FORMAÇÃO DE PROFESSORES A DISTÂNCIA PARA O USO DE DISPOSITIVOS MÓVEIS NA EDUCAÇÃO

Ana Carolina Ribeiro Ribeiro1, Anna Helena Silveira Sonego2, Laura Krimberg3, Patricia Alejandra Behar4

1 Programa de Pós-graduação em Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, carolribeiro2@gmail.com

2 Programa de Pós-graduação em Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sonego.anna@gmail.com

3 Programa de Pós-graduação em Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, laurakrimberg@gmail.com

4 Programa de Pós-graduação em Educação/Programa de Pós-graduação em Informática na Educação/Universidade Federal do Rio Grande do Sul, pbehar@terra.com.br

Resumo – Este trabalho apresenta as possibilidades e os desafios da formação de professores a distância voltada para o uso de dispositivos móveis na educação. Embora se reconheça a importância do uso dessas ferramentas em contexto educacional, a maneira com que esses materiais são disponibilizados, utilizados e construídos ainda apresenta grandes desafios a professores e estudantes de licenciatura. Para compreender essas questões, foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa ao longo de quatro semestres em uma disciplina voltada para o uso de dispositivos móveis e para a construção de aplicativos, ofertada para cursos de licenciatura em uma universidade pública do sul do Brasil. Como resultados dessa pesquisa, observou-se que a utilização de dispositivos móveis é vista como uma importante ferramenta para diversificar o ensino e torná-lo mais atrativo, tanto para o trabalho docente dos professores quanto para seu próprio processo de formação, além de oportunizar práticas e dinâmicas que visem uma maior integração entre os alunos.

Palavras-chave: formação de professores, m-learning, dispositivos móveis

Abstract – This paper presents the possibilities and challenges of distance teacher training for the use of mobile devices in education. While recognizing the importance of using these tools in an educational context, the way in which these materials are made available, used and constructed still presents major challenges to undergraduate teachers and students. To understand these questions, a qualitative research was conducted over four semesters in a discipline focused on the use of mobile devices and application construction, offered for undergraduate courses at a public university in southern Brazil. As a result of this research, it was observed that the use of mobile devices is seen as an important tool to diversify teaching and make it more attractive, both for teachers' teaching work and for their own instruction process, in addition to provide dynamics that aim at greater integration among students.

Keywords: teacher training, m-learning, mobile devices

1. Introdução

O presente artigo apresenta as possibilidades e os desafios da formação de professores voltada para o uso de dispositivos móveis em uma disciplina realizada a distância em um curso de graduação.

Atualmente as Tecnologias Digitais (TDs) apresentam, a todo instante, grandes mudanças na sociedade em geral: economicamente, nos meios de comunicação e nas relações pessoais (BATES, 2017). Dessa maneira, tanto alunos quanto professores se encontram conectados aos dispositivos móveis, como tablets e smartphones. Com base nessas questões, acredita-se que a integração das tecnologias digitais, em conjunto com a reformulação das práticas escolares, pode gerar inovações didático-metodológicas na ação docente. Sendo assim, é necessária a construção de conhecimentos acerca da utilização destes dispositivos em sala de aula e, consequentemente, na formação docente. Verifica-se, dessa forma, a necessidade da apropriação dos conceitos ligados à M-Learning1 a fim de perpassar os desafios da sua implementação para os professores e alunos, em níveis e modalidades de ensino distintos.

O presente artigo foi organizado em seis seções. Primeiramente é abordado o conceito de aprendizagem e de dispositivos móveis. Em seguida, são destacados os desafios que se relacionam ao uso dos smartphones e tablets na formação docente. Posteriormente, é apresentada a metodologia adotada para o estudo. Por fim, são revelados os resultados obtidos e, na última seção, as considerações finais.

2. Aprendizagem móvel e o uso de dispositivos O conceito de aprendizagem móvel, conhecida também como Mobile Learning (ou M-Learning), “envolve o uso de tecnologias móveis, isoladamente ou em combinação com outras Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), a fim de permitir a aprendizagem a qualquer hora e em qualquer lugar” (UNESCO, 2014, p. 8), abrangendo o uso de smartphones e tablets. A presença destes dispositivos no cotidiano das pessoas faz com que professores e futuros docentes reflitam sobre a necessidade de inserção destas tecnologias também na educação e para os indivíduos envolvidos no sistema de ensino.

Essa nova forma de aprendizagem, que possibilita o acesso facilitado à Internet por meio dos dispositivos móveis, permite a construção e o aprimoramento dos conhecimentos em qualquer hora e local. Sendo assim, os estudantes podem aproveitar o uso das tecnologias em distintas ocasiões (LEITE, 2014). No entanto, apenas a utilização dos smartphones e tablets na sala de aula não caracteriza completamente a M-Learning. Compreende-se que o professor deve realizar um planejamento que envolva conteúdo curricular, material didático e atividades de ensino.

Além disso, a aprendizagem móvel pode ocorrer de diversas formas, inclusive criando condições para amplificar a interação e a comunicação entre os envolvidos, em todo o

1 Diminutivo de Mobile Learning que, em inglês, significa aprendizagem móvel. Caracteriza-se pela aprendizagem

por meio dos dispositivos móveis, tais como smartphones e tablets (UNESCO, 2014).

processo educativo. Em relação à esta questão, a UNESCO (2014, p. 7) afirma que “as pessoas podem usar aparelhos móveis para acessar recursos educacionais, conectar-se a outras pessoas ou criar conteúdos, dentro ou fora da sala de aula”. Portanto, a M-Learning pode oferecer possibilidades para unir pessoas em mundos reais, virtuais, de modo a oportunizar a formação de comunidades de aprendizagem entre docentes e discentes (BATISTA, 2011).

Entende-se que o processo educativo se encontra envolvido pela comunicação, tanto dentro quanto fora da sala de aula, pois, as mensagens geradas por meio destas tecnologias digitais são propagadas mais facilmente. Sendo assim, o diálogo por meio dos dispositivos móveis, entre estudantes e professores, pode possibilitar a construção de conhecimentos e valores, bem como de relações pessoais, evidenciando a importância da utilização destas tecnologias para apoiar a aprendizagem (CITELLI, 2015).

Em vista disso, verifica-se a necessidade do entendimento, experimentação e exploração dos smartphones e tablets na formação de docentes. Contudo, o caminho para a construção de conhecimento para o planejamento e implementação da M-Learning perpassa alguns desafios, que são expostos a seguir.

3. Formação de professores para o uso de dispositivos móveis na educação No panorama brasileiro atual, o uso dos dispositivos móveis se torna cada vez mais comum em diversas áreas e âmbitos, inclusive no educacional. Observa-se, em pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação nas escolas brasileiras (CGIBR, 2016), que a porcentagem de alunos que já acessaram a Internet pelo celular em atividades para a escola a pedido dos professores é de 51% na rede pública de ensino e de 60% na rede particular. Além disso, a conexão dos alunos com a Internet, apresentando o celular como principal dispositivo de acesso, aumentou de 73% para 77% de 2015 a 2016.

O crescente uso de dispositivos móveis na educação é fruto de diferentes iniciativas e políticas, como exemplo do lançamento de um programa inédito pelo Ministério da Educação, no âmbito da Portaria nº 522 de 09/04/1997 já reestruturada com base nas novas tecnologias. Dentro do âmbito do Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo)2, foram distribuídos cerca de 900 mil tablets em escolas de ensino fundamental e médio, em parceria com as redes federal, estadual e municipal. O objetivo foi de promover o uso desta tecnologia como ferramenta motivacional ao processo de aprendizagem no ensino público, contemplando a Educação Básica (BRASIL, 2012).

No entanto, não se pode afirmar que o simples fato de se utilizar um dispositivo móvel, para desempenhar uma atividade em aula potencialize situações de aprendizagem (SONEGO e BEHAR, 2015). Nesse sentido, é fundamental que o professor desenvolva um planejamento com conteúdo curricular e uso de um material didático envolvendo aplicativos, além da definição do modo de utilização dos dispositivos móveis. Além disso, esses aparelhos oferecem distintas funções como, por exemplo, fotografar, gravar e executar vídeos e áudios, fazer

2 Maiores informações em:

https://www.fnde.gov.br/fndelegis/action/UrlPublicasAction.php?acao=abrirAtoPublico&sgl_tipo=POR&num_ato=00000522&seq_ato=000&vlr_ano=1997&sgl_orgao=MED

downloads e anotações, editar textos, transferir dados, acessar páginas na internet e enviar e-mail, entre outras funcionalidades. Torna-se fundamental, assim, que cursos de formação inicial e continuada explorem essas potencialidades de modo que o uso dos dispositivos seja efetivo no contexto escolar.

Compreende-se que a aprendizagem móvel pode se tornar uma realidade viável no processo de ensino, dentro e fora dos ambientes escolares. A potencialidade de inovação no campo da educação, com a utilização destas tecnologias, percorre as ações dos professores, permeando o planejamento, a modalidade de ensino, o público-alvo e a implementação. Porém, a organização pedagógica de cada docente, em conjunto com o momento adequado para o desenvolvimento da Mobile Learning, deve considerar alguns aspectos, tais como: o tipo de dispositivo, a dinâmica, a conectividade, a portabilidade e a flexibilidade. Destaca-se, dessa forma, que mesmo com o uso destas tecnologias, não se espera substituir o professor, nem mesmo as modalidades já existentes (UNESCO, 2014).

Desse modo, verifica-se a difusão da M-Learning, proporcionando transformações significativas no processo de ensino e aprendizagem e, ao mesmo tempo, preservando os sistemas educacionais tradicionais. Neste contexto, compreende-se que as práticas escolares precisam ser reformuladas, com a aprendizagem móvel e o uso e desenvolvimento de aplicativos educacionais discutidos nos ambientes de formação, a fim de fortalecer seu conceito. Uma iniciativa nesse sentido é apresentada a seguir.

4. Metodologia Essa pesquisa caracteriza-se como estudo de abordagem qualitativa com o uso do método estudo de casos múltiplos. Configura-se como qualitativa, pois parte da observação dos fenômenos e dos sujeitos a partir do meio histórico e social em que estão inseridos e são produzidos (CRESWELL, 2010).

Estudo de caso pode ser entendido como a realização de uma investigação empírica que, de acordo com Yin (2015), investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto, e seus limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos. Esses estudos podem incluir casos individuais ou generalizações amplas baseadas em evidências. Dessa forma, de acordo com o autor (YIN, 2015) o estudo de caso seria o mais adequado para a realização de pesquisas exploratórias. A realização do estudo de caso, neste contexto, possibilitou avaliar quais os desafios na formação de professores para o uso de dispositivos móveis na educação.

A coleta de dados foi realizada entre os anos de 2016 e 2018 nas edições de uma disciplina realizada a distância e voltada para cursos de licenciatura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que visa promover os conhecimentos básicos para a inclusão das tecnologias no trabalho pedagógico. Dessa forma, as atividades realizadas ao longo de quatro semestres foram voltadas para o uso de dispositivos móveis que se configuram, atualmente, como as ferramentas mais acessíveis aos estudantes dos diferentes níveis, abrangendo um total de 80 alunos.

Os participantes da pesquisa foram alunos da referida disciplina que compõem um público de diferentes cursos de graduação e possuem idades entre 18-50 anos. A escolha dos participantes se deu devido à necessidade de uma abrangência maior de investigação sobre o

tema em diferentes perfis (idade, gênero etc.) já que no Brasil há uma diversidade de pessoas que utilizam os smartphones e tablets. Assim, a metodologia aplicada contemplou duas etapas: 1) Estudo de caso e 2) Construção e análises das categorias. Para a coleta de dados foram utilizadas as atividades e discussões realizadas em um ambiente virtual de aprendizagem, as produções em uma ferramenta de construção de aplicativos educacionais, além de observação participante e questionário com perguntas abertas e fechadas. Já as categorias foram definidas a partir de duas questões: as possibilidades de uso dos dispositivos móveis na educação e os desafios quanto ao uso dos mesmos. Na próxima seção são apresentados alguns extratos coletados em questionários, atividades e discussões em fóruns realizados através de um ambiente virtual de aprendizagem.

5. Resultados e discussão dos dados Com o desenvolvimento de quatro edições de uma disciplina realizada a distância e voltada para cursos de licenciatura, em que foram abordadas e executadas atividades com ênfase na utilização e o uso dos dispositivos móveis em sala de aula, foi possível verificar algumas contribuições e desafios das mesmas na prática pedagógica. Estas averiguações são relevantes e merecem ser analisadas não somente por professores em exercício, mas também para os professores em formação, tendo em vista, que estes estão ou estarão lidando com as novas gerações que utilizam constantemente os dispositivos móveis.

Após a observação das atividades realizadas e a implementação do questionário com perguntas abertas e fechadas foi possível definir categorias de análise de acordo com os extratos dos participantes da disciplina. Com base na análise dos dados coletados foram definidas duas categorias: possibilidades de uso dos dispositivos móveis e desafios quanto ao planejamento e implementação de atividades com os dispositivos móveis. Nas próximas subseções serão apresentados alguns extratos que exemplificam cada uma delas.

5.1 Categoria - possibilidades de uso dos dispositivos móveis na educação Nessa categoria foi possível analisar as possibilidades que os dispositivos móveis apresentam para seu uso na formação docente. Para tanto, apresentam-se trechos de falas e atividades que evidenciam e exemplificam estas possibilidades proporcionando a aprendizagem móvel e a facilidade de acesso a diferentes conteúdos e mídias no âmbito educacional. Sobre as possibilidades do uso dos dispositivos móveis em âmbito educacional, os alunos3 destacaram:

Claro, é muito importante fazer uso dos dispositivos móveis, ainda mais quando estes dispositivos fazem parte do cotidiano dos mesmos e por ser algo considerado, muitas vezes, proibido na sala de aula. (Aluno 25)

3 Visando preservar a identidade dos participantes, seus nomes foram trocados por números, de 1 a 80.

(...) A partir dos estudos realizados sobre M-Learning pude perceber que utiliza-lo em sala de aula é mais importante do que eu imaginava. Aulas com propostas de atividades envolvendo M-Learning podem ser muito mais interessantes. (Aluno 70)

Apesar de no momento não estar pensando em dar aula, acredito que, com as facilidades que as tecnologias oferecem, o uso delas no ensino não pode ser descartado. Por essa razão, com certeza planejaria atividades com dispositivos móveis. (Aluno 2)

Como pode ser observado nos trechos acima, a partir de um primeiro momento de

explanação e reflexão sobre o uso dos dispositivos móveis, a grande maioria dos participantes passou a enxergar novas possibilidades para o uso dos mesmos, indo além de seu uso cotidiano. Os participantes que apresentam sua atuação mais focada em Educação Infantil e Séries Iniciais, em uma maioria estudantes de Pedagogia, visualizaram de maneira mais abrangente como essas tecnologias estão presentes no cotidiano e precisam, também, fazer parte das práticas escolares. Já participantes que ainda não atuam, puderam enxergar caminhos que deixem suas futuras práticas ainda mais interessantes e próximas das realidades dos alunos. Esse ponto foi visualizado como fundamental, principalmente para aquelas áreas que costumam causar dificuldades e, até, frustrações entre os alunos. Outra questão interessante é a de que, por a disciplina ser realizada a distância, os participantes demonstraram que essas novas perspectivas influenciaram também seus próprios processos de estudo e de construção do conhecimento, pois, mudaram as formas com que veem as tecnologias.

Poderia utilizar aplicativos educacionais que os auxiliassem nos estudos, ou, ainda apresentar aplicativos que possam auxilia-los na organização de seus trabalhos e afazeres diários como estudantes. (Aluno 14)

Os dispositivos móveis trazem muitas possibilidades principalmente nos Anos Inicias, e acredito que uma estratégia pedagógica que eu utilizaria seria trocar as avaliações em folhas por avaliações nos dispositivos móveis. Outra estratégia seria utilizar os dispositivos móveis para que as crianças pudessem, logo ao aprender um conteúdo, seguir exercitando através de aplicativos educacionais. (Aluno 30)

A diferença entre dispositivos e sistemas operacionais foi uma questão levantada entre

os participantes, que demonstraram a importância de se fazer um levantamento prévio sobre quais dispositivos os alunos possuem antes da realização de atividades:

Seria interessante fazer um levantamento de quais dispositivos móveis os alunos têm acesso e suas funcionalidades, por exemplo, se serão capazes de gravar um vídeo ou baixar e usar determinado aplicativo. E um levantamento do conhecimento da turma quanto a edição de vídeo e outras habilidades que forem necessárias para execução das atividades. Assim, se necessário, poderia ser realizada oficinas para nivelar a turma, não prejudicando os que não têm a menor noção de como realizar essas tarefas como edição de vídeo. (Aluno 56)

(...) primeiro vou verificar a quais dispositivos os alunos têm acesso, a partir dessa informação vou planejar quais e como usar. Acredito que se os dispositivos móveis e os aplicativos são parte de sua rotina trazê-los para a sala de aula pode prender sua atenção e tornar a aula mais interessante. (Aluno 60)

Como possibilidade viável com os dispositivos apresenta-se a capacidade de utilização

de aplicativos prontos e disponíveis na internet para qualquer área do conhecimento. Estes podem ser encontrados facilmente nas lojas da Google Play (com aproximadamente 3,5 milhões) ou da Apple Store (com 2,2 milhões) de aplicativos (STATISTA 2017). Nestas lojas virtuais é possível fazer o download destes para os dispositivos conforme a necessidade de uso de cada indivíduo. Outra alternativa é a construção de aplicativos educacionais a partir de softwares que permitem que professores e estudantes construam seus próprios aplicativos. Existem sites que disponibilizam sua elaboração de forma gratuita, ou seja, em versões free (livres), possibilitando inovações e novas possibilidades no processo de ensino e de aprendizagem dos estudantes. Nesta perspectiva o uso dos dispositivos oferece aos usuários momentos de aprendizagem diferenciados a partir da mobilidade, da conectividade e da flexibilidade que estes equipamentos podem oferecer para os processos educativos. Desse modo, destaca-se o Appy Pie (https://www.appypie.com) e a Fábrica de Aplicativos (http://fabricadeapliactivos.com.br/), como exemplos de sites que permitem de forma online criar aplicativos com várias funcionalidades e áreas de conhecimento. Nesta produção é possível gerar diversas entendimentos e concepções para a realização de aprendizagem individual, colaborativa, presencial ou virtual sendo capaz de promover situações de compartilhamento de conhecimento e informações. Nesse sentido, também, o uso de dispositivos móveis apareceu nas falas como um importante aliado para a realização de atividades que visem a interação entre alunos, através de trabalhos colaborativos em grupo:

Dinâmicas de auto-aprendizagem e trabalho em grupo, debates, trabalhos dinamicos e escritos, jogos didáticos, etc. (Aluno 10)

Me chamam mais atenção as estratégias colaborativas e de construção de conhecimento em grupo. (Aluno 17)

Acredita-se que os professores que pretendem elaborar atividades que envolvam o uso

dos dispositivos móveis nas suas ações docentes devem realizar um planejamento com objetivos definidos de acordo com a faixa etária dos alunos a fim de potencializar o processo de ensino e de aprendizagem dos estudantes.

Por fim, nessa categoria, destaca-se a percepção dos alunos quanto à realização da disciplina a distância e como o uso dos dispositivos móveis auxiliou no próprio processo de estudo dos alunos, indo além das potencialidades abordadas para seu uso enquanto futuros professores:

A disciplina é muito interessante e de extrema importância, principalmente para cursos de licenciatura, pois é mais focada para ensinar pessoas através da tecnologia. Mas é muito válida para todos, já que constantemente estamos aprendendo com e ensinando nossos semelhantes, independente de sermos professores ou não, e essa

disciplina nos auxilia a fazermos isso de forma mais competente através da tecnologia. Eu aprendi também a utilizar de melhor forma as ferramentas disponíveis para meu próprio aprendizado na universidade. (Aluno 29)

Tenho gostado muito das aulas, os conteúdos são muito bons e bem explicados. Os materiais são completos e muito bons. Acho interessante o fato de ser à distância pois assim podemos por em prática o que temos aprendido em aula, isto é, a importância do computador na educação. (Aluno 64)

A partir da disciplina passei a buscar muito mais recursos digitais para o meu próprio aprendizado. E fiquei surpresa (positivamente) de quanto material já existe produzido em todas as áreas e o quanto estão acessíveis a todos. (Aluno 32)

Além dessa categoria, foram analisados dados de acordo com os desafios quanto ao

uso desses mesmos dispositivos, como pode ser visto a seguir.

5.2 Categoria - desafios quanto ao uso dos dispositivos móveis O uso dos dispositivos móveis na sala de aula, pode gerar alguns desafios tanto para os professores quanto para os estudantes. Estes desafios podem estar associados ao uso dos aparelhos, a infraestrutura que a escola oferece junto a disponibilização dos mesmos, como tomadas, rede de internet e outros. Portanto, acredita-se que escola pode ter o papel de incentivar e apoiar uso dos dispositivos com objetivos educacionais. Pois dessa forma, pode ser potencializada novas possibilidades para que o aluno assuma um papel central no seu processo de aprendizagem, não sendo tratado como “um receptor passivo da informação, devendo necessariamente ser incluído como um autor, co-criador, avaliador e comendador crítico” (GUIMARÃES, 2012, p.126). Para isso, de acordo com Guimarães (2012), o processo de aprendizagem deve se tornar cada vez mais “personalizado, focado nas necessidades e interesses individuais” (p.127).

Sobre o papel da escola, alguns dos alunos da disciplina destacaram que a escola não está acompanhando a realidade que as crianças e jovens vivem e também que é preciso conhecer os estudantes para propor atividades de acordo com seus interesses, como é mostrado nos trechos a seguir:

Um dos maiores desafios que vejo para os professores é saber como utilizar os diferentes tipos de dispositivos e alternativas de recursos tecnológicos na sala de aula. Necessita de uma constante formação e atualização, buscando saber o que os alunos estão consumindo, o que os agrada. E por fim, se faz necessário também uma avaliação se a forma como está sendo conduzido o processo de aprendizagem há respostas positivas. (Aluno 5)

O que posso perceber é que há uma enorme lacuna existente entre as gerações, ou seja, alunos que nasceram na era digital e professores que nasceram na era analógica e que não possuem, por motivos óbvios, a mesma facilidade de manuseio destes instrumentos, que ao meu ver, seria de suma importância para que haja uma

maior motivação e interação por parte dos alunos para aprender e apreender conteúdos no dia-a-dia escolar. Além desta dificuldade, há também uma resistência dos professores mais "experientes" em lidar com tecnologia de uma forma geral. Na minha visão, seria importantíssimo, atuar de forma bastante contundente na atualização dos profissionais para essa nova (não tão nova) ferramenta de trabalho. (Aluno 52)

Destaca-se, dessa forma, a importância de que os professores se sintam confortáveis e

convidados na aproximação e utilização dessas ferramentas, para então, utilizá-las não apenas como ferramentas, mas para guiar e problematizar o uso que seus alunos estão fazendo. É fato que esses dispositivos estão presentes de maneira significativa na vida tanto de adultos quanto de crianças. Dornelles (2012) comenta que muitos adultos, por não saberem utilizar essas tecnologias veem em suas práticas, jogos e passatempos “um novo caos, uma desordem, uma atividade sem nexo e nem linearidade” (p.98). Com isso, acreditam que os jovens de hoje são mais agressivos, sem uma organização interna e descompassados com o mundo. No entanto, muitas vezes, “a criança vê todo esse ‘caos informe’ como parte do processo de evolução do próprio jogo, da evolução do processo de sua brincadeira” (p.98). Guimarães (2012), por sua vez destaca que em qualquer sociedade “informações, conhecimentos, habilidades, crenças e valores precisam ser transmitidos às gerações mais jovens” (p.131). O problema, é que “os mais experientes talvez não sejam capazes de prever ou aptos a compreender plenamente quais são essas novas competências necessárias” (p. 132). Neste sentido, outras questões foram destacadas:

Como se vê não está o professor substituído pela tecnologia, ao contrário, está complementado, assessorado pela tecnologia. Acredito que outro provável motivo pela restrição de uso dos dispositivos digitais em sala de aula se deve a hipótese de distração do aluno - verdade, é um risco, como o aluno poderia se distrair com qualquer outra coisa. É uma desvantagem ínfima diante do uso inteligente, combinado e planejado destes artefatos em favor da educação. (Aluno 73)

A desvantagem é a possibilidade de distração e de desinteresse na aula por ter acesso a outras atividades potencialmente mais interessantes através do dispositivo móvel. Mas tornar a aula interessante é tarefa do professor e estimular o uso do celular durante a aula para pesquisar assuntos pertinentes ao tema é um recurso interessantíssimo para o professor. Se não der certo, convenhamos, é melhor a turma desinteressada batendo papo pelo whats app do que conversando e atrapalhando a concentração do professor e dos outros alunos que possam estar realmente interessados na aula. (Aluno 67)

Penso ser muito importante o professor ter uma forma de atingir os alunos que não tenham o dispositivo móvel o acesso a internet, uma forma seria propor atividade em dupla ou pequenos grupos. (Aluno 45)

Destaca-se, por fim, as possibilidades analisadas pelos participantes de formas de

propor a inclusão digital na prática pedagógica, desde sugestões como relatos de experiências de sucesso. Além disso, considera-se, que no desenvolvimento da M-Learning enfrenta-se

algumas situações que devem ser encaradas como reflexões oportunizando críticas construtivas, problematização e (re)planejamento das atividades com o uso dos dispositivos móveis.

Desse modo, verifica-se que somente a aquisição destes dispositivos pode não ser o suficiente. Emerge a necessidade de execução deste projeto mais amplo, que engloba a formação de professores e análise de possibilidades pedagógicas destas tecnologias, para que a implementação da M-Learning ocorra de fato. Além disso, observa-se que ocorre a modificação de uma forma mais vertical de ensino para uma forma mais horizontal, em que o aluno dita o ritmo de seu aprendizado e o professor o acompanha neste processo (PINTO, 2014). Neste contexto, Citelli (2015) verifica a dificuldade dos docentes em utilizar os dispositivos móveis para atividades construtivas de aprendizagem, apesar de manifestarem interesse e abertura para afinar suas práticas.

6. Considerações finais O objetivo deste artigo foi o de apresentar as possibilidades e os desafios da formação de professores a distância voltada para o uso de dispositivos móveis que possam auxiliar no desenvolvimento da aprendizagem dos envolvidos nesse processo.

Esse público normalmente apresenta conhecimentos prévios sobre as tecnologias e a dimensão que elas possuem no cotidiano de seus futuros alunos, mas, geralmente, esses conhecimentos não abrangem seu uso no contexto educacional. Percebe-se que a utilização dos dispositivos móveis nos cursos de formação deve ser uma ação permanente que vislumbre o seu uso e a construção de conhecimentos relacionados às potencialidades pedagógicas que estes equipamentos oferecem. Desse modo, espera-se que os futuros professores tenham subsídios tecnológicos, com possibilidades para transpor estes para a sala de aula e utilizar essas ferramentas para fins educacionais.

A pesquisa demonstrou, entre outras questões que, para esses futuros professores, os dispositivos móveis proporcionam uma nova gama de possibilidades na educação, possibilitando atividades mais interessantes, desafiadoras e a integração entre os alunos. A forma com que esses dispositivos são utilizados, no entanto, demonstra a necessidade de oferecimento de cursos e disciplinas que visam construir os conhecimentos necessários para a implementação de fato das tecnologias na educação. Sendo assim, objetivou-se apresentar as possibilidades e desafios que a M-Learning pode proporcionar a partir do uso dos dispositivos móveis na formação de professores.

Percebe-se, com a M-Learning, que está aprendizagem tem sido cada vez mais difundida, no que tange em proporcionar mudanças significativas no processo de ensino e aprendizagem com o uso dos dispositivos. Para tanto, devem ser realizadas discussões acerca do tema nos ambientes escolares com o intuito de fortalecer esta aprendizagem, perpassando por possibilidades e desafios tornando compreensível a necessidade da reformulação das práticas escolares. Isso será possível com a integração dos dispositivos que poderão ser incorporados nos planejamentos e implementação de atividades disponibilizadas pelos professores e executadas pelos estudantes, ampliando possibilidades a partir da aprendizagem móvel.

Referências

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