gestÃo municipal de resÍduos sÓlidos … · exame do projeto de natal implantado pela prefeitura...

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO MARIA GRACIETE RODRIGUES DO AMARAL GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS: EXAME DO PROJETO DE NATAL IMPLANTADO PELA PREFEITURA MUNICIPAL DE BENEVIDES BELÉM-PA 2013

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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA

PRO-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

MARIA GRACIETE RODRIGUES DO AMARAL

GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS:

EXAME DO PROJETO DE NATAL IMPLANTADO PELA PREFEITURA MUNICIPAL

DE BENEVIDES

BELÉM-PA

2013

MARIA GRACIETE RODRIGUES DO AMARAL

GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS:

EXAME DO PROJETO DE NATAL IMPLANTADO PELA PREFEITURA MUNICIPAL

DE BENEVIDES

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Área de concentração: Estratégia em Organizações

Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho.

BELÉM-PA

2013

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

333.715 A485g Amaral, Maria Graciete Rodrigues do. Gestão municipal de resíduos sólidos recicláveis: exame do projeto de natal implantado pela prefeitura municipal de Benevides / Maria Graciete Rodrigues do Amaral. – Belém, 2013.

128 f.; il.: 21 x 30 cm. Dissertação (Mestrado) – Universidade da Amazônia, Programa

de Pós-Graduação em Administração, 2013. Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho.

1. Políticas públicas – gestão. 2. Resíduos sólidos recicláveis – gestão. 3. Desenvolvimento sustentável – gestão I. Sobrinho, Mário Vasconcellos. II. Título.

MARIA GRACIETE RODRIGUES DO AMARAL

GESTÃO MUNICIPAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS RECICLÁVEIS:

EXAME DO PROJETO DE NATAL IMPLANTADO PELA PREFEITURA MUNICIPAL

DE BENEVIDES

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Administração da Universidade da Amazônia como

requisito para obtenção do título de Mestre em

Administração.

Área de concentração: Estratégia em Organizações

Orientador: Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho.

Banca Examinadora:

Apresentado em: _____/_____/______

____________________________________

Prof. Dr. Mário Vasconcellos Sobrinho Orientador

____________________________________

Prof. Dr. José Otávio Magno / Unama

____________________________________

Profª Drª Rosália do Socorro da Silva Corrêa / Unama

____________________________________

Prof. Dr. Sérgio Cardoso de Moraes / Ufpa

Conceito: __________________

BELÉM-PA

2013

Dedico este trabalho a você, pequena

guerreira, Nicole Amaral, cujo nascimento deu

um novo sentido a minha existência.

AGRADECIMENTOS

Ao nosso Irmão maior, Jesus Cristo, que por sua misericórdia me permitiu esse momento.

Aos irmãos espirituais, que me transmitiram vibrações positivas nos momentos mais difíceis

dessa caminhada.

Ao meu caro mestre, transformado em amigo, Dr. Mario Vasconcellos, que guiado pela

paciência divina me doou muitas de suas horas e também me guiou a encontrar o meu

caminho.

À Profª Dr. Anna Vasconcellos, que sutilmente ensina-nos o bem viver. Lição de vida!

A todos os meus professores do mestrado, que me ensinaram uma grande lição, a

autodisciplina.

Àquela que me encontrou perdida e me ensinou a perceber o melhor que existia em mim: Eu

mesma. A Fernanda Brandão, o meu carinho.

Ao meu pai, que vive guardado dentro do meu coração e sentiria orgulho de mim agora.

À minha querida mãezinha, que teve um lampejo do amor materno, desprendeu-se de si e nos

trouxe para a cidade, para estudarmos. Minha eterna gratidão, querida.

Aos meus irmãos que também fazem parte da luta. Obrigada Socorro (bravo!), Celeste

Elizabeth, Danielle, Rosiane, Alexandre, Antonio, Daniel, Jorge, Sebastião (amigão), Mario,

Mauricio e Mauro.

O espaço é pequeno para agradecer a tantas pessoas, mas Eliel, Paula, Leonardo, Arlex,

Micheline, Cintia, Francinete, D. Raimunda, Rosângela, Cárita, Edemar, Tia Silvia, Livan,

Valéria, Rita de Cássia, Deyvison, Leidiane, e sobrinhos Thiago, Thomas, Gabriela, Mayara,

Marlon, João, Vinicius, Lucas, Amanda, Jackeline, Juliana, Brenda, Bruna, Maria, Paulo e a

todos os meus amigos do Mestrado Unama.Vocês me são muito valiosos. Sinto carinho e

gratidão por cada um.

"O Cristo não pediu muita coisa, não exigiu

que as pessoas escalassem o Everest ou

fizessem grandes sacrifícios. Ele só pediu

que nos amássemos uns aos outros".

Francisco Xavier

RESUMO

A pesquisa teve o objetivo de examinar a gestão municipal de resíduos sólidos recicláveis e os

mecanismos desenvolvidos para atender as diretrizes da Política Nacional de Resíduos

Sólidos, no que diz respeito à inclusão social e emancipação econômica de Catadores de

resíduos. Estuda a metodologia de inserção social e emancipação econômica utilizada no

município, mais especificamente o projeto denominado “Natal de Benevides”, que utilizou a

coleta seletiva de resíduos recicláveis (garrafas pet) e, desde 2009 vem promovendo a

participação de Catadores de materiais e também de pessoas desempregadas naquele

município. A indagação principal centra-se em: Em que medida um projeto de gestão

municipal de resíduos sólidos recicláveis possibilita a um município atender aos requisitos

estabelecidos na Lei 12.305/2010 de modo a permitir a inclusão social e emancipação

econômica de Catadores de materiais? O embasamento teórico do estudo compôs-se de

literaturas de desenvolvimento sustentável includente por meio do trabalho e gestão de

resíduos sólidos recicláveis. O objeto de análise do estudo foi a estrutura municipal de gestão

dos resíduos sólidos utilizada em Benevides, concebida por meio do Projeto de Natal. Os

sujeitos foram principalmente, as pessoas catadoras de resíduos e, num nível mais secundário,

as pessoas desempregadas no município, em função de que após a implantação Projeto esses

foram acolhidos e se tornaram operários da fábrica de natal, o que igualmente os torna atores

motivadores da análise. A investigação mostrou que os Catadores de resíduos sólidos urbanos

daquele município foram incluídos em um programa festivo de forma coadjuvante, mas como

elos importantes da cadeia de coleta de materiais recicláveis, o que temporariamente

melhorou suas vidas sob o ponto de vista econômico e social. Atualmente, com a mudança na

gestão, os catadores vêm enfrentando graves problemas, o principal está relacionado à

redução de um incentivo financeiro que a Prefeitura lhes concedia, e, de outro modo, as

pessoas desempregadas que também participaram do projeto, em sua maioria voltaram àquela

condição, cujo principal motivo alegado é a falta de oportunidades no município. Por outro

lado, confirmou-se ainda que, havendo a continuidade e o refinamento técnico do projeto de

natal e a transversalidade que o tema apresenta, o projeto poderia ser concebido como um

plano municipal de gestão de resíduos sólidos, de modo a atender aos princípios e objetivos

estabelecidos na lei e no plano nacional dos resíduos sólidos, resultando com isso, na

melhoria da qualidade de vida dos envolvidos (catadores e desempregados), estendendo

igualmente a outros membros da sociedade local.

Palavras-chave: Inclusão social. Emancipação econômica. Política nacional de resíduos

sólidos. Catadores. Pessoas desempregadas. Desenvolvimento sustentável.

ABSTRACT

The research aimed to examine the management of municipal solid waste and recyclable

mechanisms developed to meet the guidelines of the National Solid Waste, with regard to

social inclusion and economic emancipation of waste pickers. Study the methodology of

social and economic emancipation used in the city, more specifically the project called

"Christmas Benevides," which used the selective collection of recyclable waste (plastic

bottles), and since 2009 has been promoting the participation of Collectors of materials and

also of unemployed people in that municipality. The main question focuses on: To what

extent a project management of municipal solid waste recycling allows a municipality to meet

the requirements of the Act 12.305/2010 to enable social inclusion and economic

emancipation of Collectors of materials? The theoretical basis of the study consisted of

literature inclusive sustainable development through work and recyclable solid waste

management. The object of the study was to analyze the structure of municipal solid waste

management used in Benevides, designed by Project Natal. The subjects were mostly people

waste pickers and a secondary level, the unemployed people in the city, due to which these

project after deployment were welcomed and became factory workers Christmas, which also

makes them actors motivators the analysis. The research showed that the Collectors of

municipal solid waste that county were included in a festive program so supportive, but as

important links in the chain of collection of recyclable materials, which temporarily improved

their lives under economically and socially. Currently, with the change in management, the

collectors are facing serious problems, the main reduction is related to an incentive payment

that the City gave them, and otherwise unemployed people who also participated in the

project, mostly returned that condition, and the main reason given is the lack of opportunities

in the city. Moreover, it was confirmed that, having continuity and technical refinement of the

design and transversality Christmas presents that theme, the project could be conceived as a

plan of municipal solid waste management in order to meet the principles and objectives

established by law and the national solid waste, thereby resulting in improved quality of life

of those involved (scavengers and unemployed), extending also to other members of the local

society.

Keywords: Social Inclusion. Economic emancipation. National policy on solid waste. Pickers.

Unemployed people. Sustainable development.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - Linha do tempo das ações governamentais direcionadas à política de

resíduos sólidos e aos Catadores.

46

Figura 02 - Fluxo da coleta de garrafas para o projeto Natal de Benevides. 51

Figura 03 - Diagrama representativo da hierarquia do projeto Natal de Benevides. 54

Figura 04 - Vista frontal da Prefeitura Municipal em 2009, primeiro ano do projeto. 122

Figura 05 - Vista lateral da antiga estação rodoviária, transformada em praça de

alimentação, com o projeto.

122

Figura 06 - Vista frontal da igreja matriz do município. 123

Figura 07 - Banner com o Tema do Natal em 2010. 123

Figura 08 - Banner com o Tema do Natal em 2011. 124

Figura 09 - Árvore de natal posicionada em frente à Prefeitura. 124

Figura 10 - Presépio posicionado em frente à casa do Papai Noel. 125

Figura 11 - Aterro controlado municipal. 126

Figura 12 - Aterro controlado municipal. 126

Figura 13 - Aterro controlado municipal. 127

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Geração de resíduos e coleta per capta. 26

Tabela 02 - Composição gravimétrica dos RSU no Brasil 36

Tabela 03 - Estimativa de benefícios econômicos dos RSU no Brasil 37

Tabela 04 - Estimativa de benefícios ambientais dos RSU no Brasil 37

Tabela 05 - Diretrizes constantes no Plano de Resíduos Tóxicos (2010) 45

Tabela 06 - Atores entrevistados no município de Benevides 50

Tabela 07 - Estimativa de coleta de garrafas nas escolas 52

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 01 - Participação das regiões no total RSU coletadas em 2011. 25

Gráfico 02 - Formas de destinação dos resíduos sólidos no Brasil. 26

Gráfico 03 - Destinação final dos resíduos sólidos no Brasil. 27

Gráfico 04 - Composição gravimétrica dos RSU em 2011. 29

Gráfico 05 - Comparativo entre geração e coleta RSU – Pará 30

Gráfico 06 - Destinação final dos RSU – Pará 31

Gráfico 07 - Iniciativas de coleta seletiva por faixa de população urbana 33

Gráfico 08 - Iniciativas de coleta seletiva por região 33

Gráfico 09 - Produção e consumo aparente de plásticos no Brasil 34

Gráfico 10 - Consumo de embalagens PET no Brasil. 35

Gráfico 11 - Índice de reciclagem de PET no Brasil. 35

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABIPET Associação Brasileira da Indústria de PET

ABLP Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ABRELPE Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais

BNDES Banco Nacional do Desenvolvimento

CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

FIRJAN Fundação Instituto Rio de Janeiro

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

GEE Gases de Efeito Estufa

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDESP Instituto de Desenvolvimento Econômico, Social e Ambiental do Pará

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

MMA Ministério do Meio Ambiente

TEM Ministério do Trabalho e Emprego

ONG Organização Não Governamental

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNRS Política Nacional dos Resíduos Sólidos

PNSB Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PSAU Programa de Pagamento por Serviços Ambientais

RSU Resíduos Sólidos Urbanos

SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente

SNVS Sistema Nacional de Vigilância Sanitária

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 13

1.1 CONTEXTO, OBJETIVOS E METODOLOGIA DE PESQUISA. 13

2 RESÍDUOS SÓLIDOS 24

2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL 24

2.2 A IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM DE MATERIAIS 32

2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS E A RELAÇÃO COM O CONSUMO 38

3 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS 42

3. 1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS 42

3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DIRECIONADAS AOS CATADORES DE RESÍDUOS 44

4 O PROJETO NATAL DE BENEVIDES: INCLUSÃO SUSTENTÁVEL OU

AÇÃO PÚBLICA TEMPORÁRIA?

49

5 O PROJETO NATAL DE BENEVIDES E AS PERSPECTIVAS DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E INCLUDENTE

68

6 CONSIDERAÇÕES 83

REFERÊNCIAS 88

APÊNDICE - ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA 95

ANEXO A - LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010 100

ANEXO B - DECRETO Nº 7.404, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2010. 104

ANEXO C - DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS RELACIONADAS AOS

RESÍDUOS SÓLIDOS

115

ANEXO D - FOTOS DO EVENTO 122

ANEXO E - FOTOS DO ATERRO CONTROLADO 126

13

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTO, OBJETIVOS E METODOLOGIA DE PESQUISA

Parece urgente que nas sociedades contemporâneas se devam construir novas atitudes,

coordenar ações de organização dos espaços urbanos que estejam alinhadas à redução das

desigualdades sociais e ainda criar práticas de consumo consciente. Este último combinado

com o crescimento da economia. Em um nível mais amplo é irremediável às sociedades

desenvolver técnicas que gerenciem os excessos da modernidade, combinando os eventos que

abrangem o meio ambiente urbano ao processo do desenvolvimento. Essa discussão

transversal aflige os países do mundo, inclusive o Brasil e se configuram como os efeitos

indesejados dos fenômenos da urbanização, industrialização e burocratização.

Conforme Carvalho (2002), os anos 50 são o marco da industrialização brasileira,

baseada numa organização da produção fordista, o que impõe um padrão forte de urbanização

com imensas periferias. Nesse sentido, a transformação da economia brasileira e a excessiva

urbanização se coadunam com o processo de industrialização. Nesse momento houve uma

redefinição do papel do Estado no sentido de fornecer as condições estruturais necessárias,

mas por outro lado, houve uma expressiva metropolização, fator que culmina nos problemas

sociais até hoje vigentes. Caputo e Melo (2009) ressaltam que o desenvolvimento econômico

do país foi influenciado pelos investimentos públicos e, em menor escala, pela ingestão de

capital internacional, processos que resultaram na expansão mundial, rumo a novos mercados

e nas políticas internas de atração desse capital.

Por outro lado, a consolidação do processo de industrialização do país durante os anos

80 gerou aumento nos níveis de desemprego, grande concentração populacional nos centros

urbanos e, por adição, o aumento das desigualdades sociais preexistentes (CARVALHO,

2002).

Mesmo com todas as dificuldades inerentes a um processo de readequação das cidades

aos novos modelos de desenvolvimento do mundo, os anos 90 presenciaram o surgimento de

uma economia com novos contornos, onde o progresso agrega à medição da riqueza nacional,

via produto interno bruto e produto nacional bruto, ao imperativo de que esses estejam

vinculados às variáveis de desenvolvimento social e ambiental. Isso é o que estudiosos como,

Abramovay (2012), Sachs (2004), Dowbor (2012) e outros especialistas classificam como a

nova orientação da economia, a serviço do desenvolvimento sustentável.

14

No mesmo sentido, quando se avalia crescimento populacional com crescimento

econômico, verifica-se a relação entre essas variáveis e o legado à infraestrutura urbana. O

Brasil registrou na década de 50 um índice de urbanização pouco maior que 36% e taxa de

crescimento em torno de 6,8%. Em 1960, a taxa girava em pouco mais de 44% e a economia

cresceu a 9,6%. Nos anos 80, a taxa de urbanização atingiu mais de 67% da população e o

crescimento da economia em torno de 9%. Entre 1991 e 1996, a população cresceu 12%, com

taxa de urbanização de 78,4%. Na década de 90, a economia nacional passa por períodos de

crescimento irregular e chegou em 1990 à negativa de 4% (IBGE, 2010). De acordo com o

mesmo instituto, no período de 2000 a 2010, a população brasileira aumentou 12,3%, e os

centros urbanos concentraram 84,35% dessa população, e a partir dos anos 2000, a economia

volta a crescer. Em 2004 a economia cresceu mais de 5%, chegando a 5,8% em 2010 (IBGE,

2010).

Os dados revelam que, ao encontro do fenômeno de urbanização verifica-se a

estabilização da economia brasileira, que promove o aumento do poder aquisitivo dos

cidadãos, que por acréscimo resulta em novos padrões de consumo da população1. A

modificação dos hábitos, a avidez por novas tecnologias e outros bens necessita de grande

quantidade de recursos naturais para produção; o que demove também reservas naturais e

também gera resíduos sólidos.

Ferreira (2000) versa nesse sentido que a problemática envolvendo o lixo transcende

as soluções técnicas utilizadas pela municipalidade no gerenciamento. Os desafios se

concentram, entre outros aspectos, no desenvolvimento de soluções para o manejo dos

resíduos sólidos, de modo adequado à saúde pública e à proteção do meio ambiente, adotando

métodos, técnicas e processos que considerem também as peculiaridades locais e regionais

(BRASIL, 2012).

De outro modo, quando analisado à luz do conceito de desenvolvimento sustentável,

os resíduos sólidos se transformam em discussão de alto significado, principalmente com a

aprovação da Lei 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (ANEXO

C), e requer dos entes federativos o desenvolvimento de ações de gestão compartilhada e

planos setoriais para o manejo, como também de ações de inclusão social de atores que

migraram para essa forma de trabalho, a exploração de lixo.

1 De acordo com a Agenda 21, Capítulo IV, os padrões insustentáveis de consumo provocam o agravamento da pobreza e do

desequilíbrio. A modificação desses padrões seja pelo surgimento de novas tecnologias, baseadas na praticidade e excessivo

descarte, ou pelo aumento do poder aquisitivo é um dos responsáveis pelo crescimento dos resíduos sólidos (BRASIL,

2000).

15

A Lei é um instrumento que proporciona o encaminhamento de ações estratégicas para

combate ao quadro atual em que se encontram as cidades brasileiras, solicita ações saneadoras

do desperdício de oportunidades relacionadas aos resíduos sólidos e reacende a discussão

proposta por Amartya Sen (2000), que entende o desenvolvimento como um meio de expandir

as liberdades humanas, denominadas em sua compreensão como capacidades substantivas,

que se compõem de: “[...] oportunidades sociais, liberdades políticas, facilidades econômicas

e garantia de transparência, em que se espera a sinceridade das relações, e segurança

protetora, em que haja o resguardo das pessoas pelo Estado". (SEN, 2000, p. 11).

O autor demonstra que existe uma relação de causa e efeito entre o que as pessoas

podem realizar decorrentes das oportunidades a elas disponibilizadas. A reflexão também

acrescenta que se houver expansão dessas capacidades em nível individual, essas contribuem

decisivamente para o progresso do conjunto, e de tal forma para o desenvolvimento. O autor

avigora ainda que a expansão dessas liberdades é a prioridade, e, portanto, o meio principal do

desenvolvimento de uma sociedade (SEN, 2000).

O enfoque desta discussão sobre resíduos é da reciclagem de politereftalato de etileno

(garrafas PET) que são utilizadas para confeccionar adornos natalinos no município de

Benevides, no Estado do Pará. O evento ocorreu durante os anos de 2009 a 2012 e possui

indicativos que o qualificam como uma Política Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos, no

que diz respeito a ações de fortalecimento da gestão pública de resíduos sólidos urbanos

(BRASIL, 2010).

Por outro lado, o tema gestão de resíduos sólidos é tão urgente para o país, que a

reciclagem possui uma abordagem substancial na política nacional, inclusive com metas

audazes instituídas para os próximos quatro anos, responsabilização solidária dos setores da

economia e poder público. Todavia, verifica-se como necessário o desenvolvimento políticas

públicas consistentes, que resultem na melhoria da capacidade institucional da gestão,

promovam meios de capacitação técnica e operacional e, principalmente, possam contar com

o aporte de recursos financeiros, previstos na legislação e requeridos pela urgência do assunto

(BRASIL, 2010).

Ainda a esse respeito, Freitas e Fonseca (2011) assinalam diversos instrumentos de

política pública que o país vem implantando para apoiar os catadores de materiais recicláveis,

como por exemplo, o Comitê Interministerial para a Inclusão Social de Catadores de

Materiais Recicláveis – CIISC, criado em 2003 para tratar da inclusão social desse grupo.

De acordo com esses autores, a implantação do comitê foi a primeira das várias ações,

leis e projetos de lei que tomaram corpo no conjunto de políticas sociais do governo federal

16

direcionadas aos catadores e que impulsionaram as práticas de reciclagem; fator que contribui

para a mitigação do problema de acúmulo de resíduos. Por sua vez, a Lei Nº 12.305/2010

direciona ações estruturais à questão dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis, elo

principal da cadeia produtiva; algumas dessas, por exemplo, é a integração desses nas ações

que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; ações de

inclusão social e emancipação econômica dos catadores (LEI Nº 12.305/2010).

Abramovay (2012) remete-se à dialética consumo-crescimento econômico-geração de

resíduos e identifica a contribuição desse conjunto para o progresso nacional, mas não se

distancia da análise dos conflitos daí resultantes. Na concepção do autor os questionamentos

da economia tradicional (o quê, como e para que produzir) foram reformulados; e atualmente

devem atender à produção mais eficiente no uso dos recursos materiais, energéticos e bióticos

(Como?); direcionar o processo produtivo para a redução das desigualdades sociais (Por

quê?); e finalmente, produzir de modo coerente com as necessidades da população (Para

quê?). Essa reformulação reforça a ideia da contribuição do conjunto e convergem os desafios

com as mudanças por que passam a sociedade, sobretudo no que diz respeito à necessidade de

melhorar o gerenciamento dos custos sociais e ambientais decorrentes do modelo de

economia atual.

Os resíduos sólidos também apresentam uma abordagem multidisciplinar, no que diz

respeito aos desafios da gestão pública, à inclusão/exclusão social, à geração de trabalho e

renda, à poluição ambiental e outras tantas explicações de grande relevância para a sociedade.

Apresentam-se igualmente com uma alternativa vantajosa para a sociedade, quando

analisados sob o ponto de vista da economia de energia envolvida no processo de reciclagem

e reaproveitamento de materiais.

Nestes termos, segundo o IPEA (2012) a reciclagem é realizada no país, por

aproximadamente 18% dos municípios (994), tendo a Região Norte em 2008, de acordo com

a mesma fonte, se apresentado com 11 municípios. O relatório aventa ainda que a

maximização da reciclagem pode vir a beneficiar cerca de 800 mil pessoas que trabalham

nesse setor, em todo o Brasil.

Analisando o caso do estudo, o município de Benevides estimulou a separação do lixo

orgânico do lixo doméstico, utilizando uma campanha porta a porta no ano de 2010, com o

objetivo de facilitar a coleta de garrafas pet reaproveitadas no projeto de natal, pois que no

primeiro ano do projeto, a coleta era realizada por meio de gincanas escolares (BENEVIDES,

2012), o que não o desvincula de uma ação de coleta seletiva, ainda que pontual.

17

Dentre as vastas discussões sobre os fatores que assolam a sociedade, a temática dos

resíduos sólidos surge com pontos de vistas negativos, como os excessos do consumo, e os

aspectos sanitários e epidemiológicos; mas de uma forma mais positiva, dos benefícios que o

correto gerenciamento traz à qualidade de vida da população, inclusive aos ganhos sociais

enviesados no processo de inclusão dos catadores, enquanto beneficiários do lixo

(TAVARES, 2009).

Goldfarb et al (2005) analisaram a gestão de resíduos sólidos e a inclusão social no

programa de coleta seletiva na cidade de São Paulo e salientam que a maior conquista está

relacionada à recuperação da dignidade e autoestima dos catadores, do pertencimento social

dos agentes e da conscientização para a preservação do meio ambiente. Igualmente Carneiro e

Costa (2003) alertam que para reduzir a pobreza e melhorar a inclusão, o governo deve

intervir utilizando políticas públicas, para reforçar esses laços de pertencimento nas

comunidades pobres, por considerá-los como um elemento essencial na potencialização dos

ativos e das capacidades locais.

Se os resíduos sólidos forem avaliados sob a ótica da saúde humana, verificam-se os

efeitos causados pela disposição inadequada dos resíduos sólidos, cujos impactos são a

degradação do solo, comprometimento de lençóis freáticos, poluição do ar e propagação de

vetores de importância sanitária nos centros urbanos (JACOBI, 2006).

Outro fator intrínseco à produção de resíduos é o fator população, que na visão de

Souza (2006) possui relação com a explosão demográfica e o processo de urbanização, em

virtude de que analisados conjuntamente promovem o aquecimento da economia, elevam o

consumo, e concentram também problemas como o acúmulo de lixo nas cidades.

Portanto, a lógica principal da gestão de resíduos sólidos sob os diversos pontos de

vista está centrada na construção de uma nova cultura social, com padrões sustentáveis de

consumo e mais ainda, na edificação de procedimentos dos entes federativos, das instituições

públicas e privadas, e da sociedade civil como um todo, para o desenvolvimento de projetos

de manejo dos resíduos (BRASIL, 2012).

Também a construção desta nova cultura tem a seu favor, instrumentos como a Lei Nº

12.305/2010, o Plano Nacional dos Resíduos Sólidos, o Plano Nacional sobre Mudanças

Climáticas, Plano de Produção e Consumo Sustentável, as Conferências Internacionais sobre

Mudanças Climáticas, que são os elementos principais para nortear a implantação de políticas

públicas locais e abrangentes naquela direção, cabendo aos municípios, o desenvolvimento de

estratégias de gestão convergentes com os objetivos previstos nesses documentos.

18

Como ponto de partida verifica-se que a gestão de resíduos sólidos concebida na Lei

12.205/2010 contribui para aprofundar o debate sobre o papel do Estado (Município) no

direcionamento de políticas públicas relacionadas direcionadas à questão, pois se percebe a

ligação do assunto com as dimensões do Desenvolvimento Sustentável e, portanto, a lei

contribui com a articulação da União, Estados e Municípios, para consolidar políticas públicas

nesse sentido.

Segundo, a Lei Nº 12.305/2010, que instituiu o Plano Nacional de Resíduos Sólidos

determina a elaboração de planos de gerenciamento dos resíduos sólidos nas três esferas

políticas e se apresenta como a conexão de uma série de diretrizes interligadas para melhorar

o gerenciamento dos resíduos. Também é necessário frisar a importância depositada pelo

Estado, quando reconhece os resíduos como um bem econômico e de valor social, gerador de

trabalho e renda e promotor da cidadania (LEI Nº 12.305/2010). E, portanto, merecedor de

políticas públicas para melhorar a atuação dos catadores de resíduos e de extrema importância

para contribuir com o desenvolvimento sustentável das Regiões.

Acertadamente, a lei promove o empoderamento dos municípios, principais

responsáveis pelos planos setoriais de gerenciamento de resíduos e possibilita o desenho de

metodologias, que contribuam com a redução da pressão social sobre os recursos naturais, que

objetivem a integração de catadores de resíduos, como também viabilizem meios para o

melhor aproveitamento dos bilhões desperdiçados anualmente2. Nesse sentido, o Decreto Nº

7404/10 regulamentador da política nacional arregimenta acordos setoriais que priorizam a

participação de catadores de materiais, estabelecendo com isso, parâmetros para fomentar o

emprego e renda dos catadores.

Art. 23. Os acordos setoriais visando a implementação da logística reversa deverão

conter, no mínimo, os seguintes requisitos:

IV - possibilidade de contratação de entidades, cooperativas ou outras formas de

associação de catadores de materiais recicláveis ou reutilizáveis, para execução das

ações propostas no sistema a ser implantado;

Art. 28. O Ministério do Meio Ambiente fará a avaliação das propostas de acordo

setorial apresentado consoante os seguintes critérios mínimos:

VI - contribuição das ações propostas para a inclusão social e geração de emprego e

renda dos integrantes de cooperativas e associações de catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis constituídas por pessoas físicas de baixa renda.

(DECRETO Nº 7404/2010).

2 O IPEA (2010) estima que a perda econômica com os materiais que não são reciclados esteja estimada em oito

bilhões de reais.

19

Entre diversas medidas importantes para nortear ações de governança pública, a Lei Nº

12.305/2010 contempla a base do plano municipal:

Art. 15 A União elaborará, sob a coordenação do Ministério do Meio Ambiente, o

Plano Nacional de Resíduos Sólidos, com vigência por prazo indeterminado e

horizonte de 20 (vinte) anos, a ser atualizado a cada quatro anos, tendo como

conteúdo mínimo:

Algumas ações que podem ser consideradas, em primeira análise, como um plano de

gestão municipal de resíduos sólidos. É o caso da solução encontrada pelo município de

Benevides, que sistematizou um projeto local, trazido ao município pela autoridade

municipal, inspirado em outro evento nacional semelhante, denominado “Projeto Natal de

Benevides”.

O projeto consiste na confecção de adornos para a festividade natalina, utilizando a

coleta de garrafas pet e apresentou-se como uma alternativa de direcionar o local para a

reciclagem de materiais, envolvendo o poder público, a iniciativa privada, pessoas

desempregadas, catadores de lixo, crianças e jovens em situação de risco, profissionais,

estudantes e comunidade local.

A Região metropolitana de Belém possui seis municípios (Ananindeua, Belém,

Benevides, Marituba, Santa Bárbara e Santa Izabel). O município de Benevides está

localizado a 33 km da capital paraense e tem uma população de 51.651 habitantes, sendo 56%

dessa localizada em área urbana (IBGE, 2010). O projeto natal foi lançado em 2009, por

iniciativa pessoal do prefeito municipal, e apresentava-se com o objetivo primeiro de

“desenvolver a educação ambiental, buscando transformar a época natalina em um potencial

atrativo turístico, através do envolvimento comunitário e da criação de uma decoração

urbana.” (BENEVIDES, 2012).

Mas, para ser operacionalizado, o projeto requer a coleta e a transformação de garrafas

pet em árvores de natal gigantes e adereços alusivos à época. Inclui o envolvimento de alunos

da rede pública direcionando-os à prática da reciclagem e, por conseguinte, a contribuir com a

melhoria do espaço urbano, com a preservação de áreas naturais como igarapés e do meio

ambiente como um todo.

Por outro lado, o projeto se destacou ainda mais, quando na época natalina se

transformara em uma alternativa de geração de ocupação e renda para pessoas do município e

fortaleceu o turismo local e o comércio, devido à quantidade de visitantes que atraía ao local.

20

O projeto trouxe ainda, o estímulo à cidadania e à cultura, pois promoveu o envolvimento da

comunidade, de entidades sociais, e a descoberta de artistas locais (BENEVIDES, 2012).

O envolvimento dos catadores ocorreu através da participação na oficina de natal,

onde passaram por capacitação profissional para transformar as garrafas em ornamentos.

Também houve a participação de pessoas desempregadas no município, que eram

direcionadas à oficina de natal, como uma oportunidade para o desenvolvimento profissional.

A participação de crianças e jovens no projeto reduziu a exposição desses grupos à

situação de risco, pois foram direcionados às oficinas culturais3 e receberam formação técnica

para atuar como guias turísticos do evento; enquanto as escolas participaram com a realização

de gincanas ecológicas periódicas, o que fortaleceu a consciência ambiental dos alunos.

De outra forma, a comunidade foi levada à prática cotidiana de separação de lixo, com

a implantação do processo de separação de lixo, ali concebido como coleta seletiva.

(BENEVIDES, 2012).

Nestes termos, busca-se entender: Como a iniciativa municipal se enquadra nos

requisitos do plano nacional de resíduos sólidos? Daí surgiu a ideia analisar o arranjo

interorganizacional do Projeto, desde a coleta das garrafas até a culminância do evento,

fazendo-se um paralelo com os requisitos estabelecidos na política nacional de resíduos

sólidos, para se verificar como ocorre o processo de inclusão social e emancipação econômica

dos catadores de resíduos e das pessoas desempregadas que foram alcançados com o projeto e

quais as modificações que o projeto proporcionou na vida dessas pessoas.

Vale ressaltar que no momento em que se analisa o aproveitamento racional dos

resíduos no projeto, sua conjugação com os novos desafios ambientais relacionados à gestão

municipal de resíduos sólidos e a capacidade de potencializar a geração de trabalho e renda

emerge a uma grande indagação: Em que medida um projeto de gestão municipal de resíduos

sólidos recicláveis possibilita ao município de Benevides atender aos requisitos estabelecidos

na Lei 12.305/2010 de modo a permitir a inclusão social e emancipação econômica de

Catadores de materiais?

Essa questão pode esclarecer a efetividade da dinâmica utilizada pelo município de

Benevides no enfrentamento dos desafios da gestão municipal de resíduos previstos na Lei Nº

12.305/2010.

3 O município possuía na época do projeto, oficinas de teatro e dança, maquiagem, música, desenvolvidas em

caráter regular, durante todo o ano, sob a coordenação da Secretaria Municipal de Cultura. Informação verbal

da Assessoria da coordenação do projeto, concedida em junho/2012.

21

III. Metas de redução, reutilização e reciclagem, com vistas a reduzir a quantidade

de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente adequada;

V. Metas para eliminação e recuperação de lixões, associadas à inclusão social e

emancipação econômica de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

VI. Programas, projetos e ações para o atendimento das metas previstas. (LEI Nº

12.305/2010).

O estudo contribui para que se entendam as dificuldades, os desafios e as

oportunidades que a integração de elementos locais pode trazer para determinado espaço

urbano. Discute o dinamismo das políticas públicas e das ações do Município de Benevides

para desenvolver um projeto de reciclagem de materiais.

Nesse contexto, o estudo tem como objetivo geral analisar em que medida um projeto

de gestão municipal de resíduos sólidos recicláveis possibilita a um município atender aos

requisitos estabelecidos na Lei Nº 12.305/2010 de modo a permitir a inclusão social e

emancipação econômica de Catadores de materiais.

E como objetivos específicos, em primeiro momento, (1) identificar de que maneira

ocorre a participação dos catadores e outros atores institucionais que compõem o arranjo do

Projeto Natal de Benevides; em seguida, (2) examinar como o município utiliza um projeto de

reciclagem de resíduos para melhorar a realidade econômica e social dos catadores locais; e,

por fim, (3) avaliar se a iniciativa municipal atende aos princípios e objetivos da Política

Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei Nº 12.305/2010, no que diz respeito à

inclusão social e emancipação econômica dos catadores de materiais recicláveis.

A pesquisa tem o caráter descritivo e exploratório, pois delineia as características

específicas de uma população e de um projeto. Conforme Thomas et al (2007), esse tipo de

pesquisa preocupa-se com o status, com a obtenção de declarações, sobretudo por meio de

questionários e entrevistas, de forma que o objetivo é entender a relação existente entre a

participação de catadores de resíduos sólidos no projeto e o fenômeno da inclusão dessas

pessoas, o que lhes proporcionará melhoria da qualidade de vida.

Como já mencionado, o caso selecionado foi o Projeto Natal de Benevides, implantado

em Benevides no ano de 2009, inicialmente como uma estratégia de educação ambiental para

melhorar a organização da cidade e potencializar os atrativos turísticos existentes; e

posteriormente o enquadrou como uma Política Municipal de Gestão de Resíduos Sólidos

Urbanos.

O estudo aborda como alicerce teórico, os diversos pontos de vista de autores como

Sachs, Dowbor, Abramovay, Sen, Portilho. Também foi realizado um levantamento de dados

22

secundários sobre o município de Benevides, buscando seus principais indicadores

econômicos e sociais.

Em seguida os dados do projeto nos últimos três anos, em que se buscou identificar os

indicadores gerais de como se dava o envolvimento dos catadores e das pessoas

desempregadas, seu processo de seleção, como a estrutura do município era utilizada, e outras

questões, que foram complementados com entrevistas semi-estruturadas (APÊNDICE) junto

aos técnicos municipais, catadores de resíduos, comunidade e pessoas desempregadas que se

engajaram no projeto.

É prudente destacar, que o objetivo foi o de compreender os benefícios alcançados

pelos atores sociais envolvidos, e, também, as expectativas individuais, as melhorias

financeiras decorrente do projeto, as frustrações dos atores e a percepção do projeto, como um

instrumento que gera benefícios sociais e econômicos duradouros, e também como o projeto

era contemplado em um nível mais amplo da gestão pública municipal. Desse modo, o

método de abordagem da pesquisa se configura como qualitativo, pois se preocupa em

compreender essas questões subjetivas, o que na visão de Minayo (2001) é pertinente, já que a

pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças,

valores e atitudes, o que se concebe como um aspecto mais sensível das relações, dos

processos e dos fenômenos, e assim esses não podem ser reduzidos à simples

operacionalização de variáveis.

Igualmente, cabe observar-se que foi necessário mensurar os ganhos dos catadores e

pessoas desempregadas, decorrente da participação no evento, o que suscitou uma breve

abordagem quantitativa. Ainda, a pesquisa utilizou um questionário como instrumento para

coletar os dados, que foi aplicado aos catadores, às pessoas desempregadas e vendedores

ambulantes. A dissertação está estruturada em cinco capítulos, discutindo os aspectos

relacionados ao Projeto Natal de Benevides de uma forma geral, além da introdução,

considerações finais, anexos e apêndices.

No segundo capítulo será feito um debate sobre os resíduos sólidos no Brasil, pois a

condição de país em desenvolvimento atribui ao país fatores que aumento da produção de

resíduos, como por exemplo, a mudança nos padrões de consumo da população. Também será

analisada a importância da reciclagem nesse contexto e a relação dos resíduos com as práticas

de consumo. Outro fator de grande importância a ser abordado se relaciona à emergência de

se atender os dispositivos legais, que de forma compartilhada vislumbram o desenvolvimento

de processos de gestão dos resíduos, eficientes.

23

Em seguida ponderar-se-á o papel das políticas públicas para a gestão dos resíduos

sólidos e àquelas direcionadas aos catadores de resíduos, como também o reconhecimento da

importância da coleta seletiva, do reaproveitamento e da preservação ambiental, uma vez que

o Estado deve legitimar e instituir mecanismos eficientes para reduzir as desigualdades sociais

desses grupos de trabalhadores, o que eleva o processo de inclusão.

O quarto capítulo contempla o Projeto Natal de Benevides, sua concepção, histórico, a

relação com a política brasileira de resíduos sólidos. E por meio da análise dos dados

levantados na pesquisa de campo, avaliará o nível de participação dos atores nas discussões

acerca do projeto, o engajamento nesse, a participação da comunidade em atividades

envolvendo resíduos sólidos recicláveis, geridas pelo poder público municipal. O quinto

capítulo discute o projeto de natal do município e as perspectivas do desenvolvimento

sustentado e includente, por se tratar de um dos maiores desafios da atualidade.

24

2 RESÍDUOS SÓLIDOS

2.1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL

Habitualmente o termo lixo é entendido como quaisquer objetos ou coisas sem valor,

descartados de qualquer maneira. Dessa maneira, o termo “resíduos sólidos” se confunde com

lixo, porém conforme o conceito mencionado por Dionysio e Dionysio (2011), a palavra lixo

é derivada de lix que em latim significa cinzas, provenientes da queima de lenha. O conceito

evolui sob várias perspectivas e atualmente, configura-se como um insumo de essencial

importância para a sociedade. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, NBR

10.004/2004 conceitua os resíduos sólidos como:

Resíduos nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades de origem

industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição.

Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes de sistemas de tratamento de

água, aqueles gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem

como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu

lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso

soluções técnica e economicamente inviável em face à melhor tecnologia disponível.

Faria (2002) define lixo como todo e qualquer resíduo resultante das atividades diárias

do homem na sociedade. Estes resíduos são basicamente, sobras de alimentos, papéis,

papelões, plásticos, trapos, couros, madeiras, latas, vidros, lamas, gases, vapores, poeiras,

sabões, detergentes e outras substâncias descartáveis de forma consciente. A Norma ABNT

NBR 10.004/2004 versa ainda sobre o processo de classificação dos resíduos, por consignar

que a identificação do processo ou atividade que lhes deu origem e de seus constituintes; as

características e a comparação destes constituintes com listagens de resíduos e substâncias

auxiliam a conhecer o impacto à saúde e ao meio ambiente.

Conforme relatório Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, elaborado pela

Associação Brasileira de Limpeza Pública – ABRELPE4 (2012), em 2009 o Brasil gerou 57

milhões; em 2010, foram 60,8 milhões e em 2011, 61,9 milhões de toneladas de resíduos

sólidos urbanos. O país apresenta um índice de coleta nesses anos de 88%; 88,9% e 89,6%,

respectivamente. No que se verifica de forma concomitante, a elevação da quantidade gerada

4 O relatório é elaborado com base em amostras (População urbana e total dos municípios – Pesquisa Nacional de

Amostragem por Domicílios – PNAD, e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)). O levantamento de dados

sobre os resíduos sólidos urbanos (RSU) e coleta seletiva – por pesquisas diretas realizadas pela ABRELPE junto aos

Municípios com a aplicação do questionário. Os dados sobre reciclagem foram obtidos junto às associações representativas

dos setores de alumínio, papel, plástico e vidro, os quais abrigam as principais atividades de reciclagem no país.

25

e do índice de coleta; entretanto, demonstra-se ainda que nos três anos, 20,3 milhões de

toneladas de resíduos deixaram de ser coletadas e, por analogia, tiveram destino inadequado.

Constata-se nesse sentido, que o país vem apresentando crescimento nos índices de

coleta de resíduos, chegando a algumas regiões como a Sudeste, a coletar 96,5% em 2011

(ABRELPE, 2011), mas a destinação final ainda é uma dificuldade que deve ser superada.

Essa superação está relacionada à transição da situação atual para o modelo idealizado pela

política nacional de resíduos sólidos.

O relatório Panorama dos resíduos sólidos apresenta dados de 2011, que relacionam a

distribuição regional da amostra por região e destaca-se a Região Sudeste, com

aproximadamente 42%5 da população brasileira e foi responsável pela coleta de 52,7% dos

resíduos sólidos urbanos do país (GRÁFICO 03).

Gráfico 01 - Participação das regiões no total RSU coletadas em 2011.

6,4%

22,0%

8,1%

52,7%

10,8%

N NE CO SE S

Participação das regiões no total RSU

coletados

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Como adiante verificado na tabela 01, visualiza-se que, embora se tenha aumentado a

quantidade diária de resíduos sólidos urbanos coletados, é possível perceber que mesmo com

um instrumento de regulação como a lei de 2010 e todos os seus princípios, o cenário ainda

não apresenta modificações estruturais, suficientes para a gestão da totalidade dos resíduos.

5 Segundo a análise das condições de vida da população brasileira (IBGE, 2012), a Região Sudeste possuía, no

ano de 2011, 82.067 milhões de pessoas residentes, do quantitativo de 195.243 milhões de brasileiros (IBGE,

2012).

26

Tabela 01 - Geração de resíduos e coleta per capta.

Ano

Geração per

capita

(ton/ano)

Coleta per

capita

(ton/ano)

Geração per

capita

(kg/hab/dia)

Coleta per

capita

(kg/hab//dia)

2011 381,6 342,1 1,06 0,95

2010 378,4 336,6 1,05 0,93

2009 359,4 316,7 0,99 0,87

Fonte: ABRELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Gráfico 02 - Formas de destinação dos resíduos sólidos no Brasil.

91.524 99.919 103.335

38.459 42.231 43.032

31.101 31.433 31.628

2009 2010 2011

Destinação final

Resíduos Sólidos (t/dia)

Aterro Sanitário Aterro Controlado Lixão a céu aberto

Fonte: ABRELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

O gráfico 02 traz a situação dos resíduos nos últimos três anos, refletindo um

crescimento em todas as formas de destinação. A partir dessa figura, pode-se analisar que,

mesmo com a legislação em vigor desde o ano de 2010, os mecanismos para reduzir à

destinação final inadequada (lixão e aterro controlado), naquele normativo previstos, ainda

não se mostram presentes.

O fato de que a geração e os índices de coleta terem aumentado simultaneamente,

pode estar associado a diversas modificações no país, como crescimento econômico e com

isso, incremento na renda individual, mudança de comportamento dos habitantes, melhoria

dos instrumentos de coleta, mas ainda insuficiência desses no nível em que se obtenha a total

cobertura. Assim, ainda se percebe um dilema entre coleta e destinação de resíduos sólidos

urbanos.

27

De acordo com Nascimento (2007) os métodos mais comuns de destinação final dos

resíduos sólidos são: Compostagem, definida como uma reciclagem de fração orgânica dos

RSU. Incineração, definida como um processo de redução da massa e do volume dos RSU,

utilizando-se a combustão controlada. Lixões ou vazadouros, que consiste no lançamento dos

RSU sobre o solo, sem qualquer tipo de proteção ao meio ambiente ou tratamento.

Outro método é o Aterro controlado, que dispõe o RSU com algumas precauções de

tratamento do solo, como o recobrimento dos RSU com argila, o que reduz os riscos ao meio

ambiente; e os Aterros sanitários, resultantes de obras de engenharia, em que os RSU são

dispostos, respeitando-se as suas características, e também são tomadas as medidas para tratar

os efluentes, de modo a reduzir ao máximo, os impactos ambientais a que são expostas as

pessoas que vivem no entorno (NASCIMENTO, 2007).

Gráfico 03 - Destinação final dos resíduos sólidos no Brasil.

28.546

31.194 32.340

21.711 22.962 23.293

2009 2010 2011

Destinação RSU (mil/t)

Adequada Inadequada

Fonte: ABRELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Do mesmo modo, o gráfico 03 apresenta o modo de destinação final dos resíduos

sólidos no Brasil durante os anos de 2009 a 2012 e aviva a percepção de um contexto de

destinação inadequada e crescente no país. Assim, os planos de gerenciamento de resíduos,

nas três esferas de decisão, surgem como os elementos necessários e imprescindíveis ao

enfrentamento da questão.

De acordo com o relatório Panorama 2011, a Região Sudeste é aquela que tem a maior

participação na quantidade de RSU coletados no país, e mesmo concentrando. No gráfico 03

se verifica que a região que possui a menor participação é a Região Norte com 6,4% do total

28

nacional. O gráfico 04, desenha a composição gravimétrica dos RSU naquele ano. De um

modo geral, o relatório ainda reforça que a referida composição é bastante diversificada nas

diferentes regiões do Brasil, em consonância aos hábitos de costumes de consumo e descarte

da população local (ABRELPE, 2011).

Sob o prisma da reciclagem de material, a Associação Brasileira de Indústria de Pet –

ABIPET aponta também que em 2010 foram recicladas 262 mil toneladas de garrafas pet, o

que correspondem a 55,8% do total consumido no país. Por outro lado, o estudo do IPEA

(2010) analisa que esse setor movimenta em média, doze bilhões de reais por ano e estima que

oito bilhões de reais sejam os benefícios potenciais se todo o material reciclável que é

encaminhado para lixões e aterros fosse reciclado. Dados como esse fortalecem o

aprofundamento do estudo das oportunidades relacionadas ao tema e corroboram também

para que se sinalizem ações estruturais para o manejo dos resíduos sólidos, utilizando a

reciclagem de materiais.

Alguns dos fatores que mais contribuíram, ao longo dos anos, para o aumento dos

resíduos foram o crescimento populacional e o consumo de bens industrializados. Nesse

sentido Faria (2002) debate que a quantidade per capta de lixo produzido por determinada

família é diretamente proporcional ao seu poder de compra, acarretando desperdícios e maior

geração de plásticos, papéis e vidros. No mesmo sentido Acurio et al (1998) menciona que

existe uma correlação entre a produção de resíduos sólidos e a venda per capita, que pode ser

determinada pelo poder aquisitivo de cada consumidor. Desse modo o consumo impacta

diretamente na produção dos resíduos sólidos, solicitando uma espécie de reorientação dos

atuais padrões.

De acordo com o Art. 13, da Lei Nº 11.445/2010, os resíduos sólidos são classificados

segundo a fonte geradora, conforme abaixo:

a) Resíduos domiciliares: Os originários de atividades domésticas em residências

urbanas. É composto de material orgânico e inorgânico.

b) Resíduos de limpeza urbana: Os originários da varrição, limpeza de logradouros

e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana;

c) Resíduos sólidos urbanos: Os englobados nas alíneas “a” e “b”.

O manejo dos resíduos sólidos e limpeza urbana são de competência da autoridade

municipal (BRASIL, 1988). Para fins de qualificação dos resíduos, decorrentes de limpeza

urbana e manejo de resíduos é conceituada como o conjunto de atividades, infraestruturas e

29

instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destino final dos

resíduos sólidos urbanos (BRASIL, 2010).

Como o Plano Nacional de Resíduos Sólidos é um componente interligado com a

Política Federal de Saneamento Básico, em conjunto com o abastecimento de água potável,

esgotamento sanitário e drenagem e manejo de águas pluviais urbanas, verifica-se que essas

políticas têm como função principal, assinalar ações de gerenciamento, que resultem na

melhoria da qualidade de vida da população.

Ainda de acordo com o relatório ABRELPE6 (2011), os 449 municípios dos sete

Estados da Região Norte geraram em 2011, 13.658 toneladas/dia de RSU das quais 83,17%

foram coletadas. No tocante à geração de RSU, os dados indicam um crescimento de 4,2% no

índice per capita de geração da Região, que registrou a marca de 1,154 kg/habitante/dia.

A comparação entre os dados relativos à destinação de RSU em 2011 e 2010 resulta

na constatação de um aumento de 7% na destinação final ambientalmente adequada em

aterros sanitários. No entanto, 65% dos resíduos coletados na região, correspondentes a 7.384

toneladas diárias ainda são destinados para lixões e aterros controlados que, do ponto de vista

ambiental, pouco se diferenciam dos próprios lixões, por não possuírem o conjunto de

sistemas necessários para proteção do meio ambiente e da saúde pública.

Gráfico 04 - Composição gravimétrica dos RSU em 2011.

51,4%

31,9%

16,7%

Matéria orgânica Recicláveis Outros

Composição gavimétrica dos RSU

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Outro dado importante para o diagnóstico dos RSU é o quantitativo financeiro

disponibilizado no processo de coleta, no que a Região Norte do país aplicou nos serviços

6 Para a elaboração do relatório, a Associação utiliza uma amostra da população brasileira por região.

30

coleta de RSU uma média por habitante de R$ 45,48 no ano de 2010, totalizando R$ 531

milhões; R$ 48,24 em 2011 totalizando R$ 571 milhões. Gerou, respectivamente, 20.166 e

21.425 empregos diretos no setor de limpeza urbana. Também esse setor movimentou R$ 1,3

e 1,5 bilhões, respectivamente; fatos que demonstram a vultuosidade que o setor de limpeza

contribui com a economia do país (ABRELPE, 2010; 2011).

O Estado do Pará coletou 0,93 kg de resíduos por habitante por dia, no ano de 2010 e

sua capital Belém, foi a responsável pela coleta de 1,2 kg/hab/dia. Conforme ABRELPE a

amostra de 68,5% da população7 foi responsável pela geração de cerca 5.625 t/dia de resíduos

e destinou 36,9% desses aos lixões e 36,2%, para os aterros controlados, o que perfaz 73,1%

de resíduos dispostos inadequadamente, corroborando com o cenário nacional.

Em 2011, os percentuais da destinação dos resíduos foram de 36,5% e 36,2%

respectivamente. Nesse contexto, considerando que uma das metas previstas no PNRS para o

ano de 2014 é o fim da existência dos lixões e aterros controlados, que a Constituição Federal

e a Política Federal de Saneamento Básico definem os Entes municipais como os responsáveis

pela gestão dos resíduos; esses Entes se configuram como os principais indutores de novos

mecanismos de gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos no Brasil. A seguir, os gráficos

de comparação dos últimos anos no Estado do Pará8 (ABRELPE, 2010; 2011).

Gráfico 05 - Comparativo entre geração e coleta RSU – Pará

5.779 4.531

5.625 4.579

6.133 4.924

Geração Coleta

Geração e coleta de RSU

Estado do Pará

2009 2010 2011

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

7 Anualmente é elaborado um Panorama dos resíduos sólidos no Brasil, realizado pela ABRELPE. Em 2010 foi

retirada uma amostra de 68,5% (5.197.000 habitantes) da população do Estado do Pará. (ABRELPE, 2010). 8 Os municípios paraenses amostra da pesquisa foram: Abaetetuba, Altamira, Ananindeua, Augusto Corrêa,

Barcarena, Belém, Castanhal, Marabá, Medicilândia, Oriximiná, Salinópolis, Santarém, Santo Antonio do

Tauá.

31

Gráfico 06 - Destinação final dos RSU – Pará

1.233

1.657 1.689

1.346

1.782 1.796

Aterro sanitário Aterro controlado Lixão

Destinação final (t/dia)

Pará

2010 2011

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Fazendo-se uma análise sobre os gráficos e as necessidades apresentadas no plano

nacional de resíduos sólidos, como por exemplo, a elaboração de planos municipais de gestão,

a meta de eliminação dos lixões, a destinação final ambientalmente adequada de rejeitos em

todos os municípios, com prazo final previsto para 2014, verifica-se que o Estado do Pará,

não se distancia do panorama do país, mas é visível que haja um retardamento naquilo que o

plano nacional encaminha como necessário para o alcance dessas metas, o que se agrava com

o cenário deficiente na coleta9 e na disposição final

10 ainda crescente em aterro controlado e

lixões a céu aberto.

Ainda é coerente ressaltar que, conforme aquele relatório, no restante do Brasil, a

situação não está muito longe do Norte. Desse modo, a gestão de resíduos sólidos de forma

efetiva, dar-se-á disponibilização de instrumentos de regulação adequados, como aqueles já

previstos na legislação, pela reunião de informações em nível nacional e tanto mais pelos

meios de controle da sociedade.

Nesse ínterim, o governo federal disponibilizou o Sistema Nacional de Informações

sobre Saneamento – SNIS, que engloba também dados de resíduos sólidos; no entanto,

verifica-se que apenas os grandes municípios disponibilizaram os dados necessários.

Bolognesi (2012) ressalta que o problema dos resíduos não será resolvido única e

exclusivamente com mecanização, produção de biogás, incineração ou reciclagem, mas por

meio do conjunto de todas essas soluções, uma vez que os problemas decorrentes devem ser

9 Conforme gráfico nº 5, 1.248 t/dia em 2009; 1.046 t/dia em 2010 e 1.209 t/dia em 2011 não foram coletados

no Estado. 10

No estado do Pará (GRÁFICO 06), verifica-se que os lixões ainda concentram a maior parte dos resíduos

sólidos urbanos nos três anos pesquisados.

32

tratados conforme a complexidade que se apresenta em cada local e também de acordo com a

disponibilidade de recursos ali existentes, adotando-se assim múltiplas soluções.

2.2 A IMPORTÂNCIA DA RECICLAGEM DE MATERIAIS

Acertadamente o país fixou em Lei a hierarquia para o destino do lixo, priorizando a

reutilização e a reciclagem, o que abre oportunidades para novos empreendimentos em todas

as etapas de gerenciamento dos resíduos.

O relatório PNUMA elenca que o Brasil recicla 95% das latas de alumínio e 55% de

todas as garrafas de polietileno; 50% de todo o volume de papel e vidro é recuperado. A

reciclagem gera quase US$ 2 bilhões e evita a emissão de 10 milhões de toneladas de gases de

efeito estufa na atmosfera, no entanto, US$ 5 bilhões em materiais recicláveis vão parar em

aterros sanitários (PNUMA, 2011).

Ainda o relatório aventa que considerando os atuais índices de reciclagem do país,

nas contas acima, a reciclagem já geraria benefícios entre R$ 1,4 bilhão e R$ 3,3 bilhões

anuais (PNUMA, 2011). Portanto, têm-se mais um dado na imensidão de oportunidades

implícitas no processo de reciclagem de materiais, logo, torna-se inadiável que sejam criadas

infraestruturas ou ainda iniciativas locais para tratamento e destinação de resíduos, sob pena

de não cumprimento das metas estabelecidas no plano nacional e no agravamento da situação

dos espaços urbanos.

Sob os olhos da lei 12.305/2010 a coleta seletiva e a reciclagem são definidas como as

principais diretrizes a serem implementadas pelos municípios, de forma de atender ao

princípio da hierarquia na gestão de resíduos sólidos. Do total de municípios do Brasil, apenas

2.535 declararam ter iniciativas de coleta seletiva e, a Região Norte é a que apresenta menor

participação nessas iniciativas, conforme se verifica nos gráficos 07 e 08 (ABRELPE, 2011).

33

Gráfico 07 - Iniciativas de coleta seletiva por faixa de população urbana

42%

33%

86%93%

58%

67%

14%7%

Até 49.999 De 50.000 a

99.999

De 100.000 a

499.999

Acima de

500.000

Iniciativas de coleta seletiva

por faixa de população urbana

Sim Não

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Gráfico 08 - Iniciativas de coleta seletiva por região

209

651

131

1336

936

240

1143

335 332252

Norte Nordeste Centro

oeste

Sudeste Sul

Iniciativas de coleta seletiva

por região (2011)

Sim Não

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

Conforme o relatório ABRELPE (2011), analisando a cadeia produtiva do plástico no

Brasil nos anos de 2006 a 2010, conclui que existe um universo de oportunidades

relacionadas à reciclagem. O relatório traz a evolução do consumo aparente11

, conforme

gráficos 09 e 10, abaixo:

11 De acordo com o relatório Panorama dos Resíduos Sólidos, o consumo aparente é obtido a partir do total produzido, acrescido do

importado, menos o exportado.

34

Gráfico 09 - Produção e consumo aparente de plásticos no Brasil

-

1

2

3

4

5

6

7

2006 2007 2008 2009 2010

Mil

ha

res

Produção e consumo

aparente de plásticos

Produção (mil t)Consumo aparente …

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

A pesquisa ABRELPE (2011) menciona que os dados disponíveis sobre a reciclagem

de plásticos no Brasil retratam o universo da indústria de reciclagem mecânica dos plásticos –

RMP, a qual converte os descartes plásticos pós-consumo em grânulos passíveis de serem

utilizados na produção de novos artefatos plásticos.

Em 2010 a indústria brasileira de reciclagem mecânica de plásticos era constituída por

738 empresas, sendo 324 (44%) e 86 (12) dessas, localizadas no Estado de São Paulo e Rio

Grande do Sul, respectivamente. E no período de 2006 a 2010 o processo RMP obteve a

média de 1.144 mil t de capacidade total instalada e cerca de 760 mil t de plásticos reciclados,

o que reflete ainda o índice médio de 34,6% de capacidade ociosa (ABRELPE, 2011).

No universo dos plásticos estão os materiais PET, que apresentaram elevação gradual

na quantidade consumida como também na reciclada nos últimos cinco anos, o que ainda se

apresenta como merecedor de atenção, devido à hierarquia de objetivos estabelecidas pelo

Plano Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS12

.

Com base nos gráficos 10 e 11, a seguir, pode-se avaliar o consumo de plástico PET,

verificando-se que da quantidade média dos cinco anos, em 381 mil t foram recicladas em

torno de 206 mil toneladas, o que nos leva a ultimar que os índices, mesmo crescentes, ainda

se comportam de maneira tímida, frente aos desafios impostos pela lei 12.305/2010.

12

O Plano Nacional dos Resíduos Sólidos prevê uma hierarquia de objetivos, esses estão relacionados à não

geração, à redução, à reutilização, à reciclagem, ao tratamento e à disposição final ambientalmente adequada,

o que também nos remete a institucionalização de novas práticas de consumo.

35

Gráfico 10 - Consumo de PET no Brasil

0

100

200

300

400

500

2006 2007 2008 2009 2010

Consumo de pet no Brasil

mil t

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

A versão preliminar do Plano Nacional dos Resíduos Sólidos, por meio de diagnóstico

da situação no Brasil elaborou grandes temas de abordagem dos RSU, seguidas de diretrizes e

estratégias de atuação, como forma de subsidiar a ação dos Entes federativos.

No tema nº 2 que versa sobre a redução da geração de RSU, o plano estabelece como

diretriz principal a de manter os patamares de geração dos RSU a 1,1 kg/hab/dia13

,

destacando-se como estratégias para tal, o processo educacional para o consumo sustentável e

o aumento dos níveis de reciclagem dos resíduos sólidos, nesse sentido, incentivando ainda a

inclusão social dos catadores (BRASIL, 2010).

Gráfico 11 - Índice de reciclagem de PET no Brasil.

51,3%

53,5%

54,8%55,6%

55,8%

2006 2007 2008 2009 2010

Índice de reciclagem de PET no Brasil

Fonte: ABELPE (2011). Elaborado pela autora (2013).

13

O PNRS utilizou como referência o ano de 2008, que apresentou à geração per capta de 1,1 kg/dia, cuja fonte

foi o Instituto Brasileiro de Gestão e Estatística – IBGE.

36

De outro modo, o PNRS prevê como meta, a redução dos resíduos recicláveis secos

dispostos em aterros em 70% até 2015 de todo o material produzido no país, traçando como

sendo o cenário mais favorável do plano, e 22%, no cenário mais desfavorável (BRASIL,

2010). Salienta-se que o cenário positivo contribui, num efeito em cadeia, para atenuar as

mudanças climáticas, para a conservação da biodiversidade e demais recursos naturais.

Tomando-se os dados da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos do

Brasil em 2011, e fazendo-se um paralelo com o estudo realizado pelo IPEA (2010) sobre a

valoração dos benefícios econômicos e ambientais associados à reciclagem, verifica-se nas

tabelas 01 e 02, que as mais de sete milhões de toneladas de plásticos resultariam em

benefícios na ordem de R$ 47,4 milhões apenas em 2011, conforme abaixo.

Tabela 02 - Composição gravimétrica dos RSU no Brasil

Material Participação

(%)

Qtd

(mil/t/ano)

Metais 2,9 1.610

Matéria Orgânica 51,4 28.544

Papel, papelão e tetrapak 13,1 7.275

Plástico 13,5 7.497

Vidro 2,4 1.332

Outros 16,7 9.274

Total 100 55.532

Fonte: ABRELPE, (2011). Elaborado pela autora (2013)

O estudo estima ainda que o benefício da reciclagem de Pet relacionado à emissão de

GEE’s esteja em torno de R$ 51,13 por tonelada. E que no processo de reciclagem, os maiores

benefícios ambientais estão relacionados com a economia de energia e as emissões de GEE’s

(IPEA, 2010).

Mesmo que existam algumas limitações do método utilizado, as discussões sobre as

diversas formas de estimar os benefícios econômicos e ambientais trazidos pelo processo não

se exaurem. Em termos ambientais, a reciclagem de uma tonelada de cada um dos materiais,

em comparação com a produção, a partir de matérias primas virgens, àquela reduz os danos

causados ao meio ambiente (IPEA, 2010).

37

Tabela 03 - Estimativa de benefícios econômicos dos RSU no Brasil

Material

(2011-mil)

(a)

Custos com

insumo para

produção

primária (R$/t)

(b)

Custos com insumo

para produção a

partir da reciclagem

(R$/t)

(c)

Benefícios

líquidos da

reciclagem

(R$/t)

(d)

Estimativa de

benefícios

econômicos

(R$/bi)

(a*d)

Celulose (7.275) 687 357 330 2,4

Plástico (7.497) 1.790 626 1.164 8,7

Vidro (1.332) 263 143 120 0,16

Fonte: IPEA (2010). Elaborado pela autora (2013)

Tabela 04 - Estimativa de benefícios ambientais dos RSU no Brasil

Material (2011-

mil)

(a)

Custos

ambientais

associados à

geração de

energia para

produção

primária (R$/t)

(b)

Custos ambientais

associados à

geração de energia

para reciclagem

(R$/t) (c)

Benefícios

líquidos da

reciclagem (R$/t)

(d)

Estimativa de

benefícios

ambientais

redução

consumo energia

(R$/bi) (a*d)

Celulose (7.275) 11,98 2,26 9,72 70,7

Plástico (7.497) 6,56 1,40 5,16 38,7

Vidro (1.332) 23,99 20,91 3,18 4,2

Fonte: IPEA (2010). Elaborado pela autora (2013)

Utilizando-se o estudo do IPEA verifica-se nas tabelas acima, a significância

monetária relacionada aos benefícios econômicos e ambientais que a reciclagem traz ao país,

tanto pela redução de consumo de recursos naturais14

na cadeia de produção, quanto ao ganho

que o país tem quando utiliza a reciclagem.

Segundo Queiroz e Garcia, (2011) destacam categorias com impacto relevante,

envolvidas na reciclagem como consumo de recursos naturais, mudanças climáticas (efeito

estufa) entre outros, o que reforça a necessidade de se desenvolver efetivamente a prática da

reciclagem no Brasil.

Por outro lado, Guimarães (2011) ressalta que apesar de a reciclagem ser uma ideia

sedutora para a maioria das pessoas, pelos vieses que possui, apresenta muitas limitações,

14

São insumos para a produção primária: Petróleo, gás natural, água e carvão/urânio. (QUEIROZ; GARCIA,

2011).

38

dentre as quais destaca a distância das indústrias de reciclagem, a falta de atravessadores que

os transportem, os locais inadequados para a triagem e, principalmente, pela ausência de

coleta seletiva. Assim, segundo a autora, é necessário que os resíduos sólidos sejam

minimizados, por meio do consumo sustentável.

2.3 RESÍDUOS SÓLIDOS E A RELAÇÃO COM O CONSUMO

O aumento dos padrões de consumo e suas consequências para o meio ambiente

caracterizam uma questão urbana, mais comumente encontrada em países desenvolvidos,

porém está presente também nas grandes cidades de países em desenvolvimento, como o

Brasil (PORTILHO, 2008). Segundo a autora, a problemática ambiental se desloca da

preocupação com os problemas relacionados à produção, para àqueles relacionados ao

consumo e aos estilos de vida da população. Há, portanto, uma relação de causa e efeito entre

os padrões de consumo e o aumento da produção dos resíduos sólidos.

O primeiro grande alerta sobre a insustentabilidade do consumo da sociedade está

previsto na Agenda 21 brasileira, que detalhou a necessidade de se desenvolverem métodos

mais eficientes de produção e conscientes de consumo.

Em seu capítulo 4 menciona que os países em desenvolvimento devem procurar atingir

padrões sustentáveis de consumo, garantindo o atendimento das necessidades básicas dos

pobres e, ao mesmo tempo, evitando padrões insustentáveis, especialmente os dos países

industrializados (BRASIL, 2000).

Em 1995, a ONU afirmou a necessidade de se estabelecerem práticas de consumo

sustentável, essas relacionadas “ao uso de bens e serviços que atendem às necessidades

básicas e minimizam o uso de recursos naturais, materiais tóxicos e emissões de poluentes

através do ciclo de vida, não expondo ao perigo as necessidades das futuras gerações”.

Na mesma direção Jacobi (2011) elucida que é mandatária a adoção de padrões de

produção e consumo sustentáveis, para que conjuntamente com o adequado gerenciamento

dos resíduos possa reduzir os impactos ao ambiente e à saúde.

Outro instrumento que versa sobre o assunto é o Plano de Ação para Produção e

Consumo Sustentáveis – PPCS, que surge como mais um compromisso assumido pelo

governo brasileiro perante a comunidade global, para reestruturar as práticas do país e alerta

que não se pode vislumbrar uma economia mais sustentável, sem um esforço para alterar os

padrões atuais de produção e consumo. Desse modo, o plano se apresenta como uma agenda

39

de ações governamentais, pactos setoriais, iniciativas voluntárias, cujos resultados serão

avaliados e monitorados (BRASIL, 2010).

O PPCS traz em seu escopo seis prioridades nacionais, a primeira versa a necessidade

de aumento da reciclagem, práticas de reutilização e ao reuso de materiais, de modo que se aja

em toda a cadeia produtiva e ciclo de vida do produto (BRASIL, 2010).

Essa ação vai ao encontro dos planos de gestão compartilhada previstos na lei

12.305/2010. A segunda é a educação para o consumo sustentável, pois essa se consolida

como um instrumento que possibilita as mudanças necessárias ao conhecimento, valores de

respeito e dignidade com relação ao desenvolvimento sustentável, comportamentos e estilos

de vida (BRASIL, 2010).

Outra prioridade do plano é a agenda ambiental na administração pública, que propõe

ações de caráter voluntário para fortalecer a gestão ambiental em órgãos públicos; a quarta

prioridade trata das compras públicas sustentáveis, que pelo volume por que é responsável o

governo pode disciplinar e induzir o mercado à economia verde.

A quinta prioridade constante no plano objetiva as construções sustentáveis, com a

adoção de novos padrões. A sexta prioridade trata do varejo e consumo sustentáveis, que trata

da oferta de produtos, induzindo os consumidores a novos comportamentos (BRASIL, 2010).

Essas primazias buscam o desenvolvimento de um setor produtivo mais progressista,

alinhado com as novas tendências da competitividade mundial, firmando a legislação que

procura mitigar a geração de externalidades ao ambiente e ao homem, ampliando com isso, os

níveis de sustentabilidade na produção de bens e serviços (BRASIL, 2010).

No relatório PNUMA (2011) consta que os níveis atuais de resíduos possuem

correlação com a renda, de forma que o mundo pode esperar uma geração de mais de 13,1

bilhões de toneladas de lixo em 2050, 20% mais que a quantidade em 2009.

De acordo com Portilho (2005), a partir da década de 90 inicia-se um processo de

esclarecimento sobre os efeitos que os novos padrões de uma sociedade emergente causam ao

meio ambiente, e a vida cotidiana incorpora valores e preocupações nesse sentido, induzindo

o ser humano a um comportamento ambiental benigno.

Desse momento de convergência surgem as propostas de consumo verde, cujo foco

não se limita à redução do consumo, descartabilidade e obsolescência planejada, mas

principalmente à reciclagem, o uso de tecnologias limpas e a redução do desperdício.

40

A autora reflete ainda que consumo verde e consumo sustentável15

, anteriormente

foram representados pelas ações de consumidores individuais, e hoje penetram importantes

esferas de ação e de política ambiental, reforçando assim, a integração público-privada,

direcionada ao gerenciamento dos resíduos sólidos.

Jacobi (2011) por sua vez, intenta em alertar para fatos como a incapacidade

administrativa e verifica que em países em desenvolvimento, há bastantes dificuldades em

equacionar a problemática de gerenciamento de resíduos, pela deficiência na capacidade

financeira e administrativa em prover infraestrutura e serviços essenciais como água,

saneamento, coleta e destinação adequada do lixo e moradia.

O autor assinala que nos países que geram maiores quantidades de resíduos e de lixo,

verifica-se maior refinamento no gerenciamento, mais recursos econômicos, melhor nível de

educação da população, e, principalmente, maior grau de desenvolvimento tecnológico

(JACOBI, 2011).

Missiagia (2002) por sua vez, discute que a produção mais limpa se converte também

no despertar de um interesse novo e criativo, que os investimentos iniciais não são tão

vultosos, mas fazem muita diferença no resultado final, quanto à melhoria no uso da água, da

energia e dos materiais, ou que as pessoas podem melhorar os processos industriais, monitorar

as emissões de gases e também desenvolver técnicas de reciclagem de materiais.

Na percepção de Almeida, Sá e Zanete (2009), a relação entre produção de resíduos,

desequilíbrio ecológico e o estágio atual de desenvolvimento das forças produtivas também

têm suas bases na perspectiva do excessivo consumo e descarte. Os autores citam os bens de

consumo, que são produzidos para o descarte antes mesmo de ter esgotada sua vida útil.

Esse encurtamento possibilita o lançamento contínuo de suprimentos, estimulados pela

inovação tecnológica, favorecendo a taxa decrescente de utilização, que provoca além do

desperdício dos recursos naturais, o inevitável desperdício do trabalho humano (ALMEIDA;

SÁ; ZANETE, 2009).

Os autores refletem também que as populações urbanas que sobrevivem dos resíduos

sólidos deixam de serem trabalhadores vivos, pelo processo de exclusão, mas contribuem para

a formação do capital, sob a forma de trabalhadores residuais e de consumidores primários

dos resíduos. Desse modo, essas pessoas são peças importantes na cadeia produtiva industrial,

que termina num processo mais amplo, no qual eles não estão enquadrados; sendo, portanto,

15

A autora qualifica como consumo verde, a maneira consciente, como as pessoas utilizam os recursos. E

consumo sustentável, o quanto se usa os recursos.

41

insalubre e irregular para a legislação trabalhista, e injusto e desumano para as condições de

vida (ALMEIDA; SÁ; ZANETE, 2009, p. 8, 10).

Sob o olhar da exclusão, Zaneti (2006) menciona que os resíduos sólidos provocam a

supressão dos catadores, ainda que esses participem diretamente de um processo de

ressignificação do lixo, adicionando valor comercial àqueles; porém são atores que vivem à

sombra do sistema. Assim, o país vive o constante dilema de equacionar riqueza, consumo,

desperdício, descarte em excesso, miséria, má participação e má inclusão (ZANETI, 2006).

Sob a ótica da lei 12.305/2010, a inclusão dos catadores está prevista em diversas

passagens, auxiliando até mesmo os municípios a atingirem as metas de gerenciamento dos

resíduos sólidos urbanos, inclusive com a priorização no recebimento de recursos federais

para infraestrutura física e equipamentos, como também pela necessidade de se estabelecerem

programas e ações com a participação de cooperativas e associação de catadores de materiais

recicláveis.

Por outro lado, Rolnik (2012) reflete que o lixo é visto como uma mercadoria e que

reduzir o consumo se apresenta como um contraciclo na expansão dessa mesma mercadoria,

já que a sociedade vive condenada a conviver com uma quantidade de objetos produzidos e

descartados cada vez maior. Ainda a autora alerta que os impactos ambientais decorrentes

desse modelo são muito claros, portanto, não se pode admitir um debate que não lide com a

ideia de redução.

No estudo de Freitas e Fonseca (2011) constam que haja muitos obstáculos a serem

transpostos para a efetiva inclusão social e emancipação econômica de catadores proposta

pelo plano nacional, como por exemplo, a falta de reconhecimento do trabalho e das

condições de um mercado de comercialização estruturado, como também a deficiência na

conscientização da população em separar o lixo (FREITAS; FONSECA, 2011).

Por todos esses fatores, a lei contribui além do contexto atual das novas práticas de

consumo e se configura como um elemento norteador do Estado, para fortalecer a gestão

integrada e sustentável de resíduos, com a participação dos setores sociais, destacando-se

também que a hierarquia estabelecida naquela lei é determinante para a tomada de decisão no

gerenciamento dos resíduos, de forma que se deve analisar se o projeto não utiliza uma

estratégia que provoque o processo inverso.

42

3 POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

3.1 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA GESTÃO DE RESÍDUOS

A gestão pública mundial, de acordo com Marini e Martins (2004), nos anos 80 e 90

passou por diversas transformações. Desde a chamada reforma de primeira geração, em que

houve uma orientação para o desenvolvimento, baseada nos ajustes econômico-fiscais, até a

do início do século XXI, reforma de segunda geração, com o propósito principal de promover

o desenvolvimento, cuja concepção dá-se principalmente pela grandeza dos desafios sociais,

que necessita de melhores formas integrativas de atuação do Estado.

Essas transformações sociais imputem à gestão pública que produza respostas cada

vez mais precisas à sociedade, e dessas respostas frutificam as políticas públicas. Que, por sua

vez, configuram-se em um conjunto de ações sob a responsabilidade do Estado, para resolver

os problemas dos cidadãos. Esses, por seu turno, participam da elaboração das políticas,

utilizando canais, que podem ser Associações, ONG’s, Federações, representantes ou

quaisquer outros interessados, ressaltando-se a participação popular como elemento

fundamental (SOUZA, 2006).

A autora afirma ainda que o ciclo de política pública é um processo dinâmico e de

aprendizado, possui um caráter deliberativo e passa por vários estágios (definição de agenda,

identificação de alternativas, avaliação das opções, seleção das opções, implementação e

avaliação).

Para se estabelecer uma política pública, o primeiro passo é a definição da agenda, em

que se reconhece o problema e assume-se que algo deva ser feito. Gomide (2008) menciona

que esse reconhecimento pode se dar em função de uma crise ou evento dramático, por um

indicador, cuja magnitude combinada a modificações periódicas chama a atenção das

autoridades e que, da acumulação de informações e experiências na execução das políticas

existentes, dá-se o reconhecimento de novos problemas.

O próximo passo para definir a agenda é a conscientização de se enfrentar um

problema. E por fim, se devem analisar as influências dos participantes, classificados como

visíveis (políticos, mídia, grupos de pressão, etc..) e invisíveis (burocratas e acadêmicos, entre

outros) (GOMIDE, 2008).

Abrucio (2007) analisa que é indispensável desenvolver uma nova visão das políticas

públicas, que se traduzam em um elemento central no enfrentamento dos problemas da

sociedade.

43

O autor enumera entre os cinco movimentos mais importantes da revolução da gestão

pública, a implantação de mecanismos de avaliação e as novas formas de coordenação

administrativa e financeira, que fortalecem o controle social, e também possuem ênfase na

implantação de programas voltados à realidade local.

Esses movimentos ganham força, pela evolução das práticas de gestão pública,

voltadas aos resultados, como também cooperam com a articulação entre os poderes, de que

necessita a questão dos resíduos sólidos.

Jacobi (2006) também colabora com a questão quando reflete que o desafio é a

mudança na visão das políticas públicas, e daí possibilitar o desenho e implementação de

estratégias de desenvolvimento, que visem à redução e, à gradual eliminação de práticas

pautadas no desperdício, que colocam em alerta a capacidade de o planeta suportar as ações

antrópicas do homem e ainda habilitar a sociedade a buscar um equilíbrio entre o que se

considera ecologicamente necessário, socialmente desejável e politicamente atingível ou

possível (JACOBI, 2006).

No sentido da gestão de resíduos, Souza (2006) reflete que é necessário implantar

políticas públicas integradas, direcionadas à conscientização sobre os fatores que causam a

insustentabilidade ambiental, que instiguem a não poluição e que sejam efetivadas políticas

socioambientais urbanas, com ênfase na coleta seletiva, estimulando a reciclagem, como

também da redução do desperdício nas atividades públicas e privadas, de modo a que se possa

responder aos questionamentos de Laswell16

(1936) em prol do bem estar social.

Freitas e Fonseca (2011) realizaram um estudo em que assinalam a importância do

PNRS para efetivar a gestão compartilhada de resíduos sólidos. Consideram que está em

formação um amplo mercado de recuperação e reciclagem de resíduos, provocado pela

atenção crescente de setores da sociedade civil e da perspectiva intrínseca do

desenvolvimento sustentável.

O Estado brasileiro é um indutor importante nos processos de desenvolvimento, seja

pelas determinações constituintes e pressões das camadas sociais, quanto pela necessidade

intrínseca em promover o estado de bem estar social. E assim, as políticas públicas, como um

processo cheio de pressões e alianças surgem para materializar os interesses das partes

(cidadãos).

Para que haja a promoção desse bem estar, é necessário um processo de governança

pública, capaz de gerenciá-la. Nesses termos Capella (2008) aborda os diferentes significados

16

Laswell (1936 apud SOUZA, 2006) questionava que a política pública deve responder sobre quem ganha, por

que ganha e que diferença isso faz.

44

para o termo governança. Segundo a autora, a nomenclatura reforça o papel do Estado no

estabelecimento das políticas públicas, e classifica-a como o conjunto de práticas presentes

nas reformas orientadas pelas ideias da nova administração pública.

Ainda Capella (2008) menciona que a ideia de governança está presente nos estudos

da administração pública e políticas públicas e pode ser vista sob dois debates. O primeiro,

está relacionado ao papel do Estado no desenvolvimento econômico, é a governança

relacionada à responsabilidade dos agentes e às consequências da formulação e

implementação de políticas econômicas. O segundo relaciona o termo com o estabelecimento

de regras que orientam o processo decisório ou ainda como a forma de ação do Governo, ou

como a capacidade financeira e administrativa, em sentido amplo, de um governo implantar

políticas (PEREIRA, 2006).

3.2 POLÍTICAS PÚBLICAS DIRECIONADAS AOS CATADORES DE RESÍDUOS

Para a inclusão social dos atores envolvidos na catação de resíduos, o Governo

brasileiro instituiu, entre outras iniciativas, dentro do Programa Brasil sem Miséria, ações de

apoio à organização produtiva, capacitação e fortalecimento dos catadores de materiais

recicláveis e reutilizáveis. Essas políticas visam a melhorar as condições de trabalho,

viabilizar a infraestrutura e ampliar as oportunidades de inclusão socioeconômica e, por

analogia os indicadores do desenvolvimento sustentável do país (BRASIL, 2012).

Sob o aspecto financeiro, Freitas e Fonseca (2011) assinalaram em seu estudo que o

MTE, BNDES, FUNASA e o Ministério de Ciência e Tecnologia transferiram valores, que

somados chegaram, nos anos de 2009 e 2010, a um repasse de R$ 154,8 milhões de reais de

investimentos direcionados aos catadores de resíduos.

Sem exaurir o assunto, os autores definem ainda algumas diretrizes e as justificativas

para a inclusão desses agentes, propondo o fortalecimento da classe, utilizando-se dos ditames

da Lei Nº 12.305/2010 e Decreto Nº 7.405/2010, conforme tabela 05.

45

Tabela 05 - Diretrizes constantes no Plano Nacional dos Resíduos Sólidos (2010)

Diretrizes Justificativa

01. Promover o fortalecimento das cooperativas e

associações de catadores, visando à maior

eficiência operacional. Implantação de

infraestrutura física e aquisição de equipamentos

para cooperativas ou outras formas de associação

de catadores de materiais formadas por pessoas

físicas de baixa renda (Art. 42, III, lei 12.305/10).

Identificação de cerca de 1.100 organizações

coletivas de catadores no Brasil, com baixos

níveis de eficiência, em torno de 60% dessas.

02. Promover a associação de novas cooperativas e

associações e regularização das já existentes para

reforçar os vínculos de trabalho, formalizar e

incluir socialmente os catadores.

Apenas 10% dos catadores estão ligados a uma

organização coletiva, e o restante não possui a

possibilidade de acesso a melhores preços de

vendas dos recicláveis.

03. Promover a associação e organização de catadores

em rede. E criar mecanismos de identificação e

certificação de cooperativas.

Essa forma de atuação traz ganhos de eficiência

logística. Que também induz ao desenvolvimento

das organizações coletivas pelo

compartilhamento de ideias e conhecimentos,

evitando que agentes falsos se tornem

beneficiários de recursos públicos.

04. Estipular metas para a inclusão social de

catadores e garantir alternativas de emprego e

renda aos catadores, após a extinção dos lixões,

previstas para 2014.

Elevado número de trabalhadores exercendo sua

atividade nos lixões, cujo fim suprime-lhes a

fonte de renda e adicionada à falta de instrução

dificultam as alternativas de inclusão pelo

emprego.

05. Estipular metas de inclusão social e garantia de

emprego digno para 600 mil catadores.

A inclusão social dessas pessoas contribui para a

redução da pobreza e defesa do meio ambiente.

06. Estimular a participação de catadores nas ações

de educação ambiental para a separação de

resíduos na fonte geradora, mediante adequada

orientação, capacitação e remuneração.

Ações de sensibilização porta a porta,

informações em postos de coleta voluntária

auxiliam na criação de laços entre os catadores e

os cidadãos, o que promove o ganho de capital

social das cooperativas e associações.

07. Metas de garantia de emprego e renda devem

estabelecer o piso de um salário mínimo de

remuneração, também levando em conta as

diretrizes do Programa Brasil Sem miséria17

.

A renda média estimada em estudo varia entre

R$ 420,00 e 520,00.

08. Estabelecer metas e critérios para que os

municípios incluam os catadores na gestão de

resíduos sólidos e estimular a criação de conselhos

municipais de gestão.

Participação do principal elo da cadeia produtiva

da reciclagem nas decisões compartilhadas dos

RSU.

09. Garantir o acesso dos catadores aos RSU

coletados seletivamente.

Ganho de escala e aumento da renda, integrando-

os aos sistemas de gerenciamento dos resíduos.

10. Promover a integração de catadores aos sistemas

de logística reversa.

Agregação de valor à atividade e a inserção

econômica daqueles, com capacitação técnica.

Fonte: Lei Nº 12.305/2010; PNRS (2010); Freitas e Fonseca (2011). Com adaptações da autora (2013).

17

O Plano Brasil Sem miséria estabelece a renda per capita de R$ 70,00 (setenta reais) por membro da família

(DECRETO Nº 7.492/ 2011).

46

Para que se tenha um panorama das transformações já sofridas ao longo dos anos, a

seguir, a história de algumas da muitas ações governamentais direcionadas à política de

resíduos sólidos e aos Catadores de materiais recicláveis.

Figura 01 - Linha do tempo das ações governamentais direcionadas à política de resíduos sólidos e aos

Catadores.

Fonte: Ministério do Meio Ambiente. Elaborado pela autora (2013)

Como exposto na tabela 05, o país já vem encaminhando muitas políticas públicas

relacionadas ao gerenciamento dos resíduos e à inclusão social e econômica dos catadores.

Logo, há, portanto, o direcionamento estruturado dessas ações para as definições previstas no

diagnóstico elaborado pelo plano nacional de resíduos sólidos do Brasil, o que se conforma

Projeto de Lei 203, que dispõe sobre

acondicionamento, coleta, tratamento,

transporte e destinação dos resíduos de

serviços de saúde.

MMA promove grupos de

discussões interministeriais e de

secretarias do ministério para

elaboração de proposta para a

regulamentação dos resíduos

sólidos. Ainda, o Conselho

Nacional do Meio Ambiente –

CONAMA realiza o seminário

“Contribuições à Política

Nacional de Resíduos Sólidos”. Governo do Brasil institui a Lei 11.445/2007,

sobre a Política Nacional de Saneamento

Básico, e prevê a contratação de cooperativas

e associações com dispensa de licitação para

os serviços de coleta seletiva.

LDO, art. 34 em conformidade

com a lei 4.320/64, art. 12 § 6;

e lei 12.017/09, subsidiou a

transferência de recursos, a

título de auxílio, para entidades

privadas sem fins lucrativos.

“X – voltadas ao atendimento de pessoas

carentes em situação de risco social ou

diretamente alcançadas por programas e ações

de combate à pobreza e geração de trabalho e

renda, nos casos em que ficar demonstrada

que a entidade privada tem melhores

condições que o Poder Público local para o

desenvolvimento das ações pretendidas,

devidamente justificado pelo órgão

concedente responsável” (Lei 12.017/2009,

art. 34).

Câmara dos Deputados aprova um

substitutivo ao Projeto de Lei 203/91, do

Senado, que institui a Política Nacional de

Resíduos Sólidos e impõe obrigações aos

empresários, aos governos e aos cidadãos no

gerenciamento dos resíduos. Sancionada a lei

que cria a Política Nacional de Resíduos

Sólidos. Publicado no DOU o Decreto nº

7.404, que regulamenta a Lei no 12.305, em

02/08/2010. Publicado o Decreto nº 7405,

que institui o Programa Pró-Catador,

denomina Comitê Interministerial para

Inclusão Social e Econômica dos Catadores

de Materiais reutilizáveis e Recicláveis o

Comitê Interministerial da Inclusão Social de

Catadores de Lixo.

1991

2004

2007

2009

2010

47

como um subsídio no cumprimento das determinações e das metas previstas na Lei

12.305/2010.

No plano nacional são traçados cenários e estratégias de atuação, expandindo as

oportunidades a municípios para acesso a recursos da União, por meio de incentivos ou

financiamentos destinados a empreendimentos e serviços direcionados a soluções de gestão

e/ou manejo dos resíduos sólidos (PNRS, 2011). A municipalização é uma forma de

descentralização administrativa das políticas e dos mecanismos de intervenção publica da

esfera federal para o plano municipal, com transferência efetiva da capacidade decisória para

o município, tido como espaço de poder local.

Poder esse, ampliado na Constituição Federal de 1988, Art. 30 – Inciso I e IV no que

diz respeito aos processos de decisão, pela maior de autonomia aos municípios, pela

independência administrativa e financeira e alçadas próprias, legislando sobre assuntos de

interesse local, organizando e prestando, diretamente ou sob regime de concessão ou

permissão, serviços públicos de interesse local de caráter essencial.

Daí depreende-se o encargo do gerenciamento dos serviços de limpeza urbana, e por

adição, da gestão dos resíduos sólidos urbanos, desde a coleta até a disposição final.

Pela Constituição de 1988, em seu artigo 23, os municípios são direcionados à defesa

do meio ambiente e combate à poluição. Desse modo, a autoridade municipal exerce papel de

suma importância, no sentido de implementar o princípio ecológico de agir localmente, pensar

globalmente (FARIA, 2002).

Como não se pode desvencilhar a comunidade dos processos de decisão, e sua

influência relacionada ao gerenciamento dos resíduos sólidos, Acurio et al. (1998) afirma que

a participação da comunidade no processo é fraca porque a gestão é considerada uma

responsabilidade do ente municipal.

Assim, um dos caminhos é a educação dos atores envolvidos, que ainda que faça parte

de um processo lento, a longo prazo é o melhor caminho. De acordo com o autor, enquanto o

desemprego for alto e continue a extrema pobreza, sempre haverá catadores.

Buarque (2001) analisa que experiências bem sucedidas de desenvolvimento local

(endógeno) são resultantes de um ambiente político e social favorável, onde se dá a

mobilização e a convergência dos atores sociais de uma comunidade ou de um município em

torno de determinadas prioridades. O que qualifica a ação como fruto da vontade conjunta da

sociedade, dando sustentação e viabilidade política a iniciativas e ações, para promover a

transformação da realidade.

48

Polaz e Teixeira (2009) apontam diversos problemas relacionados à gestão municipal

de resíduos sólidos.

Destacam que, sob a dimensão social, que as políticas públicas específicas para

catadores de resíduos sólidos são insuficientes, e que há uma cadeia informal, ignorada pelo

poder público, assim como dificuldades de acesso a benefícios sociais de natureza pública.

Na dimensão cultural, os autores analisam que os programas educativos relacionados à

minimização de geração e do gerenciamento adequados de RSU e as atividades de

multiplicação de boas práticas relacionadas ao tema são insuficientes, o que causa a

abrangência da sociedade insipiente.

Sob a ótica de Brito (2006) a implantação do plano em âmbito municipal possui

justificativa de natureza institucional18

, que promove a descentralização e essa é salutar para

que haja a apropriação da realidade local e responsabilização dos atores sociais.

Nesse sentido, o projeto desenvolvido em Benevides pode ser considerado uma

iniciativa de desenvolvimento local, promovida pelo Estado, integrando a comunidade local,

objetivando a inclusão social e econômica de grupos em situação desfavorável, que lhes

resulta em trabalho e renda, em melhoria da qualidade de vida e num instrumento de

mitigação dos efeitos insalubres da atividade laboral.

De outro modo, promove o despertar de estudantes para uma questão fundamental, o

meio ambiente urbano, como também propicia a inclusão em atividades artísticas e culturais

que reduzem a exposição dessas crianças a riscos sociais (BENEVIDES, 2012).

18

De acordo com o autor, essa justificativa decorre das políticas de descentralização do Estado, integrando atores

públicos e privados (BRITO, 2006).

49

4 O PROJETO NATAL DE BENEVIDES: INCLUSÃO SUSTENTADA OU AÇÃO

PÚBLICA TEMPORÁRIA?

O município de Benevides pertence à mesorregião metropolitana de Belém e a

microrregião de Belém. Em 2010 possuía uma população de 51.651 pessoas. A taxa de

urbanização da cidade era de 56% naquele ano (IBGE, 2010; IDESP, 2012). De acordo com a

classificação do IBGE (2008), esse município, por sua densidade populacional, é considerado

um município de pequeno porte, e é um dos cento e trinta e sete municípios do Estado do

Pará, que tem como principal entidade prestadora de serviços de manejo de resíduos sólidos, a

administração do município, que realiza a coleta de lixo domiciliar diretamente, além de

serviço de limpeza (IDESP, 2012; IBGE, 2008). Tomando por base os cálculos do relatório

panorama dos resíduos sólidos ABRELPE (2011), a população de Benevides gerou em 2010,

19,5 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos.

Para entender o Projeto em suas nuances foram realizadas entrevistas semiestruturadas

em dois momentos. O primeiro momento ocorreu em junho de 2012, com a coordenação geral

do projeto, especificamente na Assessoria da Secretária de Cultura, que prestou as

informações gerais sobre a concepção e a forma de condução do projeto “Natal de

Benevides”. O segundo momento ocorreu no período compreendido entre os meses de janeiro

e fevereiro de 2013, quando se realizou entrevistas com quatro membros da comunidade local,

onze membros da Cooperativa que fizeram parte do projeto; oito pessoas desempregadas que

também foram direcionadas ao Projeto; 02 técnicos municipais que atuavam no projeto; com

o atual Secretário de Cultura e o atual coordenador da fábrica de natal. O quadro a seguir

apresenta a qualificação dos entrevistados.

50

Tabela 06 - Atores entrevistados no município de Benevides

Qualificação Homem Mulher Idade

(anos)

Nível de

Escolaridade

Assessoria anterior

do Projeto

01 NA Superior

Catadores da

Cooperativa

04 25, 26,

30, 41

Fundamental(2);

médio (2)

07 1 c/ 25

3 c/ 27

2 c/ 33

1 c/ 37

Básico (3);

Fundamental (4)

Pessoas

desempregadas

03 24, 35,

37

Fundamental

05 29, 33,

40, 41,

42

Fundamental(3);

médio (2)

Membros da

comunidade

03 01 20, 21,

35, 51

Básico (2);

médio (1);

Superior

incompleto (1)

Técnico municipal 02 37, 39 Fundamental

Médio

Responsável atual

da fábrica de natal

01 NA Superior

Atual Secretário de

Cultura

01 NA Superior

Fonte: Município de Benevides. Elaborada pela autora, a partir dos dados coletados (2013).

Nota: Onde se lê Escolaridade Nível Básico está referindo-de ao nível de escolaridade de 1º a 4º anos do ensino

fundamental.

O quadro do município vai ao encontro do que fora apurado nos estudos de Freitas e

Fonseca (2011), que traçaram o perfil socioeconômico dos catadores de materiais, com

amostras de outros estudos realizados no Brasil. os autores apuraram em Minas Gerais, por

exemplo, que as mulheres possuem maior presença na atividade; que o ganho médio dos

catadores organizados está entre R$ 420,00 e 520,00 e que o grau de escolaridade entre 5ª e 8ª

séries; dados muito próximos da realidade de Benevides.

Também nesse eixo de discussão, o estudo IPEA (2010) analisa que as políticas

públicas direcionadas aos catadores corroboram com os eixos estruturantes do governo federal

51

para erradicação da pobreza e desigualdade no país (educação, saúde, assistência e

previdência social, infraestrutura social e trabalho).

Sobre a concepção e implementação do projeto, foi elucidado que, durante a entrevista

com a Coordenadora19

, o Prefeito Municipal realizou uma viagem a Gramado-RS e inspirado

na ideia de natal daquela cidade trouxe ao município de Benevides uma maneira de melhorar

a educação ambiental, explorar as potencialidades naturais do local e, ainda enfeitar a cidade

durante as festividades de final de ano (BENEVIDES, 2012).

Para tanto foi contratada, por meio de licitação, a empresa EcoDecor de Foz do

Iguaçu, que é detentora do know how20

(patentes) dos processos utilizados na confecção de

peças decorativas.

O projeto foi concebido inicialmente como uma alternativa para transformar o que

antes era lixo, em objetos de decoração e ganhou uma diversidade de ações que conjugam

economia, turismo e práticas de inclusão social (BENEVIDES, 2012). O processo de coleta e

disponibilização de matéria prima para a elaboração das peças dava-se conforme a figura 02.

Figura 02 - Fluxo da coleta de garrafas para o projeto Natal de Benevides.

Fonte: Prefeitura Municipal. Elaborado pela autora (2013).

De acordo com a coordenação do projeto, em 2010 foi realizado um levantamento para

aumentar a quantidade de garrafas para o evento, daí então foi reforçada a estratégia

implantada em 2009, junto às escolas municipais e estaduais. A ação consistiu em direcionar

uma meta de garrafas para cada aluno em três meses, mas qualquer outro membro da

Comunidade poderia. A cada dez garrafas, o aluno ou os cidadãos em geral ganhavam um

19

Entrevista concedida pela coordenadora do projeto, na Secretaria de Cultura do Município, em junho de 2012. 20

A empresa possui as marcas e patentes da elaboração de peças decorativas utilizando pet.

52

cupom para participar de sorteios de prêmios durante a festividade. Era o que a coordenação

classificava como “gincanas”21

.

Também foi realizada parceria com uma empresa que produz cervejas e refrigerante,

que realizou a doação de garrafas. A meta fora atingida e resultou na coleta de duzentas e

cinquenta mil garrafas. A tabela abaixo consta os dados estimados (BENEVIDES, 2012).

Tabela 07 - Estimativa de coleta de garrafas nas escolas

Escolas

Nº de alunos x 5

garrafas por aluno x 3

meses

Qtd total

estimada

Estaduais (11) 7.000 x 5 x 3 105.000

Municipais (26) 7.814 x 5 x 3 117.210

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides. Elaborado pela autora (2013).

A iniciativa nas escolas coopera com o que versa a Constituição de 1988, em seu

artigo 225, que estatui o direito a que “Todos tenham um meio ambiente ecologicamente

equilibrado”, cabendo ao poder público utilizar meios como a educação ambiental em todos

os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente

(BRASIL, 1988).

A ação de coleta nas escolas é um fato que deve ser analisado criteriosamente, pois a

educação ambiental é integrante do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

definido na Lei Nº 12.305/2010 (ANEXO A), mas o modo como foi implantado apresenta

deficiências no atendimento às diretrizes necessárias a um plano municipal de gestão de

resíduos sólidos, elencados da política nacional, e não apresenta sinais de fortalecimento dos

catadores de resíduos, como previsto na legislação.

A educação ambiental é um instrumento que deve servir de base para garantir a

participação da comunidade e incorporar todas as formas de pensamento para o bem comum,

de modo a resgatar a relação homem-natureza (SOUZA, 2003). O mesmo autor assinala que

aquela deve ser concebida como um processo que prepara o indivíduo para considerar o

planeta nas relações sociais e econômicas.

Também o autor aventa que a educação ambiental se volta para a sustentabilidade,

devendo ser aplicada na comunidade, quando a) está engajada no enfrentamento das crises da

21

As gincanas foram instituídas em 2009, nas doze escolas municipais de ensino fundamental e quatro de ensino

médio; também possui vinte e duas escolas estaduais de ensino fundamental (IDESP, 2012).

53

modernidade; (b) possui caráter inovador e construtivo; (c) focalizada e infusiva; (d) holística

e humana; (e) integrativa; e (f) crítica (SOUZA, 2003).

Assim, o processo educacional deve objetivar a mudança de atitudes pessoais e,

portanto, para que seja encarada como uma peça de divulgação ou, tomando o viés do projeto,

como uma fonte de matéria prima para os adereços de natal.

Há que se mencionar ainda que se considerado o tamanho do município e seus 51.651

habitantes, apenas essa estratégia nas escolas mobilizou cerca 30% dos habitantes de toda a

cidade, o que ratifica a decisão de o projeto ter iniciado pelas escolas.

Por outro lado, os dados demonstram que, embora o Projeto Natal de Benevides tenha

movimentado todo esse quantitativo de pessoas e tenha atingido as metas de coleta para o

projeto, o foco principal deixou de se relacionar precipuamente com o processo de inclusão

social dos Catadores de resíduos, e passa a se configurar como uma prática localizada,

direcionada especificamente à festividade de Natal, contrariando o objetivo inicial da

pesquisa.

De uma forma mais positiva, a estratégia de coleta de garrafas envolvendo os alunos e

a comunidade em geral vai ao encontro das concepções de Guerrero (1996) que analisa o

desenvolvimento como fruto de uma complexa construção social da economia, em que deve

haver um processo dinâmico de sinergia entre os atores locais, com a valorização das pessoas

e dos materiais de um território.

A partir das entrevistas, desenhou-se o arranjo institucional do Projeto, guardadas as

limitações de informações, destacando-se a subordinação direta do projeto à autoridade

municipal, o que ratifica a falta ou inexistência do instrumento de controle social (FIGURA

03).

54

Figura 03 - Diagrama representativo da hierarquia do projeto.

Fonte: Prefeitura Municipal. Elaborado pela autora (2013).

Nota: Elaborado, a partir das declarações da Assessoria da Secretaria de Cultura, que era a responsável principal

pela coordenação do Projeto. Obtida em junho de 2012.

Quando se observa o diagrama que representa a organização do projeto Natal de

Benevides, como também durante as entrevistas com aqueles atores, percebeu-se que não há

relacionamento direto entre a Prefeitura, a organização do evento e os catadores, esses são

elementos secundários na política pública.

Não se conseguiu alcançar todos os envolvidos no projeto, mas a partir dos relatos,

nota-se também a falta de Órgãos importantes para a consecução da logística do projeto, como

as Secretarias de Obras; de urbanismo e saneamento, já que essas são as responsáveis pelas

obras de infraestrutura no município.

O que não implica em afirmar que esses não participavam das ações relativas ao

Projeto, mas sim que é extremamente necessário o refinamento do projeto, no que diz respeito

à definição de responsabilidades, e, principalmente, aos meios que assegurem o controle

social estabelecido na Lei Nº 12.305/2010.

É fato, porém, que as ações relacionadas ao projeto majoram as oportunidades e os

direitos de escolha daquelas pessoas, e essas têm ampliado o poder de escolher melhores

condições de vida, têm os seus esforços valorados, pois visualizam os resultados em prol da

comunidade que habitam e de sua vida em particular.

Portanto ocorre o reforço dos laços de pertencimento social e potencialização das

capacidades locais, conforme Carneiro e Costa (2003); e da mesma forma coopere

efetivamente para que o potencial individual, devidamente mobilizado, caminhe em direção

55

ao desenvolvimento local (BRITO, 2006). “[...] tinha muita coisa bonita pra todo mundo ver,

também tinha orgulho porque sabia que tinha coisas ali penduradas era que eu fazia”

(Informação verbal)22

.

No contexto cultural a Secretaria de Cultura promoveu oficinas de teatro e música para

crianças e jovens da rede de ensino local. O Programa Pró-Jovem selecionou vinte jovens para

participarem de cursos de aperfeiçoamento, no sentido de que se tornassem guias turísticos e

assim fosse prestado atendimento aos turistas durante o período do evento, o que certamente

lhes serviria em sua vida pessoal, enquanto cidadãos.

De acordo com o técnico municipal M, o Projeto abriu um leque de oportunidade para

todos os moradores de uma forma direta e indireta.

[...] Os pais sabiam onde seus filhos tavam. Os jovens tinham orgulho de dizer que

eram guias turísticos, e fizeram curso pra saber tratar bem o turista e como mostrar a

Cidade [...]. (Informação verbal)23

.

[...] Os espetáculos nem pareciam que eram feitos por pessoas daqui, de tão bem

feitos [...]. (Informação verbal)24

.

[...] O projeto trouxe benefícios pra cá, principalmente o financeiro, mas também

trouxe lazer e felicidade de morar aqui [...]. (Informação verbal)25

.

Sob a égide econômica, o evento dinamiza a economia local, pois se transforma em

um elemento potencializador de novos negócios, geração de trabalho temporário para pessoas

desempregadas e incremento da renda. Quando perguntado aos entrevistados sobre os ganhos

financeiros com a participação no Projeto ou ainda com a época em que estava funcionando,

os entrevistados relataram:

[...] Tudo aqui melhorou, a infraestrutura, a renda, turismo, a visita de muitas

pessoas e os preparativos, que duravam o ano inteiro. (Informação verbal)26

.

[...] Era muito bom saber que meu município tinha um projeto tão importante, que

envolvia tanta gente, gerava emprego, turismo, embelezamento das ruas e muitas

outras coisas boas. (Informação verbal)27

.

[...] A venda era certa e aumentava pelo menos 60% do que no período normal e eu

não estava lá no Centrão [...]. (Informação verbal)28

.

22

Entrevista concedida por R, 37 anos, Catadora da cooperativa, em Benevides, 2013. 23

Entrevista concedida por M, 37 anos, Técnico municipal, em Benevides, 2013. 24

Entrevista concedida por S, 35 anos, Membro da comunidade, em Benevides, 2013. 25

Entrevista concedida por J, 35 anos, Desempregado que foi para o projeto e atualmente desempregado, em

Benevides, 2013. 26

Entrevista concedida por B, Comerciante autônomo, em Benevides, 2013. 27

Entrevista concedida por N, 21 anos, Membro da comunidade, em Benevides, 2013. 28

Entrevista concedida por A, 51 anos, Comerciante, em Benevides, 2013.

56

[...] Minha lanchonete faturava o triplo por mês. Só num fim de semana eu ganhava

livre, uns quatrocentos reais. Agora que acabou, só dá pra comer [...]. (Informação

verbal)29

.

Na perspectiva ambiental, o projeto direciona-se para o estabelecimento de uma

cultura de preservação ambiental e minimização dos efeitos visuais negativos, que o acúmulo

de garrafas provoca no espaço urbano.

Para a coleta das garrafas, as gincanas escolares foram determinantes e estimularam os

estudantes à criação de uma nova conduta pessoal, envolvendo 14,8 mil alunos da rede

pública de ensino e, por analogia, seus familiares.

No entanto, é preciso observar que o plano nacional dos resíduos sólidos não possui

diretrizes ou estratégias dessa natureza, que vinculam à ação propriamente dita de alunos, mas

sim ações de educação ambiental. Porém o estímulo à coleta dos recicláveis pelos alunos é

válido, pois que tem um objetivo além do acondicionamento.

[...] Na época do projeto nós aprendemos muito sobre o que é reciclagem e qual a

importância pro meio ambiente, até hoje ainda separamos o lixo seco. Os carrinhos

vão de casa em casa buscando as garrafas, plástico e tudo o que for reciclável [...].

(Informação verbal)30

.

Uma das estratégias constantes no Plano Nacional é a implantação da coleta seletiva

em todos os municípios brasileiros, priorizando-se os municípios de maior porte ou aqueles

que integram as Regiões Metropolitanas (BRASIL, 2010).

Para aumentar a coleta de garrafas Pet, o município de Benevides elaborou, em 2010,

campanha educativa porta a porta com o objetivo de que os moradores separassem o lixo

domiciliar (BENEVIDES, 2013). Conforme relato, naquele mesmo ano foi criada a

Cooperativa de Catadores, que realizava a coleta dos materiais secos ou recicláveis e ainda o

faz, até o momento da finalização desta pesquisa.

Os moradores declararam durante as entrevistas que há coleta seletiva, mas quando se

analisa a luz dos conceitos de coleta seletiva, não se verifica in loco os materiais adequados.

Portanto, a ação parece ter sido desenvolvida especificamente para atender à necessidade do

Projeto. Quando se investigou sobre a forma como é realizada a coleta de resíduos no

município, obtiveram-se as seguintes respostas.

29

Entrevista concedida por B, 35 anos, Comerciante, membro da comunidade, em Benevides, 2013. 30

Entrevista concedida por N, 21 anos, Membro da comunidade, em Benevides, 2013.

57

[...] Tem a caçamba, que leva o lixo de cozinha e o pessoal da Cooperativa, que

passa todos os dias de manhã pra pegar o lixo seco. (Informação verbal)31

.

[...] Aqui tem a coleta normal e a do lixo seco, que é feita pelo pessoal da

cooperativa. (Informação verbal)32

.

[...] Quando fizeram a Cooperativa, a Prefeitura passava com carro som pelas ruas,

anunciando que era pra gente separar o lixo que tinha comida, do lixo seco. Depois

vieram umas moças com panfletos pra explicar melhor. (Informação verbal)33

.

[...] Todos os dias nós saímos com o carrinho de coleta pelas ruas. A caçamba vai

pros lugar mais distante e aqui dentro nós é que coletamos o lixo seco. (Informação

verbal)34

.

Todos os entrevistados declararam saber da existência da cooperativa e de que forma o

lixo deveria ser acondicionado para coleta, mas não se verificou os recipientes necessários,

previstos nas práticas de coleta seletiva.

Assim, o que as pessoas no município classificam como coleta seletiva é o

acondicionamento, pelos moradores, do lixo seco em separado do orgânico, independente da

classificação.

Por outro lado, também não souberam responder sobre a existência de um Conselho de

discussão sobre os resíduos sólidos na cidade, o que denota a falta de sintonia do projeto, com

as diretrizes de uma política municipal de gestão dos resíduos sólidos.

No segundo ano do projeto, 2010, a Prefeitura Municipal elaborou um plano

envolvendo engenheiros e outros profissionais contratados pela Prefeitura, para estruturar a

cooperativa de materiais recicláveis, denominada ReciclaBen (BENEVIDES, 2013).

O supervisor do então aterro controlado, substituto do lixão declarou que, para o início

dos trabalhos operacionais foram selecionados, baseando-se nas condições sociais individuais,

oito pessoas que trabalhavam no lixão local. Em um segundo momento foram selecionados

outros trinta e dois trabalhadores. Informação verbal35

.

[...] Quando nós fomos no lixão verificar quem queria participar da Cooperativa, só

oito se manifestaram. Depois de um ou dois meses, quando eles viram que aqui tinha

condições de trabalhar melhor, outros foram pedindo pra participar. Aí foram

integrados mais trinta e duas pessoas. (Informação verbal)36

.

A Prefeitura municipal não disponibilizou os dados da Cooperativa, mas após

entrevista com o supervisor, esse informou que foram adquiridos equipamentos, como a

31

Entrevista concedida por M, morador, em Benevides, 2013. 32

Entrevista concedida por E, morador, em Benevides, 2013. 33

Entrevista concedida por P, Catadora do lixão, em Benevides, 2013. 34

Entrevista concedida por E, Catador da Cooperativa, em Benevides, 2013. 35

Entrevista concedida pelo Supervisor do Aterro Controlado, em Benevides, em janeiro de 2013. 36

Entrevista concedida pelo Supervisor da Cooperativa, em Benevides, em janeiro de 2013.

58

prensa de materiais, foi construído um galpão de triagem de materiais, uma sala de aula para

os catadores, agora denominados “agentes ambientais”, oferecendo-lhes cursos de corte e

costura e conserto de celulares.

Após esse momento, segundo relato foi-se necessitando de melhor estrutura e

segurança, no que os cursos passaram a ser realizados pelo SESC do município; também no

local havia fornecimento de refeições e bolsa de auxílio de trezentos reais mensais

(BENEVIDES, 2013).

[...] Quando nós começamo, fizemo um curso para trabalhar com o material e tinha

até almoço, também tinha um professor que vinha dar aula à noite. Com o projeto,

agente passô a vendê as garrafa Pet para a fábrica de natal [...]. A prefeitura pagava

duzentos e quarenta reais, depois fizemos uma paralisação e ele aumentou pra

duzentos e cinquenta e depois trezentos em 2011, que juntando com o material que a

gente cata nas casas e vende, soma uns quinhentos e vinte reais mais ou menos, mais

nunca chego a um salário. (Informação verbal)37

.

Com o crescimento do projeto, a Cooperativa direcionou cerca de doze pessoas para a

Fábrica de Natal, que foram somadas a vinte e oito outras, membros da comunidade, que se

encontravam desempregados, cuja seleção se deu por meio da área de assistência social do

município, a Casa do Trabalhador ou até mesmo por meio de conhecimento com outros

integrantes da fábrica de natal (BENEVIDES, 2012).

[...] Eu trabalhava no lixão, daí veio a Cooperativa e depois eu vim trabalhar no

Projeto. Agora com o fim do Projeto, voltei pra Cooperativa [...]. (Informação

verbal)38

.

[...] Eu tava desempregada há quatro anos, fui trabalhar no Projeto, ganhando um

salário mínimo e agora estou novamente desempregada [...]. (Informação verbal)39

.

[...] Eu tava desempregado, depois trabalhei no Projeto de 2009 a 2012; consegui

comprar uma moto com o dinheiro que ganhei lá; e agora trabalho de moto táxi [...].

(Informação verbal)40

.

As quarenta pessoas participaram de curso de capacitação para o manejo dos resíduos,

para que pudessem desenvolver os enfeites de acordo com a temática da festa. A coordenação

do trabalho na fábrica era realizada por uma servidora da prefeitura, pela Secretária de

cultura, em contato direto com o gabinete do prefeito. A culminância do projeto é a

festividade local no mês de dezembro.

37

Entrevista concedida por E, 41 anos, Catador da Cooperativa, em Benevides, em janeiro de 2013. 38

Entrevista concedida por D, 33 anos, Catadora, em Benevides, em 2013. 39

Entrevista concedida por F, 40 anos, Desempregada que foi para o projeto, em Benevides, em 2013. 40

Entrevista concedida por V, 39 anos, Desempregado que foi para o projeto, em Benevides, em 2013.

59

[...] Pouco se sabe sobre as coordenadas do Projeto. Só que ele conheceu essa ideia

em Gramado e resolveu implantar aqui [...]. Era uma relação direta entre a Secretaria

e o Prefeito. Era um projeto dele [...]. (Informação verbal)41

.

Em entrevista com os dezenove trabalhadores da Fábrica entre catadores e pessoas

desempregadas, verificou-se que todos eram remunerados pela Prefeitura com um salário

mínimo mensal durante todo o ano e, que nos meses de novembro e dezembro seus ganhos

chegavam a quase oitocentos reais, em virtude das horas extras que eram realizadas.

Nesse período, considerado mais crítico, a fábrica contratava pelo menos mais vinte

pessoas, que também eram pagas pela Prefeitura, de acordo com as entrevistas (BENEVIDES,

2013).

Ainda que o Projeto siga os moldes de uma política pública propriamente dita,

aventada no capítulo nº 3, pois que instiga o envolvimento da sociedade local e fortalece os

Catadores, seja com a seleção de pessoas que efetivamente trabalhavam no lixão ou ainda

com o direcionamento dessas para um projeto local, havendo assim, a criação dos laços entre

a comunidade e os catadores, conforme salienta o plano nacional dos resíduos sólidos

(BRASIL, 2010).

O projeto configura-se como uma ação inovadora na região e vai ao encontro dos

desafios relacionados aos resíduos sólidos urbanos, estabelecidos pela Lei Nº 12.305/2010 e

impostos à capacidade administrativa do município. No entanto, quando se verifica que a

sucessão da autoridade municipal implicou na extinção do projeto, depreende-se que a esse

faltou regulamentação pelo poder público.

Daí se confirma a necessidade de que se institucionalize a política pública, evitando

que um projeto do tamanho que foi o Natal de Benevides atenda às aspirações da autoridade

municipal e distancie-se ao seu objetivo maior, o estado de bem estar social, que jamais deve

ser temporário.

Assim, o enfoque principal é debater se a estratégia adotada pelo município de

Benevides, analisada à luz dos conceitos de desenvolvimento sustentável direciona os

processos de inclusão social, cultural e emancipação econômica dos catadores de resíduos, de

modo a que se possa verificar a melhora da qualidade de vida dos atores envolvidos e a

obediência às diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos e assim seja classificada

efetivamente como uma política pública.

Conforme relatos, no ano de 2012, a fábrica de natal funcionou com suas atividades

diárias normais, os ornamentos estavam em fase final de preparação e seriam iniciadas as

41

Entrevista concedida pelo Secretário de Cultura, em Benevides, em 2013.

60

atividades de ambientação. Porém, no início do mês novembro, quando a Prefeitura perdeu as

eleições municipais, foi anunciado pela assessoria do Prefeito que o evento não ocorreria.

O resultado para todos os envolvidos no projeto (comunidade, catadores e outros)

foram enormes prejuízos (BENEVIDES, 2013).

[...] Com o fim do Projeto, nós temos o fim do sonho bom [...]. (Informação

verbal)42

.

[...] Achamos que o Prefeito não se preocupou com a gente, porque trabalhamos,

fizemos muitos enfeites e em cima da hora, ele mandou dizer que não ia ter o Natal.

Foi só uma tristeza na fábrica [...]. (Informação verbal)43

.

[...] Acho que o prefeito não foi justo com quem votou nele. Perdeu e aí disse que

não ia ter o natal. Também muita gente perdeu renda, faltou lazer na cidade [...]

(Informação verbal)44

.

[...] Acho que houve uma falha da comunidade, que não votou no prefeito e uma

falha dele, que não foi até o fim com o projeto [...]. (Informação verbal)45

.

[...] Minha vida correu normal, igual a antes. A única coisa é que não tinha mais

uma diversão sadia por aqui [...].(Informação verbal)46

.

[...] O prefeito fez o que todos fazem, deixam as coisas pela metade. (Informação

verbal)47

.

Quando a um vendedor ambulante do terminal (praça de alimentação) fora perguntado

qual a impressão dele em relação ao evento não ter ocorrido em 2012, o mesmo afirmou:

[...] Foi uma irresponsabilidade do Prefeito e falta de respeito com todos nós. Falta

de respeito porque a comunidade se preparou pra festividade o ano todo. E

irresponsabilidade porque foi avisado em cima da hora, comprei muita mercadoria e

quase perto da festa começar foi anunciado que não ia mais ter. Ainda estou

endividado. (Informação verbal)48

.

A política nacional de resíduos sólidos prevê que a política municipal deva estabelecer

instrumentos de controle social, que garantam a participação das organizações de catadores e

da sociedade como um todo em todas as fases de elaboração e implementação de políticas

relacionadas à gestão de resíduos sólidos.

42

Entrevista concedida por S, 27 anos, Catadora do lixão que foi para a fábrica, em Benevides, em 2013. 43

Entrevista concedida por D, 33 anos, Catadora da Cooperativa, em Benevides, em 2013. 44

Entrevista concedida por P, 27 anos, Catadora da cooperativa, em Benevides, em 2013. 45

Entrevista concedida por H, 37 anos, desempregado que foi para o projeto e agora está desempregado, em

Benevides, em 2013. 46

Entrevista concedida por A, 51 anos, Membro da comunidade, em Benevides, em 2013. 47

Entrevista concedida por A, 41 anos, desempregada que foi para o projeto, e agora está desempregada, em

Benevides, em 2013. 48

Entrevista concedida por A, 35 anos, Membro da comunidade e vendedor ambulante do antigo terminal de

passageiros, em Benevides, em 2013.

61

Nas visitas ao município se verificou a falta de controle ou de sistemas de medição das

ações que foram implantadas, de forma qualitativa e quantitativa. Logo existe a deficiência na

análise do projeto, pois que de acordo com relatos, os dados estavam com os executores

iniciais, ferindo o direito da sociedade à informação (CONSTITUIÇÃO, 1988), ao controle

social e a accountability49

.

[...] Ainda não temos a prestação das contas do projeto. Sei que a casa do papai Noel

custava cinco reais por pessoa. Se multiplicarmos pelos anos do Projeto teremos um

bom montante. Também existia os patrocínio da Coca cola, Infraero e outras [...].

(Informação verbal)50

.

É fundamental que a gestão pública se utilize de instrumentos de controle social e ao

accountability, que lhes permitam diante da situação complexa de transferência de poder

verificada no município ter sob sua tutela, indicadores de desempenho do projeto nas

dimensões que esse alcançou.

O que ocorreu no município é o que Souza (2006) nos pensamentos de Simon (1957)

diz: “a racionalidade dos decisores públicos é sempre limitada por problemas como

informação incompleta ou imperfeita ou ainda autointeresse dos decisores”. Porém o autor

assinala que regras e incentivos são determinantes para modelar o comportamento desses

atores, objetivando os resultados desejados e impedindo, inclusive, a busca de interesses

próprios (SOUZA, 2006).

A relevância da prática de gestão municipal de resíduos utilizada em Benevides

poderia ser mais bem avaliada com indicadores que pudessem refletir as dimensões da

sustentabilidade (SANTIAGO; DIAS, 2012), e, com isso, ser possível planejarem-se

estratégias de melhoria da qualidade de vida, direcionadas àquela população.

Essa impressão esteve muito presente durante a pesquisa de campo, pois a sinergia, o

sentimento de valorização, o orgulho de pertencer à localidade, de estar diante de um projeto

de geração de emprego e outros elementos de construção social foram latentes em todas as

entrevistas.

Quando perguntados sobre as ações da prefeitura para garantir um emprego digno, as

pessoas desempregadas que trabalhavam no projeto revelaram:

49

Accountability em seu sentido mais abrangente pode ser definido como a responsabilidade do governante de

prestar contas de suas ações; ou seja, apresentar como faz e porque faz (CUBAS, 2009). 50

Entrevista concedida por D, 32 anos, Coordenador atual do projeto, em Benevides, em 2013.

62

[...] A única que conheço era o projeto de natal [...]. (Informação verbal)51

.

[...] Não conheço, a não ser o projeto. Agora não tenho nenhuma expectativa ainda

de arrumar um emprego [...]. (Informação verbal)52

.

[...] Tinha o projeto e tem a casa do trabalhador [...]. (Informação verbal)53

.

Nota-se que em todos os casos, o referencial de trabalho no município é o projeto de

natal, tanto como fonte principal quanto aumento da renda familiar; daí então a ideia de

inclusão social e emancipação econômica das pessoas.

[...] Nem sei como vai ficar agora que terminou o projeto, até o subsídio da

prefeitura foi cortado; em dezembro e recebi duzentos e vinte reais na cooperativa,

porque não tive falta; se tiver fica menor. Estamos esperando ver o que essa nova

mulher que tá na Prefeitura vai fazer por nós [...]. (Informação verbal)54

.

No que diz respeito à estrutura do Projeto, a coordenação proveu poucos dados

qualitativos relativos às pessoas envolvidas. Também não foram fornecidos os quantitativos

de participantes. Quando perguntada sobre o número de pessoas que trabalharam no Projeto, a

assessoria da coordenação do projeto observa:

[...] A equipe principal da fábrica iniciou com vinte pessoas em 2009; de 2010 a

2012 o projeto contava quarenta pessoas fixas. Essas pessoas possuíam um contrato

de prestação de serviços com a Prefeitura por um ano, cujo pagamento era de um

salário mínimo. (Informação verbal)55

.

[...] Nos meses de outubro a dezembro, os funcionários municipais que se

interessavam em cooperar com o Projeto vinham participar da montagem e

iluminação dos enfeites, e outras atividades inerentes. Também participavam as

Associações de moradores e outros voluntários. Os serviços de metalurgia e pintura

das peças eram terceirizados. (Informação verbal)56

.

A coleta de garrafas por parte da Cooperativa funcionava como um complemento dos

ganhos, pois que essa era fornecedora de matéria prima (garrafas pet) para a Fábrica de Natal.

Corroborando com a Lei Nº 12.305/2010, Art. 7º, que regulamenta a prioridade na aquisição

de materiais de Cooperativas de recicláveis.

51

Entrevista concedida por V, 39 anos, Desempregado que foi direcionado para o projeto e atualmente trabalha

como moto taxi, 2013. 52

Entrevista concedida por N, 24 anos, Desempregado, em Benevides, em 2013. 53

Entrevista concedida por F, 40 anos, Desempregada, em Benevides, em 2013. 54

Entrevista concedida por R, 37 anos, Catadora da cooperativa, em Benevides, em 2013. 55

Entrevista concedida pela Assessoria da coordenação do projeto, em Benevides, em 2013. 56

Entrevista concedida pela Assessoria da coordenação do projeto, em Benevides, em 2013.

63

[...] A fábrica pagava pra nós R$ 0,20 a pet 2 l; R$ 0,15 a pet 600 ml e R$ 0,10 a

pitchula. Também recebia o subsídio que era R$ 200,00, depois fizemos uma

paralisação passou pra R$ 250,00 e em 2012 passou pra R$ 300,00. Aí eu ganhava

um pouco mais que R$ 500,00. Agora que não tem mais o Projeto, o subsídio foi

cortado e estamos ganhando R$ 200,00 ou 210,00, porque só ganha se catar pra

vender [...]. (Informação verbal)57

.

No entanto, conforme relato, ao final do projeto de natal e com a substituição da

administração municipal, as pessoas da Cooperativa passaram a receber um valor menor, o

que leva a questionar-se a sistemática de pagamento aos catadores, pois os relatos apontam

não para um subsídio da prefeitura, mas propriamente para o pagamento pelos serviços

prestados ao projeto.

Por sua vez, a Lei Nº 12.305/2010 prevê uma espécie de facilidade de acesso a

recursos da União, para o manejo de resíduos sólidos, o que pode ter servido de base para o

subsídio repassado aos Catadores.

Outra constatação no projeto é o pagamento dos servidores municipais que atuavam

nos meses de maior demanda do projeto, em forma de hora extra, conforme se verifica nas

informações prestadas por esses.

Ressalva-se ainda que não se conseguiu o acesso aos dados financeiros do projeto, que

permitissem inferir quaisquer conclusões quanto à origem dos recursos para o pagamento de

bônus aos Catadores, ou também as horas extras pagas aos servidores, como também à

aplicação dos recursos do projeto, em outras formas de beneficiamento dos catadores ou

ainda, da comunidade local.

[...] A chefia perguntava quem queria fazer um extra, ajudando no projeto com a

montagem dos enfeites e outras coisas. Quantos quisessem iam. Daí a gente ganhava

hora extra. A minha renda ficava entre mil e mil e cem reais, nos meses de outubro a

dezembro. Também consegui uma vaga na fábrica pra minha irmã desempregada

[...]. (Informação verbal)58

.

Durante as entrevistas foi se constatando que o projeto perdia o caráter eminente de

incluir social e economicamente os catadores de resíduos e as pessoas desempregada e a

política municipal de resíduos sólidos (política pública) parecia estar acolhida apenas em um

Evento denominado “Natal de Benevides”. Ressaltando-se nesse sentido as concepções de

Souza (2006) sobre o que é uma política pública.

A autora menciona que na definição de Laswell (1936 apud SOUZA, 2006), as

decisões e análises sobre política pública implicam em responder às seguintes questões: Quem

57

Entrevista concedida por E, 2013, Catador, em Benevides, em 2013. 58

Entrevista concedida por Servidor contratado da prefeitura, em Benevides, em 2013.

64

ganha o quê? Por quê? E Que diferença faz? Segundo a autora, a política pública deve, ao

mesmo tempo, colocar o governo em ação, analisar essa ação (variável independente) e,

quando necessário, propor mudanças no rumo ou curso dessa ação (variável dependente).

Assim, no momento em que existia o projeto todos ganhavam, a credibilidade da

gestão municipal, porque se utilizava do projeto e movimentava os setores públicos.

Por outro lado, os catadores de resíduos deixavam as condições insalubres de trabalho

e alçavam-se à categoria de artesãos. As pessoas desempregadas, que melhoraram suas

finanças. Os alunos das escolas, que se sentiam partícipes de uma nova sociedade. Os jovens

em situação de risco e o natal de Benevides fazia toda a diferença em suas vidas

(BENEVIDES, 2013).

[...] O projeto melhorou a vida acho que de todos aqui. A minha melhorou a parte

financeira principalmente, mas todos ganharam (o comércio, a cidade, o governo)

[...]. (Informação verbal)59

.

[...] Comecei a construir minha casa, comprei uma geladeira. Pra todos aqui

significou lazer, satisfação de morar aqui, de Benevides ser conhecida no mundo, e a

renda que melhorou pra todos [...]. É mais fácil a senhora perguntar quem não

trabalhava no Projeto, porque a Cidade toda vivia pro projeto. (Informação verbal)60

.

De outro modo, o único projeto municipal voltado para a questão dos Catadores foi o

de Natal, que transformou em Aterro Controlado, o lixão da Cidade, sobre o qual não foi

permitida vista. Em relação à diferença percebida pela não ocorrência do Natal em 2012, os

atores pesquisados revelaram:

[...] Muita tristeza. Esse fim de ano, a cidade ficou um cemitério. O povo precisa de

coisas como essa, que melhoram tudo [...]. (Informação verbal)61

.

[...] Perda de uma coisa boa pra todo mundo [...]. (Informação verbal)62

.

[...] Nem preciso falar. O natal foi triste por aqui. Nem parecia que morava alguém.

(Informação verbal)63

.

[...] Não teve natal aqui. Parece que voltamos pra Benevides do interior [...].

(Informação verbal)64

.

[...] A prefeitura agiu com má fé, prejudicou a comunidade toda, porque perdeu a

eleição. O natal passou quase em branco em 2012 [...]. (Informação verbal)65

.

59

Entrevista concedida por A, 41 anos, desempregada que foi para o projeto e atualmente desempregada, em

Benevides, em 2013. 60

Entrevista concedida por P, 27 anos, catadora, em Benevides, em 2013. 61

Entrevista concedida por F, 25 anos, Servidor municipal que trabalhou no projeto, em Benevides, em 2013. 62

Entrevista concedida por V, 29 anos, Desempregada, direcionada para o projeto, em Benevides, em 2013. 63

Entrevista concedida por P, 25 anos, Catadora, em Benevides, em 2013. 64

Entrevista concedida por P, 33 anos, Catadora, em Benevides, em 2013.

65

Observa-se que o Projeto Natal de Benevides configurou-se como uma ação municipal

bastante complexa, pois envolve todos os setores sociais daquela localidade, mas foi extinto

no último ano, o que provocou, conforme relatos a insatisfação sob todos os aspectos.

[...] Não tenho esperança. Não acho que ele vá voltar. E os empregos tá ruim pra

conseguir. As empresas próximas dizem que não temos capacitação [...].

(Informação verbal)66

.

[...] Espero muito que esse projeto volte, porque mudou a vida de todos daqui. Hoje

muitas pessoas estão desempregadas e não têm mesmo o pão de cada dia [...].

(Informação verbal)67

.

O fato é que se constata que mesmo sem ter um documento oficial de

institucionalização como Decreto municipal ou outro instrumento legal, um Projeto que teve

início como uma ação de educação ambiental e durante os quatro anos em que foi organizado,

ganhou a legitimidade da população.

Numa acepção ainda mais complexa analisemos que, segundo Rousseau (2003), a

vontade geral é o bem comum e está acima do Estado e também do Soberano. O projeto

caminhava para o bem da comunidade local, mas com a saída do prefeito deixou de existir.

Se o objetivo da vontade geral for o bem comum, então não pode representar somente

os interesses do município, durante o exercício do Prefeito, tido nessa concepção como ‘o

soberano’ (ROSSEAU, 2003).

[...] Vamos dar outra formatação, nos apropriaremos das informações e então é que

vamos sentar com o prefeito para definir, pois a forma como era conduzido o projeto

era da prefeitura para a secretaria de cultura, e ainda não sei se será assim [...]. Foi

uma irresponsabilidade da administração anterior. Era um projeto que tinha sua

marca e ele não finalizou [...]. (Informação verbal)68

.

É necessário assinalar ainda que na concepção do autor, se a vontade geral reflete o

interesse de cada um em particular, e no momento em que é atendido esse interesse particular,

também o será, em relação aos interesses de todos, tem-se que a supressão do já habitual

projeto fere o interesse comum. “[...] Estamos aguardando os dados para estudar sobre um

novo jeito de ter o projeto, só que dessa vez, incluindo outros indivíduos em situação de risco,

como os jovens do centro de recuperação [...].” (Informação verbal)69

.

65

Entrevista concedida por F, 20 anos, Membro da comunidade, em Benevides, em 2013. 66

Entrevista concedida por E, 41 anos, Catador, em Benevides, em 2013. 67

Entrevista concedida por J, 35, Desempregado que trabalhou no projeto, em Benevides, em 2013. 68

Entrevista concedida pelo Secretário de Cultura, em Benevides, em 2013. 69

Entrevista concedida pelo Coordenador do Projeto, em Benevides, em 2013.

66

O município, refletidos nos depoimentos, concebe o projeto como um evento benéfico,

no que o apontam como uma necessidade premente. Assim, sobre a vontade geral e a

confiança de que haja o retorno do Projeto de Natal, os membros da comunidade, os catadores

e as pessoas desempregadas que trabalharam no Projeto manifestaram-se:

[...] Acho que a nova prefeitura deve trazer o projeto de volta e mudar ainda mais a

vida das pessoas que moram aqui [...]. (Informação verbal)70

.

[...] O município precisa que ele volte [...]. (Informação verbal)71

.

[...] Quero que volte porque é a minha esperança de viver melhor e não ter que voltar

pro lixão [...]. (Informação verbal)72

.

[...]Queria muito que voltasse, ainda tenho esperança, porque a vida melhora né [...].

(Informação verbal)73

.

[...] Não sei se esse governo vai continuar, acho que não; mas não perdi a esperança

ainda. A cidade vivia o Natal todos os dias. Agente tinha emprego farto. A cidade

ficava bonita [...]. (Informação verbal)74

.

Percebe-se concretamente que o objetivo principal de promover a inclusão social e a

emancipação econômica dos Catadores foi atendido por um período, embora limitado, de

quatro anos.

Desse modo, decisões que envolvem a Lei Nº 12.305/2010 e as metas contidas no

Plano Nacional dos Resíduos Sólidos deixam de ser atendidas no momento em que há a

substituição do poder público, significando a finalização do projeto. Ademais, não foi

possível identificar um plano municipal de gestão de resíduos sólidos regulamentado pelo

poder público, envolvendo os Entes municipais, ou que esse plano fosse o projeto.

Mas, ainda que se registrasse o Projeto de Natal, que tivesse, de modo subjacente,

acolhido responsabilidades que o sedimentassem como um plano de gestão municipal de

resíduos sólidos e, de que essas responsabilidades fossem percebidas pelas autoridades e pela

comunidade, faltaram-lhe diversos outros atributos solicitados na política nacional, como por

exemplo, sistematização de dados da gestão, governança e controle social e, por analogia, a

sua independência do responsável pela gestão.

Ademais, as diretrizes e estratégias previstas no plano nacional suscitam um plano

sistemático de gestão municipal de resíduos sólidos, que deva conter, entre outras, (1) ações

voltadas para produção e consumo sustentáveis, de modo a reduzir a geração de resíduos. (2)

70

Entrevista concedida por N, 21 anos. Membro da comunidade, em Benevides, em 2013. 71

Entrevista concedida por F, 20 anos. Membro da comunidade, em Benevides, em 2013. 72

Entrevista concedida por M, 26 anos. Catador, em Benevides, em 2013. 73

Entrevista concedida por D, 33 anos. Catadora direcionada para o projeto, em Benevides, em 2013. 74

Entrevista concedida por I, 27 anos, catadora, em Benevides, em 2013.

67

ações de coleta seletiva, para fortalecer as Cooperativas de Catadores. E (3) ações de

otimização dos compostos orgânicos, utilizando técnicas especializadas.

No município estudado verificou-se que se chama coleta seletiva à separação de lixo

seco do lixo seco, do lixo orgânico, e esse foi parte do projeto, que se pode enquadrar como

um dos itens requeridos por um plano municipal.

Novamente é necessário um questionamento maior, no sentido de que se analise como

uma ação com tamanha complexidade, com a amplitude que alcançou o projeto de natal do

município de Benevides parece ter tido um fim em si mesmo, contrariando os princípios e

requisitos da Lei, que precisam do longo prazo.

O projeto conseguiu se utilizar da rede pública de ensino para dar início às ações;

selecionou pessoas desempregadas e, que por sinal, voltaram a sê-lo após o seu fim; melhorou

a vida de outras pessoas que trabalhavam sem condições estruturais no lixão; e conseguiu

transformar esse lixão em aterro controlado (APÊNDICE A).

Em última análise, é percebido em todos os depoimentos como algo que antes parecia

inalcançável e hoje, extremamente necessário, mas foi extinto da convivência daquela

Sociedade, e legou-lhes consequências indesejáveis, que só uma ação governamental

estruturada pode reverter.

[...] Eu rezo pra que esse prefeito faça o projeto voltar. Muita gente tá

desempregado. Até minha filha de 17 anos já tá no Aterro catando pra me ajudar

[...]. (Informação verbal)75

.

[...] Acho que não vai voltar, porque falaram que era a marca do outro prefeito [...].

(Informação verbal)76

.

75

Entrevista concedida por R, 37 anos, catadora, em Benevides, em 2013. 76

Entrevista concedida por A, 51 anos, membro da comunidade, em Benevides, em 2013.

68

5 O PROJETO NATAL DE BENEVIDES E AS PERSPECTIVAS DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTADO E INCLUDENTE

A literatura que aborda o desenvolvimento includente e sustentado qualifica a ideia de

que o mundo deve desenvolver formas mais inteligentes de articulação entre os diversos

objetivos econômicos, sociais, ambientais e culturais, para construir uma nova sociedade

(DOWBOR, 2012). Essa reconstrução social auxilia no enfrentamento sistemático das

desigualdades de acesso à renda e aos processos produtivos.

Nesse sentido, o projeto de Benevides se apresentou, em primeiro momento, como um

meio de promover a emancipação econômica, e por acréscimo, a inclusão social de grupos em

situação desfavorável, como os catadores de resíduos, reafirmando os efeitos causados à vida

desses e das pessoas desempregadas que também foram alcançadas pelo projeto. E também se

configurou como um elemento para atender aos anseios da Lei 12.305/2010.

Noutra percepção, Dowbor et al (2010) estatuem que muitas das crises que afetam a

sociedade77

resultam de comportamentos irresponsáveis, e que não existe mais espaço para

simples arranjos na gestão dos recursos naturais.

Para os autores deve haver uma contenção de desperdícios nas cadeias de produção e

de consumo; “redução de tolices publicitárias que incitam um consumismo desenfreado e a

promoção de uma sociedade informada sobre o que realmente podemos fazer no nosso planeta

com os meios que temos.” (DOWBOR et al, 2010, p.5).

Necessidade que há muito fora assinalada por Sachs (2004, p.5), donde afirma que o

mundo foi engolido por profunda crise social, agravada pela dilaceração ambiental, cujas

causas centram-se nas desigualdades sociais intra e entre as nações, nos padrões de uso dos

recursos (esbanjadores e descuidados), na distorção da pesquisa tecnológica, distante das

necessidades básicas, e acima de tudo, a pior forma de perda “representada pelo desperdício

de vidas humanas, privadas de seu direito de trabalhar, ter um meio de vida decente e

manifestar os potenciais do ser humano”. É o que pode ter ocorrido no município, com o final

do projeto, assemelhando-se à privação dos catadores e de outros trabalhadores envolvidos do

seu direito a ter uma vida mais digna.

Segundo entrevistas com dezenove dos participantes do projeto, entre catadores e

pessoas desempregadas, o projeto se transformou na principal fonte de emprego e renda para

eles e para outras pessoas desempregadas, que não se conseguiu alcançar com as entrevistas.

77

Os autores afirmam que a sociedade sofre crises dos valores, das pandemias, da demografia, da economia, da

especulação financeira, da educação, da pasteurização cultural, da banalização da vida e da miséria

(DOWBOR et al, 2010).

69

Igualmente incrementou a renda de feirantes, ambulantes e outros, devido a quantidade de

visitantes ao local.

E ainda se manifestou como uma atração turística, como uma opção de lazer para os

moradores, e para esses, o emergir do sentimento de orgulho de pertencer ao local e de modo

mais estruturante, suscitou da Prefeitura ações de melhoria da infraestrutura (BENEVIDES,

2013). Quando perguntado a catadores e a pessoas desempregadas, sobre a maneira como o

projeto modificou suas vidas, eles responderam:

[...] De todas as maneiras, principalmente a financeira [...]. (Informação verbal)78

.

[...] Melhorou minha vida financeira, conheci meu marido, tive um filho e comprei

muitas coisas boas que eu não podia ter [...]. (Informação verbal)79

.

[...] Era uma oportunidade de ganhar mais e ainda ter aonde se divertir [...].

(Informação verbal)80

.

Afirmação também refletida na entrevista com um membro da comunidade e feirante,

que trabalha na antiga estação, que durante o período do natal se transformava na praça de

alimentação:

[...] Moro aqui há 15 anos e o projeto foi a melhor coisa que aconteceu nos últimos

tempos. As coisas melhoraram cem por cento. Benevides não é mais um lugar

desconhecido. O mundo todo falou daqui. A gente vendia muito na época da festa.

Eu ganhava o triplo do que ganho hoje. Aí eu podia comprar mais coisas. Agora que

acabou, só tem dado pra comer [...]. (Informações verbais)81

.

Nesse contexto, o projeto de natal se ratifica como uma tentativa de vislumbrar o

desenvolvimento includente e sustentável, pois existe a combinação de crescimento com

desenvolvimento econômico, em virtude da inserção de atores como feirantes, proprietários

de estabelecimentos comerciais de forma subjacente ao projeto.

Isso converge com as percepções de Sachs (2004) que reforça a necessidade da

sociedade ter um Estado atuante e proativo; que organiza e conduz o processo de negociação

entre todos os atores do processo de desenvolvimento. O mesmo autor afirma ainda que

desenvolvimento sustentado é resultante de estratégias envolvendo os pilares social,

ambiental, territorial, econômico e político.

78

Entrevista concedida por P, 25 anos, catadora que foi para o projeto, em Benevides, em 2013. 79

Entrevista concedida por S, 27 anos, desempregada que foi para o projeto, em Benevides, em 2013. 80

Entrevista concedida por M. N, 33 anos, Desempregada que foi para o projeto, em Benevides, em 2013. 81

Entrevista concedida por B, 35 anos, Membro da comunidade, em Benevides, em 2013.

70

Sobre as perspectivas do trabalho, a catadora do lixão S foi selecionada para participar

do projeto e se manifesta emocionada, quando perguntada sobre a importância do projeto para

a sua vida:

[...] Esse projeto foi a maior oportunidade que já tive na vida pra viver melhor. Eu

trabalhava no lixão e fui pra fábrica de natal, passei a ganhar mais e aprendi muito

sobre a reciclagem do plástico. Depois que ele acabou não tenho esperança de outro

emprego bom, porque minha instrução é pouca e quase todo mundo na cidade

trabalhava pro projeto. [...] O que tá mais perto de mim é o lixão de novo. Com ele

ganho pouquinho e também tenho bolsa família que intera, mas mesmo assim é

pouco. (Informação verbal)82

.

A falta de trabalho é mencionada por Sen (2000) como um elemento negativo dentro

do processo de desenvolvimento das potencialidades humanas. Segundo o autor, a deficiência

de remuneração pelo trabalho é um dos fatores que impedem a expansão das liberdades

necessárias ao desenvolvimento, não somente pela ausência da renda, mas também pelos

danos psicológicos, pela falta de motivação, autoconfiança, o que intensifica o processo de

exclusão social.

Sachs (2004) reflete algumas estratégias de desenvolvimento, afirmando que os

mecanismos da sociedade (Estado, mercado e comunidade) devem ser coordenados para que

haja um Estado capaz de descortinar o futuro. O mesmo autor ressalta que para tal, o Estado

deve articular espaços de desenvolvimento local e subordiná-los a uma estratégia de

desenvolvimento endógeno.

Ainda o autor analisa a necessidade de promover parcerias entre os interessados em

um acordo de desenvolvimento sustentável e harmonizar as metas sociais, ambientais e

econômicas por meio do planejamento estratégico e gerenciamento cotidiano da economia e

da sociedade.

Direcionando-se a percepção do autor para o projeto, verificou-se durante a entrevista

com sua coordenação, que o município havia celebrado parcerias, dentre as quais, como por

exemplo, com a empresa de refrigerante coca-cola, convênio com a Fundação Curro Velho

para ensinar os artesãos a manusear as garrafas e realizar as oficinas de teatro junto às escolas,

termo de cooperação financeira com a Paratur e as empresas Vale e Infraero e, também com o

Governo do Estado do Pará (BENEVIDES, 2013).

Nos espaços de desenvolvimento é possível que, sob a coordenação do Estado, os

resultados positivos desejados sejam alcançados mais rapidamente, pela autoridade atribuída

82

Entrevista concedida por S, 27 anos, catadora, em Benevides, em janeiro de 2013.

71

ao Estado. É o que argumenta Brito (2006), que ressalta que a unicidade do desenvolvimento

resulta da capacidade que os atores e as sociedades locais têm de se estruturarem e

mobilizarem seus potenciais. O morador da comunidade manifesta- se quanto ao papel da

Prefeitura.

[...] Foi o tempo melhor na cidade, emprego, turistas, limpeza e obras em toda parte.

Carro da Prefeitura recolhendo os entulhos, os carrinhos da cooperativa recolhendo

o que era pra reciclar, os homens que trabalham com o Prefeito viviam nas ruas

organizando a cidade. As crianças tinham boas coisas pra fazer. Tudo no município

era feito pro projeto, que não era só em dezembro, durava o ano inteiro [...].

(Informação verbal)83

.

Sob outro ponto de vista, voltado ainda para o desenvolvimento local e o papel do

Estado, Dowbor (2007) sugere que os atores locais devam se apropriar do desenvolvimento

para permitir ao Estado, conhecer as dificuldades e potencialidades, destacando-se com os

donos de sua transformação econômica e social. O autor reforça que à educação está o legado

de formar futuros participantes, decisivos na concepção de iniciativas capazes de transformar

o seu entorno.

Durante a pesquisa, os 27 entrevistados declararam que nunca participaram de reunião

para discutir sobre o projeto ou jamais ouviram falar sobre Conselho municipal de gestão de

resíduos. Segundo o Senhor A, 51 anos e morador próximo à principal rua em que ocorria o

evento, quando perguntado sobre sua participação no projeto e sobre o significado do mesmo.

[...] Eu não participava do projeto. Nunca me perguntaram se eu era a favor ou

contra, porque tudo o que era feito era pro Centro, nós da periferia tivemos até

prejuízo, porque não podia passar pela pista central, que ficava fechada por quase

três meses. Só se passava pelas transversais. E o pior, se eu precisasse ir ao comércio

e até comprar um pão, tinha que dar uma volta grande [...]. (Informação verbal)84

.

As percepções do morador possuem três linhas que se complementam, a primeira está

relacionada com a frustração de não ter sido consultado sobre uma ação da Prefeitura e tão

importante para o município, o que foge às características do desenvolvimento includente, que

busca a participação efetiva da sociedade nas decisões.

[...] Era um ponto turístico para os visitantes. No fim de semana, levava a família pra

passear, tomar sorvete, etc. A única coisa ruim é que a comunidade não podia dizer

o que estava bom ou ruim. A cidade chamava turistas, todo mundo queria ver a casa

do papai Noel [...]. (Informação verbal)85

.

83

Entrevista concedida por A, 51 anos, membro da comunidade, em Benevides, em 2013. 84

Entrevista concedida por F, 25 anos, desempregado, em Benevides, em 2013. 85

Entrevista concedida por A, 51 anos, membro da comunidade, em Benevides, em 2013.

72

De outro modo o projeto surgiu como uma forma de mostrar a Cidade para o entorno,

como também um meio de entretenimento para as famílias locais. Mas por fim, desvirtuou os

objetivos de emancipação econômica e inclusão social dos catadores e das pessoas

desempregadas, sinalizando que a ação se traduziu tão somente, como um evento turístico

local.

Ainda nesse contexto, mesmo que os efeitos sejam positivos em muitos aspectos, o

projeto carece de refinamentos alinhados à perspectiva do envolvimento da sociedade civil,

pois o Estado possui influência quando se posiciona como um agente do desenvolvimento,

fornecendo o ferramental (financeiro, estrutural, etc.). No entanto, isso deve ser realizado em

conjunto com os atores locais, de forma a promover a geração de riqueza, educação, qualidade

de vida, meio ambiente saudável e outros atributos do desenvolvimento includente e

sustentado (DOWBOR, 2007).

Também nessa linha de discussão, Adeodato (2010) afirma que com a Lei Nº

12.305/2010 o lixo ganha valor econômico, cujos efeitos resvalam nos objetivos sociais,

principalmente pela ideia da responsabilidade compartilhada entre poder público, empresas e

população.

Assim, quando analisados os efeitos desse compartilhamento gerados na sociedade do

município de Benevides, com o envolvimento das esferas públicas e da população em função

de um projeto, como também dos benefícios gerados aos munícipes, as conclusões sobre a

pertinência da ação, caminhava na direção da perspectiva da inclusão social.

A hipótese aqui levantada é de que ainda que tenha havido limitações, o projeto

possuía indicativos de unificação municipal (ambiental, social, econômica e cultural), pois se

verificava o apoio da estrutura política, o estabelecimento de parcerias entre os atores do

projeto e a aplicabilidade subjacente à lei dos resíduos sólidos e com vieses centrados na

inclusão de grupos sociais.

Sachs (2004) afirma que é necessário e possível desenhar estratégias de

desenvolvimento que assegurem a todos a inclusão social pelo trabalho decente, puxado pelo

emprego. Segundo o autor, o emprego e o autoemprego decentes constituem a melhor maneira

de atender às necessidades sociais, pois insere o trabalhador no sistema produtivo, sendo

assim uma solução definitiva. Em termos psicológicos promove a autoestima, oferece

oportunidades para a autorrealização e avanço na escala social.

Nesse sentido, as nove pessoas desempregadas que foram direcionadas ao projeto

argumentaram que após o primeiro mês, quando puderam ter uma renda, os sonhos de realizar

determinadas vontades ficaram mais alcançáveis, e esses sonhos iam da simples ação diária de

73

ter acesso a uma refeição decente, até a compra da casa própria ou do melhoramento da já

existente.

[...] O projeto melhorou minha vida em todos os sentidos, mas principalmente

financeiro. Eu ganhava um salário por mês e quando chegava perto do natal, tinha

hora extra e eu tirava até setecentos reais, juntava com a bolsa família dos meninos e

comprava roupa, sapato, televisão. Comprei até uma geladeira nova [...].

(Informação verbal)86

.

O Relatório PNUMA (2011) classifica o trabalho gerado pelo lixo como “emprego

verde”, pela geração de renda em si e pela associação à inclusão social e ambiental, que

oportuniza os catadores a possuírem um trabalho decente. Conforme o relatório, os empregos

verdes são aqueles que reduzem o impacto ambiental de empresas e de setores econômicos

para níveis sustentáveis, como por exemplo, trabalhos desenvolvidos em setores de

fornecimento de energia, reciclagem, agrícola, construção civil e transportes.

Auxiliam a reduzir o consumo de energia, matérias-primas e água por meio de

estratégias que descarbonizam a economia e reduzem as emissões de gases de efeito estufa,

minimizando ou evitando as formas de resíduos e poluição, protegendo e restaurando os

ecossistemas e a biodiversidade (PNUMA, 2008).

Esses empregos surgem como instrumentos ou alternativas que vão ao encontro dos

princípios definidos na Política Nacional de Resíduos Sólidos (art. 6 e incisos), relacionados

às dimensões do Desenvolvimento Sustentável, abaixo transcritos:

Art. 6 – São princípios da Política Nacional dos Resíduos Sólidos:

III. A visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as variáveis

ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública;

IV. O desenvolvimento sustentável;

VI. A cooperação entre as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e

demais segmentos da sociedade;

VIII. O reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem

econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania;

O Plano Nacional dos Resíduos Sólidos analisado à luz da perspectiva de geração de

trabalho e renda mostra que programas de reciclagem de materiais podem se configurar como

uma estratégia de aumento da geração de renda. Segundo dados do PNUMA (2011), a

reciclagem em todas as suas formas emprega 12 milhões de pessoas somente em três países

(Brasil, China e Estados Unidos), e a separação e processamento de itens recicláveis

86

Entrevista concedida por A, 41 anos, desempregada que foi para o projeto, em Benevides, em 2013.

74

sustentam 10 vezes mais empregos que aterros sanitários ou incineração em termos de

tonelada métrica.

No município, a situação é semelhante ao restante do país, pois ainda existem muitas

pessoas que sobrevivem da catação no aterro da cidade. Quando inquirido sobre o quantitativo

de pessoas que trabalham no lixão, um servidor municipal, que guarda o patrimônio da

Cidade declarou que:

[...] Quando isso aqui era um lixão, tinha pelo menos duzentas pessoas, inclusive

crianças, fugitivos da cadeia e alguns que já tinham cumprido pena; depois que virou

aterro controlado diminui e muito. Porque vinha lixo de todos os lugares, não só da

cidade e atraía muita gente, agora só joga se tiver autorização da prefeitura. Hoje

deve ter menos de trinta pessoas; e se virar aterro sanitário, aí é que vai diminuir

mais ainda [...]. (Informação verbal)87

.

Da declaração conclui-se que a disposição final dos resíduos sólidos é determinante

para a mitigação do número de pessoas que trabalham em condições insalubres, mas também

surgem outras preocupações sobre o desenvolvimento de ações públicas, em consonância com

as diretrizes previstas na política nacional de resíduos (QUADRO 01), que alcancem essas

pessoas, como primeiros beneficiários, quando da elaboração da política municipal de gestão

de resíduos sólidos. Também o coordenador da cooperativa se manifesta:

[...] Em 2010 foi feito um estudo e implantada a cooperativa. No início foram oito

pessoas selecionadas do lixão; atualmente são cinquenta cooperados; todos vindos

do antigo lixão. Precisamos expandir, mas a cooperativa não tem condições de

estrutura e financeira pra trazer todos que estão lá no lixão pra dentro [...].

(Informação verbal)88

.

As condições estruturais são necessárias ao pleno desenvolvimento da Cooperativa de

Benevides e a lei trata especificamente do acesso a recursos públicos federais por municípios

que elaborarem seus planos de gestão de resíduos sólidos89

em conformidade com o plano

nacional.

Salientando-se que Benevides deu o primeiro passo quando transformou, em um ano,

lixão para aterro controlado, portanto, é uma ação meritória que se anteviu aos efeitos da

legislação no município.

87

Entrevista concedida por M, 37 anos, em Benevides, em 2013. 88

Entrevista concedida pelo Coordenador da Cooperativa ReciclaBen, em Benevides, em 2013. 89

Conforme a política nacional, os planos municipais devem se utilizar de instrumentos como coleta seletiva,

criação de cooperativas e associações de catadores de materiais recicláveis, entre outros (PNRS, cap. 3).

75

Rolnik (2012) ressalta que a estrutura direcionada puramente para o tratamento dos

resíduos sólidos não é uma questão de natureza técnica ou tecnológica, de existência ou não

de dinheiro, ainda que sem o último não se possa encaminhar quaisquer soluções, mas a

complexidade permeia o modelo de produção atual e o lixo é uma mercadoria de negociação.

Também a reflete que a separação e o processamento dos itens recicláveis sustentam dez

vezes mais empregos que aterros sanitários ou incineração.

O atual coordenador da Fábrica de Natal salienta que faltam muitos dados para que se

analise o projeto como um todo, e também no que diz respeito à quantidade de empregos ou

postos de trabalho gerados:

[...] De acordo com informações da antiga coordenadora, havia quarenta pessoas

fixas na fábrica, que na época natalina chegava a sessenta. Ao fim do projeto todas

foram embora. Hoje estamos selecionando novos artesãos e temos sete pessoas

trabalhando. (Informação verbal)90

.

Com relação ao índice de empregos, a FIRJAN (2012), aponta que o município de

Benevides em 2010, apresenta um índice municipal de desenvolvimento do emprego e renda

de 0,5866, que é considerado como desenvolvimento regular, ocupando com isso a 13ª

posição na estatística do Estado do Pará, o que corrobora com as conclusões do PNUMA

(2008), em que analisa promover o acesso ao mercado de trabalho como um desafio global.

Para o município, a situação se agrava principalmente pelas condições estruturais do

local, com uma população jovem e, que por um período viveu em função de uma iniciativa,

que ora suprimida. Por conseguinte, deve ser desenvolvido outro mecanismo para corrigir o

quadro atual.

Segundo o IPEA (2012), 8,5% da população brasileira encontram-se na linha da

extrema pobreza, mas o governo adota políticas públicas de transferência de renda,

objetivando combatê-la. Mais de 15 milhões de famílias foram beneficiados por programas

assistenciais como Bolsa Família, benefícios de prestação continuada e outros em 2009

(BRASIL, 2010).

Em Benevides foram entrevistadas dezenove pessoas que trabalhavam no Projeto, das

quais doze são integrantes do Programa Bolsa Família, e como fator agravante existe a

dependência desses programas, o que se verificou em entrevista à catadora P, que possui dois

90

Entrevista concedida por D, atual coordenador da Fábrica de Natal, em Benevides, em 2013.

76

filhos, quando se referiu ao término do projeto: “[...] agora tô sem trabalho, só tô com o bolsa

família, e nem sei o que ia comer, se não fosse o bolsa família [...].” (Informação verbal)91

.

Segundo a IBGE (2009), o Brasil possui cerca de 70 mil pessoas que trabalham com a

catação na área urbana. Já o Movimento Nacional de Catadores calcula a existência de mais

de 800 mil catadores de recicláveis.

Freitas e Fonseca (2011) citam, porém que a inconsistência de dados é causada

principalmente pelo nível de informalidade; mas, na visão dos autores, não invalida a análise

do grau de vulnerabilidade social dessas pessoas; por sua vez, o plano nacional estabelece a

necessidade que o país tem de desenvolver meios para a inclusão e fortalecimento da

organização de 600.000 catadores até 2023 no cenário mais positivo do plano.

No município de Benevides, não se tem o diagnóstico real de quantas pessoas

trabalham na catação de resíduos, mas conforme entrevistas, quando era lixão, abrigava mais

de duzentas pessoas; após a transformação para aterro controlado, esse número é menor que

trinta pessoas, que ainda permanecem nas condições insalubres de trabalho (BENEVIDES,

2013).

Sachs (2004) pondera que o desenvolvimento includente é um processo com duas

vertentes, a econômica, por meio da diversificação das estruturas produtivas, que resultam no

aumento da produtividade e, a social, porque promove a homogeneidade e reduz as distâncias

entre as camadas da população.

O Projeto Natal de Benevides, nesta acepção, pode ser visto como uma proposta de

desenvolvimento includente, pelo viés que representava. Do ponto de vista econômico

aumentava o rendimento dos catadores, dos operários da fábrica de natal, dos comerciantes,

que por sua vez, aumentavam o nível de empregabilidade no local; dos vendedores

ambulantes, cujo resultado era o maior poder de compra da comunidade e o movimento da

economia.

Um dos maiores desafios da estrutura pública é firmar iniciativas dessa natureza como

o projeto, como política pública qualificada para ampliar as oportunidades individuais e

promover também a melhoria da capacitação dos catadores e outros participantes, evitando

assim uma relação de dependência centrada em uma só atividade, como o que ocorreu naquele

município.

De outra forma, é preciso que o poder público ofereça outras opções, para que

oportunidades como o projeto, assegurem ao ser humano manifestar suas potencialidades,

91

Entrevista concedida por P, 27 anos, catadora, em Benevides, em 2013.

77

talentos e imaginação, o que resulta em um ambiente de convivência com condições para

produzir os meios de existência (SACHS, 2004).

Daí pode-se aventar o ciclo verificado no Projeto Natal de Benevides como uma

espécie de política pública, pois gerava trabalhos, ainda que temporários, e renda para os

desempregados, catadores. Incentivava a geração e/ou a ampliação de novos negócios,

favorecendo o desenvolvimento local.

Também contribuía para a formação de uma consciência ecológica entre a

comunidade, quanto ao reaproveitamento e à reutilização de garrafas pet. Portanto, importa

para o município a continuidade da ação, de forma que os ciclos sejam refinados e daí, a

perenidade de um efeito benéfico à comunidade local.

Os aspectos sociais que estão presentes na temática dos resíduos sólidos têm grande

influência na melhoria dos indicadores de Desenvolvimento Sustentável, pois se verificam as

condições insalubres a que são expostos os catadores, também com a participação de jovens,

crianças e idosos.

No que concerne à inclusão social, a estrutura pública (Secretaria de Cultura)

promovia o envolvimento dos alunos em atividades culturais exibidas no evento, organizava

eventos turísticos ao longo do ano, aproximando-se mais da realidade local, conforme se

verifica no relato:

[...] O projeto tirou muita gente da rua, adultos, crianças e adolescentes. A Prefeitura

utilizou os rapazes e moças pra serem guias turísticos durante os meses da festa, fez

curso de guia turístico. Isso ajudava o município com a educação desses meninos e

principalmente, os pais, que sabiam onde eles estavam. (Informação verbal)92

.

Nesse sentido, o PNUMA (2011) ressalta que os resíduos sólidos dispostos em lixões

se apresentam como a principal atividade de cerca de 2% da população das cidades da Ásia e

da América Latina. Em Benevides os resíduos são a única atividade produtiva de pelo menos,

oitenta pessoas93

, mas mesmo que na prática, sejam mais de duzentas, e se fizesse uma

relação com a população local, ainda assim o município apresenta indicadores econômicos e

sociais, que lhe permitem encaminhar diversas ações expressas na lei, em caráter efetivo e

também pelas ações já encaminhadas de modo antecipado.

Ainda que não seja uma quantidade muito expressiva se relacionada à população total

(51.651 hab., em 2010), esse fator pode ser utilizado pela Prefeitura para ressignificar os

92

Entrevista concedida por M, 27 anos, catadora, em Benevides, em 2013. 93

O número foi estimado com base nas entrevistas com a supervisão do aterro. Compõe-se de cinquenta

cooperados e trinta pessoas que se utilizam da catação direta no lixão.

78

efeitos negativos da atividade, ressocializar essas pessoas, por meio da implantação de

políticas públicas eficientes, que busquem a maior eficiência de redução e de recuperação do

recurso, e que contribuam para o acesso desses trabalhadores à cidadania, como também à

mitigação das externalidades sociais e ambientais da atividade de catação (FREITAS e

FONSECA, 2011).

Também se entende que a Política Nacional dos Resíduos Sólidos nasce de um ciclo

de política pública, pois há o reconhecimento da problemática envolvendo o assunto, cuja

obrigatoriedade de implantação de planos estaduais e municipais de gerenciamento dos

resíduos sólidos se encaixa como um dos passos para a definição da agenda pública previstas

na lei 12.305/2010. E essa lei se confirma como o elemento norteador para o gerenciamento

dos resíduos, nas três esferas de governo.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS, articulada com a Política Nacional

do Meio Ambiente, com as diretrizes nacionais para o saneamento básico, com a Política

Federal de Saneamento Básico e com a Política Nacional de Educação Ambiental têm o papel

de desenvolver métodos direcionados ao manejo de resíduos sólidos, adequados aos

princípios de proteção do meio ambiente e à saúde pública.

Por sua vez, as políticas de educação formal agem como um mecanismo para formar

nova consciência social sobre a questão do lixo, contribuir para o desenvolvimento nacional,

reduzir as desigualdades regionais, gerar emprego e renda e, prática de inclusão social (PFSB,

Art. 53, Inciso I). Em se tratando do projeto, a estratégia inicial de envolver os alunos da rede

pública em diversos momentos do projeto se configurou como esse mecanismo.

O projeto de natal foi uma alternativa que em primeira análise buscou a solução para o

acúmulo de garrafas pet nos logradouros, mas enfrentou um dos maiores problemas atuais, a

descontinuidade política e administrativa da gestão pública.

[...] Eu sei pouco sobre o Projeto, mas tenho certeza de uma coisa: Vamos dar outra

formatação a ele, nos apropriaremos das informações e então é que vamos sentar

com o prefeito para definir, pois a forma como era conduzido o projeto era uma

relação direta da prefeitura para a secretaria de cultura, e ainda não sei se será assim

[...]. (Informação verbal)94

.

Durante as visitas não se pôde ter vistas a nenhum documento oficial sobre o projeto,

mas de acordo com informações do atual secretário de cultura, o projeto de Benevides não

está formalizado em nenhum documento da gestão municipal.

94

Entrevista concedida pelo Secretário de Cultura, em Benevides, em 2013.

79

A forma de condução desse se dava a partir das ordens da autoridade municipal àquela

secretaria, o que não invalida a ação, mas vai de encontro ao que menciona a Política

Nacional dos Resíduos Sólidos (2010), no que se refere aos mecanismos de participação

social nos processos de formulação, implantação e controle das políticas públicas e,

principalmente, ao princípio de violação do direito da sociedade à informação e ao controle

social.

O plano nacional estabelece uma série de estratégias para a inclusão social de

catadores, com a formalização de políticas públicas de geração de emprego e renda;

participação de catadores em ações de educação ambiental; garantia de um piso salarial e

critérios de inclusão dos catadores em planos municipais de gestão de resíduos sólidos.

Porém, acaba-se por criar um hiato entre as questões que envolvem o acúmulo de resíduos, a

situação dos catadores e a alternativa local implantada no município.

Nesses termos é oportuno salientar as concepções de Souza (2006) em que salienta

que a política pública permite distinguir entre o que o governo pretende fazer e o que, de fato,

faz. Envolve vários atores importantes (formais e informais) e níveis de decisão, embora seja

materializada através dos governos (legitimação).

Ainda a autora afirma que a política pública é abrangente e não se limita a leis e

regras. É uma ação intencional, com objetivos a serem alcançados. E que embora tenha

impactos no curto prazo, é uma política de longo prazo.

De qualquer forma, as ações que envolvam a sociedade civil e demais esferas de poder

são legítimas para a implementação de mecanismos que atendam à Lei, mas devem conter em

sua essência, o interesse maior, que é a proteção do bem estar social.

Segundo o Comitê Interministerial para Inclusão Social de Catadores (2011), entre

2003 e 2010 foram destinados mais de R$ 280 milhões de reais para ações voltadas aos

catadores de materiais recicláveis em todo o Brasil.

Estratégias bem elaboradas e implantadas, combinadas a medidas financeiras desse

tipo, contribuem em muito para o desenvolvimento includente, por meio do trabalho decente

e/ou autoemprego proposto por Sachs. (SACHS, 2004).

Em virtude da impossibilidade de acessar as informações sobre o projeto de Benevides

não se dispõe do quantitativo financeiro empregado, o que é um agravante da falta de controle

social.

80

[...] Não temos os relatórios ou prestação de contas sobre o projeto. A gestão

anterior ficou de nos encaminhar, mas até o momento, não recebemos. Não sabemos

quanto foi gasto ou arrecadado com o Projeto nos quatro anos. Os únicos dados que

sei é que hoje aqui nesse galpão tem mais de três milhões de garrafas [...].

(Informação verbal)95

.

Dos vinte e oito entrevistados, entre catadores, membros da comunidade, pessoas

desempregadas e etc., todos têm conhecimento da atuação tanto da Cooperativa como dos

informais. Mas alguns catadores, quando inquiridos sobre a situação atual do município e

sobre o seu trabalho e preferência por estar ou não na Cooperativa, concluem:

[...] Eu prefiro catar lá no aterro, porque na Cooperativa só dá duzentos por mês e

tem semana que eu cato duzentos. (Informação verbal)96

.

[...] Eu prefiro a Cooperativa, o trabalho é mais melhor, tenho bota, uniforme, corro

menos perigo, mesmo ganhando menos. Só que agora tô até pensando, a bolsa que a

Prefeitura pagava melhorava o dinheiro. Era trezentos reais e mais duzentos do

material que era catado nas casas. Esse mês nós ganhamos duzentos e vinte reais.

(Informação verbal)97

.

Verifica-se que para muitos trabalhadores não bastam equipamentos de proteção

individual ou segurança no trabalho, os valores monetários lhes são mais interessantes.

Cenário que materializa a necessidade de ações de inclusão social e econômica de modo mais

consistente, sobretudo no que diz respeito à educação, com resultado na maior

conscientização, que alinhada a outros fatores (saúde e meio ambiente), contribuem para a

melhoria de sua qualidade de vida, e inserção social e econômica.

[...] Essa Cooperativa podia fazer bem mais, empregar mais gente, melhorar os

ganhos. Disseram que vinha equipamentos, só que até agora nada. Precisava de mais

um caminhão. O tamanho do galpão no projeto não é esse que a senhora tá vendo aí

[...]. (Informação verbal)98

.

O fato é que sem a estruturação de políticas públicas de desenvolvimento local,

voltadas para o gerenciamento dos resíduos, iniciativas como o projeto de natal de Benevides

não terão um ciclo de continuidade necessário à sedimentação da prática, configurando-se

apenas como uma ação de caráter provisório.

De acordo com Nunes, Philippi Jr e Fernandes (2012) os Conselhos municipais devem

ser considerados como ferramenta grande importância no processo de construção das políticas

públicas, em virtude de que com esses há a certeza de que as particularidades locais estejam

95

Entrevista concedida pelo Atual coordenador da fábrica de natal, em Benevides, em 2013. 96

Entrevista concedida por Trabalhadora informal, em Benevides, em 2013. 97

Entrevista concedida por E, 41 anos, catador, em Benevides, em 2013. 98

Entrevista concedida por M, 37 anos, em Benevides, em 2013.

81

mais claras e consistentes, formando-se então, os alicerces para o desenvolvimento

sustentável. E assim, o município utilizou como alicerce um projeto que passou de uma

simples ação de educação ambiental para ganhar notoriedade dos membros da comunidade

local e do entorno.

Ademais, quando iniciativas públicas sofrem dessa solução de continuidade, os atores

sociais, no período da transição acentuam as suas necessidades e assim, retardam o

direcionamento ao desenvolvimento sustentável.

Porém deve-se reafirmar que o projeto tinha em seus delineamentos, ações de indução

ao emprego e melhoria da renda dos catadores, mas a descontinuidade provocou o

distanciamento do projeto, dos princípios de longo prazo, estabelecidos na Lei Nº

12.305/2010 e necessários a uma política municipal de resíduos sólidos.

A perspectiva do desenvolvimento sustentado e includente que um projeto como esse

deveria implantar no município, diz respeito a uma mudança estrutural na sociedade, no

aspecto econômico e social, também com a modificação das formas de lidar com os resíduos

produzidos pela população, incentivando com isso, mudanças no comportamento desses

indivíduos.

Harmonizando o projeto de Benevides, com o entendimento do desenvolvimento

sustentado concebido por Sachs (2004), verifica-se que a prefeitura vislumbrava alicerçar uma

política pública que sincronizasse os processos de inclusão social, emancipação econômica,

promovendo o desenvolvimento cultural das pessoas e reforçando a confiança no Estado.

Debater a envergadura da ação que teve o município de Benevides é salutar para a

ciência, pois a continuidade daquele, poderia resultar, nos moldes do desenvolvimento

sustentável, um círculo virtuoso de investimentos no desenvolvimento local, que através do

projeto gerasse mais trabalho e renda, o que aumentaria as oportunidades dos catadores e das

pessoas desempregadas inseridas naquele e ainda beneficiaria permanentemente, a sociedade

civil.

Do mesmo modo, o necessário refinamento do projeto, alinhado aos princípios e

objetivos estabelecidos na Lei Nº 12.305/2010, resultaria num processo de desenvolvimento

sustentado e includente, sobretudo pela essência do instrumento legal, que contém os vieses

do desenvolvimento sustentável e oportuniza diversos meios para que os entes da federação

executem estratégias de gerenciamento dos resíduos sólidos.

Também é necessário aventar que nas últimas décadas ocorreram as maiores agressões

ao meio ambiente, assim os resíduos sólidos e a quantidade de seres humanos envolvidos

nesse tipo de atividade, também fazem parte desses mecanismos de agressão; mas ao mesmo

82

tempo o conceito de ecoeficiência se ampliou, o que vislumbra um resgate da ética humana

com a natureza (ABRAMOVAY, 2012).

Logo, sendo o homem o beneficiário de um meio ambiente saudável e o Estado, o

protetor em conjunto, a sustentação desse meio, reflete-se na vida cotidiana de todos.

Em última análise, o desenvolvimento, em sua essência, perpassa por aquele resgate e,

principalmente pela melhoria das condições de vida dos cidadãos.

83

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta pesquisa teve como objeto de análise o Projeto Natal de Benevides e as

possibilidades engendradas em um Projeto que buscou se consolidar como uma política

municipal de gestão de resíduos sólidos.

Para tanto, examinou-se a iniciativa implantada pelo município de Benevides em

2009, utilizada como um instrumento para atender à Lei Nº 12.305/2010, que institui a

Política Nacional de Resíduos Sólidos, naquilo que diz respeito à efetiva e benéfica inclusão

social e emancipação econômica dos Catadores de materiais recicláveis e, que no município

estendeu-se também a diversas pessoas desempregadas que foram direcionadas a participar do

projeto.

Diante da transversalidade e da importância que o projeto teve para e no município foi

possível compreender as muitas possibilidades alcançáveis por esse, como meio para

promover a inclusão socioeconômica dos participantes, utilizando a coleta de materiais

recicláveis, e, por acréscimo, atender aos requisitos legais, propiciando também o

desenvolvimento sustentado de longo prazo.

Quanto ao arranjo institucional, identificou-se a composição desse, refletida na

participação dos alunos da rede pública, catadores cooperados, pessoas desempregadas e a

comunidade como um todo.

Ainda em relação ao arranjo, identificou-se que os Catadores foram apenas um dos

elos dessa grande peça que foi o projeto de natal, e que, seria insuficiente estudar-lhes de

forma individual.

Daí então se estudou também a participação de pessoas desempregadas que tiveram

suas vidas modificadas pelo projeto, mas que voltaram à condição inicial, o que agravou a

situação de ausência de trabalho e renda naquela localidade, uma vez que conforme os relatos

já elencados nos capítulos iv e v, o projeto era sua principal fonte de renda.

Verificou-se que o projeto se iniciou como uma ação de educação ambiental e, de

maneira positiva promoveu-lhes a melhoria de sua realidade econômica e social, o sentimento

de orgulho de participar daquela comunidade; mas de modo negativo, constatou-se que os

atores dependiam de uma forma direta do projeto, e esse não lhes proporcionou bases para o

longo prazo (desenvolvimento sustentado).

Num nível mais intrínseco, avaliou-se o projeto e a interrelação entre os catadores, as

pessoas desempregados, a sociedade local e o poder público para atender aos princípios e

objetivos da política nacional de resíduos sólidos e se constatou que o projeto foi

84

decididamente uma ação benéfica à sociedade local, do ponto de vista econômico, social,

turístico, cultural e político, todavia, os benefícios se deram, em caráter temporário.

Tomando-se por base a decisão unilateral da autoridade municipal de finalizar um

projeto de gestão de resíduos sólidos recicláveis, que vinha mitigando as desigualdades

sociais e econômicas daquela localidade, às vésperas do período de culminância, mostrou-se

que o cidadão, mesmo sendo o beneficiário primeiro das políticas públicas, não foi elemento

motor suficiente para a continuação da prática, o que reafirmou o projeto, enquanto objeto

pontual.

Do ponto de vista do atendimento à política nacional dos resíduos sólidos, a pesquisa

mostrou que existe dificuldade de o município adequar-se à legislação. Analisemos o

seguinte: a pesquisa encontrou no município um aterro controlado, que fora transformado em

virtude da repercussão que o projeto obteve no primeiro ano, também pessoas que foram

beneficiadas pelo projeto, mas hoje, boa parte vive sob a proteção dos programas de

transferência de renda, o que por seu turno, limita a ampliação das capacidades substantivas

dessas pessoas.

Por outro lado, o poder público atual não possui os indicadores do projeto e também

não tem ciência de que haja um plano municipal de gestão de resíduos sólidos, sistematizado

e legitimado pelo poder público. Caso houvesse a legitimidade do projeto, conjugada com a

legitimação popular que já havia no município, seria determinante para garantir-lhe a

continuidade e estabelecer-lhe como uma política pública, atendendo aos requisitos legais.

Desse ponto é possível analisar que a legitimidade poderia ter evitado a

descontinuidade do projeto e por adição, auxiliado na confirmação desse como a política de

resíduos para atender aos dispositivos legais e mais ainda, como o instrumento que

possibilitaria a inclusão social e a emancipação econômica dos catadores de resíduos sólidos

recicláveis. Depara-se nesse momento, com a falta de consistência da ação, o que evitou, de

certa forma, a expectativa de benefícios do projeto no longo prazo, legando aos beneficiários,

o descasamento das políticas públicas, tão visível no Brasil.

Verificou-se que durante os 3,11 anos do projeto, aqueles que lidam com o lixo

aprenderam novos conceitos sobre a reciclagem e outras coisas, adquiriram alguns “bens”,

antes inconcebíveis, porém após o término do projeto, eles voltaram à condição desfavorável

inicial e o lixo persiste como a sua única fonte de sobrevivência e esses atores continuam no

segmento dos mais pobres ou mais excluídos da população.

Assim, para haver o desenvolvimento sustentado, é preciso que ele seja contínuo e que

os atores beneficiados sejam preparados para se manter na posição favorável, no longo prazo.

85

Ou seja, o projeto não promoveu àqueles atores, o desenvolvimento de longo prazo e, era um

projeto que contemplava algumas das estratégias constantes no plano nacional, portanto

insuficientes para atender às necessidades naquele documento elencadas.

Dessa forma, depreende-se da análise que, o projeto não foi concebido efetivamente

para atender à política nacional de resíduos sólidos, consolidou-se como um evento e não

como um processo inclusivo, ideal ao desenvolvimento sustentado.

Entende-se que o desenvolvimento sustentável tem suas bases cada vez mais voltadas

para o processo de inclusão socioeconômica como o imperativo para a melhoria da qualidade

de vida dessa e das futuras gerações e a participação social na elaboração do processo de

desenvolvimento é intransferível.

Nesse sentido, a pesquisa revelou claramente a falta de informação da comunidade

quanto ao conhecimento do que é inclusão socioeconômica, ou o que versa a lei sobre os

resíduos sólidos e o que essa lei traz de benefícios para os catadores e para a sociedade local.

No início dos trabalhos acreditou-se que se tratava de um instrumento de gestão de

resíduos sólidos, e que esse atendia perfeitamente aos princípios da lei em discussão e

também que se tratava do interesse do bem comum; todavia, no transcorrer das visitas,

iniciou-se um processo de questionamento do projeto em diversos ângulos das políticas

públicas nesta pesquisa aventadas.

Sob o prisma da inclusão social questionou-se quem foi beneficiado e quem não o foi,

utilizando-se a análise da expectativa do retorno do projeto, pois que a volta desse significa

esperança de novos dias, um meio de reforçar o capital social da comunidade, e que também

aumenta a confiança na gestão pública, essa última, sendo o elemento transformador as

estruturas sociais.

Sob o prisma da emancipação econômica, questionou-se principalmente quem ganha e

quem perde com o início e o fim do projeto, pois esse permitiu que se verificasse como a

reciclagem de materiais é uma oportunidade de que a sociedade dispõe para mitigar a

dicotomia produção-consumo, aumentar a inclusão dos catadores e, por conseguinte, melhorar

os indicadores de desenvolvimento sustentável.

E nesse sentido, cumpre destacar que os cidadãos direta ou indiretamente beneficiados

pelo projeto devem ter espaço nas decisões, que lhes garante a Constituição brasileira, de

modo que exerçam o controle social sobre os recursos a que a lei se refere, e, assim

harmonizem as estratégias sobre as ações que envolvem suas vidas, como aquele projeto.

Ademais, para a boa gestão compartilhada é essencial que a confiança e a colaboração

sejam os alicerces das relações políticas entre a sociedade civil e o Estado.

86

O projeto também traçou grandes possibilidades de inclusão dos Catadores de

materiais recicláveis no campo social, econômico, cultural e político. Entretanto, cabem-lhe

ressalvas, para que efetivamente se confirme como uma política municipal de resíduos sólidos

recicláveis.

Primeiramente é necessário institucionalizar a política pública de gestão de resíduos

sólidos no município, para legitimar a ação perante o poder público em consonância com o

que está estabelecido na lei 12.305/2010, consolidando-se o plano municipal de

gerenciamento dos resíduos urbanos, em todas as particularidades ali previstas.

No campo econômico, faz-se necessário garantir-lhes uma remuneração mínima nos

moldes dos Programas governamentais.

No campo político o poder público municipal deve garantir a participação mais

intensiva dos Catadores, arbitrando sobre questões que lhes envolvem e ao meio ambiente.

No campo ambiental, verifica-se que melhorados os níveis de consciência crítica, por

meio da educação, por analogia, melhoram-se os níveis de conscientização sobre os fatores

que relegam danos ao meio ambiente urbano.

O experimento do município de Benevides, sem dúvida nenhuma é louvável e vai ao

encontro das muitas iniciativas que países do mundo vêm desenvolvendo para o

enfrentamento da problemática que envolve os resíduos sólidos urbanos.

O Projeto Natal de Benevides nos moldes em que foi concebido e implantado no ano

de 2009 não só criou condições para melhorar a qualidade de vida de pessoas desempregadas,

como foi o precursor de ações voltadas à preservação ambiental implantadas nas escolas

públicas e, como um efeito multiplicador, ainda promoveu o envolvimento dos membros da

comunidade.

Por isso, a antecipação às prerrogativas constantes no instrumento legal, resulta na

reafirmação do projeto como uma ação positiva desenvolvida por um município de pequeno

porte, em uma região afastada dos grandes núcleos urbanos, como a Região Norte.

Porém, a substância a que a pesquisa conjecturou no primeiro momento, de que a

iniciativa fosse uma estratégia desenvolvida para atender ao plano municipal de

gerenciamento dos resíduos sólidos, previsto na legislação; e, por acréscimo promovesse a

emancipação econômica e a inclusão social dos catadores e das pessoas desempregadas, não

foi alcançada.

Mas, por outro lado, o projeto acertadamente se comporta como um modelo inicial,

para que outros municípios possam desenvolver ações que atendam aos interesses da

coletividade, como foi o implantado em Benevides, ou também como ponto de partida, para

87

que sejam desenvolvidos outros planos adequados à realidade local. Novamente a pesquisa

não tem a intenção de exaurir o assunto, pelo contrário, é apenas um ponto na construção de

estratégias que permitam aos municípios moldar-se às novas necessidades das cidades,

sobretudo no que diz respeito ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.

88

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município de Divinópolis. 130 f. 2009. Dissertação (Mestrado em Educação, Cultura e

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2005-2014: documento final do esquema internacional de implementação. Brasília, 2005.

YIN, Robert K. Estudo de Casos: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman,

2005.

ZANETI, I. C. B. B. As sobras da modernidade. Porto Alegre, RS: Corag, 2006.

95

APÊNDICE – ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

LÓCUS: MUNICÍPIO DE BENEVIDES

PERÍODO: Junho de 2012; Janeiro de 2013.

I. ASSESSORIA DA COORDENAÇÃO ANTERIOR. DO PROJETO

1.1 Dados principais:

a) Nome.

b) Idade

c) Grau de escolaridade

1.2 Sobre o projeto Natal de Benevides

a) Como surgiu a ideia de implantar um projeto de natal com as características do

projeto de Benevides?

b) Como ele foi implantado no município?

c) Quais são as atividades que compõe o projeto?

d) Quantas pessoas participaram do projeto como um todo durante esses anos?

e) De onde vêm essas pessoas?

f) Quais são os cursos e /ou outras formas de educação que as pessoas envolvidas

recebem da prefeitura?

g) Como a Prefeitura remunera esses envolvidos?

II. CATADORES

1.1 Dados principais:

a) Nome.

b) Idade

c) Grau de escolaridade

d) Possui filhos? Quantos?

e) Os filhos participam de programas como Bolsa família ou outros? Qual?

96

1.2 Sobre a participação do catador no Projeto Natal de Benevides.

a) Como o Senhor (a) foi selecionado (a) para participar do projeto?

b) Quanto tempo o Senhor (a) permaneceu no projeto?

c) Durante a participação no projeto, o (a) Senhor (a) participou de curso de

formação para manusear as garrafas pet? Quantas vezes?

d) Que funções o (a) Senhor (a) desempenhava, durante o tempo em que esteve no

projeto?

e) Na época do projeto, ele era a principal fonte de renda para a sua família?

f) Como era a forma de remuneração do projeto?

g) Quanto o (a) Senhor (a) recebia durante a participação no projeto?

h) Quanto o (a) Senhor (a) ganha hoje?

i) Após o fim do Projeto, os trabalhadores receberam indenização trabalhista ou

ainda, foram encaminhados para outros locais para trabalhar?

1.3 Percepção pessoal do projeto.

a) De que maneira o projeto melhorou a sua vida?

b) Em sua opinião, qual a importância do projeto para a cidade e para a

comunidade?

c) Em 2012 não houve o evento. O que isso significou para o (a) Senhor (a) como

morador do município? E como participante fornecedor das matérias primas

para o evento?

d) E hoje, o (a) Senhor (a) tem a expectativa de que o projeto volte a ocorrer?

e) Caso o projeto reinicie, o que isso significará para o (a) Senhor (a);

1.4 Sobre o Plano Municipal de Resíduos Sólidos e as condições de emprego na cidade.

a) O Senhor (a) conhece a política nacional dos resíduos sólidos? Ou a Lei

12.305/2010?

b) O (a) Senhor (a) tem conhecimento sobre o Conselho municipal de gestão de

resíduos sólidos urbanos?

c) Quando houve o início do projeto, foi realizado seminário, reunião ou outro

evento para solicitar a participação da comunidade?

d) Quais as suas expectativas na cidade, com relação aos empregos ofertados pelo

governo municipal ou pelas empresas?

97

e) Em sua opinião, que ações são desenvolvidas pelo município para garantir esse

trabalho digno para os cidadãos?

f) O (a) Senhor (a) conhece outros projetos do governo municipal que melhoram

a realidade econômica e social no município?

g) Que atividade o (a) Senhor (a) está desenvolvendo agora?

1.5 Sobre a Coleta de resíduos sólidos urbanos.

a) Como é feita a coleta de lixo na cidade?

b) O (a) Senhor (a) conhece alguma iniciativa de coleta seletiva de lixo na cidade?

III. PESSOAS DESEMPREGADAS

2.1 Dados principais:

a) Nome.

b) Idade

c) Grau de escolaridade

d) Possui filhos? Quantos?

e) Os filhos participam de programas como Bolsa família ou outros? Qual?

2.2 Sobre a participação do catador no Projeto Natal de Benevides.

f) Como o Senhor (a) foi selecionado (a) para participar do projeto?

g) Quanto tempo o Senhor (a) permaneceu no projeto?

h) Durante a participação no projeto, o (a) Senhor (a) participou de curso de

formação para manusear as garrafas pet? Quantas vezes?

i) Que funções o (a) Senhor (a) desempenhava, durante o tempo em que esteve no

projeto?

j) Como era a forma de remuneração do projeto?

k) Quanto o (a) Senhor (a) recebia durante a participação no projeto?

l) Quanto o (a) Senhor (a) ganha hoje?

m) Após o fim do Projeto, os trabalhadores receberam indenização trabalhista ou

ainda, foram encaminhados para outros locais para trabalhar?

98

2.3 Percepção pessoal do projeto.

a) De que maneira o projeto melhorou a sua vida?

b) Em sua opinião, qual a importância do projeto para a cidade e para a

comunidade?

c) Em 2012 não houve o evento. O que isso significou para o (a) Senhor (a) como

morador do município? E como participante fornecedor das matérias primas

para o evento?

d) E hoje, o (a) Senhor (a) tem a expectativa de que o projeto volte a ocorrer?

e) Caso o projeto reinicie, o que isso significará para o (a) Senhor (a);

2.4 Sobre o Plano Municipal de Resíduos Sólidos e as condições de emprego na cidade.

a) O Senhor (a) conhece a política nacional dos resíduos sólidos? Ou a Lei

12.305/2010?

b) O (a) Senhor (a) tem conhecimento sobre o Conselho municipal de gestão de

resíduos sólidos urbanos?

c) Quando houve o início do projeto, foi realizado seminário, reunião ou outro

evento para solicitar a participação da comunidade?

d) Quais as suas expectativas na cidade, com relação aos empregos ofertados pelo

governo municipal ou pelas empresas?

e) Em sua opinião, que ações são desenvolvidas pelo município para garantir esse

trabalho digno para os cidadãos?

f) O (a) Senhor (a) conhece outros projetos do governo municipal que melhoram

a realidade econômica e social no município?

g) Que atividade o (a) Senhor (a) está desenvolvendo agora?

2.5 Sobre a Coleta de resíduos sólidos urbanos.

a) Como é feita a coleta de lixo na cidade?

b) O (a) Senhor (a) conhece alguma iniciativa de coleta seletiva de lixo na cidade?

99

IV. COORDENADOR DO PROJETO E SECRETÁRIO MUNICIPAL DE

CULTURA ATUAL

1.3 Dados principais:

a) Nome.

b) Idade

c) Grau de escolaridade

1.4 Sobre o projeto Natal de Benevides

h) Você tem conhecimento de como surgiu a ideia de implantar um projeto de

natal com as características do projeto de Benevides?

i) O Senhor tem ideia de quantas garrafas foram coletadas nos anos do projeto?

j) O senhor tem conhecimento do Plano Nacional de Resíduos sólidos instituídos

pela Lei nº 12.305/2010? Caso positivo, tem conhecimento do plano municipal

de resíduos sólidos?

k) Você tem conhecimento de que forma a prefeitura selecionava, contratava e

remunerava os catadores de materiais recicláveis para o projeto?

l) Você tem conhecimento dos cursos e outras formas de educação que a

prefeitura promoveu na época do projeto, direcionado aos catadores de

resíduos sólidos recicláveis?

m) Das pessoas que eram do projeto, quantas ainda permanecem na fábrica?

n) No final de 2012, o projeto não foi realizado na cidade. Em relação ao projeto,

qual será a posição dessa gestão sobre a continuidade ou não?

100

ANEXO A – LEI Nº 12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010

Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera

a Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998; e dá outras

providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO II

DOS PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Seção IV

Dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

Art. 18. A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos

previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a

recursos da União, ou por ela controlados, destinados a Empreendimentos e serviços

relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados

por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal

finalidade.

§ 1º Serão priorizados no acesso aos recursos da União referidos no caput os Municípios que:

I – optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos,

incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que se inserirem de forma

voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos referidos no § 1º do art. 16;

II – implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de

associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas

de baixa renda.

§ 2º Serão estabelecidas em regulamento normas complementares sobre o acesso aos recursos

da União na forma deste artigo.

Art. 19. O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos tem o seguinte conteúdo

mínimo:

101

I – diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, contendo a

origem, o volume, a caracterização dos resíduos e as formas de destinação e disposição final

adotada;

II – identificação de áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de

rejeitos, observado o plano diretor de que trata o § 1º do art. 182 da Constituição Federal e o

zoneamento ambiental, se houver;

III – identificação das possibilidades de implantação de soluções consorciadas ou

compartilhadas com outros Municípios, considerando, nos critérios de economia de escala, a

proximidade dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais;

IV – identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos ao plano de gerenciamento

específico nos termos do art. 20 ou a sistema de logística reversa na forma do art. 33,

observadas as disposições desta Lei e de seu regulamento, bem como as normas estabelecidas

pelos órgãos do Sisnama e do SNVS;

V – procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotados nos Serviços

públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final

ambientalmente adequada dos rejeitos e observada a Lei nº 11.445, de 2007;

VI – indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços públicos de limpeza

urbana e de manejo de resíduos sólidos;

VII – regras para o transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos sólidos de que

trata o art. 20, observadas as normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e do SNVS e

demais disposições pertinentes da legislação federal e estadual;

VIII – definição das responsabilidades quanto à sua implementação e Operacionalização,

incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos a que se refere o art. 20 a

cargo do poder público;

IX – programas e ações de capacitação técnica voltados para sua implementação e

operacionalização;

X – programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a redução, a

reutilização e a reciclagem de resíduos sólidos;

XI – programas e ações para a participação dos grupos interessados, em especial das

cooperativas ou outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda, se houver;

102

XII – mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda, mediante a

valorização dos resíduos sólidos;

XIII – sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana e

de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços, observada a

Lei nº 11.445, de 2007;

XIV – metas de redução, reutilização, coleta seletiva e reciclagem, entre outras, com vistas a

reduzir a quantidade de rejeitos encaminhados para disposição final ambientalmente

adequada;

XV – descrição das formas e dos limites da participação do poder público local na coleta

seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no art. 33, e de outras ações relativas à

responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XVI – meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito local, da

implementação e operacionalização dos planos de gerenciamento de resíduos sólidos de que

trata o art. 20 e dos sistemas de logística reversa, previstos no art. 33;

XVII – ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo programa de

monitoramento;

XVIII – identificação dos passivos ambientais relacionados aos resíduos sólidos, incluindo

áreas contaminadas, e respectivas medidas saneadoras;

XIX – periodicidade de sua revisão, observado prioritariamente o período de vigência do

plano plurianual municipal.

§ 1º O plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos pode estar inserido no plano

de saneamento básico previsto no art. 19 da Lei nº 11.445, de 2007, respeitado o conteúdo

mínimo previsto nos incisos do caput e observado o disposto no § 2o, todos deste artigo.

§ 2º Para Municípios com menos de 20.000 (vinte mil) habitantes, o plano municipal de

gestão integrada de resíduos sólidos terá conteúdo simplificado, na forma do regulamento.

§ 3º O disposto no § 2º não se aplica a Municípios:

I – integrantes de áreas de especial interesse turístico;

II – inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo

impacto ambiental de âmbito regional ou nacional;

III – cujo território abranja, total ou parcialmente, Unidades de Conservação.

103

§ 4º A existência de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não exime o

Município ou o Distrito Federal do licenciamento ambiental de aterros sanitários e de outras

infraestruturas e instalações operacionais integrantes do serviço público de limpeza urbana e

de manejo de resíduos sólidos pelo órgão competente do Sisnama.

§ 5º Na definição de responsabilidades na forma do inciso VIII do caput deste artigo, é

vedado atribuir ao serviço público de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos a

realização de etapas do gerenciamento dos resíduos a que se refere o art. 20 em desacordo

com a respectiva licença ambiental ou com normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama e,

se couber, do SNVS.

§ 6º Além do disposto nos incisos I a XIX do caput deste artigo, o plano municipal de gestão

integrada de resíduos sólidos contemplará ações específicas a serem desenvolvidas no âmbito

dos órgãos da administração pública, com vistas à utilização racional dos recursos ambientais,

ao combate a todas as formas de desperdício e à minimização da geração de resíduos sólidos.

§ 7º O conteúdo do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos será

disponibilizado para o Sinir, na forma do regulamento.

§ 8º A inexistência do plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos não pode ser

utilizada para impedir a instalação ou a operação de empreendimentos ou atividades

devidamente licenciados pelos órgãos competentes.

§ 9º Nos termos do regulamento, o Município que optar por soluções consorciadas

intermunicipais para a gestão dos resíduos sólidos, assegurado que o plano intermunicipal

preencha os requisitos estabelecidos nos incisos I a XIX do caput deste artigo, pode ser

dispensado da elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos.

104

ANEXO B - DECRETO Nº 7.404, DE 23 DE DEZEMBRO DE 2010.

Regulamenta a Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010,

que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos,

cria o Comitê Interministerial da Política Nacional de

Resíduos Sólidos e o Comitê Orientador para a

Implantação dos Sistemas de Logística Reversa, e dá

outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84,

incisos IV e VI, alínea “a”, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 12.305, de 2

de agosto de 2010,

DECRETA:

TÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1o Este Decreto estabelece normas para execução da Política Nacional de Resíduos

Sólidos, de que trata a Lei no 12.305, de 2 de agosto de 2010.

Art. 2o A Política Nacional de Resíduos Sólidos integra a Política Nacional do Meio

Ambiente e articula-se com as diretrizes nacionais para o saneamento básico e com a Política

Federal de Saneamento Básico, nos termos da Lei no 11.445, de 5 de janeiro de 2007, com a

Lei no 11.107, de 6 de abril de 2005, e com a Política Nacional de Educação Ambiental,

TÍTULO III

DAS RESPONSABILIDADES DOS GERADORES DE RESÍDUOS SÓLIDOS E DO

PODER PÚBLICO

CAPÍTULO I

DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 5o Os fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e

titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos são

responsáveis pelo ciclo de vida dos produtos.

105

Parágrafo único. A responsabilidade compartilhada será implementada de forma

individualizada e encadeada.

Art. 6o Os consumidores são obrigados, sempre que estabelecido sistema de coleta

seletiva pelo plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou quando instituídos

sistemas de logística reversa na forma do art. 15, a acondicionar adequadamente e de forma

diferenciada os resíduos sólidos gerados e a disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos

reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução.

Parágrafo único A obrigação referida no caput não isenta os consumidores de observar

as regras de acondicionamento, segregação e destinação final dos resíduos previstas na

legislação do titular do serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

Art. 7o O Poder Público, o setor empresarial e a coletividade são responsáveis pela

efetividade das ações voltadas para assegurar a observância da Política Nacional de Resíduos

Sólidos e das diretrizes e determinações estabelecidas na Lei nº 12.305, de 2010, e neste

Decreto.

Art. 8o O disposto no art. 32 da Lei nº 12.305, de 2010, não se aplica às embalagens de

produtos destinados à exportação, devendo o fabricante atender às exigências do país

importador.

CAPÍTULO II

DA COLETA SELETIVA

Art. 9o A coleta seletiva dar-se-á mediante a segregação prévia dos resíduos sólidos,

conforme sua constituição ou composição.

§ 1o A implantação do sistema de coleta seletiva é instrumento essencial para se atingir

a meta de disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, conforme disposto no art.

54 da Lei nº 12.305, de 2010.

§ 2o O sistema de coleta seletiva será implantado pelo titular do serviço público de

limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e deverá estabelecer, no mínimo, a separação de

resíduos secos e úmidos e, progressivamente, ser estendido à separação dos resíduos secos em

suas parcelas específicas, segundo metas estabelecidas nos respectivos planos.

§ 3o Para o atendimento ao disposto neste artigo, os geradores de resíduos sólidos

deverão segregá-los e disponibilizá-los adequadamente, na forma estabelecida pelo titular do

serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

106

Art. 10. Os titulares do serviço público de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos,

em sua área de abrangência, definirão os procedimentos para o acondicionamento adequado e

disponibilização dos resíduos sólidos objeto da coleta seletiva.

Art. 11. O sistema de coleta seletiva de resíduos sólidos priorizará a participação de

cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis constituídas por pessoas físicas de baixa renda.

Art. 12. A coleta seletiva poderá ser implementada sem prejuízo da implantação de

sistemas de logística reversa.

TÍTULO V

DA PARTICIPAÇÃO DOS CATADORES DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E

REUTILIZÁVEIS

Art. 40. O sistema de coleta seletiva de resíduos sólidos e a logística reversa priorizarão

a participação de cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis constituídas por pessoas físicas de baixa renda.

Art. 41. Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos definirão programas

e ações para a participação dos grupos interessados, em especial das cooperativas ou outras

formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas

físicas de baixa renda.

Art. 42. As ações desenvolvidas pelas cooperativas ou outras formas de associação de

catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis no âmbito do gerenciamento de resíduos

sólidos das atividades relacionadas no art. 20 da Lei nº 12.305, de 2010, deverão estar

descritas, quando couber, nos respectivos planos de gerenciamento de resíduos sólidos.

Art. 43. A União deverá criar, por meio de regulamento específico, programa com a

finalidade de melhorar as condições de trabalho e as oportunidades de inclusão social e

econômica dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis.

Art. 44. As políticas públicas voltadas aos catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis deverão observar:

I - a possibilidade de dispensa de licitação, nos termos do inciso XXVII do art. 24 da

Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, para a contratação de cooperativas ou associações de

catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis;

107

II - o estímulo à capacitação, à incubação e ao fortalecimento institucional de

cooperativas, bem como à pesquisa voltada para sua integração nas ações que envolvam a

responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos; e

III - a melhoria das condições de trabalho dos catadores.

Parágrafo único. Para o atendimento do disposto nos incisos II e III do caput, poderão

ser celebrados contratos, convênios ou outros instrumentos de colaboração com pessoas

jurídicas de direito público ou privado, que atuem na criação e no desenvolvimento de

cooperativas ou de outras formas de associação de catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis, observada a legislação vigente.

TÍTULO VI

DOS PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS

CAPÍTULO II

DOS PLANOS DE RESÍDUOS SÓLIDOS ELABORADOS PELO PODER PÚBLICO

Seção I

Do Plano Nacional de Resíduos Sólidos

Art. 46. O Plano Nacional de Resíduos Sólidos será elaborado pela União, sob a

coordenação do Ministério do Meio Ambiente, com vigência por prazo indeterminado e

horizonte de vinte anos, devendo ser atualizado a cada quatro anos.

Art. 47. A elaboração do Plano Nacional de Resíduos Sólidos deverá ser feita de acordo

com o seguinte procedimento:

I - formulação e divulgação da proposta preliminar em até cento e oitenta dias, contados

a partir da publicação deste Decreto, acompanhada dos estudos que a fundamentam;

II - submissão da proposta à consulta pública, pelo prazo mínimo de sessenta dias,

contados da data da sua divulgação;

III - realização de, no mínimo, uma audiência pública em cada região geográfica do País

e uma audiência pública de âmbito nacional, no Distrito Federal, simultaneamente ao período

de consulta pública referido no inciso II;

108

IV - apresentação da proposta daquele Plano, incorporadas as contribuições advindas da

consulta e das audiências públicas, para apreciação dos Conselhos Nacionais de Meio

Ambiente, das Cidades, de Recursos Hídricos, de Saúde e de Política Agrícola; e

V - encaminhamento pelo Ministro de Estado do Meio Ambiente ao Presidente da

República da proposta de decreto que aprova aquele Plano.

Seção II

Dos Planos Estaduais e dos Planos Regionais de Resíduos Sólidos

Art. 48. Os planos estaduais de resíduos sólidos serão elaborados com vigência por prazo

indeterminado, horizonte de atuação de vinte anos e deverão ser atualizados ou revistos a cada

quatro anos.

Parágrafo único. Os planos estaduais de resíduos sólidos devem abranger todo o

território do respectivo Estado e atender ao conteúdo mínimo previsto no art. 17 da Lei no

12.305, de 2010.

Art. 49. Além dos planos estaduais, os Estados poderão elaborar planos microrregionais

de resíduos sólidos, bem como planos de regiões metropolitanas ou aglomerações urbanas.

§ 1o Na elaboração e implementação dos planos referidos no caput, os Estados deverão

assegurar a participação de todos os Municípios que integram a respectiva microrregião,

região metropolitana ou aglomeração urbana.

§ 2o O conteúdo dos planos referidos no caput deverá ser estabelecido em conjunto

com os Municípios que integram a respectiva microrregião, região metropolitana ou

aglomeração urbana, não podendo ser excluída ou substituída qualquer das prerrogativas

atinentes aos Municípios.

Seção III

Dos Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos

Art. 50. Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos serão elaborados

consoante o disposto no art. 19 da Lei nº 12.305, de 2010.

§ 1o Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos deverão ser

atualizados ou revistos, prioritariamente, de forma concomitante com a elaboração dos planos

plurianuais municipais.

109

§ 2o Os planos municipais de gestão integrada de resíduos sólidos deverão identificar e

indicar medidas saneadoras para os passivos ambientais originados, entre outros, de:

I - áreas contaminadas, inclusive lixões e aterros controlados; e

II - empreendimentos sujeitos à elaboração de planos de gerenciamento de resíduos sólidos.

Art. 51. Os Municípios com população total inferior a vinte mil habitantes, apurada com

base nos dados demográficos do censo mais recente da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia

Estatística - IBGE, poderão adotar planos municipais simplificados de gestão integrada de

resíduos sólidos.

§ 1o Os planos municipais simplificados de gestão integrada de resíduos sólidos

referidos no caput deverão conter:

I - diagnóstico da situação dos resíduos sólidos gerados no respectivo território, com a

indicação da origem, do volume e da massa, a caracterização dos resíduos e as formas de

destinação e disposição final adotadas;

II - identificação das áreas favoráveis para disposição final ambientalmente adequada de

rejeitos, observado o plano diretor de que trata o § 1o do art. 182 da Constituição e o

zoneamento ambiental, quando houver;

III - identificação da possibilidade de implantação de soluções consorciadas ou

compartilhadas com outros Municípios, considerando a economia de escala, a proximidade

dos locais estabelecidos e as formas de prevenção dos riscos ambientais;

IV - identificação dos resíduos sólidos e dos geradores sujeitos ao plano de

gerenciamento ou ao sistema de logística reversa, conforme os arts. 20 e 33 da Lei nº 12.305,

de 2010, observadas as disposições deste Decreto e as normas editadas pelos órgãos do

SISNAMA e do SNVS;

V - procedimentos operacionais e especificações mínimas a serem adotadas nos serviços

públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos, incluída a disposição final

ambientalmente adequada de rejeitos, em consonância com o disposto na Lei nº 11.445, de

2007, e no Decreto no 7.217, de 21 de junho de 2010;

VI - regras para transporte e outras etapas do gerenciamento de resíduos sólidos de que

trata o art. 20 da Lei nº 12.305, de 2010, observadas as normas editadas pelos órgãos do

SISNAMA e do SNVS, bem como as demais disposições previstas na legislação federal e

estadual;

110

VII - definição das responsabilidades quanto à sua implementação e operacionalização

pelo Poder Público, incluídas as etapas do plano de gerenciamento de resíduos sólidos;

VIII - programas e ações de educação ambiental que promovam a não geração, a

redução, a reutilização, a coleta seletiva e a reciclagem de resíduos sólidos;

IX - programas e ações voltadas à participação de cooperativas e associações de

catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de baixa renda,

quando houver;

X - sistema de cálculo dos custos da prestação dos serviços públicos de limpeza urbana

e de manejo de resíduos sólidos, bem como a forma de cobrança desses serviços, observado o

disposto na Lei nº 11.445, de 2007;

XI - metas de coleta seletiva e reciclagem dos resíduos;

XII - descrição das formas e dos limites da participação do Poder Público local na coleta

seletiva e na logística reversa, respeitado o disposto no art. 33 da Lei nº 12.305, de 2010, e de

outras ações relativas à responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos;

XIII - identificação de áreas de disposição inadequada de resíduos e áreas contaminadas

e respectivas medidas saneadoras; e

XIV - periodicidade de sua revisão.

§ 2o O disposto neste artigo não se aplica aos Municípios:

I - integrantes de áreas de especial interesse turístico;

II - inseridos na área de influência de empreendimentos ou atividades com significativo

impacto ambiental de âmbito regional ou nacional; ou

III - cujo território abranja, total ou parcialmente, unidades de conservação.

Art. 52. Os Municípios que optarem por soluções consorciadas intermunicipais para

gestão dos resíduos sólidos estão dispensados da elaboração do plano municipal de gestão

integrada de resíduos sólidos, desde que o plano intermunicipal atenda ao conteúdo mínimo

previsto no art. 19 da Lei nº 12.305, de 2010.

111

Seção IV

Da Relação entre os Planos de Resíduos Sólidos e dos Planos de Saneamento Básico no que

Tange ao Componente de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos Urbanos

Art. 53. Os serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos

urbanos, compostos pelas atividades mencionadas no art. 3º, inciso I, alínea “c”, e no art. 7º da

Lei nº 11.445, de 2007, deverão ser prestados em conformidade com os planos de saneamento

básico previstos na referida lei e no Decreto nº 7.217, de 2010.

Art. 54. No caso dos serviços mencionados no art. 53, os planos de resíduos sólidos

deverão ser compatíveis com os planos de saneamento básico previstos na Lei nº 11.445, de

2007, e no Decreto nº 7.217, de 2010, sendo que:

I - o componente de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos do Plano

Nacional de Resíduos Sólidos deverá atender ao conteúdo mínimo previsto no art. 52, inciso I,

da Lei nº 11.445, de 2007, e no art. 15 da Lei nº 12.305, de 2010; e

II - o componente de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos dos planos

municipais de gestão integrada de resíduos sólidos deverá atender ao conteúdo mínimo

previsto no art. 19 da Lei nº 11.445, de 2007, e no art. 19 da Lei nº 12.305, de 2010.

§ 1o O Plano Nacional de Resíduos Sólidos deverá ser elaborado de forma articulada

entre o Ministério do Meio Ambiente e os demais órgãos e entidades federais competentes,

sendo obrigatória a participação do Ministério das Cidades na avaliação da compatibilidade

do referido Plano com o Plano Nacional de Saneamento Básico.

§ 2o O componente de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos dos planos

municipais de gestão integrada de resíduos sólidos poderá estar inserido nos planos de

saneamento básico previstos no art. 19 da Lei nº 11.445, de 2007, devendo ser respeitado o

conteúdo mínimo referido no art. 19 da Lei nº 12.305, de 2010, ou o disposto no art. 51,

conforme o caso.

TÍTULO IX

DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Art. 77. A educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos é parte integrante da

Política Nacional de Resíduos Sólidos e tem como objetivo o aprimoramento do

conhecimento, dos valores, dos comportamentos e do estilo de vida relacionados com a gestão

e o gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.

112

§ 1o A educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos obedecerá às diretrizes gerais

fixadas na Lei no 9.795, de 1999, e no Decreto n

o 4.281, de 25 de junho de 2002, bem como às

regras específicas estabelecidas na Lei no 12.305, de 2010, e neste Decreto.

§ 2o O Poder Público deverá adotar as seguintes medidas, entre outras, visando o

cumprimento do objetivo previsto no caput:

I - incentivar atividades de caráter educativo e pedagógico, em colaboração com

entidades do setor empresarial e da sociedade civil organizada;

II - promover a articulação da educação ambiental na gestão dos resíduos sólidos com a

Política Nacional de Educação Ambiental;

III - realizar ações educativas voltadas aos fabricantes, importadores, comerciantes e

distribuidores, com enfoque diferenciado para os agentes envolvidos direta e indiretamente

com os sistemas de coleta seletiva e logística reversa;

IV - desenvolver ações educativas voltadas à conscientização dos consumidores com

relação ao consumo sustentável e às suas responsabilidades no âmbito da responsabilidade

compartilhada de que trata a Lei nº 12.305, de 2010;

V - apoiar as pesquisas realizadas por órgãos oficiais, pelas universidades, por

organizações não governamentais e por setores empresariais, bem como a elaboração de

estudos, a coleta de dados e de informações sobre o comportamento do consumidor brasileiro;

VI - elaborar e implementar planos de produção e consumo sustentável;

VII - promover a capacitação dos gestores públicos para que atuem como

multiplicadores nos diversos aspectos da gestão integrada dos resíduos sólidos; e

VIII - divulgar os conceitos relacionados com a coleta seletiva, com a logística reversa,

com o consumo consciente e com a minimização da geração de resíduos sólidos.

§ 3o As ações de educação ambiental previstas neste artigo não excluem as

responsabilidades dos fornecedores referentes ao dever de informar o consumidor para o

cumprimento dos sistemas de logística reversa e coleta seletiva, instituídos.

TÍTULO X

DAS CONDIÇÕES DE ACESSO A RECURSOS

Art. 78. A elaboração dos planos de resíduos sólidos previstos no art. 45 é condição,

nos termos do art. 55 da Lei nº 12.305, de 2010, para que os Estados, o Distrito Federal e os

113

Municípios tenham acesso a recursos da União ou por ela controlados, bem como para que

sejam beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou

fomento destinados, no âmbito de suas respectivas competências:

I - a empreendimentos e serviços relacionados à gestão de resíduos sólidos; ou

II - à limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos.

Parágrafo único. O acesso aos recursos mencionados no caput fica condicionado à

comprovação da regularidade fiscal perante a União.

Art. 79. A União e os órgãos ou entidades a ela vinculados darão prioridade no acesso

aos recursos mencionados no art. 78:

I - aos Estados que instituírem microrregiões, consoante o § 3o do art. 25 da

Constituição, para integrar a organização, o planejamento e a execução das ações a cargo de

Municípios limítrofes na gestão dos resíduos sólidos;

II - ao Distrito Federal e aos Municípios que:

a) optarem por soluções consorciadas intermunicipais para a gestão dos resíduos

sólidos, incluída a elaboração e implementação de plano intermunicipal, ou que se inserirem

de forma voluntária nos planos microrregionais de resíduos sólidos referidos no art. 16 da Lei

nº 12.305, de 2010; ou

b) implantarem a coleta seletiva com a participação de cooperativas ou outras formas de

associação de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis formadas por pessoas físicas de

baixa renda; e

III - aos consórcios públicos, constituídos na forma da Lei no 11.105, de 2005.

§ 1o Os critérios de prioridade no acesso aos recursos previstos no caput não excluem

outros critérios definidos em programas específicos instituídos pelo Poder Público Federal.

§ 2o Os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e os consórcios públicos deverão

atender às seguintes condições, entre outras estabelecidas na legislação vigente, para serem

beneficiados com a prioridade no acesso aos recursos prevista do caput:

I - adotar, de forma efetiva, soluções regionalizadas para a organização, planejamento e

execução das ações na gestão dos resíduos sólidos, no que concerne aos incisos I, II, alínea

“a”, e III do caput; e

114

II - manter os dados e informações atualizadas no SINIR, o que será comprovado

mediante a apresentação de certidão de regularidade emitida pelo órgão coordenador do

referido sistema.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Este texto não substitui o publicado no DOU de 23.12.2010 - Edição extra

115

ANEXO C - DIRETRIZES E ESTRATÉGIAS RELACIONADAS AOS RESÍDUOS

SÓLIDOS

PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Versão Preliminar para Consulta Pública

Brasília, setembro de 2011.

3.1. RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS

3.1.1. Disposição Final Ambientalmente Adequada de Rejeitos

Diretriz 01: Eliminação de lixões e aterros controlados até 2014 e Disposição Final

Ambientalmente Adequada de Rejeitos, conforme estabelecido na lei 12.305/2010 que

instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos e seu decreto regulamentador – Decreto nº

7.404/2010.

Estratégias:

1. Aporte de recursos do OGU e linhas de financiamento em condições diferenciadas, e as

respectivas contrapartidas dos Estados e Municípios, visando o encerramento dos lixões e

aterros controlados em todos os municípios do território nacional, o que compreende ações de

cercamento da área, realocação das pessoas e edificações que porventura se localizem dentro

da área do lixão, cobertura vegetal e sistema de vigilância.

2. Aporte de recursos do OGU e linhas de financiamento em condições diferenciadas, e as

respectivas contrapartidas dos Estados e Municípios, visando a elaboração de projetos (básico

e executivo) e a implantação de unidades de disposição final de rejeitos (aterros sanitários),

atendendo os seguintes critérios de prioridade: (a) consórcios estabelecidos ou recém-

formados, (b) municípios integrantes de RMs e RIDE's , Aglomerações Urbanas bem como

municípios sede da Copa 2014 e Olimpíadas 2016, (c) municípios que implementarem a

coleta seletiva, segundo critérios a serem estabelecidos em instrumentos próprios de cada

programa.

3. Estabelecimento de linhas específicas destinadas a capacitação técnica e assistência técnica,

principalmente no que se refere a elaboração de projetos de engenharia, processo licitatório,

116

acompanhamento da execução das obras e gestão técnica, orçamentária e financeira dos

empreendimentos construídos .

4. Estabelecimento de linhas específicas voltadas para o desenvolvimento institucional,

principalmente no que se refere à elaboração de planos de resíduos sólidos por parte dos

demais entes federados e consórcios públicos, e implementação de sistemas de informação e

no fortalecimento dos Consórcios Públicos constituídos.

5. Fomentar, junto aos demais órgãos estaduais e municipais integrantes do Sisnama, a

padronização dos procedimentos relacionados com o licenciamento ambiental dos

empreendimentos visando uma simplificação de procedimentos, quando couber.

Diretriz 02: Recuperação de lixões compreendendo as ações de queima pontual de gases,

coleta de chorume, drenagem pluvial, compactação da massa e cobertura vegetal.

3.1.2. Redução da Geração de Resíduos Sólidos Urbanos

Diretriz 01:

1. Manter os atuais patamares de geração de resíduos sólidos urbanos, tomando-se por

referência o ano de 2008 (equivale a uma taxa média de 1,1 kg/habitante/dia) com posterior

redução.

Estratégias: As estratégias a seguir descritas aplicam-se aos resíduos sólidos gerados no

processo industrial (de fabricação dos produtos), bem como nas fases de comercialização,

consumo e pós-consumo, alcançando, portanto, todas as etapas do ciclo, que vai desde a

produção ao pós-consumo. Ações voltadas ao estabelecimento de uma produção e consumo

sustentáveis no país implicam na redução da geração de resíduos, na promoção de um melhor

aproveitamento de matérias-primas e materiais recicláveis, contribuindo sobremaneira para

atenuar as mudanças climáticas e para a a conservação da biodiversidade e dos demais

recursos naturais.

1. Varejo e consumo sustentáveis – Mudar a percepção do setor varejista a respeito da

inserção de práticas de sustentabilidade nas suas operações e o seu papel na promoção do

consumo sustentável.

2. Agenda Ambiental na Administração Pública/A3P – Consolidar a A3P como marco

referencial de responsabilidade socioambiental no governo.

3. Educação para o consumo sustentável – Conceber e por em prática instrumentos como

pesquisas, estudos de caso, guias e manuais, campanhas e outros, para sensibilizar e mobilizar

117

o indivíduo/consumidor, visando a mudanças de comportamento por parte da população em

geral. Devem ser igualmente consideradas ações que tenham impacto no sistema cultural e

educacional (englobam os indivíduos/consumidores e instituições tais como escolas e

universidades, a mídia, o marketing e a indústria cultural) visando à mudança de

comportamentos. Por exemplo, as propostas de mudanças de “estilo de vida”, “sistema de

valores” e “consumo sustentável”, integrantes de campanhas, materiais educacionais e

ferramentas outras destinadas a informar e melhor qualificar os diversos atores para a ação,

devem ser enriquecidas de argumentos filosóficos, sociológicos, biológicos e econômicos,

sempre que possível, de forma a fortalecer as atuais abordagens sobre a necessidade de

praticar o consumo sustentável.

4. Aumento da reciclagem de resíduos sólidos – Incentivar a reciclagem no País, tanto por

parte do consumidor como por parte do setor empresarial, promovendo ações compatíveis

com os princípios da responsabilidade compartilhada dos geradores de resíduos e da logística

reversa, tal como se acha estabelecido na Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Neste quesito cabe também incentivar a indústria da reciclagem com inclusão social (inserção

dos catadores).

5. Compras públicas sustentáveis – Impulsionar a adoção das compras públicas sustentáveis

no âmbito da administração pública, nas três esferas de governo, incentivando setores

industriais e empresas a ampliarem seu portfólio de produtos e serviços sustentáveis,

induzindo com essa dinâmica a ampliação de atividades reconhecidas como “economia verde”

(green economy) ou de baixo carbono; com destaque para as ações vinculadas à Copa do

Mundo de 2014 e Olimpíadas de 2016.

6. Promoção de iniciativas voltadas à “construção sustentável” – Induzir o setor da

construção civil – e o de infraestrutura como estrada, portos e outros – a adotar práticas que

melhorem a perfomance socioambiental desde o projeto até a construção efetiva, passando

por criteriosa seleção de materiais e alternativas menos impactantes ao ambiente e à saúde

humana, bem como a minimização da geração de resíduos de construção civil (RCC).

7. Incentivo ao desenvolvimento de sistemas de gestão ambiental e empresarial voltados

para a melhoria dos processos produtivos e ao reaproveitamento dos resíduos sólidos –

Promover a gestão do conhecimento em produção sustentável com ações que visem

desenvolver design inovador de serviços e soluções que considerem as variáveis da

118

ecoeficiência e outros cenários, como a nanotecnologia ou “desmaterialização” da economia –

como diferencial competitivo e estratégico para as empresas brasileiras.

8. Divulgação e capacitação – Divulgar conceitos, disseminar conhecimentos e informações

relevantes ligados ao tema, junto ao setor produtivo, governos e sociedade civil.

9. Rotulagem e análise do ciclo de vida – Consolidar a rotulagem ambiental como

instrumento de desenvolvimento de novos padrões de consumo e produção sustentáveis

mediante a mobilização das forças de mercado; aumentar o número de especialistas

brasileiros em rotulagem ambiental; aumentar o número de produtos com análise de ciclo de

vida (ACV), de forma que não seja apenas um rótulo midiático, mas orientador do consumo

responsável.

Inclusão de Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis

Diretriz 01: Redução de 70% dos resíduos recicláveis secos dispostos em aterros sanitários,

com base na caracterização nacional em 2012.

Diretriz 02: Inclusão e fortalecimento da organização de 600.000 catadores de materiais

reutilizáveis e recicláveis.

Estratégias: As metas relacionadas com a parcela dos Resíduos Sólidos Urbanos Secos

implicam em ações visando à coleta seletiva nos municípios e adequada destinação da parcela

seca dos RSU, conforme previsto na lei 12.305/2010 que estabeleceu a Política Nacional de

Resíduos Sólidos e seu respectivo Decreto regulamentador (Decreto no. 7.404/2010).

Importante também a implementação da Logística Reversa, principalmente de embalagens em

geral. Neste tocante é de vital importância a atuação dos catadores de materiais reutilizáveis e

recicláveis no que se refere à coleta seletiva e à Logística Reversa de Embalagens, a triagem

do material e sua adequação aos padrões estabelecidos para fins de aproveitamento em

unidades recicladoras.

Tais ações permitem que ocorra uma redução da quantidade de resíduos, ainda passíveis de

aproveitamento, a serem dispostos em aterros sanitários. As estratégias abaixo listadas

deverão ser adotadas de forma conjunta permitindo uma sinergia entre elas e a consequente

obtenção dos resultados desejados.

1. Implantação da coleta seletiva em todos os municípios brasileiros priorizando-se,

inicialmente, os municípios de maior porte ou aqueles que integram Regiões Metropolitanas,

119

RIDEs ou Aglomerações Urbanas, bem como municípios sede da Copa 2014 e Olimpíadas

2016.

2. Implantação de sistemas de logística reversa pós-consumo de Embalagens em geral, de

forma progressiva, a partir do ano de 2013 até o ano de 2020, a partir de Acordos Setoriais.

Tais Acordos possibilitarão o estabelecimento de metas regionais/estaduais dependendo das

estruturas existentes de logística reversa e sua respectiva viabilidade de implementação.

3. Implantação de medidas que incentivem as práticas de reutilização e reciclagem dos

diversos materiais que compõe os RSU. Esta medida corresponde a incentivos para o

desenvolvimento tecnológico da reciclagem e sua aplicabilidade na produção de produtos

novos passíveis de reciclagem bem como o incentivo ao uso de materiais reciclados

propriamente ditos na composição de novos produtos, sem a perda de suas características e

qualidade.

4. Incentivos (fiscais, financeiros e creditícios) voltados ao incremento da reciclagem no país.

5. Equacionamento das demandas por alterações tributárias (bitributação, isenções etc)

visando o estímulo a reutilização e reciclagem de uma maneira geral.

6. Indução do emprego de produtos que tenham na sua composição materiais reciclados, nas

compras públicas.

7. Promover o fortalecimento das cooperativas e associações de catadores, incrementando sua

eficiência.

8. Promover a criação de novas cooperativas e associações e regularização das existentes

9. Promover a articulação em rede das cooperativas e associações de catadores

10. Fortalecer iniciativas de integração e articulação de políticas e ações federais direcionadas

para o catador, como por exemplo, o Programa Pró-Catador e a Proposta de Pagamentos por

Serviços Ambientais Urbanos.

11. Apoio à realização de projetos, instalação e operação de unidades de triagem, (obras e

equipamentos).

12. Ações de capacitação técnica e gerencial dos membros das cooperativas e associações.

13. Ações de educação ambiental, especificamente aplicadas à temática da coleta seletiva e da

atuação dos catadores junto à população afetada, visando o fortalecimento da imagem do

catador e a valorização de seu trabalho na comunidade.

120

14. Promover a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis aos sistemas

de logística reversa.

15. Articulação junto aos órgãos estaduais de meio ambiente visando a uniformização dos

procedimentos referentes ao processo de licenciamento.

16. Apoio a municípios que implantarem programas de coleta seletiva com a participação de

catadores de materiais recicláveis e reutilizáveis por meio de associações ou cooperativas.

3.1.4. Redução de Resíduos Sólidos Urbanos Úmidos dispostos em aterros sanitários,

tratamento e Recuperação de Gases em aterros sanitários

Diretriz 01: Induzir a compostagem da parcela orgânica dos RSU e a geração de energia por

meio do aproveitamento dos gases provenientes da biodigestão de composto orgânico e dos

gases gerados em aterros sanitários (biogás)

Estratégias:

1. Implementar melhorias na segregação dos RSU domiciliares e comerciais, principalmente

no que se refere à parcela úmida de forma a propiciar a obtenção de um composto orgânico de

alta qualidade, otimizando o seu aproveitamento quer seja para utilização de composto para

fins agrícolas e de jardinagem ou para fins de geração de energia.

2. Implementar medidas especificamente voltadas para feiras, CEASAs e demais pontos de

concentração de produtos cujos resíduos orgânicos sejam passíveis de aproveitamento com

vistas a melhoria do atual gerenciamento dos resíduos gerados e a consequente obtenção de

um composto orgânico de alta qualidade, otimizando o seu aproveitamento para obtenção de

composto para fins agrícolas e de jardinagem ou para fins de geração de energia.

3. Implementar medidas para aproveitamento do potencial dos materiais provenientes de

capinação e poda de arvores.

4. Disponibilizar recursos, especificamente voltados para a implantação de novas unidades de

biodigestão ou modernização/ampliação das existentes.

5. Disponibilizar recursos especificamente voltados para a realização de estudos de

viabilidade técnica e econômica de sistema de captação de gases em aterros sanitários

existentes ou novos.

6. Disponibilizar recursos especificamente voltados para a implantação de sistemas de

captação e geração de energia em aterros sanitários (novos e existentes).

121

7. Elaborar cartilhas e manuais orientativos bem como realizar atividades de capacitação dos

gestores públicos sobre a importância de uma adequada segregação na fonte e as

oportunidades de aproveitamento dos materiais dela decorrentes.

8. Realizar atividades de difusão tecnológica e de conhecimentos no tema (biodigestão e

biogás).

9. Desenvolvimento Tecnológico visando a otimização e o aumento da eficiência dos

processos de compostagem e do aproveitamento energético dos resíduos orgânicos,

considerando-se as especificidades regionais.

10. Articulação junto aos órgãos estaduais de meio ambiente visando a uniformização dos

procedimentos referentes ao processo de licenciamento.

11. Fomento ao uso de compostos orgânicos como nutrientes para a agricultura,

desenvolvendo logísticas que viabilizem tal utilização.

3.2. QUALIFICAÇÃO DA GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS

Diretriz 01: Fortalecer a Gestão dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de

resíduos sólidos urbanos, por meio dos seguintes instrumentos: (a) Planos Estaduais,

Intermunicipais e Municipais; (b) Estudos de Regionalização e Constituição de Consórcios

Públicos, (c) Institucionalização de instrumento apropriado de cobrança específica para os

serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos (sem vinculação ao IPTU).

A elaboração de planos de resíduos sólidos é condição, a partir de 2012, para que os Estados,

o Distrito Federal e os Municípios tenham acessos a recursos da União, ou por ela

controlados, bem como para que sejam beneficiados por incentivos ou financiamentos de

entidades federais de crédito ou fomento destinados, no âmbito de suas respectivas

competências no que se refere a: (i) empreendimentos e serviços relacionados à gestão de

resíduos sólidos, ou (ii) à limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos. Os Estudos de

Regionalização estão associados a questão da implementação de Consórcios Públicos nos

moldes da lei 11.107/2005 e seu Decreto regulamentador e da Lei de Saneamento Básico (Lei

11.445/2007) permitindo ganhos de escala e a sustentabilidade do sistema de resíduos sólidos

urbanos como um todo na área de abrangência do Consórcio.

122

ANEXO D – FOTOS DO EVENTO

Figura 04 - Vista frontal da Prefeitura Municipal em 2009, primeiro ano do projeto.

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides – Secretaria de Cultura, 2012.

Figura 05 - Vista lateral da antiga estação rodoviária, transformada em praça de alimentação, com o

projeto.

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides – Secretaria de Cultura, 2012.

123

Figura 06 - Vista frontal da igreja matriz do município.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, (2012).

Figura 07 - Banner com o tema Natal de Benevides 2010.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, (2012).

124

Figura 08 - Banner com o tema Natal de Benevides 2011.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, (2012).

Figura 09 - Árvore de natal posicionada em frente à Prefeitura.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, (2012).

125

Figura 10 - Presépio posicionado em frente à casa do Papai Noel.

Fonte: Secretaria Municipal de Cultura, (2012).

126

ANEXO E – FOTOS DO ATERRO CONTROLADO

Figura 11- Aterro controlado municipal.

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides, (2013).

Figura 12 - Aterro controlado municipal.

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides, (2013).

127

Figura 13 - Aterro controlado municipal.

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides, (2013).

Fonte: Prefeitura Municipal de Benevides, (2013).