teorias e prÁticas da psicopedagogia institucional.pdf

Upload: miriam-silva

Post on 08-Feb-2018

225 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    1/143

    PS-GRADUAO(LATOSENSU)

    TEORIAS E PRTICAS DAPSICOPEDAGOGIAINSTITUCIONAL

    NCLEO DE SABERES ESPECFICOSGUIA DE ESTUDO - 01

    MDULO II

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    2/143

    2

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    SUMRIO

    PERCURSO DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E SEUS FUNDAMENTOS .......................... 3

    A PSICOPEDAGOGIA E A ANLISE DA PRTICA EDUCATIVA .................................................... 17

    SABER E PODER .......................................................................................................................................... 54

    PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL .................................................................................................... 69

    A ATUAO DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIO .................................................................... 74

    O ASSESSORAMENTO PSICOPEDAGGICO ....................................................................................... 81

    INTERVENES PSICOPEDAGGICAS ..............................................................................................102

    INTERVENO PSICOPEDAGGICA: COMO E O QUE PLANEJAR? ..........................................121REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................................137

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    3/143

    3

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    PERCURSO DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E

    SEUS FUNDAMENTOS

    A psicologia na instituio escolar

    A psicopedagogia surgiu como uma necessidade de compreender os

    problemas de aprendizagem, refletindo sobre as questes relacionadas ao

    desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo, implcitas nas situaes de

    aprendizagem.

    A reflexo psicopedaggica ampliou as abordagens e atuaes sobre

    diagnstico e interferncias na aprendizagem luz do desenvolvimento da

    criana, contando principalmente com as contribuies oferecidas pela

    epistemologia gentica e psicologia do desenvolvimento afetivo.

    Atualmente as construes psicopedaggicas extrapolam as questes

    relacionadas apenas aos problemas e suas pesquisa, e se dirigem para duas

    vertentes: a psicopedagogia curativa ou teraputica e a psicopedagogiapreventiva. A primeira tem como objetivo reintegrar ao processo de construo de

    conhecimento uma criana ou jovem que apresentam problemas de

    aprendizagem. A segunda tem como meta refletir e desenvolver projetos

    pedaggico-educacionais, enriquecendo os procedimentos na educao

    sistemtica e assistemtica.

    A psicopedagogia curativa tem se desenvolvido nos consultrios onde o

    trabalho tem uma conotao clnica, geralmente individual. Mas estas prticas tm

    sido reformuladas para o trabalho em grupo, no contexto institucional como

    escolas, creches, centros de reabilitao e hospitais.

    Considerando o trabalho na instituio escolar, identificamos duas

    naturezas de trabalhos psicopedaggicos: o primeiro diz respeito a uma

    psicopedagogia curativa voltada para grupos de alunos que apresentam dificulda-

    des na escola. Esta uma interferncia que d um novo sentido recuperao. O

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    4/143

    4

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    seu objetivo reintegrar e readaptar o aluno situao de sala de aula,

    possibilitando o respeito s suas necessidades e ritmos. Esta orientao temcomo meta desenvolver as funes cognitivas integradas ao afetivo,

    desbloqueando e canalizando o aluno gradualmente para a aprendizagem dos

    conceitos, conforme os objetivos da aprendizagem formal. Acompanhando de

    perto e supervisionando estes trabalhos temos observado que seus resultados

    tm sido muito satisfatrios, responsabilizando mais a instituio diante da pro-

    blemtica da aprendizagem escolar e instrumentalizando a equipe docente. O

    processo desenvolvido dentro da instituio escolar possibilita uma leitura mais

    prxima da realidade escolar da criana, identificando melhor os mecanismos

    presentes no aprender com o outro e desenvolvendo dinmicas mais prximas da

    situao de sala de aula. Porm sabemos que h limites para este tipo de

    atendimento e que nem todos os casos se adequam a ele.

    O segundo tipo de trabalho refere-se assessoria junto a pedagogos,

    orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questes pertinentes

    as relaes vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos pedaggicos,

    integrando o afetivo e cognitivo, atravs da aprendizagem dos conceitos, nasdiferentes reas do conhecimento.

    Concentrando a nossa ateno nos trabalhos em nvel preventivo para o

    aperfeioamento das construes pedaggicas, podemos destacar diferentes

    formas de interveno da psicopedagogia:

    - Releitura e reelaborao no desenvolvimento das programaes

    curriculares, centrando a ateno na articulao dos aspectos afetivo-cognitivos, conforme o desenvolvimento integrado da criana e

    adolescente.

    - Anlise mais detalhada dos conceitos, desenvolvendo atividades que

    ampliem as diferentes formas de trabalhar o contedo programtico.

    Nesse processo busca-se uma integrao dos interesses, raciocnio e

    informaes de forma que o aluno atue operativamente nos diferentes

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    5/143

    5

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    nveis de escolaridade. Complementa-se a esta prtica o "treinamento

    e desenvolvimento de projetos junto aos professores.- Criao de materiais, textos e livros para o uso do prprio aluno,

    desenvolvendo o seu raciocnio, construindo criativamente o

    conhecimento, integrando afeto e cognio no dilogo com as

    informaes.

    O presente projeto que iremos desenvolver nos captulos seguintes tem

    como meta atender os dois ltimos itens, abrangendo projetos pedaggicos para

    os professores e o material construtivista do aluno.

    Este projeto j aplicado e reavaliado tem como objetivo trabalhar novas

    matrizes na relao de aprendizagem, desenvolvendo novas e diferentes formas

    de olhar e construir.

    Uma nova forma de sentir, pensar e agir frente aos contedos

    "A todasasgaivotasaprendizesquebuscaramalgoalmdopoedo

    peixe,almdainformao,edescobriramquetodasasgaivotaspodem,tm

    aliberdadeeodireitodevoarecriarpelomundodoconhecimento."

    Refletindosobrenovas formasdesentir,pensareagirem relaoao

    conhecimento, frente s propostas psicopedaggicas encontramos na

    releituradeFerno CapelaGaivota,deRichardBach,umsentidoclaropara

    apropostadesteprojeto.

    Entendemos por que, segundo Ferno Gaivota, era fcil para asgaivotas aprendizes aprenderem novos vos, mais difcil compreender o

    que existia por trs deles e perceber que "cada um de ns em realidade

    umaidiadaGrandeGaivota,umaidiailimitadadeliberdade...".

    Ns somos livres para ir onde aprouver e ser o que somos.

    Assim como Ferno Gaivota estava sempre ao lado de seus discpulos, sugerindo,

    demonstrando, instigando, orientando, o professor deve andar sempre ao lado de

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    6/143

    6

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    seus alunos e num ato de amor dizer-lhes como Ferno: "voc livre de ser voc

    mesmo, de ser seu prprio eu, aqui e agora, e no h nada que possa interpor-seno seu caminho".

    A nossa proposta psicopedaggica frente aos contedos tem tudo a ver

    com a experincia de Ferno Capelo Gaivota. O professor deve ver o aluno como

    uma gaivota aprendiz e se ver com a humildade de Ferno para mostrar a cada

    aluno que ele pode participar e construir o conhecimento. Deve mostrar-lhe que

    no h limites para a aprendizagem e o que vale o prazer de "voar" ultra-

    passando as limitaes, pacientes e progressivamente. Assim como era vedado

    s gaivotas alarem diferentes vos, atingirem grandes velocidades, voarem no

    escuro, sob pena de serem banidas do bando, tambm foi vedado ao aluno

    participar e construir o conhecimento sob pena de ser inadequado no processo de

    aprendizagem.

    Culturalmente foi vedado ao pedagogo entrar em contato, em maior

    profundidade, com as emoes do aluno. Os esquemas tradicionais de

    aprendizagem separam a aquisio de informaes, do desenvolvimento do

    educando como um todo. Quebrar estes esquemas, tomar o aluno sujeito econstrutor do seu processo de aprendizagem, capaz demanipular o

    conhecimento, ao invs de apenas receb-lo, o papel do professor, do pedagogo

    e da escola.

    Ao contrrio das posturas tradicionais, a proposta psicopedaggica parte do

    autoconhecimento e do desenvolvimento emocional do educando, passa pelo

    conhecimento do mundo, das relaes interpessoais, integrandas ao cognitivo na

    situao de aprendizagem, diretamente ligada aquisio dos contedos. importante destacar que o papel da psicopedagogia na formao e

    posturadospedagogosqueatuamdiretamentecomo aluno tmsidoainda

    tmidoeinsuficientedevidoaquesteseducacionaisestruturais.

    Entretanto, esta nova metodologia em sala de aula pode prevenir

    inadequaesnarelaodosujeitocomosaber. medidaqueoeducando

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    7/143

    7

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    se sente de posse do seu processo de aprendizagem e se torna o plo

    centraldomesmo,elesemobilizaparaabuscadosaber.A psicopedagogia dos contedos na sala de aula revoluciona a inter-

    relaoprofessor-aluno.

    Se de um lado o aluno visto deum modo integrativoe participa da

    construo do conhecimento, de outro indispensvel uma transformao

    naposturadoprofessor.

    importante que o educador tenha os cuidados necessrios para

    permitir que a autonomia do educando avance sem que ele, educador, se

    sintaameaadoenoexijamaisqueoalunopodedar.

    Ao facilitar e organizar o processo produtivo de aprendizagem o

    educador deve assegurar a todos a prtica e a vivncia, a possibilidade de

    observareconstruiroconhecimento.

    O trabalho psicopedaggico atua no s no interior do aluno ao

    sensibilizarparaaconstruodoconhecimento,levandoemconsideraoos

    desejos do aluno, mas requer tambm uma transformao interna do pro-

    fisso.Para que o professor se torne um elemento facilitador que leve o

    educandoaodesenvolvimentodaautopercepo,percepodomundoedo

    outro, integrando as trs dimenses, deve estar aberto e atento para lidar

    com questes referentes ao respeito mtuo, relaes de poder, limites e

    autoridade.

    Aorientaodopsicopedagogojuntoaoprofessordeveserconstante,

    discutindo no apenas as relaes vinculares, mas tambm as que dizemrespeito ao contedo, atuao do aluno, formas de avaliao e reao dos

    paisfrenteaessanovaposturada instituio.Destaformaoprofessorpoder

    reverconstantementearelaoafetivaeasdificuldadesdoeducandoesaber

    esperar pela resposta e produo do aluno, independente das presses e

    tenses. Trabalhar a ansiedade do aluno, dos pais, da escola e dele prprio

    enquantoeducador.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    8/143

    8

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Todos os nveis da administrao escolar devem estar comprometidos

    com o processo e devidamente orientados para o sucesso do projetopsicopedaggicodoscontedos.

    Nesse sentido, nosso projeto procura instrumentalizar o professor,

    buscandoasseguintesintegraes:

    Necessidades do micro-mundo. (informao voltadapara os desejos do aluno epara o aluno e para ocotidiano e sensibilizaese o estimulem para articularo contedo.)

    Necessidades do macro-mundo. (informaesuniversais sobre a cultura eas cincias.)

    Mundo interno. (desejos,fantasias e possibilidades.)

    Mundo externo.(exigncias, solicitaes eexpectativas do meiocultural.)

    Articulao do pensamentoenquanto processo.(operaes mentais doraciocnio.)

    Informaes cumulativas.(contedo programtico.)

    Interesses do aluno.(preferncias, estilosindividuais.)

    Objetivos do contedoprogramtico. (assimilao,criao, memorizao,

    produo, compreenso.)

    A articulao dos aspectos afetivos e intelectuais, internos e externos,

    individuais e coletivos no processo de aprendizagem carece de novas

    matrizes,novasformasdedinmicasquepermitamestaintegrao.

    Ns educadores no vivenciamos esse processo de aprendizagem.

    Portanto,paraquepossamospratic-Iassemresistnciasnecessrioantes

    de tudoqueexperimentemosestasituaocomoaprendizes,vivenciandoo

    processonasdiferentesetapasereasdoconhecimento.

    A garantia da vivncia do projeto feita atravs de laboratrios e

    dinmicas com o professor, nos quais ele concretiza a metodologia

    integradoraeadquireasegurananecessriaparaaplic-Ia.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    9/143

    9

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Por outro lado, isso no basta. fundamental, na garantia da

    "construo" do aluno, um material complementar informativo para amanipulaodoprprioalunoeadequado metodologiaintegradora.

    Osprofessoressequeixam,eistorelevante,queoslivrosdidticose

    materiaisdeapoiodeixammuitoadesejarporapresentaremtextosestticos,

    autoritrios, pouco participativos e distantes dos alunos, impossibilitando a

    integraojmencionada.

    Levantadasestasquestes,paraseatingirumanovaformade"sentir,

    pensar e agir" frente aos contedos, por parte dos alunos e professor, o

    projeto fornece como materiais complementares "cadernos construtivistas

    com textos sensibilizadores e participativos que trazem no contedo e

    construo a coerncia da metodologia integrativa construtivista, que

    sensibilizaoalunoparaa leitura,convida-oa lanarhipteseseaparticipar

    daconstruodoconhecimento".

    Fundamentospsicopedaggicosdaabordagemintegrativo-

    interdisciplinar

    A metodologia que visa integrar o universo do aluno com as informaes e

    os conceitos desenvolvidos nas diferentes reas de conhecimento tem como

    construto terico uma abordagem integrativa que enfatiza a construo do

    conhecimento, a valorizao da sensibilizao e da ampliao da percepo, a

    importncia da dinmica inter-relacional na aprendizagem em grupo e o valor da

    simbolizao.As referncias tericas que fundamentam estes princpios bsicos da

    metodologia seriam: o construtivismo, o enfoque de Pichon Riviere sobre o

    aprender como uma prtica em grupo, as abordagens gestltico-pedaggicas e as

    contribuies sobre a simbolizao e as quatro funes de fungo.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    10/143

    10

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    O Construtivismo

    O construtivismo enfatiza a construo do pensamento, valorizando no

    aprendiz o ser ativo que usa as operaes do pensamento e a criatividade no

    contato com as informaes. O conhecimento esta construo ativa do pensar, e

    no a assimilao passiva da informao, a mera reproduo. A problematizao

    uma condio importante no aprendizado, gerando novas hipteses, interpre-

    taes, buscando novas snteses atravs do conflito. Numa concepo dialtica,

    as snteses so sempre consideradas provisrias e, portanto abertas a novos

    confrontos.

    Raths, em sua obra Ensinarapensar,ressalta algumas modalidades para

    colocar em ao o raciocnio que ele denomina de operaes:

    - Comparar, isto , relacionar quanto a diferenas e identidades.

    - Resumir no sentido de buscar as essncias atravs de critrios, reduzindo

    as construes.

    - Observar, desenvolvendo o ato de perceber, centrar, explorar.- Classificar numa tentativa de categorizar, definir e explorar a natureza de

    critrios na busca de identidades.

    - Interpretar, ou seja, atribuir e negar sentido, dar significados sob vrios

    ngulos e diferentes condies.

    - Criticar para julgar, fazer avaliaes segundo critrios ticos, estticos,

    sociais, psicolgicos, utilitrios e hedonistas.

    - Hipotetizar fazendo proposies apresentadas como possveis.- Compor e organizar os dados, planejando, resgatando partes e o todo.

    - Transferir no sentido de aplicar o aprendido a novas situaes e contextos.

    - Decidir, aprendendo a tomar posies e justificar valores atribudos.

    Poderamos ampliar a estas operaes a seriao, capacidade de

    estabelecer uma graduao ou uma cadeia articulada de fatos e smbolos, e a

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    11/143

    11

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    implicao, possibilidade de deduzir fatos anteriores, conseqncias ou com-

    plementar qualquer concluso implcita na informao.Concluindo: o construtivismo vem valorizar de um lado a relativizao no

    ato de interpretar, desenvolvendo as diferentes formas de olhar o fenmeno, e de

    outro enfatiza o interacionismo,quando afirma que o fato ou o aluno isolados no

    expressa o aprender. A aprendizagem o resultado da complementaridade aluno-

    professor-contedo, fato-contexto, eu-mundo.

    ContribuiesdePichonRivieresobreoaspectosocialdoaprender

    A importncia do aprendizado em grupo, enfatizada por Pichon Riviere, vem

    ampliar o projeto no sentido de no se prender a um psicologismo e uma reduo

    da individualidade no "ensinar". O conceito de aprender, para Pichon, implica

    numa relao dinmica e dialtica do homem no contexto social. Considera o

    homem como um ser de necessidades que s se satisfaz socialmente. O homem

    um ser social, produzido e produtor do contexto em que ele est.

    um homem concreto numa situao concreta, num interjogo de

    necessidades e satisfaes. Nas relaes de produo o homem emerge comosujeito, com uma forma de pensamento, sentimento e ao. Numa sociedade

    capitalista o homem sente e pensa com esquemas fragmentados, e este sujeito

    mantm o sistema, a ideologia, adaptando-se passivamente, alienando-se ou

    podendo, atravs de uma adaptao ativa, rever esta matriz de "estar no mundo"

    e reconstruir novos vnculos, novas formas de relao. nesta proposta de "no

    reproduzir" as matrizes anteriores que impedem a transformao, que Pichon

    resgata a aprendizagem como transformao: "Tenho que agir tenho que refletir,incorporando teorias que expliquem a minha ao, e a posso transformar". O

    processo inclui experincia, conceitualizao e mudana. A proposta de

    modificao sempre no "aqui-e-agora", pois nele est o passado, presente e

    futuro. O grupo o espao onde se aprende a pensar com novas matrizes,

    explicitando os padres passados j interiorizados e que muitas vezes geram

    resistncias as mudanas. O grupo o real contexto do aprender. O "grupo

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    12/143

    12

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    operativo" o grupo que se prope, atravs de tarefas, a aprender a pensar,

    operar uma dada realidade, fazer crtica e autocrtica, explicitando os medos paraas mudanas, integrando teoria e prtica. Mas para aprender necessrio tomar

    explcitooqueest implcito-medos,vnculos internos-tomandoconscincia

    dasresistnciasparapodersuper-Ias.Esteprocessosedesenvolveatravs

    da dinmica do grupo, no jogo de papis, lidando com as projees,

    diferenas,limitaesereaispossibilidades.

    Nesta abordagem muito importante o exerccio de diferenciao na

    identificaodepapis,buscandomaioresflexibilidadesdapercepoeao.

    Valorizaodapercepoesensibilizaoconformeaabordagem

    Gestltico-pedaggica

    A Gestalt enfatiza a necessidade de se trabalhar a flexibilidade do

    perceber,olhar,ouviresentirdemaneirageral,numjogoincessantedefigura

    e fundo.As artes e a sensibilizao ampliam as percepes e sensaes,

    trazendo para o aqui-e-agora toda experincia passada significativa. Estes

    aspectos so contribuies fundamentais, pois valorizam a explorao da

    percepo sob todos os ngulos possveis e ampliao das expresses do

    indivduo, do no-verbal ao verbal. Esta abordagem fenmeno da lgica vem

    resgataravisodotodoeaimportnciadarelaointerpessoalnoaprender.

    OValordasimbolizaoedadinmicaentreasquatrofunes:

    pensar,intuir,sentir,perceber

    Aprender tambm lidar com a simbolizao, buscando na sua

    construo a dinmica dos opostos, a integrao do inconsciente com o

    consciente.Aprender lidarcomosmitosenelesbuscarosentidodoquese

    repete e do que no muda e do que transforma.Aprender simbolizar, no

    contato com o mundo, articulando as quatro funes bsicas de contato: a

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    13/143

    13

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    intuio, o sentimento, a sensao ou percepo e o pensamento. Estas

    contribuies para o nosso projeto so oferecidas pela abordagem de Jung,que tambm enfatiza a arte como grande possibilitadora na construo

    simblicacoletivaeindividual.

    Ametodologiaintegrativa:dasensibilizaoaoscontedos

    programticosescolares

    O procedimento para a aplicao do projeto requer a realizao de

    vivnciasjunto aos professores e orientadores, no sentido de garantir as

    seguintescondies:

    - Aprenderemgruponumavivnciainterdisciplinar.

    - Integrar sensaes-sentimentos-pensamentos-intuies no

    desenvolvimento dos conceitos, nas diferentes reas de

    conhecimento.- Vivenciar e ampliar sensibilizaes e dinmicas de grupo para

    desenvolvimentodaspercepeseoperaesdopensamento.

    - Integrarasartesscincias.

    - Desenvolver os contedos programticos integrados vida, s

    sensaeseaossentimentos.

    - Vivenciare refletirsobre "como trabalhar"apartirdeumconceito-

    referncia-geradora. - Aplicar as operaes mentais, as formas de raciocinar no dilogo

    comoscontedosacadmicos.

    O projeto consta de vrias etapas que culminam com a construo de

    atividadesintegradorasrealizadaspeloprprioaluno.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    14/143

    14

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    1 etapa- Escolha do tema integrador no dilogo professores-alunos,

    numabuscadeumconceitoamploqueabarquevriosfenmenos.2 etapa- Desdobramento do tema para articular com os interesses e

    necessidadesdoaluno e com os contedos especficos nas diferentes reas.

    3etapa-Desenvolvimento das sensibilizaes:

    Sensibilizao geral, ampliando a percepo e associando o tema vida,

    existncia e s necessidades do aluno.

    Sensibilizao especfica, articulando a sensibilizao geral s dinmicas mais

    especficas relacionadas com os temas e contedos das diferentes reas de

    conhecimento.

    4etapa-Ponte da sensibilizao com o contedo:

    Aplicao dos textos-pontes e cadernos construtivistas para articular as

    sensibilizaes especficas, os desejos, as necessidades, o contedo significativo

    com o conhecimento formal e informal.

    5etapa-Construes simblicas atravs das artes:

    Desenvolvimento do contedo sistemtico atravs das diferentes expresses,

    artsticas, articulando-as com os conceitos verbais aprendidos. ,6 etapa - Sistematizao da informao utilizando diferentes formas de

    pensar e organizar. Produo criativa dos alunos: projeto final.

    Procedimentossobreotemaintegrador

    Os conceitos implcitos no tema devem:

    - Permitir a articulao com os interesses dos alunos.

    - Possibilitar uma viso dinmica e no esttica do conhecimento e da

    ao humana.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    15/143

    15

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Expressar um mecanismo que esteja implcito em qualquer fenmeno

    estudado e que se associe a uma viso dinmica da experincia e doconhecimento.

    A partir desse tema integrador-gerador procura-se umdesdobramento

    dequesteseconceitosexpressosemtemasespecficosqueseassociems

    necessidadesdoalunoeaoscontedosespecficos.

    Paraexemplificarmelhoresseprocessovamosanalisaranaturezado

    tema escolhido no presente projeto: "As diferentes formas de olhar". Este

    temasurgiudodilogoentreprofessoresealunos,quandoproblematizavam

    sobreasdiversasformasqueaspessoasinterpretameobservamooutroem

    grupoenasociedade.Estaumaquestoquetrazemsiumavisodinmica

    e dialtica relativizando a interpretao, alm do que pode ser aplicada em

    qualquer vivncia do aluno. Outro aspecto que merece ateno o fato de

    quepode seraplicadoaqualquer fenmenocientfico, histrico, matemtico

    e literrio.

    Consideraessobreasensibilizao

    Asensibilizao,consideradacomosituao-geradorade integrao

    aquedenominamosdesensibilizao geral, equetemcomoobjetivotrabalhar

    a postura, atitudese percepes do aluno. Geralmente so dinmicas onde

    esto muito presentes as atividades no verbais,jogos, artes, trocas de

    papis e projees. No exemplo sobre "As diferentes formas de olhar"

    aplicou-sejogos coletivos onde se trabalhavam os vrios ngulos de ob-servao de um mesmo fenmeno. Discutiam-se as formas de olhar, as

    resistncias,osmedosdiantedasdiferenasde interpretaes,adificuldade

    deaceitarodiferente.

    Esta sensibilizao geral pode ser desenvolvida por um orientador ou

    um dos professores que mais se identifique ou se sinta enriquecido com o

    tema.Cadareadesenvolveentoassensibilizaes especficas apropriadas

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    16/143

    16

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    para integrar melhor com o contedo. Estas atividades visam uma ampliao do

    conceito em cada rea de conhecimento, com cada objeto de estudo: histria, ma-temtica, lngua portuguesa, geografia. As referidas dinmicas so muito

    enriquecidas com a linguagem artstica, integrando o intuitivo ao lgico, o

    sentimento ao pensamento.

    Articulaodasensibilizaocomasinformaescientficas

    Neste projeto, vrios recursos sobre como dinamizar foram

    desenvolvidos para que pudessem ser vivenciados e aplicados pelo professor. Os

    textos ponte integrando: artes-cincias, contedo-sistemtico, contedo-

    assistemtico, sentimentos-reflexes, criao-formalizao so fundamentais para

    as projees dos sentimentos do leitor, articulando-as com as reflexes, a criao

    e a formalizao.

    As construes conceituais, inicialmente mais abertas, vo canalizando

    para informaes mais especficas, levando gradativamente para a organizao e

    sistematizao dos contedos, atravs de operaes tais como: seriao,classificao, implicaes lgicas e composies do fenmeno estudado.

    As elaboraes culminam com ilustraes dos alunos, composies

    literrias, pesquisas, sempre associadas a recursos simblicos no verbais.

    Para entendermos esse processo nas suas etapas vamos detalhar a

    evoluo do projeto. "As diferentes formas de olhar" .

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    17/143

    17

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    A PSICOPEDAGOGIA E A ANLISE DA PRTICA

    EDUCATIVA

    Algumas dimenses para a anlise da prtica educativa a partir

    de uma perspectiva psicopedaggica

    As tarefas e as funes assumidas, prioritamente pelas equipes de

    assessoramento e orientao psicopedagogia, em nosso contexto foram

    experimentando diversas modificaes desde seu aparecimento at finais dos

    anos 70. segundo alguns autores (Coll, 1984; Martin e Sole, 1990), esse processo

    pode conceituar-se como o passo progressivo de um modelo de interveno

    essencialmente assistencial-clnico para um modelo de carter educativo-

    enriquecedor.Entre as caractersticas bsicas deste novo modelo em expanso,

    podemos citar: a aceitao, cada vez maior, de variveis e fatores diretamente

    relacionados com as situaes e os processos de ensino e de aprendizagem no

    momento de delimitar os objetivos e os procedimentos da interveno; alocalizao da interveno preferencialmente no prprio contexto de ensino e de

    aprendizagem: a extenso da interveno ao conjunto de alunos e alunas que

    participam nas situaes educativas, a partir de uma lgica preventiva e

    enriquecedora; e a priorizao de formas mediadoras de apoio ao aluno, por meio

    de suporte, e a orientao aos diversos agentes educativos com os quais se

    relaciona. Com isto, os processos reais de ensino e de aprendizagem nas salas de

    aula e nas escolas, ou seja, a prtica educativa, passam a situar-se como objetivoessencial da interveno psicopedaggica, e a otimizao desses processos a

    melhoria de qualidade do ensinoso o objetivo essencial da mesma.

    No entanto, a otimizao da prtica educativa est muito distante de ser

    uma tarefa simples. Entre outras razes, porque o ensino eficaz no parece, de

    acordo com os paradigmas e modelos tericos atualmente dominantes, pode

    identificar-se, de maneira simples, com uma coleo mais ou menos fixa e bem

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    18/143

    18

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    estabelecida de comportamentos instrutivos, completamente especificveis a

    priori. Mas bem representa uma ao diversificada e flexvel dos professores,baseada dos avanos e das dificuldades na aprendizagem por parte dos alunos e

    da dinmica global da situao educativa. Esta imagem do ensino, como ajuste

    constante, liga-se a uma conceituao da tarefa docente como processo de

    tomada de decises em que o professor, a partir de seu conhecimento mais ou

    menos explcito sobre a educao e os processos e situaes de ensino e de

    aprendizagem, interpreta e atribui sentido s caractersticas dos alunos e

    situao concreta do ensino/aprendizagem em que se encontra, planeja e

    desenvolve sua ao a partir dessa interpretao, com referencia a uma situao

    interativa e interpessoal, enormemente complexa e em constante transformao.

    Nesse sentido, a melhoria da qualidade do ensino exige que se oferea aos

    professores princpios tericos e procedimentos prticos potentes e relevantes

    mediante os quais possa planejar, desenvolver, avaliar e ajustar sua prpria ao

    educativa, e ajud-los a introjetar, de maneira pessoal e criativa, o uso desses

    princpios e procedimentos nas diferentes situaes e contextos particulares em

    que executam seu trabalho.Sob esta perspectiva, qualquer tipo de funo assessora aos professores

    no pode limitar-se a apresentar-lhes diagnsticos fechados de ao ou

    instrumentos e procedimentos especficos a serem utilizados de maneira direta.

    Pelo contrrio, deve incluir, necessariamente, instrumentos tanto tericos como

    tcnicos que os ajudem a analisarem e compreenderem, de uma forma

    conceitualmente fundamentada, os processos e de ensino e de aprendizagem em

    que participam, para, a partir dessa anlise, explorarem, projetarem edesenvolverem propostas e formas mais justas de atuao docente. A anlise e a

    compreenso da prtica educativa situa-se, assim, como ncleo central da tarefa

    docente, e o assessoramento e apoio, em relao a esse processo de anlise

    reflexiva, configura-se como um dos eixos da interveno psicopedaggica.

    Tendo essas consideraes como base, o objetivo geral do capitulo que

    agora iniciamos apresentar e discutir alguns elementos e critrios para a anlise

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    19/143

    19

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    da prtica educativa sob a perspectiva da interveno psicopedaggica. Pra isso,

    comearemos propondo previa limitao de uma certa maneira de definir a prprianoo de prtica educativae aproximarmos dela algumas dimenses bsicas de

    anlise da prtica em sala de aula, que, ao nosso ver, podem ser consideradas de

    relevncia terica e de utilidade aplicada, a partir de tarefas de assessoramento

    psicopedaggico. A seguir, e como segundo item de nossa exposio,

    passaremos a expor algumas consideraes e critrios sobre a observao como

    instrumento de anlise da prtica educativa na sala de aula, vinculada s

    dimenses anteriores e a abordagem prtica subjacente. Alguns comentrios

    finais, dedicados essencialmente a apontar certas questes abertas e problemas

    pendentes em relao temtica, marcaro, como terceiro e ltimo item, o final

    deste mdulo.

    A prtica educativa sob uma perspectiva psicopedaggica elementos

    para um modelo de anlise

    Delimitando o objeto de anlise

    O primeiro obstculo que surge na tentativa de realizar uma abordagem

    rigorosa e sistemtica da anlise da prtica educativa e a multiplicidade de nveis

    e sistemas que a configuram. Em uma abordagem inicial, podemos distinguir, pelo

    menos, quatro desses nveis. O primeiro articula-se em torno ao que podemos

    denominar sistema aula,isto , o conjunto organizado de atividades, de papeis e

    de relaes de diversos tipos em que se envolvam professor e alunos no modelofsico oferecido habitualmente pela sala de aula ou em qualquer outro que faa

    as vezes dele. Imediatamente acima, encontra-se o nvel delimitado que podemos

    denominar sistema escola, estruturado em tornos da organizao fsica e

    simblica da escola -em suas diversas configuraes possveis -, e que pode ser

    entendido como um sistema complexo que inclui diverso subsistente por

    exemplo, sries, departamentos ou seminrios, rgos de direo e gesto, etc., -

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    20/143

    20

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    em constante interao. O terceiro nvel, tambm complexo em sua configurao

    estaria situado em torno da estrutura e funcionamento do sistema educativocomo tal, com seus diferentes elementos e funes; aspectos como a norma legal

    de regulamentao de diferentes aspectos da vida nas escolas ou os rgos de

    apoio e suporte s escolas estaria enquadrados nesse sistema. Por ltimo, parece

    necessrio considerar, de pleno direito, o macrossistema, constitudo pela

    prpria estrutura global, social, cultural e econmica em que se insere e tem

    sentido o sistema educativo de um pas, como o nvel mais amplo integrante da

    prtica educativa. Dessa forma, deriva-se da conceituao da escola como um

    sistema aberto, em constante inter-relao com outros sistemas sociais e tambm

    de carter social e socializador da escola, como projeto cultural. Os nveis e

    sistemas propostos encontram-se encaixados sucessivamente; no entanto, isso

    no implica considerar os sistemas inferiores como determinados de maneira

    mecnica e unidirecional pelos superiores. Pelo contrrio, postulamos por uma

    relao complexa e bidirecional entre os diferentes nveis e sistemas, assim como

    por uma dinmica prpria e especfica de cada sistema que v alm da incidncia

    dos restantes.Essa postulao tem, pelo menos para ns, trs conseqncias relevantes

    para a atarefa de anlise da prtica educativa. A primeira que qualquer anlise

    que atenda somente a um nico nvel , necessariamente, parcial e no pode

    querer explic-lo completa e exaustivamente. Isto no nega a possibilidade nem o

    interesse dessas anlises parciais de fato, podem construir-se em estratgias

    teis e representam, em muitos casos, a nica abordagem plausvel em termos

    pragmticos, mas um alerta quanto ao alcance e os limites de suas concluses,e a uma necessria contextualizao e comparao em relao a outros nveis. A

    segunda conseqncia que, na situao atual do conhecimento cientfico, a

    tarefa global de anlise da prtica torna-se, necessariamente, uma tarefa

    multidisciplinar, no sentido de que nenhuma disciplina parece dispor das

    ferramentas tericas e metodolgicas necessrias para dar conta,

    adequadamente, dos diversos nveis de anlise. Disso decorre a necessidade de

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    21/143

    21

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    intercmbio e colaborao entre disciplinas para uma compreenso minimamente

    global da prtica, e ao mesmo tempo, a importncia de que cada disciplinaexplore, ao Mximo, seus recursos no mbito de seu objeto de estudo e oferea

    s demais aquelas informaes em relao ao mesmo que, por sua

    especificidade, lhe dado obter. A terceira conseqncia a necessidade de

    dispor, em relao a cada um dos nveis e sistemas, de estruturas ou modelos

    conceituais que possam dar conta de sua dinmica prpria e particular. Em cada

    caso, isto vai acontecer, em grande parte, por dispor do que podemos denominar

    um objetomodeloe um"modelo tericodo funcionamento de cada sistema que

    permitia especificar, dentre a complexidade de fenmenos que aparecem

    vinculados a ele, os elementos e as variveis que se consideram como crticos e

    centrais para a anlisecf. Coll. 1992, para uma discusso mais detalhada.

    Sob esta perspectiva, parece necessrio que qualquer proposta de anlise

    da prtica educativa possa situar-se e traar seus limites e alcance pelo menos

    em relao a um trplice eixo de coordenadas: o relativo s disciplinas que lhe

    proporcionam apoio terico e metodolgico, o relativo aos nveis e sistemas da

    prtica em que se fixa e o relativo ao objeto modelo e o modelo terico ou adotocomo base de trabalho e, com isso, teoria ou marco explicativo no qual se

    inscreve.

    Em nosso caso, e sob o ponto de vista disciplinar, as dimenses para a

    anlise da prtica que vamos propor se enquadram de acordo com o ttulo do

    captulo e com orientao geral da obra em que se insere em uma abordagem

    psicopedaggica a prtica educativa, interessada, primordialmente, na explicao

    das mudanas que ocorrem nos alunos, graas ajuda que recebem dos agenteseducativos na situao escolares de ensino e de aprendizagem em que

    participam.

    Ao mesmo tempo, em relao ao nvel da anlise da prtica em que se

    situam, as dimenses que proporemos remetem ao aspecto mais interno do que

    temos detalhado, o que faz referncia ao sistema aula. Em certo sentido, a

    opo por uma abordagem fixada no sistema aula conseqncia da prpria

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    22/143

    22

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    orientao disciplinar, enquanto a tradio psicoeducativa parece oferecer,

    primordialmente, instrumentos de anlise conceituais e metodolgicos essencialmente dirigidos a esse sistema. Contudo, a centralizao na sala de aula

    vem, igualmente, apoiada por algumas razes adicionais. Por um lado, e sob o

    ponto de vista terico, a sala de aula pode ser considerada como o espao

    principal no qual acabam se estruturando, em uma dinmica prpria e peculiar, as

    influncias dos restantes sistemas e nveis

    Tabela 12.1 Dimenses e planos para a anlise da prtica, sob a perspectiva dosprocedimentos de influncia educativa.

    1. Intenes educativas que presidem a seqncia.

    2. Ajuste das atividades e tarefas

    aos alunos.

    3. Controle relativo do professor

    e dos alunos sobre as tarefas

    ENCADEAMENTO E ARTICULAAO

    DAS

    ATIVIDADES E

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    23/143

    23

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    TAREFAS 4. Contingncia de ajuda e de

    suportes.5. Uso cada vez mais autnomo

    e auto-regulao dos contedos.

    6. Contingncia dos recursos de

    reelaborao da informao nova

    7. Contingncia dos recursos de

    reelaborao de informao

    dada.

    8.Acompanhamento e

    comprovao de significados

    compartilhados

    DESENVOLVIMENTO

    INTERNO DAS

    ATIVIDADES E

    DAS TAREFAS

    CONTROLE DE COMPREESSAO

    E RESOLUAO

    DE MAL-ENTENDIDOS

    E RUPTURAS

    10. Fatores de motivao de relao e afetivos.

    que modelam a prtica educativa, constituindo-se assim, de certa forma, como o

    prprio ncleo da prtica. Por outro lado, e sob um ponto de vista mais

    pragmtico, a sala de aula oferece um espao relativamente abrangente e bem

    delimitado para iniciar a anlise, que, por sua vez, pode considerar-se como,

    particularmente, suscetvel de otimizao e melhoria por meio da interveno

    psicopedaggica.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    24/143

    24

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Intenes educativas que, em termos de planejamento prvio e sob a

    perspectiva do professor, presidem o processo de ensino e de aprendizagemque objeto de anlise

    A partir da caracterizao dos processos educativos que estamos

    analisando, as situaes da sala de aula so sempre processos de ensino e de

    aprendizagem orientados intencionalmente para a aprendizagem, por parte dos

    alunos, de determinados contedos ou conhecimentos especficos, mais ou

    menos detalhados a priori. Nesse sentido, , absolutamente necessrio, para uma

    adequada compreenso de qualquer situao concreta de prtica na sala de aula,

    dispor de informao sobre as intenes educativas que, sob o ponto de vista do

    professor responsvel para guiar e orientar esses processos presidem essa

    situao.

    Essa informao pode concretizar-se de maneira muito diversas em funo

    do grau de explicitao e detalhe do planejamento do processo que o professor

    tenha e tambm da forma em que, consciente ou inconscientemente, concretize

    essas intenes ou seja, em termos de execues ou comportamentos finaisque deseja que os alunos adquiram, de habilidades ou destrezas gerais que quer

    oferecer-lhes ou situaes em que quer faz-los participar, de contedos que quer

    que trabalhem, etc. de qualquer modo, as intenes educativas do professor vo

    representar um elemento imprescindvel para compreender, a partir de sua lgica

    e direo internas, a situao que objeto de anlise inclusive se esta acaba

    por mostrar que o desenvolvimento real da situao no contribuiu, eficazmente,

    para a obteno dessas intenes, ou se tais intenes no so consideradas apriori, pelo psicopedagogo como as mais idneas ou adequadas.

    Esta a nica das dimenses de anlise que vamos propor e sobre a qual

    nem sempre se pode obter informao suficiente a partir da observao direta da

    prpria situao da sala de aula: da sua peculiaridade e o situ-la fora do grupo

    que apontvamos ao apresentar o conjunto das dimenses.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    25/143

    25

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Ajuste entre as atividades e tarefas propostas ao longo da seqncia doensino e da aprendizagem e as caractersticas permanentes bsicas dos

    alunos para se envolverem e participarem da mesma (capacidade, recursos

    para a aprendizagem, conhecimentos prvios, motivaes e interesses, etc.)

    Nossa segunda dimenso surge como uma conseqncia direta da

    aplicao do princpio geral de ajuste da ajuda educativa, no primeiro dos planos

    da prtica em sala de aula que apontamos, anteriormente, ao apresentar o

    conjunto de dimenses de anlise que propomos, o plano de conexo e

    articulao das atividades e tarefas propostas ao longo da seqncia do ensino e

    da aprendizagem. A partir desta perspectiva, o princpio do ajuste da ajuda no s

    remete a aes e intercmbios mais imediatos e diretos entre professor e alunos

    a maneira como o professor explica um conceito ou procedimentos e forma como

    se responde a uma pergunta a correo de um erro, etc, mas tambm no nvel

    mais global da prtica: as decises sobre que atividades e tarefas a realizar, de

    que tipo, em que ordem, com que durao e ritmo, com alternncia, etc. essasdecises, e a forma de concretiz-las e desenvolv-las ao longo da seqncia,

    podem, sob esta perspectiva, favorecer a participao e o envolvimento dos

    alunos na atividade conjunta, ou, pelo contrrio, dificult-la e impedi-la

    completamente, ocorrendo o mesmo com o processo de aprendizagem.

    Entre os elementos relevantes da prtica, sob essa dimenso, encontra-se

    aspectos como: o carter mais aberto ou mais fechado das tarefas que se prope

    aos alunos quanto aos produtos a obter e os caminhos para faz-lo; a maior oumenor variedade dos tipos de atividade e tarefas propostas; o tipo de contedo

    que age, prioritamente, como eixo organizador das mesmas; o nvel de dificuldade

    das atividades; a maior ou menor possibilidade de opo em sua realizao, por

    parte dos alunos; a maneira de combinar tipos de atividades e tarefas diversas em

    relao a um determinado aspecto do contedo de ensino e de aprendizagem, etc.

    entende-se que no se trata de que determinadas maneiras de concretizar tais

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    26/143

    26

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    tarefas sejam sempre, e em qualquer situao, melhores que outras, mas de

    analisar o grau em que, em cada momento, cada um desses elementos favorece-ou no- a participao e o envolvimento no processo, tanto a partir do ponto de

    vida estritamente cognitivo como do ponto de vista de motivao, de relao e

    afetivo, dos alunos concretos de que se trate.

    Controle relativo do professor e dos alunos ao longo da seqncia de ensino

    e de aprendizagem em relao s tarefas/contedos que estruturam a

    mesma.

    O princpio de ajuste da ajuda educativa implica, como um de seus pontos

    definidores, a necessidade de ir diminuindo e retirando a ajuda e o apoio do

    professor aos alunos, ao longo do processo de ensino e de aprendizagem, com o

    objetivo de facilitar e promover a utilizao autnoma dos novos contedos por

    parte dos alunos. Enfim, implica ir passando de uma situao de resoluo

    conjunta de tarefas para uma de compreenso e ao independente por parte dos

    alunos, no mbito dos conceitos que estruturam a seqncia de ensino e deaprendizagem. Isso um processo de transferncia do controle e da

    responsabilidade sobre a realizao das tarefas e o uso dos contedos de ensino

    e de aprendizagem do professor aos alunos, mais ou menos gradual e

    progressivo, ao longo da seqncia, que configurado como de especial

    relevncia entre os mecanismos de influncia educativa nas situaes de sala de

    aula (Cooll, Colomina, Onrubia e Rochera, 1995). Esse processo pode ser

    realizado em diferentes nveis da prtica na sala de aula: um deles o da conexoe articulao das atividades e tarefas, e a ele se refere dimenso que estamos

    apresentando.

    De fato, as atividades e as tarefas que so realizadas, seu tipo, as ordens

    que as presidem at que pontos deixam aos alunos certo grau de liberdade quanto

    a seu desenvolvimento e resoluo final, a ordem em que so colocadas, sua

    alternncia, durao e ritmo, etc, so elementos decisivos para promover, em

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    27/143

    27

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    maior ou menor grau, a transferncia e a assuno do controle por parte dos

    alunos. Nesse sentido, e a ttulo de exemplo, podem ser considerados asdiferenas entre situaes em que praticamente todas as atividades e tarefas so

    realizadas sob controle prioritrio do professor explicaes, demonstraes, etc,

    - e outras em que atividades e tarefas deste tipo se alternam com outras mais

    controladoras pelos alunos, resoluo de problemas relativamente abertos,

    atividades com itinerrios alternativos e opes, prtica independente, etc; entre

    situaes em que o grau de controle relativo varia suave e progressivamente ao

    longo da seqncia de atividades e tarefas da demonstrao e da explicao

    realizao conjunta e da a prtica guiada e a prtica independente e outras em

    que a variao brusca e abrupta da demonstrao prtica independente,

    sem acompanhamento do professor, ou entre situaes em que so realizadas

    atividades e tarefas em que os alunos devem controlar e regular, quase

    completamente, sua ao- macroatividades vinculadas s resolues de

    problemas reais, projeto e desenvolvimento de projetos, atuao como

    especialistas e orientadores de outros companheiros, etc. em outras em que

    este tipo de atividades no aparece em nenhum momento do processo de ensinoe de aprendizagem.

    Diversidade e contingncia de ajudas e suportes utilizados ao longo da

    seqncia de ensino e de aprendizagem

    Se algumas caractersticas das ajudas e suportes utilizados como

    desenvolvimento interno das atividades e tarefas, ao longo da seqncia deensino e de aprendizagem, deduzida imediatamente do princpio de ajuste da

    ajuda educativa. Esta , precisamente, a de sua necessria diversidade e

    contingncia. Diversidade, enquanto a noo de ajuste represente que a ajuda

    educativa eficaz deve ser, necessariamente, variada e flexvel quanto a seu tipo e

    quanto a seu grau, j que os diferentes momentos do processo de construo por

    que passam os alunos, ao aprenderem, requerem formas diversas de apoio.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    28/143

    28

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Contingncia por que se trata de que essa diversidade de ajudas e suportes no

    seja oferecida ao acaso, de qualquer maneira ou em qualquer momento, mas demodo o mais vinculado e consistente possvel com o desenvolvimento dessa

    construo do aluno. Por isso, a dimenso que estamos apresentando ,

    absolutamente, crucial para a anlise da prtica na perspectiva que adotamos.

    A adequada caracterizao e uso desta dimenso requerem a considerao

    de, pelo menos dois conceitos precisos, de grande importncia. O primeiro que

    quando falamos de ajudas e suportesreferimo-nos a um conjunto marcadamente

    amplo de recursos e elementos, de carat tanto social ajudas e suportes

    oferecidos pelo professor, outros alunos, etc, e que so oferecidos por meio de

    relao e da interao interpessoal como instrumental- ajudas e suportes

    oferecidos por instrumentos fsicos ou simblicos que podem inserir-se e

    empregar-se ns atividades e tarefas -, e que podem ser tanto diretos ou imediatos,

    isto , oferecidos, explicitamente, na interao cara a cara, com, indiretos ou

    imediatos- presentes, tacitamente, na estrutura global da situao , em seu projeto

    geral nas caractersticas do cenrio, etc.

    O segundo conceito preciso que contingncia das ajudas sempre, nocontexto das caractersticas peculiares da atividade conjunta e seus participantes,

    em cada momento, uma questo tanto qualitativa como quantitativa , isto , que

    nem dada tanto pelos tipos de ajuda oferecidos, por exemplo, apresentar

    informao oferece um modelo, dar feedback, redefinir uma tarefa, retornar ao

    erro, etc. como pelo grau de apoio que representam por exemplo, facilitar a

    execuo de um procedimento, destacando, ordenadamente, todos e cada um de

    seus passos versus aqueles que os alunos no realizam, adequadamente,

    espontaneamente.

    Reduo quantitativa e qualitativa de ajudas e suportes e uso,

    progressivamente, mais autnomo e auto-regulado por parte dos alunos, de

    contedo de ensino e de aprendizagem ao longo da seqncia.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    29/143

    29

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Como indicvamos, ao apresentar a terceira de nossas dimenses, o

    processo de transferncia do controle realizado em diversos nveis da prtica nasala de aula. No plano de desenvolvimento interno das atividades e das tarefas, a

    transferncia deve traduzir-se, em boa parte, em uma retirada progressiva, tanto

    do ponto de vista qualitativo quanto quantitativo, das ajudas e suportes oferecidos

    pelo professor. No plano ideal, a correo dessa reduo o uso,

    progressivamente mais autnomo e auto-regulamentado, do contedo de ensino e

    de aprendizagem por parte dos alunos. Esse uso representa a possibilidade de

    resolver, de maneira mais autnoma, as tarefas que fazem referncia a esse

    contedo e de enfrentar tarefas novas e mais complexas; tambm representa uma

    menor dependncia auto-regulamentada, assim como um maior domnio e uma

    utilizao mais independente das ajudas e suportes de carter instrumental,

    incorporando-os, fluentemente, como mediadores da prpria ao.

    Cabe destacar que, habitualmente, o processo de reduo das ajudas e de

    acesso autonomia e auto-regulamentaao no linear e simples, mas

    descontinuo e complexo, com saltos e retrocessos constantes, e marcado, alm

    disso, pela prpria complexidade progressiva que, em muito casos, voapresentando as prprias atividades e tarefas que se realizam na seqncia. Da a

    necessidade de uma anlise desta dimenso temporal, assim como os objetivos e

    as intenes que a presidem.

    Diversidade e contingncia dos recursos de introduo de informao nova

    relativa ao contedo de ensino e aprendizagem ao longo da seqncia

    Sob uma perspectiva construtivista, os processos de ensino e de

    aprendizagem escolar na sala de aula so desenvolvidos, por sua prpria

    natureza, partindo de uma assimetria bsica entre os conhecimentos ou

    representaes que, sobre o contedo objeto dos mesmos, professor e alunos

    tm, no sentido de que a representao dos alunos se encontra mais distante que

    a do professor do conhecimento especialistaou, culturalmente valido sobre esse

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    30/143

    30

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    contedo. Nesse sentido, o processo de ensino e de aprendizagem pode ser

    descrito como um processo de construo progressiva de significados ourepresentaes compartilhadas entre professor e alunos, cada vez com mais

    pontos de contato entre si e cada vez mais prximos a esse conhecimento de

    especialistas - para o qual, em ltima anlise, apontam os objetivos educativos.

    Para que essa construo de significados compartilhados possa ser realizada,

    professores e alunos devem elaborar uma certa representao inicial

    compartilhada do contedo de ensino e de aprendizagem, suscetvel de ser

    assimilada pelos alunos e, ao mesmo tempo til, para servir de plataforma para o

    avano e o enriquecimento posterior na direo desejada.

    A elaborao dessa representao no tarefa fcil, j que representa,

    normalmente, uma forte rennciaestratgica e temporal por parte do professor

    ao apresentar o contedo, a seu prprio modo, e, por sua vez, uma certa

    exigncia para os alunos para modificarem, em algum sentido, seu prprio

    conhecimento prvio; igualmente, exige um complexo e sutil equilbrio entre o

    conhecido e o novo, o que se adota como ponto de partida e o estado de

    conhecimento ao qual se pretende chegar.Apesar dessa dificuldade, sua importncia decisiva para o xito do

    processo de ensino e de aprendizagem. De fato, quando essa representao

    compartilhada inicial no chega a estabelecer-se, pelo menos, em um grau

    mnimo, todo o desenvolvimento do processo se v comprometido, e os alunos

    ficam, literalmente, desenganchadosdo mesmo e com grandes dificuldades para

    se reincorporarem a ele. Da o interesse, sob a perspectiva da anlise da prtica,

    em detectar os recursos, por meio dos quais, em uma situao concreta, se tentaou no- alcanar essa representao, sua diversidade, sua contingncia, com as

    representaes iniciais que os alunos trazem para a situao e at que ponto essa

    representao compartilhada chega, efetivamente, a ser concretizada. A

    referncia s experincias prprias do mbito familiar ou de outros contextos no-

    escolares, o apoio em materiais ou objetos presentes na situao da sala de aula,

    a apresentao de imagens, proposta de analogias, a recuperao de

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    31/143

    31

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    aprendizagens realizadas em situaes escolares anteriores, etc, so algumas

    das formas que, habitualmente, os recursos aos quais estamos nos referindopodem tomar.

    Diversidade e contingncia dos recursos de elaborao e reelaborao da

    informao relativa ao contedo de ensino e de aprendizagem ao longo da

    seqncia

    Apesar da sua importncia, a elaborao de uma representao inicial

    compartilhada, relativa ao contedo de ensino e de aprendizagem, a qual nos

    remete dimenso anterior, s um ponto de partida do processo total de

    construo de significados compartilhados, tal e qual definimos. Da a

    necessidade de abordar, com rigorosa continuidade, a evoluo desse processo

    rumo a representaes compartilhadas mais ricas e adequadas uma evoluo

    de alguma maneira correlata que a assuno progressiva de um controle, cada

    vez maior, por parte dos alunos sobre o contedo de ensino-aprendizagem. Nesse

    sentido, os recursos de elaborao e reelaborao da informao que se vaiintroduzindo, sua diversidade e contingncia, representam uma dimenso

    privilegiada de anlise.

    Como exemplo de recursos habituais nesse sentido, temos: a introduo de

    relaes entre elementos formulados, isoladamente, em um princpio; a

    reconceituao e recontextualizao da experincia; a reformulao de

    determinadas noes ou idias em um nvel conceitual superior; o uso de

    recapitulaes; a realizao de sntese; a reviso de um conceito ou principio geraa luz de novos elementos que subjazem a um certo comportamento; a

    complexidade de um procedimento, etc. Como no caso da dimenso anterior,

    muitos deles referem o uso da linguagem, por parte dos participantes, como

    instrumento privilegiado para apresentar, reapresentar, negociar e modificar o

    conhecimento em situaes de interao interpessoal.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    32/143

    32

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Dispositivos e recursos de acompanhamento e comprovao dos

    significados que vo sendo construdos na atividade conjunta, empregadosao longo da seqncia de ensino e de aprendizagem

    A necessidade de que, na situao de ensino e aprendizagem, existam e se

    empreguem dispositivos e recursos de acompanhamento e comprovao dos

    significados que vo sendo construdos, na atividade conjunta, vem diretamente

    da prpria noo de ajuste como princpio bsico da influncia educativa eficaz:

    no h possibilidade de ajustar a ajuda sem uma certa idia por mais global ou

    aproximada que seja de ao qu devemos ajust-la, e no h possibilidade de ter

    essa idia sem algum tipo de dispositivo ou recurso de acompanhamento e

    obteno de informao, a partir das aes e das produes parciais que o aluno

    vai realizando. Por tudo isso, sua considerao imprescindvel para uma anlise

    da prtica na sala de aula, interessada pelos mecanismos de influncia educativa,

    que entende a aprendizagem e o ensino como processos dinmicos e no

    completamente rotineiro ou de aplicao estereotipados de esquemas ou planos

    preestabelecidosde tal prtica.Esses dispositivos e recursos podem ser muito diversos quanto a seu grau

    de formalizao e ao uso ou no de instrumentos especficos de apoio, para

    obteno, registro e armazenamento de informao: desde a delimitao de

    espaos e tempos concretos para revisar o aprendido, fazer perguntas ou retomar

    dvidas, at a comprovao de pausa, ou da observao sistemtica a partir de

    critrios explcitos e apoiada em pautas especficas para a avaliao mais ou

    menos informal e intuitiva. Assumindo esta variabilidade potencial, a anlisedever tentar em cada situao, identificar os dispositivos e recursos que

    aparecem, como se usam, que alcance tm e at que pontos mostram-se efetivos

    em sua funo.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    33/143

    33

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Fatores de motivao, de relao e afetivo, que se manifestam ao longo da

    seqncia de ensino e de aprendizagem

    sabido que a aprendizagem, em geral, e os processos de ensino e de

    aprendizagem na sala de aula, em participar, no dependem nica e

    exclusivamente de variveis de carter estritamente cognitivo ou intelectual, mas

    que neles intervem, tambm, decisivamente, um amplo grupo de fatores: de

    motivao, de relao e afetivos. A concepo construtivista conceituou este

    conjunto de fatores, sob a perspectiva do aluno, com o termo sentido (Coll,

    1998), mostrando a variedade de elementos envolvidos desde o interesse e a

    motivao para o contedo ou tarefa at o autoconceito e auto-estima do que

    aprende; desde as expectativas e a complexidade das relaes que mantm

    (Sole, 1993). A ltima das dimenses de anlise que estamos apresentados

    aponta, justamente, para esses fatores, embora no tanto sob a perspectiva

    individual dos participantes, considerados prvia ou isoladamente situao, mas

    sob a perspectiva de sua manifestao no decorrer da atividade conjunta.

    Sob este ponto de vista, entendemos que essa dimenso adquire umcarter marcadamente transversal em relao s anteriores por isso, a

    situamos fora do agrupamento global das mesmas -, pelo menos, em um duplo

    sentido. Em primeiro lugar, quanto aos fatores aos quais alude parecem

    manifestar-se constantemente em todos e cada um dos trs planos da prtica em

    sala de aula, que nos serviram como base de nosso grupo. O fato de que o aluno

    se mostre mais ou menos interessado diante de um certo projeto de atividades e

    tarefas e o aborde mais ou menos convencido de seu xito, o fato de queprofessores e alunos atribuam a uns ou outros fatores a resoluo adequada ou

    no de uma tarefa determinada, ou a sensibilidade e atitude diante do erro do

    professor e aluno parecem, para colocar s trs exemplos, outros tantos

    elementos relevantes em relao dimenso formulada e que se situam, cada um

    deles, em um plano diverso do que temos proposto. Em segundo lugar, o carter

    transversal dessa ltima dimenso refere-se considerao de que a

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    34/143

    34

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    concretizao dos fatores de motivao, de relao e afetivos aos quais alude

    depender, pelo menos parcialmente, da prpria realizao dos fatores aos quaisse refere a totalidade das dimenses anteriores. A partir dessa considerao e a

    ttulo de exemplo, os elementos cruciais para o climade motivao, de relao e

    afetivos da sala de aula so, entre tantos outros; que os alunos possam assumir

    protagonismo em relao gesto e direo de sua prpria aprendizagem; que

    recebam a ajuda necessria para resolver, com xito, as tarefas e empregar,

    significativamente, os contedos; que se vejam apoiados nos momentos de

    incompreenso e ruptura: que eles mesmos possam introduzir ajuste e

    modificaes o processo de ensino e de aprendizagem etc. da a pertinncia, para

    essa ltima dimenso, de informaes e indicadores relativos ao conjunto das

    dimenses anteriores.

    Frisar seu carter transversal no representa, em absoluto, sob o ngulo da

    nossa proposio, reduzir essa ltima dimenso a uma soma das anteriores , nem

    obviar a existncia de informaes e indicadores especficos da mesma por

    exemplo, em mbitos como o tom afetivo das relaes entre os participantes , a

    fluncia e o contedo da comunicao, o humor, o manejo dos conflitosinterpessoais, ou gesto da ordem e da disciplina. Contudo, entendemos que levar

    em conta esse carter transversalpelo menos, como hiptese heurstica e como

    instrumento de apoio anlise e interpretao pode permitir uma

    compreenso mais completa do papel que desempenham os fatores de

    motivao, de relao e afetivo, assim como da dinmica qual recorrem, em

    uma situao concreta de sala de aula. E, no mesmo sentido, pode servir de ajuda

    para obter uma interpretao mais integrada e de conjunto da situao, que

    relacione, em grande parte, os diferentes tipos fatores que nela operam.

    A anlise da prtica educativa as salas de aula mediante a observao

    Qualquer opo que se adote em relao ao objetivo central da anlise da

    prtica, sob a perspectiva do trabalho psicopedaggico, da delimitao do objeto

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    35/143

    35

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    dessa anlise e das dimenses mais relevantes para a mesma, acarreta

    repercusses e conseqncias no mbito dos procedimentos e instrumentos, pormeio dos quais se realizar tal anlise no contexto de um processo de

    assessoramento. Nesse mbito, e de acordo com o que anuncivamos no incio

    do capitulo dedicaremos o segundo grande item de toda exposio explorao

    de algumas destas repercusses e conseqncias em relao conservao

    direta das situaes naturais de sala de aula, como procedimento e instrumento

    de anlise da prtica, sob a perspectiva da interveno psicopedaggica.

    A escolha deste tipo de observao como eixo de nossos comentrios

    apia-se em dois tipos de consideraes.a primeira , de carter mais conceitual,

    que esta observao pode ser considerada como um instrumento de anlise da

    prtica, particularmente relevante, sob a perspectiva que estamos apresentando.

    Na realidade, a observao em sala de aula permite uma abordagem da prtica

    que examina seu carter dinmico e processual e pode apreend-la sem perder a

    dimenso temporal que lhe consubstancial; ao mesmo tempo, possibilita um

    acesso direto articulao real das aes dos participantes em torno das tarefas e

    contedos que estruturam a atividade conjunta em sala de aula permitindo, assim,extrair informao relativa ao tringulo interativo, que, em nosso posicionamento,

    constitui a unidade bsica e mnima de anlise dos processos de ensino e de

    aprendizagem.

    A segunda considerao, mais pragmtica, a constatao de que, nos

    ltimos anos e em conexo com a evoluo global da interveno

    psicopedaggica para o modelo educativo-enriquecedorao qual fazamos aluso

    no incio do capitulo, a observao em sala de aula foi se consolidando,progressivamente, como um dos instrumentos prioritrios empregados nas tarefas

    de assessoramento, com o objetivo de compreender e de otimizar os processos

    de ensino e de aprendizagem, objetivo de interveno. No entanto, essa

    centralizao na interveno no significa afirmar a exclusividade da mesma como

    instrumento de anlise da prtica na sala de aula requer, habitualmente, o uso de

    um leque amplo de instrumento e procedimentos complementares entre si

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    36/143

    36

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    observao da sala de aula, entrevistas, anlise de materiais escritos, anlise de

    situaes interativas didticas, anlise de execues individuais, etc. quepossam oferecer informao tanto sobre o projeto e planejamento da prtica

    quanto sobre seu desenvolvimento e sobre os resultados ou produtos finais,

    eventualmente, resultantes da mesma.

    Organizaremos nossos comentrios em torno de quatro fases distintas que

    so possveis de distinguir no processo de anlise psicopedaggica da prtica,

    mediante a observao em sala de aula: a negociao e definio conjunta dos

    objetivos, o contexto e processo de anlise da prtica mediante a observao: a

    seleo e registro de dados na observao, a anlise e interpretao propriamente

    ditas, da prtica na sala de aula a partir dos dados registrados, a elaborao de

    uma representao geral e conjunta dessa prtica e o projeto dos ajustes da

    mesma, que derivam da anlise (ver tabela 12.2).

    Com uma dessas fases se estrutura em torno de alguns objetivos

    especficos, costuma ocorrer em cenrios e momentos diversos no tempo e

    implica contribuies diferentes por parte do assessor e dos professores. Em seu

    conjunto, essas fases representam uma certa estruturao do processo de anlisepsicopedaggica da prtica mediante a observao em sala de aula , que registra,

    pelo menos em grande parte, o fazer habitual de alguns assessores. Contudo,

    essa estruturao tem um carter global e pode realizar-se de maneiras

    parcialmente diferentes em funo do tipo de problema e de solicitao, que so

    objeto de assessoramento de anlise da prtica que temos proposto, em nveis e

    momentos diversos do processo. De qualquer modo, a adoo deste tipo de

    estrutura traz como conseqncia entender o uso da observao, como

    instrumento de anlise da prtica em sala de aula, no marco do assessoramento

    psicopedaggico, como uma seqncia complexa de aes, com um componente

    necessrio de trabalho conjunto e de evoluo no tempo, que vai alm da estrita

    busca de dados ou de sua interpretao descontextualizada por parte do

    assessor.

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    37/143

    37

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Tabela 12.2 Seqncia de fases no processo de anlise psicopedagogo da prtica

    mediante a observao em sala e aula com algumas das atuaes envolvidas.

    NEGOCIAAO EDEFINIAOCONJUNTA DOSOBJETIVOS E DOPROCESSO DAANALISE

    .concretizao doproblema

    . Delimitao dasolicitao

    .Definio dasolicitaao.. Contextualizaoda observao

    SELEAO EREGISTRO DEDADOS NAOBSERVAAO. Decises emrelao a qu,quando e comoregistrar:critrios a partir

    da noo deinteratividade edos planos edimenses daprtica (vertexto).

    ANLISE EINTERPRETAOPOR PARTE DOASSESSOR

    . Seleo eorganizao de

    dados.. Primeirainterpretao ecomparao.. Elaborao dehiptese esistematizao deresultados. Identificaoinicial de possveismudanas.

    ELABORAAO DEUMAREPRESENTAOCOMPARTILHADAE PROJETO DEMUDANAS

    . Anlise conjunta ecomparao com o

    professor.. Definio econcretizao demudanas ouelementos a seremintroduzidos.. Projeto doprocesso deimplementao eavaliao dasmudanas.

    A negociao e a definio conjunta dos objetivos, do contexto e do

    processo de anlise da prtica mediante a observao

    Geralmente, o processo de assessoramento parte da problematizao,

    por parte do professor, de algum aspecto de sua prtica ou dos resultados da

    mesma, isto , da proposio de algum aspecto da prtica ou de seus resultados

    com objeto de ateno e motivo para uma interveno, em termos de colaborao

    e/ou ajuda especfica, por parte do psicopedagogo. O grau de clareza com que o

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    38/143

    38

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    problema, assim delimitado, pode ser, neste momento inicial, muito varivel,

    tanto como a clareza e explicitao da solicitao que se proponha aopsicopedagogo. Seja qual for o ponto de partida, esta primeira fase ter como

    objetivo na lgica de um modelo de interveno psicopedaggica que pretenda

    apoiar e assessorar os professores na anlise e na compreenso dos processos

    de ensino e de aprendizagem em que participa, a elaborao de uma

    representao inicial compartilhada do problema, entre professor e assessor.

    Esta dever servir de ponto de partida para a continuao do trabalho e, a

    partir dessa representao, para o estabelecimento de uma definio conjunta dos

    objetivos, do contexto e do processo de anlise da prtica a ser desenvolvida em

    relao ao problema, no qual se inserir, eventualmente, a observao da sala de

    aula. Para isso, psicopedagogo e professor, em um trabalho conjunto, realizado

    habitualmente sob a orientao do primeiro, devero: de ensino e de

    aprendizagem em que participa, a elaborao de uma representao inicial

    compartilhada do problema, entre professor e assessor. Esta dever servir de

    ponto de partida para a continuao do trabalho e, a partir dessa representao,

    para o estabelecimento de uma definio conjunta dos objetivos, do contexto e doprocesso de anlise da prtica a ser desenvolvida em relao ao problema, no

    qual se inserir, eventualmente, a observao da sala de aula. Para isso,

    psicopedagogo e professor, em um trabalho conjunto, realizado habitualmente sob

    a orientao do primeiro, devero:

    Definir e concretizar, na medida do possvel, conjuntamente, o problema

    proposto. Neste sentido, as dimenses de anlise da prtica que propusemos

    podem servir, ao psicopedagogo, como um instrumento auxiliar para situar einterpretar o problema, ao mesmo tempo em que para compreender, mais

    adequadamente, a conceituao que o professor tem dele, por exemplo, vendo

    que dimenses ou elementos da prtica em sua apresentao do problema os

    quais omite, as quais atribui mais importncia, em que termo, etc. A partir desta

    dupla compreenso, pode tornar-se mais fcil pra o assessor guiar e conduzir a

    informao que vai solicitar ao professor, tentando obter uma informao inicial

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    39/143

    39

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    ainda que seja mnima das diversas dimenses e identificando aquelas

    dimenses ou aspectos das mesmas sobre os quais parece relevante dispor e umconhecimento mais detalhado. Ao mesmo tempo, este processo de obteno de

    informao, Conceitualmente guiado, pode representar uma maneira de comear

    a redefinir de maneira conjunta, o problema por exemplo, mediante o tipo de

    aspectos para os quais apostam as perguntas que faz o assessor. Contudo, essa

    redefinio deveria sempre manter um carter autenticamente compartilhado,

    mantendo o contato com as preocupaes, os interesses e as idias prvias do

    professor, sem transformar-se em uma redefinio unilateral imposta pelo

    psicopedagogo.

    Negociar e delimitar a solicitao de assessoramento. A partir da definio

    compartilhada que se tenha obtido, ser possvel concretizar, em grande parte, os

    elementos ou aspectos problemticospara o professor e delimitar o alcance e as

    caractersticas da interveno solicitada ao psicopedagogo em relao a eles.

    Essa delimitao pode representar, em muitos casos, uma certa priorizao ou

    seleo de elementos dentre os envolvidos no problema, em funo das

    possibilidades reais e o contexto em que se d a interveno. Comoconseqncia, algumas das dimenses de anlise empregada como referncia, ou

    certos aspectos das mesmas, podem ser priorizados como objeto de ateno

    conjunta e transformar-se, conseqentemente, em eixos do processo de trabalho

    posterior. No entanto, isto no deveria representar limitar a anlise destes

    aspectos, ou desconect-los do restante de elementos e dimenses de referncia.

    Definir e fazer um acordo sobre o processo de anlise e o sentido e

    objetivos da observao em sala de aula para a resoluo do problema proposto.A concretizao do problema e a solicitao permitiro definir e fazer acordo sobre

    o processo geral de anlise da prtica que se considere necessria para abord-

    las, decidir eventualmente o interesse de empregar a observao como um

    dos instrumentos e procedimentos para essa anlise, e, em seu caso, delimitar e

    acordar os objetos dessa observao. Neste sentido, a forma em que se tenha

    definido ou redefinido conjuntamente o problema ser decisivo para que o uso

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    40/143

    40

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    da observao em sala de aula seja considerada por professor e psicopedagogo

    como algo necessrio, que pode oferecer determinados dados ou informaesrelevantes relao ao problema, que no podem ser extrados da representao

    inicial do mesmo nem podem ser obtidos mediante outros instrumentos de uma

    situao de no-aprendizagem de um aluno concreto, a observao no ser

    provavelmente necessria nem sequer como pertinente -, se a definio do

    problema se realiza em termos de dificuldades de aprendizagem do aluno; no

    entanto, ser considerada, provavelmente, imprescindvel, se a definio se

    estabelece em termos de ajuste da ajuda e do suporte oferecidos ao aluno.

    A existncia de uma definio inicial, autenticamente compartilhada do

    problema, que d sentido utilizao da observao muito particularmente, sob

    o ponto de vista do professor, indicada, assim, como um elemento fundamental

    para o conjunto do processo de anlise e para a possibilidade de que dele se

    derive algum tipo de mudana na prtica sobre a qual se trabalha.

    De acordo sobre a realizao e os objetivos da observao, procurar-se-

    definir, conjuntamente, as caractersticas e a contextualizao do processo a ser

    levado a efeito. Pelo menos, trs elementos parecem prioritrios nesse sentido,sob a perspectiva que estamos adotando. O primeiro deles a seleo das

    situaes a serem observadas em sala de aula. Para isso, o critrio conceitual

    seria, em princpio, o de observar, de acordo com as exigncias apontadas a partir

    da noo de interatividade, seqncias completas de ensino e de aprendizagem,

    desde o incio at o final das mesmas. No caso de que tipo de observao no

    seja possvel por razes prticas fato habitual nas situaes de assessoramento

    psicopedaggico, este critrio pode tratar de buscar a mxima representatividadepossvel dos momentos observados, em relao tanto prtica habitual na sala de

    aula de que se trate, quanto ao problema e a solicitao estabelecidos, tentando

    manter um equilbrio entre a exigncia de respeitar a dimenso temporal do

    processo de ensino e aprendizagem e as possibilidades reais do psicopedagogo

    entrar na sala de aula por exemplo combinada a realizao de duas

    observaes em duas sesses diferentes da mesma seqncia temtica, que

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    41/143

    41

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    corresponde, dentro do possvel, s atividades e tarefas principais dessa

    seqncia. O segundo elemento a busca de toda a informao necessria paracomplementar e contextualizar a observao: objetivos e contedos gerais da

    unidade e das atividades e tarefas a serem observadasconforme a primeira das

    dimenses de anlise que temos proposto: articulao e conexo destas

    atividades e tarefas com outras que se tero realizado, previamente, e se tem

    previso de realizar a posteriori; desenvolvimento previsto de cada atividade e

    recursos e suportes para desenvolv-la; dificuldades e problemas que podem ser

    antecipados e formas de ajuste disponveis a respeito. Esta informao,

    imprescindvel, em qualquer caso dever provavelmente, ser ainda mais extensa e

    detalhada quanto mais reduzida for a mostra de atividades e tarefas realmente

    observada em relao ao conjunto do processo de ensino e de aprendizagem de

    que se trata. Finalmente, enquanto a observao da sala de aula representa a

    incorporao do psicopedagogo em um contexto previamente definido por

    professores e alunos, o terceiro elemento a ser delimitado neste ponto faz

    referncia incorporao do psicopedagogo situao de sala de aula durante a

    observao como se apresentar o observador ao grupo aula, sua possvelparticipao no-previstas.

    Cabe destacar que da mesma forma como apontamos em relao a

    momentos anteriores desta fase, tambm a negociao sobre o processo de

    anlise e o sentido e objetivo da observao a ser realizada pode ajudar a

    enriquecer e fazer evoluir a definio compartilhada do problema entre professor e

    psicopedagogo, trazendo, em si mesma, elementos para a reflexo sobre a prtica

    habitual do professor.

    Seleo e registro de dados na observao

    O registro de dados na observao envolve sempre inclusive nos mais

    aparentemente objetivos e completos, como o registro em vdeo uma certa

    seleo de informao por parte do observador, e uma certa tomada de decises

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    42/143

    42

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    sobre aquilo que se considera prioritrio ou no- registrar. No entanto, essa

    seleo e essa tomada de decises marcaro, decisivamente, a base deinformao sobre a qual se poder embasar a anlise posterior, e, assim,

    necessrio assegurar sua coerncia com as idias tericas que orientam o prprio

    processo de observao, estabelecendo alguns critrios de referncia nesse

    sentido. No caso de um modelo de anlise como o que apresentamos no item

    anterior, tais critrios surgem do conjunto de opes e noes conceituais que

    informam o modelo e das prprias dimenses de anlise apontadas, e a o

    objetivo principal garantir, da melhor maneira possvel , que o registro realizado

    permita, efetivamente, dispor de informao suficiente para realizar uma anlise a

    partir dessas noes de dimenses.

    A seguir, e sem pretenso alguma de esgotar o assunto, apresentaremos

    alguns destes critrios para o caso concreto do uso, por parte do psicopedagogo,

    de um registro escrito depapel e lpisde carter narrativo-descritivoisto , que

    trate de apreender o fluxo da atividade conjunta dos participantes, a medida que

    se produz e sem empregar categorias fechadas e estabelecidas a priori. Esse tipo

    de registro constitui, de acordo com nossa experincia, um dos mais utilizadospelos psicopedagogos em suas observaes em sala de aula. Ao mesmo tempo, e

    sob uma perspectiva mais conceitual, possibilitam por suas caractersticas,

    apreender tanto a dimenso temporal do processo de ensino e de aprendizagem

    na sala de aula como articulao e inter-relao das aes dos participantes no

    mesmoelementos absolutamente centrais para a observao e a anlise a partir

    da noo da interatividade. Alm disso, os critrios relativos a uma modalidade de

    respeito podem ter, tambm, alguma utilidade, ainda que seja em um nvel geral ede forma orientadora, em relao ao uso de outras formas de registro por

    exemplo, podem dar elementos para valorizar alguns aspectos de determinados

    sistemas de categorias fechadas e estabelecidas a priori que, s vezes, so

    empregados como instrumento de observao em sala de aula, ou para

    estabelecer critrios de transcrio no caso da utilizao de registros de udio e

    vdeo. Muito brevemente, podemos apostar os seguintes critrios:

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    43/143

    43

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    Considerar, da maneira mais precisa possvel, em sua ordem e

    desenvolvimento real, a seqncia de eventosou atividadesque se sucedemno tempo, durante o perodo observado, entendido como fases da atividade

    conjunta que tm uma certa estrutura reconhecvel e alguns objetivos para os

    alunos e o professor- dar/escutar uma explicao, propor/resolver uma ficha ou

    em exerccio, ler/comentar um texto, realizar uma sistematizao -, e para as

    quais se pode identificar um certo incio e um certo final. Mudanas em aspectos,

    como as formas em que se organizam os participantes na situao por exemplo,

    trabalho em pequeno grupo versus fazer um desenho no caderno os

    comportamentos permitidos e no-permitidos aos alunos fazer ou no

    perguntas-, os apoios e recursos bsicos de trabalho informao trazida pelo

    professor versus trabalho sobre o livro-texto-, o foco temtico sobre o que se

    trabalhao contedo central sobre o que se articula o trabalho dos participantes

    ou o espao fsico no qual se desenvolve a atividade ou a disposio dos

    participantessituar-se em recantos versus em crculos no centro da sala de aula

    costumam marcar, habitualmente, mudanas de eventoou de atividade, no

    sentido que estamos dando a estes termos.Para cada um dos eventosou atividadesque vo sendo desenvolvidas,

    registrar, temporalmente, o incio e o final, assim como a organizao espacial

    geral dos participantes. Igualmente, considerar, o mais literalmente possvel as

    intervenes em geral do professor que servem para abrir e apresentar a

    atividade e para tent-la e, eventualmente, para encande-la com a seguinte.

    Considerar, ordenadamente, as aes mais relevantes dos participantes ao

    longo de cada eventoou atividade,prestando especial ateno inter-relaoentre as aes dos participantes marcando sua simultaneidade ou conseqncia.

    importante considerar tanto aqueles que envolvam intercmbio de comunicao

    ou interao cara-a-cara entre os participantes com aqueles de natureza,

    aparentemente, individual, mas que fazem parte, igualmente, do global da

    atividade conjuntao que faz o professor enquanto os alunos revolvem exerccios

    individualmente, o que faz o restante dos alunos enquanto o professor d apoio

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    44/143

    44

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    individual a um aluno ou pequeno grupo. Nesse sentido, o registro deveria permitir

    caracterizar, posteriormente, os padres de ao conjunta mais tpica ecaractersticas, de cada evento ouatividade ,em suas mais diversas variedades

    e concretizaes possveis.

    Prestar ateno tanto aos aspectos verbais como no verbais chaves

    prosdicas e paralingsticas, aspectos manipulativos, etc. da atividade,

    considerando-os em todos os casos, na medida do possvel, da maneira mais

    clara e explcitameno textual de intervenes verbais, descrio detalhada de

    aspectos no verbais. Levar em conta a importncia tanto das produes

    verbais comunicativas de professor e alunos como das produes de regulamento

    e planejamento da ao por parte dos alunos, quando aparecem.

    Reproduzir, o mais fielmente possvel, os apoios e os suportes materiais

    que se usam em cada eventoou atividadedesenhos do quadro-negro, pgina

    do livro-texto, fichas, resumos de trabalho, etc. na medida do possvel, e

    idealmente, dispor dos materiais originais para a fase de anlise propriamente

    dita. Isso vlido tambm para os produtos elaborados para os alunos ao longo

    da atividade e qualquer outro elemento material complementar que possa serrelevante para a interveno posterior.

    Prestar ateno especial para a considerao daquelas aes verbais ou

    no dos participantes que paream introduzir mudanas ou modificaes

    significativas no fluxo da atividade conjunta perguntas de um aluno que

    provocam uma nova explicao ou uma recapitulao, observaes que induzem

    o professor a dar por finalizada uma tarefa, etc. Tambm prestar ateno queles

    que, por sua natureza, paream ser especial interesse em funo dos objetivosespecficos da observao.

    Registrar qualquer tipo de participao do observador durante a situao e

    as aes do restante dos participantes com ela relacionados.

    Tentar diferenciar, na medida do possvel, entre registro objetivo da

    atividade conjunta e as interferncias, os comentrios, as observaes ou as

    interpretaes que o observador pode ir realizando ao longo do processo,

  • 7/22/2019 TEORIAS E PRTICAS DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL.pdf

    45/143

    45

    INEL - INSTITUTO EDUCACIONAL LOGUS - LTDA

    indicando estas ltimas, explicitamente, mediante algum tipo de marca ou sinal

    convencional.Registrar especificamente, os comentrios