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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA VANESSA ISIDÓRIO AVILA "POR ONDE ANDAM OS LIMITES DE NOSSAS CRIANÇAS?" COMO UMA PROFESSORA LIDA COM AS QUESTÕES QUE ENVOLVEM A (IN)DISCIPLINA EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL. SÃO JOSÉ 2013

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

VANESSA ISIDÓRIO AVILA

"POR ONDE ANDAM OS LIMITES DE NOSSAS CRIANÇAS?"

COMO UMA PROFESSORA LIDA COM AS QUESTÕES QUE ENVOLVEM A

(IN)DISCIPLINA EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

SÃO JOSÉ

2013

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PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE SÃO JOSÉ

CENTRO UNIVERSITÁRIO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

VANESSA ISIDÓRIO AVILA

"POR ONDE ANDAM OS LIMITES DE NOSSAS CRIANÇAS?"

COMO UMA PROFESSORA LIDA COM AS QUESTÕES QUE ENVOLVEM A

(IN)DISCIPLINA EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

Trabalho elaborado para a disciplina de Conclusão de Curso (TCCII) do Curso de Pedagogia, como requisito parcial para curso de graduação em Pedagogia do Centro Universitário Municipal de São José- USJ. Orientadora: Ma. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha

SÃO JOSÉ

2013

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VANESSA ISIDÓRIO AVILA

"POR ONDE ANDAM OS LIMITES DE NOSSAS CRIANÇAS?"

COMO UMA PROFESSORA LIDA COM AS QUESTÕES QUE ENVOLVEM A

(IN)DISCIPLINA EM UMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito de formação do Curso de Pedagogia pelo Centro Universitário Municipal de São José – USJ avaliado pela seguinte banca examinadora:

_________________________________________________ Profª Ma. Elisiani Cristina de Souza de Freitas Noronha

Orientadora

_________________________________________________ Profª. Ma. Roberta Schnorr Buehring

Examinadora

__________________________________________________ Profª. Drª. Jaqueline Aparecida Martins Zarbato

Examinadora

São José

Junho 2013

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AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por estar sempre me iluminando,

protegendo-me, guiando meu caminho e dando-me forças para superar todos os

obstáculos durante esses quatro anos.

À minha mãe Lucia, que tanto amo, por estar sempre me incentivando e

apoiando-me em todos os momentos em que precisei, sempre me dizendo para

seguir em frente e jamais desistir.

Ao meu marido Pablo, por ter tido paciência nos momentos de estresse e

inseguranças, fazendo-me acreditar, dizendo que eu posso, que tenho capacidade e

que tudo dará certo. Ele é muito especial, eu o amo!

À minha professora orientadora, Elisiani, que fez parte desta caminhada, que

teve paciência, que relevou meus sumiços. Dizia que eu estava correndo dela,

mandava-me e-mails dizendo que estava muito preocupada. Com ela aprendi muito,

a cada dia em que passamos juntas, desde o estágio até o TCC. Meu

desenvolvimento e amadurecimento nesse período foram relevantes. Só tenho a

agradecer!

Agradeço, finalmente, a todos que participaram de minha vida acadêmica,

especialmente a cada professor, por compartilhar novos conhecimentos, assim

como a cada companheiro de sala; claro que alguns mais especiais ficarão

marcados em minha lembrança por toda a vida.

Muito obrigada a todos!

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A alegria não chega apenas no encontro do achado, mas faz parte do processo da

busca. E ensinar e aprender não pode dar-se fora da procura, fora da boniteza e

da alegria.

PAULO FREIRE

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RESUMO

Este trabalho foi realizado em uma instituição filantrópica, localizada no município de Florianópolis, com o objetivo de observar como uma professora lida com as questões que envolvem estabelecimento de rotinas, limites, cumprimentos de regras em sala e resolução de conflitos em uma turma de educação infantil. O trabalho contou com dez observações participativas, que aconteceram durante as manhãs do mês de abril de 2013, cujos registros foram anotados no diário de campo. A turma observada foi a do Iº período, composta por crianças de três a quatro anos de idade, uma professora e uma professora auxiliar. Por meio das observações participei da rotina das crianças, observei como, na interação com as professoras, resolvem seus conflitos, como realizam os combinados em sala e de que maneira as professoras lidam com a questão dos limites. Essas observações propiciaram-me vivências significativas, que levarei para minha vida profissional.

Palavras-chave: Educação Infantil, Professor, Indisciplina.

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SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO................................................................................................. 07

2- ENTRELAÇOS DA INDISCIPLINA....................................................................... 11

2.1- EDUCAÇÃO INFANTIL................................................................................... 11

2.2- OS LIMITES NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS PEQUENAS......................... 14

2.2.1- (IN)DISCIPLINA........................................................................................... 16

2.2.2- AUTONOMIA................................................................................................ 19

2.2.3- CONFLITOS................................................................................................. 20

2.3- PROFESSOR ENQUANTO MEDIADOR....................................................... 22

3- PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.................................................... 24

3.1- A INSTITUIÇÃO............................................................................................... 25

3.2- A TURMA......................................................................................................... 25

4- DADOS DA ÁNALISE DA PESQUISA.................................................... 27

CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 34

REFERÊNCIAS............................................................................................ 36

APÊNDICES.............................................................................................. 40

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1. INTRODUÇÃO

Meu sonho, desde pequena, sempre foi ser professora. Na escola, quando

eram feitos trabalhos em que me questionavam sobre qual profissão queria seguir,

eu não pensava duas vezes para responder: queria ser professora. Gostava de

ensinar, de escrever na lousa, de corrigir e avaliar. Esse universo me encantava.

Porém, quando terminei o Ensino Médio, fiquei indecisa, não sabia ao certo o

que faria na sequência. Então minha mãe me incentivou a cursar o magistério, que

era o sonho dela também e foi o que eu fiz. Comecei a cursar e fui me encantando.

Iniciei o estágio obrigatório na Educação e me apaixonei. Depois desse momento,

não tive mais dúvidas: era essa a profissão que queria seguir.

Desde então nunca trabalhei em outra área que não fosse à educação.

Trabalhei em colégios particulares e creches (ONGs). Tenho uma ligação muito forte

com a Educação Infantil, na qual já atuei em diferentes faixas etárias.

Ao concluir o magistério, motivada novamente pela minha mãe, fiz o

vestibular para Pedagogia. Durante todo o curso, o meu interesse e as minhas

leituras foram voltados, dentro do possível, para o universo da Educação Infantil. A

escolha do tema do TCC não poderia ser diferente, afinal, esta é a área com a qual

me identifico, na qual já tive algumas experiências, tanto nos estágios obrigatórios,

realizados na época em que cursei o magistério, quanto nos que realizei na

Universidade, bem como durante a minha experiência como auxiliar de sala e

professora de crianças pequenas.

Durante esta vivência em sala, uma das maiores dificuldades que encontrei,

foi saber como lidar com os limites, com o cumprimento de regras, com a resistência

das crianças, com a solução dos conflitos, principalmente quando havia a disputa

por algo. Por isso o tema que escolhi para desenvolver este trabalho, diz respeito a

essas situações vivenciadas na prática, questões relacionadas aos limites das

crianças.

Na década de 1960 os pais eram mais rígidos com a educação dos seus

filhos. Bastava um olhar, ou falar apenas uma vez para serem atendidos sem

reclamações. Nos dias de hoje, observo que a educação está mais liberada, os pais

estão deixando as crianças mais à vontade, no intuito de lhes proporcionar uma

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educação diferente daquela na qual foram criados, deixando assim, não raro, as

crianças sem limites, pois acabam sendo muito permissivos.

Alguns pais, com receio de dizer não aos filhos, acabam perdendo o controle,

de forma que regras e combinados deixam de existir. Esse problema, nascido nas

residências, acaba repercutindo na creche.

Pai/mãe que impõe limite a seu filho transmite a ele segurança, proteção, estabelecendo assim um vínculo de respeito, por outro lado, a criança que não recebe esse estímulo, tem atitudes negativas, como exemplo, a birra, gerada num momento de desejo, de impulso da criança e que não é atendida pelos pais, se joga no chão, bate o pé, grita, chora. (MELEKE, 2009, s.p.)

Muitos pais pedem ajuda aos professores, porque não estão dando conta de

educar seus filhos sozinhos, não sabem mais o que fazer para mudar, ou melhorar o

comportamento dos mesmos. Os professores tentam construir com as crianças um

processo de respeito, cujo objetivo é colocá-lo em prática e estendê-lo para outros

ambientes. No entanto, para que isso aconteça, é necessário haver um trabalho em

grupo, em que família e escola trabalhem integradas, para obterem um resultado

positivo.

As crianças necessitam vir de casa sabendo o que são limites, pois quando

começam a frequentar a creche percebem que não são únicas. Lá, ao conviverem

com outras crianças, aprendem a ter que dividir atenções, brinquedos, a respeitar ao

outro. Criança precisa ter limites, seja para alimentação, escolha de roupas, na hora

de brincar, na hora do sono etc.

Em casa, não é raro os pais oferecerem algo em troca, no caso de as

crianças fazerem o que eles estão pedindo. Essa postura acaba prejudicando a

criança e por extensão os professores, pois quando elas (as crianças) vão à escola,

via de regra, acreditam que na escola podem se comportar da mesma forma que em

casa. “Os primeiros passos da criança na escola a colocam diante de novos desafios

e experiências que terão reflexos no seu desenvolvimento afetivo, cognitivo e

social”. (AUTUORI, 2011, p. 9).

Quando entram na creche, percebem que esta possui uma realidade muito

diferente daquela a que estão acostumadas, pois, na verdade, enquanto estiverem

na instituição terão que conviver com a rotina e os limites desta. Isto representa

uma mudança radical no seu cotidiano, porque ali vão ter que aprender a dividir os

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brinquedos, terão hora para comer, brincar e fazer atividades. Às vezes é muito

difícil trabalhar com as crianças essa questão de tempo e regras, porque cada uma

tem o seu próprio tempo e o seu próprio ritmo.

Ao se falar de disciplina, geralmente se pensa em regras, rigidez, imposição

de limites. Porém, Vasconcellos (2009, p. 105) afirma que a disciplina tem duas

dimensões: “A restritiva: deixa de fazer (limites; delimitação; frustração;

constrangimento; interdição; passividade); Positiva: dispor-se a fazer (possibilidades;

demanda; iniciativa inovadora; abertura de novos possíveis; atividade)”. A disciplina

é uma ação necessária para o desenvolvimento da criança. Ela é indisciplinada

porque lhe falta algo, por exemplo: carinho, amor, atenção, dedicação etc., esses

itens são muito importantes e se não os recebe em casa, tentará recebê-los no CEI,

com as professoras, o que pode gerar conflitos que deverão ser resolvidos pela

própria criança, mas que só o serão com a mediação das professoras.

Permitir que as crianças resolvam seus próprios conflitos é uma forma de favorecer o desenvolvimento da autonomia, porém o professor precisa estar atento para impedir agressões físicas, durante disputas ou interação mais vigorosas. (AUTUORI, 2011, p. 17)

A professora é a mediadora, mas deve deixar que as crianças tentem resolver

sozinhas seus próprios conflitos, que é o ideal, porém, se não conseguirem, então a

professora pode intervir, sempre de modo educativo, amigável, democrático. A falta

de limites acaba atrapalhando a professora dentro da sala e trabalhar essa questão

não é fácil, porque algumas crianças não aceitam ouvir “não”.

Esta pesquisa teve como objetivo geral conhecer como uma professora lida

com as questões que envolvem estabelecimento de limites, cumprimentos de regras

em sala e resolução de conflitos em uma turma de educação infantil. Como

objetivos específicos: vivenciar como a rotina é estabelecida em uma turma de

educação infantil; refletir sobre os conceitos de limites e estabelecimento de regras;

compreender através de observações e registros como são vivenciados e

estabelecidos os limites e cumprimento de regras; observar até que ponto a

conquista da autonomia pode colidir com os conceitos de limites e estabelecimento

de regras.

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Realizei esta pesquisa em uma sala de Educação Infantil, por meio de dez

(10) observações, durante as quais procurei responder o seguinte problema de

pesquisa: como uma professora lida com as questões que envolvem

estabelecimento de rotinas, limites, cumprimentos de regras em sala e resolução de

conflitos em uma turma de educação infantil?

As observações foram divididas em cinco pontos estratégicos, no primeiro e

sexto dia: a rotina, segundo e sétimo dia: os conflitos, terceiro e oitavo dia: professor

e criança, quarto e nono dia: os limites e no quinto e décimo dia: a autonomia.

O foco da pesquisa foram às professoras e as crianças de três a quatro anos

em uma instituição filantrópica no município de Florianópolis, localizada em um local

considerado muito violento.

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2. ENTRELAÇOS DA INDISCIPLINA

2.1. A EDUCAÇÃO INFANTIL

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2009),

definem a Educação Infantil como sendo;

A primeira etapa da educação básica, oferecida em creches e pré-escolas, às quais se caracterizam como espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0 a 5 anos de idade no período diurno, em jornada integral ou parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de ensino e submetidos a controle social. É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública, gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.

No Brasil é direito da criança poder frequentar uma creche pública, porém,

como não há vagas suficientes para todas as crianças, alguns pais precisam colocar

seus filhos em creches particulares ou deixá-los em casa de parentes. A partir dos 4

anos de idade, a matrícula na Educação Infantil se torna obrigatória, de acordo com

a Resolução CNE/CEB Nº 5/2009 art. 5º, § 2º.

Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil:

[...] contemplando o trabalho nas creches para as crianças de 0 a 3 anos e nas chamadas pré-escolas ou centros e classes de educação infantil para as de 4 a 6 anos, além de nortear as propostas curriculares e os projetos pedagógicos estabelecerão paradigmas para a própria concepção destes programas de cuidado e educação, com qualidade (BRASIL, 1998c).

Por meio da lei nº 12.796, no dia 4 de Abril de 2013 foi feita a alteração na

LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) em que no art. 6º consta que

“É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na educação

básica a partir dos 4 anos de idade". É responsabilidade dos pais manter seus filhos

na educação básica dos 4 aos 17 anos de idade. Essa lei se tornará obrigatória

somente em 2016.

A Educação Infantil é complemento da ação da família e da sociedade. Por

essa razão, creche e família devem trabalhar sempre juntas. Com a participação dos

pais, os professores poderão fazer um excelente trabalho.

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A LDB [...] atribui a ela [Educação Infantil] “como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (art. 29). A creche, portanto, tem o papel de iniciar essa educação integral, da mesma forma que a pré-escola, de continuá-la. (BRASIL, 2011, p.33)

Um dos princípios da Educação Infantil é o educar e cuidar, funções

indissociáveis que estabelecem a necessidade de uma visão integral do

desenvolvimento da criança, respeitando as suas diferentes peculiaridades. Com o

aumento do tempo em que as crianças ficam nas escolas/creches e com seus

professores, estes acabam cuidando delas e educando-as como se fossem seus

filhos ou parentes. Nessa perspectiva, essa postura educativa acaba assemelhando-

se ao que acontece em casa, o que favorece à criança sentir-se mais livre e, por

consequência, em alguns casos, sem limites.

Educar e cuidar, duas ações separadas na origem dos serviços de atenção à criança pequena, tornam-se, aos poucos, duas faces de um ato único de zelo pelo desenvolvimento integral da criança. Cuidar e educar se realizam num gesto indissociável de atenção integral. Cuidando, se educa. Educando, se cuida. Impossível um sem o outro. (DIDONET, NUNES, CORSINO, 2011 p.13)

De acordo com Didonet, Nunes, Corsino (2011), educar e cuidar andam

sempre juntos, e compete aos professores garantir que esse processo ocorra de

forma integral, por meio dos planejamentos educacionais e das atividades

realizadas.

O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção da saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseadas em conhecimentos específicos sobre desenvolvimento biológico, emocional, e intelectual das crianças, levando em conta diferentes realidades sócio-culturais (BRASIL, 1998, p. 25).

O cuidar precisa ser voltado para a necessidade das crianças, afinal, elas têm

direito de ser ouvidas, de receber atendimento individual, de brincar, de imaginar, de

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pular, de correr, de alimentação saudável etc. Quanto ao educar, é necessário que o

educador crie situações de aprendizagem para desenvolver habilidades

psicomotoras, intelectual, emocional etc.

Segundo as Diretrizes Curriculares (BRASIL, 2010), as instituições de

Educação Infantil devem criar procedimentos para acompanhamento do trabalho

pedagógico e para avaliação do desenvolvimento das crianças, sem objetivo de

seleção, promoção ou classificação. As avaliações deverão ser feitas através de

registros (fotos, imagens, vídeos e etc.), dessa forma os pais ficam sabendo sobre o

que ocorre na creche durante a sua ausência.

Ressalta Ostetto (2008, p. 21):

[...] registrar o cotidiano vivido com um grupo de crianças é uma aprendizagem e um desafio, principalmente por que o educador, para tanto, precisa necessariamente observar ações, reações, interações, proposições não só das crianças, mas suas também.

O registro ajuda também na hora de fazer as avaliações para os pais, porque

consta como as crianças se desenvolvem durante o bimestre (ou o trimestre). Por

meio do registro é percebido o que cada criança fez ou deixou de fazer, como se

comportou e se está sentindo dificuldades.

Segundo Ostetto (2008), é com o registro dos fatos, dos atos, dos

acontecimentos do dia a dia que aprendemos a ver o grupo em geral e cada criança

em particular, compreendendo, assim, que lá estão meninos e meninas em busca de

tempo para viverem a infância.

Este espaço-tempo para a escrita da “leitura” do vivido auxilia a observação e a reflexão porque, a partir das vivências expostas no papel, é possível adquirir certa distância delas, necessária para o ato reflexivo. Vê-las “de fora” auxilia, por exemplo, na percepção do significado que está “por trás” de algumas brincadeiras ou falas dos alunos. (WARSCHAUER apud OSTETTO, 2008, p. 23).

Nos dias de hoje, as crianças estão passando muito tempo dentro da creche,

tem algumas que chegam às 7h da manhã e só retornam para casa às 19h. É muito

tempo para ficarem longe de suas famílias, sem falar que muitas vezes acaba

ficando cansativo para elas. Acontece, inclusive, de criarem um vínculo muito

grande com as professoras, chegando, às vezes, ao ponto de quererem ir para casa

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com as professoras ou até mesmo começarem a chamá-las de mãe, o que, para

elas, seria mais do que normal.

Nessa relação, como os pais passam tempo demais longe de seus filhos,

alguns, para retribuir, permitem que as crianças façam o que bem entenderem, a

hora que quiserem e assim acabam facilitando falta de limites a suas crianças.

2.2. OS LIMITES NA EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS PEQUENAS

Para La Taille (2002, p.12), “limite se remete a ideia de fronteira, de linha que

separa territórios. Se existe um limite, é porque há pelo menos dois continentes,

concretos ou abstratos, separados por essa fronteira”.

Limites referem-se a tudo aquilo que a criança pode e não pode fazer, é uma

proteção e segurança para o seu bem. As crianças precisam da ajuda dos adultos

para compreender até onde podem ir, avançar na relação com outros, precisam

saber o significado do “não”. Segundo Munhoz (s.a., p.35):

Conhecemos regras e limites desde nossos primeiros passos. Em suas brincadeiras infantis, as crianças aceitam os limites impostos pelo grupo porque sabem que somente poderão brincar com alguém se criarem uma composição de normas que regem as brincadeiras.

Na verdade, a criança começa a conhecer os seus limites desde quando

nasce. Chora quando está com fome ou com a fralda suja e assim, pouco a pouco,

começa a aprender que por meio do choro poderá ganhar comida, ter a fralda

trocada ou qualquer outra necessidade atendida.

No momento em que a criança de dois a três anos de idade começa a

frequentar uma creche, presume que será igual ao ambiente materno, porém, com o

passar dos dias começa a perceber que é diferente. No começo resiste um pouco,

mas depois acaba se acostumando – ou se conformando – que ali há várias regras,

algumas inclusive, diferentes das que são impostas em sua casa.

Crianças que estão acostumadas à ausência de regras e limites custam mais

a se adaptar à creche. Para La Taille (2002, p.15) “[...] educar uma criança, longe de

ser apenas impor-lhe limites, é, antes de mais nada, ajudá-la cognitiva e

emocionalmente a transpô-los, ir além deles, pois a criança não deseja nada além

do que não ser mais criança.” Talvez, para muitas delas fosse bom se não houvesse

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tantas regras, afinal, quando se é criança não se entende o porquê de tantos nãos,

elas querem apenas brincar, correr, fazer muita arte e simplesmente ser crianças.

Alguns pais agem de maneira inadequada para estabelecer limites aos seus

filhos, são autoritários, agressivos e batem. Essa postura deixa a criança com raiva

e, em alguns casos, consequentemente, chega a rejeitar sua família.

Pai e mãe precisam estabelecer limites aos filhos de forma afetiva e

democrática, por meio de diálogo, assim eles aprendem a respeitar o próximo, os

amigos e os mais velhos. Aprendem, pouco a pouco, a refletir sobre as

consequências dos seus atos. Hoje em dia, muitas crianças não respeitam nem seus

pais, muito menos seus professores ou qualquer outra pessoa. Algumas, inclusive,

ao receberem um “não” ficam agressivas, brigam, gritam e até mesmo agridem

fisicamente seus professores ou amigos.

Para La Taille (2002, p.51), o sentido restritivo da palavra “limite” nos coloca

de chofre no grande tema humano que é a liberdade. Não transpor determinados

limites é sujeitar-se a uma imposição, seja ela física ou normativa. Sempre que for

necessário chamar a atenção das crianças no momento do acontecido, para elas

terem consciência de que aquele ato não pode ser repetido. Dar limites na hora

certa e na medida certa é um ato de amor.

Cabe aos pais delegar ao filho tarefas que ele já é capaz de cumprir. Essa é a medida certa do seu limite. É por isso que os pais nunca devem fazer tudo pelo filho, mas ajudá-lo somente até o exato ponto em que ele precisa, para que, depois, realize sozinho suas tarefas. É assim que o filho adquire autoconfiança, pois está construindo sua autoestima. O que ele aprendeu é uma conquista dele. (TIBA, 1996, p. 43)

Os pais podem dar tarefas a seus filhos desde quando eles (os filhos) são

pequenos, assim irão aprendendo a ter limites e pequenas responsabilidades. Os

pais jamais fazer pelos filhos as tarefas que competem a estes, a não ser que não

consigam e peçam ajuda. Essa postura é muito importante para o desenvolvimento

da criança.

O ato de estabelecer limites, defendido aqui, não tem relação com as famosas

palmadas, defendidas por alguns e tão criticadas por outros. Lima (2004, sp) afirma

que:

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O ato de bater reforça, sem dúvida, o autoritarismo e sadismo do mais forte sobre o mais fraco, no caso, a criança termina ficando ressentida e com raiva. Existe suspeita de que o ato de bater pode levar o agressor a uma compulsão à repetição, isto é, a adquirir prazer e gozo sádico em bater.

Nesse momento o ideal seria conversar olhando nos olhos da criança e na

mesma altura; para tanto, o adulto deve ficar ajoelhado ou sentado, assim a criança

saberá que quem propõe as regras é o adulto e assim entenderá o que pode e não

pode fazer.

Munhoz (s.a.) ressalta que a ausência de limites prejudica o desenvolvimento

pessoal e os relacionamentos sociais, mas o excesso deles impede o

amadurecimento individual.

A ausência de limites pode prejudicar o crescimento da criança, que poderá,

inclusive, transformar-se em agressiva, não sabendo ouvir a palavra não e quando

não for do seu jeito, fazer birras. O excesso de limites pode impedir o

amadurecimento da criança, tornando-a limitada, capaz de fazer somente aquilo que

lhe é solicitado e nada mais.

2.2.1. (IN) DISCIPLINA

Segundo Durranrt, Newell, Power (2008, p. 21), “a disciplina infantil é um

tópico de interesse prático, político, investigativo e teórico no mundo todo.” Toda

criança necessita ter disciplina, seja em sua casa ou na escola. Para Tiba (1996, p.

117), todos da escola precisam cumprir as regras, inclusive o aluno e o professor.

[...] a disciplina escolar é um conjunto de regras que devem ser obedecidas tanto pelos professores quanto pelos alunos para que o aprendizado escolar tenha êxito. Portanto, é uma qualidade de relacionamento humano entre o corpo docente e os alunos em uma sala de aula e consequentemente, na escola.

Um exemplo de disciplina na creche é quando as crianças são chamadas

para organizar a sala, guardar todos os brinquedos nos devidos lugares. No início,

alguns não aceitam fazê-lo, mas com a rotina do dia a dia vão se acostumando com

essa disciplina.

A educação é o objetivo básico da disciplina infantil. A cognição espiritual é vista como o principal guia para atos de comportamento

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voluntario. A relação dos pais com os filhos é a de guardiães de uma dádiva de Deus, não de proprietários. A disciplina violenta, principalmente com crianças, é considerada prejudicial; corrompe o moral da criança, promove sentimentos de repressão, diminui a felicidade e a atividade e leva a comportamento problemático. (DURRANT, NEWELL, POWER 2008, P. 131)

Durrant, Newell, Power (2008, p. 135) confirmam que o fator mais importante

para enfrentar problemas de disciplina é a prevenção, havendo, segundo os autores,

dois passos para definir uma direção para o comportamento desejado: 1º) ter regras

relativamente simples e em pequeno número; 2º) ter regras que podem ser

obedecidas – que são realistas e práticas. Os autores falam em prevenção de

indisciplina com pequenas regras que possam ser cumpridas, não adiantando

determinar grandes regras que na prática não são obedecidas.

Segundo Vasconcellos (2009) a disciplina é uma das maiores reivindicações

dos professores que se queixam, principalmente no trabalho em sala de aula. O

autor afirma que:

É grande o espaço que a disciplina escolar ocupa entre os professores, pais, alunos, gestores dos sistemas de educação e também a mídia. A disciplina é uma das maiores reivindicações dos professores em termos de temática para as capacitações na formação continuada, assim como uma das maiores queixas relativas ao trabalho em sala de aula (VASCONCELLOS, 2009, p. 24).

Com o domínio da disciplina em sala, o professor consegue o respeito dos

seus alunos, conduz melhor o seu trabalho. Nascimento (2011, p.4) ressalta que:

A disciplina entendida como algo externo ao ser humano é fabricada pela sociedade para limitar os impulsos instintivos e regrar a boa convivência. Assim, cabe a instituições como família, escola, igreja, entre outras a tarefa de formar um indivíduo para a vida em sociedade.

O indivíduo deve ter disciplina para poder viver em sociedade, e as crianças

devem ser preparadas para conviver com regras, combinados, limites, respeito.

A disciplina organiza os movimentos para potencializar a utilidade dos corpos. O poder disciplinar é um modo de subjetivação que se exerce sobre o corpo, criando regras para a sua ação tornando-o rijo, ou seja, um corpo suscetível de ser moldado, ao mesmo tempo em que é dócil é também frágil. (NASCIMENTO, 2011, p.4)

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As crianças usam os adultos como referência, os imitam. Portanto, os adultos

devem tomar cuidado com o que falam e fazem na frente das crianças. Carvalho

(1996, p. 137) comenta que para ter disciplina não significa ser disciplinado para

tudo:

As exigências de procedimentos, regras e métodos de uma prática não se dissociam dos objetos e conteúdos da mesma. Nesse sentido, disciplina escolar não se identifica com uma boa ordem, mas com práticas que exigem diversas disposições e diferentes tipos de exigência.

Falar de indisciplina envolve limites, regras, comportamentos, combinados e

disciplina. Para La Taille (1996, p.10) a indisciplina se traduz em duas formas: “[...]

1ª) a revolta contra estas normas; 2ª) o desconhecimento delas. No primeiro caso,

indisciplina traduz-se por uma forma de desobediência insolente; no segundo, pelo

caos dos comportamentos, pela desorganização das relações”.

Vichessi (2009, p. 79) já tem uma visão diferente sobre indisciplina, para a

autora há dois tipos de regras:

O primeiro são as morais, construídas socialmente com base em princípios que visam o bem comum, ou seja, em princípios éticos. O segundo tipo são as chamadas convencionais, definidas por um grupo com objetivos específicos.

Na primeira regra, podemos citar não bater e nem falar mal das crianças; já

na segunda, podemos citar brinquedos fora de hora, na hora da rodinha as crianças

conversando. Não adianta somente os professores trabalharem indisciplina com as

crianças e os pais terem ações completamente diferentes.

2.2.2. AUTONOMIA

Para Vasconcellos (2009, p.106) “Autonomia é a palavra cuja origem se

relaciona à forma pela qual os gregos designavam a independência ou a

autodeterminação de um Estado; portanto, é conceito sugerido num domínio

jurídico-politico.” A autonomia, segundo o Referencial Curricular Nacional para

Educação Infantil (1998, p.14) é "a capacidade de se conduzir e de tomar decisões

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por si próprias, levando em conta regras, valores, a perspectiva pessoal, bem como

a perspectiva do outro..."

A criança com autonomia satisfaz suas vontades com prazer, como o cuidado

consigo mesma, se alimentar sozinha, escovar os dentes, vestir-se, colocar seus

sapatos etc.

Autonomia implica a capacidade de tomar decisão; a tomada de decisão se baseia no julgamento da realidade e implica virtude, coragem de se posicionar; para julgar a realidade, precisamos de dados a seu respeito e de critérios, de um conjunto de valores. (VASCONCELLOS, 2009, p. 108).

A cada dia que passa, as crianças estão mais espertas e autônomas,

achando que podem fazer o que querem, na hora que querem e nós, adultos,

devemos saber muito bem que não é desse jeito que se adquire autonomia.

O sujeito social autônomo é aquele que circula e atua no conjunto da vida social de forma independente e participativa. Para isso, requer-se que ele também seja capaz de estabelecer juízos de valor e assumir responsabilidades pelas escolhas. O fundamento ético da humanidade se assenta no tripé constituído pelo reconhecimento de si mesmo como sujeito (individualidade), na liberdade e na autonomia. A consciência deste tripé se frutifica pela ação educativa, que constrói no ser humano a capacidade para incorporar estes valores. (RODRIGUES, 2001, p.15.)

Autonomia ajuda a criança a começar a ter responsabilidades com seus atos

e objetos e responsabilidades saudáveis de acordo com sua faixa etária. Por

exemplo, a escovação dos dentes. Elas sabem que têm que escovar os dentes

todos os dias no mesmo horário, ou quando os pais e professores solicitarem,

assim, com o passar do tempo, não é mais preciso pedir, já se torna automático.

O sujeito se torna autônomo, no primeiro plano, quando capaz de estabelecer relações de equilíbrio racional entre suas emoções e paixões. Igualmente, ao se tornar capaz para assumir a responsabilidade pelo próprio corpo e as relações equilibradas com o mundo natural. E, acima de tudo, quando determinar e escolher livremente os meios e os objetivos de seu crescimento intelectual e as formas de inserção no mundo social. Preenchidas essas condições, ele pode ser reconhecido como sujeito social. (RODRIGUES, 2001, p. 249).

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Quando a criança se torna autônoma, ela tem certeza do que está fazendo e

do que quer, porém, algumas vezes, quando é contrariada, faz birras, achando que

com esse ato a sua vontade será feita.

[...] Autonomia significa que somos responsáveis por nossas ações, já que elas decorrem de nós mesmos; e devemos sempre supor que deveríamos ter agido de outro modo. Relativa significa que a situação social concreta e os diversos sistemas normativos definem os limites no interior dos quais podemos interpretar e realizar determinados valores. Em suma, a nossa determinação social não condiciona por si só nossas ações, mas certamente as influencia de perto. (HELLER, 1982 apud. VASCONCELLOS, 2009, p. 108).

Segundo a autora Heller (1982), tudo o que fizemos é para nós mesmos e se

uma criança bate em um amigo, mais tarde ele poderá retribuir. Não podemos

confundir uma criança com muita autonomia com outra sem limites, pois se ela não

tem limites, irá fazer tudo o que der vontade, sem pensar no que poderá acontecer.

2.2.3. CONFLITOS

Segundo Araújo (2008), trabalhar os conflitos é reconhecer e articular os

princípios de igualdade e de equidade nas relações interpessoais presentes nos

espaços de convivência humana, o que nos remete à construção da democracia e

da justiça. Pelo diálogo com as crianças, podemos ajudá-las a resolver muitos dos

conflitos, tentando, pouco a pouco, deixá-las resolvê-lo sozinhas; caso não

consigam, aí sim o professor entra como mediador.

Araújo (2008) também afirma que a escola e a sala de aula são espaços

privilegiados para que um trabalho de formação se opere. Afinal, constituem-se em

espaço público, hoje obrigatório, em que as pessoas têm de conviver durante boa

parte de seu dia com valores, crenças, desejos, histórias e culturas diferentes. Com

o enfrentamento dos conflitos diários as crianças aprendem a se respeitar e a

valorizar as qualidades do seu próximo, com o auxilio dos professores. Autuori

(2011, p.17) também afirma que:

O reconhecimento do outro e a compreensão do prazer de compartilhar virão depois. É natural, durante as brincadeiras, que a criança não queira emprestar um brinquedo ou um outro objeto. É importante compreender essa fase, mas também proporcionar mais

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atividades coletivas e conversas, para auxiliá-la no processo de desenvolvimento.

É comum os professores repetirem várias vezes que é para as crianças

dividirem os brinquedos com os amiguinhos, às vezes algumas até aceitam

facilmente essa divisão, outras não e acabam reagindo de forma inesperada, com

uma mordida, um tapa, um chute etc. Quando isso ocorre, o professor não deve

ameaçá-las e nem puni-las, o mais certo a fazer, é mostrar que a criança está

errada, conversar, dizendo que isto não é para fazer novamente porque machuca o

amigo.

Segundo Durrant, Nunes e Corsino (2008, p. 71), em qualquer situação de

conflitos entre um adulto e uma criança, o adulto faz uma interpretação subjetiva do

comportamento da criança. O adulto vai definir o comportamento como grave ou

não, intencional ou não, controlável ou não.

Crianças criam conflitos por vários motivos, na disputa por um brinquedo, ou

porque o amiguinho não quer mais brincar, ela não quer ser minha amiguinha, na

hora da atividade em grupo por causa do lápis etc. conflitos esses, que podem ser

resolvidos na mesma hora em que ocorrem. Algumas crianças conseguem resolvê-

los sozinhas, outras geralmente pedem ajuda a professora, contando-lhe o que

aconteceu. O professor deve intervir somente quando percebe que a criança não

consegue fazer isso sozinha ou quando está correndo algum risco.

2.3. O PROFESSOR ENQUANTO MEDIADOR

Segundo Locks (s.a, s.p.):

O professor é mediador entre a criança e o conhecimento e aproveita o clima afetivo na rotina para provocar o interesse e a criança deve reconhecerá um parceiro e não um cobrador, pois a criança precisa justamente de um mestre, para ajudá-la a utilizar-se dos seus próprios recursos. Atento as situações, o professor dá significado às elaborações das interlocuções entre crianças, potencializando aprendizado fundamentando sua ação pedagógica em valores éticos e humanísticos e tendo muito claros seus princípios e objetivos, alem da técnica e do conhecimento.

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Para Belentani e Depieri (s.a, s.p), um dos grandes desafios da educação e

dos seus profissionais está em “compreender, conhecer o jeito particular das

crianças serem”. O universo infantil pode ser desvendado por meio da psicologia e

de algumas ciências, em que cada criança é considerada em sua individualidade e

particularidade.

O professor deverá conhecer cada criança no individual, saber o que

realmente cada uma delas pensa. Vasconcellos (2009, p. 67) afirma que:

Os professores, por sua vez, sobrecarregados e estressados, também encontram dificuldade para estabelecer um vínculo de maior proximidade com os alunos, seja em razão do grande número de alunos que tem em sala ou no ano (pelo fato de trabalharem em várias escolas), seja pela rotatividade na instituição, seja pelas faltas, seja mesmo pela pouca paciência com os alunos depois de uma jornada cansativa, o que acaba confirmando uma postura de distanciamento.

As crianças estão cada dia mais agitadas, agressivas e sem limites. Às vezes

elas não têm culpa por estarem tão agitadas, afinal, já passaram várias professoras

pela turma e acabaram saindo por algum motivo e assim foram ficando sem

referência certa para seguir.

O aluno precisa ouvir NÃO e, muitas vezes, a palavra firme do professor substitui a fragilidade com as negações são trabalhadas em família. Não hesite em usar o NÃO. Uma excelente maneira de habituar o aluno à disciplina que todos queremos é a segurança em perceber que no futebol, na casa, na rua, na vida e é claro na escola existem regras e existe a serenidade de quem as relembra e cobra. (ANTUNES, 2011, p. 31)

O professor tem que ter autoridade e postura para dizer não às crianças, sem

agressividade, sabendo impor limites, assim desde pequenas elas aprendem o

significado de uma palavra negativa.

Ser amigo dos alunos, compreensivo e companheiro, ter a mentalidade aberta e acompanhar o processo de construção do conhecimento, agindo como agente entre os objetos do saber e a aprendizagem, ser para o aluno seu decifrador de códigos e receptor de suas muitas linguagens, significa estabelecer limites e construir democraticamente uma interação onde em lugar da opressão e da prepotência eleva-se a dignidade de quem educa a certeza de quem planta amanhã. (ANTUNES, 2011, p.60)

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Segundo Antunes (2011), quando o professor cobra regras e impõe limites,

mas compreende os alunos e principalmente é amigo, tudo se torna muito mais fácil.

Professores que agem dessa maneira são raros e com certeza nunca serão

esquecidos, fazem a diferença na vida de seus alunos.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a execução deste trabalho foi utilizada uma pesquisa bibliográfica, que

serviu de base ao referencial teórico. Afirma Santos (1999, p.29):

Pesquisa bibliográfica é o conjunto de materiais escritos/gravados, mecânica ou eletronicamente, que contêm informações já elaboradas e publicadas por outros autores e uma bibliografia. [...] A utilização total ou parcial de quaisquer destas fontes é o que caracteriza uma pesquisa como bibliográfica.

O método utilizado para a pesquisa foi o qualitativo, o qual, segundo Collis;

Hussey (2005, apud SILVA; KARKOTLI, 2011), utiliza técnicas de dados como a

observação participante, história ou relato de vida, entrevista e outros. Ressalta Gil

(1999 apud SILVA; KARKOTLI, 2011) que:

Pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. [...] O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento chave.

A pesquisa de campo foi realizada em uma instituição filantrópica, localizada

no município de Florianópolis, tendo como público alvo, um grupo de crianças com

idade entre três e quatro anos, que frequenta o Iº período.

O trabalho de campo contou com dez observações participantes junto às

crianças e professoras, no horário das 8h às 9h30min. Esse horário foi escolhido por

ser o período em que as crianças realizam o momento da roda e da atividade. Este

período é sucedido pelo momento do parque, que foi observado em dois dias. As

idas a campo contaram com cinco pontos de observação distintos divididos da

seguinte maneira: 1º e 5º dias foram observadas as rotinas; no 2º e 6º dias, os

conflitos entre as crianças; no 3º e 7º dias, os limites e seus rompimentos; no 4º e 8º

dias, a interação entre professor e crianças e no 5º e 10º dias, a autonomia. Os

pontos de observação serviram como um norteador do olhar e não como algo que

pudesse limitar as observações.

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Para realizar esta pesquisa, foi utilizado um diário de campo para registrar as

observações, estudo bibliográfico e documental, além de um questionário realizado

com as professoras e coordenadora, contendo duas perguntas abertas.

3.1 A INSTITUIÇÃO1

A pesquisa de campo foi realizada em uma instituição filantrópica, localizada

no Município de Florianópolis, no bairro Vila Aparecida – Coqueiros, um local

considerado de risco. A instituição foi fundada há 35 anos e hoje seus 15 (quinze)

funcionários atendem, no período integral, cerca de 80 (oitenta) crianças, de 0 a 5

anos idade, que estão divididas em cinco turmas.

A instituição adota o trabalho por meio de projetos planejados em reuniões

pedagógicas realizadas mensalmente. Nessas reuniões, os projetos também são

avaliados, ação que se torna imprescindível para a construção de novos projetos.

Cada professora é responsável pelo projeto que será proposto a sua turma, desde a

escolha do tema até as proposições das atividades.

A instituição conta com seis salas da educação infantil; sala da coordenação,

com biblioteca integrada; depósito; lavanderia; banheiros para o uso das crianças e

para adultos (separados); sala de vídeo; cozinha; pátios interno e externo.

3.2 A TURMA

A turma, objeto da pesquisa, é composta por 20 (vinte) crianças, uma

professora e uma professora auxiliar. Na sala há um casal de gêmeos, em que o

cuidado e a cumplicidade entre eles é uma característica muito marcante; há

também um casal de irmãos, que apesar de terem idades diferentes, a menina

possui três anos e o menino quatro; costumam dividir tudo, desde os brinquedos até

as atividades.

As crianças têm entre 3 a 4 anos de idade, com a exceção do Yuri2 que tem 5

anos. A turma é composta por 10 (dez) meninas e 10 (dez) meninos.

1 Dados retirados do Projeto Político Pedagógico da instituição.

² Para preservar a identidade das crianças, foram adotados nomes fictícios.

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Durante as observações, as crianças agiram normalmente, como se eu fosse

uma das professoras; pediam para ir ao banheiro, amarrar o tênis. Quando eu

sentava, vinham sentar-se ao meu lado para conversar comigo.

As crianças gostam muito de cantar, ouvir histórias, assistir filmes, brincar

com variedades de brinquedos. O momento predileto é o de ir ao parque, por ser o

lugar onde as brincadeiras são livres, onde podem brincar com areia, com os

brinquedos disponíveis, correr bastante.

São crianças agitadas, mas carinhosas e participativas, muito curiosas,

adoram novidades e respeitam os momentos propostos.

A professora de sala é formada pelo magistério e no momento está cursando

a sexta fase do Curso de Pedagogia; a professora auxiliar é formada no magistério e

esta cursando a quarta fase do Curso de Pedagogia.

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4. DADOS DA ANÁLISE DA PESQUISA

Durante as dez manhãs em que observei a turma do Iº período, ocorreram

várias situações de conflitos envolvendo questões de limites, rotinas, autonomia,

relacionamento entre professor e criança e entre as próprias crianças. Por meio das

observações, busquei subsídios para compreender como a professora de sala lida

com as questões da indisciplina.

Gil (1999, p. 113) ressalta que “a observação participativa consiste na

participação do conhecimento na vida da comunidade, do grupo ou de uma situação

determinada. O observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de um

membro do grupo”.

Quase todos os dias em que estive com a turma, percebi que quando a

professora pedia para as crianças fazerem silêncio, elas não paravam quietas e

quando paravam não era por muito tempo. Só se acalmavam quando a professora

mudava o seu tom de voz, para muito “alto”. Quando a professora ia fazer a

chamada, algumas crianças gostavam de imitá-la ou debochavam da mesma. Ela

simplesmente pedia para que ficassem quietas e novamente tinha que alterar voz.

As crianças só lhe obedeciam quando percebiam que a mesma estava ficando brava

e alterando a voz.

Essas situações podem ser identificadas nos seguintes momentos:

Havia uma aluna que respondia por todos e achava graça do que estava fazendo. A professora pedia para que ela não incomodasse aos demais, porém não adiantou. (DIÁRIO DE CAMPO, 08/04/2013).

De vez em quando, a professora era obrigada a falar um pouco mais alto, solicitando que ficassem em silêncio e sentadas, pois algumas

não conseguiam fazê-lo por muito tempo. (DIARIO DE CAMPO, 08/04/2013).

Em contrapartida, em outro momento, a professora adotou um

posicionamento inesperado, quando “[...] pediu para Yuri sair de cima dos carrinhos

e ele não aceitou ser chamado atenção e se pendurou na grade da janela, a reação

da professora foi tão normal, que só falou para a criança descer, ele só desceu

depois da mesma falar duas vezes”. (DIÁRIO DE CAMPO, 17/04/2013). Segundo

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Barros (s.a., s.p.), “o professor não precisa gritar pelo silêncio ou castigar os

indisciplinados. Pelo contrário, sua prática docente exerce as práticas dos bons

valores morais, do respeito ao próximo, dos direitos e deveres a serem cumpridos.”

O professor deve procurar conquistar a criança por meio do diálogo, transmitindo

assim confiança e segurança à criança.

Quando a professora perdia o controle da turma, solicitava silêncio com tom

de voz mais alto que o normal e dizia para as crianças se sentarem encostadas na

parede. Talvez, esse seja o método que a professora julgue ser o mais apropriado

para recuperar o controle da turma, organizando-os e fazendo-os pensar sobre o

que fizeram. No parque e na hora da higiene a professora costumava adotar o

mesmo método.

Aos poucos as crianças foram se aproximando para ver as atividades umas das outras. Como descumpriram o combinado, a professora não gostou, e demonstrou a sua reprovação pedindo que se encostassem na parede. (DIÁRIO DE CAMPO, 15/04/2013).

As crianças continuaram sentadinhas na roda para que a professora pudesse explicar como iriam fazer a atividade, mas mesmo assim, ela não conseguia falar, porque as crianças não paravam de conversar. Então precisou falar mais alto e pediu para se sentarem encostados na parede, porque estavam correndo pela sala. Como nem todos a obedeceram, ela alterou a voz novamente, então se sentaram e ficaram bem quietinhos. (DIÁRIO DE CAMPO, 15/04/2013).

Na hora de ir lavar as mãos, a professora pediu para todos sentarem encostados na parede para fazer a fila sem desordem, a mesma teve que solicitar várias vezes para que sua ordem fosse obedecida. (DIÁRIO DE CAMPO, 16/04/2013).

Em uma das manhãs observadas, a turma não estava se comportando muito

bem, então a professora falou que não iriam para o parque. Yuri começou a cantar

para a professora parte da música funk que trazia palavras inapropriadas para a sua

idade, a professora o ignorou fazendo de conta que não o escutou.

A turma ficou um pouco agitada quando a professora falou que ninguém iria para o parque, Yuri cantou a parte da música funk que fala “A porrada come”. (DIÁRIO DE CAMPO, 24/04/1013).

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Outro ponto observado foi quando a professora prometeu e não cumpriu,

falando que não iria dar brinquedos e em seguida disponibilizou no meio da roda,

uma caixa de brinquedos.

[...] então ela desligou o som e falou que todos iriam ficar sentados sem brincar. Em seguida ela pegou as pecinhas de encaixe tipo “lego”. Nessa hora o Yuri falou: -“Tu falasse que não ia dar brinquedo.”; então ela respondeu rapidamente: “É porque eu sou boazinha!”. (DIARIO DE CAMPO, 24/04/2012)

[...] a professora pediu várias vezes para Yuri não colocar areia na calçada, mas não adiantou, ele acha que pode fazer o que quer e a hora que quer. A professora cansou de pedir e falou que depois ele iria limpá-la, porém ficou somente na fala. (DIARIO DE CAMPO, 16/04/2013)

A criança estava cobrando um ato que a professora descumpriu. Depois

desse ato, como a professora irá colocar regras em sala e fazer com que as crianças

a respeitem? O professor precisa ser seguro de seu papel e não ficar com medo de

tomar decisões, deve se responsabilizar pelos seus atos. Se prometer algo, deve

cumprir, caso contrário, a criança sempre irar desafiá-lo.

Em suas pesquisas Barbosa (2006, p. 143) ressalta que:

Trabalhar a rotina parece ser prioritariamente uma questão de formação de hábitos sociais, ao invés de algo relacionado à construção ativa da noção de tempo. A possibilidade de problematizar com as crianças aspectos relacionados à organização temporal, a partir das próprias atividades que desenvolvem no seu dia-a-dia escolar, é ignorada ou descartada, parecendo ser apreciado pelos professores tão somente o cumprimento à risca da sequência estabelecida.

A rotina das crianças do Iº período não era variada. Todos os dias eram feitas

as mesmas coisas: as crianças tomavam café, colocavam suas cadeiras no lugar,

iam fazer a rodinha, cantavam algumas músicas infantis, faziam a chamada, a

professora explicava o que iria ser feito de atividade, faziam a atividade e quando

terminavam, quase todos os dias brincavam com jogos de encaixe tipo “Lego’ e por

último iam para o parque, onde não havia brincadeira direcionada, eram sempre

brincadeiras livres.

Como descreve Barbosa (2006), a rotina está parecendo um cumprimento de

regras no decorrer do dia, porém, cada criança tem seu tempo e seu ritmo e isso

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nem sempre é respeitado. Por exemplo, se estão entretidas com uma atividade, a

professora diz que acabou o tempo para concluí-la, porque está na hora do parque,

mas a criança fala que não quer ir porque está gostando de fazer aquela atividade.

O que acontece é que o tempo da criança não é respeitado, porque tem que cumprir

a rotina do CEI. Por outro lado, com uma rotina bem estruturada, as crianças se

sentirão mais seguras, com horários estabelecidos para se alimentar, brincar e

descansar.

Gonçalves (s.a., s.p) afirma que “uma rotina adequada é um instrumento

construtivo para as crianças, pois permite que ela estruture sua independência e

autonomia, além de estimular a sua socialização”. Com crianças da educação

infantil, sempre devemos variar, trazendo algo novo para despertar-lhes a atenção e

fazer com que se interessem a participem.

[...] deram as mãos e de pé, fizeram uma roda junto com as professoras. Quando estava pronta, se sentaram no chão e começaram cantando a música “Bom dia amiguinho” e iam acrescentando o nome dos colegas. (DIARIO DE CLASSE, 08/04/2013).

A chamada é feita da seguinte maneira: a professora vai chamando cada um pelo seu nome e a criança tem que responder dizendo: presente e bem alto para ela poder escutar. (DIARIO DE CAMPO, 08/04/2013).

Segundo Gonçalves (s.a., s.p), “o adulto deve coordenar atividades com as

crianças, tais como: contar històrias, fazer teatro com fantoches, ensinar músicas e

brincadeiras de roda, brincar de esconde-esconde”. Um exemplo é o desinteresse

na hora em que é feita a chamada, as crianças não param quietas, ficam

debochando da professora, algumas deitam ou até mesmo ficam sentadas de

qualquer jeito. É necessário que a professora lhes chame a atenção diversas vezes,

para que se concentrem e fiquem em silêncio.

Quando as crianças estão no parque, se sentem soltas, tanto que às vezes

não sabem nem o que fazer. Querem brincar com todos os brinquedos ao mesmo

tempo e com isso pode acontecer alguns conflitos, como o relatado abaixo.

O Paulo e o Yuri brigaram um dando tapa no outro. Depois foi a vez do Antônio e do Paulo. Quando a professora se alterou, eles fingiram

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que não era com eles, cada um foi para um lado como se nada estivesse acontecido. (DIARIO DE CAMPO, 24/04/2013).

Na sala não vi nenhum cartaz com combinados. Estes são feitos apenas

oralmente, quando há necessidade, a professora sempre está relembrando, um

exemplo é “no parque as crianças tem que cumprir o combinado, que é não brincar

com areia dentro da casinha. A professora tirou várias vezes Israel e Hiago da

casinha, porque eles estavam brincando com areia”. (DIARIO DE CAMPO,

16/04/2013). Veronese e Vieira (2006, p. 115) ressaltam que [...] “na construção do

regramento disciplinar da escola, a participação dos alunos deve se dar conforme a

fase de desenvolvimento em que se encontram.”.

Quando as crianças já entendem o que podem e não podem fazer, é sempre

bom ter imagens, figuras representando este ato. Montar cartazes com a

participação das mesmas auxilia para que recordem os combinados e assim sejam

cumpridos. Por meio das figuras, o professor poderá chamar a criança, mostrando o

que fez de errado. Se o combinado ficar só no diálogo, parece que a sala não tem

regras, estes são facilmente esquecidos, além do que, as crianças andam bem

agressivas. Eis alguns exemplos:

Antônio estava brigando pelo espaço, além do seu, queria utilizar o da amiga. Começou a empurrá-la e a menina, por sua vez, simplesmente fingiu que não era com ela. Quando ele percebeu que ela o estava ignorando, partiu para cima dela e a professora o tirou. Inconformado com a situação, começou a dar chutes nas costas da menina, quando percebeu que a professora estava olhando, ele abraçou a menina como se nada tivesse acontecido. (DIARIO DE CAMPO, 12/04/2013). O Renan bateu com o carrinho na boca de Yuri, então perguntei por que ele fez isso, ele respondeu: - “Porque ele me empurrou!”. Ao ouvir a resposta, a professora falou a Renan que ele não estava certo e lhe deixou sentado ao seu lado por um bom tempo e sem brincar. (DIARIO DE CAMPO, 17/04/2013). O Yuri deu um soco na barriga da Isabelly, porque ela estava sentada no lugar dele, ele retrucou novamente dando um tapa no rosto do Luan, que de longe eu escutei o estralo, na mesma hora ele pediu desculpas. (DIARIO DE CAMPO, 22/04/2013)

Uma situação que merece ser destacada aconteceu na hora do lanche do dia

17/04. A professora estava cortando as frutas e quando foi lavar as mãos me pediu

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para segurar a faca. Nesse momento, o menino Yuri perguntou se eu iria dar uma

facada no seu amigo.

Na hora da fruta, a professora pediu para eu segurar a faca, então o Yuri perguntou se eu iria dar uma facada no amiguinho, eu respondi que não, que isso não se faz com amiguinho nenhum porque iria machucá-lo e nem se pode brincar com a faca. (DIARIO DE CAMPO, 17/04/2013).

Yuri sempre chamando atenção das professoras seja com agressão ou

palavras inapropriadas. As mesmas agem normalmente com essa situação, tratam

todas as crianças com igualdade.

Outro ponto muito interessante que ocorreu também foi com Yuri, ele brigou

com os colegas da sala por causa das peças de encaixar e disse palavrões para

professora auxiliar. Foi um momento muito tenso, mas a professora auxiliar teve

pulso firme.

O Yuri chacoalhou a cabeça do Renan por causa das peças, a professora viu e dividiu as pecinhas igualmente entre os dois, mas o Yuri não se conformou e dizia que as peças eram todas dele. A professora auxiliar a segurou e ele começou a gritar, chamando lhe de: - “Seu demônio, diabo!”, passou batendo nas outras crianças. Estas não expressavam reação. Em seguida, escalou as camas para tentar pegar a caixa de brinquedo que estava em cima de uma delas, até que a professora conseguiu pegar da sua mão. Nesse momento, ele começou a gritar ainda mais forte com a professora. Quando parecia estar mais calmo, começou a pegar todas as peças de lego e jogar na parede, a professora fingiu que não viu, então foi se sentar atrás das camas. (DIARIO DE CAMPO, 23/04/2013).

A professora auxiliar teve pulso firme no momento em que ocorreu essa

situação. Depois de uns dez minutos, aproximou-se do menino para conversar.

Rapidamente ele já estava brincando novamente como se nada estivesse

acontecido. No momento do ocorrido, parecia que ele iria bater na professora,

estava completamente desesperado. As outras crianças ficaram paradas olhando

aquela cena. Não reagiram a nada que o garoto fez, ignoraram-no. Notei que

quando as professoras não aceitam o que ele quer fazer, na hora que ele quer, o

menino se isola do resto da turma, ficando em um canto da sala segurando a sua

mochila.

Como fiquei impressionada com a ação desse garoto, fui perguntar às

professoras sobre a sua história de vida. Elas me responderam que há uma

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desigualdade muito grande, pois ele é gêmeo de outro garoto que está em outra

sala. Houve a necessidade de separá-los, pois brigam muito entre si, são muito

agressivos. Há a preferência do pai por um e a da mãe pelo outro. Os garotos

sentem essa desigualdade, são revoltados com a família e com todos que se

aproximam deles. O pai tinha o hábito de mostrar filmes pornográficos para as

crianças, alegando que tinham que ser homens desde pequenos, tanto que vão

sozinhos para a instituição. A situação está bem complicada com esses irmãos, eles

chegam a enganar as professoras, trocando de sala e dizendo que um é o outro.

Este é um dos motivos pelos quais a instituição pesquisada necessita realizar

um trabalho em conjunto com a família, a fim de discutirem questões sobre limites,

disciplina, regras, respeito, entre outras.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante as observações participativas, meu olhar esteve voltado tanto para as

crianças quanto para as professoras. Observando a maneira como as crianças

agem, pude constatar que algumas crianças estão agressivas e sem limites. A

professora da turma não demonstrava autoridade com as crianças, já a professora

auxiliar, em diversos momentos, aparentou ter mais firmeza em suas atitudes,

falando baixinho, fazendo com que se acalmassem e refletissem sobre o que

estavam fazendo. Bastava falar uma ou duas vezes que as crianças a respeitavam.

Como cada professora possui um jeito de agir diferente diante das situações

de indisciplina e conflitos, a turma do Iº período aparente estar sem referência, pois

já sabem o limite de cada professora mesmo quando as duas estão em sala.

Os combinados são realizados apenas oralmente, o ideal é que as crianças

montem pelo menos um cartaz com a ajuda das professoras. Esses combinados

poderiam ser levados para os diferentes espaços da instituição. O professor deverá

deixar claros os limites e regras que deseja estabelecer com a sua turma, explicando

porque algo pode ou não pode ser feito. Quando as crianças participam da

construção das regras, aprendem a fazer parte deste grupo, desenvolvendo ao

mesmo tempo sua autonomia.

Durante o período de observação não consegui alcançar todos os objetivos

traçados inicialmente. A questão sobre até que ponto a conquista de autonomia

pode colidir com os conceitos de limites e estabelecimento de regras não pôde ser

contemplada e analisada. Talvez o tempo tenha sido reduzido para propiciar essa

análise. O que consegui observar sobre a autonomia foi o fato de que as crianças

fazem sua higiene, sozinhas. Para a realização de todas as outras atividades

contam com a mediação das professoras.

A instituição está localizada em uma região considerada de risco, por ser

muito violenta. Talvez por este fato, por presenciarem cenas de violência

diariamente, as crianças tentam imitar os adultos e assim, tornam-se mais

agressivas, tanto com palavras como fisicamente.

As rotinas do Iº período são repassadas pela coordenadora da instituição às

professoras as organizarem, de acordo com a suas necessidades. Todos os dias as

professoras realizam praticamente as mesmas coisas, sem ter nenhuma mudança

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de um dia para o outro, nem mesmo nas proposições de brincadeiras. As crianças

precisam de novidades para chamar sua atenção e despertar o seu interesse.

As regras são feitas oralmente e sempre que há necessidade a professora as

relembra. As crianças tentam resolver seus conflitos, sozinhas. Quando não

conseguem, pedem ajuda às professoras, ou quando as mesmas percebem a

necessidade, mediam a situação.

Para o cumprimento de regras e limites é realizada a roda de conversa, para

ser relembrado o que as crianças podem e não podem fazer. Também é feito

somente oralmente. Quando as crianças não cumprem as regras, a professora não

as deixa ir ao parque no outro período ou no outro dia.

Não consegui obter respostas para o objetivo de observar até que ponto a

conquista de autonomia pode colidir com os conceitos de limites e estabelecimentos

de regras. As crianças só tinham autonomia para se alimentar, fazer sua higiene,

guardar os brinquedos e colocar seus sapatos, as professoras fazem quase tudo

para pelas crianças, consequentemente não consegui realizar este ponto dos meus

objetivos.

É muito importante que o educador crie certo vínculo afetivo com as crianças,

estabelecendo assim uma relação de confiança, facilitando a interação entre elas,

alternando brincadeiras, aprendizagem e disciplina.

Tudo tem que ter sua dosagem certa; podemos deixar que a criança

exerça seu poder de autonomia, colaborando nas atividades diárias, na organização

do espaço que utilizam e com a própria higiene pessoal.

Na questão dos limites, é importante que educadores e pais trabalhem juntos

para que as crianças possam ter um bom desenvolvimento, aprendam a viver em

sociedade e saibam respeitar o espaço de cada um.

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APÊNDICES

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APÊNDICE I

DIÁRIO DE CAMPO

1ª Observação – 08/04 A Rotina

O horário de entrada das crianças é das 7h30min às 8h, logo em seguida, às

8h15min era a hora do café. As crianças levaram aproximadamente 15 minutos para

se alimentarem. Quando terminaram, cada criança guardou a sua cadeira e foi para

o outro lado da sala, deram as mãos e de pé, fizeram uma roda junto com as

professoras. Quando estava pronta, se sentaram no chão e começaram cantando a

música “Bom dia amiguinho” e iam acrescentando o nome dos colegas.

Fui apresentada às crianças e a professora falou que eu iria passar uns dias

ali. Em seguida foi feita a chamada, algumas delas começaram a falar junto com a

professora. Ela pediu várias vezes para ficarem quietinhas e escutarem a chamada,

pois quem não respondesse iria ganhar falta, mas não adiantou, então ela alterou a

sua voz pedindo para ficarem quietas. Na hora, todos pararam e ficaram olhando

seriamente para a professora, mas logo em seguida, voltaram a tagarelar.

A chamada é feita da seguinte maneira: a professora vai chamando cada um

pelo seu nome e a criança tem que responder dizendo: presente, e bem alto para ela

poder escutar. Havia uma aluna que respondia por todos e achava graça do que

estava fazendo. A professora pedia para que ela não incomodasse aos demais,

porém não adiantou.

Ainda na rodinha, a professora comentou sobre a vida do índio (onde mora,

que tipo de roupa usa, acessórios etc.), para fazer atividade a professora colocou

lego para as crianças brincarem no chão, sentadinhas, em quanto ela ia chamando

um por um.

Pintando apenas uma mão com tinta colorida para carimbar na folha, as

crianças iam sozinhas lavar as mãos no banheiro. Yuri, Paulo e Pedro só queriam

brincar com a arma que tinham feito com lego. A professora pediu várias vezes para

eles desmontarem, porém o pedido não foi atendido por muito tempo.

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A Isabelly estava bem concentrada, pisando nas peças do lego. De vez em

quando, a professora era obrigada a falar um pouco mais alto, solicitando que

ficassem em silêncio e sentadas, pois algumas não conseguiam fazê-lo por muito

tempo.

A professora foi tomar café, enquanto a professora auxiliar assumiu a

conclusão da atividade. Eu a ajudei, pois como ela ficou sozinha na sala, as crianças

aproveitaram para pegar carrinhos na prateleira e corriam de um lado para o outro

na sala.

Na hora de juntar os brinquedos para ir ao parque, todos ajudaram e fizeram

a fila. Só seguiram para lá quando a fila estava completa. O horário do parque desta

turma é às 9h30min.

2ª Observação – 12/04

Conflitos crianças/ crianças

Quando cheguei à sala, as crianças já estavam sentadinhas em roda junto às

professoras e havia uma visita, à coordenadora também estava participando deste

momento. A turminha ainda está trabalhando sobre o índio. A professora fez várias

perguntas sobre a vida do índio e todos queriam respondê-las ao mesmo tempo.

Então a coordenadora falou que quando quisessem falar era para levantar o dedinho

e assim fizeram.

Para fazer a atividade, a professora pegou a menina mais alta da turma, para

fazer o contorno dela em um pedaço de papel pardo. Os meninos não gostaram,

porque iria ser uma índia. Eles queriam um índio, mas a professora lhes disse que já

tinham combinado anteriormente que seria uma índia. Quando terminaram de fazer

o desenho da índia, a professora foi perguntando o que estava faltando (brincos,

cabelos, nariz, boca, olhos, sobrancelhas, orelhas, roupas, umbigo etc.). As crianças

iam respondendo e ela ia desenhando.

Na hora de pintar o desenho houve vários conflitos. O primeiro foi por causa

do espaço que cada um iria pintar. Renan e Pedro não conseguiram se entender

conversando, então começaram a se bater. Renan chorou e pediu para a professora

ajudá-lo. Ele sempre repete essa ação, pois ainda não consegue resolver seus

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conflitos sozinho. Como estavam fazendo a atividade deitadas de bruços, a

professora simplesmente dividiu o mesmo espaço (tamanho) para os dois.

O segundo também foi por causa de espaço para pintar, Antônio e Carolina

se empurraram bastante, mas se resolveram sozinhos. Luan só começou a participar

da atividade no final, quando todos já estavam quase terminando. A Graziella nem

participou, porque ainda está em fase de adaptação, chora durante grande parte do

tempo e pergunta muito pela mãe.

Novamente Antônio estava brigando pelo espaço, além do seu, queria utilizar

o da amiga. Começou a empurrá-la e a menina, por sua vez, simplesmente fingiu

que não era com ela. Quando ele percebeu que ela o estava ignorando, partiu para

cima dela e a professora o tirou. Inconformado com a situação, começou a dar

chutes nas costas da menina, quando percebeu que a professora estava olhando,

ele abraçou a menina como se nada tivesse acontecido.

Terminaram a atividade, cada um guardou o seu giz de cera no pote e foram

pegando os brinquedos que trouxeram de casa (toda sexta-feira é dia do brinquedo).

Percebi que a turma sabe dividi-los bem e sem conflitos.

3ª Observação – 14/ 04

Interação professor/aluno

Terminaram o café e a professora foi chamando um por um, para guardar a

sua cadeira e fazer parte da roda. Começou a rodinha com a música “Bom dia

amiguinho” só que iam acrescentando o nome dos colegas. Quando a professora

sentou junto à roda, começaram a cantar bem mais alto.

Na hora da chamada, as professoras pediram para as crianças ficarem em

silêncio e para responder somente quando fossem chamados, mas infelizmente não

foi assim, as crianças não paravam quietas e falavam o tempo todo. As professoras

eram obrigadas a chamar atenção, solicitando silêncio.

Ainda durante a chamada, quando a professora chamou Amanda, ela

respondeu de forma bem alta e clara, isso nunca havia acontecido, então a

professora pediu para baterem palmas para a mesma.

As crianças continuaram sentadinhas na roda para que a professora pudesse

explicar como iriam fazer a atividade, mas mesmo assim, ela não conseguia falar,

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porque as crianças não paravam de conversar. Então precisou falar mais alto e

pediu para se sentarem encostados na parede, porque estavam correndo pela sala.

Como nem todos a obedeceram, ela alterou a voz novamente, então se sentaram e

ficaram bem quietinhos.

A professora pegou os materiais (uma caixa com vários potes de tintas) e

sentou no meio da roda para misturar as cores (vermelho, amarelo, verde e branco).

Chamava para fazer a atividade somente aqueles que estivessem em silêncio. As

duas professoras trabalharam em grupo, cada uma de um lado. Aos poucos as

crianças foram se aproximando para ver as atividades umas das outras. Como

descumpriram o combinado, a professora não gostou e demonstrou a sua

reprovação, pedindo que se encostassem na parede. Quando todos terminaram a

atividade, a professora foi guardando as tintas com a ajuda de algumas crianças.

A professora auxiliar disponibilizou jogos tipo “Lego” para as crianças. Elas

brincaram por um tempo, depois a professora lhes pediu para guardar os brinquedos

e seguir para o parque. A reação delas, de alegria, foi instantânea e gritaram: -

“Eba!”.

Quando terminaram de guardar o brinquedo, a turma começou a correr pela

sala. Graziella empurrou Luan e ele caiu ao chão, a professora disse para pedir

desculpas ao amigo e dar um beijo. E assim as crianças fizeram, pediram desculpas

e deram um beijo no rosto.

Formaram o trenzinho e seguiram para o parque, estavam numa alegria só.

Adoram quando chega o momento de ir para o parque.

4ª Observação – 16/04

Limites

Quando cheguei à sala, as professoras não se encontravam, estavam em

reunião com a coordenadora. Quem estava com as crianças era uma professora

auxiliar de outra sala. Ajudei a mesma a terminar de dar o café para as crianças e

pedi para que guardassem suas cadeiras para fazer a roda. Todos colaboraram

fazendo o que pedíamos.

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Fizemos a rodinha com as crianças, cantamos várias músicas infantis e elas

colaboraram bastante. Talvez, por sermos novidades em sala, estavam nos

testando, pois sempre que há pessoas novas em sala, ficam quietinhos para

perceber até que ponto podem fazer bagunça. Quando terminamos de cantar,

colocamos brinquedos no meio da roda e cada um foi pegando o que queria brincar.

Tudo isso foi feito ainda em roda. As crianças brincaram por um longo tempo, até as

professoras voltarem da reunião e levá-los ao parque.

Na hora de irem para o parque, guardaram os brinquedos e fizeram o trem. Lá

todos brincaram livremente na casinha, com areia, no escorregador, no balanço etc.

Sentem prazer em ir para este espaço, porque, de certa maneira, se sentem livres

para brincar com várias opções ao mesmo tempo.

No parque, as crianças têm que cumprir o combinado, que é não brincar com

areia dentro da casinha. A professora tirou várias vezes Israel e Hiago da casinha,

porque eles estavam brincando com areia. As crianças brincam em pequenos

grupos mistos e quando Paulo viu o Renan indo ao banheiro, foi correndo atrás e a

professora logo o chamou perguntando aonde iria, então ela lhe disse para esperar

Renan voltar. Quando Renan voltou do banheiro, ele olhou para mim e falou: -“Eu fiz

xixi no banheiro!”.

Percebi que no parque há um balanço para vinte crianças, mas elas já estão

tão acostumadas a revezá-lo, cada uma brinca um pouquinho. Não há brigas a este

respeito. No entanto, a professora pediu várias vezes para Yuri não colocar areia na

calçada, mas não adiantou, ele acha que pode fazer o que quer e a hora que quer. A

professora cansou de pedir e falou que depois ele iria limpá-la, porém ficou somente

na fala.

Carolina começou a chorar porque Yuri pegou todas as loucinhas que ela

estava brincando, então a professora retirou as loucinhas dele e as devolveu para a

menina, Yuri reclamou, mas foi brincar com outro brinquedo.

Na hora de guardar os brinquedos (as bolas, loucinhas, bonecas etc.) todos

ajudaram, M. pegou a vassoura e a limpou, pois estava toda suja de areia.

Na hora de lavar as mãos, a professora pediu para todos sentarem

encostados na parede, para fazer a fila sem desordem. A mesma teve que solicitar

várias vezes, para que sua ordem fosse obedecida. Ela ficou muito brava com as

crianças e acabou falando que no outro dia a turma não iria para o parque. Na

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parede Renan e Paulo ficaram trocando tapas o que acabou ficando por isso

mesmo.

5ª Observação – 17/04

Autonomia

Eu cheguei na hora da rodinha e quando entrei na sala, as crianças

começaram a cantar “Bom dia Vanessa”. Em seguida, a professora explicou como

seria feita a atividade e todos começaram a falar ao mesmo tempo. Não dava para

entender nada do que ela estava explicando, então ela pediu que levantassem o

dedo quando sentissem vontade de falar.

Enquanto a professora auxiliar foi pegar o material (tintas e pincéis), a

professora ficou com a turma cantando várias músicas infantis. Durante a atividade

foi realizada uma pintura com o dedo. Cada criança pintou um pouquinho de uma

caixa de ovos. Quando a professora percebeu que a roda já estava praticamente

fechada (as crianças bem perto), ela simplesmente falou alto para as crianças

voltarem aos seus lugares. A reação dos mesmos foi voltar na mesma instante.

As crianças têm autonomia para ir ao banheiro, sozinhas, tanto para fazer

suas necessidades quanto para lavar as mãos. Antônio, quando foi lavar a mão no

banheiro, começou a tomar água da torneira, a professora falou para ele não tomar

essa água e ele respondeu: - “Eu vou tomar, sim!”, o mesmo saiu correndo e deixou

a torneira aberta. A professora auxiliar o retirou do banheiro. Depois desse ocorrido

ela passou a acompanhá-los na ida ao banheiro.

No outro lado da sala foi feita outra rotinha com brinquedos para quem ia

terminando de fazer a atividade. Antônio tem o tom de voz muito alto, quando ele

fala parece que está sempre gritando. As professoras estão sempre pedindo para o

mesmo falar baixinho, mas não adianta, quanto mais as professoras pedem, mais

alto ele fala. Renan bateu com o carrinho na boca de Yuri, então perguntei por que

ele fez isso e ele respondeu: - “Porque ele me empurrou!”. Ao ouvir a resposta, a

professora falou a Renan que ele não estava certo e lhe deixou sentado ao seu lado

por um bom tempo e sem brincar.

Bruna pegou um carrinho que levantava a parte de cima e o transformou em

um celular, fazia de conta que estava conversando com alguém e quando perguntei

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com quem ela estava conversando, simplesmente me ignorou e continuou

conversando. Depois o transformou em um estojo de maquiagem e começou a

passar nos olhos como se estivesse se maquiando, estava encantada e totalmente

entretida no momento do faz de conta.

Na hora da fruta, a professora pediu para eu segurar a faca e Yuri perguntou

se eu iria dar uma facada no amiguinho. Eu respondi que não, que isso não se faz

com amiguinho nenhum, porque iria machucá-lo e nem se pode brincar com a faca.

Como a professora tinha falado no dia anterior que a turma não iria para o

parque, ela cumpriu a palavra e eles ficaram brincando na sala com vários

brinquedos. Yuri pisou nos carrinhos para quebrá-los, a professora pediu para ele

parar e o que ele fez? Pendurou-se na grade da janela, pois não aceitou ser

chamado a atenção. a reação da professora foi tão normal, que só falou para a

criança descer. Ele só desceu depois da mesma falar duas vezes.

6ª Observação – 18/04

Rotina

Cheguei à sala e já estavam na rodinha, cantando. Em seguida, a professora

realizou a chamada, momento em que as crianças não param quietas. Ainda na

rodinha a professora explicou o que iram fazer como atividade. Percebi que

enquanto ela ia explicando, as crianças a imitavam, debochando. A professora lhes

chamou a atenção, mas não adiantou, logo a agitação voltou.

A atividade proposta era a pintura com giz de cera em um pedaço de papel

pardo. Houve vários conflitos por causa do giz e do espaço no papel e quando a

professora percebia, intervinha prontamente.

Enquanto a professora saiu para lanchar, a professora auxiliar ficou montando

um quebra-cabeça gigante com as crianças. Todas ficaram muito bem comportadas,

ajudando a mesma. Quando a professora retornou, as crianças se agitaram e

começaram a fazer o que queriam. A professora ficou um pouco nervosa nesse

momento.

Em um simples jogo de quebra-cabeça sem regras, a professora perdeu o

controle da turma, as crianças acabaram se agitando, correndo e gritando pela sala.

Ao ver tamanha agitação, na mesma instante a professora guardou o quebra-cabeça

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e os colocou todos sentados, encostados à parede. À maioria das crianças foi

brigando, outras brincando e algumas poucas, chorando.

A turma novamente não foi para o parque, porque estava muito agitada.

7ª Observação – 22/04

Conflitos

Na hora em que cheguei à sala, as crianças estavam terminando de tomar

café. A professora não se encontrava, pois sua filha estava doente. Houve conflitos

na mesa do café, por causa da bolacha. Yuri queria ficar com duas bolachas na

mão, mas a professora lhe retirou uma e ele começou a resmungar. Foi para fora da

sala respondendo à professora. Ela o pegou e colocou-o dentro da sala e ele

novamente tentou sair, mas não conseguiu, então pegou uma cadeira e foi sentar

bem escondido e sozinho.

Após todos terminaram a refeição, guardaram as cadeiras e foram fazer a

roda. A turma estava muito agitada. Cantaram a música “da ponte”. Antônio gritou o

tempo todo e Yuri aproveitou que todos estavam na roda, guardou sua cadeira fora

da sala e foi participar da roda.

Ainda na roda, a professora perguntou sobre o que fizeram com o cocar e

a(o) índia(o) que levaram para casa na sexta-feira. Somente alguns responderam.

Como a professora da turma não pode ir trabalhar, não havia planejamento, então a

professora substituta deixou as crianças brincarem. Para as meninas ela deu

loucinhas e bonecas; para os meninos, carrinhos e jogos de encaixe.

Todas as crianças ficaram bem dividas, cada um foi para um canto da sala.

Brincaram sem divisões de brinquedos. Hiago brincou com as loucinhas o tempo

todo em companhia das meninas. Yuri deu um soco na barriga de Isabelly, porque

ela estava sentada no lugar dele. Ele retrucou novamente, dando um tapa no rosto

de Luan, que de longe eu escutei o estralo. No mesmo instante ele pediu desculpas.

A parte em que estavam os meninos, estava mais agitada. Antônio não

parava quieto, debochava da professora e ela simplesmente o ignorava. Carolina

estava bem concentrada, brincando com os jogos de encaixes, mas veio Yuri e

destruiu tudo o que ela tinha feito. A professora colocou as peças ao lado da menina

e disse para montar novamente e Yuri ficou sentado perto dela, brincando.

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8ª Observação – 23/04

Professor e aluno

Quando cheguei à sala, as crianças estavam sentadas às mesas para fazer

atividade. A professora disponibilizou um pincel para cada uma e um cd para cada

dupla. Ela ia passando nas mesas e deixando tintas misturadas com várias cores

para pintarem o cd, pois o objetivo era montar uma centopeia.

Conforme terminavam, dirigiam-se ao banheiro para lavar as mãos e os

pincéis. A professora auxiliar os acompanhava. Em seguida encaminhavam-se para

o outro lado da sala, para brincar com peças de montar tipo “lego”, enquanto as

professoras limpavam a sala.

Por causa das peças de lego, Antônio bateu em Bruna, pois ele queria as

peças que estavam na mão dela e a professora viu. Ela disse para ele parar e ele

simplesmente respondeu: - “Eu vou bater nela” e foi o que fez. Correu atrás da

menina e bateu. A professora precisou intervir, separando-os.

Renan pegou as peças de Bruna e quando ela tentou recuperá-las as, ele

bateu nela. Novamente a professora necessitou intervir e o menino quis sair como

vítima. A professora auxiliar falou para os dois pedirem desculpas um para o outro e

se darem um abraço.

Yuri chacoalhou a cabeça de Renan por causa das peças. A professora viu e

dividiu as pecinhas igualmente entre os dois, mas Yuri não se conformou e disse

que as peças eram todas dele. A professora auxiliar o segurou e ele começou a

gritar chamando-a de: - “Seu demônio, diabo!” e bateu nas outras crianças, que não

expressavam reação. Em seguida, escalou as camas para tentar pegar a caixa de

brinquedo que estava em cima de uma delas e a professora a tirou de sua mão.

Nesse momento, ele começou a gritar ainda mais forte com a professora.

Quando parecia estar mais calmo, começou a pegar todas as peças de lego e

jogar na parede. A professora fingiu que não viu e foi se sentar atrás das camas,

onde ficou isolado por uns 10 minutos. A professora auxiliar foi até ele para

conversar, então ele retornou para o centro da sala e começou a brincar, mas

isolado.

A turma ficou mais calma e as crianças voltaram a brincar. Antônio foi pegar

um brinquedo dentro da caixa e acabou caindo dentro da mesma, de uma forma

engraçada.

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9ª Observação – 24/04

Limites

Quando entrei na sala, a professora estava sozinha, pois a professora auxiliar

não pôde comparecer, por motivo de doença. Todas as crianças estavam

sentadinhas na roda; no entanto, a coordenadora entrou para guardar uma caixa e

tirou a concentração da turma. Enquanto a professora foi ajudá-la, Isabelly pegou a

lista de chamada e começou a fazer bolinhas no lugar onde se colocam as

presenças. Estava bem concentrada fazendo a sua ‘arte’.

A professora fez a chamada, durante a qual Yuri não parava quieto. Ela

utilizou diferentes artifícios para fazê-lo sossegar, mas não adiantou. A turma ficou

um pouco agitada quando a professora falou que ninguém iria para o parque e Yuri

cantou a parte da musica funk que fala “A porrada come”.

A professora colocou uma música bem calma, da Xuxa, para a turma relaxar.

Todos participaram na primeira vez; já na segunda, no meio da música, não

paravam quietas, então ela desligou o som e falou que todos iriam ficar sentados,

sem brincar. Em seguida, ela pegou as pecinhas de encaixe tipo “lego”. Nessa hora

Yuri falou: -“Tu falasse que não ia dar brinquedo.”; então ela respondeu

rapidamente: “É porque eu sou boazinha!”.

Eles se dividiram em grupos, algumas meninas ficaram vendo livrinhos de

historinhas. Aline estava brincando com uma pecinha em cima da outra, Antônio

chegou e derrubou tudo o que tinha feito e ainda saiu debochando da menina, mas

ficou por isso mesmo, a professora nem percebeu o acontecido.

10ª Observação – 29/04

Autonomia

Quando entrei na sala as crianças estavam sentadinhas às mesas, brincando

de massinha. Luan olhou pra mim e falou: -“Olha como o cabelo da Vanessa está

lindo, tá a cara da riqueza.” A Isabelly concluiu dizendo: - “Está colorido”.

Antônio sentou na cadeira com os pés sobre a mesa, como se estivesse em

sua casa. Na mesma hora a professora o arrumou na cadeira. A reação dele foi, no

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primeiro momento, olhar bem sério para ela, mas depois começou a dar risadas.

Nicoly quebrou a faca de plástico com a qual estava brincando e os amiguinhos,

que estavam na mesma mesa, contaram para a professora, que os alertou dizendo

que, se continuassem quebrando tudo os brinquedos, daqui um tempo, não teriam

mais nada para brincar. Enquanto estavam quietinhos, brincando de massinha, as

professoras estavam montando as atividades que fizeram na semana anterior.

Guardaram a massinha e foram colocar as cadeiras no lugar. Bruna bateu

com o pé da cadeira nas minhas costas. Eu lhe disse para olhar para frente e ela

respondeu: - “Tu também!”.

Fizeram a rodinha, Bruna não parava quieta e a Carolina estava deitada. A

professora colocou todos nos seus lugares e distribuiu peças de encaixe para cada

um. Alguns brincaram sozinhos, outros preferiram brincar em duplas.

Pedro e Geovana foram pintar o rolinho de papel higiênico, porque no dia

dessa atividade eles não foram à instituição. Na hora do parque, todos guardaram os

brinquedos, fizeram a fila e se dirigiram para lá.

Os meninos brincaram de bola com a professora, as meninas de loucinha na

areia. As crianças sabem dividir muito bem o balanço, cada um brinca um

pouquinho. Luan fingiu ser um cachorro, corria de quatro, latia, fazia buracos na

areia com as mãos. Ele gosta de fazer essa brincadeira também quando está na

sala. Parece que sente prazer em fazer isso.

Paulo e Yuri brigaram, trocando tapas. Depois foi a vez de Antônio e Paulo.

Quando a professora se alterou, eles fingiram que não era com eles, cada um foi

para um lado, como se nada tivesse acontecido. Na hora de guardar os brinquedos,

Carolina começou a brigar com Gabriella, porque queria guardar tudo sozinha e foi

exatamente o que aconteceu: colocou nos braços todos os brinquedos com os quais

estavam brincando e foi guardá-los.

Na medida em que cada um guardava o seu brinquedo, encostava-se na

parede para lavar as mãos.