA, Há que se valorizar a escola pública, guardá-la no coração e defendê-la de
quaisquer ataques que possa vir a sofrer. Ela é uma instituição que temos procurado com muito esforço construir, e que precisamos preservar , atualizar e aperfeiçoar. Ainda que não mude o mundo, a escola pode ajudar o estudante a melhor entender como o mundo opera, o que é condição indispensável para se operar neste mundo. (2009, p. 12)
A escola pública é um dos lugares privilegiados onde as crianças e
jovens podem ampliar os seus saberes, em face da complexidade da
sociedade contemporânea, e assim tornarem-se capazes de exercerem a sua
condição de cidadãos, num país marcado por profundas desigualdades
sociais.
Nesse propósito, o professor enquanto gestor do conhecimento, deve
colocar sua competência técnica e pedagógica a serviço do coletivo da escola,
21
zelando pela aprendizagem de todos os seus alunos, pois disso depende os
rumos da educação brasileira.
Assim, a formação de professores destaca-se como um tema crucial e,
sem dúvida, uma das mais importantes dentre as políticas públicas para a
educação, pois os desafios colocados à escola exigem do trabalho educativo
outro patamar profissional, muito superior ao hoje existente.
Faz-se necessário analisar as possibilidades dos limites no Curso de
Formação de Professores, com a finalidade de alterar a situação hoje vivida,
no interior das escolas e, principalmente, nas salas de aula.
Constata-se algumas positividades que apontam também alternativas e
desafios, presentes nas Diretrizes Curriculares dos Cursos Formadores de
Professores, quais sejam:
a) A realidade educativa em que o professor atua é complexa, mutável, frequentemente conflituosa, e apresenta problemas que não são facilmente categorizáveis e nem sempre possibilitam soluções a priori.
Nesse sentido, o êxito profissional do professor depende de sua
capacidade de manejar a complexidade da ação educativa e resolver
problemas, por meio de uma interação inteligente e criativa.
Toda essa complexidade da atuação do professor diz respeito mais
especificamente ao seu trabalho docente. No entanto, existe ainda sua
atuação como membro da equipe pedagógica, sua participação no projeto
educativo da escola e na comunidade educacional. Isso implica uma ação
compartilhada e um trabalho coletivo dentro da própria escola e com diferentes
escolas, o que significa participar de eventos, estabelecer intercâmbios,
registrar, sistematizar, ser produtor de conhecimento. Portanto, sua ação
demanda trabalho coletivo, cooperativo, envolvendo diálogo com a
comunidade.
b) Ao buscar explicitar a natureza da atuação pedagógica para construir caminhos para a formação de professores no que diz respeito
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aos níveis de conhecimento, muitos estudiosos citam que esses conhecimentos nas ações são inconscientes e mecânicos.
É necessário que o professor, ao confrontar suas idéias, teorias e
crenças com a prática imediata, atue com sensibilidade, esteja flexível e aberto
para compreender e tomar decisões afinadas com sua intencionalidade e com
o que percebe de seus alunos e da situação educativa. A esse processo
chama-se reflexão na ação. Essa reflexão na ação é parte essencial no
trabalho do professor e não substitui a análise que se pode realizar a posteriori
sobre as características e processos da ação desenvolvida, a chamada
reflexão sobre a ação da competência.
c) A formação na perspectiva dos professores os levam a aprender um discurso que não modifica sua atuação junto aos alunos.
Uma verdadeira construção de competência profissional exige
experiência de atuação aliada à reflexão sistemática. Trazida para o processo
de formação de professores, a perspectiva de competência permite realizar a
formação prática sem ater-se aos limites do tecnicismo, de modo que o
professor aprenda a criar e recriar sua prática, apropriando-se de teorias,
métodos, técnicas e recursos didáticos desenvolvidos por outros educadores,
sem submeter-se a um receituário, nem à mera aplicação de teorias ou de um
repertorio de ações prévias e externamente programadas por outros. O
desenvolvimento da competência profissional permite ao professor uma
relação de autonomia no trabalho, criando propostas de intervenção
pedagógica, lançando mão de recursos e conhecimentos pessoais e
disponíveis no contexto, integrando saberes, sensibilidade e intencionalidade
para responder a situações reais, complexas, diferenciadas. Em síntese,
favorece uma verdadeira apropriação dos saberes já produzidos pela
comunidade educativa para elaborar respostas originais.
d) Os formadores de professores em suas diferentes inserções profissionais, em escolas de nível médio, em institutos superiores e universidades, nas secretarias de educação e nas próprias escolas do
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sistema educacional, muitas vezes não estão inseridos em um processo de desenvolvimento profissional continuo.
Na verdade o trabalho dos formadores referenda-se em situações
educacionais distintas: o processo de formação de professores e a realidade
em que esses vão atuar. Assim, os formadores precisam não apenas
compreender as questões da formação de professores como também
conhecer e dominar questões das salas de aula e escolas de educação básica
nas quais trabalham ou trabalharão os professores.
A competência do formador passa fundamentalmente pela capacidade
de analisar o trabalho dos professores com vistas a uma constante revisão e
desvelamento das crenças subjacentes às ações dos professores, de modo a
intervir com sucesso no desenvolvimento da competência profissional.
O trabalho de formação requer para os formadores espaços de
interlocução nos quais possam analisar a própria prática de formação, a de
outros formadores, e também as atividades dos professores. No caso dos
formadores que atuam nas escolas de formação inicial, a vigência de um
projeto educativo da escola viabiliza a existência desse espaço e a utilização
do tempo de trabalho dos profissionais para desenvolvimento curricular,
planejamento e atualização. Os professores das escolas de formação precisam
de atualização, discussão, planejamento, avaliação e replanejamento do
trabalho de formação que desenvolvem e o tempo destinado a isso deve estar
previsto em sua jornada regular de trabalho.
Tudo parece indicar, portanto, que uma boa formação profissional,
aliada a um contexto institucional que favoreça o espírito de equipe, o trabalho
em colaboração, a construção coletiva, o exercício responsável de autonomia
profissional e adequadas condições de trabalho são ingredientes sem os quais
não se alcançará a qualidade pretendida na educação. São, na verdade,
direitos dos profissionais da educação, principalmente se a meta for a
qualidade real que poderá levar à gestão do conhecimento na sala de aula,
seus limites e possibilidades.
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Considerações finais
O professor precisa ser reconhecido como o intelectual orgânico das
diversas classes sociais, um profissional que compreende a natureza do
trabalho coletivo na escola e que percebe a necessidade de pensar a
educação neste processo de contradição contra-hegemônico, que toma por
base as condições concretas e articula a educação às relações sociais,
democráticas e emancipadoras.
É um profissional que necessita pensar o papel da escola
historicamente e deve mediar as relações pedagógicas: aluno, currículo,
metodologia, processo de avaliação, processo de ensino e aprendizagem e
organização curricular. Precisa fazer, contudo, à luz de uma concepção de
educação voltada a um projeto de sociedade não excludente, não alienador,
não reacionário ou conservador. Um projeto de educação coletivo, democrático
e comprometido com o acesso das diversas classes sociais ao conhecimento
sistematizado. A função do professor, portanto, se delineia na ação intencional
que orienta a prática docente à luz de uma concepção de educação
progressista. Concepção esta voltada para a emancipação e cidadania dos
usuários da escola, comprometida com a formação cultural, com a difusão do
conhecimento vivo e com um projeto de sociedade de fato democrático.
Segundo FRANCO,
sempre imaginamos que uma política educacional pública deve expressar os anseios da comunidade a que se destinam, suas diretrizes e propostas, assim como imaginamos que uma política pública deve estar atenta e oferecer respostas às necessidades geridas e construídas na práxis histórica dos sujeitos que convivem em suas dimensões; no caso das políticas educacionais, referimo-nos aos educadores, aos que militam nas diversas esferas por onde a educação transita. Pressupomos ainda que uma política educacional, num estado de direito democrático, deve buscar canais de diálogo com os que estão implicados, direta ou indiretamente, com as conseqüentes normatizações de suas legislações. Acreditamos, eu e milhares de educadores, que as intencionalidades de uma política fundamentalmente a educacional, devem ser explícitas e dialogantes; devem ser expressas claramente e devem se reger por princípios e valores que fundamentam tais intencionalidades. Enfim, imaginamos que políticas públicas educacionais devem se pautar em pressupostos e expressar valores que justifiquem as escolhas e procedimentos tomados. Se não forem explícitos, tais pressupostos deixam de ser justificantes e passam a ser oportunistas, pois mudam de valor quando a situação se altera. (1996,p.72)
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Hoje, mais do que sempre, há um desafio para as bases da formação
dos professores que devem possuir ferramentas teóricas e práticas
necessárias que permitam aos alunos navegar pelas diversas realidades da
educação. Um caminho que lhes permitam colocar em seu horizonte
profissional, o projeto da escola e sociedade que acreditam e para os quais
orientam sua atuação e compromisso, mediante o agir de forma criativa e
transformadora na escola de educação básica, com suas contradições,
limitações e possibilidades.
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