frasseto - pela necessidade de uma doutrina do processo de execução de medidas sócio

21
Pela necessidade de uma doutrina do processo de execução de medidas sócio-educativas Flávio Américo Frasseto Empenho-me há alguns dias no exame da proposta de lei de diretrizes sócio-educativas. Esbocei alguns comentários artigo por artigo. Porém, a certa altura, quando esforçava-me por compreender a temática tratada no art. 43, minhas reflexões reorganizaram-se sob uma síntese que vou tentar expor adiante. Certa vez, ouvi de Antonio Carlos Gomes da Costa, numa palestra, que a participação dos juristas na elaboração do ECA tinha sido tímida e que, num esforço para construir uma doutrina que o interpretasse, em momento posterior decidiu-se editar a conhecida obra “Estatuto da Criança e do Adolescente, Comentários Jurídicos e Sociais” (Malheiros Editora). Grandes nomes do nosso Direito, nas mais diversas áreas afins, assim, foram convidados a comentar os dispositivos do ECA à luz dos princípios e conceitos de suas especialidades. O próprio Emílio Garcia Mendez, comparando o processo de construção da legislação da Costa Rica com a do Brasil, esclareceu que “no caso do Brasil, o ECA criou e foi ao mesmo tempo o resultado de um processo jurídico endógeno onde os grandes nomes, do direito em geral e penal em particular, permaneceram ausentes ou indiferentes”. Até então, nunca tinha me dado conta do alcance desta observação. Aliás, para mim, sempre fora algo que qualificava o Estatuto não ter sido concebido e redigido por um grupo seleto de técnicos e imposto a nós de cima para baixo, como ordinariamente se tem feito em nossa história (e em nossos dias como nunca: a “era das medidas provisórias”). Todavia, o que me ocorre agora, talvez até tardiamente, é que a categorização jurídica, de nível lógico-dogmático, ou seja, a definição de conceitos, a análise de institutos, as classificações, ou seja, tudo aquilo que compõe um manual de introdução a qualquer especialidade do Direito, é o que no fundo nos dá um substrato, um ponto de partida para a compor uma lei e, após, para interpretá-la de forma menos ambígua, mais controlada, objetiva, em suma, menos discricionária. E esta tarefa de categorização é uma das coisas que os Juristas bem sabem fazer, desde Roma. No Direito das Obrigações, por exemplo, temos princípios gerais, institutos, classificações das mais diversas ordens 1

Upload: rafael-zacaria

Post on 25-Nov-2015

111 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

Pela necessidade de uma doutrina do processo de execuo de medidas scio-educativas

Pela necessidade de uma doutrina do processo de execuo de medidas scio-educativas

Flvio Amrico Frasseto

Empenho-me h alguns dias no exame da proposta de lei de diretrizes scio-educativas. Esbocei alguns comentrios artigo por artigo. Porm, a certa altura, quando esforava-me por compreender a temtica tratada no art. 43, minhas reflexes reorganizaram-se sob uma sntese que vou tentar expor adiante.

Certa vez, ouvi de Antonio Carlos Gomes da Costa, numa palestra, que a participao dos juristas na elaborao do ECA tinha sido tmida e que, num esforo para construir uma doutrina que o interpretasse, em momento posterior decidiu-se editar a conhecida obra Estatuto da Criana e do Adolescente, Comentrios Jurdicos e Sociais (Malheiros Editora). Grandes nomes do nosso Direito, nas mais diversas reas afins, assim, foram convidados a comentar os dispositivos do ECA luz dos princpios e conceitos de suas especialidades. O prprio Emlio Garcia Mendez, comparando o processo de construo da legislao da Costa Rica com a do Brasil, esclareceu que no caso do Brasil, o ECA criou e foi ao mesmo tempo o resultado de um processo jurdico endgeno onde os grandes nomes, do direito em geral e penal em particular, permaneceram ausentes ou indiferentes.

At ento, nunca tinha me dado conta do alcance desta observao. Alis, para mim, sempre fora algo que qualificava o Estatuto no ter sido concebido e redigido por um grupo seleto de tcnicos e imposto a ns de cima para baixo, como ordinariamente se tem feito em nossa histria (e em nossos dias como nunca: a era das medidas provisrias).

Todavia, o que me ocorre agora, talvez at tardiamente, que a categorizao jurdica, de nvel lgico-dogmtico, ou seja, a definio de conceitos, a anlise de institutos, as classificaes, ou seja, tudo aquilo que compe um manual de introduo a qualquer especialidade do Direito, o que no fundo nos d um substrato, um ponto de partida para a compor uma lei e, aps, para interpret-la de forma menos ambgua, mais controlada, objetiva, em suma, menos discricionria. E esta tarefa de categorizao uma das coisas que os Juristas bem sabem fazer, desde Roma.

No Direito das Obrigaes, por exemplo, temos princpios gerais, institutos, classificaes das mais diversas ordens que bem nos situam na compreenso da realidade concreta e complexa destes vnculos. Para saber como posso exigir o adimplemento de determinada obrigao, a primeira coisa que fao definir a sua modalidade (dar, fazer, no fazer), se divisvel, se alternativa, etc. Classificada a obrigao, agora sei de quem, quando, onde, como e de que forma (inclusive processual) devo proceder para satisfazer minha pretenso de credor.

Compreendi, pois, que temos de distinguir uma coisa da outra, porque da distino conceitual seguem conseqncias jurdicas distintas. Atravs desta categorizao, conseguimos inclusive compreender as diversificadas solues ditadas pelas diferentes legislaes acerca de determinados temas, porque saberemos identificar situaes iguais comparando as solues desenhadas. Conseguimos, por fim, organizar os temas numa viso ampliada e prever com mais abrangncia as questes que demandam normatizao.

Seguindo minhas conjecturas, passei do Direito Civil para o Direito Penal e vislumbrei, igualmente, quo ricas so as construes tericas que conformam este estratgico brao do ordenamento jurdico. Os conceitos que aprendemos, por exemplo, de prescrio, culpabilidade, atenuante, permitem-nos compreender com clareza os preceitos legislados e, assim, controlar o trabalho judicial de aplicao da lei a cada caso concreto. classificao dos crimes e suas circunstncias s para ilustrar recorremos sempre que a complexidade particular de um caso os aparta do discurso rotinizado, reclamando uma reflexo mais aprofundada no caminho da deciso justa e legal.

Quando ingressamos no terreno da medida scio-educativa e do ato infracional, salvo profunda ignorncia minha, no temos seno esboos tericos mal traados e incompletos acerca dos institutos. Sabemos o que no queremos, aquilo que no , mas aprofundamos pouco em melhor definir e construir, nos detalhes, o que queremos o que de fato deve ser. No temos conceitos claros sobre quase nada. Poucas classificaes vm nos socorrer para distinguir situaes e encontrar nortes decisrios mais ou menos seguros. Da, pois, reinar, quase absoluta, a discricionariedade judicial to gravosa.

Assim, ao que me parece, por carecer de um substrato doutrinrio mais consistente, ou ao menos esboado (ou pelo menos a mim pouco claro), a proposta de lei de diretrizes ao meu ver perde um pouco em organicidade e higidez. A falta de um mapeamento geral e organizado de toda problemtica (ou da problemtica fundamental) embutida no processo de aplicao e execuo da medida scio-educativa acaba tornando a proposta lacunosa em alguns pontos e incompleta em outros. A falta de conceitos precisos gera, no raramente, graves ambiguidades.

Se por ocasio da edio do ECA muitas palavras foram inscritas sem que correspondessem a categorias jurdicas precisas (gerando controvrsias que tanto atormentam operadores e jurisdicionados), parece-me conveniente que agora se faa um esforo analtico de organizao terica dos temas que circundam a questo da aplicao e execuo (principalmente esta ltima) das medidas, para que tenhamos uma lei mais vocacionada a garantir uma decidibilidade objetiva.

Sabendo-me demasiadamente genrico nesta introduo, vou exemplificar, a seguir, o que quero dizer. As anotaes devem ser tomadas apenas como ilustrao do tipo de construo doutrinria que reputo apropriada seno indispensvel para que construamos uma proposta de lei consistente e melhoradora. O desenho vale, pois, mais pelos seus contornos do que pelo seu contedo, at porque no sou pesquisador, no domino tcnicas de classificao nem de conceitualizao. Todavia, acho que ns, todos juntos, ou dividindo tarefas, temos condies de elaborar esta base terica mnima da qual fluir, com naturalidade, a lei e da qual a lei menos poder distanciar-se.

I - A CONCEITUALIZAO E CLASSIFICAO DA MEDIDA SCIO-EDUCATIVA

Estava eu certo dia num debate sobre a medida de semiliberdade quando a discusso focada no formato de tal medida recaiu acerca dos limites que a distinguiam, na prtica, da liberdade assistida e da medida de internao. Sim, porque podemos ter uma medida de internao na qual o preceito do art. 94, 2 do ECA fosse de fato observado com rigor, saindo o jovem da unidade para tudo, estudar, profissionalizar-se, receber atendimento mdico e psicolgico, divertir-se e praticar esportes. Acrescente-se a isto a possibilidade de passagem de alguns festejos especiais com a famlia, sem escolta, como prope esta lei. Compare agora este regime com a semiliberdade tal com vigorou ou vigora, no Rio de Janeiro: sem possibilidade de atividades externas. No seria aquela internao menos severa do que esta semiliberdade? Pensemos, de outro lado, a semiliberdade no formato prescrito pelo Conanda (o jovem dorme em casa e vai para a unidade de dia) e comparemos com um regime de liberdade assistida comunitria desenvolvida numa ONG que oferece ao jovem atividades dirias. No parecem por demais assemelhadas? Imaginemos, por fim, que a medida de prestao de servios comunidade tenha agora como sugere a proposta um programa e que, muito bem intencionado, este programa deseje envolver os familiares no processo scio-educativo, idia que alis j vi cogitada. Imaginemos tambm que este programa adote estratgias para potencializar a assimilao do contedo pedaggico da medida, atravs de reunies de reflexo sobre as tarefas realizadas. Poderiam estas duas estratgias ser consideradas inerentes medida de modo que a ausncia de assimilao pelo jovem da dimenso pedaggica do servio e a falta de envolvimento da famlia no processo pudessem consistir empecilhos para a extino do regime?

Estas situaes-limite bem do conta da necessidade de se definir com preciso os contornos das medidas. Para tanto, iremos conceituar e analisar a prpria medida scio-educativa em geral e, aps classific-las, tentaremos indicar elementos componentes do contedo de cada uma delas.

1. Definio de medida scio-educativa: Resposta estatal dotada de coercitividade

dirigida em face de um jovem autor de ato infracional.

2. Natureza da medida scio-educativa: Sancionatria.

3. Objetivo da medida scio-educativa: preveno especial, ou seja, inibir a reincidncia.

4. Contedo estratgico da medida scio-educativa: pedaggico. Existe a presuno legal (no admite prova em contrrio) de que a prtica infracional pode e deve ser inibida atravs da educao do infrator. Renuncia-se, aqui, s estratgias da punio, ou do tratamento do infrator para atingir o objetivo da medida.

5. Posio hierrquica entre natureza, objetivo e contedo estratgico. necessrio estabelecer a posio relativa de importncia entre um e outro aspecto que define a medida, posto que, na prtica, no raro, eles concorrem entre si. A hierarquizao um poderoso instrumento de objetivao da hermenutica, capaz de dirigir a deciso de casos concretos nos quais, por exemplo, a natureza sancionatria obriga soluo que colide com o contedo estratgico que, por sua vez (apenas para problematizar mais ainda) pode no conduzir ao atingimento dos objetivos da lei. Cuida-se, este ponto, de algo to relevante quanto difcil de resolver. Deixo em aberto as solues. Fao apenas algumas observaes:

i) a natureza sancionatria um efeito indesejado, mas evidentemente presente, da necessidade de se atingir o objetivo preventivo especial da medida por meio de uma estratgia pedaggica ao qual o jovem deve se submeter, queira ou no queira (coercitividade). Observe-se que o objetivo da medida satisfazer prioritariamente um interesse do grupo social (segurana, ordem pblica) representado pelo Estado, e no um interesse pessoal do adolescente. A medida, portanto, no aplicada em nome do superior interesse do jovem. Isto outorga ao jovem o direito inalienvel de opr-se pretenso do Estado que lhe cercear direitos fundamentais (ligados ao conceito amplo de liberdade autodeterminao) que por outras razes no poderiam ser restringidos.

ii) Da natureza sancionatria decorre o direito ao garantismo, ou seja, de o jovem cercar-se de todo um arsenal que lhe permita resistir pretenso estatal de educ-lo independentemente de seu assentimento. Se a medida sempre sancionatria, o garantismo deve ser onipresente.

iii) Da deriva o que entendo como a regra de ouro deste ponto: nenhuma garantia outorgada ao adolescente processado pode ser suprimida sob argumento de ser antipedaggica ou de frustar o interesse superior do jovem. A natureza, pois, prevalece, no meu modesto ver, para este fim, e somente para este fim, sobre o contedo estratgico.

iv) De outro lado, como sancionar no o objetivo ( efeito colateral, iatrogenia como nos lembra o Sda), nem estratgia (a punio, mostra-nos a pedagogia e a psicologia comportamental, forma desacertada de educao) temos aqui outra regra hermenutica: nenhuma medida pode ser aplicada sob pretexto de que outra mais branda significaria impunidade. Mais. Se sancionar no o objetivo da medida, caso se atinja o escopo de preveno especial atravs de outros maneiras (s vezes pelo natural amadurecimanto) a medida perde seu objetivo, ou melhor, seu objeto e deve ser extinta.

6. Classificao das medidas scio educativas

6.1 Quanto severidade

Severidade definida como grau de controle sobre a liberdade de ir e vir do scio-educando incorporado na medida scio-educativa. Classicamente, os regimes de severidade so classificados conforme o ambiente no qual se do: aberto, semi-aberto e fechado.

Quadro classificatrio das medidas quanto severidade

Tipo de ambienteA) Local de permanncia OU

B) Recolhimento institucionalSada ou trnsito na comunidadeGuarda do

EducandoSegurana esttica do estabelecimentoCaracterstica do controle do cotidiano

A- Amplitude

B- Agente controlador externo

C- Tipo

D- MomentoConcordncia do jovem com as condies do regime

Meio FechadoA) Instituio

B) SimVivel somente com cautelas, salvo uma exceoDo diretor da unidade de internaoPresenteA)total, em todos os nveis

B)pelo pessoal da instituio

C) heterodisciplinado

D) simultneo, imediato

No exigvel

Meio Semi-abertoA) Instituio

B) SimVivel sem cautelas de segurana, salvo exceoCompartilha-da entre o diretor da unidade e os pais ou responsveisAusenteA)total, em todos os nveis

C) Pelo pessoal da instituio e pela famlia

C) parcialmente autodisiciplinado

D) mediato

Exigvel

Meio AbertoA) Sede do respons-vel

B) NoPrejudicado o jovem j esta na comunidade, inteiramenteDos pais ou respons-veisPrejudicadoA)parcial, em relao s condies impostas

B) pelo orientador e/ou pela famlia

C)autodisciplinado

D) a postierioriExigvel

6.2 Quanto forma de cumprimento

por tarefa aquelas cuja estratgia pedaggica, bem definida, resume-se realizao, pelo scio-educando, de uma determinada tarefa de cuja realizao, exclusivamente, depende a averiguao do cumprimento.

Espcies: Obrigao de reparar o dano e prestao de servios comunidade. Caractersticas: a) sujeitas a critrios objetivos de extino, dispensando relatrios tcnicos de avaliao; b) no admitem progresso e reverso c) podem ser cumuladas com quaisquer outras

por desempenho aquelas cuja estratgia pedaggica, difusa, definida e redefinida conforme as necessidades demonstradas pelo scio-educando ao longo do processo scio-educativo e de cuja assimilao de contedo pelo jovem depende a averiguao do cumprimento.

Espcies: Internao, semiliberdade e liberdade assistida.

Caractersticas: a) esto sujeitas a critrios subjetivos de extino, dependendo de relatrios tcnicos de avaliao; b) admitem, a princpio, progresso e, em tese, todas as espcies de regresso d) podem ser cumuladas apenas com outra medida por tarefa (as medidas de desempenho no podem ser cumuladas entre si)

6.3 Quanto durao

Quadro classificatrio das medidas quanto ao tempo de vigncia

instantnea

determinadoDURAO

tempo mnimo

indeterminadocontinuada

legal

tempo mximo

judicial1. Instantnea aquela cujo cumprimento se d por meio de um acontecimento nico e determinado que no se protrai no tempo.

2. Continuada aquela cujo adimplemento se protrai no tempo

3. Continuada com tempo mnimo determinado aquela cuja cessao se mostra invivel antes de que seja cumprida por um perodo mnimo fixado por lei ou sentena

4. Continuada com tempo mnimo indeterminado aquela que pode cessar a qualquer momento desde que se configure fato ou situao, superveniente sua aplicao, justificadores da cessao.

5. Continuada com tempo mximo legal aquela cujo tempo mximo de durao estabelecido de forma fechada na lei, no admitindo ampliao pelo magistrado na sentena de conhecimento ou em incidente de execuo. o sistema adotado pelo ECA.

6. Continuada com tempo mximo judicial aquela cujo tempo mximo de durao estabelecido na sentena, no admitindo prorrogao na fase de execuo ainda que o limite sentencial seja inferior ao mximo legal.

QUADRO CLASSIFICATRIO DAS ESPCIES DE MEDIDAS SCIO-EDUCATIVAS CONFORME CRITRIO DE DURAO Segundo o ECA.

MedidaDuraoTempo mximoTempo mnimoObs.

InternaoContinuadaLegalIndeterminado

Internao-sanoContinuadaJudicialIndeterminadoO juiz pode estabelecer limite inferior a trs meses

SemiliberdadeContinuadaLegalIndeterminado

Liberdade assistidaContinuadaLegal DeterminadoEmbora a medida tenha em geral prazo certo na sentena pode ser revogada e prorrogada a qualquer tempo

Prestao de servios comunidadeContinuadaJudicialdeterminadoTempo mximo = tempo mnimo

Obrigao de reparar o danoInstantneaPrej.Prej.Prej.

AdvertnciaInstantneaPrej.Prej.Prej.

6.4 Quanto competncia de gerenciamento e fiscalizao direta da execuo

de mbito do executivo estadual medidas em meio fechado e semi-aberto

de mbito do executivo municipal medidas de Liberdade assistida e prestao de servios comunidade.

de mbito do judicirio advertncia e obrigao de reparar o dano.

7 .Definio das medidas

As medidas so definidas de acordo com as classificaes sugeridas. Assim, temos o seguinte quadro

Medida Competncia de execuoDuraoForma de cumprimentoSeveridade

InternaoExecutivo estadualContinuada de tempo mx legal e tempo min indetPor desempenhoMeio fechado

SemiliberdadeExecutivo estadualContinuada de tempo max legal e tempo min indetPor desempenhoMeio semi-aberto

Liberdade assistidaExecutivo municipalContinuada de tempo mx legal e tempo mn detPor desempenhoMeio aberto

PSCExecutivo municipalContinuada de tempo mx judicial e tempo mnimo determinadoPor tarefaMeio aberto

Obrigao de reparar o danoJudicirioInstantneaPor tarefaMeio aberto

AdvertnciaJudicirioInstantneaPrejMeio aberto

II TEMAS GERAIS DO PROCESSO DE EXECUAO

Aps digresses necessrias de carter preambular do tipo acima exemplificado, podemos imaginar a construo doutrinria que demandaria o processo de execuo propriamaente dito. Numa rpida elocubrao, sistematizei as questes no seguinte quadro:

QUADRO GERAL

Cumulatividade

Homognea

subsuno

Heterognea

Temas

Modificao da

por reavaliaoGerais dosituao scio-

progressoProcesso deeducativa no

compulsriaExecuoprocesso de exe-

cuo

internao-sano

subsitituioregressorestabelecimento

reverso

alteraopura

extino

monitorada

compulsria

facultativasuspensoA proposta de lei submetida discusso cuida direta ou indiretamente de todos estes temas. Creio ser bastante salutar categorizar a problemtica, posta sob julgamento de forma muito freqente em nosso dia-a-dia, e sobre a qual os magistrados decidem sem nenhum referencial doutrinrio ou legal, com incrvel diversificao. Mais uma vez repito: minhas consideraes so provisrias e h inmeras possibilidades de pensar as questes. Quero mostrar apenas o quanto parece necessrio organizar globalmente a reflexo e como as coisas parecem ficar mais claras e precisas quando nos esforamos neste sentido.

Trataremos dos temas em seguida, iniciando pela imbricada temtica da cumulitativade, passando depois discusso das susbstituies e suas inmeras configuraes particulares.

II.1 Cumulatividade

O art. 99, combinado com 113, do ECA, alis em consonncia com a normativa internacional, estabelece que as medidas scio-educativas podem ser aplicadas cumulativamente. O que cumulao, quais medidas so cumulveis, por exemplo, so questes que demandam reflexo e organizao. Um jovem, por exemplo, cumpria PSC e, por outra infrao, foi inserido em semiliberdade por outro ato infracional. Est ele desonerado da medida mais branda? Por que?

Conceito possibilidade de cumprimento simultneo de duas medidas scio-educativas diversas aplicadas por uma mesma sentena ou por sentenas diversas.

Cabimento da cumulatividade somente so cumulveis as medidas que detenham o mesmo grau de abrangncia pedaggica. Abrangncia pedaggica consiste na amplitude da interveno da estratgia pedaggica, ou em outras palavras, na intensidade dos meios pedaggicos utilizados na inibio da reincidncia. A amplitude pedaggica, de forma prtica, pode ser tida como maior ou menor segundo o grau de severidade da medida. A amplitude pedaggica das medidas em meio fechado maior da que o das medidas de meio semiaberto que por sua vez maior do que a amplitude pedaggica das medidas em meio aberto. As medidas em meio aberto, LA, PSC e ORD, todas detm a mesma amplitude.

Substrato pedaggico de compreenso do instituto - a utilizao dos recursos de maior intensidade (do meio fechado e semi-aberto) torna desnecessria (portanto incua, prejudicada) a utilizao dos recursos pedaggicos de menor intensidade tendo em vista o contedo estratgico da medida e seu objetivo.

Diagrama representativo das abrangncia pedaggica das medidas

internao

semiliberdade

liberdade assitida

P S C

Obrigao reparar dano

A regra geral da cumulatividade que somente podem se cumular medidas DIFERENTES classificadas no MESMO grau de amplitude pedaggica.

Como consequncia, somente se mostram cumulveis entre si as em medidas em meio aberto (dotadas da mesma amplitude).

Outra regra, embutida nesta mais geral, a de que as medidas scio-educativas de desempenho no so cumulveis entre si. As medidas de tarefa podem ser acumuladas entre si e com outra de igual amplitude (LA).

Persiste, para pensar:

Realmente a obrigao de reparar o dano e a PSC no so cumulveis com semiliberdade ou mesmo internao? Particularmente, eu no acho conveniente.

II.2 SUBSUNO

A subsuno (termo que extra do anteprojeto) trata de questes extremamente problemticas que atormentam o nosso cotidiano. Talvez seja o tema mais complicado de todos. O que fazer quando o jovem infraciona vrias vezes e recebe vrias sentenas aplicando medidas iguais ou diferentes no cumulveis?

Conceito Incorporao lgica de uma medida scio-educativa por outra de igual ou maior abrangncia pedaggica aplicada em razo de outro ato infracional.

Postulados de compreenso do instituto.

No processo de execuo da medida scio-educativa objetiva-se, sempre, o ideal pedaggico que, alcanado, implica a perda do objeto scio-educativo.

objeto de uma medida singular idntico ao objetivo de vrias medidas aplicadas ao mesmo jovem.

A melhor medida a seguir outra mais severa deve ser definida a partir da interveno pedaggica e no dos atos infracionais que precederam esta interveno

A medida mais severa implica abrangncia pedaggica maior, dentro da qual inclui-se a abrangncia pedaggica das medidas mais brandas.

Medidas idnticas tm o mesmo objetivo, a mesma abrangncia, que no se altera em razo da pluralidade.

OU, numa outra formulao

A interveno se d sobre a pessoa do infrator nas condies subsistentes poca do ato infracional

Estas condies podem ensejar a prtica de uma ou mais infraes

As medidas scioeducativas aplicadas em face de cada infrao convergem em um mesmo objetivo

O objetivo da medida inibir a reincidncia e no responsabilizar o jovem por cada uma das infraes por ele cometidas.

Atravs do contedo estratgico pedaggico, espera-se do jovem um aprendizado, que, alcanado, faz com que perca sentido outras medidas que, invariavelmente, tero o mesmo objetivo. Se j alcanado o objetivo de uma medida pelo sucesso atingido por outra medida anteriormente cumprida, h perda do objeto desta nova medida.

Completado o ciclo de interveno sobre a pessoa, perdem eficcia as medidas subsequentes aplicadas em face de infrao anterior ao incio do ciclo.

Nomenclatura

Medida subsunora - a que incorpora

Medida subsumida a que incorporada

Classificao

a) Quanto espcie de medidas envolvidas

a.1)Homognea Subsuno de medidas idnticas

a.2)Heterognea Subsuno de medida mais branda por outra mais severa

b) Quanto ao momento de ocorrncia da infrao ensejadora das medidas sob subsunob.1) lgica- Quando as medidas a serem subsumidas decorrem de infraes anteriores ao incio de cumprimento de uma das medidas

b.2) modificadora - Quando uma das medidas a serem subsumidas decorre de infrao praticada no curso de vigncia da outra medida.

c) quanto ao momento em que se opera a subsuno

c.1) Anterior Incorporada no processo de execuo. Prevendo a subsuno atual, o juiz deixa de aplicar medida ou aplica remisso (remisso quando o jovem est internado)

c.2) Atual - Promovida no curso do processo de execuo

c.3) Posterior Quando a medida subsunora j foi modificada

Regras da subsuno

Operada a subsuno:

No h alteraes em quaisquer dos prazos da medida subsunora, exceto na hiptese de subsuno modificadora

Pode haver reviso do plano individual

A medida subsumida perde inteira vigncia

Prevalecem as clusulas mais severas

Polmica

Merece uma adendo especial a construo de uma dogmtica que regule a concorrncia de medida scio-educativa com pena criminal ou com priso cautelar

II.3 SUBSTITUIO

As substituies compem a parte nuclear dos incidentes em execuo de medida scio-educativa. O quadro abaixo d conta do largo panorama tratado nesta temtica. Parece-me especialmente importante a distino entre as diversas espcies de regresso.

Condies de ocorrnciaCaractersticaPolmicas

por reavaliao

operada em funo dos mritos do scio-educandoDemonstra-se, por relatrio tcnico, que o jovem cumpriu as metas de seu plano individualDepende de relatrio

No cabe para medidas scio-educativas de tarefaH necessidade de recomendao tcnica expressa?

Como se contam e fixam-se os prazos de reavaliao?

Progresso-

Substituio de uma medida mais severa por outra menos severaCompulsria

Operada em funo do decurso do prazo mximo de durao da medidaDecurso do prazo legal ou judicial de durao mxima da medidaIndepende de relatrio

o caso do do art. 121 do ECA Admite restabelecimento?

Internao-sano

Substituio de uma medida mais branda por outra de internao com limite mximo de trs mesesDescumprimento reiterado e injustificvel de medida menos severaIndepende de relatrio

Ao trmino, o jovem reingressa no regime anterior

Art. 122, III do ECA e 1Seu objetivo nico sensibilizar para o cumprimento de medida mais brandaO que reiterado?

O que injustificvel?

Pode ser aplicada no processo de conhecimento?

Substituio

Troca de uma medida scioeducativa por outra medida scioeducativa ao longo do processo de execuo independentemente de novo ato infracional ou Regresso

Substituio de uma medida menos severa por outra mais severaRestabelecimento

Revogao da progresso com retomada da medida progredida na situao em que se encontravaDescumprimento de compromissos estabelecidos como condio para progressoIndepende de relatrio (?)

Incabvel na progresso compulsria

Incabvel na progresso no clausulada

Seu prazo soma-se ao da medida anterior para fins de progresso compulsriaQuais condies so estas?

Quando cabe e no a sano ou reverso?

O ECA admite esta hipteses? conveniente que se a admitia?

Transformao de uma medida scio educativa em outra medida scio-educativa decorrente de fatores internos prpria medidaReverso

Substituio da medida mais branda por outra mais severa excludas as hipteses de restabelecimento ou internao-sanoAferio concreta, no curso da execuo da inadequao da medida menos severa originariamente aplicadaNo cabe quando seria invivel a aplicao da medida mais severa no processo de conhecimento

Depende de relatrioComo se afere a inadequao e qual a diferena entre ela e o descumprimento?

possvel admiti-la quando se reverte para internao?

Alterao

Substituio de uma medida por outra de igual severidade (troca de medidas em meio aberto)Aferio de um fato novo, surgido aps a sentena, que revele maior adequao de uma medida s necessidades pedaggicas do scio-educando do que a outra em cursoLA-PSC os prazos prosseguem computando-se o j cumprido na outra medida

LA/PSC- ORD depende da aferio da existncia de recursos pelo adolescente, bem como sua concordnciaQual a indicao para as medias em meio aberto (casos elegveis)

Como definir o prazo na alterao para PSC?

possvel substituir duas medidas por uma ou uma por duas?

Outra classificao da progresso:

Clausulada na qual o abrandamento do regime vem condicionado ao cumprimento de condies que, desatendidas, permitem o restabelecimento da medida.

No clausulada sem compromisso no admite restabelecimento.

II.4 EXTINO

Conceito: Deciso que pe termo ao processo de execuo de medida scio-educativa.

Espcies:

1. Quanto vinculao do juiz:

a)COMPULSRIA Decretada diante de circunstncia objetiva que torna invivel ou absolutamente incuo a vigncia da medida scio-educativa.

Hipteses:

Decorrente de condenao criminal do jovem a pena privativa de liberdade

Decorrente do bito do scio-educando

Decorrente do alcance da maioridade plena

Decorrente do cumprimento das tarefas nas medidas de PSC e obrigao de reparar o dano

b)FACULTATIVA Cuja decretao depende de avaliao tcnica do aproveitamento da medida, em caso de medidas por desempenho

2. Quanto definitividade da interveno estatal

a)PURA Por termo medida, sem qualquer ressalvas.

b)MONITORADA pe termo medida com ressalvas sem carter scio-educativo. Duas hipteses:

b.1)COM MEDIDA PROTETIVA A deciso encerra a medida scio-educativa e aplica medida de proteo

Questo permanece o acompanhamento judicial s da medida protetiva?

b.2) COM ACOMPANHAMENTO DE EGRESSO Pe termo medida de internao ou semiliberdade ou internao, seguindo ativo o processo de execuo por haver relevncia em se monitorar no o jovem mas a efetividade do programa de acompanhamento de egressos.

II.5 SUSPENSO

Conceito Deciso que sobresta o processo de execuo de medida scio-educativa diante do advento de uma causa suspensiva.

HIPTESES DE SUSPENSO

HipteseCaracterstica

Para tratamento de sade mental, inclusive drogadioAo trmino do tratamento, se durar mais de trs meses, por avaliao tcnica ser verificada a persis-

Para tratamento de demais doenas gravestncia do objeto scio-educativo.

Para confirmao da perda do objeto scio-educativoNo caso de interrupo da medida ou demora no incio de sua execuo, comparecendo o jovem e apresentando indcios da perda do objeto scio-educativo, o magistrado pode suspender a retomada imediata do regime at que o caso seja avaliado

Pela no localizao do jovemEsgotadas as possibilidades de localizao do jovem, promove-se a suspenso do processo at nova provocao ou advento da maioridade plena.

Artigo extrado do Acervo Operacional dos Direitos da Criana e Adolescente: http://www.abmp.org.br/acervo.php Utilizao preferencial do recursos da comunidade no cumprimento das obrigaes inerentes ao regime de internao princpio da incompletude institucional.

Coercitividade: caracterstica da medida que a torna de cumprimento compulsrio, independentemente da anuncia do jovem, legitimando o Estado valer-se do uso da fora para exigir seu adimplemento. a caracterstica que distingue a medida scio-educativa da medida de proteo.

A compreenso que o jovem faz de si mesmo e das circunstncias que o rodeiam , ainda que promovida com tcnicas psicoterpicas (por psiclogos, obviamente), inclui-se neste contedo estratgico.

Sinara Porto Fajardo, por exemplo, nos fala em seu texto, que a concepo pedaggica, em suas vicissitudes, pode ser anti-garantista, tanto quanto em outro momento princpios garantistas podem ser questionveis do ponto de vista pedaggico. O garantismo, derivado da natureza sancionatria, d ao jovem o direito de negar a imputao. A estratgia pedaggica aconselha-o, usualmente, assuno da responsabilidade.

Talvez a questo do garantismo, por sua relevncia, merecesse um captulo parte. Quero lembrar que no me parece (estou tentando aprofundar esta idia) indispensvel recorrer ao conceito de sano (natureza sancionatria) para fundamentar a necessidade de observncia das garantias. Estas ltimas podem se legimitar, perfeitamente, pelo prprio contedo estratgico pedaggico da medida. Nada mais educativo do que se mostrar ao jovem que justia no se faz se no se der direito de voz ao imputado. O sistema de Justia e o processo devem dar ao adolescente o exemplo (que ensina mais que mil palavras, como nos lembra o Antonio Carlos Gomes da Costa) de que na vida, sempre deve-se considerar os dois (ou mais) lados da questo antes de se tomar uma deciso importante..

Utiliza-se meio, e no regime, terminologia consagrada na execuo penal, por que os regimes so maneiras de se cumprir a medida privativa de liberdade. A liberdade assistida, em nossa classificao no medida privativa de liberdade, mas sim restritiva de direitos. No tem analogia com o regime aberto da execuo penal.

Relatrio tcnico definido como: estudo interdisciplinar que avalia a assimilao, pelo jovem, do contedo pedaggico decorrente da medida.

Tanto por serem de tarefa, quanto por serem todas elas de meio aberto

Excluda a liberdade assistida, que de meio aberto

claro que a classificao pura e simples no d os elementos necessrios para definir cada medida. Contm inclusive elementos acidentais, deixando de estabelecer outros notoriamente essenciais. Da porque reconheo a necessidade de se enunciar uma definio de cada medida, tarefa a que no me propus por ora.

o caso de o jovem, por exemplo, ter cumprido internao,e progredido para medida mais branda e ser supreendido com sentena aplicando nova medida de internao por fato anterior o incio do cumprimento da medida de internao anterior.

A pgina do quadro est configurada na opo paisagem

117