fundamentos da psicopedagogia

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Indaial – 2020 FUNDAMENTOS DA PSICOPEDAGOGIA Prof. a Jacqueline Leire Roepke 1 a Edição

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Page 1: Fundamentos da PsicoPedagogia

Indaial – 2020

Fundamentos da PsicoPedagogia

Prof.a Jacqueline Leire Roepke

1a Edição

Page 2: Fundamentos da PsicoPedagogia

Copyright © UNIASSELVI 2020

Elaboração:

Prof.a Jacqueline Leire Roepke

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

R716f

Roepke, Jacqueline Leire

Fundamentos da psicopedagogia. / Jacqueline Leire Roepke. – Indaial: UNIASSELVI, 2020.

253 p.; il.

ISBN 978-65-5663-036-6

1. Psicopedagogia. - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 370.15

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III

aPresentação

Prezado acadêmico! Inicialmente, já queremos deixar registrada a alegria que estamos sentindo por fazer parte da sua formação acadêmica! Além disso, ficamos extremamente felizes por saber que mais pessoas estão ingressando no campo de estudos e de trabalho relacionado à psicopedagogia! Sinta-se afavelmente acolhido!

Este livro didático apresenta algumas temáticas atinentes à psicopedagogia, sobretudo no que se refere aos fundamentos dela, os primórdios dos estudos e atuação. Os conteúdos que reunimos aqui têm por intuito subsidiar a construção do conhecimento sobre a psicopedagogia, por meio do seu contato com informações e suscitar constatações, descobertas, ponderações, reflexões acerca da aprendizagem humana.

Esse livro didático está subdividido em três unidades. Na primeira, você encontra os alicerces da psicopedagogia, e terá oportunidade de conhecer partes da história que antecederam a criação da psicopedagogia. Inclusive, poderá acompanhar trechos da sua formulação e o início do seu desenvolvimento.

Na segunda unidade, você encontrará conteúdos sobre a

psicopedagogia no Brasil, as teorias e aspectos epistemológicos da psicopedagogia. Por fim, a Unidade 3 apresenta aspectos da atuação do psicopedagogo, tais como, questões metodológicas e abordagens para a prática desse profissional.

Desejamos que a leitura deste material gere incontáveis reflexões e que seja contributiva ao seu processo de aprendizagem!

Bons estudos!

Prof.a Jacqueline Leire Roepke

P.S.: Apesar desse material autoinstrucional ter sido organizado por uma única professora, ela optou por utilizar a primeira pessoa do plural (nós) porque até chegar nas suas mãos, acadêmico, esse material passou por várias outras (revisores de conteúdo, revisores de língua portuguesa, diagramadores, etc). Ele é fruto, portanto, de um trabalho em grupo, cooperativo.

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

Olá acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a você e dinamizar ainda mais os seus estudos, a Uniasselvi disponibiliza materiais que possuem o código QR Code, que é um código que permite que você acesse um conteúdo interativo relacionado ao tema que você está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar mais essa facilidade para aprimorar seus estudos!

UNI

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V

Page 6: Fundamentos da PsicoPedagogia

VI

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

LEMBRETE

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VII

UNIDADE 1 – ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA ......................................................................1

TÓPICO 1 – PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA .........................................................................................................3

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................32 O COMEÇO ............................................................................................................................................4RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................31AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................32

TÓPICO 2 – ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA ...........................................................................................35

1 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................352 ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA ................................................363 EIS QUE SE FEZ A PSICOPEDAGOGIA ........................................................................................41RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................46AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................47

TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA ........................................491 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................492 CONCEPÇÕES E TEORIAS QUE FUNDAMENTA(RA)M A PSICOPEDAGOGIA........................ 493 A HERANÇA ARGENTINA ...............................................................................................................664 LIGANDO OS PONTOS À PSICOPEDAGOGIA .........................................................................70LEITURA COMPLEMENTAR ...............................................................................................................72RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................79AUTOATIVIDADE .................................................................................................................................80

UNIDADE 2 – PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ...........................................................................81

TÓPICO 1 – A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ............................................................................831 INTRODUÇÃO .....................................................................................................................................832 A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL ................................................................................................843 DOCUMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO BRASIL .....................88RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................107AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................108

TÓPICO 2 – BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA ....................... 1111 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1112 OBJETOS DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA ......................................................................1123 BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA .................................1134 O NÃO APRENDER SOB A PERSPECTIVA DE PIAGET .........................................................124RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................129AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................130

sumário

Page 8: Fundamentos da PsicoPedagogia

VIII

TÓPICO 3 – ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA ................................................1321 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1322 APRENDER ..........................................................................................................................................1333 ENSINAR .............................................................................................................................................1414 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM ......................................................................................1435 REMATES REFLEXIVOS .................................................................................................................145LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................149RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................161AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................162

UNIDADE 3 – ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA ....................................................................165

TÓPICO 1 – ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO .........................................................................1671 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1672 CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO PSICOPEDAGOGO .......................................................1683 LOCAL DE ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO .......................................................................1724 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA .......................................................................................................176RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................186AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................187

TÓPICO 2 – MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS ................................................................................189

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................1892 A ATUAÇÃO DO PSICOPEDOGOGO EM AMBIENTES EDUCACIONAIS .......................1903 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA (DIAGNÓSTICA) INSTITUCIONAL EM

AMBIENTES EDUCATIVOS ............................................................................................................1944 UM OLHAR PARA AS FAMÍLIAS..................................................................................................1955 UM OLHAR SOBRE/PARA A CRIANÇA......................................................................................1966 UM OLHAR SOBRE/PARA ADOLESCENTES ............................................................................2017 UM OLHAR SOBRE/PARA ADULTOS .........................................................................................2048 REFLEXÕES SOBRE A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM ÂMBITO

EDUCACIONAL .................................................................................................................................206RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................208AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................209

TÓPICO 3 – MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS ..............................................................................211

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................................2112 PSICOPEDAGOGIA ORGANIZACIONAL – EMPRESARIAL ..............................................2123 PSICOPEDAGOGIA EM HOSPITAIS ...........................................................................................2174 INSTITUIÇÕES ASILARES, CASAS DE REPOUSO, LAR PARA IDOSOS,

GRUPOS DE IDOSOS .......................................................................................................................2215 EPÍLOGO E REFLEXÕES .................................................................................................................223LEITURA COMPLEMENTAR .............................................................................................................226RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................238AUTOATIVIDADE ...............................................................................................................................239

REFERÊNCIAS .......................................................................................................................................242

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UNIDADE 1

ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• relembrar alguns momentos da história da humanidade, com vistas aos processos educativos e de aprendizagem;

• perceber como os processos de aprendizagem foram mudando ao passar da história;

• identificar alguns fatos históricos que determinaram mudanças no processo educativo;

• depreender do contexto que desencadeou a invenção das escolas; • entender os contextos das sociedades que antecederam e determinaram a

formulação da Psicopedagogia;• conhecer o percurso histórico da psicopedagogia, que culmina na

Revolução Científica;• compreender o processo de construção da psicopedagogia;• discutir a contribuição de outras áreas para o desenvolvimento da

psicopedagogia e do psicopedagogo.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

TÓPICO 2 – ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA

TÓPICO 3 – INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1UNIDADE 1

PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

1 INTRODUÇÃO

Frequentemente, a psicopedagogia tem sido associada à aprendizagem. Você já se perguntou por que ela foi formulada? Por quem? Para quê? Onde? Em que período da história? Quais são as origens da psicopedagogia? Quais foram os fenômenos que demandaram a formulação desse campo do conhecimento e área de atuação? Como ela foi sendo constituída até atingir o patamar atual?

A psicopedagogia foi formada em determinados contextos históricos, sociais, culturais, econômicos e políticos. As concepções e teorias nas quais a psicopedagogia foi se apoiando também expressam aspectos e formas de pensar daquele período.

Se a psicopedagogia está relacionada à aprendizagem, pode-se supor

que ela foi tecida no intuito de compreender como acontece o processo de aprendizagem. Ela foi estruturada a fim de identificar os fatores que contribuem e os que dificultam esse processo. Seria possível intervir no processo de aprendizagem, com o intuito de melhorá-lo?

Desse modo, pode-se imaginar que foram inúmeros casos de dificuldades

de aprendizagem que geraram as condições para que algumas pessoas começassem a se preocupar com essa onda de fracasso escolar, e que se propuseram a buscar compreender esse contexto, e a procurar oferecer auxílio tanto para os profissionais que lidam com a aprendizagem quanto para as pessoas que estavam com dificuldades de aprender.

Nosso itinerário envolve algumas conjunturas históricas que contribuíram

para a criação e elaboração da psicopedagogia. Entre elas, destaca-se o fracasso escolar. Aliás, será que o próprio fenômeno do fracasso escolar não seria resultado por determinadas conjunturas históricas? Então vamos iniciar nossa jornada por esse percurso histórico?

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2 O COMEÇO

A aprendizagem faz parte do cotidiano dos seres humanos. Sejam eles de sociedades onde a escrita impera, ou nas sociedades ágrafas, onde não há escrita pois a aprendizagem não diz respeito, apenas, a conteúdos formais e escolares. Independente do período histórico ou da localização geográfica em que vivem os seres humanos, eles se deparam com situações que necessitam aprender, para preservar a sua vida e para se desenvolverem.

A aprendizagem é inerente aos humanos, pois, até mesmo nossas necessidades mais básicas requerem aprendizado. Por exemplo, a ingestão de água e de alimento é essencial para a sobrevivência humana. As pessoas precisam, obrigatoriamente, aprender a encontrar água e comida. Durante os primeiros meses de vida, o bebê aprende como fazer para que alguém dê água ou comida para ele. Ou seja, para que determinadas aprendizagens ocorram, as pessoas precisam, também, umas das outras para que alguns conhecimentos sejam repassados de geração a geração, como a linguagem, por exemplo.

Desde pequenos, nós precisamos aprender formas de chamar a atenção dos adultos para obter alimento. Em muitas espécies de animais, isso não acontece. Afinal, boa parte dos animais já nasce equipado com instintos e de condições para ir atrás da comida. Por exemplo, inúmeros animais já conseguem caminhar sozinho, assim que vêm ao mundo, e existem animais que não vivem em grupo, bandos, e passam boa parte da vida vivendo independentemente dos outros animais da mesma espécie.

Desta maneira, já que nós – os humanos – não nascemos prontos para

encarar a vida de modo autônomo, precisamos que alguém cuide de nós com significativa dedicação nos primeiros meses de vida. Mesmo na fase adulta, ou na velhice permanecemos dependentes uns dos outros. Certamente, você ouviu a permissa aristotélica de que o homem é um ser social.

Um filme que pode ajudá-lo a perceber a dependência entre os humanos, é "O Cubo”, de 1997. Esse filme está sendo recomendado, pois retrata um período de convivência de um grupo de pessoas que se encontra dentro de um ambiente desconhecido – o cubo. As pessoas que integram esse grupo apresentam, históricos de vida singulares, diferentes profissões e distintas habilidades. O desafio é conseguir sair vivo desse cubo gigante. Assim, emergem discordâncias e concordâncias entre eles sobre a busca de soluções e explicações para a circunstância. Os conflitos levam a alguns a tentarem seguir a jornada sozinhos. O filme ainda incita reflexões sobre preconceito, pois um dos personagens é julgado por parte dos integrantes da trama, como inútil, já que aparenta ter alguma deficiência intelectual. Ao assistir ao filme, esteja atento aos processos de aprendizagem. Quem são as pessoas

DICAS

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que ensinam ali? Quais são as pessoas que aprendem? Quais aprendizagens estão se processando, além de aprender a conviver? Mas antes de pressionar o botão ou ícone de play, atenção! Trata-se de um filme que mescla os gêneros fantasia, terror, horror, suspense e ficção científica, portanto, não é recomendado assistir na companhia de crianças. Esse filme foi dirigido por Vincenzo Natali.

CAPA DO FILME “O CUBO”

FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-9348/>. Acesso em: 23 out. 2019.

O ser humano também é um ser que necessariamente precisa aprender. Voltando ao exemplo da alimentação, todas pessoas precisam aprender a achar líquidos e substâncias comestíveis, identificar quais pode ingerir ou não, que utensílios precisará para alcançá-las e degustá-las. Se ela quiser sofisticar o cardápio, precisará descobrir quais são os alimentos que podem ser combinados para criar novos sabores. Convém mencionar que no filme que acabou de ser sugerido, há uma cena em que os personagens tentam encontrar soluções para a sede.

Supostamente, as aprendizagens sobre a alimentação eram as que mais preocupavam os primeiros agrupamentos de seres humanos. Eles também precisavam aprender a se defender dos animais predadores, dos animais venenosos, das intempéries do tempo (ventanias, trovoadas, raios, seca, frio etc.).

Em algum momento desse período, provavelmente, os seres humanos passaram a refletir sobre os grupos e as sociedades em que viviam. A título de ilustração, pode-se recorrer a dois filmes. O primeiro deles se chama “O cubo”. Diz respeito a um grupo de pessoas que se encontra enclausurada em um local até então desconhecido para elas. Sem demora, os integrantes começam a levantar questionamentos sobre os motivos e finalidades pelos quais estavam no mesmo local, ao mesmo tempo.

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Durante a leitura que você vem fazendo até aqui, é possível que tenha se perguntado de que aprendizagem estamos falando, ou melhor, qual é a nossa concepção sobre o fenômeno da aprendizagem humana. Ao falar sobre psicopedagogia é indispensável falar também sobre aprendizagem. Na continuidade de suas leituras do livro desta disciplina, essa relação ficará mais evidente. Por enquanto, vale recordar que aprendizagem é um complexo processo que envolve a construção do conhecimento (NATEL; TARCIA; SIGULEM, 2013).

Destarte, para aprender desenvolvemos e acionamos o sistema cognitivo

que está vinculado com o pensamento, a inteligência, a percepção, a memória. Para acontecer a aprendizagem, precisamos obrigatoriamente de mediação – que alguém ou algo nos leve a pensar, refletir. Então, aprender é um processo cooperativo, coletivo. Mesmo quando achamos que aprendemos algo sozinhos, se analisarmos bem a situação, veremos que algum escrito, ou diálogo, ou modelo, ou no mínimo alguma situação instigadora fez parte do processo.

Provavelmente, você já tenha se perguntando se a aprendizagem nasce conosco ou não. Nas próximas unidades voltaremos a refletir sobre isso. Por enquanto é suficiente que você esteja se perguntando se a aprendizagem é inata ou construída, se é um processo tão somente coletivo ou também individual, afinal, suposições, dúvidas e curiosidade fazem parte do aprender.

Será que a sede e a fome são inatas? Será que a procura por bebida e comida é provocada por "instintos"? Será que a alimentação está mesmo relacionada com aprendizagens estimuladas no convívio com outros seres? Por que a escritora desse livro trouxe um exemplo tão primitivo – relacionado à fome?

ATENCAO

Estamos refletindo sobre aprendizagem e alimentação, porque isso faz parte da vida humana, desde os primórdios da humanidade. Ainda que os primeiros seres humanos precisassem aprender coisas que hoje caíram em desuso para nós, por conta da evolução da sociedade, e que nós estejamos aprendendo coisas que nem sequer passavam pela imaginação dos primeiros seres humanos, a alimentação corresponde a uma aprendizagem que vem se perpetuando, já que continua ligada à sobrevivência das pessoas e da espécie.

A título de exemplo do que está sendo apresentado até aqui, é conveniente citar mais uma produção cinematográfica. Trata-se do filme intitulado “Os Croods”, lançado em 2013 e dirigido por Chris Sanders e Kirk De Micco. Conta a história de uma família que vive na fase pré-histórica e precisa aprender usar estratégias para sobreviver, tais como, se proteger dos animais predadores, caçar

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para se alimentar etc. Nas primeiras cenas do filme, encontra-se uma narração feita pela personagem chamada Eep, na qual ela expressa reflexões sobre o funcionamento de sua família, e de outras famílias que ela conheceu.

Sugerimos a apreciação do filme para que você possa ter mais elementos para realizar suas ponderações e reflexões sobre o que temos apresentado até aqui.

CAPA DO FILME “OS CROODS”.

DICAS

É evidente que por se tratar de uma produção cujo gênero é mescla animação, aventura e comédia, não se pode levar o filme como uma referência acadêmica tradicional para estudar fenômenos como a aprendizagem. Contudo, esse tipo de filmes podem ser úteis como um exercício de pensamento e correspondência com o conteúdo aqui estudado, no intuito de ajudá-lo a imaginar e a fazer suposições sobre os primeiros processos reflexivos que os grupos humanos foram desenvolvendo acerca de si próprios. Como mostra o filme "Os Croods", lá no começo da história da humanidade, os fenômenos sociais eram explicados por meio da imaginação, da fantasia, da especulação e por meio de mitos.

FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-146916/>. Acesso em: 23 out. 2019.

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Deixamos como sugestão de leitura o livro “Sapiens: uma breve história da humanidade”, escrito por Yuval Noah Harari, considerado referência essencial para esta discussão. Em 2017 já existiam mais de vinte e duas edições desse livro aqui no Brasil.

DICAS

Vale lembrar que, ainda hoje, existem tribos e outros grupos que vivem em situações similares a estas. Ou seja, que permanecem sem a utilização da escrita, e com explicações sobre a natureza e sobre a vida, baseadas em mitos, lendas, ou de fontes imaginativas. Muitos grupos humanos, com ou sem o vasto emprego da escrita, permanecem cultivando e difundindo crenças, que podem ser diferentes das nossas. E mesmo para nós, tanto para aprender, quanto para compreendermos fenômenos sociais, são bem-vindos os mitos, a imaginação, a fantasia, e as metáforas em acréscimo às teorias ditas científicas.

Diversas sociedades, como as mesopotâmicas, a egípcia, a indiana, a chinesa, a hebraica, a fenícia, a persa e, depois, a grega, a romana, a germânica etc, estruturaram suas crenças, seja em um conjunto de mitos que influenciavam diretamente a vida cotidiana, seja em religiões, estas igualmente influentes na prática diária. Também surgiram filosofias de vida, como o humanismo, o estoicismo, o materialismo histórico etc. Entre as religiões, atualmente se destacam, além do hinduísmo, as três religiões abraâmicas/monoteístas: judaísmo, cristianismo e islamismo. Consequentemente, podemos refletir, assim, como cada sociedade e/ou tempo histórico há crenças arraigadas e como estas crenças ajudam na constituição e construção dos sujeitos de formas diversas. E mais do que isso: as crenças atingem a forma pela qual as pessoas interpretam e lidam com os fenômenos que percebem. Como exemplo, na sequência, você perceberá como as explicações e "tentativas de intervenção" para as dificuldades de aprendizagem, se davam mescladas aos mitos ou crenças em uma parte da história da humanidade.

IMPORTANTE

Na medida em que os seres humanos foram se desenvolvendo como um todo, inclusive no que tange as suas habilidades cognitivas, foram criando artefatos, objetos, novas formas de levar a vida. Deixaram o nomadismo para viver em moradias relativamente fixas. Quanto mais coisas eles foram inventando, mais coisas precisavam aprender, tanto para utilizá-las, quanto para melhorá-

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las. Assim, quanto mais informações as pessoas foram precisando apropriar, passaram a contar com novos e diversificados provedores dessas informações. O processo de aprendizagem foi se tornando mais complexo.

O domínio de novas técnicas alterou a forma dos seres humanos construírem suas moradias, de cultivar a terra, plantar, colher, de buscar formas mais confortáveis ou duráveis de vestimenta. Em determinado momento passaram a estocar alimentos, em vez de se preocuparem com o alimento diário ou de consumo em curto tempo. Descobriram que não era todo o solo que produzia igualmente os mesmos cereais (arroz, trigo e cevada) vegetais, tubérculos etc. Ou que não eram todos os grupos que detinham as mesmas habilidades de agricultura. Assim, passaram a trocar alimentos e outras mercadorias.

A “descoberta” da agricultura foi essencial para o início de uma forma de vida sedentária, do aumento populacional, de novas formas de organização social/de governo.

EXEMPLO ILUSTRATIVO DE AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA

FONTE: <https://alimentacaoemfoco.org.br/agricultura-familiar-e-essencial-para-seguranca-alimentar/>. Acesso em: 24 out. 2019.

NOTA

Essa fase pode caracterizar a Antiguidade, a Idade Média, e até mesmo, o início da Idade Moderna. Afinal, os habitantes do globo terrestre não foram todos seguindo a mesma trajetória de desenvolvimento ao mesmo tempo. Mas essas condições parecem caracterizar períodos em que religião e filosofia que dominavam a condução das reflexões sobre os fenômenos sociais.

Ao longo de considerável parte da história da humanidade, existiu direta ligação entre Igreja e Estado em vários momentos. Religião e filosofia buscavam explicar a sociedade e procuravam melhorá-la por meio dos seus princípios. Alguns pensadores de destaque dessas épocas foram respectivamente: Platão, Aristóteles, São Tomás de Aquino e Santo Agostinho.

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

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Mais especificamente relacionado à religião, pode-se dizer que um marco inicial para a relação entre Igreja e Estado foi a coroação de Carlos Magno no Natal de 800 pelo papa Leão III. Inclusive, esta permanece sendo a principal data do calendário cristão. Até a Reforma de Lutero (simbolizada pela data 31 de outubro de 1517, quando as teses dele foram fixadas na porta da Igreja) e as subsequentes, em muitos países a Igreja católica era hegemônica.

Por exemplo, por volta do ano 1500, as pessoas dos países europeus costumavam ser religiosas, e até mesmo autoridades nacionais consultavam líderes da esfera religiosa/espiritual na busca da compreensão de problemas que despontavam, para obter orientações sobre a conduta (pessoal ou vinculada ao posto de liderança) e na tomada de decisões que precisavam realizar por conta do posto que ocupavam.

É interessante salientar que neste período era comum que os líderes fossem justamente pessoas da igreja.

ATENCAO

Fazendo um paralelo com os dias de hoje, a maioria das pessoas tem precisado aprender muito mais do que formas de se alimentar e de se proteger das condições climáticas. E uma parcela das pessoas da atualidade não busca mais orientações apenas em fontes atreladas à esfera religiosa/espiritual. Portanto, há uma infinidade de quantidades de informações, e infinitas fontes para se obtê-las. Mesmo alguns séculos antes do nascimento de Jesus, já dizia o sábio, "Não há limite para a produção de livros, e estudar demais deixa exausto o corpo" (ECLESIASTES 12:12).

Para compreender o grau de importância da religião e da fé entre os séculos XV e XVII, na Europa, você pode assistir ao filme Elizabeth – A era de ouro (2008), dirigido por Shekhar Kapur. O filme destaca que tanto o rei da Espanha (Felipe II), quanto a rainha da Inglaterra (Elizabeth I) demonstravam devoção a Deus, e norteavam suas ações conforme suas crenças (ele católico, e ela protestante).

DICAS

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TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

11

FILME ELIZABETH – A ERA DE OURO

Até então, as pessoas ficavam grande parte do tempo em casa, ou nas redondezas da casa, pois os processos de produção de alimentos e de outros produtos eram feitos pelas famílias, no ambiente familiar. Por muitas e muitas décadas as pessoas viveram com a agricultura de subsistência e com o trabalho dos artesãos que moravam nas comunidades. Os moradores iam trocando produtos e prestação de serviços. Além das transformações e aprendizagens em volta da alimentação, as pessoas também foram acumulando novas necessidades de saberes, de aprendizados, em outros aspectos, como, por exemplo, da esfera do trabalho e das relações estabelecidas em meio às negociações de trocas de produtos e serviços.

FIGURA 1 – EXEMPLO ILUSTRATIVO DE OFICINA DE ARTESÃOS DA IDADE MÉDIA

FONTE: <http://ri.ues.edu.sv/18652/1/TRABAJO-FINAL-30-7-2018%20ultimo1.pdf>.Acesso em 18 out. 2019.

FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-57349/fotos/detalhe/?cmediafile=19966206>. Acesso em: 13 set. 2019.

Page 20: Fundamentos da PsicoPedagogia

UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

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As formas de produzir alimentos e objetos foram sendo aperfeiçoadas, até que começaram a inventar máquinas e equipamentos para que os produtos fossem mais primorosos, ou que se levasse menos tempo para confeccioná-los. Ou seja, as formas de produção foram se intensificando para que a qualidade e a quantidade de itens produzidos aumentassem.

As mudanças na produção de objetos, parecia prometer o aumento da qualidade dos produtos. Mas, será que a qualidade aumentou? Quando os produtos eram realizados de forma mais artesanal, um sapato, por exemplo, durava quase a vida inteira! A maioria dos produtos continua sendo produzida em grande quantidade, cada vez com o uso de mais máquinas e equipamentos. E como anda a durabilidade dos produtos nos dias atuais? Ou será que hoje a durabilidade menor é interessante para o sistema econômico, e aliado a ela, ainda é estimulada a compra de mais unidades? Muitas gerações de pessoas possuíam um par de calçados para as ocasiões em que a pessoa saía do moradia. Hoje, nossos calçados parecem gastar bem mais rápido, e não precisamos que eles se danifiquem para comprar um novo par de sapatos. Por que nos ensinaram que um par de calçados não basta? Como nós aprendemos isso?

ATENCAO

Voltando à história da invenção das primeiras fábricas, vale prestar atenção em todas as adequações que elas demandaram, como, a criação de novos meios de transporte para levar a matéria-prima às fábricas, e também, para levar os produtos finalizados aos pontos de venda. Também foram se ampliando as vias, ruas, ferrovias (trilhos de trens) para que os trabalhadores se deslocassem de suas casas até as fábricas.

Pode-se dizer que a própria relação com a terra se altera. Já que até então era vista como a principal fonte de alimentos e a principal propriedade.

FIGURA 2 – EXEMPLO ILUSTRATIVO DE SISTEMA FERROVIÁRIO

FONTE: <http://www.estacoesferroviarias.com.br/efsc/fotos/riodosul-sd.jpg >. Acesso em: 19 out. 2019.

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Esse período da história em que houve uma verdadeira explosão de abertura de fábricas ficou conhecido como Revolução Industrial, e ela não acarretou apenas mudanças econômicas, mas também de ordem cultural, social, e de organização subjetiva das pessoas (NICOLACI-DA-COSTA, 2002). A Revolução Industrial desencadeou o surgimento de novas formas de sociedade, de subjetividades, de Estado e de pensamento.

Antes disso, na Idade Média, eles viviam em casa, e trabalhavam no próprio lar sendo donos dos próprios instrumentos de trabalho e dos meios de produção. Eles aprendiam o ofício desde crianças, observando os adultos trabalhando, e ajudando-os pouco a pouco, até terem idade suficiente para vrealizarem todas as atividades de trabalho. A unidade de produção, portanto, era familiar, integrada ao sistema corporativo. Geralmente, trabalhavam numa oficina, onde desenvolviam um trabalho artesanal, sem muita sofisticação no processo produtivo. Neste contexto, o que era vendido não era a força de trabalho, e sim o produto do trabalho.

Lembre-se de que na Idade Média, foram comuns as corporações de ofício. Procure imaginar como acontecia a relação entre mestre e aprendiz. Se a curiosidade crescer, que tal fazer algumas buscas sobre o tema na internet?

NOTA

Será que nessa época algumas pessoas apresentavam "dificuldades para aprender"? Possivelmente sim. No entanto, hipoteticamente, as famílias se organizavam de outros modos para lidar com tais dificuldades. Talvez, deixavam atividades mais fáceis para aqueles que demonstravam embaraços ao "tentar aprender".

É pertinente considerarmos que a quantidade de coisas para aprender, era, supostamente menor do que nos dias atuais. Os professores eram os próprios pais ou outros familiares – que conheciam muito bem cada aprendiz. Esses professores tinham poucos aprendizes de cada vez, e este já era familiarizado com o produto que produziam e com o processo de manufatura, pois passou a vida toda vendo a família mexendo com isso. Todos esses fatores formam circunstâncias menos propensa ao aparecimento de "dificuldades de aprendizagem". Na verdade, soa estranho falar de dificuldade de aprendizagem em períodos tão remotos da história da humanidade. É bem provável que sempre existiram pessoas que pareciam não alcançar certos entendimentos. Contudo, tudo indica que a noção de "dificuldade de aprendizagem" foi sendo erigida na Idade Moderna, após a invenção da escola.

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Prezado acadêmico, a expressão "invenção da escola" lhe causa algum estranhamento? Nesse texto, optamos por utilizar esse verbo – inventar – no que tange às primeiras escolas, pois defendemos que as escolas não nasceram, nem surgiram por si sós. Houve um processo intencional por parte dos seres humanos para que essas instituições começassem a ser construídas. Existem mais estudiosos que têm adotado essa terminologia, tais como, Fusinato e Kraemer (2013, p. 21023): "Desde a invenção da escola, a noção de sujeito que transita por ela é a de sujeito universal". O mesmo argumento se dá pela preferência do uso das palavras "formulação" e "criação" da psicopedagogia. Pensamos que essas palavras passem uma impressão de que a escola, ou a psicopedagogia tivessem nascido, desabrochado, como se fossem processos naturalizados.

ATENCAO

Ou seja, na Idade Média, ou nos períodos que a antecederam, não se falava amplamente sobre dificuldades de aprendizagem. Isso não significa que todos aprendiam. Por exemplo, aqueles que apresentavam muita dificuldade para aprender e para interagir com as pessoas, ficavam isolados da vida social, muitas vezes, vivendo num quartinho no fundo da casa, tendo acesso ao mínimo de condições para sobreviver (alimentação e higiene). Por exemplo, as pessoas que apresentavam quadros sintomatológicos semelhantes à deficiência intelectual, estavam entre a parcela da população que era privada do convívio social. Ocorre que as pessoas viviam em agrupamentos menores, e cada família ou comunidade lidava de um jeito com as crianças ou adultos que pareciam ter impedimentos no processo de construção do conhecimento.

Com a Revolução Industrial ocorreu o desenvolvimento fabril que culminou com a passagem da oficina artesanal para a manufatura, e posteriormente para a fábrica. Chegou um momento da História em que boa parte dos homens da Europa estava trabalhando nas fábricas. Eles se depararam com maquinários e artefatos que nunca tinham visto, e com várias especificidades do trabalho que desconheciam até ali. Esses equipamentos do ambiente de trabalho e a própria dinâmica da atividade profissional começou a demandar que os homens aprendessem coisas que eram totalmente novas para eles.

Os três sistemas de produção são: artesanato, manufatura e maquinofatura. A Primeira Revolução Industrial iniciou-se com base na manufatura.

ATENCAO

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FIGURA 3 – EXEMPLO ILUSTRATIVO DE FÁBRICA DA FASE DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

FONTE: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/cadernospde/pdebusca/producoes_pde/2013/2013_fafipa_hist_pdp_marinalva_aparecida_consoli.pdf>. Acesso em: 14 out. 2019.

Precisavam aprender como manusear as máquinas e ferramentas de trabalho, como lidar com a matéria-prima e como produzir objetos. Muitos desses objetos que eles faziam, eles também nunca tinham visto. Precisavam aprender, também, a se relacionar com um número bem maior de colegas de trabalho, e com as lideranças nas esferas profissionais. Já não podiam mais acordar e trabalhar quando bem quisessem, pois agora havia horários a cumprir.

A maneira de se relacionar com o tempo se altera. Isso reflete, por exemplo, na forma utilizada para se anunciar a passagem do tempo. Na fase da Revolução Industrial, os relógios de bolso eram raramente utilizados, pois não eram acessíveis a toda população. Os relógios de pulso estavam longe de serem inventados ainda, e os de bolso só tinham como donos pessoas de posses. Até a Revolução Industrial as pessoas costumavam se orientar no tempo com o badalar dos sinos da igreja. A partir de então, o principal marcador de tempo passou a ser as sirenes das fábricas.

IMPORTANTE

Antes de seguirmos nesse percurso histórico, vamos voltar no tempo, para entender como a Revolução Industrial foi se estabelecendo? Note que este texto não está preocupado em apresentar o desenrolar dos fatos em ordem cronológica. Optamos por quebrar a sequência temporal justamente para intensificar os contrastes dos períodos históricos, e para acentuar que o legado deixado pelos períodos antecedentes influenciou as transformações dos períodos que vieram depois deles.

De mais a mais, certamente com essa leitura você está reprisando conteúdos que acessou ao longo da sua vida, sobretudo na trajetória escolar. Talvez eles estejam mais condensados do que você estava acostumado a visualizar na escola. De qualquer modo, lembre-se de que o objetivo de traçar esse percurso histórico é dar subsídios para compreender os bastidores da formulação da

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psicopedagogia, bem como, seus fundamentos históricos. Para aqueles que estão sentindo necessidade de um auxílio para se situar no diferentes períodos, em termos cronológicos, segue um auxílio visual:

FIGURA 4 – SEQUÊNCIA DOS PERÍODOS E MOVIMENTOS HISTÓRICOS

FONTE: A autora

Na Renascença, as reflexões sobre a sociedade e os fenômenos sociais, começavam a se distanciar da perspectiva mítica e religiosa, para passar a se configurar de modo mais racional. Alguns dos pensadores de destaque do Renascimento são: Nicolau Maquiavel, Tomás Morus, Tomaso Campanella e Francis Bacon. O quadro a seguir aponta atributos do Renascimento:

Classicismo (Grécia e Roma)Humanismo

IndividualismoHedonismo

RacionalismoCientificismo

QUADRO 1 – CARACTERÍSTICAS DO RENASCIMENTO

FONTE: A autora

O Renascimento foi um movimento que marcou a transição da Idade Média para a Idade Moderna, da transição do feudalismo para o capitalismo. Trata-se de um movimento intelectual e artístico que gerou mudanças várias mudanças na Europa.

Antiguidade Idade Média Renascimento RevoluçãoFransesa

RevoluçãoIndustríal

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O século XVII foi o palco do Renascimento, um dos maiores movimentos culturais da história da humanidade, que representou uma época de enriquecimento do pensamento, aliado a uma transformação profunda da atitude espiritual do homem. A ânsia da descoberta e a paixão pelo mundo clássico puseram à disposição do homem culto as doutrinas dos filósofos gregos e orientais (VELLOSO, 2008, p. 1960).

Uma transição cultural que teve a influência na política, na economia e na sociedade (SELL, 2001). O quadro a seguir sintetiza alguns dos intuitos do Renascimento:

QUADRO 2 – LEGADO DO RENASCIMENTO

HumanismoAcabar com a descentralização política

Cessar a economia de subsistênciaEncerrar o teocentrismo

Contribuir para a substituição do feudalismo pelo capitalismoCentralização política

Absolutismo monárquico Expansão do comércio

MercantilismoAntropocentrismo

Individualismo

FONTE: A autora

Atrelada à Renascença (entre o Século XIV e o Século XVI) emergiu a Revolução Científica (iniciou no Século XVI e prolongou-se até o Século XVIII). A Revolução Científica diz respeito ao período em que a ciência se distancia da religião, dos sistemas de crenças e da fé para construção de um conhecimento pautado em critérios da racionalidade.

Alguns dos representantes da Revolução Científica são: Leonardo da Vinci (1452-1519), Nicolau Copérnico (1473-1543), Galileu Galilei (1564-1642), Johannes Kepler (1571-1630), René Descartes (1596-1650), Francis Bacon (1561-1626), Isaac Newton (1643-1727) e Andreas Vesalius (1514-1564). Dessa lista, vale mencionar que o filósofo Bacon é considerado o pai do Método Científico – que seria uma nova forma de examinar a natureza. Esse método está presente em boa parte das pesquisas da psicopedagogia até nos dias atuais.

Desta lista ainda há mais um representante que requer uma apresentação, até porque seu nome não é muito conhecido, se comparado aos outros sobre os quais são mais frequentemente citados nas salas de aula desde o ensino fundamental. Trata-se do médico, neuroanatomista e inovador renascentista – Andreas Vesalius. Considerando que a psicopedagogia da atualidade continua se balizando em estudos vinculados à anatomia, é interessante você ficar sabendo que:

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Andreas Vesalius (1514-1564) é considerado o Pai da Anatomia Moderna e um autêntico representante da Renascença. Seus estudos, baseados na dissecação de corpos humanos, diferiam dos de Galeno, que baseava seu trabalho em dissecação de animais, constituiu-se em um notável avanço científico. Reunindo ciência e arte, Vesalius associou-se a artistas da Renascença e valorizou as imagens do corpo humano em seu soberbo trabalho De Humani Corporis Fabrica. [...] esse extraordinário médico e anatomista da Renascença europeia, que fez uso do apelo estético para coligar texto e ilustração, ciência e arte. Suas realizações são realçadas, com atenção especial na neuroanatomia (GOMES, 2015, p. 155).

No próximo tópico, você terá acesso a mais informações sobre os fundamentos da psicopedagogia, mais voltados à área da saúde, como a Medicina.

ESTUDOS FUTUROS

Estamos atentando para a Revolução Científica, porque ela dá alguns fundamentos à psicopedagogia. Por exemplo, a visão de homem, isto é, o modo pelo qual a psicopedagogia concebe o ser humano. A psicopedagogia possui uma compreensão racional do ser humano.

Como você pode supor, a Revolução Científica também ajudou a fertilizar o campo social e político para outras revoluções, entre as quais, a Revolução Francesa. Essa revolução, consiste em um movimento histórico imprescindível para a formação das ciências humanas (sendo a psicopedagogia uma delas) foi a Revolução Francesa, que aconteceu entre 1789 e 1799. Trata-se da revolta que contou com a participação de camponeses, artesãos e burgueses que estavam descontentes com as condições de vida, com a crise econômica e com as desigualdades sociais.

Um dos motivos que gerou a insatisfação do povo, foi a cobrança de vários impostos: para o governo sustentar o regime absolutista monárquico e os luxos exuberantes da corte do rei Luís XVI, os privilégios do clero da Igreja Católica, para os nobres, e imposto sobre o sal (essa última taxa se chamava de gabela). Além desses impostos, havia outros. Existiam taxas pagas em trabalho, como a Corveia relacionada à conservação das estradas e ao conserto de carruagens dos nobres. Apenas o povo pagava impostos e ocorriam aumentos sucessivos.

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Você já ouviu algumas dessas palavras: banal, banido ou banalidade? Sabe qual era o significado delas durante o feudalismo? Essas palavras estavam associadas a um encargo que o servo precisava pagar ao senhor feudal para ter o direito de utilizar os equipamentos (como o moinho, por exemplo), que pertenciam ao senhor feudal, para assim, poderem desempenhar suas atividades atinentes ao trabalho.

NOTA

Nas vésperas da Revolução Francesa, a França era um país agrário, que apresentava aumento populacional e assistia ao início da industrialização. A França vivia no regime monárquico absolutista. O rei da França estava se mostrando um péssimo administrador da economia do país. Ele monopolizava a administração, controlava os tribunais, e a dívida externa excedia o dobro do valor circulante. O rei ainda esbanjava luxo e tinha o poder de condenar quem bem quisesse à prisão sem julgamento. Bastava que ele ordenasse e os presos iam para a fortaleza da Bastilha, sem a menor necessidade de que fosse averiguado se a pessoa realmente cometeu um ato ilegal ou não.

A população se sentia oprimida com tantos tributos e tarifas, o poder aquisitivo era baixíssimo. Havia fome, condições precárias de higiene, e recorrentes infestações de ratos. Muitos adoeciam e apresentavam corpos magros, porque os alimentos tinham preços inacessíveis.

Enquanto isso, a realeza francesa ostentava inúmeras festas pomposas, nas quais as madames usavam vestidos caríssimos. Isso deixaria a população ainda mais inconformada e irritada.

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Você já percebeu que boa parte dos integrantes das famílias reais desse período exibia corpos hoje considerados obesos? Naquele tempo estar "acima do peso" era algo que conferia status. Afinal, a maioria era magra por não ter condições de comprar comida. Então, aqueles que tinham poder aquisitivo para comer, gostavam de ter uma aparência mais avantajada, para sinalizar que eram ricos. Na atualidade, algo que confere status na sociedade, por exemplo, é possuir carros e/ou roupas e/ou equipamentos de grife. Algumas pessoas fazem isso para passarem a impressão de que têm poder aquisitivo considerável.

INTERESSANTE

REI LUÍS XVI

FONTE: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-biografia-luis-xvi-revolucao-francesa.phtml>. Acesso em: 12 set. 2019.

A burguesia estava se fortalecendo e tomou conhecimento da situação econômica delicada do país. Assim, procurou conscientizar a massa da população. Os filósofos iluministas foram os responsáveis por denunciar a gravidade da situação econômica do país para o povo. O padre Jean Meslier, Rousseau, Montesquieu e Voltaire foram destacáveis iluministas.

O rei Luís XVI manteve seu poder sobre a França no início da revolução francesa, até ser deposto em 1792. Foi guilhotinado no ano seguinte.

Frequentemente as pessoas dizem que o povo não tem poder nenhum. A Revolução Francesa é um exemplo de que o povo não era insignificante. Além do mais, a Revolução Francesa também mostra os efeitos da atuação dos filósofos iluministas. Nas aulas de filosofia, às vezes, os jovens pensam que os filósofos não têm uma funcionalidade, porque "só filosofam" e não fazem nada de prático. A Revolução Francesa é um exemplo de que o produto da reflexão dos filósofos também é útil. Afinal, a união entre os atos dos filósofos e do povo foi determinante para acabar com o sistema de governo absolutista monárquico – no qual o rei detinha praticamente todo o poder.

INTERESSANTE

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Assim, o lema da Revolução se tornou "liberdade, igualdade e fraternidade". O lema, de inspiração iluminista, também fundamentou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (aprovada em 26 de agosto de 1789), que defendia o direito à liberdade, à igualdade perante a lei, à inviolabilidade da propriedade e o direito de resistir à opressão.

QUADRO 3 – LEGADO DA REVOLUÇÃO FRANCESA

Abalou o absolutismo monárquico em toda a Europa.Superação das instituições feudais do antigo regime.

Tomada do poder pela burguesia.Muitas pessoas são executadas na guilhotina, entre elas o rei.

Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.Preparação para o despontar do capitalismo industrial.

FONTE: A autora

Seguem algumas sugestões de leitura sobre Revolução Francesa, para você aprofundar seus conhecimentos sobre essa época revolucionária da História:

• ARRUDA, José Jobson de; PILETTI, Nelson. Toda a história: história geral e história do Brasil. 7. ed. São Paulo: Ática, 1997.

• GRESPAN, Jorge. Revolução francesa e iluminismo. São Paulo: Contexto, 2003. • HILLS, Ken. A Revolução Francesa. Tradução e adaptação Jayme Brener. 4.ed. São Paulo:

Ática, 1994. • MANFRED, A. Z. A concepção materialista da Revolução Francesa. Tradução: Maria

Luisa Borges. 2. ed. São Paulo: Global, 1989. • VOVELLE, Michel. A Revolução Francesa explicada à minha neta. Tradução de Fernando

Santos. São Paulo: UNESP, 2007.

DICAS

A Revolução Francesa gerou as conjecturas necessárias para que o capitalismo industrial eclodisse. Com a Revolução Industrial, as forças produtivas (indústria) provocam uma gigantesca transformação nas relações de produção. Despontam, assim, novas classes sociais: a burguesia e o proletariado. É bem verdade que inúmeras novas indústrias surgiram nessa fase, mas também, aconteceu a aplicação de novos métodos a velhas indústrias, além da descoberta e aplicação de novas técnicas.

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Se você prefere produções cinematográficas para incrementar seu processo de aprendizagem, seguem algumas sugestões para ampliar sua compreensão sobre a Revolução Francesa:

DICAS

SUGESTÕES DE FILMES SOBRE REVOLUÇÃO FRANCESA

Título do Filme Ano Gênero Duração Direção

Maria Antonieta 1938 Drama/Obra de Época

2 horas e 40 min

W. S. Van Dyke, Julien

DuvivierA Queda da Bastilha

A Tale of Two Cities 1980 Drama 202 min Jim Goddard

Danton – O Processo da Revolução 1983 Drama/Ficção his-

tórica

2 horas e 16 min Andrzej Wajda

La Revolution Française 1989 Drama/Thriller 6 horasRobert Enri-

co, Richard T. Heffron

Caindo no Ridículo – Ri-dicule 1996 Drama/Romance 1 hora e 43

min Patrice Leconte

Maria Antonieta 2006 Drama/Romance 2 horas e 7 min Sofia Coppola

Adeus, Minha Rainha 2012 Drama/Romance 1 hora e 40 min Benoît Jacquot

A Revolução em Paris 2019 Drama, Histórico 2 horas e 2 min Pierre Schoeller

FONTE: A autora

Como você pôde observar, a Revolução Francesa teve significativo derramamento de sangue, e muitas pessoas foram degoladas, já que a guilhotina foi bastante utilizada na época. Talvez essa época tenha servido de inspiração para o escritor Lewis Carroll, que viveu entre 1832-1898 em sua obra "Alice no País das Maravilhas" utilizar repetidas vezes a expressão "Cortem as cabeças!", na voz da personagem Rainha Vermelha.

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A Revolução Industrial, por sua vez, não teve guerras, batalhas, nem muito derramamento de sangue. A Revolução Industrial ficou conhecida como um fenômeno essencialmente comercial. Ela foi antecedida e acompanhada pela expansão do comércio de do crédito. A elevada expectativa de lucro ofereceu forte incentivo à Revolução Industrial.

A expressão Revolução Industrial é usualmente empregada para assinalar mudanças sociais e econômicas que marcam a transição de um modo de vida centrado em atividades estáveis na agricultura e no comércio, para um outro centrado na velocidade das descobertas mecânicas e no emprego de máquinas complexas em amplas instalações fabris, submetendo o campo à cidade. Esse período está compreendido entre as metades dos Séculos XVIII e XIX (SOUZA; OLIVEIRA, 2006, p. 64).

Assim, a Revolução Industrial é resultado de um lento processo. Trata-se de uma revolução que levou cerca de um século. A crise do sistema feudal favoreceu a consolidação do modo de produção capitalista. Isso levou à instauração de um sistema econômico-social, com sua forma peculiar de Estado e ideologia específica. A redistribuição da riqueza e do poder sucedeu inicialmente entre os países da Europa, como prova o declínio relativo da hegemonia da França, e depois entre outros países do mundo.

O deslocamento da manufatura para as fábricas, gerados pela Revolução Industrial não foi uniforme em todas as regiões, na mesma época. Também não atingiu todos os setores de uma só vez.

A Revolução Industrial não foi acompanhada de guerras, profundos conflitos ou tensões sociais sanguinolentas. Porém ela é considerada uma revolução, em virtude de equivaler a uma transformação de pensamentos, ideias e paradigmas. E também modificou radicalmente a estrutura social em que a maior parte da população, até então rural, foi pressionada a migrar para as cidades para garantir condições mínimas de subsistência e, com isto, inúmeros ‘problemas urbanos’, como o crescimento da violência, por exemplo. Ademais, com esta mudança também se modificam as formas de obter comida, conviver em sociedade e são requeridos outros tipos de aquisição de aprendizagem. Afinal, a ideia de um comércio mais ou menos determinado, dirigido pelo Estado foi sendo paulatinamente substituída pela ideia do progresso ilimitado numa economia livre e expansionista. O comércio com o estrangeiro ampliou os horizontes humanos e a ciência a sua concepção do universo. A riqueza das nações inspirou novas atitudes.

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FIGURA 5 – A REVOLUÇÃO NÃO SANGRENTA

FONTE: A autora

Porém, não é por conta da ausência de sangue sendo derramado em quantidade expressiva que essa Revolução foi isenta de tensões sociais. Vale lembrar que é justamente na Revolução Industrial que surgem duas classes sociais que se opõem, a burguesia e o proletariado.

Para saber mais sobre a Revolução Industrial, sugere-se assistir à produção cinematográfica "Tempos Modernos", de Charlie Chaplin – 1936 – EUA.

DICAS

Transformações econômicas

TransformaçõesSociais

Tranformações nostransportes

Transformaçõestecnológicas

Ocorreramconcomitantemente

inter-relacionando-se

ganhando, assim,aspecto

revolucionario

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CARLITOS EM TEMPOS MODERNOS

FONTE: <https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/e-preciso-transformar-os-carlitos/>. Acesso em: 24 out. 2019.

O filme mostra como era a rotina dos operários nas indústrias, o que era algo totalmente novo à realidade deles.  

QUADRO 4 – CARACTERÍSTICAS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

Urbanização rápida e intensa.Progresso das regiões industriais em relação às rurais.

Incremento do comércio interno e internacional.Aperfeiçoamento de meios de transporte.

Crescimento demográfico.

FONTE: A autora

Ao observar o quadro, é notório que a Revolução Industrial não mudou apenas a economia. De fato, mais produtos foram produzidos. Uma quantidade muito maior de produtos passou subitamente a circular entre os consumidores. Isso fez com que surgissem novas formas de trabalho, e o deslocamento da população para a área mais citadina, isto é, para as regiões que já tinham perdido boa parte das características da paisagem rural e do modo de vida que a envolvia.

Entretanto, essa urbanização rápida e intensa deu lugar a uma infinidade de problemas até então desconhecidos, por exemplo, o contágio de doenças por quantidades representativas da população. Até então, as pessoas moravam a certa distância entre cada moradia, e os contatos com outras pessoas eram restritos. Com a urbanização e o êxodo rural, as pessoas vivem em agrupamentos com maior proximidade, o que favoreceu a transmissão de doenças. Até porque não havia saneamento básico, o acesso aos medicamentos era restrito, bem como à água potável.

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De mais a mais, já não havia terra disponível para que todas as famílias vivessem da agricultura de subsistência. Os alimentos começaram a ser comprados em vez de serem preparados nas próprias casas (com ingredientes que vinham da própria plantação, como acontecia antes do êxodo rural). A crise econômica gerou dificuldades de adquirir alimentos, e os famintos se multiplicavam.

Além do mais, muitas mulheres começaram a trabalhar nas fábricas, pois, a industrialização se estendeu praticamente por todo o mundo ocidental. Então a sociedade se viu com inúmeras novas necessidades. Como ensinar as pessoas a se transformarem em operários? Como elas podem aprender a usar os equipamentos de trabalho? Como elas podem aprender a diminuir os desperdícios no processo de produção? Como elas podem ficar mais disciplinadas e colaborativas com as ordens dos líderes? E se tantos adultos passam a maior parte do tempo nas fábricas, quem cuidará das crianças? Onde as crianças ficarão enquanto os pais trabalham?

Essas perguntas começaram a emergir por volta do Século XIX, na Europa. Mas, com o passar do tempo a revolução espalhou-se para o centro-oeste da Europa e também para os Estados Unidos.

Em meio à Revolução Francesa e à Revolução Industrial, iniciam as

reflexões de teor científico e a partir daí elas aumentaram progressivamente. Alguns pensadores que se destacaram no âmbito inicial da ciência foram Giambattista Vico, Jean-Jacques Rousseau, Augusto Comte, Herbert Spencer, Gabriel Tarde, Émile Durkheim, Max Weber, Karl Marx, entre outros.

As premissas da ciência se pautavam na ideia de que a sociedade se sujeita a leis definidas, que podem ser identificadas pela observação objetiva. Paulatinamente, a investigação dos fenômenos sociais ganhou um caráter verdadeiramente científico.

O capitalismo industrial estava se consolidando, o sistema feudal já tinha praticamente desaparecido. Com o desenvolvimento do capitalismo comercial, e início do capitalismo industrial multiplicaram-se os tratados de economia, que abordavam os problemas sociais. Os filósofos escreveram obras que exerceram influência em vários âmbitos. Entre eles, destacam-se:

O Príncipe (Maquiavel), Leviatã (Hobbes) e Ensaios sobre o entendimento humano (Locke). Concomitantemente ao desenvolvimento das ciências, a escola parecia ser uma invenção que resolveria várias necessidades:

• A razão se tornava indispensável, portanto, era pertinente existir um lugar para disseminá-la.

• As crianças teriam um lugar para ficar, deixando os adultos disponíveis para o trabalho nas indústrias.

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• As crianças poderiam ser preparadas para se tornarem adultos trabalhadores, que cooperavam com os patrões, com os colegas de trabalho, e que produziam com boa qualidade e em grandes quantidades.

• Já que a igualdade era um valor propagado pelos ideais iluministas, a escola não deveria receber apenas algumas crianças (as mais ricas, por exemplo).

É necessário recordar que as crianças foram muito utilizadas nas revoluções industriais, principalmente pelos baixos salários a elas destinados e pelo tamanho adequado aos estreitos túneis usados na extração de carvão mineral. Por ser pioneira na industrialização, estes exemplos correspondem mais fielmente à Inglaterra.

NOTA

Contudo, apesar da nova concepção de homem (que pouco a pouco passou a ser denominado de ser humano no contexto acadêmico) e de mundo que passou a vigorar no Século XIX, na Europa, as desigualdades sociais só pareciam aumentar. Essa realidade semeava muitas dúvidas nas pessoas. Portanto, foram necessários avanços nas ciências, elaboração de novas teorias que fossem capazes de esclarecer as causas das desigualdades. É preciso esclarecer que nesta época o ensino e a aprendizagem estavam mais voltados para a razão do que para crenças religiosas.

Então, vários campos do saber passam a ser desenvolvidos com ainda mais vigor. Entre eles, a sociologia. Essa palavra foi cunhada por Augusto Comte, que viveu entre 1798 e 1857. Émile Durkheim (1858 –1917) foi o responsável por dar à sociologia o status de ciência e também se debruça sobre temáticas da escola e da educação. A economia, a política e a antropologia estavam em franco desenvolvimento no Século XIX.

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FIGURA 6 – ÉMILE DURKHEIM

FONTE: <http://www.culturabrasil.org/durkheim.htm>. Acesso em: 20 out. 2019.

Todas elas procuram contribuir para um melhor entendimento da sociedade que ia se constituindo naquela fase. Procuravam compreender os fatos e processos sociais que rodeavam as pessoas. As ciências sociais precisaram ser subdivididas para facilitar a sistematização dos estudos. Todavia, muitas vezes elas se aliavam a fim de explicar os complexos fenômenos da vida em sociedade.

Por exemplo, o desenvolvimento industrial acelerado, propulsionou o aumento da produção industrial, e consequentemente, da opressão ao trabalhador. Marx, Weber e Durkheim se debruçaram sobre a realidade social dessa fase histórica, com vistas a analisá-la e compreendê-la. Marx focalizou a opressão do trabalhador, ao passo que Durkheim se aprofundou sobre a necessidade da socialização para a ordem social.

A teoria de Darwin foi uma das novas teorias científicas que emergiram naquela época. Ela veio a dar inspiração para a formulação de uma outra teoria. Trata-se do Evolucionismo Social, que partia do pressuposto, que assim como as espécies de animais, as sociedades também passavam por estágios evolutivos. Assim, as sociedades ágrafas e que desconheciam produtos industrializados, eram consideradas retrógradas, ao passo que, quanto mais industrializada fosse uma sociedade, mais evoluída ela seria considerada.

É importante destacar, que a teoria do Evolucionismo Social vem sendo intensamente criticada nas últimas décadas. Entre os argumentos que a contestam está a utilização do homem ocidental, civilizado e letrado como o ponto ápice da "evolução".

Já a teoria de Darwin não dá indicativos de qual é o ponto mais alto do "pódio" ao longo do processo evolutivo. Isto é, não é teleológica.

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TÓPICO 1 | PERCURSO HISTÓRICO PREGRESSO DA FORMULAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

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As premissas do darwinismo social foram usadas como justificativa para os genocídios realizados no Século XX, que tirou a vida de inúmeros índios, negros e até mesmo dos brancos que não eram considerados tão evoluídos quanto o ponto de referência da época – o homem europeu.

Por outro lado, é válido lembrar que o darwinismo social não foi utilizado

tão somente no século XX. Essa teoria não ficou apenas no passado. Por isso, Bolsanello (1996, p. 164) fez um estudo sobre a repercussão dessa teoria, e de outras sobre a sociedade e mais especificamente sobre a educação brasileira. O estudo realizado por ela teve

[...] por objetivo evidenciar a influência do darwinismo social, da eugenia e do racismo "científico" nas principais ideias de alguns intelectuais brasileiros, que no final do século XIX e meados do século XX foram responsáveis pela introdução da justificativa científica do preconceito racial e social no Brasil.

Atualmente a maioria parte dos sociólogos, filósofos, antropólogos e psicólogos concorda que o desenvolvimento das culturas e sociedades não possui um padrão de percurso, não apresenta estágios de desenvolvimento padronizados. Em outras palavras, os modos de constituição do homem e da sociedade são construídos de formas diferentes dependendo da organização local.

Não há um ponto de referência como máxima evolução. Até porque as coisas que os diferentes grupos humanos valorizam, priorizam, e rechaçam variam conforme os fatores sociais, históricos, culturais, que os perpassam.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre tal temática, sugere-se a leitura do seguinte livro: COSTA, Maria C. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo: Moderna. 1987. Capítulo 4 – Positivismo: uma primeira forma de pensamento social.

DICAS

Por conseguinte, a partir da metade do Século XX, com o fortalecimento do capitalismo, que se tornou também mais complexo, a Sociologia ganha nova importância, deparando-se com questões com que até então não havia se preocupado:

• Ruptura de normas sociais.• Desagregação familiar.• Cidadania.• Minorias.• Violência.• Crimes.• Suicídios.

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

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Você sabia que o suicídio foi um dos fenômenos que chamou a atenção de Durkheim? Ele foi um dos primeiros estudiosos a investigar amplamente esse fenômeno. Inclusive, em 1897 ele publicou pela primeira vez o livro "O suicídio", considerado até hoje um dos alicerces do campo da sociologia.

Em síntese, o mundo mudou muito depois da Revolução Francesa, e das Revoluções Industriais, passando a fazer cada vez mais uso de explicações lógicas, racionais e científicas, advindas da Revolução Científica.

Nesta unidade estão sendo pouco a pouco apresentados os elementos que foram constituindo as necessidades da criação de uma teoria e prática como a psicopedagogia, além de fazer uma breve menção às teorias e acontecimentos que contribuíram para a formulação da teoria e prática da psicopedagogia.

Até finalizar a leitura do livro, você reencontrará alguns nomes de teóricos e de teorias já citadas até aqui, sendo relacionados de modo mais direto à psicopedagogia. Também terá acesso aos esclarecimentos do que é a psicopedagogia e dos seus objetos de estudos. Nossa intenção até aqui foi oferecer um panorama geral, resumido, de caráter introdutório.

Nos próximos tópicos, quando o enfoque estiver sobre a invenção das escolas, você poderá perceber que a Revolução Científica também foi determinante para a formulação da psicopedagogia por conta dos desafios que surgiram. Afinal, pouco depois da invenção e da difusão das escolas, a dificuldade de aprendizagem parecia se alastrar rapidamente, como se fosse uma epidemia. Assim, ela requeria explicações científicas e uma metodologia interventiva igualmente científica para resolver essa suposta proliferação. Prepare-se para adentrar no segundo tópico, daqui a alguns parágrafos! Lembre-se de que estaremos aqui com você durante toda a sua leitura.

IMPORTANTE

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Neste tópico, você aprendeu que:

• Ao longo da História da Humanidade, questões vinculadas à educação foram modificadas, tais como: o que se aprende, quando se aprende, quem ensina, como ensina.

• Por séculos a função de educar e ensinar crianças era de incumbência da família ou da comunidade a qual integravam.

• Na Idade Média surgiram as primeiras instituições com fins educacionais. Porém eram acessadas por uma minoria da população, pois não eram acessíveis a todos.

• Inicialmente, a finalidade do ensino era majoritariamente religiosa. Até porque muitas das instituições educacionais eram abertas e mantidas pela Igreja.

• No decurso da História, existiram pelo menos três revoluções que contribuíram para a invenção e difusão das escolas: Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica.

• A Revolução Francesa alterou a organização política da sociedade, que já não era mais determinada por conta da hereditariedade.

• A Revolução Francesa propalou os princípios de igualdade, liberdade e fraternidade.

• A Revolução Industrial deslocou a estrutura de produção que era do tipo artesanal, e parcialmente desenvolvida, para uma estrutura industrial altamente complexa e desenvolvida para a época.

• A Revolução Industrial transformou radicalmente a história mundial.

• A Revolução Científica mudou a forma de construir as explicações sobre o mundo.

• Revolução Industrial, Revolução Francesa e Revolução Científica foram fundamentais para a formulação das Ciências Humanas e Sociais.

• Os pensadores da Ciências Sociais se propõem a procurar respostas para os novos desafios que exigem uma análise científica de todos os aspectos da vida em sociedade, para entender o presente e projetar o futuro.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 (ENADE 2018) “A revolução industrial explodiu”. Essa frase do historiador Eric J. Hobsbawm, no livro A Era das Revoluções: Europa 1789-1848, demonstra que a Inglaterra, já no último quarto do século XVIII, apresentava as condições para o crescimento autossustentado. Estavam presentes características econômicas, sociais e tecnológicas, entre outras, que desencadearam o pioneirismo inglês no processo de industrialização. Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2018/ciencias_economicas.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2020.

I- As manufaturas já estavam disseminadas no interior do país, embora a região ainda estivesse em processo de consolidação do modo de produção capitalista.

II- Dado o êxito da revolução agrícola, havia uma quantidade de produtos suficiente para abastecer tanto o mercado interno quanto o mercado externo.

III- Havia dinheiro circulante em quantidade suficiente para custear os investimentos, concentrado na mão da aristocracia fundiária.

IV- O volume de capital investido na frota mercante, em facilidades portuárias e nas estradas e vias navegáveis representava um capital social já presente no país, capaz de sustentar o início do processo de industrialização.

É CORRETO apenas o que se afirma em:a) ( ) I e II.b) ( ) I e III.c) ( ) II e IV.d) ( ) I, III e IV.e) ( ) II, III e IV.

2 (ENADE, 2018) A autoridade máxima da Constituição, reconhecida pelo constitucionalismo, vem de uma força política capaz de estabelecer e manter o vigor normativo do texto. Essa magnitude que fundamenta a validez da Constituição, desde a Revolução Francesa, é conhecida com o nome de poder constituinte originário. Como o poder constituinte originário traça um novo sentido e um novo destino para a ação do poder político, ele será mais nitidamente percebido em momentos de viragem histórica. MENDES, G. F.; BRANCO, P. G. G. Curso de direito constitucional. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2018 (adaptado). A partir do excerto apresentado, avalie as afirmações a seguir.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2018/direito.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2020.

AUTOATIVIDADE

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I- O poder constituinte originário existe para ordenar e limitar juridicamente os poderes do Estado.

II- O poder constituinte originário é ilimitado, visto que o povo outorga liberdade irrestrita para que o legislador originário estabeleça uma nova Constituição, conferindo ao Estado a forma de direito que lhe aprouver.

III- Um das características da natureza jurídica do poder constituinte originário é ser ele incondicionado, não se sujeitando a formas prefixadas para operar, bem como não estando vinculado às convenções anteriores que formavam a base da ordem jurídica revogada.

É CORRETO o que se afirma em: a) ( ) I, apenas. b) ( ) II, apenas. c) ( ) I e III.d) ( ) II e III. e) ( ) I, II e III.

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TÓPICO 2

ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

No tópico anterior, você pôde acompanhar o desenrolar da história de sociedades que foram se organizando sem a presença da escola, enquanto instituição que nós conhecemos hoje.

Quanto ao tópico presente, estão dispostas diversas informações sobre períodos históricos em que as escolas passaram a fazer parte do cotidiano. A partir de então, modificam-se as formas de se relacionar com a aprendizagem, e consequentemente, com a não aprendizagem. A escola passa ser responsabilizada pela sistematização de conhecimentos e sua difusão.

Conforme já foi apontado no final do tópico anterior, nesse tópico serão retomados alguns teóricos e teorias que são relacionados com a criação da psicopedagogia. Preferimos optar pela repetição de alguns nomes, pois, decerto, agora você já tem maiores condições de ir compreendendo as relações mais diretas entre Psicopedagogia e cada uma dessas fontes de influência.

Até porque um dos sentidos da palavra "fundamentos", que inclusive inaugura o título desse livro, está vinculado à construção: alicerce, fundação, sustentáculo, firmamento, estrutura, eixo. Então, do mesmo jeito que se faz ao construir um edifício, estamos apresentando os fundamentos da psicopedagogia em camadas. Não tivemos objetivo, de citar uma teoria e esgotar tudo o que diz respeito a ela, já no começo. Mas sim, resgatar as teorias, cada vez agregando novas informações sobre elas, para que você tenha subsídios para aprofundar seus conhecimentos sobre ela.

Assim, surgem novas demandas entre as pessoas, novas dificuldades, novas dúvidas, novas curiosidades, novos interesses, além dos anteriores que foram se acumulando e que os saberes legítimos daquele tempo não respondiam a contento de boa parte das pessoas.

Por conseguinte, são formuladas a Pedagogia, a Psicologia, e outras ciências e áreas do saber. Muitas delas forneceram ou fornecem os alicerces para a formulação da Psicopedagogia.

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Ninguém, a não ser quem já a experimentou, pode imaginar a sedução da ciência. Em outros estudos, você vai tanto longe quanto os outros foram antes de você, e não há nada mais para saber; mas na investigação científica há alimento contínuo para descobertas e maravilhas (SHELLEY, 2019, p. 51, grifos nossos).

Sugerimos que antes de dar continuidade à leitura, você releia essa última citação direta e tente memorizar o sobrenome de quem a escreveu. Pense um pouco sobre ela. Qual é o seu palpite sobre o gênero discursivo do qual foi retirada? Um artigo científico? Um texto jornalístico? Um livro de terror? Um romance?

No decorrer deste tópico, esse suspense será solucionado. E essa história da formulação da psicopedagogia, você pode acompanhar conosco ao longo deste tópico, de modo resumido. Vamos lá?

FIGURA 7 – MARTINHO LUTERO

2 ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA E PSICOLOGIA

É difícil especificar precisamente quando as escolas foram inventadas. Na Idade Média já existiam instituições educacionais, mas, eram geralmente voltadas aos homens, para fins de formação do clero. Martinho Lutero foi uma das pessoas que difundiu a ideia de que as instituições educacionais não se restringissem aos homens, nem à finalidade de formar sacerdotes.

FONTE: <https://revistagalileu.globo.com/Sociedade/Historia/noticia/2017/10/teses-de-martinho-lutero-nao-foram-fixadas-em-porta-de-igreja.html>. Acesso em: 13 set. 2019.

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Em um século marcado por inúmeras indagações e mudanças, Lutero apresenta críticas em prol de uma Reforma na Igreja e também faz propostas para uma reforma da educação escolar de sua época, até então marcada pela formação exclusiva de religiosos e eclesiásticos. Ele propõe, em dois textos de sua autoria, uma educação escolar cristã que apresente uma nova organização em relação a: currículos, métodos, professores, formas de financiamento e manutenção das escolas. Também reflete sobre a utilidade dessa educação e propõe que ela: atenda a todos; seja criada e mantida pelas autoridades públicas e não mais pela Igreja; seja de frequência obrigatória, para a qual apela aos pais e às autoridades por essa tarefa. Ainda que algumas dessas características não apresentem Martinho Lutero como precursor, é inevitável o reconhecimento de que ele, aliado à figura de Filipe Melanchthon e às transformações ocorridas em seu tempo, contribuiu significativamente para a extensão do direito à Educação, marcada sobretudo em sua proposta de criação das escolas elementares, além da reorganização dos colégios secundários e da universidade, enfatizando a ação do Estado como responsável pela educação escolar (BARBOSA, 2007, p. 163).

Sentiu curiosidade de saber quais eram as concepções que Lutero tinha, acerca da educação? Então seguem duas sugestões de leitura:Barbosa, Luciane Muniz Ribeiro. As concepções educacionais de Martinho Lutero. Educ. Pesqui., Abr 2007, vol. 33, n.1, p. 163-183. Barbosa, Luciane Muniz Ribeiro. Estado e educação em Martinho Lutero: a origem do direito à educação. Cad. Pesqui., dez 2011, vol. 41, n°144, p. 866-885.

DICAS

Para Lutero e outros luteranos, era importante que as pessoas fossem alfabetizadas para que pudessem ler as escrituras sagradas, visto que esta atividade poderia possibilitar que a pessoa tivesse acesso à salvação.

Após a Reforma, Martinho Lutero incentivou a criação de instituições nas

quais as pessoas aprendessem a ler – para que pudessem ler a Bíblia individualmente. Mas, após a Revolução Industrial, as instituições para fins educativos assumem novas finalidades, e a expansão delas passa a ser ainda mais significativa.

Com as transformações sociais, as questões da aprendizagem e do ensino

na modalidade formal passaram a ser urgentes, improteláveis. Foi um processo repleto de lutas, mudanças de paradigmas, rompimento com pressupostos até então consolidadas e que por séculos permaneceram inquestionadas. Portanto, é válido destacar que tanto a escolástica e a Reforma de Lutero geraram impactos na formulação dos currículos, ou seja, o que ensinar? A influência de Lutero também atingiu as metodologias de ensino, isto é, o conjunto de procedimentos que respondem à pergunta: "como ensinar"?

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Um filme com o qual você pode visualizar representações de instituições de cunho educativo da época de 1500 é Martin Luther: the idea that changed the world (2017), documentário cuja duração é de 55 minutos, dirigido por Mike Trinklein e Steve Boettcher. O filme ainda mostra a influência que Lutero deixou quanto às concepções de educação.

DICAS

FILME SOBRE MARTINHO LUTERO

FONTE: <http://www.discovernorthiowa.com/event/martin-luther-the-idea-that-changed-the-world/>. Acesso em: 13 set. 2019.

Durkheim compreende que o sistema educacional equivale a um fato social, logo, as famílias não podem educar seus filhos conforme achassem melhor. Todos os integrantes da sociedade deveriam ser educados do mesmo modo, seguindo os moldes impostos pela sociedade (MELO, 2012). Para Durkheim nem todos devem ser educados do mesmo modo pois há diferentes funções para diferentes grupos sociais, como se a sociedade fosse uma engrenagem e cada integrante fosse uma peça (nem todas as peças servem à mesma função).

Conforme as escolas vão expandindo com o intuito de proporcionar o mesmo sistema educacional a todos, é indispensável definir como será esse sistema, o que será ensinado por meio dele e por meio de quais metodologias. Assim vão surgindo os primeiros pensadores que trabalham para construir esses dispositivos, e então a pedagogia vai sendo desenvolvida pouco a pouco.

Uma das pessoas que se destacou na formulação da pedagogia é o alemão Johann Friedrich Herbart (1776-1841), filósofo, psicólogo, pedagogista, considerado praticamente o fundador da pedagogia como disciplina acadêmica, isto é, ele é considerado a pessoa que promoveu a pedagogia ao status de ciência.

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FIGURA 8 – HERBART, PAI DA PEDAGOGIA CIENTÍFICA

FONTE: <https://novaescola.org.br/conteudo/1775/herbart-o-organizador-da-pedagogia-como-ciencia>. Acesso em: 12 set. 2019.

De acordo com Dalbosco (2018, p. 2), esse memorável filósofo:

[...] passou convencionalmente para a história da pedagogia como pedagogo conservador, que teria menosprezado, em nome da defesa intransigente dos conteúdos e do papel diretivo do professor, a posição ativa do aluno no processo ensino-aprendizagem. Esta leitura estandardizada de seu pensamento é solidificada pelas diferentes reformas pedagógicas europeias do final do século XIX e início do século XX.

Como se pode observar, Herbart já destacava o processo de ensino aprendizagem nos primórdios da Pedagogia Moderna. Nos próximos tópicos, você encontrará mais algumas influências de Herbart, na formulação da psicopedagogia.

No que se refere à psicologia, a pessoa a quem é atribuído o título de "Pai

da Psicologia Científica", ou, "Pai da Psicologia Experimental" é o médico, filósofo e psicólogo alemão, Wilhelm Wundt (1832-1920). "A fundação do Laboratório de Psicologia Experimental da Universidade de Leipzig, em 1879, é geralmente celebrada na literatura como o marco inicial da psicologia científica" (ARAÚJO, 2009, p. 9).

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FIGURA 9 – WILHELM WUNDT

FONTE: <https://i.pinimg.com/236x/06/bd/6c/06bd6c38d582f86352a678969f980723--experimental-psychology-leipzig-germany.jpg/>.  Acesso em: 24 out. 2019.

De acordo com Araújo (2009, p. 213), Wilhelm Wundt desenvolveu a metodologia de investigação da psicologia, dando a ela características próprias da ciência:

Para entendermos sua proposta metodológica para as investigações psicológicas, é preciso partir daquela distinção que Wundt estabeleceu entre ciência natural e psicologia. Como afirmamos anteriormente, essa diferença não está na natureza do que é estudado, mas sim no ponto de vista a partir do qual ele é considerado. Por isso, os métodos de investigação em psicologia também não podem diferir daqueles empregados nas ciências naturais, a saber, o experimento e a observação. O primeiro consiste na interferência proposital (manipulação) do pesquisador sobre o início, a duração e o modo de apresentação dos fenômenos investigados (como na física, na química e na fisiologia). A observação, propriamente dita, refere-se à mera apreensão de fenômenos ou objetos, sem que haja qualquer interferência por parte do observador (como na botânica, na anatomia e na astronomia).

Até passar pelas mãos de Wundt a psicologia estava fortemente vinculada à filosofia, e era caracterizada por ter um objeto de estudo abstrato, aparentemente difícil de se tornar um objeto de estudo que pudesse ser examinado cientificamente. Como se pode perceber, Wundt transferiu características dos métodos de investigação das ciências naturais, para o campo da psicologia, ao ponto de fazer pesquisas sobre psicologia dentro do laboratório.

É pertinente trazer esses dois nomes, Johann Friedrich Herbart e Wilhelm Wundt, pois é fácil deduzir que a psicopedagogia tenha se originado da pedagogia e da psicologia, ou, minimamente, que ela é uma área intermediária, medianeira, entre elas.

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Enquanto Johann Friedrich Herbart e Wilhelm Wundt estavam ocupados organizando os conhecimentos, os conceitos e as metodologias dessas duas áreas do saber de modo que fossem consideradas científicas, mais e mais escolas foram abertas.

Com a escolarização de grandes quantidades de crianças, fica ainda mais evidente que não são todas que aprendem ao mesmo tempo e nem do mesmo jeito. Além das diferenças de ritmo de aprendizagem e das crianças que aprendiam mediante o uso de uma diferente metodologia de ensino, ainda apareciam aquelas crianças que aparentemente não conseguiam aprender tudo que os pais e professores queriam que elas aprendessem. Por que isso acontecia? Será que os professores não utilizaram a metodologia adequada? Teria como reverter esses casos?

3 EIS QUE SE FEZ A PSICOPEDAGOGIA

Os problemas de aprendizagem que vão se avolumando na Europa, no século XIX, suscitaram explicações para as suas causas, bem como, soluções para os seus entraves.

Assim, a pedagogia, a psicologia e medicina começaram a investigar esses fenômenos e procuraram oferecer respostas para eles. Mas, nenhuma delas pareceu dar respostas conclusivas e satisfatórias.

Vimos anteriormente, que as ciências sociais precisaram ser subdivididas, mas em vários momentos algumas dessas subdivisões se une para analisar determinado fenômeno. Isto pode ser percebido com a interdisciplinaridade entre pedagogia, psicologia, na formação da psicopedagogia. Uma dá suporte à outra, em diversas situações, dependendo do fenômeno em foco. Foi-se observando uma junção mais frequente entre a pedagogia e psicologia com a intenção de explicar e resolver as complexidades inerentes da aprendizagem.

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Você está sentindo necessidades de saber mais sobre pedagogia e/ou psicologia? Fique tranquilo, quando estudarmos as bases epistemológicas da psicopedagogia, voltaremos a falar sobre elas, com um pouco mais de profundidade. Se você preferir aprender mais sobre elas neste momento, sugerimos a leitura desses artigos: Pedagogia da Infância:ROCHA, Eloisa Acires Candal; LESSA, Juliana Schumacker; BUSS-SIMAO, Márcia. Pedagogia da infância: interlocuções disciplinares na pesquisa em Educação. Invest. Práticas, Lisboa, v. 6, n. 1, p. 31-49, mar. 2016. Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2182-13722016000100003&lng=pt&nrm=iso>. Psicologia: MASSIMI, Marina. Psicologia e cultura na perspectiva histórica. Temas psicol., Ribeirão Preto, v. 14, n. 2, p. 177-187, dez. 2006. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2006000200006&lng=pt&nrm=iso.

DICAS

A psicopedagogia advém dessas duas ciências. Mais especificamente, do limiar entre a pedagogia e a psicologia. Esse espaço fronteiriço entre as duas áreas deu lugar à formação da psicopedagogia, cujo enfoque recai ao estudo do processo de aprendizagem e, consequentemente, abrange as dificuldades de aprendizagem.

Talvez você esteja sentindo curiosidade de saber quem é o pai, ou a mãe da psicopedagogia. Diferente do que acontece com a pedagogia e com a psicologia, não há um consenso preciso sobre a paternidade da psicopedagogia. Mas, antes de imaginar que talvez seja necessário que exames de DNA sejam feitos para desvendar esse mistério, é preciso lembrar que ainda estamos no Tópico 2, e que não há mais espaço para um assunto tão polêmico como esse aqui. Aguarde os próximos episódios, nos próximos tópicos.

ATENCAO

Ainda que aqui no Tópico 2 estejamos dando mais ênfase à psicologia e à pedagogia, já que até o nome "psicopedagogia" sugere que essas duas áreas tenham passado maior influência à psicopedagogia, veremos no tópico subsequente que a Medicina também faz parte do “bloco” de influências da Psicopedagogia, juntamente com outras áreas e teorias.

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Um filme que ajuda a refletir sobre isso é “Sete anos no Tibet”, de 1998. Dirigido por Jean-Jacques Annaud, tendo por elenco Brad Pitt, David Thewlis, Jamyang Jamtsho Wangchuk.

CENA DO FILME “SETE ANOS NO TIBET”

DICAS

É necessário destacar que as hipóteses, teorias, descobertas e invenções que antecederam e que marcaram de alguma forma na formulação da psicopedagogia, ocorreram dentro de períodos históricos em que as pessoas tinham acesso a determinados recursos de pesquisa, e às teorias que já tinham sido disseminadas até ali.

No que se refere às ciências, deve-se frisar que elas não têm a obrigatoriedade de sustentarem as descobertas divulgadas, quando se nota que aconteceu algum “equívoco”. Fazer ciência pode abranger o levantamento de hipóteses, refutá-las ou confirmá-las, se deparar com novos achados que conduzem a novos pensamentos, novas reflexões, redirecionamentos de teorias, de pressupostos, ou complementos feitos às teorias.

De fato, o desenvolvimento de equipamentos e aparelhos utilizados em pesquisas têm possibilitado estudos mais detalhados do corpo humano, por exemplo. Assim, descobertas ou hipóteses anteriores têm sido confirmadas, questionadas, revistas e ampliadas.

Entretanto, não é porque um estudo tem base científica que ele é incontestável, ou que ele é “com certeza verdadeiro”, e que “permanecerá assim para sempre”. Por exemplo, Aristóteles defendia que o processo mental acontecia no coração, em 335 a.C. Hoje sabemos que muitos processos mentais têm sede no sistema nervoso, sobretudo no cérebro. Mas o sistema circulatório não afeta o sistema nervoso?

Talvez nós tenhamos uma impressão de que somos mais espertos, pois

sabemos mais coisas do que as gerações anteriores. Será mesmo? Será que não sabemos coisas diferentes?

FONTE: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-9104/fotos/detalhe/?cmediafile=18818813>. Acesso em: 30 out. 2019.

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No filme, o personagem interpretado por Brad Pitt (o alpinista austríaco medalhista Heinrich Harrer) passa um período no Tibet por conta da guerra mundial. Lá, ele conhece um líder espiritual, um menino reverenciado pelos tibetanos. Os dois se tornam amigos, e inicialmente Heinrich Harrer conta para o menino tudo o que sabe sobre a Áustria, e os países da Europa, em termos de música, lugares, costumes, histórias, artefatos. Parece que Heinrich Harrer sabe muita coisa, e está dividindo um pouco disso com o menino – que pelo fato de ser uma criança e viver numa localidade isolada do restante do mundo, pouca coisa sabe. Contudo, o filme nos leva a refletir sobre essa representação social de que as crianças nada sabem, ou sabem poucas coisas, ou sabem coisas menos importantes do que os adultos. Pode-se reparar, ao longo do filme que acabou de ser recomendado, que os personagens apenas sabem coisas diferentes. E o personagem Harrer, vai paulatinamente descobrindo que muitas das coisas que ele valorizava, e das coisas que aprendeu e que expunha com tanto orgulho, não são, de maneira nenhuma mais relevantes do que as aprendizagens construídas pelo menino. Assim a costumeira hierarquia que as pessoas presumem, entre adultos e crianças, é colocada em xeque. Até porque o menino ocupa uma posição de liderança na esfera religiosa. Além do mais, Harrer vai se dando conta de que na verdade, ele não sabe mais do que o garoto em termos quantitativos ou qualitativos. Afinal, o filme mostra que o menino também ensinou muitas coisas para Heinrich Harrer durante esse relacionamento de amizade. Ao assistir ao filme, preste atenção nas diferentes experiências que cada um dos dois personagens vivenciou, bem como, aos valores, princípios e escolhas de ambos. Observe o quanto um consegue oferecer ao outro, diferentes perspectivas sobre o mesmo tema, a partir de seu histórico de vida, e da forma pela qual compreende o seu entorno. Assim como o personagem Heinrich Harrer repensa inúmeros de seus conceitos, paradigmas, convicções e concepções, os cientistas também o fazem mediante o aprofundamento das investigações científicas. Em consequência, quem garante que os cientistas dos anos 2050, 2500 não contestarão tantas coisas que hoje são consideradas “consolidadas” na ciência?

Shelley (2019, p. 38) apresenta interessantes reflexões sobre isso:

Se, em vez dessa observação, meu pai tivesse se dado ao trabalho de me explicar que os princípios de Agrippa tinham sido inteiramente desamascarados, e que um sistema moderno de ciência com muito mais poderes que o antigo havia sido instituído, pois os poderes do antigo eram quiméricos, enquanto que os do novo eram reais e práticos, em tais circunstâncias certamente eu deveria ter deixado Agrippa de lado.

Essa citação se refere à Cornelius Agrippa, nascido na Alemanha em 1486, escritor que estudou filosofia, e que faz questionamentos e críticas à ciência, em suas obras que eram classificadas como escritos de filosofia oculta.

- É a esses homens [Agrippa e Paracelso] de zelo infatigável que os filósofos modernos devem a maior parte dos fundamentos de seus conhecimentos. Eles deixaram para nós a tarefa mais fácil de atribuir novos nomes e organizar em classificações conexas os fatos que, em grande medida, foram instrumentos que lançaram luz sobre as trevas. A labuta dos homens de gênio, por mais equivocados que estivessem, quase nunca deixava de cumprir a finalidade de oferecer, em retorno, sólida vantagem para a humanidade (SHELLEY, 2019, p. 48).

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TÓPICO 2 | ESCOLAS, APRENDIZAGEM, PEDAGOGIA, PSICOLOGIA... EIS A PSICOPEDAGOGIA

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Paracelso foi um médico alquimista e filósofo que viveu entre 1493 e 1541. Ele revolucionou a medicina, através de suas pesquisas sobre a presença de certos elementos químicos dentro do corpo humano (e não somente fora dele) e também ao dar mais ênfase na dosagem dos compostos farmacológicos. De acordo com Zaterka (2012), esse médico, que gerou tantas polêmicas, fez críticas contundentes ao sistema educacional da época, sobretudo ao que era ensinado nas escolas e aos procedimentos adotados pelos educadores no ato de ensinar. Ele defendia que isso deveria ser substituído pela experiência, incluindo, então, atividades com observação e experimentação.

Portanto, quando ao olhar para alguma teoria que já embasou a psicopedagogia e que hoje talvez não seja uma teoria tão valorizada, lembre-se de que a construção do conhecimento é feita de forma lenta e desenvolvida, muitas vezes, por pesquisas que são repassadas de geração a geração por pesquisadores. Então, em vez de lançarmos alguns cientistas metaforicamente nas fogueiras, como acontecia literalmente na Revolução Científica, será que não devemos nutrir alguma gratidão aos pesquisadores pioneiros, que começaram com as poucas ferramentas, informações e recursos que tinham acesso, e tiveram coragem de difundir suas ideias? Mesmo aqueles que já foram brutalmente contestados, contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento da ciência, instigando outros cientistas a confrontá-los.

Como dizia Paulo Freire, “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre”. Agora que você já relembrou alguns momentos históricos, e pôde perceber determinadas relações entre eles, até a formulação da psicopedagogia, podemos seguir ao próximo tópico, que aborda teorias da psicopedagogia. Vamos lá?

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Martinho Lutero sugere que todos devem aprender a ler e a escrever, para que pudessem ler a Bíblia de forma independente.

• No Século XIX, pedagogia e psicologia sofrem modificações e são desen-volvidas a fim de alcançarem o status de "científicas".

• No Século XIX, várias escolas estavam em funcionamento, e diversas ou-tras foram abertas.

• Com a escolarização e a necessidade de normatização massivas, as dificul-dades de aprendizagem se tornam explícitas.

• A quantidade expressiva de crianças com dificuldades de aprendizagem requer explicações e respostas científicas.

• A psicopedagogia advém da interação entre psicologia e pedagogia, por-tanto, focaliza a aprendizagem e as dificuldades relativas ao aprender.

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1 (ENADE – 2018)

Texto 1 O sagrado e a verdade não habitam as instituições, mas invadem nosso mundo através da consciência. Isso é subversão. Lutero colocou o mundo de cabeça para baixo. Se o Espírito de Deus não é monopólio de instituições, não é gerenciado por organizações, não é distribuído por burocracias, todas elas perdem a sua aura sagrada. Não podem mais pretender ser eternas.

ALVES, R. Dogmatismo e tolerância. São Paulo: Loyola, 2004 (adaptado).

Texto 2Qualquer igreja que é produto da Reforma merece esse nome somente se é capaz de vencer o impulso inerente a todas as instituições humanas para a autopreservação e somente se ousar reformar-se de tempos em tempos, a fim de responder criativamente aos desafios apresentados por novas situações históricas.

SHAULL, R. A reforma protestante e a teologia da libertação. São Paulo: Pendão Real, 1993 (adaptado).

Considerando a visão expressa nos dois textos sobre a Reforma Protestante, o respeito às tradições religiosas e o ecumenismo como instrumento para o diálogo, assinale a opção que traduz o pensamento dos textos.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2018/teologia.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2020.

a) ( ) As instituições religiosas deveriam trabalhar em unidade na promoção da justiça, do amor e do respeito mútuo, que são as balizas do Reino de Deus, e não para perenizar-se, elas mesmas, e cada uma delas.

b) ( ) Deus será compreendido e captado pelo ser humano se a revelação se der por meio de uma instituição especial, que, nesse caso, é a igreja cristã, e as demais crenças, em nome da paz e do encontro, deveriam orbitar em torno dela.

c) ( ) O encontro das religiões deveria pautar-se não em discussões de verdades sobre Deus, mas em ações pela paz e engajamento social.

d) ( ) As instituições religiosas devem promover o diálogo e o encontro com vistas à criação de consenso que leve à construção de religião maior e mais organizada.

e) ( ) A presença de Deus se manifesta como sinal, tornando a instituição religiosa um sacramento e uma mediação do divino, tal como ocorre no protestantismo, em que a instituição é percebida como meio de se promoverem a paz e o respeito entre as religiões.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA

PSICOPEDAGOGIA

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

Como já foi brevemente anunciado no tópico anterior, além das fortes influências da psicologia e da pedagogia, a medicina também marcou a psicopedagogia. Portanto, no decurso do presente tópico você terá acesso a algumas influências que a medicina deixou na psicopedagogia.

Depois de conhecer alguns efeitos do saber médico na psicopedagogia, irá

se visualizar de que maneiras outras teorias, abordagens e áreas do saber causaram impacto na formulação da Psicopedagogia, tais como a teoria Evolucionista de Darwin, a Matemática, a Estatística, a Psicanálise, os primeiros profissionais que passaram a atender pessoas com deficiência, e até mesmo a Literatura.

É importante destacar que psicologia, pedagogia, medicina e os outros campos do saber que foram determinantes na formulação inicial da psicopedagogia continuam exercendo influência sobre ela até nos dias atuais. Afinal, as perspectivas, as concepções não vão sendo totalmente superadas nem substituídas. Há coexistência de impressões, de pontos de vista, de pressupostos.

2 CONCEPÇÕES E TEORIAS QUE FUNDAMENTA(RA)M A PSICOPEDAGOGIA

A partir do Século XVII, os avanços na medicina proporcionaram aos médicos um entendimento da concepção humana, que por meio das descobertas da anatomia parecia que substituiria as milenares lendas, mitos, crendices e superstições sobre a fecundação humana. Isto tem relação direta com a compreensão do homem a partir de moldes racionais ao invés de místicos. O ser humano passa a ser estudado através de critérios objetivos de análise, tal como os fenômenos da natureza.

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Os médicos passaram a ter mais legitimidade em suas metodologias e explicações que iam sendo tecidas cada vez mais em procedimentos sistemáticos e práticas científicas (FERREIRA, 2005). Essa autoconfiança era manifesta no poder que passaram a exercer na relação que estabeleciam com os pacientes.

Em Portugal, já no Século XVIII, os médicos davam indícios de que se sentiam os profissionais com as melhores condições de pensar e intervir convenientemente sobre os problemas relativos aos corpos humanos. Buscaram difundir o discurso de segurança e confiabilidade de seus pressupostos e métodos (FERREIRA, 2005).

Além das orientações que faziam às pessoas e às crianças, sobre como procederem para terem um melhor estado de saúde, eles começaram a dar orientações sobre cuidados especiais durante o período gestacional, para assegurar a saúde futura desses bebês que estavam em formação (FERREIRA, 2005). Ou seja, são lançados manuais com prescrições de comportamento, alimentação e cuidados de si que contribuem para a regulação da vida dos indivíduos.

Para Ferreira (2005) embora os médicos dessem enfoque ao teor científico de seus argumentos, esse discurso também era enviesado por questões políticas e religiosas, que eram dominantes em Portugal, sobretudo no Século XVIII. Afinal, o discurso médico era um forte aliado aos ideais políticos de fomento demográfico, a fim de ampliar a população.

De qualquer modo, o novo saber médico estava a propiciar uma consciência desenvolvimentista que vinha acentuar a necessidade de se actuar preventivamente na promoção da saúde de cada um. Sendo assim, havia que cuidar desde o início, ou seja, desde a concepção. Com esta ideia, a medicina moderna abria todo um novo olhar sobre a criança (FERREIRA, 2005, p. 17).

Essas premissas foram estimulando o atendimento às crianças desde a mais tenra idade, tanto para a psicologia, quanto para a pedagogia, bem como, para outros campos de atuação – inclusive a psicopedagogia.

Outra influência oriunda da medicina é a noção de normalidade. No Século XIX, a maioria dos pensadores e dos profissionais colocava os aspectos orgânicos em foco. Isto é, que as causas das doenças estavam centralizadas no próprio organismo, no corpo humano, e então, o tratamento também precisava atuar diretamente no corpo humano.

Assim, os médicos tratavam os pacientes com vistas a deixá-los em conformidade com um ideal acerca da saúde, com o que consideravam normal, saudável. Quando um paciente demonstrava estar longe do que era classificado como normal, os médicos interviam no sentido de extrair a patologia, a anormalidade dos pacientes. Buscavam corrigir o que estava errado no corpo do paciente, utilizando metodologias de tratamento e reabilitação.

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A normalidade pautada em causas orgânicas deu margem a inúmeras violências direcionadas a grupos que estavam socialmente em desvantagem. A título de exemplo, citamos a significativa quantidade de pessoas enclausuradas em hospícios e as violências ali praticadas em nome de uma "normalidade" abstrata e subjetiva.

Essa temática chamou a sua atenção? Então que tal fazer uma pausa na leitura para assistir ao documentário "O holocausto brasileiro". Esse filme foi inspirado no livro que recebe o mesmo título. Ambos, abordam os maus-tratos que aconteciam no Hospital Colônia de Barbacena, a partir dos relatos de ex-funcionários e de outras pessoas que, de alguma maneira eram ligadas à instituição.

O HOLOCAUSTO BRASILEIRO

DICAS

FONTE: <https://media.gazetadopovo.com.br/2016/11/2c876130fd173fb404fa8d8b421a00fc-gpLarge.jpg>. Acesso em: 14 nov. 2019.

A ideia era curar o corpo da pessoa, removendo a doença e encaminhando a pessoa para um estado melhor de saúde. Até hoje, em boa parte das faculdades e universidades brasileiras, ao abordar a dicotomia "normal versus patológico", os professores mencionam as contribuições do autor Georges Canguilhem nas problematizações desses conceitos.

Retomando historicamente a perspectiva positivista, Canguilhem critica a visão de que o patológico seria apenas uma variação quantitativa do normal. Considerando que há uma infinitude de possibilidades fisiológicas e contextuais no processo da vida, estabelecer uma norma para que se possa afirmar a existência de saúde ou doença apenas transforma estes conceitos em um tipo de ideal (SILVA et al., 2010, p. 195).

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Talvez você esteja pensando: como era definido esse ideal? Por muito tempo, os médicos consideravam normal, o que era apresentado pela maioria da população. Ou, melhor dizendo, a normalidade era determinada num padrão que deveria, isto sim, ser aplicado à maioria da população. Por conseguinte, os pacientes que apresentavam situações abaixo ou acima da maioria, eram considerados doentes, ou anormais. Sendo assim, os médicos foram utilizando conceitos da matemática e da estatística para classificarem uma pessoa como normal ou doente. Um exemplo, nesse sentido, é a média.

Você quer aprofundar o seu conhecimento sobre essa temática? Então, sugere-se a leitura do livro escrito pelo próprio Georges Canguilhem:

CAPA DO LIVRO O NORMAL E O PATOLÓGICO

DICAS

FONTE: <https://www.extra.com.br/livros/LivrodeCienciasHumanaseSociais/LivrodeFilosofia/O-Normal-e-o-Patologico-Georges-Canguilhem-1763832.html>.

Acesso em: 19 set. 2019.

A partir da Revolução Científica, e do Positivismo operante nas ciências, números foram sendo cada vez mais valorizados no saber médico. Era fundamental apresentar dados concretos, índices numéricos, para examinar o estado de saúde dos corpos, e para comprovar o que se estava falando.

Vamos a um exemplo. Se naquela época os médicos fossem conferindo a frequência cardíaca de seus pacientes, e constatassem que a maioria deles apresentava entre 60 e 100 batimentos por minuto, os pacientes que manifestavam mais batimentos por minuto do que 100, ou menos batimentos do que 60, estavam fora da média. Eram considerados, portanto, doentes.

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A medicina foi passando a utilizar a curva de Gauss, para fazer seus instrumentos e critérios de classificação para fins diagnósticos. Talvez você se lembre da curva de Gauss, lá de suas aulas de matemática do Ensino Médio, que antigamente era chamado de Segundo Grau:

FIGURA 10 – CURVA DE GAUSS

FONTE: <http://twixar.me/1ksT>. Acesso em: 19 set. 2019.

Porém, ao passar do tempo alguns médicos e outros pensadores, escritores, profissionais da saúde foram revendo esses conceitos de normal e patológico.

Canguilhem propõe então que o estado patológico não é a ausência de uma norma, pois não existe vida sem normas de vida, e o estado patológico também é uma forma de se viver. O que é patológico então é uma "norma que não tolera nenhum desvio das condições na qual é válida, pois é incapaz de se tornar outra norma" (p.145). Assim o doente o é por ser incapaz de ser normativo. A saúde seria, portanto, mais do que ser normal, é ser capaz de estar adaptado às exigências do meio, e ser capaz de criar e seguir novas normas de vida, já que "o normal é viver num meio onde flutuações e novos acontecimentos são possíveis" (p.188). A saúde pode por fim ser concebida como um sentimento de segurança na vida, um sentimento de que o ser por si mesmo não se impõe nenhum limite (SILVA et al., 2010, p. 196).

A palavra "escritores" chamou atenção, em meio àqueles que questionaram os conceitos de normal e patológico? Talvez ela requeira uma justificativa para estar ali. Algumas obras literárias se ocupavam dessas reflexões, como, por exemplo, O Alienista, de Machado de Assis. O cerne da história é questionar os parâmetros para considerar alguém normal, ou alguém anormal, no que tange à saúde mental.

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Se você quer fazer uma pausa na leitura e se divertir um pouco com uma produção cinematográfica muito engraçada, pode aproveitar para assistir "O Alienista e As Aventuras de um Barnabé", que é baseada no livro de Machado de Assis. Produção de 1993, dirigida por Guel Arraes e Roberto Farias.

DICAS

FILME O ALIENISTA

FONTE: <https://media.fstatic.com/v8O7W-rsBUfD9A2VHEOsFHw5-2I=/fit-in/210x312/smart/media/movies/covers/2011/06/47972f363fef83eb3b3f48243e0fd92d.jpg>. Acesso em: 19 set. 2019.

Você prefere a versão escrita? Então procure pelo livro O Alienista. Trata-se de uma obra literária humorística que foi produzida em 1882 pelo escritor brasileiro Machado de Assis. O livro questiona justamente o diagnóstico médico e o poder médico. O livro também discorre sobre vários acontecimentos que se passam dentro de um manicômio, no qual o doutor Simão Bacamarte vai levantando hipóteses sobre as causas e os tratamentos de reabilitação dos "loucos" que ali são internados. Os "pacientes internos" acabam se tornando sujeitos de pesquisa com os quais o Dr. Bacamarte vai testando suas hipóteses, e suas propostas de reabilitação e cura.

DICAS

LIVRO O ALIENISTA

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/c/c1/Resumo-do-livro-o-alienista-de-machado-de-assis.jpg>. Acesso em: 19 set. 2019.

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Outra escritora que descreve questões relacionadas à aprendizagem, à relação professor-aluno e ao poder da ciência, é a inglesa Mary Shelley, que viveu entre 1797 e 1851. Você recorda que algumas páginas atrás de ter lido sobre o Agrippa e o médico Paracelso? Ali foram apresentadas duas citações diretas, que discorriam sobre ciência e teorias filosóficas ou cientificas que caem em desuso por serem desmanteladas, ou por se tornarem obsoletas, ou ainda por serem substituídas por teorias mais modernas, lembra? Aquelas duas citações foram extraídas do livro "Frankenstein" – obra mais famosa produzida por Mary Shelley.

E lembra da citação que falava sobre ciência, estudos, saber, investigação científica e descobertas lá da introdução desse tópico? Também foi transportada literalmente de Frankenstein para esse livro de estudos. As palavras que grifamos naquela citação são encontradas repetidamente nos textos relacionados à psicopedagogia. Em Frankenstein, a ciência foi descrita por Shelley (2019) como uma porta para inovações, novos caminhos, resultados e alcances que excedem o planejamento do cientista.

FIGURA 11 – CAPA DO LIVRO "FRANKENSTEIN"

FONTE: <https://dhiancarlomiranda.files.wordpress.com/2013/06/frankenstein.jpg?w=195&h=300>. Acesso em: 15 nov. 2019.

Apesar da fama de livro sombrio e aterrorizante, o livro "Frankenstein" aborda diferentes temáticas e é considerado o primeiro do gênero ficção científica da literatura mundial. Vamos atentar para mais um trechos do livro que se relacionam ao conteúdo dessa unidade?

[...] Aprenda, senão pelos meus conceitos, ao menos com o meu exemplo, o quanto é perigosa a aquisição do conhecimento, e o quanto mais feliz é aquele que acredita que sua terra natal é o mundo, em relação àquele que aspira a tornar-se maior do que sua natureza permite (SHELLEY, 2019, p. 53, grifo nosso).

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Esta é mais uma citação em que a escritora inglesa traz elementos que continuam recheando as concepções relativas à aprendizagem. Certamente não é à toa que inicia a frase com o verbo aprender. Sobre a aquisição de conhecimentos, hoje tem-se falado mais em construção de conhecimentos, mas vale lembrar que Frankenstein foi publicado em 1823 tendo-a como autora. Afinal, o termo "aquisição" possui o sentido de tomar posse, comprar algo, como se num piscar de olhos a pessoa obtivesse conhecimento. Ao passo que "construção" tem a ver com edificar, criar, elaborar, organizar, compor, produzir, formar, encadeamento, assim, percebe-se que é um fenômeno processual, e que o sujeito tem ação e atuação nele.

A título de exemplo trazemos duas citações de resumos de artigos científicos um tanto quanto recentes que trazem estas expressões.

A problemática do ensino-aprendizagem aparece na epistemologia bachelardiana com um enfoque próprio, ao defender que aprender é uma mudança na constituição psíquica do sujeito. Isto é, aprender é superar os obstáculos que se interpõem no processo de aquisição do conhecimento. Bachelard argumenta que para que haja aprendizagem é importante que o estudante rompa com os obstáculos que impedem a compreensão dos conceitos científicos. Desta forma, o objetivo central do ensino de ciências não deve ser a exposição de aulas para a aquisição de uma grande quantidade de conteúdos, mas a superação dos obstáculos que impedem a compreensão do pensar e fazer ciência, na atualidade (CARVALHO FILHO, 2006, p. 8, grifo nosso).

Ainda hoje encontramos a expressão aquisição de conhecimentos em textos que abordam a aprendizagem. A decisão por uma expressão ou outra pode ser motivada pelas concepções teóricas do pesquisador. Na sequência consta um exemplo de artigo que adota a expressão construção do conhecimento:

Este artigo teve o objetivo de realizar uma reflexão acerca da teoria de Vygotsky no processo de construção do conhecimento dos profissionais de enfermagem. Na abordagem vygotskyana, o homem é visto como alguém que transforma e é transformado nas relações que acontecem em uma determinada cultura, caracterizado por uma interação dialética desde o nascimento entre o ser humano e o meio social e cultural em que se insere. A proposta do construtivismo encaixa-se nesse contexto, pois busca explicar como se modificam as estratégias de conhecimento do indivíduo no decorrer da sua vida. As ideias construtivistas preconizadas por Vygotsky podem representar um método alternativo para os estudos teórico-práticos na área da saúde, especialmente quanto à dimensão subjetiva do processo de trabalho junto à equipe de enfermagem (HEIMANN et al., 2013, p. 997, grifo nosso).

É realmente intrigante como alguém pudesse ter escrito um livro com temas monstruosos, fantasiosos, e amarrá-lo com concepções de aprendizagem e ciência em pleno em apenas dois anos 1816 e 1817, tendo publicado em 1818 (mas sem constar a autoria da obra). Isso porque o livro era tão diferenciado de tudo o que já tinha sido publicado na época, que as editoras duvidam que a autoria fosse realmente de uma mulher, que tinha cerca de 19 anos. Ou, ainda que acreditassem na autoria dela, supunham que revelar os créditos na primeira edição poderia gerar desinteresse ou mesmo repulsa entre os potenciais leitores.

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Em 1836, um escritor romancista inglês teve tanta curiosidade sobre a apneia obstrutiva do sono que até mesmo elaborou um texto descritivo sobre ela. Esse texto encontra-se na obra "Os Escritos Póstumos do Clube de Pickwick", de autoria de Charles Dickens. Aliás, esse livro pode clarear muitos dos assuntos dos quais falamos até aqui, já que o autor discorre sobre a corrupção tanto na esfera religiosa, quanto na no sistema de justiça, na política, no jornalismo etc. Charles Dickens ainda destaca as características da burguesia, contrastadas com as condições dos trabalhadores durante a Revolução Industrial. Apesar de ser uma obra literária, a descrição da sintomatologia apneia obstrutiva do sono presente no livro, ainda chama a atenção de pesquisadores da área da saúde. Por isso, esse livro vez ou outro é citado nos livros de neurociência.

FIGURA 12 – UMA DAS CAPAS DO LIVRO "OS ESCRITOS PÓSTUMOS DO CLUBE DE PICKWICK"

FONTE:<https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51PMFDO%2BbVL._SX329_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 14 nov. 2019.

Portanto, além das influências das concepções de sujeito, de criança, de saúde, de patologia propagadas pela Medicina e pelas obras literárias, existem as influências no que tange a diagnósticos e tratamentos. A medicina deixou suas marcas no que se refere ao processo de identificar o estado de saúde de um sujeito através de sinais, sintomas e testes. Nesse sentido, exerceu influências tanto na psicologia, quanto na pedagogia, e consequentemente, na psicopedagogia. De que maneiras?

Quando uma pessoa com alguma dor procura um médico, ele geralmente conversa um pouco com ela, e dependendo da localização da dor e das características dela, ele solicita exames, certo? Podem ser exames de sangue, radiografias etc. Provavelmente, o tratamento que ele sugerirá ao paciente, estará embasado nos resultados de testes.

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Quando uma pessoa procurava um psicólogo, este também conversava com ela, e dependendo do caso, seriam utilizados testes psicológicos, para ajudá-lo a fazer o processo diagnóstico e planejar o tratamento psicológico/psicoterapêutico. Muitos testes psicológicos geram resultados acompanhados de números, escores, pontuações. Por exemplo, os famosos testes de QI (quociente de inteligência), sobre os quais voltaremos a falar algumas linhas adiante.

Na sequência, você encontra algumas informações sobre alguns momentos históricos da avaliação psicológica com o uso de testes psicológicos. Chama-se a essa área de Psicometria, e ela também exerce certa influência na psicopedagogia. Note que as pessoas envolvidas com a construção de testes são representantes da área da psicologia, pedagogia e medicina.

NOTA

Francis Galton empregou a primeira bateria de testes para milhares de pessoas numa exposição internacional de saúde, no ano de 1884 (SILVA, 2002). Vale lembrar que Francis Galton foi o fundador da Eugenia – ciência que estabelecia os alicerces teóricos tanto para compreender os mecanismos da transmissão dos caracteres entre as gerações, quanto para colaborar positivamente com a melhora das características do conjunto populacional (DEL CONT, 2008). Por curiosidade, ele era primo de Charles Darwin.

Lembra-se da teoria darwinismo social da qual falamos no Tópico 1? Vale acrescentar que decorreram do uso que foi feito dela, diversas problemáticas e preconceitos, para além de genocídios já mencionados aqui no livro. Ela também foi empregada para dar sustentação à eugenia – área que investiga o aprimoramento genético dos humanos. A teoria galtonniana também deu margem para uma ideia de “purificação” entre gerações tanto em termos étnicos, como comportamentais e intelectuais. Isto foi um estímulo para a concepção de que há seres humanos que são superiores e os que são inferiores e estes, portanto, devem ser eliminados para que não interfiram na evolução da espécie.

NOTA

A expressão "testes mentais" foi utilizada em 1890 por James McKeen Cattell – psicólogo estado-unidense, bastante interessado pelas diferenças individuais, para se referir à sua Bateria de Testes Galtonianos (SILVA, 2002).

O primeiro teste moderno de inteligência foi apresentado em 1905 por Alfred Binet (pedagogo e psicólogo francês) e Theodore Simon (médico francês) (SILVA, 2002).

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A sigla "QI" e o termo "quociente de inteligência" foram apresentados pela primeira vez em 1914 pelo psicólogo alemão Wilhelm Stern. Trata-se da idade mental dividida pela idade cronológica (SILVA, 2002). Stern fez boas partes de suas pesquisas no laboratório, usando o método experimental. Seus interesses estavam relacionados também com a psicologia jurídica e com a genética. Você percebeu que Stern divulgou a expressão QI em 1914? É válido destacar que este é o ano atribuído ao início da Primeira Guerra. Essa informação pode ser útil para você imaginar o contexto no qual Stern fez sua divulgação, bem como, os possíveis interesses por trás dela.

Testes psicológicos continuam sendo utilizados nos dias atuais. “A área de avaliação psicológica tem uma relevância histórica no desenvolvimento da Psicologia como ciência e como profissão, tanto no contexto internacional quanto no nacional. No Brasil, essa área foi incluída na própria Lei Federal n° 4.119 (1962), que regulamentou a profissão de psicólogo no país e, entre outras coisas, estabelecia apenas uma função como privativa do psicólogo: a utilização de métodos e técnicas psicológicas para fins de diagnóstico psicológico, orientação e seleção profissional, orientação psicopedagógica e solução de problemas de ajustamento” (BUENO; PEIXOTO, 2018, p. 109). Mas, vale lembrar que a inspiração para os criar advém em grande parte, do saber médico, e do positivismo aliado à ciência.

IMPORTANTE

E a pedagogia? Em determinado momento os professores sentiram necessidade de verificar se as crianças estavam aprendendo ou não, quanto estavam aprendendo, quais estavam aprendendo e quais não estavam etc. Assim, os professores começaram a elaborar instrumentos de avaliação, de exame da aprendizagem, que da mesma maneira que na medicina, e na psicologia, resultavam em números ou em conceitos. As notas das provas escolares, exemplificam isso.

FIGURA 13 – TIRINHA SOBRE NOTAS E CONCEITOS NA AVALIAÇÃO ESCOLAR

FONTE: <https://static.wixstatic.com/media/3978b5_9369ca97dfb641e485e2aeabb1ed812e.gif>. Acesso em: 24 out. 2019.

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

Para muitos psicopedagogos, todos esses números interessam. Então é relativamente comum que o psicopedagogo solicite que a família traga laudos ou exames que foram feitos/requisitados pelos médicos, psicólogos e outros profissionais da saúde, pelos quais a criança foi atendida, para fazer o diagnóstico psicopedagógico. Também é frequente que o psicopedagogo solicite que a família traga o boletim, ou algumas avaliações/cadernos que a criança tenha produzido no ambiente escolar. Ou mesmo um parecer produzido pela professora, ou pela equipe de gestão da escola que a criança estuda.

Além disso, os psicopedagogos vêm elaborando testes próprios da área da psicopedagogia e metodologias de intervenção, que se assemelham às propostas de atuação médica.

No Século XIX muitas das explicações sobre saúde e doença se pautavam na genética. A Psicologia e a Pedagogia também passaram a valorizar as explicações de ordem genética para os problemas de aprendizagem com os quais se deparavam. Então não era raro que as crianças que demonstravam dificuldade para aprender, fossem consideradas pessoas cuja genética desfavorável. Ou seja, a influência deixada pelas famílias biológicas por meio dos genes, não era boa para o ato de aprender. Essa explicação parecia uma forma de decreto perpétuo. Já que a aprendizagem era impossibilitada por questões genéticas/orgânicas/biológicas, os tratamentos precisavam agir nesses aspectos. As formas de intervenção ficavam um tanto quanto limitadas.

Portanto, um discurso começou a ser disseminado pelos psicólogos e pedagogos da época. "O aluno não aprende porque algo no seu corpo não lhe dá condições para aprender". Esse discurso passou a demarcar ainda mais as desigualdades sociais, e a diferença de rendimentos apresentados pelos estudantes. Curiosamente, a quantidade de alunos que tinha as notas baixas, ou comportamentos considerados indisciplinados era oriunda das camadas com menor poder aquisitivo da sociedade. De qualquer modo, continuavam recebendo diagnósticos que justificavam sua dificuldade para aprender, fundamentada em questões orgânicas, conferindo a eles um quadro de anormalidade quanto ao processo de aprendizagem.

Lembra do Francis Galton? Em 1869, ele afirmou que a inteligência era transferida do genitor para o filho. Já em 1876, o próprio Galton utiliza a palavra "natureza" associada à ideia de hereditariedade, mas, parece perceber que existem influências para além da genética, uma vez que acrescenta palavras como "cultura" e "ambiente" em seus escritos.

NOTA

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Logo, até aqui, já foi possível perceber que a psicopedagogia foi e continua sendo influenciada pela psicologia, pedagogia, medicina, literatura, psicometria, matemática e estatística. Também está implícito que a psicopedagogia tem um certo grau de parentesco com a filosofia, a sociologia, a antropologia, a economia, a política – as ciências humanas e sociais, pelos motivos elencados no Tópico 1 desse livro.

A psicopedagogia também bebeu na fonte da biologia. Afinal, a Teoria Evolucionista, proposta por Charles Darwin, destacou a esfera biológica do ser humano. Além do mais a Medicina está bastante atrelada à Biologia e à Anatomia. Darwin também estabeleceu algumas premissas quanto à natureza dos seres vivos, e metodologias de investigação, que foram de certa forma transferidas para a medicina, a psicologia e para outras áreas das quais nasceu a psicopedagogia. Isto é, os princípios biológicos definidos por Darwin, para os seres vivos, passaram a ser aplicados também nas tentativas de compreender o ser humano e a sociedade. Aconteceu um deslocamento, uma transposição dos pressupostos de Darwin, como as leis que regem a natureza, para a vida humana e social.

As teorias da evolução orgânica, principalmente a de Darwin, tiveram enorme impacto nas ciências humanas, notadamente na psicologia. Piaget importou da biologia diversas formulações teóricas que fundamentaram as suas teorias sobre o desenvolvimento ontogenético humano. A sua tese central estabelece a existência de uma correspondência de funções e isomorfismos parciais de estruturas entre a biologia evolutiva e as funções cognitivas dos sujeitos. Entretanto, suas ideias sobre a evolução dos seres vivos, com ênfase no papel do comportamento na evolução, pouca influência tiveram na biologia dominante de sua época. Não obstante, as teorias epigenéticas contemporâneas da evolução, em confronto teórico com o paradigma neodarwinista, reproduzem e atualizam as ideias piagetianas sobre a evolução e desenvolvimento dos seres vivos. Nesse sentido, defende-se aqui a ideia segundo a qual Piaget formula plataforma teórica que estabelece bases comuns para a psicogênese e a evolução orgânica (ALMEIDA; FALCAO, 2008, p. 525).

A Teoria Evolucionista contribuiu para que a psicologia passasse a investigar seu objeto de estudo – o comportamento humano – em laboratórios, assim como fazia a biologia. Além da famosa obra publicada em 1859, "A Origem das Espécies", Darwin também publicou, em 1872, "A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais" – tema que até hoje vem gerando interesse em muitos psicólogos.

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

FIGURA 14 – CHARLES DARWIN

FONTE: <https://englishschoolaz.blogspot.com/2013/04/charles-robert-darwin.html>. Acesso em: 20 set. 2019.

Embora no Século XIX não houvesse alguma corrente intitulada como inclusiva, ou como educação especial, existia a pedagogia curativa na Europa (MUSSMANN; AZEVEDO, 2012). A pedagogia curativa se destinava às crianças com comportamentos inapropriados no contexto escolar ou familiar, e visava readaptá-los a conviver adequadamente nesses contextos. A pedagogia curativa associava concepções e metodologias da psicologia, da psicanálise e da pedagogia. Ela também procurava reabilitar crianças com deficiência. Consequentemente, a pedagogia curativa causou repercussões na formulação da psicopedagogia. Ainda do campo da inclusão, a médica italiana Maria Montessori, que se dedicou a desenvolver o método Montessori – que também ficou conhecido como sensorial, e que foi pensado inicialmente às necessidades das crianças com deficiência, também deixou suas interferências na psicopedagogia. Afinal, a própria Montessori passou a estender seu método às demais crianças e constatou que tanto as crianças com deficiência quanto as outras, demonstraram resultados positivos após a utilização do método Montessori. Essa psiquiatra também se debruçava a compreender melhor o processo de aprendizagem, e desconfiou que não eram apenas as condições ou características localizadas nas crianças em si que as atravancavam o processo de aprendizagem. Tanto que, uma de suas principais ideias, foi modificar o meio, o ambiente, o espaço educativo no intuito de obter melhorias na aprendizagem das crianças.

Para além da defesa de uma relação adulto-criança mais próxima, mais centrada no afeto, a especificidade da educação de infância constrói-se pela definição de métodos pedagógicos próprios e, consequentemente, pela defesa de atividades especificamente concebidas para a criança em idade pré-escolar. Na sua base está a ideia de que, como defende Montessori, nada está na inteligência que não tenha estado nos sentidos, sendo considerada esta época da vida como o período crítico para o seu desenvolvimento (FERREIRA; MOTA; VILHENA, 2019, p. 15).

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TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA

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Você observou como a concepção inclusiva de Montessori, destoa a teoria da Eugenia de Galton?

ATENCAO

Ela foi uma das pioneiras a disponibilizar mobiliário adaptado ao tamanho das crianças, nas instituições educativas. Muitas escolas e instituições de educação infantil continuam utilizando mesas e cadeiras adequados à altura das crianças, bem como, pias e outros móveis, mais acessíveis à criança. Além disso existem escolas montessorianas em funcionamento nos dias atuais, até mesmo aqui no Brasil, que fazem uso do método Montessori.

FIGURA 15 – MARIA MONTESSORI

FONTE: <https://3.bp.blogspot.com/-t3Y5sbDjqpk/UM2rbvys7gI/AAAAAAAAACs/tMTadDGC6Cs/s400/mariam.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.

A psicopedagogia também teve consideráveis influências da psicanálise, sobretudo no que diz respeito ao olhar e à escuta clínica. Dentre os principais expoentes, estão Sigmund Freud, Jacques Lacan.

O desejo e a aprendizagem do ato de ler e escrever são analisados neste texto a partir da lógica psicanalítica, fundada por Freud e atualizada por Lacan. A escola e a família demandam uma mudança de posição da criança para uma nova perspectiva de existência como sujeito da aprendizagem (HOPPE; FOLBERG, 2017).

Além das concepções desses dois psicanalistas sobre a infância que influenciaram a psicopedagogia, ambos deixaram um legado sobre as questões concernentes à aprendizagem propriamente dita.

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

FIGURA 16 – FREUD E LACAN

FONTE: <http://gruposclinicos.com/curso-anual-partiendo-de-freud-arribando-a-lacan/2013/03/>. Acesso em: 20 set. 2019.

Vale lembrar que as primeiras crianças que foram atendidas por psicanalistas foram os filhos dos próprios psicanalistas. Um dos marcos para a psicanálise com crianças foi o caso examinado por Freud, do menino de cinco anos chamado Hans. O menino apresentava fobia. "Ele [Freud] então parece precisar justificar que a análise de Hans fosse conduzida pelo pai, talvez porque ainda não estivesse muito convencido da aplicação da psicanálise a crianças" (GUELLER, 2016, p. 228).

Freud e Lacan são dois psicanalistas citados por Gueller (2016) sobre a história da psicanálise com crianças. Também foram citados por ele: Melanie Klein, Anna Freud, Carl Jung, Karl Abraham e Max Graf. Outra psicanalista e pediatra que contribuiu nesse sentido foi Françoise Dolto.

Por que a prática clínica com crianças é prioritariamente conduzida por mulheres? É consenso no meio analítico que Melanie Klein e Anna Freud são as mães da psicanálise com crianças. Mas será que ela também tem pais? Tenho encontrado ricas experiências de análises com crianças conduzidas por analistas homens, todas anteriores a 1927, ou seja, anteriores ao Colóquio sobre análise infantil, data situada como nascimento oficial dessa prática (GUELLER, 2016, p. 226).

Outro psicanalista que causou impacto na formulação da psicopedagogia foi Pichón-Rivièri, sobretudo, porque ele tinha um olhar sensível à aprendizagem, defendia a que o acolhimento às crianças era fundamental neste sentido, e criou o Grupo Operativo.

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FIGURA 17 – PICHÓN-RIVIÈRI

FONTE: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Pichon_riviere_unica_foto_hd.png/220px-Pichon_riviere_unica_foto_hd.png>. Acesso em: 20 set. 2019.

O Grupo Operativo pode ser utilizado a fim de favorecer a aprendizagem, e estava atrelado às mudanças e transformações.

Com isso, é fundamental o investimento em ações que contribuam para a autonomia, visão crítica e elaboração de estereótipos e mitos que provocam passividade e medo. A realização dos GO [grupo operativo], no modelo e ideologia pichoniana, é uma sugestão de ação que propõe tais mudanças. No entanto, outras ações podem ser pensadas, promovendo autonomia aos usuários (ZANFOLIM; CERCHIARI; GANASSIN, 2018, p. 33).

Até hoje, a psicanálise tem contribuído na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem. Um exemplo é a pesquisa intitulada "Entre a transmissão e a transferência: implicações éticas, pedagógicas e psicanalíticas da relação mestre-aprendiz no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras". Na sequência você encontra a referência dela, caso essa temática tenha lhe causado curiosidade ou interesse.

Se a medicina influenciou a psicopedagogia com as noções de normalidade, e com a visão de homem pautada na racionalidade, a psicanálise deixou marcas dessemelhantes na psicopedagogia, não tem um viés racional na compreensão do indivíduo.

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

Para visualizar uma contribuição da psicanálise com os processos de ensino e aprendizagem dos dias atuais, sugere-se a leitura do texto cuja referência você encontra a seguir. É um texto que trata das concepções psicanalíticas voltadas ao ensino, com relação à subjetividade e à alteridade. Boa leitura!WELS, Érica S. Entre a Transmissão e a Transferência: implicações éticas, pedagógicas e psicanalíticas da relação mestre-aprendiz no processo de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras. Pandaemonium ger., São Paulo, v. 18, n. 25, p. 168-183, jun. 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1982-88372015000100010&lng=pt&nrm=iso>.

DICAS

Então, por volta do Século XIX, grande parte das influências aos fundamentos da psicopedagogia são de origem europeia. E como foi que eles chegaram ao Brasil? A próxima seção trata dessa questão.

3 A HERANÇA ARGENTINA

Apesar do Brasil estar geograficamente mais perto da Europa do que a nossa vizinha Argentina, pode-se afirmar que antes de chegar aqui, a psicopedagogia foi se desenvolvendo em solo argentino. Os autores europeus já citados, dentre outros, foram dando subsídios aos autores argentinos.

Conforme Bossa (2000), a filosofia também foi determinante na formulação da psicopedagogia. Por exemplo, a educadora Sara Paín é doutora em filosofia e em psicologia. Ela nasceu em Buenos Aires em 1931, porém passou a morar na França a partir de 1977. Até hoje ela é considerada uma referência para a psicopedagogia, inclusive recomendada pela ABPP Associação Brasileira de Psicopedagogia, conforme você pode conferir no site da ABPP: http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_referencia_bibliografica.html.

Segundo Sara Paín (1992), as dificuldades de aprendizagem não são exclusivamente ocasionadas por fatores localizados no corpo do aluno, como os fatores orgânicos, ou alguma alteração estrutura cognitiva, ou por conta de algum transtorno da linguagem, ou ainda por fatores psicógenos. Dificuldades no processo de aprendizagem podem ser resultantes de fatores ambientais – as possibilidades reais que o meio no qual a pessoa está inserida/se inseriu oferece.

Em outras palavras, alguns embaraços na aprendizagem podem estar ligados à fatores atinentes ao aluno (de ordem orgânica, biológica, cognitiva, subjetiva). No entanto, também podem ser causados por fatores escolares (metodologia de ensino, materiais ou espaço inadequado). A cultura e a esfera social também interferem nos processos de ensinar e aprender.

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TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA

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FIGURA 18 – SARA PAÍN

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-RpIsEv3o3fs/TbtKCq-6XkI/AAAAAAAAABo/NknDc-1eZkM/s1600/principal.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.

Ainda que Sara Paín tenha diversas publicações, o livro selecionado pela ABPP dessa autora é "Subjetividade e objetividade".

CAPA DO LIVRO DE SARA PAÍN

DICAS

FONTE: <https://www.travessa.com.br/diagnostico-e-tratamento-dos-problemas-de-aprendizagem-4-ed-1985/artigo/12a79f5a-d2e2-491f-837b-e149d9fee1a7>.

Acesso em: 20 set. 2019.

Por conseguinte, ressaltamos que a França se destacou nos movimentos ligados à psicopedagogia. Inclusive, um Centro Psicopedagógico foi fundado em Paris, contando com diversos profissionais da medicina, da psicologia, da psicanálise e da pedagogia. Os movimentos franceses acerca da psicopedagogia chegaram à Argentina, por meio dos próprios estudantes da Europa. Em solo argentino, a psicopedagogia vai se desenvolvendo voltada aos modos de

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

aprendizagem, e buscando soluções às mudanças na sociedade depois das guerras. Era uma época em que muitos alunos desistiam dos estudos. Entre os autores da psicopedagogia que se destacam, estão Alícia Fernández e Jorge Visca.

FIGURA 19 – ALÍCIA FERNÁNDEZ

FONTE: <http://www.mlspsicopedagogia.com/images/alicia-fernandez.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.

Alícia Fernández nasceu em Buenos Aires em 1944, e estudou psicopedagogia e psicologia. Ela é a psicopedagoga argentina que mais foi influente na popularização da psicopedagogia no Brasil. Um dos principais livros dela é "A inteligência aprisionada".

FIGURA 20 – CAPA DO LIVRO DE ALÍCIA FERNÁNDEZ

FONTE: <https://www.traca.com.br/capas/989/989951.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.

Jorge Visca também nasceu em Buenos Aires. Nascido em 1935, estudou Ciências da Educação, Letras e Psicologia Social. Fundou instituições de psicopedagogia na Argentina e no Brasil. Os três livros dele, recomendados pela ABPP são:

• O diagnóstico operatório na prática psicopedagógica. • Técnicas projetivas psicopedagógicas e pautas gráficas para sua interpretação. • Clínica psicopedagógica: epistemologia convergente.

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FIGURA 21 – JORGE VISCA

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/_1VtDnpAvY5k/SyWsBHTwIAI/AAAAAAAAAIA/Ki2ZhtPNuvg/w1200-h630-p-k-no-nu/JORGE+VISCA.jpg>. Acesso em: 20 set. 2019.

Jorge Visca é considerado o pai da psicopedagogia. Recebeu essa designação por ter trabalhado com afinco na sistematização de aspectos teóricos da psicopedagogia. Além disso, ele disseminou a Epistemologia Convergente, no Brasil.

FIGURA 22 – CAPA DO LIVRO DE JORGE VISCA

FONTE: <https://d38h3sy5jr28pf.cloudfront.net/capas-livros/9788582980156.jpg>. Acesso em: 24 out. 2019.

Caso queira saber mais sobre esses autores, sinta-se estimulado a realizar buscas por informações sobre eles na internet, livros ou revistas. Mas, é importante esclarecer que existem disciplinas no curso de Psicopedagogia que os abordarão com mais profundidade.

NOTA

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

Até aqui você entrou em contato com vários acontecimentos marcantes que de algum modo incidem sobre a formulação inicial da psicopedagogia. Se você está com dificuldades para compreender como essas descobertas, fatos e criação de teorias se correlacionam, reforçamos que você procure ler os textos indicados aqui no livro, bem como, que assista aos filmes que recomendamos.

Procure incrementar seus estudos, buscando novas fontes de informações, lendo outros suportes de texto, recorrendo a diferentes vídeos. De qualquer modo, tenha em mente que cada teórico, ou pessoa que de alguma maneira interferiu na criação da psicopedagogia, atuou em momentos diferenciados, estando em lugares distintos, numa conjuntura política e social também diferentes.

Além do mais, cada teórico pôde contar com as descobertas científicas que o antecederam, bem como, com as tecnologias e recursos que estavam ao seu alcance naquele momento.

Assim, não se pode considerar os acontecimentos citados neste livro de forma unicamente linear. Vale a pena articular o que aconteceu, em qual localidade, em qual período, para compreender que as teorias estão respaldadas em outras, e que podem se opor a outras. É assim que as coisas costumam se processar no meio científico. Uma teoria fornece base para outra, pode refutar e contestar outras. Assim a ciência vai se ampliando, com o auxílio das inovações em metodologias de pesquisa, nos recursos em tecnologia, novos pressupostos teóricos e reflexivos.

4 LIGANDO OS PONTOS À PSICOPEDAGOGIA

Com a leitura deste livro didático até aqui, certamente, você pôde perceber que, pelas influências que a psicopedagogia foi recebendo em sua formulação, inicialmente ela estava focada na reabilitação de crianças que não estavam tendo bons rendimentos na escola, que pareciam não aprender, ou que eram tachadas de "mal comportadas" pelos familiares ou professores.

Depois, o olhar da psicopedagogia pousou sobre os déficits, ou seja, as coisas que estavam faltando para que a criança aprendesse. Pouco a pouco, a psicopedagogia foi passando a olhar com mais sensibilidade para os sujeitos, atentando mais para a singularidade deles, e ampliando a visão para a família, grupos, instituições, história e também para os fatores sociais e culturais que estavam no entorno da criança.

No começo, ela era essencialmente voltada à compreensão da aprendizagem

e da não aprendizagem, e objetivava a cura daqueles que não aprendiam. Posteriormente, ela começou a pensar e a propor intervenções que favorecessem a aprendizagem, que prevenissem as dificuldades de aprendizagem, portanto, passou a atuar não mais apenas atendendo a crianças no consultório (individualmente ou em grupo), mas, também, a atuar nas instituições educacionais.

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Agora que você já pôde ter noções do percurso da formulação da psicopedagogia na Europa e na Argentina, podemos passar para a próxima unidade? O primeiro tópico dela tratará da Psicopedagogia Brasileira. Vamos lá?

Antes disso, deixamos uma leitura complementar que trata de aspectos da história da formulação da psicopedagogia, que menciona algumas dúvidas sobre o que distingue o trabalho do psicólogo e do psicopedagogo. Talvez você esteja justamente pensando sobre quais são as atividades que são de incumbência do psicólogo, do pedagogo e do psicopedagogo. Ainda existem discussões em torno dessas questões, e na internet você encontra outros artigos que que as expõem.

Lembre-se de que o âmbito da ciência requer leituras que contribuam para a reflexão e para o desenvolvimento do senso crítico. O artigo que segue é de autoria de Odair Sass.

Durante a leitura deste artigo, lembre-se de que conflitos não possuem unicamente um caráter negativo. Os conflitos são benéficos para a movimentação, para a mudança, para o desenvolvimento e para o amadurecimento. Se todos pensassem em plena consonância nunca sairíamos do lugar. A diversidade de pensamentos pode contribuir para o desenvolvimento.

IMPORTANTE

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

LEITURA COMPLEMENTAR

PROBLEMAS DA EDUCAÇÃO: O CASO DA PSICOPEDAGOGIA

Odair Sass

RESUMO

Neste artigo é discutida a relevância dos problemas psicopedagógicos recorrentes das determinações internas e externas à educação escolar, a par do equívoco da pretensão de regulamentar a psicopedagogia como mais uma profissão da esfera educacional. Destaca a questão da regulamentação das profissões de nível superior no Brasil e as raízes variadas da psicopedagogia desde o período imediato após a Segunda Guerra Mundial.

Palavras-chave: Psicologia. Psicopedagogia. Educação. Profissões regulamentadas. A ideia de que as soluções psicopedagógicas de muitos problemas da

educação escolar são novas, digamos, tal como têm sido difundidas a partir dos anos de 1980, esboroa-se à medida que analisamos esses problemas à luz das relações da psicologia com a pedagogia, no Brasil.

Para evidenciar a procedência dessa conclusão, são aqui consideradas (I) as distinções entre ciência e profissão tais quais ainda são praticadas no país, (II) a educação como campo de conhecimento científico e as disciplinas conexas a ele, especialmente a psicologia, para daí (III) indicar que questões psicopedagógicas, próprias da esfera educacional, devem ser distinguidas da reivindicação de regulamentar a psicopedagogia como profissão.

Espera-se, ao final, contribuir para a identificação de fatores que se mantêm estritamente relacionados e ensejam a proposição de soluções aparentemente novas para os velhos problemas reais da educação escolar brasileira: a qualidade da formação de profissionais do nível superior preparados para atuarem na educação e a óptica corporativa com que os problemas da educação são tratados pelos diversos profissionais.

Sem a pretensão de apresentar um sumário histórico, ainda que breve,

das profissões regulamentadas no Brasil, em particular daquelas que exigem, como critério de formação e exercício, o ensino superior – em geral, por aqui denominadas de profissões liberais – vale ressaltar duas tendências contraditórias: uma de regulamentação das atividades profissionais de níveis médio e superior, forte ao longo do Século XX, e outra de desregulamentação de boa parcela daquelas atividades, bastante enfatizada no Brasil, em meados de 1990, por ocasião dos debates no Congresso Nacional acerca da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB/96).

No Brasil, as profissões de nível superior regulamentadas mais antigas são, como se sabe: o direito, a medicina e as engenharias, praticadas e formalizadas desde o Século XIX. Contudo, é no decorrer principalmente dos primeiros dois terços do

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século passado que ocorre um processo intenso de regulamentação das profissões de níveis médio e superior. Assim, por exemplo, a psicologia, introduzida por aqui, desde o final do Século XIX e expandida no decorrer do XX, nos campos médicos e educacionais, foi regulamentada como profissão somente em 1962.

A esse processo de regulamentação das profissões se contrapõe, acentuadamente a partir dos anos de 1990, proposições, cultivadas à direita e à esquerda, com o intuito de desregulamentar a maioria das profissões de nível superior brasileiras.

Desnecessário é relembrar que diversas profissões de nível médio, bastante requisitadas durante a industrialização no país, hoje sequer são lembradas ou se transformaram em raridades; por exemplo, relojoeiro, torneiro-mecânico, tipógrafo, entre outras.

Uma conhecida investida contra as profissões regulamentadas foi aquela desferida por um senador da República, quando transitava no Senado a proposta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional apresentada pelo senador Darcy Ribeiro. Pois bem, aquele senador propôs a inclusão de um artigo que fixava, mais ou menos, o seguinte: "São consideradas regulamentadas no território nacional aquelas profissões da saúde, direito e engenharias".

Afora o aparente despropósito de se pretender regular o mercado de trabalho por meio de uma lei educacional – em nome do combate ao corporativismo dos profissionais e à reserva de mercado decorrente da profissionalização vigente no país – a intenção do legislador era, de fato, atender às exigências do capital.

Não se trata aqui de argumentar em favor dos corporativismos perniciosos; trata-se de admitir que a tese da desregulamentação para um abstrato "mercado de trabalho" é como querer matar o doente pelo remédio que lhe é ministrado.

Acresça-se um elemento estrutural da legislação brasileira que regula a relação entre o ensino superior e o exercício das "profissões liberais". Trata-se, em linhas gerais, da seguinte regra jurídico-política: para a regulamentação de uma profissão é necessária a formação profissional em um curso de nível superior correspondente. Contudo a recíproca não é verdadeira, isto é, pode haver um curso superior sem que haja uma profissão regulamentada correspondente. Mais ainda, pode haver cursos e respectivas profissões, sem que haja conselhos profissionais – instância orientadora e fiscalizadora de profissões regulamentadas, administradas pelo corpus profissional por concessão do Estado, componente decisivo para se discutir e compreender o corporativismo. Para não multiplicar os exemplos, mencione-se apenas os casos da pedagogia (curso superior sem profissão correspondente), do jornalismo e da sociologia (cursos superiores com profissões correspondentes regulamentadas, organizadas por associações profissionais de natureza sindical em vez dos conselhos concedidos pelo Estado).

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

Cabe por fim assinalar ainda mais um nó desse intricado emaranhado das profissões de nível superior no país: trata-se dos complexos vínculos estabelecidos entre ciência e profissão. Mais uma vez, não se pretende aqui propor soluções, visa-se antes a apontar para o problema.

Como é sobejamente conhecido, que há muito tempo, os conselhos profissionais insistem, às vezes de modo apropriado e pertinente e, no mais das vezes, de modo açodado, movidos mais pela apetência que pela competência, em querer legislar não apenas sobre a atuação e o exercício profissionais, mas, acima de tudo, sobre os conhecimentos científicos desenvolvidos especialmente em centros de pesquisa e universidades.

Disso decorre mencionar a distinção, por vezes ocultada, entre o conhecimento científico elaborado de acordo com o que se convencionou denominar de ciência social – isto é, campos de conhecimento relativos a objetos, conteúdos e métodos específicos – e as práticas profissionais – isto é, atividades circunscritas, orientadas por referências teóricas, técnicas e procedimentos aplicados a problemas sociais e à prestação de serviços.

Se, indiscutivelmente, ciência e profissão mantêm nexos entre si, como esferas que se referem uma à outra, não é menos verdadeiro o fato de que tais nexos nem são diretos, nem simétricos. Assim, uma coisa é o conselho profissional orientar e fiscalizar a atuação de seus filiados no que tange ao campo científico que lhe dá fundamento, e recorrer aos centros de pesquisa, seja para dirimir questões profissionais, seja para auxiliar o aprimoramento da profissão, outra coisa, muito diferente, é pretender legislar sobre a ciência e, por decorrência, sobre as instituições que a produzem. Não menos danosa é a recíproca, ou seja, as universidades, os centros de pesquisa, as associações profissionais (distinguíveis dos conselhos) pretenderem impor suas regras, como salvaguardas e protetoras do "bom" exercício profissional, sem as devidas mediações.

De toda maneira, é preciso registrar que a relação entre ciência e profissão guarda vínculos importantes com aquela estabelecida entre o Estado e a regulamentação das profissões no país, ou seja, com o chamado corporativismo. Questões que a mim me parecem de decisiva relevância nos debates acerca das funções do Estado e das instituições sociais, na fase atual de internacionalização plena do capital e de expansão violenta da sociedade administrada.

A propugnação da pedagogia como ciência da educação remonta, na

modernidade, ao Século XVIII e, marcadamente, ao início do XIX, com Johan W. Herbart. Herbart, ciente do papel decisivo que a educação e a instituição escolar passariam a desempenhar para a formação do sujeito, destacava a ética e a psicologia – esta ainda enfaticamente filosófica – como as ciências-pilares de uma pedagogia geral; a primeira voltada para os fins e a segunda voltada para os meios da educação.

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TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA

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A criação das ciências empíricas – em especial as biológicas e sociais – no decorrer do Século XIX e nas primeiras décadas do XX, permite asseverar que não só a pedagogia não se constituiu como ciência unitária – posto que falta a ela a formulação básica de objetos de estudo – bem como se tornou suscetível a toda sorte de influências conjunturais, emanadas das ciências que, a cada momento, estão em evidência. Assim, ora a educação é alvo da sociologia, da antropologia, da história, da economia, ora da biologia e da psicologia. Nestes termos, parece-nos que a pedagogia e a esfera da educação se converteram mais propriamente em campo de conhecimento e de intervenção variada que em ciência e práticas profissionais especializadas. Mais se diz sobre e se constatam as crises da educação, de modo extrínseco, e menos se ocupa de seus problemas imanentes e se realizam as críticas radicais necessárias que o campo suscita.

Dessas oscilações e da influência variada é de todo modo destacável aquela exercida pela psicologia na esfera educacional. Resultante da emergência tardia do indivíduo como categoria social, destacadamente defendida pelo Iluminismo no plano filosófico-científico, pela Revolução Francesa no plano político-institucional e pelas relações burguesas de produção, a psicologia vai se constituindo nas lutas da metafísica com a ciência, do capital com o trabalho, das instituições voltadas à formação do sujeito com o controle social do indivíduo.

Determinada pelas relações sociais burguesas, que, antes de presumir o sujeito racional tal como fizera Kant, passou a constituí-lo, carente de objeto, como tão bem constatou Hegel, a psicologia realizava-se em meios tão distintos quanto aqueles da indústria, da escola, dos hospitais e dos locais adequados para atendimento privado da privacidade do indivíduo, com o intuito, é claro, de adaptá-lo antes que de contribuir para sua emancipação efetiva.

Por sua vez, a determinação da psicologia sobre o campo educativo ensejou o que muitos denominam corretamente de psicologismo, isto é, a redução da explicação de fenômenos sociais e políticos complexos e objetivos à esfera da subjetividade, das vontades, dos interesses e das limitações individuais.

Entre os fatores objetivos e subjetivos da educação a psicologia privilegia os últimos; perspectiva que, de um lado, está de acordo com o seu objeto, ou seja, o indivíduo, e, de outro, põe-se em desacordo com ele, na medida em que atribui exclusivamente ao indivíduo seus impedimentos, fracassos, desempenhos e realizações. Daí, sob a óptica da teoria crítica, a psicologia padecer da contradição, insolúvel na sociedade burguesa, de defesa do indivíduo e também de responsabilizá-lo solenemente por suas ações.

Ao abstrair as condições objetivas que determinam a conduta humana, a psicologia converte-se em ideologia. Em parte, a subordinação ou a abstração da objetividade explica a insistência de diversas teorias psicológicas propugnarem o isolamento do indivíduo das circunstâncias em que efetivamente se comporta, fomentando assim um recorrente modo de agir sobre o indivíduo, aqui provocativamente denominado de clinicalismo.

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Tal modo de agir é um dos traços mais marcantes da intervenção da psicologia no campo educacional e em sua relação com a pedagogia. A contraface disso pode ser assim sintetizada: se o psicólogo é um "quase-médico", como vaticinou um psicólogo norte-americano, no final da década de 1960, então muitos pedagogos são, guardadas as proporções, "quase-psicólogos". Em outras palavras, uma das oscilações da pedagogia para o enfrentamento dos problemas pedagógicos, nos termos aqui apresentados, corresponde à modalidade clinicalista do psicologismo.

Um desdobramento dos nexos estabelecidos entre as ciências e a

regulamentação das profissões e especificamente entre a psicologia e a pedagogia, no Brasil, é aquele relativo às especializações e à prestação de serviços destinados à resolução de problemas escolares ou psicopedagógicos, conhecidos estes também como serviços periescolares.

Pretende-se aqui indicar, a título introdutório, portanto, mais como hipóteses orientadoras para explorações posteriores e menos como conclusões peremptórias, que a psicopedagogia tal qual emerge no Brasil, enfaticamente a partir dos anos de 1980, isto é, como "solução nova", com o objetivo de prestar serviços especializados para resolver as mazelas do fracasso escolar e os problemas de aprendizagem dos alunos, é uma reposição parcial, fortemente psicologista (na acepção mencionada anteriormente) e "clinicalista", de um conjunto de proposições teóricas e modos institucionais de tratamento dos problemas escolares, desenvolvidos, em particular, por educadores e psicólogos franceses que remontam ao período imediatamente posterior à Segunda Guerra, por meio da criação de centros psicopedagógicos, quando "o Ministério da Educação nacional e o Ministério da Saúde tomaram consciência da necessidade de ação organizadora em favor de indivíduos cujos problemas não dependiam nem da falta de meios, nem de simples má vontade" (BEAUFILS, 1974, p. 328).

Em termos mais precisos, a psicopedagogia, tal como foi desenvolvida em França, incide sobre aspectos distintos da organização escolar, a saber: 1) como modo prático de o professor conduzir, propor, orientar as atividades dos alunos, a psicopedagogia é compreendida como didática, conforme a referência seja a classe tradicional (escola tradicional), a classe nova (educação nova) ou uma classe ativa (escola ativa) e suas variantes (LEFÈVRE, 1974, p. 88-128); 2) como modo de distribuir em sequências, bem como identificar os aspectos psicológicos envolvidos no ensino e na aprendizagem de conteúdos das disciplinas escolares, a psicopedagogia é inscrita nas questões referentes à psicologia e ao currículo (LEBOUTET, 1974, p. 243-256); 3) como modo institucional de tratar as crianças com problemas de conduta e de aprendizagem por meio da criação de centros psicopedagógicos (BEAUFILS, 1974, p. 325-334; 4) sob a denominação de pedagogia curativa escolar, com inclinações indiscutivelmente terapêuticas, como modo de tratar "[...] crianças e adolescentes inaptas, que, embora inteligentes, têm maus resultados escolares e para quem os exames feitos levaram a pensar que uma psicoterapia seria inútil ou insuficiente [...] tratamento baseado em exercícios escolares [...]" (DEBESSE apud BLEY, 1974, p. 338).

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TÓPICO 3 | INTRODUÇÃO ÀS TEORIAS DA PSICOPEDAGOGIA

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À luz da argumentação aqui apresentada, é razoável concluir que a psicopedagogia no Brasil pretende privilegiar os problemas de conduta e de aprendizagem bem como a perspectiva da psicologia clínica de tratá-los; em suma, a psicopedagogia, no Brasil, pretende ser inserida, de modo predominante, como "solução nova" dos velhos problemas escolares os quais tanto a pedagogia quanto a psicologia (e suas variantes psicologia da educação, psicologia escolar e psicologia clínica) fracassaram, por fatores objetivos, solenemente em resolver.

Apresse-se aqui em esclarecer dois pontos importantes: 1º) todo o esforço empreendido pelos educadores franceses para distinguir a psicopedagogia da psicologia clínica e das psicoterapias não logrou a êxito – caso contrário não estaríamos assistindo ao retorno de mais um psicologismo sem freios no campo educativo; 2º) tanto quanto é preciso admitir que muitos dos problemas psicopedagógicos permanecem ou se agravam na educação escolar brasileira, deve-se registrar, com vigor, que a solução de tais problemas não está na dependência direta de mais especializações e profissionalizações – a questão é, primeiro, política e institucional e, subordinadamente, técnica e profissional –; menos ainda a resolução de tais problemas está na dependência de algo como "pedagogia curativa escolar".

Quanto ao primeiro ponto, Jean Vial, um dos autores do tratado referido anteriormente, inclui, entre os fatores externos de mudança da pedagogia contemporânea, o pedocentrismo, isto é, o deslocamento das preocupações pedagógicas dos meios e das técnicas para o sujeito da ação pedagógica, subdividido, por sua vez, em uma biopedagogia e numa psicopedagogia (VIAL, 1974, p. 453-485). Esta, apesar de se nutrir das pesquisas empíricas e experimentais levadas a cabo pela psicologia escolar bem como dos resultados da psicologia do desenvolvimento, de sorte a realizar a antiga perspectiva de uma escola "bem centrada na criança", não se deveria reduzir à psicologia escolar ou mesmo a uma psicologia ligada à biologia do conhecimento. Para o autor, uma psicopedagogia eficaz inclui nas práticas escolares e na formação do professor, além dos conhecimentos mencionados, o fator social que determina em larga medida as atividades pedagógicas de ensino e aprendizagem (idem, ibid., p. 481-484).

A psicopedagogia, admitida como esforço de articulações de conhecimentos produzidos por ciências tão distintas quanto a biologia, a psicologia, a medicina, a linguística, a sociologia, é de todo modo, de acordo com os autores que a reivindicaram, uma realização da educação escolar, no âmbito da escola e da sala de aula; não uma realização em clínicas e consultórios, ou por um modo clinicalista de analisar os problemas pedagógicos.

Com relação ao segundo ponto é desejável, por tudo o que até aqui se disse, que uma coisa é reconhecer a permanência e o agravamento dos velhos problemas de ensino e aprendizagem bem como a emergência de novos problemas, que bem podemos nomear de problemas psicopedagógicos, outra coisa, bastante distinta, é a pretensão de que a resolução daqueles problemas dependa da regulamentação de uma nova profissão para dar legalidade a um

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UNIDADE 1 | ALICERCES DA PSICOPEDAGOGIA

novo profissional da educação, recorrendo ao velho procedimento de isolar o problema (leia-se o aluno) das condições concretas em que se manifesta (leia-se escola, relações sociais entre professor e aluno, dificuldades e impedimentos decorrentes de métodos e conteúdos do ensino).

À guisa de conclusão

Este artigo foi redigido com a finalidade precípua de suscitar algumas questões acerca dos problemas psicopedagógicos. Assim, terá cumprido sua função se contribuir para o entendimento de que as graves dificuldades da educação brasileira não serão superadas de modo pontual ou por meio de soluções aparentemente novas, marcadas pelos conhecidos procedimentos técnicos da psicologia.

É certo que não estão aqui em julgamento as sinceras intenções dos profissionais da educação ou daqueles que, atuando em áreas profissionais conexas, estão comprometidos com a educação.

Se, de fato, a especificidade dos problemas pedagógicos exige, para que estes sejam resolvidos, esforços conjugados de investigações e intervenções das distintas disciplinas auxiliares da educação bem como da competência profissional, não nos parece razoável deixar de indicar que, em tempos bicudos como este, a crítica ao fracasso das intervenções profissionais na educação, no meadamente da psicologia e da pedagogia, resulte, em nome do combate ao corporativismo, em mais corporativismo.

Aliás, parece plausível que um esforço para sustentar a superação dos abismos existentes entre a psicologia e a pedagogia na educação, com base na articulação dos conselhos profissionais e das entidades sindicais da psicologia, das associações de professores, dos centros de educação, de pesquisadores de universidades e das instâncias legislativas comprometidas com a escola pública, visasse com seriedade e crítica às possibilidades de resolução dos problemas psicopedagógicos que, não menos que outros estruturais, causam o sofrimento psíquico de tantas crianças, jovens, professores e pais, bem como o fracasso escolar.

FONTE: SASS, Odair. Problemas da educação: o caso da psicopedagogia. Educação & Sociedade, Campinas, v. 24, n. 85, p. 1363-1373, dez. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-73302003000400013&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 26 set. 2019.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os fundamentos da psicopedagogia foram construídos na Europa, no século XIX.

• Além das influências da Psicologia e da Pedagogia, a Psicopedagogia recebeu impactos da Medicina, da teoria Evolucionista, da Matemática, da Estatística, da Literatura, da Psicometria, da Psicanálise etc.

• Desde o início a Psicopedagogia teve como característica a interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.

• Primeiramente, a Psicopedagogia visava reeducar crianças com comportamentos considerados inapropriados, ou que tinham dificuldades para aprender.

• A psicopedagogia foi trazida para o Brasil por meio de pessoas que estavam estudando e trabalhando com ela na Argentina.

• Sara Paín teve influência dos movimentos franceses ligados à Psicopedagogia.

• Aos poucos, a psicopedagogia vai percebendo que os fatores que atrapalhavam a aprendizagem não estavam centrados necessariamente nos alunos que não conseguiam aprender.

• A psicopedagogia expande o olhar para o contexto familiar, cultural, socioeconômico, social, e histórico dos sujeitos.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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1 Com a leitura deste tópico vimos que as obras literárias podem exercer influência sobre profissionais ou pesquisadores da área da saúde. Isso foi exemplificado pelas obras de Shelley, Machado de Assis e Dickens. Como isso é possível se os escritores não possuem formação acadêmica relativa ao campo da saúde?

2 Por se tratar da primeira unidade de um livro introdutório à psicopedagogia, talvez ainda não esteja muito claro o que é a psicopedagogia. Mas que tal escrever suas suposições acerca das influências de algumas áreas citadas nesse tópico na Psicopedagogia atual? Procure basear-se no que vimos neste livro até aqui, e incremente sua resposta com os conhecimentos que você já tem acumulado antes mesmo de iniciar essa disciplina. Não se preocupe se cometer equívocos, neste momento, o seu desafio é tentar! É suficiente rascunhar uma linha sobre suas hipóteses/palpites.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o histórico e o contexto de surgimento da psicopedagogia no Brasil;

• entender a construção dos objetos de estudo da psicopedagogia;

• conhecer bases teóricas e epistemológicas da psicopedagogia;

• identificar a contribuição de outras áreas para o desenvolvimento da psicopedagogia e do psicopedagogo;

• depreender a interdisciplinaridade da psicopedagogia;

• conhecer o Código de Ética do Psicopedagogo, bem como outros regulamentos relacionados ao trabalho do Psicopedagogo no Brasil.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

TÓPICO 2 – BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

TÓPICO 3 – ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1

A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Que tal iniciarmos a presente unidade fazendo uma concisa recapitulação do que foi visto na unidade anterior?

Com a ascensão da burguesia a escola passou a fazer parte da estrutura social, passando a ser obrigatória para as crianças (pois as novas e futuras gerações precisariam aprender determinados códigos para viver nesta “nova” sociedade, como por exemplo, interpretar o alfabeto). Desse modo, Lutero foi uma figura destacável nesse processo, na medida em que incentivou a leitura ao máximo de pessoas que pôde, além de expor suas considerações sobre a construção de currículos na educação. De mais a mais, incalculáveis aspectos históricos contribuíram para a formação e crescimento da escola em termos sociais e políticos.

Você lembra de como a escola era assim que foi inventada? Qual era a finalidade dela na época? É necessário aclarar que no século anterior a maioria dos discursos sobre a educação defendia a rigidez no ensino e na formação do sujeito (ARAUJO et al., 2016). E hoje como está a escola? Qual é a finalidade das escolas na atualidade?

Há décadas a escola têm sido uma das principais instituições responsáveis pelo processo da aprendizagem, sobretudo na modalidade da educação formal. As escolas foram sendo construídas, tendo sua estrutura física e de funcionamento bastante similar às fábricas, não é mesmo?

Essas reflexões são essenciais, já que o grau de importância cada vez mais elevado atribuído à escola no desenvolvimento da aprendizagem do indivíduo foi determinante para a formulação da psicopedagogia.

No decurso da leitura desse livro até aqui, você deve ter depreendido que a Psicopedagogia consiste também em uma área de estudos e atuação profissional interdisciplinar, cujas principais teorias e práticas de base advém da psicologia e da pedagogia.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Portanto, a psicopedagogia corresponde a um saber científico, tendo em vista que se debruça a observar e analisar determinados fenômenos, com metodologias de pesquisa específicas. Também equivale a uma prática, sendo que propõe intervenções e conduz procedimentos com seus clientes/pacientes.

Logo, no presente tópico você encontra alguns aspectos que colaboraram para a formulação da psicopedagogia no Século XX na América Latina. Ou como se unem psicologia e pedagogia para formar a psicopedagogia. Justamente nessa época, a psicologia e a pedagogia ganharam mais destaque no campo científico e social.

Fazemos votos de que ao longo da leitura, você seja cutucado por alguns questionamentos, tais como: O que é utilizado de cada disciplina para constituir uma nova? Qual o contexto histórico, social e político que dá margem para o desenvolvimento da psicopedagogia?

Na sequência você entrará com contato com movimentos atinentes à introdução da psicopedagogia no Brasil. Depois disso, poderá visualizar os princípios éticos da psicopedagogia e as competências éticas que são imprescindíveis para a atuação profissional dos psicopedagogos. Até porque a palavra "fundamentos" – que consta na capa do livro que você está lendo, também abarca o sentido de regra, lei, norma e regulamento. Então, vamos colocar nosso foco sobre tais temáticas agora?

2 A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Resgatando suas memórias das leituras dos tópicos anteriores, você deve recordar que a Psicopedagogia foi formulada inicialmente e de modo mais corpulento na França. Algumas pessoas que estavam lá na França, trouxeram-na para a Argentina. E da Argentina, ela veio para o território brasileiro, portanto, os princípios dos psicopedagogos argentinos influenciaram e continuam exercendo influência na psicopedagogia no Brasil (BOSSA, 1994).

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TÓPICO 1 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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FIGURA 1 – CAMINHOS DA PSICOPEDAGOGIA ATÉ CHEGAR AO BRASIL

FONTE: A autora

A partir dessa ilustração pode-se observar o mapa múndi, tendo uma flecha partindo da Europa, e atingindo a América do Sul. Optou-se por essa ilustração para que você possa visualizar que a psicopedagogia foi levada da França, para a Argentina – mais especificamente em Buenos Aires, sendo posteriormente difundida no Brasil – começando pelo solo gaúcho.

Em 1965, o Dr. Julio Bernaldo de Quirós, veio de Buenos Aires, para a Faculdade de Medicina do Rio Grande do Sul. O motivo dessa visita foi a ministração de um curso sobre Linguagem e Aprendizagem, por parte do Dr. Quirós (PORTELLA, 2005). A psicopedagogia chegou ao Brasil, vinculando saberes da saúde à educação.

A Linguística, portanto, é uma área que dá suporte à Psicopedagogia, na medida em que considera a linguagem como um dos meios que caracterizam o ser humano. A linguagem está vinculada à cultura, já que a língua é um código comunicativo, de caráter subjetivo, histórico, simbólico, utilizado pela sociedade.

Na década de 1970, o Brasil estava apresentando índices inquietantes de crianças com dificuldades de aprendizagem. Naquela época, as explicações sobre o não aprender centravam-se na esfera orgânica e neurológica. Ou seja, os alunos que não aprendiam tinham um impedimento localizado em seu organismo, em seu corpo, que atravancavam os processos de aprendizagem. Então, a grande maioria deles recebia o diagnóstico de "Disfunção Cerebral Mínima – DCM".

Assim, a Psicopedagogia parecia ser um saber que poderia contribuir com essa demanda, disponibilizando práticas direcionadas a solucioná-la ou, ao menos, amenizá-la, fazendo uso de procedimentos oriundos da pedagogia curativa, dentre outros. Por volta da década de 70, alguns psicopedagogos partiram da Argentina, rumo ao Brasil, a fim de disseminar as ideias e intervenções psicopedagógicas, que vinham sendo desenvolvidas na Argentina, desde a década de 50.

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Se você está sentindo necessidade de mergulhar nessa história com mais profundidade, aconselhamos que leia o livro "Psicopedagogia e sociedade: história, concepções e contribuições" escrito por Marisa Aguetoni Fontes.

CAPA DO LIVRO PSICOPEDAGOGIA E SOCIEDADE: HISTÓRIA, CONCEPÇÕES E CONTRIBUIÇÕES

DICAS

FONTE: <https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/51aYQBb9zyL._SX330_BO1,204,203,200_.jpg>. Acesso em: 24 out. 2019.

É interessante ressaltar que psicopedagogia vai sendo formulada no Século XX. Você lembra quais eram os aspectos históricos deste período? Podemos, assim, destacar as grandes guerras, a explosão de nascimentos que transcorreu após o final da Segunda Guerra Mundial, fenômeno que ficou conhecido como baby boom.

O baby boom corresponde à quantidade significativa de nascimentos que ocorreu entre 1946 e 1964 na Europa, na América e em outros continentes. O baby boom também se configura como um momento de “otimismo” na sociedade, visto que a guerra tinha encerrado e, grosso modo, os combatentes sobreviventes voltavam para casa e havia uma ideia de “novo início” ou “paz” pairando no ar.

Mais especificamente em território brasileiro, a psicopedagogia foi inicialmente praticada com enfoque na reintegração e reeducação de crianças com dificuldades/distúrbios/problemas de aprendizagem. Assim, foram abertos, centros de estudos em psicopedagogia no Brasil, e outras instituições que começaram a oferecer cursos em nível de especialização e de mestrado sobre a psicopedagogia.

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TÓPICO 1 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Não há como separar o percurso histórico da Psicopedagogia sem considerar a formação profissional. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba bem como em outras capitais e cidades, os psicopedagogos tiveram a colaboração importante de psicopedagogos da América Latina e também de autores europeus que mostraram a possibilidade de compreender o aluno que fracassa a partir de uma visão integrada. Os aspectos orgânicos nesta visão não são descartados, porém visa-se primordialmente entender o sujeito da aprendizagem inserido num contexto. Nesta década, Ana Maria Rodriguez Muñiz, Alicia Fernandez, Ana Teberowsky, Bernardo Quirós, Emília Ferreiro, Jorge Visca, Jacob Feldman, Mabel Condemarin, Sara Paín, em diferentes períodos, colaboraram diretamente na formação teórica e prática, por meio de seus cursos, seminários e, indiretamente, através da literatura, tendo influenciado a construção de um novo modelo de intervenção clínica. Estes autores nos transmitiram a necessidade de buscar compreender o sujeito aprendente a partir de diferentes disciplinas: Psicologia Genética, Antropologia, Sociologia, Psicanálise, Psicologia Social Operativa, Psicolinguística, Educação e Neurologia. A visão organicista, com forte influência da Medicina, deixou de ser preponderante para compreender o fracasso escolar. Como dissemos anteriormente, a década de 80 caracterizou-se pela instauração de uma visão dinâmica da Psicopedagogia (RUBINSTEIN; CASTANHO, 2004, p. 230).

Talvez a olhadela sobre a palavra grifada nessa citação tenha causado algum estranhamento da sua parte.

Aprendente. Vamos verificar o significado dessa palavra para a Psicopedagogia?

Em espanhol diz-se enseña, cujo radical é o mesmo para insígnia e ensinar. Assim, a psicopedagoga cunha o termo ensinante para designar a posição de quem provê ensenãs. O aprendente, por sua vez, é aquele que potencialmente transformará as ensenãs em conhecimento, o que se dá por processos de objetivação (classificar, seriar, sistematizar) e de subjetivação (conexão com o próprio desejo de conhecer e de aprender a partir do que alguém oferta e também do que se deseja) (FREITAS, 2016, p. 581).

Agora, voltando aos aspectos da história da chegada da Psicopedagogia no Brasil e da formação de psicopedagogos, é importante citar a fundação da Associação Brasileira de Psicopedagogia, ABPp, que aconteceu em 1980. Vale ressaltar que até hoje no Brasil, a ABPp dá apoio, aos psicopedagogos, auxiliando-os com orientações pertinentes à sua formação e atuação.

Que tal ser conduzido pela sua curiosidade no site da ABPp? Lá você encontra a Revista Psicopedagógica em várias edições e volumes. Essa revista dispõe de artigos e outras publicações muito interessantes. Este é o link: http://www.abpp.com.br/index.html. Vale a pena conferir. Boa leitura!

DICAS

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Sobre a Psicopedagogia no Brasil, ainda é necessário fazer menção aos teóricos e teorias que lhe fundamentam:

Sigmund Freud, Jacques Lacan, Carl Jung, Arminda Aberastury, Henrique Pichón-Rivière, André Lapierre, Jean Piaget, Vygotsky, Simone Ramain, Reuven Feurstein, Henry Wallon, Victor da Fonseca, Fritjof Capra, Donald Winnicott, entre outros. Podemos afirmar que apesar das diferentes abordagens teóricas, do ponto de vista científico, a Psicopedagogia vem se apoiando em alguns pressupostos básicos, os quais sustentam a produção de conhecimento na área. São eles: psicologia piagetiana, teorias socioconstrutivistas, psicologia social, psicanálise, psicolinguística e neurociência, entre outros (RUBINSTEIN; CASTANHO, 2004, p. 230).

Você observou que a lista de referenciais da psicopedagogia no Brasil repete

parte dos nomes e de teorias que foram apresentadas no tópico antecedente? Isso aconteceu em virtude das influências deixadas pela Psicopedagogia da Europa e da Argentina na Psicopedagogia que se faz no Brasil.

Seguem algumas sugestões de leituras, para os acadêmicos que desejarem conhecer a história da psicopedagogia com mais detalhes: BOSSA, Nádia. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994.BEAUCLAIR, João. Para entender a psicopedagogia: perspectivas atuais, desafios futuros. Rio de Janeiro: Wak, 2006. FERNANDES, Alicia. O saber em jogo: a psicopedagogia propiciando autorias de pensamentos. Porto Alegre: Artemed, 2001.

DICAS

3 DOCUMENTOS SOBRE A ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO NO BRASIL

Nesta seção estão alocados três documentos cuja leitura é imprescindível para às pessoas que estão estudando sobre Psicopedagogia, sobretudo para aquelas que desejam se tornar psicopedagogas: Código de Ética do Psicopedagogo, Parâmetros Nacionais para Elaboração de Concursos Públicos para Psicopedagogos no Brasil e A regulamentação do exercício da atividade em Psicopedagogia.

Recomendamos que você faça a leitura das próximas páginas de modo atento, até porque fará parte da sua realidade. Podemos garantir a você que a leitura dessas documentações não traz apenas informações práticas para a atuação profissional do psicopedagogo, mas também, apresentam várias especificidades dessa profissão.

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TÓPICO 1 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Prezado aprendente, lembre-se de que ética não é algo que só diz respeito ao trabalho profissional. Você sabia que é necessário adotar uma postura ética até mesmo durante a vida acadêmica? Por exemplo, durante os estágios não se pode publicar fotos dos pacientes ou fotos suas com eles, nas redes sociais, sem a devida autorização.

Portanto, não espere concluir seu curso de nível superior para se preocupar com a ética. Inclua a ética já na fase de estudos, o que abrange a forma pela qual você conduz seus estudos e se porta nos momentos avaliativos.

Inclusive, Menezes et al. (2017) fez uma pesquisa sobre elaboração coletiva do código de ética do acadêmico de medicina. O artigo que resultou dessa pesquisa, abrange assuntos fundamentais acerca do código de ética de estudantes universitários, tais como, dignidade, moral, bioética, direitos e deveres dos professores, dos pacientes e da sociedade como um todo. A utilização de redes sociais e até mesmo o trote que é feito com alguns calouros quando ingressam no ensino superior também estão mencionados no artigo. Os processos decisórios já tomados durante os estudos universitários precisam estar balizados pela ética e reflexão.

Disponibilizamos esses três documentos aqui para facilitar seus

estudos, mas é importante esclarecer que eles foram extraídos na íntegra do site da Associação Brasileira de Psicopedagogia (https://www.abpp.com.br/documentos_referencias.html), então, se futuramente você não estiver perto do livro de estudos e necessitar consultar algum desses documentos, você pode encontrá-los lá gratuitamente.

Código de ética do psicopedagogo Reformulado pelo Conselho da ABPp, gestão 2011/2013 e aprovado em Assembleia Geral em 5 de novembro de 2011.

O Código de Ética tem o propósito de estabelecer parâmetros e orientar os profissionais da Psicopedagogia brasileira quanto aos princípios, normas e valores ponderados à boa conduta profissional, estabelecendo diretrizes para o exercício da Psicopedagogia e para os relacionamentos internos e externos à ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia.

A revisão do Código de Ética é prevista para que se mantenha atualizado com as expectativas da classe profissional e da sociedade.

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Capítulo I – Dos princípios Artigo 1ºA Psicopedagogia é um campo de atuação em Educação e Saúde que se ocupa do processo de aprendizagem considerando o sujeito, a família, a escola, a sociedade e o contexto sócio-histórico, utilizando procedimentos próprios, fundamentados em diferentes referenciais teóricos. Parágrafo 1ºA intervenção psicopedagógica é sempre da ordem do conhecimento, relacionada com a aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre os processos de aprendizagem e as suas dificuldades. Parágrafo 2ºA intervenção psicopedagógica na Educação e na Saúde se dá em diferentes âmbitos da aprendizagem, considerando o caráter indissociável entre o institucional e o clínico. Artigo 2ºA Psicopedagogia é de natureza inter e transdisciplinar, utiliza métodos, instrumentos e recursos próprios para compreensão do processo de aprendizagem, cabíveis na intervenção. Artigo 3ºA atividade psicopedagógica tem como objetivos:a) promover a aprendizagem, contribuindo para os processos de inclusão

escolar e social;b) compreender e propor ações frente às dificuldades de aprendizagem;c) realizar pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia;d) mediar conflitos relacionados aos processos de aprendizagem. Artigo 4ºO psicopedagogo deve, com autoridades competentes, refletir e elaborar a organização, a implantação e a execução de projetos de Educação e Saúde no que concerne às questões psicopedagógicas.

Capítulo II – Da formação Artigo 5ºA formação do psicopedagogo se dá em curso de graduação e/ou em curso de pós-graduação – especialização “lato sensu” em Psicopedagogia, ministrados em estabelecimentos de ensino devidamente reconhecidos e autorizados por órgãos competentes, de acordo com a legislação em vigor.

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TÓPICO 1 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Capítulo III – Do exercício das atividades psicopedagógicas Artigo 6ºEstarão em condições de exercício da Psicopedagogia os profissionais graduados e/ou pós-graduados em Psicopedagogia – especialização “lato sensu” - e os profissionais com direitos adquiridos anteriormente à exigência de titulação acadêmica e reconhecidos pela ABPp. É indispensável ao psicopedagogo submeter-se à supervisão psicopedagógica e recomendável processo terapêutico pessoal. Parágrafo 1ºO psicopedagogo, ao promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo de acordo com as normas do Estatuto da ABPp e os princípios deste Código de Ética. Parágrafo 2ºOs honorários deverão ser tratados previamente entre o cliente ou seus responsáveis legais e o profissional, a fim de que:a) representem justa contribuição pelos serviços prestados, considerando

condições socioeconômicas da região, natureza da assistência prestada e tempo despendido;

b) assegurem a qualidade dos serviços prestados. Artigo 7ºO psicopedagogo está obrigado a respeitar o sigilo profissional, protegendo a confidencialidade dos dados obtidos em decorrência do exercício de sua atividade e não revelando fatos que possam comprometer a intimidade das pessoas, grupos e instituições sob seu atendimento. Parágrafo 1ºNão se entende como quebra de sigilo informar sobre o cliente a especialistas e/ou instituições, comprometidos com o atendido e/ou com o atendimento. Parágrafo 2ºO psicopedagogo não revelará como testemunha, fatos de que tenha conhecimento no exercício de seu trabalho, a menos que seja intimado a depor perante autoridade judicial. Artigo 8ºOs resultados de avaliações só serão fornecidos a terceiros interessados, mediante concordância do próprio avaliado ou de seu representante legal. Artigo 9ºOs prontuários psicopedagógicos são documentos sigilosos cujo acesso não será franqueado a pessoas estranhas ao caso.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Artigo 10ºO psicopedagogo procurará desenvolver e manter boas relações com os componentes de diferentes categorias profissionais, observando para esse fim, o seguinte:a) trabalhar nos estritos limites das atividades que lhe são reservadas;b) reconhecer os casos pertencentes aos demais campos de especialização,

encaminhando-os a profissionais habilitados e qualificados para o atendimento. Capítulo IV – Das responsabilidades Artigo 11ºSão deveres do psicopedagogo:a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que

tratem da aprendizagem humana;b) desenvolver e manter relações profissionais pautadas pelo respeito, pela

atitude crítica e pela cooperação com outros profissionais;c) assumir as responsabilidades para as quais esteja preparado e nos

parâmetros da competência psicopedagógica;d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;e) responsabilizar-se pelas intervenções feitas, fornecer definição clara

do seu parecer ao cliente e/ou aos seus responsáveis por meio de documento pertinente;

f) preservar a identidade do cliente nos relatos e discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos;

g) manter o respeito e a dignidade na relação profissional para a harmonia da classe e a manutenção do conceito público.

Capítulo V – Dos instrumentos Artigo 12ºSão instrumentos da Psicopedagogia aqueles que servem ao seu objeto de estudo – a aprendizagem. Sua escolha decorrerá de formação profissional e competência técnica, sendo vetado o uso de procedimentos, técnicas e recursos não reconhecidos como psicopedagógicos. Capítulo VI – Das publicações científicas Artigo 13ºNa publicação de trabalhos científicos deverão ser observadas as seguintes normas:a) as discordâncias ou críticas deverão ser dirigidas à matéria em discussão e

não ao seu autor;b) em pesquisa ou trabalho em colaboração, deverá ser dada igual ênfase aos

autores e seguir normas científicas vigentes de publicação. Em nenhum caso o psicopedagogo se valerá da posição hierárquica para fazer publicar, em seu nome exclusivo, trabalhos executados sob sua orientação;

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TÓPICO 1 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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c) em todo trabalho científico devem ser indicadas as referências bibliográficas utilizadas, bem como esclarecidas as ideias, descobertas e as ilustrações extraídas de cada autor, de acordo com normas e técnicas científicas vigentes.

Capítulo VII – Da publicidade profissional Artigo 14ºAo promover publicamente a divulgação de seus serviços, deverá fazê-lo com exatidão e honestidade. Capítulo VIII – Dos honorários Artigo 15ºO psicopedagogo, ao fixar seus honorários, deverá considerar como parâmetros básicos as condições socioeconômicas da região, a natureza da assistência prestada e o tempo despendido.Capítulo IX – Da observância e cumprimento do Código de Ética Artigo 16ºCabe ao psicopedagogo cumprir este Código de Ética.Parágrafo único – Constitui infração ética:a) utilizar títulos acadêmicos e/ou de especialista que não possua;b) permitir que pessoas não habilitadas realizem práticas psicopedagógicas;c) fazer falsas declarações sobre quaisquer situações da

prática psicopedagógica;d) encaminhar ou desviar, por qualquer meio, cliente para si;e) receber ou exigir remuneração, comissão ou vantagem por

serviços psicopedagógicos que não tenha efetivamente realizado;f) assinar qualquer procedimento psicopedagógico realizado por terceiros,

ou solicitar que outros profissionais assinem seus procedimentos. Artigo 17ºCabe ao Conselho Nacional da ABPp zelar, orientar pela fiel observância dos princípios éticos da classe e advertir infrações se necessário. Artigo 18ºO presente Código de Ética poderá ser alterado por proposta do Conselho Nacional da ABPp, devendo ser aprovado em Assembleia Geral. Capítulo X – Das disposições gerais Artigo 19ºO Código de Ética tem seu cumprimento recomendado pelos Conselhos Nacional e Estaduais da ABPp.O presente Código de Ética foi elaborado pelo Conselho Nacional da ABPp do biênio 1991/1992, reformulado pelo Conselho Nacional do biênio 1995/1996, passa

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por nova reformulação feita pelas Comissões de Ética triênios 2008/2010 e 2011/2013, submetida para discussão e aprovado em Assembleia Geral em 05 de novembro de 2011. Quézia BombonattoPresidente do Conselho Nacional da ABPpPresidente Nacional da ABPp - Gestão 2008/2010 e 2011/2013

FONTE: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_codigo_etica.html>. Acesso

em: 4 mar. 2020.

No que concerne ao exercício das atividades psicopedagógicas, levando em conta a emergência da psicopedagogia como ciência, Bossa (2008) destaca a relevância da pós-graduação na modalidade stricto sensu com área de concentração em psicopedagogia. Vale lembrar que a modalidade de educação stricto sensu se refere ao mestrado e doutorado, ao passo que a lato sensu consiste na especialização.

Incentivamos que você leia o artigo A Emergência da Psicopedagogia como Ciência, na íntegra, já que ele menciona práticas pedagógicas, além de citar teorias e bases epistemológicas da psicopedagogia. Esse último assunto inclusive será o foco do tópico que vem na sequência, aqui no livro da disciplina de Fundamentos da Psicopedagogia. O referido artigo encontra-se na Revista Psicopedagogia, e foi escrito por Bossa (2008).

DICAS

Lembre-se de que os acadêmicos do curso de Psicopedagogia também fazem estágios e precisam adotar um posicionamento ético. Isso significa, por exemplo, que ao longo das observações ou mesmo das intervenções, ter uma postura madura e profissional. Portanto o estagiário de psicopedagogia, em hipótese alguma vai debochar das pessoas as quais prestar atendimento, tampouco espalhar aos quatro ventos informações que acessar e que dizem respeito exclusivamente à família, ou à instituição envolvida.

Parece desnecessário escrever sobre isso, pois essas atitudes equivalem a desrespeito, indiscrição, ferindo bem mais do que um código de ética profissional. Por outro lado, nunca é demais parar para lembrar desses assuntos.

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A regulamentação do exercício da atividade em psicopedagogia A formação do Psicopedagogo, no Brasil, vem ocorrendo em caráter regular e oficial, desde a década de setenta em instituições universitárias. Esta formação é regulamentada pelo MEC em cursos de pós-graduação e especialização, com carga mínima de 360 horas, sendo que a maioria dos cursos são oferecidos com 600 horas ou mais, conforme orientação da ABPp estabelecida nas Diretrizes Básicas de Formação de Psicopedagogos no Brasil. Atualmente existem cursos oficiais em todo território nacional. Com a expansão da formação e da área de atuação surgiram no Século XXI cursos de graduação em Psicopedagogia, atualmente (2016) duas instituições brasileiras de ensino superior mantêm seus cursos em pleno funcionamento. A clientela desses cursos é constituída por profissionais que buscam apropriar-se do estudo do processo de ensino-aprendizagem, objetivando atuar nos seguintes campos: clínico e/ou institucional (seja escola, hospital ou empresa/organização) além de pesquisadores na área. Consoante ao critério estabelecido no Projeto de Lei que regulamenta o exercício da atividade em Psicopedagogia atualmente tramitando no Congresso Nacional prevê em seu texto original: Artigo 2ºPoderão exercer a atividade de Psicopedagogia no País: I - os portadores de diploma em curso de graduação em Psicopedagogia expedido por escolas ou instituições devidamente autorizadas ou credenciadas nos termos da legislação pertinente; II - os portadores de diploma em Psicologia, Pedagogia, Fonoaudiologia, ou Licenciatura que tenham concluído curso de especialização em Psicopedagogia, com duração mínima de 600 horas e carga horária de 80% na especialidade". A Psicopedagogia tem como objeto de estudo a aprendizagem, abrange a compreensão e intervenção nos problemas de aprendizagem. Tem caráter interdisciplinar contando com a contribuição de outras áreas do conhecimento, dentre eles: psicologia, fonoaudiologia, medicina em suas especificidades. Portanto, regulamentar o exercício da atividade em Psicopedagogia é o que se pretende, tendo como principal objetivo oficializar o que já está legitimado socialmente e em decorrência disto a normatização da formação e do exercício profissional, além de estender este atendimento à população de baixa renda visando a melhoria da educação e prevenção da saúde.

Passemos, agora para a leitura de outra documentação. Dessa vez, diz respeito à Regulamentação do Exercício da Atividade em Psicopedagogia. Nela, você encontrará informações sobre a formação em Psicopedagogia, características das pessoas que comumente buscam tal formação, possíveis locais de atuação profissional após a conclusão do curso.

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Este texto foi originalmente escrito pelo Conselho Nacional daAssociação Brasileira de Psicopedagogia, em setembro de 1997. Foi revisado pela Comissão de Divulgação, triênio 2002/2004, em agosto de 2002.

Reformulado pela Comissão de Formação e Regulamentação,triênio 2014/2016, em março/2016.

FONTE: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_regulamentacao_do_exercicio_

da_atividade_em_psicopedagogia.html>. Acesso em: 4 mar. 2020.

Informe da Comissão de Formação e Regulamentação A ABPp comunica que está acompanhando minuciosamente os trâmites do Projeto de Lei PLC 031/2010 que dispõe sobre o Exercício da Atividade de Psicopedagogia. A Comissão de Regulamentação do Conselho Nacional da ABPp está atenta a todos os pareceres que dizem respeito ao referido projeto. Reiteramos nossa posição do compromisso que temos em zelar pela regulamentação de nossa profissão e no que diz respeito à inclusão qualificada desta atividade no cenário nacional. Comissão de Regulamentação do Conselho Nacional da ABPpQuézia Bombonatto/ Luciana Barros de Almeida/ Neide Noffs.

FONTE: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_informe_da_comissao_de_

formacao_e_regulamentacao.html>. Acesso em: 4 mar. 2020.

Todos esses cuidados com a formação e a atuação da psicopedagogia, se justificam por conta da essência dessa área interdisciplinar:

Sua ação visa melhor compreensão do processo de aprendizagem humana e suas repercussões no desenvolvimento do indivíduo, identificando sua apropriação do conhecimento, evolução e fatores interferentes, propiciando o reconhecimento, tratamento e prevenção das alterações da aprendizagem que deles decorrem (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006, p. 153).

Com a leitura dessas normativas e regimentos, você já pôde identificar algumas das ações propostas pelos psicopedagogos. Então essa citação pode ajudá-lo a organizar os conhecimentos que está construindo com esta disciplina. Estaremos com atenção voltada à atuação do psicopedagogo nas próximas páginas, e voltaremos a ela com maior ênfase na terceira unidade desse livro.

Isto posto, agora nos deteremos no último documento que está aqui disponível para você, prezado acadêmico. Ele contém os Parâmetros Nacionais para Elaboração de Concursos Públicos para Psicopedagogos no Brasil.

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Esse documento cita as funções do psicopedagogo nas instituições educacionais e em outras esferas de atuação. Vale a pena conferir!

Parâmetros Nacionais para Elaboração de Concursos Públicos para Psicopedagogos no Brasil

I – JUSTIFICATIVAA necessidade de criação dos Parâmetros para a Elaboração de Concursos Públicos para Psicopedagogos deu-se a partir de levantamento de concursos para área de atuação em Psicopedagogia, trabalho da Comissão de Comunicação e Divulgação do Conselho Nacional da ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia, gestão 2011/2013. Com esse estudo, verificou-se a diversidade de objetivos para a função do psicopedagogo, diferentes exigências de formação e critérios de seleção. Assim, surgiu a demanda de apresentação destes Parâmetros contemplando esses quesitos. II – A EDUCAÇÃO FORMAL E A PSICOPEDAGOGIAA partir das informações do SAEB (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e da Prova Brasil, o MEC e as Secretarias Estaduais e Municipais de Educação podem definir ações voltadas ao aprimoramento da qualidade da educação no país e a redução das desigualdades existentes, promovendo, por exemplo, a correção de distorções e debilidades identificadas e direcionando seus recursos técnicos e financeiros para áreas prioritárias. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) foi criado em 2007 para medir a qualidade de cada escola e de cada rede de ensino. O indicador é calculado com base no desempenho do estudante em avaliações do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) e em taxas de aprovação. Assim, para que o IDEB de uma escola ou rede cresça é preciso que o aluno aprenda, não repita o ano e frequente a sala de aula. Para que pais e responsáveis acompanhem o desempenho da escola de seus filhos, podem verificar o IDEB da instituição, que é apresentado numa escala de zero a dez. Da mesma forma, gestores acompanham o trabalho das secretarias municipais e estaduais pela melhoria da educação. O índice é medido a cada dois anos e o objetivo é que o país, a partir do alcance das metas municipais e estaduais, tenha nota 6 em 2022 – correspondente à qualidade do ensino em países desenvolvidos.Esse índice pode nos dar parâmetros a serem atingidos e, para isso, o processo de ensino-aprendizagem teria que ter mais qualidade.

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Equipes gestoras competentes dentro das escolas ou nas secretarias municipais e estaduais, assim como na esfera federal, junto a órgãos do Ministério da Educação, são de grande valia no planejamento, organização e controle de estratégias para se atingir as metas propostas de qualidade no processo ensino-aprendizagem. Psicopedagogia é uma área de conhecimento, atuação e pesquisa que tem como objeto de estudo principal a Aprendizagem e os desvios do aprender. Tem natureza interdisciplinar e desenvolve um caminho transdisciplinar “fruto gradativo de efetivas articulações e integração de diferentes áreas do conhecimento” (Comissão de Formação e Regulamentação do Conselho Nacional da ABPp). A Psicopedagogia se apropria de um olhar múltiplo sobre o sujeito, considerando seus contextos psico-sócio-históricos. Atua na confluência das áreas de Educação e Saúde, utilizando métodos, instrumentos e recursos próprios para compreender, promover, diagnosticar e intervir nos processos individuais ou grupais de aprendizagem. O psicopedagogo é o profissional, graduado e/ ou pós-graduado que tem como objeto de estudo a aprendizagem. Portanto, justifica-se a abertura de concursos públicos para essa função, nos diferentes âmbitos de atuação.

III- FUNÇÕES DO PSICOPEDAGOGO

1- Na Instituição Escolar 1.1- Atuar preventivamente de forma a garantir que a escola seja um espaço

de aprendizagem para todos; 1.2- Avaliar as relações vinculares relativas a: professor/aluno; aluno/aluno/;

família/escola, fomentando as interações interpessoais para intervirmos processos do ensinar e aprender;

1.3- Enfatizar a importância de que o planejamento deve contemplar conceitos

e conteúdos estruturantes, com significado relevante e que levem a uma aprendizagem significativa, elaborando as bases para um trabalho de orientação do aluno na construção de seu projeto de vida, com clareza de raciocínio e equilíbrio;

1.4- Identificar o modelo de aprendizagem do professor e do aluno e intervir,

caso necessário, para torná-lo mais eficaz; 1.5- Assessorar os docentes nos casos de dificuldades de aprendizagem; 1.6- Encaminhar, quando necessário, os casos de dificuldades de aprendizagem

para atendimento com especialistas em centros especializados;

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1.7- Mediar a relação entre profissionais especializados e escola nos processos terapêuticos;

1.8- Participar de reuniões da escola com as famílias dos alunos colaborando

na discussão de temos importantes para a melhoria do crescimento de todos que estão ligados àquela instituição;

1.9- Atender, se necessário, funcionários da escola que possam necessitar de uma

orientação quanto ao desempenho de suas funções no trato com os alunos. 2- Em Centros Públicos Multiprofissionais 2.1- Participar de equipe multiprofissional em diagnóstico e intervenção das

dificuldades dos estudantes encaminhados; 2.2- Realizar diagnóstico e intervenção das dificuldades de aprendizagem

dos estudantes encaminhados pelas escolas, creches e órgãos públicos; 2.3- Orientar pais e professores na condução das ações propostas aos estudantes

com dificuldades de aprendizagem, adequando-a individualmente; 2.4- Identificar alunos com produções escolares inadequadas à sua

faixa etária, nos âmbitos cognitivo e social e fazer as orientações e encaminhamentos necessários;

2.5- Realizar, em parceria com a coordenação e direção, encontros com pais

e professores para discutirem e planejarem mecanismos de intervenção que favoreçam o processo de aprendizagem da comunidade envolvida;

2.6- Acompanhar a indicação e o processo de inclusão do aluno com

atendimento psicopedagógico dos centros multiprofissionais; 2.7- Promover reuniões de estudo com professores e coordenadores que

atuam nos centros; 2.8- Participar de equipe multiprofissional em diagnóstico e intervenção das

dificuldades de aprendizagem em adultos da comunidade; 2.9- Detectar dificuldades de aprendizagem em adultos que procuram os

Centros; 2.10- Realizar intervenção com as dificuldades de aprendizagem dos adultos

nesses Centros;

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2.11- Planejar junto à equipe, ações para a integração e desenvolvimento do adulto em seu ambiente de trabalho e de estudo, quando for o caso;

2.12- Realizar trabalho psicopedagógico com idosos, preparando-os para as

novas e necessárias aprendizagens nessa faixa etária. 3- Em Equipes Gestoras dos Órgãos Públicos nos Níveis Municipal, Estadual

e Federal 3.1- Realizar avaliação diagnóstica institucional com o objetivo de levantar as

necessidades e prioridades da instituição; 3.2- Avaliar a dinâmica das instituições quanto ao seu funcionamento e

organização, verificando se os seus planos de ação atendem às suas necessidades e se estão em articulação com o projeto político – educacional do sistema de ensino do qual faz parte;

3.3- Considerar as características das regiões ou instituições quanto ao seu

contexto sócio-econômico-cultural, ao desenvolver o planejamento, organização e controle de estratégias para se atingir as metas propostas de qualidade nos processos do ensinar e do aprender;

3.4- Criar meios para o diálogo entre a comunidade, família, corpo docente,

discente e administrativo, para debaterem as questões ligadas ao saber, aos conflitos e à tomada de decisões importantes para a fluidez do processo de aprendizagem e a qualidade profissional e relacional dos seus membros;

3.5- Interpretar as leis que regem a relação ensino-aprendizagem, entendendo

que a escola promove a inserção do sujeito no mundo do conhecimento, podendo ampliar sua atuação através de projetos sociais;

3.6- Analisar e incentivar mudanças estruturais nas instituições, objetivando

a melhoria das relações da aprendizagem entre todos os seus membros; 3.7- Instrumentalizar as equipes gestoras dos diferentes níveis administrativos

com métodos e estratégias de atuação, considerando a importância do suporte técnico e afetivo contínuo;

3.8- Criar ações preventivas para promover a aprendizagem de qualquer

modalidade, com o olhar multidisciplinar dirigido ao sujeito que aprende e ao que ensina.

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IV- PRINCÍPIOS NORMATIVOS PARA CONCURSOS

Para ingressar no serviço público o profissional deverá atender às exigências do Edital do Concurso, a partir da Lei (Municipal, Estadual ou Federal), referente ao Plano de Cargos e Salários (e nesta constam as atribuições e requisitos para o respectivo cargo). Na esfera pública, a realização de Concurso Público obedece à Constituição Federal de 1988 (CF 88), Artigo 37, incisos II, III e IV;

O Psicopedagogo junto à Administração Pública direta ou indireta, poderá atuar como:a) servidor ou empregado público aprovado em Concurso Público, em

conformidade ao Plano de Cargos e Salários aprovado por Lei. b) cargo de comissão (de livre nomeação e exoneração) de Direção, Chefia ou

Assessoramento nos termos dos incisos V, IX, do Artigo 37 da CF 88; c) prestador de serviço, mediante contrato e processo licitatório em qualquer

de suas modalidades conforme a Lei Federal 8666/93; d) outras especificações previstas em Edital Público que contemplam as

atribuições do Psicopedagogo.

V – FORMAÇÃOGraduação ou Pós-graduação em Psicopedagogia.

VI – PRÉ-REQUISITOSExperiência mínima comprovada de 2 (dois) anos na área.Comprovante atualizado de associado, por no mínimo 2 (dois) anos da Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp) – órgão de classe representativo da categoria devidamente registrado e mantido desde 1980.

VII – PROCESSO SELETIVO1- Análise de Currículo;2- Entrevista;3- Provas Escritas:a) Língua Portuguesa (interpretação de texto, redação e domínio da língua);b) Conhecimentos Gerais;c) Conhecimentos Específicos em Psicopedagogia.4- Prova de Títulos.

VIII – CARGA HORÁRIAEntre 30 e 40 horas semanais. IX – PROPOSIÇÃO SALARIALA ser definido pelas autoridades competentes, levando em consideração a realidade de cada região, tomando como parâmetro mínimo a remuneração dos profissionais que integram o corpo técnico das instituições onde serão criados os cargos não podendo ser inferior ao equivalente do profissional graduado na área da educação.

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É válido frisar que o profissional ético também conhece as teorias e metodologias atreladas à sua profissão e da esfera do conhecimento. Logo, que tal ler um livro que poderá contribuir para o desenvolvimento da sua percepção e sensibilidade desde essa fase da sua formação? Trata-se do livro Psicopedagogia: um olhar, uma escuta, escrito por Tânia Mara Grassi. Curitiba, Editora Ibpex, 2009.

CAPA DO LIVRO PSICOPEDAGOGIA: UM OLHAR, UMA ESCUTA

DICAS

FONTE: <https://www.booktoy.com.br/image/cache/catalog/livros/63/8641-600x600.png>. Acesso em: 5 set. 2019.

Você percebeu como a palavra diagnóstico se repetiu nesse documento? Isso acontece porque o diagnóstico (sobretudo o precoce) é crucial para a superação das dificuldades escolares. Ele oferece subsídios para que o psicopedagogo oriente educadores e pais acerca dos melhores modos de lidar com a criança, além de permitir a elaboração ou adoção de programas e estratégias clínicas e/ou educacionais que auxiliem a criança no desenvolvimento (DELL' AGLI; BRENELLI, 2007).

Viu só como a leitura desses documentos agregou bastante a sua compreensão do que é psicopedagogia? É bem provável que você já esteja percebendo quais são as atividades desempenhadas pelos profissionais que trabalham com ela, quais são os objetos de pesquisa de quem faz investigações científicas nessa área do saber etc.?

X– BIBLIOGRAFIA SUGERIDAO referencial bibliográfico deve ser atualizado pertinente à área de abrangência. Indica-se tomar como referência a mesma bibliografia elaborada pela Comissão de Formação e Regulamentação que consta nas Diretrizes de Formação para os Cursos de Psicopedagogia no site da ABPp – www.abpp.com.br. FONTE: <http://www.abpp.com.br/documentos_referencias_parametro_nacional_para_eleboracao_de_concurso_publico_psicopedagogo.html>. Acesso em: 6 nov. 2019.

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Além do Código de Ética do Psicopedagogo, verifique quais são os documentos e referências que o site da ABPP ainda reúne outros documentos sobre atuação do psicopedagogo:

• Estatuto Social da ABPp.• Referencial/Indicação Bibliográfica.• Manifesto de Apoio à Regulamentação.

Quanto ao ensino e formação, você também encontra outros documentos além dos Parâmetros Nacionais para Elaboração de Concursos Públicos:

• Diretrizes de Formação de Psicopedagogos no Brasil.• Esclarecimento sobre a Atuação em Psicopedagogia.• Cursos de outras denominações.• Processamento Auditivo Central – Fonoaudiologia.• Informe da Comissão de Formação e Regulamentação.• Cadastro de Cursos de Psicopedagogia no Brasil.

A fim de aprofundar seus estudos sobre a articulação entre psicopedagogia, ensino e formação, recomendamos a leitura do livro escrito por Beatriz J. L. SCOZ: Psicopedagogia: contextualização, formação e atualização profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

DICAS

No que se refere à Legislação (em transição), você pode ler na íntegra todos os documentos que seguem:

• A regulamentação do exercício da atividade em Psicopedagogia.• PL 3.124/97 – Deputado Barbosa Neto.• PL 3512/08 – Deputada Prof. Raquel Teixeira.• PLC 031/10 – Senador Cyro Miranda.• PL 011/05 – Vereador Antônio Goulart.• Lei 15.719/13 (em vigor no município de São Paulo).• CBO 2394-25.

Incentivamos que você navegue no site da ABPp, acompanhe a atualização dos documentos ali inseridos, e que se deixe levar pela curiosidade, clicando nos outros ícones da página da associação.

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Caso você tenha curiosidade sobre como andavam os diálogos em torno da psicopedagogia em outro país, em 2011, segue uma sugestão de leitura. Ainda que esteja em outro idioma, lembre-se de que na internet você encontra dispositivos que podem auxiliar na tradução de textos. PEREZ SOLIS, María. ¿Puede un psicopedagogo desempeñar el rol del psicólogo educativo? Profesionalización frente al intrusismo profesional. Estud. psicol. (Campinas), Campinas, v. 28, n. 1, p. 3-13, mar. 2011. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2011000100001. Acesso em: 5 ago. 2019.

DICAS

O artigo de Perez Solis (2011) também é pertinente, pois apesar de termos apresentado o desenvolvimento da psicopedagogia aqui nesse livro sem trazer à tona os embates que fizeram parte desse processo, ele não se deu isento de conflitos.

Todavia, não convém suprimir essas tensões, até porque algumas delas

ainda emergem vez ou outra nos dias atuais. De fato, a psicopedagogia é uma área interdisciplinar e muitas pesquisas e intervenções vem sendo realizadas em conjunto, por psicopedagogos e psicólogos, bem como, com outros profissionais da saúde, da educação, ou de outras áreas.

Como você pôde notar, esse tópico possui enfoque sobre a psicopedagogia no Brasil, e fez menção a alguns aspectos históricos nesse sentido. Portanto, se você relembrar suas leituras dos tópicos anteriores, é bem possível que recorde de momentos históricos da psicopedagogia no contexto europeu, que depois foi se desenvolvendo na América Latina, para então, ser trazida ao Brasil.

O presente tópico ainda abordou a realidade atual, representada pelos princípios éticos da profissão e de outros documentos que norteiam o ensino e atuação profissional em psicopedagogia. Entretanto, na sequência você encontra uma sugestão de leitura sobre a fronteiras entre a psicologia e a psicopedagogia na Espanha.

Novamente reforçamos que no site você ainda encontra gratuitamente uma revista que aborda inúmeros temas relacionados à psicopedagogia: A Revista Psicopedagogia, órgão de comunicação da Associação Brasileira de Psicopedagogia, cujo link é http://www.revistapsicopedagogia.com.br/.

DICAS

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Porém, existem profissionais que se perguntam sobre qual é o papel específico do psicólogo e qual é o papel específico do psicopedagogo. Há alguns conflitos, pois, uns defendem que certas atividades devem ser realizadas exclusivamente por pessoas com formação em psicologia, enquanto outros alegam são atividades essencialmente do campo da psicopedagogia, ao passo que ainda existem aqueles que declaram que certas atividades são de incumbência exclusiva do pedagogo.

Nesse momento convém trazermos à lembrança a leitura complementar da unidade anterior, que fez menção à história da formulação da Psicopedagogia, dando certo enfoque aos embates que aconteceram entre representantes da psicologia e de representantes da psicopedagogia. Ou seja, o artigo escrito por Odair Sass.

Outro artigo semelhante foi escrito por Pottker e Leonardo (2014), discutindo o papel do professor-psicopedagogo no âmbito escolar. No artigo, as autoras expressam a opinião delas, na parte das considerações finais:

O que defendemos é a presença de psicólogos e pedagogos escolares, com ou sem especialização em Psicopedagogia, trabalhando com as dificuldades de aprendizagem numa perspectiva teórica crítica. Para isto sugerimos a Psicologia Histórico-cultural como subsídio para o trabalho desses profissionais.Finalizando, podemos verificar que a atuação do professor-psicopedagogo nestas escolas centra-se no indivíduo, e não no processo ensino-aprendizagem, pois busca no aluno as explicações para os problemas escolares. Dessa forma, estes profissionais têm reforçado as concepções individualizantes e patologizantes das dificuldades de aprendizagem. Neste prisma, faz-se necessário que outras pesquisas com esta temática sejam desenvolvidas, de modo a contribuir para desmistificação de que o psicopedagogo seja um profissional capaz de atuar com a demanda de duas grandes áreas, a Psicologia e a Pedagogia (POTTKER; LEONARDO, 2014, p. 226).

Antes de fazermos uma análise atenta das palavras dessas autoras, é importante esclarecer que quando o artigo foi escrito, aqui no Brasil não existiam cursos de graduação de Psicopedagogia em território brasileiro. A titulação de psicopedagogo só era obtida mediante cursos de pós-graduação/especialização. Por isso, elas ressaltam “com ou sem especialização em Psicopedagogia”.

Quanto aos níveis de formação graduação, especialização lato sensu, as atuais Diretrizes da formação de psicopedagogos no Brasil, expostas no site https://www.abpp.com.br/documentos_referencias_diretrizes_formacao.html são as seguintes:

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NÍVEIS DE FORMAÇÃO E MODALIDADES DE CURSO

A formação do psicopedagogo ocorre em níveis de graduação e de pós-graduação lato sensu (especialização) e stricto sensu (mestrado profissional). 4.1. Formação na Pós-graduação lato sensu – Especialização Esta formação pauta-se pelas exigências da Resolução CNE/CES nº 1, de 8 de junho de 2007 acrescidas das recomendações que emanam da especificidade da formação do psicopedagogo. As disciplinas que fundamentam a formação do psicopedagogo (introdutória, específicas, eletivas e de orientação) devem estar articuladas por meio da pesquisa e da atuação supervisionada, culminando com a apresentação da monografia, trabalho de conclusão de curso ou artigo científico. 4.2. Formação na Graduação: A formação na graduação baseia-se na Resolução CNE/CP 28/2001 acrescidas das recomendações que emanam da especificidade da formação do psicopedagogo. As disciplinas que fundamentam a formação do psicopedagogo (introdutória, específicas, eletivas e de orientação) devem estar articuladas por meio da pesquisa e da atuação supervisionada, culminando com a apresentação da monografia ou artigo científico.

FONTE: <https://www.abpp.com.br/documentos_referencias_diretrizes_formacao.html>. Acesso em: 9 mar. 2020.

De mais a mais, você, prezado aprendente, provavelmente terá maiores subsídios para nos acompanhar nas análises das palavras de Pottker e Leonardo (2014) depois de conhecer as bases epistemológicas da psicopedagogia, e obter maiores informações sobre a atuação do psicopedagogo.

Por ora, o esperado é que esse tema polêmico contribua tanto para gerar curiosidade sobre o fazer psicopedagógico, quanto suscite processos reflexivos em você.

Agora vamos aprender sobre as bases epistemológicas da psicopedagogia no próximo tópico?

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RESUMO DO TÓPICO 1

Nesse tópico, você aprendeu que:

• A Psicopedagogia passou a ser disseminada aqui no nosso país no final do Século XX.

• Só se pode falar em Psicopedagogia acontecendo de fato em solo brasileiro, de modo organizado a partir da década de 1970.

• A Psicopedagogia foi tomando forma aqui na nação brasileira motivada pelo intuito de professores, psicólogos e profissionais da saúde que buscavam saídas para os índices alarmantes de fracasso escolar.

• Existem princípios éticos da Psicopedagogia no Brasil.

• Há um movimento acontecendo para a Regulamentação da profissão de psicopedagogo no Brasil.

• A Psicopedagogia continua se propondo a auxiliar nos processos de aprendizagem, já não apenas de modo remediativo, mas também, evitando que surjam percalços no processo de aprender.

• A Psicopedagogia tem buscado operar a partir de olhar abrangente sobre os fenômenos da aprendizagem.

• Embora seja uma área essencialmente interdisciplinar, que advém de outras áreas e se propõe a trabalhar juntamente com elas, por vezes emergem alguns conflitos quanto ao papel que é exclusivo do psicopedagogo, ou do psicólogo ou do pedagogo.

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AUTOATIVIDADE

1 Sobre a história da Psicopedagogia no Brasil, Masini (2006, p. 251) destaca que: “Os primeiros psicopedagogos eram profissionais da educação, que queriam ajudar na reintegração daqueles que estavam à margem. Assim, na própria prática eram encontradas as técnicas que melhor atendessem à necessidade do aprendiz para reeducá-lo de forma mais eficaz e específica. Buscavam entender melhores as questões referentes às dificuldades, estudando psicologia, neurologia e psicomotricidade. Para formar esses profissionais, surgiram cursos de extensão de professores brasileiros com experiência em atendimento a crianças com dificuldades escolares e professores estrangeiros, principalmente da França e Argentina”.

Diante do exposto, explique o que estava acontecendo aqui no Brasil nos anos setenta, requerendo a intervenção de profissionais da psicopedagogia.

2 Enquanto você leu as primeiras páginas desse tópico, você sentiu algum tipo de estranhamento ao se dar conta de que toda a culpabilização da não aprendizagem ficava centrada exclusivamente nas crianças que não aprendiam, e consequentemente, as intervenções pareciam ser voltadas apenas a elas? Acontece que já se passaram quase 50 anos dessa situação, e hoje parece impossível que ninguém desconfiaria que as causas da não aprendizagem poderiam estar localizadas fora do aluno não é mesmo? Apresente suas impressões sobre isso, e justifique suas respostas.

3 (ENADE PSICOLOGIA 2018) Um dos pilares da Psicologia Escolar é a valorização de experiências de interlocução entre os profissionais que atuam no contexto educacional. Psicólogo e professor precisam sempre primar pelo trabalho articulado, buscando o melhor para a escola por meio de ações em equipe. AQUINO, F. S. B. et al. Concepções e práticas de psicólogos escolares junto a docentes de escolas públicas. Revista Quadrimestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, v. 19, n. 1, p. 71-78, jan./abr. 2015 (adaptado).

Considerando a prática de psicólogos escolares no contexto educacional, avalie as afirmações a seguir:

I- À Psicologia Escolar compete oferecer consultoria à direção da instituição de ensino sobre a atuação e o desempenho dos docentes.

II- A Psicologia Escolar deve oferecer serviços de atendimento clínico aos profissionais que atuam na instituição de ensino.

III- A atuação da Psicologia Escolar na gestão dos processos educativos se dá por meio de participação nos projetos institucionais.

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IV- A Psicologia Escolar atua com diagnóstico, planejamento e execução de projetos de capacitação junto a docentes, à direção e à equipe educacional.

V- A elaboração de propostas pedagógicas com o objetivo de pensar novas metodologias para o processo ensino-aprendizagem deve contar com a participação da Psicologia Escolar.

É CORRETO apenas o que se afirma em:a) ( ) I, II e IV. b) ( ) I, II e V. c) ( ) I, III e V. d) ( ) II, III e IV. e) ( ) III, IV e V.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2018/psicologia.pdf>. Acesso em: 4 mar. 2020.

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TÓPICO 2

BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS

DA PSICOPEDAGOGIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Inicialmente gostaríamos de tranquilizar o leitor que porventura tenha estranhado a palavra epistemológicas no título deste tópico. Essa palavra pode passar a impressão de se referir a um assunto de difícil compreensão.

Então pode ser útil e acalentador lembrar que a epistemologia abrange o estudo da produção do conhecimento (ANDRADE; SMOLKA, 2009). Assim, a palavra epistemologia é sinônima de gnoseologia – ambas dizem respeito à origem e natureza do conhecimento.

Neste tópico, o enfoque estará sobre as teorias que fundamentam a Psicopedagogia, portanto, retomaremos algumas das influências da pedagogia e da psicologia – que, como já vimos na unidade anterior, ofereceram os primeiros alicerces para Psicopedagogia, em termos de origens teóricas.

Já que a psicopedagogia tem como característica a interdisciplinaridade, serão mencionadas, também, outras teorias que permanecem dando sustentação ao conjunto de saberes psicopedagógicos.

Tendo em vista que estaremos com a atenção voltada aos aspectos epistemológicos da psicopedagogia, é válido destacar que a palavra epistemologia geralmente está associada com pressupostos teóricos, concepções, interpretações, reflexões, formulações, opiniões, referenciais, valores, perspectivas, questionamentos etc (ANDRADE; SMOLKA, 2009).

É possível que você já tenha ouvido a palavra epistemologia ligada à teoria do conhecimento, ou à filosofia do conhecimento, ou ainda, à teoria da ciência. Pode, por conseguinte, envolver questões referentes à objetividade, à neutralidade, por exemplo. Pode, também, estar interessada em compreender os processos de construção do conhecimento, em termos históricos.

Certamente, durante a leitura deste tópico sua memória acionará conteúdos que você acessou durante a leitura da unidade anterior, quando apresentamos de modo sucinto algumas das teorias que fundamentam a psicopedagogia.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Mas, antes desse contato um pouco mais substancial com as bases epistemológicas da psicopedagogia, se faz necessário dar atenção aos objetos de estudo da psicopedagogia, vamos lá?

2 OBJETOS DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA

No decorrer da leitura do livro de Bossa (2000), intitulado "A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática", pode-se depreender que o principal objeto de estudo da psicopedagogia é a aprendizagem humana, no que se refere tanto a padrões considerados normais, quanto aos patológicos.

Isso significa que a psicopedagogia procura investigar os fatores etiológicos do não aprender, ou seja, as causas dos entraves nesse processo. Ela tem por intuito identificar os obstáculos do processo de aprendizagem. Assim, as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar chamam muita atenção dos psicopedagogos.

Contudo, a psicopedagogia não se satisfaz tão somente com a compreensão da aprendizagem, e da não aprendizagem. Ela se propõe ainda, propor intervenções a fim de gerar melhoras nas relações das pessoas com a aprendizagem, ou torno do aprender. Ela tem por intenção, portanto, melhorar a qualidade tanto do aprender, quanto do ensinar (BOSSA, 2000).

A psicopedagogia precisa ter uma visão abrangente, que leva em consideração a realidade interna do sujeito, bem como, a realidade externa – formada pelas influências dos familiares, do ambiente escolar, das amizades, da mídia, e de outras esferas da sociedade em relação ao ato de aprender. Então, o olhar dos psicopedagogos não se restringe à pessoa que aprende, mas, se estende também, para os educadores, e outros atores desses processos (BOSSA, 2000).

Aprender abarca aspectos sociais, afetivos, cognitivos, emocionais, e não

basta que o psicopedagogo identifique esses aspectos de maneira dissociada. O psicopedagogo procura analisar a situação da aprendizagem e da não aprendizagem, levantando as variáveis que intervêm nesses processos de modo articulado, conjunto (BOSSA, 2000).

Para tal, é realmente imprescindível que a psicopedagogia se alie com outras áreas do saber, afinal, obter entendimento acerca da aprendizagem e oferecer mudanças consideráveis nesse processo envolve muito esforço e atividades extremamente complexas.

Afinal, a aprendizagem suscita mudanças, provoca reconfigurações e reorganizações no sujeito que aprende. E, ao mesmo tempo, a mudança acarreta aprendizagem, já que dispara novas buscas por significados (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006).

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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É primordial avisar desde já, que o psicopedagogo precisa estudar bastante. Afinal, ele almeja compreender o processamento da aprendizagem e do ensinar, e além disso, precisa integrar diferentes posicionamentos sobre a aprendizagem, e realizar uma proposta interventiva após sistematizar as informações.

Para ampliar seus conhecimentos sobre o objeto de aprendizagem, leia o seguinte livro: BOSSA, Nádia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3. ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 2007.

DICAS

Agora que já apresentamos os objetos de estudo da psicopedagogia, e que ficou evidente que o psicopedagogo precisa conhecer diversificadas teorias, que tal estudarmos juntos as bases epistemológicas da psicopedagogia? Vamos lá?

3 BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

A epistemologia examina e descreve o processo construtivo do conhecimento pelo ser humano, na interação com outros e com os elementos do ambiente.

Considerando que iremos tratar de temáticas relacionadas à epistemologia, vamos verificar como Gomes e Bellini (2009, p. 2301-1) explicam o sentido dessa palavra?

No sentido etimológico, epistéme significa ciência, verdade e logos significa estudo, discurso. Deste modo, podemos definir epistemologia como sendo o estudo ou discurso sobre a ciência ou sobre a verdade em busca de respostas para perguntas do tipo: O que conhecemos? Como conhecemos? O que é o conhecimento científico? O que faz a ciência? A epistemologia é interpretada como filosofia da ciência por alguns autores e como teoria do conhecimento por outros.

Já vimos que a psicopedagogia se alicerçou especialmente na pedagogia e na psicologia. Então convém que nos apliquemos um pouco mais nas leituras associadas a elas.

De acordo com Bossa (2000), a pedagogia contribui com a psicopedagogia, porque levanta circunstâncias de transformação e de reprodução que se processam na sociedade, além de apresentar reflexões ampliadas sobre a aprendizagem – que é o objeto de estudo da psicopedagogia. Ela contribui ainda por intermédio das várias abordagens do processo ensino-aprendizagem, apresentando-o principalmente sob a perspectiva de quem ensina.

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Vamos conferir agora a etimologia da palavra de origem grega, pedagogia?

FIGURA 2 – ETIMOLOGIA DA PALAVRA PEDAGOGIA

FONTE: Adaptado de Libâneo (2001)

Assim, a pedagogia tem como objeto a educação de crianças, ou melhor dizendo, a condução de crianças como formação humana, não se restringindo à modalidade de educação formal.

Talvez você esteja se perguntando: Se a pedagogia é voltada para as crianças, não existe alguma área que se preocupe com a educação de pessoas na fase adulta? Ainda que a pedagogia tenha iniciado com o foco na infância, e continue trabalhando com as crianças até os dias atuais, ela foi pouco a pouco agregando os adultos ao objeto de estudo. De mais a mais a área cujo foco é a educação de pessoas adultos se chama andragogia.

ATENCAO

Vale deslindar que existe uma ligação do crescimento da pedagogia com o advento das revoluções e crescimento da escola como instituição obrigatória.

Se você deseja aprender mais sobre a pedagogia e a escola, recomendamos a leitura do livro “Escola e Democracia” escrito por Dermeval Saviani.

DICAS

paidós(criança)

agodé(condução/conduzir)

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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CAPA DO LIVRO ESCOLA E DEMOCRACIA

FONTE: <https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-1186992584-livro-escola-e-democracia-dermeval-saviani-_JM>. Acesso em: 19 nov. 2019.

A psicologia, em linhas gerais, aborda diversificadas dimensões atinentes à vida humana, atentando para aspectos físicos (observáveis), e para os psicológicos, psíquicos, que são da ordem da consciência, e/ou dos estados mentais. A psicologia ainda estuda o sujeito que produz infinidades de conhecimentos – o ser humano.

Vamos agora observar o sentido etimológico da palavra de origem

grega psicologia?

FIGURA 3 – ETIMOLOGIA DA PALAVRA PSICOLOGIA

FONTE: Adaptado de Serbena e Raffaelli (2003)

Apesar do sentido inicial de “estudo da alma”, conforme a psicologia foi sendo desenvolvida, diferentes abordagens foram formuladas, e algumas delas contestam que alma seja o objeto de estudo da psicologia. Cada abordagem tem defendido um objeto de estudo específico, a partir da epistemologia que a embasa.

psykhe(alma,mente)

logia(estudo,tratado)

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Para saber mais sobre isso, sugerimos a leitura do artigo Psicologia como disciplina científica e discurso sobre a alma: problemas epistemológicos e ideológicos, escrito por Carlos Augusto SerbenaI e Rafael Raffaelli, publicado em 2003. Segue o resumo desse artigo:

A Psicologia é definida habitualmente como ciência do comportamento, mas necessita uma revisão de seus pressupostos. Há dificuldades na própria definição de comportamento e ela representa o predomínio das correntes neopositivistas e materialistas. Isto levou as disciplinas ou escolas psicológicas que tratavam a questão dentro do âmbito de uma psicologia introspectiva e subjetiva ou da alma a se afastarem, gerando vazios e contradições, presentes no campo teórico, profissional, acadêmico e de formação. Ao ignorar o enfoque da subjetividade, considerando a ciência positiva como a verdade da psique, ela tornou-se prisioneira do mito ou ideologia do cientificismo. Deve-se então recuperar o sentido da psicologia como estudo da alma ou da subjetividade, havendo necessidade de um discurso simbólico e subjetivo complementando o racional e objetivo. O termo “alma” pode ser visto como uma metáfora da psique e os diversos discursos ou disciplinas psicológicas seriam explorações desta metáfora permitindo ampliar sua expressão e compreensão.

DICAS

A psicologia é composta por diversas abordagens, que por sua vez, concebem diversas formas de compreender fenômenos da aprendizagem. A título de exemplos de áreas de estudo da disciplina podemos citar a Psicologia Comportamental (Behaviorismo), a Psicologia Cognitivo-Comportamental, a Psicologia Histórico Cultural, o Existencialismo, o Humanismo, a Logoterapia, a Gestal Terapia, o Psicodrama, a Psicanálise, Psicologia Analítica de Jung, Psicoterapia Corporal (Reich), entre outras.

Por uma série de fatores, a psicologia passou a ser uma referência legítima para que a escola, a família e o Estado recorram aos seus conhecimentos para compreender aspectos da aprendizagem dos indivíduos.

Para saber mais sobre a Psicologia, consulte os seguintes livros:Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia, escrito por Ana Mercês Bahia Bock, Maria de Lourdes Trassi Teixeira e Odair Furtado.

DICAS

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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CAPAS DO LIVRO PSICOLOGIAS

FONTE: <https://miniteia.files.wordpress.com/2015/04/page.jpg>. Acesso em: 19 nov. 2019.

E o livro: Psicologia, uma (nova) introdução: uma visão histórica da psicologia como ciência. Cujo autor é Luís Cláudio Mendonça Figueiredo.

CAPA DO LIVRO PSICOLOGIA, UMA (NOVA) INTRODUÇÃO

FONTE: <https://1.bp.blogspot.com/-ge9Z6Py4t1Q/Uji9kpNIkqI/AAAAAAAAHvQ/vfUZ48Iba7o/s400/livro-psicologia-uma-nova-introdu%C3%A7ao.jpg>. Acesso em: 19 nov. 2019.

Em acréscimo, pode-se fazer menção à Psicologia Social, que se debruça a investigar e compreender a os processos de constituição do sujeito, levando em consideração as relações familiares, dos diferentes grupos da comunidade e sociedade – institucionalizados ou não. Assim, oferece um arcabouço teórico acerca das condições socioculturais, históricas e econômicas que fazem parte dos processos de ensino e aprendizagem. A psicologia social é uma área de atuação da Psicologia e não uma abordagem da psicologia. Significa que a psicologia social pode utilizar, também, uma base psicanalítica, por exemplo.

Para Pain (1985) a psicopedagogia é erigida a partir de diversas estruturas teóricas, tais como, o materialismo histórico, a teoria piagetiana, a teoria psicanalítica, etc., como mostra a figura que segue:

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FIGURA 4 – BASES EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

FONTE: A autora

Vejamos algumas bases das quais a psicopedagogia tem se apropriado, de cada uma dessas áreas?

Psicanálise: como já vimos na unidade anterior, Freud foi o primeiro formulador da psicanálise. Sigmund Schlomo Freud foi um psiquiatra alemão que viveu entre 1856 e 1939.

Além do que já aprendemos sobre essa teoria, é válido acrescentar que a ideologia e operatividade do inconsciente tem servido de subsídio para a psicopedagogia. Ou seja, para boa parte dos psicopedagogos quando uma pessoa tem dificuldades para aprender, existem aspectos que fogem à consciência dela que interferem nesse processo, algo que lhes escapa à mente, ao entendimento.

Duas de suas obras que são utilizadas inclusive nos estudos de neurociência são: “A Interpretação dos Sonhos” e "Sobre a Psicopatologia da Vida Cotidiana”.

FIGURA 5 – FREUD

FONTE: <https://biografieonline.it/img/bio/s/Sigmund_Freud.jpg>. Acesso em: 9 mar. 2020.

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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Outros conceitos da psicanálise que têm sido estendidos à psicopedagogia são:

• Desejo: está relacionado ao inconsciente. Tem a ver com o querer aprender, querer saber, querer ensinar. Perpassa o processo de obtenção de informações e construção do conhecimento. Está relacionado com a vontade, e pode ser expresso pela resistência (que o contraria). O desejo exerce pressão sobre o sujeito (WELS, 2015).

• Transferência: inicialmente essa palavra foi usada por Freud para se referir à clínica, mais especificamente à relação estabelecida entre analista e paciente. Abrange os sentimentos que o paciente transfere de modo inconsciente ao seu analista. Por exemplo, o paciente pode associar o sobrenome do analista a algum conhecido seu, e isso pode gerar uma boa impressão ou uma má impressão para ele. O analista precisa lidar com manejo diante da transferência, para que o tratamento não seja prejudicado. Posteriormente, percebeu-se que a transferência não ocorre apenas na clínica psicanalítica. Ela também acontece em outras relações, como por exemplo, na relação professor-aluno. Tem a ver com os sentimentos que o professor desperta no aluno, com base nas vivências anteriores. Está, portanto, ligado à realidade psíquica dos envolvidos. Está vinculado ainda, ao suposto saber que o paciente ou o aluno outorgam (ou não) ao analista, ou, respectivamente, ao professor. Às vezes, ao olhar para um professor surge a impressão de que ele tem conhecimento a transmitir. Ou que ele não tem. A transferência está associada à impressão que temos de uma pessoa. Quando "vamos prontamente com a cara dela", ou "quando o santo não bate". Porém, vale esclarecer que a transferência não é estática. Ela pode mudar, pois é dinâmica (WELS, 2015).

• Sublimação: também é um conceito atrelado ao inconsciente. Está relacionado com a organização, o processamento, o trabalho psíquico de lidar com sentimentos e acontecimentos. A pessoa pode fazer isso desenvolvendo um sintoma que seja considerado negativo pela sociedade. Apesar de ser algo do inconsciente, pode ser provocado de modo intencional por um analista ou por um professor, de modo que a pessoa lide com a situação de modo socialmente aceitável. O incentivo à leitura, à construção do conhecimento são exemplos de sublimação estimulada pelo professor (WELS, 2015).

A arte é vista por Freud como uma satisfação substitutiva e psiquicamente eficaz, devido ao papel que a imaginação e a fantasia ocupam na vida anímica; de acordo com o pensar lacaniano, ela é um modo específico de organização em torno do vazio. Os três termos que Freud define para a "sublimação" são a arte, a religião e a ciência”. Sublimação é um dos mecanismos de defesa mais aceitáveis por “converter” conteúdos que poderiam causar sofrimento em algo aceitável do ponto de vista estético e moral, como a arte, a religião e a ciência. Ou seja, a transformação não é em algo negativo, mas em algo socialmente positivo.

ATENCAO

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Existem outros conceitos da psicanálise que escoram a psicopedagogia. Em linhas gerais, pode-se dizer que a psicanálise dá embasamento quanto ao inconsciente, e também no que tange à dinâmica psíquica que se torna manifesta através dos sintomas e símbolos. Assim, é possível acessar o desejo do sujeito (BOSSA, 2000).

Materialismo histórico: um dos epistemólogos da Psicologia, chama-se Lev. S. Vygotsky. Ele estudou a história da psicologia, e identificou que a ciência psicológica estava atravessando uma fase de crise e fragmentação em 1920. Assim, Vygotsky propôs o materialismo dialético como uma filosofia científica que poderia propiciar a integração metodológica e uma concepção de mundo mais condizente à psicologia. Até os dias atuais a psicologia tem apresentado pluralidade metodológica (LORDELO, 2011).

FIGURA 6 – VYGOTSKY

FONTE: <https://escolaeducacao.com.br/wp-content/uploads/2018/10/Lev-Vygotsky-700x430.jpg>. Acesso em: 9 mar. 2020.

A contribuição de Vygotsky não se restringe à questão do materialismo dialético. Ele formulou uma teoria sobre a aprendizagem – que é o objeto de estudo da psicopedagogia.

Vygotsky era bielorrusso e desenvolveu sua teoria num contexto socialista. Diferentemente dos outros autores apresentados, desenvolveu uma teoria voltada especificamente para a educação. Vygotsky elaborou a Teoria Histórico Cultural. Ou seja, a construção da sua teoria já estava, desde o início, voltada para a aprendizagem formal. Nem mesmo Piaget fez isto.

ATENCAO

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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Sugere-se a leitura do livro: FRIEDRICH, Janette. Lev Vygotsky: mediação, aprendizagem e desenvolvimento. Uma leitura filosófica e epistemológica. Tradução do francês de Anna Rachel Machado e Eliane Gouvêa Lousada. Apresentação de Ana Luiza B. Smolka. Campinas: Mercado de Letras, 2012.

DICAS

Aos psicopedagogos convém conhecer as teorias organizacionais, até porque parte dos psicopedagogos atua profissionalmente na área institucional, trabalhando com intervenção nos processos de aprendizagem no âmbito organizacional, empresarial.

ATENCAO

Encontram-se os nomes dos filósofos Karl Marx e Georg Wilhelm Friedrich Hegel no artigo de Gurgel e Justen (2015). Ambos nomes são frequentemente associados ao materialismo histórico. O filósofo alemão Hegel viveu entre 1770 e 1831. O sociólogo, economista, historiador, jornalista e socialista, Marx nasceu em 1818, e passou grande parte da sua vida no Reino Unido, vindo a falecer de bronquite em 1883.

FIGURA 7 – HEGEL E MARX

FONTE: <https://newsandletters.org/wp-content/uploads/2017/01/HegelMarx.jpg>. Acesso em: 9 mar. 2020.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Para Gurgel e Justen (2015), o materialismo histórico e dialético consiste em um método de conhecimento. Parte-se da premissa de que as ideias são precedidas da materialidade, e que a materialidade se torna manifesta no pensamento como um todo, contraditório e em permanente movimento, à semelhança da própria realidade.

Conforme Ferraz, Chaves e Ferraz (2018), o materialismo histórico tem a ver com os progressos na produção do conhecimento, na medida em que os esforços se voltam à primazia do objeto, ou seja, a realidade das relações sociais interpretadas em sua totalidade. Se a materialidade das relações é engradecida em termos de produção de conhecimento, é um tanto quanto esperado que emerja a demanda por revoluções sociais. Assim, a linguagem corresponderia a uma manifestação material da consciência, por exemplo.

O materialismo histórico tem a ver com uma visão política comprometida com a transformação dos modos de exploração e apequenamento do ser humano, que são decorrência da produção e da sociabilidade do capital. Esse apequenamento reflete a humilhação, o amesquinhamento do ser humano (TREIN; CIAVATTA, 2009).

Assim, parece que os condicionantes econômicos e políticos de uma materialidade histórica são excluídos ou ocultados, de maneira que os avanços propiciados pelo desenvolvimento das forças produtivas não se estendem ao conjunto da sociedade. Nas palavras de Trein e Ciavatta (2009, p. 22):

Mas a concepção de trabalho como práxis humana, material e não material, que constitui o trabalho como princípio educativo – e que, portanto, não se encerra na produção de mercadorias –, exige que a educação seja compreendida em suas múltiplas determinações, conforme o estágio do desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção.

As palavras de Trein e Ciavatta (2009) querem dizer que tanto o mundo do trabalho quanto da educação podem ser melhor compreendidos quando analisados por intermédio das categorias do materialismo histórico: trabalho, totalidade, mediação e contradição.

Sob o prisma de Lavoura (2016) é necessário que seja adotada uma teoria pedagógica inspirada no marxismo, cuja visão de homem e de mundo sejam conectadas ao materialismo histórico-dialético. Por conseguinte, precisa ser uma teoria que não feche os olhos para as lutas de classes no que diz respeito à educação escolar.

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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Se você sente a necessidade de aprender mais sobre o materialismo histórico, pode consultar a seguinte obra:Tuleski, S. C; Chaves, M.; Leite, H. A. Materialismo histórico-dialético como fundamento da psicologia histórico-cultural: método e metodologia de pesquisa. Maringá: Eduem, 2015.

DICAS

Teoria piagetiana: Essa teoria recebeu esse nome pois foi formulada por Jean Piaget, que viveu entre 1896 e 1980. Esse destacável biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço investigou aspectos relativos à inteligência.

FIGURA 8 – JEAN PIAGET

FONTE: <http://twixar.me/bZxT>. Acesso em: 9 mar. 2020.

Piaget analisou e descreveu o processo de construção do conhecimento pelo sujeito em interação com outrem. A teoria de Piaget também é chamada de Epistemologia Genética, ou Teoria Construtivista, ou concepção piagetiana.

De acordo com Gomes e Bellini (2009), essa teoria procurava compreender

as diferentes maneiras de entender a origem do conhecimento. Alguns conceitos centrais da teoria piagetiana são:

• Assimilação: uma pessoa que possui uma estrutura cognitiva que lhe permita compreender o que está sendo informado a ela, conseguirá "assimilar" a nova informação. É algo que a pessoa faz sobre o objeto para compreendê-lo. É fundamental que a pessoa tenha capacidade de assimilar para que possa aprender.

• Acomodação: a acomodação é algo que acontece por "imposição" do objeto ou da nova informação. Ou seja, a pessoa acomoda as novas informações a partir das experiências que viveu ao interagir com a informação ou com o objeto.

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Significa que a pessoa agregará novas informações em sua estrutura cognitiva, por conta das demandas feitas pelo objeto, por exemplo.

• Interação: as relações que a pessoa estabelece com as informações, com os objetos e com as pessoas que a acompanham durante esse processo são contributivas para a aprendizagem. Logo, interação e interacionismo são palavras valorizadas por essa concepção.

• Equilibração: trata-se de um processo ativo, sinônimo de autorregularão. Quando a pessoa tem contato com algo novo, ela tende a associar com algo semelhante que seja do seu conhecimento. Enquanto sua estrutura cognitiva fica tentando fazer associações, para iniciar a assimilar e acomodar, acontece um certo desequilíbrio. Ela se sente desafiada a compreender o que é novo. Conforme a aprendizagem vai se processando, ela equilibra as novas informações, concluindo um novo processo de aprendizagem.

• Adaptação: a adaptação ocorre quando a estrutura cognitiva completa os ciclos de aprendizagem relativos à assimilação e à acomodação. Diz-se que a pessoa adaptou as novas informações à sua estrutura cognitiva, resolveu os conflitos que levaram ao temporário desequilíbrio. O estado de equilíbrio voltou ao normal, e ela finalizou a adaptação.

Contudo, assim que a pessoa descobrir novas informações, ou novos

objetos, esses processos são suscitados novamente. Pode-se notar que a teoria piagetiana propicia argumentos que podem subsidiar práticas educativas, e a compreensão do processo de aprendizagem.

Dell' Agli, e Brenelli (2007) enfatizam a importância dos jogos com regras para a abordagem construtivista, por conta da construção de novas estruturas de conhecimento, e para fins diagnósticos.

Piaget também fez estudos sobre labirintos, e Macedo, Carvalho e Petty (2009) realizaram um estudo ao qual intitularam Modos de resolução de labirintos por alunos da escola fundamental, e articularam com os pressupostos piagetianos. Vale destacar que um dos pesquisadores envolvidos no estudo, é vinculado ao laboratório de psicopedagogia (LaPp).

4 O NÃO APRENDER SOB A PERSPECTIVA DE PIAGET

Tendo em conta que no tópico anterior nos concentramos no objeto de estudo da psicopedagogia, e de suas bases epistemológicas, convém uma reflexão sobre o não aprender a partir da concepção piagetiana.

Saravali et al. (2013) investigaram a construção do conhecimento social, relacionada a não aprendizagem de 80 estudantes entre 6 e 16 anos de idade. Um dos objetivos era levantar as ideias ou crenças que esses sujeitos tinham a

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respeito de suas dificuldades de aprendizagem. Verificou-se que grande parte desses estudantes atribui a não aprendizagem exclusivamente aos próprios alunos, seja por desinteresse, indisciplina, desmotivação, falta de atenção, falta de concentração, ou outros fatores que advém do aluno.

Esse estudo foi motivado pelo aumento expressivo de encaminhamentos

de crianças que demonstram dificuldades de aprendizagem para atendimentos especializados. Essas situações fazem parte do cotidiano dos estudantes, da realidade social deles. Portanto, outro objetivo da pesquisa era compreender como evoluem as ideias da não aprendizagem, e como elas vão sendo constituídas, sob o prisma da teoria construtivista (SARAVALI et al., 2013).

As ideias e crenças que as crianças vão tecendo sobre a não aprendizagem podem ser revistas por elas, e modificadas com o passar dos anos. Ainda assim, os dados obtidos por Saravali et al. (2013) mostram que independentemente da idade dos sujeitos, não houve apresentação de interpretações dos fenômenos de não aprendizagem a partir de níveis mais avançados de compreensão da realidade social.

É relevante que pesquisadores e profissionais que trabalham com questões atinentes à aprendizagem acessem as opiniões, impressões, crenças, ideias e suposições dos estudantes sobre o aprender e o não aprender. Os elementos que compõem o discurso desses estudantes, bem como as explicações e justificativas que expressam nos mostram como eles percebem a não aprendizagem, o que eles costumam valorizar nesse sentido, e o que não dão tanto valor (SARAVALI et al., 2013).

Por exemplo, pode-se notar que esses estudantes acreditam no papel do professor, atribuindo bastante valor a ele, além de destacar a importância da escola na vida das pessoas. Entretanto, as justificativas elaboradas pelos estudantes indicam que eles não percebem diferentes fatores ou pontos de vista, em torno do não aprender. Alguns aspectos passam despercebidos por eles, como, por exemplo, as interrelações entre os papeis sociais das pessoas que integram o espaço escolar. Ao olharem para as relações entre professor e aluno, e para os processos de ensino e de aprendizagem, não conseguem imaginar que existem incontáveis fatores que podem estar gerando a não aprendizagem (SARAVALI et al., 2013).

Por vezes, parece que os discursos dos estudantes sobre a não aprendizagem são compostos de ecos dos discursos dos adultos. Será que os palpites desses jovens sobre as dificuldades de aprendizagem foram influenciados pelos discursos de familiares, pais, ou dos meios de comunicação de massa? É intrigante o fato de que as impressões, e representações que essas crianças e adolescentes exprimem coincidem com os discursos que adultos manifestaram em pesquisas semelhantes. Preponderam as visões unívocas, unilaterais e rotulantes sobre a não aprendizagem – desconsiderando conflitos e outros fatores (SARAVALI et al., 2013).

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

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Os raros depoimentos que não centralizam a culpabilidade da não aprendizagem no próprio aluno com baixo rendimento escolar, se direcionam para a família dele. Praticamente não emergem comentários ou questionamentos sobre os fatores ligados ao ensino, que podem acarretar a não aprendizagem, como, por exemplo, as condições do ensino, como as metodologias de ensino, a dinâmica da aula, o ambiente escolar (SARAVALI et al., 2013).

As crianças e adolescentes dessa pesquisa revelam opiniões simplistas acerca da aprendizagem – quando, na verdade, a aprendizagem está envolva de questões e fenômenos sociais tão multifacetados e complexos (SARAVALI et al., 2013).

Assim, a maioria das crianças demonstra que se sente a única culpada por sua própria dificuldade de aprendizagem. Partindo da leitura do artigo completo de Saravali et al. (2013), surgiram algumas perguntas, que gostaríamos de partilhar com você, prezado acadêmico:

• Como está o autoconceito, a autoimagem, a questão de identidade e autoestima desses sujeitos?

• Os professores poderiam auxiliar esses alunos a refletirem sobre a não aprendizagem? • Convém que os professores levem esses estudantes a perceberem que a não

aprendizagem não está centralizada unicamente nos próprios alunos?• Quando uma criança alcança uma compreensão mais ampla sobre o processo

de aprendizagem, teria melhores condições de buscar soluções, ou de minimamente lidar de modo mais favorável com a seu não aprender?

Deixaremos que essas perguntas conclamem por respostas construídas por você ao longo dos estudos desta disciplina. Mas, já podemos dar uma pista sobre a primeira delas. Na concepção de Dusi, Neves e Antony (2006), a percepção que o aprendiz tem sobre si mesmo e sobre a forma pela qual ele se relaciona com a aprendizagem deveria ser o foco de estratégias educacionais e psicopedagógicas na esfera escolar.

Dusi, Neves e Antony (2006) fizeram um estudo sobre as contribuições de outra abordagem da Psicologia, chamada Gestalt, ao campo da psicopedagogia. Alguns conceitos centrais deixados pela Gestalt são: teorias de base, campo holístico-relacional, ciclo do contato, além das ponderações da gestaltpedagogia que dão subsídios sobre a aprendizagem e as práticas educativas. A Gestalt ainda deixou suas marcas em termos de processo avaliativo e interventivo com crianças e com instituições educacionais. Portanto, oferece arcabouço teórico para a compreensão dos fenômenos que envolvem a aprendizagem, bem como, o desenvolvimento infantil, e a maneira de escutar e se posicionar diante das queixas escolares.

Segundo Dusi, Neves e Antony (2006), a abordagem da Gestalt teve por pioneiro o Fritz Salomon Perls, psicoterapeuta e psiquiatra judeu nascido na Alemanha, que juntamente com sua esposa Laura Perls, formulou a Gestalt-terapia. Ele viveu entre 1893 e 1970, tendo falecido em Chicago.

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TÓPICO 2 | BASES TEÓRICAS E EPISTEMOLÓGICAS DA PSICOPEDAGOGIA

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FIGURA 9 – FRITZ SALOMON PERLS

FONTE: <https://gestalttheory.com/images/fritzperls/photos/frederick-perls-new-york-city-1955.jpg>. Acesso em: 9 mar. 2020.

Para saber mais sobre relações entre Gestalt e psicopedagogia, leia o artigo na íntegra: Dusi, Miriam Lúcia Herrera Masotti, Neves, Marisa Maria Brito da Justa and Antony, Sheila. Abordagem gestáltica e psicopedagogia: um olhar compreensivo para a totalidade criança-escola. Paideia (Ribeirão Preto), ago. 2006, vol. 16, n. 34, p. 149-159.

DICAS

Antes de darmos continuidade aos conteúdos de fundamentos da psicopedagogia, trazemos a conclusão do artigo, nas próprias palavras dos pesquisadores:

Nesse sentido, acreditamos que a presente pesquisa traz contribuições para o campo pedagógico, psicológico e psicopedagógico, pois mostra como alunos pensam questões relacionadas ao não aprender. Pretendemos, também, com esse estudo, contribuir para a compreensão dos processos percorridos na construção do conhecimento social, em especial no contexto brasileiro (SARAVALI et al., p. 172).

Sintetizar as bases teóricas e epistemológicas da psicopedagogia em poucas páginas é um exercício hercúleo!

Vale mencionar que ao final desta unidade, você encontra um texto sobre a epistemologia e os conhecimentos concernentes à psicopedagogia – como leitura complementar. Trata-se do artigo denominado A epistemologia da psicopedagogia: reconhecendo seu fundamento, seu valor social e seu campo de ação. Comemorando os 15 anos da ABPp – Paraná Sul, escrito por Barbosa, em 2007.

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Se a sua curiosidade por essa temática está muito aguçada nesse momento, recomendamos que antes de realizar a leitura do tópico subsequente, você faça a leitura da leitura complementar dessa unidade. Ela dissemina reflexões de Barbosa (2007) sobre as produções científicas difundidas na Revista Psicopedagogia durante seis anos consecutivos, além dos temas abordados em três congressos brasileiros da ABPp, e de outros textos vinculados à ABPp (como os boletins informativos).

A leitura complementar ainda apresenta parte dos frutos dos debates concretizados entre um grupo de psicopedagogos na capital do estado do Paraná no ano de 2003, que se uniu para meditar sobre a Epistemologia da Psicopedagogia, conforme podemos visualizar no excerto que segue:

Apesar da Psicopedagogia ainda não possuir estatuto de ciência, pensar sobre a sua epistemologia é possível se considerarmos que esta refere-se ao estudo dos fundamentos, do valor social e do campo de ação de uma área do conhecimento. Os fundamentos mostrados no texto propõem ao leitor uma reflexão sobre o paradigma de conjunção que a filosofia atual coloca; sobre as pesquisas científicas que mostram um caminho na direção da despatologização da aprendizagem; sobre as práticas diferenciadas nas quais se busca a realização dos novos discursos. Termina-se o texto com questionamentos importantes à classe profissional dos psicopedagogos, no sentido de realizar uma crítica construtiva à práxis psicopedagógica atual (BARBOSA, 2007, p. 70).

Certamente, você reencontrará, durante a leitura complementar, muitos nomes de expoentes teóricos que já foram citados no livro que agora você está lendo. Contudo, vale a pena ler para entrar em contato com teorias que ainda não foram citadas aqui, e com pontos de vista diferentes sobre as teorias que balizam a psicopedagogia.

No que se refere ao estatuto de ciência ainda não outorgado à psicopedagogia, reforçamos a recomendação de leitura do artigo:BOSSA, Nadia Aparecida. A emergência da psicopedagogia como ciência. Revista Psicopedagogia. 25(76), 43-48, 2008.

DICAS

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RESUMO DO TÓPICO 2

Nesse tópico, você aprendeu que:

• Pedagogia, Psicologia, Gestalt, Psicanálise, Materialismo histórico e a Teoria Piagetiana são algumas das bases teóricas e epistemológicas da Psicopedagogia.

• O objeto de estudo da psicopedagogia é a aprendizagem humana, isso significa que o processo de aprendizagem é ocupação de destaque da psicopedagogia.

• Alguns dos aspectos que incidiram sobre a construção do objeto de estudo da psicopedagogia.

• A abordagem construtivista, cujo Piaget é um dos representantes, considera que a construção do conhecimento é resultante das contínuas interações entre sujeito e objeto.

• A equilibração permite a construção de novos conhecimentos para o sujeito, já que ela vai superando os desequilíbrios gerados pelas interações que o sujeito estabeleceu.

• As equilibrações permitem o aprimoramento das estruturas anteriormente construídas.

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AUTOATIVIDADE

1 (ENADE, 2008) - Retiraremos do discurso em que, a 15 de março de 1844, Lord Ashley apresentou a sua moção sobre a jornada de 10 horas à Câmara dos Comuns alguns dados que não foram refutados pelos industriais sobre a idade dos operários e a proporção de homens e mulheres. [...] sobretudo o trabalho das mulheres desagrega completamente a família; porque, quando a mulher passa cotidianamente 12 ou 13 horas na fábrica e o homem também trabalha aí ou em outro emprego, o que acontece às crianças? Crescem, entregues a si próprias como a erva daninha, entregam-nas para serem guardadas fora [...], e podemos imaginar como são tratadas. É por essa razão que se multiplicam de uma maneira alarmante, nos distritos industriais, os acidentes de que as crianças são vítimas por falta de vigilância. [...] as mulheres voltam à fábrica muitas vezes três ou quatro dias após o parto, deixando, bem entendido, o recém-nascido em casa. [...]. ENGELS, Friedrich. A situação da classe trabalhadora na Inglaterra. São Paulo: Global, 1986. p. 170- 171. Os dados apresentados por Engels no texto escrito em 1845 referem-se a alguns dos efeitos da Revolução Industrial na Inglaterra.

Com base nessas informações, conclui-se que, ao longo do Século XIX, a incorporação da mulher ao mercado de trabalho

a) ( ) favoreceu a emancipação feminina, garantindo o acesso a serviços profissionais de educação infantil.

b) ( ) causou um aumento sensível nos índices de mortalidade infantil, como consequência da irresponsabilidade das mães operárias.

c) ( ) produziu o aumento de separações, pois as mulheres passaram a assumir o papel de chefes de família, antes restrito aos homens.

d) ( ) resultou, principalmente, da necessidade de complementar a renda familiar, diante do crescente custo de vida na cidade industrial.

e) ( ) contribuiu para o aumento da criminalidade, devido ao surgimento de gerações de crianças criadas por terceiros e carentes de cuidados maternos.

2 De acordo com Schweitzer e Souza (2018, p. 57), "Alguns discursos dos profissionais promovem uma discussão crítica sobre a existência de queixas escolares. Quando falas identificaram que a escola tem se apresentado desinteressante e que as estratégias de ensino utilizadas não têm sido adequadas às expectativas dos estudantes, é evidente que existem profissionais implicados em fazer ou pensar diferente, mas, por vezes, acabam se frustrando diante de um contexto escolar praticamente preditor de fracasso para o próprio professor, inclusive. Com turmas superlotadas, remuneração incompatível com a função, condições de trabalho inadequadas, tem-se uma realidade profissional desfavorável ao fazer docente". A Pedagogia e a Psicologia foram apresentando respostas científicas às dificuldades de aprendizagem. Mas, e a Psicopedagogia foi formulada a partir do Século XIX. O que era feito com as crianças que não conseguiam aprender antes do Século XIX?

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TÓPICO 3

ENFOQUES RECENTES EM

PSICOPEDAGOGIA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Benquisto aprendente! A relação entre psicopedagogia e aprendizagem deve estar mais aclarada nessa altura da sua leitura. Mas, aprendizagem é uma palavra encharcada de incontáveis sentidos.

Já vimos que ela diz respeito ao processo de aprender, e que para algumas pessoas ela envolve a aquisição de informações/conhecimentos. Apresentamos nossa concepção de que ela é perpassada por um movimento ativo por parte daquele que aprende, portanto, nossa preferência é pelas palavras apropriação e construção dos conhecimentos.

Após a retomada histórica da formulação da Psicopedagogia, e das ponderações feitas sobre a epistemologia atrelada a ela, podemos fazer uma breve apreciação sobre as pesquisas que têm sido feitas na atualidade, envolvendo os saberes da psicopedagogia.

Antes de imergirmos nessas questões, vamos juntos observar um texto com características poéticas, acerca do aprender?

ASSIM COMO APRENDERASSIM COMO ESQUECER

Querer aprender!Ao abrir os olhos à vida, é o pioneiro objetivo infantil.E como humano partir,Para desmatar a grande Floresta de “por quês”.Assim como a areia muda ao esquentar!Assim como a pedra muda ao quebrar!

Com olhos abertos;Têm-se uma visão límpida,Da floresta semivazia,Mas como grandes florestas,As sequoias causam sombras.E a curiosidade escura, a uma visão.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Como humanos partimosPara derrubar os maiores “porquês” da vida.Assim como areia quente vira vidro!Assim como pedra lascada vira lisa.

Vê-se!Uma floresta de “por quês” vazia.Porém, cheia do sentimento a preencher de “mais”Como humanos, partimos à inovação, E à conquista de um futuro com “tudo”.Assim como o vidro vira um vaso!Assim como uma pedra vira um monumento!

Vê-se um “tudo”!Sem por quês, ideias sensações ou objetivosUma floresta derrubada e sem beleza, masCom uma última olhada no horizonteA última árvore caída, com a última lição:Com o nada, vem a esperança do futuro.Com o futuro, a esperança acaba, e a vida junto.Assim como um vaso quebra!Assim como um monumento é esquecido.

Acaba-se o que ver!E antes de os olhos fecharemSem mais o que verSem mais o que sentirSem mais o que conquistarSó em uma ingênua coisa têm-se a pensar:Querer esquecer!

Wylliam Pessatti

2 APRENDER

Aprender é um processo que por vezes é composto por desejo, preparação, estudo, experiências, experimentos, exercícios, treinos, erros, acertos, dúvidas, descobertas, compreensões, práticas, estágios, intenções, expectativas, frustração, dentre outros. Geralmente aprender envolve o ensino, portanto, as palavras interação e instrução são facilmente associadas à aprendizagem.

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Dusi, Neves e Antony (2006) acrescentam que aprender também implica mudança, criação, pensamento, linguagem, movimento e realização, na medida em que a pessoa vai se deparando com o novo. Faz parte do processo, ainda, as ações concretas e as abstrações lógicas, bem como o respeito, as responsabilidades sociais e os sentimentos.

Não é à toa que a palavra sentimento está presente no texto de teor poético que acabamos de ler, expressa explicitamente nessas palavras: cheia do sentimento a preencher de “mais”. Dá-se que aprender requer controle e fluidez dos sentimentos e emoções. E não apenas dos processos cognitivos, dos processos de análise e síntese e dos inumeráveis conteúdos e formas que abarcam a aprendizagem. Tudo isso está em contínua reconfiguração e reconstrução (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006).

À vista disso, não é apenas a areia e a pedra que podem ser transformadas em outras coisas. A aprendizagem pode interferir nos processos do sistema nervoso, inclusive gerando modificações em estruturas do cérebro. Como expõe Sartório (2009, p. 51) “[...] o principal propósito da aprendizagem é adaptar o organismo com sucesso ao ambiente, que está sempre em mudança”.

O ambiente escolar interfere de modo direto nas conexões sinápticas das crianças. Quando o espaço da sala de aula é empobrecido, não propicia a ampla proliferação de conexões sinápticas. Já o ambiente que dispõem de fontes de estímulos, incitam que as células estelares proliferem suas conexões para que consigam responder aos estímulos do ambiente (SARTÓRIO, 2009).

Não pretendemos esgotar os sentidos do texto do jovem Wylliam Pessatti – até porque cada leitor fará inevitavelmente conexões diferentes ao ler, e construirá os próprios sentidos perante esse escrito. Mas o texto aponta para a natureza da aprendizagem, e de que viver é simultaneamente aprender (SARTÓRIO, 2009).

As compreensões sobre aprendizagem foram modificando com o decorrer do tempo e dos refinamentos das teorias. Os avanços da Neurofisiologia, Neurociências, Neurodidática, Neuropsicopedagogia e da Biologia da Educação, exemplificam essa situação.

As teorias alusivas ao campo das Neurociências propalam que todas as mudanças que acontecem no processo de aprender, se processam inicialmente nas células nervosas, por meio da neuroplasticidade (SARTÓRIO, 2009). Portanto, esses saberes se articulam à psicopedagogia na medida em que fornece subsídios para a elaboração de ações educativas que podem favorecer a aprendizagem.

A Neuropsicologia permanece disponibilizando subsídios à psicopedagogia nos dias atuais. Ela contribui com a perspectiva compreensiva acerca dos processos do sistema nervoso correlacionados ao aprender. Focaliza, por conseguinte, os mecanismos neurológicos vinculados à aprendizagem do ponto de vista orgânico.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Os cientistas já sabem que a acetilcolina ativa o córtex cerebral contribuindo para o processo de aprendizagem, e que mais estritamente, os neurônios que secretam glutamato e GABA são ligados ao aprender e ao memorizar. A dopamina também participa diretamente da aprendizagem, já que, é responsável pelo sistema de recompensa/prazer e do sistema de reforço dos padrões motores finos – escrever, falar (SARTÓRIO, 2009).

Por exemplo, já não é mais coerente exigir que uma criança com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade fique sentada apropriadamente durante a aula toda, mantendo a postura correta, sem movimentar-se desnecessariamente. Afinal, determinados exames realizados no sistema nervoso, demonstram que pessoas com esse transtorno apresentam uma alteração no cerebelo, mais especificamente, no vermis cerebelar (CASTELLANOS et al., 2001).

Algumas das funções dessa região são ligadas à postura corporal e à motivação (CASTELLANOS et al., 2001). Por isso a criança parece estar frequentemente irrequieta, executando movimentos que parecem desnecessários. Porque o cérebro dela envia mensagens para o corpo adequar a postura, mesmo que a postura esteja a contento. Trata-se de uma dissonância entre o que o organismo está vivenciando e aquilo que o sistema nervoso entende sobre o que o organismo humano está vivendo.

Esse é apenas um exemplo de que, já passou da hora de questionarmos e combatermos a univocidade tanto requerida nas escolas. Essa necessidade de enquadrar todas as crianças num determinado padrão é perversa, pois as crianças são diferentes umas das outras, portanto, não possuem condições de se tornarem iguais às crianças consideradas “alunos exemplares”.

É mister frisar que não aprendemos apenas fazendo o uso do tecido nervoso. Até porque existe ligação entre os diferentes tipos de células do corpo. A pele, os olhos, e vários sistemas do corpo participam do aprender (SARTÓRIO, 2009).

Voltando ao assunto da motivação, vale lembrar que motivação envolve fatores extrínsecos (de fora) e intrínsecos (internos), que energizam e mantém certos comportamentos. Elogios, incentivos, encorajamentos, instigações e incitações, são palavras associadas à motivação extrínseca – que podem ser realizadas pelos professores.

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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É mais aconselhável elogiar o esforço empregado por um aluno no desenvolvimento de uma tarefa, do que uma habilidade que já esteja consolidada. Mesmo que o resultado da atividade não atinja as expectativas do professor, o esforço do aluno merece ser reconhecido. Por exemplo, quando um aluno que já dá mostras de habilidades para escrever com uma caligrafia considerada bonita, recebe elogios por isso, ele pode entender que não precisa mais se esforçar. Já o aluno cujo traçado das letras não chama a atenção pelas boas formas, mas que ainda assim, empenha-se em traçá-las na melhor forma que consegue, é recomendável ter esse afinco reconhecido e elogiado.

ATENCAO

A motivação intrínseca já está mais associada ao impulso, ânimo, motivo, motor, justificativa e porquê. Reencontramos a palavra que o Wylliam Pessatti usou algumas vezes em seu texto, apresentado no final da introdução do presente tópico. Quando a grande floresta dos porquês da vida está vazia, a pessoa se sente sem motivos para prosseguir, sem esperança. Quando o estudante demonstra esse desinteresse e indiferença, o professor e o psicopedagogo podem ajudá-lo, por meio da motivação extrínseca (SARTÓRIO, 2009).

Segundo Dusi, Neves e Antony (2006), os aspectos motivacionais e emocionais de um estudante sinalizam as figuras para as quais serão voltados os processos de memória, percepção e atenção – cuja relevância para o processo de aprendizagem é desmedida. Ou seja, o mundo interior do aluno é uma das facetas que determina os temas, conteúdos para o qual ele se dedicará, ou desprezará. O desejo, os interesses e necessidades do estudante conduzirão a atenção e percepção dele para determinados pontos que são apresentados pela escola.

O processo de aprender é altamente complexo e pode ocorrer com saboreio (FREITAS, 2016). Para expandirmos nossa compreensão sobre ele, vejamos a figura que segue:

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

FIGURA 10 – APRENDER

FONTE: A autora

As pressuposições apresentadas por Pavão e Souza (2018) destacam as interações entre os sujeitos enriquecem as aprendizagens. Por isso é costumeiro ouvirmos que as relações professor – aluno e aluno – aluno são tão valiosas. Pavão e Souza (2018) ressaltam que o vínculo entre estudante e professor autoriza o processo de aprender, como se o vínculo desse abertura para que ele se inicie e dê seguimento. “Partindo do conceito da própria Psicopedagogia, não se pode conceber o ato de aprender de forma unilateral, ou seja, quando somente um dos lados é responsável pelo movimento seguinte” (PAVÃO; SOUZA, 2018, p. 57). Essa concepção parece adjacente à pressuposição de Freitas (2016), no sentido de alteridade, isto é, a comunhão de experiências que advém relação particularidade + coletividade.

Portanto, convém refletirmos sobre os processos avaliativos, que tantas vezes sobrevalorizam uma produção feita individualmente pelo aluno, e não se leva em conta o processo de ensinagem que perpassou o processo de aprendizagem. Em outras palavras, parece que a avaliação feita em muitas escolas está arraigada numa concepção unilateral de aprendizagem, na medida em que a prova escrita indica se o aluno aprendeu ou não. As avaliações não fornecem indicativos sobre o papel do professor? Porque um zero na prova é comprovação de que o estudante não aprendeu, em vez da contestação de que o professor não ensinou?

De acordo com Barbosa (2017), a avaliação não deveria enaltecer

as dificuldades de aprender dos alunos, e sim, apresentar evidências dos funcionamentos de ensino e de aprendizagem, com vistas a fornecer subsídios para que professor e alunos reflitam sobre como se portaram em meio aos processos, e a desenvolverem estratégias para superar dificuldades.

Na concepção de Corso (2019), a psicopedagogia pode ajudar os professores, de diversas formas:

•Afetações sociais•Diversidade

•Vinculos•Interação

•Subjetividade•Ativo

•Desejo•Motivação•Autonomia

•Entendimentos•Diferenças•Mediação

•Apoio

•Dinâmico•Significado

•Singularidade•Estilos próprios

Social Individual

cooperativo Particular

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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• Expandindo a compreensão sobre como trabalhar com as diferenças.• Possibilitando a construção de conhecimento sobre os processos de aprendizagem.• Propiciando a construção de conhecimento acerca do desenvolvimento

de seus alunos.• Instigando reflexões sobre a escola como um todo.• Alargando as concepções de ensinar e de aprender.• Amplificando as noções atinentes às formas de avaliação.• Incitando reflexões sobre o currículo.• Estimulando reflexões sobre as metodologias utilizadas. • Promovendo uma visão mais ampla das dificuldades de aprendizagem. • Provocando reflexões relativas a sua prática cotidiana. • Disponibilizando dispositivos de acompanhamento do seu fazer pedagógico.• Esclarecendo a amplitude das decorrências da relação vincular professor-aluno.• Concedendo orientações para intervir na autoestima do aluno. • Clarificando a relevância da aproximação escola e família.

Mesmo que as palavras “aprender” e/ou “aprendizagem” não estejam materializadas em todos os itens, pode-se observar que elas estão entrelaçadas a todos eles.

Para estender seus conhecimentos sobre essa temática, sugerimos a leitura do livro “Psicopedagogia: contribuições para a educação pós-moderna”, organizado por Beatriz Judith Lima Scoz.

CAPA DO LIVRO PSICOPEDAGOGIA: CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO PÓS-MODERNA

DICAS

FONTE: <http://lojasaraiva.vteximg.com.br/arquivos/ids/1525368/146247.jpg?v=637004114020100000>. Acesso em: 18 nov. 2019.

Page 146: Fundamentos da PsicoPedagogia

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Para Barbosa (2017) aprender tem a ver com foco, interesses, motivos, estratégias (formas e estilos de aprendizagem), afetividade, desejo, curiosidade, habilidades, cognição, pensamento, experiência, processos históricos, contexto, percepção. Barbosa (2017) ainda faz menção às funções sociais concatenadas aos conteúdos da aprendizagem.

Embora estejamos habituados a associar a palavra aprender ao papel do aluno, e a palavra ensinar ao papel do professor, é profícuo destacar que esses processos são interligados, há sobreposições entre eles, bem como, interposições. É difícil delimitar quando estamos aprendendo ou ensinando, nas variadas interações que estabelecemos em nosso cotidiano. É bem possível que estejamos participando dos dois processos concomitantemente, isto é, ao mesmo tempo, na maioria das vezes.

Segundo Corso (2019), o professor precisa aprender metodologias de ensino. Na sequência, você pode visualizar uma imagem que sintetiza a concepção de Corso (2019) sobre a participação do professor, no que tange à aprendizagem dos alunos.

FIGURA 11 – O PROFESSOR E O APRENDER

FONTE: Adaptado de Corso (2019)

Contruir ospróprios

conhecimentos

Contar como apoio de

profissionais

Trabalhar em equipe

Dialogardentro e fora

da escola

Dialogar comas áreas da educação

Dialogar comas áreas da

saúde

Formarrede de apoio

Refletir sobresuas práticas

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Além dos vínculos entre aprendentes e ensinantes, Araújo (2016) acentua a relação pessoa-ambiente, que também pode repercutir positiva ou negativamente no processo de ensino-aprendizagem. O ambiente escolar, é composto por dimensões sociais, físicas e psicológicas. Esse ambiente equivale a uma unidade total de significações (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006).

Araújo (2016) faz menção aos entraves que podem afetar a aprendizagem, por exemplo, o apego ao lugar, bem como, aos laços afetivos estabelecidos pelo estudante com determinada instituição de ensino. E de que maneira o psicopedagogo poderia auxiliar em uma situação dessas?

Campanhas de intervenção também podem ser pensadas para a equipe docente e a escola como um todo, esclarecendo as dúvidas sobre o apego ao lugar e as suas ligações com os estudantes e a escola; focalizando os esforços para a promoção de uma aprendizagem de qualidade que, uma vez atenta aos elementos quanto aos laços afetivos e seu poder de modificação do comportamento, é capaz de favorecer o crescimento pleno desse (novo) sujeito social (ARAÚJO, 2016, p. 382).

Dusi, Neves e Antony (2006) levantam outros fatores que podem obstaculizar o processo de aprendizagem: recusa de contato, medo de errar e vergonha de se expor. A abordagem Gestalt-terapia tem como conceitos fundamentais a figura, o fundo, o todo, à parte. Portanto, até mesmo o conteúdo que não é aprendido (parte), interfere no funcionamento do indivíduo (todo), uma vez que exerce pressão na percepção que o indivíduo possui de sua relação com o objeto de conhecimento, com o ambiente e com as pessoas envolvidas no contexto.

Conforme Dell' Agli e Brenelli (2007), a aprendizagem abarca as aquisições decorrentes das vivências e mecanismos internos de assimilação, acomodação e equilibração – que desembocam na evolução dos conhecimentos. Esta concepção de aprendizagem parte do princípio de que a aprendizagem é subordinada ao desenvolvimento.

FIGURA 12 – APRENDIZAGEM

FONTE: Adaptado de Dell' Agli e Brenelli (2007)

Experiências Aprendizagem

InteraçõesConhecimentos

que são adquiridos

Conteúdos daeducaçãoinformal

Conteúdosescolares

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Os conhecimentos cotidianos exemplificam os conteúdos da educação informal, enquanto os conhecimentos científicos representam os conteúdos escolares.

Conforme Pavão e Souza (2018), a complexidade do ato de aprender se assenta no fato de que coexistem processos individuais e particulares com os processos sociais. Isso quer dizer que ao aprender, as pessoas assumem um posicionamento ativo e dinâmico, não apático se restringindo ao recebimento de informações.

Em conformidade com Dusi, Neves e Antony (2006), o aprendiz atua como agente de conhecimento, tendo em vista que ele promove reestruturações e ressignificações em seu próprio campo perceptual.

Prezado acadêmico! Antes de nos concentrarmos nos estudos recentes sobre ensinagem, vale informar que você encontrará mais conceitos sobre o aprender e a aprendizagem ao longo de seus estudos em Psicopedagogia. Nosso intuito foi fornecer apenas alguns fundamentos sobre os quais você irá construindo seus conhecimentos ao longo de sua formação acadêmica e profissional. Então, não se preocupe em sentir-se totalmente proficiente desses saberes nesse momento

3 ENSINAR

Que tal você fazer uma breve pausa na leitura, para recordar-se de suas primeiras impressões em face da presença de um texto com características poéticas aqui neste livro. Você se sentiu positivamente surpreendido, ou achou que um texto da esfera acadêmica, como é o caso desse livro de estudos, não é compatível à escrita literária?

Principalmente aos que se identificaram mais com a segunda alternativa, convém refletir sobre a predominância de certos conteúdos nos currículos educacionais. Conteúdos estes, comumente de teor racional, de aspectos do mundo real, com saberes da gramática e dos vieses lógico-matemático, científico, prático – direcionado às tarefas do cotidiano e à moral – como modelo de comportamento. De fato, são conhecimentos necessários e inerentes ao ser humano, já que o hemisfério esquerdo do cérebro se ocupa deles (SARTÓRIO, 2009).

Mas, os humanos também possuem um hemisfério direito, que se mostra dedicado às questões emocionais, criativas, lúdicas, estéticas. A arte, a beleza do mundo encontra-se amplamente acolhida e contemplada no hemisfério direito. Em consequência, pode-se afirmar que pelo menos metade do nosso córtex se mostra anelado ao mundo da fantasia, à arte (SARTÓRIO, 2009).

Nesse sentido, Freitas (2016) questiona se o ensino costuma ser pautado pelo olhar sensível, ou na reprodução de estereótipos. A arte, tanto no cenário educacional, quanto no terapêutico, propicia que o aprendizado por um viés sensível, podendo, inclusive, subverter padrões massificadores (FREITAS, 2016).

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Talvez, se nós educadores, quiséssemos ajudar nossos alunos, estaríamos numa encruzilhada entre ensinarmos para o mundo racional, tecnocrata o mundo lúdico e criativo; educar para o individualismo e educar para a compreensão de um todo interdependente (SARTÓRIO, 2009, p. 90).

Esses aspectos podem ser levados não apenas no momento de selecionar os conteúdos que comporão o currículo, mas também, às metodologias de ensino. Afinal, a brincadeira, por exemplo, pode colaborar para o sucesso no processo de ensino aprendizagem. É pertinente que professores levem em conta o uso do brincar em determinados momentos de sua prática pedagógica. O brincar estimula a execução de movimentos motores e promove a simulação de papeis sociais, afetando o desenvolvimento cerebral. A brincadeira livre ainda tem a vantagem de não apresentar um objetivo a ser atingido, o que instiga a criatividade (SARTÓRIO, 2009).

Logo, a aprendizagem é um processo tão complexo porque integra vários sistemas do ser humano, como, por exemplo, o motor, o cognitivo e o sensório. Além do mais, os conteúdos aprendidos em momentos antecedentes tendem a despontar em uma nova necessidade solução de problemas (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006). Então a criança aciona os conhecimentos construídos nas brincadeiras, em posteriores situações do cotidiano que se articulam com tais brincadeiras.

Martin (2019) fez um estudo sobre as características de personalidade, qualidades relativas dos aspectos profissionais e metodológicos de professores universitários, segundo as representações dos alunos. Ou seja, Martin (2019) levantou as características que costumam ser identificadas nos bons professores da esfera acadêmica, a partir dos pontos de vista dos alunos. Algumas das características que se destacaram no estudo foram:

• Capacidade de escuta.• Compreensão.• Bom relacionamento.• Pontualidade.• Respeito aos tempos do ambiente educacional.• Estímulo à participação dos alunos.• Emprego de metodologias diversificadas.• Adaptações metodológicas de acordo com as características do alunado.• Clareza nas explicações.

Para saber mais sobre os estilos de teoria e prática da psicopedagogia brasileira, recomendamos a leitura do livro:RUBINSTEIN, Regina Edith. Psicopedagogia: fundamentos para a construção de um estilo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2006.

DICAS

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Na continuação, voltaremos a refletir sobre as dificuldades de aprendizagem, que já foram sendo pouco a pouco apresentadas nos tópicos precedentes.

4 DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM

Dell' Agli e Brenelli (2007) ilustram que as escolas são frequentadas por crianças que aparentam acompanhar o conteúdo escolarizado sem demonstrar dificuldades, por crianças que revelam dificuldades para aprender (seja por um conteúdo específico ou por vários deles).

Consequentemente, uma parcela substancial das crianças que apresentam dificuldades na apropriação/construção de alguns conhecimentos, costumam ser encaminhadas para uma avaliação feita por algum especialista (geralmente da área da educação ou da saúde) (DELL' AGLI; BRENELLI, 2007).

Nesse sentido, o artigo de 2014, cujo título é: As práticas de in/exclusão na escola e a redefinição do conhecimento escolar: implicações contemporâneas”, trata da quantidade significativa de encaminhamentos que as escolas têm feito para diferentes especialistas. Para Lockmann (2014), os conhecimentos e as ações que antes ficavam praticamente circunscritas ao ambiente escolar, estão abrangendo outras dimensões, levando em conta o prisma psicológico.

Conforme Lockmann (2014), diversificados atendimentos têm sido disponibilizados aos estudantes: psicopedagogia, psicologia, psicomotricidade, arteterapia, equoterapia, dançaterapia, equoterapia, neurologia, fonoaudiologia, entre outros. Contudo, parece que as escolas têm substituído o desenvolvimento de estratégias educacionais por parte da escola para atender aos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, pelo encaminhamento aos especialistas.

Ou seja, existem escolas que parecem estar se eximindo da responsabilidade de encontrar soluções para que auxiliar a criança a aprender, na medida em que, continuam usando as mesmas estratégias de ensino, e encaminhando as crianças que apresentam alguma dificuldade de aprender, para profissionais especialistas.

Favero e Neves (2013) realizaram uma pesquisa sobre a docência universitária, com a qual objetivavam oferecer subsídios para que os psicopedagogos atuassem na mediação de situações de aprendizagem que envolvem o conhecimento matemático, no que se refere à lida com dificuldades de aprendizagem em matemática e ao trabalho com professores.

Além do mais, as descrições que os professores têm feito acerca dos estudantes parecem focalizar as formas pelas quais cada um deles precisa aprender a operar sobre si mesmo, em vez de ressaltar as aprendizagens vinculadas a determinadas áreas de conhecimento ou às disciplinas escolares. Os relatos se concentram na forma de ser e de se comportar na esfera escolar.

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Raramente se encontram entre os relatos os procedimentos pedagógicos adotados pela escola, ou as intervenções realizadas pelos professores. Em outras palavras, parece estar ocorrendo um silenciamento acerca das práticas de ensino propostas pelas escolas (LOCKMANN, 2014).

Nesse sentido destaca-se que por vezes é realmente necessário que a escola

faça encaminhamentos, mas, o que não pode acontecer é a escola fazer apenas isso, deixando toda a responsabilidade nas mãos do especialista para o qual a criança foi encaminhada. Os educadores da escola precisam procurar alternativas a serem desenvolvidas na própria escola para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. Possivelmente, o professor pode solicitar a ajuda dos demais profissionais da educação que integram a escola, da equipe de gestão escolar, a fim de implementar práticas educativas direcionadas ao aluno que apresenta dificuldades de aprendizagem.

O estresse tem se demonstrado um vilão ferrenho ao aprendizado, porque ele interfere na atenção e concentração da pessoa, além de atrapalhar nos processos decisórios. Consequentemente, o estresse diminui o rendimento educacional dos alunos.

Por esse ângulo, Sartório (2009) explica que a realização de atividade física beneficia o organismo, por causa das estimulações amplas que gera no cérebro, além da redução do estresse.

Assim, Moretti e Hübner (2017) fizeram uma pesquisa sobre as inconsistências da educação superior – frequentemente repletas de sobrecarga de atividades, cobranças e imposição de prazos inclementes. Essas questões se fazem presentes nas graduações, mas se intensificam progressivamente nas modalidades de pós-graduação stricto sensu – mestrado e doutorado. Como esperar que os acadêmicos apresentem aprendizado vigoroso, se as condições presentes nas modalidades de educação formal, a partir da graduação são por si só geradoras de estresse?

Antes de adentrarmos as últimas considerações desse tópico, vale citar que Dusi, Neves e Antony (2006) realçam a rotulação do fracasso escolar, ao propor uma atuação ética, que seja interventiva no sentido de promover, de forma responsável, a aprendizagem do estudante. Visualize a figura que segue, para verificar como o fracasso escolar é um fenômeno melindroso:

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FIGURA 13 – QUEIXAS ESCOLARES

FONTE: Adaptado de Dusi, Neves e Antony (2006)

É necessário esclarecer que o estudo que foi utilizado para a construção dessa figura não defende esses posicionamentos. Pelo contrário, ele os expõe a fim de fomentar discussões e debates sobre eles.

Que tal conferir o artigo de Dusi, Neves e Antony (2006) na íntegra? Você o localiza na revista Paideia (Ribeirão Preto), com o título: “Abordagem Gestáltica e Psicopedagogia: um olhar compreensivo para a totalidade criança-escola”.

DICAS

5 REMATES REFLEXIVOS

Na medida em que já estamos nos aproximando da terceira unidade desse livro, já precisa estar compreensível que a psicopedagogia compreende os sujeitos tomando por base as características pessoais, as necessidades e os desejos de aprender – chamados de “porquês” no texto em tom poético que apresentamos no início desse tópico. De acordo com PAVÃO e SOUZA (2018), ação psicopedagógica pode ser caracterizada como:

• Problemas de aprendizagem, de comportamento ou de relacionamento.• Há um predomínio de discursos que concebem as queixas escolares pelo viés da patologização.

Queixas escolares

Dificuldades de aprendizagem

Fracasso escolar

• Pedem significados, explicações ao contexto escolar.• Quais são as causas das dificuldades?

• Embasado e perpetuado numa perspectiva predeterminista.• O aluno é culpabilizado por não atender os objetivos de aprendizagem

traçados pelo professor ou pela escola.• Se a culpa por não ter aprendido é exclusivamente do aluno, não há porque fazer investimentos pedagógicos.

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• Atuação interdisciplinar.• Mediadora da aprendizagem.• Fortalecedora de relações.• Potencializadora das aprendizagens.• Atuação que pode desenrolar-se nos espaços da educação formal, não

formal e informal.

A modalidade de educação informal é marcada pela aprendizagem assistemática, que se desenrola no espaço familiar e no seio da comunidade, por exemplo. Consequentemente, em boa parte das vezes, o vínculo afetivo (entre aqueles que ensinam, e aqueles que aprendem) se dá de forma intensa. A sensibilidade que tende a se desdobrar nessas interações, parece impulsionar a autoconfiança, a busca pelo autoaprimoramento e a vontade de aprender (FREITAS, 2016).

Para exemplificar os laços afetivos da educação informal, Freitas (2016) cita o aprendizado de engatinhar, falar e brincar. Comumente, os ensinantes aplaudem os progressos da criança, ainda que sejam evoluções incipientes. Os equívocos apresentados pela criança não tendem a ser realçados pelo ensinante.

Apesar que uma quantidade significativa de pesquisas referentes aos aspectos de interesse da psicopedagogia tenha se desenvolvido nos últimos anos, ainda há muito por descobrir, por compreender. Por exemplo, pesquisas sobre reabilitação neuropsicológica em casos de traumas no sistema nervoso não são novidade. Mas, se a estimulação é tão notável nos casos de traumatismo, será que não poderiam ser desenvolvidas estimulações diferenciais específicas para crianças com dificuldade de aprendizagem? Ou mesmo estimulação diferencial para pessoas que almejam aprender algo peculiar, ou desenvolver certas habilidades?

Como outro exemplo, citamos a preponderância do sistema visual nos processos de ensino e aprendizagem. Será que além das pessoas com baixa visão ou cegueira, não existem outras pessoas que se beneficiariam da exploração de outros sentidos no que toca a aprendizagem? Com utilização de meios sensoriais relacionados ao tato, à audição, ao olfato e à gustação? Poderíamos pensar em ferramentas de ensino que contemplem mais sentidos, não apenas com crianças que apresentam necessidades educacionais especiais (SARTÓRIO, 2009).

Mais um exemplo de caminhos a seguir em pesquisas da psicopedagogia, envolvem a nutrição. Se já sabemos que o ômega 3 (presente em peixes, frutos do mar e sementes) favorece a estimulação neural, a concentração e o aprendizado, não deveria ser incentivado o consumo dele entre as crianças? A vitamina D (adquirida via exposição solar) também tem importância nesse sentido. A vitamina B12 (presente em folhas verdes e hortaliças), está relacionada aos aspectos da cognição, enquanto que a acetilcolina está ligada à consolidação da memória. A colina (presente no ovo) também favorece o processo de aprendizagem.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Quantos profissionais da educação e da saúde têm esclarecido para os estudantes que a ingestão excessiva de açúcar gera excitabilidade rápida no cérebro, mas, em seguida a sonolência (SARTÓRIO, 2009), fazendo com que o estudante não apresente disposição necessária para estudar?

Quantas crianças que parecem demorar para engrenar nas aulas, o faz por falta de carboidratos na alimentação? Os carboidratos têm um poder de ativar as áreas cerebrais, para iniciar as atividades (SARTÓRIO, 2009). Quantas crianças são rotuladas de “vagarosas” ou “preguiçosas”, quando apenas estão externalizando o baixo consumo de fontes de carboidrato como frutas, legumes e cereais?

Algumas das pesquisas que tem sido realizadas por pesquisadores que são integrantes de Departamentos de Psicopedagogia, ou de Grupos de pesquisa da psicopedagogia são:

QUADRO 1 – PESQUISAS RELATIVAMENTE RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

Título do artigo Autores Palavras-chave do artigo Ano de publicação

O uso pedagógico das Tecnolo-gias da Informação e da Comu-nicação na formação dos futuros docentes no Quebec

KARSENTI, Thierry; VILLENEUVE, Sté-phane; RABY, Carole.

Tecnologias da informação e da comunicação (TIC). Docentes. Competências. Formação. Com-putador. Tecnologias. Formação inicial. Aprimoramento profes-sional.

2008

POLÍTICAS DE JUVENTUDES: HISTÓRIAS DE VIDA, EDUCA-ÇÃO E RESISTÊNCIA

OLIVEIRA, Mariana Lins de; MARQUES, Luciana Rosa.

Políticas de juventudes. História de vida. Resistência.

2016

Mapas conceituais: estratégia de ensino/aprendizagem e ferra-menta avaliativa

SOUZA, Nadia Apa-recida de; BORU-CHOVITCH, Evely.

Estratégias de Ensino e Aprendi-zagem; Avaliação da Aprendiza-gem; Mapa Conceitual.

2010

A criança e a infância sob o olhar da professora de educação infantil

TOSATTO, Carla; PORTILHO, Evelise Maria Labatut.

Educação Infantil. Unidades de Significação. Formação Conti-nuada.

2014

Os aspectos metodológicos da prática pedagógica no 1º ano do Ensino Fundamental

SILVA, Thalita Fol-mann da; PORTI-LHO, Evelise Maria Labatut.

Aprendizagem. 1º ano do ensino fundamental. Ensino.

2013

Medo de Ficar Solteiro: Evidên-cias Psicométricas e de Validade de uma Medida.

FONSECA, Patrícia Nunes da et al.

Medo de ficar solteiro, escala, evidências psicométricas.

2017

Perdão conjugal: uma explicação a partir dos valores humanos.

FONSECA, Patricia Nunes da et al.

Perdão, valores humanos, conju-galidade.

2017

Eficácia do uso de um softwa-re para estimulação de habilida-des de consciência fonológica em crianças

FARIAS, Carolina Carneiro; COSTA, Adriana Corrêa; SANTOS, Rosangela Marostega.

Linguagem Infantil; Aprendi-zagem; Escrita Manual; Esti-mulação Auditiva; Validação de Programa de Computador; Fonoaudiologia

2013

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Opacidade das fronteiras entre real e virtual na perspectiva dos usuários do Facebook.

ROSA, Gabriel Artur Marra e; SANTOS, Benedito Rodrigues dos; FALEIROS, Vicente de Paula.

Facebook; subjetividade; redes sociais; real; virtual.

2016

Alienação parental: elaboração de uma medida para mães.

CARVALHO, Thayro Andrade et al.

Alienação parental; Inventários; Mães.

2017

Escala de conexão com a nature-za: evidências psicométricas no contexto brasileiro.

PESSOA, Viviany Silva et al.

Análise psicométrica; Conexão com a natureza; Validade fatorial.

2016

Bullying e formação de pro-fessores: contributos para um diagnóstico.

VENTURA, Alexan-dre; VICO, Beatriz Pedrosa; VENTURA, Rosângela.

Bullying; Cyberbullying; Política educativa; Currículo; Formação de professores.

2016

FONTE: A autora

É apropriado esclarecer que o discurso médico ainda se mantém, mas já não é tão imperativo, como outrora. Existem outros modos de ver e interpretar a psicopedagogia que não apenas o biologizante, mas também como relacionar os mesmos fenômenos a outros fatores, como o emocional, o contextual em termos tanto pessoais como geracionais, dentre outros.

Por conta disso, ao final desse tópico está disponível a leitura complemen-tar intitulada A Epistemologia da Psicopedagogia: reconhecendo seu fundamento, seu valor social e seu campo de ação. Comemorando os 15 anos da ABPp – Paraná Sul, 2006. Trata-se de um texto que aborda a psicopedagogia de forma relacional e pensan-do NO SUJEITO não apenas nos processos e nas instituições.

Antes de adentrarmos na Unidade 3, deixamos uma sugestão de leitura diretamente vinculada aos temas apresentados até aqui: • Histórico das bases teóricas. • Conceito de psicopedagogia. • Objetos de estudos e pesquisa do psicopedagogo • Formação. • Regulamentação da Profissão. • Situação presente da regulamentação da profissão. Trata-se do artigo denominado Rumos da Psicopedagogia Brasileira, disponível na Revista Psicopedagogia, escrito por Rubinstein, Castanho e Noffs (2004). É proveitoso elucidar que o texto aborda todos esses temas elencados pelo Conselho Nacional da ABPp no que se refere ao contexto brasileiro. Em acréscimo você acessará informações sobre instrumentos de avaliação e intervenção – sobre os quais ainda não estudamos nessa disciplina.

DICAS

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

LEITURA COMPLEMENTAR

A EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA: RECONHECENDO SEU FUNDAMENTO, SEU VALOR SOCIAL E SEU CAMPO DE AÇÃO. COME-

MORANDO OS 15 ANOS DA ABPP – PARANÁ SUL, 2006

Laura Monte Serrat Barbosa

RESUMO

Este é um estudo que buscou reflexões a partir das produções científicas divulgadas em alguns exemplares da Revista Psicopedagogia – nos últimos seis anos – dos temas propostos nos últimos três congressos brasileiros da ABPp, dos boletins informativos de algumas das Seções da ABPp e da experiência psicopedagógica discutida por um grupo de psicopedagogas de Curitiba, o qual se reuniu, em 2003, para pensar sobre o tema Epistemologia da Psicopedagogia. Apesar da Psicopedagogia ainda não possuir estatuto de ciência, pensar sobre a sua epistemologia é possível se considerarmos que esta refere-se ao estudo dos fundamentos, do valor social e do campo de ação de uma área do conhecimento. Os fundamentos mostrados no texto propõem ao leitor uma reflexão sobre o paradigma de conjunção que a filosofia atual coloca; sobre as pesquisas científicas que mostram um caminho na direção da despatologização da aprendizagem; sobre as práticas diferenciadas nas quais se busca a realização dos novos discursos. Termina-se o texto com questionamentos importantes à classe profissional dos psicopedagogos, no sentido de realizar uma crítica construtiva à práxis psicopedagógica atual.

Unitermos: Epistemologia. Psicopedagogia. Conhecimento. INTRODUÇÃO

Vivemos em uma época rica em numerosas mudanças que marcam o fim de um período. Este fim desdobra-se em três componentes: o das certezas, o das ilusões e o dos determinismos (Raux).

Em tempos de grandes mudanças, precisamos, de quando em quando, revisitar nossa práxis na busca de esclarecimentos e aperfeiçoamento acerca de sua função social. A reflexão sobre a epistemologia é uma das paradas que precisamos fazer para criticarmos a construção que estamos erigindo. A palavra "epistemologia" está significada, no dicionário, como sendo "a teoria das ciências"; o estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das ciências.

Rolando Garcia diz que foi esclarecido pelo dicionário que a palavra epistemologia vem do francês para designar o estudo crítico das ciências, dirigido a determinar seu valor na sociedade, seu fundamento lógico e seu campo de ação, diferenciando-o do termo "teoria do conhecimento", utilizado pela filosofia.

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Embora a Psicopedagogia não tenha estatuto de ciência, podemos arriscar e buscar seu fundamento, seu valor para a sociedade, e definir seu campo de ação, fazendo uma investigação crítica dessa área de estudo e de ação. Para que isso seja possível, é necessário estabelecermos o que será entendido por Psicopedagogia, apontando principalmente seu objeto de estudo, analisado a partir de eixos temáticos escolhidos para congressos nacionais e encontros regionais da ABPp, de títulos de artigos publicados e da práxis discutida por um grupo de psicopedagogas de Curitiba.

A Psicopedagogia nasceu como uma área que possuía a missão de superar a "compartimentalização" do aprendiz, da sua forma de lidar com as facilidades e dificuldades para aprender e do conhecimento a ser aprendido. No seu trajeto, no entanto, não conseguiu evitar a contaminação pelo que já estava posto, pelas ciências que já possuíam seu estatuto estabelecido como tal, como a medicina, por exemplo. Como um irmão menor, chegando em uma família, a Psicopedagogia passou a fazer suas inserções usando instrumentos construídos por outras áreas do conhecimento, mas regidos pelo paradigma da disjunção, aquele que deveria ser superado na história humana, no momento de seu surgimento.

Inicialmente, a Psicopedagogia teve como objeto de estudo a Dificuldade de Aprendizagem, vista como doença do aprendiz; a seguir, seu objeto passou a ser a Dificuldade de Aprendizagem como parte do processo de aprender, cujas causas poderiam estar fora ou dentro do sujeito; posteriormente, seu objeto começou a ficar mais delineado e passou a ser caracterizado como a Aprendizagem e os Transtornos que podem ocorrer em seu processo. Somente na década de 1990, o objeto de estudo da Psicopedagogia começa a perder a doença, a dificuldade e os transtornos como foco principal, passando a ser caracterizado como o Sujeito capaz de conhecer e aprender, assim como seu processo de aprender. Atualmente, o objeto de estudo da Psicopedagogia é colocado como um sujeito, que Maria Cecília Silva3 descreveu e chamou de Ser Cognoscente.

Portanto, a Psicopedagogia pode ser definida como a área do conhecimento que se propõe estudar o ser cognoscente e seu processo de aprender, compreendendo-o como um ser constituído de três grandes dimensões: a Racional, a Relacional e a Desiderativa e do funcionamento decorrente das relações dessas três dimensões, que acontecem num corpo físico e biológico, bem como num contexto cultural próprio.

PESQUISANDO A REALIDADE PARA ENCONTRAR O FUNDAMENTO

Pretendemos fazer um estudo crítico da Psicopedagogia no Brasil, com atenção aos seus fundamentos, ao valor que representa para a sociedade e ao seu campo de intervenção. Para tal, escolhemos uma mostra da Psicopedagogia vivida no Brasil, nos últimos seis anos, por meio dos temas dos congressos da ABPp, dos encontros regionais das Seções e das publicações na Revista Psicopedagogia e nos Boletins de algumas Seções.

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

No que se refere aos congressos nacionais, aconteceram três. Em 2000, Ampliando a Psicopedagogia: Avanços Teóricos e Práticos. Escola, Família, Aprendizagem, coordenado pela presidente Nívea Maria de Carvalho Fabrício. Em 2003, Psicopedagogia: O Portal para Inserção Social – o Sujeito como Autor, o Social como Contexto, o Aprendizado como Processo, coordenado pela presidente Maria Cecília de Castro Gasparian. Em 2006, Desafios da Psicopedagogia no Século XXI. Aprendizagem: Tramas do Conhecimento, do Saber e da Subjetividade, coordenado pela presidente Maria Irene Maluf.

Desde 2000, na ABPp, tem existido um esforço para ampliar conceitos, agregar a diversidade, compreender a aprendizagem com um paradigma de conjunção, entendendo-a como algo complexo (trama), que envolve não somente o conhecimento a ser aprendido, mas o sujeito cognoscente constituído pelas dimensões racional, relacional e desiderativa, ligada à subjetividade, e pelo contexto histórico e geográfico no qual se encontra.

Aleatoriamente, em Boletins das várias Seções, buscamos perceber se os representantes regionais seguem a tendência explicitada pela ABPp em seus eixos temáticos. O que encontramos, como uma pequena mostra, foi o seguinte:

• Em 2000 – VII Encontro de Psicopedagogia da Seção Curitiba: Psicopedagogia – Lendo o Mundo e Reescrevendo Histórias. Um Estudo de Leitura e Escrita;

• Em 2001 – I Seminário Mineiro da ABPp MG: O Adolescente e a Psicopedagogia; Fórum Psicopedagógico, São Paulo: Debate Nacional sobre Avaliação na Aprendizagem; Pequenos Eventos, Grandes Ideias, Curitiba: A Psicopedagogia Frente à Tecnologia; XI Encontro Regional de Psicopedagogia de Goiás: Escola: (por) uma Educação com Alma; Pequenos Eventos, Grandes Ideias, Curitiba: Intervenção Psicopedagógica – O que Caracteriza esta Prática; I Encontro de Psicopedagogia do Maranhão: Aprendizagem e Prazer; I Encontro Carioca de Psicopedagogia: Autoria: Poder Desfrutar do Pensar, do Jogar, do Criar, do Escrever... Acervo Psicopedagógico; VIII Encontro da ABPp Curitiba: Aprendendo a Incluir e Incluindo para Aprender;

• Em 2002 – XII Encontro Regional de Psicopedagogia de Goiás: Escola: Desafio à Prática Reflexiva; V Encontro Goiano de Psicopedagogos: Fracasso Escolar: um Olhar Psicopedagógico; XI Encontro Estadual de Psicopedagogos, RS: Família e Aprendizagem: Socializando Afeto e Conhecimento; Pequenos Eventos, Grandes Idéias, Curitiba: Contribuições da Neuropsicolinguística para o Processo de Aprendizagem da Leitura e Escrita; Reunião Científica, Salvador: Conhecimento do Eu: Ponto de Partida para o Encontro do Nós;

• Em 2003 – I Encontro Paranaense de Psicopedagogia, Maringá: Trilhando Novos Caminhos para a Inserção Social do Aprendiz e do Profissional;

• Em 2004 – XIV Encontro Regional de Psicopedagogia, Seção Goiás: Escola: Novos Tempos, Muitos Desafios;

• Em 2006 – II Encontro Sul-brasileiro de Psicopedagogia: Os Tempos de Aprender e o Aprender Através dos Tempos; Pequenos Eventos, Grandes Ideias, Curitiba: Educação de Crianças Pequenas; Pequenos Eventos, Grandes Ideias, Curitiba: Panlexia; Café da Manhã com Psicopedagogia, Curitiba: A Sociedade da Informação e a Psicopedagogia (este encontro originou um texto produzido em parceria pelos participantes, via Internet).

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Os temas regionais citados, exceto alguns poucos, estão voltados para questões ligadas a um paradigma de conjunção, buscando-se perceber questões mais amplas da aprendizagem, do aprendiz e do seu contexto, assim como se caracteriza a tendência da ABPp, responsável pela organização dos encontros nacionais.

Para completar e dar mais consistência ao trabalho de buscar a fundamentação da Psicopedagogia no Brasil, escolhemos três exemplares da Revista Psicopedagogia, dos anos em que os congressos citados ocorreram, para buscar a coerência entre os temas propostos pelos congressos e as produções científicas selecionadas para publicação.

No número 52, 2000, podemos ver um encaminhamento para a ampliação de olhar e de campo de ação, conforme proposto pelo congresso, por meio dos artigos:

• Facilitando a Experiência de Aprendizagem na Internet – Esboço de uma Sala de Aula Virtual;

• Os 20 Anos da Associação Brasileira de Psicopedagogia;• A Aprendizagem e sua Relação com a Organização do Real;• Considerações sobre a Revisão Curricular no Contexto da Sociedade Atual;• Repensando o Educador à Luz do Modelo Sistêmico;• A Psicopedagogia Clínica como Instrumento de Ação Social;• O Processo de Socialização;• Transfer... o Processo de Transferência em Psicopedagogia;• Estágio Supervisionado: uma Atividade na Preparação do Exercício na Escola;• Para que Mundo Educa(r)mos?

Embora os textos abordem mais os avanços práticos do que os teóricos, a teoria referenciada já aparece como um fundamento balizado por um paradigma ligado à complexidade, à visão sistêmica e à integração da realidade ao desejo, assim como uma necessidade de possuir uma prática que tenha uma abrangência social, significativa.

No número 62, 2003, há relatos de pesquisa e artigos. Nas pesquisas, principalmente, a relação com a inserção social ainda aparece limitada às necessidades educativas especiais. Os artigos produzidos no Brasil podem revelar uma contradição entre o que o congresso buscava e o que se produzia, podendo justificar a escolha do tema do congresso como uma necessidade de ampliar a visão psicopedagógica em nosso país:

• Lingüística e Surdez: Compreendendo a Singularidade da Produção Escrita de Sujeitos;

• A Deficiência Redescoberta: a Orientação de Pais de Crianças com Deficiência Visual;

• A Aplicação de Teorias Psicológicas no Planejamento e na Avaliação do Processo de Ensino-aprendizagem;

• Psicopedagogia e Equidade Social: o Contexto como Protagonista, a Diversidade como Norma;

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

• Complexidade e Sistema na Psicopedagogia;• Aspectos da Formação de Leitores nas Quatro Séries Iniciais do Primeiro Grau.

Dentre os artigos escolhidos para publicação, parece que apenas dois estão relacionados à Psicopedagogia como um possível portal para a inserção social. Os títulos não citados são escritos por estrangeiros, dispensáveis para o objetivo desse artigo.

O último exemplar analisado, número 69, foi distribuído no início de 2006, embora tenha sido publicado em 2005. Os títulos das pesquisas e artigos estão muito próximos ao eixo temático do congresso, até porque o tema é amplo e sugere uma fundamentação na complexidade, nas tramas, na diversidade, nos estudos da subjetividade do ser cognoscente:

• Educação Sexual para Estudantes Surdos;• Diagnóstico Inicial: Violência Doméstica, Motivo de Consulta e de Indicação de

Tratamento Psicopedagógico;• Contextualizando a Vida: Estudo sob o Enfoque Psicopedagógico com Crianças e

Adolescentes Pacientes de Doenças Hemato-oncológicas;• O Brincar e a Aprendizagem: Concepções de Professores da Educação Infantil e do

Ensino Fundamental;• Psicopedagogia e Transtornos Psiquiátricos;• Dificuldade de Aprendizagem: Dislexia e Disgrafia na Era da Informação;• Sobre a Possibilidade do Jogo como Mediador da Aprendizagem do Adulto.

Os títulos revelam desafios para o novo século, como educação sexual, violência, crianças que portam doenças, transtornos psiquiátricos e dificuldades de aprendizagem na era da informação; porém, ainda há a presença de termos ligados mais à doença e menos à aprendizagem: tratamento, pacientes, transtornos, diagnóstico, dislexia, disgrafia e outros.

Partindo desse pequeno levantamento de temas que vêm sendo foco de discussão e de reflexão, podemos dizer que a Psicopedagogia no Brasil possui como fundamento filosófico um paradigma de conjunção, proposto por Edgar Morin, quando discute os problemas de uma epistemologia complexa, no livro O Problema Epistemológico da Complexidade.

Os temas das conferências propostos no último congresso também apontam para a mesma direção. Das 36 conferências proferidas, apenas cinco trazem, em seus títulos, termos ligados a dificuldades, transtornos, distúrbios e apenas um título especifica o nome de uma doença. Todos os outros apontam para a compreensão do processo de aprender no momento histórico atual e para o aprendiz contextualizado. Nas mesas-redondas e cursos, percebemos que ainda existe uma tendência da Psicopedagogia atual de prender-se às dificuldades e não às possibilidades do aprendiz. De 18 títulos, entre mesas-redondas, oficinas e cursos, aparecem oito termos que remetem a dificuldades, transtornos e distúrbios, originados no nosso parentesco com a medicina.

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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A PROPOSTA DE UM GRUPO DE PSICOPEDAGOGAS DE CURITIBA

Um grupo de psicopedagogas de Curitiba reuniu-se para discutir sobre a Epistemologia da Psicopedagogia, com o objetivo de contribuir com a Psicopedagogia brasileira. No VI Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, em julho de 2003, este tema foi discutido em um dos espaços científicos.

Após a especificação da tarefa, o grupo colocou a necessidade de pensar em aspectos comuns às práticas que remetessem a linhas gerais de reflexão. Antes, porém, decidiu discutir o objeto de conhecimento da Psicopedagogia, tema considerado como base para a ampliação da discussão. Segue, pois, a síntese dessa reflexão.

O objeto da Psicopedagogia vai muito além de um "processo de aprendizagem"; refere-se a um sujeito que aprende, sendo este muito mais do que um aprendiz, um ser capaz de conhecer sobre si e sobre o ambiente do qual é parte constituinte. Para se conhecer este ser que conhece e que produz conhecimento, foram definidos três níveis de discussão: um filosófico ou metacientífico, um científico e um técnico.

O primeiro plano, metacientífico, corresponde ao campo da filosofia das ciências que, segundo Jorge Visca, tem por objetivo analisar criticamente o seu próprio objeto de estudo; neste caso, o objeto de estudo da Psicopedagogia. O segundo nível, científico, descreve e explica o objeto de estudo da Psicopedagogia à luz dos conhecimentos científicos. O terceiro, técnico, é aquele no qual se estudam as práticas, as várias abordagens deste ser que conhece e produz conhe-cimento, ao qual Silva3 chamou de "ser cognoscente".

Embora as psicopedagogas desse grupo desenvolvam práticas distintas, apoiadas em conhecimentos científicos ora semelhantes, ora diferentes, sustentam sua ação psicopedagógica numa concepção de ser humano, de sociedade, de mundo, de vida, de conhecimento que vê o ser cognoscente como um sujeito inteiro e dimensionado, integrado e transgressor, temporal, sistêmico, que é parte de um todo coeso, no qual habita a contradição.

Este ser cognoscente é capaz de aprender e, com sua aprendizagem, pode se tornar um conhecedor de si mesmo, da sociedade e das relações que se dão no seu interior, da sua e de outras culturas, do ambiente no qual habita a biodiversidade e do universo no qual este ambiente (planeta) está mergulhado.

O ser cognoscente, como sujeito inteiro, é constituído por distintas dimensões: biológica, afetiva, desiderativa, relacional e racional, que interagem entre si, com o ambiente natural e sociocultural e possibilitam o advento do conhecer e do conhecer-se. Como sujeito integrado, é parte e, ao mesmo tempo, todo, que integra suas dimensões e as desintegra, que se integra ao ambiente e desintegra-se, que se integra à comunidade humana e desintegra-se. Como sujeito temporal, é histórico, vive em um tempo, carrega consigo o conhecimento de

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UNIDADE 2 | A PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

outros tempos e projeta para o futuro o que conheceu, o que conhece e o que pode produzir de conhecimento a partir de sua experiência e de todos que fazem parte do conhecimento do qual conseguiu se apropriar. Como sujeito sistêmico, faz parte de uma teia de relações existente no universo. É subsistema de um sistema maior, ao mesmo tempo em que se constitui como um sistema objetivo e subjetivo.

Este ser cognoscente é um ser que nasce incompleto, que não possui todos os seus comportamentos determinados biologicamente. Para sobreviver, necessita relacionar-se com sua cultura, apropriar-se das ferramentas sociais, desejar viver, conviver, aprender e conhecer, respeitando o ambiente do qual faz parte constitutiva, os conhecimentos já produzidos ao longo da história, nas diferentes culturas, a ética de ser humano e sujeito universal.

A Psicopedagogia é uma área de estudos preocupada em conhecer o ser que conhece e que produz conhecimento e, para tal, necessita superar a visão clássica que, segundo Morin7, separa o objeto do seu meio, separa o físico do biológico, separa o biológico do humano, separa as categorias, as disciplinas etc. Essa visão reduz o complexo ao simples e não permite perceber a unidade na diversidade, nem a diversidade na unidade.

Nesse sentido, a Psicopedagogia, que possui como objeto de conhecimento um ser cognoscente, composto de várias dimensões, extremamente complexo, possui uma origem que é determinada por um paradigma de conjunção que admite e necessita de uma comunicação entre as teorias que explicam diferentes aspectos deste ser.

Tal conjunção de conhecimentos para explicar um determinado objeto de conhecimento é que está na origem da noção de interdisciplinaridade, de transdisciplinaridade, de interciência, de convergência, de holismo, de teia de relações de sistemas, cuja base filosófica iniciou-se com Bachelard que, segundo Morin, é o principal precursor da teoria da complexidade.

A Epistemologia da Psicopedagogia, considerando-se a complexidade da vida, do ambiente e do ser cognoscente, pode estar na relação dos opostos que compõem um todo coeso e que produzem, nesse todo, a contradição. O ser que conhece, o conhecimento e a produção do conhecimento necessitam ser vistos com um olhar objetivo-subjetivo, capaz de fazer comunicar instâncias separadas, sem simplesmente justapor conhecimentos, mas sim construir o que Morin7 chamou de circuito e Visca8 chamou de convergência.

A epistemologia contemporânea, segundo Morin7, reconhece que há "não cientificidade" no seio das teorias científicas e que os elementos constitutivos do conhecimento científico possuem raízes na cultura produzida pela sociedade e raízes no modo de organizar as ideias, no que ele chamou de "espírito-cérebro". Essa característica da epistemologia contemporânea do conhecimento exige o estudo da dimensão cognitiva e do ato subjetivo; portanto, o estudo do ser que vai apreender este conhecimento também implica esta compreensão.

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Visca8 foi um dos primeiros psicopedagogos que se preocupou com a Epistemologia da Psicopedagogia e propôs estudos fundamentados no que chamou de Epistemologia Convergente, que é resultado da assimilação recíproca de conhecimentos fundamentados no construtivismo, no estruturalismo construtivista e no interacionismo.

Essas contribuições influenciaram a Psicopedagogia brasileira, assim como outras que propõem o estudo do ser cognoscente à luz de teorias que abordam desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, relacional e biológico, bem como seu papel no ato de aprender e conhecer.

Essa influência diferencia-se dependendo da região e, atualmente, temos ainda questões: Qual é a Epistemologia da Psicopedagogia brasileira? Quais os pontos comuns da prática, dos conhecimentos científicos que a embasam e da concepção nos planos filosófico, científico e técnico?

Percebe-se que os estudiosos que fundamentam as práticas são vários, mas que é possível categorizá-los entre cientistas da Psicogenética, da Psicanálise, da Psicologia Social e da Neurociência. Existem áreas de estudo que podem explicar a aprendizagem nas várias dimensões do sujeito psicológico apresentado por Jean Marie Dolle9: dimensão afetiva, dimensão cognitiva, dimensão social e biológica, caracterizando o plano científico.

Nesse grupo, encontramos modelos de explicação do fenômeno do desenvolvimento e da aprendizagem humanos que revelam diferentes circuitos: Psicanálise e Psicogenética; Psicologia Analítica e Psicogenética; Psicanálise, Psicogenética e Psicologia Social; Psicanálise, Psicogenética e Psicologia Sociohistórica; Psicodrama, Psicogenética e Psicologia Social. Além disso, apresentam-se fundamentos da Arte-terapia, da Neurociência e da Psicomotricidade.

Os estudiosos citados como referência científica e ou prática foram: Sigmund Freud, Jacques Lacan, Carl Jung, Arminda Aberastury, Enrique Pichon-Rivière, André Lapierre, Jean Piaget, Lev Vygotsky, Reuven Feurstein, Simone Ramain, Jorge Visca, Sara Pain, Victor da Fonseca, Henry Wallon, Jacob Moreno, Fritjof Capra, Donald Winnicott, Emília Ferreiro e Ana Teberosky.

As práticas desenvolvidas, que podem acontecer nos diversos âmbitos da realidade, são: caixa de trabalho, projeto de trabalho, material disparador, estimulação horizontal, caixa de areia e miniaturas, PEI, jogos, grupo operativo, oficinas, além de práticas que se conjugam às práticas psicomotoras, psicodramáticas, artísticas e outras. Apesar da diferença na ação, apresenta-se como ponto comum uma visão complexa de ser humano e de mundo, que necessita da assimilação recíproca de alguns conhecimentos que dêem conta desta complexidade [...].

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Portanto, num primeiro momento, acredita-se que a Epistemologia da Psicopedagogia apóia-se na complexidade. A discussão sobre a construção desta Epistemologia, do corpo científico e da organização da prática auxilia na compreensão de que a Psicopedagogia é uma só e revela-se em diferentes âmbitos: do indivíduo, do grupo, da instituição e da comunidade, como prevê Visca. Nesses âmbitos, a intervenção na realidade pode ser de caráter terapêutico e preventivo, assim como de otimização do processo de ensinar/aprender. Por isso, é preciso ter cuidado a respeito da divisão da Psicopedagogia em Clínica e Institucional, pois tal divisão pode enfraquecer o núcleo de pontos comuns que caracterizam uma Epistemologia da Psicopedagogia.

A EPISTEMOLOGIA DA PSICOPEDAGOGIA

Conhecendo um pouco do que aconteceu na Psicopedagogia no Brasil, nos últimos seis anos, podemos fazer um estudo crítico, buscando seus fundamentos, seu valor social e seu campo de ação. Percebemos que a Psicopedagogia está partindo, pelo menos no discurso, para uma visão complexa sobre o aprendiz e sua aprendizagem, para discussões de como trabalhar com a aprendizagem em termos amplos, ligada ao aprender de quem ensina, e não mais a técnicas de intervenção para problemas específicos; estes estão sendo entendidos como decorrências de uma gama complexa de interações, e não mais como um mal instalado nos aprendizes.

Completando o quadro construído pelo grupo de psicopedagogas de Curitiba, podemos dizer que, em relação ao fundamento da Psicopedagogia, num plano filosófico, o paradigma que lhe dá sustentação é, de fato, o paradigma de conjunção; segundo Morin7, é aquele que faz comunicar instâncias separadas e necessita de um esforço coletivo de todos aqueles que pesquisam na área, para que possa existir a articulação dos conhecimentos produzidos por nós, entre nós e com outras áreas do conhecimento. Um paradigma de disjunção levaria apenas à possibilidade de redução, a uma unificação abstrata que exclui a diversidade, procurando organizar catálogos de exercícios não ligados entre si e nem contextualizados com as problemáticas específicas.

Pelo que podemos compreender dos títulos de artigos que apontam para a natureza da discussão dos psicopedagogos no Brasil, entendemos que o desejo, ainda que a prática não o revele totalmente, é pelo paradigma de conjunção.

A Complexidade, responsável pela organização de um circuito no qual as diferentes contribuições vão se articular, está na base de nossos estudos e pesquisas. A ela, acrescento mais dois conceitos: o de Modularidade, que concebe a capacidade de integrar contribuições diferentes, fragmentadas em elementos menores (módulos), independentes, para serem agrupados posteriormente; o de Granularidade que, segundo Litto, remete-se à colheita de informações em fontes diversas e que, combinadas, podem resultar na constituição de um conhecimento diferente.

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Segundo Valle, embora uma disciplina, por exemplo, possa ser a mesma, dependendo da colheita de cada professor, o resultado a ser aprendido pode se diferenciar. Para a autora, os projetos desenvolvidos por meio da Internet apresentam característica de granularidade: cada membro contribui com a sua habilidade, motivação e disponibilidade, e a combinação de um trabalho colaborativo tem como resultado uma combinação de granularidades.

Essas bases estão relacionadas (não podemos nos enganar) ao que Pierre Lévy chamou de paradigma informático: a cultura identifica-se com o tipo particular de processamento e transmissão do conhecimento e da informação. Na época da transmissão oral, a escuta, a memória e a repetição moldaram o estilo específico das produções culturais; com a chegada da escrita, inaugurou-se um novo tempo, o tempo da autoria, da durabilidade, do registro histórico. Hoje, a informática recodifica os conteúdos culturais e coloca-os em novos circuitos de processamento de comunicação; ela é concebida em redes, possui uma linguagem que é regida pelo cálculo, e não mais pela experiência vivida, e possibilita a modularidade. Na era da informática, um livro pode ser a combinação de vários módulos, que podem ser combinados e recombinados por serem independentes, resultando em uma unidade constituída por várias contribuições granulares, sem necessitar de um proprietário, um autor ou um registro que permaneça para sempre.

Ao mesmo tempo em que essa nova forma de produzir bens culturais parece ser mais democrática e igualitária, ela pode ameaçar a historicidade do ser humano: recortes vão descaracterizando o texto de origem e podem culminar em algo que nada tem a ver com a idéia inicial. Num dia, pode estar contido em um site; no outro, pode ser "deletado", sem a menor preocupação e o menor sentimento de perda.

A complexidade, a modularidade e a granularidade possuem sua origem na capacidade de agrupar os diferentes; nas ciências humanas, isso traz uma esperança em relação à igualdade das pessoas como seres humanos, à possibilidade de acesso aos mesmos conhecimentos, ao mesmo tempo em que ameaça a diversidade cultural e a nossa capacidade de sermos históricos, pertencermos e identificarmo-nos.

Ainda complementando o estudo do grupo curitibano, diríamos que, além dos conhecimentos citados no plano científico, é necessário introduzir o estudo da visão holográfica, da linguagem da informática e de seus avanços tecnológicos. No plano da prática, precisamos rever nossas ações.

Como a Epistemologia vai além da análise crítica, preocupa-se com o valor social, perguntamos: Qual o valor da Psicopedagogia para a sociedade?

Para que o paradigma informático não diga respeito apenas a máquinas, é preciso que nos preocupemos com o ser humano; uma das áreas a se preocupar com tal aspecto é, por certo, a Psicopedagogia. Sua importância está em valorizar o ser pensante, o ser que sente, que age e interage num contexto histórico e

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geográfico; um ser que pode ser autônomo, mas interdependente; que pode ser indivíduo, mas parte de um grupo; que pode reproduzir e criar, sem que isso o desestabilize; que pode usufruir a convergência dos conhecimentos, agrupados em módulos, combinando experiências, vivências e saberes, ao mesmo tempo em que pode convergir como parte de grupos humanos.

O valor da Psicopedagogia, portanto, está na preocupação em trabalhar com o aprendiz humano, com um sujeito que é movido pelo desejo e pelo respeito. O campo de ação da Psicopedagogia encontra-se diante de si, onde se encontram os aprendizes: na escola, nas casas, nas empresas, nas organizações ou mesmo na rua. A Psicopedagogia é substantiva e não precisa de um adjetivo para qualificá-la.

POR TUDO ISSO, PERGUNTAMOS...

Se a Psicopedagogia apresenta-se no panorama da aprendizagem com a missão de superar a "compartimentalização" do sujeito pelas disciplinas que tratam de suas dificuldades de aprendizagem; se ela surgiu com um caráter interdisciplinar para conjugar a diferença e ter uma visão mais ampla do que seja aprender e apresentar dificuldades; se ela considerou-se transdisciplinar, como uma área de estudo e de ação que deveria transcender às disciplinas isoladas e olhar para o sujeito que aprende sem focar no seu não saber; se ela critica as instituições por classificarem seus alunos ao utilizarem provas e notas; se ela critica a escola por dar aulas desconectadas umas das outras, sem articulá-las em seminários ou outras possibilidades; se ela possui a semente do inteiro, e da incompletude, perguntamos:

• Por que insistimos em dividir a Psicopedagogia em clínica, institucional, empresarial, organizacional, hospitalar, confundindo a disciplina com o local que lhe acolhe e reproduzindo o paradigma de disjunção que deveria superar?

• Por que, nas práticas que exercemos nas várias instâncias, insistimos em diagnosticar, classificar, encaminhar, reproduzindo o paradigma médico existente na época do nascimento da Psicopedagogia?

• Por que continuamos escondendo aprendizes atrás de rótulos como hiperatividade, TDAH, Dislexia, Disgrafia, Dispraxia, Síndromes e outros?

• Por que insistimos em utilizar termos médicos e, inclusive, apoiamos a publicidade de medicamentos em nosso encontro científico nacional?

• Por que não vemos o aprendiz na relação com seu entorno e, por isso, continuamos focando nele a propriedade de todos os males que possui?

Se a Psicopedagogia é a área do conhecimento que se propõe estudar o ser cognoscente e seu processo de aprender, compreendendo-o como um ser constituído de três grandes dimensões: a Racional, a Relacional e a Desiderativa e do funcionamento decorrente das relações dessas três dimensões, que acontecem num corpo físico e biológico, bem como num contexto cultural próprio, perguntamos: Por que nós, psicopedagogos, temos, por vezes, dificuldades para realizar essa Psicopedagogia?

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TÓPICO 3 | ENFOQUES RECENTES EM PSICOPEDAGOGIA

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Se fosse para classificar crianças, adolescentes e adultos aprendizes, aplicar testes, fazer treinamentos descontextualizados, dar diagnósticos, a Psicopedagogia não precisaria ser inventada, pois já existiam muitas disciplinas empenhadas em criar testes e programas de treinamento para toda a sorte de dificuldades de aprendizagem.

Se fosse para criticar o desempenho da escola, para encontrar formas de classificar professores, direções e alunos, a Psicopedagogia não precisaria ser inventada, pois já existem muitos profissionais dando a sua opinião de como a escola deve fazer.

Os aprendizes precisam aprender, precisam ser compreendidos no seu não aprender e precisam ser desculpabilizados diante do não-saber. Os aprendizes precisam aprender, e nós, da Psicopedagogia, somos especialistas em aprendizes e aprendizagem. As organizações necessitam de parceiros e não de mágicos que apontam o que é para ser feito. As organizações precisam aprender sobre sua aprendizagem, e nós, da Psicopedagogia, somos especialistas em aprendizagem...

Diante de tudo isso, perguntamos:

• Por que e para que veio a Psicopedagogia?• Como é a Psicopedagogia que você, psicopedagogo, realiza?• O que estamos propondo a fazer, juntos, no espaço real e virtual?

Como já disse o poeta, "todos juntos somos fortes!"

FONTE: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862007000100011>. Acesso em: 9 mar. 2020.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Nesse tópico, você aprendeu que:

• Aprender é um processo complexo que envolve diferentes aspectos.

• Ensinar é um processo complexo que vai além da escolha de metodologias de ensino consideradas eficientes.

• O discurso sobre as dificuldades de aprendizagem continua, na maioria das vezes, culpabilizando o estudante pelo baixo rendimento acadêmico.

• Tem ocorrido uma pulverização de práticas de encaminhamento dos estudantes que demonstram dificuldade em aprender, para diferentes especialistas.

• A Psicopedagogia é área interdisciplinar estabelecida em conteúdos psicológicos e pedagógicos, pautada também em variados campos de conhecimento, como a Neurologia e a Linguística.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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1 (ENADE, PSICOLOGIA, 2006). Caracterizado por quadros de agitação, im-pulsividade e dificuldade de concentração, o transtorno do déficit de aten-ção, nos últimos dez anos, ganhou maior atenção de médicos, psicólogos e pedagogos porque se passou a creditar a esse distúrbio boa parte dos casos de mau desempenho escolar... Pais acusam escolas de rotular suas crianças de hiperativas indiscriminadamente, antes mesmo de obter um diagnóstico médico, por falta de paciência dos professores para lidar com crianças irre-quietas. (Revista Veja, outubro 2004). O texto permite afirmar que:

a) ( ) Com o desenvolvimento das pesquisas novos transtornos têm sido

identificados, o que permite refinamento nos diagnósticos. b) ( ) A descoberta de novos diagnósticos estimula a pesquisa de

medicamentos mais eficazes.c) ( ) Os professores têm sido treinados para realizar diagnóstico precoce do

transtorno do déficit de atenção, o que pode trazer muitos benefícios para os alunos.

d) ( ) O mau desempenho escolar é causado pelo transtorno do déficit de atenção.

e) ( ) Observa-se uma ênfase na medicalização da educação, ao se classificarem como patologia aspectos da singularidade do indivíduo.

FONTE: <http://download.inep.gov.br/download/enade/2006/Provas/PROVA_DE_PSICOLOGIA.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2020.

2 (ENADE, PEDAGOGIA, 2005) A notícia veio de supetão: iam meter-me na escola. Já me haviam falado nisso, em horas de zanga, mas nunca me con-vencera que realizassem a ameaça. A escola, segundo informações dignas de crédito, era um lugar para onde se enviavam as crianças rebeldes. Eu me comportava direito: encolhido e morno, deslizava como sombra. [...] A escola era horrível – e eu não podia negá-la, como negara o inferno. Consi-derei a resolução de meus pais uma injustiça. [...] Lembrei-me do professor público, austero e cabeludo, arrepiei-me calculando o rigor daqueles bra-ços. Não me defendi, não mostrei as razões que me fervilhavam na cabeça, a mágoa que me inchava o coração. Inútil qualquer resistência. (RAMOS, Graciliano. Infância, Rio de Janeiro: Record, 1995, p. 104.) O texto do escritor Graciliano Ramos traz lembranças de sua entrada na escola, que expressam um momento da Educação brasileira. Entretanto, o pensamento pedagó-gico tem-se modificado ao longo do tempo, contrapondo-se ao modelo de escola evidenciado no texto. Este contraponto é expresso por:

I- Transmissão cultural que considera o aluno como um ser passivo, atri-buindo caráter dogmático aos conteúdos de ensino;

II- Valorização da criança, do afeto entre professor e aluno, das reflexões so-bre as formas de ensino que considerem o saber das crianças;

AUTOATIVIDADE

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III- Dimensão dialógica do processo ensino/aprendizagem com ênfase nas re-lações igualitárias;

IV- Preocupação com a formação humana relacionando as dimensões huma-na, econômica, social, política e cultural.

São CORRETOS: a) ( ) I e II. b) ( ) III e IV.c) ( ) I, II e III. d) ( ) II, III e IV.e) ( ) I, II, III e IV.

3 Para Santos, Moraes e Lima (2018, p. 99) realçam "[...] a importância de, novos estudos que compreendam a importância dos professores como in-fluência positiva para o desenvolvimento de motivação intrínseca de seus alunos, por meio de estratégias motivacionais que contribuam efetivamente para a evolução em habilidade de leitura. São eles personagens significati-vos, quando mais preocupados em explorar a força motivacional de seus alunos, por meio de propostas mais incentivadoras do que a simples recom-pensa pelo alto desempenho". Diante do exposto, diferencie e exemplifique fatores extrínsecos e intrínsecos da motivação.

FONTE: SANTOS, Acácia Aparecida Angeli dos; MORAES, Mayara Salgado de; LIMA, Thatiana Helena. Compreensão de leitura e motivação para aprendizagem de alunos do ensino fundamental. Psicol. Esc. Educ., Maringá, v. 22, n. 1, p. 93-101, abr. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-85572018000100093&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 13 mar. 2020. 

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UNIDADE 3

ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender o papel do psicopedagogo;

• conhecer o campo de atuação psicopedagógica;

• distinguir formas e locais de atuação do psicopedagogo;

• refletir as possibilidades de atuação do psicopedagogo;

• compreender diferentes métodos e abordagens para a prática do psicopedagogo;

• refletir sobre a atuação da psicopedagogia no Brasil.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

TÓPICO 2 – MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

TÓPICO 3 – MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1

ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

A leitura desse livro até aqui, deve ter dado a você subsídios suficientes para que possa construir noções e entendimentos do que é a psicopedagogia. Assim, vamos agora deslindar os aspectos relativos ao campo de atuação psicopedagógica?

Esta unidade trará mais clareza sobre perspectivas e possibilidades de trabalho do psicopedagogo no Brasil, começando por aspectos da construção identitária do psicopedagogo.

Possivelmente, você já pôde deduzir que os clientes/pacientes dos psicopedagogos são pessoas que procuram por eles (ou que são encaminhadas para eles) nos consultórios clínicos. Porém, a atuação em psicopedagogia não se restringe ao atendimento em consultório individual. De fato, muitos psicopedagogos trabalham em consultório, e aprenderemos sobre isto neste tópico.

Mas os psicopedagogos também têm prestado atendimento aos clientes/pacientes em ambientes educacionais, empresariais, organizacionais, hospitalares, entre outros.

A partir deste tópico, passaremos a distinguir as modalidades de atuação dos psicopedagogos. Iremos agora desvendar como se faz psicopedagogia e onde ela é feita.

A psicopedagogia é uma área clínica e institucional. De qualquer modo, tanto enquanto um campo de investigação, quanto ciência e prática, a Psicopedagogia foca seus esforços em torno da aprendizagem.

Podemos imaginar que você espera ser informado sobre onde trabalha o psicopedagogo. Chegou o momento de obter maiores informações sobre isso. Vamos lá?

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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2 CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO PSICOPEDAGOGO

Antes de nos atermos especificamente na construção identitária do psicopedagogo, vale esclarecer o que compreendemos por identidade. Existem diferentes conceitos sobre a identidade, e cada abordagem da psicologia e de outras áreas do conhecimento concebem a identidade de um modo específico.

Em linhas gerais, a identidade é composta pelas características que identificam uma pessoa, portanto, abarca aspectos da subjetividade, da personalidade, da individualidade do sujeito. Para Rubinstein (2017), a identidade vai sendo gerada pelas vivências do sujeito. Significa que ela vai se modificando com o passar do tempo, em processos transitórios e contraditórios.

Na concepção de Rubinstein (2017), os psicopedagogos têm construído sua identidade, com base em quatro aspectos: necessidades, crenças, teorias e práticas, como está ilustrado na figura que segue:

FIGURA 1 – GRUPO DE FATORES QUE BASEIA A IDENTIDADE DOS PSICOPEDAGOGOS

FONTE: Adaptado de Rubinstein (2017)

O nome das pessoas está diretamente associado à identidade delas. Com a psicopedagogia não é diferente. Nomes próprios são escolhidos por meio de fatores vinculados à família da criança que está por nascer, ou que nasceu. As pessoas que decidem o nome de uma criança não o fazem de modo neutro. Buscam um nome que faça sentido. Escolhem o nome por algum motivo. O mesmo acontece com o nome da profissão Psicopedagogia (RUBINSTEIN, 2017).

práticas

teorias

necessidades crenças

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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Conforme o nome de uma pessoa vai se tornando conhecido – mesmo que isso se restrinja num pequeno território, como na rua em que mora, ou na escola em que estuda, no bairro – a pessoa passa a ser identificada pelo seu nome. "Atualmente, a comunidade científica e o público de modo geral estão familiarizados com termos Psicopedagogia e Psicopedagogo. Este é um fato incontestável e saudável" (RUBINSTEIN, 2017, p. 314, grifos da autora).

Contudo, não é apenas o nome da pessoa, ou da teoria, ou da profissão que lhe conferem características identitárias. Há determinadas palavras em torno dela, ou que são frequentemente usadas por ela, que também imprimem suas marcas identitárias.

Em virtude disso, Rubinstein (2017) dissemina que a identidade se revela por meio do discurso. Ao conversar com uma pessoa você pode identificar algumas de suas crenças, necessidades e se existem referenciais teóricos que sustentam seu discurso. Isso vai sendo manifestado de modo implícito, muitas vezes.

Dessa maneira, o que o discurso da psicopedagogia manifesta? Utilizamos o "s" dentro dos parênteses na última frase, para demarcar que a psicopedagogia é uma teoria e prática que é realizada com diferentes estilos, como afirma Rubinstein (2017).

Prezado aprendente! Para dilucidar melhor a relação entre identidade e linguagem/discurso, convidamos você a lembrar de muitas profissões que fazem uso de determinados jargões. Talvez você já tenha ido a uma consulta médica e ficou sem compreender o que o médico disse, mesmo que ambos estivessem se expressando na língua portuguesa. Ou, que tenha participado de uma audiência judicial e tenha estranhado inúmeros vocábulos de advogados e magistrado.

Isso acontece porque as profissões – e teorias científicas – empregam palavras específicas. É o que algumas pessoas chamam na linguagem popular de "conversa de médico" ou "palavreado de advogado".

A título de exemplo, vamos lembrar que as palavras "aprendente" e "ensinante" foram cunhadas na psicopedagogia. São vocábulos que representam o corpo teórico e compreensivo da psicopedagogia. Ao estudar psicopedagogia, é possível que pouco a pouco você irá aprendendo palavras que até então desconhecia, ou que passarão a ter novos sentidos para você.

A formação em psicopedagogia envolve, também, a apropriação de determinadas palavras, e de "modos" de se referir aos fenômenos. Então, você está se inserindo paulatinamente numa comunidade linguística composta por diferentes abordagens. Essas criações e construções partem de crenças e valores e de identificações com distintas compreensões teóricas (RUBINSTEIN, 2017).

É difícil falarmos que a escolha das palavras é feita de modo neutro, despropositamente. Ainda que muitas das coisas que são ditas sejam de ordem do inconsciente, elas foram selecionadas por um motivo. O motivo pode até ser desconhecido por quem falou, mas não é por isso que ele não existe.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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Lembra-se de quando explicamos porque escolhemos a expressão "invenção da escola" em vez de dizermos "surgimento da escola"? Foi justamente por isso. Porque as palavras que cada um usa, manifestam crenças, teorias, paradigmas, perspectivas etc. Por que convencionou-se dizer que a escola surgiu?

De acordo com o nosso ponto de vista, a laranja fruto surge na flor de laranjeira, uma semente de laranja surge no fruto laranja. São processos naturais que não requerem a intervenção, nem a intenção de alguma pessoa. Mas se a humanidade viveu por séculos sem a instituição da escola, e a partir de determinado momento ela foi formulada, não se pode comparar a um fenômeno puramente natural. Houve certo planejamento, intencionalidade, por trás da criação das escolas.

Vamos agora para um exemplo mais direto à área da psicopedagogia, proposto por Rubinstein (2017, p. 317, grifos nosso):

Identificada com abordagem dinâmica na Psicopedagogia e do construcionismo social, entendo que o termo diagnóstico psicopedagógico expressa a visão essencialista, fechada. Há profissionais da área da Psicopedagogia que se preocupam em "fechar diagnósticos". Considero a terminologia Avaliação Psicopedagógica mais adequada, ela é importante enquanto etapa que expressa e orienta a direção da intervenção. Os resultados apontados na avalição são provisórios e específicos, são como uma "foto datada". Será a partir da continuidade da intervenção que serão melhor compreendidos os estilos de aprendizagem e as questões com a aprendizagem.

Você ainda não aprendeu como se dá o processo de avaliação psicopedagógica, e esse não é o objetivo nesse momento. Mas tente perceber que as frases "Eu fiz um diagnóstico psicopedagógico" e "Eu fiz uma avaliação psicopedagógica" realmente soam diferentes. Lembre-se de que a linguagem não pode ser considerada neutra, ou inocente, com diz Rubinstein (2017).

É bem provável que a palavra diagnóstico seja uma herança de algumas bases epistemológicas em que a psicopedagogia se ampara.

É imprescindível considerar a presença da organicidade na aprendizagem, porém como parte do todo e não isoladamente. Alguns profissionais de comunidades linguísticas identificados com a valorização de aspectos orgânicos e com as descrições dos códigos internacionais de doenças validam, qualificam e valorizam práticas fundadas unicamente em pesquisas científicas, especificamente na quantitativa. Na prática o discurso se manifesta através de ações como: diagnósticos fechados; ações cientificamente comprovadas e resultados previsíveis (RUBINSTEIN, 2017, p. 317, grifos da autora)

Alguns dos fundamentos da psicopedagogia parecem defender que uma teoria é a mais certa do que outra, ou mais verdadeira, ou mais confiável do que as demais. Nesse sentido, Rubinstein (2017, p. 316) nos alerta:

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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Dialogar com comunidades linguísticas identificadas com diagnósticos fechados e Verdade cientificamente incontestável, sustentadas pelos códigos internacionais é desafiador. As dificuldades não decorrem das diferenças entre verdades, mas pela crença de que as verdades determinadas por algumas comunidades linguísticas são: melhores, mais exatas e por isso mesmo credenciadas para identificar a origem dos Transtornos de Aprendizagem.

Nesse momento é improtelável relembrar que a psicopedagogia é uma área interdisciplinar, que foi sendo formulada com influências de diversas correntes teóricas e práticas. Destarte, a linguagem da psicopedagogia é inspirada em esferas diferenciadas e variadas. Ainda assim, ela tem engendrado uma linguagem própria, que se expressa em diferentes estilos, motivados pelas distintas comunidades linguísticas que a embasam e fortificam.

Segundo Rubinstein (2017), cada uma dessas comunidades linguísticas que tem dado sustentação à psicopedagogia é perpassada por diferentes: tradições, conhecimentos, percepções, culturas, momentos históricos, paradoxos, ideologias, interesses, e também, pelas biografias e identidades pessoas daqueles que as formam e propagam.

Isto não significa que essa diversidade de saberes seja prejudicial à psicopedagogia. E sim, que está se aproximando o momento de definir um corpus linguístico, que dê conta de abraçar os diferentes estilos, e que ao mesmo tempo, manifeste um denominador linguístico comum, o que colaborará à identidade da categoria profissional (RUBINSTEIN, 2017).

Para expandir seus conhecimentos sobre os temas vistos aqui nessa seção, recomendamos a leitura do livro Psicopedagogia: uma prática, diferentes estilos, cuja organizadora é Edith Rubinstein. Boa leitura!

CAPA DO LIVRO PSICOPEDAGOGIA: UMA PRÁTICA, DIFERENTES ESTILOS

DICAS

FONTE: <https://d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net/imagens/capas/b2ca8a54c822a716ebca8b016cf8c25322c36f96.jpg>. Acesso em: 21 nov. 2019.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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Depois dessa reflexão sobre a construção identitária do psicopedagogo, vamos agora refletir sobre o local de trabalho desse profissional?

3 LOCAL DE ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

Com base nas leituras feitas até aqui, você deve ter percebido que psicopedagogos trabalham com crianças, principalmente com aquelas que apresentam dificuldades para aprender, certo?

Mas a aprendizagem só acontece durante a infância? Ou será que apenas crianças têm dificuldades para aprender, de vez em quando? Será que os adultos não aprendem? Ou será que já evoluíram e daí são capazes de aprender qualquer coisa, sem dificuldade alguma?

Evidentemente, a aprendizagem não se restringe à infância. E você já sabe disso, tanto que, está estudando, e já é uma pessoa adulta, ou jovem. Supomos, que um dos motivos pelos quais você está lendo esse livro é porque quer aprender o que a é a psicopedagogia, e o que faz um psicopedagogo.

Independentemente do local em que o psicopedagogo irá trabalhar, ele precisa conhecer as teorias e práticas da psicopedagogia, até porque, é o mesmo corpus teórico que alicerça a atuação psicopedagógica – seja ela realizada num consultório ou numa escola. O que muda são as ferramentas. Essas ferramentas precisam ser selecionadas de acordo com o espaço físico em que o psicopedagogo atua.

E mesmo os adultos e os idosos se deparam com certas dificuldades para aprender alguma coisa, vez ou outra. Note que a aprendizagem não se limita aos conteúdos escolarizados, ou universitários. O nosso dia a dia apresenta diferentes e inúmeras demandas para aprender.

Vamos aos exemplos:

• Pessoas que apresentam dificuldade para aprender a dirigir. • Pessoas que podem resolver equações matemáticas com brilhantismo, mas que

parecem não ter capacidade de aprender a cozinhar. • Pessoas que vivem enfrentando problemas de relacionamentos e concluem que

precisam aprender a conviver com os demais. • Pessoas que acham que aprender a usar dispositivos tecnológicos (computador,

celular etc.) para se comunicar parece difícil demais.• Pessoas que dizem que precisam aprender a perdoar. • Pessoas que alegam que até conseguem atingir o peso corporal ideal, mas que

acham muito difícil conseguir mantê-lo. Dizem, então, que precisam aprender a permanecer no peso que julgam saudável.

• Pessoas que tanto queriam aprender a tocar algum instrumento musical, mas que desistiram pois acharam que não seriam capazes.

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• Pessoas que exercem uma atividade voluntária, que desejariam se profissionalizar para fazê-la com mais esmero, mas, que acham que entrar numa faculdade não condiz com as capacidades intelectuais ou cognitivas delas para aprender tudo o que "é ensinado lá".

• Pessoas que não alcançam o êxito desejado nas atividades profissionais que executam. Elas, dizem que precisam aprender a costurar melhor, ou a vender mais, ou a ter mais agilidade etc.

• Pessoas que têm dificuldade para aprender a usar o dinheiro ou administrá-lo. • Pessoas que dizem que têm dificuldades para aprender novos idiomas. • Pessoas que dizem que utilizar transporte público é difícil, mas que gostariam

de aprender a pegar o ônibus sem precisar da ajuda de alguém.• Pessoas que gostariam de aprender a circular nos aeroportos e fazer suas

viagens aéreas sem depender de guias.

Perceba que esses são apenas alguns exemplos! Eles apontam que a aprendizagem se processa em diversos momentos, inúmeros lugares, com pessoas das mais variadas idades.

Mas, se a aprendizagem não fica circunscrita à escola, nem aos primeiros anos de vida, por que muitas pessoas imaginam que psicopedagogo é aquele profissional que atende criança, trabalhando num consultório? Ou, que psicopedagogo é aquele que pode trabalhar em escolas?

Talvez porque em sua gênese, a psicopedagogia atendia a quase que exclusivamente crianças encaminhadas pelas escolas, que já tinham histórico de queixa escolar – como reprovação, ou indisciplina. A maioria das crianças encaminhadas ao psicopedagogo era rotuladas de "repetentes".

É pertinente rememorar que o foco da psicopedagogia, lá no começo, era reabilitar essas crianças. Contudo, atualmente a psicopedagogia promove ações preventivas além das terapêuticas. Aliás, para Bossa (2000) mesmo a atuação clínica possui caráter preventivo. Ainda que a intervenção seja focada no tratamento de transtornos de aprendizagem, ela possui uma nuance preventiva, já que, pode tolher que outros transtornos ou sintomas emerjam.

Com a leitura da citação que segue, você poderá recordar que atualmente a psicopedagogia já não é exclusivamente voltada à reabilitação ou ao tratamento de pessoas que acreditam que possuam ter uma dificuldade de aprendizagem "instaurada":

Sua (da psicopedagogia) ação visa melhor compreensão do processo de aprendizagem humana e suas repercussões no desenvolvimento do indivíduo, identificando sua apropriação do conhecimento, evolução e fatores interferentes, propiciando o reconhecimento, tratamento e prevenção das alterações da aprendizagem que deles decorrem (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006, p. 153, grifo nosso).

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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Vale lembrar que aqui no nosso país, toda criança precisa estar na escola, isso é obrigatório, existem leis que impõem essa condição. Além disso, muitas profissões na nossa sociedade requerem os diplomas do ensino fundamental, algumas exigem o diploma do ensino médio.

Então se a criança ou jovem não consegue dar continuidade aos estudos, ela lidará com menores chances de se inserir no mercado de trabalho, na fase adulta. Além do mais, quando a dificuldade para aprender se evidencia na escola, o professor tende a perceber isso.

A criança chegava ao psicopedagogo porque ela factualmente precisava aprender, e concluir a fase da escolarização. Diferente de outras aprendizagens, que se não alcançadas podem ser deixadas de lado, arrumando outras maneiras de lidar com elas (se não aprendeu a dirigir, usa transporte coletivo, por exemplo), a escolarização é realmente necessária aqui no Brasil.

Quanto aos demais exemplos, as pessoas nem sempre têm a figura de um professor que "detecta" a dificuldade de aprendizagem, e que incentiva, ajuda a superá-la. Uma pessoa que não tem êxito imediato na aprendizagem de um instrumento musical, pode abandoná-lo e seguir a vida, sem ele. Alguém que não sabe cozinhar, ou dirigir, ou perdoar, pode ir vivendo sem isso. Vai achar estratégias para satisfazer as necessidades que aquela aprendizagem requereria. Vai recorrer diariamente aos estabelecimentos que vendem alimentos, vai caminhar, chamar táxi/uber, esperar ônibus etc. Nem sempre terá alguém cobrando que ela aprenda tais coisas, como acontece na escola.

Ainda que seja mais frequente associarmos a aprendizagem com assuntos da escola, existem inúmeras coisas que aprendemos no cotidiano, sem que recorramos à escola. Por exemplo: Uma pessoa que deseja aprender a cozinhar. É bem possível que se matricule espontaneamente em cursos de culinária, ou procure se desenvolver em livros de receitas, ou na internet.

Uma pessoa que quer aprender a dirigir, pode se tornar freguês de autoescolas, na esperança de que mais aulas práticas lhe ajudarão a aprender a dirigir. Isto é, diante de dificuldades, ela recomeça o processo, fazendo mais aulas práticas.

Independente se ela queira aprender a cozinhar, ou a dirigir, nem sempre ela atinge o objetivo. Muitas pessoas conseguem, de fato, aprender a preparar alimentos e a dirigir. Mas, nem todas conseguem. Provavelmente você conheça alguém que já tentou aprender alguma coisa, e desistiu, porque não se apropriou do conhecimento dentro do prazo que esperava. Não é mesmo?

Perante dificuldades para aprender, quantas pessoas resolvem procurar uma clínica de psicopedagogia para ajudá-las? Partindo do pressuposto de que a aprendizagem é inerente ao ser humano, todas as pessoas têm condições de aprender. O psicopedagogo é o profissional que pode ajudar a pessoa a encontrar uma forma de aprender que seja mais satisfatória para aquele que o procura. Porém, nem todos sabem disso, e tantos se conformam a seguir a vida sem o aprendizado que buscavam.

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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E as escolas, ou empresas, será que disponibilizam psicopedagogos para integrar o corpo docente, ou o grupo de funcionários? Já existem escolas, empresas e até outras organizações que possuem um psicopedagogo, como mostra (RUBINSTEIN, 2017, p. 315).

Hoje, psicopedagogos estão inseridos em diferentes setores que não lhe eram familiares inicialmente, tais como empresas; hospitais; abrigos, entre outros. Não há como se pensar numa identidade fixa e fechada, pois são as novas demandas da sociedade que desencadeiam novas formas discursivas para o fazer psicopedagógico. A mobilidade identitária, além de demandar formação continuada, requer especializações construídas em ação para atender novas demandas.

Bossa (2000) explica que a psicopedagogia possui dois enfoques: a clínica e a Institucional. É mister dilucidar que esses enfoques não dizem respeito apenas ao ambiente em que a atuação acontece. Também têm relação com as abordagens epistemológicas que guiam a atuação psicopedagógica.

Mas, e quanto às pessoas que sentem incômodos por não desenvolverem alguma capacidade, habilidade, competência, quantas delas chegam aos psicopedagogos? Será que a maioria da população já conhece qual é o papel do psicopedagogo em nossa sociedade?

Quem é o responsável por disseminar a finalidade da atuação psicopedagógica? Por exemplo, ainda existem pessoas que pensam que psicólogo cuida de louco. Mas, muita gente já sabe que é indicado procurar um psicólogo quando se sente muito angustiado, sofrendo por algum motivo, enfrentando tristezas recorrentes, ou para trabalhar questões emocionais e/ou comportamentais etc. Como foi que as pessoas ficaram sabendo disso? Boa parte delas chegou a tais entendimentos, porque faz parte do papel do psicólogo esclarecer à sociedade sobre o seu fazer.

Do mesmo modo, cabe aos psicopedagogos (em formação ou formados) divulgarem o seu fazer. Mas para isso, eles precisam ter clareza do que faz um psicopedagogo. Até porque dessa maneira se transmite mais credibilidade ao interlocutor.

Nesse sentido, Montenegro et al. (2010, p. 251, grifo nosso) desenvolveram um trabalho a fim de “[...] divulgar o trabalho da Psicopedagogia, dando-lhe visibilidade num espaço público”. Por sinal, esse trabalho aborda o atendimento psicopedagógico de grupos de crianças/adolescentes, bem como, o fazer psicopedagógico e o trabalho cooperativo.

Então, mesmo que você já saiba que quer atuar na área institucional, não pule os parágrafos que seguem. Procure estudar de modo que sua formação profissional não seja incompleta, ou fragmentada.

Vamos em busca de informações para que possamos contar às pessoas o que faz um psicopedagogo? Que tal começar pela área clínica, já que historicamente foi a primeira? Vamos lá?

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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4 PSICOPEDAGOGIA CLÍNICA

Antes de averiguarmos como o psicopedagogo trabalha no ambiente de consultório, vamos verificar qual era o perfil das pessoas que mais eram atendidas por psicopedagogos, conforme a pesquisa feita por Andrade e Castanho (2014). Trata-se de uma pesquisa que foi realizada com base em 5822 prontuários, preenchidos em uma clínica-escola de Psicopedagogia durante os anos de 2000 e 2009.

Resultados: O estudo demonstrou que a população atendida é do sexo masculino (65,2%), aluno de escola pública (89,4%), com idade entre 7 e 13 anos (83,9%), em sua maioria, oriundos de famílias de baixa renda, encaminhado pela escola em função de dificuldades de aprendizagem da escrita (66%). Os pais são separados (61%), com baixo nível de escolaridade (ANDRADE; CASTANHO, 2014).

Como você pôde perceber, boa parte da clientela de uma clínica de Psicologia continuava sendo composta por crianças que apresentavam dificuldades em acompanhar a proposta escolar. Andrade e Castanho (2014) argumentam que é necessário buscarmos alternativas de soluções no que se refere ao trabalho com alunos indicados pelos professores.

Essa modalidade de atendimento, contou com a inclusão de familiares e de professores, a fim de olhar para a dificuldade de aprendizagem sob uma perspectiva mais abrangente (ANDRADE; CASTANHO, 2014).

Para compreender melhor a maneira pela qual as questões familiares são compreendidas na psicopedagogia, sugerimos a leitura do livro Questões familiares em temas de psicopedagogia, organizado por Maria Luiza Puglisi Munhoz.

CAPA DO LIVRO QUESTÕES FAMILIARES EM TEMAS DE PSICOPEDAGOGIA

DICAS

FONTE: <https://www.traca.com.br/capas/1074/1074812.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2020.

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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Já que estamos abordando aspectos associados às famílias, também indicamos a leitura do livro Psicopedagogia: um enfoque sistêmico: terapia familiar nas dificuldades de aprendizagem, organizado por Elizabeth Polity.

CAPA DO LIVRO PSICOPEDAGOGIA: UM ENFOQUE SISTÊMICO

FONTE: <https://cdns1.2rscms.com.br/custom/imgcache/2017/29cf68a12b57b573a1168cd00dc015dd.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Prezado aprendente, talvez você esteja interessado em compreender, enfim, o que faz um psicopedagogo no setting terapêutico. O profissional que se ocupa da psicopedagogia clínica, trabalha em consultórios e clínicas, atendendo a pacientes a fim de conduzir o seguinte ciclo:

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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FIGURA 2 – CICLO DO ATENDIMENTO PSICOPEDAGÓGICO

FONTE: A autora

Na clínica com crianças, o brincar pode ser muito útil, tanto para a criança quanto para o psicopedagogo. Afinal, o brincar favorece o estabelecimento do vínculo entre psicopedagogo e cliente/paciente.

Além do mais, o brincar beneficia a qualificação do processo terapêutico, e o desenvolvimento da criatividade (MOSCHINI; CAIERAO, 2015).

Na clínica psicopedagógica, é perceptível nos atendidos um déficit no jogar, correlacionado com o déficit na aprendizagem. Na medida em que potencializamos o brincar no tratamento psicopedagógico, a partir de um espaço de confiança, vão-se modificando a rigidez, estereotipias das modalidades de aprendizagem (MOSCHINI; CAIERAO, 2015, p. 363).

Posto isto, a brincadeira e o jogo parecem beneficiar o desenvolvimento da imaginação, do pensamento, da criatividade, e da aprendizagem (MOSCHINI; CAIERAO, 2015).

Observar osintoma

Analisar ocontexto e

história

Fazer uma investigaçãodos sintomas

Identificar acausa

Identificar amodalidade deaprendizagem

Esclarecer,orientar,intervir

O paciente fazprogressão naaprendizagem

Aprende aaprender com

satisfação

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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Tendo em vista que estamos aprendendo sobre criatividade e psicopedagogia, recomendamos a leitura do livro Oficina criativa e psicopedagogia, escrito por Cristina Dias Allessandrini.

CAPA DO LIVRO OFICINA CRIATIVA E PSICOPEDAGOGIA

DICAS

FONTE: <https://d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net/imagens/capas/239c35d184d90334ae190859554fdce1e95c5724.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Em outras palavras, ao trabalhar com crianças na esfera clínica, é recomendado que o psicopedagogo faça uso de brincadeiras para estabelecer o vínculo com a criança, obtendo a confiança dela. A brincadeira em si já proporciona inúmero benefícios à criança, podendo, inclusive, contribuir para a evolução da criança em relação à determinada aprendizagem.

Voltaremos a tratar do brincar e da brincadeira mais adiante nessa unidade. Aguarde!

ESTUDOS FUTUROS

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

178

Tendo em vista que estamos aprendendo sobre clínica psicopedagógica com crianças, recomendamos a leitura do livro A aplicação do conto de fadas: branca de neve no espaço psicopedagógico, escrito por Taís Aparecida Costa Lima.

CAPA DO LIVRO A APLICAÇÃO DO CONTO DE FADAS: BRANCA DE NEVE NO ESPAÇO PSICOPEDAGÓGICO

DICAS

FONTE:<https://i1.wp.com/casadopsicopedagogosp.com.br/wp-content/uploads/2018/09/branca_de_neve.jpg?w=200&ssl=1>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Considerando que os consultórios de psicopedagogos permanecem sendo frequentados por crianças que demonstram dificuldades para aprender a ler e/ou a escrever, vamos em busca de algumas pistas sobre o que o psicopedagogo pode fazer para auxiliá-las?

Leal et al. (2017) fizeram uma investigação científica sobre o desenvolvimento de habilidade de leitura e escrita durante a infância, articulado à atuação psicopedagógica com base na intervenção multissensorial e fônica.

Vejamos a descrição resumida de como essa atuação psicopedagógica foi conduzida? Foram realizadas avaliações pré e pós à intervenção com os seguintes instrumentos: Escala de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC-III); Prova de Consciência Fonológica por Produção Oral; Bateria de Avaliação de Leitura e Escrita (BALE); Teste de Desempenho Escolar; Leitura de Texto; Teste de Repetição de Palavras e Pseudopalavras; Redação Temática. As atividades foram desenvolvidas a partir de uma revisão da literatura para elaborar uma proposta de intervenção baseada em evidências científicas. Foram realizadas 20 sessões de intervenção focadas em estratégias fônicas e multissensoriais, durante período

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de três meses. Os resultados obtidos a partir da comparação de desempenho pré e pós indicaram que houve melhoras nas habilidades de consciência fonológica, compreensão verbal, acurácia de leitura e escrita de palavras após o período de intervenção. Espera-se que este trabalho possa contribuir para a atuação psicopedagógica clínica e educacional, uma vez que elaborar programas de intervenções baseados em evidências pode fundamentar uma prática mais consistente que permita avaliar e identificar melhoras nas habilidades após um curto período de tempo (LEAL et al., 2017, p. 342).

Essa citação trouxe uma quantia considerável de nomes de testes formais para aplicação e de outras ferramentas do psicopedagogo. Por hora, não precisa se preocupar em memorizá-las ou a aprender mais sobre cada uma delas. Essa citação foi colocada nessa parte do texto, a fim de que você possa ter um panorama geral sobre a intervenção realizada individualmente em contexto clínico.

Um jogo que tem sido utilizado para fins de avaliação psicopedagógica (diagnóstica) clínica com crianças se chama “DESCUBRA O ANIMAL”. Para saber mais sobre esse jogo, procure ler o artigo O jogo “descubra o animal”: um recurso no diagnóstico psicopedagógico”, elaborado por Betânia Alves Veiga Dell’ Agli e Rosely Palermo Brenelli. Ele está disponível gratuitamente na internet: http://www.scielo.br/pdf/pe/v12n3/v12n3a13.pdf.

DICAS

Leal et al. (2017) explicam que a atuação clínica do psicopedagogo pode propiciar a melhora no desempenho de várias habilidades do sujeito. Releia a citação prestando atenção no tempo que essa proposta de intervenção durou. Quantas sessões foram feitas? Quantas estratégias foram utilizadas? Note que esse processo de intervenção procurou reabilitar a criança atendida no que tange às habilidades de leitura e escrita (LEAL et al., 2017). Foi, portanto, um processo focado.

Além do brincar, dos jogos, e de outras estratégias que você acessou no presente tópico, que você seja informado de que as tecnologias de informação e comunicação têm colaborado no atendimento clínico psicopedagógico com adolescentes. Essas tecnologias têm sido úteis no desenvolvimento de processos cognitivos dos adolescentes, bem como, no desenvolvimento da aprendizagem. Vejamos como isso tem se processado?

Pereira (2017) explicita que os meios digitais têm sido empregados nos processos educativos nos dias atuais. Os adolescentes têm respondido positivamente à inserção de tecnologias de informação e comunicação no contexto educacional, possivelmente porque as particularidades educacionais desse público parecem convergir com as propriedades de tais tecnologias.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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Diante do exposto, Pereira (2017) propõem que o psicopedagogo faça uso de tecnologias digitais de informação e comunicação, na esfera clínica. Essas tecnologias têm sido valorizadas pelos adolescentes no decorrer da construção de conhecimentos, portanto, podem ser ferramentas frutíferas no contexto psicopedagógico.

Contudo, o psicopedagogo precisa utilizar os recursos tecnológicos digitais, de modo que estejam alinhados aos objetivos traçados pela atuação psicopedagógica, bem como, à metodologia que ele usar. Pereira (2017) faz esse alerta para que os psicopedagogos não venham a adotar recursos tecnológicos de forma irrefletida, indiscriminada, e isenta de intencionalidade. A realização da atividade pela simples atividade tende a não gerar resultados.

Então, o psicopedagogo precisa selecionar ferramentas e recursos da tecnologia que sejam condizentes com o processo interventivo que realizará, que também estejam correspondentes às características psicossociais e educativas do adolescente (PEREIRA, 2017).

Pereira (2017) ainda enfatiza que a utilização de tecnologias da informação e comunicação na clínica psicopedagógica tem sido proveitosa para que o adolescente se sinta motivado a iniciar e dar continuidade aos atendimentos psicopedagógicos. Tem gerado, ainda, motivação para a construção de diferentes aprendizagens por parte do adolescente.

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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Prezado acadêmico! Para que você possa aprender mais sobre temas relativos ao que estamos tratando neste tópico, sugerimos a leitura do seguinte livro: A representação simbólica na clínica psicopedagógica, escrito por Márcia Goulart Tozzi Pego.

CAPA DO LIVRO A REPRESENTAÇÃO SIMBÓLICA NA CLÍNICA PSICOPEDAGÓGICA” – MÁRCIA GOULART TOZZI PEGO

DICAS

FONTE: <https://d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net/imagens/capas/_8c94e594de79e74db433dda7d2ac602393505a6f.jpg >.

Acesso em: 10 mar. 2020.

Muitos psicopedagogos trabalham em consultórios particulares, mas, também, existem vários que trabalham em clínicas. Nessa perspectiva, Montenegro et al. (2010) fizeram uma pesquisa sobre o trabalho psicopedagógico desenvolvido na Clínica Social. Alguns aspectos dessa pesquisa precisam ser mencionados aqui:

• Os atendimentos buscavam envolver as crianças e adolescentes, com o intuito de recuperar o prazer de aprender.

• Valorizar o conhecimento que crianças e adolescentes já tinham construído e abrir perspectivas futuras.

• Os psicopedagogos também se desenvolvem durante os atendimentos que realizam, na medida em que vão aprendendo a ampliar o olhar psicopedagógico sobre outros modelos socioculturais.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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Indicamos a leitura do livro “Ação psicopedagógica: II Ciclo de Estudos de Psicopedagogia Mackenzie”, organizado por Elcie F. Salzano Masini.

CAPA DO LIVRO AÇÃO PSICOPEDAGÓGICA: II CICLO DE ESTUDOS DE PSICOPEDAGOGIA MACKENZIE

DICAS

FONTE: <https://www.traca.com.br/capas/896/896940.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Antes de nos despedirmos da leitura desse tópico, é oportuno esclarecer que uma parcela significativa das crianças que é encaminhada aos psicopedagogos, apresenta alguma deficiência, ou transtorno do neurodesenvolvimento, ou ainda, superdotação e altas habilidades. Nesse sentido, Zugueib Neto (2004) propõe reflexões sobre a Intervenção psicopedagógica, e estratégias clínicas que partem da psicopedagogia com um viés psicanalítico para esse público. Nesse caso, o psicopedagogo pode prestar uma atuação clínica voltada à saúde mental do paciente, podendo associar intervenções psicoterápicas e programação pedagógica.

Uma quantidade relevante de pessoas com deficiência auditiva ou com surdez tem sido encaminhada aos psicopedagogos. Pesquisadores como Penna (2008), tem investigado sobre habilidades de leitura e escrita por parte de estudantes surdos. Isso acontece, em grande parte, por conta das dificuldades em aprender a ler e a escrever, já que, muitos surdos têm como língua materna a Libras, e depois vão se apropriando da língua portuguesa escrita.

No Brasil ainda existem poucos psicopedagogos que se comunicam através de Libras. Assim, incentivamos você a se dedicar à aprendizagem dessa língua. Certamente, você será um profissional melhor preparado para ajudar estudantes surdos, se puder usar a mesma língua que eles.

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TÓPICO 1 | ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO

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Até o final desta unidade, veremos alguns aspectos relativos ao atendimento psicopedagógico de pessoas que têm sido público alvo da educação especial. Aguarde!

ESTUDOS FUTUROS

A última sugestão de leitura desse tópico é o livro “Dimensões da psicopedagogia hoje: uma visão transdisciplinar”, elaborado por Juan Miguel Batalloso.

CAPA DO LIVRO DIMENSÕES DA PSICOPEDAGOGIA HOJE: UMA VISÃO TRANSDISCIPLINAR

DICAS

FONTE: <https://images-americanas.b2w.io/produtos/01/00/sku/24197/7/24197794_1GG.jpg >. Acesso em: 10 mar. 2020.

Boa leitura!

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RESUMO DO TÓPICO 1

Nesse tópico, você aprendeu que:

• A identidade do psicopedagogo é dinâmica.

• A identidade do psicopedagogo se constrói a partir do conjunto de necessidades, crenças, compreensões teóricas e práticas.

• A identidade do psicopedagogo produz diferentes discursos que representam diferentes abordagens psicopedagógicas.

• Divulgar a psicopedagogia faz parte do papel do psicopedagogo.

• O psicopedagogo pode trabalhar em consultório ou em clínicas.

• O brincar deve fazer parte da atuação psicopedagógica clínica com crianças.

• O psicopedagogo pode utilizar tecnologias digitais da informação e da comunicação no atendimento de adolescentes.

• Existem jogos e outras ferramentas que o psicopedagogo pode utilizar em sua atuação clínica.

• Psicopedagogo não atende apenas a crianças.

• O público alvo da educação especial é frequentemente encaminhado ao atendimento clínico dos psicopedagogos.

• Existe uma quantidade relevante de livros e de artigos científicos produzidos no Brasil, sobre a psicopedagogia clínica. A leitura desses textos sugeridos ao longo do tópico irá enriquecer o processo reflexivo sobre a atuação da psicopedagogia no Brasil.

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1 Quais são os fatores que conforme Rubinstein (2017), têm composto a identidade dos psicopedagogos?

2 Levando em consideração o que aprendemos nesse tópico, analise o excerto a seguir: “Inicialmente, a visão dos pais era que o atendimento seria para uma “aula de reforço”, por isso foi necessária a explicação sobre a proposta psicopedagógica, que não teria um caráter imediatista de suprir as falhas de ensino-aprendizagem relativas ao conteúdo escolar. O projeto dos atendimentos visaria à construção da autonomia e da autoria, por meio da criação de vínculos, o que possibilitaria um espaço de confiança onde acontecesse o crescimento de todos” (MONTENEGRO et al. 2010, p. 253).

Assinale V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas, no que se refere às interpretações desse excerto articuladas ao tópico que você acabou de ler: ( ) Existem pessoas que pensam que o psicopedagogo só dá aulas de reforço.

Esse fato está relacionado com aspectos identitários da profissão de psicopedagogo.

( ) O psicopedagogo precisa divulgar o que faz a sua profissão, para desconstruir noções improcedentes que as pessoas têm acerca dela.

( ) A criação de vínculos é desnecessária na clínica psicopedagógica, já que, o enfoque é o desenvolvimento da aprendizagem dos pacientes.

( ) Os atendimentos feitos pelos psicopedagogos têm como principal objetivo o desenvolvimento profissional dos próprios psicopedagogos.

( ) Apenas os pacientes se desenvolvem, no decorrer da atuação psicopedagógica.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) V – V – F – F – F. b) ( ) F – F – V – F – V.c) ( ) V – V – V – V – F.d) ( ) F – V – F – V – V.

3 Nesse tópico, vimos que o psicopedagogo atende com maior frequência crianças e adolescentes no contexto clínico. O psicopedagogo pode agir do mesmo modo ao atender a uma criança ou a um adolescente? Justifique sua resposta.

4 Pereira (2017) sugere que o psicopedagogo preste atenção nas características psicossociais e educativas do paciente/cliente, ao elaborar a proposta interventiva. Quais são essas características? Cite um exemplo.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM

ESPAÇOS EDUCACIONAIS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico iremos nos concentrar na psicopedagogia escolar. Portanto, teremos algumas noções sobre a avaliação psicopedagógica (diagnóstica) feita pelos psicopedagogos nesse contexto.

Na sequência aprenderemos que a psicopedagogia institucional com fins educativos não acontece apenas em escolas de educação básica, mas também, em núcleos/centros de educação infantil (chamadas de creches em algumas regiões do Brasil), instituições de ensino superior (como as faculdades, centros universitários e universidades), e nas instituições que oferecem ensino médio – que também é classificado como educação básica aqui no Brasil.

Assim, o público alvo do psicopedagogo na esfera educacional não é formado apenas de crianças em fase de alfabetização, mas também por bebês, crianças de todas as faixas etárias, adolescentes, jovens, adultos e idosos.

Considerando que boa parte das referências utilizadas na elaboração deste tópico são brasileiras, essa é mais uma oportunidade para que você possa refletir sobre a construção da psicopedagogia no Brasil.

Vamos lá?

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

2 A ATUAÇÃO DO PSICOPEDOGOGO EM AMBIENTES EDUCACIONAIS

Prezado aprendente! Chegou o momento de resgatarmos uma citação que já foi apresentada em tópicos anteriores. Convidamos você a realizar a leitura dela novamente, agora de modo ainda mais pausado e analítico:

O que defendemos é a presença de psicólogos e pedagogos escolares, com ou sem especialização em Psicopedagogia, trabalhando com as dificuldades de aprendizagem numa perspectiva teórica crítica. Para isto sugerimos a Psicologia Histórico-cultural como subsídio para o trabalho desses profissionais.

Finalizando, podemos verificar que a atuação do professor-psicopedagogo nestas escolas centra-se no indivíduo, e não no processo ensino-aprendizagem, pois busca no aluno as explicações para os problemas escolares. Dessa forma, estes profissionais têm reforçado as concepções individualizantes e patologizantes das dificuldades de aprendizagem. Neste prisma, faz-se necessário que outras pesquisas com esta temática sejam desenvolvidas, de modo a contribuir para desmistificação de que o psicopedagogo seja um profissional capaz de atuar com a demanda de duas grandes áreas, a Psicologia e a Pedagogia (POTTKER; LEONARDO, 2014, p. 226).

É mister recordar que durante décadas, aqui no Brasil, a formação em psicopedagogia se restringia à modalidade de especialização, e muitas vezes eram procuradas por psicólogos e pedagogos.

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TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

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Por falar em curso de especialização, recomendamos que você confira a 4ª Edição da Revista Uniasselvi-pós, já que ela trata especificamente da psicopedagogia.

CAPA DA REVISTA UNIASSELVI-PÓS

DICAS

FONTE: <https://files.passeidireto.com/Thumbnail/c7effcbe-5723-46fb-9382-3fb978511899/210/1.jpg>. Acesso em: 2 dez. 2019.

Você a localiza no link: http://www.uniasselvipos.com.br/hp-2.0/new/destaque_ler.php?c=15782.

Hoje, essa formação na modalidade de especialização se mantém, como já vimos na primeira unidade desse livro. O que mudou recentemente, é que O Brasil passou a contar, com a formação de psicopedagogos como curso em nível superior, de graduação.

Na Argentina, onde a formação de psicopedagogo ocorre em nível de graduação há algumas décadas, a produção de teórica da área é mais abrangente e vem norteando a produção intelectual e cursos de pós-graduação no Brasil, inclusive em nível Stricto sensu. [...] destacamos contribuições da psicopedagoga argentina Alicia Fernández, particularmente dois aspectos: a constituição do corpo na aprendizagem e como esta vem sendo socialmente fraturada, sobretudo no vínculo com o saber (FREITAS, 2016, p. 581).

Essas informações estão sendo frisadas aqui, porque, muitos dos textos que foram utilizados na elaboração desse tópico e do próximo (que abordará a atuação psicopedagógica em empresas, hospitais e com grupos de idosos) partem de produções textuais feitas por psicólogos ou pedagogos com especialização em psicopedagogia.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

Então, talvez, você se sinta sobressaltado com a quantidade de atividades que um psicopedagogo pode desenvolver nas instituições. Muitas das intervenções propostas por especialistas em psicopedagogia partem da formação em psicologia, porque os psicopedagogos que escreveram sobre elas eram formados primeiramente em psicologia.

Talvez você pense que ainda não está preparado para exercer algumas dessas atividades. Diante do exposto, encorajo-o a persistir na leitura deste livro, lembrando-se de que ao longo de sua formação, você entrará em contato com a teoria e a prática da psicopedagogia de modo mais aprofundado. Recorde-se que esse livro que agora recebe a atenção de seus olhos tem a incumbência de levar até você apenas os fundamentos da psicopedagogia.

Na continuidade de seus estudos, você irá construindo novos andares, novas camadas em cima desses fundamentos. E nós estaremos com você durante todo o percurso de formação acadêmica.

E, de fato, existem muitas coisas em comum com o fazer do psicólogo e do psicopedagogo nas instituições. Neste momento, vale lembrar que a psicopedagogia se reportou e ainda se reporta a muitos saberes da psicologia. Assim, os psicólogos podem fazer algumas atividades que os psicopedagogos não podem. A título de exemplo, mencionamos os testes psicológicos e emissão de documentos que são exclusivos ao psicólogo.

Após esses esclarecimentos, voltemos a alguns elementos daquela citação que já foi apresentada em outra parte do texto – de Pottker e Leonardo (2014, p. 226) trazidos para os dias atuais:

• A presença de psicólogos e pedagogos escolares é essencial, tenham eles especialização em psicopedagogia ou não.

• A presença de psicopedagogos também é fundamental, e esses três profissionais podem trabalhar em conjunto.

• O ideal é que os três profissionais olhem para as dificuldades de aprendizagem sob uma "perspectiva teórica crítica".

• A psicologia histórico-cultural pode servir de subsídio para o trabalho de psicólogos, pedagogos e de psicopedagogos – essa é a teoria proposta por Vygotsky, a qual vimos nas unidades anteriores.

• Enquanto os profissionais (sejam eles pedagogos, psicólogos ou psicopedagogos) continuarem a atuar focados na criança que parece apresentar dificuldades para aprender, desenvolverão atividades sustentadas em "[...] concepções individualizantes e patologizantes das dificuldades de aprendizagem" (POTTKER; LEONARDO, 2014, p. 220).

• Essa atuação centrada na criança robustece, legitima ainda mais que o motivo do baixo rendimento escolar está localizado exclusivamente na criança.

• É ideal – e necessário – que a atuação dos profissionais (psicólogos, pedagogos e psicopedagogos) não esteja centralizada na pessoa que parece ter dificuldades para aprender.

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TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

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• A atuação dos profissionais – sobretudo dos psicopedagogos – deve estar concentrada no processo ensino-aprendizagem.

• A busca por explicações para as dificuldades que emergem na escola, não deve girar em torno apenas do estudante que não está tendo um bom desempenho escolar.

• A busca por essas explicações deve girar em torno do processo de ensino-aprendizagem.

• O psicopedagogo pode trabalhar em conjunto com psicólogos e pedagogos, mas ele não pode sozinho, fazer o trabalho de psicólogos e pedagogos.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, recomendamos a leitura do livro: Uma jornada de reflexão sobre a prática em psicopedagogia: exposição de monografias, que tem por organizadores: Elcie F. Salzano Masini; Elena E. Shirahige e Siloé Pereira Neves.

CAPA DO LIVRO UMA JORNADA DE REFLEXÃO SOBRE A PRÁTICA EM PSICOPEDAGOGIA: EXPOSIÇÃO DE MONOGRAFIAS

DICAS

FONTE: https://images-na.ssl-images-amazon.com/images/I/41pI70AxrSL._SX330_BO1,204,203,200_.jpg. Acesso em: 10 mar. 2020.

Portanto, nos ambientes educativos, os psicopedagogos podem atuar de forma transdisciplinar, realizando ações voltadas à prevenção, avaliações psicopedagógicas (diagnósticas), planejamentos e intervenções (BITTENCOURT; LOBO; CRIVELLARO, 2019).

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

FIGURA 3 – PSICOPEDAGOGO EM CONTEXTO EDUCACIONAL

FONTE: <https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/escolas/a-importancia-do-psicopedagogo-na-escola>. Acesso em: 10 mar. 2020..

3 AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA (DIAGNÓSTICA) INSTITUCIONAL EM AMBIENTES EDUCATIVOS

Quando defendemos que a busca por explicações sobre as dificuldades de aprendizagem deve girar em torno do processo de ensino-aprendizagem, estamos alertando para que a avaliação psicopedagógica (diagnóstica) em contexto institucional educativo seja abrangente.

Assim, vejamos alguns pontos que precisam ser levados pelo psicopedagogo quanto à avaliação psicopedagógica (diagnóstica), de acordo com Pontes (2010):

• Considerar as relações entre produção escolar e as oportunidades reais que a sociedade oferece às variadas classes sociais.

• Observar a escola lembrando que ela é vinculada à sociedade.• Recordar-se que o sistema de ensino (público ou privado) reflete a sociedade

da qual faz parte. • Lembrar-se de que principalmente estudantes de baixa renda ainda

são estigmatizados, na questão do aprendizado, e que recebem rótulos frequentes de "deficitários".

• Cuidar para não reforçar esses rótulos de que determinados alunos são deficitários, ou fracos para aprender, ou carentes das condições básicas para aprender.

• Questionar-se sobre que mais está acontecendo na instituição em questão: produção ou reprodução do conhecimento?

• Estimular a instituição a oferecer espaços e momentos para que ocorra produção do conhecimento, e não apenas a reprodução dele.

• Estar atento a como se processa a gestão escolar. • Verificar se realmente existe democracia naquela instituição. • Observar como fluem as relações entre os diferentes atores sociais que integram

o espaço institucional.• Observar quais são as narrativas que emergem no ambiente institucional.

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TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

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• Identificar mitos, crenças, heróis e vilões que aparecem nos discursos dos integrantes da instituição.

• Propor uma atuação preventiva.• Procurar identificar as dificuldades de aprendizagem, antes que os

processos se instalem.• Trabalhar em conjunto com a equipe da instituição, e com as famílias dos estudantes

frente às ocorrências provenientes das dificuldades no processo do aprender. • Realizar intervenção apoiando-se na utilização de recursos que promovam a

operatividade dos vários grupos e instâncias da instituição.

Diante de tantos pontos, é fácil constatar que o trabalho do psicopedagogo não é simples. É um trabalho que requer comprometimento, dedicação, leituras e mais leituras. Também pudera! Frequentemente, o psicopedagogo é chamado em ambientes educativos, justamente para detectar o que está acontecendo com aquela instituição já que os esforços da equipe de gestão e dos docentes não tem repercutido os resultados esperados por eles (PONTES, 2010).

O olhar de um profissional que possui uma concepção mais ampla e crítica desses processos, pode ajudar muito. Contudo, ao falar e investigar a aprendizagem, é preciso levar em conta os aspectos relevantes na vida da escola e do estudante. Assim, é recomendável observar quais são os vínculos que estão sendo estabelecidos entremeados ao processo de ensino e aprendizagem – e isso pode incluir a família do estudante (PONTES, 2010). Vamos olhar para essas famílias com mais atenção? Então, sigamos com a leitura.

4 UM OLHAR PARA AS FAMÍLIAS

Quando defendemos que olhar para as famílias é essencial, não significa que isso se limita a uma conversa com um dos responsáveis pelo estudante. Muito menos que nos daremos por satisfeitos, cruzando os braços, ao perceber que a família do estudante não parece oferecer um ambiente saudável ao desenvolvimento do estudante. Fazendo isso, estaríamos apenas deslocando a culpa pelo aparente não aprendizado, da criança, para a sua família.

Então, que tipo de olhar o psicopedagogo deve endereçar às famílias? Conforme Dusi, Neves e Antony (2006), esse olhar abrange:

• Levantar as articulações entre as instituições acadêmicas e a família.• Expandir a percepção sobre os processos de aprendizagem.• Compreender e valorizar o contato que o estudante estabelece com o meio.• Observar como a família lida com o objeto de conhecimento, com os

conteúdos escolarizados.• Identificar as diferentes formas de aprender comumente usadas pelo (a)

aprendente e por sua família.• Identificar como o estudante integra sua totalidade por meio da aprendizagem. • Compreender os diferentes campos nos quais o sujeito aprendente está inserido,

sendo os principais (no contexto psicopedagógico) a escola e a família.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

De acordo com Pontes (2010), o psicopedagogo escolar precisa:

• Contribuir para que haja uma boa comunicação entre escola e família.• Favorecer o clima de confiança e estabelecendo um elo construtivo. • Prestar atenção com situações conflitantes, tensas entre essas esferas.• Demonstrar respeito pelas diferenças entre as crianças (sejam elas irmãs ou não).• Compreender e respeitar as diferenças de ritmos de aprendizagens expressos

pelo(a) aprendente e pela família.• Esclarecer para a família e para a instituição educativa que o papel do

psicopedagogo não é solucionar todos os problemas existentes (dificuldade de aprendizagem, evasão, indisciplina, desestímulo docente, entre outros).

• Esclarecer para a família e para a instituição educativa que o psicopedagogo não vem com as respostas prontas.

• Estimular a família a engajar-se no papel educacional como parceira da instituição.• Esclarecer para a família e para a instituição educativa que o profissional de

psicopedagogia irá desenvolver um trabalho de equipe, em parceria com todos que fazem a escola (gestores, equipe técnica, professores, alunos, pessoal de apoio, família).

Após a leitura dessas duas listas, fica evidente que elas apresentam itens que fazem parte da avaliação psicopedagógica (diagnóstica). A partir deles o psicopedagogo irá elaborar a proposta de intervenção, levando em conta os aspectos que podem afetar a aprendizagem e a convivência social do(a) estudante.

5 UM OLHAR SOBRE/PARA A CRIANÇA

Na maioria das vezes em que uma criança que apresenta dificuldades para aprender chega diante do psicopedagogo, ela já está cansada de ouvir de inúmeras pessoas que ela é burra, fraca de cabeça, preguiçosa, lenta pra aprender etc. Uma das tarefas do psicopedagogo é não reforçar essas ideias, pelo contrário, desconstruí-las.

Dificilmente a criança tem oportunidades para expressar-se sobre as angústias de se deparar com seu baixo rendimento escolar. E nas poucas tentativas que faz, tende a ser repreendida pelas pessoas, que dizem que ela deveria ter estudado mais para evitar a situação.

Quem estará realmente interessado em saber o que se passa na cabecinha de uma criança dessas? Nesse sentido, Pauli e Rossetti-Ferreira (2009) realizaram uma pesquisa para acessar a concepção das próprias crianças, sobre suas dificuldades de aprendizagem escolar. A pesquisa contou com a participação de crianças adotivas.

Crianças adotivas tendem a ser ainda mais estigmatizadas quando apresentam baixo desempenho escolar. Não é raro que as pessoas relacionem as dificuldades de aprendizagens delas, com o período que permaneceram em orfanatos até que fossem adotadas (PAULI; ROSSETTI-FERREIRA, 2009).

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TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

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Já a literatura psicopedagógica aponta alguns sintomas apresentados por essas crianças, os quais teriam influência sobre a sua não aprendizagem, tais como: dificuldades na estruturação egoica, baixa autoestima, rebaixamento intelectual associado a problemas de comportamento, hiperatividade, desatenção. Todavia, esses problemas não são descritos em quantidade e/ou profundidade, de sorte que sobre a questão há uma escassez, um vácuo, o que indica a necessidade de realização de estudos específicos que tornem visíveis tanto o número de ocorrências das dificuldades de aprendizagem entre adotados quanto os aspectos que contribuem para a constituição (ou não) de tais sintomas (PAULI; ROSSETTI-FERREIRA, 2009, p. 881).

Assim, Pauli e Rossetti-Ferreira (2009) realizaram a pesquisa a fim de descontruir a ideia de que as crianças adotivas/adotadas estão fadadas às dificuldades de aprendizagem escolares por conta de seu histórico, possivelmente formado de momentos difíceis que seriam "determinantes de seu insucesso".

Para essa visão fatalista precisa ser desfeita, na medida em que se apresentado um argumento que coloca a patologia sobre a criança e que não dá muita abertura para que a criança apresente mudanças (PAULI; ROSSETTI-FERREIRA, 2009).

Pauli e Rossetti-Ferreira (2009) ainda alertam que os profissionais da psicopedagogia tomem cuidado para não conduzir pesquisas que venham a corroborar com visões fatalistas.

Esse alerta também vale para os psicopedagogos que atendem pessoas rotularizadas como "aquelas que não têm aptidão para aprender". Essas pessoas já ouviram isso de tanta gente! Não precisam de mais um profissional que venha a fortificar essa ideia para elas.

Será muito mais produtivo se o psicopedagogo procurar compreender o processo de aprendizagem vinculado com a prática escolar. Ao recorrer às teorias da psicopedagogia, e ao fazer um trabalho de intervenção que contempla a criança e a instituição educativa com foco na aprendizagem, o psicopedagogo será mais frutífero para a vida da criança estigmatizada pelo não conseguir aprender. O objetivo do psicopedagogo deve ser promover o desenvolvimento e aprendizagem da criança, em vez de decretar o fracasso dela, se juntando às vozes que apregoam que ela "não pode aprender" por esse motivo ou por aquele. O psicopedagogo assume, assim, o papel de propulsionar o crescimento e o desenvolvimento da criança. Para tanto, o psicopedagogo irá olhar com atenção para a forma pela qual a criança se apropria das informações e constrói o conhecimento, além de observar as estruturas que já elaborou (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006).

O trabalho psicopedagógico, seja em âmbito clínico ou institucional, visa, portanto, promover uma compreensão integral da criança e do contexto escolar em que está inserida, proporcionando o desenvolvimento individual e coletivo sob uma perspectiva interventiva e preventiva, valorizando o respeito à diversidade, passando a atuar como força impeditiva da propagação dos preconceitos do cotidiano

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

escolar (DUSI; NEVES; ANTONY, 2006, p. 154).

Segundo Noffs et al., 2014), o papel do psicopedagogo escolar ainda abrange:

• Compreender o processo de construção de conhecimento dos alunos. • Propor ações relacionadas à formação continuada do professor.• Atuar sob a perspectiva psicopedagógica preventiva. • Atuar com um constante pensar sobre o seu fazer.• Dialogar com frequência com a comunidade escolar. • Buscar encontrar alternativas de ação que viabilizem uma constante reflexão

em torno da atuação docente.• Procurar encontrar caminhos prováveis para se atingir o objetivo de promover

o desenvolvimento e a aprendizagem dos alunos.

Sugerimos a leitura do artigo A psicopedagogia experimental aplicada à formação de professores, escrito por Becker (1981), para que você possa ter maiores noções do papel do psicopedagogo no que toca à formação continuada. Você pode acessar o artigo no link: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-40601981000100004&lng=pt&nrm=iso.

DICAS

Podemos acrescentar mais um item nessa lista, conforme Dusi, Neves e Antony, 2006):

• Compreender e valorizar o contato que o estudante estabelece com o próprio objeto de conhecimento.

Com base em Ferreira (2013) podemos acrescentar mais esses itens:

• Usar de sensibilidade ao atender as crianças.• Fazer uso de recursos e de jogos durante o atendimento.• Utilizar imagens nos atendimentos, já que elas podem favorecer o resgate de

memórias que desencadeiam narrativas por parte da criança. • Observar os momentos em que as narrativas da criança podem auxiliar no

autoconhecimento delas, bem como, nas relações que estabelecem com os processos de aprendizagem ao longo da vida.

• Utilizar jogos para que a criança possa refletir sobre o desenvolvimento de competências da criança e do educador.

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TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

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• Auxiliar a criança a percebe que aluno e professor formam uma relação interdependente.

• Utilizar jogos em sala de aula como mediadores das aprendizagens dos alunos e dos educadores, em um contexto de metodologia ativa de ensino.

Para ampliar seus conhecimentos sobre os jogos na esfera escolar, sugerimos a leitura do livro: Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar, escrito por Lino de Macedo, Ana Lúcia Sícoli Petty e Norimar Christe Passos.

CAPA DO LIVRO OS JOGOS E O LÚDICO NA APRENDIZAGEM ESCOLAR

DICAS

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Os-Jogos-L%C3%BAdico-Aprendizagem-Escolar-ebook/dp/B06Y1Q81VH>. Acesso em: 29 nov. 2019.

Indicamos também a leitura do livro Humanizando o ensino de ciências: com jogos e oficinas psicopedagógicas sobre seres microscópicos – Ivete Pelegrino Rosa; Márcia Zorello Laporta; Maria Elena de Gouvêa.

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198

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

CAPA DO LIVRO HUMANIZANDO O ENSINO DE CIÊNCIAS: COM JOGOS E OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS SOBRE SERES MICROSCÓPICOS

FONTE:<http://lojasaraiva.vteximg.com.br/arquivos/ids/1871716/1074954.jpg?v=637005710708900000>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Para visualizar o papel do psicólogo na esfera escolar, leia o artigo intitulado: Psicologia escolar: um duplo desafio. Escrito por Valle (2003) e publicado na revista Psicologia Ciência e Profissão.

Recomendamos a leitura do texto Psicopedagogia: aparando arestas pela escola, escrito por Ramos (2007). Disponível em: file:///C:/Users/02371584932/Downloads/346-1086-1-PB.pdf

Sugerimos a leitura do livro 'Psicopedagogia na escola: buscando condições para a aprendizagem significativa", escrito por Salzano (1996).

CAPA DO LIVRO PSICOPEDAGOGIA NA ESCOLA: BUSCANDO CONDIÇÕES PARA A APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

FONTE: <https://www.amazon.com.br/Psicopedagogia-escola-condi%C3%A7%C3%B5es-aprendizagem-significativa/dp/8515010062>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Page 207: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

199

Aconselhamos a leitura do artigo de nome Delineamentos intrassujeitos na avaliação de práticas psicoeducacionais baseadas em evidência – escrito por Santos; Sella; Ribeiro, (2019), que trata sobre métodos experimentais, avaliação e psicopedagogia.

Para aprender sobre depressão infantil, estratégia de aprendizagem e rendimento escolar, leia o artigo denominado Sintomas depressivos, estratégias de aprendizagem e rendimento escolar de alunos do ensino fundamental. Escrito pelas autoras Cruvinel e Boruchovitch (2004). Está disponível no link http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722004000300005&lng=en&nrm=iso&tlng=pt.

Para saber mais sobre proposta da atuação psicopedagógica do segmento da educação infantil, ensino fundamental I e ensino fundamental II das Escolas da Rede de Ensino, recomendamos a leitura do artigo Proposta de atuação psicopedagógica na diretoria municipal de educação de Cajamar, publicado na Revista Psicopedagia, escrito por Noffs (et al., 2014). Ele está disponível em http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862014000300007&lng=pt&nrm=iso.

A leitura desse artigo lhe permitirá articular os conteúdos vistos nas unidades anteriores ao tópico presente, já que menciona pressupostos deixados por Piaget, Vygotsky, Wallon, Paulo Freire, Nádia Bossa e Alícia Fernandes. Boa leitura!

6 UM OLHAR SOBRE/PARA ADOLESCENTES

Você recorda que no tópico anterior vimos que é possível articular uma obra da literatura no contexto psicopedagógico? Na ocasião, vimos a indicação do conto de fadas da Branca de Neve, sendo aplicada com crianças, lembra? Pois bem, também pode-se utilizar obra literária com fins psicopedagógicos, com adolescentes. Vejamos de que maneira isso pode ocorrer?

No que se refere ao trabalho psicopedagógico com adolescentes, Porcacchia, Barone e Costa (2016) sugerem o uso da leitura de textos literários nos processos de intervenção. "O texto literário por sua potência de construção e de abertura de sentido oferece ao leitor possibilidades para romper o aprisionamento de sentido único" (PORCACCHIA; BARONE; COSTA, 2016, p. 60). Além disso, justificam que a literatura possui valor terapêutico, com base em três autores, como mostra a figura a seguir:

FIGURA 4 – DIFERENTES PERSPECTIVAS ACERCA DA LITERATURA

FONTE: Adaptado de Porcacchia, Barone e Costa (2016)

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200

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

Vale lembrar que muitos adolescentes se queixam de ser alvo de bullying, e de se sentirem isolados da turma. Assim, para Porcacchia, Barone e Costa (2016), a leitura literária pode possibilitar a construção de novos sentidos, às vicissitudes dos adolescentes. A leitura de obras da literatura propicia situações em que os adolescentes reflitam sobre o seu próprio cotidiano, angústias, dilemas. De mais a mais essas leituras favorecem a construção de conhecimentos cognitivos e emocionais.

Já que estamos aprendendo sobre adolescentes e literatura, sugerimos a leitura do livro O prazer da autoria: a psicopedagogia e a construção do sujeito autor, organizado por Márcia Siqueira de Andrade.

CAPA DO LIVRO O PRAZER DA AUTORIA

DICAS

FONTE: <https://www.estantevirtual.com.br/livros/marcia-siqueira-de-andrade/o-prazer-da-autoria>. Acesso em: 2 dez. 2019.

Na sequência, você encontra uma citação que descreve como eram conduzidos os encontros psicopedagógicos balizados na leitura de obras literárias:

Com encontros semanais, de cinquenta minutos, a leitura de texto literário foi o instrumento principal neste trabalho. Ele consistia inicialmente na leitura, realizada pela psicopedagoga, de textos literários que eram escolhidos pelo adolescente a cada encontro. Após a leitura, o adolescente era convidado a falar sobre o que sentiu ou pensou sobre o texto lido. Os autores consideram como campo clínico as sessões de leitura de textos literários com o adolescente, reconhecendo o método psicanalítico – a interpretação – entendida como a operação do campo transferencial que visa produzir uma "ruptura de campo" que

Page 209: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

201

leva o adolescente a pensar sobre situações de sua própria vida. Vamos relatar duas situações em que a leitura de literatura provoca o adolescente a falar de si mesmo, favorecendo o surgimento de angústias, de sofrimentos vividos e, ao mesmo tempo, possibilidade de narração e ressignificação das dores (PORCACCHIA; BARONE; COSTA, 2016, p. 60). Com essa breve descrição podemos notar que o aporte teórico dos pesquisadores Porcacchia, Barone e Costa (2016) é a psicanálise.

Vale a pena ler o artigo A literatura como intervenção psicopedagógica com adolescente na íntegra, para visualizar a junção de conhecimentos oriundos da psicanálise com os da psicopedagogia. Foi escrito por Porcacchia, Barone e Costa (2016) e está publicado na Revista Psicopedagogia, disponível no link http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862016000100007&lng=pt&nrm=iso.

DICAS

Porcacchia, Barone e Costa (2016) ainda acrescentam que a literatura de obras literárias contribui para o estabelecimento positivo do vínculo entre o adolescente e o profissional da psicopedagogia. Inclusive, possibilita momentos lúdicos e criativos que auxiliam o adolescente em suas reflexões sobre si mesmo, rumo a sua autonomia e autoria de pensamento. O adolescente se sente estimulado a se reconhecer e a narrar a sua própria história. Fornece ao adolescente uma chance de poder falar de si mesmo, e a partir de aí se implicar, adotando uma posição ativa. Ele pode se identificar com os enredos das obras literárias (PORCACCHIA; BARONE; COSTA, 2016).

Para mais informações sobre o tema, leia: O jogo de regras nos jogos da vida: sua função psicopedagógica na sociabilidade e na afetividade de pré-adolescentes – Beatriz Piccolo Gimenes.

DICAS

Page 210: Fundamentos da PsicoPedagogia

202

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

O JOGO DE REGRAS NOS JOGOS DA VIDA: SUA FUNÇÃO PSICOPEDAGÓGICA NA SOCIABILIDADE E NA EFETIVIDADE DE PRÉ-ADOLESCENTES

FONTE: <https://static.carrefour.com.br/medias/sys_master/images/images/hf6/hb6/h00/h00/10741442314270.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2020.

7 UM OLHAR SOBRE/PARA ADULTOS

Além de trabalhar com crianças e adolescentes, o psicopedagogo pode atuar no ramo da docência universitária, auxiliando os acadêmicos e professores universitários a superarem alguns entraves no processo de aprendizagem e ensino.

Noffs e Rodrigues (2011) destacam que por muitos anos a psicopedagogia

esteve realmente mais voltada ao trabalho com crianças no que tange à prática institucional. Porém, um dos marcos que ampliou o público alvo a ser atendido pelos psicopedagogos foi a implantação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), em que o indicador de avaliação dos cursos de Licenciatura e Pedagogia passaram a ter o item "atendimento ao discente".

A título de exemplo, apresentamos brevemente a pesquisa feita por Favero e Neves (2013), que abordam procedimentos didáticos concernentes ao ensino de matemática para profissionais psicólogos e pedagogos no âmbito do Curso de Especialização. A pesquisa trata do desenvolvimento psicológico de adultos, da especialização em psicopedagogia, da educação matemática e do desenvolvimento de competências conceituais em matemática e ainda fez menção à intervenção que envolveu os seguintes sentidos:

• Geração de mudanças no modo do acadêmico conceber a matemática, seu

ensino e aprendizagem.• Capacitação de especialistas em psicopedagogia em formação, para que

viessem a realizar intervenções como psicopedagogos na mediação do conhecimento matemático, na lida com dificuldades de aprendizagem em matemática e no trabalho com professores.

Page 211: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

203

A pesquisa de Noffs e Rodrigues (2011) apresenta as seguintes possibilidades de atuação psicopedagógica com adultos:

• Construir instrumentos e metodologias específicas que auxiliem os acadêmicos a identificarem os pontos em que necessitam melhorar.

• Construir instrumentos e metodologias específicas que auxiliem os acadêmicos a melhorarem seu desempenho escolar, profissional e pessoal.

• Oferecer atendimento psicopedagógico qualificado.• Contribuir para melhor desempenho nas atividades acadêmicas dos estudantes. • Auxiliar nas produções de leitura e de escrita.• Apresentar diversificados métodos de organização e estudos que favoreçam a

cada indivíduo e ao grupo, de acordo com sua modalidade de aprendizagem. • Auxiliar os estudantes a desenvolverem habilidades necessárias para a

atuação acadêmica.• Conduzir técnicas e procedimentos psicopedagógicos, que permitam a

percepção dos fatores que têm atravancado o processo de aprendizagem. • Proporcionar condições que facilitem o desenvolvimento do indivíduo, do

grupo, da instituição e da comunidade.• Atuar de modo preventivo.• Buscar soluções para dificuldades que emergem, para que o aprendente consiga

atingir objetivos educacionais, pedagógicos e psicopedagógicos.• Buscar a elaboração de estratégias que contemplem as reais necessidades e

demandas dos aprendentes.• Rever procedimentos e propostas educacionais.• Favorecer o diálogo entre as diferentes teorias e áreas do conhecimento.

Além do trabalho voltado às dificuldades de aprendizagem com conteúdos ou disciplinas específicas, o psicopedagogo também pode auxiliar em atividades respeitantes à inclusão.

A partir da pesquisa de Tomelin et al. (2018) podemos sinalizar que o psicopedagogo pode:

• Auxiliar a instituição a ir além da disponibilidade de vaga para pessoas com necessidades educacionais especiais.

• Ajudar a desenvolver práticas inclusivas no ambiente universitário. • Integrar equipes multidisciplinares em núcleos de apoio ao discente e docente

das instituições de ensino superior. • Oferecer acolhimento e apoio aos estudantes com deficiência, dificuldades de

aprendizagem e outros transtornos.• Identificar situações de dificuldade de aprendizagem, e elabore estratégias de

intervenção, encaminhamento e orientação para os respectivos acadêmicos.• Assessorar monitorias de reforço entre pares, cursos de nivelamento e de

cursos de apoio ao estudante.• Auxiliar nos encaminhamentos para clínicas de saúde.• Estabelecer parceria com profissionais de saúde.• Contribuir na melhora da acessibilidade física da instituição, bem como, na

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204

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

• utilização de tecnologia assistiva.• Realizar orientação aos professores.• Fazer atividades de sensibilização com estudantes.• Realizar palestras a toda comunidade acadêmica. • Promover a conscientização da comunidade acadêmica acerca da inclusão.• Favorecer a inclusão e a permanência dos estudantes com necessidades

educacionais especiais em ambiente receptivo, inclusivo e legítimo.

Apesar do nosso enfoque à educação superior, é primordial lembrarmos que não é só nas instituições de ensino superior que encontramos adultos em situações de aprendizagem na modalidade de educação formal. Podemos citar, também, os cursos técnicos, e as instituições que oferecem educação de jovens e adultos – sejam elas correspondentes ao ensino fundamental ou médio.

IMPORTANTE

8 REFLEXÕES SOBRE A PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL EM ÂMBITO EDUCACIONAL

Independentemente da idade do estudante, o psicopedagogo precisará atuar levando em consideração os seguintes aspectos:

• Atuar de maneira preventiva e terapêutica, como foco na preventiva.• Realizar a leitura do contexto social e cultural da instituição educacional.• Disponibilizar a escuta dos profissionais da escola, dos alunos, dos familiares,

dentre outros.• Consultar o PPP – Projeto Político Pedagógico da instituição, e preferencialmente,

participar da elaboração ou da atualização dele.• Compreender o processo identitário da instituição.• Propor debates acerca do PPP e conduzir ou participar dos ajustes necessários

com o grupo.• Compreender (e se necessário intervir na) a definição de papéis da instituição.• Compreender (e se necessário intervir nas) a dinâmica relacional e a relação da

instituição com o conhecimento.• Propor e/ou participar da formação continuada dos profissionais da escola.• Realizar palestras e cursos para pais, professores e para a comunidade. • Realizar intervenção psicopedagógica quando for preciso.• Propor a atuação psicopedagógica com grupos.• Prestar atendimento em casos individuais quando for necessário.• Realizar encaminhamentos dos estudantes aos profissionais especialistas

quando for necessário.

Page 213: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 2 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCACIONAIS

205

• Acompanhar os processos de ensino e aprendizagem.• Contribuir para a melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem.• Fazer uma leitura psicopedagógica do contexto, valorizando o saber de

experiência (FREITAS, 2016).• Procurar desenvolver um olhar sensível para ser um mediador mais abrangente

(FREITAS, 2016).• Observar os entraves envolvidos na aprendizagem (ARAÚJO et al. 2016).• Verificar se o apego ao lugar tem interferido no processo de aprendizagem

(ARAÚJO et al. 2016).• Verificar se os laços afetivos criados por estudantes no âmbito institucional têm

influenciado o processo de aprendizagem (ARAÚJO et al. 2016).

Você deve ter percebido que participar nas formações continuadas dos profissionais da escola foi algo recorrente nesse tópico. Assim, sugerimos a leitura do livro: "Cartograma da autoria do pensamento: intervenção psicopedagógica com professores", escrito por Taís Lima.

CAPA DO LIVRO – CARTOGRAMA DA AUTORIA DO PENSAMENTO: INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA COM PROFESSORES

DICAS

FONTE: <http://lojasaraiva.vteximg.com.br/arquivos/ids/1567647/201029.jpg?v=637004265401270000>. Acesso em: 10 mar. 2020.

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206

RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Existem diferentes formas e locais de atuação do psicopedagogo.

• Há diversas possibilidades de atuação do psicopedagogo.

• Alguns dos espaços em que o psicopedagogo pode trabalhar são: escolas, faculdades, instituições de ensino médio, instituições de educação infantil.

• É preciso questionar as perspectivas que consideram as crianças adotivas como fadadas ao baixo rendimento escolar.

• O psicopedagogo que atua no âmbito educacional precisa ter um olhar sobre a família do estudante que está sob seu atendimento.

• É preciso levar em conta as especificidades da infância, da adolescência, da vida adulta e da velhice, ao atender um estudante que demonstra dificuldade para aprender algum conteúdo.

• É possível utilizar a leitura de obras literárias em meio às outras ferramentas e estratégias de atendimento psicopedagógico com crianças e adolescentes.

Page 215: Fundamentos da PsicoPedagogia

207

AUTOATIVIDADE

1 “A Psicopedagogia, como área de conhecimento, surgiu da necessidade de atender e orientar crianças que apresentavam dificuldades ligadas à sua educação, mais especificamente à sua aprendizagem, devido a questões cognitivas ou relacionadas ao seu comportamento social. Embora o seu histórico contemple a atuação com distúrbios, dificuldades e transtornos de aprendizagem, o psicopedagogo atua em diversos contextos e populações, no segmento clínico ou institucional e, para além de identificar os obstáculos e promover a aprendizagem, este profissional visa ao desenvolvimento das potencialidades do indivíduo, contribuindo com um novo olhar, através do diagnóstico e das intervenções psicopedagógicas” (BITTENCOURT; LOBO; CRIVELLARO, 2019, p. 197). Diante do exposto, assinale a alternativa sobre o público que os psicopedagogos têm atendido nos dias atuais, em contextos educacionais:

a) ( ) Todas as faixas etárias – da mais tenra idade, até a velhice.b) ( ) Bebês e crianças, desde que matriculados em instituições escolares.c) ( ) Adolescentes inseridos no ensino fundamental ou médio.d) ( ) Adultos que estejam estudando, em faculdade, ou no EJA.

2 Contribuir para o desenvolvimento cognitivo harmônico é investir no sucesso do processo de aprendizagem e da trajetória escolar. Mais que isso é contribuir para a felicidade do sujeito. Esse objetivo pode ser alcançado, mesmo quando se trata de indivíduos com necessidades especiais, já que o trabalho psicopedagógico deve promover o desenvolvimento e a reabilitação, reconhecendo antes de tudo as possibilidades reais do sujeito, ao contrário do que, em geral, faz a escola (MORAES; MALUF, 2015, p. 90). Frente ao exposto, assinale a alternativa que menciona o que o psicopedagogo faz nas instituições escolares:

a) ( ) Um trabalho comprometido com a educação integral do aprendente, por meio de prevenção, avaliação psicopedagógica, planejamento e intervenção.

b) ( ) A atuação do psicopedagogo escolar se restringe ao diagnóstico.c) ( ) O fazer do psicopedagogo se limita à reabilitação dos sujeitos que estão

com a não aprendizagem instaurada.d) ( ) O psicopedagogo não pode ter uma atuação terapêutica, senão ficará

sendo um apagador de incêndios. Por isso, ele precisa trabalhar apenas na prevenção.

3 Para Barone (2007) a leitura de obras literárias pode contribuir para a construção e reconstrução da identidade, bem como, do mundo daquele que lê tais textos. Assim, as obras da literatura teriam um papel estruturante para a vida dos leitores, na medida em que os leva a refletir sobre sua ordem simbólica e de sua identidade. De acordo a leitura deste tópico, quais são as outras vantagens de utilizar a leitura de textos literários na intervenção psicopedagógica?

4 Em quais lugares o profissional que atua com psicopedagogia institucional educacional pode trabalhar?

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208

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TÓPICO 3

MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM

ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Antes de conversarmos diretamente dos assuntos que aprenderemos juntos aqui no último tópico do seu livro, vamos recapitular, rapidamente, os conteúdos dos dois tópicos antecedentes? No primeiro tópico desta unidade, aprendemos sobre o papel do psicopedagogo e sobre a psicopedagogia clínica, lembra? No segundo tópico, da Unidade 3, aprendemos sobre a atuação do psicopedagogo na esfera institucional, mais especificamente, na área educacional.

Assim, neste tópico aprenderemos sobre a atuação do psicopedagogo na esfera institucional – que não seja a escolar/educacional. Talvez você esteja se perguntando: se ele não vai trabalhar na escola, em que tipo de instituição trabalhará? Afinal, qual ou quais são as outras instituições que têm relação com a aprendizagem?

É válido esclarecer que o conceito de instituição é abrangente. Pode se referir a uma iniciativa privada, a uma organização sem fins lucrativos (ONG), a uma organização social, assistencial, filantrópica, e até mesmo da esfera religiosa. Como exemplos de instituições podemos citar, a família, a escola, os núcleos/centros de educação infantil, a universidade etc.

Todavia, no tópico presente, poderemos ter noções sobre o que faz

o psicopedagogo em espaços representantes da área da saúde, ou da área empresarial – como hospitais e empresas, por exemplo.

Os leitores que estão supondo que o trabalho que o psicopedagogo desenvolve nesses espaços é voltado diretamente aos processos de ensino e aprendizagem, estão com seus pensamentos no caminho certo.

O psicopedagogo, que atua na área institucional, promoverá a aprendizagem. Para tanto, ele irá se debruçar sobre o sintoma manifesto pelo grupo, a fim de analisá-lo e buscar compreendê-lo. Então, precisará ficar atento a diversificados fatores do contexto social e histórico.

Tendo em vista que o contexto institucional é mais voltado à atuação com grupos, em vez de fazer uso de diagnósticos psicopedagógicos individuais, irá utilizar os instrumentos diagnósticos voltados à realidade coletiva, do grupo. Evidentemente, ele não irá olhar apenas para o conjunto. Há situações em

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

210

que é necessário olhar para as individualidades ali representadas, com vistas a identificar focos de ansiedade, conflitos interpessoais ou intrapessoais que interferem no autoconceito e na abertura ao aprender.

Independentemente do tipo de instituição em que o psicopedagogo atuará, ele fará uso do processo de avaliação psicopedagógica institucional. É a partir dele que ele identificará se existem fatores que estão atravancando os processos de ensino e aprendizagem, além de ter subsídios para escolher quais serão as ações ou estratégias que ele irá empregar para promover a aprendizagem no grupo em questão.

Ao final deste tópico, você ainda encontra algumas informações sobre a

psicopedagogia em instituições de atendimento a idosos. Então, vamos continuar a leitura para ter maior clareza sobre o fazer psicopedagógico nas instituições?

2 PSICOPEDAGOGIA ORGANIZACIONAL – EMPRESARIAL

Você lembra de quando estudamos sobre o atendimento clínico? Na ocasião, vimos que o psicopedagogo clínico trabalha com frequência em situações de insucessos instalados, no tocante à aprendizagem. Tanto é, que o paciente chega até o psicopedagogo porque geralmente é encaminhado pela escola, por conta de alguma dificuldade de aprendizagem, e/ou baixo rendimento escolar.

Já a atuação institucional – que se dá em escolas, hospitais, empresas, ou outras organizações – costuma ter enfoque preventivo, sendo que o intuito comumente é evitar que situações de insucessos relacionados à aprendizagem, emerjam (PERES et al., 2007). Porém, isso não significa que a atuação dele será exclusivamente preventiva. Há situações em que precisará ser terapêutica.

FIGURA 5 – EXEMPLO DE AMBIENTE EMPRESARIAL DA INCIATIVA PRIVADA

FONTE: <http://www.dataa.com.br/empresas/>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Page 219: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 3 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

211

Samora e Silva (2014) utilizam a expressão psicopedagogia empresarial e Rodrigues (2012) emprega a expressão psicopedagogia organizacional. Tonet (2004) explica que o psicopedagogo tem sido requisitado nos ambientes de trabalho por conta das exigências de maior qualificação decorrentes do processo de globalização.

Muitos empresários e líderes de ambientes corporativos têm solicitado mudanças no sistema educativo. Parte deles alega que as demandas de competências e habilidades do mundo dos negócios hoje não têm sido contempladas a contento pelo sistema de ensino (TONET, 2004). Assim, cada vez mais os psicopedagogos têm sido solicitados a auxiliar funcionários ou grupos de funcionários a se preparem para assumir uma nova função. Isso abarca aprendizagens de conteúdo, e o desenvolvimento de habilidades e competências específicas.

Então, a psicopedagogia tem colaborado com as instituições, no sentido de ampliar formas de capacitação, formação profissional e treinamento. Por isso, no dia a dia, o psicopedagogo que trabalha em organizações se assemelha mais a um consultor, a alguém que presta assessoria, do que a um profissional de cunho clínico. Ele pode, por exemplo, formular e/ou acompanhar projetos. Como aponta Tonet (2004), ele pode desenvolver ações como consultor de produto ou de procedimento.

Conforme Rodrigues (2012), o atual mercado de trabalho tem demandado profissionais que estejam continuamente se atualizando, construindo novos conhecimentos, habilidades e competências. Assim, entre as soluções estratégicas adotas pelas empresas, está a aprendizagem, que passa a se tornar vantagem competitiva em meio aos concorrentes. Por isso, as empresas têm buscado os serviços prestados pelos psicopedagogos, já que eles são os profissionais indicados para pensar sobre os modos pelos quais ocorrerá o compartilhamento de informações e conhecimentos no ambiente de trabalho.

Não é apenas na atuação em empresas, que o psicopedagogo pode ser considerado um consultor, ou um profissional que presta assessoria. Para descobrir quais são outras possibilidades em que ele pode desenvolver um trabalho com essas características, leia o livro: O assessoramento psicopedagógico: uma perspectiva profissional e construtivista, escrito por Carles Monereo e Isabel Solé, entre outros.

DICAS

Page 220: Fundamentos da PsicoPedagogia

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

212

CAPA DO LIVRO O ASSESSORAMENTO PSICOPEDAGÓGICO: UMA PERSPECTIVA PROFISSIONAL E CONSTRUTIVISTA

FONTE: <https://d1pkzhm5uq4mnt.cloudfront.net/imagens/capas/_c63a33438777632541713bdc130001fdd8da46fc.jpg>. Acesso em: 27 nov. 2019.

Como outro exemplo, o psicopedagogo pode participar na implantação e no suporte a um sistema de avaliação de desempenho, direcionado ao desenvolvimento pessoal ou profissional (TONET, 2004).

Além de resgatar a visão holística do grupo (a visão do todo), e de desenvolver a função humanística na organização, o psicopedagogo ainda pode realizar as seguintes atividades, de acordo com Tonet (2004):

• Estimular mudanças necessárias.• Reduzir a manifestação de erros.• Induzir novos e criativos desempenhos. • Colaborar para a melhora de resultados (em temos pessoais ou profissionais).• Avaliar métodos anteriormente estabelecidos pela instituição para a

avaliação de desempenho.• Sugerir, propor e/ou implantar novas alternativas e metodologias.• Recomendar maneiras para documentar, estimular e avaliar o desempenho

profissional (como, por exemplo o portfólio de desempenho). • Auxiliar os profissionais a selecionar, documentar e apresentar suas realizações

pessoais, visando a avaliação do desempenho. • Trabalhar como um consultor interno – vinculado diretamente à instituição/empresa. • Atuar como consultor externo, sendo contratado para esse fim em caráter

temporário, por empresas, ou por profissionais que queiram organizar um portfólio de sua trajetória profissional.

• Traçar objetivos gerais e específicos.• Analisar e interpretar cenários do contexto educacional ou do contexto

empresarial – dependendo da instituição para a qual trabalhar.

Page 221: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 3 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

213

• Perceber as demandas dos públicos e clientes da instituição.• Fazer um levantamento das expectativas da sociedade.• Identificar os fatores que podem interferir no desempenho do trabalhador.• Propor interações instrutivas que tencionam a integração do grupo e a

integração social.

Na concepção de Tonet (2004), para realizar o trabalho com primor, o psicopedagogo precisa:

• Desenvolver suas próprias habilidades e competências técnicas e interpessoais.• Construir conhecimentos concernentes à sua área de atuação. • Desenvolver habilidades de comunicação, de negociação, de resolução de conflitos.• Desenvolver a empatia, quando estiver perante um profissional individual,

ou cliente, procurando compreender a realidade dele, e captar quais são os sentimentos dele.

A partir do estudo de Pacheco e Castanho (2008) podemos acrescentar esses itens ao fazer psicopedagógico em instituições:

• Analisar as atuais demandas de conhecimento em espaços organizacionais.• Identificar e analisar os processos formais e informais de criação e disseminação

do conhecimento nos ambientes de trabalho.• Compreender a realidade organizacional. • Verificar como os conhecimentos construídos e partilhados na esfera

empresarial são operacionalizados.• Desenvolver ações psicopedagógicas nas organizações.

Essa lista ainda pode ser acrescida com base na pesquisa de Rodrigues (2012). Para ela, o psicopedagogo que trabalha em empresas pode/precisa:

• Estar atento às mudanças sucessivas do mundo dos negócios.• Esclarecer aos integrantes da empresa que a aprendizagem se torna uma

vantagem competitiva no atual contexto dos negócios. • Auxiliar a corporação a potencializar os pontos fortes e as oportunidades.• Procurar neutralizar as ameaças que emergem no contexto de concorrência.• Ajudar a amenizar os pontos fracos da empresa.• Ponderar a relação entre conhecimento e aprendizagem.• Realçar os diversos tipos de conhecimento necessários em situações de trabalho.• Ressaltar a variedade de modos e níveis de aprendizagem. • Refletir sobre a aprendizagem como estratégia competitiva.• Levar em conta a assimilação interna e a aplicação externa do que é aprendido.• Considerar aspectos afetivos e sociais que estão envolvidos nos processos

de aprendizagem.• Estar alocado junto ao setor de recursos humanos (RH), dentro da organização.• Criar condições de aprendizagem dos profissionais integrantes da organização,

levando em conta seus diferentes setores de atuação, sua missão e metas.• Auxiliar a área de Treinamento e Desenvolvimento (T&D).

Page 222: Fundamentos da PsicoPedagogia

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

214

• Desenvolver a formação continuada dos profissionais.• Promover o desenvolvimento das capacidades cognitivas e das habilidades

criativas dos profissionais.• Criar diferentes condições de aprendizagem no trabalho.• Desenvolver funções, desempenho e aptidões criativas dos trabalhadores.• Aumentar soluções e dinâmicas para a consciência da atuação dos colaboradores.• Ajustar informações e da comunicação nas relações entre pessoas e setores.

Samora e Silva (2014), por sua vez, propõem que o psicopedagogo apresente uma atuação voltada à saúde do trabalhador nas empresas. Assim, destacam os seguintes fazeres do psicopedagogo nesse ambiente:

• Promover o desenvolvimento de habilidades sociais como alternativa ao estresse.• Avaliar, identificar os fatores relacionados com o estresse.• Intervir, ajudando o sujeito a reelaborar sua vida. • Investigar, olhar atentamente o clima organizacional, analisar o problema em

particular, e intervir de acordo com a realidade da organização. • Intervir com os treinos de habilidades sociais dentro e fora das empresas para

reduzir o estresse do dia a dia.• Possibilitar que os trabalhadores desenvolvam a assertividade.• Desenvolver pesquisas e serviços de assessoria psicopedagógica, com vistas à

prevenção e ao tratamento do estresse excessivo.• Criar programas para a ampliação das habilidades sociais para auxiliar na

prevenção de estressores internos e externos.• Sinalizar uma forma de planejamento para os indivíduos identificarem e

planejarem uma resolução do problema. • Contribuir para a realização de programas na área dos Recursos Humanos de

uma empresa.• Propor melhorias em termos de aptidões relacionadas aos serviços prestados

pela empresa.• Contribuir para a melhora da qualidade de vida dos colaboradores.

Para ampliar seus conhecimentos sobre o assunto, recomendamos a leitura do artigo: A construção do conhecimento em espaços organizacionais – uma perspectiva psicopedagógica. Esse artigo foi mencionado em algumas páginas atrás do presente livro. Foi escrito por Pacheco e Castanho (2008) e aborda o conhecimento sob o prisma da psicopedagogia. A leitura desse artigo também pode esclarecer como a abordagem de Piaget pode ser aplicada pela psicopedagogia na esfera institucional. Por exemplo, os autores explicam que existem estágios do desenvolvimento organizacional que são relacionados à perspectiva de Piaget.

DICAS

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TÓPICO 3 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

215

À guisa de fechamento desta seção, reforçamos o ponto de vista de Rodrigues (2012), em que expõe que o pensamento estratégico organizacional tem valorizado a aprendizagem. Com a valorização da aprendizagem, faz-se necessária nas empresas a presença de um profissional especialista em aprendizagem.

Como vimos nessa seção, o psicopedagogo pode empenhar-se em projetos que propiciem a aprendizagem nas organizações. Mas, também vimos, que o trabalho dele pode se voltar à saúde do trabalhador, na medida em que auxilia os trabalhadores a aprenderem a lidar com eventos estressores – por exemplo.

Outra sugestão de leitura sobre o âmbito do trabalho, é o artigo denominado: Intervenção psicopedagógica nas empresas: a relevância da construção de métodos profiláticos e assertivos que visem à erradicação do fenômeno assédio moral. Texto escrito por Carvalho (2009), que trata de relações trabalhistas e interprofessionais. O texto ainda faz menção à má conduta profissional, à hostilidade e à educação. Acesse o artigo por este link: http://www.revistapsicopedagogia.com.br/detalhes/259/intervencao-psicopedagogica-nas-empresas--a-relevancia-da-construcao-de-metodos-profilaticos-e-assertivos-que-visem-a-erradicacao-do-fenomeno-assedio-.

DICAS

A próxima seção aborda esse direcionamento da atuação psicopedagógica à saúde das pessoas.

3 PSICOPEDAGOGIA EM HOSPITAIS

Ao lembrar dos hospitais em que já estivemos, ou que vimos retratados em filmes ou novelas, estamos acostumados a pensar, automaticamente na figura dos médicos, enfermeiros e outros profissionais da saúde. Mas, nas últimas décadas, temos encontrado publicações que evidenciam que o psicopedagogo tem se inserido nos ambientes hospitalares. Afinal, a internação de pacientes que são estudantes passou a demandar atendimento psicológico e atuações educativas ali. Na medida em que experiências de aprendizagem adentram os hospitais, passam a eclodir reflexões sobre as relações de ensino e aprendizagem que ali se processam. A esfera hospitalar demanda que ensino e aprendizagem sejam aderentes as suas condições especiais, e consequentemente, uma intervenção psicopedagógica que seja um pouco diferente daquela realizada nos espaços educativos. Assim, faz parte da atuação psicopedagógica ajudar, reforçar e apoiar o paciente a lidar com a doença e com a internação hospitalar, em termos emocionais e educativos (ENCOMIENDA; MEDINA, 2011).

Page 224: Fundamentos da PsicoPedagogia

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

216

O psicopedagogo pode auxiliar o paciente que está internado a adaptar-se a sua nova ou temporária condição relativa à saúde. Esse auxílio se estende também aos familiares. Para tanto, o profissional precisa desenvolver competências pedagógicas, didáticas, político-institucionais, vinculadas ao estabelecimento de interação, dentre outras (ENCOMIENDA; MEDINA, 2011).

Noffs e Rachman (2007) relacionam o trabalho de psicopedagogia em ambiente hospitalar com a Lei nº 10.685, de 30 de novembro de 2000, do Deputado Milton Flávio, que “Dispõe sobre o acompanhamento educacional da criança e do adolescente internados para tratamento de saúde”.

Noffs e Rachman (2007) ainda mencionam o documento sobre estratégias e orientações sobre classe hospitalar e atendimento domiciliar, proposto pelo Ministério da Educação com a Secretaria de Educação Especial. Conforme o referido documento, a pessoa hospitalizada não precisa somente de cuidados concernentes aos aspectos biológicos da tradicional assistência médica à patologia. Ela também pode usufruir de lazer, interações com o meio externo, à evolução (ou involução) de seu estado de saúde, de atenção terapêutica e do exercício intelectual. Como a criança pode desenvolver exercício intelectual, se permanecer confinada no hospital, na presença exclusiva de profissionais da saúde, de seus familiares e de outros visitantes?

Assim, as pessoas hospitalizadas precisam contar com formas alternativas de organização e de oferta de ensino, a fim de terem seus direitos de educação, e saúde assegurados e realizados (NOFFS; RACHMAN, 2007).

FIGURA 6 – HOSPITAL COMO LUGAR DE APRENDIZAGEM

FONTE: <https://www.folhadelondrina.com.br/img/inline/2960000/Atendimento-escolar-e-realizado-em-19-hospitais-do0296072800201909031409-sm.jpg>. Acesso em: 10 mar. 2020.

Para que você possa visualizar de modo como ele ocorre nesse espaço de atuação, apresentaremos de maneira sucinta a pesquisa feita por Vitorino, Linhares e Minardi (2005), essa pesquisa teve por intuito analisar a interação entre crianças hospitalizadas e a profissional que prestava atendimento psicopedagógico. Para tanto, foram realizadas 22 observações do atendimento prestado pela profissional, no decurso de sete meses, sendo que 102 crianças com idade mediana na fase escolar fizeram parte da pesquisa. Entre os resultados obtidos com a pesquisa, destacam-se:

Page 225: Fundamentos da PsicoPedagogia

TÓPICO 3 | MÉTODOS E ABORDAGENS PARA A PRÁTICA DO PSICOPEDAGOGO EM ESPAÇOS INSTITUCIONAIS

217

• O profissional iniciava mais contatos interativos do que as crianças.• O profissional atuava principalmente estimulando a interação entre as crianças. • Os temas sobre as atividades psicopedagógicas aconteceram em maior

quantidade do que os outros conteúdos verbais. • A profissional envolvia as crianças nas atividades realizadas, oferecendo a elas

informações e orientações a respeito das atividades.• As atividades abrangiam o brincar e o aprender numa enfermaria de pediatria,

em contexto de atendimento psicopedagógico.• As atividades lúdicas eram associadas às pedagógicas (atividades de brincar e

aprender) – pois são consideradas experiências necessárias ao desenvolvimento e saudável das crianças.

• A profissional desempenhava o papel de mediadora tanto do desenvolvimento, quanto da aprendizagem na referida enfermaria.

• O trabalho realizado pela profissional estava vinculado ao conceito vygotskyana de zona do desenvolvimento proximal.

• O conceito de zona do desenvolvimento proximal foi expresso por intermédio do brincar e do aprender. Afinal, fazendo essas atividades, a criança age acima da sua capacidade real, elevando o seu desenvolvimento para níveis mais altos e complexos de funcionamento.

• Pode-se afirmar que a profissional criava zonas de desenvolvimento proximal, já que ela possibilitava situações que oportunizavam que as crianças hospitalizadas atuassem acima do nível de desenvolvimento já alcançado até o momento. Então elas precisavam ativar funções potenciais, rudimentares e incipientes.

• O trabalho desenvolvido pela profissional ainda mostrava relações com a noção de aprendizagem mediada proposta por Feuerstein et al. (1980) e Fonseca (1995), no que se refere à intencionalidade e reciprocidade.

• A profissional promovia a interação a partir de sua intencionalidade no estabelecimento de contato com as crianças e entre elas, no espaço estruturado do atendimento psicopedagógico.

• Ainda que enfermas e internadas no hospital, as crianças participaram ativamente e interagiram nas situações lúdico-pedagógicas.

• O psicopedagogo pode conduzir oficinas psicopedagógicas.• As crianças aderiram às propostas do atendimento psicopedagógico

envolvendo-se nas atividades, procurando estabelecer interações. • Pouco foi falado sobre a hospitalização, uma vez que as crianças falavam mais

sobre as atividades que estavam realizando do que sobre hospitalização ou doença.• As atividades de aprendizagem são relevantes para promoção do

desenvolvimento da criança no contexto hospitalar. • A estrutura e o funcionamento do atendimento psicopedagógico priorizavam

as atividades e as iniciativas do profissional.• A atuação do profissional revelava caráter operativo já que a intencionalidade

perpassava as atividades e interações que eram desencadeadas. • A abordagem do profissional demonstrava, também, o caráter situacional, tendo em

vista que o foco estava na vinculação da criança com o contexto imediato e presente de realização de atividades e de interação com as pessoas disponíveis na situação.

• Percebeu-se uma relação triangular entre criança-atividade-psicopedagoga. • Foi possível notar que as atividades preponderantes envolviam calendário,

Page 226: Fundamentos da PsicoPedagogia

UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

218

jogos, dobraduras e a leitura de livros infantis e informativos.• As atividades em torno do calendário tinham por finalidade situar as crianças

no tempo, pois, a internação parecia interferir no referencial de tempo delas. • Ao trabalhar com o calendário, a profissional buscava situar a criança na

realidade do dia a dia, então, as atividades abordavam os dias da semana, o mês e datas comemorativas – inclusive as de cunho pessoal.

• O trabalho psicopedagógico realizado em contexto de internação, precisa dar conta de três objetivos integrados: recreativo, educacional e terapêutico.

• O brincar e a aprendizagem de determinados conteúdos da esfera escolar, são frequentes nas instituições educacionais. Nos hospitais, além de promovê-las, é preciso dar enfoque à adaptação psicossocial da criança enferma e hospitalizada.

• A psicopedagogia institucional visa propiciar a interação da criança com a sua família, e com o grupo no qual está inserida.

• A criança internada pode demonstrar a necessidade de expor e refletir sobre preocupações e sentimentos específicos.

• O psicopedagogo pode oferecer um suporte psicossocial focal, além das técnicas de mediação de aprendizagem.

• A criança hospitalizada necessita aprender a lidar com situações difíceis, a encarar as adversidades com resiliência (VITORINO; LINHARES; MINARDI, 2005).

Noffs e Rachman (2007) acrescentariam a essa lista:

• O psicopedagogo que atua em ambiente hospitalar precisa ter clareza dos objetivos de suas atividades, bem como, seguir um planejamento devidamente formulado.

• O psicopedagogo que desenvolve suas atividades profissionais na esfera hospitalar precisa desenvolver habilidades e competências atinentes à relação psicopedagogo-aluno hospitalizado.

• É preciso olhar para o paciente internado como um sujeito de sua aprendizagem, valorizando seus esforços, potencialidades, competências e habilidades.

• Considerar e respeitar as limitações do paciente – geradas pela internação. Isso também envolve o respeito pelos diferentes ritmos de aprendizagem.

• As atividades psicopedagógicas não podem equivaler a um passatempo. Pelo contrário, elas são atividades voltadas à aprendizagem significativa. Portanto, possibilitam a interação do paciente com o objeto do conhecimento.

• O psicopedagogo pode contribuir com a formação de professores que trabalham na esfera hospitalar, esclarecendo a eles a necessidade de abordar inclusive os conteúdos presentes no currículo escolar.

• A atuação psicopedagógica leva necessariamente em conta a qualidade de vida pessoal e social do paciente.

Daltro e Ponde (2017) contribuem com essa lista com os seguintes aspectos:

• Pessoas que estão na condição de internadas/internas, carecem da ação conjunta de educador, estudantes e equipes de profissionais da saúde.

• Os psicopedagogos que atuam na rede hospitalar, precisam recordar que estão se propondo a atuar com pessoas que estão enfrentando mal-estar decorrente da saúde debilitada.

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• É preciso dispender atenção ao autoconceito, à autoestima das pessoas hospitalizadas, tendo por intuito promover a inclusão social delas.

Para aprofundar seus conhecimentos sobre essa área, sugerimos a leitura do artigo intitulado: Internato em psicologia: aprender-a-refletir-fazendo em contextos de prática do SUS. (DALTRO, PONDE, 2017, p. 169), basta acessar o link: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862017000200007.

DICAS

Antes de encerrarmos essa seção, deixamos aqui as palavras de (DALTRO, PONDE, 2017, p. 176): “Neste universo, aprender e ensinar realizam-se como uma unidade dialética processual e psicopedagógica que coloca em circulação a construção do conhecimento articulado à construção de identidades”. Note que independente da instituição em que o psicopedagogo irá trabalhar, seja uma empresa, um hospital, ou uma entidade educativa (com ou sem fins lucrativos), sua atuação irá incidir no processo identitário do sujeito aprendente.

Para obter maiores esclarecimentos sobre o fazer do psicopedagogo no ambiente hospitalar, sugerimos que você confira a leitura complementar dessa unidade, a qual foi intitulada: Um olhar psicopedagógico sobre o processo ensino-aprendizagem no contexto hospitalar, pelas autoras Smerdel e Murgo (2018).

ESTUDOS FUTUROS

4 INSTITUIÇÕES ASILARES, CASAS DE REPOUSO, LAR PARA IDOSOS, GRUPOS DE IDOSOS

A leitura do presente livro já deve ter conduzido você à noção de que a aprendizagem é um processo que não acontece apenas na infância, ou que se estende somente até juventude/adultez. A aprendizagem é um processo inerente ao ser humano, portanto, continua acontecendo, inclusive na velhice.

Portanto já existem pesquisas como a de Bortolanza; Krahl e Biasus (2005, p. 162) sobre a atuação psicopedagógica com grupos de idosos que:

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[...] apresenta uma reflexão sobre a ação psicopedagógica junto à velhice, a partir de experiências com grupos de idosos e de um diagnóstico sobre a estrutura e funcionamento dos mesmos. Este diagnóstico partiu de uma pesquisa exploratória, da qual participaram 17 coordenadores de grupos de idosos. Os resultados apontaram para alternativas de ações educativas mais adequadas. Nesse sentido, o presente artigo destaca o papel do psicopedagogo na mediação do processo permanente de aprendizagem do ser humano. Procura mostrar que a velhice é uma etapa para viver, conviver, apropriar-se de outras razões, reinvestindo, assim, em novas situações de ação e de aprendizagem. Para tanto, busca dimensionar a ação do psicopedagogo, articulado com profissionais de áreas afins, no sentido de aceitar, respeitar e legitimar a história do idoso, reconhecendo sua experiência, sua sabedoria e suas perspectivas existenciais, investindo na produção de conhecimentos e na ação gerontológica.

Para Bortolanza; Krahl e Biasus (2005), o declínio de certas capacidades e as mudanças nos aspectos biopsicossociais requer que o idoso aprenda maneiras de lidar com elas, para que ele se adapte, se ajuste às novidades trazidas pela velhice.

É bem verdade que nem sempre a velhice chega com a diminuição significativa de poder aquisitivo. Nem sempre ela vem associada de invalidez e da solidão. Ainda assim, em maior ou menor medida, o idoso precisa se adaptar com a perda da força, e/ou com o enfraquecimento do corpo. Muitos idosos mantêm disposição, vigor, vitalidade, saúde, porém, até mesmo parte deles refere que o corpo já não acompanha suas vontades e comandos com a mesma rapidez, e precisão do que outrora.

De qualquer modo, não são raros os idosos que passam a ter menor participação em atividades que antes faziam parte do seu cotidiano. Parte deles deixa a vida profissional de lado, outros, vão aos poucos abandonando os esportes que praticavam, diminuem a frequência nos encontros de amigos, nas viagens etc. “Isso implica num recuo de um mundo amplo e público, para um mundo restrito e privado, ou seja, marginalizado. A perda dos papéis sociais e da atividade produtiva cria uma série de conflitos no processo de envelhecimento saudável” (BORTOLANZA; KRAHL; BIASUS, 2005, p. 163). Nesse sentido, a atuação psicopedagógica pode ser voltada ao resgate da autoestima e com escutas psicopedagógicas.

Por outro lado, parte dos idosos se sente diante da oportunidade de aprender algo que sempre teve desejo, mas que as responsabilidades profissionais e com a família não permitiram até então. Assim, alguns idosos resolvem atualizar-se na sua área de atuação profissional, ou, passa a se dedicar a aprender algo novo. Em virtude disso, Bortolanza, Krahl e Biasus (2005, p. 169) sugerem que o psicopedagogo pode auxiliar os idosos em seu processo de formação continuada, propondo, portanto,

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[...] uma ação-reflexão e razão, sobre o saber-fazer psicopedagógico junto ao idoso, evidenciou-se a relevância da ação psicopedagógica na mediação entre o idoso e a construção e reconstrução do conhecimento. Além disso, o psicopedagogo tem papel importante na inclusão do idoso nos grupos de convivência, facilitando a interação do mesmo com o conhecimento e com seus pares, estendendo essas habilidades desenvolvidas no grupo para a convivência social ampla, contribuindo para a redefinição do papel do idoso na sociedade (BORTOLANZA; KRAHL; BIASUS, 2005, p. 169).

Então, o psicopedagogo pode auxiliar o idoso das seguintes formas:

• A aprender.• A aprender a aprender.• A reaprender.• Promovendo interações no grupo.• Conduzindo interações com o grupo.• Fazendo uso de oficinas psicopedagógicas.

Além de atuar diretamente com o idoso, o psicopedagogo pode levar as pessoas das mais variadas idades a refletirem sobre a velhice, já que, todos os humanos vão se encaminhando para ela (desde que a vida não seja interrompida precocemente), e, boa parte das pessoas convive com idosos. Assim, o psicopedagogo pode auxiliar as pessoas – a sociedade a aprenderem a conviver melhor com os idosos. Para tanto, ele pode propiciar a interação com a família.

Nesse sentido, Bortolanza, Krahl e Biasus (2005) sugerem que os psicopedagogos recomendem o debate e reflexão nos espaços educativos, ou mesmo em outras instituições, sobre assuntos da gerontologia. Incentivam que psicopedagogos façam pesquisas, propostas de extensão nas instituições de ensino superior, envolvendo os idosos. Ali (e em outros ambientes), o psicopedagogo pode ministrar palestras, dar entrevistas para os meios de comunicação de massa, ou dar orientações sobre as diferentes etapas da vida. O intuito é mostrar à sociedade que a velhice pode ser encarada como uma fase de oportunidades, que tem os seus pontos positivos.

Ademais, os psicopedagogos também podem participar da formação e da revisão, ou melhor dizendo, da reformulação de políticas de atenção voltadas aos idosos.

5 EPÍLOGO E REFLEXÕES

Antes de concluirmos a leitura do livro, que tal um momento reflexivo associado com uma experiência estética? O escritor timboense Wylliam Pessatti nos brinda e nos provoca com as seguintes palavras:

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AO CONHECER MINHA LUZ

Cego do nascer estelarA insignificância da velase apaga!O calafrio sob o suor;O tumulto no silêncio;O caos frente a calma,Vê que a chama azul da criança,lacrimeja o fogo inquietoque um dia iluminou um pai!Nunca é tarde para aprender,que a luz do fim da vela,É a mais forte da decida.

Quando a lâmpada acendeuAprende a enriquecera importância do inícioNão veria a coragem nessa luzsem a faísca a queimarpara acender a velaEsta que ensinou tantoPara hoje acabar de queimarA mesma luz velhaque deu primor no saberfoi a que tirou o sábio da cavernaDeu calma a grande fera;E mostrou que há mais trilhas...para percorrer.

Quando enfim amanheceuBastou abrir a janela.Para ter o vislumbre...e admirar a pureza da luzE ignorar a lâmpada,que gentil serviu.Por noites a fio.Não sou capaz de verMaior luz que a estrelaA eclodir aos olhos.Mas, ao sentir o poderde conhecer.O que descubro é uma trilhaSem hieróglifos;desenhos,ou códigos.

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A ideia que lacra o interiorMostra quem souAo poder me clarear,Destranco qualquer porta.

Wylliam Pessatti

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LEITURA COMPLEMENTAR

UM OLHAR PSICOPEDAGÓGICO SOBRE O PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM NO CONTEXTO HOSPITALAR

Karina Silva SmerdelCamélia Santina Murgo

RESUMO

A psicopedagogia pode proporcionar uma aprendizagem significativa em ambientes diferentes do escolar, e exige a atuação de um profissional que realize um trabalho favorável ao desenvolvimento psíquico e cognitivo. Desta forma, o artigo apresenta um relato sobre a atuação do psicopedagogo no contexto hospitalar enquanto membro da equipe multidisciplinar do hospital. A partir da reflexão teórica e prática foi analisado o atendimento psicopedagógico realizado na Pediatria de um hospital. Os encontros foram divididos em 10 sessões semanais de intervenções baseadas em atividades individuais e em leito hospitalar e 10 sessões semanais de intervenções grupais realizadas na brinquedoteca com atividades lúdicas. Assim, foi possível verificar a importância da intervenção psicopedagógica para o aprender e a qualidade de vida de crianças e adolescentes em idade escolar no processo de hospitalização.

Unitermos: Contexto Hospitalar. Aprendizagem. Intervenção Psicopedagógica. INTRODUÇÃO

A hospitalização infanto-juvenil tem sido tema de constantes interesses entre profissionais da saúde e da educação, ambos preocupados com os possíveis efeitos de uma internação perante aos processos de desenvolvimento e de aprendizagem da criança e do adolescente em idade escolar. Isso porque o ingresso no hospital, segundo Ceccim1, "impõe limites à socialização e às interações, impõe o afastamento da escola, dos amigos, da rua e da casa e impõe regras sobre corpo, a saúde, o tempo e os espaços". Uma experiência que pode gerar medo, dor e sofrimento.

A necessidade de responder à seguinte questão: "Por que não há um psicopedagogo dentro das Instituições hospitalares?" foi o ponto de partida para realização deste trabalho, com a meta de encontrar uma metodologia que auxiliasse o profissional de Psicopedagogia dentro de uma instituição hospitalar. Surgiu então a ideia de um trabalho prático com atuação do psicopedagogo, na Pediatria de um hospital.

O objetivo foi investigar como a presença do profissional da Psicopedagogia no ambiente hospitalar pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida das crianças e adolescentes hospitalizados e verificar como a sua atuação pode auxiliar no alívio do estresse dos pacientes em idade escolar, buscando contribuir para o processo de humanização das crianças, adolescentes e seus familiares.

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DISCUSSÃO TEÓRICA: O PERÍODO DE HOSPITALIZAÇÃO

Para muitas crianças e adolescentes, o hospital, principalmente para aqueles diagnosticados com afecções crônicas, passa a ser o principal contexto de convívio, de desenvolvimento e aprendizagem. As pessoas inseridas neste contexto, geralmente, são profissionais da saúde, os pacientes e seus familiares, com objetivos em comum a recuperação do paciente que passa por uma enfermidade. "Desta forma, a chegada ao hospital, determinada pela permanência de uma internação, é fator fundamental dentro do processo de humanização do atendimento"2.

Este é um ambiente que possui características muito diferentes do dia-a-dia, o cotidiano é alterado, passando a seguir uma rotina de acordo com o tratamento clínico, medicações, regras, alimentação, horário. Há um afastamento da atividade social, afetiva e cognitiva. O período de hospitalização é um momento de privação do cotidiano e das relações interpessoais do dia a dia. "Os adultos presentes no hospital são, muitas vezes, pessoas estranhas e encontram-se envolvidos em rotinas do tratamento, deixando de atender às necessidades psicológicas da criança"3.

Se a criança ou adolescente for diagnosticado com uma afecção mais branda, o tratamento será mais rápido, mas se for mais rígida, perdurará um tempo indeterminado. De qualquer forma, durante o período de internação, o paciente e sua família vão se habituando a todo esse novo ambiente e misturam suas expectativas, o paciente hospitalizado passa a vestir-se com um uniforme, alguns trazem objetos de casa. Muitos, por serem mais carentes, até acham o hospital um lugar muito bom, com comida várias vezes ao dia, cama, televisão, sala para brincar. Mas com o tempo a hospitalização passa a potencializar uma ansiedade, choro, perda de sono, medo, apego desesperado aos pais e estresse.

O processo da hospitalização tem um efeito traumático para muitos pacientes. Estes perdem seu individualismo quando começam a passar por procedimentos médicos dolorosos. Tais procedimentos e regras são adotados para garantir o tratamento correto, no entanto, a hospitalização traz um processo menos doloroso em outros aspectos. "No hospital é necessário o desenvolvimento de atividades e brincadeiras que as crianças enfermas possam participar, através do lúdico pode-se oferecer expectativa às crianças hospitalizadas"4.

A hospitalização retira da criança todas as suas fantasias, limita o seu desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e social, que está vinculado ao processo da aprendizagem escolar. Devido ao período de tratamento, a criança e o adolescente perdem o contato com os professores, os colegas de classe, os conteúdos escolares, gerando um desconforto ao retornar à escola e prejuízos curriculares. A aprendizagem está diretamente relacionada ao desenvolvimento psicológico e adaptações que o indivíduo tem a sua realidade. Durante a aprendizagem, a criança consegue explorar seu meio e intervir.

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Para Ceccim1, "a aprendizagem por meio das classes hospitalares possibilita uma alteração na vivência de hospitalização. Assim sendo, pode-se compreender que o processo de hospitalização poderá ser modificado através de uma aprendizagem significativa". A criança e o adolescente que necessitam de uma hospitalização também necessitam de atenção aos determinantes do desenvolvimento psíquico e cognitivo para dar continuidade aos estudos quando retornarem ao ambiente escolar.

Tais aspectos sobre a hospitalização levam à reflexão sobre esse ambiente diferente buscando a compreensão e as possíveis adaptações para que as crianças e adolescentes hospitalizados possam permanecer nele da melhor maneira possível. Desta forma, destacam-se duas modalidades de ensino para crianças e adolescentes que estão privados do convívio escolar por causa de enfermidade: a classe hospitalar e o atendimento educacional domiciliar.

CLASSE HOSPITALAR E ATENDIMENTO DOMICILIAR

O acesso à educação básica, de modo a promover o desenvolvimento e construção do conhecimento está presente na Lei nº 9.3945, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional, assim como a Lei nº 10.6856, de 30 de novembro de 2000, que dispõe sobre o acompanhamento educacional da criança e do adolescente internados para tratamento de saúde, elaborada pelo deputado Milton Flávio, que colaboraram para que o Ministério Público, por meio de sua Secretaria de Educação Especial elaborasse um documento que estruturasse ações para o atendimento educacional em ambientes que não fossem somente a escola, como instituições que viessem ofertar atendimento pedagógico em ambientes hospitalares e domicílio, estratégias e orientações para o pleno desenvolvimento da pessoa.

O direito à educação se expressa como direito à aprendizagem e à escolarização, segundo a Constituição Federal7, no art. 205: "a educação é direito de todos e dever do estado e da família, tendo em vista o pleno desenvolvimento da pessoa".

Com relação à pessoa hospitalizada, o tratamento de saúde implica mudar rotinas, separar-se de familiares, amigos, sujeitar-se a procedimentos dolorosos. "[...] É preciso reorganizar a assistência hospitalar para assegurar o cuidado, o acesso ao lazer, ao convívio, às informações sobre o processo de adoecimentos, cuidados terapêuticos e ao exercício intelectual [...]"8.

Ao profissional da classe hospitalar e do atendimento domiciliar cabe elaborar estratégias para possibilitar o acompanhamento pedagógico àqueles que, impossibilitados de irem à escola, recebam orientações e acompanhamento de um currículo adaptado que favoreça o retorno ou integração ao seu grupo escolar. A Resolução 41, dos Direitos da Criança e do Adolescente Hospitalizados em seu item 99 "dispõe sobre o Direito de desfrutar de alguma forma de recreação, programas de educação para saúde, acompanhamento do currículo escolar, durante a permanência hospitalar".

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O atendimento à classe hospitalar está vinculado aos sistemas de educação como uma unidade de trabalho pedagógico e compete à Secretaria de Educação atender à solicitação dos hospitais para o serviço.

[...] O ambiente da classe é projetado para favorecer o desenvolvimento, respeitando a capacidade e necessidade educacional do indivíduo através de recursos que auxilie a criança a construir um percurso cognitivo, emocional e social para manter uma ligação com a vida familiar e social e a realidade no hospital [...]10

A sala da classe hospitalar não segue necessariamente uma regra, podendo ser "[...] adaptada de acordo com a disponibilidade da instituição, ter no mínimo mobiliário adequado, bancada, pia, instalações sanitárias, espaço ao ar livre para atividades físicas e ludo-pedagógicas, Recursos audiovisuais e computadores". [...]8.

O professor deve estar capacitado para trabalhar com a diversidade e ter disponibilidade para o trabalho em equipe e contar com um profissional de apoio, podendo este ser do pessoal do serviço da saúde ou da educação, ser também do nível de escolaridade médio ou estudantes universitários, cuja função será auxiliar o professor na organização do espaço e controle dos educandos.

O atendimento domiciliar deve ser realizado na residência do educando e no ambiente de ensino quando este retornar. Enquanto estiver no domicílio do educando, deve sempre entrar em contato com a escola na qual este é matriculado.

O profissional do atendimento domiciliar e da classe hospitalar faz uso de recursos que são instrumentos de apoio didático-pedagógico e adaptações do currículo, e deve possibilitar a igualdade de condições para o acesso ao conhecimento e a permanência na escola. Deverá ter formação pedagógica em Educação Especial ou em cursos de Pedagogia ou licenciaturas.

A criança que necessita de uma internação hospitalar necessita também de atenção. Segundo Ceccim1, "o acompanhamento pedagógico e escolar da criança hospitalizada favorece a construção subjetiva de uma estabilidade de vida". Pode-se verificar que a característica da internação começa a ser pensada não somente como um período da construção de medos e sentimento de abandono para uma criança, mas em um período em que ela possa ter uma qualidade de vida e proteção integralmente. O Estatuto da Criança e do Adolescente11 assegura em seu art. 3º "a criança e o adolescente todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social de liberdade e de dignidade".

Buscar um direcionamento de que a aprendizagem transforma o indivíduo, entende-se que disponibilizar um momento para o aprender da criança ou adolescente hospitalizado propiciará uma retomada de sua individualidade em que ela passará a ser agente de sua própria realidade, explorar seu meio e intervir.

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Na impossibilidade de frequência à escola durante o período de tratamento de saúde ou de assistência psicossocial, "as pessoas necessitam de formas alternativas de organização e oferta de ensino com os direitos à educação e à saúde, tal como definidos na lei e demandados pelo Direito à vida em sociedade"8.

Esta adequação ao sistema de internação contribui para a humanização que deve ser entendida em saúde como uma valorização do respeito à vida e das condições humanas, considerando os aspectos individuais e particulares de cada pessoa, como história de vida, medo, crenças, sonhos.

ATUAÇÃO DO PSICOPEDAGOGO EM EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

HOSPITALAR

A Psicopedagogia não pertence unicamente à área clínica, pois ela também abrange áreas institucionais como a organizacional, social e educacional, utilizando-se de recursos técnicos, metodológicos e teóricos de diversos saberes.

[...] A Psicopedagogia nasceu como ocupação empírica pela necessidade de atender as crianças com dificuldades na aprendizagem, cujas causas eram estudadas pela Medicina e Psicologia. Com o decorrer do tempo, o que inicialmente foi uma ação subsidiária dessas disciplinas perfilou-se com um conhecimento independente e complementar, possuidor de um objeto de estudo (o processo aprendizagem) e de recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios [...]12.

A Psicopedagogia no contexto hospitalar, assim como os profissionais da saúde, busca comprometer-se com questões ligadas à qualidade de vida. O profissional de Psicopedagogia está integrado enquanto parte de apoio na equipe multidisciplinar hospitalar. A equipe multidisciplinar tem sua formação centrada nas necessidades da pessoa, portanto, ela não é pré-organizada. A demanda do tipo de afecção é que fará com que os profissionais da saúde se integrem, com o propósito de satisfazer às necessidades globais da pessoa, proporcionando seu bem-estar.

Considera-se que a equipe multidisciplinar que atua diretamente com o paciente hospitalizado em idade escolar é formada por: médicos, enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais, psicopedagogos, pedagogos e fisioterapeutas.

[...] O trabalho em equipe não significa, portanto, a somação de indivíduos organizados para uma tarefa comum, mas a integração de cada elemento que a compõe, atendendo às peculiaridades grupais, é uma reunião de técnicos em várias especialidades profissionais, desempenhando funções harmônicas [...]13

A Psicopedagogia ainda é uma ciência nova e que está em plena construção, ela surge para atender uma demanda específica, para auxiliar a intervenção e prevenção dos problemas de aprendizagem.

O psicopedagogo auxilia o educador da classe hospitalar a refletir sobre o seu papel em uma classe hospitalar, utiliza técnicas e atividades como reuniões e discussões para conseguir a ressignificação do educador em relação ao aprender.

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Destaca a realização de um trabalho instrumentalizando estes profissionais para lidar com pessoas hospitalizadas. O psicopedagogo tem a sensibilidade de perceber a realidade de escutar, olhar e possibilitar um falar, que contribui para atuação desse educador.

No contexto hospitalar, considerando o caráter preventivo, o psicopedagogo atua realizando uma investigação, avaliando os processos didáticos e metodológicos aplicados, analisa toda a dinâmica existente dos profissionais da instituição para propiciar a intervenção adequada e uma reestruturação do ambiente.

Além do aspecto de apoio aos educadores, o psicopedagogo também poderá compreender como se dá a aprendizagem das crianças e adolescentes da instituição analisada. Nesse contexto não deixa de ser um clínico, que realiza diagnóstico e tratamentos, com instrumentos e técnicas usadas na psicopedagogia clínica.

Mesmos os tratamentos para afecções que não exigem internações prolongadas deixam as crianças e adolescentes inseguros, assustados ou agressivos. O psicopedagogo auxilia na acomodação à nova situação, oportunizando-os a se expressarem projetando todo o sentimento do momento. Também atua de maneira lúdica, ajudando a criança e o adolescente hospitalizado a explorar suas potencialidades e criando situações nas quais fiquem motivados, juntando-os e dando-lhes oportunidades de trocarem experiências, ajudarem-se mutuamente.

"Brincando, a criança entra em contato com o ambiente, relaciona-se com o outro, desenvolve o físico, a mente, a autoestima, a afetividade, torna-se ativa e curiosa"14.

Ao psicopedagogo, sendo parte de apoio da equipe multidisciplinar da instituição, também cabe desenvolver um programa de apoio de atendimento integrado à família e à saúde dos pacientes. A resolução 41, dos Direitos da Criança e Adolescentes hospitalizados, em seu item 8 assegura que todos tenham condições de adquirir conhecimentos sobre si, autocuidado aprendendo sobre como ajudar-se, o porquê aceitar e fazer uso das medicações.

"Direito a ter conhecimento adequado de sua enfermidade, dos cuidados terapêuticos e diagnósticos a serem utilizados, do prognóstico, respeitando sua fase cognitiva, além de receber amparo psicológico, quando se fizer necessário"9.

O psicopedagogo é responsável pelas estratégias para a abordagem do paciente e seus familiares, sobre o esclarecimento da afecção, orientação ao tratamento e produção de material educativo. Atua com o desenvolvimento integral e com a manutenção da aprendizagem. Isso dará a reinserção na vida escolar do paciente hospitalizado, após todo o tratamento.

A Psicopedagogia Institucional renova a forma de atuar dentro das instituições nas quais possa ocorrer a aprendizagem, como no caso de um hospital, levando em conta a relação existente entre instituição e o aprender. O psicopedagogo contribui para uma adequação das interações existentes entre a equipe multidisciplinar e os pacientes.

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DESCRIÇÃO DAS AÇÕES DO PSICOPEDAGOGO NO HOSPITAL

O desenvolvimento das ações do psicopedagogo em ambiente hospitalar iniciou-se a partir da leitura e discussão de textos nas disciplinas do curso de Especialização em Psicopedagogia Clínica e Institucional. A partir das discussões foi verificada a necessidade de compreender como é desenvolvida a atuação do psicopedagogo em um hospital público no município de Presidente Prudente, SP.

O estágio supervisionado também contribuiu para o levantamento e análise de dados e informações para a elaboração deste artigo. Foi realizado um levantamento de referencial teórico e bibliográfico que auxiliasse na compreensão do tema, além de oferecer perspectivas para o desenvolvimento da psicopedagogia hospitalar.

Para compreender a atuação do psicopedagogo e sua importância no desenvolvimento social e cognitivo de crianças e adolescentes privados do convívio escolar por motivo de enfermidade, iniciou-se uma pesquisa de campo. O trabalho foi realizado na Pediatria de um hospital com a participação do psicopedagogo em atendimentos psicopedagógicos.

A intervenção foi dividida em 10 encontros com duração de 4 horas cada um, sendo que, para atividades individuais e em leito hospitalar, estima-se intervenções semanais com duração de 50 minutos e para atividades grupais intervenções semanais com duração de 1h30min.. Os grupos eram compostos por aproximadamente cinco participantes. Foram atendidos 15 pacientes em idade escolar, 8 crianças e 7 adolescentes.

As orientações supervisionadas aconteceram de 15 em 15 dias até o término das mesmas. O atendimento psicopedagógico com crianças hospitalizadas oportuniza o desenvolvimento de habilidades básicas que favorecem a aprendizagem escolar. O apoio psicopedagógico igualmente proporciona um espaço de escuta dialógica promovendo a ação do sujeito perante o meio, durante o período de internação. Constatada a enfermidade e a hospitalização, a criança/ou adolescente começa a construir sua subjetividade, sua característica de aprendizagem e sua competência intelectual.

Diante desses fatores foram desenvolvidas atividades que favoreceram: autoestima, autoconceito, habilidades sociais, criatividade, coordenação motora fina, memória, percepção auditiva, raciocínio e atenção. As técnicas psicopedagógicas utilizadas foram: Baralho das Emoções, teatro de fantoches, dedoches, fotografias, colagem, pintura, Coração Cheio, Bonecos de EVA com expressões faciais, Balança dos Sentimentos, Construção e Contação de Histórias no livro gigante e no flanelógrafo, Vira-vira das Emoções, Termômetro das Emoções, Relógio das Emoções, Mãozinha amiga, Dado das emoções, Não Vale o pato e Jogo do Equilíbrio.

Todas essas técnicas tiveram o objetivo de promover momentos de reflexão acerca da necessidade de conviver harmoniosamente em grupo, desenvolver relações saudáveis e produtivas que, consequentemente, refletirão no contexto familiar, educacional e social.

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No primeiro encontro foi feita uma visita ao ambiente, dinâmica de apresentação de boas-vindas com fantoches. O objetivo foi estimular e criar vínculo afetivo para a realização das intervenções. A dinâmica de boas-vindas foi realizada em passagem pelos leitos dos pacientes, conversando com as crianças e adolescentes, apresentando o material a ser utilizado. Também foram realizadas brincadeiras em grupos com os fantoches em que as crianças encenaram suas histórias. O objetivo foi proporcionar um espaço dialógico entre pacientes, psicopedagogo e grupos.

No segundo encontro houve uma sensibilização para o tema o bem-estar e a hospitalização, dramatização da história Nuvenzinha Triste, com dedoches. Em seguida, as crianças e adolescentes encenaram suas histórias. Em outro momento foi apresentado ao grupo o jogo Balança de números representando os sentimentos, em que fizeram a somatória e a divisão de suas emoções. O objetivo foi desenvolver a habilidade da expressão oral e raciocínio matemático. Transmitir a informação e receber com objetividade. Após as atividades, foi feita uma roda de conversa para reflexão sobre medos, desafios e vitórias.

No terceiro encontro foi apresentada a história da casa sonolenta, no flanelógrafo, onde todos viviam dormindo e os participantes atuaram como contadores de histórias. Após a história, foram dadas imagens de carinhas com expressões como: medo, susto, raiva, triste, tímido, alegre. Essas carinhas foram fixadas no flanelógrafo por um velcro, formando assim um jogo da memória dos sentimentos.

Os participantes viraram as carinhas até formarem o par, formando o par de um sentimento eles descreveram: Como foi sentir aquele sentimento? Por que sentiram? Como agiram? Os participantes também puderam usar os bonecos de EVA trocando suas a expressões faciais.

Após toda a reflexão, foi introduzida a técnica do coração cheio, com coração de EVA, figuras de carinhas expressando sentimentos e palavras. Os participantes preencheram os corações de acordo com o que estavam sentindo, finalizando com uma discussão: Com o que seu coração está cheio? O objetivo foi desenvolver o pensamento e raciocínio, trazer a consciência da criança e adolescente aos sentimentos, ajudá-los a reconhecer o que eles estão sentindo, aprender nomear sentimentos, coordenação motora fina, organização e limpeza.

No quarto encontro foi contada a história Happiness, de Amadeu Marques (adaptada para o português), no flanelógrafo e aberta uma discussão para a Felicidade apresentada no livro e o que buscamos para ter felicidade. Após, a história em uma placa de flanelógrafo foi colocado o termômetro das emoções feito a partir de três carinhas expressando os sentimentos como: feliz, triste e raiva, em seguida foi dado plaquinhas de EVA de cores diferentes aos participantes, para que eles colocassem em cima do sentimento que fossem despertados conforme as palavras dadas. Exemplo: casa, família, hospital, escola, etc.

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UNIDADE 3 | ATUAÇÃO EM PSICOPEDAGOGIA

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Após o término, foi feita uma reflexão com os participantes sobre o sentimento em relação às palavras em que o termômetro apresentou maior indicativo. Feita a discussão foi dado um livro gigante para ilustração sobre: O que é a felicidade? O objetivo foi proporcionar um posicionamento sobre a felicidade, situar o grau de intensidade de uma emoção e trabalhar a coordenação motora fina.

No quinto encontro foi contada a história Aladim e a Lâmpada mágica com dedoches, em seguida foram distribuídas folhas de sulfite aos participantes, juntamente com uma Lâmpada Mágica em EVA, a figura de um gênio da lâmpada e carinhas expressando os sentimentos de felicidade, raiva, tristeza, surpresa. Os participantes decoraram a lâmpada e em seguida colaram-na no sulfite. Após o término da colagem foi feita uma questão: O que pedirá ao gênio?

Os participantes responderam à questão e colaram carinhas de expressões faciais para as seguintes indagações: Se o seu pedido for aceito? Se o seu pedido não for aceito? Se tiver que dar seu pedido a alguém, a quem dará? Se alguém pegar seu pedido sem pedir, como você ficará? Ao término da atividade, foram discutidas questões como: qual a necessidade desse pedido? Realmente ele é importante? É preciso ter tudo o que queremos? Qual a alternativa para sermos felizes quando não temos o que desejamos? Como os pedidos poderão se tornar realidade? O objetivo foi aprender a lidar com a adversidade, ter autocontrole perante a aceitação e a não aceitação das adversidades apresentadas no dia-a-dia, principalmente no contexto hospitalar.

No sexto encontro foi feita a contação de história da Árvore Triste, em seguida aberta uma discussão sobre o comportamento da árvore e o que e como poderíamos identificá-lo perante às tristezas e adversidades que as pessoas passam no decorrer dos dias. Após a dinâmica, foi apresentado um relógio grande de brinquedo onde no lugar dos números foram colocadas carinhas expressando sentimentos, como: raiva, medo, alegria, tristeza, susto, dor, nojo.

Cada participante ajustou seus ponteiros de acordo com o que estavam sentindo no momento e o que havia sentido naquele dia. As carinhas proporcionaram um feedback para o participante sobre ele mesmo, possibilitando entrar em contato com suas próprias emoções e estabelecer distinções mais sutis entre elas. Ajustados os ponteiros, os participantes falaram e se expressaram por meio de relatos/desenhos e também usaram os bonecos de EVA com expressões faciais. O objetivo foi desenvolver habilidades de auto-observação dos sentimentos, pensamentos e ajuda para uma progressiva educação emocional trabalhando com as habilidades sociais de entender a espera, ansiedade, comportamento adequado para o contexto, restrições alimentares, dor e a percepção do tempo matemático.

No sétimo encontro os participantes receberam uma mãozinha em EVA onde eles escreveram no dedo mínimo "como ele se vê"; após a escrita do dedo mínimo, no dedo médio escreveram "algo que não gostavam neles", no dedo indicador escreveram "algo que não tinham e que achavam importante ter", no dedo polegar escreveram "o que consideraram boa ação feita por eles", todos ou

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quase todos os dias. O dedo anelar foi feito em grupo, as crianças e adolescentes trocaram as mãozinhas e o amigo ao lado escreveu "como ele via o amigo"; após completar o dedo anelar, a mãozinha voltou ao seu dono foi feita uma discussão. Os participantes refletiram sobre como eles se veem diante de diversas situações e como ele é visto perante o grupo. O objetivo foi trabalhar o autoconceito para garantir a autoestima e trabalhar a coordenação motora fina.

No oitavo encontro foi entregue um dado gigante, que possuía em seus lados figuras com expressões faciais indicando um tipo de sentimento, o lado que permanecia em evidência após ser jogado era o sentimento que o participante deveria dizer ou representar através dos bonecos em EVA um momento semelhante da vida por qual tinham passado e ao mesmo tempo foi feita uma reflexão sobre os relatos. As crianças e adolescentes que tinham participado da atividade no outro momento expressaram-se através de pinturas o seu dia.

O objetivo foi proporcionar um diálogo referente à permanência da hospitalização e as atividades que eles tinham em seu dia-a-dia fora do hospital. Surgiram inquietações, angústias e momentos felizes e também trabalhar a cognição com as habilidades da pintura na coordenação motora fina, criatividade e o reconhecimento de cores.

No nono encontro foi lida a história do Patinho Feio e realizada uma discussão sobre o quem seriam os patinhos feios do dia-a-dia deles e como eles se tornariam cisnes. Em seguida, com uma adaptação do jogo "Esconde o Pato" para "não vale o Pato" em uma bandeja imitando um ninho foram colocados ovinhos de plásticos e dentro de alguns deles havia figuras de pato, outros tinham carinhas expressando sentimentos como susto, nojo, raiva, alegria, timidez, tristeza, dor e em outros ovos bolinhas apenas para fazer barulho.

Os participantes pegaram os ovos e abriam. Aquele que pegou o pato não marcou ponto, aquele que pegou a carinha marcou um ponto e teve que dizer numa frase uma situação representando aquele sentimento expresso na carinha. Quem pegou o ovo com as bolinhas não marcou ponto. Ganhou ao final quem fez mais pontos. Ao término do jogo, foi feita uma reflexão com os participantes sobre os desafios de lidar com os sentimentos destacados no jogo e quais estratégias usaram para as escolhas dos ovos. O objetivo foi estimular a criança e o adolescente a sintetizar o sentimento vivido por ele no dia a dia, adquirir orientação e organização de estratégias, trabalhar a memória e a percepção auditiva.

No décimo encontro foi feita uma retrospectiva das atividades elaboradas pelas crianças e adolescentes e a preparação para o encerramento dos encontros. Foi apresentado o jogo do Equilíbrio, um tabuleiro com uma trilha; o desafio era passar pela trilha e chegar até o final. A trilha tinha carinhas expressando sentimentos positivos: feliz, alegre, vibrante, destacando as atitudes (estudou, brincou, comeu verduras, superou um medo) ganhando assim casas à frente e carinhas expressando sentimentos negativos: raiva, tristeza, decepção, destacando as atitudes (brigou, comeu muito doce, assistiu TV e não estudou) perdendo assim

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casas e voltando para trás. Ao término do jogo, foi feita uma roda de conversa destacando os valores dos sentimentos positivos e negativos e como equilibrar esses sentimentos. O objetivo era relacionar os sentimentos ao convívio social, discutir regras e valores, trabalhar o raciocínio matemático.

Participar do processo de aprendizagem de uma criança em situação de vulnerabilidade emocional e verificar a importância das atividades lúdicas de aprendizagem, da interação social, comprova a necessidade de uma intervenção psicopedagógica no ambiente hospitalar, a intervenção auxilia o desenvolvimento e ampliação da perspectiva dessa criança/adolescente que passa a ser estimulada para continuar os estudos depois da alta hospitalar. A hospitalização passa a ser um estado momentâneo. Para Siaulys14, "a criança que não pode ver as outras brincando, que não sabe brincar junto e não entende as brincadeiras tende a permanecer isolada em seu canto, podendo ficar marginalizada e ter prejudicado o seu desenvolvimento".

Algumas instituições são responsáveis por oportunizar atividades educacionais relacionadas à brincadeira e aprendizagem, porém, muitas vezes, a criança/adolescente em idade escolar se depara com situações que restringem sua privacidade, sendo estas uma enfermidade, em que precisa ser hospitalizada.

Há um grande impacto quando a hospitalização atravessa a zona de desenvolvimento da criança/adolescente, minimizando as oportunidades de aprendizagem e de lazer, privando assim o convívio familiar e os colegas de turma. Os indivíduos hospitalizados passam a conviver com pessoas entranhas ao seu meio e alteram sua rotina devido ao tipo de tratamento, podendo ser influenciados amplamente por aspectos positivos ou negativos.

Para Vitorino et al.3, "a promoção do desenvolvimento sadio e pleno da criança requer necessariamente que se garantam condições adequadas, possibilitando oportunidades de brincar e de aprender". Esses dois aspectos são amplamente discutidos também por Vygotsky et al.15 tratando da contínua interação humana entre as condições sociais e a base biológica do comportamento humano.

O psicopedagogo, enquanto parte de apoio na equipe multidisciplinar no contexto hospitalar, atua com intervenções de jogos de ludicidade, integração ao meio escolar, habilidades sociais, criatividade e qualidade de vida a fim de favorecer a humanização os processos cognitivos, afetivos, autoestima, autoconceito e relações interpessoais.

CONCLUSÃO

O período de hospitalização é um momento delicado para o paciente em idade escolar, que passa por uma série de emoções e estresse causados pela sua enfermidade. Para contribuir positivamente nesse momento de incertezas, o desenvolvimento de atividades educacionais de aprendizagem oferece novas perspectivas a esse paciente.

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Saber que o hospital possui uma classe hospitalar e que o paciente/aluno está dando continuidade ao processo de aprendizagem de educação o auxilia perceber que o período de hospitalização é um estado momentâneo e que, em breve, poderá retornar para casa, para a escola e para o convívio social.

Por se tratar de um momento de vulnerabilidade emocional e privação do convívio escolar, a atuação do psicopedagogo é fundamental para que o paciente/aluno continue desenvolvendo competências e habilidades respeitando as particularidades de sua enfermidade. Esse profissional, enquanto parte da equipe multidisciplinar do hospital, deve estar preparado para desenvolver atividades que auxiliem a aprendizagem sem prejudicar o tratamento médico.

As atividades desenvolvidas pelo psicopedagogo não são aleatórias e a aprendizagem na classe hospitalar é garantida por uma série de documentos legais que buscam proporcionar uma aprendizagem significativa para crianças e adolescentes que não podem frequentar a escola devido à internação.

O psicopedagogo, neste processo, é o mediador entre o educador da classe hospitalar e o aluno/paciente. Sua atuação envolve o desenvolvimento psicopedagógico do aluno/paciente, auxiliando na sua aprendizagem e também na sua recuperação, utilizando diferentes estratégias como brincadeiras, jogos, música, teatro e a oralidade, entre outros. É um trabalho diferente do educador no ambiente formal de ensino, porém com objetivos em comum: desenvolver as habilidades psíquicas, sociais, afetivas, motoras e cognitivas da criança ou do adolescente que se encontra em um ambiente adverso a sua rotina.

Vale ressaltar que as atividades desenvolvidas durante o estágio apresentadas neste artigo servem para demonstrar a atuação do psicopedagogo enquanto membro da equipe multidisciplinar no ambiente hospitalar. A intencionalidade das atividades de cunho educacional visa desenvolver o aspecto cognitivo e as potencialidades das crianças e adolescentes em idade escolar que se encontram hospitalizadas.

FONTE: SMERDEL, K. S.; MURGO, C. S. Um olhar psicopedagógico sobre o processo ensino-aprendizagem no contexto hospitalar. Revista psicopedagogia, São Paulo, v. 35, n. 108, p. 329-339, dez.  2018. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84862018000300008&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 10 mar. 2020.

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CHAMADA

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RESUMO DO TÓPICO 3

Nesse tópico, você aprendeu que:

• O psicopedagogo pode atuar em diversos ambientes, além da clínica e da instituição educacional.

• A atuação do psicopedagogo pode se dar em empresas com fins lucrativos ou sem fins lucrativos.

• Existem diferentes métodos e abordagens para a prática do psicopedagogo.

• O processo de aprendizagem deixou de ser o alvo exclusivo da esfera educativa e passou a ser uma preocupação das empresas, sobretudo, das mais competitivas.

• Uma das estratégias competitivas das empresas, nos dias atuais é o aprendizado constante.

• Considerando que as empresas têm priorizado contribuir com a aprendizagem dos trabalhadores no ambiente profissional, elas têm requisitado a ajuda do psicopedagogo.

• O psicopedagogo que atua em instituições visa colaborar nos processos de aprendizagem humana, individual ou coletiva.

• O psicopedagogo tem auxiliado a desenvolver as capacitações dos profissionais.

• A atuação em psicopedagogia tem acontecido em espaços empresariais, hospitalares e com grupos de idosos.

• Além de promover a aprendizagem dos conteúdos escolarizados, o psicopedagogo que atua na área hospitalar, precisa auxiliar no processo de aprendizagem das novas condições impostas pelo estado de saúde do paciente internado.

• A atuação psicopedagógica com idosos é voltada aos fins educacionais e assistenciais.

• Existem numerosas possibilidades e perspectivas para o trabalho do psicopedagogo.

• Seja na psicopedagogia clínica, ou na institucional, o enfoque do psicopedagogo é sempre promover a aprendizagem.

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AUTOATIVIDADE

1 Além dos consultórios, clínicas e escolas, em que locais o profissional da psicopedagogia institucional pode atuar?

2 O psicopedagogo que vai atuar no contexto empresarial/organizacional precisa desenvolver algumas competências e habilidades em si mesmo. Cite três delas.

3 Sobre a atuação psicopedagógica em hospitais e empresas, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para a falsas:

( ) O psicopedagogo que trabalha em hospitais trabalha exclusivamente na promoção da saúde.

( ) O psicopedagogo que atua em empresas desenvolve ações com os funcionários que são restritas à aprendizagem de conteúdos específicos ao cargo ocupado por eles.

( ) Já que o psicopedagogo tem por enfoque a promoção da aprendizagem, ele atende somente crianças.

Agora, assinale a alternativa CORRETA:a) ( ) F – F – F.b) ( ) V – V – V. c) ( ) F – V – F.d) ( ) V – F – V.

4 Justifique por que você assinalou V ou F para as sentenças da questão anterior.

5 Por que os psicopedagogos têm sido chamados para integrar os ambientes corporativos nas empresas com fins lucrativos?

6 Tendo em vista que os psicopedagogos têm trabalhado com o intuito de auxiliar nos

[...]movimentos e ações implementadas pelas empresas na tentativa de construir e manter sua identidade, ao mesmo tempo em que se abrem para os desafios que as ameaçam. Ou seja, a demanda é de abertura para a construção de um conhecimento novo, não fragmentado, não exclusivo, não sectário, na visão de uma psicopedagogia nas organizações (PACHECO; CASTANHO, 2008, p. 223).

Agora, assinale a alternativa que mostra o que os psicopedagogos têm feito nas empresas:

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a) ( ) Promovendo reflexões psicopedagógicas sobre as múltiplas interações e condições em que se inscrevem os processos de construção de conhecimento e de aprendizagem pelos indivíduos e grupos nos espaços organizacionais.

b) ( ) Estão vinculados aos setores de marketing, e têm se dedicado a ajudar os publicitários no desenvolvimento de propagandas que além de representar os produtos e/ou serviços que oferecem, sejam promotoras de conhecimentos entre os telespectadores.

c) ( ) Estão alocados nos setores de custos, a fim de levantar índices de cotação do dólar, e de análises de mercado, para tornar as empresas mais rentáveis e econômicas.

d) ( ) Eles fazem pesquisas com os consumidores dos serviços e produtos disponibilizados pela empresa, a fim de verificar quais são as novas necessidades do mercado. Portanto, atuam nos setores de pesquisa e desenvolvimento das organizações.

7 A oferta da educação nas classes hospitalares tem sido gradativamente ampliada, como demonstrado no histórico realizado no início. Reconhecido como um direito da criança e do adolescente internados, simultaneamente ampliando o conceito de aprendizagem e possibilitando que esta ocorra no ambiente hospitalar, o governo estadual, por meio das Secretarias Estaduais de Educação, tem canalizado esforços para tornar a prática cada vez mais reconhecida. No entanto, a formação do profissional que atua nesse contexto, o professor, parece não ter evoluído paralelamente ao crescimento do número de classes hospitalares (Noffs; Rachman, 2007, p. 116).

Diante do evidenciado, classifique V para as setenças verdadeiras e F para as falsas:

a) ( ) A lacuna existente entre a formação inicial das professoras de classe hospitalar e a demanda apresentada no seu dia a dia, não interfere na atuação do psicopedagogo, já que ele se concentra exclusivamente no atendimento ao paciente e não na formação docente.

b) ( ) A lacuna que existe entre a formação inicial e as necessidades com que as professoras deparam na rotina da classe hospitalar, propicia possibilidades de que o psicopedagogo atue com vistas à área hospitalar.

c) ( ) O psicopedagogo pode oferecer uma formação específica aos professores que trabalham nos hospitais contribuindo para uma construção que articule conhecimento e formação pessoal, dando maior ênfase ao último elemento.

d) ( ) Assim como a formação inicial, a formação continuada também poderia ser desempenhada pelo psicopedagogo no contexto hospitalar.

Agora, assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:a) ( ) F – V – V – V.b) ( ) V – F – F – F.c) ( ) F – V – F – V.d) ( ) V – F – V – F.

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