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BRASÍLIA 2017 GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE: UMA NOVA PERSPECTIVA

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GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE:

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNIRobson Braga de Andrade Presidente

Diretoria de Desenvolvimento IndustrialCarlos Eduardo AbijaodiDiretor

Diretoria de ComunicaçãoCarlos Alberto BarreirosDiretor

Diretoria de Educação e TecnologiaRafael Esmeraldo Lucchesi RamacciottiDiretor

Diretoria de Políticas e EstratégiaJosé Augusto Coelho FernandesDiretor

Diretoria de Relações InstitucionaisMônica Messenberg GuimarãesDiretora

Diretoria de Serviços CorporativosFernando Augusto TrivellatoDiretor

Diretoria JurídicaHélio José Ferreira RochaDiretor

Diretoria CNI/SPCarlos Alberto PiresDiretor

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GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE:

UMA NOVA PERSPECTIVA

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CNIConfederação Nacional da Indústria

SedeSetor Bancário NorteQuadra 1 – Bloco CEdifício Roberto Simonsen70040-903 – Brasília – DFTel.: (61) 3317-9000Fax: (61) 3317-9994www.cni.org.br

C748m

Confederação Nacional da Indústria.Gestão corporativa da sustentabilidade : uma nova perspectiva. /

Confederação Nacional da Indústria. – Brasília: CNI, 2017.

143 p.

1. Sustentabilidade 2. Gestão corporativa I. Título

CDU: 502.14 (063)

© 2017. CNI – Confederação Nacional da Indústria.Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.

CNIGerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMAS

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Linha do tempo de acontecimentos e evolução de conceitos

sobre o Desenvolvimento Sustentável 23

Figura 2 – Sustentabilidade empresarial e contribuição

ao Desenvolvimento Sustentável 39

Figura 3 -– Principais leis que compõem a legislação ambiental

brasileira no âmbito federal 51

Figura 4 – Principais aspectos do licenciamento ambiental no Brasil 57

Figura 5 – Comportamento dos investimentos sociais

do Grupo BISC entre 2007 e 2015 70

Figura 6 – Comparação do investimento social

do Grupo BISC entre 2014 e 2015 71

Figura 7 – Composição dos investimentos sociais do Grupo BISC 71

Figura 8 – Principais marcos para gestão de risco socioambiental

por instituições financeiras 77

Figura 9 – Principais tipos de Barreiras Comerciais

e aos Investimentos 102

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Gráfico de desempenho da carteira DJSI Global

e Mercados Emergentes 82

Gráfico 2 – Desempenho da carteira ISE-B3 desde sua criação (2005) 85

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Imperativos para o engajamento da indústria

com a sustentabilidade 41

Quadro 2 – Lista de empresas brasileiras que compõem o DJSI 2017 81

Quadro 3 – Lista de empresas que compõem a carteira ISE 2016/2017 84

Quadro 4 – Dez países com maior quantidade de Medidas

não tarifárias notificadas à OMC 103

Quadro 5 – Medidas Não tarifárias notificadas à OMC por tipo

de produtos 103

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Total dos Valores Cobrados pelo Uso de Recursos Hídricos 63

Tabela 2 – Compensação ambiental 65

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SUMÁRIOAPRESENTAÇÃO ................................................ 11

RESUMO EXECUTIVO .........................................13

1 INTRODUÇÃO E SUSTENTAÇÃO .......................191.1 CONTEXTO DE MUDANÇA .........................................................21

1.2 INDÚSTRIA E O CENÁRIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...24

1.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA X GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE .............................................38

1.4 A GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE COMO MARCO EMPRESARIAL ESTRATÉGICO ....................................40

1.5 EVENTOS AMBIENTAIS QUE IMPACTARAM A INDÚSTRIA .............44

2 MOTIVADORES DE MUDANÇA ........................492.1 AMBIENTE REGULATÓRIO ..........................................................49

2.2 CONTEXTO MERCADOLÓGICO ...................................................66

2.3 O ESTADO COMO INDUTOR ECONÔMICO DE MUDANÇA ............74

2.4 REQUISITOS DO MERCADO FINANCEIRO .....................................76

3 CONDIÇÕES DE CONTORNO ........................... 873.1 CONTEXTO ECONÔMICO NACIONAL ..........................................87

3.2 INVESTIMENTO EM MODERNIZAÇÃO E ADEQUAÇÃO NACIONAL .. 94

3.3 ACORDOS INTERNACIONAIS E MERCADO EXTERNO ...................99

3.4 REQUISITOS AMBIENTAIS E SOCIAIS PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL ......................................................... 100

4 TENDÊNCIAS, OPORTUNIDADES E DESAFIOS ...................................................... 1114.1 COMPETITIVIDADE E NOVOS NEGÓCIOS ................................... 112

4.2 ECO-COMPETITIVIDADE E SINERGIAS ........................................ 118

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................. 123

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APÊNDICE A – EXEMPLOS DE AÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA PARA O ALCANCE DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................................................. 127

APÊNDICE B - INCENTIVOS PARA A GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE: FONTES DE FINANCIAMENTO E INCENTIVOS ..138

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OAPRESENTAÇÃOA indústria brasileira está comprometida com o desenvolvimento

sustentável. Após a realização da Rio+20, a Confederação Nacional

da Indústria (CNI) lançou o projeto CNI Sustentabilidade, com o

objetivo de mobilizar o setor industrial para o diálogo e a reflexão

sobre os diferentes aspectos da sustentabilidade nas empresas.

Cada uma das cinco edições já realizadas tratou de um tema espe-

cífico, e orientou análises e debates entre especialistas nacionais

e internacionais sobre políticas públicas, gestão corporativa e

tendências na agenda de sustentabilidade. Passados cinco anos,

a CNI faz um balanço sobre os avanços e desafios persistentes no

caminho dessa importante agenda.

A partir de uma parceria com as associações setoriais, foram reali-

zadas análises e avaliações que mostram como o setor produtivo

avançou, mesmo frente aos desafios presentes na agenda da

sustentabilidade. Além disso, esta publicação traz desafios que

precisam ser superados para melhorar o ambiente de negócios,

e proporcionar mais segurança jurídica e redução da burocracia para

estimular soluções inovadoras, bem como produtos e processos

mais eficientes e sustentáveis.

Na agenda global, o foco está no cumprimento dos Objetivos

do Desenvolvimento Sustentável, que trazem 169 metas em

17 objetivos nas áreas econômica, social e ambiental para serem

atingidos até 2030. A CNI é a representante da indústria na comissão

nacional que acompanha o andamento dessa agenda no Brasil.

Esse engajamento é reflexo da adesão cada vez maior do setor aos

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Isso poderá ser constatado

em inúmeras experiências empresariais relatadas nos documentos

setoriais produzidos para a sexta edição do CNI Sustentabilidade.

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As iniciativas apresentadas vão do envolvimento de indústrias na

promoção do emprego e renda, e na educação a ações de inovação

e conservação do meio ambiente.

Nesta publicação, que busca oferecer um olhar crítico sobre a

gestão corporativa da sustentabilidade, são delineados os marcos

das inexoráveis mudanças impostas ao setor industrial com essa

agenda. É dado destaque às condições necessárias para que polí-

ticas e iniciativas associadas com a sustentabilidade frutifiquem

com mais vigor. São elencadas ainda oportunidades e desafios

dessa jornada até 2030, com o intuito de contribuir com estratégias

empresariais, e com propostas de políticas públicas que sejam mais

efetivas e eficazes para promover o desenvolvimento sustentável.

O presente documento é acompanhado de outros 14 trabalhos de

diferentes setores industriais que reforçam os compromissos do setor

com a Agenda 2030 e trazem contribuições para a sustentabilidade

da indústria nacional. Nesse conjunto de publicações, ressalta-se,

também, a participação do Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI), do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Instituto

Euvaldo Lodi (IEL), que apresentam suas iniciativas e mostram que a

agenda da sustentabilidade permeia todo o Sistema Indústria.

Boa leitura.

Robson Braga de Andrade

Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

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ORESUMO EXECUTIVOOs desafios do setor industrial na agenda da sustentabilidade

vêm-se transformando de forma rápida. Antes considerados uma

exigência de adequação aos marcos legais, passam agora a ser

percebidos como oportunidades de agregação de valor às marcas,

de redução de custos por meio do aumento da eficiência no uso

dos recursos e da melhor gestão dos riscos físicos e regulatórios.

Além desses aspectos, surgem novos negócios associados ao

provimento de soluções, para que empresas, cidades e cidadãos

utilizem os recursos naturais de forma mais racional e eficiente,

de tal maneira que possam contribuir com o uso sustentável e a

conservação dos ecossistemas.

Os exemplos não são poucos. A comercialização de bens com selos

de eficiência energética, a logística reversa, o reuso de efluentes

tratados como fonte alternativa de água e o uso sustentável da

biodiversidade são exemplos de iniciativas que ganham escala.

Da Rio + 20 resultaram os compromissos com os Objetivos do

Desenvolvimento Sustentável, uma métrica para orientar os avanços

no sentido da sustentabilidade e do reconhecimento de que o setor

produtivo é parte da solução. Nesse contexto, o diálogo propositivo

e positivo entre setor privado e governos assume relevância parti-

cular. Os ODS são uma poderosa ferramenta para a comunicação das

ações e iniciativas empresariais em prol do Desenvolvimento Susten-

tável, na medida em que formam uma agenda global e conectam o

local, o regional e o nacional num mesmo marco de referência.

A evolução da perspectiva de responsabilidade socioambiental

para uma abordagem mais ampla da gestão da sustentabilidade

empresarial, associada à maior participação de instrumentos e

mecanismos de incentivos às boas práticas empresariais nas polí-

ticas públicas, indica um caminho sem volta.

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Não se trata de responsabilidade social corporativa, pois o capita-

lismo é centrado na maneira como os resultados são gerados – e

não no que se faz com eles em um momento ex post. A gestão da

sustentabilidade empresarial incorpora a questão socioambiental

como fator de competitividade e de mercado. Esses processos

devem garantir que vantagens comparativas se mantenham dispo-

níveis, em condições e preços, para dar suporte à competividade

das cadeias de valor às quais estão associadas.

A incorporação das cadeias de valor em práticas sustentáveis e a

intensificação do diálogo com as partes interessadas, para ações

de uso sustentável e conservação dos recursos naturais, mostram

resultados importantes para a performance do setor nessa agenda.

À medida que a indústria se desenvolve, impulsiona e melhora a

aplicação da ciência, da tecnologia e da inovação, promove incen-

tivo e maior volume de investimento em competências e educação,

além de viabilizar os recursos para atingir objetivos de desenvolvi-

mento mais abrangentes e inclusivos.

Após a Rio+20, a CNI definiu um programa contendo uma série

de ações, que visam mobilizar o setor industrial para o debate de

tendências de negócios, tecnologias, oportunidades e desafios,

tendo a sustentabilidade como pano de fundo.

Os resultados alcançados com a regionalização dos Conselhos

Temáticos de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI (Coemas)

e o Projeto CNI Sustentabilidade constituem prova inequívoca de

tais avanços.

Durante os últimos cinco anos, o país teve de enfrentar alguns

eventos extremos, que mostraram ao setor industrial que o

problema central não é apenas fazer frente aos riscos regulató-

rios, haja vista que os riscos físicos, se concretizados, podem causar

perdas importantes.

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OOs exemplos são claros: a) o acidente ocorrido em 5 de novembro

de 2015, no distrito de Bento Gonçalves, município de Mariana,

estado de Minas Gerais, decorrente do rompimento da barragem

de rejeitos (Barragem Fundão); b) a severa restrição hídrica ocorrida,

tanto na Região Nordeste (entre 2012 e 2017 e na bacia hidrográ-

fica dos rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí, (entre 2014 e 2015) bem

como, atualmente, no Centro Oeste; c) as restrições decorrentes

das mudanças no ambiente regulatório.

A incorporação da agenda de sustentabilidade aos planos de

negócios deixou de ser uma tendência. Destacam-se neste

documento os aspectos regulatórios, de mercado (incluídas as

exigências do mercado financeiro), bem como as demandas por

uma ação de Estado voltada ao incentivo da transição para a

sustentabilidade. Além desses aspectos, destaca-se ainda o

papel central do Estado como indutor econômico da mudança,

com a função central de prover ambiente institucional capaz de

permitir que as iniciativas do setor privado voltadas à sustenta-

bilidade tenham viabilidade econômica.

Esses são aspectos centrais do argumento. Somente se essas ações

demostrarem viabilidade econômica, os padrões de sustentabilidade

deixarão de estar restritos a um nicho ou a grandes corporações

com capacidade de investimento e ganharão a escala necessária.

Esse movimento é necessário para transformações estruturais que,

efetivamente, viabilizem resultados concretos em termos de conser-

vação ambiental, melhora no bem-estar social e condições para a

retomada do crescimento econômico.

Para que esse processo de transformação se concretize, é necessário

que algumas condições estejam presentes, a saber: a) implementação

de um ajuste fiscal, capaz de permitir que as condições atrativas

ao investimento privado sejam reestabelecidas, b) retomada pelo

Estado dos investimentos necessários para prover a infraestrutura

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necessária ao desenvolvimento e à superação de gargalos sociais

importantes; c) incremento de uma dinâmica de comércio global

que, por um lado, equilibre o protecionismo e, por outro, elimine as

distorções de mercado associadas à sobre-exploração dos recursos

naturais de forma não regulada.

O futuro seguirá incerto. Entretanto, mesmo sem uma análise exaus-

tiva, é possível identificar que os avanços tecnológicos, a inovação,

o contexto social da era da internet e a velocidade desses processos

serão indutores de transformações/rupturas, que causarão impacto

importante na forma de produzir e de consumir. A sociedade, cada

vez mais conectada e informada, será diferente e prever como ela

será é tarefa difícil. A única certeza é que será diferente.

O design de produtos e processos voltados à menor pressão sobre

o ambiente é uma tendência e demanda pensamento sistêmico

ao longo do ciclo de vida de produtos. A internet das coisas, a

Indústria 4.0 e a perspectiva de economia circular associada aos

negócios já ocupam espaço na agenda das grandes corporações e

de algumas empresas de vanguarda, de pequeno e médio porte.

O uso de ferramentas de certificação e de análise de ciclo de vida

também deve se consolidar. Hoje, essas ferramentas ainda são

muito caras para a indústria.

Ainda no contexto das tendências, o desenvolvimento de uma

economia de baixo carbono abre um vasto leque de oportuni-

dades de negócio para indústrias inovadoras. O aproveitamento

e a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistê-

micos também oportuniza tecnologias eficientes e inovadoras

de extração e processamento, aderentes ao desafio nacional de

transformar as vantagens comparativas – em termos de abun-

dância de recursos naturais e potencial para produção de energia

limpa – em vantagens competitivas, de alto valor agregado. A

economia circular e a ecologia industrial suplantam a produção

mais limpa e orientam caminhos.

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OEntretanto, o ponto central do futuro deve estar na capacidade do

setor produtivo de construir alternativas, juntamente com governos

e com as organizações da sociedade. Essas alternativas serão

efetivamente transformadoras, quando construídas em conjunto

e quando espelharem os anseios de uma sociedade conectada e

preocupada com a sustentabilidade.

Para isso, é central reestruturar a confiança dos negócios nas ONGs

e nos Governos, a serem focados na atividade produtiva. É esse

diálogo positivo o motor de uma transformação aguardada por

todos, que gera riqueza e cuida do ambiente e do bem-estar social.

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OINTRODUÇÃO E SUSTENTAÇÃOEsta publicação é a quinta edição dos documentos nacionais

lançados pela CNI pós Rio+20, no contexto do Projeto CNI Susten-

tabilidade. Ao lançar um olhar retrospectivo sobre os últimos cinco

anos, essa iniciativa visa fornecer informação, orientar e qualificar

a atuação da indústria na Agenda 2030. Os documentos produ-

zidos no âmbito do Projeto CNI Sustentabilidade não se restringem

ao posicionamento do setor, sendo portadores de análises que

contribuem tanto no desenho de estratégias empresariais como na

implementação de Políticas Públicas.

A Rio+20 proporcionou um debate qualificado entre diversos atores

sociais sobre a estratégia e a agenda de implantação do desenvolvi-

mento sustentável. Resultaram da Rio+20 os compromissos com os

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que substituíram

os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) – ao se definir

uma métrica para orientar governos, corporações e o conjunto da

sociedade no caminho da sustentabilidade.

O documento final da Rio+20 – O Futuro que Queremos –

reconhece que o setor industrial tem papel fundamental nesse

processo. Em um mundo cujas transformações se dão de forma

muito acelerada, a inovação, a tecnologia e os novos modelos de

negócio são mais ágeis em prover soluções do que a regulação e as

políticas públicas, comumente de lenta maturação. Nesse contexto,

o diálogo propositivo e positivo entre setor privado e governos

assume relevância particular.

A definição de mecanismos que incentivem e contribuam para o

equilíbrio entre crescimento econômico, erradicação da pobreza

e uso sustentável de recursos naturais é fundamental para o

pleno exercício do papel da indústria na indução ao desenvolvi-

mento sustentável. A evolução da perspectiva de responsabilidade

socioambiental para uma abordagem mais ampla de gestão da

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sustentabilidade empresarial, associada à maior participação de

instrumentos e mecanismos de incentivos às boas práticas empre-

sariais nas políticas públicas, indica um caminho sem volta.

Orientada pela imperiosa necessidade de incrementar a competiti-

vidade, a gestão de sustentabilidade empresarial está baseada nas

premissas de manter-se no mercado e compatibilizar negócios com

o uso eficiente de recursos naturais, contribuindo para gerar efeitos

sociais positivos de longo prazo. Requer ainda a consideração de

aspectos ambientais, econômicos e sociais de forma articulada e

integrada, quer seja em planos de negócios, quer seja na concepção

das políticas públicas econômicas e de desenvolvimento.

Como contribuinte para a geração de riqueza, em que pesem

os desafios correntes, o desenvolvimento industrial tem exercido

papel fundamental no desenvolvimento do País. Ao agregar valor

às matérias primas, a indústria, como motor da transformação do

perfil produtivo, tem potencial para assumir a liderança de um

processo de transformação das vantagens comparativas do País em

efetivas vantagens competitivas.

Entretanto, os processos de gestão da sustentabilidade devem

garantir que tais vantagens comparativas se mantenham disponí-

veis em condições e preços, para dar suporte à competividade das

cadeias de valor às quais estão associadas.

Um modelo de desenvolvimento mais sustentável depende não só de

investimentos públicos e privados, como também de métodos dife-

rentes e inovadores de gestão dos negócios. Embora o setor venha

buscando melhoria contínua de seus processos produtivos – mediante

o fomento de novos negócios e o investimento em tecnologia e

inovação – há ainda oportunidades importantes a serem exploradas.

Estabilidade político-institucional, políticas macroeconômicas

responsáveis e mecanismos que induzam ao aproveitamento dessas

oportunidades – como os negócios que geram agregação de valor

a partir dos recursos naturais do País – são condições necessárias.

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O1.1 Contexto de mudança

Após a Rio + 20, houve avanços importantes no setor produtivo e

mais tímidos no arcabouço das políticas públicas. Para a concreti-

zação do equilíbrio entre as dimensões do Desenvolvimento Susten-

tável,1 ainda existem desafios atuais e emergentes provenientes

a) do cenário regulatório, de mercado e econômico do País; e

b) da compatibilização entre aquele equilíbrio e a efetiva incorporação

da gestão corporativa da sustentabilidade nas práticas de negócios.

Os antecedentes que forjaram o conceito de Desenvolvimento

Sustentável foram marcados por mudanças na relação de uso e

interferências nos recursos do meio ambiente, causados pela inten-

sificação dos processos produtivos e seus efeitos sociais.

Concomitantemente, os efeitos desses elementos têm sido,

continuamente, objeto de avaliação, por meio de processos de

engajamento e discussões coletivas, que geraram compromissos

e acordos focados em prevenir e resolver questões associadas

ao desenvolvimento.

O fato é que o mundo avançou. O que sustentou o crescimento

econômico e a geração de riqueza, no passado, mudou comple-

tamente, uma vez que os avanços tecnológicos têm modificado

modelos de produção e de negócios, bem como a dinâmica das

economias.

Houve profunda transformação dos fundamentos nos quais os

negócios baseiam o fluxo de seus processos produtivos: na indús-

tria, a forma como o trabalho se organiza e é administrado mudou.

Exemplos de transformação são as lógicas de remuneração do

capital e a acessibilidade e comunicação em rede, em tempo real.

Ambos os fatores são importantes e estão associados a movimentos

1. LOUETTE, A. (Org). Compêndio para a sustentabilidade: ferramentas para a gestão socioambiental; uma contribuição ao desenvolvimento sustentável. 2008. Disponível em: <http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/7>. Acesso em: 18 abr. 2017.

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como o da internet das coisas e da indústria 4.0, que mudarão radi-

calmente a forma de fazer, influenciando todos os negócios.

O avanço das inovações e das tecnologias e seus efeitos nos

processos de produção contribuem para a redução das pressões

dos processos produtivos sobre o ambiente e aumentam os desafios

dos governos para levar a cabo uma eficiente regulação, voltada à

conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais. Esse debate

perpassa a agenda doméstica e ganha escala global.

Os compromissos e acordos no âmbito da cooperação internacional

influenciam e orientam políticas públicas2 que, por sua vez, regulam

a atuação dos negócios e as práticas de produção, de mercado e

de consumo. Ademais, mercados e instituições financeiras também

têm-se comprometido com aqueles acordos e compromissos e

atuado na viabilização de modelos de negócios menos expostos aos

riscos associados ao meio ambiente. Essa atuação também tem sido

calcada nos avanços da tecnologia e no apoio à adequada gestão

de impactos ambientais e sociais, o que contribui para alicerçar o

desenvolvimento inclusivo.

As mudanças na forma de perceber o desenvolvimento, ampliando

a visão do crescimento econômico e incorporando outras dimen-

sões, têm gerado uma profunda modificação em condutas e

atitudes de governos, em atores sociais, em decisões econômicas

e no setor privado (empresarial e financeiro)3. Para visualização

sobre os acontecimentos que marcaram a evolução do conceito de

Desenvolvimento Sustentável (ações que caracterizaram o conceito

de desenvolvimento e seu processo de implantação), foi elaborada

uma Linha do Tempo, conforme representado na figura a seguir.

2. Exemplos brasileiros são os planos nacionais de energia, o norte da regulamentação da gestão de biodiversidade e florestas, o reforço da consideração de direitos humanos em relações comerciais e a influência dos acordos de comércio internacional, entre outros, todos derivados de convenções internacionais firmadas e ratificadas pelo País.3. Alguns desdobramentos dessa mudança, no que se refere à sua influência em mercados, em regulação e em oportunidades para negócios, estão apresentados nos itens seguintes.

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Figura 1 – Linha do tempo de acontecimentos e evolução de conceitos sobre o Desenvolvimento Sustentável

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sEvolução dos Conceitos

Evolução dos Atores Li

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1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos

1956 Doença de MinamataJapão

1962 Primavera Silenciosa

1972 Conferência de Estocolmo e Relatório Limites do Crescimento

1983 Comissão Brundtland

1984 Acidente em Bhopal, índia

1986 Acidente com Exxon Valdez e Chernobyl

1987 Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum

1992 Conferência Rio 92

1994 Conceito do Tripple Bottom Line

1995 Desativação da Plataforma Brent Spar

1997 Protocolo de Quioto

1998 Lançamento do IDH

2000 Protocolo de Cartagena

2000 Lançamento dos ODM

2002 Rio +10 – Johanesburgo

2010 Protocolo de Nagoya e Metas de Aichi

2012 Rio +20

2015 Lançamento dos ODS

2015 Acordo de Paris

Fonte: Adaptado de LOUETTE (2007)4.

Na figura 1, constam os marcos críticos do Desenvolvimento Susten-

tável, correlacionados à evolução dos conceitos que sustentam esse

novo paradigma de desenvolvimento, com uma visão geral sobre

o envolvimento dos atores participantes e contribuintes para sua

implantação. Esse pano de fundo, em que pese ser conceitual, é

relevante para compreender as transformações que o paradigma da

sustentabilidade traz para o cotidiano dos negócios.

4. LOUETTE, A. (Org). Compêndio para a sustentabilidade: ferramentas para a gestão socioambiental; uma contribuição ao desenvolvimento sustentável. 2008. Disponível em: <http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/7>. Acesso em: 18 abr. 2017.

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1.2 Indústria e o cenário de Desenvolvimento Sustentável

Há diferentes motivadores que provocam alterações perenes na

forma de fazer negócio. Essas transformações têm ocorrido muito

em função das mudanças em tecnologias, processos e cadeias

produtivas – e dos seus efeitos nas sociedades e no meio ambiente.

Essas alterações, por sua vez, influenciam e são influenciadas pelo

mercado e pelo marco regulatório.

É imperioso reconhecer que o setor produtivo possui papel funda-

mental na transição para padrões de produção e de mercado

mais sustentáveis. Entretanto, não se pode desconsiderar que o

setor é fortemente influenciado pela conjuntura política, econô-

mica e ambiental global e que novas imposições e regulações

devem respeitar e potencializar os drivers de competitividade da

economia nacional.

Políticas públicas de fomento ao investimento em soluções viáveis

para os negócios incentivam e aceleram a adequação dos setores

produtivos aos crescentes requisitos ambientais, sociais, de gover-

nança, de mercado e das instituições financeiras.

A regulação deve reconhecer e contribuir para que a conservação

e o uso sustentável dos recursos ambientais se tornem negócios

competitivos e rentáveis. Somente dessa forma será possível mobi-

lizar investimentos suficientes para fazer frente aos atuais desafios

e, além disso, sustentá-los por meio de modelos de negócios viáveis

e de longo prazo.

No exercício de seu papel, a indústria tem-se empenhado na

busca de soluções apropriadas para compatibilizar a expansão da

produção industrial com o adequado uso de recursos naturais e a

efetiva contribuição para a equidade social.

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OA incorporação de aspectos ambientais, sociais e de governança

na definição de planos de negócios (estratégia), em sua operação

(execução de atividades) e nas suas relações com partes interessadas

(governo, parceiros de negócios, investidores, clientes, fornecedores,

força de trabalho, etc.), tem-se dado de forma contínua.

Dada sua peculiar combinação de recursos naturais, o Brasil ocupa

posição privilegiada para promover o desenvolvimento sustentável.

Essas vantagens comparativas devem estar à disposição do País, para

fazer frente à sua imperiosa necessidade de se desenvolver e gerar

riqueza, incorporando segmentos expressivos de sua população aos

benefícios de um mercado de consumo de bens industriais.

Contudo, a aplicação de esforços para gestão de aspectos ambien-

tais e sociais, presentes e emergentes, tem-se dado num cenário

econômico desafiador. Adicionalmente, o setor encontra desafios

correntes significativos na adoção progressiva de boas práticas

socioambientais. A carência de adequadas fontes de recursos

financeiros e apoio técnico e, fundamentalmente, a dificuldade em

operar em um ambiente político-institucional instável não incen-

tivam o planejamento e os investimentos de longo prazo.

Todo o contexto da aplicação de esforços na gestão de aspectos

de sustentabilidade pela indústria foi também baseado em

discussões e acordos internacionais, que ocorreram nos últimos

30 anos. A última conferência da ONU sobre o tema, a Rio+20,

proporcionou a consolidação do entendimento de que o setor de

negócios possui papel fundamental no desenvolvimento susten-

tável. Esse entendimento vem sendo o norteador da ação da CNI

na agenda da sustentabilidade.

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1.1.1 Rio+20

A Convenção Rio+20 buscou avaliar os avanços obtidos com

os acordos multilaterais e cúpulas – desde a Rio 92 – identificar

impasses e abordar desafios emergentes (ONU, 2009)5.

Seu principal objetivo foi renovar o compromisso político com o desen-

volvimento sustentável, analisar o progresso e identificar as lacunas

na implementação, além de lidar com desafios novos e emergentes

(UNEP, 2011, pág. 2, tradução nossa)6. A Resolução 64/236/09 da

Assembleia Geral da ONU definiu dois temas para discussão:

• Economia Verde, no contexto do desenvolvimento sustentável

e da erradicação da pobreza;

• Estrutura institucional para implantação efetiva do

desenvolvimento sustentável.

Exercendo seu papel como contribuinte ao desenvolvimento

e às economias, o setor privado respondeu diligentemente à

convocação para os debates e construção de soluções para os

desafios apontados.

Durante a Rio+20, sete mil empresas se comprometeram a submeter

suas atividades econômicas a critérios ambientais e sociais –

por meio da assinatura do Pacto Global7. Alguns efeitos ambien-

tais práticos, resultantes desse compromisso, seriam o aumento

de eficiência energética e a redução de emissão de poluentes e de

gases de efeito estufa.

5. ONU. Resolução 64/236, de 24 dez. 2009. Disponível em: < http://hotsite.mma.gov.br/rio20/wp-content/uploads/Resolu%C3%A7%C3%A3o-64-236-da-Assembl%C3%A9ia-Geral-da-ONU-traduzida.pdf>. Acesso em: 19 de abr. 2017.6. UNEP. Keeping track of our changing environment: from Rio to Rio+20 (1992-2012). Nairobi: UNEP, 2011. Disponível em: <http://www.unep.org/geo/sites/unep.org.geo/files/documents/keeping_track.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017.7. REDE BRASILEIRO DO PACTO GLOBAL. Aproximadamente 226 empresas brasileiras, pequenas, medias e grandes, haviam aderido ao Pacto Global. Disponível em: <www.pactoglobal.org.br>. Acesso em: 21 set. 2017.

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OA transição para o modelo econômico proposto requer que as

metas e desafios colocados para a indústria sejam suplantados,

seja por meio de inovação, seja por meio de conquista, seja por

meio do desenvolvimento de novos mercados. Todas essas opções

requerem investimentos.

1.2.2 Aspectos fundamentais da participação da indústria na Rio+20

Coordenada pela CNI, a participação do setor industrial na Rio+20

foi caracterizada por um amplo processo de mobilização e articulação

político-institucional perante as associações setoriais e federações de

indústria, iniciado em outubro de 2011 e que permanece ativo até o

final da Conferência.

Ao longo desse processo, foram desenvolvidas as seguintes ações:

a) sistematização dos avanços alcançados pela indústria nacional

na promoção da sustentabilidade; b) qualificação das mensagens

do setor encaminhadas à Conferência; e c) explicitação do diálogo

entre a agenda da sustentabilidade e a inovação tecnológica,

negociações internacionais, regulação e sistemas tributário e

desenvolvimento regional.

No dia 14 de junho de 2012, a CNI promoveu o Encontro da Indús-

tria para a Sustentabilidade e lançou um documento, contendo o

posicionamento da indústria e os desafios de 16 setores em contri-

buir frente ao desenvolvimento sustentável com respeito ao meio

ambiente: “A criação de condições que permitam elevar a competi-

tividade da indústria, por meio do aumento da eficiência no uso de

recursos e da qualificação na relação com todas as partes interes-

sadas no negócio, e nosso objetivo primeiro” (CNI, 2012, pg.9)8”.

8.CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Avanços da indústria brasileira rumo ao desenvolvimento sustentável: síntese dos fascículos setoriais. Brasília: CNI, 2012.

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Nesse documento, foi reforçado o compromisso do setor industrial

com o diálogo e a incorporação de gestão de aspectos de sustentabili-

dade na ação empresarial (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2013) 9.

Os aspectos fundamentais dessa incorporação são o desenvolvi-

mento e a aplicação de metodos inovadores na gestão dos negócios,

em linha com os conceitos de sustentabilidade corporativa e de

responsabilidade social, elaborados e implantados ao longo das

últimas decadas (ver figura 1). Fica claro que essas mudanças

dependem de investimentos públicos e privados, principalmente

no que tange ao desenvolvimento de tecnologias mais limpas e

modelos de negócios sustentáveis e competitivos.

1.2.3 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o papel da indústria na Agenda 2030 (pós-2015)

O Documento Final da Conferência Rio+2010 determinou que um

conjunto de metas deveria ser elaborado, apoiado pelos avanços dos

Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM11), para a implan-

tação do Desenvolvimento Sustentável12. Talvez um dos avanços

mais significativos dos últimos cinco anos tenha sido o documento

intitulado Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),

que oferece aos governos, corporações e ao conjunto da sociedade

uma metrica com 17 objetivos e 169 metas, para orientar esforços

na direção da sustentabilidade.

Os ODS constituem poderosa ferramenta para a comunicação

de ações e iniciativas empresariais em prol do Desenvolvimento

9.CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Encontro da indústria para a sustentabilidade. 2013. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/agenciacni/noticias/2013/09/encontro-da-industria-para-a-sustentabilidade/>. Acesso em: 19 de abr. 2017.10. ONU. Declaração final da conferência das nações unidas sobre desenvolvimento sustentável (Rio+20): o futuro que queremos. Rio de Janeiro: ONU, 2012. 11. A Declaração do Milênio das Nações Unidas, (2000), contém um compromisso de parceria global de redução da pobreza extrema até 2015. Dessa Declaração, surgiram os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), mensuráveis por metas e indicadores, que definiram estratégias para seu atingimento.12. Os objetivos que sucederam os ODM deveriam ser denominados ODS, possuir embasamento científico na criação de metas, bem como definir indicadores de aferição de progresso. O texto determinou a criação dos processos que estabeleceram os Objetivos.

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OSustentável, na medida em que formam uma agenda global. A

adoção da metrica permite que empresas demonstrem como seus

negócios ajudam no avanço do desenvolvimento sustentável,

tanto minimizando os impactos negativos como maximizando os

impactos positivos no homem, sociedade e ambiente.

Entretanto, o principal potencial transformador dos ODS está em

permitir que empresas e corporações identifiquem novas oportuni-

dades de negócios e de criação de valor na agenda da sustentabilidade.

Nesse sentido, é fundamental não se restringir a reportar, por meio

dos ODS, o que está sendo feito, mas sim seguir adiante e iden-

tificar novas formas de ação. O amplo leque oferece a qualquer

empresa uma gama de oportunidades para aderência aos objetivos,

pois trata de temas os mais diversos possíveis. São eles:

• Erradicação da pobreza;

• Segurança alimentar e agricultura;

• Saúde, bem-estar e educação;

• Igualdade de gênero e redução das desigualdades;

• Energia acessível e limpa, água potável e saneamento;

• Trabalho decente e crescimento econômico;

• Indústria, inovação e infraestrutura;

• Padrões sustentáveis de produção e de consumo;

• Cidades e comunidades sustentáveis;

• Vida na água e vida terrestre;

• Paz, Justiça e Instituições eficazes;

• Parcerias e meios de implementação.

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Os ODS originaram a criação da Agenda 2030, (plano de ação global

de promoção do Desenvolvimento Sustentável), acordada por 193

países-membros da ONU e tendo como base de implementação os

ODS, a ser executada a partir de 201513 .

O posicionamento brasileiro inclui as expectativas de governo para

o setor industrial, entre as quais se destacam:

• A promoção do desenvolvimento industrial sustentável;

• O fortalecimento das instituições e mecanismos de apoio à

produção industrial;

• A atualização tecnológica e agregação de valor; e

• A promoção de novas indústrias de bens ambientalmente

sustentáveis, direcionadas a consumidores de baixa renda.

Embora desenvolvido por governos, o setor industrial, em particular,

detém papel crítico no progresso dos ODS. A partir do engajamento

dos setores privados e da sociedade civil pode ser viabilizado,

com maior facilidade e eficiência, o alcance das metas propostas

aos Estados. Já existem Iniciativas que identificam os impactos e

orientam formas de incorporação dos ODS14 pelo setor privado15,

seja nas estratégias, seja até mesmo em políticas corporativas e em

estruturas de governança e gestão corporativa.

1.2.4 A Incorporação da Indústria na Agenda 2030

Os desdobramentos das metas internacionais rumo ao cumpri-

mento dos ODS se aproximam consideravelmente do setor

industrial a partir do Plano de Ação de Adis Abeba (2015),

centrado na importância do desenvolvimento industrial inclusivo

13. Por isso, a execução é por vezes, referenciada como “pós-2015.14. Informações preliminares de como a concretização dos ODS gera oportunidades e resultados financeiros para os negócios em <http://report.businesscommission.org/uploads/Brazilian-Portuguese.pdf>.15.Informação detalhada sobre incorporação dos ODS em negócios em <http://www.pwc.com/gx/en/sustainability/SDG/SDG%20Research_FINAL.pdf >, somente em inglês.

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Oe sustentável como base para o crescimento econômico susten-

tável (ONU, 2015a)16.

Antes do referido Plano, a Declaração de Lima “Rumo a um

Desenvolvimento Industrial Inclusivo e Sustentável”, adotada em

dezembro de 2013, já havia abordado a relevância do setor indus-

trial como elemento fundamental.

À medida que a indústria se desenvolve, impulsiona e melhora a

aplicação da ciência, da tecnologia e da inovação, promovendo

incentivo e maior volume de investimento em competências e

educação, além de viabilizar os recursos necessários para atingir

objetivos de desenvolvimento mais abrangentes e inclusivos17.

De maneira geral, as atividades industriais geram impactos

(positivos ou negativos) em aspectos dos ODS, em todas as suas

dimensões (ambiental, econômica e social). Existem oportuni-

dades em aprofundar o conhecimento desses impactos, de forma

a apoiar o entendimento de como a indústria pode contribuir

efetivamente para o atingimento daqueles objetivos.

A conciliação entre o desenvolvimento industrial e os objetivos das

iniciativas e políticas de desenvolvimento sustentável abre inúmeras

oportunidades de ganha-ganha, muito embora ainda se identifi-

quem importantes desafios a serem superados.

Destaque especial deve ser dado ao ODS 17, em função de seu

caráter integrador. O diálogo entre os Objetivos é fundamental para

que se coloque em prática uma efetiva visão sistêmica que articule

as diferentes dimensões do desenvolvimento. Somente dessa forma

16. ONU. Sustainable development knowledge platform: industry. 2015. Disponível em: <https://sustainabledevelopment.un.org/topics/industry>. Acesso em: 31 de mar. 2017.17. Em linha com os ODS, quando a indústria aumenta a produtividade, cria empregos e gera renda, contribuindo, assim para a erradicação da pobreza e para o cumprimento de outros objetivos de desenvolvimento. Contempla ainda oportunidades de inclusão social, igualdade de gênero, capacitação de mulheres e meninas e criação de emprego decente para os jovens. Muito embora a relação entre o desenvolvimento social e industrial e o potencial da industrialização para promover - de forma direta e indireta – o atingimento dos objetivos sociais seja clara, a estreita dependência entre o desenvolvimento industrial e a formulação e implementação de políticas de desenvolvimento sustentável é mais recente.

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é possível fazer emergir respostas aos complexos problemas e

desafios inerentes à sustentabilidade.

O Anexo A apresenta uma série de iniciativas identificadas nas

publicações setoriais do CNI Sustentabilidade 2017, relacionadas

às metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. A métrica

proposta pelos ODS permite reportar um conjunto de iniciativas já

em curso no setor industrial, bem como mobilizar práticas inova-

doras, implementadas a partir da disposição do setor em se engajar

nesse movimento global. Os ODS contribuem para harmonizar a

informação como para orientar sobre iniciativas dos diversos setores

da sociedade, em prol da efetiva inclusão da sustentabilidade nas

práticas de produção e consumo.

1.2.5 Internalização subsequente da Rio+20 pela CNI

A incorporação dos temas e resultados da Rio+20 pela CNI se

deu por meio de um processo operacional, que visa à execução

contínua de sua agenda em relação ao Desenvolvimento Susten-

tável. Ela está centrada no papel do setor industrial como ator

necessário para seu alcance.

Após a Rio+20, a CNI definiu um programa com uma serie de ações,

com o intuito de mobilizar o setor industrial para o debate acerca

das tendências de negócios, tecnologias inovadoras, oportunidades

e desafios para nortear e impulsionar a competitividade da indús-

tria, tendo como pano de fundo a sustentabilidade.

A regionalização dos Conselhos Temáticos de Meio Ambiente

e Sustentabilidade da CNI (Coemas) se consolidou, ao trazer

para o debate a questão das diferentes especificidades regio-

nais, aumentando a capilaridade da discussão sobre os desafios

e as oportunidades inerentes à construção de políticas e práticas

mais sustentáveis.

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OAtualmente, os três Coemas Regionais (Nordeste, Centro-Norte

e Sul-Sudeste) e o Coema Nacional são espaços de alinhamento

de posição e construção de propostas da indústria, que tratam de

temas e situações diretamente vinculadas ao cotidiano de empresas,

sindicatos e federações de indústria, repercutindo as preocupações

e recomendações do setor.

O suporte às ações dos Coemas vem sendo dado pela equipe da

Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Dire-

toria de Relações Institucionais da CNI (Gemas/DRI), que tambem

ganhou impulso após a Rio+20. A agenda se consolidou dentro

da estrutura da CNI, que passou a publicar um maior número de

estudos, análises e informações, que subsidiam e refletem as ações

dos Coemas. Alem da sistematização e análise do conhecimento

disponível, a equipe faz a representação do setor industrial em 66

colegiados e instâncias de representação, que debatem e formulam

políticas públicas.

Entretanto, o resultado mais efetivo da Rio+20 foi o Projeto CNI

Sustentabilidade, processo anual de mobilização empresarial

para diálogo e reflexão sobre os diferentes aspectos da sustenta-

bilidade nas empresas. Cada edição possui um tema, que orienta

análises e debates entre especialistas nacionais e internacionais

sobre políticas públicas, gestão corporativa e tendências na agenda

de sustentabilidade. Ao final desses processos, os resultados são

lançados nos Encontros CNI Sustentabilidade, que contam com

público anual medio de 500 empresários.

Em suas quatro primeiras edições temáticas, o CNI Sustentabilidade

trouxe ao debate visões inovadoras sobre os temas, contribuindo para

qualificar os debates e as estrategias empresariais. Na sequência,

e apresentado um breve resumo das discussões de cada uma das

edições desses encontros:

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• 2013 – Água: oportunidades e desafios para o

desenvolvimento do Brasil

Com base na discussão sobre as tendências de acirramento

dos eventos extremos (secas e enchentes) e dos conflitos por

água, buscou-se sensibilizar o setor industrial para o tema.

O evento trouxe à discussão a necessidade de análise dos dife-

rentes riscos aos negócios, associados à disponibilidade e à

qualidade da água.

Como parte das estratégias de gerenciamento corporativo,

foram discutidas as potencialidades e limitações das ferramentas

de avaliação dos riscos e de gestão da água no setor produ-

tivo. Um ano antes da severa crise hídrica, vivenciada na região

Sudeste, e durante o agravamento do período de estiagem na

região Nordeste, o CNI Sustentabilidade promoveu um denso

debate sobre como as empresas devem incorporar a variável

risco associada à água na estratégia de negócios.

Além das estratégias corporativas, o Encontro CNI Sustenta-

bilidade – Água: Oportunidades e Desafios para o Desenvolvi-

mento do Brasil – apontou para a necessidade de modernizar

os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos,

notadamente com o potencial de adoção de mercados de

água para qualificar a alocação do recurso.

Outro ponto destacado foi a necessidade de um modelo regu-

latório mais eficiente para o setor de saneamento, que permita

uma maior participação da iniciativa privada na prestação

desses serviços. As propostas discutidas e os encaminhamentos

do evento seguem atuais e pertinentes. O agravamento das

crises hídricas é um motivador para revisitar os resultados e

desencadear reflexão sobre a melhoria do processo. 

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O• 2014 – Resíduos Sólidos: inovações e tendências para

a sustentabilidade

Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),

na gestão e no gerenciamento de resíduos deve ser obser-

vada a seguinte hierarquia de prioridades: não geração,

redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição

final ambientalmente adequada. Dentro dessa hierarquia,

três temas foram foco de discussão em 2014: o Design for

Environment (DfE) ou Ecodesign, a valorização energética e a

requalificação de resíduos.

Cada um desses fatores tem um papel estratégico na hierarquia

de prioridades, qual seja, a não geração/redução, o tratamento

com recuperação de energia e a reciclagem, respectivamente.

Um olhar para o futuro implica tratar resíduos não apenas

como uma ineficiência de processos que nem sempre podem

ser eliminados, mas também como um recurso que possui

valor e pode ser utilizado na indústria numa lógica circular,

onde tudo é pensado para ser reaproveitado e reciclado.

Essa nova vertente é tratada atualmente como modelo de

uma nova economia, não só na academia, mas também nas

empresas e nos governos ao redor do mundo.

O Encontro CNI Sustentabilidade – Resíduos Sólidos: Inova-

ções e Tendências para a Sustentabilidade – discutiu as bases

técnicas das três temáticas, experiências exitosas, sua impor-

tância para os sistemas de gestão de resíduos, a necessidade

de estabelecer marcos legais apropriados e as oportunidades

que a área oferece ao setor empresarial. Tendências futuras

foram abordadas e deverão impactar os negócios ligados a

resíduos no país, tais como a logística reversa, a tecnologia 3D

e a digitalização no setor industrial.

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• 2015 – Mudanças Climáticas: desenvolvimento em uma

economia global de baixo carbono

As negociações internacionais sobre clima foram intensas

em 2015, com a expectativa da definição dos compromissos

de cada país para compor o acordo multilateral global.

O grande desafio para os setores produtivos tem sido analisar

os impactos do acordo sobre a atividade econômica. Os

governos também estão pautados pelo equilíbrio entre a

manutenção da competitividade de suas economias – em

especial no que tange à manutenção dos níveis de emprego

e renda – e a disposição para uma contribuição efetiva no

controle de emissões de GEE.

Por outro lado, analisando os impactos das mudanças climá-

ticas, constatamos que mais da metade da população mundial

vive em regiões expostas a desastres naturais. As mudanças

climáticas tendem a aumentar a probabilidade de ocorrência

de eventos extremos, expondo a sociedade a crescentes

desafios e a altos custos para proteção de suas vidas e bens.

O Encontro CNI Sustentabilidade – Mudanças Climáticas:

desenvolvimento em uma economia global de baixo carbono

– proporcionou uma visão sobre os avanços das negocia-

ções e as perspectivas do que viria a ser o Acordo de Paris:

uma reflexão sobre os riscos, as vulnerabilidades e oportu-

nidades decorrentes da adaptação necessária para minimizar

os impactos associados à produção industrial e ao bem-estar

social; e um debate sobre as inovações tecnológicas e as opor-

tunidades nesse cenário.

Ao final, entre outras conclusões, ficou a mensagem de que é

necessário mapear os riscos climáticos e nos prepararmos para

lidar com eles, em atividades de mitigação e adaptação, tanto

nas instalações físicas como nos negócios e nas atividades dos

fornecedores e parceiros.

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O• 2016 – Biodiversidade e florestas: novos modelos de

negócios para a indústria do amanhã

O Encontro CNI Sustentabilidade teve como objetivo

debater o potencial de valores eticos relativos à sustentabi-

lidade, capazes de promover transformações nos padrões

de mercado. As inegáveis vantagens comparativas do Brasil

(megabiodiversidade, ampla cobertura florestal, irradiação

solar, disponibilidade de solos ferteis e abundante oferta de

água) demandam um protagonismo do País e das empresas

que aqui atuam, no desafio de conciliar desenvolvimento e

conservação desses ativos.

O encontro permitiu um rico debate sobre cenários, desafios e

oportunidades, que se colocam na agenda da sustentabilidade

para a indústria do futuro com foco no diferencial compa-

rativo do Brasil como atrativo ao desenvolvimento de novos

negócios, orientados por um mercado consumidor baseado

em valores socioambientais.

O evento trouxe à tona experiências de empresas que buscam

reorientar suas estrategias para atender às demandas desse

novo mercado, alem de exemplos de como criar valor, tendo

por base os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.

Embora as experiências exitosas apresentadas demonstrem

que a visão de futuro da empresa incorporadora de aspectos

socioambientais na sua gestão pode colocá-la em um padrão

diferenciado de competitividade, fica claro que a influência

do mercado consumidor, nas práticas de sustentabilidade das

empresas, ainda não se consolidou como uma tendência.

As quatro edições temáticas do CNI Sustentabilidade mostraram ser

fundamental o equilíbrio entre crescimento econômico, erradicação

da pobreza e conservação do meio ambiente. Para tanto, governos

e sociedade precisam ter um marco de referência comum, que

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permita que todos reconheçam os esforços dos demais. Além disso,

é condição necessária à adoção de mecanismos que promovam

interconexão entre negócios exitosos, inovação e competitividade

com bem-estar social.

1.3 Responsabilidade Social Corporativa x Gestão Corporativa da Sustentabilidade

O conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) sofreu um

processo de transformação no decorrer do século XX. Inicialmente,

as ações de filantropia evoluíram para o conceito de Investimento

Social Privado (ISP18). Simultaneamente, a partir de uma nova visão

da empresa e de seu papel na sociedade, a RSC passou a integrar

a sustentabilidade empresarial, traduzida pragmaticamente nas

estruturas empresariais, sob a forma de gestão ética e transparente.

Essa forma de gestão representaria a concretização da contribuição

das empresas para o desenvolvimento sustentável.

Para apoiar as práticas de gestão corporativa da sustentabilidade,

existem iniciativas de incentivo e de orientação para que o setor

industrial possa identificar viabilidade, além de definir e integrar

medidas e práticas de gestão ambiental e social. Essas iniciativas

foram desenvolvidas tendo em vista requisitos regulatórios e de

mercado (nacionais e internacionais)19.

A integração e a melhoria das medidas de gestão ambiental e

social nos negócios se traduzem no aumento da competitividade: o

sucesso em participar do mercado tem dependido, cada vez mais,

da capacidade de uma empresa, de um setor, ou de toda uma

cadeia de valor, atingir, ao mesmo tempo, o resultado financeiro e

18. Definido como alocação voluntária e estratégica de recursos privados com o objetivo de promover a transformação social.19. Exemplo: a) crescente regulação nacional do setor financeiro, que incorpora gestão de risco socioambiental em operações de instituições financeiras (ver informação detalhada no item 4); b) inclusão do requisito requisite de transparência sobre gestão e desempenho ambiental, social e de governança, em legislações nacionais e setoriais – União Europeia, França, Suécia, África do Sul, Califórnia, Reino Unido, etc.

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Oa qualidade ambiental, contribuindo para a justiça social (adaptado

de ELKINGTON; 200120).

Nesse sentido, a gestão corporativa da sustentabilidade implica a

“Adoção de estratégias de negócios e atividades das empresas e

seus stakeholders, protegendo, apoiando e reforçando os recursos

humanos e naturais necessários no futuro”. (IISD, s/d).

A figura 2 concretiza a consideração de aspectos das três dimen-

sões, de modo equilibrado, na gestão dos negócios, consolidada

numa visão tridimensional.

Figura 2 – Sustentabilidade empresarial e contribuição ao Desenvolvimento Sustentável

Fonte: ERM, 200821.

Adicionados aos aspectos ambientais, econômicos e sociais, a

conduta ética e a transparência têm sido aceleradamente requisitos

e elementos de escrutínio das empresas, tanto por reguladores –

nacionais e internacionais – como por agentes de mercado22.

20. ELKINGTON, J. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron, 2001.21.ERM Brasil. Compêndio para Treinamento em Responsabilidade Social Corporativa. São Paulo, 2008.22. Exemplo: Em decorrência da aplicação do conceito de RSC no serviço público (cc art 60 da Lei no 8.987/95), a ANEEL emitiu a Resolução no444/2001, que requer emissão de Relatório de Responsabilidade Socioambiental das empresas de Energia Elétrica; e Índices de Sustentabilidade de Bolsas de Valores (ISE).

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Como será ressaltado a seguir, a adoção progressiva de ações

que priorizem a conservação ambiental, a equidade social e o

desenvolvimento econômico como parte das estratégias empre-

sariais, contribui para a inserção em mercados e para o ganho

de competitividade.

1.4 A Gestão Corporativa da Sustentabilidade como marco empresarial estratégico

Os direcionadores de um processo de transformação do setor

empresarial devem, necessariamente, estar atrelados a ganhos de

competitividade e à possibilidade de que tais transformações gerem

resultados positivos pela agregação de valor, redução dos custos

ou minimização dos riscos. Eventos naturais e acidentes com rele-

vante repercussão ambiental, que impactaram o setor produtivo,

reforçam a necessidade de observar com mais cautela as condições

socioambientais nas quais se inscreve a atividade produtiva.

Todos os agentes econômicos – de instituições públicas e privadas

a organizações não governamentais – dependem da geração de

riqueza pelo setor produtivo. A motivação pela permanência no

mercado e pelo lucro pode traduzir-se em formas eficientes de

gerar soluções adequadas e em linha com o Desenvolvimento

Sustentável.

Ao criar valor, as empresas demandam, combinam, transformam

e administram capitais financeiros, físicos, humanos, sociais e

naturais. As empresas que mais geram valor são aquelas que conse-

guem fazer a gestão de todos esses capitais de maneira articulada,

de forma a sustentar seu negócio no longo prazo.

Importante salientar que não se trata de responsabilidade social

corporativa, pois o capitalismo é centrado em como os resultados

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Osão gerados – e não no que se faz com eles em momento ex post.

A gestão corporativa da sustentabilidade incorpora a questão

socioambiental como fator de competitividade e de mercado.

Portanto, é estratégica e vital para os negócios, num mundo que

opera de forma integrada, com aceleradas mudanças promovidas

pelos avanços de tecnologia e interconexão.

Nesse contexto, as práticas de gestão corporativa da sustentabili-

dade permitem gerar ganhos de competitividade. A seguir, serão

apresentados os imperativos para que haja um efetivo engajamento

da indústria com a sustentabilidade23 .

Quadro 1 – Imperativos para o engajamento da indústria com a sustentabilidade

FATOR DESCRIÇÃO

Oportunidade de novos negócios

O caminhar rumo ao desenvolvimento sustentável demanda uma nova gama de produtos e serviços voltados à redução de emissões de poluentes, cumprimento de padrões e normas ambientais, tratamento de efluentes, geração de energia limpa, aproveitamento de resíduos, entre outras tantas oportunidades que emergem, quando se lucra com a solução de problemas ambientais e sociais. De forma concomitante, há geração de valor privado e para a sociedade, sendo o desempenho empresarial a chave para soluções que proporcionem ganhos de escala.

Ganhos de competitividade e maior eficiência produtiva

A compreensão do papel desempenhado pelo capital natural nos negócios permite economizar recursos de produção, como água e energia, ou ainda aproveitar resíduos como insumos, poupando recursos e reduzindo custos. Ademais, permite minimizar riscos de fornecimento, economizar na compra de insumos e ter preferência em financiamentos e acesso a tecnologias.

23. O item 3 aborda mais detalhadamente alguns dos aspectos listados no Quadro 1.

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FATOR DESCRIÇÃO

Agregação de valor à marca

As indústrias que alinhem sua estratégia de negócios com as prioridades do desenvolvimento sustentável serão as mais prováveis de obter de seu público-alvo e das demais partes interessadas a “licença de operação” mercadológica, o que lhes assegura diferencial competitivo. Em contrapartida, indústrias não atentas aos aspectos referidos estarão mais expostas aos riscos relacionados à credibilidade da marca e à exposição a críticas da mídia, das organizações ambientalistas e do público em geral, capazes de afetar seu posicionamento de mercado.

Redução dos riscos (resiliência)

A regulamentação crescente relacionada aos aspectos ambientais e climáticos tem onerado – e, por vezes, inviabilizado – empreendimentos e operações. Antecipar diretrizes, regulamentos e normas sobre exigências e condicionantes ambientais permite que as empresas reduzam o risco regulatório e, consequentemente, os custos associados. Na mesma linha, a compreensão das limitações de oferta de recursos naturais para o processo de produção permite desenhar estratégias relativas ao risco da diminuição de disponibilidade e aumento de preços desses insumos. Em ambas as situações – riscos regulatórios ou físicos – a incorporação de tais elementos na estratégia de negócios tende a ser um diferencial para as empresas mais atentas ao tema.

Fonte: Arcadis, 2017.

Em suma, para continuar existindo e gerar resultado em longo

prazo, as empresas devem incorporar em suas estratégias, planos

que possibilitem sua permanência e competitividade reconhecendo:

a) a probabilidade e as formas de prevenção frente a um conjunto

regulatório mais restritivo, de governo ou de mercado, e b) planos

e medidas para reduzir ou minimizar os impactos das mudanças

na disponibilidade dos recursos naturais e ecossistemas necessários

aos fluxos de produção.

A CNI, por meio da Gerência Executiva de Meio Ambiente e

Sustentabilidade (Gemas), acompanha a gestão corporativa

da sustentabilidade em seus desdobramentos para a indústria.

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ONotadamente, lidera iniciativa focada na plataforma de Redes,

constituída por aspectos ambientais (água, resíduos sólidos,

energias renováveis, mudança do clima, biodiversidade, florestas,

produção e consumo sustentável e licenciamento ambiental).

Afora essas questões, a Gemas tem estudado as repercussões

desses aspectos, no que concerne à implantação de medidas que

visem à contribuição da indústria ao Desenvolvimento Sustentável,

sem prejuízo à competitividade e sem perder de vista o conjunto

importante de oportunidades que elas encerram24.

A regulação provocou uma mudança importante das práticas

empresariais quanto à gestão ambiental. Mesmo com os excessos

(ideológicos e burocráticos) na formulação e aplicação da norma

ambiental – que, necessariamente, devem ser corrigidos –

a regulação impulsionou os setores produtivos do País a se moder-

nizarem. Os demais drivers referidos são impulsionadores adicio-

nais a esse processo porque possuem um sentido de mercado,

ou seja, geram resultados aos negócios e não dependem da ação

e orçamentos públicos.

Esse processo de transformação não é linear, na medida em que

algumas rupturas decorrem de eventos ambientais importantes

(secas, inundações, etc.) que despertam a atenção dos gestores

quanto aos diferentes aspectos da relação entre o cotidiano de

negócios e as questões ambientais. A ocorrência de tais eventos

gera – ou deveria gerar – o amadurecimento do debate sobre

estratégias empresariais e políticas públicas, bem como uma

análise mais amadurecida sobre os riscos aos quais as empresas

estão expostas.

24. Entre os assuntos relevantes e significativos para a indústria brasileira, encontram-se: o licenciamento ambiental, as criações de economias circulares, o desenvolvimento de economias de baixo carbono, a implantação do acordo de Paris, os desdobramentos do protocolo de Nagoya, a regulação do acesso e uso dos recursos genéticos, entre outros.

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1.5 Eventos ambientais que impactaram a indústria

A ocorrência de alguns eventos de repercussão relevante nos últimos

cinco anos corroborou com tais imperativos, gerando interferência

direta na forma como a indústria gerencia seus impactos e riscos

ambientais e sociais.

Tais eventos provocaram transformações profundas nas empresas

diretamente envolvidas e uma reflexão em todo o setor empresa-

rial, contribuindo – mesmo que não seja pela via melhor – para

a incorporação de aspectos relacionados à sustentabilidade nas

estratégias e operações industriais.

O acidente ocorrido em 5 de novembro de 2015, no distrito de

Bento Gonçalves, município de Mariana, estado de Minas Gerais,

é o mais emblemático. O rompimento da barragem de rejeitos

(Barragem Fundão) provocou o vazamento de 34 Mm3 de lama e

rejeitos de minério de ferro, acarretando sérios impactos socioe-

conômicos e ambientais. O vazamento tem sido considerado

o maior ocorrido no mundo, por conta do volume de material

despejado e por conta da extensão dos danos ambientais provo-

cados na bacia do Rio Doce, nos estados de Minas Gerais, do

Espírito Santo e da Bahia.25 26

Em decorrência deste evento27, novos paradigmas de gestão e dispo-

sição de rejeitos na mineração têm sido discutidos e acordados pelo

setor. O rompimento da barragem do Fundão representa um fator

de transformação (global) no relacionamento entre o setor mineral,

25. PORTAL BRASIL. Entenda o acidente de Mariana e suas consequências para o meio ambiente. 2015. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2015/12/entenda-o-acidente-de-mariana-e-suas-consequencias-para-o-meio-ambiente>. Acesso em: 2 jun. 2017.26. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Ação Civil Pública Autos nº 60017-58.2015.4.01.3800 e 69758.61-2015.4.01.3400. Disponível em <http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/acp-samarco>. Acesso em: 1 jun. 2017.27. De acordo com o IBRAM, “Os impactos ambientais e os riscos associados às barragens de rejeitos e depósitos de estéril estão entre os mais significativos para a indústria da mineração. [...] Não são incomuns os acidentes com ruptura de barragens de rejeito, algumas das vezes causados por problemas de gestão de segurança. Geralmente, os acidentes dão origem a grandes impactos ambientais ...” (2017).

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Oo ambiente e a sociedade, no que se refere à gestão de riscos asso-

ciados às operações. A mineração no Brasil não será mais a mesma.

Ainda como exemplo de evento com reflexo direto no setor indus-

trial, quer seja por gerar mudanças na regulação, quer seja por

induzir à introdução de novos modelos de gestão, pode-se citar a

severa restrição hídrica ocorrida na região Nordeste, entre 2012 e

2017, e na bacia hidrográfica dos rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí

(PCJ), entre 2014 e 2015.

A bacia hidrográfica do PCJ compreende expressivo parque

industrial, sendo responsável por cerca de 14% do PIB do estado

de São Paulo e cerca de 5% do PIB do Brasil. Trata-se de uma

das poucas bacias hidrográficas brasileiras cuja demanda hídrica

para abastecimento industrial supera a demanda por agricultura

irrigada (cerca de 29% contra 18%).

A severa restrição hídrica foi fruto da combinação entre uma gestão

integrada pouco efetiva e condições meteorológicas atípicas. A

estiagem severa reduziu a disponibilidade hídrica nos rios da bacia

PCJ que, mesmo operando com diversos reservatórios, teve sua

capacidade de atendimento gravemente comprometida. O resul-

tado foi uma crise de grandes proporções, que afetou todos os

setores usuários, com perdas maiores na indústria.

Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado

de São Paulo (Fiesp) em 400 empresas de diversos portes da bacia,

em maio de 2014, concluiu que mais de três mil postos de trabalho

foram fechados, devido à falta de água. Segundo a entidade, uma

empresa química chegou a desativar quatro unidades produtivas

em outubro de 2014, devido à impossibilidade de manter o sistema

de refrigeração, dependente da água captada.

Na região Nordeste, a crise vem-se prolongando com níveis baixos de

pluviosidade desde 2012. O nível de armazenamento dos reservatórios

continua crítico, inclusive na Bacia Hidrográfica do rio São Francisco.

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A Agência Nacional de Águas (ANA) já interveio em vários reser-

vatórios com águas do domínio da União, decretando sistemas de

racionamento nas Bacias do Piancó-Piranhas-Açu e do São Francisco.

Excetuando a zona da mata e o agreste, o parque industrial loca-

lizado na região tem adotado medidas drásticas para enfrentar a

estiagem prolongada. Tais medidas contemplam desde a reprogra-

mação da produção, compra de carros-pipa (a um custo exorbi-

tante) e aquisição de sistemas de reaproveitamento da água, até

a implantação de sistemas de reuso de efluentes tratados e testes

com sistemas de dessalinização.

A crise hídrica forçou as indústrias a considerar a água como fator de

produção, e o potencial de escassez como fator de risco ao desem-

penho dos negócios. Além desses aspectos, as crises mostraram

para as empresas que problemas nas bacias hidrográficas também

devem merecer seu interesse. Nem mesmo as pequenas e médias

empresas, em sua grande maioria atendidas pelas companhias de

saneamento, blindaram as incertezas. Os cortes de fornecimento,

as reduções de pressão, os aumentos de preços para garantir a

sustentabilidade das companhias afetaram os negócios.

O setor industrial compreendeu que análises de risco associado

à água, elaboração de planos de contingência, intensificação da

recirculação e do reuso da água são ferramentas necessárias Esses

dois exemplos demonstram que as empresas não devem restringir

sua atenção apenas à regulação e aos mecanismos de mercado.

Um olhar sobre os riscos físicos associados à produção é impor-

tante e deve estar no radar das estratégias de gestão corporativa

da sustentabilidade.

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NÇAMOTIVADORES DE MUDANÇA

Orientado pela visão da competividade e da agregação de valor,

este item apresenta os motivadores para potenciais transforma-

ções na forma de definir e gerenciar negócios. Os caminhos para a

incorporação dos requisitos da sustentabilidade nas estratégias de

negócios nem sempre são claros, razão pela qual precisam ser expli-

citados em ambientes institucionais que mobilizem e incentivem

empresas e empresários.

A base para desenvolver esse item são os motivadores listados no

quadro 1, considerando que a efetiva transição para padrões mais

sustentáveis na produção industrial só ocorrerá quando as ações e

iniciativas resultarem em agregação de valor.

2.1 Ambiente regulatório

O desenvolvimento de qualquer negócio depende, entre outros fatores,

da sua conformidade com o ambiente regulatório. Dessa forma, as

regras e incentivos estabelecidos pelo Estado induzem as atividades

econômicas ao padrão de desenvolvimento por ele definido.

Mesmo negócios inovadores devem vencer restrições regulatórias e

barreiras burocráticas, para se consolidarem em escala representativa.

Em linhas gerais, são dois os desafios centrais dos formuladores de

políticas na área de meio ambiente: a) definição de metas para solu-

cionar os problemas associados ao uso e à conservação dos recursos

naturais, energia e ecossistemas e seleção de procedimentos, meca-

nismos e instrumentos para atender a essas metas, b) articulação

entre as diferentes metas e mecanismos das diversas políticas e plane-

jamentos setoriais.

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No modelo brasileiro, a competência legislativa sobre o meio

ambiente é concorrente entre os entes federativos. Dessa forma,

o arcabouço legal das três esferas se sobrepõe de forma comple-

mentar. Em 2011, a edição da Lei Complementar 140 e o posterior

Decreto 8473 de 2015 disciplinaram a atuação dos entes fede-

rados, no que concerne às competências comuns relativas ao meio

ambiente. Enquanto se manteve a competência da União para

estabelecer normas gerais, a serem observadas pelos demais entes

federativos, coube aos estados e ao Distrito Federal legislarem de

forma complementar, considerando características regionais. Da

mesma forma os municípios, no que tange às necessidades de

adequação local da legislação (CF, 1988, Art. 24).

Não existe na legislação brasileira uma lei que disponha de forma

consolidada sobre todas as questões ambientais. Dessa forma, a

legislação, que afeta a regulação dos usos e a conservação dos

recursos naturais e ecossistemas, constitui um conjunto de leis,

decretos e normativos infralegais. Segundo levantamento realizado

pela RC Ambiental, o Brasil já conta com mais de 37 mil normas

ambientais, considerando leis, decretos, portarias, resoluções e

instruções normativas.

As principais políticas federais que compõem a regulação dos usos

dos recursos naturais, da conservação ambiental, do controle da

poluição e das questões climáticas, no âmbito federal, são apresen-

tadas na figura 3.

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NÇAFigura 3 - Principais leis que compõem a legislação ambiental

brasileira no âmbito federal

LegislaçãoAmbiental

Política Nacional de Recursos Hídricos

(Lei nº9433/97)

Política Nacional sobre Mudança do Clima(Lei nº12187/09)

Constituição Federal 1988 – Art. 225

Lei de Crimes Ambientais

(Lei nº9605/98)

Lei Florestal“Novo Código”(Lei nº12615/12)

Sistema Nacional de Unidades de

Conservação(Lei nº9985/00)

Política Nacional de Resíduos Sólidos(Lei nº12305/10)

Legislação Municipal

Legislação Estadual

Legislação Federal

Política Nacional de Meio Ambiente

(Lei nº6938/81)

Acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios(Lei nº13123/15)

Fonte: Arcadis, 2017.

Num primeiro momento, apesar de a extensão desse arcabouço

legal incorrer em um maior esforço da indústria nacional para

atendê-lo, a conformidade com esse conjunto de leis configura um

primeiro passo para que o setor possa contribuir para o desenvolvi-

mento sustentável do País.

Os últimos cinco anos trouxeram poucas mudanças nesse arcabouço.

Muito debate esteve na agenda – notadamente a regulamentação do

licenciamento ambiental por Lei, a ratificação do Acordo de Paris com os

compromissos assumidos pelo Brasil, previstos na Contribuição Nacio-

nalmente Determinada (NDC) encaminhada à Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a publicação do

novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) e a modernização nos meca-

nismos de alocação de água e de racionamento preventivo.

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A revisão do marco legal de acesso aos recursos genéticos, efeti-

vada pela Lei 13.123/15 e pelo Decreto 8722/16 representou um

avanço na agenda do desenvolvimento sustentável. Ao desburocra-

tizar o acesso à biodiversidade brasileira, o novo marco incentiva

pesquisas e inovações.

O atual arcabouço legal pressupõe um conjunto de mecanismos

institucionais, cujos instrumentos são aqueles com maior reper-

cussão direta sobre os setores produtivos. Os instrumentos para

a gestão ambiental podem ser subdivididos em instrumentos de

regulação direta, de planejamento e econômicos.

• Instrumentos de regulação direta: autorizam a

implementação e a operação das atividades produtivas

ou estabelecem padrões de qualidade ambiental como,

por exemplo: o licenciamento ambiental, a autorização

para supressão de vegetação, o cadastro ambiental rural

(CAR), a outorga de uso dos recursos hídricos, os planos de

gerenciamento de resíduos sólidos (exigidos no âmbito do

licenciamento ambiental), o cadastro no Sistema de Gestão

do Patrimônio Genetico, entre outras imposições autorizativas

aos empreendimentos e suas operações. Alem desses, os

padrões de qualidade ambiental devem ser atendidos por

todas as atividades produtivas, tais como padrões de emissões

líquidas e atmosfericas, entre outros;

• Instrumentos de planejamento: desenhados em função de

unidades territoriais, aportam diretrizes e orientações para a

aplicação dos instrumentos de regulação direta, entre os quais

se destacam: o Zoneamento Ecológico Econômico, os planos

de recursos hídricos, os planos de gestão de resíduos sólidos, o

Inventário Florestal Nacional e os planos de saneamento ambiental.

De caráter mais orientador, podem-se considerar os planos setoriais

de adaptação e mitigação previstos na Política Nacional sobre

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NÇAMudança do Clima (PNMC), as avaliações ambientais estrategicas

e o Mapa de Áreas Prioritárias para Conservação;

• Instrumentos econômicos: propõem-se a induzir o

comportamento dos atores em relação ao uso e à conservação

dos recursos naturais, a partir da motivação econômica,

consubstanciada na formação de fundos para ações de

conservação, tais como a cobrança pelo uso da água, a

compensação ambiental e a repartição de benefícios pelo uso

da biodiversidade brasileira. A Política Nacional de Resíduos

Sólidos (PNRS) prevê, entre seus instrumentos, os incentivos

fiscais, financeiros e creditícios. Ainda de aplicação tímida,

podem ser consideradas nessa categoria as cotas de reserva

ambiental (CRAs), os mercados voluntários de carbono, o

pagamento por serviços ambientais e a adoção de normas

voluntárias de gestão ambiental, como certificações, rotulagem

e selos. Mecanismos de redução do custo de capital, em

função de adoção de práticas sustentáveis, podem tambem ser

incluídos nessa categoria.

Ainda que não se encaixe na classificação utilizada, é importante

a referência à logística reversa, desafio particular para o setor

industrial. Esse mecanismo é caracterizado por um conjunto de

ações, procedimentos e meios, destinados a viabilizar a coleta e a

restituição de resíduos sólidos ao setor empresarial – para reapro-

veitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos – ou outra

destinação final ambientalmente adequada. Os acordos setoriais

e os termos de compromisso são instrumentos-chaves na imple-

mentação da PNRS. De complexa aplicação, demandam uma arti-

culação estreita entre poderes públicos, fabricantes, importadores,

distribuidores e comerciantes.

Para dar suporte à aplicação desses instrumentos, o Poder Público

instituiu um conjunto de sistemas de informações, cuja alimen-

tação gera demandas para os empreendedores. Destacam-se:

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o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima),

Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH),

Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos

Sólidos (SINIR), Cadastro Técnico Federal de Atividades Poten-

cialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras de Recursos Ambientais

(CTF/APP), Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos

Florestais (Sinaflor), Sistema Nacional de Informações sobre

Saneamento (SNIS), entre outros.

Em linhas gerais, todos esses sistemas têm seus espelhos nos

sistemas estaduais de informações. Uma maior articulação entre

esses sistemas de informação proporcionaria maior agilidade e

racionalidade à aplicação dos instrumentos de gestão ambiental.

À medida que as empresas da indústria passam a implementar ações

para o cumprimento da legislação ambiental, o setor encontra alter-

nativas e formas de se tornar mais eficiente no uso dos recursos

naturais e energia, identificando oportunidades para reduzir sua

geração e redirecionar processos, de forma a reaproveitar resíduos

e emissões líquidas e gasosas.

2.1.1 Instrumentos de Regulação Direta – Licenciamento Ambiental

Os instrumentos de regulação direta demandam investimentos

elevados e estruturas robustas, capazes de garantir o controle, a

fiscalização e a adequação legal. São mecanismos caros, com altos

custos de implementação e operação, tanto pelo poder público,

quanto pela iniciativa privada. Em sua aplicação, em geral, limitam

tecnologias e padrões de desempenho, deixando pouca flexibili-

dade para a inovação.

Entre os instrumentos de regulação direta, o Licenciamento

Ambiental – LA é aquele de maior interferência na atividade produ-

tiva, pois é por meio dele que se avaliam os diferentes aspectos

da relação dos empreendimentos com o ambiente. Em função dos

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NÇAimpactos ambientais identificados pelos estudos que subsidiam o

licenciamento, são definidas medidas de mitigação de impactos

ambientais e controle da poluição. O LA possui grande impor-

tância para a sustentabilidade coorporativa, no que se refere à

gestão ambiental.

O LA é um dos principais instrumentos da Política Nacional do

Meio Ambiente (PNMA), pois é por meio dele que o Poder Público

assegura que os riscos e  os  impactos ambientais de empreendi-

mentos foram considerados. Entretanto, para que se alcancem a

eficácia e eficiência pretendidas, sua implementação deve ser arti-

culada com outros instrumentos de planejamento e gestão.

Embora seja um processo administrativo único, o modelo de licen-

ciamento brasileiro está organizado em etapas, que resultam na

emissão de diferenças licenças. A competência para licenciar um

empreendimento ou atividade foi determinada pela LC 140/2011,

que definiu que o licenciamento ambiental seria feito em uma

única esfera federativa – União, estado ou município – evitando a

sobreposição de atuações entre os entes federativos e permitindo

uma atuação administrativa mais eficiente.

O licenciamento ambiental no Brasil conta com um modelo de

governança robusto, norteado pelos princípios de descentralização e

autonomia dos entes federativos, expressos na Constituição Federal.

Entretanto, sua complexidade institucional e normativa gerou, ao

longo dos 31 anos de sua aplicação, demandas pelo seu aperfeiçoa-

mento e modernização por parte de diversos setores da economia e

do governo (Ibama, 2016).

Na forma como vem sendo implementado, o licenciamento

ambiental se depara com desafios importantes, tais como: altos

custos, prazos excessivamente longos e excesso de burocracia.

Além desses aspectos administrativos, a ausência de critérios claros

e seguros para definição de ritos e de estudos ambientais e a

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contínua judicialização de processos apontam para a necessidade

de melhorias no sistema.

O processo de licenciamento ambiental é essencial para que o setor

industrial possa se desenvolver de forma sustentável e internacio-

nalmente competitiva. Nessa direção, deve-se ressaltar que um

sistema de licenciamento eficiente e ágil é fundamental para isso

(CNI, 2013).

Lidar com as falhas técnicas, a discricionariedade e a subjetividade

que judicializam os processos é uma condição necessária – mas não

suficiente – para que esse instrumento atue na promoção do desem-

penho ambiental dos empreendimentos. Oportuno mencionar que

medidas de modernização do licenciamento ambiental, seja no

âmbito regulatório, seja no âmbito processual, devem favorecer a

execução de investimentos e o alinhamento do desenvolvimento

econômico com a Agenda 2030.

Recai sobre o LA o peso decorrente da implementação de outros

instrumentos de gestão ambiental, em especial os de planejamento.

A articulação com instrumentos como o zoneamento ecológico-

-econômico, avaliações de impactos integradas e monitoramento

tende a aportar outra racionalidade à gestão ambiental. O fortaleci-

mento desses e de outros instrumentos, notadamente aqueles que

visam ao planejamento e à gestão territorial, aliado a sua inserção

na formulação de políticas públicas, devem aliviar a sobrecarga que

se impõe ao licenciamento.

Numa perspectiva mais ampla, o licenciamento deveria privilegiar

a dimensão territorial em sua abordagem. Investimentos reali-

zados no processo, incluindo informações geradas nos estudos

ambientais, perdem-se com a desconexão entre o diagnóstico,

as avaliações de impacto e as ações mitigadoras (condicionantes

ambientais) propostas e implementadas isoladamente.

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NÇAOs desafios apontados para o LA são recorrentes quando se

analisam os demais instrumentos de regulação direta, especial-

mente quando se trata da articulação desses com os instrumentos

de planejamento.

Além disso, bases de dados tecnicamente sólidas, sistemas atuali-

zados e transparentes de informação georreferenciada são, por sua

vez, condições para a consolidação de instrumentos de planejamento,

de uso e de conservação dos recursos naturais. Essa articulação é

fundamental para mudar a dinâmica de implementação das políticas

ligadas ao meio ambiente. Nesse mesmo sentido, é imperativo que o

poder público promova o acompanhamento sistemático dos poten-

ciais benefícios e dos efeitos indesejáveis decorrentes da instalação e

da operação de atividades e empreendimentos.

A figura 4, a seguir, consolida os principais aspectos do processo de

licenciamento ambiental vigente no Brasil.

Figura 4 – Principais aspectos do licenciamento ambiental no Brasil

Licença de Instalação

Licença Prévia

Licença de Operação

Monitoramento

Processo de Licenciamento

Ambiental

Órgão Ambiental Competente(Federal, Estadual ou Municipal)

Autorizações e Outorgas de Outros Órgãos

Estudos Ambientais

Procedimentos de Avaliação do Órgão Competente

Competência Legislativa Concorrente

Taxas de Processo Pagos pelo Empreendedor

Estudos por Consultoria Independente Contratada pelo Empreendedor

Termos de Referência Elaborados pelo Órgão Competente ou em Conjunto

com Outros órgão

Competência de Acordo com Impactos e Tipologia de Projetos

Competência AdministrativaComum – Autonomia de Cada Ente Federativo

Processo Descentralizado – Ausência de Hierarquia Administrativa

Processo Único e Trifásico

Fonte: Arcadis, 2017.

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2.1.2 Instrumentos de Planejamento

A articulação e a consolidação dos instrumentos de planejamento

das diferentes políticas citadas é um desafio. A complexidade dos

estudos sobre o comportamento dos sistemas socioambientais e

das análises de cenários, bem como os respectivos custos, dificulta

seu avanço. Esses instrumentos deveriam ser portadores de orienta-

ções estratégicas para a aplicação dos instrumentos de regulação,

tornando-os mais efetivos e eficientes. É fundamental qualificar

tais instrumentos e desenvolver maior capacidade de integração

entre as políticas setoriais, para que possam orientar investimentos

públicos e privados.

Se efetivos, os instrumentos de planejamento teriam potencial para

auxiliar na tomada de decisão dos empreendedores, ao apresen-

tarem desafios, limitações e oportunidades decorrentes do apro-

veitamento dos recursos ambientais de uma dada região, no médio

e no longo prazos. Esse tipo de informação pública e disponível

poderia contribuir, também, para redução dos custos dos estudos

de pré-viabilidade e análise locacional dos empreendimentos, bem

como nos custos dos estudos exigidos para obtenção do licencia-

mento ambiental. Entre os instrumentos de planejamento conso-

lidados no País e com potencial repercussão direta nas atividades

produtivas, destacam-se:

• O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), instrumento

da PNMA regulamentado pelo Decreto 4.297/2002, utilizado

para diferentes escalas territoriais. Em linhas gerais, tem como

objetivo compatibilizar desenvolvimento socioeconômico com

conservação ambiental. Para tanto, analisa e traça diretrizes

sobre limitações e potenciais de exploração dos recursos

ambientais das diferentes partes do território estudado. O

resultado do ZEE se traduz no estabelecimento de alternativas

de uso e gestão, que oportunizam as vantagens competitivas

do território;

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NÇA• Os planos de recursos hídricos, disseminados no País – que,

se qualificados, teriam condições de instrumentalizar a alocação

de água entre os diversos usos, considerando as restrições

ambientais pre-determinadas. Instituídos pela Lei 9.433 de

1997 e pelas legislações estaduais de recursos hídricos – são

elaborados por bacia hidrográfica conforme a dominialidade28

e aprovados pelos respectivos Comitês de Bacia, que contam

com a participação dos representantes da indústria. Compõem

seu conteúdo, entre outros aspectos: a) metas de racionalização

de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos

recursos hídricos disponíveis; b) prioridades para outorga de

direitos de uso de recursos hídricos; c) diretrizes e criterios

para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; e d) propostas

para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à

proteção dos recursos hídricos;

• Os  planos de gestão de resíduos sólidos, previstos na Lei

12.305, de 2010, são constituídos pelo plano nacional, os planos

estaduais e municipais de gestão de resíduos, com vigência por

prazo indeterminado e horizonte de 20 anos, atualizados a cada 4

anos. Destacam-se de seu conteúdo mínimo as metas de redução,

reutilização, reciclagem, aproveitamento energetico de resíduos

sólidos, eliminação e recuperação de lixões, programas, projetos,

normas a serem atendidas e diretrizes para o planejamento da

gestão de resíduos sólidos. No âmbito dos planos municipais, há

a necessidade de identificação dos geradores sujeitos ao plano

de gerenciamento específico de resíduos que todas as empresas,

independentemente do porte e do setor a que pertencem,

devem atender. Alem de orientar a elaboração dos planos de

gerenciamento e de responsabilidade dos setores produtivos,

os planos de gestão de resíduos sólidos devem contemplar

obrigações sobre logística reversa, prevista na Lei;

28. Dominialidade: termo utilizado para expressar o domínio que a União detém sobre lagos e rios que banhem mais de um estado, sirvam de limites com outros países, na forma do art. 20, inciso III, da Constituição Federal. 

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• O Inventário Florestal Nacional (IFN) tem como objetivo

principal produzir informações sobre os recursos florestais do

Brasil, tanto de florestas naturais como de florestas plantadas,

para servir de subsídios à formulação de políticas públicas de

desenvolvimento, uso e conservação e à tomada de decisão.

Por ser de abrangência nacional e utilizar metodologia

padronizada, se bem coordenado, pode contribuir com

outras políticas públicas de cunho ambiental (lista de especies

ameaçadas, mapa de áreas prioritárias para conservação, entre

outros) e receber dados de inventários de áreas de manejo

florestal (privadas e públicas);

• Os planos de saneamento ambiental regulamentados

pela Lei 11.445, de 2007, contam ainda com uma tímida

implementação no País. Em seu escopo, estão os objetivos e

metas de curto, medio e longo prazos para a universalização do

serviço de saneamento básico, observando a compatibilidade

com os demais planos setoriais. Elaborados para a integralidade

do território do ente da Federação que o elaborou – exceto

quando regional – esses planos devem ser compatíveis com

os planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos;

• O  Plano Nacional de Saneamento Básico  constitui  o

eixo central da Política Nacional de Saneamento, a partir da

articulação dos entes da Federação para a implementação

das diretrizes da Lei 11.445/07. O estudo “Comparações

Internacionais: Uma agenda de soluções para os desafios

do saneamento brasileiro29”, elaborado em 2017 pela CNI,

mostra que, com o ritmo atual de investimentos, o Brasil

levará mais quatro decadas para atingir a meta do Plano

Nacional de Saneamento Básico (Plansab), publicado em 2013.

Para universalizar os serviços em 2033, a media histórica de

29. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Comparações Internacionais: uma agenda de soluções para os desafios do saneamento brasileiro. Brasília, 2017.Disponível em <http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2017/2/comparacoes-internacionais-uma-agenda-de-solucoes-para-os-desafios-do-saneamento-brasileiro/>. Acesso em: 21 set. 2017.

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NÇAinvestimentos no setor deverá ser elevada dos R$ 7,6 bilhões

por ano (2002 – 2012) para R$ 15,2 bilhões anuais.

Com uma perspectiva diferenciada, é importante destacar o Plano

de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS). Dentro

do Plano, estão previstos Pactos Setoriais,  Ações Governamen-

tais,  Iniciativas Voluntárias e Ações de Parceria como ferramentas

para sua implementação. Esse Plano tem aderência maior aos ODSs

e deve ser construído com uma lógica de cadeia de agregação de

valor. O governo já lançou as diretrizes para implementação do 2º

Ciclo do PPCS – 2016 a 2020, e avança na discussão sobre critérios

de sustentabilidade, a serem adotados em compras públicas.

2.1.3 Instrumentos Econômicos

Em linhas gerais, os instrumentos econômicos para gestão

ambiental impõem obrigações financeiras sobre o setor produtivo,

que provocam mudanças por meio de diferenciação competitiva

ou proveem fundos para financiar as políticas de regulação do

uso e da conservação ambiental. Os mecanismos de incentivo às

boas práticas, que poderiam ser classificados nessa categoria, são

praticamente inexistentes e inexpressivos no País. Em linhas gerais,

o uso de instrumentos econômicos é baseado nos princípios do

poluidor- pagador ou do usuário-pagador.

Considerando as iniciativas do mercado financeiro, incentivos por

meio da redução do custo de capital, em função de adoção de

práticas sustentáveis, vêm-se disseminando. Um olhar atento das

empresas para esse tipo de oportunidade pode gerar condições

mais atraentes de captação de recursos. Essas sistemáticas, mesmo

que presentes no mercado, são incorporadas de forma tímida nas

políticas públicas associadas aos usos e à conservação dos recursos

naturais e dos ecossistemas30. O objetivo de adoção de instrumentos

econômicos nas políticas ambientais está associado ao:

30. O item 4.3 deste documento trata especificamente dos requisitos do mercado financeiro.

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• Reconhecimento dos recursos naturais e dos ecossistemas

como bens econômicos, o que permite ao usuário ou poluidor

obter uma indicação de seu real valor;

• Incentivo à racionalização do uso ou redução da pressão sobre

os recursos naturais e bens ambientais;

• Obtenção de recursos financeiros para o financiamento dos

programas e intervenções para gestão e conservação dos

recursos naturais, bens ambientais e ecossistemas.

Por certo, a cobrança pelo uso da água vem sendo o instrumento

econômico mais disseminado no País e aquele que mais se aproxima

do referencial conceitual. Implantada em 2003 na Bacia Hidrográ-

fica do Paraíba do Sul, hoje é realidade em mais quatro bacias de

rios sob o domínio da União: Piracicaba, Capivari e Jundiaí; São

Francisco, Doce e Paranaíba – além de aproximadamente 40 bacias

hidrográficas, sob o domínio dos estados31.

A partir da edição do Decreto 7.402/2010, a parcela referida no

inciso II do § 1º do art. 17 da Lei 9.648/98, passou a ser formal-

mente considerada como cobrança pelo uso de recursos hídricos,

conforme previsto no inciso IV do art. 5º da Lei 9.433/97. O valor

anualmente arrecadado é destinado à Agência Nacional de Águas

(ANA) para as despesas referentes à Política Nacional de Recursos

Hídricos e ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos

Hídricos32, conforme tabela a seguir:

31. A tarifa de fornecimento de água bruta do Estado do Ceará não é considerada como cobrança pelo uso da água, devido à diferença de natureza entre os mecanismos. 32. Legalmente, os valores deveriam ser destinados ao MMA para atender às necessidades do conjunto do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Devido a uma falha de política pública, os valores passaram a ser exclusivos da Agência Nacional de Águas. O setor empresarial vem apontando sistematicamente os problemas dessa distorção no âmbito dos colegiados de recursos hídricos, previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos.

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NÇATabela 1 - Total dos Valores Cobrados pelo Uso de Recursos Hídricos

Valores em R$ milhões

ARRECADADOR DOMÍNIO DA ÁGUAVALOR COBRADO

(2016)TOTAL ARRECADADO

ANAUnião 66.008 528.695

União/Estados 208.798 2.221.533

INEA/RJ Estado do RJ 24.613 271830

SSRH/SP Estado de SP 88.419 391605

IGAM/MG Estado de MG 42.106 186240

Águas do Paraná/PR Estado do PR 3.815 11.055

AESA/PB Estado da PB 2.060 6.184

Fonte: Adaptado do site da ANA (http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/cobrancaearrecadacao.aspx)..Nota: Foram excluídos desta tabela os valores arrecadados com a tarifa de fornecimento de água bruta praticada no Estado do Ceará, que representa uma arrecadação anual aproximada de R$ 102 milhões.

Fundos associados às políticas de conservação e ao uso dos recursos

naturais são considerados como instrumentos econômicos em

algumas classificações. Para este documento, entendem-se fundos

como mecanismos para alocar os recursos arrecadados por meio de

alguns dos instrumentos econômicos33.

Outros instrumentos considerados como econômicos, em função

da forma como são implementados, acabam por não induzir a

posturas mais sustentáveis. Como exemplos, temos a compensação

ambiental e a repartição de benefícios pelo uso da biodiversidade

brasileira, que incorrem em obrigações para os setores usuários,

aumentando os custos de investimento e operação, sem uma lógica

de incentivo à eficiência no uso dos recursos.

33. A referência aos Fundos será detalhada no item 3.3, que trata dos incentivos para a incorporação de critérios de sustentabilidade nas estratégias corporativas.

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A Compensação Ambiental, prevista na lei que institui o Sistema

Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei 9.985/2000),

obriga o empreendedor de atividade com significativo impacto

ambiental a apoiar a implantação e a manutenção de unidade

de conservação, por meio do pagamento de um percentual (ate

0,5% nos licenciamentos federais) dos custos totais previstos para

a implantação dos empreendimentos.

Esse pagamento compulsório representa um mecanismo financeiro

de compensação pelos efeitos de impactos negativos não miti-

gáveis, ocorridos quando da implantação de empreendimentos e

identificados no processo de licenciamento ambiental. É hoje o

principal mecanismo de financiamento do SNUC.

A distorção está no fato de os valores pagos não serem, na grande

maioria dos casos, definidos em função dos impactos causados ao

ambiente, sendo fixados no teto legalmente definido de 0,5% dos

custos de implantação. Alguns estados cobram percentual maior

do que o limite de 0,5%, o que gera insegurança jurídica. Estima-se

que, ao final de 2014, quase R$1 bilhão do total arrecadado, apenas

no âmbito federal, tinha destinação definida. Esse montante não

inclui os valores acordados em licenciamentos e ainda sem desti-

nação específica34.

A tabela a seguir discrimina os valores da compensação ambiental

destinados a unidades de conservação, no período de 2011 a 2017.

A falta de informação não permite a comparação desses valores

com os valores efetivamente arrecadados.

34. FUNBIO. Desvendando a compensação ambiental: aspectos jurídicos, operacionais e financeiros. Rio de Janeiro: Funbio, 2015.

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NÇATabela 2 – Compensação ambiental

ANOVALORES

DESTINADOS (R$)ICMBIO

(%)

UCS ESTADUAIS

(%)

UCS MUNICIPAIS

(%)

2011 10.585.544,68 92,51 4,35 3,14

2012 141.384.721,26 77,32 21,32 0,82

2013 334.423.863,25 77,19 22,14 0,67

2014 487.183.321.26 86,29 13,50 0,21

2015 11.429.631,67 92,40 17,53 0,50

2016 391.399.321,95 85,81 12,96 1,23

2017 255.807.185,53 83,36 13,72 2,92

Acumulado 1.696.187.877,18 83,52 15,43 1,05

Fonte: Ibama, 2017.

A Repartição de Benefícios resultante do uso econômico da biodi-

versidade brasileira foi estabelecida na Convenção sobre Diversidade

Biológica (1992) e começou ser implementada no Brasil em 2001. O

novo marco legal, determinado pela Lei 13.123/2015, estabeleceu

duas modalidades de pagamento: a) monetária - valor pago à União,

em que 1% da receita líquida anual obtida com a exploração econô-

mica do produto acabado, oriundo de acesso ao patrimônio genetico,

e destinado ao Fundo Nacional de Repartição de benefícios; e b) não

monetária - valor repartido diretamente com os provedores da biodi-

versidade ou do conhecimento tradicional associado, equivalente a

75% do previsto para a modalidade monetária.

Estima-se que, entre 2001 a 2014, o valor destinado à repartição

de benefícios pelos usuários da biodiversidade tenha sido superior a

R$1milhão. Em 2015, antes da entrada em vigor do novo marco legal,

esse valor fora estimado entre R$ 4 e 5 milhões. Não há registro de

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repartição de benefícios realizada no âmbito do novo marco legal.

A nova lei tende a atrair investimentos com o uso sustentável da biodi-

versidade, gerando mais recursos para a repartição de benefícios.

2.2 Contexto Mercadológico

2.2.1 Gestão ambiental como diferencial competitivo

Da mesma forma que em outros processos gerenciais, a adequada

gestão dos recursos naturais e dos ecossistemas, bem como a

relação com as diferentes partes interessadas, permite incorporar

a sustentabilidade como fator de competitividade e de mercado.

Algumas empresas já adotam essa estratégia para diferenciação

dos seus negócios. Em um mundo que opera de forma integrada,

com aceleradas mudanças promovidas pelos avanços de tecnologia

e interconexão de mercados, esse caminho é promissor para novos

ganhos de competitividade.

Associada às práticas de gestão ambiental e à relação constru-

tiva com as partes interessadas a agregação de valor gera valor

social, por meio das externalidades positivas. As práticas de gestão

ambiental tendem a otimizar o uso de insumos e energia, por meio

da modernização dos processos ou até mesmo pela substituição de

matérias-primas.

Por outro lado, tais iniciativas demandam investimentos e custos

de operação, muitas vezes elevados. Comparar os custos de

investimentos e operação com os ganhos auferidos demanda uma

perspectiva econômica – e não apenas financeira – no contexto

das iniciativas.

Para isso, compreender o princípio da externalidade é essencial.

O conceito se justifica pela existência de falhas de mercado, que

fazem com que os custos de uma atividade produtiva venham a ser

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NÇAmenores do que os custos sociais de suas ações, sempre e quando

apresentem repercussões negativas na qualidade ambiental ou no

bem-estar social. No caso de haver repercussões positivas, o sentido

se inverte. Ao reconhecer, quantificar e reduzir externalidades nega-

tivas e aumentar as positivas as empresas assumem papel transfor-

mador na transição para um desenvolvimento sustentável35.

A precificação das externalidades positivas, via instrumentos

econômicos, é uma tendência que poderá criar condições para

novos modelos de negócios e mercados. Exemplos podem vir das

iniciativas da logística reversa, do reuso de efluentes domésticos

como fonte alternativa de água e da geração de energia a partir

da biomassa.

Buscando otimizar seus processos produtivos por meio da eficiência

de uso de recursos naturais, o setor de mineração, por exemplo,

tem o reuso da água como prática comum. Em algumas tipologias,

o processo atinge até 85% da água recirculada.

Já o setor sucroenergético, segundo estimativas da Unica (União da

Indústria de Cana-de-Açúcar), prevê que, em 2020, a eletricidade

produzida a partir de biomassa (bagaço de cana) poderá representar

15% da matriz brasileira, com a produção média de 14.400 MW.

Os mecanismos de incentivo, ainda tímidos no País, devem se

fundamentar em premiar as iniciativas capazes de gerar externali-

dades positivas, como, por exemplo, redução dos prazos e custos de

obtenção/renovação de licenças, em função da adoção de sistemas

de gestão ambiental, certificações e outras boas práticas.

35. As externalidades são causadas por falhas de mercado que acabam por produzir diferenças entre custos privados e custos sociais. Entre as principais razões para as externalidades, estão: a) competição imperfeita; b) existência de bens públicos; c) inexistência ou má alocação de direito de propriedade; d) informação incompleta; e e) altos custos de transação. As externalidades se materializam nos preços, balizadores de trocas mutuamente benéficas e que representam a combinação socialmente ideal entre a abundância relativa (que sublinha o conceito de escassez) e o valor (que sublinha a percepção social e embasa a disposição a pagar) dos fatores de produção. As distorções ocorrem justamente quando, nesse encontro entre oferta e demanda, há distorções de mercado e custos privados, em vez de custos sociais.

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O mapeamento das oportunidades de ganhos de eficiência de

processo, em relação ao uso de insumos e à identificação das

externalidades geradas, é o primeiro degrau da gestão corpora-

tiva da sustentabilidade. Na relação com o ambiente externo, isso

representa, na prática, o mapeamento das repercussões sociais e

ambientais de suas atividades e de sua cadeia de suprimentos, bem

como as respectivas influências na geração de valor.

Dessa forma, criam-se informações e condições para identificar as

oportunidades de definir estratégias para a sustentação de suas ativi-

dades – antecipando as mudanças na regulação, em especial, no que

diz respeito à tendência de crescente precificação das externalidades.

Mediante a incorporação dos processos de gestão ambiental,

emerge um novo paradigma da competitividade, decorrente da

noção de que a intervenção sobre as externalidades ocorrerá, seja

pela via regulatória, seja pela via de incentivo mercadológico. Ao

se refletirem as externalidades nos custos privados, o fator de

produção “recursos naturais/capital natural” passa a ter seu preço

ou custo de acesso crescente, desencadeando uma realocação dos

fatores de produção (trabalho, capital, tecnologia e empreende-

dorismo) para seus fins mais eficientes. Enquanto alguns bens e

serviços teriam seus preços ajustados para cima, a sociedade como

um todo ganha, por ter menos impactos ambientais e sociais.

2.2.2 Investimento Social Privado

A perspectiva social da sustentabilidade por vezes é desconside-

rada, quando o debate é realizado em fóruns ou entre especialistas

originários da área ambiental. Por outro lado, em função de uma

agenda própria, as políticas sociais muitas vezes desconsideram as

oportunidades decorrentes de uma mais estreita articulação com

as políticas de gestão do uso e conservação dos recursos naturais

e ecossistemas. A articulação de investimentos sociais e ambientais

tende a potencializar os resultados de ambos, tanto em termos de

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NÇAbenefício social como em termos de ganhos de competitividade

para o setor empresarial.

É importante salientar que a rotina operacional da indústria brasi-

leira abrange práticas e custos operacionais alocados para sua

sustentação, o que contribui para seus resultados e permanência,

além de propiciar o necessário suporte a seu valor de mercado.

Além dos gastos operacionais progressivamente alocados de forma

mais focada em competitividade ligada a otimização de processos

de produção, tem havido crescente aplicação de recursos privados

em programas, projetos e ações sociais.

Entre suas frentes de atuação, a Comunitas36 é a responsável pela

realização do Benchmarking do Investimento Social Corporativo

(BISC37). O BISC é uma ferramenta de acompanhamento anual

dos investimentos sociais privados no Brasil, por meio da qual é

possível aferir a evolução dos compromissos sociais das empresas

participantes, extrair a percepção dos gestores sobre a qualidade

das aplicações, buscar novos temas para subsidiar a formulação de

estratégias e melhorar a contribuição para o desenvolvimento do

País (COMUNITAS, 2017).

Na edição 2016 do BISC, analisaram-se as possibilidades de conexão

dos investimentos sociais privados à “Agenda 2030 para o Desen-

volvimento Sustentável38”. Constatou-se que aproximadamente

35% das organizações privadas que participaram da pesquisa já

36. A Comunitas é uma organização da sociedade civil, cujo objetivo é contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais privados, como parte da iniciativa de estabelecer parcerias para produzir conhecimento para o desenvolvimento do País. É seu objetivo “... contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais corporativos e estimular a participação da iniciativa privada no desenvolvimento social e econômico do país” (COMUNITAS, 2017).37. Segundo informações obtidas no website da Comunitas, “Os resultados apresentados neste relatório (2016) refletem um universo de 312 empresas, 24 fundações empresariais, a federação de empresas do setor de indústria do Rio de Janeiro – sistema Firjan –, gestores sociais e lideranças de 10 empresas e institutos empresariais”.38. A edição de 2016 do BISC contém duas partes: a) análise da evolução anual dos ISPs; b) influência da conjuntura econômica na conduta das empresas. Nessa última parte, foram identificadas e analisadas as tendências de aperfeiçoamento recente na alocação de investimentos sociais corporativos e os desafios na condução da alocação de aplicações sociais obrigatórias. Houve identificação das possibilidades de integração dos investimentos sociais aos ODS.

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utilizam os ODSs na construção das suas estratégias e na gestão

dos negócios.

Essas iniciativas envolvem principalmente as temáticas de empregos

dignos e crescimento econômico, consumo responsável, parcerias

pelas metas e educação de qualidade. As empresas reconhecem

que os ODS comunicam uma visão mais estruturante, o que permite

dialogar com as políticas públicas para o futuro e construir capaci-

dades nas empresas e organizações.

No que se refere à relação entre a conjuntura econômica e o total

de investimentos sociais efetivados, é interessante notar que a

queda esperada no total de investimentos, prevista na versão do

relatório de 2015, não se concretizou, conforme demonstrado nas

figuras 5 e 6, a seguir:

Figura 5 – Comportamento dos investimentos sociais do Grupo BISC entre 2007 e 2015

1,6

1,9 1,9

2,2

2,6

3

2,3

2,6 2,6

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

2007<PIB: 6% 5% -0,3% 7,6% 3,9% 1,8% 2,7% 0,2% -3,8%

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Em b

ilhõe

s de

reai

s(v

alor

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just

ados

pel

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flaç

ão)

Fonte: BISC, 2016.

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NÇAFigura 6 – Comparação do investimento social do Grupo BISC entre

2014 e 2015

Reduçãosuperior a 25%

Redução entre 11% e 25%

Redução deaté 10%

Aumento deaté 10%

Aumento de11% a 25%

Aumento superior a 25%

14%das empresas

21%das empresas

29%das empresas

0%das empresas

7%das empresas

29%das empresas

Fonte: BISC , 2016.

A pesquisa indica que “Os investimentos sociais das empresas

do BISC atingiram, em 2015, R$ 2,6 bilhões. A totalidade desses

valores corresponde a recursos financeiros, pois poucas empresas

informam os valores relativos a doações ou prestação de serviços

gratuitos e, mesmo nesses casos, as cifras não são significativas

(Gráfico 9). Em que pese o fato de 94% das empresas terem criado

institutos para atuar no campo social, dois terços dos investimentos

sociais do último ano foram realizados diretamente por elas. Essa

é a maior diferença ao longo de todo o período analisado pela

pesquisa” (BISC, 2016, pg. 18).

Figura 7 – Composição dos investimentos sociais do Grupo BISC

34%

66%

Recursos investidos pelo instituto

0,4%Bens e serviços

Recursos investidos pela empresa

Total dosinvestimentos

R$ 2,6bilhões

Fonte: BISC, 2016.

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Assim como ocorre na gestão ambiental, a pesquisa mostra que

o setor empresarial vem direcionando esforços para os aspectos

sociais. Além de reconhecer suas responsabilidades, o avanço do

setor está em identificar e realizar oportunidades de agregação de

valor, mediante iniciativas nesses dois campos.

A manutenção do patamar dos investimentos sociais dos últimos

anos, mesmo frente às dificuldades econômicas e à predominância

de investimento de empresas – em decorrência dos institutos –

permite inferir que já existe a percepção de que os resultados estão

efetivamente relacionados à agregação de valor para os negócios.

2.2.3 Tendências do Mercado Consumidor

Ainda no contexto do mercado, o comportamento do consumidor

passa a ter um papel fundamental. Impulsionados pela massificação

das redes sociais online, os consumidores, as organizações da socie-

dade civil, a mídia e os próprios colaboradores das empresas vêm

exigindo um nível maior de prestação de contas por parte de todos

os segmentos envolvidos no negócio.

As exigências perpassam questões que abarcam desde o tratamento

dispensado aos trabalhadores, a verificação de origem das maté-

rias-primas até a cultura corporativa. Em alguns nichos, emerge um

consumidor que se sente cada vez mais responsável pelas decisões

do consumo que realiza, guiando suas atitudes em função das

informações disponíveis, oriundas de fontes confiáveis.

Uma experiência relevante é o Selo Procel de Economia de Energia,

que tem como finalidade ser uma ferramenta simples e eficaz,

que permite ao consumidor conhecer, entre os equipamentos e

eletrodomésticos à disposição no mercado, os mais eficientes e que

consomem menos energia.

A partir de sua criação, foram firmadas parcerias com o Inmetro,

associações de fabricantes e academia, com o objetivo de estimular

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NÇAa disponibilidade de equipamentos cada vez mais eficientes no

mercado brasileiro. Para isso, foram estabelecidos índices de

consumo e desempenho para cada categoria de equipamento.

Apenas os produtos que atingem esses índices são contemplados

com o Selo Procel. O selo gera economia de energia, redução de

emissões de GEE, valor ao consumidor e também valor às empresas,

que se esmeram em apresentar produtos mais eficientes, obtendo

diferenciação em mercados competitivos.

As evidências sugerem que, quanto mais as preferências sociais

convergirem para determinada posição39, mais as decisões indi-

viduais tomarão aquele caminho. Na combinação entre o amplo

e crescente acesso à informação e a influência das preferências

sociais, percebe-se que há espaço para modificações pró-sustenta-

bilidade no comportamento do consumidor.

Segundo pesquisa global realizada pela consultoria Nielsen40 em

2015, as vendas de produtos de bens de consumo de marcas que

atestam seu compromisso com a sustentabilidade aumentaram

mais de 4%, enquanto as marcas sem compromisso cresceram

menos de 1%.

A pesquisa, realizada em 60 países, constatou que 66% dos

consumidores se dizem dispostos a pagar mais por marcas

comprometidas com causas sociais e ambientais, propensão

que já é de 63% na América Latina. Entre os entrevistados que

mostraram mais aderência ao consumo consciente, mais da

metade nasceu após os anos 1980. Esse público representa 51%

daqueles que declararam ler as embalagens em busca de selos e

outras informações que atestem a sustentabilidade dos produtos

– e estão dispostos a pagar a mais por essa opção.

39. Que é, por sua vez influenciada pela disponibilidade de informações e o julgamento subjetivo de sua relevância40. NIELSEN. Global sustainability report. 2015. Disponível em: <https://www.nielsen.com/content/dam/nielsenglobal/dk/docs/global-sustainability-report-oct-2015.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2017.

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À medida que navegam nesse cenário de modificações nas prefe-

rências dos consumidores, as empresas devem compreender que

uma visão coesa de sustentabilidade ambiental e social irá ajudá-las

a desenvolver novos modelos de crescimento e oportunidades, de

modo a torná-las líderes de produtos, serviços e mercado.

2.3 O Estado como indutor econômico de mudança

Para além do ambiente regulatório associado ao uso e à conser-

vação dos recursos naturais e ecossistemas, o Estado tem um papel

de extrema relevância como agente econômico. Também as polí-

ticas econômicas e de desenvolvimento podem – dependendo de

como são concebidas – direcionar recursos visando à promoção

do Desenvolvimento Sustentável. Exemplo disso são os leilões de

energia, principal forma de contratação de energia no Brasil. Esses

leilões influenciam o mercado, ao indicarem a demanda de energia

por fonte – como no caso da inserção da fonte eólica na matriz de

energia elétrica.

Outro perfil de ação de governo que influencia o mercado é o

estabelecimento de sistemas de “Compras Públicas Sustentáveis”

– cuja base legal ainda está sendo discutida, mas cujo conceito já

permeia diversas esferas do setor público.

Ao priorizar produtos com eficiência ambiental, o governo se dispõe

a pagar um prêmio pelo fomento à sustentabilidade. Essa prática

tende a propiciar economias de escala para produtos e padrões de

produção almejados. Entretanto, a adoção desse critério de prefe-

rência deve ser analisada com extrema cautela, tendo em vista os

potenciais efeitos colaterais em pequenas e médias empresas, que

têm mais dificuldade de captar recursos para se adaptar. A gradua-

lidade na incorporação desses critérios é fator chave para seu

sucesso. A CNI tem articulado a participação dos setores industriais

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NÇAno processo de definição de critérios de sustentabilidade, colabo-

rando com o Governo.

Desoneração de custos operacionais e/ou redução de impostos

pelo uso de tecnologias de maior eficiência energética, redução de

emissões de gases de efeito estufa, desoneração da cadeia de logís-

tica reversa, além de incentivos para produção e consumo de água

proveniente do reuso de efluentes domésticos são iniciativas com

importante potencial a ser explorado. Também nesses casos, uma

avaliação criteriosa dos efeitos colaterais, em termos de impacto

fiscal e eventuais distorções nos mercados, devem ser analisadas

com cautela.

A desoneração tributária de materiais reciclados, trazida à pauta

pela CNI, permitiria, se adotada, criar um mercado mais competi-

tivo para esses materiais. Os efeitos na cadeia produtiva seriam a

viabilidade de novos modelos/oportunidades de negócios, maiores

taxas de reciclagem e geração de externalidades positivas, como a

redução dos materiais depositados em aterros sanitários.

No setor de saneamento, por exemplo, a geração de energia elétrica

por meio do biogás de aterro sanitário é realizada atualmente com

motores e equipamentos de tecnologia importada. Num cenário de

incentivos públicos para desenvolvimento e aplicação de tecnologia

nacional para essa solução energética, a escala certamente viabili-

zaria o desenvolvimento da indústria nacional.

A adoção de mecanismos de incentivo, via políticas econômicas, de

desenvolvimento e tributárias, pode incentivar a utilização de tecno-

logias e processos avançados para redução da poluição, gerando

oportunidades para pequenas e médias indústrias e fomentando

mercados e negócios.

Como exemplo, temos as novas políticas de financiamento do

BNDES, que entraram em vigor em janeiro de 2017, incentivando

projetos na área ambiental, por meio de condições especiais, o que

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reflete não só reflete as mudanças da sua atuação, como também

reforça seu papel de indutor do desenvolvimento sustentável e esti-

mulador da adoção das melhores práticas nas empresas apoiadas.

No anexo B, são apresentas informações consolidadas a respeito

das linhas de financiamento e programas oferecidos por institui-

ções do Sistema Nacional de Fomento (SNF). Os incentivos para a

gestão corporativa da sustentabilidade constituem uma ferramenta

essencial para a transformação de iniciativas em sustentabilidade

em negócios viáveis e sustentados em longo prazo.

2.4 Requisitos do mercado financeiro

Os requisitos do mercado financeiro para acesso ao crédito são

outro vetor importante quanto às exigências de práticas produtivas

e produtos mais sustentáveis. Tais critérios, que vêm ganhando rele-

vância, dizem respeito à forma como as instituições financeiras consi-

deram riscos ambientais e sociais em seus processos decisórios sobre

investimentos, concessão de crédito e demais operações (seguro,

emissão de títulos, etc.). Além disso, o próprio mercado de ações já

se mostra sensível ao tema. Esses movimentos condicionam ou, no

mínimo, têm influência direta sobre os novos modelos de negócios.

2.4.1 Instituições Financeiras

Os desafios e efeitos da aplicação desses requisitos no setor industrial

são perceptíveis, inicialmente com relação ao custo e à burocracia

para acessar o crédito. Nessa linha, a regulação do Banco Central

sobre risco socioambiental (Resolução 4.327/2014 e Resolução

4.557/2017) respalda essa prática. Todo esse movimento está voltado

à redução dos riscos físicos, regulatórios e de imagem, aos quais as

intuições financeiras ficam expostas em função de suas operações e,

por consequência, impulsionam o próprio setor produtivo a conhecer,

gerir e reduzir sua própria exposição a tais riscos.

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NÇASe não forem adequadamente geridos, esses riscos podem gerar

perda de receita, litígios dispendiosos, impactos em imagem e

reputação, entre outros efeitos negativos. As atividades de clientes

também podem representar oportunidades de implementar opera-

ções financeiras adicionais exitosas, com impacto econômico

positivo para as instituições financeiras.

A seguir, encontra-se uma linha do tempo, com os principais marcos

de determinação de requisitos e orientadores de gestão de risco

socioambiental por instituições financeiras.

Figura 8 – Principais marcos para gestão de risco socioambiental por instituições financeiras

Resolução 3876/2010Veda a concessão de crédito

rural para quem manteve

trabalhadores em condições análogas

à de escravo

Lei 12.305/ 2010 Destinação de

Resíduos Sólidos

Lei 6.938/1981Política Nacional

de Meio Ambiente

Legislação

Regulação – Conselho Monetário Nacional

Autoregulação

Resolução 3545/2008Estabelece exigência de

regularidadeambiental e outras

condicionantes,para financiamento

agropecuário no Bioma Amazônia.

Resolução 4327/2014Diretrizes observadas no

estabelecimento/ implementação da Política

de Responsabilidade Socioambiental pelas

instituições linkadas ao BC do Brasil.

1980 2000 2010

Protocolo Verde - 1999 -Participação do setor privado

(FEBRABAN e o MMA)

Lei 11.105/ 2005 Alimentos

Geneticamente Modificados

Diretrizes da FEBRABAN – 2014 A FEBRABAN também

emitiu uma norma de autorregulação.

201520051995

Protocolo VerdePrimeira grande iniciativa

no Brasil,firmado apenas por bancos

públicose não chegou a produzir

grandes resultados.

Lei 12.187/ 2009Lei Nacional de Mudanças

Climáticas

Fonte: Arcadis, 2017.

Os Princípios do Equador constituem um dos principais marcos

para orientar a formulação dos requisitos de consideração de riscos

ambientais e sociais. É uma estrutura de gestão de riscos, adotada

por instituições financeiras, para determinar, avaliar e gerenciar

impactos e riscos ambientais e sociais em projetos e em operações.

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Foi concebida para fornecer um padrão mínimo de eficiência no

apoio ao processo decisório sobre riscos.

Desde a publicação dos Princípios do Equador41, em 2003, um

conjunto de critérios socioambientais, elaborados pela Corporação

Financeira Internacional (International Finance Corporation, IFC),

tem sido aplicado na consideração de concessão de crédito e outras

operações financeiras de instituições financeiras que aderiram a

esses princípios.

Apesar de não ter aderido aos Princípios do Equador, o BNDES

apoiou o Protocolo Verde42. Em termos de requisitos ambientais e

sociais, o Banco requer que os demandantes de recursos atendam

a determinados requisitos mínimos43.

A resolução Bacen 4.327, de 2014, também atua no sentido de

requerer gestão de riscos socioambientais no Brasil. A medida

estabelece diretrizes para implementação da Política Nacional de

Responsabilidade Socioambiental no setor financeiro nacional e

demanda a avaliação de riscos socioambientais na perspectiva do

negócio. Por sua vez, a Resolução Bacen 4.557, de 2017, dispõe

sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e a estrutura de

gerenciamento de capital, incluindo riscos ambientais e sociais das

instituições financeiras.

41. Os princípios estabelecidos que devem ser atendidos por parte dos bancos signatários são: Princípio 1 – Revisão e Categorização; Princípio 2 – Avaliação Socioambiental; Princípio 3 – Aplicação dos Padrões Socioambientais; Princípio 4 – Sistema de Gestão Socioambiental e Plano de Ação; Princípio 5 – Engajamento das Partes Interessadas; Princípio 6 – Mecanismo de Reclamação; Princípio 7 – Revisão Independente; Princípio 8 – Convênios e Acordos; Princípio 9 – Reporte e Monitoramento Independente; Princípio 10 – Reporte e Transparência. Visando operacionalizar a implantação dos Princípios do Equador o IFC elaborou oito Padrões de Desempenho, que definem o que o cliente deve garantir, ao longo da evolução do projeto e durante o período de duração do investimento.42. Protocolo de intenções pela responsabilidade socioambiental, é uma carta de princípios firmada por bancos públicos em 1995 (muitos deles depois aderiam aos Princípios do Equador (como Banco do Brasil e CEF), e por bancos privados em 2009, no qual se propõem a implantar práticas de consideração de fatores ambientais e sociais. Definia que teria eficácia a partir de sua publicação (em 1995) e que deveria vigorar por 5 anos. Foi revisado em 2008, e em 2011 o BNDES publicou uma série de ações a ele relacionadas. Mais informação em < http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Hotsites/Relatorio_Anual_2011/Capitulos/atuacao_institucional/o_bndes_e_protocolo_verde.html>.43. BNDES. Quem pode ser cliente. 2016. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/quem-pode-ser-cliente>. Acesso em: 25 abr. 2017.

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NÇACumpre observar que as mencionadas resoluções requerem

adequação da estrutura de consideração de risco socioambiental

também pelo BNDES. Pode-se afirmar que, em curto prazo, haverá

uma mudança importante na consideração de riscos socioambien-

tais como um dos componentes das modalidades de avaliação de

riscos em futuras operações.

Os efeitos da aplicação desses requisitos e da regulação do Bacen,

em proponentes do setor privado, de modo geral, são:

• Aumento do tempo das análises de risco de crédito pelas

instituições financeiras (a análise de riscos ambientais e sociais

será feita por avaliação independente);

• Maior número de requisitos e condicionantes ambientais e

sociais em contratos e acordos sobre tempestiva implantação

de planos de ação corretivos;

• Aumento dos custos do processo de consideração de crédito,

investimento, etc.;

• Melhoria do nível de conformidade legal em relação a

regras ambientais e sociais (com decréscimo de custos de

não conformidades);

• Melhoria do desempenho de gestão dos aspectos ambientais e

sociais, o que tende a aumentar da competividade em relação

àqueles aspectos.

As salvaguardas ambientais e sociais passam a ser relevantes na

obtenção de recursos financeiros pelo setor industrial. Aplicadas

como requisitos de análise de crédito, complexificam44 os processos

decisórios de obtenção de crédito.

44. A grosso modo, salvaguardas ambientais e sociais para instituições financeiras são regras normativas que contêm diretrizes precisas para que os agentes financeiros abordem, e gerenciem riscos e impactos ambientais e sociais, em suas operações e Isso garante que danos e impactos negativos, ambientais e sociais, sejam identificados e que condicionantes sejam incluídas em contratos de crédito, financiamento, seguros, dentre outros, evitando que os riscos daqueles danos e impactos gerem eventos negativos àquelas instituições. As salvaguardas apoiam o cumprimento de compromissos e diretrizes de desenvolvimento sustentável firmados por elas.

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Algumas das instituições financeiras e organizações multilaterais que

fornecem recursos para o Brasil (repassados por bancos de varejo,

fundos e outras instituições financeiras), fornecem apoio técnico espe-

cializado, elaboram e disponibilizam manuais e outras ferramentas

que apoiam as empresas no cumprimento daqueles requisitos.

A IFC, por exemplo, está implementando uma iniciativa de incen-

tivo ao empreendedorismo de negócios sustentáveis, por meio de

assessoria técnica para questões relacionadas a padrões ambientais,

sociais e de governança, eficiência energética e uso de recursos

naturais. A iniciativa inclui apoio para gestão de cadeias de supri-

mentos e suporte para expandir o acesso a financiamentos críticos

também para pequenas e médias empresas (por meio de apoio aos

intermediários financeiros que lidam diretamente com os clientes)45.

Por fim, muito embora a gestão corporativa da sustentabilidade

pela indústria reconhecidamente economize recursos no longo

prazo (tanto naturais como financeiros), fica clara a necessidade de

aportes de investimento no curto prazo para promover a mudança

de curso desejada. Afinal, o desafio ao setor privado não é simples.

2.4.2 Mercado de Capitais

No que se refere às iniciativas de mercado de capitais e bolsas

de valores, na avaliação de desempenho em sustentabilidade

corporativa, a Bolsa de Valores de Nova York (Dow Jones – DJ)

foi a primeira a criar um índice, com o objetivo de avaliar, entre

as empresas listadas, gestão e desempenho ambiental, social e

de governança, alem dos resultados econômicos. Em 1999, o

Dow Jones Sustainability Index (DJSI) foi lançado como o primeiro

benchmark global de sustentabilidade.

45. Informações detalhadas sobre a atuação da IFC na provisão de assessorial técnica em <http://www.ifc.org/wps/wcm/connect/corp_ext_content/ifc_external_corporate_site/solutions/solutions>, somente em inglês.

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NÇAAs empresas que constam do DJSI são vistas por investidores como

mais capazes de gerar valor de longo prazo aos acionistas, uma

vez que sua gestão de riscos, bem como a operacional, incorpora

tanto fatores econômicos, como ambientais e sociais. O quadro 4

apresenta as instituições brasileiras que compõem o DJSI para o

ano base de 2017.

Quadro 2 - Lista de empresas brasileiras que compõem o DJSI 2017

BANCOS

Banco do Brasil S/A

Itaú Unibanco Holding S/A

Itausa - Investimentos Itaú S/A

BENS DE INVESTIMENTO

Embraer S/A

MATERIAIS

Fibria Celulose S/A (Novo)

SOFTWARE & SERVIÇOS

Cielo S/A (Novo)

SERVIÇOS

Cia Energetica de Minas Gerais

Fonte: S&PDJI , 2016 46.

46. S&P DOW JONES INDICES. Dow Jones Sustainability Indices. 2016. Disponível em: <http://www.robecosam.com/images/DJSI2016_ComponentList_World.pdf >. Acesso em: 09 de mai. 2017.

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Gráfico 1 – Gráfico de desempenho da carteira DJSI Global e Mercados Emergentes

Dow Jones Sustainability Emerging Markets Index

Dow Jones Sustainability Europe Index (EUR) TR

Dow Jones Sustainability North America Composite Total Return Index (USD)

Dow Jones Sustainability World Index

5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

Retorno Diário Médio

Retorno Mensal Médio

Retorno Quadrimestral

Médio

Retorno Anual Médio

Acumulado 1 ano

Acumulado 3 anos

Acumulado 5 anos

Acumulado 10 anos

Fonte: S&PDJI (2017)47.

Embora os resultados acumulados do DJSI nos últimos 10 anos

fiquem abaixo dos 2% (excetuando o mercado norte-americano), a

carteira possui bons resultados nos últimos cinco anos, com retorno

entre 20 e 30% em 2016, tanto na média global como para as

empresas de mercados emergentes, com destaque para o desem-

penho da carteira no mercado europeu48.

47. S&P DOW JONES INDICES. Index returns. 2017. Disponível em: <http://eu.spindices.com/additional-reports/all-returns/index.dot?parentIdentifier=97793508-ecde-4f92-a932-6aeb5bc02293&sourceIdentifier=index-family-specialization&additionalFilterCondition=>. Acesso em: 15 de mai. 2017.48. Vale destacar que o DJSI não possui dados para mercados emergentes anteriores a 5 anos, tendo valores acumulados disponíveis apenas para o período de 3 anos.

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NÇAAproximadamente seis anos após a criação do DJSI, a então

BMF&BOVESPA lançou o Índice de Sustentabilidade Empresarial

(ISE) no Brasil, em 2005, iniciativa pioneira na América Latina, cuja

missão é apoiar os investidores na tomada de decisão de inves-

timentos socialmente responsáveis, além de induzir as empresas

a adotarem boas práticas de sustentabilidade empresarial

(ISEBVMF, 2016)49.

Originalmente financiado pela IFC (braço financeiro privado do Banco

Mundial), o ISE é uma ferramenta para análise comparativa da perfor-

mance das empresas listadas na Bolsa de valores brasileira sob o

aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econô-

mica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.

Também fornece insumos para os investidores ampliarem seu

entendimento sobre empresas e grupos comprometidos com a

sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível

de compromisso com o desenvolvimento sustentável, equidade,

transparência e prestação de contas, natureza do produto, além

do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira,

social, ambiental e de mudanças climáticas.

A nova marca resultante da fusão entre a BMF&BOVESPA e a Cetip50,

a B3, lançou o programa “Relate ou Explique para os Objetivos de

Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.

Em 24 de novembro de 2016, foi anunciada a mais recente compo-

sição da carteira ISE B3, vigorando de 2 de janeiro de 2017 a 5 de

janeiro de 2018. Trinta e oito ações de 34 companhias compõem a

carteira, representando 15 setores e somando R$ 1,31 trilhão em

valor de mercado, o equivalente a 52,14% dos valores negociados

pela Bolsa (B3, 2016)51.

49. ISEBVMF. O que é o ISE. 2016. Disponível em: <http://isebvmf.com.br/o-que-e-o-ise?locale=pt-br>. Acesso em: 25 de abr. 2017.50. Companhia de capital aberto de serviços de registro, central depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos.51. BRASIL BOLSA BALCÃO. Empresas das carteiras do ISE. 2016. Disponível em: <http://indicadores.isebvmf.com.br/public/wallets >. Acesso em: 09 de mai. 2017.

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Quadro 3 - Lista de empresas que compõem a carteira ISE 2016/2017

CARTEIRA ISE 2016/2017

AES Tietê Cielo Embraer Light

B2W Copel Engie MRV

Banco do Brasil CPFL Fibria Natura

Bradesco Duratex Fleury Santander

Braskem Ecorodovias Itaúsa SulAmerica

BRF EDP Itaú Unibanco Telefônica

CCR Eletrobras Klabin TIM

Celesc Eletropaulo Lojas Americanas

Weg

Cemig Embraer Lojas Renner

Fonte: B3, 2016.

Desde a sua criação, a carteira se manteve, em média, com valor

de fechamento próximo dos USD$ 1.000,00, apresentando valores

inferiores nos dois primeiros anos de lançamento e nos anos de

crise financeira (2008 e 2015/2016).

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NÇAGráfico 2 – Desempenho da carteira ISE-B3 desde sua criação (2005)

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200

400

600

800

1000

1200

2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 (maio)

Valo

r de

Fech

amen

to e

m U

SD$

Ano

Variação Anual do Índice de Fechamento Carteira ISE-B3

Fonte: (BM&FBOVESPA, 2017)52.

A importância atribuída pelos investidores a esses índices é reflexo

da preocupação crescente dos atores econômicos, empresas, inves-

tidores, instituições financeiras e sociedade com a implantação de

um modelo de desenvolvimento sustentável.

Para poderem continuar participando desse processo, as empresas

listadas devem informar anualmente se elaboram os seus relató-

rios de sustentabilidade ou integrado, levando em conta os ODS.

A prática está em linha com o papel da B3, que visa desenvolver

e aperfeiçoar o mercado de capitais no País, ao incentivar as boas

práticas de transparência e de gestão entre as empresas listadas,

por meio de diversas estratégias (BMF&BOVESPA, 2016)53.

52. BM&FBOVESPA. Índice de sustentabilidade empresarial (ISE). 2017. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise-estatisticas-historicas.htm>. Acesso em: 15 de jun. 2017.53. BMF&BOVESPA. B3 lança a iniciativa “Relate ou Explique para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 2017. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/noticias/sustentabilidade-9.htm>. Acesso em: 25 de abr. 2017.

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CONDIÇÕES DE CONTORNO Apresentados os motivadores de mudança mais diretamente

relacionados com os negócios e focados no mercado interno, é

necessário considerar que, para efetivamente induzir uma transfor-

mação, esses motivadores necessitam que estejam postas algumas

condições de contorno.

O cenário atual é extremamente delicado e demanda muita cautela

dos empreendedores para realizar os investimentos necessários.

Além disso, o contexto do mercado global, entre outros fatores,

pode ser um limitador relevante para que tais motivadores trans-

formem, em escala significativa, os padrões de desenvolvimento.

3.1 Contexto Econômico Nacional

A recente trajetória da economia nacional é marcada por cresci-

mento tímido, descontinuado e, nos últimos três anos, por uma

severa recessão. A média de crescimento entre 2001 e 2010 foi

de 3,6%, com pico de 7,4% (2010) e queda de 0,31% (2009).

Já entre 2011 e 2016, o crescimento médio foi de 0,3%, nova-

mente marcado por picos e vales (4% positivos em 2011 e 3,8%

negativos em 2015).

A título de comparação, as taxas médias de crescimento do PIB de

alguns países latino- americanos, no mesmo período (2011-2016),

foram, em ordem decrescente: Panamá, 8%; Bolívia, 5,3%; Paraguai,

4,9%; Peru, 4,7%; Colômbia, 4,5%; Uruguai, 4,3%; Equador, 4,2%;

Chile, 3,9%; México, 3,0%; Argentina, 2,3%; Venezuela, -1,2%.

A expressiva queda do produto nacional atesta a situação de estag-

nação ora enfrentada.

Esse contexto torna clara não apenas a necessidade de profundos

ajustes macroeconômicos, como também demonstra um ponto de

inflexão frente ao ambiente econômico e de competitividade atual.

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São diversas as restrições e condicionalidades evidenciadas, que

devem ser devidamente analisadas e incorporadas às estratégias

empresarias e políticas públicas.

A primeira delas diz respeito ao papel do Governo Federal, que

deteve expressiva participação no crescimento da demanda interna

ao longo da última década. A manutenção dessa marcante atuação

por longo período se deu diretamente pela expansão do gasto

público e desonerações tributárias, além da injeção de recursos,

via bancos públicos. A inevitável contrapartida, entretanto, foi o

aumento das despesas públicas.

Em que pese o atual momento recessivo ter reduzido as receitas

tributárias, devido à queda na atividade econômica, a fonte prin-

cipal do desequilíbrio fiscal está ancorada no forte crescimento real

do gasto público dos últimos anos. Por sua vez, a estrutura das

contas públicas continua engessada, por conta dos altos gastos

públicos com transferências à previdência e pagamento de pessoal.

O impacto da crise fiscal nas empresas ocorre não apenas pela

retirada abrupta dos estímulos fiscais de demanda, que haviam

sustentado o crescimento no modelo anterior, como também pelo

impacto da instabilidade associada à trajetória da dívida pública.

A situação de endividamento repercute inclusive entre os entes

federativos – notadamente os municípios – que recebem cotas que

dependem, em grande parte, do desempenho do Governo Federal.

A situação se aproxima de um limite: ou ocorre a flexibilização e

repactuação das contas públicas ou então essa situação poderá levar

a uma indesejável ruptura. A superação dos gastos públicos frente

à capacidade de contribuição da sociedade torna difícil ao governo

controlar a trajetória crescente da dívida pública, o que, por sua vez,

deteriora a confiança dos agentes econômicos, que nutrem a expec-

tativa de solução do endividamento público pela via inflacionária.

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Essa falta de confiança restringe ainda mais a efetividade da política

monetária no combate à inflação, exacerbando os custos da estabi-

lização da economia. Paga-se caro pelo remédio amargo dos juros

altos para contornar uma inflação notadamente de oferta. Em que

pese o ciclo de redução da taxa SELIC, iniciado em outubro de

201654, a taxa de juros real continua excessivamente alta – a queda

dos juros nominal foi praticamente compensada pela menor expec-

tativa inflacionária.

A política monetária segue restritiva, com o efeito prático de

provocar uma alta apropriação da poupança privada pela admi-

nistração pública. A consequência desse efeito, conhecido como

crowd-out, tem como resultado uma inexpressiva Formação Bruta

de Capital Fixo (FBCF, investimento estrutural na economia).

Enquanto, nos últimos 15 anos, a média de investimento do Brasil

em capital fixo foi inferior a 18% do PIB, a média dos países que

detêm alto crescimento vem sendo próxima de 27%, durante as

últimas três décadas55.

A trajetória de queda na FBCF não se deve exclusivamente à

restrição monetária, mas também a fatores como: a) ociosidade

elevada do parque industrial, aliada à deterioração do mercado de

trabalho; b) expectativas da indústria em baixa, quanto ao aumento

de demanda dos consumidores; c) situação debilitada das empresas,

com condições financeiras adversas, aliada à dificuldade de acesso

ao crédito; e d) turbulento ambiente político.

A elevação da taxa de investimento da economia é condição

indispensável à expansão da oferta e do crescimento sustentado.

A queda recente da poupança doméstica está na raiz da baixa

54. Estável em 14,25% ao ano desde julho de 2015, a taxa foi reduzida, entre agosto de 2016 a abril de 2017, para 11,25%.55. Segundo dados do Banco Mundial para 172 economias mundiais, os 20 países com maior crescimento real ao longo da primeira década do século 21, com média de 8,7% ao ano, apresentam taxas anuais médias de 27% de FBCF em relação ao PIB. Já as 20 economias mundiais que menos cresceram no mesmo período (média de 0,4% ao ano) investiram em média 19,6% de seus PIBs. De acordo com essa mesma base de dados, os 172 países cresceram 3,9% por ano em média, entre 2001 e 2010, tendo uma relação de FBCF do PIB de 22%. Dados disponíveis em: http://data.worldbank.org.

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taxa de investimento do país. O aumento, ainda que gradual,

da poupança doméstica – tanto pública como privada – é crucial

para assegurar o aumento da taxa de investimento sem pressionar

as contas externas, em um ambiente internacional de custo de

capital crescente.

Outra perversa interação ocorre entre os elevados juros e a moeda

nacional: diante dos juros reais elevados, ocorre a atração de

capitais externos especulativos. Ao desembarcarem no País em

busca de juros altos – e não de investimentos na economia real –

esses recursos adicionam volatilidade, ao se comportarem com base

em movimentos internacionais – como os (ainda) baixos retornos

da renda fixa nos mercados desenvolvidos. Essa situação deve ser

revertida devido às incertezas acerca da política econômica dos

Estados Unidos e à tendência protecionista por ela acarretada.

Eis que a situação externa ainda é favorável, devido a uma conjun-

tura específica: as exportações nacionais, com grande peso ao setor

agropecuário, vêm crescendo em volume, mais do que compen-

sando a queda nos preços das commodities. Ao se conjugar esse

fato com uma drástica queda nas importações nacionais, devido ao

ambiente recessivo dos últimos dois anos, criam-se as condições

para um tímido ajuste externo. Não obstante, a conjuntura inter-

nacional, a queda dos juros e a eventual retomada da demanda

interna deverão adicionar volatilidade ao câmbio.

O problema da baixa competitividade resulta de uma década sem

avanços na produtividade e da elevação de custos de produção e de

transação. Sem a contribuição externa, devido ao fim do ciclo favo-

rável dos preços de commodities e ao acirramento da competição

mundial, a melhoria da competitividade dos produtos brasileiros

torna-se crucial para alavancar um novo ciclo de expansão, pela via

das exportações. A perda de fôlego da demanda interna reforça a

importância da alternativa de crescimento, via mercado externo.

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Faz-se necessário obter maiores avanços na agenda da competitivi-

dade e na agenda das negociações internacionais, para assegurar

a rentabilidade das exportações e destravar as estratégias empre-

sariais, contaminadas pela ausência de prioridade às exportações

no passado. Afinal, uma vez que se vislumbrem novas contrações

no preço das commodities, a conta nacional com o exterior poderá

mostrar rápida deterioração, pois a infraestrutura econômica

nacional permanece pouco competitiva.

A economia brasileira – que, no passado recente, cresceu alavancada

pelo consumo e pelo setor público – ainda não conseguiu substituir

o motor do crescimento em direção ao investimento privado e às

exportações. De um lado, entraves regulatórios ainda não solucio-

nados e a complexidade dos grandes projetos de infraestrutura;

de outro, a elevada ociosidade na indústria manufatureira, ambos

dificultando a retomada dos projetos de investimento.

Existem ainda restrições e condicionalidades quanto ao hiato no

desenvolvimento científico e tecnológico e obstáculos regulatórios

e fiscais aos investimentos produtivos.

Essas restrições devem ser enfrentadas de diversas formas. A

primeira delas é por meio de substantivos avanços rumo ao equi-

líbrio fiscal de longo prazo, a exemplo da imposição de meca-

nismos de controle do crescimento do gasto público, flexibilização

de gastos públicos e desindexação da economia, velhos gatilhos

inflacionários cada vez mais incompatíveis com uma economia que

anseia ser dinâmica e moderna56.

56. Exemplo contundente é o reajuste do salário mínimo, baseado na correção pela inflação anual medida pelo INPC e no crescimento do PIB. Em vez do suposto benefício ao trabalhador, ocorre o agravamento do atual quadro econômico recessivo. O setor privado, em especial as empresas de menor porte, não irão suportar consideráveis reajustes salariais com a economia em recessão. O resultado deverá ser mais dispensas de trabalhadores e fechamento de empresas. Tampouco o setor público, em especial municipalidades e a previdência e assistência social, conseguirá lidar com um reajuste dessa magnitude e, assim, terão seus déficits orçamentários aumentados. Uma alternativa seria conceder o reajuste de acordo com a expectativa da inflação futura (a meta de inflação pode ser esse parâmetro), de modo a favorecer a reversão das expectativas inflacionárias. A diferença entre o percentual de reajuste e a inflação observada seria objeto de discussão no ano seguinte.

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Entre os principais problemas da rigidez dos gastos públicos está

a questão previdenciária, cuja estrutura demanda reforma. As

regras atuais do regime previdenciário brasileiro, tanto no setor

privado, como no caso dos servidores públicos, são incompatíveis

com a dinâmica demográfica. Sem alterações profundas nas regras

de elegibilidade aos benefícios, o sistema não é sustentável. A

reforma é, portanto, imprescindível para evitar o volume crescente

de recursos necessários para financiar o déficit atual. A hipótese de

continuidade, claramente, não tem viabilidade macroeconômica.

As reformas devem ocorrer concomitantemente a avanços na

agenda da competitividade e de ações voltadas à normalização das

condições operacionais das empresas. O grande desafio está em

combinar o foco no ajuste fiscal com uma melhora na eficiência

microeconômica, fazendo com que a economia nacional migre para

um patamar de competitividade e preponderância do papel privado

sobre o crescimento. É preciso evitar atalhos e atuar sobre as causas

da deterioração da economia. Quanto mais se postergarem as ações

de correção, maiores serão os custos para a sociedade.

Sem avanços simultâneos nas duas agendas, não se constrói o

ambiente econômico de estímulo à produção, à elevação da produ-

tividade e ao investimento privado. Remover entraves que difi-

cultam a operação das empresas; dar eficiência e racionalidade à

regulação e burocracia; e definir marcos regulatórios, com clareza

e segurança jurídica, são agendas de menor complexidade e sem

custo fiscal, que devem ser agilizadas.

O comprometimento com avanços na agenda da competitividade

deve ser prioridade, mediante a adequação de custos de produção

ao crescimento da produtividade. Essa agenda inclui a retomada

das reformas estruturantes na esfera tributária, com simplificação e

redução de burocracia, na construção de mecanismos de financia-

mento de longo prazo, na modernização das relações de trabalho e

na redução do custo do investimento.

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O roteiro para sair da crise e adentrar em ciclo virtuoso de cresci-

mento e investimento perpassa por:

• Recuperar o equilíbrio fiscal de longo prazo;

• Desenvolver ações que melhorem o ambiente de negócios;

• Modernizar as instituições e o sistema político;

• Atuar sobre a melhoria do ambiente macroeconômico e da

competitividade;

• Definir as prioridades de reformas;

• Fortalecer políticas que aumentem a produtividade;

• Consolidar as exportações como prioridade e evitar retrocessos;

• Consolidar iniciativas que atraiam a participação do setor

privado para a área de infraestrutura;

• Eliminar obstáculos regulatórios, que afetam os investimentos

e a operação das empresas.

Nota-se que o roteiro inclui a promoção de mecanismos de estímulo

à poupança privada e ao aumento da capacidade de investimento do

setor público, com o controle do crescimento dos gastos correntes.

Além disso, a estratégia de crescimento deve se apoiar no inves-

timento privado como motor da economia, por meio de reforço

institucional às agências reguladoras, retomada dos processos de

privatização, desregulamentação e incremento de parcerias públi-

co-privadas. A atenção com a agenda microeconômica é crucial

para a melhoria do ambiente de negócios e para a expansão dos

projetos privados de investimento.

A economia do alto crescimento exige a construção de um ambiente

institucional que combine Estado eficiente, credibilidade da política

econômica, regulação de qualidade e segurança jurídica. Perpassa,

inevitavelmente, pela concessão à iniciativa privada de papel mais

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relevante no processo de conceber e de implementar projetos de

investimento, tanto em setores diretamente produtivos como em

setores de infraestrutura econômica.

O governo deve passar a coordenar o processo de desenvolvimento,

por meio de mecanismos de intervenção indireta e de planejamento

indicativo. A agenda da competitividade exige, além do maior rigor

institucional, a regulamentação da operação privada de setores

estratégicos (energia elétrica, telecomunicações, petróleo, recursos

hídricos) com vistas ao crescimento econômico, concomitante-

mente à busca pela sustentabilidade ambiental e equidade social.

A adaptação e modernização das instituições e a segurança e previ-

sibilidade das regras são o resultado dessa combinação, que gera um

ambiente propício ao investimento e à produção. A implementação

da economia de alto crescimento requer esse novo ambiente, que

traz sinergias claras com a gestão corporativa da sustentabilidade.

Enquanto o reequilíbrio macroeconômico sedimenta a confiança,

a agenda da competitividade reforça as perspectivas de lucrativi-

dade dos projetos e a agenda da sustentabilidade corporativa abre

mercados e gera eficiência produtiva. Nesse sentido, a sinergia

passa a ser chave para a retomada do investimento, condição indis-

pensável para o crescimento sustentado.

3.2 Investimento em modernização e adequação nacional

O contexto econômico deixa claro que o País avança rumo a um

novo modelo de desenvolvimento. É preciso evitar atalhos e atuar

sobre as causas da deterioração da economia. Quanto mais se

postergarem as ações de correção, maiores serão os custos para a

sociedade. A base para essa nova fase econômica deve ser formada,

concomitantemente, por profundo ajuste (e estabilidade) fiscal de

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longo prazo e pelo aumento da produtividade e competitividade

da economia.

Entre as ações para que os primeiros e fundamentais passos sejam

dados rumo à saída da crise econômica atual, duas se materia-

lizam como oportunidades para a adoção da gestão corporativa

da sustentabilidade: a) acelerar o processo de concessões ao setor

privado na infraestrutura; e b) priorizar as exportações como motor

do crescimento (CNI, 2016)57.

É inegável a necessidade de se modernizar a infraestrutura nacional,

que abrange não apenas rodovias, ferrovias, portos e aeroportos,

mas inclui ainda sistemas de saneamento básico, soluções em

efluentes, controle de drenagem, disposições adequadas de

resíduos sólidos, aproveitamento de resíduos, geração de energia,

eficiência energética, entre outros.

Nessa direção, à medida que o Estado passa a realizar investi-

mentos e estabelecer mecanismos para a modernização da sua

infraestrutura, a primeira ação, de aceleração de concessões, passa

a ganhar força. Ao fazê-lo com responsabilidade fiscal e cumpri-

mento às metas impostas pelo próprio Estado, cria-se um ambiente

de negócios favorável e positivo que, em claro ciclo virtuoso, leva à

adoção da gestão corporativa da sustentabilidade.

O caso do saneamento materializa um exemplo de como a criação

de um ambiente de negócios positivo traz ganho para a sociedade,

para o meio ambiente e para a indústria. O Regime Especial de

Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico (Reisb),

sancionado pela Lei 13.329/2016, teve vetado o art. 54, alínea

“c”, que continha os pontos que operacionalizavam o regime de

renúncia fiscal.

57. As demais são: Garantir a sustentabilidade fiscal; assegurar a segurança jurídica nas relações de trabalho; ampliar o prazo de recolhimento de tributos; sustar, temporariamente, a imposição de novas obrigações acessórias às empresas e desenvolver programa de simplificação e redução da burocracia tributária; regularizar as condições de crédito às empresas.

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O impacto potencial calculado da renúncia fiscal, que ainda deman-

dará regulamentação pelo governo, atinge o montante de R$ 10,6

bilhões. Já os ganhos diretos e indiretos em arrecadação totaliza-

riam R$ 10,1 bilhões, abatendo a quase totalidade da renúncia58.

Ou seja, uma medida de cunho fiscal gera a oportunidade de

avançar rumo à maior cobertura de saneamento no País com custo

fiscal muito pequeno, concomitante à geração de externalidades

positivas para toda a sociedade.

Os investimentos decorrentes de tais incentivos tendem a promover

externalidades positivas em áreas diversas, notadamente em quali-

dade ambiental e saúde pública. Níveis adequados de saneamento

garantem redução de gastos com tratamento de doenças, elevam

a produtividade do trabalhador e geram negócios em uma signifi-

cativa cadeia de valor. Outro efeito positivo é a redução na neces-

sidade de manter vazões com o propósito de diluição de efluentes.

Esgoto tratado, por exemplo, tornaria as águas do rio Paraíba do

Sul disponíveis para abastecimento urbano e industrial.

Outro conjunto de externalidade positiva seria gerado por meio de

soluções, como a utilização de água de reuso como fonte alterna-

tiva, redução de perdas, reaproveitamento de lodo e geração de

energia nos sistemas de água e esgoto.

O incentivo ao setor – fiscal, creditício e por meio de concessões

à iniciativa privada – se faz urgente. Para tanto, um sistema regu-

latório eficiente é essencial, em especial com relação as políticas

tarifárias. Caso sejam mantidos os níveis recentes de investimento

no setor, a universalização dos serviços seria atingida apenas em

2052 – quase 20 anos de defasagem em relação à meta do Plano

Nacional de Saneamento Básico (Plansab).

58. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Impactos fiscais decorrentes do regime especial de incentivos para o desenvolvimento do saneamento. Brasília: CNI, 2017.

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A CNI59 já identificou que a melhoria no planejamento setorial, por

meio do incentivo à cadeia de suprimento mais eficiente, multas

e penalidades ao desperdício, é parte da solução para a retomada

nos investimentos, benéficos a toda a sociedade.

Nesse contexto, uma maior participação do setor privado não se

faz apenas por meio do fornecimento de equipamentos e implan-

tação de infraestrutura para serviços públicos de água e esgoto.

Ao contrário, existe uma diferença significativa da qualidade dos

serviços de água e esgoto prestados por empresas privadas e

públicas, sendo que os municípios com prestadores privados obtêm

melhor desempenho.

Prestadores de serviço de água e esgoto privados, por exemplo,

respondem com mais eficiência às metas de redução de perdas na

rede de distribuição. O índice médio brasileiro de perdas físicas

é de 37% (SNIS, 2017), enquanto as perdas de faturamento

chegam a 35%.

Na bacia hidrográfica dos rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ),

palco da severa crise hídrica que gerou prejuízos e três mil demis-

sões em São Paulo, ao longo de 2014 e 2015, contabilizam-se nada

menos que 182 bilhões de litros de água por ano em perdas por

vazamentos, fraudes, roubos ou problemas de medição60.

Essas perdas acarretam demandas superiores de retirada dos cursos

d’água pelo setor de abastecimento, prioritário em relação aos

demais setores usuários. Em termos de oportunidades de sustenta-

bilidade, poucas superam o incentivo ao saneamento como poten-

cial gerador de externalidades positivas.

59. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Comparações internacionais: uma agenda de soluções para os desafios do saneamento brasileiro. Brasília: CNI, 201760. O número é de um levantamento divulgado pelo Movimento Menos Perdas, Mais Água – iniciativa criada pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 2,7 milhões de pessoas. Disponível em: http://www.rebob.org.br/single-post/2017/06/22/182-bilh%C3%B5es-de-litros-d%E2%80%99%C3%A1gua-foram-perdidos-nas-bacias-do-Piracicaba-Capivari-e-Jundia%C3%AD-em-2015

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Outro exemplo relativo à modernização da infraestrutura nacional

que acarreta em externalidades positivas (ambientais, sociais e

econômicas) se encontra no setor de transporte.

O atual modelo de intervenção do Estado no setor precisa ser

reestruturado, com o objetivo de aumentar a integração entre os

agentes intervenientes61 e viabilizar maior agilidade na execução

de projetos, melhor planejamento, aumento da intermodalidade,

gestão adequada dos recursos e uma definição mais precisa das

diretrizes para aumentar investimentos privados.

O fomento à multimodalidade e ao planejamento integrado permi-

tiria reduções expressivas de custos de transporte concomitantes aos

ganhos ambientais múltiplos, como a redução de emissão de gases

de efeito estufa (GEE) e de materiais particulados, além de impactos

indiretos sobre o uso do solo e outros cumulativos.

A integração da malha ferroviária nacional é outro exemplo de

grande potencial positivo ambiental: por meio da garantia do

direito de passagem e a possibilidade de atuação de operador ferro-

viário independente, esse modal passaria a deter participação mais

expressiva no transporte de cargas, ainda, realizado por rodovias.

Além de o setor ferroviário emitir menos GEE e material particulado

por unidade transportada, provoca menores efeitos negativos indi-

retos ao uso e ocupação do solo, em relação ao rodoviário.

No âmbito da política energética, a eventual facilitação da migração

de empresas para o mercado livre de energia elétrica fomentaria a

instalação de empreendimentos de geração de energia elétrica a partir

de fontes renováveis, o que resultaria em menores emissões de GEE.

A contratação direta de energia elétrica possibilita aos consumi-

dores industriais uma série de vantagens, tais como: ganhos de

61. Ministério dos Transportes e suas agências ANTT, ANTAQ, ANAC, DNIT, INFRAERO, Cias. Docas e as várias administrações hidroviárias.

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eficiência na gestão do suprimento, contratos adaptados às carac-

terísticas do negócio e a possibilidade de modicidade de preços.

Os exemplos apontam searas nas quais o caminhar do País rumo à

modernização de sua infraestrutura produtiva gera oportunidades

de ganho compartilhado. A adoção da gestão corporativa da susten-

tabilidade por parte das empresas gera vantagem competitiva frente

às necessidades antevistas, assim como nos processos de compras

e licitações, executadas sob os princípios das compras sustentáveis.

3.3 Acordos Internacionais e Mercado Externo

Outra importante condição de contorno são as regras e padrões

oriundos dos acordos multilaterais, ou mesmo das práticas do

comércio internacional. Especificamente para a área de meio

ambiente, as Conferências das Partes sobre clima, biodiversidade e

desertificação têm influência sobre as políticas públicas e os padrões

de regulação domésticos 62.

Este item será focado nas questões ambientais relacionadas

ao comércio internacional, área que, apesar de ter sido pouco

explorada nos debates sobre sustentabilidade, apresenta relação

direta com a competitividade dos negócios sustentáveis. O tema

das barreiras técnicas e os procedimentos e critérios para solução

de contenciosos, associados a regras ou exigências de padrões

de sustentabilidade ao comércio internacional, demanda análise

cuidadosa e profunda.

Acordos internacionais relacionados à gestão corporativa da susten-

tabilidade afetam de forma crescente o mercado. O presente item

perpassa pelas motivações de mudança trazidas pelas declarações

ambientais, pelos acordos internacionais e pela incorporação da

62. Tendo em vista que um item específico foi dedicado à regulação, esse não será o foco deste item.

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indústria na Agenda positiva, em consonância com o que foi ratifi-

cado pós Rio+20.

O que fica claro é que existe um importante caminho a ser trilhado

para uma aproximação mais efetiva do debate sobre comércio

internacional e sustentabilidade.

Essa aproximação é essencial para que os instrumentos de regulação

do comércio internacional, quando aplicados aos temas da susten-

tabilidade, gerem maior efetividade em termos de conservação

e uso eficiente dos recursos naturais e ecossistemas e bem-estar

social, sem, todavia, gerar distorções limitadores do fluxo global de

comércio de bens e serviços.

3.4 Requisitos ambientais e sociais para o comércio internacional

Aqui será explorado o nicho das Barreiras Técnicas, que podem

influenciar a competitividade da indústria brasileira nos próximos

anos. Serão apresentadas algumas definições e estatísticas sobre o

estágio de implementação dos requisitos ambientais e sociais para

o comércio internacional, segundo dados da Organização Mundial do

Comércio (OMC) e demais fontes que realizam esse monitoramento.

Como descrito, barreiras técnicas são motivadores para que

empresas invistam na gestão coorporativa da sustentabilidade, de

modo a identificar as oportunidades de gerar vantagem competi-

tiva, entre as quais se destacam o marketing positivo e o acesso

a consumidores exigentes quanto às práticas socioambientais das

empresas e respectivas cadeias de valor. O acesso a mercados inter-

nacionais exigentes, com regulamentação específica, soma-se a

esses fatores.

No cenário de acesso a terceiros mercados, é importante ressaltar a

existência de regras e normas nos países de destino, que podem ser

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restritivas à entrada de bens, serviços e investimentos. Os condicio-

nantes podem variar, desde um determinado padrão de qualidade

até questões quantitativas e de origem desses bens e serviços.

De forma geral, medidas ou práticas que restringem o acesso de

bens e serviços a um mercado são definidas como Barreiras, que

podem ser de natureza comercial – quando agem sobre a circu-

lação de bens e serviços – ou de investimentos, quando agem sobre

a entrada de capital estrangeiro.

Com relação às Barreiras Comerciais, vale destacar duas principais

formas de implementação. Primeiro, a aplicação de tarifas (barreiras

tarifárias), encarecendo o valor final de bens e serviços e favore-

cendo comercialmente a produção interna; segundo, a exigência

de condicionantes para acesso ao mercado, o que não envolve a

aplicação direta de tarifas (barreiras não tarifárias), mas impede o

acesso de fornecedores fora desses padrões.

Embora não haja uma metodologia consolidada para a classificação

de mecanismos de barreira, foram utilizadas tipologias utilizadas

por organismos internacionais, tais como OMC e a Conferência das

Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

A figura 9 apresenta os principais tipos de Barreiras Comerciais e

aos Investimentos, atualmente praticadas.

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Figura 9 - Principais tipos de Barreiras Comerciais e aos Investimentos

BARREIRAS COMERCIAIS BARREIRAS DE INVESTIMENTO

TARIFÁRIAS NÃO TARIFÁRIAS Exemplos

Imposto de importação Restrições quantitativas Restrição total de acesso

Imposto de exportação Procedimentos aduaneiros Conteúdo local

Quotas tarifárias importação Regulamentos técnicos Transferência de tecnologia

Quotas tarifárias de exportaçãoMedidas sanitárias e fitossanitárias

Padrões privados

Serviços

Subsídios

Propriedade intelectual

Compras governamentais

Regras de origem

Tributação interna

Controle de preços

Outras

Fonte: CNI, 2017.

Considerando o papel da gestão coorporativa da sustentabilidade no

ganho de competitividade e sua relação com o comércio internacional,

é importante destacar as Barreiras Técnicas, que contemplam exigên-

cias estabelecidas para produtos ou serviços no mercado-alvo, que

podem envolver questões ambientais e de gestão da sustentabilidade.

Segundo a Organização Mundial do Comércio63 64existem atualmente

22.281 normas para o comércio, caracterizadas como Barreiras

Técnicas. Dessas, 2.629 estão em vigor e são aplicáveis a todos os

seus membros, sendo que 535 mencionam aspectos ambientais.

63. WORLD TRADE ORGANIZATION – WTO. Integrated trade intelligence portal. 2012. Disponível em: <http://i-tip.wto.org/goods/Forms/GraphView.aspx?period=q&scale=ln>. Acesso em: 26 jul. 2017.64. I-TIP Goods provides comprehensive information on non-tariff measures (NTMs) applied by WTO members in merchandise trade. The information includes members’ notifications of NTMs as well as information on “specific trade concerns” raised by members at WTO committee meetings. Its aim is to serve the needs of those seeking detailed information on trade policy measures as well as those looking for summary information. It includes links to the WTO’s extensive tariff and trade databases, and to DocsOnLine system.

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Os quadros abaixo apresentam o quantitativo total de normas

comunicadas à OMC (iniciadas e em vigor) e os montantes de restri-

ções às negociações com base em aspectos ambientais, tanto por

país (quadro 6) como por tipologia de produtos (quadro 7).

Quadro 4 - Dez países com maior quantidade de Medidas não tarifárias notificadas à OMC

PAÍSTOTAL DE BARREIRAS

TÉCNICAS

BARREIRAS COM ASPECTOS

AMBIENTAIS RELACIONADOS

Estados Unidos da América 1482 79

União Europeia 1071 64

China 1187 45

Tailândia 601 32

Quênia 547 22

Chile 465 22

Canadá 650 21

México 537 21

Fonte: Elaborado com base em WTO, 2017.

Quadro 5 –Medidas Não tarifárias notificadas à OMC por tipo de produtos

PRODUTOTOTAL DE

BARREIRAS TÉCNICAS

BARREIRAS COM ASPECTOS

AMBIENTAIS RELACIONADOS

Outros 11229 228

Máquinas e equipamentos elétricos

3849 168

Produtos das indústrias química e aliada

2313 100

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PRODUTOTOTAL DE

BARREIRAS TÉCNICAS

BARREIRAS COM ASPECTOS

AMBIENTAIS RELACIONADOS

Resinas, plásticos e artigos; borracha e artigos

1911 58

Metais comuns e artigos 1337 46

Artigos manufaturados diversos

1458 43

Produtos minerais 1105 39

Veículos, aeronaves e embarcações

1152 37

Artigos de pedra, gesso; produtos de cerâmica; vidro

1203 33

Instrumentos, relógios, gravadores e reprodutores

1293 25

Produtos alimentares preparados; bebidas, bebidas alcoólicas, vinagre; tabaco

2930 23

Produtos vegetais 1890 22

Animais e produtos vivos 1239 19

Madeira, cortiça e artigos; 359 17

Gorduras, óleos e ceras animais e vegetais

577 16

Têxteis e artigos 422 14

Papel, cartão e artigos 182 9

Peles e artigos; talheres e viagens

76 4

Calçado, chapelaria; penas e flores artificiais

189 3

Armas e munições 46 2

Obras de arte e antiguidades 22 2

Pérolas, pedras preciosas e metais; moeda

36 1

Total 2281 535

Fonte: Elaborado com base em WTO, 2017.

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Para entender como essas normas podem impactar na competi-

tividade da indústria nacional frente ao mercado internacional, é

importante se fazer uma correlação entre esses números com os

principais mercados compradores do Brasil.

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior

e Serviços (MIDC, 2017), os principais mercados compradores do

Brasil, no primeiro semestre de 2017, foram: China (R$ 27bi),

Estados Unidos (R$ 13 bi), Argentina (R$ 8 bi), Holanda (R$ 4 bi)

e Chile (R$ 2 bi). Em termos de blocos econômicos, os principais

mercados foram a Ásia (R$ 41 bi), Europa (R$ 20 bi), América do Sul

(R$17 bi) e América do Norte (R$ 16 bi).

Verifica-se, então, que os principais mercados consumidores do

Brasil, tanto em termos de países, como de blocos, são também

aqueles com a maior quantidade de Barreiras Técnicas, que

abordam, de alguma forma, aspectos ambientais.

Com relação aos produtos mais impactados, embora nossa balança

comercial tenha forte direcionamento para a exportação de

commodities, é importante que os setores destacados no quadro 7

mantenham atenção quanto a essas restrições, para estarem

preparados para oportunidades no mercado internacional.

Entretanto, pela grande quantidade de normas existentes, o

monitoramento das Barreiras Técnicas ao Comércio não é simples.

Destacam-se, nesse sentido, o banco de dados da OMC e o Alerta

Exportador da OMC, que vêm dando uma contribuição importante

em termos de informações ao exportador.

Nesses casos, uma solicitação da regulamentação técnica referente

ao produto em questão e ao país de interesse pode ser encami-

nhada pelo exportador para análise de exigências pelo Instituto de

Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).

O Inmetro é o Ponto Focal de Barreiras Técnicas no Brasil, tendo

como atribuições acumular, gerenciar, articular e disseminar o

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conhecimento sobre barreiras técnicas às exportações. Caso o

empresário detecte algum regulamento técnico, considerado não

transparente ou exacerbado para o produto a ser exportado, é

fundamental acionar as organizações de representação setorial

para buscar apoio na contestação. A partir dessa comunicação, é

realizada uma análise da questão e, em última instância, a questão

pode ser levada ao Órgão de Soluções de Controvérsias da OMC.

É importante destacar que o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao

Comércio (TBT) da OMC reconhece o direito a seus países membros

de implementar medidas para alcançar objetivos legítimos de suas

políticas, em áreas como saúde pública, segurança e proteção ao

meio ambiente.

Ao mesmo tempo, o acordo visa criar um ambiente previsível para

o comércio internacional, de modo a garantir que as exigências não

configurem discriminação comercial e protecionismo.

Por fim, ressalte-se que Acordo TBT encoraja os países-membros a

basear suas medidas em padrões internacionais, de forma a facilitar

o comércio e promover a transparência65.

Portanto, a investigação de requisitos necessários ao acesso de

mercados internacionais e a adoção de padrões internacionais para

a cadeia de produção constituem movimentos estratégicos para a

indústria nacional.

Nesse contexto, barreiras comerciais, em geral, e barreiras técnicas,

em particular, são essenciais para a competividade dos produtos

nacionais nos mercados globais. Estar atentos às regulamentações

técnicas para acesso dos produtos a terceiros países será, sem

dúvida, uma estratégia de diferenciação.

65.Exemplos de padrões privados internacionais e o uso de declarações ambientais no mercado interno brasileiro foram apresentados no item 2.4.1 - Declarações Ambientais e Padrões Privados dessa publicação.

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Declarações Ambientais

Outro aspecto importante, com relação às oportunidades e restri-

ções de acesso a mercados, diz respeito às declarações, rotulagens

e certificações de práticas socioambientais e o uso de selos para

atestar aspectos correlatos em bens e serviços.

A noção de “desempenho ambiental” está associada à caracte-

rização, quantitativa ou qualitativa, dos aspectos ou impactos

ambientais significativos, considerando todas as etapas do ciclo de

vida de um produto, processo ou serviço.

A necessidade de se avaliar o desempenho ambiental de produtos,

aliada ao interesse na padronização de procedimentos, foram razões

para a criação do conjunto de normas da série ISO 14000. Destacam-se

os grupos de normas 14020 e 14040, o primeiro dedicado às rotulagens

ambientais e o segundo voltado à Avaliação de Ciclo de Vida (ACV).

A norma ISO classifica as rotulagens ambientais em três tipos:

• Rotulagem ambiental do Tipo I – ABNT NBR ISO 14024:2010

– Rótulos e declarações ambientais – Rotulagem ambiental

do tipo I – Princípios e procedimentos: a norma estabelece

os princípios e procedimentos para o desenvolvimento de

programas de rotulagem ambiental, incluindo a seleção de

categorias de produtos, criterios ambientais e características

funcionais dos produtos, bem como para avaliar e demonstrar

sua conformidade; estabelece, tambem, procedimentos de

certificação para a concessão do rótulo;

• Rotulagem ambiental do Tipo II – ABNT NBR ISO

14021:2013 – Rótulos e declarações ambientais –

Autodeclarações ambientais: a norma especifica os requisitos

para autodeclarações ambientais, incluindo textos, símbolos

e gráficos, no que se refere aos produtos; descreve ainda

termos selecionados, usados comumente em declarações

ambientais, e fornece qualificações para seu uso; apresenta

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uma metodologia de avaliação e verificação geral para

autodeclarações ambientais e metodos específicos de avaliação

e verificação para as declarações selecionadas na norma;

• Rotulagem ambiental do Tipo III – ABNT NBR ISO

14025:2015 – Rótulos e declarações ambientais – Declarações

ambientais de Tipo III – Princípios e procedimentos; a norma

ABNT NBR ISO 14020 define que esta rotulagem deve utilizar

as informações de ACV de um produto, conforme a ABNT

NBR ISO 14040; a metodologia para a concessão de um rótulo

deste tipo está preconizada na norma ABNT NBR ISO 14025,

de caráter voluntário e com verificação independente.

Estima-se que, em 2010, mais de 600 selos verdes ou com atri-

butos de sustentabilidade foram utilizados em produtos disponíveis

no mercado brasileiro, em sua maioria empregados pelas próprias

empresas (Tipo II da ABNT NBR ISO 1402) (VIALLI, 2010)66. Tal fato

mostra a força das práticas ambientalmente adequadas como ferra-

menta de marketing para as empresas.

Outro exemplo dessa tendência foi a criação, em 2015, de uma

seção exclusiva para produtos líderes em sustentabilidade pelo site

de compras do WallMart (new sustainability leader section) para o

mercado norte americano (HEPLER, 2015)67.

Porém, além da estratégia de marketing, vale destacar que a adoção

de determinadas certificações, além de atrair consumidores cons-

cientes, pode abrir mercados e posicionar as empresas certificadas,

frente a competidores e investidores do mercado internacional.

O mercado europeu, por exemplo, mantém controle restrito sobre a origem

florestal dos produtos madeireiros que adquire, sendo o selo FSC (Forestry

Stewardship Council) requisito básico para acesso a esse mercado.

66. VIALLI, A. Selos verdes confundem consumidor. O Estado de São Paulo. 2010. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,selos-verdes-confundem-consumidor-imp-,580855>. Acesso em: 01 jun. 2017.67. HEPLER, L. How Walmart’s green label aims to drive supplier ‘race to the top. 2015. Disponível em: <https://www.greenbiz.com/article/inside-walmarts-new-plan-scale-supply-chain-transparency>. Acesso em: 02 jun. 2017

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Algumas das principais certificações de Tipo I presentes no mercado são:

Rainsforest Alliance Certified Indica o respeito ao produtor agrícola e à biodiversidade local.

FSCAvalia empreendimentos florestais sobre questões ambientais, econômicas e sociais.

Selo ProcelIdentifica produtos com menor consumo energetico.

EcoCertTraz múltiplas certificações sobre culturas orgânicas.

Selo VerdeCriado pela ABNT, atesta produtos ambientalmente amigáveis.

LeedAvalia padrões de sustentabilidade para a construção civil.

Diversas empresas nacionais e internacionais que atuam no Brasil

têm buscado a certificação da Associação Internacional de Soja

Responsável (RTRS – Round Table on Responsible Soy), criada

para atender à demanda por produtos certificados na Europa e à

produção brasileira. O selo considera o desmatamento zero como

elemento essencial para o produtor receber a certificação. Em 2016,

a RTRS certificou a produção de mais de 3 milhões de toneladas de

soja, sendo o Brasil responsável por 72% desse volume.

O crescente conjunto de declarações ambientais, selos e certificados

indica que o acesso a diversos mercados passa a ser condicionado,

conformando-se modificações que, se antevistas, poderão conceder

às empresas vantagens competitivas e acessos a novos mercados.

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STENDÊNCIAS, OPORTUNIDADES E DESAFIOSEsta parte final do documento traz um olhar para o futuro. Sem

se propor a fazer uma análise exaustiva, esse item visa contribuir

para que empreendedores, empresários e formuladores de políticas

possam repensar o desenho de suas estratégias e de seus planeja-

mentos, à luz dos desafios da sustentabilidade. O avanço tecnoló-

gico, sua velocidade e as transformações/rupturas terão inevitáveis

repercussões na forma de produzir e de consumir, em uma socie-

dade cada vez mais conectada e informada.

O momento econômico é restritivo ao investimento, e a necessi-

dade de criação de confiança como matéria-prima básica para o

diálogo construtivo, na busca de soluções viáveis e duradouras, será

essencial. Do ponto de vista social, será relevante reconhecer que a

solução dos problemas relacionados às desigualdades, migrações e

violência, entre outros, não ficarão restritos ao debate de políticas

públicas e exigirão o envolvimento dos setores produtivos.

Nesse contexto, produtos e processos que proporcionem menor

pressão sobre o ambiente configuram uma tendência, para a qual

o pensamento sistêmico, ao longo do ciclo de vida dos produtos,

poderá aportar uma valiosa contribuição. A Indústria 4.0 e a pers-

pectiva de economia circular associada aos negócios já ocupam

espaço na agenda das grandes corporações e de algumas empresas

de vanguarda, de pequeno e médio porte.

Esse contexto exigirá novos e mais complexos modelos de negócios, que

promovam ganhos de competividade, associados a contribuições com

soluções para enfrentamento dos desafios do conjunto das sociedades.

Também é relevante reconhecer que as particularidades regionais desem-

penharão um papel importante, não podendo se esperar um padrão

ou ritmo único para as inovações e transformações. Nesse aspecto, a

questão cultural será relevante para compreender essas nuances, bem

como os desafios e oportunidades decorrentes.

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4.1 Competitividade e novos negócios

Conforme explicitado, vários são os motivadores que apontam

para a materialização dos diferenciais competitivos, decorrentes da

gestão corporativa da sustentabilidade. Para as indústrias, os novos

padrões podem privilegiar a redução de materiais e custos, bem

como a abertura de novos mercados, com base em cadeias de

valor e de transformação cada vez mais globais e com mais requi-

sitos de sustentabilidade.

Em levantamento sobre o tema, por meio de entrevistas com oito

multinacionais, o WRI (World Resources Institute) ressalta que a

austeridade econômica global tem intensificado a necessidade

de reduzir os custos em toda a cadeia de valores. O reflexo dessa

conjuntura se reflete em programas de economia de consumo de

recursos naturais e de energia. Quanto mais são levados ao limite,

mais ganho potencial existe para as empresas que fazem uso

eficiente e inteligente dos recursos naturais. (PERERA; DEL PINO;

OLIVEIRA, 2013)68.

Um exemplo de ganho de competitividade se dá pela redução de

volumes em embalagens, o que aumenta a eficiência de armaze-

namento, reduz custos com transporte e, concomitantemente,

diminui a emissão de gases de efeito estufa. Outra medida similar

é a promoção de produtos mais eficientes quanto ao transporte

e armazenamento, como o sabão líquido para roupas, em detri-

mento ao sabão em pó. Produtos concentrados geram economia

ao consumidor, garantem mercado aos fabricantes e evitam custos

ambientais e econômicos.

Inovações em embalagens visando à redução na geração de

resíduos, no consumo de energia e nos custos para o consumidor

já ocorrem com frequência. Embalagens retornáveis de bebidas

68. PERERA, A.; DEL PINO, S.P.; OLIVEIRA, B. Aligning profit and environmental sustainability: stories from industry. Washington, World Resources Institute. 2013. Disponível em: <http://www.wri.org/publication/aligning-profit-and-environmental-sustainabilitystories-from-industry>. Acesso em: 9 mai. 2017.

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S voltaram a ser tendência, evitando a geração de milhões de tone-

ladas de resíduos. Esse processo pode resultar em uma economia

de 35% em energia, conforme referido pela Associação Brasileira

da Indústria de Alimentos.

Nas empresas de papel e celulose, existe a gestão rigorosa dos

resíduos sólidos gerados por suas atividades, tanto florestais quanto

industriais. Na atividade florestal, 99,7% dos resíduos sólidos – prin-

cipalmente, cascos, galhos e folhas – são mantidos no campo como

proteção e adubação do solo. Já na indústria, 66% dos resíduos são

destinados à geração de energia. Além disso, 24,6% dos resíduos

– principalmente resultantes da produção de serrados (cavacos e

serragem) e aparas de papel – são reutilizados como matéria-prima

por empresas do setor de árvores plantadas. Outros resíduos –

como a lama de cal e a cinza de caldeira, que representam 5,8%

do total – são reutilizados por outros setores industriais para, por

exemplo, a produção de cimento e de óleo combustível reciclado.

Outra importante vertente é o design de produtos e processos

voltados à menor pressão sobre o ambiente, decorrente da adoção

do pensamento sistêmico ao longo do ciclo de vida de produtos,

que confere inúmeras oportunidades de economia de custo

(ambiental, social e econômico). O setor de alimentos apresenta

exemplos inovadores. Empresas de embalagens alimentícias já

adotam a metodologia Design for Environment (DfE), considerada

desde o início do processo produtivo, passando pelo uso/consumo

e descarte, além da pressão sobre o ambiente de embalagens e

máquinas de associados.

Ao adotar a visão sistêmica, além dos ganhos de eficiência, criam-se

condições para uma melhor prevenção de ocorrência de fatores

que interfiram nos resultados e na continuidade dos negócios. O

gerenciamento desses riscos, a partir da produção e/ou captura de

informações sobre o negócio, a cadeia de valor e os ambientes

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onde estão os elos estratégicos será um caminho sem retorno para

empresários vencedores.

Desse modo, a gestão do risco ambiental passa a ser cada vez

mais crucial para as indústrias e uma tendência na relação do setor

produtivo com o mercado financeiro.

Além disso, essa abordagem traz consigo um conjunto de potenciais

atuações inovadoras para a indústria, que podem tornar-se oportu-

nidades de negócios para empreendedores. O ambiente regulatório

mais restritivo abre oportunidades para conceber produtos indus-

triais diferenciados, capazes de permitir que empresas atendam às

normas sem prejudicar sua competitividade.

O aproveitamento econômico de resíduos, por exemplo, gera nova

demanda por máquinas, equipamentos e embalagens. O desenvol-

vimento de uma economia de baixo carbono é uma oportunidade

de negócio para indústrias inovadoras, que ofereçam soluções

que contribuam com as empresas na redução de GEE. Tecnologias

eficientes e inovadoras de extração e processamento da biodi-

versidade permitem materializar o uso sustentável desse recurso,

contribuindo com a manutenção de serviços ecossistêmicos.

As mudanças climáticas apresentam, também, impactos e riscos para

operações centrais das indústrias e para a cadeia de valor na qual as

operações estão inseridas. Para isso, o conhecimento dos impactos

provenientes das mudanças climáticas e o gerenciamento dos riscos

possibilita ao empresário o adequar seus processos e tomar decisões

sobre gerenciamento de riscos de forma mais estruturada.

Também a escassez de recursos naturais traz oportunidades. Indús-

trias que fazem reuso de esgotos tratados são menos suscetíveis

aos racionamentos no fornecimento de água durante episódios

de restrição hídrica, que tendem a ser mais comuns. Ademais, a

tendência é de apreciação dos preços da cobrança pela água e das

tarifas das Companhias de Saneamento. A gestão eficiente desse

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S insumo evita, assim, custos, além de promover eficiência produtiva.

Por outro lado, cria um mercado importante para investidores e

empreendedores, que tenham interesse em produzir água de reuso.

O Projeto Aquapolo, uma Sociedade de Propósito Específico que

envolve a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São

Paulo – SABESP e a BRK Ambiental69 trata os efluentes secundários

da ETE ABC e produz água industrial de alta qualidade, destinada,

principalmente, às torres de resfriamento do Polo Petroquímico de

Capuava (SP). Com capacidade de 1,0 m3/s, o Projeto opera com

vazão de 0,65 m3/s, suficiente para abastecer uma cidade de 300 a

400 mil habitantes.

Aumentar a escala de iniciativas como essa é uma tendência. No

Brasil, atualmente, são utilizados aproximadamente 1,5 m3/s ano

de efluente sanitário tratado para produção de água de reuso. O

potencial estimado pelo Ministério das Cidades de produção de

água de reuso, no curto/médio prazo, é de 10 a 20 m3/s, o que

reduz o risco aos negócios pelos usuários de água, abrindo oportu-

nidades significativas para investidores e produtores.

O setor financeiro também começou a se preparar para fomentar

“empresas de impacto”, que tendem a ocupar espaço significa-

tivo em novos mercados e aumentar sua capacidade de agregar

valor, por meio de iniciativas que promovam o desenvolvimento

sustentável. Fazer parte da solução é ganhar acesso a mercados

mais exigentes com maior potencial de agregação de valor, estar

à frente da concorrência e alinhado à regulamentação, além de

apresentar diferencial perante o consumidor.

Concomitante às oportunidades citadas, a geração de valor à marca é

um dos destaques da gestão corporativa da sustentabilidade. Em meio

a mercados cada vez mais competitivos, a diferenciação deve ocorrer

de forma orgânica, por meio de práticas concretas e com respaldo na

69. Maior empresa privada de saneamento do País, com participação do Fundo de Investimento do FGTS, que iniciou sua operação em novembro de 2012.

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cadeia de produção. De acordo com as multinacionais citadas pelo

WRI (op. cit), parte do impulso frente ao desenvolvimento sustentável

se dá em resposta às alterações nas preferências dos consumidores –

especialmente de clientes, de empresa para empresa.

Outra tendência importante vem da bioeconomia, que avança com

amplas oportunidades para inovações. O uso da biotecnologia para

produção de medicamentos, cosméticos e alimentos ganha escala

e vai se consolidando no Brasil. Indo além, já é possível produzir

plástico com matéria-prima renovável (cana-de-açúcar), o chamado

“plástico verde”. Na mesma linha, a indústria tem investido na

produção e pesquisa em biocombustíveis (etanol 1G e 2G, biodiesel

e bioquerosene), como alternativas aos combustíveis fósseis.

Uma iniciativa notável, no sentido de revelar os valores econômicos

associados à natureza, é a publicação “A economia dos ecossis-

temas e da biodiversidade” (TEEB, na sigla em inglês), idealizada

pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)

com o objetivo de atrair a atenção internacional para os benefícios

da biodiversidade, destacando, em termos econômicos, os valores

associados à conservação dos ecossistemas. A lógica é que, quando

se analisa o valor de externalidades, torna-se possível desenhar

melhor os sistemas de gestão para minimizar as iniciativas nega-

tivas e potencializar as positivas.

No Brasil, a primeira iniciativa TEEB foi implementada pela Conser-

vação Internacional (CI-Brasil) com o apoio da Confederação

Nacional da Indústria (CNI) e do Centro de Monitoramento da

Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio

Ambiente (UNEP-WCMC, na sigla em inglês), contando ainda com o

patrocínio de grandes empresas nacionais. O objetivo do projeto foi

“identificar e ressaltar os benefícios econômicos oriundos da biodi-

versidade e serviços ecossistêmicos brasileiros, avaliando os custos

crescentes de sua perda, bem como as oportunidades geradas pela

sua conservação e uso sustentável”.

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S Na mesma linha, buscando avançar no engajamento do setor empre-

sarial na incorporação dos valores da biodiversidade e dos serviços

ecossistêmicos à gestão corporativa, a CNI trabalha, desde 2012,

em parceria com o Ministério do Meio Ambiente no projeto TEEB

Regional Local. Empresas de setores e portes diversos que visam

conhecer suas externalidades fizeram o exercício de valorar serviços

de provisão de água, polinização, provisão de frutos ou regulação

do clima global. A partir dos resultados, tais empresas identificaram

sua dependência desses serviços e as oportunidades para reavaliar

sua forma de fazer gestão, adequando aspectos socioambientais e

compreendendo riscos mapeados e oportunidades associadas.

Os exemplos indicam que a capacidade de se antecipar, decorrente

da adoção de práticas de gestão ambiental, é fundamental aos

negócios. Novos mercados e geração de valor compartilhado justo

pela abordagem de uma questão ambiental ou social sob pressu-

postos capitalistas geram soluções de mercado que ganham escala

rapidamente e, com lucratividade, se autossustentam.

Além de poupar recursos financeiros e ambientais, há ganhos

de competitividade na conservação de serviços ecossistêmicos,

críticos a um determinado processo produtivo. Para uma indús-

tria que demanda insumos vinculados aos recursos naturais e

ecossistemas, a manutenção dos ciclos naturais é fundamental

para a garantia de fornecimento, podendo inclusive ser vantagem

em relação a competidores, cujo fornecimento é impactado pela

degradação ambiental.

Fica claro que, seja qual for a tendência de mercado e em termos

tecnológicos, conhecer e quantificar a relação dos processos produ-

tivos com as partes interessadas e recursos naturais e ecossistemas

estará na agenda. Essa informação demandará um conjunto de

profissionais bem formados e com uma visão sistêmica sobre os

processos de produção, que não se restrinjam a perceber econo-

mias de eficiência nos processos de produção (chão de fábrica),

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mas também oportunidades de geração de valor na conservação

dos recursos naturais e ecossistemas e na qualificação da relação

com as partes interessadas.

4.2 Eco-competitividade e sinergias

Complementando a visão, a eco-competitividade nasce do conceito

de que um conjunto de atividades industriais pode manter entre si

volumes expressivos de insumos interdependentes.

Seja em complexos industriais de distintas tipologias, seja por via

da integração de processos de uma mesma indústria, a eco-com-

petitividade constitui uma dimensão industrial que a) condiciona

o desenvolvimento e o crescimento de indústrias tecnicamente

ligadas; e b) promove uma polarização técnica, mediante a utili-

zação de mecanismos para minimizar perdas, tanto em termos de

mercado de fatores como de demanda final, viabilizando-se, assim,

a aplicação da Ecologia Industrial.

Sua contribuição e tradução para o nível empresarial projetam padrões

de competitividade enquanto modelo de negócio, uma vez que:

• Provocam a conversão das cadeias produtivas em sistemas de

cooperação estratégica, potencializada em planejamento

de cadeias industriais ordenadas;

• Incluem adição de valor econômico e mercadológico,

minimizando-se a subtração de valores ambientais.

O principal impulso da Ecologia Industrial se concentra na interco-

nexão dos processos de produção, de modo a convergir a um ponto

em que as emissões, efluentes e resíduos tendam a zero.

Utiliza, assim, o ecossistema como benchmarking e a integração da

diversidade industrial pensada em termos de um sistema fechado,

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S no qual os fluxos internos em complementaridade de processos

produtivos sejam preponderantes sobre os externos.

Sua aplicação considera os seguintes vetores:

• Complementaridade máxima entre os processos produtivos;

• Compromisso de geração rumo ao zero de resíduos, efluentes

e emissões;

• Consumo otimizado de utilidades.

O sistema fechado que impulsiona o “rumo ao zero” para o ciclo

de gerações (resíduos, efluentes, emissões), provoca a adoção de

novas tecnologias, reduzindo competitivamente custos de insumos,

processos e tratamento de resíduos.

Propõe a eco-eficiência, espelhando a utilização máxima dos

recursos, com “eco-vantagens” contraindo a estrutura de custos

ambientais e minimizando sua internalização no custo dos produtos.

Possibilita ainda a criação de vantagens competitivas, nas áreas

tecnológicas, produtivas, mercadológica e econômica, fundamen-

talmente baseadas na premissa de maior retorno com a mesma

quantidade de insumos e recursos financeiros.

Internacionalmente, a Ecologia Industrial já se traduz, de forma

prática e empreendedora, nos Eco Industrial Parks, condomínios

cujos fluxos de matéria e energia se integram por meio da adoção

de tecnologias disponíveis e, não por acaso, encontram rentabi-

lidade superior no desempenho empresarial70. No Brasil, merece

destaque o Programa Mineiro de Simbiose Industrial que identi-

ficou mais de 280 possíveis sinergias, o que significa centenas de

empresas em negociação. Os resultados iniciais mostram que a

simbiose industrial tem o potencial de reduzir significativamente

os resíduos industriais e mitigar os impactos ambientais adversos,

70. Estudo Arcadis de referência sobre Ecologia Industrial, realizado com inputs das universidades Holandesas TU Delft e Leiden (Eco-Industrial Parks Worldwide, 2008), identificando um universo de 178 potenciais Eco-Industrial Parks, convergindo em diferentes estágios para operação sob EI.

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enquanto as empresas lucram e desenvolvem novos mecanismos

econômicos. Seguem, alguns resultados alcançados no Programa:

• 317 empresas participantes;

• 139.793 toneladas de resíduos desviados de aterros;

• 194.815 toneladas de redução no uso de matérias primas virgens;

• 87.476 toneladas de redução das emissões de carbono;

• 13.650.000 m3 de águas reutilizadas;

• 8.768.683 de redução de custos para as empresas.

Embora o conceito de Eco Industrial Park tenha suas origens na

Europa (mais precisamente em Kalundborg, na Dinamarca), sua

adoção está sendo massificada pelos países asiáticos de rápido

crescimento, como Taiwan, Coréia do Sul e Hong Kong (Tudor,

Adam & Bates, 2007)71.

Mais recentemente, a Índia tem apresentado resultados contundentes,

relativos às vantagens geradas pela sinergia industrial para pequenas

e médias indústrias. Em uma aplicação com 14 PME em Andhra

Pradesh, na região de Hyderabad, registrou-se economia de energia

elétrica (836 MWh), carvão (2,804 ton), resíduos perigosos (300 ton.),

água (1,82 milhões de litros) e de materiais (economia agregada de

aproximadamente R$ 1 milhão, ou 20 milhões de rupias)72.

71. TUDOR, T.; ADAM, E.; BATES, M. Drivers and limitations for the successful development and functioning of EIPs (eco-industrial parks): A literature review. Ecological economics. v. 61, n. 2, p. 199-207, 2007.72. GIZ. Eco-industrial parks Andhra Pradesh. Disponível em: https://www.giz.de/en/downloads/giz2012-eco-industrial-parks-andhra-pradesh-india-en.pdf

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AISCONSIDERAÇÕES FINAIS

Inquestionavelmente não é possível prever o futuro. Nosso desafio

é observar o presente, aprender com o passado e identificar as

tendências firmes e as oportunidades e riscos associados às proba-

bilidades de rupturas. Análises acuradas fazem com que as lógicas

produtivas decorrentes sejam construtoras de futuro – não simples-

mente passivas – frente às tendências direcionadas pelo acaso.

O Brasil está fazendo um grande ajuste de contas com o passado.

O desenho de nosso acerto com o futuro não deve se restringir ao

chão de fábrica e à lógica linear clássica dos processos produtivos.

Uma nova e dramática revolução industrial bate à nossa porta,

em um contexto de severos desafios sociais e ambientais. Nesse

sentido, as saídas têm que ser coordenadas e orientadas para um

propósito, que evite a criação de novos passivos, sociais e ambien-

tais, a serem acertados no futuro.

A digitalização da manufatura, a rastreabilidade dos processos,

a computação em nuvem e a robótica colaborativa, entre outros

processos que são a base da Indústria 4.0, integram o mundo real e

o digital, constituindo-se em ferramentas essenciais para a susten-

tabilidade. Assumir essa perspectiva como direcionares de inicia-

tivas e políticas de inovação e educação é uma oportunidade de

construir um futuro mais equilibrado.

Essa nova revolução industrial vai envolver o redesenho do chão

de fábrica, das cadeias de suprimento e da logística, bem como

o encurtamento dos prazos de lançamento de novos produtos

no mercado, a maior flexibilidade das linhas de produção, com

aumento da produtividade e da eficiência no uso de recursos

(como, por exemplo, energia, água e outros insumos de recursos

naturais) e, até mesmo, a capacidade de as empresas se integrarem

em cadeias globais de valor. Há estimativas de que, até 2025,

processos relacionados à Indústria 4.0 possam reduzir o consumo

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de energia entre 10% e 20%, promovendo ganhos extraordinários

de produtividade, redução de emissões, além de permitir a custo-

mização da produção.

A manufatura aditiva, a Internet das coisas e a inteligência artifi-

cial potencializam tudo isso e deveriam ser orientadas às soluções

integradoras, nas quais práticas sustentáveis se viabilizem, via agre-

gação de valor.

Essas mudanças têm potencial para transformar as atividades

econômicas e impactar a estrutura de emprego, os requisitos de

qualificação profissional, a dinâmica de gestão dos estoques de

recursos naturais e a conservação dos ecossistemas.

Ainda há muito o que fazer para que o Brasil se torne de fato

competitivo frente a outros países, cujas empresas vêm internali-

zando essa transformação com grande rapidez. Embora a revolução

da indústria 4.0 esteja basicamente ligada a tecnologias, físicas e

virtuais, os benefícios inerentes têm um alcance muito maior.

Adotar a Agenda 2030 e os ODSs e suas métricas como direciona-

dores de processos de inovação e de educação será um salto grande

para que o País mantenha seu diferencial comparativo, em termos

de oferta de recursos naturais e conservação de ecossistemas.

Esse é um passo essencial para que os processos de agregação

de valor a partir dos insumos da natureza, associados aos demais

elementos da nova revolução industrial, possam trazer vantagens

competitivas sustentáveis.

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ELAPÊNDICE A – EXEMPLOS DE AÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA PARA O ALCANCE DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELA efetiva inclusão da sustentabilidade na produção já é uma reali-

dade para o setor industrial. Diversas empresas vêm identificando,

desenvolvendo e investindo em iniciativas alinhadas aos ODS e suas

metas. Esse processo molda novas estratégias corporativas. Tais

práticas são vistas como instrumento de inovação e competitivi-

dade e tornam-se comuns nos mais diversos setores industriais.

A identificação de exemplos é meramente ilustrativa, pois não se fez

uma pesquisa exaustiva sobre o tema. O que se pretende mostrar

é que o setor industrial já adere à lógica dos ODS e que muitas

ações desenvolvidas podem ser redesenhadas, visando a uma

contribuição mais efetiva para a agenda 2030. Entretanto, existem

muitos desafios a serem enfrentados pelo setor industrial. Mobilizar

o setor para se engajar nesse processo global é uma das iniciativas

da CNI como representante do setor na Comissão Nacional dos

Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, instituída no âmbito da

Presidência da República.

ODS 4: EducaçãoPlataforma Educativa: Educação para o Desenvolvimento Sustentável de Comunidades Litorâneas - REPSOL SINOPEC

O projeto Plataforma Educativa atua, desde 2009, como mediador

e indutor de benefícios socioeconômicos sustentáveis para comuni-

dades litorâneas de São Paulo e Rio de Janeiro, oferecendo cursos

de qualificação profissional envolvendo uma rede de parceiros e

agregando os interesses de diferentes partes interessadas.

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As comunidades pesqueiras, que têm na pesca artesanal um de seus

principais meios de subsistência, recebem cursos de capacitação

voltados à gestão de resíduos no mar, processamento de pescados,

pescador profissional e outros. Por meio de parcerias estratégicas, a

Plataforma Educativa também oferece atividades complementares

aos assuntos relacionados às atividades profissionais do pescador

com palestras sobre: “Legalização de embarcações e provas de

habilitação arrais amador e mestre amador”, “Legislação ambiental

sobre pesca” e de interesse comum como “Preservação ambiental”,

orientações sobre saúde e condutas de risco, aferição de pressão

e medição de diabetes. Mais de 12 mil pessoas em 18 cidades da

costa brasileira já foram beneficiadas.

ODS 4: EducaçãoPrograma SENAI de Educação a Distância (PSEAD)

O Programa SENAI de Educação a Distância (PSEAD) visa imple-

mentar soluções inovadoras na oferta de cursos a distância, que

permitam aumentar o número de matrículas em cursos de Educação

Profissional. Para alavancar o crescimento da quantidade de matrí-

culas em educação a distância, são desenvolvidos diferentes cursos

técnicos voltados para qualificações profissionais.

Os cursos oferecidos incluem temas transversais, que desen-

volvem capacidades para a iniciação no mundo do trabalho

ou, no caso de quem já está trabalhando, para a atualização

das competências profissionais. Os temas disponíveis atual-

mente são: Educação Ambiental, Empreendedorismo, Legislação

Trabalhista, Segurança do Trabalho, Tecnologia da Informação e

Comunicação e Propriedade Intelectual. Mais de um milhão de

matrículas, nos cursos a distância de competências transversais,

já foram registradas.

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ELODS 6: Água Limpa e Saneamento

Programa Inova Talentos: Estação Móvel de Tratamento de Água

Com o apoio do Programa Inova Talentos , a empresa Lics Super

Água desenvolveu a Estação Móvel de Tratamento de Água (ETA

Móvel) – um conjunto de equipamentos para sucção, bombea-

mento, desinfecção microbiológica e aplicação de flúor em águas

de superfície, como córregos, rios, represas, açudes e cisternas.

A água tratada, adequada para consumo humano, pode também

ser utilizada na produção animal e industrial. A nova tecnologia

pode ser levada por reboque aos mais variados pontos, inclusive em

casos de calamidade pública. O sistema não depende de energia

elétrica para funcionar, sendo necessários somente sete minutos

para que água captada se torne potável. A ETA Móvel tem forte

apelo social, pois é capaz de aumentar a qualidade da água para

o consumo humano e produção dos alimentos de origem animal,

em condições sanitárias ideais. Com isso, contribui para a melhoria

dos indicadores de saúde, para o desenvolvimento econômico e

sustentável e para a inclusão social.

ODS 6: Água Limpa e Saneamento

Manual de Gestão Eficiente de Recursos Hídricos

A Associação Brasileira da Indústria Química - Abiquim, por meio

do GT Água, promove debates e propõe ações de melhoria para a

gestão de recursos hídricos pelas empresas do setor, visando ao uso

racional da água e à sustentabilidade dos negócios. Um dos resul-

tados do trabalho foi o lançamento do Manual de Gestão Eficiente

de Recursos Hídricos, direcionado a empresas de pequeno e médio

porte, com o objetivo de disseminar boas práticas de gestão da

água e de sustentabilidade. O documento apresenta informações

sobre o cenário da disponibilidade hídrica no Brasil, as demandas

de diferentes segmentos pelo recurso e o desempenho da indústria

química. Além disso, explica como uma empresa pode identificar

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oportunidades de melhoria em sua gestão de recursos hídricos e

como sistemas de reuso interno industrial de água podem ser imple-

mentados. Com casos de sucesso de indústrias químicas ilustrando

o documento, o Manual apresenta ainda as diferentes tecnologias

disponíveis para o tratamento de água.

ODS 7: Energia Acessível e LimpaBusiness to Society: Contribuição para o Desenvolvimento Sustentável

Conforme descrito no relatório Business to Society, a empresa

Siemens tem, entre seus objetivos, apoiar o país de modo a impul-

sionar sua economia, gerar empregos e qualificação local e inovar.

Seus produtos incluem soluções para eletrificação dos transportes,

redes inteligentes de distribuição de energia, digitalização da

indústria e da área de saúde, que possam contribuir com a redução

de gases de efeito estufa, eficiência energética e redução no uso de

materiais. As turbinas para geração de energia a partir de biomassa

e eólica ajudaram os clientes da empresa a reduzir 3 milhões de

toneladas de carbono por ano. Internamente, a companhia também

tem investido em tecnologias para reduzir as emissões: em 2016,

as operações da Siemens no Brasil reduziram 32% das emissões,

em comparação a 2014.

ODS 8 - Emprego Digno e Crescimento econômico Programa Apoio à Gestão Pública - Votorantim

O Programa Apoio à Gestão Pública é uma parceria entre governo,

empresa, organismo internacional e ONG, além de mobilizar

academia e sociedade do município de Sobral/CE. Foi criado com o

objetivo de fortalecer a capacidade do poder público como agente

de desenvolvimento. A responsabilidade pelo financiamento do

projeto é compartilhada entre a empresa e o Banco Nacional de

Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como resultado

desse processo colaborativo, foi lançado o Plano de Visão Sobral

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ELde Futuro, que estabelece estratégias e metas para direcionar a

evolução da cidade nos próximos 30 anos em temas como cresci-

mento econômico, valorização das tradições locais, saneamento,

gestão de resíduos, ocupação do solo, mobilidade e equipamentos

de lazer, entre outros.

ODS 8: Emprego Digno e Crescimento Econômico e ODS 12: Consumo e Produção ResponsáveisProposta do Setor Industrial de Modelagem do Sistema para a Logística Reversa dos Resíduos Têxteis

Visando incentivar a reciclagem e a reutilização de materiais – e

assim promover a responsabilidade compartilhada e a logística

reversa – a Associação Brasileira da Indústria Têxtil trabalha em

parceria com a prefeitura do município de São Paulo no projeto

“Retalho Fashion” (Proposta do Setor Industrial de Modelagem do

Sistema para a Logística Reversa dos Resíduos Têxteis). Esse projeto

visa à organização da coleta, triagem e venda de resíduos têxteis,

provenientes de confecções instaladas em dois dos principais polos

de produção e comercialização de vestuário do país. O Retalho

Fashion busca criar condições socialmente justas de trabalho

e restabelecer as condições de limpeza, além de agregar valor a

um material atualmente tratado como rejeito e, por conseguinte,

enviado aos aterros sanitários. Além de apoiar na manutenção do

meio ambiente saudável, o projeto promove geração de renda com

ocupação qualificada e gera valor econômico ao que hoje é consi-

derado rejeito.

ODS 8: Emprego Digno e Crescimento Econômico

Atuação Responsável® - Segurança do trabalho

Seguindo as exigências do Programa Atuação Responsável®,

compromisso com a sustentabilidade do setor químico, a indústria

química tem investido na qualificação rigorosa de prestadores de

serviço, na equiparação das condições adequadas de trabalho e nos

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investimentos em capacitação. Some-se a isso a implementação de

políticas de saúde e segurança, com foco na prevenção de acidentes,

cada vez mais integradas aos sistemas de governança das empresas.

O resultado tem sido uma grande redução na taxa de Frequência de

Acidentes com Afastamento, tanto nos funcionários das empresas

como nos contratados. O resultado desses esforços chama atenção:

em 10 anos (entre 2001 e 2010), o número de acidentes ocupacionais

totais por empresas foi reduzido em 54%. Isoladamente, a redução

nos índices de acidentes com trabalhadores contratados alcançou

62%. A análise do desempenho na gestão da segurança ocupacional

das associadas à Abiquim, no período entre 2001 e 2010, confirma

seu esforço em prevenir acidentes e, caso esses aconteçam, terem a

menor gravidade possível. Os números reportados mostram que

a maior parte das empresas atingiu níveis comparáveis aos melhores

padrões internacionais do setor, quando comparados aos dados

reportados ao Conselho Internacional das Associações da Indústria

Química – ICCA pelas associações nacionais que possuem programas

de Atuação Responsável® (Responsible Care®).

Caso InterCement

Um exemplo interessante veio do Instituto InterCement, criado com

o objetivo de definir estratégias, criar metodologias e implementar

o investimento social privado da empresa. As ações visam fortalecer

os vínculos comunitários, valorizar ativos locais, articular parceiros

e formar redes de colaboração, de modo a criar um ambiente favo-

rável e participativo em prol do desenvolvimento sustentável e da

autonomia das comunidades. Os investimentos são focados em três

áreas de atuação: Desenvolvimento Comunitário, em parceria com

a sociedade e o poder público, buscando gerar oportunidades de

desenvolvimento mais equânimes; Negócios de Impacto, que apoia

o dinamismo da economia local, envolvendo os pequenos negócios

nas cadeias de valor; e Empresa Comunidade, que investe na

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ELconstrução de metodologias e ferramentas para apoiar as empresas

no seu diálogo com as partes interessadas.

ODS 9: Indústria, Inovação e InfraestruturaTecnologia que Mede a Sensibilidade: Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP)

O projeto de Pesquisa e Desenvolvimento JAPI foi realizado entre

2011 e 2014, em parceria entre a empresa e universidades. Essa

cooperação resultou em 22 mapas, que hierarquizam os diversos

tipos de contorno de costa – manguezais, praias, margens de rios e

outros – dos municípios de Canavieiras, Una e Belmonte, conforme

o grau de sensibilidade de cada tipo de contorno costeiro a poten-

ciais derrames de óleo. Os mapas foram idealizados de maneira a

correlacionar as épocas do ano e as influências de maré, aos graus

de maior ou menor sensibilidade de cada ambiente. O projeto

inovou ao inserir, além dos elementos geralmente considerados

na elaboração de mapas de sensibilidade ambiental, a variável

temporal, incluindo as variações de correntes, ventos e vazões dos

rios, conforme as estações do ano e as horas de maré. O material

foi disponibilizado para as comunidades locais, como ferramental

importante para a conservação local.

ODS 9: Indústria, Inovação e InfraestruturaIPD Eletron - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Complexo Eletroeletrônico e Tecnologia da Informação

Com o intuito de fortalecer a pesquisa científica, melhorar as

capacidades tecnológicas e promover o desenvolvimento tecno-

lógico e a inovação nas empresas do setor, a Associação Brasileira

da Indústria de Eletroeletrônicos criou o IPD Eletron. O Instituto

estimula a pesquisa, desenvolvimento e inovação por meio de

parcerias entre empresas e institutos de ciência e tecnologia, que

contribuem com políticas públicas estruturadas para as áreas de

ciência, tecnologia e inovação, aprimorando a gestão da inovação

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nas empresas, além de apoiar a captação de recursos à inovação

para compartilhamento do risco tecnológico.

ODS 9: Indústria, Inovação e InfraestruturaImersões em Ecossistemas de Inovação

A iniciativa do Instituto Euvaldo Loidi (IEL) integra a agenda de

Inserção Global via Inovação e viabiliza arranjos público-privados

em ciência, tecnologia e inovação. Dessa forma, incentiva parcerias

entre empresas brasileiras e centros de pesquisa, desenvolvimento

e inovação, que atuam na fronteira do conhecimento. O programa

consiste em alinhamento conceitual e visitas téncias, considerando

um tema relevante para a competitividade da indústria. Entre os temas

desenvolvidos, inclui-se inovação e manufatura avançada, em função

dos grandes impactos que a digitalização dos processos produtivos

pelo uso de sistemas cyber-físicos e a mudança de paradigma da

produção podem gerar para a economia brasileira. Um importante

desdobramento da iniciativa foi a estruturação do Programa de

Aceleração em Inovação e Manufatura Avançada. O fortalecimento

de elos entre diversos atores em diferentes ecossistemas de inovação

também deve ser considerado como um resultado.

ODS 9: Indústira, Inovação e InfraestruturaPolímeros Biodegradáveis

Os polímeros, matéria-prima derivada do petróleo, estão presentes

em uma gama de produtos, que vão desde sacolas plásticas, roupas

e utensílios domésticos até tubulações. Visando promover substi-

tutos ao polímero mais sustentáveis, o Instituto SENAI de Inovação

em Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo, RS, trabalhou em

parceria com o IELpara desenvolver tecnologia própria de produção

de polímeros biodegradáveis a partir de fontes renováveis.

O Programa Inova Talentos do IEL permitiu o desenvolvimento

de competência nessa área tecnológica, resultando na obtenção

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ELde filmes de polímeros biodegradáveis, a partir da síntese de insumos

da biomassa, material até então inovador para o mercado nacional.

Por meio de projetos de inovação em parceria com empresas indus-

triais, o Instituto de Engenharia de Polímeros passa a oferecer e

incrementar a tecnologia desenvolvida.

ODS 12: Consumo e Produção ResponsáveisGreen Eletron - Gestora para Logística Reversa de Eletroeletrônicos

O setor de eletroeletrônicos enfrenta o desafio de criar alternativas

estruturadas para destinação de seus produtos, cujo consumo é

crescente, após sua vida útil. Para atender à demanda e à legislação

brasileira de resíduos sólidos, a Associação Brasileira da Indústria

de Eletroeletrônicos criou, em 2016, a Green Eletron, cujo objetivo

central é estruturar, implantar e gerenciar um Sistema Coletivo de

Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos. Esse sistema

permite maior eficiência nos esforços e custos das empresas, que

compartilham a infraestrutura criada e podem, juntas, adotar estra-

tégias de comunicação, padronizar e otimizar procedimentos. A

GREEN Eletron deve contribuir para integração da logística reversa

nas ações de política industrial do setor eletroeletrônico, além

de promover a economia circular, visando à geração de valor e à

redução de custos a suas associadas.

ODS 12: Produção e Consumo ResponsáveisBrasil Mais Produtivo

Criado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o

programa Brasil Mais Produtivo objetiva aumentar a produtividade

de pequenas e médias indústrias em, no mínimo, 20%, por meio de

consultoria especializada na implementação da Manufatura Enxuta

(Lean Manufacturing) – filosofia de gestão que visa à redução ou

eliminação dos desperdícios (superprodução, tempo de espera,

transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e

defeitos) gerados pelo processo produtivo, para o aumento de sua

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eficiência. Trata-se de mais uma iniciativa que visa ao aumento da

produtividade por meio da inovação incremental.

ODS 13: Ação Contra a Mudança Global do ClimaIniciativa de Petróleo e Gás sobre o Clima – OGCI (Oil and Gas Climate Initiative)

A Iniciativa de petróleo e gás sobre o clima é liderada por CEOs,

que visam mostrar a liderança do setor na resposta às mudanças

climáticas. A OGCI é composta por 10 empresas de petróleo e gás,

que colaboram em ações para reduzir as emissões de gases de

efeito estufa. Os membros da OGCI respondem por mais de um

quinto da produção global de petróleo e gás e mais de 10% do

suprimento de energia. A missão da OGCI é usar recursos coletivos

para acelerar ações que mitiguem as emissões de gases de efeito

estufa das operações do setor de petróleo e gás e o uso de seus

produtos, enquanto ainda atendem às necessidades energéticas

mundiais. Entre as ações do grupo está a formação da OGCI Climate

Investiments, que pretende investir US$1 bilhão na próxima década

para acelerar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras que,

uma vez comercializadas, têm o potencial de reduzir as emissões de

gases de efeito estufa em uma escala significativa.

ODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do ClimaIndústria de Cimento

Na busca por soluções para redução das emissões de CO2 pelo

setor, a indústria do cimento trabalha com inovações nos processos,

como o aumento do uso de adições e substitutos de clínquer73,

substituição de combustíveis fósseis por alternativos que tenham

menor fator de emissão, de modo a possibilitar o incremento da

eficiência térmica e elétrica da indústria.

73. Escória de fornos siderúrgicos; produto da calcinação de calcário e argila, como matéria-prima para cimento após moagem.

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ELODS 15: Vida Terrestre

Caso Votorantim

Fruto da cooperação entre empresa, Sociedade Brasileira de Espe-

leologia e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, foi desenvolvido

o Guia de Boas Práticas Ambientais na Mineração, tendo como

foco práticas socioambientais que contribuam para a proteção de

cavernas no bioma Mata Atlântica. O Guia considera o ciclo de vida

da mineração, com ênfase nas áreas cársticas74, e visa fomentar

e compartilhar ações mitigadoras dos impactos na biodiversidade

local. A cooperação entre as instituições conta ainda com projetos

de gestão territorial sustentável e de conservação de nascentes.

74. Tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, que leva ao aparecimento de uma série de características físicas, tais como cavernas, dolinas, vale seco vale cegos, entre outros.

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APÊNDICE B - INCENTIVOS PARA A GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE: FONTES DE FINANCIAMENTO E INCENTIVOS

Rever planos de negócios e definir ações de gestão com foco

em sustentabilidade é claramente uma estratégia de competi-

tividade e via de contribuição para o desenvolvimento susten-

tável do País75. Colocar em prática essas medidas depende de

investimentos em diversas áreas. Neste anexo, são apresentados

exemplos de fontes de financiamento e incentivos para a gestão

corporativa de sustentabilidade.

No que se refere a recursos de governo, além de linhas de crédito

próprias, algumas instituições de fomento são responsáveis pela

gestão de fundos estaduais e nacionais legalmente estabelecidos e

com foco em diferentes áreas: recursos hídricos, mudanças climá-

ticas e biodiversidade. Tais recursos, em alguns casos, podem ser

destinados ao setor industrial.

O quadro 1 apresenta informações consolidadas a respeito das

linhas de financiamento e programas oferecidos por instituições do

Sistema Nacional de Fomento (SNF), formado por 30 instituições,

entre elas o BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Sebrae

e Agências e Bancos de Desenvolvimento Regionais e Estaduais76.

O BNDES oferece uma gama abrangente de linhas de financiamento.

Existe uma maior oferta de crédito para projetos de geração de energia

por fontes renováveis, sobretudo a solar, e de aumento da eficiência

energética. Também se pode observar foco em financiamento de

conservação e preservação, redução de desmatamento, etc.

75. Informação sobre esse posicionamento acessível em < http://www.portaldaindustria.com.br/cni/areas-de-atuacao/meio-ambiente-e-sustentabilidade/#sthash.3qS8RKD6.dpuf>.76. Para mais informações, ver: <http://www.abde.org.br/ABDEOque.aspx>.

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Quadro 1 - Informações sobre fontes de financiamento do Sistema Nacional de Fomento (SNF)

INSTITUIÇÃO DO SNF

PROGRAMA / LINHA DE CRÉDITO

ESCOPO

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES

Programa Fundo Clima – Fundo Nacional sobre Mudança do Clima

Projetos e investimentos relacionados à redução de emissões de gases do efeito estufa e à adaptação às mudanças do clima

BNDES Fundo Social

Projetos coletivos de caráter social em áreas como geração de emprego e renda, saúde, educação, meio ambiente e/ou vinculadas ao desenvolvimento regional e social

BNDES Finem - Eficiência Energética

Projetos para eficiência energética de edificações e geração distribuída, incluindo cogeração, para unidades novas ou já existentes (retrofit)

BNDES Finem - Saneamento ambiental e recursos hídricos

Projetos de saneamento ambiental, incluindo efluentes e resíduos industriais, recuperação de áreas degradadas, desenvolvimento institucional e despoluição de bacias

BNDES Finem - Geração de energia

Projetos de geração de energia elétrica, a partir de fontes renováveis e termelétricas a gás natural em ciclo combinado

BNDES Finem - Recuperação e Conservação de Ecossistemas e Biodiversidade

Manutenção e recuperação dos ecossistemas e biodiversidade, para conservação, adequação à legislação ambiental e uso dos recursos naturais, incluindo a conservação e recuperação de áreas degradadas ou convertidas, inclusive Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais

BNDES Finem - Investimentos sociais de empresas (linha ISE)

Projetos de investimentos e programas sociais, que contribuam para a articulação e o fortalecimento de políticas públicas

Fundo Amazônia

Projetos que contribuam, direta ou indiretamente, para a redução das emissões de GEE provenientes do desmatamento e da degradação florestal, por meio de ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal

Fundo de Energia Sustentável

Climate Bonds Partner Fund – Investimento em debêntures incentivadas, cujos recursos das emissões sejam utilizados para financiar ou refinanciar projetos e ativos, alinhados à infraestrutura de baixo carbono.

Restauração Ecológica

Financiamento de atividades de restauração ecológica nas modalidades:- Reembolsável: são financiadas empresas e proprietários rurais.- Não reembolsável: direcionado a instituições sem fins lucrativos, que implementem a restauração em unidades de conservação públicas, áreas de preservação permanente, reservas legais em assentamentos rurais, terras indígenas e Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN).

BNDES Finem - Outras linhas de financiamento

- Recuperação de passivos ambientais - Produtos ou processos produtivos, que utilizem insumos provenientes de fontes renováveis como matérias-primas, ou que possuam um menor impacto socioambiental - Planejamento e Gestão Ambiental - Florestas plantadas para fins industriais/econômicos - Biocombustíveis convencionais ou de primeira geração - Redução do uso de recursos naturais e materiais

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INSTITUIÇÃO DO SNF

PROGRAMA / LINHA DE CRÉDITO

ESCOPO

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDES

BRDE PCS – Produção e Consumo Sustentável

Estruturado em subprogramas:- Energias Limpas e Renováveis - Energia - Uso Racional e Eficiente da Água - Gestão de Resíduos e Reciclagem - Agronegócio Sustentável

PROGRAMA ABC - Plantio de Florestas

Projetos de implantação, manutenção e manejo de florestas comerciais, inclusive aquelas destinadas à recomposição de reserva legal ou de áreas de preservação permanente.

BRDE EnergiaProjetos e investimentos na produção de energia renovável e Projetos de aumento de eficiência energética

Banco de Desenvolvimento do Espirito Santo - Bandes

FUNDAPSOCIALMicro e pequenas empresas, microempreendedores e Projetos sociais e culturais

Programa Barragens

Barragem, em conjunto com outros investimentos, na propriedade, destinado a produtores rurais

Programa Reflorestar

Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), para auxiliar na aquisição de insumos, visando ao plantio de novas áreas com florestas

Banco do Nordeste do Brasil - BNB

FNE VERDE - Programa de Financiamento à Sustentabilidade Ambiental

Projetos que estimulem a preservação, conservação, controle e/ou recuperação do meio ambiente

FNE SOL - Programa de Financiamento à Micro e à Minigeração Distribuída de Energia Elétrica

Sistemas de micro e minigeração distribuída de energia por fontes renováveis

FNE ÁGUA - Programa de Financiamento à Projetos para o uso eficiente e sustentável da Água

Projetos para o uso eficiente e sustentável de água

Financiadora de Estudos e Projetos – Finep

Programa Inova Sustentabilidade

Estruturado em subprogramas: - Produção sustentável - Recuperação de Biomas Brasileiros e Fomento às Atividades Produtivas Sustentáveis de Base Florestal - Saneamento ambiental - Monitoramento ambiental e prevenção de desastres naturais

Sistema Cooperativo de Crédito – Sicredi

Financiamento para Energia Solar

Equipamentos e tecnologia para captação de energia solar

Agência de Fomento do Paraná

Fomento EnergiaEquipamentos para geração de energia a partir de fontes renováveis ou substituição de lâmpadas e equipamentos para melhoria da eficiência energética

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INSTITUIÇÃO DO SNF

PROGRAMA / LINHA DE CRÉDITO

ESCOPO

Agência de Fomento do Rio de Janeiro – AgeRio

AgeRio Ecoeficiência

Projetos que reduzam impactos ambientais e que incluam a sustentabilidade no processo de produção

AgeRio APL Metal Mecânico - Licenciamento Ambiental

Implementação de ações necessárias para Licença Operacional definitiva

AgeRio Certificação

Investimentos necessários para obter certificações exigidas pelo mercado

Agência de Fomento do Estado de Pernambuco

PE Solar Equipamentos e tecnologia para captação de energia solar

Agência de Fomento do Estado de Goiás

Eficiência Energética

Bens e serviços relacionados a projetos que proporcionem economia no consumo de energia

Crédito Produtivo Energia Solar

Aquisição de máquinas, equipamentos, instalação, capital de giro associado e demais investimentos relacionados à geração de energia solar

Agência de Desenvolvimento Paulista

Linha Economia Verde

Projetos que reduzam a emissões de gases de efeito estufa e impactos ambientais

Linha Economia Verde – Máquina

Máquinas e equipamentos que reduzam a emissões de gases de efeito estufa e impactos ambientais ou tenham maior eficiência energética.

Projetos de Eficiência Energética

Projetos que reduzam o consumo de energia ou aumentem a eficiência do sistema energético nacional

Ressalte-se que o quadro acima foi elaborado com base nas

informações disponíveis nos respectivos sites, relativas às insti-

tuições apresentadas. Logo, a eventual ausência de determinada

instituição do SNF não implica indisponibilidade de linhas de

crédito, mas apenas limitação de acesso às informações da insti-

tuição, via internet.

Da mesma forma que algumas das fontes identificadas neste docu-

mento, o acesso a esses recursos se dá, em geral, por meio de

editais para seleção de projetos. Informações detalhadas sobre a

operação desses fundos poderão ser encontradas perante os órgãos

estaduais e municipais de meio ambiente.

No que se refere a demais fontes de recursos de origem privada,

há oportunidades emergentes no mercado financeiro, além das

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fontes tradicionais de recursos. O foco empresarial para a gestão

de sustentabilidade é visto, por certos agentes de mercado, como

uma oportunidade de negócio.

Isso se concretiza pelo surgimento de novas fontes alternativas

de obtenção de recursos (investimentos, financiamentos, créditos,

seguros, solicitação de empréstimo, propriamente dita etc.), para

implementação ou ampliação de linhas de negócios. Entre tais

fontes, vale destacar os Green Bonds, os fundos de Private Equity

e Venture Capital, voltados para investimento em empresas deno-

minadas de impacto77, ou seja, negócios com foco em contribuição

direta ao desenvolvimento econômico-social, capazes de gerar

produtos e serviços com impacto positivo ambiental e social78.

Os Green Bonds – “Títulos Verdes” – são títulos de dívidas emitidas

no mercado, visando ao financiamento de projetos que seguem

critérios socioambientais e contribuem para o desenvolvimento

sustentável, tais como energia renovável, eficiência energética,

gestão de resíduos, transporte de baixo carbono, projetos flores-

tais, etc. Esses títulos também podem ser usados para financiar

projetos com benefício social, como a melhoria da saúde e dos

serviços sociais.

Já os fundos Private Equity e Venture Capital, focados em negócios

de impacto, são fundos de investimento que buscam, além do

retorno financeiro, a geração de valor social e ambiental, ou seja,

são fundos de investimento cujos acionistas objetivam obter triplo

retorno (triple bottom line): financeiro, social e ambiental.

77. Mais informações sobre o volume de investimentos em negócios de impacto em <http://granitopartners.com/pt-br/o-que-sao-negocios-de-impacto/>78. São empresas e negócios voltados para a maximização da criação de impacto positivo para o meio ambiente, para as partes interessadas (clientes, fornecedores, força de trabalho etc.), e para a sociedade em geral. Para esse tipo de negócio, os fatores relacionados ao bottom line, tais como lucro, rotatividade e crescimento, servem como meios de obter capital de investidores, que seja suficiente para sustentar a geração de impacto positivo.

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STal segmento vem-se expandindo cada vez mais no Brasil, contendo

significativos recursos para investir apenas em empresas que sigam

a lógica de gerar impacto positivo. Ou seja, empresas que, através

do aprimoramento em sua linha de negócio, processo de produção

ou investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) possuam

diferencial frente aos concorrentes, gerando para a sociedade um

ganho social e ambiental resultante do exercício de suas atividades

(SANT’ANNA, 2015)79.

79. SANTA’ANNA, G. Gestores revelam como é possível obter retorno financeiro através do Investimento de Impacto. ABVCAP. 2015. Disponível em: http://www.abvcap.com.br/sala-de-imprensa/noticias-abvcap.aspx?id=3257>. Acesso em: 20 de mar. 2017.

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CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNIRobson Braga de AndradePresidente

Diretoria de Relações Institucionais – DRIMônica Messenberg GuimarãesDiretora

Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMASShelley de Souza CarneiroGerente-Executivo

Percy Baptista Soares Neto Mario Augusto de Campos Cardoso Elisa Romano Dezolt Elaboração

Cíntia de Matos Amorim VianaDaniela CestarolloElisa Romano DezoltErica dos Santos VillarinhoJosé Quadrelli NetoLucia Maria de SoutoMarcos Vinícius CantarinoMário Augusto de Campos CardosoPercy Baptista Soares NetoPriscila Maria Wanderley PereiraRafaela Aloise de FreitasRenata Medeiros dos SantosSérgio de Freitas MonforteWanderley Coelho BaptistaEquipe

Diretoria de Comunicação – DIRCOMCarlos Alberto BarreirosDiretor de Comunicação

Gerência Executiva de Publicidade e Propaganda – GEXPPCarla GonçalvesGerente-Executiva de Publicidade e Propaganda

Diretoria de Serviços Corporativos – DSCFernando Augusto TrivellatoDiretor de Serviços Corporativos

Área de Administração, Documentação e Informação – ADINFMaurício Vasconcelos de CarvalhoGerente Executivo de Administração, Documentação e Informação

Alberto Nemoto YamagutiNormalização

ArcadisKarin Ferrara Formigoni Diretora

Cintia Philippi SallesGerente

Maria Sulema Pioli Coordenadora

Maria Sulema Pioli Daniel Tha Bruno Hernandez Incau Luiza Chantre de Oliveira Azevedo Elaboração

ZPC Consultoria em Comunicação LtdaJosé Paulo Moreira de OliveiraRevisão e edição

Editorar MultimídiaProjeto gráfico e diagramação

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