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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO FACULDADE DE ECONOMIA Brasil & Estados Unidos: embate na OMC pelo suco de laranja Fernando Mascaro e Silva Nogueira Monografia de Conclusão do Curso apresentada à Faculdade de Economia para obtenção do título de graduação em Relações Internacionais, sob a orientação da Profa. Peggy Beçak São Paulo, 2012

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FUNDAÇÃO ARMANDO ALVARES PENTEADO

FACULDADE DE ECONOMIA

Brasil & Estados Unidos: embate na OMC pelo suco de laranja

Fernando Mascaro e Silva Nogueira

Monografia de Conclusão do Curso apresentada à Faculdade de Economia para obtenção do título de graduação em Relações Internacionais, sob a orientação da Profa. Peggy Beçak

São Paulo, 2012

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NOGUEIRA, Fernando. BRASIL & ESTADOS UNIDOS: EMBATE NA OMC PELO SUCO DE LARANJA. São Paulo, FAAP, 49 p. (Monografia apresentada ao curso de graduação em Relações Internacionais da Faculdade de Economia da Fundação Armando Alvares Penteado) Palavras-chave: 1. Brasil. 2. Estados Unidos. 3. Sistema Multilateral de Comércio. 4. OMC. 5. Suco de laranja, 6. Embate comercial.

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Dedicatória

Dedico este trabalho a meu avô, Manoel, que fez da sua história de vida minha inspiração em todas as minhas lutas, sejam elas vitoriosas ou não.

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Agradecimentos

Gostaria de agradecer inicialmente a meus pais, que em momento algum

mediram esforços para que meus sonhos se concretizassem e nos momentos de dúvida,

fizeram com que eu acreditasse na minha capacidade.

A minha mãe, Claudia, que me acompanhou em todas as decisões da minha vida

inclusive na mudança para São Paulo para fazer a faculdade, mostrando que quando a

saudade aperta, o amor materno conforta mesmo que distante.

Meu pai, Wagner que me ensinou a respeitar a ética acima de tudo, em qualquer

momento. E mostrou que não são necessárias muitas palavras pra confortar ou motivar,

suas atitudes demonstram por si só.

Agradeço também a Julia, minha irmã, que não importando o momento que

fosse sempre me alegrou tornando minha estadia em São Paulo e na FAAP mais

engraçada.

Não poderia deixar de citar, minha tia Ana, que sempre foi tão carinhosa comigo

(e com todos meus amigos que acabaram por se tornar sobrinhos dela também) me

ajudando na distância de casa.

Minha orientadora, Peggy Beçak pela sua dedicação, zelo e compreensão em

todos os momentos da execução do nosso trabalho. Gostaria ainda de agradecer a todos

meus mestres ao longo dos 4 anos de faculdade transmitindo conhecimento profissional

e pessoal, além da ajuda de todos os funcionários da FAAP em especial, os da

Biblioteca que me ajudaram nesse e em tantos outros trabalhos.

Não teria chego aqui, sem o apoio de todos meus amigos de Rio Claro que me

mostraram que manter antigas amizades é tão importante quanto fazer novas.

Por fim, agradeço ao Daniel, Felipe, Nicolas, Wagner, Alan, Renato, Gui que

acabaram por se transformar em eternos amigos através de todo o período de 4 anos da

faculdade.

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Resumo

Este trabalho tem por objetivo analisar os embates ocorridos no âmbito da OMC

em relação às barreiras comerciais impostas pelos Estados Unidos ao suco de laranja

brasileiro. E as razões pelas quais, os produtos agrícolas são importantes para a

economia de países em desenvolvimento como o Brasil.

Para isso, defende-se a hipótese que os subsídios e as taxas norte-americanas

aplicadas ao suco de laranja brasileiro resultam em perdas comerciais e

consequentemente, econômicas para a nação produtora. E ainda, analisasse de que

forma a crescente atuação dos países em desenvolvimento na OMC pode ser benéfica

para estas nações.

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Lista de Figuras

Figura 1 Divisão das regiões do cinturão citrícola p. 18

Figura 2 Área de produção de citros no Brasil p. 21

Figura 3 Procedimento no Sistema de Solução de controvérsias da OMC p. 32

Figura 4 A forma que o subsídio direto é aplicado em produtos agrícolas p. 38

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Posição e participação do Brasil na produção e exportação mundial de

produtos agrícolas em 2009 p. 21

Tabela 2 Subproduto e características da laranja p. 23

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Lista de Gráficos

Gráfico 1 Consumo de suco de laranja no mundo em 2009 p. 10

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Sumário

Dedicatória Agradecimentos Resumo Lista de Figuras Lista de Tabelas Lista de Gráficos Introdução

1. Contextualização histórica: a laranja no mundo

1.1. Introdução nos Estados Unidos

1.2. A laranja no Brasil

2. O efetivo estabelecimento de um Sistema Multilateral de Comércio – OMC

2.1. Surgimento do GATT

2.2. A agricultura como tema principal de discussão

2.3. Relação dos países em desenvolvimento

3. O fim da hegemonia produtiva e os embates na OMC

3.1. Mudança na estrutura econômica mundial

3.2. Conflito na entrada de suco de laranja brasileiro em território norte-americano

3.3. Início do embate na OMC entre os países

Conclusão

Referências bibliográficas

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Introdução

O tema desta monografia é a cadeia citrícola no Brasil onde será apresentando uma

breve contextualização histórica do bem no país até os dias de hoje, assim como as áreas que

se tornaram grandes centros produtores do produto e os embates que tem se formado na

cúpula da Organização Mundial do Comércio (OMC) por imposição dos Estados Unidos da

América (EUA) e que acabam por se tornar uma barreira à entrada do produto brasileiro no

comércio internacional.

Tendo como objeto de pesquisa a relação Brasil – Estados Unidos para

comercialização do suco de laranja, a análise do objeto, será apresentado a importância que a

produção de laranja tomou nos últimos anos para a economia brasileira, seus aspectos

geográficos e condições climáticas que favoreceram a citricultura brasileira.

O Brasil se tornou um grande produtor do bem e com reconhecimento mundial pela

sua qualidade na atividade, isso ocasionou por parte dos EUA a perda do posto de maior

produtor deixando ainda, uma brecha no atendimento do seu mercado interno.

Com o intuito de conter a entrada no território americano, altas taxas antidumpings são

impostas ao suco de laranja brasileiro, o que fez com que o governo do país fosse à cúpula da

OMC para contestar tais medidas. As elevadas taxas protecionistas impostas pelo governo

americano ao produto brasileiro implicam em perdas econômicas para o país que tem na

exportação de produtos agrícolas uma importante fonte de renda.

Em contrapartida, não é somente o Brasil que perde com a imposição dessas tarifas,

pois diminuindo a entrada de bens agrícolas os Estados Unidos tem que direcionar parte do

seu potencial para essa atividade. E sendo um importante produtor de bens de alto valor

agregado, ele poderia focar sua produção nesse setor que detém vantagem comparativa em

relação a outros países gerando assim, maior riqueza para o país.

Quando se considera o envio de suco de laranja brasileiro para atender o mercado

americano, surgem questões pertinentes como, as taxas abusivas impostas pelo governo da

Flórida/EUA ao produto brasileiro poderiam representar um empecilho real a produção e a

economia brasileira?

Mesmo sendo considerado um importante importador de produtos agrícolas oriundos

do Brasil, em especial neste caso, o suco de laranja, os Estados Unidos perceberam que nos

últimos anos houve uma estagnação nessa atividade comercial e para promover um

crescimento no envio de produtos para este país, a melhor maneira seria eliminar as taxas

protecionistas impostas ao produto brasileiro e é daí que se levantam as seguintes hipóteses ao

problema.

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Hipótese 1: A OMC surge como um órgão que busca institucionalizar o comércio

internacional onde todos seus signatários devem ser tratados de forma igualitária e ter

seus interesses defendidos, portanto, cabe ao representante brasileiro recorrer a essa

instância para assegurar que o comércio internacional do país, neste caso o suco de

laranja, seja feito de forma livre e sem empecilhos externos.

Hipótese 2: As eliminações das taxas protecionistas tendem a retomar o crescimento

das relações comerciais entre os países.

Hipótese 3: Se os Estados Unidos figuram como importante comprador de suco de

laranja do Brasil e este, vem aos longos dos anos se confirmando como maior produtor

mundial do bem, as sucessivas quedas na taxa de importação em decorrência dessas

barreiras pode fazer com que a atividade deixe de se tornar atrativa para os produtores

brasileiros e que seja abandonada implicando em grandes perdas econômicas ao país.

Em relação a justificativa do estudo é que, em função dos países emergentes ao longo

da década de 1990 terem se consolidado como grandes potências para a economia

internacional eles começaram a ganhar uma notoriedade que nunca existiu antes. Em

decorrência disso o Brasil obteve um lugar de destaque em relação a outras nações, o que

possibilitou ao país alcançar o prestígio que antigas potências gozaram durante muitos anos.

Esse processo de ascensão foi acelerado pela situação econômica que países como Estados

Unidos e Itália se encontram em decorrência da Crise de 2008.

Ao mesmo tempo em que a economia brasileira surge como promissora, a exportação

de suco de laranja brasileiro figurou como importante alavancador desse processo por ter se

tornado um produto com grande relevância na balança comercial. A entrada do bem no

mercado americano, que perdeu favoritismo no segmento, fez com que produtores daquele

país impusessem taxas abusivas e antidumping ao Brasil, criando embates na cúpula da OMC

para assegurar o livre comércio entre os países.

O objetivo geral desse estudo será analisar as barreiras tarifárias criadas pelos Estados

Unidos ao suco de laranja brasileiro, que entra em seu território e tem reclamações por parte

do Brasil para eliminá-las.

Como objetivos específicos pretende-se:

• contextualizar a importância que a laranja alcançou na economia brasileira no

decorrer do século XIX até os dias de hoje;

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• demonstrar a qualidade diferenciada do produto brasileiro em relação aos antigos

produtores, que capacitou o Brasil como maior exportador de suco de laranja;

• mensurar a queda no favoritismo do produto americano, que fez com que os

produtores deste país criassem imposições tarifárias para dificultar a entrada do

produto brasileiro.

No primeiro capítulo será feito uma contextualização histórica da laranja no mundo,

desde sua origem no continente asiático até a chegada da espécie no território dos Estados

Unidos. Ou seja, da evolução da atividade agrícola que mais tarde tornaria aquela nação como

a maior produtora até a geada de 1962, que acabou com a hegemonia norte-americana na

produção de suco de laranja.

Na segunda parte será abordada da atividade citrícola no Brasil desde seu surgimento,

onde o foco era atender seu mercado doméstico até o momento em que a atenção se voltou ao

mercado externo demonstrando as razões que tornaram o país o maior exportador de suco de

laranja.

O segundo capítulo focará no processo de institucionalização do Sistema Multilateral

de Comércio (SMC) que surgiu nos anos de 1950 através do surgimento do Acordo Geral

sobre Tarifas e Comércio (GATT), e posteriormente OMC, órgãos reguladores que tendem a

tornar mais justo o comércio internacional. Também serão abordadas as importâncias da

atividade agrícola para os países em desenvolvimento e as razões que exigiram maior atenção

nas rodadas de discussão dos órgãos reguladores em relação ao setor até o surgimento do

Grupo dos 20 (G20) que é um grupo composto pelos ministros de finanças e chefe dos bancos

centrais das 19 maiores economias do mundo e a União Européia.

Por fim no terceiro capítulo, serão apresentadas as formas que o suco de laranja

brasileiro, afeta a produção americana, o que faz com que barreiras tarifárias elevadas sejam

criadas e impostas para o comércio com o Brasil, o que gera a recorrência à OMC imposições

ao livre comércio.

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1. Contextualização histórica: a laranja no mundo

A laranja como conhecemos atualmente difere muito da que existiu no passado, ela no

seu estado nativo ela consistia em um fruto duro e com casca grossa. Gregos e romanos

habitualmente chamavam qualquer fruta de maça, a nossa conhecida romã era chamada de

“maça da Roma” e o que para nós é conhecido como pêssego era denominado de “maça da

Pérsia” e a laranja por sua vez, era a “maça de cedro”, o nome cedro acabou se tornando citros

e intitulando todas as frutas de categoria cítrica.

Há uma curiosa confusão histórica entre “maça” e “laranja”. Refere-se a um dos doze trabalhos de Hércules, o 11º. O desafio era conseguir algumas “maças douradas”, que vinham sendo mantidas sob a guarda insuperável do gigante Atlas e suas filhas, as Hespérides. Segundo vários intérpretes da fábula, essas “maças douradas” eram na verdade maduras laranjas, assim chamadas por causa do costume antigo de chamar toda fruta de “maça”. Os mesmos hermeneutas vão mais longe e, pela confusão de nomes entre laranja e maça, garantem ter sido a laranja (e não a outra) a fruta do Paraíso, a tal que acabou com a mordomia de Adão e Eva.(RIBEIRO, 1992, p. 51)

Considerado o berço das grandes civilizações, o continente asiático também é o berço

da laranja no mundo, razão pela qual partiu de lá para sua expansão no mundo. A fruta

nasce no Sudeste Asiático, passa pela Malásia e depois rompe o oceano Índico em direção ao este da África. Aí caminha por terra até o Egito, serve aos mouros e um dia, saltando o Mediterrâneo, ganha a Europa. Daí, no movimento das grandes descobertas, cruza o Atlântico rumo ao Novo Mundo. Sua disseminação se deve aos grandes movimentos humanos – dos gregos, do Império Romano, dos árabes, dos navegantes portugueses e espanhóis. (RIBEIRO, 1992, p. 118)

A utilização do pé de laranja como produtor da fruta para consumo é um efeito

recente. Existem referências sobre a laranja em um livro chinês que abordava o imperador Ta

Yu de 2201 A.C. e “o cultivo de pomares vem desde o ano 1000 antes da nossa era”

(RIBEIRO, 1992, p. 65). Se considerar que existam menções a fruta como Shu-ching no sexto

século antes de Cristo (ZIEGLER, 1961) na história chinesa, porém nesta época ela tinha

caráter meramente decorativo como planta de jardim.

Da China, a planta teria lentamente se expandido para a África através de viajantes e

fluxos migratórios, seguindo em direção ao continente europeu em 310 A.C. . Mas foi durante

o período do Império Romano com o crescimento dos mercados e o aumento do fluxo de

comércio, que ocorre uma expansão de pés de laranja no Sul da Europa se firmando durante a

Idade Média na região. Nessa época a fruta era massivamente utilizada para fins medicinais,

passando a ser adotada para consumo posteriormente, principalmente por pessoas ricas que

criavam pequenas áreas de produção conhecidas como laranjais. (MORTON, 1987, p. 138)

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No primeiro século D.C. a laranja, que foi designada pelos romanos como “fruta

indiana” em razão do país de origem dos pés, foi cultivada na Palestina e no Egito a fim de

alimentar o mercado de Roma, a razão disso era que a viagem entre Itália e Índia era muito

longa o que fazia com que muitas das frutas estragassem e chegassem podres ao destino final.

Mas não era só no Egito e no Iraque que pés de laranja eram cultivados, no sul da

Europa era produzida a laranja-doce muito antes de Vasco da Gama ter chego a Índia em

1498, a evidência mais direta é uma carta escrita em 1483 por Luis XI da França que pedia

pés de laranja-doce vindos de Provence para plantar em sua propriedade. (ZIEGLER, 1961)

Desde Luís XIV, o “Rei Sol” da França, que a flor de laranjeira “está na moda”, tanto ao natural como para perfumes e colônias. Há na Itália uma espécie de mexerica cultivada só para fazer água-de-colônia. As “casa de laranja” (orangeries) do Palácio de Versalhers, que garantiam flores viçosas o ano inteiro para o rei, deram origem às “casas de vegetação” (estufas verdes), que os agrônomos e melhoristas do mundo inteiro hoje usam para controlas suas plantinhas e garantir seu experimento. (RIBEIRO, 1992, p. 94)

No retorno de sua viagem a Portugal, Vasco da Gama levou um novo exemplar de

laranja com qualidade superior a conhecida na época, que fez com que a atividade se tornasse

mais profissional. O aperfeiçoamento implicou no desenvolvimento de casas especiais de

cultivo, que mais tarde ficaram conhecidas como orangeries, espaços usados durante o

inverno que tornava possível o cultivo nesta época do ano e no norte da Europa em função do

seu clima. O pioneirismo de Portugal na atividade da laranja fez com que em 1640 a fruta

proveniente do país se tornasse o tipo preferido em relação a chinesa, que era mais

consumida.

A entrada da fruta na América ocorreu durante o período do descobrimento em 1493

na segunda viagem de Cristovão Colombo ao continente americano, o explorador transportou

exemplares de pé de limão e laranja oriundos das Ilhas Canárias para implantar nas áreas

recém-descobertas.

1.1 Introdução nos Estados Unidos

A expansão da laranja pelos Estados Unidos se iniciou com Ponce de Leon,

conquistador espanhol considerado o primeiro europeu a visitar o estado da Flórida, e que

plantou o pé da fruta pioneiro na região de St. Augustine naquele estado entre 1513 e 1565

(FLORIDA CITRUS MUTUAL, 2011) e em “1579 Menéndez noticiou que laranjas estavam

ficando abundantes naquela ali” (ZIEGLER, 1961, p. 98). Paralelamente a essa região, os

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franceses introduziram a cultura agrícola também na Louisiana, New Orleans. Esta região em

meados de 1872 geraram as sementes que foram distribuídas por todo o território da Flórida.

As missões pelo estado do Arizona fizeram com que laranjais surgissem nesta área

entre 1707 e 1710. Pela mesma ocasião porém mais tarde em 1769, San Diego na Califórnia

recebeu exemplares que deram início aos pomares, o pioneiro deles foi a Missão de San

Gabriel por volta de 1804 que atualmente é parte de Los Angeles.

Algumas sementes coletadas na África do Sul durante uma viagem em 1781 geraram

mudas no barco Discovery, e ao atracar em ilhas havaianas foram apresentadas a chefes

tribais em 1792. Essa iniciativa fez com que a laranja fosse largamente cultivada no Havaí até

ser constatada uma mosca que se alimentava do produto que culmina com o abandono da

cultura no país. (MORTON, 1987, p. 189).

Após a expansão no período acima pelo território americano, a laranja tornou-se o

fruto mais cultivado em todo o mundo, abrangendo Extremo Oriente, África do Sul, Austrália

e algumas áreas da América do Sul e Caribe. Alguns exemplos de países produtores que

merecem destaque são Brasil, Espanha, Argentina, México, Egito dentre outros. Em relação

aos Estados Unidos, os estados produtores são Califórnia, Texas e Arizona e outros que

produzem também, mas em menor quantidade Louisianna, Mississipi, Alabama e Geórgia.

Existiam alguns poucos pomares de laranja cultivados ao longo Rio St. Johns e em

torno de Tampa, mas em sua maioria, os pés cresciam de maneira selvagem dentro das

florestas. Isso se deve ao fato de que o solo arenoso e o clima sub-tropical serviam

perfeitamente para o cultivo daquelas sementes trazidas pelos colonizadores. Para partir desse

estágio primário e se tornar uma atividade comercial foram necessários 400 anos.

Essa mudança de estágio ocorreu logo depois que a Espanha cedeu a Flórida para a

Inglaterra em 1763 e a partir desse momento, se tornando uma colônia inglesa, ela fica

submissa as regras deste país que se baseavam principalmente em trocas comerciais

favoráveis aos ingleses. Isso fez com que a indústria de laranja expandisse para o Leste,

gerando importância para St. Augustine. Este momento de transição foi marcante, mas é só

em 1821 quando a Flórida se torna um estado americano que se fortalece a cultura da laranja.

Em meio a esse período de ascensão ocorre a primeira peste, dentre muitas que ainda viriam,

que ataca entre 1840 e 1870 afetando seriamente citricultura e causando prejuízo aos

produtores.

Quando se torna efetivamente uma atividade comercial rentável e passa receber mais

atenção por parte dos agricultores que iniciaram a atividade, ao fim da Guerra Civil norte-

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americana em 1865 (INFOPEDIA) a produção de citros na Flórida totalizou um milhão de

caixas o que progrediu exponencialmente para cinco milhões em meados de 1893.

A busca por uma bebida que fosse refrescante e saudável ao mesmo tempo por parte

da população norte-americana contribuiu para a expansão da atividade, no entanto seria

necessário melhorar e aumentar os meios para escoar a laranja, a solução encontrada foi

investir nos meios de transporte que se tornaram mais eficazes possibilitando que novos

mercados se abrissem no nordeste dos Estados Unidos.

Nos anos posteriores a 1870 houve forte expansão em vista do mercado em potencial

que se formava, entre 1874 e 1877 o volume total foi de 200 milhões gerando uma receita de

US$ 2 milhões. O momento era perfeito para a lavoura de laranja, mais consumidores, melhor

rede de distribuição, até que no dia 29 de dezembro de 1894 ocorreu a “Great Freeze”. Uma

mudança drástica na temperatura da Flórida, que tradicionalmente tem altas temperaturas e

enfrentava nesse momento uma forte queda que resultou em um severo inverno. Juntamente

com esse fenômeno, vieram as nevascas que foram recordes em Tampa, Quincy entre outras

cidades.

A maioria dos agricultores de laranja acreditou que suas plantações iriam sobreviver a

abrupta mudança, o resultado foi que “de acordo com o jornal State, com uma estimativa de

2.5 milhões de caixas de laranja nos pomares, a fruta congelou. A perda direta estimada foi de

US$ 2 milhões com outros US$500,000 perdido pelas companhias transportadores’’

(CANNON, 2012, p. 67) As mudas mais novas em sua maioria foram destruídas, mas com o

efeito passado e as temperaturas voltando a patamares normais as árvores mais antigas

ressurgiram com flores, premeditando um recomeço.

Em 7 de fevereiro de 1895, enquanto os laranjais se encontravam ainda fragilizados ,

os termômetros começaram a registrar novamente uma queda de temperatura até que nos dois

dias seguintes atingiu níveis abaixo de zero. Porém, dessa vez não foram afetadas somente as

frutas, as árvores foram destruídas inclusive aquelas mais antigas que eram o sopro de

esperança para a produção daquele ano e agora, a perspectiva de uma boa colheita foi perdida.

O resultado desse caos foram vários, as perdas atingiram as cifras de US$ 15 milhões

e a produção do Estado caiu para 100.000 caixas, ainda, o preço do acre1 na região que no

auge da produção atingiu US$1.000 agora passou a custar US$10. Sem maiores perspectivas

de um recomeço naquela região, grande parte da população da Flórida caminhou rumo ao

Norte do país.

1 Medida agrária utilizada para medir espaços de terra

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Escureceu como uma mortalha funerária que se abateram sobre ele quando todas as árvores de fruta na Flórida, foram mortas. Eu em pé na margem do lago e via os vagões cheios da triste aparência dos homens e mulheres no seu caminho de volta ao norte. Eles haviam construído suas casas e fizeram os seus ídolos e depois, vê-los arrastados por uma noite pelas correntes frias do noroeste. Eles arriscaram tudo e perderam, agora eles estavam abandonandos e só restavam suas casas uma vez belas. (HENDLEY, 1946)

Mesmo com a debandada em massa da população, alguns agricultores acreditavam que

o investimento feito ali havia sido muito grande para ser abandonado persistindo na região. O

resultado foi que seis anos após o desastre, em 1901 os produtores alcançaram a casa de um

milhão de caixas exportadas. Somente em 1910 que a produção atingiu os níveis de pré-

congelamento, alcançando em 1915, 10 milhões de caixas e finalmente em 1971 chegou a

incrível quantidade de 200 milhões de caixas de frutas.

Vários fatores têm influenciado essa mudança fenomenal. Ther é uma área muito grande, com satisfatórias condições climáticas e solo para o sucesso da produção de frutas cítricas. Áreas populosas estão relativamente perto da Flórida, tornando fácil para a comercialização da safra. O desenvolvimento de três sistemas ferroviários principais fora das linhas muitos curtas, construídos durante o século XIX, desde o transporte muito mais eficientes para a cultura do que as rotas de água anteriores oferecidas. E mais recentemente a disponibilidade de boas estradas em toda parte tem permitido o transporte por caminhão para abrir novos mercados e reduzir os custos para transportar muitos pontos. (...). Deve ser creditada com grande parte do desenvolvimento incrível de citros da Flórida, pois sem isso as ações da rápida expansão da indústria nos montes de areia da Flórida Central, dificilmente poderiam ter acontecido. (ZIEGLER, 1961, p.7)

Buscando aumentar a demanda pela fruta, os produtores americanos lançam uma

campanha incentivando os consumidores a “beber a laranja”, a razão disso é que para se

produzir um copo de suco é necessário de três a quatros unidades. Buscando facilitar a

extração do suco que na época era uma atividade muito trabalhosa, eles (os produtores)

custearam a produção da máquina de espremer para que elas chegassem bem acessíveis as

famílias americanas.

Essa campanha é apresentada em “um anúncio de jornal em 1916 – “Beba uma

laranja”! que dava o preço de um espremedor elétrico: 10 centavos de dólar, menos do que

um maço de cigarros” (RIBEIRO, 1992, p.45). O resultado foi positivo, durante a década de

1930 o consumo passou de meio litro por pessoa/ano para cinco litros pessoa/ano. (RIBEIRO,

1992)

(...) em 1936, 90% das famílias americanas já tinham assimilado o costume – uma verdadeira instituição nacional – do suco de laranja no breakfast, o reforçado café da manhã dos americanos. Em muitas cidades, o mesmo esquema de distribuição do leite é usado para o suco, que chega à porta das casas cedinho, gelado, confiável, seguro, insubstituível.. (SICONGEL, p.1)

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Visando aumentar a comercialização do produto, iniciou-se o processo de enlatamento

de suco natural. Essa nova forma de apresentação do produto teve seu crescimento

impulsionado com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Pois dessa forma facilitou-se o

envio e durabilidade do produto em campos de combate, permitindo que as indústrias do setor

se estabelecessem.

Com o segmento se desenvolvendo e tornando mais profissionalizado, seriam

necessárias melhores e novas formas de manter os nutrientes e o sabor do produto

industrializado como se este tivesse sido extraído no momento em que o consumidor abre a

embalagem. Para isso a Engenharia de Alimentação, após estudos, uniu as duas principais

características do suco em uma única palavra, “saboroma”, ou seja, sabor e aroma que captam

a essência da fruta, e no caso da laranja esta no óleo essencial.

Comprovado que o modo concentrado era o mais viável para transporte foram

necessários muitos experimentos a fim de se obter uma “massa boa”. Porém, quando se

misturava novamente água a essa massa para o consumo, derivava uma mistura sem gosto,

como disse um jornalista da época “parecia um líquido amarelo com duas colheres de açúcar

e uma aspirina dissolvida” (SICONGEL, p. 2) Isso ocorria pelo fato que durante o processo

de perda d’água, o produto acabava por perder sua essência o que resultava em um líquido

insosso.

Para evitar que isso acontecesse se desenvolveu em 1940 o processo de hot Pack, onde

o suco concentrado é embalado quente e poucos anos depois, em 1944 substitui-se a

comercialização do embalado quente pelo congelado que tinha uma qualidade melhor que a

anterior. A busca por um produto melhor era reflexo da ascensão social das famílias norte-

americanas, o “american way of life” estabeleceu o suco de laranja como produto

imprescindível ao breakfest. Portanto quanto mais recursos disponíveis a família teriam, mais

suco de laranja ela vai consumir exigindo um produto de melhor qualidade.

Essa exigência decorre principalmente daquela que administra o lar, a dona de casa,

pois inicialmente ela descascava a laranja, depois ela exige um espremedor. Buscando

eliminar o trabalho de limpar e lavar o utensílio ela demanda um produto que basta ser

adicionada a água e está pronto para consumo. A escala final dessa cadeia é o produto pronto

ao consumo, que resulta do processo de pasteurização, usado a mais de vinte anos.

Instituído pelo “american way of life” o suco de laranja no café da manha tornou-se

hábito em mais de 70% dos países que o consumem somente no período das sete as nove da

manhã. (SICONGEL) O norte-americano dificilmente consome o produto em outro horário do

dia, diferentemente do que acontece em países europeus que o tomam por simples prazer ou

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vontade de matar a sede. Isso significa que é um produto tomado ao longo do dia, o que

implicaria, teoricamente, em uma taxa de consumo maior nessa parte do mundo. (RIBEIRO,

1992)

Gráfico 1: Consumo de suco de laranja no mundo em 2009

Fonte: Citrus BR, 2009.

Buscando atender essa demanda interna, existe um importante “cinturão citrícola”, no

estado da Flórida que é o de Indian River com pomares que atingem 10 hectares, nele (e em

basicamente toda as áreas produtores de laranja no país como Califórnia e Arizona) as

plantações exibem pés em plena produção e também esqueletos de laranjeiras vitimadas pelas

geadas. O solo é uma problemática, extremamente arenoso (95%) exige muito capital em

adubos e fertilizantes, mas a pior delas é a questão da irrigação, as chuvas irregulares exigem

sistemas avançados e eficazes que são altamente custosos.

Mesmo enfrentando tantos problemas ambientais a indústria da laranja lutou se

modernizou e prosperou contando nos dias de hoje com mais de 8.000 citricultores, 550.000

hectares de terra empregando 76.000 pessoas direta e indiretamente mas, sempre sofreu com

os efeitos das geadas (nos últimos cem anos foram contabilizadas 54) (WITT) que destruíam a

safra do ano e quando mais severa algumas árvores.

Nenhuma delas (1917, 1934, 1940...) afetaram como a de 1962 que foi tão severa que

chegou a ser considerada na época a pior e mais danosa a cultura da laranja. Foi esse

fenômeno que abriu espaço para o Brasil dominar o mercado da fruta no lugar dos EUA.

(FLORIDA CITRUS MUTUAL, 2011).

Consumo de suco de laranja no mundo (em milhões de tonelada)

EUA

Alemanha

França

Inglaterra

Canadá

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... mais dramática geada da Flórida.Um momento de horror. A imagem dos laranjais secos e torcidos, enrugados de gelo e fumaça, levou dor e sofrimento aos produtores da Flórida. Diante da desgraça que vinha do céu, só lhes restava rezar e esperar. Mas a indústria americana de suco não reza, e não podia esperar. Era preciso encontrar com urgência um lugar livre de catástrofes naturais onde a laranja fosse garantida ano sim, outro também. (...) O lugar do mundo escolhido para ser o “pneu estepe” da Flórida foi o “corredor da margem direita do Tietê”, em São Paulo. O eixo Araraquara, Limeira, Matão – e daí pra frente, Mina avante. O que era pra ser mero expediente de reserva acabou se tornando patente de comando. A semente jogada na beira do rio Tietê pegou com tanta força, espalhou-se por tantos Estados que hoje – apenas 30 anos depois daquela geada- o Brasil é o maior produtor mundial de citros e maior exportador de suco de laranja. Entre nossos clientes preferidos, a própria Flórida, desde então dependente do Brasil para um suprimento de um dos artigos presente quase que religiosamente em seu café da manha, o orange juice. (RIBEIRO, 1992, p.7)

O mercado norte-americano hoje é basicamente atendido por laranja brasileira,

existem sessenta marcas que vendem o produto e todas elas recebem um percentual de suco

proveniente do Brasil. E a forma pela qual o produto brasileiro atingiu essa capacidade será

analisado em breve.

1.2. A laranja no Brasil

Foi durante o período das Grandes Navegações que a atividade citrícola se inicia no

Brasil, durante as viagens que duravam meses, até anos várias doenças dizimavam grande

parte dos funcionários dos barcos. O escorbuto era uma delas que causa “principalmente

hemorragias e inchaços, as pessoas que apresentam essa doença se encontram no estágio de

carência da vitamina C. Essa vitamina é essencial para o funcionamento do metabolismo,

também fornece antioxidante que auxilia o corpo no combate a outras doenças.”

(ENCICLOPÉDIA DA SAUDE, 2010).

Buscando diminuir essa taxa de mortalidade e assegurar que ao chegar a novas terras

existisse quantidade de mão de obra suficiente, em 1501 os portugueses trouxeram as

primeiras mudas de laranja para o Brasil, tendo origem espanhola, e sendo importante fonte

de Vitamina C, necessária para curar o escorbuto.

“Inicialmente, a citricultura desenvolveu-se mais nos Estados de São Paulo, Rio de

Janeiro e Bahia” (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 6).

em 1540, já existiam laranjais espalhados pelo nosso litoral, de norte a sul. A mais antiga referência a esse respeito menciona a presença de citrinas em produção na região de Cananéa, litoral sul de São Paulo, naquela data. Gabriel Soares2, chegado à Bahia em 1567, ali viu e descreveu laranjeiras em produção. (RODRIGUEZ, 1991, p. 2).

2 “Era filho de Portugal, passou à Bahia em 1570, fez se senhor-de-engenho e proprietário de roças e fazendas em um sítio entre o Jaguaribe e o Jequiriçá.” (SOUZA, 1851, p. 12).

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A perfeita adaptação no Brasil gerou a idéia de que a planta seria nativa com destaque

em especial ao Estado do Mato Grosso (RODRIGUEZ, 1991), mas a verdade é que a

combinação do clima e solo favoreceu tanto a atividade no país que a espécie gerou

naturalmente um novo híbrido que passou a chamar “Laranja Baía” ou “laranja de umbigo”

(MATTOS JUNIOR, 2005). Esse novo fruto era muito melhor do que o conhecido na Europa,

pois tinha mais suco e um sabor adocicado.

O crescimento da população e consequentemente o aumento na demanda por

alimentos exigiu que mudas de laranja se espalhassem pelo território através de pequenas

lavouras residências e algumas comerciais. Já em 1760 o Vale do Taquari no Rio Grande do

Sul, recebeu sete casais vindos de Açores que iniciaram a atividade citrícola pela região que

tornou aquela a maior zona produtora daquele Estado, o Vale do Caí. A importância dessa

região para a citricultura brasileira é tal que em meados de 1907 aconteceu em Taquarí o 1º

Congresso de Citricultura e Apicultura o que mais tarde foi cenário da instalação da Estação

Experimental de Pomicultura, um centro voltado a cultura citros na região Sul.

(RODRIGUEZ, 1991).

“Há registros de laranjeiras nas margens dos rios Miranda, em Mato Grosso em 1867”

(MATTOS JUNIOR, 2005, p.6). A presença nessa região é decorrência das missões religiosas

que buscavam índios pelo território brasileiro a fim de catequizá-los e, durante a caminhada

plantavam pés de laranja buscando além da alimentação, utilização da Vitamina C da fruta

contra a Cólera, doença que afeta o intestino humano.

Em 1880 a região nordestina intensifica a atividade da citricultura e expande a área

que antes era destinada somente a cafeicultura, o Comendador João Correa de Melo, grande

cafeicultor da região de Maranguape e Pacatuba, se dedicou a laranja e chegou junto com

outros pioneiros a exportar de 30 a 50 mil caixas da fruta para a Inglaterra. As caixas do

produto eram transportadas no lombo de animais, das cidades que eram colhidas até

Maranguape partindo de trem para Fortaleza e por fim, aos cuidados da Casa Ingleza eram

enviadas para terras britânicas. Porém, todo o trâmite, manipulação e armazenamento

precários da época faziam com que os frutos chegassem ao destino final em péssimas

condições, sendo assim o comércio foi prontamente interrompido. (RODRIGUEZ, 1991).

Com a expansão dos pés e o aumento da produção, em 1873, momento em que as

relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos estavam mais estabelecidas

(...) os técnicos em citricultura de Riverside, na Califórnia, receberam 3 mudas da laranja Bahia. Delas saíram as mudas que, posteriormente, se espalharam pelos EUA e outras partes do mundo com o nome de Washington Navel. Tem mais de um século, portanto, o intercâmbio citrícola entre os dois países, e a laranja Bahia foi uma base fundamental. (PORTAL SÃO FRANCISCO)

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A citricultura começava a desempenhar seu papel de importância nas relações

comerciais do Brasil, mas durante o período inicial o país ainda era uma colônia de Portugal e

as decisões sobre o que e para quem produzir, não cabia a colônia. Quando chegaram ao

território sul-americano, os portugueses logo iniciaram a cultura da cana-de-açúcar, um

produto que na época tinha grande aceitação na Europa e gerava alta remuneção. A boa

adaptação a terra e ao clima brasileiro mostrou que aquela seria a melhor opção para que

Portugal lucrasse com seu território recém-descoberto, iniciando-se assim o período da cana-

de-açúcar no Brasil.

Enquanto a agricultura se fortalecia em território brasileiro grandes mudanças no

aspecto político e econômico estavam para acontecer no país, e em 7 de setembro de 1822 o

país se torna emancipado de Portugal por decisão do então Príncipe Regente D. Pedro. O

processo de mudanças culmina em 15 de novembro de 1889 com a Proclamação da

República, que instaura o regime republicano no país e acaba com a soberania exercida pelo

Imperador Dom Pedro II, que restringia o Brasil de tomar suas próprias decisões sem estar

atrelada a metrópole.

Essas mudanças no âmbito político são acompanhadas também no âmbito econômico,

a atividade do açúcar é substituída pela cultura do café que se torna um produto importante

para o comércio internacional e difundiu-se pelo interior Paulista.

Todos os esforços de investimento na economia se voltavam para derrubar mato, comprar escravos, construir sedes de fazenda, esperar colheita. As fazendas de café (...) lideravam a atração de capital (...). Desde a década de 1830, quando entraram em produção plena, o café estava substituindo o açúcar como principal produto de exportação do país. (CALDEIRA, 1995, p. 181)

Junto com o café, começa a cultura acessória da laranja, que nessa época tinha sua

produção voltada a atender a demanda das próprias fazendas cafeeiras e seu excedente, eram

comercializados em pequenos mercados das cidades. Até que “o caráter de produto acessório

que a laranja tinha no início da produção no país muda no começo do século XX e passa a ser

encarado como “opção agrícola”” (MACFADEM, 2004, p. 16).

A partir de 1910 o Brasil fica conhecido internacionalmente como grande exportador

de frutas e a laranja tem papel de destaque entre os dez principais produtos, isso ocorre em

decorrência de políticas incentivadoras da produção do fruto, principalmente por parte do

governo de São Paulo, que distribuía mudas da planta para os produtores no estado.

Além disso, em 1927 o governo do estado paulista reformula as regras tanto em

relação a produção do bem, quanto a exportação. Para ajudar no desenvolvimento da fruta na

região é inaugurado o Serviço de Citricultura, que “consolidou-se na comunidade citrícola

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como um Centro difusor de material genético e de tecnologia, crescendo junto com a

citricultura brasileira” (CENTRO DE CITRICULTURA, 2010.) e atuando juntamente com a

Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ da USP e ao Instituto

Agronômico de Campinas (LOPES, 2006).

Com todos os incentivos internos que estavam sendo oferecido aos produtores

citrícolas, o crash da bolsa de Nova York em 1929 surge como um incentivo externo, pois

derruba o preço do café no mercado internacional aumenta o gap para a citricultura se

fortalecer no país. Além da crise, a cultura do café já estava fragilizada em função da geada

de 1918, uma seca em 1920 e a infestação por nematoides3 que devastaram a produção de no

país e fizeram com que os produtores agrícolas buscassem alternativas. (NEVES, 2010, p. 13)

Os subsequentes acontecimentos desestimularam a cultura cafeeira que durante anos

foi a coluna vertebral da produção brasileira agrícola, esta havia contribuído para a

consolidação dos maiores centros populacionais do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo, que

passaram a ser garantia do consumo da produção do fruto e onde citricultura encontra seu

eixo de produção.

A antiga Capital do país, Rio de Janeiro, já contava inicialmente com a citricultura nas

áreas de morro e depois nas baixadas com milhares de árvores que estavam presentes em

Nova Iguaçu, Itaboraí, Caricá e Araruama. Essas áreas se tornaram famosas por produzir os

tipos de laranja Pera, Seleta e a Mexerica do Rio, a qualidade das frutas incentivou a

exportação para a Argentina e posteriormente para Europa, o que consequentemente

estabeleceu a atividade agrícola. Tamanha foi a importância da fruta que na cidade de

Deodoro, naquele estado o Governo Federal instalou uma Estação de Pomicultura para dar

assistência aos produtores.

O primeiro núcleo citrícola formado no Brasil se formou em Nova Iguaçu que buscou

atender a demanda interna e também um acordo de exportação de laranja para a Argentina

firmado em 1910. A região foi “favorecida pela proximidade do mercado consumidor e pelas

condições edafo-climáticas, a citricultura ganhou força no Centro-Sul. Nos arredores do Rio

de Janeiro existiram muitos pomares comerciais” (JANK & NEVES, 2006, p. 7).

3 “Entre as doenças que afetam a produtividade de fruteiras de clima temperado, aquelas causadas por nematóides assumem grande importância em virtude dos sérios prejuízos causados à planta e, indiretamente, ao produtor, pela redução dos lucros. Os nematóides fitoparasitas prejudicam as plantas pela ação nociva sobre o sistema radicular que, por sua vez, afeta a absorção e a translocação de nutrientes, alterando a fisiologia da planta. Esses organismos também podem predispor a planta a doenças e a estresses ambientais ou atuarem como transmissores de outros patógenos. (...) Esses nematóides podem reduzir o vigor e a produção do pomar e, ocasionalmente, em conjunto com outros fatores, causar a morte da planta.” (EMBRAPA, 2005.)

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Outro núcleo citrícola surgia no final de 1920 em Viçosa, Minas Gerais comandado

pelo Prof. Peter Heney Rolfs, um americano que dedicou sua vida aos estudos da citricultura.

Mas nem toda sua dedicação foi suficiente para superar uma dificuldade desse novo pólo, a

localização, a região ficou esquecida na cultura citros e foi somente na década de 1970 que o

estado mineiro se recolocou no mercado com plantações em Alfenas e no Triângulo Mineiro.

A área citrícola do Rio de Janeiro era mais importante do que a de São Paulo, pois enquanto eram embarcadas 700 mil caixas no porto de Santos (SP), 1,3 milhões de caixas eram embarcadas no Rio de Janeiro. No entanto alegando falta de resistência da fruta carioca ao transporte, as firmas exportadores se transferiam do Rio de Janeiro para Limeira, no Estado de São Paulo. (JANK & NEVES, 2006, p. 7).

Apesar de um polo citrícola estabelecido na região fluminense, não impediu o

surgimento do novo e mais promissor núcleo, este já havia começado a surgir antes de 1920

na região de Limeira interior de São Paulo, porém o destaque do fruto paulista em relação ao

fluminense somado a

campanha publicitária lançada por Navarro de Andrade (Andrade, 1930), a partir de 1928, no jornal o Estado de São Paulo, que impulsionou a ampliação das plantações cítricas, a ponto de, em 1930, exportarem-se, pelo porto de Santos, cerca de meio milhão de caixas da laranja. O entusiasmo era tanto que em 1929 se instalava a I Exposição Frutícola na cidade de São Paulo, com apresentação das variedades estudadas (laranjas, tangerinas, limas, limões e pomelos) (Vasconcellos, 1939b). (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 7).

Em 1928 são criadas as Estações Experimentais em Limeira e Sorocaba, centros de

pesquisa citrícola que instruiu a Secretaria de Agricultura do Estado de SP, comandada na

época pelo agrônomo Fernando Costa. Este, buscando melhorar o sistema de embalagem da

fruta importou maquinários específicos para construção das “packing-houses”.

Um pouco mais tarde ainda no estado de São Paulo, surgia outra zona de produção

citrícola no Vale do Rio Paraíba que contava com plantações nas cidades de Taubaté, Jacareí

e Santa Branca, produção que atendia ao mercado externo e era exportada pelo porto de

Santos. Observando o potencial da região e pretendendo dar maior atenção aos produtores da

região, em 1931 inaugura-se uma terceira Estação Experimental, esta em Taubaté.

(RODRIGUEZ, 1991). Vale ressaltar que a única estação que se encontra na ativa até os dias

de hoje é a de Limeira.

O crescimento da produção, desenvolvimento de técnicas e aprimoramento da cultura

da laranja no país indicava um novo nicho para o agronegócio brasileiro, e em 1939 mais de 5

milhões de caixas da fruta haviam sido exportadas (JANK & NEVES, 2006) mas esse êxito

foi interrompido pela eclosão da II Guerra Mundial que encerrou o “primeiro período áureo

da citricultura brasileira” (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 9).

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Os maiores mercados importadores, especialmente situados no continente europeu,

interromperam os pedidos já encomendados deixando os produtores, principalmente paulistas,

buscando alternativas para escoar o produto no mercado nacional. Naquele momento, a única

remessa da fruta que era exportada era aquela proveniente dos citricultores fluminenses que

atendiam o mercado argentino.

Coube ao governo paulista comprar a produção do interior e vender na capital sem

obter nenhum tipo de lucro, somente para consumir o excedente que anteriormente eram

exportados e agora apodrecem nos pomares contribuindo para a propagação de insetos que

acarretam em pragas, como as moscas – das - frutas.

A recuperação das exportações de laranja ocorreu aos poucos durante o pós-guerra, porém era insuficiente para absorver toda a quantidade disponível e cada safra. Como o mercado interno era pouco desenvolvido, a idéia de industrialização do excedente ganhou adeptos. Em 1959, instalou-se a primeira fábrica de suco concentrado no Brasil e não demorou para que surgissem outras. (NEVES, 2010, p. 13).

A queda da demanda européia durante o período de conflito fez com que muitos

produtores abandonassem os pomares e estes ficaram mais vulneráveis às pragas, dentre elas

uma ameaça que surgiu antes mesmo da I Grande Guerra eclodir a

“tristeza”.Em poucos anos essa doença eliminou todas as plantas enxertadas em laranjeira Azeda, principal porta enxerto usado naquela época em São Paulo. Cerca de 10 milhões de árvores foram reduzidas a lenha, nesse Estado. O alastramento da doença era fulminante, logo atingindo todas as demais zonas citrícolas do país. (...) A situação se inverteu. Em vez de sobras, passou-se a sofrer escassez de cítricos, até mesmo para o consumo interno. Foi aí que um dos primeiros experimentos instalados na E.E. de Limeira demonstrou a importância e o valor da pesquisa. (...) Isso tudo levou tempo. Assim, dez anos se passaram até que a citricultura de São Paulo e de outros estados começasse a se recuperar do desastre causado pela “tristeza”. (RODRIGUEZ, 1991, p. 9).

Os estudos feitos pelos Centros de Pesquisa no Brasil que buscavam a solução para a

praga tristeza concederam uma boa reputação a nível mundial aos centros de estudos e

também aos produtores brasileiros. Passado o período da II Guerra, as exportações começam

a ser retomadas e um novo surto da citricultura desponta no interior paulista, nesse momento a

região passa a deter 16 milhões do total de 50 milhões de árvores em todo território nacional

(PORTAL SÃO FRANCISCO).

Porém, ao mesmo tempo em que a cultura da laranja volta a ativa, em 1957 mudas da

planta trazidas de forma ilegal do Japão carregam junto de si uma bactéria de nome

Xanthomonas citri, agente causadora do cancro cítrico, doença que causa lesões “no fruto,

folhas e ramos”. (MACFADEM, 2004, p. 17)

Um serviço para sua erradicação foi criado no Instituto Biológico de São Paulo, resultando na eliminação de mais de 300 mil árvores na área afetada. Com o alastramento da moléstia ao Paraná e a Mato Grosso, essa campanha se transferiu

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para o âmbito federal (MOREIRA, 1975). Para reforça-la, em setembro de 1977, foi criado o atual Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), órgão encarregado de arrecadar e aplicar, na campanha da erradicação, recursos financeiros de produtores, industriais, comerciantes e outros ligados ao setor citrícola. Iniciativa dessa natureza foi única no País, até aquela época. (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 10).

Após um período de tanta instabilidade, “a expansão dos laranjais ia realizando-se em

cautelosa atividade” (RODRIGUEZ, 1991, p. 10) buscando retomar os mercados externos e

também o interno. Apesar da concorrência do estado da Flórida na produção de laranja, a

proporção dos danos causados pela geada de 1962 foi gigantesca, e procurando atender a

demanda americana e européia por suco de laranja várias fábricas a nível experimental

surgem no interior paulista dentre elas a Citrosuco Paulista em 1961 que exporta para os

EUA, aproximadamente mil toneladas de suco (MACFADEM, 2004).

Foi em 1963 que se estabeleceu o “Registro de Planta Matrizes de Citros”, uma

maneira de certificar a sanidade das mudas que os produtores utilizam e garantir que os

pomares fossem sadios, a Estação Experimental de Limeira funda um “Banco de

Germoplasma Sadio” que soma forças a luta contra pestes na produção cítrica (JANK &

NEVES, 2006, p. 7). Essa iniciativa cria um ambiente economicamente mais seguro para a

implantação de grandes lavouras de laranja

Isso capacita o produtor brasileiro a estabelecer pomares comparáveis aos mais

avançados em outros países. “A produtividade, que nas antigas plantações raramente

ultrapassava a média de duas caixas de 40 kg por árvore vem se elevando para médias

superiores a cinco caixas de 40 kg por árvore, em muitos pomares do Estado”. (paulista)

(RODRIGUEZ, 1991, p. 11).

Durante a década de 1970 os pomares paulistas se expandem a fim de atender a

crescente demanda mundial atingindo um crescimento na casa dos

milhões de árvores por ano. De 1985 em diante, plantaram-se cerca de 12 milhões de plantas cítricas, anualmente com poucas variações. Com isso, esse Estado chegou, em 1988, a ter mais de 170 milhões de plantas, ocupando cerca de 800 mil há. Pode-se aferir a rapidez dessa evolução pela exportação do suco concentrado congelado, que, de 6.000 toneladas, em 1963 subiu para 48.000, em 1970, atingiu 213.000 em 1977, e em 1998, cerca de um milhão de toneladas, proporcionando divisas no valor de 1,02 bilhão de dólares para o País. (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 10).

A região paulista que desde o início despontou como grande promissora na citricultura

é beneficiada novamente por outra geada em 1984, na região da Flórida nos Estados Unidos o

que instiga a entrada de novos produtores e a aceleração no plantio de novas mudas. No ano

seguinte o Brasil ultrapassa os produtores norte-americanos em exportação de suco

concentrado e garante até os dias de hoje o título de maior exportador (MACFADEM, 2004,

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p. 16) “Dos 1 milhão de hectares de plantas cítricas no Brasil, o Estado de São Paulo é

responsável por 70% da produção de laranja do país e 98% do suco produzido, com um

volume que supera 400 milhões de caixas” (HASSE, 1987, p. 87). Mas para dar continuidade

a essa crescente produção, foi necessário que a cultura se modernizasse a fim de atender os

altos níveis de exigência do produto para exportação.

Esse processo de modernização da indústria citrícola brasileira se esboça em 1959

através da inauguração da primeira fábrica de suco concentrada do país, a Companhia Mineira

de Bebidas (ADMINISTRADORES.COM, 2007).

Figura 1 - Divisão das regiões do cinturão citrícola

Fonte: CITRUSBR

Novamente, o interior paulista surge como cenário para o sucesso da citricultura, pois

foi na cidade de Limeira que a “Citrobrasil arrendou a Casa da Laranja à Secretaria da

Agricultura de São Paulo, (...), que contava com equipamento para fabricar suco de laranja

pelo sistema hot Pack” (JANK & NEVES, 2006, p. 8). Ao mesmo tempo no Rio de Janeiro

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para atender a encomenda do exército britânico, outra empresa utilizava do mesmo sistema e

enviava o suco desta forma.

Na pressuposição de violenta elevação dos preços desse suco nos mercados americano e europeu, uma firma da Flórida implantou em Araraquara, SP, uma bem aparelhada indústria, que em 1963 exportou 6.000 toneladas desse produto que obteve ótima aceitação. A iniciativa foi altamente compensadora e a “Suconasa” (assim se chamava a firma) abriu caminho, até então não explorado, para o crescimento da citricultura brasileira. Logo a seguir, as principais firmas exportadoras de citros implantaram indústrias em Matão e Bebedouro, sendo depois imitados pelos citricultores de Limeira, Araras e Santo Antônio de Posse. Em 1976, funcionaram oito indústrias, todas em São Paulo. (RODRIGUEZ, 1991, p. 10).

Outra mudança necessária a ser feita para atender a uma demanda constante e agora

industrializada era selecionar variedades de laranja a serem plantadas de forma que o fruto

estivesse disponível durante todos os meses, ou na maior parte, do ano. Sendo assim, foi

necessário abrir mão do monopólio da laranja Baía que era extremamente atuante nas

lavouras paulistas e introduzir a “Valência e Nata de maturação mais tardia que a Pera. Com

a possibilidade de trabalhar desde junho até janeiro, as indústrias puderam ampliar muito sua

capacidade de produção que também foi diversificada.” (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 10).

Poucos foram os casos onde as empresas citrícolas surgiam de idealização nacional,

durante as décadas de 1960 um exemplo desse caso foi o grupo Toddy, empresa brasileira que

instalou a Suconasa na cidade de Araraquara.

Assim como a entrada da Pasco Packin Company que significou muito para a

consolidação da indústria de suco de laranja no Brasil. O responsável pela vinda indústria foi

o inglês Glynn Davis que trabalhou com laranja na sua terra natal desde os 17 anos passando

pela África do Sul e seguindo na década de 1950 para o Texas sempre atuando na mesma

atividade. Nessa região não obteve sucesso como produtor, mas se tornou um “promotor” das

atividades com laranja a ponto de ser contratado pela companhia que liderava o mercado

citrícola na Flórida.

Esta fábrica vendia uma máquina que misturava água e o concentrado da fruta e

gerando o suco pronto ao consumo. Além de vender o maquinário ela fornecia também o

concentrado, mas durante a geada de 1962 em função da falta de matéria prima ficou

impossibilitada atender o mercado.

Na busca por manter a sua reputação no segmento foi necessário buscar outra área

produtiva, para isso a Pasco designa Davis para buscar o novo local. Após estudos e viagens,

a localização ideal foi na cidade de Matão, interior de São Paulo, dando início a bem sucedida

indústria de suco de laranja na região. Já criada a relação comercial Brasil – EUA, ainda

estabeleceu a ligação com a Europa que ficaria comprometida a comprar qualquer excedente

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da produção, concluindo assim os principais consumidores atuais do suco de laranja

brasileiro.

Posteriormente a esse início de industrialização e modernização a fim de atender o

mercado externo de suco de laranja, principalmente “nos anos 1960 e 1970, várias empresas

de suco abriram, fecharam, foram adquiridas ou se fundiram. A laranja avançou no interior de

São Paulo, mas das 40 esmagadoras fundadas no país, somente dez restam hoje em atividade”

(COSTA, 2003, p.103). Das que se mantém até hoje se pode citar, Citrosuco Paulista,

Sucocítrico Cutrula, Grupo Dreyfus, Citrovita dentre algumas outras.

O setor industrial de laranja emprega diretamente cerca de 400 mil pessoas no Brasil. Sustenta economicamente 204 municípios paulistas e outros do Triângulo Mineiro, gerando divisas da ordem de US$ 1,5 bilhões por ano, responde pela metade do suco de laranja produzido no mundo e por 80% do suco concentrado que transita pelo mercado internacional. (RODRIGUES & OLIVEIRA, 2004 p. 3082.)

Podem-se citar várias outras regiões que são produtoras de laranja, mas a evolução da

atividade nestas é muito lenta se comparada a paulista. A Bahia com um razoável nível de

produção busca melhorias na produção através de centros de pesquisas, mas sua produção é

voltada basicamente para atender o mercado interno. Sergipe tem uma particularidade “é a

única região do Brasil onde a citricultura encontrou no sistema cooperativo a base para o

início de seu desenvolvimento.” (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 11).

O Paraná tem uma forte presença do cancro cítrico o que dificulta a cultura do fruto, e

o estado do Rio Grande do Sul é uma das poucas áreas além de São Paulo que atuam na

indústria do suco. Porém para manter sua produtividade, dependem do fruto proveniente das

lavouras paulistas. Percebe-se assim, o porquê do estado de São Paulo ter se destacado,

conseguindo se manter como a principal região produtora do país.

O hábito de se consumir a fruta in natura é muito difundido no país pela abundância

de oferta da mesma, mas pelo resto do mundo a forma mais comum de ser consumido é em

suco, por isso a exportação da fruta fresca a partir de 1966 foi reduzida para 2 milhões de

caixas, e só voltou a aumentar a partir de 1985 para a casa dos 2,5 milhões de caixas do fruto.

(MATTOS JUNIOR, 2005). O alto consumo de suco de laranja é explicitado pela tabela 1,

onde o produto aparece em primeiro lugar nas exportações de produtos agrícolas brasileiros.

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Figura 2 – Área de produção de citros no Brasil

Fonte: Citricultura brasileira

A fim de atender a demanda mundial o produto é enviado ao exterior sob duas formas:

suco concentrado congelado, Frozen Concentrate Orange Juice (FCOJ [1]), cuja água é

retirada do suco natural; ou não concentrado, Not-from-concentrate (NFC [2]), suco

pasteurizado sem a retirada de água (CITRUS BR).

Mas não é somente na forma de suco ou a fruta in natura que o Brasil exporta, existe

uma gama de subprodutos da laranja que estão presentes na tabela 2.

Tabela 1: Posição e participação do Brasil na produção e exportação mundial de produtos agrícolas em 2009

Fonte: CitrusBR, 2011.

POSIÇÃO E PARTICIPAÇÃO DO BRASIL NA PRODUÇÃO E EXPORTAÇÃO MUNDIAL DE PRODUTOS AGRÍCOLAS EM 2009

Produto Produção Exportação

Posição Participação Posição Participação % Suco de laranja 1º 56 1º 85

Café 1º 40 1º 32 Carne bovina 2º 16 1º 22

Carne de Frango 3º 15 1º 38 Açúcar 1º 22 1º 45 Etanol 2º 35 1º 96

Soja (grão) 2º 27 2º 39 Soja (farelo) 4º 16 2º 25

Milho 3º 6 2º 9 Carne suína 4º 3 4º 12

Algodão 5º 5 4º 9 Leite 6º 6 7º 1

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O nível de produção que a citricultura brasileira alcançou, se comparando ao nível

amador que a fruta foi implantada no Brasil, é resultado da insistência e a perseverança de

estudiosos, engenheiros agrícolas ou simplesmente “apaixonados pela citricultura” como

Sylvio Moreira4 que afirmava convictamente “que graças às condições grandemente

favoráveis a essa cultura existentes em nosso País, tínhamos uma promissora possibilidade

de competir com o maior produtor mundial de cítricos” (MATTOS JUNIOR, 2005, p. 13). E

assim aconteceu quando a geada na Flórida em 1962 abriu a oportunidade para o Brasil se

estabelecer na liderança do segmento de suco de laranja.

O Brasil entra no século XXI com a produção de 18,5 milhões de toneladas de frutas cítricas. É o maior produtor e exportador de suco concentrado e congelado. A principal área produtora é o Estado de São Paulo, produzindo 78,2 % do total, e supera a produção da Flórida em quantidade de frutas (...). Outros Estados produtores de fruta cítrica no Brasil são Sergipe, com 4,09%; Bahia, com 2,92%; Minas Gerais, com 2,27%; Rio Grande do Sul, com 1, 87%; Paraná, com 1,16%; Rio de Janeiro, com 0,75% e Goiás, com 0,58% (Amaro & Salva, 2001). (MATTOS JUNIOR, 2005, p.13).

Como ficou claro ao longo deste capítulo, o estado de São Paulo atua como líder na

citricultura e detêm alguns dos mais desenvolvidos centros de pesquisa que fornecem material

para controle de pragas, desenvolvimento de novas variedades e maneiras de plantio sendo

requisitado por produtores do mundo inteiro.

Citando outros países não se pode deixar de apresentar os principais mercados

compradores de suco brasileiro, são eles os Estados Unidos e União Européia junto com o

Japão e ainda mais 40 países5 que consomem cerca de 98% da produção brasileira.

(MATTOS JUNIOR, 2005).

São vários os empecilhos que surgiram ao longo dos anos na cultura da laranja, mas

diferente do que acontecia antigamente o que mais preocupa hoje em dia os produtores do

ramo não são mais os agentes biológicos causadores de praga. As barreiras alfandegárias

impostas ao produto brasileiro pelos Estados Unidos surge atualmente como maior ameaça, o

que tem feito com que alguns produtores se instalem em terras norte-americanas buscando

reduzir tarifas de exportação (o assunto será abordado de forma mais abrangente ao longo dos

capítulos seguintes).

Para compreender de que formar essas imposições norte-americanas afetam a

atividade que se desenvolveu com tamanha grandiosidade no Brasil, recebeu maciço

4 Produtor e grande incentivador da citricultura no país. (CENTRO DE CITRICULTURA, 2010) 5 Estados Unidos, Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, China, Rússia, Japão, Espanha, Polônia, Austrália, Coréia do Sul, Holanda, México, Itália, África do Sul, Arábia Saudita, Suécia, Bélgica, Índia, Argentina, Áustria, Noruega, Suécia, Irlanda, Chile, Dinamarca, Finlândia, Grécia, Ucrânia, Indonésia, Romênia, Nova Zelândia, Marrocos, Taiwan, Turquia, Israel e Filipinas. (MATTOS JUNIOR, 2005)

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investimento financeiro e intelectual, o próximo capítulo tratará do surgimento do comércio

internacional e seu processo de institucionalização a fim de torná-lo mais regulamentado.

Tabela 2: Subprodutos e suas características da laranja

CitrusBR, 2011

Subproduto Características

Comminuted Citrus Based Produto resultante da moagem da fruta inteira ou de um pouco de

suco concentrado misturado à casca moída, utilizado como ingrediente para bebidas à base da fruta.

Polpa São os gomos de sucos rompidos e paredes internas do fruto que

sobram após o processo de extração do suco. Pode ser re-adicionada ao suco.

Suco extraído da polpa Suco obtido após a lavagem da polpa, contendo sólidos

provenientes da fruta. Pode ser usado em bebidas à base de frutas ou como fonte de açúcares.

Óleo da casca de laranja (Cold-Pressed Oil) Óleo extraído da casca de laranja, utilizado na produção de compostos para bebidas, cosméticos e produtos químicos.

Essência

Composta pelos componentes resultantes do processo de evaporação, separados em uma fase aquosa e uma oleosa. Ambas as fases são matérias primas para as indústrias de bebidas e alimentos

e podem ser re-adicionadas ao suco.

D-Limoneno ou Terpeno Cítrico O principal componente do óleo da casca de laranja. É utilizado nas

indústrias de plásticos como matéria-prima para a fabricação de resinas sintéticas e adesivos.

Farelos de Polpa Cítrica

Produto resultantes do processamentos do suco, formado a partir dos resíduos úmidos do fruto, que passam por processo de secagem e formam uma forragem concentrada transformada em Pellets, os

quais servem de alimentação fibrosa de ovelhas e gado.

Pectina Produto menos comum, proveniente da casca de laranja e utilizado

em geléias, marmelada, e gelatinas.

Álcool A prensagem do bagaço de laranja produz um líquido cuja

fermentação resulta em álcool.

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2. O efetivo estabelecimento de um Sistema Multilateral de Comércio – OMC

Assim como o Brasil e Estados Unidos, os países encontram na exportação uma

maneira de escoar seu excedente produzido e também uma forma de aumentarem sua receita,

gerando equilíbrio na sua balança comercial. Para isso, relações comerciais são instauradas e

a competitividade na busca por novos mercados se acirra entre os Estados.

(...) começou a surgir, sobretudo a partir da década de 1960, uma economia cada vez mais transnacional, ou seja, um sistema de atividades econômicas para as quais os territórios e fronteiras de Estados não constituem o esquema operatório básico, mas apenas fatores complicadores. (...) passa a existir uma “economia mundial” que na verdade não tem base ou fronteiras determináveis, e que estabelece, ou antes, impõe limites ao que mesmo as economias de Estados muito grandes e poderosos podem fazer (PIMENTA JUNIOR, 2007, p.14)

Neste novo momento de um comércio internacionalizado as barreiras físicas são

ultrapassadas, e na busca dos Estados de se promover ou proteger eles criam certos artifícios

que surgem como empecilhos a livre circulação de bens como:

a) Barreiras tarifárias e não tarifárias

As barreiras são definidas como qualquer medida protecionista que interfia na

importação de um determinado produto. Ela pode ocorrer na forma tarifárias, através

de taxa, imposto ou não tarifária exigindo que o produto que adentrará as fronteiras do

seus país tenha determinada característica.

b) Subsídio

Durante a Rodada do Uruguai foram determinados alguns precedentes para a definição

da prática do subsídio, esses estão presentes no Artigo 1 da ata:

(1) haja contribuição financeira por um governo ou órgão público no interior do território de um Membro (denominado, a partir daquele, ““governo”“), i.e., i. quando a prática do governo implique transferência direta de fundos (por exemplo, doações, empréstimos e aportes de capital), potenciais transferências diretas de fundos ou obrigações (por exemplo, garantias de empréstimos); ii. quando receitas públicas devidas são perdoadas ou deixam de ser recolhidas (por exemplo, incentivos fiscais tais como bonificações fiscais); iii. quando o governo forneça bens ou serviços além daqueles destinados à infra-estrutura geral, ou quando adquire bens; iv. quando o governo faça pagamentos a um sistema de fundo, ou confie ou instrua órgão privado a realizar uma ou mais das funções descritas nos incisos (i) a (iii) acima, as quais seriam normalmente incumbência do governo e cuja prática não difira, de nenhum modo significativo, da prática habitualmente seguida pelos governos; ou a. (2) haja qualquer forma de receita ou sustentação de preços no sentido do Artigo XVI do Gatt 1994; E

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b. com isso se confira uma vantagem. (NASSER, 2003, p. 173)

c) Dumping

Por definição um produto sofre dumping quando é

introduzido no mercado de outro país por um valor inferior ao seu valor normal, se o preço de exportação do produto exportado de um país para outro for inferior ao preço comparável, no curso normal das atividade comerciais, ao produto similar quando destinado para consumo no país exportador (JANK, 2005, p. 157)

d) Medida de Salvaguarda

Salvaguardas podem ser definidas como medidas que visam aumentar, temporariamente, a proteção a uma indústria doméstica que esteja sofrendo prejuízo grave decorrentes do aumento de importações de produtos que se destinem ao mesmo mercado em que essa indústria atual. (JANK, 2005, p.159)

Essas medidas visam proteger um setor em específico da indústria local de um país e

podem ser aplicados na forma de aumento de tarifas, ou determinação de uma quota para

entrada de um determinado produto. O intuito é proteger o setor de um prejuízo que esteja

sofrendo ou, possa vir a sofrer.

Após muito tempo de um comércio internacional desregulamentado surge no final da

Segunda Guerra Mundial a necessidade de se constituir um novo modelo econômico e para

isso, foi preciso institucionalizar um novo conceito que surgia nas relações entre os países

naquela época, a idéia de uma sociedade internacional.

Buscando um “convívio harmônico entre as unidades nacionais, com base em

princípios, valores e procedimentos aceitos por todos e positivados em normas de direito

internacionais” (NASSER, 2003, p. 31) várias instituições surgiram ao longo do século XX, a

Organização das Nações Unidas, Liga das Nações dentre tantas outras que tratavam dos mais

diferentes assuntos. Mas em se tratando especialmente das relações comerciais entre os países

essa

institucionalização, (se orienta) em direção a liberalização comercial, (que) term por efeito reduzir a liberdade de ação dos Estados que aceitam as normas dela resultantes. Essa limitação decorre naturalmente da renúncia por eles a uma parte da sua competência - enquanto atributo da soberania – em matéria de políticas comerciais em benefício de uma regulação multilateral. A renúncia explica-se pelos benefícios que se espera obter com a liberalização comercial, o que torna aceitável a constrição da liberdade (NASSER, 2003, p.33)

E na busca por um ambiente comercial mais normatizado, em 1946 os Estados Unidos

convocam todos os países (incluindo o Brasil) para a reunião do Conselho Econômico e

Social da ONU visando discutir a redução de tarifas e outras barreiras ao livre comércio.

Neste encontro se estabeleceu um comitê organizador que ficava responsável por

tomar as decisões, e a primeira delas seria mensurar uma proposta enviada em uma carta por

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parte da comitiva norte-americana. Em seu conteúdo, eles propunham a criação de uma

Organização Internacional do Comércio (OIC).

2.1 Surgimento do GATT

Após se discutir sobre o que havia sido apresentado no dia 18 de novembro de 1947,

com o consentimento de 23 países institui-se o General Agreement on Tariffs and Trade, ou

simplesmente, GATT. O papel de destaque dos Estados Unidos na busca por regulamentar o

ambiente internacional que se instaurava, era uma estratégia de ampliar o acesso dos produtos

da nova potência mundial econômica, garantindo-lhe influência total sobre as decisões que

norteavam o Sistema Multilateral de Comércio, SMC.

(...) as Instituições supranacionais eram vistas como os meios mais efetivos para resolver problemas comuns, começando pelas questões técnicas e não controvertidas, com “respingos” ou efeitos secundários no domínio da alta política e conduzindo a uma redefinição de identidade de grupo em torno da unidade regional (HURREL, 1995, p.41)

Mesmo com o surgimento de uma instituição que buscava nortear as relações

comerciais entre as nações e torná-la menos desigual, o paradoxo entre países desenvolvidos e

menos desenvolvidos continuou a perpetuar, pois o segundo grupo (que eram os maiores

interessados na liberalização do comércio) tinham pouca participação e praticamente

nenhuma influência durante as rodadas. O princípio da não reciprocidade atenuava mais ainda

o abismo existente no poder de discussão entre os países, pois os menos desenvolvidos

poderiam se beneficiar da liberalização não precisando

assumir os mesmos compromissos no que se refere a redução de tarifas” (39). Assim “ isso teve por efeito concentrar as negociações entre os países mais ricos (daí o GATT ter sido chamado durante muito tempo de “clube dos ricos”) e, obviamente, limitar a liberalização a produtos de interesse deles. Como não eram obrigados a fazer concessões tarifárias, os países menos desenvolvidos tinham pouca força para estender a liberalização a setores em que eram competitivos. Tornaram-se, assim, quase que meros espectadores das negociações. (NASSER, 2003, p. 40)

Essa diferença de atuação no âmbito das rodadas (Dillon em 1961, Tokyo em 1973 e

demais que se seguiram) entre os países ricos e pobres gerava muito descontentamento por

parte dos menos desenvolvidos. Esses reclamavam pela falta de atenção dada aos produtos

dos setores agrícolas e multifibras que, era em sua grande maioria o que eles tinham maior

capacidade de produzir e exportar.

Apesar da aceitação por parte dos signatários, o GATT era provisório, “um acordo

internacional celebrado por escrito entre Estados e regido pelo direito internacional”

(RANGEL, 1997, p. 298). Em função disso o acordo tinha um caráter pouco institucional, e

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isso permitia que o protecionismo se mantivesse crescente como um obstáculo ao livre

comércio caracterizado não somente por barreira tarifárias, mas também por não tarifárias.

Até a década de 1980 as insatisfações e a busca por tornar o SMC mais

institucionalizado ainda o norteavam as discussões. Esse período enfrentava uma grande

instabilidade econômica em decorrência da Crise do Petróleo6, e nesse cenário os países

desenvolvidos buscavam manter sua dívida externa controlada e para isso, pleiteavam dentre

outras medidas, a restrição no uso de subsídios.

Também existia interesse por parte dos países em desenvolvimento em manter sua

economia em boas condições, e para isso lutavam por melhores condições no comércio

internacional agrícola. Mais uma vez, por iniciativa dos Estados Unidos decideu-se uma nova

rodada que fica conhecida como Rodada do Uruguai com duração de quatro anos (apesar de

ter durado oito, de 1986 a 1994) a fim de incluir novos temas como barreiras tarifárias,

produtos tropicais, agricultura dentre tantos outros que tornavam a rodada de negociação

como a mais ambiciosa até o momento, pela complexidade da agenda e também pela própria

criação da OMC. A tomada de decisão norte-americana de agir foi reflexo da importância do

comércio mundial para sua economia:

“O sucesso dos exportadores americanos esta proporcionando forte crescimento á economia dos Estados Unidos”. Essa foi uma das muitas calorosas frases de elogio e estimulo aos empresários contidas na mensagem à Nação, do presidente George Bush, por ocasião da abertura da Semana do Comércio Exterior, em 1992. Mais adiante, na mesma proclamação, após frisar que os EUA lideravam as vendas externas mundiais, assinalou: “Exportações não significam apenas empregos para homens e mulheres que fabricam e comercializam produtos para venda no exterior, mas também, ajudam a fazer prosperar nossas comunidades”. Seria muito bom para a economia brasileira se essa receita universal, repetida pelo presidente dos EUA, fosse aqui entendida pelas autoridades, parlamentares e dirigentes sindicais. Ao lembrar o enorme potencial ainda inexplorado das pequenas e médias empresas Bush , num expressivo reconhecimento ao setor exportador, enfatizou: “Na história recente, nunca o comércio internacional foi tão importante para a produtividade econômica e fortalecimento dos EUA. (OLIVEIRA, 1995, p.16)

2.2 A agricultura como tema principal de discussão

Durante o período de adoção do GATT, em 1947 vigorava nos EUA desde 1938 a

Agricultural Adjustment Act que “permitia às autoridades recorrerem a tarifas, restrições

6 “As crises do petróleo - todas depois da 2ª Guerra Mundial - que momentaneamente interromperam seu fluxo, mostram um cruzamento de conflitos. A primeira delas ocorre entre os estados-nacionais e as grandes empresas multinacionais visando o controle do processo produtivo e distributivo. Tratou-se de uma luta em torno do dinheiro e do poder. O segundo tipo de conflito, numa etapa posterior, deu-se entre os países produtores e os países consumidores.” (VÁRIAS VARIÁVEIS)

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quantitativas e subsídios à exportação, a fim de estabilizar os preços domésticos” (JANK,

2005, p. 38). Quando em 1955 no Art. XVI:4 foi proibida a prática do subsídio a exportação

(com exceção de produtos primários) no âmbito do GATT o governo americano conseguiu

obter um waiver - suspensão das obrigações (JANK, 2005) - que dava total competência de

manipular conforme suas necessidades as restrições quantitativas. Essas sucessivas exceções

impostas por países como os Estados Unidos afastavam a agricultura dos precedentes legais

estabelecidos no GATT.

(...) pois os países estavam mais aptos a subordinar seus agricultores e a estabelecer proteção fronteiriça da forma como desejarem, e ainda a exportar o excesso consequentemente gerado, por meio de subsídios. Como essas proteções acabavam por ocasionar um excesso de oferta, este somente era comercializado no mercado internacional por meio da utilização de elevados subsídios à exportação, o que acarretava instabilidade nos preços mundiais. (JANK, 2005, p. 39)

O artifício da barreira protecionista gera um fenômeno que ficou conhecido como

Paradoxo de Metzler, situação observada em economias ricas que competem com as

importações de produtos fabricados internamente. Visando proteger sua indústria e promover

seu produto interno ela, através de mecanismos protecionistas, torna o produto importado

mais caro fazendo com que ele seja menos atrativo internamente, ocasionando uma queda nas

importações e consequentemente um aumento da produção e venda doméstica.

Portanto, a capacidade que um país rico tem de influenciar o comércio internacional

acaba por tornar seu produto mais atrativo estimulando a exportação deste produto.

Os produtores do país mais pobre que tiveram seu produto encarecido

internacionalmente buscam reaver as perdas econômicas, diminuindo o preço do produto no

seu próprio país. (ECONOMIA E TECNOLOGIA, 2008, p. 54)

No âmbito da Rodada do Uruguai, alguns acordos bilaterais foram negociados, dentre

eles o Acordo de Blair Horse firmado entre norte-americanos e europeus que culminou em

solucionar impasses agrícolas e resultou, salvo alterações que mantinham proteções e

subsídios a um nível considerado alto, no Acordo Agrícola da Rodada do Uruguai (AARU)

O Acordo Ágricola trouxe uma série de conquistas para os países favoráveis à regulamentação do setor, entre elas: consolidação e posterior redução dos subsídios à exportação e do apoio doméstico aos produtores; tarificação; consolidação e redução média das tarifas; e ainda, garantia de acesso mínimo e acesso corrente para produtos antes bloqueados pelo elevado nível de proteção. (...) trouxe definições precisas para as três grandes modalidades ou pilares da negociação agrícola: acesso a mercados, subsídios domésticos (ou apoio interno) e competição nas exportações. O item acesso a mercados refere-se ao grau de abertura de determinado mercado aos produtos estrangeiros, o que, segundo o acordo, deveria ser ampliado, ou seja, as barreiras ou restrições comerciais deveriam sofrer redução. (JANK, 2005, p. 40-41)

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De uma forma gradativa buscou-se uma maior liberalização no comércio internacional

agrícola no que se refere a barreiras tarifárias e também permitiu-se a adoção de uma medida

de salvaguarda especial onde “o Estado importador pode impor uma tarifa adicional incidente

nos produtos importados, a fim de resguardar seus produtos internos da concorrência

internacional” (JANK, 2005, p. 44), desde que esta não represente dano a indústria doméstica.

Ainda no Acordo Agrícola, implementaram sem o conhecimento das nações em

desenvolvimento o Acordo na Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias - SPS que

funcionam como exceções ao livre comércio, aplicadas quando se faça necessário proteger a vida ou a saúde humana, animal ou vegetal. Para tanto, os membros devem fundamentá-las em princípios científicos tendo, no mínimo, certa base de evidências, além de terem que verificar ou analisar os riscos associados, por exemplo, à doença, aos resíduos, agrotóxicos ou aditivos alimentares que se pretender evitar ou regular. A justificação científica e verificação de riscos representam os elementos centrais do Acordo SPS. (JANK, 2005, p. 51)

Esse acordo passou a ser considerado uma medida protecionista, pois surge como uma

restrição ao livre comércio. Levando-se em conta que medidas foram tomadas não somente

em relação a agricultura mas como todos os outros temas que estavam considerados na

agenda da Rodada. Segundo a opinião de Rabin Alin Nasser, foi esta Rodada que representou

dentre todas as maiores mudanças, e ainda inseriu as três medidas mais importantes como

“reforço da estrutura institucional do SMC, ampliação do âmbito de incidência material de

suas normas e aumento do controle multilateral sobre as políticas comerciais nacionais”

(NASSER, 2003, p. 48).

A primeira das três mudanças tem forte relação com o surgimento da Organização

Mundial do Comércio, pois quando se refere a um reforço institucional na estrutura precária

que havia sido formada no acordo multilateral do GATT em 1947, esta deixa de existir e

passa a ser regulamentada de uma forma mais séria e concreta através da OMC. A segunda

mudança busca tornar mais eficaz a aplicação do que ficou acordado de forma que, caso haja

descontentamento exista uma maneira de recorrer mais rapidamente do dano e colocar em

prática a regra referente. Para isso criou-se o Órgão de Solução de Controvérsias, considerado

um Órgão de Apelação.

Por fim, a última mudança apresentada por Nasser reflete o surgimento da OMC, pois

com uma estrutura totalmente institucionalizada coube a esse órgão fiscalizar periodicamente

quais medidas comerciais os países vão estabelecendo, e isso leva em consideração o nível de

desenvolvimento dos mesmos.

Assim, na medida em que uma parte maior da liberdade dos países de formular políticas comerciais ou sobre temas relacionados ao comércio fica sujeita aos limites

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e restrições estabelecidos nas normas do SMC, aumentar a probabilidade de se detectar a existência de condutas contrárias aos compromissos assumidos, bem como de se impor aos países a observância de normas que porventura estejam violando. (NASSER, 2003, p. 50)

E ainda,

A crescente liberalização do comércio internacional a partir de 1947 só foi possível em função da instituição de um corpo normativo, de um conjunto de normas, representado inicialmente pelo Gatt 1947 e, atualmente, por todos os acordos e normas que compõem o SMC. Isto porque a pretensão de reduzir a ingerência dos Estados no trânsito de mercadorias e serviços cria a necessidade de formalização dos compromissos assumidos nesse sentido, bem como de criação de mecanismos responsáveis pela supervisão da observância desses compromissos. Assim, a regulação internacional do comércio justifica-se pela necessidade de impedir que as regulações nacionais prejudiquem o esforço de liberalização em nível internacional. (NASSER, 2003, p. 56)

Uma nova fase no sistema internacional de comércio se instaurou com a criação da

OMC, ela não tendia somente a liberalização da atividade, mas a sua regulamentação. Quanto

mais regulamentado o ambiente, mais previsível e seguro ele se torna de forma que as

negociações possam ocorrer sem surpresas negativas.

Buscando criar um ambiente de arbitragem que contribuísse para regulamentar o

comércio internacional e fizesse valer as regras presentes no âmbito da OMC, criou-se o

Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias (ESC)

que surge como regulamentador do Órgão de Solução de Controvérsias (OSC). O ESC tem

por principais características:

a. trata-se de um sistema quase judicial, tornado independente das demais partes contratantes e dos demais órgãos da OMC; b. cria um mecanismo obrigatório para os Membros da OMC, sem necessidade de acordos adicionais para firmar a jurisdição daquela organização internacional em matéria de conflitos relativos a seus acordos; c. o sistema é quase automático, e somente poderá ser interrompido pelo consenso entre as partes envolvidas na controvérsia, ou pelo consenso entre todos os Membros da OMC para interromper uma fase (.consenso reverso.); d. o sistema pode interpretar as regras dos acordos da OMC, mas não aumentar nem diminuir os direitos e obrigações de seus Membros; e. o sistema termina com a possibilidade, várias vezes adotada durante o GATT, de que um Membro da OMC possa impor sanções unilaterais em matéria comercial, sem que a controvérsia tenha sido previamente avaliada pela OMC; f. finalmente, o ESC determina a exclusividade do sistema para solucionar controvérsias envolvendo todos os acordos da OMC, eliminando desta forma a proliferação de mecanismos distintos, como ocorria à época do GATT-1947; foram mantidas ainda algumas regras excepcionais, discutidas abaixo, mas que não destoam fundamentalmente do procedimento geral adotado. (KLOR, 2004, p. 15-16)

Sendo assim, um membro da OMC que venha a se sentir injustiçado por uma política

comercial que um país vem tomando pode recorrer ao OSC cabendo ao reclamante apontar

quais posturas estão prejudicando-o. Estas violações devem estar enquadradas em um dos

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cenários já pré-estabelecidos no ambiente do GATT que foi aperfeiçoado com a formação da

OMC, são eles:

a. qualquer benefícios decorrente do acordo estar sendo anulado ou prejudicado (nullification); ou b. o atingimento de qualquer objetivo do acordo estar sendo impedido (impairment); ou c. falha de outro Membro em cumprir as obrigações previstas no acordo (reclamação por violação); ou d. aplicação por outro Membro de qualquer medida, conflitante ou não com as regras do acoro (reclamação sem violação); ou e. existência de qualquer outra situação ( reclamação situacional). (KLOR, 2004, p. 19)

De todas as reclamações existentes a que ocorre com maior frequência, e em função

disso se resolve de maneira mais rápida é a reclamação por violação. Para que um caso seja

configurado nessas condições o membro reclamante deve demonstrar que a medida adotada

por um Estado infringe outra que já tenha sido incorporada ao corpo da OMC. Se confirmado

tal acusação presente no corpo jurídico da Organização, as medidas compensatórias são

tomadas visando restituir o reclamante.

Considera-se necessário para que a decisão seja aplicada, que os membros envolvidos

na reclamação estejam cientes do processo e que ela seja caracterizada quase judicial para ter

caráter legal.

Quando se caracteriza o acordo como quase judicial se refere ao caráter negociável da

decisão, uma herança do GATT de 1947. Constatou-se que o ambiente em que as negociações

são feitas não é neutro, pois o poder econômico ou político dos Membros envolvidos

influenciam na decisão final. E isso é reflexo do zelo que a ESC tem na solução de

controvérsias, que é a de eliminar impedimentos ao livre comércio e não prejudicar outro

Membro.

Ainda existem outras instâncias que possam ser utilizadas em caso de

descontentamento como:

a) recurso ao Órgão de Apelação (OAp), pelo Membro que discorde do relatório do painel, o que quase sempre ocorre na prática: b) bons ofícios, conciliação ou mediação, inclusive com a intervenção do Diretor-Geral da OMC, para buscar uma solução negociada para a controvérsia, e evidentemente, isso dependerá do acordo entre as partes para aceitar a intervenção do terceiro; c) arbitragem: podem ainda os Membros envolvidos numa controvérsias acordar em submetê-la diretamente à arbitragem, identificando claramente as questões conflitantes e concordando em obedecer ao laudo arbitral; esta prerrogativa raramente é utilizada pelos Membros da OMC. (KLOR, 2004, p. 20-21)

Fica claro que existem muitas maneiras de se recorrer da decisão tomada o que facilita

ao membro reclamado prolongar ao máximo de arcar com o que ficou decidido, mesmo este

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sabendo que é pouco provável alguma mudança. Segue na Figura 3 o procedimento de

reclamação junto ao Sistema de Solução de Controvérsias.

O caráter quase judicial do Órgão de Solução de Controvérsias gera muita

discordância entre os estudiosos, pois estes alegam que tornando-o totalmente jurídico, seria

mais justo para ambas as partes envolvidas no caso. Porém, isso significaria abrir mão da

realidade em que as negociações internacionais ocorrem, pois as decisões tomadas refletem

não somente na relação comercial entre os Estado soberanos, aspectos políticos e econômicos

influenciam diretamente sobre o acordo final.

Figura 3: Procedimento no Sistema de Solução de controvérsias da OMC

Fonte: SEINTENFUS, 1997, p 157.

Formalmente, os Membros da OMC têm direitos iguais em todos os órgãos componentes da organização. Obviamente, no mundo real, os Membros com a maior participação no comércio internacional – EUA, CE e Japão – têm atuação determinante no processo decisório, e são atores relevantes e constantes no sistema de solução de controvérsias. Além do que, foram criadas também regras especiais, discutidas abaixo, para os países em desenvolvimento. (KLOR, 2004, p. 24)

Portanto, a regulamentação surge para guiar as relações comerciais e não uma forma

definitiva de decisão, pois encara o ambiente real em que estas negociações ocorrem.

2.3 A relação dos países em desenvolvimento

O GATT era considerado um clube dos países ricos (VIGEVANI, 2003), pois

congregava EUA, Inglaterra, Japão e Canadá, e os países restantes ficavam subordinados às

decisões tomadas visando os interesses dos referidos. A herança deixada pelo tratado a OMC

é a temática (conflito Norte-Sul) que envolve a maioria dos debates em seu âmbito, a relação

de poder que os países desenvolvidos exercem no contexto comercial/econômico mundial em

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relação aos subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. Essa influência exercida por um grupo

de países sobre outro foi determinada para Bobbio, como o poder definido por “poder

potencial”. (BOBBIO, 2000)

Mesmo após a criação da Organização, os países em desenvolvimento sentiam que

suas necessidades e seus interesses não estavam sendo devidamente defendidos, e acreditando

em uma união dos iguais para vencer num mundo dominado pelas superpotências, criaram em

2003 uma coalizão que foi nomeada como o G20. “Tal agrupamento político, passou a ter um

grande respeito frente aos países desenvolvidos e influência política crescente dentro de uma

das mais importantes organizações internacionais do Pós-Guerra, seja ela a OMC.”

(PIMENTA JUNIOR, 2007, p. 14).

O G20 composto por 23 países de três continentes (África do Sul, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, China, Cuba Egito, Equador, Filipinas, Guatemala, México, Nigéria, Paquistão, Peru, Paraguai, Tailândia, Tanzânia, Uruguai, Venezuela e Zimbábue), o agrupamento representa 60% da população rural, 21% da produção agrícola, 26% das exportações e das 18% importações mundiais. (...) (ITAMARATY)

Considerando os dados acima, o foco de atuação do G20 é buscar um ambiente

comercial mais liberalizado em relação especialmente a agricultura, o tema é importantíssimo

para o Brasil, mas nem tanto para Índia, por exemplo, que luta para proteger seu mercado

interno por fins de segurança. É nessa divergência que reside o princípio do G20, a

cooperação entre esses países, pois acreditam que juntos possam vencer a barreiras comerciais

impostas pelos países desenvolvidos. Ou seja, a mentalidade de totalidade independente das

expectativas diferentes a serem alcançadas, conduz a atingir resultados satisfatórios para

todos.

O G20 estabeleceu um precedente importante. A coalizão tem demonstrado que ao contrário das coligações do passo que sucumbiram muito mais facilmente as táticas de divisão no final de jogo, pelo menos algumas coalizões hoje criaram métodos de manter a coerência interna e também presença externa para ser capaz se segurar para fora, mesmo em face de alguns negócios colaterais. (NARLIKAR, 2004, p. 963)

Além da inovação na maneira colaborativa que os países desempenham suas funções

visando alcançar um bem comum, o grupo surgiu esperando quebrar o paradigma da

hegemonia de países como EUA que conduziram os cernes do GATT e posteriormente da

OMC. Um fator que beneficiou a atuação desse grupo foi a ascensão econômica e o poder de

influência que os países considerados eixo do G20 como China e Brasil, conseguiram atingir

a partir do estabelecimento do acordo.

A coalizão visa em seu raio de ação “três precípuos elementos, (...): a defesa dos PED

e o fortalecimento das relações Sul-Sul; o posicionamento de contraponto em relação aos PD

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e, por fim, a manutenção do multilateralismo na OMC, (...)” (PIMENTA JUNIOR, 2007, p.

39). A estratégia adotada para alcançar os ideais foi falar em nome de todos os países em

desenvolvimento (que são maioria na OMC) e entender que, mesmo países como Inglaterra e

Japão que são economicamente e politicamente mais influentes, dependem da produção

agrícola gerada por países como Índia para produzir seus bens manufaturados.

Na busca por facilitar o acesso a mercados, verificou-se o quão grande é a divergência no

eixo Norte-Sul, e em 2005 essas diferenças ficaram mais claras quando algumas propostas

apresentadas pela coalizão iam contra a dos desenvolvidos. Foram os três pilares seguintes

que o G 20 tratou:

a) reduções tarifárias: as reduções oferecidas pela União Européia eram escassas;

b) acesso a mercados: definição quanto a natureza do produto a ser comercializado;

c) subsídios internos a produção: esse pilar se refere especialmente aos subsídios

oferecidas no segmento agrícola, pois interfere no preço do bem final e afeta a

principal atividade econômica dos países em desenvolvimento. (PIMENTA JUNIOR,

2007)

Este tripé que fundamenta as iniciativas do G20 continua o mesmo, mas se encontram

mais maduros após rodadas de decisões que tendem a discutir e melhorar seus requerimentos.

Porém, adentrar um ambiente estigmatizado por muito tempo e tentar mudá-lo é uma medida

que exige cautela e também audácia, esse grupo que surge na Conferência Ministerial de

Cancun de 2003 querendo mostrar aos restantes que uma coligação Sul-Sul pode ter êxito.

Basta que exista um alinhamento de ideais e reconhecimento de um valor comum para que a

força se potencialize alcançando um bem comum.

E esse bem comum, no caso do G20 é acabar com a submissão que existe dos países em

desenvolvimento aos países desenvolvidos no que se diz ao comércio internacional em

especial, ao setor agrícola que gera riqueza e trabalho para a população desses Estados.

3. O fim da hegemonia produtiva e os embates na OMC

A Grã-Bretanha e outros países europeus dominaram por muitos anos as decisões

políticas, econômicas e comerciais do mundo. Porém, em 1890 (DU BOFF, 2003) os Estados

Unidos surge como a nova potência mundial e este processo é acelerado pela Primeira e

Segunda Guerra Mundial que destruíram grande parte da Europa, enriquecendo e transferindo

o poderio para a nação norte-americana.

Terminada a Segunda Guerra e durante os próximos trinta anos, a hegemonia dos

Estados Unidos se fortifica, e em 1950 o país fornecia metade do produto bruto mundial,

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ainda aproximadamente 60% dos produtos manufaturados que circulavam o comércio

mundial, eram produzidos naquele país, até que começam a perder poder (grande exemplo

disso foi a derrota em território vietnamita).

Em meados de 1970, as exportações americanas excedem as importações causando um

déficit no comércio de bens do país. O ocorrido poderia ter sido transtornado por uma

compensação em outras atividades que geram divisas para o país, mas “o défice americano

em mercadorias tornou-se demasiado grande para ser pago através de serviços vendidos a

estrangeiros mais remessas por investimentos.” (DU BOFF, 2003, p. 56)

Observando que sua moeda, o dólar, norteadora das negociações internacionais e sua

participação no comércio internacional estava perdendo prestígio e decaindo, foi preciso que

o governo buscasse uma solução para que sua economia não arruinasse de uma vez. A

solução encontrada foi realinhar sua política comercial internacional mais focada no atual

cenário que o país se encontrava. Para isso,

a Seção 301 foi introduzida na legislação de comércio exterior dos Estados Unidos em 1974. Originalmente apenas previa investigações em países que restringissem o acesso de produtos norte-americanos em seus mercados. (PEREIRA, 1993, p. 23)

Com a introdução dessa seção ao Trade and Tariff Act, o presidente da época

pretendia resguardar os direitos comerciais dos Estados Unidos sem que nenhuma país viesse

a dificultar ou restringir a entrada de produtos norte-americanos em seu território. Além dessa

medida o país reuniu seus maiores exportadores de materiais têxteis e algodão em 1973,

Taiwan, Coréia do Sul e Hong Kong para tratar sobre restrições ao envio desses produtos ao

mercado americano e ficou “acordado”, que esses países iriam diminuir sua atividade

comercial nesse setor formulando o acordo de Multifibras.

Mais tarde, “em 1981 o Japão concordou em reduzir suas exportações de automóveis.”

(DU BOFF, 2003, p. 67) que deu origem ao VRE, Restrição Voluntária de exportações.

Observando as medidas tomadas pelo governo norte-americano, elas visavam proteger

sua indústria interna pela entrada dos produtos importados e compensar sua balança

comercial.

Quando uma reunião do General Agreement of Tariffs and Trade em 1982 sobre uma nova rodada de negociações foi adiada sem acordo devido à resistência europeia às propostas americanas, os Estados Unidos anunciaram que daí em diante expandiriam o comércio num abordagem de “duas pistas” (“two-track”) – alcançando acordos bilatérias com países individuais enquanto, ao mesmo tempo, buscavam acordos multilaterais para alcançar um sistema de comércio aberto. Este movimento com direção ao bilateralismo conduziu à Caribbean Basin Initiative de 1984 concedendo preferências comerciais paras países na região, a um pacto comercial com Israel um ano mais tarde, e ao Canada – United States Free Trade Agreement (1988), estendido ao México em 1994 através do North American Free Trade Agreement (NAFTA). (DU BOFF, 2003, p. 68)

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Mas como já foi citado anteriormente, a economia global passava por um período de

crise em decorrência do petróleo, isso acabaria por alterar a soberania norte-americana.

3.1 Mudança da estrutura econômica mundial

Esse período de transição da economia acompanhou o surgimento de novas potência

mundiais, países como o Brasil e Índia que durante muitos anos sofreram as restrições

impostas pelas potências que governaram o mundo agora tinham chance de se destacar. A

maneira como isso poderia acontecer seria exaltar um segmento que era a principal atividade

dessas nações que eram os manufaturados, em especial produtos agrícolas.

No caso do Brasil, as principais atividades agrícolas do país eram o açucareiro,

cafeeiro e também o de suco de laranja. Relembrando um pouco do que já foi citado

anteriormente, em 1962 a Great Freeze abriu o grande precedente para que a liderança dos

EUA no mercado do suco de laranja fosse substituída pela brasileira. Foi necessário que o

Brasil acelerasse o desenvolvimento da indústria laranjeira no país, a fim de atender um

mercado europeu e americano que agora se encontrava carente. Em função disso, a produção

que antes era voltada para atender um pequeno mercado interno agora tinha oportunidade de

se tornar uma indústria bilionária (o que de fato aconteceu).

Foi durante os anos de 1990 “com a estabilidade econômica e a desvalorização

cambial, acompanhada pela redução das barreiras comerciais e por uma forte expansão da

economia global, (que) ocorreu a ampliação do grau de abertura econômica e o aumento do

comércio internacional brasileiro”. (MILINSKI, 2009, p. 256)

O ganho financeiro que decorre do envio de grandes volumes dos produtos, só pode

ser maximizado pela “abertura dos mercados protegidos” (NASSAR, 2004, p. 32). A atenção

em retomar o crescimento das exportações para os mercados tradicionais (UE e EUA) se deve

ao fato que durante a década de 1990 elas se mantiveram estáveis e foram mercados não

tradicionais, especialmente asiáticos, que implicaram no aumento do envio de produtos

agrícolas, beneficiando a balança comercial desses países.

Após o período de aprendizado, amadurecimento, benefícios e concessões fiscais por

parte do governo brasileiro, facilitando a exportação do suco de laranja, o setor recebe forte

atenção de produtores elevando o país tecnologicamente a um patamar acima de seus

concorrentes. Na década de 1980 o Brasil se consolida como maior produtor de suco de

laranja, superando os EUA. O peso que o setor tem para a balança comercial brasileira, que

foi apresentado na tabela 1, explica a preocupação do governo brasileiro.

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3.2 Conflito na entrada do suco de laranja brasileiro em território americano

Buscando atingir os mercados tradicionais, os produtores de laranja brasileiro se

defrontaram com um grande conflito, ao mesmo tempo em que o mercado norte-americano é

o maior consumidor do produto (além do consumo direto os produtores daquele país buscam

melhorar a qualidade do produto interno e para isso misturam parte do brasileiro), os mesmos

encaram o bem oriundo do Brasil como concorrente ao produzido nos Estados Unidos.

Pelo suco de laranja ser considerado uma commoditie, o preço do produto varia de

acordo com índices determinados pelo mercado internacional, portanto se esse mercado tiver

qualquer tipo de empecilho a sua livre flutuação ele acarretara em perdas para a economia de

todos os países envolvidos naquela atividade.

E na busca por proteger seu mercado produtor, o governo norte-americano concede

subsídios aos produtores de laranja que pressionam o valor da commoditiee abaixo do preço

de mercado, o que prejudica o Brasil no setor que é um dos seus maiores geradores de receita.

Segundo dados de 2001 “(...) os EUA subsidiou a sua agricultura com cerca de US$

35 bilhões ao ano. Em 2004, os subsídios totais dos EUA atingiram US$ 43,45 bilhões”

(BUREAU ECONOMIC ANALYSIS, 2005)

Os EUA incluem a maioria dos subsídios nos modelos de pagamentos direto e desconectados, além de combinações entre estes. Um cidadão (...) americano, portanto, transfere parte dos seus recursos para os agricultores de duas formas: ao comprar produtos que têm preções garantidos e ao pagar impostos que formarão os fundos para os desembolsos dos pagamentos diretos. Não importando o modelo, se os produtos beneficiados por esses subsídios são exportados, parte da conta é também paga pelos produtores de terceiros países sempre que os preços internacionais são levadas para baixo, em decorrência da oferta de produtos subsidiados no mercado internacional. (NASSAR, 2004, 45-46)

Uma melhor forma de explicitar como o subsídio direto contribui ao produto é através

da figura 4.

Figura 4: A forma que o subsídio direto é aplicado em produtos agrícolas

Fonte: NASSAR, 2004, p. 46

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Para evitar os efeitos negativos que os subsídios geram, o Brasil vem buscando através

de reclamações nos órgãos responsáveis excluir esses impedimentos que surgiram a

exportação de produtos agroindustriais e isso coloca o tema de acesso a mercados como uma das prioridades do agronegócio brasileiro. O país é líder mundial nas exportações de soja em grão, café verde e solúvel, carne bovina, açúcar, suco de laranja e fumo; ocupa o segundo lugar nas exportações de farelo, óleo de soja e carne de frango; é o quarto maior fornecedor do mundo de algodão. A exportação de produtos não tradicionais como álcool carburante, carne suína, algodão e frutas seguem também em crescimento, à medida que o país diversifica seus mercados compradores. (NASSAR, 2004, p. 193)

Existem várias formas do suco de laranja brasileiro ser enviado ao mercado

americano, porém os dois principais são SLCC – Suco de Laranja Concentrado Congelado e

o SLNC – Suco de Laranja Não Concentrado. Quanto ao primeiro, este sofre uma tarifação

ao adentrar território americano de US$ 415/ton e o segundo US$ 42/ton, mas de um modo

geral o produto fica taxado em 44,7% (FOLHA.COM, 2002) sendo que, aos produtos de

origem caribenha estes são isentos de qualquer tipo de tarifação (NEVES, 2010, p. 23). Essa

isenção foi consequência da Iniciativa da Bacia do Caribe, CBI que eliminou qualquer tipo de

imposto na entrada de bens caribenhos nos Estados Unidos. (INVEST BARBADOS)

3.4 Início do embate na OMC entre os países

Observando a discriminação com que o produto brasileiro era recebido em território

norte-americano, uma corte formada pelas cinco maiores produtoras brasileiras de suco de

laranja a Cargill, Louis Dreyfuss, Votorantim Internacional, Tampa Juice e Pasco Beverage

recorreram ao governo dos EUA em 2002 contestando o tratamento que o principal Estado

produtor de laranja dos EUA, a Flórida, dava ao suco de laranja brasileiro desde 1970. A

prática conhecida como “taxa de equalização” consiste em cobrar uma US$ 0,71 por litro de

suco além da já existente taxa protecionista federal de US$ 7,85 por litro. (RODRIGUEZ,

1991)

Essa taxa visa compensar os produtores da Flórida que são obrigados a pagar uma

“box tax”, que tem por fim gerar receita para financiar propagandas publicitárias a nível

nacional do produto gerado naquele estado. A alegação da corte formada pelas empresas

brasileiras é que o imposto não incide sobre o suco oriundo de outros estados como Califórnia

e Texas. Outro argumento, é que a “box tax” incide sobre a caixa de laranja e a “taxa de

equalização” é sobre tonelada de suco. Ambas alegações evidenciam que esse tratamento

torna o produto brasileiro mais caro que o norte-americano, e menos atrativo ao mercado

prejudicando o Brasil.

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Inicialmente a “box tax” foi estendida a todos os Estados produtores de suco de laranja

e após julgamento em um tribunal do próprio Estado da Flórida a medida foi considerada

inconstitucional pois a geração de impostos sobre produtos importados cabe ao Governo

Federal a não um estado. O grupo de empresas brasileiras foram indenizados em um valor

total de US$ 10 milhões referentes as taxas que já foram pagas ao longo dos anos.

Essa medida, porém foi apenas um ensaio do embate que estava por começar,

aproveitando a vitória da decisão, o governo brasileiro resolveu naquele mesmo ano reclamar

no âmbito da OMC e no Órgão de Solução de Controvérsias sobre a altíssima taxa imposta

(valor citado acima) ao suco de laranja brasileiro na entrada do mercado norte-americano, a

“taxa de equalização”.

Em agosto daquele ano a reclamação foi aceita e levada a discussão buscando uma

medida satisfatória para ambas as partes. Foram necessários dois anos até que em 12 de maio

de 2004 aprovaram as emendas, onde se decidiu que os importadores não estariam mais

obrigados a pagar até dois terços da “taxa de equalização”, cuja receita gerada visava

promover o suco de laranja da Flórida em relação ao importado. Ficou acordado ainda, que o

um terço restante da taxa seria destinado à publicidade do suco brasileiro.

A medida, considerada satisfatória pelo governo brasileiro e a associação de classe

ABECITRUS, só foi possível por uma coordenação em relação a defesa e respeito aos

interesses individuais das partes, nesse caso Brasil e Estados Unidos.

Foi a partir de 2005 que o Departamento de Comércio dos Estados Unidos começou a

aplicar medidas protecionistas que tinham sua aplicação questionável e eram muito mais

severas em relação ao suco de origem brasileira

Mesmo após as determinações que tornavam o comércio de suco de laranja mais justo

entre as nações, no dia 25 de novembro de 2008 o Brasil deu entrada em mais uma

reclamação no âmbito da OMC. Mas dessa vez, diferente das anteriores não se referia a uma

taxa imposta por um estado somente e sim “que os norte-americanos usam tarifas

"artificialmente infladas" contra o suco de laranja nacional”. (NOTÍCIAS AGRÍCOLAS,

2008)

A reclamação foi fruto de uma medida antidumping imposta após um estudo feito pelo

Departamento de Comércio dos Estados Unidos que considerou o preço do suco de laranja

brasileiro comercializado no país importador mais barato do que os da concorrência (o que

caracteriza o dumping) e isso implicaria em um risco a indústria do país. Para reverter essa

ameaça foram impostas a algumas empresas brasileiras do setor uma taxa antidumping de até

4,81%.

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Ao receber a intimação por parte da OMC, e chamando para responder sobre a

acusação, os Estados Unidos deixaram claro que eram contra as propostas apresentadas pelo

Brasil e defenderiam ao máximo suas medidas.

A alegação dessa vez, por parte do Itamaraty, era que o método utilizado pelos norte-

americanos para se chegar nessa taxa de antidumping, que é o zeroing é incompatível com as

leis de comércio internacional e em muitos outros casos a própria OMC já considerou a

utilização desse artifício como ilegal. Além de sobrecarregar as exportações brasileiras. Esse

tipo de cálculo,

é uma prática que tem sido muito comum entre os países importadores, utilizada, em grande medida, como forma de proteger a indústria doméstica da concorrência estrangeira, porém, prática meramente protecionista. Ao invés das autoridades de defesa comercial do país importador definirem a margem de dumping, o que depende de um cálculo complexo, porém possível de ser feito, normalmente obtida a partir da diferença entre o valor normal e o preço de exportação, preferem simplesmente zerar, de modo artificial ainda, as margens de dumping, sobretaxando indevidamente o produto estrangeiro. (JORNAL DO COMÉRCIO, 2009)

A decisão não foi diferente das outras, em 2011, o comitê de arbitragem considerou a

prática por parte dos EUA como violação às normas do comércio internacional dando ganho

de causa ao Brasil. Coube ao governo norte-americano tornar as suas exigências

compatibilizadas com o Acordo Antidumping.

Mesmo sendo contra inicialmente a posição brasileira, as autoridades norte-americanas

perceberam após mais essa derrota, que seria necessário reformar sua política comercial em

relação a entrada de produtos estrangeiros em seu território. O Departamento de Comércio

Americano se manifestou alegando que já tinha deixado de utilizar a prática do zeroing desde

2006 em outros casos de antidumping. O reconhecimento da necessidade dessa mudança foi o

fato de que o governo dos Estados Unidos não foram até o órgão de apelação requerer uma

revisão do que ficou decidido.

Mas de fato a mudança da atitude norte-americana no comércio internacional não

ocorreu, pois até abril de 2012, apesar de diplomatas americanos daquele país terem ido a

Genebra para apresentar as modificações que serão feitas para atender as regulamentações da

OMC, o Itamaraty considera que a principal alteração, que seria em relação a medidas

antidumping não foram constatadas nenhuma mudança de fato.

Com a queda no consumo de suco de laranja por parte do mercado dos Estados Unidos

e se tornando um mercado menos atrativo, o acompanhamento que o Brasil faz perante as

decisões da OMC refletem a nova postura do país de buscar acabar com as práticas ilegais

ultrapassadas de comércio. Ele não busca mais se mostrar somente como um reclamador e

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sim como principal representante dos países em desenvolvimento no âmbito das decisões da

OMC.

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Conclusão

O objetivo deste trabalho foi demonstrar de que forma a relação comercial entre Brasil

e Estados Unidos é benéfica para a economia de ambos os países. No caso dos Estados

Unidos, havendo pouco suco no mercado interno (um produto indispensável no breakfast das

famílias americanas) o preço do bem tende a se elevar o que gerará descontentamento nos

consumidores. E no caso do Brasil, havendo a diminuição no envio de produtos agrícolas para

o mercado norte-americano a situação econômica favorável do país dificilmente se manterá.

Sendo assim, a partir da problemática levantada, é questionada a forma em que esses

empecilhos ao livre comércio prejudicam a economia e produção brasileira. O intuito deste

trabalho foi comprovar essa questão através das hipóteses levantas.

De fato, durante a década de 1950 criou-se um SMC onde os países estabeleceram

relações comerciais entre eles usando disso um novo meio de obter renda. Porém, percebeu-se

que esse novo modelo comercial ao mesmo tempo em que gerava lucro para as nações que

agora vendiam seus produtos para outras se configurava como uma concorrência aos bens

produzidos internamente.

A forma encontrada para coibir à entrada de importados, diminuindo o risco a

indústria local dos países foi adotar barreiras comerciais que influem negativamente sobre o

preço do produto que tem origem externa e beneficia os produzidos internamente. Porém, os

países começaram a aplicar barreiras que tornavam inviável a atividade do comércio

internacional sobre determinados produtos o que gerou descontentamento por aquelas que

tiveram seus produtos subtaxados e perderam um importante gerador de renda.

Constatando-se que o SMC ocorria em um ambiente sem nenhum tipo de

regulamentação, em 1947 institui-se com consentimento de 23 países, a criação do GATT.

Esse acordo temporário iniciou a institucionalização das relações comerciais entre os países,

mas ainda não desempenhava um papel totalmente jurídico.

Direcionavam as decisões em função de benefícios para as nações mais desenvolvidas,

como os Estados Unidos, deixando de lado as nações subdesenvolvidas ou em

desenvolvimento e o tema agrícola, de grande relevância para estas nações.

Na busca por ajustar a estrutura precária do acordo comercial estabelecido e instituir

um tratamento igualitário entre as nações do eixo Norte-Sul, instaurou-se mais tarde a OMC

que surgia como um órgão regulamentador e com direito de administrar as medidas adotadas

pelos seus países membros, visando um ambiente de comércio internacional mais

institucionalizado sem temas em exceção, incorporando a agricultura.

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O primeiro capítulo tratou sobre o surgimento da cultura da laranja no mundo,

abordando o país de surgimento do fruto, e a maneira como a mesma saiu do continente

asiático para o restante do mundo. Inclusive, sobre a chegada de mudas da planta no

continente norte-americano que iniciou a atividade na região da Flórida e tornou aquela, a

segunda maior produtora de suco de laranja do mundo.

Por fim, foi apresentado o surgimento da atividade citrícola no Brasil desde a sua

chegada ao território pela mão dos portugueses, até o estabelecimento das áreas produtoras

que em função do solo e fatores climáticos se tornaram principais centros brasileiros da

citricultura. Em função da ótima qualidade do fruto produzido, o país pode gerar um suco de

grande aceitação internacional o que tornou o produto brasileiro superior aos já existentes.

Sendo assim, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e se tornou líder mundial na

produção de suco de laranja o que confirma a hipótese da importância que a atividade

desempenha para a economia brasileira.

O segundo capítulo analisou a necessidade do surgimento de um órgão que

regulamentasse o SMC tornando-o mais igualitário, sem imposições abusivas protecionistas.

Desse modo, comprova-se a hipótese de que a imposição de barreiras tarifárias tende a coibir

o livre comércio gerando prejuízo aos países exportadores que deixam de enviar produtos e

lucrar com a atividade.

A importância que a exportação de suco de laranja reflete para a economia brasileira é

incontestável, além de atrair capital externo para o país regulando sua balança comercial ainda

gera empregos para a sua população, diminuindo níveis de pobreza e desigualdade. Portanto,

as medidas protecionistas que os Estados Unidos tomaram visando se proteger da entrada do

produto para atender o seu mercado consumidor interno tendem a dificultar essa atividade, o

que se torna uma atitude prejudicial em especial para o Brasil.

Ainda no mesmo capítulo, abordou-se a importância que a exportação de bens

agrícolas tem para os países em desenvolvimento e em função disso, o tema foi incluído na

agenda de discussão do comércio internacional.

Por fim, no terceiro capítulo mostrou-se que o Brasil vem ganhando todas as apelações

que tem feito na OMC em relação às medidas abusivas tomadas pelo governo norte-

americano para conter a entrada de suco de laranja brasileiro. O fato do governo brasileiro ir

até a cúpula da organização reclamar sobre as imposições dos Estados Unidos no comércio

entre elas comprova o quão importante à atividade é importante para a economia brasileira.

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Também confirma que apesar das taxas de importação do suco por parte dos Estados

Unidos estarem decrescendo, o país ainda figura como importante cliente brasileiro na

atividade.

Além de exigir que as medidas estabelecidas na OMC sejam respeitadas, percebe-se

que o Brasil vem tomando uma postura mais imponente no âmbito internacional quando se

opõe a uma potência como os Estados Unidos. E isso só respalda mais ainda o respeito que o

país vem ganhando de forma que põe fim a anos de hegemonia europeia e norte-americana no

contexto comercial mundial. Abrindo espaço aos países em desenvolvimento defenderem seus

interesses sem se subordinarem a decisões externas permitindo que se desenvolvam cada vez

mais.

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