instituto a vez do mestre gestÃo corporativa e … · instituto a vez do mestre gestÃo...
TRANSCRIPT
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
GESTÃO CORPORATIVA E FINANÇAS
A IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA NA GESTÃO DAS
PEQUENAS E MÁDIAS EMPRESAS
Elaine Fernandes Marques
Rio de Janeiro
2010
A IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA CORPORATIVA NA GESTÃO DAS
EMPRESAS
ELAINE FERNANDES MARQUES
Trabalho apresentado ao Instituto a
Vez do Mestre como requisito para
obtenção do grau de Pós-graduação
em Gestão Corporativa e Finanças.
Rio de Janeiro
2010
SUMÁRIO
RESUMO ....................................................................................................................4
INTODUÇÃO................................................................................................................5
DESENVOLVIMENTO ................................................................................................7
CONCLUSÃO ............................................................................................................31
REFERENCIAIS ........................................................................................................32
RESUMO
Os processos transparentes que possibilitam um ambiente de trabalho com
equidade e confianças são quesitos cada vez mais exigidos pelas empresas na
realidade empresarial pela qual passamos. Nesse ambiente a Governança
Corporativa aparece com um importante requisito O conceito de governança
corporativa para pequenas e médias aplica-se na transparência do próprio negócio,
pois o objetivo é melhorar a comunicação com a própria equipe.
Este trabalho tem por objetivo analisar a aplicabilidade do conceito de governança
corporativa, dos seus princípios e indicadores à gestão de pequenas e médias
organizações e o papel reservado aos profissionais de controladoria e
contabilidade quanto ao trato das questões inerentes ao tema. Realizou-se uma
investigação bibliográfica, com revisão analítica da literatura, foram consultados
jornais, revistas e sites especializados. O estudo concluiu que as práticas de
governança criam valor para a empresa e que os princípios e indicadores de
governança podem ser utilizados por qualquer tipo de organização, desde que
adaptados ao modelo de gestão. Conclui-se, por fim, que a governança corporativa
representa uma abordagem nova de gestão que viabiliza a maximização do valor
do negócio e da riqueza do acionista/cotista, contribui para o cumprimento do papel
social das organizações e que, para o seu efetivo exercício, a empresa necessita
de informações de qualidade. Assim sendo, torna-se um tema fundamental para os
profissionais de contabilidade e controladoria por proporcionar-lhes novas
oportunidades, desafios e responsabilidades.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos o assunto Governança Corporativa tornou-se o assunto "da
moda" em administração de empresas em nosso país. Muito se falou e escreveu a
respeito. A imprensa freqüentemente confundiu esse tema com proteção a
acionistas minoritários, que é um outro assunto. Acontece que mesmo aqueles que
sabem o que é Governança Corporativa tendem a confundir a teoria americana com
a nossa realidade. Os poucos livros a respeito do tema publicados no Brasil são
americanos ou voltados para a teoria americana.
Existe, porém, uma diferença tão gritante entre a teoria americana e a nossa
realidade que torna boa parte dessa teoria inútil para nós. É muito simples: os
americanos (que na verdade imitaram os ingleses, estes sim os inventores do
capitalismo moderno) se baseiam no seu sistema de companhias de capital aberto,
que eles chamam de "public companies", com o capital pulverizado em bolsa e sem
acionistas preponderantes. Nossa realidade brasileira é a de companhias que vão
buscar recursos em bolsa através do lançamento de ações sem direito a voto,
mantendo o controlador o controle absoluto das ações com voto. No Brasil quase
nenhuma empresa tem capital pulverizado, sem a figura do controlador. Na melhor
hipótese temos a figura do controle compartilhado, comum nas companhias
privatizadas, onde três ou quatro acionistas controlam a empresa através de um
Acordo de Acionistas. A própria terminologia, aliás, chama a atenção para a
diferença. O nosso "capital aberto" significa que a empresa lançou um punhado de
ações, ou mesmo debêntures, no mercado. Já a "public company" americana
chama-se assim porque ela não tem dono – pertence realmente ao público em
geral. Para nós "empresa pública" é coisa bem diferente: é pública porque
teoricamente pertence a todos nós pelo fato de pertencer ao governo.
O problema central da Governança Corporativa nos EUA é como a massa de
milhares de pequenos acionistas pode ter seus interesses defendidos tendo como
principal instrumento um Conselho de Administração que defenda realmente o que
é melhor para a empresa, ao invés de, como acontecia no passado, defender
cegamente o presidente da empresa. Não podemos esquecer que o movimento da
Governança tomou força como conseqüência da má gestão a que estiveram
submetidas grandes empresas, por exemplo IBM e General Motors, sem que o
Conselho tomasse providência alguma. De repente o mercado, liderado pelos
grandes fundos de pensão que, lá como aqui, são os maiores investidores, acordou
e passou a exigir mudanças.
No Brasil a situação é outra: havendo a figura do controlador, não existe a
questão de como esse se protege dos administradores profissionais. O
administrador é também o controlador, ou alguém indicado por ele. Existe a
questão de defender os minoritários contra eventuais abusos do controlador, o que
é uma preocupação importante, mas não é a questão básica da Governança.
Então, qual é essa questão básica? É: a questão básica da Governança
Corporativa no Brasil é a preocupação com a melhoria da GESTÃO. É como formar
um bom Conselho, e como utilizá-lo, juntamente com a Auditoria Externa, e em
cooperação com o principal executivo, no sentido de obter uma gestão o mais
eficiente possível.
A TRANSPARÊNCIA COMO EXIGÊNCIA DO MERCADO
Ao que parece a transparência deixou de ser meramente uma retórica
eficiente nos discursos políticos e empresariais para se tornar cada vez mais um
critério formal na realização de negócios no âmbito das empresas.Na realidade,
após o escândalo Enron o mundo corporativo pôde perceber a dimensão dos
estragos provocados pela falta de transparência na gestão das empresas.
O tema que já vinha sendo discutido ainda que timidamente, ganhou
dimensão estratégica para as rganizações preocupadas com a geração de
resultados sustentáveis em pilares de ética, confiabilidade, transparência e
responsabilidade social. A questão da transparência que até então apresentava
aspectos de subjetividade passou a ser valorizada pelo mercado no seu quesito
mais precioso: o lucro.
O culto ao lucro praticado por empresas com visão míope, não possibilita a
visualização de outras demandas que, embora pareçam irrelevantes, contribuem
para o atingimento de resultados num período maior de tempo, porém de forma
segura, com menos riscos e mais sustentabilidade. As empresas que perceberam
essa nova realidade passaram a implantar novos modelos de gestão corporativa que
levam em consideração princípios e valores de natureza ética, além das questões
econômico-financeiras.
A transparência não diz respeito exclusivamente ao fornecimento de dados e
informações contábeis por parte das empresas, mas também ao fato de assuntos
melindrosos poderem ser tratados abertamente no âmbito de diretoria e conselho de
administração. Questões como sucessão; avaliação de desempenho dos executivos,
diretores e conselheiros; profissionalização da gestão; independência da auditoria;
planejamento tributário; critérios de contabilização, etc., precisam ser
gradativamente discutidas para que se estabeleça a cultura da transparência, caso
contrário a palavra não passa de retórica.
Empresas com visão de mercado avançada já estão se estruturando nos
moldes da governança corporativa e usufruindo as vantagens de terem se
antecipado no processo. Como exemplo de empresas gaúchas que estão nessa
nova condição podemos citar o Grupo Gerdau e a Indústria Marcopolo, ambas pelo
desejo de expansão global e aumento de capital. Este modelo de gestão tem como
principais objetivos atender às demandas resultantes da expansão do grupo,
aumentar a competitividade no cenário internacional, conduzir o processo de
sucessão sem perder as experiências acumuladas e ampliar a transparência com o
mercado de capitais. Jorge Gerdau Johannpeter (Jornal do Comércio, 09/07/2002,
p.6) A Governança Corporativa ainda encontra-se restrita a um pequeno número de
empresas, principalmente àquelas que atuam no cenário internacional, mas
apresenta tendências de expansão inclusive para sociedades limitadas que buscam
evoluir para um modelo alternativo de governança que atenda interesses internos e
facilite o estabelecimento de alianças com parceiros estratégicos. Pesquisa recente
realizada pela Korn/Ferry International e McKinsey & Company (2001), denominada
Panorama de Governança Corporativa no Brasil, aponta alguns exemplos de
pressões externas e internas que estão influenciando as decisões das empresas em
adotar algum modelo de Governança Corporativa. Dentre as pressões externas, são
citados o impacto da globalização, o menor custo do capital para empresas com
bom desempenho, as certificações de governança emitidas pela Bovespa e as
reformas no setor dos fundos de pensão que passam a exigir maior
comprometimento dos acionistas minoritários nas decisões.
No âmbito interno as pressões estão concentradas no processo sucessório
das empresas familiares, aumento da remuneração variável dos executivos e
mudanças obrigatórias na estrutura de controle. O BNDES - Banco Nacional de
Desenvolvimento do Extremo Sul lançou um Programa de Incentivo à Adoção de
Práticas de Governança Corporativa com previsão de início para junho de 2003,
objetivando impulsionar a adoção das melhores práticas de governança corporativa
pelas empresas brasileiras e a conseqüente redução do custo do capital. Trata-se de
um programa de caráter voluntário, mas que oferece condições diferenciadas por
meio da concessão de bônus e benefícios aplicados sobre as condições normais
definidas pela análise tradicional.
Os benefícios encontram-se classificados em pacotes bronze, prata, ouro e
platina, de acordo com os níveis de exigências a serem cumpridas pelas empresas
que se candidatam à obtenção dos financiamentos. O Programa é direcionado para
questões societárias e administrativas, destacando tratamento e equidade no trato
com acionistas minoritários, transparência na divulgação das informações ao
mercado e aos acionistas e organização do Conselho de Administração. O
Programa prevê a captação de recursos junto ao mercado de capitais destinados ao
crescimento das empresas que se relacionam com os investidores de forma ética e
transparente. Algumas exigências que as empresas devem obedecer para aderir ao
programa e usufruir condições diferenciadas nos financiamentos concedidos pelo
Banco consistem em:
§ Realizar rodízio da empresa de auditoria a cada quatro anos, no máximo (a
instrução CVM308/99, Art.31, estabelece o prazo de rodízio em cinco anos);
§ Auditores não podem prestar outros serviços à empresa contratante, além do
serviço de auditoria independente;
§ Empresas de controle familiar devem ter plano de sucessão;
§ Conselheiros independentes participando do Conselho de administração;
§ Regimento interno para o Conselho Fiscal e de Administração;
§ Instalação do cargo de Auditor Interno;
§ Adesão à câmara de arbitragem para solução de questões societárias;
§ Adoção de código de ética e governança corporativa.
Analisando o desempenho das ações de empresas listadas no IGC – Índice de
Governança Corporativa da Bovespa, cuja carteira é composta por ações de
companhias que cumprem boas práticas de governança corporativa, observa-se um
nível de valorização acima da média do IBOVESPA – Índice Bovespa, cuja carteira
de ações pertence a empresas com perfil tradicional de mercado. Esses fatos
evidenciam que a preocupação com a transparência não se restringe somente ao
ambiente interno das empresas, mas já está orientando decisões de negócios no
âmbito do mercado de capitais, deixando de ser uma questão meramente ideológica
e assumindo dimensões estratégicas para as organizações.
Governança Corporativa – Conceito, Princípios e Indicadores à
Gestão de Pequenas e Médias Organizações
A expressão inglesa "corporate governance" foi traduzida no Brasil e o seu
conceito significando o sistema pelo qual os acionistas de uma empresa
“governam” ou seja, tomam conta, de sua empresa.
Em essência, trata-se de um sistema que, usando principalmente o conselho
de administração, a auditoria externa e o conselho fiscal, estabelece regras e
poderes para conselhos, comitês, diretoria e outros gestores, procurando prevenir
abusos de poder e criando instrumentos de fiscalização, princípios e regras que
possibilitem uma gestão eficiente e eficaz. É, portanto, assunto de interesse
relevante para os que atuam nas áreas de controladoria e contabilidade.
Embora a expressão seja nova, a atividade já existia, sem que houvesse a
percepção clara de sua importância e sem que houvesse uma denominação
especial para designá-la.
Nos últimos anos, constata-se uma onda de entusiasmo em relação a esse
tema em decorrência, especialmente, de escândalos que envolveram companhias
importantes, as quais quase faliram ao se descuidarem de procedimentos
elementares de governança e sem que os seus conselhos tivessem feito coisa
alguma. A partir da constatação, por parte dos investidores institucionais, de que os
conselhos não vinham cumprindo suas obrigações, iniciou-se um movimento de
pressão, de ordem mundial, para que as empresas mudem o comportamento nesse
particular. De tão fortes, essas pressões desencadearam outros desdobramentos
de questões relacionadas à gestão empresarial, culminando com o estabelecimento
de princípios que visem maximizar o valor do negócio e a riqueza do acionista.
A busca de soluções para a crucial problemática relacionada com a
qualidade de gestão das pequenas e médias empresas brasileiras motivou o
aprofundamento de estudos sobre o tema governança corporativa.
A Governança Corporativa é uma área de estudo com múltiplas abordagens.
Uma das principais preocupações é garantir a aderência dos principais atores a
códigos de conduta pré-acordados, através de mecanismos que tentam reduzir ou
eliminar os conflitos de interesse. Um problema relacionado, entretanto normalmente
tratado em outro fórum de discussão é o impacto da governança corporativa na
eficiência econômica, com uma forte ênfase em maximizar valor para os acionistas.
Há ainda outros temas em governança corporativa, como a preocupação com o
ponto de vista dos outros stakeholders que não os acionistas, bem como o estudo
dos diversos modelos de governança corporativa ao redor do mundo. Assim, o
corporate governance (ou o governo das sociedades) é composto pelo conjunto de
mecanismos e regras pelas quais se estabelecem formas de controlo da gestão das
sociedades de capital aberto, e onde se incluem instrumentos para monitorização e
possibilidade de responsabilização dos gestores pelas suas decisões (ou actos de
gestão).
O corporate governance visa diminuir os eventuais problemas que podem
surgir na relação entre gestores e accionistas e, consequentemente, diminuir o risco
de custos de agência.
Este trabalho acadêmico tem o objetivo principal de esclarecer melhor o
assunto, especialmente junto aos profissionais, estudantes e pesquisadores de
controladoria e contabilidade, por intermédio da busca de respostas para as
seguintes questões:
a) o conceito de governança corporativa, seus princípios gerais e indicadores
têm aplicação restrita a um tipo específico de empresa ou podem ser
aplicados às pequenas e médias organizações?;
b) que vantagens podem ser obtidas por empresas que adotam práticas de
governança corporativa?;
c) que princípios de governança são aplicáveis às empresas, de forma geral,
e às pequenas e médias, de forma particular?;
d) que indicadores de governança corporativa normalmente praticados em
grandes corporações ou mencionados na literatura podem ser utilizados
nas empresas de pequeno e médio porte?;
e) o que esperar dos profissionais de contabilidade no sentido de
incorporarem o conceito, as práticas e os indicadores relacionados ao
tema?
O entorno representado pela intercessão entre o mercado financeiro e a
gestão das corporações representa o espaço privilegiado de discussão desse
assunto. Entretanto, pela importância dos conceitos envolvidos e a potencialidade
de aplicação deles a um universo mais abrangente de entidades, entende-se que o
tema deva merecer também a atenção daqueles que militam como pesquisadores
acadêmicos, sobretudo os que se interessam por questões relacionadas aos
modelos de gestão das pequenas e médias entidades.
Assim, realizou-se uma investigação bibliográfica, com revisão analítica da
literatura sobre o tema, foram consultados jornais, revistas e sites especializados,
além de uma pesquisa junto a entidades que tratam o assunto mais diretamente,
como a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e a Comissão de Valores
Mobiliários (CVM).
A literatura tem restringido a conceituação de governança corporativa. Na
definição de Monteiro (2003, p.D-2), por exemplo, trata-se do “conjunto de práticas
adotadas na gestão de uma empresa que afetam as relações entre acionistas
(majoritários e minoritários), diretoria e conselho de administração”.
Tal conceituação limita o tema e sua aplicabilidade àquelas empresas de
maior porte e com estrutura organizacional bem definida.
Carneiro (2000, p. 8), por sua vez, chama a atenção para o desvio conceitual
também pela indevida apropriação, no Brasil, da expressão original. Segundo ele,
“escolheu-se utilizar por aqui o anglicismo canhestro advindo da palavra
governance, quando na verdade, para sermos claros, estamos nos referindo à
administração corporativa, ou qual a melhor estrutura organizacional a ser eleita por
uma empresa aberta com um leque múltiplo de acionistas com interesses distintos”.
Ousa-se, neste artigo, procurar ampliar o conceito de governança
corportativa para um conjunto de princípios, procedimentos, métodos e rotinas que,
aplicados numa entidade, propiciam resultados eficientes e eficazes e promovem a
harmonia das partes interessadas na condução ordenada da organização. As
partes interessadas são os acionistas, cotistas, dirigentes, gerentes, empregados,
fornecedores, clientes, financiadores e a comunidade afetada diretamente pelos
negócios e/ou atividades.
Em 1992, nos Estados Unidos, o tema ganhou grande repercussão quando o
advogado e professor Ira Millstein liderou os acionistas da empresa General Motors
e o seu respectivo conselho de administração, logo após a destituição do principal
executivo da companhia, Robert Stempel (também presidente do conselho). Esse
fato aparentemente rotineiro fez com que as funções dos conselhos nas empresas
norte-americanas fossem reconsideradas. Iniciou-se, então, uma onda de
demissões de presidentes de corporações importantes (American Express,
Eastman Kodak e IBM, entre outras), culminando com um movimento favorável à
instituição de um código de conduta para conselhos. Isso passou a ter grande
repercussão em todo o mundo. Na Europa, quase simultaneamente, surgiram
iniciativas semelhantes. Cadbury Report, por exemplo, foi o primeiro documento
importante a abordar inteiramente o assunto. Foi publicado em 1992, em Londres.
No Brasil, os reflexos do movimento não tardaram. Em 1996, foi criado o
Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGA), organismo que procura
estimular o debate sobre o tema e a adoção de melhores práticas de governança.
Em maio de 2000, a Bovespa lançou o primeiro Código Brasileiro de Governança
Corporativa (CBGC), trabalho cujo principal mérito é apresentar ao empresariado
do País sugestões sobre novas condutas, próprias do capitalismo dos tempos
atuais.
A partir de pressões exercidas especialmente pela CVM e Bovespa, parte
significativa das companhias abertas já se empenha em oferecer aos investidores
melhorias nas práticas de governança e de transparência. No entanto, isso ainda
demonstra pouca visibilidade por parte das empresas, visto serem resultado de
esforços individuais.
A adesão aos "Níveis Diferenciados de Governança Corporativa" da Bovespa
tem resultado em maior destaque aos esforços da empresa na melhoria da relação
com investidores e eleva o potencial de valorização dos seus ativos.
Tais “Níveis Diferenciados” são normas de conduta definidas pela Bovespa e
que as empresas, seus administradores e controladores devem respeitar.
A adesão a tais práticas distingue a companhia como sendo de Nível 1, de
Nível 2 ou integrante do denominado “Novo Mercado”, dependendo do grau de
compromisso assumido.
As companhias Nível 1 são aquelas que se comprometem, principalmente,
com melhorias na prestação de informações ao mercado (transparência) e com a
dispersão acionária.
As principais práticas agrupadas no Nível 1 são:
a) Manutenção em circulação de uma parcela mínima de ações,
representando 25% do capital;
b) Realização de ofertas públicas de colocação de ações por meio de
mecanismos que favoreçam a dispersão do capital;
c) Melhoria nas informações prestadas trimestralmente, entre as quais a
exigência de consolidação e de revisão especial;
d) Cumprimento de regras de disclosure em operações envolvendo ativos de
emissão da companhia por parte de acionistas controladores ou
administradores da empresa;
e) Divulgação de acordos de acionistas e programas de stock options; e
f) Disponibilização de um calendário anual de eventos corporativos.
Para serem classificadas no Nível 2, além da aceitação das obrigações
contidas no Nível 1, a empresa e seus controladores deverão adotar um conjunto
bem mais amplo de práticas de governança e de direitos adicionais para os
acionistas minoritários. Resumidamente, os critérios de listagem de companhias
Nível 2 são:
a) Mandato unificado de 1 ano para todo o conselho de administração;
b) Disponibilização de balanço anual seguindo as normas US GAAP (normas
de contabilidade utilizadas nos EUA conhecidas como United States
Generally Accepted Accounting Principles) ou IAS GAAP (normas
internacionais de contabilidade promulgadas pelo International Accounting
Standards Committee);
c) Extensão para todos os acionistas detentores de ações ordinárias das
mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do
controle da companhia e de, no mínimo, 70% deste valor para os
detentores de ações preferenciais;
d) Direito de voto às ações preferenciais em algumas matérias, como
transformação, incorporação, cisão e fusão da companhia e aprovação de
contratos entre a companhia e empresas do mesmo grupo;
e) Obrigatoriedade de realização de uma oferta de compra de todas as ações
em circulação, pelo valor econômico, nas hipóteses de fechamento do
capital ou cancelamento do registro de negociação neste Nível; e
f) Adesão à Câmara de Arbitragem para resolução de conflitos societários.
Todas essas regras estão consolidadas em um Regulamento de Listagem,
cuja adesão é voluntária. Os compromissos assumidos pela companhia,
seus controladores e seus administradores são firmados em contrato entre
essas partes e a Bovespa.
Para integrarem o “Novo Mercado”, além das exigências do Nível 2, as
empresas deverão manter no mercado apenas ações ordinárias (que dão direito a
voto), enquanto no Nível 2 as ações preferenciais são admitidas.
Em 30 de junho de 2002, uma nova ordem mundial para os mercados de
capitais aflorou nos Estados Unidos, por intermédio de um extenso normativo de
reformas corporativas idealizado pelos parlamentares Paul Sarbanes e Michael
Oxley.
Tal legislação foi decorrente dos escândalos contábeis que abalaram a
confiança dos investidores e os fundamentos da economia e fizeram com que o
Congresso norte-americano abandonasse o conceito tradicional de auto-regulação
dos mercados e decidisse por uma lei considerada dura e abrangente.
A legislação Sarbanes-Oxley impõe regras severas de governança, as quais,
em termos de importância, são comparáveis aos atos de 1933 e 1934 expedidos
pela Securities and Exchange Commission – SEC, a comissão de valores
mobiliários norte-americana, depois do “crash” da bolsa de Nova York, em 1929.
As regras atuais atingem conselheiros, diretores, CEOs (Chief Executive
Officers), CFOs (Chief Financial Officers), diretores, auditores, analistas de
mercados e até mesmo advogados que tenham em suas carteiras de clientes
empresas de capital aberto.
CEOs e CFOs passaram a ser obrigados a assinar declarações atestando a
veracidade das demonstrações contábeis, assegurando a ausência de dados falsos
ou omissões. As empresas ficaram proibidas de conceder empréstimos a seus
administradores. Tornaram-se obrigatórios comitês de auditoria compostos a partir
de membros dos conselhos de administração e integrados apenas por participantes
independentes. Passou-se a impedir a prestação de serviços de auditoria e
consultoria para um mesmo cliente. Determinou-se a obrigatoriedade de códigos de
ética para os administradores. Foi determinado que a SEC crie regulamentação
específica visando à redução de conflitos de interesses no trabalho de analistas de
mercado. Advogados passaram a ser obrigados a informar à SEC violações
relevantes à legislação por parte de administradores.
Convém salientar que as regras são também impostas às empresas
estrangeiras, o que tem sido motivo de protestos em muitos países cujas empresas
são sujeitas à regulamentação local, muitas vezes incompatível com as normas
Sarbanes-Oxley.
No Brasil, os esforços institucionais de regulação e motivação para boas
práticas de gestão, em sintonia com algumas das principais exigências
internacionais, têm se direcionado às empresas de capital aberto, embora estas
constituam um segmento restrito no panorama econômico do País.
De acordo com Leal (2002, p. A-3), a maioria das empresas brasileiras nem
consegue chegar ao estágio de abrir seu capital porque enfrenta limitações para
financiar seu crescimento. O custo de capital é um dos principais entraves para isso
e uma das mais severas barreiras impostas à competitividade das empresas
nacionais. Para o autor citado, uma idéia seria passar a exigir “boas práticas de
governança corporativa por meio de maior transparência das decisões das
empresas de capital fechado”. Para se ter noção da representatividade das
empresas de capital aberto, o mesmo autor informa que, em 2001, foram emitidos
no Brasil cerca de R$ 15 bilhões em debêntures, R$ 5 bilhões em notas
promissórias comerciais e pouco mais de R$ 1 bilhão em ações.
Outro argumento em prol da extrapolação conceitual de governança
corporativa está na forma do seu exercício. Na visão de Araújo (2001, p. 32), a
governança corporativa tem nos conselhos de administração das empresas o seu
principal instrumento para exercer “influência saudável na formulação de
estratégias, boa gestão e monitorização das organizações”.
Ocorre que, no Brasil, a formação desses conselhos, conforme a Lei das
Sociedades Anônimas (Lei 6.404/76), somente é obrigatória para as sociedades
anônimas de capital aberto. Os conselhos, em geral, são presididos pelo principal
executivo das empresas – na maioria das vezes sócio delas - e formados por
membros de sua família ou diretores. Esses órgãos são considerados meros
ornamentos normativos: existem unicamente por força de lei.
Nesse caso, uma questão torna-se crucial para o universo empresarial
brasileiro: que relevância exerce o tema governança corporativa num País onde a
grande maioria das empresas é de pequeno e médio porte e se o mercado
acionário é composto por uma quantidade limitada de empresas e, mesmo assim,
conta com conselhos que não funcionam adequadamente?
A resposta está na necessidade urgente da adaptação das melhores práticas
internacionais às empresas brasileiras, independentemente do tipo ou do porte e do
fato de participarem ou não do mercado acionário.
Na Europa e EUA, os investidores institucionais são os que mais pressionam
para o estabelecimento de práticas de governança, sabiamente porque necessitam
proteger seus capitais. No Brasil, pela urgência de implantação de qualidade de
gestão em nossas organizações, a pressão deveria ser exercida por toda a
sociedade. Afinal, as práticas de governança são baseadas em princípios
universais, aplicáveis, sim, às nossas empresas, sejam de grande, médio ou
pequeno porte.
No que consistem e quais são esses princípios? A análise da literatura indica
que os princípios de governança corporativa constituem um conjunto de valores e
regras que orientam a gestão empresarial e o comportamento dos administradores
de uma organização no sentido de atenderem os interesses das partes
interessadas nos negócios e atividades desenvolvidos.
Na visão de Carvalho (2002, p.19), esses princípios “governam o processo
decisório dentro de uma empresa”.
Compilando-se as recomendações dos especialistas, chega-se à seguinte
classificação sintética dos princípios norteadores de governança corporativa, os
quais, acredita-se, são aplicáveis às empresas brasileiras, em geral:
1) Transparência;
2) Tratamento correto aos proprietários do capital;
3) “Accountability”;
4) “Compliance”; e
5) Eficácia Empresarial.
Quando se eleva a transparência (“disclosure”) à condição de princípio de
governança, se está exigindo que a organização (grande, média ou pequena)
assuma o seu papel social, cumpra seus compromissos e demonstre, sem qualquer
subterfúgio, sua real situação patrimonial, econômica, financeira, social e ambiental.
A pressão por responsabilidade social tem se materializado também por intermédio
de mecanismos de mercado. O despertar da cidadania e da consciência ecológica
estimula movimentos de repúdio a determinados produtos ofertados e/ou serviços
prestados por organizações que sonegam ou fraudam informações. Cresce, a cada
dia, a demanda social sobre os legisladores por maior vigilância e por cobrança de
comportamento ético nas relações entre as empresas e a sociedade. Para se
adaptar a um ambiente cada vez mais competitivo, as empresas deverão se
preocupar, também, com a qualidade de suas relações com seus financiadores,
empregados, fornecedores, clientes, comunidade e meio ambiente.
O tratamento correto (“fairness”) a ser dispensado aos acionistas minoritários
é outro princípio de governança corporativa que pode ser estendido às pequenas e
médias empresas nas relações mantidas com os proprietários do capital, façam ou
não parte direta da gestão.
O estudo sobre governança aponta uma outra necessidade fundamental à
gestão das corporações: o estabelecimento do princípio de “accountability”, ou seja,
a obrigatoriedade de um sistema de informações precisas, relevantes e oportunas
que possibilitem a prestação de contas. Ao questionar as vozes dominantes no
mundo dos negócios que se posicionam favoravelmente a uma maior atribuição de
poder de fiscalização aos conselhos, Adizes (2003, p. 34) enfatiza que o conceito
de “accountability” vai “além da responsabilidade. Para ter tal ‘nível’ de
responsabilidade, uma pessoa deve possuir as condições necessárias para
apresentar aquilo pelo qual é responsável – ou seja, ela tem autoridade, poder e/ou
influência suficientes para tanto”. Nesse sentido, “accountability” faz-se necessário
em qualquer tipo de organização.
Outro princípio de governança corporativa materializa-se quando a
organização exerce o “compliance”, ou seja, o cumprimento das leis, normas,
regulamentos e determinações. O termo “compliance” significa aquiescência,
conformidade. Estar “em compliance” é o mesmo que estar “em conformidade”
(com uma norma, com um padrão, com o direcionamento estratégico, com a missão
da empresa, etc.). Independentemente do porte ou estrutura, toda organização
precisa de mecanismos que indiquem o status de conformidade de suas atividades,
processos, produtos e serviços.
Por último, apresenta-se um outro princípio cujo cumprimento deveria ser
perseguido por toda e qualquer entidade: a eficácia empresarial. Significa a gestão
efetivada em modelos e instrumentos que garantam o cumprimento da missão, a
continuidade da empresa e a geração de resultados positivos.
Apresentados os alicerces da governança corporativa, infere-se que os seus
princípios podem se adequar, com os devidos ajustes, às empresas brasileiras,
independentemente do tamanho dessas organizações.
E que tipos de indicadores a empresa pode utilizar no sentido de
acompanhar a efetiva prática da governança corporativa?
Também com base em diferentes fontes bibliográficas, e à busca de uma
síntese, os muitos indicadores presentes na literatura podem ser classificados da
seguinte forma:
a) Imagem;
b) Geração de Caixa;
c) Eficiência Operacional e Patrimonial;
d) Adequação de Funding;
e) Remuneração do Capital Próprio; e
f) “Compliance”.
Qualquer que seja o modelo de gestão vigente, as atividades
desempenhadas em todas as áreas organizacionais deverão guardar conformidade
com os princípios de governança citados, tendo como balizadores indicadores
institucionais que servirão de apoio para o estabelecimento dos critérios de controle
e avaliação do desempenho e de resultados.
No que diz respeito aos indicadores de imagem, a organização, seja qual for
o seu porte, natureza e modelo de gestão, deverá zelar por manter a credibilidade,
perante a sociedade, quanto ao cumprimento de sua missão. A manutenção da
imagem implica a identificação, mensuração, aferição e monitoramento dos níveis
de percepção, por parte da sociedade, do cumprimento dos objetivos a que se
propõe a organização. A monitoração deverá sinalizar qualquer deslize que possa
afetar a imagem da empresa-instituição.
Outro aspecto que deverá orientar as ações dos gestores é a possibilidade
ou não dessas ações influenciarem a geração de caixa. Assim, deverá ser
monitorada diuturnamente a capacidade da organização em gerar recursos.
A eficiência das operações e do patrimônio da organização como um todo,
das diversas áreas, das filiais, das controladas e coligadas, dos produtos/serviços,
e dos gerentes deve ser constantemente gerenciada, com acompanhamento de
custos, desempenhos e resultados.
Os indicadores de adequação de funding relacionam-se com o planejamento
e monitoramento das fontes de financiamento da organização, as quais deverão
proporcionar os melhores resultados possíveis e serem compatíveis com a
estrutura de ativos.
Um dos objetivos principais da governança corporativa é a proteção do
investidor. É justo que este espere resultados positivos e otimizados para que o seu
capital seja remunerado da melhor forma. Nesse sentido, a organização deverá
dispensar cuidados especiais à geração de resultados, monitorados por intermédio
de indicadores de remuneração do capital próprio.
O último conjunto de indicadores recomendado é o de “compliance”.
“Compliance” , como já exposto, diz respeito ao cumprimento, pela organização, de
leis, regulamentos e normativos internos e externos. Além disso, a entidade deverá
zelar pelo cumprimento de programas de auditoria, pela eficácia, adequação e
eficiência dos controles internos, pelo cumprimento de compromissos assumidos e
não se descuidar da observância de limites regulatórios.
Torna-se notório que a eficácia do exercício de governança corporativa
depende diretamente da qualidade das informações disponíveis e, mais uma vez,
fica evidente que a dinâmica do mundo dos negócios impõe novas
responsabilidades e desafios aos profissionais de controladoria e contabilidade.
Dessa forma, chega-se às seguintes conclusões:
a) o tema tem despertado muito interesse no Brasil, tendo obtido, inclusive,
reflexos significativos na legislação societária e no mercado de ações;
b) a literatura nacional, de caráter acadêmico, é praticamente inexistente
sobre o assunto;
c) pesquisas recentes, especialmente os estudos econométricos conduzidos
por Carvalho (2003), concluem que a migração de empresas de capital
aberto para os níveis de governança propostos pela Bovespa tem impacto
sobre a valoração das ações (existência de retornos anormais positivos),
aumenta o volume de negociação e aumenta a liquidez;
d) os princípios que alicerçam as práticas de governança orientam a gestão
empresarial e podem ser adotados, com adaptações, em qualquer tipo de
empresa.
Por fim, conclui-se que o assunto faz aflorar novas oportunidades, desafios e
responsabilidades para os profissionais contadores.
No exercício da auditoria interna ou externa, por exemplo, passa a ser
exigido zelo redobrado. A observância rigorosa do cumprimento dos princípios de
governança, embora não seja propriamente um assunto novo, ganha relevância em
decorrência do descrédito que as atividades de auditoria passaram a merecer nos
últimos meses.
Emergem questões muito sérias quando se analisa o assunto governança
corporativa, a partir das atividades do profissional de controladoria e contabilidade,
especialmente quando se espera dele a liderança da arregimentação de modelos,
tecnologias e ferramentas de gestão, notadamente de um sistema de informações
que alicercem decisões lógicas, em todas as áreas da empresa, e que conduzam a
organização, de maneira eficiente, ao cumprimento de sua missão.
Decisões baseadas em princípios de boa governança corporativa
representam uma abordagem nova de gestão com ênfase na responsabilidade, na
maximização do valor do negócio e da riqueza do acionista/cotista, na ética, na
prestação de contas e na contribuição para o cumprimento do papel social que se
exige de toda organização.
Está-se, possivelmente, diante de um novo paradigma para as ciências
administrativas.
Modelos de Governança
No modelo anglo-saxão, as participações acionárias são relativamente
pulverizadas (nos Estados Unidos, os cinco maiores investidores detêm, em média,
menos de 10% do capital de uma empresa) [Economist (10.02.96)], e bolsas de
valores desenvolvidas garantem a liquidez dessas participações, diminuindo o risco
dos acionistas: dadas as condições anteriores, não há necessidade de um
monitoramento direto.
O mercado, através da variação no preço das ações, sinaliza a aprovação ou
não em relação às administrações por parte dos investidores. O sistema exige um
nível elevado de transparência e uma divulgação periódica de informações,
impondo controles rígidos sobre o uso de informações privilegiadas.
No modelo nipo-germânico, a propriedade é mais concentrada (na
Alemanha, os cinco maiores acionistas detêm, em média, 40% do capital e, no
Japão, 25%), e muitas participações acionárias são de longo prazo. No Japão, por
exemplo, entre 50% e 70% das ações de empresas listadas nas bolsas de valores
são detidas por outras empresas [Nikkei Weekly (23.06.97)], no sistema de
participações acionárias cruzadas que une os membros dos keiretsus.
Na Alemanha, os bancos usam participações acionárias para fortalecer as
relações comerciais com clientes. Nesse sistema, em que a liquidez não é
priorizada, os acionistas reduzem o seu risco, colhendo as informações necessárias
às suas decisões junto às administrações.
Esses tipos de propriedade e formas de monitoramento refletem visões
diferentes dos objetivos finais das empresas, o que permite um segundo corte na
caracterização dos dois sistemas de governança. No anglo-saxão o objetivo
primordial das empresas tem sido tradicionalmente a criação de valor para os
acionistas, enquanto nos países que se aproximam do modelo nipo-germânico as
empresas devem equilibrar os interesses dos acionistas com aqueles de outros
grupos que são impactados pelas suas atividades, como os empregados,
fornecedores, clientes e a comunidade.
É possível distinguir dois tipos extremos de controle corporativo: shareholder,
no qual a obrigação primordial dos adminis-tradores é agir em nome dos interesses
dos acionistas; e stakeholder, onde, além dos acionistas, um conjunto mais amplo
de interesses deve ser contemplado pela ação e pelos resultados da corporação.
Além dos modelos de propriedade mencionadas anteriormente, com maiores
níveis de concentração e participações acionárias cruzadas de longo prazo que
buscam alcançar objetivos estratégicos mais amplos e não um retorno financeiro
imediato, o sistema stakeholder diferencia-se do shareholder ao atribuir maior peso
aos interesses dos empregados, exemplificado pelas barreiras à demissão na
Alemanha e pela concessão de empregos vitalícios aos funcionários de uma
parcela significativa de empresas japonesas Uma clara atribuição para a
governança das empresas é a organização de um sistema de prestação de contas.
No modelo shareholder a administração presta contas formalmente somente aos
acionistas, mas no sistema stakeholder aumenta o número de grupos assim
contemplados, levando à criação de instâncias que formalizam esses
compromissos.
Na Alemanha, por exemplo, as empresas são obrigadas por lei a reservar
metade dos assentos nos conselhos supervisores (que monitoram os conselhos de
administração executiva) aos empregados [Economist (04.05.96)], que também
devem ser consultados, através de seus conselhos de trabalho, na ocasião de
demissões significativas.
Modelos de governança corporativa – Atualmente, segundo Shleifer e Vishny,
Estados Unidos, Alemanha, Japão e Reino Unido possuem os melhores sistemas de
governança corporativa. A diferença entre eles é muito pequena na comparação
com os de outros países. Nas nações ou mercados menos desenvolvidos, os
mecanismos de governança corporativa são ainda praticamente inexistentes,
encontrando quase sempre barreiras decorrentes da estrutura do controle
concentrado das companhias negociadas em bolsa e da ausência de regras que
propiciem proteção efetiva às minorias.
Segundo alguns estudiosos, na evolução de modelos de governança
corporativa, dois modelos destacam-se: o anglo-americano, baseado no mercado de
capitais, e o germânico-japonês, baseado em investidores de longo prazo.
O modelo germânico-japonês pareceu o mais adequado na década de 80,
quando as economias da Alemanha e do Japão mostraram elevados níveis de
crescimento. Mas na década de 90, com a recessão japonesa, escândalos, etc., e
com os problemas que a unificação da Alemanha trouxe para a sua economia, em
contrapartida ao fantástico crescimento da economia norte-americana e o boom do
mercado de capitais, o modelo de governança corporativa norte-americano tem sido
consagrado como o modelo a ser seguido por todos (ver Hansmann and Kraakman,
2001).
Não obstante, ocorreram em anos recentes vários escândalos envolvendo
companhias norte-americanas que resultaram em perdas consideráveis para os
CONCLUSÃO
De acordo com o estudo apresentado, têm-se as seguintes conclusões.
O processo de Governança Corporativa está baseado em princípios sólidos e
está em crescimento no mundo devido às situações que as empresas passam
como, fusões, cisões e incorporações que geram profundas mudanças que podem
ser atenuadas com sistemas transparentes, justos e em conformidade com as leis.
As pequenas empresas possuem muitas características próprias que podem
influenciar o sistema empresarial podendo gerar conflitos, problemas na gestão e
em processos de sucessão sendo necessária a implantação da Governança
Corporativa para buscar a melhoria e o crescimento da empresa.
Essa implantação da Governança Corporativa em pequenas empresas é um
processo novo que tem como característica integrar harmoniosamente seu sistema
de gestão, social e empresarial de forma gradativa e fortalecedora para contribuir
com e permanência da empresa e seu sucesso.
Bibliografia
ADIZES, Ichak. Dividir para governar. Revista HSM Management. Barueri (SP), n.
38, p. 34-38, mai./jun. 2003.
ARAÚJO. Carlos Assumpção de. O crepúsculo do todo-poderoso. Rio de Janeiro:
Revista Rumos-ABDE Editorial, 2001.
BRASIL. Bolsa de Valores de São Paulo. Regulamento de Listagem do Novo
Mercado. São Paulo: Bovespa. 2003. Online. Disponível em
<http://www.novomercadobovespa.com.br/ RegulamentoNMercado.pdf>. Acesso
em 28.03.2003.
BRASIL. Comissão de Valores Mobiliários. Recomendações da CVM sobre
Governança corporativa – Cartilha de Governança Corporativa. Rio de Janeiro:
CMV. Jun/2002. Online. Disponível em <http://www.cvm.gov.br>. Acesso em
28.03.2003.
CARNEIRO. Fernando G.. Governança Corporativa: o início e tendências atuais.
Revista ABAMEC. Rio de Janeiro: ABAMEC, ano 28, n. 4, junho 2000.
CARVALHO. Antonio Gledson de. Governança Corporativa no Brasil em
Perspectiva. Revista de Administração. São Paulo: USP, v. 37, n. 3, julho/setembro
2002.
__________. Efeitos da Migração para os Níveis de Governança da Bovespa. São
Paulo: Bovespa, 2002. Online. Disponível em
<http://www.bovespa.com.br/pdf/uspniveis.pdf>. Acesso em 28.03.2003.
DELOITTE TOUCHE TOHMATSU. Sarbanes-Oxley: em busca das melhores
práticas de governança corporativa. Revista Mundo Corporativo. São Paulo, ano 1,
n. 1, janeiro 2003.
LEAL, Ricardo P. C.. O Conceito da Governança Corporativa. Jornal Gazeta
Mercantil. São Paulo, 15 maio 2002.
LODI, João Bosco. Governança Corporativa - O Governo da Empresa e seu
Conselho de Administração. São Paulo: Campus, 2000.
MONTEIRO, Paulo da Veiga. E a Governança Corporativa? Jornal Valor
Econômico. São Paulo, Caderno Eu & Meu Dinheiro, 25 março 2003.
SILVA JÚNIOR, Altamiro e MONTEIRO, Luciana. Bovespa modifica regras para o
Novo Mercado. Jornal Gazeta Mercantil. Caderno Finanças & Mercados, 02 maio
2002.