gestão da produtividade nas empresas

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    Revista Organizao Sistmica |vol.1 n 1|Jan Jun 2012

    Gesto da produtividade nas empresas

    Productivity management in enterprises

    Mariano de Matos Macedo1

    1Doutor em Economia (UNICAMP), Ex-Diretor-Presidente do Instituto Paranaense de DesenvolvimentoEconmico e Social (IPARDES), Ex-Diretor de Polticas Sociais do IPEA, Ex-Diretor-Presidente do Institutode Tecnologia do Paran (TECPAR), Ex-Coordenador do Ncleo de Produtividade Sistmica do InstitutoBrasileiro da Qualidade e Produtividade no Paran (IBQP-PR), Professor do Departamento de Economiada UFPR e Pesquisador do IPARDES, atualmente na Unidade de Gerenciamento dos Contratos Gesto UGCG da Secretaria de Estado da Administrao Pblica (SEAP-PR).

    No Brasil, a gesto da produtividade nas empresas vem se tornando cada vez

    mais crucial em um ambiente de crescente abertura externa e globalizao dos

    negcios.

    Atualmente, sem produtividade ou sem a eficincia do processo produtivo,

    dificilmente uma empresa vai ser bem sucedida ou at mesmo sobreviver no mercado.

    Dado o acirramento da concorrncia, a gesto da produtividade est se

    tornando um dos quesitos essenciais na formulao das estratgias de competitividade

    das empresas. De forma semelhante, a produtividade vem se tornado objeto de

    polticas pblicas, a exemplo da atual poltica industrial, tecnolgica e de comrcio

    exterior do Governo Federal, denominada de Plano Brasil Maior. A dimenso sistmica

    desse Plano, de natureza horizontal e transversal, destina-se a orientar aes que

    visem, sobretudo, a reduo de custos sistmicos e o aumento da eficincia e

    produtividade agregada da economia nacional, objetivando promover bases mnimas

    de isonomia das empresas brasileiras em relao a seus principais concorrentes

    internacionais 1.

    1 GOVERNO FEDERAL. Brasil Maior Plano 2011/2014: Texto de Referncia. S/d, p.18. Disponvel no stio:

    http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/wp- content/uploads/2011/11/plano_brasil_maior_texto_de_referencia_rev_out11.pdf.

    http://www.brasilmaior.mdic.gov.br/wp-%20content/uploads/2011/11/plano_brasil_maior_texto_de_referencia_rev_out11.pdfhttp://www.brasilmaior.mdic.gov.br/wp-%20content/uploads/2011/11/plano_brasil_maior_texto_de_referencia_rev_out11.pdf
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    Esse artigo tem dois objetivos: (a) indicar e problematizar os procedimentos

    bsicos relativos a esse tipo de gesto; e (b) argumentar que, atualmente, o conceito

    relevante para orientar esses processos o que incorpora cada vez mais uma visosistmica da produtividade.

    I GESTO DA PRODUTIVIDADE: PROCEDIMENTOS BSICOS

    A gesto da produtividade incorpora basicamente trs procedimentos:

    a) a medio da produtividade;

    b)

    a identificao e a anlise dos fatores determinantes dos gargalos deprodutividade; e

    c) a definio e aplicao de propostas de superao desses gargalos.

    Aparentemente, esses processos so logicamente triviais. No entanto,

    possvel problematiz-los.

    Tradicionalmente, a produtividade vem sendo percebida mais como uma

    medida de eficincia do processo de produo do que do processo produtivo de uma

    empresa. ainda comum a viso de que o processo produtivo de uma empresa serestringe ao seu processo de produo.

    Essa viso no capta a realidade de que esse processo apenas uma das etapas

    do processo produtivo de uma empresa. Alm da produo, o processo produtivo

    contempla mais duas etapas: uma que se refere compra de bens e servios

    intermedirios de outras unidades produtivas; e a segunda, relativa venda dos bens e

    servios que a empresa produz.

    Nesse contexto, o processo de produo da empresa se limita transformaofsica de bens e servios intermedirios em bens e servios produzidos pela empresa. J

    o processo produtivo de uma empresa se refere sua capacidade de gerar produto

    ou de agregar valor. A agregao de valor nesse processo vai alm da produo, pois

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    depende tambm de como e em que condies a empresa compra bens e servios

    intermedirios e vende os bens e servios que produz. Por exemplo, se a empresa

    produz, mas no vende tudo o que produziu e acumula estoques indesejveis, terminapor no efetivar o valor adicionado correspondente a esses estoques.

    O conceito de produtividade restrito ao processo de produo aparentemente

    mais adequado avaliao da eficincia de desempenho de empresas que atuam em

    mercados cativos, ou seja, em mercados de compras e vendas relativamente

    fechados concorrncia e com maior grau de controle por parte da empresa. Esse

    conceito tambm tende a enfatizar a importncia dos recursos de produo tangveis

    (mquinas, instalaes, quantidade de matrias primas e de trabalho, etc.) no processoprodutivo da empresa. Alm disso, a partir desse conceito, as relaes entre

    produtividade e lucratividade o motum da empresa dificilmente podem ser

    diretamente estabelecidas.

    Com base nesse conceito de produtividade, os aspectos mais relevantes para o

    desempenho empresarial tornam-se centrados no processo de produo e, portanto, a

    eficincia do processo produtivo passa a ser determinada e medida fundamentalmente

    pelos seus aspectos operacionais.Nesse caso, a medio da produtividade feita principalmente por indicadores

    de natureza fsico-operacional, por exemplo, X unidades de bens e servios por unidade

    de tempo; produo fsica por nmero de horas trabalhadas; etc. Quando os bens e

    servios produzidos pela empresa no so fisicamente homogneos, esse mtodo de

    medio possui limitaes, pois, nessas condies, impossvel a agregao desses

    bens e servios em uma nica quantidade fsica total de bens e servios produzidos

    pela empresa.De forma coerente com esse conceito e sua forma de medio, a identificao e

    a anlise dos fatores determinantes dos gargalos de produtividade - o segundo

    procedimento para a gesto da produtividade - tende a se restringir ao mundo da

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    produo, com concluses do seguinte tipo: gargalos de set-up, de

    eficincia/ineficincias tpicas da linha de produo, de defasagem tecnolgica dos

    equipamentos, de desempenho da fora de trabalho, etc.Esse tipo de anlise de extrema importncia, mas, como fundamentalmente

    restrita ao processo de produo, pode no ser suficiente para avaliar todos os

    gargalos de eficincia ou produtividade do processo produtivo da empresa.

    Ainda com coerncia metodolgica, esse tipo de medio e anlise da

    produtividade leva a definies e aplicaes de propostas de superao de gargalos - o

    terceiro procedimento para a gesto da produtividade - que tambm tendem a ser

    restritas ao mundo da produo: 5S, Ferramentas da Qualidade, Gesto de Conflitos,Manuteno Produtiva Total-TPM, etc. Isso importante, mas tambm pode ser

    insuficiente para superar todos os gargalos de eficincia do processo produtivo da

    empresa.

    II PRODUTIVIDADE SISTMICA: NOES BSICAS

    O conceito de produtividade se refere capacidade da empresa gerar

    produto no seu processo produtivo2. A eficincia desse processo no se restringe ao

    mundo da produo.

    O conceito de produtividade vai alm dos aspectos restritos ao processo de

    produo, pois a gerao de valor tambm depende fundamentalmente das demais

    etapas do processo produtivo: a compra de bens e servios intermedirios e a venda

    dos bens e servios que a empresa produz. Se a estratgia de compras da empresa

    (quantidade, qualidade, relao com fornecedores, logstica de suprimentos, etc)

    2 Em geral, o conceito de produtividade se refere relao entre output e input de uma atividadeeconmica. Muitas vezes, essa relao vista mais como uma razo contbil do que como um processode gerao de produto, valor da nova riqueza gerada ou agregada pelo processo produtivo.

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    inadequada e/ou a sua estratgia e resultados de mercado (logstica de distribuio,

    volume de vendas, mark-up, market share, relao com clientes, etc) so

    problemticos, a eficincia de seu processo produtivo pode ficar comprometida,apesar da excelncia que possa ter no seu processo de produo.

    A eficincia na produo condio necessria, mas no suficiente do processo

    produtivo da empresa.

    Nessa perspectiva metodolgica, o conceito de produtividade passa a ter por

    base o valor adicionado pelo processo produtivo da empresa. Esse valor calculado

    pela diferena entre o valor das vendas da empresa e o valor das compras de bens e

    servios intermedirios que faz junto aos seus fornecedores (includas as variaes deestoque) - Quadro I.

    O valor adicionado um conceito sistmico, pois depende dos mltiplos e

    interdependentes fatores/variveis que definem e estruturam o processo produtivo.

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    Quando o conceito de produtividade tem por base esse valor, afirma-se o carter ou a

    natureza sistmica da produtividade. Em um processo produtivo, a sua eficincia ou

    produtividade sistmica.A produtividade desse processo no pode ser avaliada somente pela eficincia

    de uma de suas fases, a produo. Todos os fatores/variveis que afetam o

    desempenho da empresa (preo e qualidade do produto; estratgia de mercado,

    volume de vendas, estoque de produtos acabados, padro tecnolgico, qualidade dos

    processos de produo, relaes de trabalho, custo e qualidade das matrias primas,

    estoque de matrias primas, relao com fornecedores, etc.) afetam tambm

    sistemicamente o valor adicionado pelo seu processo produtivo.Esse conceito de produtividade apresenta as seguintes caractersticas

    - mais adequado avaliao da eficincia de desempenho de empresas que

    atuam em mercados abertos, ou seja, em mercados de compras e vendas

    com concorrncia empresarial e com menor grau de controle por parte das

    empresas ou em um ambiente de crescente abertura externa e globalizao

    dos negcios;

    - tende a realar a importncia, para o processo produtivo da empresa, no s

    dos recursos produtivos tangveis (mquinas, instalaes, quantidade de

    matrias primas e de trabalho, etc.), mas tambm daqueles que so

    intangveis (gesto, cultura organizacional, conhecimento ou produo

    intelectual, etc.); e

    - com base nesse conceito, as relaes entre produtividade, lucratividade e

    salrios podem ser diretamente estabelecidas, pois lucros lquidos (retidos

    ou distribudos), impostos, juros pagos ao sistema financeiro e salrios

    constituem parcelas do valor adicionado (Quadro I);

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    Alm disso, a noo de valor adicionado, incorporada ao conceito de

    produtividade, permite que as externalidades (economias externas por exemplo,

    eficincia coletiva - e/ou socializao de custos p.ex, danos ao meio ambiente) sejamcontabilizadas na avaliao da eficincia do processo produtivo da empresa individual.

    Por exemplo, se uma empresa individual produz danos ao meio ambiente, o valor

    estimado desses danos pode ser diminudo do seu valor adicionado, de forma a

    contabilizar a riqueza efetivamente gerada pelo seu processo produtivo.

    II GESTO DA PRODUTIVIDADE SISTMICA

    Nesse contexto conceitual e metodolgico, a medio da produtividadeou da

    eficincia do processo produtivo - o primeiro procedimento para a gesto da

    produtividade torna-se determinada pela relao entre valor adicionado (output) e os

    recursos que a empresa utiliza (inputs) nesse processo. Quando a produo

    customizada e/ou os bens e servios produzidos pela empresa no so homogneos,

    esse mtodo de medio tambm o mais adequado, pois no apresenta problemas

    de agregao.

    De forma coerente com o conceito de produtividade de base sistmica e a sua

    forma de medio, a identificao e anlise dos fatores determinantes dos gargalos de

    produtividade - o segundo procedimento para a gesto da produtividade no se

    restringe ao mundo da produo. Os aspectos relativos s relaes da empresa com

    os mercados (estratgia e resultados), tanto de compra de bens e servios

    intermedirios, quando de venda dos bens e servios que produz, tambm assumem

    relevncia como possveis gargalos de produtividade ou de eficincia do processo

    produtivo.

    Com essa perspectiva metodolgica, a empresa analisada no como um mero

    conjunto de departamentos (vendas, produo, etc.), mas como uma unidade

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    sistmica. O foco da empresa passa a ser a gerao de valor adicionado pelo seu

    processo produtivo e no mais a sua produo fsica.

    As medidas parciais de produtividade - do trabalho, do capital, de bens eservios intermedirios (matrias primas, energia, recursos hdricos, etc.) - podem ser

    realizadas com base no valor adicionado, podendo cada uma e o conjunto dessas

    medidas serem teis para a identificao e anlise de gargalos de produtividade, em

    particular quando comparadas com benchmarks.

    Dentro de certos limites, possvel realizar essa identificao e anlise com base

    na decomposio do valor adicionado segundo seus fatores/variveis determinantes,

    na forma do exposto, como exemplo sinttico, no Quadro I. Pode-se observar noQuadro I, como alguns desses diversos fatores (Valor das Vendas; Logstica de

    Distribuio; Fora de Trabalho - quantidade e qualidade; Preo e Custo dos Bens

    Intermedirios; Logstica de Suprimentos; Potencial de Inovao de Produtos e

    Processos; etc.) se inter-relacionam e sistemicamente determinam a eficincia do

    processo produtivo de uma empresa. Shimizu, Wanai e Avedillo-Cruz (1997) fazem e

    ampliam esse tipo de decomposio, correlacionando 28 fatores.

    Esse mesmo eixo metodolgico leva a definies e aplicaes de propostas desuperao de gargalos o terceiro procedimento para a gesto da produtividade -

    relativas a qualquer etapa/varivel processo produtivo: compras, produo e vendas.

    Com essa perspectiva, a Gesto da Produtividade tambm assume uma natureza

    sistmica.

    III CONCLUSES

    O conceito de Gesto da Produtividade Sistmica amplia o escopo dos aspectos

    relativos eficincia do processo produtivo de uma empresa.

    Como a varivel chave da produtividade sistmica o valor adicionado por esse

    processo, a sua gesto deixa de ter natureza operacional e transforma-se no eixo de

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    formulao das estratgias da empresa. O quadro analtico da produtividade, de seus

    fatores determinantes e de suas relaes com a lucratividade passa a ser o referencial

    de planejamento estratgico da empresa. O desempenho do valor adicionado no s determinado por fatores internos empresa (gesto, padro tecnolgico, etc.), mas

    tambm por fatores que relacionam a empresa ao seu ambiente externo, tanto micro

    (estruturas de mercado, disponibilidade de infra-estrutura logstica, etc.), quanto

    macroeconmico (taxa de juros e custo de carregamento de estoques, taxa de cmbio,

    etc.).

    Alm disso, dada sua perspectiva conceitual e metodolgica, a Gesto da

    Produtividade Sistmica desloca a empresa de uma lgica estritamente baseada emcustos, para a lgica do ganho. Nessa lgica, o fundamental gerar valor adicionado, o

    que pode ocorrer mesmo em situao de custos crescentes. Em certos casos, o

    aumento de custos pode ser um requisito para o aumento mais do que proporcional do

    valor adicionado, por exemplo, gastos em Pesquisa, Desenvolvimento e inovaes

    (PD&I) de produto e/ou processo.

    Finalmente, na perspectiva da produtividade sistmica, as despesas com

    salrios, em geral contabilizadas como elementos de custos, so analisadas como umaparcela do valor adicionado gerado pelo processo produtivo. Dessa forma, a

    determinao dessa parcela est relacionada aos aspectos relativos distribuio

    funcional desse valor entre lucros, salrios, juros, aluguis e impostos. Nessa

    perspectiva, possvel romper a aparente dicotomia entre aumento da taxa de

    lucro/reduo da massa salarial ou aumento da massa salarial/reduo da taxa de lucro:

    em condies de crescimento do valor adicionado possvel definir trajetrias

    convergentes de aumentos da taxa de lucros e da massa salarial.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BSICAS

    MONGA, R.C. Managing enterprise productivity and competitiveness. Geneva:International Labour Office, 1999.

    OECD (2001). Measuring Productivity. OECD Manual: Measurement of aggregate andindustry-level productivity growth. Disponvel no stio:www.oecd.org/LongAbstract/0,3425,en_2825_503574_2352452_1_1_1_1,00.html.

    SHIMIZU, M.; WAINAI, K.; AVEDILLO-CRUZ, E. Value added productivity measurementand its practical implications with linkage between productivity and profitability.Tokio: Japan Productivity Center for Socio-Economic Development, 1997.

    http://www.oecd.org/LongAbstract/0,3425,en_2825_503574_2352452_1_1_1_1,00.htmlhttp://www.oecd.org/LongAbstract/0,3425,en_2825_503574_2352452_1_1_1_1,00.html