gestÃo corporativa da sustentabilidade: uma … · gestão corporativa da sustentabilidade : ......
TRANSCRIPT
BRASÍLIA2017
GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE:
UMA NOVA PERSPECTIVA
GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE:
UMA NOVA PERSPECTIVA
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNIRobson Braga de Andrade Presidente
Diretoria de Desenvolvimento IndustrialCarlos Eduardo AbijaodiDiretor
Diretoria de ComunicaçãoCarlos Alberto BarreirosDiretor
Diretoria de Educação e TecnologiaRafael Esmeraldo Lucchesi RamacciottiDiretor
Diretoria de Políticas e EstratégiaJosé Augusto Coelho FernandesDiretor
Diretoria de Relações InstitucionaisMônica Messenberg GuimarãesDiretora
Diretoria de Serviços CorporativosFernando Augusto TrivellatoDiretor
Diretoria JurídicaHélio José Ferreira RochaDiretor
Diretoria CNI/SPCarlos Alberto PiresDiretor
BRASÍLIA2017
GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE:
UMA NOVA PERSPECTIVA
CNIConfederação Nacional da Indústria
SedeSetor Bancário NorteQuadra 1 – Bloco CEdifício Roberto Simonsen70040-903 – Brasília – DFTel.: (61) 3317-9000Fax: (61) 3317-9994www.cni.org.br
C748m
Confederação Nacional da Indústria.Gestão corporativa da sustentabilidade : uma nova perspectiva. /
Confederação Nacional da Indústria. – Brasília: CNI, 2017.
143 p.
1. Sustentabilidade 2. Gestão corporativa I. Título
CDU: 502.14 (063)
© 2017. CNI – Confederação Nacional da Indústria.Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.
CNIGerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMAS
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Linha do tempo de acontecimentos e evolução de conceitos
sobre o Desenvolvimento Sustentável 23
Figura 2 – Sustentabilidade empresarial e contribuição
ao Desenvolvimento Sustentável 39
Figura 3 -– Principais leis que compõem a legislação ambiental
brasileira no âmbito federal 51
Figura 4 – Principais aspectos do licenciamento ambiental no Brasil 57
Figura 5 – Comportamento dos investimentos sociais
do Grupo BISC entre 2007 e 2015 70
Figura 6 – Comparação do investimento social
do Grupo BISC entre 2014 e 2015 71
Figura 7 – Composição dos investimentos sociais do Grupo BISC 71
Figura 8 – Principais marcos para gestão de risco socioambiental
por instituições financeiras 77
Figura 9 – Principais tipos de Barreiras Comerciais
e aos Investimentos 102
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Gráfico de desempenho da carteira DJSI Global
e Mercados Emergentes 82
Gráfico 2 – Desempenho da carteira ISE-B3 desde sua criação (2005) 85
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Imperativos para o engajamento da indústria
com a sustentabilidade 41
Quadro 2 – Lista de empresas brasileiras que compõem o DJSI 2017 81
Quadro 3 – Lista de empresas que compõem a carteira ISE 2016/2017 84
Quadro 4 – Dez países com maior quantidade de Medidas
não tarifárias notificadas à OMC 103
Quadro 5 – Medidas Não tarifárias notificadas à OMC por tipo
de produtos 103
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Total dos Valores Cobrados pelo Uso de Recursos Hídricos 63
Tabela 2 – Compensação ambiental 65
SUMÁRIOAPRESENTAÇÃO ................................................ 11
RESUMO EXECUTIVO .........................................13
1 INTRODUÇÃO E SUSTENTAÇÃO .......................191.1 CONTEXTO DE MUDANÇA .........................................................21
1.2 INDÚSTRIA E O CENÁRIO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ...24
1.3 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA X GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE .............................................38
1.4 A GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE COMO MARCO EMPRESARIAL ESTRATÉGICO ....................................40
1.5 EVENTOS AMBIENTAIS QUE IMPACTARAM A INDÚSTRIA .............44
2 MOTIVADORES DE MUDANÇA ........................492.1 AMBIENTE REGULATÓRIO ..........................................................49
2.2 CONTEXTO MERCADOLÓGICO ...................................................66
2.3 O ESTADO COMO INDUTOR ECONÔMICO DE MUDANÇA ............74
2.4 REQUISITOS DO MERCADO FINANCEIRO .....................................76
3 CONDIÇÕES DE CONTORNO ........................... 873.1 CONTEXTO ECONÔMICO NACIONAL ..........................................87
3.2 INVESTIMENTO EM MODERNIZAÇÃO E ADEQUAÇÃO NACIONAL .. 94
3.3 ACORDOS INTERNACIONAIS E MERCADO EXTERNO ...................99
3.4 REQUISITOS AMBIENTAIS E SOCIAIS PARA O COMÉRCIO INTERNACIONAL ......................................................... 100
4 TENDÊNCIAS, OPORTUNIDADES E DESAFIOS ...................................................... 1114.1 COMPETITIVIDADE E NOVOS NEGÓCIOS ................................... 112
4.2 ECO-COMPETITIVIDADE E SINERGIAS ........................................ 118
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................. 123
APÊNDICE A – EXEMPLOS DE AÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA PARA O ALCANCE DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ................................................. 127
APÊNDICE B - INCENTIVOS PARA A GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE: FONTES DE FINANCIAMENTO E INCENTIVOS ..138
11
APR
ESEN
TAÇÃ
OAPRESENTAÇÃOA indústria brasileira está comprometida com o desenvolvimento
sustentável. Após a realização da Rio+20, a Confederação Nacional
da Indústria (CNI) lançou o projeto CNI Sustentabilidade, com o
objetivo de mobilizar o setor industrial para o diálogo e a reflexão
sobre os diferentes aspectos da sustentabilidade nas empresas.
Cada uma das cinco edições já realizadas tratou de um tema espe-
cífico, e orientou análises e debates entre especialistas nacionais
e internacionais sobre políticas públicas, gestão corporativa e
tendências na agenda de sustentabilidade. Passados cinco anos,
a CNI faz um balanço sobre os avanços e desafios persistentes no
caminho dessa importante agenda.
A partir de uma parceria com as associações setoriais, foram reali-
zadas análises e avaliações que mostram como o setor produtivo
avançou, mesmo frente aos desafios presentes na agenda da
sustentabilidade. Além disso, esta publicação traz desafios que
precisam ser superados para melhorar o ambiente de negócios,
e proporcionar mais segurança jurídica e redução da burocracia para
estimular soluções inovadoras, bem como produtos e processos
mais eficientes e sustentáveis.
Na agenda global, o foco está no cumprimento dos Objetivos
do Desenvolvimento Sustentável, que trazem 169 metas em
17 objetivos nas áreas econômica, social e ambiental para serem
atingidos até 2030. A CNI é a representante da indústria na comissão
nacional que acompanha o andamento dessa agenda no Brasil.
Esse engajamento é reflexo da adesão cada vez maior do setor aos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Isso poderá ser constatado
em inúmeras experiências empresariais relatadas nos documentos
setoriais produzidos para a sexta edição do CNI Sustentabilidade.
As iniciativas apresentadas vão do envolvimento de indústrias na
promoção do emprego e renda, e na educação a ações de inovação
e conservação do meio ambiente.
Nesta publicação, que busca oferecer um olhar crítico sobre a
gestão corporativa da sustentabilidade, são delineados os marcos
das inexoráveis mudanças impostas ao setor industrial com essa
agenda. É dado destaque às condições necessárias para que polí-
ticas e iniciativas associadas com a sustentabilidade frutifiquem
com mais vigor. São elencadas ainda oportunidades e desafios
dessa jornada até 2030, com o intuito de contribuir com estratégias
empresariais, e com propostas de políticas públicas que sejam mais
efetivas e eficazes para promover o desenvolvimento sustentável.
O presente documento é acompanhado de outros 14 trabalhos de
diferentes setores industriais que reforçam os compromissos do setor
com a Agenda 2030 e trazem contribuições para a sustentabilidade
da indústria nacional. Nesse conjunto de publicações, ressalta-se,
também, a participação do Serviço Nacional de Aprendizagem
Industrial (SENAI), do Serviço Social da Indústria (SESI) e do Instituto
Euvaldo Lodi (IEL), que apresentam suas iniciativas e mostram que a
agenda da sustentabilidade permeia todo o Sistema Indústria.
Boa leitura.
Robson Braga de Andrade
Presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)
13
RES
UM
O E
XECU
TIV
ORESUMO EXECUTIVOOs desafios do setor industrial na agenda da sustentabilidade
vêm-se transformando de forma rápida. Antes considerados uma
exigência de adequação aos marcos legais, passam agora a ser
percebidos como oportunidades de agregação de valor às marcas,
de redução de custos por meio do aumento da eficiência no uso
dos recursos e da melhor gestão dos riscos físicos e regulatórios.
Além desses aspectos, surgem novos negócios associados ao
provimento de soluções, para que empresas, cidades e cidadãos
utilizem os recursos naturais de forma mais racional e eficiente,
de tal maneira que possam contribuir com o uso sustentável e a
conservação dos ecossistemas.
Os exemplos não são poucos. A comercialização de bens com selos
de eficiência energética, a logística reversa, o reuso de efluentes
tratados como fonte alternativa de água e o uso sustentável da
biodiversidade são exemplos de iniciativas que ganham escala.
Da Rio + 20 resultaram os compromissos com os Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável, uma métrica para orientar os avanços
no sentido da sustentabilidade e do reconhecimento de que o setor
produtivo é parte da solução. Nesse contexto, o diálogo propositivo
e positivo entre setor privado e governos assume relevância parti-
cular. Os ODS são uma poderosa ferramenta para a comunicação das
ações e iniciativas empresariais em prol do Desenvolvimento Susten-
tável, na medida em que formam uma agenda global e conectam o
local, o regional e o nacional num mesmo marco de referência.
A evolução da perspectiva de responsabilidade socioambiental
para uma abordagem mais ampla da gestão da sustentabilidade
empresarial, associada à maior participação de instrumentos e
mecanismos de incentivos às boas práticas empresariais nas polí-
ticas públicas, indica um caminho sem volta.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
14
Não se trata de responsabilidade social corporativa, pois o capita-
lismo é centrado na maneira como os resultados são gerados – e
não no que se faz com eles em um momento ex post. A gestão da
sustentabilidade empresarial incorpora a questão socioambiental
como fator de competitividade e de mercado. Esses processos
devem garantir que vantagens comparativas se mantenham dispo-
níveis, em condições e preços, para dar suporte à competividade
das cadeias de valor às quais estão associadas.
A incorporação das cadeias de valor em práticas sustentáveis e a
intensificação do diálogo com as partes interessadas, para ações
de uso sustentável e conservação dos recursos naturais, mostram
resultados importantes para a performance do setor nessa agenda.
À medida que a indústria se desenvolve, impulsiona e melhora a
aplicação da ciência, da tecnologia e da inovação, promove incen-
tivo e maior volume de investimento em competências e educação,
além de viabilizar os recursos para atingir objetivos de desenvolvi-
mento mais abrangentes e inclusivos.
Após a Rio+20, a CNI definiu um programa contendo uma série
de ações, que visam mobilizar o setor industrial para o debate de
tendências de negócios, tecnologias, oportunidades e desafios,
tendo a sustentabilidade como pano de fundo.
Os resultados alcançados com a regionalização dos Conselhos
Temáticos de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI (Coemas)
e o Projeto CNI Sustentabilidade constituem prova inequívoca de
tais avanços.
Durante os últimos cinco anos, o país teve de enfrentar alguns
eventos extremos, que mostraram ao setor industrial que o
problema central não é apenas fazer frente aos riscos regulató-
rios, haja vista que os riscos físicos, se concretizados, podem causar
perdas importantes.
15
RES
UM
O E
XECU
TIV
OOs exemplos são claros: a) o acidente ocorrido em 5 de novembro
de 2015, no distrito de Bento Gonçalves, município de Mariana,
estado de Minas Gerais, decorrente do rompimento da barragem
de rejeitos (Barragem Fundão); b) a severa restrição hídrica ocorrida,
tanto na Região Nordeste (entre 2012 e 2017 e na bacia hidrográ-
fica dos rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí, (entre 2014 e 2015) bem
como, atualmente, no Centro Oeste; c) as restrições decorrentes
das mudanças no ambiente regulatório.
A incorporação da agenda de sustentabilidade aos planos de
negócios deixou de ser uma tendência. Destacam-se neste
documento os aspectos regulatórios, de mercado (incluídas as
exigências do mercado financeiro), bem como as demandas por
uma ação de Estado voltada ao incentivo da transição para a
sustentabilidade. Além desses aspectos, destaca-se ainda o
papel central do Estado como indutor econômico da mudança,
com a função central de prover ambiente institucional capaz de
permitir que as iniciativas do setor privado voltadas à sustenta-
bilidade tenham viabilidade econômica.
Esses são aspectos centrais do argumento. Somente se essas ações
demostrarem viabilidade econômica, os padrões de sustentabilidade
deixarão de estar restritos a um nicho ou a grandes corporações
com capacidade de investimento e ganharão a escala necessária.
Esse movimento é necessário para transformações estruturais que,
efetivamente, viabilizem resultados concretos em termos de conser-
vação ambiental, melhora no bem-estar social e condições para a
retomada do crescimento econômico.
Para que esse processo de transformação se concretize, é necessário
que algumas condições estejam presentes, a saber: a) implementação
de um ajuste fiscal, capaz de permitir que as condições atrativas
ao investimento privado sejam reestabelecidas, b) retomada pelo
Estado dos investimentos necessários para prover a infraestrutura
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
16
necessária ao desenvolvimento e à superação de gargalos sociais
importantes; c) incremento de uma dinâmica de comércio global
que, por um lado, equilibre o protecionismo e, por outro, elimine as
distorções de mercado associadas à sobre-exploração dos recursos
naturais de forma não regulada.
O futuro seguirá incerto. Entretanto, mesmo sem uma análise exaus-
tiva, é possível identificar que os avanços tecnológicos, a inovação,
o contexto social da era da internet e a velocidade desses processos
serão indutores de transformações/rupturas, que causarão impacto
importante na forma de produzir e de consumir. A sociedade, cada
vez mais conectada e informada, será diferente e prever como ela
será é tarefa difícil. A única certeza é que será diferente.
O design de produtos e processos voltados à menor pressão sobre
o ambiente é uma tendência e demanda pensamento sistêmico
ao longo do ciclo de vida de produtos. A internet das coisas, a
Indústria 4.0 e a perspectiva de economia circular associada aos
negócios já ocupam espaço na agenda das grandes corporações e
de algumas empresas de vanguarda, de pequeno e médio porte.
O uso de ferramentas de certificação e de análise de ciclo de vida
também deve se consolidar. Hoje, essas ferramentas ainda são
muito caras para a indústria.
Ainda no contexto das tendências, o desenvolvimento de uma
economia de baixo carbono abre um vasto leque de oportuni-
dades de negócio para indústrias inovadoras. O aproveitamento
e a conservação da biodiversidade e dos serviços ecossistê-
micos também oportuniza tecnologias eficientes e inovadoras
de extração e processamento, aderentes ao desafio nacional de
transformar as vantagens comparativas – em termos de abun-
dância de recursos naturais e potencial para produção de energia
limpa – em vantagens competitivas, de alto valor agregado. A
economia circular e a ecologia industrial suplantam a produção
mais limpa e orientam caminhos.
17
RES
UM
O E
XECU
TIV
OEntretanto, o ponto central do futuro deve estar na capacidade do
setor produtivo de construir alternativas, juntamente com governos
e com as organizações da sociedade. Essas alternativas serão
efetivamente transformadoras, quando construídas em conjunto
e quando espelharem os anseios de uma sociedade conectada e
preocupada com a sustentabilidade.
Para isso, é central reestruturar a confiança dos negócios nas ONGs
e nos Governos, a serem focados na atividade produtiva. É esse
diálogo positivo o motor de uma transformação aguardada por
todos, que gera riqueza e cuida do ambiente e do bem-estar social.
1
19
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
OINTRODUÇÃO E SUSTENTAÇÃOEsta publicação é a quinta edição dos documentos nacionais
lançados pela CNI pós Rio+20, no contexto do Projeto CNI Susten-
tabilidade. Ao lançar um olhar retrospectivo sobre os últimos cinco
anos, essa iniciativa visa fornecer informação, orientar e qualificar
a atuação da indústria na Agenda 2030. Os documentos produ-
zidos no âmbito do Projeto CNI Sustentabilidade não se restringem
ao posicionamento do setor, sendo portadores de análises que
contribuem tanto no desenho de estratégias empresariais como na
implementação de Políticas Públicas.
A Rio+20 proporcionou um debate qualificado entre diversos atores
sociais sobre a estratégia e a agenda de implantação do desenvolvi-
mento sustentável. Resultaram da Rio+20 os compromissos com os
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que substituíram
os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM) – ao se definir
uma métrica para orientar governos, corporações e o conjunto da
sociedade no caminho da sustentabilidade.
O documento final da Rio+20 – O Futuro que Queremos –
reconhece que o setor industrial tem papel fundamental nesse
processo. Em um mundo cujas transformações se dão de forma
muito acelerada, a inovação, a tecnologia e os novos modelos de
negócio são mais ágeis em prover soluções do que a regulação e as
políticas públicas, comumente de lenta maturação. Nesse contexto,
o diálogo propositivo e positivo entre setor privado e governos
assume relevância particular.
A definição de mecanismos que incentivem e contribuam para o
equilíbrio entre crescimento econômico, erradicação da pobreza
e uso sustentável de recursos naturais é fundamental para o
pleno exercício do papel da indústria na indução ao desenvolvi-
mento sustentável. A evolução da perspectiva de responsabilidade
socioambiental para uma abordagem mais ampla de gestão da
1
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
20
sustentabilidade empresarial, associada à maior participação de
instrumentos e mecanismos de incentivos às boas práticas empre-
sariais nas políticas públicas, indica um caminho sem volta.
Orientada pela imperiosa necessidade de incrementar a competiti-
vidade, a gestão de sustentabilidade empresarial está baseada nas
premissas de manter-se no mercado e compatibilizar negócios com
o uso eficiente de recursos naturais, contribuindo para gerar efeitos
sociais positivos de longo prazo. Requer ainda a consideração de
aspectos ambientais, econômicos e sociais de forma articulada e
integrada, quer seja em planos de negócios, quer seja na concepção
das políticas públicas econômicas e de desenvolvimento.
Como contribuinte para a geração de riqueza, em que pesem
os desafios correntes, o desenvolvimento industrial tem exercido
papel fundamental no desenvolvimento do País. Ao agregar valor
às matérias primas, a indústria, como motor da transformação do
perfil produtivo, tem potencial para assumir a liderança de um
processo de transformação das vantagens comparativas do País em
efetivas vantagens competitivas.
Entretanto, os processos de gestão da sustentabilidade devem
garantir que tais vantagens comparativas se mantenham disponí-
veis em condições e preços, para dar suporte à competividade das
cadeias de valor às quais estão associadas.
Um modelo de desenvolvimento mais sustentável depende não só de
investimentos públicos e privados, como também de métodos dife-
rentes e inovadores de gestão dos negócios. Embora o setor venha
buscando melhoria contínua de seus processos produtivos – mediante
o fomento de novos negócios e o investimento em tecnologia e
inovação – há ainda oportunidades importantes a serem exploradas.
Estabilidade político-institucional, políticas macroeconômicas
responsáveis e mecanismos que induzam ao aproveitamento dessas
oportunidades – como os negócios que geram agregação de valor
a partir dos recursos naturais do País – são condições necessárias.
21
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
O1.1 Contexto de mudança
Após a Rio + 20, houve avanços importantes no setor produtivo e
mais tímidos no arcabouço das políticas públicas. Para a concreti-
zação do equilíbrio entre as dimensões do Desenvolvimento Susten-
tável,1 ainda existem desafios atuais e emergentes provenientes
a) do cenário regulatório, de mercado e econômico do País; e
b) da compatibilização entre aquele equilíbrio e a efetiva incorporação
da gestão corporativa da sustentabilidade nas práticas de negócios.
Os antecedentes que forjaram o conceito de Desenvolvimento
Sustentável foram marcados por mudanças na relação de uso e
interferências nos recursos do meio ambiente, causados pela inten-
sificação dos processos produtivos e seus efeitos sociais.
Concomitantemente, os efeitos desses elementos têm sido,
continuamente, objeto de avaliação, por meio de processos de
engajamento e discussões coletivas, que geraram compromissos
e acordos focados em prevenir e resolver questões associadas
ao desenvolvimento.
O fato é que o mundo avançou. O que sustentou o crescimento
econômico e a geração de riqueza, no passado, mudou comple-
tamente, uma vez que os avanços tecnológicos têm modificado
modelos de produção e de negócios, bem como a dinâmica das
economias.
Houve profunda transformação dos fundamentos nos quais os
negócios baseiam o fluxo de seus processos produtivos: na indús-
tria, a forma como o trabalho se organiza e é administrado mudou.
Exemplos de transformação são as lógicas de remuneração do
capital e a acessibilidade e comunicação em rede, em tempo real.
Ambos os fatores são importantes e estão associados a movimentos
1. LOUETTE, A. (Org). Compêndio para a sustentabilidade: ferramentas para a gestão socioambiental; uma contribuição ao desenvolvimento sustentável. 2008. Disponível em: <http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/7>. Acesso em: 18 abr. 2017.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
22
como o da internet das coisas e da indústria 4.0, que mudarão radi-
calmente a forma de fazer, influenciando todos os negócios.
O avanço das inovações e das tecnologias e seus efeitos nos
processos de produção contribuem para a redução das pressões
dos processos produtivos sobre o ambiente e aumentam os desafios
dos governos para levar a cabo uma eficiente regulação, voltada à
conservação e ao uso sustentável dos recursos naturais. Esse debate
perpassa a agenda doméstica e ganha escala global.
Os compromissos e acordos no âmbito da cooperação internacional
influenciam e orientam políticas públicas2 que, por sua vez, regulam
a atuação dos negócios e as práticas de produção, de mercado e
de consumo. Ademais, mercados e instituições financeiras também
têm-se comprometido com aqueles acordos e compromissos e
atuado na viabilização de modelos de negócios menos expostos aos
riscos associados ao meio ambiente. Essa atuação também tem sido
calcada nos avanços da tecnologia e no apoio à adequada gestão
de impactos ambientais e sociais, o que contribui para alicerçar o
desenvolvimento inclusivo.
As mudanças na forma de perceber o desenvolvimento, ampliando
a visão do crescimento econômico e incorporando outras dimen-
sões, têm gerado uma profunda modificação em condutas e
atitudes de governos, em atores sociais, em decisões econômicas
e no setor privado (empresarial e financeiro)3. Para visualização
sobre os acontecimentos que marcaram a evolução do conceito de
Desenvolvimento Sustentável (ações que caracterizaram o conceito
de desenvolvimento e seu processo de implantação), foi elaborada
uma Linha do Tempo, conforme representado na figura a seguir.
2. Exemplos brasileiros são os planos nacionais de energia, o norte da regulamentação da gestão de biodiversidade e florestas, o reforço da consideração de direitos humanos em relações comerciais e a influência dos acordos de comércio internacional, entre outros, todos derivados de convenções internacionais firmadas e ratificadas pelo País.3. Alguns desdobramentos dessa mudança, no que se refere à sua influência em mercados, em regulação e em oportunidades para negócios, estão apresentados nos itens seguintes.
23
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
O
Figura 1 – Linha do tempo de acontecimentos e evolução de conceitos sobre o Desenvolvimento Sustentável
Cres
cim
ento
sem
Pro
teçã
o Am
bien
tal
1970
2000
1980
1990
2010
Des
envo
lvim
ento
Sus
tent
ável
Pape
l e R
espo
nsab
ilida
de d
as E
mpr
esas
Perf
orm
ance
Am
bien
tal,
Ec
onôm
ica
e So
cial
Cien
tist
as e
ON
Gs
Gove
rnos
e N
açõe
s
Empr
esas
Cons
umid
ores
Fina
ncia
dore
sEvolução dos Conceitos
Evolução dos Atores Li
nha
doTe
mpo
1948 Declaração Universal dos Direitos Humanos
1956 Doença de MinamataJapão
1962 Primavera Silenciosa
1972 Conferência de Estocolmo e Relatório Limites do Crescimento
1983 Comissão Brundtland
1984 Acidente em Bhopal, índia
1986 Acidente com Exxon Valdez e Chernobyl
1987 Relatório Brundtland – Nosso Futuro Comum
1992 Conferência Rio 92
1994 Conceito do Tripple Bottom Line
1995 Desativação da Plataforma Brent Spar
1997 Protocolo de Quioto
1998 Lançamento do IDH
2000 Protocolo de Cartagena
2000 Lançamento dos ODM
2002 Rio +10 – Johanesburgo
2010 Protocolo de Nagoya e Metas de Aichi
2012 Rio +20
2015 Lançamento dos ODS
2015 Acordo de Paris
Fonte: Adaptado de LOUETTE (2007)4.
Na figura 1, constam os marcos críticos do Desenvolvimento Susten-
tável, correlacionados à evolução dos conceitos que sustentam esse
novo paradigma de desenvolvimento, com uma visão geral sobre
o envolvimento dos atores participantes e contribuintes para sua
implantação. Esse pano de fundo, em que pese ser conceitual, é
relevante para compreender as transformações que o paradigma da
sustentabilidade traz para o cotidiano dos negócios.
4. LOUETTE, A. (Org). Compêndio para a sustentabilidade: ferramentas para a gestão socioambiental; uma contribuição ao desenvolvimento sustentável. 2008. Disponível em: <http://www.institutoatkwhh.org.br/compendio/?q=node/7>. Acesso em: 18 abr. 2017.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
24
1.2 Indústria e o cenário de Desenvolvimento Sustentável
Há diferentes motivadores que provocam alterações perenes na
forma de fazer negócio. Essas transformações têm ocorrido muito
em função das mudanças em tecnologias, processos e cadeias
produtivas – e dos seus efeitos nas sociedades e no meio ambiente.
Essas alterações, por sua vez, influenciam e são influenciadas pelo
mercado e pelo marco regulatório.
É imperioso reconhecer que o setor produtivo possui papel funda-
mental na transição para padrões de produção e de mercado
mais sustentáveis. Entretanto, não se pode desconsiderar que o
setor é fortemente influenciado pela conjuntura política, econô-
mica e ambiental global e que novas imposições e regulações
devem respeitar e potencializar os drivers de competitividade da
economia nacional.
Políticas públicas de fomento ao investimento em soluções viáveis
para os negócios incentivam e aceleram a adequação dos setores
produtivos aos crescentes requisitos ambientais, sociais, de gover-
nança, de mercado e das instituições financeiras.
A regulação deve reconhecer e contribuir para que a conservação
e o uso sustentável dos recursos ambientais se tornem negócios
competitivos e rentáveis. Somente dessa forma será possível mobi-
lizar investimentos suficientes para fazer frente aos atuais desafios
e, além disso, sustentá-los por meio de modelos de negócios viáveis
e de longo prazo.
No exercício de seu papel, a indústria tem-se empenhado na
busca de soluções apropriadas para compatibilizar a expansão da
produção industrial com o adequado uso de recursos naturais e a
efetiva contribuição para a equidade social.
25
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
OA incorporação de aspectos ambientais, sociais e de governança
na definição de planos de negócios (estratégia), em sua operação
(execução de atividades) e nas suas relações com partes interessadas
(governo, parceiros de negócios, investidores, clientes, fornecedores,
força de trabalho, etc.), tem-se dado de forma contínua.
Dada sua peculiar combinação de recursos naturais, o Brasil ocupa
posição privilegiada para promover o desenvolvimento sustentável.
Essas vantagens comparativas devem estar à disposição do País, para
fazer frente à sua imperiosa necessidade de se desenvolver e gerar
riqueza, incorporando segmentos expressivos de sua população aos
benefícios de um mercado de consumo de bens industriais.
Contudo, a aplicação de esforços para gestão de aspectos ambien-
tais e sociais, presentes e emergentes, tem-se dado num cenário
econômico desafiador. Adicionalmente, o setor encontra desafios
correntes significativos na adoção progressiva de boas práticas
socioambientais. A carência de adequadas fontes de recursos
financeiros e apoio técnico e, fundamentalmente, a dificuldade em
operar em um ambiente político-institucional instável não incen-
tivam o planejamento e os investimentos de longo prazo.
Todo o contexto da aplicação de esforços na gestão de aspectos
de sustentabilidade pela indústria foi também baseado em
discussões e acordos internacionais, que ocorreram nos últimos
30 anos. A última conferência da ONU sobre o tema, a Rio+20,
proporcionou a consolidação do entendimento de que o setor de
negócios possui papel fundamental no desenvolvimento susten-
tável. Esse entendimento vem sendo o norteador da ação da CNI
na agenda da sustentabilidade.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
26
1.1.1 Rio+20
A Convenção Rio+20 buscou avaliar os avanços obtidos com
os acordos multilaterais e cúpulas – desde a Rio 92 – identificar
impasses e abordar desafios emergentes (ONU, 2009)5.
Seu principal objetivo foi renovar o compromisso político com o desen-
volvimento sustentável, analisar o progresso e identificar as lacunas
na implementação, além de lidar com desafios novos e emergentes
(UNEP, 2011, pág. 2, tradução nossa)6. A Resolução 64/236/09 da
Assembleia Geral da ONU definiu dois temas para discussão:
• Economia Verde, no contexto do desenvolvimento sustentável
e da erradicação da pobreza;
• Estrutura institucional para implantação efetiva do
desenvolvimento sustentável.
Exercendo seu papel como contribuinte ao desenvolvimento
e às economias, o setor privado respondeu diligentemente à
convocação para os debates e construção de soluções para os
desafios apontados.
Durante a Rio+20, sete mil empresas se comprometeram a submeter
suas atividades econômicas a critérios ambientais e sociais –
por meio da assinatura do Pacto Global7. Alguns efeitos ambien-
tais práticos, resultantes desse compromisso, seriam o aumento
de eficiência energética e a redução de emissão de poluentes e de
gases de efeito estufa.
5. ONU. Resolução 64/236, de 24 dez. 2009. Disponível em: < http://hotsite.mma.gov.br/rio20/wp-content/uploads/Resolu%C3%A7%C3%A3o-64-236-da-Assembl%C3%A9ia-Geral-da-ONU-traduzida.pdf>. Acesso em: 19 de abr. 2017.6. UNEP. Keeping track of our changing environment: from Rio to Rio+20 (1992-2012). Nairobi: UNEP, 2011. Disponível em: <http://www.unep.org/geo/sites/unep.org.geo/files/documents/keeping_track.pdf>. Acesso em: 18 abr. 2017.7. REDE BRASILEIRO DO PACTO GLOBAL. Aproximadamente 226 empresas brasileiras, pequenas, medias e grandes, haviam aderido ao Pacto Global. Disponível em: <www.pactoglobal.org.br>. Acesso em: 21 set. 2017.
27
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
OA transição para o modelo econômico proposto requer que as
metas e desafios colocados para a indústria sejam suplantados,
seja por meio de inovação, seja por meio de conquista, seja por
meio do desenvolvimento de novos mercados. Todas essas opções
requerem investimentos.
1.2.2 Aspectos fundamentais da participação da indústria na Rio+20
Coordenada pela CNI, a participação do setor industrial na Rio+20
foi caracterizada por um amplo processo de mobilização e articulação
político-institucional perante as associações setoriais e federações de
indústria, iniciado em outubro de 2011 e que permanece ativo até o
final da Conferência.
Ao longo desse processo, foram desenvolvidas as seguintes ações:
a) sistematização dos avanços alcançados pela indústria nacional
na promoção da sustentabilidade; b) qualificação das mensagens
do setor encaminhadas à Conferência; e c) explicitação do diálogo
entre a agenda da sustentabilidade e a inovação tecnológica,
negociações internacionais, regulação e sistemas tributário e
desenvolvimento regional.
No dia 14 de junho de 2012, a CNI promoveu o Encontro da Indús-
tria para a Sustentabilidade e lançou um documento, contendo o
posicionamento da indústria e os desafios de 16 setores em contri-
buir frente ao desenvolvimento sustentável com respeito ao meio
ambiente: “A criação de condições que permitam elevar a competi-
tividade da indústria, por meio do aumento da eficiência no uso de
recursos e da qualificação na relação com todas as partes interes-
sadas no negócio, e nosso objetivo primeiro” (CNI, 2012, pg.9)8”.
8.CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Avanços da indústria brasileira rumo ao desenvolvimento sustentável: síntese dos fascículos setoriais. Brasília: CNI, 2012.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
28
Nesse documento, foi reforçado o compromisso do setor industrial
com o diálogo e a incorporação de gestão de aspectos de sustentabili-
dade na ação empresarial (PORTAL DA INDÚSTRIA, 2013) 9.
Os aspectos fundamentais dessa incorporação são o desenvolvi-
mento e a aplicação de metodos inovadores na gestão dos negócios,
em linha com os conceitos de sustentabilidade corporativa e de
responsabilidade social, elaborados e implantados ao longo das
últimas decadas (ver figura 1). Fica claro que essas mudanças
dependem de investimentos públicos e privados, principalmente
no que tange ao desenvolvimento de tecnologias mais limpas e
modelos de negócios sustentáveis e competitivos.
1.2.3 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e o papel da indústria na Agenda 2030 (pós-2015)
O Documento Final da Conferência Rio+2010 determinou que um
conjunto de metas deveria ser elaborado, apoiado pelos avanços dos
Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM11), para a implan-
tação do Desenvolvimento Sustentável12. Talvez um dos avanços
mais significativos dos últimos cinco anos tenha sido o documento
intitulado Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS),
que oferece aos governos, corporações e ao conjunto da sociedade
uma metrica com 17 objetivos e 169 metas, para orientar esforços
na direção da sustentabilidade.
Os ODS constituem poderosa ferramenta para a comunicação
de ações e iniciativas empresariais em prol do Desenvolvimento
9.CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - CNI. Encontro da indústria para a sustentabilidade. 2013. Disponível em: <http://www.portaldaindustria.com.br/agenciacni/noticias/2013/09/encontro-da-industria-para-a-sustentabilidade/>. Acesso em: 19 de abr. 2017.10. ONU. Declaração final da conferência das nações unidas sobre desenvolvimento sustentável (Rio+20): o futuro que queremos. Rio de Janeiro: ONU, 2012. 11. A Declaração do Milênio das Nações Unidas, (2000), contém um compromisso de parceria global de redução da pobreza extrema até 2015. Dessa Declaração, surgiram os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), mensuráveis por metas e indicadores, que definiram estratégias para seu atingimento.12. Os objetivos que sucederam os ODM deveriam ser denominados ODS, possuir embasamento científico na criação de metas, bem como definir indicadores de aferição de progresso. O texto determinou a criação dos processos que estabeleceram os Objetivos.
29
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
OSustentável, na medida em que formam uma agenda global. A
adoção da metrica permite que empresas demonstrem como seus
negócios ajudam no avanço do desenvolvimento sustentável,
tanto minimizando os impactos negativos como maximizando os
impactos positivos no homem, sociedade e ambiente.
Entretanto, o principal potencial transformador dos ODS está em
permitir que empresas e corporações identifiquem novas oportuni-
dades de negócios e de criação de valor na agenda da sustentabilidade.
Nesse sentido, é fundamental não se restringir a reportar, por meio
dos ODS, o que está sendo feito, mas sim seguir adiante e iden-
tificar novas formas de ação. O amplo leque oferece a qualquer
empresa uma gama de oportunidades para aderência aos objetivos,
pois trata de temas os mais diversos possíveis. São eles:
• Erradicação da pobreza;
• Segurança alimentar e agricultura;
• Saúde, bem-estar e educação;
• Igualdade de gênero e redução das desigualdades;
• Energia acessível e limpa, água potável e saneamento;
• Trabalho decente e crescimento econômico;
• Indústria, inovação e infraestrutura;
• Padrões sustentáveis de produção e de consumo;
• Cidades e comunidades sustentáveis;
• Vida na água e vida terrestre;
• Paz, Justiça e Instituições eficazes;
• Parcerias e meios de implementação.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
30
Os ODS originaram a criação da Agenda 2030, (plano de ação global
de promoção do Desenvolvimento Sustentável), acordada por 193
países-membros da ONU e tendo como base de implementação os
ODS, a ser executada a partir de 201513 .
O posicionamento brasileiro inclui as expectativas de governo para
o setor industrial, entre as quais se destacam:
• A promoção do desenvolvimento industrial sustentável;
• O fortalecimento das instituições e mecanismos de apoio à
produção industrial;
• A atualização tecnológica e agregação de valor; e
• A promoção de novas indústrias de bens ambientalmente
sustentáveis, direcionadas a consumidores de baixa renda.
Embora desenvolvido por governos, o setor industrial, em particular,
detém papel crítico no progresso dos ODS. A partir do engajamento
dos setores privados e da sociedade civil pode ser viabilizado,
com maior facilidade e eficiência, o alcance das metas propostas
aos Estados. Já existem Iniciativas que identificam os impactos e
orientam formas de incorporação dos ODS14 pelo setor privado15,
seja nas estratégias, seja até mesmo em políticas corporativas e em
estruturas de governança e gestão corporativa.
1.2.4 A Incorporação da Indústria na Agenda 2030
Os desdobramentos das metas internacionais rumo ao cumpri-
mento dos ODS se aproximam consideravelmente do setor
industrial a partir do Plano de Ação de Adis Abeba (2015),
centrado na importância do desenvolvimento industrial inclusivo
13. Por isso, a execução é por vezes, referenciada como “pós-2015.14. Informações preliminares de como a concretização dos ODS gera oportunidades e resultados financeiros para os negócios em <http://report.businesscommission.org/uploads/Brazilian-Portuguese.pdf>.15.Informação detalhada sobre incorporação dos ODS em negócios em <http://www.pwc.com/gx/en/sustainability/SDG/SDG%20Research_FINAL.pdf >, somente em inglês.
31
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
Oe sustentável como base para o crescimento econômico susten-
tável (ONU, 2015a)16.
Antes do referido Plano, a Declaração de Lima “Rumo a um
Desenvolvimento Industrial Inclusivo e Sustentável”, adotada em
dezembro de 2013, já havia abordado a relevância do setor indus-
trial como elemento fundamental.
À medida que a indústria se desenvolve, impulsiona e melhora a
aplicação da ciência, da tecnologia e da inovação, promovendo
incentivo e maior volume de investimento em competências e
educação, além de viabilizar os recursos necessários para atingir
objetivos de desenvolvimento mais abrangentes e inclusivos17.
De maneira geral, as atividades industriais geram impactos
(positivos ou negativos) em aspectos dos ODS, em todas as suas
dimensões (ambiental, econômica e social). Existem oportuni-
dades em aprofundar o conhecimento desses impactos, de forma
a apoiar o entendimento de como a indústria pode contribuir
efetivamente para o atingimento daqueles objetivos.
A conciliação entre o desenvolvimento industrial e os objetivos das
iniciativas e políticas de desenvolvimento sustentável abre inúmeras
oportunidades de ganha-ganha, muito embora ainda se identifi-
quem importantes desafios a serem superados.
Destaque especial deve ser dado ao ODS 17, em função de seu
caráter integrador. O diálogo entre os Objetivos é fundamental para
que se coloque em prática uma efetiva visão sistêmica que articule
as diferentes dimensões do desenvolvimento. Somente dessa forma
16. ONU. Sustainable development knowledge platform: industry. 2015. Disponível em: <https://sustainabledevelopment.un.org/topics/industry>. Acesso em: 31 de mar. 2017.17. Em linha com os ODS, quando a indústria aumenta a produtividade, cria empregos e gera renda, contribuindo, assim para a erradicação da pobreza e para o cumprimento de outros objetivos de desenvolvimento. Contempla ainda oportunidades de inclusão social, igualdade de gênero, capacitação de mulheres e meninas e criação de emprego decente para os jovens. Muito embora a relação entre o desenvolvimento social e industrial e o potencial da industrialização para promover - de forma direta e indireta – o atingimento dos objetivos sociais seja clara, a estreita dependência entre o desenvolvimento industrial e a formulação e implementação de políticas de desenvolvimento sustentável é mais recente.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
32
é possível fazer emergir respostas aos complexos problemas e
desafios inerentes à sustentabilidade.
O Anexo A apresenta uma série de iniciativas identificadas nas
publicações setoriais do CNI Sustentabilidade 2017, relacionadas
às metas dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. A métrica
proposta pelos ODS permite reportar um conjunto de iniciativas já
em curso no setor industrial, bem como mobilizar práticas inova-
doras, implementadas a partir da disposição do setor em se engajar
nesse movimento global. Os ODS contribuem para harmonizar a
informação como para orientar sobre iniciativas dos diversos setores
da sociedade, em prol da efetiva inclusão da sustentabilidade nas
práticas de produção e consumo.
1.2.5 Internalização subsequente da Rio+20 pela CNI
A incorporação dos temas e resultados da Rio+20 pela CNI se
deu por meio de um processo operacional, que visa à execução
contínua de sua agenda em relação ao Desenvolvimento Susten-
tável. Ela está centrada no papel do setor industrial como ator
necessário para seu alcance.
Após a Rio+20, a CNI definiu um programa com uma serie de ações,
com o intuito de mobilizar o setor industrial para o debate acerca
das tendências de negócios, tecnologias inovadoras, oportunidades
e desafios para nortear e impulsionar a competitividade da indús-
tria, tendo como pano de fundo a sustentabilidade.
A regionalização dos Conselhos Temáticos de Meio Ambiente
e Sustentabilidade da CNI (Coemas) se consolidou, ao trazer
para o debate a questão das diferentes especificidades regio-
nais, aumentando a capilaridade da discussão sobre os desafios
e as oportunidades inerentes à construção de políticas e práticas
mais sustentáveis.
33
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
OAtualmente, os três Coemas Regionais (Nordeste, Centro-Norte
e Sul-Sudeste) e o Coema Nacional são espaços de alinhamento
de posição e construção de propostas da indústria, que tratam de
temas e situações diretamente vinculadas ao cotidiano de empresas,
sindicatos e federações de indústria, repercutindo as preocupações
e recomendações do setor.
O suporte às ações dos Coemas vem sendo dado pela equipe da
Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Dire-
toria de Relações Institucionais da CNI (Gemas/DRI), que tambem
ganhou impulso após a Rio+20. A agenda se consolidou dentro
da estrutura da CNI, que passou a publicar um maior número de
estudos, análises e informações, que subsidiam e refletem as ações
dos Coemas. Alem da sistematização e análise do conhecimento
disponível, a equipe faz a representação do setor industrial em 66
colegiados e instâncias de representação, que debatem e formulam
políticas públicas.
Entretanto, o resultado mais efetivo da Rio+20 foi o Projeto CNI
Sustentabilidade, processo anual de mobilização empresarial
para diálogo e reflexão sobre os diferentes aspectos da sustenta-
bilidade nas empresas. Cada edição possui um tema, que orienta
análises e debates entre especialistas nacionais e internacionais
sobre políticas públicas, gestão corporativa e tendências na agenda
de sustentabilidade. Ao final desses processos, os resultados são
lançados nos Encontros CNI Sustentabilidade, que contam com
público anual medio de 500 empresários.
Em suas quatro primeiras edições temáticas, o CNI Sustentabilidade
trouxe ao debate visões inovadoras sobre os temas, contribuindo para
qualificar os debates e as estrategias empresariais. Na sequência,
e apresentado um breve resumo das discussões de cada uma das
edições desses encontros:
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
34
• 2013 – Água: oportunidades e desafios para o
desenvolvimento do Brasil
Com base na discussão sobre as tendências de acirramento
dos eventos extremos (secas e enchentes) e dos conflitos por
água, buscou-se sensibilizar o setor industrial para o tema.
O evento trouxe à discussão a necessidade de análise dos dife-
rentes riscos aos negócios, associados à disponibilidade e à
qualidade da água.
Como parte das estratégias de gerenciamento corporativo,
foram discutidas as potencialidades e limitações das ferramentas
de avaliação dos riscos e de gestão da água no setor produ-
tivo. Um ano antes da severa crise hídrica, vivenciada na região
Sudeste, e durante o agravamento do período de estiagem na
região Nordeste, o CNI Sustentabilidade promoveu um denso
debate sobre como as empresas devem incorporar a variável
risco associada à água na estratégia de negócios.
Além das estratégias corporativas, o Encontro CNI Sustenta-
bilidade – Água: Oportunidades e Desafios para o Desenvolvi-
mento do Brasil – apontou para a necessidade de modernizar
os instrumentos da Política Nacional de Recursos Hídricos,
notadamente com o potencial de adoção de mercados de
água para qualificar a alocação do recurso.
Outro ponto destacado foi a necessidade de um modelo regu-
latório mais eficiente para o setor de saneamento, que permita
uma maior participação da iniciativa privada na prestação
desses serviços. As propostas discutidas e os encaminhamentos
do evento seguem atuais e pertinentes. O agravamento das
crises hídricas é um motivador para revisitar os resultados e
desencadear reflexão sobre a melhoria do processo.
35
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
O• 2014 – Resíduos Sólidos: inovações e tendências para
a sustentabilidade
Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS),
na gestão e no gerenciamento de resíduos deve ser obser-
vada a seguinte hierarquia de prioridades: não geração,
redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição
final ambientalmente adequada. Dentro dessa hierarquia,
três temas foram foco de discussão em 2014: o Design for
Environment (DfE) ou Ecodesign, a valorização energética e a
requalificação de resíduos.
Cada um desses fatores tem um papel estratégico na hierarquia
de prioridades, qual seja, a não geração/redução, o tratamento
com recuperação de energia e a reciclagem, respectivamente.
Um olhar para o futuro implica tratar resíduos não apenas
como uma ineficiência de processos que nem sempre podem
ser eliminados, mas também como um recurso que possui
valor e pode ser utilizado na indústria numa lógica circular,
onde tudo é pensado para ser reaproveitado e reciclado.
Essa nova vertente é tratada atualmente como modelo de
uma nova economia, não só na academia, mas também nas
empresas e nos governos ao redor do mundo.
O Encontro CNI Sustentabilidade – Resíduos Sólidos: Inova-
ções e Tendências para a Sustentabilidade – discutiu as bases
técnicas das três temáticas, experiências exitosas, sua impor-
tância para os sistemas de gestão de resíduos, a necessidade
de estabelecer marcos legais apropriados e as oportunidades
que a área oferece ao setor empresarial. Tendências futuras
foram abordadas e deverão impactar os negócios ligados a
resíduos no país, tais como a logística reversa, a tecnologia 3D
e a digitalização no setor industrial.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
36
• 2015 – Mudanças Climáticas: desenvolvimento em uma
economia global de baixo carbono
As negociações internacionais sobre clima foram intensas
em 2015, com a expectativa da definição dos compromissos
de cada país para compor o acordo multilateral global.
O grande desafio para os setores produtivos tem sido analisar
os impactos do acordo sobre a atividade econômica. Os
governos também estão pautados pelo equilíbrio entre a
manutenção da competitividade de suas economias – em
especial no que tange à manutenção dos níveis de emprego
e renda – e a disposição para uma contribuição efetiva no
controle de emissões de GEE.
Por outro lado, analisando os impactos das mudanças climá-
ticas, constatamos que mais da metade da população mundial
vive em regiões expostas a desastres naturais. As mudanças
climáticas tendem a aumentar a probabilidade de ocorrência
de eventos extremos, expondo a sociedade a crescentes
desafios e a altos custos para proteção de suas vidas e bens.
O Encontro CNI Sustentabilidade – Mudanças Climáticas:
desenvolvimento em uma economia global de baixo carbono
– proporcionou uma visão sobre os avanços das negocia-
ções e as perspectivas do que viria a ser o Acordo de Paris:
uma reflexão sobre os riscos, as vulnerabilidades e oportu-
nidades decorrentes da adaptação necessária para minimizar
os impactos associados à produção industrial e ao bem-estar
social; e um debate sobre as inovações tecnológicas e as opor-
tunidades nesse cenário.
Ao final, entre outras conclusões, ficou a mensagem de que é
necessário mapear os riscos climáticos e nos prepararmos para
lidar com eles, em atividades de mitigação e adaptação, tanto
nas instalações físicas como nos negócios e nas atividades dos
fornecedores e parceiros.
37
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
O• 2016 – Biodiversidade e florestas: novos modelos de
negócios para a indústria do amanhã
O Encontro CNI Sustentabilidade teve como objetivo
debater o potencial de valores eticos relativos à sustentabi-
lidade, capazes de promover transformações nos padrões
de mercado. As inegáveis vantagens comparativas do Brasil
(megabiodiversidade, ampla cobertura florestal, irradiação
solar, disponibilidade de solos ferteis e abundante oferta de
água) demandam um protagonismo do País e das empresas
que aqui atuam, no desafio de conciliar desenvolvimento e
conservação desses ativos.
O encontro permitiu um rico debate sobre cenários, desafios e
oportunidades, que se colocam na agenda da sustentabilidade
para a indústria do futuro com foco no diferencial compa-
rativo do Brasil como atrativo ao desenvolvimento de novos
negócios, orientados por um mercado consumidor baseado
em valores socioambientais.
O evento trouxe à tona experiências de empresas que buscam
reorientar suas estrategias para atender às demandas desse
novo mercado, alem de exemplos de como criar valor, tendo
por base os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Embora as experiências exitosas apresentadas demonstrem
que a visão de futuro da empresa incorporadora de aspectos
socioambientais na sua gestão pode colocá-la em um padrão
diferenciado de competitividade, fica claro que a influência
do mercado consumidor, nas práticas de sustentabilidade das
empresas, ainda não se consolidou como uma tendência.
As quatro edições temáticas do CNI Sustentabilidade mostraram ser
fundamental o equilíbrio entre crescimento econômico, erradicação
da pobreza e conservação do meio ambiente. Para tanto, governos
e sociedade precisam ter um marco de referência comum, que
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
38
permita que todos reconheçam os esforços dos demais. Além disso,
é condição necessária à adoção de mecanismos que promovam
interconexão entre negócios exitosos, inovação e competitividade
com bem-estar social.
1.3 Responsabilidade Social Corporativa x Gestão Corporativa da Sustentabilidade
O conceito de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) sofreu um
processo de transformação no decorrer do século XX. Inicialmente,
as ações de filantropia evoluíram para o conceito de Investimento
Social Privado (ISP18). Simultaneamente, a partir de uma nova visão
da empresa e de seu papel na sociedade, a RSC passou a integrar
a sustentabilidade empresarial, traduzida pragmaticamente nas
estruturas empresariais, sob a forma de gestão ética e transparente.
Essa forma de gestão representaria a concretização da contribuição
das empresas para o desenvolvimento sustentável.
Para apoiar as práticas de gestão corporativa da sustentabilidade,
existem iniciativas de incentivo e de orientação para que o setor
industrial possa identificar viabilidade, além de definir e integrar
medidas e práticas de gestão ambiental e social. Essas iniciativas
foram desenvolvidas tendo em vista requisitos regulatórios e de
mercado (nacionais e internacionais)19.
A integração e a melhoria das medidas de gestão ambiental e
social nos negócios se traduzem no aumento da competitividade: o
sucesso em participar do mercado tem dependido, cada vez mais,
da capacidade de uma empresa, de um setor, ou de toda uma
cadeia de valor, atingir, ao mesmo tempo, o resultado financeiro e
18. Definido como alocação voluntária e estratégica de recursos privados com o objetivo de promover a transformação social.19. Exemplo: a) crescente regulação nacional do setor financeiro, que incorpora gestão de risco socioambiental em operações de instituições financeiras (ver informação detalhada no item 4); b) inclusão do requisito requisite de transparência sobre gestão e desempenho ambiental, social e de governança, em legislações nacionais e setoriais – União Europeia, França, Suécia, África do Sul, Califórnia, Reino Unido, etc.
39
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
Oa qualidade ambiental, contribuindo para a justiça social (adaptado
de ELKINGTON; 200120).
Nesse sentido, a gestão corporativa da sustentabilidade implica a
“Adoção de estratégias de negócios e atividades das empresas e
seus stakeholders, protegendo, apoiando e reforçando os recursos
humanos e naturais necessários no futuro”. (IISD, s/d).
A figura 2 concretiza a consideração de aspectos das três dimen-
sões, de modo equilibrado, na gestão dos negócios, consolidada
numa visão tridimensional.
Figura 2 – Sustentabilidade empresarial e contribuição ao Desenvolvimento Sustentável
Fonte: ERM, 200821.
Adicionados aos aspectos ambientais, econômicos e sociais, a
conduta ética e a transparência têm sido aceleradamente requisitos
e elementos de escrutínio das empresas, tanto por reguladores –
nacionais e internacionais – como por agentes de mercado22.
20. ELKINGTON, J. Canibais com garfo e faca. São Paulo: Makron, 2001.21.ERM Brasil. Compêndio para Treinamento em Responsabilidade Social Corporativa. São Paulo, 2008.22. Exemplo: Em decorrência da aplicação do conceito de RSC no serviço público (cc art 60 da Lei no 8.987/95), a ANEEL emitiu a Resolução no444/2001, que requer emissão de Relatório de Responsabilidade Socioambiental das empresas de Energia Elétrica; e Índices de Sustentabilidade de Bolsas de Valores (ISE).
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
40
Como será ressaltado a seguir, a adoção progressiva de ações
que priorizem a conservação ambiental, a equidade social e o
desenvolvimento econômico como parte das estratégias empre-
sariais, contribui para a inserção em mercados e para o ganho
de competitividade.
1.4 A Gestão Corporativa da Sustentabilidade como marco empresarial estratégico
Os direcionadores de um processo de transformação do setor
empresarial devem, necessariamente, estar atrelados a ganhos de
competitividade e à possibilidade de que tais transformações gerem
resultados positivos pela agregação de valor, redução dos custos
ou minimização dos riscos. Eventos naturais e acidentes com rele-
vante repercussão ambiental, que impactaram o setor produtivo,
reforçam a necessidade de observar com mais cautela as condições
socioambientais nas quais se inscreve a atividade produtiva.
Todos os agentes econômicos – de instituições públicas e privadas
a organizações não governamentais – dependem da geração de
riqueza pelo setor produtivo. A motivação pela permanência no
mercado e pelo lucro pode traduzir-se em formas eficientes de
gerar soluções adequadas e em linha com o Desenvolvimento
Sustentável.
Ao criar valor, as empresas demandam, combinam, transformam
e administram capitais financeiros, físicos, humanos, sociais e
naturais. As empresas que mais geram valor são aquelas que conse-
guem fazer a gestão de todos esses capitais de maneira articulada,
de forma a sustentar seu negócio no longo prazo.
Importante salientar que não se trata de responsabilidade social
corporativa, pois o capitalismo é centrado em como os resultados
41
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
Osão gerados – e não no que se faz com eles em momento ex post.
A gestão corporativa da sustentabilidade incorpora a questão
socioambiental como fator de competitividade e de mercado.
Portanto, é estratégica e vital para os negócios, num mundo que
opera de forma integrada, com aceleradas mudanças promovidas
pelos avanços de tecnologia e interconexão.
Nesse contexto, as práticas de gestão corporativa da sustentabili-
dade permitem gerar ganhos de competitividade. A seguir, serão
apresentados os imperativos para que haja um efetivo engajamento
da indústria com a sustentabilidade23 .
Quadro 1 – Imperativos para o engajamento da indústria com a sustentabilidade
FATOR DESCRIÇÃO
Oportunidade de novos negócios
O caminhar rumo ao desenvolvimento sustentável demanda uma nova gama de produtos e serviços voltados à redução de emissões de poluentes, cumprimento de padrões e normas ambientais, tratamento de efluentes, geração de energia limpa, aproveitamento de resíduos, entre outras tantas oportunidades que emergem, quando se lucra com a solução de problemas ambientais e sociais. De forma concomitante, há geração de valor privado e para a sociedade, sendo o desempenho empresarial a chave para soluções que proporcionem ganhos de escala.
Ganhos de competitividade e maior eficiência produtiva
A compreensão do papel desempenhado pelo capital natural nos negócios permite economizar recursos de produção, como água e energia, ou ainda aproveitar resíduos como insumos, poupando recursos e reduzindo custos. Ademais, permite minimizar riscos de fornecimento, economizar na compra de insumos e ter preferência em financiamentos e acesso a tecnologias.
23. O item 3 aborda mais detalhadamente alguns dos aspectos listados no Quadro 1.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
42
FATOR DESCRIÇÃO
Agregação de valor à marca
As indústrias que alinhem sua estratégia de negócios com as prioridades do desenvolvimento sustentável serão as mais prováveis de obter de seu público-alvo e das demais partes interessadas a “licença de operação” mercadológica, o que lhes assegura diferencial competitivo. Em contrapartida, indústrias não atentas aos aspectos referidos estarão mais expostas aos riscos relacionados à credibilidade da marca e à exposição a críticas da mídia, das organizações ambientalistas e do público em geral, capazes de afetar seu posicionamento de mercado.
Redução dos riscos (resiliência)
A regulamentação crescente relacionada aos aspectos ambientais e climáticos tem onerado – e, por vezes, inviabilizado – empreendimentos e operações. Antecipar diretrizes, regulamentos e normas sobre exigências e condicionantes ambientais permite que as empresas reduzam o risco regulatório e, consequentemente, os custos associados. Na mesma linha, a compreensão das limitações de oferta de recursos naturais para o processo de produção permite desenhar estratégias relativas ao risco da diminuição de disponibilidade e aumento de preços desses insumos. Em ambas as situações – riscos regulatórios ou físicos – a incorporação de tais elementos na estratégia de negócios tende a ser um diferencial para as empresas mais atentas ao tema.
Fonte: Arcadis, 2017.
Em suma, para continuar existindo e gerar resultado em longo
prazo, as empresas devem incorporar em suas estratégias, planos
que possibilitem sua permanência e competitividade reconhecendo:
a) a probabilidade e as formas de prevenção frente a um conjunto
regulatório mais restritivo, de governo ou de mercado, e b) planos
e medidas para reduzir ou minimizar os impactos das mudanças
na disponibilidade dos recursos naturais e ecossistemas necessários
aos fluxos de produção.
A CNI, por meio da Gerência Executiva de Meio Ambiente e
Sustentabilidade (Gemas), acompanha a gestão corporativa
da sustentabilidade em seus desdobramentos para a indústria.
43
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
ONotadamente, lidera iniciativa focada na plataforma de Redes,
constituída por aspectos ambientais (água, resíduos sólidos,
energias renováveis, mudança do clima, biodiversidade, florestas,
produção e consumo sustentável e licenciamento ambiental).
Afora essas questões, a Gemas tem estudado as repercussões
desses aspectos, no que concerne à implantação de medidas que
visem à contribuição da indústria ao Desenvolvimento Sustentável,
sem prejuízo à competitividade e sem perder de vista o conjunto
importante de oportunidades que elas encerram24.
A regulação provocou uma mudança importante das práticas
empresariais quanto à gestão ambiental. Mesmo com os excessos
(ideológicos e burocráticos) na formulação e aplicação da norma
ambiental – que, necessariamente, devem ser corrigidos –
a regulação impulsionou os setores produtivos do País a se moder-
nizarem. Os demais drivers referidos são impulsionadores adicio-
nais a esse processo porque possuem um sentido de mercado,
ou seja, geram resultados aos negócios e não dependem da ação
e orçamentos públicos.
Esse processo de transformação não é linear, na medida em que
algumas rupturas decorrem de eventos ambientais importantes
(secas, inundações, etc.) que despertam a atenção dos gestores
quanto aos diferentes aspectos da relação entre o cotidiano de
negócios e as questões ambientais. A ocorrência de tais eventos
gera – ou deveria gerar – o amadurecimento do debate sobre
estratégias empresariais e políticas públicas, bem como uma
análise mais amadurecida sobre os riscos aos quais as empresas
estão expostas.
24. Entre os assuntos relevantes e significativos para a indústria brasileira, encontram-se: o licenciamento ambiental, as criações de economias circulares, o desenvolvimento de economias de baixo carbono, a implantação do acordo de Paris, os desdobramentos do protocolo de Nagoya, a regulação do acesso e uso dos recursos genéticos, entre outros.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
44
1.5 Eventos ambientais que impactaram a indústria
A ocorrência de alguns eventos de repercussão relevante nos últimos
cinco anos corroborou com tais imperativos, gerando interferência
direta na forma como a indústria gerencia seus impactos e riscos
ambientais e sociais.
Tais eventos provocaram transformações profundas nas empresas
diretamente envolvidas e uma reflexão em todo o setor empresa-
rial, contribuindo – mesmo que não seja pela via melhor – para
a incorporação de aspectos relacionados à sustentabilidade nas
estratégias e operações industriais.
O acidente ocorrido em 5 de novembro de 2015, no distrito de
Bento Gonçalves, município de Mariana, estado de Minas Gerais,
é o mais emblemático. O rompimento da barragem de rejeitos
(Barragem Fundão) provocou o vazamento de 34 Mm3 de lama e
rejeitos de minério de ferro, acarretando sérios impactos socioe-
conômicos e ambientais. O vazamento tem sido considerado
o maior ocorrido no mundo, por conta do volume de material
despejado e por conta da extensão dos danos ambientais provo-
cados na bacia do Rio Doce, nos estados de Minas Gerais, do
Espírito Santo e da Bahia.25 26
Em decorrência deste evento27, novos paradigmas de gestão e dispo-
sição de rejeitos na mineração têm sido discutidos e acordados pelo
setor. O rompimento da barragem do Fundão representa um fator
de transformação (global) no relacionamento entre o setor mineral,
25. PORTAL BRASIL. Entenda o acidente de Mariana e suas consequências para o meio ambiente. 2015. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/meio-ambiente/2015/12/entenda-o-acidente-de-mariana-e-suas-consequencias-para-o-meio-ambiente>. Acesso em: 2 jun. 2017.26. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL. Ação Civil Pública Autos nº 60017-58.2015.4.01.3800 e 69758.61-2015.4.01.3400. Disponível em <http://www.mpf.mp.br/mg/sala-de-imprensa/docs/acp-samarco>. Acesso em: 1 jun. 2017.27. De acordo com o IBRAM, “Os impactos ambientais e os riscos associados às barragens de rejeitos e depósitos de estéril estão entre os mais significativos para a indústria da mineração. [...] Não são incomuns os acidentes com ruptura de barragens de rejeito, algumas das vezes causados por problemas de gestão de segurança. Geralmente, os acidentes dão origem a grandes impactos ambientais ...” (2017).
45
INTR
OD
UÇÃ
O E
SU
STEN
TAÇÃ
Oo ambiente e a sociedade, no que se refere à gestão de riscos asso-
ciados às operações. A mineração no Brasil não será mais a mesma.
Ainda como exemplo de evento com reflexo direto no setor indus-
trial, quer seja por gerar mudanças na regulação, quer seja por
induzir à introdução de novos modelos de gestão, pode-se citar a
severa restrição hídrica ocorrida na região Nordeste, entre 2012 e
2017, e na bacia hidrográfica dos rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí
(PCJ), entre 2014 e 2015.
A bacia hidrográfica do PCJ compreende expressivo parque
industrial, sendo responsável por cerca de 14% do PIB do estado
de São Paulo e cerca de 5% do PIB do Brasil. Trata-se de uma
das poucas bacias hidrográficas brasileiras cuja demanda hídrica
para abastecimento industrial supera a demanda por agricultura
irrigada (cerca de 29% contra 18%).
A severa restrição hídrica foi fruto da combinação entre uma gestão
integrada pouco efetiva e condições meteorológicas atípicas. A
estiagem severa reduziu a disponibilidade hídrica nos rios da bacia
PCJ que, mesmo operando com diversos reservatórios, teve sua
capacidade de atendimento gravemente comprometida. O resul-
tado foi uma crise de grandes proporções, que afetou todos os
setores usuários, com perdas maiores na indústria.
Levantamento realizado pela Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo (Fiesp) em 400 empresas de diversos portes da bacia,
em maio de 2014, concluiu que mais de três mil postos de trabalho
foram fechados, devido à falta de água. Segundo a entidade, uma
empresa química chegou a desativar quatro unidades produtivas
em outubro de 2014, devido à impossibilidade de manter o sistema
de refrigeração, dependente da água captada.
Na região Nordeste, a crise vem-se prolongando com níveis baixos de
pluviosidade desde 2012. O nível de armazenamento dos reservatórios
continua crítico, inclusive na Bacia Hidrográfica do rio São Francisco.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
46
A Agência Nacional de Águas (ANA) já interveio em vários reser-
vatórios com águas do domínio da União, decretando sistemas de
racionamento nas Bacias do Piancó-Piranhas-Açu e do São Francisco.
Excetuando a zona da mata e o agreste, o parque industrial loca-
lizado na região tem adotado medidas drásticas para enfrentar a
estiagem prolongada. Tais medidas contemplam desde a reprogra-
mação da produção, compra de carros-pipa (a um custo exorbi-
tante) e aquisição de sistemas de reaproveitamento da água, até
a implantação de sistemas de reuso de efluentes tratados e testes
com sistemas de dessalinização.
A crise hídrica forçou as indústrias a considerar a água como fator de
produção, e o potencial de escassez como fator de risco ao desem-
penho dos negócios. Além desses aspectos, as crises mostraram
para as empresas que problemas nas bacias hidrográficas também
devem merecer seu interesse. Nem mesmo as pequenas e médias
empresas, em sua grande maioria atendidas pelas companhias de
saneamento, blindaram as incertezas. Os cortes de fornecimento,
as reduções de pressão, os aumentos de preços para garantir a
sustentabilidade das companhias afetaram os negócios.
O setor industrial compreendeu que análises de risco associado
à água, elaboração de planos de contingência, intensificação da
recirculação e do reuso da água são ferramentas necessárias Esses
dois exemplos demonstram que as empresas não devem restringir
sua atenção apenas à regulação e aos mecanismos de mercado.
Um olhar sobre os riscos físicos associados à produção é impor-
tante e deve estar no radar das estratégias de gestão corporativa
da sustentabilidade.
2
49
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAMOTIVADORES DE MUDANÇA
Orientado pela visão da competividade e da agregação de valor,
este item apresenta os motivadores para potenciais transforma-
ções na forma de definir e gerenciar negócios. Os caminhos para a
incorporação dos requisitos da sustentabilidade nas estratégias de
negócios nem sempre são claros, razão pela qual precisam ser expli-
citados em ambientes institucionais que mobilizem e incentivem
empresas e empresários.
A base para desenvolver esse item são os motivadores listados no
quadro 1, considerando que a efetiva transição para padrões mais
sustentáveis na produção industrial só ocorrerá quando as ações e
iniciativas resultarem em agregação de valor.
2.1 Ambiente regulatório
O desenvolvimento de qualquer negócio depende, entre outros fatores,
da sua conformidade com o ambiente regulatório. Dessa forma, as
regras e incentivos estabelecidos pelo Estado induzem as atividades
econômicas ao padrão de desenvolvimento por ele definido.
Mesmo negócios inovadores devem vencer restrições regulatórias e
barreiras burocráticas, para se consolidarem em escala representativa.
Em linhas gerais, são dois os desafios centrais dos formuladores de
políticas na área de meio ambiente: a) definição de metas para solu-
cionar os problemas associados ao uso e à conservação dos recursos
naturais, energia e ecossistemas e seleção de procedimentos, meca-
nismos e instrumentos para atender a essas metas, b) articulação
entre as diferentes metas e mecanismos das diversas políticas e plane-
jamentos setoriais.
2
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
50
No modelo brasileiro, a competência legislativa sobre o meio
ambiente é concorrente entre os entes federativos. Dessa forma,
o arcabouço legal das três esferas se sobrepõe de forma comple-
mentar. Em 2011, a edição da Lei Complementar 140 e o posterior
Decreto 8473 de 2015 disciplinaram a atuação dos entes fede-
rados, no que concerne às competências comuns relativas ao meio
ambiente. Enquanto se manteve a competência da União para
estabelecer normas gerais, a serem observadas pelos demais entes
federativos, coube aos estados e ao Distrito Federal legislarem de
forma complementar, considerando características regionais. Da
mesma forma os municípios, no que tange às necessidades de
adequação local da legislação (CF, 1988, Art. 24).
Não existe na legislação brasileira uma lei que disponha de forma
consolidada sobre todas as questões ambientais. Dessa forma, a
legislação, que afeta a regulação dos usos e a conservação dos
recursos naturais e ecossistemas, constitui um conjunto de leis,
decretos e normativos infralegais. Segundo levantamento realizado
pela RC Ambiental, o Brasil já conta com mais de 37 mil normas
ambientais, considerando leis, decretos, portarias, resoluções e
instruções normativas.
As principais políticas federais que compõem a regulação dos usos
dos recursos naturais, da conservação ambiental, do controle da
poluição e das questões climáticas, no âmbito federal, são apresen-
tadas na figura 3.
51
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAFigura 3 - Principais leis que compõem a legislação ambiental
brasileira no âmbito federal
LegislaçãoAmbiental
Política Nacional de Recursos Hídricos
(Lei nº9433/97)
Política Nacional sobre Mudança do Clima(Lei nº12187/09)
Constituição Federal 1988 – Art. 225
Lei de Crimes Ambientais
(Lei nº9605/98)
Lei Florestal“Novo Código”(Lei nº12615/12)
Sistema Nacional de Unidades de
Conservação(Lei nº9985/00)
Política Nacional de Resíduos Sólidos(Lei nº12305/10)
Legislação Municipal
Legislação Estadual
Legislação Federal
Política Nacional de Meio Ambiente
(Lei nº6938/81)
Acesso a recursos genéticos e repartição de benefícios(Lei nº13123/15)
Fonte: Arcadis, 2017.
Num primeiro momento, apesar de a extensão desse arcabouço
legal incorrer em um maior esforço da indústria nacional para
atendê-lo, a conformidade com esse conjunto de leis configura um
primeiro passo para que o setor possa contribuir para o desenvolvi-
mento sustentável do País.
Os últimos cinco anos trouxeram poucas mudanças nesse arcabouço.
Muito debate esteve na agenda – notadamente a regulamentação do
licenciamento ambiental por Lei, a ratificação do Acordo de Paris com os
compromissos assumidos pelo Brasil, previstos na Contribuição Nacio-
nalmente Determinada (NDC) encaminhada à Convenção-Quadro das
Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), a publicação do
novo Código Florestal (Lei 12.651/2012) e a modernização nos meca-
nismos de alocação de água e de racionamento preventivo.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
52
A revisão do marco legal de acesso aos recursos genéticos, efeti-
vada pela Lei 13.123/15 e pelo Decreto 8722/16 representou um
avanço na agenda do desenvolvimento sustentável. Ao desburocra-
tizar o acesso à biodiversidade brasileira, o novo marco incentiva
pesquisas e inovações.
O atual arcabouço legal pressupõe um conjunto de mecanismos
institucionais, cujos instrumentos são aqueles com maior reper-
cussão direta sobre os setores produtivos. Os instrumentos para
a gestão ambiental podem ser subdivididos em instrumentos de
regulação direta, de planejamento e econômicos.
• Instrumentos de regulação direta: autorizam a
implementação e a operação das atividades produtivas
ou estabelecem padrões de qualidade ambiental como,
por exemplo: o licenciamento ambiental, a autorização
para supressão de vegetação, o cadastro ambiental rural
(CAR), a outorga de uso dos recursos hídricos, os planos de
gerenciamento de resíduos sólidos (exigidos no âmbito do
licenciamento ambiental), o cadastro no Sistema de Gestão
do Patrimônio Genetico, entre outras imposições autorizativas
aos empreendimentos e suas operações. Alem desses, os
padrões de qualidade ambiental devem ser atendidos por
todas as atividades produtivas, tais como padrões de emissões
líquidas e atmosfericas, entre outros;
• Instrumentos de planejamento: desenhados em função de
unidades territoriais, aportam diretrizes e orientações para a
aplicação dos instrumentos de regulação direta, entre os quais
se destacam: o Zoneamento Ecológico Econômico, os planos
de recursos hídricos, os planos de gestão de resíduos sólidos, o
Inventário Florestal Nacional e os planos de saneamento ambiental.
De caráter mais orientador, podem-se considerar os planos setoriais
de adaptação e mitigação previstos na Política Nacional sobre
53
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAMudança do Clima (PNMC), as avaliações ambientais estrategicas
e o Mapa de Áreas Prioritárias para Conservação;
• Instrumentos econômicos: propõem-se a induzir o
comportamento dos atores em relação ao uso e à conservação
dos recursos naturais, a partir da motivação econômica,
consubstanciada na formação de fundos para ações de
conservação, tais como a cobrança pelo uso da água, a
compensação ambiental e a repartição de benefícios pelo uso
da biodiversidade brasileira. A Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) prevê, entre seus instrumentos, os incentivos
fiscais, financeiros e creditícios. Ainda de aplicação tímida,
podem ser consideradas nessa categoria as cotas de reserva
ambiental (CRAs), os mercados voluntários de carbono, o
pagamento por serviços ambientais e a adoção de normas
voluntárias de gestão ambiental, como certificações, rotulagem
e selos. Mecanismos de redução do custo de capital, em
função de adoção de práticas sustentáveis, podem tambem ser
incluídos nessa categoria.
Ainda que não se encaixe na classificação utilizada, é importante
a referência à logística reversa, desafio particular para o setor
industrial. Esse mecanismo é caracterizado por um conjunto de
ações, procedimentos e meios, destinados a viabilizar a coleta e a
restituição de resíduos sólidos ao setor empresarial – para reapro-
veitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos – ou outra
destinação final ambientalmente adequada. Os acordos setoriais
e os termos de compromisso são instrumentos-chaves na imple-
mentação da PNRS. De complexa aplicação, demandam uma arti-
culação estreita entre poderes públicos, fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes.
Para dar suporte à aplicação desses instrumentos, o Poder Público
instituiu um conjunto de sistemas de informações, cuja alimen-
tação gera demandas para os empreendedores. Destacam-se:
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
54
o Sistema Nacional de Informação sobre Meio Ambiente (Sinima),
Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (SNIRH),
Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos
Sólidos (SINIR), Cadastro Técnico Federal de Atividades Poten-
cialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras de Recursos Ambientais
(CTF/APP), Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos
Florestais (Sinaflor), Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento (SNIS), entre outros.
Em linhas gerais, todos esses sistemas têm seus espelhos nos
sistemas estaduais de informações. Uma maior articulação entre
esses sistemas de informação proporcionaria maior agilidade e
racionalidade à aplicação dos instrumentos de gestão ambiental.
À medida que as empresas da indústria passam a implementar ações
para o cumprimento da legislação ambiental, o setor encontra alter-
nativas e formas de se tornar mais eficiente no uso dos recursos
naturais e energia, identificando oportunidades para reduzir sua
geração e redirecionar processos, de forma a reaproveitar resíduos
e emissões líquidas e gasosas.
2.1.1 Instrumentos de Regulação Direta – Licenciamento Ambiental
Os instrumentos de regulação direta demandam investimentos
elevados e estruturas robustas, capazes de garantir o controle, a
fiscalização e a adequação legal. São mecanismos caros, com altos
custos de implementação e operação, tanto pelo poder público,
quanto pela iniciativa privada. Em sua aplicação, em geral, limitam
tecnologias e padrões de desempenho, deixando pouca flexibili-
dade para a inovação.
Entre os instrumentos de regulação direta, o Licenciamento
Ambiental – LA é aquele de maior interferência na atividade produ-
tiva, pois é por meio dele que se avaliam os diferentes aspectos
da relação dos empreendimentos com o ambiente. Em função dos
55
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAimpactos ambientais identificados pelos estudos que subsidiam o
licenciamento, são definidas medidas de mitigação de impactos
ambientais e controle da poluição. O LA possui grande impor-
tância para a sustentabilidade coorporativa, no que se refere à
gestão ambiental.
O LA é um dos principais instrumentos da Política Nacional do
Meio Ambiente (PNMA), pois é por meio dele que o Poder Público
assegura que os riscos e os impactos ambientais de empreendi-
mentos foram considerados. Entretanto, para que se alcancem a
eficácia e eficiência pretendidas, sua implementação deve ser arti-
culada com outros instrumentos de planejamento e gestão.
Embora seja um processo administrativo único, o modelo de licen-
ciamento brasileiro está organizado em etapas, que resultam na
emissão de diferenças licenças. A competência para licenciar um
empreendimento ou atividade foi determinada pela LC 140/2011,
que definiu que o licenciamento ambiental seria feito em uma
única esfera federativa – União, estado ou município – evitando a
sobreposição de atuações entre os entes federativos e permitindo
uma atuação administrativa mais eficiente.
O licenciamento ambiental no Brasil conta com um modelo de
governança robusto, norteado pelos princípios de descentralização e
autonomia dos entes federativos, expressos na Constituição Federal.
Entretanto, sua complexidade institucional e normativa gerou, ao
longo dos 31 anos de sua aplicação, demandas pelo seu aperfeiçoa-
mento e modernização por parte de diversos setores da economia e
do governo (Ibama, 2016).
Na forma como vem sendo implementado, o licenciamento
ambiental se depara com desafios importantes, tais como: altos
custos, prazos excessivamente longos e excesso de burocracia.
Além desses aspectos administrativos, a ausência de critérios claros
e seguros para definição de ritos e de estudos ambientais e a
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
56
contínua judicialização de processos apontam para a necessidade
de melhorias no sistema.
O processo de licenciamento ambiental é essencial para que o setor
industrial possa se desenvolver de forma sustentável e internacio-
nalmente competitiva. Nessa direção, deve-se ressaltar que um
sistema de licenciamento eficiente e ágil é fundamental para isso
(CNI, 2013).
Lidar com as falhas técnicas, a discricionariedade e a subjetividade
que judicializam os processos é uma condição necessária – mas não
suficiente – para que esse instrumento atue na promoção do desem-
penho ambiental dos empreendimentos. Oportuno mencionar que
medidas de modernização do licenciamento ambiental, seja no
âmbito regulatório, seja no âmbito processual, devem favorecer a
execução de investimentos e o alinhamento do desenvolvimento
econômico com a Agenda 2030.
Recai sobre o LA o peso decorrente da implementação de outros
instrumentos de gestão ambiental, em especial os de planejamento.
A articulação com instrumentos como o zoneamento ecológico-
-econômico, avaliações de impactos integradas e monitoramento
tende a aportar outra racionalidade à gestão ambiental. O fortaleci-
mento desses e de outros instrumentos, notadamente aqueles que
visam ao planejamento e à gestão territorial, aliado a sua inserção
na formulação de políticas públicas, devem aliviar a sobrecarga que
se impõe ao licenciamento.
Numa perspectiva mais ampla, o licenciamento deveria privilegiar
a dimensão territorial em sua abordagem. Investimentos reali-
zados no processo, incluindo informações geradas nos estudos
ambientais, perdem-se com a desconexão entre o diagnóstico,
as avaliações de impacto e as ações mitigadoras (condicionantes
ambientais) propostas e implementadas isoladamente.
57
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAOs desafios apontados para o LA são recorrentes quando se
analisam os demais instrumentos de regulação direta, especial-
mente quando se trata da articulação desses com os instrumentos
de planejamento.
Além disso, bases de dados tecnicamente sólidas, sistemas atuali-
zados e transparentes de informação georreferenciada são, por sua
vez, condições para a consolidação de instrumentos de planejamento,
de uso e de conservação dos recursos naturais. Essa articulação é
fundamental para mudar a dinâmica de implementação das políticas
ligadas ao meio ambiente. Nesse mesmo sentido, é imperativo que o
poder público promova o acompanhamento sistemático dos poten-
ciais benefícios e dos efeitos indesejáveis decorrentes da instalação e
da operação de atividades e empreendimentos.
A figura 4, a seguir, consolida os principais aspectos do processo de
licenciamento ambiental vigente no Brasil.
Figura 4 – Principais aspectos do licenciamento ambiental no Brasil
Licença de Instalação
Licença Prévia
Licença de Operação
Monitoramento
Processo de Licenciamento
Ambiental
Órgão Ambiental Competente(Federal, Estadual ou Municipal)
Autorizações e Outorgas de Outros Órgãos
Estudos Ambientais
Procedimentos de Avaliação do Órgão Competente
Competência Legislativa Concorrente
Taxas de Processo Pagos pelo Empreendedor
Estudos por Consultoria Independente Contratada pelo Empreendedor
Termos de Referência Elaborados pelo Órgão Competente ou em Conjunto
com Outros órgão
Competência de Acordo com Impactos e Tipologia de Projetos
Competência AdministrativaComum – Autonomia de Cada Ente Federativo
Processo Descentralizado – Ausência de Hierarquia Administrativa
Processo Único e Trifásico
Fonte: Arcadis, 2017.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
58
2.1.2 Instrumentos de Planejamento
A articulação e a consolidação dos instrumentos de planejamento
das diferentes políticas citadas é um desafio. A complexidade dos
estudos sobre o comportamento dos sistemas socioambientais e
das análises de cenários, bem como os respectivos custos, dificulta
seu avanço. Esses instrumentos deveriam ser portadores de orienta-
ções estratégicas para a aplicação dos instrumentos de regulação,
tornando-os mais efetivos e eficientes. É fundamental qualificar
tais instrumentos e desenvolver maior capacidade de integração
entre as políticas setoriais, para que possam orientar investimentos
públicos e privados.
Se efetivos, os instrumentos de planejamento teriam potencial para
auxiliar na tomada de decisão dos empreendedores, ao apresen-
tarem desafios, limitações e oportunidades decorrentes do apro-
veitamento dos recursos ambientais de uma dada região, no médio
e no longo prazos. Esse tipo de informação pública e disponível
poderia contribuir, também, para redução dos custos dos estudos
de pré-viabilidade e análise locacional dos empreendimentos, bem
como nos custos dos estudos exigidos para obtenção do licencia-
mento ambiental. Entre os instrumentos de planejamento conso-
lidados no País e com potencial repercussão direta nas atividades
produtivas, destacam-se:
• O Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), instrumento
da PNMA regulamentado pelo Decreto 4.297/2002, utilizado
para diferentes escalas territoriais. Em linhas gerais, tem como
objetivo compatibilizar desenvolvimento socioeconômico com
conservação ambiental. Para tanto, analisa e traça diretrizes
sobre limitações e potenciais de exploração dos recursos
ambientais das diferentes partes do território estudado. O
resultado do ZEE se traduz no estabelecimento de alternativas
de uso e gestão, que oportunizam as vantagens competitivas
do território;
59
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇA• Os planos de recursos hídricos, disseminados no País – que,
se qualificados, teriam condições de instrumentalizar a alocação
de água entre os diversos usos, considerando as restrições
ambientais pre-determinadas. Instituídos pela Lei 9.433 de
1997 e pelas legislações estaduais de recursos hídricos – são
elaborados por bacia hidrográfica conforme a dominialidade28
e aprovados pelos respectivos Comitês de Bacia, que contam
com a participação dos representantes da indústria. Compõem
seu conteúdo, entre outros aspectos: a) metas de racionalização
de uso, aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos
recursos hídricos disponíveis; b) prioridades para outorga de
direitos de uso de recursos hídricos; c) diretrizes e criterios
para a cobrança pelo uso dos recursos hídricos; e d) propostas
para a criação de áreas sujeitas a restrição de uso, com vistas à
proteção dos recursos hídricos;
• Os planos de gestão de resíduos sólidos, previstos na Lei
12.305, de 2010, são constituídos pelo plano nacional, os planos
estaduais e municipais de gestão de resíduos, com vigência por
prazo indeterminado e horizonte de 20 anos, atualizados a cada 4
anos. Destacam-se de seu conteúdo mínimo as metas de redução,
reutilização, reciclagem, aproveitamento energetico de resíduos
sólidos, eliminação e recuperação de lixões, programas, projetos,
normas a serem atendidas e diretrizes para o planejamento da
gestão de resíduos sólidos. No âmbito dos planos municipais, há
a necessidade de identificação dos geradores sujeitos ao plano
de gerenciamento específico de resíduos que todas as empresas,
independentemente do porte e do setor a que pertencem,
devem atender. Alem de orientar a elaboração dos planos de
gerenciamento e de responsabilidade dos setores produtivos,
os planos de gestão de resíduos sólidos devem contemplar
obrigações sobre logística reversa, prevista na Lei;
28. Dominialidade: termo utilizado para expressar o domínio que a União detém sobre lagos e rios que banhem mais de um estado, sirvam de limites com outros países, na forma do art. 20, inciso III, da Constituição Federal.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
60
• O Inventário Florestal Nacional (IFN) tem como objetivo
principal produzir informações sobre os recursos florestais do
Brasil, tanto de florestas naturais como de florestas plantadas,
para servir de subsídios à formulação de políticas públicas de
desenvolvimento, uso e conservação e à tomada de decisão.
Por ser de abrangência nacional e utilizar metodologia
padronizada, se bem coordenado, pode contribuir com
outras políticas públicas de cunho ambiental (lista de especies
ameaçadas, mapa de áreas prioritárias para conservação, entre
outros) e receber dados de inventários de áreas de manejo
florestal (privadas e públicas);
• Os planos de saneamento ambiental regulamentados
pela Lei 11.445, de 2007, contam ainda com uma tímida
implementação no País. Em seu escopo, estão os objetivos e
metas de curto, medio e longo prazos para a universalização do
serviço de saneamento básico, observando a compatibilidade
com os demais planos setoriais. Elaborados para a integralidade
do território do ente da Federação que o elaborou – exceto
quando regional – esses planos devem ser compatíveis com
os planos das bacias hidrográficas em que estiverem inseridos;
• O Plano Nacional de Saneamento Básico constitui o
eixo central da Política Nacional de Saneamento, a partir da
articulação dos entes da Federação para a implementação
das diretrizes da Lei 11.445/07. O estudo “Comparações
Internacionais: Uma agenda de soluções para os desafios
do saneamento brasileiro29”, elaborado em 2017 pela CNI,
mostra que, com o ritmo atual de investimentos, o Brasil
levará mais quatro decadas para atingir a meta do Plano
Nacional de Saneamento Básico (Plansab), publicado em 2013.
Para universalizar os serviços em 2033, a media histórica de
29. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Comparações Internacionais: uma agenda de soluções para os desafios do saneamento brasileiro. Brasília, 2017.Disponível em <http://www.portaldaindustria.com.br/publicacoes/2017/2/comparacoes-internacionais-uma-agenda-de-solucoes-para-os-desafios-do-saneamento-brasileiro/>. Acesso em: 21 set. 2017.
61
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAinvestimentos no setor deverá ser elevada dos R$ 7,6 bilhões
por ano (2002 – 2012) para R$ 15,2 bilhões anuais.
Com uma perspectiva diferenciada, é importante destacar o Plano
de Ação para Produção e Consumo Sustentáveis (PPCS). Dentro
do Plano, estão previstos Pactos Setoriais, Ações Governamen-
tais, Iniciativas Voluntárias e Ações de Parceria como ferramentas
para sua implementação. Esse Plano tem aderência maior aos ODSs
e deve ser construído com uma lógica de cadeia de agregação de
valor. O governo já lançou as diretrizes para implementação do 2º
Ciclo do PPCS – 2016 a 2020, e avança na discussão sobre critérios
de sustentabilidade, a serem adotados em compras públicas.
2.1.3 Instrumentos Econômicos
Em linhas gerais, os instrumentos econômicos para gestão
ambiental impõem obrigações financeiras sobre o setor produtivo,
que provocam mudanças por meio de diferenciação competitiva
ou proveem fundos para financiar as políticas de regulação do
uso e da conservação ambiental. Os mecanismos de incentivo às
boas práticas, que poderiam ser classificados nessa categoria, são
praticamente inexistentes e inexpressivos no País. Em linhas gerais,
o uso de instrumentos econômicos é baseado nos princípios do
poluidor- pagador ou do usuário-pagador.
Considerando as iniciativas do mercado financeiro, incentivos por
meio da redução do custo de capital, em função de adoção de
práticas sustentáveis, vêm-se disseminando. Um olhar atento das
empresas para esse tipo de oportunidade pode gerar condições
mais atraentes de captação de recursos. Essas sistemáticas, mesmo
que presentes no mercado, são incorporadas de forma tímida nas
políticas públicas associadas aos usos e à conservação dos recursos
naturais e dos ecossistemas30. O objetivo de adoção de instrumentos
econômicos nas políticas ambientais está associado ao:
30. O item 4.3 deste documento trata especificamente dos requisitos do mercado financeiro.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
62
• Reconhecimento dos recursos naturais e dos ecossistemas
como bens econômicos, o que permite ao usuário ou poluidor
obter uma indicação de seu real valor;
• Incentivo à racionalização do uso ou redução da pressão sobre
os recursos naturais e bens ambientais;
• Obtenção de recursos financeiros para o financiamento dos
programas e intervenções para gestão e conservação dos
recursos naturais, bens ambientais e ecossistemas.
Por certo, a cobrança pelo uso da água vem sendo o instrumento
econômico mais disseminado no País e aquele que mais se aproxima
do referencial conceitual. Implantada em 2003 na Bacia Hidrográ-
fica do Paraíba do Sul, hoje é realidade em mais quatro bacias de
rios sob o domínio da União: Piracicaba, Capivari e Jundiaí; São
Francisco, Doce e Paranaíba – além de aproximadamente 40 bacias
hidrográficas, sob o domínio dos estados31.
A partir da edição do Decreto 7.402/2010, a parcela referida no
inciso II do § 1º do art. 17 da Lei 9.648/98, passou a ser formal-
mente considerada como cobrança pelo uso de recursos hídricos,
conforme previsto no inciso IV do art. 5º da Lei 9.433/97. O valor
anualmente arrecadado é destinado à Agência Nacional de Águas
(ANA) para as despesas referentes à Política Nacional de Recursos
Hídricos e ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos
Hídricos32, conforme tabela a seguir:
31. A tarifa de fornecimento de água bruta do Estado do Ceará não é considerada como cobrança pelo uso da água, devido à diferença de natureza entre os mecanismos. 32. Legalmente, os valores deveriam ser destinados ao MMA para atender às necessidades do conjunto do Sistema Nacional de Gerenciamento dos Recursos Hídricos. Devido a uma falha de política pública, os valores passaram a ser exclusivos da Agência Nacional de Águas. O setor empresarial vem apontando sistematicamente os problemas dessa distorção no âmbito dos colegiados de recursos hídricos, previstos na Política Nacional de Recursos Hídricos.
63
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇATabela 1 - Total dos Valores Cobrados pelo Uso de Recursos Hídricos
Valores em R$ milhões
ARRECADADOR DOMÍNIO DA ÁGUAVALOR COBRADO
(2016)TOTAL ARRECADADO
ANAUnião 66.008 528.695
União/Estados 208.798 2.221.533
INEA/RJ Estado do RJ 24.613 271830
SSRH/SP Estado de SP 88.419 391605
IGAM/MG Estado de MG 42.106 186240
Águas do Paraná/PR Estado do PR 3.815 11.055
AESA/PB Estado da PB 2.060 6.184
Fonte: Adaptado do site da ANA (http://www2.ana.gov.br/Paginas/servicos/cobrancaearrecadacao/cobrancaearrecadacao.aspx)..Nota: Foram excluídos desta tabela os valores arrecadados com a tarifa de fornecimento de água bruta praticada no Estado do Ceará, que representa uma arrecadação anual aproximada de R$ 102 milhões.
Fundos associados às políticas de conservação e ao uso dos recursos
naturais são considerados como instrumentos econômicos em
algumas classificações. Para este documento, entendem-se fundos
como mecanismos para alocar os recursos arrecadados por meio de
alguns dos instrumentos econômicos33.
Outros instrumentos considerados como econômicos, em função
da forma como são implementados, acabam por não induzir a
posturas mais sustentáveis. Como exemplos, temos a compensação
ambiental e a repartição de benefícios pelo uso da biodiversidade
brasileira, que incorrem em obrigações para os setores usuários,
aumentando os custos de investimento e operação, sem uma lógica
de incentivo à eficiência no uso dos recursos.
33. A referência aos Fundos será detalhada no item 3.3, que trata dos incentivos para a incorporação de critérios de sustentabilidade nas estratégias corporativas.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
64
A Compensação Ambiental, prevista na lei que institui o Sistema
Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (Lei 9.985/2000),
obriga o empreendedor de atividade com significativo impacto
ambiental a apoiar a implantação e a manutenção de unidade
de conservação, por meio do pagamento de um percentual (ate
0,5% nos licenciamentos federais) dos custos totais previstos para
a implantação dos empreendimentos.
Esse pagamento compulsório representa um mecanismo financeiro
de compensação pelos efeitos de impactos negativos não miti-
gáveis, ocorridos quando da implantação de empreendimentos e
identificados no processo de licenciamento ambiental. É hoje o
principal mecanismo de financiamento do SNUC.
A distorção está no fato de os valores pagos não serem, na grande
maioria dos casos, definidos em função dos impactos causados ao
ambiente, sendo fixados no teto legalmente definido de 0,5% dos
custos de implantação. Alguns estados cobram percentual maior
do que o limite de 0,5%, o que gera insegurança jurídica. Estima-se
que, ao final de 2014, quase R$1 bilhão do total arrecadado, apenas
no âmbito federal, tinha destinação definida. Esse montante não
inclui os valores acordados em licenciamentos e ainda sem desti-
nação específica34.
A tabela a seguir discrimina os valores da compensação ambiental
destinados a unidades de conservação, no período de 2011 a 2017.
A falta de informação não permite a comparação desses valores
com os valores efetivamente arrecadados.
34. FUNBIO. Desvendando a compensação ambiental: aspectos jurídicos, operacionais e financeiros. Rio de Janeiro: Funbio, 2015.
65
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇATabela 2 – Compensação ambiental
ANOVALORES
DESTINADOS (R$)ICMBIO
(%)
UCS ESTADUAIS
(%)
UCS MUNICIPAIS
(%)
2011 10.585.544,68 92,51 4,35 3,14
2012 141.384.721,26 77,32 21,32 0,82
2013 334.423.863,25 77,19 22,14 0,67
2014 487.183.321.26 86,29 13,50 0,21
2015 11.429.631,67 92,40 17,53 0,50
2016 391.399.321,95 85,81 12,96 1,23
2017 255.807.185,53 83,36 13,72 2,92
Acumulado 1.696.187.877,18 83,52 15,43 1,05
Fonte: Ibama, 2017.
A Repartição de Benefícios resultante do uso econômico da biodi-
versidade brasileira foi estabelecida na Convenção sobre Diversidade
Biológica (1992) e começou ser implementada no Brasil em 2001. O
novo marco legal, determinado pela Lei 13.123/2015, estabeleceu
duas modalidades de pagamento: a) monetária - valor pago à União,
em que 1% da receita líquida anual obtida com a exploração econô-
mica do produto acabado, oriundo de acesso ao patrimônio genetico,
e destinado ao Fundo Nacional de Repartição de benefícios; e b) não
monetária - valor repartido diretamente com os provedores da biodi-
versidade ou do conhecimento tradicional associado, equivalente a
75% do previsto para a modalidade monetária.
Estima-se que, entre 2001 a 2014, o valor destinado à repartição
de benefícios pelos usuários da biodiversidade tenha sido superior a
R$1milhão. Em 2015, antes da entrada em vigor do novo marco legal,
esse valor fora estimado entre R$ 4 e 5 milhões. Não há registro de
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
66
repartição de benefícios realizada no âmbito do novo marco legal.
A nova lei tende a atrair investimentos com o uso sustentável da biodi-
versidade, gerando mais recursos para a repartição de benefícios.
2.2 Contexto Mercadológico
2.2.1 Gestão ambiental como diferencial competitivo
Da mesma forma que em outros processos gerenciais, a adequada
gestão dos recursos naturais e dos ecossistemas, bem como a
relação com as diferentes partes interessadas, permite incorporar
a sustentabilidade como fator de competitividade e de mercado.
Algumas empresas já adotam essa estratégia para diferenciação
dos seus negócios. Em um mundo que opera de forma integrada,
com aceleradas mudanças promovidas pelos avanços de tecnologia
e interconexão de mercados, esse caminho é promissor para novos
ganhos de competitividade.
Associada às práticas de gestão ambiental e à relação constru-
tiva com as partes interessadas a agregação de valor gera valor
social, por meio das externalidades positivas. As práticas de gestão
ambiental tendem a otimizar o uso de insumos e energia, por meio
da modernização dos processos ou até mesmo pela substituição de
matérias-primas.
Por outro lado, tais iniciativas demandam investimentos e custos
de operação, muitas vezes elevados. Comparar os custos de
investimentos e operação com os ganhos auferidos demanda uma
perspectiva econômica – e não apenas financeira – no contexto
das iniciativas.
Para isso, compreender o princípio da externalidade é essencial.
O conceito se justifica pela existência de falhas de mercado, que
fazem com que os custos de uma atividade produtiva venham a ser
67
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAmenores do que os custos sociais de suas ações, sempre e quando
apresentem repercussões negativas na qualidade ambiental ou no
bem-estar social. No caso de haver repercussões positivas, o sentido
se inverte. Ao reconhecer, quantificar e reduzir externalidades nega-
tivas e aumentar as positivas as empresas assumem papel transfor-
mador na transição para um desenvolvimento sustentável35.
A precificação das externalidades positivas, via instrumentos
econômicos, é uma tendência que poderá criar condições para
novos modelos de negócios e mercados. Exemplos podem vir das
iniciativas da logística reversa, do reuso de efluentes domésticos
como fonte alternativa de água e da geração de energia a partir
da biomassa.
Buscando otimizar seus processos produtivos por meio da eficiência
de uso de recursos naturais, o setor de mineração, por exemplo,
tem o reuso da água como prática comum. Em algumas tipologias,
o processo atinge até 85% da água recirculada.
Já o setor sucroenergético, segundo estimativas da Unica (União da
Indústria de Cana-de-Açúcar), prevê que, em 2020, a eletricidade
produzida a partir de biomassa (bagaço de cana) poderá representar
15% da matriz brasileira, com a produção média de 14.400 MW.
Os mecanismos de incentivo, ainda tímidos no País, devem se
fundamentar em premiar as iniciativas capazes de gerar externali-
dades positivas, como, por exemplo, redução dos prazos e custos de
obtenção/renovação de licenças, em função da adoção de sistemas
de gestão ambiental, certificações e outras boas práticas.
35. As externalidades são causadas por falhas de mercado que acabam por produzir diferenças entre custos privados e custos sociais. Entre as principais razões para as externalidades, estão: a) competição imperfeita; b) existência de bens públicos; c) inexistência ou má alocação de direito de propriedade; d) informação incompleta; e e) altos custos de transação. As externalidades se materializam nos preços, balizadores de trocas mutuamente benéficas e que representam a combinação socialmente ideal entre a abundância relativa (que sublinha o conceito de escassez) e o valor (que sublinha a percepção social e embasa a disposição a pagar) dos fatores de produção. As distorções ocorrem justamente quando, nesse encontro entre oferta e demanda, há distorções de mercado e custos privados, em vez de custos sociais.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
68
O mapeamento das oportunidades de ganhos de eficiência de
processo, em relação ao uso de insumos e à identificação das
externalidades geradas, é o primeiro degrau da gestão corpora-
tiva da sustentabilidade. Na relação com o ambiente externo, isso
representa, na prática, o mapeamento das repercussões sociais e
ambientais de suas atividades e de sua cadeia de suprimentos, bem
como as respectivas influências na geração de valor.
Dessa forma, criam-se informações e condições para identificar as
oportunidades de definir estratégias para a sustentação de suas ativi-
dades – antecipando as mudanças na regulação, em especial, no que
diz respeito à tendência de crescente precificação das externalidades.
Mediante a incorporação dos processos de gestão ambiental,
emerge um novo paradigma da competitividade, decorrente da
noção de que a intervenção sobre as externalidades ocorrerá, seja
pela via regulatória, seja pela via de incentivo mercadológico. Ao
se refletirem as externalidades nos custos privados, o fator de
produção “recursos naturais/capital natural” passa a ter seu preço
ou custo de acesso crescente, desencadeando uma realocação dos
fatores de produção (trabalho, capital, tecnologia e empreende-
dorismo) para seus fins mais eficientes. Enquanto alguns bens e
serviços teriam seus preços ajustados para cima, a sociedade como
um todo ganha, por ter menos impactos ambientais e sociais.
2.2.2 Investimento Social Privado
A perspectiva social da sustentabilidade por vezes é desconside-
rada, quando o debate é realizado em fóruns ou entre especialistas
originários da área ambiental. Por outro lado, em função de uma
agenda própria, as políticas sociais muitas vezes desconsideram as
oportunidades decorrentes de uma mais estreita articulação com
as políticas de gestão do uso e conservação dos recursos naturais
e ecossistemas. A articulação de investimentos sociais e ambientais
tende a potencializar os resultados de ambos, tanto em termos de
69
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAbenefício social como em termos de ganhos de competitividade
para o setor empresarial.
É importante salientar que a rotina operacional da indústria brasi-
leira abrange práticas e custos operacionais alocados para sua
sustentação, o que contribui para seus resultados e permanência,
além de propiciar o necessário suporte a seu valor de mercado.
Além dos gastos operacionais progressivamente alocados de forma
mais focada em competitividade ligada a otimização de processos
de produção, tem havido crescente aplicação de recursos privados
em programas, projetos e ações sociais.
Entre suas frentes de atuação, a Comunitas36 é a responsável pela
realização do Benchmarking do Investimento Social Corporativo
(BISC37). O BISC é uma ferramenta de acompanhamento anual
dos investimentos sociais privados no Brasil, por meio da qual é
possível aferir a evolução dos compromissos sociais das empresas
participantes, extrair a percepção dos gestores sobre a qualidade
das aplicações, buscar novos temas para subsidiar a formulação de
estratégias e melhorar a contribuição para o desenvolvimento do
País (COMUNITAS, 2017).
Na edição 2016 do BISC, analisaram-se as possibilidades de conexão
dos investimentos sociais privados à “Agenda 2030 para o Desen-
volvimento Sustentável38”. Constatou-se que aproximadamente
35% das organizações privadas que participaram da pesquisa já
36. A Comunitas é uma organização da sociedade civil, cujo objetivo é contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais privados, como parte da iniciativa de estabelecer parcerias para produzir conhecimento para o desenvolvimento do País. É seu objetivo “... contribuir para o aprimoramento dos investimentos sociais corporativos e estimular a participação da iniciativa privada no desenvolvimento social e econômico do país” (COMUNITAS, 2017).37. Segundo informações obtidas no website da Comunitas, “Os resultados apresentados neste relatório (2016) refletem um universo de 312 empresas, 24 fundações empresariais, a federação de empresas do setor de indústria do Rio de Janeiro – sistema Firjan –, gestores sociais e lideranças de 10 empresas e institutos empresariais”.38. A edição de 2016 do BISC contém duas partes: a) análise da evolução anual dos ISPs; b) influência da conjuntura econômica na conduta das empresas. Nessa última parte, foram identificadas e analisadas as tendências de aperfeiçoamento recente na alocação de investimentos sociais corporativos e os desafios na condução da alocação de aplicações sociais obrigatórias. Houve identificação das possibilidades de integração dos investimentos sociais aos ODS.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
70
utilizam os ODSs na construção das suas estratégias e na gestão
dos negócios.
Essas iniciativas envolvem principalmente as temáticas de empregos
dignos e crescimento econômico, consumo responsável, parcerias
pelas metas e educação de qualidade. As empresas reconhecem
que os ODS comunicam uma visão mais estruturante, o que permite
dialogar com as políticas públicas para o futuro e construir capaci-
dades nas empresas e organizações.
No que se refere à relação entre a conjuntura econômica e o total
de investimentos sociais efetivados, é interessante notar que a
queda esperada no total de investimentos, prevista na versão do
relatório de 2015, não se concretizou, conforme demonstrado nas
figuras 5 e 6, a seguir:
Figura 5 – Comportamento dos investimentos sociais do Grupo BISC entre 2007 e 2015
1,6
1,9 1,9
2,2
2,6
3
2,3
2,6 2,6
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
2007<PIB: 6% 5% -0,3% 7,6% 3,9% 1,8% 2,7% 0,2% -3,8%
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Em b
ilhõe
s de
reai
s(v
alor
es a
just
ados
pel
a in
flaç
ão)
Fonte: BISC, 2016.
71
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAFigura 6 – Comparação do investimento social do Grupo BISC entre
2014 e 2015
Reduçãosuperior a 25%
Redução entre 11% e 25%
Redução deaté 10%
Aumento deaté 10%
Aumento de11% a 25%
Aumento superior a 25%
14%das empresas
21%das empresas
29%das empresas
0%das empresas
7%das empresas
29%das empresas
Fonte: BISC , 2016.
A pesquisa indica que “Os investimentos sociais das empresas
do BISC atingiram, em 2015, R$ 2,6 bilhões. A totalidade desses
valores corresponde a recursos financeiros, pois poucas empresas
informam os valores relativos a doações ou prestação de serviços
gratuitos e, mesmo nesses casos, as cifras não são significativas
(Gráfico 9). Em que pese o fato de 94% das empresas terem criado
institutos para atuar no campo social, dois terços dos investimentos
sociais do último ano foram realizados diretamente por elas. Essa
é a maior diferença ao longo de todo o período analisado pela
pesquisa” (BISC, 2016, pg. 18).
Figura 7 – Composição dos investimentos sociais do Grupo BISC
34%
66%
Recursos investidos pelo instituto
0,4%Bens e serviços
Recursos investidos pela empresa
Total dosinvestimentos
R$ 2,6bilhões
Fonte: BISC, 2016.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
72
Assim como ocorre na gestão ambiental, a pesquisa mostra que
o setor empresarial vem direcionando esforços para os aspectos
sociais. Além de reconhecer suas responsabilidades, o avanço do
setor está em identificar e realizar oportunidades de agregação de
valor, mediante iniciativas nesses dois campos.
A manutenção do patamar dos investimentos sociais dos últimos
anos, mesmo frente às dificuldades econômicas e à predominância
de investimento de empresas – em decorrência dos institutos –
permite inferir que já existe a percepção de que os resultados estão
efetivamente relacionados à agregação de valor para os negócios.
2.2.3 Tendências do Mercado Consumidor
Ainda no contexto do mercado, o comportamento do consumidor
passa a ter um papel fundamental. Impulsionados pela massificação
das redes sociais online, os consumidores, as organizações da socie-
dade civil, a mídia e os próprios colaboradores das empresas vêm
exigindo um nível maior de prestação de contas por parte de todos
os segmentos envolvidos no negócio.
As exigências perpassam questões que abarcam desde o tratamento
dispensado aos trabalhadores, a verificação de origem das maté-
rias-primas até a cultura corporativa. Em alguns nichos, emerge um
consumidor que se sente cada vez mais responsável pelas decisões
do consumo que realiza, guiando suas atitudes em função das
informações disponíveis, oriundas de fontes confiáveis.
Uma experiência relevante é o Selo Procel de Economia de Energia,
que tem como finalidade ser uma ferramenta simples e eficaz,
que permite ao consumidor conhecer, entre os equipamentos e
eletrodomésticos à disposição no mercado, os mais eficientes e que
consomem menos energia.
A partir de sua criação, foram firmadas parcerias com o Inmetro,
associações de fabricantes e academia, com o objetivo de estimular
73
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAa disponibilidade de equipamentos cada vez mais eficientes no
mercado brasileiro. Para isso, foram estabelecidos índices de
consumo e desempenho para cada categoria de equipamento.
Apenas os produtos que atingem esses índices são contemplados
com o Selo Procel. O selo gera economia de energia, redução de
emissões de GEE, valor ao consumidor e também valor às empresas,
que se esmeram em apresentar produtos mais eficientes, obtendo
diferenciação em mercados competitivos.
As evidências sugerem que, quanto mais as preferências sociais
convergirem para determinada posição39, mais as decisões indi-
viduais tomarão aquele caminho. Na combinação entre o amplo
e crescente acesso à informação e a influência das preferências
sociais, percebe-se que há espaço para modificações pró-sustenta-
bilidade no comportamento do consumidor.
Segundo pesquisa global realizada pela consultoria Nielsen40 em
2015, as vendas de produtos de bens de consumo de marcas que
atestam seu compromisso com a sustentabilidade aumentaram
mais de 4%, enquanto as marcas sem compromisso cresceram
menos de 1%.
A pesquisa, realizada em 60 países, constatou que 66% dos
consumidores se dizem dispostos a pagar mais por marcas
comprometidas com causas sociais e ambientais, propensão
que já é de 63% na América Latina. Entre os entrevistados que
mostraram mais aderência ao consumo consciente, mais da
metade nasceu após os anos 1980. Esse público representa 51%
daqueles que declararam ler as embalagens em busca de selos e
outras informações que atestem a sustentabilidade dos produtos
– e estão dispostos a pagar a mais por essa opção.
39. Que é, por sua vez influenciada pela disponibilidade de informações e o julgamento subjetivo de sua relevância40. NIELSEN. Global sustainability report. 2015. Disponível em: <https://www.nielsen.com/content/dam/nielsenglobal/dk/docs/global-sustainability-report-oct-2015.pdf>. Acesso em: 02 jun. 2017.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
74
À medida que navegam nesse cenário de modificações nas prefe-
rências dos consumidores, as empresas devem compreender que
uma visão coesa de sustentabilidade ambiental e social irá ajudá-las
a desenvolver novos modelos de crescimento e oportunidades, de
modo a torná-las líderes de produtos, serviços e mercado.
2.3 O Estado como indutor econômico de mudança
Para além do ambiente regulatório associado ao uso e à conser-
vação dos recursos naturais e ecossistemas, o Estado tem um papel
de extrema relevância como agente econômico. Também as polí-
ticas econômicas e de desenvolvimento podem – dependendo de
como são concebidas – direcionar recursos visando à promoção
do Desenvolvimento Sustentável. Exemplo disso são os leilões de
energia, principal forma de contratação de energia no Brasil. Esses
leilões influenciam o mercado, ao indicarem a demanda de energia
por fonte – como no caso da inserção da fonte eólica na matriz de
energia elétrica.
Outro perfil de ação de governo que influencia o mercado é o
estabelecimento de sistemas de “Compras Públicas Sustentáveis”
– cuja base legal ainda está sendo discutida, mas cujo conceito já
permeia diversas esferas do setor público.
Ao priorizar produtos com eficiência ambiental, o governo se dispõe
a pagar um prêmio pelo fomento à sustentabilidade. Essa prática
tende a propiciar economias de escala para produtos e padrões de
produção almejados. Entretanto, a adoção desse critério de prefe-
rência deve ser analisada com extrema cautela, tendo em vista os
potenciais efeitos colaterais em pequenas e médias empresas, que
têm mais dificuldade de captar recursos para se adaptar. A gradua-
lidade na incorporação desses critérios é fator chave para seu
sucesso. A CNI tem articulado a participação dos setores industriais
75
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAno processo de definição de critérios de sustentabilidade, colabo-
rando com o Governo.
Desoneração de custos operacionais e/ou redução de impostos
pelo uso de tecnologias de maior eficiência energética, redução de
emissões de gases de efeito estufa, desoneração da cadeia de logís-
tica reversa, além de incentivos para produção e consumo de água
proveniente do reuso de efluentes domésticos são iniciativas com
importante potencial a ser explorado. Também nesses casos, uma
avaliação criteriosa dos efeitos colaterais, em termos de impacto
fiscal e eventuais distorções nos mercados, devem ser analisadas
com cautela.
A desoneração tributária de materiais reciclados, trazida à pauta
pela CNI, permitiria, se adotada, criar um mercado mais competi-
tivo para esses materiais. Os efeitos na cadeia produtiva seriam a
viabilidade de novos modelos/oportunidades de negócios, maiores
taxas de reciclagem e geração de externalidades positivas, como a
redução dos materiais depositados em aterros sanitários.
No setor de saneamento, por exemplo, a geração de energia elétrica
por meio do biogás de aterro sanitário é realizada atualmente com
motores e equipamentos de tecnologia importada. Num cenário de
incentivos públicos para desenvolvimento e aplicação de tecnologia
nacional para essa solução energética, a escala certamente viabili-
zaria o desenvolvimento da indústria nacional.
A adoção de mecanismos de incentivo, via políticas econômicas, de
desenvolvimento e tributárias, pode incentivar a utilização de tecno-
logias e processos avançados para redução da poluição, gerando
oportunidades para pequenas e médias indústrias e fomentando
mercados e negócios.
Como exemplo, temos as novas políticas de financiamento do
BNDES, que entraram em vigor em janeiro de 2017, incentivando
projetos na área ambiental, por meio de condições especiais, o que
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
76
reflete não só reflete as mudanças da sua atuação, como também
reforça seu papel de indutor do desenvolvimento sustentável e esti-
mulador da adoção das melhores práticas nas empresas apoiadas.
No anexo B, são apresentas informações consolidadas a respeito
das linhas de financiamento e programas oferecidos por institui-
ções do Sistema Nacional de Fomento (SNF). Os incentivos para a
gestão corporativa da sustentabilidade constituem uma ferramenta
essencial para a transformação de iniciativas em sustentabilidade
em negócios viáveis e sustentados em longo prazo.
2.4 Requisitos do mercado financeiro
Os requisitos do mercado financeiro para acesso ao crédito são
outro vetor importante quanto às exigências de práticas produtivas
e produtos mais sustentáveis. Tais critérios, que vêm ganhando rele-
vância, dizem respeito à forma como as instituições financeiras consi-
deram riscos ambientais e sociais em seus processos decisórios sobre
investimentos, concessão de crédito e demais operações (seguro,
emissão de títulos, etc.). Além disso, o próprio mercado de ações já
se mostra sensível ao tema. Esses movimentos condicionam ou, no
mínimo, têm influência direta sobre os novos modelos de negócios.
2.4.1 Instituições Financeiras
Os desafios e efeitos da aplicação desses requisitos no setor industrial
são perceptíveis, inicialmente com relação ao custo e à burocracia
para acessar o crédito. Nessa linha, a regulação do Banco Central
sobre risco socioambiental (Resolução 4.327/2014 e Resolução
4.557/2017) respalda essa prática. Todo esse movimento está voltado
à redução dos riscos físicos, regulatórios e de imagem, aos quais as
intuições financeiras ficam expostas em função de suas operações e,
por consequência, impulsionam o próprio setor produtivo a conhecer,
gerir e reduzir sua própria exposição a tais riscos.
77
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇASe não forem adequadamente geridos, esses riscos podem gerar
perda de receita, litígios dispendiosos, impactos em imagem e
reputação, entre outros efeitos negativos. As atividades de clientes
também podem representar oportunidades de implementar opera-
ções financeiras adicionais exitosas, com impacto econômico
positivo para as instituições financeiras.
A seguir, encontra-se uma linha do tempo, com os principais marcos
de determinação de requisitos e orientadores de gestão de risco
socioambiental por instituições financeiras.
Figura 8 – Principais marcos para gestão de risco socioambiental por instituições financeiras
Resolução 3876/2010Veda a concessão de crédito
rural para quem manteve
trabalhadores em condições análogas
à de escravo
Lei 12.305/ 2010 Destinação de
Resíduos Sólidos
Lei 6.938/1981Política Nacional
de Meio Ambiente
Legislação
Regulação – Conselho Monetário Nacional
Autoregulação
Resolução 3545/2008Estabelece exigência de
regularidadeambiental e outras
condicionantes,para financiamento
agropecuário no Bioma Amazônia.
Resolução 4327/2014Diretrizes observadas no
estabelecimento/ implementação da Política
de Responsabilidade Socioambiental pelas
instituições linkadas ao BC do Brasil.
1980 2000 2010
Protocolo Verde - 1999 -Participação do setor privado
(FEBRABAN e o MMA)
Lei 11.105/ 2005 Alimentos
Geneticamente Modificados
Diretrizes da FEBRABAN – 2014 A FEBRABAN também
emitiu uma norma de autorregulação.
201520051995
Protocolo VerdePrimeira grande iniciativa
no Brasil,firmado apenas por bancos
públicose não chegou a produzir
grandes resultados.
Lei 12.187/ 2009Lei Nacional de Mudanças
Climáticas
Fonte: Arcadis, 2017.
Os Princípios do Equador constituem um dos principais marcos
para orientar a formulação dos requisitos de consideração de riscos
ambientais e sociais. É uma estrutura de gestão de riscos, adotada
por instituições financeiras, para determinar, avaliar e gerenciar
impactos e riscos ambientais e sociais em projetos e em operações.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
78
Foi concebida para fornecer um padrão mínimo de eficiência no
apoio ao processo decisório sobre riscos.
Desde a publicação dos Princípios do Equador41, em 2003, um
conjunto de critérios socioambientais, elaborados pela Corporação
Financeira Internacional (International Finance Corporation, IFC),
tem sido aplicado na consideração de concessão de crédito e outras
operações financeiras de instituições financeiras que aderiram a
esses princípios.
Apesar de não ter aderido aos Princípios do Equador, o BNDES
apoiou o Protocolo Verde42. Em termos de requisitos ambientais e
sociais, o Banco requer que os demandantes de recursos atendam
a determinados requisitos mínimos43.
A resolução Bacen 4.327, de 2014, também atua no sentido de
requerer gestão de riscos socioambientais no Brasil. A medida
estabelece diretrizes para implementação da Política Nacional de
Responsabilidade Socioambiental no setor financeiro nacional e
demanda a avaliação de riscos socioambientais na perspectiva do
negócio. Por sua vez, a Resolução Bacen 4.557, de 2017, dispõe
sobre a estrutura de gerenciamento de riscos e a estrutura de
gerenciamento de capital, incluindo riscos ambientais e sociais das
instituições financeiras.
41. Os princípios estabelecidos que devem ser atendidos por parte dos bancos signatários são: Princípio 1 – Revisão e Categorização; Princípio 2 – Avaliação Socioambiental; Princípio 3 – Aplicação dos Padrões Socioambientais; Princípio 4 – Sistema de Gestão Socioambiental e Plano de Ação; Princípio 5 – Engajamento das Partes Interessadas; Princípio 6 – Mecanismo de Reclamação; Princípio 7 – Revisão Independente; Princípio 8 – Convênios e Acordos; Princípio 9 – Reporte e Monitoramento Independente; Princípio 10 – Reporte e Transparência. Visando operacionalizar a implantação dos Princípios do Equador o IFC elaborou oito Padrões de Desempenho, que definem o que o cliente deve garantir, ao longo da evolução do projeto e durante o período de duração do investimento.42. Protocolo de intenções pela responsabilidade socioambiental, é uma carta de princípios firmada por bancos públicos em 1995 (muitos deles depois aderiam aos Princípios do Equador (como Banco do Brasil e CEF), e por bancos privados em 2009, no qual se propõem a implantar práticas de consideração de fatores ambientais e sociais. Definia que teria eficácia a partir de sua publicação (em 1995) e que deveria vigorar por 5 anos. Foi revisado em 2008, e em 2011 o BNDES publicou uma série de ações a ele relacionadas. Mais informação em < http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/bndes/bndes_pt/Hotsites/Relatorio_Anual_2011/Capitulos/atuacao_institucional/o_bndes_e_protocolo_verde.html>.43. BNDES. Quem pode ser cliente. 2016. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/quem-pode-ser-cliente>. Acesso em: 25 abr. 2017.
79
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇACumpre observar que as mencionadas resoluções requerem
adequação da estrutura de consideração de risco socioambiental
também pelo BNDES. Pode-se afirmar que, em curto prazo, haverá
uma mudança importante na consideração de riscos socioambien-
tais como um dos componentes das modalidades de avaliação de
riscos em futuras operações.
Os efeitos da aplicação desses requisitos e da regulação do Bacen,
em proponentes do setor privado, de modo geral, são:
• Aumento do tempo das análises de risco de crédito pelas
instituições financeiras (a análise de riscos ambientais e sociais
será feita por avaliação independente);
• Maior número de requisitos e condicionantes ambientais e
sociais em contratos e acordos sobre tempestiva implantação
de planos de ação corretivos;
• Aumento dos custos do processo de consideração de crédito,
investimento, etc.;
• Melhoria do nível de conformidade legal em relação a
regras ambientais e sociais (com decréscimo de custos de
não conformidades);
• Melhoria do desempenho de gestão dos aspectos ambientais e
sociais, o que tende a aumentar da competividade em relação
àqueles aspectos.
As salvaguardas ambientais e sociais passam a ser relevantes na
obtenção de recursos financeiros pelo setor industrial. Aplicadas
como requisitos de análise de crédito, complexificam44 os processos
decisórios de obtenção de crédito.
44. A grosso modo, salvaguardas ambientais e sociais para instituições financeiras são regras normativas que contêm diretrizes precisas para que os agentes financeiros abordem, e gerenciem riscos e impactos ambientais e sociais, em suas operações e Isso garante que danos e impactos negativos, ambientais e sociais, sejam identificados e que condicionantes sejam incluídas em contratos de crédito, financiamento, seguros, dentre outros, evitando que os riscos daqueles danos e impactos gerem eventos negativos àquelas instituições. As salvaguardas apoiam o cumprimento de compromissos e diretrizes de desenvolvimento sustentável firmados por elas.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
80
Algumas das instituições financeiras e organizações multilaterais que
fornecem recursos para o Brasil (repassados por bancos de varejo,
fundos e outras instituições financeiras), fornecem apoio técnico espe-
cializado, elaboram e disponibilizam manuais e outras ferramentas
que apoiam as empresas no cumprimento daqueles requisitos.
A IFC, por exemplo, está implementando uma iniciativa de incen-
tivo ao empreendedorismo de negócios sustentáveis, por meio de
assessoria técnica para questões relacionadas a padrões ambientais,
sociais e de governança, eficiência energética e uso de recursos
naturais. A iniciativa inclui apoio para gestão de cadeias de supri-
mentos e suporte para expandir o acesso a financiamentos críticos
também para pequenas e médias empresas (por meio de apoio aos
intermediários financeiros que lidam diretamente com os clientes)45.
Por fim, muito embora a gestão corporativa da sustentabilidade
pela indústria reconhecidamente economize recursos no longo
prazo (tanto naturais como financeiros), fica clara a necessidade de
aportes de investimento no curto prazo para promover a mudança
de curso desejada. Afinal, o desafio ao setor privado não é simples.
2.4.2 Mercado de Capitais
No que se refere às iniciativas de mercado de capitais e bolsas
de valores, na avaliação de desempenho em sustentabilidade
corporativa, a Bolsa de Valores de Nova York (Dow Jones – DJ)
foi a primeira a criar um índice, com o objetivo de avaliar, entre
as empresas listadas, gestão e desempenho ambiental, social e
de governança, alem dos resultados econômicos. Em 1999, o
Dow Jones Sustainability Index (DJSI) foi lançado como o primeiro
benchmark global de sustentabilidade.
45. Informações detalhadas sobre a atuação da IFC na provisão de assessorial técnica em <http://www.ifc.org/wps/wcm/connect/corp_ext_content/ifc_external_corporate_site/solutions/solutions>, somente em inglês.
81
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAAs empresas que constam do DJSI são vistas por investidores como
mais capazes de gerar valor de longo prazo aos acionistas, uma
vez que sua gestão de riscos, bem como a operacional, incorpora
tanto fatores econômicos, como ambientais e sociais. O quadro 4
apresenta as instituições brasileiras que compõem o DJSI para o
ano base de 2017.
Quadro 2 - Lista de empresas brasileiras que compõem o DJSI 2017
BANCOS
Banco do Brasil S/A
Itaú Unibanco Holding S/A
Itausa - Investimentos Itaú S/A
BENS DE INVESTIMENTO
Embraer S/A
MATERIAIS
Fibria Celulose S/A (Novo)
SOFTWARE & SERVIÇOS
Cielo S/A (Novo)
SERVIÇOS
Cia Energetica de Minas Gerais
Fonte: S&PDJI , 2016 46.
46. S&P DOW JONES INDICES. Dow Jones Sustainability Indices. 2016. Disponível em: <http://www.robecosam.com/images/DJSI2016_ComponentList_World.pdf >. Acesso em: 09 de mai. 2017.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
82
Gráfico 1 – Gráfico de desempenho da carteira DJSI Global e Mercados Emergentes
Dow Jones Sustainability Emerging Markets Index
Dow Jones Sustainability Europe Index (EUR) TR
Dow Jones Sustainability North America Composite Total Return Index (USD)
Dow Jones Sustainability World Index
5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
Retorno Diário Médio
Retorno Mensal Médio
Retorno Quadrimestral
Médio
Retorno Anual Médio
Acumulado 1 ano
Acumulado 3 anos
Acumulado 5 anos
Acumulado 10 anos
Fonte: S&PDJI (2017)47.
Embora os resultados acumulados do DJSI nos últimos 10 anos
fiquem abaixo dos 2% (excetuando o mercado norte-americano), a
carteira possui bons resultados nos últimos cinco anos, com retorno
entre 20 e 30% em 2016, tanto na média global como para as
empresas de mercados emergentes, com destaque para o desem-
penho da carteira no mercado europeu48.
47. S&P DOW JONES INDICES. Index returns. 2017. Disponível em: <http://eu.spindices.com/additional-reports/all-returns/index.dot?parentIdentifier=97793508-ecde-4f92-a932-6aeb5bc02293&sourceIdentifier=index-family-specialization&additionalFilterCondition=>. Acesso em: 15 de mai. 2017.48. Vale destacar que o DJSI não possui dados para mercados emergentes anteriores a 5 anos, tendo valores acumulados disponíveis apenas para o período de 3 anos.
83
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAAproximadamente seis anos após a criação do DJSI, a então
BMF&BOVESPA lançou o Índice de Sustentabilidade Empresarial
(ISE) no Brasil, em 2005, iniciativa pioneira na América Latina, cuja
missão é apoiar os investidores na tomada de decisão de inves-
timentos socialmente responsáveis, além de induzir as empresas
a adotarem boas práticas de sustentabilidade empresarial
(ISEBVMF, 2016)49.
Originalmente financiado pela IFC (braço financeiro privado do Banco
Mundial), o ISE é uma ferramenta para análise comparativa da perfor-
mance das empresas listadas na Bolsa de valores brasileira sob o
aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econô-
mica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa.
Também fornece insumos para os investidores ampliarem seu
entendimento sobre empresas e grupos comprometidos com a
sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível
de compromisso com o desenvolvimento sustentável, equidade,
transparência e prestação de contas, natureza do produto, além
do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira,
social, ambiental e de mudanças climáticas.
A nova marca resultante da fusão entre a BMF&BOVESPA e a Cetip50,
a B3, lançou o programa “Relate ou Explique para os Objetivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS)”.
Em 24 de novembro de 2016, foi anunciada a mais recente compo-
sição da carteira ISE B3, vigorando de 2 de janeiro de 2017 a 5 de
janeiro de 2018. Trinta e oito ações de 34 companhias compõem a
carteira, representando 15 setores e somando R$ 1,31 trilhão em
valor de mercado, o equivalente a 52,14% dos valores negociados
pela Bolsa (B3, 2016)51.
49. ISEBVMF. O que é o ISE. 2016. Disponível em: <http://isebvmf.com.br/o-que-e-o-ise?locale=pt-br>. Acesso em: 25 de abr. 2017.50. Companhia de capital aberto de serviços de registro, central depositária, negociação e liquidação de ativos e títulos.51. BRASIL BOLSA BALCÃO. Empresas das carteiras do ISE. 2016. Disponível em: <http://indicadores.isebvmf.com.br/public/wallets >. Acesso em: 09 de mai. 2017.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
84
Quadro 3 - Lista de empresas que compõem a carteira ISE 2016/2017
CARTEIRA ISE 2016/2017
AES Tietê Cielo Embraer Light
B2W Copel Engie MRV
Banco do Brasil CPFL Fibria Natura
Bradesco Duratex Fleury Santander
Braskem Ecorodovias Itaúsa SulAmerica
BRF EDP Itaú Unibanco Telefônica
CCR Eletrobras Klabin TIM
Celesc Eletropaulo Lojas Americanas
Weg
Cemig Embraer Lojas Renner
Fonte: B3, 2016.
Desde a sua criação, a carteira se manteve, em média, com valor
de fechamento próximo dos USD$ 1.000,00, apresentando valores
inferiores nos dois primeiros anos de lançamento e nos anos de
crise financeira (2008 e 2015/2016).
85
MO
TIVA
DO
RES
DE
MU
DA
NÇAGráfico 2 – Desempenho da carteira ISE-B3 desde sua criação (2005)
0
200
400
600
800
1000
1200
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 (maio)
Valo
r de
Fech
amen
to e
m U
SD$
Ano
Variação Anual do Índice de Fechamento Carteira ISE-B3
Fonte: (BM&FBOVESPA, 2017)52.
A importância atribuída pelos investidores a esses índices é reflexo
da preocupação crescente dos atores econômicos, empresas, inves-
tidores, instituições financeiras e sociedade com a implantação de
um modelo de desenvolvimento sustentável.
Para poderem continuar participando desse processo, as empresas
listadas devem informar anualmente se elaboram os seus relató-
rios de sustentabilidade ou integrado, levando em conta os ODS.
A prática está em linha com o papel da B3, que visa desenvolver
e aperfeiçoar o mercado de capitais no País, ao incentivar as boas
práticas de transparência e de gestão entre as empresas listadas,
por meio de diversas estratégias (BMF&BOVESPA, 2016)53.
52. BM&FBOVESPA. Índice de sustentabilidade empresarial (ISE). 2017. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/produtos/indices/indices-de-sustentabilidade/indice-de-sustentabilidade-empresarial-ise-estatisticas-historicas.htm>. Acesso em: 15 de jun. 2017.53. BMF&BOVESPA. B3 lança a iniciativa “Relate ou Explique para os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). 2017. Disponível em: <http://www.bmfbovespa.com.br/pt_br/noticias/sustentabilidade-9.htm>. Acesso em: 25 de abr. 2017.
3
87
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
CONDIÇÕES DE CONTORNO Apresentados os motivadores de mudança mais diretamente
relacionados com os negócios e focados no mercado interno, é
necessário considerar que, para efetivamente induzir uma transfor-
mação, esses motivadores necessitam que estejam postas algumas
condições de contorno.
O cenário atual é extremamente delicado e demanda muita cautela
dos empreendedores para realizar os investimentos necessários.
Além disso, o contexto do mercado global, entre outros fatores,
pode ser um limitador relevante para que tais motivadores trans-
formem, em escala significativa, os padrões de desenvolvimento.
3.1 Contexto Econômico Nacional
A recente trajetória da economia nacional é marcada por cresci-
mento tímido, descontinuado e, nos últimos três anos, por uma
severa recessão. A média de crescimento entre 2001 e 2010 foi
de 3,6%, com pico de 7,4% (2010) e queda de 0,31% (2009).
Já entre 2011 e 2016, o crescimento médio foi de 0,3%, nova-
mente marcado por picos e vales (4% positivos em 2011 e 3,8%
negativos em 2015).
A título de comparação, as taxas médias de crescimento do PIB de
alguns países latino- americanos, no mesmo período (2011-2016),
foram, em ordem decrescente: Panamá, 8%; Bolívia, 5,3%; Paraguai,
4,9%; Peru, 4,7%; Colômbia, 4,5%; Uruguai, 4,3%; Equador, 4,2%;
Chile, 3,9%; México, 3,0%; Argentina, 2,3%; Venezuela, -1,2%.
A expressiva queda do produto nacional atesta a situação de estag-
nação ora enfrentada.
Esse contexto torna clara não apenas a necessidade de profundos
ajustes macroeconômicos, como também demonstra um ponto de
inflexão frente ao ambiente econômico e de competitividade atual.
3
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
88
São diversas as restrições e condicionalidades evidenciadas, que
devem ser devidamente analisadas e incorporadas às estratégias
empresarias e políticas públicas.
A primeira delas diz respeito ao papel do Governo Federal, que
deteve expressiva participação no crescimento da demanda interna
ao longo da última década. A manutenção dessa marcante atuação
por longo período se deu diretamente pela expansão do gasto
público e desonerações tributárias, além da injeção de recursos,
via bancos públicos. A inevitável contrapartida, entretanto, foi o
aumento das despesas públicas.
Em que pese o atual momento recessivo ter reduzido as receitas
tributárias, devido à queda na atividade econômica, a fonte prin-
cipal do desequilíbrio fiscal está ancorada no forte crescimento real
do gasto público dos últimos anos. Por sua vez, a estrutura das
contas públicas continua engessada, por conta dos altos gastos
públicos com transferências à previdência e pagamento de pessoal.
O impacto da crise fiscal nas empresas ocorre não apenas pela
retirada abrupta dos estímulos fiscais de demanda, que haviam
sustentado o crescimento no modelo anterior, como também pelo
impacto da instabilidade associada à trajetória da dívida pública.
A situação de endividamento repercute inclusive entre os entes
federativos – notadamente os municípios – que recebem cotas que
dependem, em grande parte, do desempenho do Governo Federal.
A situação se aproxima de um limite: ou ocorre a flexibilização e
repactuação das contas públicas ou então essa situação poderá levar
a uma indesejável ruptura. A superação dos gastos públicos frente
à capacidade de contribuição da sociedade torna difícil ao governo
controlar a trajetória crescente da dívida pública, o que, por sua vez,
deteriora a confiança dos agentes econômicos, que nutrem a expec-
tativa de solução do endividamento público pela via inflacionária.
89
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
Essa falta de confiança restringe ainda mais a efetividade da política
monetária no combate à inflação, exacerbando os custos da estabi-
lização da economia. Paga-se caro pelo remédio amargo dos juros
altos para contornar uma inflação notadamente de oferta. Em que
pese o ciclo de redução da taxa SELIC, iniciado em outubro de
201654, a taxa de juros real continua excessivamente alta – a queda
dos juros nominal foi praticamente compensada pela menor expec-
tativa inflacionária.
A política monetária segue restritiva, com o efeito prático de
provocar uma alta apropriação da poupança privada pela admi-
nistração pública. A consequência desse efeito, conhecido como
crowd-out, tem como resultado uma inexpressiva Formação Bruta
de Capital Fixo (FBCF, investimento estrutural na economia).
Enquanto, nos últimos 15 anos, a média de investimento do Brasil
em capital fixo foi inferior a 18% do PIB, a média dos países que
detêm alto crescimento vem sendo próxima de 27%, durante as
últimas três décadas55.
A trajetória de queda na FBCF não se deve exclusivamente à
restrição monetária, mas também a fatores como: a) ociosidade
elevada do parque industrial, aliada à deterioração do mercado de
trabalho; b) expectativas da indústria em baixa, quanto ao aumento
de demanda dos consumidores; c) situação debilitada das empresas,
com condições financeiras adversas, aliada à dificuldade de acesso
ao crédito; e d) turbulento ambiente político.
A elevação da taxa de investimento da economia é condição
indispensável à expansão da oferta e do crescimento sustentado.
A queda recente da poupança doméstica está na raiz da baixa
54. Estável em 14,25% ao ano desde julho de 2015, a taxa foi reduzida, entre agosto de 2016 a abril de 2017, para 11,25%.55. Segundo dados do Banco Mundial para 172 economias mundiais, os 20 países com maior crescimento real ao longo da primeira década do século 21, com média de 8,7% ao ano, apresentam taxas anuais médias de 27% de FBCF em relação ao PIB. Já as 20 economias mundiais que menos cresceram no mesmo período (média de 0,4% ao ano) investiram em média 19,6% de seus PIBs. De acordo com essa mesma base de dados, os 172 países cresceram 3,9% por ano em média, entre 2001 e 2010, tendo uma relação de FBCF do PIB de 22%. Dados disponíveis em: http://data.worldbank.org.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
90
taxa de investimento do país. O aumento, ainda que gradual,
da poupança doméstica – tanto pública como privada – é crucial
para assegurar o aumento da taxa de investimento sem pressionar
as contas externas, em um ambiente internacional de custo de
capital crescente.
Outra perversa interação ocorre entre os elevados juros e a moeda
nacional: diante dos juros reais elevados, ocorre a atração de
capitais externos especulativos. Ao desembarcarem no País em
busca de juros altos – e não de investimentos na economia real –
esses recursos adicionam volatilidade, ao se comportarem com base
em movimentos internacionais – como os (ainda) baixos retornos
da renda fixa nos mercados desenvolvidos. Essa situação deve ser
revertida devido às incertezas acerca da política econômica dos
Estados Unidos e à tendência protecionista por ela acarretada.
Eis que a situação externa ainda é favorável, devido a uma conjun-
tura específica: as exportações nacionais, com grande peso ao setor
agropecuário, vêm crescendo em volume, mais do que compen-
sando a queda nos preços das commodities. Ao se conjugar esse
fato com uma drástica queda nas importações nacionais, devido ao
ambiente recessivo dos últimos dois anos, criam-se as condições
para um tímido ajuste externo. Não obstante, a conjuntura inter-
nacional, a queda dos juros e a eventual retomada da demanda
interna deverão adicionar volatilidade ao câmbio.
O problema da baixa competitividade resulta de uma década sem
avanços na produtividade e da elevação de custos de produção e de
transação. Sem a contribuição externa, devido ao fim do ciclo favo-
rável dos preços de commodities e ao acirramento da competição
mundial, a melhoria da competitividade dos produtos brasileiros
torna-se crucial para alavancar um novo ciclo de expansão, pela via
das exportações. A perda de fôlego da demanda interna reforça a
importância da alternativa de crescimento, via mercado externo.
91
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
Faz-se necessário obter maiores avanços na agenda da competitivi-
dade e na agenda das negociações internacionais, para assegurar
a rentabilidade das exportações e destravar as estratégias empre-
sariais, contaminadas pela ausência de prioridade às exportações
no passado. Afinal, uma vez que se vislumbrem novas contrações
no preço das commodities, a conta nacional com o exterior poderá
mostrar rápida deterioração, pois a infraestrutura econômica
nacional permanece pouco competitiva.
A economia brasileira – que, no passado recente, cresceu alavancada
pelo consumo e pelo setor público – ainda não conseguiu substituir
o motor do crescimento em direção ao investimento privado e às
exportações. De um lado, entraves regulatórios ainda não solucio-
nados e a complexidade dos grandes projetos de infraestrutura;
de outro, a elevada ociosidade na indústria manufatureira, ambos
dificultando a retomada dos projetos de investimento.
Existem ainda restrições e condicionalidades quanto ao hiato no
desenvolvimento científico e tecnológico e obstáculos regulatórios
e fiscais aos investimentos produtivos.
Essas restrições devem ser enfrentadas de diversas formas. A
primeira delas é por meio de substantivos avanços rumo ao equi-
líbrio fiscal de longo prazo, a exemplo da imposição de meca-
nismos de controle do crescimento do gasto público, flexibilização
de gastos públicos e desindexação da economia, velhos gatilhos
inflacionários cada vez mais incompatíveis com uma economia que
anseia ser dinâmica e moderna56.
56. Exemplo contundente é o reajuste do salário mínimo, baseado na correção pela inflação anual medida pelo INPC e no crescimento do PIB. Em vez do suposto benefício ao trabalhador, ocorre o agravamento do atual quadro econômico recessivo. O setor privado, em especial as empresas de menor porte, não irão suportar consideráveis reajustes salariais com a economia em recessão. O resultado deverá ser mais dispensas de trabalhadores e fechamento de empresas. Tampouco o setor público, em especial municipalidades e a previdência e assistência social, conseguirá lidar com um reajuste dessa magnitude e, assim, terão seus déficits orçamentários aumentados. Uma alternativa seria conceder o reajuste de acordo com a expectativa da inflação futura (a meta de inflação pode ser esse parâmetro), de modo a favorecer a reversão das expectativas inflacionárias. A diferença entre o percentual de reajuste e a inflação observada seria objeto de discussão no ano seguinte.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
92
Entre os principais problemas da rigidez dos gastos públicos está
a questão previdenciária, cuja estrutura demanda reforma. As
regras atuais do regime previdenciário brasileiro, tanto no setor
privado, como no caso dos servidores públicos, são incompatíveis
com a dinâmica demográfica. Sem alterações profundas nas regras
de elegibilidade aos benefícios, o sistema não é sustentável. A
reforma é, portanto, imprescindível para evitar o volume crescente
de recursos necessários para financiar o déficit atual. A hipótese de
continuidade, claramente, não tem viabilidade macroeconômica.
As reformas devem ocorrer concomitantemente a avanços na
agenda da competitividade e de ações voltadas à normalização das
condições operacionais das empresas. O grande desafio está em
combinar o foco no ajuste fiscal com uma melhora na eficiência
microeconômica, fazendo com que a economia nacional migre para
um patamar de competitividade e preponderância do papel privado
sobre o crescimento. É preciso evitar atalhos e atuar sobre as causas
da deterioração da economia. Quanto mais se postergarem as ações
de correção, maiores serão os custos para a sociedade.
Sem avanços simultâneos nas duas agendas, não se constrói o
ambiente econômico de estímulo à produção, à elevação da produ-
tividade e ao investimento privado. Remover entraves que difi-
cultam a operação das empresas; dar eficiência e racionalidade à
regulação e burocracia; e definir marcos regulatórios, com clareza
e segurança jurídica, são agendas de menor complexidade e sem
custo fiscal, que devem ser agilizadas.
O comprometimento com avanços na agenda da competitividade
deve ser prioridade, mediante a adequação de custos de produção
ao crescimento da produtividade. Essa agenda inclui a retomada
das reformas estruturantes na esfera tributária, com simplificação e
redução de burocracia, na construção de mecanismos de financia-
mento de longo prazo, na modernização das relações de trabalho e
na redução do custo do investimento.
93
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
O roteiro para sair da crise e adentrar em ciclo virtuoso de cresci-
mento e investimento perpassa por:
• Recuperar o equilíbrio fiscal de longo prazo;
• Desenvolver ações que melhorem o ambiente de negócios;
• Modernizar as instituições e o sistema político;
• Atuar sobre a melhoria do ambiente macroeconômico e da
competitividade;
• Definir as prioridades de reformas;
• Fortalecer políticas que aumentem a produtividade;
• Consolidar as exportações como prioridade e evitar retrocessos;
• Consolidar iniciativas que atraiam a participação do setor
privado para a área de infraestrutura;
• Eliminar obstáculos regulatórios, que afetam os investimentos
e a operação das empresas.
Nota-se que o roteiro inclui a promoção de mecanismos de estímulo
à poupança privada e ao aumento da capacidade de investimento do
setor público, com o controle do crescimento dos gastos correntes.
Além disso, a estratégia de crescimento deve se apoiar no inves-
timento privado como motor da economia, por meio de reforço
institucional às agências reguladoras, retomada dos processos de
privatização, desregulamentação e incremento de parcerias públi-
co-privadas. A atenção com a agenda microeconômica é crucial
para a melhoria do ambiente de negócios e para a expansão dos
projetos privados de investimento.
A economia do alto crescimento exige a construção de um ambiente
institucional que combine Estado eficiente, credibilidade da política
econômica, regulação de qualidade e segurança jurídica. Perpassa,
inevitavelmente, pela concessão à iniciativa privada de papel mais
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
94
relevante no processo de conceber e de implementar projetos de
investimento, tanto em setores diretamente produtivos como em
setores de infraestrutura econômica.
O governo deve passar a coordenar o processo de desenvolvimento,
por meio de mecanismos de intervenção indireta e de planejamento
indicativo. A agenda da competitividade exige, além do maior rigor
institucional, a regulamentação da operação privada de setores
estratégicos (energia elétrica, telecomunicações, petróleo, recursos
hídricos) com vistas ao crescimento econômico, concomitante-
mente à busca pela sustentabilidade ambiental e equidade social.
A adaptação e modernização das instituições e a segurança e previ-
sibilidade das regras são o resultado dessa combinação, que gera um
ambiente propício ao investimento e à produção. A implementação
da economia de alto crescimento requer esse novo ambiente, que
traz sinergias claras com a gestão corporativa da sustentabilidade.
Enquanto o reequilíbrio macroeconômico sedimenta a confiança,
a agenda da competitividade reforça as perspectivas de lucrativi-
dade dos projetos e a agenda da sustentabilidade corporativa abre
mercados e gera eficiência produtiva. Nesse sentido, a sinergia
passa a ser chave para a retomada do investimento, condição indis-
pensável para o crescimento sustentado.
3.2 Investimento em modernização e adequação nacional
O contexto econômico deixa claro que o País avança rumo a um
novo modelo de desenvolvimento. É preciso evitar atalhos e atuar
sobre as causas da deterioração da economia. Quanto mais se
postergarem as ações de correção, maiores serão os custos para a
sociedade. A base para essa nova fase econômica deve ser formada,
concomitantemente, por profundo ajuste (e estabilidade) fiscal de
95
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
longo prazo e pelo aumento da produtividade e competitividade
da economia.
Entre as ações para que os primeiros e fundamentais passos sejam
dados rumo à saída da crise econômica atual, duas se materia-
lizam como oportunidades para a adoção da gestão corporativa
da sustentabilidade: a) acelerar o processo de concessões ao setor
privado na infraestrutura; e b) priorizar as exportações como motor
do crescimento (CNI, 2016)57.
É inegável a necessidade de se modernizar a infraestrutura nacional,
que abrange não apenas rodovias, ferrovias, portos e aeroportos,
mas inclui ainda sistemas de saneamento básico, soluções em
efluentes, controle de drenagem, disposições adequadas de
resíduos sólidos, aproveitamento de resíduos, geração de energia,
eficiência energética, entre outros.
Nessa direção, à medida que o Estado passa a realizar investi-
mentos e estabelecer mecanismos para a modernização da sua
infraestrutura, a primeira ação, de aceleração de concessões, passa
a ganhar força. Ao fazê-lo com responsabilidade fiscal e cumpri-
mento às metas impostas pelo próprio Estado, cria-se um ambiente
de negócios favorável e positivo que, em claro ciclo virtuoso, leva à
adoção da gestão corporativa da sustentabilidade.
O caso do saneamento materializa um exemplo de como a criação
de um ambiente de negócios positivo traz ganho para a sociedade,
para o meio ambiente e para a indústria. O Regime Especial de
Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico (Reisb),
sancionado pela Lei 13.329/2016, teve vetado o art. 54, alínea
“c”, que continha os pontos que operacionalizavam o regime de
renúncia fiscal.
57. As demais são: Garantir a sustentabilidade fiscal; assegurar a segurança jurídica nas relações de trabalho; ampliar o prazo de recolhimento de tributos; sustar, temporariamente, a imposição de novas obrigações acessórias às empresas e desenvolver programa de simplificação e redução da burocracia tributária; regularizar as condições de crédito às empresas.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
96
O impacto potencial calculado da renúncia fiscal, que ainda deman-
dará regulamentação pelo governo, atinge o montante de R$ 10,6
bilhões. Já os ganhos diretos e indiretos em arrecadação totaliza-
riam R$ 10,1 bilhões, abatendo a quase totalidade da renúncia58.
Ou seja, uma medida de cunho fiscal gera a oportunidade de
avançar rumo à maior cobertura de saneamento no País com custo
fiscal muito pequeno, concomitante à geração de externalidades
positivas para toda a sociedade.
Os investimentos decorrentes de tais incentivos tendem a promover
externalidades positivas em áreas diversas, notadamente em quali-
dade ambiental e saúde pública. Níveis adequados de saneamento
garantem redução de gastos com tratamento de doenças, elevam
a produtividade do trabalhador e geram negócios em uma signifi-
cativa cadeia de valor. Outro efeito positivo é a redução na neces-
sidade de manter vazões com o propósito de diluição de efluentes.
Esgoto tratado, por exemplo, tornaria as águas do rio Paraíba do
Sul disponíveis para abastecimento urbano e industrial.
Outro conjunto de externalidade positiva seria gerado por meio de
soluções, como a utilização de água de reuso como fonte alterna-
tiva, redução de perdas, reaproveitamento de lodo e geração de
energia nos sistemas de água e esgoto.
O incentivo ao setor – fiscal, creditício e por meio de concessões
à iniciativa privada – se faz urgente. Para tanto, um sistema regu-
latório eficiente é essencial, em especial com relação as políticas
tarifárias. Caso sejam mantidos os níveis recentes de investimento
no setor, a universalização dos serviços seria atingida apenas em
2052 – quase 20 anos de defasagem em relação à meta do Plano
Nacional de Saneamento Básico (Plansab).
58. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Impactos fiscais decorrentes do regime especial de incentivos para o desenvolvimento do saneamento. Brasília: CNI, 2017.
97
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
A CNI59 já identificou que a melhoria no planejamento setorial, por
meio do incentivo à cadeia de suprimento mais eficiente, multas
e penalidades ao desperdício, é parte da solução para a retomada
nos investimentos, benéficos a toda a sociedade.
Nesse contexto, uma maior participação do setor privado não se
faz apenas por meio do fornecimento de equipamentos e implan-
tação de infraestrutura para serviços públicos de água e esgoto.
Ao contrário, existe uma diferença significativa da qualidade dos
serviços de água e esgoto prestados por empresas privadas e
públicas, sendo que os municípios com prestadores privados obtêm
melhor desempenho.
Prestadores de serviço de água e esgoto privados, por exemplo,
respondem com mais eficiência às metas de redução de perdas na
rede de distribuição. O índice médio brasileiro de perdas físicas
é de 37% (SNIS, 2017), enquanto as perdas de faturamento
chegam a 35%.
Na bacia hidrográfica dos rios Piracicaba-Capivari-Jundiaí (PCJ),
palco da severa crise hídrica que gerou prejuízos e três mil demis-
sões em São Paulo, ao longo de 2014 e 2015, contabilizam-se nada
menos que 182 bilhões de litros de água por ano em perdas por
vazamentos, fraudes, roubos ou problemas de medição60.
Essas perdas acarretam demandas superiores de retirada dos cursos
d’água pelo setor de abastecimento, prioritário em relação aos
demais setores usuários. Em termos de oportunidades de sustenta-
bilidade, poucas superam o incentivo ao saneamento como poten-
cial gerador de externalidades positivas.
59. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA. Comparações internacionais: uma agenda de soluções para os desafios do saneamento brasileiro. Brasília: CNI, 201760. O número é de um levantamento divulgado pelo Movimento Menos Perdas, Mais Água – iniciativa criada pela Rede Brasil do Pacto Global da ONU. Volume desperdiçado seria suficiente para abastecer 2,7 milhões de pessoas. Disponível em: http://www.rebob.org.br/single-post/2017/06/22/182-bilh%C3%B5es-de-litros-d%E2%80%99%C3%A1gua-foram-perdidos-nas-bacias-do-Piracicaba-Capivari-e-Jundia%C3%AD-em-2015
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
98
Outro exemplo relativo à modernização da infraestrutura nacional
que acarreta em externalidades positivas (ambientais, sociais e
econômicas) se encontra no setor de transporte.
O atual modelo de intervenção do Estado no setor precisa ser
reestruturado, com o objetivo de aumentar a integração entre os
agentes intervenientes61 e viabilizar maior agilidade na execução
de projetos, melhor planejamento, aumento da intermodalidade,
gestão adequada dos recursos e uma definição mais precisa das
diretrizes para aumentar investimentos privados.
O fomento à multimodalidade e ao planejamento integrado permi-
tiria reduções expressivas de custos de transporte concomitantes aos
ganhos ambientais múltiplos, como a redução de emissão de gases
de efeito estufa (GEE) e de materiais particulados, além de impactos
indiretos sobre o uso do solo e outros cumulativos.
A integração da malha ferroviária nacional é outro exemplo de
grande potencial positivo ambiental: por meio da garantia do
direito de passagem e a possibilidade de atuação de operador ferro-
viário independente, esse modal passaria a deter participação mais
expressiva no transporte de cargas, ainda, realizado por rodovias.
Além de o setor ferroviário emitir menos GEE e material particulado
por unidade transportada, provoca menores efeitos negativos indi-
retos ao uso e ocupação do solo, em relação ao rodoviário.
No âmbito da política energética, a eventual facilitação da migração
de empresas para o mercado livre de energia elétrica fomentaria a
instalação de empreendimentos de geração de energia elétrica a partir
de fontes renováveis, o que resultaria em menores emissões de GEE.
A contratação direta de energia elétrica possibilita aos consumi-
dores industriais uma série de vantagens, tais como: ganhos de
61. Ministério dos Transportes e suas agências ANTT, ANTAQ, ANAC, DNIT, INFRAERO, Cias. Docas e as várias administrações hidroviárias.
99
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
eficiência na gestão do suprimento, contratos adaptados às carac-
terísticas do negócio e a possibilidade de modicidade de preços.
Os exemplos apontam searas nas quais o caminhar do País rumo à
modernização de sua infraestrutura produtiva gera oportunidades
de ganho compartilhado. A adoção da gestão corporativa da susten-
tabilidade por parte das empresas gera vantagem competitiva frente
às necessidades antevistas, assim como nos processos de compras
e licitações, executadas sob os princípios das compras sustentáveis.
3.3 Acordos Internacionais e Mercado Externo
Outra importante condição de contorno são as regras e padrões
oriundos dos acordos multilaterais, ou mesmo das práticas do
comércio internacional. Especificamente para a área de meio
ambiente, as Conferências das Partes sobre clima, biodiversidade e
desertificação têm influência sobre as políticas públicas e os padrões
de regulação domésticos 62.
Este item será focado nas questões ambientais relacionadas
ao comércio internacional, área que, apesar de ter sido pouco
explorada nos debates sobre sustentabilidade, apresenta relação
direta com a competitividade dos negócios sustentáveis. O tema
das barreiras técnicas e os procedimentos e critérios para solução
de contenciosos, associados a regras ou exigências de padrões
de sustentabilidade ao comércio internacional, demanda análise
cuidadosa e profunda.
Acordos internacionais relacionados à gestão corporativa da susten-
tabilidade afetam de forma crescente o mercado. O presente item
perpassa pelas motivações de mudança trazidas pelas declarações
ambientais, pelos acordos internacionais e pela incorporação da
62. Tendo em vista que um item específico foi dedicado à regulação, esse não será o foco deste item.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
100
indústria na Agenda positiva, em consonância com o que foi ratifi-
cado pós Rio+20.
O que fica claro é que existe um importante caminho a ser trilhado
para uma aproximação mais efetiva do debate sobre comércio
internacional e sustentabilidade.
Essa aproximação é essencial para que os instrumentos de regulação
do comércio internacional, quando aplicados aos temas da susten-
tabilidade, gerem maior efetividade em termos de conservação
e uso eficiente dos recursos naturais e ecossistemas e bem-estar
social, sem, todavia, gerar distorções limitadores do fluxo global de
comércio de bens e serviços.
3.4 Requisitos ambientais e sociais para o comércio internacional
Aqui será explorado o nicho das Barreiras Técnicas, que podem
influenciar a competitividade da indústria brasileira nos próximos
anos. Serão apresentadas algumas definições e estatísticas sobre o
estágio de implementação dos requisitos ambientais e sociais para
o comércio internacional, segundo dados da Organização Mundial do
Comércio (OMC) e demais fontes que realizam esse monitoramento.
Como descrito, barreiras técnicas são motivadores para que
empresas invistam na gestão coorporativa da sustentabilidade, de
modo a identificar as oportunidades de gerar vantagem competi-
tiva, entre as quais se destacam o marketing positivo e o acesso
a consumidores exigentes quanto às práticas socioambientais das
empresas e respectivas cadeias de valor. O acesso a mercados inter-
nacionais exigentes, com regulamentação específica, soma-se a
esses fatores.
No cenário de acesso a terceiros mercados, é importante ressaltar a
existência de regras e normas nos países de destino, que podem ser
101
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
restritivas à entrada de bens, serviços e investimentos. Os condicio-
nantes podem variar, desde um determinado padrão de qualidade
até questões quantitativas e de origem desses bens e serviços.
De forma geral, medidas ou práticas que restringem o acesso de
bens e serviços a um mercado são definidas como Barreiras, que
podem ser de natureza comercial – quando agem sobre a circu-
lação de bens e serviços – ou de investimentos, quando agem sobre
a entrada de capital estrangeiro.
Com relação às Barreiras Comerciais, vale destacar duas principais
formas de implementação. Primeiro, a aplicação de tarifas (barreiras
tarifárias), encarecendo o valor final de bens e serviços e favore-
cendo comercialmente a produção interna; segundo, a exigência
de condicionantes para acesso ao mercado, o que não envolve a
aplicação direta de tarifas (barreiras não tarifárias), mas impede o
acesso de fornecedores fora desses padrões.
Embora não haja uma metodologia consolidada para a classificação
de mecanismos de barreira, foram utilizadas tipologias utilizadas
por organismos internacionais, tais como OMC e a Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).
A figura 9 apresenta os principais tipos de Barreiras Comerciais e
aos Investimentos, atualmente praticadas.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
102
Figura 9 - Principais tipos de Barreiras Comerciais e aos Investimentos
BARREIRAS COMERCIAIS BARREIRAS DE INVESTIMENTO
TARIFÁRIAS NÃO TARIFÁRIAS Exemplos
Imposto de importação Restrições quantitativas Restrição total de acesso
Imposto de exportação Procedimentos aduaneiros Conteúdo local
Quotas tarifárias importação Regulamentos técnicos Transferência de tecnologia
Quotas tarifárias de exportaçãoMedidas sanitárias e fitossanitárias
Padrões privados
Serviços
Subsídios
Propriedade intelectual
Compras governamentais
Regras de origem
Tributação interna
Controle de preços
Outras
Fonte: CNI, 2017.
Considerando o papel da gestão coorporativa da sustentabilidade no
ganho de competitividade e sua relação com o comércio internacional,
é importante destacar as Barreiras Técnicas, que contemplam exigên-
cias estabelecidas para produtos ou serviços no mercado-alvo, que
podem envolver questões ambientais e de gestão da sustentabilidade.
Segundo a Organização Mundial do Comércio63 64existem atualmente
22.281 normas para o comércio, caracterizadas como Barreiras
Técnicas. Dessas, 2.629 estão em vigor e são aplicáveis a todos os
seus membros, sendo que 535 mencionam aspectos ambientais.
63. WORLD TRADE ORGANIZATION – WTO. Integrated trade intelligence portal. 2012. Disponível em: <http://i-tip.wto.org/goods/Forms/GraphView.aspx?period=q&scale=ln>. Acesso em: 26 jul. 2017.64. I-TIP Goods provides comprehensive information on non-tariff measures (NTMs) applied by WTO members in merchandise trade. The information includes members’ notifications of NTMs as well as information on “specific trade concerns” raised by members at WTO committee meetings. Its aim is to serve the needs of those seeking detailed information on trade policy measures as well as those looking for summary information. It includes links to the WTO’s extensive tariff and trade databases, and to DocsOnLine system.
4 13
103
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
Os quadros abaixo apresentam o quantitativo total de normas
comunicadas à OMC (iniciadas e em vigor) e os montantes de restri-
ções às negociações com base em aspectos ambientais, tanto por
país (quadro 6) como por tipologia de produtos (quadro 7).
Quadro 4 - Dez países com maior quantidade de Medidas não tarifárias notificadas à OMC
PAÍSTOTAL DE BARREIRAS
TÉCNICAS
BARREIRAS COM ASPECTOS
AMBIENTAIS RELACIONADOS
Estados Unidos da América 1482 79
União Europeia 1071 64
China 1187 45
Tailândia 601 32
Quênia 547 22
Chile 465 22
Canadá 650 21
México 537 21
Fonte: Elaborado com base em WTO, 2017.
Quadro 5 –Medidas Não tarifárias notificadas à OMC por tipo de produtos
PRODUTOTOTAL DE
BARREIRAS TÉCNICAS
BARREIRAS COM ASPECTOS
AMBIENTAIS RELACIONADOS
Outros 11229 228
Máquinas e equipamentos elétricos
3849 168
Produtos das indústrias química e aliada
2313 100
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
104
PRODUTOTOTAL DE
BARREIRAS TÉCNICAS
BARREIRAS COM ASPECTOS
AMBIENTAIS RELACIONADOS
Resinas, plásticos e artigos; borracha e artigos
1911 58
Metais comuns e artigos 1337 46
Artigos manufaturados diversos
1458 43
Produtos minerais 1105 39
Veículos, aeronaves e embarcações
1152 37
Artigos de pedra, gesso; produtos de cerâmica; vidro
1203 33
Instrumentos, relógios, gravadores e reprodutores
1293 25
Produtos alimentares preparados; bebidas, bebidas alcoólicas, vinagre; tabaco
2930 23
Produtos vegetais 1890 22
Animais e produtos vivos 1239 19
Madeira, cortiça e artigos; 359 17
Gorduras, óleos e ceras animais e vegetais
577 16
Têxteis e artigos 422 14
Papel, cartão e artigos 182 9
Peles e artigos; talheres e viagens
76 4
Calçado, chapelaria; penas e flores artificiais
189 3
Armas e munições 46 2
Obras de arte e antiguidades 22 2
Pérolas, pedras preciosas e metais; moeda
36 1
Total 2281 535
Fonte: Elaborado com base em WTO, 2017.
105
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
Para entender como essas normas podem impactar na competi-
tividade da indústria nacional frente ao mercado internacional, é
importante se fazer uma correlação entre esses números com os
principais mercados compradores do Brasil.
De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior
e Serviços (MIDC, 2017), os principais mercados compradores do
Brasil, no primeiro semestre de 2017, foram: China (R$ 27bi),
Estados Unidos (R$ 13 bi), Argentina (R$ 8 bi), Holanda (R$ 4 bi)
e Chile (R$ 2 bi). Em termos de blocos econômicos, os principais
mercados foram a Ásia (R$ 41 bi), Europa (R$ 20 bi), América do Sul
(R$17 bi) e América do Norte (R$ 16 bi).
Verifica-se, então, que os principais mercados consumidores do
Brasil, tanto em termos de países, como de blocos, são também
aqueles com a maior quantidade de Barreiras Técnicas, que
abordam, de alguma forma, aspectos ambientais.
Com relação aos produtos mais impactados, embora nossa balança
comercial tenha forte direcionamento para a exportação de
commodities, é importante que os setores destacados no quadro 7
mantenham atenção quanto a essas restrições, para estarem
preparados para oportunidades no mercado internacional.
Entretanto, pela grande quantidade de normas existentes, o
monitoramento das Barreiras Técnicas ao Comércio não é simples.
Destacam-se, nesse sentido, o banco de dados da OMC e o Alerta
Exportador da OMC, que vêm dando uma contribuição importante
em termos de informações ao exportador.
Nesses casos, uma solicitação da regulamentação técnica referente
ao produto em questão e ao país de interesse pode ser encami-
nhada pelo exportador para análise de exigências pelo Instituto de
Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro).
O Inmetro é o Ponto Focal de Barreiras Técnicas no Brasil, tendo
como atribuições acumular, gerenciar, articular e disseminar o
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
106
conhecimento sobre barreiras técnicas às exportações. Caso o
empresário detecte algum regulamento técnico, considerado não
transparente ou exacerbado para o produto a ser exportado, é
fundamental acionar as organizações de representação setorial
para buscar apoio na contestação. A partir dessa comunicação, é
realizada uma análise da questão e, em última instância, a questão
pode ser levada ao Órgão de Soluções de Controvérsias da OMC.
É importante destacar que o Acordo sobre Barreiras Técnicas ao
Comércio (TBT) da OMC reconhece o direito a seus países membros
de implementar medidas para alcançar objetivos legítimos de suas
políticas, em áreas como saúde pública, segurança e proteção ao
meio ambiente.
Ao mesmo tempo, o acordo visa criar um ambiente previsível para
o comércio internacional, de modo a garantir que as exigências não
configurem discriminação comercial e protecionismo.
Por fim, ressalte-se que Acordo TBT encoraja os países-membros a
basear suas medidas em padrões internacionais, de forma a facilitar
o comércio e promover a transparência65.
Portanto, a investigação de requisitos necessários ao acesso de
mercados internacionais e a adoção de padrões internacionais para
a cadeia de produção constituem movimentos estratégicos para a
indústria nacional.
Nesse contexto, barreiras comerciais, em geral, e barreiras técnicas,
em particular, são essenciais para a competividade dos produtos
nacionais nos mercados globais. Estar atentos às regulamentações
técnicas para acesso dos produtos a terceiros países será, sem
dúvida, uma estratégia de diferenciação.
65.Exemplos de padrões privados internacionais e o uso de declarações ambientais no mercado interno brasileiro foram apresentados no item 2.4.1 - Declarações Ambientais e Padrões Privados dessa publicação.
107
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
Declarações Ambientais
Outro aspecto importante, com relação às oportunidades e restri-
ções de acesso a mercados, diz respeito às declarações, rotulagens
e certificações de práticas socioambientais e o uso de selos para
atestar aspectos correlatos em bens e serviços.
A noção de “desempenho ambiental” está associada à caracte-
rização, quantitativa ou qualitativa, dos aspectos ou impactos
ambientais significativos, considerando todas as etapas do ciclo de
vida de um produto, processo ou serviço.
A necessidade de se avaliar o desempenho ambiental de produtos,
aliada ao interesse na padronização de procedimentos, foram razões
para a criação do conjunto de normas da série ISO 14000. Destacam-se
os grupos de normas 14020 e 14040, o primeiro dedicado às rotulagens
ambientais e o segundo voltado à Avaliação de Ciclo de Vida (ACV).
A norma ISO classifica as rotulagens ambientais em três tipos:
• Rotulagem ambiental do Tipo I – ABNT NBR ISO 14024:2010
– Rótulos e declarações ambientais – Rotulagem ambiental
do tipo I – Princípios e procedimentos: a norma estabelece
os princípios e procedimentos para o desenvolvimento de
programas de rotulagem ambiental, incluindo a seleção de
categorias de produtos, criterios ambientais e características
funcionais dos produtos, bem como para avaliar e demonstrar
sua conformidade; estabelece, tambem, procedimentos de
certificação para a concessão do rótulo;
• Rotulagem ambiental do Tipo II – ABNT NBR ISO
14021:2013 – Rótulos e declarações ambientais –
Autodeclarações ambientais: a norma especifica os requisitos
para autodeclarações ambientais, incluindo textos, símbolos
e gráficos, no que se refere aos produtos; descreve ainda
termos selecionados, usados comumente em declarações
ambientais, e fornece qualificações para seu uso; apresenta
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
108
uma metodologia de avaliação e verificação geral para
autodeclarações ambientais e metodos específicos de avaliação
e verificação para as declarações selecionadas na norma;
• Rotulagem ambiental do Tipo III – ABNT NBR ISO
14025:2015 – Rótulos e declarações ambientais – Declarações
ambientais de Tipo III – Princípios e procedimentos; a norma
ABNT NBR ISO 14020 define que esta rotulagem deve utilizar
as informações de ACV de um produto, conforme a ABNT
NBR ISO 14040; a metodologia para a concessão de um rótulo
deste tipo está preconizada na norma ABNT NBR ISO 14025,
de caráter voluntário e com verificação independente.
Estima-se que, em 2010, mais de 600 selos verdes ou com atri-
butos de sustentabilidade foram utilizados em produtos disponíveis
no mercado brasileiro, em sua maioria empregados pelas próprias
empresas (Tipo II da ABNT NBR ISO 1402) (VIALLI, 2010)66. Tal fato
mostra a força das práticas ambientalmente adequadas como ferra-
menta de marketing para as empresas.
Outro exemplo dessa tendência foi a criação, em 2015, de uma
seção exclusiva para produtos líderes em sustentabilidade pelo site
de compras do WallMart (new sustainability leader section) para o
mercado norte americano (HEPLER, 2015)67.
Porém, além da estratégia de marketing, vale destacar que a adoção
de determinadas certificações, além de atrair consumidores cons-
cientes, pode abrir mercados e posicionar as empresas certificadas,
frente a competidores e investidores do mercado internacional.
O mercado europeu, por exemplo, mantém controle restrito sobre a origem
florestal dos produtos madeireiros que adquire, sendo o selo FSC (Forestry
Stewardship Council) requisito básico para acesso a esse mercado.
66. VIALLI, A. Selos verdes confundem consumidor. O Estado de São Paulo. 2010. Disponível em: <http://www.estadao.com.br/noticias/geral,selos-verdes-confundem-consumidor-imp-,580855>. Acesso em: 01 jun. 2017.67. HEPLER, L. How Walmart’s green label aims to drive supplier ‘race to the top. 2015. Disponível em: <https://www.greenbiz.com/article/inside-walmarts-new-plan-scale-supply-chain-transparency>. Acesso em: 02 jun. 2017
109
CON
DIÇ
ÕES
DE
CON
TOR
NO
Algumas das principais certificações de Tipo I presentes no mercado são:
Rainsforest Alliance Certified Indica o respeito ao produtor agrícola e à biodiversidade local.
FSCAvalia empreendimentos florestais sobre questões ambientais, econômicas e sociais.
Selo ProcelIdentifica produtos com menor consumo energetico.
EcoCertTraz múltiplas certificações sobre culturas orgânicas.
Selo VerdeCriado pela ABNT, atesta produtos ambientalmente amigáveis.
LeedAvalia padrões de sustentabilidade para a construção civil.
Diversas empresas nacionais e internacionais que atuam no Brasil
têm buscado a certificação da Associação Internacional de Soja
Responsável (RTRS – Round Table on Responsible Soy), criada
para atender à demanda por produtos certificados na Europa e à
produção brasileira. O selo considera o desmatamento zero como
elemento essencial para o produtor receber a certificação. Em 2016,
a RTRS certificou a produção de mais de 3 milhões de toneladas de
soja, sendo o Brasil responsável por 72% desse volume.
O crescente conjunto de declarações ambientais, selos e certificados
indica que o acesso a diversos mercados passa a ser condicionado,
conformando-se modificações que, se antevistas, poderão conceder
às empresas vantagens competitivas e acessos a novos mercados.
4
111
TEN
DÊN
CIA
S, O
POR
TUN
IDA
DES
E D
ESA
FIO
STENDÊNCIAS, OPORTUNIDADES E DESAFIOSEsta parte final do documento traz um olhar para o futuro. Sem
se propor a fazer uma análise exaustiva, esse item visa contribuir
para que empreendedores, empresários e formuladores de políticas
possam repensar o desenho de suas estratégias e de seus planeja-
mentos, à luz dos desafios da sustentabilidade. O avanço tecnoló-
gico, sua velocidade e as transformações/rupturas terão inevitáveis
repercussões na forma de produzir e de consumir, em uma socie-
dade cada vez mais conectada e informada.
O momento econômico é restritivo ao investimento, e a necessi-
dade de criação de confiança como matéria-prima básica para o
diálogo construtivo, na busca de soluções viáveis e duradouras, será
essencial. Do ponto de vista social, será relevante reconhecer que a
solução dos problemas relacionados às desigualdades, migrações e
violência, entre outros, não ficarão restritos ao debate de políticas
públicas e exigirão o envolvimento dos setores produtivos.
Nesse contexto, produtos e processos que proporcionem menor
pressão sobre o ambiente configuram uma tendência, para a qual
o pensamento sistêmico, ao longo do ciclo de vida dos produtos,
poderá aportar uma valiosa contribuição. A Indústria 4.0 e a pers-
pectiva de economia circular associada aos negócios já ocupam
espaço na agenda das grandes corporações e de algumas empresas
de vanguarda, de pequeno e médio porte.
Esse contexto exigirá novos e mais complexos modelos de negócios, que
promovam ganhos de competividade, associados a contribuições com
soluções para enfrentamento dos desafios do conjunto das sociedades.
Também é relevante reconhecer que as particularidades regionais desem-
penharão um papel importante, não podendo se esperar um padrão
ou ritmo único para as inovações e transformações. Nesse aspecto, a
questão cultural será relevante para compreender essas nuances, bem
como os desafios e oportunidades decorrentes.
4
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
112
4.1 Competitividade e novos negócios
Conforme explicitado, vários são os motivadores que apontam
para a materialização dos diferenciais competitivos, decorrentes da
gestão corporativa da sustentabilidade. Para as indústrias, os novos
padrões podem privilegiar a redução de materiais e custos, bem
como a abertura de novos mercados, com base em cadeias de
valor e de transformação cada vez mais globais e com mais requi-
sitos de sustentabilidade.
Em levantamento sobre o tema, por meio de entrevistas com oito
multinacionais, o WRI (World Resources Institute) ressalta que a
austeridade econômica global tem intensificado a necessidade
de reduzir os custos em toda a cadeia de valores. O reflexo dessa
conjuntura se reflete em programas de economia de consumo de
recursos naturais e de energia. Quanto mais são levados ao limite,
mais ganho potencial existe para as empresas que fazem uso
eficiente e inteligente dos recursos naturais. (PERERA; DEL PINO;
OLIVEIRA, 2013)68.
Um exemplo de ganho de competitividade se dá pela redução de
volumes em embalagens, o que aumenta a eficiência de armaze-
namento, reduz custos com transporte e, concomitantemente,
diminui a emissão de gases de efeito estufa. Outra medida similar
é a promoção de produtos mais eficientes quanto ao transporte
e armazenamento, como o sabão líquido para roupas, em detri-
mento ao sabão em pó. Produtos concentrados geram economia
ao consumidor, garantem mercado aos fabricantes e evitam custos
ambientais e econômicos.
Inovações em embalagens visando à redução na geração de
resíduos, no consumo de energia e nos custos para o consumidor
já ocorrem com frequência. Embalagens retornáveis de bebidas
68. PERERA, A.; DEL PINO, S.P.; OLIVEIRA, B. Aligning profit and environmental sustainability: stories from industry. Washington, World Resources Institute. 2013. Disponível em: <http://www.wri.org/publication/aligning-profit-and-environmental-sustainabilitystories-from-industry>. Acesso em: 9 mai. 2017.
113
TEN
DÊN
CIA
S, O
POR
TUN
IDA
DES
E D
ESA
FIO
S voltaram a ser tendência, evitando a geração de milhões de tone-
ladas de resíduos. Esse processo pode resultar em uma economia
de 35% em energia, conforme referido pela Associação Brasileira
da Indústria de Alimentos.
Nas empresas de papel e celulose, existe a gestão rigorosa dos
resíduos sólidos gerados por suas atividades, tanto florestais quanto
industriais. Na atividade florestal, 99,7% dos resíduos sólidos – prin-
cipalmente, cascos, galhos e folhas – são mantidos no campo como
proteção e adubação do solo. Já na indústria, 66% dos resíduos são
destinados à geração de energia. Além disso, 24,6% dos resíduos
– principalmente resultantes da produção de serrados (cavacos e
serragem) e aparas de papel – são reutilizados como matéria-prima
por empresas do setor de árvores plantadas. Outros resíduos –
como a lama de cal e a cinza de caldeira, que representam 5,8%
do total – são reutilizados por outros setores industriais para, por
exemplo, a produção de cimento e de óleo combustível reciclado.
Outra importante vertente é o design de produtos e processos
voltados à menor pressão sobre o ambiente, decorrente da adoção
do pensamento sistêmico ao longo do ciclo de vida de produtos,
que confere inúmeras oportunidades de economia de custo
(ambiental, social e econômico). O setor de alimentos apresenta
exemplos inovadores. Empresas de embalagens alimentícias já
adotam a metodologia Design for Environment (DfE), considerada
desde o início do processo produtivo, passando pelo uso/consumo
e descarte, além da pressão sobre o ambiente de embalagens e
máquinas de associados.
Ao adotar a visão sistêmica, além dos ganhos de eficiência, criam-se
condições para uma melhor prevenção de ocorrência de fatores
que interfiram nos resultados e na continuidade dos negócios. O
gerenciamento desses riscos, a partir da produção e/ou captura de
informações sobre o negócio, a cadeia de valor e os ambientes
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
114
onde estão os elos estratégicos será um caminho sem retorno para
empresários vencedores.
Desse modo, a gestão do risco ambiental passa a ser cada vez
mais crucial para as indústrias e uma tendência na relação do setor
produtivo com o mercado financeiro.
Além disso, essa abordagem traz consigo um conjunto de potenciais
atuações inovadoras para a indústria, que podem tornar-se oportu-
nidades de negócios para empreendedores. O ambiente regulatório
mais restritivo abre oportunidades para conceber produtos indus-
triais diferenciados, capazes de permitir que empresas atendam às
normas sem prejudicar sua competitividade.
O aproveitamento econômico de resíduos, por exemplo, gera nova
demanda por máquinas, equipamentos e embalagens. O desenvol-
vimento de uma economia de baixo carbono é uma oportunidade
de negócio para indústrias inovadoras, que ofereçam soluções
que contribuam com as empresas na redução de GEE. Tecnologias
eficientes e inovadoras de extração e processamento da biodi-
versidade permitem materializar o uso sustentável desse recurso,
contribuindo com a manutenção de serviços ecossistêmicos.
As mudanças climáticas apresentam, também, impactos e riscos para
operações centrais das indústrias e para a cadeia de valor na qual as
operações estão inseridas. Para isso, o conhecimento dos impactos
provenientes das mudanças climáticas e o gerenciamento dos riscos
possibilita ao empresário o adequar seus processos e tomar decisões
sobre gerenciamento de riscos de forma mais estruturada.
Também a escassez de recursos naturais traz oportunidades. Indús-
trias que fazem reuso de esgotos tratados são menos suscetíveis
aos racionamentos no fornecimento de água durante episódios
de restrição hídrica, que tendem a ser mais comuns. Ademais, a
tendência é de apreciação dos preços da cobrança pela água e das
tarifas das Companhias de Saneamento. A gestão eficiente desse
115
TEN
DÊN
CIA
S, O
POR
TUN
IDA
DES
E D
ESA
FIO
S insumo evita, assim, custos, além de promover eficiência produtiva.
Por outro lado, cria um mercado importante para investidores e
empreendedores, que tenham interesse em produzir água de reuso.
O Projeto Aquapolo, uma Sociedade de Propósito Específico que
envolve a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São
Paulo – SABESP e a BRK Ambiental69 trata os efluentes secundários
da ETE ABC e produz água industrial de alta qualidade, destinada,
principalmente, às torres de resfriamento do Polo Petroquímico de
Capuava (SP). Com capacidade de 1,0 m3/s, o Projeto opera com
vazão de 0,65 m3/s, suficiente para abastecer uma cidade de 300 a
400 mil habitantes.
Aumentar a escala de iniciativas como essa é uma tendência. No
Brasil, atualmente, são utilizados aproximadamente 1,5 m3/s ano
de efluente sanitário tratado para produção de água de reuso. O
potencial estimado pelo Ministério das Cidades de produção de
água de reuso, no curto/médio prazo, é de 10 a 20 m3/s, o que
reduz o risco aos negócios pelos usuários de água, abrindo oportu-
nidades significativas para investidores e produtores.
O setor financeiro também começou a se preparar para fomentar
“empresas de impacto”, que tendem a ocupar espaço significa-
tivo em novos mercados e aumentar sua capacidade de agregar
valor, por meio de iniciativas que promovam o desenvolvimento
sustentável. Fazer parte da solução é ganhar acesso a mercados
mais exigentes com maior potencial de agregação de valor, estar
à frente da concorrência e alinhado à regulamentação, além de
apresentar diferencial perante o consumidor.
Concomitante às oportunidades citadas, a geração de valor à marca é
um dos destaques da gestão corporativa da sustentabilidade. Em meio
a mercados cada vez mais competitivos, a diferenciação deve ocorrer
de forma orgânica, por meio de práticas concretas e com respaldo na
69. Maior empresa privada de saneamento do País, com participação do Fundo de Investimento do FGTS, que iniciou sua operação em novembro de 2012.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
116
cadeia de produção. De acordo com as multinacionais citadas pelo
WRI (op. cit), parte do impulso frente ao desenvolvimento sustentável
se dá em resposta às alterações nas preferências dos consumidores –
especialmente de clientes, de empresa para empresa.
Outra tendência importante vem da bioeconomia, que avança com
amplas oportunidades para inovações. O uso da biotecnologia para
produção de medicamentos, cosméticos e alimentos ganha escala
e vai se consolidando no Brasil. Indo além, já é possível produzir
plástico com matéria-prima renovável (cana-de-açúcar), o chamado
“plástico verde”. Na mesma linha, a indústria tem investido na
produção e pesquisa em biocombustíveis (etanol 1G e 2G, biodiesel
e bioquerosene), como alternativas aos combustíveis fósseis.
Uma iniciativa notável, no sentido de revelar os valores econômicos
associados à natureza, é a publicação “A economia dos ecossis-
temas e da biodiversidade” (TEEB, na sigla em inglês), idealizada
pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA)
com o objetivo de atrair a atenção internacional para os benefícios
da biodiversidade, destacando, em termos econômicos, os valores
associados à conservação dos ecossistemas. A lógica é que, quando
se analisa o valor de externalidades, torna-se possível desenhar
melhor os sistemas de gestão para minimizar as iniciativas nega-
tivas e potencializar as positivas.
No Brasil, a primeira iniciativa TEEB foi implementada pela Conser-
vação Internacional (CI-Brasil) com o apoio da Confederação
Nacional da Indústria (CNI) e do Centro de Monitoramento da
Conservação Mundial do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ambiente (UNEP-WCMC, na sigla em inglês), contando ainda com o
patrocínio de grandes empresas nacionais. O objetivo do projeto foi
“identificar e ressaltar os benefícios econômicos oriundos da biodi-
versidade e serviços ecossistêmicos brasileiros, avaliando os custos
crescentes de sua perda, bem como as oportunidades geradas pela
sua conservação e uso sustentável”.
117
TEN
DÊN
CIA
S, O
POR
TUN
IDA
DES
E D
ESA
FIO
S Na mesma linha, buscando avançar no engajamento do setor empre-
sarial na incorporação dos valores da biodiversidade e dos serviços
ecossistêmicos à gestão corporativa, a CNI trabalha, desde 2012,
em parceria com o Ministério do Meio Ambiente no projeto TEEB
Regional Local. Empresas de setores e portes diversos que visam
conhecer suas externalidades fizeram o exercício de valorar serviços
de provisão de água, polinização, provisão de frutos ou regulação
do clima global. A partir dos resultados, tais empresas identificaram
sua dependência desses serviços e as oportunidades para reavaliar
sua forma de fazer gestão, adequando aspectos socioambientais e
compreendendo riscos mapeados e oportunidades associadas.
Os exemplos indicam que a capacidade de se antecipar, decorrente
da adoção de práticas de gestão ambiental, é fundamental aos
negócios. Novos mercados e geração de valor compartilhado justo
pela abordagem de uma questão ambiental ou social sob pressu-
postos capitalistas geram soluções de mercado que ganham escala
rapidamente e, com lucratividade, se autossustentam.
Além de poupar recursos financeiros e ambientais, há ganhos
de competitividade na conservação de serviços ecossistêmicos,
críticos a um determinado processo produtivo. Para uma indús-
tria que demanda insumos vinculados aos recursos naturais e
ecossistemas, a manutenção dos ciclos naturais é fundamental
para a garantia de fornecimento, podendo inclusive ser vantagem
em relação a competidores, cujo fornecimento é impactado pela
degradação ambiental.
Fica claro que, seja qual for a tendência de mercado e em termos
tecnológicos, conhecer e quantificar a relação dos processos produ-
tivos com as partes interessadas e recursos naturais e ecossistemas
estará na agenda. Essa informação demandará um conjunto de
profissionais bem formados e com uma visão sistêmica sobre os
processos de produção, que não se restrinjam a perceber econo-
mias de eficiência nos processos de produção (chão de fábrica),
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
118
mas também oportunidades de geração de valor na conservação
dos recursos naturais e ecossistemas e na qualificação da relação
com as partes interessadas.
4.2 Eco-competitividade e sinergias
Complementando a visão, a eco-competitividade nasce do conceito
de que um conjunto de atividades industriais pode manter entre si
volumes expressivos de insumos interdependentes.
Seja em complexos industriais de distintas tipologias, seja por via
da integração de processos de uma mesma indústria, a eco-com-
petitividade constitui uma dimensão industrial que a) condiciona
o desenvolvimento e o crescimento de indústrias tecnicamente
ligadas; e b) promove uma polarização técnica, mediante a utili-
zação de mecanismos para minimizar perdas, tanto em termos de
mercado de fatores como de demanda final, viabilizando-se, assim,
a aplicação da Ecologia Industrial.
Sua contribuição e tradução para o nível empresarial projetam padrões
de competitividade enquanto modelo de negócio, uma vez que:
• Provocam a conversão das cadeias produtivas em sistemas de
cooperação estratégica, potencializada em planejamento
de cadeias industriais ordenadas;
• Incluem adição de valor econômico e mercadológico,
minimizando-se a subtração de valores ambientais.
O principal impulso da Ecologia Industrial se concentra na interco-
nexão dos processos de produção, de modo a convergir a um ponto
em que as emissões, efluentes e resíduos tendam a zero.
Utiliza, assim, o ecossistema como benchmarking e a integração da
diversidade industrial pensada em termos de um sistema fechado,
119
TEN
DÊN
CIA
S, O
POR
TUN
IDA
DES
E D
ESA
FIO
S no qual os fluxos internos em complementaridade de processos
produtivos sejam preponderantes sobre os externos.
Sua aplicação considera os seguintes vetores:
• Complementaridade máxima entre os processos produtivos;
• Compromisso de geração rumo ao zero de resíduos, efluentes
e emissões;
• Consumo otimizado de utilidades.
O sistema fechado que impulsiona o “rumo ao zero” para o ciclo
de gerações (resíduos, efluentes, emissões), provoca a adoção de
novas tecnologias, reduzindo competitivamente custos de insumos,
processos e tratamento de resíduos.
Propõe a eco-eficiência, espelhando a utilização máxima dos
recursos, com “eco-vantagens” contraindo a estrutura de custos
ambientais e minimizando sua internalização no custo dos produtos.
Possibilita ainda a criação de vantagens competitivas, nas áreas
tecnológicas, produtivas, mercadológica e econômica, fundamen-
talmente baseadas na premissa de maior retorno com a mesma
quantidade de insumos e recursos financeiros.
Internacionalmente, a Ecologia Industrial já se traduz, de forma
prática e empreendedora, nos Eco Industrial Parks, condomínios
cujos fluxos de matéria e energia se integram por meio da adoção
de tecnologias disponíveis e, não por acaso, encontram rentabi-
lidade superior no desempenho empresarial70. No Brasil, merece
destaque o Programa Mineiro de Simbiose Industrial que identi-
ficou mais de 280 possíveis sinergias, o que significa centenas de
empresas em negociação. Os resultados iniciais mostram que a
simbiose industrial tem o potencial de reduzir significativamente
os resíduos industriais e mitigar os impactos ambientais adversos,
70. Estudo Arcadis de referência sobre Ecologia Industrial, realizado com inputs das universidades Holandesas TU Delft e Leiden (Eco-Industrial Parks Worldwide, 2008), identificando um universo de 178 potenciais Eco-Industrial Parks, convergindo em diferentes estágios para operação sob EI.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
120
enquanto as empresas lucram e desenvolvem novos mecanismos
econômicos. Seguem, alguns resultados alcançados no Programa:
• 317 empresas participantes;
• 139.793 toneladas de resíduos desviados de aterros;
• 194.815 toneladas de redução no uso de matérias primas virgens;
• 87.476 toneladas de redução das emissões de carbono;
• 13.650.000 m3 de águas reutilizadas;
• 8.768.683 de redução de custos para as empresas.
Embora o conceito de Eco Industrial Park tenha suas origens na
Europa (mais precisamente em Kalundborg, na Dinamarca), sua
adoção está sendo massificada pelos países asiáticos de rápido
crescimento, como Taiwan, Coréia do Sul e Hong Kong (Tudor,
Adam & Bates, 2007)71.
Mais recentemente, a Índia tem apresentado resultados contundentes,
relativos às vantagens geradas pela sinergia industrial para pequenas
e médias indústrias. Em uma aplicação com 14 PME em Andhra
Pradesh, na região de Hyderabad, registrou-se economia de energia
elétrica (836 MWh), carvão (2,804 ton), resíduos perigosos (300 ton.),
água (1,82 milhões de litros) e de materiais (economia agregada de
aproximadamente R$ 1 milhão, ou 20 milhões de rupias)72.
71. TUDOR, T.; ADAM, E.; BATES, M. Drivers and limitations for the successful development and functioning of EIPs (eco-industrial parks): A literature review. Ecological economics. v. 61, n. 2, p. 199-207, 2007.72. GIZ. Eco-industrial parks Andhra Pradesh. Disponível em: https://www.giz.de/en/downloads/giz2012-eco-industrial-parks-andhra-pradesh-india-en.pdf
123
CON
SID
ERA
ÇÕES
FIN
AISCONSIDERAÇÕES FINAIS
Inquestionavelmente não é possível prever o futuro. Nosso desafio
é observar o presente, aprender com o passado e identificar as
tendências firmes e as oportunidades e riscos associados às proba-
bilidades de rupturas. Análises acuradas fazem com que as lógicas
produtivas decorrentes sejam construtoras de futuro – não simples-
mente passivas – frente às tendências direcionadas pelo acaso.
O Brasil está fazendo um grande ajuste de contas com o passado.
O desenho de nosso acerto com o futuro não deve se restringir ao
chão de fábrica e à lógica linear clássica dos processos produtivos.
Uma nova e dramática revolução industrial bate à nossa porta,
em um contexto de severos desafios sociais e ambientais. Nesse
sentido, as saídas têm que ser coordenadas e orientadas para um
propósito, que evite a criação de novos passivos, sociais e ambien-
tais, a serem acertados no futuro.
A digitalização da manufatura, a rastreabilidade dos processos,
a computação em nuvem e a robótica colaborativa, entre outros
processos que são a base da Indústria 4.0, integram o mundo real e
o digital, constituindo-se em ferramentas essenciais para a susten-
tabilidade. Assumir essa perspectiva como direcionares de inicia-
tivas e políticas de inovação e educação é uma oportunidade de
construir um futuro mais equilibrado.
Essa nova revolução industrial vai envolver o redesenho do chão
de fábrica, das cadeias de suprimento e da logística, bem como
o encurtamento dos prazos de lançamento de novos produtos
no mercado, a maior flexibilidade das linhas de produção, com
aumento da produtividade e da eficiência no uso de recursos
(como, por exemplo, energia, água e outros insumos de recursos
naturais) e, até mesmo, a capacidade de as empresas se integrarem
em cadeias globais de valor. Há estimativas de que, até 2025,
processos relacionados à Indústria 4.0 possam reduzir o consumo
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
124
de energia entre 10% e 20%, promovendo ganhos extraordinários
de produtividade, redução de emissões, além de permitir a custo-
mização da produção.
A manufatura aditiva, a Internet das coisas e a inteligência artifi-
cial potencializam tudo isso e deveriam ser orientadas às soluções
integradoras, nas quais práticas sustentáveis se viabilizem, via agre-
gação de valor.
Essas mudanças têm potencial para transformar as atividades
econômicas e impactar a estrutura de emprego, os requisitos de
qualificação profissional, a dinâmica de gestão dos estoques de
recursos naturais e a conservação dos ecossistemas.
Ainda há muito o que fazer para que o Brasil se torne de fato
competitivo frente a outros países, cujas empresas vêm internali-
zando essa transformação com grande rapidez. Embora a revolução
da indústria 4.0 esteja basicamente ligada a tecnologias, físicas e
virtuais, os benefícios inerentes têm um alcance muito maior.
Adotar a Agenda 2030 e os ODSs e suas métricas como direciona-
dores de processos de inovação e de educação será um salto grande
para que o País mantenha seu diferencial comparativo, em termos
de oferta de recursos naturais e conservação de ecossistemas.
Esse é um passo essencial para que os processos de agregação
de valor a partir dos insumos da natureza, associados aos demais
elementos da nova revolução industrial, possam trazer vantagens
competitivas sustentáveis.
127
APÊ
ND
ICE
A –
EXEM
PLO
S D
E A
ÇÕES
DA
IND
ÚST
RIA
BR
ASI
LEIR
A PA
RA
O A
LCA
NCE
DO
S O
BJET
IVO
S D
E D
ESEN
VO
LVIM
ENTO
SU
STEN
TÁV
ELAPÊNDICE A – EXEMPLOS DE AÇÕES DA INDÚSTRIA BRASILEIRA PARA O ALCANCE DOS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVELA efetiva inclusão da sustentabilidade na produção já é uma reali-
dade para o setor industrial. Diversas empresas vêm identificando,
desenvolvendo e investindo em iniciativas alinhadas aos ODS e suas
metas. Esse processo molda novas estratégias corporativas. Tais
práticas são vistas como instrumento de inovação e competitivi-
dade e tornam-se comuns nos mais diversos setores industriais.
A identificação de exemplos é meramente ilustrativa, pois não se fez
uma pesquisa exaustiva sobre o tema. O que se pretende mostrar
é que o setor industrial já adere à lógica dos ODS e que muitas
ações desenvolvidas podem ser redesenhadas, visando a uma
contribuição mais efetiva para a agenda 2030. Entretanto, existem
muitos desafios a serem enfrentados pelo setor industrial. Mobilizar
o setor para se engajar nesse processo global é uma das iniciativas
da CNI como representante do setor na Comissão Nacional dos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, instituída no âmbito da
Presidência da República.
ODS 4: EducaçãoPlataforma Educativa: Educação para o Desenvolvimento Sustentável de Comunidades Litorâneas - REPSOL SINOPEC
O projeto Plataforma Educativa atua, desde 2009, como mediador
e indutor de benefícios socioeconômicos sustentáveis para comuni-
dades litorâneas de São Paulo e Rio de Janeiro, oferecendo cursos
de qualificação profissional envolvendo uma rede de parceiros e
agregando os interesses de diferentes partes interessadas.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
128
As comunidades pesqueiras, que têm na pesca artesanal um de seus
principais meios de subsistência, recebem cursos de capacitação
voltados à gestão de resíduos no mar, processamento de pescados,
pescador profissional e outros. Por meio de parcerias estratégicas, a
Plataforma Educativa também oferece atividades complementares
aos assuntos relacionados às atividades profissionais do pescador
com palestras sobre: “Legalização de embarcações e provas de
habilitação arrais amador e mestre amador”, “Legislação ambiental
sobre pesca” e de interesse comum como “Preservação ambiental”,
orientações sobre saúde e condutas de risco, aferição de pressão
e medição de diabetes. Mais de 12 mil pessoas em 18 cidades da
costa brasileira já foram beneficiadas.
ODS 4: EducaçãoPrograma SENAI de Educação a Distância (PSEAD)
O Programa SENAI de Educação a Distância (PSEAD) visa imple-
mentar soluções inovadoras na oferta de cursos a distância, que
permitam aumentar o número de matrículas em cursos de Educação
Profissional. Para alavancar o crescimento da quantidade de matrí-
culas em educação a distância, são desenvolvidos diferentes cursos
técnicos voltados para qualificações profissionais.
Os cursos oferecidos incluem temas transversais, que desen-
volvem capacidades para a iniciação no mundo do trabalho
ou, no caso de quem já está trabalhando, para a atualização
das competências profissionais. Os temas disponíveis atual-
mente são: Educação Ambiental, Empreendedorismo, Legislação
Trabalhista, Segurança do Trabalho, Tecnologia da Informação e
Comunicação e Propriedade Intelectual. Mais de um milhão de
matrículas, nos cursos a distância de competências transversais,
já foram registradas.
129
APÊ
ND
ICE
A –
EXEM
PLO
S D
E A
ÇÕES
DA
IND
ÚST
RIA
BR
ASI
LEIR
A PA
RA
O A
LCA
NCE
DO
S O
BJET
IVO
S D
E D
ESEN
VO
LVIM
ENTO
SU
STEN
TÁV
ELODS 6: Água Limpa e Saneamento
Programa Inova Talentos: Estação Móvel de Tratamento de Água
Com o apoio do Programa Inova Talentos , a empresa Lics Super
Água desenvolveu a Estação Móvel de Tratamento de Água (ETA
Móvel) – um conjunto de equipamentos para sucção, bombea-
mento, desinfecção microbiológica e aplicação de flúor em águas
de superfície, como córregos, rios, represas, açudes e cisternas.
A água tratada, adequada para consumo humano, pode também
ser utilizada na produção animal e industrial. A nova tecnologia
pode ser levada por reboque aos mais variados pontos, inclusive em
casos de calamidade pública. O sistema não depende de energia
elétrica para funcionar, sendo necessários somente sete minutos
para que água captada se torne potável. A ETA Móvel tem forte
apelo social, pois é capaz de aumentar a qualidade da água para
o consumo humano e produção dos alimentos de origem animal,
em condições sanitárias ideais. Com isso, contribui para a melhoria
dos indicadores de saúde, para o desenvolvimento econômico e
sustentável e para a inclusão social.
ODS 6: Água Limpa e Saneamento
Manual de Gestão Eficiente de Recursos Hídricos
A Associação Brasileira da Indústria Química - Abiquim, por meio
do GT Água, promove debates e propõe ações de melhoria para a
gestão de recursos hídricos pelas empresas do setor, visando ao uso
racional da água e à sustentabilidade dos negócios. Um dos resul-
tados do trabalho foi o lançamento do Manual de Gestão Eficiente
de Recursos Hídricos, direcionado a empresas de pequeno e médio
porte, com o objetivo de disseminar boas práticas de gestão da
água e de sustentabilidade. O documento apresenta informações
sobre o cenário da disponibilidade hídrica no Brasil, as demandas
de diferentes segmentos pelo recurso e o desempenho da indústria
química. Além disso, explica como uma empresa pode identificar
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
130
oportunidades de melhoria em sua gestão de recursos hídricos e
como sistemas de reuso interno industrial de água podem ser imple-
mentados. Com casos de sucesso de indústrias químicas ilustrando
o documento, o Manual apresenta ainda as diferentes tecnologias
disponíveis para o tratamento de água.
ODS 7: Energia Acessível e LimpaBusiness to Society: Contribuição para o Desenvolvimento Sustentável
Conforme descrito no relatório Business to Society, a empresa
Siemens tem, entre seus objetivos, apoiar o país de modo a impul-
sionar sua economia, gerar empregos e qualificação local e inovar.
Seus produtos incluem soluções para eletrificação dos transportes,
redes inteligentes de distribuição de energia, digitalização da
indústria e da área de saúde, que possam contribuir com a redução
de gases de efeito estufa, eficiência energética e redução no uso de
materiais. As turbinas para geração de energia a partir de biomassa
e eólica ajudaram os clientes da empresa a reduzir 3 milhões de
toneladas de carbono por ano. Internamente, a companhia também
tem investido em tecnologias para reduzir as emissões: em 2016,
as operações da Siemens no Brasil reduziram 32% das emissões,
em comparação a 2014.
ODS 8 - Emprego Digno e Crescimento econômico Programa Apoio à Gestão Pública - Votorantim
O Programa Apoio à Gestão Pública é uma parceria entre governo,
empresa, organismo internacional e ONG, além de mobilizar
academia e sociedade do município de Sobral/CE. Foi criado com o
objetivo de fortalecer a capacidade do poder público como agente
de desenvolvimento. A responsabilidade pelo financiamento do
projeto é compartilhada entre a empresa e o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Como resultado
desse processo colaborativo, foi lançado o Plano de Visão Sobral
131
APÊ
ND
ICE
A –
EXEM
PLO
S D
E A
ÇÕES
DA
IND
ÚST
RIA
BR
ASI
LEIR
A PA
RA
O A
LCA
NCE
DO
S O
BJET
IVO
S D
E D
ESEN
VO
LVIM
ENTO
SU
STEN
TÁV
ELde Futuro, que estabelece estratégias e metas para direcionar a
evolução da cidade nos próximos 30 anos em temas como cresci-
mento econômico, valorização das tradições locais, saneamento,
gestão de resíduos, ocupação do solo, mobilidade e equipamentos
de lazer, entre outros.
ODS 8: Emprego Digno e Crescimento Econômico e ODS 12: Consumo e Produção ResponsáveisProposta do Setor Industrial de Modelagem do Sistema para a Logística Reversa dos Resíduos Têxteis
Visando incentivar a reciclagem e a reutilização de materiais – e
assim promover a responsabilidade compartilhada e a logística
reversa – a Associação Brasileira da Indústria Têxtil trabalha em
parceria com a prefeitura do município de São Paulo no projeto
“Retalho Fashion” (Proposta do Setor Industrial de Modelagem do
Sistema para a Logística Reversa dos Resíduos Têxteis). Esse projeto
visa à organização da coleta, triagem e venda de resíduos têxteis,
provenientes de confecções instaladas em dois dos principais polos
de produção e comercialização de vestuário do país. O Retalho
Fashion busca criar condições socialmente justas de trabalho
e restabelecer as condições de limpeza, além de agregar valor a
um material atualmente tratado como rejeito e, por conseguinte,
enviado aos aterros sanitários. Além de apoiar na manutenção do
meio ambiente saudável, o projeto promove geração de renda com
ocupação qualificada e gera valor econômico ao que hoje é consi-
derado rejeito.
ODS 8: Emprego Digno e Crescimento Econômico
Atuação Responsável® - Segurança do trabalho
Seguindo as exigências do Programa Atuação Responsável®,
compromisso com a sustentabilidade do setor químico, a indústria
química tem investido na qualificação rigorosa de prestadores de
serviço, na equiparação das condições adequadas de trabalho e nos
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
132
investimentos em capacitação. Some-se a isso a implementação de
políticas de saúde e segurança, com foco na prevenção de acidentes,
cada vez mais integradas aos sistemas de governança das empresas.
O resultado tem sido uma grande redução na taxa de Frequência de
Acidentes com Afastamento, tanto nos funcionários das empresas
como nos contratados. O resultado desses esforços chama atenção:
em 10 anos (entre 2001 e 2010), o número de acidentes ocupacionais
totais por empresas foi reduzido em 54%. Isoladamente, a redução
nos índices de acidentes com trabalhadores contratados alcançou
62%. A análise do desempenho na gestão da segurança ocupacional
das associadas à Abiquim, no período entre 2001 e 2010, confirma
seu esforço em prevenir acidentes e, caso esses aconteçam, terem a
menor gravidade possível. Os números reportados mostram que
a maior parte das empresas atingiu níveis comparáveis aos melhores
padrões internacionais do setor, quando comparados aos dados
reportados ao Conselho Internacional das Associações da Indústria
Química – ICCA pelas associações nacionais que possuem programas
de Atuação Responsável® (Responsible Care®).
Caso InterCement
Um exemplo interessante veio do Instituto InterCement, criado com
o objetivo de definir estratégias, criar metodologias e implementar
o investimento social privado da empresa. As ações visam fortalecer
os vínculos comunitários, valorizar ativos locais, articular parceiros
e formar redes de colaboração, de modo a criar um ambiente favo-
rável e participativo em prol do desenvolvimento sustentável e da
autonomia das comunidades. Os investimentos são focados em três
áreas de atuação: Desenvolvimento Comunitário, em parceria com
a sociedade e o poder público, buscando gerar oportunidades de
desenvolvimento mais equânimes; Negócios de Impacto, que apoia
o dinamismo da economia local, envolvendo os pequenos negócios
nas cadeias de valor; e Empresa Comunidade, que investe na
133
APÊ
ND
ICE
A –
EXEM
PLO
S D
E A
ÇÕES
DA
IND
ÚST
RIA
BR
ASI
LEIR
A PA
RA
O A
LCA
NCE
DO
S O
BJET
IVO
S D
E D
ESEN
VO
LVIM
ENTO
SU
STEN
TÁV
ELconstrução de metodologias e ferramentas para apoiar as empresas
no seu diálogo com as partes interessadas.
ODS 9: Indústria, Inovação e InfraestruturaTecnologia que Mede a Sensibilidade: Queiroz Galvão Exploração e Produção (QGEP)
O projeto de Pesquisa e Desenvolvimento JAPI foi realizado entre
2011 e 2014, em parceria entre a empresa e universidades. Essa
cooperação resultou em 22 mapas, que hierarquizam os diversos
tipos de contorno de costa – manguezais, praias, margens de rios e
outros – dos municípios de Canavieiras, Una e Belmonte, conforme
o grau de sensibilidade de cada tipo de contorno costeiro a poten-
ciais derrames de óleo. Os mapas foram idealizados de maneira a
correlacionar as épocas do ano e as influências de maré, aos graus
de maior ou menor sensibilidade de cada ambiente. O projeto
inovou ao inserir, além dos elementos geralmente considerados
na elaboração de mapas de sensibilidade ambiental, a variável
temporal, incluindo as variações de correntes, ventos e vazões dos
rios, conforme as estações do ano e as horas de maré. O material
foi disponibilizado para as comunidades locais, como ferramental
importante para a conservação local.
ODS 9: Indústria, Inovação e InfraestruturaIPD Eletron - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico do Complexo Eletroeletrônico e Tecnologia da Informação
Com o intuito de fortalecer a pesquisa científica, melhorar as
capacidades tecnológicas e promover o desenvolvimento tecno-
lógico e a inovação nas empresas do setor, a Associação Brasileira
da Indústria de Eletroeletrônicos criou o IPD Eletron. O Instituto
estimula a pesquisa, desenvolvimento e inovação por meio de
parcerias entre empresas e institutos de ciência e tecnologia, que
contribuem com políticas públicas estruturadas para as áreas de
ciência, tecnologia e inovação, aprimorando a gestão da inovação
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
134
nas empresas, além de apoiar a captação de recursos à inovação
para compartilhamento do risco tecnológico.
ODS 9: Indústria, Inovação e InfraestruturaImersões em Ecossistemas de Inovação
A iniciativa do Instituto Euvaldo Loidi (IEL) integra a agenda de
Inserção Global via Inovação e viabiliza arranjos público-privados
em ciência, tecnologia e inovação. Dessa forma, incentiva parcerias
entre empresas brasileiras e centros de pesquisa, desenvolvimento
e inovação, que atuam na fronteira do conhecimento. O programa
consiste em alinhamento conceitual e visitas téncias, considerando
um tema relevante para a competitividade da indústria. Entre os temas
desenvolvidos, inclui-se inovação e manufatura avançada, em função
dos grandes impactos que a digitalização dos processos produtivos
pelo uso de sistemas cyber-físicos e a mudança de paradigma da
produção podem gerar para a economia brasileira. Um importante
desdobramento da iniciativa foi a estruturação do Programa de
Aceleração em Inovação e Manufatura Avançada. O fortalecimento
de elos entre diversos atores em diferentes ecossistemas de inovação
também deve ser considerado como um resultado.
ODS 9: Indústira, Inovação e InfraestruturaPolímeros Biodegradáveis
Os polímeros, matéria-prima derivada do petróleo, estão presentes
em uma gama de produtos, que vão desde sacolas plásticas, roupas
e utensílios domésticos até tubulações. Visando promover substi-
tutos ao polímero mais sustentáveis, o Instituto SENAI de Inovação
em Engenharia de Polímeros, em São Leopoldo, RS, trabalhou em
parceria com o IELpara desenvolver tecnologia própria de produção
de polímeros biodegradáveis a partir de fontes renováveis.
O Programa Inova Talentos do IEL permitiu o desenvolvimento
de competência nessa área tecnológica, resultando na obtenção
135
APÊ
ND
ICE
A –
EXEM
PLO
S D
E A
ÇÕES
DA
IND
ÚST
RIA
BR
ASI
LEIR
A PA
RA
O A
LCA
NCE
DO
S O
BJET
IVO
S D
E D
ESEN
VO
LVIM
ENTO
SU
STEN
TÁV
ELde filmes de polímeros biodegradáveis, a partir da síntese de insumos
da biomassa, material até então inovador para o mercado nacional.
Por meio de projetos de inovação em parceria com empresas indus-
triais, o Instituto de Engenharia de Polímeros passa a oferecer e
incrementar a tecnologia desenvolvida.
ODS 12: Consumo e Produção ResponsáveisGreen Eletron - Gestora para Logística Reversa de Eletroeletrônicos
O setor de eletroeletrônicos enfrenta o desafio de criar alternativas
estruturadas para destinação de seus produtos, cujo consumo é
crescente, após sua vida útil. Para atender à demanda e à legislação
brasileira de resíduos sólidos, a Associação Brasileira da Indústria
de Eletroeletrônicos criou, em 2016, a Green Eletron, cujo objetivo
central é estruturar, implantar e gerenciar um Sistema Coletivo de
Logística Reversa de Equipamentos Eletroeletrônicos. Esse sistema
permite maior eficiência nos esforços e custos das empresas, que
compartilham a infraestrutura criada e podem, juntas, adotar estra-
tégias de comunicação, padronizar e otimizar procedimentos. A
GREEN Eletron deve contribuir para integração da logística reversa
nas ações de política industrial do setor eletroeletrônico, além
de promover a economia circular, visando à geração de valor e à
redução de custos a suas associadas.
ODS 12: Produção e Consumo ResponsáveisBrasil Mais Produtivo
Criado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o
programa Brasil Mais Produtivo objetiva aumentar a produtividade
de pequenas e médias indústrias em, no mínimo, 20%, por meio de
consultoria especializada na implementação da Manufatura Enxuta
(Lean Manufacturing) – filosofia de gestão que visa à redução ou
eliminação dos desperdícios (superprodução, tempo de espera,
transporte, excesso de processamento, inventário, movimento e
defeitos) gerados pelo processo produtivo, para o aumento de sua
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
136
eficiência. Trata-se de mais uma iniciativa que visa ao aumento da
produtividade por meio da inovação incremental.
ODS 13: Ação Contra a Mudança Global do ClimaIniciativa de Petróleo e Gás sobre o Clima – OGCI (Oil and Gas Climate Initiative)
A Iniciativa de petróleo e gás sobre o clima é liderada por CEOs,
que visam mostrar a liderança do setor na resposta às mudanças
climáticas. A OGCI é composta por 10 empresas de petróleo e gás,
que colaboram em ações para reduzir as emissões de gases de
efeito estufa. Os membros da OGCI respondem por mais de um
quinto da produção global de petróleo e gás e mais de 10% do
suprimento de energia. A missão da OGCI é usar recursos coletivos
para acelerar ações que mitiguem as emissões de gases de efeito
estufa das operações do setor de petróleo e gás e o uso de seus
produtos, enquanto ainda atendem às necessidades energéticas
mundiais. Entre as ações do grupo está a formação da OGCI Climate
Investiments, que pretende investir US$1 bilhão na próxima década
para acelerar o desenvolvimento de tecnologias inovadoras que,
uma vez comercializadas, têm o potencial de reduzir as emissões de
gases de efeito estufa em uma escala significativa.
ODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do ClimaIndústria de Cimento
Na busca por soluções para redução das emissões de CO2 pelo
setor, a indústria do cimento trabalha com inovações nos processos,
como o aumento do uso de adições e substitutos de clínquer73,
substituição de combustíveis fósseis por alternativos que tenham
menor fator de emissão, de modo a possibilitar o incremento da
eficiência térmica e elétrica da indústria.
73. Escória de fornos siderúrgicos; produto da calcinação de calcário e argila, como matéria-prima para cimento após moagem.
137
APÊ
ND
ICE
A –
EXEM
PLO
S D
E A
ÇÕES
DA
IND
ÚST
RIA
BR
ASI
LEIR
A PA
RA
O A
LCA
NCE
DO
S O
BJET
IVO
S D
E D
ESEN
VO
LVIM
ENTO
SU
STEN
TÁV
ELODS 15: Vida Terrestre
Caso Votorantim
Fruto da cooperação entre empresa, Sociedade Brasileira de Espe-
leologia e a Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, foi desenvolvido
o Guia de Boas Práticas Ambientais na Mineração, tendo como
foco práticas socioambientais que contribuam para a proteção de
cavernas no bioma Mata Atlântica. O Guia considera o ciclo de vida
da mineração, com ênfase nas áreas cársticas74, e visa fomentar
e compartilhar ações mitigadoras dos impactos na biodiversidade
local. A cooperação entre as instituições conta ainda com projetos
de gestão territorial sustentável e de conservação de nascentes.
74. Tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, que leva ao aparecimento de uma série de características físicas, tais como cavernas, dolinas, vale seco vale cegos, entre outros.
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
138
APÊNDICE B - INCENTIVOS PARA A GESTÃO CORPORATIVA DA SUSTENTABILIDADE: FONTES DE FINANCIAMENTO E INCENTIVOS
Rever planos de negócios e definir ações de gestão com foco
em sustentabilidade é claramente uma estratégia de competi-
tividade e via de contribuição para o desenvolvimento susten-
tável do País75. Colocar em prática essas medidas depende de
investimentos em diversas áreas. Neste anexo, são apresentados
exemplos de fontes de financiamento e incentivos para a gestão
corporativa de sustentabilidade.
No que se refere a recursos de governo, além de linhas de crédito
próprias, algumas instituições de fomento são responsáveis pela
gestão de fundos estaduais e nacionais legalmente estabelecidos e
com foco em diferentes áreas: recursos hídricos, mudanças climá-
ticas e biodiversidade. Tais recursos, em alguns casos, podem ser
destinados ao setor industrial.
O quadro 1 apresenta informações consolidadas a respeito das
linhas de financiamento e programas oferecidos por instituições do
Sistema Nacional de Fomento (SNF), formado por 30 instituições,
entre elas o BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Sebrae
e Agências e Bancos de Desenvolvimento Regionais e Estaduais76.
O BNDES oferece uma gama abrangente de linhas de financiamento.
Existe uma maior oferta de crédito para projetos de geração de energia
por fontes renováveis, sobretudo a solar, e de aumento da eficiência
energética. Também se pode observar foco em financiamento de
conservação e preservação, redução de desmatamento, etc.
75. Informação sobre esse posicionamento acessível em < http://www.portaldaindustria.com.br/cni/areas-de-atuacao/meio-ambiente-e-sustentabilidade/#sthash.3qS8RKD6.dpuf>.76. Para mais informações, ver: <http://www.abde.org.br/ABDEOque.aspx>.
139
APÊ
ND
ICE
B - I
NCE
NTI
VO
S PA
RA
A GE
STÃ
O C
OR
POR
ATIV
A D
A SU
STEN
TABI
LID
AD
E: F
ON
TES
DE
FIN
AN
CIA
MEN
TO E
INCE
NTI
VO
S
Quadro 1 - Informações sobre fontes de financiamento do Sistema Nacional de Fomento (SNF)
INSTITUIÇÃO DO SNF
PROGRAMA / LINHA DE CRÉDITO
ESCOPO
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES
Programa Fundo Clima – Fundo Nacional sobre Mudança do Clima
Projetos e investimentos relacionados à redução de emissões de gases do efeito estufa e à adaptação às mudanças do clima
BNDES Fundo Social
Projetos coletivos de caráter social em áreas como geração de emprego e renda, saúde, educação, meio ambiente e/ou vinculadas ao desenvolvimento regional e social
BNDES Finem - Eficiência Energética
Projetos para eficiência energética de edificações e geração distribuída, incluindo cogeração, para unidades novas ou já existentes (retrofit)
BNDES Finem - Saneamento ambiental e recursos hídricos
Projetos de saneamento ambiental, incluindo efluentes e resíduos industriais, recuperação de áreas degradadas, desenvolvimento institucional e despoluição de bacias
BNDES Finem - Geração de energia
Projetos de geração de energia elétrica, a partir de fontes renováveis e termelétricas a gás natural em ciclo combinado
BNDES Finem - Recuperação e Conservação de Ecossistemas e Biodiversidade
Manutenção e recuperação dos ecossistemas e biodiversidade, para conservação, adequação à legislação ambiental e uso dos recursos naturais, incluindo a conservação e recuperação de áreas degradadas ou convertidas, inclusive Áreas de Preservação Permanente e Reservas Legais
BNDES Finem - Investimentos sociais de empresas (linha ISE)
Projetos de investimentos e programas sociais, que contribuam para a articulação e o fortalecimento de políticas públicas
Fundo Amazônia
Projetos que contribuam, direta ou indiretamente, para a redução das emissões de GEE provenientes do desmatamento e da degradação florestal, por meio de ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal
Fundo de Energia Sustentável
Climate Bonds Partner Fund – Investimento em debêntures incentivadas, cujos recursos das emissões sejam utilizados para financiar ou refinanciar projetos e ativos, alinhados à infraestrutura de baixo carbono.
Restauração Ecológica
Financiamento de atividades de restauração ecológica nas modalidades:- Reembolsável: são financiadas empresas e proprietários rurais.- Não reembolsável: direcionado a instituições sem fins lucrativos, que implementem a restauração em unidades de conservação públicas, áreas de preservação permanente, reservas legais em assentamentos rurais, terras indígenas e Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN).
BNDES Finem - Outras linhas de financiamento
- Recuperação de passivos ambientais - Produtos ou processos produtivos, que utilizem insumos provenientes de fontes renováveis como matérias-primas, ou que possuam um menor impacto socioambiental - Planejamento e Gestão Ambiental - Florestas plantadas para fins industriais/econômicos - Biocombustíveis convencionais ou de primeira geração - Redução do uso de recursos naturais e materiais
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
140
INSTITUIÇÃO DO SNF
PROGRAMA / LINHA DE CRÉDITO
ESCOPO
Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDES
BRDE PCS – Produção e Consumo Sustentável
Estruturado em subprogramas:- Energias Limpas e Renováveis - Energia - Uso Racional e Eficiente da Água - Gestão de Resíduos e Reciclagem - Agronegócio Sustentável
PROGRAMA ABC - Plantio de Florestas
Projetos de implantação, manutenção e manejo de florestas comerciais, inclusive aquelas destinadas à recomposição de reserva legal ou de áreas de preservação permanente.
BRDE EnergiaProjetos e investimentos na produção de energia renovável e Projetos de aumento de eficiência energética
Banco de Desenvolvimento do Espirito Santo - Bandes
FUNDAPSOCIALMicro e pequenas empresas, microempreendedores e Projetos sociais e culturais
Programa Barragens
Barragem, em conjunto com outros investimentos, na propriedade, destinado a produtores rurais
Programa Reflorestar
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), para auxiliar na aquisição de insumos, visando ao plantio de novas áreas com florestas
Banco do Nordeste do Brasil - BNB
FNE VERDE - Programa de Financiamento à Sustentabilidade Ambiental
Projetos que estimulem a preservação, conservação, controle e/ou recuperação do meio ambiente
FNE SOL - Programa de Financiamento à Micro e à Minigeração Distribuída de Energia Elétrica
Sistemas de micro e minigeração distribuída de energia por fontes renováveis
FNE ÁGUA - Programa de Financiamento à Projetos para o uso eficiente e sustentável da Água
Projetos para o uso eficiente e sustentável de água
Financiadora de Estudos e Projetos – Finep
Programa Inova Sustentabilidade
Estruturado em subprogramas: - Produção sustentável - Recuperação de Biomas Brasileiros e Fomento às Atividades Produtivas Sustentáveis de Base Florestal - Saneamento ambiental - Monitoramento ambiental e prevenção de desastres naturais
Sistema Cooperativo de Crédito – Sicredi
Financiamento para Energia Solar
Equipamentos e tecnologia para captação de energia solar
Agência de Fomento do Paraná
Fomento EnergiaEquipamentos para geração de energia a partir de fontes renováveis ou substituição de lâmpadas e equipamentos para melhoria da eficiência energética
141
APÊ
ND
ICE
B - I
NCE
NTI
VO
S PA
RA
A GE
STÃ
O C
OR
POR
ATIV
A D
A SU
STEN
TABI
LID
AD
E: F
ON
TES
DE
FIN
AN
CIA
MEN
TO E
INCE
NTI
VO
S
INSTITUIÇÃO DO SNF
PROGRAMA / LINHA DE CRÉDITO
ESCOPO
Agência de Fomento do Rio de Janeiro – AgeRio
AgeRio Ecoeficiência
Projetos que reduzam impactos ambientais e que incluam a sustentabilidade no processo de produção
AgeRio APL Metal Mecânico - Licenciamento Ambiental
Implementação de ações necessárias para Licença Operacional definitiva
AgeRio Certificação
Investimentos necessários para obter certificações exigidas pelo mercado
Agência de Fomento do Estado de Pernambuco
PE Solar Equipamentos e tecnologia para captação de energia solar
Agência de Fomento do Estado de Goiás
Eficiência Energética
Bens e serviços relacionados a projetos que proporcionem economia no consumo de energia
Crédito Produtivo Energia Solar
Aquisição de máquinas, equipamentos, instalação, capital de giro associado e demais investimentos relacionados à geração de energia solar
Agência de Desenvolvimento Paulista
Linha Economia Verde
Projetos que reduzam a emissões de gases de efeito estufa e impactos ambientais
Linha Economia Verde – Máquina
Máquinas e equipamentos que reduzam a emissões de gases de efeito estufa e impactos ambientais ou tenham maior eficiência energética.
Projetos de Eficiência Energética
Projetos que reduzam o consumo de energia ou aumentem a eficiência do sistema energético nacional
Ressalte-se que o quadro acima foi elaborado com base nas
informações disponíveis nos respectivos sites, relativas às insti-
tuições apresentadas. Logo, a eventual ausência de determinada
instituição do SNF não implica indisponibilidade de linhas de
crédito, mas apenas limitação de acesso às informações da insti-
tuição, via internet.
Da mesma forma que algumas das fontes identificadas neste docu-
mento, o acesso a esses recursos se dá, em geral, por meio de
editais para seleção de projetos. Informações detalhadas sobre a
operação desses fundos poderão ser encontradas perante os órgãos
estaduais e municipais de meio ambiente.
No que se refere a demais fontes de recursos de origem privada,
há oportunidades emergentes no mercado financeiro, além das
GES
TÃO
CO
RPO
RATI
VA D
A S
UST
ENTA
BILI
DA
DE:
UM
A N
OVA
PER
SPEC
TIVA
142
fontes tradicionais de recursos. O foco empresarial para a gestão
de sustentabilidade é visto, por certos agentes de mercado, como
uma oportunidade de negócio.
Isso se concretiza pelo surgimento de novas fontes alternativas
de obtenção de recursos (investimentos, financiamentos, créditos,
seguros, solicitação de empréstimo, propriamente dita etc.), para
implementação ou ampliação de linhas de negócios. Entre tais
fontes, vale destacar os Green Bonds, os fundos de Private Equity
e Venture Capital, voltados para investimento em empresas deno-
minadas de impacto77, ou seja, negócios com foco em contribuição
direta ao desenvolvimento econômico-social, capazes de gerar
produtos e serviços com impacto positivo ambiental e social78.
Os Green Bonds – “Títulos Verdes” – são títulos de dívidas emitidas
no mercado, visando ao financiamento de projetos que seguem
critérios socioambientais e contribuem para o desenvolvimento
sustentável, tais como energia renovável, eficiência energética,
gestão de resíduos, transporte de baixo carbono, projetos flores-
tais, etc. Esses títulos também podem ser usados para financiar
projetos com benefício social, como a melhoria da saúde e dos
serviços sociais.
Já os fundos Private Equity e Venture Capital, focados em negócios
de impacto, são fundos de investimento que buscam, além do
retorno financeiro, a geração de valor social e ambiental, ou seja,
são fundos de investimento cujos acionistas objetivam obter triplo
retorno (triple bottom line): financeiro, social e ambiental.
77. Mais informações sobre o volume de investimentos em negócios de impacto em <http://granitopartners.com/pt-br/o-que-sao-negocios-de-impacto/>78. São empresas e negócios voltados para a maximização da criação de impacto positivo para o meio ambiente, para as partes interessadas (clientes, fornecedores, força de trabalho etc.), e para a sociedade em geral. Para esse tipo de negócio, os fatores relacionados ao bottom line, tais como lucro, rotatividade e crescimento, servem como meios de obter capital de investidores, que seja suficiente para sustentar a geração de impacto positivo.
143
APÊ
ND
ICE
B - I
NCE
NTI
VO
S PA
RA
A GE
STÃ
O C
OR
POR
ATIV
A D
A SU
STEN
TABI
LID
AD
E: F
ON
TES
DE
FIN
AN
CIA
MEN
TO E
INCE
NTI
VO
STal segmento vem-se expandindo cada vez mais no Brasil, contendo
significativos recursos para investir apenas em empresas que sigam
a lógica de gerar impacto positivo. Ou seja, empresas que, através
do aprimoramento em sua linha de negócio, processo de produção
ou investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) possuam
diferencial frente aos concorrentes, gerando para a sociedade um
ganho social e ambiental resultante do exercício de suas atividades
(SANT’ANNA, 2015)79.
79. SANTA’ANNA, G. Gestores revelam como é possível obter retorno financeiro através do Investimento de Impacto. ABVCAP. 2015. Disponível em: http://www.abvcap.com.br/sala-de-imprensa/noticias-abvcap.aspx?id=3257>. Acesso em: 20 de mar. 2017.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNIRobson Braga de AndradePresidente
Diretoria de Relações Institucionais – DRIMônica Messenberg GuimarãesDiretora
Gerência Executiva de Meio Ambiente e Sustentabilidade – GEMASShelley de Souza CarneiroGerente-Executivo
Percy Baptista Soares Neto Mario Augusto de Campos Cardoso Elisa Romano Dezolt Elaboração
Cíntia de Matos Amorim VianaDaniela CestarolloElisa Romano DezoltErica dos Santos VillarinhoJosé Quadrelli NetoLucia Maria de SoutoMarcos Vinícius CantarinoMário Augusto de Campos CardosoPercy Baptista Soares NetoPriscila Maria Wanderley PereiraRafaela Aloise de FreitasRenata Medeiros dos SantosSérgio de Freitas MonforteWanderley Coelho BaptistaEquipe
Diretoria de Comunicação – DIRCOMCarlos Alberto BarreirosDiretor de Comunicação
Gerência Executiva de Publicidade e Propaganda – GEXPPCarla GonçalvesGerente-Executiva de Publicidade e Propaganda
Diretoria de Serviços Corporativos – DSCFernando Augusto TrivellatoDiretor de Serviços Corporativos
Área de Administração, Documentação e Informação – ADINFMaurício Vasconcelos de CarvalhoGerente Executivo de Administração, Documentação e Informação
Alberto Nemoto YamagutiNormalização
ArcadisKarin Ferrara Formigoni Diretora
Cintia Philippi SallesGerente
Maria Sulema Pioli Coordenadora
Maria Sulema Pioli Daniel Tha Bruno Hernandez Incau Luiza Chantre de Oliveira Azevedo Elaboração
ZPC Consultoria em Comunicação LtdaJosé Paulo Moreira de OliveiraRevisão e edição
Editorar MultimídiaProjeto gráfico e diagramação