geração de públicos culturais e internet, a experiência mexicana
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Por Manuel Zavala. O texto foi parte da apresentação de Manuel Zavala, durante a mesa “A experiência mexicana na criação dos públicos culturais através da Internet: breve revisão de 18 anos”, no Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado em novembro de 2013.TRANSCRIPT
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Geração de públicos culturais e internet, a experiência mexicana1
A internet é o meio transformador da sociedade contemporânea, que revoluciona os modos de
produção e as relações sociais
Manuel Zavala 2
Breve história da internet e da cultura no México
O México possui uma das maiores riquezas culturais do mundo. Em primeiro lugar,
encontramos seu patrimônio tangível e intangível; além disso, ele conta com dois grandes
mananciais de produção de atividades e informações artísticas e culturais: os agentes culturais
- entre os quais se contam os artistas, editores, atores, músicos, poetas, novelistas, artesãos,
diretores, compositores, coreógrafos e produtores, entre muitos outros – e as próprias
instituições encarregadas de gerar, apoiar, produzir e difundir o que os agentes culturais
realizam, além daquelas dedicadas a preservar, proteger, investigar e divulgar o patrimônio do
país.
Assim, nesta relação de colaboração, reflexão e crítica mútua, produtores e instituições
culturais têm caminhado juntos desde o século passado, quando José Vasconcelos – com seu
nacionalismo na educação, arte e cultura – foi o pai desta indissolúvel relação de
interdependência. A internet não tem sido nem será a exceção nesta marcha paralela entre
instituições e criadores mexicanos.
De volta ao ano de 1996, o panorama da representação da cultura mexicana na internet era
absolutamente pobre. Aparecia em algumas páginas da web de universidades dos EUA e da
Espanha; alguma coisa cultural por parte da Universidade de Guadalajara chamada Mexplaza;
o Museu Carrillo Gil do Instituto Nacional de Belas Artes – o primeiro museu mexicano a entrar
na rede com uma página informativa; e apareceu a Artes e Historia México, publicação cultural
independente que empreendeu a tarefa de dar a conhecer de maneira ampla e inclusiva as
realizações de criadores, investigadores e instituições culturais.
A partir desse momento, a relação de crescimento mútuo foi muito generosa, até que, por
lógicas razões de um grande desenvolvimento, cada um dos atores foi tomando seu respectivo
caminho. 1 Esse texto foi parte da apresentação de Manuel Zavala, durante a mesa “A experiência mexicana na
criação dos públicos culturais através da Internet: breve revisão de 18 anos”, no Encontro Internacional Públicos da Cultura, realizado em novembro de 2013. Este texto foi traduzido pela empresa Millennium Traduções. 2 Formado em Arquitetura pelo Instituto Politécnico Nacional y de Artes Visuales da Escuela Nacional de
Pintura y Escultura “La Esmeralda” (Cidade do México). É fotógrafo profissional, fundador e diretor do site Artes e História México, publicação eletrônica que recebeu prêmios internacionais e nacionais, com 120 mil acessos mensais em mais de cem países.
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Com esse espírito de colaboração, em 1998 conseguiu-se que o Conselho Nacional para a
Cultura e as Artes entrasse na rede. Da mesma maneira colaborou-se para que o Instituto
Nacional de Belas Artes, o Instituto Nacional de Antropologia e História, a Cinemateca Nacional
e outras instituições alcançassem sua independência tecnológica. A experiência foi muito
enriquecedora em todos os sentidos.
As reticências e medos da sociedade foram sendo vencidos, de tal maneira que a audiência e a
geração de públicos iam sendo ampliadas. Naqueles anos, as estratégias para a geração de
audiência não contavam com um grande arcabouço teórico, somente com a experiência que ia
sendo adquirida conforme se avançava dentro dos próprios processos.
O empenho e visão dos pioneiros deram lugar a um novo processo de assimilação e
participação na web: a horizontalidade da informação e um novo papel do usuário dentro da
sociedade.
Horizontalidade e verticalidade, relação simétrica entre desenvolvimento cultural e
tecnológico
Enquanto indivíduos e publicações independentes gozavam de absoluta liberdade de
publicação e interação, as instituições culturais e os grandes jornais iam definindo seus
conceitos de horizontalidade e verticalidade editorial para a internet.
A definição de portal internet no mercado das tecnologias da informação ajudou as
instituições a destacarem seus conteúdos e representação no universo da web.
A criação de novos e importantes projetos de edição digital em literatura, multimídia e
realidade virtual para museus incipientes na rede ajudava a criar interesse e convicção nos
usuários em relação aos conteúdos. A Universidade Nacional Autônoma do México foi um dos
pivôs em investigação digital para muitos desses projetos.
Esta evolução nas estruturas, sintaxe e tecnologias da web contribuiu para uma melhor difusão
da arte, cultura e educação, transformando os paradigmas de geração e controle de conteúdos
que havia no passado, como é o caso do desaparecimento da verticalidade no manejo da
informação. Hoje, cada usuário pode editar seus comentários ou apresentar suas próprias
reportagens como jornalista, ou também criar sua própria coluna sobre políticas culturais nas
gigantescas plataformas de blogs que já existem há mais de uma década.
De igual forma, a internet liberou os artistas e criadores em geral para poderem difundir seus
eventos, concertos, edições, exposições, e todo esse universo de atividades é realizado de
maneira completamente autônoma, sem necessidade de recorrer a meios de comunicação ou
instituições. Estes, quando chegam a difundir um evento, artista, criador, investigador ou
projeto, lhes dão legitimidade e relevância, mas isso não significa limitar a liberdade na
internet.
A que se deve essa independência e liberdade da qual gozam os usuários/criadores de hoje na
internet? A resposta é simples: plataformas de conteúdo remoto.
O sonho de publicar com liberdade irrestrita chegou para ficar na sociedade.
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Outro dos aspectos importantes na geração de conteúdos por parte de agentes culturais e
instituições no México é a difusão institucional para todo tipo de atividades sobre criação e
investigação, além da promoção da comercialização de produtos culturais. Da mesma forma
encontra-se a criação de plataformas e sistemas para educação online e a produção de bases
de dados para a digitalização de arquivos históricos, assim como a criação de grandes acervos
de livros digitais para sua distribuição gratuita ou comercial.
Toda essa produtividade de proporções gigantescas se faz com claras orientações
institucionais, ou ainda com convicções e interesses de criação.
A equação indispensável para criar públicos culturais na internet
Então, para que serve tudo isso se não se tem a audiência desejada? Já se tem?
Gerar públicos culturais é o que ocupa a todos nós, produtores, gestores e instituições. Para
conseguir isso, são necessários cinco elementos. Os três primeiros formam a cadeia genética
de todo projeto: conceito criativo com identidade do local ao universal, mente revolucionária,
utilizando as ferramentas tecnológicas, e uma clara estratégia de marketing que defina nicho e
alcances esperados.
A segunda cadeia propulsionará adequadamente o projeto: crescimento exponencial e redes
sociais.
Se esses cinco fatores forem corretamente utilizados e somados a um correto esforço de
sinergia entre criadores e instituições, o projeto cultural gerará maior público e impacto na
comunidade.
Geração de públicos culturais e internet, a experiência mexicana / Princípios éticos e
tecnológicos
Estes são alguns dos princípios éticos e tecnológicos com os quais a Artes e Historia México
tem trabalhado com os criadores mexicanos e as instituições culturais:
A “Artes e Historia México” é uma publicação independente sem fins lucrativos que foi criada
para ser uma plataforma tecnológica de difusão para os criadores mexicanos, instituições
culturais e educativas.
Os direitos das obras são de quem as detenha, mas a finalidade é difundir essas obras da
maneira mais ampla, sem lucro algum, para que o conhecimento das mesmas seja feito para a,
e pela sociedade.
Em virtude dos controles orçamentais do governo mexicano em todas as suas versões
institucionais, sempre se procurou encontrar um caminho de sinergia para poder trazer o
maior benefício social com o menor orçamento possível.
A nenhum criador mexicano ou residente no país foi cobrado dinheiro algum para difundir seu
trabalho dentro da Artes e Historia México ou algum de seus projetos satélites.
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Sempre se utilizou software livre na Artes e Historia México, ou em seus desenvolvimentos
para as instituições culturais e educativas, de tal forma que ninguém se torne refém das
grandes corporações tecnológicas.
A linha de produção de seus desenvolvimentos tecnológicos sempre teve como objetivo
defender, preservar e difundir o patrimônio tangível e intangível do México.
Atualmente, sua produção se dirige com maior vigor, mais do que à difusão, à preservação do
patrimônio. Desenvolvemos bases de dados para a catalogação de obras de caráter artístico,
histórico e popular.
Uma das características do nosso trabalho atual é a preservação da memória dos fatos
históricos relevantes de comunidades e instituições, para o que desenvolvemos um sistema
tecnológico de monitoramento de notícias na imprensa, revistas, rádio, TV e web. Este sistema
se chama Newsnet.mx
Nesta era digital, preservar e difundir o patrimônio e conhecimento são uma prioridade, diante
da velocidade e controle das informações por parte de corporações, governos e mecanismos
de mercado.