geografia e matemÁtica – uma anÁlise das relaÇÕes entre as duas disciplinas no contexto...

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O principal objectivo da presente comunicação centra-se na análise da relação entre duas disciplinas: a Geografia e a Matemática. Assim, podemos definir três objectivos principais para a nossa comunicação:- Analisar o modo como a Matemática contribui para o desenvolvimento da Geografia enquanto disciplina académica; - Apresentar e discutir o modo como o ensino universitário de Geografia incluiu/excluiu a Matemática dos programas ministrados nas diversas faculdades;- Propor algumas medidas concretas que permitam reforçar as ligações científicas entre estas duas disciplinas, no quadro da vida académica portuguesa.Tendo em consideração os principais objectivos da presente Conferência, tentaremos demonstrar que existem benefícios mútuos para a Geografia e Matemática, decorrentes de uma maior aproximação entre estas duas disciplinas no contexto do Ensino Universitário.

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LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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estamos  a  tratar.  Sem  dúvida  que  a  contra  argumentação  é  conhecida:  os formandos em Ciências Geográficas estudam Estatística, descritiva e inferencial, e aplicam no quadro das matérias associadas aos Sistemas de Informação Geográfica e Teledetecção Remota instrumentos que poderíamos classificar de numéricos. Não contesto esta afirmação. E não contesto porque ela é verdadeira. No entanto, algo de mais  profundo  se move  no meio  desta  discussão.  A  ausência  de  um  domínio eficaz de técnicas fundamentais de cálculo por parte dos estudantes e licenciados em  Geografia  limita,  como  iremos  ver  em  parte  posterior,  a  compreensão  e  a exploração de modelos sofisticados de base espacial.  

Por  outro  lado,  o  domínio  de  uma  determinada  linguagem  possibilita  uma abertura quer metodológica, quer teórica a outros campos das Ciências Sociais. A verdade é que a Matemática constitui, entre outras coisas, uma “linguagem franca” entre  as  diferentes  ciências.  Deste  modo,  o  próprio  poder  de  diálogo  com especialistas  de  outras  matérias,  é  ampliado  pelo  simples  domínio  de  uma linguagem baseada na lógica.  

Veja‐se  o  caso  da  Economia:  em  diferentes  áreas,  a  Ciência  Económica  e  a Ciência  Geográfica  têm  inúmeras  possibilidades  de  cooperação.  O Desenvolvimento, as teorias da localização, os Clusters, representam outros tantos casos de domínios científicos que interessam a ambas as disciplinas.  

Para  aprofundar o diálogo  e  a  compreensão mútua,  a Matemática  surge  como um  poderoso  instrumento  facilitador  da  junção  de  interesses.  Não  por  acaso, alguns dos mais importantes economistas deste princípio de século (Paul Krugman e  Michael  Porter)  analisam  extensivamente  problemas  de  natureza  espacial.  De facto, Paul Krugman refere numa das  suas obras que  “durante uma parte da  sua carreira abordou problemas numa perspectiva geográfica sem no entanto o saber” (Krugman, 1991).  

A  outro  nível  poderíamos  destacar  o  caso  da  denominada  “Nova  Geografia Económica”, que constitui um dos domínios mais em expansão no final do século passado,  e que  tem sido alvo de  interesse  crescente por parte dos estudiosos da Ciência Económica2.  

Assim, abrem‐se portas para um debate que consideramos de todo necessário e urgente. Até que ponto deveremos ignorar os desafios que nos são colocados por outras  ciências  sociais,  no  momento  em  que  estas  se  interessam,  de  um  modo crescente, por domínios que suponhamos, até há pouco tempo, serem do exclusivo estudo dos Geógrafos.  

A  nossa  resposta  pode  ser  pautada por  duas  atitudes  distintas:  um aceitar  do actual status quo que, no meu entender é penalizante e limita a nossa participação no  debate  de  determinadas  matérias;  um  empenho  renovado  na  ampliação  das nossas capacidades de domínio da linguagem da lógica, que nos poderá conduzir a 

2 Ver por exemplo Porter, 1990. 

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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um  reforço  da  nossa  presença  no  debate  científico  em  áreas  que  são, indiscutivelmente,  do  nosso  interesse  quer  temático,  quer  metodológico,  quer, ainda, conceptual.  

Sem dúvida que é a segunda atitude que deve balizar e orientar a nossa possível resposta aos desafios da  interdisciplinaridade. O espaço, realidade geográfica por excelência (quanto mais não seja, porque é nele que se inscreve a variável crucial representada pela distância) é, nos dias de hoje, um campo aberto ao diálogo, que se  pretende  profícuo,  entre  diferentes  Ciências:  Geografia,  Economia,  Sociologia, Antropologia, entre outras.  

Do ponto de vista histórico, a Geografia construí o seu corpo fundamental de leis e modelos,  num  intervalo  temporal  relativamente  reduzido.  Entre  1930  e  1970, assistiu‐se,  sobretudo na  corrente  a  que poderíamos designar de Anglo­saxónica, um  esforço  continuado  e  consistente  de  institucionalização  de  um  corpo  teórico para  a  Ciência  Geográfica,  baseado  em  Modelos,  suportados  nos  princípios  do método lógico‐dedutivo.  

Não  surpreende,  portanto,  que,  nos  dias  de  hoje,  nos  países  onde  aquela corrente  de  pensamento  mais  se  afirmou  e  popularizou,  se  encontre  uma preocupação concreta com a quantificação e modelização. Estas preocupações são bem  expressas  nos  currículos  de  diversos  planos  de  estudo  de  Geografia.  De alguma  forma  trata‐se  de  continuar  uma  tradição  de  pensamento  e  análise  que encontra as suas raízes na Escola Alemã de Localização, iniciada por Von Thunen e continuada por cientistas sociais como Weber ou Christaler.  

É para esta linha de pensamento que o livro aponta. Assim, iremos apresentar e discutir,  recorrendo  a  exercícios,  algumas  ferramentas  essenciais  da Matemática para as Ciências Sociais, onde se inclui a Geografia.  

A presente comunicação encontra‐se dividida em três partes fundamentais: nas duas primeiras, apresentaremos as causas desta separação entre a Matemática a e Geografia e discutiremos algumas limitações decorrentes deste distanciamento. Na terceira eúltima parte, procederemos à apresentação algumas técnicas básicas que, no nosso entender, poderiam constituir a base para a elaboração de uma disciplina ou curso livre de Matemática destinado a alunos do 1º Ciclo de Geografia. Assim, a nossa  comunicação  encerra  uma  componente  de  aplicação  muito  visível  dado sermos partidários de um ensino que recorra, sempre que possível, ao caso prático, que  ilustre  e  demonstre  o  porquê  de  determinada  regra,  princípio,  modelo  ou teoria.  

CAUSAS DO DIVÓRCIO

Para  melhor  se  entender  o  porquê  desta  realidade,  importa  proceder  a  um recuo no tempo, nomeadamente, constitui tarefa relevante atentar na evolução pós 

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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II  Guerra  Mundial  da  Ciência  Geográfica3.  Após  décadas  em  que  o  pensamento geográfico foi dominado por uma Escola a que se atribuiu o nome de “Possibilista”4, verificaram‐se importantes mutações nos “modos de fazer geografia” a partir dos anos  cinquenta.  Esta  mudança  ocorre  em  primeiro  lugar  nos  países  anglo‐saxónicos e, só mais tarde, se estenderá a até então claramente sob a influência do Possibilismo Geográfico.   

Porquê esta mudança de paradigma? É  importante  ter em consideração que a Escola  Possibilista,  ela  própria,  havia  surgido  como  forma  de  contestação  aos exageros  grosseiramente  deterministas  (Orlando  Ribeiro)  dos  discípulos  de Friedrich  Ratzel5.  A  uma  escola  imbuída  de  preocupações  generalistas  (o Determininsmo Geográfico), opôs‐se uma linha de pensamento radicada no único e na diferenciação. Assim, para os autores possibilistas, interessava a divisão6, isto é, buscar  as  razões  da  segmentação  de  espaços  vastos  em  regiões mais  ou menos homogéneas.7  

Não  surpreende,  deste  modo,  que  uma  das  frases  célebres  do,  talvez,  mais importante  autor  desta  escola  seja,  “no  que  toca  à  actividade  humana,  tudo  é contingência” (Vidal de la Blache).8 Assim, é na contingência e no aproveitamento diferenciado  do  quadro  natural  oferecido  pelo  ambiente  que  envolve  as comunidades  que  esta  escola  encontrou  o  seu  principal  campo  de  trabalho. Publicam‐se  sínteses  regionais  que  permitem  estruturar  uma  interpretação  dos fenómenos  perenes  que  caracterizam  um  determinado  território.  Aqui empregamos  a  palavra  “perene”  porque,  como  iremos  ver mais  adiante,  é  neste elemento que se encontrará uma das diferenças importantes entre o Possibilismo e a designada Nova Geografia.9   

Neste contexto, como explicar, então, a crítica e a procura de novos rumos para a Ciência Geográfica?  

Não  obstante  a  fértil  produção  de  sínteses  regionais,  geralmente  conhecidas pelo  nome monografias,  e  que  ampliaram  (e muito!)  o  Saber Geográfico,  dois  ou três factos contribuíram para a mudança de perspectiva:  

1. Os  avanços  num  ramo  específico  da  Economia:  a  Economia  Espacial. Após os trabalhos pioneiros de Thunen e Weber, assistiu‐se, logo a partir dos  anos  30,  ao  desenvolvimento  de  estudos  e  modelos  económicos, 

3 Ver por exemplo Johnston (1991) e Claval (1995). 4 Onde pontuou o nome de Vidal de la Blache, grande mestre da Escola Francesa de Geografia. 5 Friedrich Ratzel escreveu uma obra crucial para a autonomia da Ciência Geográfica: Antropogeografia. Entre os seus sucessores talvez os nomes mais conhecidos sejam os de Ellen Semple e Huntington. 6 Ver, por exemplo, a importante obra “Le Tableau de la Géographie de la France” de Paul Vidal de la Blache. 7 Aqui merece destaque sem dúvida o grande mestre da Geografia Portuguesa, Orlando Ribeiro, que conduziu alguns  trabalhos  de  notável  interesse  e,  até,  intrínseco  valor  literário.  Veja‐se,  por  exemplo,  a  belíssima descrição do  Portugal  dos  anos quarenta,  contida no  clássico  “Portugal,  o Mediterrâneo  e  o Atlântico”.  Sem surpresa, esta obra é citada em estudos superiores de literatura portuguesa.   8 Sugerimos a  leitura atenta da grande obra  “Princípios de Geografia Humana” de Vidal de La Blache. Existe uma edição portuguesa com tradução de Fernandes Martins. 9 Ver, por exemplo, o ensaio “A Nova Geografia” de Paul Claval (edição da livraria Almedina, Coimbra, 1982) 

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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onde se procurou introduzir a variável distância (a distância constitui a “variável geográfica” por excelência). Neste contexto importa mencionar, por  exemplo,  os modelos  baseados na  lei  da Gravitação Universal,  com destaque para os estudos de Reilly.  

2. A  progressiva  insatisfação  com  uma  geografia  “sem  modelos”  ou princípios explicativos gerais. Se a procura da diferença, do único, do que é  irrepetível,  representa  a  busca  do  Possibilismo,  então  encontra‐se comprometida  a  tarefa  de  delinear  um  quadro  de  leis  que  pudessem alcandorar  a  Geografia  a  um  estatuto  de  Ciência  dotada  de  um  corpo teórico próprio.  

3. Um entusiasmo renovado pela necessidade de  “previsão”,  isto é, após o término da Segunda Guerra, foi necessário lançar mãos à enorme tarefa de reconstruir um continente em ruínas. A programação de base espacial encontrou  aqui  um  campo  fértil  para  o  desenvolvimento  e experimentação. 

4. A  tomada  de  consciência  de  que  o  tradicional  campo  de  análise  da Geografia  Possibilista  –  os  elementos  perenes  da  paisagem,  como  as formas de povoamento e de agricultura –  já não permitiam captar  com eficácia as novas formas de organização do espaço, onde a indústria e os serviços  marcam  presença  dominante.  É  neste  sentido,  que  se  pode afirmar  que  a  Escola  Possibilista  era,  acima  de  tudo,  uma  Escola  de Geografia Cultural, no mais amplo sentido da palavra.  

Assim,  nos  anos  cinquenta  uma  “revolução”  está  em  marcha10.  A  este  novo paradigma dar‐se‐á o nome de Nova Geografia  ou Escola Quantitativa.  Estes dois termos traduzem, por um lado, uma ideia de mudança e de novidade e, por outro, a noção de que é preciso introduzir a linguagem da lógica (leia‐se a Matemática) nos estudos geográficos.  

Deste  modo,  os  quinze  anos  seguintes  assistiram  a  um  triunfo  desta  escola quantitativa  da  Geografia.  Duas  obras  podem  considerar‐se  como  emblemáticas desta nova abordagem aos problemas espaciais: “Models in Geography” de Richard Chorley  e  Peter  Haggett  e  “Locational  Analysis  in  Human  Geography”  de  Peter Haggett, Andrew Cliff  e Allan Frey11.  Ambas  as  obras  constituem uma  súmula do progresso efectuado pela Geografia rumo ao estabelecimento de um corpo teórico autónomo, pautado pela presença de modelos, onde é visível a  forte presença da matemática. Por outro lado, ficam evidentes as ligações entre a Nova Geografia e a 

10  Indispensável  para  compreender  este  movimento  é  a  leitura  de  “Exceptionalism  in  Geography:  a methodological examination” de F. Schaefer, Annals of the Association of American Geographers, 43, 1953.  De interesse  é  também  a  compreensão  do  debate  Hartshorne/Schaefer  após  a  publicação  deste  artigo fundamental para a Geografia Quantitativa. Ver, por exemplo, o texto de Francis Harvey e Ute Wardenga: “The Hettner‐Hartshorne  connection:reconsidering  the  process  of  reception  and  transformation  of  a  geographic concept”, revista Finisterra,XXXIII, 65, 1998, pp 131‐140. 11  Esta  última  referência  corresponde  à  segunda  edição  (revista  e  ampliada)  da  obra,  com  o mesmo  título, publicada por Peter Haggett em 1965. 

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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Economia12 e, em particular, é muito apreciável a influência exercida pelos estudos de Economia Espacial.13 

Neste  cenário  de  mudança,  como  caracterizar  a  situação  da  Geografia Portuguesa? Para responder a esta questão importa referir alguns traços daquilo a que poderíamos chamar de A Escola Portuguesa de Geografia: 

a) A  Escola  Portuguesa  de  Geografia  tem  nas  suas  referências  basilares nomes  de  cientistas  sociais  como Barros Gomes,  Leite  de Vasconcellos, Silva Telles e Amorim Girão14. Sem dúvida que estes autores (aos quais se poderia  juntar  o  nome  do  geógrafo  alemão  Hermann  Lautensach) contribuíram para a autonomia de uma escola portuguesa de geografia e representam  um  primeiro  grande  esforço  de  autonomização  desta ciência, relativamente à História15 

b) Com  a  afirmação  progressiva  de  Orlando  Ribeiro16  como  o  mestre incontestado  da  Geografia  Portuguesa,  ir‐se‐á  assistir  à  difusão  dos métodos de estudo da Escola Francesa de Geografia que, como sabemos, marcou  de  forma  indelével  o  designado  possibilismo  geográfico.  Deste modo,  a  Escola  de  Geografia  Portuguesa  irá  adoptar,  durante  muito tempo,  os  métodos  de  estudo  derivados  do  Possibilismo.  Daqui resultarão  excelentes  trabalhos  que,  no  seu  todo,  formam  um  notável esforço de análise da realidade portuguesa nas décadas que seguiram ao fim da II Guerra Mundial.17 

c) A influência da Escola Regional manter‐se‐á até meados dos anos setenta. Assim,  sobretudo  a partir  da  segunda metade da década de  sessenta,  a Escola de Geografia Portuguesa entrou em contra ciclo face às tendências 

12 Neste contexto, aconselha‐se a leitura atenta da obra “Geography and Economics” de Michael Chisholm. 13  Para  uma  síntese  de  modelos  de  economia  espacial  ver  “Desenvolvimento  Regional”  de  António  Simões Lopes.  14 Ver, por exemplo, “Trás‐os Montes” de Silva Telles, “Cartas Elementares de Portugal” de Barros Gomes e a “Geografia de Portugal” de Amorim Girão. 15  Chama‐se  a  atenção  para  o  facto  de  que  a  História  e  a  Geografia  aparecerem  associadas  nos  currículos universitários durante parte inicial do Século XX. 16 A obra científica de Orlando Ribeiro é vastíssima, pelo que qualquer lista de obras seria redutora. Aconselha‐se a visualização do site http://www.orlando‐ribeiro.info/en/bibliografia/1971_1980.htm, com a bibliografia científica  do  autor.  Por  outro  lado,  poderíamos  destacar  as  seguintes  obras:  “Portugal,  o Mediterrâneo  e  o Atlêntico”,  “Mediterrâneo, Ambiente e Tradição”,  “Geografia de Portugal” (integrada na colecção dirigida por Manuel de Téran), “Atitude e Explicação em Geografia Humana”, “Iniciação em Geografia Humana”, “Geografia e Civilização”, “Introdução ao estudo da Geografia Regional”.  17  Entre  os  discípulos  de Orlando Ribeiro merecem destaque  os  nomes  de Raquel  Soeiro  de  Brito  (ver,  por exemplo, o notável estudo “Lisboa, esboço geográfico” e Carlos Medeiros (ver trabalho sobre os planaltos de Huila  ‐  Angola).  Raquel  Soeiro  de  Brito  irá,  posteriormente,  associar  o  seu  nome  à  criação  da  primeira licenciatura  em Portugal  orientada,  de  forma  sistemática,  para os  problemas do ordenamento do  território. Esta geógrafa será a directora do Departamento de Geografia e Planeamento Regional da Universidade Nova de Lisboa, que se assumiu como uma primeira experiência de ensino superior orientado para o planeamento e ordenamento do território.  

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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que, um pouco por toda a parte18, se desenhavam na Geografia Europeia e Norte‐Americana.19  

Face  ao  que  antecede  podemos,  então  afirmar,  que  a  Escola  de  Geografia Portuguesa  se  inseriu  num movimento mais  vasto,  correspondente  a  uma  visão regional  da  prática  da  ciência  geográfica  Este  padrão  científico  de  produção intelectual  ir‐se‐á  manter  até  aos  anos  setenta.  A  noção  de  contra  ciclo  surgirá ainda com mais nitidez se pensarmos nos dois seguintes factos:  

a) As primeiras críticas à Nova Geografia, surgem logo nos anos sessenta20, embora as correntes mais estruturadas, que apelavam a uma consciência das limitações da abordagem quantitativa, apenas ganhassem corpo nos primeiros  anos  da  década  seguinte21.  Entre  outros  aspectos,  critica‐se fortemente  a  noção  de  homo  oeconomicus,  ser  dotado  de  um  poder absoluto de recepção e tratamento de informação e com uma capacidade perfeita  de  previsão22.  Abre‐se,  assim,  espaço  a  novas  abordagens  às questões espaciais e à análise do comportamento dos agentes decisores.  

b) A primeira obra (que podemos caracterizar como sendo “de  fundo”) de um geógrafo português alicerçada nos princípios da Escola Quantitativa surge, precisamente, nos princípios dos anos setenta.23 O seu autor (Jorge Gaspar)  é,  sem  dúvida,  o  mais  influente  geógrafo  português  dos  anos setenta  e  oitenta.  Este  estudo  apresenta  duas  características  que  o tornam, desde logo, um trabalho de enorme alcance:  

b.1.)  O  tipo  de  análise:  trata‐se  claramente  de  um  trabalho  que  busca integrar na Escola de Geografia Portuguesa, os princípios analíticos característicos da Nova Geografia;  

b.2.) O autor retoma no seu trabalho um dos modelos mais clássicos da Geografia, correspondente à Teoria dos Lugares Centrais.24 Assim, o começo  da  difusão  da  Escola  Quantitativa  em  Portugal,  iniciou‐se sob os auspícios de um trabalho que revisita um dos modelos mais elegantes e elaborados da Ciência Espacial.  

18  Aconselha‐se  a  leitura  de  dois  periódicos  de  referência,  como  forma  de  acompanhar  os  debates  que  se desenrolaram  no  seio  da  Ciência  Geográfica  desde  os  anos  setenta:  “Progress  in  Geography”/”Progress  in Human Geography” (língua inglesa) e “L’Espace Géographique” (língua francesa). 19 Para uma interessante síntese da epistemologia da Geografia ver Pimenta, José Ramiro (1996) “Geografia e Arqueologia: uma epistemologia comparada”, Livraria Figueirinhas,  Porto. 20 Ver texto de Julian Wolpert, ”The decision process in a spatial context”, publicado em 1964.  21 Vejam‐se as denominadas Corrente Marxista e Corrente Humanista da Geografia. Nomes como Yi‐FuTuan e David Harvey (anteriormente um entusiasta da Nova Geografia), ganham particular relevo enquanto críticos dos estudos excessivamente quantitativos.  22  Como  refere  José  Pimenta  «existe  um  diferencial  entre  a  optimização  e  a  decisão  efectiva,  que  releva  do ambiente económico e social do agente decisor” (cf. Pimenta, 1996:91) 23 Gaspar, Jorge (1972) “A Área de Influência de Évora”, CEG, Lisboa, 2ª edição, 1981. 24 A teoria de Christaller, tem sido apontada como um dos melhores exemplos de um Modelo especificamente “geográfico”, no que concerne quer à conceptualização, quer ao tipo de raciocínio explicativo.  

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora.  

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Que  podemos  concluir  destas  observações?  No  essencial  julgamos  ser importante tecer duas considerações fundamentais:  

• Existe claramente um desfasamento entre o debate na Ciência Geográfica que era praticado em Portugal e aquele que se desenrolava na Europa e América  do  Norte.  De  certa  forma,  Portugal  “perde  um  comboio”  de inovação  metodológica  e  conceptual,  ao  não  divulgar  e  aprofundar  as novas correntes de pensamento que caracterizaram a Geografia a partir dos anos cinquenta; 

• Uma das  causas deste desfasamento, ou  se  se quiser deste desligar das novas  correntes  epistemológicas,  deriva  da  ausência  de  produção científica de base geográfica, com uma orientação matemática. É também neste  sentido  que  o  trabalho  de  Jorge  Gaspar  se  afirma  pela  sua originalidade  e  desafio  face  ao  padrão  então  dominante  na  Geografia Portuguesa.  

A partir dos anos oitenta, a Escola de Geografia Portuguesa irá orientar‐se para trabalhos  em  diferentes  áreas,  com  diferentes  abordagens  e  acompanhando  de perto  a  produção  intelectual  que  se  vai  fazendo  um  pouco  por  toda  a  Europa  e América do Norte25. No entanto, irá permanecer em aberto o problema da ausência de uma produção sistemática de estudos espaciais com uma forte componente de demonstração quantitativa26.  

Esta  realidade  irá  acarretar  determinadas  consequências  para  o  tipo  de formação,  natureza  da  investigação  que  se  pratica  nas  nossas universidades/centros  académicos  e  padrão  de  inserção  profissional  dos licenciados  em  Geografia  pelas  universidades  portuguesas.  Mais  ainda,  a incapacidade  de  dominar  determinadas  ferramentas  básicas  de  cálculo  constitui, conforme iremos ver no capítulo seguinte, uma limitação grave para a entrada do formado  em  Geografia  em  determinadas  áreas  de  crescente  interesse  quer científico, quer de prática profissional, no amplo contexto das Ciências Sociais e da Terra.  

Existem, assim, determinadas  limitações para a ampliação do  leque de opções de  investigação  e  de  prática  profissional  postas  à  disposição  do  licenciado  em Geografia.27 

Será este o assunto da próxima parte da presente comunicação.  

25  Para  uma  visão  aprofundada  da  evolução  da  Ciência  Geográfica  ver  o  texto  clássico  de  Horácio  Capel “Filosofia y ciência en la Geografia contemporanea” (edições Barcanova, Barcelona, 1981). 26  A  difusão  do  ensino  e  investigação  nas  áreas  dos  Sistemas  de  Informação  Geográfica  e  de  Teledetecção Remota, representam um bom sinal de alteração neste cenário. No entanto, continua a verificar‐se a ausência de  um  ensino  com  uma  componente  matemática  mais  profunda  e,  em  consequência,  a  manutenção  de determinadas limitações à produção sistemática de conhecimento de base quantitativa. 27 Sobre este assunto ver a Dissertação de Mestrado (escrita em 1996/1997) do autor desta comunicação e que é, precisamente, dedicada à análise do padrão de inserção profissional do Geógrafo Português.  

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PROBLEMAS E LIMITAÇÕES DECORRENTES DA AUSÊNCIA DE DOMÍNIO DE FERRAMENTAS BÁSICAS DE MATEMÁTICA

Uma  hipótese  de  trabalho:  áreas  de  investigação  e  de  empregabilidade potencialmente  elevadas  para  licenciados  em  Geografia  por  Faculdades Portuguesas: 

a) Ambiente e recursos naturais b) Planeamento e Ordenamento do Território c) Sistemas de Informação Geográfica e Teledetecção d) Desenvolvimento 

As quatro áreas acima mencionadas correspondem a campos de especialização científica  e  profissional  que,  quer  do  ponto  de  vista  histórico  (ver  Sistemas  de Informação  Geográfica  e  Ordenamento  do  Território),  quer  mais  recentemente, têm assumido relevância enquanto mercados para licenciados em Geografia.  

Assim,  iremos  discutir  as  limitações  decorrentes  do  não  domínio  de  algumas ferramentas  matemáticas  essenciais  no  que  concerne  à  integração  científica  e profissional de Geógrafos nas áreas temáticas previamente assinaladas: 

• Ambiente e recursos naturais28 

Neste  caso  importa  referir  a  participação  potencial  em  estudos  de  impacte ambiental, fazem uso de ferramentas matemáticas como a Análise Input­Output e o Cálculo Integral. Ver como exemplo o cálculo e manuseamento de Funções como o Dano Social Marginal, o Dano Marginal Privado. 

• Planeamento e Ordenamento do Território 

Aqui  devemos mencionar  que,  nos  dias  de  hoje,  a  perspectiva  incide  sobre  a denominada  “Nova Gestão  do  Território”  que  faz  apelo,  entre  outras  questões,  a um  sólido  domínio  da  denominada Matemática  Financeira.  Ver  como  exemplo  o Valor  Actualizado  Líquido  e  a  Taxa  Interna  de  Retorno.  Por  outro  lado,  a programação  de  investimentos,  questão  essencial  na  Nova  Gestão  do  Território, também  requer  o  domínio  de  algumas  ferramentas  associadas  à  Matemática Financeira. 

• Sistemas de Informação Geográfica e Teledetecção 

28  Para  uma  perspectiva  global  sobre  este  assunto  ver,  por  exemplo,  Field  and  Field  –  Environmental Economics: an Introduction. 

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Neste  ponto  a  questão  essencial  prende‐se  com  a  capacidade  de  elaborar  e interpretar  algoritmos,  de  modo  a  permitir  uma  melhor  e  mais  completa valorização dos conhecimentos dos licenciados em Geografia. 

• Desenvolvimento  

Neste  contexto  merecem  destaque  questões  relacionadas  com  a  análise  de clusters, geografia económica,  indicadores complexos de desenvolvimento. Assim, entendemos  como  fundamental  o  domínio  de  ferramentas  associadas  ao Cálculo Diferencial  – Derivadas  e Derivadas Parciais, Equações Diferenciais  e Equações às Diferenças, Cálculo Integral e Estudo de Funções. 

Não  será  certamente  por  acaso  que  várias  obras  de  introdução  ao  Cálculo29 abordam, precisamente as cinco questões seguintes: 

a) Funções b) Limites de Funções c) Cálculo Diferencial – introdução ao estudo das derivadas d) Derivadas parciais e) Introdução ao Cálculo Integral 

Obras com um desenvolvimento um pouco maior  já apresentam uma primeira abordagem à análise dinâmica – Equações Diferenciais e Equações às Diferenças.30 Note‐se que as obras que estamos a  referir como exemplos podem enquadrar‐se em três grandes categorias: 

1. Livros de introdução ao Cálculo 

Ver por exemplo Livro de Medeiros et alli. 

2. Livros  de  Cálculo  com  uma  preocupação  específica  com  ferramentas  úteis para as Ciências Sociais 

Ver por exemplo Livro de Verónica Orellano, Sérgio Bobik e Márcio Braga 

3. Livros de Cálculo orientados especificamente para as aplicações no contexto das Ciências Sociais 

Ver por exemplo Livro de Afrânio Murolo e Giácomo Bonetto, Livro de Teresa Bradley e Paul Patton e Livro de Ian Jacques. 

29  Ver  por  exemplo  os  livros  de  Medeiros  et  alli  Cálculo  Básico  para  Cursos  Superiores  e  de  Lilia  Veras  – Matemática Aplicada à Economia 30 Ver livro de Paul Patton e Teresa Bradley – “Essential Mathematics for Economics and Business” 

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Em todos os casos, os autores mostram preocupações com a aprendizagem e de ferramentas essenciais de cálculo matemático e com a respectiva aplicação. Neste contexto  poderíamos  destacar,  pela  qualidade  pedagógica  os  livros  de  Teresa Bradley e Paul Patton e de Afrânio Murolo e Giácomo Bonetto. 

A  estrutura  da  segunda  obra  mencionada  –  “Matemática  Aplicada  à Administração,  Economia  e Contabilidade de Afrânio Murolo  e Giácomo Bonetto, acompanha, em linhas gerais, o seguinte esquema: 

a) Funções b) Derivadas c) Limites d) Integrais 

Em  todos  os  quatro  assuntos  principais  abordados  existe  uma  clara preocupação com as aplicações a problemas de Ciências Sociais. 

A obra dos dois professores irlandeses – “Essential Mathematics for Economics and  Business”  apresenta  uma  estrutura  mais  completa,  dado  incluir  outros assuntos,  como  sejam  a  análise  dinâmica  –  Equações  Diferenciais  e  Equações  às Diferenças  –  a  matemática  financeira  e  a  álgebra  matricial  como  ferramenta essencial de apoio à análise input‐output. 

Deste modo,  poderemos  concluir  que uma obra destinada  a Geógrafos  deverá incluir duas áreas fundamentais da Matemática, a saber: 

• Cálculo, incluindo estudo de funções, derivadas e integrais e respectivas aplicações; 

• Álgebra31, incluindo álgebra matricial e respectivas aplicações. 

As duas componentes acima mencionadas, permitirão àqueles que se dedicam à produção de Conhecimento Geográfico, alargar o quadro de análises efectuadas e, em simultâneo, reforçar o posicionamento da Geografia Portuguesa, no âmbito de novas  e  prometedoras  correntes,  como  seja  a  denominada  Nova  Geografia Económica.  

Neste  ponto,  importa  mencionar  que  o  facto  de  uma  das  áreas  com  maior desenvolvimento recente no quadro da Geografia, exigir um domínio apreciável de ferramentas de Cálculo –  a  acima mencionada Nova Geografia Económica – deve constituir fonte de preocupação mas também de desafio.  

31 Na parte seguinte, desenvolveremos uma pouco mais em pormenor, quais as áreas pertencentes ao Cálculo e à Álgebra que deverão ser abordadas num Curso Introdutório de Matemática para estudantes de Geografia do Ensino Superior. 

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De  preocupação,  uma  vez  que  consideramos  fundamental  para  a  Geografia Portuguesa  não  “perder  o  comboio”  da  novidade  e  da  inovação  metodológica  e temática;  de  desafio,  porque  julgamos  estar  perfeitamente  ao  nosso  alcance  a participação  activa  nestas  novas  perspectivas  de  análise  e  debate.  No  ponto seguinte  iremos  apresentar,  de  forma  sucinta  e  em  face  das  considerações anteriores,  o  que  poderia  constituir  um  programa  científico  comum  de matemáticas  para  a  geografia.  Teremos  como  ponto  de  partida,  várias  obras disponíveis  no  mercado  livreiro  e  que  são  dedicadas  à  explanação  de  métodos matemáticos essenciais para a área vasta das Ciências Sociais.  

FERRAMENTAS ESSENCIAIS

Uma leitura cuidada de obras gerais dedicadas à apresentação e análise aplicada de  ferramentas matemáticas para as ciências sociais, permitem‐nos seleccionar o seguinte grupo de técnicas quantitativas com especial interesse: 

I ‐ Funções 

a) As operações matemáticas fundamentais b) Conceito de Função c) Tipos de funções – breve introdução d) Função do primeiro grau e) Função do segundo grau f) Função Logarítmica g) Função Exponencial h) Função Inversa i) Função Racional j) Aplicações

II – Introdução ao Cálculo Diferencial 

a) O conceito de derivada b) Regras fundamentais de derivação c) Derivada da função composta – regra da cadeia d) Derivadas e limites de funções e) Aplicações  

III – Derivadas Parciais 

a) Conceito de derivada parcial 

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b) Técnicas de derivação parcial c) Aplicações 

IV – Cálculo Integral 

a) O conceito de integral b) Integral indefinido c) Integral Definido – Soma de Riemann d) Regras básicas de integração e) Integração por substituição f) Integração por partes g) Aplicações 

V – Análise Dinâmica 

a) Introdução às equações diferenciais b) Introdução às equações às diferenças c) Aplicações 

VI – Álgebra Matricial 

a) Conceitos fundamentais b) Técnicas básicas c) Determinantes d) Inversão de Matrizes e) Aplicação – a análise input‐output  

VII – Matemática Financeira 

a) Conceitos fundamentais b) Introdução às principais aplicações 

Pretende‐se que o domínio destas técnicas possibilite o estudo aprofundado do Conceito  e,  em  simultâneo,  desenvolva  a  capacidade  de  alargar  a  aplicabilidade desse  mesmo  conceito  a  n  casos,  ou  seja,  falamos  aqui  do  elemento  crucial correspondente  à  construção  do  Modelo.  Pensamos  que  no  actual  contexto mundial  GLOBALIZANTE,  (citamos  aqui  as  interessantíssimas  “Questões  de Partida” do Congresso), a maior afirmação da Geografia Portuguesa dependerá, em parte  não  negligenciável,  da  adopção  de  métodos  de  análise  com  maior incorporação de matemática. Assim, importa adicionar ao tradicional domínio das ferramentas  de  estatística,  uma  sólida  preparação  matemática,  com  particular 

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ênfase,  no  Cálculo  e  na  Álgebra32.  Deste modo,  o  reforço  das  técnicas  de  análise possibilitarão  o  alargamento  do  quadro  explicativo  das  grandes  tendências  de globalização económica que se observam nos dias de hoje. Não devemos esquecer que ao conceito de Globalização se encontra acoplado o conceito de Fluxo e que este último encerra uma forte componente quantitativa. Para a sua interpretação é imprescindível  dominar  uma  linguagem  científica  comum,  correspondente  à Matemática.  Como  exemplo  de  construção  de  modelos  de  base  geográfica,  com aplicação de instrumentos de cálculo, poderíamos citar os interessantes trabalhos de  Paul  Krugman,  Anthony  Venables  e  Masahisa  Fujita,  no  quadro  da  Nova Geografia Económica. 

Concluindo,  será,  também,  numa nova  abordagem  ao Modelo  e  à Modelização que poderemos encontrar interessantes perspectivas para a Geografia Portuguesa, no domínio essencial da produção de Conhecimento. 

CONCLUSÕES

Chegados  a  este  ponto  da  reflexão,  cumpre  questionar  qual  será,  então,  a perspectiva  essencial  que  defendemos,  no  que  respeita  ao  interrelacionamento entre  estas  duas  ciências  –  Geografia  e  Matemática.  Acima  de  tudo,  e  tendo  em consideração as Questões de Partida definidas para este Congresso, julgamos que o  princípio  básico  radica  nas  noções  de Modelo  e  de Modelização.  De  facto,  é, também, na capacidade de produzir quadros interpretativos de uma determinada realidade que uma Ciência se pode afirmar como tal. E as Ciências Sociais, como a Geografia e a Economia, não fogem a esta regra. Conforme demonstrámos em parte anterior  da  comunicação,  o  desenvolvimento  da  Ciência  Geográfica  em  Portugal sofreu, a partir de certo ponto, com a ausência de capacidade de produzir modelos lógico‐dedutivos, à semelhança do que se ia fazendo na Europa Anglo‐Saxónica.  

Em  consequência,  a  Escola  Portuguesa  de  Geografia  permaneceu  fiel  durante quase toda a segunda metade do século XX a métodos tradicionais de análise e de explicação  da  realidade  vivida.  Se,  por  um  lado,  esta  atitude  permitiu  à  Escola Portuguesa afirmar‐se no contexto de uma abordagem regionalista, por outro lado, afastou‐a  das  principais  correntes  de  desenvolvimento  da  disciplina,  a  partir  de finais dos anos cinquenta.  

O  Conhecimento  produzido  no  âmbito  de  uma  Ciência  com  uma  importante componente  corográfica,  como é o  caso da Geografia,  terá  sempre de atender  ao concreto, ao específico, ao pormenor local. No entanto, é fundamental não perder de vista a capacidade de criar hipóteses explicativas generalistas, que se exprimem 

32  Veja‐se  a  este propósito,  e  como mero  exemplo demonstrativo,  que  grandes  referências  bibliográficas  no âmbito  do  Desenvolvimento  Regional,  como  sejam  a  obra  do  Professor  Simões  Lopes  ou  o  Compêndio  de Ciência  Regional  (editado  pela  APDR)  fazem,  precisamente,  apelo  ao  domínio  daquelas  duas  ferramentas matemáticas. Se pensarmos que o Desenvolvimento Regional constitui uma área de particular interesse para a Geografia, julgamos que os princípios por nós defendidos ganham maior lógica e relevância.  

LÚCIO, J. (2007) Geografia e Matemática – uma análise das relações entre as duas disciplinas no contexto nacional.  In, V. Trindade, N. Trindade & A.A. Candeias (Orgs.). A Unicidade do Conhecimento. Évora: Universidade de Évora. 

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sob  a  forma de um Modelo  lógico‐dedutivo33.  Julgamos,  assim,  que  o  reforço  das interligações  entre  as  duas  disciplinas  trará  benefícios  para  os  dois  campos  de Conhecimento  Científico:  do  lado  da  Geografia,  temos  a  possibilidade  de construir/definir  princípios  explicativos  globais,  alicerçados  numa  interpretação da realidade vivida e analisada ao detalhe. Na perspectiva da Ciência Matemática, encontramos  um  novo  campo  para  testar  ferramentas  e  verificar  a  sua aplicabilidade mais universal. 

É  esta  a  nossa  perspectiva  e  aposta:  uma  nova  aproximação  entre  duas disciplinas tão antigas como o próprio Conhecimento Científico.  

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33 Sobre a construção de Modelos ver, por exemplo, a obra de Teresa Bradley e de Paul Patton.  

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