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Freinet: Fonte de inspiração para ser professor “Se não encontrarmos respostas adequadas a todas as questões sobre educação, continuaremos a forjar almas de escravos em nossos aprendizes.” Célestin Freinet A Pedagogia Freinet está centrada em quatro grandes princípios: afetividade, comunicação/documentação, autonomia e cooperação. Em sua obra destacamos a afetividade como exercício que desenvolve a capacidade de um sujeito em se deixar afetar pelo outro, a comunicação dialógica integrando conhecimentos e relações, autonomia e cooperação que se complementam entre si para a construção do ser social. Em tempos de mudanças, o grande desafio do contexto em sala de aula é conceber e vivenciar experiências educativas que contemplem esses princípios, articulando a criação de vínculos afetivos ao desenvolvimento do ser humano. É fundamental pensar que a educação não se faz apenas com a perspectiva das questões materiais. Excelência na educação se faz quando o foco está nos processos de humanização. A partir do instante em que se passa a pensar a escola como um espaço de relações de humanização dos direitos, nós nos encontramos com o pensar de Freinet “a educação não é uma fórmula de escola, mas sim uma obra de vida”. Escola viva pautada na comunicação, autonomia e cooperação garante que o humano se torne cada vez mais humano, pois materializa uma concepção de educação transformadora. Para que exista uma educação que transforme, é preciso uma educação que humanize, que traga a afetividade como foco, “a cultura humana será, então a flor esplêndida, promessa segura do fruto generoso que amadurecerá amanhã”. (Freinet) O ser professor implica em vivenciar as múltiplas relações entre as pessoas, os conceitos, o contexto em que se vive, os vários objetos culturais e as formas de percepção de mundo.

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Por Emilia Cipriano

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Freinet: Fonte de inspirao para ser professor Se no encontrarmos respostas adequadas a todas as questes sobre educao, continuaremos a forjar almas de escravos em nossos aprendizes.Clestin FreinetA Pedagogia Freinet est centrada em quatro grandes princpios: afetividade, comunicao/documentao, autonomia e cooperao. Em sua obra destacamos a afetividade como exerccio que desenvolve a capacidade de um sujeito em se deixar afetar pelo outro, a comunicao dialgica integrando conhecimentos e relaes,autonomia e cooperao que se complementam entre si para a construo do ser social.Em tempos de mudanas, o grande desafio do contexto em sala de aula conceber e vivenciar experincias educativas que contemplem esses princpios, articulando a criao de vnculos afetivos ao desenvolvimento do ser humano. fundamental pensar que a educao no se faz apenas com a perspectiva das questes materiais. Excelncia na educao se faz quando o foco est nos processos de humanizao. A partir do instante em que se passa a pensar a escola como um espao de relaes de humanizao dos direitos, ns nos encontramos com o pensar de Freinet a educao no uma frmula de escola, mas sim uma obra de vida.Escola viva pautada na comunicao, autonomia e cooperao garante que o humano se torne cada vez mais humano, pois materializa uma concepo de educao transformadora. Para que exista uma educao que transforme, preciso uma educao que humanize, que traga a afetividade como foco, a cultura humana ser, ento a flor esplndida, promessa segura do fruto generoso que amadurecer amanh. (Freinet)O ser professor implica em vivenciar as mltiplas relaes entre as pessoas, os conceitos, o contexto em que se vive, os vrios objetos culturais e as formas de percepo de mundo.O desafio deste tempo presente perceber que os significativos avanos tecnolgicos estabelecem relaes virtuais que esto isolando as pessoas, portanto imprescindvel construir espaos presenciais de relaes humanas, onde esteja presente o toque, a percepo do outro, o sentido que a vida tem, o respeito s perspectivas: tica, esttica e poltica.A tica est relacionada a tudo que voltado solidariedade, compreenso humana, troca, ao respeito ao outro. A esttica a todo processo criativo, com o exerccio da ludicidade, das relaes voltadas para o encantamento, para o belo; uma beleza que no seja esteretipo da superficialidade, mas a beleza do exerccio de olhar para o mundo com os olhos de quem quer enxergar, enxergar vrias formas, de arte, de expresso. E a poltica? a dimenso da cidadania, da participao, do exerccio efetivo dos direitos. Acreditamos que uma educao de excelncia deve contemplar essas dimenses em sua profundidade, sem esquecer que no se faz excelncia sem as relaes presenciais.O professor, ao se perceber como um ser reconhecido socialmente, consegue fazer a ponte entre o significado de seu fazer e a funo social que a escola exercita.Ser professor ser materializador de sonhos, ser professor ser construtor de identidades humanas. Ser professor entender que a democracia de amanh se prepara na democracia da escola. (Freinet)Portanto preciso entender o professor como uma autoridade construtora de seres humanos humanizados. Nesse contexto histrico nunca se precisou tanto de um professor. Este precisa de um espao de reflexo com seus grupos, com seus pares.Seria necessrio lembrar aos pais e professores que um educador que j no tem gosto pelo trabalho um escravo do ganha-po e que um escravo no poderia preparar homens livres e ousados; que o professor no pode preparar alunos para construrem, amanh, o mundo dos seus sonhos, se voc no acreditar nessa vida; que no poder mostrar-lhe o caminho se permanecer sentado, cansado e desanimado, na encruzilhada dos caminhos. (Freinet)Andando por esse pas inteiro, o que identificamos a cada momento que o professor quando chamado para desenvolver uma ao proativa, ele corresponde, ele tem desejos, e apresenta muitas iniciativas.Cada vez que desenvolvemos com o professor essa competncia ele vai construindo e reconstruindo o seu cotidiano, socializando e valorizando as suas experincias. Assim, olhamos para ele com o olhar de quem possui saberes prprios da docncia e que esses saberes merecem ser compartilhados.Temos muita esperana de que os professores deste pas, frente a todas as adversidades, continuem constituindo espaos de construes relacionais. O professor precisa ser o centro que acredita nesse movimento dos aprendentes e ensinantes e dos ensinantes e aprendentes em aes dialgicas. Quanto mais se desenvolver essa prtica, quanto mais espao se der para essa discusso, mais poderemos construir coletivamente. Freinet era adepto das pedagogias ativas e colocava o trabalho como elemento central na organizao das aprendizagens escolares. Sua pedagogia baseava-se na cooperao entre os alunos e os educadores, e os tempos e espaos escolares deveriam ser estabelecidos em funo do interesse dos alunos.Esperamos dos professores, trabalhadores ativos, de iniciativas generosas; o cidado cioso das suas liberdades, mas capazes de se disciplinar para servir cooperativamente as causas justas; os homens que sabero sair das fileiras e partir para a vanguarda, enfrentando temerariamente as dificuldades; os pioneiros que por vezes importunam, os monges e os religiosos, os exploradores e os robs, os soldados e os burocratas, mas que avanam, progridem, constroem e criam. FreinetFrente aos pensares de Freinet diramos que o professor um mobilizador, um articulador que trabalha com a perspectiva coletiva, constri uma relao de compromisso tico com o seu grupo, compromisso de construo, compromisso de olhar para a totalidade, compromisso com a afetividade, comunicao, autonomia e cooperao.A postura do professor fundamentada em diferentes olhares: a) - olhar para a escola enquanto um movimento em que todos os participantes tm papel decisivo; b) - olhar da singularidade fundamental quando cruzado com o coletivo; c) olhar para a relao da prtica educativa e os discursos, esse alerta muito importante, precisamos tomar cuidado com um discurso extremamente elaborado e uma prtica empobrecida; d) olhar estruturante, a forma de como so organizados os momentos de reflexo e os espaos nesta relao entre os seus pares; e) - olhar da ao junto s famlias, comunidade, considerando que a famlia precisa ser parceira dos professores na construo dos olhares dos aprendizes; f) olhar do acreditar na perspectiva de superao e de transformao dos seres em processos de desenvolvimento humano. medida que o professor possibilita uma aprendizagem significativa, em que a cada espao o aluno faa uma relao com o seu cotidiano, o professor se compromete no apenas com o aqui e o agora, mas com a comunidade, com a sociedade, com um olhar mais amplo. nesse momento que o professor constri, de fato, a possibilidade de uma gerao que est a, precisando tanto de referncias para se constituir como um cidado democrtico.A aprendizagem na escola um passaporte imenso para poder entender e transformar tantas situaes adversas que estamos vivenciando. Falar em educao de excelncia perceber que o foco de uma escola o aprendiz. E o aprendiz no apenas a criana, mas tambm o professor, as famlias, a comunidade.A imerso na pedagogia Freinet possibilita tanto ao aprendiz refletir e identificar o que est fazendo com a sua vida como ao educador compreender qual o sentido que est dando para os projetos educativos vivenciados e como pode contribuir para romper com a alienao, porque a Escola Moderna no nem uma capela nem um clube mais ou menos restrito, mas, na realidade uma via que nos conduzir quilo que, todos juntos, construirmos." (Freinet)A relao de humanizao desse momento histrico talvez a maior contribuio que o educador tem a realizar para o exerccio da cidadania, considerando que o conhecimento para constituir o humano mais competente para ser feliz, para ter espao na vida, para acreditar nas pessoas, para poder, de fato, ecologicamente, acreditar num universo que no destrua a si mesmo, que no fique apenas voltado a questes de controle, do exerccio de exterioridade, mas que tenha essa noo de vida abundante, pulsante a cada segundo.Nas reflexes de Freinet, encontramos o olhar de uma educao que no seja alicerada em rtulos frvolos, uma educao inclusiva em sua essncia, uma educao que traga para cada um o seu contexto para pensar a totalidade; um movimento profundamente responsvel que revele implicaes, mexendo com conceitos fundamentais de comunicao, de cooperao de autonomia e de afeto. um movimento de quebrar cristalizaes, de desconstruir conceitos autoritrios, ainda historicamente existentes em nossa cultura porque conforme dizia Freinet, "Ns nos habituamos todos de tal forma a comandar as crianas e a exigir delas uma obedincia passiva que no pensamos na possibilidade de haver outra soluo para a educao que no seja a frmula autoritria. Necessitamos entrar na essncia das questes, debater com profundidade e percebermos o nosso ser nas relaes que efetivamente construmos.Concluindo, o educador no um forjador de cadeias, mas um semeador de alimento e de claridade (Freinet). O Educador um fundador de mundos.Por Emilia CiprianoFonte: Direcional Educador