fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

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MARCIA CRISTIANE RAMOS PADILHA

FRACASSO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO: O PAPEL DA MATEMÁTICA

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PONT A GROSSA2003

Page 2: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

MARCIA CRISTIANE RAMOS PADILHA

FRACASSO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO: O PAPEL DA MATEMÁTICA

Monografia apresentada como requisito parcialdo curso de ESPECIALIZAÇÃO EMMATEMÁTICA: DIMENSÕES TEÓRICO -METODOLÓGICAS da Universidade Estadualde Ponta Grossa.

Orientadora: Ms. Prof" Elisabete Ferreira Silva

PONTA GROSSA2003

Page 3: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

AGRADECIMENTOS

À Deus e aos meus pais pelo Dom Supremo da Vida.

Ao meu esposo, Nardeli pela compreensão, incentivo e apoio.

Aos amigos, sempre solidários com minhas expectativas e anseios.

À professora Elisabete Ferreira Silva, minha orientadora, pela

valiosa colaboração na construção deste trabalho.

111

Page 4: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

SUMÁRIO

RESUMO v

INTRODUÇÃO 01

1 ENSINO MÉDIO: AS NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES E O ATUAL

ENSINO DA MATEMÁTICA 03

1.1 AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO

MÉDIO 06

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O FRACASSO ESCOLAR EM

MATEMÁTICA 12

2.1 O PAPEL DA MATEMÁTICA NOS ÍNDICES DE REPROVAÇÃO 17

3 CAUSAS DO FRACASSO ESCOLAR EM MATEMÁTICA NO ENSINO

MÉDIO - O OLHAR DOS PROFESSORES E ALUNOS 30

3.1 O OLHAR DOS PROFESSORES 30

3.2 O OLHAR DOS ALUNOS 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS 38

REFERÊNCIAS .42

ANEXOS 44

lV

Page 5: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

RESUMO

o presente trabalho teve como objetivo principal conhecer as causas do fracassoescolar em Matemática no Ensino Médio, uma vez que as conseqüências desseproblema muitas vezes refletem no futuro dos jovens. O trabalho está dividido em trêscapítulos: no primeiro capítulo, traçamos um panorama sobre o atual Ensino Médio eas novas Diretrizes Curriculares Nacionais; no segundo, apresentamos algumasquestões que contribuem para o fracasso escolar em Matemática, comparando odesempenho da Matemática em relação às demais disciplinas; no terceiro capítulo,buscamos, através da opinião de professores e alunos do Ensino Médio das escolaspúblicas de Ponta Grossa, identificar as possíveis causas do fracasso apresentado nadisciplina de Matemática nesse nível de ensino.

v

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,..

Após a conclusão do curso de Licenciatura em Matemática, em 1998, passei a

trabalhar em um estabelecimento de ensino da rede estadual de Ponta Grossa, em uma

função administrativa, permanecendo até maio de 2002. Porém, mesmo não atuando

como professora, as questões relacionadas à Matemática sempre me interessaram.

Nesse período, pude observar através dos resultados das notas dos alunos ao

final de cada ano letivo, que as reprovações na disciplina de Matemática eram uma

constante, tanto no Ensino Fundamental (5ª a 8ª séries) quanto no Ensino Médio. Com

a implantação da "Progressão Parcial" ou "dependência", esses resultados ficaram

mais evidentes.

O mundo em que vivemos nunca presenciou tantas e tão rápidas transformações

como nessa época de transição de milênio. Os avanços tecnológicos e o atual

panorama da economia exigem uma preparação do indivíduo que o levem a se adaptar

e a atuar nesse cenário.

Assim, preparar esses indivíduos torna-se um desafio para a escola,

principalmente para o nível médio de ensino que, segundo as novas Diretrizes

Curriculares Nacionais, deve ter como objetivo o aprofundamento e a consolidação da

capacidade de aprender, a qual deve ser despertada no Ensino Fundamental; essa

capacidade é condição essencial para que o jovem possa ter sucesso em seu futuro.

Embora sofra as influências das constantes mudanças do mundo a sua volta, a escola

ainda apresenta os velhos problemas.

o processo de explicação do fracasso escolar tem sido uma busca de culpados - o aluno, quenão tem capacidade; o professor. que é mal preparado; as secretarias de educação, que nãoremuneram seus professores; as universidades, que não formam bem o professor; o estudanteuniversitário, que não aprendeu no secundário o que deveria ter aprendido e agora nãoconsegue aprender o que seus professores universitários lhe ensinam. (CARRAHER, 1991, p.20)

Essas questões nos levam a buscar respostas para a indagação: Quais as causas

do fracasso escolar em Matemática no Ensino Médio?

Para buscarmos respostas ao problema estabelecido, selecionamos os objetivos:

r

r

Page 7: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

2

- comparar índices de reprovação na disciplina de Matemática com as outras

disciplinas da Base Nacional Comum para o Ensino Médio;

- verificar, através de dados quantitativos, o papel desempenhado pela

Matemática nesse problema;

- levantar as possíveis causas do fracasso escolar em Matemática no Ensino

Médio.

Tendo por referência tais objetivos, percorremos um caminho metodológico

condizente com a pesquisa qualitativa, embora apresente algumas análises sobre dados

quantitativos:

- pesquisa bibliográfica, selecionando livros, documentos, artigos de revistas e

da intemet relacionados ao tema e que pudessem auxiliar e orientar para a

compreensão do assunto;

- comparação de dados quantitativos sobre médias de rendimento e progressão

parcial nas disciplinas da Base Nacional Comum para o Ensino Médio;

- aplicação de um questionário a professores de Matemática que atuam no

Ensino Médio nas escolas da rede pública de Ponta Grossa;

- aplicação de um questionário a alunos do Ensino Médio de uma escola pública

de Ponta Grossa.

Levando-se em consideração tais aspectos, o trabalho ficou estruturado

conforme indicação a seguir: no primeiro capítulo, traçamos um panorama sobre o

atual Ensino Médio e as novas Diretrizes Curriculares Nacionais; no segundo capítulo,

apresentamos algumas questões que contribuem para o fracasso escolar em

Matemática e dados quantitativos sobre rendimento escolar e progressão parcial no

Ensino Médio, comparando o desempenho da Matemática em relação às demais

disciplinas; no terceiro capítulo, buscamos, através da opinião de professores e alunos

do Ensino Médio das escolas públicas de Ponta Grossa, identificar as possíveis causas

do fracasso apresentado na disciplina de Matemática; nas considerações finais,

fizemos uma reflexão sobre aspectos gerais do trabalho.

Page 8: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

1 ENSINO MÉDIO: AS NOVAS DIRETRIZES CURRICULARES E O

ATUAL ENSINO DA MATEMÁTICA

Diante das rápidas e inúmeras transformações que acontecem no mundo, a

Escola não poderia ser descrita como um capítulo à parte na história da evolução

humana, tão pouco não ser citada como uma das fontes geradoras dessas

transformações.

De fato, a educação escolar esteve presente em toda a trajetória humana, desde

os povos mais antigos, com o papel de transmitir conhecimentos aos jovens que

dariam continuidade ao processo de permanente crescimento cultural e científico.

Em nosso país, não poderia ser diferente; a educação sempre foi voltada para

formação de indivíduos que atendessem a demanda da mão-de-obra exigida pelas mais

diferentes situações do mercado de trabalho, como aconteceu nas décadas de 60 e 70,

quando a política educacional vigente priorizou, como finalidade para a educação em

nível médio, a formação de pessoas capazes de utilizar máquinas e dirigir processos de

produção, conforme exigia o desenvolvimento da indústria na América Latina.

Hoje, com vistas às novas necessidades impostas pelo progresso, a educação

desenvolvida no âmbito escolar não pode ser meramente transmissão de

conhecimento; a nova sociedade exige que o indivíduo esteja em constante

aprendizado, que tenha não somente a capacidade de se adaptar às mudanças, mas

também de ajudar a produzi-Ias.

Assim, com vistas a promover as transformações necessánas e a atender as

exigências da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, o sistema

educacional brasileiro vem passando por uma série de mudanças. A exemplo disso, o

antigo 2.° grau, agora denominado Ensino Médio, passou a integrar a Educação

Básica. A Constituição de 1988, em seu inciso II do art. 208, já previa como dever do

Estado "a progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao Ensino Médio"; sua

redação foi modificada pela Emenda Constitucional n.? 14/96, a qual prevê "a

progressiva universalização do Ensino Médio gratuito". Outra modificação é a

separação do ensino profissionalizante do ensino regular, que provocou muitas

Page 9: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

4

discussões e críticas, tanto pela alteração quanto pela forma como foi apresentada e

divulgada ao país. A esse respeito, KUENZER (2000, p.16) registra:

o MEC, em propaganda veiculada pela mídia em agosto e setembro de 1999, vem afirmandoque a partir de agora o Ensino Médio é para a vida, em contraposição à proposta anterior, quesupostamente, ao preparar para o trabalho, não prepara para a vida. Complementa a afirmaçãodizendo que o jovem até pode fazer um curso profissionalizante, desde que em outra rede, emoutro curso que não o médio, de forma concomitante ou complementar.

A LDB 9394/96 coloca que o Ensino Médio é a etapa final de uma educação de

caráter geral, afinada com a contemporaneidade, com a construção de competências

básicas, que situem o educando como sujeito produtor de conhecimento e participante

do mundo do trabalho, e com o desenvolvimento da pessoa, como "sujeito em

situação" - cidadão.

Para tanto, a nova proposta para o Ensino Médio apresentada nos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM) divulgados pelo MEC em

1999 traz a necessidade de mudanças em um currículo baseado no acúmulo de

informações, propondo um novo perfil apoiado na construção de competências

básicas: pesquisar, buscar informações, analisá-Ias e selecioná-Ias, aprender, criar e

formular.

Os PCNEM incorporam como diretrizes gerais e orientadoras dessa proposta

curricular as quatro premissas apontadas pela UNESCO I como eixos estruturais da

educação na sociedade contemporânea:

aprender a conhecer;

aprender a fazer;

aprender a viver;

aprender a ser.

É claro que em um país como o Brasil em que apenas uma mínima parcela da

população consegue cursar uma Universidade, não se poderia ignorar a necessidade de

mudanças no Ensino Médio. Já que para a maioria dos brasileiros é a última etapa da

escolaridade, caberia a esse nível de ensino, portanto, o compromisso de prepará-los

1 DELORS, Jacques et al. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo Cortez, 1998

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5

"'.

para enfrentar as rápidas mudanças do século XXI, possibilitando também a

continuidade do progresso intelectual garantindo assim oportunidades que, se não

podem ser iguais, pela óbvia desigualdade social, pelo menos permitam o

desenvolvimento de suas capacidades.

Um dos desafios para o governo brasileiro é aumentar o número de vagas no

Ensino Médio, já que apenas 25% dos jovens entre 15 e 17 anos têm essa

oportunidade, mas a grande dificuldade é promover as mudanças propostas pela LDB.

Como enfatiza KUENZER (2000, p.25) "A democratização do Ensino Médio, no

entanto, não se encerra na ampliação de vagas. Ela exige espaços fisicos adequados,

bibliotecas, laboratórios, equipamentos, e, principalmente, professores concursados e

capacitados. Sem essas precondições, discutir um novo modelo, pura e simplesmente,

não resolve a questão".

Uma grande parte dos alunos que conseguem chegar ao Ensino Médio acabam

por não concluí-Io, muitos perdem o interesse pelos estudos; há aqueles que digam não

ser necessária tal formação já que não pretendem ingressar em uma Faculdade. Depois

de algum tempo, provavelmente esses alunos retomarão, pois o mercado de trabalho

está cada vez mais exigente e a conclusão dessa etapa do ensino é requisito básico para

inserção nesse mercado.

Portanto, o Ensino Médio não pode somente se preocupar em transmitir

conteúdos necessários à continuidade dos estudos na Faculdade, mas também com a

preparação do indivíduo para a ação em uma sociedade cada vez mais competitiva.

Por essas questões é que a educação no Ensino Médio coloca-se como um caso

em particular, por se tratar de um nível da educação que deve atender a essas duas

necessidades da sociedade, como destaca KUENZER (1997, p.77): "É esta dupla

função - preparar para a continuidade de estudos e ao mesmo tempo para o mundo do

trabalho - que lhe confere ambigüidade, uma vez que essa não é uma questão apenas

pedagógica, mas política, determinada pelas mudanças nas bases materiais de

produção a partir do que se define a cada época, uma relação peculiar entre trabalho e

educação".

Page 11: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

6

Segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96, o Ensino Médio é a

etapa final da formação básica do educando", aquela necessária para todo cidadão

educado e visa introduzir o jovem no mundo como um todo, porque depois vem uma

etapa especializada (no trabalho ou na Universidade, etc,). Portanto, não deve ter como

objetivo principal a preparação para exames vestibulares.

1.1. AS DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO

MÉDIO

A resolução CNE/CEB n" 3, de 26 de junho de 1998, que institui as Diretrizes

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, propõe em seu Artigo 3°, que a prática

administrativa e pedagógica dos sistemas de ensino devem ter como princípios:

a estética da sensibilidade (que valoriza o criativo, o curioso e favorece o

trabalho autônomo, não padronizado);

a política da igualdade (que busca a solidariedade e respeita a

diversidade, sendo base da cidadania);

a ética da identidade (que promove autonomia do educando, da escola,

das propostas pedagógicas etc.).

Em seu Artigo 10, estabelece a Base Nacional Comum dos currículos do Ensino

Médio, organizada em três áreas de conhecimento: Ciências da Natureza, Matemática e

suas Tecnologias; Linguagens, Códigos e suas Tecnologias; Ciências Humanas e suas

Tecnologias.

As Diretrizes Curriculares para o Ensino Médio propõem ainda a necessidade de

uma reestruturação dos currículos, de modo a enfatizar a interdisciplinaridade e a

contextualização. Com a interdisciplinaridade, uma nova postura em relação à forma

de trabalhar o conhecimento é exigi da, conforme o que está previsto no Artigo 8°,

inciso I, da referida Resolução:

"Art. 8°. Na observância da lnterdisciplinaridade, as escolas terão presente que:

2 Artigo 21. A educação escolar compõe-se de: l-educação básica, formada pela educação infantil,ensino fundamental e ensino médio; [I-ensino superior

r

r-

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conhecimentos, que pode ser de questionamento, de negação, de complementação, de

ampliação, de iluminação de aspectos não distinguidos".

De fato, estamos vivendo num mundo onde as fronteiras dos saberes não têm

uma demarcação tão rígida e precisa, estando cada vez mais se alargando e se

articulando com outros saberes. A interdisciplinaridade supõe o entendimento de que a

complexidade do mundo, seja físico ou social, requer que as disciplinas se articulem,

superando a fragmentação e o distanciamento, para que se possa conhecer mais e

melhor.

Portanto, a interdisciplinaridade vai mais além do que a simples justaposição de

conteúdos de disciplinas diferentes (a multidisciplinaridade); ela postula a construção

de interconexões, partindo dos conhecimentos específicos e fazendo-os interagir.

Fica claro, dessa forma, que não se pretende anular o conhecimento específico

nem o papel de cada profissional. ° professor não precisará dominar todos os

conhecimentos, mas deverá entender a relação de sua disciplina com as da mesma área

e com todo o currículo.

A interdisciplinaridade não implica "a eliminação ou mesmo a diminuição da

importância das disciplinas. Na construção do conhecimento sempre serão necessários

disciplina, ordenação, procedimentos algorítmicos, ainda que o conhecimento não

possa ser caracterizado apenas por estes elementos constitutivos, isoladamente ou em

conjunto". (MACHADO, 1999, p. 192).

Ao concentrar os conteúdos em três áreas do conhecimento, a matriz curricular

do Ensino Médio visa possibilitar maior interdisciplinaridade entre essas áreas. Assim.

as áreas definidas como: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias (Língua Portuguesa,

Língua Estrangeira Moderna, Arte, Educação Física, Informática); Ciências da

Natureza, Matemática e suas Tecnologias (Física, Biologia, Química, Matemática);

Ciências Humanas e suas Tecnologias (Geografia, História, Filosofia, Sociologia)

devem ser abordadas a partir de um enfoque multi e interdisciplinar, cada uma das

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r

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8

áreas possibilitando às outras um intercâmbio que favoreça a construção de estruturas

cognitivas responsáveis pelo desenvolvimento de competências e habilidades.

Mas a construção de conhecimentos, competências e habilidades na escola

implica também recorrer a contextos que tenham significado para o aluno e possam

rnobilizá-lo a aprender, num processo ativo, em que ele é protagonista e não mero

espectador.

Tal princípio, o da contextualização, é explicitado no Art. 9° da citada

Resolução, que estabelece as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio:

"Art. 9°. Na observância da Contextualização, as escolas terão presente que:

I - na situação de ensino e aprendizagem, o conhecimento é transposto da

situação em que foi criado, inventado ou produzido, e por causa desta transposição

didática deve ser relacionado com a prática ou a experiência do aluno a fim de adquirir

significado" .

Ao construir aprendizagens significativas, respeitando conhecimentos anteriores

e vivências pessoais, os saberes tendem a se incorporar como ferramentas, como

recursos aos quais os alunos poderão recorrer para resolver diferentes tipos de

problemas, que se apresentem nas mais variadas situações e não apenas num certo

momento de uma aula.

A possibilidade de aplicar conhecimentos em situações concretas favorece

condições de adquirir novas formas de perceber, conhecer e agir em outras

perspectivas, portanto, de dominar competências.

Não se pretende, entretanto, que todas as noções e conceitos que os alunos

aprendem na escola devam estar ligados à sua realidade imediata, o que sena

simplificar demasiadamente os conteúdos escolares. Pode-se afirmar, isto sim, que os

conteúdos que a escola veicula devem servir para desenvolver novas formas de

compreender e interpretar a realidade, questionar, discordar, propor soluções, tomar-se

um leitor reflexivo do mundo que o rodeia.

No que se refere ao Ensino da Matemática, os Parâmetros Curriculares

Nacionais do Ensino Médio propõem que:

Page 14: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

9

Ao se estabelecer um primeiro conjunto de parâmetros para a organização do ensino deMatemática no Ensino Médio, pretende-se contemplar a necessidade da sua adequação para odesenvolvimento e promoção de alunos, com diferentes motivações, interesses e capacidades,criando condições para a sua inserção num mundo em mudança e contribuindo paradesenvolver as capacidades que deles serão exigidas em sua vida social e profissional. Em ummundo onde as necessidades sociais, culturais e profissionais ganham novos contornos, todasas áreas requerem alguma competência em Matemática e a possibilidade de compreenderconceitos e procedimentos matemáticos é necessária tanto para tirar conclusões e fazerargumentações, quanto para o cidadão agir como consumidor prudente ou tomar decisões emsua vida pessoal e profissional. (BRASIL, 1999, p. 251)

Se refletirmos sobre as propostas apresentadas pelos peNEM e tomá-Ias como

um parârnetro para comparação entre o que está sendo proposto e o que vem

acontecendo em nossas escolas, levando em conta as diferenças regionais, os vários

perfis em termos de instalações, de propostas pedagógicas, as diferenças na oferta do

ensino noturno para alunos trabalhadores com três aulas semanais, nas escolas

públicas, matutino com sete aulas semanais para alunos de escolas particulares,

chegaremos, segundo LELLIS e IMENES (2001, p. 42), a um consenso:

Acreditamos que existe um tratamento comum à maioria das escolas, em relação a nossadisciplina. Trata-se de enfocar a Matemática como um conjunto de técnicas (ou algoritrnos ouprocedimentos) com o qual se obtem certos resultados. Isso se reflete na grande quantidade deexercícios que se resumem a "calcular", "obter", "efetuar". Quase tudo se consiste em aplicaras fórmulas adequadas em contextos exclusivamente matemáticos.

Os resultados dessa prática podem ser observados, sobretudo na escola pública,

em pesquisas educacionais e nas estatísticas do governo onde podemos verificar um

baixo rendimento escolar em Matemática, tanto em números que representam

resultados por seriação quanto pelos resultados do Exame Nacional do Ensino Médio

(ENEM), que tem por objetivo avaliar esse nível de ensino. Nesse sentido, a

Matemática contribui para acentuar as diferenças SOCIaIS,segundo HELENE (2003)

presidente do fNEP:

Em todos os seus aspectos analisados, os resultados do SAEB (Sistema de Avaliação daEducação Básica) são bastante preocupantes, pois evidenciam um desempenho médio muitobaixo, com um ínfimo contingente com rendimento mais elevado. E, neste caso também asdiferenças entre os que estão nas classes de menor renda familiar e os demais saltam os olhos.Os estudantes da rede pública apresentam desempenho bem piores do que os da rede privada,sendo que essa desigualdade se acentua ainda mais quando se compara as regiões do pais.

Page 15: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

10

Para minimizar os efeitos dos resultados dos altos índices de repetência nas

escolas públicas, buscam-se soluções apoiando-se em métodos alternativos de

avaliação, sendo que cada estado tem autonomia na adoção de um sistema de

avaliação.

No Paraná, por exemplo, para o Ensino Médio adotou-se a Progressão Parcial,

onde o aluno reprovado em até três disciplinas pode dar continuidade aos seus estudos

cursando a série seguinte concomitante às disciplinas em que não obteve êxito no ano

anterior.

Na prática, é possível perceber que esse sistema de avaliação serve apenas para

diminuir índices de repetência, mas, quando o assunto é a qualidade do ensino,

podemos verificar algumas falhas. Analisando o sistema por um outro ângulo que não

o das políticas educacionais, que se mostram muito preocupadas com os números, mas

pensando no aluno beneficiado, em termos, pela Progressão Parcial aplicada na

realidade da escola pública, verificamos que essa dá ao aluno o direito a um beneficio

ao qual não poderá usufruir, uma vez que permite cursar a série seguinte concomitante

às disciplinas em que foi considerado reprovado na série anterior mas, na maioria das

vezes não pode ofertar um contra-turno para que ele tenha realmente a oportunidade de

preencher as lacunas deixadas anteriormente.

Desta forma, o aluno acaba sendo apenas avaliado por trabalhos extra-classe,

elaborados na maioria das vezes com a finalidade de facilitar a sua aprovação. É claro

que para o aluno existe o falso beneficio de ser aprovado. Porém, só anos mais tarde

irá perceber o quanto seu futuro dependerá da construção de uma base sólida no

passado, para dar sustento aos muitos desafios que encontrará em seu caminho.

A Progressão Parcial foi implantada nas escolas públicas, na maioria dos

municípios do Paraná, no ano de 1998, inicialmente no Ensino Médio, estendendo-se

ao Ensino Fundamental a partir de 2000, sendo que, em 1998, o aluno tinha o direito

de reprovar em até duas disciplinas; já no ano seguinte, esse número mudou para três.

Page 16: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

11

Todas estas tentativas foram feitas no sentido de minimizar as taxas de reprovação, ou

seja, de reverter o quadro de fracasso escolar que normalmente é uma constante em

nossas escolas.

Daí a necessidade de fazermos, no próximo capítulo, algumas considerações

sobre o fracasso escolar em Matemática.

Page 17: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O FRACASSO ESCOLAR EM

MATEMÁTICA

o Sistema Educacional Brasileiro apresenta inúmeros problemas, mas talvez o

mars preocupante seja o alto índice de reprovação escolar ou, poderíamos também

dizer, o baixo rendimento escolar.

Uma das disciplinas que tem lugar de destaque nos índices de reprovação é a

Matemática. Há muita gente que acredita que isso seja perfeitamente normal, já que a

Matemática é uma ciência que exige um alto nível de abstração e que, por isso, muitos

alunos não teriam capacidade para aprendê-Ia.

Quantas vezes não ouvimos um aluno dizer: "Não tenho jeito para a

Matemática"! Essa crença acaba sendo um dos fatores que leva ao fracasso escolar e

pode até mesmo influenciar de forma negativa nas futuras escolhas profissionais dos

jovens. Essas idéias podem parecer antiquadas, mas ainda hoje é comum ouvir pessoas

comentarem que se o filho não entende Matemática é perfeitamente compreensível já

que os pais também nunca conseguiram entender, deve ser um problema genético, ou

ainda, que aquele que escolhe um curso de Matemática na Universidade é muito

inteligente. Parece que a capacidade de aprender Matemática foi sempre considerada

como medida da inteligência de uma pessoa.

Pesquisas sobre o tema "fracasso escolar em Matemática" apontam para alguns

aspectos que devem ser considerados na obtenção de respostas que justifiquem o alto

índice de reprovação:

formação pedagógica do professor;

metodologia utilizada;

sistema de avaliação;

sistema educacional;

condição sócio-econômica dos educandos.

Esta última seria responsável mais pela evasão do que pela repetência.

Entretanto, não se pode aceitar que alunos oriundos de famílias de baixa renda sejam

considerados como responsáveis para explicar ou justificar altos índices de

Page 18: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

13

reprovação, porque estes se utilizam muito bem de uma matemática informal no dia-a-

dia a qual poderia ser relacionada com os conteúdos curriculares para dar mais sentido

ao seu aprendizado.

Pensando nos aspectos citados, percebemos que eles são o reflexo do dia-a-dia

da sala de aula, todos fazem parte de um só processo, o processo de ensino-

aprendizagem que, no caso da Matemática, na maioria das vezes, não tem produzido

bons resultados. Os problemas no ensino-aprendizagem da Matemática se constatam

desde as séries iniciais, ou seja, já nos primeiros contatos entre os alunos e a disciplina.

Sabemos que todo homem é capaz de aprender e continuar aprendendo durante

toda a vida. Nesse sentido, quando o aluno não aprende uma pergunta se coloca: por

que ele não aprende e, ao mesmo tempo, por que não estamos conseguindo ensiná-lo?

Isto significa que algo precisa ser mudado.

Existe um grande número de pessoas que desconhecem música ou desenho e

ainda assim não se sentem frustradas ou se consideram pouco inteligentes por não

possuírem tais conhecimentos. Com relação à Matemática, entretanto, as reações são

diferentes. O fato de desconhecer ou de não aprender Matemática leva a maioria das

pessoas a se sentir frustrada e até marginalizada porque a sociedade e, principalmente

a escola, a taxam de pouco inteligente.

Há um consenso geral segundo o qual aprender Matemática é importante para a

vida do aluno, mas por que, quando indagados por seus alunos sobre o objetivo de

aprender determinados conteúdos, os professores ficam lhes devendo uma resposta

convincente? Muitos procuram justificar a aprendizagem de alguns conteúdos na

própria Matemática. com aquela conhecida resposta: "você vai precisar disso mais

tarde".

Em todos os lugares do mundo, independentemente de raças, credos ou sistemas políticos,desde os primeiros anos de escolaridade, a Matemática faz parte dos currículos escolares, aoiado da Linguagem Natural, como uma disciplina básica. Parece haver um consenso comrelação ao fato de que seu ensino é indispensável e sem ele é como se a alfabetização não setivesse completado. Essa aparência de necessidade lembra, no entanto, o epigrama deCocteau: "A poesia é indispensável. Se eu soubesse ao menos para quê ..."(MACHADO,1997, p.8)

Page 19: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

14

o professor, na maioria das vezes, se limita a transmitir conteúdos, fazendo de

seu trabalho um processo quase que mecânico, não deixando espaço para discussões,

reflexões e esquecendo que ele próprio também necessita de momentos de reflexão

para continuar aprendendo.

Segundo THOMAZ (1999, p.197) "Os professores de Matemática,

particularmente, talvez por suas formações, possuem como características a

objetividade, o rigor, a sistematização e a busca de perfeição e precisão, e, geralmente,

aspectos relativos e subjetivos não são considerados por eles".

De fato, a formação do professor de Matemática tende a levá-lo por esse

caminho. lMENES (1989), em sua pesquisa sobre fracasso escolar, apresentou em suas

análises a relação entre o modelo formal de apresentação da Matemática com a

compreensão que os professores têm da Matemática e com sua ação pedagógica.

Para IMENES (1989) a formalização da Matemática, no sentido euclidiano do

termo como ele coloca, o currículo "escada", de estrutura linear, que justifica a

aprendizagem de conteúdos por serem "pré-requisitos" para dar continuidade aos

estudos, esconde o processo de construção do conhecimento matemático.

O professor que também participou, enquanto sua condição de aluno desse

processo, tem arraigado esses princípios de organização dos conteúdos e deles se vale

em sua prática de ensino, apresentando uma Matemática pronta e acabada, como a

concebem grande parte dos professores. Na maioria das vezes, a concepção de

Matemática que cada professor tem~ vem, inicialmente, da influência de suas

experiências como aluno e depois, também como professor.

Para SANTOS (2002), há três concepções sobre o ensino-aprendizagem de

Matemática que se mostram mais freqüentes em nossas salas de aula: a concepção

baldista, a concepção da escadinha e a sócio-construtivista.

A concepção baldista vem de Nilson José Machado e parte da idéia de que, no

momento de entrar em contato com um novo objeto de conhecimento matemático, a

cabeça do aluno se apresenta como um balde vazio, ou seja, ele não sabe nada sobre

esse novo objeto de conhecimento e que esse conhecimento será despejado em sua

cabeça. Pode-se avaliar se o balde está cheio a 80%, 60% ou 40% como se ele tivesse

Page 20: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

15

uma espécie de graduação correspondente às notas 8, 6 ou 4. O papel do professor é

encher o balde, procurando transmitir da melhor maneira o conhecimento (em geral

partindo de definições) e, ao aluno, cabe estar atento para receber o conhecimento que

lhe está sendo transmitido.

Porém, como registra MACHADO (1999, p.30) "atualmente, o prestígio de tal

concepção é cada vez menor e pouco a defenderiam em sentido estrito, ainda que

muitos utilizem reiteradamente expressões como "apropriação do saber", ou "aquisição

do conhecimento", indiciárias da idéia do conhecimento como um bem que se adquire

ou de que se toma posse".

A concepção da escadinha se apóia na idéia de que seria possível modificar o

comportamento de um indivíduo a partir de situações de estímulo e reforço de

respostas positivas.

O professor que se apóia nessa hipótese baseia sua ação educativa em três

momentos principais: em primeiro lugar, define precisamente os objetivos de

aprendizagem que o aluno deverá alcançar; em segundo lugar, elabora (ou retira de

livros didáticos) situações em que o aluno será levado a apresentar o novo

comportamento e esse novo comportamento será objeto de uma recompensa

manifestada, geralmente, pela aprovação do professor; em terceiro lugar, uma vez que

o objetivo foi alcançado, o professor oferece situações sistemáticas de treinamento,

para que esse novo comportamento seja consolidado, o que permite a entrada no jogo

didático de um novo objeto de aprendizagem.

A concepção sócio-construtivista, como registra ainda SANTOS (2002), tem

seu suporte nos trabalhos em psicologia genética, particularmente nos trabalhos de

Piaget, e sua inserção na escola se deu a partir de uma conjugação de trabalhos vindos

de várias áreas de conhecimento como a psicologia social, a epistemologia e das

didáticas específicas: matemática, ciências, etc. Se apóia no processo histórico de

construção do conhecimento científico, cujos objetos foram sendo construídos como

respostas a problemas específicos. Essa concepção de aprendizagem se baseia em um

certo número de idéias:

Page 21: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

se aprende" a aquisição de novos conhecimentos está estreitamente ligada ao processo

de interação entre o sujeito e o objeto do estudo.

- Idéia do desequilíbrio: também de Piaget, afirma que "a transição entre duas etapas

de conhecimento se dá pela passagem por uma fase de desequilíbrio, onde o antigo

conhecimento é colocado em questão, gerando um novo equilíbrio".

- Idéia de representação espontânea: fundamentada em Gaston Bachelard, parte do

princípio de que o aluno sempre inicia uma aprendizagem com uma certa bagagem de

representações, que ele mobiliza no momento de resolver um problema.

- Idéia do conflito sócio-cognitivo: tem sua origem nos trabalhos desenvolvidos em

psicologia social. De acordo com esse ponto de vista, as interações sociais entre os

alunos podem facilitar de maneira importante a aprendizagem, destacando o trabalho

em grupo e a prática do "debate científico" em sala de aula.

Nessa concepção, a estratégia consiste em colocar o aluno em face de um

obstáculo, gerando o aparecimento de um conflito interno ao sujeito. Esse conflito será

gerado por uma contradição entre uma antecipação do aluno, baseada em suas antigas

concepções, e a situação que lhe é apresentada, que coloca em evidência a insuficiência

dessa antiga concepção.

Não podemos afirmar, como acrescenta SANTOS (2002), que um certo modelo

é superior a outros; os professores, ao planejarem suas aulas, acabam por "navegar"

entre esses três tipos de concepções. Ter consciência da existência de certas

concepções de aprendizagem no processo de ensino- aprendizagem e da clareza sobre

em qual dessas concepções busca-se apoio, é um dos passos importantes para o

professor que pretende realizar um bom trabalho.

Além dos aspectos relacionados à formação e à concepção dos professores que

refletem em suas ações na sala de aula, os métodos que utilizam para trabalhar

conteúdos e para avaliar seus alunos, outras questões são relevantes na procura de

respostas para o problema "fracasso escolar"

Segundo OLIVEIRA (2000, p.62), ainda que pareça semelhante, a sala de aula

de nossos alunos não é a mesma de nossos pais e, para melhor entender a realidade

Page 22: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

17

contemporânea desse espaço, inserido no universo maior da escola, esclarece alguns

pontos:

Os meios de comunicação de massa, sobretudo a TV, oferecem, de forma muito atraente,informações abundantes dos mais diversos aspectos da realidade. Hoje, os meios decomunicação nos possibilitam o acesso às mais variadas culturas e o contato com a pluralidadede modos de viver e pensar. Temos hoje na escola a presença maciça de alunos e alunas detodas as classes sociais, com toda a pluralidade de modos de viver e pensar.

Nesse sentido, percebemos que os desafios para o professor de Matemática da

atualidade são muito maiores, pois se há alguns anos atrás os alunos se comportavam

como bons espectadores de aulas expositivas, sabemos que para os atuais não há

problema em demonstrar sua insatisfação com tal prática.

Hoje, professores de Matemática têm como desafio motivar alunos de diferentes

classes sociais e, portanto, diferentes interesses; assim, é preciso procurar conhecê-los,

conhecer sua realidade, para que as suas experiências cotidianas possam ser

aproveitadas em sala de aula.

Para CARRAHER (1991, p.21), "o ensino de Matemática se faz,

tradicionalmente, sem referência ao que os alunos já sabem. Apesar de todos

reconhecermos que os alunos podem aprender sem que o façam na sala de aula,

tratamos nossos alunos como se nada soubessem sobre tópicos ainda não ensinados".

A linha de trabalho dos professores também é baseada na proposta pedagógica

das escolas em que atuam. Essas escolas procuram atender as exigências das

secretarias de educação que acompanham o desempenho da educação pública através

de avaliações realizadas ao final de cada uma das etapas de ensino e dos relatórios

expedidos ao final de cada ano letivo em cada estabelecimento de ensino. Nesses

relatórios é possível observar o levantamento de dados sobre evasão, repetência e

também estabelecer comparações entre médias a nível de estabelecimento, município e

estado.

2.1 O PAPEL DA MATEMÁTICA NOS ÍNDICES DE REPROV AÇÃO

Os dados que serão apresentados foram coletados junto ao Núcleo Regional de

Educação de Ponta Grossa, sendo que primeiramente apresentaremos dados que

Page 23: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

18

revelam a comparação entre as médias de cada estabelecimento de ensino da rede

estadual de Ponta Grossa, que oferta o Ensino Médio regular, com a média do

município de Ponta Grossa e do estado do Paraná nas sete disciplinas que fazem parte

da Base Nacional Comum para o Ensino Médio e que são obrigatórias tanto no Ensino

Médio diurno quanto no noturno, sendo: Língua Portuguesa, Matemática, História,

Geografia, Química, Física e Biologia.

Só foi possível fazer esse levantamento com os números dos anos letivos de

1999 e 2000, devido à mudança noso:ftware utilizado pela Secretaria Estadual de

Educação do Paraná, que ocorreu no ano letivo de 2001. A partir desse ano, os

estabelecimentos de ensino passaram a receber o boletim da escola onde constam as

mesmas informações a respeito da média do estabelecimento em cada disciplina,

comparação entre a média municipal e a estadual, quantidade de alunos acima ou a

baixo da média do estabelecimento.

Nos dados apresentados, podemos observar, tanto no ano letivo de 1999 quanto

2000, que a disciplina de Matemática apresenta uma das médias mais baixas, seguida

de Língua Portuguesa e Física, enquanto que Geografia e História apresentam as

médias mais elevadas. Observamos que a média obtida em Ponta Grossa é superior à

média do Estado, em todas as disciplinas.

Page 24: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

) ) )

_. ---._-- _ ..._-----_.,---_._---- _.__ ._-----

ANO LETIVO 1999 -DADOS REFERENTES AO ENSINO MÉDIOMÉDIA DOS ESTABELECIMENTOS, DO MUNICÍPIO E DO ESTADO

1----

ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DA REDE ESTADUAL DE PONTA GROSSA <t:<t: '<t:rei) Z

DISCIPLINAS Zel)~00

A B C O E F G H 1 J K L M N0..0::: <ti c,

lJNb. PORrUQ f--- 6,7 5,4 5,9 6,0 6,5 69 6,6 5,7 5,9 5,5 5,8 5,8 6,5 6,4 6,I 5,8,,MATEMATICA 6,3 5,3 5,8 6,2 6,4 65 6,6 5,4 6,0 5,7 5,4 5,8 5,7 5,6 6,0 5,8,

-- I-- ..

HISTORIA 6,8 6,4 6,4 7,3 7,7 7,8 7,6 6,4 6,5 6,4 5,7 5,2 5,8 7,5 6,6 6,21-------_.GEOGRAFIA 7,1 6,3 7,0 5,7 6,5 7,0 7,7 6,4 7,I 6,6 5,4 5,6 5,9 7,9 6,5 6,1QUIMICA 7,6 5,4 6,0 6,1 6,0 7,8 6,9 5,2 6,4 6,6 5,6 5,7 6,0 6,0 6,2 5,9f--';--FISICA 6,1 5,9 5,9 6,3 6,6 6,7 6,5 5,8 6,0 6,6 5,5 6,I 5,5 5,5 6,I 5,9BIOLOGIA 6,6 5,9 5,5 5,6 6,3 7,3 7,2 5,8 6,0 5,9 5,8 5,7 6,6 6,2 6,1 6,0

Fonte:SERE ( Sistema Estadualde RegistroEscolar)

--\D

Page 25: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

) ) ) J 1 ) 'I ) ')

~-~-----------------_._--~_._-_.~._------- ----------- ----_. __ ._-----

ANO LETIVO 2000 - DADOS REFERENTES AO ENSINO MÉDIOMÉDIA DOS ESTABELECIMENTOS, DO MUNICÍPIO E DO ESTADO

---_. __ .,-----. -

ESTABELECIMENTOS DE ENSINO DA REDE ESTADUAL DE PONTA GROSSA ~~ '~

t-V1 ZDiSCiPLINAS ZV1~00

A B C D E F G H I J K L M N O P Cl..G ~Cl..

LING. PORTUG. 6,5 5,3 6,0 5,8 6,0 6,5 6,4 6,8 6,5 5,7 5,7 5,4 5,7 5,7 5,9 6,3 6,0 5,5-~MATEMATICA 5,9 5,2 5,4 5,3 6,2 6,7 5,8 7,2 6,9 5,9 5,5 5,1 5,4 6,0 5,0 5,4 5,9 5,5-,_._---- 1---HIS'rORIA 6,8 5,8 6,4 7,0 6,6 7,8 7,4 7,7 7,5 6,6 6,l 6,2 5,9 5,2 8,6 5,9 6,6 5,9

GEOGRAFIA 6,5 6,1 6,4 6,6 5,8 6,9 6,2 7,2 6,6 5,9 6,6 5,5 7,1 5,8 6,3 6,4 6,3 5,8QUIMiCA 6,8 5,1 5,9 6,4 6,6 5,9 6,3 6,3 6,5 5,0 5,6 5,6 5,6 5,7 6,5 5,6 6,0 5,6FiSICA 5,8 5,5 5,7 5,6 6,4 6,3 6,5 6,8 6,4 5,7 5,7 5,5 5,7 6,0 6,5 5,6 5,9 5,5BiOLOGIA 6,6 6,0 5,9 6,0 6,1 6,8 7,0 7,1 6,6 5,8 6,1 5,3 7,0 6,3 5,9 6,3 6,3 5,7

------

Fonte:SERE (SistemaEstadualde RegistroEscolar)

No

Page 26: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

21

Estes dados podem ser melhor visualizados através dos gráficos:

MÉDIA DAS ESCOLAS ESTADUAIS DE PONTAGROSSA

POR DISCIPLINA - ENSINO MÉDIO -1999

6,8

6,6

6,4

"'-;:!l 6,2Q

'~ 6,0

5,8

5,6

5,4

..<..,0" 0~~- .<\~

~o ~~.y0" ~DISCIPLINAS

MÉDIA DAS ESCOLAS ESTADUAIS DE PONTA GROSSAPOR DISCIPLINA - ENSINO MÉDIO - 2000

6,8~------------------------------------------------~6,6-1---------

6,4 .J---------

6,2 -1---------

6,0

5,8

5,6

DISCIPLINAS

Page 27: Fracasso escolar no ensino me dio o papel da matemática

22

Os dados a seguir referem-se ao número de alunos em progressão parcial, nas

disciplinas citadas anteriormente, e foram extraídos dos relatórios finais dos

estabelecimentos de ensino da rede estadual de Ponta Grossa que ofertam o Ensino

Médio regular nos turnos matutino, vespertino e noturno, do ano letivo 200 I, pois os

relatórios de 2002 ainda não estavam concluídos no 'período em que foram realizadas

as consultas,

O relatório final é um documento expedido pelas escolas, ao final de cada ano

letivo, Nesse relatório constam o resultado final, de cada aluno matriculado,

classificado em AP (aprovado), PP (Progressão Parcial), REP (reprovado), reprovado

por frequência, desistente, sem frequência (aqueles que fizeram a matrícula mas nunca

compareceram), transferido, remanejado (para outra turma). Quando é obtido o

resultado "aprovado" são apresentadas as média de aprovação em cada disciplina e

frequência total, de cada aluno matriculado. A relação de alunos é apresentada em

ordem alfabética, por turno e série.

Foram analisados os relatórios finais de 15 estabelecimentos de ensino dos 20

que atualmente ofertam o Ensino Médio, sendo que não foi possível apresentar os

dados do Instituto de Educação Professor Cesar Prieto Martinez que ainda se

encontrava em processo de revisão e correção no período em que foram realizadas as

consultas (abril e maio de 2003), dos Colégios Linda Salamuni Bacilla, Frei Doroteu e

Padre Arnaldo Jansen porque passaram a ofertar o Ensino Médio a partir de 2002 e do

Colégio Nossa Sra. Das Graças que implantou o Ensino Médio neste ano de 2003,

Além do levantamento da quantidade de alunos em progressão parcial em cada

uma das sete disciplinas já citadas, foram coletados também o total de matrículas em

cada uma das séries do Ensino Médio de cada estabelecimento e o número de

aprovados, pois na estatística apresentada ao final de cada relatório é definido o total

de matrículas, alunos reprovados, transferidos, desistentes, remanejados e sem

frequência e os alunos em progressão parcial, apesar de que reprovados em até três

disciplinas, fazem parte do percentual de aprovados,

Os alunos que apresentam o resultado "reprovado" são, na quase totalidade,

aqueles que reprovaram por frequência ou em quase todas as disciplinas, por isso. a