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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC / SP Acylena Coelho Costa Geometria Analítica no Espaço: Análise das Organizações Matemática e Didática em Materiais Didáticos DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA São Paulo 2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC / SP

Acylena Coelho Costa

Geometria Analítica no Espaço:

Análise das Organizações Matemática e Didática em M ateriais

Didáticos

DOUTORADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

São Paulo

2015

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC / SP

Acylena Coelho Costa

Geometria Analítica no Espaço:

Análise das Organizações Matemática e Didática em M ateriais

Didáticos

São Paulo

2015

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de DOUTOR EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA sob a orientação do professor Doutor Saddo Ag Almouloud.

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Banca Examinadora

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Dedico esse trabalho ao meu esposo Carlos

e aos meus filhos, Alana e Artur, com muito

carinho.

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta Tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos. Assinatura ________________________ Local e Data_________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por sua infinita misericórdia em

minha vida.

Ao meu esposo, Carlos, que sempre incentivou

meu desenvolvimento profissional.

Ao Professor Doutor Saddo Ag Almouloud,

orientador dessa pesquisa, pelo incentivo,

amizade, ensinamentos e competência de sempre.

Aos professores doutores Maria José Ferreira da

Silva, Angelita Minetto Araújo e Marco Aurélio

Kalinke, Celina Aparecida Almeida Pereira Abar

que aceitaram participar da Banca Examinadora e

contribuíram com este trabalho.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação

em Educação Matemática da PUC-SP, pelos

valiosos conhecimentos.

Aos meus amigos do DINTER UEPA-PUC/SP

pelos momentos compartilhados nessa trajetória.

Ao professor Doutor Pedro Franco de Sá pelo

incentivo ao DINTER UEPA-PUC/SP.

A Universidade do Estado do Pará por

proporcionar a concessão de bolsa de doutorado.

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Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós

sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma

coisa. Por isso aprendemos sempre.

Paulo Freire

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RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo analisar como os autores de livros didáticos

organizaram as atividades propostas no que se refere ao estudo da Reta e do Plano

para o ensino da Geometria Analítica no Espaço. As análises dos livros didáticos

fundamentaram-se essencialmente na Teoria Antropológica do Didático (TAD),

quanto às praxeologias, propostas por Chevallard (1999) e nas variáveis didáticas

para o ensino da Geometria Analítica no Espaço estabelecidas por Lebeau (2009).

Com base no referencial teórico adotado realizamos uma investigação de caráter

qualitativo do tipo documental, partindo de um levantamento bibliográfico em quatro

livros didáticos de Geometria Analítica destinados ao ensino superior. A

metodologia adotada em nossa pesquisa foi subsidiada na metodologia de análise

de manuais desenvolvida por Chaachoua (2014a) analisando nos livros didáticos

os seguintes aspectos: momento da edição, representatividade, estrutura, análise

ecológica e análise praxeológica. Em relação a análise praxeológica identificamos

seis tipos de tarefas presentes nos manuais analisados, a saber: determinar a

equação da reta no espaço, determinar a condição de paralelismo de retas no

espaço, determinar a condição de alinhamento de pontos no espaço, apresentar a

equação do plano no espaço como uma propriedade da ortogonalidade, determinar

um plano caracterizado por duas retas secantes e caracterizar algebricamente o

paralelogramo. Dentre os resultados encontrados é possível inferir que os autores

privilegiam uma modelização algébrica dos objetos matemáticos, bem como as

técnicas adotadas pelos mesmos encontram-se situadas no campo da Álgebra

Linear e da Geometria Analítica.

Palavras-chave : Geometria Analítica no Espaço. Teoria Antropológica do Didático.

Variáveis didáticas.

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ABSTRACT

This research aims to analyze how the authors of textbooks organized the activities

proposed in relation to the study of Line and Planning for the teaching of Analytic

Geometry in Space. Analyses of textbooks substantiate mainly on Anthropological

Theory of the Didactic (TAD), with regard to praxeologias proposed by Chevallard

(1999) and in didactic variables for the teaching of Analytic Geometry in Space

established by Lebeau (2009). Based on the theoretical framework adopted we

conducted a qualitative investigation of documentary type, based on a literature

review on four textbooks Analytic Geometry devoted to higher education. The

methodology used in our research was supported in manual analysis methodology

developed by Chaachoua (2014a) analyzing the textbooks the following: time of

writing, representation, structure, ecological analysis and praxeological analysis.

For regards the praxeological analysis identified six types present in the analyzed

manual tasks, namely to: determine the equation of the line in space, determining

the straight condition of parallelism in space, to determine the alignment condition

of points in space, present plane equation in space as a property of orthogonality,

determine a plan characterized by two intersecting lines and characterize

algebraically the parallelogram. Among the findings it can be inferred that the

authors favor an algebraic modeling of mathematical objects, as well as the

techniques adopted by them are situated in the field of Linear Algebra and Analytic

Geometry.

Keywords : Analytic Geometry in Space. Anthropological Theory of the Didactic.

Didactic variables

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LISTA DOS QUADROS

Quadro 1: Atividades elaboradas para o micromundo da Geometria Analítica...... 20

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LISTA DAS FIGURAS

Figura 1: Representação de um cubo ...................................................................22 Figura 2: Representação do plano dado um ponto e um vetor normal ..................35 Figura 3: Representação do plano como conjunto de retas perpendiculares ........36 Figura 4: Representação do plano como superfície regular ..................................37 Figura 5: Plano π paralelo ao eixo Oz ...................................................................39 Figura 6: Representação do plano como superfície regular ..................................40 Figura 7: Conjunto de retas perpendiculares a uma reta dada d...........................47 Figura 8: Caracterização do plano Oyz .................................................................48 Figura 9: Interseções de curvas com planos .........................................................48 Figura 10: Conjunto de retas paralelas .................................................................49 Figura 11: Projeção sobre o plano paralelamente a uma reta ...............................51 Figura 12: Projeções de pontos de uma curva ......................................................52 Figura 13: Projeção de pontos sobre o plano OXY ...............................................53 Figura 14: Quarto vértice do paralelogramo construído sobre O, A e B ................56 Figura 15: Quatro pontos dados A, B, C e D (ou suas projeções) .........................60 Figura 16: Os pontos M, N e P e suas projeções no plano ...................................62 Figura 17: Retas paralelas d1 e d2 .......................................................................63 Figura 18: Capa do livro de Luiz Mauro Rocha .....................................................71 Figura 19: Capa do livro Waldyr Muniz Oliva ........................................................71 Figura 20: Capa do livro de Paulo Boulos e Ivan Camargo ...................................72 Figura 21: Capa do livro de Steinbruch e Paulo Winterle ......................................72 Figura 22: Prefácio de LD1....................................................................................76 Figura 23: Prefácio de LD2....................................................................................76 Figura 24: Prefácio de LD3....................................................................................77 Figura 25: Prefácio de LD4....................................................................................77 Figura 26: Equação vetorial da reta em LD2 .........................................................83 Figura 27: Equação vetorial da reta em LD3 .........................................................84 Figura 28: Equação vetorial da reta em LD4 .........................................................84 Figura 29: Escrita de equações paramétricas de reta em LD2..............................85 Figura 30: Determinação da equação de uma reta em LD4 ..................................85 Figura 31: Solução do exercício da figura 30 ........................................................86 Figura 32: Posição de retas e planos em LD1.......................................................87 Figura 33: Paralelismo de retas em LD3 ...............................................................88 Figura 34: Condição de paralelismo de duas retas em LD4 ..................................88 Figura 35: Posição relativa de retas em LD3.........................................................89 Figura 36: Resolução da questão da figura 35 ......................................................89 Figura 37: Condição para que três pontos estejam alinhados em LD4 .................90 Figura 38: Exemplo de uso da técnica 2 em LD3 ..................................................91 Figura 39: Exemplo de utilização das técnicas 1 e 2 em LD4 ...............................91 Figura 40: Condição de alinhamento de pontos em LD4 ......................................92 Figura 41: Determinação do plano em LD1 ...........................................................93 Figura 42: Equação do plano em LD2 ...................................................................94 Figura 43: Equação geral de plano em LD3 ..........................................................95 Figura 44: Equação geral do plano em LD4 ..........................................................96 Figura 45: Equações paramétricas do plano em LD3 ...........................................97 Figura 46: Primeira resolução em LD3 ..................................................................98 Figura 47: Determinação da equação geral de um plano em LD4 ........................98 Figura 48: Resolução do exemplo em LD4 ...........................................................99

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Figura 49: Tarefas sobre equação geral do plano em LD4 ...................................99 Figura 50: Outras propostas de determinação de equação geral do plano em LD4 ......................................................................................................................100 Figura 51: Postulado da determinação do plano em LD1 ...................................101 Figura 52: Abordagem vetorial em LD4 ...............................................................102 Figura 53: Determinação da equação vetorial do plano em LD2 .........................102 Figura 54: Determinação das coordenadas dos vértices de um paralelogramo em LD3 ................................................................................................................102

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 15

CAPÍTULO 1: ESTUDOS PRELIMINARES ................................................................ 19

1.1 Pesquisas sobre o Ensino da Geometria Analítica .................................... 19

1.2 Pesquisas envolvendo a TAD e a Geometria Analít ica ............................. 30

1.3.1 O Plano ............................................................................................................ 35

1.3.2 A Reta .............................................................................................................. 38

CAPÍTULO 2: FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA PESQUISA ................................. 41

2.1. A Teoria Antropológica do Didático (TAD) .................................................. 41

2.1.1 Os objetos ostensivos e não ostensivos ................................................... 44

2.2.Variáveis Didáticas na perspectiva de Lebeau (2 009) ............................... 46

2.2.1.Começar pelo plano? .................................................................................. 46

2.2.2.Começar pela reta? ...................................................................................... 50

2.2.3. Passar da reta ao plano. ............................................................................ 53

2.2.4. Paralelogramo, paralelismo e translação. ............................................ 56

2.2.5. Os pressupostos geométricos. ............................................................... 62

2.2.6. Ostensivos e modos de pensar. .............................................................. 63

CAPÍTULO 3: ABORDAGEM METODOLÓGICA ...................................................... 69

3.1. Caracterização da pesquisa ............................................................................. 69

3.2 A escolha dos livros didáticos ......................................................................... 70

3.3. Metodologia de análise dos manuais ............................................................ 72

CAPÍTULO 4: ANÁLISES DOS RESULTADOS ........................................................ 75

4.1. Momento da edição ............................................................................................ 75

4.2. Representatividade ............................................................................................ 75

4.3. Estrutura ................................................................................................................ 77

4.3.1. Apresentação do livro LD1 ....................................................................... 78

4.3.2. Apresentação do livro LD2 ....................................................................... 79

4.3.3. Apresentação do livro LD3 ....................................................................... 79

4.3.4. Apresentação do livro LD4 ....................................................................... 80

4.4. Análise ecológica ................................................................................................ 81

4.5. Análise praxeológica ......................................................................................... 82

4.5.1. Tipo de Tarefa (T1): Determinar a equação da reta no espaço ....... 83

4.5.2 Tipos de Tarefa (T2): Determinar a condição de paralelismo de retas no espaço. ...................................................................................................... 86

4.5.3. Tipo de tarefa (T3): Determinar a condição de alinhamento de pontos no espaço. .................................................................................................. 90

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4.5.4. Tipo de tarefa (T4): Determinar a equação do plano no espaço como uma propriedade da ortogonalidade. .................................................... 92

4.5.5. Tipo de tarefa (T5): Determinar um plano caracterizado por duas retas secantes. ...................................................................................................... 100

4.5.6. Tipo de tarefa (T6): Caracterizar algebricamente o paralelogramo. ................................................................................................................................... 101

CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS ................................................ 105

REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 111

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INTRODUÇÃO

Como professora do curso de Licenciatura em Matemática, há 12 anos,

ministrando por 4 anos a disciplina Geometria Analítica, percebemos, em

diferentes momentos, as dificuldades que os alunos apresentam nos

conteúdos envolvendo tal disciplina, mesmo quando já estudaram esses

conteúdos no Ensino Médio.

Ao verificarmos as dificuldades dos alunos em relação aos objetos de

estudo da Geometria Analítica, principalmente ao lidar com diferentes registros

(algébrico, gráfico e linguagem natural), nossa preocupação enquanto

pesquisadora, foi investigar tais dificuldades relacionando-as à formação de

professores de Matemática. Também percebemos na Geometria Analítica um

campo relevante de pesquisa, pois relaciona duas áreas da Matemática, a

Álgebra e a Geometria.

A Geometria Analítica, enquanto disciplina, representa um forte alicerce

no currículo do curso de Licenciatura em Matemática, pois encontra-se

presente em disciplinas como o Cálculo Diferencial e Integral, Álgebra Linear,

Geometria Euclidiana, Física e Análise Matemática. Além disso, percebemos a

relevância da disciplina Geometria Analítica por encontrar-se presente em

outros cursos superiores, tais como Engenharias, Arquitetura, Licenciatura em

Física e outros.

Ao iniciamos o curso de Doutorado em Educação Matemática por meio de

um projeto de doutorado interinstitucional (DINTER) entre a Universidade do

Estado do Pará (UEPA) e a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

(PUCSP), no ano de 2010, passamos a integrar o grupo de pesquisa Processo

de Ensino e Aprendizagem em Matemática – PEAMAT. Nesse grupo,

despertamos nosso interesse pelas discussões envolvendo a Teoria

Antropológica do Didático de Chevallard (1991), pois identificamos a sua

importância para a análise da prática docente em instituições de ensino.

Nos estudos e leituras que realizamos inicialmente no PEAMAT,

percebemos uma ampla discussão a respeito de aos temas relacionados aos

processos de ensino e de aprendizagem de conteúdos matemáticos no campo

da Geometria. Decidimos assim, desenvolver nossa investigação acerca da

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Geometria Analítica no Espaço, em livros didáticos, uma vez que percebemos

poucas pesquisas no campo da Educação Matemática discutindo tal

problemática no ensino superior.

Para a realização dessa pesquisa direcionamos o foco para análise de

materiais didáticos1 no que se refere ao conteúdo de Geometria Analítica, no

ensino superior. Ao trilharmos nos estudos de nosso campo investigativo

percebemos que deveríamos centrar no estudo da Reta e do Plano no espaço

no intuito de analisar a abordagem feita pelos autores dos livros didáticos

adotados em Cursos de Licenciatura em Matemática em diferentes períodos. Os

referenciais teóricos que subsidiaram tais análises foram a Teoria Antropológica

do Didático (TAD) de Yves Chevallard (1999) e os estudos acerca das variáveis

didáticas envolvidas no ensino da Geometria Analítica no Espaço desenvolvido

por Catherine Lebeau (2009). Trataremos sobre os principais aspectos dessas

teorias ao longo de nosso trabalho.

A opção por analisar livros didáticos se deu por entendermos que estes

representam uma importante ferramenta para o professor, pois retratam uma

forma de comunicação entre o professor e o aluno. Além disso, o livro didático

foi instituído historicamente como um dos instrumentos para o ensino e para a

aprendizagem, conforme explicita Núñez (2003).

Na visão de Lopes (2000) o livro didático tem uma importante

representatividade tanto para o professor, como para o aluno. No que se refere

ao professor, o autor aponta que o livro didático apresenta-se como o

complemento de sua formação acadêmica, além de ser o apoio na prática

escolar devido às condições de trabalho enfrentadas. Por sua vez, o aluno

enxerga o livro didático como um reforço para a aprendizagem, como também o

recurso para encarar o processo de avaliação.

Constitui-se como propósito dessa pesquisa contribuir com o ensino de

Geometria Analítica, tendo a convicção de que esse tópico da Matemática é

fundamental para os estudos em Geometria. Para tanto, pretendemos nesse

trabalho de tese responder ao seguinte questionamento:

1 . Adotaremos em diversas situações no decorrer do texto, os termos “materiais didáticos” e “livros didáticos” como sinônimos.

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• Quais organizações matemática e didática podem esta r presentes

em livros didáticos para o ensino superior no que s e refere ao estudo

da Reta e do Plano no Espaço?

A proposta, em nossa pesquisa, é analisar as organizações didática e

matemática utilizadas na apresentação dos conteúdos sobre Reta e Plano no

Espaço.

Nosso objetivo é analisar como os autores de livros didáticos organizaram

as atividades propostas em relação ao estudo da Reta e do Plano a partir das

variáveis didáticas desenvolvidas por Lebeau (2009) para o ensino da Geometria

Analítica no Espaço.

Para tanto, visamos:

• Caracterizar as organizações didáticas e matemáticas presentes em livros

didáticos quanto ao estudo em Geometria Analítica no Espaço.

• Comparar os tipos de tarefas presentes nos manuais analisados com as

variáveis didáticas apontadas por Lebeau (2009) para o estudo em

Geometria Analítica no Espaço.

Para alcançar tais objetivos, analisamos livros didáticos publicados no

período do Movimento da Matemática Moderna estabelecendo a metodologia de

análise de manuais didáticos proposta por Chaachoua (2014a).

A seguir apresentaremos a estrutura desse trabalho de tese, destacando

cada um de seus capítulos.

No capítulo 1, apresentamos os estudos preliminares que possibilitaram

direcionar uma investigação em relação a temática desenvolvida. Realizamos

primeiramente um levantamento de pesquisas que contribuíram para os

processos de ensino e de aprendizagem de Geometria Analítica. A seguir,

descrevemos a respeito da importância de uma análise acerca do livro didático

e suas contribuições em relação ao saber dentro de uma instituição didática. E

finalizamos esse capítulo fazendo um estudo do objeto matemático o qual servirá

de apoio teórico matemático, de maneira a permitir o suporte necessário para

essa pesquisa.

O referencial teórico desse trabalho de investigação é apresentado no

capítulo 2, no qual buscamos destacar os principais aspectos das teorias que

fundamentarão nossas análises. Fizemos a opção pela Teoria Antropológica do

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18

Didático de Chevallard (1999) que estuda as organizações praxeológicas

(didática e matemática) pensadas para os processos de ensino e de

aprendizagem de organizações matemáticas. Apresentamos ainda aspectos

significativos sobre o estudo realizado por Lebeau (2009), do qual interessamo-

nos pelas variáveis didáticas apontadas por essa pesquisadora em relação ao

estudo de Geometria Analítica no Espaço, especificamente no que se refere a

Reta e Plano.

No capítulo 3 discorremos sobre a metodologia adotada em nossa

pesquisa, a qual encontra-se subsidiada na metodologia de análise de manuais

desenvolvida por Chaachoua (2014a) que destaca nos livros analisados os

seguintes aspectos: momento da edição, representatividade, estrutura, análise

ecológica e análise praxeológica.

Em relação ao capítulo 4 apresentamos nossa análise praxeológica

destacando os tipos de tarefas encontradas nos livros analisados.

Encerrando nosso trabalho, trazemos considerações concernentes aos

resultados encontrados e que possibilitaram a conclusão dessa pesquisa.

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19

CAPÍTULO 1 : ESTUDOS PRELIMINARES ______________________________________________________

Neste primeiro capítulo descrevemos os estudos preliminares que

permitiram direcionar nossa pesquisa sobre a temática desenvolvida.

Inicialmente destacamos as pesquisas que contribuíram para os processos de

ensino e de aprendizagem da Geometria Analítica. Em seguida relatamos a

importância de se realizar investigações sobre livros didáticos. Para finalizar,

apresentamos um estudo do objeto matemático, o qual servirá de apoio para

nossa pesquisa.

Esse capítulo mostra-se relevante para nosso trabalho, pois apresenta

contribuições do âmbito da Educação Matemática, auxiliando dessa forma a

sintetizar nossa problemática de pesquisa. Realizamos nesse capítulo um

levantamento em relação aos problemas existentes em torno do tema proposto,

os resultados alcançados pelos pesquisadores e as sugestões apontadas pelos

mesmos em relação ao ensino da Geometria Analítica e das investigações em

torno dos livros didáticos.

1.1 Pesquisas sobre o Ensino da Geometria Analítica

Destacamos nesse momento pesquisas em Geometria Analítica,

desenvolvidas na área da Educação Matemática, em diferentes níveis de ensino,

pela dificuldade de encontrarmos estudos destinados ao ensino superior. A

realização dessa análise é relevante, pois dessa forma demonstra a pouca

ênfase aos trabalhos em Geometria Analítica no Espaço. A busca por tais

pesquisas ocorreu por meio da consulta ao banco de teses e dissertações da

Capes, além de banco de teses de Instituições educacionais de nível superior

tanto no Brasil, como no exterior, além de sites de busca nacionais e

internacionais utilizando palavras-chave, tais como: Geometria Analítica,

Geometria Analítica no Espaço, Reta no Espaço.

O artigo de Sidericoudes (1998) apresenta uma pesquisa realizada com

alunos da 3ª série do ensino médio de uma escola pública utilizando um

micromundo desenvolvido no ambiente computacional Logo. A atividade

proposta teve como objetivo criar condições para o aluno participar da

descoberta e assimilar as ideias matemáticas no micromundo da Geometria

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Analítica, por meio de atividades de resolução de problemas envolvendo ponto,

reta e distâncias privilegiando o processo de construção dos conceitos

matemáticos.

Para a realização das atividades, a turma investigada foi dividida em

grupos e trabalhou em horário regular de aula, totalizando aproximadamente

vinte horas-aula. No que se refere ao procedimento didático, as atividades foram

desenvolvidas de forma orientada e estimulada criando-se condições que

possibilitassem o envolvimento do aluno na busca de soluções alternativas para

a resolução dos problemas apresentados.

Dentre as atividades elaboradas por Sidericoudes (1998) para o

micromundo da Geometria Analítica, podemos destacar como exemplo a

situação representada no quadro 1:

Quadro 1 : Atividades elaboradas para o micromundo da Geometria Analítica

Fonte: Sidericoudes (1998, p. 5)

Com base nos resultados alcançados a autora pôde inferir que o ambiente

favoreceu a realização das atividades pelos alunos da forma que eles

consideraram ser a mais adequada. A liberdade de representação da linguagem

Logo fez com que os alunos se sentissem seguros na resolução dos problemas

aplicados. Além disso, os conteúdos de Geometria Analítica trabalhados durante

as atividades aplicadas foram manuseados e compreendidos pelos alunos,

possibilitando aos mesmos a “aprenderam Matemática”, “fazendo Matemática”

(SIDERICOUDES, 1998).

Sidericoudes (1998), ao concluir suas ideias, aponta que a compreensão

e o aprendizado dos conceitos matemáticos no ambiente Logo, possibilitaram a

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21

compreensão de outros conceitos da Geometria Analítica, desenvolvidos em

momentos anteriores à atividade proposta.

A proposta apresentada por Sidericoudes (1998) demonstra a

preocupação da pesquisadora em elaborar uma atividade na qual o aluno

participe do processo de construção dos conceitos de Geometria Analítica, uma

vez que no ensino tradicional o conteúdo é abordado apresentando-se

primeiramente os conceitos e depois solicitando a resolução de exercícios

normalmente extraídos de um livro didático.

Ao analisarmos o trabalho de Sidericoudes (1998) percebemos o uso de

softwares viabiliza a compreensão dos conceitos de Geometria Analítica, mas

de acordo com pesquisas na área da Educação Matemática é necessário

também observar as abordagens presentes nos livros didáticos utilizados pelos

professores. Assim, diferentemente dessa autora, dedicamo-nos a investigar

livros didáticos utilizados no ensino superior no que se refere ao estudo da Reta

e do Plano no Espaço.

A pesquisa realizada por Osta (1990) teve como intuito estudar a

possibilidade de recuperar durante o ensino de Geometria Analítica, a relação

entre padrões espaciais e sua modelagem, por meio de representações gráficas.

Tal relação se manifesta por meio da estruturação do objeto, e a construção de

uma ordem espacial ao longo de cada uma das principais direções do espaço.

Osta (1990) testou suas atividades com alunos do ensino secundário por

três vezes em uma oficina de informática, na região de Grenoble. Cada

experimento foi realizado em duas sessões de duas horas cada, sendo tal

experimento realizado com oito alunos que foram solicitados a trabalhar em

pares, cada par com um computador. Para recolher as informações, a autora

utilizou como instrumento de coleta de dados notas de observadores (um

observador por par), áudio-gravações e arquivos de computador gravados,

contendo desenhos produzidos pelos alunos

Para a realização das atividades os alunos tinham à sua disposição: um

disco de mídia removível contendo o editor gráfico Mac Paint, a representação

de um cubo dentro de um álbum do Mac Paint e vários módulos de cubos

montados e colocados fixados em suas mesas. Osta (1990) adotou uma

determinada perspectiva cilíndrica, de acordo com as características

apresentadas no cubo da figura 1.

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Figura 1 : Representação de um cubo

Fonte: Osta (1990, p. 28)

A proposta apresentada pela pesquisadora consistia na realização de

projetos para a construção de cubos utilizando ferramentas gráficas simples e

chegando o mais próximo possível da construção feita em um ambiente de lápis

e papel.

As análises dos dados coletados, objetivou identificar a relação entre as

concepções dos estudantes e a situação vivenciada. Tais situações referem-se

ao problema da interação entre alunos e computador e às interações entre os

alunos (trabalho em pares promove conflito sócio cognitivo e a necessidade de

argumento).

Após a análise dos resultados, Osta (1990) conclui que o computador pode

desempenhar um papel importante para o ensino, a saber: “ele permite a

construção de situações-problema nas quais a validação de trabalho dos alunos

é interna à situação pela implementação de meios de controle ... os alunos

podem decidir se a sua construção de um componente é correta ou não”

(Tradução nossa, p.47). A pesquisadora também levanta a questão das escolhas

didáticas feitas pelo professor, o qual tem uma ampla gama de escolhas que

podem promover um processo de aprendizagem controlado.

Concordamos com Osta (1990) quando aponta sobre as escolhas

didáticas que o professor possui para realizar o processo de aprendizagem, mas

por vezes, recorre unicamente ao livro didático. Por essa razão, nossa pesquisa

sobre análise de manuais didáticos de Geometria Analítica no Espaço pode

contribuir no âmbito do ensino.

O trabalho de pesquisa de Richit (2006) se propôs a descrever como

trabalhar com projetos em Geometria Analítica, utilizando software de geometria

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dinâmica, com o intuito de favorecer a formação de futuros professores de

Matemática. Para nortear sua pesquisa Richit (2006) se preocupou em

responder a seguinte questão: Como trabalhar com projetos em Geometria

Analítica, usando software de geometria dinâmica, visando a favorecer a

formação de futuros professores de Matemática?

Para obter os dados para sua pesquisa Richit (2006) investigou seis alunos

em Regime Especial de Recuperação na disciplina de Geometria Analítica do

Curso de Matemática da Unesp de Rio Claro, os quais foram agrupados em

duplas e trabalharam durante nove sessões (3 horas cada) na elaboração de

atividades didáticas de Geometria Analítica. A pesquisadora procurou promover

conversas durante os encontros no intuito de saber como os licenciandos

avaliavam a estratégia de trabalho adotada na investigação no que se refere à

formação tecnológica e específica. As atividades elaboradas constituíram-se nos

projetos de cada dupla, as quais foram pensadas como uma forma de promover

a formação tecnológica, específica e pedagógica dos futuros professores de

Matemática.

Nos resultados encontrados a partir dessa pesquisa, pode-se observar as

indicações dos alunos investigados acerca da necessidade de se colocar o futuro

professor, durante a sua formação, em contato com os recursos tecnológicos

disponíveis, preparando-o para enfrentar os desafios de sua profissão, além de

estimular o desenvolvimento de habilidades de uso pedagógico destes recursos,

o que contribuirá com o processo de construção do conhecimento desse futuro

docente.

Ao analisar a intervenção realizada, a autora citada inferiu que o uso do

software, como o Geometricks, favoreceu a visualização de conceitos e

propriedades que foram tratados nas atividades desenvolvidas pelos alunos. Tal

pesquisadora também sustenta que tais atividades propiciaram a compreensão

de conceitos e estimularam a investigação matemática, contribuindo na

construção de saberes matemáticos.

Concluindo seu estudo, Richit (2006) destaca que a atividade pedagógica

fundada no desenvolvimento de projetos que privilegiam o uso de tecnologias

informáticas, constitui-se em experiências educacionais significativas no curso

de licenciatura, corroborando no processo de formação inicial docente em

Matemática, “pois favorecem o aprofundamento do conteúdo matemático, o

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desenvolvimento de competências de uso pedagógico das mídias informáticas,

assim como permitem ampliar o conhecimento do recurso que está sendo

utilizado” (p.14). A autora também acredita que o trabalho com projetos em

Matemática ou em outra disciplina pode ser realizado com atividades distintas

das que foram desenvolvidas no estudo realizado, como por exemplo, a

elaboração de campanhas de conscientização, jornais escolares, peças de

teatro, exposições de pesquisas ou trabalhos realizados na escola, feiras sobre

assuntos disciplinares etc., de modo que este material seja repassado à

comunidade.

A investigação realizada por Richit (2006) chamou nossa atenção pelo fato

da autora se preocupar com o desenvolvimento de projetos em Geometria

Analítica, para favorecer a formação de futuros professores de Matemática.

Assim, constatamos a pouca ênfase que tem sido dada às pesquisas em

Geometria Analítica no Espaço e, por conseguinte, nossa pesquisa segue um

caminho oportuno para tal abordagem.

No estudo realizado por Bernard e Thoaldo (2009) são apresentados

diferentes cenários utilizando o software de geometria dinâmica Cabri-Géomètre

como ferramenta para o ensino e a aprendizagem da Matemática em Cursos de

Engenharia de uma universidade no estado do Paraná, os quais poderão ser

utilizados para o ensino a distância. Os autores mostram a possibilidade da

obtenção de medidas de áreas e volumes de poliedros irregulares em tempo real

utilizando a “Macro Construção” do Cabri (LABORDE, 1999, apud BERNARD E

THOALDO, 2009), que possibilita a obtenção dos valores procurados apenas

com os vértices da figura. Apresenta-se, também, um cálculo de medidas de

áreas no espaço pela generalização do Teorema de Pitágoras.

Dentre os objetivos apontados para realização dessa pesquisa, podemos

destacar que os autores pretendiam:

a) Participar de forma fundamentada com uma contribuição aos processos

de ensino e de aprendizagem da Matemática e de sua integração nas conexões

entre o sistema escolar e social na área da Matemática (CARRETERO, 1997,

apud BERNARD E THOALDO, 2009);

b) Atualizar os conhecimentos nos processos de ensino e de aprendizagem

(BERNARD, 2004, apud BERNARD E THOALDO, 2009);

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c) Conduzir o aluno a resolver problemas geométricos por um enfoque que

lhe permita conjecturar, modelar, experimentar, exemplificar, generalizar e

verificar (MASON, 1982, apud BERNARD E THOALDO, 2009);

d) Utilizar a geometria intuitiva e a dedutiva que, juntas, devem contribuir

para o aprimoramento do processo de aprendizagem em Matemática, não

meramente pela ilustração geométrica, mas, sobretudo, pela validação da

construção numa dada Teoria Geométrica (MARIOTTI, 1999, apud BERNARD

E THOALDO, 2009);

e) Possibilitar as soluções gráficas e analíticas simultâneas em tempo real

(BERNARD, 2001, apud BERNARD E THOALDO, 2009).

f) Proporcionar um enfoque construtivista aos processos de ensino e de

aprendizagem (BODEM, 1999, apud BERNARD E THOALDO, 2009).

Para realização de sua pesquisa, Bernard e Thoaldo (2009) selecionaram

alguns problemas métricos que dão enfoque especial aos métodos geométricos

cujas soluções podem ser encontradas adotando-se uma abordagem que

relaciona a geometria intuitiva e a dedutiva. Os problemas foram aplicados para

turmas dos Cursos de Licenciatura em Matemática e Engenharia Ambiental que

estavam cursando a disciplina Geometria Analítica, totalizando oitenta alunos.

Segundo os autores, os alunos que participaram do experimento comprovaram

um melhor desempenho e aproveitamento superior aos estudantes de anos

anteriores.

Bernard e Thoaldo (2009) constataram que a geometria dinâmica pode

promover a ligação entre a Álgebra e a Geometria e contribuir significativamente

para a aprendizagem em matemática. Os resultados obtidos on-line permitiram

inferir que o enfoque computacional proporcionado pela Geometria Dinâmica

configura-se como uma alternativa didática para os processos de ensino e de

aprendizagem da Matemática, além de atuar como agente de motivação e

desenvolvimento do raciocínio lógico-espacial.

Finalmente, os autores concluem que qualquer atividade realizada em

ambiente computacional deve ser complementada com uma discussão, na qual

deve-se buscar significados para as construções geométricas. Bernard e

Thoaldo (2009) também perceberam que a utilização de representações

dinâmicas no ensino para o curso de Engenharia possibilita: modelar fenômenos,

estimular a aprendizagem contextualizada e interdisciplinar, auxiliar na validação

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de teoremas e sem dúvida atuar como agente de motivação e desenvolvimento

do raciocínio lógico.

O trabalho de pesquisa realizado por Colpo et al (2009) tem como intuito

relatar a prática pedagógica realizada numa escola da rede estadual de Santiago

(RS), com uma turma do 3º ano do Ensino Médio. Os autores elaboraram

sequências de atividades fundamentadas nos princípios da Engenharia Didática,

considerando atividades que conduzissem os alunos a experimentar, interpretar,

visualizar, induzir, conjeturar, abstrair e generalizar os conceitos de Geometria

Analítica, surgindo naturalmente daí o processo de argumentação e dedução das

leis.

A aplicação das sequências de ensino ocorreu no laboratório de informática

da escola investigada, com um total de quatorze horas/aula, distribuídas em

cinco aulas semanais. Com base nos protocolos de pesquisa, os autores

constataram que os recursos utilizados para o desenvolvimento das aulas, bem

como as explicações ministradas pelos pesquisadores contribuíram para a

motivação e aprendizagem significativa dos alunos em relação aos conceitos

trabalhados de Geometria Analítica.

Nesse sentido, Colpo et al (2009) entendem que é possível explorar

diversos outros conteúdos matemáticos com auxílio das novas tecnologias,

ganhando-se tempo, criando-se motivação e aumentando-se o nível de

compreensão dos alunos. No entanto, os autores alertam que o ensino com o

uso dos recursos tecnológicos somente terá significado se o professor estiver

preparado para elaborar um planejamento que explore ao máximo os conteúdos

programáticos.

Compartilhamos do pensamento desses autores quando advertem que o

ensino com as novas tecnologias passa a ter significado quando o professor

encontra-se preparado ao organizar um planejamento que contemple os

conteúdos em sua plenitude. No entanto, enfatizamos que para o professor ter

uma formação adequada, é relevante que tal profissional tenha uma visão clara

dos recursos a serem utilizados no processo de ensino, como também dos

conteúdos a serem abordados. Por essa razão, julgamos importante realizarmos

uma investigação sobre análise de livros didáticos para o ensino superior, haja

vista que é um recurso amplamente utilizado pelos professores em sua carreira

docente.

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A pesquisa de Lebeau (2009) se propõe a investigar sobre o ensino e

aprendizagem da Geometria Analítica tridimensional no ensino secundário

refletindo tanto sobre questões epistemológicas quanto didáticas.

Lebeau (2009) realiza uma análise da transposição didática que permite

explicar a inversão didática que consiste em ensinar a Geometria Analítica como

um subproduto da Álgebra Linear. Em sua análise a autora destaca os seguintes

aspectos:

1. Existe uma ruptura com o empirismo, com base nos contrastes entre as

abordagens de Euclides e Hilbert: os pontos, retas e planos não são

apenas especificados, segundo Hilbert, pelos axiomas que experimentam

as relações entre eles, tal como “dois pontos determinam uma e somente

uma reta”. Mas, segundo Euclides, as definições que são esperadas,

levam em conta, de um modo empírico, a natureza dos objetos sobre os

quais se trabalha.

2. O projeto de prolongar a Geometria axiomática para englobar o cálculo de

coordenadas: na Geometria sintética é interessante ir adicionando os

axiomas ou teoremas puramente geométricos que permitem incorporar de

maneira coerente os sistemas de coordenadas. Por isso está longe de ser

uma especificação geométrica da Álgebra Linear em que os primeiros

objetos são vetores, os espaços vetoriais e o produto escalar como forma

simétrica bilinear positiva.

3. Razões e benefícios para construir um formalismo independente da

escolha de um ponto de referência: historicamente, muitos matemáticos

como Burali Forti e Marcolongo tinham um projeto de encontrar

axiomaticamente um formalismo autônomo para calcular diretamente os

objetos geométricos, os pontos por exemplo, sem manipular as

coordenadas numéricas que representam um determinado ponto de

referência. As razões para tal projeto podem ser explicadas a partir dos

seguintes aspectos: as razões de abandono das coordenadas (a

penosidade dos cálculos, manter intacto o significado das magnitudes

envolvidas, criar um formalismo intrínseco, independente do ponto de

referência escolhido), uma economia de escrita e uma economia de

pensamento (unificar os casos de diversas figuras, o interesse pelo

cálculo do baricentro, sucesso da notação dois-pontos “B-A” na cultura

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Anglo-saxônica, uma ruptura com as experiências sensíveis e acesso aos

espaços abstratos).

4. Uma inversão didática ao ensinar a Geometria como sendo um produto

da álgebra linear: ao invés de ensinar a Geometria de maneira sintética e

analítica para deduzir gradativamente os elementos que serão

constituídos na Álgebra Linear, como ocorreu historicamente, se começa

a ensinar pela Álgebra Linear para vir depois a Geometria como sendo

uma de suas especificações.

5. Característica da engenharia didática: a reforma no ensino da Geometria

permite estabelecer pontos entre o ensino secundário e o ensino superior,

tais como: um modelo de Geometria para o “espaço físico”, uma

ordenação dedutiva local, a questão do formalismo, um projeto no âmbito

da Geometria Euclidiana, uma validação sócio construtivista do

formalismo algébrico e o ensino da Geometria Analítica tridimensional

insere-se em uma praxeologia do tipo “modelização” e rompe com a

transposição habitual.

Como metodologia de pesquisa, Lebeau (2009) propõe uma engenharia

didática para alunos do segundo e terceiro ano do exame nacional

(Baccalauréaut) da Bélgica, cujo intuito foi trabalhar determinadas equações

como restrições nos pontos de coordenadas de um conjunto, permitindo assim

que os mesmos ultrapassem uma concepção “rotulada”. A autora destaca que

após iniciar a representação no espaço, é importante fazer para os alunos a

interpretação geométrica dos conjuntos de pontos a partir das restrições dadas.

A pesquisadora realiza uma análise das variáveis didáticas que

caracterizavam sua engenharia didática destacando que no âmbito da

transposição didática habitual os professores iniciam o ensino da Geometria

Analítica pela reta ou pelo plano de forma indiferente, tornando possível as

definições vetoriais dos objetos geométricos, com base em conhecimentos

prévios concernentes ao conceito de vetor. No decorrer de suas análises,

Lebeau (2009) inicia o estudo dos eixos sobre o plano, depois com as retas e as

estratégias que permitem determinar o plano a partir das retas e por fim, analisa

o papel fundamental da figura do paralelogramo, por um lado, e a concepção de

translação por outro. A autora também fornece pressupostos sobre o discurso

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tecnológico justificando a modelização utilizada, como também analisa em que

os ostensivos mobilizados são emblemáticos de um ou outro modo de pensar.

A partir dessa reflexão a pesquisadora coloca as seguintes questões para

os alunos:

Questão 1: Que representação, no espaço, o conjunto de pontos

incluindo as coordenadas (x, y, z) verificam a equação � = − �� � + 3 ?

Qualquer ponto verifica a equação? Justifique sua resposta.

Questão 2: O que representa a equação � = �² ?

Questão 3: E a equação = �² ?

Questão 4: E a equação � = �² + �² ?

(LEBEAU, 2009, p. 254-255 - Tradução nossa).

Os resultados encontrados por Lebeau (2009) apontam que a maioria dos

alunos interpretaram as questões 1 como sendo a equação de uma reta e a

questão 2 foi interpretado como a equação de uma parábola no plano do sistema

de eixos Oxy . A pesquisadora verificou a dificuldade dos alunos em organizar

suas ideias de maneira racional e lógica, afirmando que a cota z não existe.

Outra dificuldade encontrada por Lebeau (2009) refere-se à equação � = �� +��, a qual, para alguns alunos, não está associada a equação canônica de um

círculo no plano Oxy .

Em nossa pesquisa, nos referenciamos às variáveis didáticas apontadas

pela pesquisadora citada por acreditarmos que apresenta aspectos que melhor

se adaptam as análises das organizações matemática e didática presentes nos

materiais didáticos que investigamos.

Após esse levantamento bibliográfico foi possível perceber nas pesquisas

supracitadas a preocupação dos pesquisadores em relação ao ensino da

Geometria Analítica. Outra situação presente nos estudos mencionados refere-

se à utilização de softwares para o desenvolvimento das atividades sobre

Geometria Analítica. No entanto, fica evidente que, pelo menos dentre os

trabalhos aqui destacados, apenas o de Lebeau (2009) teve a intenção de

estudar sobre a Geometria Analítica no Espaço. Tampouco encontramos

estudos com o objetivo de analisar livros didáticos relacionados a esse campo

da Matemática como um conhecimento necessário para o desenvolvimento de

pesquisas no âmbito da Geometria.

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Em vista disso, acreditamos ser necessário e concludente a realização de

uma investigação que contemple a Geometria Analítica no Espaço, abordando

aspectos didáticos referentes ao ensino da Reta e do Plano e que caminhe para

uma análise das organizações matemática e didática que podem se fazer

presentes em livros didáticos destinados ao ensino superior.

1.2 Pesquisas envolvendo a TAD e a Geometria Analít ica

Nessa parte de nossos estudos apresentamos um levantamento de

pesquisas que se dedicaram a investigar o ensino de Geometria Analítica,

utilizando a TAD como referencial teórico, bem como quais conclusões foram

alcançadas e ainda que sugestões foram apontadas por tais investigadores. Ao

realizarmos um levantamento dessas pesquisas no Banco de teses e

dissertações da Capes, bem como anais de eventos de Educação Matemática,

periódicos, dentre outros, nos deparamos com dois trabalhos contemplando a

temática em questão. No que segue apresentamos os trabalhos encontrados.

A pesquisa desenvolvida pela autora teve como objrtivo analisar de que

forma os autores de materiais didáticos para o Ensino Médio organizaram as

tarefas propostas envolvendo provas e demonstrações sobre o conteúdo de

Geometria Analítica Plana. A opção da autora em realizar uma investigação do

livro didático se deu pelo fato da mesma atuar na Rede pública Estadual de

Ensino e ter em mãos um material de apoio (Caderno do Professor) como um

recurso de ensino elaborado por autores dentre os quais alguns são da área da

Eduação Matemática.

As bases teóricas que subsidiaram as análises dos resultados

encontrados na pesquisa de Varella (2010) foram a Teoria Antropológica do

Didático de Yves Chevallard (1999), quanto aos conceitos de organização

praxeológica e a tipologia de provas de Nicolas Balacheff (1988).

Para demilitar os livros a serem analisados em sua pesquisa, Varella

(2010) optou por trabalhar com as coleções de livros aprovadas pelo Programa

Nacional do Livro para o Ensino Médio para 2009, pois ficam disponíveis para

os professores em âmbito nacional. Além dos livros didáticos, a autora analisou

concomitantemente o material disponibilizado pela Secretaria da Educação do

Estado de São Paulo, o qual é utilizado por toda rede pública do Estado.

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Após definir os materiais didáticos a serem analisados, Varella (2010)

buscou analisar quais organizações didática e matemática presentes nestes

materias no que se refere ao estudo da equação da Reta em Geometria

Analítica. As análises da autora foram norteadas por quatro questões,

concernentes ao estudo de provas e demonstrações e apresentando pelo menos

uma tarefa a ser realizada tendo por justificativa as técnicas escolhidas pelos

autores, as quais poderão ser mobilizadas pelos alunos:

• Questão 1: Qual a abordagem utilizada pelo autor para introdução

ao conteúdo Geometria Analítica?

Tarefa 1: Apresentar parte introdutória à Geometria Analítica.

• Questão 2: Como os conceitos matemáticos que antecedem o

estudo da Equaçãoda Reta são apresentados?

Tarefa 1: Identificar quais conceitos são trabalhados precedentes

ao estudo da equação da Reta.

Tarefa 2: Identificar as abordagens utilizadas para descrever esses

conceitos.

• Questão 3: Na introdução dos conceitos que antecedem o Estudo

da equação da Reta são utilizados os termos propriedades,

teorema, prova ou mesmo é feita alguma diferenciação entre eles?

Tarefa 1: Identificar a utilização dos termos nas tarefas executadas

e propostas.

Tarefa 2: Identificar se é apresentada alguma diferenciação entre

os termos utilizados pelo método axiomático-dedutivo.

• Questão 4: As tarefas propostas, voltadas ao estudo da Equação

da Reta, apresentam demonstrações ou provas?

Tarefa 1: Identificar as tarefas propostas para o estudo da equação

da Reta.

Tarefa 2: Identificar, por meio das tarefas, a utilização de provas ou

demonstrações.

Nas análises das tarefas que Varella (2010) encontrou, dentre os 5 livros

analisados, 3 contemplaram a abordagem histórica para introdução ao conteúdo

de Geometria Analítica. Para a autora, tal abordagem privilegia a utilização de

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diferentes registros de representação, tais como algébricos, figurais ou textuais

por meio de exemplos dentro ou fora do contexto matemático.

Quanto ao estudo da equação da reta, Varella (2010) observou que todos

os materiais apresentam pelo menos uma das formas de representação da reta:

equação geral, equação reduzida, equação paramétrica e equação segmentária.

Ao analisar as tarefas executadas pelos autores das coleções analisadas no que

referentes à equação da reta, a autora identificou apenas uma atividade que

utilizava o termo “analisar se” e destaca que esse tipo de tarefa torna-se

interessante em relação à análise da resposta encontrada, pois possibilita ao

aluno oportunidades de explorar, conjecturar, reformular, explicar e validar suas

resoluções.

Varella (2010) conclui, diante das abordagens realizadas, que existe uma

ausência de definição para os termos que constituem o método dedutivo, assim

como falta clareza na organização Matemática ao se demonstrar um teorema. A

autora também identificou que, na maioria dos livros didáticos analisados, não

está explícito se uma relação representa uma propriedade, um teorema ou deduz

apenas uma fórmula.

O segundo trabalho que encontramos foi de Andrade (2012). Em sua

tese o autor demonstra uma preocupação com as organizações matemáticas

propostas para o ensino médio em relação a Geometria Analítica Plana e aponta

que tais organizações apresentam conexões internas reduzidas ou mesmo

nenhuma, além da ausência de conexões com outros tópicos da Matemática.

Em relação as conexões internas, o autor observa que as organizações

matemáticas apresentam praxeologias pontuais, tais como calcular a distância

entre dois pontos e calcular o módulo de um vetor, em diferentes momentos do

ensino, aparentemente, sem qualquer conexão, ainda que utilizem a mesma

técnica, decorrente do Teorema de Pitágoras como tecnologia.

Andrade (2012) encontrou na Teoria Antropológica do Didático,

especificamente na noção de Tarefas Fundamentais, os subsídios necessários

para analisar e desenvolver organizações matemática e didática para os estudos

de Geometria Analítica Plana. Dentre as Tarefas Fundamentais eleitas pelo

pesquisador para desenvolver os momentos didáticos de um processo de estudo

de Geometria Analítica Plana, destacam-se as seguintes tarefas:

• Tipo de Tarefa Fundamental 1: localizar pontos no plano.

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• Tipo de Tarefa Fundamental 2: calcular a distância entre dois pontos.

• Tipo de Tarefa Fundamental 3: encontrar a equação do segmento de reta.

Essas tarefas, apontadas por Andrade (2012), foram evidenciadas com

base nas análises das organizações matemáticas propostas em livros didáticos,

como também no levantamento histórico e epistemológico da Geometria

Analítica presente na obra de René Descartes e permitiram ao autor perceber a

potencialidade de Tarefas Fundamentais na Geometria Analítica. A partir dessas

investigações, o autor aponta que o problema da desarticulação entre os

conteúdos ocorre também em outros níveis de ensino, além do ensino médio,

mencionando que tal problema ocorre também no nível superior, como entre a

Geometria Sintética e a Geometria Analítica e ainda entre áreas como a álgebra

e a geometria.

Ao analisar a proposta curricular brasileira em relação a Geometria,

Andrade (2012) verifica que essa área da Matemática encontra-se estabelecida

nos setores da Geometria Plana, Geometria Espacial, Geometria Métrica e

Geometria Analítica. Em relação a Geometria Analítica, o autor destaca que a

mesma é caracterizada pelo “método cartesiano” sustentada pelas técnicas da

Álgebra Linear e no ensino básico tem se reduzido a “um simples transporte

gráfico de pontos e curvas, um modo de reconhecer as formas das seções

cônicas a partir de equações expressadas de maneiras mais ou menos normais”

(Ibid, p. 97).

Ao assumir em sua pesquisa o problema da desarticulação temática

como fenômeno ligado determinadas problemáticas, como currículo, formação e

prática docente, Andrade (2012) analisa o desenvolvimento de um percurso de

estudos e pesquisas em uma comunidade de práticas de uma escola técnica da

cidade de Belém (PA), enquanto dispositivo metodológico de formação. O

pesquisador compartilhou sua problemática, em relação a Geometria Analítica,

com a comunidade investigada e propôs um sistema didático sobre esse saber

específico. No início dos estudos, a comunidade de prática busca relações entre

as organizações matemáticas e didáticas propostas em livros didáticos

referentes à Geometria Analítica recorrendo ao modelo praxeológico proposto

pela TAD, indicando as tarefas e tipos de tarefas propostos pelas organizações

matemáticas.

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Dentre os tipos de tarefas para o estudo da Geometria Analítica no

Plano, a comunidade investigada por Andrade (2012), após a apresentação das

práticas destacou como importante: localizar pontos no plano, determinar a

distância entre dois pontos, escrever a equação da reta, determinar a medida de

um segmento a partir de outros segmentos.

A construção de organizações praxeológicas para a Geometria Analítica

Plana, adotada pela comunidade de prática envolvida na pesquisa de Andrade

(2012) mostrou-se árdua e complexa, apresentando alguns conflitos de relações

pessoais com as novas relações institucionais com saberes nas organizações

didáticas com saberes. Também ficou evidente nessa comunidade, que é tarefa

do professor “construir uma organização a partir de recortes de organizações

matemáticas presentes nos livros-textos do ensino básico”. (Ibid, p.162)

A partir da leitura dessas pesquisas foi possível perceber os problemas

que existem em relação ao ensino de Geometria Analítica nos diferentes níveis

de ensino, como também em relação ao ambiente em que se desenvolve. Tais

investigações mostraram-se relevantes para nortear o desenvolvimento de

nosso trabalho, em particular as que apresentam relação direta com o tema de

nossa pesquisa, a saber: Lebeau (2009) por subsidiar nosso trabalho em relação

às variáveis didáticas que possibilitaram analisar as diferentes articulações

possíveis da Geometria Analítica no Espaço e Andrade (2012) por contribuir com

sua pesquisa em relação ao referencial teórico apoiado nos parâmetros da TAD,

apontando o papel funcional dos tipos de tarefas nas organizações matemática

e didática de Geometria Analítica Plana.

Vale ainda ressaltar que a partir desses estudos preliminares foi possível

constatar que apesar de encontrarmos estudos sobre a Geometria Analítica não

constatamos pesquisas que tratassem sobre uma análise praxeológica referente

à Geometria Analítica no Espaço como nos propomos a desenvolver. Desse

modo, nos sentimos motivados a realizar este trabalho no intuito de colaborar

com as pesquisas em Educação Matemática.

A proposta de nossa tese conduz a algo ainda não apontado nos trabalhos

consultados. Nos propomos a analisar as organizações matemática e didática

referentes aos conteúdos sobre Reta e Plano no Espaço, permitidos pelas

variáveis didáticas desenvolvidas por Lebeau (2009) para o ensino da Geometria

Analítica no Espaço.

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35

1.3 Estudo do Objeto Matemático

Por meio da apresentação dos conceitos referentes ao estudo da

Geometria Analítica no Espaço temos a intenção de fazer um levantamento do

objeto matemático, especificamente da Reta e do Plano, por meio de sua

organização formal, conforme as indicações apontadas por Lebeau (2009). Tal

estudo servirá de apoio em nossas análises no que se refere à descrição das

tarefas apontadas nos materiais analisados.

1.3.1 O Plano

Como mencionado anteriormente, seguiremos as recomendações de

Lebeau (2009) para abordagem do Plano no Espaço

Uma estratégia clássica, como designado por Lebeau (2009), para

caracterizar o Plano, consiste em apresentar a equação �� + �� + + � = 0

como uma propriedade da ortogonalidade. Desse modo, pode-se trabalhar uma

equação do plano a partir de um ponto dado e de um vetor normal não nulo (cf.

Figura 2).

Figura 2 : Representação do plano dado um ponto e um vetor normal

FONTE: Lebeau (2009, p. 191)

Essa caracterização que conduz à equação cartesiana do plano pode ser

demonstrada do seguinte modo:

Hipótese: seja P um ponto de coordenadas (��, ��, �) e ��� um vetor normal não

nulo.

Tese: Equação do plano �.

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Um ponto M qualquer de coordenadas (�, �, ) pertence ao plano � se, e

somente se, os vetores ��� e ��������� são ortogonais. Por conseguinte: � ∈ � ↔ ��������� ⟘ ��� ↔ (� − ��, � − ��, − �) ⟘(�, �, )

↔ ��� − ��� + ��� − ��� + � − �� = 0

↔ �� + �� + − ��� − ��� − � = 0

↔ �� + �� + + � = 0

Pois, ��, ��, �, �, �, são conhecidos por hipótese.

Conclusão: a equação �� + �� + + � = 0 é uma equação cartesiana do

plano �.

Esta propriedade, sendo condição necessária e suficiente, caracteriza

qualquer plano a partir de retas perpendiculares a uma reta dada, ou de modo

mais preciso, os vetores ortogonais a uma vetor dado, o produto escalar nulo é

condição necessária e suficiente para exprimir a ortogonalidade (LEBEAU,

2009).

Outra estratégia para abordar o Plano, de acordo com a indicação de

Lebeau (2009) é caracterizá-lo como um conjunto de retas perpendiculares a

uma reta dada � (Figura 3), em um de seus pontos �.

Figura 3 : Representação do plano como conjunto de retas perpendiculares

Fonte : Lebeau (2009, p.193)

Se considerarmos que todos os pontos do Plano pertencem a uma reta

perpendicular a � em � e que todo ponto dessa reta pertence ao Plano. Então,

considerando �, o conjunto de retas perpendiculares à reta � em �, o plano � é

perpendicular à � em � e �′, pontos quaisquer de �. A reta � é perpendicular a

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� e perpendicular a todas as retas do plano passando por qualquer ponto

pertencendo a �. Consequentemente, as retas ��′ e � são perpendiculares em � e ��′ pertencentes ao conjunto �. Todo ponto de � pertence, portanto, à uma

reta de �.

A abordagem do Plano também pode ser conduzida pela concepção

desse objeto geométrico como uma superfície regular. Lebeau (2009) sugere

que haja um questionamento inicial do tipo: “o que representa, no espaço, o

conjunto de pontos cujas coordenadas verificam a equação !� + 3� + � − 2 =0?” (p.194).

Uma das estratégias de resolução para essa questão é anular cada

variável da equação !� + 3� + � − 2 = 0, interpretando a equação obtida como

uma reta do plano de coordenadas. Dessa maneira, ao considerar = 0, tem-se 3� + � − 2 = 0 como a equação de uma reta d’ em xOy, ao considerar � = 0,

tem-se !� + 3� − 2 = 0 como a equação da reta d’ no plano xOz e ao considerar

� = 0, tem-se !� + � − 2 = 0 como a equação de d’’ no plano yOz. Portanto, é

possível concluir que estamos lidando com um plano (Figura 4).

Figura 4 : Representação do plano como superfície regular

Fonte : Lebeau (2009, p.194)

O plano também pode ser caracterizado a partir do exame de diversos

casos de figura, como: seja um plano determinado por três pontos O, A e B não

alinhados, todo ponto C, diferente dos outros pontos, é coplanar com esses se,

e somente se, as retas OA e AC são secantes. (LEBEAU, 2009). Partindo do

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pressuposto que as equações paramétricas das retas já tenham sido objeto de

uma institucionalização, pode-se dizer que:

Se k e k’ representam os parâmetros reais, as equações paramétricas das

retas OA e BC são da forma:

Reta OA:#� = $�%� = $�% = $% ou � = $&

Reta BC:'� = �( + $′(�( − �))� = �( + $*(�( − �)) = ( + $*(( − )) ou � = + + $′(+ − ,)

As retas serão secantes se, e só se, o sistema $& = + + $′(+ − ,) é

compatível em $, $′ e possui uma única solução.

1.3.2 A Reta

Uma forma de abordar a Reta no Espaço, consiste em projetar os pontos

sobre os planos de coordenadas, como aponta Lebeau (2009), verificando se

suas projeções se encontram alinhadas e determinando se estes pontos também

estão alinhados. Essa abordagem possibilita determinar dois tipos de

caracterização das retas: a equação paramétrica e a equação cartesiana.

Assim, se considerarmos três pontos &, + e , cujas diferenças entre as

coordenadas são proporcionais. Essa hipótese se exprime pela seguinte

igualdade:

'�) − �% = $(�( − �%)�) − �% = $(�( − �%)) − % = $(( − %) sendo k um número real.

Então no plano xOy , as projeções &′(�%, �%, 0), +′(�(, �(, 0) e ,′(�) , �) , 0)

estão alinhados. Considerando o plano � formado por &′+′ e &&′ (cf. Figura 5),

este plano é paralelo ao eixo Oz e contendo os pontos &, + e ,.

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Figura 5 : Plano π paralelo ao eixo Oz

Fonte : Lebeau (2009, p.206)

Pode-se ainda realizar uma argumentação precedente na qual se aponta

a interpretação em termos do plano paralelo a um eixo representado por uma

equação do primeiro grau em �, � e no qual o coeficiente de uma variável é

nulo.

O alinhamento das projeções &′, +′ e ,′ sobre o plano xOy pode ser

estabelecido por meio de uma equação do tipo os �� + �� + = 0. Esta

equação equivale a equação de um plano paralelo ao eixo Oz contendo &, + e ,′. Assim, por um lado, os pontos &′, +′ e ,′ estão alinhados e, de outra parte, a

reta &&′ as retas ++′ e ,,′, bem como ao eixo Oz (pela definição de projeção

paralela). Da mesma forma, se os pontos &′′, +′′ e ,′′ encontram-se alinhados,

então a equação da reta que se compreende é da forma �′� + �′� + ′ = 0. Isto

faz de um plano paralelo ao eixo Ox incluindo igualmente os pontos &, + e ,.

Assim a intersecção de dois planos está alinhada se os dois planos são

secantes.

Portanto, o alinhamento das projeções dos pontos iniciais no plano de

coordenadas é traduzido pela escrita cartesiana a partir da proporcionalidade

das diferenças de suas coordenadas e sendo da forma: �� + �� + = 0 e �′� +�′ + ′ = 0, as quais representam as retas dos planos. Essa abordagem permite

articular a caracterização paramétrica da reta que expressa a proporcionalidade

anteriormente e a caracterização cartesiana em termos do sistema de equações

de dois planos em cada eixo de coordenadas.

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Outra forma de abordar a Reta é considerando três pontos alinhados �, -

e � e suas projeções �*, -′ e �′ sobre um plano qualquer � paralelamente a uma

reta � (Figura 6). Se a reta �- é paralela à �, as projeções são confundidas e

assim pode-se chamar igualmente de alinhamento. Se os pontos �, - e � estão

em �, o resultado é trivial.

Figura 6 : Representação do plano como superfície regular

Fonte : Lebeau (2009, p.200)

Por meio da apresentação dos conceitos referentes ao estudo da Reta e

do Plano temos a intenção de fazer um levantamento do objeto matemático por

meio de sua organização formal, podendo assim estabelecer comparações com

os materiais didáticos que analisaremos no capítulo 4. Tal estudo também servirá

de apoio em nossas análises no que se refere aos tipos de tarefas propostas nos

livros didáticos analisados, como também as variáveis didáticas identificadas por

Lebeau (2009).

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CAPÍTULO 2: FUNDAMENTOS TEÓRICOS DA PESQUISA

_______________________________________________________________

Nesse capítulo, destacamos a base teórica que norteou nossa pesquisa.

Abordamos primeiramente a TAD com base nas ideias propostas por Chevallard

(1999). Elucidamos em seguida as variáveis didáticas apontadas por Lebeau

(2009) para o ensino da Geometria Analítica no Espaço.

2.1. A Teoria Antropológica do Didático (TAD)

No âmbito da didática da Matemática a TAD tem uma contribuição

significativa, pois como afirma Almouloud (2007), tal teoria representa uma

evolução do conceito de transposição didática2, bem como estuda as

organizações praxeológicas didáticas planejadas para o ensino e a

aprendizagem de organizações matemáticas. Tal praxeologia representa o

produto de uma construção social e tem como finalidade específica, o estudo da

Matemática.

Essa teoria busca estudar o homem diante do saber matemático,

especificamente quando se depara com situações matemáticas. Assim,

Chevallard (1999) utiliza o termo antropológico para situar o estudo da

Matemática no interior do conjunto de atividades humanas e de instituições

sociais. E é designada uma teoria do didático, pois é um estudo do objeto de

estudo da didática.

A TAD mostra-se um instrumento relevante para analisar as práticas

docentes e o estudo da Matemática em termos de praxeologias (organizações).

Chevallard (1999) associa dois tipos de praxeologias para o saber matemático,

a saber: a organização matemática (OM) e a organização didática (OD), isto é,

as organizações dos conteúdos (o modo como é feita essa construção) e as

organizações de ensino (a Matemática que é possível ser construída para

desenvolvê-la em sala de aula).

2 Chevallard (1999, p.39) apresenta a definição de transposição didática como sendo: Um conteúdo do saber que tenha sido designado como saber a ensinar, sofre por conseguinte, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a tomar lugar entre os objetos de ensino. O ‘trabalho’ que de um objeto de saber a ensinar faz um objeto de ensino é designado de transposição didática (Tradução nossa).

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Assim, entende-se que cada atividade matemática possui uma

organização didática correspondente e que os conteúdos matemáticos, o

conjunto de objetos matemáticos a serem trabalhados em sala de aula,

apresentam uma forma específica de abordagem sendo necessário que o sujeito

reorganize seus conceitos e mobilize seus saberes a respeito.

A palavra praxeologia é constituída por dois termos gregos, práxis

(prática) e logos (razão), os quais encontram-se integrados, Chevallard; Bosch;

Gascón (2001) explicam que, “como dois lados de uma moeda, não há práxis

sem logos, mas também não há logos sem práxis” (p. 251). Portanto, as

praxeologias podem ser descritas por meio dos componentes tarefa e técnica,

referindo-se ao saber-fazer, e à tecnologia e teoria, as quais constituem o saber.

Chevallard (1991) apresenta notações próprias para identificar cada uma

dessas componentes praxeológicas da seguinte forma: tarefa pelo símbolo (t),

tipos de tarefas pelo símbolo (T), técnica pelo símbolo (ô), tecnologia pelo

símbolo (θ) e teoria pelo símbolo (Θ). De acordo com o autor, a tarefa faz parte

de um conjunto mais amplo designado de tipos de tarefas, pois t∈T. O conjunto

de técnicas, tecnologias e teorias organizadas para um certo tipo de tarefa é

chamado de Organização Praxeológica.

Nesse sentido a tarefa é uma atividade específica, que Chevallard (1999)

define como uma ação em que para executá-la, alguns conhecimentos serão

mobilizados. Podemos citar como exemplo de tarefa, a seguinte situação em

Geometria Analítica:

Tipo de tarefa (T): Calcular a distância entre dois pontos.

Tarefa (t): Calcular a distância entre os pontos A=(7, 3, 4) e B=(1, 0, 6).

O exemplo acima permite perceber que a tarefa (t) encontra-se

estreitamente relacionada com um tipo de tarefa (T) e pode ser identificada por

meio de um verbo de ação que, segundo Almouloud (2007), caracterizaria um

gênero de tarefa, como: determinar, calcular, resolver, localizar, somar,

decompor, os quais não determinam o conteúdo estudado. Também é

fundamental garantir que exista uma maneira de realizar uma tarefa que

pertença a um determinado tipo de tarefa. Tal maneira de realizar uma tarefa

pertencente a um dado tipo de tarefa, designa-se de técnica. A técnica

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representa o procedimento adotado para solucionar uma determinada tarefa (t)

de certo tipo de tarefa (T).

Nesse sentido, uma técnica não representa uma decisão aleatória, pois

não se usa qualquer técnica para resolver uma tarefa. Conforme a TAD, a técnica

para resolver uma dada tarefa não é única, mas a escolha de uma técnica

sempre vem acompanhada de uma justificativa. Assim, existe um conhecimento

matemático para justificar a sua aplicação naquela tarefa e não em outra, e

também existe um conhecimento didático que justifica a escolha daquela técnica

ao invés de outra que produziria o mesmo resultado matemático. Tais

conhecimentos, matemático e didático, devem explicar a razão para ela

funcionar naquele caso específico e por quais motivos ela seria a técnica mais

indicada. No exemplo citado anteriormente podemos usar como técnica:

Técnica (ô): Utilizar a fórmula d(A,B)= .(�� − �! )² + (�� − �! )² + (� − ! )² para calcular a distância entre dois

pontos. Segundo os dados apresentados na questão �! = 7 1 �� = 1; �! =3 1 �� = 0 e ! = 4 1 � = 6. Logo, a distância entre os pontos A e B será .(7 − 1)� + (3 − 0)² + (4� − 6)² = √49 = 7

Para o exemplo mencionado acima, definimos uma técnica (ô) na

realização dessa tarefa, no entanto, toda técnica precisa ser justificada, isto é,

um campo teórico para fundamentá-la. A esse bloco, constituído por um tipo de

tarefa e uma técnica, Chevallard (1999) designa de bloco prático-teórico e pode

ser identificado como um saber-fazer. Esse saber-fazer não se apresenta de

forma isolada, pois toda técnica exige, pelo menos, uma justificativa, quer dizer,

exige um “discurso lógico” (logos) que lhe sustenta, denominado de tecnologia

(θ).

No termo tecnologia não existe qualquer alusão a um produto

industrializado ou a algum utilitário. Tecnologia, no contexto da TAD, é a

justificativa que se dá para um procedimento e tem o intuito de justificar

“racionalmente” a técnica usada no desenvolvimento de uma determinada tarefa,

além de “explicar/esclarecer” a técnica, com o propósito de garantir que a mesma

seja corretamente realizada.

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Considerando o exemplo citado e a técnica usada para resolução dessa

tarefa, é possível justificá-la por meio da fórmula da distância entre dois pontos

e das propriedades das operações aritméticas.

Por outro lado, a tecnologia (θ) exige uma justificativa em um nível

superior que Chevallard (1999) denomina de teoria (Θ). A este bloco, referente

ao papel que a tecnologia e a teoria possui em relação à técnica, Chevallard

(1999) denomina de bloco tecnológico-teórico (θ/Θ), pois está relacionado com

o “saber”. Como exemplo desse bloco podemos considerar os campos da

Matemática, tais como: Geometria, Geometria Analítica e Álgebra.

Na perspectiva da TAD o componente mais amplo considerado em uma

praxeologia é a teoria que transmite a ideia de generalidade, abstração. Sales

(2010) indica que pode ser equivalente a um contemplar o cenário em busca das

causas, dos objetivos e dos porquês.

A luz da TAD muitas vezes o que propomos como tecnologia pode ser

considerado como a própria teoria. Mas, fica evidente, que essa alteração de

posição depende da complexidade da tarefa e do nível de ensino a que foi

destinada.

Observamos então, que uma organização didática não é determinada por

uma ação isolada do professor, pois os fatores sociais e estruturais da disciplina

influenciam fortemente na ação do professor no momento em que ele decide a

organização didática que orientará a atividade proposta. Também é possível

notar que a atitude do estudante mediante as atividades de estudo, sofre

influência desses fatores.

Refletindo sobre as ideias da TAD recordamos que a teoria sugere um

modelo de estudo da atividade matemática. Tal atividade consiste em

“manipular” os objetos matemáticos, ostensivos ou não-ostensivos, e designa-

se praxeologia. Uma praxeologia é composta de duas partes com dimensões

distintas, a saber: a prática e a razão.

2.1.1 Os objetos ostensivos e não ostensivos

A dificuldade com a “natureza” do objeto matemático e com o seu

funcionamento em uma atividade matemática levaram Bosch e Chevallard

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(1999, apud ALMOULOUD, 2007) a instituir uma dicotomia fundamental que os

diferencia em dois tipos: objetos ostensivos e objetos não-ostensivos.

A atividade matemática, segundo a TAD, se realiza mediante uma

pluralidade de registros (escrito, gráfico, verbal, gestual e material). Sendo a

Matemática uma ciência essencialmente abstrata, seus elementos fundamentais

ou conceitos, não são tangíveis senão pela mediação de signos. A TAD não

atribui valor aos signos e não os classifica em mais ou menos apropriados. Uma

figura, uma descrição verbal ou um gesto pode desempenhar o mesmo papel ou

possuir o mesmo significado.

O termo ostensivo é original do latim (ostendere) e significa mostrar,

apresentar, apelar aos sentidos. Os ostensivos são todos os objetos

manipuláveis na execução de uma atividade matemática. Por sua vez, os não-

ostensivos são objetos que existem de forma institucional, tais como as ideias,

as instituições ou os conceitos e podem ser invocados mediante a manipulação

adequada de certos ostensivos apropriados (ALMOULOUD, 2007).

Na execução de uma atividade humana, em particular a atividade

matemática, existe uma relação entre objetos ostensivos e não-ostensivos. No

campo da antropologia, Almouloud (2007) aponta que é possível dizer que “o

cumprimento de toda tarefa envolve a manipulação de ostensivos regulados

pelos não-ostensivos, fazendo com que os objetos ostensivos tornem-se a parte

perceptível da atividade” (p.120).

Sales (2010) indica que nessa teoria é fundamental admitir que a

“apropriação” de um objeto não-ostensivo não encontra-se diretamente ligada a

um ostensivo. Essa “apropriação” de um conceito matemático, dito objeto não-

ostensivo, é resultado de diversos fatores, de uma organização didática ou de

uma atividade matemática complexa em que múltiplos recursos são mobilizados.

Consideramos a TAD um importante instrumento de análise para nossa

pesquisa, pois representa um modelo epistemológico de análise de atividades

matemáticas e visa compreender o que é fazer matemática e como o

conhecimento é produzido.

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2.2.Variáveis Didáticas na perspectiva de Lebeau (2 009)

No estudo proposto por Lebeau (2009) para o ensino da Geometria

Analítica no Espaço, a autora realiza uma análise de variáveis didáticas partindo

de questionamentos tais como: Por onde começar? Pelas retas? Pelos planos?

Pelas equações cartesianas ou pelas equações paramétricas? A autora revela

que no âmbito da transposição didática habitual os professores começam

indiferentemente pela reta ou pelo plano, o que torna possível as definições

vetoriais dos objetos geométricos, com base em conhecimentos prévios

referentes ao conceito de vetor. Assim, em suas análises, Lebeau (2009) decide

partir do estudo dos eixos sobre o plano, depois com as retas e as estratégias

que permitem determinar o plano a partir das retas e, em última análise, mostrar

o papel fundamental da figura do paralelogramo, por um lado, e a concepção de

translação por outro. Destacaremos a seguir as análises feitas pela autora.

2.2.1.Começar pelo plano?

A ideia de começar o estudo de Geometria Analítica pelo plano, aponta

Lebeau (2009), parece absurda, pois o objeto plano pode ser considerado, a

princípio, mais complexo que o objeto reta, pois depende do registro que é visto.

O registro cartesiano, explicita a pesquisadora, parece dificilmente

acessível no que concerne à reta do que quanto aos planos, uma vez que a reta

é determinada por duas equações cartesianas do plano e a variedade de

equações possíveis parece problemática para certos alunos, devido a

interpretação que esta implica em termos de sistema e de interseção. Enquanto

que o plano é determinado por somente uma equação que, se apresenta

ostensivamente como o prolongamento de uma equação já reencontrada na

Geometria Analítica do plano do tipo ax + by + c = 0, que pode representar tanto

uma vantagem como uma desvantagem.

Uma estratégia que se tornou clássica no ensino da Geometria Analítica

consiste em apresentar a equação ax + by + cz + d =0 como uma propriedade

da ortogonalidade. Esta é uma versão com base no conceito de vetor e vetor

normal a um plano, contendo alguns erros de formalismo, conforme comenta

Lebeau (2009). A autora também explicita que é possível considerar uma versão

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que faz abstração do conceito de vetor, assumindo que o produto escalar foi

trabalhado analiticamente no contexto da ortogonalidade da reta.

Lebeau (2009) destaca ainda que um plano pode ser caracterizado como

um conjunto de retas perpendiculares a uma reta dada d em um de seus pontos

M, conforme ilustrado na figura 7.

Figura 7 : Conjunto de retas perpendiculares a uma reta dada d

Fonte : Lebeau (2009, p. 193)

A autora conclui que a aproximação de uma caracterização cartesiana do

plano, via ortogonalidade de vetores, conduz a um questionamento: a definição

de um objeto da Geometria Afim por meio de conceitos da Geometria Métrica e

um trabalho prévio sobre o objeto plano demanda um custo cognitivo. Portanto,

Lebeau (2009) aponta que não parece conveniente adotar esta caracterização

do plano que se assenta sobre a ortogonalidade.

Em outra abordagem do plano, Lebeau (2009) sugere que o trabalho com

os alunos inicie com a seguinte questão: “o que representa, no espaço, o

conjunto de pontos cujas coordenadas verificam a equação !� + 3� + � − 2 =0?

Tal abordagem, explicita a autora, pode conduzir os alunos a pensar em

anular cada variável da equação !� + 3� + � − 2 = 0, interpretando a equação

assim obtida como uma reta do plano de coordenadas. A partir desse

pensamento, considerando z=0 3� + � − 2 = 0 seria a equação de uma reta d

em Oxy, considerando y=0 !� + 3� − 2 = 0 seria a equação da reta d’ no plano

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Oxz e considerando x=0 !� + � − 2 = 0 a equação de d’’ no plano Oyz. Portanto,

a partir da figura 8, os alunos podem concluir que estamos lidando com um plano.

Figura 8 : Caracterização do plano Oyz

FONTE: Lebeau (2009, p. 194)

Ainda sobre essa abordagem, Lebeau (2009) destaca que é possível o

professor questionar os alunos se pode existir uma superfície curva cuja

interseções como os três planos de coordenadas sejam retas, como sugerido na

figura 9.

Figura 9 : Interseções de curvas com planos

Fonte : Lebeau (2009, p. 194)

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A autora explica que os alunos podem utilizar a estratégia de substituir a

coordenada z por 4 na equação !� + 3� + � − 2 = 0, obtendo assim a equação 3� + � = 0 que representa uma reta paralela a d. Com a mesma estratégia o

aluno poderá substituir z por 3 e desse modo, obterá uma outra reta paralela a

d, o que pode convencê-lo de que a superfície não pode ser curva, pois se

constitui de um conjunto de retas. Nesse momento, Lebeau (2009) ressalta que

o professor poderá argumentar que uma folha de papel estriada de paralelas e

curvas representa um conjunto de retas paralelas que não formam um plano,

pois as retas paralelas não dependem de um reta dada. Para tal situação deve-

se proceder da seguinte maneira: substituir z por k, na equação 3� + � + !� $ −2 = 0 nos conduz a uma reta paralela a d com os pontos em que a cota é igual

a k. Essa reta corta o plano Oxz no ponto (789: , 0, $) e esse ponto de

coordenadas verifica a equação de reta d’ . O professor pode concluir que

estamos frente a um conjunto de retas paralelas contidas todas em um plano,

conforme figura 10.

Figura 10 : Conjunto de retas paralelas

Fonte : Lebeau (2009, p. 195)

Essa situação conduz a uma concepção do plano como uma superfície

regular, mesmo se ele não se constituir pela caracterização: o fato de demonstrar

que os pontos que verificam uma equação do tipo �� + �� + � + � = 0 constitui

bem uma superfície, mas não demonstra a recíproca.

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Lebeau (2009) conclui que existe uma real dificuldade na estratégia de

começar pelo plano, pois os objetos planos são algebrizados, seja em termos de

caracterização paramétrica ou em termos de caracterização cartesiana. A autora

afirma que não é fácil iniciar pela equação cartesiana do plano, pois pode

conduzir o aluno a pensar que a equação �� + �� + = 0 representa uma reta

do plano, a equação que a prolonga pode ser adicionada de um termo em z

poderia ser melhor percebida por eles como de uma reta no espaço.

2.2.2.Começar pela reta?

Lebeau (2009) apresenta uma proposta de investigar de outra maneira

que se polariza imediatamente sobre alinhamento e não sobre a coplanaridade.

A autora destaca cinco abordagens em relação ao alinhamento.

• Uma expressão de alinhamento induzido para trabalhar no plano e que

deve ser justificada.

Antes de estudar Geometria Analítica no espaço o aluno já recebeu

ensinamentos sobre Geometria Analítica no plano, como também o

estudo sobre funções polinomiais do primeiro grau subtendido pelo estudo

prévio de proporcionalidade. Nesses estudos, os alunos aprendem que os

pontos alinhados com a origem têm coordenadas proporcionais. Assim,

Lebeau (2009) levanta a hipótese de que os alunos são suscetíveis de

entender espontaneamente no espaço as propriedades numéricas e

pontos alinhados no plano.

• A projeção para ir do espaço ao plano ou do plano ao espaço.

A noção de projeção paralela a um eixo sobre o plano de

coordenadas representa, a princípio, um meio privilegiado de fazer essa

passagem entre o plano e o espaço. Esta noção, menciona Lebeau

(2009), está presente no âmbito da Geometria Analítica do Espaço, pois

a projeção de um ponto paralelo a um eixo de referência (Oz, por

exemplo) sobre o plano determinado pelos dois outros eixos (Oxy)

permite definir a coordenada relativa a uma direção de projeção. Esta

projeção conserva a abscissa e a ordenada e não afeta a cota. Entretanto,

a autora destaca que a projeção sobre um único plano não é suficiente

para deduzir as propriedades das coordenadas dos pontos do espaço a

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partir de suas respectivas projeções. Lebeau (2009) sugere a

necessidade de trabalhar outras projeções com os alunos, pois nenhuma

variável se distingue de outra em Geometria Analítica, contrariamente ao

que se pratica em análise.

• Alinhamento e projeção.

A projeção permite transportar o alinhamento do espaço ao plano,

mas quando transporta esta propriedade do plano ao espaço é mais

delicada. A projeção sobre o plano paralelamente a uma reta conserva o

alinhamento, como indicado na figura 11.

Figura 11 : Projeção sobre o plano paralelamente a uma reta

Fonte : Lebeau (2009, p. 200)

Porém, pontos não alinhados no espaço podem ter as projeções

alinhadas no plano (Figura 12). Consequentemente, ressalta Lebeau

(2009), deduzir uma caracterização algébrica de alinhamento no espaço

a partir de uma caracterização de alinhamento no plano supõe manipular

as projeções de forma prudente.

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Figura 12 : Projeções de pontos de uma curva

Fonte : Lebeau (2009, p. 200)

• Do alinhamento no plano ao alinhamento no espaço, pela Geometria

Sintética.

Para projetar dois pontos A e B (pontos não situados no plano de

coordenadas e alinhados com a origem) sobre dois planos de

coordenadas, basta justificar a proporcionalidade de suas coordenadas.

Mas, como indica Lebeau (2009), demonstrar no espaço que os pontos A

e B com as coordenadas proporcionais, estão alinhadas com a origem, é

muito delicado. A autora destaca que uma proposta de demonstração

consiste em utilizar uma propriedade comum da Geometria Sintética,

como o caso de semelhança de triângulo ou o Teorema de Tales. A

demonstração apresentada por Lebeau (2009, p.201) é a seguinte:

Sejam A e B dois pontos do espaço cujas respectivas coordenadas

são proporcionais, ;<;= = ><>= = ?<?= .

Projetamos esses pontos no plano Oxy, paralelamente ao eixo Oz:

sejam A’ a projeção de A e B’ a projeção de B (figura 13). Depois,

projetamos A´ e B´ sobre o eixo Ox, paralelamente a Oy de maneira a

obter os pontos A” e B” . Para simplificar, supomos que as

coordenadas dos pontos são positivas, nesses casos podem exprimir

as medidas dos segmentos e se não for o caso, pode-se pensar em

trabalhar os valores absolutos dessas coordenadas (tradução nossa).

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Figura 13 : Projeção de pontos sobre o plano OXY

Fonte : Lebeau (2009, p. 201)

• Uma validação favorecendo uma articulação de caracterizações

paramétricas e cartesianas de alinhamento.

Uma outra abordagem, explica Lebeau (2009), consiste em projetar os

pontos sobre os planos de coordenadas para verificar se suas projeções estão

alinhadas e determinar se eles mesmos são. Tal abordagem, segundo a autora,

permite conduzir a dois tipos de caracterização das retas: paramétrica e

cartesiana.

Lebeau (2009) conclui, que há dificuldades de se começar pela equação do

plano, pois as equações paramétricas assumem a adição de ternas e começar

pela equação cartesiana mobiliza estratégias não confiáveis por diversas razões,

como a definição de um objeto afim por meio de um conceito métrico, um olhar

pouco natural sobre os planos, a dificuldade de gerar os cortes em termos de

sistemas de equações.

2.2.3. Passar da reta ao plano.

Lebeau (2009) destaca que para passar da reta ao plano supõe definir

uma nova operação sobre as ternas para saber sua soma. Esta soma, prefigura

a soma vetorial por meio da qual o objeto plano é definido em Álgebra Linear. A

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autora aponta três possibilidades de se trabalhar a passagem da reta ao plano,

são elas:

• Um plano caracterizado por duas retas secantes.

Uma primeira abordagem para caracterizar o plano, na perspectiva de

Lebeau (2009), pode-se trabalhar a partir da verificação de diversos casos de

figura, tal como: “um plano sendo determinado por três pontos O, A e B não

alinhados, todo ponto C, diferente dos pontos anteriores, é coplanar com esses

se e somente se as retas OA e AC são secantes ...” (LEBEAU, 2009, p. 211,

tradução nossa). A partir disso, os cálculos seguintes podem ser feitos supondo

que as equações paramétricas das retas já tenham sido objeto de uma

institucionalização.

As letras k e k’ representam os parâmetros reais, as equações

paramétricas das retas OA e BC são da forma:

Reta OA:

#� = $�%� = $�% = $% ou � = $&

Reta BC:

'� = �( + $′(�( − �))� = �( + $*(�( − �) ) = ( + $*(( − )) ou � = + + $′(+ − ,)

(LEBEAU, 2009, p. 211, tradução nossa)

Lebeau (2009) observa a respeito da redução ostensiva � = + + $′(+ −,) para representar um sistema e o nome de um ponto servindo para representar

as triplas coordenadas, além de considerar um novo significado do símbolo “=”

uma vez que este implica em três igualdades concernentes a cada uma das

coordenadas dos pontos.

• Um plano visto como uma superfície regular.

Uma outra abordagem para caracterizar um plano, segundo Lebeau

(2009), consiste em considerar tal como uma superfície regular composta

de um conjunto de retas paralelas constituídas sobre uma mesma reta. A

autora apresenta a seguinte caracterização analítica do paralelismo de

retas.

Considerando três pontos não alinhados, O, A e B e procurar as

coordenadas de todos os pontos coplanares com eles. É evidente que

existem os pontos das retas OA e OB, com as coordenadas da forma:

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@� = $�% � = $�% = $% ou � = $& ou @� = $′�( � = $′�( = $′( ou � = $+

Em relação a estes pontos, pode-se tomar, de uma parte, aqueles que

estão situados sobre uma paralela a OA passando por um ponto

qualquer de OB e, de outra parte, aqueles que pertencem a uma

paralela a OB traçada por um ponto qualquer de OA (ver figura abaixo).

Uns e outros possuem as coordenadas da mesma forma:

@� = $′�% + $′�(� = $′�% + $′�( = $′% + $′( ou � = $& + $′+

Mas, para os pontos situados sobre as paralelas a OA passando por

um ponto de OB, deve-se variar o parâmetro k’, como pode ser fixado

k, enquanto que para outros pontos isto é contrário (LEBEAU, 2009,

p.215, tradução nossa).

Ao interpretar as equações A = BC + B′D, em que k e k’ são parâmetros

reais, em termos de pontos pertencentes às retas paralelas a uma reta dada OB

e com base em uma reta OA em uma outra direção (ou sobre as retas paralelas

a OA e secantes a OB) é mostrado que as equações geram pontos coplanares

com os pontos O, A e B. Inversamente, todo ponto do plano pode ser

considerado como situado sobre uma reta a OB e secante a OA e sendo assim

associado a uma cota de valor particular (k, k’ ) que verifica estas equações.

• Apostar na caracterização algébrica do paralelogramo.

Lebeau (2009) sugere construir um objeto plano a partir de uma

figura geométrica fechada que é o paralelogramo, o que pressupõe um

estudo de uma caracterização analítica deste quadrilátero: “ABCD é um

paralelogramo (eventualmente achatado) se e somente se B – A = C – D”

(LEBEAU, 2009, p. 216, tradução nossa). Deve-se novamente determinar

o máximo de pontos possíveis pertencentes ao plano dos pontos O, A e

B. Todos os pontos da reta OA, da forma A = BC, assim como todos os

pontos da reta OB, se A = B′D, são pontos do plano OAB . Fora estas

duas retas é fácil pensar no ponto C, quarto vértice do paralelogramo

construído sobre O, A e B e que verifica a relação E = C + D (ver Figura

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14). Do mesmo modo, todo ponto C’ da forma BC + B′D, k e k’ sendo

reais, pertencentes ao mesmo plano pode ser interpretado como o quarto

vértice do paralelogramo construído a partir de O, A’ e B’ em que A’ é um

ponto qualquer de OA, da forma kA e B’ , um ponto qualquer de OB, da

forma kB’ . De modo inverso, destaca a autora, pode-se conceber todo

ponto P do plano OAB como a soma de um paralelogramo e assim

encontrar os valores de k e k’ tais que A = BC + B′D.

Figura 14 : Quarto vértice do paralelogramo construído sobre O, A e B

FONTE: Lebeau (2009, p. 217)

Na situação apresentada, Lebeau (2009) afirma que a figura do

paralelogramo está bastante presente e representa o principal ponto de

raciocínio. Tal figura permite trazer a soma das ternas que conduzem a soma

vetorial cuja regra do paralelogramo constitui precisamente um procedimento

representativo. A figura do paralelogramo pode se constituir em um passo para

caracterizar algebricamente as translações pelas quais as variáveis afins são

definidas por variáveis lineares sob a forma vetorial.

2.2.4. Paralelogramo, paralelismo e translação.

A ideia de Lebeau (2009) para caracterizar a coplanaridade, apoia-se na

figura do paralelogramo. A autora sustenta sua escolha argumentando que o

paralelogramo é uma figura que permite introduzir e modelizar o conceito de

vetor, que é centrado na Álgebra Linear. Analisando as diversas maneiras de

justificar a caracterização do paralelogramo, Lebeau (2009) indica que tal

justificativa deve ser apoiada na figura do paralelogramo e suas propriedades,

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que podem ser demonstradas a partir da geometria sintética. A seguir a autora

aponta algumas relações entre paralelismo de retas, paralelogramo e translação.

• Começar pelo paralelismo de retas, as translações ou o paralelogramo?

Em seu estudo, Lebeau (2009) destaca que é possível justificar a

caracterização algébrica do paralelogramo a partir do paralelismo de retas

do seguinte modo:

Sejam os pontos distintos e não alinhados O, B e D (figura

abaixo).

O quarto vértice do paralelogramo em que estão os outros três

pontos, está localizado na interseção da reta que passa por B e

paralela a OD: P = B + kD e da paralela a OB passando por D:

P = D + k’B, em que k e k’ são parâmetros reais. As coordenadas

do ponto C, quarto vérticedo paralelogramo, verificam o sistema

P = B + kD = D + k’B para k = k’ = 1 é solução. Por consequência,

C = D + B. De maneira análoga, demonstrar que os ponto do

paralelogramo ABCD, distintos da origem, verificam: C = D + B

– A, quer dizer B – A = C – D. Contudo, se esta relação é uma

condição necessária para que um quadrilátero seja um

paralelogramo, ela não é suficiente. Com efeito, ela pode ser

realizada pelos pontos A, B, C e D alinhados. Neste caso, os

segmentos AB e CD tendo o mesmo comprimento, pode-se

chamar de paralelogramo achatado (p. 218, tradução nossa).

Lebeau (2009) evidencia que este desenvolvimento supõe trabalhar

previamente as posições relativas das retas e analisa como trazer

anteriormente uma caracterização algébrica do paralelismo de retas

apoiado sobre o paralelogramo.

A autora sugere que as relações entre paralelogramo e translação pode

ser estudada da seguinte forma:

Suponhamos que a translação já tenha sido definida e que foram

submetidas a um trabalho analítico. Em seguida caracterizar um

paralelogramo como um quadrilátero ABCD tal que B e C sejam as

imagens respectivas de A e D para uma mesma translação (figura

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abaixo), podemos associar a relação B – A = C – D traduzindo esta

relação.

A abordagem recíproca não é difícil de imaginar, uma translação pode

ser definida por meio de pares de imagens equipolentes uns dos outros

por uma sequência de paralelogramos como foi feito nas classes do

secundário na época da matemática moderna (LEBEAU, 2009, p. 219,

tradução nossa).

Lebeau (2009) procurou em seu estudo relacionar, de uma parte, o

paralelogramo e o paralelismo entre retas e, de outra, o paralelogramo e

a translação.

• Iniciar pelo estudo do paralelismo de retas?

Em relação ao estudo do paralelismo de retas, Lebeau (2009)

considera a no processo de ensino da Geometria Analítica, uma etapa em

que as retas são caracterizadas pela escrita do tipo A = C + B(D − C),

sendo A e B dois pontos quaisquer da reta, P sendo um ponto genérico e

k um parâmetro real. A autora então justifica que nas equações

respectivas de duas retas paralelas, os coeficientes do parâmetro de um

são proporcionais as do parâmetro de outro, se A − C = F(G − E), sendo

m um parâmetro real e que esta propriedade é característica do

paralelismo. Lebeau (2009) faz uma demonstração sintética de tal

propriedade, recorrendo mais uma vez as projeções paralelas, que supõe

que elas conservam o paralelismo. Apoiada na tradução analítica do

paralelismo no plano, a autora destaca:

Sejam duas retas paralelas AB e CD. Projetar seus dois pontos nos

dois planos de coordenadas, paralelamente a um 3º eixo. As projeções

paralelas conservam o alinhamento e o paralelismo, obtido em cada

um desses planos, exceto em casos particulares que serão evocados

posteriormente, duas retas paralelas cujas inclinações são idênticas.

Isso conduz as igualdades ;H8 ;I ;<8 ;= = >H8 >I ><8 >= = ?H8 ?I ?<8 ?= (LEBEAU, 2009,

p.220, tradução nossa).

Uma outra abordagem do paralelismo de retas, indicada por

Lebeau (2009), encontra-se apoiada na tradução analítica da translação

que pode até mesmo constituir uma definição: “Toda translação do

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espaço é uma função que associa, a todo ponto P do espaço, o ponto

imagem P’ = P + Q, onde Q é uma dada terna de números” (p. 222).

Segundo Lebeau (2009) a concepção de translação assim definida,

poderia caracterizar duas retas paralelas em que uma é a imagem da

outra por uma translação. A partir de uma perspectiva indutiva, a autora

destaca que tal caracterização implica em provar que uma reta e sua

imagem por translação são efetivamente retas paralelas, podendo-se

demonstrar por argumentos essencialmente analíticos.

A definição em termos de translação de uma reta paralela a uma

reta dada ou de um plano paralelo a um plano dado, explicita Lebeau

(2009), parece ser essencial, pois permite o rápido transporte das

propriedades relativas as retas ou planos contendo a origem de referência

das retas ou planos que os incluem.

• Começar por caracterizar algebricamente o paralelogramo?

Na visão de Lebeau (2009) poucas maneiras são exploradas para

justificar uma caracterização algébrica dos paralelogramos que não

estejam apoiadas em estudos introdutivos do paralelismo de retas. Assim,

a autora afirma que pode-se iniciar tal caracterização pela proposição de

Pisvin (1998, apud LEBEAU, 2009), que apoia-se em propriedades da

Geometria Sintética e na relação B – A = D – C que caracteriza muito bem

um paralelogramo no plano. Em tal situação, considera-se quatro pontos

dados A, B, C e D (ou suas projeções): eles determinam portanto um

plano, conforme indicado na figura 15.

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Figura 15 : Quatro pontos dados A, B, C e D (ou suas projeções)

FONTE: Lebeau (2009, p. 225)

De acordo com Lebeau (2009), mostra-se que se ABCD é um

paralelogramo, tem-se as relações:

#�( − �% = �J − �)�( − �% = �J − �)( − % = J − )

Se ABCD é um paralelogramo, sua projeção paralela em cada um

dos planos formados pelos eixos é um paralelogramo eventualmente

achatado3 (LEBEAU, 2009).

Desse modo, a autora indica que as propriedades da Geometria

Sintética no espaço são, de uma parte, as projeções paralelas que

conservam o paralelismo (e portanto, forma o paralelogramo,

eventualmente achatado) e, de outra parte, dois planos paralelos são

cortados por um terceiro de retas paralelas. Enfim, Lebeau (2009) afirma

que as relações algébricas garantem a coincidência dos pontos B e B’’ ,

provando que ABCD é um paralelogramo.

3 Seja A e B dois pontos do plano. A translação que transforma A em B, associa a todo ponto C do plano um único ponto D tal que ABCD é um paralelogramo achatado.

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Outra abordagem assinalada por Lebeau (2009) para a tradução

analítica dos paralelogramos apoia-se na expressão, em termos de

coordenadas, do ponto médio de um segmento em função das

coordenadas de seus extremos. Esta expressão permite na verdade

traduzir, de modo calculista, uma condição necessária e suficiente para

que um quadrilátero seja um paralelogramo, a saber que suas diagonais

se interceptam no ponto médio. A autora então apresenta a seguinte

demonstração:

Seja ABCD um paralelogramo (ver figura abaixo)

As coordenadas do ponto médio M, da diagonal AC, verificam

KLMLN�O = �% + �) 2�O = �% + �) 2O = % + ) 2

E as do ponto médio M’ de BD são escritas da forma

KLMLN�O* = �( + �J 2�O* = �( + �J 2O* = ( + J 2

O fato de que essas diagonais se interceptam ao meio exprime

portanto pontos médios de igualdades

KLMLN �% + �) 2 = �( + �J 2 �% + �) 2 = �( + �J 2 % + ) 2 = ( + J 2

Que pode ainda ser escrito como:

#�( − �% = �) − �J�( − �% = �) − �J( − % = ) − J ou + − & = , − P

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Reciprocamente, pode-se deduzir do sistema identidades

dos pontos médios M e M’ das diagonais AC e BD e

concluir que o quadrilátero ABCD é um paralelogramo

(LEBEAU, 2009, p.227-228, tradução nossa).

Esta abordagem, menciona Lebeau (2009), não requer nenhuma

construção exterior ao paralelogramo e supõe como pré-requisito que a

caracterização algébrica das coordenadas do ponto médio de um segmento, ou

seja, uma propriedade específica para pontos simplesmente alinhados.

2.2.5. Os pressupostos geométricos.

O trabalho desenvolvido por Lebeau (2009) encontra-se apoiado em

axiomas da Geometria Sintética do plano e do espaço e em conhecimentos de

Geometria Analítica Plana. A autora menciona particularmente dois teoremas, os

quais considera indispensáveis no que se refere à passagem do plano ao espaço

e é realizada via projeções paralelas a um eixo sobre um plano. Por meio de tais

teoremas é possível conservar o alinhamento de pontos e o paralelismo de retas.

Apresentamos a seguir os enunciados dos teoremas indicados por

Lebeau (2009):

Teorema 1: As projeções paralelas conservam o alinhamento.

Como ilustrado na figura 16, M, N e P são três pontos alinhados do espaço

e M’, N’ e P’ suas projeções sobre um plano qualquer paralelo a uma reta d.

Figura 16 : Os pontos M, N e P e suas projeções no plano

Fonte : Lebeau (2009, p. 232)

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A recíproca desse teorema não é verdadeira e a contraposição é útil para

os casos em que se precisa justificar um não alinhamento de pontos.

Teorema 2: As projeções paralelas conservam o paralelismo.

Sejam duas retas paralelas d1 e d2. Suas projeções podem ser reduzidas

a dois pontos quando eles são paralelos a reta projetada (Figura 17), todos os

pontos de uma mesma reta com as mesmas projeções.

Figura 17 : Retas paralelas d1 e d2

Fonte : Lebeau (2009, p. 233)

Esse teorema, explicita Lebeau (2009), é utilizado para justificar a

caracterização algébrica da configuração de um paralelogramo que intervém na

dedução que sustenta a modelagem proposta.

2.2.6. Ostensivos e modos de pensar.

Ao analisar a transposição didática dos conceitos da Geometria Analítica

Lebeau (2009) considera que se tem adotado uma abordagem de natureza

cartesiana ou paramétrica antes de ser englobada em um formalismo vetorial. A

autora então assinala a dialética entre os três modos de pensar, a partir do

pensamento de Sierpinska (1997, apud LEBEAU, 2009): o modo sintético (o

pensamento tenta descrever um objeto e se apoia na geometria sintética), o

modo analítico (define os objetos geométricos por meio de equações ou de

sistemas de equações no sentido da Geometria Analítica) e o modo estrutural

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(que emerge do registro analítico de invariantes comuns que encontram sua

expressão na Álgebra Linear).

Lebeau (2009) destaca que cada modo de pensar tem seus próprios

registros e que cada um leva e conduz a um sentido diferente das noções de

Geometria Analítica.

• Articulação entre os modos de pensar.

Os ostensivos algébricos revelam o registro de equações,

desempenhando uma dialética entre o modo de pensar sintético-algébrico

e o modo de pensar aritmético-analítico. Segundo Lebeau (2009) tais

registros existem pelas escritas provenientes do estudo de Geometria

Analítica Plana, tal como as equações das retas e das parábolas não

paramétricas a duas variáveis, representando as coordenadas de pontos

no plano. Um desafio nesta fase, destaca Lebeau (2009), é a constituição

do discurso tecnológico, apoiado sobre as técnicas, que justificam a

interpretação das equações do tipo �� + �� = 0 ou �� + � = 0 como

características de um plano paralelo a um dos eixos de referência. Tal

abordagem em torno da interpretação das equações algébricas pode ser

completada com atividades que considerem que as equações cartesianas

podem traduzir uma situação geométrica. A autora sugere que essas

atividades podem ser iniciadas pela institucionalização das equações de

planos estritamente paralelos ou não a um dos planos fundamentais

formados por dois eixos de referência e um segundo momento, refere-se

ao alinhamento de pontos e posteriormente a expressão da

coplanaridade. A autora espera que as técnicas de verificação imaginadas

pelos alunos, uma vez generalizadas, voltem-se para as caracterizações

algébricas visadas e isto conduz trabalhar em uma dialética entre os dois

primeiros modos de pensar, na medida em que os alunos justifiquem se

as escritas algébricas consideradas por eles traduzem as situações

geométricas concernentes, seja um alinhamento de pontos ou uma

coplanaridade de pontos.

Lebeau (2009) então afirma que isto conduz a teoremas que

institucionalizam a dialética entre os modos de pensar, tal como: “P, A e

B estão alinhados com a origem se e somente se suas coordenadas

correspondentes são proporcionais” (p.235). A autora espera que o modo

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de pensar estrutural seja próprio das praxeologias do tipo “dedução”, é o

que um matemático cientista apresenta em relação aos argumentos

desse modo de pensar quando escreve demonstrações de Álgebra

Linear. Mas, segundo a autora, nada impede de recorrer às instituições

ligadas aos objetos geométricos, suas propriedades ou características

analíticas.

Na Geometria Analítica, designa Lebeau (2009), o modo de pensar

estrutural pode ser alcançado a partir do momento em que certas

ferramentas, como os determinantes, servem para modelar diferentes

situações mesmo que tenham sempre um caráter geométrico. Assim, a

autora faz a seguinte ilustração em relação a coplanaridade e ao

paralelismo de uma reta e de um plano:

Coplanaridade

A anulação de um determinante significa várias coisas. De modo

que o determinante

Q� − �% �( − �% �) − �%� − �% �( − �% �) − �% − % ( − % ) − % Q Supõe que existam os valores k e k’ tais que

'� − �% = $(�( − �%) + $′(�) − �%)� − �% = $(�( − �%) + $′(�) − �%) − % = $(( − %) + $′() − %)

ou &������� = $&+������ + $′&,������

Isto é, a coplanaridade dos pontos A, B, C e D.

Esta anulação do determinante torna compatível o sistema de

três equações em k e k’, por conseguinte, torna a equação cartesiana

acessível para eliminação dos parâmetros.

Paralelismo

Mas anular o determinante também verifica o paralelismo de

uma reta e de um plano. Com efeito, a anulação do determinante

Q�( − �% �J − �) �R − �)�( − �% �J − �) �R − �)( − % J − ) R − ) Q significa que existem os valores de k e k’ tais que

'�( − �% = $(�J − �)) + $′(�R − �))�( − �% = $(�J − �) ) + $′(�R − �) )( − % = $(J − )) + $′(R − ))

ou

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&+������ = $,P������ + $′,�S (LEBEAU, 2009, p. 236, tradução nossa).

• A notação B-A.

Os registros escritos das equações paramétricas, conforme

especifica Lebeau (2009) rapidamente tornam-se pesados, como indicado

a seguir (LEBEAU, 2009, p.237):

“P pertence a AB se, e somente se, existe um real k tal que

'�T = �% + $(�( − �%)�T = �% + $(�( − �%)T = % + $(( − %) ”.

Desse modo, a autora indica que pode-se pensar em propor uma

escrita mais concisa, como por exemplo propor a substituição das ternas

de coordenadas que aparecem na equação pelo nome dos pontos aos

quais estão associadas, o que leva a escrever da seguinte forma: � = & + $(+ − &) � − & = $(+ − &)

Essa forma de escrever mostra-se vantajosa, como explica Lebeau

(2009) e para exemplificar tal vantagem, a autora demonstra um teorema

para que se perceba a facilidade na realização dos cálculos, conforme

indicado a seguir:

Uma translação remete uma reta em uma reta e não modifica os

coeficientes do parâmetro nas equações paramétricas. As equações

da reta AB tornam-se aquelas de uma reta determinada por A’ e B’,

imagens respectivas e A e B por esta translação: � − & = $(+ − &) � + , − (& + ,) = $(+ + , − (& + ,) �′ − &′ = $(+′ − &′)

em que

&* = & + ,, +* = + + , e �* = � + ,.

O que significa que P’ verifica a equação �*&* = $(+* − &*) que é de

uma reta A’B’.

Em outra, +* − &* = + + , − (& + ,) = + − &

Então, o coeficiente do parâmetro k permanece inalterado (LEBEAU,

2009, p. 238, tradução nossa).

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Assim, revela Lebeau (2009), as escritas são manipuladas como sendo

os termos de uma equação. Mas, faz sentido considerar que as letras

representam as ternas de coordenadas ou um isomorfismo entre um espaço

vetorial construído no conjunto ℜ³ e que foi construído sobre um conjunto de

pontos (um dos pontos a ser destacado).

A análise das variáveis didáticas que caracterizaram a engenharia

didática proposta por Lebeau (2009) no que se refere ao ensino de Geometria

Analítica no Espaço permitiu a autora inferir a respeito de diferentes articulações

desse saber matemático. Tais variáveis foram importantes para nossa pesquisa,

pois nortearam nossas análises nos materiais didáticos investigados.

No próximo capítulo destacamos a abordagem metodológica adotada em

nossa pesquisa, anunciando sua caracterização, bem como os critérios

adotados para análise dos manuais didáticos investigados.

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69

CAPÍTULO 3: ABORDAGEM METODOLÓGICA

_______________________________________________________________

No decorrer desse capítulo, descrevemos a opção metodológica de nossa

pesquisa, bem como os procedimentos adotados para a realização das análises

dos livros didáticos selecionados. Apresentamos o critério de escolha dos livros

e também as categorias estabelecidas que mostraram-se relevantes, pois

viabilizaram o alcance dos objetivos aos quais nos propusemos.

3.1. Caracterização da pesquisa

O estudo aqui apresentado caracteriza-se por ter um caráter qualitativo

descritivo que se situa na tipologia da pesquisa documental. Esse tipo de

pesquisa revelou-se apropriado para nosso estudo, pois visa explicitar uma

melhor compreensão acerca de um determinado problema, além de descrever

as características do fenômeno.

Em relação à pesquisa descritiva, esta possui a intenção de expor as

características de um determinado fenômeno ou de uma determinada

população. Nossa investigação pode ser considerada descritiva, uma vez que

procura apresentar as praxeologias que constam nos livros didáticos,

confrontando com as variáveis didáticas estabelecidas por Lebeau (2009) no que

se refere a Geometria Analítica no Espaço.

Classificamos nossa pesquisa como qualitativa, pois não representa um

estudo estatístico e conforme especifica Minayo (2003) este tipo de pesquisa

volta-se para uma realidade que não pode ser quantificada. Essa autora define

que a pesquisa qualitativa “trabalha com o universo de significados, motivos,

aspirações, crenças, valores, e atitudes, o que corresponde a um espaço mais

profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser

reduzidos a operacionalização de variáveis” (p. 21). Desse modo, abordamos em

nosso estudo, um enfoque indutivo para análise dos dados e descritivo para

apresentação dos resultados, pois a pesquisa qualitativa será sempre descritiva.

Consideramos a abordagem do tipo documental em nosso trabalho, pois

analisamos materiais que ainda não receberam um tratamento analítico (GIL,

2002). Essa tipologia de pesquisa classifica os documentos em dois tipos: fontes

de primeira mão e fontes de segunda mão. De acordo com Gil (2008) são

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considerados documentos de primeira mão os que ainda não receberam

tratamento analítico, tais como: cartas, contratos, diários, documentos oficiais,

filmes, fotografias, gravações, memorandos, reportagens, etc. Por sua vez, o

autor entende como documentos de segunda mão os que já receberam

analisados de alguma forma, como por exemplo: relatórios de empresa,

relatórios de pesquisa, tabelas estatísticas e outros.

Concordamos com Gil (2008) quando afirma que a pesquisa documental

apresenta um caráter inovador e proporciona importantes contribuições no

estudo de alguns temas.

3.2 A escolha dos livros didáticos

Para a realização de nossa investigação foi necessário realizar escolhas

dos livros didáticos a serem analisados, estabelecendo o nível de ensino em que

esta pesquisa seria realizada, como também o conteúdo matemático a ser

explorado.

Como atuamos em um curso de Licenciatura em Matemática na

Universidade do Estado do Pará, optamos por analisar os livros didáticos de

Geometria Analítica no Espaço voltados para o ensino superior publicados no

período da reforma da Matemática Moderna, pois revela-se um episódio

importante dentro das mudanças dos programas nas instituições de ensino,

conforme destaca Chaachoua (2014b).

Para obtermos os livros didáticos a serem analisados em nosso trabalho,

realizamos uma busca em diversos sebos na cidade de São Paulo e

selecionamos os seguintes materiais:

Livro 1(LD1) : Geometria no espaço – Luiz Mauro Rocha – 1964

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Figura 18 : Capa do livro de Luiz Mauro Rocha

Fonte: Rocha (1964)

Livro 2(LD2) : Vetores e geometria – Waldyr Muniz Oliva – 1971

Figura 19 : Capa do livro Waldyr Muniz Oliva

Fonte : Oliva (1971)

Livro 3(LD3) : Geometria analítica: um tratamento vetorial – Paulo Boulos e Ivan

Camargo - 1986

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Figura 20 : Capa do livro de Paulo Boulos e Ivan Camargo

Fonte: Boulos e Camargo (1986)

Livro 4(LD4) :Geometria analítica – Alfredo Steinbruch e Paulo Winterle – 1987

Figura 21 : Capa do livro de Steinbruch e Paulo Winterle

Fonte: Steinbruch e Winterle (1987)

O nosso interesse nesses livros foi o de realizar uma análise praxeológica

sobre Geometria Analítica no Espaço, voltando nosso olhar para o modo como

os autores expõem o conteúdo matemático e as tarefas propostas.

3.3. Metodologia de análise dos manuais

Após definir os livros didáticos a serem analisados em nossa pesquisa,

procuramos identificar os critérios para análise. Ressaltamos que nosso objetivo

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é analisar o modo como os autores de livros didáticos organizaram as atividades

propostas em relação a Geometria Analítica no Espaço e a forma como as

variáveis didáticas apontadas por Lebeau (2009) foram desenvolvidas nos textos

presentes no material didático.

A metodologia adotada para análise dos livros apoiou-se no trabalho de

Chaachoua (2014a) que aponta determinadas características para a realização

de tais análises com base na TAD. Destacamos a seguir os elementos que,

segundo o autor, especificam as características dos livros, o contexto de sua

produção e caracterizam a relação institucional. Também faremos a relação de

tais características com as escolhas feitas em nosso trabalho.

O momento da edição

Chaachoua (2014a) considera o ensino como dinâmico em que o

programa define uma condição referente ao funcionamento do sistema. Assim,

é importante considerar que nas últimas décadas o ensino sofreu duas rupturas:

a primeira refere-se a reforma da Matemática Moderna, em 1969, e a segunda

corresponde aos programas do final da reforma, em 1982. Assim, para a escolha

dos livros, o autor aponta que pode-se colocar no momento de ruptura ou de

estabilidade do sistema.

Representatividade

Chaachoua (2014a) afirma que é importante proceder a escolha de um ou

mais livros que são utilizados com frequência para o ensino. Assim, escolhemos

para analisar em nosso trabalho de pesquisa os livros de Geometria Analítica no

Espaço, utilizados nos cursos de ensino superior, que foram especificados no

item 3.2.

Estrutura

O estudo da estrutura dos manuais informa sobre o lugar das atividades,

a presença ou não de exercícios resolvidos e eventuais comentários dos autores.

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Análise ecológica

A análise ecológica de um objeto do saber é organizada pelo autor a partir

das noções de habitat (que designa os locais de vida e do meio ambiente

conceitual dos objetos do saber) e de nicho (designa a função dos objetos dentro

do sistema do objeto com o qual interage).

Análise praxeológica.

Para análise dos manuais, Chaachoua (2014a) especifica como são

estruturadas atualmente, muitas vezes podem ser organizadas em função dos

seguintes aspectos:

- Identificação dos tipos de tarefas: deve-se investigar as atividades presentes

nas diferentes partes de um capítulo do livro analisado.

- Identificação das técnicas: após identificar os tipos de tarefas, deve-se

caracterizar as técnicas utilizadas com base nos exercícios resolvidos.

- Identificação das tecnologias: deve-se construir as tecnologias que geram e

justificam as técnicas a partir da análise dos comentários dos autores e

eventualmente da análise do livro do professor.

Após apresentação dos procedimentos metodológicos adotados em

nossa pesquisa, destacando a escolha dos materiais analisados e os critérios

estabelecidos para análise desses livros didáticos, apontamos na sequência as

análises dos resultados alcançados.

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CAPÍTULO 4: ANÁLISES DOS RESULTADOS

_______________________________________________________________

Nos propomos nesse capítulo a destacar os resultados das análises dos

livros didáticos selecionados à luz do quadro teórico que norteia nossa pesquisa,

bem como na metodologia estabelecida por Chaachoua (2014a), a qual consiste

em analisar a abordagem do conteúdo, os exercícios resolvidos, exercícios

propostos e os comentários dos autores dos referidos livros em diferentes

períodos.

4.1. Momento da edição

Os manuais selecionados para nossa pesquisa encontram-se voltados

para abordagem do conteúdo de Geometria Analítica no Espaço destinados ao

ensino superior no decorrer de diferentes períodos, a saber: 1964, 1971, 1986,

1987. Procuramos selecionar os manuais nesses anos, pois como sugere

Chaachoua (2014a) a escolha dos manuais pode ser colocada em um dos

momentos de ruptura do sistema de ensino, que corresponde a reforma da

Matemática Moderna de 1969.

4.2. Representatividade

Quanto à representatividade dos manuais selecionados para nossa

pesquisa, consideramos as orientações indicadas por Chaachoua (2014a), o

qual aponta a importância de se escolher os manuais mais utilizados pelos

professores.

Assim, para verificarmos se os livros de Geometria Analítica se

destinavam ao ensino superior, realizamos uma leitura do prefácio de cada livro

adotado para nosso trabalho. O intuito foi encontrar indicativos que permitissem

assinalar a utilização desses materiais didáticos em cursos universitários.

Encontramos no prefácio do livro LD1 o indicativo de que o mesmo pode

auxiliar professores e alunos quanto à linguagem matemática utilizada no ensino

superior (cf. Figura 22), razão pela qual foi selecionado em nossa pesquisa.

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Figura 22 : Prefácio de LD1

Fonte : Rocha (1964)

O livro didático LD2 apresenta em seu prefácio a indicação de utilização

do mesmo para cursos do ensino superior, como especificado na figura 23,

podendo despertar o interesse pelo estudo da Matemática Moderna, sendo por

esse motivo escolhido para nosso trabalho.

Figura 23 : Prefácio de LD2

Fonte : Oliva (1971)

Quanto ao material didático LD3 observamos no prefácio, conforme a

figura 24, que os autores apontam o seu leitor como sendo estudantes

ingressantes em cursos superiores, os quais são estimulados ao aprendizado da

Geometria Analítica, mesmo que não tenham vivenciado situações favoráveis de

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aprendizado da geometria no ensino secundário. Por constatarmos que LD3

destina-se ao ensino superior elegemos o mesmo para nosso estudo.

Figura 24 : Prefácio de LD3

Fonte: Boulos e Camargo (1986)

No livro didático LD4 percebemos em seu prefácio que o material foi

elaborado para atender um curso semestral (Figura 25), de nível superior, com

carga horária de 4 horas semanais. Como verificamos que LD4 era designado

para os cursos universitários, então o selecionamos para nossa investigação.

Figura 25 : Prefácio de LD4

Fonte: Steinbruch e Winterle (1987)

4.3. Estrutura

Em relação a estrutura dos capítulos sobre Geometria Analítica no

Espaço, apresentamos uma síntese da abordagem de cada livro analisado,

considerando os aspectos que julgamos ser relevantes para nossa pesquisa, a

saber: a forma como a Geometria Analítica no Espaço é introduzida, o tratamento

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dado ao plano e a reta, como também as questões apresentadas ao longo do

capítulo, tanto as questões resolvidas, quanto as questões propostas.

4.3.1. Apresentação do livro LD1

Na apresentação do livro Geometria no Espaço, Rocha (1964) menciona

no prefácio do livro que buscou introduzir de forma gradativa a linguagem e os

símbolos da Matemática Moderna, em função de acompanhar as tendências

estabelecidas na época de sua publicação. O autor destaca ainda que seu

objetivo, com tais alterações, é tornar o livro mais útil, tanto para os professores,

quanto para os alunos e adverte que a aquisição de uma linguagem matemática

atualizada poderá facilitar aos estudantes a adaptação em relação aos estudos

superiores.

Na primeira parte do livro, trata de “Noções de Matemática Moderna”

apresentando símbolos da Lógica matemática, noção de conjuntos, relações e

operações matemáticas e estruturas matemáticas. A expectativa do autor é

despertar o interesse de professores que ainda desconhecem o movimento de

renovação do ensino da Matemática.

No capítulo 1, Rocha (1964) faz uma introdução à Geometria no Espaço

e destaca, inicialmente, 14 postulados dentre eles os postulados da

determinação do plano, da divisão do espaço e da pertinência de reta e plano,

que o autor especifica em uma nota que são denominados de “postulados da

Geometria no Espaço”. Em seguida o autor apresenta os casos de determinação

do plano, como também as posições relativas de retas e planos no espaço. Ao

final do capítulo são apresentados 5 exercícios sobre o conteúdo abordado.

As noções gerais sobre paralelismo e perpendicularidade entre retas e

planos no espaço são apresentadas no capítulo 2, no qual Rocha (1964) destaca

que os alunos deverão estudar com especial atenção, pois será a base para o

conhecimento de Geometria no Espaço. Nenhum exercício é proposto no

decorrer do capítulo, no entanto o autor apresenta 5 problemas que aponta como

fundamentais de construção geométrica no Espaço.

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4.3.2. Apresentação do livro LD2

No prefácio do livro, Oliva (1971) destaca que os quatro primeiros

capítulos de sua obra ocupam-se do programa da disciplina “Vetores e

Geometria” do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São

Paulo oferecido aos estudantes de Matemática, Física, Química e Engenharia.

O autor enfatiza que o capítulo 4, intitulado “A Geometria Analítica no Espaço”,

é dedicado a estudar questões referentes a esse campo da Geometria, bem

como problemas algébricos de 1º e 2º grau e assume que a estrutura lógica de

sua abordagem tem como ponto de partida a geometria do espaço E³ dos pontos.

Oliva (1971) inicia o capítulo sobre Geometria Analítica no Espaço

definindo as equações vetoriais da reta e do plano para em seguida caracterizar

os sistemas de coordenadas cartesianas. As definições de equações

paramétricas da reta e do plano são demonstradas pelo autor, enquanto que a

equação do plano na forma geral ��! + ��� + �� + � = 0 e a condição de

paralelismo de retas e planos fica a cargo do leitor finalizar a prova de algumas

proposições, uma vez que tais provas são análogas às elaboradas para os casos

apresentados em Geometria Analítica Plana, estudado anteriormente nessa

obra. Finalizando a abordagem de Geometria Analítica no Espaço, o autor

apresenta a demonstração da fórmula da distância de um ponto a um plano em

coordenadas cartesianas ortogonais.

Nenhum exercício ou exemplo é apresentado no decorrer da abordagem

dos conteúdos, mas são apresentados 39 exercícios a respeito dos conteúdos

tratados, para serem respondidos pelo leitor.

Na sequência, Oliva (1971) anuncia que fará considerações sobre alguns

conjuntos de E³ definidos por equações do 2º grau e aponta que o leitor deverá

estudar as intersecções dos planos coordenados em relação às oito superfícies

enumeradas por esse autor e encerra o capítulo com 05 exercícios acerca desse

assunto.

4.3.3. Apresentação do livro LD3

A parte I do livro é voltada para o estudo dos vetores, em que Boulos e

Camargo (1986) comentam que o ambiente a ser trabalhado será o conjunto dos

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pontos do espaço tridimensional, isto é, conjunto dos pontos da Geometria

Euclidiana e que muitas vezes é indicado simplesmente como “espaço”.

A segunda parte do livro é dedicada à Geometria Analítica e no capítulo

14, os autores iniciam o estudo da Reta no Espaço. A abordagem dos conteúdos

é feita por meio de exemplos e no final apresentam 7 exercícios resolvidos e logo

em seguida 13 exercícios propostos.

No capítulo seguinte, Boulos e Camargo (1986) apresentam o estudo do

Plano. Com a mesma estrutura do capítulo sobre Reta, os autores abordam o

conteúdo seguidos de exemplos e exercícios resolvidos. Assim, após a

apresentação do conteúdo sobre equação vetorial do plano e equação

paramétrica do plano são apresentados 05 exercícios resolvidos e 07 exercícios

propostos ao leitor. Em seguida, os autores apresentam a equação geral do

plano e ilustram 05 exercícios resolvidos, propondo 14 exercícios aos alunos.

Por fim, os autores destacam um parágrafo sobre “vetor normal a plano”, no qual

apresentam 03 exercícios resolvidos e 11 exercícios propostos.

O capítulo 16 foi destinado por Boulos e Camargo (1986) ao estudo da

posição relativa de retas e de planos. Os autores apresentam um roteiro para

posição relativa de retas seguidos de 03 exercícios resolvidos e 05 exercícios

propostos. Um roteiro também é apresentado para a posição relativa de planos

seguidos de 03 exercícios resolvidos e 04 exercícios propostos. Ao final do

capítulo, os autores apontam uma “miscelânea de exercícios” e 02 exercícios

resolvidos tanto pelo método algébrico, quanto pelo método geométrico. Por fim,

28 exercícios propostos são sugeridos pelos autores.

4.3.4. Apresentação do livro LD4

Steinbruch e Winterle (1987) destacam, no prefácio de seu livro, que o

texto apresentado se tornou mais prático e mais simples no intuito de atender a

um objetivo maior, o de ser útil no processo de ensino e aprendizagem. Indicam

que os capítulos quatro e cinco que tratam de Reta e Plano, respectivamente,

poderão ser abordados conforme as conveniências didáticas, com o programa a

ser cumprido e o tempo disponível.

No capítulo quatro, Steinbruch e Winterle (1987) iniciam o estudo de Retas

no Espaço. A apresentação dos conteúdos é sempre seguida de um exemplo e

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problemas resolvidos, totalizando no referido capítulo 13 exemplos e 9

“problemas resolvidos”. Ao final da abordagem do conteúdo são apresentados

35 “problemas propostos” ao leitor, seguidos de suas respectivas respostas.

Em relação ao capítulo cinco, que trata de Planos no Espaço, a

apresentação dos conteúdos segue a mesma estrutura do capítulo quatro, isto

é, abordagem dos conteúdos seguida de exemplos e “problemas resolvidos”. No

total são apresentados 8 exemplos e 14 “problemas resolvidos”. Após a

exposição dos conteúdos são propostos 60 problemas para que o leitor possa

resolvê-los, havendo também as respostas para tais problemas.

No capítulo seguinte, o capítulo seis, Steinbruch e Winterle (1987) tratam

do estudo de Distâncias, no qual apresentam as noções de distância entre dois

pontos, distância de um ponto a uma reta, retas reversas, distância de um ponto

a um plano, distância entre dois planos e distância de uma reta a um plano.

Nesse capítulo, não são apresentados exemplos acerca dos conteúdos

abordados, mas os autores destacam 6 problemas resolvidos. No término desse

capítulo os autores propõem 12 problemas aos leitores, mostrando em seguida

suas respostas.

4.4. Análise ecológica

A análise ecológica de saberes é definida por Chaachoua (2014a) a partir

das noções de habitat e nichos. No caso particular do objeto matemático tomado

em nossa pesquisa, a Geometria Analítica no Espaço, identificamos o lugar de

vida deste objeto, isto é, quais são os habitats e nichos ocupados pela Geometria

Analítica no Espaço em uma instituição de referência.

A instituição de referência adotada em nossa pesquisa foi o curso de

Licenciatura em Matemática da UEPA. Nossa intenção é destacar os habitats e

nichos desse objeto matemático a partir dos livros didáticos utilizados em

instituições do ensino superior.

A disciplina Geometria Analítica encontra-se presente nos cursos de

Licenciatura em Matemática e constitui o habitat da Geometria Analítica no

Espaço. Os licenciandos possuem uma relação institucional com os objetos de

aprendizagem no início de sua formação. Assim, a Geometria Analítica no

Espaço surge como um importante objeto institucional para a formação dos

futuros profissionais da área da Matemática.

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Os estudos de Geometria Analítica no Espaço encontram-se

estreitamente ligado ao de Geometria Analítica no Plano, sendo dessa forma seu

primeiro nicho. Além disso, a Geometria Analítica no Espaço mantém viva os

objetos matemáticos como a reta e o plano, pelo fato de apoiar-se na Geometria

Euclidiana e seus postulados.

Também é possível notar que a vida da Geometria Analítica no Espaço é

reforçada pelo estudo de vetores, como também o estudo de funções e equações

algébricas. Além disso, percebemos que a Álgebra Linear interage com a

Geometria Analítica no Espaço, assim como o Cálculo Diferencial e Integral,

demonstrando que a mesma sobrevive em outras disciplinas do curso de

formação em Matemática.

4.5. Análise praxeológica

A análise de manuais didáticos, tal como indica Chaachoua (2014a), pode

ser organizada por meio de uma análise praxeológica, a fim de identificar os tipos

de tarefas, as técnicas e as tecnologias. Em nossa pesquisa seguiremos as

indicações de Chaachoua (2014a), no intuito de verificar se nos tipos de tarefas

apresentadas pelos autores dos manuais analisados há indícios das variáveis

didáticas estabelecidas por Lebeau (2009) em relação a Geometria Analítica no

Espaço.

Para verificarmos se as praxeologias segundo Chevallard (1999) estão

em consonância com as variáveis didáticas estabelecidas por Lebeau (2009)

decidimos organizar nosso estudo estabelecendo os seguintes tipos de tarefas

(T):

Tipo de Tarefa (T1): Determinar a equação da reta no espaço.

Tipo de Tarefa (T2): Determinar a condição de paralelismo de retas no espaço.

Tipo de Tarefa (T3): Determinar a condição de alinhamento de pontos no espaço.

Tipo de Tarefa (T4): Determinar a equação do plano no espaço a partir da

propriedade da ortogonalidade.

Tipo de Tarefa (T5): Determinar um plano caracterizado por duas retas secantes.

Tipo de Tarefa (T6): Caracterizar algebricamente o paralelogramo.

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Vale notar que nossa análise inclui tanto a parte conceitual, quanto às

tarefas resolvidas e tarefas propostas aos alunos presentes nos livros didáticos

analisados. Verificamos as técnicas referentes a cada tipo de tarefa, conforme

indica Chevallard (1999), apresentadas nesses livros didáticos. Após

descrevermos as técnicas indicamos quais delas são adotadas em cada livro.

Adotamos a descrição da organização praxeológica dessa maneira com a

intenção de evitar repetições.

4.5.1. Tipo de Tarefa (T1): Determinar a equação da reta no espaço

Técnica 1: apresentar a equação vetorial da reta.

Técnica 2: utilizar exemplos para aplicar a equação vetorial da reta.

Os livros LD2, LD3 e LD4 utilizam a técnica 1 na abordagem inicial do

estudo referente a equação da reta no espaço. Por sua vez, o livro LD1 não

contempla a referida técnica.

No material LD2 é apresentado uma definição com base na álgebra

vetorial, a qual é explicitada por Oliva (1971) conforme indicado na figura 26.

Figura 26 : Equação vetorial da reta em LD2

Fonte : Oliva (1971, p. 80)

Essa técnica 1 é igualmente encontrada nos livros LD3 e LD4, os quais

indicam como “equação vetorial da reta”.

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Figura 27 : Equação vetorial da reta em LD3

Fonte: Boulos e Camargo (1986, p. 126)

O autor de LD3, como na figura 27, utiliza uma linguagem simbólica para

caracterizar a equação vetorial da reta. Essa mesma linguagem é adotada pelo

autor de LD4 (ver Figura 28).Tal simbolismo representa na visão de Lebeau

(2009) uma economia tanto na escrita, quanto no pensamento para representar

formalmente a referida equação.

Figura 28 : Equação vetorial da reta em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 101)

As definições apresentadas pelos autores dos livros LD2, LD3 e LD4

revelam o que Lebeau (2009) destaca em suas variáveis didáticas quanto ao

“interesse pela notação B – A”. Essa pesquisadora aponta que o registro escrito

das equações paramétricas pode ser considerado vantajoso, pois viabiliza a

escrita. Analisamos os capítulos anteriores dos materiais supracitados e

observamos que os livros LD3 e LD4 apresentam no capítulo sobre vetores a

explicação da notação B – A. Acreditamos que os autores possam considerar

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que por se tratar de um material destinado ao ensino superior, não se se faz

necessário explicar a origem dessa notação, mas consideramos importante que

haja sempre um esclarecimento em torno de notações ou simbologias a serem

adotadas na abordagem de um conteúdo, no intuito de evitar qualquer equívoco

de compreensão dos conceitos envolvidos.

Quanto às tarefas propostas referentes ao estudo da equação da reta no

espaço, o material LD2 sugere 4 questões, sob o título de “Exercícios”. Ao

analisarmos os enunciados, verificamos duas questões que solicitam “escrever

as equações...”(questões 4 e 5). Apresentamos na íntegra, conforme figura 29,

o exercício 4 proposto pelo autor desse material didático.

Figura 29 : Escrita de equações paramétricas de reta em LD2

Fonte : Oliva (1971, p. 88)

Em relação a questão 4 identificamos:

Tarefa : obter uma equação da reta que passa por um ponto e tem direção de

um vetor dado.

Técnica 1(questão 4): utilizar a equação vetorial da reta U = & + �.W��. Técnica 2 (questão 4): substituir as coordenadas do ponto A e do vetor W�� na

igualdade proveniente da equação vetorial da reta.

Nos livros LD3 e LD4 identificamos tarefas similares as do livro LD2.

Destacaremos a seguir (Figura 30) uma tarefa proposta apresentada pelo autor

do livro LD4 para ilustrar tal similaridade.

Figura 30 : Determinação da equação de uma reta em LD4

Fonte: Steinbruch e Winterle (1987, p. 100)

Apresentamos a seguir a resolução do autor de LD4.

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Figura 31 : Solução do exercício da figura 30

Fonte: Steinbruch e Winterle (1987, p. 100)

Para resolver a tarefa indicada acima (cf. Figura 31), o autor utiliza a

equação vetorial da reta, substituindo as coordenadas do ponto A e do vetor W�� na igualdade proveniente de tal equação. As técnicas adotadas pelo autor

situam-se no campo da Álgebra Linear e da Geometria Analítica, optando por

uma apresentação mais prática da representação algébrica de uma reta.

4.5.2 Tipos de Tarefa (T2): Determinar a condição de paralelismo de retas

no espaço.

Técnica 1: apresentar a condição de paralelismo de retas no espaço.

Técnica 2 : utilizar exemplos para aplicar a condição de paralelismo de retas no

espaço.

Os materiais LD1 e LD2 não contemplam a técnica 1. O autor de LD1

apresenta apenas um quadro sobre as posições relativas de duas retas no

espaço, como indicado na figura 32. Por sua vez no LD2 o autor menciona que

o paralelismo de retas já foi estudado anteriormente.

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Figura 32 : Posição de retas e planos em LD1

Fonte : Rocha (1964, p. 29)

Podemos notar pela figura 32 que o autor faz uma breve indicação do que

sejam retas paralelas, registrando-as geometricamente. Não houve ênfase à

abordagem algébrica da condição de paralelismo.

A abordagem apresentada tanto no material LD3, quanto no LD4, para

destacar a respeito do estudo do paralelismo de retas é contemplada pela

técnica 1. Percebemos dessa forma uma relação direta entre a Geometria

Analítica e a Álgebra Linear.

Registramos nas figuras 33 e 34 as abordagens realizadas nesses

materiais (LD3 e LD4).

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Figura 33 : Paralelismo de retas em LD3

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 171)

Figura 34 : Condição de paralelismo de duas retas em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 100)

A forma como a condição de paralelismo de retas é apresentada nesses

materiais didáticos nos remete as reflexões de Lebeau (2009) quando destaca

sobre a modelização algébrica de objetos geométricos. A autora aponta que as

abordagens realizadas como as apresentadas nos materiais LD3 e LD4 estão

situadas a partir da característica da reta por uma escrita do tipo P = A + k(B –

A), sendo A e B dois pontos quaisquer da reta, P um ponto genérico e k um

parâmetro real. Lebeau (2009) sugere que uma demonstração sintética possa

ser realizada em relação à condição de proporcionalidade do parâmetro de uma

reta em relação a outra, para tal pode-se recorrer a semelhança de triângulos.

Quanto às tarefas propostas identificamos no material LD3, três questões

resolvidas quanto à posição relativa das retas (Figura 35), as quais são

designadas pelo autor como “exercícios resolvidos” e contemplam a técnica 2.

Dentre essas questões destacaremos a segunda questão por se tratar da

condição de paralelismo.

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Figura 35 : Posição relativa de retas em LD3

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 173)

Entendemos que uma questão do tipo “estude...” favoreça ao aluno uma

análise da resposta encontrada. Para essa questão identificamos a seguinte

técnica:

Técnica 1 (exercício 2): apresentar a condição de paralelismo de retas no

espaço.

Técnica 2 (exercício 2): verificar se as retas r e s são paralelas.

Mostramos na figura 36 a resolução proposta pelo autor do material LD3

e as técnicas escolhidas para realização da tarefa.

Figura 36 : Resolução da questão da figura 35

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 173)

O autor de LD3 apoia sua resolução na técnica 1 (exercício 2), verificando

em seguida se as retas r e s são distintas. Pela resolução apresentada

percebemos uma grande ênfase do autor em relação à linguagem matemática

simbólica. Como forma de reforçar o conteúdo aprendido, o autor apresenta nove

“exercícios propostos” para que de forma semelhante ao exemplo resolvido no

livro, os alunos estudem a posição relativa de duas retas dadas. Por meio da

análise das tarefas propostas é possível inferir que o autor privilegia a

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modelização algébrica dos objetos matemáticos, tal como especificado por

Lebeau (2009) enfatizando a escrita do tipo P = A + k(B – A).

4.5.3. Tipo de tarefa (T3): Determinar a condição de alinhamento de ponto s

no espaço.

Técnica 1 : apresentar a condição de colinearidade justificada pela

proporcionalidade de coordenadas.

Técnica 2 : indicar exemplos para verificar a condição de alinhamento de pontos.

A técnica 1 não é contemplada nos materiais LD1, LD2 e LD3. Analisando

o material LD4, observamos que o mesmo utiliza a técnica 1 (Figura 37)

mencionando que a condição de alinhamento está relacionada ao fato dos

pontos serem colineares.

Figura 37 : Condição para que três pontos estejam alinhados em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 105)

Lebeau (2009) observa em seu trabalho que apresentar a condição de

alinhamento pela diferença entre as coordenadas dos pontos representa uma

abordagem enriquecida por uma justificativa geométrica subjacente ao

tratamento algébrico. Fica evidente na apresentação feita pelo autor de LD4 essa

ênfase algébrica a condição de alinhamento por meio da proporcionalidade das

coordenadas dos pontos no espaço.

Em relação às tarefas resolvidas identificadas no material LD3

apresentamos um “exemplo” (ver Figura 38), o qual foi ilustrado pelo autor após

a abordagem sobre a condição de alinhamento entre pontos e contempla a

técnica 2.

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Figura 38 : Exemplo de uso da técnica 2 em LD3

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 105)

Para esse exemplo identificamos as seguintes técnicas:

Técnica 1 (exercício 2): apresentar a condição de alinhamento de pontos no

espaço.

Técnica 2 (exercício 2): verificar se os pontos estão alinhados.

Indicaremos a seguir, na figura 39, a resolução apresentada pelo autor de

LD4 e as técnicas escolhidas para realização da tarefa.

Figura 39 : Exemplo de utilização das técnicas 1 e 2 em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 105 e 106)

A técnica1 foi escolhida pelo autor de LD4 para resolver o exemplo,

contemplando ainda a técnica 2 com um enfoque algébrico em relação a

condição de alinhamento por meio da proporcionalidade das coordenadas dos

pontos no espaço.

Quanto às tarefas propostas aos alunos, identificamos em LD4 no tópico

“problemas propostos” duas questões envolvendo diretamente a condição de

alinhamento de pontos, conforme a figura 40.

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Figura 40 : Condição de alinhamento de pontos em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 133)

Ao analisarmos o enunciado dos “problemas propostos”, observamos que

o problema 9 poderia favorecer ao aluno perceber que uma demonstração no

espaço acerca do alinhamento de pontos vai além do que verificar a

proporcionalidade entre as coordenadas destes pontos, como alerta Lebeau

(2009). Uma proposta para demonstrar que dois pontos no espaço encontram-

se alinhados com a origem, “consiste em utilizar as propriedades comuns da

Geometria Sintética, como um caso de semelhança de triângulos ou o teorema

de Tales” (LEBEAU, 2009, p. 201, tradução nossa). No entanto, é possível que

os alunos, direcionados pela forma de abordagem do LD4, resolvam o problema

9 recorrendo a técnica 1 e 2 explicitada na resolução apresentada para o

exemplo resolvido indicado pelo autor do livro.

Consideramos também que para a resolução do problema 10, indicado na

figura 41, os alunos sintam-se estimulados a resolver por meio do enfoque

algébrico, uma vez que o material LD4 não enfatizou uma abordagem geométrica

para estabelecer a condição de alinhamento de pontos no espaço.

4.5.4. Tipo de tarefa (T4): Determinar a equação do plano no espaço como

uma propriedade da ortogonalidade.

Técnica 1 : apresentar a equação do plano no espaço.

Técnica 2 : utilizar exemplos para aplicar a equação do plano no espaço.

No material LD1 a técnica 1 não é contemplada. Esse material destaca

dois casos em que o plano é determinado (Figura 41), um caso com base em

um postulado e outro por meio de um teorema. Pela análise realizada fica

evidente que o autor desse material recorre a geometria sintética para determinar

um plano.

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Figura 41 : Determinação do plano em LD1

Fonte: Rocha (1964, p. 24)

A técnica 1 é contemplada nos materiais LD2, LD3 e LD4 na abordagem

sobre a equação do plano no espaço. Os autores desses materiais adotam, o

que Lebeau (2009) chama de “estratégia clássica”, a qual consiste em

apresentar a equação do plano do tipo �� + �� + + � = 0 como uma

propriedade da ortogonalidade.

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Figura 42 : Equação do plano em LD2

Fonte : Oliva (1971, p. 83)

Observamos pela figura 42 que o autor de LD2 faz uma abordagem da

equação do plano a partir das equações paramétricas em relação a um sistema

de coordenadas cartesianas o qual conduz a um tratamento do ponto de vista

algébrico à equação geral do plano.

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Figura 43 : Equação geral de plano em LD3

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 146)

Na figura 43, constatamos que o autor de LD3 recorre aos conceitos de

Álgebra Linear, nesse caso a definição de dependência e independência linear,

para obter a equação geral do plano por meio do cálculo do determinante, cujos

elementos são formados pelas coordenadas dos vetores do plano.

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Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 133)

Na abordagem explicitada nos manuais de LD2, LD3 e LD4 fica evidente

a caracterização do plano via ortogonalidade de vetores, conforme indicado por

Figura 44 : Equação geral do plano em LD4

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Lebeau (2009). Segundo essa pesquisadora, tal caracterização parece não ser

conveniente de adotar, pois conduz ao seguinte questionamento: “a definição de

um objeto da geometria afim por meio dos conceitos da geometria métrica e um

trabalho prévio sobre o objeto plano demanda um custo cognitivo” (LEBEAU,

2009, p.193, tradução nossa).

Para abordar sobre o plano, Lebeau (2009) sugere que o trabalho com os

alunos seja iniciado com a seguinte questão: “o que representa, no espaço, o

conjunto de pontos cujas coordenadas verificam a equação !� + 3� + � − 2 = 0

?” (p. 190). De acordo com a autora, essa forma de abordagem pode fazer com

que os alunos concluam que estamos lidando com um plano, quando anulada

cada variável da equação !� + 3� + � − 2 = 0 e a interpreta como uma reta do

plano de coordenadas.

Em relação às tarefas resolvidas encontradas nos materiais analisados

destacamos um “exercício resolvido” (Figura 45) presente no material LD3.

Figura 45 : Equações paramétricas do plano em LD3

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 150)

Para o exemplo mencionado verificamos as seguintes técnicas:

Técnica 1 (exercício 3): substituir λ por z nas duas primeira equações.

Técnica 2 (exercício 3): substituir a segunda equação na primeira.

Técnica 3 (exercício 3): determinar a equação geral do plano.

A resolução apresentada pelo autor de LD3 é a seguinte (Figura 46).

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Figura 46: Primeira resolução em LD3

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 150)

Analisando a resposta apresentada no material LD3, verificamos que

contempla as técnicas 1, 2 e 3 aqui apontadas. Além disso, percebemos como

menciona Lebeau (2009), há forte algebrização dos objetos planos em termos

de caracterização paramétrica.

A algebrização citada por Lebeau (2009) também foi verificada no material

LD4 quando apresenta um “exemplo resolvido”, o qual encontra-se indicado na

figura 47.

Figura 47 : Determinação da equação geral de um plano em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 145)

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Apresentamos na figura 48, a resolução presente no material LD4.

Figura 48 : Resolução do exemplo em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 146)

Interpretamos na resolução apresentada pelo autor de LD4 que da mesma

forma que o material LD3, há um privilégio às resoluções algébricas.

Em relação às tarefas propostas encontramos em LD4 quatro questões

para escrever a equação geral do plano determinado a partir dos pontos dados

(Figura 49).

Figura 49 : Tarefas sobre equação geral do plano em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 181)

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Outras quatro questões (cf. figura 50) são propostas no material LD4,

solicitando determinar a equação geral do plano contendo retas.

Figura 50 : Outras propostas de determinação de equação geral do plano em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 182)

Inferimos assim que os materiais didáticos privilegiam os aspectos

algébricos dos objetos planos, como também se utilizam de clássicas estratégias

para abordar a equação geral do plano partindo da propriedade da

ortogonalidade.

4.5.5. Tipo de tarefa (T5): Determinar um plano caracterizado por duas re tas

secantes.

Técnica 1 : enunciar o postulado da determinação do plano.

Técnica 2 : utilizar exemplos para caracterizar um plano por duas retas secantes.

Analisando a existência da tarefa T5 no livro LD1 percebemos que a

mesma é apresentada somente na introdução do capítulo sobre Geometria no

Espaço quando o autor anuncia alguns postulados “independentes” (figura 51).

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Figura 51 : Postulado da determinação do plano em LD1

Fonte : Rocha (1963, p. 22)

O livro L1 contempla a técnica 1 no que se refere a enunciar o postulado,

aproximando-se de caracterizar o plano, na perspectiva de Lebeau (2009) tal

como: “um plano sendo determinado por três pontos O, A e B não alinhados,

todo ponto C, diferente dos pontos anteriores, é coplanar com esses se e

somente se as retas OA e AC são secantes ...” (LEBEAU, 2009, p. 211, tradução

nossa). Porém, percebemos que não há indicações da técnica t2 no decorrer do

capítulo.

A tecnologia que justifica as técnicas utilizada por Rocha (1964), em LD1,

situa-se no campo da Geometria Euclidiana a partir do postulado da

determinação do plano.

Os materiais LD2, LD3 e LD4 não contemplam a tarefa T5 no que se refere

a abordagem sobre a determinação do plano no espaço por duas retas secantes.

A opção dos autores para caracterizar um plano é feita pela utilização da

equação geral do plano a partir de uma abordagem vetorial influenciada pelas

noções da Álgebra Linear.

4.5.6. Tipo de tarefa (T6): Caracterizar algebricamente o paralelogramo.

Técnica 1 : apresentar a relação B – A = D – C.

Técnica 2 : utilizar exemplos para aplicar a relação.

Nenhum dos materiais analisados contempla a técnica 1. No entanto, o

material LD4 apresenta uma abordagem vetorial para caracterizar o

paralelogramo, tal como ilustrada na figura 52.

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Figura 52 : Abordagem vetorial em LD4

Fonte : Steinbruch e Winterle (1987, p. 191)

Em relação a técnica 2 identificamos nos materiais LD2 e LD3 apenas

uma tarefa proposta pelos autores (figuras 53 e 54), as quais oportunizam aos

alunos mobilizar seus conhecimentos acerca da caracterização do

paralelogramo.

Figura 53 : Determinação da equação vetorial do plano em LD2

FONTE: Oliva (1971, p. 89)

Figura 54 : Determinação das coordenadas dos vértices de um paralelogramo em LD3

Fonte : Boulos e Camargo (1986, p. 193)

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Nas tarefas propostas nesses materiais (LD2 e LD3) acreditamos que os

autores possam ter considerado que os alunos já tenham familiaridade com a

caracterização algébrica do paralelogramo quando estudaram a Geometria

Analítica no Plano. Buscando as indicações de Lebeau (2009), a mesma explicita

que a maioria das abordagens para caracterizar algebricamente o paralelogramo

encontram-se apoiadas em estudos introdutivos do paralelismo de retas.

No que tange às organizações didática e matemática, apontadas por

Chevallard (1999), realizadas a partir das tarefas efetuadas pelos autores dos

materiais didáticos, percebemos um desenvolvimento coerente em relação às

tarefas propostas uma vez que possibilitaram mobilizar técnicas que foram

desenvolvidas em exercícios resolvidos. Além disso, as tarefas propostas

propiciaram a busca de conhecimentos já adquiridos, muitas vezes não

apresentado de forma explícita em um determinado capítulo.

Outro aspecto que consideramos diz respeito a quantidade de tarefas

presentes nos livros didáticos analisados. Observamos que tal quantidade

mostra-se em conformidade com a abordagem dos conteúdos visto que certos

autores optam por apresentar o conteúdo e posteriormente recomendam as

atividades.

Ao analisarmos as abordagens sobre a reta e o plano apresentadas pelos

autores dos materiais didáticos observamos uma forte relação entre a Álgebra

Linear e a Geometria Analítica, na qual os autores privilegiam um tratamento

algébrico dos seguintes objetos geométricos no espaço: equação da reta,

condição de paralelismo, condição de alinhamento de pontos, equação do

plano... Além disso, da mesma forma que Lebeau (2009), constatamos nos

materiais analisados, principalmente em LD3 e LD4, uma abordagem vetorial

dos objetos geométricos Reta e Plano, traduzindo por exemplo, a equação

vetorial em equação paramétrica, sem justificar a correspondência entre as duas

escritas.

Por meio das análises aqui realizadas, evidenciamos que na abordagem

dos livros didáticos LD1, LD2, LD3 e LD4, ocorre uma inversão didática ao

ensinar a Geometria Analítica como sendo um subproduto da Álgebra Linear,

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como aponta Lebeau (2009) em sua pesquisa sobre essa temática. A autora

ainda descreve que ao invés de ensinar a Geometria de maneira sintética e

analítica para deduzir gradativamente os elementos que serão constituídos na

Álgebra Linear, como ocorreu historicamente, se começa a ensinar pela Álgebra

Linear para vir depois a Geometria como sendo uma de suas especificações.

Inferimos que tal fato ocorreu devido a influência do Movimento da Matemática

Moderna, cujas orientações revelam-se presentes nos livros didáticos daquele

período.

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CONSIDERAÇÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS

Embora algumas pesquisas sobre análise de livro didático já tenham sido

desenvolvidas, no Brasil, observamos uma lacuna quanto à temática Geometria

Analítica no Espaço. Assim, dedicamos nossa pesquisa à análise de como os

autores de livros didáticos destinados ao ensino superior organizaram as

atividades propostas em relação ao estudo da Reta e do Plano com base nas

variáveis didáticas desenvolvidas por Lebeau (2009) para o ensino da Geometria

Analítica no Espaço.

Por meio das leituras realizadas sobre as pesquisas em Geometria

Analítica, percebemos a escassez de trabalhos que se dedicaram a pesquisar

sobre esse tema. Assim, consideramos importante investigar a respeito da

Geometria Analítica no Espaço visando contribuir para as pesquisas no âmbito

da Educação Matemática.

Do ponto de vista teórico, nos referenciamos na TAD, de Chevallard

(1999), a qual contribuiu com nosso trabalho quanto às análises praxeológicas,

sendo possível identificar nos livros analisados os tipos de tarefas, as técnicas

usadas pelos autores e as tecnologias. Adotamos ainda em nosso estudo, as

variáveis didáticas de Lebeau (2009), pois essa autora aponta determinadas

características da Geometria Analítica no Espaço pouco discutidas no cenário

das pesquisas brasileiras.

Nosso campo de pesquisa foi a Geometria Analítica no Espaço e voltamos

nosso foco para o estudo da Reta e o Plano, visto que Lebeau (2009) aponta

variáveis didáticas em relação a estes dois objetos matemáticos e a praxeologia

proposta por Chevallard (1999) exige que a organização matemática ocorra

antes da organização didática. A partir do exposto retomamos nossa questão de

pesquisa:

• Quais organizações matemática e didática estão pres entes em livros

didáticos para o ensino superior no que se refere a o estudo da Reta

e do Plano no Espaço?

Os resultados da pesquisa que realizamos apresentam indícios que nos

conduzem a inferir que nossa questão de pesquisa foi respondida e para

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atingirmos nosso objetivo, norteamos as análises dos manuais didáticos

investigados em nossa pesquisa, tomando como referência a metodologia de

Chaachoua (2014a) pelo fato do mesmo apontar certas características para a

realização de análises em manuais didáticos tendo como base a TAD, a saber:

momento da edição, representatividade, estrutura, análise ecológica e análise

praxeológica. Adotar essa metodologia permitiu-nos especificar as

características dos livros que analisamos, como também o contexto de suas

produções. Além disso, essa metodologia contribuiu para a análise praxeológica

que realizamos.

Em nossas considerações finais pretendemos resgatar importantes

aspectos levantados durante nossa investigação, tais como: os principais

resultados, as contribuições de nossa pesquisa para área da Educação

Matemática, a contribuição para o curso de formação de professores, assim

como propomos perspectivas de novos estudos.

Principais Resultados

Os resultados das análises dos livros investigados indicam que, apesar

de uma diversidade das tarefas, com base na TAD, propostas pelos autores,

poucos manuais contemplam as sugestões de abordagem para a Reta e para o

Plano no Espaço indicadas por Lebeau (2009).

No que se refere a tarefa T1, determinar a equação da reta no espaço,

identificamos nos livros analisados o uso de uma linguagem simbólica para

caracterizar a equação vetorial da reta (U = & + �.W ����). Inferimos que tal

simbolismo, de acordo com a percepção de Lebeau (2009), demonstra uma

economia na escrita e no pensamento para representar de maneira formal tal

equação, revelando uma abordagem indicada pela autora quanto ao “interesse

pela notação B – A”. Ademais, os livros LD2, LD3 e LD4, que apresentam essa

equação vetorial da reta, não parecem preocupados em explicar a origem de tal

notação, isso talvez ocorra pelo fato de serem obras destinadas ao ensino

superior.

Em relação a tarefa T2 que visa determinar a condição de paralelismo de

retas no espaço, observamos que em determinados materiais, tais como LD3 e

LD4, esta tarefa é apresentada a partir de uma relação direta entre a Geometria

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Analítica e a Álgebra Linear, conduzindo-nos às reflexões de Lebeau (2009) em

relação às características da reta por meio da escrita do tipo P = A + k(B – A).

Encontramos ainda nas tarefas propostas pelo autor de LD3, em relação à

condição de paralelismo de retas, questões cujo enunciado (“estude a posição

relativa das retas...”) apontavam uma oportunidade para o aluno analisar a

resposta a ser encontrada. No entanto, a abordagem presente nesse material

didático, como especifica Lebeau (2009), indicou uma forte ênfase a

modelização algébrica dos objetos matemáticos privilegiando a característica da

reta por uma escrita do tipo P = A + k(B – A).

Por sua vez, na tarefa T3, a qual visa determinar a condição de

alinhamento dos pontos no espaço, verificamos que o material LD4 prioriza uma

ênfase algébrica quanto à condição de alinhamento por meio da

proporcionalidade das coordenadas dos pontos no Espaço. De modo

semelhante, encontramos nas tarefas resolvidas, em LD3 e LD4, o enfoque

algébrico para tal condição, impossibilitando o aluno de perceber que o

alinhamento de pontos é muito além do que examinar a proporcionalidade entre

as coordenadas dos pontos, como apontado por Lebeau (2009).

Para a tarefa T4, apresentar a equação do plano no espaço como

propriedade da ortogonalidade, constatamos que os materiais LD2, LD3 e LD4

adotam uma “estratégia clássica”, indicada por Lebeau (2009), na qual apresenta

a equação do plano como uma propriedade da ortogonalidade. Com relação às

tarefas resolvidas, notamos nos materiais LD3 e LD4, da mesma forma que a

autora, uma algebrização dos objetos planos em termos de caracterização da

equação paramétrica, havendo desse modo um privilégio quanto às resoluções

algébricas.

Na tarefa T5 que indica determinar um plano caracterizado por duas retas

secantes, identificamos que apenas o livro LD1 aproxima-se de caracterizar o

plano, na perspectiva de Lebeau (2009), ao enunciar o postulado da

determinação do plano. Os demais materiais analisados, LD2, LD3 e LD4,

adotam a estratégia de caracterizar um plano a partir da abordagem vetorial,

revelando a influência dos conceitos da Álgebra Linear.

E finalmente, na tarefa T6, caracterizar algebricamente o paralelogramo,

identificamos que apenas o livro LD4 apresenta uma abordagem vetorial

caracterizando o paralelogramo. Por sua vez, nos materiais LD2 e LD3 surgem

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tarefas propostas pelos autores que podem oportunizar aos alunos a mobilização

de seus conhecimentos acerca da caracterização do paralelogramo.

Contribuições de nossa pesquisa para área da Educaç ão Matemática

As contribuições de nossa pesquisa residem em dois importantes

aspectos, os quais conduzem a originalidade de nosso trabalho, são eles:

• As discussões acerca das variáveis didáticas apontadas por Lebeau

(2009) em relação à Geometria Analítica tridimensional, no que se refere

à Reta e ao Plano, a saber: começar pelo plano? (estratégia sobre

ortogonalidade, um plano como superfície regular, uma estratégia

construída sobre o paralelogramo), começar pela reta? (uma expressão

de alinhamento induzido para trabalhar no plano e que deve ser

justificado, a projeção para ir do espaço ao plano ou do plano ao espaço,

alinhamento e projeção, do alinhamento no plano ao alinhamento no

espaço para geometria sintética), passar da reta ao plano (um plano

caracterizado por duas retas secantes, um plano visto como uma

superfície regular, apostar sobre a caracterização algébrica do

paralelogramo), paralelogramo, paralelismo e translação (começar pelo

paralelismo de retas, a translação ou o paralelogramo?, iniciar pelo estudo

do paralelismo de retas?, começar por caracterizar algebricamente um

paralelogramo?), os pressupostos geométricos (as projeções paralelas

conservam o alinhamento, as projeções paralelas conservam o

paralelismo) e os ostensivos e modos de pensar (articulação dos modos

de pensar, a notação B-A).

• O fato de utilizarmos uma metodologia que envolvesse o referencial

teórico adotado, além de ser uma metodologia específica para análise de

livro didático, sendo caracterizada pelos aspectos indicados por

Chaachoua (2014a), tais como: momento da edição, representatividade,

estrutura, análise ecológica (habitat e nicho) e análise praxeológica

(identificar o tipo de tarefa, as técnicas e a tecnologia). Destacamos ainda

que tal metodologia abre um campo de pesquisa no Brasil, assim

contribuímos para estudos futuros sobre análise de livros didáticos.

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Contribuição para o curso de formação de professore s

Acreditamos que nosso trabalho venha contribuir com a formação de

professores no sentido de colaborar na construção do seu conhecimento em

relação à Geometria Analítica no Espaço, trazendo um novo olhar em relação

aos objetos matemáticos Reta e Plano.

Pretendemos que os futuros professores tenham uma visão crítica acerca

dos livros didáticos e que este recurso auxilia na aprendizagem do aluno quando

segue recomendações de pesquisadores da área. Esperamos que nossa

pesquisa sobre análise de livro didático possibilite ao curso de formação de

professores de matemática enxergar que o mesmo é produto de estudos e

reflexões.

Perspectivas de novos estudos

Em relação ao uso do livro didático, compartilhamos do pensamento de

Kluppel e Brandt (2012) quando afirmam que por meio da análise do livro didático

temos a possibilidade de conhecer melhor acerca do ensino que será ministrado

e as concepções matemáticas dos conteúdos. Entendemos assim que os livros

didáticos devam propiciar uma orientação para o docente para buscar outras

experiências, como também fontes que auxiliem na complementação de seu

trabalho.

Para concluir nosso pensamento, finalizamos esta tese de doutorado,

vivenciando a agradável experiência de concluir um trabalho de pesquisa tendo

a convicção de que o mesmo não chegou ao fim. Propomos aos professores,

que enxerguem o livro didático como um espaço para organização de ideias que

favoreçam o desenvolvimento intelectual. Além disso, acreditamos que outros

pesquisadores voltarão seu deixamos como sugestão para pesquisas futuras

que as variáveis didáticas indicadas por Lebeau (2009) para o ensino da reta e

do plano no espaço sejam aplicadas no âmbito de sala de aula, investigando-se

como elas interferem nos processos de ensino e de aprendizagem de conceitos

da Geometria Analítica no Espaço.

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