gente cansada de igreja - israel belo
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Esse é um livro fantástico que eu tive a sensação de ter sido escrito pra mim em um determinado momento, e que me ajudou a compreender alguns questionamentos frequentes. Recomendo de mais!TRANSCRIPT
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 1
Israel Belo de Azevedo
GENTE CANSADA DE
IGREJA
EDIÇÃO ELETRÔNICA
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 2
Copyright © 2003 de Israel Belo de Azevedo
1a. Edição: Setembro/2003
2a. Edição: Junho/2007 (edição eletrônica)
Os textos bíblicos são da Nova Versão Internacional [NVI],
publicada pela Editora Vida.
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Para Jaci e Luiz Curvacho,
incansáveis.
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VOCÊ VAI LER...
1
HÁ UM DOM EM VOCÊ
O que houve com Timóteo?
O que está acontecendo conosco?
A natureza do dom
Como reavivar o dom
2
O PRIVILÉGIO DA PARTICIPAÇÃO
A igreja como projeto de Jesus
Por que não participamos?
Como devemos participar
3
QUANDO CRISTO E A IGREJA SE
COMPLETAM
A comunidade da fé
A comunidade do amor
A comunidade dos capacitados pelo Espírito
A comunidade da plenitude
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4
OS DONS DO ESPÍRITO PARA A EDIFICAÇÃO DA
IGREJA
Equívocos e acertos em relação aos dons e
conseqüentes prejuízos
A natureza dos melhores dons
Uma classificação dos dons espirituais
Como descobrir meu(s) dom(ns)?
Um convite a uma vida com dons espirituais
PALAVRAS FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1
HÁ UM DOM EM VOCÊ
Por esta razão te lembro que despertes o
dom de Deus, que há em ti pela imposição
das minhas mãos.
Porque Deus não nos deu o espírito de
covardia [timidez], mas de poder, de
amor e de moderação.
Portanto, não te envergonhes do
testemunho de nosso Senhor, nem de mim,
que sou prisioneiro seu; antes participa
comigo dos sofrimentos do evangelho
segundo o poder de Deus, que nos salvou,
e chamou com uma santa vocação, não
segundo as nossas obras, mas segundo o
seu próprio propósito e a graça que nos
foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos
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eternos, e que agora se manifestou pelo
aparecimento de nosso Salvador Cristo
Jesus, o qual destruiu a morte, e trouxe à
luz a vida e a imortalidade pelo
evangelho, do qual fui constituído
pregador, apóstolo e mestre (2Timóteo
1.6-11).
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Este texto integra a última obra de Paulo. Nele, o
apóstolo faz um resumo do Evangelho, e recomenda a
Timóteo manter-se forte numa civilização em colapso. Em
certo sentido, nosso contexto é o mesmo. Estamos tendo o
privilégio de viver numa sociedade onde convivem
tensamente o velho, que se esgotou, e o novo, que nos
assusta por não sabermos em que vai dar.
Timóteo era uma pessoa de saúde fraca, física e
emocionalmente. Ele sofria de dores no estômago (talvez
uma gastrite ou algo mais grave) e de desânimo, talvez por
sua pouca idade e pela enormidade dos desafios.
Os cristãos não são super-homem, sem problemas.
Nós estamos sujeitos às mesmas dificuldades que os
outros. Em nome da defesa do Evangelho, vendemos uma
imagem (felizes, tipo sorriso colgate) que não condiz com
a realidade de nossas vidas e muito menos com a natureza
do Evangelho. Há muitas pessoas que sofrem por causa
deste estoicismo estranho à Bíblia. Paulo mesmo, ao longo
de suas cartas, fala naturalmente de seus sofrimentos.
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Jesus não escondeu sua angústia ante à iminência da
morte.
Questões como essas produzem gente cansada de
igreja. Gente que esqueceu o primeiro amor. Gente que
não sabe para onde vai, nem mesmo se ainda quer ir.
Timóteo estava cansado, bem como outras comunidades
cristãs da época de Paulo. Para eles, este grande apóstolo
trabalhou em vários momentos o assunto da igreja e sua
caminhada pelo mundo. Durante as próximas páginas,
vamos estudar três destes momentos. Nossa busca é por
revigoramento. Das pessoas e das próprias igrejas.
O QUE HOUVE COM TIMÓTEO?
O que estava acontecendo com Timóteo?
Paulo não apresenta detalhes, mas estava
preocupado. Pelo que sentia, Timóteo precisava reavivar o
dom que recebera de Deus. O verbo aqui empregado
(despertar/reavivar; desperte/reavives) significa manter a
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chama do fogo incandescente.
Para despertar seu dom, Timóteo precisava
reacender o fogo que estava se apagando. Por alguma
razão, ele estava se esquecendo de que o Espírito Santo
habitava nele (verso 14). O dom de Deus, simbolicamente
transmitido pela imposição de mãos, estava sendo
esquecido.
Como nos esquecemos da alegria de nossa
conversão! Como nos esquecemos da felicidade do
batismo! Como permitimos que essas lembranças
prazerosas, feitas de risos ou lágrimas, se apaguem, às
vezes completamente, de nossas memórias.
Não sabemos por que isto aconteceu com Timóteo.
Talvez a sua saúde frágil o tenha enfraquecido
globalmente. De tanto lutar contra suas dores no
estômago, talvez estivesse cansado de viver.
Talvez, nos momentos de crise, ele tenha orado
para que Deus viesse em seu socorro e pusesse fim à sua
aflição; e, como Deus não lhe respondesse do modo como
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queria, talvez estivesse desanimado, quem sabe
decepcionado, com Deus.
Uma adolescente brasileira foi passar um ano nos
Estados Unidos como parte de um programa de
intercâmbio, e sua família ficou muito feliz porque seus
hospedeiros eram cristãos. Quando ela chegou lá, soube de
algo trágico: a única filha deles tinha morrido. Daí em
diante, aquela família brigou com Deus. Toda manhã de
domingo, daquele ano inteiro, seus pais hospedeiros a
levaram até à porta da igreja deles, mas não entraram.
Recentemente, uma família carioca perdeu a sua
filha em circunstâncias trágicas. Uma senhora crente foi
consolar o pai dela. Sua resposta foi:
– Eu não quero saber de Deus. Tudo o que Deus
podia fazer pela minha filha, que era preservar a sua vida,
Ele não fez. Agora, nada mais interessa, nem mesmo Ele.
Há muita gente decepcionada com Deus.
Paulo estava preocupado com Timóteo, temeroso
de que seu filho adotivo estivesse entrando num processo
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de desânimo ou que já estivesse desanimado. Por isso, o
apóstolo lhe pediu que não esquecesse, fossem quais
fossem as circunstâncias, que o Espírito Santo habitava
nele.
A recomendação vale para cada um de nós. O
Espírito Santo habita em você. Por isso, você pode guardar
o depósito da fé em Deus até o final de sua vida.
O QUE ESTÁ ACONTECENDO CONOSCO?
E nós: por que permitimos que o dom se apague?
Por que nos esquecemos de que o Espírito Santo habita em
nós?
Certas coisas acontecem conosco – o desânimo, a
descrença, a falta de compromisso com a santificação, a
falta de envolvimento no projeto de Deus para o mundo –
porque nos esquecemos de que o Espírito Santo mora em
nós. Ah! se nos lembrássemos! Nossas vidas seriam mais
felizes!
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Que religião é esta em que o Deus – que nas outras
religiões habita em lugares diferentes e exige tantas voltas
no acesso a ele – habita com e nas pessoas? Será que Ele é
um Deus fácil demais? Será que não estamos querendo um
Deus difícil, ao qual, por exemplo, só se pode ter acesso
uma vez por ano, e não a toda hora, ou a todo domingo?
Então, comecemos por oferecer algumas respostas
a esta pergunta: o que tem apagado o nosso dom, que está
precisando ser reaceso? Eis quatro respostas:
As pressões da vida
Não tem sido fácil viver. Os pobres, os da classe
média e os jovens têm sido muito sacrificados.
Os pobres têm sofrido com a indigência dos
serviços públicos básicos nas áreas da saúde, da educação
e da segurança, bem como com as crônicas dificuldades de
alimentação e de moradia.
Os da classe média têm perdido acesso a bens e
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serviços, com seus salários congelados, diante de preços
que continuam subindo em áreas que lhes são importantes.
Pagar todas as contas no mês em que vencem é privilégio
de poucos.
As maiores vítimas – e isso tem muito a ver com
Timóteo – são os adolescentes e os jovens. Eles têm um
mundo para conquistar, mas não conseguem emprego.
Quando conseguem um estágio remunerado, que deveria
ser automático em suas vidas, soltam foguetes, que
espantam os que ficaram de fora na fila. Para muitos, o
horizonte é sair do país.
Nessas condições, somos chamados a dar
testemunho acerca do poder de nosso Senhor (verso 8).
Nós, que estamos precisando de alento, é que temos de
confortar os outros. Nós, que queríamos ver esse poder, é
que temos de falar dele. Vem destas circunstâncias parte
de nosso desânimo, especialmente quando vemos o que o
salmista viu: a prosperidade do ímpio (Salmo 37). Ai!
Como dói ver o incrédulo prosperar!
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Essas pressões vão além do plano material e
alcançam o plano moral. Penso, de novo, nos adolescentes
e jovens.
Uma menina, feliz com seus pais, anda triste
porque não tem um namorado. Falta algo em sua vida. Na
igreja não tem ninguém que se interessa por ela e ela não
se interessa por ninguém. Ela tem amigos na escola, mas
não participa dos seus programas. Então, ela resolve se
aproximar um pouco mais. Os garotos também se
aproximam. As conversas são um pouco estranhas, mas
ela se mantém firme nas suas convicções. Um encontro
aqui, outra festa ali, um passeio em outro dia. Um rapaz
chega mais perto. Ela até o leva em sua casa. Ele, então, se
abre: não fala em amor, mas fala em sexo. Ela se afasta,
mas a história se repete com outro rapaz. Moral da
história: ela não faz parte da turma. Não seria melhor fazer
parte? Será que ficará sozinha para sempre? Será que está
certa nos seus valores?
A pressão é enorme e, às vezes, apaga o dom, e
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isto se aplica aos solteiros e às solteiras que querem
construir uma família; aos viúvos e às viúvas que não
querem ficar sozinhos; aos separados e às separadas que
querem recompor suas vidas afetivas. A solidão machuca,
abafa e abala.
Os sofrimentos da vida
Nosso dom se apaga quando experimentamos
aquilo que consideramos o silêncio de Deus, quando
oramos e não ouvimos a resposta. Por algum tempo nos
consolamos com o ensino de que Deus tem o seu tempo.
Depois, nos cansamos de esperar.
Sabemos que precisamos orar pelo nosso filho
afastado de Deus, mas por quanto tempo?
Um dia desses, ouvi a história de uma filha que
nunca desistiu de orar pelo seu pai, afastado da família e
de Deus. Ela orou muitos anos seguidos. Posteriormente,
eu me encontrei com este homem. Ele pediu perdão aos
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seus e ao seu Senhor e está sinceramente disposto a
começar a viver e a permitir que sua família também viva
em harmonia.
Sabemos que precisamos orar pela saúde das
pessoas queridas, mas até quando? Oramos pela saúde de
pessoas e elas morrem. Oramos pela recuperação de
pessoas e elas continuam sofrendo. Isso nos cansa e nos
debilita. Afinal, nossa fé é para todas as áreas da vida.
Deus não é só para a vida religiosa, mas para a vida toda.
A pergunta inevitável é: vale a pena servir a um
Deus deste? Paulo, que sofria a prisão, como que para
testar seu filho-na-fé, faz-lhe um convite: vem sofrer
comigo, Timóteo (verso 8).
O cansaço da igreja
Por vezes, na igreja sobram línguas para criticar
destrutivamente, e faltam braços para fazer.
Qualquer que seja a necessidade da igreja, quando
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alguém resolve fazer a obra, não faltarão aqueles que dirão
que fariam diferente, os mesmos que nunca se
apresentaram para fazer. Os que estiverem fazendo terão
que ter muita convicção para não permitirem que o dom
seja apagado. Em casos como este, precisa-se de pessoas
que se alistem no grupo, que usem seus braços para
trabalhar, nunca a língua para destruir.
Por vezes, na igreja sobram dedos para apontar os
erros dos outros, e faltam ombros para sustentar os que
querem ficar firmes.
A tendência humana competitiva também grassa na
igreja, de modo que o fracasso de um é discretamente
comemorado. Quando se confirmam as direções dos
nossos dedos, em lugar de chorar, preferimos dizer: "não
falei?".
A queda é uma possibilidade na vida do crente.
Mas é triste saber que há pessoas que têm de trocar de
igreja para recomeçar suas vidas. Deus já as perdoou, mas,
muitas vezes, nós não perdoamos.
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Por vezes, na igreja sobram olhos para ver as
brechas, e falta disposição para tapar uma só delas.
Em outras palavras, por vezes, na igreja sobram
ligeiras pernas para escorregar dos compromissos, e falta
vigor para se pôr a caminho. Nós somos capazes de fazer
belos diagnósticos, identificando os problemas da igreja.
No entanto, nós nos esquecemos de que, quando não nos
empenhamos em solucioná-los, nós somos os problemas.
Precisamos de fiéis que se disponham a se pôr na
brecha, para serem usados por Deus, para reparar a
iniqüidade (Ezequiel 22.30).
Por vezes, na igreja sobra cérebro para discutir
temas irrelevantes, e falta inteligência e criatividade para
encontrar soluções novas para um tempo novo que tem as
carências de sempre.
Como perdemos tempo com coisas sem
importância!
Enfim, em alguns momentos, na igreja sobram
palavras, palavras de compreensão e entendimento, e
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faltam ações, ações de compreensão e entendimento.
Jesus recomenda (Mateus 18.15) que, quando
tivermos alguma informação sobre um irmão, nós temos
que ir a ele, para saber o que está acontecendo e ajudá-lo,
se for possível. No entanto, achamos que a maneira de
ajudar este irmão é espalhar a informação que temos dele a
um amigo mais íntimo, que o divulga para outro irmão
mais íntimo, que pede oração a um grupo íntimo. Quando
o irmão-vítima fica sabendo, ele esclarece que não é nada
daquilo, mas já não é mais possível recolher as penas
lançadas do alto da montanha.
Este irmão, certamente, será um que terá que lutar
muito com Deus para que o dom não seja apagado por um
cristianismo teórico demais nas intenções boas e prático
demais nas realizações más.
Por isso, e por outros fatores, há muita gente
cansada de igreja, gente que logo ficará cansada de Deus,
gente que logo se afastará de Deus, às vezes,
irremediavelmente.
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Há gente cansada porque fez muito e acabou
sufocada pela incompreensão e pela crítica. Há gente
cansada por não ter feito nada. Há gente que se cansou de
sua própria acomodação. Há gente cansada de esperar
atitudes coerentes.
O cansaço de Deus
Há gente cansada de Deus, embora raramente o
confesse, porque o acesso a Ele é fácil demais.
Nosso Deus está disponível 24 horas por dia. Não
há qualquer exigência para se falar com Ele. Não há um
local especial em que se fale com Ele. Jonas falou de
dentro de um peixe. Elias falou com Ele do interior de
uma caverna. Moisés falou com Ele do centro de um
deserto.
Não há uma posição para se falar com Ele. Pode
ser em pé. Pode ser deitado. Pode ser ajoelhado. Pode ser
com as mãos para cima. Pode ser com as mãos para baixo.
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Podemos falar com Ele olhando para o céu. Podemos falar
com Ele olhando para o chão.
Banalizamos Deus por ser Ele gracioso demais!
Que contra-senso, como se preferíssemos um deus
aterrador e pavoroso!
Isso alcança os convertidos em idade adulta e
alcança os que nasceram no Evangelho, com o passar do
tempo. Parece que alguns que nasceram no Evangelho
sentem saudade de um tipo de vida que nunca tiveram. Há
quarentões ou cinqüentões adolescendo! É ridículo, mas
acontece.
Há gente esquecida de sua salvação e de sua santa
vocação (verso 9). Há muita gente triste com a sua
salvação, por estranho que pareça. Se somos salvos e
estamos cansados, é porque esquecemos que somos salvos
ou porque a salvação produz tristeza em nós. Na verdade,
na linguagem do salmista, falta a muitos a alegria da
salvação (Salmo 51.12), alegria que produz uma adoração
vibrante, alegria que produz uma vida ativa porque cheia
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do dom.
Devemos parar de banalizar a Deus. Precisamos
vivê-lo como um Deus compassivo e zeloso da sua
santidade e da santidade dos seus seguidores.
A NATUREZA DO DOM
Que dom é este, de que fala o preocupado apóstolo
Paulo? Esta é uma pergunta que não pode ficar sem
resposta.
Dom e espírito
Há aqui duas palavras essenciais no texto: dom e
espírito.
O dom (carisma) é uma concessão (dádiva) de
Deus ao homem. É a transferência de parte de seu caráter
ao ser humano. Nós temos o carisma de Deus.
Este dom nos capacita com o espírito de poder,
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amor e moderação.
Espírito, aqui, sempre no singular, não tem nada a
ver com um certo uso, em que se fala em "espírito da
preguiça" ou "espírito da doença".
A palavra espírito (pneuma) se refere ao sopro de
Deus sobre nossas vidas, capacitando-nos para fazer
aquilo que o dom de Deus necessita para se exercitar em
nós.
O apóstolo Paulo fala também em imposição de
mãos, experiência pela qual Timóteo passou havia alguns
anos. Não foi um gesto mágico, a partir do qual o rapaz
passou a ser outra pessoa. Ao contrário, mesmo tendo
recebido o dom, este dom precisava ser reavivado. Os
gestos formais são apenas símbolos do que acontece no
interior. Todos quantos aceitaram a Cristo como Senhor e
Salvador têm o dom de Deus, dom que pode ter se
transformado num carvão apagado ou num fogo
incandescente.
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O dom que nós queremos
Há uma contradição entre o poder, o amor e a
moderação que o dom de Deus nos sopra (pneuma) e o
poder, o amor e a moderação que nós queremos que Ele
sopre.
O poder que nós naturalmente queremos é o poder
de fazer Deus fazer o que nós queremos, não o de
fazermos o que Ele quer. Religião não é magia. Nós
podemos orar, mas não podemos fazer o que só Deus pode
fazer.
Um dia desses, fui procurado por uma pessoa com
um agudo problema de saúde. Ele queria que eu o curasse.
Chegou a oferecer dinheiro, o quanto fosse necessário,
para que ficasse bom. Eu, então, lhe disse:
– Eu não posso curá-lo. Eu posso pedir a Deus que
o cure. Eu não tenho poder para curá-lo. O poder é de
Deus. É Ele quem decide.
Já pensaram se eu tivesse este poder? No domingo
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seguinte, eu chegaria na minha igreja, todo falsamente
humilde, e diria:
– Devemos dar graças a Deus porque Ele operou
na vida de uma pessoa que me procurou. Eu orei e a
pessoa foi curada. Louvado seja Deus, irmãos.
Eu diria assim, mas no fundo, eu pensaria: "Como
eu tenho poder!". Os irmãos pensariam de mim: "Como eu
gostaria de ter este poder que o nosso pastor tem!" Se eu
tivesse esse poder, minha igreja iria transbordar de gente.
Mas, graças a Deus, eu não tenho este poder de
fazer Deus fazer.
O amor que nós naturalmente queremos é o amor
centrado em nós, não aquele de Jesus, auto-esvaziado de si
mesmo.
Pensamos neste dom do amor como o dom de
sermos amados, nunca como o dom de amar. Sempre
pensamos no amor como uma flecha que vem em nossa
direção.
Como é bom saber que somos amados por Deus.
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Esta é uma verdade que ninguém nos pode tirar, nem
mesmo a tristeza. Ele nos amou tanto que tomou a decisão
de morrer por nós numa ridícula cruz mal trançada de
madeira vagabunda, sobre um morrinho de nada. A morte
dele não foi, como deveria ser, uma superprodução. Ele
não contratou Steve Spielberg para produzir sua morte. Ele
morreu longe dos holofotes, para poder alcançar nossos
corações.
Como é bom saber que somos amados por Deus,
que nos dá o seu Espírito para ser nosso intérprete e
consolador. Por causa deste amor, podemos até não saber
pedir, que Ele transforma nossos pedidos mal formulados
em pedidos claros. É por causa deste amor que o Espírito
habita nos nossos corações. Que verdades cheias de calor!
Este é o amor que queremos, mas este amor só vai
funcionar quando ele for uma usina que gere energia para
fora de nós. A retenção deste amor faz com que ele vá se
apagando, às vezes na velocidade da luz de uma estrela.
A moderação que nós naturalmente queremos é a
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moderação de sermos julgados pelos outros, não a de os
julgar. Queremos ser julgados como amigos, mas
queremos julgar como se julga a inimigos. Para nós,
exigimos moderação. Em relação aos outros, nós nos
sentimos livres para exercer nosso juízo sem moderação.
Agimos como na frase de um político mineiro:
– Para os amigos, tudo; para os adversários, a lei.
O espírito de poder (dunamis) que Deus nos dá é o
poder para viver, apesar das adversidades, e para
testemunhar, apesar das pressões e de nós mesmos.
O dom de Deus nos capacita com o poder de
enfrentar as ondas de dificuldades da vida. O poder de
Deus não se manifesta necessariamente em tirar os
problemas de nossa frente, mas principalmente em nos
fazer triunfar sobre eles.
O dom de Deus nos capacita com o poder de
superar nossas próprias limitações, principalmente a
limitação da covardia, do medo e da timidez. Os tímidos,
inclusive no plano psicológico, precisam receber o poder
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de Deus para explodir. Enquanto não receberem esta
dinamite espiritual, não vão sair das cavernas que são suas
vidas, para os montes que deveriam ser.
O dom de Deus nos capacita com o poder da
coragem para ousar o que deve ser ousado, tanto no plano
espiritual quanto no plano profissional. Não tenhamos
medo. Isto não provém de Deus. Muitos crentes têm medo
de usar seus dons, e assim testemunhar de Deus, porque
receiam o ridículo, a zombaria, a crítica, a oposição e a
violência. Deus nos equipa e seu equipamento não inclui o
medo. Se estamos ansiosos, se estamos apavorados, estes
sentimentos não vêm do Deus a quem chamamos de "Pai".
O Espírito Santo nos infunde o espírito do poder
quando começamos a testemunhar (viver por ou para
Cristo), nunca antes. Para que serviria o poder, se não há o
testemunho de Cristo? O poder vem à medida que o
silêncio acerca de Cristo se vai.
O espírito de amor que Deus nos dá é o amor-
agape, que surge na mente e na vontade e se realiza nas
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emoções. Este tipo de amor é um dom de Deus. Porque só
Ele o tem naturalmente, nós o recebemos dele
sobrenaturalmente. Só Ele o tem, mas Ele no-lo dá.
Sua primeira manifestação, portanto, é receptiva.
Deus nos dá o espírito de ser amado por Ele. A timidez
age aqui também sobre nós, impedindo que aceitemos este
amor.
Este amor em nós é produtivo, no sentido que nos
impulsiona para fora de nós mesmos, em direção a Deus e
ao outro. O amor que Deus nos dá é o amor que se esvazia
de si mesmo, como seu Filho fez. É o amor que não existe
na troca (dar-receber). Este tipo de amor não faz parte da
nossa natureza. Está contra os nossos genes.
É este amor-entrega a Deus que faz o servo de
Deus se dispor a sofrer as conseqüências do poder do
Evangelho em sua vida.
É este amor-auto-esvaziado que nos impulsiona a
amar as pessoas, mesmo os inimigos.
Se alguém pudesse me interromper, gritaria:
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– Alto lá. Você está sendo teórico demais, poético
demais.
Pois eu respondo que, apesar de não estarmos
amando deste modo, nós temos o poder de amar assim,
porque Deus no-lo deu. Não é Ele o teórico: somos nós.
Só não somos práticos porque temos medo, embora
saibamos que o Pai não nos legou com o espírito da
covardia. Não precisamos ter medo de amar, porque temos
o dom de amar como o Pai nos ama, como seu Filho nos
ama, como seu Espírito nos ama.
O espírito de moderação (sofronismou) que Deus
nos dá pode ser pensado em muitas direções. Temos a
força e temos o amor. O que nos falta? Seria a saberdoria,
para pôr o poder e o amor em ação? Não falta mais,
porque Deus também nos deu este espírito de sabedoria,
moderação, equilíbrio.
Ser moderado é controlar as emoções, quando
devem ser controladas; é liberar as emoções, quanto
devem ser liberadas.
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Ser moderado não é ser contido, mas ser
equilibrado. Ser equilibrado não é ser fechado,
fleugmático, para dentro; é ser aberto; é ser capaz de
caminhar por entre os extremos.
Moderação também é a capacidade que Deus nos
dá para julgar os outros do mesmo modo que queremos ser
julgados. Como gostamos de julgar! Como achamos
corretos os nossos julgamentos! Como gostamos de não
ser julgados! Como achamos que os julgamentos dos
outros sobre nós não são corretos! Por isso, precisamos do
espírito de moderação.
Moderação é ainda a capacidade que Deus nos dá
para discernir o tempo e as coisas, de modo a poder
decidir e agir com prudência, na hora certa e sem
precipitação. Como é difícil a moderação! Como é fácil
falar na hora de calar! Como é fácil comprar na hora de
poupar! Como é fácil calar na hora de falar! Como é fácil
guardar na hora de gastar! Precisamos do espírito de
moderação.
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Moderação é também a capacidade que Deus nos
dá para persistir nas causas que abraçamos, sejam elas
profissionais, familiares ou eclesiásticas. Na cultura do
fácil, desistimos quando o bom é difícil e duro, esquecidos
de que o melhor é sempre o mais difícil. Precisamos de
disciplina própria, que nos faça ter método e paciência
para alcançar os alvos que elegemos para nossas vidas.
Graças a Deus que Ele nos dá o espírito da moderação.
Assim, quem tem poder (força), amor (que é
derramamento) e moderação (que é sabedoria de vida), do
que mais precisa?
COMO REAVIVAR O DOM
Em relação aos dons, há três tipos de crentes:
Os que mantêm o entusiasmo do dom (no
original antigo, significa ter Deus dentro de
si). Estes cristãos têm o dom, sabem que
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 34
têm o dom e vivem segundo o poder deste
dom.
Os que diminuíram a força do dom. Estes
cristãos têm o dom, sabem que têm o dom,
mas têm mantido o fogo do dom em chama
branda. Seu calor é o calor de uma estrela
distante, da Lua noturna, nunca do Sol
radiante.
Os que permitiram que o seu dom fosse
apagado. Estes cristãos têm o dom, mas já
não sabem que o têm. É como se não o
tivessem mais.
Quem está com o dom aceso ore para que Deus
mantenha o seu calor, como uma usina que gera energia e
luz.
Quem está com o dom em banho-maria ou apagado
peça a Deus que seja reaceso. O crente não pode deixar
que seu fogo se apague.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 35
Como reavivar o dom? Há dois tipos de
compromissos para a manutenção do nosso dom. Um no
plano da memória e outro no plano da disposição.
Projeto-memória
No plano da memória, precisamos:
Lembrar que um dia recebemos o dom de
Deus (verso 6).
Quando nos salvou, Deus nos deu parte do seu
caráter. Na conversão, nós fomos separados para viver
segundo a vontade de Deus, não mais segundo a nossa.
Isto não aconteceu por causa de nossas ações, mas apesar
delas. O dom nos foi concedido segundo o propósito e a
graça de Jesus Cristo (verso 9). Não foi algo que
conquistamos e de que podemos abrir mão. Nós é que
fomos conquistados por quem não abre mão de nós. Deus
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 36
se manifestou em nossas vidas pelo aparecimento de nosso
Salvador, Cristo Jesus, o qual destruiu a morte e trouxe à
luz a vida e a imortalidade pelo Evangelho.
Não podemos nos esquecer disto. Se esquecemos,
permitimos que o dom se apague. Se lembramos,
permitimos que o dom continue aceso.
Lembrar o conteúdo deste dom, que é de
poder, amor e moderação (verso 7).
Quando nos sentirmos fracos, lembremos que
temos o espírito de poder (força) de Deus, apesar dos
escombros dentro de nós e ao nosso lado.
Quando nos sentirmos sós, lembremos que temos o
amor desinteressado de Deus por nós a nos fazer
companhia. Quando nos sentirmos desorientados,
lembremos que temos o espírito de moderação, que nos
capacita à caminhada na vida, em meio a tantas decisões
graves e urgentes.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 37
Projeto-disposição
No plano da disposição, precisamos:
Nos dispor a viver intensamente a vida
cristã, pois esta é a nossa santa vocação (verso 9).
Todos somos chamados ao testemunho. Timóteo
era pastor. Paulo era pregador, apóstolo e mestre (verso
11). E você, é o quê?
A maioria dos crentes não conhece os seus dons.
Por isso, precisam ler e praticar o ensino de Paulo, como
indicado em Romanos 12.3-8, 1 Coríntios 12.4-11 e
Efésios 4.7-16. Nesses textos, temos várias listas, nunca
exaustivas, nem conclusivas, todas para lembrar que sem o
exercício dos dons não há dons. No Novo Testamento,
aprendemos que os dons espirituais são os instrumentos
com que o Espírito Santo equipa o crente para seu
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 38
ministério no mundo.
Qual é o seu dom? Quais são os seus dons? O que
você tem feito com ele? Se você é um crente, você tem
pelo menos um dom. Trate de descobri-lo e aceitá-lo,
como um dever e um privilégio.
Nos dispor a trabalhar pelo Evangelho, que
é a forma de experimentarmos o poder de Deus.
O convite do apóstolo ao seu filho na fé foi
preciso: Timóteo, participa comigo dos sofrimentos do
evangelho segundo o poder de Deus (verso 8). É como se
Paulo lhe estivesse passando a tocha olímpica. Por isso,
posso perguntar aos mais velhos: Que Cristianismo estão
passando aos mais jovens? Posso também perguntar aos
mais jovens: Que disposição têm vocês para levar a tocha
do Evangelho de Cristo?
Nos dispor a mudar de um estilo apagado
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 39
para um estilo vibrante; de um estilo dependente de
si mesmo, para um estilo dependente de Deus.
Como escreveu C. S. Lewis, não existe felicidade e
paz independentes de Deus. A vida cristã tem que ser um
brado de vitória. Ela começa com o brado de vitória sobre
as trevas, trazendo-nos a luz; com o brado de vitória sobre
a morte, trazendo-nos a imortalidade (verso 10). Não
podemos permitir que as trevas e a morte cantem vitória
sobre nós.
Ser cristão significa que somos pregadores de
Deus, isto é, mensageiros de uma mensagem que não é
nossa, mas divina. Anulamos o nosso dom, quando
passamos a proclamar um euvangelho, não o Evangelho.
Nosso fracasso decorre em esquecermos que somos
portadores do poder de Deus, não do nosso. Nossa vitória
decorre de depender de Deus, nunca de nós mesmos,
jamais dos valores correntes do nosso tempo.
Ser cristão significa que somos enviados a pessoas
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 40
que nós não escolhemos, mas que Deus escolheu. A igreja
fracassa quando ela se envia a si mesma, quando foi
constituída para ser enviada por Deus ao mundo. Uma
igreja em que os seus membros trocam gentilezas e servem
uns aos outros não é uma igreja. É um clube. E clube ruim,
porque envergonhado.
Ser cristão significa que somos comissionados
como mestres, prontos a ensinar com dedicação, nunca
com superficialidade, acerca do poder de Deus. Um
evangelho superficial, que não incomoda os crentes e não
desafia os descrentes, não é um evangelho. É uma
filosofia. E filosofia ruim, porque desviada de sua rota e
longe de sua raiz.
Permita-se incomodar pelo Espírito Santo, seja
para ser convencido do pecado, seja para ser capacitado
por Ele a ser testemunha do poder de Deus. Se você não
está usando o dom de Deus, está desperdiçando sua vida.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 41
2
O PRIVILÉGIO DA PARTICIPAÇÃO
Se anuncio o evangelho, não tenho de que
me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação; porque ai de mim se não
pregar o evangelho!
Se o faço de livre vontade, tenho
galardão; mas, se constrangido, é, então,
a responsabilidade de despenseiro que me
está confiada. Nesse caso, qual é o meu
galardão? É que, evangelizando,
proponha, de graça, o evangelho, para
não me valer do direito que ele me dá.
Porque, sendo livre de todos, fiz-me
escravo de todos, a fim de ganhar o maior
número possível. Procedi, para com os
judeus, como judeu, a fim de ganhar os
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 42
judeus; para os que vivem sob o regime
da lei, como se eu mesmo assim vivesse,
para ganhar os que vivem debaixo da lei,
embora não esteja eu debaixo da lei. Aos
sem lei, como se eu mesmo o fosse, não
estando sem lei para com Deus, mas
debaixo da lei de Cristo, para ganhar os
que vivem fora do regime da lei.
Fiz-me fraco para com os fracos, com o
fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para
com todos, com o fim de, por todos os
modos, salvar alguns. Tudo faço por
causa do evangelho, com o fim de me
tornar cooperador com ele.
Não sabeis vós que os que correm no
estádio, todos, na verdade, correm, mas
um só leva o prêmio? Correi de tal
maneira que o alcanceis. Todo atleta em
tudo se domina; aqueles, para alcançar
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 43
uma coroa corruptível; nós, porém, a
incorruptível. Assim corro também eu,
não sem meta; assim luto, não como
desferindo golpes no ar. Mas esmurro o
meu corpo e o reduzo à escravidão, para
que, tendo pregado a outros, não venha eu
mesmo a ser desqualificado (1Coríntios
9.15-27).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 44
Por que é baixo o grau de participação dos
membros da igreja nas suas atividades, especialmente
naquelas fora das celebrações litúrgicas ou dos cultos
regulares?
Para a maioria das funções que ela desenvolve, há
escassez de recursos humanos, embora sobrem membros
nas listas e nos bancos durante os cultos.
Chego a pensar que seria bom se não houvesse
igreja. Estaríamos todos em casa ou em alguma atividade
de lazer, fruindo a vida que Deus nos deu, em lugar do
compromisso de freqüentar cultos. Afinal, nossa salvação
já está garantida mesmo, desde o momento em que
passamos a fazer parte do reino de Deus, quando nos
arrependemos e cremos no Evangelho!
Quando esta visão começa a nos seduzir,
precisamos parar e refletir sobre a natureza da vida cristã,
mesmo que precisemos ir às ultimas conseqüências. É o
que faremos, com a ajuda do belo texto que Paulo
escreveu aos Coríntios.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 45
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 46
A IGREJA COMO PROJETO DE JESUS
Paulo ensina que temos a obrigação de pregar o
Evangelho (verso 16). A palavra é muito dura para os
termos modernos. A idéia soa ainda mais estranha quando
o apóstolo diz que lhe era um encargo (verso 17; conferir
4.1). Este termo ("encargo"; "responsabilidade de
despenseiro") lembra o intendente romano, que era um
escravo que não recebia qualquer salário por seu trabalho.
Se somos escravos, não há pagamento a reclamar. O
salário de Paulo era não receber nenhum salário!
Esta obrigação decorre da nossa própria salvação.
O "ai de mim" é menos medo do castigo e mais um ardor
que vem de dentro. O peso é para quem já experimentou o
Evangelho. Fazer conhecida a graça é uma tarefa de todos
que já a conheceram. Afinal, o que está em jogo é o
destino eterno das pessoas (verso 22).
Na obra da salvação, somos cooperadores de Deus
(verso 23). A coroa é a salvação dos outros, a mesma que
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 47
a ação de outros permitiu que alcançássemos. O apóstolo
faz uma comparação entre o atleta dos jogos ístmicos
(realizados nas cidades costeiras do mar Egeu), disputados
três vezes ao ano, e o atleta cristão. Aquele corria por uma
medalha, que era uma coroa de pinho, que não durava até
a próxima competição. Este corria por uma coroa eterna.
Muitos de nós preferimos as medalhas humanas, que são
corroídas pelo tempo, em lugar de medalhas divinas, feitas
para durar a duração da eternidade.
Esta é a tarefa da igreja, sobre a qual devemos
fazer um necessário interlúdio.
A igreja é o projeto de Jesus para ligar e desligar
pessoas no céu (Mateus 16.19). Liga-se no céu quem ouve
o Evangelho e responde ao seu convite.
No entanto, como as pessoas vão ouvir o
Evangelho se ninguém lhes anunciar? A geração dos pós-
igreja dirá que a tarefa da proclamação do Evangelho é
pessoal e que cada um de nós a fará sem a igreja. Em
teoria, o raciocínio está correto. Na prática, mesmo
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 48
ouvindo dominicalmente que precisamos evangelizar,
quantos o fazemos?
Sem a igreja, Deus não teria com quem contar para
arrebatar pessoas para o seu regaço. A igreja é, portanto, o
lugar onde somos lembrados de nossa missão pessoal e
intransferível.
A igreja é o projeto de Jesus para manter as
pessoas ligadas no alvo da vida, que é crescer em direção à
perfeição, ter a mente de Cristo, pensar nas coisas que são
de cima e ter a estatura de Jesus Cristo. Neste mister, ela
compete com uma série de outras organizações, formais e
informais, que buscam nos seduzir com a mensagem
contrária: o ser humano é a medida de si mesmo, deve
viver para realizar seus desejos e sua liberdade é o seu
maior bem (liberdade que, sabemos, somente Jesus torna
plena).
A igreja, portanto, é o projeto de Jesus para
permitir que as pessoas sejam estimuladas a viver da sua
Palavra no caminho da maturidade doutrinária e
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 49
emocional.
A igreja é o projeto de Jesus para sustentar as
pessoas, por meio do interesse de uns pelos outros,
interesse esse manifesto no amor fraternal e na oração
intercessória. Eu não saberia viver num mundo em que
ninguém orasse por mim e que eu não orasse por ninguém.
Esse é o mundo sem igreja. Não consigo imaginar um
cristianismo em que eu orasse apenas por mim ou, no
máximo, por minha família. Isso não seria cristianismo.
A igreja é um projeto de Jesus. Ou será que Ele
estava errado? Paulo achava que não. Sua vida foi
transformada por um encontro pessoal com Jesus. Inserido
na igreja, foi por ela ensinado. A ela dedicou toda a sua
vida, com a fúria típica dos visionários.
Paulo não era apenas um homem. Era um homem-
com-uma-visão. Sua visão era o mundo todo alcançado
pelo Evangelho, dobrando seus joelhos diante de Deus,
confessando que Jesus Cristo é o Senhor. Por esta visão,
Paulo combateu ao longo de sua vida. O apóstolo sentia
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 50
que se não vivesse de modo coerente com sua visão e
deixasse de anunciar o Evangelho, ele seria um miserável.
POR QUE NÃO PARTICIPAMOS?
Esta seção de 1Coríntios é sobre o modo como
Paulo via o exercício do seu ministério. Inscreve-se numa
dimensão autobiográfica, mas é, ao mesmo tempo, a
biografia daquela e da nossa Igreja. Ao falar de si, Paulo
falava de nós.
Paulo participava do projeto de Jesus, chamado
igreja, de um modo apaixonado.
Há entre nós apaixonados e desinteressados. Aos
apaixonados, cabe apenas desafiar: prossigamos, mesmo
porque ai de nós se não continuarmos aquilo que
começamos.
Aos desinteressados, cabe advertir: ai de quem não
anuncia o Evangelho. Ou perguntar: sabe como você veio
a ser salvo? É porque algum apaixonado o anunciou a
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 51
você. Quantos, por seu intermédio, têm alcançado a
salvação que o alcançou?
Os desinteressados de hoje, um dia, mesmo que
por pouco tempo, foram apaixonados pela causa de Cristo.
Por que hoje mudaram de lado?
Quero apresentar algumas respostas. Talvez uma
delas se encaixe na sua biografia.
Há alguns que estão cansados das lutas da vida. A
vida de muitos cristãos, por circunstâncias diversas, é uma
sucessão de problemas. Falta-lhes tempo para lutar por
Cristo. Falta-lhes disposição para anunciar o Evangelho.
A estes quero recordar que a vida de Paulo era
muito atribulada. Para começar, não tinha família. Por
causa de sua fidelidade a Cristo, foi preso, acorrentado,
açoitado. Enfrentou até naufrágios. Sua vida era tão dura
que orou muitas vezes para que Deus lhe tirasse um
sofrimento (o espinho na carne de 1Coríntios 12, cuja
natureza é ignorada).
Há alguns que estão cansados das críticas que
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 52
recebem precisamente por servirem a Cristo. Só não é
criticado quem não faz nada. Quem passa os anos
lustrando os bancos da Igreja não é criticado. Quem se
dispõe a fazer, seja cantando, regendo, tocando,
ensinando, pregando, aconselhando, evangelizando,
introduzindo, liderando, este é criticado. Sempre tem
alguém que faria melhor, embora nunca tenha feito nada.
A estes recordo que Paulo escreveu esta seção para
se defender. Ele era um missionário de tempo integral. Em
Corinto, como conhecia aqueles crentes, não quis receber
nada. Ele queria evitar a crítica de que estava sendo
"pesado" para a igreja. Até mesmo esta disposição era
objeto de crítica.
Em lugar de desistir de fazer, receba a crítica, peça
orientação a Deus. Talvez haja alguma maneira melhor de
fazer. Se houver, melhore. Se não houver, continue
fazendo o seu trabalho. Ele não é feito para agradar aos
homens, mas àquele que o chamou.
Há alguns que estão desinteressados por um
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 53
entendimento inadequado do que seja a vida e o trabalho
cristãos. No versículo 26, Paulo nos lembra que a vida
com Cristo exige decisão e empenho. Temos que esmurrar
nosso corpo, fazendo-o caminhar contra sua própria
vontade ou contra nossa preguiça. Muitos querem fazer o
trabalho do Senhor, desde que não dê muito trabalho.
A estes Paulo insiste que vale a pena o esforço,
porque a meta é a conquista de uma coroa incorruptível, a
salvação das pessoas. Este é o nosso galardão: ver pessoas
sendo tiradas das trevas e lançadas no centro do foco da
luz do reino de Deus. Este é o prêmio do cristão: ver
pessoas experimentando a graça de Deus. Deus nos usou
para levar sua graça aos outros. Há recompensa maior?
Há alguns que estão desinteressados em anunciar o
Evangelho porque descobriram que não podem controlar a
obra do Senhor. É desanimador pregar quando não há
resposta. É doloroso trabalhar quando não há progresso. O
apóstolo Paulo disse que tudo fazia, inclusive contra si
mesmo, para "salvar alguns". Seu desejo era que todos
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 54
fossem salvos. Ele sabia, no entanto, que isto não dependia
dele.
Quando tentamos controlar a obra do Senhor, é
menos pelo Senhor, é menos pelos alcançados e mais por
nós mesmos. No final do capítulo (verso 27), Paulo disse
que não queria ser desqualificado; isto é, ele não queria
fazer a obra de Deus com recursos próprios e para a glória
própria.
O primeiro grande equívoco de quem serve a Deus
é pensar que pode fazer por si mesmo, prevendo até os
resultados da obra que é dele. O segundo grande erro é
querer tirar proveito próprio da obra do Senhor, em termos
de poder, dinheiro ou prestígio.
Se você acha que se pode esconder atrás dos seus
problemas, saiba que Deus quer você assim mesmo. Ele
precisa de você assim mesmo. Mesmo com suas
limitações, você pode participar do projeto de Jesus, que é
a Sua Igreja.
Se você acha que não pode conviver com as
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 55
críticas, saiba que é melhor ser criticado por fazer do que
se esconder e ficar privado das bênçãos de servir ao
Senhor.
Se você não quer encarar o fato de que o trabalho
cristão é, por vezes, pesado, saiba que Jesus já pagou o
preço maior. Nossas tarefas estão dentro de nossas
possibilidades. Além disso, a causa vale a pena, porque os
resultados da participação são visíveis e invisíveis, mas
sempre incorruptíveis.
Se você quer ser reconhecido pelo que vier a fazer
na igreja, continue sem fazer nada. Você não fará
nenhuma falta. Antes, peça a Deus que converta o seu
coração. Dobre perante Jesus os seus joelhos e venha para
a sua seara.
Se você tem feito a obra esperando retorno
humano, pare com isso. Importe-se apenas com o galardão
que Deus dá. Mesmo sem saber qual é, o certo é que
grande alegria inunda a terra e os céus quando mais um
filho entra na igreja de Deus.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 56
COMO DEVEMOS PARTICIPAR
O apóstolo Paulo nos ensina como deve ser feito o
trabalho do Senhor, que genericamente chama de anúncio
do Evangelho. Nossa participação no reino de Deus deve
ser feita de livre vontade (verso 17).
Paulo sentia um alto grau de satisfação e conforto
por pregar o Evangelho. O aplauso não lhe importava. Sua
glória era promover o Evangelho. Quando deixava de
pregar, deixava de ser ele mesmo.
O exercício desta tarefa encontrará uma graciosa
recompensa de Deus, desde que feita com prazer, sem
relutância.
É um dever que devemos desenvolver com prazer.
Um missionário médico entre enfermos, que
viviam em péssimas condições, contava aos irmãos de sua
igreja como era seu ministério. Uma pessoa, então,
comentou:
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 57
– Você deve amar demais aquela gente.
A resposta foi:
– Não. Isto não é amor. É muito difícil amar
alguém que sofre dores assim tão horríveis.
– Então, o que é?
– É compromisso.
Nossa participação no reino de Deus deve ser
desenvolvida com a consciência de que fazemos para Deus
(verso 19) e não para os homens.
Sucumbimos diante das críticas, quando nos
esquecemos de que nossa participação é para Deus, não
para aqueles que procuram defeitos naquilo que fazemos.
Nossa participação no reino de Deus deve contar
com a nossa inteligência (verso 20). Esta consciência fez
Paulo fazer-se judeu entre os judeus, escravo entre os
escravos, livre entre os livres. O maior desafio para os
cristãos de hoje é falar aos homens de hoje. Como fazê-lo?
O conteúdo é o mesmo. No entanto, como iremos
comunicar este conteúdo? Este é um desafio que requer
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 58
inteligência.
A igreja, por exemplo, não é o melhor lugar para o
exercício da obra da evangelização. As pessoas não
gostam de igreja. Nós temos que ir aonde elas estão. Fácil?
Não, porque a maioria das pessoas também não nos quer
receber onde está.
Temos preferido ficar em nossos templos,
lamentando o fato que o mundo não nos quer ouvir, em
lugar de buscar estratégias de alcance. Como podemos
alcançar os vizinhos de nossas igrejas? Acho que não
sabemos, mas precisamos buscar as respostas, tentando o
melhor, partindo do pressuposto que nós os queremos
alcançar para Deus.
Nossa participação no Reino de Deus deve ser
cheia de flexibilidade (verso 22), visando a um fim claro: a
salvação. Há muitas pessoas, que, esquecendo o alvo do
seu trabalho, tornam-se inflexíveis, apropriando-se de uma
inadequada idéia: se o trabalho não for feito do "seu jeito",
também não o fará de "jeito nenhum".
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 59
Como ensina o apóstolo em sua comparação final
(verso 25), o envolvimento na vida da igreja implica
aprendizagem, que nos leva a mudar o que deve ser
mudado. Se a mensagem para o mundo não muda, o
mundo da mensagem muda; se queremos mudar o mundo,
temos que mudar a forma de alcançá-lo.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 60
3
QUANDO CRISTO E A IGREJA SE
COMPLETAM
Não cesso de dar graças por vós, fazendo
menção de vós nas minhas orações, para
que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo,
o Pai da glória, vos conceda espírito de
sabedoria e de revelação no pleno
conhecimento dele, iluminados os olhos
do vosso coração, para saberdes qual é a
esperança do seu chamamento, qual a
riqueza da glória da sua herança nos
santos e qual a suprema grandeza do seu
poder para com os que cremos, segundo a
eficácia da força do seu poder; o qual
exerceu ele em Cristo, ressuscitando-o
dentre os mortos e fazendo-o sentar à sua
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 61
direita nos lugares celestiais, acima de
todo principado, potestade, poder,
domínio e de todo nome que se possa
referir, não só no presente século, mas
também no vindouro. E pôs todas as
coisas debaixo dos pés, e, para ser o
cabeça sobre todas as coisas, o deu à
igreja, a qual é o seu corpo, a plenitude
daquele que a tudo enche em todas as
coisas (...), para que, pela igreja, a
multiforme sabedoria de Deus se torne
conhecida (Efésios 1.15-23; 3.10).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 62
Não há como não ficar impactado por este poema
paulino sobre a singularidade de Cristo e sobre a natureza
da sua igreja. Depois de se alegrar com a fé no Senhor
Jesus e com o amor vivenciado pela comunidade dos
cristãos, o apóstolo ora ao Pai e pede que Ele conceda aos
cristãos toda a capacitação necessária para uma vida
eivada de esperança, repleta de riqueza e plena de poder,
exatamente como foi a jornada entre nós do seu Filho.
Jesus Cristo é apresentado como a força total de
Deus, demonstrada na sua ressurreição e na sua volta ao
trono divino para governar sobre todo o cosmo. Durante
sua vida na Palestina, Ele abriu mão voluntariamente deste
poder, restabelecido a partir da ressurreição.
Desde então, estão sujeitos a Ele todos os poderes
deste mundo, tanto aqueles que conhecemos como aqueles
que não conhecemos: sejam eles principados (que
podemos pensar como todos os tipos de governo, federal,
estadual ou municipal), sejam eles potestades (que
podemos pensar como todo tipo de organização não-
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 63
governamental com impacto sobre as nossas vidas), sejam
eles poderes (que podemos pensar como todo tipo de
corporações financeiras, que determinam nosso ir e vir
pela face da terra, ditando preços e prioridades), sejam eles
domínios (que podemos pensar como formados por todos
os tipos de sistemas de educação, comunicação, ideologia
e lazer), sejam eles nomes (que podemos pensar como
todos aqueles indivíduos que, pela força ou pela sedução,
controlam as nossas vidas).
Todas estas forças estão debaixo dos pés de Jesus
Cristo e só não vemos esta realidade se realizando porque
só conseguimos enxergar o microcosmo, nunca o cosmo
todo. Aquele que tudo vê já sujeitou estes poderes todos,
embora eles ainda se agitem nas grades onde estão presos.
Se isto nos parece forte demais, soa ainda mais
forte ler, nesta mesma oração, que este poderoso Jesus foi
dado à igreja, para que ela torne pleno o poder deste
poderoso Jesus.
A igreja recebeu o poder de Jesus Cristo para
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 64
continuar a Sua obra de submissão do cosmo ao Seu
poder. Tremo em ler que a igreja é a plenitude daquele que
a tudo enche em todas as coisas. Em outras palavras, a
igreja é a plenitude de Cristo!
Jesus transferiu seu poder à igreja. Suas palavras
finais foram precisamente a escritura desta doação: Todo a
poder me foi dado no céu e na terra. Portanto, ide fazei
discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado. E eis que
estou convosco todos os dias até à consumação dos
séculos (Mateus 28.18-20).
Ao longo da história, muitos líderes eclesiásticos
têm entendido equivocadamente a natureza do poder da
igreja, a ponto de agirem como o grande inquisidor de
Dostoievski, expulsando Jesus da igreja, como se Ele não
fosse o seu Senhor, transformando a tradição em senhora,
o sistema em senhor. A organização passa a ser senhora, e
o líder passa a ser o senhor da igreja.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 65
Muitos líderes de igreja têm confundido seu poder.
O poder de um pastor é o poder de servir. O pastor não
tem que ser presidente de igreja. Sua liderança é apenas
uma das dimensões do seu serviço. O pastor não é Jesus
Cristo, mas servo dele.
Diante daqueles que acham que o pastor, por ser
ungido de Deus, não pode ser criticado, não pode ser
contestado, não pode ser desobedecido, lembremos que,
no Antigo Testamento, sacerdotes (Êxodo 30.30, etc.),
profetas (1Reis 19.16, etc.) e reis (1Samuel 16.1-13, etc.)
eram ungidos, isto é, tinham uma porção de azeite
derramada sobre as suas cabeças. Davi não matou Saul
porque não quis tocar no ungido de Deus. Muitos pastores
têm aplicado esta expressão para si mesmos, utilizando-se
delas até para se protegerem do pecado do autoritarismo e
de outras manifestações do mal.
Há uma grande distância entre os ofícios de
sacerdote, profeta e rei antigos e o ofício de pastor, como
aprendemos no Novo Testamento. Ungido, no final do
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 66
Antigo, e em todo o Novo Testamento, é uma expressão
exclusiva ("o Messias", no hebraico; "o Cristo", no grego)
para Jesus, cujo título deixa evidente que Deus o escolheu
para Ser o Salvador da humanidade (cf. João 1.41; Atos
4.26-27).
O Ungido não pode ser criticado, contestado,
desobedecido, porque é o nosso Senhor. Todo cristão, seja
ele líder ou não, deve ser ouvido, atendido e seguido se
sua palavra estiver em consonância com a Palavra de
Cristo. Ele pode ter estilos diferentes, porque esta é uma
questão de preferência, mas não pode estar contra a
Palavra de Deus, que deve ser lida, interpretada e aplicada.
A autoridade final sobre uma comunidade é a
autoridade da Palavra de Deus; fora disto, restam o
personalismo e o autoritarismo. O poder de um líder é o
poder do serviço. A força de um líder é a força do seu
exemplo. A autoridade de um líder está na sua obediência
à Palavra de Deus.
Agora, se uma comunidade não quer viver sob a
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 67
autoridade da Palavra de Deus, o líder deve fustigar,
incomodar e denunciar esta comunidade, mesmo sob o
preço de ser deposto. O Senhor do líder é o mesmo Senhor
da igreja e do mundo: Jesus Cristo.
Não cansemos de repetir: Jesus é o Senhor da
nossa igreja. É na submissão a Ele que a prática da
unidade e da diversidade pode ser celebrada. O prazer do
cristão é submeter-se a Jesus.
O poder da igreja é o poder de servir, não de ser
servida. Sua força se exerce no serviço ao mundo, não em
ser servida pelo mundo. Quando a igreja quer ser servida
pelo mundo, ela se torna parte dos inimigos a quem Cristo
sujeita pela força sob os seus pés.
Jesus transferiu seu poder à igreja. É por meio dela
que Ele domina sobre a Terra. Precisamos, neste caso, ter
muito claro para nós o que é a igreja e sua natureza. É
sobre isso que nos debruçaremos nas próximas linhas.
A COMUNIDADE DA FÉ
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 68
A igreja é a comunidade dos que têm fé em Jesus
Cristo (verso 15).
O apóstolo conhecia a fé que havia entre os
efésios. Eles criam em Jesus como o Senhor. Como os
efésios, não devemos ter fé uns nos outros, nem no líder da
igreja e nem em nós mesmos. Porque criam em Jesus
como o Senhor, os integrantes daquela comunidade cristã
oravam uns pelos outros (verso 16), esperando que Jesus
intercedesse por todos diante do Pai.
Jesus Cristo é o Senhor (versos 20-22a), mas só
reconheceremos este senhorio se deixarmos que o Espírito
Santo ilumine os nossos corações. Há muitos senhores
disputando a nossa fé e, às vezes, renunciamos a fé em
Jesus, para a darmos aos príncipes deste mundo.
Enquanto nos deixarmos seduzir pelas luzes deste
mundo, sejam os prazeres ou as ideologias, os sistemas ou
os ídolos, é atrás do seu facho que iremos, em lugar de
mirarmos o farol de Cristo.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 69
Se queremos fazer parte da igreja, precisamos ter
fé em Jesus Cristo como nosso Senhor, Senhor da igreja,
Senhor do mundo. Precisamos renunciar todas as outras
fés.
A igreja é a comunidade dos que têm fé em Jesus
Cristo, só em Jesus Cristo.
A COMUNIDADE DO AMOR
A igreja é a comunidade dos que se amam, a partir
da fé em Jesus (verso 15).
O amor na comunidade é conseqüência da fé em
Jesus Cristo. Paulo escreveu aos efésios para externar sua
alegria diante da sua fé em Jesus e do seu amor uns pelos
outros. O apóstolo sabia que fé e amor são como duas
faces de uma cédula de dinheiro. Fé sem amor é como
uma nota impressa só de um lado, sem valor algum.
Uma nota de R$100,00, impressa só de um lado,
não compra sequer um pãozinho francês, de alguns
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 70
centavos. Amor sem fé é como um cheque preenchido,
mas não assinado.
Escrevendo também aos filipenses, aos colossenses
e aos tessalonicenses, o grande escritor reconheceu o dom
supremo do amor entre eles.
Como os colossenses (Colossenses 1.4 e 8),
amamos todos da comunidade, de modo que as pessoas de
fora o notem? Se Paulo nos conhecesse, mereceríamos as
mesmas palavras que anotou sobre os tessalonicenses,
quando escreveu: Recordo-me, diante do nosso Deus e
Pai, da operosidade da vossa fé, da abnegação do vosso
amor e da firmeza da vossa esperança em nosso Senhor
Jesus Cristo (1Tessalonicenses 1.3)? Já imaginamos uma
igreja assim, operosa na fé em Cristo, dedicada no amor
uns pelos outros e firme na esperança em Jesus?
Por isso, como igreja é o somatório de cada um de
nós, precisamos personalizar a pergunta-chave. Se Paulo
lhe escrevesse pessoalmente, diria o que disse a Filemon,
quando apontou: estou ciente do teu amor e da fé que tens
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 71
para com o Senhor Jesus e todos os santos (Filemon 1.5).
Como pastor de uma igreja, sonho com uma
comunidade acolhedora. Não devemos ser acolhedores
para "ganhar" as pessoas. Devemos ser acolhedores porque
gostamos das pessoas.
Como demonstrou uma pesquisa feita com 1000
igrejas em 32 países dos cinco continentes, as
comunidades tendem a se achar o máximo neste quesito.
Segundo os autores, em muitas igrejas se formam
“panelinhas” fechadas, que são consideradas muito
agradáveis pelos participantes. No entanto, esses cristãos
não percebem as dificuldades que pessoas de fora têm para
conseguir acesso a essas "panelas". Eles se consideram
"calorosos" e "abertos" em relação aos novos, mas
comunicam de forma não-verbal, em geral
involuntariamente, a seguinte mensagem: "Vocês não
pertencem ao nosso grupo".
Precisamos de pessoas que tenham interesse por
pessoas. Que tal começar interessando-se pelos nomes das
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 72
pessoas? Que tal chamá-la para a sua "panela", seja o seu
coro, seu grupo de oração, sua equipe de louvor, seu lugar
no banco?
Siga o conselho de Paulo aos filipenses. Peça a
Deus que aumente o seu amor (Filipenses 1.9). Faça a sua
parte, para que todos que entrem na sua comunidade cristã
sejam acolhidos e continuem integrados. Se você for uma
pessoa acolhedora, sua igreja também será.
A COMUNIDADE DOS CAPACITADOS PELO
ESPÍRITO
A igreja é a comunidade dos que recebem do
Senhor Jesus Cristo o "espírito de sabedoria e de
revelação" (verso 17), para poder viver (verso 18), e a
capacitação do Espírito Santo, para atuar no mundo de que
é parte (verso 19).
Sem o espírito de sabedoria e de revelação, a igreja
tenderá a seguir o espírito deste mundo, que é
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 73
predominantemente oposto ao de Cristo. As expressões
"sabedoria" e "revelação" não estão no texto por acaso.
Podemos pensar que são complementares.
Jesus confere à sua igreja o "espírito de sabedoria",
isto é, um jeito de ser segundo a sua mente, jeito aprendido
por meio de uma vida de leitura da Bíblia e da oração.
Pensando em termos de dom e fruto, o "espírito de
sabedoria" é o fruto do Espírito, que se manifesta em
termos de alegria, amor, benignidade, fidelidade,
generosidade, mansidão, paciência e paz (Gálatas 5.22,23).
Jesus confere também à sua igreja o "espírito de
revelação", isto é, uma manifestação específica de Deus,
orientando-a em como falar em situações dramáticas,
conduzindo o louvor a Ele para que seja puro e chamando-
a para atuações específicas no seu reino. O espírito de
revelação ultrapassa a nossa própria compreensão dos
fatos, mas nos ajuda a agir.
Quando enviou seus discípulos ao mundo, Jesus
lhes recomendou que não ficassem apavorados quando
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 74
enfrentassem situações difíceis, porque o Espírito Santo
lhes ensinaria, naquela mesma hora, as coisas que
deveriam dizer (Lucas 12.12). Eles receberiam o espírito
de revelação, como vem acontecendo com os cristãos ao
longo dos tempos.
Num domingo à noite, pedi à igreja de que
participo para orar por mim, porque no dia seguinte, às
nove da manhã, eu visitaria um irmão bastante enfermo.
Eu queria que Deus me desse palavras inspiradas. A igreja
orou por mim e eu recebi a revelação de Deus. Não me
lembro de tudo o que disse, mas as palavras fluíram
naturalmente, os versículos bíblicos vieram de cor, a
oração saiu profunda. Esta é uma experiência que Deus
promete a todo cristão como fruto da oração, própria e dos
outros.
Jesus confere, ainda, à sua igreja a suprema
grandeza do seu poder (verso 19), grandeza necessária
para viver com inteireza a sua vocação de comunidade
voltada para o futuro (esperança) e para fora
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 75
(chamamento) e para fruir desde já a riqueza da sua
herança. Não há poder na igreja, mas há força no poder do
Senhor da igreja.
Sem esta capacitação, a igreja não consegue
realizar sua missão. O poder da igreja é o poder do Senhor
da igreja. Esta certeza nos adverte contra toda a empáfia.
Não há privilégio neste poder, mas apenas uma imensa
responsabilidade.
Por sua natureza, a igreja é a organização mais
importante do mundo, precisamente porque não busca seu
próprio bem-estar, mas o das pessoas que não a integram,
estejam onde quer que estejam.
O mundo, no entanto, não está nem aí para a igreja,
nem mesmo para sua dimensão institucional (seus cultos,
sua propriedade). Em parte, não está nem aí para a igreja
por causa do seu orgulho ensimesmado. Temos nos
comportado mais como João Batista, que esperava que os
pecadores fossem ao seu encontro, e menos como Jesus,
que ia ao encontro das multidões. Este conflito só pode ser
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 76
resolvido com a humildade do serviço. Se a igreja quer ser
relevante, deve lavar os pés do mundo, não se colocar num
pedestal esperando que o mundo lhe engraxe as bases
sobre a qual está erigida.
A COMUNIDADE DA PLENITUDE
A igreja é a comunidade da plenitude de Cristo.
Eis o que diz o apóstolo: Deus pôs todas as coisas
debaixo dos [seus] pés e, para ser o cabeça sobre todas
[est]as coisas, deu [Cristo] à igreja, [igreja que] é o seu
corpo, a plenitude dAquele que a tudo enche em todas as
coisas (versos 22,23).
Uma forma de entender esta afirmação é que Cristo
precisa da igreja para que Sua plenitude fique completa. A
igreja é o corpo de Cristo e Cristo é a cabeça da igreja.
Cristo e igreja formam uma unidade.
Cristo completa a igreja e a igreja completa
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 77
Cristo -- Sem Cristo, a igreja não tem cabeça. Cristo
completa a igreja ao se dar para a salvação de todos
aqueles que cremos. Sem a redenção, isto é, sem o seu
oferecimento para extinguir a nossa culpa, estaríamos
todos ainda condenados. Condenados vivem em prisões,
nunca na liberdade da fé e da adoração, nunca numa
comunidade de redimidos, isto é, nunca numa comunidade
de salvos.
Cristo completa a igreja ao estar com ela. A
promessa final de Jesus continua a nos encher de
esperança: Ele está e estará conosco até o fim dos séculos.
Quando a igreja está vazia, é porque dispensou
Jesus dos seus alvos. Quando eu estou vazio, é porque
dispensei Jesus da minha experiência diária. Quando você
está vazio, é porque dispensou Jesus da sua vida.
Não há como estar com Jesus e estar vazio, porque
Ele ilumina os nossos olhos e preenche os nossos
corações.
Temos colocado tanta mobília no interior de nossas
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 78
vidas que Jesus não cabe mais. Quando o aceitamos, nós o
colocamos na sala. Depois, em nome da intimidade, nós o
levamos para o quarto. Em busca de mais espaço, nós o
transferimos para um quartinho qualquer, bem escuro, para
que não o vejamos.
A promessa da presença de Jesus continua viva.
Não houve nenhuma mudança em Deus. Se estamos
vazios, é porque houve mudança em nós.
Temos multiplicado o tempo do nosso dia. Quando
o aceitamos como Senhor e Salvador, passávamos muito
tempo com Ele. Ainda lembramos daquele momento?
Depois, Ele foi deixando de ser uma companhia assim tão
agradável, que fomos trocando por outras presenças.
Nossas horas com Ele se tornaram em minutos, os minutos
em segundos, os segundos em ausências.
Podemos medir o tempo que gastamos com Ele
pelo tempo que passamos na igreja. Segundo uma ampla
pesquisa, feita nos Estados Unidos, apenas 56% dos
evangélicos americanos vão à igreja pelo menos uma vez
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 79
por semana. 1 Não temos semelhante pesquisa no Brasil,
mas podemos fazer nossas inferências.
Penso que, sem uma congregação que compareça
aos seus cultos, uma igreja não consegue vitalidade,
porque membros de igreja que não se ajuntam para ouvir
ao seu Deus não dão prioridade ao Senhor que dizem
servir, não levam a sério o Senhor em quem dizem crer.
Igreja é comunidade. Sei que eu sou igreja onde eu
estou, mas, se estiver sozinho, eu serei fraco. A
comunidade é uma providência de Deus para o meu
crescimento.
Cristo completa a igreja ao edificá-la. Sua
promessa inicial foi: "eu edificarei a minha igreja"
(Mateus 16.18). Para que Ele edifique a igreja, a igreja
precisa, pelo menos, se reunir. A igreja não está dada,
porque é edificada... edificada por Jesus. É por isto que
Paulo chama a igreja de lavoura de Deus, edifício de Deus
1 A National and International Study of Congregations. Disponível em
http://www.uscongregations.org. Acessado em 18.8.2002.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 80
(1 Coríntios 3.9), indicando bem que estamos em
construção.
Todos os dons que Ele entrega aos cristãos são
para o crescimento da igreja, não para o crescimento do
cristão em particular.
Uma leitura aberta de Romanos 12.6-8, 1Coríntios
12.7-11, Efésios 4.11 e 1Coríntios 12.27-31, associada
com outros textos, autoriza-nos a pensar que os dons
espirituais são de quatro tipos: motivacionais (que nos
motivam em nossos ministérios como um estilo de vida),
manifestacionais (habilidades sobrenaturais dadas pelo
Espírito Santo para uma ação que supere os limites da
razão), funcionais (que requerem preparo específico e
tempo prioritário para o seu exercício) e voluntários (que
não são indispensáveis, como o martírio). São sempre
dons para os outros, dons para a edificação.
A igreja completa Cristo e Cristo completa a
igreja -- Sem a igreja, Cristo não tem corpo. A igreja
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 81
completa Cristo quando se deixa ser a comunidade de
Cristo. Quando ela sabe que pertence ao Senhor, ela
completa Cristo. Ela completa Cristo quando se
transforma numa espécie de coração onde Cristo pode
habitar, sem sustos, sem ameaças de expulsão. A igreja
tem que ser a casa de Jesus.
O meu coração tem que ser o santuário de Jesus.
Quando esteve pela Palestina, Ele não tinha onde reclinar
a cabeça. Agora, no entanto, minha vida é a sua casa. Este
é o meu desejo, que deve ser o de todo cristão.
A igreja completa Cristo quando está conectada à
mente de Cristo. Se o meu computador não está ligado ao
provedor, não tenho como acessar as informações que a
internet tem. Como corpo, a igreja precisa estar ligada à
cabeça. A vontade da igreja tem que ser a vontade de
Jesus. O desejo da igreja tem que ser o desejo de Jesus.
Uma pergunta, a esta altura, é se o cristão tem que
renunciar a pensar por si mesmo para pensar com a cabeça
de Cristo. Somos livres para pensar, mas não devemos
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 82
usar a nossa liberdade para desobedecer, para fazer o que
achamos ser o melhor. Paulo nos ensina que as armas da
nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus,
para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda
altivez que se levante contra o conhecimento de Deus, e
levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo, e
estando prontos para punir toda desobediência, uma vez
completa a vossa submissão (2 Coríntios 10.4-6).
Em termos tecnológicos, somos livres para nos
conectar ao provedor Jesus Cristo. Em termos filosóficos,
somos livres para desenvolver os postulados que Jesus
Cristo nos lega. Pôr os nossos postulados ao lado ou acima
dos de Cristo é altivez, que precisa ser destruída. O cristão
alcança sua plenitude quando está conectado a Cristo.
A igreja completa Cristo quando estende a
abrangência geográfica e demográfica da Sua obra
redentiva. Sem a igreja, a morte de Jesus ficaria restrita ao
primeiro século. Graças a Deus, os limites do espaço e do
tempo foram rompidos, e o Evangelho chegou até nós.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 83
O futuro daqueles que ainda vão nascer depende do
compromisso da igreja em estender o alcance da graça
para além do presente. O preocupante é saber que 54% dos
membros de igreja (nos EUA) não convidaram sequer uma
pessoa para ir à sua igreja no ano anterior à realização da
pesquisa mencionada. O Evangelho transforma as vidas,
mas só a partir do ouvir a Palavra de Deus.
Quem não quer obedecer ao "ide" de Jesus não
precisa deixar a igreja, porque já a deixou na prática.
Quem apenas quer reter de Deus as suas bênçãos ainda
não entendeu a extensão da riqueza dos tesouros de Deus.
A soberania do Pai quis que sejamos seus
cooperadores, como nos ensina Paulo em outro lugar (1
Coríntios 3.9). Jesus foi dado à igreja, para que a igreja o
desse ao mundo, para que este fosse salvo.
Quero desafiar você, então, a firmar pelo menos
seis compromissos com a sua igreja:
Participar de, pelo menos, um culto por
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 84
semana na igreja.
Preservar a unidade e a diversidade da
igreja.
Cooperar para que a igreja seja acolhedora,
para que não fique ninguém "de fora".
Ser dizimista.
Integrar-se a, pelo menos, um ministério da
igreja.
Orar (sozinho ou em grupo) pelo menos 15
minutos por dia.
Ler pelo menos 15 capítulos da Bíblia por
semana.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 85
4
OS DONS DO ESPÍRITO PARA A
EDIFICAÇÃO DA IGREJA
Entretanto, busquem com dedicação os
melhores dons. Passo agora a mostrar-
lhes um caminho ainda mais excelente
(1Coríntios 12.31). 2
Os dons que Jesus Cristo concede à igreja por meio
do Espírito Santo podem ser classificados em quatro
grupos: motivacionais, manifestacionais, funcionais e
voluntários.
O seu exercício, sempre para a edificação, tanto da
igreja como de quem os recebe, demanda fé em Cristo
2 Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas são extraídas da
Nova Versão Internacional (NVI). Sou grato, aqui, ao prof. Ruben
Marcelino, pela colaboração neste capítulo.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 86
como Senhor e a prática do amor em decorrência dessa fé.
No Novo Testamento grego, a palavra mais
comumente usada para dons espirituais é “cárisma”3
(singular) ou “carísmata” (plural). Ela vem de “cáris”
(graça). Um dom espiritual é, então, uma oferta da graça.
Assim, o dom espiritual é uma capacidade dada por Deus
para o ministério (serviço) cristão, para a edificação da
igreja, que assim se capacita para cumprir a sua missão.
Um dom espiritual é uma habilidade espiritual,
transitória ou permanente, dada a alguém pelo Espírito
Santo para ser usada na igreja local, visando a edificação
dos crentes.
Trata-se, portanto, de algo diferente de uma
habilidade natural. Cantar, tocar, pregar são habilidades
naturais. Qualquer pessoa que tenha essas competências
3 A palavra “doréa” significa “dom”, “dádiva”, “presente”. Aparece no
Novo Testamento grego com os seguintes sentidos: 1) O Espírito
Santo como dom: At 2.38; 8.20; 10.45; 11.17; Ef 3.7; 4.7; Hb 6.4. 2)
A redenção: Rm 5.15,17; 2Co 9.15. 3) A vida eterna: Jo 4.10. 4)
Algo recebido gratuitamente: Mt 10.8; Rm 3.24; 2Co 11.7; Ef 3.7;
2Ts 3.8; Ap 21.6; 22.17. 5) Uma ação sem motivo: Jo 15.25; Gl 2.21.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 87
pode realizá-las. No entanto, só edifica realmente a igreja
quem recebe um dom espiritual. Mesmo que a habilidade
natural seja pequena, a habilidade espiritual faz que o seu
uso se torne excelente, não para arrancar aplausos, mas
para edificar, o que implica, no caso dos dons
publicamente manifestos, apontar para Jesus Cristo, e não
para quem tem o dom.
EQUÍVOCOS E ACERTOS EM RELAÇÃO AOS
DONS E CONSEQÜENTES PREJUÍZOS
Sem a intenção de desenvolver o tema dos equívocos
que temos cometido em relação aos dons, vou apenas fazer
uma lista de nossas atitudes equivocadas, para, em seguida,
enumerar os comportamentos corretos.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 88
Atitudes equivocadas
Noto quatro atitudes que devemos evitar:
Mau uso dos dons (fins pessoais, autopromoção)
Desinteresse acerca dos dons
Desconhecimento do que sejam os dons
Medo de ter dons
Compreensões equivocadas
Estas atitudes nascem de algumas visões teológicas
equivocadas, que relaciono a seguir:
O racionalismo, segundo o qual o Espírito Santo não dá
mais dons a ninguém. O resultado é o cessacionismo
(Deus cessou com os dons, dados para uma
determinada época, não mais para hoje).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 89
O sacerdotalismo ensina que o Espírito Santo dá dons
só aos sacerdotes (pastores, ministros).
O carismatismo prega que o Espírito Santo concede
dons a “algumas” pessoas, além dos sacerdotes.
Prejuízos
As conseqüências desses ensinos são terríveis, e
menciono algumas delas:
Manutenção de uma crença num Deus ausente (num
quase deísmo, a crença antiga de que Deus é como um
relojoeiro que deu corda no mundo e se ausentou dele,
para que cada um se vire como puder).
Consumo dos dons dos outros (do pregador, do cantor,
do profeta etc.). Nesse caso, os crentes tristemente se
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 90
consideram ou são considerados os beneficiários dos
dons que os portadores de carismas têm.
Falta de prazer na salvação e na vida cristã. É a vida
sem poder, essa tragédia da igreja (como escreveu
Tozer).
Acertos em relação aos dons e seus benefícios
Uma boa teologia acerca dos dons precisa
reafirmar três verdades:
O Espírito Santo ainda concede dons.
O Espírito Santo concede dons a todos.
O Espírito Santo concede dons a todos os que os
buscam.
Os benefícios são evidentes:
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 91
Conhecimento pessoal de que o Espírito Santo não
mudou (“... sem sombra de variação” – Tg 1.17 4). Deus
é presente e atuante.
Alegria com o fato de que o Espírito Santo trabalha por
meio das pessoas. Deus é um Deus que se relaciona,
que coopera e pede cooperação (cf. 2Co 6.1).
Experiência de uma vida cristã no Espírito Santo
(excelente, na busca dos melhores dons). O dom é
exercício. O exercício dos dons é o oxigênio da vida
cristã.
A NATUREZA DOS MELHORES DONS
Leiamos a recomendação paulina:
Entretanto, busquem com dedicação os melhores
4 Versão Revisada da tradução de João Ferreira de Almeida, de acordo
com os melhores textos em hebraico e grego (MT).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 92
dons. Passo agora a mostrar-lhes um caminho ainda mais
excelente (1Co 12.31).
A instrução não é dirigida a uma pessoa
(“busque”), mas à igreja (“busquem”). Como igreja,
devemos desejar com “dedicação” (ou com “zelo” 5) que
os melhores dons se manifestem entre nós. 6
E quais são esses melhores dons? O critério de
valor é o grau de edificação da comunidade. Quanto mais
um dom edifica a igreja, mais elevado (mais digno de ser
buscado) ele é.
Entendemos melhor essa hierarquia quando lemos
a segunda parte do versículo: “Passo agora a mostrar-lhes
um caminho ainda mais excelente” (1Co 12.31b). Os
5 Versão Revisada da tradução de João Ferreira de Almeida, de acordo
com os melhores textos em hebraico e grego (MT); Edição Revista e
Atualizada da tradução de João Ferreira de Almeida (ARA). 6 A Bíblia de Jerusalém (Nova edição, revista – 1985) traz: “Aspirai
aos dons mais altos. Aliás, passo a indicar-vos um caminho que
ultrapassa a todos”.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 93
melhores dons são aqueles que edificam a igreja. Devem
todos ser desenvolvidos no caminho do amor, que permite
a unidade. O caminho mais excelente tem como realização
maior o fruto do Espírito. 7
Como escreveu Ray Stedman, “há uma grande
diferença entre os dons do Espírito e o fruto do Espírito. O
fruto do Espírito é aquilo que Deus busca, ou seja, o
caráter de Cristo se formando em nós. Os dons são dados
para nos capacitar a alcançar, crescentemente e por meio
do exercício mútuo, o fruto do Espírito”. 8 Os dons são os
trilhos pelos quais viaja o fruto do Espírito. Não por acaso,
os dons estão no plural, porque são múltiplos, e o fruto
está no singular, porque é a meta única de todo cristão.
A hierarquia, portanto, está dada: o melhor dom é o
que mais contribui para a edificação da igreja. Uma igreja
7 “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade,
benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio. Contra
estas coisas não há lei” (Gl 5.22,23, ARA). 8 STEDMAN, Ray C. How the body works. Disponível em:
http://www.pbc.org/dp/stedman/1corinthians/3597.html. Acessado em
30.1.2004.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 94
sem dons é como um cadáver. A vida da igreja são os seus
dons. É por isso que não é possível haver um crente sem
dons. Não pode haver um crente sem que nele habite o
Espírito Santo.
Nossa vida cristã será mais saudável quando
entendermos, na doutrina e na prática, que o Espírito Santo
nos ministra por meio dos dons, que são vários.
UMA CLASSIFICAÇÃO DOS DONS ESPIRITUAIS
O Novo Testamento nos apresenta várias relações
de dons espirituais. Ei-los, segundo uma classificação
que pode nos ajudar a compreendê-los, para os buscar.
Os dons motivacionais (Rm 12.4-8)
Base bíblica principal: Rm 12.4-8
O dom motivacional é uma característica que
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 95
integra de modo profundo a nossa personalidade,
transformada pelo Espírito Santo, e nos motiva em nossos
ministérios, 9 constituindo-se no nosso estilo de vida.
Todos devem ter cada um desses dons, mas em
alguns cristãos eles são um estilo de vida.
• Profecia expositiva
• Ensino
• Encorajamento
• Liderança
• Contribuição financeira
• Serviço
• Misericórdia
• Socorros
• Hospitalidade (1Pe 4.9)
9 KORNFIELD, David. Desenvolvendo dons espirituais e equipes de
ministério, p. 45.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 96
Os dons manifestacionais (1Co 12.7-11)
Base bíblica principal: 1Co 12.7-11.
O dom manifestacional é uma habilidade
sobrenatural dada pelo Espírito Santo para uma ação que
supere os limites da razão. 10
• Profecia circunstancial
• Palavra de conhecimento
• Palavra de sabedoria
• Fé
• Operações de milagres
• Dons de curas
• Discernimentos de espíritos
• Variedades de línguas
• Interpretação de línguas
• Intercessão
10
Ibid., p. 175.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 97
• Exorcismo
Os dons funcionais (1Co 12.27-31; Ef 4.11)
Bases bíblicas principais: 1Co 12.27-31; Ef 4.11.
Habilidades que integram vários dons e que
requerem preparo específico e tempo prioritário para o seu
exercício. O dom é sempre dom para o outro.
• Apostolado
• Profecia proclamadora
• Evangelização
• Missões (At 11.19-26)
• Pastorado
• Ensino coletivo (Professor)
• Administração
• Arte (Êx 31.1-11)
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 98
Os dons voluntários (1Co 7.7; 13.3a, b)
Bases bíblicas principais: 1Co 7.7; 13.3a, b
• Celibato (1Co 7.7)
• Pobreza (1Co 13.3a)
• Martírio (1Co 13.3b)
Os dons motivacionais
Base bíblica principal: Rm 12.4-8
O dom motivacional é uma característica que
integra de modo profundo a nossa personalidade,
transformada pelo Espírito Santo, e nos motiva em nossos
ministérios, 11 constituindo-se no nosso estilo de vida.
11
KORNFIELD, David. Op. cit., p. 45.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 99
Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos
membros
e esses membros não exercem todos a mesma função,
assim também em Cristo nós,
que somos muitos, formamos um corpo,
e cada membro está ligado a todos os outros.
Temos diferentes dons, de acordo com a graça que nos foi
dada.
Se alguém tem o dom de profetizar,
use-o na proporção da sua fé.
Se o seu dom é servir, sirva; se é ensinar, ensine;
se é dar ânimo, que assim faça;
se é contribuir, que contribua generosamente;
se é exercer liderança, que a exerça com zelo;
se é mostrar misericórdia, que o faça com alegria (Rm
12.6-8).
Os dons da palavra organizada
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 100
Profecia expositiva (Rm 12.6) – “profetéia”
Expressa-se no interesse em comunicar (expor de
forma apropriada) uma mensagem tomada da Bíblia, de
modo que gere entendimento, correção, arrependimento ou
edificação. 12
A forma por excelência da profecia é a
pregação.
Ensino (Rm 12.7; 1Co 12.28; Ef 4.11) – “didaskalia”
É marcado pelo gosto por explicar a Bíblia, de
modo claro e relevante, a fim de que haja aprendizagem e
aplicação. A forma por excelência é a aula ou o estudo
bíblico.
12
Deve ser distinto das suas dimensões funcional (pregação) e
manifestacional (palavras dadas para momentos específicos).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 101
Encorajamento (“exortação” [ARA]; Rm 12.8a; 1Ts
2.11-12; 4.18) – “paráklesis”
Caracteriza-se por uma inclinação para abençoar
pessoas por meio de palavras e ações de ânimo, estímulo
ou elogio; encorajar é pôr-se ao lado de alguém como
“parácleto” para confortar, aconselhar, exortar, ajudar.
Pode incluir a exortação no sentido de admoestação,
correção, disciplina. Barnabé tinha o dom do
encorajamento (At 4.36; 9.26-30; 15.36-41). É um dom
indispensável para quem quer atuar no ministério de
aconselhamento.
Liderança (“presidir” [ARA]; Rm 12.8c; 1Ts 5.12; 1Tm
5.17) – “prohístemi” 13
13
Nas passagens citadas, “prohístemi” aparece em formas do
particípio, portanto como adjetivo: Rm 12.8c – “hó prohistámenos”,
“o-presidindo”, “aquele que preside”, “o presidente”; 1Ts 5.12 – “tus
prohistaménus”, “os-presidindo”, “aqueles que presidem”, “os
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Mostra-se no empenho em levar a igreja a perceber
os propósitos de Deus e motivar e mobilizar pessoas
para a sua realização. Liderar é ter e passar uma visão.
Tito talvez tenha exercitado o dom da liderança (Tt
1.5).
Os dons das mãos estendidas
Contribuição financeira (“repartir” [MT]; Rm 12.8b) –
“metadídomi” 14
É o compromisso em entregar generosa e
alegremente (empregar, investir, repartir, compartilhar)
recursos financeiros para a promoção do Reino de Deus
por meio da igreja. Quem tem este dom não pergunta
presidentes”; 1Tm 5.17 – “hói proestôtes”, “os-presidindo”, “aqueles
que vêm presidindo”, “os presidentes”. 14
Rm 12.8b –“hó metadidus”, “o-repartindo”, “aquele que reparte”.
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“Quanto devo dar ao Senhor?”, mas “De quanto preciso
para me sustentar?”. É para ser exercido por quem tem
muitos e por quem tem poucos recursos. Todos devem se
comprometer a compartilhar seus recursos, mas alguns
têm um dom especial para atuar nessa área.
Quem tem esse dom sabe que o que possui
pertence a Deus, portando-se como um administrador.
Quem tem este dom não vive apenas para acumular
para si mesmo. Quando acumula, é para abençoar.
Quem tem esse dom não é ansioso quanto à vida
material. É o caso da viúva pobre (Mc 12.42), que não se
preocupou com o fato de ficar sem...
Serviço (“ministério” [ARA]; Rm 12.7; 1Pe 4.11) –
“diakonia”
É ter prazer em identificar e suprir necessidades da
comunidade (não de indivíduos) por meio de projetos
pessoais ou sociais (diaconia, ação social, ministério).
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Quem tem esse dom dedica-se mais à ação do que à
palavra. Esse dom foi demonstrado por várias pessoas no
Novo Testamento (At 9.36-39 – Dorcas; Rm 16.1-2 –
Áqüila e Priscila; 1Co 16.15-18 – oferta dos coríntios para
a comunidade cristã de Jerusalém).
É um dom difícil porque a diaconia não tem fim.
Os pobres, disse Jesus, sempre teremos conosco (Mt
26.11), não como desejo dele, mas como realidade que
devemos combater. Demanda indignação. Exige
discernimento.
Um exemplo é Dorcas:
Em Jope havia uma discípula chamada Tabita,
que em grego é Dorcas,
que se dedicava a praticar boas obras e dar esmolas.
Naqueles dias ela ficou doente e morreu,
e seu corpo foi lavado
e colocado num quarto do andar superior.
[...] Pedro foi com eles e, quando chegou,
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 105
foi levado para o quarto do andar superior.
Todas as viúvas o rodearam, chorando
e mostrando-lhe os vestidos e outras roupas
que Dorcas tinha feito quando ainda estava com elas.
Pedro mandou que todos saíssem do quarto;
depois, ajoelhou-se e orou.
Voltando-se para a mulher morta, disse: “Tabita, levante-
se”.
Ela abriu os olhos e, vendo Pedro, sentou-se (At 9.36-40).
Misericórdia (Rm 12.8d; Gl 6.10) – “éleos”
Desejo de se identificar (demonstrando empatia ou
compaixão) com as carências das pessoas individualmente
em situações de aflição, ajudando-as a se superarem por
meio de uma doação (de dinheiro, gênero ou emprego),
sem esperar retorno. Todos os cristãos devem ser
misericordiosos (Tg 2.15-16), mas quem tem esse dom é
capacitado para ajudar pessoas em situações de miséria,
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 106
aliviando o seu sofrimento, visitando enfermos, animando
os idosos, apoiando deficientes físicos e mentais, ajudando
presos, desassistidos e solitários.
Um dos maiores exemplos na Bíblia é Onesíforo:
O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo,
porque muitas vezes ele me reanimou
e não se envergonhou por eu estar preso;
ao contrário, quando chegou a Roma,
procurou-me diligentemente até me encontrar.
Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia,
encontre misericórdia da parte do Senhor!
Você sabe muito bem quantos serviços ele me prestou em
Éfeso
(2Tm 1.16-18).
Socorros (“socorros” [ARA]; “prestar ajuda” [NVI]; 1Co
12.28) – “antílempsis”
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 107
Evidencia-se pelo gosto em colocar seus talentos
(“nos bastidores”) a serviço de outra pessoa
(individualmente), que é assim liberada para desenvolver
seus dons. Tem prazer em fazer as coisas da rotina,
atribuindo-lhes um valor espiritual. Há secretárias que têm
a habilidade do secretariado, mas não têm o dom do
socorro; por isso, são apenas razoáveis, falta-lhes o
espírito de amor e o prazer da disposição. Durante
décadas, por exemplo, Billy Graham teve um “segundo”
que lhe permitiu realizar o ministério que desenvolveu.
Quem tem esse dom é marcado por um estilo mais de fazer
do que de falar (Kenneth Gangel).
A palavra “socorro” significa originalmente tomar
o peso (ou carga) de alguém, o que lhe dá um sentido
amplo, inclusive ao chamado serviço do diaconato. Um
exemplo notável na Bíblia é Febe, mencionada como
diácono da igreja em Cencréia. Eis o que dela diz o
apóstolo Paulo:
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 108
Recomendo-lhes nossa irmã Febe,
serva [diácono] da igreja em Cencréia.
Peço que a recebam no Senhor, de maneira digna dos
santos,
e lhe prestem a ajuda [assistência] de que venha a
necessitar;
pois tem sido de grande auxílio para muita gente,
inclusive para mim (Rm 16.1-2).
O missionário Paulo não chama Febe de diaconisa,
mas de “diácono”, como a indicar não um título, mas uma
atitude de vida. Em outras palavras: “socorram-na da
mesma forma que ela tem socorrido a tanta gente,
inclusive a mim mesmo, Paulo. Socorram-na, porque ela é
uma socorredora”.
Febe talvez não tivesse um cargo, mas levava as
cargas dos outros ao socorrê-los em suas necessidades
pessoais. Quando teve de ir a Roma para resolver algum
problema pessoal, Paulo a recomendou aos romanos.
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Precisamos de mais Febes em nossas igrejas, homens e
mulheres que não se sintam felizes apenas quando forem
eleitos para alguma função que lhes dê alguma honra.
Precisamos de pessoas que, quando precisarem, possam
ser recomendadas: “assistam a esta pessoa, não apenas
porque este é um dever cristão, mas porque a biografia
dela a recomenda”.
Uma pessoa com esse dom detesta estar no palco,
porque prefere atuar nos bastidores de uma igreja eficaz.
Há muitas tarefas invisíveis desenvolvidas na igreja que
são realmente feitas por pessoas com esse dom. Essas
pessoas preparam materiais para os professores da escola
bíblica, e ninguém sabe quem são elas; tomam conta de
serviços ligados ao culto (como som, ornamentação,
filmagem), mesmo que ninguém saiba seus nomes e, logo,
nunca agradeçam; fazem doações generosas (não
burocráticas, do tipo desencargo de consciência) e muitas
vezes anônimas de dinheiro (para pagar os remédios de
alguém que não sabem quem é) ou gêneros alimentícios
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(para alimentar quem não conhecem). São essas pessoas
que levam adiante o cristianismo ao levarem as cargas dos
outros.
Hospitalidade (1Pe 4.9) – “filoxenia” 15
O dom da hospitalidade se torna claro na alegria
em prover abrigo (inclusive hospedagem e alimento, se for
o caso), recepção e comunhão calorosa a alguém, criando
um ambiente em que as pessoas se sintam valorizadas.
Uma pessoa com o dom da hospitalidade é alguém
que tem uma habilidade especial para prestar atenção ao
convidado. 16
O exercício desse dom testifica do
suprimento de Deus para os seus filhos. Embora todos os
cristãos devam demonstrar hospitalidade, alguns são
especialmente capacitados para servir nessa área. Áqüila e
15
1Pe 4.9 – “filóxenoi”, “hospitaleiros”. 16
VERSTEEG, Bill. The gift of hospitality. Disponível em:
http://www.pbv.thunderbay.on.ca/NetSermons/1pet4ser.html.
Acessado em 1.5.2004.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 111
Priscila tinham esse dom e receberam uma igreja em sua
casa (At 18.1-3; 24-26; Rm 16.3-5). Pensando neles e em
tantos que o receberam ao longo do seu ministério, o
apóstolo Paulo ensinou:
Compartilhem o que vocês têm com os santos
em suas necessidades. Pratiquem a hospitalidade (Rm
12.13).
A Bíblia valoriza tanto esse dom que chama de
anjos aqueles que são recebidos:
Não se esqueçam da hospitalidade;
foi praticando-a que, sem o saber, alguns acolheram anjos
(Hb 13.2).
Muitos cristãos têm perdido a oportunidade de
receber anjos em casa.
Sou grato a Deus porque meus pais povoaram a
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minha casa de anjos. Um deles era um tanto estranho. Eu
devia ter uns 4 anos e morava em Santo Onofre, no
interior do Espírito Santo. Periodicamente nossa casa
estava cheia. Parece que todos os crentes que iam até
aquela cidade passavam por nossa casa. Um dia, a casa
encheu. Meu pai providenciou um hotel para um dos
excedentes, que deu uma resposta que marcou a minha
relação com as palavras.
– Derly, eu prefiro dormir aqui, debaixo dessa
mesa, a ir para o dormitório.
Meu pai brincou:
– Você está com medo, irmão.
Ele respondeu:
– Medo, não! Eu não tenho medo de nada!
Meu pai:
– Então você não está com medo. Está com cisma.
O hóspede:
– Sim, estou com cisma, mas medo, não.
Recebíamos muita gente. Nessa época, um pastor,
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 113
chamado Enéias, marcou-me porque tentou me ensinar a
estalar a língua dentro da boca. Quase 50 anos depois,
ainda ouço esse som. Na adolescência, dormiu no meu
quarto (que sempre teve duas camas, para receber os
hóspedes masculinos na casa...) outro Enéas, este Tognini,
um dos maiores pregadores de todos os tempos. Minha
infância e adolescência foram povoadas por anjos, e só
hoje eu sei disso.
Aquele que tem o dom da hospitalidade exercerá
esse dom e manterá um bom espírito no ambiente onde
vive (1Pe 4.9). O hospitaleiro ama o outro como se sua
vida dependesse disso, certo de que o amor compensa
tudo. Seja pronto para dar comida ao faminto, cama ao
sem-teto com alegria. Seja generoso com as diferentes
coisas que Deus lhe deu (1Pe 4.8-10).
Não podemos esquecer que o cristianismo é a
religião das mãos abertas, dos corações abertos e das
portas abertas. Assim, quando amamos e servimos aos
outros da comunidade por meio da hospitalidade, também
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 114
servimos a Deus.
Muitos cristãos concentram-se no que não têm, em
lugar de compartilhar as bênçãos de Deus, em lugar de
tornarem suas casas em santuários para aqueles que Deus
envia. “Deus usa pessoas como eu e você para tocar a vida
de outros. Quando praticamos a hospitalidade, temos a
oportunidade de tocar vidas de um modo íntimo e
pessoal”. 17
Os dons motivacionais, então, podem ser divididos
em dois grupos: os da Palavra Organizada (profecia
expositiva, ensino, encorajamento e liderança) e os das
Mãos Estendidas (contribuição financeira, serviço,
misericórdia, socorros e hospitalidade).
A igreja precisa desses dons para a sua edificação.
É para isso que o Espírito Santo dota a igreja (isto é, os
seus membros) com dons. Uma igreja sem dons é uma
igreja sem o Espírito Santo, e uma igreja sem o Espírito
17
SHARP, Kathy Chapman. Christian hospitality. Disponível em:
http://www.lifeway.com/lwc/article_main_page/0,1703,A%253D1501
24%2526M%253D50019,00.html. Acessado em 2.5.2004.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 115
Santo tem tanto poder quanto um clube...
Você concorda com esta afirmativa?
Talvez você passe os olhos pela lista e fique grato
por ter algum(ns) dele(s). Desejo que você use o que Deus
lhe deu para que haja um desenvolvimento que abençoe
sua igreja e glorifique o dono desse(s) dom(ns), que é
Deus.
Talvez você passe os olhos pela lista e fique feliz
por não ter nenhum deles, feliz porque assim não tem de
usar. Pode ser que alguém diga: “Que pena! Não tenho
nenhum dom. Logo, não tenho nenhuma
responsabilidade”.
Se você pensa assim, tenho uma péssima notícia:
todo cristão tem um ou mais dons. Se você acha que não
tem nenhum, tem algo errado com você. Na verdade, você
tem um dom; apenas o desconhece; porque não quer ou
não busca saber. Deus tem muito para lhe dar, e as suas
dádivas começam com a sua salvação e continuam com os
dons que concede a você e a outros.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 116
Há algo mais: as qualidades relacionadas aos
dons devem ser desenvolvidas por todos os cristãos.
Todos devemos ensinar, se temos a oportunidade,
mesmo que não tenhamos o dom. Todos devemos
encorajar os necessitados, mesmo que o encorajamento
não seja o nosso dom. Todos devemos contribuir
financeiramente para a igreja, mesmo que não
encontremos muito prazer nisso, por não termos o dom
da contribuição. Todos devemos prestar ajuda a quem
precisa, mesmo que o nosso dom seja outro.
Portanto, tomemos cuidado para não nos
escondermos atrás da afirmação de que não temos dons. O
não uso de dons é sinal de pobreza espiritual.
Os dons manifestacionais
Base bíblica principal: 1Co 12.7-11
O dom manifestacional é uma habilidade
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 117
sobrenatural dada pelo Espírito Santo para uma ação que
supere os limites da razão. 18
• Profecia circunstancial
• Palavra de conhecimento
• Palavra de sabedoria
• Fé
• Operações de milagres
• Dons de curas
• Discernimentos de espíritos
• Variedades de línguas
• Interpretação de línguas
• Intercessão
• Exorcismo
Profecia circunstancial (1Co 12.10) – “profetéia”
18
KORNFIELD, David. Op. cit., p. 175.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 118
É a capacitação para “dizer algo que Deus traz de
modo espontâneo à mente”. 19
Quem tem este dom recebe
e transmite “uma mensagem imediata de Deus por meio de
uma palavra divinamente ungida para uma situação
específica”. 20
Paulo (1Co 14.1, 5, 39) estimula o uso
desse dom “porque todos os filhos de Deus devem
aprender a ser atentos à voz de Deus, podendo ouvi-Lo em
situações específicas”. 21
Esse dom acontece espontaneamente em qualquer
momento e lugar (1Co 14.29-35); pode ser recebido por
qualquer crente; é de duração geralmente breve (para
aquela circunstância) e visa exaltar a Cristo. 22
Por ser tão poderoso, esse dom deve ser exercido
segundo regras claras (cf. At 21.4, 7-12; 1Co 14.29-38;
1Ts 5.19-21):
19
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática, p. 892.
20
KORNFIELD, David. Op. cit., p. 79.
21
Ibid. 22
KORNFIELD, David. Op. cit., p. 80.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 119
• A profecia deve ser submetida à Bíblia.
• A profecia deve ser submetida à liderança da igreja.
• O caráter do profeta deve refletir o caráter de Cristo.
• O conteúdo da profecia deve edificar a igreja, não uma
pessoa, nem trazer confusão.
“Profecias que dizem a outras pessoas o que elas
devem fazer precisam ser encaradas com muita
suspeita”. 23
Uma das dimensões da profecia é a crítica social,
no estilo dos profetas do Antigo Testamento e de João
Batista.
Palavra de conhecimento (1Co 12.8b) – “lógos gnóseos”
É a capacitação para descobrir a verdade para uma
situação específica. É um dom distinto da profecia
(receber e falar), porque pode não incluir a dimensão
23
HARPER, Michael apud. GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 882.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 120
comunicativa, e dos discernimentos de espíritos, porque
não inclui necessariamente a dimensão do
desmascaramento do erro.
Quem tem este dom é especialmente capacitado
pelo Espírito Santo a aprender coisas que a igreja precisa
saber. É uma aprendizagem espiritual porque quem
recebeu esse dom não sabe explicar como descobriu certas
verdades. Em termos práticos, esse dom pode se
manifestar, por exemplo, por meio do planejamento de
alguma atividade na igreja, planejamento que exige
conhecimento do que se vai fazer, quem vai fazer e como
se vai fazer. Alguém que, mesmo sem formação técnica,
dedica-se a pesquisar a história da igreja com prazer
manifesta este dom. Um tradutor da Bíblia para outro
dialeto ou idioma precisa desse dom, pois essa atividade
demanda um conhecimento não apenas acadêmico.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 121
Palavra de sabedoria (1Co 12.8a) – “lógos sofias”
É a capacitação para aplicar a verdade na hora
certa. Quem tem este dom tem uma mente prática, com a
capacidade de encontrar a solução para o problema.
“Quando uma pessoa dotada do dom da sabedoria fala, os
demais membros do Corpo sabem que a verdade foi dita e
que foi recomendado o procedimento correto”. 24
Esse dom não tem que ver com uma formação
acadêmica, porque é um dom de Deus. Antes, tem que ver
com a capacidade de aplicar verdades espirituais para
suprir necessidades específicas da igreja, especialmente
em situações de tensão, apresentando as soluções divinas
para os conflitos humanos.
Fé (1Co 12.9a) – “pístis”
É a capacitação para visualizar (quem tem este dom
24
WAGNER, C. Peter. Descubra seus dons espirituais, p. 223.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 122
é um “visionário”, isto é, está à frente do seu tempo) o que
Deus vai fazer, sem duvidar do Seu poder. Quem tem este
dom age à luz das promessas de Deus.
Esta “fé” aqui é diferente da fé em Jesus como
Salvador ou da fé em Deus como Senhor (sustentador),
que todo crente tem de ter. Por isso, não é para todos. É
indispensável para um líder.
Efésios 2 põe um aparente problema que precisa de
resposta:
Vocês estavam mortos em suas transgressões e pecados,
nos quais costumavam viver,
quando seguiam a presente ordem deste mundo
e o príncipe do poder do ar, o espírito que agora está
atuando
nos que vivem na desobediência.
Anteriormente, todos nós também vivíamos entre eles,
satisfazendo as vontades da nossa carne,
seguindo os seus desejos e pensamentos.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 123
Como os outros, éramos por natureza merecedores da ira.
Todavia, Deus, que é rico em misericórdia,
pelo grande amor com que nos amou, deu-nos vida com
Cristo,
quando ainda estávamos mortos em transgressões –
pela graça vocês são salvos.
Deus nos ressuscitou com Cristo
e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais
em Cristo Jesus,
para mostrar, nas eras que hão de vir,
a incomparável riqueza de sua graça,
demonstrada em sua bondade para conosco em Cristo
Jesus.
Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé,
e isto não vem de vocês, é dom de Deus;
não por obras, para que ninguém se glorie.
Porque somos criação de Deus
realizada em Cristo Jesus para fazermos boas obras,
as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 124
(Ef 2.1-10)
A pergunta que o texto suscita é: “se a fé é um dom
de Deus, que responsabilidade têm os incrédulos?”.
O que o apóstolo Paulo diz, no texto, é que a
salvação é um dom de Deus, como iniciativa dEle. Há
duas ações no processo: a ação de Deus, chamada graça,
alcança o seu efeito quando o homem responde, pela fé.
Antes de a graça ser oferecida, nada podia ser feito pelo
homem, que estava morto em seus pecados e não sabia que
estava morto. Desde o evento da cruz, no entanto, essa
graça se tornou universal. Desde então, o convite feito por
Jesus continua online: “Venham a mim, todos os que estão
cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso” (Mt
11.28). A fé, portanto, é a resposta possível por causa da
graça.
Temos, assim, três usos para a palavra fé:
Um é a fé para a salvação, que é a resposta
humana ao oferecimento divino da graça.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 125
O segundo é a fé para a liderança, que é um dom
de Deus que capacita o crente a ter uma visão que o
habilita a ser um líder, a conduzir comunidades a novos
tempos e a novas oportunidades.
O terceiro é a fé para o exercício de ações
sobrenaturais pelo poder do Espírito Santo. Jesus disse
aos seus discípulos que, se tivessem fé do tamanho de um
grão de mostarda, eles fariam coisas grandiosas (Mt
17.20). Os dons manifestacionais serão concedidos a
pessoas que têm esse tipo de fé, fé para o exercício do
poder, concedido pelo Espírito Santo, igualmente para a
edificação da comunidade, e não para a exaltação do
usuário do dom.
5.5. Operações de milagres (1Co 12.10a) –
“energuémata dunámeon”
É a unção para se tornar um instrumento de Deus
para a Sua intervenção sobrenatural, por meio de milagres
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 126
ou maravilhas que superem as leis da natureza (mundo
físico). A operação de milagres beneficia pessoas, revela o
mistério de Deus e autentica o ministério da igreja. Uma
das áreas do milagre, mas não a única, é a cura. Outras
são:
• Livramentos de perigos físicos (At 5.19-20; 12.6-11)
• Atos poderosos de julgamento contra inimigos do
evangelho ou contra pessoas na igreja que precisam de
disciplina (At 5,1-11; 13.9-12)
• Proteções contra ferimentos (At 28.3-6)
• Poder sobre forças demoníacas (At 16.18) 25
Em todos, fica em evidência a glória de Deus.
Todos também devem contribuir para a edificação da
igreja.
Dons de curas (1Co 12.9b) – “carísmata iamáton”
25
GRUDEM, Wayne. Op. Cit., p. 903.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 127
Manifestam-se na unção para juntar-se a Deus na
restauração (emocional e/ou física) de pessoas por meios
extraordinários (sem uso de recursos naturais). Pessoas
com esse dom “oram, tocam ou falam palavras que
miraculosamente trazem cura para o corpo” 26
ou para a
alma ferida. A efetivação da cura, no entanto, não depende
de quem tem o dom, mas de Quem lho deu.
A cura tem vários propósitos:
• Autenticar a mensagem do evangelho.
• Trazer cura e conforto ao doente, demonstrando assim o
atributo da misericórdia divina.
• Capacitar as pessoas para o serviço, ao remover
impedimentos ao exercício do ministério.
• Prover oportunidade para a glorificação de Deus diante
das provas concretas do Seu amor, bondade, poder,
26
BUGBEE, Bruce; COUSINS, Don; HYBELS, Bill. Rede
ministerial, p. 51.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 128
sabedoria e presença. 27
A oração pela cura deve ser anterior, concomitante
ou posterior ao uso dos recursos médicos. Jesus curava
lançando mão de palavras ou de imposição de mãos,
enquanto os seus discípulos também administravam a
unção com óleo.
Há alguns posicionamentos errados sobre a
questão:
• “Jamais devemos orar por cura”.
• “Deus raramente cura hoje”.
• “Deus sempre cura hoje”. 28
A atitude certa é pedir e esperar a cura, já que é
27
GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 905.
28
Ibid., p. 907.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 129
Deus quem decide. 29
Aqueles que possuem esse dom não têm nenhum
poder sobrenatural sobre as pessoas, porque são apenas
“canais por meio dos quais Deus opera, quando Ele deseja
curar”. 30
Discernimentos de espíritos (1Co 12.10) – “diakríseis
pneumáton”
É a capacitação para distinguir entre a verdade e o
erro, para perceber se uma obra é de Deus ou de Satanás.
Quem tem esse dom, é capacitado a “reconhecer a
influência do Espírito Santo ou de espíritos demoníacos
numa pessoa”. 31
Pedro tinha esse dom, demonstrado
quando revelou o espírito por trás de Simão, o Mago (At.
29
Cf. AZEVEDO, Israel Belo. Posso pedir por cura. Sermão não
publicado.
30
WAGNER, C. Peter. Op. cit., p. 241.
31
GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 919.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 130
8.23).
Este dom pode se apresentar em três níveis:
• Saber se uma conduta aparentemente correta é, na
verdade, obra de Satanás.
• Perceber as motivações (piedosas ou carnais) de uma
pessoa.
• Separar a verdade (doutrina correta) do erro (heresia),
mesmo quando os motivos são legítimos. 32
Variedades de línguas (1Co 12.10, 28) – “guéne glossôn
33
32
WAGNER, C. Peter. Op. cit., p. 104.
33
A palavra “guénos” indica raça ou linhagem. No Novo Testamento,
pode assumir os seguintes sentidos: 1. Família, descendência (p. ex.,
At 7.13; 17.28); 2. Nação, povo (p. ex., At 7.19; Gl 1.14); 3. Classe,
gênero, espécie (p. ex., Mt 13.47; 1Co 12.10). GINGRICH, F. Wilbur
& DANKER, Frederick W. Léxico do Novo Testamento
grego/português, p. 46.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 131
É a unção para se comunicar por meio de uma
língua naturalmente inexistente visando à edificação da
igreja. Trata-se de uma “oração ou louvor expresso em
sílabas não compreendidas por quem fala”. 34
É, portanto,
um discurso brotado do Espírito e dirigido ao Pai (1Co
14.2).
No Pentecostes, o dom se expressava por meio
de línguas conhecidas (os estrangeiros entenderam o
discurso de Pedro em suas próprias línguas), mas Pedro
não conhecia essas línguas. Nas demais experiências do
Novo Testamento, o dom se expressava por meio de
línguas naturalmente inexistentes, como sons
ininteligíveis ao falante.
A síntese das experiências indica que hoje o
dom pode se expressar na fala de uma língua conhecida
do ouvinte, mas desconhecida do falante, ou numa fala
ininteligível tanto para o falante quanto para o ouvinte,
34
GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 910.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 132
demandando que haja interpretação para ambos.
Assim, o dom pode incluir:
• A fala devocional individual (talvez a língua dos anjos 35
de 1Co 13.1) de uma língua não-natural para o
crescimento próprio.
• A fala devocional comunitária de uma língua não-natural
para a edificação da igreja.
• A fala de um idioma natural do ouvinte, nunca aprendido
pelo falante.
35
Damy Ferreira expõe uma outra opinião: “A idéia de que a língua de
1 Cor. 12 é língua de anjos, por causa de 1 Cor 13, não procede.
Quando Paulo diz: „Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos
anjos...‟, ele está considerando algo impossível. Não se sabe que
língua os anjos falam, e, na Bíblia, os anjos sempre falaram com
homens e mulheres em linguagem de seres humanos”. Ele pensa que,
assim como na ocasião de Pentecostes (At 2), o dom de línguas
continuou a ser de idiomas falados pelos homens e, para isso,
argumenta com base no emprego por Paulo, em 1Coríntios 12.10, da
palavra “hermenéia”, cujo significado é “interpretação” e, segundo
ele, utilizada em referência à interpretação de um idioma. FERREIRA,
Damy. Os dons espirituais, p. 22-3. De “hermenéia” provém a palavra
“hermenêutica” na língua portuguesa.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 133
Há crentes maduros que buscaram falar em línguas,
sem o conseguir. Embora cheios do Espírito, não
receberam o dom de línguas. 36
“Assim como nem todos
os cristãos são apóstolos, nem todos são profetas ou
mestres, nem todos possuem dons de cura, assim também
nem todos falam em outras línguas”. 37
Interpretação de línguas (1Co 12.10) – “hermenéia
glossôn”
É a unção para interpretar as línguas espirituais. A
interpretação pode vir do falante (1Co 14.13) ou de outra
pessoa (1Co 14.27-28).
36
WAGNER, C. Peter. Op. cit., p. 237.
37
GRUDEM, Wayne. Op. cit., p. 914.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 134
A glossolalia 38
em público demanda um intérprete
(1Co 14.20), já que seu propósito é a edificação da igreja
(1Co 14.5).
Intercessão (1Tm 2.1) – “énteuxis”
É a capacitação para orar amorosa e
persistentemente, regular e longamente por pessoas,
independentemente dos resultados.
Quem tem este dom pode passar horas
ininterruptas prazerosamente em oração. Todo cristão
deve orar, e isso não é um dom. Mas interceder, no
sentido aqui usado, sim.
Aqueles que possuem esse dom:
38
“Glossolalia” é o termo técnico utilizado em teologia para o
fenômeno das línguas ditas “espirituais”, isto é, cuja elocução seja
realizada sob o impulso do Espírito Santo. A palavra é formada pelo
substantivo feminino “glôssa”, que significa “língua” (órgão da fala;
idioma), e a forma verbal “laléo”, “eu falo”; ou “lalein”, “falar”.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 135
• Sentem-se constrangidos a orar com seriedade por
alguém ou por um assunto.
• Estão conscientes da batalha espiritual diária e, assim,
são compelidos a orar a respeito dessa realidade.
• Estão convencidos de que Deus age em resposta à
oração.
• Oram quando tocados pelo Espírito, mesmo que não
entendam o porquê.
• Agem com autoridade e poder em favor da proteção de
outros e pela capacitação para servir. 39
Exorcismo (At 16.16-18) – “ekbolé daimonion” (expulsão
de demônios) 40
39
BUGBEE, Bruce; COUSINS, Don. HYBELS, Bill. Op. cit., p. 97.
40
No Novo Testamento grego há apenas uma ocorrência da forma
verbal “exorkízo”: “eu faço jurar”, “eu exijo juramento”, “eu faço
jurar em nome de Deus” – Mt 26.63. O substantivo “exorkistés”
(exorcista) ocorre também uma única vez, em At 19.13. Nessa
passagem, o exorcista recorre a encantamentos para expelir espíritos
maus. A palavra “exorkismós” (exorcismo) não é empregada no Novo
Testamento grego. PEREIRA, Isidro. Dicionário grego-português e
português-grego, p. 126 (2a parte), 200 (1
a parte).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 136
É a capacitação para expulsar demônios ou
espíritos malignos, libertando pessoas desses domínios.
Aparece sempre associado ao dom de discernimentos dos
espíritos.
Quem tem esse dom deve exercê-lo com cautela,
oração, jejum e unção do Espírito Santo.
Os dons funcionais
Bases bíblicas principais: 1Co 12.27-31; Ef 4.11
Habilidades que integram vários dons e que
requerem preparo específico e tempo prioritário para o seu
exercício.
• Apostolado
• Profecia proclamadora
• Evangelização
• Missões (At 11.19-26)
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 137
• Pastorado
• Ensino coletivo (Professor)
• Administração
• Arte (Êx 31.1-11)
Apostolado (1Co 12.28; Ef 4.11) – “apostolê”
É a capacitação espiritual para iniciar e
supervisionar o desenvolvimento de igrejas ou ministérios
com uma autoridade espontaneamente aceita e
reconhecida. O apóstolo (homem ou mulher) 41
tem uma
41
A existência de “apóstolas” (no sentido de “missionárias”) entre as
primeiras comunidades cristãs tem sido uma questão controversa.
Tome-se, por exemplo, Rm 16.7, em que a palavra “apóstoloi”
(apóstolos) aparece em conexão com duas pessoas mencionadas por
Paulo: Andrônico e Júnias/Júnia. O problema surge por causa da
forma de um dos nomes, masculina em alguns manuscritos gregos e
feminina em outros. Sobre a forma “Iunian” (Júnias – masculina),
Hendriksen considera que a maneira pela qual Paulo se refere àquelas
personagens como apóstolos sugere que ambas eram homens
(HENDRIKSEN, William. Comentário bíblico do Novo Testamento:
Romanos, p. 665). Entretanto, sobre a forma “Iunían” (Júnia –
feminina), Luise Schottroff faz um interessantíssimo comentário:
“Numa lista de saudações, Paulo, com a maior naturalidade, fala da
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 138
visão ampla, e não apenas limitada à igreja local. Sua
liderança não depende de nenhum ofício.
A posição de apóstolo dada aos primeiros
discípulos era única e, pela sua característica, não existe
mais. No entanto, o papel desempenhado por eles continua
evidente até os dias de hoje em combinação com outros
dons (e ofícios), sem o uso do título “apóstolo”. 42
Profecia proclamadora (1Co 12.28; Ef 4.11) –
“profetéia”
É a capacitação para a pregação. Exige treinamento
apóstola Júnia. A partir da Idade Média, e sobretudo por meio da
tradução bíblica feita por Lutero, é que passou a prevalecer a opinião
de que „Junia‟ não se referia a uma mulher, mas sim a um homem
chamado Junias. Isto, apesar do fato de não existir documento algum
que comprove a existência de tal nome de homem. Pelo fato de a
pessoa ali mencionada ser chamada de „apóstolo‟ é que não deveria se
tratar de uma mulher” (SCHOTTROFF, Luise. Mulheres no Novo
Testamento: exegese numa perspectiva feminista, p. 86).
41
BUGBEE, Bruce; COUSINS, Don; HYBELS, Bill. Op. Cit., p. 84.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 139
específico e preparo prévio.
Evangelização (Ef 4.11) 43
– “euanguelízein” (anunciar
boas notícias).
É a capacitação para comunicar, no contexto da sua
cultura, o evangelho a pessoas sem fé, levando-as a se
tornarem discípulas de Cristo e membros ativos do seu
corpo.
Quem tem este dom busca oportunidades para
proclamar o amor de Deus, anunciando-o com
competência, clareza e convicção, e desafiando as pessoas
a aceitarem Jesus como Salvador e Senhor.
Missões (“evangelização transcultural”, At 11.19-26).
É a capacitação para comunicar o evangelho em
43
Aqui é empregada a forma euvaggelisth,j (euanguelistés),
“evangelista”. Cf. também At 21.8 e 2Tm 4.5.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 140
uma cultura diferente. Pedro não tinha esse dom, mas
Paulo tinha (cf. At 13 – 28; Rm 15.17-20; Gl 2.1-10).
Pastorado (Ef 4.11) – “poimén” (pastor)
É a capacitação para assumir a responsabilidade de
cuidar do bem-estar espiritual de um grupo de cristãos.
Seu trabalho consiste em liderar, ensinar, desafiar e
aconselhar os membros de uma comunidade de fé, visando
a promover, por meio da descoberta e da aplicação dos
dons espirituais, a visão do Reino de Deus, a proclamação
do evangelho, a maturidade espiritual, a comunhão entre
os cristãos e o serviço aos necessitados.
O pastorado tornou-se um ofício (profissão), mas
uma igreja pode ter pessoas com o dom de pastorear sem
que sejam “pastores” de ofício.
Ensino coletivo (1Co 12.28; Ef 4.1) – “didaskalia”
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 141
É a capacitação para explicar e aplicar a Palavra de
Deus publicamente, de maneira que conduza os alunos à
aprendizagem. Demanda preparo prévio.
Administração (1Co 12.28) – “kubérnesis”
É a capacitação para planejar e coordenar
atividades, para alcançar alvos predeterminados, visando à
edificação da igreja. 44
Arte (Êx 31.1-11) – “hashov mahashavot” (inventar obras
artísticas)
É a capacitação para servir por meio da produção
de peças artísticas e artesanais, visando à adoração.
Os dons voluntários
44
KORNFIELD, David. Op. cit., p. 26.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 142
Celibato (1Co 7.7)
É a capacitação para se sentir realizado no estado
civil de solteiro (em abstinência sexual) por estar liberado
para uma dedicação completa ao ministério abraçado. É
um dom que precisa de outro(s), deve estar vinculado a um
ministério.
Pobreza (1Co 13.3a) – “ptokéia” 45
É a capacitação para renunciar ao conforto que os
recursos materiais oferecem e adotar um estilo de vida
45
“Ptokéia” aparece em apenas três lugares: 2Co 8.2, 9; Ap 2.9. No
primeiro caso, refere-se à condição econômica dos cristãos
macedônios que não os impediu de serem generosos para com os
cristãos pobres de Jerusalém (cf. At 11.29,30; 24.17; Rm 15.26-28; Gl
2.10; 2Co 8 e 9). No segundo caso, trata-se do despojamento
voluntário de Cristo no que diz respeito à sua divindade. Ele se fez
“pobre”, isto é, tornou-se homem entre os homens para lhes oferecer o
amor de Deus. No terceiro caso, à pobreza econômica da comunidade
cristã de Esmirna contrapuha-se a sua grande riqueza espiritual. A
ocorrência do substantivo “ptokói”, pobres, em 1Co 6.10 parece ser
um exemplo da pobreza como dom espiritual.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 143
equivalente ao dos pobres, visando a servir a Deus com
mais dedicação e menos preocupações.
Martírio (1Co 13.3b) – “martírion” 46
É a capacitação para sofrer, pela fé, até à morte,
desempenhada como uma atitude que glorifica a Deus.
COMO DESCOBRIR MEU(S) DOM(NS)?
Todos temos um dom, assim como temos um
corpo. Nós somos os nossos dons, assim como somos os
nossos corpos.
Não há fórmula mágica, porém alguns passos
podem ser sugeridos:
46
A palavra significa “testemunho”, “prova”. Em alguns casos, vem
associada ao sofrimento decorrente do testemunho da fé: Mt 10.17-18
(= Mc 13.9; Lc 21.12,13); 1Tm 2.5,6; 2Tm 1.8.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 144
• Ofereça o seu corpo como sacrifício vivo.
Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus
que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a
Deus;
este é o culto racional de vocês (Rm 12.1).
• Peça a Deus que revele a você a vontade dele.
Siga a promessa de Jesus:
Peçam, e lhes será dado; busquem, e encontrarão;
batam, e a porta lhes será aberta.
Pois todo o que pede, recebe;
o que busca, encontra; e àquele que bate, a porta será
aberta (Mt 7.7,8).
Neste processo, estudar a Bíblia e dedicar-se à
oração são disciplinas essenciais.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 145
• Leve em conta a sua agitação interior em relação a uma
necessidade.
• Exponha-se aos vários ministérios.
Saia do desejo para a prática. Experimente!
Descobrir e usar um dom espiritual dá ao cristão
um profundo sentido de satisfação pessoal, porque um
dom espiritual produz um senso de missão, desenvolve
alguma habilidade, estimula o entusiasmo e a visão e gera
uma força imensa.
Os cristãos mais felizes e mais eficazes são aqueles
que estão atuando nos ministérios. Por isso:
Se você é chamado, e é, RESPONDA!
Se você é um ministro, e é, SIRVA!
Se você é fortalecido, e é, SEJA FORTE!
Se você é amado, e é, ESTEJA SEGURO!
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 146
Se você é orientado, e é, CONFIE!
Se você é protegido, e é, SEJA CORAJOSO!
Se você é um mordomo, e é, SEJA FIEL!
Se você tem um dom, e tem, USE-O!
UM CONVITE A UMA VIDA COM DONS
ESPIRITUAIS
• Aceite o dom maior, a salvação em Jesus Cristo.
• Aceite que a igreja precisa de dons espirituais.
• Aceite que você tem dom(ns).
• Use o(s) seu(s) dom(ns).
• Descubra o(s) seu(s) dom(ns).
• Desenvolva o(s) seu(s) dom(ns).
• Ache que vale a pena viver pelo Espírito Santo.
• Dedique tempo à igreja.
• Veja as necessidades (deixando-se tocar pelas carências
dos outros).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 147
Se as necessidades lhe tocam, você está no
caminho de descobrir seu dom.
Há muitas necessidades em nossa igreja.
Precisamos receber melhor as pessoas que nos procuram.
Logo, precisamos de mais gente na portaria, gente disposta
e bem preparada.
Precisamos dizer aos nossos vizinhos que nós
existimos. Logo, precisamos de mais gente na área da
comunicação, incluindo aí o jornalismo, a publicidade e o
marketing.
Precisamos alcançar mais pessoas com o amor de
Cristo, porque uma igreja vive para fazer discípulos, e não
para se divertir no culto. Logo, precisamos de mais
evangelistas, de mais visitadores.
Precisamos fazer mais em muitas áreas, mas
precisamos de gente com dons, dons descobertos e
exercidos.
• Busque os dons com zelo – vigor, força – e com a
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 148
intenção de os usar para a edificação da igreja.
Assim também vós, já que estais desejosos de dons
espirituais,
procurai abundar neles para a edificação da igreja.
(1Co 14.12) 47
Se você tiver um dom espetacular, subordine-o à
ordem no culto coletivo.
Se, pois, toda a igreja se reunir num mesmo lugar,
e todos falarem em línguas, e entrarem indoutos ou
incrédulos,
não dirão porventura que estais loucos?
(1Co 14.23) 48
47
Versão revisada da tradução de João Ferreira de Almeida, de acordo
com os melhores textos em hebraico e grego (IBB).
48
Ibid.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 149
• Esqueça a sua importância pessoal.
Enquanto você se importar apenas consigo
próprio(a), não descobrirá o(s) seu(s) dom(ns). O(s) seu(s)
dom(ns) é (são) para o proveito coletivo. O seu benefício
direto é o benefício da comunidade (Cf. 1Co 12.7).
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 150
PALAVRAS FINAIS
Nós não vivemos para a glória da igreja; antes,
vivemos para o louvor da glória de Deus. No entanto,
experimente dar louvor a Deus fora da igreja. Aos poucos,
você vai se esquecendo do louvor. E, ao fim, vai se
esquecer até mesmo de Deus.
Nossa prioridade na vida não é a igreja, mas Deus.
No entanto, experimente fazer de Deus a sua prioridade
fora da igreja. O resultado será uma vida centrada em si
mesma.
Quando você estiver perto de achar que participar
ou não participar é a mesma coisa, que pregar ou não
pregar o Evangelho não faz diferença, que é indiferente se
envolver ou não se envolver na igreja...
Imagine um pai cujo filho não seja crente.
Imagine um filho cujo pai não seja crente.
Imagine um marido cuja esposa não seja crente.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 151
Imagine uma esposa cujo marido não seja crente.
Pense naqueles que nunca tiveram oportunidade de
entrar numa igreja.
Pense naqueles que nunca quiseram entrar numa
igreja, embora convidados.
Pense naqueles que um dia já fizeram parte de uma
igreja.
Pense naqueles que ainda estão na igreja, mas não
acreditam que isso tenha algum significado.
Em situações como estas, o que acontece conosco?
Sentimos prazer em ver a alegria em rostos ontem
tristes?
Sentimos prazer em ver pessoas se sentindo
incomodadas pela Palavra de Deus?
Sentimos prazer em ver pessoas voltando para
Deus?
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 152
Sentimos prazer em ver pessoas aceitando a Cristo
como Salvador e Senhor?
Então, somos cristãos. Mais do que isso, somos a
própria igreja de Cristo.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 153
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BUGBEE, Bruce; COUSINS, Don; HYBELS, Bill. Rede
ministerial. São Paulo: Vida, 1998.
FERREIRA, Damy. Os dons espirituais. Rio de Janeiro:
Horizonal, 2005, 64p.
GINGRICH, F. Wilbur & DANKER, Frederick W. Léxico
do Novo Testamento grego/português. Trad. Júlio P.
T. Zabatiero. São Paulo: Vida Nova, 1993.
GRUDEM, Wayne. Teologia sistemática. São Paulo:
Abba, 1999.
HENDRIKSEN, William. Comentário bíblico do Novo
Testamento: Romanos. Trad. Valter Graciano Martins.
São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
KORNFIELD, David. Desenvolvendo dons espirituais e
equipes de ministério. 2. ed. São Paulo: Sepal, 1998.
PEREIRA, Isidro. Dicionário grego-português e
português-grego. 5. ed. Porto: Livraria Apostolado da
Imprensa.
GENTE CANSADA DE IGREJA / Israel Belo de Azevedo Página 154
SCHWARZ, Christian A., SCHALK, Christoph. A Prática
do Desenvolvimento Natural da Igreja. Curitiba:
Esperança, 2000.
SCHOTTROFF, Luise. Mulheres no Novo Testamento:
exegese numa perspectiva feminista. Trad. Ivoni
Richter Reimer. São Paulo: Paulinas, 1995.
WAGNER, C. Peter. Descubra seus dons espirituais. São
Paulo: Abba, 1994.