fórum jurídico - abreu advogados · pdf filefórum jurídico...

3

Click here to load reader

Upload: ngohanh

Post on 06-Feb-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fórum Jurídico - Abreu Advogados · PDF filefórum jurídico comentÁrio ao acÓrdÃo do supremo tribunal de justiÇa n.º 10/2015, de 14 de maio (proc. n.º 687/10.6tvlsb.l1.s1–a,

COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA N.º 10/2015, DE 14 DE MAIO (PROC. N.º 687/10.6TVLSB.L1.S1–A, REVISTA; IN DR I SÉRIE, N.º 123, DE 16 DE JUNHO DE 2015) – UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA: SUCUMBÊNCIA DO RECURSO – VALOR DETERMINANTE

Filipe Portela do Vale, Advogado, Abreu Advogados

A questão decidida pelo Acórdão do STJ em discussão prende-se com o entendimento acerca de qual o valor ou medida da sucumbência a ter em conta para efeitos de interposição de recurso de revista de acórdão do tribunal da Relação quando, num momento inicial – decisão em sede de 1.ª instância –, a parte que pretende interpor recurso se conformou com os termos da decisão então proferida.

Neste âmbito, determina o n.º 1 do artigo 629.º do Código de Processo Civil (CPC) que a interposição de recurso ordinário apenas é admissível quando, cumulativamente, (i) a causa tenha valor superior à alçada do Tribunal de que se recorre e (ii) a decisão seja desfavorável ao recorrente em valor superior a metade da alçada desse tribunal.Se, até à reforma processual de 1985, a questão da admissibilidade dos recursos se resolvia quase unicamente com base no valor da causa, com a referida reforma foi introduzido um requisito adicional relacionado com o valor da sucumbência, isto é, passou a ser necessário atender, além do valor da causa, ao prejuízo/desvantagem que a decisão implica para a parte vencida. A razão de ser desta inclusão teve o objectivo claro de filtrar (ainda mais) as questões que poderiam ser susceptíveis de submissão à reapreciação dos tribunais superiores, muitas vezes inundados com processos cujas matérias, além de prejudicarem a eficácia e celeridade da resposta desses tribunais, careciam da correspondente importância ou relevância económica.

Regressando ao caso em apreço, observa-se que o pedido das Autoras foi parcialmente procedente em sede de 1.ª instância, obtendo as mesmas uma condenação apenas em parte do valor peticionado, com a qual se conformaram, uma vez que não interpuseram recurso da mesma. Ao invés, os Réus interpuseram recurso da referida decisão do tribunal de 1.ª instância, tendo posteriormente obtido, com o Acórdão proferido pelo Tribunal da Relação, uma redução da condenação inicialmente decidida. Em resultado do teor do Acórdão do Tribunal da Relação foi a vez de as Autoras interporem recurso de revista para o Supremo Tribunal de Justiça.Desde logo, nas contra-alegações apresentadas, os Réus pugnaram pela inadmissibilidade do recurso interposto, na medida em que não se encontrava preenchido o requisito do valor mínimo da sucumbência, visto que, se no caso de uma das Rés tal valor não era superior a metade do valor da alçada do tribunal de que se recorria, no caso da outra Ré o valor inicial do pedido impedia ab initio o recurso para o Supremo Tribunal de Justiça1.

(continuação na página seguinte)

1 A “separação” dos valores peticionados por cada uma das Autoras é resultado da existência de uma coligação do lado activo, atento o modo como foi configurada a acção pelos intervenientes.

Fórum Jurídico

www.abreuadvogados.com 1/3

Julho| 2015 | Contencioso INSTITUTO DO CONHECIMENTO AB

A Livraria Almedina e o Instituto do Conhecimento da Abreu Advogados celebraram em 2012 um protocolo de colaboração para as áreas editorial e de formação. Esta cooperação visa a divulgação periódica de artigos breves e anotações nas plataformas electrónicas e digitais da Livraria Almedina. Para aceder, clique aqui.

Page 2: Fórum Jurídico - Abreu Advogados · PDF filefórum jurídico comentÁrio ao acÓrdÃo do supremo tribunal de justiÇa n.º 10/2015, de 14 de maio (proc. n.º 687/10.6tvlsb.l1.s1–a,

Fórum Jurídico

COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA N.º 10/2015, DE 14 DE MAIO (PROC. N.º 687/10.6TVLSB.L1.S1–A, REVISTA; IN DR I SÉRIE, N.º 123, DE 16 DE JUNHO DE 2015) – UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA: SUCUMBÊNCIA DO RECURSO – VALOR DETERMINANTE(CONTINUAÇÃO)

É aqui que surge a questão central discutida neste Acórdão Uniformizador de Jurisprudência, que é a saber que valor se deve ter em consideração para determinar a sucumbência da parte vencida: o valor correspondente à diferença entre o pedido inicial formulado e o valor da condenação determinado pelo Acórdão do Tribunal da Relação (como defendiam as Autoras), ou o valor correspondente à diferença entre o valor arbitrado em sede de 1.ª instância e o valor da condenação posterior resultante do referido Acórdão (conforme posição defendida pelos Réus)?

A uniformização de jurisprudência em relação a esta questão foi no sentido da posição defendida pelos Réus. Concordamos.Efectivamente, consideramos decisiva a actuação (ou omissão) das Autoras em face do decidido em sede de 1.ª instância. Na linha do que é explanado no Acórdão Uniformizador, as Autoras, ao serem confrontadas com uma condenação em montante inferior ao peticionado e não tendo recorrido dessa decisão, aceitaram/conformaram-se com a mesma, ficando desde logo limitadas daí para a frente no que diz respeito ao valor de sucumbência a ter em conta para eventual recurso a interpor do Acórdão que viesse a ser proferido em 2.ª instância.Ao permitirem que, no que lhes dizia respeito, tal decisão transitasse em julgado, inviabilizaram as Autoras não só a possibilidade de uma modificação, a seu favor, dessa parte da decisão, como ainda, atenta a interposição de recurso pela contraparte, ficaram à mercê de uma eventual alteração de tal decisão – para pior em relação às mesmas –, como de resto veio a suceder.Neste âmbito cumpre aqui chamar à colação não só o disposto nos n.os 2 e 3 do artigo 632.º do CPC, relativos à perda do direito de recorrer – “não pode recorrer quem tiver aceitado a decisão depois de proferida” –, como ainda a proibição da reformatio in pejus, constante no n.º 5 do artigo 635.º do CPC.Justifica-se ainda fazer referência ao princípio da oportunidade ou preclusão, nos termos do qual a parte que não reage, no momento adequado, contra certa decisão, fica impedida de o fazer em momento posterior.Assim, reitera-se, tendo as Autoras permitido que se observasse o trânsito em julgado de tal decisão perante as mesmas, ficaram estas condicionadas ao valor da condenação então proferida, não se justificando ser-lhes permitido ressuscitar, em sede posterior, o valor do pedido inicial apenas para efeitos de possibilidade de interposição de recurso perante o Supremo Tribunal de Justiça.

(continuação na página seguinte)

2/3www.abreuadvogados.com

INSTITUTO DO CONHECIMENTO AB

Page 3: Fórum Jurídico - Abreu Advogados · PDF filefórum jurídico comentÁrio ao acÓrdÃo do supremo tribunal de justiÇa n.º 10/2015, de 14 de maio (proc. n.º 687/10.6tvlsb.l1.s1–a,

COMENTÁRIO AO ACÓRDÃO DO SUPREMO TRIBUNAL DE JUSTIÇA N.º 10/2015, DE 14 DE MAIO (PROC. N.º 687/10.6TVLSB.L1.S1–A, REVISTA; IN DR I SÉRIE, N.º 123, DE 16 DE JUNHO DE 2015) – UNIFORMIZAÇÃO DE JURISPRUDÊNCIA: SUCUMBÊNCIA DO RECURSO – VALOR DETERMINANTE(CONTINUAÇÃO)

Naturalmente que, caso tivessem desde logo impugnado em sede de 1.ª instância o valor da condenação proferida, já tal entendimento não se aplicaria. Não concordamos por isso com a tese que dá merecimento à indiferença da interposição ou não de recurso pela parte em sede de 1.ª instância com justificação no facto de que a parte pode estar disposta a aceitar o prejuízo inerente a uma primeira decisão e por isso não recorre, mas não se encontrar na disposição de aceitar esse prejuízo se o mesmo foi mais gravoso em sede de decisão de 2.ª instância.Pensamos também não ser de acolher a tese que, partindo do entendimento de que o Acórdão da Relação faz “desaparecer” a sentença da 1.ª instância, apenas pode relevar para efeitos de sucumbência o valor do pedido inicial. O facto de, nos termos do nosso ordenamento jurídico, o acórdão da Relação se substituir à sentença da 1.ª instância, não faz com que se possa confundir a sucumbência do recurso com a sucumbência da acção, já que aquela tem, em caso de sucumbência parcial, uma medida inferior cujo limite é também o do vencimento parcial.

Em conclusão, parece-nos que o critério agora uniformizado para recorribilidade da decisão (e já seguido até então pela jurisprudência maioritária) é aquele que melhor se coaduna com a intenção do legislador aquando da inclusão deste novo requisito da sucumbência, permitindo uma maior (e melhor) filtragem das questões que efectivamente devam ser apreciadas pelos tribunais superiores.

Este Fórum Jurídico contém informação e opiniões de carácter geral, não substituindo o recurso a aconselhamento jurídico para a resolução de casos concretos. Para mais informações, por favor contacte-nos através do email [email protected]

© ABREU ADVOGADOS JULHO 2015

LISBOA PORTO MADEIRA

Av. das Forças Armadas, 125 - 12º 1600-079 Lisboa, Portugal Tel.: (+351) 21 723 1800Fax.: (+351) 21 7231899E-mail: [email protected]

Rua S. João de Brito, 605 E - 4º4100-455 PortoTel.: (+351) 22 605 64 00Fax.: (+351) 22 600 18 16E-mail: [email protected]

Rua Dr. Brito da Câmara, 209000-039 FunchalTel.: (+351) 291 209 900Fax.: (+351) 291 209 920E-mail: [email protected]

WWW.ABREUADVOGADOS.COM

ANGOLA (EM PARCERIA)

BRASIL (EM PARCERIA)

CABO VERDE (EM PARCERIA) CHINA (EM PARCERIA)

MOÇAMBIQUE (EM PARCERIA)

TIMOR-LESTE (JOINT OFFICE)Lisboa | Porto | Funchal

3/3

Fórum JurídicoINSTITUTO DO CONHECIMENTO AB