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FRAGMENTAÇÃO INTERNACIONAL DA PRODUÇÃO E A INSERÇÃO DO BRASIL
EM CADEIAS GLOBAIS DE VALOR1
Inácio Fernandes de Araújo Junior2
Fernando Salgueiro Perobelli3
Weslem Rodrigues Faria4
Resumo
O objetivo deste estudo foi analisar a inserção do Brasil nas cadeias globais de valor. Assim, foi
possível compreender a evolução da especialização vertical da produção e a origem geográfica dos
diferentes estágios de produção dos bens finais produzidos no país. Desse modo, foi possível rastrear
a origem das redes de comércio de cada atividade econômica, permitindo avaliar a extensão regional
e global da inserção nas cadeias de valor. O estudo utilizou a metodologia de insumo-produto para
medir o comércio de valor adicionado, usando dados do Global Trade Analysis Project (GTAP) para
os anos de 2004 e 2011, com desagregação para 140 regiões e 57 setores de atividades. Os principais
resultados do estudo indicam que, apesar do Brasil ter aumentado a participação do valor adicionado
estrangeiro na produção de bens finais, a integração às cadeias de valor é pequena, comparado a outras
economias. Além disso, a inserção nas cadeias de valor ocorreu pela maior fragmentação regional e
global da produção, embora a fragmentação global tenha sido a principal forma de inserção para a
maior parte dos setores de atividades.
Palavras-chaves: Especialização vertical; Cadeias globais de valor; Insumo-produto.
Abstract
This study aim was to analyze Brazil’s insertion in global value chains. Thus, it was possible to
understand both the evolution of production vertical specialization and the geographical source of the
different production stages from final goods produced in the country. Thus, it was possible to trace
the trade networks origin of each economic activity allowing to assess regional and global extent of
value chains insertion. The study used the input-output methodology to measure the trade value
added, using the Global Trade Analysis Project data (GTAP) for the years 2004 and 2011, with
breakdown to 140 regions and 57 industries. The study main results indicates that, although Brazil
has increased abroad value added share in final goods production, the integration in value chains is
small, compared to other economies. Furthermore, the insertion at the production chains it occurred
by the higher regional and global production fragmentation, although the overall fragmentation has
been the main way of insertion for most industries.
Keywords: Vertical specialization; Global production chains; Input-output.
Classificação JEL: F1; C67; D57.
Área 7 - Economia Internacional
1 Os autores agradecem o financiamento do CNPq, da CAPES e da FAPEMIG para elaboração deste trabalho. 2 Doutorando em Economia. Programa de Pós-Graduação em Economia, Universidade Federal de Juiz de Fora.
Pesquisador LATES. 3 Professor Associado. Departamento de Economia, Universidade Federal de Juiz de Fora. Pesquisador CNPq, FAPEMIG
e LATES. 4 Professor Adjunto. Departamento de Economia, Universidade Federal de Juiz de Fora. Pesquisador CNPq, FAPEMIG
e LATES.
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1 Introdução
A estrutura do comércio internacional mudou ao longo dos últimos anos, com a tendência dos
países se especializarem em estágios específicos do processo de produção. Assim, tem-se observado
maior fragmentação internacional da produção e intensificação do fluxo de valor adicionado entre os
países por meio do comércio de insumos intermediários. Hummels, Ishii e Yi (2001), Johnson e
Noguera (2012a) e Koopman, Wang e Wei (2014) demonstraram que essa tendência de mudança no
processo de produção tem exigido mudanças na forma de estimar a contribuição de cada país ao
comércio internacional.
Desde o conceito de especialização vertical apresentado por Hummels, Ishii e Yi (2001) uma
vasta literatura empírica tem sugerido medidas e focos diferentes de análise para medir a extensão
das cadeias globais de valor sobre o comércio internacional. Nessa perspectiva, uma crescente
quantidade de trabalhos tem medido o fluxo de insumos intermediários a partir das matrizes de
insumo-produto, por exemplo, Koopman, Wang e Wei (2012), Baldwin e Venables (2013), Timmer
et al. (2015), em Pei, Oosterhaven e Dietzenbacher (2015), Merino (2015), Fujita e Hamaguchi (2016)
e Pavlínek e Žížalová (2016). Impulsionados principalmente pelas contribuições de Johnson e
Noguera (2012a) e Koopman, Wang e Wei (2014) esses estudos analisaram a inserção das economias
nas cadeias de globais de produção.
A literatura empírica também apresenta uma corrente de estudos interessados em identificar a
extensão geográfica das cadeias de valor, com foco em rastrear a origem do valor adicionado em cada
etapa de produção, principalmente com os trabalhos de Noguera (2012), Johnson e Nogueira (2012b),
Baldwin e Lopez-Gonzalez (2015) e Los, Timmer e Vries (2015). Assim, esses autores discutiram
como as cadeias de valor insere-se ao longo dos territórios.
Assim, o objetivo deste estudo foi analisar a inserção do Brasil nas cadeias globais de valor.
Essa análise permitiu compreender a evolução da fragmentação internacional da produção brasileira
por tipo de atividade econômica e a origem geográfica do valor adicionado inserido nos diferentes
estágios de produção dos bens finais produzidos pelo país. Desse modo, foi possível rastrear a origem
das redes de comércio de cada atividade econômica, permitindo avaliar até que ponto as cadeias de
valor na qual a economia brasileira está inserida são verdadeiramente globais ou regionais. Além
disso, foi calculado o valor adicionado doméstico e estrangeiro inseridos nas exportações brasileira
para estimar a contribuição real das exportações para o produto total da economia. O estudo utilizou
a metodologia de insumo-produto para medir o comércio de valor adicionado, usando dados do
Global Trade Analysis Project (GTAP 9) para os anos de 2004 e 2011, com desagregação para 140
regiões e 57 setores de atividades.
Apesar da importância de compreender a inserção das economias no contexto da fragmentação
internacional da produção ainda existem poucas evidências nesse assunto para a economia brasileira.
Dentre os estudos já realizados Dietzenbacher, Guilhoto e Imori (2013), Guilhoto e Imori (2014) e
Imori (2016) analisaram os fluxos de comércio do Brasil no âmbito das cadeias globais de valor.
Este estudo apresenta duas contribuições principais para a literatura. Primeiro, foi estimada
uma matriz de insumo-produto global a partir dos dados de insumo-produto interpaíses do GTAP.
Essa matriz permite análises mais abrangentes da participação dos países nas cadeias globais de valor
do que as análises usando apenas matrizes nacionais ou com um grupo pequeno de países. A segunda
contribuição do estudo é apresentar novas evidências da inserção do Brasil nas redes globais de
comércio, permitindo compreender a extensão espacial da fragmentação internacional da produção
de bens finais produzidos no país.
Os principais resultados do estudo indicam que, apesar do Brasil ter aumentado a participação
do valor adicionado estrangeiro na produção de bens finais, a inserção às cadeias de valor é pequena,
comparado a outras economias. Além disso, a inserção nas cadeias de produção foi impulsionada pela
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maior fragmentação regional e global da produção, embora a fragmentação global tenha sido a
principal forma de inserção para a maior parte dos setores de atividades.
O artigo, além desta seção de introdução, está estruturado da seguinte forma. Na seção dois
são discutidos os determinantes do comércio internacional e a fragmentação internacional da
produção, além de apresentar medidas de especialização vertical do comércio. O foco principal dessa
seção consiste em justificar a abordagem metodológica escolhida para realizar a análise. Na seção
três são discutidas as medidas de especialização vertical, calculadas usando a metodologia de insumo-
produto, que subsidiarão a realização do estudo. Na quarta seção é descrita a base de dados usada no
estudo. Já na quinta seção são apresentados e discutidos os principais resultados. E na sexta seção
tem-se a conclusão do estudo.
2 Determinantes do comércio internacional
As teorias do comércio internacional têm demonstrado que os países podem ganhar com a
troca de mercadorias. Essas teorias indicam que a participação no comércio bilateral tem origem nas
diferenças dos custos de produção dos bens entre os países. Assim, a partir da divergência entre os
preços relativos são estabelecidos os termos de troca que determinam os incentivos para a realização
do comércio. Dentre as oportunidades geradas no comércio internacional existem os estímulos à
distribuição mais eficiente dos recursos no mercado mundial. Desse modo, as transações bilaterais
podem proporcionar aos países atingirem níveis de produção e de consumo que não seriam alcançados
caso não houvesse comércio internacional (MAGGI, 2014).
A especialização dos países no comércio internacional tem sido associada com as diferenças
na tecnologia e na dotação dos fatores de produção5. Assim, pelo modelo de vantagens comparativa
e o modelo Heckscher-Ohlin os ganhos de comércio serão maiores entre as economias diferentes
quanto à sua estrutura produtiva. No entanto, as evidências empíricas sugerem que o comércio
internacional é mais intenso entre os países industrializados, os quais se supõem a presença de
dotações parecidas de fatores de produção e estruturas produtivas semelhantes (BAUMANN, 1994;
BROWN; ANDERSON, 1999). Assim, a existência de comércio entre países considerados
semelhantes pode estar associada à existência de economias de escala e de mercados não
concorrenciais (KRUGMAN, 1979; HELPMAN, 1981).
Conforme o desenvolvimento dos países, as mudanças no capital físico e humano levam a
salários reais mais altos. Desse modo, as vantagens competitivas são alteradas, afastando-os das
mercadorias tradicionais em direção a produção de bens mais intensivos em capital (KRUGMAN;
COOPER; SRINIVASAN, 1995). Assim, associado à redução nos custos de transportes uma
característica do padrão de comércio é a fragmentação dos processos produtivos, refletida no aumento
do fluxo de produtos intermediários, recursos naturais e bens de produção (JONES, 2000). Desse
modo, parte das atividades produtivas é deslocada para regiões que apresentam recursos específicos,
que lhes proporcionam vantagem competitivas6.
Contudo, as análises realizadas pelas teorias tradicionais do comércio internacional implicam
que os bens comercializados sejam importados ou exportados, mas não ambos. Embora, muitas
mercadorias sejam tanto importadas quanto exportadas no comércio internacional, atravessando as
fronteiras nacionais mais de uma vez. Assim, os produtos cada vez mais passam por uma série de
5 O modelo de Heckscher-Ohlin é geralmente tratado sob a suposição de tecnologias idênticas. Isso permite se concentrar
sobre o papel desempenhado pelas diferenças na dotação de fatores (GANDOLFO, 2014). 6 Nesse contexto, a teoria de Heckscher-Ohlim, contudo, subsiste, sugerindo que as diferenças internacionais nas dotações
de classes abrangentes de fatores, como capital e trabalho, serão refletidas em diferenças nos padrões de produção e
comércio (GANDOLFO, 2014).
4
estágios intermediários de produção, que com frequência, são realizados em diferentes países
(HELPMAN, 2006).
Nas cadeias globais de produção as etapas enviadas ao exterior geralmente são as intensivas
em mão de obra, que exigem menor especialização tecnológica (JONES, 2000; BALDWIN;
EVENETT, 2015). Assim, as indústrias que fazem uso desse mecanismo recorrem a contratação dos
fatores de produção que são mais baratos no exterior, devido aos custos mais elevados nos países
industrializados. Essa configuração de comércio incentiva as empresas dos países mais
industrializados a enviarem etapas do processo de produção para o exterior, com salários mais baixos.
Embora, outros estágios da produção possam ser alocados nos países industrializados (BALDWIN,
2006). Assim, a produção dos bens intensivos em trabalho tende a ser concentrada nos países com
abundância no fator trabalho, enquanto os bens intensivos em capital situam-se nos países nos quais
o fator capital é abundante (COSTINOT; VOGEL; WANG, 2013).
Apesar da crescente fragmentação internacional da produção, a teoria do comércio
internacional foi dominada pela noção de especialização horizontal (YAMASHITA, 2010). Assim,
consideravam-se as mercadorias sendo produzidas inteiramente do início ao fim em um país e apenas
bens finais sendo trocados no comércio bilateral. Esta noção tornou-se cada vez mais inadequada,
devido a tendência de especialização vertical, com a produção sendo dividida em etapas distintas
realizadas em diferentes países (HUMMELS; ISHII; YI, 2001; YI, 2003). Portanto, embora as teorias
tradicionais ainda ofereçam um quadro conceitual útil, a natureza cada vez mais complexa da
fragmentação do comércio exige novas formulações para compreender a dinâmica do comércio
internacional (GROSSMAN; ROSSI-HANSBERG, 2008).
A inserção da fragmentação internacional da produção nos modelos de comércio internacional
foi demonstrada por Yi (2003), Baldwin e Robert-Nicoud (2007), Grossman e Rossi-Hansberg (2008)
e Costinot, Vogel e Wang (2013). Esses modelos ao considerar a cadeia de produção verticalmente
integrada permitem que em cada fase da produção contenha fatores (capital e trabalho) em diferentes
proporções, dada a tecnologia e a presença de diferenças de preços internacionais. Assim, incorporam
a possibilidade de a produção ser realizada em território nacional ou em um país estrangeiro.
No entanto, o custo diferenciado dos fatores de produção no mercado internacional nos
modelos de comércio exterior, que destacam os ganhos potenciais da divisão da produção em
diferentes estágios, pode não ser sempre o determinante principal de decisão das empresas diante da
possibilidade da fragmentação internacional (YAMASHITA, 2010). Embora os custos dos fatores de
produção ainda sejam os mais importantes, Mclaren (2000), Antràs (2003), Grossman e Helpman
(2005) e Helpman (2006) destacaram outros fatores, como a presença de capacidades locais de
fornecimento, presença de infraestrutura e rede de distribuição que também determinam o padrão e a
extensão da fragmentação internacional.
2.1 Fragmentação internacional da produção e cadeias globais de valor
A fragmentação internacional da produção7 está relacionada à decisão das empresas em
realizar uma ou mais etapas do processo produtivo no exterior. Tais etapas podem envolver a
produção física de bens, por meio da aquisição de insumos intermediários, ou serviços imateriais que,
convenientemente, podem ser realizados à distância, por exemplo, através de call centers ou de
serviços de contabilidade (GANDOLFO, 2014). Assim, os processos tornam-se verticalmente
integrado, com cada fase sendo realocada nos locais, além das fronteiras nacionais, mais adequados
(JONES, 2000).
7 A fragmentação internacional da produção também é definida na literatura com os termos: outsourcing, especialização
vertical, especialização intra-produto.
5
A fragmentação internacional é motivada pela redução dos custos de produção no estrangeiro
como estratégia para manter a competitividade internacional das multinacionais de países
industrializados, desde o final da década de 1960 (HELLEINER, 1973). Desde então, outros fatores,
incluindo o progresso tecnológico e a redução contínua dos custos de transporte e de comunicação,
fizeram a fragmentação internacional da produção mais atraente para obter redução dos custos
(BALDWIN; EVENETT, 2015) e facilitou a separação da produção em diferente etapas
(HUMMELS, 2007). Além disso, a liberalização do comércio internacional também contribui para o
rápido crescimento da fragmentação através das fronteiras nacionais (YI, 2003).
No geral, as redes de produção internacional têm gradualmente tornado-se mais abrangentes,
envolvendo muitos países em diferentes fases da produção. Assim, embora o comércio intra-firma,
realizado por multinacionais, ainda domine a fragmentação da produção, a contratação de fabricantes
domésticos nos países de origem facilitou a transação de peças e componentes (YAMASHITA, 2010).
Embora, os custos de informação e os direitos de propriedade determinem a estrutura organizacional
do comércio internacional. A fragmentação da produção requer fluxos de informação entre
compradores e vendedores devido às especificações de produtos complexos e ao conteúdo de
propriedade intelectual. Assim, quando há preocupações sobre os custos de transação e sigilo
tecnológico, devido a contratos incompletos, as empresas podem optar por abrir filial no exterior em
vez de subcontratar outras empresas para fornecer peças e componentes (GROSSMAN; HELPMAN,
2005).
As análises empíricas da tendência de fragmentação internacional da produção focam
principalmente nas medidas de especialização vertical do comércio. Assim, estimam o conteúdo
importado e a participação do valor adicionado doméstico presente nas exportações e o volume de
comércio de bens intermediários. Os trabalhos nesse campo de pesquisa apresentam consenso de que
a rede de comércio internacional de bens intermediários – incluindo peças e componentes, recursos
naturais e serviços – tornou-se cada vez mais densa (LOS; TIMMER; VRIES, 2015). O Quadro 1
apresenta estudos que analisaram a fragmentação internacional da produção a partir de medidas de
especialização vertical no comércio calculadas usando a metodologia de insumo-produto.
A ideia básica contida nas propostas metodológicas para medir o grau de especialização
vertical é que as fases da produção são realizadas em diferentes países, assim, os insumos
intermediários atravessam as fronteiras muitas vezes. Dessa forma, os países importam insumos
intermediários, combinando-os com o valor adicionado doméstico, e reexportam o produto
processado. Com frequência, no comércio de intermediários, os produtos exportados podem voltar ao
país de origem na forma de insumo para outro estágio de produção ou bem final para o consumo
(KOOPMAN et al., 2010). Assim, diante da fragmentação internacional e especialização em
determinadas atividade, existe tendência de redução na participação do valor adicionado doméstico
ao qual cada país insere nas diferentes fases da produção.
Hummels, Ishii e Yi (2001) foram pioneiros em introduzir uma medida de fragmentação
internacional da produção. O objetivo desses autores era medir a extensão da especialização vertical,
por meio do uso de insumo importado na produção de bens. Esses autores definiram a especialização
como o processo de produção que envolve uma cadeia sequencial de comércio vertical, que se estende
por muitos países, com cada país especializando-se em um estágio particular da produção de um bem.
A medida de especialização vertical de Hummels, Ishii e Yi (2001) estima o conteúdo
importado adicionado à produção sob a suposição que as exportações de um país são totalmente
absorvidas na demanda final no exterior. No entanto, apesar de simples e direta de se calcular com
base em matrizes insumo-produto nacionais, essa medida excluí os cenários que a produção incorpora
diferentes estágios, com os países importando valor adicionado que inseriram em fases anteriores da
produção. Assim, essa medida apresenta deficiências para analisar o fluxo de valor adicionado no
comércio bilateral.
6
Quadro 1. Análise da fragmentação internacional da produção a partir de medidas de especialização
vertical calculadas usando a metodologia de insumo-produto
Medida de
especialização vertical Abrangência Contribuição Autor
Conteúdo
nacional/importado nas
exportações
10 países da OCDE e
quatro emergentes
usando matrizes I-P
nacionais
Análise da
fragmentação da
produção no âmbito de
uma região
Hummels, Ishii e Yi
(2001)
55 países usando
matrizes I-P nacionais e
base de dados do GTAP,
com desagregação para
três setores
Análise do volume de
comércio de bens
intermediários durante a
crise de 2008-2009
Bems, Johnson e Yi
(2011)
Economia da China com
dados da matriz I-P
Proposta de medida do
conteúdo
nacional/importado
considerando o
comércio de bens
processados
Koopman, Wang e Wei
(2012)
Valor adicionado
estrangeiro nos bens
exportados
Matrizes I-P definidas a
partir da base de dados
do GTAP para 94 países
e 19 regiões abrangendo
57 setores
Análise da
fragmentação da
produção em estrutura
de dados globais
Johnson e Noguera
(2012a)
Análise para 26 países e
41 setores usando matriz
I-P construída para o ano
de 2004 a partir de dados
do GTAP, COMTRADE
e WIOD
Proposta de medida
para identificar a
origem da dupla
contagem nos dados de
comércio internacional
Koopman, Wang e Wei
(2014)
Origem geográfica do
valor adicionado na
cadeia global de valor
Análise para 42 regiões
incluindo países da
OCDE e emergentes,
usando matrizes I-P
nacionais
A regionalização é mais
importante do que a
globalização no fluxo
de comércio
internacional
Johnson e Noguera
(2012b)
Análise para 40 países e
14 grupos de produtos
da indústria de
transformação a partir
das matrizes I-P da
WIOD
Fragmentação global
das cadeias de valor
progrediu mais rápido
do que a fragmentação
regional.
Los, Timmer e Vries
(2015)
Análise do setor
automotivo em 40 países
usando as matrizes I-P
da WIOD
Fornece evidências para
a distribuição
geográfica da
fragmentação produtiva
Timmer et al. (2015)
Matrizes I-P da WIOD
O comércio em cadeias
globais não é mundial e
sim regional.
Baldwin e Lopez-
Gonzalez (2015)
Fonte: Elaboração própria.
Desse modo, Daudin, Rifflart e Schweisguth (2011) Johnson e Noguera (2012a e 2012b) e
Koopman, Wang e Wei (2014) relaxaram essa hipótese, usando dados de matrizes insumo-produto
com identificação simultânea dos países de origem e destino. Assim, esses autores estenderam a
7
medida de especialização vertical do comércio de Hummels, Ishii e Yi (2001) apresentando
evidências sobre a tendência de fragmentação internacional no âmbito das cadeias de produção para
um ambiente de várias regiões.
No contexto de especialização vertical, também pode ocorrer a dupla contagem no valor dos
bens intermediários que cruzam as fronteiras internacionais mais de uma vez, visto que as estatísticas
oficiais de comércio são medidas em termos brutos, que incluem os insumos intermediários e
produtos finais. Portanto, diante da fragmentação internacional, em cadeias de fornecimento global,
as exportações podem voltar para o país de origem na forma de insumos intermediários que serão
utilizados em outras fases da produção e reexportados. A dupla contagem implica, portanto, que a
importância do comércio internacional pode ser subestimada.
No entanto, Koopman, Wang e Wei (2014) além de especificar a origem e o destino de todos
os fluxos de transações entre as indústrias de diferentes países acrescentaram a especificação do uso
intermediário e final para todos esses fluxos. Essa especificação é mais abrangente, pois evita assumir
a hipótese da proporcionalidade8 no uso dos insumos importados para produzir os bens destinados ao
fornecimento do mercado doméstico e exterior. Uma segunda abordagem para lidar com o problema
da dupla contagem é estimar a participação dos insumos nacionais e estrangeiros na produção por
meio da participação do valor adicionado no valor da produção, como realizado em Johnson e
Noguera (2012a).
Com base nos argumentos acima, o presente estudo propõe analisar três hipóteses. A
fragmentação internacional exige a formação de rede de comércio ligada verticalmente. Assim, o
aumento da participação de importados no consumo de bens finais reflete maior inserção em cadeias
globais de produção (LOS; TIMMER; VRIES, 2015). Assim, a primeira hipótese é a seguinte:
Hipótese 1: Existe a tendência de maior inserção da economia brasileira em cadeias globais
de produção ao longo do tempo.
A produção em rede também foi analisada em Jones (2000) e Baldwin e Venables (2013) que
identificaram que os avanços da tecnologia têm aumentado a separabilidade do processo de produção
em atividades específicas. Isso tem contribuído para o aumento da fragmentação internacional,
permitindo que os processos da produção aconteçam além das fronteiras nacionais. Assim, as
atividades de engenharia, tais como a fabricação de automóveis e eletrônicos, tem sido cada vez mais
separada em várias etapas, com diferentes requisitos de habilidades, escala e fatores de produção
(LALL; ALBALADEJO; ZHANG, 2004). Contudo, o processo de produção contínua de outras
indústrias, por exemplo, a indústria química, cria dificuldades técnicas para segmentar a produção em
diferentes etapas (YAMASHITA, 2010). Assim, enquanto algumas indústrias localizam as suas
atividades de montagem geograficamente próximas, com fornecedores especializados tendendo a se
agrupar em torno dessas atividades, outras indústrias concentram as atividades necessárias para a
produção cada vez mais dispersas ao redor do mundo (LOS; TIMMER; VRIES, 2015). Com base
nesse argumento é levantada a seguinte hipótese:
Hipótese 2: Existem diferenças setoriais no padrão da fragmentação internacional da produção
brasileira.
Baldwin e Lopez-Gonzalez (2015) demonstraram que a especialização vertical é marcada por
blocos regionais, em vez do comércio em cadeias de produção a nível global. Assim, podem-se
esperar aumentos na fragmentação internacional ao longo do tempo concentrando-se entre parceiros
comerciais imediatos. Isso, por sua vez, implica que a fragmentação seja dirigida para a localização
regional do comércio. Nesta perspectiva, Johnson e Noguera (2012b) e Los, Timmer e Vries (2015)
analisaram até que ponto a fragmentação internacional é essencialmente regional, ocorrendo dentro
8 Feenstra e Hanson (1999) demonstraram que a hipótese da proporcionalidade dos importados pode ser imprecisa, pois
a participação das importações varia significativamente entre o uso intermediário e final.
8
de grupos de países vizinhos e blocos comerciais regionais, ou, principalmente, global envolvendo
países de diversas regiões.
Desse modo, apesar da fragmentação dos processos de produção ser comumente referidos
como cadeias de produção "globais", existem evidências empíricas que sugerem, porém, que muitas
dessas cadeias podem ser descritas como cadeias de produção "locais", uma vez que incluem países
geograficamente próximos. Essa tendência de regionalização das cadeias de valor seria motivada
pelas iniciativas de formação de blocos de comércio regional, que reduzem as barreiras comerciais
preferencialmente entre países vizinhos (MAGGI, 2014). Isso leva a formular a seguinte hipótese:
Hipótese 3: A inserção do Brasil em cadeias globais de valor ocorre essencialmente por meio
de blocos regionais de comércio.
As hipóteses apresentadas nesse estudo permitiram compreender o processo de fragmentação
internacional da produção. Além disso, foi possível analisar a inserção da economia brasileira nas
cadeias globais de valor.
3 Abordagem metodológica
3.1 Decomposição do valor adicionado nas cadeias globais de valor9
A matriz de insumo-produto global contém as informações dos valores dos fluxos de insumos
intermediários entre todos os países-indústrias do mundo, bem como os valores dos fluxos de cada
um destes países-indústrias para uso final em cada um dos países. Essa matriz contém todas as
atividades econômicas (s = 1,…,S) em cada um dos países (n = 1,…,N). A matriz insumo-produto
também contém informações sobre o valor adicionado gerado em cada um dos países-indústrias.
Combinando as informações sobre os valores de transações de insumos intermediários (Z) e de valor
adicionado (W) é possível estimar o valor gerado em cada uma das indústrias SN como consequência
do consumo de bens finais do setor s no país i absorvidos no destino j, 𝑓𝑖𝑗(𝑠), e a quantidade de
insumos intermediários do setor s no país de origem i usados para produzir no setor t no país de
destino j, 𝑧𝑖𝑗(𝑠). Formalmente essas matrizes e vetores podem ser representados por:
𝒁 ≡ (
𝑧11 𝑧12 ⋯ 𝑧1𝑁𝑧21 𝑧22 ⋯ 𝑧2𝑁 ⋮ ⋮ ⋱ ⋮ 𝑧𝑁1 𝑧𝑁2 ⋯ 𝑧𝑁𝑁
), 𝑭 ≡
(
𝑓1𝑗𝑓2𝑗⋮𝑓𝑁𝑗)
, 𝑿′ ≡ (
𝑥1𝑥2⋮𝑥𝑁
), 𝑾′ ≡ (
𝑤1𝑤2⋮𝑤𝑁
)
A matriz de insumo-produto global organiza os fluxos de comércio através da condição de
equilíbrio de mercado 𝑥𝑖(𝑠) = ∑ ∑ 𝑧𝑖𝑗(𝑠, 𝑡) + ∑ 𝑓𝑖𝑗(𝑠)𝑗𝑡𝑗 , onde para cada setor o vetor 𝑥𝑖 (SN x 1) é
o valor da produção atribuído para o uso intermediário e final, seja no mercado doméstico ou externo.
As exportações de i para j (i ≠ j) podem ser representadas por 𝑬 = 𝒁 + 𝑭.
A matriz A (SN x SN) e o vetor v (SN x 1) são obtidos por 𝑨 = 𝒁(𝑿)−1 e 𝒗 = 𝑾(𝑿)−1,
respectivamente. No qual A representa os insumos intermediários requeridos por unidade de
produção, enquanto v indica o valor adicionado gerado por unidade de produto. O elemento 𝐴𝑖𝑗(𝑠, 𝑡)
descreve, por exemplo, o valor dos matérias elétricos (s = elétricos) importados pelo Brasil (j = Brasil)
a partir dos Estados Unidos (i = EUA) utilizados na produção de computadores (t = computadores)
em função da produção total de computadores no Brasil. Devido aos diferentes estágios da cadeia de
valor, a importação que o Brasil realiza de matérias elétricos pode conter componentes exportados
9 A presente seção metodológica é baseada em Los, Timmer e Vries (2015), inclusive no que tange, na maioria dos casos,
à notação utilizada.
9
em fases anteriores da produção pelo Brasil. Desse modo, para rastrear a origem do valor adicionado
as cadeias de valor foram identificadas pelo último estágio de produção do bem final (𝑖, 𝑠). Para
produzir (𝑖, 𝑠) é necessária a combinação de fatores produtivos locais com bens intermediários
nacionais e importados dos diferentes setores de cada um dos países. Em seguida, o bem (𝑖, 𝑠) é
absorvido na demanda final ou usado como insumo intermediário na produção. Para decompor o seu
valor, é necessário encontrar os níveis de produto associados com bem (𝑖, 𝑠) em cada estágio de
produção. Estes podem ser estimados pela aplicação do método de insumo-produto padrão usando
matrizes de insumo-produto globais.
Para calcular o valor gerado nas cadeias de valor ao produzir o bem (𝑖, 𝑠), Los, Timmer e
Vries (2015) derivam a remuneração do capital e do trabalho no país-indústria de conclusão da
produção, isto equivale:
𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜0 = �̂�𝑭 (1)
em que 𝑭 representa o vetor de demanda final de dimensão (SN x 1) em que apenas as células na linha
que representam a demanda final para o país-indústria (i, s) apresentam os seus valores reais, enquanto
todos os demais valores na demanda final são definidos como zero. O vetor 𝑭 é obtido pela adição da
demanda final interna e externa para os produtos do bem (𝑖, 𝑠). �̂� é uma matriz diagonal formada pelo
vetor de valor adicionado em relação ao produto setorial, para cada um dos países-indústrias.
Os elementos 𝑔𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜0(que são um vetor (SN x 1) com o valor adicionado gerado no estágio
final da produção) são iguais a zero para todos as outras indústrias que não sejam (i, s). Cabe ressaltar
que, a produção de bens finais exige não apenas capital e trabalho, mas também insumos
intermediários de fornecedores (nacionais e estrangeiros) na primeira etapa de fornecimento. A
produção dessas indústrias atribuíveis à demanda final para o bem (𝑖, 𝑠) é igual 𝑨𝑭 e o valor
adicionado no primeiro-estágio de fornecimento pode ser expresso por:
𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜1 = �̂�𝑨𝑭 (2)
Os produtos intermediários (𝑨𝑭) entregues por fornecedores no primeiro estágio de
fornecimento, por sua vez, requerem insumos intermediários a partir de fornecedores do segundo
estágio de fornecimento. Esses níveis de produção serão iguais a 𝑨(𝑨𝑭) e as contribuições do
segundo estágio do valor adicionado global são:
𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜2 = �̂�𝑨(𝑨𝑭) (3)
Dando continuidade a essa linha de raciocínio para os fornecedores em estágios posteriores e
adicionando mais estágios de produção pode-se escrever para o vetor total de níveis de valor
adicionado10:
𝒈 = 𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜0 +𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜1 + 𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜2 +⋯+ 𝒈𝑒𝑠𝑡á𝑔𝑖𝑜𝑁 (4)
𝒈 = �̂�(𝑰 + 𝑨 + 𝑨𝟐 + 𝑨𝟑 +⋯)𝑭 (4.1)
𝒈 = �̂�(𝑰 − 𝑨)−𝟏𝑭 (4.2)
Nesta equação, g contém o valor adicionado gerado em cada uma das indústrias-países que
podem ser atribuídos às cadeias globais de valor dos produtos finais 𝑓𝑖𝑗(𝑠). Para obter a origem do
valor adicionado de 𝑓𝑖𝑗(𝑠) na cadeia de produção por país, os elementos do vetor g (SN x 1), que
correspondem às indústrias em um país são adicionados uns aos outros. A escolha de um vetor
específico F por país de origem da produção dos bens finais determina qual cadeia de valor é
considerada. O produto final foi considerado a produção entregue para o consumo doméstico e
demanda de investimento11. A matriz (𝑰 − 𝑨)−𝟏 é a inversa Leontief, o seu uso assegura que as
10 Ver em Miller e Blair (2009) as condições nas quais a soma converge. 11 Nota-se que toda a demanda final para a produção do bem (i, j) é considerada, por isso inclui demanda, tanto interna e
externa
10
contribuições de valor adicionado em todos os estágios de fornecimento são tomadas em
consideração.
Los, Timmer e Vries (2015) demonstram que o principal resultado deste cálculo é a
decomposição do valor de um produto final pelas contribuições de valor adicionado realizada para
qualquer país. No caso específico deste estudo a decomposição foi realizada para o Brasil. Assim, o
valor do produto final produzido no Brasil foi denotado por 𝐹𝐼𝑁𝑂𝑠 e o valor adicionado pelo país k
na sua produção por VA(k)(s). O vetor g contém os correspondentes níveis VA(k)(s) para cada bem
final produzido no Brasil 𝑓(𝑠), tal que:
𝐹𝐼𝑁𝑂𝑠 =∑𝑉𝐴(𝑘)(𝑠)
𝑘
(5)
Somado em todos os países as contribuições do valor adicionado para a produção de (𝑖, 𝑠) é
igual ao valor do produto final (𝑖, 𝑠). Em seguida, definimos a medida de valor adicionado estrangeiro
como o valor adicionado ao longo da cadeia de produção na qual o Brasil está integrado:
𝑉𝐴𝐸𝑠 = ∑ 𝑉𝐴(𝑘)(𝑠)
𝑘≠𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙
= 𝐹𝐼𝑁𝑂 (𝑠) − 𝑉𝐴(𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙)(𝑠) (6)
O valor de 𝑉𝐴𝐸𝑠 é uma medida de fragmentação internacional da cadeia de valor12. Para medir
a importância do valor adicionado estrangeiro, expressa-se o seu valor como uma parte do valor
adicionado na produção de s:
𝑃𝑉𝐴𝐸𝑠 = 𝑉𝐴𝐸𝑠/𝐹𝐼𝑁𝑂𝑠 (7)
A participação do valor adicionado estrangeiro (𝑃𝑉𝐴𝐸) foi usada para medir a extensão da
fragmentação internacional das cadeias de valor. Essa participação é um índice que varia entre zero
e um. A medida assume valor zero quando todo o valor adicionado é produzido internamente,
assumindo valores maiores à medida que aumenta a fragmentação internacional.13 𝑃𝑉𝐴𝐸 por
considerar o valor adicionado em cada fase de produção não apresenta o problema da dupla contagem
presente nas medidas de especialização vertical que usam os insumos intermediários importados na
produção (KOOPMAN; WANG; WEI, 2014). Posteriormente, se decompõem 𝑃𝑉𝐴𝐸𝑠 para a
participação do valor adicionado estrangeiro da região na qual o país de conclusão da produção, nesse
caso o Brasil , pertence, e a parcela de valor adicionado estrangeiro restante que é adicionado fora da
região.
3.2 Fragmentação regional e global das cadeias globais de valor
A partir das medidas de valor adicionado estrangeiro define-se o quanto a fragmentação
internacional da produção ocorre essencialmente dentro de blocos regionais ou no âmbito global.
Dividindo 𝑉𝐴𝐸𝑠, definido na equação (7), em valor adicionado estrangeiro dentro da região (𝑉𝐴𝐸𝑅𝑠) e valor adicionado estrangeiro global (𝑉𝐴𝐸𝐺𝑠). Considerando que a participação de 𝑉𝐴𝐸𝑅𝑠 no valor
do bem final 𝑓(𝑠) produzido no Brasil é definida como a contribuição do valor adicionado da região
na qual o Brasil pertence menos à contribuição do próprio Brasil:
12 A abordagem de medir a fragmentação internacional a partir de 𝑉𝐴𝐸𝑠 baseia-se no seguimento para trás da cadeia de
valor, começando a partir do produto final e traçando o valor adicionado em todas as etapas que são necessárias para
produzi-lo. 13 Por definição a medida PVAE nunca pode ser igual a um, pois o estágio final de produção deve envolver alguma
atividade de geração de valor no país de conclusão da produção.
11
𝑉𝐴𝐸𝑅𝑠 = ∑ 𝑉𝐴(𝑘)(𝑠)𝑘 ∈ 𝑟𝑒𝑔𝑖ã𝑜 𝑑𝑜 𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙
− 𝑉𝐴(𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙)(𝑠) (9)
E, analogamente a equação (7), a participação regional do 𝑉𝐴𝐸𝑠 na cadeia de produção do
Brasil é definida:
𝑃𝑉𝐴𝐸𝑅𝑠 = 𝑉𝐴𝐸𝑅𝑠/𝐹𝐼𝑁𝑂𝑠 (10)
A mudança ao longo do tempo na participação de 𝑉𝐴𝐸𝑅𝑠 sendo positiva há a tendência de
fragmentação da cadeia de valor dentro da região. A região na qual o Brasil está inserido considera
todos os países da América do Sul. Essa região não possui um acordo comercial multilateral, que
inclua todos os seus membros, no entanto, é caracterizada por laços comerciais e de investimento.14
Do mesmo modo, nesta cadeia de valor, 𝑉𝐴𝐸𝐺𝑠 mede a contribuição do valor adicionado de todos os
países de fora da região do Brasil15, da seguinte forma:
𝑉𝐴𝐸𝐺𝑠 = ∑ 𝑉𝐴(𝑘)(𝑠)𝑘 ∉ 𝑟𝑒𝑔𝑖ã𝑜 𝑑𝑜 𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙
(11)
A participação na cadeia de valor de âmbito global do bem 𝑓(𝑠) produzido no Brasil é
definida:
𝑃𝑉𝐴𝐸𝐺𝑠 = 𝐺𝐹𝑉𝐴𝑠/𝐹𝐼𝑁𝑂𝑠 (12)
A cadeia de valor é globalmente fragmentada quando a alteração da participação global do 𝑉𝐴𝐸𝑠 é
positiva. Deve-se notar que é possível que dentro de um país exista um grupo de atividades
econômicas com maior inserção regional enquanto para outros produtos a fragmentação da cadeia de
valor ocorra em escala mundial.
4 Base de dados
Os dados de matrizes de insumo-produto interpaíses obtidos a partir da base de dados do
Global Trade Analysis Project (GTAP) contém informações das transações de comércio bilateral de
mercadorias na economia mundial. A base de dados do GTAP é construída a partir das estatísticas
macroeconômicas e de balanço de pagamentos do Banco Mundial e do Fundo Monetário
Internacional (FMI); banco de dados das United Nations Commodity Trade Statistics (Comtrade);
matrizes de insumo-produto; e fontes nacionais de estatística. Para conciliar os dados destas diferentes
fontes o GTAP ajusta as matrizes de insumo-produto para tornarem-se coerentes com os dados
internacionais. O estudo usou a base de dados do GTAP versão 9, para os anos de 2004 e 2011, com
desagregação para 140 regiões e 57 setores de atividades. Em relação à definição dos setores, essa
14 Apesar da formação da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e da Iniciativa para a Integração da Infraestrutura
Regional Sul-Americana (IIRSA) ainda não foi estabelecida a formação de uma área de livre comércio entre os países da
América do Sul. A IIRSA é um programa conjunto dos governos dos países que formam a UNASUL com o objetivo de
construção de infraestrutura nos países do continente. A UNASUL é composta de 12 países e prevê a substituição dos
blocos de cooperação econômica do Mercado Comum do Sul (Mercosul) formado por Argentina, Brasil, Paraguai,
Uruguai e Venezuela e da Comunidade Andina das Nações (CAN) formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Os
demais países que compõem a UNASUL são Chile, Guiana e Suriname. Na base de dados do GTAP Guiana e Suriname
estão inseridas no território “Restante da América do Sul”. 15 Seguindo a definição de Los, Timmer e Vries (2015) o termo “valor adicionado estrangeiro global” é usado para definir
o quanto o valor de um produto é adicionado em um país que seja realmente distante do local da última etapa de produção.
Portanto, essa medida não deve ser interpretada como como o valor adicionado em qualquer parte do mundo, pois seria
igual ao valor do produto final, por definição.
12
base de dados apresenta 18 atividades agrícolas e de extração de recursos naturais, 24 indústrias de
manufatura e 15 setores de serviços.
A partir dos dados de fluxos de transações entre os setores e os países da base de dados do
GTAP foi estimada uma matriz insumo-produto interpaíses, semelhante a Daudin, Rifflart e
Schweisguth (2011) e Johnson e Noguera (2012a). Essa matriz permite análises mais abrangentes da
participação dos países nas cadeias globais de valor do que as análises usando apenas matrizes
nacionais ou com um grupo selecionado de países.
5 Resultados
Esta seção discute a fragmentação internacional das cadeias de valor que o Brasil faz parte
para o período entre 2004 e 2011. Por meio dos resultados apresentados nessa seção foi possível
aceitar ou rejeitar as hipóteses levantadas na seção 2 desse estudo.
Os dados da participação brasileira no comércio internacional, agregada por grandes setores
de atividade, para os anos de 2004 e 2011, são apresentados na Tabela 1. Os dados apresentam
tendência de aumento na participação do produto setorial e das exportações dos produtos da
mineração e perda de participação para a indústria de manufatura entre os anos de 2004 e 2011. Esse
resultado foi impulsionado principalmente pelo destaque dado ao aumento das exportações de
commodities agrícolas e minerais nesse período. Para analisar o impacto das exportações no produto
setorial foi calculado as exportações líquidas, ou seja, a participação das exportações que incluem
apenas valor adicionado doméstico, excluindo o valor adicionado estrangeiro inseridos em fases
anteriores de produção. Principalmente para a Mineração e Indústria de Manufatura observa-se maior
participação de conteúdo externo nas exportações, inseridos em fases anteriores da produção. Parte
importante das importações realizadas pelo Brasil foram de insumo intermediários, que serão
inseridos em fases posteriores de produção. Em 2004 cerca de 69,0% das importações eram de
intermediários, enquanto em 2011 reduziu para 65,0%. A Indústria de Manufatura concentrou elevada
participação das importações realizadas pelo país nesse período.
Tabela 1. Participação brasileira no comércio internacional por setor de atividade (%)
Nota: * Exportações líquidas refere-se ao valor exportado produzido com valor adicionado doméstico, ou seja, subtraindo
o valor adicionado em etapas anteriores da produção incorporado na produção doméstica por meio da importação de
insumos intermediários. ** As importações de bens finais no setor da mineração, embora apareçam com o valor zero,
foram de 0,0011% e 0,0013%, respectivamente, entre os anos de 2004 e 2011.
Fonte: Calculado pelos autores com a Base de Dados do GTAP 9.
A Participação do Valor Adicionado Estrangeiro (𝑃𝑉𝐴𝐸) foi usada para medir a extensão da
fragmentação internacional das cadeias de valor na Tabela 2. Os resultados mostram que entre os
anos de 2004 e 2011 houve o aumento da participação do valor adicionado doméstico (nacional) na
produção de bens finais concluídos no Brasil, com exceção para a Indústria de Mineração. Esse
resultado pode estar relacionado à redução da importação de intermediários pelo país no mesmo
Produto setorial 5,8 5,4 2,9 3,2 35,5 32,6 55,7 58,9
Exportações totais 10,4 13,3 8,7 24,2 70,9 51,9 10,0 10,6
Participação exportações produto total 17,4 15,7 29,0 48,1 19,4 10,2 1,8 1,1
Exportações líquidas* 16,4 14,8 25,7 43,2 16,6 8,9 1,5 1,0
Importação - Intermediários 2,5 2,2 13,3 9,0 66,4 74,6 17,8 14,3
Importação - Demanda Final** 1,3 1,3 0,0 0,0 75,4 81,3 23,3 17,4
20112004
Agropecuária Mineração
2004 2011 20112004
Munufatura
20112004
Serviços
13
período. A Mineração é a atividade que mais incorpora valor adicionado estrangeiro principalmente
devido ao pagamento de serviços empresariais enviados ao exterior pelo setor.
Posteriormente foi realizada a decomposição do (𝑃𝑉𝐴𝐸) para a região na qual o valor
adicionado inserido na conclusão da produção do bem final pertence, distinguindo entre os países da
América do Sul, Tratado de Livre Comércio da América do Norte (NAFTA), Tratado de Livre
Comércio da Europa (EFTA), Leste Asiático e os demais países.
Baldwin e Lopez-Gonzalez (2015) sugeriram que a fragmentação internacional ocorre
principalmente dentro de blocos comerciais regionais, no entanto, os resultados do 𝑃𝑉𝐴𝐸 estimado
para o Brasil sugerem que a participação de países de dentro da região na qual o Brasil pertence, ou
seja, a América do Sul, na cadeia de valor brasileira têm pequena participação. Esse resultado está
em linha com as evidências encontradas por Los, Timmer e Vries (2015) que sugerem a fragmentação
global das cadeias de valor é maior do que a fragmentação regional. Os resultados também sugerem
o aumento da participação do valor adicionado estrangeiro com origem nos países do Leste Asiático
nos setores da Agropecuária, Mineração e Manufatura entre os anos de 2004 e 2011.
Tabela 2. Participação do Valor Adicionado Estrangeiro nos bens finais produzidos pelo Brasil (%)
Nota: * North American Free Trade Agreement. ** European Free Trade Association.
Fonte: Calculado pelos autores com a Base de Dados do GTAP 9.
Os resultados da Tabela 2 sugerem que a participação do valor adicionado estrangeiro na
produção de bens finais foi impulsionada principalmente pela Indústria de Mineração. Com o objetivo
de encontrar mais evidências sobre o grau de inserção da economia brasileira nas cadeias de valor, a
Figura 1.a apresenta um gráfico de dispersão do 𝑃𝑉𝐴𝐸 para os 57 setores de atividade em 2004 e
2011, calculado com base na Equação (7). O nível de inserção do Brasil nas cadeias de valor tendo
permanecido o mesmo entre os dois períodos as observações teriam se agrupado em torno da linha
de 45 graus. Apesar da inclinação da linha pontilhada estimada por meio de OLS através da origem
indique que a participação do valor adicionado estrangeiro tenha aumento, grande número de
observações está localizada abaixo de linha de 45 graus, sugerindo que a inserção nas cadeias de valor
apresenta importante diferença entre os grupos de setores de atividade econômica.
A Figura 1.b apresenta a participação regional do valor adicionado estrangeiro (𝑃𝑉𝐴𝐸𝑅),
estimado por meio da equação (10). Para a maior parte dos setores o 𝑃𝑉𝐴𝐸𝑅 reduziu entre o período
de 2004 e 2011. A Figura 1.c mostra que a participação global do valor adicionado estrangeiro
(𝑃𝑉𝐴𝐸𝐺), estimado por meio da Equação (12), apresentou tendência de aumentou de 2004 para 2011
na maioria dos setores. Assim, houve tendência de aumento da fragmentação internacional da
produção brasileira como consequência da fragmentação regional e da fragmentação, embora as
cadeias de valor na qual o Brasil está inserido tenha um caráter mais global do que local. Esse
resultado também foi identificado por Los, Timmer e Vries (2015) em análise para os países que
fazem parte da OCDE. Esses autores identificaram que a fragmentação internacional entre blocos
Valor adicionado doméstico 93,5 94,2 52,3 46,6 83,3 84,7 95,5 96,5
Valor adicionado estrangeiro (PVAE) 6,5 5,8 47,7 53,4 16,7 15,3 4,5 3,5
origem do PVAE
América do Sul 1,4 1,0 8,5 5,6 1,4 1,5 0,3 0,3
NAFTA* 0,5 0,4 6,8 10,6 4,3 2,9 1,1 0,7
EFTA** 2,2 0,9 6,3 6,8 4,9 3,8 1,3 1,0
Leste Asiático 2,0 3,1 9,6 13,7 4,4 5,4 1,1 1,0
Outros 0,3 0,4 16,5 16,7 1,7 1,7 0,8 0,6
2011 2004 2011
Agropecuária Mineração Manufatura Serviços
2004 2011 2004 2011 2004
14
diferentes de comércio ocorreu mais rápido do que a fragmentação dentro de blocos de comércios
regionais no período entre 1995 e 2008.
Fig.1.a. Valor Adicionado Estrangeiro
Fig.1.b. Valor Adicionado Estrangeiro com origem dentro da Região
Fig.1.c. Valor Adicionado Estrangeiro com origem de fora da Região
Nota: Cada ponto representa a participação do valor adicionado estrangeiro no produto final de um setor de atividade em
2004 e 2011. Essas participações foram calculadas a partir das Equações (7), (10) e (12). A linha cheia é uma reta de 45
graus. A linha pontilhada foi obtida por meio de uma regressão OLS em relação a origem.
Figura 1. Participação do Valor Adicionado Estrangeiro na demanda final por setor de atividade
O processo de fragmentação internacional da produção apresenta diferenças consideráveis
entre os grupos de atividades econômicas, entre o período de 2004 e 2011. A participação do valor
adicionado estrangeiro (𝑃𝑉𝐴𝐸) por setor de atividade é apresentada nas Tabelas 3 e 4, bem como a
evolução ao longo desse período. A participação foi relativamente baixa, com exceção para o grupo
de atividades da Indústria de Mineração e Extração. Destacam-se os setores de Gás Natural, Refino
de Petróleo e Distribuição e Produção de Gás, com aumento do 𝑃𝑉𝐴𝐸 em 14,8% 15,1% e 11,6%,
respectivamente. As atividades de Fibra a base de plantas (-11,5%) e Outros equipamentos de
transporte (-10,4%) houve a redução da participação do valor adicionado estrangeiro na produção de
bens finais. Na última coluna a participação do setor na produção de bens finais é apresentada para
indicar a importância relativa de cada atividade na produção de bens consumidos na demanda final.
15
Tabela 3. Participação do Valor Adicionado Estrangeiro (𝑃𝑉𝐴𝐸) e participação no produto total por
setor de atividade
Produção de arroz 8,0 12,2 4,2 0,0
Produção de trigo 56,2 59,5 3,3 0,0
Grãos de cereais 4,0 4,9 0,9 0,0
Produtos hortícolas, frutas e nozes 23,0 29,5 6,5 0,1
Sementes oleaginosas 8,0 7,5 -0,5 0,0
Cana-de-açúcar e beterraba 0,5 0,3 -0,2 0,0
Fibras à base de plantas 26,9 15,4 -11,5 0,0
Outras culturas 2,6 2,3 -0,3 0,8
Bovinos, ovinos, cavalos e caprinos 1,1 1,7 0,6 0,2
Outros produtos de origem animal 2,1 2,7 0,6 0,2
Leite cru 1,4 1,4 -0,1 0,2
Lã e seda e outros prod. ind. têxtil 3,0 3,6 0,7 0,3
Silvicultura 8,8 9,9 1,1 0,1
Pesca 5,2 6,8 1,6 0,1
Extração de carvão 93,9 96,8 2,9 0,0
Extração de petróleo 46,8 54,6 7,8 0,0
Gás natural 67,2 82,0 14,8 0,0
Outras indústrias de extração 30,8 33,1 2,3 0,0
Processamento de carnes bonina 1,5 1,3 -0,2 1,2
Processamento de outras carnes 1,1 1,1 0,0 0,6
Óleos e gorduras vegetais 2,6 4,5 1,8 0,4
Produtos lacteos 1,3 1,6 0,3 0,9
Arroz processado 3,5 0,9 -2,7 0,5
Açucar 0,4 0,7 0,3 0,3
Outros produtos alimentares 3,3 3,1 -0,3 2,4
Bebidas e tabaco 3,1 3,8 0,6 1,0
Produtos têxteis 14,0 15,5 1,5 0,5
Artigos do vestuário 1,3 1,5 0,2 1,5
Produtos de couro 3,1 3,7 0,7 0,6
Produtos de madeira 12,2 11,7 -0,5 0,0
Produtos de papel, publicação 12,1 9,4 -2,7 0,7
Refino de petróleo e prod. de carvão 26,7 41,7 15,1 0,8
Químicos, borracha e prod. plástico 26,6 23,1 -3,4 2,4
Minerais não metálicos 14,0 12,6 -1,4 0,1
Produção de ação e ferro 16,3 17,3 1,0 0,0
Produção de metais não-ferrosos 60,8 52,4 -8,4 0,0
Produtos de metal, exc máq. equip. 12,7 12,1 -0,6 0,8
Fabricação de veículos e peças 14,4 22,3 7,9 3,0
Outros equip. de transporte 33,6 23,1 -10,4 0,6
Equipamentos eletrônicos 24,4 15,7 -8,7 2,8
Máq. elétric. e instrum. ópticos 20,8 19,1 -1,7 3,8
Outras manufaturas 5,6 6,2 0,7 1,3
Eletricidade 7,8 8,7 0,9 0,6
Produção de gás e distribuição 53,4 65,0 11,6 0,0
Tratamento e distrib.o de água 2,9 2,1 -0,8 0,5
Construção civil 1,5 1,1 -0,4 8,6
Comércio 4,0 3,4 -0,6 11,0
Outros transportes 6,8 5,5 -1,3 3,0
Transporte na água 20,7 16,1 -4,5 0,2
Transporte aéreo 4,3 2,9 -1,4 0,5
Comunicação 3,0 2,5 -0,4 2,2
Serviços financeiros 6,1 5,3 -0,8 3,0
Seguro e fundos de pensão 4,5 3,2 -1,3 1,9
Serviços prestados às empresas 15,2 11,9 -3,2 2,4
Serviços prestados às famílias 3,5 2,9 -0,6 3,2
Administração pública 0,7 0,5 -0,2 28,2
Habitações 0,4 0,3 0,0 6,5
Fonte: Calculado pelos autores com a Base de Dados do GTAP 9.
Setor de atividade
Participação na
produção de bens
finais em 20112004 2011Mudança
2004-2011
Participação do Valor Adicionado Estrangeiro (PVAE)
16
Tabela 4. Participação do Valor Adicionado Estrangeiro Regional e Global na demanda final por
setor de atividade
Extração de carvão 15,6 9,2 -6,4 78,2 87,6 9,3 62,6 78,4
Gás natural 7,9 4,9 -3,0 59,3 77,2 17,9 51,4 72,3
Produção de gás e distribuição 3,8 3,3 -0,5 49,6 61,7 12,0 45,8 58,3
Extração de petróleo 8,9 5,9 -3,0 37,9 48,7 10,8 28,9 42,8
Produção de metais não-ferrosos 5,0 5,6 0,6 55,8 46,8 -9,0 50,8 41,3
Refino de petróleo e prod. de carvão 4,7 5,9 1,2 22,0 35,9 13,9 17,3 30,0
Outras indústrias de extração 4,6 4,0 -0,6 26,2 29,1 2,8 21,6 25,0
Produtos hortícolas, frutas e nozes 3,7 3,7 0,1 19,3 25,8 6,4 15,7 22,0
Outros equip. de transporte 0,6 0,6 -0,1 32,9 22,6 -10,3 32,3 22,0
Químicos, borracha e prod. plástico 2,4 2,1 -0,3 24,1 21,0 -3,1 21,7 18,9
Máq. elétric. e instrum. ópticos 1,3 1,4 0,1 19,5 17,7 -1,8 18,1 16,3
Produção de trigo 19,6 22,1 2,5 36,6 37,4 0,8 16,9 15,3
Equipamentos eletrônicos 0,5 0,3 -0,2 23,9 15,4 -8,5 23,4 15,1
Transporte na água 0,6 0,5 -0,1 20,1 15,6 -4,5 19,5 15,1
Produção de ação e ferro 1,0 1,3 0,3 15,3 16,0 0,7 14,4 14,7
Produtos têxteis 1,0 1,1 0,1 13,0 14,3 1,3 12,0 13,2
Fibras à base de plantas 1,5 1,4 -0,1 25,4 14,0 -11,4 23,9 12,7
Minerais não metálicos 0,9 0,8 -0,1 13,1 11,8 -1,3 12,2 11,0
Fabricação de veículos e peças 2,9 5,7 2,8 11,6 16,6 5,0 8,7 10,9
Serviços prestados às empresas 0,9 0,7 -0,2 14,3 11,3 -3,0 13,5 10,6
Produtos de madeira 0,8 0,6 -0,2 11,3 11,1 -0,2 10,5 10,5
Produtos de metal, exc máq. equip. 0,9 1,0 0,1 11,8 11,1 -0,7 10,9 10,1
Silvicultura 0,7 0,4 -0,3 8,1 9,4 1,3 7,4 9,0
Produtos de papel, publicação 1,1 0,8 -0,3 11,1 8,6 -2,4 10,0 7,9
Eletricidade 0,6 0,5 -0,1 7,2 8,2 1,0 6,6 7,7
Produção de arroz 2,9 2,8 -0,1 5,1 9,4 4,2 2,3 6,6
Outras manufaturas 0,3 0,3 0,0 5,3 5,9 0,6 5,0 5,6
Pesca 0,5 0,6 0,1 4,7 6,2 1,5 4,1 5,5
Sementes oleaginosas 1,7 1,2 -0,5 6,3 6,3 0,0 4,6 5,1
Serviços financeiros 0,5 0,3 -0,1 5,7 5,0 -0,7 5,2 4,6
Outros transportes 0,7 0,5 -0,1 6,2 4,9 -1,2 5,5 4,4
Produtos de couro 0,4 0,1 -0,3 2,7 3,6 0,9 2,3 3,5
Óleos e gorduras vegetais 0,5 0,6 0,1 2,2 3,9 1,7 1,7 3,3
Grãos de cereais 0,9 1,0 0,0 3,1 3,9 0,9 2,1 3,0
Lã e seda e outros prod. ind. têxtil 0,5 0,4 -0,1 2,5 3,3 0,8 2,0 2,9
Comércio 0,3 0,3 0,0 3,6 3,1 -0,6 3,3 2,8
Seguro e fundos de pensão 0,3 0,2 -0,1 4,2 3,0 -1,3 3,9 2,8
Transporte aéreo 0,3 0,1 -0,1 4,0 2,8 -1,3 3,8 2,6
Outros produtos de origem animal 0,1 0,1 0,0 2,0 2,6 0,6 1,9 2,5
Bebidas e tabaco 0,8 0,7 -0,2 2,3 3,1 0,8 1,5 2,4
Comunicação 0,2 0,1 0,0 2,8 2,4 -0,4 2,6 2,2
Serviços prestados às famílias 0,8 0,5 -0,3 2,7 2,5 -0,2 1,9 2,0
Outros produtos alimentares 0,6 0,5 -0,1 2,7 2,5 -0,2 2,1 2,0
Tratamento e distrib.o de água 0,2 0,1 -0,1 2,8 2,0 -0,8 2,6 1,9
Outras culturas 0,3 0,2 -0,1 2,3 2,0 -0,3 2,0 1,8
Artigos do vestuário 0,1 0,1 0,0 1,1 1,3 0,2 1,0 1,2
Bovinos, ovinos, cavalos e caprinos 0,2 0,3 0,1 0,9 1,4 0,5 0,7 1,1
Processamento de outras carnes 0,1 0,1 0,0 1,0 1,0 0,1 0,8 0,9
Construção civil 0,1 0,1 -0,1 1,3 1,0 -0,3 1,2 0,9
Processamento de carnes bonina 0,3 0,2 -0,1 1,2 1,1 -0,1 0,9 0,8
Arroz processado 0,1 0,1 -0,1 3,4 0,8 -2,6 3,3 0,8
Açucar 0,1 0,1 0,0 0,3 0,6 0,2 0,3 0,5
Administração pública 0,0 0,0 0,0 0,7 0,5 -0,2 0,6 0,5
Cana-de-açúcar e beterraba 0,2 0,1 -0,1 0,4 0,3 -0,1 0,2 0,2
Leite cru 0,5 0,6 0,1 0,9 0,7 -0,2 0,5 0,1
Produtos lacteos 0,4 0,7 0,4 0,9 0,8 -0,1 0,5 0,1
Habitações 0,2 0,2 -0,1 0,1 0,2 0,0 -0,1 0,0
Fonte: Calculado pelos autores com a Base de Dados do GTAP 9.
(1)
Diferença entre
PVAEG e PVAER
2011
(7) (8)
2004
Participação do Valor Adicionado
Estrangeiro Regional (PVAER)
Participação do Valor Adicionado
Estrangeiro Global (PVAEG)
2004
(6)(5)(4)(3)(2)
Setor de atividade
2004-201120112004 2004-20112011
17
As diferenças setoriais de inserção nas cadeias de valor podem ser resultados de diferentes
fatores associados a estrutura de produção setorial, como sugerido por Baldwin e Venables (2013).
Los, Timmer e Vries (2015) sugerem que o grau de fragmentação internacional também é resultado
da interação de diferentes fatores, tais como tarifas, custos de transporte e de coordenação da
terceirização da produção e possibilidade de substituição de insumo intermediário. Assim, a
abundância ou a falta de fatores de produção em determinadas atividades também são determinantes
importantes do nível de valor adicionado doméstico à produção de bens finais.
Os resultados apresentados nas Tabelas 2 e 3 e na Figura 1.a confirmam, em parte, a Hipótese
1 levantada nesse estudo. Os resultados encontrados sugerem que houve aumentado da inserção nas
cadeias globais de valor, embora para muitos setores tenha havido redução da participação externa na
produção. No entonto, comparado a outros países, o Brasil ainda está pouco integrado nas cadeias
globais de valor. Los, Timmer e Vries (2015) mostraram que, em média, os setores de atividade da
indústria da manufatura apresentam a participação do valor adicionado estrangeiro na produção acima
dos 25,0%, enquanto no Brasil, para o ano de 2011, a média do valor adicionado estrangeiro na
indústria da manufatura foi de apenas 15,3%. Esses resultados também confirmam a Hipótese 2 de
que existem diferenças setoriais no padrão da fragmentação internacional da produção brasileira.
A Tabela 4 apresenta a participação do valor adicionado estrangeiro regional e global na
demanda final, por setores de atividade ordenados pela maior diferença entre 𝑃𝑉𝐴𝐸𝐺 e 𝑃𝑉𝐴𝐸𝑅 no
ano de 2011. Os resultados sugerem que a fragmentação global expandiu com maior intensidade do
que a fragmentação regional, para a maioria dos bens finais. Portanto, pode-se refutar a Hipótese 3,
que a inserção do Brasil em cadeias globais de valor ocorre essencialmente por meio de blocos
regionais de comércio.
6 Conclusões
O presente estudo teve como objetivo analisar a inserção do Brasil nas cadeias globais de
valor. Essa análise permitiu compreender a evolução da fragmentação internacional da produção
brasileira por tipo de atividade econômica e a origem geográfica do valor adicionado inserido nos
diferentes estágios de produção dos bens finais produzidos pelo país. Os principais resultados desse
estudo indicam que apesar do Brasil ter aumentado a participação do valor adicionado estrangeiro na
produção de bens finais, o país ainda permanece fechado as oportunidades do comércio exterior
comparado a outros países. Além disso, a fragmentação internacional foi impulsionada pela maior
fragmentação regional e global da produção, embora o segundo tipo de fragmentação tenha sido a
principal forma de inserção para a maior parte dos setores de atividades.
A literatura tem sugerido que o comércio vertical é uma oportunidade para a transferência de
conhecimento entre os países industrializados e os países em desenvolvimento. Assim, a inserção em
cadeias globais de valor teria o potencial de permitir, através do fluxo de bens intermediários, a
transferência de tecnologia entre as regiões, sendo, assim, uma oportunidade para o desenvolvimento
regional. Cabe ressaltar que, embora seja tendência mundial a redução da participação da indústria
nas principais economias, essa redução ocorreu após o país atingir determinado patamar de renda.
Entretanto, no caso do Brasil essa redução ocorreu muito rápido, podendo comprometer aumentos de
renda futuros no país. Nessa perspectiva, a maior inserção do Brasil em cadeias globais de valor
poderia ser uma alternativa para enfrentar o problema da rápida desindustrialização do país.
Estudos futuros podem investigar as características determinantes da fragmentação internacional da
produção. Desse modo, as medidas de especialização vertical do comércio, calculadas a partir das
matrizes de insumo-produção, podem ser usadas em modelos econométricos para estimar os
determinantes da inserção dos países nas cadeias globais de valor.
18
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