formador: sistemas, contextos e perfil
TRANSCRIPT
DGERT0006/1_MDF
Designação
Formador: Sistemas,
Contextos e Perfil
Formador/a Sofia Silva
MANUAL DE FORMAÇÃO
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 2/ 44
Na Open Space, Formamos Valor!
Sede Open Space, na web
Complexo Turístico da Marina, Loja H www.open-space.pt Alameda 5 de Outubro 4900-515 Viana do Castelo www.facebook.com/OpenSpace.pt Tlf.: 258 835 500 | Tlm: 937 701 004 [email protected]
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 3/ 44
Índice
Capítulo I | Notas Introdutórias ................................................................................................................... 5
1.1. Enquadramento ................................................................................................................................ 5
1.2. Público-alvo ....................................................................................................................................... 6
1.3. Objetivos ........................................................................................................................................... 6
Capítulo II | | Formador: Sistemas, Contextos e Perfil ................................................................................. 7
SUB-MÓDULO 2.1 | FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO .............................................................. 7
2.1.1. Introdução ...................................................................................................................................... 7
2.1.2. Políticas Europeias e Nacionais de educação/formação ................................................................ 8
a) Níveis de formação/qualificação profissional .................................................................................. 8
b) Catálogo Nacional de Qualificações ................................................................................................ 9
c) Formação Profissional .................................................................................................................... 10
2.1.3. Legislação de enquadramento da Formação Profissional e da atividade de Formador .............. 10
a) Enquadramento legal .................................................................................................................... 10
b) Certificado de Competências Pedagógicas .................................................................................... 11
c) Perfil profissional do Formador ..................................................................................................... 12
2.1.4. Tipos de formação profissional .................................................................................................... 14
a) Formação inicial ............................................................................................................................. 14
b) Formação contínua ........................................................................................................................ 16
2.1.5. Modalidades de formação profissional ........................................................................................ 17
a) Cursos de Aprendizagem ............................................................................................................... 17
b) Cursos de Educação e Formação de Jovens .................................................................................. 17
c) Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA) ........................................................................ 17
2.1.6. Formação Profissional no Sistema de Ensino ............................................................................... 18
Formação Profissional no Mercado de Trabalho ............................................................................... 19
2.1.7. Modalidades de Intervenção formativa ....................................................................................... 21
2.1.8. Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC) ......................................... 22
SUB-MÓDULO 2.2 | APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE E EMPREENDEDORISMO ........................................ 23
2.2.1. Aprendizagem .............................................................................................................................. 23
2.2.2. Teorias da Aprendizagem ............................................................................................................. 24
2.2.3. fatores psicológicos e cognitivos da aprendizagem ..................................................................... 30
2.2.4. Percursos da aprendizagem (individualizada e em grupo) .......................................................... 33
Motivar um Grupo ............................................................................................................................. 33
Motivar o Adulto ................................................................................................................................ 34
2.2.5. Atitudes facilitadoras da aprendizagem....................................................................................... 35
2.2.6. Criatividade e empreendedorismo .............................................................................................. 38
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 4/ 44
a) Espírito empreendedor na formação ............................................................................................ 38
b) Pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica .................................................................... 39
c) A aprendizagem através da Programação Neurolinguística (PNL)................................................. 40
d) Criatividade pedagógica ................................................................................................................ 41
Capítulo III | Referências Bibliográficas ...................................................................................................... 43
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 5/ 44
Capítulo I | Notas Introdutórias
1.1. ENQUADRAMENTO
Qualquer profissional, para poder intervir na sua área de trabalho, de uma forma eficaz e eficiente, e para
poder adaptar-se com facilidade à evolução que nela aconteça, precisa de desenvolver uma cultura
técnica que lhe permita compreender em profundidade os objetos, o contexto, as situações, em que
intervém.
Na sua aceção clássica, a formação profissional era entendida como forma de corrigir os resultados do
modelo de produção das qualificações de base, era posterior à conclusão das habilitações escolares e
complementar à educação de base de base, tinha um carácter esporádico e não exigia muitas vezes
requisitos mínimos.
Hoje, entende-se a formação profissional como a transição necessária entre a habilitação escolar e a
inserção profissional e também como elemento estruturante da vida ativa dos trabalhadores, que contribui
para a aquisição de qualificações polivalentes e que permite constituir uma reserva de competências
estratégicas.
A formação profissional é crucial no funcionamento do mercado de trabalho e é produto de um sistema de
produção de qualificações diferenciadas. Por outro lado, as características do sistema económico moldam
as dinâmicas das políticas e dos sistemas de formação profissional que importa conhecer.
Neste quadro, a qualidade dos formadores é unanimemente considerada um pilar fundamental no
desenvolvimento da formação profissional.
A formação profissional tem uma especificidade própria.
É diferente da educação escolar e, portanto, serão diferentes e específicas as competências dos
formadores. A especificidade, no entanto, é muitas vezes meramente discursiva, na medida em que,
muitas vezes, é afirmada mesmo quando a formação é essencialmente a transmissão de um saber ou de
uma matéria por uma pessoa – o formador. Nesse caso, todos os que conhecem bem uma matéria são
potenciais formadores. Mas será isso suficiente?
Para que o possa fazer com eficácia, o formador deverá ser detentor de algumas competências, dominar
algumas técnicas e cumprir alguns requisitos, que constituem condições indispensáveis ao exercício da sua
função.
Assim, para que o formador se constitua como um agente ativo e potenciador dos referenciais formativos
e dos seus sistemas, é importante que desenvolva uma visão crítica e seja capaz de refletir, ao nível
técnico-pedagógico, sobre o contexto em que esta surge e sobre o seu papel como formador.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 6/ 44
Paralelamente, e porque o formador é, igualmente, um facilitador da aprendizagem, por conseguinte, a sua
principal tarefa consiste em criar as condições para que a aprendizagem ocorra, organizando o meio em
que o formando desenvolve a sua ação, de modo a que os novos comportamentos esperados venham a
fazer parte do seu reportório comportamental. Por outras palavras, a sua função é a de orientar as opções
do formando de maneira a proporcionar uma maior eficácia na aprendizagem.
Para que seja capaz de cumprir com sucesso esta função, é essencial que o formador esteja capaz de
compreender o funcionamento do “sujeito que aprende” e esta competência permite-lhe planificar a
formação de modo a rentabilizar os processos internos intervenientes na aprendizagem.
Este manual tem como finalidade constituir-se como uma base apoio na aquisição destas competências,
na medida em que contempla um conjunto de conceitos e reflexões sobre:
✓ Conceitos e características da aprendizagem
✓ Teorias, modelos e mecanismos de aprendizagem
✓ Processos, etapas e fatores psicológicos da aprendizagem
✓ Fontes e métodos de motivação.
1.2. PÚBLICO-ALVO
Dirigida a indivíduos que pretendam adquirir o Certificado de Competências Pedagógicas (CCP) para
exercer a atividade de formador:
- deve ter preferencialmente uma qualificação de nível superior;
- não pode ter qualificações inferiores ao 9º ano de escolaridade.
1.3. OBJETIVOS
Pretende-se que cada formando, após este módulo esteja apto a:
✓ Caracterizar os sistemas de qualificação com base nas finalidades, no público-alvo, nas
tecnologias utilizadas e no tipo e modalidade de formação pretendida;
✓ Identificar a legislação, nacional e comunitária, que Regulamenta a Formação Profissional;
✓ Enunciar as competências e capacidades necessárias à atividade de formador;
✓ Discriminar as competências exigíveis ao formador no sistema de formação;
✓ Identificar os conceitos e as principais teorias, modelos explicativos do processo de
aprendizagem;
✓ Identificar os principais fatores e as condições facilitadoras da aprendizagem;
✓ Desenvolver um espírito crítico, criativo e empreendedor.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 7/ 44
Capítulo II | | Formador: Sistemas, Contextos e
Perfil
SUB-MÓDULO 2.1 | FORMADOR: CONTEXTOS DE INTERVENÇÃO
2.1.1. INTRODUÇÃO
A origem histórica e evolução das intervenções que caracterizam a formação profissional marcaram o
próprio conceito, a sua abrangência e diversidade dificultando a identificação do seu conteúdo e inibindo
a formulação de uma definição universal.
Entre as causas desta dificuldade, salienta-se a diversidade das intervenções que merecem a sua
designação genérica. Desde o curso de menos de uma dezena de horas realizado numa empresa, ao curso
de pós-graduação realizado numa universidade, quase tudo, hoje em dia, pode ser designado de
«formação profissional».
Não há, efetivamente, um modelo generalizado que permita uma caracterização absoluta das
intervenções que nela se enquadram.
As tentativas de definição apresentam enfoques diversos ou mesmo divergentes, devido aos pontos de
partida muito diferenciados que adotam e pela ausência de uma linha de evolução clara e consensual.
Todavia, é possível identificar alguns elementos que, pelo seu carácter essencial devem ser
considerados para precisar o conceito. São eles:
✓ O que constitui o seu objeto essencial
✓ Quando e em que situações se realiza
✓ Quem é o seu público-alvo
✓ Que entidades a realizam.
Adotando como base estes critérios, adianta-se uma definição (Cadim, 1995) que permite caracterizar a
formação profissional pelo que constitui o seu objetivo essencial, os seus públicos e as situações em que
se realiza. Nestes termos, pode considerar-se que:
A formação profissional é constituída pelas intervenções escolares e extra-escolares que visam a
preparação inicial, de jovens e adultos (ativos ou não) para o exercício de qualquer profissão qualificada
ou técnica de nível não superior, bem como o aperfeiçoamento dos ativos de todos os níveis de
qualificação profissional.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 8/ 44
Desta forma, a formação variará de lugar de execução, não será da exclusiva competência do sistema
educativo, mas também dos sistemas não formalmente integrados naqueles – os centros de formação
públicos ou privados, e as próprias instituições de trabalho (as empresas e os organismos públicos) que
realizam também certos tipos de atividades formativas. O conceito de formação engloba assim múltiplos
sistemas e estruturas cujos contornos são sempre difíceis de precisar, apesar de ser consensual a sua clara
orientação para o ensino das profissões.
A formação integra jovens e adultos, ativos e não ativos, isto é, engloba atividades de aprendizagem
completa de uma profissão ou apenas de segmentos destinados ao aperfeiçoamento do exercício dos
profissionais já ativos.
A formação profissional adota como objetivo a preparação inicial e a formação contínua dos ativos,
através de cursos de aperfeiçoamento realizados durante a sua vida profissional.
Neste sentido, a formação é considerada um processo que se realiza durante toda a vida profissional dos
indivíduos e na totalidade dos sectores, uma vez que, para além da conjuntura e das crises e problemas
de reconversão, a evolução técnica e as consequentes necessidades de formação são universais,
estendendo-se ao conjunto da economia e do pessoal qualificado.
Cada vez mais, as transformações técnicas, económicas e organizativas têm conduzido a uma constante
alteração do conteúdo de trabalho e das respetivas competências a que aquele apela, gerando
desatualizações e desadaptações que acentuam a necessidade de aprendizagem ao longo da vida.
As organizações estão sujeitas a processos contínuos de mudança para se adaptarem às alterações do
meio envolvente. Neste contexto de mudança e de competitividade, a formação profissional deve ser
encarda como um processo e não como um acontecimento, sendo necessário formular estratégias de
formação integradas e subordinadas à estratégia global da organização e ao serviço desta.
Atualmente, é dado como certo que o êxito das organizações depende da sua capacidade para gerir as
mudanças das tecnologias, dos produtos, dos mercados, empregos e das formas de concorrência em
geral. Esta capacidade está dependente da disponibilidade de recursos humanos qualificados, pelo que
se tem vindo a assistir ao crescimento dos investimentos das organizações na formação dos seus
colaboradores
2.1.2. POLÍTICAS EUROPEIAS E NACIONAIS DE EDUCAÇÃO/FORMAÇÃO
a) Níveis de formação/qualificação profissional
No âmbito das políticas nacionais de educação e formação, foi criado o Sistema Nacional de
Qualificações (SNQ), que promove uma articulação efetiva entre a formação profissional inserida, quer
no sistema educativo, quer no mercado de trabalho. Decreto-lei nº396/2007 de 31 de dezembro.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 9/ 44
Os objetivos do SNQ são:
✓ Elevar a formação de base da população ativa, possibilitando a sua progressão escolar e
profissional;
✓ Garantir que os cursos profissionalizantes de jovens conferem a dupla certificação, escolar e
profissional;
✓ Reforçar e consolidar o processo de reconhecimento, validação e certificação de
competências;
✓ Promover a qualificação e integração socioprofissional de grupos de particulares dificuldades
de inserção;
✓ Promover a coerência, a transparência e a comparabilidade das qualificações a nível nacional
e internacional.
Em Portugal, a qualificação profissional encontra-se estratificada em diferentes níveis de formação que
correspondem a diferentes graduações:
b) Catálogo Nacional de Qualificações
O catálogo nacional de qualificações (CNQ) é uma bolsa de formação onde está descrita toda a oferta
formativa (escolar e profissional) sujeita a financiamento público.
O CNQ é, portanto, um instrumento que integra referenciais de qualificação únicos para a formação de
dupla certificação (formação de adulto e formação contínua, numa primeira fase) e para processos de
reconhecimento, validação e certificação de competências RVCC.
O CNQ encontra-se disponível para consulta no seguinte link:
http://www.catalogo.anqep.gov.pt/home/index.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 10/ 44
c) Formação Profissional
Certificar é garantir que uma pessoa tem as competências necessárias para desempenhar uma
determinada profissão. Esta garantia concretiza-se através da emissão de um certificado de competências
pedagógicas – CCP – por uma Entidade Certificadora competente.
A certificação profissional facilita a livre circulação de trabalhadores na União Europeia, promove a
transparência das qualificações, permite uma mais ajustada empregabilidade e orienta a oferta formativa
para as qualificações necessárias.
A formação profissional constitui um meio privilegiado para a integração socioprofissional dos indivíduos,
preparando-os para o desempenho de funções ao nível profissional, através do desenvolvimento de
competências técnicas e características psicossociais para exercer determinada atividade profissional, e
mobilizando e/ou desenvolvendo recursos para o desempenho de diferentes papéis sociais nos diferentes
contextos da sua vida.
Constitui, no seu essencial, uma forma de promover o desenvolvimento da produtividade, da economia,
da competitividade e consequentemente da sociedade, através do fomento da criatividade, de um
espírito inovador e de iniciativa aos diferentes níveis: pessoal, profissional e social.
2.1.3. LEGISLAÇÃO DE ENQUADRAMENTO DA FORMAÇÃO PROFISSIONAL E DA
ATIVIDADE DE FORMADOR
a) Enquadramento legal
A administração e os parceiros sociais, no âmbito do Sistema Nacional de Certificação Profissional,
entenderam contemplar a obrigatoriedade da certificação dos formadores como forma de atingir os
objetivos de qualidade essenciais ao êxito da formação profissional. O IEFP é a entidade certificadora
responsável pelo processo de certificação da aptidão pedagógica dos formadores, cabendo às entidades
formadoras verificar se as competências técnicas dos candidatos a formadores são adequadas aos
conteúdos e ao nível de formação das ações que desenvolvem.
O Decreto Regulamentar n.º 66/94 de 18 de Novembro, alterado pelo D.R. n.º 26/97 de 18 de Junho,
foram revogados dando lugar à Portaria n.º 214/2011 de 30 de Maio. No entanto, os documentos
referidos iniciaram o regulamento do exercício da atividade de formador. É neste Decreto que
encontramos claramente definido o que legalmente se entende por formador:
(...) O profissional que, na realização de uma ação de formação, estabelece uma relação pedagógica com
os formandos, favorecendo a aquisição de conhecimentos e competências, bem como o desenvolvimento
de atitudes e formas de comportamento adequados ao desempenho profissional" (n.º 1 do art.º 2º).
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 11/ 44
No n.º 2 do citado art.º, são referidas as competências necessárias para garantir o cumprimento do
enunciado no n.º 1: domínio técnico atualizado relativo à área em que é especialista; domínio dos
métodos e técnicas pedagógicas adequadas ao tipo e nível de formação que desenvolve; e competências
comunicacionais que proporcionem um ambiente facilitador do processo de ensino-aprendizagem.
b) Certificado de Competências Pedagógicas
O CCP (Certificado de Competências Pedagógicas) é o
documento que certifica as competências pedagógicas dos
formadores e pode ser obtido através da frequência, com
aproveitamento, de um Curso de Formação Pedagógica Inicial
de Formadores, com a duração mínima de 90 horas,
homologado pelo IEFP ou possuindo um título que habilite ao
exercício de formador, emitido na União Europeia ou noutro
país, em caso de acordos de reciprocidade.
A obtenção do CCP é feita mediante o seu requerimento junto
do Centro de Emprego da área de residência do candidato a
formador, mediante a apresentação da Ficha de Candidatura
(ou de renovação), do Certificado de Habilitações Literárias,
do Bilhete de Identidade e do Certificado de Formação Pedagógica de Formadores (onde constem os
conteúdos, duração total do curso e data de realização).
Os formadores que pretenderem podem solicitar no Centro de Emprego a sua integração na Bolsa
Nacional de Formadores – uma bolsa que está organizada por regiões e áreas de formação e que facilita
o acesso à profissão de formador.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 12/ 44
c) Perfil profissional do Formador
De acordo com o perfil profissional homologado pelo sistema de
certificação competente, o objetivo global da atividade de
formador consiste em: “Preparar, desenvolver e avaliar ações de
formação, em sistemas de qualificação profissional e/ou de
formação de ativos”.
Para desenvolver estas atividades, é necessário que o formador
reúna um conjunto de competências pedagógicas, psicossociais e
técnicas.
COMPETÊNCIAS PEDAGÓGICAS
a) O formador deve ser capaz de planear e preparar as sessões de formação, o que envolve as seguintes
tarefas:
✓ Analisar e caracterizar o projeto da ação de formação em que irá intervir, definindo objetivos,
perfis de entrada e de saída, programa e condições de realização
✓ Constituir o dossier da ação de formação
✓ Conceber e planificar o desenvolvimento da formação, definindo objetivos, conteúdos,
atividades, tempos, métodos, avaliação, recursos didáticos e documentação de apoio
✓ Elaborar os planos das sessões da formação.
b) Deve ser capaz de desenvolver adequadamente as sessões de formação:
✓ Conduzir, mediar o processo de formação/aprendizagem, desenvolvendo os conteúdos,
estabelecendo e mantendo a comunicação e a motivação dos formandos, gerindo os tempos e
os meios necessários, utilizando auxiliares didáticos
✓ Gerir a progressão na aprendizagem realizada pelos formandos, utilizando meios de avaliação
formativa e implementando os ajustamentos necessários.
c) Deve ser capaz de avaliar a formação
✓ Avaliar as aprendizagens realizadas pelos formandos
✓ Avaliar o processo formativo
✓ Reestruturar o plano de desenvolvimento da formação.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 13/ 44
COMPETÊNCIAS PSICOSSOCIAIS
Referem-se às capacidades de saber-ser e estar, isto é, às competências de relacionamento com o próprio,
com os outros e com o objeto de trabalho.
a) Saber-estar em situação profissional no posto de trabalho, na organização, tendo em consideração:
✓ Assiduidade
✓ Pontualidade
✓ Postura pessoal e profissional
✓ Aplicação ao trabalho
✓ Co-responsabilidade e autonomia
✓ Boas relações de trabalho
✓ Capacidade de negociação
✓ Espírito de equipa
✓ Auto-desenvolvimento pessoal e profissional.
b) Possuir capacidade de relacionamento com os outros e consigo próprio, implicando, competências ao
nível de:
✓ Comunicação interpessoal
✓ Liderança
✓ Estabilidade profissional
✓ Tolerância
✓ Resistência à frustração
✓ Auto-confiança
✓ Auto-crítica
✓ Sentido ético pessoal e profissional.
c) Ter capacidade de relacionamento com o objeto de trabalho, o que exige:
✓ Capacidade de análise e de síntese
✓ Capacidade de planificação e organização
✓ Capacidade de resolução de problemas
✓ Capacidade de tomada de decisão
✓ Criatividade
✓ Flexibilidade
✓ Espírito de iniciativa e abertura à mudança.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 14/ 44
COMPETÊNCIAS TÉCNICAS
As competências técnicas dizem respeito à capacidade do formador de se integrar e adaptar ao contexto
técnico e organizacional da sua atividade:
a) Ser capaz de compreender e de se integrar no contexto técnico em que exerce a sua atividade:
✓ A população ativa, o mundo do trabalho e os sistemas de formação
✓ O domínio técnico-científico e/ou tecnológico objeto da formação
✓ O papel e perfil do formador
✓ Os processos de aprendizagem e a relação pedagógica
✓ A conceção e organização de cursos ou ações de formação.
b) Ser capaz de se adaptar a diferentes contextos organizacionais e a diferentes grupos de formandos.
2.1.4. TIPOS DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL
a) Formação inicial
Tradicionalmente, a formação profissional realizada pelo IEFP adota um modelo de ação mais intensivo e,
como tal, de menor duração que a do Ministério da Educação e de maior proximidade às condições reais
de trabalho – características que se adequam à formação de adultos desempregados. Esta oferta foi
crescentemente adaptada a jovens candidatos à procura do primeiro emprego, nomeadamente pela
criação de programas de âmbito nacional mais ajustados à qualificação destes públicos.
A formação inicial integra ações de designações diversas, constituindo um conjunto de atividades cujo
objeto comum é a ação formativa dirigida a candidatos à procura do primeiro emprego ou de novo
emprego. Antecede o início de desempenho de uma profissão, dotando o indivíduo de saberes
(conhecimentos, atitudes e capacidades).
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 15/ 44
A formação inicial pode ser enquadrada em dois âmbitos distintos:
Relativamente à Qualificação Profissional, enquadram-se nesta tipologia os cursos que, não
conferindo qualquer grau de equivalência escolar, conferem unicamente uma qualificação
profissional. A título de exemplo podemos enunciar os cursos de Especialização Tecnológica
(CET’s), os quais se consubstanciam numa formação pós-secundária não superior que visa
conferir qualificação de nível 5, de acordo com a Portaria n.º 782/2009, de 23 de julho, que
define os níveis de qualificação de acordo com o Quadro Nacional de Qualificações (QNQ),
sendo que a aprovação num CET confere um diploma de especialização tecnológica. De
acordo com o artigo 19.º do Decreto-Lei n.º 88/2006, de 23 de maio, estes cursos são
ministrados em estabelecimentos de ensino superior e ainda em estabelecimentos de
ensino não superior.
Ainda nesta tipologia, temos o presente curso de Formação Pedagógica Inicial de
Formadores que visa apenas uma certificação de aptidão, neste caso, para a função de
formador, não conferindo, igualmente, nenhum grau de equivalência escolar.
No que diz respeito aos cursos de dupla certificação, temos então os seguintes: (1)
Aprendizagem, (2) Educação e Formação de Jovens e Educação e (3) Formação de Adultos
(EFA). Modalidades estas que estão especificadas no ponto 2.1.5 Modalidade de Formação
Profissional, do presente manual.
Em jeito de síntese, na tabela abaixo, descrevem-se as modalidades de formação inicial, caracterizando
as competências a adquirir, os destinatários e os momentos de formação.
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL
DUPLA CERTIFICAÇÃO
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 16/ 44
b) Formação contínua
A formação profissional contínua decorre ao longo da vida ativa e engloba intervenções subsequentes à
formação inicial, com vista a melhorar as competências dos ativos, atualizando conhecimentos, alargando
a gama de atividades realizadas, ou o respetivo nível, promovendo a sua adaptação às transformações
organizativas e técnicas.
Para o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), os objetivos essenciais desta intervenção são
proporcionar aos ativos empregados e desempregados uma adaptação às mutações tecnológicas,
organizacionais ou outras, favorecer a promoção profissional e melhorar a qualidade global do emprego.
Na formação contínua, a duração das diversas componentes formativas varia em função do tipo de cursos:
• Atualização ou desenvolvimento;
• Reciclagem ou aperfeiçoamento;
• Reconversão ou especialização profissional.
A tabela abaixo esquematiza as modalidades de formação contínua, especificando públicos-alvo,
momentos de formação e competências adquiridas.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 17/ 44
2.1.5. MODALIDADES DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL No ponto anterior, pôde-se verificar que a Formação Inicial pode ser enquadrada em dois âmbitos
diferentes: qualificação profissional e dupla certificação.
No que diz respeito aos cursos de dupla certificação, temos então os seguintes:
a) Cursos de Aprendizagem
A aprendizagem, ou sistema de formação em alternância, é um programa dirigido à formação profissional
de jovens que procuram uma via para a sua profissionalização, adquirindo uma certificação de valência
profissional e escolar. Este programa, fortemente regulamentado, tem cursos que assentam na
alternância entre um centro de formação (onde decorrem componentes de formação sociocultural,
científico-tecnológica e prática simulada) e uma empresa (onde se realiza a formação prática no posto de
trabalho).
Esta última característica constitui um dos fatores de sucesso desta modalidade no que diz respeito à
integração dos formandos no mercado de trabalho.
b) Cursos de Educação e Formação de Jovens
Estes cursos têm como objetivo certificar com uma qualificação profissional inicial jovens em risco de
abandono escolar, que já abandonaram a via regular de ensino ou que entraram de forma precoce no
mercado de trabalho, permitindo, ainda, uma progressão ao nível da escolaridade. Também integra uma
componente de formação em contexto real de trabalho, visando consolidar as competências adquiridas
ao longo da formação teórico-prática.
c) Cursos de Educação e Formação de Adultos (EFA)
Uma outra linha de trabalho integra as ações de formação dirigidas aos ativos desempregados e
empregados (com ou sem escolaridade obrigatória), visando a sua qualificação e o apoio ao
desenvolvimento pessoal e social, que constituem em si mesmos, fatores geradores de reintegração
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 18/ 44
profissional. Os cursos de educação e formação de adultos destinam-se a jovens e adultos com idade igual
ou superior a 18 anos, empregados ou desempregados, que não possuam qualquer qualificação ou uma
qualificação adequada, dando equivalência ao 4º, 6º, 9º ou 12.º ano de escolaridade.
Ao contrário das modalidades anteriores, esta inicia-se por um processo de reconhecimento e validação
de competências, desenvolvido antes da formação, que permite adequar o percurso formativo de cada
formando tendo em conta as suas habilitações e competências profissionais. O percurso formativo inclui
uma formação de base e uma componente de formação profissionalizante, incluindo prática no contexto
real de trabalho.
Todos estes cursos, para além de partilharem a formação em contexto real de trabalho,
partilham a componente de formação sócio-cultural e a componente científico tecnológica,
que visam, respetivamente, a aquisição de competências e atitudes que permitam o
desenvolvimento pessoal, profissional e social, e a aquisição de competências técnicas essenciais ao
desenvolvimento de uma nova atividade profissional.
A formação profissional constitui uma realidade na resposta às necessidades prementes de uma
sociedade inserida numa Comunidade Europeia em constante desenvolvimento. Podemos, então,
enquadrá-la em diferentes domínios, tendo por referência a base institucional em que assenta: a Escola
ou a Empresa.
2.1.6. FORMAÇÃO PROFISSIONAL NO SISTEMA DE ENSINO
Em Portugal, a formação profissional inserida no sistema educativo tem sofrido alterações ao longo do
tempo, de acordo com a realidade política, económica e social de cada período.
Antes da revolução de Abril de 1974, a formação profissional no sistema educativo era fundamentalmente
implementada através dos cursos comerciais e industriais ao nível do atual 3.º ciclo do ensino básico.
Estes alunos terminavam os cursos com qualificações específicas que lhes permitiam a colocação imediata
no mercado de trabalho, que os aceitava porque tinham formação de base muito próxima da realidade
empresarial.
Com as sucessivas reestruturações do sistema educativo, estes cursos desapareceram e só muito mais
tarde surgem outras variantes com o mesmo objetivo, ou seja, proporcionar uma formação profissional
qualificante inserida no sistema educativo ou que permita a sua equiparação.
Com os centros de formação profissional de gestão direta e protocolares e com as escolas profissionais,
emergem e implementam-se muitos cursos que tentam proporcionar uma formação qualificante inicial.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 19/ 44
Nas escolas denominadas de ensino formal, também se desenvolvem cursos que permitem uma
aproximação mais prática à formação profissional.
Atualmente, a formação profissional inscreve-se no sistema educativo quando é promovida pelo
Ministério da Educação e é legalmente enquadrada pela Lei de Bases do Sistema Educativo (Lei n.º 46/86,
de 14 de Outubro) e por diplomas específicos, nomeadamente o Decreto-Lei n.º 401/91 de 16 de Outubro.
No que respeita ao sistema escolar, a Lei considera a formação profissional como uma modalidade
especial de educação escolar que, complementando a preparação para a vida ativa iniciada no ensino
básico, visa uma integração dinâmica no mundo do trabalho pela aquisição de conhecimentos e de
competências profissionais de forma a responder às necessidades nacionais de desenvolvimento e à
evolução tecnológica.
O sistema escolar pode orientar as suas atividades de formação profissional em ordem a três grupos
populacionais distintos:
✓ Os que tenham concluído a escolaridade obrigatória
✓ Os que não concluíram a escolaridade obrigatória até à idade limite desta
✓ Os trabalhadores que pretendem o aperfeiçoamento ou a reconversão profissionais.
A formação profissional realizada em escolas secundárias ou em escolas profissionais constitui uma
modalidade especial do sistema educativo. Estas últimas são, em geral, de estatuto privado, e resultam
de contrato entre o Ministério da Educação e terceiros, organizando-se para a realização de ações de
formação profissional inseridas no sistema educativo.
Os cursos oferecidos pelas escolas profissionais são, fundamentalmente, cursos de nível secundário (10.º,
11.º e 12.º anos), cujo acesso depende da aprovação no 9.º ano de escolaridade. Os alunos que concluem
estes cursos obtêm um diploma do ensino secundário e de qualificação profissional (nível IV).
Para além destes cursos, as escolas profissionais podem ainda oferecer outro tipo de formação
profissional, nomeadamente cursos equivalentes ao 3.º ciclo do ensino básico com um currículo
profissionalizante, a que corresponda uma qualificação profissional (nível II).
Formação Profissional no Mercado de Trabalho
O mercado de emprego é cada vez mais global e tende a ser cada vez mais exigente nas qualificações
profissionais dos indivíduos. A formação profissional contínua e a certificação das qualificações
representam fatores determinantes para o desenvolvimento dos países da União Europeia (UE) e são
desafios complexos, particularmente a certificação.
A política de formação profissional, de acordo com a convenção n.º 142 da OIT, é, de certa forma, uma
componente da política de emprego, reforçando-a. Encontra-se nela a finalidade última da valorização
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 20/ 44
dos recursos humanos, possibilitando às organizações uma mão-de-obra mais qualificada, com reflexos
importantes a nível da produtividade e competitividade, contribuindo também para uma melhoria da
inserção na vida ativa.
A formação profissional inscreve-se no mercado de emprego quando é realizada (ou tutelada) pelo
Ministério da Segurança Social e do Trabalho, por outros ministérios sectoriais e por outras entidades, e
está legalmente enquadrada pelo Decreto-Lei n.º 405/91 de 16 de Outubro.
Na formação inserida no mercado de emprego, opera um grande número de entidades de estatuto
público e de estatuto privado, resultantes da iniciativa de parceiros sociais, associações, empresas e
entidades sem fins lucrativos. A oferta formativa contempla as modalidades de formação profissional
inicial e formação profissional contínua.
A formação profissional inicial visa a aquisição das capacidades indispensáveis para se poder iniciar o
exercício de uma profissão. Confere uma qualificação profissional certificada e é o primeiro programa de
formação que habilita ao desempenho das tarefas que constituem uma função ou profissão.
Este conceito compreende a formação profissional de base e a especialização profissional, ou coincide
com o de qualificação profissional inicial, quando não haja lugar a especialização.
A formação profissional contínua insere-se na vida profissional do indivíduo, realiza-se ao longo da
mesma e engloba todos os processos formativos organizados e institucionalizados subsequentes à
formação profissional inicial, com vista a permitir uma adaptação às transformações tecnológicas e
técnicas, favorecer a promoção social dos indivíduos (incluindo a sua promoção profissional), bem como
a sua contribuição para o desenvolvimento cultural, económico e social.
2 REALIDADE= 2 TERMINOLOGIAS
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 21/ 44
2.1.7. MODALIDADES DE INTERVENÇÃO FORMATIVA
No que diz respeito à forma de organização da formação, a formação integra três modalidade de
intervenção formativa:
1) Organização Presencial
A formação em regime presencial, é o tipo de formação mais recorrente e o mais
praticado, em que a atividade formativa se desenvolve numa sala, promovendo a
interação permanente entre formando/formador e privilegiando o grupo
pedagógico enquanto elemento facilitador de aprendizagens. É um tipo de
formação que exige mais disciplina, pois é necessário cumprir horários e
2) Organização E-Learning
O Electronic Learning é uma modalidade de ensino aprendizagem à distância, com recurso a computador
e internet. O processo de aprendizagem acontece através de plataformas técnicas que permitem o acesso
e a gestão de conteúdos formativos. Estas plataformas designam-se por Learning Management System
(LMS) das quais são exemplo o Moodle, entre outras, permitindo aceder à formação a partir de diferentes
computadores, tablets ou smartphones.
Este tipo de formações têm a capacidade de flexibilizar a aprendizagem, pois os
conteúdos estão disponíveis em permanência e por isso acessíveis em qualquer
horário e local, permite ainda a economização de tempo, pois não exige
deslocações e a aprendizagem personalizada, pois o formando controla o
processo de aprendizagem, decide quais conteúdos estudar e ao ritmo que o
pretende fazer.
3) Organização B-learning
O Blended Learning, mais conhecido por B-Learning ou Formação Mista,
trata-se de uma modalidade de formação que incluí uma componente
presencial e uma componente de E-Learning, ou seja, à distância.
Este regime faz o uso do melhor dos dois mundos, formação à distância e
formação presencial, o formador divide a sua prestação numa componente
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 22/ 44
de tutoria à distância e, numa outra fase, como formador tradicional através da formação presencial,
procurando desta forma que tanto formando como formador estabeleçam um compromisso entre
eficácia pedagógica e flexibilidade.
2.1.8. RECONHECIMENTO, VALIDAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE COMPETÊNCIAS
(RVCC)
Além dos dois domínios atrás referidos, surge ainda um dos projetos mais ambiciosos implementado pelo
Programa Novas Oportunidades e qua agora continua pelas mãos dos Centros Qualifica: o
Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC).
O processo de RVCC permite aumentar o nível de qualificação escolar (RVCC escolar) e/ou profissional
(RVCC profissional) da população adulta, através da valorização das aprendizagens realizadas fora do
sistema de educação ou de formação profissional e adquiridas ao longo da vida.
Os processos de RVCC consistem na identificação de competências adquiridas ao longo da vida, em
contextos formais, não formais e informais, por exemplo no trabalho, em formação, na família ou até
mesmo em associações, voluntariado e todo o tipo de atividades, reconhecendo-as com conteúdos
escolares e técnicos, certificando esse conhecimentos e/ou competências numa habilitação escolar (4º,
6º, 9º e 12ºano de escolaridade) ou com uma certificação profissional.
Neste processo cada candidato tem de elaborar um portfólio, onde constará todo o seu percurso
biográfico e curricular e onde se evidenciam os conhecimentos e competências adquiridas. Neste
processo o candidato terá o apoio de um técnico de Orientação, Reconhecimento, Validação e Certificação
de Competências (TORVC) e de professores e formadores de várias áreas.
Fases de um processo de RVCC
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 23/ 44
SUB-MÓDULO 2.2 | APRENDIZAGEM, CRIATIVIDADE E
EMPREENDEDORISMO
2.2.1. APRENDIZAGEM
A aprendizagem está, naturalmente, associada à História do Homem, à sua construção enquanto ser
social com capacidade de adaptação a novas situações. Desde sempre se ensinou e se aprendeu, de forma
mais ou menos elaborada ou organizada. No entanto, a noção de aprendizagem está intimamente ligada
ao desenvolvimento da Psicologia enquanto ciência e, como tal, foi sendo explicada por diferentes teorias,
as quais contribuem, de uma forma ou de outra,
para explicar os processos e os mecanismos
associados à aprendizagem.
Estas teorias, pela presença de determinadas
características centrais, podem ser agrupadas em
três linhas de abordagem:
✓ As teorias comportamentalistas (behavioristas), em que a aprendizagem é vista como a aquisição
de comportamentos expressos, através de relações entre um estímulo e uma resposta, sendo o
sujeito de certa forma passivo neste processo;
✓ As teorias humanistas, em que a aprendizagem assenta essencialmente no caráter único e
pessoal de cada um, em função, também, das suas experiências únicas e pessoais. O sujeito tem
um papal ativo, mas a aprendizagem é encarada, muitas vezes, como algo de espontâneo;
✓ As teorias cognitivistas, em que a aprendizagem é considerada um processo dinâmico de
codificação, processamento e recodificação da informação. O estudo da aprendizagem centra-se
nos processos cognitivos que permitem estas operações e nas condições contextuais que as
facilitam. O indivíduo interage com o meio e é graças a essa interação que aprende.
As linhas de pensamento de cada um destes grupos de teorias e as suas contribuições para a prática
pedagógica serão alvo de análise num momento posterior. Por agora, fica a ideia geral de que a
aprendizagem é um processo dinâmico e ativo, em que os indivíduos não são simples recetores passivos,
mas antes processadores ativos da informação.
Ao considerar-se que a aprendizagem é um processo, pretende-se dizer que a ação de aprender não é
fugaz nem momentânea, realiza-se, pelo contrário, num tempo que pode ser mais ou menos longo. De
facto, a aprendizagem é um processo global, dinâmico, gradativo, cumulativo, contínuo e pessoal, sendo
a presença deste conjunto de variáveis que determina a sua existência. Como principais características
deste processo temos as seguintes:
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 24/ 44
✓ Global: há uma interação real entre os diferentes níveis do saber (saber-saber, saber- ser e saber-
fazer);
✓ Dinâmico: o indivíduo só aprende se estiver a participar ativamente no processo quer a nível
operatório, quer a nível interno (atividade física, mental, afetiva, social);
✓ Gradativo: a aprendizagem caminha no sentido do mais complexo (saberes, habilidades e
comportamentos);
✓ Cumulativo: saberes e atividades associam-se no sentido da aquisição de novos comportamentos;
✓ Contínuo: a formação como processo de satisfação das necessidades é contínua e ocorre durante
toda a vida. Uma necessidade satisfeita implica a emergência de novas necessidades;
✓ Pessoal: a aprendizagem é um processo voluntário.
2.2.2. TEORIAS DA APRENDIZAGEM
Uma teoria da aprendizagem, sendo uma visão geral e integrada dos processos e modos de
relacionamento recíproco e interativo dos indivíduos com o meio, tenta responder a três
grandes questões:
✓ Qual a natureza do processo chamado “aprendizagem”?
✓ O que acontece “dentro” do sujeito ou nos seus comportamentos quando se aprende?
✓ Como é que este processo se passa nas diferentes pessoas num mesmo contexto ou em
cada pessoa em contextos diferentes?
É em função das respostas a estas questões que se pode agrupar as diferentes teorias em grupos
ou famílias de teorias, como se apresenta de seguida.
Por behaviorismo entende-se um estudo científico,
puramente objetivo, do comportamento humano. O termo
behaviorismo está associado ao nome do psicólogo americano
John B. Watson e em particular ao seu livro “Behaviorism”. Nos seus estudos sobre o
comportamento, Watson rejeitou tudo o que não pudesse ser observado, medido com
objetividade. Conceitos como mente, espírito, consciência, pessoalidade, interiorização, aparecem
desprovidos de significado para o seu estudo por não serem suscetíveis de uma observação
objetiva, mensurável. Watson vê a aprendizagem como o resultado de um processo de
condicionamento segundo o qual determinadas respostas ou reações são associadas a
determinados estímulos e considera que todas as formas de comportamento podem ser
aprendidas. O behaviorismo watsoniano vem na senda dos estudos sobre os reflexos
Teoria Comportamentalista (Behaviorista)
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 25/ 44
condicionados realizados pelo russo Pavlov. A aprendizagem poderia então conceber-se como um
processo de desenvolvimento de reflexos condicionados que se obteriam substituindo estímulos
não condicionados por estímulos condicionados.
O neobehaviorista B. F. Skinner, que passou a ser conhecido como o grande exponente desta
teoria, considera também a aprendizagem como uma forma de condicionamento. Mas já não é o
reflexo condicionado clássico de Pavlov. Trata-se agora de condicionamento operante ou
instrumental, mais complexo, que inclui a noção de reforço, ou seja, uma situação em que a relação
entre estímulo e reação é fortalecida de tal maneira que aumentam as possibilidades de que, no
futuro, uma determinada reação seja associada a um determinado estímulo. Isso acontece sempre
que uma resposta é recompensada. A recompensa reforça, entusiasma e, funcionando ela própria
como estímulo, aumenta as probabilidades de sucesso. Assim, a peça- chave do condicionamento
operante é o reforço, ocorrência que segue a resposta e tem como consequência o aumento da
tendência a dar resposta.
Para estas teorias, a aprendizagem é concebida como respostas passivas a estímulos
ou a reforços, na medida em que aquilo que indica a ação é o estímulo e/ou o que
dirige a ação é o reforço. A aprendizagem é entendida como associações que se vão
complexificando progressivamente. Assenta numa sequência lenta e programada das atividades a
realizar para percorrer o caminho entre o comportamento inicial e o comportamento final, sem
considerar os processos mentais que esse percurso envolve.
Como o sujeito é entendido como passivo face à aprendizagem, será então preciso “forçá-lo” a
aprender através da criação de uma situação externa (que não pertence, nem é controlada pelo
sujeito). A motivação, para esta teoria é, portanto, totalmente extrínseca, induzida através de
estímulos e reforços.
A aprendizagem é vista como uma “modelagem” de um sujeito para determinados objetivos.
Teoricamente, o sujeito que aprende não precisa de conhecer os objetivos e os fins da
aprendizagem. É como se o sujeito que aprende contivesse em si apenas a matéria-prima (o
comportamento) que se vai especificando através da aprendizagem.
Assim, nestas teorias, não existe a necessidade de diferenciar os indivíduos, de conhecê- los nos
seus interesses e necessidades. A ênfase é posta nos reforços, na estruturação e sequencialização
da informação. A aprendizagem resume-se ao arranjo de condições externas.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 26/ 44
Princípios Psicopedagógicos
✓ Definir, com a maior exatidão possível, os objetivos finais da aprendizagem;
✓ Analisar a estrutura das tarefas de modo a determinar os objetivos de percurso;
✓ Estruturar o ensino em unidades muito pequenas de forma a permitir um melhor
condicionamento do formando e conduzi-lo através de experiências positivas de
aprendizagem;
✓ Apresentar estímulos capazes de suscitar reações adequadas;
✓ Evitar as ocasiões de erro e, no caso de ele vir a ocorrer, ignorá-lo o mais possível ou
puni-lo, de modo a evitar a instalação de hábitos errados;
✓ Proporcionar aos formandos o conhecimento dos resultados obtidos e feedback
✓ adequado;
✓ Recompensar, retirar recompensas ou punir os formandos de acordo com a natureza
dos seus comportamentos e em relação à aprendizagem desejada.
Análise Crítica
Uma teoria que considera a pessoa como um mero conjunto de estímulos e reações automáticas
não esclarece inteiramente os fenómenos da aprendizagem.
O ser humano é, além disso, capaz de intuir, pensar, decidir, avaliar, etc.. Podem explicar tipos
simples de aprendizagem como seja abrir a porta quando a campainha toca, levar o guarda-chuva
quando está a chover, etc., mas não explicam outros processos cognitivos, como, por exemplo, a
capacidade criativa, a resolução de problemas, a tomada de decisão.
Assim, podem apontar-se como limitações do comportamentalismo:
✓ A concentração exclusiva nos comportamentos externos, nos resultados finais obtidos,
descurando-se os processos internos;
✓ A perda de visão de conjunto da tarefa de aprendizagem;
✓ A despersonalização do formando, considerando-o como um ser passivo, moldável,
dependente do formador, que o leva a atingir um fim previamente estabelecido através
de uma influência muito direta que sobre ele exerce.
Aplicado à formação, o contributo mais importante destas teorias é o conceito de reforço, que
utilizado de forma moderada e adaptado, é um facilitador da aprendizagem.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 27/ 44
Para os humanistas, entre os quais se destacam os nomes
de Carl Rogers, Maslow e Arthur Combs, aprender não se
reduz à aquisição de mecanismos de estímulo-reação. É um processo cognitivo. Contudo, Carl
Rogers condena a aprendizagem cognitiva como ela é habitualmente praticada, pois entende que
o formando cresce e adquire experiência se se lhe deixar livre iniciativa para descobrir o seu
próprio caminho, numa atitude de auto-realização e autoavaliação, num processo “de se tornar
pessoa”.
“Tornar-se pessoa” é a chave do processo de aprendizagem na visão humanista. É um processo
pessoal, de índole vivencial, no centro do qual está a pessoa como ser que pensa, sente e vive. É
um processo de descoberta do significado pessoal do conhecimento que passa pelo interior da
pessoa com as suas experiências e as imagens que tem de si própria e dos outros. É um processo
que inclui os aspetos emocionais, fatores determinantes sobre o que se retém e o que se aprende.
O desenvolvimento social e emocional é tão importante como o desenvolvimento intelectual.
A aprendizagem deve realizar-se num clima de liberdade, criatividade, colaboração,
espontaneidade e empatia. As notas, programas fixos, a obrigatoriedade de assistir às sessões, os
planos de sessão inibidores da espontaneidade são aspetos que não se coadunam com a
aprendizagem dos humanistas. O formador deixa de ser um “disseminador” de conhecimentos
para ser um “facilitador” da aprendizagem. Para bem desempenhar o seu papel exige-se-lhe que
seja genuíno, que tenha opiniões positivas a respeito de si próprio e dos outros, que seja empático,
ele próprio também um formando capaz de criar bom clima, de ir ao encontro das necessidades
dos outros, de descarregar o excedente de energias, de libertar tensões, de ajudar os outros a
aprender.
Princípios psicopedagógicos
✓ A preocupação não é tanto o ensino, mas antes a aprendizagem numa perspetiva de
desenvolvimento da pessoa humana;
✓ Centrar a aprendizagem no formando, nas suas necessidades, na sua vontade, nos seus
sentimentos (e não no formador ou nos conteúdos programáticos);
✓ Desenvolver no formando a responsabilidade pela autoaprendizagem e da
autoavaliação;
✓ Centrar a aprendizagem em atividades e experiências significativas para o formando;
✓ Desenvolver as relações interpessoais, empáticas, no interior do grupo;
✓ Ensinar também a sentir e não apenas a pensar;
✓ Ensinar a aprender;
✓ Criar uma atmosfera emocional positiva que ajude o formando a integrar novas
experiências e novas ideias;
Teoria Humanista
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 28/ 44
✓ Promover uma aprendizagem ativa, orientada para um processo de descoberta,
autónomo e refletido.
Análise crítica
O formador deve usufruir da bondade das teses de Carl Rogers com o cuidado de não cair num tipo
de pedagogia “laisser faire”. É que a aprendizagem se deve centrar nos sujeitos em formação. O
formador, apesar de facilitador, continua, mesmo nos métodos ativos, a ser o que conduz os
processos. Uma total adesão a estes princípios encerra o perigo de o processo de aprendizagem se
tornar um mero exercício de anarquia, em que se perdem os objetivos pedagógicos a atingir,
principalmente em grupos sem capacidade de autogestão.
Integradas com estes cuidados, as propostas do humanismo, nomeadamente no que diz respeito
à criação de um clima de empatia, criatividade e espontaneidade, são a base da formação.
Podemos associar a estas propostas para a aprendizagem os
nomes de, entre outros, Kurt Lewin, Bruner, Ausubel, Piaget.
Assim, para as teorias cognitivistas, a aprendizagem não se baseia em associações de tipo estímulo-
resposta, mas consiste numa mudança na estrutura cognitiva do sujeito ou na maneira como ele
percebe, seleciona e organiza os objetos e os acontecimentos e lhes atribui significado.
Nesta perspetiva, o formando não é um ser passivo, puro recetor de estímulos exteriores, mas um
agente ativo, capaz de criar o seu próprio mundo e de se encontrar em evolução contínua, como
resultado da experiência que vai adquirindo. O processo de aprendizagem é, assim, intencional na
medida em que tem objetivos, é explorativo, imaginativo e criativo. A aprendizagem confunde-se,
por vezes, com a própria compreensão.
A aprendizagem deve assentar em três condições fundamentais: intuição, finalidade e estrutura: o
formando define o fim que deseja atingir, compreende a estrutura, a organização dos elementos
no seu todo e a funcionalidade de uns em relação aos outros e ao conjunto. A aprendizagem é mais
do que meras associações, é um processo sistemático e ativo que articula o novo com aquilo que
já sabemos.
O que leva o indivíduo a aprender são sobretudo as suas necessidades internas, a sua curiosidade
e/ou as suas expectativas. Assim, a motivação é concebida como algo de interno ao sujeito,
resultado da sua relação com a resposta que dá, ou melhor, com o conhecimento do resultado –
este conhecimento funciona como reforço.
A aprendizagem passa pelo interior do indivíduo e não será significativa se for meramente imposta
do exterior, sem que haja descoberta do significado, da organização, da ordem existente numa
Teoria Cognitivista
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 29/ 44
dada situação. Esta descoberta deve ser o reflexo de uma mudança interior, cognitiva, baseada na
experiência do indivíduo, nas suas expectativas e na interação com o meio.
A repetição é também importante, na medida em que cada nova resposta é precedida de uma
análise e compreensão do que não funcionou, para que a resposta seja cada vez melhor. Assim, a
aprendizagem situa-se entre dois pólos. Temos, por um lado, as experiências anteriores e, por
outro, os fins que o sujeito pretende atingir. Surge, então, como uma atividade funcional,
exploradora, imaginativa e criadora, assente no processo altamente seletivo da perceção e da
atribuição de significado aos objetivos e aos acontecimentos no contexto, na situação em que se
encontram ou ocorrem e na sua relação com os fins que o sujeito se propõe alcançar.
Princípios pedagógicos
✓ Motivar o formando para a aprendizagem, relacionando-a com as suas necessidades
pessoais e os objetivos da própria aprendizagem;
✓ Reconhecer que a estrutura cognitiva do formando depende da sua visão do mundo e
das experiências que teve anteriormente;
✓ Adequar a formação ao nível de desenvolvimento dos formandos e ajudá-los a
relacionar conhecimentos e habilidades novos com conhecimentos e habilidades que
tenham previamente adquirido;
✓ Ajudar o formando a perceber a estrutura da tarefa a aprender e a estrutura da sua
própria aprendizagem, informando-o sobre a tarefa de aprendizagem que lhe é
proposta e apresentando-a na sua estrutura, na sua totalidade, nos seus elementos
vários e nas relações das partes com o todo;
✓ Fornecer informações, indicar factos, abrir pistas que facilitem a compreensão, a
organização dos conhecimentos. Insistir na compreensão e não na memorização;
✓ Começar a formação por conjuntos significativos e descer gradualmente aos
pormenores, que devem ser devidamente relacionados com o conjunto;
✓ Não equacionar prática com repetição, mas concebê-la como uma série de tentativas
sucessivas e variadas que facilitem a transferência de habilidades e conhecimentos na
sua aplicação e situações novas.
Análise crítica
Problemas como motivação da aprendizagem, transferência de conhecimentos, aquisição de
conceitos têm sido amplamente explorados. Mas ficam ainda muitos aspetos por explicar. Por
exemplo, não se percebe muito bem como é que o conhecimento intuitivo acontece e aspetos
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 30/ 44
importantes como os mecanismos de conservação da informação ou memorização são pouco
estudados.
À força de insistirem muitos nos aspetos cognitivos, os cognitivistas levaram a que se fizesse
interpretações exageradas, levando à descrença e até à anulação de qualquer aprendizagem
memorizada. É que a memorização também é necessária… À parte estes aspetos, todas as
propostas do cognitivismo devem ser acolhidas em formação, principalmente, porque traduzem
um princípio de aprender a aprender, ou seja, uma aprendizagem que opera não só no saber
acabado mas que visa que o formando descubra os seus mecanismos de aprendizagem, para que
autonomamente saiba evoluir.
2.2.3. FATORES PSICOLÓGICOS E COGNITIVOS DA APRENDIZAGEM
O processo de aprendizagem é influenciado por diversos fatores:
A presença ou ausência destes fatores e a sua interação podem condicionar o processo de aprendizagem,
facilitando-o ou inibindo-o.
Processo Cognitivo: ATENÇÃO
A atenção consiste no poder de seleção de que o indivíduo dispõe e que, quando aplicado às
estruturas dos estímulos, permite que reaja percetivamente a uns e relegue outros para segundo
plano. Um conjunto de estímulos simultâneos de uma estrutura complexa não pode ser
percecionado na sua totalidade, dando lugar a uma seleção, que é feita mediante uma triagem dos
estímulos interiores e exteriores que se apresentam ao sujeito.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 31/ 44
Em situações de perigo, esta seleção é mais rápida, automática, através de reflexos motores. No
entanto, a vida quotidiana nem sempre requer formas de atenção tão complexas e, em diferentes
situações, a nossa atenção flutua entre a discriminação de perceções sensoriais, a memorização
de certas informações e a realização de novas aprendizagens (motoras ou cognitivas). Em todas
estas situações a atenção vai depender do grau de motivação do sujeito.
Processo Cognitivo: PERCEÇÃO
A perceção pode ser definida como o processo pelo qual cada indivíduo organiza e interpreta as
suas impressões sensoriais no sentido de atribuir significado ao seu meio. Como processo, a
perceção engloba as condições, as modalidades e os resultados do tratamento da informação que
os organismos captam do meio ambiente. Existem três classes que influenciam e distorcem a
perceção:
✓ Características do indivíduo (interesses, motivos, crenças, expectativas);
✓ Características da situação;
✓ Características do estímulo (apresentação, linguagem verbal e não verbal).
As capacidades humanas de atenção e memória imediata são limitadas, o que contribui para que
a nossa perceção seja necessariamente seletiva. Face a acontecimentos e situações, selecionamos
necessariamente apenas partes de informação. A seletividade da perceção torna necessárias
estratégias simples para a captação e tratamento de informação sobre o que nos rodeia.
Frequentemente, estes fazem-nos incorrer em erros ou distorções de interpretação.
Processo Cognitivo: MEMÓRIA
A aprendizagem está intimamente ligada à memória, dado que o que se aprende tem de se
conservar. É a memória que permite que as modificações alcançadas com a aprendizagem se
mantenham ao longo do tempo. Não podemos aprender sem recordar nem recordar sem
aprender. São os conhecimentos, as experiências anteriores, que nos permitem selecionar,
organizar e reconhecer as informações atuais.
Entende-se por memória a capacidade de reter informação. É uma capacidade individual e, como
tal, é desenvolvida em diferentes níveis de processamento. Esta capacidade depende de diferenças
individuais (principalmente ao nível da perceção), da quantidade de informação e da atenção.
Divide-se em memória a curto prazo e memória a longo prazo. A memória a curto prazo é de
duração momentânea e apresenta como características principais: a curta permanência da
informação, a grande permeabilidade aos estímulos do meio, e a fraca capacidade de
armazenamento da informação. Por sua vez, a memória a longo prazo é responsável pelo
armazenamento da informação. Retém a informação que mais tarde poderá ser aplicada em
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 32/ 44
situações diferentes. Para a informação permanecer no formando e, mais tarde ser aplicada, terá
de ter um significado.
No processo de ensino-aprendizagem, a memória é um processo essencial, pois constitui a base da
compreensão e da interligação entre informações aprendidas anteriormente e a nova informação.
Da mesma forma, a intenção de aprender e de recordar melhora a retenção, pelo que funciona
como elemento motivador do processo de aprendizagem. Esta capacidade pode ser promovida
através de estratégias como:
✓ Agrupar informação
✓ Repetir
✓ Resumir
✓ Sublinhar
✓ Associar
MOTIVAÇÃO
A motivação é o mecanismo que desencadeia a ação, que permite dirigi-la em função das metas
que pretendemos atingir. Corresponde a forças internas, relativamente temporárias ou reversíveis,
que nos imprimem energia em direção a determinado comportamento.
A motivação é um conjunto de forças que mobilizam e orientam a ação de um indivíduo em direção
a um objetivo como resposta a um estado de necessidade, ou seja, a motivação resulta de uma
diferença entre aquilo que se pretende e o que se tem, entre o que se pretende saber e o que se
sabe, pelo que o motivo será a razão do indivíduo para agir, tendo em atenção a meta que pretende
atingir.
A motivação pode ter diversas implicações ao nível da formação. É preciso ter em atenção que
cada indivíduo possui diferentes valores, intenções, experiências e motivações. Determinadas
experiências e reforçadores da aprendizagem adquirem uma valorização específica em função de
aprendizagens anteriores, sendo que o que é significativo para um indivíduo pode não o ser para
outro. O investimento do formando no processo de aprendizagem dependerá da sua motivação e
do significado que ele vai atribuir ao próprio processo.
Estes fatores contribuirão para uma melhor integração da informação nas estruturas cognitivas. A
motivação facilita, assim, a aprendizagem, mas pode acontecer que, se muito elevada ou muito
baixa, gere um estado de ansiedade tão elevado ou uma passividade que iniba a aprendizagem.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 33/ 44
2.2.4. PERCURSOS DA APRENDIZAGEM (INDIVIDUALIZADA E EM GRUPO)
Motivar um Grupo
Sendo certo que o formador não pode motivar os
formandos – uma vez que o processo de motivação é
interno –, cabe-lhe a si a tarefa de estimular ou desencadear
o estado de motivação dos seus formandos. Para isso, é
importante que os conheça e que desenvolva as suas sessões
de forma estimulante.
Em contexto de formação profissional, é, pois, mais relevante
a motivação comum aos vários elementos do grupo do que os fatores individuais de motivação. O
formador deve ter em atenção um conjunto de aspetos que podem contribuir para aumentar e/ou manter
a motivação:
✓ Curiosidade e a necessidade de saber: há uma atração específica pelo desconhecido e pela
novidade. É reconhecido que a descoberta “motiva”, já que a exploração e o conhecimento da
realidade fazem parte da atividade adaptativa normal do indivíduo.
✓ Sucesso pessoal: vencer, ter sucesso, triunfar, atingir o objetivo é motivação. Superar uma
dificuldade, dominar uma situação, encontrar a resposta exata é, muitas vezes, suficiente para
estimular o trabalho e a aplicação do formando. O sucesso reforça o potencial de ação, eleva a
autoconfiança. Pelo contrário, o fracasso deprime o potencial de ação e leva a evitar a situação
geradora.
✓ Colocar-se à prova: este motivo exprime a necessidade que o formando tem de conhecer-se,
medir-se, avaliar-se, competir consigo mesmo. O interesse pelos resultados é motivação geral e
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 34/ 44
explica o facto de a comunicação dos resultados atingidos constituir um facilitador da
aprendizagem.
✓ Necessidade de realização pessoal: é uma das necessidades mais fundamentais do ser humano.
A ideia do desenvolvimento está ligada à necessidade de realização própria e, só assim, tem
sentido. A formação, para ser “motivadora”, deve contribuir para essa sensação de realização
pessoal.
✓ Competição: a autoafirmação e a necessidade de sucesso podem passar pela competição com
outrem. Quando o indivíduo pensa que tem boa oportunidade de sucesso, o “espírito
competitivo” aumenta. O formador deve orientar a competição num sentido positivo de
estimulação das potencialidades do grupo, em que todos ganham com todos.
✓ Presença do grupo: excetuando situações particulares de “sobremotivação” inibitória, a
presença de um público, de observadores, dinamiza o indivíduo, aumenta-lhe a rapidez e o nível
de desempenho. No entanto, a presença do grupo intensifica os efeitos afetivos do fracasso e da
frustração. Logo, apenas os grupos em que o indivíduo se sente confiante e seguro são
estimulantes. É o formador quem deve promover a coesão grupal, onde se manifestem os
aspetos positivos da presença do outro e se anulem os efeitos negativos.
Motivar o Adulto
À medida que o indivíduo cresce, vai realizando tarefas desenvolvimentais distintas e enfrentando
desafios diversos em distintas etapas da vida. Do mesmo modo, as características do processo de
aprendizagem vão-se diferenciando à medida que os sujeitos se tornam adultos, sendo possível encontrar
diferenças relevantes entre o processo de aprendizagem de uma criança e de um adulto:
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 35/ 44
Tendo em consideração estas características, é possível afirmar que os aspetos abaixo podem potenciar
a motivação do adulto para um processo de formação/aprendizagem:
✓ Relações Sociais: a aprendizagem possibilita-lhe estabelecer novas amizades e manter contactos
sociais
✓ Expectativas Externas: possibilita-lhe corresponder às expectativas dos outros, principalmente às
do formador que é encarado como uma “autoridade” no assunto
✓ Desenvolvimento Pessoal: permite-lhe atingir um estatuto mais elevado e promover segurança ao
nível profissional
✓ Fuga/Estimulação: permite-lhe aliviar a rotina do trabalho ou da casa em contraste com outras
situações de vida
✓ Estimulação/Interesse Cognitivo: aprender pelo gosto de aprender, procurar conhecimento para
seu próprio usufruto.
Em conclusão, poder-se-á dizer que é essencial o papel responsável do adulto em todo o processo de
aprendizagem, mas, ao mesmo tempo, a utilidade que uma formação terá para o adulto. Será igualmente
importante salientar que a andragogia (por oposição a pedagogia) implica uma diferente orientação do
processo, nomeadamente, ao nível de métodos e técnicas necessárias ao seu desenvolvimento e ao
alcançar dos objetivos de formação: constituem técnicas de sucesso o role-playing, o estudo de casos,
simulações pedagógicas e a auto- avaliação. O formador deverá, por isso, exercer um papel de animador,
mais do que mero expositor da matéria.
2.2.5. ATITUDES FACILITADORAS DA APRENDIZAGEM
ATIVIDADE
A atividade é um facilitador da
aprendizagem, por isso, o formador
deve privilegiar uma formação centrada
no modo de aprendizagem por ação,
recorrendo à receção quando visa
enunciar um conjunto de definições e
conceitos que lhe permitam nivelar o
grupo e quando é importante sintetizar
as descobertas do grupo de forma a que
estas ganhem a consistência de um corpo teórico estruturado. Os trabalhos de grupo, por exemplo,
constituem uma metodologia ativa de aprender.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 36/ 44
Experiências Anteriores e domínio de Pré-Requisitos
Os conhecimentos prévios do sujeito e as suas experiências anteriores desenvolvem capacidades
e criam sentimentos que podem influenciar as aprendizagens futuras. Ao aprender estamos a
desenvolver capacidades específicas relativas ao conteúdo da mensagem, preparando, assim,
novas aprendizagens.
Entendendo que os pré-requisitos são as capacidades ou os conhecimentos prévios indispensáveis
aos exercícios e atividades supostas para uma dada aprendizagem, é, por vezes, necessário que o
formador verifique se os formandos os dominam, tendo em vista uma maior eficácia das novas
aprendizagens.
Conhecimento de Objetivos e Resultados
Ao dar a conhecer os objetivos que se pretendem alcançar com a formação, o formador, para além
de revelar as formas de avaliação e controlo, permite:
✓ Tornar o formando mais consciente do que lhe vai ser exigido;
✓ Dar pontos de referência para que o formando possa conduzir, avaliar e ajustar o seu
próprio processo de aprendizagem;
✓ Ao formando distinguir, no processo de formação, o essencial do acessório.
✓ Da mesma forma, o conhecimento dos resultados obtidos possibilita que o formando
obtenha informação sobre o que aprende e como aprende. Esta atitude funciona,
inclusivamente, como reforço das respostas adequadas, aumentando, consequentemente,
o seu número.
Reforço
O reforço, tal como defendido pelas teorias comportamentalistas, tem por efeito aumentar a
frequência das respostas, nomeadamente, reforçar respostas adequadas ocorridas numa
determinada situação de aprendizagem. A ausência de reforço corresponde à diminuição do
rendimento e pode dificultar o processo de aprendizagem. O reforço é, pois, uma consequência de
um comportamento que tem como efeito aumentar a frequência, duração ou intensidade desse
comportamento. Podemos distinguir entre reforço positivo e reforço negativo.
O reforço positivo consiste na apresentação de uma consequência positiva contingente à
realização do comportamento desejável, por exemplo, recompensa, elogio, prémio. Este reforço
deve ser específico em relação ao que se está a elogiar, não devendo premiar a normalidade. Deve-
se evitar centrar os elogios de forma repetida nos mesmos formandos.
O reforço negativo consiste em retirar uma estimulação negativa como consequência pela
realização de um comportamento apropriado. Não confundir reforço negativo com punição, uma
vez que esta é a aplicação de um “castigo” como consequência da ocorrência de um
comportamento indesejável. O reforço permite aumentar as respostas adequadas, portanto, o
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 37/ 44
reforço negativo também permite este aumento do comportamento desejável, mas a partir da
extinção de uma estimulação aversiva.
É importante ter em conta que, reforçar as aprendizagens de forma sistemática e indiscriminada,
pode acabar por não produzir o efeito desejado, uma vez que, a elevada frequência do reforço
pode levar à sua desvalorização, inibindo, assim, a produção de respostas desejáveis.
Estruturação
Estruturar um tema implica ordená-lo sequencialmente, quer relativamente ao programa, quer à
sua coerência interna, quer, ainda, à ligação posterior que a aprendizagem terá com a vivência
profissional dos formandos.
Ao ordenar sequencialmente os temas a desenvolver, deve-se partir, de uma forma geral, do global
para o específico, do simples para o complexo, do particular para o geral, do conhecido para o
desconhecido e do concreto para o abstrato. Apresentam-se, seguidamente, vários tipos de
estruturação dos conteúdos:
✓ Reagrupamento: o formando retém melhor o que é apresentado numa estrutura lógica,
organizada e, ainda, se for ajudado a encontrar relações naquilo que aprende.
✓ Hierarquização: uma sequência de aprendizagem deverá compreender duas fases: a
tomada de consciência do ponto onde se quer chegar e das etapas que aí possam conduzir
e um conjunto de etapas que respeitem a hierarquia das aprendizagens (do conhecido para
o desconhecido).
✓ Estruturas anteriores: consiste numa introdução que tem, pelo menos, duas das
seguintes funções: relacionar o que vai ser aprendido como o que é familiar, fazer surgir
antecipadamente o caminho que se irá seguir, introduzir o que se vai seguir em termos de
conceitos alargados suscetíveis de servir de base à futura aprendizagem, mostrar o
resultado esperado da aprendizagem e ligar os resultados esperados da aprendizagem aos
fins mais gerais.
✓ Estruturas posteriores: é uma síntese que deve condensar o que foi aprendido e mostrar
as relações entre os diferentes conteúdos.
Redundância
O uso da redundância de um conceito ou de um comportamento facilita a sua memorização e a
sua reprodução. Ora, para ser eficaz, a redundância deve ser realizada sob formas diferentes ou
em contextos novos como forma de tornar mais familiar o aprendido, enriquecer os significados e
facilitar a transferência para situações novas.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 38/ 44
Aprendizagem disruptiva
A disrupção deixou de ser, com o passar dos anos, algo que se aplica somente ao segmento da
tecnologia, o conceito foi ampliado e pode se relacionar a formas, meios, técnicas, pensamentos,
serviços, produtos de todas as áreas de atuação humana, e até à aprendizagem.
Atualmente, em educação, é possível perceber que as escolas e universidades, buscam
ferramentas de contrariar o tradicionalismo, e as formas convencionais de ensino e aprendizagem,
também a formação se debate nos dias de hoje com esta necessidade de romper com os processos
antigos e arranjar novas formas de ensinar e aprender.
A aprendizagem disruptiva quebra com a ideia de aprendizagem convencional, que todos estamos
habituados, é um processo em que cada um de nós está sempre a aprender novamente. Este tipo
de aprendizagem pressupõe um processo de redescoberta daquilo que aprendemos antes e que
quebra de conceitos anteriormente concebidos.
A ideia central deste tipo de aprendizagem é que a aprendizagem é flexível e transformadora. É
fundamental reinventar, pensar e agir de forma diferente, utilizando novas metodologias e
maneiras mais ativas e reflexivas de se aprender. O uso de recursos tecnológicos, podem ser uma
boa forma de contribuir para a transformação da aprendizagem e um bom exemplo de
aprendizagem disruptiva.
Sobretudo o que este tipo de aprendizagem pretende é ousar, tentar, romper, transgredir, os
jovens e adultos em contexto de formação devem ser desafiados a pensar, resolver, criar,
habilidades que depois poderão transportar para a sua vida profissional e pessoal.
Uma educação/ formação disruptiva pode promover um mundo melhor, pois a educação e a
formação são elementos chave para o empoderamento dos cidadãos tornando-os mais
participativos, informados e inovadores.
2.2.6. CRIATIVIDADE E EMPREENDEDORISMO
a) Espírito empreendedor na formação
Um empreendedor é um “visionário” que tem a capacidade de imaginar novas realidades futuras. De
todas as características de um empreendedor uma das mais fulcrais e que mais facilmente pode ser
desenvolvida é a criatividade.
Um empreendedor reúne algumas características muito importantes, nomeadamente, disciplina, foco,
resiliência e firmeza. Esta característica pode ser nata ou desenvolvida ao longo da nossa vida, na escola,
em formação ou até através do Coaching. Este perfil vai-se melhorando com as vivências, tentativas e
sobretudo através do conhecimento.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 39/ 44
A educação tem um papel muito relevante nos indivíduos, dando-lhes independência, autoconfiança,
consciência das alternativas de carreira, alargando os seus horizontes. (Raposo e Paço,2011).
Muitos autores falam nas significativas as diferenças entre a educação tradicional e a educação do
empreendedorismo. Hansermark mostra que existem dois sistemas de ensino, afirmando que o
tradicional se foca no desenvolvimento de conhecimentos e competências enquanto que a educação para
o empreendedorismo procura mudar atitudes e motivações.
A educação para o empreendedorismo não é apenas relevante para a formação de empreendedores,
segundo a Comissão das Comunidades Europeias (2006), a educação para o empreendedorismo
desenvolve a criatividade, inovação e tolerância ao risco, bem como a capacidade de planear e gerir
projetos para atingir objetivos. E estas competências são importantes no contexto atual das empresas,
mesmo na perspetiva de um trabalhador e é neste contexto que a formação deve ter um papel
fundamental na contribuição do perfil empreendedor de cada um. A educação para o empreendedorismo
influencia positivamente a intenção empreendedora dos formandos.
Por outro lado, também o formador deve ter um perfil empreendedor no sentido de inovar, liderar, fazer
a diferença e ser um agente de mudança.
b) Pedagogia diferenciada e diferenciação pedagógica
Embora não haja um grande consenso sobre este conceito, o objetivo é considerar a diversidade dos
alunos e dar a todos a oportunidade de aprender. A diferenciação pedagógica corresponde aos esforços
que um formador deve fazer para responder à diversidade dos formandos em contexto de formação.
Caron define essa prática pedagógica como uma forma de compreender e explorar as diferenças, assim
como de aprender a viver com elas. Prud’homme argumenta que, muito mais do que uma simples
abordagem, a pedagogia diferenciada manifesta-se por um elevado grau de abertura para qualquer
estratégia de ensino ou de aprendizagem que desenvolva a participação, a motivação e a perseverança
dos alunos. Já para Perrenoud, a pedagogia diferenciada é uma abordagem centrada no aprendiz e em
seu percurso de aprendizagem.
Com isto, é importante que cada formador ao planear a sua sessão tenha em consideração cada formando
e dando a todos a oportunidade de aprender, não se trata de ensino individualizado, mas sim tornar a
formação acessível e bem sucedida para todos.
Tomlinson (2004) identifica três razões para se aderir a uma pedagogia diferenciada em sala de aula:
✓ tornar a aprendizagem acessível a todos os alunos, independentemente das suas características
cognitivas e pessoais;
✓ motivar os alunos para aprender, dando-lhes um papel ativo na construção de competências;
✓ tornar a aprendizagem eficaz.
Tomlinson (2004) apresenta quatro aspetos a diferenciar em contexto de formação: conteúdo, processo,
produção e ambiente de aprendizagem. Os conteúdos representam o que os formandos deveriam
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 40/ 44
aprender e compreender, bem como os materiais e os mecanismos necessários para obter estes
resultados. O processo são todas as atividades que ajudam os formandos a desenvolver competências; as
produções são o meio pelo qual os alunos podem demonstrar e reforçar a sua aprendizagem; o ambiente
de aprendizagem é a forma como os alunos aprendem e como eles se sentem.
c) A aprendizagem através da Programação Neurolinguística (PNL)
A programação neurolinguística surge na sequência da pergunta “qual é a diferença entre os que têm
êxito e os que não têm?” e é uma ciência aplicada a vários ramos da vida, nomeadamente usada por
gestores, terapeutas, formadores, trabalhadores na área social, professores, médicos e enfermeiros, e
todos aqueles que, individual ou profissionalmente, estão empenhados em tornar as suas vidas mais
atractivas, eficazes e significativa para si e para os outros.
A nomenclatura PNL tem um significado muito vasto, o P de Programação, termo da informática, refere-
se aos programas mentais que consciente e inconscientemente nós mesmos criámos e que são
responsáveis pela maneira como agimos. N, abreviatura para Neuro, quer dizer que tudo o que nós
pensamos, sentimos e fazemos é um produto do que acontece no nosso sistema nervoso. L, refere-se à
Linguagem verbal e não verbal, ao código que organiza e dá sentido às nossas sensações neurológicas. A
maneira de como agimos é directamente dependente dos nossos programas.
A PNL é inserida em contexto de formação pois os nossos programas mentais são transformáveis. Uma
importante base da PNL reside no conteúdo da frase: “o mapa não é o território”. Cada um interpreta a
realidade à sua maneira. Os estímulos exteriores (o território) são distorcidos, generalizados e (a maioria)
omitidos. Aquilo de que nos apercebemos é apenas o nosso mapa pessoal construído à base de filtros - a
nossa forma específica de linguagem, as nossas recordações, os nossos valores e convicções, os meta
programas psicológicos, as decisões tomadas, etc.. Deste processo resulta uma representação interna (o
mapa) que, por sua vez, é influenciado e ao mesmo tempo influencia, os nossos estados emocionais e a
fisiologia. Daí resulta um comportamento. Quer dizer, se queremos modificar o comportamento, é então
simplesmente uma questão de modificar a representação interna, o mapa.
Em contexto de formação a PNL poderá ser utilizada nos mais diversos contextos e com as mais variadas
finalidades, nomeadamente:
✓ Quando se apresenta um novo tema aos formandos, é importante certificar-nos que eles sabem
como aprender de uma forma que funcione realmente. O PNL conhece técnicas específicas para
mostrar como aprender, de moda a que este processo possa ter sucesso, ser interessante e
divertido;
✓ Dependendo da idade e da natureza do material a ser aprendido, os recursos utilizados devem
ser diferentes. A PNL sugere a utilização de uma âncora para transmitir o pretendido. Pode ser
uma âncora espacial, como um determinado lugar onde ficar; ou um gesto, ou uma certa postura;
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 41/ 44
✓ Também o uso dos níveis lógicos é uma importante ferramenta em formação, sobretudo na
avaliação dos alunos, garantindo que não há lacunas ou inconsistências;
✓ Também na comunicação o PNL tem um importante impacto para resolver problemas tais como
a ansiedade que acompanha a realização de testes ou desempenhos, para reprogramar
comportamentos, para lidar com traumas, e para mudar crenças limitativas.
A PNL é possivelmente, neste momento, uma das metodologias de transformação e crescimento pessoal
com mais sucesso no mundo. O que não é para admirar. A PNL é uma metodologia da comunicação.
d) Criatividade pedagógica
São múltiplas as definições do conceito de criatividade dadas pelos autores, Anderson (1965) considera a
criatividade como a emergência de algo único e original. Já para Torrance (1965), a criatividade é o
processo de tornar-se sensível a problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonias e
identificar a dificuldade, procurar soluções, formulando hipóteses a respeito das deficiências, testar e
retestar essas hipóteses e, finalmente, comunicar os resultados. E Stein (1974) afirma que criatividade é
o processo que resulta num produto novo, que é aceite como útil e/ou satisfatório, por um número
significativo de pessoas, em algum ponto no tempo.
Podemos então considerar que qualquer ser humano tem potencial criativo e este processo tem início na
infância. Quando as crianças veem as suas iniciativas criativas elogiadas e incentivadas pelos pais, tendem
a ser adultos ousados, propensos a agir de forma inovadora.
Do mesmo modo, quando os adultos sabem que as suas ações são valorizadas, parecem tender a criar
mais. Quando sentem que não estão sob ameaça (de cair no ridículo, por exemplo), as pessoas perdem o
medo de inovar e revelam as suas habilidades criativas.
O desenvolvimento do pensamento criativo não deve ser deixado ao acaso. A formação pode
desempenhar um papel importante em todo este processo, na medida em que o sucesso profissional está
associado ao pensamento criativo. Um estudo revelou que, mesmo em tarefas aparentemente rotineiras,
como vender numa loja, as vendedoras classificadas no terço superior relativo à totalidade de vendas do
seu departamento obtiveram classificação significativamente mais alta em testes de criatividade do que
aquelas cujo resultado de vendas se situava no terço inferir (Wallace, 1960).
De facto, não parece existir dúvidas de que os formandos preferem aprender de forma criativa,
explorando, manipulando, questionando, experimentando, testando e modificando ideias. A criatividade
tem de ser encorajada e valorizada, pois as pessoas só aprendem o que sentem como compensador.
Numa aprendizagem criativa, os formandos estão preparados e dispostos a conceptualizar e rearranjar
ideias até fazerem sentido e não apenas a memorizar e a repetir o conteúdo.
Assim, em contexto pedagógico, a criatividade pode revelar-se e possibilita:
✓ Capacidade de sentir os problemas
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 42/ 44
✓ Disposição para vencer as dificuldades em vez de se imobilizar por elas
✓ Curiosidade
✓ Apresentação de atividades empreendedoras
✓ Autonomia
✓ Encorajamento da individualidade de cada formando, potenciando as aprendizagens de cada um
✓ Reforço dos mais diversos contributos dos formandos
✓ Aceitar as limitações criativamente
✓ Reduzir o isolamento, muitas vezes associado à diferença (estratégias inclusivas).
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 43/ 44
Capítulo III | Referências Bibliográficas • BARTOLOMEIS, F. (1981). Avaliação e Orientação: objectivos, instrumentos, métodos. Lisboa:
Livraria Horizonte.
• BENTO, L. & SALGADO, C. T. (2001). A Formação Pragmática. Um novo olhar. Lisboa: Pergaminho.
• BERMAUM, J. (1993). Aprendizagem e Formação. Porto: Porto Editora.
• CARDIM, J. C. (1995). Formação profissional – o conceito, Revista Formar, 45-61. Lisboa: IEFP.
• CARDIM, J. C. (1999). O Sistema de Formação Profissional em Portugal. Thessaloniki: CEDEFOP.
• CARON, J. (2003) Apprivoiser les différences: guide sur la différenciation des apprentissages et la
gestion des cycles. Montréal: Chenelière.
• FERRÃO, L. & RODRIGUES, M. (2000). Formação Pedagógica de Formadores. Lisboa: Lidel.
• LEONARDO, M.(1991). Plano de Sessão, Revista Formar, n.º 3, 38-41. Lisboa: IEFP
• OBSERVTÓRIO DO EMPREGO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL (1999). Mercado de Formação -
Conceitos e Funcionamento. Lisboa: IEFP
• OLIVEIRA, F. (1999). Preparação e desenvolvimento de Sessões de Formação, colecção Aprender,
n.º 7.Lisboa: IEFP.
• PINTO, J. (1992). Avaliação Pedagógica – um instrumento de gestão provável, Revista Formar, nº
5, 4-13.Lisboa: IEFP.
• PRUD’HOMME (2005), L. La construction d’un îlot de rationalité autour du concept de
différenciation pédagogique. Journal of Canadian Association for Curriculum Studies, v.3, n. 1, p.
1-30
• RASETH, A. (1999). O Perfil e Funções do Formador. Lisboa: IEFP.
• ROMÃO, A., TOMÉ, C. & MARQUES, P. (1999). Formação Pedagógica Inicial de Formadores –
Referencial Básico. Lisboa: IEFP.
• TARRINHA, A. (1997). O Formador. Estatuto e Papéis. Lisboa: CNS.
• FERRÃO, Luís; RODRIGUES, Manuela (2000), Formação Pedagógica de Formadores, Lisboa, Lidel.
• FERREIRA, P. da Trindade (1999), Guia do Animador - Animar uma atividade de formação, Lisboa,
Multinova, pp. 60-61.
• LESNE, Marcel (1977), Trabalho Pedagógico e Formação de Adultos, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian.
• MÃO-DE-FERRO, António (1999), Na Rota da Pedagogia, Lisboa, Edições Colibri.
• MEIRIEU, Philippe (1998), Aprender…Sim, mas como?, Porto Alegre, Artmed.
• MUCCHIELLE, Roger (1980), A Formação de Adultos, São Paulo, Editora Martins Fontes.
• PINTO, Jorge (1992), Psicologia da Aprendizagem: Concepções, Teorias e Processos, Lisboa, IEFP.
• RAPOSO M. e PAÇO, A. (2011). Entrepreneurship education: Relationship between
educationand entrepreneurial activity, University of Beira Interior, Psicothema 2011.
Vol. 23, nº 3, pp. 453-457.
Manual de Formação
DGERT0006/1_MDF 44/ 44
• ROCHA, José Eduardo (1991), Condições e Fatores de Aprendizagem, Lisboa, IEFP.
• TOMLINSON (2004), C. A. La classe différenciée. Montréal : Chenelière